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EDUCAÇÃO NÃO-FORMAL: UM INSTRUMENTO NA

IMPLEMENTAÇÃO DO PLANO DE ATENDIMENTO


MULTIDISCIPLINAR AO DIABÉTICO NA UNIDADE DE SAÚDE
CENTRAL DE HONÓRIO SERPA – PR

Roseli Gaio
Pós-Graduanda do Curso de Especialização (Pós-Graduação lato sensu) em
Formação de Professores para Docência no Ensino Superior. UNICENTRO,
2007.

Ivania Marini Piton


Professora orientadora. Dra em Educação – Políticas Educacionais e Sistemas
Educativos, pela UNICAMP, Campinas/SP. Docente do Centro Universitário
www.unicentro.br Católico do Sudoeste do Paraná – UNICS.

RESUMO
O Diabetes Mellitus, doença de prevalência crescente que acomete indivíduos de todas as
classes sócio-econômicas, vem sendo objeto de estudos em razão de crescente incidência
e do atendimento dispensado pelos serviços básicos de saúde pública. Este artigo tem
como temática a educação não-formal em atendimento ao Curso de Pós-Graduação
Docência no Ensino Superior. Seu objeto de pesquisa consiste da prevalência do Diabetes
Mellitus em pessoas de ambos os sexos, moradores das zonas urbana e rural do município
de Honório Serpa - Paraná, e a angústia que expressam ao buscar junto aos serviços de
saúde, as informações corretas relativas ao diabetes. Considera que a educação não-
formal, em função se seu caráter coletivo é parte fundamental no tratamento do diabético,
devido à compreensão de que ele deve cuidar de si mesmo 24 horas por dia, 365 dias por
ano. Elabora um Planejamento Multidisciplinar de Atendimento destinado à prevenção e
controle de pacientes diabéticos na Unidade de Saúde Central de Honório Serpa, Paraná,
utilizando como instrumento a Educação Não-Formal. Conclui que a educação não-formal
facilita o acesso à informação pela pessoa diabética constituindo-se em instrumento
relevante para conhecimento da doença, dos cuidados e da prevenção.
Palavras-chave: Educação não-formal. Diabetes Melittus. Multidisciplinar.

ABSTRACT
The Diabetes Mellitus, increasing prevalence of illness that affects individuals of all the
partner-economic classrooms, comes being object of study in reason of increasing incidence
and the attendance excused for the basic services of public health. This article studies the
prevalence of Diabetes Mellitus in the people of both the sexes, inhabitants of the urban and
agricultural zones of the city of Honório Serpa, Paraná and the anguish that they express
when searching next to the health services, relative to the correct information diabetes. It
considers that the education not-deed of division possesss collective character and that the
education to the diabetic one is basic part of treatment due to its understanding of that the
diabetic one must of exactly take care of itself 24 hours per day, 365 days per year. The
Planning Multidisciplinary Call destined to the prevention and control of diabetic patients in
the Unit of Health of Central Honório Serpa, Paraná elaborates, using the tool the Not-Deed
of Education division. It concludes that the education not-deed of division facilitates the
access to the information for the diabetic person consisting in excellent instrument for
knowledge of the illness, the cares and the prevention.
Key words: Education not-deed of division. Diabetes Melittus. Multidisciplinar.

Ed. 6 Ano: 2008 Revista Eletrônica Lato Sensu – UNICENTRO ISSN: 1980-6116
EDUCAÇÃO NÃO-FORMAL: UM INSTRUMENTO NA IMPLEMENTAÇÃO DO PLANO DE ATENDIMENTO
MULTIDISCIPLINAR AO DIABÉTICO NA UNIDADE DE SAÚDE CENTRAL DE HONÓRIO SERPA – PR

1 INTRODUÇÃO

Ao observar os problemas de saúde pública, depara-se com o Diabetes


Mellitus, uma doença de prevalência crescente, que afeta países em todos os níveis de
desenvolvimento, acometendo indivíduos de todas as classes sócio-econômicas.
Nas últimas décadas, sua incidência vem crescendo em decorrência de
diversos fatores, tais como: gradual envelhecimento populacional, hábitos alimentares
inadequados, sedentarismo, estresse, obesidade e maior taxa de urbanização e
industrialização (FRANCO e FERREIRA, 1996; GROSS, 2000).
Na atividade de Farmacêutica-Bioquímica, por mais de treze anos, no
município de Honório Serpa, Paraná, foi possível observar a constante angústia dos
pacientes que buscam os serviços de saúde, suas expectativas com relação aos resultados
dos exames, a dieta, inatividade física, a eficácia dos medicamentos e o medo de possíveis
seqüelas. O que mais se destaca nesses indivíduos, entretanto, é a falta de informações
corretas relativas ao diabetes.
Nesse sentido, Gaio (2003), em pesquisa realizada com parentes de
diabéticos, em primeiro grau, constatou que 77,8% dos participantes da amostra não
apresentavam informações corretas relativas ao diabetes e que o nível de conhecimento
sobre esse assunto está diretamente ligado ao grau de instrução dos sujeitos da pesquisa.
Na verdade, o atendimento fragmentado nos serviços básicos de saúde é que
tem aumentado a angústia dos pacientes e dos familiares de diabéticos; não há um
programa preventivo, enfocando a educação em diabetes. Inúmeros profissionais, cada qual
em seu setor específico, informa o paciente com termos técnicos, substâncias químicas
(medicamentos), restrições de dieta e resultados de exames e, muitas vezes, confundem
mais ainda o indivíduo.
Assim, o presente artigo trata de fatores que servem como estímulo para
traçar um plano de atendimento multiprofissional em diabetes na Unidade Central de Saúde
de Honório Serpa, Paraná, utilizando-se a educação não-formal enquanto instrumento
metodológico de implementação.
Os novos desafios apresentados pela globalização e os avanços tecnológicos
permitem observar uma ampliação no conceito de educação que, segundo Gohn (2001, p.
7), “[...] não se restringe mais aos processos de ensino-aprendizagem no interior das
unidades escolares formais, transpondo os muros da escola para os espaços da casa, do
trabalho, do lazer, do associativismo etc.”.
Um dos supostos básicos da educação não-formal é o de que a
aprendizagem se dá por meio da prática social: “A produção do conhecimento, portanto, não
ocorre pela absorção de conteúdos previamente sistematizados, objetivando ser
apreendidos, mas o conhecimento é gerado por meio da vivência de certas situações-
problema” (GOHN, 2001, p. 103).
A educação não-formal tem sempre um caráter coletivo, passa por um
processo de ação grupal, ainda que o resultado do que se aprende seja absorvido
individualmente. Aí reside o desafio de incluir todos os atores e agentes num processo
educacional integrado.
Durante esta última década, tornou-se evidente que a educação ao diabético
é parte fundamental de seu tratamento e o reconhecimento desse fato se deve à
compreensão de que o diabético deve cuidar de si mesmo 24 horas por dia, 365 dias por
ano, enquanto que os profissionais de saúde só ocasionalmente estão envolvidos no seu
tratamento. A recomendação em que se deve incluir a família na educação em diabetes
desde o princípio. Além disso,

Muitas pessoas com diabetes pertencem a uma família. Os demais


membros da família também terão que conviver com o diabetes, e algum

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limite de participação deverá ocorrer. Sempre que possível, ensine na


presença de pessoas da família a fim de que eles possam participar no
desenvolvimento de um plano de vida e exemplifique metas individuais e
responsabilidades (STEINER e LAWRENCE, 1992, p. 28).

O Ministério da Saúde realizou, em 2001, no Brasil, o primeiro screening1


para detecção de suspeitos de Diabetes Melittus, com idade igual ou superior a 40 anos.
Foram testados 20,9 milhões de pessoas, identificando-se 3,2 milhões de suspeitos de
Diabetes Melittus, ou seja, 15,5% do total da população pesquisada (BRASIL, 2001).
Diante desses números, investir em educação e prevenção, ter fontes
seguras de informações torna-se decisivo não só para garantir a qualidade de vida, como
também para evitar a hospitalização e os conseqüentes gastos, já que o tratamento em
diabetes toca os aspectos mais íntimos da vida: relações humanas, comida, trabalho e lazer.
A partir dessas informações, este trabalho teve como objetivo principal
elaborar um Planejamento Multidisciplinar de Atendimento destinado à prevenção e controle
de pacientes diabéticos na Unidade de Saúde Central de Honório Serpa, Paraná, utilizando
como ferramenta a Educação Não-Formal.
O estudo foi realizado utilizando-se da pesquisa teórico bibliográfica no que
concerne à fundamentação do problema proposto, com enfoque exploratório sobre os
assuntos pesquisados por meio de pesquisa de levantamento e um estudo de caso múltiplo,
através de análise de casos clínicos publicados.
Acerca da pesquisa bibliográfica, Gil (1999, p.65) a explica como aquela que
foi desenvolvida com consulta a materiais já elaborados, consistindo estes de artigos, livros,
publicações diversas, entre outros. Salienta que “A principal vantagem da pesquisa
bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de
fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente”.
Para este trabalho, a pesquisa bibliográfica realizou investigação sobre os
seguintes assuntos: educação não-formal, políticas públicas, noções de diabetes e
abordagem multidisciplinar.
A pesquisa de levantamento ou levantamentos documentais consiste de
informações valiosas que a própria instituição detém em seus arquivos, resultados de
pesquisas anteriores, registros, dados, e que podem ser de grande importância para a
pesquisa em pauta quanto para o delineamento de novas investigações (MATTAR, 1996).
Como gênese do propósito de elaboração do Planejamento Multidisciplinar de
Atendimento destinado à prevenção e controle de pacientes diabéticos foi realizada
pesquisa de levantamento junto aos Arquivos de Atendimento do Posto de Saúde do
município de Honório Serpa, nos meses de junho e julho de 2007.
A pesquisa de levantamento atendeu às seguintes etapas: a) seleção dos
Prontuários de Pacientes Diabéticos; b) ordenação dos Prontuários por gênero; c) análise
dos dados constantes nos Prontuários; d) estabelecimento de questões norteadoras para a
coleta dos dados.
Dos dados constantes no Prontuário foram definidos os seguintes, para a
pesquisa de levantamento: gênero; local de residência; profissão; entidade da qual faz parte;
diagnóstico da doença; confirmação de obesidade e hipertensão; conseqüências da doença;
prática da atividade física; compreensão do diabetes como doença; hábitos alimentares;
tratamento médico; autocuidado.
Os dados coletados foram ordenados e analisados e são apresentados neste
estudo, analisando-se os seus resultados.
Quanto ao estudo de caso, segundo Gil (1999), pode ser utilizado em
pesquisas exploratórias, descritivas e explicativas. Trata-se de um estudo empírico que

1
Levantamento.
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investiga um fenômeno atual em determinado contexto de realidade, um tipo de pesquisa


que vem sendo utilizado cada vez mais pelos pesquisadores sociais, tendo em vista explorar
situações da vida real, ainda não claramente definidas, descrever as situações do contexto
que sofrem a investigação e explicar variáveis causais de determinado fenômeno em
situações complexas que inibem a utilização de levantamentos ou de experimentos.
Para a proposta de elaboração de um Planejamento Multidisciplinar de
Atendimento destinado à prevenção e controle de pacientes diabéticos na Unidade de
Saúde Central de Honório Serpa, Paraná, utilizando como ferramenta a Educação Não-
Formal o método é dedutivo, “[...] que parte do geral e, a seguir, desce ao particular” (GIL,
1999, p. 27).
Esse método, em virtude de seu silogismo, parte de princípios reconhecidos
como verdadeiros, viabilizando conclusões formais. Assim, a partir dos dados coletados na
pesquisa bibliográfica e no estudo de caso, foi possível elaborar o Planejamento proposto
pelo estudo.
O artigo possui a seguinte estruturação: na seção 2, são abordados três
assuntos em específico: no primeiro deles, são apresentados os sujeitos da pesquisa, suas
características e principais informações sobre seus hábitos e doenças. Segue-se a
teorização do tema selecionado para o trabalho, que aborda aspectos da educação não-
formal, políticas públicas, noções de diabetes e a abordagem multidisciplinar como um
elemento essencial para o trabalho educativo e preventivo com pessoas diabéticas.
Por fim, o último assunto apresenta uma proposta para a elaboração de um
Planejamento Multidisciplinar de Atendimento à prevenção e controle de pacientes
diabéticos.
Na seção 3, são apresentados dados obtidos em estudo de caso múltiplo, por
meio de análise de casos clínicos publicados. Ao final, são feitas a conclusão e
recomendações.

2 O DIABETES MELITTUS E A EDUCAÇÃO NÃO-FORMAL: A INTER-


RELAÇÃO COM OS SUJEITOS DIABÉTICOS E A EDUCAÇÃO
PREVENTIVA

2.1 Mapeamento dos Sujeitos da Pesquisa: Resultado da Coleta de


Dados

Os sujeitos da pesquisa são pessoas de ambos os sexos, com incidência de


60% para o gênero feminino e de 40% para o gênero masculino, 60% deles moradores da
zona urbana e 40% moradores da zona rural do município de Honório Serpa, Paraná, em
sua maioria aposentados organizados em grupos de terceira idade e em igrejas da
comunidade.
Essas pessoas apresentam como problemas de saúde o Diabete Melittus, na
maioria das vezes, associado à hipertensão e obesidade, apresentando uma ou mais
complicações dessas enfermidades crônicas. Alterações visuais e doenças vasculares
periféricas são as principais queixas.
Com relação à prática da atividade física, a grande maioria desconhece os
seus benefícios para o controle do diabetes e nunca recebeu orientação adequada para a
prática. A dança, nos grupos de terceira idade semanalmente, é a atividade citada como
rotineira em parte dos idosos.
Os indivíduos têm concepções errôneas em relação ao diabetes, à dieta e
aos hábitos alimentares. Parte dos indivíduos acredita que o diabete é causado pela
ingestão de muito açúcar e doces, e que esses são os únicos alimentos que podem fazer
subir a glicose no sangue.
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O tratamento medicamentoso com dieta ou comprimidos, os fazem, acreditar


que eles têm diabetes “leve” e que quem tem diabetes, efetivamente, é quem toma insulina.
Com relação às medidas de controle glicêmico, parte dos indivíduos faz o
teste de glicemia capilar na unidade de saúde e “confessa” que controla a alimentação
somente nos dias que antecedem ao teste para não se sentir pressionado pelos familiares.

2.2 A Educação Não-Formal e a Inter-Relação com a Diabetes para a


Prevenção Multidisciplinar

De acordo com Garcia (2005, p.20), a educação escolar não aceita com
facilidade o saber que dela é alheio; antes, adota um saber sistematizado, com acesso
promovido por meio da educação formal, pois a ele pertence um discurso de que o saber
veiculado pela educação formal é critico, em virtude de sua racionalidade e cientificidade. A
crítica se dá em relação à educação não-formal, no sentido de que “O saber que não é da
escola é ingênuo, por ser fundamentado na observação, na tradição, na oralidade e ser
sensível aos argumentos da ciência, comprobatória das verdades”.
Trata-se do processo político de legitimação de saberes, considerando que
esses não estão disponíveis para todos. Aqueles que têm poder de acesso podem conhecer
determinados saberes e passam a ter um saber crítico, referenciado e aceito pela
sociedade, um discurso veiculado de que se traduz em homogeneização de crianças e de
adolescentes que freqüentam a educação formal, integrando-se à sociedade mais ampla,
segundo o que determinam os grupos no poder (GARCIA, 2005).
Porque, da mesma forma que nem todos os sujeitos têm acesso a todos os
saberes, evidencia-se a dualidade de que nem todos os saberes são eleitos para aqueles de
difícil penetração, mas os saberes escolhidos, em determinado tempo histórico ocupam
lugar de destaque, poder e cobiça. Por esse processo, os equipamentos da educação
formal, vistos como templos de saber, são considerados importantes, reconhecidos e
consagrados, complementa Garcia (2005).
Um novo modelo de educação, externa ao ambiente escolar, no entanto,
passa a ser objeto de estudo: a educação não-formal, que foi definida por Coombs e Ahmed
(1970 apud GOHN, 2001, p. 91), como “[...] uma atividade educacional organizada e
sistemática, levada a efeito fora do marco de referência do sistema formal, visando
proporcionar tipos selecionados de aprendizagem a subgrupos particulares da população,
sejam adultos ou crianças”.
Sob um modo simplista de compreensão, a educação não-formal consistia de
um conjunto de processos delineados, com o fim de obter a participação de grupos e de
indivíduos em áreas reconhecidas como extensão rural, animação comunitária, treinamento
vocacional ou técnico, educação básica, planejamento familiar. Para esse público, os
conteúdos incluíam atitudes positivas em relação à cooperação na família, trabalho,
comunidade, perspectivas com relação ao crescimento nacional, progresso, alfabetização
funcional para o planejamento familiar, sustentação econômica e participação cívica, visão
científica com finalidade de compreender de determinadas áreas específicas (GOHN, 2001).
Os anos de 1990 trouxeram mudanças na economia, na sociedade e no
mundo do trabalho, de modo que os processos de aprendizagem em grupos foram
valorizados, bem como os valores culturais que articulam as ações dos indivíduos. Ações
nesse sentido foram configurando um novo campo para a educação não-formal, abrangendo
o apoio de Agências e organismos internacionais, como a ONU e a UNESCO. O resultado
da conferência realizada na Tailândia, em 1990, Declaração Mundial sobre educação para
todos e Plano de ação para satisfazer necessidades básicas de aprendizagem permitiu
ampliar o campo da educação para outras dimensões além da escola. Estudos sobre esses
documentos foram realizados pelo Unicef e são registrados por Gohn (2001, p. 93), com o

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seguinte teor:

Os textos de Jomtien se afastam das interpretações habituais do ‘saber’,


que separam o conhecimento da ação e esta do valor. Conferência adotou
uma concepção de saber que se refere à aptidão das pessoas para atuar
efetivamente, ou seja, sua capacidade para realizar ações competentes.
Nesta concepção, o conhecimento adquirido é observado através da maior
ou menor habilidade com que a pessoa age na vida familiar, comunitária,
social, econômica, política e cultural. A habilidade implica ‘hábito’ e supõe a
disponibilidade imediata e automática de executar o aprendido no cotidiano.
Do mesmo modo, a capacidade de ação competente tem uma conotação de
valor que também pode ser observada: ‘sabe’ aquele que, com sua ação,
contribui para a melhoria do mundo, entregando e oferecendo aos que o
rodeiam uma vida mais digna e um maior bem-estar. Nesta concepção de
‘saber’ aparecem, então, profundamente entrelaçadas, as dimensões éticas,
espirituais, sociais e materiais da vida humana.

Isso conclui que os saberes estão em diferentes lugares e em diferentes


instituições, com variados prestígios sociais. Ainda que o contexto escolar seja um campo
de saberes, existe um deslocamento e, é nele, percebido o movimento de contradição
porque não é somente ali que o saber existe, e nem todos os saberes (GARCIA, 2005).
Torres (1992) cita Dewey, um dos mais importantes educadores de inspiração
liberal, cuja filosofia afirma que toda pessoa possui um potencial ilimitado a ser explorado
em benefício próprio e da sociedade, tendo como instrumento primordial a educação. No
entanto, essa mesma educação deverá promover uma compensação interior ao aluno, de
modo que deixe de ser um exercício racional de aprendizagem e se torne um exercício
baseado na experienciação.
De um modo mais amplo, o conceito de educação não-formal é associado ao
conceito de cultura, significando que a educação é abordada enquanto forma de ensino e
aprendizagem que se adquire ao longo da vida dos cidadãos por meio de leitura,
interpretação e assimilação dos fatos, eventos e acontecimentos inerentes aos indivíduos,
isoladamente ou coletivamente com grupos e organizações. Isso confere à educação
escolar, formal e oficial que se desenvolve nas escolas, ministrada por entidades públicas, a
qualidade de uma das formas de educação. Na verdade,

A cultura é concebida como modos, formas e processos de atuação dos


homens na história, onde ela se constrói. Está constantemente se
modificando, mas, ao mesmo tempo, é continuamente influenciada por
valores que se sedimentam em tradições e são transmitidos de uma
geração para outra. A educação de um povo consiste no processo de
absorção, reelaboração e transformação da cultura existente (GOHN, 2001,
p. 98).

Quatro campos ou dimensões correspondem às áreas de abrangência do


processo da educação não-formal: a) a aprendizagem política dos direitos dos indivíduos
enquanto cidadãos, que gera a conscientização dos sujeitos para a compreensão de seus
interesses, do meio social e da natureza do ambiente pela via participativa em atividades
grupais; b) a capacitação do indivíduo para o trabalho, por meio da aprendizagem de
habilidade ou desenvolvimento de potencialidades; c) a aprendizagem e exercício de
práticas que capacitam os indivíduos a se organizarem com objetivos comunitários na
resolução dos problemas coletivos cotidianos; d) a aprendizagem dos conteúdos da
escolarização formal, escolar em formas e espaços diferenciados (GOHN, 2001).
Também o terceiro setor adotou a educação não-formal como uma nova
vertente educacional, definindo-a da seguinte forma:

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Por educação formal entende-se o tipo de educação organizada com uma


determinada seqüência e proporcionada pelas escolas, enquanto que a
designação educação informal abrange todas as possibilidades educativas
no decurso da vida do indivíduo, constituindo um processo permanente e
não organizado. Por último, a educação não-formal, embora obedeça
também a uma estrutura e a uma organização (distintas, porém, das
escolares) e possa levar a uma certificação (mesmo que não seja essa a
sua finalidade), diverge ainda da educação formal no que respeita a não
fixação de tempos e locais e a flexibilidade na adaptação dos conteúdos de
aprendizagem a cada grupo concreto (AFONSO, 1989, p. 78 apud PARK e
FERNANDES, 2005, p. 420).

Por vertente educacional, as autoras citam a perspectiva de um terreno fértil


para pensar de novas metodologias educacionais, um espaço no qual podem ser
elaboradas propostas que busquem ir ao encontro das necessidades e das particularidades
da população-alvo, de modo a envolver os participantes no processo educacional. Esses
espaços incluem, também, a criação e manutenção por parte das organizações não-
governamentais (ONGs), revelando a diversidade na composição das pessoas envolvidas,
nos públicos-alvo e em suas propostas, fatores que propiciam o desenvolvimento de
programas educacionais inovadores. Tal observação confirma informações de que “[...] por
buscar um trabalho pedagógico transformador a realidade social, a educação não-formal
precisa valorizar a existência de características que facilitem o envolvimento do aluno com
as atividades educacionais e enfoquem o crescimento de habilidades sociais” (PARK e
FERNANDES, 2005, p. 421).
Torres (1992) registrara as antigas concepções da educação formal, que
atendia ao Estado capitalista e a hegemonia. A educação, portanto, recebia uma leitura a
partir de hipóteses que incluíam as relações de hegemonia em um Estado capitalista como
relações educacionais, ainda que originadas de mecanismos de coerção e de consenso
estabelecido sob uma dada base material. Ainda, que essa hegemonia é exercida pela
classe dominante, organizada nas sociedades capitalistas por uma determinada categoria
social: os intelectuais.
Por fim, confirma Torres (1992, p.54) que “a educação é fundamentalmente
um processo de formação de um ‘conformismo social”, de modo que o Estado, como ético
ou como educador, deve assumir a função de construir um novo tipo ou nível de civilização,
constituindo-se, portanto, em um instrumento de racionalização.
Citando Gramsci, TORRES (1992) afirmara que o sistema educacional e a
educação em geral, são interpretados como instrumento privilegiado de socialização de uma
cultura hegemônica. Mas, se o Estado deve ser considerado um educador, deve ser
considerado como um fato superestrutural que se desenvolve de modo espontâneo e
harmônico paralelo ao desenvolvimento das forças produtivas e das relações sociais de
produção, bem como elemento manipulador dessas forças econômicas, que reorganiza e
desenvolve a estrutura da produção econômica, recriando-as. Pois assim, sendo o Estado
ético, ao elevar a massa populacional a um determinado nível cultural e moral promove o
atendimento às necessidades das forças produtivas para o desenvolvimento e aos
interesses das classes dominantes
No entanto,

A Escola, como função educativa positiva, e os tribunais, como função


educativa repressiva e negativa, são, nesse sentido, as mais importantes
atividades do Estado; na realidade, porém, um sem-número de outras assim
chamadas iniciativas e atividades privadas tende para o mesmo fim –
iniciativas e atividades que formam o aparelho da hegemonia política e
cultural das classes dominantes (GRAMSCI, 1980, p. 258 apud TORRES,

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1992, p. 57).

Baseado nessas constatações de Gramsci, Torres (1992) perguntara: por que


a educação de adultos na América Latina tem sido um papel marginal na formação da
política pública, em termos de dispêndio financeiro e de matrículas? Em sua compreensão,
acredita que a educação de adultos não corresponde ao modelo de acumulação de capital e
é de pouca utilidade para o modelo de dominação política, configurando-se uma clientela
socialmente fragmentada, politicamente desorganizada e fraca, e economicamente não
importante.
Inerente a esse propósito diferenciador da educação, o mesmo autor indicou
a necessidade de um estudo organizacional da política pública da educação, a respeito da
educação de adultos ou de que qualquer outro campo da educação, ingressando aí a
educação não-formal, que enfoca as distinções e isenta o Estado de ser considerado como
agente neutro, solucionador de problemas. Assim, as políticas públicas de educação devem
prever seus efeitos sobre a sociedade, porque não se constitui apenas como provedora dos
meios para contribuir com a reprodução do sistema capitalista, mas, especialmente, a
educação objetiva registrar a idéia de soberania nacional e da sobreposição da sociedade
civil ao Estado (TORRES, 1992).
Pois assim,

A educação ocupa-se da consciência das pessoas e de sua expectativa de


maior mobilidade social, da consecução de habilidades pessoais mais
elevadas, com as quais obter melhores posições no mercado de trabalho,
ou de esforços organizacionais que buscam a democratização social,
econômica e política. A educação ocupa-se também da construção,
transmissão e reprodução do conhecimento; conhecimento que constitui,
em si mesmo, uma experiência gratificante de aprendizagem social e
individual (TORRES, 1992, p. 186).

Ponte et al. (2006) lembram da importância da educação como estratégia


fundamental para a promoção da saúde, com atuação direta sobre o conhecimento das
pessoas, no sentido de que elas desenvolvam a capacidade de intervenção sobre suas
vidas e sobre o ambiente, criando condições para sua própria existência.
Assinalam os mesmos autores que, diante da “especificidade do diabetes
como doença crônica e o controle glicêmico como fundamental na prevenção de
complicações e seqüelas, o conhecimento da doença por meio de educação constitui
aspecto muito relevante no tratamento” (PONTE et al., 2006, p. 198). A educação desses
pacientes, porém, requer considerar os aspectos motivacionais para o autocuidado, a
participação da família e o estabelecimento de vínculos efetivos com a equipe
multiprofissional.
Na verdade, o desafio consiste em encontrar momento e espaço que viabilize
essa educação, pois somente em 1970, buscou-se na experiência do Professor Jean-
Phillipe Assal e na dinâmica por ele desenvolvida, a perspectiva de educar o diabético de
uma forma estruturada, com promoção e organização de cursos para educadores e a
realização sistemática de cursos para portadores de diabetes (PONTE et al., 2006).
Dessa forma, a educação não-formal está presente também na
conscientização do paciente diabético, no que concerne à necessidade que ele aprenda as
características da sua doença e de como lidar com ela, através de métodos educacionais.
Para o paciente com diabetes a terapia apropriada inclui, no dia a dia ou mesmo após a
hora de atenção para alguns modos de vida, como a alimentação ou atividade física, e
outros aspectos importantes. “A necessidade de se educar diabéticos sobre sua doença e
como controlá-la, é por si só evidente” (WILLIAMS, 1992, p. 20).
Em uma das definições sobre esta doença,

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O diabetes mellitus é uma condição crônica que modifica a qualidade e a


expectativa de vida, podendo levar à incapacidade física permanente por
cegueira e amputação de membros inferiores. Além disso, é causa de
mortes prematuras por insuficiência renal, doenças cardio e
cerebrovasculares, entre outras, causando impacto econômico pelos custos
elevados envolvidos no seu controle e tratamento de suas complicações
como também pela redução da produtividade e dos anos de vida e trabalho
perdidos (SANTOS et al., 2001, p. 2).

Para Gaio, (2003), o Diabetes Mellitus se traduz em uma síndrome


metabólica que se caracteriza por um excesso de glicose (açúcar) no sangue
(hiperglicemia), devido à falta ou ineficácia da insulina, hormônio produzido pelo pâncreas
endócrino; assim, o diabetes afeta o modo pelo qual o organismo utiliza a glicose.
“Durante a digestão normal, o corpo converte o açúcar, o amido e outros
alimentos em açúcar simples chamado glicose. Esta glicose, por sua vez, é conduzida pelo
sangue até as células, sendo introduzida no seu interior pela ação da insulina”, de modo a
ser convertida em energia para a utilização imediata, ou armazenada para futuro uso (GAIO,
2003, p. 31).
Com o aparecimento do Diabetes, esse processo é interrompido; como
conseqüência, a glicose acumula-se no sangue decorrente da falta de insulina e/ou da
incapacidade da insulina exercer adequadamente seus efeitos; com isso, instala-se a
hiperglicemia crônica com distúrbios do metabolismo dos carboidratos, lipídeos e proteínas
(GAIO, 2003).
Para o Ministério da Saúde, a definição do diabetes melittus consiste no
seguinte:
O DM é uma síndrome de etiologia múltipla, decorrente da falta de insulina
e/ou da incapacidade de a insulina exercer adequadamente seus efeitos.
Caracteriza-se por hiperglicemia cronia com distúrbios do metabolismo dos
carboidratos, lipídeos e proteínas. As conseqüências do DM, a longo prazo,
incluem disfunção e falência de vários órgãos, especialmente rins, olhos,
nervos, coração e vasos sangüíneos (BRASIL, 2001, p. 14).

Com relação ao reconhecimento da doença, o mesmo Ministério da Saúde,


em outro documento, assim indica:

O diabetes é uma doença que por muitas vezes é tardiamente


diagnosticada que tanto é conhecida como pode ser temida,
em parte pela freqüente imposição de mudanças no estilo de
vida, mas primeiramente devido à ocorrência de complicações
de longo prazo e que são potenciais riscos de vida. Como o
diabetes afeta mais de 130 milhões de pessoas em todo o
mundo, tais complicações representam uma importante
sobrecarga ao sistema de saúde e uma necessidade continua
de aprimoramento médico (BRASIL, 2002).

Acerca do diabetes, pacientes e sua família devem saber sobre:

a) dieta: as razões para a dieta, conhecimento da dieta individual, o


caminho pessoal na escolha de comidas e de horários;
b) atividades físicas: seu relacionamento com a comida e insulina e outros
agentes;
c) tipos de medicação: qualidade de insulina, força, quantidade, horário
das injeções, tempo de duração, técnicas para uso da seringa e

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injeções. No caso de agente oral, a qualidade, quantidade, horário,


tempo de duração, efeitos colaterais;
d) teste de urina: a razão para o teste, horário de teste, tipos e técnicas de
testes a serem usados, controle e relatório;
e) cuidados com a pele e os pés;
f) importância dos cuidados constantes;
g) o que fazer quando problemas ou emergências surgem (WILLIAMS,
1992).

Rosenberg e Peters (2001, p. 305) indicam outros objetivos instrucionais


sobre diabetes que devem ser apresentados aos pacientes e às suas famílias, no sentido de
ajudá-las a conhecer a fisiologia do diabete e suas complicações; compreender, superar e
participar na escolha das opções de tratamento. Ainda, devem servir para identificar as
conseqüências, sejam elas negativas ou positivas, de qualquer escolha que seja feita. Por
fim, ajuda a “lidar com a larga-faixa do impacto psicossocial que o diabete pode exercer
sobre sua vida”.
Para que essas etapas sejam seguidas, Sims (1992, p. 28) lembra que a
família deve ser incluída desde o início, pois todos os membros deverão conviver com o
diabetes, tendo algum tipo de participação. A educação não-formal na presença de pessoas
da família permite que todas possam participar do desenvolvimento de um plano de vida,
bem como a explanação de metas individuais e de responsabilidades, resultando em
enriquecimento da vida familiar e minimizando as oportunidades de manipulação.
Cabe ressaltar que uma pessoa com diabetes dificilmente aprenderá tudo o
que há sobre a doença em poucos dias, de forma intensiva; assim, precisará saber onde
procurar apoio e mais educação sempre que tiver uma interrogação sobre si mesma e sobre
a sua doença. Considerando que o tratamento do diabetes se relaciona com aspectos
íntimos da vida da pessoa, incluindo as relações humanas, comida, trabalho e lazer, a
compreensão do rápido avanço do diabetes deve existir em consonância com o
conhecimento de novos métodos de tratamento que estejam disponíveis em tempo
presente.
“Felizmente, nos anos recentes, cresceu a necessidade da educação
individual do paciente. Mesmo em hospitais de pequenas comunidades, há programas para
pessoal em serviço e pacientes e alguns fornecem mesmo cursos contínuos para pacientes
fora do hospital” (SIMS, 1992, p. 32).
Acrescenta a mesma autora que, tratando-se de teoria de ensino, um modelo
vivo representa um acervo adquirido pela pesso, quando assume um novo papel e uma
nova forma de vida. Diabéticos experientes estão sendo usados pelos médicos na educação
sobre a doença; consiste em fonte de satisfação ser capaz de partilhar habilidades com
aqueles que delas necessitam, pois se trata de uma limitação invisível. Outros grupos
especiais executam trabalhos com diabéticos: professores, treinadores, empregadores,
agentes de seguro, pessoal da política e transporte, administradores municipais de lazer
(SIMS, 1992).
Isso porque assumir que a educação do paciente será parte integrante de
qualquer programa de tratamento intensivo, representa um passo positivo no
desenvolvimento dos programas de tratamento. Diferentemente de entender essa educação
do paciente como indicada para a apresentação de informação relativa à doença, cuidados
próprios, a meta da educação do paciente “deveria ser a de mudar o comportamento do
cliente. Se se deseja um programa efetivo, o conhecimento do cliente deve refletir-se no seu
comportamento” (MORREAU, 1992, p. 127).
Essa educação, portanto deve assegurar que o paciente utilize as
informações recebidas e as aplique de formas diversas, modificando condutas existentes,
que favoreçam o seu comportamento. Programas educacionais deverão considerar o nível

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de educação que a pessoa possui, sua motivação para o aprendizado não-formal e a sua
incorporação às estratégias para aumentá-lo (MORREAU, 1992).
No processo de ensino e aprendizagem, aquele que ensina deve fazer uma
avaliação prévia, considerando que a pessoa que explica deverá demonstrar flexibilidade na
adaptação de sua abordagem aos fatores que influenciarão a capacidade e a vontade do
paciente, para aprender sobre diabetes. Importante observar, também, os parâmetros que
os próprios instrutores possuem sobre suas crenças particulares e as abordagens que farão
quanto à aprendizagem para problemas de saúde em geral (ROSENBERG e PETERS,
2001).
É preciso, portanto, que os instrutores detenham informações a respeito da
história médica do paciente, tais como o tipo e a duração do diabete, o regime de
tratamento, as medicações, os sintomas de hiperglicemia, as freqüência da hipoglicemia,
associações mórbidas, infecções, procedimentos, cirúrgicos iminentes ou recentes e demais
informações sobre complicações diabética crônica (ROSENBERG e PETERS, 2001).
Demais informações relevantes dizem respeito à história social do paciente,
que ajuda a identificar os membros da casa, os vizinhos ou colegas que venham a ajudar no
manuseio do diabete, bem como para adquirir capacidades como o reconhecimento e
tratamento da hipoglicemia. Ainda, ao seu esquema de dieta e de medicação, informação
que pode ajudar o médico a priorizar o conteúdo do ensino para revelar determinadas
preocupações quanto à segurança.
Contudo, uma informação sobre o problema emoção e luta, deverá ser obtida,
mediante criação de um diálogo que lhes permitam aceitar sentimentos desconfortáveis por
meio de um interrogatório que contemple: “Quais são suas maiores preocupações quanto ao
diabete? Como sua família, seus amigos, seus colegas de trabalho reagem ao seu diabete?
Você se sente apoiado por eles?” (ROSENBERG e PETERS, 2001, p.306).
A dedicação a esse interrogatório, mesmo difícil para alguns educadores,
representam uma parte importante da avaliação das respostas dos pacientes e das famílias,
no sentido de esclarecer sobre o diabete e identificar as barreiras potenciais a um
aprendizado e ações de luta bem sucedidas, acrescentam Rosenberg e Peters (2001).
Lembram Rothman e Tiberius (1992) que a necessidade de orientação é uma
característica do aprendiz, eles sugerem modos específicos de motivar e reforçar o
aprendizado, podendo ser ensinado por meio de argumentos lógicos relacionados a
objetivos específicos educacionais, para um controle eficiente de sua doença; outros,
motivados pela aprovação social, poderão aprender mais eficientemente caso tenham a
oportunidade de demonstrar a sua eficiência em público.
Considerando uma orientação de atitude, é preciso prever as do paciente
aprendiz diante do diabetes, promovendo ou interferindo no alcance dos objetivos
educacionais desejados. “Por exemplo, o paciente que visualiza sua condição como sem
esperança e, ele mesmo como um peso para sua família e amigos, precisa de
encorajamento dos médicos, professores e outros doentes” (ROTHMAN e TIBERIUS, 1992,
p.145).
Da mesma forma, sendo um paciente altamente ansioso, poderá ter atitudes
em relação ao diabetes que subtraem sua habilidade para aprender os métodos de bom
controle. Assim a motivação deve ser facilitada, mediante diálogo entre o profissional e o
paciente, aceitando-se um jogo mútuo de objetivos educacionais expressos em termos
daquilo que é possível ao paciente fazer como resultado do programa educacional. Ao
negociar objetivos, contudo, o processo deve assegurar que eles refletem as expectativas
dos pacientes e seus desejos como metas reais (ROTHMAN e TIBERIUS, 1992).
Pois fica claro nesse contexto o papel dos instrutores quanto à consciência da
necessidade de orientação do paciente, aceitando a responsabilidade em guiá-lo e encorajá-
lo, não aceitando que um paciente ansioso possa significar um paciente motivado, mas
devem ser observadas as limitações e os efeitos positivos da aprendizagem.

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Sendo a motivação um grande argumento para a modificação de condutas,


casos em que a motivação não se encontra presente requer educar que “Condutas que são
seguidas por conseqüências positivas serão provavelmente repetidas mais frequentemente;
por outro lado, condutas seguidas de conseqüências negativas ocorrerão provavelmente
com menor freqüência”, salienta Morreau (1992, p. 129).
Diante de dificuldades em promover mudanças de conduta, Morreau (1992)
sugere que a educação seja desempenhada, mediante o estabelecimento de um contrato
entre o profissional responsável por educar e o paciente diabético. Essa sugestão é
mostrada no quadro 1:

QUADRO 1 – Contrato de educação entre o profissional responsável e o paciente


Responsabilidades profissionais Responsabilidade do paciente
Explique o que é o diabetes: Aprenda o que é o diabetes:
- Explique o significado do diabetes, incluindo os - Defina o diabetes e explique como é
conceitos gerais de tratamento. controlado.
Forneça instruções didáticas: Aprenda o planejamento de refeições:
- inicie a educação dietética, plano de refeições. - Explique à equipe profissional e membros da
família as noções básicas de controle dietético.
- Explique a importância de um peso normal. - Explique aos profissionais a importância de
manter o peso normal.
- Instrua o paciente e a família nos usos de - Comece alcançando o peso ideal (se
substituição de listas e escalas de alimentos. possível).

- Explique ao paciente e família o plano - Selecione os alimentos para combinar com


individual de refeições. substituições (troca) permissíveis no plano
alimentar.
- Explique a importância e função dos lanches. - Selecione os alimentos com porções próprias;
primeiro, usando a balança, depois, sem ela.
- Explique o plano de ajustamento de refeições,
para variadas situações. - Planeje os menus de acordo com o plano de
alimentos.
- Discuta o ajustamento de refeições durante
atividades variadas. - Incorpore lanches apropriados em seu plano
de refeições.
- Explique os efeitos do álcool no açúcar do
sangue, e necessidades - Ajuste sua seleção de comidas em
restaurantes, no trabalho, em viagens.
- Explique o uso de alimentos convenientes.
- Ajuste sua ingestão de comida quando suas
- Explique como ajustar os custos do plano de atividades diárias aumentam ou diminuem.
alimentos.
- Siga o conselho profissional na ingestão de
- Oriente sobre publicações de interesse. bebidas alcoólicas.

- Diga como e quando procurar ajuda na - Leia os rótulos das comidas convenientes.
solução de problemas alimentares. Determine seu valor alimentar quando as usar
no seu plano de refeições.

Ensine o teste de urina: Aprenda a testar sua urina:


- Instrua o paciente e família no teste de urina - Teste sua urina para açúcar e cetonas de
para açúcar e cetonas. acordo com instruções.
- Explique a interpretação dos testes de urina. - Registre o resultado de seus testes.
Fonte: Morreau, 1992, p.134-5.

A construção, portanto, de um contrato mútuo com idêntico potencial motivará


o paciente e representa um procedimento alternativo, assegurando que a motivação passará

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a ser parte integral do programa educacional para indivíduos diabéticos.


Colaborando Rothman e Tiberius (1992, p. 147) indicam que: “Quando
possível, o paciente deveria praticar o que lhe foi ensinado. A combinação da prática com
informação é um excelente meio de adaptar instruções às necessidades específicas do
aprendiz”. Se o conhecimento favorece a consciência precisa dos componentes de
treinamento, também podem alertar os aprendizes a respeito da dimensão de seus erros.
Os mesmos autores sugerem métodos alternativos de ensino, citando como o
mais comum deles a leitura, sob a forma de grupos de ensino, tendo como professor
transmissor de informações um ou mais doentes. Significa um método de grande valor
quando há a necessidade de transmissão de muita informação, quando não há a
necessidade do envolvimento de habilidades e se a motivação desejada está presente. No
entanto, a ressalva se dá quando a leitura é feita por si só, sem resultados práticos, porque
não experimentadas as atividades. Assim,

Todos experimentamos o resultado – uma leitura cansativa ou uma que


ensina sobre algumas atividades que não aprendemos porque não as vimos
demonstradas ou não as experimentamos. [...] Poderíamos, por exemplo,
dizer a um paciente como preencher seu teste de urina sem mostrar-lhe
como fazê-lo ou dando-lhe uma oportunidade de experimentar (ROTHMAN
e TIBERIUS, 1992, p. 153).

Um outro método consiste da representação, por meio de atividades que


misturam aprendizagem com representação; ainda que algumas pessoas não estejam
preparadas para se divertirem enquanto aprendem, se for possível criar uma atmosfera
relaxada, o aprendizado é agradável e sem pressões, desde o começo e a participação ativa
de aprendizagem será parte do processo (ROTHMAN e TIBERIUS, 1992).
Almeida et al. (1995, p. 146) consideram muito importante a educação em
saúde especialmente no tocante ao tratamento das doenças crônicas, porque ensina o
indivíduo a adaptar a sua vida a uma nova situação imposta pela doença. A partir da década
de 1980, vem crescendo o número de publicações sobre educação e doenças crônicas,
destacando-se o Diabetes Mellitus, “em cujo tratamento a participação ativa do paciente se
toma essencial”.
Mais importante, porém, são as experiências de equipes multiprofissionais e
colônias de férias para pacientes crônicos, cujo desempenho como estratégias educacionais
têm sido consideradas eficientes. Neste sendo, “O processo educativo é complexo e envolve
várias fases em seu desenvolvimento. Entre essas, inclui-se o entendimento e memorização
de conteúdos, como passo precedente e motivador da mudança de hábitos de vida que é
etapa final e conclusiva do processo educacional”, complementam Almeida et al. (1995, p.
146).
Com relação ao ambiente de aprendizagem, Rosenberg e Peters (2001)
lembram que tanto os fundamentos culturais de um paciente quanto os de um educador de
diabete consistem no direcionador de um contexto no qual o paciente desenvolve certos
valores, crenças, comportamentos e relacionamentos com a família e com os demais
profissionais de saúde.
Determinar a base cultural do paciente é fácil: requer apenas elaborar
perguntas gerais que lhe permitam expressar suas crenças e comportamentos peculiares.
Ao educador, cabe anotar os dados obtidos com relação às idéias do paciente ou de sua
família sobre as causas do diabete e das suas complicações, sobre os efeitos que o
tratamento possa exercer na vida do paciente, sobre o uso de alimentos específicos ou
ervas com relação a pretensos efeitos sobre a saúde, quanto ao papel de certos membros
da família e quanto às decisões e responsabilidades do tratamento. Assim, é preciso
observar que:

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Ao explorar as crenças dos pacientes e das famílias, é importante manter-


se imparcial. As tentativas do educador para corrigir o que ele considera
uma convicção errônea poderá estorvar o relacionamento. Em vez disso, o
educador e a equipe de diabete poderão usar estas informações ao
combinar o plano de tratamento ou ao tentar descobrir por que um
determinado plano não foi eficiente (ROSENBERG e PETERS, 2001, p.
310).

Torres et al. (2007) informam sobre o Plano de Reorganização da Atenção à


Hipertensão Arterial Sistêmica e o Diabetes Mellitus, implementando pelo Ministério da
Saúde, em 2002, visando estabelecer diretrizes e metas para reorganizar a atenção a esses
grupos de agravos no Sistema Único de Saúde (SUS). A operacionalidade desse Plano
seria viabilizada com a atualização dos profissionais de saúde, implementação de protocolos
de assistência, distribuição de medicamentos, vinculação do paciente às unidades básicas e
ampliação de atendimento resolutivo.
O Plano de Reorganização da Atenção à Hipertensão Arterial Sistêmica e o
Diabetes Mellitus teve em uma de suas etapas a capacitação de multiplicadores para
atualização de profissionais da rede básica na atenção a HAS e ao DM, considerada “[...]
uma lacuna que foi detectada para ampliação da proposta do Plano de capacitação, no que
tange aos profissionais que assumem o processo educativo dessa clientela” (TORRES et
al., 2007, p. 178).
Demais questões foram verificadas tais como a necessidade de formação do
pensamento crítico e emancipatório dos profissionais de saúde, no sentido de promover
uma comunicação aberta e interativa com os indivíduos, disseminando conhecimentos e
fomentando a aquisição de habilidades com vistas à melhoria de sua saúde. Assim, ao
estruturar um plano de intervenções para educação em Diabetes, os objetivos deverão
prover ao indivíduo conhecimentos, atitudes e habilidades necessárias para o desempenho
do autogerenciamento dos cuidados da doença no controle das crises (hipoglicemia;
hiperglicemia) e para a mudança de comportamento, especialmente, dentro das áreas de
nutrição e atividade física, de modo que este indivíduo se torne capaz de entender e
motivar-se a participar efetivamente do regime terapêutico no dia-a-dia (TORRES et al.,
2007).
Nesse sentido, ressaltam Santos et al. (2001, p.5) que:

A educação desempenha papel de destaque na equipe multidisciplinar, para


a promoção do autocuidado do sujeito. Nesse contexto o sujeito possui uma
responsabilidade pelo seu próprio cuidado, necessitando de apoio estímulo
e motivação, que são fatores necessários na facilitação do processo de
aprendizagem e cumprimento dos objetivos da educação para a sua saúde.
A relação entre o autocuidado, o trabalho e a educação residem no fato de
um fator poder ajudar o outro.

Assim, ao assumir o autocuidado, o próprio sujeito terá definidas e


destacadas as suas necessidades e objetivos, respeitados os aspectos do processo
histórico-cultural e privilegiando os afetos, emoções, sentimentos e reações dos sujeitos em
relação ao DM, com relação aos cuidados com a saúde (SANTOS et al. 2001).
Antes, porém, cabe refletir acerca da formulação de um plano de ensino, no
sentido de que os educadores de diabete sejam flexíveis, práticos e realísticos. Há
necessidade de se manter um procedimento detalhado e organizado nas sessões que
explicam o diabete e inclui o prévio conhecimento do expositor sobre as mudanças
repentinas. Por isso, a importância de deter materiais educativos preparados para o uso
ordenado, evitando que as desigualdades em pontos de vista de educador e paciente se
tornem motivo de comprometimento do ensino (ROSENBERG e PETERS, 2001).

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2.3 Planejamento Multidisciplinar de Atendimento à Prevenção e


Controle de Pacientes Diabéticos

Propõe-se como Planejamento Multidisciplinar de Atendimento destinado à


prevenção e controle de pacientes diabéticos na Unidade de Saúde Central de Honório
Serpa, Paraná, para que seja utilizado como ferramenta na Educação Não-Formal, o
seguinte:
1. Lançamento de uma campanha esclarecedora e informativa sobre o
diabetes melittus no município, em parceria com os seguintes organismos e instituições:

- Pastoral do Idoso;
- Equipes do Programa Saúde da Família;
- Agentes Comunitários;
- Pastoral da Saúde;
- Grupos de Terceira Idade;
- Igrejas;
- Conselhos Municipais;
- Clubes esportivos e recreativos;
- Departamentos de educação, esporte, cultura e demais entidades
constituídas do município.

2. Convocação de todos os profissionais de saúde que prestam serviço no


município, entre eles as equipes do Programa Saúde da Família, médicos, enfermeiras,
psicólogos, assistentes sociais, farmacêuticos, bioquímicos, dentistas, nutricionistas,
professores de educação física, fisioterapeutas, técnicos de enfermagem, auxiliares de
enfermagem e pessoas habilitadas para trabalhar na detecção de pessoas com diabetes
melittus.
3. Capacitação e elaboração de roteiros de treinamento às equipes
educadoras em diabetes norteando uma abordagem flexível, prática e realista sobre o
diabetes seus cuidados e suas complicações ao paciente e familiares, respeitando os
fundamentos culturais do indivíduo seus valores, crenças e comportamentos.
4. Censo das pessoas diabéticas do município, através do levantamento feito
pelas Equipes do Programa Saúde da Família.
5. Criação de frentes de trabalho com a tarefa de atrair as pessoas diabéticas
e pré-diabéticas para as reuniões, tais como:

o Oficinas de alimentação;
o Gincanas de qualidade de vida e atividade física, caminhadas
educativas;
o Tardes recreativas;
o Cozinha experimental;
o Oficinas de auto-estima;
o Projeção de filmes educativos e recreativos;
o Tarde de cuidados com os pés;
o Visitas os diabéticos com comprometimento de visão ou locomoção;
o Confraternização dançante;
o Dramatizações e peças de teatro enfocando autocuidado em diabetes;
o Receitas de doces para diabéticos.

6. Avaliar e reavaliar periodicamente as atividades motivando o paciente a


experimentar e explorar o que ele aprendeu no seu dia-a-dia para privilegiar o aprendizado

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por descobertas, já que esse é muitas vezes o mais poderoso e motivador para o paciente.

3 DADOS DO ESTUDO DE CASO MÚLTIPLO

Santos et al. (2001) apresentam estudos sobre um projeto de extensão


desenvolvido, em julho de 1996, no Laboratório de Diabetes para os Servidores da UFRJ –
LADIS, com parceria entre a Escola de Enfermagem Anna Nery (EEAN) e a Divisão de
Saúde do Trabalhador (DVST) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O
atendimento a pacientes diabéticos foi realizado pela equipe multidisciplinar, composta por
médico, enfermeira, nutricionista, psicóloga e assistente social.
Nesse projeto foi possível acompanhar os seguintes dados de 1997 a 2000:

TABELA 1 - Número e percentual de atendimentos do LADIS, por tipo de


consulta, nos anos de 1997 a 2000.
ANO 1997 1998 1999 2000

ATENDIMENTO N % N % N % N %
Consulta Médica 06 22,0 30 30,0 98 49,25 68 35,7
Perícia Médica - - 20 20,0 68 34,0 11 5,7
Licença Médica 52 53,0 07 7,0 07 3,5 37 19,7
Palestra Educativa - - 05 5,0 03 1,5 03 1,5
Consulta de Enfermagem 27 25,0 41 38,0 22 11,5 36 18,9
Junta Médica - - - - 01 0,25 - -
Consulta Nutricional - - - - - - 35 18,5
TOTAL 85 100 103 100 199 100 190 100,0
Fonte: Santos et al., 2001.

Dados do relatório anual revelaram um total de atendimentos na DVST, no


ano de 2000 de 10.863 pacientes diabéticos, configurando-se um percentual de atendimento
do LADIS de 1,74%. A conclusão dos autores mostra um aumento progressivo dos
atendimentos dos servidores portadores de Diabetes Mellitus (DM) pelos profissionais da
equipe e conseqüente diminuição das licenças médicas, que se encontravam estabilizadas,
confirmando que programas educativos podem reduzir o número de hospitalizações por DM.
Gaio (2003, p.19), durante atuação como Farmacêutica-Bioquímica em
laboratório de análises clínicas e farmácia de dispensação, por mais de 13 anos, observou
constante angústia por parte de pacientes diabéticos que buscam serviços de saúde, suas
expectativas com relação aos resultados dos exames e quanto à eficácia dos
medicamentos. Em sua observação, no entanto, o que mais se destacou em relação a
essas pessoas foi a falta de informações corretas relativas ao diabetes e assim registrou:
“Muitas crenças imperam e o temor de que seus familiares no futuro apresentem a mesma
enfermidade é fator de preocupação manifestado pelos indivíduos envolvidos no processo
de tratamento do diabetes”.
Diante desse quadro, Gaio (2003) realizou um plano de intervenção utilizando
a educação não-formal buscando investigar como se apresenta a incidência do Diabetes
Melittus 2 em indivíduos que tenham parentesco em primeiro grau com portadores dessa
enfermidade e se a atividade física poderia proporcionar uma melhor qualidade de vida a
esses indivíduos. Nesse sentido, buscou avaliar se a introdução de um programa
educacional modificaria o grau de informações sobre o diabetes e assuntos relacionados
como obesidade e hipertensão, dentre outros objetivos.
As variáveis pelo estudo foram à prevalência de intolerância à glicose e

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diabetes melittus em parentes de primeiro grau de diabéticos, Programa Educacional e


Testes Bioquímicos. A metodologia utilizou como critério para seleção dos 32 (trinta e dois)
sujeitos da amostra que fossem parentes em primeiro grau de indivíduos diabéticos (filhos
ou irmãos) com idade superior a 30 anos, não diabéticos ou desconhecedores de sua
situação diabética e residentes no município de Honório Serpa, Estado do Paraná (GAIO,
2003).
O estudo foi desenvolvido, na primeira fase com todos os participantes, com
aplicação de teste oral de tolerância à glicose em repouso, palestras e encontros, nas
dependências do Hospital Municipal Cristo Rei, do município de Honório Serpa, na sala de
reunião e sala de coleta do laboratório de análises clínicas.
“Na segunda fase, envolvendo os indivíduos pré-diabéticos da amostra, foi
realizado o teste oral de tolerância à glicose, com caminhada de 50 minutos, palestras e
vivências; os testes foram desenvolvidos junto à quadra poliesportiva do Ginásio de
Esportes Municipal” (GAIO, 2003, p. 21).
Para os procedimentos, utilizou a análise do Índice de Massa Muscular (IMC);
análise da média das pressões arteriais sistólica e diastólica; levantamento dos alimentos
contendo açúcares consumidos; levantamento sobre a existência de obesos entre os
familiares; índice de aderência a dietas de redução calórica para perda de peso; análise dos
índices da prática de atividades físicas e levantamento de fumantes.
O experimento foi realizado a partir do levantamento dos dados e após a
realização de reuniões com palestras sobre o diabetes melittus. Para a classificação da
amostra, foram utilizados critérios preconizados pela Organização Mundial da Saúde (OMS)
e recomendados pelo Ministério da Saúde: a) Glicemia de jejum alterada: Glicemia de jejum
entre 110 e 125 mg/dl; b) Tolerância diminuída à Glicose ou Intolerantes à Glicose: Glicemia
de jejum inferior a 126 mg/dl e, na segunda hora, após a sobrecarga com 75 g de glicose via
oral, situarem-se entre 140 e 199 mg/dl; c) Diabetes melittus: Glicemia de jejum maior que
126 mg/dl e, na segunda hora, após a ingestão de 75g de glicose anidra, maior ou igual a
200 mg/dl.
Os resultados revelaram que:

[...] os indivíduos classificados como intolerantes desconheciam os


parâmetros dimensionais da DM. Os sujeitos demonstraram conhecimentos
precários, com a alimentação equilibrada. [...] 40% dos indivíduos pré-
diabéticos de nossa pesquisa não eram alfabetizados, e 60% apresentavam
escolaridade mínima (GAIO, 2003, p. 80).

Verificou-se redução de 9,06% nos níveis de glicemia dos participantes da


pesquisa quando eles participavam da atividade física em relação aos níveis dos testes em
repouso. Confirma-se que “atenções e programas de detecção precoce e atividade física
devem ser dirigidas a parentes de pacientes com diabetes melittus tipo 2, ou seja, à família”
(GAIO, 2003, p.82).
Ponte et al. (2006), considerando o Diabetes Mellitus um relevante problema
de saúde pública em todo o mundo, pelo crescimento de sua freqüência, pelos impactos que
geram o desenvolvimento de suas complicações agudas e crônicas, bem como pelo seu
elevado custo social e econômico, instituíram o Projeto Sala de Espera, um programa de
educação continuada para os diabéticos acompanhados no Ambulatório de Endocrinologia e
Diabetes do Hospital Universitário Walter Cantídio, da Universidade Federal do Ceará
(HUWC-UFC).
O projeto buscou desenvolver ações preventivas e educativas direcionadas
ao diabetes mellitus e suas co-morbidades, de forma a promover a interação dinâmica entre
pacientes, familiares e equipe multidisciplinar, conhecer os pacientes quanto ao nível de
conhecimento sobre a doença, compreensão e adesão à terapêutica e avaliar o impacto da
educação continuada sobre o controle do diabetes e suas complicações.
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A metodologia do projeto previu a sua operacionalização com pacientes


seguidos no Ambulatório de Diabetes do HUWC-UFC; neste local, foram realizadas reuniões
por equipe multidisciplinar, composta por médicos, enfermeiras, psicólogos, nutricionistas,
educadores físicos, dentistas e assistentes sociais e alunos da graduação e pós-graduação
das especialidades citadas, utilizando-se de diferentes estratégias de grupo e recursos
audiovisuais.
Dos procedimentos desse Projeto, consta o seguinte:

Às sextas-feiras, pela manhã, eram realizadas duas reuniões educativas


com temas idênticos, com grupos de 25 pacientes cada uma e duravam em
média meia-hora. Os grupos eram formados de acordo com o horário de
chegada ao hospital e, a partir de convite, participavam da atividade, que
ocorria durante o seu período de espera para a consulta. Os mesmos eram
identificados por crachás, para permitir uma melhor integração do grupo e
conduzidos a uma sala de reuniões para o início da sessão (PONTE et al.
2006, p.198).

Os resultados do Projeto confirmam a realização de 20 reuniões com 350


pacientes, seguidos no Ambulatório de Diabetes do HUWC-UFC e seus acompanhantes de
março a outubro de 2006, com 76 pacientes, selecionados aleatoriamente, entrevistados.
Foi claramente percebido “maior motivação dos pacientes após cada reunião, participação
mais ativa nas consultas médicas e um crescente interesse sobre a sua enfermidade e o
seu cuidado” (PONTE et al., 2006, p. 201).
A recomendação dos autores é no sentido de que: “Um programa educativo
com atividades em grupo para pacientes com diabetes mellitus deve visar ao
autoconhecimento e propiciar que educador e educando troquem experiências e habilidades
através do processo de aprendizagem” (PONTE et al., 2006, p.201).
Nesse sentido, o paciente deverá ser um dos membros da equipe
multidisciplinar na medida em que se conscientizar da importância da relação médico-
paciente como parte essencial do tratamento; assim, pressupõe-se que todos os esforços
despendidos para integração da equipe se traduzirão em benefício do paciente portador de
diabetes, motivando-o para o autocuidado.
Estudos realizados por Torres et al. (2007) sobre a educação em Diabetes
por meio de modalidade de Oficinas junto aos profissionais de Saúde da Família como meio
de trabalhar a capacitação em Diabetes Mellitus Tipo II, em 2006, apresentaram as
seguintes ações: a) ações de educação em saúde sobre DM; b) educação em grupo e
Complicações crônicas do DM; c) Plano Alimentar; d) atividade física, pré-diabético e estudo
de caso.
Na avaliação dos resultados, os autores constataram a eficácia das
estratégias propostas para facilitar a expressão do grupo, com boa aceitação pelos
profissionais de saúde da família.
Assim, o estudo confirmou que, em relação às possibilidades observadas na
utilização do método educativo, ele abriu diversas possibilidades, destacando-se que os
profissionais relataram a necessidade de estruturação de um processo pedagógico em
relação à organização e planejamento das atividades de ensino e aprendizagem,
reconheceram a deficiência de capacitação para atuarem no programa de educação em
Diabetes, valorizando a interdisciplinaridade voltada para a promoção em saúde.
Apesar de que, de início, apenas os médicos expressavam suas opiniões e
questionamentos, enquanto os demais profissionais comunicavam-se apenas entre si,
gradativamente, houve um maior entrosamento do grupo, favorecendo as discussões
referentes às complicações apresentadas pela DM. Com o aprofundamento da discussão
acerca dos hábitos alimentares e das orientações fornecidas aos indivíduos diabéticos, “A
participação da nutricionista na coordenação do tema estimulou os participantes a refletirem

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GAIO, Roseli; PITON, Ivania Marini

sobre a dificuldade enfrentada pelos usuários na adesão ao tratamento e na mudança de


comportamento em relação à dieta e exercícios” (TORRES et al., 2007, p. 179).
Por fim, os autores do estudo concluíram como evidente a importância de se
considerar a mudança de comportamento não como um problema, antes, como um desafio
a ser enfrentado por profissionais de saúde e usuários, da mesma forma que foram
destacadas as atividades educativas periódicas como ferramenta essencial ao
gerenciamento da educação do autocuidado da doença.

4 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

A conclusão a que se chega a partir dos dados pesquisados é, sobretudo,


pela importância de todos os temas estudados e que se correlacionam entre si: educação,
políticas públicas de educação, educação não-formal, diabetes melittus, equipe
multidisciplinar e, especialmente, a detecção sobre a necessidade em promover alternativas
de mudanças no quadro da DM, pelo menos nos contextos sociais mais próximos da
responsabilidade pessoal e individual de cada um.
É assim que se confirma, no estudo de casos clínicos, que a educação não-
formal vem sendo um aporte significativo aos problemas de falta de informação por pessoas
diabéticas, constituindo-se em um instrumento que inclui aspectos relevantes sobre a
doença, cuidados e inclusive cuidados para prevenção.
Também os dados obtidos com a realização da pesquisa de levantamento
nos Arquivos de Atendimento do Posto de Saúde do município de Honório Serpa
confirmaram que o paciente diabético não detém o real conhecimento sobre a doença e o
seu devido cuidado, evidenciando a negligência quanto a atitudes básicas de prevenção,
como a falta de interesse pela atividade física regular e a manutenção de hábitos
alimentares.
De relevante importância, no entanto, é a realização do trabalho de
informação/educação e prevenção por equipe multidisciplinar, em razão dos diferentes
saberes e de diferentes vivências, que podem ser repassados para a população de modo
singular, em sua experiência individual, e de modo coletivo, validado pelo aprendizado e
caminhada profissional.
Postas essas considerações, ressalva-se que tanto este trabalho, em seu
desenvolvimento, perspectivas e esperanças, não têm a pretensão de ser definitivo naquilo
que abordou; antes, porém, estima que possa ser fonte de interesse para que pesquisas
sejam realizadas e apontem novas possibilidades de informar, educar e disseminar o
conhecimento sobre essa doença, por meio da implementação e da prática da educação
não-formal, ainda mais se for disposta pelas políticas públicas da educação e da saúde.
Considerando que a educação não-formal possui caráter intervencionista na
realidade e, especialmente quanto ao objeto desta pesquisa, este trabalho será
encaminhado à Unidade de Saúde Central de Honório Serpa e discutido com seus
responsáveis a implementação do Planejamento Multidisciplinar de Atendimento destinado à
prevenção e controle de pacientes diabéticos.
Como recomendação ao estudo, deve ser implementada a educação não-
formal aos indivíduos diabéticos e pré-diabéticos do município estudado, Honório Serpa,
Paraná.

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EDUCAÇÃO NÃO-FORMAL: UM INSTRUMENTO NA IMPLEMENTAÇÃO DO PLANO DE ATENDIMENTO
MULTIDISCIPLINAR AO DIABÉTICO NA UNIDADE DE SAÚDE CENTRAL DE HONÓRIO SERPA – PR

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