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ISSN: 2595-6825
DOI:10.34119/bjhrv5n1-106
RESUMO
Introdução: Desde o começo da pandemia do Coronavírus no Brasil, as secretarias municipais
de saúde, gestoras da Atenção Primária à Saúde (APS), suspenderam a realização das atividades
em grupos, limitando a execução de ações de educação em saúde realizadas nas unidades de
saúde (US). Logo, foi necessária a implantação de outros métodos para a realização das ações,
sendo a sala de espera uma alternativa de abordagem à comunidade enquanto aguardam a
assistência profissional. Objetivo: Relatar a experiência de implantação da sala de espera, tendo
por base uma abordagem participativa e centrada na transmissão de informações para
promoção, proteção e educação em saúde. Método: Relato de experiência, realizado em duas
US de APS do município de Porto Alegre – RS, abordando a implantação da sala de espera com
usuários entre os meses de março à agosto de 2021. Resultados e discussões: A participação
ativa dos usuários no aguardo do atendimento, assim como suas opiniões e dúvidas durante as
ações, favoreceram o letramento em saúde da população em ações de combate da hipertensão
arterial, higienização de mãos, combate ao tabagismo, prevenção do câncer bucal, teste do
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ABSTRACT
Introduction: Since the beginning of the Coronavirus pandemic in Brazil, the municipal health
secretariats, managers of Primary Health Care (PHC), suspended the activities in groups,
limiting the implementation of health education actions carried out in health units (PHC).
Therefore, it was necessary to implement other methods to carry out the actions, being the
waiting room an alternative approach to the community while they wait for professional
assistance. Objective: To report the experience of implementing the waiting room, based on a
participatory approach and focused on the transmission of information for promotion,
protection and health education. Method: Experience report, conducted in two PHC US of the
city of Porto Alegre - RS, addressing the implementation of the waiting room with users
between March and August 2021. Results and discussions: The active participation of users
while waiting for the service, as well as their opinions and questions during the actions, favored
the health literacy of the population in actions to combat hypertension, hand hygiene, smoking,
oral cancer prevention, guthrie test, integrative health practices and Golden August. The actions
in the waiting room potentiate discussions about the processes of people's daily lives, effecting
the active participation, not only of people at risk of getting sick, but of the whole community.
Final considerations: The waiting room activities can maximize health education and promotion
practices in order to guarantee humanized care, considering the users' needs and bringing the
community and the health service closer together.
1 INTRODUÇÃO
Um dos princípios da Atenção Primária à Saúde (APS) é a integralidade, que abre o
pressuposto de que os serviços de saúde enxergam as necessidades de saúde dos usuários em
suas várias dimensões (STARFIELD, 2004). Para atender esse princípio é necessária a
definição de portas de acesso para uma abordagem que vise a promoção e a proteção da saúde
em todos os níveis assistenciais. Considerado como um potencial espaço para educação em
saúde, a APS é composta pelas unidades de saúde (US) e pelas equipes de Estratégia de Saúde
da Família (ESF), fixadas próximas à moradia dos usuários (BRASIL, 2017). Direcionadas para
a tríade usuário-família-comunidade, as ESF devem estabelecer o cuidado a partir das
necessidades de saúde dos usuários, identificadas indiretamente ou diretamente, através da
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2 METODOLOGIA
Foi desenvolvido um estudo descritivo, com relato de experiência realizado por
residentes multiprofissionais em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS) com campo de atuação na APS. A equipe de trabalho foi composta por duas
residentes em Saúde Coletiva, uma preceptora das US e uma professora da UFRGS. O local de
realização da prática foi em duas US, pertencentes ao distrito de saúde Glória-Cruzeiro-Cristal
(GCC) do município de Porto Alegre/RS e que encontram-se sob administração de uma rede de
saúde contratualizada.
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Segundo dados do IBGE (2010), a US Estrada dos Alpes é responsável por 2733
habitantes, entretanto, 3007 habitantes tiveram acesso à UBS nos anos de 2018 a 2020,
conforme os dados do sistema de informação em saúde e-SUS. Nessa UBS, a assistência está
distribuída em uma Equipe de Saúde da Família composta por um médico, um enfermeiro(a),
dois técnicos(as) de enfermagem, um dentista, um auxiliar de saúde bucal, dois agentes
comunitários de saúde (ACS), um recepcionista, um auxiliar de serviços gerais e um gerente de
saúde. O território teve um Índice de Vulnerabilidade em Saúde (IVS) em 2018 de 0,76, de
acordo com a Assessoria de Planejamento e Programação (ASSEPLA).
A US Rincão tem uma população de 5074 habitantes (IBGE, 2010), mas 8711 habitantes
tiveram acesso à UBS nos anos de 2018 a 2020, conforme os dados do e-SUS. A assistência
está distribuída em duas Equipes de Saúde da Família composta por dois médicos(as), dois
enfermeiros(as), quatro técnicos(as) de enfermagem, um recepcionista, um auxiliar de serviços
gerais, seis ACS e uma gerente de saúde, possuindo um IVS de 0, 64 em 2018, de acordo com
a ASSEPLA.
As ações de educação em saúde ocorreram mensalmente, no período de março a agosto
de 2021, nos turnos da manhã e da tarde, em ambas as US. Foram discutidos sete temas, sendo
eles: o combate da hipertensão arterial, higienização de mãos, combate ao tabagismo, prevenção
do câncer bucal, teste do pezinho, práticas integrativas em saúde e agosto dourado. O
planejamento das ações foi realizado com base nas datas comemorativas do calendário da saúde
e também considerando temas que se encaixavam dentro dos contextos territoriais das US.
Foram construídos recursos educativos, com base nos materiais do Ministério da Saúde do
Brasil, como folders e cartazes para auxiliar no processo de EPS. A duração das falas nas salas
de espera foi estimada em aproximadamente 15 minutos, sendo disponibilizados espaços para
esclarecimentos de dúvidas com os residentes e as ESF.
Para análise qualitativa das ações de EPS, foi construída uma planilha no software
Microsoft Excel, a qual foi alimentada ao final de cada atividade com a data, tema abordado,
número aproximado de usuários que participaram e as articulações realizadas durante a sala de
espera.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os temas abordados nas ações de EPS nas salas de espera foram propostos pelos
profissionais, em reuniões de equipe, e pelos usuários, durante os atendimentos ou na recepção.
Participaram das ações aproximadamente 153 usuários, entretanto, esse valor é apenas uma
estimativa visto que em algumas ações não foi contabilizado o número de participantes e em
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outras, tiveram um número maior de participantes. A maioria desses, eram adultos e idosos de
ambos os sexos.
Tabela 1 - Resumo das atividades de educação popular em saúde realizadas nas salas de espera das Unidades de
Saúde.
Mês Tema Objetivo Recursos educativos
Abril Higienização de mãos Conscientizar os usuários sobre a Atividade lúdica com tinta
importância da higiene de mãos na
pandemia do COVID-19
Maio Dia mundial sem tabaco Conscientizar os usuários sobre os Cartaz e entrega de folder
malefícios do tabaco e divulgar os educativo
tratamentos oferecidos pela UBS
Julho Práticas Integrativas em Iniciar a implantação das práticas Bolsas térmicas para os
Saúde integrativas em saúde nas UBS bebês
A ação realizada no mês de março, foi alusiva ao Dia Mundial de Combate a Hipertensão
Arterial Sistêmica (HAS), que é comemorado no dia 26 de abril. Foi abordado o conceito de
HAS, os fatores de risco, a epidemiologia, o tratamento da doença e os serviços oferecidos para
os pacientes, como aferição da pressão arterial e tratamento medicamentoso. Uma das
residentes é nutricionista e realizou uma fala sobre a alimentação cardioprotetora, que tem como
base os alimentos in natura ou minimamente processados. Ao final da conversa com os
usuários, foi entregue um sal de ervas feito pelas residentes, composto por orégano, alecrim,
manjericão, cebola, alho e salsinha, a fim de estimular a diminuição do sal nas preparações
culinárias e a utilização de temperos naturais. O tempo de duração dessa prática foi de 20
minutos e contou com a participação de aproximadamente 42 usuários.
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Realizada no mês de abril, a ação de higiene de mãos foi realizada devido à demanda
atual relacionada à pandemia do Coronavírus. Foi tratado sobre a importância da higiene de
mãos e como essa medida auxilia na prevenção e disseminação do vírus, conforme as
orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS), Organização Pan-Americana de Saúde
(OPAS) e outros órgãos governamentais da saúde (OPAS, 2020). O Dia Mundial de
Higienização das Mãos é celebrado no dia 05 de maio e a ação foi realizada na semana anterior
a essa data. Uma abordagem lúdica foi feita com os usuários e os profissionais das equipes,
mostrando com tinta nas mãos os 10 passos para uma higiene de mãos adequada. Ao final do
processo as mãos estavam completamente pintadas, demonstrando que se seguidos todos os
passos, as mãos podem ficar totalmente limpas. Os usuários interagiram e trouxeram algumas
dúvidas relacionadas ao uso de álcool gel e sua eficácia, a necessidade da higiene de mãos e o
uso concomitante de álcool gel, assim como a substituição da higiene de mãos pelo álcool gel.
Essa EPS durou aproximadamente 15 minutos, com cerca de 58 usuários, em ambas UBS.
A ação sobre tabagismo foi alusiva ao Dia Mundial Sem Tabaco, que acontece no dia
31 de maio. Essa ação visou conscientizar os usuários acerca dos malefícios do cigarro para a
saúde, apresentou os serviços oferecidos pela US e os tratamentos ofertados pelo SUS para
quem deseja parar de fumar. Foi elaborado um material educativo em forma de folder para ser
entregue aos usuários abordando: diferenças entre fumo ativo e passivo, tipos de tabaco, ação
da nicotina no corpo humano, epidemiologia acerca das mortes causadas pelo cigarro e
porcentagem de fumantes no país. Nesse momento, foi informado que caso houvesse
interessados, se iniciaria o grupo de tabagismo, com número reduzido de participantes devido
à pandemia. Ao final, abriu-se o desafio para que os fumantes e não-fumantes não fumassem
nesse dia, dando ênfase à campanha mundial. Ao todo participaram dessa ação 35 usuários, em
ambas UBS, com duração de 15 minutos da EPS.
Incentivados pela dentista de uma das US, em alusão ao maio vermelho, foi realizada a
EPS sobre prevenção do câncer bucal com apresentação de um material educativo sobre a
importância da avaliação odontológica, a disponibilidade de atendimento odontológico
oferecido no SUS e a definição da US de referência para aquelas que não possui equipe de
saúde bucal (ESB). Ao final, foi realizada avaliação de saúde bucal dos pacientes e entregue o
material educativo.
A ação sobre o teste do pezinho foi realizada no mês de junho, em alusão ao Dia
Nacional do Teste Pezinho, comemorado no dia 06 de junho. Esse ano, a data foi comemorada
com a ampliação do teste diagnóstico de 6 para aproximadamente 50 doenças. Foi elaborado
um cartaz com informações sobre o teste, a importância e o período indicado para a realização
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e a novidade sobre a ampliação. Também foram entregues folders educativos com as mesmas
informações do cartaz e ao todo, participaram dessa ação 18 usuários.
No mês de julho foi realizada uma EPS que não consiste em uma sala de espera, mas
sim na integração entre as equipes e a população do território. Visando a implantação das
práticas integrativas e complementares em saúde (PICS) através da aromaterapia e fitoterapia,
foram confeccionadas pequenas bolsas térmicas para bebês, as quais foram entregues nas
consultas de pré-natal e puerpério pelos médicos e enfermeiros das US, com um bilhete
carinhoso escrito pelo profissional de saúde que a confeccionou.
Por fim, a sala de espera do mês de agosto, em alusão ao mês de incentivo ao aleitamento
materno, objetivou informar os usuários e principalmente as gestantes e puérperas sobre a
importância do aleitamento materno para a saúde e desenvolvimento do bebê. Foram elaborados
dois materiais educativos, sendo um entregue ao final da conversa na sala de espera e o outro,
para ser entregue pelas enfermeiras durante as consultas de puerpério. As salas de espera das
unidades também foram decoradas com balões e cartazes para destacar a importância desse mês
para a saúde.
Durante o período de prática, observou-se que algumas ações de EPS tiveram um maior
engajamento por parte dos usuários. A utilização de recursos preparados e estratégias para as
ações, oportunizaram uma maior dinamização entre os usuários e os profissionais que
realizavam as práticas de EPS. Em um momento de espera e que possivelmente seria vazio, as
falas, atividades lúdicas, exposição de cartazes e entrega de materiais educativos retém uma
maior atenção do público presente, podendo nesses momentos serem relatados casos, abertos
espaços de questionamentos e até mesmo, quebrados tabus em relação às questões de saúde.
Para Cervera, Parreira e Goulart (2011), essas estratégias podem implicar nos usuários a
capacidade de discernimento sobre hábitos e ações, tornando-os mais responsáveis e críticos.
De acordo com a Política Nacional de Humanização (2013), a comunicação entre os
profissionais e os usuários auxilia no processo de construção coletiva e promove melhorias nos
processos de trabalho e no modo de fazer saúde. As ações desenvolvidas no presente trabalho
propiciaram aos usuários um momento de escuta, troca e construção de saberes sobre questões
e necessidades de saúde próprias. Isso foi observado principalmente na ação de prevenção ao
câncer bucal, a qual os usuários da US que não possuem ESB comentaram sobre a carência
desse serviço no seu território, devido à distância da US de referência e como isso gera a
necessidade do uso de transporte coletivo que, por vezes, impossibilita os usuários em
vulnerabilidade social de acessarem o mesmo.
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educativo acabou sendo suprimida, não sendo possível a sua execução. No início deste trabalho,
verificou-se que não eram realizadas atividades de EPS pelos profissionais das ESF nas salas
de espera. Sendo assim, a atuação de residentes de Saúde Coletiva e de acadêmicos dos cursos
da área da saúde ode ser considerada uma forma positiva de contribuição para o serviço e
principalmente em ações para usuários das US.
Logo, as ações em sala de espera potencializam discussões acerca dos processos do
cotidiano das pessoas, criando espaços para reflexões e posicionamentos críticos frente às ações
destes na construção de qualidade de vida e na manutenção da saúde, efetivando a participação
ativa, não apenas das pessoas em risco de adoecer, mas de toda a comunidade (ROSA; BARTH;
GERMANI, 2011). Dessa forma, entende-se a importância da implantação das salas de espera
com EPS, sendo essa abordagem um instrumento essencial e facilitador para conhecer melhor
a realidade da população, principalmente acerca das suas respectivas necessidades sociais e de
saúde, assim como transmitir conhecimentos sobre os processos de saúde-doença e promover a
integração entre as equipes e a comunidade.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As práticas de educação e promoção em saúde nas salas de espera garantem um cuidado
humanizado, com acolhimento e escuta dos usuários que aguardam atendimento. Essas ações
abordam e consideram as necessidades sociais e de saúde da população, promovendo um maior
conhecimento acerca dos assuntos abordados e efetivando a aproximação entre as equipes
multiprofissionais e os usuários. A realização das EPS nas salas de espera são mais do que
aproveitar o espaço da espera pelo atendimento, devendo ser cada vez mais explorado pelos
profissionais, residentes e acadêmicos da área da saúde. São necessários mais estudos sobre o
planejamento das ações de EPS nas salas de espera e efetividade dessas ações do ponto de vista
dos usuários, trabalhadores e gestores dos serviços de saúde.
AGRADECIMENTOS
Às comunidades das unidades de saúde, onde foram realizadas as ações de educação popular
em saúde durante o período de construção do referido artigo, pela acolhida.
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