Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Cadeias Musculares:
fundamentos
Luís Coelho,
Fisioterapeuta mézièrista
Professor de Pilates
coelholewis@hotmail.com
www.reeducacaopostural.blogspot.com
“As pessoas querem aprender
a nadar e ter um pé no chão ao
mesmo tempo.”
Marcel Proust
Produto? Ciência? Arte?...
As verdades positivas (ex. Russell, Wittgenstein)
versus
Relativismo (no seu máximo, pós-modernismo; ex.
Kuhn, Foucault, Rorty, Derrida)
Flexibilidade
b) “Se o tecido suporta tensões curtas mas repetidas, as
moléculas colaginosas instalam-se em paralelo”
Força
Mito do mito
Nota: Uma das estratégias para defender a existência de um “mito” é o de defender que o tecido muscular
não contratura com o treino de força. Pergunto-me: e o tecido conjuntivo? Não é este tão ou mais importante
que o tecido muscular? (Músculo »»»»» Fáscia)
Dados histológicos e funcionais preliminares
Flexibilidade
Pré-requisitos:
Kendall
Postura “anormal” nos planos frontal e horizontal:
Paradigma de Bricot
Postura “normal”: Paradigma de Bricot
Bernard Bricot (2004, reedição brasileira), na sua obra clássica “Posturologia”,
realiza uma série de definições operacionais de postura “normal”, concluindo
que a postura normal = ausência de forças contrárias, relações harmoniosas =
inexistência de dor.
Para o autor, mais de 90% dos indivíduos apresentam desequilíbrio postural,
que pode ser em três planos do espaço (plano escapular, plano frontal e plano
horizontal).
Para Bricot, a postura deve ser valorizada essencialmente na sua dimensão
neurológica, principalmente a três níveis: olho e músculos oculares, aparelho
mastigador e articulação têmporo-mandibular, e pés e articulações tíbio-
társicas. A intervenção passa, respectivamente, pela utilização de lentes
prismáticas (ter em atenção a escola portuguesa de posturologia e o
diagnóstico de Síndrome da Deficiência Postural), a intervenção dento-oclusal e
a utilização de palmilhas de reprogramação postural.
Pré-requisitos: mecanismos de controlo central da postura, incluindo SNC e
periférico, receptores, proprioceptividade, vias neurológicas e circuitos ao nível
do controlo postural.
Postura: definições conceptuais
Bernard
Bricot
Postura: Controlo neurológico
Bernard Bricot
Postura para os mézièristas
“A saúde é o resultado
da forma perfeita” “Le parangon” ou
Françoise Mézières Apollon du La belle forme
Belvédère
Postura para os mézièristas
“Le parangon” or
La belle forme
Vénus de Milo
Postura e deformidade para Françoise Mézières
Fonte: www.reconstruction-posturale.com
Postura, deformidade e “Cadeias Musculares” no
Renascimento
1909-1991
“Je fais de la sculpture sur le vivant”
Françoise Mézières: a revolução
Em 1947, Françoise Mézières publicou a sua obra “La Gymnastique
Statique”, na qual referia-se aos erros das ginásticas estáticas, todas elas
demasiadamente centradas no trabalho de força muscular (ex. Dolto).
O trabalho de fortalecimento muscular ainda é visto como o modelo
primacial do trabalho fisioterapêutico, e também dos diversos desportos do
tipo fitness, trabalho esse que, ao invés de ajudar a moldar o tónus
envolvido nos desequilíbrios musculares/deformidades – que já sabemos ser
excessivo –, leva ao “aumento” desregrado do tónus, ajudando na
estruturação da deformidade, a qual é a porta de entrada para as dores e
futuros problemas neurológicos e reumatológicos. O modelo da ginástica
clássica é, na realidade, meramente intuitivo, não é científico e contraria as
leis da física e os princípios relativos à hominização (Nisand, 2006, pp. 71-78).
Daí o conjunto das implicações da revolução mézièrista para a Fisioterapia e
a prática desportiva. Daí o Anti-fitness (Coelho, 2008).
A descrição do Princípio de Observação de Mézières aparece descrito na sua
obra “L’homéopathie française” (1972).
Françoise Mézières: a revolução
“Quando numa magnífica manhã de primavera de 1947, nós vimos entrar no
nosso consultório uma paciente apresentando uma soberba cifose, nós
estávamos bem longe de pressentir que a nossa profissão e o destino de
toda uma legião de doenças iam ser mudadas. Tratava-se de um sujeito
longilíneo, muito alto e magro. Um colete de couro e ferro não havia
conseguido parar, como esperado, a progressão da doença”.
“Nós tentámos, naturalmente, os exercícios de ‘endireitamento’ e o trabalho
dos músculos dorsais com vista a fortalecer os extensores do tronco, mas a
rigidez era tal que nada era possível realizar. Deitando, então, a nossa doente
no chão, em decúbito dorsal, nós realizámos a flexão dos ombros e vimos,
para nosso espanto, produzir-se uma enorme lordose lombar. Para não
acrescentar um mal à cifose já presente, nós realizámos a báscula posterior
da bacia e, para nosso novo espanto, vimos a hiperlordose lombar esquivar-
se e deslocar-se para a nuca” (Mézières, 1972).
Princípio de observação
Françoise Mézières: a revolução
Princípio de observação
1947
(Nisand,
2006)
Mézières, tratamento e... Paradigmas
Tendo em conta o grande número de modelos e paradigmas, o
bom fisioterapeuta é, no fundo, aquele que é capaz de ver o
modelo em que pode ser incluído o doente. Por exemplo, a fáscia
(não obstante as diversas definições do seu conceito, dadas por
diferentes autores) tem mais importância para um doente idoso do
que para um jovem. E há doentes em que o paradigma neurológico
é mais importante que o paradigma muscular. E o paradigma
muscular pode, no fundo, ser neurológico: o alongamento tem
repercussões sobre a flexibilidade... mas também sobre a
proprioceptividade e o relaxamento (estimulação do sistema
nervoso para-simpático).
Daí que, no fundo, não exista uma Verdade, mas sim várias
Verdades. Há que compreender bem a Verdade a que pertence
cada doente. Isso requer uma grande abertura, um certo
eclectismo, parcimónia, capacidade de síntese e boas intuições.
Método Mézières e Cadeias musculares
Cadeia muscular posterior – plano superficial Cadeia muscular posterior – plano profundo
Método Mézières e Cadeias musculares
Cadeia muscular
anterior do pescoço,
posta em evidência,
mais tardiamente,
por Nisand
Método Mézières e Cadeias musculares
Leonardo da Vinci
A importância da Cadeia inspiratória e da respiração
“La respiration ça ne s’éduque pas, ça se libère” (Françoise Mézières);
Hegemonia inspiratória – bloqueio diafragmático »»» Desbloquear, expirar!
Relação da Cadeia diafragmática com todas as outras cadeias musculares.
A respiração, em Reeducação Postural, é feita em expiração máxima (inspiração
como movimento passivo). A expiração é feita nos esforços e com/na contracção
abdominal. Em Mézières, de preferência estufa-se o ventre para alongar os
pilares do diafragma.
Vários tipos de respiração (de Mézières a Campignion)...
Netter
A importância da Cadeia inspiratória e da respiração
A respiração em Reeducação Postural centra-se na expiração activa máxima, ou seja, um
tipo de respiração que contraria a hegemonia inspiratória.
A expiração máxima, associada à correcção da lordose cervical, exige um abrandamento dos
músculos para-vertebrais e provoca a deslordose.
A inspiração pedida é obtida mediante o retorno elástico após a expiração forçada, sendo
costal alta, de modo a provocar a menor quantidade possível de lordose. A inspiração deve
ser o mais passiva possível, implicando a menor actividade possível dos para-vertebrais.
Encurtamento das cadeias musculares e patologia
Muitas das patologias ditas reumatológicas são causadas, na realidade, por encurtamento
das cadeias de tecido miofascial. Vejamos três exemplos de patologias na moda:
A fibromialgia tem todas as características de ser uma patologia dos tecidos moles. Claro
que é preciso rever o estatuto deste diagnóstico. Será que existe mesmo uma “Fibromialgia”
enquanto entidade nosológica concreta e singular ou estamos somente a dar outro nome à
Depressão com sintomas psicossomáticos?...
As artroses são, todas elas, provocadas por um desvio do alinhamento articular. Claro que
muitos factores ajudam, como o excesso de peso e a osteoporose, mas a verdadeira causa
da patologia degenerativa é a existência de uma articulação com alinhamento viciado, o que
fará com que determinada parte das superfícies articulares fique sujeita a uma maior força de
desgaste.
As hérnias discais... Falamos mesmo de hérnia discal ou das suas consequências
neurosensoriais? Falamos de ciática ou de uma dor com carácter miofascial? E será que
essa ciática não será antes uma contratura do piramidal? Após termos despistado todas
estas questões, perante a presença de uma verdadeira hérnia discal, é indubitável que a
patologia de desgaste discal teve origem numa compressão inter-discal. E qual é o motivo
dominante dessa compressão?... A força dos músculos posteriores.
(Nisand, 2006)
Os métodos neo-mézièristas
Havia uma razão fundamental para que Françoise Mézières fosse pouco receptiva a publicações
sobre o seu método. Ela não queria que o seu método fosse famoso ou pertencesse à mediania,
sendo completamente contra a Indústria, o mercantilismo e a lei do economato. Obviamente,
pela própria natureza do método de Souchard – com posturas mais estruturadas e metodologias
mais sistematizadas...feitas para agradar a uma maioria e vender um determinado “produto” –
vê-se que Souchard tinha uma visão completamente diferente das coisas. Daí a evolução que se
vê a nível internacional, em que é o método de Souchard que é famoso e supostamente original.
O método Mézières acabou mesmo por se tornar conhecido do grande público. Tudo graças à
referência ao método no best-seller de Thérèse Bertherat “Le corps a ses raisons” (1976). Com a
publicação deste livro, tanto o método como a figura de Françoise Mézières se tornaram
famosos, tendo-lhe dado um reconhecimento que não pretendia. Um dos seus medos é que o
seu método se tornasse algo um objecto simplificado, praticado sem dó nem piedade por todos
os que lhe apetecessem utilizar o seu nome.
Tal acabou mesmo por acontecer, o que valeu processos e grandes amarguras a Mézières. No
fim da sua carreira, já não era a mesma pessoa, e sentia-se desiludida com o resultado do seu
método, com a prestação dos seus alunos, com a existência de métodos de grupo e com auto-
posturas, e com muitos outros excessos de muitos terapeutas.
(Nisand, 2006)
Os métodos neo-mézièristas
É possível, mais uma vez, ver uma progressão. As posturas são feitas sempre de forma progressiva,
lentamente e sem força excessiva.
RPG: posturas básicas – “bailarina” (adaptada)
Nesta postura, a
paciente não tinha
flexibilidade suficiente
para manter a curvatura
lombar neutra. Podíamos
exigir menos da postura
e obter esse “neutro”...ou
não...depende do que
queremos de facto
alongar. E também
depende da existência
de certos factores, como
a presença/ausência de
hérnias discais.
Reeducação Postural Global: estudos publicados
Marques, A. P., Mendonça, L. L. F., & Cossermelli, W. (1994). Alongamento muscular em pacientes com fibromialgia a partir de um
trabalho de reeducação postural global (RPG). Rev. Bras. Reumatol., 34(5): 232-234.
Marques, A. P. (1994). Hérnia de disco cervical tratada com reeducação postural global (RPG). Rev. Fisioter. Univ. São Paulo, 1(1):
34-37.
Marques, A. P. (1996). Escoliose tratada com reeducação postural global. Rev. Fisioter. Univ. São Paulo, 3(1/2): 65-68.
Pita, M. C. (2000). Cifose torácica tratada com reeducação postural global. Arq. Ciênc. Saúde, 4(2): 159-164.
Teodori, R. M., Moreno, M. A., Fiore Junior, J. F., & Oliveira, A. C. S. (2003). Alongamento da musculatura inspiratória por
intermédio da reeducação postural global (RPG). Rev. Bras. Fisioter., 7(1): 25-30.
Castro, P. C. G., & Lopes, J. A. F. (2003). Avaliação computadorizada por fotografia digital, como recurso de avaliação na
reeducação postural global. Acta Fisiatr., 10(2): 83-88.
Smania, N., Corato, E., Tinazzi, M., Montagnana, B., Fiaschi, A., & Aglioti, S. M. (2003). The effect of two different rehabilitation
treatments in cervical dystonia: preliminary results in four patients. Funct Neurol, 18(4): 219-225.
Teodori, R. M., Guirro, E. C. O., & Santos, R. M. (2005). Distribuição da pressão plantar e localização do centro de força após
intervenção pelo método de reeducação postural global: um estudo de caso. Fisioter. Mov., 18(1): 27-35.
Gomes, B. M., Nardoni, G. C. G., lopes, P. G., & Godoy, E. (2006). O efeito da técnica de reeducação postural global em um
paciente com hemiparésia após acidente vascular encefálico. Acta Fisiatr., 13(2): 103-108.
Moreira, C. M. C., & Soares, D. R. L. (2007). Análise da efectividade da reeducação postural global na protusão do ombro após a
alta terapêutica. Fisioter. Mov., 20(1): 93-99.
Fregonesi, C. E. P. T., Valsechi, C. M., Masselli, M. R., Faria, C. R. S., & Ferreira, D. M. A. (2007). Um ano de evolução da
escoliose com RPG. Fisioter. Bras., 8(2): 140-142.
Fozzatti, M. C. M., Palma, P., Herrmann, V., & Dambros, M. (2008). Impacto da reeducação postural global no tratamento da
incontinência urinária de esforço feminina. Ver. Assoc. Med. Bras., 54(1): 17-22.
Heredia, E. P., & Rodrigues, F. F. (2008). O tratamento de pacientes com fibrose epidural pela reeducação postural global – RPG.
Rev. Bras. Neurol., 44(3): 19-26.
Cunha, A. C. V., Burke, T. N., França, F. J. R., & Marques, A. P. (2008). Effect of global posture reeducation and of static stretching
on pain, range of motion, and quality of life in women with chronic neck pain: a randomized clinical trial. Clinics, 63(6): 763-770.
‘Reeducação Postural Global’ de Souchard
De facto, as posturas de Souchard, com ou sem braços abertos, com
ou sem abertura do ângulo coxo-femural...tudo isto é extremamente
artificial...assim como a “receita” de “duas posturas” de 30 min. cada
por sessão de tratamento. Na realidade, o purismo de Mézières
enceta pela realização de posturas que podem ser tantas quantas as
“transformações” do doente numa só sessão. E tende a desenhar-se
uma evolução “pelas” posturas que o RPG não compreendeu.
Mas, a vantagem do RPG ao manter a curvatura neutra da lombar
existe: as hérnias discais em fase aguda ou mesmo sub-aguda.
As hérnias discais em fase aguda constituem, a meu ver, a principal
contra-indicação de certas posturas de Mézières...evitá-las será mais
razoável...
Mézières vs. RPG: diferenças mecânicas
Métodos Mézières RPG
Neuro-morfo-psico-análise
‘Cadeias musculares e articulares’ de
Godelieve Denys-Struyf
‘Cadeias musculares e articulares’ de
Godelieve Denys-Struyf
PM em excesso
(Denys-Struyf, 1995)
‘Cadeias musculares e articulares’ de
Godelieve Denys-Struyf
AM em excesso
(Denys-Struyf, 1995)
‘Cadeias musculares e articulares’ de
Godelieve Denys-Struyf
(Denys-Struyf, 1995)
‘Cadeias musculares e articulares’ de
Godelieve Denys-Struyf
Atitude contida PL
(Denys-Struyf, 1995)
‘Cadeias musculares e articulares’ de
Godelieve Denys-Struyf
Atitude arqueada PL
(Denys-Struyf, 1995)
‘Cadeias musculares e articulares’ de
Godelieve Denys-Struyf
O esforço de associação entre o Psíquico e as tipologias corporais já vem desde
Hipócrates.
A morfologia viria a estabelecer-se como ciência apenas por volta dos finais do
século XIX, pela mão de diversos nomes como o de Sigaud, Mac Auliffe, Pende e
Viola. Mas os dois grandes senhores da ciência da tipologia morfológica viriam a
ser Kretschmer e Sheldon. Do primeiro sai uma classificação resultante nos tipos
pícnico (pequeno e cheio; expansivo, alegre e realista), leptosómico (alto e magro;
reservado, frio e meditativo), atlético (impulsivo e colérico) e displásico (mal
desenvolvido e/ou com anomalias; dono de sentimentos de inferioridade), enquanto
que do segundo sai a clássica classificação tripartida de endomorfismo,
ectomorfismo e mesomorfismo (e, depois, com subtipos).
As classificações morfopsicológicas (ou serão psicomorfológicas?...) possuem uma
óbvia limitação. As “posturas” de GDS levam-nos a pensar que existem “tipos
posturais”, quando, no fundo, a postura é um “traço” exclusivamente individual
(perspectiva fenomenológica)...
A Reconstrução Postural – o método
pós-mézièrista por excelência
A ‘Reconstrução Postural’ está associada a vários nomes,
principalmente a Michaël Nisand, antigo aluno de Mézières.
É o mais fiel de todos os métodos pós-Mézières; no entanto,
é o mais inovador e revolucionário, pois leva as coisas para o
campo Neuromuscular.
É também o único verdadeiramente científico – Universidade
Louis Pasteur - Strasbourg.
É um método de dimensão essencialmente neurológica,
tendo percebido que a Postura depende mais da tonicidade e
do funcionamento das estruturas neuro-centrais do que
propriamente do comprimento dos tecidos miofasciais.
Apesar de partir directamente do conceito mézièrista, possui
certas perspectivas e modos de tratamento de contrariam o
método Mézières.
Reconstrução Postural
Nisand propõe uma nova interpretação das compensações musculares, salientando a
importância de um conjunto de respostas neurológicas aquando do movimento (respostas
evocadas) e o contributo dos centros neurológicos centrais para o surgimento das
deformidades. O tratamento passa, então, sobretudo pelo trabalho de modificação dos
padrões de excitabilidade neuro-muscular das cadeias musculares (em termos de
neuroplasticidade adaptativa e não só de modificação temporária do tónus muscular).
O trabalho em “contracção isométrica excêntrica” transforma-se numa “solicitação activa
induzida”. Por meio de “pontos-chave” (à semelhança – não intencional – de Bobath), à
distância, são estimulados determinados padrões posturais. As posturas obtidas não são
mantidas por tempo indefinido, mas somente até que se obtenha a normalização tónica.
Mais uma vez a questão dos padrões e da Globalidade que também existe a nível do
cérebro (este vê, sobretudo, padrões de movimento e nada prova que vê músculos
isolados).
A postura e as compensações são agravadas até que seja conseguido o “esgotamento”
da deformidade. Este é conseguido por um mecanismo parecido com o da “inibição
activa” de Kabat (que já vinha de Jacobson...).
O que interessa é a reconstrução morfológica, a “restauração morfológica”.
(Nisand, 1997, a, b, c; Jesel, 1999; Jesel, Callens, Nisand, 2001; Nisand,
Callens, Jesel, 2002, Callens, 2004; Nisand, 2004; Nisand, 2006)
Reconstrução Postural: resultados
Fonte: www.reconstruction-posturale.com
Reconstrução Postural: resultados
Fonte: www.reconstruction-posturale.com
Reconstrução Postural: resultados
Fonte: www.reconstruction-posturale.com
Reconstrução Postural: resultados
Fonte: www.reconstruction-posturale.com
Mézières e Reconstrução Postural:
fontes bibliográficas preliminares
Implicações da Reeducação Postural
Implicações para toda a Fisioterapia, nas suas diversas áreas;
Nova forma de ver as dores da coluna vertebral. A Reeducação Postural é a Psicanálise do corpo e da
Fisioterapia. Lembremos o sub-título da obra de Leandro Massada: “Postura recente, Nova patologia”;
Implicações para o mundo da Ergonomia e a higiene postural (a posição correcta consiste sempre no
relaxamento da cadeia muscular posterior, sem tensão excessiva. Postura do cocheiro, postura do
pianista; o levantar deve ser feito com desenrolamento do ráquis);
Implicações para o mundo do desporto, centrado no fortalecimento e no trabalho massificado. O
desporto não foi feito para a saúde. O desporto olímpico tinha fins competitivos e ritualísticos. Os
desportos de grupo foram criados essencialmente pelos anglo-saxónicos, aquando da Revolução
Industrial (séc. XVIII), com fins lúdicos, competitivos e até belicistas. Os estudos que advogam os seus
benefícios só medem variáveis funcionais e possuem imensas limitações, como todo o processo de
Ciência. O desporto aparece enquanto prática massiva associado ao homo faber (Hannah Arendt),
homem-máquina (La Mettrie), necessariamente preparado para o trabalho segundo os auspícios do
taylorismo frio e desumano, trabalhador frio e alienado, combatente nas guerras (...) dos países
industrializados. O desporto serve a lei do economato, o sistema capitalista, a lógica neo-liberal, o
nacionalismo, a alienação, a lógica do competitivismo frio e a cultura de massas (aqui renasce o
conceito de Indústria Cultural de Horkheimer e Adorno), para além de reproduzir e favorecer as
desigualdades sociais. Tem mais ressonância nas sociedades ditas dionisíacas do que nas
sociedades ditas apolíneas (categorização da “Origem da Tragédia” de Nietzsche).
A Reeducação Postural serve o Conceito, não o produto. O Fitness e o Wellness não servem a saúde,
servem o bem-estar no aqui e agora, e o escapismo alienizante, próprios de uma sociedade em que a
forma tem primazia sobre o conteúdo.
Reeducação Postural, Ciência e Epistemologia
A “teoria das Cadeias Musculares” baseia-se no princípio de observação de Mézières de 1947
»»» “Princípio baconiano”, segundo Karl Popper, mais de acordo com a ciência positivista.
Portanto...
Será a “teoria das Cadeias Musculares” falsificável?... (modelo dos cisnes brancos vs. cisnes
pretos segundo Popper)
Mesmo possuindo algumas fragilidades, e podendo haver doentes que não se incluem no
paradigma da Reeducação Postural (certas condições reumatológicas inflamatórias,
deformidades verdadeiramente congénitas), não há razões para abandonar uma teoria que
parece basear-se em postulados científicos e parece ter algum poder de previsão. Portanto,
seguindo o preceito de Popper,
Tentemos melhorar cada vez mais a Teoria das Cadeias Musculares, limando as arestas que
parecem mais débeis, tendo sempre uma atitude crítica, e utilizando as “excepções ao modelo”
como forma de tentar compreender as fragilidades do sistema.
Aceito a existência de Paradigmas, segundo Kuhn, mas não aceito a lógica das verdades
múltiplas e relativas. A verdade é só uma, mesmo que não cheguemos totalmente a ela, e há
modelos mais próximos dela do que outros. E o fisioterapeuta, enquanto profissional da
observação que é, e enquanto profissional que utiliza modelos de raciocínio clínico, não tem
outra hipótese senão fazer escolhas adequadas segundo os contextos próprios.
“O nosso eu é edificado pela
superposição de estados
sucessivos. Mas essa
superposição não é imutável,
como a estratificação de uma
montanha. Levantamentos
contínuos fazem aflorar à
superfície camadas antigas.”
Marcel Proust
“David” de Miguel Ângelo