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Reeducação Postural e

Cadeias Musculares:
fundamentos

Luís Coelho,
Fisioterapeuta mézièrista
Professor de Pilates
coelholewis@hotmail.com
www.reeducacaopostural.blogspot.com
“As pessoas querem aprender
a nadar e ter um pé no chão ao
mesmo tempo.”
Marcel Proust
Produto? Ciência? Arte?...
As verdades positivas (ex. Russell, Wittgenstein)
versus
Relativismo (no seu máximo, pós-modernismo; ex.
Kuhn, Foucault, Rorty, Derrida)

“Vejo no relativismo uma doença dos


pensadores, a qual consiste em acreditar que
a opção entre duas doutrinas rivais é
arbitrária, porque a verdade não existe, ou
porque não há nenhum meio de decidir, se
entre duas teorias, uma é superior à outra.”
Karl Popper
Introdução
Métodos milenares como o Yoga
(Índia, mais de 5 mil anos; diversas
escolas...), o Chi-Kung (China, 206
a.C.; diversas escolas...) e as artes
marciais (diversos tipos, incluindo o Tai
Chi Chuan, e diversas escolas... de
diversos países...) tinham como
importante apanágio o cuidado com
a postura global, incluindo a
utilização de posturas específicas.
Introdução
Princípios fundamentais do trabalho postural estavam já
presentes nessas técnicas, como por exemplo o
prolongamento das posturas no tempo e a sua realização
num corpo não previamente aquecido.
Exemplo: As ásanas do Hatha Yoga Dinâmico são utilizadas
numa ordem que privilegia a realização dos alongamentos
no sentido posterior – anterior – posterior.
Introdução
Nessas Eras antigas, o trabalho gímnico ocidental privilegiava o
movimento, a actividade motora, a competição desportiva, mas o
treino de posturas de flexibilidade estava já presente na mente de
muitos desportistas.
Introdução
Em certos contextos, como na dança,
em especial no bailado, o treino de
posturas e da flexibilidade global do
corpo era já realizado de uma forma
um tanto intuitiva. Isto desde tempos
imemoriais até à época moderna...
Introdução
Até que... Per Henrik Ling (1766-1839), o pai dos grandes
fundamentos da ginástica moderna, viria lançar as bases teoréticas
e pragmáticas do treino gímnico que ainda actualmente se pratica
(a “ginástica sueca”)...
A prática do alongamento num corpo previamente aquecido, nos
tempos finais do treino, constitui uma dádiva metodológica de Ling.
Introdução
A partir daqui temos uma bifurcação: até à
actualidade, a especialidade da Educação Física
vai seguir os pressupostos iniciáticos de Ling,
enquanto que a determinada altura do século XX,
depois de nascer a “especialidade” da Fisioterapia,
surge a revolução mézièrista.
Mézières pode, portanto ser considerada a mãe
dos métodos de Reeducação Postural... (apesar
de ter sido desenvolvido paralelamente – mais
tardiamente – o Rolfing de Ida Rolf).
...E tudo começou com a grande descoberta de
1947, aquela que viria lançar as bases da
“revolução na ginástica ortopédica”.
Dados histológicos e funcionais preliminares
Dois tipos fundamentais de tecido miofascial

Tecido conjuntivo Tecido muscular

A compreensão da dinâmica destes tipos de tecido importa aos


princípios fundamentais do trabalho em Reeducação Postural, pois
este lida com uma capacidade fundamental do corpo: a
flexibilidade miofascial.
Kisner & Colby (1998) referem-se às propriedades de alongamento
do tecido contráctil e dos tecidos moles envolventes.
Dados histológicos e funcionais preliminares

n tivo Bienfait (1995), na sua obra


co nju
ecido “Os desequilíbrios estáticos”,
T apresenta uma descrição
pertinente da histologia do
tecido conjuntivo.
Este é constituído por
“blastos”, os quais segregam o
colagéneo e a elastina. As
duas proteínas, as quais são o
constituinte fundamental do
tecido dito fascial, formam
fibras, as quais perfazem a
matriz fundamental das
estruturas articulares e
aponevróticas.
Dados histológicos e funcionais preliminares
Dinâmica da elastina:
a) “Se a tensão suportada pelo tecido é contínua e prolongada,
as moléculas colaginosas e os feixes conjuntivos alongam-se”

Flexibilidade
b) “Se o tecido suporta tensões curtas mas repetidas, as
moléculas colaginosas instalam-se em paralelo”

Força
Mito do mito
Nota: Uma das estratégias para defender a existência de um “mito” é o de defender que o tecido muscular
não contratura com o treino de força. Pergunto-me: e o tecido conjuntivo? Não é este tão ou mais importante
que o tecido muscular? (Músculo »»»»» Fáscia)
Dados histológicos e funcionais preliminares

Flexibilidade
Pré-requisitos:

Curva Sobrecarga-Distensão: elasticidade, dureza, deformação,


rigidez estrutural, histeresis e fadiga (Kisner & Colby, 1998).

Fluage = Força aplicada / Coeficiente de elasticidade X Tempo


Paradoxo do Coeficiente de elasticidade segundo Ph-E Souchard
O calor e a massagem (prévios) diminuem o efeito do
alongamento. Ver estudos em revisão: Coelho (2007). O treino da
flexibilidade muscular e o aumento da amplitude de movimento: uma revisão crítica da
literatura. Motricidade, 3(4): 22-37.
Diferentes tipos de músculos
Diferentes tipos de fibras musculares
Métodos de
classificação das Autores/ano Terminologia da classificação das
fibras musculares fibras
Coloração Ranvier / 1873 Vermelha Branca

Bioquímico Peter et al / 1972 Slow-oxidative Fast Glicolitic/Fast


Oxidative Glicolitic
Histoquímico Guth & Samaha / 1969 Tipo I Tipo II e subtipos
Brooke & Kaiser / 1970
Fisiológico (Vários) Contracção lenta Contracção rápida

Metabolismo Ogata / 1958 Oxidativo Glicolítico

Limiar de Fadiga Kugelberg & Edstrom Alta resistência à Baixa/moderada


/1968 fadiga resistência à
fadiga
Imunohistoquímico Staron / 1997 Myosin heavy Myosin heavy
Pette et al / 1999 chain I chain II

Fonte: Minamoto, V. (2005). Classificação e adaptações das fibras


musculares: uma revisão. Fisioterapia e Pesquisa, 12(3): 50-55.
Diferentes tipos de músculos
Músculos tónicos/estáticos e músculos fásicos/dinâmicos

Importância dos estudos electromiográficos


Fonte essencial: Joseph, J. (1960). Man’s Posture. Electromyographic Studies.
Thomas: USA. – inclui centenas de estudos científicos

Sinopse das conclusões dos estudos referidos pelo livro: Os


músculos tónicos ou posturais possuem uma natureza ligeiramente
diferente dos músculos de natureza fásica. Estes últimos podem
chegar ao zero electromiográfico. Os outros, em situação de
equilíbrio “normal”, podem obter um valor próximo do zero
(efectivamente zero nos estudos com instrumentos menos
sensíveis). O aumento de tónus nos músculos tónicos ocorre em
situações de desequilíbrio muscular.
Diferentes tipos de músculos
Músculos tónicos/estáticos e músculos fásicos/dinâmicos
Postura “normal”: Paradigma de Bricot
Postura “normal”: Paradigma de Bricot
Postura “anormal”: Paradigma de Bricot e outros não
francófonos para comparação

Kendall
Postura “anormal” nos planos frontal e horizontal:
Paradigma de Bricot
Postura “normal”: Paradigma de Bricot
Bernard Bricot (2004, reedição brasileira), na sua obra clássica “Posturologia”,
realiza uma série de definições operacionais de postura “normal”, concluindo
que a postura normal = ausência de forças contrárias, relações harmoniosas =
inexistência de dor.
Para o autor, mais de 90% dos indivíduos apresentam desequilíbrio postural,
que pode ser em três planos do espaço (plano escapular, plano frontal e plano
horizontal).
Para Bricot, a postura deve ser valorizada essencialmente na sua dimensão
neurológica, principalmente a três níveis: olho e músculos oculares, aparelho
mastigador e articulação têmporo-mandibular, e pés e articulações tíbio-
társicas. A intervenção passa, respectivamente, pela utilização de lentes
prismáticas (ter em atenção a escola portuguesa de posturologia e o
diagnóstico de Síndrome da Deficiência Postural), a intervenção dento-oclusal e
a utilização de palmilhas de reprogramação postural.
Pré-requisitos: mecanismos de controlo central da postura, incluindo SNC e
periférico, receptores, proprioceptividade, vias neurológicas e circuitos ao nível
do controlo postural.
Postura: definições conceptuais

“The relative arrangement of the different parts of anything, especially of the


parts of the body; the position of bearing of the body as a whole, whether
characteristic or assumed for a special purpose” (Webster’s International
Dictionary).
“The relative disposition of the various parts of anything; especially the position
and carriage of the limbs and the body as a whole” (Shorter Oxford Dictionary).
“Totality of the relations between the different segments of the body” (Joseph,
1960).

Definições da p. 4 da obra “Man’s Posture. Electromyographic studies”

“Position du corps; attitude, maintien” (Larrousse)


“Attitude particulière du corps (surtout lorsqu’elle est peu naturelle)” (Le Robert)
Postura: definições conceptuais

- Tribastone (2001). Tratado de exercícios correctivos aplicados à


reeducação motora postural. São Paulo: Editora Manole.

- “Posição, atitude ou hábitos posturais”.


- Por “postura” podemos entender, em termos práticos, “a posição optimizada,
mantida com característica automática e expontânea, de um organismo em
perfeita harmonia com a força gravitacional e predisposto a passar do estado de
repouso ao estado de movimento”, funcionalmente, pode ser considerada
como “o conjunto das relações existentes entre o organismo como um todo, as
várias partes do corpo e o ambiente que o cerca”, substancialmente, porém,
vai de acordo com “um complexo sistema de muitos moldes, no qual intervém,
além do carácter biomecânico, um conjunto de variáveis” (p. 22).
Postura: definições
Enquanto “posição corpórea”, “postura” pode referir-se tanto
à posição relativa a um tempo determinado, tendo como
exemplo o conjunto das curvaturas vertebrais funcionais,
como à posição relativa a uma estrutura determinada,
admitindo agora como exemplo o conjunto estruturado (ou
virtualmente estruturado) das curvaturas vertebrais (ditas
anatómicas).
Há, em termos de patologia postural, que, na mesma senda,
distinguir entre paramorfismo e dismorfia, sendo que o
primeiro remete para alterações mais “benignas”, enquanto
que o segundo remete para alterações ditas “estruturais” e,
para muitos autores, irreversíveis.
Para os proponentes da Escola francesa de Reeducação
Postural, não há verdadeiramente alterações irreversíveis...
Postura: ambiguidade da definição
A postura é “posição”. Mas a “posição” pode ser um conjunto de
múltiplos movimentos infinitesimais, oscilações mínimas e
indecifráveis, ajustes múltiplos do equilíbrio. Por outro lado,
também o movimento constitui um conjunto de múltiplas posturas,
sucedidas no tempo. A diluição de fronteiras nestas definições
lembra a filosofia dos filósofos pré-socráticos; por exemplo, para
Heraclito, todas as fronteiras das posições e dos movimentos são
espúrias, constituindo muito do que conhecemos meramente
convenções.

Posição Aporia Movimento


Postura: planos
Tribastone refere-se a planos, comparando os
mecanismos de controlo postural com os mecanismos de
controlo do movimento. Temos, portanto, o plano
anatómico,
mico relativo à organização racional da actividade
perceptivo-motora, alcançada a partir de movimentos, e com
a normalização do conjunto das cadeias cinéticas, actuando
na reequilibração das tensões mio-fasciais e das cadeias
articulares; o plano neuromotor,
neuromotor relativo às sensações
proprioceptivas e às variáveis aferentes de controlo postural;
e o plano psicomotor,
psicomotor relativo à organização do esquema
corporal, alcançada a partir da percepção consciente e do
conhecimento do próprio corpo, das suas modalidades de
funcionamento e da sua organização espacio-temporal.
Postura: níveis (Tribastone)
Centros superiores, que compreendem o cérebro, o
cerebelo e o tronco cerebral; a esses chegam as
informações provenientes principalmente dos fusos
neuromusculares, dos mecano-receptores articulares, dos
órgãos tendinosos de Golgi, e também da retina, da pele e
do vestíbulo;
Interneurónios, motoneurónios alfa e gama, contidos na
espinal medula;
Músculo e todos os factores que influenciam a resposta
contráctil (essencialmente músculos posturais, de controlo
essencialmente inconsciente);
Fusos neuromusculares, Órgãos tendinosos de Golgi,
vestíbulo e receptores sensoriais.
Postura: perspectiva neurológica
Bernard Bricot valoriza os aspectos neurológicos da postura. Valoriza
essencialmente os sistemas de entrada de informação (“captores”).
Existe um sistema de organização e/ou ajustamento postural. O
ajustamento postural deriva do bom funcionamento do Sistema tónico de
Controlo Postural.
Isso significa que uma intervenção em Reeducação Postural só é
completa se incluir as considerações de ordem neurológica e
proprioceptiva.
Veremos mais tarde que Souchard valorizou esses aspectos ao conceder
uma grande importância ao treino de Posturas Activas.
Para além disso, o próprio método Mézières e os métodos discípulos
valorizam as sensações e a integração sensorial.
O método pós-mézièrista – a Reconstrução Postural – vai, à
semelhança de muitos métodos de intervenção neurológica – ex. Kabat,
Bobath, etc. – valorizar os aspectos neurológicos de uma forma ímpar.
Postura: perspectiva neurológica
Bernard Bricot, ao valorizar o papel dos “receptores”, diz que A
partir
do momento em que um ou vários destes captores
estiverem desregulados, aparecerá um desequilíbrio
tónico postural e com ele o seu cortejo de forças
contrárias anormais.
Lembremos que para o autor, a postura “normal” significava a “ausência
do conjunto de forças anormais”. E também vimos, relativamente à
electromiografia que a postura anormal é que resultava nos excessos
tónicos, enquanto que, na postura normal, o tónus dos músculos
posturais era mínimo.
O trabalho neurológico em Posturologia e Reeducação Postural
importancionaliza certas actividades que valorizam o trabalho de
equilíbrio e coordenação neuro-psicomotora: a dança, a
psicomotricidade, o psicodrama, as artes marciais, etc.
Postura: perspectiva neurológica
O trabalho postural deve, então, valorizar o trabalho inconsciente, o
trabalho de integração proprioceptiva. Daí que nas aulas de Reeducação
Postural seja comum utilizar esponjas, rolos, almofadas, elásticos e
outros instrumentos de trabalho neurológico. É também essencial que o
trabalho postural seja feito o mais descalço possível.
Certos materiais do Pilates como o “bosu” e outras superfícies
desequilibrantes são também vantajosas. O próprio Pilates, ao valorizar
o papel do equilíbrio, ajuda no trabalho neurológico.
Por outro lado, é comum no trabalho do fitness Corrigir conscientemente
a postura do sujeito. De nada serve “endireitar à força” o sujeito, até
porque os músculos posturais são de activação inconsciente.
Palavras de Bernard Bricot (2004, p. 75): “Não serve para nada dizer a
uma criança ou adolescente: “fique recto”, pois para fazê-lo ele será
obrigado a utilizar músculos fásicos que têm como características
principais serem voluntários e fatigáveis. Aqui também apenas uma
reprogramação da postura, sua reeducação ou alongamento postural,
permitirão chegar a tal resultado.”
Postura: Controlo neurológico

Bernard
Bricot
Postura: Controlo neurológico

Bernard Bricot
Postura para os mézièristas

“A saúde é o resultado
da forma perfeita” “Le parangon” ou
Françoise Mézières Apollon du La belle forme
Belvédère
Postura para os mézièristas

“Le parangon” or
La belle forme
Vénus de Milo
Postura e deformidade para Françoise Mézières

Para Françoise Mézières, todas as deformações são reversíveis, sendo


que a mesma contesta o termo “estrutural”.
“Au cimetière, touts les squelettes se ressemblent”. Esta facto demonstra
a participação muscular nas deformações e o “mito” de que as mesmas
são de origem estritamente articular.
A postura normal corresponde à “morfologia perfeita”, correspondente ao
número de ouro para o qual todos devíamos tender.
“Nous sommes touts beaux et bien faits. La vie et ses agressions vont
ensuite augmenter le tonus postérieur et, par là, nous déformer”.
“La forme conditionne la fonction”. E não o contrário. De nada serve
trabalhar a função se não for reconstruída a postura normal, se não
for realizada a reconstrução morfológica.
Postura: Operacionalização de F. Mézières
De face: les clavicules, les épaules, les mamelons, les espaces entre les bras et
les côtes, doivent être symétriques et de même niveau;
De dos: la nuque doit être longue et pleine, les omoplates symétriques et
n’accuser aucun relief, les épaules et les hanches également symétriques;
Quand le tronc est fléchi en avant, tête pendante, pieds réunis: la colonne
vertébrale doit être régulièrement arrondie (en convexité totale), les genoux
d’aplomb sur les chevilles (et non reculés en arrière des talons); ils ne doivent pas
“loucher”;
De profil: la pointe du mamelon doit être le point le plus avancé; en dessous, le
contour antérieur du thorax et de l’abdomen doit être rectiligne jusqu’au pubis;
Debout, les pieds réunis du talon au bout du premier orteil (ce qui doit toujours
être aisé): les membres inférieurs doivent se toucher par le haut des cuisses,
l’intérieur des genoux, les mollets et les os internes des chevilles (les malléoles);
Le pied: il doit s’élargir du talon au bout des orteils, lesquels doivent reposer bien
à plat sur le sol (ce qui est impossible dans certaines chausurres).
Postura e deformidade para Bienfait
O conceito de postura “normal” apresenta, no paradigma
“componencial” de Marcel Bienfait (1995), a existência de um
completo equilíbrio entre os centros de gravidade de cada uma das
peças ósseas que constituem o esqueleto dito “integral”. Aliás, para
os diversos proponentes das perspectivas “analíticas” do conceito
postural e respectiva intervenção, a postura significa
essencialmente o encadear harmónico de um conjunto de
segmentos. Estes são, para Bienfait, organizados segundo dois
sistemas: um sistema ascendente – equilíbrio estático
assegurado pelos membros inferiores e pelo tronco, e um
sistema descendente – adaptação estática assegurada pela
região cérvico-cefálica e pelo tronco.
Para Bienfait as deformidades posturais estruturadas, são aquelas
que já afectaram a fáscia de uma forma já irreversível, sendo
portanto impossível de ser corrigidas... Algo que não está de
acordo com a forma de pensar dos mézièristas e RPGistas, os
quais acreditam que todas as deformidades são parcialmente
corrigíveis.
Deformidades posturais: exemplos de imagens

Fonte: www.reconstruction-posturale.com
Postura, deformidade e “Cadeias Musculares” no
Renascimento

Leonardo da Vinci Vesálio


Deformidades posturais

Paradigma articular Paradigma muscular


(fixação –
SNC (encurtamento e/ou
estruturação) hipertonicidade?...)
Métodos de Globalidade Postural
Métodos milenares - orientais
Yoga – Possui interesse na forma como são realizadas as posturas. As ásanas invertidas
são semelhantes à forma como é realizado o alongamento, mas as posturas são realizadas
sem conhecimento da lógica músculos fásicos vs. músculos dinâmicos. Ou seja, a cadeia
muscular posterior é excessivamente trabalhada em força, quando esta devia ser inibida.
Para além disso, muitas posturas são extremamente violentas para a integridade das
articulações.
Chi-Kung – Possui interesse imenso na forma como se dá ênfase ao alongamento, mas
também se trabalham muito as posturas de extensão.
Tai-Chi e outras artes marciais – Têm alguma ênfase no alongamento, mas menor que
as anteriores. Valorizam a coordenação e o equilíbrio. O Tai-chi poderá ser bom para as
articulações, no sentido em que é uma actividade de baixo impacto.
Todas estas actividades baseiam-se num paradigma relacionado com a filosofia das
energias. A postura, no sentido (mais científico) que lhe damos, não são o objecto de
trabalho dessas “filosofias”.
Métodos de Globalidade Postural

Métodos da Idade moderna e contemporânea

Na senda da Osteopatia Na senda da Fisioterapia


(finais séc. XIX) (séc. XX, anos 40)

Métodos anglo-saxónicos França e Europa central

Técnica Alexander, método Métodos de relaxamento


Feldenkrais, e...
1947: Observação
Rolfing (início do séc. XX) revolucionária de Mézières.
Criação do conceito de
Cadeia Muscular.
Trilhos anatómicos (anos 90
do séc. XX) Métodos neo-mézièristas
Métodos de Globalidade Postural
Os métodos anglo-saxónicos inovam principalmente com a criação do Rolfing ou
Integração Estrutural pela Doutora Ida Rolf (1896-1979). O Rolfing consiste num método
de massagem fascial muito profunda. Este método valoriza o papel da Fáscia.
scia

Método baseado em dez


sessões de tratamento, o
Rolfing possui o erro típico da
cultura anglo-saxónica,
excessivamente pragmática.
O Rolfing não possui a
genialidade e a inventividade
da Escola francesa, sendo
aplicado quase como uma
fórmula ou receita. Porém,
não deixa de ser um método
meritório por valorizar o papel
do tecido conjuntivo da
constituição da Estrutura
postural humana.

(Rolf, 1977; Rolfing. A integração das


estruturas humanas.)
Métodos de Globalidade Postural
Rolfing “Trilhos Anatómicos” de Myers
Métodos de Globalidade Postural
Certos métodos como a técnica Alexander e os métodos de relaxação psicossomática valorizam
sobretudo o papel do relaxamento muscular.
Os métodos de Relaxamento são muito importantes. O método de relaxação progressiva de
Jacobson – o mesmo homem que iniciou os estudos com a técnica electromiográfica –, assim
como certas técnicas do PNF, valoriza o papel da contracção inicial como forma de indução do
relaxamento. Este princípio de Inibição Activa vai ser rebuscado pelo método pós-mézièrista de
‘Reconstrução Postural’.
Outros métodos de relaxamento como o de Gerda Alexander valorizam muito o papel do
alongamento global.
Há também outros métodos, os quais são utilizados para o tratamento da escoliose, que são
algo “correctivos”, muitos deles valorizando a dimensão neurológica: o método Niederhöffer, o
método Schroth, o método Klapp, o método do Instituto Ortopédico Pini, o método do Psoas, o
método Gymnasium, o Estruturalismo Psicomotor, a Reeducação Proprioceptiva
Neuromuscular, a Ginástica Proprioceptiva e as Técnicas de Desequilíbrio (Tribastone, 2001;
Coelho, 2008).
Mas todos estes métodos desconheciam o conceito de CADEIA MUSCULAR. Esse conceito foi-
se criando progressivamente com a introdução da revolução mézièrista.
Outra coisa que é importante ter em conta é a similitude existente entre os métodos e as suas
premissas, havendo por um lado diferenças incomensuráveis entre dissemelhantes paradigmas
(ao jeito de Thomas Kuhn), muitas vezes explicáveis somente sob o ponto de vista
circunstancial (Foucault), mas por outro lado grandes semelhanças que podem ou não ser
explicáveis por questões de mera semântica.
Françoise Mézières: a revolução

1909-1991
“Je fais de la sculpture sur le vivant”
Françoise Mézières: a revolução
Em 1947, Françoise Mézières publicou a sua obra “La Gymnastique
Statique”, na qual referia-se aos erros das ginásticas estáticas, todas elas
demasiadamente centradas no trabalho de força muscular (ex. Dolto).
O trabalho de fortalecimento muscular ainda é visto como o modelo
primacial do trabalho fisioterapêutico, e também dos diversos desportos do
tipo fitness, trabalho esse que, ao invés de ajudar a moldar o tónus
envolvido nos desequilíbrios musculares/deformidades – que já sabemos ser
excessivo –, leva ao “aumento” desregrado do tónus, ajudando na
estruturação da deformidade, a qual é a porta de entrada para as dores e
futuros problemas neurológicos e reumatológicos. O modelo da ginástica
clássica é, na realidade, meramente intuitivo, não é científico e contraria as
leis da física e os princípios relativos à hominização (Nisand, 2006, pp. 71-78).
Daí o conjunto das implicações da revolução mézièrista para a Fisioterapia e
a prática desportiva. Daí o Anti-fitness (Coelho, 2008).
A descrição do Princípio de Observação de Mézières aparece descrito na sua
obra “L’homéopathie française” (1972).
Françoise Mézières: a revolução
“Quando numa magnífica manhã de primavera de 1947, nós vimos entrar no
nosso consultório uma paciente apresentando uma soberba cifose, nós
estávamos bem longe de pressentir que a nossa profissão e o destino de
toda uma legião de doenças iam ser mudadas. Tratava-se de um sujeito
longilíneo, muito alto e magro. Um colete de couro e ferro não havia
conseguido parar, como esperado, a progressão da doença”.
“Nós tentámos, naturalmente, os exercícios de ‘endireitamento’ e o trabalho
dos músculos dorsais com vista a fortalecer os extensores do tronco, mas a
rigidez era tal que nada era possível realizar. Deitando, então, a nossa doente
no chão, em decúbito dorsal, nós realizámos a flexão dos ombros e vimos,
para nosso espanto, produzir-se uma enorme lordose lombar. Para não
acrescentar um mal à cifose já presente, nós realizámos a báscula posterior
da bacia e, para nosso novo espanto, vimos a hiperlordose lombar esquivar-
se e deslocar-se para a nuca” (Mézières, 1972).

Princípio de observação
Françoise Mézières: a revolução

Princípio de observação
1947

Conceitos: Princípios basilares:

- Compensações, (1) A musculatura posterior


comporta-se como um só
- Reflexo anti-álgico à músculo, e
priori,
(2) ela é sempre forte de
- Cadeia muscular. mais, curta de mais,
potente de mais.
Françoise Mézières: a revolução
“Il n’est que des lordoses”: a cifose (e a escoliose) não é possível sem uma
acentuação das lordoses e é vista como a sua consequência (para Mézières, a
cifose é meramente uma curvatura aparente, uma convexidade que resulta da
união de duas lordoses). A lordose constitui a origem de todas as deformações
do ráquis e dos membros. Para além disso, ela ocorre em todos os movimentos
de extensão e nos movimentos de grande amplitude dos membros;
“La lordose est mobile et coulisse sur le corps tel un anneau sur une tringle à
rideau”;
“Les membres sont solidaires du tronc et le creux poplité constitue, en dehors du
rachis, une trosième concavité postérieure liée aux lordoses rachidiennes”;
“Tout est compensation lordotique”;
“La lordose s’accompagne toujours de la rotation interne des membres” – está
relacionado com a sinergia compensatória das fibras internas e oblíquas do
psoas;
“La morphologie thoracique est conditionnée par certains mouvements de la tête
et des membres supérieurs”;
“La lordose coexiste toujours avec le blocage du diaphragme en inspiration”.
(Mézières, 1972)
As leis de Mézières
(Mézières, 1984, “Originalité de la méthode Mézières”)

Primeira lei: “Les nombreux muscles postérieurs se comportent comme um seul et


même muscle (Une chaîne musculaire se définira comme étant un ensemble de
muscles polyarticulaires et de même direction, qui se succèdent en s’enjambant
comme les tuiles d’u toit)”.
Segunda lei: “Les muscles des chaînes sont trop toniques et trop courts (il n’y a
donc rien qu’il faille renforcer)”.
Terceira lei: “Toute action localisée, aussi bien élongation que raccourcissement,
provoque instantanément le raccourcissement de l’ensemble du système”.
Quarta lei: “Toute opposition à ce raccourcissement provoque instantanément des
latéroflexions et des rotations du rachis et des membres (lógica das
compensações).
Quinta lei: “La rotation des membres due à l’hypertonie des chaînes s’effectue
toujours en dedans”.
Sexta lei: “Toute élongation, détorsion, douleur, tout effort implique instantanément
le blocage respiratoire en inspiration”.
As leis de Mézières...
É importante perceber que as leis de Mézières não são falsificáveis, ou
seja, há imensas excepções às leis (“cada caso é um caso”?...):
- Por vezes, é possível observar as cadeias a funcionarem sem sinergia
entre elas, ou seja, encurtamento da cadeia posterior sem bloqueio
diafragmático e/ou sem encurtamento do psoas;
- Também devemos perceber os “desequilíbrios musculares” em termos
“dinâmicos”. Por exemplo, o encurtamento de uma parte da cadeia
posterior pode levar ao alongamento da outra parte (muito observável nos
atletas e bailarinas). Outro exemplo: o encurtamento de umas cadeias
pode levar (ou não) à inibição das cadeias “antagonistas”;
- O “encurtamento” pode ser entendido em termos meramente tónicos
(tonicidade). Pode haver hipertonia muscular sem encurtamento
muscular. Actualmente sabe-se que “curto” e “tónico” são coisas
diferentes.
- A cifose pode ou não ser “curvatura aparente”. Pode resultar do
encurtamento de cadeias anteriores ou do diafragma. Pode ser uma
curvatura de compensação “neurológica”...
As leis de Mézières...
Só há cadeia posterior! (a cifose é uma curvatura aparente)
Anel Mézières (adaptado) e tripé de tratamento
Tripé de
A musculatura
posterior é Tratamento
muito forte,
tónica e curta
-Deformações Lordose deslordose
congénitas (?)
Compensações
ou primitivas, Rotação
Devido ao interna dos
-Patologias, Deformações desrotação
reflexo anti- membros
-Trauma, álgico à priori.
-Dores.
Bloqueio
diafragmático
Porque a
Expiração
musculatura se
comporta como
um só músculo

Postulado patogénico: “La forme conditionne la fonction et la


douleur est à envisager comme un signal d’alarme d’une
déformation qui aurait atteint son seuil d’acceptabilité” Imagens de GDS
Mézières e tratamento
Apesar de ter uma natureza essencialmente teorética ou conceptual, baseando-se
muito no princípio observacional (Positivismo), o qual segue o “princípio Baconiano”, e
é não falsificável na linguagem de Karl Popper, o método Mézières, até porque acaba
por ser auxiliado pela prestação científica dos estudos electromiográficos, apresenta
axiomas fundamentais para o trabalho de tratamento das deformidades e de uma
miríade de patologias fisioterapêuticas.
O tratamento parte, no fundo, de posturas de alongamento global, em contracção
isométrica excêntrica, que permitem alongar a cadeia muscular posterior – vista em
termos globais (por duas secções, inicialmente cervical, membros superiores e
diafragma, depois restante coluna e membros inferiores), e trabalhar a força das
cadeias anteriores, abdominais superficiais e quadricípetes (músculos fásicos –
inibidos pelo encurtamento da cadeia posterior).
Estes princípios de tratamento estão de acordo com os seguintes princípios formulados
por Ph-E Souchard (“Le champs clos”, 1981): (1º) “Só as posturas activas em
alongamento podem devolver aos músculos hipertónicos, rígidos e dolorosos a sua
força, comprimento e flexibilidade”; (2º) “É necessário alongar os músculos da estática
e os músculos suspensores, encurtando-se os músculos da dinâmica”; (3º) “Só as
posturas de estiramento progressivo cada vez mais globais permitem alongar todos os
músculos rígidos, assim como reencontrar a retracção de origem.”
Mézières e tratamento
O trabalho terapêutico passa sempre pelo alongamento das cadeias musculares encurtadas. Que pode
ser visto como inibição tónica, segundo a perspectiva que alguns métodos,como o método Bobath e a
Reconstrução Postural, entenderam com sucesso.
Podíamos perguntar: E se fortalecermos os músculos antagonistas aos músculos hipertónicos? E se
trabalharmos a força dos músculos fásicos, os músculos deslordosantes? Françoise Mézières, e mais
tarde Souchard, será bastante directa em explicar que não há músculos verdadeiramente
deslordosantes. Se analisarmos o jogo de inserções dos abdominais superficiais, veremos que estes
não são verdadeiramente deslordosantes (coisa que é bem explicada na obra “O diafragma” de
Souchard). Não esquecer que não existe “Antagonismo muscular puro”.
O trabalho de força dos músculos fásicos nunca poderia levar à inibição dos músculos tónicos, pois
estes são dominantes relativamente aos fásicos. É um pouco como a questão da hipertonia espástica,
a qual não se consegue inibir fortalecendo os músculos antagonistas aos hipertónicos. E nesse
contexto, os fisioterapeutas bem sabem que Bobath costumava dizer que o trabalho de força só vai
aumentar ainda mais a hipertonia. Tem a ver com o facto de ser concretamente impossível isolar
completamente o trabalho muscular.
Quando se “endireita” uma cifose à custa do fortalecimento dos extensores do dorso (quando tal se
consegue...), está-se, no fundo, a tratar um “desequilíbrio muscular” com um outro desequilíbrio
(metáfora das “crianças magras vs. crianças gordas” de Souchard). As rectificações dorsais (lordoses
dorsais para os mézièristas) são muito comuns nos atletas, devido ao excesso de actividade desportiva
lordosante. O excesso de flexibilidade da cadeia posterior que possuem costuma ser devido ao
alongamento do bloco inferior, mantendo-se o bloco superior da cadeia posterior sempre em
encurtamento. Por vezes, uma abordagem mais analítica (dentro da Globalidade) como uma tracção do
tipo pompage (Bienfait) pode ser necessária ao tratamento.
Mézières e tratamento

Os músculos não trabalham isoladamente


Mito do “Princípio
do isolamento”
Na realidade, o trabalho de força, por mais localizado que seja, comporta sempre o trabalho
dos músculos tónicos, músculos esses que já são por si comprovadamente dominantes,
curtos e retraídos. Nesse sentido, o método Mézières, e a Reeducação Postural em geral,
possui implicações únicas para todo o mundo da Fisioterapia e o mundo da actividade
desportiva industrializada, os quais fazem do “Treino de força” e suas sub-componentes (ex.
resistência muscular), o modelo de trabalho e uma panaceia de intervenção.
Para complicar as coisas, os músculos tónicos têm realmente um aspecto muitas vezes
asténico. Mas não devemos esquecer que as fibras musculares do tipo I que os constituem
não são do tipo de hipertrofiar. Portanto, mesmo estando curtos e retraídos, aos olhos do
leigo, os músculos posturais possuem uma aparência de fraqueza.
Tudo isto, e muito mais, contraria o que é aceite como o Sistema e o Académico, sendo que
os princípios da Reeducação Postural, mesmo baseando-se em axiomas e até algumas
tautologias, está ainda longe de ser aceite e compreendido. Mas, não esquecer que, na
perspectiva do epistemólogo Thomas Kuhn, um novo paradigma não pode ser aceite sem
que exista uma revolução. E a revolução tende a incluir uma série de resistentes.
Mézières e tratamento
Os músculos tónicos, constitutivos das cadeias musculares, são extremamente
resistentes. O simples facto de serem vários músculos poli-articulares,
organizados em “cadeia”, faz com que uma cadeia muscular tenha de ser
alongada duma forma mais consistente – longa e persistente – que um músculo
isolado. (Para os proponentes dos “Trilhos anatómicos”, a razão do alongamento
prolongado deve-se ao tempo necessário à deformação do tecido fascial – muito resistente
ao “alongamento”).
E não devemos esquecer que, na prática, não falamos só de músculos, mas
também de tecido conjuntivo, o qual, sendo extremamente resistente à
deformação, tem de ser alongado por tempos necessariamente muito
prolongados.
A razão por que o alongamento deve ser feito a frio (e sem massagem prévia) está
relacionado com o Paradoxo do Coeficiente de Elasticidade. Estes princípios
deveriam ser generalizados ao mundo da actividade desportiva. Na realidade,
qualquer possibilidade de estabelecimento de uma elisão entre o mundo da
Fisioterapia e dos seus doentes (?) e o mundo do Desporto e dos seus utentes
“saudáveis” (?) é mera quimera.
Mézières e Sequência básica de tratamento
(um exemplo)
Mézières e Sequência básica de tratamento
(um exemplo)
Mézières e Sequência básica de tratamento
(um exemplo)
Mézières e Sequência básica de tratamento
(um exemplo)
Mézières e Sequência básica de tratamento (secção inferior)
Mézières e Sequência básica de tratamento (evolução para dorsal)
Mézières e Sequência básica de tratamento (conclusão)
Mézières e Imagens históricas
“Pas de recettes”

(Nisand,
2006)
Mézières, tratamento e... Paradigmas
Tendo em conta o grande número de modelos e paradigmas, o
bom fisioterapeuta é, no fundo, aquele que é capaz de ver o
modelo em que pode ser incluído o doente. Por exemplo, a fáscia
(não obstante as diversas definições do seu conceito, dadas por
diferentes autores) tem mais importância para um doente idoso do
que para um jovem. E há doentes em que o paradigma neurológico
é mais importante que o paradigma muscular. E o paradigma
muscular pode, no fundo, ser neurológico: o alongamento tem
repercussões sobre a flexibilidade... mas também sobre a
proprioceptividade e o relaxamento (estimulação do sistema
nervoso para-simpático).
Daí que, no fundo, não exista uma Verdade, mas sim várias
Verdades. Há que compreender bem a Verdade a que pertence
cada doente. Isso requer uma grande abertura, um certo
eclectismo, parcimónia, capacidade de síntese e boas intuições.
Método Mézières e Cadeias musculares

Imagens de Nisand (2006)

Cadeia muscular posterior – plano superficial Cadeia muscular posterior – plano profundo
Método Mézières e Cadeias musculares

Imagens de Nisand (2006)

Cadeia muscular ântero-interna Cadeia muscular braquial


Método Mézières e Cadeias musculares

Imagem de Nisand (2006)

Cadeia muscular
anterior do pescoço,
posta em evidência,
mais tardiamente,
por Nisand
Método Mézières e Cadeias musculares

Os músculos profundos do crânio e


da face, os músculos mastigadores
e a língua constituem os pontos de
passagem da cadeia posterior para
a cadeia anterior. Encurtamentos
nestas regiões poderão levar a
alterações da articulação verbal,
problemas de equilíbrio e SDP, e,
possivelmente, a problemas do
âmbito da estomatologia e da
medicina dentária (ex. morfologia
dentária).
Cadeias musculares segundo Ph-E Souchard

Cadeia mestra Cadeia mestra


Cadeia musculares secundárias
posterior anterior
Cadeias musculares ou Cadeia Muscular?
Por mera análise anatómica, podemos aperceber-nos que, no fundo, até mesmo pelas
cadeias de ligação (ex. inspiratória, língua e músculos mastigadores, “cadeia superior
do ombro”, etc.), cadeias comuns à global anterior e à global posterior, há, no fundo,
uma só cadeia muscular, uma só estrutura global que envolve todas as estruturas.
Portanto...
Se o trabalho de posturas não for global e progressivo, de anterior para posterior,
envolvendo a totalidade das cadeias, ou da Cadeia, não é verdadeiramente GLOBAL.
O trabalho de posturas específicas e de tensão de cadeias específicas pode resultar
numa outra forma de trabalho analítico. No fundo, tudo é lordose, tudo está
dependente dos músculos tónicos mais resistentes – cadeia posterior – e todo o
trabalho feito a nível anterior comporta compensações a nível posterior (mediante as
zonas de inter-ligação, como o diafragma). Daí que...
Todo o trabalho deve, à partida, evoluir de anterior para posterior (Mézières), ou da
consequência para a causa (Souchard).
Tudo isto tem a ver com algo a que chamo de “dinâmica da cadeia muscular
posterior”, segundo a qual só existe verdadeiramente uma cadeia muscular estática
(Busquet vai reafirmar isto) e que tudo acaba por recair nela.
Cadeias musculares segundo Ph-E Souchard

Escoliose (ou não passará de uma lordose


secundária?... – Mézières). Representação excelente
da obra de Souchard “As escolioses” (2003).
A propósito de Escoliose... Na obra de Leandro Massada “O
homem é um animal assimétrico”
(Ed. Caminho), há uma boa
descrição do tipo de forças
musculares que estão envolvidas
na escoliose. Os músculos são
mais poderosos do lado da
concavidade – desequilíbrio
muscular – e a gibosidade
aparece do lado da convexidade
torácica. O estudo de Massada
(2006) versa sobre escolioses em
atletas que praticam desportos de
carácter assimétrico.
A propósito de simetria...

Leonardo da Vinci
A importância da Cadeia inspiratória e da respiração
“La respiration ça ne s’éduque pas, ça se libère” (Françoise Mézières);
Hegemonia inspiratória – bloqueio diafragmático »»» Desbloquear, expirar!
Relação da Cadeia diafragmática com todas as outras cadeias musculares.
A respiração, em Reeducação Postural, é feita em expiração máxima (inspiração
como movimento passivo). A expiração é feita nos esforços e com/na contracção
abdominal. Em Mézières, de preferência estufa-se o ventre para alongar os
pilares do diafragma.
Vários tipos de respiração (de Mézières a Campignion)...

Fig. Postura RPG “rã no chão” com respiração com


treino do transverso (menos comum em Mézières)

Netter
A importância da Cadeia inspiratória e da respiração
A respiração em Reeducação Postural centra-se na expiração activa máxima, ou seja, um
tipo de respiração que contraria a hegemonia inspiratória.
A expiração máxima, associada à correcção da lordose cervical, exige um abrandamento dos
músculos para-vertebrais e provoca a deslordose.
A inspiração pedida é obtida mediante o retorno elástico após a expiração forçada, sendo
costal alta, de modo a provocar a menor quantidade possível de lordose. A inspiração deve
ser o mais passiva possível, implicando a menor actividade possível dos para-vertebrais.
Encurtamento das cadeias musculares e patologia
Muitas das patologias ditas reumatológicas são causadas, na realidade, por encurtamento
das cadeias de tecido miofascial. Vejamos três exemplos de patologias na moda:
A fibromialgia tem todas as características de ser uma patologia dos tecidos moles. Claro
que é preciso rever o estatuto deste diagnóstico. Será que existe mesmo uma “Fibromialgia”
enquanto entidade nosológica concreta e singular ou estamos somente a dar outro nome à
Depressão com sintomas psicossomáticos?...
As artroses são, todas elas, provocadas por um desvio do alinhamento articular. Claro que
muitos factores ajudam, como o excesso de peso e a osteoporose, mas a verdadeira causa
da patologia degenerativa é a existência de uma articulação com alinhamento viciado, o que
fará com que determinada parte das superfícies articulares fique sujeita a uma maior força de
desgaste.
As hérnias discais... Falamos mesmo de hérnia discal ou das suas consequências
neurosensoriais? Falamos de ciática ou de uma dor com carácter miofascial? E será que
essa ciática não será antes uma contratura do piramidal? Após termos despistado todas
estas questões, perante a presença de uma verdadeira hérnia discal, é indubitável que a
patologia de desgaste discal teve origem numa compressão inter-discal. E qual é o motivo
dominante dessa compressão?... A força dos músculos posteriores.

Lombalgias... »»»»» Principal patologia de trabalho em Mézières


Encurtamento das cadeias musculares: Artroses
Articulação Deformidade mais característica

Ombro Hipercifose dorsal com ou sem


conflito sub-acromial
Cotovelo Valgismo ou Varismo

Coluna cervical Rectificação ou hipercifose dorsal

Coluna lombar Hiperlordose lombar ou alterações


na sacro-ilíaca
Anca Hiperlordose lombar

Joelho varo Retracção de abdutores ou tensão


na banda ílio-tibial
Joelho valgo Retracção dos adutores ou tensão
na banda ílio-tibial
Tíbio-társica Alinhamento do membro inf.

Dedos das mãos e dos pés Retracção dos tendões flexores


Encurtamento das cadeias musculares:
Hérnias discais
Há duas grandes causas para as hérnias discais, ambas
relacionadas com alterações posturais. A lordose excessiva
acarreta aumento da tensão nos discos. No caso de a
lordose ser a nível dorsal (ex. atletas), esse encurtamento
acarreta a existência de uma hipermobilidade da cervical e
da lombar, principalmente a nível C6-C7, L4-L5 e L5-S1.
Essa mobilidade excessiva é o principal factor de risco para
as hérnias discais.
Uma lordose excessiva acarreta problemas a nível local
(aumento das forças compressivas do disco) e à distância
(por induzir hiper-mobilidade nas áreas “remanescentes”).
Encurtamento das cadeias musculares e patologia
A lógica dos paradigmas, segundo Kuhn, advoga a existência de
uma incomensurabilidade entre modelos ou métodos
diferenciais. E a aceitação de um novo modelo é impossível sem
um período de “revolução”. Mas, ainda assim, não é impossível
adaptar a Reeducação Postural a quase todos os tipos de
doentes. Mas é preciso bom-senso e o evitamento da rigidez
mental.
O bom terapeuta é, sobretudo, aquele que consegue “arrumar” o
doente certo no paradigma que melhor se lhe adapta. Por
exemplo, no caso de hérnias discais em fase aguda, certas
posições de Reeducação Postural podem ser contra-indicadas,
mas nada impede o trabalho de alongamento muscular e do
diafragma, desde que as curvaturas neutras sejam nimiamente
mantidas.
Encurtamento das cadeias musculares e patologia
O encurtamento da musculatura é também a origem da maioria das patologias ditas “osteopáticas”. Uma
vértebra que se desloca é, nada mais nada menos, do que, quase sempre, o resultado de uma força operada
por um tecido mio-fascial (os músculos servem de tirantes mecânicos). E até os osteopatas sabem que de
nada serve pôr a vértebra no sítio, sem que se trabalhem os tecidos moles. Na realidade, os osteopatas têm o
hábito de trabalhar o alongamento e/ou massagem dos tecidos moles após realizada a manipulação. Mas
também seria previdente efectuar o alongamento antes do trabalho manipulativo, pois esse alongamento
prévio vai permitir “soltar” as estruturas, facilitando a manipulação/mobilização.
Daí que aconselho a realização da seguinte ordem de trabalho:

Alongamento »»» Manipulação »»» Alongamento


E daí que defenda que o alongamento global deve anteceder todo o trabalho manipulativo ou de mobilização.
Como seria bom que os terapeutas manipulativos, afectos a uma das múltiplas técnicas existentes, não
esquecessem o poder de uma simples tracção ou de um alongamento global prolongado.
O trabalho de mobilidade realizado em articulações cujos tecidos moles envolventes não foram ainda
descontraídos é um trabalho realizado em estruturas de alinhamento viciado. A meu ver pode até ser
perigoso realizá-lo, por promover o atrito inter-articular.
Por exemplo, a nível desportivo, defendo, para qualquer actividade física, a realização da ordem
(esquema simples) Alongamento »»» Mobilidade »»» Força . E esse
treino de força é sempre um treino de baixo impacto ou por facilitação. O treino de força só deve ser
feito quando o corpo está liberto de tensão...a não ser...temos a “excepção” e as vantagens do treino
excêntrico.
E por falar em força muscular...
De que forma o alongamento pode ajudar na recuperação e no treino de um músculo?
De que forma os músculos tónicos se tornam mais fortes por serem mais flexíveis?
Não devemos esquecer a curva comprimento-tensão e o princípio do alongamento-força que já
vem de Kabat.
Um músculo será tanto mais eficaz na sua função quanto mais flexível for.
O endireitamento das costas tantas vezes propugnado é função da flexibilidade da cadeia
posterior e não da força desses músculos.
O aparecimento de dor aquando da posição de sentado mantida por tempos prolongados
decorre da manutenção do excessivo alongamento/tensão de uma musculatura posterior, a qual
sofreria menos tensão se fosse à partida mais flexível. O “esticar” que alivia é uma compensação
por aliviar a tensão muscular. A longo prazo somente o trabalho de alongamento global da
cadeia muscular posterior poderá ajudar a prevenir as dores da posição de sentado.
Quanto a sentar o indivíduo com as “costas direitas” a 90º e a coluna neutra, pode ser bom para
os indivíduos com flexibilidade posterior suficiente, mas é um erro crasso para os indivíduos cuja
flexibilidade muscular da cadeia posterior não permite a manutenção nesse estado de tensão.

Sempre a Curva Comprimento-tensão


Curv
a Co
mpri
men
to-te
nsão
E por falar em força muscular...
Daí que o treino de força muscular e o trabalho de determinadas
posições (ex. higiene postural no trabalho) não possam ser
generalizados a todos os indivíduos.
O trabalho de força e o trabalho em curvaturas neutras será realizável
num indivíduo sem dismorfismos relevantes e com excelentes
capacidades de flexibilidade muscular e equilíbrio neuromuscular.
Mas não é o mesmo se nos referirmos a indivíduos que não possuam
esse género de “plasticidade” neuro-mio-fascial.
E a realidade tem demonstrado que a maioria das pessoas está longe
de possuir boas qualidades de flexibilidade e maleabilidade tónica,
assim como, é raro alguém possuir os padrões da “bela forma”....
Encurtamento das cadeias musculares e patologia
Cadeia muscular posterior pode ser vista em termos de dois blocos (superior e inferior).
Cadeias podem apresentar encurtamentos mais específicos, o que explica certas posturas,
a pseudo-flexibilidade do atleta e a dinâmica dos desequilíbrios musculares.
Caso específico dos trigger points e do síndrome da dor miofascial.
Os métodos neo-mézièristas
É bem conhecido o carácter de Françoise Mézières. Com uma infância difícil e uma certa
aversão aos homens, Mézières começou por ensinar o seu método de uma forma algo
esporádica, mas com boa vontade.
Com a publicação da obra “La révolution en gymnastique orthopédique” (1949), Mézières
apresentava os resultados de observações, de uma forma um tanto ou quanto mais concreta.
Mas a comunidade médica e até os terapeutas não aceitaram bem os seus resultados.
A fraca aceitação do seu método fez com que Françoise Mézières abandonasse a cidade e se
isolasse no campo, tentando inclusive abandonar a carreira. Mas, mais tarde, começa
lentamente a tratar doentes, tendo resultados fantásticos, e vindo mesmo a ter alguns alunos.
Mais tarde, Françoise Mézières começa a sua carreira de formadora em Saint-Mont. É
precisamente a época em que acabará por ter um filho predilecto – Philippe Souchard – o qual
chegará mesmo a dar aulas do método.
Mas não faltará muito para que o seu grande discípulo comece a incluir técnicas vindas da
osteopatia e de outros métodos ginásticos, os quais, na perspectiva de Mézières, inquinam o
purismo do seu método. A ruptura com Souchard ocorre quando este publica livros com
informações e fotos do método, sem a autorização de Françoise Mézières.

(Nisand, 2006)
Os métodos neo-mézièristas
Havia uma razão fundamental para que Françoise Mézières fosse pouco receptiva a publicações
sobre o seu método. Ela não queria que o seu método fosse famoso ou pertencesse à mediania,
sendo completamente contra a Indústria, o mercantilismo e a lei do economato. Obviamente,
pela própria natureza do método de Souchard – com posturas mais estruturadas e metodologias
mais sistematizadas...feitas para agradar a uma maioria e vender um determinado “produto” –
vê-se que Souchard tinha uma visão completamente diferente das coisas. Daí a evolução que se
vê a nível internacional, em que é o método de Souchard que é famoso e supostamente original.
O método Mézières acabou mesmo por se tornar conhecido do grande público. Tudo graças à
referência ao método no best-seller de Thérèse Bertherat “Le corps a ses raisons” (1976). Com a
publicação deste livro, tanto o método como a figura de Françoise Mézières se tornaram
famosos, tendo-lhe dado um reconhecimento que não pretendia. Um dos seus medos é que o
seu método se tornasse algo um objecto simplificado, praticado sem dó nem piedade por todos
os que lhe apetecessem utilizar o seu nome.
Tal acabou mesmo por acontecer, o que valeu processos e grandes amarguras a Mézières. No
fim da sua carreira, já não era a mesma pessoa, e sentia-se desiludida com o resultado do seu
método, com a prestação dos seus alunos, com a existência de métodos de grupo e com auto-
posturas, e com muitos outros excessos de muitos terapeutas.

(Nisand, 2006)
Os métodos neo-mézièristas

“Je m’indigne en voyant une multitude de kinésithérapeutes


prétendre améliorer, voir enseigner ma méthode, alors qu’il y
a fort peu de praticiens qui l’aient réellement assimilée”
Françoise Mézières, 1990
Os métodos
neo-mézièristas

Métodos que reclamam a As técnicas de antigos Métodos que assumem a


independência, mas que, na alunos, supostamente, o origem mézièrista, mas que
prática, são pouco diferentes método Mézières possuem autonomia
do original. É o caso do propriamente dito, mas que teorética, devido às suas
método de Ph-E Souchard, a apresentam diferenças evoluções. É o caso das
Reeducação Postural Global. significativas relativamente ‘Cadeias Musculares e
ao original. Por exemplo, Articulares’ de Godelieve
incluem mais o trabalho de Denys-Struyf (belga), as
alongamento das cadeias ‘Cadeias musculares’ de
anteriores, assim como Busquet e a ‘Reconstrução
incluem outras técnicas Postural’ de Nisand.
como a osteopatia e a
medicina tradicional chinesa
(meridianos e acupunctura).
Ex. AMIK
Os métodos neo-mézièristas
Os métodos mais próximos do original de Mézières apresentam, efectivamente, diferenças
que nunca seriam aceites pela própria Mézières. Tendo em conta que Françoise Mézières
não fundou nenhuma escola nem formalizou as suas formações, e acrescentando o facto
de se ter demitido da direcção da AMIK, ninguém pode assegurar que possui o método
“original”. Na verdade, o método praticado por Françoise Mézières morreu com a própria.
O que temos agora é uma aproximação, que tentamos que seja tão fiel quanto necessário.
As “evoluções” das escolas ditas “de Mézières” podem ou não ser aceites. Fica ao critério
de cada um. Claro que se torna difícil destrinçar o que é e não é original.
Quanto às escolas que se tornaram autónomas, tal é totalmente aceitável no sentido em
que é perfeitamente legítimo aceitar que as coisas evoluem, tanto teorética quanto
pragmaticamente.
O que, a meu ver, não é aceitável é a falta de honestidade intelectual. Ao negarem
sucessivamente a sua mão intelectual, tanto Ph-E Souchard como Leopold Busquet
assumiram uma face negra na história da Reeducação Postural. Contudo a Ética não é
chamada para o caso. E o que é certo é que há “modificações” dois dois que vale bem a
pena conhecer.
Comecemos por referir um método que é também um conceito: a Antiginástica de
Bertherat.
‘Antiginástica’ de Thérèse Bertherat
“Le corps a ses raisons” (1976) e “Le repaire du tigre” (1990) são, entre os cinco
livros de Bertherat, aqueles que melhor expressam a natureza do método (grupal)
da ‘Antiginástica’, assim como o conceito, por mim defendido, relacionado com os
erros grosseiros das práticas gímnicas modernas.
O método de Bertherat tem uma vocação morfo-psico-terapêutica, sendo, portanto,
Global. Mais tarde, outros métodos, como o ‘Corpo e Consciência’ de Courchinoux,
vão aproximar-se da mesma ‘visão’.
Não esquecer que Bertherat recusa o conceito de “Ginástica doce” ou “Ginástica
suave” para o seu método. A ‘Antiginástica’ envolve demasiadas estruturas e
funções para ser meramente um método ‘suave’.
‘Reeducação Postural Global’ de Souchard
É, indubitavelmente, o mais conhecido de todos os métodos
de Reeducação Postural. Aliás, Souchard tem o mérito de ter
dado a conhecer ao mundo os princípios da revolução
‘mézièrista’. Porém, apresentou os princípios dessa revolução
como sendo criados por ele. Ao ter negado a sua “mãe
intelectual”, e ao ter passado a ideia de que certos princípios
e o próprio conceito de ‘cadeia muscular’ teriam sido da sua
autoria originária, Souchard cometeu, inegavelmente, um
plágio, um crime de desonestidade intelectual.
Ao ter transformado um método de natureza fenomenolística
num método estruturado, regrado, sistematizado, Souchard
demonstrou que nunca entendeu a verdadeira natureza de
‘Mézières’, a natureza do “cada caso é um caso’. As Posturas
de Souchard são quase receitas, fórmulas estruturadas,
sendo que é nos pormenores que está o verdadeiro mérito de
Souchard.
E esses pormenores incluem certas características de certas
posturas, certas sistematizações...
‘Reeducação Postural Global’ de Souchard
Souchard não deixa, no entanto, de ter os seus méritos. Fez as
coisas de modo a serem mais bem compreendidas pelos vários
profissionais. Apresentou certas ideias e certos princípios de uma
forma mais organizada. E começou a valorizar certas coisas como
“as retracções das cadeias anteriores”. Claro que tal pode trair o
conceito de que “Tudo é lordose”.
Mas, ao ter criado quadros e sistemas de regras, artificializou uma
coisa que poderia ter-se mantido pura e parcimoniosa.
As figuras de posturas, incluindo aquelas do Stretching Global
Activo, são feitas na lógica do politicamente correcto, próprio de
quem pretende “vender” um “produto”. Mézières é um conceito, um
método. O RPG é um produto, bem arquitectado, ao ponto de, em
certos países como o Brasil, estar inalienavelmente inflaccionado.
RPG: posturas básicas – postura de pé
contra a parede
RPG: posturas básicas – postura de pé
RPG: posturas básicas – rã no chão com abertura
de braços (também há com fechamento de braços)
RPG: posturas básicas – rã no ar

Neste caso, a postura inclui os braços fechados, e é


observável a progressão. Há também a postura de
rã no ar com braços abertos. Tudo depende das
cadeias a alongar.
RPG: posturas básicas – sentado

É possível, mais uma vez, ver uma progressão. As posturas são feitas sempre de forma progressiva,
lentamente e sem força excessiva.
RPG: posturas básicas – “bailarina” (adaptada)

Nesta postura, a
paciente não tinha
flexibilidade suficiente
para manter a curvatura
lombar neutra. Podíamos
exigir menos da postura
e obter esse “neutro”...ou
não...depende do que
queremos de facto
alongar. E também
depende da existência
de certos factores, como
a presença/ausência de
hérnias discais.
Reeducação Postural Global: estudos publicados
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Fregonesi, C. E. P. T., Valsechi, C. M., Masselli, M. R., Faria, C. R. S., & Ferreira, D. M. A. (2007). Um ano de evolução da
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Fozzatti, M. C. M., Palma, P., Herrmann, V., & Dambros, M. (2008). Impacto da reeducação postural global no tratamento da
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‘Reeducação Postural Global’ de Souchard
De facto, as posturas de Souchard, com ou sem braços abertos, com
ou sem abertura do ângulo coxo-femural...tudo isto é extremamente
artificial...assim como a “receita” de “duas posturas” de 30 min. cada
por sessão de tratamento. Na realidade, o purismo de Mézières
enceta pela realização de posturas que podem ser tantas quantas as
“transformações” do doente numa só sessão. E tende a desenhar-se
uma evolução “pelas” posturas que o RPG não compreendeu.
Mas, a vantagem do RPG ao manter a curvatura neutra da lombar
existe: as hérnias discais em fase aguda ou mesmo sub-aguda.
As hérnias discais em fase aguda constituem, a meu ver, a principal
contra-indicação de certas posturas de Mézières...evitá-las será mais
razoável...
Mézières vs. RPG: diferenças mecânicas
Métodos Mézières RPG

Papel do doente Mais passivo Mais activo (torna-se mais


passivo aquando da fase
das polias)
Contexto Individual Individual ou em grupo
(SGA)
Alongamento Em dois blocos Mais global (“campo
fechado”)
Posturas Em sequência lógica Posturas isoladas

Cadeias musculares Cadeia posterior é Cadeias posterior e anterior


dominante + outras dominantes + acessórias
Coluna Sempre deslordosada Deslordosada nas posições
de deitado e de pé contra a
parede. Neutra nas outras
posturas.
Trabalho abdominal Abdominais superficiais Abdominais superficiais e
profundos
Respiração Dois tipos possíveis Três tipos possíveis
Mézières vs. RPG: diferenças mecânicas
Mézières vs. RPG: diferenças mecânicas
Mézières vs. RPG: diferenças mecânicas
Mézièristas? RPGistas?...
Na realidade, aceitar os princípios da Reeducação Postural implica ter de romper
com muitos princípios da Fisioterapia convencional. Por exemplo, mobilizar uma
articulação com artrose que não foi previamente alongada é sacrilégio e
simplesmente estapafúrdio. Nada impede o fisioterapeuta de, mesmo não tendo
tempo, de, pelo menos, utilizar princípios da Reeducação Postural junto dos
doentes. Por exemplo, tratar rapidamente o bloco superior segundo Mézières antes
do treino de mobilidade e força de estruturas desse bloco. Ou tratar o bloco inferior
antes de se intervir nos membros inferiores.
É chocante ver o número de fisioterapeutas que realizaram o curso de RPG e que
não conseguiram entender as implicações da sua Teoria sobre toda a Fisioterapia.
A grande maioria dos formados em Mézières ou RPG não entendeu
verdadeiramente a extensão do seu conceito, e, claro, não conseguiu adaptar o
conceito ao seu modo de trabalho. Realizam uma elisão entre Reeducação
Postural e Fisioterapia convencional. Quando não podem fazer trabalho particular e
longo utilizam Fisioterapia convencional, esquecendo-se que há sempre
possibilidades de incluir práticas de princípios reeducativos no “convencional”.
‘Cadeias musculares’ de Leopold Busquet
Num certo ponto de vista, Busquet volta atrás no seu conceito de ‘cadeias
musculares’. Pois, para ele, a única cadeia verdadeiramente estática é a
Cadeia Estática Posterior, a qual, na sua visão, é uma estrutura muito mais
rica do que aquilo que foi visto por Mézières, pois essa Cadeia integra
imensas estruturas ligamentares e aponevróticas, ou seja, temos aqui, de vez,
a inclusão das estruturas fasciais. Talvez aqui já faça sentido falar de Cadeia
mio-fascial. Mas, se na abordagem dos “trilhos anatómicos” Myers vai
salientar uma série de trilhos miofasciais de natureza “estática”, Busquet vai
dar um carácter dinâmico às restantes cadeias: cadeias flexoras e extensoras,
cruzadas flexoras e extensoras; cadeias neuromeníngeas (vide “Tensão
Neural adversa”) e viscerais.
As Cadeias dinâmicas de Leopold Busquet lembram muito o funcionamento
em “padrões”, que faz parte de muitos métodos de trabalho neurológico como
Kabat (facilitação) e Bobath (Inibição). Não esquecer que o cérebro vê
padrões de movimento e não músculos isolados...sempre a mesma lógica de
globalidade...
O método de Busquet é, assim, algo que se aproxima do carácter funcional,
afastando-se um pouco do conceito de Estrutura e/ou de Reeducação Postural
propriamente dita.
‘Cadeias musculares’ de Leopold Busquet
‘Cadeias musculares’ de Leopold Busquet
A caminho das “Cadeias neuro-mio-fasciais”
e da “neuro-morfo-psico-análise”
Cadeia posterior Visão mais
Visão músculo-
vista em termos neuro-funcional.
esquelética por
excelência fasciais (‘Trilhos
anatómicos’, “Cadeias neuro-
(Mézières, RPG) mio-fasciais”?
Busquet)

Visão progressivamente mais psicologista (Ex. Bertherat,


‘Morfoanálise’ de Peyrot – conceito fundamental –, e ‘Cadeias
musculares e articulares’ de Godelieve Denys-Struyf). GDS
disse “a estrutura governa a função e submete o psiquismo”.

Neuro-morfo-psico-análise
‘Cadeias musculares e articulares’ de
Godelieve Denys-Struyf
‘Cadeias musculares e articulares’ de
Godelieve Denys-Struyf

PM em excesso

(Denys-Struyf, 1995)
‘Cadeias musculares e articulares’ de
Godelieve Denys-Struyf

AM em excesso

(Denys-Struyf, 1995)
‘Cadeias musculares e articulares’ de
Godelieve Denys-Struyf

PA fixa AP fixa PA-AP em excesso

(Denys-Struyf, 1995)
‘Cadeias musculares e articulares’ de
Godelieve Denys-Struyf

Atitude contida PL

(Denys-Struyf, 1995)
‘Cadeias musculares e articulares’ de
Godelieve Denys-Struyf

Atitude arqueada PL

(Denys-Struyf, 1995)
‘Cadeias musculares e articulares’ de
Godelieve Denys-Struyf
O esforço de associação entre o Psíquico e as tipologias corporais já vem desde
Hipócrates.
A morfologia viria a estabelecer-se como ciência apenas por volta dos finais do
século XIX, pela mão de diversos nomes como o de Sigaud, Mac Auliffe, Pende e
Viola. Mas os dois grandes senhores da ciência da tipologia morfológica viriam a
ser Kretschmer e Sheldon. Do primeiro sai uma classificação resultante nos tipos
pícnico (pequeno e cheio; expansivo, alegre e realista), leptosómico (alto e magro;
reservado, frio e meditativo), atlético (impulsivo e colérico) e displásico (mal
desenvolvido e/ou com anomalias; dono de sentimentos de inferioridade), enquanto
que do segundo sai a clássica classificação tripartida de endomorfismo,
ectomorfismo e mesomorfismo (e, depois, com subtipos).
As classificações morfopsicológicas (ou serão psicomorfológicas?...) possuem uma
óbvia limitação. As “posturas” de GDS levam-nos a pensar que existem “tipos
posturais”, quando, no fundo, a postura é um “traço” exclusivamente individual
(perspectiva fenomenológica)...
A Reconstrução Postural – o método
pós-mézièrista por excelência
A ‘Reconstrução Postural’ está associada a vários nomes,
principalmente a Michaël Nisand, antigo aluno de Mézières.
É o mais fiel de todos os métodos pós-Mézières; no entanto,
é o mais inovador e revolucionário, pois leva as coisas para o
campo Neuromuscular.
É também o único verdadeiramente científico – Universidade
Louis Pasteur - Strasbourg.
É um método de dimensão essencialmente neurológica,
tendo percebido que a Postura depende mais da tonicidade e
do funcionamento das estruturas neuro-centrais do que
propriamente do comprimento dos tecidos miofasciais.
Apesar de partir directamente do conceito mézièrista, possui
certas perspectivas e modos de tratamento de contrariam o
método Mézières.
Reconstrução Postural
Nisand propõe uma nova interpretação das compensações musculares, salientando a
importância de um conjunto de respostas neurológicas aquando do movimento (respostas
evocadas) e o contributo dos centros neurológicos centrais para o surgimento das
deformidades. O tratamento passa, então, sobretudo pelo trabalho de modificação dos
padrões de excitabilidade neuro-muscular das cadeias musculares (em termos de
neuroplasticidade adaptativa e não só de modificação temporária do tónus muscular).
O trabalho em “contracção isométrica excêntrica” transforma-se numa “solicitação activa
induzida”. Por meio de “pontos-chave” (à semelhança – não intencional – de Bobath), à
distância, são estimulados determinados padrões posturais. As posturas obtidas não são
mantidas por tempo indefinido, mas somente até que se obtenha a normalização tónica.
Mais uma vez a questão dos padrões e da Globalidade que também existe a nível do
cérebro (este vê, sobretudo, padrões de movimento e nada prova que vê músculos
isolados).
A postura e as compensações são agravadas até que seja conseguido o “esgotamento”
da deformidade. Este é conseguido por um mecanismo parecido com o da “inibição
activa” de Kabat (que já vinha de Jacobson...).
O que interessa é a reconstrução morfológica, a “restauração morfológica”.
(Nisand, 1997, a, b, c; Jesel, 1999; Jesel, Callens, Nisand, 2001; Nisand,
Callens, Jesel, 2002, Callens, 2004; Nisand, 2004; Nisand, 2006)
Reconstrução Postural: resultados

Fonte: www.reconstruction-posturale.com
Reconstrução Postural: resultados

Fonte: www.reconstruction-posturale.com
Reconstrução Postural: resultados

Fonte: www.reconstruction-posturale.com
Reconstrução Postural: resultados

Fonte: www.reconstruction-posturale.com
Mézières e Reconstrução Postural:
fontes bibliográficas preliminares
Implicações da Reeducação Postural
Implicações para toda a Fisioterapia, nas suas diversas áreas;
Nova forma de ver as dores da coluna vertebral. A Reeducação Postural é a Psicanálise do corpo e da
Fisioterapia. Lembremos o sub-título da obra de Leandro Massada: “Postura recente, Nova patologia”;
Implicações para o mundo da Ergonomia e a higiene postural (a posição correcta consiste sempre no
relaxamento da cadeia muscular posterior, sem tensão excessiva. Postura do cocheiro, postura do
pianista; o levantar deve ser feito com desenrolamento do ráquis);
Implicações para o mundo do desporto, centrado no fortalecimento e no trabalho massificado. O
desporto não foi feito para a saúde. O desporto olímpico tinha fins competitivos e ritualísticos. Os
desportos de grupo foram criados essencialmente pelos anglo-saxónicos, aquando da Revolução
Industrial (séc. XVIII), com fins lúdicos, competitivos e até belicistas. Os estudos que advogam os seus
benefícios só medem variáveis funcionais e possuem imensas limitações, como todo o processo de
Ciência. O desporto aparece enquanto prática massiva associado ao homo faber (Hannah Arendt),
homem-máquina (La Mettrie), necessariamente preparado para o trabalho segundo os auspícios do
taylorismo frio e desumano, trabalhador frio e alienado, combatente nas guerras (...) dos países
industrializados. O desporto serve a lei do economato, o sistema capitalista, a lógica neo-liberal, o
nacionalismo, a alienação, a lógica do competitivismo frio e a cultura de massas (aqui renasce o
conceito de Indústria Cultural de Horkheimer e Adorno), para além de reproduzir e favorecer as
desigualdades sociais. Tem mais ressonância nas sociedades ditas dionisíacas do que nas
sociedades ditas apolíneas (categorização da “Origem da Tragédia” de Nietzsche).
A Reeducação Postural serve o Conceito, não o produto. O Fitness e o Wellness não servem a saúde,
servem o bem-estar no aqui e agora, e o escapismo alienizante, próprios de uma sociedade em que a
forma tem primazia sobre o conteúdo.
Reeducação Postural, Ciência e Epistemologia
A “teoria das Cadeias Musculares” baseia-se no princípio de observação de Mézières de 1947
»»» “Princípio baconiano”, segundo Karl Popper, mais de acordo com a ciência positivista.
Portanto...
Será a “teoria das Cadeias Musculares” falsificável?... (modelo dos cisnes brancos vs. cisnes
pretos segundo Popper)
Mesmo possuindo algumas fragilidades, e podendo haver doentes que não se incluem no
paradigma da Reeducação Postural (certas condições reumatológicas inflamatórias,
deformidades verdadeiramente congénitas), não há razões para abandonar uma teoria que
parece basear-se em postulados científicos e parece ter algum poder de previsão. Portanto,
seguindo o preceito de Popper,
Tentemos melhorar cada vez mais a Teoria das Cadeias Musculares, limando as arestas que
parecem mais débeis, tendo sempre uma atitude crítica, e utilizando as “excepções ao modelo”
como forma de tentar compreender as fragilidades do sistema.
Aceito a existência de Paradigmas, segundo Kuhn, mas não aceito a lógica das verdades
múltiplas e relativas. A verdade é só uma, mesmo que não cheguemos totalmente a ela, e há
modelos mais próximos dela do que outros. E o fisioterapeuta, enquanto profissional da
observação que é, e enquanto profissional que utiliza modelos de raciocínio clínico, não tem
outra hipótese senão fazer escolhas adequadas segundo os contextos próprios.
“O nosso eu é edificado pela
superposição de estados
sucessivos. Mas essa
superposição não é imutável,
como a estratificação de uma
montanha. Levantamentos
contínuos fazem aflorar à
superfície camadas antigas.”
Marcel Proust
“David” de Miguel Ângelo

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