Você está na página 1de 2

Newsletter Best Writing nº 3, 2015. GL Volpato. Introdução do trabalho.

INTRODUÇÃO DO TRABALHO

Por Gilson Luiz Volpato

1 – O que é uma Introdução?


Universalmente, introduzir um texto científico ou um palestrante requer informar a
relevância do tema a ser tratado e a importância específica do texto (ou do palestrante)
nesse tema. Isso significa contextualizar o problema e o objetivo do estudo (ou
palestrante), justificando-o.

2 – A Introdução como um argumento lógico


Conceba a Introdução como um argumento lógico. No argumento temos premissas e
conclusões. As premissas são todas as informações necessárias para que elaboremos a
conclusão. Na Introdução, a conclusão do argumento será nosso objetivo. Assim como
num argumento lógico, a Introdução não pode conter premissas desnecessárias e nem
faltar premissas necessárias. Portanto, se tiver dúvida se uma informação deve ou não
fazer parte da Introdução, pergunte-se: é uma informação necessária para o leitor entender
e aceitar a plausibilidade do objetivo do estudo? Se sim, mantenha; se não, elimine.
Assim, defino o tamanho exato de uma Introdução: nem mais, nem menos que o
necessário (aplicável a qualquer outra parte do texto científico).

3 – Introdução de Projeto e Introdução de pesquisa completa (artigo, TCC, tese etc.).


Num projeto de pesquisa temos apenas intenção (objetivo e metodologia) e, geralmente,
solicitamos apoio financeiro. Num texto completo, já temos as conclusões. Ou seja, no
projeto a Introdução deve ser robusta para convencer outras pessoas a apostarem no seu
sonho (proposta da pesquisa). No texto completo, a Introdução não é tão crucial para
sustentar o objetivo, pois seja o que for que tenhamos idealizado, temos agora a conclusão
e é ela que sustenta o estudo. Nesse texto, a força da argumentação na Introdução só será
mais necessária caso tenhamos negado nossa hipótese.

4 – Um Introdução curta significa que esteja errada ou fraca?


É possível encontrarmos em revistas de altíssimo nível internacional introduções com
cerca de 3 frases. Por exemplo, no trabalho de Cheour et al. [Nature 415, 599-600, 2002
- doi:10.1038/415599b ], a primeira frase diz que ainda há polêmica sobre se o ser humano
consegue aprender enquanto dorme. Na segunda, os autores apresentam seu principal
achado: recém-nascidos a termo foram ensinados a discriminar sons similares de vogais
enquanto dormiam. Na terceira, dizem que esse achado pode ter implicações em situações
clínicas ou educacionais. Está feita a Introdução numa das principais revistas científicas
do mundo! Lógico, é um artigo curto (brief communication), mas se transformar cada
uma dessas frases num parágrafo, a Introdução continuará curta e suficiente.

5 – Devo incluir a revisão da literatura?


Não. A revisão da literatura não é um item para se colocado no texto científico. Ela lhe
fornece informações que você poderá, ou não, usar em qualquer lugar de seu texto, desde
que necessárias. Assim, use as informações obtidas na revisão da literatura para construir
a Introdução. Leia textos científicos internacionais de boa qualidade e raramente
encontrará algum tópico sobre “revisão da literatura”, enquanto que quase sempre verá
informações da literatura (citações) sendo usadas para comporem a argumentação da
1
Newsletter Best Writing nº 3, 2015. GL Volpato. Introdução do trabalho.

Introdução. Não confunda a revisão da literatura feita nesse contexto com “artigos de
revisão da literatura”.

6 – Por que alguns orientadores ou instituições insistem que seja colocada a Revisão
da Literatura no trabalho científico?
Possivelmente isso decorra de uma confusão entre o que é o trabalho científico e o que é
um trabalho escolar. No trabalho científico apresentamos apenas as evidências e
argumentações necessárias para sustentar seu discurso (suas conclusões). No trabalho
escolar queremos saber se o aluno leu o que recomendamos... se fez a lição de casa. Essa
confusão incute no aluno erro sobre a construção de uma Introdução, mesmo quando a
revisão da literatura é solicitada em item independente da Introdução.

7 – Como inicio a redação da Introdução?


Escreva com clareza seu objetivo e veja que informações necessitará para mostrar aos
leitores que esse objetivo faz sentido (vale a pena ser perseguido). Dessas informações,
explique essa argumentação para colegas. Fale bastante dela. Verá que, na realidade, o
que sustenta a Introdução são poucas informações. Após pensar bastante sobre ela,
expressando-a oralmente várias vezes, faça o outline da Introdução. O outline será uma
lista de informações que colocará na Introdução, organizadas na sequência com que
aparecerão. É similar à planta de uma casa. Primeiro a planta, depois as paredes. Portanto,
critique bastante esse outline até achar que é a melhor opção, a melhor estratégia para
introduzir seu trabalho para outros cientistas.

8 – Estratégias para Introduções


A forma de estruturar sua introdução pode variar muito. É um processo criativo, onde
você deverá achar a melhor argumentação. Pode iniciar de diversas formas e seguir vários
caminhos. A essência você já sabe (itens iniciais deste texto). Livre-se de regrinhas, pois
elas nunca levam à excelência; apenas às obviedades.
Mire no seu objetivo, mas poderá iniciar com ele, ou colocá-lo no meio da introdução, ou
no final; enfim, onde quiser, desde que coerentemente com as demais informações da
introdução. Poderá iniciar com a pergunta que originou o trabalho, ou com algum fato
importante que poderá conduzir o leitor para a essência de seu trabalho.
Uma inovação mais interessante é colocar na Introdução as principais conclusões do
estudo, ao invés dos objetivos. Não detalhará as conclusões, mas mostrará o ponto forte
do estudo. Neste caso, faz as mesmas fundamentações, mas ao invés de dizer que “aqui
testou...”, dirá que “aqui encontrou que...”. Veja em revistas de alto nível,
como Science e Nature, e verá que esta opção realmente cabe e é interessante.

SUGESTÃO
Leia Introduções em artigos de revistas de alto nível internacional e que sejam gerais
(publicam estudos de várias especialidade e áreas). Extraia delas o outline e veja as várias
estratégias usadas. Por exemplo, leia semanalmente um artigo (mesmo que fora de sua
especialidade) numa destas revistas: Science, Nature, PNAS, PLoS ONE, entre algumas
outras.

0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0

Você também pode gostar