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SA.

23-V-C ( Castanhal)

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METAMORFISMO E DEFORMAÇÃO
6.1 Formação Rio Piritoró (Grupo Gurupi) monstra uma nítida ambigüidade das condições
metamórficas, não mostrando de modo claro se a
As paragêneses minerais desta unidade foram com- fácies-xisto verde foi atingida, a não ser pela predo-
plementadas por análises de difratometria de raios - X, minância de clivagem ardosiana, crenulações e li-
compiladas a partir dos estudos de Costa (1985), o qual neações de estiramento nos veios de quartzo.
se deteve nas rochas portadoras de foliação metamórfi- Em termos texturais, os filitos apresentam um
ca (filitos), enquanto que os litótipos sem trama tectôni- baixíssimo grau de recristalização do quartzo, o
ca foram investigados na área da folha. qual ainda conserva os contornos detríticos e an-
Os minerais determinados são: sericita (musco- gulosos ou arredondados do sedimento original.
vita 2M1), paragonita, clorita, zeólitas, material car- Nos arenitos intercalados nos argilitos sem trama
bonoso amorfo, albita, fosfatos de alumínio e, oca- tectônica, ainda se observa sobrecrescimento dia-
sionalmente, a illita. genético dos grãos de quartzo, apontando para um
Segundo Turner (1981), zeólitas e muscovita metamorfismo nulo localmente, confirmado pela
2M1 são minerais tipicamente anquimetamórficos, presença da illita nos argilitos.
enquanto que a fácies xisto-verde se iniciaria com o Assim sendo, a Formação Rio Piritoró, provavel-
aparecimento da grafita e da pirofilita. mente, foi submetida a condições transicionais entre o
Litoquimicamente, apesar desses pelitos terem anquimetamorfismo e a fácies xisto-verde muito baixa,
15 a 33% em peso de Al2O3 (Costa, 1985), compo- com temperaturas mínimas de 270-280°C, dada pelo
sição altamente aluminosa, não houve formação de aparecimento da paragonita (Barker, op. cit.) e tempe-
pirofilita, indicando assim, que, provavelmente, raturas não superiores a 325°C a 1Kbar, estimadas a
temperaturas mínimas de 325°C a 1 Kbar não foram partir da não-formação de pirofilita (Winkler, op. cit.).
atingidas (Winkler, 1979); Essa hipótese é sustenta-
da pela presença dos fosfatos de alumínio e das
zeólitas, que são instáveis a temperaturas acima de 6.2 Formação Jaritequara (Grupo Gurupi)
280-300°C (Barker, 1990, Oliveira, 1977). A persis-
tência da ilita, em argilitos sem trama tectônica e, A passagem da Formação Rio Piritoró para os
mais raramente, até mesmo em filitos, também de- xistos Jaritequara se dá pelo brusco aparecimento

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Programa Levantamentos Geológicos Básicos do Brasil

da granada e aumento da granulação, apontando sempre apresentando orientação discordante da


para a presença de uma frente de cavalgamento foliação milonítica.
com metamorfismo inverso, aumentando para o As assembléias retrometamórficas são limita-
topo da seqüência. das, ou localizadas, e identificadas pela presença
A sericita é substituída por muscovita grosseira, do mineral citado anteriormente, além do epidoto
na presença de biotita e de um alto grau de recrista- nas calcissilicáticas, e da clorita nos xistos estauro-
lização do quartzo, formando agregados de sub - líticos.
grãos subprismáticos (ribbon quartz) ou eqüigra- A identificação da estaurolita sugere condições
nulares, em outros casos. mínimas de 540°C a 4 Kbar (Winkler, 1979), poden-
As paragêneses são nitidamente progressivas do ter atingido temperaturas superiores, a julgar
para SW, confirmadas tanto pelo aumento do grão pela deformação extremamente dúctil do plagio-
como pelo enriquecimento em biotita e escassez clásio, na forma de bastonetes e “ocelos” sigmoi-
da muscovita e da clorita. dais. Segundo Tullis et al. (1982), o plagioclásio só
Nas rampas laterais observa-se a conversão se deforma plasticamente em condições da fácies
desses xistos a duas micas em filonitos ricos em se- anfibolito médio a alto.
ricita, clorita, biotita cloritizada e porfiroclastos fusi- A formação de um bandamento gnaissóide, cen-
formes de quartzo e/ou muscovita. timétrico a decimétrico, levando esses xistos a tran-
À exceção dessas transcorrências, os proces- sicionarem para gnaisses paraderivados em ter-
sos de porfiroblastese predominam em relação mos de aspecto de campo, é outra evidência de
aos de porfiroclastese. Muito comumente, obser- que essas rochas possam ter atingido, pelo menos,
va-se o de sen vol vi men to de por fi ro blas tos a isógrada da cianita, na Folha Rio Capim, ao sul da
pós-tectônicos, multimicáceos e multilamelares, Folha Castanhal.
que truncam a foliação em ângulo reto. Esses O aparecimento seqüencial, primeiramente da
agregados, compostos basicamente por muscovi- biotita, seguida da granada e, finalmente, da estau-
ta e clorita, com pouca a nenhuma biotita, de- rolita, sugere que o tipo de cinturão metamórfico
monstram que apesar das temperaturas atingidas para o Grupo Gurupi, como um todo, é do tipo bar-
serem da ordem de 425-450°C para o apareci- rowiano, ou de pressões intermediárias.
mento da biotita nessas rochas (fácies xisto-verde
alto), o pós-auge metamórfico, provavelmente,
ocorreu em condições mais brandas, em fácies 6.4 Metagranitóides
xisto-verde médio.
Os corpos sinmetamórficos exibem trama tectô-
nica anastomosada e transformações mineralógi-
6.3 Formação Vila Cristal (Grupo Gurupi) cas condizentes com a fácies xisto-verde. Tra-
ta-se de sutís a profundas substituições dos crista-
Os xistos pelíticos da unidade anterior passam is de plagioclásio por sericita, epidoto e/ou mus-
bruscamente para xistos semipelíticos ou grauva- covita, além da cloritização e muscovitização de
quianos (metaturbiditos), através de uma nova isó- biotitas.
grada da granada e/ou da granada associada ao Localmente, existem deformações extremamen-
cloritóide, indicando pressões mais elevadas nes- te dúcteis do plagioclásio e do feldspato potássico,
sas frentes de cavalgamento. Lentes de xistos esta- linearizando a rocha através de bastonetes e “oce-
urolíticos (pelitos “verdadeiros”) e de rochas calcis- los” fortemente estirados, provavelmente em condi-
silicáticas com hornblenda e granada, indicam ções localizadas (?) na fácies anfibolito.
com maior precisão que as metagrauvacas, que a
fácies anfibolito foi atingida.
Nas metagrauvacas, os minerais são o quartzo, 6.5 Nefelina Sienito-Gnaisse
oligoclásio, muscovita e biotita. Nas calcissilicáti-
cas aparecem a granada, hornblenda, anortita, A presença de um bandamento de segregação
quartzo, biotita e cloritóide. metamórfica entre minerais claros e escuros, de di-
Nos subordinados xistos pelíticos ocorrem a es- mensões centimétricas a decimétricas, gerando
taurolita, biotita, granada, oligoclásio, quartzo e um gnaisse listrado é a principal diferença entre es-
cloritóide. Este último mineral é nitidamente retro- sas rochas e os metagranitóides foliados, porém,
metamórfico ou de cristalização pós-tectônica, não gnaissificados.

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SA.23-V-C ( Castanhal)

Esse tipo de trama tectônica sugere condições concordantes de pegmatitos leucocráticos associ-
da fácies anfibolito, em condições pré-tectônicas. ados a um estágio incipiente de migmatização, sob
Lowell & Villas (1982) descreveram injeções do condições mínimas de 650-700°C e pressões de
tipo lit-par-lit, além de veios discordantes e lentes 4-5Kbar.

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