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BELÉM
2022
JAMYLLE ADRIANE GEMAQUE FONSECA
BELÉM
2022
2
JAMYLLE ADRIANE GEMAQUE FONSECA
BANCA EXAMINADORA:
__________________________________________
Prof. Dr. Erick Fonseca Castilho
Orientador/Presidente
ISPA /Ufra
________________________________________________
Prof. M.Sc. Andréia Santana Bezerra da Silva
Universidade Federal do Pará – UFPA
(Membro Titular)
_________________________________________________
M.Sc. Juliana Nascimento Duarte Rodrigues
Doutoranda Universidade Federal de Viçosa - UFV
(Membro Titular)
“Não fui eu que ordenei a você? Seja forte e corajoso! Não se apavore nem desanime,
pois o Senhor, o seu Deus, estará com você por onde você andar”
[Josué 1:9]
5
AGRADECIMENTOS
Primeiramente à Deus, por ser minha fortaleza, meu guia e estar comigo em cada
passo que dei desta caminhada, nunca me desamparou e me deixou esmorecer nos
momentos de adversidades. Sem Ele, esta realização não seria possível.
À minha avó materna, Ana Ruth, por ser meu exemplo de força e coragem, por
estar ao meu lado desde sempre, por todo apoio diário, por ser meu refúgio, a que faz dos
meus sonhos os seus, por ensinar que as dificuldades a gente coloca numa caixinha e usa
como combustível para ir em busca de sonhos. Minha luz, você esteve/está em cada passo
que dei, me enchendo de coragem e força, com as melhores palavras de apoio e os
melhores “bom dia, minha flor” à cada manhã antes de ir à universidade. Minha gratidão
por tê-la neste mundo é eterna, tudo sempre será por ti.
À minha querida mãe, meu espelho, fonte de inspiração, determinação e
persistência. Mulher de garra, obrigada por tanto, por nunca ter medido esforços quando
precisei, por mostrar a mim e aos meus irmãos que o conhecimento é libertador e que
tudo é possível quando se tem sonhos. És meu maior exemplo!
Aos meus irmãos João Victor e Maria Eduarda, os quais sempre estão ao meu
lado mesmo que causando stress, ter vocês em minha vida são uma dádiva.
Ao meu tio Rodrigo, pelo apoio e suporte necessário durante toda a graduação,
por acreditar em mim e lutar pelos meus sonhos e se orgulhar com minhas conquistas, é
a minha figura paterna e o melhor que poderia ter.
Ao meu companheiro, Lucas, por ter entrado junto comigo nesta caminhada, por
todo suporte, apoio emocional, preocupação e cuidado, por ser meu ombro amigo,
incentivador e com toda sua experiência, foi uma das minhas maiores trocas de
conhecimento zootécnico nesta graduação rs.
Ao meu querido e excelentíssimo orientador Prof. Dr. Erick Fonseca Castilho
por toda paciência, dedicação, zelo, palavras de incentivo e apoio. Sou extremamente
feliz e realizada com todo conhecimento adquirido ao longo da graduação e com senhor,
hoje finalizo este ciclo sabendo que tive um orientador que fez toda a diferença nesta
árdua caminhada. Minha eterna gratidão e admiração ao sr.
Aos meus amigos e família que a universidade me presenteou, Emanuelle
Ferreira, Johnny Oliveira, Hélio Aguiar, Adriane Paixão e Tiago Henrique.
Agradeço por estarem presentes no meu dia a dia, tornando-os mais leves, partilhando
conhecimento, sendo o apoio diário. Obrigada por todo convívio e momentos
compartilhados durante esta caminhada, ter vocês no caminho me fizeram entender o
quão podemos ir longe juntos. Ao tio Emanoel e Natalina, minha eterna gratidão por ter
percorrido conosco este trajeto com muito apoio, zelo e perseverança, embarcando com
a gente nas confraternizações e noites em claro. Amo vocês!
RESUMO
O agronegócio ocupa posição de destaque no cenário econômico nacional, devido sua
participação na economia brasileira, sendo responsável por aproximadamente 26,6% do
PIB no ano de 2020. Contudo, até chegar ao grau de excelência que se encontra
atualmente foi necessário um investimento maciço na busca de conseguir novas
tecnologias, a exemplo disso é o sistema de confinamento de bovinos. Portanto, o uso de
produtos agroindustriais, assume papel econômico extremamente importante, sendo,
algumas vezes, uma alternativa responsável pela viabilidade econômica do sistema.
Objetivou-se, portanto, realizar um levantamento bibliográfico referente ao desempenho
de bovinos de corte e uma avaliação econômica da dieta de terminação a base de
subprodutos agroindustriais utilizada em confinamento comercial. No presente estudo,
destacam-se os subprodutos: bagaço de laranja, casca de mandioca, resíduo úmido de
cervejaria, torta de algodão e torta de dendê. Porém, algumas barreiras são encontradas
ao fazer a utilização desses subprodutos devido ao pouco conhecimento de suas
características nutricionais e de valor econômico, diferentemente das commodities
tradicionais. Além disso, verifica-se a falta de estudos mais aprofundados que avaliem o
desempenho positivo de animais utilizando estes tipos de alimentos. A partir da simulação
de custo de produção de duas dietas, uma a base de subprodutos e outra tradicional, a
dieta baseada em subprodutos apresentou-se aproximadamente 15% mais barata e
atendendo as demandas quanto a exigência bromatológica e nutricional. Conclui-se,
portanto, que os subprodutos agroindustriais possuem grande relevância na alimentação
suplementar desses animais, tornando-se uma alternativa importante para os produtores
que possuem esses estes alimentos na sua região, sendo, algumas vezes, uma alternativa
responsável pela viabilidade econômica do sistema.
LISTA DE TABELAS
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 11
2 REVISÃO DA LITERATURA................................................................................. 13
2.1 Panorama geral da pecuária .................................................................................. 13
2.2 Confinamento de bovinos ....................................................................................... 14
2.3 Resíduos agroindustriais ........................................................................................ 16
2.3.1 Bagaço de laranja/polpa úmida de laranja ....................................................... 18
2.3.2 Casca de mandioca .............................................................................................. 22
2.3.3 Resíduo úmido de cervejaria/resíduo de cevada ............................................... 24
2.3.4 Torta de algodão .................................................................................................. 27
2.3.5 Torta de dendê/torta de palmíste ....................................................................... 29
3 SIMULAÇÃO DE CUSTO DE PRODUÇÃO DE DIETAS A BASE DE
SUBPRODUTOS .......................................................................................................... 32
4 CONCLUSÃO ............................................................................................................ 35
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 36
11
1 INTRODUÇÃO
2 REVISÃO DA LITERATURA
No ano de 2020, o PIB do Brasil foi de R$ 7,4 trilhões, apresentando uma queda
considerável de 4,1% em relação ao ano anterior, contudo, mesmo o número decrescente,
o PIB da Pecuária no mesmo período aumentou sua representatividade no PIB total,
passando de 8,4% para 10%, evidenciando a força do setor na economia brasileira
(MAPA, 2021).
Assim, o rebanho bovino brasileiro atingiu a marca de 218,15 milhões de cabeças
em 2020, em que 10,21% correspondem ao estado do Pará, sendo o 3º maior rebanho
bovino brasileiro com estimativa de 22.267.207 cabeças, sendo que 85,31 % dos seus
animais são destinados exclusivamente a corte (IBGE, 2021). Em 2020, 41,5 milhões de
cabeças foram abatidas, 15,62% deste total provieram de confinamentos, com uma taxa
de desfrute de 21,74% (ABIEC, 2021).
Neste mesmo ano, a produção brasileira de carne bovina foi de 10,10 milhões de
toneladas equivalente carcaça (TEC) e a previsão é de que ocorra um aumento de 5% até
o final de 2021. O número de abates de bovinos diminuiu 8,5% em 2020, quando
comparado a 2019, com 29,7 milhões de cabeças abatidas e peso médio de carcaça de
261,9 kg.
O mercado interno reduziu o consumo em 9,8% no ano de 2020, contabilizando
5,9 milhões de toneladas equivalente carcaça consumidas. Em média, cada brasileiro
consumiu cerca de 24,4 kg de carne bovina. A exportação foi de 2,7 milhões TEC,
representando cerca de 26% da produção (MAPA, 2021).
Essa crescente nos últimos anos demonstram a importância que o setor de carne
bovina representa para o Brasil, já que, atualmente é considerado como um dos principais
responsável pela produção e comercialização mundial de carne, gerando uma receita
anual de aproximadamente US$ 7,4 bilhões em vendas e ainda destina 74% de sua
produção para abastecer o mercado interno brasileiro (ABIEC, 2021).
Segundo Vicensotti (2019), a pecuária de corte ao longo dos anos vem agregando
vários elos dentro da sua cadeia de produção, já que a mesma se encontra favorecida pela
existência do parque industrial para processamento e abate de bovinos. Contudo, até
chegar ao grau de excelência que se encontra atualmente foi necessário um investimento
maciço na busca de conseguir novas tecnologias em nutrição, pastagem, manejo sanitário
e genética, fatores esses que influenciaram diretamente na qualidade do produto brasileiro
14
forragem nas diferentes estações do ano, resultando em perda e/ou baixo ganho de peso
caracterizando o boi tipo “sanfona” (HOFFMAN et al., 2014).
Segundo Gomes, Feijó e Chiari (2017), o confinamento de animais surgiu como
uma estratégia que tem sido empregada por muitos produtores ao decorrer dos anos.
Caracteriza-se em agrupar grande número de animais em pequenas áreas, com dietas que
permitam expressar o máximo do seu potencial genético.
Nas últimas quatro décadas o rebanho efetivo dobrou, entretanto, as áreas de
pastagem pouco avançaram e em outras regiões até diminuíram, demonstrando o aumento
na produtividade. A adoção de tecnologias, como por exemplo o confinamento, é fator
responsável por este aumento produtivo (GOMES; FEIJÓ; CHIARI, 2017).
Dessa forma, tal tecnologia adotada consiste em uma atividade na qual apresenta
características estratégicas, visando tanto o aceleramento do crescimento dos bovinos,
como também a retirada de animais mais pesados durante o período de seca, mas
atualmente é utilizado como ferramenta de manejo, auxiliando em aumentos na escala de
produção (LANNA; ALMEIDA, 2005).
Segundo Lanna e Almeida (2005), o confinamento foi inicialmente proposto para
a viabilização da compra de animais em períodos de safra e de sua revenda durante a
entressafra, seguindo para o fornecimento de resíduos e subprodutos das agroindústrias,
até ser utilizado como uma ferramenta para o manejo das espécies.
Torna-se importante salientar que diferentemente da terminação a pasto, o
confinamento requer grandes investimentos referentes a instalações e maquinários. Em
contrapartida, o controle do consumo pelos animais é tido como mais rentável, o que
possibilita a realização de ajustes necessários para as dietas dos animais, favorecendo
assim, ganhos maiores e consequentemente, carcaças mais acabadas e padronizadas para
comercialização (SENAR, 2018).
Além disso, diferentes objetivos e disponibilidades de recursos são fatores
determinantes para que os sistemas de confinamento brasileiros sejam bastante
diversificados, possibilitando inúmeras combinações entre tipos de instalações, raças e
dietas que são dependentes de recursos naturais e financeiros disponíveis do produtor
(CARDOSO, 2000).
Oliveira (2017) afirma que a adoção desta tecnologia pode significar redução de
20% do total do rebanho atual, melhoria na taxa de desfrute e maior giro do capital,
propiciando assim o aumento de competitividade do Brasil.
16
Segundo Zambom et al., (2000) a crescente demanda pela melhor utilização dos
recursos alimentares no mundo, torna-se evidente a necessidade da utilização de fontes
energéticas e proteicas na alimentação animal que não mantenham competição com a
alimentação do homem. No entanto, para que essa escolha seja assertiva, deve-se levar
em consideração a época do ano, o nível de produção, os custos, disponibilidade dos
alimentos na região, características nutricionais e armazenagem (RODRIGUES, 2011).
Mendonça (2012) destaca que o uso de produtos agroindustriais, portanto, assume
papel econômico muito importante, sendo uma alternativa para minimizar os custos de
produção e, muitas vezes, responsável pela viabilidade econômica do sistema, já que a
alimentação representa a maior fatia dos custos.
No Brasil predomina a geração de resíduo úmido, uma vez que o processo de
secagem é economicamente inviável. Dentre as particularidades referentes à utilização
desses resíduos, podemos citar: a forma de armazenamento, condições especiais de
transporte, rápida deterioração, maior variação de composição e sazonalidade de
produção (TEIXEIRA, 2009).
Rogério et al. (2009) destacaram que a utilização de subprodutos como os
oriundos das culturas da mandioca, cevada, café, uva, maçã e laranja podem ser benéficos
tanto para o produtor como para a indústria. Para o produtor torna-se uma fonte de
alimento de menor custo, e para a indústria, um material que era resíduo tornando-se
subproduto para alimentação animal.
Porém, algumas barreiras são encontradas ao fazer a utilização desses subprodutos
devido ao pouco conhecimento de suas características nutricionais e de valor econômico,
diferentemente das commodities tradicionais (ex. milho e soja) as quais são comumente
utilizadas na formulação das rações. Além disso, verifica-se a falta de estudos mais
aprofundados que avaliem o desempenho positivo de animais alimentados com estes tipos
de alimentos (REGUSE, 2018).
No entanto, com base nos requerimentos nutricionais dos animais e na
composição dos subprodutos utilizados é necessário mensurar seu nível de inclusão nas
dietas, visando o máximo desempenho e o melhor retorno econômico. A partir desses
dados, os resíduos agroindustriais são de extrema relevância principalmente no que diz
respeito a inserção frente a novas formulações para enriquecer as mesmas, além do mais,
a partir do momento que se é utilizado resíduos agroindustriais, se está contribuindo para
um menor descarte no meio ambiente (PORTUGAL-PEREIRA et al. 2015).
18
*Polpa de laranja úmida **Polpa de laranja peletizada; ***Polpa de laranja úmida despectinada.
MS= Matéria seca; PB = Proteína bruta; EE= Extrato etéreo; FDN= Fibra em detergente neutro; FDA=
Fibra em detergente ácido.
Sendo assim, a alternativa encontrada para estes entraves e um dos métodos mais
comuns de aproveitamento do bagaço de laranja na indústria é proceder a secagem e a
peletização desse material (ÍTAVO et al., 2000). Este processo ocorre em duas etapas:
após a extração do suco, o material passa por duas prensagens para que a umidade atinja
os 65 a 75%, e a secagem, na qual resulta até 90% de matéria seca, para então, ser
peletizada e comercializada (TEIXEIRA, 2001).
No entanto, devido ao alto custo de secagem existe o interesse de empresas em
pequena escala, pois o investimento em secadoras para este material pode representar até
50% do valor da fábrica de processamento de suco de laranja, onerando seu custo de
utilização, embora seja uma boa alternativa (SARTURI, 2008).
Segundo Sarturi (2008), existe outra alternativa de utilização que soluciona os
problemas do bagaço de laranja in natura e dispensa o processo de secagem, algumas
indústrias estão produzindo a chamada polpa cítrica despectinada.
O processo de obtenção ocorre após a extração do suco, no qual o material é
lavado com água por cerca de 50 minutos e então submetido a tratamento com vapor em
temperatura que varia de 60°C a 90°C. Em seguida, é adicionado ácido nítrico na massa
até que o pH atinja 2,4. Desta forma, após a prensagem, filtragem e a extração parcial da
pectina, o que sobra torna-se um subproduto com potencial para utilização e com menor
teor de umidade (SARTURI, 2008).
Segundo levantamento da Scot Consultoria, a cotação da tonelada de polpa cítrica
peletizada esteve 31,7% maior que no mesmo período do ano de 2020 (Tabela 2).
Segundo estudos realizados por Prado et al. (2000) com bovinos machos inteiros
de vinte meses de idade (Nelore x Angus) em que foi feita substituição do milho em 40,
60, 80 e 100% por bagaço de laranja peletizado, não houve alteração de ganho de peso,
consumo de matéria seca, proteína bruta, energia, conversão alimentar, rendimento de
carcaça e acabamento de gordura, concluindo assim, que a polpa cítrica peletizada (PCP)
pode ser utilizada em substituição parcial ou total ao milho, para animais confinados.
Em outro estudo realizado por Pereira (2005) com 72 animais da raça Canchim
em que as rações continham 70% de concentrado e 30% de volumoso, observou-se que a
substituição parcial do milho pela PCP resultou em ganho de peso diário (GPD) superior,
no entanto, a ração com maior rentabilidade foi aonde a substituição do milho foi total.
Sarturi (2008) realizou experimento com 24 tourinhos da raça Nelore e 24
tourinhos da raça Canchim ambos com aproximadamente 18 meses de idade, observou-
se que para conversão alimentar não houve diferença significativa, porém, a espessura de
gordura cutânea foi superior ao exigido pelos frigoríficos nacionais. Entretanto, os
animais da raça Canchim tiveram maior CMS e por sua vez, maior GPD. No entanto os
animais da raça Nelore apresentaram menor CMS e consequentemente menor GPD,
concluindo que a polpa cítrica úmida despectinada é uma ótima alternativa tanto em
substituição aos grãos energéticos quanto à própria polpa cítrica peletizada.
Estudos de Kirk et al. (1954), citados por Peacock e Kirk (1959), observaram que
novilhos alimentados por 120 dias com milho, milho e polpa de citrus ou polpa de citrus,
como fonte de energia, tiveram desempenho similar, sendo que o melhor GMD foi
observado no tratamento milho e PCP (1,15 kg/animal/dia), seguido pelo tratamento
milho e polpa de cítrica, sendo 1,07 e 0,98 kg/animal/dia, respectivamente.
Por outro lado, estes resultados não estão de acordo com VELLOSO et al. (1974),
que, em trabalho semelhante, observaram GMD crescente, à medida que se elevou o nível
de substituição do milho pela polpa de cítrica e estudos realizados por HENRIQUE et al.
(1998), não corroboram com o trabalho de Velloso et al. (1974) no qual utilizando níveis
de concentrado (20 e 80%), observaram que, nos tratamentos em que o concentrado
participou com 80% da matéria seca total da dieta, verificou-se diminuição no GPD,
quando houve a substituição do milho pela PCP.
22
*Laboratório de análises Cargill Alimentos. MS= Matéria seca; PB = Proteína bruta; EE= Extrato etéreo;
FDN= Fibra em detergente neutro; FDA= Fibra em detergente ácido.
West e Martin
- 29,6 6,8 65,5
(1994)
MS= Matéria seca; PB = Proteína bruta; EE= Extrato etéreo; FDN= Fibra em detergente neutro.
Parâmetros %
Umidade 75 a 80
Proteína bruta 26 a 32
Amido <6
Cálcio 0,30-0,50
Walsh et al. (2008) conclui em pesquisa que houve diferença significativa nos
valores de conversão alimentar (CA) a partir do momento que foram feitas testagens por
27
meio de silagem de trigo e de cevada relacionadas com dietas à base de silagem de milho
ou concentrado à vontade. De acordo com os autores, tanto dietas com silagem de trigo
como a silagem de cevada tiveram uma CA de 13,5 e 13,6 kg alimento/kg GPD
respectivamente, contra 12,0 para a dieta com silagem de milho e 10,3 kg alimento/kg
GPD para a dieta com concentrado a vontade (WALSH et al., 2008).
Segundo Souza et al. (2006) eles observaram que a suplementação contendo 10%
de RUC aumentou significativamente o consumo de matéria seca (CMS) e o ganho de
peso dos animais, devido aos bons teores de proteína bruta (PB) e de nutrientes digestíveis
totais (NDT) do RUC.
Nos achados de Caton e Dhuyvetter (1997) verificaram que a suplementação
diária com cevada, na quantidade de 1,8 kg/animal, influencia somente marginalmente a
ingestão e digestibilidade da forragem, já que tal nível de suplementação representou
0,8% do peso vivo dos animais. Ainda segundo os resultados do estudo, sugeriram que
30 g/kg de peso vivo metabólico (PV0,75) como nível de suplementação de energia que
poderia influenciar na utilização de forragem, o que representa em média 0,7% do PV do
animal.
De acordo com Lima (1993), o uso de até 15% de RUC na alimentação de bovinos
não altera o consumo de MS e a condição de fermentação ruminal, porém, a utilização na
forma in natura é dificultada pela sua conservação o qual se apresenta como o principal
gargalo da sua utilização.
Araújo et al
92,3 46,1 4,6 - -
(2003)*
Araújo et al
89,1 47,6 2,2 - -
(2003)**
*Torta com extração mecânica; ** Torta com extração por solvente. MS= Matéria seca; PB = Proteína
bruta; EE= Extrato etéreo; FDN= Fibra em detergente neutro; FDA= Fibra em detergente ácido
recomendados, tendo em vista que o excesso deste subproduto pode causar dificuldades
no ganho de peso e alterações espermáticas, devido a presença de gossipol (PAIM et al.,
2010).
Segundo Cabral et al. (2002) o valor nutricional da torta de algodão como produto
final da extração do óleo sofre variações especialmente no que se refere ao processo de
teores de proteína bruta e lipídios, bem como da natureza do seu processo de obtenção.
Geralmente o balanceamento de dietas encontra-se baseado na composição química
média dos alimentos concentrados que estão presentes nas tabelas de composição
nutricional dos alimentos.
Em se tratando da torta de algodão, Viana (2012) aponta que em virtude das
diferentes diversidades genotípicas e de processamento industrial, podem ocasionar em
uma maior variabilidade dos componentes nutricionais, e, além disso, pode conduzir a
resultados de desempenho inadequados, já que, o percentual de proteína bruta, extrato
etéreo e fibra em detergente neutro, são diferentes entre as tortas disponíveis no mercado.
Inclusive ainda de acordo com Viana (2012) o processo fermentativo destas tortas no
rúmen influencia diretamente também no desempenho de ruminantes.
Logo, entende-se que o conhecimento dos limites de inclusão da torta de algodão
na dieta de bovinos, torna-se importante para que possa assegurar o sucesso da criação do
ponto de vista sanitário e econômico.
Em trabalho desenvolvido por Cruz et al. (2019), teve como objetivo avaliar a
inclusão da torta de dendê na dieta de bovinos, onde foi possível identificar a ingestão de
MS, PB e CNF diminuiu linearmente, ao passo que a ingestão de EE aumentou. Além
disso, a ingestão de FDN mostrou comportamento quadrático positivo, com inclusão
máxima de 140 g/kg de torta de dendê para a dieta dos bovinos.
Segundo Correia et al. (2016) e Cruz et al. (2019), a digestibilidade aparente total
do EE teve um aumento considerável por meio da inclusão das tortas, a exemplo de
amendoim e dendê nas dietas. Logo, o aumento da ingestão de EE influencia diretamente
na promoção da menor perda endógena de compostos lipídicos, o que aumenta a
digestibilidade aparente.
Cruz et al. (2019) ao fazer uso da torta de dendê nas dietas de bovinos, os autores
verificaram que houve um comportamento linear negativo no GMD e no peso final, tais
reduções, significam que no peso final (50 g/kg) e GMD (230 g/kg) foram resultado da
redução da ingestão de MS (200 g/kg) e PB (250 g/kg), com consequente menor
suprimento destas frações, gerando como consequência um desempenho menor.
Ainda de acordo com os autores citados, os maiores níveis de inclusão de torta de
dendê (140 ou 210 g/kg) tem impacto diretamente nos ganhos mais baixos (1,05 e 1,06
kg), um dos motivos para explicação, refere-se ao fato da proteína da torta exibe menor
disponibilidade de aminoácidos no rúmen, além da inexistência de aminoácidos no
intestino. Vale frisar que o uso da torta contém uma quantidade significativa de proteína
na forma de PIDA, que influencia na redução da disponibilidade de aminoácidos no
rúmen para absorção intestinal, além de interferir desempenho dos animais (CRUZ et al.,
2019).
Trabalhos desenvolvidos por Santana Filho et al. (2016), Correia et al. (2016) e
Gouvêa et al. (2017) e Oliveira et al. (2019) foram pesquisas baseadas na avaliação da
inclusão de tortas, a exemplo de dendê, na dieta de bovinos, assim, os autores não
verificaram diferença no pH final da carne e nas perdas por cocção.
Sobre a torta dendê, autores como Santana Filho et al. (2015) recomendam a
inclusão em até 210 g/ kg, diferentemente de Cruz et al. (2019) que em sua concepção
não é válida a inclusão acima de 70 g/kg na dieta de bovinos de corte.
No estudo de Cruz et al. (2019) a inclusão de torta de dendê no que tange ao
processo de diminuição concomitante de soja e milho moído, os resultados demonstraram
que o nível de inclusão foi de aproximadamente de 21 % de torta de dendê na MS total
da dieta. Ainda de acordo com o autor citado acima, não é recomendado o uso de torta de
32
cada ingrediente, para que assim se obtenha o custo do kg da ração baseada no consumo
de matéria seca (%MS x R$/kg).
% MS do
Ingrediente % MS* R$/TON MN R$/kg R$/CMS
ingrediente
Farelo de soja 90,00 3,57 2.185,00 2,185 0,078
Milho moído 88,35 77,54 1.448,00 1,448 1,123
Uréia 98,00 1,11 6.000,00 6,000 0,067
Silagem de
33,60 15,15 230,00 0,230 0,035
capim
Núcleo 95,22 2,63 5.200,00 5,200 0,137
TOTAL 100,00% R$ 1,439
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados cedidos pela empresa Cargill Alimentos LTDA e CEPEA
(2022). MS= Matéria seca; Ton= Tonelada; MN= Matéria natural; CMS= Consumo de matéria seca.
*Porcentagem de inclusão do alimento na dieta com base na matéria seca.
34
4 CONCLUSÃO
O confinamento de animais vem sendo uma estratégia que tem sido empregada
por muitos produtores ao decorrer dos anos, no entanto torna-se importante salientar que
diferentemente da terminação a pasto, o sistema de confinamento requer grandes
investimentos referentes a instalações e maquinários. Em contrapartida, o controle do
consumo pelos animais é tido como mais rentável, o que possibilita ajustes nas dietas
visto que a alimentação pode representar 70% dos custos neste tipo de sistema.
Diante disso, ao longo do trabalho foi possível identificar que os resultados
simulados da análise econômica do uso de subprodutos agroindustriais na alimentação de
bovinos de corte demonstram a relevância da alimentação suplementar desses animais,
tornando-se uma alternativa importante para os produtores que possuem esses
subprodutos na sua região, sendo, algumas vezes, uma alternativa responsável pela
viabilidade econômica do sistema.
Além disso, ressalta-se que a partir disso, deve-se procurar alternativas para
reduzir esses custos e baratear as dietas, o que estimula cada vez mais os produtores a
encontrarem melhor aproveitamento de alimentos alternativos como os subprodutos
agroindustriais
Portanto, deve-se sempre atentar-se as particularidades de cada tipo de
subproduto, sazonalidade, nível de produção, disponibilidade dos alimentos na região,
características nutricionais, rede de fornecedores próximo às propriedades visto que esses
subprodutos possuem elevado teor de umidade, o que onera o frete, níveis ideais de
inclusão para evitar problemas de consumo, impactos negativos no desempenho ou até
mesmo distúrbios metabólicos.
36
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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