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Microbaclas hIdrogrriifiens: uin novo eonoeito de

dese~volvimciitorural
TITO R Y F F
I I taisquanto seus resuitados econ6micos e sociais.
as m i mbacias hidrogrdficas assumem a função Estas situa@es, para serem adequadas, precisam
de unidades de referência pura a implan taça0 preencher dois requisitos:

possuir uma escala geogrsifica, social e econbmica


A preocupaçso crescente com os impactos provoca- que possibilite uma atuação e um monitoramento
eficazes dos resultados por parte dos 6rgãos públi-
dos pelo progresso material da humanidade sobre o cos e agentes privados envolvidos no processo;
meio ambiente resultou, nos Últimos anos, na subs-
tituição do conceitode desenvolvimentoeconamico ter um cardter universal, que permita extrair ensi-
e social pelo de desenvolvimentosustentável.fi pro- namentoi e experiências capazes de serem difundi-
vãvel, contudo, que o homem ainda não possua o dos em larga escala.
d e c i m e n t o científico e tecnol6gico básico, os
meios técnicos de produção e o dominio das variá- I O quc B ruicrubacia Iridrograííiea
veis econ6micas e sociais indispensãveis h impiarr- N o caso da agricultura, esses dois requisitos acham-
tação de um proceçso de desenvolvimento sustentá-
se pIenamente atendidos no espaço geagrrlfico cha-
mado de microbacia hidrogrEtfia. Com efeito, a mi-
vel. Por isso mesmo, esta implantação obedecerA, cmbacia é um espaço geogrAfh de referhcia, carac-
certamente, a um mecanismo de aproximaçües su- teriado por uma geoestnitura peculiar e delimitado
cessivas, o que oferecer6 a vantagem de passibilitar por divisares de 6gua cujo sistema de drenagem con-
mudanças menos bruscas nos sistemas de produQo verge direta ou indiretamentepara determinadocur-
vigentes e de permitir que ocorram as necessárias so d'Agua. Isto confere 3 microbacia um nível de com-
adaptações sociais e econbnicas. plexidade ambienta1 suficientemente elevado para
possibilitar a a n á h de um grande nii-
TambQn no &or agropexáno, a ne- h g r a n su de mero de interaçk ecolhgicas que cos-

L
d d a d e de compatibiihr o exercicio aikririha !Ias @ d e m tumam morrer na atividade agrícola.
da atividade produtiva e o processo de ~ v d i l ci ln a a~ lumu~ Por outro lado, a presença de @a, na
conw-vação dos recutsosnaturais am- de ~ a ~
superfície ~ ~ atrai. os produ-
e no subsolo,
p h o horizonte da m o de desenvoi- tores rurais para as microbacias. E l e
vhmto rural. O novo conceito de desenvolvimento podem U M - l a para irrigação, consuma humano e
rurai não deve ser cdmdido com o incremento do animaI, higiene e lançamento de dejetas, dentre ou-
uso de p d u b químicos t maquhário agrícola, nem tros usos possíveis. Por essa razão, as rnicrobacias
com a simpk elevaçiio do bernetar do homem do constituem unidades naturais de planejamento agi-
mpo.EIe exige que sejam explicitadas as condições cola e arnbiental,adequadas B implantação de novas
amblentais que possSitaram o aumento da prdu- padrões de desenvolvimento rural que representem
@oe da produtividade e a melhoria das condições de uma etapa no processo de aproximações sucessivas.
vida do agridtor e de sua família. rumo ao ideal de um &senvsilvfmento w a l susten-
tável.
Na agricultura, esse mecanismo de aproximagh
sucessivas requer a adgáo de procedimentoç que Dentre as vantagem que a microbacia hidrogrsfica
possam reurientar o progresso rural, passo a passo, oferece,em termos de gerenciamento simult%neo de
na dirqao de um desenvolvimento agrícola susten- seus aspectos econBmicos, sociais e ambientais, des-
tável. Isto 6, capaz de preservar, ao longo do tempo, tacam-se: i.

a capacidade prdutiva dos recursos naturais reno- - rn


a possibilidade de proceder ao planejamento e A
váveis. Com este h, 6 importante encontrar situa-
administração adequados e integrados dos recur-
ç k em que a implantaç30 de tais procedimentos , sos naturais de solo e água;
possa servir efetivamente de teste para alguns mo-
delos de agricultura voltados para a preservação a existência de condiqbes geográficas e sociais fa-
ecolbgica e para medir tanto seus impactos ambien- vordveis h organizaQo comunitária.

Maio 1995
assistênciaprestada. Por exemplo:r visitas a produ- de pesquisa, de fomento produção e de assistência
tores de tomate, y a produtores de quiabo e z a pro- social no campo da educação e da saúde, notada-
dutores de leite para difundir técnicas de insemina- mente, sem excluir outms.
@o artificial oÜ para campanhas de vacinaço
Com o passar do tempo e a alternancizi de adminiç-
contra a a f ~bto . não worre, podm, quando os
serviços de açsisthcia W c a e extensão r u d estão traçdes verifica-se, igualmente, um crescente &h-
inseridos num programa como o de microbachs. tanciamento entre a atividade das Emater e as dire-
trizes dos centros de onde emanam as dechiks
Neste caso, o apoio t M c a ao agricultor tem náo s15
um caráter preventivo como 6 parte de uma estraté- políticas e Mmicas, aos quais estas empresas deve-
gia de desenvohrimento m l sustentávd. O resul- riam estar subordinadas. Este fendmeno acentua
tado do trabalho desenvolvidoser4 expresso em h-
ainda mais a desarticulação das a ç h de politica
dicadores econ&micos, sociais e ambientais, tais agrícola e 4 ao mesmo tempo, causa e efeito dos ma-
como o aumento da produç3o e da produtividade, a les apontados anteriormente.Ora, programas como
o de mimobaciasoferecem a oportunidadepolitica e
melhoria das condiçtks sanitarias da população e os
progmms alcançadmna recuperaqão da qualidade administrativa para o r&tahelecimento da articula-
dos recursos naturais. O sistema de aferição, por sua ção vertical das entidades públicas ligadas h agri-
vez, será contínuo e duradouro, de modo que todos cultura, sem a qual a atuação dos 6rgãos públicos
os efeitos do programa - de curta, médio e Iango
junto A sua clientela tampouco ocorrerd de forma ar-
prazos -possam ser avaliados. ticulada. Com efeito, a desarticulação vertical das
estruturas administrativas do poder pública acar-
A segunda distorgso que, com o passar do tempo, reta um desenhmamenko institucionai também no
pode ser detectada nos serviços de assistência tbc- plano horizontal, ou seja, nas comunidades e mu-
nica decorre da primeira. Como o atendimento nicipios em que estes 6rgãos e instituições devem
tem um carbter reativo, ou seja, C acionado sobre- trabalhar de forma articulada. O programa de mi-
tudo por uma so1icitação do próprio agricultor, aobarias p d t e conciliar a recuperação da articu-
acaba por prevalecer a assist4ncia individual em lação vertical, indispedvel ao funcionamento efi-
relação coletiva. A M o ser nos ca- ciente dos árgãw de assistkcia
sos, menos frequentes, em que a de- A a~rlicullurop - h t&cnica,pesquisa e fomento A ativida-
manda C encaminhada aos técnicos de um ~~i~ de de agrícola, ram a descentralizaçiío
de forma coletiva, a unidade de a p m x i w das decisães, graças ao processo parti-
atendimento &, em geral, o esiabele- rurruivu qua denlr cipativo que caracteriza estes progra-
cimento rural, mesmo quando a
e p r m w iural
clii dlrcgzo no mas. A condiação dos dois objetivos,
abranghcia do problema transcen- dc.st.i lvul vi à primeira vista contradit&rios,4 feita
de os seus limites. Nos programas wp* --dWd. por meio de um mecanismo de reali-
de microbacias, ao contrãrio, a regra - mentaçao @ed-back) permanente, pelo
4 o atendimentocoletivo, oferecido B comunidade qual os centros de decisão processam constante-
numa perspectiva de trabalho conjunto para a re- mente a i n f m a ç á vinda
~ do campo, avaliando seu
soluqão de problemas comuns, conteúdo e reexaminando, a cada passo, a metodo-
logia de trabalho desenvolvida.
O terceiro aspecto negativo, que aflige a maioria dos
serviços de assistbcia tecnica e de extensão rural, C O quinto sintoma que se manifesta, como resultado
a dispersão de esforqos.O trabalho pontual e desar- do processo de desvimamento dos seniips de gSgis-
tidada desenvolvido pelos técnicos é incapaz de tência tdcnica e e x t e e a rural, 6 o da desmobilizaçáo
provocar o efeito sinérgico que caracteria as pro- social dos agricultores. Se o atendimento 6 predomi-
cesses de desenvolvimento. Por outro lado, o cará- nantemente individualizadoe a assistência tem cará-
ter reativo e individualizado da assistencia não pro- ter tbpico, e não abrangente, toma-se difícii a emw-
duz a massa critica n d r i i i para quebrar a inbrcia gência de uma c&cia coletiva a respeito dos
de sistemas de produção arcaicas, nem se presta h problemas globais que afetam a agricultura. Este fe-
solução de problemas estruturais ou iantecipação nameno de desmabilizaç30 d a 1 d não ocorre nos
de questões cuja relevbcia cresce com o passar do estadas em que a tradiqão cultural permitiu o surgi-
tempo, como é o caso evidente da degradação ambi- mento de entidades privadas -cooperativas e asso-
mtal. A assistència técnica oferecida aos prdutoxes c i a ç h de produtom -, as quais acabam exercendo
nas mimbacias, inversamente, é caracterizada pela a hn@ode aglutinar os pdutoreâ em tiorno de seus
integração de esforços, não apenas no que diz r=- interesses comuns. Onde estas entidades não se d e
peito ao prdprio d g o de atendimento tknico e de çenvalveram, como nos estados do Nordeçte e do
extensão rural mas também, e sobrehido, no que Norte do país, por exemplo, a açsishncia w c ' a e a
conceme à atuação deste em sintonia com os 6rgãas extenção rural têm-se mostrado incãpam de atender

Maio 1995
A &dade de despertar a consciência coletiva. bacias teve início em 1991, cada um dos projetos a
Mais uma vez, em conbste com a que ocorre nestes serem executados percorre as seguintes etapas
casos, o programa de mimbacias permite (e tem até preliminares:
mesmo como um de seus principais objetivas) aiar
m cudip~propicias aoswgimmto desça consciên- seleçso e caracteriaafls prévia da microbacia;
cia. Assim, se a forma tradicional de atuação das
Emater resulta na pdverizaqão do poder político e inserçSono meio social e explicitaç30 da proposta;
socia2 da agricultura, a abordagem coletiva e abran-
gate dos pmpamas de mimbacias, ao çontrbno, confronto preliminar entre a proposta e as neces-
produz a m h a ç â o deste poder. sidades expressas pela comunidade;

E,finalmente, a discrepância mais widente entre as levantamento e análise de dados técnicos para a
duas f o m s de atuar das b a t e r , a tradicional e a elaboração de plano diretor, envolvendo estudas
que corresponde a uma visão holistica do problema de solos, recursos hidricos, flora, fauna e clima da
mimobacia;
da aariculhsra, consiste no fato de que a primeira se
a& na 6tica da wilu@o de problemãs isoladas fomulação das M a s do plano diretor com a
( p b h solving), enquanto a segunda se baseia na participeç30 da comunidade;
perspectiva do desenvolvimentosusknt4vel (dmel-
opment orienteri). Esta distinçgo sintetiza todas as di- i determinação das necessidade educatiuas para o
fererisas marcantes que o w m as duas maneiras de desenvolvimentodo plano;
conceber o papel dos serviços de assistgncia técnica
e extensão rural. O corourio que resulta desta dis- desenvolvimento,sistematização e a v a h @ o co-
tinfão bãsica k o fato de que as clientelas sociais be- letiva do plano.
neficiadaspela atuação dos serviços de
assistência &rica e extensão rural se- * ~
vaniiigcm
~ o b m c Por último,
para o
~ C preciso destacar
d que a~di-
r50, nos dois casos, substancialmente ficuldade de gestáo do programa 12 so-
anriidanrnlo bretudo de caráter político-adminiç-
distintas. Enquanto o atendimento @a- aiImdhc, de
dicional tender& a se concentrar nos ,,,.;;;,.l*fe L.cori~iiiicalg trativo. A integração eficiente do
agricultores mais bem informados e is#icm e nuihicrimig. trabalho de vários 6rgão governamen-
mais afluentes, a nova vis50 do papel a - tais subordinadas a instâncias admi-
ser desempenhado pela assistência t h i c a pracura- nistrativas diferentes, a busca de urn relacionamen-
r4 orientar o trabalha dos técnicos para os estabele- to adequado com as prefeituras municipais e a
cimentos localizados em microbaciashidrogrsficas obtenção da indispensável agilidade administrativa
e caractdmdos por i n s u f i ~ ~ cdei a capital, caráter e orçamentsria na operação do programa são obstá-
familw da exploração rural, m o inadequada dos culos que, muitas vezes, desestirnulam os gover-
tecursos naturais e baixo grau de associativisma. nantes. Felizmente, porém, vencidas a resistemia e
a inkrcia iniciais, os programas de microbacias hi-
dropdficas apresentam rendimentos crescentes,
MekidoIogia de imlilrntngãu não apenas na que diz respeito aos resultados eco-
e ~ i i r r p l d d a d eda gwGo n6micos e ambientais, mas também no que se refere
Uma das razões que levam, muitas vezes, as ad- aos aspectos sociais e político-administrativos de
ministrações estaduais e municipais a preferirem sua execução.
o sistema tradicional de assist8ncia técnica e ex-
tensão rural a uma abordagem mais adequada 9s Pelas ra- expostas, pcde-se afimzar que progra-
condições sociais, econômicas e ambientais em mas de microbacias se prestam perfeitamente 3 tarefa
que as Emater devem atuar 6 o fato de que progra- de refonnuhr a maneira de atuar dos serviçosde as-
mas abrangentes e interinstitucionais, como o de sistência técnica e extensão rural, tema que tem sido
microbacias hidrugrAficas, são complexos e, por- objete de preocupaç50 dos formuladores de política
tanto, difíceis de gerenciar. Ao mesmo tempo, agrícola e de técnicas de Órgsos financeiros interna-
seu caráter participativo obriga a um processo ite- cionais, como o Banco Mundial. Ao mesmo tempo,
rativo constante entre os representantes do poder num momento em que o governo federal lança o pro-
público, de um lado, e as comunidades envol- grama Comunidade Çoliddria, ao que parece inspira-
vidas, de outro. Tais fatores exigem uma sequên- do em seu quase homBnirno mexicano, projetos de
cia metodológica de implantação do programa microbacias, pelas suas pr6prias características, afe-
cuidadosamente elaborada, e monitorada ao lon- recem uma âncora capaz de evitar que a proposta do
go de todo o processo. Assim 6 que, no caso do es- governo se transforme em mais uma iniciativa de cu-
tado da Rio de Janeiro, cujo programa de micro- I I nho meramente assistencialista.

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