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EDIÇÃO ESPECIAL (v. 6 n.

9) 2020

ISSN 2527-1253 EDIÇÃO ESPECIAL (v. 6 n. 9) 2020

GOVERNANÇA TERRITORIAL E AÇÃO COLETIVA PARA O DESENVOLVIMENTO


RURAL DO TERRITÓRIO AÇU-MOSSORÓ (RN)1

Emanoel Márcio Nunes2


Carla Camila Gomes Freitas3

1 Este trabalho é resultado de pesquisas desenvolvidas no âmbito da agricultura familiar, e contou com
auxílio do MDA/SDT/CNPq através do Edital 005/2009 – Gestão de Territórios Rurais.
2 Economista. Doutor em Desenvolvimento Rural pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(PGDR/UFRGS). Professor da graduação em Economia e dos Programas de Pós-Graduação em Economia (PPE/
UERN) e em Planejamento e Dinâmicas Territoriais do Semiárido (PLANDITES/UERN), da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte (FACEM/UERN). Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Agricultura,
Alimentação e Desenvolvimento (GEPAD-UFRGS). E-mail: emanoelnunes@uern.br , Orcid iD: https://orcid.org/0000-
0002-9045-887X

3 Geógrafa. Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Planejamento e Dinâmicas Territoriais no


Semiárido (PLANDITES) da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (PLANDITES/UERN). Membro
do Núcleo de Estudos em Geografia Agrária e Regional (NuGAR). E-mail: camilla.gomes1@hotmail.com, Orcid
iD: https://orcid.org/0000-0002-2935-0616

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CONTROLE SOCIAL E DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL / CONTROL SOCIAL Y DESARROLLO TERRITORIAL

O objetivo é analisar a importância da ação coletiva do Colegiado Territorial e sua contribuição para
a eficiência das estruturas de governança para o desenvolvimento rural do território Açu-Mossoró, no
RESUMO

Rio Grande do Norte, considerando as práticas de gestão social em sistemas alimentares locais. Como
procedimentos metodológicos o trabalho seguiu o Estudo de Caso, onde a unidade de análise é o integrante
da plenária do Colegiado Territorial, visando obter a definição do apoio às organizações coletivas de
experiências emergentes da política de desenvolvimento territorial diante dos impactos da Pandemia
do COVID-19. Como resultado cabe considerar as estratégias de gestão social numa coordenação e
compartilhamento, diante de desafios dos agricultores familiares e suas cooperativas na implantação de
projetos que construam mercados e dinamizam o desenvolvimento territorial com apelo à sustentabilidade.
Conclui-se, portanto, que é imprescindível pensar numa gestão do colegiado que fortaleça a construção
de mercados, com a finalidade de contribuir para redução das desigualdades, promover a segurança
alimentar, a partir de eficientes processos de governança na relação entre os representantes (sociedade
civil e governos municipal, estadual e federal).
Palavras chave: Território, governança, desenvolvimento rural, sustentabilidade.
ABSTRACT

The objective is to analyze the importance of the collective action of the Territorial Collegiate and its
contribution to the efficiency of governance structures for the rural development of the Açu-Mossoró
territory, in Rio Grande do Norte, considering the social management practices in local food systems.
As methodological procedures the work followed the Case Study, where the unit of analysis is a member
of the plenary session of the Territorial Collegiate, aiming to obtain the definition of support to collective
organizations of experiences emerging from the territorial development policy in the face of the impacts of
the COVID- Pandemic 19. As a result, social management strategies should be considered in coordination
and sharing, given the challenges faced by family farmers and their cooperatives in implementing projects
that build markets and boost territorial development with an appeal to sustainability. It is concluded,
therefore, that it is essential to think about collegiate management that strengthens the construction of
markets, with the purpose of contributing to the reduction of inequalities, promoting food security, based on
efficient governance processes in the relationship between representatives (society and municipal, state
and federal governments).
RESUMEN

Key words: Territory, governance, regional development, sustainable.

El objetivo es analizar la importancia de la acción colectiva del Colegiado Territorial y su contribución


a la eficiencia de las estructuras de gobernanza para el desarrollo rural del territorio Açu-Mossoró, en
Rio Grande do Norte, considerando las prácticas de gestión social en los sistemas alimentarios locales.
Como procedimientos metodológicos el trabajo siguió el Estudio de Caso, donde la unidad de análisis
es miembro del Pleno del Colegiado Territorial, con el objetivo de obtener la definición de apoyo a las
organizaciones colectivas de las experiencias emergentes de la política de desarrollo territorial ante los
impactos de la COVID-Pandemia. 19. Por ello, las estrategias de gestión social deben ser consideradas
en forma coordinada y compartida, dados los desafíos que enfrentan los agricultores familiares y sus
cooperativas en la implementación de proyectos que construyan mercados e impulsen el desarrollo territorial
con un llamado a la sostenibilidad. Se concluye, por tanto, que es fundamental pensar en una gestión
colegiada que fortalezca la construcción de mercados, con el propósito de contribuir a la reducción de las
desigualdades, promoviendo la seguridad alimentaria, basada en procesos de gobernanza eficientes en la
relación entre representantes (sociedad y gobiernos municipales, estatales y federales).

Palabras clave: Territorio, gobernanza, desarrollo rural, sostenibilidad.

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INTRODUÇÃO reduzir os impactos negativos e melhorar a


A busca de novas estratégias de inclusão situação dos recursos naturais (FAO, 2020).
tem revelado a urgência sobre modelos de E essas dinâmicas de diversificação tendem
desenvolvimento ditos alternativos, devido ao a valorizar a agricultura familiar, a estimular a
insucesso daqueles anteriormente adotados organização coletiva e a segurança alimentar,
e que deixaram como principal legado traços onde a autonomia de agricultores familiares
de desigualdade, insegurança alimentar, ônus é ampliada através de cadeias curtas que
ambiental e exclusão socioeconômica. Nesse surgem com a construção e manutenção de
contexto, é possível observar que o insucesso mercados locais e regionais. Essa prática
está relacionado à introdução de modelos pré- considera inter-relações entre a sociedade
concebidos e atrelados a regimes alimentares e o ambiente, a exemplo da agroecologia,
predominantes, que não consideravam buscando cada vez mais eficiência do ponto
as especificidades e dimensões regionais de vista econômico, além de mais justiça do
econômicas, ambientais, sociais, culturais, ponto de vista social.
históricas e políticas, que convergem para Essas dinâmicas vislumbram a
integralização de elementos territoriais e necessidade de superar entraves regionais que
constituem estratégias para o desenvolvimento dificultam o desenvolvimento, recentemente
rural. Esse esforço vem sendo presenciado apoiadas por órgãos das Organizações das
com o surgimento de formas de produzir a partir Nações Unidas (ONU) que sinalizam para a
de sistemas alimentares que exigem pensar e necessidade de internalização da agenda
compreender o mundo e seu desenvolvimento, 2030 que trata dos dezessete Objetivos
numa perspectiva de mais viabilidade com de Desenvolvimento Sustentável (ODS)
apelo da sustentabilidade. Cabe ressaltar na implantação das políticas públicas,
que a deficiência na distribuição de alimentos especialmente no meio rural dos países em
no mundo é a causa principal da fome, de desenvolvimento. Todavia, cabe lembrar
várias doenças, e das mortes por desnutrição, que o desenvolvimento rural sustentável se
existe um acentuado desequilíbrio entre encontra vinculado a um tipo de reivindicação
áreas que reinam o desenvolvimento e as da organização territorial, como afirmam
que o subdesenvolvimento e a desnutrição Perico e Ribeiro (2005), em que territorialidade
aparecem evidentes (TONIAL, 2009). rural apoia-se na revalorização do espaço
Tal conjuntura tem resultado nas rural. Isso se traduz numa unidade de gestão,
últimas décadas na necessidade da transição ou de governança, que permite integrar uma
de modelos especializados e vinculados a realidade econômica multissetorial e dimensões
regimes alimentares predominantes de alcance políticas, sociais, culturais e ambientais que
global, para dinâmicas mais diversificadas constroem uma institucionalidade dinâmica
em sistemas alimentares estruturados e e complexa, que oferece possibilidades de
desenvolvidos localmente. A produção resposta às falências apresentadas pelos
alimentar e agrícola depende dos recursos modelos especializados e exógenos nas
naturais e, portanto, a sustentabilidade da últimas décadas. (PERICO; RIBEIRO, 2005).
produção depende da sustentabilidade dos Cabe enfatizar que, possivelmente,
próprios recursos, muito pode ser feito para o insucesso das políticas está associado

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aos modelos especializados que em sua demonstra fragilidades no âmbito da sua


característica exógena e atrelados a regimes ação coletiva para definir dinâmicas agrícolas
alimentares globais determinavam, “de saudáveis e sustentáveis de desenvolvimento
cima”, e não consideravam as capacidades rural, especialmente em tempos de pandemia.
coletivas dos agricultores familiares nem Este cenário exige mais eficiência das
as especificidades regionais na definição estruturas de governança, através de uma
e direcionamento das políticas públicas, mais ampla articulação e participação da
ampliando cada vez mais as desigualdades sociedade civil e das outras instituições que
existentes e/ou produzindo novas. definem e executam as ações das políticas
Considerando tais condições, se fazem visando cada vez maior viabilidade dos
necessárias condições na discussão acerca projetos econômicos e das demais atividades
do desenvolvimento territorial para que se indispensáveis no alicerce das estruturas
possam efetuar intervenções territoriais com de sistemas alimentares locais que definem
cada vez mais apelo à sustentabilidade. Tal a dinâmica do desenvolvimento territorial
cenário leva a uma reflexão sobre os caminhos sustentável. A partir dessa realidade faz-
do meio rural, com problemas múltiplos, mas se necessário rever alternativas para que
que apresenta potencialidades diversas o colegiado territorial, através das suas
e desafios de serem identificados para se instâncias e seus membros, adote estratégias
propor políticas públicas mais alinhadas com capazes de contribuir para mobilizar e
a realidade local, e com o cuidado para não estabelecer mecanismos de mediação das
sobrepor “modelos” a expensas de outros que políticas e transformá-las em instrumentos de
adiam os processos do desenvolvimento e desenvolvimento territorial, dinamizado pelos
que resultam na herança de novos problemas. agricultores familiares e suas organizações
Com base nisso, a questão que se coletivas.
apresenta é: como estruturas de governança O trabalho foi estruturado em seções, a
que constituem o arranjo do Colegiado do saber: na seção 2 apresenta-se a abordagem
território Açu-Mossoró podem contribuir que norteia o estudo, ou seja, enfatizam-
para a emergência de dinâmicas inclusivas se a noção de governança no âmbito da
e sustentáveis e a construção de mercados ação coletiva do colegiado territorial, onde a
por meio da estruturação de sistemas adoção das orientações para a dinamização
alimentares locais, com apoio das políticas de do território necessita cada vez mais das
desenvolvimento territorial frente aos reflexos estruturas de governança; na seção 3 é
da pandemia? Parte-se da hipótese que a apresentada a metodologia; na seção 4 são
participação dos agricultores familiares e apresentados os resultados e discussão da
suas organizações coletivas (especialmente pesquisa; e, por fim, na seção 5, são realizadas
cooperativas) na formulação, implantação as breves considerações sobre as temáticas
e gestão social das políticas públicas são aqui tratadas.
fundamentais para produzir e se inserir em
mercados com alimentos mais diversificados
e reconhecidos como originários de fontes
saudáveis e sustentáveis. Porém, o espaço
do Colegiado do território Açu-Mossoró ainda

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2. REFERENCIAL TEÓRICO: 2001; DALLABRIDA & BECKER, 2003; LANG,


2005; NUNES et al, 2014, 2015; MENDEZ &
2.1 Governança Territorial e a ação coletiva CABEDO, 2020) um grande desafio para
para o desenvolvimento rural construir o desenvolvimento com democracia,
gestão e participação social.
No meio rural, a política Nacional de
São vários os significados dados
Desenvolvimento Territorial passou a sinalizar
ao termo “governança”, seja no âmbito
para tentativas de reversão de modelos
acadêmico, corporativo, na esfera pública ou
altamente setoriais e especializados de
em outras perspectivas, onde o que se busca
produção, alinhados com regimes alimentares
na sua compreensão são estruturas que
predominantes globais, para a estruturação de
funcionem bem e se traduzam em eficiência
sistemas alimentares mais localizados, menos
a partir dos movimentos de mecanismos de
setoriais e mais diversificados. Para isso, se
gestão social que convergem para resultados
faz necessária a ação do conjunto de políticas
positivos. Assim, conforme Peters (2013), o
públicas estrategicamente coordenada no
significado basilar da governança é sinalizado
sentido de uma gestão social compartilhada
para a direção da prática econômica da
no território e condicionada, antes de tudo, a
sociedade, onde ações e esforços tendem a
uma análise das características quase sempre
convergir para objetivos comuns e coletivos.
heterogêneas que o espaço rural apresenta,
Para Peters (2013), os procedimentos
ou seja, os territórios irão responder de
relativos à governança buscam envolver e
diferentes formas a implantação das políticas
descobrir caminhos e formas para identificar
públicas. Neste sentido, para Perico (2009)
metas. Depois de identificados os meios para
torna-se fundamental entender que:
alcançar as metas, passa a ser relativamente
fácil identificar a dinâmica das estruturas “[...] o âmbito da gestão da política de
de governança e mecanismos para atingir desenvolvimento rural foi definido como espaço
essas metas, sendo estes procedimentos já equivalente ao nível microrregional (em que as
relativamente bem conhecidos por campos diferenças territoriais e a heterogeneidade se
do conhecimento, a exemplo da Economia, manifestam), conforme expresso na política
da Ciência Política e Administração Pública. territorial do Estado brasileiro” (PERICO, 2009,
Mesmo assim, a governança ainda não é p. 85).
uma tarefa tão simples como muitas vezes se Para isso, segundo Nunes et al (2014),
propõe. se fez necessária a constituição de uma
Para o alcance dos resultados, se fazem unidade de articulação e gestão, onde a ação
necessários processos de indução das forças coletiva viesse a permitir a interação entre
locais em que a ação estratégica por meio da atores em uma realidade mais multissetorial
coordenação no ambiente macro, das políticas, considerando as dimensões econômicas,
se interligue eficientemente numa gestão de políticas, sociais, culturais e ambientais. O
compartilhamento no ambiente micro, dos papel de unidade de articulação e gestão
arranjos institucionais do território. No contexto passa a ser desempenhado pelo Colegiado
da Política Nacional de Desenvolvimento Territorial que, através das suas instâncias
Territorial, a governança se coloca (DOWBOR, de ação coletiva, visa sua atuação com

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base na legalidade e eficiência, no sentido nas suas instituições e organizações


de identificar as estruturas de governança e regionais, incluindo todos os processos,
difundir as melhores práticas, de forma que com o objetivo de diagnosticar a realidade,
interesses coletivos sejam sempre prioritários definir prioridades, planejar a implementação
no âmbito do território. Um dos desafios é a das ações e, assim, determinar como os
complementariedade e a integração desse recursos financeiros, materiais e humanos
ciclo que, por vezes, acaba em alguns devam ser alocados, para a dinamização das
momentos comprometida devido à fragilidade potencialidades e superação dos desafios,
dos espaços de diálogos e da delicada visando ao desenvolvimento de uma região
capacidade de gestão social e institucional ou território.”(DALLABRIDA; BECKER, 2003,
vivenciadas no território. p.80).
Para Dallabrida e Becker (2003), Nesse cenário, conforme apontam
uma das estratégias para contrapor a frágil Nunes et al (2014), cabe a construção de
capacidade de gestão social e institucional é um pacto pela melhoria das estruturas de
a participação ativa dos atores regionais nos governança que, no âmbito do território,
diferentes estágios de elaboração, implantação significa ouvir as demandas da sociedade para
e avaliação das políticas públicas territoriais. planejar com mais critérios. Daí as estruturas
Esta é uma ação que poderá contribuir com o de governança são acionadas para o alcance
fortalecimento das estruturas de governança de cada vez maior eficiência, no momento
territorial e deve ser incentivada e replicada em que a coordenação alcança no ambiente
junto aos colegiados nos territórios, pois de compartilhamento a correspondência
uma governança pouco ágil e com reduzida esperada, no que diz respeito à implementação
participação tende para o surgimento de de políticas e seus resultados traduzidos na
desigualdades com a concentração do poder dinamização do território. Este é um importante
econômico e as decisões políticas em poucos instrumento para o desenvolvimento rural
atores. endógeno, assim como todos os esforços no
Neste sentido, ao corroborar com sentido do desenvolvimento rural sustentável
a participação e o desenvolvimento das de um território implicam na manutenção de
estruturas de governança, inicia-se assim, o uma relação horizontal entre os integrantes
processo de coesão social entre os envolvidos da sociedade civil e dos governos municipal,
no espaço do colegiado territorial. Entretanto, estadual e federal, onde o exercício da
é imprescindível a integração entre os diversos comunicação e o entendimento entre eles
atores e de suas diferentes propostas com colaborarão para uma boa governança
o objetivo de promover e fortalecer coesão territorial (DALLABRIDA e BECKER, 2003).
social com vista à construção de um projeto E a eficiência das estruturas de
político de desenvolvimento rural sustentável. governança se dá no engendramento de
Até porque, a noção de governança territorial diferentes estratégias colocadas em prática
é entendida segundo Dallabrida e Becker pelos atores, dando vida a projetos (no
(2003) como: âmbito micro dos arranjos institucionais), em
“[...] o exercício do poder e da autoridade, articulação com o Estado e suas políticas (no
por parte dos grupos devidamente articulados âmbito macro da coordenação). Isso tende a

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acontecer em um ambiente de permanente estiveram conectados com ambientes


tensão das relações de poder existentes onde imperavam o poder autocrático e
e estabelecidas, onde as estruturas de caracterizados pela ausência de democracia
governança são operacionalizadas no sentido e alinhados com modelos agrícolas exógenos
de viabilizar sistemas alimentares locais voltados para uma agricultura modernizada
estruturados pela agricultura familiar e suas e integrada com a indústria e o mercado
organizações coletivas, como alternativas financeiro. E o consumo ampliado de
aos regimes alimentares globais definidos alimentos processados, ditado pelo poder
por grandes corporações, destacadas por das corporações, tem gerado consequências,
Ploeg (2008) como impérios alimentares. A a exemplo do retorno das desigualdades, da
governança é compreendida, muitas vezes, fome, e de surtos de doenças que afetam
como um misto do público, da sociedade civil os consumidores e pressionam sistemas de
e das corporações, embora, ultimamente, saúde pública.
os atores hegemônicos têm ganhado mais Para Sen (1981), a falta de democracia
espaço nos mercados, aumentado sua e a fome estão intimamente relacionadas. O
participação em escala global na economia autor cita o exemplo de Bengala em 1943,
alimentar das nações e regiões, alongando afirmando que a fome só ocorreu por causa
as cadeias de distribuição e transformado a da falta de democracia em um período de
alimentação profundamente, em um sentido poder autocrático na Índia, no período sob
cada vez mais industrial (PLOEG, 2008). o domínio império britânico e seu regime
O exacerbado processo de alimentar imperial. O domínio britânico na
industrialização dos alimentos pelas Índia durou de 1858 até o ano de 1947, onde
corporações traz o destaque para a o regime alimentar imperial esteve em vigor
contribuição de McMichael (2013), quanto à perdendo força para o regime alimentar
evolução dos regimes alimentares globais intensivo americano após a Segunda Guerra
predominantes. O primeiro regime alimentar Mundial. Ele ainda argumenta que a situação
é o colonial, ditado pelo Império Britânico e foi agravada pela suspensão do governo
abrange o período de 1870 a 1914; o segundo britânico do comércio de arroz e grãos entre
regime, o mercantil-industrial, passou a várias províncias indianas, em uma época que
predominar logo depois da Segunda Guerra apenas marajás da Índia tinham acesso à boa
Mundial e sendo agora ditado pelos Estados alimentação, enquanto a maioria absoluta da
Unidos, e durou entre 1947 a 1973. E, por população passava privações de alimentos
fim, um terceiro regime, o corporativo, que assistindo navioa abarrotados de grãos
migra de uma influência estatal americana saindo dos portos indianos rumo à Europa.
para o domínio dos impérios alimentares, A fome e a democracia da Índia confirmam a
iniciando no final da década de 1980 a partir tese de Sen (1981), mas indica que, embora
do momento da globalização e predominando o regime democrático tenha sido capaz de
até o momento atual. (McMICHAEL, 2013, p. prevenir e reduzir a fome na Índia, não foi
28). suficiente para evitar a desnutrição severa e
Estes regimes alimentares, as mortes, que Banik chama de emergência
especialmente o corporativo atual, sempre silenciosa ‘no país. De acordo com Sen (1981)

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a visão de que a fome é causada apenas ambiente propício para que as cooperativas
pela indisponibilidade de alimentos diz pouco prosperem e cresçam, por acreditar que
sobre o mecanismo causal sobre ela uma vez cooperativas desempenham importante
que o olhar centrado nos alimentos é uma papel em muitas sociedades. Para a ONU,
variável econômica muito remota. Segundo o as cooperativas podem contribuir para os
autor, a capacidade de comandar a própria Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
comida depende muito mais das relações de (ODS) em termos de geração de emprego,
direito que governam a posse e o uso nas erradicação da pobreza, segurança alimentar
sociedades, as quais se estabelecem nas e redução da fome e da desigualdade. Neste
relações de direito e partem de fenômenos cenário, as cooperativas agrícolas, de acordo
econômicos, questões sociais, políticas e com Nunes et al (2018; 2020), podem melhorar
legais. a produtividade de agricultores familiares,
Esses regimes alimentares e a construir e manter mercados facilitando
predominantes promovem cada vez mais o acesso ao crédito e ao surgimento de
as cadeias longas e mais complexas de tecnologias, por meio de ações contínuas e
distribuição de alimentos, gerando elevados intensas de Assistência Técnica e Extensão
custos econômicos, sociais e ambientais com Rural (ATER).
praticamente nenhuma preocupação com a Não é de hoje que os agricultores
sustentabilidade. No entanto, o apelo com a familiares encaram desafios: estiagens nas
sustentabilidade tem sido protagonizado pelos regiões Nordeste e Sul, políticas equivocadas,
organismos das Organizações das Nações mercados frágeis e instáveis, entre outros, que
Unidas (ONU), sendo reforçado recentemente se reproduzem por décadas muitas vezes pela
com a Agenda 2030, que visa a internalização deficiência ou insuficiência de organização
por parte dos países dos Objetivos do coletiva, acesso a crédito e orientação
Desenvolvimento Sustentável (ODS), conforme técnica, no sentido de construir e consolidar
CNM (2017). A grande preocupação, no qual mercados. No entanto, conforme Nunes et
cinco dos seus dezessete ODS possuem al (2014), certo avanço é percebido quando
relação com a sustentabilidade: 1) ODS 1, políticas governamentais são criadas no início
erradicação da pobreza; 2) ODS 2, fome zero dos anos 2000 com foco na demanda, numa
e agricultura sustentável; 3) ODS 8, trabalho tentativa de conexão para construir interface
decente e crescimento econômico; 4) ODS com políticas dos anos 1990 com foco na
10, redução das desigualdades; e 5) ODS oferta.
12, consumo e produção responsáveis. CNM As primeiras, de acordo com Silva et
(2017). al (2017) foram, especialmente, o Programa
Para o alcance dos ODS, a ONU tem de Aquisição de Alimentos (PAA) e suas
destacado a importância das estruturas de modalidades de operacionalização, instituído
governança baseadas na ação coletiva, e pelo art. 19 da Lei nº 10.696, de 2003, no
vê nas cooperativas o tipo mais adequado âmbito do Programa Fome Zero, e o Programa
de organização para a condução de um Nacional de Alimentação Escolar (PNAE),
futuro sustentável. Recentemente, a ONU regulamentado pela Lei n° 11.947/2009.
tem sugerido aos governos que criem um Para Nunes et al (2014), esses mecanismos

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buscaram suprir carências de mercado geradas territoriais, entre elas as de foco na oferta e
pelo Programa Nacional de Fortalecimento as de foco na demanda vem colocando os
da Agricultura Familiar (PRONAF) e pelas agricultores familiares e suas organizações
ações de ampliação da Reforma Agrária coletivas em um cenário de vulnerabilidade e de
dos anos 1990. E foi na esteira das políticas incerteza, pois coloca em risco a manutenção
com foco na demanda dos anos 2000 que a e funcionamento de estruturas de governança
capacidade de abastecimento da agricultura ainda frágeis, além dos mercados construídos
familiar foi colocada em teste, no sentido de e alcançados, especialmente o institucional.
estabelecer pactos com diferentes segmentos O contexto da pandemia do COVID-19
visando a aplicabilidade e efetividade dessas coloca uma dificuldade ainda maior para os
políticas. Diante desse desafio, o Colegiado agricultores familiares e suas organizações
Territorial tem servido de ambiente coletivo de coletivas, pois a pressão da demanda por
discussão, apoiando os agricultores familiares produtos básicos de alimentação com vistas
e suas organizações coletivas no sentido de ao consumo em período de isolamento exige
viabilizar arranjos institucionais locais. uma capacidade ainda maior de logística para
Segundo Nunes et al (2018), garantir que não haverá desabastecimento
as cooperativas, muitas delas criadas de alimentos. A grande preocupação desde
recentemente, se tornaram o braço que as contaminações comunitárias foram
econômico da agricultura familiar e, passaram confirmadas, o comportamento do consumidor
a se configurar as entidades coletivas urbano tem sido o ponto mais observado,
mais adequadas para acessar e abastecer tendo em vista a necessidade da manutenção
mercados através de feiras semanais, centrais da normalidade do abastecimento alimentar.
de venda direta, entre outras estratégias. De acordo com relatório intitulado “O
Neste contexto, o ambiente da política Estado da Segurança Alimentar e Nutricional
territorial constituído pelo arranjo do Colegiado no Mundo1”, a população mundial não está
e suas instâncias coletivas, conforme Nunes no caminho para alcançar a Fome Zero até
et al (2015), tem sido fundamental para definir 2030 e, apesar de alguns progressos, a
estruturas de governança com a coordenação maioria dos indicadores também não está
por meio da estratégia e do compartilhamento no caminho para cumprir as metas globais
por meio da gestão social. E a gestão social, de nutrição. Por conseguinte, é previsível
como em Dowbor (2001), introduzida num que a segurança alimentar e nutricional dos
ambiente mais democrático e participativo grupos populacionais mais vulneráveis se ​​
vem, ao longo do tempo, induzindo a deteriorem ainda mais devido aos impactos
organização coletiva (mais cooperativas), socioeconômicos e de saúde gerados pela
resgatando a diversificação da agricultura pandemia do COVID-19. (FAO, 2020).
familiar e a segurança alimentar, conforme
1 Produzido conjuntamente pela Organização
Maluf & Reis (2013), valorizando recursos
das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura
e culturas tradicionais em processos de (FAO), o Fundo Internacional para a Agricultura
produção, processamento e comercialização (IFAD), o Fundo das Nações Unidas para a Infância
de alimentos. (UNICEF), o Programa Mundial de Alimentação
(PMA) da ONU e a Organização Mundial da Saúde
No entanto, o desmonte das políticas (OMS).

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Por isso, a urgência em estudos e de Alimentos e a Associação Brasileira de


estratégias voltadas para esse campo. O Supermercados, pelo lado dos impérios
relatório mostra também, que, mais da metade alimentares, conforme Ploeg (2008) e
das pessoas afetadas por insegurança McMichael (2013), tem monitorado o
alimentar moderada ou grave no mundo, vive abastecimento de alimentos diariamente nas
na Ásia e mais de um terço vive na áfrica, grandes cadeias de supermercados, e a
vejamos o (GRÁFICO, 01) da distribuição logística de abastecimento e os estoques de
de insegurança alimentar de acordo com a alimentos são gerenciados para estarem dentro
população mundial. da normalidade, inclusive para aumentar o
abastecimento, caso necessário. Mas, para os
agricultores familiares que operam a partir de
Gráfico 01: distribuição de insegurança de
acordo com a população mundial cadeias curtas o que preocupa é a logística de
distribuição, que se apresenta ainda bastante
precária para o abastecimento alimentar
em um contexto de pandemia, o que se faz
necessário o apoio das instâncias coletivas do
Colegiado Territorial, especialmente a Câmara
de Inclusão Produtiva.
De acordo com Nunes et al (2015),
cabe destacar que a definição de territórios
como recorte espacial de intervenção
governamental sobre o desenvolvimento rural
ganhou atenção com a criação do Programa
Nacional de Desenvolvimento Sustentável
Fonte: Relatório do Estado da Segurança dos Territórios Rurais (PRONAT), em 2003,
Alimentar e Nutricional no Mundo (2020). e, posteriormente, o Programa Territórios da
Cidadania (PTC), em 2007. Estes programas,
conforme Leite e Wesz Jr. (2012), surgiram
Como podemos ver no gráfico, das
no âmbito do Governo Federal do Brasil,
aproximadamente 7 bilhões de pessoas do
principalmente por meio da Secretaria
globo, mais de 2 bilhões de pessoas sofrem de
de Desenvolvimento Territorial (SDT) do
insegurança alimentar, sendo que 1,03 bilhão
Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA),
se encontram na Ásia, 675 milhões na África,
representando uma inovação, especialmente
205 milhões em América Latina e Caribe, 88
para os agentes governamentais. Alterar
milhões na América do Norte e Europa e 5,9
as formas do planejamento das políticas de
milhões na Oceania. Todavia, apesar de ser
desenvolvimento rural da escala municipal
na África onde se encontram os níveis mais
para a territorial foi consequência, dentre outros
altos de insegurança alimentar, é na América
fatores, da constatação de que os projetos
Latina e no Caribe, onde esse índice está
locais eram restritos demais para provocar
aumentando mais rapidamente: de 22,9 por
mudanças significativas nas instituições
cento em 2014 a 31,7 por cento em 2019.
que reproduziam as desigualdades em nível
A Associação Brasileira da Indústria

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supralocal. Tal alteração também implicou a acontecem conflitos. Segundo Nunes et al.
necessidade de se considerar o rural para (2019), esse espaço faz questionar qual deve
além de um viés setorial, como sinônimo de ser o papel dos ambientes locais e regionais
agrícola, passando a valorizar, por exemplo, de concertação em um período de intensas
as potencialidades naturais e os modos transformações no meio rural. Além disso, como
diversificados de vida dos agricultores os integrantes que compõem o Colegiado do
familiares. Estes elementos conferiram à território Açu-Mossoró têm reunido esforços
política um escopo voltado para a redução no sentido de estabelecer características, a
da pobreza rural, priorizando um público exemplo da dimensão territorial, a interação
específico, ou seja, o regulamentado pela com instâncias municipais, estaduais e federal
categoria de “agricultor familiar”, que envolve e as estruturas de governança capazes de
uma considerável diversidade constituída viabilizar projetos no sentido de promover a
pelos pequenos produtores rurais, agricultores gestão social e a dinamização territorial.
sem-terra, assentados de reforma agrária, Conforme Nunes et al (2019), a prática
ribeirinhos, quilombolas etc. das características mencionadas pelos
Ao desenvolver no Colegiado Territorial membros do colegiado tendem a possibilitar
um ambiente onde os integrantes adotem uma uma intervenção mais qualificada no processo
conduta de proposição, de respeito entre as de desenvolvimento territorial que pode ser
diferentes opiniões e posturas, ocorrerá um traduzida a partir de consensos mínimos, na
fortalecimento da ação coletiva por meio das construção da concertação social. Espera-
relações sociais que ainda se apresentam se, portanto, que essa concertação social
frágeis nesse espaço de discussão e possibilite fomentar as bases da ação
deliberação. Nesse sentido, quando as coletiva do Colegiado para o alcance do
propostas encontram barreiras e não são pacto socioterritorial e, consequentemente,
escutadas e o diálogo torna-se insustentável, para a governança territorial como exercício
é essencial que ocorra através da concertação do poder participativo e democrático. A
social um esforço para se chegar ao que principal finalidade, de acordo com Nunes et
Dallabrida e Becker (2003) denominam pacto al (2019), é a de a eficiência das estruturas
socioterritorial: de governança levar ao alcance da integração
“[...] um acordo entre os atores públicos territorial e a sustentabilidade em suas várias
e privados que permite identificar as ações de dimensões: econômica, social, cultural,
natureza diversa que facilitam a promoção política e ambiental.
do desenvolvimento local integrado, de um
determinado território ou região. [...], baseia- 3. METODOLOGIA
se num projeto que surge no território e utiliza
os recursos e o potencial do desenvolvimento
O ambiente de realização da pesquisa
local,[...]”. (DALLABRIDA; BECKER, 2003, p.
é o Território Açu-Mossoró, no Rio Grande do
90-91).
Norte, e como procedimentos metodológicos
O arranjo institucional que constitui o o presente trabalho se apresenta o Estudo
Colegiado Territorial pode ser visto como uma de Caso. Quanto a unidade de análise ficou
arena, um espaço de caráter político onde definido o membro integrante da plenária do

59
CONTROLE SOCIAL E DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL / CONTROL SOCIAL Y DESARROLLO TERRITORIAL

Colegiado Territorial, do qual se buscou obter traduz por meio da identidade2 dos membros
como tem ocorrido o apoio para às organizações do Colegiado Territorial, conforme Nunes et
coletivas, estas formadoras de parte das al (2019), e se reflete como fator de interesse
estruturas de governança de experiências determinante e visível na arena de conflitos,
emergentes da política de desenvolvimento ou espaço de definição das regras que
territorial diante dos impactos da Pandemia do conduzem o Colegiado. Foram realizadas
COVID-19. Percebe-se que para promover a entrevistas com membros do Colegiado
política territorial deve-se intensificar a gestão Territorial e com agricultores familiares
social por meio de uma lógica de coordenação cooperados, especialmente em duas
estratégica e compartilhamento numa gestão cooperativas que utilizam plataformas digitais
social realizada com a participação da para a comercialização e entrega de alimentos
sociedade civil e do poder público (municipal, em domicílios urbanos: A Cooperativa da
estadual e federal), e envolver os gestores Agricultura Familiar de Mossoró (COOAFAM)
municipais e as Universidades. (BONNAL; e a Cooperativa de Comercialização Solidária
CAZELLA & DELGADO, 2011). Xique Xique (COOPERXIQUE). Entende-se que
O território Açu-Mossoró é formado por a correlação de forças políticas observadas é
14 municípios, conforme figura 1: Açu, Itajá, salutar no processo de gestão social quando
São Rafael, Ipanguaçu, Alto do Rodrigues, fomenta o funcionamento das estruturas de
Pendências, Porto do Mangue e Carnaubais, governança do território Açu-Mossoró.
Areia Branca, Mossoró, Tibau, Grossos, A análise busca a compreensão da ação
Baraúna e Serra do Mel. individual de agricultores familiares e suas
organizações coletivas, que tendem a fortalecer
e promover o desenvolvimento do território se
Figura1: Mapa do Território da Cidadania
Açu-Mossoró, estado do Rio Grande do baseando em princípios da sustentabilidade,
Norte, Brasil. especialmente com a introdução dos Objetivos
de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das
Organizações das Nações Unidas (ONU).
Além do mais, devemos considerar que para
ser sustentável, a agricultura deve atender
às necessidades das gerações presentes
e futuras, do mesmo modo que garante
lucratividade, saúde ambiental, equidade
social e econômica, os alimentos e agricultura
sustentáveis contribuem para os quatro pilares
2 De acordo com Perico (2009) e Nunes et
al (2019), a Identidade indica a condição social
e o sentimento de pertencer a uma determinada
FONTE: Plano Territorial de Desenvolvimento cultura. Representa um conjunto de características
de um povo, oriundas da interação dos membros do
Rural Sustentável, PTDRS, 2010.
território e da forma destes interagir com o mundo.
Em um indivíduo, o nível de identidade territorial
vai depender da sua participação ou exclusão
O exemplo dessa configuração se relativa à cultura que o envolve.

60
EDIÇÃO ESPECIAL (v. 6 n. 9) 2020

da segurança alimentar – “disponibilidade, governança que somente limita e prejudica


acesso, utilização e estabilidade, e para as o desenvolvimento dos territórios. O arranjo
dimensões da sustentabilidade ambiental, institucional criado a partir do Colegiado para
social e econômica”. (FAO, 2020). desencadear o desenvolvimento territorial
Neste sentido, se fazem necessários a tem, nestes quase dez anos, demonstrado
mudança do formato do arranjo institucional e a limitações e resultados insuficientes no âmbito
introdução de mecanismos de governança no dos territórios.
âmbito do território, de forma que o processo A tentativa da política de desenvolvimento
de gestão social aconteça fundamentado territorial, de tornar o Colegiado Territorial um
na participação, na cooperação e na ação espaço democrático e participativo atendendo
democrática dos atores. E isso tende a ocorrer a uma composição paritária de seus
apenas se os representantes da sociedade membros, não tem encontrado dificuldades
civil e do poder público que constituem o para alcançar resultados nestes quase vinte
Colegiado Territorial atuarem interagindo com anos de política pública territorial. Na absoluta
os gestores municipais na construção de maioria das situações o espaço do Colegiado
processos de concertação. do Território Açu-Mossoró, estruturado
conforme a Figura 2, tem sido palco muito
mais de uma disputa isolada e fragmentada
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
que privilegia grupos específicos na disputa
por recursos financeiros destinados a projetos
4.1 GOVERNANÇA TERRITORIAL E AÇÃO econômicos, onde critérios de viabilidade
COLETIVA NO TERRITÓRIO AÇU-MOSSORÓ
econômica e de alcance social de amplitude
territorial nem sempre são considerados.
O bom desempenho do arranjo que
constitui o Colegiado Territorial, numa dinâmica
Figura 2: Estrutura do Colegiado do território
participativa e democrática poderia resultar Açu-Mossoró (RN).
em estruturas de governança mais eficientes e
contribuir cada vez mais com a dinamização,
que se traduz e se define desenvolvimento
territorial. Para isso, cabe às instâncias
coletivas do Colegiado articular os integrantes
da Sociedade Civil e os gestores públicos no
sentido de apoiarem, no âmbito do território, a
elaboração, implantação e operacionalização
dos projetos de estruturação econômica.
No entanto, desde o início da Política de
Desenvolvimento Territorial, em 2003, a
articulação com os gestores municipais Fonte: Elaboração dos autores, 2017.
sempre apresentou restrições na dinâmica do
Colegiado Territorial, o que resulta em uma
A participação ocorre muito mais de
frágil e muitas vezes deficientes estruturas de
forma frágil com a condução ainda deficiente

61
CONTROLE SOCIAL E DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL / CONTROL SOCIAL Y DESARROLLO TERRITORIAL

e sem haver a necessária cooperação entre os catorze municípios que constituem o


os membros. Esta é uma característica do território. A maioria dessas cooperativas
território Açu-Mossoró, pois desde 2003 ainda não possui uma estrutura de produção
o Ministério do Desenvolvimento Agrário, e de distribuição suficiente, e no processo
através da Secretaria de Desenvolvimento de entregas não conseguem evitar atrasos,
Territorial outorgou a construção e a condução produtos em menor quantidade e itens faltando
da política de desenvolvimento territorial para para os consumidores.
segmentos formados predominantemente
por organizações da sociedade civil, sendo
Quadro 1: Cooperativas de agricultores
a maioria ONGs vinculadas a movimentos familiares do território Açu-Mossoró
sociais.
Assim como ocorreu no território MUNICIPIO FUNDAÇÃO COOPERATIVAS
Açu-Mossoró, estes foram equívocos da Cooperativa dos
Assu 12/08/2010 Produtores de Novo Pingos
política territorial, pois jamais se deveria (COOPINGOS)
ignorar os gestores municipais, assim como Alto do Cooperativa de Leite do Vale
05/09/2011
Rodrigues do Açu (COODESVALE)
subjugar o papel das Universidades para
o processo de dinamização dos territórios. Cooperativa de Fruticultura
Alto do
17/05/1999 dos Irrigantes do Baixo-Açu
Rodrigues
Institucionalmente, o município representa uma (COOFIBA)

unidade importante do território e o êxito das Cooperativa de Agricultores


Mossoró 28/03/2012 Familiares de Mossoró e
ações de desenvolvimento territorial passa, região (COOAFAM)

indiscutivelmente, pela sua eficiente, efetiva Cooperativa de


Mossoró 28/03/2012 Comercialização Solidaria
e intensa participação. As Universidades Xique Xique (COOPERXIQUE)
sempre foram indispensáveis nos processos
Cooperativa de
de inovação para o desenvolvimento, e Mossoró 17/08/2009
Desenvolvimento
Agroindustrial Potiguar
contribuem para dinamizar os territórios (COODAP)
através da sua capacidade de disseminar
Cooperativa Tibauense de
Tibau 10/06/2000
processos de aprendizado e de inovação. Pescado (COOTIPESCA)

Através do ensino, pesquisa e extensão, a Cooperativa de Agricultores


Universidade oferece elementos essenciais Carnaubais 22/08/2013 Familiares e Agroextrativista
de Carnaubais (COOPAFAC)
para dinamizar o território potenciando seus
setores produtivos, através da formação de Cooperativa dos
Beneficiadores Artesanais de
Serra do Mel 25/09/1989
recursos humanos e da criação e difusão de Castanha de Caju de Serra
do Mel (COOPERCAJU)
processos de inovação tecnológica.
O exercício realizado por agricultores Serra do Mel 16/09/2010
Cooperativa dos
Apicultores de Serra do Mel
familiares vinculados às cooperativas tem (COOAPISMEL)

se mostrado um esforço extraordinário para


Fonte: Pesquisa de campo, 2017.
atender pedidos dos consumidores urbanos.
As cooperativas dos agricultores familiares
do território Açu-Mossoró relacionadas pela Com o aumento considerável
pesquisa são 10, conforme quadro 1, um dos pedidos domiciliares, aumentou
número considerado ainda pequeno para consideravelmente a demanda para entrega

62
EDIÇÃO ESPECIAL (v. 6 n. 9) 2020

de alimentos da agricultura familiar em anos 2000, sinalizando para uma associação


domicílios urbanos. Com isso, unidades com o período de criação e operacionalização
residenciais e condomínios têm cada vez do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA)
mais demandado produtos da agricultura e do Programa Nacional de Alimentação
familiar, e ressaltando especialmente o Escolar (PNAE). Desta forma, nota-se que a
conceito de alimentação mais saudável, o existência de uma demanda anual garantida
que vem gerando uma oportunidade valiosa pelos programas governamentais criados na
de mercado para alimentos produzidos nas esteira da Política Nacional de Desenvolvimento
proximidades urbanas. O grande problema tem Territorial favoreceu a criação e formação de
sido a ausência e deficiência de planejamento cooperativas de agricultores familiares. Estes
e as formas muitas vezes inadequadas de programas ajudaram a possibilitar a criação
entrega domiciliar, geralmente feitas em de uma estrutura de produção econômica,
veículos dos próprios agricultores (carros de ampliando o poder de mecanismos de
passeio, pequenas e antigas motocicletas, governança e se traduzem fomentadores da
utilizando carros de linha de terceiros, etc.), organização coletiva no âmbito da agricultura
além de acomodação deficiente e sem uma familiar e da economia solidária no meio rural.
apresentação apropriada. A chegada da pandemia do COVID-19
Dessa forma, a produção dos em um momento de estagnação econômica
agricultores familiares enfrenta o desafio tende a forçar ações ditas “neoliberais” a
da organização, do planejamento e da tomarem caminhos no sentido contrário das
logística, onde o contexto de pandemia tem suas concepções (resgatando fortemente
afirmado a necessidade urgente de ajustes, a perspectiva keynesiana) e elevar o gasto
e, consequentemente, da reinvenção da público para estratégias de redução das
agricultura familiar. Em um contexto em que a vulnerabilidades, de desigualdades e
importância do papel do consumidor só cresce, segurança alimentar. Nesta seara, considerada
o desafio posto para os agricultores familiares ainda de desmantelamento das políticas
e suas organizações coletivas, especialmente públicas, o investimento público deverá
as cooperativas, é o de fazer o alimento se tornar o incentivo maior para viabilizar
produzido no meio rural chegar no domicílio estruturas econômicas produtivas e considerar
urbano com pontualidade, quantidade e a metodologia plantada e disseminada pela
qualidade, e pelo caminho mais curto e viável. política territorial. Esse é o cenário que os
Para isso deve-se aproveitar essa oportunidade agricultores familiares e suas organizações
para garantir o abastecimento alimentar diante coletivas se encontram. Como notado no
de uma economia em profunda crise e que já gráfico 2, além da significativa redução pelo
se encontrava estagnada e com as políticas desmantelamento das políticas, neste caso a
para à agricultura familiar sendo desmontadas brusca redução do acesso das organizações
e destruídas. coletivas dos agricultores familiares do
Considerando as informações da território Açu-Mossoró ao PAA, a crise gerada
pesquisa, observa-se que a maioria das pela pandemia do novo coronavírus se soma a
cooperativas de agricultores familiares do esse desmonte e força para ajustes no sentido
território Açu-Mossoró foi constituída a partir dos de a agricultura familiar produzir alimentos e

63
CONTROLE SOCIAL E DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL / CONTROL SOCIAL Y DESARROLLO TERRITORIAL

realizar a sua distribuição e abastecimento. comercialização com o seguinte site: https://


redexiquexique.wixsite.com/redexiquexique,
além da loja virtual com acesso em http://
Gráfico 2: Nº e variação dos agricultores
cirandas.net/redexiquexique. De acordo
fornecedores do PAA no território Açu-Mossoró
com integrante da Rede Xique Xique, os
(2005 a 2017)
pedidos de compra dos alimentos são
feitos para a cooperativa COOPERXIQUE
semanalmente, e os consumidores acessam
um formulário, a exemplo deste https://
forms.gle/kTrQN9fqb8PMRsvaA. Os pedidos
são acumulados durante toda a semana e
o formulário com as reservas é aberto pela
equipe da COOPERXIQUE na segunda-feira,
momento em que as cestas com os alimentos
são preparadas para serem retiradas na loja
Fonte: CONAB/RN, 2017. Elaboração dos
da cooperativa e as demais encaminhadas
autores.
para as entregas nos domicílios.
Quanto a COOAFAM, a pesquisa
Uma das estratégias da agricultura
constatou que na primeira semana do
familiar do território Açu-Mossoró foi a de
Delivery no início da pandemia do COVID-19
algumas cooperativas criar plataformas
a cooperativa iniciou com a entrega de 15 a 20
digitais que estão sendo utilizadas para a
cestas, alcançando o auge das entregas com
comercialização dos alimentos produzidos
mais de 100 cestas por semana. Atualmente
pelos agricultores familiares. A Cooperativa da
a entrega está em torno de 50 cestas,
Agricultura Familiar de Mossoró (COOAFAM)
devido muito mais a limitações na produção
com a ajuda de projetos de Extensão da
do que na demanda dos consumidores. A
Universidade do Estado do Rio Grande do
ação da COOAFAM tem sido considerada
Norte (UERN) e da Universidade Federal Rural
bem-sucedida, pois iniciou um processo de
do Semi-Árido (UFERSA) criou a plataforma
distribuição em domicílios sem ter tido essa
com o seguinte site para pedidos: https://
experiência anteriormente, tendo empreendido
aprofam.vendizap.com/. Segundo declaração
a iniciativa de criar mecanismos de construção
de um agricultor familiar cooperado, a
de mercados, como a plataforma digital com
COOAFAM pratica a estratégia de dois dias
uma variedade de produtos em um catálogo
de entrega de alimentos, com pedidos feitos
de pedidos, como mostrado no quadro
até 18:00 da segunda-feira para serem
2. Ainda com uma estrutura de produção
entregues nas residências nas quartas-feiras,
relativamente pequena, mas em processo
e pedidos feitos até às 18:00 da quinta-feira
gradual de ampliação, a COOAFAM possui 36
para realizar as entregas nos domicílios nos
unidades familiares de produção localizadas
sábados. No mesmo caminho, a Cooperativa
em 14 assentamentos de reforma agrária no
de Comercialização Solidária Xique Xique
território Açu-Mossoró.
(COOPERXIQUE) criou a plataforma digital de

64
EDIÇÃO ESPECIAL (v. 6 n. 9) 2020

Quadro 2: Variedade de produtos do catálogo semanas da entrega de cestas nos domicílios,


da COOAFAM por ocasião da pandemia do COVID-19, a
cooperativa iniciou entregando de 35 a 40
cestas, chegando a entregar no auge mais
de 120 cestas por semana, reduzindo para
60 a 65 cestas entregues aos consumidores
ITENS PRODUTOS
urbanos.
- Cebolinha (maço), Batata
Doce (kg), Coentro (maço),
Hortelã (maço), Manjericão
A COOPERXIQUE tem ampliado suas
Hortaliças-
10 (maço), Tomate Cereja (g), ações no sentido da construção de mercados
Folhas Alface (maço), Jerimum (kg),
Mastruz (maço) e Rúcula no âmbito da agricultura familiar, pois não
(maço).
se limita apenas ao processo de distribuição
- Banana Chips (g), Banana (kg),
Castanha de Caju (kg), Coco de alimentos em domicílios. Apesar de ter
Verde (unidade), Coco Seco criado mecanismos de comercialização,
(unidade), Acerola (kg), Caju
Frutas 12
(kg), Doce de Banana em Pasta como a plataforma digital a Rede Xique Xique
(pote), Espinafre (maço), Limão
(kg), Mamão (kg) e Pinha (kg). é possuidora de um catálogo de pedidos
- Doce de leite em pasta
com uma variedade significativa de produtos,
(250g), Frango Caipira Abatido conforme quadro 3. A Rede Xique Xique já
(kg), Galinha Caipira Abatido
Produtos (kg), Mel de Abelha (300g), Ovo é possuidora de uma estrutura de produção
de Origem 7 Caipira (unidade) e Tempero_
Animal urucum, alho e pimenta do
considerável, mas para o processo de entregas
reino. a domicílios urbanos tem a ela vinculadas
- Polpa Acerola (270g), Polpa 46 unidades de produção familiares em 32
Cajarana (270g), Polpa Cajú
(270g), Polpa Cajú (270g), comunidades rurais e assentamentosa no
Polpa de
Frutas
7 Polpa Maracujá (270g), Polpa território Açu-Mossoró.
Tamarindo (270g) e Polpa
manga (270g).
- Colorau (200g)
Temperos 1 Quadro 3: Variedade de produtos do catálogo
Fonte: Cooafam, 2020. da Rede Xique Xique

Com relação a COOPERXIQUE, apesar


da diversificação de produtos o processo
de Delivery não tem sido muito maior do CATEGORIAS ITENS PRODUTOS
que o realizado pela COOAFAM. De acordo - Kombucha de Hibisco com
Gengibre e Kombucha Limão com
com representante da Rede Xique Xique de Bebidas 2
Gengibre.
Comercialização Solidária3, nas primeiras
3 A Rede XIQUE XIQUE é uma experiência
de diversificação da agricultura familiar do Rio
Grande do Norte que surgiu inspirada na experiência
da Rede ECOVIDA da região Sul do Brasil. sua estruturação direta se deu no ano de 2004, com
Conforme Nunes et al (2017), teve sua estruturação a criação do Espaço de Comercialização Solidária,
econômica e organização social a partir de 1999, em Mossoró. A sua estrutura principal é constituída
por iniciativa de um grupo mulheres que passou por cerca de oitenta grupos produtivos distribuídos
a produzir hortaliças orgânicas no Assentamento em 16 (doze) núcleos (ou municípios), do estado do
Mulunguzinho, no município de Mossoró (RN). A Rio Grande do Norte.

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CONTROLE SOCIAL E DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL / CONTROL SOCIAL Y DESARROLLO TERRITORIAL

- Atum em Posta, Buchada de Bode, - Biscoito de Aveia e Cacau, Biscoito


Carnes e Filé de Tilápia, Galinha Caipira, de Cacau, Biscoito de Castanha de
Frutos do 9 Lombo unidade, Marisco, Salaminho Caju, Biscoito Pingo de Anjo, Biscoito
Mar unidade e Tilápia em posta. Sensação, Bolo de Banana, Bolo de
Pães, bolos e Batata (banda), Bolo de Jerimum
13 (banda), Bolo de Leite (banda), Bolo
- Caju em calda, Compota de biscoitos
de Macaxeira (banda), Bolo Fitness
Laranja Kikan, Doce Cremoso de (fatia), Pão de Leite de Cabra e Pão
Banana, Doce Cremoso de Caju, de Leite de Cabra (integral).
Doce Cremoso de Manga, Doce de
Banana, Doce de Caju, Doce de Caju
Doces e da Osana, Doce de Cocoda Cremosa,
17 Doce de Leite, Doce de Mamão com - Polpa de Acerola, Polpa de Cajarana,
Geleias Polpas de Polpa de Caju, Polpa de Goiaba,
Coco, Geleia de Acerola da Osana, 7
Geleia de Goiaba da Osana, Geleia Frutas Polpa de Graviola, Polpa de Manga e
de Mangaba, Geleia de Maracujá e Polpa de Tamarindo.
Geleia de Pimenta.
- Agrião Salada (maço), Alface
Americana (pé), Alface Crespa (pé),
Alface Roxo (pé), Alfavaca (maço),
- Banana Maçã, Banana Pacovan, Alho (cabeça), Alho Poró (maço),
Banana Prata, Coco em Pedaço, Batata Cenoura (kg), Batata Doce
Coco Ralado, Coco Seco, Coco Vermelha (kg), Batata Jerimum (kg),
Frutas 12 Verde, Mamão, Manga, Manga Coité, Batata Roxa (kg), Cebola Branca (kg),
Melancia Orgânica e Melão Orgânico. Cebola Roxa (kg), Cebolinha (maço),
Cenoura (kg), Coentro (maço), Couve
Folha (maço), Espinafre (maço),
Verduras e
34 Folha Verde de Laranja (maço), Jiló
- Amendoim, Arroz Vermelho, Café Hortaliças
(kg), Macaxeira com Casca (kg),
Superior, Café Tradicional, Castanha
Manjericão (maço), Pimentão Verde
de Caju Assada, Castanha do Pará,
(kg), Pimenta de Cheiro (kg), Pimenta
Castanha de Caju Natural, Castanha
do Reino (g), Pimentão Verde
de Caju Torrada, Creme de Milho,
(pacote), Quiabo (pacote), Rabanete
Grãos e Farinha de Mandioca, Fava, Feijão
19 (g), Rúcula (maço), Salsão (maço),
Cereais Verde, Flocão Puro de Milho, Fubá de
Salsinha (maço), Tomate Cereja (g) e
Gergelim, Gergelim Branco, Gergelim
Tomate de Mesa (kg).
Marrom, Goma Fresca, Mingau de
Cereais e Mingau de Milho.

- Capim Santo (maço), Cidreira


(maço), Hortelã (maço), Hortelã
- Leite (litro), Manteiga da Terra (litro), Xaropes Menta (maço), Malva (maço), Moringa
Manteiga da Terra (200ml), Ovo e Ervas 10 em Pó, Xarope de Angico, Xarope
Caipira (dúzia), Queijo de Coalho Medicinais de Cumaru, Xarope de Mangará de
Leite, Ovos e (kg), Queijo de Manteiga (kg), Queijo Banana e Xarope de Pega-Pinto.
9
Derivados Ricota com Orégamo (g), Queijo
Ricota sem Orégano (g) e Requeijão
(g).
Fonte: Rede Xique Xique, 2020.
Extrato de Própolis, Favo de Mel
(250ml), Favo de Mel (500ml), Favo
de Mel (700ml), Mel de Abelha (litro), A COOPERXIQUE está vinculada
Mel de Abelha (300ml), Mel de Caju
Mel 11 (250ml), Mel de Jandaíra (157ml), à Rede Xique Xique, e faz parte da União
Mel em Sachê (100g), Pólen Apícola
Desidratado (250g) e Pomada de Nacional das Cooperativas da Agricultura
Própolis (unidade). Familiar e Economia Solidária (UNICAFES).
- Banha Suína (200g), Extrato de E como ação mais diversificada no processo
Tomate Cereja (220g), Flor de Sal
Temperado, Molho de Pimenta de construção de mercados no âmbito da
Molhos e 10 (150ml), Molho de Tomate Cereja, agricultura familiar, a cooperativa celebrou
Óleo de Coco, Óleo de Coco do Brejo,
Óleo de Gergelim, Pimenta Macaco neste ano de 2020, o contrato n° 055/2020 com
em Pó e Urucum (100g).
o Governo do Estado do Rio Grande do Norte
para distribuir 5 mil cestas básicas para 1.667
famílias de comunidades quilombolas. Esta

66
EDIÇÃO ESPECIAL (v. 6 n. 9) 2020

ação foi possível por meio de compra através afirmar como segmento importante capaz de
da modalidade “Doação Simultânea” do reter a renda gerada e proporcionar densidade
Programa de Compras Públicas da Agricultura econômica e tecido social através da
Familiar e Economia Solidária (PECAFES), fruto dinamização de mercados locais e regionais.
de projeto de lei regulamentado pelo Decreto E para o desafio de superar os problemas
Estadual n° 29.893 de 2019. citados, não se deve desconsiderar o
Esse processo de construção e importante papel das organizações coletivas,
manutenção de mercados é, de fato, o em especial as cooperativas dos agricultores
grande desafio colocado para a agricultura familiares do território Açu-Mossoró, como
familiar e sua reinvenção, especialmente no entidades adequadas e capazes de facilitar a
território Açu-Mossoró. Essa ação passa por viabilização das diversas formas de produção,
medidas de antecipação, onde tomando por de processamentos e de distribuição voltados
base a crescente importância do papel dos para o abastecimento alimentar. Além disso, a
consumidores, os problemas de planejamento reinvenção no momento de crise da pandemia
e logística devem ser superados, associando do novo coronavírus passa pela capacidade
a eles processos de reestruturação das de qualificação da agricultura e de suas
cadeias produtivas de alimentos. Essa organizações coletivas no sentido de se impor
afirmação se torna válida quando da e propor ao Estado uma estratégia clara de
necessidade de inversão, ou seja, antes definição do seu lugar como protagonista do
os alimentos produzidos pelos agricultores desenvolvimento, em especial do meio rural.
familiares eram organizados e levados para Essa estratégia passa por caminhos
a comercialização em feiras na cidade, e por bem coordenados que levem a processos
ocasião da pandemia os produtores estão indo de aprendizados para os agricultores
até os domicílios urbanos realizar a entrega familiares, através da qualificação, da adoção
aos consumidores. Nesse desafio cabe o de formas financeiras mais ágeis para as
envolvimento e apoio das instâncias coletivas compras, a exemplo do uso de cartões,
do Colegiado do território Açu-Mossoró, utilização de contas correntes e aplicativos de
mais especialmente da Câmara de inclusão transferência, entre outros. E para a garantia
Produtiva, nessa crise da pandemia que cobra de abastecimento alimentar em contexto de
da ação coletiva do Colegiado Territorial crise, se fazem necessários processos legais
caminhos para superar essas dificuldades de certificação para a inserção e construção
colocadas para a agricultura familiar e suas de mercados, onde a confiança entre o
organizações coletivas. E um dos desafios agricultor familiar que produz no meio rural
mais evidentes, inclusive, é o de reduzir a deve ser estabelecida no mais alto nível com o
ação de atravessadores, responsáveis por consumidor que compra na cidade, e que tem
reproduzir a lógica injusta que faz do mercado neste contexto o consumidor tem um papel
o instrumento de transferência intersetorial da cada vez mais importante.
riqueza em detrimento da agricultura. No entanto, a pesquisa aponta
Isso pode, muito provavelmente, fazer para uma ainda fragilidade dos arranjos
com que a agricultura familiar permaneça institucionais que compõem o Colegiado do
cada vez mais distante da possibilidade de se território Açu-Mossoró, o que torna deficiente o

67
CONTROLE SOCIAL E DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL / CONTROL SOCIAL Y DESARROLLO TERRITORIAL

funcionamento das estruturas de governança, a contribuição da agricultura familiar. Essa


estas responsáveis pela gestão social e percepção sugere o papel da ação coletiva
mediação entre as políticas do ambiente do Colegiado no sentido da articulação para,
institucional (nível macro) e os atores locais onde a diversificação econômica se apresente
no território com seus arranjos institucionais como um elemento chave no processo de
(nível micro). Percebe-se, portanto, que nem dinamização do território, possibilitando
todos os municípios que formam os territórios oportunidades de se trabalhar as bases para
apresentam estrutura de produção econômica a construção de mercados com densidade
diversificada e base institucional sólida, alguns econômica e de tecido social cada vez mais
inclusive iniciando sua construção através apropriados.
da política territorial. Esse fator se revela A promoção do desenvolvimento
preocupante para o desempenho da política territorial integrado deve ter como estratégia
territorial quando passa a ser limitante para o a participação de integrantes da sociedade
desenvolvimento territorial, pois interfere não civil e instâncias públicas (municipal, estadual
somente nos resultados efetivos relacionados e federal), apesar da fragilidade institucional,
à articulação institucional entre os atores para que tornem ativas e funcionais as
locais representantes da sociedade civil e do estruturas de governança e que resultem numa
poder público em suas diversas esferas. Na eficiente gestão social e compartilhada no
verdade, essa deficiência no funcionamento território. Cabe destacar a gestão do Colegiado
das estruturas de governança fragiliza o do território Açu-Mossoró que apresenta as
tão necessário processo de articulação variáveis “Alta” com os movimentos sociais,
institucional, a participação e a capacidade agricultores familiares e ONGs, enquanto
de decisão das representações civil e pública que as variáveis mais “Baixas” comprovam
do Colegiado Territorial, bem como sua a fragilidade do colegiado, como no quadro
articulação com os gestores municipais. 4. Neste caso a pesquisa aponta para a
A recorrência no âmbito do Colegiado pouca participação no Colegiado Territorial
do território Açu-Mossoró de discussões das comunidades tradicionais, dos gestores
motivadas por interesses que envolvem a públicos, seja da esfera federal, estadual
constituição de blocos tendem a ir além da ou municipal. A falta da participação dos
vivência dos agricultores familiares e suas gestores fragiliza o processo de implantação
organizações coletivas, pois o sentido das de projetos, especialmente na construção de
discussões é no sentido de compreender mercados no âmbito da agricultura familiar no
as suas singularidades, as suas escolhas e período da pandemia do COVID-19.
os seus desafios. Na pesquisa foi possível
observar a partir das percepções dos
integrantes da plenária territorial, no que se
refere a temas como ambiente, agricultura
familiar, economia, pobreza, etnia, colonização
e política, uma ênfase significativa na
importância das atividades que envolvem a
diversificação e dinamização do território com

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EDIÇÃO ESPECIAL (v. 6 n. 9) 2020

Quadro 4: Variáveis altas e baixas na Gestão considerem a sua heterogeneidade. Na


do Colegiado (as decisões) do território Açu- tentativa da compreensão dos desafios
Mossoró
do Colegiado do território Açu-Mossoró,
Território Açu-Mossoró
a governança territorial e os processos
Variável alta Variáveis baixas
desencadeados deverão estar no sentido
Representação do Representação de propostas alinhadas a agenda 2030 da
movimento social das Comunidades ONU, dos Objetivos do Desenvolvimento
Tradicionais
Sustentável (ODS), da ONU, para a promoção
Representação dos Representação do do desenvolvimento rural sustentável.
agricultores familiares governo municipal
Em síntese, vale considerar que para
Representação das ONGs Representantes das
universidades
viabilizar o processo de governança do
território Açu-Mossoró se fazem necessárias
Fonte: SGE/MDA. Pesquisa de Campo, 2015. ações que estejam no sentido de reduzir
desigualdades, promover segurança
alimentar, diminuir a fome e possibilitar um
Ao expressar a importância do
desenvolvimento no território com o apelo à
diálogo entre os integrantes do Colegiado
sustentabilidade. Nessa direção, o Colegiado
do território Açu-Mossoró, entende-se que
do território Açu-Mossoró tem um papel a
exista um conjunto de políticas que constitui
desempenhar no sentido de apoiar projetos
um complexo ciclo de estratégias, programas,
e ações que internalizem a diversificação
projetos e investimentos que as instituições que
em modelos alternativos e sustentáveis de
integram o espaço territorial têm para gerir e
agricultura capazes de dotar os agricultores
executar. Percebe-se que os maiores desafios
familiares e suas organizações de mais
no processo de dinamização e diversificação
autonomia e liberdade. Esse entendimento
econômica do território é a capacidade de
almeja o funcionamento das estruturas de
complementar e integrar as ações desse ciclo
governança visando uma gestão social que
que, por muitas vezes, acaba sendo limitado
defina novos caminhos por meio de estratégias
devido à deficiente governança e da frágil
que venham a ampliar as estruturas de
gestão social compartilhada no território.
produção dos agricultores familiares para que
Entretanto, a concertação social e política,
venham produzir alimentos mais saudáveis
a constituição dos consensos coletivos e o
e consolidar a necessária conexão entre a
exercício da governança no território Açu-
oferta de alimentos produzidos no meio rural e
Mossoró apresentam limites como a pouca
a demanda do consumidor em uma sociedade
participação dos gestores públicos.
cada vez mais urbanizada.
Compreende-se, desta forma, que
a prática da governança territorial é um
dos importantes desafios que precisa ser CONSIDERAÇÕES FINAIS

superado pela ação coletiva do colegiado do


território Açu-Mossoró, e o que se coloca como Ao analisar o território Açu-Mossoró,
fundamental nesse processo é a contribuição percebe-se que este é resultante de uma
e a participação de seus membros em um relação desigual de forças, que ainda
ambiente de concertação, onde os consensos

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CONTROLE SOCIAL E DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL / CONTROL SOCIAL Y DESARROLLO TERRITORIAL

envolve o controle econômico-político do compartilhada que fortaleça a tomada


espaço e sua apropriação. Tais processos de decisão, com vista a contribuir para
foram anteriormente fortalecidos por meio da favorecimento da equidade social no
adoção de modelos exógenos alinhados com território, constitui-se em um dos desafios
regimes alimentares globais predominantes, do colegiado. Ou seja, o colegiado tem um
especialmente o regime corporativo papel fundamental na integralização das
representado pelos impérios alimentares. políticas públicas como estratégia para
Historicamente, as políticas públicas atuação dos diferentes atores nas instituições
direcionadas ao desenvolvimento rural e organizações da sociedade civil, poder
buscaram introduzir modelos pré-concebidos público municipal, estadual e federal que
que não consideravam a diversificação possam dialogar permanentemente tecendo
e a capacidade coletiva dos agricultores assim, as redes de poder socioterritoriais
familiares e, tão pouco, tinham a preocupação para fortalecer a identidade territorial da
em buscar no diálogo com os atores locais sua população na perspectiva de inovar no
um ambiente que legitimasse a formulação, planejamento e na implantação de propostas
implantação e avaliação das ações. de desenvolvimento relacionando-as com as
O território Açu-Mossoró vem, ao atividades econômicas do território, bem como
longo dos anos, buscando mecanismos que considerando a necessidade de conservação
possam desenvolver modelos alternativos ambiental e preservação cultural e do modo
mais alinhados com os Objetivos do de vida local.
Desenvolvimento Sustentável (ODS), das Neste sentido, uma das estratégias
Organizações das Nações Unidas (ONU), e para contrapor a frágil capacidade de gestão
reverter à ausência de uma coesão social e social e institucional é a democracia e a
política em relação às políticas públicas para participação ativa dos atores nos diferentes
estruturas de governança que possibilitem estágios de elaboração, implantação e
melhor gestão social. Isto se reflete no esforço avaliação das políticas públicas territoriais,
que vem sendo posto em prática, por meio visando o apoio aos agricultores familiares e
do apoio do Colegiado Territorial, onde a sua suas organizações coletivas. Esta é uma ação
ação coletiva possibilite cada vez mais que que poderá contribuir com o fortalecimento
estruturas de governança tenham eficiência, das estruturas de governança territorial e
onde são definidos ações e projetos de deve ser incentivada e replicada junto aos
desenvolvimento via políticas públicas. colegiados nos territórios no momento em
Entretanto, esse espaço ainda necessita que a pandemia do COVID-19 exige ajustes,
de bases mais sólidas, principalmente no a exemplo de melhorar o desempenho dos
período da pandemia do COVID-19, para se agricultores familiares, e a construir mercados
configurar definitivamente como um ambiente possibilitando o acesso às políticas de
de definição de estratégias que visam o crédito e aos serviços contínuos e intensos
fortalecimento das atividades econômicas de Assistência Técnica e Extensão Rural
e das condições de vida da população do (ATER). Por conseguinte, participação ativa
território Açu-Mossoró. dos atores regionais nos diferentes tipos
Pensar numa gestão social de práticas institucionais que se apoiam no

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EDIÇÃO ESPECIAL (v. 6 n. 9) 2020

exercício da governança territorial, constitui- com vistas à dinamização do território Açu-


se em uma das condições básicas para Mossoró.
a região tornar-se protagonista do seu
processo de desenvolvimento. Para isso, o
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Colegiado Territorial deverá desenvolver e
fortalecer práticas no sentido da estruturação
de sistemas alimentares alternativos ao BONNAL, P.; CAZELLA, A.; DELGADO,
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criam significados, símbolos e imagens que FAO, IFAD, UNICEF, PMA e OMS. 2020.
forjam as identidades e as aderências que O Estado da Segurança Alimentar e Nutrição
fixam o indivíduo e o seu grupo social a um no Mundo 2020. Transformando os sistemas
espaço particular, deve ser planejado e gerido alimentares para dietas saudáveis a preços
com vista ao fortalecimento da economia e acessíveis. Roma, FAO.
da conservação dos seus recursos. Nestes LANG, T. Food control or food
termos, o almejado desenvolvimento territorial democracy? Re-engaging nutrition with society
pode ser entendido como um processo and the environment. Public Health Nutrition,
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