Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Universidade de Pernambuco
1. INTRODUÇÃO
Criado em 2007, através de uma construção coletiva encabeçada pelo então governador
do Estado de Pernambuco, Eduardo Campos, como uma política de governo, o Pacto Pela Vida
consiste em um plano de ações para prevenção e repressão de crimes violentos letais
intencionais (CVLI), versando sobre a preservação da vida como a principal meta a ser atingida.
O documento é composto por 138 frentes de ações que viabilizam, ao menos do ponto de vista
teórico, a política pública de redução da letalidade onde pode-se destacar, de modo geral, a
reestruturação da segurança pública do estado e práticas gerenciais qualitativas para melhorar
o atendimento de ocorrências.
1
Vide site da Secretaria de Defesa Social
plano, abarcando as novas formas de criminalidade e pensando um contexto mais complexo
que a própria natureza do crime.
Ainda para Freire (2005), a violência transcende valores sociais e culturais, ultrapassa a
realidade social e somente a participação ativa e efetiva dos cidadãos e da sociedade é que
poderá se instaurar um verdadeiro pacto – o que pouco é visto em termos diretos no programa
Pacto Pela Vida. As problemáticas e hipóteses que envolvem o “não dar certo” do plano podem
ser muitas e plausíveis, fazendo-se necessário salientar que a política pública é desenvolvida a
partir de uma dada realidade, e é sobre humano a capacidade de dar conta da complexa rede de
relações sociais e imaginar todas as possibilidades de erro e propor soluções.
Para responder tais perguntas foi realizado uma pesquisa com levantamento
bibliográfico qualitativo de natureza exploratória a respeito dos temas trabalhados a partir de
nomes referenciados na políticas públicas de segurança.
Podemos pensar, de modo diretivo, que a exclusão social é fator fundamental para a
gênese da violência e compreender esta como fundamento incube um desafio direto a qualquer
política pública de segurança. Segundo o Pacto Pela Vida (2007), em dados de 2003, as
agressões intencionais entre jovens de 15 a 19 anos correspondiam a 55% do todo, neste
contexto, cerca de 52% das famílias, somente da Região Metropolitana do Recife, estavam
abaixo da linha da pobreza, das quais 57% dos integrantes eram negros ou pardos. Segundo o
Atlas da Violência (2017) do Instituto de Pesquisa Aplicada (IPEA) e do Fórum Brasileiro de
Segurança Pública, reforçando o recorte social e racial da criminalidade, homens, jovens,
negros e de baixa escolaridade são as principais vítimas dos crimes violentos letais intencionais
Para Freire (2005) esse tipo de abordagem, evidente pelo processo de exclusão social,
emerge da noção de controle social, que é desestruturante no sistema capitalista, em virtude das
condições de desigualdade que alimentam a violência social. As instituições nesse sentido,
perdem a garantia e se aprofunda ainda mais a exclusão social de forma a proporcionar a
marginalização e aumento dos índices de criminalidade.
Segundo Porto (2000) os excluídos de direitos tornam-se alvos fáceis e atores imediatos
da violência. Contudo, a violência não surge diretamente dessa relação. As mudanças sociais e
as novas formas de violência interpelam novos significados e novas explicações para os fatos.
Responder pontualmente sobre a motivação da criminalidade é complexo e é muito mais
necessário e urgente a análise do contexto.
Para Foucault (1999) são dados diferentes, mas não incompatíveis. É próprio do estado
o processo de exclusão simbólica dos indivíduos. Uma técnica própria de repartição analítica
do poder, fomentando a individualização dos excluídos e possibilitando controles disciplinares.
Afugenta-se, dessa forma, a ideia de inclusão social. O afastamento do indivíduo “fora-da-lei”,
segundo o autor, demarca a criminalidade como uma região de refúgio, repleta de desemprego,
pobreza e recusa as obrigações da lei.
A força que empurra a marginalização abre brechas para o não convívio social e o
cumprimento do contrato e do papel socialmente posto torna-se irrelevante. Silva (2010)
acrescenta
Seria, por tanto, a ausência de políticas públicas de inclusão social o cerne do problema?
Possivelmente, mas obviamente existem outras explicações e abordagens que dão conta de
outras problemáticas que envolvam a inclusão social e o problema de segurança pública e da
criminalidade. No que tange o Pacto Pela Vida, a ausência de transversalidade em termos de
inclusão social fomenta um fortuito que abre espaço a considerações.
Por outro lado, é preciso desvendar assuntos ocultos, mas bastante conhecidos que
envolvem a política pública de segurança de forma direta para uma atuação pontual e
significativa, como a marginalização, que é um problema social evidente para o acionamento
de uma política pública de segurança de qualidade e permite uma ampliação da atuação desta,
que dê conta da redução dos CVLI e permita o bem-estar social. É importante a desnaturalização
da violência como uma relação social, mas possibilitar essa política de ir ao cerne do problema
e trabalhar com ações de base, compreendendo que a coerção e a repressão são medidas de
último caso.
É evidente que o Pacto Pela Vida não traz considerações claras e objetivas no que diz
respeito a situação social dos indivíduos vítimas dos CVLI, traçando explicações didáticas
sobre as reais necessidades locais. Versa apenas de projetos, interdisciplinares entre secretarias
de maneira a repreensão e evitar a reincidência no crime. Nada trata sobre processos de inclusão
social que manifestem melhoras nos índices de criminalidade ou na redução dos CVLI.
4. CONCLUSÕES
O Pacto Pela Vida (2007), a princípio, não traz uma abordagem no que diz respeito ao
processo de inclusão social. Irá versar muito mais incisivamente sobre essa perspectiva em
projetos post factum, ou seja, aqueles ligados a já realização da criminalidade e destinados para
a não reincidência dos CVLI. Por outro lado, traz também a perspectiva de debates nas escolas
através da secretaria de educação – fato não observado de maneira empírica e poderia dar outros
desdobramentos aos quais não nos focamos neste trabalho.
Embora o programa seja baseado num modelo à frente do seu tempo e importante para
entender as causas da criminalidade e testar políticas públicas de segurança, é perceptível
também seu balizamento na cultura da violência e na valorização das forças policiais de modo
a garantir a segurança. Contudo, é também urgente sua reformulação face as novas mudanças
sociais e anseios da sociedade, bem como um entendimento mais amplo das motivações do
CVLI.
A inclusão social tornou-se para a sociologia uma noção chave para o entendimento de
diversos discursos e práticas sociais por demandar de um conceito amplo, responsável por
justificar as mazelas sociais e possibilitar a criação de soluções que horizontalizam o acesso as
políticas públicas.
por outro, temos uma parcela da sociedade que acredita no processo de inclusão social como
mais fundamentado para o fim da criminalidade, a partir de uma justiça restaurativa e em
processos desenvolvidos para emancipação política, social e econômica.
É importante salientar também que o Pacto Pela Vida cumpriu seu papel social de
maneira magistral, porém há uma necessidade clara e pungente de ser reavaliado a partir de
uma ótica humanista, contrária aos seus preceitos neoliberais, de forma a responder ao que de
fato está ocorrendo na sociedade no que diz respeito ao aumento da violência e o aumento quase
linear dos crimes violentos letais intencionais que põem em cheque a função e aplicabilidade
do programa.
Afinal, são onze anos de um programa que deixa de ser uma política pública para se
tornar uma política de governo, sem investimos ou ampliações. Sem a possibilidade de reavaliar
questões e que insiste na falácia que polícia é sinônimo de segurança pública, onde, de maneira
falaciosa, o programa continua dando certo mesmo diante de tantas problemáticas que são caras
e ao mesmo tempo invisíveis ao poder público.
É necessária uma resposta pública - no que diz respeito a uma política pública eficiente
de segurança pública - para a sociedade que dê conta do processo de inclusão social, que
possibilite a identificação dos padrões de ocorrências, visualização as áreas vulneráveis para
atuação específica, a orientação para resolução de conflitos envolta de atividades sociais
emancipadoras que deem aos indivíduos a capacidade de se sentirem responsáveis pelo bem-
estar social.
BIBLIOGRAFIA
FREIRE, Ivone Costa. Polícia e Sociedade: gestão de segurança pública, violência e controle
social. Salvador: Edufba, 2005. Livro Eletrônico.
SILVA, Enio Waldir da. Sociologia da Violência. Ijuí: Unijuí, 2010. Livro Eletrônico.
RAMALHO, José Ricardo. Mundo do Crime: a ordem pelo avesso. Rio de Janeiro: Centro
Edelstein de Pesquisas Sociais, 2008. Livro Eletrônico.
CERQUEIRA, Daniel; LOBÃO, Waldir; CARVALHO, Alexandre X. de. O Jogo dos Sete
Mitos e a Miséria da Segurança Pública no Brasil. Rio de Janeiro: Ipea, 2005.
SILVEIRA NETO, Raul da Mota et al. Avaliação de Política Pública para Redução da
Violência: o caso do programa pacto pela vida do Estado de Pernambuco. In: XLI ENCONTRO
NACIONAL DE ECONOMIA, 41., 2014, Foz do Iguaçu. Anais. Foz do Iguaçu: Anpec, 2014.
p. 1 – 17
FOUCAULT, Michael. Vigiar e Punir. 20. ed. Petrópolis: Vozes, 1999. Tradução de Raquel
Ramalhete.
PORTO, Maria Stela Grossi. A violência entre a inclusão e a exclusão social. Tempo Social,
São Paulo, v. 12, n. 1, p.187-200, maio 2000.