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TEORIA DAS

ESTRUTURAS

Diego
Guimarães
Arcos
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Analisar o comportamento estrutural dos arcos.


„„ Distinguir os principais tipos de arcos.
„„ Determinar as reações de apoio e os esforços solicitantes.

Introdução
Neste capítulo, você vai estudar o comportamento estrutural dos arcos e
ver como as tensões se distribuem ao longo desse tipo de estrutura. Além
disso, você vai aprender a diferenciar os três principais tipos de arcos de
acordo com suas condições de vinculações. Por fim, você vai calcular as
reações de apoio e determinar os esforços solicitantes de compressão
nos arcos triarticulados.

Comportamento estrutural dos arcos


Os arcos são elementos estruturais solicitados à compressão. O comportamento
estrutural dos arcos pode ser associado de maneira análoga ao comportamento
estrutural dos cabos.
O cabo, quando submetido a um carregamento, adquire uma forma de
equilíbrio que varia de acordo com a posição e a quantidade de cargas. Na
Figura 1, você pode observar o comportamento de um cabo submetido a três
tipos diferentes de carregamento: carga concentrada, duas cargas concentradas
posicionadas simetricamente e uma carga uniformemente distribuída.
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Figura 1. Forma de equilíbrio de cabos com: (a) carga concentrada, (b) duas cargas con-
centradas e (c) carga uniformemente distribuída.
Fonte: Adaptada de Rebello (2000, p. 91).

A forma que o cabo adquire corresponde ao caminho que as forças per-


correm até chegar aos apoios. Essa forma é denominada funicular. Indepen-
dentemente do carregamento imposto ao cabo, ele estará sempre sujeito a
esforços de tração simples.
Considere que os funiculares sejam invertidos simetricamente em relação
à horizontal, sendo substituídos por elementos rígidos. Nesse caso, serão
obtidas estruturas submetidas a esforços de compressão simples, conforme
você pode observar na Figura 2.

Figura 2. Forma de equilíbrio de arcos com: (a) carga concentrada, (b) duas cargas con-
centradas e (c) carga uniformemente distribuída.
Fonte: Adaptada de Rebello (2000, p. 92).
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A existência de esforços de flexão resulta no aumento das dimensões e


do peso da estrutura, tornando-a antieconômica. Para atuar sob compressão
pura, o arco deve ser projetado de modo que a resultante das forças internas de
cada seção passe pelo centroide. Para cada situação de forma e carregamento,
existe apenas uma configuração ideal da estrutura, conforme você pode ver na
Figura 3a. Quanto maior o desvio entre a configuração real e a configuração
ideal (Figura 3b), maiores serão os esforços de flexão gerados.

Figura 3. Configuração dos arcos: (a) ideal e (b) com desvios.


Fonte: Adaptada de Rebello (2000, p. 92).

As estruturas em arco se caracterizam por apresentar uma reação horizontal


nos apoios, denominada empuxo horizontal. O empuxo horizontal pode ser
absorvido diretamente pelos apoios, desde que devidamente reforçados, con-
forme a Figura 4a, ou por meio de tirantes, conforme a Figura 4b, que fazem
descarregar nos apoios apenas as cargas verticais.

Figura 4. Resistência ao empuxo horizontal.


Fonte: Adaptada de Rebello (2000, p. 95).
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O empuxo horizontal se relaciona de maneira inversamente proporcional


com a flecha, ou seja, quanto menor a flecha, maior o empuxo e vice-versa.
Além disso, o empuxo se relaciona de maneira proporcional com o esforço
de compressão. Desse modo, é possível concluir que, quanto maior a flecha,
menor é a solicitação de compressão no arco. Arcos abatidos são, portanto,
mais curtos, mas demandam maior seção transversal. Já arcos com grande
flecha são mais longos, mas possuem menor seção transversal.

Em cabos, a flecha é medida pela distância entre a horizontal que passa pelos apoios
e o ponto mais afastado dessa horizontal (REBELLO, 2000, p. 85). Por analogia, a flecha
de arcos é medida pela distância entre a horizontal que passa pelos apoios e o ponto
mais afastado dessa horizontal.

A equação a seguir apresenta a relação ideal entre flecha (f) e vão (L),
que garante a construção de arcos com menor volume, ou seja, mais leves e
econômicos.
1 f 1
10 > L > 5

As estruturas em arco estão sujeitas ao fenômeno da flambagem. A flam-


bagem consiste na flexão transversal da estrutura em função da compressão
axial. Ocorre em peças esbeltas, ou seja, em peças que possuem uma seção
transversal pequena em relação ao seu comprimento.
Nos arcos, a flambagem pode ocorrer tanto no plano da estrutura quanto
fora dele. No primeiro caso, a solução para a flambagem consiste no aumento
da rigidez da estrutura, ou seja, no aumento da inércia da seção transversal
(REBELLO, 2000, p. 93). No segundo caso, devem ser executados travamentos
perpendiculares ao plano da estrutura, conforme você pode ver na Figura 5.
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Figura 5. Travamento de arcos.


Fonte: Adaptada de Rebello (2000, p. 93).

Você pode aprender sobre a utilização de arcos no período do Império Romano


acessando o link a seguir.

https://goo.gl/wVD225

Principais tipos de arcos


De acordo com o número de articulações presentes na estrutura ou com a
maneira como suas bases são construídas, os arcos podem ser classificados
em: triarticulados, biarticulados e de extremidades fixas. Você pode ver essa
classificação na Figura 6. De maneira geral, essas articulações estão localizadas
nos apoios e no topo dos arcos.
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Figura 6. Tipos de arcos: (a) triarticulado, (b) biarti-


culado e (c) de extremidades fixas.
Fonte: Leet, Uang e Gilbert (2010, p. 241).

O arco triarticulado possui uma articulação em cada apoio e outra no


topo. A estrutura é estatisticamente determinada, ou seja, não está sujeita ao
aparecimento de tensões derivadas de variações de temperatura, recalques
de apoio e erros de fabricação. Desse modo, é o tipo de arco mais fácil de
analisar e construir.
Os arcos biarticulado e de extremidade fixa são estatisticamente inde-
terminados, devendo ser analisados por meio do método da flexibilidade
ou pela utilização de programa de computador. O arco biarticulado possui
duas articulações, localizadas em cada um dos apoios da estrutura. O arco
de extremidades fixas, também denominado biengastado, não apresenta ar-
ticulações em sua estrutura.
O número máximo de articulações presentes na estrutura não pode ser
superior a três, caso contrário a estrutura se tornará hipostática, inviabilizando
sua construção.
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Os arcos são elementos construtivos que permitem que a estrutura seja projetada
com grandes vãos, com um aproveitamento eficiente de materiais. Esses fatores fazem
com que os arcos sejam utilizados frequentemente na construção de pontes. Nesse
caso, a estrutura pode ser de três tipos: arcos com tabuleiro superior, arcos com tabuleiro
intermediário e arcos com tabuleiro inferior, como você pode observar na Figura 7.

Figura 7. Arco com tabuleiro (a) superior, (b) intermediário e (c)


inferior.
Fonte: Adaptada de Quadros (2012, p. 53).

Cálculo das reações de apoio e esforços


solicitantes
As reações de apoio de arcos triarticulados são determinadas por meio da
aplicação das equações de equilíbrio estático. Conforme você pode observar
na Figura 8, um arco triarticulado apresenta quatro incógnitas: duas reações
verticais e duas reações horizontais.
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Figura 8. Reações de apoio em um arco triarticulado.


Fonte: Leet, Uang e Gilbert (2010, p. 246).

A resolução desse sistema demanda a aplicação de quatro equações, de


acordo com os procedimentos apresentados a seguir:

1. Somatório dos momentos em relação ao ponto A:

L
∑MA = w · L· – VC · L = 0
2
w . L2
VC · L =
2

w.L
VC =
2

2. Somatório das forças verticais:


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3. Somatório dos momentos em relação ao ponto B:

4. Somatório das forças horizontais:

∑FH = HA – HC = 0

HA = HC
wL2
HA =
8h

Você pode ver a aplicação desse procedimento no exemplo a seguir.


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Exemplo

Determine as reações de apoio do arco apresentado na Figura 9.

Figura 9. Arco uniformemente carregado.


Fonte: Leet, Uang e Gilbert (2010, p. 246).

Solução:
1. Somatório dos momentos em relação ao ponto A:
w∙L
VC =
2
2.000KN ÷ m ∙ 8m
VC =
2

VC = 8.000KN

2. Somatório das forças verticais:


w∙L
VA =
2
2.000KN ÷ m ∙ 8m
VA =
2

VA = 8.000KN

3. Somatório dos momentos em relação ao ponto B:

wL2
HC =
8h
2.000KN ÷ m ∙ (8m)2
HC =
8 ∙ 2m

HC = 8.000KN
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4. Somatório das forças horizontais:

wL2
HA =
8h
2.000KN ÷ m ∙ (8m)2
HA =
8 ∙ 2m

HA = 8.000KN

Os esforços solicitantes de compressão que atuam ao longo do eixo do arco


são determinados a partir dos seguintes procedimentos:

a) Inicialmente, um sistema de coordenadas x-y é estabelecido com origem


no ponto B do arco, conforme a Figura 10, com o sentido positivo do
eixo y direcionado para baixo.

Figura 10. Sistema de coordenadas x-y estabelecido no ponto B.


Fonte: Leet Uang e Gilbert (2010, p. 246).
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b) Em um ponto D, localizado no eixo de uma seção arbitrária, é calculado


o momento M correspondente:

Como M = 0, tem-se:
4 · h · x2
v= L2

Essa expressão equivale à equação de uma parábola.

c) O esforço axial de compressão (T) pode ser expresso em função do


empuxo horizontal (H) e da inclinação (θ) da seção, de acordo com o
que segue:

H
T=
cosθ

d) A tangente do ângulo θ corresponde à derivada da equação da parábola,


como você pode ver a seguir:

dy 8 · h · x
tanθ = dx – L2

e) Pela análise do triângulo apresentado na Figura 11, conclui-se que:

1
cosθ =

√ ( )
2

1 + 8 · h2 · x
L
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Figura 11. Determinação do cosseno da inclinação θ.


Fonte: Leet, Uang e Gilbert (2010, p. 246).

f) Por fim, o esforço de compressão axial atuante na estrutura pode ser


apresentado por meio da seguinte equação:

√ ( )
2
T=H· 1 + 8 · h2 · x
L

No exemplo a seguir, você pode ver uma aplicação prática desse


procedimento.
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Exemplo

Para o arco apresentado no exemplo anterior, determine os esforços de tração nos


pontos indicados na Figura 12.

Figura 12. Determinação dos esforços de compressão axial.


Fonte: Leet, Uang e Gilbert (2010, p. 246).

Solução:
No ponto B, é estabelecido um sistema de coordenadas x-y, e o sentido do eixo y é
direcionado para baixo, conforme a Figura 13.

Figura 13. Estabelecimento do sistema de coordenadas.


Fonte: Leet, Uang e Gilbert (2010, p. 246).
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De acordo com o sistema de coordenadas, a posição x de cada um dos pontos pode


ser definida, sendo esses valores aplicados na equação do esforço de compressão
axial, apresentada a seguir. Assim, os esforços solicitantes são obtidos nesses pontos.

√ ( )
2
T=H· 8·h·x
1+ L2

√ ( )
2
T = 8.000KN · 8 · 2m · x
1+ (8m)2

Ponto X (m) T (KN)

1 -4 11314

2 -2 8944

3 0 8000

4 2 8944

5 4 11314

Os valores obtidos permitem demonstrar que os maiores valores de compressão


axial são máximas nos apoios do arco, diminuindo à medida que se aproximam do
centro do topo.
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LEET, K. M.; UANG, C.; GILBERT, A. M. Fundamentos da análise estrutural. 3. ed. Porto
Alegre: McGraw-Hill, 2010.
QUADROS, B. C. Passarela em arco com tabuleiro inferior: proposta de projeto para o
campus central da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 2012. Trabalho de
Diplomação (Graduação em Engenharia Civil)–Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, Porto Alegre, 2012.
REBELLO, Y. C. P. A concepção estrutural e a arquitetura. São Paulo: Zigurate, 2000.

Leituras recomendadas
BEER, F. P. et al. Mecânica vetorial para engenheiros. 9. ed. Porto Alegre: Bookman, 2011.
HIBBELER, R. C. Estática: mecânica para engenharia. 12. ed. São Paulo: Pearson Prentice
Hall, 2011.

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