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2.

4: Pilares, pórticos e paredes em concreto armado

Conceituação 5

pré-dimensionamento de pilares - Fonte: adaptado de José Henrique Costalonga Seraphim

Pré-dimensionar um pilar significa determinar a seção necessária para resistir aos esforços que agem sobre ele. Os
pilares se constituem nos elementos estruturais lineares (barras), responsáveis pela condução das cargas
verticalmente até as fundações. Essas cargas são preponderantemente de compressão, podendo no entanto haver
cargas horizontais, advindas principalmente da ação do vento, e momento fletor aplicado. Isso pode ocorrer tanto
na ligação rígida com vigas, em pórticos, como devido à excentricidade de cargas.
Além desses esforços, devido à ação da carga de compressão (N), os pilares ficam submetidos ao fenômeno da
flambagem.

Flambagem é o fenômeno que ocorre com as peças


comprimidas, deslocando o seu eixo lateralmente. Na figura
2.90, as linhas pontilhadas em vermelho mostram esse
deslocamento possível à peça. Lfl é o comprimento de
flambagem do pilar, ou seja, o comprimento da peça que está
liberado para o giro, que depende dos tipos de vínculos nas
extremidades do pilar.
Esse efeito introduz no pilar um esforço novo de flexão,
chamado de “momento de 2ª ordem”, chamado de M2,
oriundo da flambagem:

M2 = N x e2

O efeito da flambagem é sério e pode comprometer a


resistência de um pilar – ele faz com que diminua a
capacidade resistente de peças comprimidas, uma vez que
elas ficam submetidas a duas solicitações, que são:
- Força normal de compressão (N)
- Momento fletor de 2ª ordem (M2)

Figura 2.90 – Efeito da flambagem em pilares

2.4.1: Comprimento de flambagem (Lfl)

O comprimento de flambagem Lfl é o comprimento de um pilar que sofre a flambagem, conforme as suas
condições de vinculação em suas extremidades. São consideradas quatro situações principais para o seu cálculo,
que variam de acordo com cada tipo de vínculo que liga o pilar a outras peças estruturais: articulado, engastado ou
livre, conforme a figura 2.91. Perceba por essa figura que o comprimento de flambagem Lfl do pilar, para efeito de
cálculo, depende da sua vinculação em ambas as extremidades, podendo ser igual ao próprio comprimento "L" do
pilar, menor ou maior do que ele.

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Lfl = 2 L

Tipo 1: duas articulações: Tipo 2: articulação + engaste: Tipo 3: engaste + engaste: Tipo 4: engaste + borda livre:
Lfl = L Lfl = 0,7 x L Lfl = 0,5 x L Lfl = 2 x L
Análise: a articulação não Análise: a articulação não Análise: o engaste segura o Análise: o engaste segura o
segura o giro, então o segura o giro e o engaste giro. Como nessa peça há giro e a borda livre mexe-se
movimento de rotação segura. Na articulação, o dois engastes, o giro começa livremente. Como nessa peça
começa no próprio vínculo movimento de rotação mais para dentro da barra há um engaste e uma borda
nos dois apoios da barra. começa no próprio vínculo e em ambos os vínculos. Só livre, o giro é contido em uma
Assim, toda a barra sofre no engaste, começa mais 50% da barra sofre rotação ponta e bem intenso na
rotação em pilares do tipo 1. para dentro na barra. Só 70% em pilares do tipo 3. outra. Considera-se que para
da barra sofre rotação em pilares do tipo 4,
pilares do tipo 2. monoengastados e com
borda livre, o comprimento
de flambagem equivale a
duas vezes o comprimento da
peça.

Figura 2.91 – Comprimento de flambagem em pilares, mostrando a sua relação com os tipos de vínculos aos quais
os pilares estão submetidos.

A figura 2.92 representa um ensaio que tentou mostrar de forma mais prática esses diferentes tipos de pilares,
conforme o seu comportamento de flambagem a partir dos seus vínculos. Perceba a semelhança entre as figuras
2.91 e 2.92.

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Duas articulações Dois Articulação Engaste
engastes inferiormente e superiormente e
engaste borda livre
superiormente inferiormente
Figura 2.92: Modelo ilustrando o formato da flambagem em peças sujeitas à força de
compressão, com diferentes condições de vínculos.
Fonte: http://epsassets.manchester.ac.uk/structural-concepts/Statics/buckling/image
s/Fig10-6b.jpg

Repare na foto de um pilar que não resistiu aos esforços de


flambagem, mostrada na figura 2.93. Perceba que na situação de
flambagem, as armaduras longitudinais, mesmo que relativamente
grossas, e os estribos não foram capazes de segurar o excessivo
esforço de compressão. A quantidade de estribos é importante para
segurar parte da flambagem de barras de armaduras longitudinais –
contudo, o elemento que mais influencia para impedir a flambagem
de um pilar é a sua seção transversal, definida no projeto
arquitetônico. Pense nisso ao pré-dimensionar os pilares dos seus
projetos arquitetônicos. A flambagem é um esforço real e pode ser
perigoso, se não for considerado no dimensionamento do pilar.

Figura 2.93: Situação real de pilar que sofreu flambagem. Fonte:


https://civildigital.com/wp-content/uploads/2014/06/buckle-
225x300.jpg

A figura 2.94 mostra o resultado de uma análise computacional da flambagem de pilares, com a simulação de
diferentes cargas aplicadas. Cada cor usada na ilustração se refere a uma faixa de tensões de flambagem atuantes.
A cor azul se refere aos locais com menor probabilidade de ocorrência de flambagem, e a cor vermelha mostra os

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pontos de maior probabilidade da ocorrência de deformações por esse esforço. Perceba que a maior deformação
por flambagem ocorre exatamente na região da metade da altura livre dos pilares e pense: o que seus projetos
arquitetônicos podem fazer para impedir que a flambagem cause deformações nos pilares?

Figura 2.94: Análise computacional da flambagem em pilares, mostrando a distribuição de esforços internos de
flambagem nas peças. Fonte: https://autofem.com/images/stories/articles/modes_full.png

Perceba na seção transversal adotada para os


pilares da Estação Santo Amaro de trem, em São
Paulo. Eles são de aço, mas retratam o cuidado
com o combate às deformações por flambagem.
Os pilares têm seção transversal de inércia
variável, e sua maior seção está justamente na
metade da sua altura, onde ocorre o maior
esforço de flambagem.

Figura 2.95: Pilares de seção variável em estação


de trem de São Paulo. Fonte: Wikimedia
Commons -
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commo
ns/thumb/d/d3/Esta%C3%A7%C3%A3o_Santo_A
maro_-_Linha_9_Esmeralda.JPG/800px-
Esta%C3%A7%C3%A3o_Santo_Amaro_-
_Linha_9_Esmeralda.JPG

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2.4.2: Altura estrutural dos pilares

Considera-se a altura estrutural dos pilares a distância livre entre seus pontos de travamento, ou seja, é a distância
entre dois vínculos que está livre para sofrer flambagem. Nas edificações, essa medida é tomada em função do pé-
direito da obra, que exerce o travamento através das vigas ou das lajes, conforme a figura 2.96. Percebe-se por
essa figura que pode ocorrer que um pilar tenha alturas diferentes em cada direção sua. Se isso ocorrer, deve-se
dispor o pilar com sua maior dimensão de sua seção transversal na direção de maior altura, o que minimiza os
efeitos da flambagem.

Lx = altura livre ou distância entre eixos


de travamentos da direção x

Ly = altura livre ou distância entre eixos


de travamento da direção y

Perceba que na direção x, o pilar tem


maior tendência à flambagem, devido à
posição da sua seção transversal. Nesse
caso, pode-se fazer um travamento
contra a flambagem com uma viga
intermediária naquele eixo, mesmo que
ela fique a meia altura de um pavimento
(por exemplo, escondida em uma
parede).

Figura 2.96: Diferentes alturas livres em um pilar, travado com


vigas em duas direções – na direção y, o comprimento livre é
maior do que na direção x, onde existe uma viga intermediária
que serve de travamento para o pilar.

2.4.3: Material e seção transversal dos pilares

Os pilares devem ser construídos com material de boa resistência à compressão e que sofra pequenas deformações
longitudinais. Os materiais mais adequados para isso costumam ser concreto armado, aço e madeira.
As seções dos pilares podem assumir formas diversas, desde que atendam ao valor mínimo para a sua área e às
dimensões mínimas apontadas na norma NBR6118:2014. A figura 2.97 mostra algumas opções para isso.

Figura 2.97 Algumas seções transversais de pilares em concreto armado

De acordo com a NBR 6118:2014, a área mínima de uma seção transversal de pilar é de 360 cm² e a menor
dimensão de pilares deve ser 19 cm ou 1/10 de sua altura.

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2.4.4: Tipos e classificação dos pilares quanto à sua esbeltez

Os pilares de concreto armado, quanto à sua esbeltez, são classificados em curtos, médios ou esbeltos. Pilares
curtos são aqueles mais parrudos, que normalmente não são altos e têm sua seção transversal avantajada. Pilares
esbeltos são normalmente aqueles mais finos, de aparência mais delicada, que têm alturas elevadas em relação às
medidas de sua seção transversal. Os pilares médios costumam ser os mais equilibrados, que não têm a seção
transversal nem muito exagerada e nem muito ousada, com altura controlada. Veja na figura 2.98 uma comparação
desses pilares com a estatura de uma pessoa. O pilar curto poderia ser comparado a uma pessoa mais baixa e com
peso elevado. Sua estabilidade é bem maior do que a de pessoas altas e magras, que poderiam ser comparadas aos
pilares esbeltos. Para a saúde de qualquer estrutura, o equilíbrio é sempre o melhor caminho.

Figura 2.98: Comparação da esbeltez de pilares com a estatura e o peso de uma pessoa.
Fonte: Sarro, M.R.L.S. Disciplina TA131, Notas de aula, UFPR, 2020.

A esbeltez dos pilares em um projeto arquitetônico pode ser media pelo seu índice de esbeltez, dado pela letra
grega  (lê-se "lambda"), conforme os seguintes limites:

Limites do índice de esbeltez para a classificação de pilares em concreto armado

- Pilares curtos:  < 40 (Maior segurança, menor economia)


- Pilares médios: 40 <  < 80 (Equilíbrio entre segurança e economia)
- Pilares esbeltos  > 80 (Atenção! Menor segurança, maior economia – mas
esse tipo de economia pode não ser interessante, pelo
perigo potencial que pode causar. Pilares esbeltos devem
ser usados com bastante responsabilidade em um projeto
arquitetônico / estrutural.)

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A letra  simboliza o índice de esbeltez do pilar, que é um indicador da sua capacidade ou não de flambar. Quanto
menor for o valor de , menor é a possibilidade de flambagem do pilar.

O cálculo da esbeltez é feito a partir da relação entre o comprimento de flambagem do pilar (Lfl) e o raio de giração
da seção transversal (rmín). Raio de giração é um conceito advindo da Resistência dos Materiais, que se define pela
raiz quadrada entre o momento de inércia mínimo e a área da seção transversal:

Lfl
Imín max =
rmin = rmin
A

Por exemplo, se determinarmos o cálculo do índice de esbeltez de uma seção Lfl


retangular, na qual I mín = bh³/12, e A = b x h, substituindo os valores nas max = 3,464 ∙
fórmulas acima chegaremos à fórmula ao lado. b

Da mesma maneira, para uma seção circular, na qual I =  x d4/64 e A =  x Lfl


d² / 4, chegaremos à fórmula ao lado. max = 4 ∙
d

2.4.5: Cálculo de carga nos pilares a partir de sua área de influência

A carga nos pilares pode ser calculada de forma aproximada, determinando-se sua área de influência e a carga que
age em cada pavimento da edificação.
A área de influência pode ser estimada traçando-se retas medianas entre os pilares consecutivos, conforme
figura 2.99:

Figura 2.99: Representação de área de influência de pilar em planta. A área pintada de azul é a área de
influência do pilar P2, determinada a partir da metade da distância entre P1 e P2, P2 e P3, e P2 e P5.

A área em azul da figura 2.99 corresponde à área de estrutura cuja carga incide sobre o pilar P2, calculada
geometricamente, com valor de 2.5 m x 4,5 m = 11,25 m².

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Para se determinar a força que incide em um pilar, para efeito de pré-dimensionamentos, pode-se
considerar as seguintes cargas médias (pk) agindo nessa nas edificações, por m², com o seu valor estimado
conforme o tipo de construção:

- Edifícios residenciais e comerciais: pk = de 1,0 a 1,2 tf / m² = 1000 a 1200 kgf / m²


- Edifícios industriais: pk = de 1,5 tf / m²
- Coberturas: pk = 0,6 tf / m² para coberturas com laje de concreto
pk = 0,2 tf / m² para coberturas com telha cerâmica
pk = 0,1 tf / m² para coberturas com estrutura metálica

De posse desses valores e do número de pavimentos da edificação, podemos estimar a carga no pilar “i” (Ni)
para efeito de pré-dimensionamento, como segue:

Entenda o conceito por trás da fórmula ao lado. Se cada metro quadrado da


Ni = Ai ∙ pk construção pesa (supostamente) "pk" e a área de construção que cai sobre
um pilar é "AI", a carga total sobre ele será o produto desses valores.

Como o pilar acumula cargas piso a piso, esse valor deve ser somado para todo o comprimento do pilar,
como mostra o exemplo a seguir.

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- Exemplo numérico

O edifício ilustrado na figura 2.100 tem


os seguintes pavimentos:
- 1 cobertura em laje de concreto sem
carga de uso (pk = 600 kgf/m²)
- 6 pavimentos tipo com carga de uso
residencial (pk = 1000 kgf/m²)
- 1 térreo com carga de uso residencial
(pk = 1000 kgf/m²)
- 1 subsolo com carga de garagem (pk =
1500 kgf/m²)

Considerando a área de influência do


pilar P2, ilustrado na figura 2.99, calcule
a carga do P2 (N2) que chega em cada
pavimento e na fundação.

Lembre-se que o cálculo da carga por


pilar, em cada pavimento, é dado por:

Ni = Ai ∙ pk

Figura 2.100: Edifício para cálculo de pilares


Fonte da imagem: adaptado de Pixabay

Resolução:

N2 – carga do pilar devido a


Ai pk N2 real por pavimento = carga acumulada de
Pavimento cada pavimento
(m²) (kgf / m²) todos os pavimentos que agem no pilar
(kgf)

Cobertura 11,25 600 6750 = 6750 kgf = 6,75 tf


6º 11,25 1000 11250 = 6750 + 11250 = 18000

5º 11,25 1000 11250 = 6750 + 11250 x 2 = 29250

4º 11,25 1000 11250 = 6750 + 11250 x 3 = 40500

3º 11,25 1000 11250 = 6750 + 11250 x 4 = 51750

2º 11,25 1000 11250 = 6750 + 11250 x 5 = 63000

1º 11,25 1000 11250 = 6750 + 11250 x 6 = 74250

térreo 11,25 1000 11250 = 6750 + 11250 x 7 = 85500

subsolo 11,25 1500 16875 = 6750 + 11250 x 7 +16875 = 102375

Carga total que chega na fundação: 102375 kgf = 102,4 tf

A carga total que o pilar recebe, até chegar na fundação, foi calculada. O próximo passo é o pré-dimensionamento
do pilar, ou seja, a determinação do tamanho de sua seção transversal para que ele possa receber essa carga.

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2.4.6: Pré-dimensionamento de pilares

Pré-dimensionar um pilar significa definir da área mínima e da forma da sua seção transversal. É comum, nas
edificações, que se escolha a seção retangular para pilares e que uma das suas dimensões seja definida em função
da arquitetura, para que o pilar fique embutido na parede. Assim sendo, se, por exemplo, as paredes tiverem
espessura de 25 cm, feitas com blocos cerâmicos de largura 20 cm, o pilar deverá acompanhar essa medida,
conforme mostra a figura 2.101. Veja pela figura 2.102 o que aconteceria caso um pilar tivesse largura menor do
que a largura dos blocos usados na alvenaria (inviável) ou maior (o que é comum acontecer). No último caso, os
pilares ficam salientes em relação às paredes, e isso deve ser previsto no projeto arquitetônico. Perceba que para
acompanhar a largura de uma parede de alvenaria, o pilar deve, na realidade, acompanhar a largura dos seus
blocos, para então receber a mesma camada de acabamento com argamassa que a parede de alvenaria receberá.

Figura 2.101: Pilar com largura acompanhando a largura dos Figura 2.102: Pilar mais estreito que a largura
blocos usados na parede. dos blocos da alvenaria.

O pré-dimensionamento de pilares é feito iniciando-se com o cálculo da área da seção transversal do pilar. Você
lembra do conceito I*M*P*O*R*T*A*N*T*Í*S*S*I*M*O de tensão que é igual a "força sobre área"? Esse é o
conceito que define grande parte do cálculo estrutural, nos pré-dimensionamento de pilares, pode ser usado assim:

FORÇA FORÇA Ni FORÇA Ni


TENSÃO = OU TENSÃO σc = OU ÁREA Ai =
ÁREA ÁREA Ai TENSÃO σc

Então:

Sendo:
i é o número do pilar considerado (P1, P2, P3, etc)
Ni Ai = área da seção transversal do pilar "i" (cm²). Pela NBR 6118:2014, A > 360 cm²
Ai =
σc Ni = carga no pilar "i" (kgf), conforme calculada em 2.4.5
σc = tensão admissível do concreto, que em pré-dimensionamentos pode ser adotada igual
a:
σc = 100 kgf/cm² (quando Lfl < 3,5 m)
ou σc = 80 kgf/cm² (quando Lfl > 3,5 m)
Lembramos que Lfl é o comprimento de flambagem do pilar, conforme fig.2.91.
Obs.: para os edifícios convencionais, pode-se supor pilares com comprimento de
flambagem igual à altura entre os eixos das vigas dos pavimentos superior e inferior (ver fig.
2.96). Consideraremos, de forma simplificada, o Lfl igual ao pé-direito da edificação.

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Na figura 2.103, são mostradas algumas possibilidades de seções transversais possíveis para pilares. A área da
seção transversal depende do formato adotado para ela, que é livre, desde que se respeitem as medidas mínimas
para os lados e a área mínima de 360 cm², conforme a norma NBR 6118:2014 – veja a figura 2.104, que reproduz
esse trecho da norma.

Para seções retangulares: Para seções circulares:

Convém que “b” e “h” sejam maiores do que 19 cm

Limitação para pré-dimensionamento: h < 5 b


(caso contrário o pilar se comportará como pilar parede Convém que “d” seja maior do que 19 cm.
e não poderá ser pré-dimensionado pelo processo
mostrado aqui)

Figura 2.103: Seção transversal retangular e seção transversal circular para pilares de seção maciça. Em caso de
pilares com seção vazada, a área mínima da parte cheia também deve ser de 360 cm². Lembre-se que seções
vazadas são mais rígidas do que seções maciças com a mesma área, então os pilares vazados respondem
melhor à flambagem, pois têm rigidez maior do que os maciços de mesma área.

Figura 2.104: Reprodução de trecho da NBR 6118:2014, a respeito de dimensões de pilares. Perceba que o trecho
ilustrado mostra a possibilidade de um pilar ter medida mínima de 14 cm, em vez dos 19 cm considerados mínimos
no geral. Para isso, seria então necessário multiplicarmos a força Ni sobre o pilar pelo coeficiente indicado na tabela
ilustrada acima, conforme a medida adotada para o pilar.

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- Exemplo numérico

Para o edifício ilustrado na figura 2.100, cuja carga do P2 já foi calculada anteriormente (N2 = 102375 kgf), faça
um pré-dimensionamento da seção deste pilar, pavimento a pavimento considerando:
a) Pé-direito igual a 2,6 m em seção retangular com um lado embutido dentro de parede de 25 cm de
espessura.
b) Pé-direito igual a 3,6 m em seção retangular com um lado embutido dentro de parede de 25 cm de
espessura.
c) Veja o que aconteceria se o pilar tivesse com seção circular ou quadrada, e pé-direito igual a 3,6 m.

Ni
 Resolução para letra “a” (usando σc = 100 kgf/cm² porque Lfl < 3,5 m e Ai =
σc
)

N2 (kgf) A2 (cm²) Lado “b” Lado “h” Obs.: perceba que as


(carga em cm em cm dimensões do pilar vão
Pavi- acumulada (A = b x h (adotaremos (adotaremos lado Verifica- aumentando, de cima até
mento a cada A > 360 cm²) igual à largura mínimo de 19 cm) ção se embaixo. O pilar começa
pavimento) dos blocos) h < 5b com seção transversal de
20 x 19 cm², no topo, e
360 / 20 = 18; chega à seção de 20 x 52
Cobertura 6750 67,5 (adotamos 360,0) 20 OK
hmin = 19 cm², na fundação, porque
OK vai acumulando cargas de
360 / 20 = 18;
6º 18000 180,0 (adotamos 360,0) 20 cima até embaixo.
hmin = 19
360 / 20 = 18; OK Adotamos o
5º 29250 292,5 (adotamos 360,0) 20 arredondamento de
hmin = 19
dimensões sempre para
4º 40500 405,0 20 405 / 20 = 21 OK
cima.
3º 51750 517,5 20 517,5 / 20 = 26 OK
Se a verificação h < 5b não
2º 63000 630,0 20 32 OK fosse atendida, seria
1º 74250 742,5 20 37 OK necessário aumentar o
valor de b e reduzir o de h
térreo 85500 855,0 20 43 OK proporcionalmente,
subsolo 102375 1023,75 20 52 OK mantendo a mesma área A.

Ni
 Resolução para letra “b” (usando σc = 80 kgf/cm² porque Lfl > 3,5 m e Ai = σc
)

N2 (kgf) A2 (cm²) Lado “b” Lado “h”


(carga em cm em cm
Pavi- acumulada (A = b x h (adotaremos (adotaremos lado Verifica- Obs.: perceba que as
mento a cada A > 360 cm²) igual à largura mínimo de 19 cm) ção se dimensões do pilar são um
pavimento) dos blocos) h < 5b pouco maiores do que no
exemplo “a”, porque
84,4 adotamos uma tensão
Cobertura 6750 20 19 OK
(adotamos 360,0) admissível à compressão
225,0 OK menor. Se o material
6º 18000 20 19 aguenta menos carga, a
(adotamos 360,0)
seção naturalmente deverá
5º 29250 365,6 20 19 OK ser maior.
4º 40500 506,3 20 26 OK

3º 51750 646,9 20 33 OK

2º 63000 787,5 20 40 OK
1º 74250 928,1 20 47 OK
térreo 85500 1068,8 20 54 OK
subsolo 102375 1279,7 20 64 OK

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Ni
 Resolução para letra “c” (usando σc = 80 kgf/cm² porque Lfl > 3,5 m e Ai = σc
)
N2 (kgf) A2 (cm²)
(carga Para ST circular:
Para ST quadrada:
Pavi- acumulada (A =  x r² para ST circular e raio “r” e
lado “b” É importante que você
mento a cada A = b² para ST quadrada) diâmetro “d”
(cm) acompanhe os valores ao
pavimento) (cm)
lado, entendendo cada um
84,4 deles. No caso de dúvidas,
Cobertura 6750 11 / 22 19
(adotamos 360,0) use o Espaço para Dúvidas
225,0
da sala de aula virtual para
6º 18000 11 / 22 19 publicar a sua pergunta.
(adotamos 360,0)
5º 29250 365,6 11 / 22 20
4º 40500 506,3 13 / 26 23
3º 51750 646,9 15 / 30 26
2º 63000 787,5 16 / 32 28
1º 74250 928,1 18 / 36 31
térreo 85500 1068,8 19 / 38 33
subsolo 102375 1279,7 21 / 42 36

Após feito o pré-dimensionamento dos pilares, eles precisam ser verificados com relação à sua esbeltez. Para isso,
consideraremos admissíveis os pilares médios, com índice de esbeltez valendo no máximo 80, conforme item 2.4.4
(40 <  < 80).

Lfl
Para seções retangulares: max = 3,464 ∙ b , onde “b” é a menor dimensão da ST.
“b” é sempre a menor medida do pilar, no caso de seções retangulares. Lfl será adotado igual ao pé-direito do pilar.
Faremos essa verificação somente para a letra “b” do exemplo acima, que tem o pior Lfl. Se o cálculo passar para
ela, passará para os demais casos. Se não passar, deverá ser verificado nos outros casos.

Verificação Se a verificação
Lfl Lado 1 Lado 2
Pavimento
(cm) (cm) (cm)  de  < 80
 < 80 não fosse atendida, seria
OK necessário mexer na forma
Cobertura 360 20 19 65
do pilar:
6º 360 20 19 65 OK - ou mexendo na ST e
OK reduzindo a sua esbeltez;
5º 360 20 19 65
- ou reduzindo o pé-direito
4º 360 20 26 62,3 OK e, consequentemente, o
3º 360 20 33 62,3 OK Lfl;
- ou criando vigas de
2º 360 20 40 62,3 OK
travamento intermediárias
1º 360 20 47 62,3 OK à sua altura.
térreo 360 20 54 62,3 OK
subsolo 360 20 64 62,3 OK

No exemplo numérico em questão, conclui-se que os pilares pré-dimensionados estão aprovados, com relação à
verificação à flambagem.

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A rigidez de uma barra à flambagem foi estudada por Euler, que definiu uma fórmula para o cálculo da carga crítica
de flambagem:

𝛑𝟐 ∙ 𝐄 ∙ 𝐉 Fórmula de Euler para cálculo


𝐏𝐜𝐫 = da carga crítica de flambagem
𝐋𝟐

Sendo:
Pcr = carga crítica de flambagem (a carga que provoca a flambagem - quanto maior for esse valor, mais
seguro é o pilar)
E = módulo de elasticidade do concreto
J = momento de inércia da seção transversal da peça
L = comprimento não travado da peça (livre para flambar)

A FÓRMULA DE EULER É UMA “FÓRMULA ARQUITETÔNICA”?

A análise da fórmula de Euler nos leva a entender porque alguns se referem a ela como uma
“fórmula arquitetônica”. Pcr é uma carga que precisa ser alta, e quanto mais alta melhor, para
que nunca seja alcançada. Perceba que os elementos que mais são capazes de mexer no valor
dessa carga são “L” e “J”, os quais estão diretamente relacionados com a arquitetura. O módulo
de elasticidade do concreto nem sempre pode ser alterado a partir do projeto arquitetônico, já
que ele é uma escolha do projeto estrutural. E mesmo que o concreto tivesse o seu fck
aumentado, o aumento do E não seria tão significativo quanto o resultado de alterações nos
valores das outras variáveis da fórmula. Com relação ao comprimento não travado da peça, o “l”
(equivalente ao vão de uma viga), a sua colaboração para a redução do valor da carga crítica
acontece elevada ao quadrado. Então, para aumentar a carga através do “L”, quanto menor ele
for, melhor o resultado. Isso significa que a altura livre dos pilares, definida pelo projeto
arquitetônico, afeta diretamente e ao quadrado, a sua segurança à flambagem. A redução dessa
altura é feita arquitetonicamente, através da inserção de elementos de travamento na direção
crítica de flambagem, ou da redução da distância vertical entre vigas de diferentes pavimentos.
Além disso, também pode-se aumentar o valor da carga crítica, com uma seção de maior rigidez.
Sabemos que a rigidez de uma seção retangular considera a altura da seção elevada ao cubo no
seu cálculo. Isso significa que pequenas mudanças na altura da seção transversal e/ou em sua
forma, podem colaborar consideravelmente no aumento da carga crítica de flambagem.
E então, você concorda que a fórmula de Euler é uma “fórmula arquitetônica”?
Você percebe que os problemas de flambagem podem ser evitados, em partes, a partir do
projeto arquitetônico?

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Atividade para quem quer treinar mais

Nos capítulos 2.2 e 2.3, sobre lajes maciças e vigas, você fez o lançamento e o pré-dimensionamento de vigas e
lajes em uma das duas situações a seguir:
a) Planta baixa de residência unifamiliar área entre 50 e 80 m². Vigas com altura máxima de 40 cm.
ou
b) Planta baixa de residência unifamiliar com área entre 150 e 220 m². Vigas com altura máxima de 60cm.

A tarefa agora será você fazer o pré-dimensionamento de pilares vigas e lajes, do mesmo item que você adotou
para o pré-dimensionamento das lajes. Siga o passo a passo a seguir.
 Passo 1: a partir da planta adotada para o pré-dimensionamento de lajes, certifique-se que todos os pilares
estão devidamente numerados (conforme critério exposto na aula gravada sobre lajes maciças: a
numeração é feita da esquerda para a direita e de cima para baixo na planta). Adote pé-direito de 2,6 m e
a mesma disposição do edifício ilustrado na figura 2.100 para fazer os cálculos sobre a sua planta. Adotar
na cobertura pk = 600 kgf/m², nos pavimentos de uso do edifício carga de 1200 kgf/m² e no subsolo, da
garagem, carga de 1500 kgf/m².
 Passo 2: faça à parte o desenho cotado de áreas de influência dos pilares de sua planta, a partir dos
princípios usados para o desenho da figura 2.99. Calcule todas as áreas e as escreva na sua planta de áreas
de influência.
 Passo 3: Verifique qual é o pilar de maior área de influência, e qual é o pilar de menor área de influência.
Para esses dois pilares, faça um pré-dimensionamento e calcule qual é a carga que chega nos pilares do
subsolo. Da mesma forma, faça o seu pré-dimensionamento, piso a piso do edifício.
 Passo 4: Verifique se os pilares adotados passam na verificação à flambagem, em todos os pavimentos.
Caso não passem, calcule quanto deveriam ser as medidas da ST para essa conta passar, e adote essas
medidas como seu resultado final.

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Vamos pré-dimensionar pilares manualmente e com uma planilha?

Exercício proposto:
Acesse ao exercício proposto via sala de aula
virtual, para o pré-dimensionamento dos pilares
P1 e P5, ilustrados na figura 2.105 e resolva-o
manualmente, pré-dimensionando os pilares piso
a piso do edifício.

Figura 2.105: Exercício proposto via UFPR Virtual

Com a resolução desse exercício, fica claro que o processo de pré-dimensionamento de pilares é bastante
repetitivo e pode ser trabalhoso, no caso de edifícios altos e/ou com muitos pilares. Por isso, o uso de
uma planilha eletrônica pode facilitar consideravelmente essa tarefa.
A figura 2.106 ilustra uma planilha eletrônica disponibilizada via sala de aula virtual, que resolve o
exercício proposto acima com alguns recursos de planilhas eletrônicas, para automatizar a execução de
contas e suas verificações. Analise a planilha, os resultados e a entrada de cada fórmula usada, para
entender como ela foi configurada e como ela funciona. Uma planilha como esta pode reduzir bastante os
seus cálculos em relação aos pilares de seus projetos futuros.
Mas lembre-se que nenhum cálculo deve ser feito via máquina sem que o seu usuário saiba fazê-lo à
mão. Isso lhe permitirá analisar os resultados dos cálculos feitos à máquina e verificar a sua coerência.

Figura 2.106: Planilha eletrônica para cálculo de pilares em concreto armado

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 Aula gravada do item 2.4 (formação): exercício resolvido

Assista à aulas disponíveis pelos links a seguir, contendo exercício resolvido completo sobre o pré-
dimensionamento de lajes, vigas e pilares, partes 1 e 2, também disponíveis em pdf. Procure acompanhar o
conteúdo dessas aulas pelo pdf, para enxergar os valores mais claramente.

Exercício resolvido completo sobre o Exercício resolvido completo sobre o


pré-dimensionamento de lajes, vigas pré-dimensionamento de lajes, vigas
e pilares, parte 1. e pilares, parte 2.

https://ufprvirtual.ufpr.br/mod/url/ https://ufprvirtual.ufpr.br/mod/url/
view.php?id=334914 view.php?id=443213

Vídeos propostos (complementares)

Vídeo: Pilares - segredos revelados: explica sobre o funcionamento de pilares e sobre o


lançamento de pilares em plantas, mostrando a posição mais apropriada com relação aos
esforços gerados por vigas. https://www.youtube.com/watch?v=A1MF2fQStiw

Vídeo: "Pilar redondo ou retangular" https://www.youtube.com/watch?v=X-5r6zkOTAQ


Vídeo explicando as vantagens ou desvantagens de se usar pilares de seção circular ou
retangular nas edificações, bem esclarecedor para a concepção arquitetônica.

Vídeo da ABCP mostrando a execução de uma casa com paredes de concreto


https://www.youtube.com/watch?v=sdv3G292wL4

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2.4.7: Pórticos

Conceituação de pórticos para a arquitetura - Fonte: adaptado de José Henrique Costalonga Seraphim (As
estruturas na prática da arquitetura, vol.1) e Yopanan C. P. Rebello (Bases para projeto estrutural na arquitetura)

A associação entre vigas e pilares, em uma edificação, pode ser feita basicamente de duas maneiras: com a viga
simplesmente apoiada sobre os pilares, através de articulações, ou com a viga rigidamente ligada aos pilares,
através de engastes, conforme mostra a figura 2.107.

Figura 2.107: Comparação entre o funcionamento de uma viga simplesmente apoiada e de uma viga biengastada
em um pórtico. Fonte: adaptado de Rebello, Y. C. P.: Bases para projeto estrutural na arquitetura.

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De modo geral, os pórticos são estruturas reticuladas formadas por barras retas vinculadas rigidamente (ou
engastadas) entre si, por suas extremidades, os “nós”. São compostos pela ligação entre barras (vigas e pilares) de
diferentes direções. Como os pórticos têm suas barras engastadas entre si, eles têm a propriedade de redistribuir
os esforços incidentes sobre seus elementos para todas as barras do conjunto. O seu uso é interessante quando
exigências arquitetônicas limitam a seção máxima possível para vigas e falta altura para elas serem concebidas
como simplesmente apoiadas. Além disso, o pórtico pode ser bastante útil como estrutura de contraventamento da
edificação.
Os pórticos são classificados em simples ou múltiplos e planos ou espaciais. Os pórticos simples são aqueles
formados por dois pilares e uma viga, articulados ou engastados nas suas bases, conforme mostra a figura 2.108.

Figura 2.108: Diferentes modelos de pórticos simples. Fonte: adaptado de Seraphim, J.H. C.:
As estruturas na prática da arquitetura, vol.1.

Os pórticos múltiplos são aqueles formados por dois ou mais pilares ou duas ou mais vigas, conforme mostra a
figura 2.109.

Figura 2.109: Diferentes modelos de pórticos múltiplos. Fonte: adaptado de Seraphim, J.H.C.:
As estruturas na prática da arquitetura, vol.1.

Os pórticos planos são aqueles em que suas barras encontram-se em um único plano bidimensional (x, y). Um
edifício pode ser calculado como sendo composto por vários pórticos planos. Os pórticos espaciais apresentam
suas barras no espaço tridimensional (x, y, z) e são usados para um cálculo mais preciso do sistema estrutural de
um edifício. O cálculo estrutural do pórtico espacial retrata mais fielmente o comportamento da edificação
aporticada, mas é bem mais complexo que o cálculo de pórticos planos. A figura 2.110 mostra esquematicamente
os pórticos plano e espacial.

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Figura 2.110: Representação genérica de um pórtico plano (à esquerda)
e de um pórtico espacial (à direita).

Os pórticos associam o comportamento estrutural das vigas e dos pilares, porque um elemento sofre influência
sobre o outro. No apoio de uma viga sobre pilares, através de vínculos articulados, as peças funcionam
independentemente. Na consideração do pórtico, ou seja, de uma ligação rígida entre pilares e viga, os pilares
passam a absorver parte dos momentos fletores da viga. Assim, os pilares de pórticos recebem mais esforços do
que na situação anterior, necessitando, portanto, de maior seção transversal para absorver esses esforços
adicionais. Já as vigas de pórticos recebem menos esforços, porque parte de sua solicitação vai para os pilares.
Assim, elas podem ter menores alturas de seção transversal do que as vigas de pórticos, como pode ser observado
nas figuras 2.107 e 2.111.

Figura 2.111: Comparação de dimensões entre pórtico e vigas articuladas sobre pilares

A principal função dos pórticos é enrijecer as estruturas e diminuir suas deformações, através das ligações rígidas
entre suas barras. No entanto, para que essas ligações sejam de fato rígidas, é necessário que a concepção
arquitetônica ofereça condições para isso. Quanto mais próximas entre si forem as rigidezes de cada barra que
chega em um nó de pórtico, melhor será a distribuição dos esforços naquele ponto. Por isso, recomenda-se que as
barras que chegam em um mesmo nó tenham seções transversais e dimensões parecidas entre si. Além disso, os
pórticos devem ser distribuídos cuidadosamente na planta de um edifício, de forma que haja simetria das duas
direções. A assimetria pode resultar em diferentes rigidezes em partes diferentes do edifício, quando sujeito ao

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vento, o que pode resultar em esforços de torção no conjunto, o que pode solicitar os elementos estruturais de
forma não prevista.
Os pórticos conseguem enrijecer as estruturas horizontalmente, e por isso são usados para absorver esforços de
ventos, terremotos, cargas móveis, etc. Além disso, os pórticos também distribuem melhor as cargas verticais por
toda a estrutura e isso permite mais esbeltez às suas vigas.

Existem alguns critérios que permitem o pré-dimensionamento de elementos estruturais de pórticos. O gráfico
mostrado na figura 2.112 é um deles, bastante genérico. O seu uso permite uma visão da altura ideal do pórtico e
da espessura das peças no engaste, em função do seu vão.

Figura 2.112: Gráfico para pré-dimensionamento de pórticos de concreto.


Fonte: Rebello, Yopanan C. P. A concepção estrutural e a arquitetura. São Paulo: Zigurate Editora, 2000.

Figura 2.113: Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, com sistema estrutural composto por diversos pórticos de
concreto armado paralelos entre si. Proj. arquitetônico: Arq. Affonso Eduardo Reidy, 1952.
Fonte: Adaptado de https://www.archdaily.com.br/br/758700/classicos-da-arquitetura-museu-de-arte-moderna-
do-rio-de-janeiro-affonso-eduardo-reidy.
Sugestão sobre o que observar na imagem: a leveza da estrutura de concreto, a capacidade dos pórticos de
vencerem grandes vãos, a delicadeza dos pilares, o ritmo provocado pela repetição de elementos, a beleza da
geometria, a forma do pórtico, seguindo sua função (o pilar é mais largo onde há mais momento fletor, ou seja, nos
encontros com a viga), o atirantamento das lajes, etc.

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Figura 2.114: Análise estrutural dos pórticos do MAM-RJ, mostrando os esforços de flexão nos engastes e os
máximos momentos fletores em cada peça, e à direita, densa armação das vigas dos pórticos do MAM-RJ,
na região de encontro com o pilar.
Fonte: Aguiar, Monica; Favero, Marcos. “MAM-Rio: forma – estrutura, tectônica e empatia”.
Artigo publicado na Revista Unisinos, v.15 n.2 2019.

Figura 2.115: Vista dos elementos dos pórticos do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, na época de sua
construção. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/758700/classicos-da-arquitetura-museu-de-arte-moderna-do-
rio-de-janeiro-affonso-eduardo-reidy
Sugestão sobre o que observar na imagem: a variação de inércia da seção transversal dos pilares, cujo desenho
segue os esforços, com mais seção na região de encontro com a viga (o que configura um engaste) e redução de
seção na região de apoio (o que configura uma articulação).

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Figura 2.116: Edifício aporticado da Cidade Administrativa de Minas Gerais. Projeto arquitetônico: Oscar Niemeyer;
Projeto estrutural: José Carlos Sussekind. Fonte: desconhecida.
Sugestão sobre o que observar na imagem: a variação de inércia da seção transversal dos pilares, com um grande
aumento de seção na região de engaste com a viga; a estrutura aporticada, liberando o térreo totalmente da
presença de pilares. Os grandes vãos possibilitados pelos pórticos.

Figura 2.117: Edifício Centro de referência em educação ambiental, Parque Villa-Lobos, São Paulo. Projeto
arquitetônico: Decio Tozzi. Fonte: https://www.galeriadaarquitetura.com.br/projeto/decio-tozzi_/centro-de-
referencia-em-educacao-ambiental/1179.
Sugestão sobre o que observar na imagem: a forte interação entre estrutura de concreto e arquitetura, o grande
vão permitido pelos pórticos, o formato diferenciado dos pilares, as vigas de travamento entre os pórticos.

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2.4.8: Paredes estruturais de concreto

As paredes estruturais de concreto são elementos que tanto funcionam estruturalmente como vigas + pilares
(recebem esforços verticais e os transmitem para elementos inferiores), como também funcionam
construtivamente, na vedação das construções. As lajes são apoiadas diretamente nestas paredes, dispensando a
presença de vigas. As paredes são normalmente moldadas in loco e costumam ter um processo construtivo
bastante simplificado e rápido, com uma tela soldada internamente, fazendo o papel de armação, e a concretagem
entre fôrmas previamente configuradas para isso. As construções feitas com esse sistema apresentam bons níveis
de qualidade e desempenho e podem ser aplicadas em construções baixas e altas, oferecendo:
• Condições técnicas e econômicas perfeitas para a atual demanda do mercado brasileiro da
construção.
• Sistema racionalizado que permite a produção de unidades habitacionais em grande escala, sem
comprometer sua qualidade e seu conforto.
• Execução veloz – melhor cumprimento de prazos.
• Possibilidade de industrialização do processo.
• Mão de obra qualificada, com redução das atividades artesanais e improvisações.
• Desempenho técnico, com produtos com alta tecnologia e uma longa historia de evolução.
• Competitividade, com ótima relação custo x benefício.
• Segurança em todos os níveis
• Normas técnicas específicas
• Operacional (dos funcionários)
• Comercial (porque assegura o cumprimento de prazos de execução)
• Maior controle de qualidade, através de materiais normalizados, controle tecnológico e mão de
obra qualificada.

O gráfico da figura 2.118 mostra uma comparação de custos entre alguns sistemas construtivos de edificações,
variável conforme o número de lajes em questão. Repare na diferença entre custos de construções baixas de
paredes de concreto e construções similares de estrutura convencional de concreto (com vigas e pilares).

Figura 2.118: Comparação de custos entre sistemas estruturais


Fonte: Graziano, F. P. Paredes de concreto: como estamos fazendo. Concrete Show, 2010.
Disponível em www.abcp.org.br.

Nas figuras 2.119 a 2.121, pode-se perceber como é a armação das paredes estruturais. Uma camada de tela
soldada é inserida exatamente no meio da parede, fixada nas fôrmas, para garantir a sua resistência estrutural.

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Figura 2.119: Corte da parede em Figura 2.120: Montagem Figura 2.121: Vista das telas soldadas
concreto, mostrando a tela soldada de da tela soldada sobre comumente usadas na execução de paredes
armação. Fonte: http://imoveisbl. fôrma interna da parede. estruturais. Fonte: https://www.
com.br/noticias.php?id=115 Fonte: http://www.ibts. santaclarabr.com/wp-content/uploads/
org.br/noticias01.asp 2018/05/Tela-soldada-site.jpg

As construções em parede de concreto costumam ser feitas sobre radiers, devido às cargas mais distribuídas na
planta. As figuras 2.122 a 2.127 mostram diferentes etapas da construção desses elementos.

Figura 2.122: Concretagem de radier em obra de parede Figura 2.123: Montagem de armação e fôrmas de
estrutural de concreto. Fonte: http://www.metro paredes de concreto sobre radier. Fonte: http://
modular.com.br/ parede-passo-a-passo www. metromodular.com.br/sistema-para-parede

Figura 2.124: Edificação de três andares em construção Figura 2.125: Conjunto residencial em construção,
com a técnica de paredes de concreto moldadas in loco. com a técnica de paredes de concreto moldadas in
Fonte: http://www.metromodular.com.br/sistema-para- loco.
paredes. Fonte: http://www.metromodular.com.br/sistema-

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para-paredes

Figura 2.126: À esquerda, a edificação já têm dois Figura 2.127: Montagem de fôrmas para
pavimentos e à direita, o segundo pavimento está sendo concretagem de paredes de concreto. Entre as
montado. Na parte inferior da imagem aparece um radier e fôrmas, nota-se a presença da tela soldada e de
gabaritos para a locação de paredes de concreto. instalações elétricas e hidráulicas. Fonte:
Fonte: http://www.metromodular.com.br/sistema-para- http://solucoesparacidades. com.br/habitacao/1-
paredes apoio-a-execucao-habitacao/parede-de-concreto/
O gráfico da figura 2.128 possibilita o pré-dimensionamento de paredes de concreto para edificações com um único
andar. O material de pré-dimensionamento expedito, publicado na sala de aula virtual, apresenta outro critério
para isso.

Figura 2.128: Gráfico para pré-dimensionamento de paredes estruturais de concreto. Fonte: Rebello, Yopanan
Conrado Pereira. A concepção estrutural e a arquitetura. São Paulo: Zigurate Editora, 2000.

A tabela ilustrada na figura 2.129 mostra uma relação entre a espessura estrutural das paredes de concreto, os
vãos médios do projeto e o número de andares da edificação. Como acontece em qualquer sistema verticalizado,
os elementos estruturais inferiores recebem a carga acumulada da edificação, precisando de maiores seções
transversais.

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Figura 2.129: Espessura das paredes de concreto em função de vãos e altura da edificação
Fonte: Fonte: Graziano, F. P. Paredes de concreto: como estamos fazendo. Concrete Show, 2010.
Disponível em www.abcp.org.br.

Você sabia?

A tensão admissível à compressão do pilar, usada no seu pré-dimensionamento, é calculada a partir do seu fck.
Você lembra o que é o fck, das aulas de Construção Civil ou Materiais de Construção? Se não lembrar, pesquise
sobre isso, pois esse é um dos dados mais importantes do concreto usado com fins estruturais.

Leitura complementar: paredes estruturais

Maiores informações sobre o assunto paredes de concreto, incluindo recomendações arquitetônicas, podem ser
obtidas no material “Orientações para projetos com paredes de concreto”, disponível na sala de aula virtual.

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2.5: Outros tipos de lajes em concreto

Conceituação 6: outros tipos de lajes

:
Lajes nervuradas, lajes mistas, lajes pré, lajes entramadas – Fonte: adaptado de:
- Rebello, Yopanan. Bases para projeto estrutural na Arquitetura. São Paulo: Zigurate Editora, 2007;
- Seraphim, José Henrique Costalonga. As estruturas na pratica da Arquitetura, vol. 1. São Paulo: UAM, 1998;
- ABNT NBR 6118:2014.

2.5.1: Lajes nervuradas

Para entendermos o que são lajes nervuradas, vamos primeiramente analisar uma laje maciça, pela figura 2.130.

Figura 2.130 – Representação genérica de uma laje maciça

A laje maciça isolada é apoiada entre duas vigas e sofre flexão. Assim sendo, a compressão está na sua parte
superior, e a tração na sua parte inferior. Como o concreto não suporta esforços elevados de tração, essa peça
precisa ser armada em sua aresta inferior, chegando-se a uma situação parecida com a ilustrada na figura 2.130.
A aresta inferior da laje tem uma armadura espalhada por ela, para vencer a tração ali existente. O concreto da
metade inferior da laje pouco acrescenta em sua resistência, ele na realidade serve mais para envolver as barras de
aço e rotege-las. Assim, pensando nos esforços de uma direção, inicialmente, poderíamos agrupar essas barras e
deixar espaços de concreto mais definidos entre elas, como mostra a figura 2.131.

Figura 2.131 – Representação da laje maciça com a armadura de uma direção agrupada.

Perceba que entre as barras de aço agrupadas na região tracionada da laje, sobra um espaço de concreto que não
tem função estrutural – naquela região, é o aço que combate os esforços solicitantes da peça. Assim, se
envolvermos as barras agrupadas com concreto suficiente para rotege-las e tirarmos o concreto "excedente",
teremos uma laje mais leve, como mostra a figura 2.132.

Figura 2.132 – Laje nervurada, resultante do agrupamento da barras de armadura da laje maciça
e da retirada de concreto da parte tracionada.

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Chegamos assim à laje nervurada! Trata-se de uma laje que funciona como se fosse uma laje maciça, mas é mais
leve, devido aos espaços vazios que foram criados. As partes resultantes de concreto e aço constituem as chamadas
nervuras e os espaços vazios entre as nervuras não têm função estrutural. Por isso, esses espaços podem ser
deixados vazios ou preenchidos com qualquer material inerte, que não interfira no funcionamento da peça, como
mostra a figura 2.133. Esse preenchimento poderia ser feito com blocos de EPS (material conhecido como isopor),
blocos cerâmicos, blocos de concreto leve, etc., e tem a função de tornar plana a superfície inferior da laje (para
permitir o seu acabamento).

Figura 2.133: Laje nervurada preenchida com material inerte em seus vazios.

Agora já podemos entender a definição de lajes nervuradas:

Lajes nervuradas são aquelas cuja zona de tração é constituída


por nervuras, entre as quais pode ser colocado material inerte,
de forma a deixar plana a sua superfície externa.

A laje nervurada pode ser considerada uma extensão da laje maciça. Quando os vãos de lajes maciças chegam
perto de 6 metros, elas começam a ficar antieconômicas. Para vãos pequenos, a laje maciça absorve mais
quantidade de concreto, o que significa um gasto a mais do que nas lajes nervuradas, contudo existe uma facilidade
maior na sua execução, por conta das fôrmas mais simples, o que resulta em um custo total mais baixo. Quando os
vãos aumentam, essa vantagem deixa de existir porque o aumento na quantidade de concreto passa a ser mais
relevante do que a facilidade de execução das fôrmas. Nesse caso, a laje nervurada torna-se interessante e mais
competitiva, porque permite peças mais leves e com menor consumo de concreto, nas quais a zona de compressão
é constituída por concreto (chamado de capeamento) e a zona de tração, por nervuras. A região inerte da laje
reduz o peso da estrutura, permitindo-lhe maiores vãos. Para compensar a perda de rigidez causada pela redução
de massa de concreto, as lajes nervuradas são um pouco mais altas que as maciças. Essas características permitem
à laje nervurada cobrir vãos maiores que os da laje maciça, com excelente comportamento estrutural.

A figura 2.134 mostra genericamente as partes de uma laje nervurada, que serão usadas para se fazer o seu pré-
dimensionamento estrutural. Perceba que a linha neutra, onde os esforços de flexão são nulos, separando a região
comprimida da região tracionada, está dentro do capeamento da laje nervurada. É isso que permite que ela seja
calculada como laje maciça, isso é fundamental para que se entenda a diferença entre lajes nervuradas e grelhas.
Isso também nos permite entender que a laje nervurada não é uma laje sustentada por uma série de vigas
próximas entre si, mas sim uma laje com vazios.

Figura 2.134: Partes constituintes da laje nervurada, em seção transversal.

141
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Uma laje nervurada pode ter suas nervuras em uma ou duas direções, dependendo de sua geometria. Dessa forma,
assim como temos a laje maciça em uma ou duas direções, também temos a laje nervurada em uma ou duas
direções. O que definirá essa classificação é o resultado da divisão de Ly (maior vão da laje em planta) por Lx
(menor vão da laje em planta), conforme as figuras 2.135 e 2.136.

Figura 2.135: Laje nervurada em uma direção – LNUD: as Figura 2.136: Laje nervurada em duas direções – LNDD:
nervuras ficam dispostas no menor vão da laje, que as nervuras ficam dispostas nos dois vãos da laje, que
precisa de duas vigas para o seu apoio. precisa de quatro vigas de borda para o seu apoio.
A LNUD ocorre quando Ly/Lx > 1,6. A LNDD ocorre quando Ly/Lx < 1,6.

A relação Ly/Lx é uma referência, mas não uma condição obrigatória, podendo ocorrer imposições de projeto que
obriguem a concepção estrutural a seguir soluções diferentes. Em alguns casos, pode-se optar por nervuras em
uma única direção por facilidades construtivas, mesmo que não seja respeitada a relação recomendada de Ly/Lx.
Apesar de funcionar em uma única direção, a laje do tipo LNUD precisa de travamentos na direção transversal à
nervura, ou seja, precisa de nervuras longitudinais paralelas à sua maior dimensão, conforme a figura 2.137.

Recomendações para nervuras de travamento em lajes


nervuradas em uma direção:
 Se Lx > 4 m: uma nervura longitudinal
 Se Lx > 6 m: duas nervuras longitudinais
 Se houver uma carga concentrada sobre a
laje (por exemplo, uma parede), colocar
uma nervura sob a carga.
As nervuras de travamento permitem uma melhor
Figura 2.137: Laje nervurada em uma direção com
distribuição das cargas sobre as nervuras transversais.
nervura transversal de travamento.

A laje funcionará como laje nervurada se as suas dimensões estiverem dentro dos limites estabelecidos por norma.
Por isso, o seu pré-dimensionamento precisa atender a alguns valores e chegar ao resultado para as medidas "d",
"b0", "h", "e" mostradas na figura 2.134, a partir das seguintes referências:
Lx = menor vão da laje, em planta;
Ly = maior vão da laje, em planta;
LNUD (laje nervurada em uma direção): recomendada para casos onde Ly/Lx > 1,6;
LNDD (laje nervurada em duas direções): recomendada para casos onde Ly/Lx < 1,6;
d = distância entre as faces de nervuras;
b0 = largura das nervuras;
e = altura do capeamento.
A distância "d" entre as nervuras normalmente é definida pelo método construtivo, enchimento eventualmente
utilizado ou imposições arquitetônicas. Quanto mais próximas estiverem as nervuras entre si, maior será a rigidez

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Universidade Federal do Paraná – Arquitetura e Urbanismo – TA130: Estruturas de Concreto Armado / rev.1.5 - 2023
da laje – isso significa que numa possibilidade de se escolher o valor de "d", um valor maior seria mais apropriado
para cargas pequenas e um valor menor, para cargas maiores, que exigem um melhor comportamento da laje.

Pré-dimensionamento de lajes nervuradas


d: entre 50 e 100 cm (podendo chegar a 110 cm)
e = d/15, com emín = 4 cm
h / 5 < b0 < h/4, com b0mín = 5 cm
h: depende do tipo de laje:
Para LNUD: Lx / 30 < h < Lx / 25
Para LNDD: h = 3% (Lx + Ly ) / 2
(ou 3% do vão médio)

A figura 2.134 nos permite entender que a laje nervurada é mais lógica para momentos positivos, nos quais ocorre
a compressão na parte superior da peça fletida (vencida pelo concreto que está nessa região) e a tração na sua
parte inferior (vencida pelo aço que está nessa região). Não haveria coerência de se usar essa mesma peça para
vencer esforços negativos, porque nesse caso poderia faltar concreto na região comprimida da peça, que seria a
sua metade inferior, e sobrar concreto / faltar aço na região tracionada, que seria a sua metade superior. Como
apoios de peças contínuas geram momentos negativos, não se usa a laje nervurada para a constituição de lajes
contínuas. No caso de balanços, eles podem ser usados com cuidado, somente para balanços pequenos, que não
geram um momento negativo muito elevado na laje. Por isso, os balanços de lajes nervuradas costumam se limitar
a 20% do seu vão, sem alteração nas dimensões das nervuras. A figura 2.138 mostra como deveria ser a seção
transversal de uma laje nervurada para vencer momentos negativos, tendo o capeamento na sua aresta inferior, e
as nervuras na aresta superior, onde estão os esforços de tração. Como essa seção seria inviável construtivamente,
em grande parte dos casos, um caminho coerente é a criação de uma laje caixão perdido, com dois capeamentos,
um inferior e outro superior, também ilustrada nesta figura.

Figura 2.138: Soluções possíveis de laje nervurada para vencer esforços negativos. A laje nervurada dupla é
também chamada de "caixão perdido", por conta do processo executivo dos vazios, com fôrmas de madeira que
ficam na peça após a sua concretagem.

Por conta da limitação de uso das lajes nervuradas em relação ao momentos negativos, deve ser evitada a
continuidade das suas nervuras, quando diferentes paineis de laje forem necessários lado a lado. A continuidade
pode ser evitada a partir de uma distribuição bem planejada das nervuras, conforme mostram as figuras 2.139 e
2.140.

143
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Figura 2.139: Duas lajes nervuradas em uma direção, lado Figura 2.140: Quatro lajes nervuradas em uma direção,
a lado, com nervuras desencontradas propositalmente, com nervuras em direções diferentes, para evitar o
para evitar o aparecimento de continuidade da laje na aparecimento de continuidade da laje na região das
região das nervuras. Fonte: adaptado de Rebello, Y. Bases nervuras. Fonte: adaptado de Rebello, Y. Bases para
para projeto estrutural na Arquitetura. São Paulo: projeto estrutural na Arquitetura. São Paulo: Zigurate
Zigurate Editora, 2007. Editora, 2007.

A situação ilustrada na figura 2.140 pode ser observada numa situação real, mostrada na figura 2.141, onde foram
usadas lajes nervuradas com nervuras em direções diferentes em cada painel de laje.

Figura 2.141: Lajes nervuradas em uma direção, com nervuras aparentes e desencontradas
entre si, em cada painel de laje. Fonte: desconhecida.

2.5.1.1: Cargas atuantes nas lajes nervuradas

Assim como nas lajes maciças, chamaremos a carga atuante numa laje (por m²) de “pk”. As principais cargas
atuantes nas lajes nervuradas serão:

144
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𝐩𝐤 = 𝐩𝐩𝐜𝐚𝐩𝐞𝐚𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨 + 𝐩𝐩𝐧𝐞𝐫𝐯𝐮𝐫𝐚 + 𝐫𝐞𝐯𝐞𝐬𝐭𝐢𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨𝐢𝐧𝐟. + 𝐫𝐞𝐯𝐞𝐬𝐭𝐢𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨𝐬𝐮𝐩. + 𝐞𝐧𝐜𝐡𝐢𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨 + 𝐬𝐨𝐛𝐫𝐞𝐜𝐚𝐫𝐠𝐚

Os valores de cada carga podem ser definidos por:

a) Peso próprio do capeamento:


ppcapeamento = e ∙ γc, sendo γc o peso específico do concreto armado

b) Peso próprio da nervura:


Para lajes do tipo LNUD:
b0 ∙ h − e ∙ γc
ppnervura =
d'

Para lajes do tipo LNDD com espaçamentos e espessuras de nervuras iguais nas duas
direções:
b0∙ h−e ∙γc
ppnervura = d'
∙2

Para lajes do tipo LNDD com espaçamentos e espessuras de nervuras diferentes nas duas
direções:
b0x ∙ h − e ∙ γc b0y ∙ h − e ∙ γc
ppnervura = + ,
dy' dx'
sendo dx' a distância entre eixos de nervuras na direção c e dy' a distância entre
eixos de nervuras na direção y; b0x a largura das nervuras na direção x e b0y a
largura das nervuras na direção y.

c) Enchimento
d∙ h−e ∙γench
ppenchimento = d'
, sendo γench o peso específico do enchimento

d) Revestimento inferior: conforme material adotado para o forro da laje, inferiormente

e) Revestimento superior: conforme material adotado para o piso sobre a laje

f) Sobrecarga: conforme norma NBR 6120:2019 - Ações para o cálculo de estruturas de


edificações.

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Figura 2.142: Uso da laje nervurada em uma direção, com nervuras de travamento na direção transversal
às nervuras estruturais, aparentes. Fonte: http://lichia.arq.br

Figura 2.143: Uso da laje nervurada em duas direções, com nervuras aparentes.
Fonte: www.atex.com.br.

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O que diz a norma NBR 6118:2014 (Projeto de estruturas de concreto – procedimento)
sobre as lajes nervuradas?
(Os principais itens, no que se trata de projeto arquitetônico, estão destacados)

 Lajes nervuradas são as lajes moldadas no local ou com nervuras pré-moldadas, cuja
zona de tração para momentos positivos esteja localizada nas nervuras entre as quais
pode ser colocado material inerte.
 A espessura da mesa, quando não existirem tubulações horizontais embutidas, deve ser
maior ou igual a 1/15 da distância entre as faces das nervuras (lo) e não menor que 4
cm. O valor mínimo absoluto da espessura da mesa deve ser 5 cm, quando existirem
tubulações embutidas de diâmetro menor ou igual a 10 mm. Para tubulações com
diâmetro Φ maior que 10 mm, a mesa deve ter a espessura mínima de 4 cm + Φ, ou 4 cm
+ 2Φ no caso de haver cruzamento destas tubulações.
 A espessura das nervuras não pode ser inferior a 5 cm. Nervuras com espessura menor
que 8 cm não podem conter armadura de compressão.
 As lajes nervuradas unidirecionais devem ser calculadas segundo a direção das nervuras,
desprezadas a rigidez transversal e a rigidez à torção. As lajes nervuradas bidirecionais
(conforme ABNT NBR 14859-2) podem ser calculadas, para efeito de esforços solicitantes,
como lajes maciças.
 Para o projeto das lajes nervuradas, devem ser obedecidas as seguintes condições:
a) para lajes com espaçamento entre eixos de nervuras menor ou igual a 65 cm, pode ser
dispensada a verificação da flexão da mesa, e para a verificação do cisalhamento da região
das nervuras, permite-se a consideração dos critérios de laje;
b) para lajes com espaçamento entre eixos de nervuras entre 65 cm e 110 cm, exige-se a
verificação da flexão da mesa, e as nervuras devem ser verificadas ao cisalhamento como
vigas; permite-se essa verificação como lajes se o espaçamento entre eixos de nervuras for
até 90 cm e a largura média das nervuras for maior que 12 cm;
c) para lajes nervuradas com espaçamento entre eixos de nervuras maior que 110 cm, a
mesa deve ser projetada como laje maciça, apoiada na grelha de vigas, respeitando-se
os seus limites mínimos de espessura.

A continuidade desta conceituação se baseia no trecho grifado no texto acima, reproduzido da NBR 6118-2014.
Quando as nervuras estiverem distanciadas entre si com mais do que 110 cm, elas serão constituirão uma grelha de
vigas, que servirá de apoio para uma laje maciça, ou seja, não serão mais consideradas como uma laje maciça com
vazios ou espaços inertes, como é a laje nervurada.

147
Universidade Federal do Paraná – Arquitetura e Urbanismo – TA130: Estruturas de Concreto Armado / rev.1.5 - 2023
2.5.2: Lajes em grelha ou lajes entramadas

Quando se tem lajes nervuradas com a distância entre nervuras maior do que 100 ou 110 cm, o comportamento da
laje afasta-se do comportamento de lajes maciças e o seu cálculo deve ser feito como grelhas, ou seja, lajes em
grelha. As grelhas são estruturas formadas por vigas em pelo menos duas direções diferentes que se entrelaçam,
formando um reticulado plano. As vigas funcionam juntamente, cada uma servindo de apoio para outras, ou seja,
nos pontos de cruzamento entre elas, algumas vigas são aliviadas e outras, sobrecarregadas. Quando uma carga é
aplicada sobre a grelha, o seu efeito é transmitido para todas as suas vigas, provocando deformações de translação
e de rotação e esforços de flexão e torção – a flexão em uma nervura provoca torção em outra, transversal à ela. O
efeito é máximo ocorre no ponto de aplicação da carga e vai diminuindo à medida que se afasta desse ponto. O
ponto de cruzamento entre as vigas se constitui em um apoio elástico – as vigas apoiam-se umas sobre as outras,
formando um sistema hiperestático. As vigas da grelha se assemelham a uma viga contínua, sobre vários apoios,
sendo os intermediários constituídos pelo cruzamento entre elas, que não é rígido, e os extremos, pela viga de
borda.
As grelhas podem ser constituídas por nervuras paralelas às vigas de borda (opção menos rígida de todas),
conforme a figura 2.144. Podem também ser dispostas com qualquer ângulo em relação às vigas de borda, sendo
45º o mais comum – isso aumenta a rigidez da laje à flexão e à torção, conforme a figura 2.145. Podem também ser
dispostas em 3 ou mais direções (o que aumenta ainda mais a rigidez da laje), conforme a figura 2.416. Quanto
mais rígida for uma grelha, menos ela se deformará, podendo suportar maiores vãos.

Figura 2.144: Grelha ortogonal vista em planta. Figura 2.145: Grelha a 45° vista em planta, com vigas de
Perceba que a grelha precisa de apoio em todas as suas vigas de borda em todo o seu contorno.
bordas, ou seja, são necessárias vigas de borda em todo
o seu contorno.

Figura 2.146: Grelha em três direções vista em planta.

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Universidade Federal do Paraná – Arquitetura e Urbanismo – TA130: Estruturas de Concreto Armado / rev.1.5 - 2023
Figura 2.147: Partes constituintes da grelha, em seção transversal.

A grelha tem a sua linha neutra fora da região de capeamento, o que impossibilita que ela seja calculada como uma
laje maciça contínua. O seu pré-dimensionamento precisa apresentar o resultado para as medidas "d", "b0", "h",
"e" da figura 2.147, a partir das seguintes referências:
Lx = menor vão da laje, em planta;
Ly = maior vão da laje, em planta, sendo Ly/Lx < 1,6
d = distância entre nervuras;
b0 = largura das nervuras;
e = altura do capeamento.
A distância "d" entre as nervuras é maior do que 100 cm. Quanto mais próximas estiverem as nervuras entre si,
maior será a rigidez da laje.

Pré-dimensionamento de grelhas
Ly/Lx < 1,6
d: maior que 100 cm
1,5 h < d < 2,0 h
e = d/20, com emín = 5 cm
h / 5 < b0 < h / 4, com b0mín = 8 cm
h = 4% (Lx + Ly ) / 2 (ou 4% do vão médio)

Muitas vezes, deseja-se que as vigas de borda de uma grelha tenham a mesma altura que a própria grelha. Nesse
caso, podem ser adotados um dos seguintes caminhos:
a) Alterar a seção transversal da viga de borda, deixando-a mais larga e mais baixa, porém
apresentando o mesmo módulo resistente da sua seção originalmente pré-dimensionada,
conforme figura 2.148. Para isso, parte-se do cálculo do módulo resistente de uma seção
transversal, vindo da Resistência dos Materiais.
B ∙ H2
Para uma seção retangular de base B e altura H, o módulo resistente (W) vale: W = 6
Considerando que a viga originalmente pré-dimensionada tem altura H e largura B e que a nova
viga, mais chata e mais larga, terá altura H1 e largura B1, igualamos os módulos resistentes dessas
vigas:
B ∙ H2 B1 ∙ H12
=
6 6
Impondo nessa relação a altura desejada à nova viga (H1 = h = altura das nervuras), chegamos a
uma fórmula para o cálculo da sua largura equivalente:

B ∙ H2
B1 =
H12

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Universidade Federal do Paraná – Arquitetura e Urbanismo – TA130: Estruturas de Concreto Armado / rev.1.5 - 2023
Figura 2.148: Alteração na seção transversal da viga de borda, para que ela tenha a mesma altura da grelha.

b) A partir da altura “h” calculada para a grelha, considerar a mesma altura para suas vigas de
borda e calcular o seu vão limite que permita a relação H = 12% L. Como as vigas que apoiam
uma grelha costumam ser bastante solicitadas, a sua altura é normalmente maior do que no
caso de vigas sob lajes maciças.
Por exemplo, para uma grelha quadrada de lados 20 m, sua altura será igual a 4% de 20, ou seja,
80 cm. Assim, a altura das vigas de borda será a mesma e teremos, para elas:
H = 12% L, ou seja, L = H/0,12 = 80/0,12 = 6,67 m
Assim, sabemos que para as vigas de borda terem a mesma altura da grelha, o seu vão máximo
deverá ser de 6,7 m. Veja na figura 2.149 a representação gráfica desse exemplo.

Figura 2.149: Comparação de grelha quadrada com lado 20 m e altura 80 cm, apoiada em vigas de borda, com as
seguintes situações: a) pilares só nas pontas das vigas, gerando vigas de altura 2 m; b) pilares nas pontas e no meio
do vão das vigas, gerando vigas com altura de 1 m; c) pilares a cada 6,7 m, gerando vigas com a mesma altura da
grelha, ou seja, 80 cm.

Grelhas são estruturas normalmente aplicadas na a cobertura de grandes vãos, comumente usadas em clubes,
bancos, restaurantes, cinemas, teatros, escolas, pontes, viadutos, etc. Elas normalmente adaptam-se bem a
espaços irregulares, porém tornam-se mais econômicas quando seus vãos tendem para o quadrado, uma vez que
apresentam nervuras nas duas direções e ambas são executadas com a mesma altura e normalmente com a mesma
espessura. O espaçamento entre as nervuras de cada direção é definido a partir da geometria da grelha em planta.

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Universidade Federal do Paraná – Arquitetura e Urbanismo – TA130: Estruturas de Concreto Armado / rev.1.5 - 2023
Figura 2.150: Exemplo de aplicação de grelha em concreto armado. Local: Centro de Referência em educação
ambiental, no Parque Villa Lobos, em São Paulo – SP. Projeto arquitetônico: Arq. Decio Tozzi. Fonte: adaptado de
https://www.galeriadaarquitetura.com.br/projeto/decio-tozzi_/centro-de-referencia-em-educacao-
ambiental/1179. Como as grelhas são calculadas como vigas entramadas entre si, elas não precisam
necessariamente do capeamento superior de concreto, podendo ser constituídas somente por nervuras. É muito
comum o aproveitamento dessa característica para o uso de iluminação zenital através dos espaços vazios.

2.5.2.1: Cargas atuantes nas grelhas


Assim como nas lajes maciças e nas lajes nervuradas, chamaremos a carga atuante numa laje (por m²) de “pk”. As
principais cargas atuantes nas lajes em grelha serão:

𝐩𝐤 = 𝐩𝐩𝐥𝐚𝐣𝐞 + 𝐩𝐩𝐧𝐞𝐫𝐯𝐮𝐫𝐚 + 𝐫𝐞𝐯𝐞𝐬𝐭𝐢𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨𝐬𝐮𝐩. + 𝐬𝐨𝐛𝐫𝐞𝐜𝐚𝐫𝐠𝐚

Os valores de cada carga podem ser definidos por:

a) Peso próprio da laje (se houver):


ppcapeamento = e ∙ γc, sendo γc o peso específico do concreto armado

b) Peso próprio da nervura:


b0x ∙ h − e ∙ γc b0y ∙ h − e ∙ γc
ppnervura = + ,
dy' dx'
sendo dx' a distância entre eixos de nervuras na direção c e dy' a distância entre
eixos de nervuras na direção y; b0x a largura das nervuras na direção x e b0y a
largura das nervuras na direção y.

c) Revestimento superior: conforme material adotado para o piso sobre a laje

d) Sobrecarga: conforme norma NBR 6210.

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Figura 2.151: Grelha de cobertura do prédio da FAU-USP. Projeto arquitetônico: Arq. João Batista Vilanova Artigas,
1966. Fonte https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/a/ad/Vista_interna_da_FAU-USP.jpg, Autor:
Matheus Carvalho Teixeira / CC BY-AS (https://creativecommons.org/licenses/by-as/4.0)

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Aulas gravadas do item 2.5

Assista às aulas 1 e 2 disponíveis pelos links a seguir, sobre lajes nervuradas, lajes grelhas, lajes lisas, lajes pré-
fabricadas.

Lajes nervuradas e lajes em Lajes pré-fabricadas e lajes lisas:


grelha:
https://ufprvirtual.ufpr.br/mod/fold
https://ufprvirtual.ufpr.br/mod/f er/view.php?id=334924
older/view.php?id=334922

Leitura complementar: lajes sustentáveis

A empresa Atex é uma das fabricantes de formas para lajes nervuradas no Brasil. Ela desenvolveu um material
defendendo as lajes nervuradas como sendo uma solução estrutural sustentável, no qual constam informações
bem interessantes sobre o uso de estruturas de concreto. O arquivo, representado na figura 2.152, está disponível
na sala de aula virtual . Procure por “Cartaz da Atex sobre lajes nervuradas e sustentabilidade”.

Figura 2.152: Infográfico Atex sobre a sustentabilidade de lajes nervuradas em concreto.


Fonte: https://www.atex.com.br/blog/

153
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Vamos exercitar? Lajes de diferentes tipos

Acesse o pdf “Vamos-exercitar?” desta seção e procure acompanhar o exercício resolvido de


lançamento e pré-dimensionamento de lajes maciças, nervuradas e grelhas. Esse exercício retrata
bem a aplicação da concepção estrutural desses tipos de laje dentro do projeto arquitetônico.
Resolva o exercício proposto 2, do mesmo arquivo, para treinar essa atividade. No caso de
dúvidas, poste-a no Espaço para Dúvidas, para esclarecermos tudo. Na resolução no exercício,
você não precisa calcular os pesos de concreto das peças estruturais, somente fazer os pré-
dimensionamentos das diferentes lajes propostas. 120 minutos

Vídeos e questões propostas

Vídeo: Laje de isopor em balanço: explica o porquê não se pode usar lajes de isopor em
balanços. Conceito bastante importante para a estabilidade das construções.

https://www.youtube.com/watch?v=Zp_hf8kZpDc

Você sabia?

As lajes nervuradas são comumente


construídas com cubetas plásticas, que
são fôrmas cujo formato é tronco-
piramidal, com os cantos
arredondados. O formato dessas
cubetas se assemelha ao formato de
uma embalagem do conhecido leite
fermentado da marca Danoninho. Por
esse motivo, a laje nervurada é
popularmente conhecida por alguns
pelo nome “laje danoninho”.
Você sabe o que é um aparelho de apoio? Os aparelhos de apoio
É uma peça que faz a vinculação entre duas podem ser usados para
peças estruturais, por exemplo um pilar e evitar o uso de juntas de
uma viga. O pilar não pode sofrer esforços dilatação em peças longas.
horizontais, ele suporta somente esforços A NBR6118:2014 (24.4) diz
verticais, centralizados ou não. Por isso, em que deve existir uma junta
casos como vigas de pontes, nos quais a cada 15 m nas
existem esforços horizontais elevados nas construções de concreto,
vigas, são usados aparelhos de apoio entre devido aos movimentos de
vigas e pilares, para absorver esforços Aparelhos de apoio elastoméricos entre dilatação e retração
horizontais das vigas e não deixar que eles viga e pilar. Fonte: causados pelas variações
cheguem aos pilares. https://www.neoprexmaurer.com.br. de temperatura.

154
Universidade Federal do Paraná – Arquitetura e Urbanismo – TA130: Estruturas de Concreto Armado / rev.1.5 - 2023
Figura 2.153: Laje nervurada do tipo “Laje Solar”, em ambiente residencial.
Fonte: https://www.lajesolar.com/projetos

Figura 2.154: Laje nervurada do tipo “Laje Solar”, em ambiente comercial.


Fonte: https://www.lajesolar.com/projetos

155
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2.6: Planta de fôrmas

Planta de fôrmas - Fontes: adaptado de:


- Alva, Gerson Moacyr Sisniegas. Desenhos de formas estruturais em edifícios de concreto armado. Santa Maria: UFSM, 2007.
- Rebello, Yopanan. Bases para projeto estrutural na Arquitetura. São Paulo: Zigurate Editora, 2007;
- Seraphim, José Henrique Costalonga. As estruturas na pratica da Arquitetura, vol. 1. São Paulo: UAM, 1998;
- ABNT NBR 7191 – 1982 : Execução de desenhos para obras de concreto simples ou armado.

Conceituação 7 – planta de fôrmas

A solução estrutural escolhida para uma edificação deve ser representada em um desenho executivo chamado
“planta de fôrmas”. Esse desenho permitirá aos carpinteiros a execução das fôrmas necessárias para a construção
dos elementos estruturais em concreto, que constarem no projeto.
A planta de fôrmas é um desenho simples, que visualmente é parecido com a planta arquitetônica. Contudo,
enquanto a planta arquitetônica mostra a dimensão final das peças (com revestimentos), a planta de fôrmas
mostra a medida construtiva real de cada peça de concreto armado. Então, se por exemplo uma planta
arquitetônica indicar um pilar com seção transversal de 30 x 30 cm, acabado, a planta de fôrmas indicará o mesmo
pilar sem considerar a espessura do seu acabamento, com por exemplo 25 cm x 25 cm.
O desenho de fôrmas deve ser feito com muito cuidado e atenção aos detalhes, porque quaisquer falhas nele
apresentadas podem refletir diretamente na execução incorreta da estrutura. A figura 2.155 mostra isso através de
um exemplo de projeto arquitetônico, no qual duas vigas que se cruzam têm alturas diferentes. Veja nas ilustrações
inferiores dessa imagem como seriam as fôrmas para vigas se elas tivessem a mesma altura (à esquerda) e como
seriam as fôrmas para vigas de alturas diferentes entre si. A planta de fôrmas possibilitará ao construtor detectar
esse tipo de detalhe na fabricação das fôrmas.

Figura 2.155: Planta arquitetônica mostrando vigas se cruzando e possibilidades de fôrmas


a serem executadas para a sua construção, com alturas iguais e diferentes entre duas vigas. Fonte: Rebello,
Yopanan. Bases para projeto estrutural na Arquitetura. São Paulo: Zigurate Editora, 2007.

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Universidade Federal do Paraná – Arquitetura e Urbanismo – TA130: Estruturas de Concreto Armado / rev.1.5 - 2023
O desenho de fôrmas é composto
basicamente por uma planta da
estrutura que sustenta cada
pavimento da edificação, mostrando
o conjunto de pilares, vigas e lajes
num mesmo desenho, e de quantos
cortes forem necessários para uma
representação adequada e clara dos
elementos estruturais a serem
construídos em concreto. A figura
2.156 mostra um exemplo de edifício
e aponta os desenhos de fôrma que
devem ser feitos para esse caso.

Figura 2.156: Indicação de desenhos


de fôrmas para um edifício de
múltiplos andares.
Fonte: Alva, Gerson Moacyr Sisniegas.
Desenhos de formas estruturais em
edifícios de concreto armado.
Santa Maria: UFSM, 2007.

O nível de detalhamento de uma planta de fôrmas depende da complexidade de execução das peças ilustradas. A
figura 2.157 mostra uma planta de fôrmas simples, pela qual podemos perceber que todos os elementos
estruturais são identificados e numerados e a sua numeração se dá da esquerda para a direita e de cima para baixo.
De acordo com a norma ABNT NBR 7191:1982, ainda válida atualmente, as peças de concreto da planta de fôrmas
devem ser designadas pelos seguintes símbolos, seguidos do seu número de ordem:
 Lajes: L
 Vigas: V
 Pilares: P
 Tirantes: T
 Diagonais: D
 Sapatas (fundações): S
 Blocos: B
 Paredes (de concreto): PAR
A mesma norma também diz: "Toda peça, elemento ou detalhe da estrutura deve ficar perfeitamente e definido
nos desenhos de formas, por suas dimensões e por sua locação e posição em relação a eixos, divisas, testadas ou
linhas de referência relevantes."

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Figura 2.157: Planta de fôrmas, mostrando em destaque representações de vigas em seção transversal desenhadas
sobre a planta. Perceba que todos os elementos estruturais têm suas dimensões identificadas.
Fonte: Alva, G. M. S., 2007.

A identificação das dimensões dos elementos estruturais da planta de fôrmas é fundamental para que os
responsáveis pela execução das fôrmas tenham certeza das suas medidas.
Sobre as vigas, a NBR 7191:1982 diz: "A numeração de vigas será feita para as dispostas horizontalmente no
desenho, partindo-se do canto superior e prosseguindo-se por alinhamentos sucessivos, até atingir o canto inferior
direito; para as vigas dispostas verticalmente, partindo-se do canto inferior esquerdo, para cima, por fileiras
sucessivas, sucessivas, até atingir o canto superior direito. Convenciona-se considerar como dispostas
horizontalmente no desenho as vigas cuja inclinação com a horizontal variar de 0 a 45°, inclusive". E ainda: "Junto
da designação de cada viga, deverão ser indicadas por dimensões: b x d".
Vigas são representadas em planta como se fossem vistas de baixo para cima e o seu desenho tem um diferencial:
elas podem ser representadas em seção transversal no próprio desenho - isso é opcional, desde que não se
prejudique a clareza do desenho. Os destaques em amarelo da figura 2.157 mostram cortes de vigas sobre a planta.
Perceba que o sentido de leitura desses cortes é o mesmo que se faz para a leitura dos textos do desenho. Assim,
se lemos a V5 de baixo para cima, interpretamos o desenho das seções transversais de V1, V2 e V3 da mesma
maneira, ou seja, elas são vigas sob lajes, isso é, não há lajes rebaixadas nessas vigas. Além disso, a representação
das vigas em planta é feita com linhas cheias para arestas visíveis e linhas tracejadas para arestas invisíveis, como
mostra a figura 2.158. E na sua identificação, devem ser escritas largura e altura da sua seção transversal.

Figura 2.158: Representação de uma viga invertida (ou seja, a laje fica na parte inferior da viga), com linhas
tracejadas para arestas invisíveis (vendo a viga de baixo para cima) e linhas cheias para arestas visíveis.
Fonte: Alva, G. M. S. , 2007.

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Sobre pilares, a NBR 7191:1982 diz: "A numeração dos pilares e tirantes será feita, tanto quanto possível, partindo
do canto superior esquerdo do desenho para a direita, em linhas sucessivas. As dimensões poderão ser
simplesmente inscritas ao lado de cada pilar, indicando-se todavia em planta, quando necessário para evitar
confusão, pelo menos uma das dimensões."
Para possibilitar a correta execução de fôrmas, a planta de fôrmas deve apresentar legendas que identifiquem
pilares que nascem que continuam ou que morrem no piso representado no desenho. Normalmente, são usadas
diferentes hachuras para se fazer essa diferenciação, como ilustrado na figura 2.159.

Figura 2.159: Detalhes de uma planta de fôrmas, mostrando a legenda usada


para representar a situação de cada pilar inserido em uma planta de fôrmas.
Fonte: Alva, G. M. S. , 2007.

Ao se definir vigas e pilares, as lajes ficam praticamente definidas. Contudo, é necessário cuidado especial ao se
representar rebaixos, elevações ou aberturas nessas peças. Os cortes das vigas mostram situações de rebaixos ou
elevações, como por exemplo, no corte da V5, na figura 2.160.

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Figura 2.160: Exemplo de representação de laje rebaixada – a laje L2 está rebaixada 250cm em relação ao nível das
outras lajes. Fonte: Alva, G. M. S. , 2007.

A NBR 7191:1982 diz: "A numeração das lajes será feita, tanto quanto possível, a começar do canto esquerdo
superior do desenho, prosseguindo para a direita, sempre em linhas sucessivas, de modo a facilitar a localização de
cada laje." E ainda: "As espessuras das lajes serão obrigatoriamente indicadas, em cada laje."
As aberturas em lajes são representadas por linhas que ligam os vértices da abertura, configurando um "X",
conforme figura 2.161.

Figura 2.161: Exemplo de representação de abertura em laje. Fonte: Alva, G. M. S. , 2007.

A figura 2.162 é um desenho de fôrmas que mostra esses detalhes e também outras informações igualmente
necessárias a esse desenho: a resistência do concreto (fck) e as sobrecargas consideradas no cálculo estrutural.
Aproveite essa figura para reparar nos seguintes elementos:
 Sobre a planta, são desenhadas, nas vigas, seções transversais mostrando sua posição em relação às lajes
 São indicados os pilares que chegam, passam ou nascem no pavimento em questão
 Todas as peças têm suas dimensões indicadas
 A planta é totalmente cotada, para possibilitar a sua execução perfeita.
 São indicadas a resistência à compressão do concreto e a sobrecarga usada nos cálculos.

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Figura 2.162: Planta de fôrmas. Fonte: Rebello, Yopanan Conrado Pereira. Bases para projeto estrutural na
arquitetura. São Paulo: Zigurate Editora, 2007.

Espaço para dúvidas

O assunto "planta de fôrmas" é simples, mas sempre gera dúvidas. Pesquise na internet por "plantas de fôrmas" ou
"desenhos de fôrmas" e procure entender as informações contidas nos diferentes desenhos encontrados.

No caso de dúvidas, poste o desenho e suas perguntas sobre ele no Espaço para Dúvidas da sala de aula virtual. Ali,
você pode postar textos, links, comentários e conferir o que os colegas estão falando sobre a disciplina.

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Leitura complementar: vigas de transição

O que você sabe sobre vigas de transição? Quando você pode, de fato, usá-las em um projeto? Ao ser perguntado*
sobre a sua opinião a respeito de vigas de transição, o Eng. Adolpho Polillo, respeitado engenheiro de estruturas
brasileiro, propôs a seguinte questão: "Vigas de transição: para que usar, sem necessidade?"
O uso de vigas de transição é, em alguns casos, necessário. Mas existem casos em que elas poderiam ser evitadas,
com algumas alterações no projeto arquitetônico. Essas vigas costumam ser perigosas, porque normalmente
recebem uma solicitação elevada e respondem, assim, a um apoio imprescindível e bastante delicado à estrutura.
Por sua importância, elas precisam de um alto controle de qualidade em sua execução e manutenção, uma vez que
qualquer falha no seu comportamento previsto em projeto pode resultar em acidentes catastróficos. Você pode ler
um pouco mais sobre esse assunto em artigo disponível na sala de aula virtual.
* III ENEEEA, Ouro Preto, 2017.

Você sabia?

Teste seus conhecimentos (para frequência no curso)

Acesse o quizz de encerramento do módulo, na sala de aula virtual, e teste seus conhecimentos. O quizz é baseado
em conteúdos e questões propostas apresentados ao longo dos módulos 1 e 2 e serve somente para você se auto-
testar. Você pode fazer o teste quantas vezes quiser, dentro de um período de uma hora no total. A cada nova
tentativa, serão sorteadas novas questões.

Além do quizz, seguem algumas questões abertas para despertar o seu raciocínio sobre o conteúdo visto até aqui.
Procure respondê-las antes de ler as respostas ou os comentários sobre cada uma.

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Perguntas e respostas / comentários sobre estruturas de concreto
Pergunta Resposta ou comentário a respeito
1. O que é melhor O "melhor" em um sistema estrutural sempre depende de cada caso. No geral, cabe ao arquiteto
para um definir o que é melhor para oferecer ao seu cliente, conforme os requisitos de segurança,
sistema materiais, economia, durabilidade, rapidez de execução, etc., estabelecidos para o
estrutural: um desenvolvimento do projeto.
pórtico (pilares Um pórtico resulta em vigas mais baixas do que as vigas simplesmente apoiadas de vão igual,
e vigas porque no pórtico elas são engastadas e a presença do consequente momento negativo, faz com
engastados que o momento positivo seja menor. Contudo, simultaneamente a isso, ocorre um esforço de
entre si) ou flexão maior no pilar, que precisa ter sua seção transversal aumentada.
ligações O pórtico tem a vantagem de absorver esforços horizontais, o que não ocorre na viga biarticulada.
articuladas Contudo, a viga articulada permite a movimentação da peça perante retrações e dilatações, o que
entre pilares e não ocorre no pórtico.
vigas? Por que? A viga biarticulada é bem mais fácil de ser executada do que a viga aporticada, devido ao fato da
sua armadura ser mais simples.
Cada solução apresenta naturalmente vantagens e desvantagens, que devem ser conhecidas e
avaliadas pelo arquiteto, nas definições do sistema estrutural.
2. Cite e comente A altura da viga é definida tanto pelo seu momento fletor (que está relacionado ao comprimento
fatores que do vão, ao comprimento de eventuais balanços e à carga total sobre a viga), como ao seu momento
definem a de inércia (que está relacionado ao formato da seção transversal da viga). O fato do pré-
altura de uma dimensionamento da viga considerar a altura como proporcional ao vão é devido ao momento
viga. fletor, cujo cálculo depende diretamente do vão e da carga. Mas esse dimensionamento parte do
pressuposto que as seções são maciças e retangulares e que as cargas são distribuídas ou não
muito elevadas, se concentradas. No caso de vigas de transição ou do uso de uma seção vazada
e/ou protendida, como ocorre com as vigas do MASP, por exemplo, o critério de porcentagem do
vão para a determinação da altura não funciona.

3. Qual a O momento fletor é fator chave para a definição do sistema estrutural e da sua interferência visual
importância do no projeto arquitetônico. É ele que direciona o uso de uma viga maciça ou vazada, vierendeel,
momento fletor treliçada, vagonada, etc. Conhecer o momento fletor é fundamental ao bom projetista
em projetos arquitetônico, que busca soluções desenvolvidas com economia e técnicas apropriadas.
arquitetônicos?
4. O que é melhor, Essa questão, você responderá. Veja as ilustrações abaixo, dos edifícios da Procuradoria Geral da
uma estrutura República, em Brasília, e compare as duas soluções, tentando entender vantagens e desvantagens
apoiada ou uma em cada caso.
estrutura
atirantada?

Figura 2.163: Procuradoria Geral da República, em Brasília – DF. Projeto arquitetônico: Oscar
Niemeyer, projeto estrutural: José Carlos Sussekind, projeto em 1996m, execução em2002.
Perceba que o edifício que aparece à esquerda da foto (bloco "A") está atirantado e o edifício da
direita (bloco "B"),está totalmente apoiado em sua base. Fonte: Galimi, Stefano. Equilíbrio
estrutural e arquitetônico na obra de Oscar Niemeyer, disponível em
https://repositorio.unb.br/handle/10482/22987?mode=full.

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Figura 2.164: Esquemas do caminho das forças nos edifícios da Procuradoria Geral da República,
em Brasília – DF. Projeto arquitetônico: Oscar Niemeyer, projeto estrutural: José Carlos Sussekind,
projeto em 1996m, execução em2002. Fonte: Galimi, Stefano. Equilíbrio estrutural e arquitetônico
na obra de Oscar Niemeyer, disponível em
https://repositorio.unb.br/handle/10482/22987?mode=full.

O "bloco A" foi feito com um único pilar (núcleo rígido), sobre o qual se apoiam vigas
protendidas radiais de 6 metros de altura, que atirantam o edifício todo. Como resultado, tem-
se a área inferior ao prédio livre da presença dos pilares. Já o prédio da direita mostra uma
edificação convencional, com vigas e pilares desde o seu nível mais inferior, e sem a presença
das grandes vigas na sua parte superior. No caso da estrutura atirantada, o caminho de forças
leva as cargas até sua estrutura de apoio, que fica na cobertura, antes delas serem
encaminhadas às fundações, pelo pilar único. No caso da estrutura apoiada, o caminho de
forças leva as cargas até as fundações diretamente. O que é melhor? O que é mais seguro? O
que é mais confortável? O que é mais acessível? O que é mais econômico? O que é mais
recomendado, estaticamente? E esteticamente, na sua opinião?

5. É melhor uma O que você acha melhor: uma árvore com cargas espalhadas através de vários pontos de apoio
estrutura com e a responsabilidade estrutural dividida entre muitos galhos e raízes, ou uma árvore com um
muitos pilares tronco único, grandes galhos e raízes e a responsabilidade estrutural concentrada nesses
ou com poucos elementos? Para responder isso, analise as figuras 2.165 e 2.166.
pilares?
Compare as duas árvores com sistemas estruturais e procure analisá-las. A primeira árvore
retrata a situação mais convencional, de estruturas cujas cargas se espalham em vários pontos
e elementos de apoio, como um edifício com vigas e pilares. A segunda árvore retrata a
situação não muito usual, de estruturas com um único ponto de apoio, responsável por
absorver todos os esforços do conjunto e enviá-los às fundações, como ocorre por exemplo no
MON. Ao pensarmos nas árvores mostradas como elementos arquitetônicos, fica mais fácil de
analisar cada caso. Na primeira situação, possivelmente preza-se pela economia e pela
segurança de se distribuir esforços em diversos elementos estruturais. Contudo, grandes áreas
são formadas por elementos verticais, não existem grandes espaços sem a presença dos pilares.
No segundo caso, possivelmente preza-se pelo conforto, de se ter espaços amplos sem a
interferência de elementos verticais, e não pela economia, pois a estrutura toda fica mais cara:
um pilar enorme, vigas engastadas com grandes balanços e todos os elementos estruturais com
grande responsabilidade estática.

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Figura 2.165: Árvore considerada como a mais larga do mundo. Ela fica na Índia, no Jardim
Botânico de Acharya Jagadish Chandra Bose, e se espalha por mais de 14 mil metros quadrados.
Estima-se que ela tenha mais de 250 anos de idade. Fonte:
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Great_Banyan_Tree_-_Indian_Botanic_Garden_-
_Howrah_2012-09-20_0060.JPG

Figura 2.166: Árvore considerada como a de tronco mais largo do mundo, com um diâmetro de
mais de 14 metros. Fica em Santa Maria, Tule, Oxava, no México. Estima-se que ela tenha 2000
anos de idade. Fonte: https://www.mdig.com.br/index.php?itemid=47952.

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