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RESUMO: A flambagem das armaduras longitudinais em pilares de concreto armado pode ocorrer na
região entre dois estribos consecutivos, ou pode envolver um certo número de estribos. As normas de
projeto existentes não fornecem uma metodologia apropriada para o dimensionamento dos estribos em
diferentes situações. O presente trabalho tem por objetivo desenvolver uma formulação que permita
analisar a flambagem das armaduras longitudinais em pilares de concreto armado submetidos a
carregamento axial levando em conta o espaçamento entre os estribos, o diâmetro e arranjo dos estribos na
seção transversal e o diâmetro das armaduras longitudinais. Para este propósito um método analítico para a
avaliação da flambagem da armadura longitudinal é proposto, considerando-se as barras longitudinais
restringidas pela rigidez axial ou à flexão dos estribos. Admite-se que a armadura longitudinal funciona
como uma coluna esbelta.
ABSTRACT: Buckling of longitudinal reinforcement in reinforced concrete columns may occur in the
region between two consecutive ties, or may involve a number of ties. The existing design code
specifications do not provide an appropriate methodology for the design of the transversal reinforcement in
different situations. The main objective of the present work is to develop a formulation to allow to analyze
the buckling of longitudinal bars in reinforced concrete columns taking into account the tie spacing, the
diameter and arrangement of the ties in the cross section and the longitudinal bar diameter. For this
purpose an analytical method for the evaluation of the buckling load of longitudinal bars is described, as a
function of the constraint imposed by the axial or flexural stiffness of the stirrups. The longitudinal bar is
considered as a column deforming according to thin beam theory.
L
s
de emendas das barras na presente formulação,
considerou-se a armadura livre em uma das
extremidades. Considerou-se na modelagem um ou x
s
mais modos de deformação, incluindo-se a não- y
x w PL2 KL3
ξ= 0 ≤ξ ≤1 wd = Γ = η= (6)
L L EI EI
4 Teoria e Prática na Engenharia Civil, n.6, p.1-14, Março, 2005
192 EI t
K= (17)
b3
Fj
K
Para o modelo da Figura 4.b a expressão para a
rigidez do estribo fica:
L
s
EAt
K= (18)
b
onde E é o modulo de elasticidade da armadura
longitudinal e At é a área do estribo.
x
Um resultado análogo é obtido para o modelo
s
π/4
F
π/2
F
π/4
F
π/2
b1
armado.
950
900
850
800
750
192φ t4 L4 70
η= (19)
b 3 sφ l4
65
60
Γ tem-se: 45
40
2
64 PL
Γ =
35
(20)
Eπφl4 30
25
20 cm
A carga de flambagem deve ser sempre maior
que a carga de escoamento em compressão por um
fator γ > 1 , isto para garantir o uso de Py = f y As
20 cm
no dimensionamento inicial, como é feito
usualmente. No dimensionamento usual, busca-se
otimizar o projeto tomando γ = 1 , entretanto, é Figura 7- Seção e arranjo das armaduras nos
pilares ensaiados por Queiroga [11].
pouco recomendável do ponto de vista de
segurança em regime pós-crítico. Adotou-se no
Tabela 1 - Resumo das características dos pilares
presente trabalho os valores de γ=1,2. ensaiados por Queiroga [11].
Pilar L Arm. As Arm. c fc fy
4. SEQÜÊNCIA DE PROJETO COM A (cm) Long (cm2) Trans. mm (MPa) (MPa)
UTILIZAÇÃO DAS CURVAS Γ vs . η .
P1 120 8φ 12 ,5 1,25 φ 6 ,3c / 15 17,5 59,60 502
P4 120 8φ 12 ,5 1,25 φ 6 ,3c / 10 17,5 53,40 502
Uma seqüência possível de projeto com o uso
P6 120 8φ 12 ,5 1,25 φ 6 ,3c / 5 17,5 55,90 502
dos gráficos Γ vs. η, seria como se mostra a seguir:
Os valores calculados para o diâmetro e
1- O valor de b vem da geometria da peça;
espaçamento entre os estribos utilizando o critério
2- O diâmetro da armadura longitudinal, φl é proposto no item 4 apresentam-se na Tabela 2. O
usualmente determinado pelo projetista; procedimento completo de cálculo apresenta-se em
3- Busca-se uma carga de flambagem, Pcr = γ ⋅ Py e Buffoni [4]. A seguir apresentam-se os passos
assim obtém-se Γ1; realizados para o pilar P1.
4- Com o valor de Γ1 entra-se na ordenada do • Pilar P1
gráfico Γ1 vs. η1 e descobre-se o η1 necessário na As propriedades da armadura são:
abscissa. Como já se dispõe dos valores de b e φl,
as variáveis de projeto serão o espaçamento entre f y = 502 N φ l = 12 ,5 mm L = 1200 mm
mm 2
os estribos, s e o diâmetro dos estribos, φt, os quais
serão calculados e adotados de forma compatível
com os limites das normas de projeto existentes. b = 139 ,9 mm E = 210000 N As = 125 mm 2
mm 2
Caso o espaçamento resulte muito pequeno, ou o Py = f y As = 5 ,46 × 10 4 N s = 150 mm
diâmetro muito grande, é necessário reduzir b ou
usar estribos suplementares.
Pretende-se calcular o diâmetro e espaçamento
4.1. Cálculo do Diâmetro e Espaçamento entre entre estribos para γ = 1,2 considerando-se a
Estribos para os Pilares Descritos no Trabalho armadura sem emendas. Assim, busca-se uma
de Queiroga & Giongo [12] carga de flambagem, Pcr = γ ⋅ Py e obtém-se Γ1
150 10 150 5
Teoria e Prática na Engenharia Civil, n.6, p.1-14, Março, 2005 9 .
25 cm
Aplica-se o critério proposto a um pilar de
concreto armado com seção transversal retangular
25 cm x 110 cm, altura livre de 350 cm, com 110 cm
kL4 38 ,4 EI t L
4
38 ,4φ t4 L4 s (mm) 190 150 50
η= = =
EI b 3 sEI b 3 sφ l4 φ t (mm) 33,18 31,28 23,77
φ t4 ηb 3φ l4 192η 1 b 3φ l4
⇒ = = (25)
s 38 ,4 L4 38 ,4 L4
10 Teoria e Prática na Engenharia Civil, n.6, p.1-14, Março, 2005
φ t4 32η 1φ l4 a 3 (2b − 3a )
= (29) Tabela 6 – Dimensionamento dos estribos para o
s bL4
caso 2.
Os resultados apresentam-se na Tabela 6 para • Cálculo do Diâmetro dos estribos.
os valores de γ = 1,0 e γ = 1,2 . verificou-se através
dos cálculos que ao se definir o diâmetro do φ t (mm)
s (mm)
estribo como φ t = 6 ,3 mm , o espaçamento entre γ = 1,0 γ = 1,2
estribos fica bem maior do que o limite superior 190 5,48 5,83
registrado na NBR 6118/2003. 150 5,16 5,49
4,6 cm
50 3,92 4,17
b) Cálculo do espaçamento.
25 cm
s (mm)
110 cm φ t (mm)
γ = 1,0 γ = 1,2
Figura 10– Caso 2: Arranjo das armaduras na 5 131 103
seção transversal do pilar P1. 6,3 331 259
P P
a
P P P P P P P P
(D ν ) ∂∂xw ∂∂yw +
2 2
5. CONSIDERAÇÃO DAS ARMADURAS x y + D yν x − 2 D x D y 2 2
LONGITUDINAIS E TRANSVERSAIS (31)
2
COMO GRELHA
(
2 1 − ν xν y ) ∂2w
D x D y
dxdy −
∂x∂y
5.1. Placas Ortotrópicas
2
1 ∂w
Para a consideração de grelha utilizou-se a 2 ∫∫ N y dxdy
∂y
formulação de placas ortotrópicas onde as
No caso de uma placa retangular com arestas
propriedades elásticas do material são diferentes
simplesmente apoiadas, a superfície de deflexão
em todas as direções. Considerando-se que as
pode ser representada por uma série trigonométrica
direções principais de ortotropia coincidem com os
dupla.
eixos coordenados x e y, tem-se quatro constantes
elásticas (E x , E y ,ν x ,ν y ) que são requeridas para o ∞ ∞
mπx nπy
desenvolvimento das relações tensão-deformação w(x , y ) = ∑∑ a mn sen sen (32)
m =1 n = 1 a b
ortotrópicas, toda a formulação para este caso
encontra-se em Buffoni [4]. Apresentam-se apenas
as expressões da energia potencial total para cada Cada termo da série desaparece para x=0, x=a e
caso. também para y=0 e y=b e assim a deflexão é zero
ao longo do contorno.
Substituindo-se (32) em (31) e integrando-se no
5.2. Placa Ortotrópica Retangular Bi-Apoiada
domínio, obtém-se uma forma quadrática em
com Carregamento ao Longo dos Lados y=0 e
termos dos deslocamentos de onde se obtém as
y=b
equações de equilíbrio e a carga crítica que é dada
O caso apresentado na Figura 13 representa o pela expressão a seguir:
modelo de uma face da coluna de concreto armado
composta apenas pelas armaduras longitudinais e
Ny =
(
π 2 m 4 b 4 D x + 2m 2 n 2 a 2 b 2 D x D y + n 4 a 4 D y )
transversais, portanto, sem a consideração do n2 a4b2
concreto. Na Figura 13, as armaduras longitudinais (33)
e transversais são consideradas como uma grelha
que foi aproximada por uma placa ortotrópica O menor valor de Ny é obtido para m=1, nesse
equivalente. caso a placa flamba com somente uma onda na
direção perpendicular ao carregamento. A
expressão para esse caso é:
12 Teoria e Prática na Engenharia Civil, n.6, p.1-14, Março, 2005
1
2
∂2w ∂2w
Ny =
(
π b D x + 2n a b
2 4 2 2 2 4
Dx D y + n a D y 4
) (34)
Π = ∫∫ D x
2
∂x 2
+ Dy
∂y 2
+
n 2 a 4b 2
x y + D yν x − 2 D x D y (39)
Simplificando a expressão (34) tem-se: 2 2
2
1 ∂w
∫∫
2
π D x b
2
a N y dxdy
Ny = + Dy n (35) 2 ∂y
a n
2
a b
Substituindo-se (32) em (39) e integrando-se no
O valor mínimo de Ny é obtido calculando-se domínio, obtém-se uma forma quadrática em
_ _ termos dos deslocamentos de onde se obtém as
∂N y ∂ b = 0 , sendo b = b n , obtendo-se então
equações de equilíbrio e a carga crítica é dada pela
−
b Dy seguinte expressão:
=4 . A carga crítica mínima é dada por:
a Dx
Ny =
(
π 2 m 4 b 4 Dx + n 4 a 4 D y ) (40)
2 4 2
n a b
4π 2
Ny = Dx D y (36)
a2
O menor valor de Ny é obtido para m=1, nesse
caso a placa flamba em uma onda na direção
Considerando-se que a grelha da Figura 13 seja
perpendicular ao carregamento.
aproximada por uma placa ortotrópica equivalente
que é constituída por vigas paralelas com mesmo
espaçamento, pode-se usar as seguintes b2π2 n2a2
Dx
Ny = + D (41)
a 2 b 2
y
propriedades: n2a2
b _
Substituindo-se = b na equação (41) tem-se:
EI t Eπφt4 n
Dx = = (37)
s 64 s
EI s Eπφl4 _2
Dy = = (38) π2
b a2
sl 64 s l N y = 2 Dx 2 + D y 2 (42)
a a _
b
Dx é a rigidez na direção x que leva em conta os
estribos, onde It é o momento de inércia dos O menor valor para a carga crítica é obtido
estribos e s o espaçamento entre estribos, já Dy é a ∂N y
rigidez na direção y que leva em conta a armadura quando _
= 0 e assim obtém-se:
longitudinal, onde Is é o momento de inércia da ∂b
_
armadura longitudinal e sl o espaçamento entre as Dy
b
armaduras longitudinais. =4 (43)
a Dx
5.3. Placa Submetida Apenas à Flexão
Substituindo-se (43) em (42) o valor da carga
Considerando-se que a placa é submetida crítica fica:
apenas à flexão tem-se que a energia potencial
total é dada pela seguinte expressão:
π2
N y = 2 2 Dx D y
a
( ) (44)
variáveis: espaçamento entre os estribos, diâmetro 5. Dym, C. L.; Shames, I. H. Solid Mechanics -
dos estribos, diâmetro da armadura longitudinal, A Variational Approach. McGraw-Hill-
uso de estribos suplementares (em cada seção ou Kogakusha, Ltd . Tokyo, 1973
alternadamente), e reposicionamento das barras da
armadura longitudinal. Estas duas últimas 6. James, F. P. Influence of Ties on the
variáveis correspondem a variações no vão de Behavior of Reinforced Concrete Columns.
flexão dos estribos. Journal of the American Concrete Institute.
Pode ainda ser considerada uma rigidez efetiva Proceedings Vol. 61, No. 5, p. 521-537, 1964.
para o estribo como a média entre a rigidez
calculada quando se consideram estribos 7. Moehle, J. P.; Cavanagh, T. Confinement
suplementares e a rigidez calculada sem a Effectiveness of Crossties in RC. Journal of
consideração dos mesmos. Assim, dimensiona-se o Structural Engineering, Vol. 111, No 10, p.
estribo utilizando um espaçamento duplo, ou seja, 2105-2120, 1985.
a cada dois espaçamentos colocam-se estribos
suplementares, o que pode ser benéfico na hora da 8. NBR-6118., 2003. Projeto e execução de
concretagem. obras de concreto armado.
Os resultados obtidos com o uso do modelo
simplificado da placa ortotrópica são 9. Pantazopoulou, S. J. Detailing for
excessivamente conservadores indicando que há Reinforcement Stability in RC Members.
necessidade de aperfeiçoamento desse modelo. Journal of Structural Engineering, Vol. 124, No
Em resumo, propõe-se um projeto racional de 6, ASCE, p. 623-632, 1998.
armadura transversal, com uso de considerações
relacionadas a flambagem da armadura 10. Pfister, J. F. Influence of Ties on the
longitudinal. Um eventual maior consumo de Behavior of Reinforced Concrete Columns.
armadura pode ser compensado por melhores Journal of the American Concrete Institute, Vol.
condições de execução de pilares, devido à 61, No. 5, p. 521-536, 1964.
redução de armaduras suplementares.
11. Queiroga, M. V. M. Análise Experimental
REFERÊNCIAS de Pilares de Concreto de Alto Desempenho
Submetidos à Compressão Simples. Dissertação
1. American Concrete Institute Committee 318. de Mestrado apresentada à Escola de
“Building Code Requirements for Structural Engenharia de São Carlos, EESC – USP, 1999.
Concrete (ACI 318-02) and Commentary
(318R-02)”, American Concrete Institute, 12. Queiroga, M. V. M.; Giongo, J. S.
Farmington Hills, Mich, 2002. Resistência e Ductilidade de Modelos de
Pilares de Concreto de Alta Resistência
2. Bazant, Z. P.; Cedolin, L. Stability of Submetidas à Compressão Simples. IV
Structures – Elastic, Inelastic, Fracture, and Simpósio EPUSP sobre Estruturas de Concreto,
Damage theories. Oxford University Press, SP, 2000.
New York, 1991.
13. Sheikh, S. A.; Uzumeri, S. M. Strength and
3. Bresler, B.; Gilbert, P. H. Tie Requirements Ductility of Tied Concrete Columns. Journal of
for Reinforced Concrete Columns. ACI Journal. Structural Division, Vol. 106, No ST5, ASCE,
Vol. 58, No. 5, p. 555-570, 1961. pp. 1079-1102, 1980.