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Djaniro Álvaro de Souza et al.

Engenharia Civil

Estabilidade de colunas com seções


enrijecidas em perfis de aço formados a frio
Djaniro Álvaro de Souza
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil. LAMEC/DECIV/Escola de Minas/UFOP
CEP 35400-000, Ouro Preto, MG, Brasil. E-mail: djaniro@iname.com

Marcílio Sousa da Rocha Freitas


Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil. LAMEC/DECIV/Escola de Minas/UFOP
CEP 35400-000, Ouro Preto, MG, Brasil. E-mail: marcilio@em.ufop.br

Arlene Maria Sarmanho Freitas


Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil. LAMEC/DECIV/Escola de Minas/UFOP
CEP 35400-000, Ouro Preto, MG, Brasil. E-mail: arlene@em.ufop.br

Resumo Abstract
Os perfis de aço formados a frio estão sujeitos a Cold-formed steel sections are subject to instability
fenômenos de instabilidade, tanto local, quanto global, phenomena, either local or global, which can influence
que influenciam na capacidade de carga do elemento com- the load capacity of compressed elements. The use of
primido. A utilização de enrijecedores pode aumentar a longitudinal stiffeners can provide increasing load
capacidade de carga e a eficiência desse elemento. Apre- capacity and element efficiency. This paper presents a
senta-se, nesse artigo, um estudo numérico de colunas numerical investigation of cold formed steel sections
de seções do tipo U enrijecido com enrijecedores inter- with web intermediate stiffeners, subjected to axial
mediários na alma, submetidas à compressão axial. Os compression. The sections considered in this study are
perfis adotados são seções comumente utilizadas como the channel ones commonly used as columns in
colunas (montantes) em sistemas construtivos industria- residential Steel Framing Systems. The study is based
lizados constituídos de elementos metálicos pré-fabrica- on finite element method analysis, and the critical loads
dos, conhecidos como Light Steel Frame. O estudo ba- and respective elastic buckling modes are obtained
seia-se em análises numéricas através do Método dos through linear analysis. Non-linear inelastic analyses
Elementos Finitos, onde são obtidos as cargas críticas e are conducted to obtain column ultimate-load capacity
os respectivos modos de flambagem elástica das seções, and to study its post-buckling behavior. Different column
através de análise linear, e são feitas avaliações do com- lengths were adopted throughout the analyses, to
portamento pós-flambagem das seções através de análi- evaluate their behavior under the different types of local
se não-linear. Os comprimentos das colunas foram varia- instability.
dos ao longo das séries analisadas, buscando-se identi-
Keywords: Cold-formed Steel, intermediate stiffeners,
ficar os fenômenos de instabilidade predominantes.
columns, distortional buckling.
Palavras-chave: Perfis formados a frio, enrijecedores
intermediários, colunas, flambagem distorcional.

REM: R. Esc. Minas, Ouro Preto, 59(2): 199-205, abr. jun. 2006 199
Estabilidade de colunas com seções enrijecidas em perfis de aço formados a frio

1. Introdução da adoção de enrijecedores intermediá- que compõem o perfil terão condições


rios longitudinais posicionados na alma. de extremidade rotuladas localmente. O
A utilização dos perfis de paredes Esse procedimento visa a reduzir a rela- carregamento é aplicado nas duas extre-
esbeltas tem crescido amplamente devi- ção entre a largura e a espessura (esbel- midades da coluna, através de cargas
do à sua leveza e à sua grande diversida- tez) da alma da seção, uma vez que a ocor- nodais equivalentes, simulando carrega-
de de aplicação. Obtidos a partir da con- rência da flambagem local de placas de- mento uniformemente distribuído (Figu-
formação a frio de chapas finas de aço, pende, fundamentalmente, dessa relação. ra 2a). Nesse modelo, as restrições são
tais perfis são utilizados, atualmente, para impostas diretamente aos nós das extre-
inúmeras finalidades, devido à grande O presente artigo apresenta um es-
midades, impedidos de deslocar-se nas
variabilidade de seções transversais que tudo, através do Método dos Elementos
direções x e y (Figura 2b), ortogonais à
pode ser obtida no seu processo de fa- Finitos, do comportamento de perfis de
direção de aplicação do carregamento.
bricação. Recentemente, em nosso país, aço formados a frio, de seções do tipo U
Para impedir deslocamento de corpo rí-
uma nova aplicação desses perfis surge enrijecido com enrijecedores intermedi-
gido, uma restrição a deslocamento na
como alternativa para a estrutura de edi- ários na alma, submetidos à compressão
direção z é imposta a um nó situado à
ficações residenciais, através do siste- axial. Os perfis considerados na pesqui-
meia altura da alma da seção (Figura 2c).
ma construtivo industrializado denomi- sa são seções usuais em colunas (mon-
nado Light Steel Frame. Esse sistema é tantes) no sistema Light Steel Frame.
constituído de elementos pré-fabricados 3. Resultados
em aço galvanizado, classificados em
vigas, guias, montantes, diagonais, ver- 2. Análise via Método Foram escolhidas, para a realização
das análises, as seções mais esbeltas,
gas e elementos de cobertura (Crasto, dos Elementos Finitos com espessuras de paredes t=0,76 mm
2005). Os montantes, objeto de estudo
dessa pesquisa, são elementos consti- As análises foram realizadas com o (sem revestimento), apresentadas na Ta-
tuintes das paredes estruturais, respon- auxílio do software comercial ANSYS bela 1, sendo tn a espessura nominal e tr
sáveis por suportar as cargas proveni- (ANSYS, 1996). Para modelar os perfis a espessura do revestimento.
entes das vigas de piso ou cobertura. de paredes esbeltas, foi utilizado o ele-
mento de casca elástico SHELL63 da bi- Para a avaliação da eficiência dos
Como conseqüência da alta relação blioteca do programa. Trata-se de ele- enrijecedores intermediários, foram rea-
largura-espessura das paredes que com- mento quadrilátero de quatro nós com lizadas análises lineares de flambagem
põem os perfis formados a frio, tais per- seis graus de liberdade por nó (transla- elástica, onde são obtidos as tensões
fis apresentam comportamento diferen- ções e rotações em torno dos eixos co- críticas e os respectivos modos de flam-
ciado dos perfis laminados e soldados, ordenados x, y e z), adequado para aná- bagem. Para cada seção, foram adotadas
ficando susceptíveis a diversos fenôme- lises de flambagem elástica. A condição diferentes quantidades (1 a 4) e dimen-
nos de instabilidade. Além dos fenôme- de contorno adotada simula condição de sões (alturas, d, de 2 a 6 mm) dos enrije-
nos de flambagem globais por flexão e extremidade da coluna globalmente ro- cedores intermediários. Entre as diver-
por flexo-torção, os perfis de paredes tulada, sem, no entanto, impor restrições sas seções usuais de enrijecedores in-
esbeltas são bastante suscetíveis aos ao empenamento nas extremidades termediários, foi escolhida uma seção tri-
fenômenos de flambagem locais, como a (Inoue, 2004). Desse modo, as paredes angular, de fácil fabricação, com seus ele-
flambagem local de placas e a flamba-
gem distorcional. O modo de flambagem
local de placas caracteriza-se pela flexão
dos elementos constituintes da seção
transversal, sem que haja deslocamento
das arestas comuns a tais elementos. A
flambagem distorcional, por sua vez, ca-
racteriza-se pela flexão de um ou mais
elementos acompanhada pelo desloca-
mento das arestas comuns a esses ele-
mentos. A Figura 1 ilustra esses modos
de flambagem para seção do tipo U enri-
jecido sob carregamento de compressão.
Além do uso de enrijecedores de
(a) (b) (c) (d)
borda, localizados nas extremidades das
mesas, outra forma de melhorar a efici- Figura 1 - Modos de flambagem:(a) e (b) Modo local de placas; (c) e (d) Modo
ência estrutural de uma seção é através distorcional.

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Djaniro Álvaro de Souza et al.
mentos formando ângulos de 45º com a
alma do perfil, conforme ilustrado na Fi-
gura 3.
Inicialmente, tais análises foram fei-
tas utilizando-se o programa CUFSM
(Schafer, 2003) através do método das
faixas finitas. Os comprimentos de meias
ondas senoidais, correspondentes aos
modos críticos de flambagem fornecidos
pelo CUFSM, foram utilizados como com-
primentos das colunas nas análises via
método dos elementos finitos, realizadas
através do programa ANSYS. Para todas
as análises, foram consideradas condi-
ções de empenamento livre.
A Tabela 2 apresenta a variação dos
valores de tensão crítica obtida em fun-
(a) (b) (c)
ção do número de enrijecedores inter-
mediários (NEI). Pode-se observar, pela
Figura 2 - Condição de contorno adotada nas análises. (a) Aplicação do carregamento;
tabela, que a simples adoção de enrije- (b) Deslocamentos impedidos no plano xy, para os nós das extremidades; (c) Desloca-
cedores intermediários da ordem de 2 mm mento de corpo rígido impedido na direção z.

Tabela 1 - Dimensões das seções utilizadas como montantes.

Seção bw (mm) bf (mm) D (mm) tn (mm) tr (mm) t (mm)

90x40x12x0,76 90 40 12 0,8 0,036 0,76

140x40x12x0,76 140 40 12 0,8 0,036 0,76

200x40x12x0,76 200 40 12 0,8 0,036 0,76

250x40x12x0,76 250 40 12 0,8 0,036 0,76

Figura 3 - Nomenclatura das seções analisadas.

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Estabilidade de colunas com seções enrijecidas em perfis de aço formados a frio
Tabela 2 - Variação percentual da tensão crítica em função do número de enrijecedores intermediários (NEI).

Ue90x40x12 σcr (N/mm2) Variação (%)

(1) (2) (3) (4) (5) (6) ( 2) − (1) (3) − ( 2) (4) − (3) (5) − (4) (6) − (5)
NEI ( 2) (5)
(1) (3) (4)
d=0mm d=2mm d=3mm d=4mm d=5mm d=6mm

1 72,1 116,6 171,7 171,1 171,1 172,6 61,7 47,3 -0,3 0,0 0,9

2 72,1 122,9 170,5 173,2 170,3 171,0 70,5 38,7 1,6 -1,7 0,4

3 72,1 130,7 170,0 174,9 173,1 165,6 81,4 30,0 2,9 -1,0 -4,4

Ue140x40x12 σcr (N/mm2) Variação (%)

(1) (2) (3) (4) (5) (6) ( 2) − (1) (3) − ( 2) (4) − (3) (5) − (4) (6) − (5)
NEI (5)
(1) ( 2) (3) (4)
d=0mm d=2mm d=3mm d=4mm d=5mm d=6mm

1 29,9 46,2 67,1 84,3 87,4 91,6 54,2 45,3 25,6 3,7 4,8

2 29,9 49,4 73,4 84,1 87,3 91,4 65,2 48,4 14,6 3,9 4,7

3 29,9 53,1 76,3 83,8 86,6 90,6 77,2 43,7 10,0 3,3 4,6

4 29,9 54,2 77,7 82,9 85,6 89,6 81,1 43,2 6,7 3,3 4,6

Ue200x40x12 σcr (N/mm2) Variação (%)

(1) (2) (3) (4) (5) (6) ( 2) − (1) (3) − ( 2) (4) − (3) (5) − (4) (6) − (5)
NEI (5)
(1) ( 2) (3) (4)
d=0mm d=2mm d=3mm d=4mm d=5mm d=6mm

1 15,2 21,5 29,9 35,9 39,3 43,1 41,3 39,2 20,0 9,5 9,9

2 15,2 22,8 32,2 36,5 40,4 44,6 50,2 41,0 13,5 10,6 10,5

3 15,2 24,4 33,4 37,2 41,0 45,2 60,7 36,8 11,3 10,3 10,3

4 15,2 25,6 34,3 37,4 41,4 45,5 68,2 34,0 9,3 10,5 9,9

Ue250x40x12 σcr (N/mm )


2
Variação (%)

(1) (2) (3) (4) (5) (6) (2) − (1) (3) − ( 2) (4) − (3) (5) − (4) (6) − (5)
NEI ( 2) (5)
(1) (3) (4)
d=0mm d=2mm d=3mm d=4mm d=5mm d=6mm

1 9,8 13,2 17,7 20,2 22,7 25,5 35,1 33,6 14,1 12,4 12,3

2 9,8 14,0 18,5 21,0 23,7 26,8 42,9 32,1 13,5 12,9 13,1

3 9,8 14,8 19,1 21,5 24,4 27,9 51,0 29,1 12,6 13,5 14,3

4 9,8 15,5 19,4 22,0 25,1 28,4 58,2 25,2 13,4 14,1 13,1

de altura já proporciona maior rigidez à rigidez das seções. Assim, a adoção de ção adotada, em função, principalmente,
seção, resultando em valores de tensão enrijecedores intermediários da ordem de da relação largura-espessura da alma.
crítica sensivelmente superiores, em 3 mm de altura é suficiente para melhorar, Uma avaliação da eficiência da seção,
comparação com a seção sem enrijece- consideravelmente, a eficiência da seção. em função do número de enrijecedores
dores intermediários (d=0 mm). Outra intermediários, pode ser observada atra-
Além da altura do enrijecedor inter-
observação interessante é que, ao au- vés das curvas apresentadas na Figura
mediário, observa-se que a quantidade
mentar a altura do enrijecedor de 2 para 4, obtida através das análises realizadas.
de enrijecedores também influencia na
3 mm, ainda são notados sensíveis au- Tais curvas associam a relação largura-
capacidade de carga do elemento. A de-
mentos na carga crítica. A partir dessa espessura da alma da seção, b/t, às car-
finição do número de enrijecedores in-
altura de enrijecedor intermediário, não gas críticas das seções com enrijecedo-
termediários varia de acordo com a se-
se observam consideráveis ganhos na res intermediários parametrizadas pela

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carga crítica da seção U enrijecido, tir de trabalhos de Batista e colaborado- Foram feitas, também, avaliações do
σcr/σcrUe. Os resultados foram obtidos res (Batista et al., 2000, Batista et al., 1998, comportamento dos perfis do tipo U en-
para um valor fixo de altura dos enrijece- Vazquez, 1998). A formulação proposta rijecido com enrijecedores intermediári-
dores intermediários de 3 mm. por Schafer (1997, 2000) faz parte dos os na alma, sob compressão centrada
estudos direcionados para futuras mo- através de análises não lineares, sendo
De acordo com a figura, pode-se dificações nas especificações do AISI
observar que, para certos valores da re- obtidas as cargas últimas e estudado o
(1997). Nessa formulação, a contribuição comportamento pós-crítico desses per-
lação largura-espessura da alma, pode da alma da seção na rigidez à torção no
ser definida a quantidade de enrijecedo- fis. As análises foram conduzidas consi-
encontro entre alma e mesa é levada em
res intermediários que proporcionará a derando o modelo E2-140x076-D03, que
consideração.
maior rigidez à seção. Para seções com se refere ao perfil U enrijecido
Com o objetivo de avaliar o com- Ue140x40x12 com dois enrijecedores in-
relação b/t inferior ou igual a 130, a ado-
portamento das seções, para diferentes termediários na alma, de alturas iguais a
ção de apenas um enrijecedor intermedi-
comprimentos, identificando os modos 3mm. Os comprimentos das colunas es-
ário é suficiente. Quando o valor da rela- de flambagem dominantes, foram reali-
ção b/t encontra-se na faixa entre 150 e tudadas variam ao longo das análises,
zadas diversas análises de flambagem
250, a adoção de dois ou mais enrijece- sendo definidos em função dos compri-
com a seção Ue-90x40x12 com um enrije-
dores passa a ser mais interessante. Ob- mentos de meias ondas referentes ao
cedor intermediário na alma. As análises
serva-se, também, que a maior variação foram realizadas variando-se os compri- modo distorcional da seção (MDS). As
da resistência da seção ocorre quando mentos das colunas e o resultado é apre- análises utilizam os modelos de condi-
se passa de uma seção com um enrijece- sentado na Figura 5, onde podem ser ção de contorno com empenamento li-
dor intermediário para dois enrijecedo- identificados os modos de flambagem vre e com placas de carregamento e
res na alma. predominantes. Para o caso de colunas apoio. Os valores do limite de escoamen-
curtas, observa-se a ocorrência do modo to, fy, e do limite de resistência do materi-
Em contrapartida, essa rigidez adi- de flambagem distorcional, caracteriza- al, fu, são de 230 e 310 MPa, respectiva-
cional imposta pelos enrijecedores inter- do apenas pelo deslocamento do enrije- mente, compatíveis com aços de média
mediários induz o aparecimento anteci- cedor intermediário (MDE). À medida resistência.
pado do modo distorcional de flamba- que as colunas passam a ter um compri-
gem, inicialmente caracterizado pelo des- mento intermediário, identifica-se o A Tabela 3 apresenta os valores
locamento do enrijecedor intermediário modo distorcional da seção (MDS), ca- das cargas críticas e das cargas últi-
e, posteriormente, pela rotação das me- racterizado pelo deslocamento das ares- mas obtidas para a seção com dois e
sas e dos enrijecedores de borda em re- tas comuns a elementos adjacentes ao com três enrijecedores intermediários,
lação à alma do perfil. Portanto uma ava- longo do comprimento da coluna. Para E2-140x076-D03 e E3-140x076-D03, com
liação criteriosa do comportamento pós- comprimentos maiores, o modo de ins- condições de empenamento livre e im-
flambagem distorcional da seção deve tabilidade global passa a ser predominante. pedido nas extremidades. Nesse caso são
ser levada em consideração. Atualmen-
te, as formulações contidas nas normas
de projetos ainda não prevêem a influ-
ência da flambagem distorcional na ca-
pacidade de carga de seções com enrije-
cedores intermediários sujeitas a esse
fenômeno. Analiticamente, métodos sim-
plificados são propostos para a obten-
ção das cargas críticas e dos coeficien-
tes de flambagem, para seções específi-
cas. Basicamente, as formulações exis-
tentes são baseadas nos modelos pro-
postos por Lau e Hancock (1987) e por
Schafer (1997, 2000, 2002), em que não é
considerada a seção transversal comple-
ta, sendo feito um estudo do comporta-
mento do conjunto mesa-enrijecedor
quanto à flambagem por flexo-torção,
baseado na teoria da estabilidade elásti-
ca. A formulação proposta por Lau e
Hankock está inserida no anexo D da
norma brasileira NBR 14762 (2001), a par- Figura 4 - Carga crítica em função da relação largura-espessura da alma.

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Estabilidade de colunas com seções enrijecidas em perfis de aço formados a frio
adotadas placas de carregamento e apoio
nas extremidades das colunas, condu-
zindo a valores maiores para as cargas
últimas. Os comprimentos das colunas
foram de 630 e 690 mm, correspondentes
ao modo crítico de flambagem distorcio-
nal, com três meias ondas senoidais. É
interessante observar que a seção sub-
metida ao modo de flambagem distorcio-
nal também apresenta reserva de resis-
tência pós-flambagem, com valor de car-
ga crítica da ordem de 63% e 50% da
carga última, para condição de empena-
mento livre e condição de empenamento
impedido, respectivamente.
Os processos de fabricação dos
Figura 5 - Identificação dos modos de flambagem para a seção Ue-90x40x12 com um
perfis de paredes esbeltas introduzem enrijecedor intermediário na alma, ao longo do comprimento.
imperfeições que podem influenciar na
capacidade de carga da coluna. Por- Tabela 3 - Valores de cargas críticas e cargas últimas para os modelos E2-140x076-D03
tanto, para avaliar o comportamento da e E3-140x076-D03, com empenamento livre e impedido.
mesma, em regime pós-crítico, faz-se
PuNumérico (kN) PuNumérico (kN)
necessária a consideração dessas im- Modelo PcrNumérico (kN)
perfeições. Para o presente estudo, foi emp. livre emp. impedido
adotada, como uma das imperfeições
E2-140x076-D03 13,45 21,20 26,55
geométricas iniciais, a configuração
deformada da coluna, correspondente
E3-140x076-D03 14,68 22,24 28,28
ao modo de flambagem obtido através
de análise linear. As amplitudes máxi-
mas adotadas para as imperfeições fo-
Tabela 4 - Cargas últimas para o modelo E2-140x076-D03.
ram da ordem de 10, 25, 50 e 75% da
espessura das paredes do perfil, ou Imperfeição Carga Última
seja, 0,076, 0,19, 0,38 e 0,57 mm. A Ta- Modelo
(mm) PuNum (kN)
bela 4 apresenta os valores das cargas
últimas obtidas numericamente com a E2-140x076-D03 - 26,55
coluna perfeita e com as imperfeições
descritas anteriormente. E2-140x076-D03-010t 0,076 26,52

Avaliaram-se as trajetórias de equi- E2-140x076-D03-025t 0,19 26,43


líbrio para a coluna sob compressão axi-
al, representadas pelas curvas que rela- E2-140x076-D03-050t 0,38 26,14
cionam os valores dos incrementos de
carga normalizados em relação à carga E2-140x076-D03-075t 0,57 26,13
crítica de flambagem com os desloca-
mentos axiais obtidos para as colunas,
para os diferentes valores de imperfei- 4. Conclusões Para todas as seções analisadas, os
ções iniciais. As curvas revelam que, valores de altura para os enrijecedores
Foram observados consideráveis
mesmo após ser atingida a carga crítica, ganhos de resistência, quando acrescen- intermediários, d, mais eficientes foram
a coluna continua apresentando capa- tados enrijecedores intermediários nas al- de 3 e 4 mm. Os enrijecedores de 2 mm de
cidade de suportar cargas. Esse com- mas das seções analisadas. Para a maioria altura foram pouco eficientes, quando
portamento, segundo uma trajetória de das seções, são observados acréscimos comparados aos enrijecedores de 3 a 6
equilíbrio estável, é apresentado, tanto nas tensões críticas de flambagem distor- mm. Os valores de d iguais a 4, 5 ou 6
para a coluna sem imperfeições, quanto cional à medida que um maior número de mm, além de pouco acrescentarem na re-
para as colunas imperfeitas. enrijecedores intermediários é adotado. sistência da seção em relação à altura de

204 REM: R. Esc. Minas, Ouro Preto, 59(2): 199-205, abr. jun. 2006
Djaniro Álvaro de Souza et al.
3 mm, podem proporcionar dificuldades 5. Referências estruturadas em aço. Rio de Janeiro:
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nal, também apresentam comportamen- em Engenharia Civil, UFOP, 2005.
3, p. 129-131 (artigo completo em CD-
to pós-crítico estável, com reserva de ROM, artigo # 86), 1998. (Dissertação de Mestrado).
resistência pós-flambagem. A inevitável CRASTO, R. C. M. Arquitetura e tecnologia VASQUEZ, E. G. Estabilidade e resistência
presença de imperfeições geométricas em sistemas construtivos de perfis de chapa dobrada afetados pelo
nas peças influencia na capacidade de industrializados: light steel framing. modo distorcional. Rio de Janeiro:
carga das mesmas, reduzindo a carga úl- Ouro Preto: Programa de Pós-Graduação COPPE/UFRJ, 1998. (Dissertação de
tima esperada. No entanto, o comporta- em Engenharia Civil, UFOP, 2005. Mestrado).
mento pós-crítico é estável, como no (Dissertação de Mestrado).
caso de colunas sem imperfeições, dife- INOUE, H. Sistemas diafragma com painéis Artigo recebido em 20/01/2006 e
de chapa fina, aplicados a edificações aprovado em 13/04/2006.
renciando apenas na trajetória de equilí-
brio.

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70 anos divulgando CIÊNCIA.
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REM: R. Esc. Minas, Ouro Preto, 59(2): 199-205, abr. jun. 2006 205

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