ABORDAGEM DIDÁTICA DAS LIGAÇÕES PARAFUSADAS E SOLDADAS

DAS EDIFICAÇÕES ESTRUTURADAS EM AÇO

Walnório Graça Ferreira1, Cláudia Marcenes Kamei2, Adenílcia Fernanda Grobério Calenzani3,
Wagner Badke Ferreira4, Priscilla Izabel dos Santos Ribeiro5

Abstract  Connections, welded or bolted, represent one of Os meios de ligação mais usados são os parafusos e as
the most principal steps in a steel structure project. It has a soldas, os elementos de ligação são os componentes que
significant importance in the cost of the structure and may to permitem a transmissão dos esforços, como enrijecedores,
influence the choice of construction system and compose the placa de base, cantoneiras, chapas e talas.
esthetics of structures. Traditionally in our university, in a
first course of Steel Structures, are taught the conceptual PARAFUSOS
aspects of steel buildings, history, the steelmaking process,
Existem dois tipos de parafusos: os parafusos comuns
types of actions, mechanical properties, structural systems,
(ASTM A307) e os de alta resistência (ASTM A325 e
procedures to design and to verify members under traction ,
ASTM A490). Sendo a principal diferença entre eles no
compression, bending, shear and localized loads.. The goal
comportamento das ligações a pré-tensão que estes últimos
is to make a wide and didactic presentation of connections
garantem. A Tabela I apresenta algumas informações sobre
in order to be presented at the beginning of the course of
os parafusos citados.
Steel Structures. This approach is in the line of action of the
TABELA I
engineering schools who are innovating with the ESPECIFICAÇÃO DE PARAFUSOS
implementation of the curriculum reversed, representing an
educational paradigm change.
fu fy Diâmetro Tipo de
Index Terms  Didactic approach, bolted connection, Especif.
(MPa) (MPa) máximo aço
welded connection, steel structures.
ASTM
INTRODUÇÃO 415 - ≤100 Carbono
A307
A função principal das ligações em estruturas metálicas ASTM 825 635 ½”< d  1” Carbono
é transmitir esforços entre os membros que compõem a A325 725 560 1” < d  1 ½” temperado
ligação mantendo a integridade da estrutura quando sujeita ASTM Carbono
1035 895 ½”  d  1 ½”
aos carregamentos. A490 temperado
Elas consistem de elementos de ligação (cantoneiras,
chapas de ligação simples ou de extremidade, enrijecedores, fu – Limite de Resistência
consolos, etc.) e meios de ligação (soldas, parafusos comuns fy – Limite de escoamento
e de alta resistência, pinos, rebites e parafusos ajustados.) Nos parafusos comuns, os esforços de tração são
As ligações geralmente representam uma insignificante transmitidos diretamente através de tração no corpo do
porcentagem do peso total da estrutura, mas, por outro lado, parafuso e os esforços de cisalhamento são transmitidos por
possuem grande influência no custo total da construção. cisalhamento do corpo do parafuso e o contato de sua
Assim, as ligações devem ser projetadas para serem simples superfície lateral com a face do furo, devido ao deslizamento
e terem um comportamento adequado durante a vida útil da entre as chapas ligadas.
estrutura, no que se refere à resistência e à rigidez. Os esforços de cisalhamento nas ligações com parafusos
Como a união dos elementos estruturais possui um de alta resistência são transmitidos, ou por atrito, devido à
comportamento complexo, estudos mais elaborados têm sido pressão entre as partes ligadas, nas chamadas ligações por
realizados ultimamente, para um melhor entendimento das atrito, ou por contato do corpo do parafuso com as paredes
ligações e sua influência nas estruturas de aço. do furo, com cisalhamento do corpo do parafuso, nas
As ligações se compõem dos meios de ligação e dos chamadas ligações por contato.
elementos de ligação. As ligações por contato são indicadas para
carregamentos predominantemente estáticos, onde o

1 Walnório Graça Ferreira, professor Doutor da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), walnorio@pesquisador.cnpq.br
2 Cláudia Marcenes Kamei, Mestre em Engenharia Civil, claudia@kamei.com.br
3 Adenílcia Fernanda Grobério Calenzani, professora Doutor da Universidade Federal do Espírito Santo, afcalenzani@gmail.com
4 Wagner Badke Ferreira, mestrando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da UFES, wagnerbadke@yahoo.com.br
5 Priscilla Izabel dos Santos Ribeiro, aluna de iniciação científica do Curso de Arquitetura da UFES, prieluck@yahoo.com.br
eventual deslizamento entre as partes ligadas não afeta a TABELA II
vida útil dos parafusos e da própria ligação e nem o ESPECIFICAÇÃO DO ELETRODO
comportamento global da estrutura. As ligações por atrito
são indicadas para carregamentos dinâmicos e para os casos Eletrodo Resistência à
em que qualquer deslizamento entre as partes ligadas possa Metal Base revestido ruptura
afetar o comportamento previsto para a estrutura. compatível fw (MPa)
Em ambas as ligações, além dos parafusos, deverão ser E60 415
Aço Carbono
verificados o esmagamento do furo, o rasgamento entre E70 485
furos e entre furo e borda da chapa. No caso da ligação por Aço de alta
E70 485
atrito deverá ser verificada adicionalmente a resistência ao resistência
deslizamento para as ações nominais nos parafusos por ser
este um estado limite de utilização, exceto que, se o efeito da Os tipos de soldas mais comuns são: solda de filete, em
carga permanente for favorável, esta deve ser multiplicada que o metal da solda é colocado externamente aos elementos
por 0,75. a serem conectados, e a solda de entalhe ou penetração, em
As principais vantagens das ligações parafusadas são: que o metal de solda é colocado entre os elementos. A solda
 Rapidez nas ligações de campo; de entalhe pode ser feita com penetração total ou com
 Economia em relação ao consumo de energia; penetração parcial.
 Necessidade de pouca mão de obra e não muito Apesar da solda de entalhe ser esteticamente mais
qualificada; agradável por reconstituir a seção da peça conectada, tem
 Melhor resposta às tensões de fadiga; pequena tolerância de ajuste das peças e custo elevado de
E as desvantagens são: preparo da superfície. Por isso a solda de filete é mais
 Necessidade de verificações de áreas líquidas e empregada.
esmagamentos das peças; As principais vantagens das ligações soldadas são:
 Necessidade de previsão antecipada, para evitar falta de  Economia do material, permitindo o todo o
parafusos na obra. aproveitamento do material;
 Menor utilização de chapas de ligação em relação às
SOLDAS estruturas parafusadas;
 Maior rigidez;
A soldagem é um processo de ligação de peças de aço  Menor quantidade de peças a serem usadas, gastando-se
pela fusão das partes adjacentes e de um eletrodo metálico, menor tempo de detalhe, fabricação e montagem.
provocado pelo calor produzido por um arco voltaico.  Facilidade de se realizar modificações nos desenhos das
Durante a fusão, a região de solda é protegida por gases peças e corrigir erros durante a montagem a um custo
gerados no processo ou fornecidos pelo sistema de menor do que as parafusadas;
soldagem. As peças de aço compõem o metal base e o E as desvantagens são:
eletrodo é o metal da solda. O projetista deve ter atenção  Depende da disponibilidade da energia elétrica para sua
especial na escolha do eletrodo, pois ele deve ter maior execução;
resistência do que o metal base e ser compatível com ele [5].
 Para estruturas de grandes extensões de soldagem,
Existem diversos processos de soldagem, sendo os mais
sofrem redução no comprimento devido aos efeitos
usuais, eletrodo revestido, arco submerso, arco com proteção
acumulativos de retração;
gasosa, arco com fluxo no núcleo.
 Maior análise de fadiga;
O eletrodo é especificado pela letra “E” acompanhado
pela resistência à ruptura por tração do eletrodo, em TIPOS DE LIGAÇÕES VIGA X PILAR
kilopound/in² e pelas especificações de posição de soldagem
e do tipo do eletrodo. Atualmente existem vários tipos de ligações viga-coluna
Exemplo: E 70 18 de perfis tipo I, cada qual com comportamentos diferentes
E: eletrodo revestido; caracterizados por uma curva de momento X rotação.
70: resistência à ruptura em ksi; Os tipos de arranjos entre viga-pilar mais utilizados são:
1: soldagem em todas as posições  Ligação com cantoneira simples (em apenas um lado da
8: eletrodo com revestimento básico, com alma da viga) ou dupla (em ambos os lados da alma da
adição de pó de ferro. viga);
A Tabela II apresenta os eletrodos revestidos  Ligação com chapa de extremidade a cisalhamento
compatíveis com os aços carbonos e aços de alta resistência, (altura menor que a alma da viga);
assim como suas resistências à ruptura.  Ligação com cantoneiras de topo e assento (nas mesas
das vigas);
 Ligações com perfis “T”;
 Com chapa simples soldada à alma ou mesa do pilar na
fábrica e parafusadas à alma da viga no campo;
 Ligações soldadas.
Os tipos de ligações e suas características são mostrados
a seguir.
momentos entre os membros, ficando uma fila de parafusos
externos ao flange de tração da viga. Quando é necessário
levar em consideração a reversão no sentido do
carregamento, a placa se estende para baixo também.
Chapa

Viga
Ligações com Cantoneiras (simples ou dupla)
Estas ligações, como mostrado na Figura 1 e Figura 2,
Pilar
utilizam cantoneiras como elementos de ligação que são
Viga Pilar
parafusadas ou soldadas à alma da viga e parafusadas à mesa
do pilar. O uso de apenas uma cantoneira é menos comum, Pilar
Viga
mas é utilizada quando é difícil ou impossível o acesso de
um dos lados da alma da viga. São ligações muito utilizadas
na prática por serem econômicas e permitirem ajuste no
comprimento final da viga devido à folga (usual de 10 mm) FIGURA. 3
existente entre a extremidade da viga e a mesa do pilar. LIGAÇÃO COM CHAPA DE EXTREMIDADE DE CISALHAMENTO (CHAPA
Geralmente a solda das cantoneiras à alma da viga é INFERIOR À ALMA DA VIGA) SOLDADA À ALMA DA VIGA E PARAFUSADA À
realizada na fábrica e o aperto dos parafusos à mesa do pilar MESA DO PILAR

é realizado no campo. Dados experimentais indicam que a

ligação com duas cantoneiras é capaz de desenvolver até Viga

20% ou mais de restrição à rotação para cargas de serviço,

principalmente se as cantoneiras possuírem grandes Pilar
comprimentos e espessura [1].
Viga

Cantoneira Viga
Pilar
Viga

Pilar

Viga
FIGURA. 4
Pilar Cantoneira Pilar LIGAÇÃO COM CHAPA DE EXTREMIDADE ESTENDIDA E COM ENRIJECEDORES
NA ALMA DO PILAR

FIGURA. 1 Ligações com Cantoneiras de Topo e Assento

LIGAÇÃO COM CANTONEIRA SIMPLES SOLDADA À ALMA DA VIGA E
PARAFUSADA À MESA DO PILAR Nesse arranjo, como mostrado na Figura 5 e Figura 6
utilizam-se cantoneiras parafusadas ou soldadas à mesa da
Cantoneiras
Viga
viga e parafusadas à alma do pilar. A cantoneira de assento
pode ser aproveitada para apoio da viga, transferindo apenas
reação vertical e garantindo uma maior precisão na
Viga montagem. Esta cantoneira deve ser devidamente verificada
Pilar Cantoneira Pilar para suportar o peso próprio da viga durante a fase de
montagem. A cantoneira de topo é meramente usada para
estabilidade lateral. Este tipo de ligação pode ser
FIGURA. 2 considerado como genuinamente semi-rígida promovendo
LIGAÇÃO COM CANTONEIRA DUPLA SOLDADA À ALMA DA VIGA E uma capacidade de transferência de momento em torno de
PARAFUSADA À MESA DO PILAR
50% [2].
Cantoneira de
Cantoneira
Ligações com Chapas de Extremidade topo
de topo
Viga
Esta ligação consiste de uma chapa soldada na
extremidade da viga e parafusada à mesa do pilar.
Geralmente a solda é feita na fábrica e o aperto dos Viga
parafusos no campo. A chapa de extremidade pode ser de
Pilar Cantoneira
altura inferior (de cisalhamento), superior (estendida) ou Cantoneira
de assento Pilar
de assento
igual (nivelada) à alma da viga, caracterizando as ligações
como flexíveis e rígidas, respectivamente, como mostram a FIGURA. 5
Figura 3 e Figura 4. A chapa de extremidade estendida é LIGAÇÕES COM CANTONEIRAS DE TOPO E ASSENTO PARAFUSADAS NAS
usada quando é necessária a transferência significativa de MESAS DA VIGA E COLUNA.
 Ligações Soldadas
Também pode-se utilizar ligação com cantoneira dupla,
reforçada com as cantoneiras de topo e assento. Neste caso a viga é totalmente soldada à mesa do pilar,
Cantoneira de
Cantoneira
de topo
obtendo um comportamento rígido, como mostrado na
topo Cantoneira
dupla
Figura 9.

Cantoneira Solda
dupla
Viga Viga

Pilar Pilar Viga

Cantoneira de Cantoneira de
assento assento
Pilar
FIGURA. 6
LIGAÇÃO COM CANTONEIRA DUPLA E CANTONEIRAS DE TOPO E ASSENTO
FIGURA. 9
Ligações com Perfis “T” LIGAÇÃO SOLDADA

As ligações com perfil T, como mostrado na Figura 7, COMPORTAMENTO DOS TIPOS DE LIGAÇÃO VIGA
podem ser de vários tipos, como simples (parafusado à alma X PILAR
da viga e à mesa do pilar), de topo e assento (como nas
ligações com cantoneiras) e combinando estes dois tipos. A principal característica de uma ligação viga/suporte é
“T” de topo
a relação Momento X Rotação, que têm como abscissa a
rotação da viga em relação ao suporte () e como ordenada o
Momento (M). Esta relação descreve o comportamento das
ligações e é obtida normalmente por meios experimentais ou
Viga Viga
por modelos teóricos, empíricos ou semi-empíricos. São
Pilar “T” Simples Pilar “T” de assento curvas de comportamento fortemente não-linear, onde a
inclinação inicial representa a rigidez da ligação e o inverso,
“T” de topo 1/S, representa a flexibilidade rotacional.
O comportamento dos arranjos mostrados, segundo um
diagrama Momento X Rotação [3] apud [4], verifica-se a
não-linearidade da curva e o efeito da flexibilidade. Nota-se
Viga que as ligações mais flexíveis (com cantoneiras e chapa de
Pilar “T” de assento
extremidade inferior à alma da viga) apresentam patamar de
escoamento bem definido, possuindo uma boa capacidade de
redistribuição de esforços. Já as demais conexões
FIGURA. 7 apresentam significativo coeficiente de rigidez inicial, mas
DETALHES DE LIGAÇÕES VIGA-COLUNA UTILIZANDO PERFIS “T”
possuem pequena capacidade de deformação rotacional.
Ligações com Chapas Simples
A ligação com chapa simples, como mostrado na Figura Perfis “T” Chapa de extremidade estendida com
enrijecedor
8, consiste de uma chapa soldada à mesa ou à alma do pilar e
Chapa de extremidade estendida sem
parafusada à alma da viga enrijecedor
Momento M

Cantoneiras de topo e assento

Viga
Chapa de extremidade a
cisalhamento
Viga
Cantoneira dupla
Chapa
Pilar Chapa Pilar
Cantoneira simples

FIGURA. 8 Rotação 
LIGAÇÃO COM CHAPA SIMPLES SOLDADA À MESA DO PILAR E PARAFUSADA À
ALMA DA VIGA
FIGURA. 10
COMPORTAMENTO NÃO-LINEAR DOS TIPOS USUAIS DE LIGAÇÃO VIGA-PILAR
[3] APUD [4]
 CONCLUSÃO
O presente artigo faz uma interessante abordagem das
ligações parafusadas e soldadas usadas nas edificações
estruturadas em aço. Inicia-se com informações relevantes
sobre a importância das ligações por parafusos e por soldas.
Em seguida se apresentam os principais responsáveis pela
existência das estruturas de aço: os parafusos e as soldas. Em
ambos os tópicos são abordados o tipo, as especificações, as
resistências e, mais importante ainda, as vantagens de cada
um. Na continuação, apresentam-se as ligações viga x pilar,
com ampla explanação, em que constam ligações com
cantoneiras, com chapas de extremidade, com cantoneiras de
topo e assento e em perfil “T”. Finalmente aprofunda-se o
assunto focando o comportamento dos tipos de ligação viga
x pilar, no que diz respeito ao comportamento dos diversos
tipos de ligação em termos do diagrama Momento X
Rotação. Com isso se cumpre o objetivo didático do artigo,
com informações a serem apresentadas aos estudantes de
engenharia civil, logo no início do curso de Estruturas de
Aço, no sentido de despertar interesse pelo tema.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao CNPq, à Capes, à FAPES e à
FAPEMIG.

REFERÊNCIAS
[1] Monteiro, R., C., “Analise Não-Linear do Comportamento de
Pórticos Planos Metálicos com ligações Semi-Rígidas”, Escola
de Engenharia, UFMG, Belo Horizonte, MG, 1997
[2] Cardoso, D., C., L., “Modelagem numérica de ligações semi-
rigidas em estruturas metálicas”, PUC-RIO.1999
[3] Silva, P., P., Jr e Loriggio, D., D., “Análise elasto-plástica de
pórticos planos com conexões semi-rígidas, XXIX Jornadas
Sudamericanas de Ingenieria Estructura, 2000
[4] Dhillon, B. S. e Abdel-Majid. ”Interactive Analysis and Design
of Flexibility Connected Frames” Comp.& Atruct., ASCE 1990,
36(02), 189-202
[5] Ferreira, W., G., “Dimensionamento de Elementos de Perfis de
Aço Laminados e Soldados” Grafer, 2004