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Justiça dos Impostos:

Teorias de Justiça e Redistribuição da Riqueza em forma de Imposto

Finanças Públicas
2022/2023

Regência Professor Eduardo Paz Ferreira


Assistência Professor António Leitão Amaro

Márcia Miranda Felgueiras


Subturma 10
Turma B
Incontáveis são as vezes em que pagamos impostos, contudo, poucas são as
vezes que nos interrogamos quanto à sua natureza e justiça, qual o seu sentido social e
moral. Ao longo desta análise iremos dissecar o conceito e algumas das modalidades de
imposto e colocar o seu sentido de justiça à prova. Primeiramente serão expostas a
noção e as funções do importo e posteriormente será avaliada a sua moralidade e a sua
conformidade com justiça em sentido amplo. Por fim concluiremos quanto à suficiência
ou insuficiência destes para falarmos de uma verdadeira sociedade civilizada.

As finanças públicas surgem em função da criação de sociedades politicamente


organizadas, onde o Estado concede diretos fundamentais aos cidadãos, o que é possível
graças à obtenção de receitas por parte deste. Nos nossos dias os impostos são a receita
pública dominante em todo o mundo. Estes dividem-se em quota fixa e variável e
distinguem-se consoante a taxa aplicável se mantém constante em face de alterações de
rendimento, imposto proporcional, ou se modifica, tornando-se menor nos impostos
regressivos e mais alta nos progressivos1 .

A discussão sobre a justiça e a igualdade dos impostos é longa e cabe-nos fazer


uma breve apreciação. Não querendo fazer considerações quanto à justiça de cada
variante de imposto de forma individual, é claro que nuns se revela mais o caráter
redistributivo do que noutros. A Constituição da República Portuguesa no número 1 do
artigo 103º prevê que o sistema fiscal visa uma repartição justa dos rendimentos e da
riqueza, já no número 1 do artigo 104º estipula que o imposto sobre o rendimento
pessoal visa a diminuição das desigualdades. A Constituição apela, deste modo, à
distribuição equitativa.

A equidade é, para o filósofo John Rawls, como deve ser entendida a justiça 2, ou
seja, haveria justiça se esta fosse equitativa, se se trata-se o que é diferente de forma
diferente, o que é a própria materialização do Principio da Igualdade, que tanto nos é
querido. A equidade parte da visão da sociedade como um sistema de cooperação 3 e
retoma o modelo contratualista 4. Rawls é um defensor do liberalismo igualitário 5 onde
se dá primazia à virtude social da justiça e do respeito pelos direitos individuais. Propõe

1
EDUARDO PAZ FERREIRA, Ensaio de Finanças Públicas, EDIÇÕES ALMEDINA, Coimbra, 2021,
p.89.
2
JOHN RAWLS, Uma Teoria da Justiça, EDITORIAL PRESENÇA, 5ª Edição, Lisboa, 2021, p. 27.
3
JOÃO CARDOSO ROSAS, Liberalismo Igualitário, Manual de Filosofia Política, EDIÇÕES
ALMEDINA, 2ª Edição, Coimbra, 2020, p. 37.
4

5
JOHN RAWLS, O Liberalismo Político, EDITORIAL PRESENÇA, 1ª Edição, Lisboa, 1997, p. 39.
uma igualdade de oportunidades de modo a que a posição social de cada indivíduo não
resulta de fatores pelos quais não é responsável, o que consiste numa distribuição
desigual dos bens básicos de modo a favorecer quem se encontra em situação pior por
razões económicas, físicas ou intelectuais.

Apesar de os impostos serem a base da cooperação e da colaboração social, em


momentos de crise e de insatisfação generalizadas os impostos são muitas vezes algo de
criticas porque, perante tantas dificuldades economicas, as pessoas vêm parte das suas
escassas economias a serem encaminhadas para o Estado. A crise e a insatisfação levam
à desunião, o que leva à incompreensão da tributação. Os indivíduos tendem a achar que
o seu salário é somente a compensação justa do seu trabalho, assim como os seus
sucessos e fracassos. Contudo esquecem-se que nem todos partimos em pé de igualdade
para a corrida da vida. Para acreditarmos no mérito temos de crer na liberdade, temos de
considerar que todos temos iguais liberdades para atingirmos os nossos objetivos.
Contudo nem todos nascemos com capacidades semelhantes. Como lembra Michael
Sandel confiar na meritocracia é uma armadilha e corrói o bem comum 6. O sucesso e o
fracasso não dependem na totalidade do empenho de cada um, existem diversos fatores
que não controlamos, logo nos dias de hoje onde a distribuição de riqueza está cada vez
mais desequilibrada. A criança subnutrida nascida numa família extremamente
carenciada não partirá em pé de igualdade com o filho de um advogado muito bem
sucedido, e não há imposto que supere ou que colmate ou que chegue perto de colmatar
esta desigualdade que apenas se deve a fatores externos a eles ou à mera sorte.

Muitos são os exemplos que poderiam ser dados onde os impostos são
manifestamente insuficientes, e critica-los é uma tarefa simples e popular, sobretudo em
tempos de desagregação social e de egoísmo, que favorecem a perda de sentido de dever
cívico 7. Nas palavras de Wendell Holmes “os impostos são o que pagamos por uma
sociedade civilizada” 8, contudo fica a questão se o custo da civilização se resume a
impostos. Considero que falta um olhar mais humano e menos económico para as
graves desigualdades e injustiças sociais que assistimos.

Referências Bibliográficas:
6
MICHAEL SANDEL, The Tyranny os Merit – What’s Become of the common God?, ALLEN LANE,
Great Britain, 2020, p. 17.
7
EDUARDO PAZ FERREIRA, Ensaio de Finanças Públicas, EDIÇÕES ALMEDINA, Coimbra, 2021,
p. 64.
8
WENDELL HOLMES, apud EDUARDO PAZ FERREIRA, Ensaio de Finanças Públicas, EDIÇÕES
ALMEDINA, Coimbra, 2021, p. 64.
EDUARDO PAZ FERREIRA, Ensaio de Finanças Públicas, EDIÇÕES
ALMEDINA, Coimbra, 2021.

JOÃO CARDOSO ROSAS, Liberalismo Igualitário, Manual de Filosofia


Política, EDIÇÕES ALMEDINA, 2ª Edição, Coimbra, 2020.~

JOHN RAWLS, O Liberalismo Político, EDITORIAL PRESENÇA, 1ª Edição,


Lisboa, 1997.
JOHN RAWLS, Uma Teoria da Justiça, EDITORIAL PRESENÇA, 5ª Edição,
Lisboa, 2021.

MICHAEL SANDEL, The Tyranny os Merit – What’s Become of the common


God?, ALLEN LANE, Great Britain, 2020.

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