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ENSAIO SOBRE A

MORALIDADE DOS IMPOSTOS

por Alessandro Loiola, MD

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Sobre a obra:
Neste ensaio em formato de e-book, o médico e filósofo capixaba
Alessandro Loiola apresenta uma visão pragmática dos Impostos,
comparando a realidade brasileira à de outros países enquanto debate a
própria natureza, eficiência, necessidade e financiamento do Estado e dos
governos.

“ENSAIO SOBRE A MORALIDADE DOS IMPOSTOS”, lançamento


exclusivo de ManhoodBrasil Edições, oferece a chance de um passeio
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para professores, educadores, formadores de opinião, influenciadores
digitais, gestores públicos e qualquer cidadão com interesse genuíno em
atualizar-se sobre o tema.

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Índice
1. Introdução

2. Financiar ou Não Financiar?

3. Errado versus Improdutivo

4. Reciprocidade versus Valores Absolutos

5. Renda versus Consumo

6. Revolta versus Realidade

7. Conclusão
1. INTRODUÇÃO

No distante raiar do Neolítico, quando começamos a nos organizar em


comunidades, decidimos abdicar de fatias de nossa liberdade para abrir
espaço para um monstro que cuidaria da segurança das fronteiras,
diminuiria o medo de coações externas e garantiria a ordem e o progresso.
Com a chegada do monstro, descobrimos com algum pesar que dar-lhe
espaço não era suficiente: ele deveria ser alimentado periodicamente. Então
pegamos o que restava de nossa liberdade e a fatiamos mais uma vez dentro
de unidades de tempo, e dentro destas unidades trabalhamos com suor
redobrado para produzir o suficiente para suprir nossas necessidades e
confortos e sustentar o monstro.
Ao monstro, demos o nome de Estado; e à cota compulsória de
alimentos, o nome de Impostos.
Os impostos foram criados a partir da crença Moral de que os mais
afortunados deveriam ajudar de alguma maneira os menos afortunados,
subindo e descendo uma escada de valores sociais, tendo o Estado como
intermediário “neutro” deste auxílio. Isto tornaria os impostos o principal
instrumento através do qual o sistema político poderia colocar a justiça
econômica em prática e preservar os ditames de convívio. Rapidamente,
alguns passaram a considerar o monstro um oportunista disposto a profanar
cada uma de nossas vulnerabilidades, e traduziram o auxílio arbitrário como
um sinônimo de Roubo.
Na infância de minha racionalidade, eu costumava concordar com estes
últimos – de que “imposto é roubo” – por considerar a cobrança de
impostos injustificável. Entretanto, refletindo com um pouco mais de
maturidade e Razão, percebi que existe uma grande diferença entre dizer
que algo é Moralmente Errado e que algo é Economicamente improdutivo.
Quando você diz “sexo fora do casamento é errado” ou “sexo é sujo”,
você não está enunciando fatos lógicos e objetivos, mas recitando princípios
Morais. Nenhuma dessas atividades é intrinsecamente “improdutiva”: elas
apenas são o que são.
Pois bem: cobrar impostos é um roubo tanto quanto sexo é sujo ou um
pecado. Impostos são uma maneira de a sociedade financiar o Estado que
ela mesma engendrou para cuidar de assuntos que ou estão acima da
capacidade resolutiva de um único indivíduo isoladamente ou lhe são
simplesmente desinteressantes.
Muitas pessoas compartilham a visão de que o papel do Estado é
proteger os interesses de seus cidadãos – dentre eles o interesse à
propriedade privada – e de que os impostos são um assalto a esta
propriedade e, portanto, nada têm a ver com a proteção de seus interesses
individuais, consistindo em mais uma violação da liberdade de cada um de
nós. Os argumentos neste sentido em geral são extraordinariamente
eloquentes – e igualmente pueris.

2. FINANCIAR OU NÃO FINANCIAR?

Suponha que você mora em um lugar onde não existe Estado ou


governo de qualquer espécie. Um sujeito que mora por perto, um ex-militar
armado com 1,95m de altura, sólidos 100 kg de peso e um fuzil semi-
automático carregado, resolve oferecer proteção para a vizinhança. Porém,
como irá se dedicar integralmente a esta atividade, ele solicita que você e
seus vizinhos lhe ofereçam algum tipo de assistência – incluindo dinheiro
para comprar munição e manter um padrão de vida similar à média do
restante do bairro. No seu quarteirão, todos os moradores concordam,
menos um (sempre existe um anarquista por perto...).
Seria Moralmente correto se os vizinhos dissessem ao anarquista:
“pague sua parcela ou mude-se de bairro”? Ou você estaria disposto a
dividir com os demais a quota daqueles vizinhos que recusaram o custo da
proposta, mas que esperam receber proteção assim mesmo?
Esta é a situação do governo.
O problema central do discurso “imposto é roubo” está em que ele
assume que não existe uma diferença Moral entre um indivíduo sob alguma
forma de governo e um indivíduo sem governo algum. É óbvio que este
raciocínio é falho e que os impostos algumas vezes são Moralmente
corretos, caso nosso relacionamento com o restante da sociedade tenha
esperança de ser minimamente razoável.
Quando questionamos a Moralidade dos impostos, estamos na verdade
questionando a Moralidade da aplicação destes impostos – ou a ética de sua
reciprocidade.
Os gastos do governo e os investimentos do Estado deveriam ser uma
expressão do acúmulo das prioridades que a Sociedade considera
importantes como parte do bem comum; e a distribuição do dinheiro
arrecadado deveria obedecer às leis naturais governadas pelas necessidades,
habilidades e méritos dos cidadãos. Entretanto, isto nem sempre ocorre
como planejado e o princípio distributivo raramente obedece este padrão.
Assim, o debate sobre impostos não consiste em uma simples discussão de
aritmética orçamentária, mas em um debate complexo da relação Moral
entre o Estado e a Sociedade.
Não existe Liberdade dentro de um Estado, seja ele democrático ou
não. Qualquer Estado nasce da concordância coletiva em limitar certas
Liberdades em nome de segurança, controle, estabilidade e prosperidade.
Os direitos e as ideias de justiça que aceitamos para estabelecer o convívio
em sociedade baseiam-se na premissa de que cada um de nós precisa ser
protegido da agressividade das ganâncias alheias. Esses direitos e ideias,
portanto, são conceitos de tutela.
Novamente, como no caso do brutamonte armado que faz a segurança
da vizinhança, esta tutela possui custos. Se você vive em sociedade, por
menores que sejam estes custos, eles sempre existirão. Quem irá arcar com
eles?

3. ERRADO VERSUS IMPRODUTIVO

O debate sobre impostos não trata de uma violação ilegítima da


liberdade, da propriedade privada e da autonomia dos cidadãos, mas de um
juízo econômico sobre a improdutividade do Governo.
Para tornar este argumento ainda mais claro, considere o seguinte: o
Brasil tem uma carga tributária equivalente a 34% do PIB nacional. Para
efeito de comparação, saiba que este é mesmo valor médio dos 35 países
que compõem a OCDE e aproximadamente o mesmo índice observado na
Bulgária, na República Tcheca, em Malta, na Nova Zelândia, na Polônia, na
Sérvia e no Reino Unido.
Nos EUA, a carga tributária corresponde a aproximadamente 26% do
PIB. No grupo dos 15 Países Mais Democráticos do Mundo (Noruega,
Islândia, Suécia, Nova Zelândia, Dinamarca, Irlanda, Canadá, Austrália,
Finlândia, Suíça, Holanda, Luxemburgo, Alemanha, Reino Unido e
Áustria), esta carga equivale a 38,7% do PIB.
No grupo dos 10 Países com Maior IDH do Mundo (Noruega, Suíça,
Austrália, Irlanda, Alemanha, Islândia, Hong Kong, Suécia, Singapura e
Holanda) equivale a 33% do PIB – variando desde os módicos 13% de
Hong Kong até os quase inacreditáveis 47,9% da Suécia. Que tipo de
retorno os Estados destes países oferecem pelo “alimento” que a sociedade
lhes dá?
O grupo dos 15 Países Mais Democráticos apresentam um IDH médio
de 0,919. Em uma regra de três simples, se a carga tributária de 38,7% deles
é capaz de sustentar um IDH de 0,919, os nossos 34% deveriam produzir
um IDH de 0,807 – e não os atuais 0,754. Obviamente, a cantilena sedutora
deste raciocínio esbarra no equívoco básico de desconsiderar o valor
absoluto da produtividade de cada uma dessas nações: 34% do PIB nacional
de um país com um PIB nominal per capita de US$ 50.000 não significa a
mesma quantidade de dinheiro nas mãos do Estado que 34% de um país
com PIB nominal per capita de US$ 25.000.
Os 15 Países Mais Democráticos possuem um PIB nominal per capita
de US$ 53.806 por ano; nos 10 Países com Maior IDH, este valor sobre
para US$ 54.140; e, nos sete países citados que possuem uma carga
tributária na casa dos 34%, corresponde a US$ 20.764.
No Brasil, o PIB nominal per capita médio é de US$ 13.670 por ano
(ou 35% menor que o valor dos sete países com carga tributária na casa dos
34%). Isso significa que os 34% de impostos sobre o nosso PIB equivalem
a cerca de US$ 0,36 trilhões por ano. Nos EUA, a carga tributária de 26%
sobre o PIB corresponde a US$ 6,54 trilhões por ano.
Em média, os 15 Países Mais Democráticos investem 10% do PIB em
saúde – o equivalente a US$ 5.400 per capita por ano. Destes países,
apenas seis (Noruega, Islândia, Suécia, Finlândia, Canadá e Reino Unido)
possuem sistemas de saúde públicos e universais sem custos adicionais
como o nosso SUS. O Brasil investe cerca de 7% do PIB em saúde – o
equivalente a US$ 780 per capita por ano. Ou seja: em termos de saúde,
investimos quase 7 vezes menos por cabeça e esperamos ter um sistema de
saúde tão bom quanto os demais, apenas pelo fato de estarmos em faixas
aproximadas de taxação sobre o PIB.
De maneira semelhante, os 15 Países Mais Democráticos investem em
média 8,6% do PIB em educação básica e fundamental, o que equivale a
uma média de US$ 11.380 per capita por ano. No Brasil, repassamos 5,9%
do PIB para educação, o que equivale a uma média de US$ 3.800 per capita
por ano. Em termos de educação, investimos quase 3 vezes menos por
cabeça e esperamos desfrutar de um sistema de educação tão bom quanto os
demais – novamente – apenas porque estamos em faixas aproximadas de
taxação em relação o PIB.
A insistência neste tipo recorrente de ingenuidade, que afirma que já
recolhemos muito sobre o PIB, não se trata apenas de um equívoco
aritmético inocente, mas de uma metanarrativa Relativista que visa torcer a
Verdade substantiva dos fatos completos em nome de discursos ideológicos
míopes. Não é um argumento fundado em Lógica, mas uma armadilha
doutrinára de dissonância cognitiva que procura esconder a incompetência
de nossa produtividade.
Sim, pagamos um porcentual alto sobre o PIB. Sim, este porcentual
atua dificultando a eficiência dos mecanismos produtores. Mas não, esta
não é a única explicação para a indolência econômica que permeia a
mentalidade brasileira. Não produzimos menos por causa de impostos.
Produzimos menos por causa da cultura assistencialista que se tornou
hereditária em nosso país: o brasileiro típico sonha com um emprego, não
um trabalho.

4. RECIPROCIDADE VERSUS VALORES ABSOLUTOS

Tanto no caso da saúde quanto no caso da educação, a reciprocidade


Moral dos Impostos tem uma relação prática com a reduzida produtividade
do trabalhador brasileiro e no baixíssimo valor agregado daquilo que
produzimos, que geram um PIB nominal medíocre, de onde deriva então o
financiamento para a saúde pública e para a educação, entre outros.
Os impostos se tornam "caros" e imorais quando a serventia não é
qualitativamente proporcional ao que foi recolhido. Mas, em um mundo
globalizado e em mentes realistas, esta serventia deve ser calculada em
valores absolutos dos custos totais e não considerada emocionalmente
quando observamos apenas o porcentual recolhido em relação ao PIB.
Ainda que alguns se queixem do volume de impostos cobrados no
Brasil, e ainda que uma parcela considerável desta revolta resida no retorno
que o governo oferece pelos impostos cobrados, é impossível negar que
nossa baixa produtividade econômica faz com que a carga tributária não
pareça apenas mais dolorida, mas seja também mais insuficiente: em um
ranking organizado pelo Fundo Monetário Internacional envolvendo 185
países, ocupamos a 50ª posição no PIB nominal per capita, perdendo para
países como Lituânia, Antígua, Seicheles, Omã, Uruguai, Barbados, Palau,
Chipre, Israel e Macau.
Sim, impostos consistem em forçar que as pessoas dêem parte do
dinheiro que produziram ao Estado. E os impostos são necessários e até
certo ponto desejáveis, pois sustentam o Estado organizado que, por sua
vez, gerencia o funcionamento de vários serviços básicos como a Lei, a
justiça, a segurança das fronteiras, a manutenção de estradas, a iluminação
pública e a coleta de lixo, entre outros. Uma vez que estas faculdades
precisam ser financiadas, o Governo rateará seu custeio entre aqueles que se
abrigam à sua sombra.

5. RENDA VERSUS CONSUMO

Nos EUA, 49% da arrecadação de impostos advem da tributação da


renda. No Brasil, 48% advem da tributação do consumo.
Muitos afirmam que a opção brasileira por tributar o consumo e não a
renda decorre da alta concentração de renda em nosso país, mas a verdade é
que a baixa produtividade do trabalhador brasileiro, associada à leniência
do Estado, permite que mais de 80% da população seja dispensada da
obrigação de pagar o Imposto de Renda de Pessoa Física (IRPF): em média,
apenas 3% da população total (ou 6% das pessoas que participam da
População Economicamente Ativa) estão na faixa de recolhimento do IRPF.
Apesar de o IRPF representar míseros 3,63% da arrecadação total anual
do governo em impostos, a carga tributária sobre salários no Brasil supera a
de países como Suíça, Coreia do Sul, Estados Unidos, Reino Unido,
Canadá, Irlanda, Chile, Dinamarca, Chile e Nova Zelândia.
A opção por priorizar a tributação sobre o consumo é mais uma
daquelas soluções estúpidas típicas do Estado brasileiro. Ainda que os
justiceiros sociais reclamem que este método sobrecarregue as pessoas de
baixa renda, esta conclusão tem cheiro e cor de falácia: dado o volume de
consumo, são as pessoas mais ricas que movimentam e recolhem boa parte
do financiamento que sustenta as escolas públicas, a saúde pública e a
segurança pública. Insatisfeitas com o retorno que obtém, os 3% da
população brasileira que recolhem IRPF autotributam-se triplamente ao
recomprar de particulares os serviços que pagaram ao Estado em
tributações sobre sua renda e seu consumo.
Temos um número imenso de cidadãos desempregados e de baixa
renda que sobrevive de auxílios do governo; uma classe média em menor
número, que se luta para manter seus compromissos fiscais em dia pela
força de seu suor; e uma classe alta em ainda menor número, que
essencialmente custeia a maior parte da arrecadação do Estado por meio do
seu alto consumo.
À dinâmica torta do sistema de arrecadação brasileiro, deve-se somar
ainda o alto volume dos gastos do Estado: apenas nossos Ministérios
possuem um custo operacional de 400 bilhões de reais por ano.
É óbvio que a falência por fadiga torna este modelo insustentável no
longo prazo: quando o Estado – paquidérmico, obeso e ineficiente – deixa
de estimular o autopertencimento e passa a distribuir obstáculos para o
empreendedorismo e a inovação, a tendência é que a classe que responde
pela maior faixa de arrecadação pouco a pouco diminua ou abandone as
atividades produtivas, ou simplesmente mude seu local de produção ou o
destino de seus lucros e de seu consumo, e este movimento, cedo ou tarde,
estrangulará o financiamento e conduzirá todo o conjunto ao colapso.
Atualmente, este é o caminho tributário onde nos encontramos.
Segundo a ordem natural da Moralidade tradicional, o trabalho duro, a
paciência e a prudência tendem a gerar prosperidade e, por isso, são
considerados virtudes. A preguiça, a indisciplina e a impaciência por outro
lado, tendem a resultar em pobreza e sofrimento, e são considerados vícios
de caráter. Quando o governo rompe com esta ordenação, taxando a
criatividade e incentivando o vitimismo, ele compromete seu próprio
funcionamento. Ao subverter o senso de justiça e contribuir para o
surgimento de fissuras no tecido social, o Estado deixa de ser uma parte da
solução e torna-se uma fração considerável do problema.
A corrupção tende a diminuir a percepção Moral que temos do Estado,
da política e do governo, aumentando a evasão de taxas e reduzindo o
volume de impostos arrecadados: em um ambiente onde a Moralidade dos
impostos é açoitada pelos desvios de caráter dos governantes, as pessoas
passam a se questionar se deveriam realmente pagar tudo que o Estado lhes
cobra – e terminam não pagando mesmo. Quando isto ocorre, recuperar a
economia torna-se uma tarefa bem mais simples que recuperar a confiança
na ética do Estado e na Moralidade das taxas do governo.

6. REVOLTA VERSUS REALIDADE

A lista das revoluções cobrando redução de impostos é imensa, indo


desde os Zelotes judeus no século I antes de Cristo até os tumultos na
Nicarágua em 2018, passando por manifestações em Constantinopla em
1197, na Alemanha em 1524, na Holanda em 1543, na França em 1597; a
Guerra Civil Inglesa, as revoltas na Itália e na Escócia no século XVII; a
Revolução Americana no séxculo XVIII; e dezenas de outros protestos
violentos nos séculos seguintes em inúmeros países.
No Brasil, em junho de 2013, os protestos contra um aumento de 20
centavos de real nas tarifas de passagens de ônibus urbanos se
transformaram em uma onda de manifestações que varreram o país de norte
a sul. Coroadas por uma crise fiscal e econômica sem precendentes, o
processo culminou com a cassação do mandato da presidente Dilma
Roussef em 31 de agosto de 2016.
Ao longo da história mundial, os cidadãos sempre se queixaram de que
recolhiam muitos impostos e que os valores recolhidos eram mal
empregados. Esta é uma reclamação milenar com poucas chances de ser
resolvida. Quando o governo taxa um cidadão, isso significa que o Estado o
está ameaçando de alguma forma, e ameaças habitualmente resultam em
protestos. Por exemplo: como resposta à sua ameaça de inadimplência, o
Estado protesta avisando que você pode perder sua liberdade e ir preso se
não pagar seus impostos. Como isto também é uma ameaça de violência,
você toma a vez e protesta contra o Estado.
Ainda que o governo utilize o dinheiro arrecadado em uma boa causa,
isso não exime os impostos de representar uma forma de prestação
compulsória – ou roubo, se preferir este termo. Entretanto, os cidadãos que
vivem sob um Estado concordaram em pagar impostos: esta é uma parte do
contrato que existe entre a Sociedade e o Estado. Quando você utiliza
serviços do Estado como polícia, garantias de propriedade privada e do
cumprimento de contratos, está indicando que aceita o pacto.
7. CONCLUSÃO

A única maneira de viver sob um Estado e tentar refutar a Moralidade


dos impostos é utilizar argumentos que utilizem nada de Lógica ou
maturidade. Como defender "zero-impostos" e ao mesmo tempo exigir que
alguém (que fatalmente será um Estado ou algo no seu molde efetivo)
garanta o cumprimento das transações, dos direitos e dos deveres? Como
escreveu Milton Friedman em seu clássico ensaio sobre política econômica
publicado em 1975, “Não existe essa coisa de um almoço grátis”, e o
"alguém-garantidor dos contratos" terá que ser financiado. De que maneira
isso ocorrerá? Voluntariamente?
Quando anarquistas e libertarianos dizem que “imposto é roubo”, eles
deveriam se dispor também, por uma questão de honra e plausibilidade, a
abandonar qualquer forma de Estado ou governo financiada por estes
impostos. Se cobrar impostos é injusto, condenar os impostos e ao mesmo
tempo usufruir daquilo que estes impostos proporcionam é no mínimo um
contrassenso hipócrita.
Se você ainda considera que os impostos são um roubo, a despeito das
vantagens que viver sob um Estado lhe oferece, então qual seria a saída?
Abolir todos os impostos? Alguns roubos podem ser justificados: se você
precisa roubar um pão para literalmente escapar de morrer de fome, ainda
que isso seja errado, o ato pode ser justificado. De maneira similar, o
governo pode justificar os impostos como uma maneira de evitar
desdobramentos terríveis – como a disrupção da ordem social, por exemplo.
Se o governo tornasse os impostos realmente uma questão de escolha
Moral, de que serviriam as Leis?
Os impostos são um confisco do dinheiro dos cidadãos para custear as
atividades do Estado. Sem impostos, sem Estado. Sem Estado,
retrocederíamos à Lei da Selva. Se você discorda disto, recomendo que
viaje para zonas de guerra e veja como as massas de animais humanos
sobrevivem harmoniosamente quando abolimos o Estado de suas vidas.

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