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O “sonho” do funcionalismo público… – Mídia Sem Máscara

É perfeitamente compreensível entender por que uma boa parte estudiosa e universitária da
população procura cargos públicos: a iniciativa privada paga maus salários e os empregos,
em sua maioria, aparentam não ser promissores. Os salários de cargos públicos, à primeira
vista, são atraentes. Todavia, pouca gente se pergunta o preço dessa mania e por que muitos
empregos privados são tão ruins. A fórmula é relativamente simples: cerca de quase metade da
renda nacional está nas mãos do Estado. Essa renda toda, decerto, não é produzida pelo
funcionalismo, que no país, é um verdadeiro exército de gente empregada e cara. No entanto, mesmo
que o cidadão comum pague uma carga tributária pesadíssima, eis o que se vê nos serviços públicos
em geral: hospitais e escolas públicas caindo aos pedaços, papeladas e mais papeladas para resolver
problemas burocráticos que poderiam ser simples e a corrupção, que em certos setores, se torna
generalizada. E seus efeitos são sentidos também na iniciativa privada: pouca acumulação de capital e
poupança, salários baixos, escassez de bons empregos e empobrecimento geral.

Se não bastasse o mercado ser exaurido por conta dessa estrutura estatizante, uma boa parte da
sociedade guarda também um sólido ranço mercantilista. A empresa privada brasileira pode ser
competitiva e muitos brasileiros são grandes empreendedores. Porém, eles enfrentam toda uma
estrutura institucional que parece odiá-los e a hostilizá-los. A mentalidade vigente na política e na
economia brasileira não parece gostar de livre concorrência. Empresa privada que se dá bem é aquela
que presta salamaleques ao governo e vive numa bizarra espécie de capitalismo sem riscos. Ou
melhor, onde os lucros são privados e os riscos são públicos. É possível entender por que muita gente
foge do ofício de ser empresário. Há toda uma sorte de dores de cabeça para realizar tal atividade:
impostos altíssimos, fiscais da receita ou do trabalho corruptos, direitos trabalhistas
altos e impagáveis, contas pesadas a pagar, sem contar as dificuldades inúteis para
regularizar uma empresa. Até fechar um negócio se torna dispendioso. A despeito de ser o
elemento motivador que gera a riqueza econômica do país, o empresário é estigmatizado como uma
criatura exploradora e parasita, cuja atividade é uma “concessão” que o Estado oferece, como um mal
necessário. As restrições burocráticas ao livre mercado são assombrosas e desestimulantes. Cabe
acrescentar outras dificuldades graves: as reservas de mercado nas práticas empresariais,
profissões, ofícios. E também privilégios em relação aos empréstimos, subsídios e
incentivos fiscais que o Estado proporciona para certos empresários amigos do rei. A
concorrência, neste caso, se torna desleal.

É paradoxal que em nosso país, a iniciativa privada se sinta dependente ou refém do Estado.
Contrariamente ao bom senso de todas as filosofias políticas, não é o Estado que se torna elemento
subsidiário e marginal da sociedade e da iniciativa privada, mas é a própria sociedade e a iniciativa
privada que são elementos subsidiários e marginais do Estado. É como se a iniciativa privada fosse
parte do próprio Estado e não um elemento separado, dicotômico, tal como ocorre nas sadias
democracias modernas. Daí a promiscuidade entre o público e privado, entre o empresário
privilegiado e o político e burocrata vigarista e corrupto. Daí o patrimonialismo, que confunde a
autoridade pública abstrata do cargo com a própria pessoa do cargo.

Um exemplo claro disso é quando o eleitorado vota inspirado no assistencialismo governamental. O


retrato dessa anomalia é a bolsa-família e demais subsídios aos pobres. Na mentalidade da maioria
dos eleitores ignorantes, o Estado, como um pai, um coronel, um senhor de engenho, foi caridoso,
deu de comer aos famélicos coitados. O Estado não é uma figura burocrática e impessoal. Ele tem
sentimentos e vontade própria. Sua ação não se faz por conta das leis, para retribuir à sociedade o que
recolheu em impostos, mas porque realiza um “favor”,uma generosidade, uma boa ação ao povo
pobre. Assim pensaram os eleitores nordestinos que votaram em peso em Dilma Rousseff para
presidente. Na mentalidade deles, o Estado não é uma entidade abstrata, porém uma figura
personalizada, na pessoa do Sr. Lula. O mesmo se aplica ao chamado Prouni, ao subsídio que o
governo federal dá aos estudantes pobres para ingressarem nas universidades.

Na propaganda do governo, uma atriz relata: – Antes, medicina era coisa pra rico! Tal como um
lacaio de senzala ou um menino de recados do Brasil colonial, a criatura reproduz um pensamento
secular de servilismo arraigado na população. Claro, o futuro ex-presidente demagogo captou
perfeitamente a psicologia dos pobres para tratá-los como “filhos”, tal como um senhor de engenho
trataria seus lacaios da fazenda. O mesmo princípio se aplica aos empresários benevolentes e
bajuladores do governo, que ganham privilégios com essa aliança subserviente e desigual. A empresa
privada vive amarrada numa situação legal de chantagem tributária com o Estado, idêntica a uma
relação entre um eterno devedor e um agiota. O governo cria leis tributárias impossíveis de serem
cumpridas e o empresário médio se torna um eterno cativo dos fiscais da receita. Na prática, trocou-
se o senhor de engenho e o burocrata português pela figura personalista do Estado soberano, do
governo federal. A soberania estatal, por assim dizer, virou um grande senhor de engenho. E os seus
cidadãos, verdadeiros escravos da senzala, fazem contrição, agradecidos, pela generosidade do ogro
filantrópico governamental.

Mesmo a psicologia da criatura da propaganda do Prouni reflete um atraso civilizador: medicina,


como funcionalismo público, não é uma atividade profissional como outra qualquer,
dentro de uma nação capitalista e democrática. É uma outorga governamental, um
status bacharelesco, que a distingue dos seres mortais, tal como os nobres do Antigo
Regime. Por mais que o governo jorre dinheiro para universidades de péssima qualidade, inclusive,
sendo que a maioria delas tenha as piores notas no ENADE (Exame Nacional de Desempenho
dos Estudantes), o importante não é ter cultura intelectual séria, mas sim distribuir diplomas a
granel, inflar as estatísticas governamentais e formar centenas de milhares de bacharéis analfabetos
funcionais.

Lima Barreto, no seu delicioso romance “Os Bruzundangas”,dizia que a fama generalizada de
“doutores” era um simulacro de título de nobreza de toga, tal como a nobiliarquia dos “Dons” da
Espanha. O mesmo sentimento se aplica aos funcionários públicos. O “sonho” do concurso público,
basicamente, é a mentalidade patrimonialista que se repete de geração por geração, de se achar
distinto, por pertencer às esferas do poder estatal.

É mais compreensível ainda por que a inteligentsia brasileira busque na burocracia, um sinal de
ascensão social. Mesmo os mais acérrimos intelectuais críticos do patrimonialismo estatal brasileiro,
com sólido pensamento liberal, são ou foram funcionários públicos. Essa questão denuncia a carência
ou pobreza, dentro da iniciativa privada, de atividade intelectual fora da influência do Estado. Mesmo
a educação privada e universitária brasileira é uma extensão do Estado e segue todas as cartilhas
impostas pela burocracia. Não há um reitor, um professor universitário, um livre pensador que
questione a intervenção estatal sufocante em escolas e faculdades privadas. Na verdade, livre
pensamento no Brasil é estatizado. Historiador, sociólogo, filósofo, professor, economista não é
aquele que estuda história, sociologia, filosofia, letras, pedagogia ou economia e sim quem possui
diploma desses conhecimentos. Ainda que o indivíduo seja um completo ignorante nessas matérias, o
culto da papelada prevalece sobre o conteúdo real. O autodidata estudioso não existe na cultura
intelectual brasileira, salvo, é claro, se tiver um papel timbrado. Quando a papelada bacharelesca não
te ectua b as e a, sa vo, é c a o, se t ve u pape t b ado. Qua do a pape ada bac a e esca ão
resolve ou quando simplesmente não a possui, vira naturalmente funcionário público.

Os empresários da educação não querem brigar contra o Estado; morrem de medo dos governantes.
E professores e alunos parecem crer que seja “natural” que o Estado imponha projetos, políticas
pedagógicas ou mesmo reles doutrinação ideológica através de burocracias aladas do MEC
(Ministério da Educação), em Brasília. Algum professor do país conhece quem está ditando as
cartas para educar os alunos? Algum pai de família questiona o que seus filhos estão aprendendo na
escola? Os burocratas socialistas da educação já estão ditando para nós o que devemos ou não ler nas
salas de aula: Monteiro Lobato, um clássico infantil de gerações de crianças brasileiras,
foi ameaçado de ser banido pelo Conselho de Educação, por ser considerado “racista”.
E se não bastasse a perversão pedagógica desses doutos ursos sábios da engenharia social travestida
de educação, já querem impor cartilhas homossexuais nas escolas, para menores e adolescentes!
Todavia, uma boa parte dos brasileiros confia cegamente na sacrossanta autoridade dos
“sonhadores” do concurso público, ainda que contraditoriamente critique seus serviços!

Embora o concurso público seja um avanço administrativo, pois ajudou a impessoalizar a burocracia
estatal, tornando-a mais competitiva e meritocrática (ao menos na seleção dos quadros
internos), no entanto, o corporativismo continua atuante e a mania do cargo público constitui uma
anomalia social perigosa. Pouca gente percebe nessa onda a feroz concentração de poder estatal, o
afunilamento do mercado de trabalho e demais opções de emprego na sociedade civil. A pergunta que
fica no ar é: com um exército de funcionários públicos, quem pagará a conta? Quem
pagará o déficit da previdência social, que explode a cada dia e endivida cada vez mais
o Estado? Alguém já percebeu quem é o sujeito mais privilegiado no recolhimento de
impostos? Com certeza não é o contribuinte. Uma parte considerável dos impostos é para
pagar a folha de salários do funcionalismo público. Em alguns casos, essas folhas superam, de longe,
todos os gastos necessários em serviços, em favor do cidadão comum.

É inteligível por que muitos indivíduos “sonhem” com o concurso público. O “sonho” do concurso
público escamoteia uma realidade perversa da sociedade brasileira: uma nação pobre, dominada
por um capitalismo cheio de cartéis, reservas de mercado e distorções governamentais,
que encarece a vida econômica e escasseia os empregos. É uma economia rigidamente
estratificada, que teme os riscos e cria empecilhos estúpidos para os mais competitivos. Chega a ser
paradoxal que os mais competitivos procurem no Estado, aquilo que não acham no mercado. Claro
que os “concurseiros” só são competitivos quando estudam para as provas. Depois se tornam
parasitários em privilégios. Ciosos do seu bem estar, de sua estabilidade profissional e de suas
regalias profissionais, uma parte significativa deles é abertamente hostil a quaisquer mudanças de
ordem econômica, quando implicam a diminuição do Estado ou do orçamento.

Não há de surpreender porque o funcionalismo público, em sua grande parte, adota o socialismo
como ideologia. Sob o disfarce de um discurso progressista, é uma classe reacionária por excelência,
quando a questão é a defesa de seus privilégios. O ódio disseminado contra o patrão, o capitalista real
ou o empreendedor privado, no âmago dessas doutrinas estatizantes, coaduna com o amor idolátrico
pelo chefe abstrato que é o Estado. Esse chefe abstrato não tem olhos, não tem vida ou comando
próprio para cobrar a conta deles. Nem mesmo o contribuinte médio, que supostamente é o seu
chefe, tem olhos fiscalizadores para o dinheiro que é tirado de seu bolso. Na verdade, o próprio
funcionário público é o chefe, o comando, o próprio Estado. E numa inversão de hierarquias, aquele
que deveria ser servido, que é o cidadão comum, é o seu mais atribulado servidor. Ou melhor, o seu
mais atribulado servo.
A segurança estatal ilusória da estabilidade é um dos atrativos da carreira pública. Parte-se do
mecanismo psicológico de isenção de responsabilidade individual e da transferência de custos do
funcionalismo público para o próprio Estado. Daí a crença fantasmagórica de que o socialismo,
expandindo suas garras sobre a sociedade, expandirá também os confortos restritivos da burocracia.
Contudo, esses confortos só existem porque há uma margem de mercado livre, com todos os
empecilhos burocráticos existentes. São os empresários e trabalhadores privados que produzem os
bens de consumos baratos e acessíveis para esse mesmo funcionalismo. Ou mais, é a livre empresa e o
trabalhador assalariado da iniciativa privada que pagam os salários e os consumos dos servidores
públicos. Sem este mero detalhe, os confortos do grosso da burocracia estatal simplesmente
desaparecem. Ou na melhor das hipóteses, só uma nomenclatura bem diminuta se beneficiaria com
essa concentração de poder governamental(como de fato, ocorreu em todos os países
socialistas).

Na verdade, o funcionalismo público é, por natureza, um grupo cujos ganhos estão na ineficiência.
Quanto mais o Estado gastar com eles, melhor. Não há uma relação direta entre os salários dos cargos
públicos com produtividade. Pelo contrário, quanto menos trabalho e maior ganho, maior é a
recompensa. Em suma, o funcionalismo público é uma classe que quanto mais se agiganta, mais se
torna inútil, mais se torna incontrolável. O potencial de subversão do funcionalismo público é
altamente destrutivo. E em nome disso, pode ameaçar tanto a economia, como as liberdades de um
país democrático.

Não condeno quem busca a carreira pública. Sob muitos aspectos, as vantagens do funcionalismo são
sedutoras e é uma atividade laboral e honesta como qualquer outra. Em muitos países ricos e
democráticos, o funcionalismo público tem um significado bastante secundário, como de fato, deve
ser. No entanto, é criticável a mitificação do cargo público como se fosse uma atividade superior,
acima do bem e do mal, ou um “sonho”, na visão do juiz William Douglas. Este “sonho” custa muito
caro ao país. No Brasil, o cargo público ganha aura mística, sacerdotal, importância desproporcional e
absurda. O inchaço do poder público e a expansão da burocracia estatal é uma tragédia para o país.
Onera o contribuinte, arruína as contas do Estado e poda o desenvolvimento de uma nação.

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