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ANÁLISE DAS QUESTÕES DOS

FORMULÁRIOS DE NOTIFICAÇÃO
DE ACTOS DE
CONCENTRAÇÃO DE EMPRESAS

LINHAS DE ORIENTAÇÃO
FICHA TÉCNICA
Título: Análise das Questões dos Formulários de Notificação de Actos
de Concentração de Empresas

Edição: Autoridade Reguladora da Concorrência (ARC)

Elaboração: Departamento de Controlo de Concentrações

Supervisão: Conselho de Administração

AUTORIDADE REGULADORA DA CONCORRÊNCIA


Avenida Ho Chi Minh, Largo da Independência,
Torres Dipanda (B), 6º Andar
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transmitido na íntegra, desde que citada a referência e exclusiva autoria da
Autoridade Reguladora da Concorrência. É proibida a comercialização e
tradução, sem autorização prévia, por escrito, da Autoridade Reguladora da
Concorrência.

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ÍNDICE
I. INTRODUÇÃO............................................................................................. 4
II. ANÁLISE DAS QUESTÕES DOS FORMULÁRIOS DE NOTIFICAÇÃO............................. 5
2.1. Operação de Concentração de Empresas ...............................................................5
2.2. Natureza da Operação de Concentração.................................................................6
III. FORMULÁRIO DE NOTIFICAÇÃO DE OPERAÇÕES DE CONCENTRAÇÃO ..................... 7
3.1. Tipo de Formulário .........................................................................................................7
3.2. Informação Geral do Formulário ...............................................................................8
3.2.1. Sumário da Operação de Concentração..........................................................8
3.2.2. Sobre a(s) Notificante(s) ........................................................................................9
3.2.3. Mercados Relevantes .............................................................................................9
3.2.4. Factores Estruturais à Definição dos Mercados Relevantes ................. 10
3.2.5. Estrutura de Controlo ........................................................................................ 19
3.2.6. Confidencialidade da Informação ................................................................... 20
IV. ANÁLISE ECONÓMICA DE OPERAÇÕES DE CONCENTRAÇÃO DE EMPRESAS ............ 21
4.1. Teste Legal à Análise das Operações de Concentração ................................... 21
4.2. Factores Fundamentais à Análise das Operações de Concentração .......... 21
4.3. Avaliação Jus-Concorrencial ................................................................................... 23
4.3.1. Estrutura de Mercado ........................................................................................ 23
4.3.2. Índices de Concentração de Mercado ........................................................... 26
4.3.3. Efeitos Unilaterais e Coordenados ................................................................. 29
4.3.4. Barreiras à Entrada e à Expansão................................................................. 31
4.3.5. Eficiência Económica ......................................................................................... 33
4.3.6. Remédios ................................................................................................................ 35
V. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................ 37
GLOSSÁRIO ..................................................................................................... 38
PROCESSO DE CONTROLO DE CONCENTRAÇÕES ...................................................... 39

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I. INTRODUÇÃO
O acto de mudança duradoura de controlo sobre a totalidade, ou parte, de uma ou
mais empresas, em resultado de uma operação que ocorra em território nacional, ou
que neste produza ou possa produzir efeitos configura-se concentração de empresas,
ao abrigo da Lei n.º 5/18, de 10 de Maio, Lei da Concorrência (adiante LdC).

As empresas envolvidas em operações de concentração, por fusão ou aquisição,


sujeitas à notificação prévia, nos termos do n.º 1 do artigo 17.º da LdC, conjugado com
o n.º 1 do artigo 10.º do Decreto Presidencial n.º 240/18, de 12 de Outubro,
Regulamento da Lei da Concorrência (adiante RLdC), bem como àquelas operações de
concentração de empresas, isentas de notificação prévia, desde que sejam
expressamente solicitadas pela Autoridade Reguladora da Concorrência (adiante
ARC), nos termos do artigo 19.º da LdC, devem notificar a respectiva operação à ARC.
A referida notificação é feita mediante a apresentação de um conjunto de informações
de base e documentos que permitem a validação da notificação e a respectiva avaliação
dos possíveis efeitos anti concorrenciais que o acto de concentração de empresas possa
gerar no mercado.

A submissão da informação sobre a operação de concentração de empresas, para efeito


da sua notificação à ARC, é feita mediante o preenchimento do Formulário de
Notificação de Operações de Concentração de Empresas, aprovado pela ARC,
conforme estabelecido no artigo 38.º da LdC. O Formulário de Notificação refere-se a
uma listagem pormenorizada de informações e evidências primárias exigidas e
necessárias à análise do acto de concentração.

A avaliação de operações de concentração de empresas comporta etapas combinadas


de metodologias de análise e princípios normativos, em matéria de concorrência,
imprescindíveis ao conhecimento e à compreensão dos operadores económicos, na
medida em que contribuem para a convergência de abordagens, a previsibilidade das
decisões e o aumento da segurança jurídica na interacção entre a ARC e os agentes
económicos.

As Linhas de Orientação para Análise das Questões dos Formulários de Notificação


de Operações de Concentração de Empresas têm como objectivo fundamental a

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inteligibilidade e uniformização de conceitos técnicos, procedimentos de notificação e
preparação da informação inerente aos actos de concentração de empresas, em respeito
ao Regulamento do Formulário de Notificação dos Actos de Concentração de
Empresas, aprovado pelo Instrutivo n.º 1/20, de 27 de Janeiro de 2020, por forma a
auxiliar as Notificantes no preenchimento do Formulário de Notificação, no que
concerne às técnicas de preparação de informação e procedimentos de notificação dos
actos de concentração de empresas, assegurando, assim, a integridade, a eficácia e a
eficiência na prestação de informação à ARC, reduzindo, igualmente, eventuais
ambiguidades suscitadas pela informação solicitada.

II. ANÁLISE DAS QUESTÕES DOS FORMULÁRIOS DE NOTIFICAÇÃO


A análise, interpretação e compreensão de determinadas questões técnicas atinentes
ao Processo de Controlo de Actos de Concentração de Empresas, presentes no
Formulário de Notificação, exigem, dos agentes económicos, certo domínio de
conceitos técnicos em matéria de regulação económica e de concorrência, para
responder de forma eficiente e eficaz às informações solicitadas pela ARC.

Uma concentração económica de empresas refere-se à mudança duradoura de controlo


sobre a totalidade, ou parte, de uma ou mais empresas em resultado de uma operação
da fusão de duas ou mais empresas, ou partes de empresas, anteriormente
independentes ou da aquisição, directa ou indirecta, do controlo da totalidade, ou
partes do capital, ou de elementos do activo de uma ou de várias outras empresas, por
uma ou mais empresas ou por uma ou mais pessoas que já detenham o controlo de
pelo menos uma empresa. As operações de concentração são classificadas quanto ao
seu tipo e à sua natureza.

2.1. Tipo de Operações de Concentração de Empresas


a) Horizontal (sobreposição horizontal): operação de aquisição ou fusão entre
empresas que desenvolvem actividades no mesmo mercado relevante.
b) Vertical (integração vertical): operação de aquisição ou fusão entre empresas
que desenvolvem actividades em diferentes níveis da mesma cadeia de valor.
As operações de concentração vertical podem ser classificadas em:

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i. Integração vertical a jusante: operação de concentração em que uma
empresa de produção de insumos adquire outra empresa da mesma
cadeia de distribuição ou comercialização de bens ou serviços aos
consumidores intermédios ou finais;
ii. Integração vertical a montante: operação de concentração em que uma
empresa de distribuição ou de comercialização adquire outra empresa
de produção, da mesma cadeia produtiva ou de serviços, que concebe os
insumos dos bens ou serviços distribuídos ou comercializados por si.
c) Conglomeral: operação de aquisição ou fusão entre empresas que não mantêm
relações horizontais, enquanto concorrentes no mesmo mercado relevante, ou
verticais, enquanto fornecedores ou clientes.

2.2. Natureza da Operação de Concentração


a) Fusão: operação societária de ordem financeira e jurídica que ocorre quando
duas ou mais empresas, ou partes de empresas, anteriormente independentes
unem-se juntando os seus patrimónios a fim de formarem uma sociedade nova.

b) Aquisição: operação que ocorre quando um ou mais agente(s) económicos


adquire(m), directa ou indirectamente, o controlo da totalidade ou de partes do
capital social, ou de elementos do activo, de uma ou de várias outras empresas,
por uma ou mais empresas, ou por uma ou mais pessoas que já detenham o
controlo de, pelo menos, uma empresa. O controlo decorre de qualquer acto,
independentemente da forma que este assuma, que implique a possibilidade de
exercer, com carácter duradouro, isoladamente ou em conjunto, e tendo em
conta as circunstâncias de facto e de direito, uma influência determinante sobre
a actividade de uma empresa, designadamente: a aquisição total ou parcial do
capital social; a aquisição de direitos de propriedade, de uso ou de fruição sobre
a totalidade ou parte dos activos de uma empresa; a aquisição de direitos ou
celebração de contratos que confiram uma influência determinante na
composição de deliberações ou decisões dos órgão de uma empresa. Destacam-
se os seguintes tipos de operações por aquisição:

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i. Aquisição de controlo exclusivo: operação de concentração em que uma
única empresa ou pessoa (accionista ou não) adquire o controlo exclusivo
de outra e, consequentemente, dispõe da faculdade ou poder de exercer
uma influência decisiva sobre as políticas estratégicas, ou de exercer o
poder de vetar decisões estratégicas na empresa controlada. O controlo
exclusivo pode ser adquirido com base em circunstâncias de direito e/ou
de facto;

ii. Aquisição de controlo conjunto: operação de concentração em que duas


ou mais empresas ou pessoas, adquirem o controlo conjunto de outra e,
consequentemente, dispõem da faculdade de exercer uma influência
decisiva sobre as políticas estratégicas da empresa controlada. O controlo
conjunto pode ser adquirido com base em circunstâncias de direito e/ou
de facto;

iii. Aquisição por incorporação: acto societário pelo qual um agente


económico incorpora, total ou parcialmente, outro(s) agente(s)
económicos dentro de uma mesma pessoa jurídica, no qual o agente
incorporado desaparece enquanto pessoa jurídica, mas o adquirente
mantém a identidade jurídica anterior à operação.

III. FORMULÁRIO DE NOTIFICAÇÃO DE OPERAÇÕES DE CONCENTRAÇÃO


3.1. Tipo de Formulário

a) Formulário Regular

A notificação é submetida à ARC mediante o preenchimento do Formulário Regular,


nos casos em que a operação de concentração de empresas está abrangida pela
obrigatoriedade de notificação prévia, nos termos do n.º 1 do artigo 17.º da LdC, desde
que seja observada, pelo menos, uma das condições abaixo descritas, conforme
disposto no n.º 1 do artigo 10.º do RLdC:

i. Em consequência da realização da operação de concentração se adquira,


crie, ou reforce uma quota igual ou superior a 50%, no mercado nacional
de determinado bem ou serviço, ou em parte substancial deste;

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ii. Em consequência da sua realização se adquira, crie, ou reforce uma quota
igual, ou superior, a 30% e inferior a 50%, no mercado nacional, de
determinado bem ou serviço, ou numa parte substancial deste, desde
que o volume de negócios realizado individualmente, em Angola, no
último exercício, por, pelo menos, duas empresas que participam na
operação, seja superior a Kz 450 000 000,00 (Quatrocentos e Cinquenta
Milhões de Kwanzas);

iii. O conjunto de empresas que participa na operação de concentração


tenha realizado em Angola, no último exercício, um volume de negócios
superior a Kz 3 500 000 000,00 (Três Mil Milhões e Quinhentos Milhões
de Kwanzas).

b) Formulário Simplificado

A notificação de operação de concentração de empresa, cuja quota de mercado e/ou


volume de negócios se situem abaixo dos limites estabelecidos no n.º 1 do artigo 10.º
do RLdC (operações isentas da obrigatoriedade de notificação prévia), nos casos em
que haja solicitação expressa da ARC, é submetida mediante o preenchimento do
Formulário Simplificado.

3.2. Informação Geral do Formulário


3.2.1.Sumário da Operação de Concentração
Neste campo as Notificantes devem apresentar um resumo da operação a realizar,
onde devem ser descritos e identificados elementos essenciais da operação de
concentração como:

i. Os sujeitos da operação de concentração: todas empresas participantes


na operação de concentração;

ii. Áreas de negócios das empresas participantes na operação: todas as


actividades exercidas pelas empresas participantes na operação e as
potenciais a desenvolver, que constam dos seus estatutos sociais ou
certidão do registo comercial;

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iii. Tipo de operação de concentração a realizar: horizontal, vertical ou
conglomeral;

iv. Natureza da operação de concentração: fusão ou aquisição;

v. Justificação económica do acto de concentração: fundamentação


económica detalhada das razões da realização da operação,
mencionando os possíveis impactos positivos e negativos que a operação
trará para o mercado.

3.2.2.Sobre a(s) Notificante(s)


a) Notificante(s): empresa(s) participante(s) numa operação de fusão ou aquisição
comunicada à ARC, ou representante(s) das Partes envolvidas da operação de
concentração com poderes, legalmente reconhecidos, para comunicar a
operação à ARC, enviar e receber documentos em nome de todas as Partes.

b) Notificação: acto administrativo que consiste na comunicação de uma operação


de fusão ou aquisição à ARC. No caso da operação de aquisição, a
obrigatoriedade de assegurar a notificação da operação é da parte(s)
adquirente(s). No caso de uma fusão, ou criação de uma empresa, a notificação
deve ser assegurada conjuntamente pelas empresas envolvidas na operação.

3.2.3.Mercados Relevantes
O conceito de mercado relevante envolve elementos como:

a) Vendedores (produtores ou fornecedores) e compradores (consumidores);


b) Produto (bens e/ou serviços) em causa e produtos substitutos próximos:
i. Produtos em causa são bens ou serviços objecto da operação de
concentração;

ii. Produtos substitutos próximos são bens e serviços que podem vir a
substituir os produtos objecto da operação de concentração, na
eventualidade de uma ou mais empresas aumentar o preço, reduzir a
qualidade ou quantidade do produto ou serviço em análise. São
considerados substitutos próximos quando se verificam as condições
seguintes:

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o Produtos com características semelhantes ou iguais;

o Produtos que apresentam circunstâncias de utilização (quando,


como e onde) semelhantes ou iguais;

o Produtos vendidos na mesma área geográfica ou, em determinados


contextos, em áreas circunvizinhas.

c) Área geográfica definida onde os produtos são concebidos e comercializados.


A definição do mercado relevante está directamente ligada à análise do poder de
substituição (possibilidade de substituição sob determinadas condições de mercado)
de determinado produto, onde se avalia a real força competitiva de produtos
considerados pelo consumidor como substitutos próximos, ou a capacidade de
substituição de um determinado produto pelos produtores ou fornecedores potenciais.

3.2.4. Factores Estruturais à Definição dos Mercados Relevantes


Os factores estruturais são determinantes concorrenciais imprescindíveis para a
definição eficaz dos mercados relevantes, que são, de modo geral, os geradores das
transformações estruturais que podem ocorrer na estrutura da oferta e da procura de
um produto ou serviço num determinado mercado. Além disso, são os principais
influenciadores das relações entre os agentes económicos e das características de um
mercado. Estes factores são:

a) Substituibilidade do lado da procura

Refere-se a capacidade dos consumidores, determinada pelas suas decisões, de


desviarem o seu consumo para um conjunto de produtos substitutos próximos,
perante um aumento de preços ou uma redução da qualidade do produto em análise.
A procura (demanda) é a quantidade de determinado bem ou serviço que o
consumidor deseja e pode adquirir, em dado período de tempo.

A análise da substituibilidade do lado da procura, para efeitos de definição dos


mercados relevantes, visa, sobretudo, definir e identificar o produto ou agregado de
produto considerado pelo consumidor como substitutos próximos do bem ou serviço
das empresas em análise, que é susceptível de criar uma pressão concorrencial no

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mercado relevante, perante um aumento de preços ou uma redução da qualidade do
produto em causa de um possível monopolista hipotético.

b) Substituibilidade do lado da oferta

A análise da substituibilidade do lado da oferta, para efeitos de definição dos


mercados relevantes, assenta-se na aferição da capacidade de um ou vários
fornecedores de outros produtos alterarem as condições de oferta do(s) produto(s) em
causa, transferindo, desta forma, a sua produção para este(s) produto(s), em função de
um aumento hipotético do preço designado SSNIP (Small But Significant Non-
Transitory Increase in Price) ou a uma deterioração das condições de oferta, é susceptível
de exercer uma pressão concorrencial idêntica, em termos de eficácia e rapidez, a de
um concorrente que já se encontra activo ao nível daqueles produtos. A oferta
corresponde à quantidade de determinado bem ou serviço que os produtores e
vendedores desejam e podem vender em determinado período de tempo e espaço
geográfico.

A verificação da hipótese, após um pequeno, porém, significativo e permanente


aumento de preço, dos consumidores desviarem sua procura para produtos ou
serviços homogéneos ou não, da mesma área geográfica ou de outras áreas,
considerado na sua óptica como substitutos próximos, bem como dos produtores ou
fornecedores direccionarem a sua oferta, iniciando a produção dos produtos ou
prestação de serviços em análise, sem incorrem em custos significativos, é feita com
base no Teste do Monopolista Hipotético (TMH).

3.2.4.1. Metodologias de Definições dos Mercados Relevantes


A delimitação do mercado relevante é uma das etapas mais importantes da análise de
operações de concentração de empresas. Esta importância advém da síntese de
informações que a delimitação do mercado traz sobre a concorrência. De modo
simétrico, sua delimitação exige uma análise aprofundada sobre o contexto e a
realidade concorrencial de cada caso em análise.

Na definição do mercado relevante no âmbito da defesa da concorrência, limita-se ao


conjunto de empresas que geram pressões concorrenciais frente aos aumentos de

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preços pelas empresas em causa, ou seja, aquelas que participam de um acto de
concentração. Este mercado relevante apresenta dimensões de produto e geográfica.
Com isso, difere-se, sensivelmente, da definição de mercado relevante, na vertente
meramente económica, que considera todas as empresas e produtoras de bens e
prestadoras de serviços substitutos e complementares, que competem entre si, sem
delimitá-las pelo grau de proximidade concorrencial.

A questão chave explorada na definição do mercado relevante está na pressão


competitiva de produtos ou de produtores substitutos, diferenciados por quadro (4)
características físicas e espaciais. Na eventualidade de um comportamento anti
competitivo de uma empresa ao obter maior poder de mercado, as rivais mais
próximas (aquelas que estão no mercado relevante) serão aquelas que constrangerão
tal iniciativa. Com isto, todo exercício de definição de mercado relevante passa pela
avaliação do grau de substituição dos produtos em análise, seja pelo lado da procura
e, até certo grau, pelo lado da oferta.

a) Teste do Monopolista Hipotético

A estimativa da margem de lucro unitária, que um possível monopolista hipotético


auferiria na venda de determinada quantidade do produto em análise, pode ser feita
recorrendo à análise da perda crítica que corresponde a uma metodologia de
implementação do teste SSNIP. Esta metodologia assenta na relação entre o ganho
resultante de um aumento de preço do produto em análise, em termos de margem de
lucro auferida nas unidades vendidas e a perda associada à redução do volume de
vendas em consequência de um pequeno, porém, significativo e permanente aumento
de preço.

A perda crítica é dada pelo rácio entre o aumento de preços em consideração, que é de
5% a 10% em geral, e a percentagem que resulta da soma desse aumento de preço com
a margem de lucro percentual inicial. Como tal, a sua determinação implica a
estimativa da margem de lucro associada ao produto.

A determinação da perda efectiva das vendas de um monopolista hipotético é


efectuada mediante os seguintes procedimentos:

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i. Conhecer a reacção dos consumidores face a variação de preço por via
dos critérios económicos como sejam a elasticidade da procura ou por
evidências sobre padrão de comportamentos de mudança de
consumidores em resposta a alteração de preços;

ii. Avaliar a magnitude dos desvios da procura face a um aumento de 5% a


10% do preço, considerando o resultado obtido da estimativa da reacção
dos consumidores.

A metodologia da perda crítica permite avaliar se um pequeno, porém, significativo e


permanente aumento de preço resultaria em lucro para um monopolista hipotético,
considerando como base uma análise de break-even, o SSNIP é considerado lucrativo
se a percentagem de perda efectiva de vendas, do monopolista hipotético, resultante
do aumento de preço for inferior à perda critica.

Além do teste SSNIP, existe outra metodologia de implementação do TMH designado


por Teste FERM (Full Equilibrium Relevant Market). FERM é uma das metodologias que
considera a reacção estratégica dos produtores ou fornecedores (potenciais) de outros
produtos. Este teste compara o preço (médio) de equilíbrio no mercado com aquele
que resultaria de um equilíbrio em que o monopolista hipotético fixasse os preços dos
produtos do mercado em análise, permitindo que os produtores ou fornecedores de
outros produtos (ou áreas geográficas) reajam, ajustando as suas condições de oferta
para o mercado em análise.

Feito o discorrimento sobre o conceito de definição do mercado relevante e dos


critérios económicos e metodológicos para a sua definição, importa reiterar que o
mercado relevante é definido em duas dimensões:

i. Dimensão do produto, considerando que cada produto pode concorrer


com outros produtos que lhe sejam semelhantes e pelos quais possa ser
substituído pelos consumidores;

ii. Dimensão geográfica, considerando que cada produto da área em análise


concorrerá com aqueles existentes nas áreas geográficas vizinhas ou
relacionadas e que os consumidores possam ter acesso sem custos
adicionais ou elevados.

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3.2.4.2. Mercado do Produto Relevante
Compreende todos os produtos considerados substituíveis entre si pelo consumidor
ou usuário devido as suas características físicas, os seus preços e a sua utilização.

a) Óptica do Consumidor (Substituibilidade do Lado da Demanda)

O mercado do produto relevante pode ser definido na perspectiva do consumidor.


Para tal, deve-se verificar se existe a possibilidade do consumidor poder trocar ou
desviar o consumo de um determinado produto que sofreu um pequeno aumento no
preço, ou houve uma deterioração da qualidade do mesmo, por outro que lhe seja
substancialmente semelhante ou idêntico.

Neste caso, para confirmação da hipótese de desvio do consumo ou não pelo


consumidor do produto em análise para outro produto deve-se, fundamentalmente,
analisar a substituibilidade do lado da procura formulando as questões que se seguem:

i. Quais os produtos considerados pelo consumidor como substitutos


próximos do(s) produto(s) em análise?

ii. Existe ou não a hipótese de os consumidores desviarem o seu consumo


para outros produtos após um pequeno, porém, significativo e
permanente aumento de preço?

iii. Qual será a reacção dos consumidores perante um pequeno, porém,


significativo e permanente aumento de preço no produto em análise?

Para responder às questões acima, de forma fundamentada e eficaz, deve-se


necessariamente recolher e interpretar uma diversidade de dados qualitativos e
quantitativos de natureza distinta sobre os consumidores, tal como elementos
essenciais da estrutura da procura, características das suas escolhas ou dos padrões de
substituição dos consumidores, bem como do mercado em análise e dos relacionados,
tais como: o preço, a qualidade, a quantidade, o tipo de produto, as quotas de mercado,
as vendas em volume e valor, o número de concorrentes, estabelecidos e potenciais, e
outros.

A recolha dos dados (preferências, hábitos, cultura, renda, idade, gênero, educação,
profissão, localização, mobilidade e outras características) sobre o perfil dos

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consumidores pode ser feita com recurso a métodos de observação, ou pesquisa das
suas escolhas, ou por via de inquéritos aos consumidores.

A avaliação da possibilidade de aumento no preço do produto em análise por um


potencial monopolista hipotético pode ser obtida com a análise de perda crítica,
(Critical Loss Analysis) anteriormente mencionada, considerando a margem de lucro
unitária que auferiria o monopolista hipotético nas quantidades vendidas, a partir da
nova condição.

No caso da identificação dos substitutos próximos e da verificação da hipótese de


desvio do consumo, ou não, pelo consumidor para outros produtos é efectuada a
análise da operação, avaliando de forma dinâmica e casuística os critérios económicos
da elasticidade preço da procura, elasticidade preço cruzada da procura e do rácio de
transferência (diversion ratio).

Os resultados derivados do exercício de avaliação, acima mencionados, devem ser


analisados e interpretados de forma sistematizada e articulada com as informações
sobre as características das escolhas ou padrões de substituição dos consumidores, o
mercado em análise e os relacionados, bem como as características peculiares dos
produtos que são determinantes para que se verifique a substituição de um produto
por outro.

Neste contexto, é possível concluir que a inclusão de um bem ou serviço, como parte
do mercado relevante do produto, é determinada pelo poder de substituição de um
produto por outro e pela reacção de alternância dos consumidores, ou seja, a
possibilidade dos consumidores considerarem a substituição do bem ou serviço em
análise por outro semelhante ou idêntico, na sua óptica, produzido por outro
concorrente.

b) Óptica do Produtor (Substituibilidade do Lado da Oferta)

O mercado do produto relevante define-se também na perspectiva do produtor que


não foge à lógica da óptica do consumidor. Neste caso, analisam-se as hipóteses dos
produtores ou fornecedores estabelecidos e potenciais ao mercado em análise,
direccionarem a sua produção ou prestação, no curto prazo (de seis a um ano) sem
incorrerem em custos significativos, para os bens e/ou serviços em análise e/ou

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afectarem positivamente a oferta destes no mercado em causa, após um pequeno, mas
significante e permanente aumento no preço - SSNIP.

Para verificação da possibilidade referida acima, é necessário analisar a


substituibilidade do lado da oferta, formulando as seguintes questões:

i. Existe capacidade excedentária ou capacidade de potenciais produtores,


ou fornecedores, afectarem positivamente a oferta de produtos no
mercado em análise e nos relacionados?

ii. Existe a hipótese dos produtores ou fornecedores estabelecidos e


potenciais, ao mercado em análise, direccionarem a sua produção ou
prestação no curto prazo (de seis a um ano), sem incorrerem em custos
significativos, para os produtos e/ou serviços em análise e/ou de
afectarem positivamente a oferta destes no mercado em causa, após um
pequeno, mas significante e permanente aumento no preço?

A resposta às questões acima, passa, necessariamente, pela recolha e interpretação de


dados qualitativos e quantitativos sobre os produtores, nomeadamente: (i) os
elementos essenciais da estrutura da oferta, (ii) os custos do processo produtivo, de
transporte e de distribuição, (iii) os factores fundamentais de incentivo dos
fornecedores para a produção ou fornecimento dos produtos e outras.

Reunidas as informações em resultado destes exercícios, efectua-se a verificação da


possibilidade dos produtores ou fornecedores de, ou não, direccionarem a sua
produção para os bens ou serviços em análise. Neste contexto, a referida verificação é
feita com base no teste Full Equilibrium Relevant Market (FERM) ou, ainda, por via da
interpretação conjugada de um conjunto de dados sistematizados e articulados dos
fornecedores ou produtores.

3.2.4.3. Mercado Geográfico Relevante


Mercado geográfico relevante compreende a área em que as empresas em causa
participam na oferta e na procura de bens ou serviços em condições de concorrência
semelhantes ou suficientemente homogéneas, em termos de preços, preferências dos
consumidores e características dos produtos. O mercado geográfico relevante diz

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respeito, justamente, ao plano físico do mercado que pode abranger estados, regiões,
países e até mesmo continentes, verificado com o processo de globalização.

a) Óptica do Consumidor (Substituibilidade do Lado da Demanda)

Ao definir o mercado geográfico relevante na óptica do consumidor, deve se


considerar como premissa da verificação da capacidade do consumidor em desviar a
sua procura para outras áreas geográficas alternativas e economicamente viáveis, onde
se localizam os fornecedores substitutos do lado da procura, caso entenda as
diferenças nos preços entre as áreas geográficas, após um pequeno, mas significante e
permanente aumento no preço dos produtos ou serviços do mercado em análise.

Para o efeito, deve se analisar, necessariamente, os factores determinantes de


substituição do lado da procura, efectuando as seguintes questões:

i. Quais os produtos considerados pelo consumidor como substitutos


próximos dos produtos em análise?

ii. Existem, nas áreas geográficas em que se localizam os fornecedores


substitutos, do lado da procura, os produtos identificados como sendo
substitutos próximos dos produtos em análise?

iii. Existe ou não hipótese de os consumidores desviarem a sua procura para


outras áreas geográficas com produtos substitutos, após um pequeno,
mas significante e permanente aumento no preço?

As respostas às questões acima requerem, primeiramente, a recolha e análise de uma


variedade de dados quantitativos sobre os consumidores e sobre o mercado em análise
e relacionados à estrutura da procura, bem como do produto e às áreas geográficas em
análise. Em seguida, deve ser efectuada a seguinte apreciação:

i. Identificar o conjunto de produtos considerados pelo consumidor como


substitutos próximos, nas áreas geográficas alternativas; e

ii. Verificar a hipótese, ou não, de os consumidores desviarem a sua


procura para outras áreas geográficas alternativas com produtos
substitutos próximos.

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A identificação dos substitutos próximos e a verificação da hipótese de desvio, ou não,
da procura pelo consumidor, para áreas geográficas alternativas, é realizada avaliando
de forma dinâmica e casuística os critérios económicos da elasticidade preço da
procura ou elasticidade preço cruzada da procura e rácio de transferência - diversion
ratio.

Portanto, os resultados em consequência destes exercícios são analisados e


interpretados de forma conjugada com as informações sobre os custos de transporte e
de pesquisas que os consumidores estão sujeitos a incorrer, em decorrência da
localização dos fornecedores ou produtores alternativos.

Nos contextos em que se confirma a hipótese de desvio da procura, para outras áreas
geográficas alternativas, pelo consumidor, consideram-se que todas áreas geográficas
em que o consumidor desviou a sua procura pertencem ao mercado geográfico
relevante.

b) Óptica do Produtor ou Fornecedor (Substituibilidade do Lado da Oferta)

O mercado geográfico relevante pode ser definido na óptica do produtor ou


fornecedor, considerando a mesma lógica no caso do mercado do produto. Neste caso,
importa verificar a hipótese de os produtores, ou fornecedores potenciais,
direccionarem a sua produção ou prestação de serviço, a curto prazo, sem incorrerem
a custos significativos, para as áreas geográficas em análise, de modo a afectarem,
positivamente, a oferta dos produtos em análise ou de seus substitutos próximos no
mercado em causa, após um pequeno, porém significante e permanente aumento no
preço.

A verificação da hipótese referida acima é efectuada com base na análise da


substituibilidade do lado da oferta, mediante solução às seguintes questões:

i. Existe capacidade excedentária ou capacidade de potenciais produtores,


ou fornecedores, afectarem positivamente a oferta de produtos no
mercado em análise?

ii. Existe a hipótese de os produtores ou fornecedores estabelecidos


iniciarem a produção do produto em causa, na área geográfica em

18
análise, em pouco espaço de tempo, sem incorrerem em custos
significativos?

A abordagem das questões acima apresentadas é feita após a recolha e análise de uma
multiplicidade de informações, qualitativa e quantitativa, sobre os fornecedores ou
produtores estabelecidos e potenciais, tais como: a perspetiva do consumidor, a
estrutura da oferta e da procura, as barreiras à entrada, os custos associados ao
investimento e ao processo produtivo, os custos de distribuição, os factores de
incentivo dos fornecedores para investir, entre outras. Posteriormente, é feita a
sistematização e articulação da informação para a verificação da hipótese dos
fornecedores ou produtores direccionarem a sua produção ou prestação, para a área
geográfica em análise. Caso seja confirmada tal hipótese, é possível afirmar que as
áreas em questão fazem parte do mercado geográfico relevante.

3.2.4.4. Mercados Relacionados


Consideram-se mercados relacionados todos os mercados situados a montante e/ou a
jusante dos mercados relevantes identificados e mercados vizinhos, isto é, quando os
produtos ou serviços que integram esses mercados são complementares entre si, ou
pertencem a uma gama de bens ou serviços, geralmente, adquiridos pelo mesmo
grupo de clientes, para a mesma utilização final.

A identificação dos mercados relacionados por referência aos mercados relevantes,


passa por uma prévia identificação dos bens e/ou serviços, pertencentes aos mercados
relacionados ou vizinhos que são complementares ou sucedâneos dos produtos e/ou
serviços dos mercados relevantes. Exemplificativamente, o mercado relacionado do
açúcar seria o mercado do chá, uma vez que são produtos complementares, a medida
que aumenta o preço do açúcar a procura pelo chá diminuiria, logo, podemos afirmar
que uma deterioração das condições de oferta do açúcar afectaria, negativamente, o
mercado do chá.

3.2.5. Estrutura de Controlo


A descrição da propriedade e controlo das empresas em causa, antes e depois da
operação de concentração de empresas deve ser apresentada, preferencialmente, em
tabelas, detalhando a informação sobre:

19
a) Identificação dos sócios;

b) Capital social, em Kwanzas, detido por cada sócio;

c) Participação social, em percentagem, por sócio; e

d) Acções representativas por sócio.

3.2.6. Confidencialidade da Informação


Considera-se informação confidencial toda informação classificada como segredo de
negócio, cuja divulgação seja susceptível de lesar gravemente os interesses de uma
pessoa ou empresa, bem como resultar em vantagens competitivas para seus
concorrentes e outros agentes económicos, ou promover condutas restritivas à
concorrência no mercado. Segredo de negócio é toda informação considerada
estratégica, relativa à actividade dos operadores económicos.

A título de exemplo, em termos de informações confidenciais consideram-se


informações técnicas e/ou financeiras relativas ao know how, aos métodos de cálculo
dos custos, aos segredos e processos de produção, às fontes de abastecimento, às
quantidades produzidas e vendidas, às quotas de mercado, às listagens de clientes e
de distribuidores, à estratégia comercial, às estruturas de custos e de preços e à política
de vendas.

As Notificantes, por motivos de segredo do negócio, devem identificar na notificação,


fundamentadamente, as informações que considerem confidenciais, através de um
“termo de confidencialidade”, ou ao sublinhá-las, quando muitas, escrevendo no final
de cada parágrafo a expressão entre parêntesis “confidencial”. Se a ARC não concordar
com a classificação da informação como sendo segredo de negócio, informará as
solicitantes que não concorda no todo, ou em parte, com a referida solicitação de
confidencialidade.

A informação respeitante à vida interna das empresas pode ser considerada


confidencial, pela ARC, no acesso à informação administrativa, quando a empresa
demonstre que o conhecimento dessa informação pelos interessados ou por terceiros
seja prejudicial ou crie uma vantagem competitiva aos concorrentes. A ARC pode
ainda considerar confidencial a informação relativa à vida interna das empresas que

20
não releve para a conclusão do procedimento, bem como a informação cuja
confidencialidade se justifique por motivos de interesse público.

Por extensão do direito à informação, que assiste a quaisquer pessoas que comprovem
ter interesses legítimos no conhecimento dos elementos do acto de concentração em
análise, a ARC pode disponibilizar informações não confidenciais para a consulta de
terceiros.

IV. ANÁLISE ECONÓMICA DE OPERAÇÕES DE CONCENTRAÇÃO DE


EMPRESAS

4.1. Teste Legal à Análise das Operações de Concentração


No âmbito do controlo de concentrações de empresas a ARC é a entidade responsável
pela supervisão e autorização da sua realização, determinando se a operação é
susceptível de criar ou reforçar uma posição dominante da empresa no mercado, da
qual possam resultar entraves significativos à concorrência efectiva no mercado
nacional, ou numa parte substancial deste.

A ARC efectua o controlo das operações de concentração de empresas em observância


ao n.º 1 do artigo 16.º do Decreto Presidencial n.º 240/18, 12 de Outubro, conjugado
com o estatuído nas alíneas a), b) e c) do artigo 28.º do Decreto Presidencial n.º 313/18,
de 21 de Dezembro, que aprova o seu Estatuto Orgânico, para determinar os efeitos da
operação de concentração sobre a estrutura do mercado.

4.2. Factores Fundamentais à Análise das Operações de


Concentração
As operações de concentração de empresas abrangidas pela obrigatoriedade de
notificação prévia, nos termos do n.º 1 do artigo 17.º da LdC e que preencham uma das
condições estatuídas no artigo 10.º do RLdC, ou aquelas que sejam expressamente
solicitadas, pela ARC, ao abrigo do artigo 19.º da LdC, são apreciadas tendo em conta:

a) A estrutura dos mercados relevantes e a existência, ou não, de concorrência por


parte de empresas estabelecidas nestes mercados, ou em mercados vizinhos e
relacionados;

21
b) A posição das empresas nos mercados relevantes e o seu poder económico e
financeiro, em comparação com os seus principais concorrentes;

c) O poder de mercado do comprador de forma a impedir o reforço, face à


empresa resultante da concentração, de situações de dependência económica;

d) A concorrência potencial e a existência, de direito, ou de facto, de barreiras à


entrada e à expansão;

e) As possibilidades de escolha de fornecedores, clientes e utentes;

f) O acesso das diferentes empresas às fontes de abastecimentos e aos mercados


de escoamento;

g) A estrutura das redes de distribuição existentes;

h) A evolução da oferta e da procura dos bens e serviços em causa;

i) A existência de direitos especiais ou exclusivos, conferidos por lei, ou resultante


da natureza dos produtos transaccionados, ou serviços prestados;

j) O controlo de infraestruturas essenciais por parte das empresas em causa


oferecidas às empresas concorrentes;

k) A evolução do progresso técnico e económico, desde que da operação de


concentração se retire directamente ganhos de eficiência que beneficiem os
consumidores;

l) A existência de dificuldades financeiras excepcionais e persistentes que


demonstrem claramente que, na ausência da operação de concentração e de
outras empresas interessadas na aquisição, a empresa adquirida seria obrigada
a sair do mercado a curto prazo;

m) Outras eficiências resultantes da operação de concentração e que possam ter um


efeito benéfico, demonstrável ou expectável, nos consumidores,
designadamente aqueles de menor rendimento;

n) O nível real e potencial das importações no mercado;

o) O nível e as tendências de concentração e história de conluio no mercado;

22
p) As características e dinâmicas no mercado, incluindo o crescimento, inovação e
diferenciação dos produtos;

q) A natureza e a extensão da integração vertical no mercado;

r) Se o negócio, ou parte do negócio, de uma parte envolvida na operação, ou


proposta de operação, falhou, ou é provável que falhe;

s) Se da operação resulta a remoção de um concorrente efectivo no mercado.

4.3. Avaliação Jus-Concorrencial


Avaliação jus-concorrencial é uma das fases fundamentais da análise de operações de
concentração de empresas, após a definição dos mercados relevantes, na medida em
que aglutina a análise e avaliação do impacto das operações de concentração de
empresas, sendo esta uma ferramenta de auxílio usada pela ARC com o objectivo de
elencar conclusões para tomada de decisão.

4.3.1. Estrutura de Mercado


Definir a estrutura de mercado é proceder à descrição das características principais
que constituem o mercado relevante, avaliando a quota de participação de mercado
(Market Share) de cada empresa e o nível de concentração do mercado, por via dos
índices de mensuração do grau de concentração no mercado e de factores que podem
condicionar o mercado para permitir identificar e avaliar as pressões concorrenciais
que eventualmente possam afectar a conduta estratégica das empresas envolvidas na
operação de concentração.

A estrutura de mercado é constituída por características que determinam a


organização de um mercado, sendo estes os condicionantes das relações entre os
agentes económicos (consumidores, produtores, distribuidores, comerciantes,
fornecedores e outros).

As estruturas de mercado dependem fundamentalmente de três características


principais: (i) número de empresas que compõem o mercado em análise; (ii) tipo de
bem e/ou serviço (homogéneos ou diferenciados); e (iii) existência ou não de barreiras
à entrada de novas empresas no mercado.

23
a) Identificação do número de empresas no mercado

Nesta fase, procede-se ao levantamento de todas as empresas que produzem, fornecem


e comercializam os seus produtos e/ou serviços na área geográfica em análise,
podendo, também, ser incluídas empresas que actuem fora desta área, quando a
definição do mercado é feita com base na localização dos consumidores.

Portanto, a identificação ou levantamento do número de empresas no mercado em


análise permite efectuar uma descrição minuciosa do nível provável de concorrência
no mercado.

b) Quota de Mercado (Market share)

O grau de participação de mercado de uma organização ou empresa, definida em


percentagem, resulta da divisão do volume de negócios de determinada empresa pelo
volume negócios total do mercado, sendo o valor percentual designado por quota de
mercado. A quota de mercado é um dos indicadores, em primeira instância, que
permite avaliar se as empresas participantes na operação de concentração e outras
estabelecidas no mercado têm ou não poder de mercado. Outrossim, auxilia na
determinação da pressão concorrencial exercida pelos concorrentes estabelecidos no
mercado e potenciais concorrentes (entrantes) a este mercado.

Na aferição da quota de mercado, a utilização como referência de determinadas


variáveis deve ser em função das características do mercado em análise e de como a
concorrência se processa neste. As quotas de mercado são calculadas, regra geral, com
base no valor das vendas (volume de negócio) efectuadas no mercado relevante pelas
empresas que nele participam.

No caso de um mercado em que esteja subjacente o poder de venda, a variável de


referência a seleccionar deve reflectir a estrutura de oferta deste mercado (óptica do
produtor), que pode aludir a quantidade vendida, a capacidade de produção do bem
ou serviço em unidades, o valor das vendas (facturamento) ou, ainda, outra referência
que seja a mais adequada às características do mercado em análise.

Se a variável de referência seleccionada for quantidade, deve ser apresentada nas


correspondentes e diversas formas de mensuração: volume, caixa, embalagem, peso

24
ou outras. Se no caso em questão esteja patente o poder de compra, a variável de
referência a seleccionar deve reflectir a estrutura da procura a montante deste mercado
(óptica do consumidor) que pode aludir o volume ou valor de compras de cada agente
económico, sendo estes dados cruzados com a estrutura da oferta a jusante.

Na eventualidade dos produtos serem homogéneos, as variáveis de referência, mais


adequadas para o cálculo da quota de participação, são (i) a capacidade instalada e (ii)
a produção final oferecida, indicadores de relevância para os produtores no mercado.
Em situações contrárias, produtos diferenciados, a variável de referência deve ser
seleccionada com base no valor das vendas, uma vez que tende a ser o mais adequado
para o efeito.

Após seleccionada a variável como referência para o cálculo da quota de participação,


é possível determinar a dimensão de cada empresa relativamente a sua participação
no mercado. Logo, determina-se o total da produção1 de um mercado relevante
constituído por “n” empresas concorrentes pela expressão seguinte:
𝒏

𝑸 = ∑ 𝒒𝒊
𝒊=𝟏

Onde:
Q = total de produção de todas as empresas existentes no mercado relevante;
n = número total de empresas do mercado;
qi = nível de produção da i-nésima empresa.
Em seguida determina-se a quota de participação2 relativa no mercado (Si) da i’-
nésima empresa pela expressão seguinte:
𝒒𝒊
𝑺𝒊 =
𝑸
Onde:

Si = quota de participação de mercado da i’nésima empresa;


qi = nível de produção da i-nésima empresa;

1 OCDE (2017), Guia para Avaliação de Concorrência: Volume 2 - Diretrizes,


www.oecd.org/competition/toolkit
2 OCDE (2017), Guia para Avaliação de Concorrência: Volume 2 - Diretrizes,

www.oecd.org/competition/toolkit

25
Q = total de produção de todas as empresas existentes no mercado relevante.

4.3.2.Índices de Concentração de Mercado


Índices de concentração de mercado são indicadores fundamentais à caracterização da
intensidade da concorrência num dado mercado, na medida em que reflectem o grau
de concentração deste. Segue-se, infra, a descrição de determinados índices de
concentração de mercado, preferenciais e amplamente utilizados pelas autoridades da
concorrência.

a) Razão de Concentração (CRn)3

O índice CRn é um dos principais indicadores que permite avaliar a parcela de


mercado dominada pelas quatro, oito, ou cinquenta maiores empresas do mercado,
com o propósito de identificar se estas detêm ou não o poder de mercado. Este índice
é dado pela seguinte expressão:
𝒏

𝑪𝑹𝒏𝑱𝒕 = ∑ 𝑺𝒊𝒕
𝒊=𝟏
Onde:
CRnJt = grupo de n empresas i com maior parcela de mercado no mercado j,
no período t;
Sit = quota de participação da i-nésima empresa no mercado no período t.
Este indicador tem intervalos de referência em percentagem para diferentes níveis de
concentração, conforme ilustrado na Tabela 1.

Tabela 1: Grau de Concentração de Empresas


CR4 CR8 Grau de Concentração

75 % ou mais 90% ou mais Muito Alto


65% - 75% 85% - 90% Alto
50% - 65% 70% - 85% Moderadamente Alto
35% - 50% 45% - 70% Moderadamente Baixo
35% ou menos 45% ou menos Baixo
Fonte: Adaptado, Braga e Mascolo (1982) e Bain (1959 apud SCHIRIGATTI et al., 2012).

3
OCDE (2017), Guia para Avaliação de Concorrência: Volume 2 - Diretrizes,
www.oecd.org/competition/toolkit

26
b) Índice Herfindahl-Hirschman (IHH)4

O Índice IHH é uma ferramenta utilizada para o cálculo do grau de concentração de


mercado. O IHH é calculado com base no somatório do quadrado das participações de
mercado de todas as empresas de um dado mercado conforme a seguinte expressão:
𝒏

𝑰𝑯𝑯 = ∑ 𝑺2𝒊
𝒊=𝟏

Onde:

IHH = grau de concentração do mercado com “n” empresas;


Si = quota de participação de mercado da i-nésima empresa.
Tratando-se de uma operação de concentração é fundamental calcular-se a variação5
do IHH, subtraindo no resultado do IHH pós-concentração o valor do IHH pré-
concentração. Conforme a seguinte expressão:

∆𝐈𝐇𝐇 = 𝐈𝐇𝐇𝐩ó𝐬 𝐜𝐨𝐧𝐜. − 𝐈𝐇𝐇𝐩𝐫é 𝐜𝐨𝐧𝐜

A determinação do grau de concentração de mercado é efectuada a partir dos seguintes


critérios:

i. Mercado não concentrado: com IHH abaixo de 1500 pontos;

ii. Mercado moderadamente concentrado: com IHH entre 1.500 e 2.500


pontos;

iii. Mercado altamente concentrado: com IHH acima de 2.500.

O IHH pode chegar até 10.000 pontos, valor que indicia expressamente uma situação
de monopólio, ou seja, em que uma única empresa detenha 100% da quota de mercado.
Os critérios acima mencionados, além de auxiliarem na determinação do grau de
concentração no mercado e na identificação do tipo de mercado, permitem a
identificação de algumas estruturas de mercado, tendo como referência o número de
empresas estabelecidas no mesmo (monopólio, oligopólio, etc.).

4
OCDE (2017), Guia para Avaliação de Concorrência: Volume 2 - Diretrizes,
www.oecd.org/competition/toolkit
5
Varum, C.A; Silva, H.M.V; Resende, J.; Sarmento, M.P.V.; Jorge, S.F. (2018). Economia Industrial-
Teoria e Exercícios Práticos. 2ª Edição – Lisboa, Janeiro de 2018. P.19

27
Existem outras situações que podem surgir na determinação do grau de concentração
de mercado a partir do IHH:

i. Pequena alteração na concentração: operações que resultem em


variações de IHH inferiores a 100 pontos (ΔIHH < 100) provavelmente
não geram efeitos competitivos adversos e, portanto, usualmente, não
requerem análise mais detalhada;

ii. Concentrações que não geram preocupações em mercados não


concentrados: se o mercado, após o acto de concentração, permanecer com
IHH inferior a 1.500 pontos, a operação não deve gerar efeitos negativos,
não requerendo, usualmente, análise mais detalhada;

iii. Concentrações que geram preocupações em mercados moderadamente


concentrados: operações que resultem em mercados com IHH entre 1.500
e 2.500 pontos e envolvam variação do índice superior a 100 pontos (ΔIHH
> 100) têm potencial de gerar preocupações concorrenciais, tornando
recomendável uma análise mais detalhada;

iv. Concentrações que geram preocupações em mercados altamente


concentrados: operações que resultem em mercados com IHH acima de
2.500 pontos, e envolvam variação do índice entre 100 e 200 pontos (100 ≤
ΔIHH ≤ 200) têm potencial de gerar preocupações concorrenciais,
sugerindo uma análise mais detalhada. Operações que resultem em
mercados com IHH acima de 2.500 pontos, e envolvam variação do índice
acima de 200 pontos (ΔIHH > 200) presumivelmente geram aumento de
poder de mercado.

c) Índice de Dominância (ID)6

O ID é utilizado de modo complementar ao IHH. Uma característica peculiar do ID é


que ele diminui quando as partes envolvidas na operação são pequenos concorrentes
no mercado, de forma que se presume que a concorrência é beneficiada com um novo

6Comunicado nº 22.366, de 27 de Abril de 2012, Divulga o Guia para Análise de Atos de Concentração
http://www.bcb.gov.br/?ESPECIALNOR

28
forte agente. Consequentemente, o índice aumenta quando a soma das participações
das partes envolvidas na operação supera a dos demais concorrentes. Logo, o índice
reflecte o facto de aumento de quota de mercado de concorrentes que não sejam líderes
de mercado poder influenciar no aumento da competitividade no mercado.

O ID busca relevar a situação concorrencial, considerando cada aspecto particular que


compõe a mesma. Numa operação de pequena dimensão de fusão, ou aquisição, de
duas ou mais empresas, a empresa resultante da operação torna-se mais competitiva
em relação a um grupo de empresas de grande dimensão estabelecidas no mercado
relevante. Nestes casos, na operação de empresas de pequena dimensão, o IHH
indicaria que a referida operação de concentração aumentaria o grau de concentração
no mercado, o que levaria a considerar que a realização da operação traria um impacto
negativo à sã concorrência.

Porém, esta conclusão não seria a mais correcta, uma vez que, nestas situações, se
usarmos o ID em vez do IHH, indicaria uma situação de ganho de eficiência quanto
ao ambiente concorrencial no mercado, na medida em que, ID indicaria uma redução
de concentração com a realização da operação. Para o cálculo deste índice utiliza-se a
fórmula seguinte: 𝒏

𝑰𝑫 = ∑ 𝜸𝟐𝒊
𝒊=𝟏

Onde:

γi = contribuição da i-nésima empresa para o nível de concentração medido pelo


IHH.

𝑺2𝒊
𝜸𝒊 =
𝑰𝑯𝑯
Onde:
Si = quota de participação de mercado da i-nésima empresa.

4.3.3. Efeitos Unilaterais e Coordenados


A avaliação dos efeitos unilaterais e coordenados é a fase fundamental da análise jus-
concorrencial da operação de concentração. Com base na definição dos mercados
relevantes, avaliação da estrutura de mercado e determinação do grau de concentração

29
dos mercados definidos, avalia-se os efeitos unilaterais e coordenados da operação, de
modo a identificar a possibilidade de exercício do poder de mercado pelas notificantes,
de redução da pressão concorrencial e de colusão entre as empresas. Entretanto, a
análise não se resume à estrutura, à conduta, ao comportamento e às simulações de
aumento de preço, igualmente, são reconhecidas as eficiências resultantes da operação
de concentração que provavelmente reduzirão ou reverterão efeitos adversos
unilaterais e/ou coordenados.

a) Efeitos Unilaterais

A eliminação da concorrência entre duas empresas, resultante de uma operação de


concentração, pode, por si só, constituir uma diminuição substancial da concorrência
no mercado. O efeito unilateral é a possibilidade da nova empresa, resultante da
operação de concentração, exercer poder de mercado e, unilateralmente, aumentar
preços relativamente ao nível pré-concentração.

A avaliação dos efeitos unilaterais resultantes de uma operação de concentração


implica a análise do impacto da eliminação da concorrência, efetiva ou potencial, entre
as partes envolvidas, a apreciação da capacidade e incentivo dos restantes
concorrentes para restringir o comportamento da entidade, resultante da operação.
Esta avaliação pode ainda implicar, em contextos específicos, uma análise da alteração
do ambiente negocial, em resultado da criação ou reforço do poder do comprador das
empresas envolvidas.

Uma operação de concentração é susceptível de gerar efeitos unilaterais, no mercado


relevante, se eliminar uma pressão concorrencial importante (efectiva ou potencial)
entre duas ou mais empresas nela envolvidas, criando condições para uma
deterioração das condições de oferta face às que prevaleceriam na ausência da
operação, sem a necessidade de coordenação entre as empresas activas no mercado.

A avaliação dos efeitos unilaterais decorre da realização de uma operação de


concentração, que pode ter como consequência a eliminação da concorrência no
mercado relevante e relacionados ou potenciais a estes. Portanto a avaliação destes
efeitos deve ser feita com base na análise dos impactos que a operação de concentração
pode gerar considerando o seguinte:

30
i. A redução/eliminação da concorrência, efectiva ou potencial;

ii. A capacidade e estímulos dos concorrentes, estabelecidos no mercado e


os potenciais a este, em restringir os comportamentos estratégicos
individuais das empresas envolvidas na operação de concentração;

iii. O reforço do poder negocial de clientes e fornecedores.

b) Efeitos coordenados

Entende-se por efeitos coordenados a alteração do contexto concorrencial de um


mercado na sequência de uma operação de concentração, que torna mais fácil, estável
ou efectiva, a coordenação de comportamentos entre empresas no mercado. A
coordenação de comportamentos entre operadores económicos, após realização de
uma operação de concentração, cria efeitos adversos à sã concorrência no mercado e,
como consequência, reflecte-se negativamente no bem-estar social e/ou no
funcionamento adequado dos mercados.

Uma operação de concentração pode reduzir a rivalidade entre as empresas de um


determinado mercado relevante e aumentar a probabilidade de coordenação explícita,
ou tácita, que, uma vez exercida, impacta negativamente no bem-estar dos
consumidores. A operação pode também ter o efeito de intensificar ou tornar mais
abrangentes estratégias de coordenação pré-existentes. Para aferir e prevenir o
exercício abusivo do poder de mercado, avalia-se a operação na perspectiva desta
tornar mais provável a coordenação entre as empresas e o arrefecimento da rivalidade,
a ponto de tornar lucrativo um aumento conjunto de preços, ou mesmo a alteração de
outras variáveis competitivas tais como inovação e qualidade.

4.3.4.Barreiras à Entrada e à Expansão


Constituem barreiras à entrada o conjunto de factores que dificultam ou coloquem em
desvantagem o acesso de um potencial concorrente num determinado segmento ou
mercado de bens ou serviços, em relação aos agentes económicos estabelecidos.
Barreiras à expansão são factores que inibem o crescimento de empresas estabelecidas
num determinado segmento ou mercado de bens ou serviços.

31
Quanto mais elevadas as barreiras à entrada em um determinado mercado, maiores
são os custos financeiros e em termos de tempo que um potencial entrante deverá
incorrer para que o capital investido seja adequadamente remunerado. Quanto mais
elevadas são essas barreiras, menor é a probabilidade de entrada de novas empresas
no mercado relevante definido.

A análise das barreiras à entrada e à expansão, no processo de avaliação jus-


concorrencial de uma operação de concentração, é fundamental, pois permite aferir se
existe a possibilidade de exercício de poder de mercado, bem como de condições para
a coordenação de comportamentos anti competitivos entre os agentes económicos.

As barreiras são constituídas por uma diversidade de factores de natureza legal ou


regulatória e estrutural, que podem inibir a entrada ou expansão de empresas
concorrentes num mercado. As barreiras podem ser classificadas em:

a) Custos Irrecuperáveis (custos associados aos investimentos): é a fracção dos


custos que não pode ser recuperada na eventualidade da empresa decidir sair
do mercado relevante.

Os custos irrecuperáveis associados à entrada ou à expansão no mercado


relevante são susceptíveis de atingir uma magnitude muito alta, em resultado
de custos exógenos (Ex: em instalações ou infra-estruturas, em
publicidade/marketing do produto ou serviço da nova empresas e outros). Para
a avaliação destes custos pode se tomar como base a representatividade das
rubricas “despesas em investimentos” e “desenvolvimento ou a publicidade e
marketing” nas vendas das empresas;

b) Disposições/Exigências Legais e Regulatórias: são os institutos legais ou


regulatórios em vigor, estabelecidos pelo Governo ou pelas Entidades
Reguladoras Sectoriais, susceptíveis de dificultar ou impedir a entrada ou
expansão de concorrentes no mercado, condicionando os potenciais
concorrentes no tempo, espaço, tecnologia e os respectivos investimentos. Estas
barreiras surgem, frequentemente, em situações de instalação, funcionamento
ou na habilitação do exercício de uma actividade por um agente económico, tais

32
como: licenças (comerciais, técnicas ou de segurança) para novos operadores
económicos, permissões, autorizações administrativas, alvarás, entre outros;

c) Direitos de Propriedade Intelectual: atribuição de direitos de propriedade sobre


patentes, copyrights e marcas registadas, que permitem ao seu detentor exercer
poder de monopólio na sua utilização por um determinado período de tempo.
Somente, depois que o prazo de vigência desta protecção legal expirar é que
outros competidores poderão fabricar um produto ou fornecer aquele serviço
de forma muito semelhante ao detentor da patente;

d) Economias de Escala: situação em que o custo médio por unidade é menor


quando maior for o volume de produção de uma empresa. Ao entrar em um
mercado, dificilmente o novo entrante conseguirá produzir as mesmas
quantidades dos concorrentes já estabelecidos. Os custos fixos de produção
podem tornar muito difícil superar este estágio inicial, inviabilizando, de certo
modo, a entrada de novos concorrentes;

e) Economias de Gama: situação em que o custo de produção de dois ou mais


produtos é menor quando produzidos em conjunto, em detrimento de
produção separada;

f) Acesso a canais de distribuição: situação em que muitos fornecedores exigem


exclusividade dos seus distribuidores, ou estes já estão satisfeitos com o lucro
que as marcas tradicionais oferecem e preferem não arriscar com novos
entrantes.

g) Financeiras: determinados segmentos de negócio exigem custos iniciais


elevados.

4.3.5. Eficiência Económica


Eficiências económicas são proveitos que uma operação de concentração,
potencialmente, pode gerar no mercado relevante e no bem-estar dos consumidores,
que podem ser, ou não, susceptíveis de compensar os prováveis danos que a operação
de concentração venha a causar à concorrência no determinado mercado.

33
No âmbito da avaliação jus-concorrencial de uma operação de concentração é
indispensável identificar e avaliar os ganhos de eficiência para a ponderação na análise
daquelas que produzem benefícios para os consumidores e as que constituem um
obstáculo à sã concorrência no mercado.

Uma operação de concentração pode resultar em ganhos de eficiência económica,


aumentando a pressão competitiva no mercado e, com este efeito, produzir outros
ganhos de múltiplas dimensões para os consumidores, como sejam: preços mais baixos
ou competitivos, maior qualidade ou maior variedade da oferta.

As eficiências podem ditar uma decisão de não oposição a uma operação de


concentração quando a dimensão dos benefícios, prováveis e verificáveis a curto
prazo, para os consumidores e/ou para o mercado forem suficientemente elevados, na
medida em que potenciais efeitos negativos que a operação possa gerar não superem
os benefícios previstos para os consumidores.

Outrossim, se os efeitos anti concorrenciais são substanciais, é necessário que os


benefícios para os consumidores, na sequência de ganhos de eficiências, sejam muito
elevados para justificar uma decisão de não oposição à operação de concentração.

Existe a possibilidade de ganhos de eficiência resultarem de actividades de


investigação e desenvolvimento das empresas envolvidas em uma operação de
concentração, quando o investimento se traduz em maior inovação do produto, em
termos de qualidade ou diversidade. Este tipo de eficiências leva muito tempo para se
reflectir como benefício para os consumidores e a mensuração ou quantificação é
difícil.

Os ganhos de eficiência podem ser específicos de uma operação de concentração,


quando o seu alcance apenas seja possível por via da realização da operação que de
outra forma não seria possível.

Importa frisar que as empresas participantes na operação de concentração têm a


faculdade de apresentar, com a devida fundamentação e prazos, as eventuais
eficiências que possam estar associadas à operação, no que tange ao cumprimento das
condições necessárias à sua consideração na avaliação jus-concorrencial.

34
4.3.6. Remédios
Os remédios constituem compromissos/condições que têm como objectivo assegurar
a manutenção de uma concorrência efectiva em operações de concentração de
empresas que, sem os mesmos, seriam proibidas.

As partes autoras da notificação de actos de concentração de empresas podem, a todo


o tempo, assumir compromissos, tendo em vista assegurar a manutenção de uma
concorrência efectiva (n.º 1, art.º 45.º da LdC).

Nos termos do artigo 45.º da LdC, a ARC analisa os compromissos propostos pelas
Notificantes, no sentido de avaliar se estes são adequados, suficientes e exequíveis
para assegurar que a operação notificada, adequada aos compromissos apresentados,
não crie entraves significativos à concorrência efectiva nos mercados relevantes em
causa.

O processo de aplicação de condições à operação, ou seja, a negociação de condições


entre a ARC e as Notificantes, como condição à aprovação da operação de
concentração contempla os seguintes elementos:

i. A delimitação de acções e comandos para as partes envolvidas na


operação;
ii. A forma de aplicação dessas acções;
iii. O monitoramento das acções e a verificação do seu cumprimento.
Os remédios podem implicar a venda de activos, tangíveis e intangíveis, e/ou de
unidades de negócios das Notificantes, bem como impor comportamentos decorrentes
do exercício da sua actividade.

Os remédios perseguem como objectivo principal a correcção de eventuais efeitos


nocivos à concorrência efectiva e potencial no mercado, ou numa parte substancial
deste, tal como efeitos unilaterais e coordenados e a criação ou reforço de posição
dominante. Assim, os remédios servem para mitigar o potencial prejuízo à sã
concorrência no mercado, assegurando as condições de entrada e rivalidade existente
antes da realização da operação.

Na eventualidade de não existir um modo de equacionar, por via dos remédios, a


correcção de potenciais efeitos negativos à sã concorrência, resultantes da operação, a

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medida preventiva a tomar, pela ARC, é a reprovação da operação de concentração,
ou seja, a proibição da sua realização.

Os remédios podem ser classificados, de um modo geral, em:

a) Estruturais: condições que actuam directamente sobre a estrutura de mercado.


Quando envolve a transmissão definitiva de direitos e activos como a venda de
activos ou de um conjunto de activos que constitua uma actividade empresarial,
cisão de sociedade, alienação de controlo societário ou de participações
societárias, transmissão definitiva de direitos de propriedade intelectual,
inclusive patentes, marcas e outros;

b) Comportamentais: condições que influenciam a conduta das empresas


participantes no mercado e, em particular, actuando ao nível da capacidade e
dos incentivos destas empresas, com o objectivo de promover as condições de
contestabilidade dos mercados quando envolve práticas comerciais sem a
necessária transmissão de direitos e activos como: separação contabilística ou
jurídica de actividades, obrigações de transparência negocial com e para
terceiros em actividades de fornecimento e compra de insumos e produtos,
comportamento não discriminatório e/ou concorrencialmente inapropriado
com terceiros nas actividades de fornecimento e compras.

Em relação a partes relacionadas por meio da operação de concentração:


suspensão ou eliminação de cláusulas de exclusividade, de facto ou de direito,
em relações comerciais com partes relacionadas, por meio do operação de
concentração, obrigação de fornecimento de insumos ou acesso a activos-chave
para concorrentes verticalmente relacionados, obrigação de notificação de
operação de concentração, mesmo não notificável por critérios de facturamento,
suspensão de direitos societários advindos de participações ou dos efeitos
concorrenciais derivados de instrumentos financeiros, impedimentos no acesso
e transmissão de informações concorrencialmente relevantes entre partes
relacionadas das Notificantes da operação de concentração e licenciamento
obrigatório de propriedade intelectual, inclusive de marcas.

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V. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Um acto de concentração, sujeito à comunicação prévia, não se pode concretizar antes
de ser comunicado à ARC e antes de ser objecto de uma decisão expressa de não
oposição, nos termos do n.º 2, do artigo 17.º, conjugado com o n.º 1 do artigo 18.º da
LdC. Portanto, o incumprimento do preceituado na Lei tem como consequências: (i) a
ineficácia dos actos; (ii) a aplicação de multas que variam de 1% a 5% (em caso de não
notificação prévia à ARC) e de 1% a 10% (em caso de concretização do negócio antes
da emissão da decisão de não oposição da ARC) do volume de negócios do último
exercício; e (iii) outras sanções assessórias como é o caso da cisão de determinada
sociedade.

Submetida a comunicação prévia do acto de concentração à ARC, esta deverá


pronunciar-se no prazo de 120 dias, excepto em caso de abertura de investigação
aprofundada, sob pena de, decorrido o referido prazo, ocorrer o deferimento tácito,
por entender-se que a ARC não se opôs à operação de concentração.

Sempre que, em resultado de análise da operação de concentração, ficar demostrado


que os benefícios da operação são grandemente superiores e compensam os prejuízos
da restrição da concorrência, ou seja, quando se concluir que a consumação do acto
não diminuirá o bem-estar do consumidor e que parte relevante dos benefícios será
transferida aos consumidores, a ARC pode aprovar o acto de concentração sem
restrições.

Quando se verificar que os benefícios do acto de concentração não são superiores aos
prejuízos da eliminação da concorrência, a ARC pode aprovar a operação com
condições, aplicadas de forma unilateral, ou por meio de um Acordo (compromissos)
com as partes envolvidas na operação, somente naqueles casos em que ficar
comprovado que a imposição das restrições restabelecerá o bem-estar dos
consumidores e a eficiência económica. Porém, sempre que o dano causado pela
eliminação da concorrência não puder ser eliminado por nenhum tipo de
restrição/remédio, a ARC reprova a operação de concentração, não autorizando a sua
realização.

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GLOSSÁRIO

ARC Autoridade Reguladora da Concorrência


FERM Full Equilibrium Relevant Market (Teste do mercado relevante de equilíbrio pleno)
ID Índice de Dominância
IHH Índice Herfindahl-Hirschman
LdC Lei da Concorrência
RLdC Regulamento da Lei da Concorrência
SSNIP Small but Significant Non-transitory Increase in Price (aumento do preço hipotético)
TMH Teste do Monopolista Hipotético

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PROCESSO DE CONTROLO DE CONCENTRAÇÕES

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