Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
sobre as mulheres
Maria Luísa Ribeiro Ferreira
(Org.)
ISBN 9786586982084
CDD 100
CDU 1
www.entretropicos.com.br
@entretropicosed
Teresina - PI - 2021
SUMÁRIO
NOTA 07
PREFÁCIO 09
APRESENTAÇÃO 15
7
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
8
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
PREFÁCIO
9
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
10
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
11
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
12
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
Ângela Viana
Aryane Araújo
Karla Sousa
Laiz Fraga
Lenise Almeida
Thaline Fontenele
13
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
APRESENTAÇÃO
MARIA LUÍSA RIBEIRO FERREIRA
(Universidade de Lisboa)
Um projeto
15
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
16
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
Um livro
17
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
18
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
19
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
20
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
21
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
22
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
Notas
23
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
25
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
26
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
27
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
28
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
3.1. Em Platão
29
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
30
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
31
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
32
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
3.2. Em Aristóteles
33
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
34
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
35
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
36
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
37
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
Resumo
38
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
Notas
39
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
40
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
41
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
42
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
43
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
44
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
45
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
46
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
47
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
DE CULTU FEMINARUM:
TERTULIANO E A RETÓRICA DO CORPO
PAULA OLIVEIRA E SILVA
(Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa)
1. A retórica do corpo
49
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
50
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
51
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
52
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
53
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
54
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
55
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
56
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
57
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
58
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
59
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
60
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
61
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
62
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
63
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
64
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
65
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
66
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
67
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
68
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
Notas
69
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
70
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
71
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
72
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
73
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
74
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
75
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
tetrica”.
Cf. DCF II, 13, 5.
DCF II, 9, 8. Tertulianoidentificaoseu tempo com o Final
da História. 81 Cf. DCF II, 1, 1; 1, 4.
Cf. De Virginibus Velandi 11, 1-4. Tertuliano refere que a
mulher há de praticar o dever de se cobrir, não só nas
cerimônias religiosas, mas de modo habitual, uma vez
que esse costume não releva do domínio religioso mas da
condição humana degradada. Contudo, há de velar seu
rosto apenas a partir do momento em que começa a
sentir-se mulher, o que significa uma percepção clara de
sua sexualidade feminina. Saindo do estado de jovem, a
virgem dever suportar o novo fenômeno fisiológico que
indica a passagem para uma novidade da vida.
Tertuliano tem clara convicção de que o crescimento
biofísico do homem e da mulher é acompanhado por
uma progressiva tomada de consciência da intimidade e,
portanto, exige um diferente modo de relacionamento
entre ambos os sexos, que considera dever manifestar-se
externamente, pela cobertura do rosto (v. também DCF
II, 9, 1-4).
DCF II, 13, 7: “(…) Curvai submissas a cabeça diante dos
vossos maridos e estareis suficientemente embelezadas;
ocupai as mãos em fiar e havereis de agradar mais do que o
ouro. Vesti-vos com a seda da honestidade, com o linho da
santidade, com a púrpura da castidade. Desse modo
ataviadas, tereis Deus por amante”.
76
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
EX HOMINE UNO:
UMA LEITURA DA CONDIÇÃO
FEMININA
EM AGOSTINHO DE HIPONA
PAULA OLIVEIRA E SILVA
(Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa)
77
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
78
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
79
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
80
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
81
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
82
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
83
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
84
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
85
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
86
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
87
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
88
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
89
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
90
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
91
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
92
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
93
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
94
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
95
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
Notas
96
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
97
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
98
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
Gen ad Litt , IV , 17, 29: “Sicut ipse non ideo beatus est, quia haec fecit;
sed quia etiam factis non egens, in se potius quam in ipsi requievit (…);
quia non haec faciendo, sed eis quae fecit non egendo, se beatum intimavit”
(CSEL 28-1, p. 114).
Cf. Gen ad Litt , VI , 11, 18-19; 12, 20 (CSEL 28-1, pp. 183-
187).
LA II , 9, 26: “Portanto,como é certo que todos queremos
ser felizes, também é certo que queremos ser sábios, pois
ninguém é feliz sem a sabedoria” (DLA, p. 193).
LA III , 7, 20: “Considera, então, quanto possas, o imenso
bem que é o próprio ser, que é o que querem tanto os que
são felizes, como os que são infelizes” (DLA, pp. 283-284).
Cf. De Beata Vita 2, 10-11; 3, 19; 3, 21; 4, 27 (CCL 29 [ed.
W. M. Green, 1970], pp. 70-71; 76-77; p. 80).
Agostinho indaga o motivo pelo qual o primeiro par
original só se uniu depois do pecado original, deixando
patente que desse fato não se pode concluir a intrínseca
desordem da união conjugal. No âmbito da sentença
provável, justifica-o em função da presciência divina
sobre a vontade do ser humano primordial, no qual
engloba sempre varão e mulher. A condição ontológica
dos primeiros seria a transmitida geneticamente a todos.
Se ela viria a ser de desordem na natureza, então essa
mesma deveria ser transmitida a todos. Como a
transmissão da natureza é inerente à união dos sexos,
esta só haveria de ocorrer depois do pecado (cf. Gen. ad
Litt., IX, 4, 6-7, CSEL 28-1, pp. 272-273). O que resplandece
de modo coerente ao longo da obra agostiniana é a
bondade essencial quer da diferença sexual, quer da
união conjugal.
Gen. ad Litt , VI , 12, 22: “Sed hoc excellit in homine, quia Deus ad
imaginem suam hominem fecit, propter hoc quod ei dedit mentem
intelectualem, qua praestet pecoribus”. (CSEL 28-1, p. 186).
Civ. Dei, 15, 17: “Unde non ambigitur sic appellatam fuisse Evam
proprio nomine, ut tamen Adam quod interpretatur homo, nome esset
amborum”. (CCL 47, 479).
Essa totalidadesignifica,quantoà criaçãocausal,o gênero
humano e, quanto à criação temporal, a substância
individual em que se unem um corpo e uma alma. Embora
Agostinho não tenha esclarecidas para si próprio a origem
e a natureza das almas, tem claramente definido que, sem
a união da alma e do corpo numa substância una, não há
ser humano (De Trinitate, XV, 7, 11: “Homo est substantia
rationalis constans ex anima et corpore” [CCL 50A, p. 474]). Esse
modo de subsistir é específico da natureza humana,
comum ao gênero e, portanto, igualmente presente em
ambos os sexos. Daí que a interpretação alegórica que
pretende elucidar a origem da diferenciação sexual com
base na diferença entre a dimensão superior e inferior da
razão não seja do agrado de Agostinho. Conhecendo a
interpretação neoplatônica de tradição judaica e tendo
feito uso dela tanto em Conf. como em Gen. cont. Manich.,
o filósofo acaba por reconhecer-lhe as limitações.
Cf. Gen. ad Litt. , IX , 12, 20 (CSEL 28-1, pp. 281-283).
Cf. Gen ad Litt. , IX ,15, 26 (CSEL 28-1, pp. 286-288).
LA II , 20, 54: “Esse movimentonão derivará,portanto,de
Deus. Qual será então a sua origem? (…) De fato, não se
pode saber aquilo que nada é. (…) na medida em que é
um movimento de defecção e que toda decadência vem
do nada, repara bem naquilo a que ele se refere, e não
duvides que não pertence a Deus” (DLA, p. 243).
99
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
100
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
101
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
102
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
103
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
A MULHER E O FEMININO
NA OBRA DE SANTO ANSELMO
MARIA LEONOR L. O. XAVIER
(Universidade de Lisboa)
105
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
106
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
à mulher, as do feminino.
Importa, entretanto, salientar que o
masculino e o feminino, embora determinem ampla
e multimodamente a vida da natureza, não são
princípios estritamente naturais e muito menos
imutáveis. Na vida humana, os dois princípios não
são mais naturalmente determinantes do que
culturalmente configurados. Ambos nos
determinam desde a origem, não só no concernente
à natureza, como também à cultura, pela maneira
como esta os representa. Aliás, não poderemos
tentar alguma caracterização ou definição desses
princípios senão por representações quer
simbólicas, quer conceitualmente elaboradas, mas
sempre culturalmente constituídas.
Ora, o propósito do presente estudo, no
segundo momento de análise, é detectar, na própria
linguagem anselmiana, sinais de associação, mais ou
menos mediata, de temas da filosofia moral e da
teologia filosófica quais sejam, a perseverança, a
piedade e a justiça – com aspectos e figuras do
masculino e do feminino. Desse modo,
compreenderemos como é que Anselmo acusa e
representa a complementaridade desses dois
princípios na sua obra.
Assim, julgamos poder compreender
também por que razão o machismo mais ou menos
declarado de muitos filósofos e teólogos não é um
obstáculo decisivo à influência de suas respectivas
obras na formação intelectual das mulheres que
acreditam no valor de sua contribuição própria em
áreas de tradição preponderantemente masculina.
107
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
108
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
109
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
110
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
111
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
112
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
113
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
114
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
115
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
116
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
117
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
118
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
119
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
120
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
Notas
121
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
benedixit illis, et vocavit nomen eorum Adam in die quo creati sunt' (Gen. 5,
2)”, ibid.
O que não elimina a possibilidadede leituras favoráveis a
Eva e à condição da mulher, como a que segue: “De facto,
[Deus] criou o homem neste mundo vil, e da lama, e a
mulher num segundo tempo, no paraíso e da nobre matéria
humana. E não a formou dos pés ou das entranhas do corpo
de Adão, mas da costela”. U. Eco, O nome da rosa (1980), trad.
M. C. Pinto, Lisboa, Difel, p. 248.
“(…); aut idcirco,quia si non Adam sed sola Eva peccasset,non necesseerat
totum genus hominum perire, sed solam Evam. Poterat namque deus de
Adam, in quo semen omnium hominum creaverat, aliam facere mulierem,
per quam de Adam propositum dei perficeretur”, DCV, c. 9, in Schmitt,
II, pp. 150-151.
“Sicut namque limus terrae non acceperat naturam aut voluntatem, qua
operante vir primus de illo fieret, quamvis esset de quo a deo fieri posset: sic
non est facta mulier de costa viri aut vir de sola muliere operante natura aut
voluntate hominis, sed deus propria potestate et voluntate fecit virum
unum de limo et alterum de sola femina, et feminam de solo viro”, DCV ,
c. 11, in Schmitt, II, p.153; “Pariter tamen verus est homo et Adam de
non-homine, et Iesus de sola muliere, et Eva de solo viro, sicut est verus homo
quilibet vir aut mulier de viro et muliere”. Ibid ., p. 154.
V er nota12.
“Esto itaque, amice mi, sollicitus, ut spatium vitae quod tibi restat – quai
nescis quam breve est – sic expendas, ut de die in diem sanctum mentis
propositum ad meliora extendas. Quatenus si quid te gravat bene vivere,
quanto magis laborem tuum ad finem festinare et te ad requiem et coronam
appropinquare consideras, tanto fortius instando et laetius perseverando
viriliter confortatus proficias”, Epistola ad Odonem et Lanzonem , in
Schmitt, III, Ep. 2, pp. 100-101.
“Audivi, carissima domina, qualiter sit inter virum vestrum et vos,
quoniam nobilitas vestra non hoc patitur occultari, sed longe lateque facit
publicari. In qua re primum gratias ago deo, a quo est omne bonum, qui
eidem viro vestro dedit tanta constantia temporalem gloriam pro aeterna
contemnere, et vobis concessit tot tribulationes pro tuenda castitate tam
viriliter sufferre; ita tamen ut ille in ipso mundi contemptu non plus
diligat se ipsum quam vos, nec vobis aliquid in hoc mundo sit carius illo”,
Epistola ad Ermengardam , in Schmitt, III, Ep. 134, pp. 276-277.
“Nam etsi omnes ad perfectionis summam pariter pervenire non possimus,
non tamen erimus extra numerum bonorum, sicut scriptum est:
'imperfectum meum viderunt oculi tui, et in libro tuo omnes scribentur', si
ad eandem perfectionem incessanter et fortiter conari velimus. Conentur
igitur laici in suo ordine, clerici in suo, monachi in suo viriliter semper
proficere, ut illi qui superioris propositi sunt, eos qui inferioris sunt,
humilitate – in qua quantum homo magis proficit, tanto magis sublimatur
– et aliis virtutibus excellere”, Epistola ad Willelmum monachum
Cestrensem, in Schmitt, IV , Ep. 189, p. 75.
“Anselmus, archiepiscopus Cantuariae: Rainalmo, sapienter veritatem
vanitati praeponenti, fortiter gloriam transitoriam pro honestate
contemnenti, viriliter paupertatem superanti, salute et gratia dei semper
protegi et confortari”, Epistola ad Raimalmum episcopum Herefordensem
resignatum, in Schmitt, V, Ep. 343, p. 280.
Cf. De libertate arbitrii ,c. 3, in Schmitt, I , p. 212.
Cf. De casu diaboli , cc.1-4, in Schmitt, I , pp. 233-242.
“Quidam monachus, sicut ab illo didici, alligatus ecclesiae vestrae per
quandam professionem, quam in habitu clericali vobis fecit, et similiter
monasterio Sancti Petri, quod Carnoti situm est, ubi habitum monachi
assumpsit per aliam professionem: dicit se nullatenus posse habere
solutionem a vobis neque ab abbate Carnotensi, ut vel in Carnotensi
monasterio vel in vestro animam suam salvet; quod facere nequit, nisi aut
a vobis aut ab abbate Carnotensi absolutus fuerit. Consideret igitur
prudentia vestra quia non expedit nec decet vos abbates, ut animam eius
122
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
quisque sibi trahendo scindatis, sed in vobis esse maternam pietatem et plus
vos diligere animam proximi quam propriam voluntatem ostendatis. Ille
enim se magis ostendet esse matrem, qui dicet alteri: habeto tu solus
infantem vivum, ne ambo eum occidamus; ut cum venerit verus Salomon,
dicat: 'date huic infantem vivum', 'haec est enim mater eius' (1 Reg. 3, 27).
Nam vera mater mavult filium suum in alieno sinu vivere, quam in suo
mortuum fovere. Notum autem sit sanctitati vestrae quia, sicut cognoscere
potui, magis expedit propter plures causas eum Carnoti remanere quam ad
vos remeare. Unde si auderem, religioni vestrae consulendo suggerem,
quatenus vos non falsam, sed veram matrem esse probaretis”, Epistola ad
Gerontem abbatem, in Schmitt, IV , Ep. 302, pp. 223-224.
Cf. Cur deus homo (CDH ), I , c. 12, in Schmitt, II , pp. 69-70.
Cf. CDH , II , cc. 4-5, in Schmitt, II , pp. 99-100.
“Iustitia igitur est rectitudo voluntatispropter se servata”,
De veritate, c. 12, in Schmitt, I, p. 194.
123
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
DESCARTES,
AS MULHERES E A FILOSOFIA
MARIA LUISA RIBEIRO FERREIRA
(Universidade de Lisboa)
125
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
126
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
127
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
2.Descartes e as mulheres
128
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
129
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
130
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
131
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
132
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
a tomar partido.
Sintomaticamente, foram duas mulheres que
o levaram a explicar-se num domínio em que,
segundo as próprias palavras do filósofo, era
habitualmente reservado. De fato, as solicitações de
Cristina (tal como as de Elisabeth) levam o filósofo a
pronunciar-se sobre pontos que talvez não tivesse
desenvolvido, caso não tivesse sido instado. Pontos
mais obscuros, ou mais controversos, ou mais
problemáticos. Pontos que nem sempre se encaixam
pacificamente em suas teses mais divulgadas, mas
que constituem acréscimos determinantes para a
construção de seu pensamento. Daí dizermos que a
provocação feminina foi essencial para o
completamento do sistema cartesiano. Sem ela,
ficaríamos circunscritos a um Descartes
espartilhado em ideias claras e distintas. Com ela
verificamos que o filósofo questiona suas próprias
teses e que, também para ele, elas são por vezes
problemáticas. E isso é por demais visível na
relação epistolar com Elisabeth, da qual
enfocaremos alguns pontos.
133
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
134
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
135
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
136
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
137
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
138
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
139
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
140
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
141
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
142
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
Notas
143
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
Frauenzimmer darin hoch bringen sollte, vertilgen die Vorzuege, die ihrem
Geschlechte eigentuemlich sind, und koennen dieselbe wohl um der
Seltenheit willen zum Gegenstande einer kalten Bewunderung machen,
aber sie werden zugleich die Reize schwaechen, wodurch sie ihre grosse
Gewalt ueber das andere Geschlecht ausueben. Ein Frauenzimmer, das
den Kopf voll Griechisch hat, wie die Frau Dacier, oder ueber die Mechanik
gruendliche Streitigkeiten fuehrt, wie die Marquisin von Chastelet, mag
nur immerhin noch einen Bart dazu haben; denn dieser wuerde vielleicht
die Miene des Tiefsinns noch kenntlicher ausdruecken , um welchen sie sich
bewerben.” Kant, “Beobachtungen ueber das Gefuehl des
Schoenen und Erhabenen” in Immanuel Kant. Werke in zehn
Baenden , B 2, p. 852.
A. Baillet. La Vie de Monsieur Des-Cartes, Paris, 1691,
informação corroborada em textos do próprio Descartes
(vide Carta a Chanut, 6 de junho de 1647, A. T. V, p. 57).
Geneviève Lloyd, The Man of Reason. Male & Female in Western
Philosophy, London, Routledge, 1984, bem como “Maleness,
Metaphor and the 'Crisis' of Reason” in A Mind of One’s Own.
Feminist Essays on Reason and Objectivity, ed. de Louise M.
Anthony e Charlotte Witt, Boulder, Westview Press, 1993.
Também nessa linha de “masculinização” da razão a partir de
Descartes, citamos o artigo de Susan Bordo “The cartesian
masculinization of thought” in Sex and Scientific Inquiry , ed. de
Sandra Harding e Jean F. O’ Barr, Chicago, University of
Chicago Press, 1987. De interesse sobre a mesma temática,
com uma visão fortemente crítica quanto a uma razão
“sexuada”, ver Margaret Atherten “Cartesian Reason and
Gendered Reason” in A Mind of One’s Own..., pp. 19-34.
Anne Conway, The Principles of the Most Ancient and Modern
Philosophy, London, 1692, reedição Peter Lopston, The
Hague, Martinus Nijhoff, 1982; Margareth Cavendish,
Philosophical Letters, London, 1664.
A. Baillet op. cit. , parte II , 1. VIII , Cap. VI , p. 500.
“un livre où i’ay voulu que les femmes mesmes puissent entendre quelque
chose.” Carta a Vatier, 22 de fevereiro de 1638, A. T. I, p. 560.
Carta a Chanut, a 26 de fevereirode 1649 , A. T. V, p. 291.
Carta à princesa Sofia, dezembro de 1646 , A. T., IV, p.
592.
Carta à princesaSofia, outubro/novembrode 1646 , A. T.
IV, p. 533.
“(…)elle a plus de savoir, plus d’intelligenceet plus de raison
que tous les doctes des cloîtres et des collèges.” Carta a
Brasset de 23 de Abril 1649.
Carta a Elisabethde 9 de Outubro de 1649 , A. T. V, p. 430.
Carta a Bréguy, 15 de Janeiro de 1650 , A.T. V, A. T. V, p.
467.
“(...) une ferme volonté de bien faire & au contentement qu’elle produit.”
Carta à rainha Cristina, 20 de novembro de 1647, A. T. V, p.
82.
I b id e m , p. 83.
As teses morais que apenas afloram nessa carta são
aprofundadas na correspondência paralela com Chanut,
bem como nas cartas a Elisabeth. Descartes propõe-se
enviá-las à rainha da Suécia, como complemento deste
estudo.
Descartes considera a moral um tema perigoso (carta a
Chanut, 20 de novembro 1647) e confessa que é
habitualmente reservado quando se trata de escrever sobre
esse tema : “i’étois fort retenu à écrire de telles matires” (a Elisabeth,
144
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
145
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
SPINOZA, HOBBES
E A CONDIÇÃO FEMININA
MARIA LUÍSA RIBEIRO FERRERA
(Universidade de Lisboa)
147
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
148
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
149
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
150
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
151
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
152
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
153
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
154
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
155
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
156
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
157
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
158
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
159
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
Spinoza nos diz que ele não visa apenas à beleza física,
mas sobretudo à liberdade da alma. E esta é algo que
tanto o homem como a mulher podem alcançar27.
Ficamos com a certeza de que a mulher – tal como o
homem – pode ser livre. Mas se nos levanta agora o
problema quanto ao sentido da “imbecillitas”
mencionada no Tratado Político.
Para situarmos o fragmento em causa num
contexto mais vasto, temos de considerar a proposta
ética e gnosiológica que Spinoza inicia no Tratado da
Reforma do Entendimento e que concretiza na fítica. O
que nos leva a atender às várias etapas do itinerário
salvífico spinoziano, na vertente gnosiológica e ética
que o constituem. O texto do TP nos diz que a mulher
não é por natureza compatível com o exercício da
governação. Impõe-se perceber qual o lugar que a
política desempenha em Spinoza. Ora, quando fala de
política, o filósofo distingue várias acepções28. Temos,
por um lado, a prática política, que parte da
experiência e que recusa modelos prévios. Mas temos
também a ciência política, que joga com as paixões,
orientando-as em função da utilidade. Finalmente, há
a filosofia política, ou seja, um pensar reflexivo sobre
a própria política, traçando a gênese e explicando os
fundamentos do Estado, pois este é o território
privilegiado no qual os indivíduos tomam consciência
de sua natureza racional29. Tentando ordenar essa
polissemia, podemos dizer que o conceito spinoziano
de política acolhe três sentidos: a política que se vive,
a política que se exerce e a política que se pensa.
Para ilustrar a primeira acepção, teríamos o
homem comum, a “multitudo”, que obedece aos
decretos do Estado e que neles encontra a possibilidade
de se realizar. Para tal não lhe é exigido o conhecimento
dos mecanismos sociais; basta-lhe um saber “ex auditu”
dos fatos, quando muito uma “experientia vaga” destes.
O político representa a concretização de uma
prática que se exerce e que se vai desenrolando num
quotidiano. Seu objetivo é a utilidade. O político sabe
que os governos são desigualmente eficazes. Como tal,
faz tudo para que vinguem formas governativas que
assegurem aos cidadãos uma vida estável. Consegue-o
pelo conhecimento dos fatos e pelo confronto dos
eventos a que sua ação se circunscreve. Um tal
conhecimento basta-lhe para “evitar a maldade
humana”30. A política que se vive, tal como a que se
exerce, situa-se no registro da paixão e da imaginação,
naquilo que o filósofo designa por conhecimento do
primeiro gênero – um conhecimento frágil, “ex auditu” e
“ab experientia vaga”. Ora, é precisamente no âmbito da
160
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
161
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
162
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
163
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
164
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
165
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
166
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
167
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
168
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
Spinoza
169
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
Notas
170
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
171
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
172
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
173
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
175
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
176
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
177
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
178
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
179
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
180
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
181
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
182
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
183
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
184
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
185
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
186
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
Notas
187
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
188
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
189
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
1.Configuração da questão
190
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
191
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
192
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
193
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
194
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
195
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
196
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
197
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
198
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
199
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
2.1.Afigura feminina
Comecemos por analisar a imagem de
Sophie que o livro V nos fornece:
“Sophie não é bela; mas junto dela os
200
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
201
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
202
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
203
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
204
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
3. Notas finais
205
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
Notas
206
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
207
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
208
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
KANT E O FEMINISMO
PEDRO M. S. ALVES
(Universidade de Lisboa)
“Der Mensch als ein Thier ist ein sehr unverträgliches Thier.”
Kant. Vorlesungen, Ak. XXV, II, p. 677
209
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
210
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
211
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
212
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
213
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
214
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
215
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
216
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
217
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
218
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
219
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
220
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
221
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
222
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
223
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
224
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
225
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
226
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
Notas
227
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
228
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
Frage: quid juris, in Anspruch genommen werden (...)”. K.r. V., § 13,
Ak. III, p. 99.
É esse o lugar de gênese do conceito puro do direito. V.
Rechtslehre: “Das Recht ist also der Inbegriff der Bedingungen, inter denen
die Willkür des einen mit der Willkür des andern nach einem allgemeinen
Gesetze der Freiheit zusammen vereinigt werden kann ”. Enleitung, §
B, Ak. VI, p. 230.
“Die Geschicht (...) lässt dennoch von sich hoffen: dass, wenn sie das Spiel
der Freiheit des menschlichen Willens im grossen betrachtet, sie einen
regelmässigen Gang derselben entdecken könne”. Idee zu einer allgemeinen
Geschichte in weltbürgerlicher , Absicht, Ak. VIII, 17.
“Der Begriff des Rechts (...) betrifft (...) nur das äussere und zwar
praktische Verhältnis einer Person gegen eine andere, sofern ihre
Handlungen als Facta
aufeinander (unmittelbar, oder mittelbar) Einfluss haben können.”
Rechstlehre, Einleitung, § B, Ak. VI, p. 230.
“(...) dass hiezu richtige Begriffe von der Natur einer möglichen
Verfassung, grosse durch viel Weltläufe geübte Erfahrenheit, und, über das
alles, ein zur Annehmung derselben vorbereiteter guter Wille erfordert
wird.” Idee zu einer allgemeinen Geschichte in weltbürgerlicher Absicht,
Ak. VIII, 23.
“Das Problem der Staatserrichtungist, so hart wie es auch klingt, selbst für
ein VoIk von Teufeln (...) auflösbar (...)”. Zum Ewigen Frieden , Erster
Zusatz, Ak. VIII. 366.
O texto de Paz perpétua fornece, aliás, elementos decisivos
para seu tratamento.
229
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
231
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
232
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
233
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
234
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
235
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
236
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
237
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
238
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
239
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
240
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
241
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
I. As metáforas do feminino
243
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
244
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
245
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
246
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
247
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
248
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
249
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
250
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
251
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
Notas
“Je pense que le contraire absolument contraire, dont la contrariété n’est affectée
en rien par la relation qui peut s’établir entre lui et son corrélatif, la
contrariété qui permet au terme de demeurer absolument autre, c’est le
féminin.” Lévinas, Le temps et l’autre, Paris, PUF, 1983, p. 77. Cf.,
ainda, ibidem , p.14 e idem , De l’existence à l’existant, Paris, Vrin,
19842, p. 145.
“L’amour n’est pas une possibilité, il n’est pas dû à notre initiative, il est
sans raison, il nous envahit et nous blesse et cependant le je survit en lui.
(…) La relation avec autrui, e c’est l’absence de l’autre, non pas absence de
pur néant, mais absence dans un horizon d’avenir (…)” Lévinas, Le temps
et l’autre, pp. 82-83.
“L’intimité que déjà la familiarité suppose – est une intimité avec
quelqu’un. L’intériorité du recueillement est une solitude dans un monde
déjà humain. Le recueillement se réfère à un accueil.” Lévinas, Totalité et
Infini, Haia, Martinus Nijhoff, 19844, p. 128.
Depois de afirmar explicitamente que, segundo a tradição
talmúdica, a casa é a mulher, Lévinas acrescenta: “Mais dans
le judaïsme, le moral a toujours la portée d’un fondement ontologique. Le
féminin figure parmi les catégories de l’être. (...) Surmonter (...) une
aliénation qui, ultime, résulte de la virilité même du logos universel et
252
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
253
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
254
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
255
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
FOUCAULT E A QUESTÃO DA
IDENTIDADE
JOSÉ DE ALMEIDA PEREIRA ARÊDES
(Centro de Filosofia da Faculdade de Letras de Lisboa)
Introdução
257
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
258
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
Normalizar e disciplinar
A problematização da sociedade de
adestramento que é, segundo Foucault, a sociedade
moderna será feita a partir de dois conceitos que se
tornarão chave para a leitura de Vigiar e punir, a saber,
disciplina e norma. As disciplinas, poder e tecnologia
que trabalham, por toda parte11, os corpos e as almas
dos indivíduos com vistas à constituição de um novo
tipo de subjetividade e, consequentemente, de
identidade, tecnologias do corpo, atuando em função
de uma norma, medida e padrão de produção do
homem modelo a implementar, são definidas por
Foucault como “os métodos que permitem o controle
minucioso das operações do corpo, asseguram a
sujeição constante de suas forças impondo-lhes uma
conexão docilidade-utilidade”12.
As disciplinas, que começam por ter uma
função negativa-repressiva (neutralizar os perigos,
controlar e fixar as populações), passam depois a
exercer uma outra positiva (aumentar a possível
utilidade dos indivíduos13), assistindo-se, então, ao
nascimento de uma arte (techné) do corpo que fabrica
corpos-indivíduos quanto mais dóceis mais úteis,
corpos exercitados e submissos, dotados de maior
força, o que lhes aumenta a utilidade, em termos
econômicos, diminuindo-lhes a periculosidade, em
termos políticos.
Portanto, não sendo as disciplinas instituições,
mas antes técnicas, e sendo disciplinar não só toda
sociedade, mas a sociedade toda, o que interessa a
Foucault são essas técnicas disciplinares, mais do que as
descrições particulares de instituições como a Escola,
o Exército ou a Prisão, seus momentos visíveis, pois o
que se torna efetivamente relevante são as técnicas
de sujeição e o que permite opor-se-lhe, a saber, as
técnicas de subjetivação, tecnologias do eu, como
Foucault virá, mais tarde, a chamar-lhes.
As disciplinas dirigem-se a todos, sendo assim
que “a escola cristã não deve simplesmente formar
crianças dóceis, mas deve também permitir vigiar os
pais, informar-se do seu modo de vida, dos seus
recursos, da sua devoção, dos seus costumes”14,
259
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
260
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
261
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
A minha proposta
262
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
263
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
264
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
265
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
266
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
267
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
268
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
269
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
270
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
271
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
272
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
sexo
sujeito psyché
273
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
Notas
274
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
275
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
“On peut dire que la délinquance,solidifiée par un système pénal centré sur
la prison, représente un détournement d’illégalisme pour les circuits de
profit et de pouvoir illicites de la classe dominante”, M. Foucault, SP, p.
286.
Herculine Barbin dite Alexina B ., présenté par M. Foucault,
Paris, Gallimard, 1978. Com direção de Hervé Guibert foi
mesmo rodado um filme com Isabelle Adjani no papel
principal, tendo o próprio Michel Foucault
desempenhado um papel secundário.
“C ’est l’innombrable famille des pervers qui voisinent avec les délinquants
et s’apparentent aux fous”, M. Foucault, La Volonté de Savoir, p. 55-
56, (VS).
“Une société normalisatrice est l’effet historique d’une
technologie de pouvoir centrée sur la vie”, M. Foucault, VS, p.
190.
Isso seria particularmente verdade, segundo Wilhelm
Reich, no sistema político-social genericamente designado
por fascismo e, depois, também sob o stalinismo.
M. Foucault, Les rapports de pouvoir passent à l’intérieur
des corps, La Quinzaine Littéraire, nº. 247, 1-15 de janeiro de
1977, pp. 4-6, DE, III, pp. 228-236.
“(…) Un discours spécifique sur le sexe en articulant les obligations
religieuses ou légales du mariage sur les codes de transmissions des biens
et les liens du sang ”, Dreyfus e Rabinow, Michel Foucault, un
parcours (…), Paris, Gallimard, 1984, p. 245.
“On peut admettre sans doute que les relations de sexe ont donné lieu, dans
toute société, à un dispositif d’alliance (…)”, M. Foucault, VS, p. 140.
“(…) ‘Sexualité’, c’est l’ensemble des effets produits dans les corps, les
comportements, les rapports sociaux par unecertaine dispositifrelevantd’une
technologie politique complexe (…)”, M. Foucault, VS, p. 168.
“La question de ce que nous sommes, une certaine pente nous a conduits (…)
à la poser au sexe”, “Dès qu’il s’agit de savoir qui nous sommes, c’est elle [la
logique de la concupiscence et du désir] qui nous sert désormais de clef
universelle”,
M. Foucault, VS, pp. 102 e 103, respectivamente.
Assumimos aqui uma certa consonância com Angel
Gabilondo, que também aceita a existência de uma gnose em
Foucault, nomeadamente em “Moi”: el gnoze de Foucault”,
Anuario de Filosafia, Universidad Autonoma de Madrid, 1986-
1988, pp. 63-81. Divergimos, no entanto, quando o autor
considera Moi, Pierre Riviére (...) a “(...) clave/llave de su [dos
escritos de Foucault] lectura”. Se existe uma chave
(preferimos pensar que há várias), estaria antes em Herculine
Barbin dite Alexina B. Diz Gabilondo a propósito de Moi,
Pierre Riviére (...): “La narración del Sr. Riviére vincula a Pierre a una
determinada identidad. (...) Pierre Rivière [...] se historiza como sujeto
ético (...). No estamos sólo ante la constitución de un yo (je), sino de una
experiencia”. Se nosso juízo é correto, tal asserção aplica-se à
obra em referência, mas, por maioria de razão, a Herculine
Barbin dite Alexina B : não é aí, com efeito, que o sujeito
procura constituir-se, não apenas ética mas ontologicamente
(se em Foucault tal diferença se consente), por meio da
problematização e da escrita da experiência da sexualidade? Fez
Foucault algo de diferente em sua Histoire de la Sexualité? O
texto de Gabilondo aparece inserido no nº. 19 da Revista de
Comunicação e Linguagem , dedicado a Foucault, em tradução de
Bragança de Miranda, pp. 137-149, sob o título “Moi” – o eixo
de Foucault.”
“Le sexe, cette instance qui nous paraît nous dominer et ce secret qui nous
semble sous-jacent à tout ce que nous sommes (…). Le sexe n’est sans doute
qu’un point idéal rendu nécessaire par le dispositif de sexualité (…)”, M.
Foucault, VS, p. 205.
276
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
“Le sexe est au contraire l’élément le plus spéculatif, le plus idéal (…)”,
M. Foucault, op. ult. cit., ibidem.
“(…) le sexe-désir (…)”, M. Foucault, VS, p. 208 .
“(…) Des trois modes d’objectivationqui transforment les êtres humains en
sujets”, M. Foucault, Le sujet et le pouvoir, DE, IV , pp. 222-
243, 223.
“Il y a deux sens au mot ‘sujet’: sujet soumis à l’autre par le contrôle et la
dépendance, et sujet attaché à sa propre identité par la conscience ou la
connaissance de soi. Dans les deux cas, ce mot suggère une forme de pouvoir
qui subjugue et assujetit”, M. Foucault, op. ult. cit., ibidem, p. 227.
“(…) Le sujet humain est pris dans des rapports de production (…) de
sens (…) [et] de pouvoir d’une grande complexité.”, M. Foucault, op. ult.
cit, ibidem.
Paul Rabinow, The Foucault Reader , N. York, Penguin
Books, p. 11.
“J ’apellerai subjectivation le processus par lequel on obtient la constitution
d’un sujet, plus exactement d’une subjectivité, qui n’est évidemment que
l’une des possibilités données d’organization d’une conscience de soi.”,
M. Foucault, L’éthique du souci de soi comme pratique de la
liberté, DE, pp 708729, 706.
“L ’h o mm e d o nt o n n o u s p a rl e e t q u ’ o n i n v i t e à l ib é r e r es t d é j à e n lu i -
m ê m e l’effet d’un assujettissement bien plus profond que lui. Une ‘âme’
l’habite et le porte à l’existence, qui est elle-même une pièce dans la
maîtrise que le pouvoir exerce sur le corps. L’âme, effet et instrument
d’une anatomie politique; l’âme, prison du corps”, M. Foucault, SP ,
p. 34. Ver, a propósito, Judith Butler, Subjection, Resistance
Resignification: between Freud and Foucault, in Rajchman,
John, ed., The Identity in question, Routledge, N. Y., 1995, pp.
229-249, e Bartky, Sandra Lee, Femininity and Domination ,
Routledge, N. Y., 1990, em especial o Cap. 5, Foucautl,
Femininity and the modernization of patriarchal power, pp.
63-82.
Introduction in HerculineBarbin, Being the RecentlyDiscoveredMemoirs
of a Nineteenth Century French Hermaphrodite, N. Y. Pantheon
Books, 1980, pp. VII-XVII, trad. francesa, revista pelo autor,
DE, IV, pp. 115-123.
M. Foucault, DE , IV , p. 118.
Brown, Peter, The Body and Society: Men, Women & Sexual
Renunciation in Early Christianity , N. York, Columbia
University Press, 1988.
M. Foucault, Sexualité et Solitude , DE , IV , pp. 168178, p. 172.
V er nota 26.
“Contre le dispositif de sexualité, le point d’appui de la contre-attaque ne
doit pas être le sexe-désir, mais les corps et les plaisirs”, M. Foucault, VS,
p. 208.
“Eros after desire”, na expressão de Rajchman. Cf. Rajchman
J., Truth and Eros, Foucault and the Question of Ethics, New York,
Routledge, 1991, p. 87.
“(…) le travail critique de la pensée sur elle-même.”, M.
Foucault, UP, p. 14, “(…) la philosophie (…) une ‘ascèse’, un exercice de
soi, dans la pensée.”, M. Foucault, UP, p. 15.
“(…) la philosophie (…) une ‘ascèse’, un exercice de soi, dans la pensée.”,
M. Foucault, UP, p. 15.
Jon Simons fala mesmo de cegueira(para a diferença)de
gênero e de androcentrismo. Ver nota 2.
Herculine Barbin dite Alexina B ., pp. 119-120.
277
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
POSFÁCIO
279
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
280
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
281
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
282
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
283
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
284
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
285
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
286
o que os filósofos pensam sobre as mulheres
287