O pintor José de Almada Negreiros surpreendeu as expectativas com a admirável
ilustração, intitulada A Engomadeira, concebida em 1938. Na pintura é possível observar, num plano central, uma mulher debruçada sobre uma tábua de passar a roupa. Esta mulher tem a sua mão esquerda firmemente pousada no ferro de engomar, enquanto a direita se esconde atrás do mesmo, dando a ideia de que está a pressionar o pedaço de tecido que está a ser engomado. Atrás da figura feminina, podemos ver parte de uma janela, única fonte de luz representada e, no canto superior esquerdo, temos a presença de um pequeno pássaro azul contido num cubo transparente, dando a ideia de uma gaiola. A mulher está com uma expressão melancólica e não aparenta estar contente com a sua situação atual. As cores escuras e frias e a falta de luz transmitem a sensação de confinamento e a ideia de que a mulher está cativa, pois a vida dela limita-se ao lar e às suas tarefas domésticas, como muitas mulheres naquela época. Podemos, também, relacionar o cenário da ave com o da mulher, uma vez que a ave está presa na gaiola, assim como a mulher está presa em casa. A ilustração é de fácil interpretação e a escolha de cores limitada realça a simplicidade da pintura e amplia a emoção no público. A referida obra de arte é, ainda, muito realista, representando o papel da mulher na sociedade do século XX. No entanto, apesar das qualidades, esta obra tem os seus aspetos negativos, como o facto da mulher feminina ser representada de forma romantizada e erótica, objetivando, de certa forma, uma vez mais, a figura feminina, desconectando o público da mensagem principal desta pintura. Concluindo, A Engomadeira, de José de Almada Negreiros, é uma obra excecional que demonstra, com facilidade, a tristeza e rancor das mulheres que se encontravam naquela situação.