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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO


CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
CURSO DE BIBLIOTECONOMIA

BIBLIOTECA COMUNITÁRIA:
uma questão social

Recife
Dezembro, 2010
2

KASSANDRA KALLYNA NUNES DE SOUZA

BIBLIOTECA COMUNITÁRIA:
uma questão social

Trabalho de Conclusão apresentado


ao Curso de Biblioteconomia, como
requisito parcial para obtenção do
grau de Bacharel em Biblioteconomia.
Orientador: Prof. Dr.: Lourival
Pereira Pinto

Recife
Dezembro, 2010
3

S729b Souza, Kassandra Kallyna Nunes de

Biblioteca comunitária: uma questão social / Kassandra Kallyna


Nunes de Souza; orientação de Lourival Pereira Pinto. – Recife: a autora,
2010.
43 f.

Trabalho de Conclusão de Curso – (Graduação) Universidade


Federal de Pernambuco, Departamento de Ciência da Informação, Curso
de Biblioteconomia, 2010.

1. BIBLIOTECA COMUNITÁRIA. 2. COMUNIDADE - CONCEITOS. 3.


SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO. I. Pinto, Lourival Pereira. II.
Universidade Federal de Pernambuco. III. Trabalho de Conclusão de
Curso. IV. Titulo.
CDU: 027.4:304
CDD: 027.4
4

Ao meu namorado e futuro marido...


5

AGRADECIMENTOS

Ao professor Lourival pela paciência, segurança e tranqüilidade na


orientação. Por poder aceitar construir comigo esta pesquisa e encontrar os
melhores caminhos para a finalização deste trabalho.
À professora Maria Cristina Guimarães por me despertar a curiosidade em
conhecer os vários tipos de bibliotecas e me apaixonar pela biblioteca comunitária.
À Simone Rosa, pois além de me fazer crescer e ser uma bibliotecária capaz
de fazer a diferença me mostrou o ambiente lúdico, dinâmico e participativo que a
biblioteca comunitária propicia e que a minha profissão pode fazer SIM a diferença
em qualquer ambiente e em qualquer classe social.
À Isamar e ao Rogério, do CEPOMA e da Biblioteca Multicultural Nascedouro
respectivamente, que abriram as portas das bibliotecas e dispuseram de tempo e
paciência para resolver comigo todas as dificuldades enfrentadas nas pesquisas.
As amigas que sempre estavam ao meu lado me ajudando nas leituras
críticas, nas conversas e discussões sobre o meu texto, saibam que isso me ajudou
bastante a me aperfeiçoar e corrigir os ruídos encontrados na parte escrita.
Obrigada Priscila pelas tardes de discussões, comparações e caras feias por você
não entender tudo o que eu escrevo – ou o pouco que escrevo - e por querer tanto
que você termine o seu texto mais rápido que o meu.
A todos que participaram de alguma maneira, me inspirando e auxiliando na
construção deste trabalho.
Ao meu namorado Celso, pois mesmo não entendendo do meu tema sempre
estava a disposição a me ajudar e incentivar.
À minha mãe Maria do Carmo por me receber toda noite com um jantar
quentinho e o silêncio necessário para o meu estudo. E ao meu pai João Barbosa
que nunca me perguntava nada, mas se alegrava com cada passo conquistado.
6

"Este livro foi redigido, copiado, composto,


revisto e impresso por seres humanos e não
por máquinas exclusivamente. Esse fato,
por enquanto inelutável, explica os enganos
e erros que contém"
Rubens Borba de Moraes
7

Resumo

A pesquisa aborda a biblioteca comunitária como uma questão social dentro de sua comunidade.
Tem como objetivo principal a análise dos perfis dos usuários das bibliotecas do Centro Popular
Mailde Araújo – CEPOMA - (Brasília Teimosa/Recife) e Biblioteca Multicultural Nascedouro
(Peixinhos/Recife-Olinda). Começando pelo conceito de comunidade e sociedade da informação
descreve-se, assim, as comunidades estudadas. Escolhemos por uma metodologia descritiva -
exploratória fazendo o uso de questionários pré-estruturados para obter os dados apresentados
tanto para os usuários potenciais e reais quanto para os gestores das bibliotecas. A partir das
pesquisas feitas foi possível perceber que a biblioteca comunitária tem uma melhor representação
quando é comparada à comunidade, pois tenta formar cidadãos e não é apenas um local onde
circula a informação. Mesmo assim o que falta para esses usuários é a competência informacional e
práticas de letramento para que se forme um cidadão crítico com suas leituras e preciso no uso da
informação. Conclui que aqueles não frequentadores das bibliotecas buscam sempre obter
informação na internet e, nem sempre, consegue obter a informação necessária. Já os usuários reais
recorrem ao local, principalmente, para fazer suas pesquisas escolares.

Palavras-chave: Biblioteca comunitária. Comunidade – conceito. Sociedade da informação.


8

Abstract

The present research addresses the community library as a social issue within your community. Its
main objective is to analyze the profiles of library users of the Centro Popular Mailde Araújo -
CEPOMA – (Brasília Teimosa/Recife), and Multicultural Nascedouro Library (Peixinhos, Recife and
Olinda). We decided on a descriptive- exploratory methodology, using pre-structured questionnaires
to obtain the data presented for both potential and real users and for managers of libraries. Since
the research was made it was possible to realize that the library community has a better
representation when it is compared to the community because it tries to educate citizens and not
just a place where information circulates. Yet what is lacking for these users is information literacy
and literacy practices to form a citizen with a critical sense of reading and precise use of
information. Concludes that those who do not go to libraries always seek to obtain information on
the Internet and not always are able to obtain the necessary information. On the other side, real
library users go there mainly to make their school researches.

Keyword: Community library. Community – concept. Information society


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Sumário

1 INTRODUÇÃO 10
2 COMUNIDADE / SOCIEDADE 12
2.1 Comunidade da Brasília Teimosa 14
2.2 Comunidade de Peixinhos 16
3 BIBLIOTECA COMUNITÁRIA 18
3.1 Biblioteca comunitária no Brasil: breve história 20
3.2 Biblioteca comunitária no Recife: Rede de Bibliotecas Comunitárias da 21
Região Metropolitana do Recife
3.2.1 Biblioteca do Centro de Cultura Mailde Araújo (CEPOMA) 22
3.2.2 Biblioteca Multicultural Nascedouro (BMN) 25
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 28
5 ANÁLISE DOS DADOS 30
5.1 Usuários potenciais 30
5.2 Usuários reais 34
5.3 Com a palavra os gestores das bibliotecas 36
5.3.1 Entrevista com Isamar Martins – gestora da biblioteca do CEPOMA 36
5.3.2 Entrevista com Rogério Bezerra – gestor da Biblioteca Multicultural 37
Nascedouro
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 39
REFERÊNCIAS 42
Apêndice A – Questionário aplicado aos usuários potenciais 45
Apêndice B – Questionário aplicado aos usuários reais 46
Apêndice C – Roteiro da entrevista aplicado aos gestores das bibliotecas 47
10

1 INTRODUÇÃO

O tema escolhido para nortear este trabalho de conclusão do curso de


Biblioteconomia foi biblioteca comunitária. A análise se limitou à duas bibliotecas
já existentes – a Biblioteca Multicultural Nascedouro e a biblioteca do Centro
Popular Mailde Araújo, para descobrir o que elas representam para a comunidade.
A justificativa deste trabalho está fundamentada em dois fatos: a não
existência de um conceito definido no tocante „biblioteca comunitária‟ e o nosso
anseio em conhecer este tipo de biblioteca, que, em alguns aspectos, é diferente
das outras e que está ocupando, cada vez mais, espaço nas comunidades mais
carentes.
Diante dessas ideias, este trabalho atentou-se por fundamentar o
pensamento no estudo de caso de duas bibliotecas comunitárias: a Biblioteca
Multicultural Nascedouro e a biblioteca CEPOMA, localizadas em Peixinhos/Olinda -
Recife e Brasília Teimosa/Recife, respectivamente, ambas no estado de
Pernambuco.
Como essas bibliotecas nascem de um anseio da própria comunidade, esta
monografia procura entender certas questões sociais, uma vez que essas bibliotecas
lutam pela igualdade e justiça social por meio do “[...] processo participativo,
gerando articulação local e forte vínculo com a comunidade” (MACHADO, 2008, p.
89).
O objetivo geral é a análise investigativa do perfil dos usuários das
bibliotecas Multicultural Nascedouro e CEPOMA. E nossos objetivos específicos são:

 Estudar os usuários reais e potenciais dessas bibliotecas;


 Descrever as bibliotecas estudadas e os seus acervos;
 Traçar um perfil dos usuários dessas bibliotecas.

Assim, o trabalho tenta responder à seguinte questão: A biblioteca supre a


demanda de informação da comunidade?
As bibliotecas escolhidas compõem a Rede de Bibliotecas Comunitárias da
Região Metropolitana da Cidade do Recife, que desenvolve um trabalho junto com
o Centro de Cultura Luiz Freire para estimular e articular as bibliotecas.
11

Dessa maneira, a metodologia aplicada será exploratória, com questionários


e entrevistas estruturadas, para fundamentar o trabalho no estudo de caso das
comunidades e dos usuários, reais e potenciais, destas bibliotecas comunitárias.
Esperamos que este trabalho possa servir de base para outros estudos mais
aprofundados sobre bibliotecas comunitárias e o serviço do bibliotecário neste
espaço. Que este trabalho ultrapasse a imagem que temos sobre este tipo de
biblioteca, e que ela seja vista como um centro de disseminação de conhecimento
e informação produzidos pela comunidade e para a comunidade, refletindo sua
vontade social.
De acordo com a proposta, apresentamos, a seguir, uma análise do conceito
de comunidade e sociedade a fim de tentar iniciar a exploração acerca da
biblioteca comunitária.
12

2 COMUNIDADE / SOCIEDADE

Iremos, a priori, analisar o conceito de comunidade e a sua representação


para podermos entender melhor uma biblioteca comunitária e como esta biblioteca
se assemelha e se molda, ou melhor, nasce em uma dada comunidade. E se nasce
nessa comunidade poderia nascer em outras?
Osborne (2010), em seu Dicionário de Sociologia, nos mostra que
comunidade é um agrupamento que está ligado essencialmente ao solo. Os
membros de uma comunidade compartilham ações conjuntas que dizem respeito às
suas vidas.
Podemos pensar em comunidade como uma construção mental, ou seja,
não resumir este termo a apenas pessoas que desfrutam de um mesmo espaço, mas
sim como um conjunto de interações, comportamentos, onde se pode contar com a
solidariedade. Nesse sentido, Bauman (2003, p.8), afirma que:

Numa comunidade, todos nos entendemos bem, podemos confiar no


que ouvimos, estamos seguros a maior parte do tempo e raramente
ficamos desconcertados ou somos surpreendidos. Nunca somos
estranhos entre nós.

Já Silva (2008, p. 38) coloca comunidade como sendo uma “coletividade


extra-histórica, em que não haveria poder de dominação, ou seja, aspectos
eminentemente naturais.” Então, numa comunidade os membros têm participação
igualitária e também igual poder de decisão. Uma comunidade não tem um centro
de dominação, mas relações rizomáticas, cujas ações dos seus membros convergem
para o bem comum de todos.
Também entendemos que a expressão sociedade nada mais é do que o
agrupamento de várias comunidades, concordando com a visão de Richard (2010, p.
44), que diz que a sociedade é “[...] estruturada pelos grupos principais, ligados
entre si, considerados como uma unidade e participando todos de uma cultura
comum.” Se na comunidade há uma cultura igual ou um território comum, na
sociedade vemos a união de diversos tipos, temperamentos e manifestações.
Logo percebemos que o conceito de sociedade se assemelha com a união
de diversas forças, e cada qual com culturas e ideologias diferentes. Assim
13

podemos entender porque os bairros a serem estudados são heterogêneos e


distintos.
Entendemos que, dentro de uma comunidade, também há diferenças, mas
que são diminuídas quando todos se juntam em prol de uma ação positiva para a
sua comunidade. Essa ação pode ter resultados diversos em diversas áreas, mas
citamos aqui, como exemplos, alguns resultados que podem advir de uma ação
conjunta para construir um espaço cultural: esses exemplos são uma biblioteca,
uma casa de cultura ou um museu. E, nestes casos, é necessário criar sistemas que
disseminem as informações de maneira eficaz e inclusiva a todos os membros
daquela comunidade.
Mas, historicamente, o acesso à informação no Brasil sempre foi definido
pela classe dominante (MILANESI, 1997). Assim, as camadas mais pobres ficavam às
margens deste acesso. Este pode ser considerado mais um dos motivos para o
nascimento das bibliotecas comunitárias, já que as bibliotecas públicas se
encontram bem distantes das comunidades mais carentes.
É bem verdade que, informação e conhecimento são elementos essenciais
nos modelos de desenvolvimento social, tendo em vista que os processos de
produção se baseiam em algum grau de conhecimento que é processado e gerado
como informação. A sociedade que consegue gerar e usar conhecimentos,
organizados de tal forma que o tornem fonte principal de produtividade, é
chamada de sociedade do conhecimento.
O conceito de sociedade da informação se estende para sociedade do
conhecimento e sociedade da aprendizagem. Observamos que seus conceitos não
são substituíveis, ao contrário

[...] são simultâneos, frutos de um desdobramento a partir da


existência e valor da informação que só adquire sentido na medida
em que é comunicada, é disseminada, o que permite gerar
conhecimento para produzir novas informações, o que pressupõe uma
aprendizagem continuada, para realimentar o processo (CUNHA,
2003, p. 71)

A sociedade da informação tem como foco principal a tecnologia,


exaltando a velocidade do processamento e da recuperação da informação. Já a
sociedade do conhecimento converge para o ponto do valor agregado a essa
informação, a relação do individuo e a informação obtida. E a sociedade da
14

aprendizagem expressa à junção dos conceitos anteriores onde destaca a


importância do sujeito, o indivíduo que se beneficia das tecnologias de informação
- e seu valor agregado - para a construção do próprio conhecimento.
Mas foi o serviço de informação à comunidade, no campo das bibliotecas,
que mostrou um trabalho mais eficaz, informativo e dinâmico adequando-se às
reais necessidades diárias da sociedade.
Segundo a The Library Association1 (1980 apud SUAIDEN, 1995, p. 69)

[...] o serviço de informação à comunidade serve para resolver


problemas, tanto de pessoas como de grupos, centrados nos temas
importantes e enfrentados diariamente em relação à moradia, ao
trabalho, aos direitos e que possam participar em sua solução, tanto
os indivíduos como os grupos do contexto social, político e
econômico, atribuindo-se então grande importância a que esta
informação esteja adaptada às necessidades e possibilidades dos
usuários.

Assim, os bibliotecários fazem com que a informação chegue à sociedade


de maneira mais dinâmica e de fácil entendimento, melhorando a comunicação
entre as pessoas e facilitando a administração social. Entretanto é de fundamental
importância que este serviço conheça a real necessidade de informação da
comunidade para que possa atender de forma eficiente e satisfatória a todos os
seus usuários.

2.1 Comunidade da Brasília Teimosa

A comunidade de Brasília Teimosa, localizada na zona sul do Recife, entre o


Bairro do Pina e o Porto do Recife pertencente à região político-administrativa 6
(RDA 6), surgiu através da ocupação de uma área antes denominada Areal Novo,
que pertenceu aos herdeiros do Visconde do Livramento, quando o então
governador de Pernambuco, Carlos de Lima Cavalcanti, mandou dragar uma área
entre o mar e o Rio Capibaribe, para a construção de um aeroclube. Uma
comunidade de pescadores que ali vivia não concordou em deixar a área e se
iniciaram os conflitos. Posteriormente, o lugar foi ocupado durante a grande seca
vivida em 1957 e 1958. A favela foi batizada de Brasília, uma alusão a Brasília,
1
THE LIBRARY ASSOCIATION. Community informations: what libraries can do. A consultive
document. London: Library Association, 1980.
15

então nova capital do Brasil que estava sendo projetada no governo de Juscelino
Kubitschek, e posteriormente, Brasília Teimosa, devido à teimosia do povo que
resistiu às ameaças de despejos, destruição dos barracos e até mesmo a dois
incêndios criminosos.
O bairro tem, de acordo com a Prefeitura da Cidade do Recife no senso de
2000, uma população de 19.155 pessoas, dentre os quais 9.136 são do sexo
masculino e 10.019 são do sexo feminino, estando assim distribuídos:

Faixa etária População

0 - 4 anos 1.780

5 - 14 anos 3.450

15 - 39 anos 8.772

40 – 59 3.483

60 anos e mais 1.670

Fonte: IBGE - Censo 2.000

Na comunidade, existem várias escolas municipais e estaduais, e algumas


contam com bibliotecas que dão suporte ao aluno no trabalho escolar. A taxa de
alfabetizados é de 85,45%.
A história do bairro, a mais antiga invasão urbana do Recife, foi contada por
seus moradores num pequeno livro, editado em 1986 sob o título Brasília Teimosa.
O livro é composto por textos que registram a história oral da comunidade
(resultado de entrevistas com os moradores) ilustrado por desenhos de crianças,
também moradoras do bairro. O trabalho teve financiamento do Ministério da
Educação e Cultura e foi organizado por uma equipe que incluía historiadora,
pedagoga, professoras primárias das escolas locais, donas-de-casa, pescadores e
crianças. Com 90 páginas, o livro teve uma tiragem de cerca de mil exemplares,
distribuídos entre os alunos das escolas da própria Brasília Teimosa. De linguagem
simples e direta, a preocupação central do livro é deixar um registro da história da
comunidade que surgiu de uma invasão de terras.
Os conflitos pela área onde atualmente está localizada a comunidade de
Brasília Teimosa e onde ainda hoje permanecem a colônia dos pescadores amigos
16

do presidente Juscelino têm muito a ver com a localização da favela. É que a


comunidade é vizinha a Boa Viagem, um bairro de gente de maior pode aquisitivo,
que não desejava a vizinhança. Mas, os textos do livro não são raivosos ou
sectários. No capítulo que narra um dos incêndios ocorridos na comunidade, por
exemplo, há duas versões para a tragédia. A primeira diz que "[...] os pescadores
acham que tinha muita gente rica interessada no terreno da colônia e botaram fogo
em tudo" (GRZYBOWSKI, 1989, p. 72). A outra versão conta que "[...] foi por causa
de uma mulher que deixou o filho sozinho no barraco e ele derrubou um candeeiro,
fazendo tudo pegar fogo" (GRZYBOWSKI, 1989, p. 73). Assim, até hoje o nascimento
e a „emancipação‟ do bairro é um tanto dúbio.

2.2 Comunidade de Peixinhos

O bairro de Peixinhos (Recife), situado na zona Norte pertencente à região


político-administrativa 2 (RDA 2), encontra-se nos limites das cidades de Olinda e
do Recife. Por essa razão, cada cidade tem um bairro de mesmo nome, onde se
encontram integrados, apesar dos limites territoriais.
O bairro surgiu através do encontro de pessoas dos bairros próximos (Santo
Amaro e Casa Amarela) onde se reuniam para pescar no rio Beberibe, o qual o
referenciavam como o “rio dos peixinhos”. O tempo foi passando e o nome foi
ficando.
O bairro começou a se desenvolver quando o matadouro foi transferido para
as margens do rio Beberibe em 19 de novembro 1919. A população cresceu por
causa dos trabalhadores que vieram trabalhar no Matadouro. A maioria das pessoas
era de origem pobre e baixa escolaridade.
“Na década de 1970 o governo do estado de Pernambuco desativou o
Matadouro de Peixinhos alegando descumprimento das normas para o seu
funcionamento.” (BARBOSA, 2010, p. 2). A desativação provocou o desemprego e
prejuízos à economia da comunidade de Peixinhos. “Inclusive, o local transformou-
se em ponto de drogas, violência e morte” (CASA BRASIL, 2010, p. 1).
Por decreto municipal de 1980, assinado pelo então prefeito Gustavo Krause,
o matadouro tornou-se um sitio histórico, mas na gestão de Joaquim Francisco de
Freitas Cavalcanti (em 1985) parte da estrutura do Matadouro de Peixinhos foi
demolida. Barbosa (2010, p.2) nos fala que “A denúncia e o apelo de vários
17

segmentos da sociedade conseguiram interromper a ação da prefeitura, entretanto,


poucos blocos ficaram em pé e toneladas de ferro foram retiradas e vendidas”.
Em 2006 foi inaugurado o Centro Cultural Desportivo Nascedouro de
Peixinhos, fazendo parte das ações do programa de infra-estrutura para áreas de
baixa renda da região metropolitana do Recife, em parceria com o governo do
Estado e as prefeituras de Olinda e Recife.
A população existente no bairro é de 39.213 sendo que 19.010 são do sexo
masculino e 20.203 do sexo feminino2.

Faixa etária População

0 - 4 anos 879

5 - 14 anos 11.150

15 - 39 anos 11.664

40 – 59 13.840

60 anos e mais 1.080

Fonte: IBGE - Censo 2.000

Desde que foi inaugurado, o Nascedouro abriga várias manifestações de


cultura, oferecendo cursos técnicos e de qualificação profissional gratuitos. Dentre
eles se destacam: áudio, TV/Vídeo, programação, design, teatro, dança, música,
entre outros.

2
PE Body Count. Disponível em: < http://www.pebodycount.com.br/home/index.php>. Acesso em:
31 out. 2010
18

3 BIBLIOTECA COMUNITÁRIA

Projetos realizados em comunidades merecem uma melhor ponderação no


que tange às bibliotecas comunitárias. A literatura brasileira pouco prescreve sobre
o assunto, pois, o fato das bibliotecas comunitárias surgirem de modo espontâneo
ou de maneira individual na comunidade, não contribui para a ampliação do
registro dessas ações. Há, também, um obstáculo na definição do termo, já que a
biblioteca comunitária “[...] vem sendo empregada, pela sociedade, com o mesmo
significado de biblioteca pública e/ou biblioteca popular” (MACHADO, 2008, p. 81).
Assim, podemos extrair alguns conceitos para melhor entendimento do
assunto tratado. Na visão de Lemos (2005, p. 101 - 102, grifo do autor)

[...] a palavra biblioteca, que tem origem na forma latinizada


do vocabulário grego bibliotheca (de biblion, livro e theke, o
estojo, compartimento, escaninho onde se guardavam os rolos
de papiro ou pergaminho, por extensão a estante e, finalmente,
o lugar das estantes com livros) passou a ser forma
denominante na língua portuguesa apenas no começo do
séc.XIX. Antes, a palavra preferida era livraria, assim como, em
inglês, library é biblioteca e não livraria.

É definida pelo autor a biblioteca, a priori, como sendo um acervo de


materiais - impressos e não-impressos, organizados e mantidos para a consulta,
leitura, empréstimo e estudo.
Já no tocante biblioteca pública, podemos traçar três colunas referentes,
pois 1) são mantidas integralmente pelo estado; 2) tem funções específicas; e, 3)
atendem a toda sociedade (ALMEIDA JÚNIOR, 2003). Segundo o manifesto da
UNESCO (2010) esta biblioteca é um centro local de informação que fornece as
condições básicas para um aprendizado continuado.
A biblioteca popular pode ser entendida, parafraseando Verri (1996), como
um projeto político para fortalecer o vínculo da educação popular, aspirando ao
modelo educativo de Gilberto Freyre. Ela pode receber incentivos governamentais,
mas preza pela democratização da informação na comunidade que está inserida
(CARVALHO, 1987). Em alguns estados e municípios brasileiros, as bibliotecas
públicas passaram a ser denominadas de populares tendo como objetivo, segundo
Machado (2008, p. 59), “de aproximar as bibliotecas públicas de suas
comunidades”.
19

Segundo Fernandes ([1972]), comunidades são agrupamentos de pessoas


que vivem numa área delimitada, tendo em comum aspectos econômicos e
culturais que lhes conferem certas uniformidades no estilo de vida. Daí a
importância dessas bibliotecas para a comunidade, pois seus criadores (na maioria
das vezes) são parte integrante da mesma, proporcionando familiaridade e um
maior entrosamento entre usuários e funcionários da biblioteca, democratizando a
informação nos processos de desenvolvimento local e de transformação social.
Ao juntar os conceitos de biblioteca e comunidade permitimos facultar
uma noção prévia de uma significação de biblioteca comunitária, como identifica
Almeida Jr. (2009). O senso comum que caracteriza esta biblioteca é ser uma
iniciativa dos membros da comunidade que tem como público-alvo a mesma
comunidade que a mantém. Já Machado (2008, p. 91) nos dá uma visão mais
objetiva deste tema:

[O] termo biblioteca comunitária pode ser definido como: um


projeto social que tem por objetivo, estabelecer-se como uma
entidade autônoma, sem vínculo direto com instituições
governamentais, articuladas com as instâncias públicas e
privadas locais, lideradas por um grupo organizado de pessoas,
com o objetivo comum de ampliar o acesso da comunidade à
informação, à leitura e ao livro, com vistas a sua emancipação
social.

Compartilhando a ideia de Almeida Júnior3 (1997 apud MACHADO, 2008, p.


89) podemos identificar algumas particularidades que distinguem a biblioteca
comunitária das demais, tais como:

· a forma de constituição: são bibliotecas criadas efetivamente


pela e não para comunidade, como resultado de uma ação
cultural.
· a perspectiva comum do grupo em torno do combate à exclusão
informacional como forma de luta pela igualdade e justiça
social.
· a referência espacial: estão, em geral, localizadas em regiões
periféricas.
· o processo participativo gerando articulação local e forte
vinculo com a comunidade.
· o fato de não serem instituições governamentais, ou com
vinculação direta aos Municípios, Estados ou Federação.

3
ALMEIDA JUNIOR, Oswaldo Francisco de. Bibliotecas públicas e bibliotecas alternativas. Londrina:
Editora UEL, 1997.
20

Podemos perceber que uma biblioteca comunitária possui um enorme


significado para seus membros, não só por ser uma iniciativa da comunidade, mas
por ser algo que a comunidade identifica como necessário e se sensibiliza e se
organiza para conseguir. Essas bibliotecas tendem a atender a demanda da
comunidade e são caracterizadas por elas.
A biblioteca hoje vem sendo criada acompanhando princípios de
autonomia, flexibilidade e articulação local, ampliando, assim, a possibilidade de
atuação e inserção na sociedade, criando elos entre a manifestação cultural, a
educação e a comunidade. Ela deve estar atrelada ao voluntariado, atuando na
construção e no desenvolvimento da comunidade (FACCION JÚNIOR, 2005).
Logo podemos entender que esse tipo de biblioteca representa o esforço e
a conquista de todos os integrantes que a circundam, revelando também o
eminente potencial da comunidade em questão.

3.1 Biblioteca comunitária no Brasil: breve história

O nascimento de uma biblioteca comunitária se dá de uma maneira


voluntária e espontânea, logo se torna difícil o registro, no meio acadêmico, dessas
bibliotecas. Os atores deste movimento pouco se importam de registrar o
nascimento ou o desenvolvimento da biblioteca comunitária. Podemos dizer que o
termo está sendo abordado recentemente. Entretanto o termo não é tão recente.
Na literatura brasileira, segundo Almeida Júnior (1997 apud MACHADO,
2008, p. 52), é mencionado pela primeira vez o termo biblioteca comunitária em
1978 “[...] por Carminda Nogueira de Castro Ferreira, ao se referir à experiência
americana do início do século passado, que tratava da integração da biblioteca
pública com a escolar.”
O primeiro relato feito sobre este tipo de biblioteca foi no município de
Serra, ao norte de Vitória, no Espírito Santo, que foi a Biblioteca Parque
Residencial Laranjeiras em 19844. Mesmo assim foi colocado a essa biblioteca o
adjetivo de popular, compreendido como um local de participação da comunidade,
partindo do princípio „feito pelo povo e para o povo‟.
4
BADKE, Todêsca. Biblioteca popular: uma experiência no bairro das Laranjeiras. Palavra-chave,
São Paulo, n. 4, p. 18-19, maio, 1984.
21

Já em 2004, mais experimentado, Geraldo Moreira Prado (2004) apresenta


a Biblioteca Comunitária Maria das Neves Prado primeiramente criada pelo autor.
Mais tarde foram incorporadas pela comunidade várias ações de cunho pedagógico,
cultural e social. Esta biblioteca começou funcionando como um centro de
discussão e, posteriormente, como um centro de memória cultural. A biblioteca
foi, a priori, financiada pela comunidade e pelo idealizador, e hoje tem um maior
financiamento de ONGs5 e movimentos sociais. Esta biblioteca encontra-se
instalada no povoado de São José do Paiaiá – Nova Soure – Bahia, a trezentos e
vinte quilômetros da capital, Salvador.

3.2 Biblioteca comunitária no Recife: Rede de Bibliotecas Comunitárias da


Região Metropolitana do Recife

Com o propósito de difundir a discussão sobre a realidade das bibliotecas


comunitárias do Recife e região metropolitana, em abril de 2007 quatro bibliotecas
comunitárias: Biblioteca Multicultural Nascedouro, o CEPOMA, Biblioteca Popular
do Coque, Biblioteca Comunitária Caranguejo Tabaiares.
Essas bibliotecas começaram a se reunir em 2007 tendo em vista a
oportunidade de melhor se conhecerem e aprofundar o estudo teórico sobre o
tema.
Conhecer-se mutuamente mostrou para esses grupos o quão
fundamental é estabelecer e manter o diálogo; compreender a
realidade geral e as realidades particulares; conhecer
atividades comuns (como construção e manutenção do acervo e
ações de mediação de leitura); relatar esforços e contextos
específicos; discutir as dificuldades para o desenvolvimento de
uma cultura de leitura nas comunidades, e buscar alternativas
conjuntas. (REDE de Bibliotecas Comunitárias da Região
Metropolitana do Recife, 2010, p.1)

Nesse contexto percebeu-se a necessidade de uma organização em „rede‟,


ou seja, fazer com que as pessoas trabalhem como multiplicadores e organizadores
da informação na sociedade, para que a organização do conhecimento seja dada de
maneira estratégica. “Esses atores específicos compartilham informações,
pesquisas, dados relevantes para aquela comunidade”. (RIBAS; ZIVIANI, 2008, p. 3)

5
Organização Não Governamental.
22

Paralelamente, o Centro de Cultura Luiz Freire (CCLF), que em sua


trajetória busca dar o estímulo e uma melhor articulação as bibliotecas, situa-se
como facilitador e elo para a Rede, já que também faz parceria com o Instituto
C&A. Logo em 2008 esta parceria mostra seu primeiro produto: uma campanha
metropolitana de arrecadação de livros, que se chamou “Para gostar de ler,
precisamos de livros”. Essa união visa o estimulo e a articulação nas bibliotecas
comunitárias.
Hoje a Rede de Bibliotecas Comunitárias da Região Metropolitana do
Recife, encontra-se integrada ao CCLF, com um total de dez bibliotecas:

 Biblioteca Popular do Coque (Coque – Recife)


 Biblioteca Peró (Piedade – Jaboatão dos Guararapes)
 Biblioteca Lar MeiMei (Bairro Novo – Olinda)
 Biblioteca CEPOMA (Brasília Teimosa – Recife)
 Biblioteca Popular de Caranguejo Tabaiares (Ilha do Retiro – Recife)
 Solar de Ler – Centro de Cultura Luiz Freire (Carmo – Olinda)
 Livroteca Brincantes do Pina (Pina – Recife)
 Biblioteca Amigos da Leitura – (Alto José Bonifácio – Recife)
 Biblioteca Os Bravistas – Shekiná (Ouro Preto – Olinda)
 Biblioteca Multicultural Nascedouro (Peixinhos – Olinda)

3.2.1 Biblioteca do Centro de Cultura Mailde Araújo (CEPOMA)

O CEPOMA é uma organização social, educacional e cultural, que desenvolve


um trabalho com um público infanto-juvenil na comunidade de Brasília Teimosa,
Pina-Recife desde o ano de 1982. Tem como objetivo a mediação entre a educação
e a cultura popular.
Há cerca de 10 anos, por volta de 2000, a Abrinq6 doou 400 livros, de
literatura infantil e infanto-juvenil, que não receberam tratamento e ficaram
esquecidos. Já em 2004, Isamar Martins de Santana (atual gestora da biblioteca) foi

6
Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos
23

convidada para fazer algumas oficinas de leitura, nascendo, assim, a atual


biblioteca.
Em 2006, na biblioteca do CEPOMA, começa a funcionar o projeto “Prazer
em Ler” do Instituto C&A7. Já nos anos de 2008 e 2009 o projeto ganha ainda mais
força e a campanha “Roda de Leitura” consegue arrecadar livros de literatura
clássica.
O trabalho desenvolvido por esse centro visa o desenvolvimento humano no
âmbito da cultura popular, além de oferecer educação para os mediadores e
moradores da comunidade. De maneira lúdica, a criança começa, por meio da
cultura popular - do maracatu, do frevo, do coco, da ciranda, do bumba-meu-boi...
– a aprender as normas da boa convivência e a desenvolver competências
relacionadas à educação formal - aperfeiçoamento da leitura e escrita (REDE DE
BIBLIOTECAS COMUNITÁRIAS DA REGIÃO METROPOLOTANA DO RECIFE, 2010, p. 1).
O trabalho de educação formal é realizado com participação da comunidade,
visando à construção da autonomia dos usuários, proporcionando, assim, a
segurança das crianças para desenvolverem a auto-estima e ampliar os seus
conhecimentos. As estratégias centradas no desenvolvimento da concentração do
ritmo, da harmonia (representados no ensino musical), procuram influenciar
atitudes e posturas diante da vida, referenciadas na ética, na solidariedade, e
orientando as relações cotidianas.
O acervo encontra-se, hoje, com um total de 3.500 exemplares,
aproximadamente, classificados da seguinte forma:

7
Cadeia internacional de vestuário criada pelos irmãos Clemens e August, daí o nome da empresa
que faz alusão aos nomes dos donos.
24

· ficção juvenil · literatura brasileira


· ficção infantil · literatura afro
· livros de imagens · literatura estrangeira
· artes · história
· livros de referência · história do Recife

O local onde a biblioteca está instalada é bem pequeno, mas conta com:

 1 mesa com quatro cadeiras;


 1 tapete – para que as crianças possam exercer o ato da leitura de uma
maneira mais impessoal e relaxante;
 15 pranchas – onde estão colocados os livros;
 1 varal – para que as crianças exponham seus desenhos confeccionados nas
oficinas fornecidas pelos gestores da biblioteca;
 1 estante de novas aquisições;
 1 mural.

A biblioteca conta com um total aproximado de 150 frequentadores assíduos,


em sua maioria crianças, que estudam em escolas próximas e as que frequentam os
grupos de dança afro patrocinados pelo próprio centro.
Como patrocinadores o CEPOMA conta com:

 Instituto C&A
 WFD- Alemanha
 Centro de Cultura Luis Freire
25

3.2.2 Biblioteca Multicultural Nascedouro (BMN)

Em 1993, um grupo de jovens, do movimento underground8 reuniu-se com o


intento de promover atividades musicais. Já em 1995 é organizada a Primeira
Semana da Cultura de Peixinhos, provocando diferentes manifestações de
expressões da cultura da região.
Dois anos depois, o movimento presta uma “homenagem à luta comunitária
contra a instalação de um lixão no bairro” (BIBLIOTECA Multicultural Nascedouro,
2010, p. 1) e passa a ser denominada Movimento Cultural Boca do Lixo. Contudo,
salvaguarda os ideais norteadores do grupo.
Mas foi com a parceria do Centro de Cultura Luiz Freire que houve a ideia de
organizar “uma biblioteca „viva‟ na comunidade” (BIBLIOTECA Multicultural
Nascedouro, 2010, p. 1). Após a ocupação nas ruínas dos prédios do antigo
Matadouro Industrial de Peixinhos por mais de 15 grupos comunitários de educação,
cultura e esporte, nasce, em 2000, a Biblioteca Multicultural Nascedouro (BMN),
como produto principal e permanente do Movimento Cultural Boca do Lixo. Mesmo
ocupando uma sala do prédio administrado pela Prefeitura da Cidade do Recife não
garantiu, para a biblioteca, o apoio financeiro desta.
Atualmente, o Movimento garante suas ações permanentes através das
atividades educativas, culturais e políticas, desenvolvidas pela Biblioteca
Multicultural Nascedouro. A biblioteca presta seus serviços no período das 09h às
17hs, da segunda à quinta-feira. Atende a comunidade em geral (especialmente
crianças e adolescentes) participando ativamente da luta comunitária por uma
melhor qualidade de vida. Assim, o movimento reúne esforços para o
desenvolvimento institucional, garantindo, uma melhor qualidade de suas
atividades.
Sobre o acervo da BMN, podemos dizer que é bem diversificado sendo do tipo
aberto, composto – em torno – de 6.000 exemplares, com sete estantes (uma
destinada a novas aquisições), e seis mesas (sendo que três estão localizadas numa
varanda). Em contrapartida, não se tem uma organização muito efetiva da coleção.
A maior parte do acervo não está tombada, e não há uma classificação em 75% do
acervo. O processamento técnico também é atividade dos gestores da biblioteca
8
Movimento musical composto por moradores do bairro de Peixinhos que visavam fazer uma
revolução cultural na comunidade.
26

contando, apenas, com um acompanhamento do Centro Luiz Freire. Já o cadastro


de usuários conta, atualmente, com o número de 500 frequentadores aptos ao
empréstimo de livros.
A coleção encontra-se assim dividida:

· literatura juvenil;
· literatura brasileira;
· música;
· poesia;
· romance;
· filosofia;
· arte;
· religião - misticismo;
· biologia;
· química;
· saúde;
· literatura;
· gramática;
· geografia;
· dicionários;
· enciclopédias;
· idiomas;
· matemática;
· literatura indígena;
· religião;
· psicologia;
· literatura afro-brasileira;
· educação;
· história;
· biografia;
· comunicação;
· política;
· literatura estrangeira.
27

Para melhor facilitar a classificação e a organização do acervo é usada a tabela de


cores.

Os objetivos da biblioteca são:

 estímulo e promoção da leitura;


 desenvolvimento pedagógico e cultural;
 orientação aos estudos e pesquisas escolares;
 disseminação da informação.

Como patrocinadores a BMN conta com:

 Instituto C&A ASW (AÇÃO Mundo Solidário - Alemanha);


 Observatório de Favelas;
 Centro de Cultura Luis Freire;
 Banco do Nordeste.
28

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Podemos entender a metodologia científica como procedimentos, técnicos e


intelectuais, que visam o conhecimento. Portanto, a usabilidade dos estudos
metodológicos implica a obtenção de um determinado resultado. Todavia quando
são acrescentadas algumas condições científicas – a essas técnicas empregadas –
precisa-se de uma prévia verificação por parte dos pesquisadores (GIL, 2008;
MARCONI; LAKATOS, 2004).
A pesquisa se deu em torno de duas bibliotecas comunitárias, ambas
inseridas na Rede de Bibliotecas Comunitárias da Região Metropolitana do Recife, a
biblioteca do CEPOMA e a Multicultural Nascedouro. Essas bibliotecas foram
escolhidas por terem um público e atividades diferenciadas. A primeira recebe, em
sua maioria, alunos do ensino infantil, e a segunda recebe, em sua maioria, alunos
de escolas públicas do ensino fundamental e médio.
Tivemos a intenção de descobrir o que a biblioteca representava e o seu
impacto na comunidade. Assim partimos da seguinte premissa: a biblioteca supre as
necessidades informacionais da comunidade?
O tipo de pesquisa utilizado foi a descritiva - exploratória, pois além de
tentar descrever as características deste tipo de biblioteca, atentamos por manter
uma maior e melhor familiaridade com os objetos de estudo. Como modalidade de
pesquisa, utilizamos o estudo de caso, pois buscamos um estudo mais aprofundado
e exaustivo das bibliotecas e suas respectivas comunidades. Já o instrumento de
pesquisa utilizado foi o questionário pré-estruturado para os usuários potenciais e
reais das bibliotecas e a entrevista estruturada com os gestores das bibliotecas.
Foram aplicados, cerca de, 500 questionários: 300 para usuários potenciais e
200 para usuários reais, divididos para as duas bibliotecas – entre os meses de
setembro a novembro. Esses questionários foram aplicados em escolas da rede
estadual ou municipal, pois o maior público das bibliotecas são estudantes destas
escolas.
Para a biblioteca do CEPOMA fomos à escola:

 Escola Professor Josué de Castro


29

Já para a Biblioteca Multicultural Nascedouro:

 Escola Sara Kubitschek


 Escola Professor Cândido Pessoa
 Escola Costa Azevedo

Como os conceitos de usuários potenciais e reais são dúbios, optamos pelos


conceitos pré-definidos utilizados por Suiaden (1995). O autor nos mostra que
usuários potenciais são “todas as pessoas que vivem ou desempenham uma
atividade permanente no local” (p. 92), ou seja, aquela pessoa que não é
frequentadora da biblioteca, mas que tem o potencial - que pode receber um
estimulo ou se manifestar – para se tornar usuário do local. Já os usuários reais são
os usuários que freqüentam a biblioteca, de forma voluntária, regular ou
ocasionalmente (SUIADEN, 1995).
30

5 ANÁLISE DOS DADOS

Em torno de dois meses, quatro escolas pesquisadas e visitas periódicas às


bibliotecas estudadas, obtivemos 293 questionários respondidos. Com os dados
coletados, pudemos observar certas particularidades dos usuários – reais e
potenciais – das bibliotecas do CEPOMA e Multicultural Nascedouro.

5.1 Usuários potenciais

Consideramos como usuário potencial aquele que não conhece e não


freqüenta a biblioteca. Assim, todos os alunos que já frequentam ou tinham
freqüentado as bibliotecas, foram descartados da pesquisa.
Para responder aos questionários, fomos às escolas municipais e estaduais
mais próximas das bibliotecas estudadas. Na região do CEPOMA, foram aplicados
150 questionários e aproveitados 76 e na região da BMN, foram aplicados também
150 questionários, e aproveitados 88.
A seguir, apresentamos as perguntas, e a organização das respostas,
comparando os usuários potenciais das duas bibliotecas:

Onde você costuma fazer a pesquisa escolar? Quais são suas fontes de informação?

CEPOMA BMN

Internet 52,63% 63,30%

Outros 39,48% 19,26%

Outras
7,89% 17,43%
bibliotecas

Tanto o bairro de Brasília Teimosa quanto o Nascedouro são repletos de


estabelecimentos comerciais com acesso à internet – as lan houses – e isto se
confirma nas respostas obtidas, mostrando que a maioria constante acessa a rede
para fazer suas pesquisas escolares. É bem verdade que a internet se torna „amiga‟
31

dos alunos nas horas de pesquisa, pois é a maneira mais prática e rápida para
conseguir informação (nem sempre de maneira confiável).
A biblioteca ficou em último lugar quando a questão em pauta é a pesquisa
escolar, razão esta porque em Brasília Teimosa não se tem outra biblioteca (a não
ser o CEPOMA e a biblioteca da escola – que não é utilizada), e em Peixinhos tanto
a biblioteca pública do Recife e de Olinda são bem distantes do bairro. E as escolas
dispunham de biblioteca que não são valorizadas – em comparação com a biblioteca
escolar de Brasília Teimosa.

Quais os temas pesquisados?

CEPOMA BMN

Disciplinas
50,86% 42,86%
escolares

Saúde 1,32% 4,76%

Desastres
-- 6,66%
naturais

História 18,42% --

Outros 7% 38,08

Sem resposta 22,37% 7,61%

Os alunos pesquisados estão na faixa etária 8-13 anos. Com isso, tentamos
aproximar as faixas etárias de usuários potenciais e usuários reais das bibliotecas.
Percebemos que os alunos pesquisados da região do CEPOMA não têm muita
iniciativa no campo da pesquisa pessoal, limitando-se mais às pesquisas escolares.
Já os usuários potenciais da BMN têm um interesse maior nas pesquisas pessoais,
como demonstramos na tabela. Entre os assuntos que eles pesquisam, podemos
obter respostas relacionadas à saúde, política, história em geral, romance, cursos,
dança, e desastres naturais. Este último porque a pesquisa foi realizada um pouco
depois do alagamento e quedas de barreiras na cidade de Olinda.
32

Você faz pesquisa que não está relacionada com a escola?

CEPOMA BMN

Sim 22,37% 53,41%

Não 77,63% 46,59%

Percebemos que os alunos pesquisados ainda não têm amadurecidos a ideia


da pesquisa de interesse pessoal, ficando restritos mais à pesquisa escolar. Daí é
necessário um maior esforço das escolas e, por conseguinte, das bibliotecas na
formação de futuros cidadãos com competência informacional.
Parafraseando Milanesi (2002) o valor da informação é determinado pelo
usuário, na qual implica que a mesma pode ser reutilizável. Assim, a informação
para ser útil dependerá da análise realizada pelo usuário conforme a sua
necessidade e aplicabilidade, mas um usuário só poderá ter este julgamento se for
bem informado e um bom leitor.

Se SIM, quais os assuntos e onde pesquisa?


Assuntos:

CEPOMA BMN

Esporte 3,95% 6,38%

Política -- 2,12%

Religião -- 4,25%

Romances 1,32% 4,25%

Cursos -- 4,25%

Outros 7,89% 25,53%

Sem resposta 86,84% 82,97%

Os pesquisados tiveram um pouco de dificuldade para responder essa pergunta,


pois, em sua maioria, responderam “onde pesquisam” e deixaram em branco o
“assunto da pesquisa”. Mesmo assim podemos observar que os pesquisados – tanto
de Brasília Teimosa quanto de Peixinhos – optam pela pesquisa sobre esportes
33

(principalmente futebol) e romances (que podem ser novelas filme...). Mas os


pesquisados em Peixinhos – principalmente os questionários aplicados em alunos
entre 14 e 15 anos - mostraram fazer pesquisas relacionadas à política (pois os
questionários foram aplicados em meio ao período eleitoral) e cursos, assim vemos
a curiosidade e a preocupação dos estudantes sobre assuntos ligados à economia
brasileira e ao próprio futuro como estudantes a fim de se aperfeiçoarem e
buscarem novas experiências.

Onde pesquisa:

CEPOMA BMN

Internet 36,32% 84,68%

Outras
-- 6,38%
bibliotecas

Livros 2,64% --

Sem resposta 61,04% 8,93%

Quando falamos em canais de informação, a primeira coisa que vem a


cabeça, de qualquer aluno, é a pesquisa via internet. Vemos isso claramente nesta
tabela. A facilidade de obter a pesquisa em menos tempo em frente ao computador
é um aliado para qualquer pessoa. Mesmo porque, em muitos casos, não existem
bibliotecas próximas e nem bibliotecários ou professores que façam o papel de
referência, e estimulem a pesquisa e a investigação nos alunos.
34

5.2 Usuários reais

Para a obtenção dos dados, foram necessárias visitas periódicas às


bibliotecas estudadas. Foram distribuídos 100 questionários para as duas
comunidades de usuários reais das duas bibliotecas e conseguimos obter 73
questionários na BMN e 56 no CEPOMA A seguir, apresentamos as respostas.

Idade:

CEPOMA BMN

6 aos 17 anos 11 aos 17 anos

Mostramos na tabela como são delimitados os usuários de cada biblioteca.


No CEPOMA encontramos várias crianças em idade de formação de leitura e escrita
que utilizam livros de imagens ou de pouca leitura. Já a BMN tem como público os
alunos de escolas próximas que realizam pesquisas escolares. Mesmo assim,
conseguimos ver que outros usuários de outras faixas etárias participam das
atividades das bibliotecas e se utilizam de seus acervos.

Com que freqüência você utiliza a biblioteca?

CEPOMA BMN

Uma vez por semana 25% 47,94%

Duas vezes por semana 25% 4,10%

Mais de duas vezes por semana 28,57% 16,44%

Uma vez a cada quinze dias 10,71% 2,74%

Uma vez ao mês 10,72% 28,78%

É predominante a visita à biblioteca pelo menos uma vez por semana, pois
estão sempre fazendo empréstimos semanais ou participam das atividades culturais
fornecidas pela biblioteca.
35

Você faz empréstimos na biblioteca?

CEPOMA BMN

Sim 96,43% 20,55%

Não 3,57% 79,45%

Como afirmado anteriormente, a principal atividade da BMN é a pesquisa


escolar. Constatamos isso nesta tabela, e deduzimos que para quem faz este tipo
de pesquisa não é necessário efetuar empréstimos. A biblioteca disponibiliza
cartolina, lápis de cor e pincéis para que o aluno - usuário possa fazer todo o seu
trabalho escolar na biblioteca e sob a supervisão dos gestores que lhes fornece uma
gama de livros referido ao assunto pesquisado.
Já a biblioteca do CEPOMA oferece vários livros de literatura (infantil,
juvenil, brasileira ou estrangeira). Assim, o usuário pode ler na própria biblioteca,
ler em casa ou pedir para a mãe ou o pai fazer a leitura. Dessa maneira, o CEPOMA
tenta formar novos leitores.

Quais os assuntos que você mais pesquisa na biblioteca?

CEPOMA BMN

História;
Literatura; História de Pernambuco;
Literatura brasileira; Folclore;
Literatura infantil Ficção;
Cultura; Cultura;
Religião; Cultura afro;
História do bairro; Religião;
Poesia. Violência;
Datas comemorativas.

Apesar do acervo do CEPOMA ser especializado em literatura, também


encontramos alguns livros de história e, principalmente, livros que narram à
36

história do bairro de Brasília Teimosa. Assim, vários alunos podem utilizar o acervo
para fazer suas pesquisas escolares, principalmente quando se trata da história de
seu bairro.
Já os assuntos pesquisados na BMN são estritamente relacionados às
pesquisas da escola - as tarefas de casa, pois essa biblioteca é referência para os
alunos do bairro e para suas pesquisas.

5.3 Com a palavra os gestores das bibliotecas

A fim de tentar entender a dinâmica e a oferta das bibliotecas, fizemos uma


pequena entrevista com os gestores das bibliotecas para que eles dessem seus
depoimentos sobre as atividades e sobre os usuários – potenciais e reais- das
bibliotecas. Assim obtivemos as respostas:

5.3.1 Entrevista com Isamar Martins – gestora da biblioteca do CEPOMA

Quais são as atividades desenvolvidas pela biblioteca?

Rodas de leituras;
Mala de leitura (uma mala com cerca de 20 livros que vai para casa das
crianças e adolescentes do CEPOMA e fica aproximadamente duas semanas
Eles escolhem os livros. Uma forma encontrada pela Instituição de envolver
toda a família na leitura de literatura);
Empréstimos de livros;
Mediação de leitura individualizada de acordo com o leitor que entra na
biblioteca;
Participação na Rede de Bibliotecas Comunitárias e no Fórum do Livro;
Classificação, catalogação, compra de acervo, etc.
37

Qual a participação dos usuários nas atividades da biblioteca?

Participam da maioria das atividades promovidas pela biblioteca. Eles é que


tornam a nossa biblioteca viva.

A biblioteca auxilia a pesquisa do usuário? De qual maneira?

Sim, existe sempre uma pessoa interagindo com o usuário, fazendo indicações de
leituras, conversando sobre livros, fazendo mediação dentro da biblioteca, etc.

Como é feita a divulgação da biblioteca e das atividades oferecidas?

Apesar da biblioteca do CEPOMA ser referência de leitura na comunidade de


Brasília Teimosa, a comunicação ainda é o nosso ponto mais frágil, pois a
comunicação ainda é feita boca a boca.

A biblioteca do CEPOMA oferece várias atividades referentes à leitura e a


formação de novos leitores, mas, mesmo assim, a biblioteca é pouco conhecida na
própria comunidade. A biblioteca sempre conta com a presença dos gestores para a
consulta de livros e no auxílio à pesquisa escolar.

5.3.2 Entrevista com Rogério Bezerra – gestor da Biblioteca Multicultural


Nascedouro

Quais são as atividades desenvolvidas pela biblioteca?

Orientação à pesquisa escolar e extra-escolar;


Semanas temáticas;
Bibliobôca Mambembe (biblio - biblioteca, bôca - Boca do Lixo e mambembe
- itinerante);
Oficinas lúdicas com grupos e escolas públicas.
38

Qual a participação dos usuários nas atividades da biblioteca?

Alguns freqüentadores participam como público e/ou palestrante (dependendo da


atividade e do conhecimento e experiência do/a frequentador/a).

A biblioteca auxilia a pesquisa do usuário? De qual maneira?

Bom, a biblioteca prima pela autonomia dos frequentadores.


Alguns freqüentadores mais antigos já conhecem o acervo para pesquisa e quando
chegam aqui não necessitam da nossa orientação. Já com
os/as freqüentadores mais recentes, o/a gestor/a procura o livro que contém o
assunto e dá para o freqüentador. Quando o assunto não é encontrado nos livros,
nós recorremos à internet, imprimimos a pesquisa, entregamos para o/a
frequentador/a e depois colocamos esta pesquisa numa pasta para pesquisas, onde
futuramente outros/as frequentadores possam reutilizá-la.
A biblioteca também disponibiliza alguns materiais (papel ofício, canetas, lápis,
borracha, tinta guache, lápis de cor e giz de cera).

Como é feita a divulgação da biblioteca e das atividades oferecidas?

A divulgação se dá por e-mail, boca – a - boca, panfletos e cartazes e bicicleta


som.

Notamos o quanto os gestores da BMN estão empenhados em promover


atividades mais atrativas e lúdicas a fim de conquistar novos usuários e divulgar o
nome da biblioteca, além do forte auxilio à pesquisa escolar. Uma diferença notada
nesta biblioteca é que fazem uma maior divulgação do centro e de suas atividades
trazendo, assim, mais usuários à biblioteca.
39

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por meio da análise dos resultados, esperamos apresentar uma pequena


contribuição da visão da biblioteca comunitária como extensão da comunidade, aos
estudantes de Biblioteconomia, às bibliotecas comunitárias, e à comunidade. E,
também, para que os futuros pesquisadores do tema utilizem este trabalho como
parte de um referencial teórico.
Mesmo assim algumas iniciativas, como a Rede de Bibliotecas Comunitárias
da Região Metropolitana do Recife, se destacam por juntar forças dentro da
comunidade em prol da formação de leitores críticos. Mas ainda há muito que
melhorar no campo da educação no Recife. Algumas escolas sabem da importância
das bibliotecas na formação escolar e, assim, participam das atividades junto às
bibliotecas comunitárias estudadas, como é o caso das escolas Recanto da Arte e
do Saber em Peixinhos e Mangue em Brasília Teimosa. Mas ainda são ações isoladas.
As bibliotecas estudadas nasceram a partir da vontade da comunidade em
querer ter um local dinâmico e ativo que despertasse no bairro o prazer pela
leitura. Os acervos foram formados por doações e as características das
comunidades foram preservadas nas bibliotecas. A biblioteca Multicultural
Nascedouro atende a expectativa da comunidade, que quer uma biblioteca que
forneça livros para as pesquisas escolares, e a biblioteca do Centro Popular Mailde
Araújo, busca, em sintonia com a comunidade, manter um acervo para leitores em
formação.
Porém, as bibliotecas passam por dificuldades, já que muitos moradores do
bairro não conhecem ou não se interessam pelas atividades oferecidas. Vemos,
assim, uma grande lacuna: como despertar o hábito da leitura nesses usuários
potenciais?
A biblioteca ideal seria aquela que apresentasse uma concepção cidadã, que
estivesse baseada nas decisões e necessidades da comunidade, excluindo o
referencial da biblioteca pública. Parafraseando Milanesi (2002) devemos excluir o
exemplo da biblioteca pública, pois tem características de natureza elitista e
distanciada da comunidade e da escola.
40

O que deve ser despertado nas pessoas é a importância da informação e do


conhecimento, que são fatores integrantes nas comunidades modernas. Nesta
lógica “a informação é um fator de produção, é possível falar de um tipo de
competência específica, qual seja, a competência para lidar com a informação – a
competência informacional” (MIRANDA, 2004, p. 113, grifo nosso).
Estamos partindo do paradigma de que esta competência informacional se
insira nas práticas de letramento e executadas pelas crianças desde o início da sua
vida escolar, na perspectiva de sua escolarização (CAMPELLO, 2006). Assim a escola
estaria formando, não apenas bons estudantes, mas pessoas críticas e competentes
com suas leituras e que possam usar a informação com precisão e criatividade. E o
aluno que conseguir mostrar capacidade para aprender com independência,
apreciará a leitura, gerará novos conhecimentos, ou seja, usará a informação para
aprender.
As bibliotecas comunitárias, com seus acervos, colocam à disposição de seu
público uma variedade de assuntos que podem suprir as necessidades
informacionais desses usuários. Também tentam fazer da biblioteca um ambiente
mais participativo e dinâmico, conquistando, assim, novos usuários.
Por outro lado, nem toda a força gasta em prol da participação comunitária
na biblioteca tem surtido efeito. Vemos possíveis usuários que não acham a
biblioteca um lugar agradável ou, na maioria das vezes, nem conhecem a biblioteca
comunitária no seu bairro. Superar a resistência e/ou o desconhecimento dos
usuários potenciais é o maior obstáculo da biblioteca comunitária.
Concluímos que a biblioteca comunitária representa a sua comunidade, com
todos os seus valores e limitações, e que suas atividades vão além de informar. A
biblioteca comunitária é um local dinâmico e moldado às expectativas de seus
usuários. É um espaço de discussão e criação.
Quanto à atuação profissional, não notamos a presença de bibliotecários nas
atividades das bibliotecas comunitárias. A pergunta que nos fazemos é: Por que um
bibliotecário, que em sua essência é um mediador de informação, e uma biblioteca
comunitária, que também é um centro de disseminação de informação, não
trabalham juntos?
A nossa hipótese é que a formação tradicional do bibliotecário não estimula
um perfil social, fundamental para o trabalho em bibliotecas comunitárias.
41

[...] a ocupação destes espaços [bibliotecas comunitárias]


exige novas competências, novos conhecimentos e
principalmente novas interações. É necessário não esquecer
que o trabalho de informação é um trabalho de troca – é
através desta troca que crescemos, que obtemos mais
informação (CUNHA, 2003, p. 42)

Portanto, o profissional que ocupar esta lacuna terá que se preocupar em


agradar e compreender os usuários desses espaços. Com o seu trabalho, o
profissional bibliotecário deverá mostrar a importância do hábito da leitura,
trabalhar junto com a comunidade – detectando seus problemas, trabalhando em
soluções – para obter pleno sucesso (CORRÊA, 2002)
Detectamos, nesta pequena investigação, que os problemas enfrentados
pelas bibliotecas comunitárias, em relação aos usuários, são a resistência, o
desconhecimento e o problema da leitura. A resistência e o desconhecimento dos
usuários potenciais em conhecer e reconhecer o espaço como representante da sua
comunidade. E o problema da leitura, que é um problema causado por várias
instâncias: a falta de interesse de leitura na família, a falta de bibliotecas públicas
e escolares, aliada a falta de apoio (ainda) de políticas públicas para o livro, a
leitura e as bibliotecas. E acrescentamos ainda a falta de incentivos de professores,
amigos, parentes, entre outros.
Porém, notamos que tanta falta é “heroicamente” enfrentada pelas
bibliotecas comunitárias, que se engajam no trabalho de base da leitura e do livro.
E, assim, aos poucos, vão mostrando à comunidade o quanto a informação, a
cultura e a educação se fazem importantes para a formação da cidadania.
42

REFERÊNCIAS

ALMEIDA JÚNIOR, Oswaldo Francisco de. Biblioteca pública: avaliação de serviços.


Londrina: Eduel, 2003.

BARBOSA, Virgínia. Matadouro de Peixinhos. Pesquisa escolar on-line, Fundação


Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: <http://fundaj.gov.br>. Acesso em: 12
ago. 2010

BAUMAN, Zygmunt. Comunidade: a busca por segurança no mundo atual. Rio de


Janeiro, Jorge Zahar, 2003. Disponível em: <http://books.
google.com.br/books?id=ypADihZVRTEC&printsec=frontcover&dq=comunidade&hl=p
t-BR&ei=OizGTOaIOIOB8gbI6cUs&sa=X&oi=book_
result&ct=result&resnum=1&ved=0CC0Q6AEwAA#v=onepage&q&f=false>. Acesso
em: 25 out. 2010.

BIBLIOTECA Multicultural Nascedouro. Breve histórico da organização. Disponível


em: <http://bibliotecanascedouro.blogspot.com/2007/12/breve-histrico-da-
organizao.html>. Acesso em: 25 ago. 2010.

CAMPELLO, Bernadete. A escolarização da competência informacional. Revista


Brasileira de Biblioteconomia e Domumentação, São Paulo, v. 2, n. 2, p. 63 – 77,
dez. 2006.

CARVALHO, Kátia de. Comunicação impressa, biblioteca, contexto social. Ciência


da informação, n. 16, v. 1, p. 41 - 44, jan. / jun.1987. Disponível em: <
http://revista ibict.br/index.php/ciinf/article/view/1589/1202>. Acesso em: 2
jun. 2010.

CASA Brasil: Nascedouro de Peixinhos. Disponível em:< http://casabrasil


peixinhos.wordpress.com/o-nascedouro/>. Acesso em: 17 ago. 2010.

CORRÊA, Elisa Cristina Deffini. Bibliotecário escolar: um educador. Revista ACB:


biblioteconomia em Santa Catarina, Santa Catarina, v. 7, n. 1, p. , 2002.

CUNHA, Miriam Vieira da. O papel social do bibliotecário. Encontros bibli: revista
eletrônica de biblioteconomia e ciência da informação, Florianopolis, n. 15, p. 41 –
46, jan./jun. 2003.

CUNHA, Vanda Angélica da. A biblioteca pública no cenário da sociedade da


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45

Apêndice A - Questionário aplicado aos usuários potenciais

1 Você conhece e frequenta a Biblioteca do CEPOMA?


( )Sim ( )Não

Caso sua resposta seja positiva responda:


Com que frequência você vai à biblioteca?
( ) Uma vez na semana ( )Uma vez a cada 15 dias
( )Uma vez por mês ( )Mais de uma vez por semana

Você faz empréstimos na Biblioteca do CEPOMA?


( )Sim ( )Não

2 Onde você costuma fazer a pesquisa escolar? Quais são suas fontes de
informação?
________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________

Quais os temas pesquisados?


________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________

3 Você faz pesquisa que não esta relacionada com a escola?


( )Sim ( )Não

Se SIM, quais os assuntos e onde pesquisa?


________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
46

APENDICE B - Questionário aplicado aos usuários reais

1 Idade: ___________________

2 Com que frequência você utiliza a biblioteca?


( )Uma vez por semana ( )Duas vezes por semana
( )Mais de duas vezes por semana ( )Uma vez a cada 15 dias
( )Uma vez por mês

3 Você faz empréstimos na Biblioteca do CEPOMA?


( )Sim ( )Não

4 Quais os assuntos que você mais pesquisa na biblioteca?


________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

Descreva algum assunto especifico que você já pesquisou na Biblioteca do CEPOMA:


________________________________________________________________

Para que você utilizou esta informação? Serviu para os seus interesses?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
47

APENCIDE C – Roteiro da entrevista aplicado aos gestores da biblioteca

1 Nome completo

2 Qual a sua função na biblioteca?

3 Quais as atividades desenvolvidas pela biblioteca?

4 Como os usuários participam das atividades da biblioteca?

5 A biblioteca auxilia na pesquisa do usuário? De qual maneira?

6 Como é feita a divulgação da biblioteca e das atividades oferecidas?

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