Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Capitão Poço - PA
2022
PATRICIA RODRIGUES DA SILVA
Capitão Poço - PA
2022
Dados Internacionais de Catalogação na
Publicação (CIP)Bibliotecas da Universidade
Federal Rural da Amazônia
Gerada automaticamente mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a)
CDD 597.950451
PATRICIA RODRIGUES DA SILVA
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________________________
Prof. Dr. Annelise Batista D’Angiolella
Orientador
Universidade Federal Rural da Amazônia – UFRA
_______________________________________________________________
Prof. Dr. Bruno da Silveira Prudente
Universidade Federal Rural da Amazônia – UFRA
The lizard species Cnemidophorus cryptus is endemic to the Eastern Amazon, mainly
distributed in open habitats, such as patches of savannas, forest edges and areas of human
occupation. This population is composed only by females. In the present study, we evaluated
the reproductive biology, period of activity and microhabitat use of a population of C. cryptus
from eastern Amazonia, Pará, Brazil. The specimens were collected between March 2020 and
February 2021, manually and/or using a puçá, during the sunlight (8:00 am to 5:00 pm).
Females were considered adults when the snout-vent length (SVL) was equal to or greater than
the SVL of the smallest reproductive female. Females were considered reproductive when they
presented vitellogenic follicles or oviductal eggs. Eggs were measured for their length and
width. For each specimen, the total number of follicles, the number of vitellogenic follicles in
each ovary, size and color (white or yellow) of the largest follicle (yellow follicles and/or ≥
1.4mm were considered vitellogenic) were recorded, as well as the number and egg size in
oviducts. The mean egg volume was estimated using a volume for a prolate spheroid. Clutch
size was estimated by the average number of vitellogenic follicles and oviductal eggs. The
simultaneous occurrence of follicles in vitellogenesis and oviductal eggs was considered as
evidence of multiple spawning in the reproductive period. Fatty bodies were removed to
estimate fat content. To assess the period of activity, the times of the first and last sightings of
individuals in the field were recorded. The microhabitat in which the individual was found at
the time of her first sighting was recorded for further analysis. To assess the effect of female
body size on clutch size, a simple regression was used. The mean variation in fat mass over the
year was assessed using a non-parametric Kruskal-Wallis test, followed by a Wilcoxon multiple
comparison test. The possible ontogenetic variation in the use of microhabitat was evaluated
using a chi-square test. 235 specimens were collected, being 110 adults and 125 juveniles. The
smallest reproductive female had 55.40 mm of SVL and reproductive females were found
throughout the study period, except in July. Among specimens analyzed, 60 were reproductive
females. More than one spawning was observed in the reproductive period and the average
clutch size was 1.95 ± 0.75 eggs. The length and width of the eggs was 15.17 ± 2.07 and 7.96
± 1.38mm respectively, and the mean volume was 161.18 ± 47.19mm3. The relationship
between clutch size and female size was positive. Fat body mass varied significantly throughout
the year, with the lowest mean values of fat body mass being observed during the dry season
while the highest mean values were observed during the rainy season. Between the months of
September and October, nesting burrows were found. In the dry season, the activity period
started at 8:00 am and extended until 4:00 pm, with a peak of activity from 10:00 am to 2:00
pm. In the rainy season, the activity period started at 10:00 am and extended until 4:00 pm, with
a peak of activity between 10:00 am and 2:00 pm. There was a significant difference in the use
of micro-habitat by juveniles and adults, with “sand” and “under a thicket” microhabitats being
the most used by juveniles, and “bush edge” being more used by adults. This study expands the
knowledge about the species' ecology, providing important information that can be used in its
conservation.
Figura 1: Indivíduo de Cnemidophorus cryptus, Município de Capitão Poço, Pará, Brasil. .... 8
Figura 3: Imagem de satélite da zona urbana do município de Capitão Poço, Pará. Pontos em
vermelho representam os locais de coleta dos espécimes de Cnemidophorus cryptus usados no
presente estudo. ........................................................................................................................ 11
Figura 9: Representação gráfica da relação entre peso total (g) e comprimento total (cm) para
o lagarto Cnemidophorus cryptus no município de Capitão Poço, Mesorregião Nordeste
Paraense. A linha preta representa o ajuste resultante do modelo. Os pontos cinza representam
cada espécime utilizado para a construção do modelo de crescimento. ................................... 19
Figura 14: Frequência de utilização dos diferentes tipos de microhabitat por indivíduos de
Cnemidophorus cryptus no município de Capitão Poço, Pará, entre os meses de março de 2020
a fevereiro de 2021. .................................................................................................................. 25
Figura 15: Distribuição mensal quanto ao uso do microhabitat entre juvenis (dados
representados em cor cinza) e adultos (dados representados em cor preta) de Cnemidophorus
cryptus no município de Capitão Poço, Pa. .............................................................................. 26
LISTA DE TABELAS
3 OBJETIVOS ........................................................................................................... 9
5 RESULTADOS ..................................................................................................... 17
6 DISCUSSÃO ......................................................................................................... 26
7 CONCLUSÕES .................................................................................................... 32
1 INTRODUÇÃO
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Estudos sobre a história de vida dos organismos são essenciais para entender as
variações de seus ciclos vitais (STEARNS, 1992). Variações nos padrões de história de vida
devem-se principalmente à inercia filogenética e às variações do meio ambiente (BALLINGER,
1983; DUNHAM et al., 1988), e fatores como adaptações ecológicas e características
biológicas básicas associadas a ambientes particulares, podem influenciar a forma como cada
espécie lida com situações de mudanças (AYRES, 1986).
3
Dessa forma, estudos sobre a história natural que envolvam período de atividade, uso
do hábitat e reprodução são necessários para entender o papel ecológico que cada espécie
desempenha em seu habitat (DIAS, 2012), mostrando a importância de estudar e conhecer as
características em que determinada espécie vive (LUCAS, 2015)
A família Teiidae atualmente é composta por 173 espécies de lagartos (UETZ et al.,
2021), distribuídas em 16 gêneros: Ameiva, Aspidoscelis, Aurivela, Ameivula, Dicrodon,
Kentropyx, Teius, Callopistes, Cnemidophorus, Contomastix, Holcosus, Medopheus, Salvator,
Crocodilurus, Dracaena e Tupinambis (SANTOS, 2007). Teiídae possuem corpo alongado e
fusiforme, membros relativamente grandes e focinhos pontiagudos, com caudas longas em
forma de chicote (VITT et al., 2000). Não são territorialistas e possuem áreas de vida
relativamente grande (VITT; PIANKA, 2004).
Entre as espécies que já foram estudadas quanto à sua biologia reprodutiva e/ou
dimorfismo sexual na família Teiidae estão Ameivula abaetensis (DIAS et al., 2002)
Cnemidophorus lacertoides (FELTRIM, 2002), Cnemidophorus lemniscatus (MAGNUSSON,
1987; VITT et al., 1997; MESQUITA; COLLI, 2003, MOJICA et al., 2003), Ameivula
mumbuca (COLLI et al., 2003), Ameivula ocellifer (VITT, 1983; MESQUITA; COLLI, 2003),
Contomastix parecis (MESQUITA; COLLI, 2003) Contomastix vacariensis (REZENDE-
PINTO, 2007) e Ameivula nativo (MENEZES; ROCHA; DUTRA, 2004). Dentre estas,
Cnemidophorus lemniscatus (LINNAEUS, 1758; MARKEZICH et al., 1997), Contomastix
lacertoides DUMÉRIL; BIBRON, 1839 (PETERS; DANOSO-BARROS, 1970), Ameivula
abaetensis, Ameivula mumbuca (COLLI et al., 2003), Ameivula. ocellifer (SPIX, 1985),
Cnemidophorus parecis (COLLI et al., 2009) e Contomastix vacariensis (FELTRIM; LEMA,
2000) são bissexuais.
O gênero Cnemidophorus possui ampla distribuição nas Américas, ocorrendo desde o
Norte dos Estados Unidos até a região central da Argentina (REEEDER; COLE; DESSAUER,
2002). O gênero é composto por 16 espécies, e com base em dados filogenéticos e morfológicos
é distribuído em quatro grupos: Cnemidophorus lemniscatus, Cnemidophorus vanzoi,
7
3 OBJETIVOS
4 MATERIAL E MÉTODOS
Fonte:
Aline
Silva;
Figura 2: Imagem de satélite da zona urbana do município de Capitão Poço, Pará. Pontos em vermelho
representam os locais de coleta dos espécimes de Cnemidophorus cryptus usados no presente estudo.
Figura 4: Fêmea reprodutiva de Cnemidophorus cryptus coletada no Município de Capitão Poço – PA.
As coletas de dados sobre o período de atividade ocorreram uma vez ao mês, entre
outubro de 2020 e abril de 2021, tendo início as 06:00 horas se estendendo até o último
avistamento de cada espécime em campo. As amostragens foram realizadas em uma área de
observação, na qual os dados eram obtidos apenas através de observação, foram anotados os
horários do primeiro e do último avistamento, além do horário de maior atividade (pico) dos
indivíduos de acordo com o protocolo de Vargens et al., (2008).
O microhabitat utilizado por C. cryptus foi registrado no momento da coleta do
indivíduo, sendo considerado aquele em que o indivíduo foi avistado primeiramente, sendo
posteriormente incluído em uma das categorias pré-estabelecidas, que correspondem aos
principais tipos de microhabitats disponíveis na área: 1) sobre área (areia de construção civil
sem vegetação); 2) solo exposto (solo coberto por pedras e sem vegetação); 3) embaixo de
moita; 4) borda de moita e 5) dentro de toca de areia.
16
5 RESULTADOS
Figura 8: Representação gráfica da relação entre peso total (g) e comprimento total (cm) para o lagarto
Cnemidophorus cryptus no município de Capitão Poço, Mesorregião Nordeste Paraense. A linha preta
representa o ajuste resultante do modelo. Os pontos cinza representam cada espécime utilizado para a
construção do modelo de crescimento.
16
R² = 0.9376
14
12
10
Peso (g)
0
0 20 40 60 80 100
CRC (mm)
de comparação múltipla o mês de agosto foi o que mais diferiu dos demais meses, exceto para
os meses de março, abril e maio (p < 0.05).
Foram encontradas fêmeas reprodutivas ao longo de todo o período estudado, exceto no
mês de julho (Figura 10).
14
12
Número de fêmeas reprodutivas
12 11 11
10
8
6
6
4 4 4
4 3 3
2 1 1
0
0
Meses
Figura 10: Número de indivíduos de Cnemidophorus cryptus e seus respectivos status reprodutivos,
entre os meses de março de 2020 a fevereiro de 2021, em Capitão Poço, Pará.
Imatura
Presença simultânea de folículos vitelogênico e ovos nos ovidutos
Presença de Ovos
100% Presença de folículos vitelogênicos
90%
80%
70%
Frequência (%)
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
2020 2020 2020 2020 2020 2020 2020 2020 2020 2020 2021 2021
Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev
Meses
Fonte: Autora (2021).
22
Variáveis Média e DP
A maior parte das fêmeas (45%, n= 27) produziu ninhada composta por dois ovos,
enquanto 30% (n=18) das fêmeas ovadas apresentaram ninhada de 1 ovo e 25% (n=15)
apresentaram ninhada de 3 ovos.
O teste de regressão linaer (Figura 12) evidenciou que a relação entre o tamanho da
ninhada e o tamanho da fêmea foi positiva e signiticativa (F1,58 = 31.38, r2=0.3511, p < 0.05) .
23
Figura 11: Associação entre o tamanho da ninhada e o comprimento rostro-cloacal (CRC) de fêmeas
de Cnemidophorus cryptus no município de Capitão Poço-Pará, entre os meses de março de 2020 a
fevereiro de 2021.
Figura 12: Utilização do substrato arenoso por Cnemidophorus cryptus para nidificação. A) Ovos de
Cnemidophorus cryptus encontrados durante a coleta dos espécimes do mês de outubro de 2020, no
município de Capitão Poço, B) Monte de areia onde foram encontrados os ovos da espécie em outubro
de 2020.
Figura 13: Frequência de utilização dos diferentes tipos de microhabitat por indivíduos de
Cnemidophorus cryptus no município de Capitão Poço, Pará, entre os meses de março de 2020 a
fevereiro de 2021.
140
120
NÚMERO DE LAGARTOS
120
100
80
60 47
40 29
21 18
20
0
Embaixo de Borda de Areia Dentro de Chão
moita moita toca de areia
MICROHABITAT
Figura 14: Distribuição mensal quanto ao uso do microhabitat entre juvenis (dados representados em
cor cinza) e adultos (dados representados em cor preta) de Cnemidophorus cryptus no município de
Capitão Poço, Pa.
80
71
70
NÚMERO DE LAGARTOS
60
50 48
40
31
30
21
20 17
13
10
10 8 8 8
0
Embaixo de Borda de moita Areia Dentro de toca Chão
moita de areia
MICROHABITAT
6 DISCUSSÃO
Estudos evidenciam que, geralmente, espécies que tem maturação precoce, tendem a
investir mais em reprodução (alto esforço por episódio reprodutivo, ou seja, alocação de
energia) e tem vida mais curta, enquanto espécies que apresentam maturação tardia, investem
menos por episódio reprodutivo e tem vida longa (RHEUBERT; SIEGEL; TRAUTH, 2014;
TINKLE; WILBUR; TILLEY, 1970; TINKLE, 1969).
O presente trabalho identificou fêmeas reprodutivas durante todos os meses de coleta
(exceto para o mês de julho), indicando que a espécie C. cryptus provavelmente possui
reprodução continua na região. A ausência de indivíduos adultos na amostra do mês de julho
pode ser resultante i) de um viés amostral, uma vez que foram coletados apenas espécimes de
pequeno comprimento rostro-cloacal e/ou ii) ocorrência de recrutamento no período, pois picos
populacionais e grande entrada de indivíduos jovens na população podem indicar que o
aumento populacional é resultante principalmente do recrutamento (WIEDERHECKER et al.,
2003). Além disso, a predominância de juvenis, pelo menos em parte do ano, parece ser típica
de espécies com ciclos de vida curtos (BARBAULT, 1976, ORTEGA; ARRIAGA, 1990;
HOWLAND, 1992) onde há o aumento na rotatividade de indivíduos na população
(WIEDERHECKER et al., 2003).
Em Squamata, o sucesso de desenvolvimento embrionário está diretamente relacionado
a temperatura, especialmente em espécies ovíparas, e a umidade (PACKARD et al., 1982;
GUTZKE; ANDREWS et al., 2000; ROCK et al., 2000; JI; DU, 2001). Espécies de regiões
temperadas tendem a apresentar ciclo reprodutivo não contínuo (MENEZES; ROCHA;
DUTRA, 2004), pois, nestas regiões, a atividade reprodutiva é determinada principalmente pela
temperatura e pelo fotoperíodo (MAYHEW, 1964; TINKLE et al., 1970; LICHT, 1973;
MARION, 1982; BALLINGER, 1983). Em regiões tropicais, a reprodução é fortemente
influenciada pelas variáveis climáticas (MESQUITA; COLLI, 2003), com algumas espécies
sendo capazes de se reproduzir ao longo de todo o ano, apresentando, contudo, um pico de
reprodução durante a estação chuvosa (VITT; GOLDBERG, 1983). A precipitação tem sido
reportada como o principal fator que regula a atividade reprodutiva em regiões tropicais
(SEXTON et al., 1971; RUIBAL et al., 1972; FERREIRA et al., 2002; FERREIRA et al., 2009)
e sua importância se deve ao aumento da umidade, que além de evitar a dessecação dos ovos,
também proporciona maior disponibilidade de alimentos (VALLEJO; VALLEJO, 1981;
WIEDERHECKER et al., 2002).
Embora existam estudos que evidenciam essa dicotomia de estratégias reprodutivas em
regiões tropicais e temperadas, espécies amplamente distribuídas no Brasil podem apresentar
variação no seu clico reprodutivo, como por exemplo, o lagarto taiidae Ameiva ameiva, que em
28
Caatinga (São Gonçalo do Amarante, Fortaleza, Ceará) (MESQUITA; COLLI, 2001; SILVA,
2011). O mesmo foi observado para o lagarto partenogenético Ameivula nativo (MENEZES;
ROCHA; DUTRA, 2004) na localidade de Restinga de Guaratiba, município de Prado, Sul da
Bahia.
Estudos relacionados ao tamanho da ninhada e o tamanho da fêmea, no geral,
apresentam associação positiva em espécies que não possuem um número fixo de ovos
(TINKLE et al., 1970; VITT; PRICE, 1982; VITT, 1990). Vitt (1993), reportou que, quanto
maior fosse o CRC das fêmeas de diferentes espécies de Cnemidophorus estudadas, maiores
seriam suas ninhadas, corroborando a hipótese de Shine (1988), de que fêmeas maiores tendem
a deixar mais descendentes do que fêmeas menores. Contudo, outros fatores que influenciam o
tamanho da ninhada devem ser levados em consideração como a idade das fêmeas, a quantidade
de recursos disponíveis e trade-off entre crescimento e reprodução (SHINE, 1988).
Um tamanho pequeno de ninhada (um a dois ovos) geralmente permite que as fêmeas
possam produzir ninhadas de forma rápida e sucessiva, como de forma contínua (PIANKA;
VITT, 2003). No presente estudo, C. cryptus apresentou simultaneamente folículos
vitelogênicos e ovos oviductais, o que sugere múltiplas desovas por estação. Isto também foi
reportado por Mesquita e Colli (2003) ao estudarem a espécie nas savanas amazônicas do
Amapá.
A massa dos corpos gordurosos variou ao longo dos meses, com o maior acúmulo de
gordura ocorrendo nos meses que correspondem ao início da estação chuvosa (novembro,
dezembro e janeiro). Em contrapartida, os menores valores de gordura foram registrados entre
os meses de maio, junho, julho e agosto, coincidindo com o início e ápice da estação seca. É
possível que o armazenamento de gordura nestes locais esteja mais relacionado à
disponibilidade de alimento e consequente acúmulo de energia para períodos desfavoráveis,
como períodos de seca, do que com a reprodução desses animais (VITT; GOLDBERG, 1983;
HUANG, 2007).
Neste estudo, encontramos locais de nidificação em montes de areia utilizados para
construção civil, o que evidencia o quanto a espécie está adaptada ao ambiente antropizado em
que estão inseridos, confirmando o que já havia sido reportado por Vitt et al., (1997), que
também evidenciaram a associação de C. cryptus a áreas desmatadas e de atividade humana.
O presente estudo também evidenciou que fêmeas maiores que 40 mm investem mais
no ganho de peso, um comportamento comumente observado em lagartos e répteis de maneira
geral, em que após alcançarem a maturidade sexual, as fêmeas passam a utilizar grande parte
da energia disponível com a reprodução, resultando em uma diminuição na taxa de crescimento
30
ocupações humanas (ROCHA et al., 2000; HARVEY; UGUETO; GUTBERLET Jr, 2012;
RIBEIRO-Jr; AMARAL, COSTA, 2016).
A diferença ontogenética observada quanto ao uso do microhabitat para C. cryptus no
presente estudo pode ser resultante da combinação de necessidades térmicas e tróficas que cada
grupo apresenta (SALES et al., 2011). Uma vez que, juvenis por apresentarem menor tamanho
corporal/volume, tendem a possuir uma menor taxa de retenção de calor do que adultos,
necessitando expor-se com maior frequência às fontes de calor (SOUZA, 2017). Além disso, a
distribuição de juvenis nos microhabitat de maior incidência solar, como “areia nua”, indica
que juvenis necessitam realizar incursões mais frequentes às áreas mais quentes do ambiente
para termorregular (SOUZA, 2017). E à medida que crescem há uma mudança na taxa de
retenção de calor pelos lagartos, que se reflete no uso de espaço (HILKMAN, 1969; ASPLUD,
1974). Dessa forma, em lagartos a escolha dos habitats e microhabitat costumam ser aquelas
que facilitam a termorregulação ou que lhes permitem manter a temperatura corporal adequada
(SMITH; BALLINGER, 2001).
Além disso, é possível que a variação na preferência de microhabitats entre juvenis e
adultos reduza a competição intraespecífica por comida entre as classes de idade (FREEMAN;
STOUDER, 1989; DAVEY et al., 2005).
32
7 CONCLUSÕES
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALDRIDGE, R. D. Female reproductive cycles of the snakes Arizona elegans and Crotalus
viridis. Herpetologica, v. 35, p. 256-261, 1979.
AYRES, J. M. The white uakaris and the Amazonian flooded forests. Dissertation,
Cambridge University. 1986.
BECKS, L.; AGRAWAL, A. F. The evolution of sex is favoured during adaptation to new
environments. PLoS biology,v. 10, n. 5, p. 1001317, 2012.
BRAGA, F. M. S. Estudo entre fator de condição e relação peso / comprimento para alguns
peixes marinhos. Revista Brasileira de Biologia, Rio de Janeiro, v. 46, n. 2, p. 339-346,
1986.
COLLI, G. R. et al. A new Species of Cnemidophorus from the Jalapão Region, in the Central
Brazilian Cerrado. Herpetologica, v. 65, n. 3, p. 311-327, 2009.
DIAS, E. J. R.; ROCHA, C. F. D. Niche differences between two sympatric whiptail lizards
(Cnemidophorus abaetensis and C. ocellifer, Teiidae) in the habitat of northeastern Brazil.
Braz. J. Biol, v. 67, p. 41-46, 2007.
DUNHAM, A. E.; MILES, D. B.; REZNICK, D. N. Life history patterns in squamate reptiles.
Biology of the Reptilia 16, ecology B. defence and life history, p. 441-511, 1988.
EVA, H. D. et al. Forest Cover Changes in Tropical South and Central America from 1990 to
2005 and Related Carbon Emissions and Removals. Remote Sensing, v. 4, n. 5, p. 1369–
1391, 2012.
FELTRIM, C. F.; LEMA, T. Uma nova espécie de Cnemidophorus Wagler, 1930 do estado
do Rio Grande do Sul, Brasil (Sauria, Teiidae). Biociências, v. 8, n. 1, p. 103-114, 2000.
FERREIRA, A.; LAURA, I.; DOLDER, H. Reproductive cycle of male green iguanas,
Iguana iguana (Reptilla: Sauria: Iguanidae), in the Pantanal region of Brazil. Brazilian
Journal of Morphological Sciences, n. 19, p. 23-8, 2002.
FERREIRA, A.; SILVA, D. N.; VAN SLUYS, M.; DOLDER, H. Seasonal changes in
testicular and epididymal histology of the tropical lizard, Tropidurus itambere (Rodrigues,
1987), during its reproductive cycle. Brazilian Journal of Biology, n. 69 p. 429- 35, 2009.
FITCH, H. S. Reproductive Cycles in Lizards and Snakes. Univ Kans Mus Nat Hist Misc
Publ, n. 52, p. 1-247, 1970.
FITCH, H. S. Reproductive cycles in tropical reptiles. Univ. Kansas Mus. Nat. His, Occ.
Pap. v. 96, 1982.
HEDGES, S. B.; VIDAL, N. Lizards, snakes, and amphisbaenians (Squamata). The Time
Tree of Life, p. 383–389, 2009.
HOUSTON, D.; SHINE, R. Low growth rates and delayed maturation in Arafura filesnakes
(Serpentes: Acrochordidae) in a Tropical Australia. Copeia, p. 726-731, 1994.
HUANG, W. S. Ecology and reproductive patterns of the agamid lizard Japalura swinhonis
on an East Asian Island, with comments on the small clutch sizes of Island lizards. Zoological
Science, n. 24, v. 2, 181-188, 2007.
HUEY, R. B. Temperature, physiology and the ecology of reptiles. In: Gans C, Pough FH,
editors. Biology of the Reptilia, vol. 12. Physiological Ecology. New York: Academic Press,
p. 25–91, 1982.
JI, X.; DU, W. g. The effects of thermal and hydric environments on hatching success,
embryonic use of energy and hatchling traits in a colubrid snake, Elaphe carinata.
Comparative Biochemistry and Physiology Part a Molecular & Integrative Physiology, n. 129,
p. 461–471, 2001.
KIEFER, M. C.; SLUYS, M. V.; ROCHA, C. F. D. Clutch and Egg Size of the Tropical
Lizard Tropidurus torquatus (Tropiduridae) along its Geographic Range in Coastal Eastem
Brazil. Cannadian Journal of Zoology, v. 86, n. 12, p. 1376-1388, 2008.
LATTANZIO, M. S.; LADUKE, T. C. Habitat use and activity budgets of emerald basilisks
(Basiliscus plumifrons) in northeast Costa Rica. Copeia, p. 465-471. 2012.
LICHT, P. Environmental influences on the testis cycles of the lizards Dipsosaurus 37orsalis
and Xantusia vigilis. Comparative Biochemistry Physiology, p. 45-7-20, 1973.
LIN, E. J. I. Fatbody and liver cycles in two tropical lizards, Chamaeleo honneli and
Chamaeleo jacksonsi (Reptilia, Lacertilia, Chamaeleonidae). Journal of Herpetology, p.113-
117, 1979.
MARKEZICH, A. L.; COLE, C. J.; DESSAUER, H. C. The blue and green whiptail lizards
(Squamata: Teiidae: Cnemidophorus) of the Peninsula de Paranagua, Venezuela: systematics,
38
ecology, description of two new taxa, and relationships to whiptails of the Guianas.
American Museum Novitates, n. 3207, p. 1-60. 1997.
PIANKA, E. R. Reptilian species diversity. In C. Gans & D.W. Tinkle (eds.) Biology of
Reptilia. Academic Press, New York, p. 1-34, 1977.
PIANKA, E. R.; HUEY, R. B.; LAWLOR, L. R. Niche segregation in desert lizards. Analysis
of ecological systems, p. 67–115, 1979.
POUGH, F. H.; JANIS, C. H., HEISER, J. B. A vida dos vertebrados. São Paulo: Atheneu. 3ª
ed. 2003.
RIVERO, S.; ALMEIDA, O.; ÁVILA, S.; OLIVEIRA, W. Pecuária e desmatamento: uma
análise das principais causas diretas do desmatamento na Amazônia. Nova economia, v. 19,
n. 1, p. 41-66, 2009.
ROCHA, C. F. D. Reproductive and fat body cycles of the Tropical Sand Lizard (Liolaemus
lutzae) of southeastern Brazil. Journal of Herpetology, p. 17–23, 1992.
ROCK, J.; ANDREWS, R. M.; CREE, A. Effects of reproductive condition, season, and site
on selected temperatures of a viviparous gecko. Physiological and Biochemical Zoology, 73:
p. 344–355. 2000.
RUIBAL, R.; PHILIBOSIAN, R.; ADKINS, J. L. Reproductive cycle and growth in the lizard
Anolis acutus. Copeia, n. 3 p. 509-18, 1972.
SALES, R. F. D.; RIBEIRO, L. B.; JORGE, J. S.; FREIRE, E. M. X. Habitat use, daily
activity periods, and termal ecology of Ameiva ameiva (Squamata: Teiidae) in a caatinga area
of northeastern Brazil. Phyllomedusa, v. 10, n. 2, p. 165-176, 2011.
SALZBURG, M. A. 1984. Anolis sagrei and Anolis cristatellus in Southern Florida: A case
study in interspecific competition. Ecology, v. 65, p. 14–19, 1984.
SOUZA BUJES, Clóvis. Padrões de atividade de Teius oculatus (Sauria: Teiidae) na Reserva
Biológica do Lami, Estado do Rio Grande do Sul-Brasil. Cuadernos de Herpetología, v. 12,
1998.
SEIGEL, R. A.; FORD, N. B. Reproductive ecology. In: SEIGEL RA (Eds), Snakes, Ecology
and Evolutionary Biology, McMillan Publishing Company, New York, p. 210-252, 1987.
SHINE, R. The evolution of a large body size in females: a critique of Darwin’s “fecundity
advantage” model. The American Naturalist, n. 131, p. 124-131, 1988.
SILVA, V. N.; ARAÚJO, A. F. B. Ecologia dos lagartos brasileiros. (1st ed.). Rio de Janeiro,
Brasil: Technical Books. 2008.
STEARNS, S. C. The Evolution of Life Histories. Oxford University Press, Oxford. 1992.
STAMPS, J. A. The relationship between ontogenetic habitat shifts, competition and predator
avoidance in a juvenile lizard (Anolis aeneus). Behavioral Ecology and Sociobiology, v. 12,
p. 19-33, 1983.
VAN SLUYS, M. Growth and body of the saxicolous lizard Tropidurus itambere in
southeastern Brazil. Journal of Herpetology, 32, p. 359-365, 1998.
VITT, L. J.; PRICE, H. J. Ecological and evolutionary determinants of relative clutch mass in
lizards. Herpetology. 38, p. 237-255, 1982.
VITT, L. J. Reproduction and sexual dimorphism in the tropical teiid lizard Cnemidophorus
ocellifer. Copeia, p. 359-366, 1983.
VITT, L. J. The influence of foraging mode and phylogeny on seasonality of tropical lizard
reproduction. Pap. Avul. Zool. n. 37, p. 107–123, 1990.
VITT, L. J. Ecology and life history of the scansorial arboreal lizard Plica plica in Amazonian
Brazil Canadian Journal of Zoology, v. 69, n. 2, p. 504-511, 1990.
VITT, L. J. Diversity of Reproductive Strategies among Brasilian Lizards and Snakes: The
Significance of Lineage and Adaptation. In: HAMLETT, W. C. (Ed.). Reproductive Biology
of South American Vertebrates. New York: Springer-Verlag, p. 135-149, 1992.
VITT, L. J.; CARVALHO, C. M. Niche partitioning in a tropical wet season: lizards in the
lavrado area of northern Brazil. Copeia, p. 305-329, 1995.
VITT, L. J. et al. Niche segregation among sympatric Amazonian teiid lizards. Oecologia, v.
122, n. 3, p. 410– 420, 2000.
VITT, L. J.; PIANKA, E. R. Historical patterns in lizard ecology: What teiids can tell us
about lacertids. In V. PÉREZ-MELLADO, N. RIERA, & A. PERERA. (Eds.), The biology of
lacertid lizards: Evolutionary and ecological perspectives (pp. 139-157). Maó (Menorca): Illes
Balears: Institut Menorquí d’Estudis. 2004.
TINKLE, D. W. The concept of reproductive effort and its relation to the evolution of life
histories of lizards. The American Naturalist, n. 103, v. 933, p. 501-516, 1969.
THOMPSON, G. G.; PIANKA, E. R. Allometry of clutch and neonate sizes in monitor lizards
(Varanidae: Varanus). Copeia, n. 2, p. 443-458, 2001.
UETZ, P.; FREED, P.; AGUILAR, R.; HOSEK, J. 2021. The Reptile Database,
http://www.reptile-database.org. Acessado 05 de dezembro 2021.
ZAR, J. H. Biostatistical Analysis. 4th ed., Prentice Hall, Inc. Upper Saddle River, NJ. 1999