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Depois de alguns minutos começamos a escutar um alvoroço logo acima de nós e quando

consigo entender o que dizem, percebo que o lacaio conseguiu ferir Samuel.

- Miguel, vá por trás do campo e venha atacando quem você ver pela frente. – Digo
criando uma passagem direta até depois do portão de entrada do complexo. – Eu vou
subir assim que eu souber que você já está na superfície.

- Finalmente vou sair desse buraco. – Ele respira aliviado e se a situação


permitisse eu estaria rindo, mas o máximo que consigo é um sorriso cansado.

- Vá agora, rápido. – Ele tira suas roupas e se transforma, saindo em disparada,


rumo ao ar livre.

Guardo as roupas de Miguel em um dos inúmeros bolsos da minha roupa e me preparo


para subir. Assim que escuto uma nova gritaria percebo que é Miguel, então respiro
fundo uma última vez e deixo todo o poder que resta me consumir.

<Narrador>

Enquanto Luna e Miguel ainda estavam embaixo de todos, o soldado de Samuel lutava
contra o instinto e racionalidade. O lado mais primitivo dele insistia para que ele
atacasse Samuel, mas seu lado racional pedia para que ele não o fizesse, pois seria
uma morte certa para ele. Ainda que a força de vontade dele fosse grande, a magia
de Luna era maior e logo o homem se pôs a atacar o mestre, perfurando uma lança em
sua barriga, atravessando seu tronco.

Luna sabia que apenas um ataque desse não iria matar Samuel, afinal ele era um
bruxo poderoso, porém iria deixa-lo debilitado e isso era o suficiente para que ele
se concentrasse apenas nela e deixasse sua família em paz.

Assim que Miguel salta para a superfície ele ataca quem vê pela frente, destroçando
inúmeros soldados, os reduzindo a corpos mutilados. Sentir o gosto de sangue não é
prazeroso para ele como é para muitos dos seus, mas é um mal necessário e por mais
que ele não se sinta bem com aquilo, sua mente sabe que ele não deve se culpar.

Ao ver Miguel atacando, Mateo, Marcelo, Pedro, Teresa, Ravi, Antony, Marie, Felipe,
Sophie e Diego começam a brigar também, incentivando o resto das pessoas, que antes
apenas observavam o leão gigante, a recomeçarem a lutar, mas agora com mais raiva e
força do que antes.

Mas novamente algo faz praticamente todos pararem de brigar, porém dessa vez não é
Samuel, mas Luna, que sai de dentro da terra, alçando voo em uma bola de fogo
gigantesca, pairando no céu causando uma espécie de explosão ao abrir seus braços e
planar acima de todos.

Aos poucos, o que antes era um fogo laranja e vermelho, começa a mudar ganhando um
tom azulado de um lado, esverdeado do outro e branco acima, uma verdadeira aura
colorida cercando o corpo de Luna.

- Luna. – Samuel diz raivoso e quando Luna prega seus olhos nele, o homem percebe
que os olhos da garota estão vermelhos como fogo.

- Samuel. – Ela diz em uma voz alterada, uma voz que faz todos tremerem em
respeito. – Desista agora, é sua última chance.

- NUNCA! – Ele grita.

- Então sofra as consequências. – Com apenas um movimento de sua mão, a lança


cravada em Samuel é retirada violentamente, fazendo o homem gritar e cair na terra,
mas rapidamente ele se recupera e lança inúmeras bolas negras em direção a Luna,
que as desvia sem nem ao menos se mexer. – Eu, Luna Monteiro, descente e escolhida
da Lua, sentencio você, Samuel ao banimento após a morte, onde ficará vagando pelo
limbo por toda a eternidade, sofrendo por suas escolhas e maldades, sentindo na
pele o que causou aos outros.

Todos param ao ouvir aquelas palavras, pois apenas uma pessoa havia sido banida ao
limbo e esta tinha sido banida pela própria Lua e embora muitos não lembrem, mas
naquele mesmo dia, a Lua proclamou que apenas ela seria capaz de tal ato, fazendo a
pessoa que exercia o banimento, cair junto ao réu em desgraça.

Nikolai lembrava e ao escutar as palavras da neta entrou em um profundo desespero e


em um ato de amor ele correu em direção a Samuel. Seu intuito era mata-lo, pois
assim ele iria para o limbo no lugar da neta. Ele pulou na frente de Luna tentando
chegar em Samuel, mas não foi rápido o suficiente e Samuel o domina e o coloca em
sua frente, como um escudo.

Ao ver o avô Luna se desconcentra um pouco, fazendo seus olhos voltarem ao normal.

- Largue ele, Samuel. – Ela diz ainda com a voz alterada.

- Você terá de mandar nós dois para o limbo querida Luna. – O sorriso doentio de
Samuel enojava Luna e a fazia ter ainda mais raiva dele.

- O Luna, et beatos vos, offendit filiam, illumina nos in cospectu eius. – Luna
entoava e aos poucos seus cabelos vão ficando brancos e mais brancos, assim como
sua pele e seus olhos violeta, ao seu redor uma luz branca surge e por alguns
segundos todos desviam os olhos por conta da luz.

Quando a luz cessa não existe apenas Luna ali, pairando sobre todos, outra mulher
está junto a ela. A semelhança entre as duas é incrível, principalmente depois dos
olhos de Luna ficarem violetas como os da mulher. A principal diferença entre elas
é o cabelo, pois enquanto o de Luna ficou branco como a neve, o da mulher é negro
como uma noite sem estrelas.

- Minha amada filha. – A mulher diz olhando para Luna, que abaixa sua cabeça em uma
reverência. A mulher olha para baixo e fixa seu olhar em Samuel, que a esta altura
se encontra pálido. – Samuel, largue Nikolai.

- NUNCA! – Ele grita, mas pelo seu olhar de pavor aquilo não irá demorar muito
mais.

- Eu tentei. – A mulher diz e dá um suspiro. – Sinto muito por isso.

Ela encara Samuel e seus olhos ficam negros. Samuel parece hipnotizado olhando para
a mulher, mas então ele pisca e quando abre os olhos novamente seu rosto demonstra
pavor puro. Ele grita e em um movimento rápido, crava uma adaga nas costas de
Nikolai antes de se jogar no chão tremendo e chorando, em um profundo desespero.

- NÃÃÃOOOO! – Luna grita e corre em direção ao avô caído no chão. – Não, vô...

- Nã-não o mate Luna. – Nikolai implora a neta. – Vo-você também irá pa-para o
limbo se-se matar Samuel.

- Não vô, eu não irei. – Luna diz em meio a lágrimas. – Eu sou descendente da Lua,
lembra?

- Isso não impede que você vá para o limbo. – Ele diz, pausadamente.
- Na verdade impede sim, vô. Apenas aqueles que têm o sangue da Lua podem banir sem
serem levados juntos.

- É a verdade, Nikolai. – A luz diz se aproximando deles. – Luna e Ravi são os


únicos mortais capazes de banir sem que sofram consequências.

- Ma-mas co-como? – Ele pergunta ainda sem entender.

- Porque eles possuem um pedaço das almas dos meus descendentes. – A Lua diz se
ajoelhando ao lado de Luna.

Enquanto eles conversavam Miguel e os outros terminavam de matar o séquito de


Samuel, enquanto o mesmo se contorcia no chão em um tormento sem fim.

- En-então que bom que eu nã-não matei esse miserável. – Nikolai diz sentindo suas
forças se esvaindo, o fazendo fechar os olhos e soltar seu último suspiro.

- Não. Vô! – Luna começa a balançar o avô, esperando que assim ele volte a respirar
e abra os olhos. – VÔ! Não me deixa. – As lágrimas caem por seus olhos
intensamente, turvando sua visão. – Lua faça alguma coisa, por favor, não o deixe
morrer.

- Infelizmente não posso fazer nada, minha querida. – A Lua diz colocando a mão no
ombro de Luna, que em seu desespero dá um grito tão alto que todos que estavam
próximo são lançados para longe.

Um grito de desespero que faz os tímpanos estourarem e todos pararem e lamentarem.


Nádia, Sophie, Marco e todos os outros filhos e netos de Nikolai choram
desconsolados pela perda do patriarca.

- Você. – Luna diz encarando Samuel com os olhos cintilando em vermelho. – VOCÊ FEZ
ISSO!

Ela corre em direção ao homem, que mesmo percebendo a garota correndo em sua
direção não consegue fazer nada além de olhar.

- LEVANTA! – Luna grita segurando um par de facas nas mãos. – LEVANTA SEU
MISERÁVEL!

- Luna. – A Lua chama sua atenção, mas a garota não se vira, apenas encara Samuel
com raiva. – Luna, olhe para mim meu bem.

- Não. – Luna diz com a voz embargada, balançando a cabeça. – Eu tenho que matá-lo.

- Não querida, não é mais preciso. – Lua diz colocando a mão no ombro de Luna e
quando a garota a olha, ela percebe seu rosto banhado em lágrimas e o desespero em
seu olhar. – Ele está morto, mas isso não é tão definitivo meu bem.

- O que? – O olhar confuso da garota provoca um sentimento de compaixão extrema na


deusa.

- Eu não posso trazê-lo de volta. – A esperança que começa a surgir em Luna vai
morrendo ao ouvir aquilo, mas logo ela ganha forças. – Mas tem quem possa.

- Quem? – Luna segura a deusa pelos ombros, sentindo uma ansiedade sem tamanho. –
Quem pode trazê-lo de volta?

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