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Claro que tudo aquilo fazia parte da vida de um Comensal, entretanto, não
era exatamente por aquilo que ele havia se tornado um. Aquilo não lhe
trazia poder, não lhe trazia domínio, não lhe dava entretenimento, não lhe
ensinava nada. Ele nunca havia sido o tipo de pessoa que desperdiçava seu
tempo apreciando o sofrimento alheio. Não com tanta frequência, pelo
menos. Isso o diferenciava de qualquer outro Comensal. O diferenciava,
inclusive, de Lorde Voldemort.
Mas, como um, lá estava ele. Sentado obediente em seu trono como líder
do exército de Comensais na grande arena do horror, o salão principal do
covil que muitos insistiam em chamar de quartel, o quartel de Voldemort.
Ele sentava obedientemente porque tinha segredos que nenhum humano
jamais saberia e jamais se atreveria em ousar saber. Por isso, ali estava
atendendo ao chamado das sessões de tortura, sofrimento, gritos, sangue e
terror. Ali ficaria até que tudo finalmente acabasse e ele pudesse ir a uma
das salas de treinamento aprender alguma nova magia para seus combates.
– Tragam-me nossas novas convidadas! – todo o salão pode escutar
Voldemort exclamar vivificado pela última morte que havia tido o prazer de
conduzir.
Sendo arrastadas pelas correntes que lhe prendiam os membros vinha Luna
Lovegood em sua expressão sempre lunática, porém dessa vez um tanto
sofrida, e ninguém menos que Hermione Granger, a rainha de Harry James
Potter, o pior inimigo de Lorde Voldemort. Seus olhos estavam vermelhos,
as bochechas e a ponta do nariz rosadas, os lábios secos, o cabelo
desgrenhado, a postura intacta e orgulhosa.
– Draco! – chamou.
Draco encarou Hermione Granger, que ainda ofegava pela dor e permanecia
dominada pela surpresa de encontrar a marca em seu braço tanto quanto
todos os outros ali naquele lugar. Aquele pedaço de mulher era sem dúvida
a beleza encarnada. Ele ainda se lembrava do ano em Hogwarts que ela
começara a ser abençoada com tamanhos atributos. Mas ainda assim, ela
não passava de uma Sangue-Ruim.
Draco e seu exército haviam a capturado no meio de toda aquela guerra.
Claro que ela havia se deixado ser pega. Poderia facilmente ter escapado,
mas soube que estava se dando em troca de algo muito importante para os
rebeldes. Harry Potter. Ela se deu para que ele pudesse escapar? Talvez,
porém previsível demais para uma Grifinória. Draco julgava-a burra pelo
ato, mesmo que a palavra burra seguida do nome de Hermione Granger
nunca no mundo fosse fazer sentido algum. Então, ainda a encarando, ele
soltou um riso debochado e deu as costas.
Draco se virou. Voldemort tinha um plano para tudo aquilo. Claro que tinha.
Hermione Granger
Com a mão segurando o pulso que ainda ardia ela analisou o lugar que
estava. Era grande e muito bem iluminado. Tinha uma cama perfeitamente
arrumada com dosséis e cortinas, uma estante de livros que cobria toda a
extensão da parede da porta até onde o pé direito alcançava, um
escrivaninha de mogno com tinteiros, pergaminhos e todos os tipos de
penas imagináveis. Uma penseira jazia quieta mais para além da
escrivaninha sobre um pórtico de granito barrocamente decorado e uma
sequencia de caldeirões vazios pendurados em araras que desciam do teto
em tirantes de aço logo próximo a lareira que estava cercada por poltronas
neoclássicas forradas de estampas tipicamente inglesas. Tudo sobre um
piso de mármore claro extremamente polido e uniforme.
Movida por uma curiosidade muito maior ela avançou receosa até a porta.
Segurou a maçaneta, a girou e puxou. A porta se abriu fazendo passar pela
fresta a brisa gelada do corredor do outro lado. Ela havia decorado o
caminho que havia percorrido até ali, mas dar novamente no salão não
parecia uma ideia muito boa.
Estava errado. Estava tudo errado. Não era aquilo que deveria estar
acontecendo! Onde estava todos os crucios que ela deveria suportar? Onde
estava o interrogatório? Onde estava sua cela escura, sua fome, seu frio,
seu choro? Onde estava seu sofrimento? Onde?
Draco Malfoy surgiu em toda sua poderosa glória sendo seguido por um elfo
de orelhas altas e pontas caídas com grandes olhos escuros sofredores.
Vestia uma velha camisa escura surrada e rasgada que parecia ter três
vezes o seu tamanho.
- Gostou do seu quarto, Granger? – Draco fez soar sua voz claramente
masculina por todo o cômodo. Havia nela um tom de deboche. – Este é o
whitehall, um dos quartos da ala leste da catedral. Pega o sol da manhã e
tem vista para um dos maiores pátios. Pode trocar se preferir. Ninguém
gosta do sol da manhã por aqui. – ele dizia como se tivesse decorado uma
fala. – Essa é Tryn, a elfa que irá te atender. O jantar será servido dentro
de uma hora, portanto esteja arrumada e de modo apresentável. Se sentará
na primeira cadeira a direita ao lado da cabeceira e não fará soar sua voz
por um segundo sequer ou pagará por isso. – ele estendeu a varinha para
ela e Hermione sentiu as corrente a abandonares e voarem para a mão de
Malfoy. Ele deu as costas e seguiu de volta para a porta. – Para que
aprenda a se comportar como o mestre bem entender, seus ataques de
rebeldia servirão de punição para sua amiga Lovegood, que depois da
sessão de crucio no salão principal agora pouco não aguentará mais nada,
por tanto, seja uma boa menina, para que sua amiga consiga se recuperar.
– ele disse antes de sair.
- Malfoy! – exclamou Hermione surpreendendo-se com o som de sua
própria voz que ela já não escutava fazia um tempo considerável. A porta
bateu avisando que ele havia deixado o quarto. Ela prendeu o ar e correu
para escancarar a porta e encontrá-lo no meio do corredor – Malfoy! – ela
tornou a exclamar quando ele a ignorou. – MALFOY! – ela berrou dessa vez
e seu tom continha uma raiva explícita pelo modo como ele a ignorava. Ele
parou e se virou para ela. – Por que? Por que tudo isso? É errado! – era
tudo que gritava em sua cabeça naquele momento e foi tudo que ela
conseguiu perguntar.
- Não deve fazer essas pergunta para mim, Granger. Eu não sou seu
mestre, você é apenas minha responsabilidade. Pertence a ele, não a mim.
– ele mostrou as mãos como se tentasse convencê-la disso. – Não dou a
mínima para o que farão ou deixarão de fazer com você, por mim poderiam
tê-la matado hoje no salão principal. Foi para isso que eu a trouxe até aqui
afinal, mas como não sou eu quem dito as ordens finais, cabe a todos
apenas obedecer. Inclusive você, sangue-ruim. - e assim ele deu as costas
e sumiu na primeira esquina que surgiu.
Hermione precisou fechar os olhos quando sentiu que sua garganta ardeu e
sua visão embaçou. Havia tentado salvar a amiga assim que a viu ser
capturada, mas a verdade é que não foi capaz de salvar nem mesmo a
própria pele quando impulsivamente ela havia corrido atrás da amiga. A
verdade, era que tudo ainda era muito mais complexo do que a desculpa de
tentar salvar sua amiga quando se viu obrigada a se entregar. Talvez
ninguém da Ordem fosse entender. Ou pelo menos Harry pudesse. Mas
agora ela precisava ser inteligente. Ser estratégica para conseguir livrar as
duas. Ela tinha que entrar no jogo de Voldemort. Tinha que conhecer onde
estava pisando. Tornou a encarar a elfa que a olhava com os enormes olhos
amendoados e então encarou o arco que separava seu quarto do lavatório.
Soltou o ar frustrada e passou a se mover até ele.
Escapar.
Por um segundo ela perdeu a respiração e no outro ela emergiu seu braço
para fora da água encarando a clara marca-negra agora em seu pulso. Ela
apertou com força seu braço quando sentiu que a ficha caia rápido demais.
Seu cérebro jogou milhões de informações simultâneas e então ela soube
que o desespero tomou conta de si quando soluçou e ficou sem respirar.
Ela era dele. Enquanto ele vivesse ela seria de Lorde Voldemort. Ela sabia o
que acontecia com comensais capturados. A própria marca estampada no
braço deles os matava. Comensais fugidos eram mortos pela marca.
Comensais arrependidos eram mortos pela marca. Comensais que trocavam
de lado eram mortos pela marca. Todos eles eram produtos exclusivos de
Voldemort e todos eram irrevogavelmente dele. Trabalhavam para ele ou
estavam mortos. Mortos pelo sinal que os marcava. O símbolo que os
tornava comensais. Agora ela era um deles. Agora ela não tinha escolha.
Ela não tinha saída.
Hermione sentia seu coração bater contra suas costelas tão forte que
pensou que uma delas fosse se quebrar. Puxou o ar com vontade e soltou o
braço. Sua garganta queimou. Sua visão embaçou. Mas o medo não a
deixou fechar os olhos. O medo a dominou por completo e as lágrimas
rolaram por sua face. Ela soluçou vezes seguidas e seus soluços ecoaram
junto o barulho do movimento da água contra todas as pedras daquele
lugar lindo e ao mesmo tempo assustador.
- TRYN! – escutou sua voz berrar pela elfa num tom de desespero. –
TRYN! – sua voz cortou novamente o eco e então um estalo ao seu lado a
assustou e ela se afastou do barulho cortando a água da enorme banheira
que estava. Encontrou a elfa de pé sobre o beiral de pedra.
- Tryn! Que lugar é esse? Onde eu estou? – Hermione podia escutar sua
voz tremida perguntar gaguejante.
**
A sua frente no closet cercado por araras e espelhos ela viu três exagerados
vestidos que a elfa havia separado.
- Eu também seria! – Hermione a cortou. – Ele lhe deu ordens para que
eu estivesse apresentável, não desnuda...
- Mas Tryn sabe como o meu senhor gosta de ver uma mulher vestida!
Tryn a olhou com receio. Sabia que não deveria acatar ordens da mulher,
mas não eram ordens, eram pedidos quase suplicantes. Sabia das mulheres
que ela mesma vestia como prostitutas para o seu senhor, sabia do que o
agradava, sabia que quando seu senhor a ordenara que aprontasse
Hermione Granger para o jantar ele estava se referindo a deixá-la como
todas as mulheres que ela arrumava para ele. Mas as ordens não haviam
sido claras e o pedido da mulher a sua frente agora encontrava todas as
brechas necessárias para que Tryn pudesse escolher entre ajudá-la ou não.
A elfa ordenou que ela se sentasse em uma cadeira próximo a uma das
araras que circulava um espelho mais reservado. Hermione se sentou e
Tryn passou a trabalhar em seu cabelos. Segurava-o e soltava estalos com
os dedos e aos poucos Hermione via a agilidade da pequena criatura em
dominar com destreza suas madeixas.
Em poucos minutos a elfa deixou seus cachos com uma perfeição que
Hermione nunca os viu antes ter. Nos que se seguiram ela conseguiu
prender as mechas da frente em um lindo penteado no topo de sua cabeça.
A pequena criatura girou sua cabeça e começou a trabalhar em seu rosto
dessa vez. Foi um trabalho rápido e quando a elfa tornou a virá-la para o
espelho Hermione pode ver que não houve muita modificação além de ter
sido corada nas bochechas e delineada nos olhos muito discretamente. Ela
se sentiu a mulher mais linda do mundo, mas isso não melhorava seu
ânimo nem um pouco.
Acompanhou Tryn quando ela a carregou para fora do quarto. Hermione se
sentiu grata por ter uma guia. Tentou decorar as esquinas que virava, mas
eram muitas. Desceu uma colossal escada que antes ela havia subido para
chegar ao seu quarto, deparou-se no saguão de entrada, viu a porta dupla
pesada e gigantesca tipicamente gótica em seu topo e entendeu porque se
referiam ao lugar como catedral. Avançou sem perder os passinhos rápidos
da elfa e notou que por onde passava e cruzava com humanos, eles lhe
lançavam olhares estranhos que variavam do desprezo para a admiração.
Passou por várias portas até chegar a um salão extenso e retangular que
dispunha de uma mesa com cadeiras de encosto exageradamente altos
feitas de uma madeira escura e envolta de estofados vinhos muito pouco
chamativos.
Deu um passo fazendo ecoar seu salto contra o piso de mármore pavão.
Deu outro e mais outro e passou pela elfa parada. Os olhares continuavam
fixos sobre ela enquanto avançava para a cadeira que se sentava a mais
famosa das comensais. Parou quando chegou perto suficiente. Seus olhos
âmbar estavam fixou nos negros de Bellatrix que a olhava com um desgosto
incontido. Sentia todos os olhares sobre ela. Sentia que a qualquer
momento ela cairia no chão sem vida por uma maldição jogada por algum
deles.
Puxou o ar e abriu a boca para avisar que a outra estava ocupando seu
lugar, mas precisou parar assim que uma porta a suas costas foi
escancarada e por ela entrou Draco Malfoy.
Bellatrix fez uma cara engraçada e fuzilou Hermione com seus olhos
medonhos.
Hermione se sentou.
O silêncio.
Cada músculo dela estava tencionado por estar ao lado da figura mais
temível do mundo naquele momento. Notou que o olhar de Malfoy nunca se
encontrava com o dela e de certa forma ela agradeceu o modo com que
estava sendo ignorada, mas sentada ali ela se sentia como parte deles e
isso a incomodava ainda mais.
- Acredito que fui claro e transparente quando disse que agora ela é
uma de nós...
Silêncio.
Ninguém brindou.
- Não. Sabe que não, – ele torceu o nariz numa careta. – mestre. – fez
uma reverência irônica e sumiu batendo com força a porta pelo qual saíra.
Ousou olhar para a mulher enquanto ela tomava seu caminho de saída e a
viu vestida num lindo e exagerado vestido vermelho, mais vulgar do que
qualquer outro que Tryn havia a apresentado naquele closet. Desviou o
olhar com pressa temendo ser pega em seu ato depravado.
**
A voz masculina constante que soava em seu sonho agora era mais clara e
ela notou que vinha do lado de fora. Não do corredor, mas da janela.
Hermione se arrastou para fora da cama sentindo o frio golpear seu corpo
quando se viu vestida em nada menos do que a camisola fina que Tryn
havia deixado disposta sobre sua cama quando ela voltou do jantar.
Afastou-se da janela e por um motivo que ela entendia e não entendia seu
coração estava disparado. Tornou a sentar-se na cama e ali ficou por um
tempo que não lhe fez questão alguma saber.
Whitehall
O processo foi o mesmo do dia anterior, seu banho, o closet, o pedido para
que mudasse o corte do vestido, sapatos, cabelo, maquiagem e então
finalmente ela estava de volta a realeza britânica quando se olhou no
espelho no fim de todo o processo. Escutou as ordem ditadas por Tryn
sobre o horário que deveria acordar, o horário que deveria comparecer ao
desjejum, o horário que deveria comparecer para o jantar, o horário que
deveria comparecer aos chás da tarde com as senhoras de comensais, o
horário que deveria comparecer as leituras de atas da guerra, o horário que
era permitido visitar a biblioteca, o horário que ela tinha permissão para
visitar os centros de Brampton e finalmente o horário que ela tinha
permissão para se retirar e dormir.
- Quero ver Luna. – foi o que Hermione disse após todo o discurso
sobre os horários que deveria seguir.
Hermione soltou o ar frustrada. Para uma prisioneira ela até que estava
sendo muito inconveniente ao exigir encontrar com a amiga.
- Tenho opção?
- Não.
E então ela apenas deixou que seu corpo fosse guiado pelos passos da elfa.
Deixar Whitehall era sempre desconfortante. Tinha a impressão de que não
seria perturbada se estivesse segura ali dentro, mas quando começava a
andar pelos labirintos da catedral de Voldemort era como se sentisse que
estava sendo jogada á imensidão do universo onde a qualquer momento
qualquer coisa ruim pudesse lhe acontecer.
O caminho foi mais longo do que o do dia anterior para a sala de jantar. As
cores que compunham os ambientes sempre procuravam manter a escala
cinzenta e os tons mais mortos que poderia existir dentro de uma paleta de
cores. Não era de se admirar.
Eram todas moças muito bem cuidadas. Tão bem vestidas como Hermione,
mas não tão bem comportadas quanto ela. Quase todas usavam decotes
que iam muito além do generoso e muitas delas não se importavam com a
transparência do tecido. Mas ainda assim não eram todas. Hermione
salvava algumas que tentavam não ser tão vulgar. A unanimidade que
havia entre todas elas era o olhar. O olhar de desconforto e desprezo.
Todos em cima de Hermione.
- Foi nos avisado que estaria aqui. – quem tomou a fala foi uma
mulher. A voz não era estranha. – Hermione Granger. – então ela surgiu do
meio das outras para a suas vistas.
- Quem diria. – Pansy andou até ela. – Nunca imaginei que estaríamos
nessa situação um dia, sangue-ruim. – ela suspirou dramaticamente e
balançou no ar a taça de espumante que tinha nas mãos. – Eu ainda
esperava ter a chance de te matar, não de ter que te receber em uma
reunião com minhas amigas. – ela sorriu. – Quer alguma bebida? – o tom
foi ironicamente educado.
Pansy riu.
No entanto, permaneceu ali. Invisível. Cumpriu seu papel para que ninguém
viesse fazer mal a Luna. Sentiu-se tão inútil que seu mundo se fechou na
taça que tinha em mãos e na cadeira que estava sentada. Poderia ter
permanecido ali pelo resto de seus dias se num determinado momento ela
não tivesse escutado seu nome. Sim, seu nome, e não o tão usado:
“sangue-ruim”.
Ela tentou procurar quem havia dito enquanto ponderava a opção de estar
alucinando, mas então ela viu a mulher da voz reafirmar a pergunta.
Lembrava-se daquele rosto. Embora a maquiagem estivesse bastante
carregada ela se lembrava muito claramente daquela mesma voz e das
linhas daquele rosto. Já havia feito dupla com ela em uma das aulas de
Runas Antigas em Hogwarts no terceiro ano. Era uma garota Corvinal. Ou
talvez Hermione estivesse só em um estado louco de consciência.
Num instante Hermione sentiu que poderia explodir, correr até a mulher,
segurar seu pescoço fino e sensível até vê-la ficar roxa, mas no outro ela
simplesmente se perguntou de onde havia tirado tamanha agressividade de
dentro de si. No instante subsequente ela pôs-se de pé. Sentiu os olhares
sobre si. Ignorou-os e deu as costas. Ficou escutando o barulho de seu salto
avançando pelo mármore do piso ecoando no salão para preencher o
enorme silêncio que as mulheres faziam ao encará-la tomando o rumo da
saída.
Quando bateu a porta do salão e se viu no corredor que Tryn a deixara ela
percebeu que suas mãos tremiam contra a taça que segurava. Como podia
ser tão invisível e em um segundo atrair tanta atenção?
- Posso ir a biblioteca?
Abriu espaço por entre as pessoas tentando ter uma melhor visão da mesa
redonda e quando a conseguiu, parou e tentou absorver o máximo de
informações que conseguia.
Seu coração parou dessa vez quando uma pergunta direcionada a mesa foi
a respeito de Hermione Granger fazer parte do ciclo interno de comensais
de Voldemort. A resposta de todos da mesa foram variações do que Lorde
Voldemort dissera no jantar do dia anterior sobre não contestar suas
vontades. Houve alguns acréscimos sobre a importância de não tratá-la
como uma prisioneira comum, Hermione Granger havia representado
demais o nome dos rebeldes para ser tratada como qualquer outro deles. E
assim se seguiu os outros temas abordados pelas perguntas.
Ver tudo aquilo fez Hermione soluçar enquanto sentia sua boca perder a
saliva a cada segundo que se passava. Não era possível que eles tivessem
audiências abertas ao público de Brampton Fort, os protegidos de
Voldemort, salões e catedrais, comida cara, vestidos pomposos e cidades
fortificadas enquanto a Ordem se reunia na sala de jantar da casa de Harry
para discutir os movimentos do exército de Draco Malfoy.
Antes que ela pudesse ser dominada completamente pela frustração e pelo
sentimento de eminente derrota, sentiu duas mãos lhe apertarem os
braços. Sentiu o calor do corpo por trás do seu e uma respiração úmida ao
pé de um de seus ouvidos. Seus pelos todos se levantaram porque ela
conhecida. Conhecia aquelas mãos, conhecia aquele calor e conhecia aquela
respiração. Desvencilhou-se e se virou para encarar ninguém menos que
Viktor Krum.
- O que faz aqui? – ela balbuciou numa voz fraca. – O que diabos faz
aqui?
- Surpresa por me ver sendo um comensal? – ele tinha um sorriso
cínico quando se afastou para ter o rosto dela bem próximo ao dele. – Se
eu fosse você não ficaria tanto assim. Seu amigo Ronald Weasley sempre
desconfiou, não foi? Quantas vezes ele a alertou? Talvez você tenha perdido
a conta.
- Por que? – foi tudo que sua voz fraca e em choque conseguiu
pronunciar.
- Talvez se tivesse ido para cama com o ruivo e não comigo, você teria
acreditado nele.
- Maldito seja você, Viktor! De que lado está jogando? – ela conseguiu
dizer sem nem ter consciência de seu cérebro estar funcionando. Apenas se
lembrava das milhares de vezes que Viktor Krum estivera entre eles
naquela mesa de jantar na casa de Harry intervindo a favor da Ordem.
- Jogo do lado que vence, Hermione. – e foi embora sumindo por entre
as pessoas.
Ela ficou estática. Apoiou-se no pilar ao seu lado para se certificar de que
suas pernas estavam firmes sobre o salto. Olhou ao redor e ali ela pode ter
a absoluta certeza do lado da guerra que estava vencendo. Sabia
claramente que lado sempre vencera, mas estando ali ela chegou a
convicção de que a mesa de jantar de Molly Weasley nunca teria poder
suficiente para vencer o império de Lorde Voldemort.
Draco Malfoy
- Tem acesso direto a mim! Tem acesso a maioria dos meus planos, das
minhas pretensões! Compartilha do meu conhecimento! Da minha sala! Da
minha mesa de jantar!
- Ganhei suas guerras! Não julgue como um presente aquilo que eu
conquistei!
- Por isso me quer casado com uma sangue-ruim? – Draco perdeu o ânimo.
Há uma semana que aturava aquele discurso e tudo que tinha direito a fazer
era pronunciar-se sobre seu claro desagrado. Nada que realmente o isentasse
da tarefa de ter Hermione Granger como esposa. – Está destruindo uma
linhagem inteira de puros-sangue! Os Malfoy são uma família milenar! Fizeram
muitos sacrifícios para manter a família como é.
- Trata isso como uma oportunidade? – indagou Draco fazendo uma careta.
- Me desagrada saber do seu pouco caso! Sou seu mestre, não sou?
- Sim! É meu mestre! Mas não sou Bellatrix Lestrange para lamber o chão
que pisa! Sabe que sou seu comensal! Sou o mais sincero de todos. Devoto o
suficiente para te fazer ganhar uma guerra!
- EU NÃO PRECISO DE VOCÊ! – Voldemort voltou-se para ele. Draco soube
que já havia provocado o suficiente com suas palavras sinceras demais. Sabia
que nunca deveria ferir o ego de Voldemort, mas ele gostava de provocar. –
VOCÊ NÃO PASSA DE UMA MÃO DE OBRA BARATA! FAZ O SERVIÇO QUE EU
FARIA MELHOR DO QUE VOCÊ, MAS FAZ PARA QUE EU APENAS DESEMPENHE
O MEU PAPEL DE MESTRE E DITADOR! NÃO SE ENXERGUE COMO ALGUÉM AO
MEU NÍVEL! PONHA-SE NO SEU LUGAR.
Draco fez apenas uma reverência e deu as costas. Momentos como aquele,
Draco guardava bem em sua memória. Nunca havia sido o tipo de se submetia
a ordens e leis, mas aqueles momentos o fazia se questionar o porque havia
sido comprado tão facilmente por ela.
**
Por enquanto.
Soltou o ar.
Tinha orgulho por poder se mostrar tão competente em uma tarefa. Claramente
Voldemort fora bem esperto em lhe passar a liderança visto que sua alegria
sempre fora gritar ordens, mas de maneira tão igualmente esperta, Draco se
aproveitara. Seus homens venciam uma guerra. Venciam em cima das
estratégias que Draco varava noites para bolar e seus homens sabiam disso.
Obviamente que quando havia sido mais novo, ele ficara maravilhado com suas
vitórias e sim, lutava por Voldemort. Mas hoje, quando estava na frente de
todo o seu exército, sabia que aquele homens acreditavam mais em sua causa
do que na do ditador. Porque eles tinham história juntos. Voldemort não estava
em campo de batalha com eles, tomando países, matando pessoas, proferindo
maldições, derrubando outros ditadores e outros governos, contendo
resistências nem domando Ministérios da Magia. Voldemort era só um nome
pelo qual eles lutavam e há uns anos isso estava se tornando claro para Draco.
Cada vez mais claro. E as vezes se perguntava se já havia passado pela cabeça
de Voldemort que Draco poderia ser um perigo futuro. Será que Draco
realmente poderia ser um perigo futuro?
Ponderar tais coisas lhe dava dor de cabeça. Mais do que tratar de estratégias
de ataque.
Sua mãe se mostrou ao passar pela porta. Vinha elegante num dos seus
vestidos escuros, com os cabelos loiros penteados e brilhosos, olhos azuis
poderosos e postura intacta. Draco olhava para aquela mulher e tinha a certeza
de que mesmo depois de todas as guerras que já estivera na frente, ainda não
havia se tornado um monstro. Não havia, porque ele ainda sabia o que era
amor. Sabia, porque amava aquela mulher.
Ela vinha com um envelope nas mãos e não disse nada quando se sentou numa
das cadeiras a frente da mesa e o colocou sobre o colo. Os dois se encararam
em silêncio por longos segundos. Cada um sabia sobre o que o outro
lamentava.
- Sua tia me disse que esteve com o Lorde ontem pela manhã. – a voz era
fria e firme. Sua mãe nunca fora calorosa nem nunca se mostrara emotiva.
Draco sempre se lembrava dela de cabeça erguida, por mais que tivesse todos
os motivos para nunca estar.
Silêncio.
- Ele considerou o nome da família...
- É uma ordem, mãe. – Draco a cortou. – Uma ordem dada pelo meu
mestre. A senhora sabe que não há como reverter as leis de Lorde Voldemort.
Draco sentiu uma fúria repentina pela ingratidão do povo que ele lutava para
manter em segurança, mas logo a engoliu.
- É uma ordem do meu mestre, mãe. – disse frio e seco, mais desejando
vomitar do que ter que dizer aquilo.
Narcisa Malfoy fechou os olhos e baixou a cabeça soltando o ar e comprimindo
os lábios numa reação de aborrecida.
- Seu pai deve estar adorando tudo isso. – quase soava com nojo.
Sua mãe ergueu os olhos extremamente azuis para ele. Sabia que sua mãe
sofria por ele.
- Sinto muito Draco. – ela disse. Não havia sido caloroso, mas embora
soara frio, sabia que sua mãe realmente sentia por ele.
- Quando foi que meu pai realmente considerou que eu estaria no meio
desse interesse? Sou só um objeto para os objetivos dele. Isso não é novidade
há muito tempo. – Draco se levantou. - Estou cansado. – deu as costas para a
mãe indo até a abertura dos vitrais. – Cansado de seguir regras, de me
ajoelhar diante das leis de Lorde Voldemort! Não quero me casar com aquela
maldita sangue-ruim. Não quero fazer filho nenhum. Meu pai está me pondo
nessa situação porque quer que eu não tenha alternativas a não ser a de ser
como ele.
A sala jazeu em silêncio e Draco soube que fora além do que deveria ir em suas
palavras. Pode quase sentir as vibrações da tristeza da mãe chegar até ele.
Será que havia chegado a ofendê-la? Virou-se para ela e a encontrou intacta,
sentada em sua perfeita postura sobre a cadeira, mas os olhos dela a
denunciavam como sempre haviam denunciado. Ele suspirou. Foi até ela,
encostou-se na mesa e segurou o rosto da mãe.
Ela segurou a mão dele e levou-a aos lábios. Levantou-se e entregou para ele o
envelope que havia trago. Segurou o rosto do filho e ficou na ponta dos pés
para lhe estalar um beijo frio contra o maxilar.
- Seja obediente ao seu pai e ao seu mestre. – ela disse muito baixo, como
se não quisesse dizer. Lançou a ele um último olhar, deu as costas e saiu da
sala deixando Draco novamente sozinho.
Draco enfiou a mão dentro do envelope e tirou de dentro uma pequena caixa
preta de couro. Girou-a levantando-a a altura dos olhos para analisar a linha de
prata que a cercava e o brasão da família Malfoy cravado em relevo logo no
topo. Sabia o que aquilo significava.
Abriu a pequena caixa e encontrou o anel de noivado da linhagem Malfoy.
Aquilo certamente estivera no dedo de sua mãe quando ela havia sido noiva de
seu pai, assim como também estivera antes no de sua avó, no de sua tataravó
e assim por diante. A ideia o perturbava. Fechou a caixa e a pressionou contra
a palma de sua mão fazendo uma careta. Maldita a hora que ele havia trago
aquela sangue-ruim para dentro de Brampton Fort.
**
Ele não dormia bem fazia um bom tempo. Por algum motivo, a Ordem da Fênix
estava se rebelando de uma forma nunca antes vista. Draco sabia que esse
motivo tinha dois nomes bem específicos: Hermione Granger e Luna Lovegood.
Mas tinha que estar agradecido por ter comensais muito bem infiltrados dentro
da organização de resistência.
Fechou o jornal, acabou com seu chá num gole apenas e levantou seguindo
para o Hall, do Hall para a varanda, da varanda para as escadas, das escadas
para dentro da cabine de sua carruagem.
O dia estava começando a amanhecer quando ele deixou a vila dos comensais.
Amanhecia cinza como sempre. Brampton Fort nunca se vestia de dias
ensolarados. A guerra acabara com eles. Era sempre nublado. Muito raramente
eles tinham filetes de sol escapando por entre as nuvens, mas nunca eram bem
recebidos pelo público residente da cidade. Os protegidos do mestre. Podiam
ser tão pior ou tão cruéis quanto ele.
O caminho para a catedral era decorado. Sair da vila dos comensais era sempre
deixar sua casa para trás e seguir para um longo dia de trabalho. O caminho
que tomava todos os dias era mais longo, mas seguia um rumo pela muralha
que o poupava de ter que se infiltrar no meio da cidade, entre os condomínios
populares, o centro sempre movimentado e os olhares curiosos da imprensa.
Era agradável, principalmente quando cortavam por dentro do parque do gelo,
que só tinha movimento durante o inverno e ainda assim nas horas de maior
claridade. E Draco tinha um tempo amais para rever seu discurso do dia.
Portanto, para ele, aquela rotina nunca mudaria enquanto o satisfizesse.
Ao completar os cinco minutos contados por Draco, ele ergueu a voz e começou
a discursar. Podia estar passando agora para a segunda metade de sua terceira
década de vida, mas quando estava exatamente naquele lugar, de frente a
milhares de homens, fazendo sua voz soar com toda a autoridade de que era
dotado, ele se sentia um homem velho, digno de completo respeito. Sentia
como se não pudesse ser mais maduro, mais conhecido, mais vitorioso do que
qualquer homem na terra. Esse ego o vivificava, lhe dava fôlego e o
impulsionava.
Snape o seguiu.
- Acostumou-se com isso, não foi? Alguns anos de estabilidade podem te
fazer cair na rotina, Draco! Seria um perigo para a guerra. A guerra nunca vai
acabar enquanto existir o Lorde.
- Nem nunca será o seu! – retrucou Snape – Sabe por quem todos esses
homens lutam e não é por você, Draco!
Ele carregou o peso das palavras de Snape até sua sala. Jogou-se em sua
cadeira e fechou os olhos comprimindo a ponta dos dedos contra suas
pálpebras enquanto inclinava o encosto e jogava os pés sobra sua mesa. Será
possível que a maldita sombra de seu professor era tão bom assim em
legilimência?
Não. Definitivamente não havia como Snape ser capaz de conseguir extrair
informações que nem ele ainda havia digerido com clareza. Snape o conhecia
tão bem assim?
Draco quis álcool, mas julgou cedo demais para a bebida forte que desejava.
Soltou o ar pesadamente e deixou-se ficar quieto. Tinha que esvaziar a mente e
foi isso que vez. Deixou-a vazia. Por minutos ele conseguiu sentir-se livre ao
esquecer-se de tudo que o cercava. Foi quase como ser criança novamente,
mas então ele escutou as batidas na sua porta. Lamentou por estar de volta ao
seu mundo, agitou a varinha e deu passagem para o visitante.
- Sabe que eu entro e saio pelos portões oeste! – a raiva estava clara em
sua voz – Com que autoridade manda seus homens me barrarem na entrada de
Brampton Fort? Sabe que tenho que ir ao Ministério da Magia durante a semana
e sempre volto na madrugada! Precisei esperar até que o seu exército fizesse a
maldita marca nas nuvens para me liberarem a entrada! – Draco riu. – NÃO
BRINQUE COMIGO, DRACO! NÃO VAI ME FAZER PAGAR POR TER PERMITIDO
QUE O MESTRE A CASE COM A SANGUE-RUIM!
Draco considerou um julgamento bem fundamentado.
- Eu certamente deveria puni-lo por isso, mas não pai. Ainda não foi pela
sangue-ruim que fiz meus homens te barrarem na entrada da cidade. - o pai
pareceu confuso agora. – Eu disse para eles te deixarem passar só quando
trouxer junto as mulheres que te fazem companhia em Londres. Até porque fica
mais tempo com elas do que em casa e para o bem e a segurança da
estabilidade da guerra, preciso conhecer bem de que lado essas mulheres
jogam já que não são protegidas do mestre.
Draco riu sem receios dessa vez e virou-se para o pai balançando o copo na
mão.
- Tente, pai. – ingeriu o líquido - Está sendo muito ingênuo para quem é
Ministro da Magia. – seguiu para a porta. - Eu venço as guerras do mestre,
você apenas lê discursos já escritos. Acha que mesmo que ele jogaria seu
exército na mão de outro? – saiu – Tenho uma reunião com o conselho agora.
Não esqueça as mulheres da próxima vez que quiser entrar na cidade. – e
bateu a porta deixando seu pai só.
**
A ala norte sempre havia sido um caminho decorado, principalmente a torre
que ele subia nesse exato momento. O fim da tarde estava chegando e Draco
sabia dos compromissos que tinha para aquela noite. Se pudesse ir para sua
casa na companhia de alguma mulher, beber um bom vinho, ler um livro e rir.
Mas não. Ele não podia. E odiava que precisasse cumprir deveres impostos.
Chegou numa porta muito conhecida e sabia que ela estaria trancada para
qualquer outra pessoa, menos para ele. Girou a maçaneta e entrou no quarto.
Sorriu. Tinha cheiro de vinho de boa qualidade e charuto verdadeiro.
Amortência. Seguiu por cima do carpete púrpura pelo quarto escurecido pelas
cortinas pesadas até o lavatório e ao chegar no ambiente de mármore negro
encontrou-a dentro da banheira, com os cabelos presos num amontoado no
topo da cabeça. O cheiro de sabão vinha da espuma que cobria toda a água e
misturava-se com a amortência e os perfumes caros de Pansy Parkinson.
- Está atrasado. – ela fez a voz escoar pelo ambiente molhado. – Meus
dedos já estão enrugando.
Draco encostou-se na bancada da pia e cruzou os braços.
- Não me dê essa desculpa. – ela encheu a taça vazia. – Aposto que estava
com uma das filhas de Walder. Elas comentaram sobre suas investidas.
- Ah, céus, Pansy! Você não sabe mesmo bancar uma ingênua. – riu
novamente. – Como se eu fosse do tipo que lanço investidas. Por favor. Eu não
quero seus teatros hoje.
Ela apertou os lábios para esconder um sorriso divertido. Pegou a taça que
havia acabado de encher e se ergueu sobre as águas para sair da banheira.
Draco cerrou os olhos no mesmo instante ao sentir um vento frio no abdômen e
seu membro se agitar contra sua calça.
Pansy sabia do que ele gostava e nada como seu esguio corpo molhado para
atrair a atenção daqueles olhos arrebatadoramente cinzas. Caminhou até Draco
de maneira que ele tivesse tempo o suficiente para contemplá-la, passou um
dos braços em torno do pescoço do loiro e ofereceu a taça.
Ele aceitou a taça. Os olhos de Pansy brilhavam. Cheirou o vinho sem tirar seus
olhos do dela e o virou dentro da pia.
Draco se deixou saborear o gosto de Pansy. Sua boca quente e sua língua ágil.
Sentiu que ela desatava o cinto de sua calça. Enfiou os dedos dentro dos fios
negro e liso e aquele coque no topo cabeça se desfez. Apertou com força um
seio dela sentindo a pele molhada e escorregadia. O conjunto inteiro o excitou.
Pansy sabia do que ele gostava. Maldita mulher.
Ela desceu pelo pescoço dele. Desatou os botões com agilidade quando
encontrou a gravata já frouxa. Beijou o peito nu do homem com cuidado e
então abaixou-se para engolir o membro já pulsante do amante. Draco suspirou
fechando os olhos e deixando Pansy fazer o serviço que ela sabia bem
proceder.
Ele podia ter milhões de motivos para odiar Pansy Parkinson, mas ela tinha
razão quando dizia que em algum momento ele voltaria para rasgar seu vestido
e se enterrar fundo em sua toca quente e úmida até ouvi-la gritar. Porque
Pansy fazia parte de sua existência. Ela era quase que um complemento dele.
Haviam crescido juntos. Estudado juntos. Compartilhado segredos. Foram
grandes amantes, grandes cumplices. Eles se conheciam genuinamente. Mas
nada pode ser assim tão perfeito e tudo desanda a partir do momento real em
que Pansy o deseja e o ama, e Draco apenas a deseja. Ele nunca poderia amá-
la, porque amar era algo surreal que ele reservava apenas para sua mãe. Se
amor existisse, a única pessoa digna de recebê-lo era sua mãe e fim.
Pansy deixou o membro de Draco quando ele estava vivo, pulsante, vermelho e
grande. Sorriu muito satisfeita e muito excitada pelo desejo de ter aquilo
dentro dela, levantou-se e fez menção de que se sentaria na bancada para que
Draco pudesse penetrá-la, mas ele segurou-a pelos braços e a girou colando as
costas dela contra seu peito. Apertou mais uma vez o seio dela, chupou seu
pescoço e afundou seus dedos entre as pernas dela.
Pansy gemeu.
O gemido que ele gostava e não a gritaria escandalosa que ela muitas vezes o
fazia presenciar. Aquele gemido sabia o deixar ainda mais duro. Encontrou-a
tão molhada que quando imaginou seus pênis escorregando ali para dentro
quase desistiu de deixá-la ainda mais úmida, mas continuou. Continuou a fazer
ela gemer. Progressivamente. Brincava da maneira que ele sabia que o corpo
dela funcionava. Ele soube que seu trabalho estava encaminhado quando ela
ofegou, contorceu-se ao arquear e tremeu o corpo soltando dessa vez um longo
gemido satisfeito. Ele a girou e colocou-a sobre a bancada.
- Agora, está pronta para mim. – ele sorriu safadamente enquanto abria as
pernas dela.
Ele até havia gostado mais quando eram adolescentes, porque faziam sexo
selvagem e ela sabia responder muito bem, mas aquela fase havia ficado para
trás e reviviam dela agora, apenas quando necessitavam. As vezes ele só
queria empurrar para dentro dela e ficar degustando do maravilhoso sabor do
prazer o máximo que conseguisse e sempre que tentava ela estava lá pedindo
sua pressa. Pansy gostava de sexo forte e objetivo. Por isso ele ia até ela
sempre que precisava de sexo forte e objetivo.
Pansy gozou mais uma vez e ele não se importou ainda empurrando para
dentro dela. Depois de continuar suas investidas, ela começou a gemer alto
outra vez, mas ele já sentia que poderia facilmente chegar ao seu ápice. A
abandonou e ela mesmo assim sorriu.
- Ainda temos muito tempo antes do seu encontro com a sangue-ruim, não
é? – ela miou sobre a bancada. Draco foi para a banheira imergindo seu corpo
na água morna. – Quer sair daqui e se encontrar com ela? – perguntou levando
o dedo a intimidade para lambuzá-lo e chupá-lo segundos mais tarde. – Gosto
disso. – e riu.
Draco gostava quando ela fazia isso. Segurou os cabelos dela enquanto
explorava sua boca e a deixava trabalhar, mas ela não deixou que ele
apreciasse aquilo por muito tempo e logo se encaixou nele novamente
passando a movimentar-se. A sorte é que era tão bom quanto a mão dela.
Ele enlouqueceu, ela percebeu e foi ainda mais rápido. Draco já ouvia seus
grunhidos enquanto encarava a expressão que ele mais gostava em Pansy, a de
puro prazer. Sentiu-se queimar por dentro e os movimentos dela já não eram
suficiente. Girou-a prensando contra a borda da banheira e estocou forte. Tão
forte que os seios dela pulavam a cada investida. Pansy gemia alto, sem
intervalos e sem pudor. E então, em alguns segundos de pura glória, ele
explodiu, mas ela ainda não havia chegado ao momento dela, portanto Draco
tratou de usar as mãos assim que escorregou para fora dela, mas somente
após tomar os segundos que precisou para apreciar seu ápice.
Pansy gritou arqueando-se contra o mármore molhado. Draco afastou-se para a
outra ponta, encostou-se e ofegou com a água na altura do queixo. Ela também
se limitava a ofegar do seu lado da banheira.
- Nós nunca perdemos o ritmo, não é Draco. – ela soltou deslizando para
ter a água na altura do queixo assim como ele.
Draco sorriu. Fechou os olhos e pendeu a cabeça para trás esperando seu pulso
voltar ao normal. A água o ajudou assim como o silêncio e o cheiro de charuto
e vinho bom. Ele poderia ficar ali para o resto na noite, mas então se lembrou
de que Pansy ainda estava lá. Silenciosa. Ele abriu os olhos e a encontrou o
encarando com os azuis dela.
Ele suspirou sabendo o jogo que ela colocaria entre eles. Draco já não tinha
paciência.
- Não sou seu tipo, Pansy. – disse – Já deveria ter desistido a muito tempo.
- Sabe que já desisti. – ela suspirou – Mas também sabe que precisamos
de sexo. Nosso sexo! Ficamos com pessoas diferentes, nos divertimos com
pessoas diferentes, mas sabe que precisamos voltar um ao outro.
- Não nos pertencemos só porque tivemos nossa primeira vez juntos. Pare
com essa maldita mania que nos trazer pra essa conversa. – ele tornou a
fechar os olhos descansando a cabeça sobre a borda da banheira.
Soube que Pansy estava engolindo qualquer onda de frustração que ele havia
gerado, porque ela era assim. Orgulhosa. Ela nunca desistiria mesmo que
dissesse que já havia.
A água denunciou quando ela saiu de seu canto e foi até ele. Draco sentiu as
mãos dela subirem por seu abdômen e cercarem seu pescoço ao mesmo tempo
que ela encaixava seu corpo no dele.
- Eu não preciso de uma mulher que me ame. Tudo que uma mulher tem a
me oferecer é sexo. – ele segurou Pansy pelo braço e a afastou levantando-se e
saindo da banheira. Sabia que ela pretendia deixá-lo duro novamente para ela,
mas ele temia por isso. Sabia o tipo de sexo que ela estava pedindo e ele não
tinha qualquer intenção de alimentar as esperanças da mulher dando-o a ela.
- Não era isso que pensava quando éramos amigos e nunca havíamos feito
sexo na vida. – ela disse enquanto o via cercar os quadris com uma toalha e
puxar outra para se secar.
- Eu olhava para o sexo feminino de uma forma diferente aquela época e
por merlin, Pansy! Pare com esse assunto de uma vez por todas.
Ela se calou, mas sua cara de descontentamento era visível por cima daquela
máscara esnobe de Pansy Parkinson. Esnobe. Era tudo em que ela havia se
tornado. Esnobe, rancorosa, cheia de si. Draco ainda se lembrava da criança
que ela fora um dia. Não que ela já tivesse alguma vez sido amável e adorável,
mas ela era verdadeira e não se escondia atrás de máscaras. Talvez ele
gostasse mais daquela Pansy que ela fora, mas então ele se lembrava dos
teatros que ela fazia quando iam transar e então ele escolhia que era bem mais
divertido e prazeroso usufruir dela vestida de suas máscaras durante o sexo do
que quando ela resolvia ser a criança que um dia havia sido.
- Sim.
- Me diga um homem do meu exército que não lhe dê tesão, Pansy. – ele
tomou a calça da mão dela.
- É difícil não o ter quando os vejo treinando. – ela riu girando algo entre
os dedos. - Lançando maldições, matando homens, manejando utensílios de
luta, com todo aquele suor e aquelas expressões masculinas. E se todos
aqueles peões me excitam, imagina o que o general deles não me faz? – ela
mordeu os lábios. - Tem a sorte de eu não ter problemas com homens casados,
Draco.
Draco riu.
- Vadia.
Ela riu.
- Canalha.
E por isso ele gostava de sua relação com Pansy. Se conheciam. Ele sabia
quem era e ela também sabia quem era ela. Nada de garotas carentes, falsas,
depressivas. Pansy tinha muita confiança em quem era.
Draco tratou de se alinhar novamente no terno caro. Colocou sua calça, sua
regata, a camisa, a gravata e postou-se de frente ao espelho para ajeitar seus
fios loiros. Encarou o reflexo de Pansy que esteve silenciosa e precisou parar.
Ela tinha nas mãos a pequena caixa preta de couro dos Malfoy bem aberta na
frente de seus olhos azuis.
- Pansy. – ele a chamou mas ela estava absorta demais no mundo que
criara entre ela e aquele anel. – Me dê isso.
Ela não disse nada. Apenas soltou seu colar e alisou a peça dentro da caixa.
- Vai dar a ela, não vai? – ela disse baixo enquanto ainda mantinha seus
olhos fixos ali.
- Me dê isso, Pansy.
- Vai dar a ela, não vai? – ela repetiu com a voz mais consistente.
Draco soltou o ar impaciente.
Olhar nos olhos dela era desconfortante. Eles refletiam dor e isso era muito
incomum da parte da mulher.
- Pare, Pansy. – ele não queria se irritar com ela. Não com a Pansy
verdadeira de sua infância. A Pansy que ele realmente gostava. – Sabe que já
lhe dei o colar.
- Para dizer que sou especial? – agora ela assumira sua máscara de rancor.
– Só porque tem a pedra da sua família? Porque sou a mulher que conhece a
mais tempo? Ou porque sou uma mulher que te conhece bem? Sou só uma
mulher que te dá sexo assim como outras tantas. Apenas me considera. Por
isso me deu esse colar.
Ele devolveu a caixa ao bolso em silêncio ainda encarando a dor dela. Ele
queria poder fazer com que aquilo o afetasse, mas ser indiferente era um traço
de sua personalidade.
- Você parece não ter coração, Draco. Mas eu sei que tem. – ela continuou.
– Aquela noite. A nossa primeira. A forma como foi gentil, como teve cuidado,
como esteve preocupado em fazer com que fosse bom. Aprendemos juntos. –
ela suspirou e por um segundo Draco pensou que ela fosse chorar, mas sabia
que Pansy era amarga e orgulhosa demais para isso. – Fez com que eu me
apaixonasse. Mas então você nunca mais foi aquele homem novamente e só
me restou amá-lo. – ela deu as costas. – Sozinha. – foi até o beiral da
banheira, pegou a garrafa de vinho e ingeriu um longo gole. – Amortência tem
o seu cheiro. – ela comentou mas pareceu ter sido mais com ela mesma do que
com ele.
- Não te afeta, não é? Saber tudo isso. – ele mostrou as mãos em resposta
e ela riu fracamente. – Por isso parece que não tem um coração. – ela tomou
mais um gole. – Mas saber que gostaria que te afetasse é o suficiente para
mim.
Draco soltou o ar devagar. Sabia que uma hora teria que escutar algum
discurso dela sobre seu casamento. Ele só não tinha que se justificar, não
precisava e nem gastaria sua saliva arrumando justificativas para acalentar os
sentimentos dela.
- E sei que não diz, mas deveria parar de me culpar em silêncio por não ser
recíproco. Só não sinto muito por você, porque sempre conheceu o terreno em
que pisava, Pansy. – foi até ela, tomou a garrafa de suas mãos e a colocou de
volta no beiral da banheira – Deveria parar de tomar isso. - e deu as costas
saindo do banheiro.
Raras as vezes Pansy se dava ao luxo de expor suas fragilidades e Draco não
tinha paciência para lhe dar com isso. Sempre que ela se dava a esse luxo tinha
que ser com ele ao seu lado. Como se esperasse que um dia ele fosse ter
piedade, como se isso pudesse fazer com que ele a correspondesse. Pelo menos
os comentários sobre seu casamento já haviam sido feitos e a próxima vez que
ele quisesse o sexo dela, teria e iria embora sem precisar ouvir seus rancores
sobre o assunto.
Desceu as escadas da torre, cruzou da ala norte para a sul e passou pelo o
saguão. Sabia que ainda tinha um pouco de tempo, portanto tratou de passar
em sua sala e guardar a sete chaves, alguns pergaminhos que certamente seu
pai procuraria para especular. Ainda não era hora de compartilhar algumas
estratégias.
Por fim, voltou a cruzar toda a catedral até o pátio leste. Quando tomou a
galeria externa viu Hermione Granger e Tryn virem em sua direção. A elfa
estalou os dedos e desapareceu assim que o viu. Hermione continuou a andar
até ele.
Ela vinha muito bem vestida num vestido de um tom mostarda apagado. O
modelo era bonito, simples e bastante elegante. Nada do gosto dele, embora o
fizesse lembrar sua mãe. O decote não o satisfazia, mas mostrava que ela tinha
um par de seios bonitos, uniformes e desejáveis por estarem muito bem
acomodados no corte do busto do vestido. As pernas dela eram escondidas pela
longa saia e apareciam ocasionalmente com seu andado devido a uma fenda,
que por sinal, não era tão generosa quanto Draco gostaria que fosse. Ainda
assim, ela estava apresentavelmente digna para receber um anel da família
Malfoy.
- Pontual, Granger. Isso me lembra Hogwarts. – ele até queria ter feito
soar debochado, mas acabou por sair tão frio quanto gelo.
- Continuo sendo Hermione Granger. – ela respondeu no mesmo tom.
- Uma infeliz notícia. – ele ofereceu o braço. Ela o olhou num misto de
receio e surpresa. – Vamos sair por esse pátio leste. Haverá gente
suficientemente escondida para publicar fotos no jornal de amanhã, portanto
não pense que está isenta da tarefa de ser ao menos cordial.
Ela pressionou os lábios fazendo uma linha fina enquanto puxava o ar como se
estivesse engolindo algum orgulho e então passou seu braço fino e descoberto
pelo dele.
A proximidade quase o fez recuar, mas engolindo seu orgulho tal como ela
havia feito. A guiou para saírem da galeria, atravessarem o pátio, sairem pelos
arcos de limite e entrarem na cabine de sua carruagem que o esperava na
estrada de saída.
Fizeram questão de sentar em bancos diferentes, mas não aliviou o fato de que
estariam obrigados a desviarem o olhar constantemente por estarem um de
frente para o outro.
Draco reparou no colar que ela usava. Havia comprado exclusivamente para ela
e dado a Tryn para vesti-la para essa noite. Não que ele quisesse realmente dar
um presente ao infortúnio de uma sangue-ruim, mas aos olhos de todos e
principalmente de Voldemort, ela era sua noiva e ele tinha que cumprir
obedientemente seu papel de bom noivo pois sabia que aqueles olhos de cobra
estariam o vigiando dia e noite. Ele não havia imaginado que cairia tão bem
sobre o busto dela, nem mesmo que combinaria tanto com os olhos âmbar que
tinha. Os três fios de ouro em níveis diferente envolviam pequenas pedras
safiras amarelas. O fio no nível mais próximo do pescoço afirmava a postura
intacta e inabalável que ela mantinha e o fio do último nível havia se
acomodado a curvatura da protuberância de seus seios. Então ele percebeu que
ela não precisava estar vulgar para que ele a desejasse. Aquele colar
assentando em seu seio fez com que ele encarasse Hermione e imaginasse qual
seria a expressão que ela tinha quando gemia de prazer. O som da voz de
Pansy o chamando de canalha ecoou em sua mente e ele quase riu. Quase.
Ela manteve os olhos na janela, mas ele havia a visto estudar a cabine em que
estavam antes de fixar sua atenção no caminho que seguiam. Os dedos dela
alisavam distraidamente o veludo vinho do assento que estava sentada. Por um
segundo Draco se perguntou se uma mulher poderia possuir um ar tão singelo
quanto o que ela tinha ali, com os olhos na janela sendo banhada pela luz da
noite. No outro a palavra sangue-ruim ecoou em sua cabeça.
Foi esse o único dialogo que trocaram e a reação dela para a resposta dele
havia sido de dar pena em qualquer ser humano que não fosse Draco Malfoy.
Saltaram para fora da cabine e dessa vez ninguém estava se escondendo para
tirar fotos. Hermione segurou o braço de Draco e os dois seguiram frios e sem
direcionar qualquer olhar para as câmeras. Sabiam do papel que tinham que
cumprir e assim o fizeram até entrarem no recinto.
Era acolhedor e ao mesmo tempo sombrio. A elite dos protegido de Voldemort
ocupavam os lugares e davam vida a um dos restaurantes mais bem
conceituados de Brampton Fort.
Draco não havia reservado mesa, mas já havia uma separada para eles. Aquilo
deveria ter sido obra de seu pai, ou Voldemort. Ambos se acomodaram. Era
uma mesa reservada, porém não tão escondida.
O silêncio que havia entre eles não era incomodo. Enquanto trocavam olhares,
sabiam que poderiam facilmente fazer passar aquele jantar sem haver a
necessidade de trocarem sequer uma palavra. Mas seria bom demais para ser
verdade.
- Não se iluda, Granger. Lovegood sempre será a arma que o mestre terá
para te domar. - O vinho chegou e foi servido no copo dos dois. Draco tomou o
seu enquanto se acomodava mais confortavelmente em sua cadeira e apreciava
o sabor da bebida. – Minha mãe a ajudará com os preparativos do casamento
para garantir que tudo sairá conforme o mestre quer. – ele notou que toda vez
que se referia a Voldemort daquela maneira, ela deixava transparecer um nojo
silencioso e distante. – Pode pedir o que quiser. – ele se referiu ao cardápio
dessa vez.
Ela abriu a pasta do menu como se não tivesse interesse. Passou rapidamente
os olhos por ela e pediu qualquer coisa que se assemelhasse ao que costumava
provar de Molly Weasley, ou seja, barato demais para o seu bolso. Draco
apenas disse um número mostrando que conhecia o lugar muito bem.
Draco saboreou as palavras dela. Por um segundo ele apreciou a mulher que
estava a sua frente. Aparentemente ela pensava na futilidade da cidade tão
igualmente quanto ele. Certamente ela já teria conhecido bem a parte feminina
dos protegidos de Voldemort.
Ele afastou-se com um sorriso sarcástico nos lábios e bebeu mais um gole de
seu vinho. Claro que ele tinha que se prevenir de uma vida ao lado de uma
mulher choraminguenta, lamuriadora, depressiva e frágil. Pela primeira vez ele
viu os olhos de Hermione arderem em ódio. Talvez tivesse sido tostado em fogo
ali se os olhos dela tivessem o poder de projetar labaredas.
- Isso foi o que eles te ensinaram a vida inteira? – ela questionou. – Manter
seu maldito orgulho de pé? Porque do seu orgulho depravado eu já tive uma
excelente amostra em Hogwarts.
- Teremos uma vida inteira de convivência para que possa julgar isso mais
profissionalmente. – ele assumira sua expressão divertida. Ela pode mergulhar
ainda mais em seu ódio com a reposta dele e então Draco finalmente se
lembrou de Hogwarts, da sensação maravilhosa que era desfrutar do ódio que
ele era capaz de causar nela. Aquele jogo de gato e rato tão infantil, mas a
sensação de ver os olhos dela ardendo em ódio naquele momento era a mesma
sensação de vê-la no mesmo estado quando era adolescentes.
A comida chegou fazendo-a engolir a resposta que jogaria de volta a ele. Draco
tratou de se interessar em seu prato quente e delicioso obrigando-a a fazer o
mesmo. O jantar se seguiu em completo silêncio fazendo-os voltar ao estado
frio e seco de antes.
Por alguma razão muito incomoda, Draco surpreendeu-se com suas palavras
referentes a uma vida inteira com Hermione. Mesmo que seu cérebro tivesse o
feito dizer de modo aparentemente tranquilo, agora revia o fato e isso quase o
fazia se remexer inquieto em sua cadeira. Claro que casar-se com Hermione as
ordens de Voldemort e ainda sobre as leis, costumes e história da família
Malfoy era casar-se para permanecer casado até que definitivamente, a morte
os livrasse do fardo, mas talvez seu cérebro ainda não tivesse processado o
peso ou até mesmo a gravidade da questão da qual estava se submetendo.
Quase preferiu ser exilado, morto, ou até mesmo passar o resto da vida nas
masmorras da catedral, mas então ele se lembrou de que era apenas uma
aliança selada, um anel no dedo e uma mulher em sua casa. Exilado ele não
teria exército, ele não poderia ir para cama com a mulher que bem entendesse,
nem poderia comer pratos como aquele que apreciava. Hermione era uma
mulher, tinha um corpo bonito, boas tetas e um rosto exageradamente perfeito.
Não seria difícil fazer um filho com ela, levá-la pra cama, nem cumprir seus
deveres como marido presente quando bem quisesse. Aquilo serviu para
acalmá-lo momentaneamente.
Terminaram suas refeições sem pressa. Draco notou que ela não
seguia nenhuma regra de etiqueta, mas que trocava os talheres de mãos muito
graciosamente para cortar a carne, que bebia do vinho sempre depois de comer
uma garfada de salada e que suspirava com frequência quando engolia, como
se o sabor lhe desse esse prazer. Ele se perguntou se ela também estaria
reparando em como ele comia. Não achava que tivesse alguma mania. Ele
apena comia segundo a educação que sempre haviam lhe ensinado.
Draco sentiu a provocação dela atingi-lo como um punho forte contra seu
estômago. Quis arrancar a mão de Hermione e fazer um colar para que ela a
carregasse no pescoço e vivesse com um coto enfaixado para o resto da vida.
Sem mão e sem anel. Maldita.
- Nós terminamos por aqui. – ele foi mais seco do que realmente pretendia.
Pediu a conta enquanto remoía seu ódio e a via vitoriosa do outro lado da
mesa. Tinha somente como conforto a esperança de revidar fazendo-a sofrer
cada dia que estivesse dentro de sua casa quando aquele casamento finalmente
tivesse acontecido. Ela sofreria. Sofreria muito. Queria vê-la sorrir por ter
aquele anel no dedo quando estivesse dormindo em sua cama.
Teria que se acostumar a vê-la usando aquilo ou não iria conseguir dormir
mais. Ele imaginou como seria ter uma mulher morando na mesma casa que
ele. Dividindo a mesma cama. Jantando em sua mesa de jantar ou até mesmo
carregando um filho seu. Parecia muito surreal. Ele não queria nada daquilo.
Imaginou se seu pai também não queria quando havia sido obrigado a se casar
com sua mãe. Certamente não. Nunca havia entendido porque seu pai nunca
fizera esforços para serem ao menos uma família de fachada, mas agora sabia
bem. Ele nunca se esforçaria para manter nem mesmo as aparências com
Hermione. Precisaria de uma ameaça muito consistente para tal.
Mas seu pai era um caso diferente. Sua mãe nunca havia sido nenhuma
sangue-ruim. Pelo contrário. Seus avós desempenharam um excelente papel
seguindo as exigências históricas para encontrar a melhor família, a melhor
mulher, a mais bonita. Seu pai nunca havia odiado sua mãe durante todo o
período escolar nem tentado a matar durante todo o resto. Quantas vezes
Draco soubera que era o seu cérebro contra o de Hermione naquela guerra. E
sua mãe sempre havia amado seu pai também. Mas seu pai nunca sequer havia
respeitado sua mãe. Moravam debaixo do mesmo teto e eram nada mais do
que estranhos desempenhando uma obrigação ao carregar o sobrenome
Malfoy.
Pararam de frente a entrada do pátio leste. Era próximo ao quarto de
Hermione. Eles se encararam pela primeira vez desde que tinham tomado seus
lugares, em silêncio e no escuro da cabine.
- Não precisa fazer isso, Granger. – ele a cortou antes que ela continuasse
com sua cordial educação fria, decorada e sem vida.
- Precisa aprender a como pronunciar meu primeiro nome. Não deve ser
tão difícil. – foi a última coisa que ela disse antes de descer e tomar o rumo
para a catedral.
Ele deixou-se encará-la em seu andado elegante, vestida em seu longo, com os
cabelos abrindo em cachos muito uniformes, até que ela sumisse pelos arcos de
entrada. Ficou ainda alguns segundos encarando o nada antes de dar o sinal
para que seguisse o caminho de casa.
Ele nunca havia levado uma mulher para sair.
3. Capítulo 3
Narcisa Malfoy
Ela imaginava com frequência como teria sido se nunca tivesse se animado
tanto em se tornar uma Malfoy quando os pais de Lúcio propuseram o noivado.
Imaginava-se casada com sua pequena paixão adolescente. O vizinho de seu
residencial. Qualquer um que não possuísse o sobrenome Malfoy. Talvez agora
ela tivesse um homem que a amasse, que não a traísse, que estaria um casa
para o jantar todos os dias.
Suspirou.
Ou talvez ela tivesse criado Draco bem o bastante para ter passado um pouco
de seu coração para ele. Mas Draco era demasiado filho de seu pai. Lúcio havia
sido seu grande herói durante toda a infância. Havia sido seu herói tempo o
suficiente até que crescesse e percebesse que a família que imaginava ter era
uma farsa e por grande culpa de Lúcio. Mas Lúcio havia se aproveitado do
reinado na vida do filho para enfiar na cabeça do garoto tudo que ele mesmo
era e Draco se mostrou ter absorvido bem a medida em que atingiu a
adolescência. Era até um bom garoto, mas assim que passou a ter consciência
de todo o seu potencial com as garotas, da lábia que poderia ter para ser
influente e do poder que tinha para conseguir as coisas, ele se tornou tão Lúcio
Malfoy quanto o próprio pai.
Terminou seu chá, dobrou o jornal e se levantou. Quando cruzou a sala para
tomar a escada e voltar ao quarto a porta se abriu e ela foi presenteada com a
visão de seu marido. Cabelos despenteados, gravata frouxa e o terno dobrado
em seu braço. Não queria sentir nem o cheiro que ele exalava. Os olhos
maravilhosamente cinzas dele caíram sobre ela e Narcisa foi obrigada a voltar
um degrau e ajeitar a postura.
- O que faz aqui? – ele tinha a voz rouca.
Ele bateu forte a porta em resposta e ela lutou para não se sobressaltar com o
barulho estrondoso.
- Não deveria estar com a sangue-ruim vendo vestidos por aí? – ele passou
por ela. – Ainda tem café da manhã? – Narcisa o seguiu enquanto ele avançava
meio grogue para a sala de jantar. – Onde está aquele maldito elfo que ainda
não apareceu?
Ela continuou a avançar. Ele não respondeu e não era de hoje que ela se
abateria por isso. Saiu pela porta, desceu os eternos degraus da fachada
neoclássica de sua casa e entrou na cabine de sua carruagem. O caminho para
a catedral era sempre rápido. O fazia com frequência.
Assim que desceu no pátio sul, atravessou a ala que separava o salão principal
e andou por debaixo de uma longa marquise até chegar ao jardim interno onde
encontrou Bellatrix Lestrange sentada num dos agradáveis mobiliários do
jardim tomando seu desjejum.
- Que bom que veio. – Bella disse assim que Narcisa se juntou a ela.
Fechou a revista da qual estava se ocupando e estendeu-a para sua nova
companheira. – Veja. Seu filhinho e a sangue-ruim ainda são notícia. – e sugou
um pouco do chá em sua xícara. – Parece que a cidade realmente não encontra
nada de bom do qual falar.
Bellatrix fez uma careta enquanto engolia mais um gole de seu chá.
- Por favor, Bella! Está mesmo pensando nessa estupidez? Sabemos que
para o mestre você é insubstituível. Ele já tratou de deixar isso bem claro em
muitas das missões e até mesmo aqui dentro da catedral.
- Eram tempos de guerra muito diferentes do de agora. Seu filho herdou o
exército do lorde das trevas e todos nós pudemos nos banhar da futilidade de
Brampton Fort sem se preocupar com as batalhas travadas entre essas
resistências devido a ditadura do mestre! – ela debruçou-se sobre a mesinha -
Me escute bem, Cissa. Eu sou a rainha desse palácio. Sempre fui! E agora essa
garota estúpida apareceu, tomou conta dos jornais, das revistas, dos
comentários, da moda. Ela virou a menina dos olhos do mestre! O lorde deu
minha cadeira nos jantares coletivos para ela, Cissa! Minha cadeira! Meu lugar!
– ela bufou e tornou a sentar-se corretamente em sua cadeira. – Mas eu estou
trabalhando nisso. – Bella manteve a xícara nas mãos muito refinadamente. –
Estou deixando Nightmare Grey. – era o seu quarto na catedral – Estou de
olhou em uma das mansões da Vila dos Comensais. Aquela do alto da colina.
Com pedras cinzas e um pequeno lago na frente. Quero ver qual será o
movimento do lorde quando eu deixar a catedral.
Bellatrix eram uma das poucos que poderia jogar com o mestre daquela forma
e não sair morta. Sabe-se lá o que Voldemort nutria por aquela mulher.
- Seria ótimo ouvir um pedido do mestre para que eu voltasse. – ela bebeu
do chá.
- Tome cuidado nas situações que anda encurralando o mestre. Ele é
imprevisível, Bella. Sabe disso.
- Nunca foi comigo. – ela retrucou quase sabiamente. – Me diga, o que fará
durante a tarde? – desvirtuou o assunto.
- Bem, é uma pena que não poderá estar aqui. Estava planejando deixar
Brampton Fort para conseguir alguns ingredientes exclusivos e inéditos para a
cidade. Vou abrir uma loja de ingredientes para poções no centro.
A loira riu.
- A cidade já tem três, Bella.
- Deve tomar cuidado. Sabe que o lado de fora não é estável e vive em
constante perigo.
- Por favor, Cissa! Está mesmo falando comigo sobre perigo? Está me
ofendendo! – ela soltou um riso desdém. – Eu sou o perigo! – e tomou o último
gole de seu chá.
Narcisa revirou os olhos.
Bellatrix ignorou.
- Tão cedo?
Então Narcisa deu as costas e seguiu de volta pela marquise até estar de volta
ao edifício. Percorreu todo o caminho para a ala leste, subiu as escadas
principais, parou para dar seus cumprimentos a filha de um dos amigos de seu
marido e entrou finalmente no labirinto de corredores do segundo pavimento.
Não demorou para estar de frente a porta do Whitehall. Ajeitou o vestido e a
postura antes de bater educadamente.
Tryn abriu a porta. Narcisa não pediu licença para entrar. Encontrou Hermione
sentada na beirada de uma cadeira, debruçada sobre um pequeno caderno e
com uma pena nas mãos. Ergueu os olhos para Narcisa assim que terminou de
escrever o que quer que estivesse trabalhando.
Narcisa também forçou seu sorriso. Ajeitou a bolsa sobre um dos ombros e
avançou para sentar-se na cadeira indicada.
- Temos muito o que fazer. – tirou da bolsa uma agenda e a abriu sobre a
mesa. – Agendei uma série de entrevistas com equipes de cerimoniais. – ela
voltou-se para a elfa. – Tryn, trate de nos arrumar um salão vazio na catedral
para recebermos todos eles. E também estará responsável por levá-los até nós.
- Sim, Sra. Malfoy! – Tryn fez uma reverência exagerada e sumiu num
estalar de dedos.
- Escute, o que quer que tenham dito a você sobre sua amiga, não passa
de uma ferramenta para torná-la mais obediente.
- Conheço o desenhista perfeito para fazer o vestido das damas. Mas não
quero que ele faça o seu. Veremos alguns trabalhos dele antes que eu possa
decidir sobre isso...
Narcisa processou a pergunta dela. Que insolência da parte dela! Teria muito no
que trabalhar para que ela se tornasse uma Malfoy! Pensou que um “não”
bastaria, mas não foi exatamente o que conseguir responder.
- Não é seu! – Narcisa sentiu uma veia sua querendo pulsar. – Esse
casamento é tudo menos seu! Não foi você quem escolheu se casar!
Escolheram você como noiva! Não há nada de feliz no seu destino para que
queira fazer escolhas de um casamento que estará fadado ao fracasso! –
Narcisa parou para ofegar quando se viu fazer um discurso que gostaria que a
Sra. Malfoy tivesse feito a ela quando estava noiva de seu marido.
Hermione pegou ar para retrucar, mas fechou a boca. Fez uma careta de
desgosto ao saber que não poderia competir com a verdade. Por um segundo
só Narcisa voltou a ter dó daquela pobre criatura. Sabia de todos os sonhos de
menina que ela carregou a vida toda. O casamento dos sonhos. Aquele que
toda garota tem em mente, aquele que toda garota sonha realizar um dia.
- Guarde isso para o futuro. Vai precisar mais do que agora. – guardou sua
agenda. – Levante-se. Me deixe ver o que está vestindo. – viu a mulher se
levantar relutante e se afastar para que pudesse ser observada por inteiro de
um ângulo melhor. Narcisa analisou com cuidado. – Vire-se. – pediu e
Hermione se virou. – Adorável e frágil. – disse finalmente – Não é como eu
quero que esteja. Quem a vestiu?
- Tryn.
- Sim, ela é boa, mas não está como sempre deve estar. Vamos ao seu
closet. – se levantou. – Mostre-me onde é. – e seguiu Hermione. O quarto dela
era muito bonito, o lavatório espetacular e o closet, bem, o closet era peculiar.
– Bem, isso é bastante pequeno. – viu a outra erguer as sobrancelhas por seu
comentário. – Certo. Vamos lá. – Puxou sua varinha e começou a ordenar que
as araras se mostrassem, descessem e subissem fazendo todas as roupas
passarem por seus olhos. – Primeiro, não terá Tryn para sempre. Deverá
aprender a se vestir de maneira adequada e nunca, jamais, em situação
alguma, mostre-se... – hesitou – confortável demais. – completou. Hermione
entenderia. – Deve estar sempre com os cabelos penteados e de maquiagem
no rosto. Nada exagerado, mas um batom, pelo menos, faz muita diferença.
Pareça sempre natural. Tem um rosto bonito, não precisa de muita coisa. – ela
tirou alguns vestidos e jogou-os sobre um banco – Escolha roupas com o
decote mais arredondado ou quadrados. Use decotes em “V” apenas para
festas, apresentações, jantares e saídas importante. – estendeu um vestido
para ela após passar o olho em muitos. Hermione o pegou. – Use roupas com
esse fechamento envelope, alguns modelos incitam uma fenda na perna
quando anda. Cuidado com modelos rodados, podem te fazer parecer muito
menina. Nunca use cores muito vivas, a vida não é uma festa para isso. Precisa
mostrar as curva do seu corpo de maneira discreta e chamar atenção com
algum outro elemento. Tem um corpo muito bonito, portanto deve tomar
cuidado com vestidos muito apertados e muito curtos, pode te deixar vulgar
demais e vadia com o sobrenome Malfoy é inaceitável. Pode escolher chamar
atenção com um chapéu no verão ou primavera. Ou pode escolher chamar
atenção com jóias. Onde estão suas jóias?
- Todas essas foram Tryn quem trouxe. Ele deve ter dado a ela.
**
Bastava que mais alguns grupos entrassem pela porta daquele salão e logo ela
estaria bêbada junto com a noiva de seu filho já que se afogavam em álcool
cada vez que um deles resolvia discursar longamente sobre seus incríveis
feitos.
- Deveríamos parar isso e fazer um sorteio com os grupos agendados. São
todos iguais, afinal. – Hermione disse assim que um dos grupos saiu pela porta
do salão que se encontravam.
Os elfos se agitaram em seus afazeres e logo quem estava entrando pela porta
para anunciar o próximo grupo era Tryn.
- A Srta. Pansy Parkinson pede para poder falar com a Sra. Narcisa Malfoy
antes do próximo grupo. – disse a elfa tremendo de medo por ter sido obrigada
a quebrar a rotina da manhã.
Por algum motivo, Narcisa sentiu-se iluminar.
- Devia ter mandado nos servir algo mais forte. – ela murmurou mais para
ela mesma do que para a Sra. Malfoy.
Narcisa ignorou e se levantou assim que Pansy irrompeu pelo salão em sua
direção.
- Bom dia, Sra. Malfoy! – ela estava radiante em um vestido de renda
escura e transparente. Os cabelos negros e extremamente lisos esvoaçavam
quando andava e a sua beleza e juventude parecia afetar até mesmo as
paredes de pedra do salão. – Estive a procurando durante toda a manhã.
- Não pense que não me lembro que é obcecada por Draco Malfoy, Pansy
Parkinson! – retrucou Hermione numa expressão fria e dominadora. – Lembro-
me bem do pouco tempo que namoraram em Hogwarts e lembro-me bem de
todo o seu comportamento quando Malfoy a deixou. – ela se aproximou. –
Tenho um anel que não tem. Um anel que quer tanto quanto quer a ele.
A ideia do meu casamento te incomoda. Não sou burra, sabe disso. – pulou os
olhos de Pansy para a Sra. Malfoy. – Se forem tomar todas as decisões, –
Colocou o copo que carregava numa das bandejas que um elfo equilibrava. –
podem me chamar no dia da cerimônia, me enfiar em um vestido qualquer e
me fazer decorar tudo que eu tiver que dizer. Não preciso perder meu tempo
aqui. – deu as costas e saiu.
O olhar que Pansy lhe lançou foi ainda mais surpreso. Quase tornou a abrir a
boca para dizer que não era exatamente aquilo que queria dizer, mas as
palavras não saíram. Irritou-se por isso. Deu as costas e tomou o mesmo rumo
de Hermione parando apenas para ordenar a Tryn que cancelasse o restante da
agenda.
**
Estava exausta e não havia produzido quase nada.
Seria possível que toda aquela responsabilidade pudesse lhe gerar tanta
pressão?
- Mãe, o que faz em pé aqui? – ele perguntou assim que chegou até ela. –
Deveria ter entrado.
- Por que não foi para casa? Tem algo para fazer aqui? – ele perguntou
quando começaram a andar lado a lado.
- Não é uma futilidade, Draco! Ela saíra nas revistas e jornais toda a
semana carregando o anel de noivado da nossa família! Não irá demorar e
teremos imagens dela no Profeta Diário para o mundo inteiro assim que a
notícia vazar de Brampton Fort! Quero-a muito bem apresentável!
- Providenciarei. – ele fez soar como Lúcio fazia quando era obrigado a
levá-la para algum evento importante e apresentá-la como sua esposa para
garotas com metade da sua idade.
- Pansy me fez uma proposta hoje pela manhã. – ela disse e eles saíram
para o pátio leste. – Ela quer organizar a cerimônia e o banquete.
- Draco, sabe que ela faz eventos excelentes. E o mestre gosta de como ela
trabalhar para agradar seus gostos.
- Talvez a pressão seja grande, mas sei que fará um ótimo trabalho, mãe.
– ele quebrou o silêncio. Narcisa apenas sorriu.
Era sempre preocupante ver ser filho soltar de modo sempre desajeitado
qualquer tentativa de ser amável. Tinha a sensação de que era como se ele
estivesse tentando calçar o pé esquerdo no sapato do direito.
- Seu pai está em casa. – ela começou. – Estive pensando que talvez se
jantasse em casa hoje...
- Não posso. – ele a cortou. – Não me use para fazer com que meu pai se
esforce para se lembrar de que tem uma família.
- Draco! – ela parou e o segurou pelo braço. Ele era forte e podia
facilmente se esquivar e continuar seu caminho, mas por boa vontade ele
parou. Encarou o filho e viu aquele olhar frio e as sobrancelhas unidas com seu
ar zangado. Era a expressão que seu filho carregava sempre. Havia rancor
demais naquele coração sempre quando fitava de muito perto aqueles olhos. –
Você é o único acerto que eu tive para o seu pai.
Viu a expressão de Draco mudar quase que instantaneamente. Ele não disse
nada, mas suas sobrancelhas se separaram e seus olhos brilharam de uma
forma tão acolhedora que Narcisa sentia que no final de tudo, seu filho não era
de todo modo, apenas filho de seu pai. Sentiu as mãos frias dele tocarem seu
rosto.
- Diz isso com tanta frieza, sem desfazer sua seriedade e ao mesmo tempo
sei que é sua maior tristeza. – a voz do filho foi mansa e verdadeira.
- Só queria que estivéssemos juntos. – foi tudo que ela conseguiu dizer.
Ele pegou sua mão e beijou o nó de seus dedos.
Narcisa não se moveu e apenas observou o filho sumiu de sua vista. Sabia
Draco Malfoy nunca negava a sinceridade, mesmo que ela fosse dura. Fechou
os olhos e inspirou muito devagar.
Talvez o mundo nunca soubesse realmente qual era a face de sua dor porque
os anos congelaram sua expressão fria e seu orgulho já havia secado qualquer
lágrima. Ninguém nunca saberia o quanto doía. Nunca.
Hermione Granger
Ela esperava de pé ao lado de Tryn no lugar mais fundo cavado
debaixo da catedral. O silêncio era grande e ela sentia um profundo aperto no
coração. Suspirou e mostrou a mão para seus olhos.
O anel dos Malfoy era milenar. Passara a ser registrado na história faziam
poucos séculos, mas sabia que ele existira muito antes disso. Era visível pelo
aspecto medieval perfeitamente conservado. Um dragão belamente singelo
envolvendo uma rubi gloriosa. Bem prata e bem vermelho. Muito Malfoy. Por
aquele anel, a rubi era conhecida como a pedra da família. Muitos livros
citavam aquilo. Mas a pedra só a fazia se lembrar do colar que Pansy Parkinson
carregava no pescoço.
Aquilo pesava em sua mão todos os dias. Pesava tanto que doía, mas ela ainda
tentava desvendar se sua dor não era psicológica porque não era exatamente a
mão que lhe doía. Era o coração.
Deixou seus lamentos de lado quando escutou passos descendo pela escada de
pedras. Ajeitou a postura. Sentia-se arrumada demais para um lugar como
aquele, com o chão de terra batida e as paredes cavernosas de pedras pouco
polidas. Mas ao invés de desejar ir para um lugar próprio de suas vestimentas
almejava era por trocar suas roupas caras e se adequar ao lugar. Era ali o seu
lugar. Deveria estar ali. Não usufruindo dos confortos de Whitehall.
O homem que surgiu carregava uma lamparina na mão e tinha a cara que um
carcereiro poderia ter. Tinha um maço de cigarro encardido pendendo pelos
lábios finos e tortos, uma barba rala, um rosto oleoso e fedia como se não
tomasse banho a uma quinzena.
- Olá mocinha. – ele resmungou quando passou por ela e começou a abrir
uma pesada porta de ferro presa contra as pedras frias que os confinavam. –
Me siga em silêncio.
Hermione foi obediente. Seguiu por um corredor que só foi iluminado pela
lamparina do homem. Era estreito e infinito. As curvas que os guiavam
serpenteavam pelo subsolo e tudo que havia de novo era o número em tintas
desbotadas estampadas na porta de ferro de cada sela que se seguia. Uma
após a outra. Infinitamente.
164 foi o número que estava na porta onde o carcereiro estancou. Ele tirou do
bolso um enorme bolo de chaves enferrujadas e Hermione presumiu que
naquele lugar não havia magia pelo modo como ele tratava toda a situação
desajeitadamente. Tanto a lamparina como o bolo enorme de chaves.
Foi quase eterna a busca pela chave certa. Quando a tranca foi finalmente
aberta, o carcereiro precisou de muito força para conseguir empurrar a porta e
Hermione poder entrar no ambiente frio, úmido, escuro e assustador da cela.
Era alto. Muito alto. Lá em cima havia uma pequena abertura que trazia a luz
azulada da noite para dentro do enorme poço. Uma grade descia de lá de cima
e ia até o chão dividindo o espaço em dois. Hermione ainda precisava que seus
olhos se acostumassem com o escuro.
- Não Luna, sou eu, Hermione! Não sou nenhuma ilusão. – Hermione sentia
sua garganta apertar. Viu a amiga deitada encolhida contra o chão do outro
lado da grade quando ela começou a se esforçar para erguer a cabeça.
Aproximou-se da grade e tocou-a. – Luna... – sentiu sua voz fraquejar. – Me
desculpe.
- Voldemort fez de você uma comensal? – ela foi mais especifica dessa vez.
Hermione sentiu a dor da afirmação que teria que dar a ela. Se ao menos
tivesse apenas essa triste notícia.
- Sim. – respondeu tristemente.
Enfiou o braço pelo espaço das barras de ferro e o virou para Luna, que
segurou-o e o fitou por muito tempo.
Hermione fechou os olhos sentindo que poderia chorar mais uma vez por
aquilo. Os abriu e puxou o ar tentando manter-se firme. Trouxe seu braço de
volta quando a amiga o deixou.
- Sou, Luna. Mas sou apenas eu. – ela não queria ser tão direta dizendo
que seu caso não se aplicava também a amiga, mas tinha medo de que
pudessem estar escutando-a. – Tenho sido obediente para que não a
maltratem.
- Sim. – ela sorriu fracamente encostando a cabeça nas grades. – Eles tem
me tratado melhor. Enviam-me comida todos os dias e já não me trazem
dementadores com frequência. Até me mudaram de cela. Agora tenho a luz lá
em cima para saber se é dia ou noite.
Hermione teve de sorrir pela satisfação de Luna, mas queria tanto lamentar por
ela.
- Por que se rende a eles? – Luna a cortou mesmo com a voz frágil.
Hermione engoliu as palavras como se não entendesse o porque da pergunta.
Será que não havia ficado claro o suficiente para ela?
Soltou o ar frustrada.
- Será que ainda não entendeu que eu não tenho esperança? – tentou
Hermione novamente. – De nós duas você é a única que ainda tem alguma!
- Para alguém tão inteligente está sendo bem burra em acreditar que eu
sairia daqui e deixaria você! – Luna foi direta. – Se for ficar aqui, vou ficar com
você. – Por que ela tinha que ser tão teimosa? Luna não media o perigo das
coisas nem mesmo depois de ter recebido amostras o suficiente de tortura. – O
que é isso em seu dedo? – a voz dela foi curiosa dessa vez.
Hermione recuou a mão que segurava a grade com rapidez numa atitude
bobamente receosa. Mordeu o canto dos lábios nervosamente ao se lembrar de
que ainda tinha que compartilhar isso com a amiga. Estendeu a mão pela grade
e Luna pregou os olhos enormemente azuis no anel.
Levou alguns longos segundos para que a voz de Luna tornasse a ecoar pelo
poço.
- É o anel da família Malfoy? – ela ainda parecia não entender bem. – Sim,
é o anel. O anel de noivado dos Malfoy. Já o vi desenhado em livros antes. É
exatamente assim! – os olhos dela se despregaram do anel e se encontraram
com os de Hermione. – É o anel de noivado da família. – repetiu receosa. - O
que faz no seu dedo, Hermione?
A essa altura Hermione sabia que a amiga havia desvendado o segredo, mas os
olhos dela afirmavam que queria escutar uma resposta de sua boca.
- Não é uma brincadeira, Luna. – ela disse porém soou mais como um
alívio por saber que sua amiga apenas estava tentando mostrar um ponto
positivo. Talvez tivesse mostrado tristeza demais no seu olhar para que sua
amiga precisasse encontrar algo para o seu consolo.
- Ele pediu para casar com você? Pensei que ele a odiasse. Há algum plano
nisso? Nenhum Malfoy nunca desposou um Nascido Trouxa.
- Não é isso! É o que Malfoy representa. É tudo que ele é e sempre foi. Me
casarei com ele, Luna! Um dos dias mais importantes da vida de uma mulher!
Serei entregue a ninguém menos que Draco Malfoy e por Merlin eu não o
quero! Sabe que não o quero Luna! Quero o homem que sempre amei.
Viu os enormes olhos de Luna caírem em lamento. Luna sabia de sua história.
- Harry Potter... – sussurrou Luna e Hermione achou que poderia cair num
choro estético e profundo, mas apenas limitou-se a fechar os olhos e encostar o
rosto na grade quase sem forças. – Eu também pensei que um dia fossem se
acertar, que tudo iria dar certo e que finalmente os veria juntos.
- Espero que Harry seja rápido então. – foi tudo que Luna disse.
- Talvez consiga com que seja minha dama de honra. Se conseguir vão
tirá-la daqui. Pelo menos para o dia do meu infeliz casamento. – disse para a
loira. – Precisa ver esse lugar, Luna! É uma catedral enorme! Eles tem uma
cidade gigantesca onde moram todos os comensais, os protegidos de Voldemort
e suas famílias. É assustador, enorme e tão cheio de gente. É uma cidade
fortificada. Chamam-na de Brampton Fort.
Luna ergueu as sobrancelhas.
Ela teria continuado se a porta de ferro tão tivesse sido aberta e o carcereiro
tivesse gritado para Hermione que seu tempo havia se esgotado.
- Que previsível! – disse ela mas sem esconder sua expressão de surpresa.
– Sempre desconfiei daquele Durmstrang!
- Luna! Minha descoberta não muda em nada. Viktor continua dentro da
Ordem...
- Pense sobre isso, por favor. – disse a Luna e a amiga assentiu. Havia um
pesar tão grande nos seus olhos azuis por saber que ficaria novamente sozinha
que Hermione quase quis plantar raízes ali e criar uma guerra com o carcereiro.
– Serei obediente e prometo tirá-la daqui. – o homem havia entrado e
segurado seu braço com força. Hermione precisou de outra duas vezes maior
para se esquivar do homem. – Me toque outra vez e farei com que perca a
cabeça! – rugiu para o homem ao se lembrar do anel que carregava no dedo.
Ajeitou a postura orgulhosa, lançou um olhar triste para Luna e saiu para o
caminho de volta.
Não seria a última vez que a deixariam ver Luna. Não mesmo!
**
Acordou quase que num susto e se deparou com o breu de Whitehall. Sua
respiração estava ofegante mas não conseguia se lembrar com o que estava
sonhado.
Sentou-se.
Eram quase quatro da manhã quando conseguiu piscar o suficiente para limpar
suas vistas e enxergar os ponteiros do relógio na saída de pedras da lareira. A
luz da penseira a ajudou.
Soltou o ar frustrada e tornou a sentar-se. Sua primeira noite foi a única que se
lembrava de que havia tido um sono pacificado. O resto era apenas assim.
Acordava com frequências, tinha o sono leve e demorava horrores para
conseguir dormir. Quando o dia chegava ela simplesmente estava moída. Devia
confessar que quase dormira durante as entrevistas dos cerimoniais que
Narcisa Malfoy havia agendado.
Era tudo culpa daquela maldita sensação de estar sendo vigiada em qualquer
lugar. Até mesmo em Whitehall, em sua cama ou em seu banheiro. A sensação
de que se chegasse sequer a pensar algo errado, arrastariam Luna de seu poço
mal iluminado para alguma sala de tortura. Se é que aquele poço já não era.
Puxou uma imagem que havia recortado do jornal local de debaixo de um dos
cadernos de couro de dragão que ganhara de Narcisa Malfoy para que pudesse
se organizar com as agendas dos preparativos do casamento. Era uma das
fotos que haviam tirado no dia em que Draco Malfoy a levara para jantar.
Estavam saindo do restaurante e por algum motivo muito curioso ela se via
encarando aquela imagens por horas quando acordava de madrugada sem o
seu tão precioso sono.
Ele trajava aquele finíssimo terno e ela seu glorioso vestido longo. Ambos
pareciam celebridades, mas o que fazia Hermione encarar aquela imagem por
horas era o modo como Draco se inclinava para dizer discretamente a ela que
mostrasse melhor o anel e a forma como ela havia se aproximado e suspendido
sua mão pelo braço dele tentando mostrar a valiosa peça dos Malfoy. Foram
movimentos muito bem justificados, mas na fotografia era como escutar Malfoy
sussurrar para ela qualquer coisa amável e vê-la se enroscar em seu braço de
maneira a aumentar as superfícies de contato entre eles. Romântico demais.
Até a matéria do dia ousara inventar uma relação que eles mantinham desde
Hogwarts.
Ridículo.
Sempre que olhava para aquele recorte no jornal tinha seu estomago
embrulhando aos poucos. As vezes se perguntava como seria o toque de Draco
Malfoy e considerava até que poderia sobreviver as noites que haveria de ser
obrigada a ter com seu futuro marido, mas então ela se lembrava da figura
estúpida que ele era em Hogwarts ao passar a mão nas garotas que queria, a
hora que queria. Se perguntava quantas de lá para cá ele havia levado para a
cama. Imaginava aquela mão imunda dele que havia passado em inúmeras
mulheres percorrendo seu corpo, aquela boca que beijara a boca de incontáveis
outras em sua pele e então ela quase saia correndo para despejar na privada
qualquer refeição anterior aos seus pensamentos.
Respirou fundo largando a fotografia e tentou limpar sua mente antes que seu
estômago a traísse. Até mesmo Gina havia cedido para Malfoy em Hogwarts.
Bufou.
Suspirou longamente.
Talvez ela ainda não tivesse idéia do que era ter um filho ou do que era ser
casada, mas o sonho de seu casamento perfeito era tão vívido agora. Tão
vívido pelo seu brutal assassinato. Tudo destruído. Todo seu conto de fadas
destruído. O que poderia ser mais doloroso do que isso agora?
Tornou a abrir os olhos e viu que o céu já era de um profundo cinza
esverdeado. A aurora. Minutos depois ela escutou a movimentação no pátio a
dois pavimentos abaixo. A multidão de homens se juntou uniformemente assim
como o som. Hermione tornou a fechar os olhos e um espasmo elétrico
percorreu todo o seu corpo quando a voz de Draco Malfoy chegou aos seus
ouvido dura, abafada e muito viril.
Abriu os olhos quando já era silêncio a um bom tempo tanto no pátio do lado
de fora quanto em seu quarto. O céu já era de um cinza mais suave e quando
ela esticou o pescoço para olhar o relógio em cima da lareira, julgou que era
hora de se arrumar para o desjejum. Hoje ela teria uma companhia especial.
Não teve pressa para o banho nem mesmo para passar na sua difícil tarefa de
escolher uma roupa conforme os padrões que Narcisa Malfoy a fizera estudar.
Por fim acabou por colocar um bom vestido matinal de um púrpura bem
fechado. Nada de cores fortes, a vida não é uma festa. Escolheu jóias
adequadas e não ousou no sapato para não correr o risco de errar. Prendeu os
cabelos sabendo que aquilo deveria aliviar o peso da cor de sua roupa. Estava
ótima. O tecido era leve, mas a cor lhe passava seriedade. O sapato lhe dava
elegância e o salto o orgulho que deveria conservar sempre inatingível. Os
cabelos presos poderia ser o seu erro. Talvez adorável demais, mas a cor de
sua roupa e o salto que usava quebrava qualquer intenção de fragilidade,
portanto manteve. Talvez algum chapéu, mas logo recusou a idéia ao se
lembrar de que não era verão nem primavera.
Maquiou-se. Não era tão boa quanto Tryn, mas não precisava de muita coisa e
era manhã. Selecionou um par de luvas de qualquer cor clara, vestiu-as e
finalmente saiu de Whitehall desejando poder ficar ali o resto do dia.
O encontrou lindamente verde mesmo que fosse outono. Parecia ter sido
fechado aquela manhã. Havia uma vez desfrutado de um belo café-da-manhã
na companhia de Narcisa Malfoy ali e os mobiliários externos estavam quase
todos ocupados. Hoje estavam todos vazios.
Encontrou uma mesa posta. Muito bonita. Muito colorida. Parecia primavera.
Faltava apenas o sol. Sempre faltava o sol em Brampton Fort. Sabia que era
sua mesa principalmente porque Tryn estava de pé logo ao lado.
- Tryn fica satisfeita que a Srta. Sangue ruim tenha encontrado o caminho
sozinha. - comentou a elfa assim que ela se aproximou o suficiente.
- Obrigada, Tryn. – gostava mesmo de ser uma boa aluna, mesmo que
não fosse uma matéria que apreciasse. – Ao menos um elogio vou receber.
Notou que a elfa pareceu contente por saber que havia considerado sua
opinião. Gostava daquela elfa, mesmo que ela a chamasse de sangue-ruim.
Estava se tornando um tratamento tão comum que a cada dia o insulto da
palavra diminuía mais.
Draco ainda permaneceu um tempo lá até alisar a farda e voltar seu caminho
para mesa com aquela mesma expressão de que mataria qualquer mosca que
ousasse cruzar sua visão.
Hermione o viu encher sua taça de prata e percebeu tudo ao seu redor morrer.
A mesa já não parecia tão colorida e o verde do jardim já se mostrava quase
prestes a falecer. Até mesmo a fome que tinha desaparecera. No entanto
forçou-se a encher, nem que fosse um pouco, a sua taça.
Levou-a a boca e tentou encontrar o sabor da fruta, mas pareceu que bebia
água estranha. Serviu-se de qualquer coisa a sua frente e o sabor também era
escasso. Comeu então para não passar fome, mas desejou estar sozinha.
Sozinha tudo tinha sabor e cor. Malfoy estragava tudo.
Ficaram em silêncio por tanto tempo que Hermione quase se esqueceu de que
ele estava ao seu lado. A comida já estava ganhando até sabor, mas então ele
tratou de estragar tudo novamente ao quebrar o silêncio.
- Presumo que tenha cofre em Gringotes com seu nome. Colocarei algum
ouro nele assim que for ao banco. – ele pausou para tomar um gole de sua
taça. – Minha mãe disse que irão ao centro portanto compre o que quiser. Não
tenho tempo nem vontade de ficar escolhendo presentes para você.
Ele colocou os olhos nela pela primeira vez desde que havia se sentado a mesa.
Mastigava o que quer estivesse comendo e usou o tempo em que sua boca
estivera ocupada para estudá-la com os olhos.
- Presumo que ele esteja com vocês desde o início. – ela não desviaria o
olhar.
- Por que não pergunta a ele? – Draco não desviaria os dele muito menos.
– Já dividiram uma cama portanto devem ter intimidade o suficiente para
discutir questões como essa.
Agora ele havia ido muito longe. Hermione quis se levantar e jogar o bule de
chá preto e leite inteiro em cima dele, mas limitou-se apenas a estreitar os
olhos.
- Isso foi há muito tempo atrás! – disse ríspida e seca. – Deveria respeitar
a privacidade alheia ou também tomarei a liberdade para falar de suas
prostitutas!
Ele riu. Riu! E dessa vez não havia mais qualquer resquício das linhas de
expressão aborrecidas que Snape colocara nele. Hermione se lembrou porque
socou aquela linda cara em seu terceiro ano e quase o fez de novo.
- Ele faz doer mais em você, não é? – comentou Draco ainda com aquele
sorriso.
- Draco. – foi tudo que o ofídico respondeu, mas seus olhos estavam em
Hermione. Talvez ele estivesse esperando pela reverência que deveria receber,
mas ela não veio. – Está particularmente mais bela a cada dia.
Hermione sentia seus dedos tremerem, mas manteve os pés unidos, a postura
ereta, os olhos nele e a boca fechada. Sua marca ainda ardia, mas não
demonstraria qualquer aversão a isso.
- Sim. – respondeu Draco. Hermione notou que ele usava com Voldemort a
mesma expressão que usava com ela: nenhuma expressão.
O modo pausado que Draco havia usado para dizer aquilo fizera soar quase que
como uma provocação, mas se havia sido Voldemort desconsiderara.
- Estive pensando nas mansões das ilhas do lago de verão. Há casas muito
boas por...
- São dois contra um. – disse ele e Hermione soube que ele só estava
abrindo mão de obrigar Draco a trocar de casa. – Pensei que seria interessante
que ambos procurassem um novo lugar para viver, mas vejo que já possuem
muito em comum por defenderem uma mesma causa. Talvez já tenham
discutido sobre isso.
- Não gostamos de conversar. – foi a vez de Draco dizer algo ainda com
aquela feição inexpressiva.
- Uma pena, pois vejo então que terei que obrigá-los a fazer isso. – tinha
algo divertido no tom de Voldemort e por algum motivo Hermione sentia que
Draco estava tão incomodado quanto ela. – Quero que a partir de hoje
compartilhe com ela toda as nossas estratégias, os nossos movimentos e os
nossos ataques.
- Não vejo necessidade, mestre. – Draco disse e dessa vez havia quase que
uma preguiça no sem tom de voz.
- Bem então não quero continuar a atrapalhar o café da manhã dos dois.
São um belo casal. Me darão um herdeiro excelente. – levantou-se deixando a
xícara ainda cheia e Draco levantou em sinal de respeito a licença do mestre.
Hermione fez o mesmo.
Lorde Voldemort
Sua torre era a mais alta e a central. Seus melhores momentos estavam
reservados aos que ficava de pé voltado para a janela leste sentindo o vento
cortar sua figura pequena em relação ao mundo. Ali ele observava o vasto
campo vazio para fora da muralha e também a gigantesca cidade de Brampton
Fort perder-se em seu campo de visão.
Ele era o ditador de seus protegidos, o mestre de seus comensais, o bruxo mais
poderoso de todos os tempos. Mas apenas dentro de suas cidades. Cidades
fortificadas, protegidas por seu exército, e de uma sociedade paralela muito
bem estabelecida. A segregação era evidente e ele a detestava. Não queria
aquele poder.
O mundo fora de suas muralhas eram um caos. Draco fizera o favor de torná-lo
um pouco mais estável com seu exército, mas o número de resistências era
alarmante. Os Ministérios eram todos seus, todo o poder era seu, no entanto
isso ainda não amedrontava as pessoas ao pontos delas se renderem. Elas
preferiam morrer a segui-lo. Estúpidas! Tudo por causa de Harry Potter e de
sua maldita profecia. Voldemort era indestrutível!
Escutou a portas de sua sala se abrir cautelosamente. Conhecia a única pessoa
ousada o suficiente para entrar em sua sala sem permissão. Não precisou nem
mesmo se virar e suas certezas se tornaram ainda mais certezas quando o
cheiro cítrico dela se espalhou pelo ar e não foi levado pelo vento que
atravessava todas as suas janelas abertas.
- Esperei para que sentisse minha falta. – ela não usava um tom muito
agradável.
- Soube que comprou uma casa na vila dos comensais. – ele foi direto ao
ponto.
- Estou cansada desse lugar.
Ele se virou.
Voldemort segurou o rosto da mulher com sua mão ossuda. Bellatrix era a
serva mais devota que ele tinha, a mais ousada e a mais abusada. Ela
era sua mulher. A única que teria, a única que possuiria. Quando era bonito
costumava ter centenas de mulheres o seguindo, o admirando, o babando, mas
quando ressurgiu, Bellatrix foi a única a se dobrar diante dele e se entregar por
inteira a quem ele era. Aquela mulher era a única merecedora de recompensas.
A única.
- Deu ela ao líder do seu exército! Uma sangue-ruim! Fez ela se sentar em
meu lugar! – estava furiosa – MEU LUGAR! – aproximou-se novamente. – Meu
lugar ao seu lado! Sempre foi o meu lugar! Deu ela a Draco, mas tem poder
para levá-la a sua cama quando quiser e Draco nunca poderá protestar contra
isso!
- Ela é bonita! – Bella o cortou sem se importar com Draco. – Ela é jovem!
Bonita! Irá te satisfazer bem! – o tom dela já era alto e contínuo o bastante
para lhe dar dor de cabeça. – Todos falam sobre ela! Todos comentam o quanto
ela é sua pedra preciosa! O quanto ela é bonita! O quanto você se importa
apenas com ela agora! O quanto...
- BASTA, BELLA! – ele a cortou severo o suficiente para fazer com que ela
se assustasse e calasse a irritante boca. – Deveria ter parado quando disse
para me poupar de sua infantilidade! Você é minha única mulher! – repetiu
pausadamente e mais claramente – Não irá a lugar algum! Ficará na catedral.
Ela tinha os olhos brilhando daquela forma insana. Os Cabelos altos e pretos, a
maquiagem exagerada e o vestido com um corpete que a deixava ainda mais
bela. Ela era uma mulher e tanto. Ela era sua e nada mais o satisfazia do que
posses.
Bellatrix quase correu até ele, levantou a saia de seu vestido com as mãos,
passou as pernas um de cada lado de seu corpo e sentou-se em seu colo.
Quase colou seu rosto ao dele.
- Suplique, mestre. Suplique para que eu não vá! Para que eu não fique
longe!
- Ela nos dará um filho! Um que eu não posso dar a você, Bella! Será o
nosso herdeiro!
- DIGA QUE NÃO A DESEJA! – Bella irritou-se mais uma vez e Voldemort
manteve-se calado. Manteve-se calado tempo o suficiente para Bella entender
que ele não diria o que ela queria que ele dissesse. Foi quando ela saltou para
longe dele e dessa vez havia tristeza em seus olhos. – Diga que não a deseja,
mestre. Por favor. – foi quase uma súplica.
Ele manteve-se calado.
Bella chegou a abrir a boca mais duas vezes como se fosse dizer qualquer outra
coisa, mas sempre tornava a fechá-la como se não tivesse palavra nenhuma
para soltar. Deu as costas e saiu batendo a porta com uma força brutal.
Voldemort apenas alisou o polegar em seus dedos um tanto perturbado.
Visitaria o quarto dela mais tarde para acalmá-la.
Draco Malfoy
- Nós chegamos no fim da manhã! Permiti que ela explorasse a casa e não
a encontro em lugar algum. Draco! – ela exclamou num tom ofegante. – Acha
que ela pode ter fugido? Ela já deveria estar se arrumando! Os convidados
chegarão em pouco mais de uma hora...
- Mãe! – Draco a cortou. Segurou a mão de sua mãe e deu-lhe um beijo na
testa. – Acalme-se. Ela não teria para onde ir se fugisse. Fugir não é uma
opção nada inteligente para ela e pode ter certeza de que ela é inteligente o
bastante para saber disso.
- Talvez eu possa ter uma idéia de onde ela esteja. – abandonou sua mãe e
subiu as escadas.
Todas as velas e lustres estavam apagados, mas havia janelas o suficiente para
iluminar bem o local. Ele andou muito calmamente pelo piso de tábula corrida
por entre as estantes mais reservadas e não demorou a encontrá-la. Ela estava
sentada no vão da janela, descalça e sem se preocupar se o seu fino vestido
sujaria, amassaria ou perderia alguma linha nos alisares das vidraças. Tinha um
livro aberto nas mãos e usava a luz do lado de fora para sua leitura. Aquilo o
fez se lembrar da Hermione Granger de Hogwarts, sentada no vão das janelas
do castelo, em noites de ronda, perdida em sua leitura. Achava engraçado
como certas coisas nunca mudavam. Naquela época ele nunca imaginaria a
situação em que se encontravam agora.
- Não. – respondeu.
- Mentira. – ele retrucou.
- Eu realmente não...
- Não insista, Granger. – ele a cortou. – Por mais plausível que sua
desculpa possa parecer, sei que notou bem quando escureceu. – ele a viu abrir
a boca para retrucar, mas ela logo a fechou em desistência do que quer que
fosse falar. Seus olhares cruzaram em silêncio até ele desviar os dele e
caminhar para mais próximo encostando-se no pilar ao lado da janela onde ela
estava. – Nenhuma maneira, por mais burra que seja, pode te livrar dessa
noite. Se enfiar na leitura e justificar a qualquer um que não notou quando
escureceu não é uma desculpa inteligente, por mais que pareça bem do seu
feitio se perder dessa forma em um livro. – ela ficou em silêncio o encarando -
Estávamos próximos demais nessa guerra. – disse – Você era o inimigo.
Lutamos um contra o outro muito tempo. Sei como seu cérebro funciona.
Ela ficou calada bastante tempo antes de finalmente abrir a boca.
- Obviamente não, mas teremos tempo suficiente para que isso não seja
um problema entre nós, não é mesmo?
- Bom saber. Presumo então que você também já saiba o meu primeiro
nome.
- Felizmente, Draco. Me poupa o trabalho de ter que aprendê-lo.
Ela assentiu. Draco achava engraçado o modo como ela sempre tinha um olhar
desconfiado voltado para ele, mesmo que sempre estivesse olhando-o
orgulhosamente.
- Deveria ir se arrumar. – foi a última coisa que ela disse antes de dar as
costas e sair.
Draco cruzou os braços enquanto a observava sumir pelas estante. Deus do
céu! Ela era tão bonita que quase parecia pecado olhá-la.
**
- Não gostei da cor de sua gravata! – Narcisa apontou para Draco assim
que entrou em seu escritório. – Tryn! – lançou a ordem a elfa e num estalar de
dedos a pequena criatura trocou centenas de vezes as cores da sua
insignificante peça de roupa.
Viu a mãe cruzar o carpete com seu salto alto até a janela. Do lado de fora a
movimentação era quase intensa e as carruagens se amontoavam diante da
escadaria da fachada principal. Ela desviou o olhar e começou a andar
calmamente de um lado para o outro.
- Sim. – sua mãe ainda parecia não querer se distrair de suas aflições
internas. – Ela não será Granger por muito tempo e não gosto de me lembrar
que ela entrará para a família com as pessoas a chamando de sangue-ruim por
aí. Uma ofensa bem inconveniente para nós!
- E onde ele está? – conseguiu sentir o gosto amargo em sua boca apenas
por se referir a ele.
- Enfiado em um quarto caro de hotel com qualquer puta por aí. – Por
algum motivo, aquela simples resposta de sua mãe, a entonação, o rancor
contido, a situação, o fez se lembrar de Hermione. Foi como poder escutá-la
dizer algo do tipo referindo-se a ele no futuro ao qual estavam destinados a ter.
Ficou perturbado com a inevitável analogia de seu cérebro e tentou esquecer,
mas aquilo apenas o comparou outra vez ao seu pai. Sentiu que seu maxilar já
travava de raiva. Ele não era igual ao seu pai! – Ele já deveria estar aqui. Tem
certeza que seus guardas afirmaram que ele chegou pelo portão leste no meio
da tarde?
Draco se manteve calado, mas sabia que seu pai estava atrasando apenas
porque sua mãe não queria que ele atrasasse. Aquilo começou a remoer dentro
dele de uma forma que chegava a quase tornar o ar rarefeito. Permaneceu
calado. Jurou que permaneceria calado.
A porta se abriu uma segundo vez e quem passou por ela foi Hermione seguida
de uma dupla de elfos. Ela estava linda como sempre, mas seu pai ainda estava
entalado o suficiente em sua garganta para que Draco se importasse em
admirar uma boa mulher como ela merecia.
Narcisa deu ordens aos elfos e correu para analisar cada mínimo detalhe da
roupa de Hermione. Não demorou e já haviam mais três mulheres da
organização dentro de seus escritório opinando sobre o cabelo, o vestido e a
maquiagem da sangue-ruim. Draco apenas começou a bater nervosamente a
ponta da pena que estava em sua mão contra a mesa da escrivaninha a medida
que se sentia desconfortável com a falação do ambiente.
- Mãe! – exclamou mais alto até do que deveria. Todos se calaram e foi um
tremendo de um alívio. – Tenho certeza de que pode encontrar outro lugar para
fazer o que quer que estiver fazendo agora.
- Ela já está perfeita. – teria soado um elogio se ele não tivesse feito
parecer um pedido ríspido de que não voltassem a fazer toda aquela algazarra
em seu escritório.
Lúcio Malfoy passou por ela vestido num traje fino, com a barba desfeita e os
cabelos loiros bagunçados.
Draco viu sua mãe recuar um passo ao vê-lo, como se não quisesse sentir que
ele tinha o perfume de outra mulher impregnado em sua roupa, mas então ela
fez exatamente como Hermione ao ajustar a postura, abriu um sorriso muito
amável e se dirigiu a ele. Draco sentiu todo o ódio corroer suas veias com
aquela cena.
- Que bom que chegou querido. – Narcisa foi até ele e tentou ajustar a
gravata torta em seu pescoço, mas ele a afastou com uma mão e atravessou a
sala até a arca onde Draco mantinha suas bebidas.
- Vejo que organizou tudo perfeitamente, Narcisa. – puxou um copo e o
encheu de gelo. – Sempre faz seus serviços com muito competência.
Narcisa sorriu. Sorriu um sorriso convencida de que aquele era o único elogio
que receberia na noite vindo de seu marido. Ela nunca recebia elogios que não
fossem estritamente profissional, porque sim, seu pai tratava o casamento
como um negócio.
Draco se levantou e foi até o pai quando ele passou a escolher entre suas
garrafas de whisky. O deteve antes que ele pudesse encher o copo. Lúcio
ergueu seus olhos e o fitou secamente.
Lúcio encarou Draco com aquele olhar desgostoso até ter descaramento o
suficiente par sorrir. Sorrir! Aproximou-se do filho para que ele pudesse sentir o
seu hálito de álcool e disse num tom que a conversa não passasse deles:
- Não tem um sequer respeito pela mulher que te deu um filho? – cuspiu
Draco.
- Não pode falar sobre ter respeito, Draco! – riu seu pai.
Draco avançou violentamente contra o pai, mas Narcisa se colou entre eles.
- PARE, DRACO! – ela foi tão séria e sua voz soou tão autoritária que até
mesmo ela recuou.
Quantas milhares de vezes ele havia escutado sua mãe dizer aquilo sobre seu
pai. Sua mãe orgulhosa, fria e quase insensível. Conhecia a mulher sistemática
que ela era, e sempre que a via abrir a boca para justificar sua cega tolerância
aos absurdos de seu pai ele quase podia sentir como era difícil para ela ter que
abrir mão de todo o seu orgulho para dar espaço a aquela verdade. Era a
humilhação e a frustração que ela carregaria para sempre em sua vida. Para
sempre. E o que ela poderia fazer? As vezes Draco queria vê-la lutar contra ele,
mas sabia que ela já havia lutado o bastante para saber que era inútil e
desgastante.
Era quase inevitável não se conter diante da submissão de sua mãe perante as
provocações de seu pai. Aquilo causava nele desgosto e tristeza. Aquilo
significava a realidade que ele nunca havia superado na vida. A realidade de
que sua família era uma desgraça, uma mentira, uma grande e enorme farsa.
Seus pais juntos diante dele o lembrava do dia em que seu mundo de ilusões
havia desmoronado.
- Não posso suportar. – ele olhou da mãe para o pai. – Não posso mais
suportar nós todos juntos. – deu as costas a eles. Assim que o fez encontrou
Hermione ainda sentada em sua poltrona com a postura ereta e um olhar
assustado e apreensivo. Draco quase soltou um palavrão por ter se esquecido
de que ela estava ali. Soltou o ar e num único segundo de inocência ele
procurou pela magia que o faria voltar o tempo para poder evitar que ela
tivesse assistido aquilo. – Levante-se, Granger. – já era tarde demais para
voltar no tempo. – Temos convidados demais para te apresentar hoje a noite.
Hermione Granger
Tédio era tudo que ela via estampado na cara de Draco Malfoy e tédio era tudo
que ela igualmente sentia. Talvez sua cara também estivesse como a dele. Ele
pelo menos tinha uma alegria aqui e ali quando topava com algum amigo ou
alguma mulher que já havia levado para cama, mas ela, ela não tinha
absolutamente nada com o que se distrair.
Abria um sorriso forçado todas as vezes que alguém passava por ela e a olhava
de cima a baixo. Ignorava o olhar e sorria simpática. Ou pelo menos ser
simpática era sua pretensão.
Hermione já havia deslizado sua mão para longe do braço de Draco a um bom
tempo e ele sequer notara. Pegou qualquer taça da bandeja de um elfo que
passava e levou a boca. Ficou insatisfeita com o gosto da água, mas grata por
não ser álcool. Tudo que ela não queria era ficar bêbada para ser capaz de
fazer qualquer coisa errada e sabia que se provasse de qualquer líquido forte,
não iria parar tão cedo. Tudo nela pedia para que não estivesse sóbria naquele
momento nem naquele lugar.
A verdade era que se sentia deslocada. Tão deslocada que era intimidador e
isso a atrapalhava muitas vezes em manter sua postura. Lembrava-se
ocasionalmente da simplória discussão familiar que foi obrigada a presenciar há
algumas horas atrás e quando encarava as feições de Draco se perguntava se
fora aquilo que havia o transformado. Porque durante toda a discussão, no
momento em que ela esperou pela reação de profundo ressentimento que ele
deveria expressar, ele simplesmente fechou-se para sua expressão
convencional. Os olhos cinzas sem vida e sem interesse em qualquer coisa que
fosse.
Ela não fazia idéia de quem ele era agora, mas certamente muito do que ela
havia visto em Lúcio Malfoy dizia respeito ao Draco que conhecera em
Hogwarts.
Ao longe viu Malfoy por entre as pessoas. Pansy tinha chegado até ele e
claramente se atirava como uma puta para ter a devida atenção. E Draco a
dava. O sorriso que ele tinha nos lábios era tão verdadeiro que o mudava, o
fazia parecer um ser humano tão agradável que Hermione sentiu uma
momentânea raiva por saber que Pansy tinha o poder de transformá-lo naquilo.
Draco era uma enigma para Hermione enquanto para Pansy ele era apenas um
livro aberto.
Soltou um longo suspiro frustrado e deu as costas a visão dele para seguir
caminho. Ele tinha total liberdade para continuar com suas centenas de
mulheres sendo elas Pansy ou não. Não importava para Hermione. Não
precisava que Draco fosse fiel a ela.
Deixou que seus pés a guiassem. Passou por entre as pessoas e já estava tão
farta de tudo aquilo que simplesmente abriu mão de dar qualquer mínima
atenção a elas. Narcisa provavelmente a mataria se soubesse que não estava
sorrindo para os olhares que recebia.
Viu-se deixando a sala principal e não se importou. Seguiu pelo fluxo contrário
até se ver na espetacular sala de jantar que ficava logo atrás da cozinha. O piso
era de tábua corrida como o da biblioteca e quase do mesmo tom escuro da
enorme mesa. Bem em seu centro, logo acima, tinha um lustre transcendental
que ficava pendurado no teto distante e abobadado. A casa de Draco era de um
luxo que ela nunca havia visto na vida. Se questionava como poderia ser os
outros tipos de casa das zonas abastadas de Brampton Fort já que Voldemort
julgava a residência de Draco tão modesta.
Atravessou a sala de jantar e passou por um corredor vazio e quase escuro que
cortava a lateral da cozinha. Haviam janelas sequenciadas em toda a extensão
para que ela pudesse ver o enorme jardim que se estendia para um bosque lá
onde o horizonte se estreitava. Era os fundos da casa e o quintal estava vazio.
O silêncio fazia com que ela escutasse o cricrilar dos grilos altos e as vozes da
algazarra de seu noivado muito distante.
Foi obrigada a subir alguns poucos degraus quando chegou ao fim do corredor.
Isso a elevou a um patamar diferente e o piso continuou a ser de madeira, mas
dessa vez parecia menos maciço e as tábulas bem mais estreitas e
desniveladas. As janelas que vinham do corredor se abriam em enormes portas
de arco que estavam escancaradas e cercavam o ambiente quase circular. Ela
podia ver todo o gramado dos fundos da casa do lado de fora assim como
também podia sentir o vento a atingir. Era revigorante.
Ousou andar para próximo de uma das portas e tocou a fina e clara cortina que
estava haviam arrastado para poderem abrir as portas. Deixou seu olhar passar
mais uma vez pelo jardim e quase sorriu pela beleza daquele lugar. Queria
poder estar ali no pôr-do-sol. O pôr-do-sol que não existia em Brampton Fort.
Quando quase chegou ao arco que foi capaz de ver um espécie de deque
coberto por uma larga marquise. Havia mobiliários externos, madeira talhada,
estátua de bronze, grandes vasos de arbustos em arte topiaria, estofados em
estampa inglesa, ela mal podia imaginar o quanto tudo aquilo havia custado
fora toda a casa que ele tinha. Como que aquilo podia ser modesto?
Hermione virou-se num pulo e quase deixou sua taça de água cair. Encontrou
Lúcio Malfoy com as mãos enfiadas no fundo dos bolsos da calça de seu terno a
encarando com um sorriso divertido nos lábios. Um sorriso que ela receou.
Ele ergueu os olhos para ela novamente e abriu um sorriso quase que
charmoso demais. Voltou a desviar o olhar para analisar o lugar como estava
fazendo antes e se justificou.
Hermione não gostou de ter sido tão burra por não notar, nem mesmo gostou
da distância que ele queria encurtar e sua única alternativa foi dar as costas e
descer para o deque. Tentou não parecer que estava fugindo e caminhou com
cuidado por entre os mobiliários fingindo estar interessada na decoração assim
como ele havia feito antes.
- Eu lhe devo desculpas. – ele continuou e a distância da voz avisou que ele
também descia para o deque por outra porta.
- Por ter me seguido? – Por que ele iria querer pedir desculpas a uma
sangue-ruim?
- Não. – respondeu. – Pelo que foi obrigada a assistir mais cedo no
escritório de Draco.
- Não precisa se desculpar. – ela parou para sentir o alto relevo dos traços
decorativos de uma mesa de chá. Deixou sua taça desancar ali. – Não deve
nenhuma desculpa a mim por isso. São problemas da sua família e não me
dizem respeito.
- Sensato pensar dessa forma, mas não vejo que tenhamos problema
nenhum. – a proximidade da voz dele alertou que ela deveria continuar seu
caminho, mas não conseguiu quando o escutou afirmar que não enxergava
problemas em sua família. Será que é porque o problema seria ele? – Draco
cresceu e por algum motivo a prepotência dele o fez tomar essas atitudes
impulsivas baseado em pensamentos errados. Talvez ele tenha...
- O que quer dizer com justiça, sangue-ruim?! – a voz dele foi baixa, mas a
proximidade fez quase parecer um grito. – Já viu justiça em algum lugar? – os
olhos dele eram tão poderosamente cinzas que ela quase sentia que não seria
capaz de puxar oxigênio quando os olhava. – Se engana em pensar que poderia
haver justiça em Draco! – ele soltou um friso fraco pelo nariz. – Se engana em
querer encontrar justiça em qualquer lugar!
- Me solte! – ela exigiu e se contorceu para fugir dele, mas ele apenas a
prendeu com mais força.
- Justiça não existe! Nunca existiu! É apenas uma utopia! Aprenda isso,
sangue-ruim! – segurou o rosto dela e ela se esquivou. Lúcio foi mais bruto e o
segurou de modo que ela não pudesse desviar e fosse obrigada a olhá-lo. – Não
sabe nada sobre o mundo. Não sabe nada sobre esse mundo. É ingênua
demais. – os olhos dele percorriam cada linha do rosto dela e parecia se
fascinar com cada uma delas. – Você é como a primavera. Como uma doce
primavera. – ele se aproximou demais e Hermione sentiu a respiração dele
contra seu rosto. – É singela e delicada como a primavera. Mas tem todo esse
poder de atrair a atenção, de encantar as pessoas, de ser desejada, de
dominar. Esse orgulho te sustenta.
- Por favor, me solte. – suplicou uma última vez antes de sentir o hálito
úmido e quente dele contra sua boca. Não ousava sequer tentar imaginar quais
seriam as pretensões que ele tinha em mente estando tão próximo.
- É melhor que saia do seu lindo mundo de flores, primavera. Aqui ninguém
se importa com justiça, com dignidade, com honestidade, nem muito menos
com amor, o amor que você acha que existe, o amor que você carrega do
mundo de afetos do qual vivia com todos aqueles marginais da resistência. –
ele sussurrava e quando Hermione sentiu que tinha uma mão dele que
escorregava por sua cintura e descia sorrateira por suas costas como se ela
estivesse sem seu vestido contorceu-se para se livrar dele desesperadamente..
– Aqui é sempre inverno, primavera.
Hermione pode notar o quanto seu coração estava disparado quando se viu
livre. Não demorou muitos segundos e a dona da risada apareceu quase sendo
engolida pelo proprietário da voz masculina. O casal mal notou na presença de
Lúcio e Hermione quando desceram para o deque.
Lúcio parecia quase furioso por ter sido obrigado a interromper seu momento e
quando a consciência bateu em Hermione, quis gritar para o homem o quão
insano ele havia sido, mas na lógica de seu desespero apenas não pestanejou
em fugir. Não ligou quando acabou por esbarrar no casal com sua pressa e nem
sequer isso pareceu fazê-los acordar do momento que estavam tendo.
Andou tão rápido que nem mesmo saber se estava tomando o caminho certo
fez diferença. Seu coração continuava a bater rápido e cada vez mais rápido a
medida que sua memória continuava a lembrá-la do que havia passado. Da
força que ele tinha, do olhar desejoso, do hálito úmido contra o seu rosto. Tudo
era intensamente nojento e fazia os pelos de seu corpo se arrepiarem pela
repulsa.
Cair na sala principal, ver todas as pessoas, a música e o falatório foi quase que
um banho de paz. Parou, fechou os olhos e respirou fundo se apoiando num
dos pilares de passagem. Ali, com todas aquelas pessoas, ele não poderia
segurá-la novamente como havia feito, nem sussurrar todas aquelas palavras,
nem descer aquela mão imunda por suas costas.
- Não seja mentirosa, mas o que quer que tenha sido, não é importante!
Draco está sendo fotografado longe da sua companhia e não é isso que
queremos que apareçam nos jornais e revistas! Vamos! Recomponha-se e trate
de encontrá-lo imediatamente! – dizendo isso ela foi embora.
Hermione tornou a fechar os olhos. Respirou fundo mais de uma vez e apenas
tornou a abri-los quando sentiu que seu coração já batia num ritmo normal.
Tentou levar para o mais oculto de sua memória a situação que havia vivido a
minutos atrás. Só não poderia encontrar com Lúcio novamente ou vomitaria.
Começou a andar devagar. Dessa vez os olhares de desprezo pareciam
bastante receptíveis. Eram como um aviso de que estava segura.
Encontrou o lugar onde Draco antes estivera com Pansy, mas dessa vez a
encontrou sozinha. Olhou de um lado para o outro e não conseguiu localizá-lo.
Mudou sua rota e seguiu atenta até finalmente encontrá-lo a porta dos jardins
sem companhia alguma. Aproximou-se.
- Onde esteve? – ele perguntou e tomou um gole do vinho que tinha nas
mãos.
- Tentando seguir um caminho sem ser carregada por você. – ela passou
seu braço pelo dele ainda tentando entrar no seu estado máximo de
normalidade.
- Não presto atenção em gente como você, Granger. Portanto deveria ter
no mínimo o senso de preservar a estabilidade da recuperação de sua amiga
lunática e cumprir todos os seus deveres do modo mais perfeito possível. – ele
usou um tom baixo e intimidador.
- Não quero estragar o trabalho da minha mãe, querida. - ele sorriu quando
outro grupo de pessoas passou por eles. – Então você não trate de se esforçar
para isso. Muitas coisas estão em jogo para ela se algo der errado. Portanto
supere sua aversão as pessoas e me avise quando precisar de ar para irmos
juntos!
Ela quase rosnou baixo por todo o sermão que havia recebido. Não era
nenhuma criança! Mas certamente que dessa vez ela não sairia de perto dele já
que com certeza preferia a companhia de Draco. Pelo menos ela sabia que se
eles estivessem a sós, ele não a agarraria como seu pai havia feito. Draco a
odiava o suficiente para isso. Ela esperava e acreditava que sim.
- Temos muito em comum. – riu ele e tomou mais um gole de seu vinho.
Hermione o encarou.
- Está bêbado? – colocou nojo em seu tom e em sua expressão também.
- O vento está frio lá fora. – respondeu. Não queria contar que o Sr. Malfoy
havia resolvido lhe fazer uma grande e desagradável surpresa.
- Não me parece um fator que a deixaria assim. Só me soa como uma
justificativa bastante burra. – tomou outro gole – Mas não me importo. Não me
faz diferença saber ou não das suas verdades se não quer compartilhá-las. –
um casal de senhores cruzou o caminho deles. - Sr. e Sra. Bolton. – Draco fez
um educado cumprimento.
- Muito bonita, de fato. – disso o Sr. Bolton a olhando por cima dos
redondos óculos fundos.
- E a moça que veio com você? Foi nos informado que vieram duas. – a
Sra. Bolton continuava a se direcionar para Hermione. – Não é a filha do louco
editor do antigo O Pasquim?
Hermione não sabia se deveria sorrir ou não. Toda aquela mentira a afetava
dolorosamente.
Foi levada ao escritório onde Draco ficara e assim que entrou eles pararam
qualquer conversa que estavam tendo. Sentiu três pares de olhos a devorarem
cruelmente. Lúcio Malfoy parou com o copo de vinho a meio caminho da boca,
Voldemort deixou de mascar o charuto e Draco apenas ficou quieto com os
braços cruzados mas com os olhos perfeitamente cinzas analisando-a dos
sapatos até o cabelo. Ele foi o primeiro a desviar o olhar, mas inteligentemente
ele seguiu para encarar tanto o de seu pai quanto o de Voldemort e no segundo
quase seguinte, já havia se deslocado da mesa que estava recostado para
plantar-se bem ao seu lado.
- Vamos acabar com isso logo de uma vez. – ele disse e Hermione sentiu a
mão quente dele tocar sua lombar nua pelo vestido.
O primeiro toque direto, pele com pele, a fez prender a respiração e quase
recuar. Ele tocava uma parte de seu corpo mas era como se estivesse o
tocando todo. Ao mesmo tempo, sentiu que aquele toque fora quase que um
aviso a Lúcio e Voldemort. Como se tentasse lembrar a eles a quem ela havia
sido entregada como noiva.
Hermione a viu se juntar ao marido e ambos deram os braços assim como ela e
Draco. Viu que a mulher alisou amorosamente o braço do terno do esposo, mas
olhar para Lúcio foi constrangedor. Ele ainda mantinha seus olhos sobre ela e
era como se pudesse ver através de sua roupa. Hermione pensou que fosse
vomitar mesmo que o Ministro da Magia do mundo bruxo fosse um senhor que
sofresse com o agravante problema de ter uma aparência imensuravelmente
além da satisfatória.
Desceram apenas alguns degraus da escada principal e posicionaram-se de
modo que Voldemort estivesse no degraus mais alto, a Sr. e a Sra. Malfoy logo
abaixo e então, finalmente, Draco e Hermione.
Voldemort começou:
- E nada poderia nos deixar mais felizes do que esse maravilhoso presente
em nossa família. Receber Hermione, a jóia do nosso tão querido mestre, é de
fato uma honra do qual nos orgulhamos.– foi a vez da Sra. Malfoy.
Hermione sentiu todo o seu corpo fraquejar, mas pensar em Narcisa Malfoy
com sua postura intacta, fria e inatingível ajudou sua voz a sair límpida, clara e
poderosa por todo o ambiente:
Pansy Parkinson
Toda aquela infernal festa de noivado havia destruído suas estruturas. Nunca
em sua vida pudera imaginar sentir que algo tão horrível corroer suas
entranhas. A dor da inveja foi tanta que chegou a sentir seus olhos embaçarem
com as lágrimas que ameaçaram a afogar. Quis subir aquelas escadas e matar
Hermione Granger. Aquela sangue-ruim não merecia toda a glória! Quem
deveria estar com Draco naquela cerimônia história era ela! Pansy Parkinson!
Ela era a única que merecia Draco Malfoy!
Mas havia voltado para sua torre na catedral com o consolo de saber que Draco
também odiava a maldita jóia preciosa de Lorde Voldemort, só não esperava
recebê-lo em seu quarto aquela semana ainda, tentá-lo ao sexo, e ter como
resultado um Draco que não via já fazia anos.
Fora bom como sempre era. Draco era o homem que a satisfazia por completo.
Mas sabia quando ele ia para a cama com ela pensando em outra. E ele
pensava em Hermione Granger. Ele mesmo tinha consciência de que pensava
nela e que desejava estar com ela ao invés de estar com Pansy. Por isso ele
havia sido bruto. Muito provavelmente ela teria alguns hematomas em sua pele
no dia seguinte, porque quando ele olhava em seus olhos e via que não eram
os de Hermione, sentia os dedos dele quase entrarem em sua carne. Ele tinha
raiva por desejá-la.
- Não entendo porque tem raiva. – ela quebrou o silêncio. Ele a olhou com
aquele olhar furioso. Ela riu. Sabia como lhe dar com aquilo. Não era a primeira
vez. – Você não tinha idéia de que a desejava tanto, não é?
- Não sei do que está falando. – ele deu as costas e sentou-se na cama
para colocar os sapatos.
Pansy riu novamente embora sentisse que seu coração estava sendo moído a
cada segundo. Precisava mascarar sua dor. Era a única forma de manter de pé
sua confiança.
- Por favor, Draco. Eu o conheço bem. Não perca suas energias nesse jogo
de se fazer de desentendido. Sei quando me come pensando em outra.
- Por Deus, Pansy! Por que não tenta colocar alguma rédea nesse seu
maldito palavreado?!
- A verdade o incomoda?
Ela se arrastou até ele e passou seus braços em torno de seu corpo.
- Não há porque ter tanta raiva, Draco. – sussurrou acomodando-se
próximo ao ouvido dele. – É mais do que natural. – beijou seu pescoço
calmamente. – Ela é uma mulher e você é um homem.
- Cale essa boca infernal, Pansy! – a voz dele foi tão profundamente séria
que quase a fez recuar.
Ela riu. Não deixaria se abater.
- Está com raiva porque enquanto me fode e deseja estar com ela, ela
sequer deve se lembrar de seu nome!
Draco parou tudo que estava fazendo e a encarou. Pansy pensou que aquela
fosse a hora de sua morte, mas ao invés disso, como se ele estivesse querendo
revidar não agindo da forma que ela esperava, Draco apenas foi até ela, sentou
na cama e cruzou os braços naquele ar sério. Foi até difícil ver ele assumir
aquele constante ar indiferente novamente.
- Está dizendo que eu não tenho respeito? – ousou perguntar mesmo que
temesse a resposta.
- E porque saber que não tem estaria te afetando agora? Sempre teve
orgulho de ser a vadia que é!
- Eu nunca gostei de quem é, Pansy. Apenas nunca fez diferença para mim.
– ele disse calmamente e Pansy sentiu sua máscara escorregar do domínio de
seu poder. – Nunca me importei. – ela não conseguiu se esconder em lugar
nenhum e quase podia sentir a força que a fez chorar no dia do noivado de
Draco querer puxá-la novamente. – Você se sente ameaçada por Hermione
Granger. Ela está ocupando o lugar que sempre quis e agora me vê desejando-
a. – ele ajeitou a gravata - O que mais teme, Pansy?
- Teme. - Ele corrigiu. – E não é a Granger que teme. Teme apenas pelo
dia em que eu deixarei de vir até você. Teme pelo dia em que eu encontre
alguém que seja suficiente para mim. Alguém que eu ame. – ele se aproximou,
segurou o queixo dela com os dedos e olhou bem em seus olhos. – Deveria já
me conhecer o suficiente para saber que isso nunca irá acontecer comigo. –
beijou sua boca, se afastou pegando o casaco de seu terno e saindo do quarto.
Pansy soltou um longo suspiro enquanto sentia a fragilidade de ter perdido sua
máscara para a mão sorrateira de Draco.
- Acontece com todo mundo, Draco. – escutou sua própria voz sussurrar -
Só estou tentando ser aquela a quem irá amar quando acontecer com você.
Draco Malfoy
Ele desceu a ala de sua sala sem pressa alguma. Cruzou com uma das filhas de
Rosney e não parou para dar a devida atenção que sabia que deveria dar a ela,
afinal, era uma mulher que ele gostaria de ter novamente em sua cama, mas
sabia que estava atrasado e aquela noite ele não estaria livre para ela. Não
gostaria de adiantar o serviço para tê-la pegando em seu pé até que ele
finalmente tivesse tempo.
As mulheres eram assim, talvez fosse só com ele, mas nenhuma delas nunca
havia se dado ao respeito com ele. Draco até gostaria de perder um pouco do
seu tempo usando dos artifícios da conquista, mas nunca realmente precisou.
Quando não havia uma lista de mulheres se oferecendo de todas as formas
para ele, ele simplesmente ia até a que queria. Nunca teve qualquer problema.
Claro que algumas delas até fingiam não querer, mas ele não tinha paciência
com isso e escolhia outra para que servisse de lição a anterior.
Uma vez havia se apaixonado. Na idade certa, mas não no tempo certo. Estava
em seu sexto ano em Hogwarts quando conheceu Astoria. Era uma garota linda
que sabia dialogar muito bem. Tinha um coração meio rancoroso e uma
vingança contida por algum golpe financeiro que havia arrastado sua família ao
ralo num passado muito remoto, mas era uma mulher daquelas que tinha
aquilo que o mundo chamava de atitude e Draco admirou. Foi até um grande
incentivo para que transformasse seu lado covarde de ser. Astoria fez o tipo
que fingia não o querer e pela primeira vez ele se permitiu correr atrás de uma
garota. Não porque ela havia sido especial, mas porque tinha curiosidade de
saber qual era a graça de trocar corujas de madrugada, como era comprar
presentes esperando agradar alguém, usar palavras bonitas para agradar uma
garota, dar e receber carinho. E assim ele acabou por se apaixonou
acidentalmente.
No entanto o encanto acabou como se era esperado que acabasse e não houve
amor nenhum entre eles que fizesse Draco continuar persistindo na relação.
Mas foi uma grande lição e pela primeira vez ele pode entender, por mais
mínimo que fosse, o valor que se dá quando algo é conquistado.
Definitivamente havia sido um período diferente em sua vida, onde ele
conseguiu se conservar apenas para Astoria e isso havia enlouquecido Pansy.
Astoria o satisfazia bem, eles tinham harmonia na cama, na conversa e nos
gostos, mas era seu sexto ano e tudo estava muito difícil. Voldemort estava
exigindo muito dele e obviamente que Draco tinha mais interesse no ciclo da
morte do que em uma garota que queria bombons em sua cama com uma
cartinha romântica do lado no fim do dia. Em pouco tempo, ir para cama com
Astoria passara a ser monótono, mesmo que ambos fossem muito criativos, e
ele precisou confessar que fora um alívio e tanto voltar a ativa quando
dispensou a garota Greengrass.
Mas ele sabia o que era se apaixonar. Já havia vivido do encanto, e sim, ele já
havia sido bobo para entender o que era ter o coração pulando quando se vê a
garota pelo qual se está apaixonado surgir por qualquer porta que seja. Tinha
que admitir que era triste que fosse um sentimento passageiro demais.
A verdade era que tudo que Voldemort queria, era dar o seu show de horror
abertamente. A audiência aberta nada mais era do que as sessões de torturas
frequentes que ele fazia apenas para o seu ciclo de comensais próximos. A
última havia sido quando Hermione Granger fora proclamada comensal.
Draco revirou os olhos. Claro que ele deveria ter se preparado para escutar
aquilo.
- Ela não fará parte do conselho. Ela apenas estará presente nele! –
justificou pela trigésima vez.
- Vai contestá-lo, Payne? Por que não diz a ele que é uma ordem sem
fundamento e desnecessária? Por que não expõe a ele que se nega a seguir
seus comandos? – sugeriu Draco muito calmamente e Payne se calou sem
mudar sua expressão enraivecida. – Ordens do mestre são incontestáveis. E
será até uma boa diversão vê-la completamente desarmada ao saber das
nossas investidas contra os amiguinhos preciosos dela.
Payne não mudou a expressão embora parecesse ponderar bastante sobre as
palavras de Draco.
Draco tinha que concordar. Talvez aquele pudesse ser um grande erro, mas
pensar sobre isso era confuso. Voldemort nunca se dava ao luxo de errar. Havia
algo ali que ele pretendia compreender. Mas no momento ele estava
suficientemente ocupado com as investidas da resistência contra o seu exército.
Não havia estratégia nenhuma por parte das investidas deles, claro, Hermione
não estava mais lá, mas eles estavam abusando de uma selvageria que Draco
compreendia por partir de Harry Potter. Aquela cicatriz dele sempre foi
impulsiva e burra. Esperaria o momento certo para recuá-los.
Sentou-se onde sempre se sentava. Negou uma bebida que um dos elfos
ofereceu e sentiu o tédio dominá-lo. Ah, como ele odiava essas sessões. Odiava
sobretudo porque era obrigado a estar lá. Ele poderia estar em casa, no fundo
de seu escritório particular, olhando seu quadro montado, pensando para onde
moveria suas tropas, tomando um bom whisky e escutando um jazz muito
suave num volume distante e tranquilizador.
Mas não.
Olhou no relógio.
Ela colocou os olhos nele e parou. Soltou um suspiro evidente como se tentasse
convencer a si mesma de que tinha forças para ir até ele. E foi o que ela fez.
Sentou-se logo ao lado num assento talhado de madeira escura e negou a
bebida que um elfo a ofereceu. Corbray, um comensal do ciclo interno de
Voldemort a cumprimentou muito educadamente e aquilo surpreendeu tanto a
ela quanto a Draco. Hermione sorriu elegantemente em resposta e Draco
apenas assentiu com a cabeça quando o mesmo cumprimento foi direcionado a
ele. Não deixou de questionar-se o porque de toda aquela educação, mas logo
suas dúvidas foram sanadas quando o enxergou devorando Hermione com o
olhar ao beber de seu drink já a uma distância considerável.
Sentia-se incomodado demais por saber que ela chamava atenção dos homens.
Ela iria ser uma Malfoy! Ao menos respeito eles deveriam ter!
- Quanto tempo isso durará? – a voz séria dela tirou sua atenção de
Corbray. A olhou e ainda escutou a pergunta dela ecoar em sua mente sem
fazer nenhum sentido. Ele nunca havia reparado no quanto a voz dela era
suave, uniforme e fresca.
Ele sentiu vontade de revirar os olhos mas não o fez. Esperou ali em sua
cadeira ao lado de Hermione. Cada segundo, por mais rápido que pudesse
passar, para ele seria eterno. Apenas o incomodava que Hermione estivesse
incomodada e ele sabia muito bem o porque, e isso o alertava ao perigo que
era ter ela em uma das audiências no templo da catedral tão cedo.
- Não está pronta para isso. – pegou-se dizendo a ela. Logo teve um par de
olhos incrivelmente âmbar voltados para ele. Desde o dia de seu noivado ele
começara a reparar nela os atributos que a faziam ser tão bela e os olhos
obviamente eram um fator de grande peso.
Aquilo fez com que a raiva o dominasse novamente. Odiava sentir que a
desejava. Depois que sentira a textura dos lábios dela, a sensação havia se
encravado em sua memória de tal maneira que sempre se via reviver o modo
como segurara aquele lindo rosto e de como a boca dela era macia e se
ajustava perfeitamente contra a dele. Céus, ele queria sentir o sabor dela!
Queria poder sentir a boca dela por inteira se movimentando contra a sua,
sentir sua língua quente, sua respiração perder espaço em seu rosto, suas
mãos pedirem urgência para abrir sua calça! Queria poder a ouvir gemer
debaixo de seu corpo e queria ela, Hermione Granger! Aquilo o devorava!
Maldita sangue-ruim! Merecia estar morta! Merecia que ele a possuísse e a
matasse!
- Não está pronta para ver o que verá hoje. Certamente fará besteira e isso
será problema para mim. – percebeu que sua raiva fazia com que a olhasse
com desprezo embora quisesse arrastá-la para seu quarto e arrancar sua
roupa.
Ela desviou o olhar e engoliu a saliva com dificuldade. Quando a olhava sentia
que ela estava tão longe da realidade de odiá-lo e desejá-lo. Ela era tão
convincente em expressar que odiá-lo bastava para repugná-lo em todos os
sentidos. Aquilo fazia com que ela fosse a única mulher que já conhecera que
não se encaixava nos padrões dele. Ela nunca havia claramente se oferecido
para ele, nem mesmo nunca havia fingido não o querer. Ela realmente nunca o
quisera e parecia não querer ainda mais.
Para Draco tudo isso era como um desafio. Ele queria aceitar. Provar que essa
moeda viraria e que ele a teria a rastejando aos seus pés tão cedo quanto seu
orgulho pudesse imaginar. Mas tudo que ele queria na verdade, tudo que
realmente desejava, era não se importar como nunca havia se importado.
Hermione sempre havia existido em uma realidade muito diferente da sua. Até
mesmo em Hogwarts. Era uma aluna muito bonita e bastante desejada,
principalmente quando abria a boca para agraciar todos em classe com sua
extrema inteligência, mas mesmo lá ela parecia tão fora de seu padrão que
nunca a considerou. Era uma sangue-ruim no final de todas as contas, ele não
estava perdendo nada. Além de sangue-ruim ainda andava com a corja de
Potter e se prestava ao ridículo namorando o mais estúpido dos Weasley.
- Tenho um coração, Malfoy, e sei que ele não irá me ajudar hoje. Sou
humana, tenho sentimentos e sei como expressá-los. Não sou nenhuma
máquina como vocês. Frios, calculistas, inexpressivos. – a voz dela chegou
baixa até ele. Ela tinha a visão focada bem longe da dele.
- E de que modo isso seria um problema para você? – ela voltou a encará-
lo.
- Sou responsável por você, se não se lembra. Eu deveria tê-la preparado
para hoje.
- Não se prepara ninguém para isso. – ela fez soar como se fosse um
absurdo usar dessas palavras.
- Ele irá torturar pessoas, não irá? – indagou ela após seu silêncio.
- Ele sempre tortura. – respondeu.
- Por favor, Malfoy. Não posso assistir a isso. Não posso. – ela suplicou. –
Não estou pronta.
Draco achou interessante ver Voldemort pronunciar o primeiro nome dela com
tanta suavidade. Tinha a impressão de que seria o último a deixar de chamar
Hermione de sangue-ruim ou Granger.
- Pelo que bem me lembro a ordem que me foi passada era a de que ela
deveria ter conhecimento de todas as pretensões e movimentos do exército de
comensais. – Detestava quando Voldemort não era objetivo. Tinha sempre uma
mania insuportável se querer jogar o verde para conseguir colher do maduro.
- E devo confessar que teve uma excelente estratégia para cumprir essa
ordem. – confirmou o ofídico sem deixar de soltar um fraco sorriso. Ele
sentando-se na cadeira onde antes estivera Hermione e sua tia Bella sentou-se
no braço cercando o pescoço de seu precioso mestre. – Irá mantê-la a par de
tudo, mas não irá precisar dirigir a palavra a ela nenhum segundo.
- Esse é o ponto. – confirmou ele sentindo que o tédio daquela conversa
poderia levá-lo a cova.
- Não seja abusado, garoto! Escolha bem as palavras que usa com o seu
mestre! – exclamou sua tia autoritariamente.
Draco puxou o ar buscando paciência e lutou para não revirar os olhos. Não se
importaria se de repente sua tia explodisse e deixasse de existir. Odiava quem
o tratava por garoto. Não era mais garoto. Havia deixado de ser um há um bom
tempo. Deixou de ser garoto em Hogwarts ainda! Deixou de ser garoto quando
matou Dumbledore, o que sua tia obviamente nunca seria capaz de fazer.
- Por favor, Bella. – Voldemort foi paciente com ela. – Draco, como
pretende levar para cama uma mulher que detesta com tanta vontade?
- Eu não pretendo. – ele desejou ter aceito a bebida oferecida antes para
que pudesse se afogar no álcool agora. – Quem pretende que eu a leve é você,
mestre.
- Não faço. Nunca fiz. A escolha de ser um comensal foi minha e nunca me
arrependi. Eu sou quem sou graças a minha escolha. Você me ensinou a ter
poder, a ser influente, a saber persuadir, a dominar, a ser temido. É o meu
mestre. Me deu um exército, me deu controle, me deu fama. Eu não teria nem
seria nada disso se não fosse por você e pela escolha que fiz. Sou apenas um
filho crescido, mestre, e todo filho crescido quer sua independência. – explicou
Draco.
- Fico feliz que tenha se tornado maduro para entender tudo isso. Sei que
posso tê-lo sempre ao meu lado. É alguém que me traz orgulho todos os dias. –
disse o ofídico. Draco lutou novamente para não revirar os olhos. Voldemort
sabia bem como bajular seus servos de alta patente para que o ego deles
sempre estivesse alimentado, mas Draco não se importava com isso
diferentemente de todos os outros comensais de seu mestre. – Estou prestes a
iniciar uma audiência aberta com Hermione presente. – mudou ele. – Ela tem
sido bastante obediente todo esse tempo, creio que tenha a alertado sobre os
riscos de cometer qualquer erro hoje.
- Sim. – respondeu Draco. – Ela tem sido bastante orientada quanto a isso,
mas devo dizer que é um grave risco levá-la a uma audiência aberta. Ela não
está pronta.
Voldemort sorriu. Aquele seu sorriso de prazer quando ouvia os gritos de seus
inimigos sob tortura.
- Por que acha que ela não está pronta? Não viu como ela se adequou
perfeitamente a Brampton Fort? Meus comensais e protegidos estão até
passando a gostar bastante dela.
**
Não era uma tarefa fácil cruzas todo o gigantesco salão enquanto o barulho dos
sapatos contra o mármore ecoavam pelo silêncio. Teve tempo o suficiente para
se concentrar em não olhar para o rosto de nenhuma pessoa nem ter interesse
sobre aquelas partes do ambiente. Continuou a andar e estudar bem a nova
ordem de assentos nos patamares do trono. Havia sido mudado depois de todo
o discurso de Voldemort em seu noivado.
Obviamente o nível mais alto era destinado a cadeira do mestre. Consistia num
enorme trono fundido de cobre e ferro, com esmeraldas e moldes de pequenas
serpentes. A peça era embelezada pelo gigantesco vitral ao seu fundo e Nagini,
que já jazia quieta enroscada nos pés do trono a espera de seu amado dono.
Draco voltou a acordar de vez quando Voldemort chutou seu prisioneiro e ele
conseguir perceber Hermione se retrair em sua cadeira. A olhou de imediato e
viu que os olhos dela ziguezagueavam por aquela cena como se quisessem
gritar o quanto tudo aquilo era um absurdo.
Ela levou seus olhos âmbar a ele e ajeitou-se em sua cadeira como se tivesse
sido pega em flagrante.
- Porque ele é inocente! – respondeu ela como se não houvesse nada mais
óbvio no mundo.
Draco soltou um riso fraco não acreditando que ela havia dado aquela resposta.
Ela ficou tão quieta que ele até pensou que ela pudesse ter prendido a
respiração, mas não foi o suficiente para que o fizesse se desconectar
novamente daquela tediosa audiência. Voldemort parecia ter um bom plano de
discurso e logo todo o público que ele tinha começou a interagir em
concordância ao que ele dizia quando as ironias do mestre provocaram risadas
de deboche dos ocupantes das galerias e camarotes. Mais prisioneiros foram
trazidos e o interrogatório começou.
Draco não voltou a olhar Hermione, mas sabia que ela estava quieta e em
silêncio assim como deveria ficar. Entre os quatro novos prisioneiro ela
conhecia um e ele sabia que ela conhecia porque ele havia sido um membro da
Ordem antes de ter sido capturado numa de suas vigias no centro de Londres.
O longo olhar que ele lançou a ela também o denunciou.
Foi um longo interrogatório onde Voldemort poupou por um bom tempo o uso
de maldições imperdoáveis. Mas obviamente seu mestre não podia manter toda
aquela paciência por um bom tempo e quando nenhum deles abriu a boca para
dizer coisas úteis as torturas começaram. Os gritos e os moribundos se
contorcendo no chão era algo tão normal para Draco que ele quase poderia
palitar os dentes enquanto assistia a tudo aquilo.
Mas ela parecia não considerar isso já que não tinha idéia dos absurdos de uma
audiência fechada. Draco a olhou e a viu estática com os olhos brilhando,
cheios de dor e cheios de horror. Cada vez que um grito ecoava pelo átrio do
salão ela se retraia como se a maldição pudesse atingi-la.
Ela sequer notou que ele havia dito algo. Seus olhos expressavam avidamente
o choque de tudo aquilo e ela nem mesmo lutava para esconder. O prisioneiro
da Ordem a olhava sempre que suas torturas acabavam e só desviava quando
outra começava.
O caminho foi difícil para o vigia capturado. Cada degrau que ele avançava era
uma nova tortura, uma dor diferente, um grito mais sofrido, mas o olhar de
determinação que ele tinha para chegar até Hermione era claro e mesmo que
Voldemort o interrogasse cada vez mais alto, o capturado o ignorava. Para ele
era como houvesse apena ela naquele salão.
Draco já havia se ajeitado em sua cadeira sabendo que seria surpreendido pelo
que quer que fosse acontecer. Por que diabos Voldemort provocava Hermione
na frente do seu público? Ela obviamente não se controlaria por muito tempo e
ele tinha a pequena impressão que Voldemort desejava pelo momento que ela
fosse cometer seu primeiro erro.
- Quer que eu chore por ele como você? – sabia que estava sério como
uma pedra.
- Não. Deveria apenas sentir muito pela perda de um marido e um pai!
Aquele homem se arriscava para proteger a família! Ele só queria proteger a
família! Agora a família não o tem mais.
- Me solte!
- Não.
- E graças a merlin não tive. – disse aquilo pareceu ser suficiente para um
ponto final a ela e ele agradeceu.
Continuaram a seguir em silêncio pelo corredor. Soube para qual sala levá-la.
Precisava de algum de seus homens e quando chegou a antecâmara do átrio lá
estavam exatamente quem precisava. Ele quase riu por saber que Voldemort
esperava tanto pelo erro de Hermione que já havia organizado tudo.
Ele não queria responder, mas ela fazia tanta questão que ele se sentiu sem
alternativas para se manter mudo.
Ele fingiu que não a escutou. A verdade era que ela deveria agradecer o que ele
estava fazendo. Nunca gostou daquilo, nunca gostou de sofrimento, nunca
gostou de ver ninguém sob tortura, gritos, dor, sangue. Nunca! Não via prazer
nenhum naquilo como muito dos comensais viam. Mas o que ele poderia fazer
se Voldemort jogara nas mãos dele a maldita da responsabilidade sobre ela.
- Por favor, não faça isso! – ela implorou chorosa novamente. – Não faça!
- Espero que esteja consciente, Granger, que isso irá acontecer apenas por
sua culpa. – ele foi frio, seco e objetivo. Como deveria ser. – Se erra , é
punida. Já havia ficado bastante claro para você.
Ela soluçou.
Draco a olhou por um longo segundo. Parecia tão errado fazer mal a ela. Ela
era como um pequeno passarinho indefeso, mas Draco sabia que por trás
daquela inocente face angelical havia a culpa das maiores perdas de seu
exército. O cérebro fascinante de Hermione Granger.
Hermione gritou junto com a amiga e chorou. Draco cruzou os braços para
aquela cena sentindo que não poderia se desligar daquilo até que acabasse. O
incomodo se instalou em suas veias querendo deixa-lo inquieto e ele se
concentrou.
Hermione começou a gritar que parassem. Pediu para que a torturassem ao
invés de Luna e Draco questionou a sanidade da mulher. Ela queria trocar de
lugar com Luna! Era louca? Talvez devesse jogar a maldição sobre ela por
alguns segundos para ver se ela queria mesmo trocar de lugar.
Draco a observou por um bom tempo. Ela não se moveu. Parecia a mais
destruída das mulheres mesmo vestida com aquela fina roupa, com os cabelos
bem penteados, perfumada. Olhá-la ali era como ver a Hermione que por trás
da postura orgulhosa que ela mantinha todos os dias dentro daquela catedral.
Foi até ela e abaixou-se ao seu lado. Viu que as mãos frouxas dela tremiam.
Ela não ergueu os olhos para ele. Ele quis afastar uma mexa do cabelo dela que
havia saído do alinhamento do penteado, mas precisou abrir e fechar sua mão
para não encostar nela.
- Apreciou bem o que acabou de ver? – a voz dela foi baixa, fraca e rouca.
- Fiz a você o favor de não ser Voldemort a lhe aplicar esse castigo. Tenha
certeza de que ainda estaria gritando se fosse ele a torturar sua amiguinha
lunática.
- Não tenho palavras para agradecer. – ela foi irônica.
Havia tanta dor e tanto desprezo em cada palavra que ela dizia que Draco
sentia que não seria capaz de tocá-la nem que Hermione fosse obrigada a
aceitar. Se antes ele sabia que ela o odiava, agora ele tinha essa certeza.
Quase a agradeceu por ela não estar o olhando. Certamente quando ela o
fizesse enxergaria um monstro e ele não estava pronto para receber aquele
olhar de uma mulher.
- Tem dez minutos para tomar de volta o seu lugar no salão principal. – ele
levantou-se. – Dessa vez estou certo de que ficará quieta e calada até o fim. –
deu as costas e a deixou.
6. Capítulo 6
Hermione Granger
Suspirou.
Estava atrasada.
Comeu e ficou encarando o pátio vazio por um bom tempo. Queria que tudo
parasse e ela pudesse ficar ali, sem ter que cumprir com nenhum obrigação,
sem ter que se casar, sem saber de nenhum plano estratégico de Voldemort.
Mas o tempo não parou e ela foi obrigada e se colocar de pé. Caminhou pelo
quarto evitando sair pela porta e acabou por sentar-se novamente, mas dessa
vez em sua escrivaninha.
Puxou uma delas e a encarou. Lembrou-se de ter permanecido quase uma hora
da noite anterior olhando aquela foto. O quanto estava linda naquele vestido.
Nunca imaginou que pudesse ficar tão bonita. Mas aquilo era o mínimo a se
prestar atenção. Ela estava beijando Draco Malfoy. Ou Draco Malfoy estava a
beijando. Não fazia diferença. Estavam se beijando.
Não gostava de pensar dessa forma. Não gostava de usar o termo “beijar” em
sua cabeça. Aquilo era só a boca de Malfoy e a dela, lutando pelo mesmo
espaço. Pensar assim a tranquilizava, mas cedo ou tarde a palavra “beijar”
voltava a lhe rondar a mente.
Desde então olhar aquela imagem era como não ver a si mesma. Tentava se
convencer que não era ela. Se perguntava todos os dias a quem deveria
implorar para que não fosse ela. Não fosse ela beijando Draco Malfoy naquela
foto. Não fosse ela carregando aquele anel. Não fosse ela quem viveria com ele.
Não ele. Ela preferia ser entregue a outro. Qualquer outro. Mas não ele. Por
que? Por que aquele castigo?
Amassou a foto e a jogou no lixo mesmo sabendo que antes de dormir a tiraria
de lá. Levantou-se e se arrastou para fora do quarto. Foi obrigada e recompor a
postura assim que cruzou com a primeira pessoa da catedral. Já não a olhavam
como antes, agora todos se resumiam a simplesmente ignorá-la. Era um alívio.
O caminho que deveria seguir já havia sido feito, mas somente até a entrada
da ala do Q.G. Nunca havia passado do toten de entrada e dessa vez ela faria.
Ninguém a guiaria, mas Tryn e Narcisa já haviam lhe explicado o caminho uma
dúzia de vezes. Estava mais curiosa com o que veria do com receio de se
perder e foi exatamente a curiosidade que a surpreendeu.
Era realmente uma unidade de tratamento militar. Embora ela não tivesse
seguido para a entrada dos departamentos de treinamento, as placas que
direcionavam os caminhos para cada um deles informavam o quão provido de
ordem eles eram. Isso a fazia se arrepiar. A casa dos Black não passavam de
três pavimentos e grandes anexos feitos depois da mudança definitiva da
Ordem para lá. Eles estudavam magia legal e discutiam depois do jantar cada
movimento que deveriam fazer, tentavam solucionar cada problema que lhes
eram lançados e se perguntavam sobre os partidos do exército de Voldemort.
Haviam crescido, aprendido e se tornado bons lutadores a partir dos erros que
haviam cometido e das perdas que haviam sofrido. Ninguém nunca havia os
treinados, não davam a eles discursos de incentivo pela manhã nem montavam
hierarquias e departamentos com treinamentos para áreas específicas. Que
esperança a sala de Jantar dos Black teriam contra Voldemort e seus
seguidores? Nem mesmo escondida a Ordem estava, porque até mesmo o
Ministro da magia sabia onde estava a sede. A Ordem gastava mais tempo e
tinham mais dor de cabeça protegendo a eles mesmos do que tentando matar
Voldemort. Que esperança tinham?
- Estou esperando você dizer o que tem para dizer me olhando dessa
forma. – disse Hermione.
A oriental sorriu um sorriso desdém e cruzou os braços.
- Será a futura Sra. Malfoy, não é? – aquele sorriso divertido nos lábios
dela irritou Hermione. – É sortuda porque estará na cama de Draco Malfoy
todos os dias, se que saber. Aliás, provavelmente já deve saber o tamanho
dessa sorte.
- Não sei. – Hermione apressou-se a dizer. Não queria que ninguém tivesse
na cabeça que ela já havia divido uma cama com Draco.
A mulher riu.
Hermione se irritou.
- Não o quero. – disse mesmo sabendo que deveria não dizer.
- Pode tê-lo quando quiser. – foi séria. – Tem minha permissão para isso. –
acrescentou e suas últimas palavras não agradaram a outra mulher. Deu as
costas, abriu a porta e entrou na sala do conselho.
Toda a mesa parou de discutir o que quer que estivessem discutindo para
recebê-la com olhares irritados. Ao menos Hermione sabia que estava
retrucando com o mesmo olhar.
Hermione queria poder ser cínica mas escolheu apenas ser rebelde.
- Está atrasada. – a voz de Draco inundou seus ouvidos. Ele estava sentado
na ponta da longa mesa.
Hermione simplesmente o ignorou. Não conseguia olhá-lo, muito menos
respondê-lo, mesmo que fosse para provocá-lo, ofendê-lo ou ser rebelde. Não
conseguia suportar a idéia de que ele existisse. Não depois do que ele havia
feito. Não depois de ter sido obrigada a ver Luna ser torturada. Por ordens dele.
Andou para tomar o assento da outra ponta da mesa. Queria estar o mais
distante possível. Já bastava ter que estar próximo demais quando tomavam
café da manhã ocasionalmente no jardim inteiro na catedral.
- Não me diga o que fazer com minha noiva, Maine. – Draco retrucou
irritado. – Ela não é nenhum animal.
Hermione gostou de arrastar sua cadeira e se sentar como uma rainha toma
seu trono após ter escutado aquelas curtas palavras.
- Obrigado, Naomi. Pode nos deixar. – Draco disse a secretaria sem sequer
lhe dar muita atenção. - A mulher deixou a sala. – Vamos esperar por ele. –
decretou.
- Ele é um espião de valor e iremos esperar por ele sempre que necessário.
– Draco disse já usando um tom cansado.
- Draco. – uma voz tão cansada quanto a dele surgiu. – Temos uma turma
que se formará em dois meses.
- Cinco apenas.
Malfoy ficou em silêncio por um minuto. Passou a mão pelos cabelos a abaixou
a cabeça.
- Temos de forçar todos a aplicarem para o exército. – tornou a dizer o
outro homem.
- Não se ganha lealdade pela força! – Draco tornou a falar e dessa vez
havia um fundo de irritação em sua voz.
- A guerra está quase ganha! – corrigiu outro homem. – Potter ainda está
vivo. A guerra nunca estará ganha enquanto ele estiver vivo carregando aquela
maldita profecia! – praguejou o homem. – Mas Draco tornou o mundo estável
demais. As pessoas acreditam que agora podem ter a chance de voltar para
suas casas após o programa de treinamento e defenderem os fortes do mestre
pelo mundo enquanto desfrutam do conforto e da segurança de suas muralhas.
Krum desviou seus olhos para ela surpreso e então abriu um sorriso puxando
apenas um lado da boca enquanto assumia um ar divertido.
- Veja quem está aqui. – ele riu – Eu não havia nem notado. – estreitou os
olhos. – Céus, Hermione! Você já é linda, mas depois de todo esse trato que
Brampton Fort lhe deu...
- Viktor. – Draco o cortou de modo severo. – Essa é toda a informação que
tem? – o chamou de volta a reunião.
- Eles vão recuar as poucas tropas que tem. Estão levando todos de volta
ao Grimmald Place. – disse Viktor ainda com os olhos em Hermione e ainda
com aquele sorriso cínico.
- Por que eles fariam isso? – ela tratou de perguntar quase que
imediatamente.
- Sangue-ruim, você não tem poder de fala aqui dentro. – disse um dos
homens.
- Tudo bem, eu quero saber porque eles fariam isso! – interveio Draco a
favor dela.
- Potter está perdendo a cabeça. – Viktor começou e Hermione sentiu que
seu coração poderia derreter. – Desde que pegaram Hermione e Luna ele tem
agido como louco. Todos sabem que Potter não está preparado para enfrentar o
mestre...
- Todos da Ordem sabem que Potter não está preparado para o mestre. –
repetiu Krum. – Harry tem feito planos sem estratégia, tem avançado como se
estivesse caçando o último fôlego de vida. Eles tem tido vitórias que antes não
teriam conseguido, mas o número de perdas que eles vem sofrendo com todo
esse desespero não justifica as vitórias. – Hermione sentiu os olhos
embaçarem. Não choraria. Não ali. Não podia. – Eles perderam Hermione e ela
quem sempre soube balancear bem os prejuízos que sofreriam para ter uma
boa vitória. Além do mais, ela quem sempre soube montar bons planos
estratégicos. Sem Hermione as chances da Ordem nessa guerra caíram quase
pela metade.
- Então esse é o motivo para que Potter esteja agindo como se fosse um
animal... – comentou um dos homens.
Viktor tornou a fixar seus olhos em Hermione com aquele sorriso estúpido nos
lábios.
Ele riu.
- Eles estão buscando outras alternativas. Estou tentando cortar todas elas
como fiz da última vez. – respondeu Viktor.
- Foi você?! – ela não podia acreditar que ele quem havia sido culpado pelo
último massacre da resistência. – Eu sabia que havia sido alguém! – a surpresa
lhe despejou um banho de tristeza. Não podia acreditar que já havia caído no
encanto de um monstro.
- Não irá acontecer. – Draco disse com muita certeza. – Mas me dará um
belo discurso para amanhã.
- Toda a resistência unida pode dar um bom número, mas somos treinados
e muito melhores do que eles. Além do mais, a resistência se nega a usar os
antigos feitiços ilegais, o que nos deixa bem a frente deles. – os dos homens
comentou.
- Quero saber para onde cada um deles está indo. Quero nomes, datas,
cidades e objetivo. – ordenou.
- Temos que pensar sobre isso. Continue agindo como sempre agiu. Depois
de todo esse tempo, não é agora que vão te descobrir. Tente arrumar algum
caso com alguma garota disponível, pode te encobrir por um tempo.
- Pensei sobre isso, mas sabe que vou precisar de algo mais consistente
para voltar a me firmar lá dentro. Depois que Hermione foi capturada tudo
mudou e é como se todo mundo desconfiasse da própria sombra. – Krum
respondeu. – Isso não é nada bom para mim. Tenho brechas dentro da Ordem
que qualquer um que procure um pouco mais acharia.
- É um traidor e não posso lutar contra isso por mais que eu quisesse. –
disse ela – Quero saber sobre Harry.
Ele riu.
- Isso foi há muito tempo! Éramos adolescentes! Eu não sabia nem mesmo
o que estava fazendo com você ou com Rony! Por favor, Viktor! – ela tentou ao
máximo não parecer desesperada, mas sabia que não estava tendo muito
sucesso. – Você é a única fonte que pode me dizer o que está acontecendo lá
fora.
Hermione se deu conta de que tinha raiva assim como tinha os olhos
embaçados. Sua garganta queimava e ela queria poder correr até Harry,
confortá-lo, dizer que estava ali para ele, que lutaria por ele, que tudo ficaria
bem, que eles ainda teriam uma vida juntos. Queria dar paz a ele.
- Viktor Krum é um agente duplo que joga seu próprio jogo. Apenas um
idiota não enxergaria isso. Você nunca terá certeza de que lado ele realmente
está. – disse Draco. – Deveríamos tomar o desjejum no jardim interno? –
sugeriu ele.
- Granger! – ele tentou segurá-la pelo braço, seu tom foi ríspido, mas ela
se desvencilhou.
- Não me toque. – ordenou com nojo e o deixou.
**
Champs-Élysées. Era a única fiel comparação que ela podia fazer todas as
vezes que descia no centro de Brampton Fort com Narcisa. Estar ali a fazia se
lembrar dos verões que passava com os pais na França quando a guerra era
apenas uma realidade presente porém distante, exceto pela ausência de sol e
calor. O verde era estonteante, os passeios eram ocupados por pessoas sérias e
frias, a avenida era cheia de carruagens. Era tudo muito largo e muito grande.
A fazia se sentir pequena demais.
- A noite é uma boa hora para o preparo de poções. Sabe dos estados da
lua. – disse Narcisa.
- Boa parte das poções que usam as fases da lua são ilegais. – disse
Hermione.
- Não pela nova lei, Hermione. Sabe disso. – Narcisa usou de um tom como
se quisesse avisar a Hermione de que ela não precisava temer o preparo de
poções. – Além do mais, soube que era a melhor aluna de poções em
Hogwarts. Digo, era a melhor aluna em todos as matérias. Gostava de poções?
- Sim. Preparar poções é sempre uma atividade muito prazerosa. –
Hermione precisou aprender a caminhar como Narcisa para conseguir
acompanhá-la. Também precisou refinar seu vocabulário para não quebrar o
gelo que parecia sempre muito bem vindo entre elas.
As vezes Hermione ficava esperando que seria nessa hora onde Narcisa a
olharia de novo como havia feito antes e abriria um sorriso simples, discreto e
convidativo. Mas não. Ela era uma Malfoy em sua expressão única. Tanto
quanto Draco.
- Muito bem feito. – respondeu Hermione. – Foi uma ótima escolha. Tenho
certeza de que todos ficarão surpresos.
Voltaram ao silêncio e por algum motivo Hermione percebeu que Narcisa não
havia terminado em suas perguntas. Logo teve essa certeza.
- Ele te fez algo, não fez? – Narcisa finalmente chegou ao que queria.
- Sim, eu tinha minhas dúvidas de que ele faria isso. – comentou Narcisa.
- Seu filho deu ordem para que eu assistisse Luna ser torturada. –
Hermione disse sem nenhuma delonga, aquilo não afetaria Narcisa de qualquer
forma. Ela estava acostumada com aquele mundo. – Ele fez o que deveria ter
feito. – concluiu.
A mulher não fez nenhum comentário logo em seguida. Ainda caminharam mais
um pouco em silêncio antes que ela finalmente dissesse algo.
- Não precisa abominá-lo por isso. Draco estava sob ordens tão igualmente
como você em não cometer erros. – ela disse.
- Me surpreende que depois de todo esse tempo aqui você ainda meça o
nível de humanidade de um comensal e espere por uma atitude movida a isso.
Acho que ainda não entendeu muito bem o mundo do qual faz parte agora,
Hermione. Você deveria ficar muito feliz e bastante agradecida com qualquer
ato raro de misericórdia que alguém resolvesse praticar.
- TIRE-A DAQUI! – Bella gritou. Hermione pensou que talvez ela fosse pular
o balcão e a agarrar pelo pescoço. – ELA NÃO PISA NESSE LUGAR! EU A
PROIBO!
- Bella! Pare agora! – Narcisa ordenou como se estivesse falando com uma
criança. – Está agindo feito louca! Perdeu a cabeça? – aquilo fez Bellatrix ofegar
quando considerou as palavras da outra, mas mesmo assim seus olhos ainda
faiscavam para Hermione que ela pensou que pudesse ser azarada se
continuasse a encarando. – Hermione, vá procurar algo de que precise.
- Ela levará o que quiser desde que possa pagar. – Narcisa parecia a mais
sensata das mulheres enquanto passava para o outro lado do balcão. – Vá,
Hermione.
O olhar que recebeu de Narcisa fez Hermione entender que deveria deixar as
duas a sós e foi exatamente o que fez. Deu as costas e se enfurnou para dentro
das estantes o mais rápido que pode. Escutou o cochicho das duas e tentou se
distrair com os produtos enquanto se afastava mais para o fundo da loja.
- Sabe que não posso. É confidencial demais para sair da sua privacidade
com o mestre! – justificou Narcisa.
- Que privacidade?! – questionou Bella. – Nós não temos privacidade mais,
Cissa! Ele quer a sangue-ruim! - Hermione apurou os ouvidos sentido o
coração acelerar – Ele nem sequer me procura mais! Semana passada fui
punida por entrar em seu gabinete sem pedir permissão. Eu nunca pedi
permissão! Sou a mulher dele!
- Draco não tem poder algum contra isso! – disse Narcisa – Se o mestre
realmente a quiser, Hermione pode carregar a aliança que for com Draco, o
mestre a terá.
- Diga a ele pelo menos, Cissa! Por favor! Sabe que Draco pode encontrar
uma forma de mantê-la longe do mestre! Ele é inteligente e estratégico o
suficiente para isso! Todos sabemos! – Bella tocou o braço da outra mulher
num ar de desespero. – Diga a ele que quando se casar é provável que o
mestre leve mais sua mulher para a cama do que ele próprio...
Hermione não conseguiu continuar a escutar. Seus ouvidos pareceram ter sido
tapados quando ela se afastou da fresta por onde enxergava as duas. Seu
coração batia forte e ela o escutava abafado em sua cabeça. Voltou pelas
estantes de onde veio e parou ofegante quando não soube o que estava
fazendo ou para onde estava indo. O sangue gelado que corria em suas veias a
agoniava e ela não conseguia achar um pensamento conexo que pudesse fazer
com que voltasse a sã consciência, que a fizesse parar de escutar o próprio
coração e que pudesse lhe trazer paz.
Foi quando seus olhos embaçaram que ela conseguiu acordar. Não choraria!
Não mais! Havia prometido a si mesma. Fechou os olhos com força e se
esforçou a retomar sua respiração normal. Precisava fugir daquele lugar.
Brampton Fort. Tinha que conseguir sair dali. Não podia esperar por Harry e
sua profecia, nem muito menos pelas últimas esperanças da Ordem. Não mais.
Ajeitou a postura e tomou o caminho de volta para o balcão.
- Sim. – respondeu quase que automático olhando confusa para o pote com
raízes de valeriana que tinha com ela. Precisou de segundos para se lembrar
que havia o retirado da prateleira para poder enxergar do outro lado e
esquecera de o devolver ao lugar. – Sim. – tornou a afirmar, aproximou-se e o
colocou sobre o balcão. – Vou levá-lo.
- Não se faz poções com um ingrediente apenas, Hermione. – Narcisa a
olhou de modo desconfiado.
Hermione caminhou mais rápido do que deveria e soube que Narcisa precisou
aumentar seu passo para acompanhá-la. As duas entraram na carruagem e
Narcisa ordenou que fossem a catedral.
Tudo que Hermione queria era conseguir uma maneira de mandar embora o
desespero que tentava controlar. Ela não conseguia encontrar nenhuma
desculpa que pudesse tranquilizar ou fazê-la aceitar que estava mesmo fadada
a ir para cama não só com Draco Malfoy, mas também com Lorde Voldemort.
- Hermione. – escutou Narcisa a chamar. Por um momento Hermione quis
ignorar a mulher a sua frente. Aquela mulher não se importava com tudo que
ela passaria em sua vida sendo uma eterna prisioneira ali. – Hermione! –
Hermione a encarou. – Escutou o que conversávamos, não foi?
- Draco jamais tocaria em você se o mestre já tiver alguma vez feito isso. –
Narcisa comentou. – Draco não dividiria você com o ele de maneira alguma e o
Lorde sabe bem disso. O mestre quer mais um herdeiro seu com Draco do que
te possuir, Hermione. Ele pode ser o Lorde das Trevas, mas é bem sensato ao
considerar tudo que é necessário para ter os planos de sua mente
concretizados.
- Isso não o isenta de poder me arrastar para a cama dele assim que tiver
o herdeiro que tanto quer. – Hermione tratou de dizer.
- Bem. – Narcisa suspirou. – Acredito que até lá, você terá tempo para
pensar em algo.
Uma onda de paz fez com que ela inspirasse e expirasse como se estivesse
fazendo isso pela primeira vez na vida. Encostou-se no banco e fechou os
olhos. Teria tempo para pensar em algo sim. Ela era Hermione Granger e havia
lutado contra todo o exército das trevas. Viveu anos em uma guerra. Sabia
como vencer uma batalha.
- Agiu como se pudesse ser arrastada para o quarto do mestre assim que
descêssemos na catedral. – comentou Narcisa. – Impulsivo demais.
- Não seria uma situação impossível de acontecer. Pensa que conheço seu
filho para saber que ele se importa em não querer dividir com o mestre a
sangue-ruim da futura esposa? Eu jamais associaria o que ouvi com uma
informação que não tinha.
- Sabe que Draco é egoísta. – retrucou Narcisa.
- Você não estava lá. – Hermione disse ao se lembrar da facilidade com que
Draco dera aquela ordem.
- Não acredito que Malfoy tenha feito algo por mim. – comentou.
- Ele não fez por você. Não exatamente por você. Ele agiu por princípio.
Você não merecia o que o mestre queria lhe dar.
Não havia jantado e estava com fome. Queria perguntar a Tryn se poderia
jantar em seu quarto, mas tinha receio de que a elfa a informasse que teria que
jantar com Malfoy. Sabia que se realmente tivesse ela já teria sido informada,
mas ainda assim tinha receio. Não suportava estar perto dele. Os jantares e
cafés-da-manhã que eram obrigados a estar juntos não passavam de refeições
silenciosas e incômodas. Nenhum dos dois se enforcava realmente em dar
atenção ao outro. Para Draco, com sua inexpressividade, parecia apenas mais
uma solitária refeição, onde ele chegava, sentava, não a cumprimentava,
enchia uma xícara de chá, fazia um prato, comia, lia seu jornal, se levantava e
ia embora. Hermione era somente incapaz de ignorar a presença dele. Era
torturante o ter por perto porque sempre se lembrava da inércia maldita que a
expressão dele tinha ao fazê-la assistir Luna sob tortura.
- Tryn. – chamou e a elfa apareceu num estalo. – Posso jantar
em Whitehall hoje?
Hermione estava pronta para responder que sim quando se lembrou que
primeiro seria conveniente uma banho que pudesse fazê-la relaxar, embora
banhos lhe dessem perturbadores períodos de reflexão.
- Posso fazer isso também, obrigada Tryn. Tornarei a chamá-la para trazer
o jantar assim que estiver pronta. – disse e isso pareceu satisfazer a pequena
criatura que logo se foi.
Hermione suspirou cansada, juntou uma muda com as roupas novas, colocou
alguns sapatos em cima e tentou pegá-los da melhor maneira a manter o
equilíbrio das coisas, mas assim que os puxou juntos, uma outra sacolas rolou
por cima das outras estando presa ao laço de um dos vestidos e então num
segundo de susto Hermione só escutou o barulho do estilhaçar de vidro no
chão. Ela praguejou a falta de uma varinha e tentou olhar por cima da pilha de
coisas que carregava para ver o que havia destruído, mas não foi capaz. Deu
um passo para devolver a cama a pilha de roupas e sapatos e no mesmo
minuto em que firmou o pé no chão, sentiu a dor de ser cortada pelo caco do
vidro. Mordeu os lábios e gemeu assim que começou a sentir o líquido quente e
pegajoso na sola do pé. Lançou tudo de volta a cama e chamou por Tryn num
tom angustiado.
A elfa voltou num estalo.
Hermione tentou não prestar atenção no trabalho que a elfa começou. Sentir a
dor já bastava demais. Olhou a bagunça que criara e se perguntou quando
havia aprendido a ser tão desastrada. Como havia se tornado tão dependente
de uma varinha? Santo Cristo! Ela precisava de uma varinha! Ao menos sua
destruição não tinha valor. Não iria precisar da aquisição feita na loja de
Bellatrix de qualquer forma...
Seus pensamentos todos pararam de uma vez quando ela notou seu sangue se
unindo com a pasta da ceiva que escorria pelos talos das raízes de valeriana
sobre o chão de mármore. O ponto onde os dois se uniram formava um líquido
branco e ralo que aos poucos se tornava incolor. Por segundos Hermione piscou
como se não tivesse que se preocupar com aquilo, mas seus conhecimentos em
poções a alertou tão rapidamente quanto deveria.
- Tryn. – chamou a elfa. – Por que meu sangue está reagindo com raiz de
valeriana?
A elfa ergueu os enormes olhos confusos para Hermione, pulou para a bagunça
no chão e depois de um rápido tempo de análise ela tornou a encarar
Hermione.
Hermione apenas confirmou que sim enquanto via seu pé novo em folha. Talvez
seus olhos pudessem se ocupar com aquela visão, mas seu cérebro apenas
processava as palavras da elfa. Pensou nas fracas propriedades inibidoras das
plantas valerianas e na reação com seu sangue. Ela queria saber quem anulava
quem naquela reação.
Bem. Acredito que até lá, você terá tempo para pensar em algo.
Escutou a voz de Narcisa ecoar em sua cabeça.
- Tryn. – tornou a chamar a elfa que logo ergueu os olhos para ela. –
Separe uma amostra da reação. – pediu e a criatura acenou em confirmação.
Talvez aquela era a chance de se apegar a uma esperança que não fosse Harry.
7. Capítulo 7
Hermione Granger
Uma gota de felicidade ao menos. Estava tão seca de alegria que aquela única
gota havia sido devorada sem qualquer piedade. Hermione deu leves batidas
cuidadosamente na porta, girou a maçaneta e entrou. Seu sorriso veio em
sequencia assim como os olhos embaçados.
Luna estava sentada no meio de uma imensa cama com as pernas cruzadas e
sorriu para Hermione assim que a viu. As duas apenas sorriam em silêncio
encarando uma a outra.
- Sabe que nós não temos motivos para ficarmos sorrindo assim, igual duas
bobas. – comentou Luna e Hermione riu. A loira se arrastou para fora da cama
e as duas se abraçaram. Hermione sentiu o corpo ossudo e fraco de Luna o que
fez seu coração apertar ainda mais. – Você poderá me ver quando quiser?
- Você quer dizer, está obedecendo a todos eles. – disse ela. Hermione
suspirou e confirmou. Elas ficaram em silêncio por um bom tempo até que Luna
decidiu se pronunciar outra vez como se soubesse que discutir com Hermione
sobre seus atos protetores fosse perda de tempo. – Eu vi a cidade. Pelos vidros
dos nichos ali daquele lado. – apontou para uma parede com rasgos fundos por
onde entrava a iluminação. – As outras aberturas só me dão vista para a
muralha, e aquela ali para algum jardim de inverno, ou talvez algum fosso de
ventilação bem cuidado. – apontou para outra fachada com janelas.
Hermione assentiu.
- Grande, não é?
Hermione fechou os olhos sentindo a enorme falta que ele fazia para ela. Os
abriu e levantou-se. Caminhou para a direção dos nichos e vislumbrou um
pedaço limitado da cidade. Parecia o norte. Talvez fosse.
- Viktor disse que Harry está agindo como louco e está levando a Ordem
com ele. Remo e Kingsley estão tentando freá-lo. – contou. – Foi a última
informação que tive.
- Não acredita no que ele disse. – foi o que a loira concluiu daquilo.
Hermione parou e voltou-se para a amiga. – Posso saber por que?
- Viktor não disse a eles que... – parou, olhou de um lado para o outro e
tornou a se aproximar. Reformulou tudo novamente. – Se Viktor realmente
joga do lado deles, Malfoy e todo o exército do Lorde das Trevas deveriam
saber o porque eu não te deixei para trás aquele dia em Southport quando as
ordens para mim sempre foram nunca se deixar ser pega independente do
sacrifício a ser feito.
- Está dizendo que eles não sabem que se sacrificou pela Ordem?
- Ele te interrogou?
- Não.
- Luna, – começou num tom baixo e desapontado. – acho que está na hora
de parar de mentirmos para nós mesmas. – disse e a loira apenas a encarou
em silêncio e apreensiva. – Sabe que fiz um sacrifício em vão.
- Pretende entregar a ele esse segredo? – Luna ficou surpresa – Hermione,
essa foi a maior arma que a Ordem já encontrou, tenho certeza que Harry a
conseguiu depois que o exército de Malfoy nos capturou e recuou os ataques.
Era exatamente esse o tempo que ele precisava, por isso você se sacrificou. E
também não tem certeza dos planos da Ordem agora.
- Hermione...
- Nós sabíamos que a guerra ia finalmente acabar se... – ela parou sentiu
um nó subir sua garganta junto com a raiva contida que tudo aquilo lhe
causava. – Por isso estou aqui, Luna. Por isso nós duas estamos aqui! – disse
com os dentes cerrados enquanto suas vistas tornavam a embaçar. – Mesmo
que Harry não esteja realmente agindo como louco, absolutamente nada
aconteceu! Nada! A guerra não chegou ao fim, Voldemort continua vivo, essa
maldita cidade continua de pé! – encarou Luna. – Me sacrifiquei em vão. Algo
deu errado.
- Não sei bem se Malfoy vai preferir acreditar em um agente duplo que o
ajudou a manter suas vitórias nessa guerra, ou em uma prisioneira rebelde
como você. – comentou Luna.
- Sim, estou considerando isso. Preciso sondar Draco Malfoy. – seu corpo
todo se arrepiou ao se lembrar disso. – Ele é abominável, mas preciso saber
como e quando agir, para isso tenho que conhecer o terreno em que pisarei. –
ela suspirou.
As duas ficaram em silêncio assim que Luna concordou com a amiga. Sabia que
Luna confiava nela. Haviam estado tempo o suficiente juntas naquela guerra.
- Ainda planeja conseguir fazer com que eu escape? – Luna perguntou
finalmente.
- Luna! Sabe que eu tenho que fazer isso não só por você, mas por mim
também!
- Você precisa de alguém! Precisa de um suporte! Eu sou seu suporte,
Hermione. Se lembra de quando dividimos as duplas antes de irmos a
Southport? Somos responsáveis uma pela outra em campo de batalha. Temos
que cuidar e proteger uma a outra. Nós ainda estamos em batalha. Ainda
temos que lutar. – disse a outra.
Hermione não podia contrariá-la. Mesmo que ela dissesse aquilo e Hermione
concordasse, não podia condenar Luna a seguir a vida que era obrigada devido
a marca estampada em seu braço. Estava feliz por ter a amiga com ela,
principalmente ali. Ela não sentia aquela sensação há muito tempo. A sensação
de estar com alguém que realmente a conhecia, alguém verdadeiro, alguém
que não estava esperando por um deslize seu.
- Tenho estado tão só, Luna. – se viu comentar com o olhar baixo e o
coração dolorido. – E tenho que ser tão forte. Tão orgulhosa. – suspirou e
levantou os olhos para a amiga. – Sinto que a cada dia que se passa eu tenho
mais justificativas e mais motivos para mudar. Para aceitar como todos são
aqui. Para ser como eles. Isso me assusta porque as vezes é quase inevitável
não ser como eles. Alguns absurdos são tão comuns e temo que o costume
também os torne comuns a mim.
- Você tem que fazer o que é necessário para sobreviver a esse meio,
Hermione. – a voz sonhadora de Luna sempre era confortante. – Tenho certeza
que você nunca vai mudar, vai apenas se adequar. - Hermione sorriu. Um
sorriso verdadeiro. Um que não dava há muito tempo. – Viu? Tenho que ser
seu suporte. - Hermione riu e revirou os olhos. Passou os braços em torno de
Luna e a abraçou novamente. – Você não tem um casamento para comparecer?
Vai se atrasar.
- Acha que consigo me esconder aqui com você até o final do dia? – tentou
Hermione.
Luna sorriu.
- Se meu pai ainda fosse vivo eu tenho certeza de que ele iria conseguir
encontrar uma boa resposta para a sua pergunta! Ele sempre soube tudo sobre
feitiços de distração. – respondeu a loira.
- Eu nunca entendo porque vocês sempre dizem isso quando falo que meu
pai era bom em feitiços de distração! – protestou a amiga.
Hermione riu e foi tão gostoso que ela se encantou com a capacidade de ainda
sentir essas emoções.
- Vejo você no casamento, Luna. – trocou um último olhar com ela e se
levantou. – Estou feliz que pelo menos você estará lá para lamentar pela minha
causa quando todos os outros estarão lamentando apenas pela de Malfoy.
Hermione agarrou a grande argola que pendia na porta, a puxou, sorriu uma
última vez para a amiga e a deixou. Ingênua Luna. Pelo menos a tinha embora
nenhuma palavra que ela dissesse pudesse fazer Hermione deixar de pensar
numa forma para livrá-la daquele lugar.
Draco Malfoy
Virou o Whisky de Fogo e bateu o copo contra a mesa. Seus olhos cinzas
fuzilaram sua mãe quando ela tirou o copo de sua mão e a garrafa de álcool de
seu lado. Sentiu-se uma criança, mas parecia quase certo ser uma criança
birrenta aquele dia.
- Eu não o quero bêbado logo hoje. – ela foi fria. Por algum motivo que ele
sabia bem qual era, sua mãe estava o tratando como se ele tivesse passado a
vida fazendo escolhas erradas. Aquilo o irritava. Por que sua mãe haveria de
defender Granger? Ele sabia bem o porque.
- Sabe que tenho motivos o suficiente para beber o quanto eu quiser hoje.
– foi até a mãe e pegou de volta a garrafa que ela havia levado para longe.
- Sei disso. – retrucou ele teimosamente enquanto enxia seu copo mais
uma vez até o topo.
- Draco. – seu tom foi ríspido quando ela deteve a mão que estava prestes
a levar o copo a boca. Ele lançou a ela um olhar tão igualmente severo e ambos
tiveram um breve embate silencioso enquanto trocavam olhares. – Por favor. –
foi quase uma súplica.
Ele bufou, soltou seu copo, deu as costas a ela e se jogou no caro sofá da
antecâmara do salão principal da catedral. Pendeu a cabeça para trás e usou os
dedos para pressionar os olhos tentando de alguma forma aliviar a tensão em
seu corpo. Sentia-se quase sufocado pelo fraque de seu traje.
- O que tenho que fazer para que o tempo pare, mãe? – sentiu ter
novamente dez anos, quando era obrigado acompanhar seus pais em eventos
importantes no Ministério. - Existe alguma magia que não deixe que esse dia
aconteça? Algo que faça com que ele não chegue ao fim.
A mulher não respondeu, mas as palavras dele fizeram com que todas as
expressões dela se suavizassem. O silêncio os contemplou por longos minutos
enquanto Narcisa sentava-se numa das cadeiras próximo ao filho.
O fim de tarde do lado de fora que entrava pela abertura na parede não era
bonito como quase nenhum era em Brampton Fort, mas o barulho das
carruagens, a movimentação de pessoas e as conversas que chegavam
abafadas a antecâmara informavam o evento especial e alertava Draco de que
ele deveria estar lá, com elas, cumprimentando e agradecendo pela presença
enquanto Hermione podia se manter escondida dos olhares tendo uma dúzia de
elfos e mulheres compondo sua produção para tornar ainda mais grandiosa a
sua aparição.
Ele não conseguia aceitar isso. Ficaria ali naquela antecâmara. Seria teimoso e
infantil, mas ninguém o obrigaria a enfrentar aquela falsa recepção. Aquele
casamento era uma farsa além de uma eterna condenação. Merlin! Por que o
tempo não parava?
- Sempre soube que esse dia chegaria. – Narcisa começou numa voz suave
e uniforme. Draco desviou seu olhar para ela. – Eu nunca coloquei em você
nenhuma pressão, Draco. Sabe que não. Mesmo que soubéssemos toda a
tradição da família. – ela desviou o olhar – Nutria a esperança de que pudesse
encontrar alguém que amasse, mesmo que os anos fossem se passando e você
nunca permitisse que alguém chegasse ao seu coração. – ele revirou os olhos -
Sei que tem suas razões porque conhece bem que tipo de pessoa é. – ela
tornou a encarar o filho. – Mas tudo isso fez com que eu temesse por esse dia.
Pelo dia em que colocassem uma moça a sua frente e dissessem que aquela
seria sua esposa. – ela suspirou. – E sabe que nunca foi por você que eu temi.
Aquilo estranhamente o feriu por mais que sua mãe tivesse todos os motivos e
as razões para reafirmar cada palavra.
Narcisa deu a ele o olhar que sabia destruí-lo. Olhava-o como se estivesse
encarando o marido. Aquele olhar que tinha todos os motivos para desaprová-
lo, mas todos para amá-lo. Ela tocou o rosto do filho.
- Você não entende, filho. – ela usou um tom baixo. – É algo que também
ninguém entenderia.
- Ela não é como eu, não terá uma história como a minha. Você conhece
minha história, mas mesmo com tudo o que vivo, eu tenho você para amar. E
tenho o seu pai. – Narcisa estalou um beijo terno no rosto do filho - Ela não
terá nada. – se afastou. – Sinto muito por hoje, mas por favor, cumpra com o
seu papel. Não por ela, mas por mim. Sabe que seu pai quer que tudo saia
perfeito, se algo der errado ele me culpará para o resto da vida. – e saiu.
Draco sentiu o calor da fúria que a menção de seu pai lhe causava. A engoliu e
considerou que deveria cumprir com aquela injusta divisão de tarefas.
Aguentaria a insuportável companhia de todas aquelas pessoas o bajulando
antes da cerimônia se era o que sua mãe queria que ele fizesse para ter uma
noite de sexo com seu pai. Pensar naquilo aumentou sua fúria ainda mais.
Como ela podia amar um homem como aquele?
Draco aguentou todas as bajulações com muita educação. Foi quase como em
sua festa de noivado, só não tinha Hermione ao seu lado, mas estava sendo tão
insuportável quanto. Teve que se enfiar na roda de assuntos onde seu pai
discursava as maravilhas que fazia no mundo bruxo como Ministro da Magia e
ainda contar sobre seus planos contra os rebeldes. Tudo pelo bem da política.
Era uma pena que tivesse que fazer parte daquele meio.
Viu o momento em que Pansy chegou. De longe ela parecia exuberante usando
um longo vestido cinza prateado, decotado, justo e com uma fenda exatamente
na medida que ele gostava. Quando ela se aproximou Draco sorriu por dentro
ao se lembrar do porque levava aquela mulher para a cama, mas logo foi
obrigado a desviar o olhar dela para voltar sua atenção ao chefe de
departamento de seu pai. Obviamente, como se era esperado, não demorou e
ela estava se enfiando entre os chefes de governo para ter sua devida atenção.
Por fim ela não deixou Draco de fora. Seu espírito falsamente contente divertiu
um pouco dos homens na roda ao fazer uma rápida brincadeira sobre o
semblante severo que ele possuía no dia de seu próprio casamento. Ganhado a
simpatia de todos ela apenas pediu perdão pelo ato rude e exigiu um pouco da
atenção do noivo aos outros alegando precisar se despedir dos últimos minutos
de solteiro de Draco Malfoy. Todos riram e Draco aproveitou a chance de se
livrar dos assuntos governamentais de seu pai. Desculpou-se e seguiu Pansy. A
mulher não tardou em se aproximar assim que ambos deixaram a roda e
passou seu braço pelo dele.
- Não tão próximo, Pansy. – alertou Draco.
- Então porque não melhora essa cara? – riu ela. - Parece que está em um
velório.
- Não é novidade para ninguém que isso tudo é uma farsa. Acha que todos
acreditam na mentira que contamos? As pessoas apenas aceitam por confiar
cegamente em qualquer plano que o metre tenha com isso tudo. – disse.
- Eu não me importo com qualquer que sejam os planos dele. – ela soltou
num tom grave e sedutor enquanto se aproximava perigosamente. Draco
recuou sabendo que um flash registraria aquilo a qualquer momento. – Não me
importo também que será um homem casado daqui a alguma horas. – ela
continuou a se aproximar e ele teve que detê-la. Ela parecia se esforçar em
achar aquilo engraçado.
- Pare. – exigiu ele. - Isso não é uma brincadeira e você está agindo como
uma criança. – tentou ser gentil ao empurrá-la para que nenhuma câmera
mostrasse o quanto ele queria ser agressivo.
- Criança? Criança como esse seu bico de quem está sendo forçado a jantar
antes da sobremesa? – ela riu e se afastou sabendo que ele não estava sendo
nem um pouco receptivo a implicação dela apenas pelo olhar severo que ele
passara a usar. – Certo. – mostrou as mãos - Não me culpe. Estou apenas
tentando descontrair um noivo nervoso.
- Não, Pansy. Você está apenas querendo uma foto sua nos jornais de
amanhã.
- Sabe que eu não aceito perder as minha usuais atenções para uma
sangue-ruim. – ela disse e dessa vez Draco não ousou reprimir um sorriso
discreto.
- Deveria tentar algo melhor do que isso. – sugeriu ele.
- Sim. – confirmou ela. – Durante o banquete vou dar uma boa olhada nas
instalações para me certificar de que encontrarei um bom lugar onde você
possa me foder na festa de seu próprio casamento.
- Eu também. – ele parou. – Não é possível que depois de todos esses anos
que convivemos juntos você ainda cogite a idéia de que eu arriscaria arruinar o
evento que minha mãe organizou para ser perfeito.
- Por uma mulher? Claro que eu cogitaria.
- Bem, não será muito diferente dele quando tivermos nossa primeira
transa depois de seu casamento.
- Você me conhece, Pansy. Por que está fazendo isso? – tentou ser o mais
discreto possível embora não conseguisse evitar vociferar.
- Fazendo o que? – indagou ela.
- Draco, sei que não gosta, mas você já deveria ter superado isso. É tão
igual quanto ele e sabe que existem evidências o suficiente que comprovam
isso. Não minta para si mesmo, vai ser mais difícil quando tiver que encarar
todas essas evidência escancaradas bem a frente do seu próprio nariz. Vai se
casar e traíra sua mulher. Quando tiver seu filhinho e ele descobrir que a
família que vive é uma farsa você dirá o que a ele? Que tem motivos para isso?
Essa não é a resposta de seu pai quando pergunta o por que ele traí sua mãe?
- Por que, pelos mil infernos, todos insistem em comparar esse maldito
casamento com minha família? Nunca mais ouse comparar minha mãe a uma
sangue-ruim! Nunca mais me compare com qualquer atitude do meu pai! E
qualquer filhinho que possa eventualmente aparecer, não será dela nem meu!
Sabe muito bem o porque tudo isso está acontecendo. – soltou o braço dela
sabendo que poderia provocar qualquer dano permanente.
- Não fuja disso, Draco. – ela disse. – Seu pai te colocou nessa situação
para fazer com que você entendesse os motivos dele.
- Não é como se você fosse amar Hermione Granger algum dia, Draco! –
disse aquilo como se não fosse algo óbvio. – Vai sentir exatamente o que seu
pai sente quando tiver aquela mulher em sua casa.
- Se comparar minha mãe mais uma vez com aquela mulher, juro que
nunca mais encostarei o dedo em você, Pansy! E pelo que eu conheço da sua
desesperada obsessão, isso seria um excelente castigo!
- Não conseguirá. Já tentou uma vez e não deu certo. – ela deu de ombros.
– Estou apenas o alertando. Sabe que fui sua amiga antes de ser sua amante e
as vezes se esquece disso.
**
Draco quase pode vê-la. Hermione. Passara bem em frente a porta do local
onde dezenas de elfos e especialistas de beleza trabalhavam para deixá-la
espetacular. A porta estava aberta e ele ousou espiar, mas foi fechada pelo
lado de dentro antes que ele pudesse ver qualquer coisa.
Não podia negar a ele mesmo o nível de sua curiosidade. Não via problemas
nos velhos mitos de azar sobre ver a noiva antes do casamento. Até porque
aquele casamento já era um grande azar. Não se importava, mas aquele
mistério que todos insistiam em manter, atraía qualquer tipo de ansiedade.
- Granger não é tão mal assim. Lembra-se do que falei quando estávamos
no sexto ano? – ele questionou de maneira divertida e Draco sorriu ao se
lembrar. - Se eu não tivesse tanta certeza de que ela era virgem aquela época,
sem dúvida a arrastaria para dentro de algum armário e ela não teria sequer
tempo de raciocinar algo. Bastava apenas cruzarmos em algum corredor vazio.
Draco riu.
- Ela pode ser a mulher mais linda do mundo, não deixará de ser Hermione
Granger.
- Essa é uma frase que certamente soa muito bem. – disse Draco. – Mas
não me livra de estar aprisionado a essa mulher.
- Sim, e ela era realmente estranha. Não que tenha deixado de ser, digo,
ela é uma rebelde, amante de ninguém menos que Harry Potter e parece que
toda inteligência do mundo está retida no cérebro dela. Mas em Hogwarts,
mesmo quando começou a chamar atenção, ela nunca se permitiu misturar
com as outras garotas.
Nott riu.
- É por isso que aquele homem dando ordens em campo de batalha não me
convence, Draco. Para mim você sempre será o Draco Malfoy que conheci em
Hogwarts. – brincou Theodoro. Draco não se importava em regredir um pouco
no tempo quando estava na companhia dele. – Vamos, trate de colocar
novamente aquela cara de quem esta encarando o inimigo. Está na nossa hora
de entrar. – apontou para uma das organizadoras que o chamava. – Tente se
divertir, Draco. Casamentos são festas, não velórios.
- Este está se parecendo muito com um. – disse e seguiu a mulher que
insistia para que se apressasse.
Respirou fundo enquanto escutava seus passos se misturarem em eco com os
da mulher ao seu lado. O pequeno momento de descontração que teve com seu
amigo de infância apenas o fez perceber que não seria facilmente distraído
naquele terrível dia.
- Sabe o que deve fazer. Apenas cumpra o seu papel. – ela estava tão séria
que Draco podia quase sentir toda a tensão que ela emanava. – Por favor, não
faça nenhuma besteira. Essa não é a hora. – ela se colocou na ponta dos pés e
beijou o rosto do filho. – Sinto muito. – disse baixo, virou-se e voltou por onde
tinha vindo no mesmo ritmo uniforme e apressado.
Draco respirou fundo mais uma vez e soltou o ar pela boca. A mulher ao seu
lado deu o sinal de que poderia avançar assim que as portas estivessem
abertas e foi embora. Logo, em pouco menos de um minuto, lá estavam elas
escancaradas a sua frente. Ele passou sem pressa, cumprimentou algumas
autoridades de Brampton Fort que estavam do outro lado, encontrou-se com
Theodoro Nott que vinha pelo lado oposto e ambos de alinharam no fim do
longo tapete vermelho que cruzava o salão principal. Deu o primeiro passo e foi
seguido por Theodoro.
- Não tente disfarçar que está nervoso. – brincou Theodoro ao seu lado,
mas dessa vez Draco realmente não conseguiria se distrair, por mais que seu
amigo estivesse tentando ajudar.
Os olhares em cima dele eram muitos, por mais que ainda existisse algumas
poucos lugares vazios tanto nas galerias quanto nos camarotes. Ele conseguia
distinguir os elementos, mas a decoração era demasiada barroca e por todos os
lugares ele conseguia ver as cores vinho e prateado dos Malfoy, além de
cumpridas bandeiras que desciam do teto distante com o brasão da família
estampado. Estava tudo tão bem decorado e tão suntuoso que era, de fato,
uma grande perda de tempo tentar reparar em algum defeito.
A porta era lenta como sempre, mas Draco não teve problemas em logo
conseguir ver Hermione parada do outro lado. O órgão soava tão estridente que
fazia seu coração acelerar, ou talvez fosse apenas Hermione que estava
causando aquele evento.
Ela começou a andar assim que as portas estancaram. Bastou alguns passos e
Draco finalmente pode vê-la perfeitamente. Foi exatamente quando seu
coração parou, e não foi só o dele, porque no mesmo segundo Theodoro se
pronunciou as suas costas:
Ela estava tão magnificamente gloriosa que nada a não ser ela chamava
atenção. O tom marfim do pomposo vestido era quase tão claro quanto
qualquer luz que estava sobre ela naquele momento. As cores escuras que a
cercava ajudava com que ela se destacasse ainda mais. Os cabelos castanhos
estavam mais lisos embora ali ainda tivesse um pouco dos comuns cachos.
Estavam parcialmente presos num simplório, porém elegante, penteado. A
expressão que carregava era a mais fria que Draco já havia visto no escultural
rosto de Hermione, mas aquilo não diminuía sua beleza nem uma gota sequer,
pelo contrário, a tornava ainda mais atraente. Ele gostava da seriedade, da
frieza e dos olhares de desgosto, talvez sua mãe tivesse ensinado isso a ela.
Queria sorrir por saber que aquela seria sua mulher e que todos saberiam
daquilo. Por segundos não se importou que fosse Hermione Granger, a sangue-
ruim de Hogwarts. Não importava. Era tão linda, a mulher mais linda.
Foi somente quando ela parou a sua frente e ele conseguiu desgrudar seus
olhos dos dourados dela que percebeu que quem havia a carregado por todo o
tapete havia sido Lorde Voldemort. Logo atrás dela também estavam Luna
Lovegood e Pansy Parkinson. Pansy parecia insignificante ocupando aquele
lugar na cerimônia. Sabia que ela estava furiosa, mas não se importava. Ela
seria sua amante e ocupava o lugar certo, ali, debaixo das sombras. Hermione
seria sua mulher, e parecia muito bem adequada para os holofotes. Ele não
trocaria, não parecia correto. Não naquele momento.
Draco apenas lançou a ele um olhar rápido e sem ânimo. Estendeu a mão para
Hermione e a viu hesitar alguns segundos, mas antes mesmo que ele pudesse
se preocupar com aquilo, ela ergueu sua mão e pousou sobre a dele. A dela
estava fria e levemente úmida. O toque era, sem dúvida, estranho.
Quis dizer a ela que deveria evitar demonstrar o desprezo que tinha por ele
durante aquelas poucas horas, mas foi impedido pelo juiz que elevou sua voz
fazendo a convocação para que todos proferissem as honras ao mestre, que
estava presente.
O coral de vozes começou em uníssono. Todos liam pelo caderno de
programação, inclusive Draco e Hermione. Assim que o discurso poético foi
finalizado Voldemort pode tomar seu assento. Nada muito distante e em lugar
de honra. Então finalmente o juiz começou. Os textos românticos foram
retirados de pauta e tudo que foi anunciado pela boca do juiz não passavam de
leis matrimoniais e assuntos sobre a tradição familiar dos Malfoy. Foi longo.
Principalmente quando passou a ser citado os nomes dos casais mais
significativos da história da família e seus maravilhosos feitos para o mundo,
apenas para servir de exemplo para Draco e Hermione. Tradicionalmente, nas
cerimônias de casamento da família Malfoy era se feito uma associação entre
um antigo casal para que servisse de exemplo ao novo, mas como Hermione
era uma sangue-ruim, seria uma ofensa aos nomes antigos fazer qualquer tipo
de associação. Narcisa obviamente tratara daquilo ao informar o juiz de que
apenas citasse os nomes e contasse suas histórias sem que houvesse qualquer
tipo de analogia.
Dessa vez eles não foram até o fim da galeria. Em um silêncio quase mortal,
cruzaram para um segundo corredor e se direcionaram para o interior da ala
norte, onde subiram algumas escadas e entraram em uma sala dotada de uma
decoração mais aconchegante.
Draco logo viu os papéis sobre a mesa. Haviam dois, um a sua frente e outro a
frente de Hermione, entre os dois pergaminhos, somente uma pena
descansava. Ele conseguia quase cheirar a magia que envolvia aquele conjunto
bem diagramado sobre a mesa.
- Uma vez que assinarem os papéis, não haverá mais volta. – anunciou o
juiz. – Ele será arquivado no Departamento de Mistérios juntamente com os
demais documentos da família e somente poderá ser acessado por processo
de...
Recebeu olhares severos de sua mãe e Voldemort, mas não se importou já que
não estava diante do público de Brampton Fort. O juiz recebeu a desaprovação
e tratou de pular o protocolo tirando a pena do descanso e a estendendo a
Draco que a pegou, passou os olhos rapidamente por todos da sala e puxou o
papel que deveria assinar. Já encontrou ali as assinaturas de todas as
testemunhas que estavam presentes naquela sala. Havia apenas a linha onde
deveria colocar a sua.
Não deveria hesitar. Não deveria. Mas hesitou. Era inevitável. Assinar aquele
papel o prenderia a Hermione para o resto de sua vida e sim, ele podia quase
sentir o cheiro de toda a magia que envolvia aquela pena e aquele pedaço de
pergaminho. Não colocaria o seu nome ali. Levantou os olhos e viu Voldemort o
encarando de maneira apreensiva. Desviou para Hermione e os olhos dourados
dela o olhavam como se tivessem uma pontada de esperança, esperança de
que ele não assinaria.
Quase podia enxergar Voldemort interrompendo aquilo para lembrar a ele que
era um comensal da morte. Lembrar a quem pertencia e de quem era a marca
que carregava no braço. Respirou fundo, posicionou a ponta da pena sob a
linha de sua assinatura, contou até três mentalmente e assinou. Estava feito.
Soltou a pena sobre a mesa e se afastou. Sua parte estava feita.
- Cale-se traidora, ou voltará para cela de onde veio! – Lúcio Malfoy foi
quem a cortou.
Draco viu Hermione fechar os olhos ainda com a pena parada sobre a linha da
assinatura. Ela respirou fundo e tornou a abri-los, engoliu a saliva e como se
também tivesse contado até três fez a pena deslizar assim como ele havia feito.
O silêncio ainda durou enquanto ela mantinha os olhos fixos sobre sua própria
assinatura naquele pedaço de pergaminho. Levou alguns segundos para que
finalmente soltasse a pena e erguesse os olhos. Estavam aguados e brilhantes
e se encontraram imediatamente com os de Draco.
Ele foi seguido por todo o resto logo que saiu. Narcisa foi até Draco enquanto
Luna avançava até Hermione para lhe dar um abraço fraco e silencioso antes de
ir.
A porta foi fechada por Pansy, a última a sair. O silêncio que se fez foi tão
incomodo que Draco quis ir embora junto com os outros também. Trocou
olhares silenciosos com Hermione e viu que ela estava tão incomodada quanto
ele. Se olharam e entenderam exatamente que aquela era uma situação com o
qual deveriam aprender a lidar.
Hermione desviou o olhar do dele querendo evitar o contato e se dirigiu sem
pressa para as grandes janelas da varanda onde podia espionar os convidados
se acomodando para o banquete no jardim interno. Draco a observou por um
minuto e tentou entender como uma mulher, vestida em uma roupa como
aquela, parecia tornar tudo tão miserável ao seu redor. Tudo parecia tão banal
se comparado a ela que seria inevitável não se pegar olhando-a da forma como
a olhava naquele exato momento durante o restante daquela noite.
Suspirou frustrado por saber que sim, a beleza dela o atraía, desviou o olhar e
deu a volta na mesa. Abriu a gaveta que sua mãe havia o indicado e tirou as
três estreitas e longas caixas de madeira que acomodavam as varinhas que
escolhera para Hermione. As alinhou sobre a mesa e retirou com cuidado a
tampa de cada uma delas. Observou as três varinhas e se preocupou.
Realmente esperava que fosse uma delas.
Ela desceu os olhos dele para as três caixas de varinha sobre a mesa e tornou a
olhá-lo novamente. Draco pode ver a curiosidade atingi-la em cheio.
- O que quer? – indagou ela. Aquela voz sempre parecia sair como se fosse
algum tipo de melodia.
Ele respirou tentando encontrar paciência no oxigênio inalado, mas foi inútil.
- Apenas preciso que venha até aqui, seria trabalhoso demais? – disse
aquilo e quase que imediatamente o olhar dela se fechou para um de desprezo.
Ele tinha que confessar que certas vezes aquele olhar o incomodava. Hermione
foi até ele como se cada passo que desse tivesse uma razão a mais para
desconfiar de que não estava indo para algum matadouro. Aquilo realmente o
incomodou. – Precisa ficar com uma dessas varinhas. – disse assim que ela
parou do outro lado da mesa.
Por que ela simplesmente não poderia pegar uma e se calar? Ele respirou fundo
e soltou o ar contando até cinco. Empurrou para ela a primeira caixa e
começou:
- Século XIII, Álamo, cinzas de Hipogrifo, 28 cm, maleável. Só teve 5
donos desde que foi honrada a família. – ele foi rápido e objetivo.
Ela segurou a caixa e arrastou para mais perto. Analisou a varinha em silêncio,
mas não a pegou.
- Por que estou vendo somente três aqui? – ela tornou a fazer uma
pergunta mesmo que parecesse saber a resposta.
Hermione tirou a caixa de cima da mesa e a analisou mais de perto, mas ainda
sem tocar na varinha.
- Apenas escolha uma e fique com ela! – ele foi duro novamente.
- É algo que quero saber. – ela usou um tom doce como se o que tivesse
pedido não fosse grande coisa e como se estivesse tentando entender o porque
ele estava sendo ríspido. Belo teatro o dela. Ele bem sabia que ela estava
tentando o provocar. Não podia deixar que ela vencesse aquilo. – Não entendo
o porque não deveria me contar.
Ele lutou para não revirar os olhos. Respirou fundo novamente pela terceira vez
e trocou de posição incomodado.
Ela finalmente pegou a varinha. Era comprida, fina e delicada nas mãos dela.
Hermione a girou habilmente entre os dedos e suspirou. Encarou Draco.
- Século XVII, cedro, lágrima de sereiano, 35 cm, rígida. Oito donos desde
a fabricação. – viu Hermione pegar a caixa com rapidez.
- Essa é uma das cinco varinhas com lágrima de sereiano feitas no século
XVII? – ela estava surpresa – Está me dizendo que essa é uma das cinco
varinhas que eles fizeram com a única amostra de lágrimas de sereianos que já
foi colhida na história do mundo? – ela parecia quase sufocada pela fascinação.
– Eu não sabia que uma delas havia ido para sua família.
Ele soltou ar impaciente sabendo que deveria demonstrar fazer pouco caso
daquilo.
- Por que?
Ele deu de ombros.
Hermione o encarou de uma maneira que nunca havia feito antes. Como se
tivesse sido surpreendida e estivesse tentando entender se havia sido de uma
forma boa ou de uma forma ruim. Quando ele pensou que ela fosse sorrir, ela
apenas respirou fundo e pegou a varinha. Draco percebeu que havia cometido
um erro assim que a viu nas mãos de Hermione. Era uma varinha grande, bem
trabalhada porém rude para as mãos de uma mulher. Não parecia encaixar com
a figura de Hermione. Talvez a própria Hermione não tivesse reparado naquilo,
ela parecia bastante fascinada com a varinha, mas o objeto respondeu por si e
tudo que restou para ela fazer foi devolvê-lo a caixa e coloca-lo de volta sobre
a mesa.
- É muito bonita. – ele viu que ela não foi capaz de evitar comentar quando
levantou a caixa para analisar mais de perto.
- Sim, me lembro de ter lido sobre Leanor Malfoy, mas nunca se falou
muito sobre sua varinha. – Hermione tornou a colocar a caixa sobre a mesa –
Foi por isso a escolheu para mim?
Dessa vez ele estava realmente incomodado. Deveria omitir sobre a verdadeira
razão. Era uma estúpida razão, suas outras escolhas haviam sido bem
fundamentadas, porém essa havia sido quase que uma aposta. Não havia
nenhum motivo específico que o fez escolher uma varinha de Lima-prata. Sabia
que Hermione abandonara a matéria de adivinhação no terceiro ano de
Hogwarts, sabia que não era por sua incapacidade, e sim pela controversa
metodologia de ensino de Sibila Trelawney. Tanto que Hermione se provara
excelente na arte da clarividência e legilimência com o passar dos anos naquela
guerra. Mas mesmo assim aquilo não era nela uma característica marcante.
Talvez ele pudesse justificar que o sangue de unicórnio adulto fosse puro
demais assim como ela parecia estando inserida no meio de Brampton Fort,
mas essa justificativa era ainda mais estúpida do que o real motivo que o levou
a escolher aquela varinha.
- Início do século XX. – ele tentou se lembrar com detalhes – Louis Malfoy
se casou com uma sangue-puro, mas ela não era de alto nascimento nem de
nenhuma família tradicional da época. O que é uma vergonha. Essa varinha
estava entre as três escolhas dele para ela e embora a história conte que a
varinha não a escolheu, ela se recusou a usar outra. – pausou – A outra foi
Victoria Malfoy. Meio do Século XX. Era a filha mais nova de Jamie e Alexandra
Malfoy. Ela entregou a varinha quando se casou.
Hermione sorriu. Ele achou bonito como aquilo apareceu naturalmente em seu
rosto. Ela tornou a empunhar a varinha e analisá-la mais de perto. Depois de
um longo minuto em silêncio, o minuto que ela usou para redesenhar cada
mínimo detalhe da peça em sua mão, ela finalmente ergueu o olhar para Draco
e arrastou a caixa vazia de volta para ele.
Ela ficou em silêncio um bom tempo. Por mais que aquilo acabasse sendo um
elogio, ela não demonstrou nenhum apreço pelas palavras. Ele não entendeu.
- Acho que eu não preciso mais de uma boa varinha para duelar. – foi o
que ela disse usando uma tom baixo e uniforme. Então ele entendeu.
Deu a volta na mesa e foi até as portas assim como ela para olhar também a
movimentação no jardim interno. O silêncio entre eles não era mais incomodo
como antes e ele percebeu que ignorar um ao outro parecia uma boa forma de
lidar com aqueles momentos que certamente tornariam a acontecer,
principalmente agora que dividiriam a mesma casa. Notou também que não era
tão perturbador manter uma conversa sem o interesse de ofendê-la ou ser
agressivo, por mais que não gostasse da mulher, viveria com ela para o resto
da vida. Talvez pudesse encontrar uma forma de ser simples e objetivo sempre
que precisasse. Eles trabalhariam para encontrar uma boa forma para lidar um
com o outro. Sua mãe e seu pai haviam conseguido. Não seria impossível.
- Vamos. – deu as costas para ela e seguiu para porta. – Temos que fazer a
tão esperada aparição como Sr. e Sra. Malfoy.
Ela levantou o olhar para ele e Draco soube com aquele olhar que Hermione
lamentava o mesmo que ele naquele exato momento. Aquela noite ainda não
estava nem perto de acabar.
Capítulo 8
Narcisa Malfoy
Ela não tinha crédito algum para elogiar a beleza de seu filho, era a mãe e a
cultura regia que por mais que tentasse, suas palavras seriam inválidas. Mas
ela simplesmente não podia olhá-lo sem considerar o quanto ele chamava
atenção. As vezes o olhava e enxergava o encanto de Lúcio entrando em sua
casa pela primeira vez para pedi-la em casamento e fazê-la se apaixonar
perdidamente. Sem dúvida ele carregava a mesma essência. Talvez estivesse
impregnado no sobrenome Malfoy e no sangue-puro que carregava. Lamentava
por quebrarem aquela corrente com Hermione, mas era inútil tentar olhá-la
com desprezo. Era uma Malfoy e embora tivesse se tornado dura e fria como
eles, ainda tinha um coração.
Ele e ela. Draco e Hermione. Era inegável o quanto eles juntos formavam um
excelente casal. Voldemort vira aquilo. Naquela noite, em especial, eles parecia
quase um jovem casal da realeza. Hermione estava exuberante e por mais que
aquilo apagasse tudo que estivesse ao seu redor, Draco era a única exceção
que ela não conseguia anular. E não era porque era a mãe dele, mas porque
ela ainda via cada moça presente naquele casamento suspirar por ele e ignorar
a presença de Hermione ao seu lado.
Mas por mais que tudo estivesse minimamente perfeito, o que a preocupava
era o noticiário do dia seguinte. Eles eram o casal mais infeliz que ela já havia
visto e era tão notório que certamente comentariam sobre aquilo. A lente de
uma câmera captaria facilmente o modo como se tocavam friamente, como não
trocavam nenhuma palavra sequer e como simplesmente estavam
inexpressivos.
Tinha que concertar aquilo, não era algo que dependia dela exatamente, mas
tinha que agir. Não se importou em cortar o entediante assunto do casal ao
qual era obrigada a dar atenção naquele momento e apressou-se para cruzar
todo o jardim, embora parecesse uma missão quase impossível. Era
interrompida a cada minuto por alguém que certamente precisava fazer a
média com algum Malfoy e Narcisa se esforçava ao máximo para usar de toda
educação que havia adquirido com os anos na tentativa de se livrar daqueles
que detinham seu caminho.
Quando finalmente chegou a mesa dos dois, esperou que os Price terminassem
a apresentação da família ao casal. Somente tomou seu assento ao lado de
Draco quando ambos disseram, de maneira quase decorada, os cumprimentos
finais e toda a corja Price se retirou.
Nenhum dos dois expressou qualquer reação ao que ela havia dito.
- Estamos casados. Esse era o nosso papel. – respondeu ele.
- Por favor Draco, sabe que o dever de vocês vai muito além disso. Por
agora eu só preciso que parem de arruinar o papel de “manter as aparências”.
– implorou ela.
Draco riu.
Ele sorriu. Ela ainda sentia suas mãos suarem quando isso acontecia. Era
sempre hipnotizante o sorriso que ele tinha.
- Fez um excelente trabalho, Cissa. – a voz dele foi calma e cheia encanto.
Ele segurou seu rosto e a beijou ternamente.
A maravilha daquele momento fez com que sua alma fosse quase arrebatada.
Era por aquilo que ela havia se esforçado tanto. Doara tanto de si naquele
árduo trabalho apenas para ter esse momento. O momento em que seu marido
a tocaria e agiria como deveria ter agido cada dia desde o dia que haviam se
tornado oficialmente um casal.
Mas quase que instantaneamente caiu em si e se lembrou de que não havia
sido exatamente por um sorriso e um beijo que havia se esforçado tanto. No
mesmo momento também se lembrou de que seu marido era Lúcio Malfoy e o
conhecia muito bem.
- Sabe que não posso. – começou Lúcio e ela sabia porque ele não podia.
Deveria ter encontrado alguma outra mulher pra passar a noite.
- Sinto sua falta. Nunca está em casa. Esperava que ao menos hoje tivesse
reservado um tempo para sua família. – foi séria e sabia que ele odiava quando
ela utilizava a palavra família como se estivesse devendo algo a isso. Sabia que
deveria ignorar e evitar discussões, mas realmente não esperava que Lúcio
fosse dispensá-la no dia do casamento do próprio filho. Não depois de todo o
trabalho que tivera para fazer com que tudo saísse perfeito.
- Narcisa, desde de que meus pais morreram você é a pessoa que mais me
conhece. Por que se esforça em fazer com que eu a despreze? – ele deslizou as
mãos para longe dela. Narcisa se sentiu acuada quase que imediatamente. – Só
porque não irei estar essa noite em casa, não significa que eu não me importe
com a família. Tudo que eu faço é pela família, sabe disso.
Narcisa estreitou os olhos. Sabia que ele estava tentando fazer com que ela se
sentisse culpada. Normalmente era tão bom e tão perverso que tinha sucesso
nas tentativas mesmo ela sabendo que queria apenas fazer mal a ela. Lúcio
nunca havia feito nada pela família. Narcisa e Draco eram sua família, mas o
que ele considerava família era o sobrenome Malfoy, não sua mulher e seu
filho.
Engoliu seu orgulho sabendo que não iria valer a pena dizer tudo que tinha
direito, pois sabia que se dissesse ele encontraria a resposta certa para fazer
com que ela se sentisse a última das mulheres. Se esforçou para fazer aparecer
em seu rosto um sorriso verdadeiro.
Ela já não era mais bonita como Hermione. Estava ficando velha. Ergueu a mão
e tocou o próprio rosto ao enxergar os defeitos que a maquiagem ajudava a
esconder. Talvez precisasse de algumas poções para resolver uns problemas
embaixo dos olhos. Talvez algo que pudesse suavizar as expressões entre suas
sobrancelhas. Deveria ficar grata de não ter marcas de sorriso nem linhas de
expressão muito fortes. Mas definitivamente precisava rejuvenescer. Talvez
fosse por isso que seu marido a evitava mais com o passar dos anos. Cada vez
Lúcio estava pior. Ela jamais julgaria que a abandonaria em um dia como esse.
Narcisa nunca estaria aos pés das mulheres jovens que ele levava para a cama.
A dor em seu peito veio forte novamente e o nó subiu para a garganta de uma
vez. Suas vistas embaçaram e ela se viu novamente no estado louco de antes.
Respirou fundo e apertou os olhos. Estava fazendo tudo errado. Contou até oito
calmamente enquanto procurava esvaziar a mente.
Era uma Malfoy. Repetiu isso para si mesma mentalmente. Era uma Malfoy.
Abriu os olhos e se encarou no reflexo com determinação. Reafirmou mais uma
vez sua postura e limpou a garganta.
- Amo meu esposo. – disse em voz baixa para o reflexo. – Amo minha
família. – sua expressão fria lhe deu confiança. – Sou uma Malfoy.
Tedioso era a palavra exata para definir o que era obrigada a fazer.
Obviamente que no começo havia sido interessante encontrar cara a cara com
todos os nomes que tivera que estudar antes daquela festa, mas depois de um
tempo tudo passou a ser tão monótono que qualquer inseto parecia mais
interessante. Draco ao seu lado também parecia estar em um estado não muito
diferente.
- O suficiente para saber que os Barker estão furiosos porque não se casou
com a filha deles, que os Anderson são a única família que não está usando
roupas caras para aparentarem estar sem dinheiro já que ainda não pagaram a
dívida que tem com os Wright. – ela passou os olhos pelo jardim. – E que o Sr.
Evan Morris trai por quase vinte anos a Sra. Morris com...
Viu Narcisa sair de uma ala próximo a mesa onde estava e se infiltrar
entre os convidados. Seu andar estava mais perfeito do que nunca, sua postura
impecável assim como o vestido, a maquiagem e o cabelo. Tudo nela transmitia
elegância. Questionou se um dia se tornaria realmente uma Sra. Malfoy. Não
conseguia se enxergar sobrevivendo ao processo. Não conseguia enxergar sua
vida com Draco Malfoy, não conseguia sequer enxergar a realidade de estar
casada com ele, mesmo que já estivesse. Era tudo tão fora do que ela havia um
dia considerado para sua vida, era fora até mesmo de todos os caminhos
absurdos que sua vida poderia tomar. Ela não era capaz nem mesmo de
imaginar, não sabia nem por onde começar se tentasse.
Ela não imaginou que fosse ser tão assustador os olhares que a encaravam. Era
como se estivesse a caminho de ser degolada vestida como rainha. Sentiu a
mão de Draco apertar a sua.
O meio do jardim havia sido cercado com grandes arranjos, parte do espaço
era ocupado pela orquestra, a outra parte era apenas o vazio tablado polido por
cima da espessa grama uniforme. Assim que chegaram ali, Draco a puxou pela
mão que estava unida a dela e a colocou a sua frente de costas para ele. A
outra dele pousou distraidamente em sua cintura e então Draco a fez passear
por todos os arranjos antes de levá-la ao centro como se estivesse mostrando
algum produto aos convidados que se acumulavam para assistir a parte mais
esperada daquele banquete.
A mão em sua cintura finalmente a guiou para o centro e então a orquestra
silenciou-se. Não havia sequer um cochicho ecoando. Tudo pareceu morrer e
ela se sentiu sozinha com Draco. Num jogo de mãos, a que estava unida com a
dela a girou para que pudesse ficar de frente com ele. Os olhos dourados de
Hermione cravaram-se instantaneamente nos cinzas dele e ela quase perdeu o
fôlego ao ver o quanto seus olhos pareciam poderosos de perto. Ainda com as
mãos unidas ele ergueu o braço dela e o passou por cima de seu ombro. Num
gesto firme e suave, os dedos dele deslizaram para longe dos dela e tudo que
restou para Hermione foi deixar sua mão descer calmamente para pousá-la ali.
No instante em que sua mão se aquietou sobre o ombro de Draco, a sua outra
vaga foi capturada pela dele suavemente e erguida de maneira a fazê-la
aprumar a postura. A outra dele cercou sua cintura sem pressa, como se
quisesse fazer valer cada segundo, e então ele a trouxe gentilmente para colar
o corpo dela no dele.
Foi quase em câmera lenta que ela viu seus rostos ficarem tão próximos. Teve
tempo de inalar o ar e prendê-lo ao tempo em que sentiu a respiração de Draco
bater contra ela. O calor do corpo dele a envolveu e ela sentiu que suas
bochechas corariam a qualquer momento. Ah céus! O que ele estava fazendo?
Tudo parecia estar acontecendo tão devagar. Os olhos de Draco desviaram para
a boca de Hermione e foi inevitável quando viu os seus caírem para a boca
dele. Sabia que não era o momento, mas naquele milésimo segundo em que
ela presenciou suas bocas se caçarem no ar, a hesitação da vontade de se
tocarem, Merlim! Ela quis que ele a beijasse, mas então a orquestra lançou o
toque das primeiras notas e ela se viu deslizar pelo tablado quando Draco a
guiou junto com a melodia.
Seus olhares foram restaurados e ela se julgou doente por desejar o beijo de
Malfoy. Maldição! O que era aquilo? Os olhos dele firmemente estancados sobre
os dela não ajudavam a fazer com que a magia que a prendia naquele
mundinho encantado fosse quebrada. O poder daqueles cinzas parecia ser mais
forte do que qualquer pensamento racional que ela tentasse repetir para si
mesma. Odiou Draco Malfoy ainda mais.
- Vi as fotos que guarda em Whitehall. – a voz dele foi profundamente
baixa que quase fez suas próprias cordas vocais vibrarem. Ela pensou que fosse
derreter ali mesmo, mas no momento que processou o que ele havia dito,
acordou para o peso do que aquilo significava.
- Que fotos? – indagou rapidamente e desejou que não fosse o que ela
estava pensando.
Ela não sabia se deveria se exaltar ou se deveria dar espaço a vergonha que
insistia em atingi-la naquele momento, mas precisou de um segundo para
refletir que se fizesse caso das imagens, aí sim se colocaria em uma situação
comprometedora.
- Deveria ter perguntado. – ela mal deu tempo para que ele pudesse ter
dito algo mais.
- Não tenho nenhum motivo que venha o interessar. – forçou seu sorriso.
Ela lutou para não revirar os olhos. Aquilo estava ficando infantil demais e por
alguma razão era justamente o caminho que Draco queria que aquele assunto
tomasse. Queria lançar sobre ele seu pior olhar, mas era obrigada a manter
aquele maldito e infeliz sorriso estampado na cara.
Ela não pode mais continuar sorrindo. Seus olhos estreitaram e ela quis
simplesmente devorá-lo.
Ele riu com vontade dessa vez enquanto rodavam no último acorde da música.
- Sorria. – ele ordenou mais uma vez e Hermione sentiu sua mão seu
abandonada. Ela esperou que fosse ser exatamente como no dia de seu
noivado, mas dessa vez os dedos dele escorregaram por baixo de seu cabelo
quando ele tocou seu rosto. Ela não conseguiu sorrir e então finalmente ele
quebrou a barreira da proximidade quando cobriu seus lábios com os próprios.
Hermione se lembrou da sensação novamente e antes que pudesse pensar em
qualquer coisa, ela se viu perder as forças de lutar contra o infernal poder que
ele tinha. Os flashes dispararam por todos os lados e tudo para ela soou
abafado enquanto sentia a pressão dos lábios frios de Malfoy contra os dela. Foi
somente quando ele se afastou, depois do que pareceu uma eternidade, e que
ela tomou fôlego, foi que reparou que prendera a respiração por todo aquele
tempo. – Olha para aquelas imagens e lamenta por nos odiarmos tantos
quando vê que formamos um belo casal. – disse ele quando se afastou
milímetros da boca dela. Ele pode até ter usado o tom de quem ainda estava
tentando provocar, para que ela ficasse com ainda mais raiva, mas a vibração
do ruído da voz que tinha juntamente com o perfume que exalava e as
sensações que corriam pelo corpo de Hermione, fez com que ela se sentisse
completamente embriagada.
- Péssimo palpite. – ela se surpreendeu por ter tido a capacidade de dizer
algo. Talvez ainda fosse alguma parte do seu sistema racional que ainda lutava,
mas ainda assim havia saído como nada mais que um sussurro.
Draco riu fracamente e então ela sentiu o braço em sua cintura a apertar
gentilmente enquanto a boca dele voltou a cobrir a sua. Ela escutou um flash
de perto ao mesmo tempo que não lutou quando os lábios de Draco
trabalharam para abrir espaço. Ela estava inteiramente pronta para sentir o
gosto dele, o beijo dele, o sabor, a textura, mas foi exatamente no segundo
seguinte que ela soube que finalmente teria aquilo, o céu acima da cabeça de
todos ruiu estrondosamente.
- O mestre quer uma resposta dentro de quinze minutos. – ela disse e foi
embora tão rápido quanto havia se aproximado.
Draco continuou em seus passos e Hermione viu que ele tomava o rumo da
entrada da ala norte. Olhou para trás e ao longe viu Narcisa estalando os dedos
para alguém. Nos segundos seguinte a orquestra começava uma nova música e
então ela entrou pelo corredor da ala. Quem vinha na direção oposta era um
homem que ela não conhecia. O homem vinha com tanta pressa quanto os
passos do seu querido novo marido.
Draco não disse nada em resposta. Os dois homens trocaram olhares e tudo
pareceu muito bem solucionado naquele silêncio entre eles.
Draco não teve nem um minuto de descanso e outro homem alto saiu de um
corredor que interceptava o que andavam. Era moreno, alto e musculoso.
Estava bem vestido, o que indicava que estava no casamento, Hermione não
conseguiu se lembrar quem ele era mesmo que tivesse estudado sobre todos os
convidados. Tudo explodia e se confundia muito facilmente em seu cérebro
naquele momento.
- Deixe todo o exército sob aviso. – Draco cortou o homem antes mesmo
que ele pudesse fazer a pergunta que deveria.
Draco foi para detrás de sua mesa, empurrou para longe a cadeira, puxou da
parede um enorme pedaço de pergaminho com um mapa que Hermione tentou
decifrar rapidamente o que era, e o abriu sobre a mesa. O mapa era bem
desenhado e tinha grandes pontos negros espalhados em diversas áreas. A
legenda era visível e nenhum daqueles nomes Hermione conhecia. O silêncio foi
cruel enquanto Draco estava debruçado sobre aquele mapa. Ela quase podia
ver o cérebro dele trabalhando duramente. A recaída estúpida que tivera por
aquele homem parecia algo sem importância e para se discutir mais tarde já
que tudo aquilo que acontecia a deixava loucamente curiosa.
Batidas rápidas na porta foram seguidas da entrada de outro homem. Draco
ergueu os olhos de seu mapa e encarou o visitante.
O gigante moreno saiu tão rapidamente quanto entrou. Draco voltou para
detrás de sua mesa e o modo como fechou o mapa e o lançou para longe de
sua vista foi suficiente para que Hermione percebesse que ele estava furioso.
Viktor Krum finalmente apareceu pela porta, obviamente não em um bom
momento para Draco. O primeiro olhar dele foi para Hermione e ela sentiu
como se estivesse sendo despida.
- Sinto informar, mas a situação em Askaban está fora de qualquer controle
a essa altura do campeonato. – Krum apressou-se para dizer pulando seus
olhos de Hermione para Draco.
- Me diga que não é a Ordem. – a voz de Draco soou baixa e grave. Estava
em profundo desapontamento.
- É a Ordem.
Hermione sentiu um calor em seu peito e quis sorrir no mesmo instante. Viu os
músculos da mandíbula de Draco se contraírem e a veia de sua têmpora saltar.
Ele deu um soco de frustração na mesa e ergueu os olhos para Viktor.
- Por que eu não estava sabendo disso? – vociferou ele enquanto seus
olhos pareciam queimar em ódio.
Draco deu as costas puxando o fôlego como se tentasse buscar controle pelo
ar. Os músculos de sua mandíbula trabalhavam como se estivessem querendo
massacrar alguém entre os dentes. Ele foi de um lado para o outro e sua
respiração se tornava mais pesada a cada segundo. Certa hora ele passou os
olhos pela sala e se aborreceu ainda mais com algo. Fitou rapidamente o
homem que dera a notícia sobre Askaban. Sua figura ainda estava parada no
mesmo lugar completamente imóvel.
- A guarda não cometeria esse tipo de erro, sabe disso. – Draco respondeu
parando e encostando-se na própria mesa. – Dementadores estão
abandonando seus postos em todas as partes do planeta. Algo está os forçando
ou estão fazendo isso por livre e espontânea vontade. Se estão agindo por
interesse próprio, esse pode ser um caso de traição. – ele enfiou as mãos no
bolso. – Isso é algo para ser estudado, o real problema é que a Ordem tinha
domínio dessa informação e Askaban está em rebelião nesse exato momento. –
desencostou-se de sua mesa. – Sabemos que a Ordem tem planos para tentar
reunir mais uma vez todos os grupos da resistência. – ele começou a andar,
quase que involuntariamente, de um lado para o outro novamente. – Ordenei a
execução de todos os prisioneiros ligados a grupos de rebeldes, mas a lista é
grande, está levando dias. A Ordem os quer e a essa altura, eles estão muito
perto de tê-los.
- Sabe bem que eu sempre tenho algo para esconder. Eu jogo o meu jogo.
– ele respondeu. – Tem sido assim por todos esses anos.
- Tem sido assim todos esses anos porque eu tinha plena certeza de que
lado estava o seu interesse. – parou frente ao outro – Agora, eu já não tenho
toda essa certeza e você sabe o quanto eu odeio ter que lidar com a dúvida. –
Draco usava de um tom uniforme e cada palavra era dita com calma e sem
nenhuma pressa. – Portanto, você não terá permissão para sair por nenhum
dos portões nem tomar qualquer chave de portal, e se for realmente esperto
como sei que é, me entregará sua varinha e acompanhará meus homens para o
seu novo exílio. – dito aquilo Draco estendeu a mão e esperou pacientemente.
- Dê a ele um bom quarto. – Draco apenas disse para os dois guardas que
haviam se colocado um a cada lado de Viktor e deu as costas.
- Vai dar a ele um bom quarto? – Theodoro desdenhou assim Viktor foi
levado para fora da sala.
- Ele me serviu bem e por muito tempo. – Draco deu meia volta e colocou a
varinha de Viktor sobre sua mesa. – E ainda não posso dizer nada sobre as
intenções dele. Estou apenas sendo cuidadoso.
Theodoro riu.
Hermione não gostou do tom nem um pouco gentil que ele havia usado, e
também não se agradou do fato de ter sido simplesmente esquecida.
- Vim logo atrás de você todo o caminho do jardim para cá, se não se
lembra. – tentou ser estúpida.
- Você deveria aprender a pedir, sabia? – ele disse com calma enquanto
cruzava os braços. Ela estreitou os olhos quando viu um sorriso débil brincar
nos lábios dele. Ser motivo de piada naquele lugar já estava começando a
irritá-la. – Pensei que fosse mais esperta e não se deixasse levar por rancores
da época de Hogwarts.
- Vai me dizer sobre a maldição ou não? – Hermione não estava com
paciência para qualquer jogo de palavras que tivesse em mente.
- Vamos com calma, Sra. Malfoy. – ele não usou o termo sangue-ruim e
vindo de Theodoro Nott, pelo que ela conhecia dele, a surpreendeu, mas ainda
não a agradou. – O que pensa que vai conseguir lançando ordens a mim?
Primeiro, se quer uma informação que eu tenho, deveria me convencer a
passá-la a você.
- Vai desistir tão fácil, Hermione? – a voz dele não precisou sair alta visto a
distância próxima, porém cuidadosa que ele tomara. Ela ergueu o olhar para
ele. – Não me olhe como se eu merecesse ir para a cruz. – Hermione puxou sua
mão quando percebeu que a dele não tinha o interesse de deixar a sua. – Hei.
– ele protestou pelo ato rude. – Sem ressentimentos de Hogwarts. – ele
levantou as mãos em sinal de paz. – Sei que não nos demos muito bem
naquela época, mas sabe que os tempos eram outros, éramos adolescentes,
novos e sem um pingo de maturidade. – ela não iria cair naquele papo. – As
coisas mudaram muito desde aquele tempo.
- Deixamos de ser opostos e passamos a ser opostos extremos? – ela
questionou. – É isso que quer dizer? Porque a única coisa que mudou, foi que
passamos do encanto de Hogwarts para uma guerra. Você pode até não ser
parte de um exército ou empunhar uma varinha contra o meu lado, mas é leal
ao meu inimigo.
- A guerra acabou para você. Sei que ainda não engoliu a idéia, mas é
divertido ter ver na sua esperança de escape ou o que quer que esteja
planejando. – ele se aproximou um pouco mais e Hermione recuou o mesmo
tanto. – Quero continuar a te ver nessa ilusão. – ele se divertiu - Se quiser
alguma informação, vai procurar saber onde me encontrar. Mas lembre-se, Sra.
Malfoy: Ninguém faz nada de graça desse lado da guerra. –ele abriu a porta e
passou por ela.
- Creio que agora você tenha deveres a cumprir, Sra. Malfoy . – Theodoro
disse de longe, passou por Narcisa e foi embora. Hermione resmungou baixo.
- Vamos. – disse Narcisa assim que chegou até ela. – Temos que te tirar de
dentro da Catedral.
- Por quê?
- Você não tem nem a menor idéia das coisas que estão acontecendo,
Hermione. – Narcisa apenas respondeu.
Capítulo 9
Ronald Weasley
Aparatou na esquina tentando fazer o mínimo de barulho possível. Empunhou a
varinha quase que imediatamente e correu para de trás da árvore do quintal de
uma casa assim que viu uma senhora sair das sombras para debaixo da luz
fraca de um poste antigo. Ele agachou e tentou conter a respiração quente e
ofegante que produzia uma espécie de névoa contra a noite fria de Godric’s
Hollow. Esperou que a senhora miúda passasse e então varreu a área com os
olhos tomando todo o cuidado de alguém que vivera anos em guerra.
Levantou-se assim que traçou seu caminho para cruzar a rua. Alisou as roupas
trouxas, levantou o capuz de seu casaco e enfiou as mãos no bolso. Pulou para
a calçada e da maneira mais natural possível, caminhou.
O risco de estar ali poderia custar sua vida. Mas ele precisava ter certeza de
que não deixaria passar nenhum lugar em branco apenas porque poderia ser
capturado ou morto.
Não muito longe ele viu por entre os muito bem arrumados sobrados um lote
escuro ocupado por uma casa em pedaços. Olhou de um lado para o outro da
rua e apertou o passo. Tinha que fazer aquilo o mais rápido possível. Tinha que
dar o fora dali. Sentia a adrenalina do perigo fazer com que cada folha seca
arrastada pelo vento fosse um comensal gritando as suas costas.
Harry não deu nenhuma importância para o tom que ele usara nem mesmo
para o desespero do amigo. Ele apenas arrastou o fundo da garrafa pelo chão e
a levou até a boca.
- Harry, sei que quer se entregar, desistir da guerra. Mas vamos pensar
numa maneira mais apropriada de prosseguir com isso, certo? – ele tentou um
cochicho mais calmo, ainda que atento, como se tentasse convencer uma
criança de que faca não é brinquedo. – Por agora seria mais sensato que você
praticasse essa cena no chão da cozinha da casa dos Black, não aqui! Vamos,
levante.
O olhar que Harry direcionou a ele foi preguiçoso. Ele tomou mais um gole de
seu líquido forte e começou numa voz arrastada:
Rony processou aquilo com atenção. Digeriu cada palavra e concluiu que fazia
muito sentido já que havia alcançado a casa e estava vivo.
- Nunca me contou isso.
Rony foi capaz de identificar a dor dentro de cada palavra que ele havia usado.
Sempre que o nome de Hermione saia da boca dele era como se ouvisse ao
longe alguém gritar de agonia. Havia sido estranho a forma como Harry reagira
depois que ela fora capturada. Fora um choque e uma grande desilusão para
todos da Ordem, mas para Harry, fora o fim de sua sanidade. Por um bom
tempo Rony não conseguiu entender a reação do amigo, mas foi somente
quando considerou que talvez Harry e Hermione não fossem somente amigos e
que muitas peças de um quebra-cabeça confuso finalmente começaram a fazer
todo sentido.
- Sei que nunca deixou de gostar dela, Rony. – Harry pareceu bastante
sóbrio ao dizer aquilo.
Harry soltou um riso forçado. Abaixou os olhos para a garrafa em sua mão,
refletiu por um segundo e tornou a bebeu do líquido.
Rony soltou o ar de uma vez. Havia se preparado para aquilo, mas não sabia
que fosse ser duro daquela forma.
- Podemos pular essa parte, por favor. – Comentou. – Quero saber quando
começou. Você e ela.
Harry suspirou frustrado. Tomou mais um gole de seu álcool e disse como se
estivesse contando um pecado:
- Logo depois que perdemos Godric’s Hollow. Quando ela me trouxe aqui e
disse que eu precisava de um refúgio.
Rony tomou seus segundos para voltar no tempo até aquela época. Foi uma
das grandes perdas da Ordem e eles se sentiram devastados por meses. Aquilo
fazia anos e naquele tempo eles ainda nem tinham consciência da magnitude
daquela guerra.
O ruivo sentiu o sangue esquentar e teve que engolir a saliva para tentar se
controlar.
- Como pode ter certeza de que ela estava bem com isso? Conhece
Hermione. – questionou Rony.
- Eu não tinha. Nunca tive. – Harry respondeu. – Nós nunca conversamos
sobre nós. Nunca. – frisou ele. – Nós vivemos uma guerra, Rony. Eu carrego a
profecia que é responsável por boa parte dela. Somos a resistência de todo o
domínio de Lorde Voldemort. O perigo, a constante apreensão da qual vivemos
todos os dias. Tudo. Absolutamente tudo era mais importante do que eu e ela.
E disso eu posso ter certeza de que ela tinha consciência. Nós dois erámos
apenas um vicioso momento de distração do qual desesperadamente
precisávamos. – soltou o ar. - Com frequência. – concluiu.
- Com frequência... – repetiu Rony em voz baixa apenas para ele. Soltou
um riso fraco e balançou a cabeça. Ele não queria sentir o ciúme, mas era
inevitável. – Iam para cama com frequência...
- Não, Rony. Você não entendeu. Não era só ir para cama com ela. Era
estar com ela. Era ouvi-la, era sentir o toque dela, o cheiro dela, o abraço dela.
No começo era estranho, mas eu precisava da sensação de ter realmente um
refúgio. Era como respirar fundo depois de prender a respiração por muito
tempo. – abaixou os olhos. - Ela se tornou um vício. Não sei como fazer isso
sem ela. Não sei como lutar, não sei como encarar essa profecia, como dar
ordens, como prosseguir. Não sei. Preciso dela, preciso do seu conselho, da sua
paz, do seu incentivo e da sua força. E não só isso. Preciso da sua inteligência,
sem ela nós não temos a menor chance!
- Você não soa como Rony Weasley dizendo essas coisas. – Harry riu sem
forças.
Harry tornou a pegar a garrafa e a entornou em tantos goles dessa vez que
Rony pensou que ele poderia acabar com todo o líquido em segundos.
- Sou um fracasso sem ela. – ele disse com a voz engasgada e trêmula
assim que abaixou a garrafa. – A Ordem não precisa de mais fracassos.
Rony se indignou.
Harry riu embriagado. Cobriu o rosto com as mãos num ato descoordenado e
apertou os olhos com os dedos enquanto pendia a cabeça para trás e a
encostava na bancada.
- Por quê? – riu Harry enquanto levantava os olhos para o amigo. – Por que
eu tenho agido como louco desde que perdemos Hermione? – ele ridicularizou
os comentários que circulavam nos cochichos da Ordem.
- Por que tem agido como se não tivéssemos mais nenhuma esperança. –
Rony se aborreceu.
O silêncio durou. Rony se virou para encarar Harry e dessa vez viu o amigo
com os olhos vidrados nele.
Harry a girou entre os dedos inerte no que quer que estivesse pensando.
Abriu os olhos e encontrou o lugar ao seu lado vazio. Seu sorriso murchou por
saber que aquilo seria temporário. Suspirou e girou passando a encarar o teto
alto, circular e abobadado altamente trabalhando numa arte barroca com muito
ouro e muita simetria. Piscou. Aquele era o quarto de Draco Malfoy. O
gigantesco quarto de Draco Malfoy. Tudo ali parecia querer impor poder. O
tamanho, os quadros, o piso, as esculturas, as poltronas, as cortinas, os
tapetes, as janelas, as paredes e sem dúvida alguma, a cama.
Tentou ignorar tudo que sabia que deveria fazer assim que saísse da cama,
apenas permaneceu de olhos fechados sentindo aquele calor e o conforto
inigualável. Gostava da sensação de se sentir minúscula comparado ao
tamanho daquela cama, da sensação de que ali não havia ninguém a vigiando,
da sensação de estar longe da catedral.
Um estalo longe deixou seus ouvidos atentos, mas ela não teve forças para se
mover. Os passinhos sobre o piso brilhoso e escuro do quarto fez Hermione
quase resmungar.
Hermione processou aquilo em silêncio. Fez uma careta. Não queria sair
daquela cama, mas sabia que se não o fizesse teria problemas muitos maiores.
Podia apenas agradecer que pelo menos agora Narcisa não podia simplesmente
entrar em seu quarto exclamando ordens aos quatro ventos. Hermione tinha
que admitir que mudar-se para aquela casa tinha muitas vantagens.
- Então deveríamos estar gratas de que ele não está em casa. – concluiu
para elfa e seguiu seu caminho.
Escolher sua roupa era sempre um desafio. Estava se tornando boa e rápido
naquilo, mas era obrigada a passar pela infelicidade do estudo rígido sobre
moda de Narcisa Malfoy para ter uma mão boa na hora de aceitar e rejeitar os
presentes enviados pelos representantes de grifes importantes em Brampton
Fort. Para Hermione essa era a prova da seriedade com a qual a futilidade era
tratada naquele lugar, porém como uma boa prisioneira, Hermione respondia
educadamente a todas as ordens.
Olhou-se no espelho por longos minutos. Estava linda. Ela havia tomado um
cuidado especial para se arrumar sabendo que naquele momento ao menos
algo deveria agradar os olhos de Narcisa para aliviar um pouco do sermão que
receberia. Contudo todos os dias, quando ela terminava todo aquele processo
no closet, olhava-se no espelho e se perguntava se trocaria tudo aquilo por um
jeans, um par de tênis e um suéter. Se sua resposta fosse sim, ela respirava
aliviada sabendo que em algum lugar dentro ali, a Hermione Granger que
conhecia ainda estava viva.
Voltou para o quarto, engoliu uma fatia de pão com queijo, tomou um longo
gole de chá preto e saiu pelos corredores de escala intimidadora da mansão de
Draco Malfoy. Desceu as escadas, cruzou para o hall privado e entrou na sala
onde encontrou Narcisa sentada no extenso sofá de estampa inglesa. A mulher
tinha um olhar severo e irritado sem perder a elegância.
- Tem idéia de que horas são, Hermione? – a voz dela foi pacífica e seca e
os únicos músculos que se moveram nela foram os da boca.
- Sim. – respondeu.
- Eu não pedi por justificativas, Hermione. – ela foi severa. – Sabe que tem
horários a cumprir.
Hermione não questionou. Não tinha ânimo para comprar uma discussão com
Narcisa ali. O quantos antes aquilo terminasse, melhor.
Desde que fora levada para a casa de Draco após o casamento, Narcisa havia a
isolado de Brampton Fort. Havido recebido ordens de que não poderia deixar a
mansão, e não apenas isso, ela não tinha mais acesso a qualquer meio de
comunicação. Jornais e revistas haviam sito completamente tirados de sua
vista. E quando ela perguntava, lutava e insistia por um porquê, Narcisa a
imergia num mar de respostas vagas. Nada mais incitava Hermione a rebeldia
do que aquilo. Mas prezando pelo bem de Luna, ela se mantinha obediente. Até
certo ponto, obviamente. Não sabia até quando seria mantida daquela forma e
as dúvidas que bombardeavam sua mente eram mais fortes do que ser
obrigada a se conformar com as respostas de Narcisa.
Ao meio dia em ponto Tryn havia preparado uma pequena mesa de saladas
para o almoço. As duas se sentaram e Hermione foi avaliada por Narcisa como
sempre, no modo de comer e proceder uma conversa fria e contínua. Foi
durante o almoço que Narcisa a informou vagamente e como se não tivesse
nenhuma importância, a presença de Draco na catedral no dia anterior.
Desde o casamento ele havia deixado Brampton Fort sem previsão de volta.
Hermione havia se aproveitado daquilo para descansar seu corpo e sua mente,
além de sentir a liberdade dentro da mansão que pertencia a ele. Agora a ela
também. Narcisa sempre a alertava que ele poderia estar em casa a qualquer
momento e que ela deveria estar sempre preparada para recebê-lo como uma
fiel esposa. Hermione se permitiu carregar aquela informação, mas o primeiro
dia se passou, o segundo, o terceiro, o quarto e nem um sinal de Draco Malfoy.
Ela apenas parou de se preocupar com aquilo. Era a menor de suas
preocupações naquele momento.
Após o almoço recebeu orientações de como se comportar dentro de casa,
como dar ordem aos elfos e como respeitar o espaço de Draco Malfoy. Coisas
estúpidas que Hermione obviamente não seguiria. Ela não se importava com as
lições de Narcisa, nem com os costumes e mimos de Draco, aquela também era
sua casa agora, e ela não havia implorado para estar ali. Portou-se da melhor
maneira que poderia se portar e isso agilizou o serviço de Narcisa. Quando
Hermione pediu para que Tryn a acompanhasse até a porta o relógio ainda
apontava o início da tarde.
Ela aproveitou a falta de companhia e subiu para a casa de poções. Era uma
espécie de sótão. A escada que dava acesso ficava no último andar do lado
oposto a entrada da biblioteca e um tanto escondida. Era apertada e de pedra
aparente que dava para uma laje ampla e fechada pelo telhado. Hermione
julgou o lugar mais confortável da casa. Era o único lugar em que ela não se
sentia fora da escala, onde não parecia ser pequena demais para a magnitude
que a cercava. O lugar não tinha nenhuma decoração luxuosa, o piso era de
uma tábua corrida e descuidado, os móveis todos de madeira, os vidro um
tanto empoeirado, o teto era o telhado inglês de altura baixa comparado ao
restante da casa. As estantes abarrotadas de pequenas cabines para frascos de
poções estavam espalhadas pelas laterais assim como o estoques de
ingredientes. Uma estante de livros bastante simplória ficava exposta atrás de
um conjunto de mesa e cadeira não muito sofisticado e os caldeirões
espalhados pelo ambiente eram pendurados por corrente que se fixavam nas
treliças do teto. A luz era baixa, as janelas que existiam eram poucas, altas e
estreitas, mas eram suficientes. Durante a noite ela podia acender as velas que
haviam debaixo de cada mão francesa e além de tudo aquilo, havia ainda uma
luneta antiga e posta no nicho da abertura das duas janelas principais do local.
Não que Hermione se interessasse por astronomia, nunca havia tido tempo
realmente para parar e olhar para o céu, mas havia descoberto um certo
interesse pela atividade após se ver trancada dentro daquela casa sem muito
opção.
Ela havia trago a reação que seu sangue havia tido com a raiz de valeriana,
também havia trago seus poucos estudos. Não havia conseguido muito avanço
já que obviamente não tinha muitos recursos, também não queria aparentar
que estava trabalhando em algo importante. Haviam tantas outras coisas com a
qual sua mente se ocupava que ela quase não conseguia se concentrar quando
conseguia algum livro que poderia lhe ajuda. Na verdade, tudo que ela
precisava era de algumas sanguessugas e algumas experiências. Ela havia se
esquecido de como poções funcionavam, mas ainda era boa como em
Hogwarts. Não havia tido muito tempo para praticas atividades extras naquela
guerra.
Hermione foi até uma das cabines onde havia deixado o frasco com a reação. A
encarou por um bom tempo, sentou-se na única cadeira que havia ali e girou o
frasco entre os dedos. Abriu a pasta em cima da mesa e espalhou seus
pergaminhos sobre ela. Seus estudos e suas anotações estavam todas ali. Não
passavam de especulações bobas. Não podia avançar sem recursos. Ela soltou
o ar frustrada.
Estava cansada de passar o resto do dia ali, parada. Havia revistado toda a
biblioteca de Draco Malfoy e nada, absolutamente nada havia aberto seus olhos
para uma busca profunda do que deveria fazer. Ela não sabia o que deveria
fazer. Odiava não saber o que fazer. Odiava profundamente se sentir de mãos
atadas, aprisionada, vigiada. Odiava aquele lugar, odiava ter que seguir ordens
calada. Odiava ser mandada por quem odiava. Odiava saber que Draco voltaria
para aquele lugar. Odiava seu maldito novo sobrenome e odiava não tem o que
fazer, quando sabia que deveria estar fazendo milhões de coisas.
O barulho não foi impressionante quando ela lançou o pequeno frasco contra o
chão e ele se espatifou. Ela levantou-se e começou a amassar os pergaminhos
que tão trabalhosamente havia preparado. Descontou toda sua frustração e
quando finalmente parou o silêncio a presenteou unicamente com o som de sua
respiração ofegante.
- Já chega, Hermione. – sussurrou para si mesma. Foi até o nicho das
janelas e olhou o pátio da frente vazio. – Tryn. – chamou e num estalo a elfa
estava lá. – Prepare uma das carruagens de Draco. Eu estou de saída. – a elfa
ficou imóvel.
- Essa é uma ordem que foi dada a mim, não a você. – voltou-se para a
elfa.
- A Sra. Narcisa Malfoy deu ordens a Tryn que não deixasse a Sra.
Hermione Malfoy sair de casa. – a elfa soltou em seu modo robótico.
Hermione desceu as escadas e foi até seu closet. Checou o sol incomum que
brilhava alto no céu há quase uma semana. Colocou um chapéu qualquer,
pegou luvas e desceu o mais rápido que pode até o pátio.
- A Sra. não deveria fazer isso. – alertou o cocheiro assim que ela parou de
frente a cabine esperando que ele abrisse a porta.
- Não me diga o que eu deveria ou não fazer. – ela foi seca como uma
Malfoy deveria ser. – Me leve até a catedral. - O homem hesitou. – Agora! – o
homem abriu a porta e ela entrou.
O alívio da falsa liberdade disparou adrenalina em seu corpo e ela mexeu-se
inquieta durante toda a viagem. Ela não entendia o porquê havia sido tirada da
catedral e presa dentro da casa de Malfoy no dia de seu casamento como se
fosse uma questão de vida ou morte sair dali de dentro. Quando pisou no pátio
de entrada da majestosa edificação seu estômago revirou, mas ela engoliu a
saliva, alinhou a postura e andou como Narcisa havia lhe ensinado, como se
fosse rainha.
Aquele era o único caminho que conhecia. Havia passado de frente aquela placa
algumas dezenas de vezes nos tempos vagos em que se permitia explorar a
catedral. Entrou no saguão de recepção e foi direto a um balcão talhado onde
duas mulheres muito bem uniformizadas se encontravam.
- Preciso falar com Theodoro Nott. – disse a uma das mulheres usando o
tom que Narcisa havia lhe ensinado
- Tem hora marcada? – ela perguntou não gostando da atitude de
Hermione
- Não. – foi direta e criou nojo do sorriso discreto e desdém que a mulher
abriu.
- Sendo assim devo informar que está perdendo seu tempo aqui, Srta...?
- Temos que conversar. – ela foi direta sem paciência para o diálogo
educado que ele havia iniciado.
Ele riu.
- Senhor, - começou a balconista. – ela passou seu autorização...
- Devo lembrá-lo que fizeram daquela casa minha também. – ela disse não
gostando da forma como ele havia se referido a casa, exclusivamente, de
Draco.
- Sim, sim. – concordou. – Eu não esperava vê-la aqui tão cedo visto que a
Hermione que conheci em Hogwarts tinha um relacionamento muito amistoso
com regras. Vejo que as coisas mudaram um pouco. – riu fracamente quando
passaram a descer alguns degraus para um patamar mais reservado. – Mas
fique tranquila, Sra. Malfoy. – continuou ele. – Não serei eu quem vai reportar
sua atitude rebelde, tenho interesse de ter você por aqui. – ele disse passando
pela mesa de uma assistente. Abriu uma porta e deu espaço para Hermione
passar, ela assim o fez.
Não era uma sala luxuosa, havia livros nas estantes de madeira escura nas
laterais, uma mesa no centro e nada mais. O que realmente impressionava era
o conjunto de janelas ao fundo que dava vista para o horizonte de Brampton
Fort.
- Como tem sido sua nova vida de casada, Sra. Malfoy? – ele cortou o
silêncio enquanto fechava a porta e passava por ela.
- Tenho pressa. – Hermione foi seca. – Sei que sabe porque estou aqui,
podemos ir direto ao ponto.
Ele riu indo para detrás de sua mesa. Abriu uma gaveta, tirou três pastas de
couro de dragão e as mostrou para Hermione.
- Presumo que isso será o suficiente para o seu cérebro genial. – ele tornou
a dar a volta na mesa, encostou-se nela e estendeu as pastas para Hermione.
Ela deixou que o silêncio reinasse durante os minutos em que duvidou que
aquilo fosse ser fácil assim. Obviamente ele estava esperando que ela fosse até
ele buscar as pastas e Hermione simplesmente hesitou. Ela tinha absoluta
certeza de que havia escutado da boca dele que nada naquele lugar se fazia de
graça. Aproximou-se cuidadosamente e ele não se afastou. Ela manteve o
contato pelo olhar estreitando os olhos enquanto levantava a mão para tomar
as pastas da dele. Foi quando quase as alcançou que ele recuou abrindo um
sorriso debochado. Ela revirou os olhos.
O silêncio entre eles foi confuso para ela e cheio de expectativas para ele.
- Sim. – voltou-se para ela. – Quero que seja ditadora da justiça, mas
primeiro me entenda. – ele se aproximou do outro lado da mesa, apoiou as
mãos sobre a superfície e se inclinou mantendo o olhar fixo em Hermione. –
Isso aqui não é uma democracia. Lorde Voldemort é um ditador e essa cidade
não é uma preocupação para ele, essa cidade é para a proteção e conforto dos
aliados dele. –deu a volta novamente na mesa e se aproximou dela - Estamos
falando de uma metrópole, de um mundo paralelo fora da guerra e eu sou a
pessoa responsável por manter a ordem desse mundo, e agora eu preciso de
você. – parou exatamente a sua frente.
- Porque sei que é boa em tudo que faz. – respondeu sem desviar seus
olhos dos dela.
Hermione processou aquilo e fez uma nova avaliação de tudo que havia
escutado. Sua conclusão foi um riso fraco e incrédulo.
- Não sou eu, Hermione. – ele sorriu. – Lorde Voldemort é quem que saber
se pode confiar na sua palavra.
Ela ponderou. Seria arriscado estender as mãos e pegar aquelas pastas, mas ao
mesmo tempo aquilo poderia ser uma carta em sua manga. Decidiu que ele
pensasse que ela havia caído naquele papo. Respirou fundo e aceitou as pastas.
Ele sorriu.
- Tome o tempo que precisar para me dar uma resposta. – ele disse. –
Pense com cuidado, Hermione.
Ela assentiu e deu as costas. No caminho de volta sorriu sabendo que talvez
fosse uma excelente idéia fazer Voldemort pensar que ela havia falsamente se
entretido com uma distração.
**
Quando desceu no pátio de casa já era noite, já havia passado a hora do jantar
e em uma hora Tryn perguntaria se poderia servir o chá. Ela não gostava da
agenda estritamente rígida de como as coisas aconteciam ali, mas ainda
precisava sondar Draco para ver se aquilo poderia ser algo discutível ou não.
Livrou-se dos sapatos assim que entrou no quarto. Gostava do piso frio contra
seus pés. Jogou o chapéu sobre a cama, tirou as luvas e fez o mesmo. Sentou-
se e fechou os olhos enquanto soltava o cabelo e o deixava pesar sobre seus
ombros. Esticou a coluna, alongou o pescoço e pensou seriamente sobre a
proposta de Theodoro enquanto soltava o ar calmamente pela boca e deixava
seu coração desacelerar das atividades que havia feito durante a tarde.
Preocupou-se com o que Narcisa poderia dizer quando descobrisse que ela
havia deixado a mansão de Draco para uma ida a catedral e um passeio no
centro e considerou o sim que havia prometido pensar para Theodoro.
Suspirou farta de tudo aquilo e abriu os olhos. Prendeu a respiração quase que
imediatamente enquanto seus músculos retraíam. Foi presenteada com a visão
de Draco Malfoy bem a sua frente encostado numa das cômodas que cercavam
as laterais do quarto. As pernas cruzadas, a gravata desatada cercando o
pescoço e descendo pela linha de sua blusa desabotoada, os cabelos
desalinhados, o copo de whisky pendendo numa das mãos e os olhos
incrivelmente cinzas fixos nela. Aquela era uma visão tão incomum de Draco
Malfoy que além de surpreendê-la a assustou. Ela nunca havia o visto fora de
sua postura bem apresentável.
- O que faz aqui? – soltou antes que tivesse processado as próprias
palavras. Não estava pronta para vê-lo.
- Sim.
- O que respondeu?
- Alguém te parou?
- Não.
- Sim.
Aquilo a pegou de surpresa e ela sentiu seu corpo esquentar. Puxou o ar.
Ela sentiu o peito subir e descer pela sua respiração enquanto tinha os olhos de
Malfoy fixos nos dela. Lutou contra sua resposta. Engoliu a saliva, entornou um
gole do seu copo de whisky e desviou o olhar.
- Santa como você é? – ele riu. – Eu não esperava por essa resposta.
Ela se irritou.
Ele soltou o ar aliviado como se tivesse acabado de passar por uma fase muito
difícil.
Hermione podia ouvir seu coração bater forte e rápido, o barulho estourava em
sua cabeça. Ao longe ela escutou o som das duchas sendo ligadas. Respirou
aliviada, levantou-se, colocou os sapatos de volta, deixou o copo de whisky em
qualquer lugar e saiu do quarto o mais rápido que pode.
Desceu até o salão de jantar. A mesa ainda estava posta, ela foi servida por
Tryn, mas não tocou na comida. Não tinha fome. Apenas deixou o tempo
passar enquanto era consumida pelo silêncio. Pareceu eterno até que a elfa
voltou e informou que já eram quase meia noite. Hermione se levantou e
permitiu que ela desfizesse a mesa.
Subiu sem pressa, fazendo cada passo durar mais do que o necessário. Parou
de frente a porta por um bom tempo antes de entrar no quarto agora escuro. O
silêncio era intimidador. Ela fechou a porta com cuidado e avançou tentando
fazer o mínimo de ruído possível. Draco estava deitado de bruços, abraçava um
dos travesseiros e respirava pesado e uniformemente. Hermione parou a uma
distância segura sem nem mesmo perceber. Seus olhos redesenharam a linha
de suas costas a mostra até descerem pelos braços que cercavam o
travesseiro. Ela quis tocar, mas no mesmo segundo sua atenção foi chamada
para um objeto na cabeceira larga ao seu lado. Ela afastou alguns livros até
conseguir alcançar o pequeno objeto prata e redondo. Tinha certeza que aquilo
não estava ali antes.
Narcisa Malfoy
Ele sorriu, Narcisa sorriu de volta guardando para si a dúvida sobre o que ele
tinha em mente agindo daquela forma enquanto ambos iniciavam um café-da-
manhã silencioso.
Ela soltou o ar frustrada e voltou-se para seu prato. O silêncio veio e dessa vez
ela deixou durar. Lúcio também não o interrompeu e assim eles seguiram toda
a refeição restritos ao som de talheres e louças.
Seu marido era um homem quieto dentro de casa, não gostava de muito
barulho e durante as refeições qualquer conversa deveria ser regida
exclusivamente por ele. Narcisa sabia disso, mas havia meses que não
conversava com o próprio marido, tinha que tentar de alguma forma.
- Por que foi uma decisão que tomei ontem. – ele disse – E você já estava
dormindo quando cheguei em casa.
Ela engoliu as milhões de perguntas que tinha sobre aquilo, não seria nada
sábio abrir uma discussão sobre o assunto. Apenas assentiu em confirmação
tendo todos os motivos para desconfiar daquela atitude. Sabia mais do que
ninguém que seu marido era o tipo de pessoa que não gostava de surpresas
durante a agenda da semana.
Quando ele saiu tudo que restou para Narcisa foi se questionar o porque de um
jantar com os Parkinson justo quando tudo parecia fora do lugar naquela
cidade. Ela respirou fundo, empurrou seu prato ao perder o apetite, e olhou
para o jornal que Lúcio havia deixado sobre a mesa. No mesmo segundo ela o
puxou sentindo uma veia de raiva saltar em seu pescoço.
A figura em destaque era Hermione no maravilhoso vestido que ela havia
escolhido para usar no dia anterior saindo de uma das lojas de artigos para
poções do centro. Narcisa levantou respirando fundo, deixou a sala de jantar,
cruzou o mais rápido que pode toda a mansão, passou pela varanda da frente,
desceu os degraus para o pátio e encontrou o cocheiro recostado em sua
cabine.
- Somos bruxos! Por Merlin! – murmurou ela fechando a janela com certa
brutalidade. – Não deveríamos ter esses tipos de limites.
Narcisa sentiu a fúria correr em suas veias. Como ela ousava se comportar
daquela forma depois do que havia feito. Apertou seu passo até alcançá-la.
- Eu espero que tenha uma boa justificativa para explicar o porque quebrou
minhas ordens.
Narcisa jogou o jornal aberto sobre a mesa bem a frente dela que abaixou o
olhos para encarar sua própria figura saindo de uma loja de poções estampado
sem piedade na primeira página.
- Você está certa, sua ordem. – disse Hermione. – Uma ordem que tenho
absoluta certeza de que não veio de Lorde Voldemort.
- Tem certeza de que está certa sobre isso? – questionou Hermione muito
segura do que dizia e Narcisa travou. – Eu não preciso de uma imagem
diferente do que a que eles mesmos tem construído sobre mim. Eu não preciso
de você me dizendo como eu tenho que agir, o que tenho que falar, como e
quando devo aparecer. Não sou sua criança. Farei isso por mim mesma e não
me importo com a matéria, recebi uma série de elogios frios se não reparou.
Posso não ser querida pelo povo, mas meu status está andando sobre uma
classe com bastante poder, leia novamente e me negue isso. – sorriu - Para
mim, no momento, isso basta. – tomou um gole do chá. – E sei porque queria
me manter aqui. – devolveu a xícara para a mesa. – Sabia sobre a oferta que
Nott iria me fazer, não sabia?
- Odeio que todos saibam da minha vida exceto eu. – cortou Hermione. –
Sei que sendo quem eu sou nesse inferno de lugar não me resta escolha a não
ser viver assim, mas acha que vou me calar diante disso? Me manteve presa
aqui por interesse próprio, quis me afastar da catedral pois sabia da proposta
de Nott, sabia que isso havia vindo do seu mestre. Me jogou uma lista de meias
desculpas, justificativas irracionais, acha que sou estúpida? Queria me colocar
não seu jogo. E por que? – ela questionou. – A única resposta que me vem a
cabeça é que me quer tão Malfoy quanto você ou quanto qualquer outra esposa
na história da família: desocupada, inútil e fútil.
- Como ousa dizer isso! – Narcisa vociferou. – Não tem idéia do que é
cuidar de uma casa, Hermione!
Hermione riu.
- Não posso acreditar que eu estava certa! – exclamou ela. – Por quanto
tempo achava que correria contra uma vontade vinda de Lorde Voldemort
dentro do império dele?
- Pare de dizer o nome dele! Você deve respeito ao mestre! – Narcisa foi
severa.
- Pare de me dizer o que fazer! – ela se levantou. – Essa é a minha casa,
eu não sou uma criança e você não tem nenhum poder sobre mim.
- Por que? – cortou Hermione confusa. Cada palavra que Narcisa dizia
parecia desagradá-la ainda mais. – O que isso tem haver com me proteger? Por
que quer me proteger? O que quer de mim? Qual é o seu jogo?
- Sim, eu posso saber de muita coisa, mas eu não sou eles! Não faço parte
do ciclo interno deles, não tenho poder. Sou apenas a mulher de um comensal,
o que acha que eu iria querer de você?
- Me diga isso você! – exclamou ela dando a volta na mesa – Foi você
quem surgiu com a idéia de me manter aqui como se fosse uma questão de
sobrevivência! Foi você quem me tirou da catedral e me colocou aqui, foi você
quem disse aos empregados da casa para me manterem aqui, foi você quem
deu meias informações quando eu questionava o porque de eu não poder sair,
e agora me diz que quer me proteger? – Hermione riu. – Sim, Narcisa. –
aproximou-se – Qual o seu jogo?
Narcisa se calou. Ela não tinha o que dizer. Nada que ela pudesse tentar dizer
ou nenhuma maneira de se expressar poderia fazer Hermione descer do
pedestal da eterna dúvida. Ela era uma prisioneira e ela mesma sabia que sua
vida era um jogo na mão de qualquer um dentro daquele lugar. O que Narcisa
poderia fazer para lutar contra isso? Não haviam palavras que pudesse
confortar a pobre criatura.
- Desconfia de mim. – disse Narcisa e soltou o ar cansada. – Sabe de uma
coisa, Hermione? Você realmente tem todos os motivos. Não posso julgá-la
estúpida por isso, pelo contrário, faz bem. Mas apenas quero que saiba que eu
estou nesse mundo a mais tempo que você, e acredite, não vai querer estar no
meio deles. Sei que desconfia que eu me preocupe com você quando eu não
deveria, mas nós duas não somos muito diferentes uma da outra agora. Temos
o mesmo status, carregamos o mesmo anel, o mesmo sobrenome, viemos de
fora para dentro desse império, dessa linhagem, os Malfoy. Agora, você é
família e não importa que a família Malfoy seja apenas uma fachada para todo
o mundo, para mim família é família e eu sempre irei prezar por ela. –
aproximou-se – Confie em mim.
Hermione a olhou nos olhos por um longo minuto silencioso até finalmente
piscar e responder calmamente:
- Nunca.
- Por que não me disse isso quando questionava o porque tinha que ficar
presa aqui? – perguntou Hermione dessa vez sem o tom agressivo de antes. –
Me manteve aqui com o propósito de adiar a proposta de Nott. Por que? O que
tinha em mente? Me convencer a viver como você antes que ele me fizesse a
proposta? Achava mesmo que ia conseguir?
O silêncio pairou sobre elas enquanto se encaravam. Era óbvio que Hermione
ainda não acreditava totalmente nela, mas parecia ter apreciado a sinceridade
com a qual Narcisa conduzia as palavras.
- Vou dizer sim a Nott. – Hermione quebrou o silêncio. Havia o tom de sua
teimosia na afirmação, mas dessa vez também vinha carregado como um
pedido de desculpas a luta contrária que Narcisa havia travado para que ela
não dissesse aquilo.
- Hermione...
- Por favor. – Hermione cortou Narcisa que estava pronta para partir para
um tom apelativo. – Se eu me arrepender, a responsabilidade dessa escolha
estará sobre mim, portanto deixe que eu conduza as coisas da minha maneira.
Isso não impede que me dê avisos ou que me alerte sobre algo, mas não tenha
a atitude de tentar me manipular novamente. Eu não sou um fantoche. – ela foi
cuidadosa ao dizer aquilo.
Narcisa não gostava da idéia de saber que havia agido errado, mas não pediria
desculpas, ela tinha um ponto a provar e se Hermione fosse esperta, ela se
deixaria ser um fantoche em suas mãos porque ela não tinha a menor idéia de
onde estava se metendo. E afinal, ela era uma grifinória, o senso de coragem
daquele tipo de gente as vezes ultrapassava o potencial de esperteza e como
uma Sonserina ela tinha todo o direito de até dizer aquilo.
- Apenas lhe digo para não se infiltrar em um meio que não sabe como
funciona, Hermione. É isso que eles querem. Seja mais esperta. Recolha-se. –
tentou.
- Não sou covarde. – ela disse segura de si. – E também não sou nenhuma
estúpida. Tenho lutado em uma guerra por anos. Sempre estive nas linhas de
frente, acha que vou simplesmente me conformar a uma vida dentro de casa? –
ela suspirou. – Ainda não acredito que não tenha algum jogo por trás da sua
idéia de me manter longe da catedral, mas se realmente está sendo verdadeira,
apenas peço que confie em mim.
Narcisa uniu os lábios sabendo que aquele discurso viria em algum momento.
Hermione era uma péssima esposa e por isso Lúcio e ela jamais a escolheriam
como uma possível candidata para Draco, mesmo que ela não fosse uma
Sangue-Ruim. Narcisa jamais entenderia porque Lúcio havia sugerido a união
dos dois para Voldemort, certamente ele tinha um ponto a provar, confiava no
marido, ele sempre havia feito escolhas duras porém boas para a família, ou
melhor, para a segurança do nome Malfoy e querendo ou não Narcisa estava
grata por fazer parte do meio.
- Faça como quiser, Hermione. – estava cansada. – Se quiser seguir pelo
caminho mais difícil, não sou eu quem vou convencê-la do contrário. Pude
notar que é demasiadamente teimosa para isso.
Hermione suspirou.
- Bem, tenho certeza que iremos lhe dar com isso no futuro. – forçou um
sorriso novamente. – Iremos aprender a viver na mesma casa. Foi capaz de
fazer isso com seu marido, não foi?
- Sim, Hermione. Eu fui. E Lúcio e Draco são mais parecidos do que você
pode imaginar. Eu sei como deve se portar para viver em paz, estou tentando
lhe dizer, mas você é teimosa o bastante para aceitar.
Ela riu.
- Quem disse que eu quero viver em paz? – ela colocou a xícara sobre a
mesa – Essa não é a vida que eu quero, pra que eu preciso de paz nela? – se
levantou e pegou um dos livros sobre a mesa, foi até Narcisa e o estendeu para
ela. Narcisa o pegou e encarou a figura desenhada de uma moeda prata com o
brasão igual dos dois lados. – Essa é uma das 100 moedas da Liga dos
Alquimistas do século XII. A liga se rompeu no século XVI com a caça as bruxas
e metade das moedas foram guardadas nos cofres da família Malfoy que eram
os mais seguros da época. Sei que depois de quase dois séculos elas se
tornaram propriedades da família pelo testamento de um dos alquimistas da
liga e pelo bom cuidado que o patrimônio teve durante todo esse tempo
guardado. No século passado a Ordem de Merlin comprou uma boa quantidade
delas e a distribuiu entre os membros da primeira classe, o resto continuou
com sua família...
- Não importa. Apenas quero saber. Vi que Draco carrega uma com ele. –
disse Hermione.
- Sim. Draco gostava delas quando ela criança. Lúcio deu a ele umas cinco,
disse que eram tesouros muito antigos e que era uma missão que ele cuidasse
delas como cuidava da própria vida. Você sabe, crianças. Draco ficou todo
fascinado, mas deixou de dar atenção a elas depois de um tempo porque não
havia o porque de realmente cuidar delas. Nenhum perigo as ameaçava, ele
apenas as guardou.
Hermione pareceu processar aquilo com atenção enquanto voltava para sua
cadeira e se sentava.
Narcisa não fazia idéia. E por que Hermione parecia tão interessada naquilo?
- Não sei. – deu de ombros. – Apenas sei que elas fazem parte de um
seguro econômico da família. A Ordem de Merlin apenas conseguiu comprar
alguma delas porque naquela época algum terço do tesouro da família deveria
estar ameaçado. O preço delas vive oscilando mas sei que a cada ano elas
valorizam. Dumbledore tinha uma pela Ordem de Merlin, foi enterrada com ele
quando morreu, mas sei que ele tinha mais duas que havia comprado dos pais
de Lúcio a muitos anos atrás em troca do silêncio de algum segredo que não
sei. – Hermione havia erguido os olhos para ela no momento em que havia
mencionado o nome de Dumbledore.
- Dumbledore tinha mais de uma? – ela fez a pergunta mais para ela
mesma do que para Narcisa.
- Sim. Por que o interesse nisso, Hermione? – perguntou e ela negou com a
cabeça.
- Não sei. – respondeu sem tirar os olhos dos livros. – Quando acordei ele
já não estava mais aqui.
O desinteresse dela fez Narcisa perceber que o dever que Draco deveria ter
cumprido ao voltar para casa na noite anterior não havia sido cumprido.
Theodoro Nott
- Lupin? Remo Lupin? – Theodoro riu – Morto? - riu novamente sentando-
se em sua mesa. – Como eu desejei isso quando ele nos ensinou Defesa Contra
a Arte das Trevas.
Draco riu.
- Quase metade das zonas iniciais que são responsáveis pelo armamento
de Azkaban. – lembrar aquilo evidenciou a preocupação de Draco. – Dois
líderes de resistência. Um do sul da Europa, outro das Américas. Faziam parte
do grupo fugitivo, mas ficaram para trás. A Ordem teve uma perda quase
insignificante comparada a nossa. Me preocupo com isso chegando nos jornais
dos Fortes do mestre. Não há como esconder do povo que algo muito grave
está acontecendo, você terá que cuidar disso.
- Draco, isso deveria ser a única coisa na qual você deveria estar
trabalhando. – alertou e aquilo irritou Draco.
- Logo a mídia vai bater nessa tecla. Se não leu o Diário do Imperador de
hoje não percebeu que eles já estão começando a desconfiar de algo. Eu tenho
que segurar a cidade.
- Você vai ficar muito tempo fora dessa vez? – ele perguntou sabendo que
Draco sairia pelo portão leste em alguns minutos.
- Tenho certeza que sua mulher sentirá sua falta. – brincou Theodoro rindo.
Draco revirou os olhos. – Como foi a noite? Me conte o quanto a nova Sra.
Malfoy pode ser sexy.
- Ela foi uma pedra no meu sapato desde que a conheci e quando imagino
o ódio que ela deve sentir tendo o meu sobrenome, pertencendo a mim e toda
essa situação, confesso que até me sinto recompensando. Mas o que não quero
é tê-la por perto por toda uma vida. Não quero ter que me preocupar com ela
por ser uma Malfoy agora. Não quero ter que cuidar dela. – suspirou – Não ela.
- Ela não é boa na cama? – perguntou Theodoro e Draco fez uma careta
como se ele tivesse feito um comentário inconveniente. – O que? – mostrou as
mãos – Não fique agindo como se não conversássemos sobre isso!
Ele se surpreendeu.
- Não? Pensei que tivesse voltado para Brampton Fort porque o mestre
estava o pressionando com aquele lance de herdeiro e tudo mais.
Theodoro riu.
- Já pensei dessa forma. – disse ele. – Mas não posso fazer isso. – se
levantou. – Não sou nenhum tipo de estuprador ou... – ele parou perturbando
com a idéia do que havia acabado de dizer – Não importa. Não posso. Meu
corpo não reagiria com uma mulher lutando contra mim, esqueça isso. Estamos
falando sobre sexo e eu não sei fazer isso sozinho, existem duas partes
envolvidas no processo. – deu as costas. – Tenho que ir, tenho uma chave de
portal me esperando daqui a 30 minutos no portão leste. Segure a cidade só
mais essa semana. – pediu.
Theodoro achou graça na tentativa de escapatória dele.
- Não ela. – provocou ele. Draco apenas lhe lançou um último olhar
irritado, abriu a porta e saiu por ela.
Theodoro sabia que ele passaria os próximos dias perturbado com aquilo,
conhecia Draco Malfoy. Riu com o próprio pensamento e se levantou de sua
cadeira, juntou os papéis em sua mesa e os carregou para fora de sua sala.
Tinha uma conferência dentro de uma hora com todo o departamento, aquilo
estava demorando mais tempo do que ele esperava para se resolver. Draco
tinha que tomar uma atitude com relação aquilo ainda aquela semana.
Assim que saiu de seu hall privado deu de cara com Olivia, sua secretaria, uma
tia nada atraente de uma família a qual devia um pequeno favor ao norte da
cidade. Entregou os papéis a ela e disse:
Teve que cruzar toda a catedral para pegar a escada que dava acesso a torre
principal. Estava tudo tão vazio e quieto que apenas levou alguns minutos para
tomar a subida eterna para a torre. Durante o caminho procurou esvaziar sua
mente. Assim que chegou ao topo teve que puxar a manga de sua blusa e
mostrar a marca nítida em seu braço para a guarda independente que vigiava a
porta do gabinete do mestre. A porta foi aberta e ele pode passar.
- Tive que cruzar toda a catedral. – justificou-se sabendo que não iria
adiantar se seu mestre estivesse de mal humor.
- Hermione esteve aqui ontem. Sei que ela foi a sua sessão.
Silêncio.
- Estou esperando que você me diga mais sobre isso. – manifestou-se ele.
- É óbvio que como o esperado o tamanho do cargo fez com que ela
desconfiasse que estão tentando mantê-la ocupada dentro de Brampton Fort.
Ela sabe que estão tentando afastá-la da guerra.
- E ela irá dizer sim porque ela quer que pensemos que caiu na cilada. –
disse ele.
- É isso que quer? – Theodoro estava confuso. – Que ela saiba que é uma
cilada? Ela irá dizer sim sabendo que você sabe que ela sabe que é uma cilada.
– ele se sentiu patético e riu fracamente.
Voldemort sorriu.
- Ele foi a minha sala hoje pela manhã antes de ir embora. – contou.
Aquela era uma pergunta muito abrangente. Theodoro teve que respirar fundo
para ganhar tempo para se lembrar de tudo, mas subitamente se conscientizou
do ponto ao qual Voldemort certamente estava interessado.
- Quer saber se ele levou Hermione para cama? – foi direto.
Voldemort voltou-se para ele com aquele sorriso aterrorizante nos lábios e
Theodoro sentiu que dali emanava maldade, mas de uma maneira muito sutil.
Ele gostava daquilo.
- Eles não se querem. Se odeiam. Sei o quanto Draco sempre a odiou. Pelo
que ele me tem dito ela também não pensa diferente. Mas ele se sente atraído
por ela. Fisicamente. Qualquer um se sentiria. O problema é que Draco é
orgulhoso demais para tentar fazer qualquer aproximação e aparentemente, ela
também. Eles não irão se encostar por vontade própria, pode escrever isso. –
terminou.
- Eu disse a Draco que ele deveria voltar para casa e dormir com a mulher
dele. Foi uma ordem...
- E ele a obedeceu. Ele foi para casa e teve uma bela noite de sono ao lado
da mulher dele. – confirmou Theodoro. – Mas ele também sabe que o objetivo
da sua ordem, não foi a que ele cumpriu. - Voldemort se calou e voltou a focar
o fogo na lareira. Pelo minuto que ele se manteve inerte nos próprios
pensamentos Theodoro julgou que talvez pela primeira vez Voldemort poderia
começar a duvidar da lealdade de Draco. Não que realmente Draco fosse
desleal, provavelmente, uma hora ou outra, ele iria acabar levando Hermione
para cama, mas a ponta de esperança que estava aparecendo ali lhe parecia
única, porque Theodoro sempre soube que Draco precisava perder sua posição
para que as pessoas pudessem reparar nele. Draco era seu amigo, mas se
para ganhar uma boa posição no ciclo de Voldemort Theodoro tivesse que pisar
nele, não se importaria. – Draco não tocaria em Hermione nem que ordenasse
isso da maneira mais direta possível. Seria trair quem ele é. O conhece melhor
do que eu. – ele não precisava colocar lenha na fogueira, mas aquela ponta de
esperança lhe acendia a necessidade. – Conhece Draco, as vezes ele pensa que
tem tanto poder que acha pode passar por cima da sua autoridade, mestre. –
parou, ele não arriscaria dizer mais nada. Restou a ele apenas acreditar que a
faísca que havia acendido ali fosse o suficiente.
Andou sobre o piso desregular alisando suas roupas trouxas até a porta que
dava para a escada de incêndio. Precisou usar a varinha para conseguir entrar.
Ele odiava todas aquelas coisas de trouxas, sempre muito engenhosas, tudo
que queriam era apenas imitar magia já que eram incapazes de fazê-la. Desceu
até o nível da rua e andou pela calçada escutando o barulho distante de uma
avenida movimentada. Cinco blocos de caminhada e ele finalmente chegou ao
seu beco de destino. Ao lado de uma porta de ferro pintada havia um homem
alto encostado na parede com as mãos no bolso. Draco se aproximou.
- Me deixe entrar. – foi firme.
A música com a batida pesada invadiu seus tímpanos quando entrou pelo hall
estreito e abarrotado de pessoas. Vozes altas, risadas, o som ensurdecedor,
cheiro de bebida, drogas e fumaça o irritou mas ele não desmanchou sua
postura enquanto avançava por entre as pessoas. Houve uma época em que ele
gostava daquele tipo de ambiente. Não mais.
Subiu por uma escada de ferro ao mapear lugar. O mezanino dava vista para
um tumulto de gente que se fazia de louco de frente para uma homem sobre
uma mesa de som. Draco apenas caminhou fazendo o perímetro. A porta pelo
qual havia entrado o direcionada para um lugar mais reservado e limitava seu
acesso apenas ao mezanino e a uma área fechada, mas confortável e por onde
o som entrava abafado e ele podia ver o tumulto logo abaixo.
Draco sentou-se no bar dali após passar os olhos sobre cada ser humano
presente no local. Pediu por uma bebida forte e sem muita demora foi servido.
Restou a ele apenas esperar enquanto bebia. Uma mulher sentou-se ao seu
lado após alguns minutos e tentou puxar qualquer assunto estúpido. Draco não
deu atenção e logo a mulher desistiu. Cansado ele checou o relógio sabendo
que não poderia ficar muito tempo longe de sua base, mas aquela era a sua
última tentativa de fazer as coisas voltarem ao normal. Ele tinha que arriscar
aquela chance. Se desse errado ele confessaria que não tinha mais nenhum
plano, que não sabia o que fazer, que precisaria de ajuda, mas para sua sorte,
a uma altura da noite o assento ao seu lado foi ocupado pela pessoa certa.
- E nem todos tem classe para poder usufruir dele. – retrucou Draco.
- É melhor que tenha uma boa razão para ter me chamado. – Potter seguiu
- A última vez que nos encontramos foi a três anos atrás e desde então todo
chamado que eu faço você ignora.
Potter ficou em silêncio por alguns bons segundos. Ele pediu mais um copo de
vodka e quando o recebeu o virou de uma vez novamente.
- Ela está morta? – ele pareceu ter criado muito coragem para fazer aquela
pergunta.
Draco o deixou agonizar a espera de uma resposta por alguns segundos até
finalmente a dar:
- Não.
Potter soltou o ar ao escutar aquilo. Cobriu o rosto com as mãos e ficou inerte
em alguns estado de alívio e sofrimento por alguns minutos.
- Acha mesmo que o mestre iria matá-la depois de tudo que ela fez pela
resistência e por você? – Draco riu fracamente. – Seria um fim muito fácil para
uma inimiga como ela.
- Espere! – Harry estava logo as suas costas. Draco parou. Aquilo não
estava em seus planos. Deveria ignorar e seguir seu caminho, mas se viu
voltando-se para o homem. Harry se aproximou cuidadoso. – Você a vê com
frequência?
- Morreria por essa informação? – seria um grande favor que Potter faria a
humanidade.
- Diga que eu a amo! – Potter foi claro e Draco se viu estancando mais uma
vez. – Diga que de todas as mulheres no mundo ela foi a única que eu sempre
amei e que sei que sempre iria amar. Que se eu pudesse voltar no tempo eu
teria feito ser diferente entre nós mesmo na guerra porque por ela valeria a
pena, apenas por ela. – ele sofria ao dizer aquilo. – Por favor. – ele implorou. –
Eu preciso que ela saiba disso para que eu possa viver em paz.
- Deveria ter nojo das próprias palavras, Potter. – disse com calma, deu as
costas e finalmente conseguiu ir embora. Negaria aceitar, mas talvez a idéia de
ter alguém no mundo amando sua mulher tiraria seu sono por algumas noites.
Algumas, Draco esperava. Apenas algumas. Porque por Hermione não valeria a
pena perder mais.
Capítulo 11
Hermione Malfoy
Hermione olhou no relógio, bateu nervosamente os dedos contra a superfície da
mesa e imaginou o que Luna estaria escutando naquele momento. Havia
combinado com a amiga que ela tentaria entrar numa das sessões de
interrogatório de Viktor Krum.
Luna havia sido liberada há alguns dias. Ela podia vagar pela catedral sem
escolta e podia sair pela cidade acompanhada. Hermione não podia negar o
alívio que sentia ao ver a amiga saudável e bem vestida depois de todo o
sofrimento físico que ela havia passado. Sentia que finalmente sua submissão
estava tendo algum resultado positivo, se é que ela poderia dizer positivo.
Havia tirado algumas horas para ir com Luna a um dos parques de Brampton
Fort. Elas caminharam em silêncio pela natureza um bom tempo. Depois de
todos os anos que passaram em guerra elas sabiam o valor do que era estar ao
ar livre sem precisar se esconder ou usar um disfarce ou se preocupar com um
possível ataque. Em silêncio elas fingiram que haviam voltado no tempo e
passeavam como se a realidade da guerra não existisse. Hermione nunca havia
visto Luna abrir um sorriso como aquele desde Hogwarts.
Mas Hermione sendo quem era, não deixou que o momento se alongasse como
Luna gostaria que tivesse e entre protestos da loira elas retomaram o foco.
Luna por ser uma figura que passava facilmente despercebida entre os
comensais da catedral poderia tentar se infiltrar numa das sessões de
interrogatório de Viktor Krum que aconteciam com hora marcada no salão
principal e vez ou outra era conduzida por Voldemort.
Hermione estava nervosa pela amiga, mas aquele era um dia que ela tinha
muitos motivos para se sentir apreensiva. Tentava se focar nos estudos que
havia começado aquela semana sobre o novo cargo que ocuparia no
departamento de cidades, mas aquele realmente era um dia impossível.
A segunda vez que olhou o relógio foi suficiente para que ela conseguisse forças
para fechar o livro pesado. O grupo sentado em sua mesa ergueu os olhos para
ela.
- Nós ainda temos mais uma hora, Hermione. – Jodie, sua principal
assessora comentou.
- Sei disso. – respondeu ela. – Mas tenho que ir. – juntou suas coisas. –
Vocês estão liberados. – disse quando percebeu que todos continuavam na
mesma posição a encarando como se ela estivesse fazendo alguma piada. –
Leon, você pode guardar essas coisas no mesmo lugar de sempre por favor? –
pediu educadamente apontando para uma pilha de pergaminhos que havia feito
a sua direita.
- Não vai nos dizer no que temos que trabalhar para amanhã? – perguntou
a mulher.
- Estamos seguindo num bom ritmo, não acho que é preciso adiantar nada.
– respondeu Hermione.
- Hermione. – Jodie a chamou e pelo tom que ela usou Hermione achou
interessante parar e voltar-se para a mulher. Foi amigável e preocupado, e
considerando que Hermione havia pedido que não fosse chamada de Sra.
Malfoy, o nível da intimidade do uso de seu primeiro nome por desconhecidos
ainda a pegava de surpresa algumas vezes. – Ainda não me confirmou se o
horário que estamos trabalhando pode ser definitivo.
Jodie Hall era uma mulher apenas um pouco mais velha do que Hermione. Ela
era formada pela Academia de Especialização de Brampton Fort com o poder de
exercer Tirania, um dos pré-requisitos para assumir a posição que havia sido
proposta a Hermione. Era casada com um dos herdeiros do Profeta Diário e
toda a vida havia convivido com a alta sociedade do mundo bruxo, mas ao
contrário da mulher que Hermione esperava ao ter conhecimento desse
histórico, Jodie se provava ser muito racional e bastante dedicada a manter seu
interesse por novos conhecimentos. Ela havia servido a um dos tribunais por
um ano e sabia muito bem como tudo funcionava no sistema das casas de
justiça. Deixara o cargo para investir em outro aprendizado, mas por agora
havia sido nomeada assessora principal de Hermione Malfoy pelos meses que
se seguiriam a frente onde Hermione precisava aprender muito em um curto
prazo de tempo.
- Creio que poderá ser. É um horário que tem funcionado bem, mas eu
ainda preciso me estabilizar para te dar uma certeza. – Hermione foi cuidadosa.
Sempre tinha cuidado ao confirmar algo porque sabia que era orgulhosa para
voltar atrás com suas próprias palavras, fossem elas insignificantes ou não.
Jodie sorriu.
- Me desculpe, eu não queria pressionar. – ela era sincera. Hermione
achava interessante que comparado ao padrão de Brampton Fort Jodie podia
ser uma pessoa bem humilde para o status que carregava. – Faço isso pelos
mentores, eles tem horários muitos restritos e precisam marcar presença na
Academia todos os dias.
- Bem, creio que talvez eles possam esperar pelo menos mais uma
semana. – ela disse tomando cuidado para não soar grosseira ou autoritária. –
Espero que me entenda, Judie. Tudo tem acontecido de uma forma muito
rápida e eu ainda preciso me acostumar com muita coisa diferente. – ficou
grata por ter conseguido uma justificativa superficial.
O caminho estava se tornando cada vez mais decorado. Sair da sessão das
cidades, cruzar até o pátio leste onde atravessava a galeria e pegava sua
carruagem. Sabia que o quanto mais cedo saísse da catedral melhor. Draco
muito provavelmente já estava lá e a última coisa que ela queria era ter que
cruzar com ele.
O caminho para casa era um pouco longo. Ela ia em silêncio, mas a cada dia
que se passava acabava por se acostumar e ela já podia dizer que nem
demorava tanto assim. Nos portões da mansão havia sempre gente escondida.
A mídia sempre estava lá, mas também havia uma guarda que estava sempre
pronta para espantar os flashes. Narcisa disse que era apenas uma fase. A
mídia estava em cima porque o assunto Draco e Hermione estava vendendo.
Logo as pessoas se cansariam e Hermione contava os dias para que elas se
cansassem.
Assim que chegou em casa subiu para o sótão onde organizou cada rolo de
pergaminho na nova estante que pedira para Tryn esvaziar. Desceu para o
quarto, se livrou da roupa que usava e tomou banho. Queria fazer isso
enquanto sabia que Draco estava ocupado na audiência ao qual deveria estar
presente. Não queria correr o risco de precisarem tomar banho ao mesmo
tempo.
Ao terminar ela se enrolou em uma toalha e seguiu para o closet. Sua área era
junta com a dele e sua curiosidade também já havia a feito dar uma olhada nas
roupas de Draco. Ele era doentiamente organizado e o modo como exigia que
suas roupas fossem arrumadas era até mesmo engraçado.
Hermione gastou no mínimo dez minutos apenas passando os olhos por todo o
seu guarda-roupa. Não queria parecer arrumada demais, mas também sabia
que não podia usar qualquer roupa. Por algum motivo irritante ela sentia-se
nervosa com tudo aquilo. Chamou Tryn duas vezes e após mais quase dez
minutos ela finalmente colocou um vestido de corte reto com o busto num cinza
escuro e o resto num verde fechado. Simples, mas ela sabia o que deveria usar
para ostentar o visual sem parecer elegante demais. Desceu para sua prateleira
de jóias e colocou um colar um tanto exagerado. Anéis, brincos e pulseiras
vieram seguidos de uma escolha mais discreta. Tentou não usar maquiagem
demais, escolheu um dos sapatos altos e então finalmente se olhou no espelho.
Suas mãos suavam. Faltava alguma coisa. Ela ajeitou os cabelos de uma forma
diferente com as mãos e não gostou. Alisou o vestido enquanto colocava uma
mecha do cabelo para frente. Analisou-se no espelho virando de lado e foi
então que parou e balançou a cabeça.
O que estava fazendo? Ela não precisava impressionar Malfoy! Aliás, não havia
motivo para que ela tivesse que impressioná-lo. Deu as costas ao espelho,
fechou os olhos e rapidamente tentou se imaginar em seu jeans e suéter.
Gostava do conforto de como se vestia antes. Virou-se e se encarou novamente
no espelho. Mas também gostava de suas novas roupas. Suspirou preocupada e
decidiu que mesmo que seu visual não estivesse perfeito para o marido, estava
para ela e isso era o que mais importava.
Desceu e foi até a cozinha verificar se estava tudo nos conformes para o jantar.
Deu direções a Tryn de como arrumar a mesa segundo o que Narcisa havia a
ensinado e então finalmente sentiu que havia cumprido seu dever como dona
de casa para aquele dia. Ela tinha que confessar que não havia nada de
complicado quando se tinha empregados para dar ordens.
Foi quando terminava de agradecer a Tryn na sala de jantar pela estante vazia
que havia pedido na casa de poções que escutou o barulho vindo da porta
principal. Hermione sentiu todos os pelos de sua espinha levantarem. Ele
estava em casa. Ela ficou na dúvida se deveria ir até ele ou se deveria
simplesmente ignorar. Optou apenas por ficar onde estava já que realmente
não queria encontrá-lo. Voltou-se para a elfa e tomou o ar para continuar, mas
no mesmo segundo a criatura travou, arregalou os olhos, anunciou que seu
senhor a chamava e sumiu num estalo.
- Aprecio o cuidado. – finalizou ele seriamente e pelo modo como havia dito
não parecia que realmente apreciava.
Em silêncio se sentaram e ela dirigiu seu olhar para ele para que tivesse sua
aprovação e pudesse ordenar a Tryn que a entrada fosse servida. Mas ele a
ignorou e antes mesmo que ela fosse mais direta ele ordenou que a entrada
fosse servida. Hermione uniu as sobrancelhas sabendo que de acordo com
Narcisa, a mulher era quem conduzia a entrada e saída de pratos durante o
jantar.
Hermione tinha a impressão de que desde que ele entrara ali, os olhos dele não
haviam caído sobre ela em nenhum momento. Draco parecia ter a intenção de
ignorá-la, o que para Hermione não era um ponto a favor considerando o tanto
de perguntas e dúvidas que ela tinha entalado na garganta.
- Por que mudou a mesa? – ele mostrou que não estava nem um pouco
feliz com aquilo.
- Porque seria justo visto que não é mais o único que está a usando. –
respondeu.
- Se quiser mesmo travar essa guerra, Draco, que fique claro também que
a escolha foi sua. – disse despreocupadamente enquanto enchia sua taça. – Vai
sair da cidade amanhã? – aproveitou que ele havia quebrado o silêncio.
- Não preciso ser, querido esposo. – ela foi irônica devolvendo a taça a
mesa com tranquilidade. – Se não vai deixar a cidade como fez da última vez e
considerando que o prazo que o mestre te passou no dia do casamento vai se
esgotar amanhã, presumo então que o seu dever lá fora está cumprido. – ela
começou sorrateiramente.
Os olhos deles estavam estancados nela tão friamente que mesmo Hermione
tendo sido cuidadosa, soube que sua pergunta havia cutucado alguma ferida e
por não ser nenhuma idiota, soube que o que quer que Draco esteve fazendo
do lado de fora de Brampton Fort ainda o atormentava.
- Será que podemos comer em paz? – ele usou de um tom severo
desviando do assunto que ela havia apontado.
- Não vou procurar outra hora para gastar meu tempo na sua companhia,
vou usar a que estou tendo agora! É uma única e simples resposta, Draco!
- Você vai ter a sua resposta logo, Hermione. Ela não depende de mim. –
ele vociferou se levantando. – Desfrute do jantar. – disse largando com
brutalidade o tecido de seu guardanapo sobre o prato.
Hermione permaneceu estática enquanto o observava deixar o salão não
entendendo o porque aquilo havia o irritado tanto. Ela suspirou frustrada por
saber que a linha de diálogo que esperava traçar não aconteceria e as dúvidas
que tinha continuariam sem ser sanadas. Olhou seu prato quase intocado e
chamou por Tryn.
**
Ela preferiu gastar suas horas após o jantar na casa de poções. Tinha muito no
que trabalhar lá e até que nas primeiras horas se sentiu bastante ocupada, mas
a medida que ficava tarde ela percebia que suas mãos começavam a suar e
uma agonia duvidosa lhe subia pelo corpo. Passavam das onze da noite e ela já
não conseguia ler e absorver o conteúdo nem saber o que fazia quando checava
suas poções descansando em fogo baixo. Mergulhava tão facilmente nos
próprios pensamentos que se pegava andando de um lado para o outro com a
pena na mão pingando tinta.
Guardou toda sua bagunça da melhor forma que pode e suspirou fechando os
olhos se perguntando se aquela já era uma boa hora para descer para o quarto.
Tinha receio do que ele pudesse tentar se o pegasse acordado. Havia o irritado
durante o jantar e última coisa que precisava era que ele tentasse fazer com
que ela pagasse por isso.
Esperou que desse meia noite e então desceu. Quando entrou no quarto as
velas estavam apagadas, mas o encontrou de pé encostado no vão da janela
onde as cortinas estavam aberta. Os olhos dele caíram sobre ela e por
segundos eles trocaram olharem silenciosos até que ele desviasse os dele de
volta para a noite do lado de fora. Draco usava apenas a calça de seu pijama,
os pés descalços e as mão estavam escondidas dentro dos bolsos. Hermione
sentiu que todos os seus músculos estavam travados enquanto avançava com
cuidado. Ela tinha quase certeza de que o encontraria dormindo a aquela
altura.
Ele estava no mesmo lugar, mas dessa vez havia um copo de bebida em sua
mão. Hermione seguiu o caminho até seu lado da cama, o arrumou como
queria, despiu-se do hobby e o pendurou no dossel. Quando sentou-se o viu a
olhando. Seu coração quase perfurou as próprias costelas quando notou o olhar
que ele lançava sobre ela. Seus músculos travaram e seu cérebro gritou “não”.
O silêncio entre aquela trocar de olhares foi cruel para Hermione.
Ela soltou o ar pela boca e se cobriu com as cobertas o mais rápido que pode.
Deitou de costas para ele e fechou os olhos tentando esvaziar sua mente.
Quase uma hora depois ela ainda estava acordada e ele no mesmo lugar.
Aquela situação estava começando a irritá-la, virou-se aborrecida e estava
pronta pra perguntar o que havia de errado com ele. Não podia dormir com
alguém a rondando daquela forma, mas ao mesmo tempo em que estava
pronta para soltar a pergunta, se questionava se talvez não seria melhor ficar
de boca fechada. Foi o encarando e se questionando se deveria ou não dizer
algo que finalmente conseguiu dormir.
Sonhou que estava na sede da Ordem. Uma onda de alegria a inundou e ela
correu pelos corredores gritando o nome de Harry. O encontrou numa das salas
da mansão dos Black e assim que o viu pendurou-se em seu pescoço o
apertando com tanta força que até seus próprios músculos doeram. De repente
dizer o quanto sentia falta dele e de todos era difícil demais e ao se afastar
começou a se embolar ao contar rapidamente o que havia acontecido com ela
quando fora capturada. Harry parecia uma figura distante, mas mesmo assim
ela continuou a atropelar as palavras. Foi quando se lembrou que deveria
perguntar o que a Ordem havia feito com Azkaban e os dementadores para
compreender o comportamento que Draco estava tendo que se lembrou de que
era casada com ele. Harry perguntou o que ela estava vestido numa voz que
não parecia dele e então ela olhou para si mesma nas roupas caras que usava
em Brampton Fort. Lembrou-se de que era uma comensal e que não podia
estar na Ordem sem estar morta. A realidade bateu forte e ela acordou.
Não sabia quanto tempo havia passado, mas o quarto ainda estava escuro.
Draco estava no mesmo lugar ao lado da janela. O copo em sua mão ainda
estava cheio e o whisky nele já parecia estar quente. Ela se perguntou o que
havia de errado com ele, deu as costas, seu corpo pesou e ela tornou a dormir
muito facilmente.
- Tentei. – a voz dele saiu tão rouca quanto a dela. Baixa e grave que
quase fez Hermione tremer. Ele havia respondido como se estivesse falando
com sua consciência ou algo do tipo porque não havia nenhum tipo de
expressão no tom de sua voz.
Ele não respondeu e o silêncio durou por mais alguns minutos. O primeiro raio
de sol que cortou o céu veio logo sobre eles. Hermione sentiu a dor nos olhos e
viu Draco se levantar como se aquele fosse um momento importante. Ele
caminhou para próximo da janela e Hermione apenar o observou quando ele
abriu as vidraças e o ventou cortou para dentro do quarto fazendo os cabelos
dela voarem.
O vento úmido e frio na manhã a alertou para mais um dia ensolarado, mas foi
apenas em um segundo que de repente um ar gélido cortou sua pele e a seda
fina de sua camisola. Ela pode ver o céu do lado de fora começar a ser coberto
gradativamente por nuvens cinzas e escuras e então bastou apenas alguns
minutos para que eles emergissem novamente no breu da noite. Foi quando o
cérebro de Hermione a avisou que os dementadores haviam voltado.
Draco fechou as janelas e ela o viu respirar fundo, esfregar o rosto e puxar os
cabelos. Não parecia claro para ela, mas de alguma forma ela parecia estar o
vendo tirar um peso grande das costas. Draco deu meia volta e sumiu para
dentro do lavatório.
Hermione o assistiu enquanto ele começava a tirar a barba de seu rosto sem
pressa, aproximou-se, foi para o seu lado da pia, arrastou seu espelho e tirou
de lá sua escova de dentes. Afastou os cabelos, os prendeu no topo da cabeça
de qualquer jeito e começou a escovar os dentes. O silêncio entre eles era sem
dúvida notável. A troca de olhares frequente pelo espelho tão igualmente.
Ela terminou e ele estava quase no fim do processo. Parecia não ter pressa
nenhuma. Hermione enxaguou o rosto e o secou. Aquele silêncio começou a
irritá-la assim como as dúvidas que tinha também. Guardou suas coisas,
colocou as mãos uma de cada lado da pia e o encarou pelo espelho.
Draco dirigiu seu olhar a ela pelo reflexo mas rapidamente voltou a avaliar o
movimento da lâmina sobre sua pele.
- Se quisesse realmente saber deveria ter ido a assistir. Tenho certeza de
que pode frequentar audiências fechadas. – a voz dele respondeu.
- Não tive tempo para a sua audiência, Draco! Tive que vir para cá colocar
em ordem o jantar que você não comeu! – disse.
- O jantar que você fez questão de não me deixar comer. – replicou ele
com muita calma.
- Não, ainda não acabei, porque eu fiz uma pergunta e ainda estou
esperando a resposta.
- Claro que não tem! – ela o cortou – Não tem porque talvez você esconda
algo deles e não quer que eu saiba! – ela mal havia terminado e num susto os
dedos dele cortaram a circulação de seu braço quando ele a arrastou até
prensá-la contra a parede.
- Você não fala nessa casa! Não abre a boca, não se manifesta, não faz um
ruído! – cuspiu ele com aqueles olhos cinzas cheios de fúria sobre ela. – Não
tem mais o direito para isso!
- Quer uma prova maior para minha suposição do que a sua atitude
extremista? – ela usou do mesmo tom não tendo medo em encarar fundo nos
olhos dele.
- Me faça, Draco! Quero ver como vai me tirar esse direito! – ela não havia
tido a intenção mas assim que fechou a boca se arrependeu de como suas
palavras haviam soado. O vacilo de seus próprios olhos ao perceber aquilo
abriu espaço para que o cérebro de Draco processasse o desafio que ela
inconscientemente havia lançado e então os cinzas dele desceram para sua
boca quase que imediatamente.
Nos segundos que se seguiram ela o viu travar uma luta interna entre a raiva
que o consumia e qualquer pensamento confuso que pedia espaço para
aparecer em suas linhas de expressão. Por um único segundo ela pensou que a
raiva dele havia cedido espaço e foi naquele único segundo que ela conseguiu
ter a visão de que no segundo seguinte Draco avançaria contra sua boa num
ato de vingança. Ela desejou poder voltar no tempo e nunca ter dito suas
últimas palavras, mas ao contrário da visão que havia tido, no segundo
seguinte ele apenas a soltou e saltou para longe com desprezo.
- Eu apenas quero viver em paz na minha própria casa! – disse evitando os
olhos dela – Faça a sua parte, Hermione. Eu farei a minha.
Respirou fundo, abriu os olhos e então o som das duchas inundou seus ouvidos.
Ponderou involuntariamente e então uniu as sobrancelhas sentindo uma
pontada de angústia ao tomar consciência de que nem mesmo quando ele a
desejava ele deixava de tratá-la como se ela tivesse algum tipo de doença
contagiosa. Soltou o ar frustrada. Seria assim sempre. Havia sido desde
Hogwarts. Não mudaria nunca.
Draco Malfoy
Ele podia sentir o suor escorrendo pelo rosto, a blusa ensopada grudada em
seu corpo, o calor e todos os seus músculos tensionados com o peso que
suportava. A voz de seu treinador gritando ao fundo era a prova de seu
péssimo desempenho.
A força que fazia não era suficiente para quebrar a barreira de magia que
avançava contra ele. Draco continha a força do que iria o atingir com os
músculos e controlava a distância com a mente, tinha que dominar a magia e
estabilizar a barreira para finalmente parar de contê-la com a força dos braços,
só assim poderia passar daquele estágio para livrar-se da pressão da barreira e
quebra-la com o simples impacto de suas mãos unidas. Merlin sabia o quanto
ele era bom em controlar aquela magia com a mente em segundos e quebra-la
com os braços, mas não entendia o porque naquele momento todo o treino que
tinha parecia ter sido em vão.
- Vamos, Draco! – gritou seu treinador – Está usando sua força para conter
a barreira, não sua mente! Sabe que tem que usar sua força para quebrar a
barreira, não contê-la!
Draco urrou sentindo a frustração deixar sua concentração cair ainda mais. O
peso contra seus músculos aumentou e aos poucos a dor enfraqueceu sua
força. Ele sabia que o que estava suportando era mais do que poderia, mas
tentava tomar o controle da situação ainda tendo esperança de que tinha
chances de retomar a concentração que havia perdido, mas foi quando seus
músculos se negaram a suportar mais pressão que ele perdeu de vez a
concentração e as forças. O baque da barreira contra seus corpo o fez voar
cruzando todo o ginásio, bateu e afundou na parede própria para aquele tipo de
situação e então rolou sobre o chão até perder o momento.
Ofegou encarando o teto sentindo como se tivesse sido pisoteado por uma
manada. A voz de seu treinador gritava em indignação ao fundo, mas sua
cabeça latejava e ele não conseguia processar as palavras. Um zunido irritante
em seus ouvidos ficava cada vez mais distante e quando finalmente seu
coração alcançou um ritmo mais moderado ele pode distinguir as palavras que
seu treinador esbravejava.
- Você acha que eu não uso minha concentração para transferir a força da
magia para os meus músculos? – Draco quase gritou dando as costas.
- Me mande mais uma, posso dar conta! Sabe que posso! – Draco sabia
que não podia.
- Não é necessário provar nada para mim ou para você mesmo! Nós dois
sabemos que pode dar conta desse tipo de magia com muita facilidade! Mas
agora você não está em condições, já tentamos três vezes, não posso fazê-lo
tentar mais uma...
- Não! – seu treinador usou aquela voz de mãe aborrecida que tentava
explicar a sua criança o porque não deveria pular em cima da cama. – Estou
tentando te fazer entender que você tem um problema e deve concertá-lo. E o
seu problema está aqui! – ele apontou para a cabeça de Draco. – Não pode se
concentrar porque algo o perturba. Talvez não saiba nem mesmo o que o
perturba, mas existe algo, e você não vai por os pés nesse ginásio enquanto
não concertar isso porque eu preciso que o seu corpo funcione junto com a sua
mente e se sua mente não está em boas condições seu corpo não pode assumir
o trabalho dela!
O som da porta de ferro se fechando ecoou pelo ambiente amplo e Draco soube
que estava sozinho. Sua única opção foi praguejar alto, pegar suas coisas e se
mover para o vestiário.
A água gelada que jogou sobre o corpo foi um choque e o ajudou a acalmar o
turbilhão de maldições que queria lançar. Fechou os olhos e deixou a água
bater contra seu rosto. A voz de Elliot Singh, seu treinador, ainda era uma
alerta presente em seu cérebro. Cada treino em sua agenda daquele mês
parecia ter sido um passo para trás de tudo que ele mais dominava, cada um
deles havia sido uma queda de seu pódio e podia até dizer que não estava
muito surpreso pelo desempenho que havia acabado de ter nem a decepção
explicita do homem que, querendo ou não, o ajudo a ser quem era hoje.
- Draco! – era a voz de sua mãe no vestiário. Draco praguejou baixo dessa
vez porque sabia que a presença de sua mãe por perto era a última coisa que
precisava naquele momento. – Elliot disse que eu o encontraria aqui.
- Estou aqui. – respondeu sem vontade enquanto ouvia o salto dos sapatos
de sua mãe movimentando-se entre os armários.
- Sabe onde sua esposa está nesse exato momento? – a voz dela saiu mais
como se já soubesse a resposta do que como se realmente estivesse
interessada em localizar Hermione.
- Você pode usar o nome dela, mãe! Não precisa refrescar minha memória,
sem bem quem ela é! – respondeu com os dentes cerrados sentindo que a água
gelada já não parecia mais tão refrescante.
Draco sabia que em algum momento Voldemort faria seu movimento e ele
esperava que aquela notícia não fosse a prova das suas suspeitas.
- Quem te passou a informação? – perguntou.
- Por que veio até aqui para me dizer isso? – ele desligou o chuveiro.
Narcisa pareceu dar a ele alguns segundos como se esperasse que ele mesmo
pudesse responder a pergunta.
- Draco, não lhe passou pela cabeça por nenhum segundo o porque de
Hermione ter sido convocada pelo mestre?
Draco soltou o ar sem paciência, puxou a toalha e enterrou o rosto nela. Sim,
ele tinha suas apostas, mas não tinha o menor dos desejos de discutir sobre
aquilo.
- Por que está fazendo isso, mãe? – perguntou finalmente enquanto atava
a toalha ao redor dos quadris.
- Estou tentando lidar com essa situação da melhor forma possível! – ele
passou por ela foi até o seu armário.
- E o que é a melhor forma possível pra você, Draco? – ela o seguiu. – Ficar
até tarde na catedral? Gastar seu tempo com Pansy? Encontrar mulheres por aí
para não ter que voltar para sua casa? Quantas vezes eu te vi em casa nesses
últimas semanas só porque queria estar em um lugar onde Hermione não
estivesse. Te ter em casa, na casa do seu pai, por vontade própria, chega a ser
assustador!
- Você não aceitou que ela é sua esposa, sua companheira, para o resto da
sua vida! Se não aceitar isso vai viver um inferno! – ela parecia querer gritar o
óbvio. – Ela está com você, dentro da sua casa, dividem a mesma cama! Não
pode ficar lutando para fazer com que ela seja uma estranha para sempre,
principalmente quando começarem a compartilhar momentos muito íntimos, o
que a propósito é outro problema que evita encarar!
Ele riu sabendo que a única opção que tinha era achar graça do discurso de sua
mãe.
- Eu não a quis, nunca a quis e continuo não a querendo! O que espera que
eu faça? Que eu a ame? Que eu cuide dela? Que ela seja minha companheira?
– ele riu da palavra. – Está delirando, mãe? Ela é uma Sangue-ruim!
- EU NÃO QUERO QUE ELA SEJA! – gritou – Aceite isso você já que gosta
dela!
- Ele nunca fingiu para mim! Talvez no começo sim, mas ele não
conseguiria fingir dentro da própria casa, para a própria família, dentro do
espaço dele, do refúgio dele. Eu me tornei a família dele, Draco! Entenda! Seu
pai nunca gostou realmente de mim e eu não sei tudo sobre ele, mas sei
muitos segredos, sei quem ele é, o conheço bem, porque no final do dia, da
semana, do mês, ele volta para casa e ele sabe que lá ele não precisa ser
ninguém diferente de quem ele é, ele sabe que eu estarei lá e depois de todos
esses anos ele sabe que eu sou a única pessoa que ele pode confiar. Ele
compartilha coisas comigo, segredos, os que ele quer, mas não somos
estranhos um para o outro. Eu sei que no fundo eu significo algo para ele. Nós
dois tivemos que construir isso e tem sido difícil até hoje, mas não temos outra
opção!
- Eu não sou o meu pai e Hermione não é você! Separe isso de uma vez
por todas...
- Não estou querendo fazer nenhuma comparação. Quero que entenda que
não pode fugir do papel que assinou no dia do seu casamento ao tentar ser
inimigo de Hermione para sempre! A casa dela é a mesma que a sua agora!
Deve parar de se afogar no seu orgulho, não por ela, mas por você mesmo!
Não precisa gostar dela, Draco, mas tem que parar de odiá-la!
Ele soltou uma risada fraca.
- Deve dizer a ela para fazer o mesmo. Uma hora ela entenderá que terá
que fazer. Hermione verá que não terá opção, assim como você também não
tem. Quanto tempo acha que pode empurrar isso que está vivendo?
Ele sentiu as palavras o abandonar. Não gostava de revirar aquela sujeira que
forçava em colocar debaixo do tapete. Ele sabia que tinha que limpá-la, mas
adiava o máximo que pudesse. Tudo era mais importante que se focar em
voltar aos dias de Hogwarts com Hermione dentro de sua casa. Ele lutava uma
guerra, uma maior do que a de Voldemort. Maldita havia sido a hora em que
seu pai resolvera colocar ela dentro do jogo. Draco sentou-se num dos bancos
do corredor e encarou fixo o chão enquanto descansava os cotovelos contra os
joelhos. Narcisa acomodou-se ao seu lado colocando a mão sobre o ombro do
filho.
- Sabe que deve parar de ignorá-la. – ela começou numa voz suave. –
Sabe que deve se importar com ela. Sabe disso. Se continuar agindo dessa
forma vamos ter problemas porque ela é uma de nós agora, Draco. Deve
aceitar isso para o seu e para o nosso bem. Sabe que seu pai a escolheu por
um motivo, e sabe que o mestre concordou também por um motivo ainda
maior, um do qual deve se preocupar todos os dias em tentar entender! – ela
se aproximou do ouvido do filho e diminuiu o tom de voz. – Ela é parte de tudo
isso agora, e não se esqueça. Nós, os Malfoy, sempre viemos em primeiro
lugar. – deu um beijo terno contra os cabelos molhados de Draco e se levantou.
– Seja o homem que eu sei que é e pare de agir como o seu pai. – finalizou e o
deixou.
Draco permaneceu um bom tempo onde estava odiando o quanto sua mãe era
dotada de razão. O som dos ponteiros do relógio na parede ecoavam pelo
ambiente. Ele considerou cada palavra que havia ouvido e por mais que
devesse tomar uma posição ele ainda precisava de sua teimosia. Somente com
a sua teimosia ele sentia que estava fazendo pelo menos algo pelo seu orgulho.
Levantou-se quase meia hora depois e se vestiu sem pressa. Subiu para sua
torre e sentou-se em sua cadeira colocando os pés sobre a mesa. Enviou um
memorando para Naomi pedindo para que ela cancelasse uma pequena
assembleia interna dentro de seu departamento que havia marcado para
discutir o caso de Viktor Krum. Havia a marcado naquele horário para ter uma
desculpa para não voltar para casa na hora do jantar. Encarou o relógio sobre
sua mesa e apenas esperou o tempo passar. Ele deveria voltar passa casa, mas
não queria.
Mais alguns longos minutos e Naomi o informou que Pansy estava a procura
para saber se ele ainda estava na catedral. Aquele aviso era sinal de que ela
queria o encontrar e talvez se tivesse recebido esse recado no dia anterior
muito possivelmente ele teria se levantado e tomado a direção da torre dela.
Não gostava de ter o contato que Pansy queria com frequência, além de o
irritar ele também não queria causar nenhum tipo de confusão com relação ao
que ela pensava e ao que ele havia deixado claro sobre o relacionamento deles.
E também, no último mês podia até dizer que fugira de relações sexuais porque
toda vez que se deitava com uma mulher sabia que deveria estar se deitando
com Hermione para garantir que seu mestre teria o seu lado do acordo do
casamento cumprido. Levantou-se finalmente sabendo que tinha que dar um
fim ao tipo de situação que estava se forçando ficar apenas por pura teimosia.
Ele achou tentador, mas sabia que no momento em que encostasse nela se
lembraria de Hermione e aquilo o atormentaria tanto que Naomi perderia a
graça.
Desceu até o pátio leste e tomou a carruagem para casa. Já era noite, mas
ainda estava cedo para o horário em que normalmente estava voltando para
casa no último mês. No caminho, se preparou para encontrar Hermione
acordada.
Já acostumado com o tempo que levava para chegar ao portão de casa, pode
dizer que não se animou muito ao ver as luzes da fachada de sua mansão.
Desceu da cabine assim que a carruagem parou, subiu os degraus da frente,
passou pela varanda e atravessou para dentro do saguão confortável de
entrada. Considerando que muito provavelmente Hermione estaria na casa de
poções então seguiu direto para o quarto. Livrou-se de sua gravata, abriu os
botões da manga e tomou a direção do banheiro enquanto desabotoava o
restante da camisa.
- Chegou cedo hoje. – ela comentou tentando fazer com que ele tirasse a
atenção paro o fato de que ela parecia estar chorando. – Continua atrasado
para o jantar mesmo assim. – ela não voltou a encará-lo. – De novo. –
finalizou.
Ele ainda precisou de um tempo para observá-la surpreso por a encontrar ali.
Havia um limite silencioso que ambos inconscientemente respeitavam que era
evitar permanecerem muito tempo no mesmo ambiente, e aquele era um dos
ambientes que mais contava. Tinha que confessar que mesmo que a pouca
espuma e a água difusa o impedisse de realmente vê-la em seu banho, saber
que o corpo dela estava exposto ali debaixo o afetava mais do que ele gostaria
que afetasse.
Ele não gostou do ataque, mas considerou que aquilo vinha tão naturalmente
para ela como vinha para ele.
- Pode pedir para que desfaçam a mesa. Não irei jantar. Não estou com
fome. – deu as costas para deixar o ambiente, já haviam interagido demais.
Ele achou que ela fosse respeitar o limite deles e o deixar ir, mas antes que
pudesse sair escutou a voz dela novamente:
- Por que não faz isso você? – ele tomou um segundo para processar as
palavras dela antes de se virar para tonar a encará-la. Estreitou os olhos como
se não tivesse entendido o que ela havia dito. – Por que você não faz isso? –
ela repetiu e o encarou. – Você quem perdeu o jantar. Você quem não vai
comer.
Ele sabia que aquilo poderia ser o início de uma longa briga e um mês havia
sido o suficiente para que ele soubesse bem disso. Não tinha mais ânimo para
aquelas irritantes discussões.
- Porque você conhece a regras de como a casa deve funcionar com você
aqui dentro ocupando a posição de esposa e isso não vai mudar sendo sua
proposta funcional ou não. – ele foi direto e curto tentando finalizar aquilo. –
Peça que desfaçam a mesa. – deu as costas e voltou para o quarto.
Respirou fundo sabendo que não dividia mais o mesmo espaço que ela. Pensou
em um palavrão e considerou que deveria ter ficado na catedral. Deveria ter ido
a recepção dos chefes de província e depois ter ido a torre de Pansy, assim
chegaria em casa e encontraria Hermione dormindo.
Foi até o pequeno sofá perto da lareira e sentou-se nele pendendo a cabeça
para trás, fechando os olhos e se perguntando o porque era tão difícil lidar com
Hermione. Ele não tinha idéia do que deveria fazer, de como deveria agir, do
que deveria falar. Ela apenas o irritava e ele tinha que ser rude para fazê-la se
calar, será que se convivessem dessa forma chegariam a algum estágio de paz?
Será que algum dia eles conseguiriam chegar a algum estágio de paz?
Ele ergueu uma mão e com o polegar massageou uma de suas têmporas
tentando aliviar o peso da agonia que seus próprios pensamentos lhe
causavam. Abriu os olhos quando escutou os passos dela vindo do banheiro.
Não demorou muito e ela entrou em seu campo de visão vestida no hobby de
seu pijama com os cabelos presos no topo da cabeça como quando estava na
banheira. O rosto limpo e livre de toda maquiagem que era obrigada a usar era
algo que captava sua atenção e definitivamente ele tinha que confessar que a
preferia assim do que enfeitada. Hermione parou a sua frente e cruzou os
braços. Havia um ar de determinação em sua expressão.
- Acaso você tem um começo melhor? Porque eu sou a única que estou
tentando aqui. – retrucou ela.
Ele notou quando Hermione respirou fundo tentando manter-se focada e não
dominada pelo sentimento de repulsa que aparecia no olhar dela.
Hermione se aborreceu.
- Eu tenho um dever. Você tem o mesmo. E quem me parece que não está
disposto a fazer algo aqui é você.
Ele riu.
- Não sou eu quem está de braços cruzados me olhando como se eu
merecesse ir para cruz! Se quer saber, isso não me atraí nem me parece nada
sedutor. Se quer começar algo aqui, terá que provar que realmente quer!
Hermione estreitou os olhos recebendo o desafio, mas não demorou muito para
que ela captasse o desconforto que ele queria provocar. Draco sabia bem que
ela recuaria, ao menos era o que ele esperava e o que seria mais apropriado,
mas ele temeu quando a viu descruzar os braços e puxar o ar como se
estivesse lamentando pela última gota de orgulho que havia lhe restado.
Nos segundos em que o silêncio durou entre o olhar que trocavam ele sentiu
que seus músculos haviam travado. Talvez estivesse em choque, mas
simplesmente não conseguia reagir a proximidade que ela havia criado tão de
repente. Aquilo deu espaço para que ela acomodasse o corpo sobre ele e se
aproximasse perigosamente como se devesse seguir o que havia começado.
Sentiu o hálito dela contra seu rosto e soltou o ar ao perceber que havia
prendido a respiração. O calor do corpo dela, a proximidade, seu cheiro de
rosas misturado com o perfume do banho que havia tomado era absolutamente
embriagante e Draco pode notar que não era tão difícil se sentir fascinado por
aquela mulher.
Foi exatamente quando sentiu os dedos frios dela tocarem seu pescoço de
modo hesitante que seu cérebro tornou a funcionar rápido tentando recuperar o
tempo perdido. A boca dela tocou a dele como no dia de seu casamento e ele
sentiu que se render seria o caminho mais fácil, mas seu cérebro gritou mais
alto alertando que havia algo de muito errado ali. A parou quando os dedos
dela alcançaram os botões de sua blusa que ainda estavam atados. Afastou-se
e olhou nos olhos âmbar dela que agora o olhava como se quisesse saber o que
havia feito de errado.
- Me dê um motivo para estar fazendo isso. – pediu tirando a mão dela dos
botões de sua camisa.
Os olhos dela pareciam estar se lembrando exatamente aquilo que havia vivido
dentro de gabinete de Voldemort. Por um segundo ele viu dor, mas então ela
piscou e pareceu refazer a postura.
- Como pode ter tanta certeza? – ela perguntou como se ele tivesse a
ofendido, como se ele não tivesse o direito de ter certeza das atitudes dela já
que não a conhecia.
- Porque nunca fez questão de agir assim desde que nos casamos mesmo
sabendo que tínhamos uma ordem a cumprir. – se fez claro. – Quero saber o
porque de só agora ser necessário você tomar essa atitude.
- Você não tem o direito de falar que eu quem não quero depois disso! –
ela apontou para ele furiosa. – Não importa o que aconteceu! Sabe que temos
uma ordem a cumprir e já a adiamos tempo o suficiente.
Draco se levantou aborrecido com qualquer que fosse o motivo desnecessário
que a fizera se irritar tanto.
- Hermione, você estava em cima de mim, vestida desse jeito, com a sua
boca na minha! Tem idéia do quanto foi difícil te parar? – ela puxou o ar
discretamente e ele pode perceber que realmente ela não tinha. – Eu não a
pararia se realmente não importasse. Precisa aprender a compartilhar esses
segredos comigo, mas entenda, eu não quero saber porque me preocupo com
você e você não precisa me contar porque quer. Nós estamos na mesma família
agora e coisas que acontecem com você me afetam também!
- E sobre as coisas que acontecem com você? Elas não me afetam? Porque
quando sou eu quem faço perguntas você tem todo o direito de se irritar e se
silenciar. E não ouse negar isso, Draco! Estamos vivendo na mesma casa a
quase um mês! Sabe do que estou falando!
- Porque tento te mostrar o quanto você sempre está tentando fazer com
que as coisas funcionem de maneira injusta entre nós. – ela gesticulou. – Nós
não somos um casal, Draco, muito menos somos apaixonados um pelo outro,
mas isso é um casamento e eu me recuso a viver como o seu pai e sua mãe!
Não vou te deixar me manipular!
- Não faça insinuações sobre minha mãe! – ele a segurou pelo braço.
- Existem muitas coisas que você não entende, Hermione. – ele disse
frustrado.
Ela suspirou.
Pensou mais um pouco e não foi difícil chegar até a pergunta que considerou
muito provável.
O silêncio dela pelos minutos que se seguiram foi o sim que ela não chegou a
dizer porque não era preciso.
- Ele a prendeu novamente. – foi tudo que ela comentou usando o mesmo
tom baixo de antes. – Não me deixe saber o quão feliz você está por isso. – ela
acrescentou segundos depois.
- Não estou feliz. Apenas não me importo. – deu de ombros. – Ele lhe
impôs alguma condição?
- Não. – a voz dela havia voltado ao tom normal como se não valesse se
lamentar. – Mas ele fez bastante questão de deixar claro que sabia sobre o que
não estávamosfazendo. – e levantou os olhos para ele. Draco ergueu as
sobrancelhas. – Como ele sabe disso?
- Por Merlin, Hermione! Você acha que as coisas acontecem assim? – tudo
bem que ela prezava pela amiga, mas sexo não era um botão em uma máquina
onde alguém simplesmente podia apertar “iniciar”.
- Como você espera que aconteça? Eu não estou afim de me prestar a fazer
nenhuma peça de teatro por aqui. Não precisamos fingir nada apenas para
fazer com que ao menos pareça que nos queremos. É óbvio para nós dois que
não nos queremos!
- E isso já é prova suficiente para você de que não se acontece desse jeito?
Será que você conseguiu escutar o que disse?
- Qual é o problema com você? – a entonação que ela usou deu a sensação
a ele de que seu cérebro havia sido perfurado. Era aquela mesmo entonação
que ela usava no auge das brigas que tinham. – Será que não passa pela sua
cabeça que temos que começar em algum lugar? Eu tenho certeza que passa,
Draco! – Céus, ele a odiava tanto! - Por que você tem que ser sempre tão
orgulhoso, tão pontual, tão cheio de costumes, tão cheio de razão? – ele odiava
quando ela começava a usar aquele tipo de “por que” e quando ela jogava
aquelas palavras cheia de preconceito como se ela não fosse exatamente a
mesma coisa. Fechou os olhos com força tentando fazendo com que aquela voz
se calasse. – Você é tão sonserino que não importa a coragem que tenha
conseguido construir durante todos esses anos, não é surpresa nenhuma que
haja como covarde agora! – ele cerrou os olhos para ela sentindo a fisgada que
havia recebido. Era bom que ela calasse a boca. – Não diga que eu não quero
quando você é o único que realmente não quer, ao menos eu...
Ele a calou quebrando a distância entre eles, usando uma mão para segurar
seu queixo fino brutalidade e colando sua boca na dela. Tentou abrir espaço
entre os lábios delas, mas ela não reagiu, tentou mais uma vez e dessa vez ela
resistiu, mais uma e então ela finalmente se rendeu. Era aquilo que ela queria,
não era? A sensação de suas línguas se tocando foi fora do comum. Pareciam
lutar uma contra a outra e a energia era tão nova e única que conseguiu o
entreter ao ponto de quase o fazer esquecer de que queria matá-la. Quase.
A soltou e se afastou ofegante. Os lábios dela estavam vermelhos e úmidos, e
Merlin, aquela visão o fez se perguntar o porque havia parado de provar o
quanto eles eram macios.
- Tem que aprender a calar a boca, Hermione! – ele vociferou sendo o mais
severo que podia naquele momento. – Você fala demais. Me dá dor de cabeça!
Ela o olhava como se não tivesse sido capaz de processar qualquer palavra que
havia escutado. O peito dela subia e descia tentando compensar o tempo que o
ar havia sido escasso entre eles. Foi então que ela se tocou para algo, e não
havia sido para o que ele havia dito.
- Por que diabos você parou? – ela soltou entre suas buscas por oxigênio.
Ele se fez a mesma pergunta enquanto olhava para a boca vermelha dela. A
voz dela o julgando como covarde soou em sua cabeça. Draco não deixaria que
ela nem mesmo ousasse repetir aquilo. Mas aquela boca o chamava tão alto
que tudo que ele conseguiu se focar foi em ter aquela energia novamente.
Draco a segurou pelo rosto e tomou aquela boca novamente para ele. Se era
assim que ela queria que fosse, assim seria. Havia uma corrente de tanta coisa
diferente naquele beijo que ele não podia descrever como selvagem embora
fosse bastante ativo, não podia descrever como intenso embora houvesse
muita energia nem mesmo podia dizer que era desesperador embora houvesse
uma sensação de urgência. Ele sentia que podia passar o dia brincando
daquilo. Era uma guerra muito prazerosa a forma como pareciam querer provar
quem era melhor que quem naquele beijo era uma entretenimento e tanto.
Notou que ainda havia a hesitação entre seus corpos. Queria tocá-la e queria
que seus corpos estivessem unidos assim como suas bocas estavam. Desceu
sua mão e a puxou pela cintura se irritando com o fato de que ela não havia
tomado nenhum atitude com relação aquilo. A sensação do toque e da
proximidade era sempre intimidador. Ele sabia que era tanto para ele quando
para ela, e talvez tivesse sido por isso que suas bocam tomaram centímetros
de distância quando a intimidade e a proximidade o assustaram.
Ofegaram apenas alguns segundos perdidos no que deveriam fazer. Draco pela
primeira vez sentiu que estava provando de algo tão novo e diferente que por
aqueles segundos ele temeu se conseguiria fazer aquilo. Mas foi apenas alguns
segundos. No seguinte ela passou os braços pelo pescoço dele como se
estivesse mostrando que teriam que se tocar de qualquer maneira, o olhou
como se estivesse tentando esclarecer que aquilo não significava nada e então
voltou a beijá-lo.
Ele gostou de saber que ela parecia estar consciente de que nada daquilo
passaria do casual. A arrastou para a cama e a jogou sobre ela. Hermione o
olhou surpresa e ofegante como se não tivesse esperado por aquilo. Ela havia
insistido por sexo, não era? Ela faria o sexo que ele queria fazer.
Desceu sua mão pela lateral no corpo dela, tocou sua coxa e enterrou os dedos
sobre a carne macia. Puxou a perna que segurava fazendo com que ela
abraçasse seus quadris, a empurrou um pouco para o lado e se encaixou entre
as pernas dela. Hermione moveu-se como se estivesse espreguiçando a coluna
e então os corpos deles se encaixaram tão perfeitamente que novamente
aquele susto atingiu a ambos. Suas bocas se separaram buscando ar e dessa
eles sabiam o que fazer. Os segundos foram poucos dessa vez antes de
voltarem a se beijar novamente.
Ele estava pronto para começar a explorar o corpo dela, livrá-la de toda aquela
roupa que antes parecia pouca e agora parecia muita, mas antes que suas
mãos alcançassem o interior do roupão dela, Hermione moveu o corpo de uma
maneira tão ágil, explorando o ponto fraco na posição deles, para fazê-los girar
e ela trocar de posição ficando por cima agora. Ele a olhou surpreso pela
atitude, ainda não sabendo se havia gostado daquilo.
- Se vai usar o meu corpo e eu vou deixar, é melhor que me faça gostar do
que iremos fazer! – ela soou cheia de prepotência.
É claro que ele a faria gostar. Ele era Draco Malfoy, podia apenas piscar para
podê-la fazer gostar. Por mais que tivesse que confessar que o que ela havia
feito o excitasse, não havia apreciado nem um pouco o tom que ela usara nem
mesmo o desafio que havia jogado como se ele estivesse tendo o interesse de
se aproveitar dela e do corpo que tinha. A agarrou pela cintura e fez com que
eles voltassem para a posição de antes. Ele por cima. Olhou bem nos olhos dela
e disse:
- Você quem insistiu por isso. Encontre uma maneira de se fazer gostar!
Dessa vez ele desceu para os lábios delas e os lambeu, seguiu para o pescoço
dando tempo para provar o sabor de sua mandíbula e do lóbulo de sua orelha.
Ela era deliciosa. Tocou o seio dela sobre o tecido fino quando ela começou a
usar os dedos para desatar os botões de sua camisa. Sentiu-se excitado com o
mistério de não poder tocar a textura de sua pele debaixo da seda tão macia
que cobria o volume que tinha nas mãos. A viu puxar o ar quando brincou com
o mamilo bem aparente sobre o tecido.
Ela o livrou da camisa e conseguiu se fazer ficar por cima mais um vez. Draco
deixou que ela pudesse observar e tocar o pacote que ele sempre escondia
embaixo da roupa enquanto deslizava os dedos pelas pernas que estavam uma
de cada lado de seu corpo. Hermione desceu as mãos para a calça dele.
Desatou o cinto, o botão e quando arrastou o zíper ele julgou que ela já havia
desfrutado demais do trono que ele a permitira ficar. A pegou pela cintura mais
uma vez e inverteu as posições. Ela claramente não gostou daquilo.
Draco finalmente puxou o cordão do hobby que ela usava e pressionou seus
quadris contra o dela sentindo seu sangue descer junto com aquela
maravilhosa agitação entre suas pernas. Hermione explorou o ponto fraco da
posição deles mais uma vez e fez com que eles girassem. Ele fez ela voltar para
baixo tão rápido quanto ela havia se colocado por cima. Hermione se irritou e
agiu também rápido fazendo-os girar novamente.
Aquela pequena guerra os levou ao chão e ela vitoriosa sentada sobre ele.
Draco quis se irritar mas a visão que teve dela, com o hobby aberto ainda
escondendo o que ele realmente queria ver, mas deixando que ele pudesse
apreciar a pele que descia pela sua barriga e se escondia novamente na peça
única que ela usava nos quadris o fez deixar que ela tivesse seus segundos de
glória. Ela os usou muito bem quando levou uma das mãos ao cabelo e os
soltou fazendo com que as ondas dos seus cachos escorregassem pelos seus
ombros de maneira suave e muito sedutora. Agradeceu mentalmente por ela
ser magnifica e se sentou, enterrou sua mão entre os cabelos dela, cercou sua
cintura e tomou sua boca.
A tocou arrastando sua mão para dentro do tecido. Sentiu a textura de sua pele
e o calor que emanava dela. Passou pela barriga, fez a curva abaixo dos seios
dela e encheu sua mão com eles. Desceu para o pescoço até poder fazer com
que sua boca alcançasse aquilo que brincava com as mãos. A respiração de
Hermione era tão ofegante que tudo que ele queria ouvir dela era um gemido,
mas não conseguiu lhe arrancar um.
Não teve problemas para levantar e ao mesmo tempo fazer com que ela tivesse
as pernas ao redor dele para tê-la em seu colo. A carregou até que as costas
delas dessem com o dossel da cama e a soltou deixando que os pés dela
tocassem o chão. Livrou-a do hobby e se permitiu contemplar o corpo dela por
apenas um segundo. Hermione tinha seios muito belos. Colou seu corpo
novamente no dela e beijou rapidamente seus lábios, apertou seus seios e
deslizou sua boca até o pé do ouvido dela.
- Feche os olhos. – ordenou numa voz baixa e deslizou sua mão para tocar
a parte entre as pernas dela sobre o tecido da calcinha que usava muito
discretamente.
Os dedos dela se enterraram no braço dele quando repetiu o movimento e
dessa vez quis mais tempo para sondar o território. A respiração dela perdeu o
compasso por alguns segundos, os dedos da outra mão se enterraram nos
cabelos loiros dele e ela moveu o corpo passando uma das pernas por ele.
Ele a olhou enquanto descia a mão mais uma vez pela sua barriga.
A viu prender a respiração e Draco achou que receberia o gemido dela, mas ele
não veio. Seus dedos circularam pela região macia, úmida e quente sabendo
onde deveria manter a atenção. Ela fechou os olhos e pendeu a cabeça para
trás. Sua boca estava aberta, mas dali não saia som. Foi quando ele precisou ir
fundo nela para deixá-la mais molhada que finalmente o gemido escapou da
boca dela, rouco e sexy. Ele sorriu recebendo seu ponto. Ela o olhou com os
olhos estreitos, mas ele trabalhava ali para que ela perdesse o controle.
- Eu mandei fechar os olhos. – disse ele.
- Cale a boca! – ela terminou e gemeu puxando seus cabelos quando ele
usou o dedo para ir fundo nela apenas mais uma vez para sentir o quando ela
estava completamente molhada para ele. Ele ainda queria muito mais do que
aquilo.
Enterrou os dedos mais uma vez entre as pernas dela e a viu lutar contra os
gemidos. Hermione agarrou o dossel e ele brincou com o clitóris dela para fazer
com que ela se rendesse a posição que claramente não havia gostado. Sentiu
quando uma mão dela entrou pela sua calça e se fechou em seu membro. Teve
que sorrir.
Sua garganta emitiu um som que ele abafou enterrando o rosto no pescoço
dela. Ela tinha uma mão muito macia, mas ele também sabia trabalhar e
quando foi fundo nela e deixou que a palma de sua mão fizesse pressão sobre o
ponto mais fraco, ele pode finalmente conseguir ver a guerra do silêncio dela
começar a perder. Isso não só a incomodou como também a irritou e então ela
finalmente lutou para sair da posição que ele havia a prendido.
Claro que ela era muito orgulhosa para ficar ali onde ele tinha completo
domínio sobre ela. Hermione finalmente conseguiu fazer com que ele perdesse
o controle. Draco ainda tentou a segurar de costas quando cambalearam pelo
quarto e esbarraram numa das mesas altas que deixava como display um vaso
extremamente caro do século passado. Conseguiu dominá-la colocando-a
contra a parede ao mesmo tempo em que o som da mesa e do vaso se
espatifando no chão ecoou pelo quarto. Não se importaram e talvez não
tivessem nem mesmo prestado atenção. Hermione conseguiu se virar para
encará-lo e abriu a boca para protestar, mas ele enterrou os dedos nela e
começou de onde havia parado fazendo-a arquear as costas e gemer.
Trocaram olhares como se tivessem todo o ódio do mundo um pelo outro, mas
o desejo que haviam acendido ali já havia alcançado um estágio que não dava
para voltar atrás. Ela parecia querer ainda encontrar espaço para abrir seus
protestos, mas ele não deixava tornando seu serviço a cada segundo mais
intenso. Os dedos dela apertaram seus cabelos mais uma vez. Ele olhou a boca
vermelha e inchada dela e aproximou-se de seu rosto. A respiração
descompassada e apressada bateu contra ele e o excitou. Ela estava perdendo
e sabia disso.
Sentiu sua vitória quando o gemido que ela soltou foi longo, quando as paredes
dela se fecharam contra seus dedos e quando todos os músculos dela se
retraíram e relaxaram contra seu corpo. Ela passou a ofegar compassadamente
dessa vez e cerrou os olhos para ele. Ele viu a raiva dela ali. A mensagem que
ela passou foi a que estava na hora de sua vingança.
Colou o corpo dela no dele a abraçando pela cintura, a girou e a colocou sobre
a mesa escutando tudo que havia estado sobre ela ir parar no chão. Num
segundo Draco tirou a única peça que restava nela e tudo que recebeu de
Hermione foi o olhar surpreso, como se ela estivesse se perguntando como ele
conseguira fazer aquilo tão rápido.
Ele abriu as pernas dela e se colocou entre elas. Hermione lutou e relutou até
conseguir descer da mesa. Ele se irritou e considerou que estava sendo gentil
demais. A pegou e ela teve que se segurar colocando as pernas ao redor dele.
Esbarrou em alguma poltrona antes de finalmente conseguir deitá-la no sofá.
Hermione não perdeu tempo e usou a própria força para fazer com que eles
girassem e caíssem sobre o tapete. Ela sobre ele dessa vez. O olhar estreito
mostrava a ele a Hermione que ele conhecia dos campos de batalha que gritava
com toda a autoridade para a Ordem manter a linha.
- É a minha vez! – ela fez questão de deixar claro com os dentes cerrados.
Ele não ousou tentar tirar a vez dela novamente depois daquela pequena e
desconfortável guerra. Hermione segurou o membro dele com a mão macia e a
fez escorregar como se estivesse descobrindo um novo e diferente brinquedo. O
toque fazia sua respiração acelerar. Trocaram olhares quanto ela o deixou no
suspense fazendo-o tocar e deslizar pela sua parte molhada. Merlin, aquilo o
excitou e ele teve que fincar os dedos nas chochas dela.
Hermione deitou seu novo brinquedo, pressionou o clitóris sobre ele e começou
um movimento discreto com os quadris. Draco arfou sentindo os líquidos dela
cobrindo seu pênis, o calor correu seu corpo e abrir seus poros. Ela ofegava e
continuava a tentar reprimir os próprios gemidos, mas mesmo assim ele
continuava a ouvi-la. Ah, se ela soubesse o quanto era absurdamente linda e
odiável. Ergueu o tronco para poder alcançar a boca deliciosa que ela tinha e a
beijou enterrando seus dedos entre as ondas macias de seu cabelo. Queria
beijá-la como antes, mas os sons que escapavam dele junto com os que
escapavam dela mais as respirações descompassadas tornava tudo muito difícil,
mas sentir o calor da língua dela foi suficiente. Desceu as mãos e as cravou nos
quadris dela pedindo para que ela aumentasse a velocidade. Ela aumentou por
necessidade, mas colocou as mãos em seu peito e o forçou para o chão
novamente.
Deus, que mulher era aquela? Quis mostrar que quem estava deixando ela ficar
ali era ele, mas antes que pudesse fazer algo, ela o surpreendeu enterrando
seu pênis dentro dela até o final. Não foi capaz de segurar o som que saiu de
sua boca e se juntou ao dela. A sensação de urgência das paredes apertadas
que ela tinha o fez querer investir com força dentro dela e teve que começar a
se concentrar. O que foi difícil com o som sexy que ela emitia e o movimento
provocador de seus quadris. Ela intensificava e desacelerava brincando com o
próprio êxtase e o levava a arfar cada vez mais.
Colou seu corpo no dela e começou seus movimentos de onde ela havia parado.
Ele desceu colando suas bocas e gemendo, sentindo sua língua e brincando
com os lábios inchados e molhados. Apertou o seio dela sentindo o mamilo
rígido contra a palma de sua mão. Seu corpo gritou por alívio e ele precisou se
concentrar e desacelerar antes de voltar a investir novamente.
Fez quentão de garantir que tocava seus clitóris toda vez que ia até o fundo
dela. Sempre que desacelerava se deixava ficar fundo ali pressionando seus
quadris para fazer pressão nas partes sensíveis dela. Hermione não demorou a
responder fazendo suas unha se enterrarem em sua costas. A certo ponto,
quando ele parou para retomar o fôlego, ela colocou os pés no chão, ergueu os
quadris e rebolou fazendo-o perder seu momento de concentração. Investiu tão
forte contra ela que quis gozar loucamente, precisou juntar força extra para
conseguir desacelerar e ganhar mais tempo.
Saiu de dentro dela e ela protestou. Agilmente a colocou de lado, colou seu
corpo contra as costas dela, puxou uma de suas pernas fazendo-a passar por
cima dele e entrou novamente nela. Era assim que ele queria. Investiu na
velocidade que o gemido dela pedia. Colocou os dedos contra o clitóris dela e o
massageou. Ela arqueou as costas e ele apertou o seio dela. Enterrou o rosto
em seu pescoço sentindo o cheio dos cabelos dela misturado com o suor de seu
corpo. Ela se moveu inquieta, sentiu os dedos dela tocarem a mão que usava
para massagear sua parte sensível durante suas investidas sem piedade. Ouviu
o sôfrego dela se misturar com o gemido alto que emitiu e mais uma vez os
músculos de todo o corpo dela se retraíram. Ele se deixou gozar dentro dela
sabendo que já não seria capaz de segurar por muito mais tempo. Sentiu toda
a agonia de seu corpo ser esvaziada pelo seu membro no tempo em que os
músculos das partes dela se fecharam contra o dele. O grunhido que saiu de
sua boca ele abafou contra os cabelos dela e então eles caíram no silêncio de
suas respirações ofegantes.
Hermione girou a cabeça e ele pode olhá-la nos olhos. A boca dela o chamou e
ele desceu mas hesitou antes de tocá-la sabendo que não era mais preciso
nenhum tipo de contato daquele nível. Afastou-se, a soltou e deitou sobre o
tapete encarando o teto ainda tentando recuperar o fôlego. Ela fez o mesmo ao
seu lado. O silêncio durou entre eles. Aquilo havia sido algo que ele nunca
tivera com mulher nenhum. Tinha que confessar que Hermione não tinha nada
da santa sabe-tudo que ele imaginava em Hogwarts. A olhou ao seu lado
encarando o teto assim como ele e se perguntou quando provaria daquilo
novamente. Olhou para o lado oposto e viu pelo chão suas roupas misturadas
com a bagunça dos seus artefatos caros quebrados.
- Obedecido? – ela soltou como repulsa. – Quem você acha que eu sou?
- Não sou nenhuma propriedade sua. Sou sua esposa tanto quando você
é meumarido. – disse e sentou-se. Alongou a coluna, respirou fundo parecendo
apreciar o fato de ter acalmado a respiração e passou os dedos pelas ondas de
seu cabelo tentando ajeitá-lo da melhor forma possível. Ele não se importava
com o que ela pensava, de uma forma ou outra ela era propriedade dele. Ela
não o conhecia.
Analisou a silhueta de suas costas nuas sendo coberta pelo corte dos cachos de
seu cabelo. Não havia dúvida de que ela era linda não importasse de que
ângulo a olhasse. A viu juntar as pernas e se apoiar no chão. Ele foi mais
rápido, sentou-se e cercou sua cintura forçando-a a se manter no chão.
- Onde pensa que está indo? – ele repetiu a pergunta mais pausadamente
mostrando a ela que quem havia feito a primeira pergunta fora ele.
Ele sorriu.
- O que te faz pensar que nós acabamos aqui, Hermione? – fez seus dentes
escorregarem suavemente pelo lóbulo de sua orelha enquanto soltava a
respiração. A sentiu puxar o ar e a viu fechar os olhos. Era bom que ela se
acostumasse que aquilo que fizeram não era suficiente para ele.
Capítulo 12
Hermione Malfoy
Olhou a janela do lado oposto e viu o dia cinza do lado de fora. Por um segundo
ela lamentou por não ter o sol e no segundo seguinte a realidade lhe bateu.
- Draco. – o chamou escutando a própria voz fraca, fina e falha. Ele não
respondeu, sequer se mexeu, e Hermione estranhou o quanto ele parecia estar
tendo um sono pesado. Draco tinha um sono muito leve até onde ela havia
notado. – Draco. – o chamou novamente e dessa vez ele soltou algo num
murmúrio baixo, mas sem mover um músculo sequer. Hermione arrastou a
mão hesitante até ele e o tocou nos cabelos fazendo seus dedos deslizarem
sobre os fios loiros. – Draco. – o chamou com a voz mais limpa e clara dessa
vez.
Demorou alguns segundos para que ele abrisse os olhos cinzas e tentasse se
localizar no espaço e tempo. Eles trocaram olhares rápidos até ele conseguir
recobrar por completo a consciência, desviou o olhar dela, ergueu um pouco do
tronco para olhar a janela e perguntou:
Ele precisou se apoiar no colchão passando por cima dela para alcançar o
relógio na cabeceira. Olhou as horas e soltou um palavrão. Saiu da cama e
Hermione puxou os lençóis para se cobrir enquanto sentava-se para o ver
andar nu pelo quarto tentando encontrar o casaco de sua farda. Ele não tinha
nem idéia do quanto era sexy fazendo aquilo, e com o passar dos dias ela se
descobria fascinada por observá-lo andar pelo quarto sem roupa, apenas como
veio ao mundo. Não havia como expressar as sensações que seu corpo
respondia ao ver a figura imponente e intimidadora que ele todo era. Tudo nele
parecia bem trabalhado, bem esculpido, bem simétrico. Talvez fosse o sangue
dele, a linhagem da qual vinha.
Quase que num pulo desceu da cama carregando os lençóis, abaixou-se e abriu
a última gaveta de sua cabeceira. Puxou dali uma pequena caixa de madeira, a
abriu e tirou o último frasco da ordem que ainda havia. Virou a poção de uma
vez e sentou-se na cama novamente apertando os olhos sentindo o gosto
amargo descer pela garganta e torceu para que o líquido pudesse fazer efeito
mesmo depois das horas perdidas. Ela não podia engravidar. Não podia! E sua
única opção era usar aquele método primitivo e ineficiente de poções
individuais já que não podia deixar nenhuma pista em sua varinha de que
andara fazendo feitiços de proteção. Sabia que poções como aquela eram de
efeito imediato e deveriam ser consumidas logo após o ato, mas ela também
não podia fazer aquilo na frente de Draco.
Não sabia o que iria fazer agora que seu estoque havia acabado. Ela mesma
havia as fabricado após a primeira noite deles. Era uma poção fácil e rápida que
não necessitava de muitos ingredientes em grandes quantidades, mas não
podia arriscar fazê-las novamente, primeiro porque faltava um dos três
ingredientes no estoque antigo e vazio da casa de poções, segundo porque
comprá-lo numa das lojas do centro poderia ser uma grande pista que muito
provavelmente chegaria aos ouvidos de Lorde Voldemort que parecia monitorar
cada pedra de Brampton Fort, terceiro porque caldeirões sabem guardar um
princípio mágico de poções feitas regularmente.
Os olhos dele seguiram ela, mas ela não se importou tratando-se de se colocar
debaixo d’água sentindo o calor confortá-la e varrer seu corpo. A sensação de
estar sendo limpa era gostosa e ela se deixou molhar os cabelos fechando os
olhos e apreciando o momento.
Hermione não estava animada para mais um evento social onde a mídia estaria
presente. Teria que fazer o árduo trabalho de manter com frequência um
sorriso no rosto, ser educada com uma lista de pessoa das quais odiava e
procurar assuntos entediantes para discursar. Se ao menos Luna pudesse estar
lá. Mas ela não estaria. Embora ela houvesse sido liberada a alguns dias atrás
para morar em Whitehall, a loira não fazia parte da alta sociedade de Brampton
Fort portanto estaria livre para fazer qualquer outra atividade dentro da
catedral sem poder chegar perto da ala principal.
A água quente adormeceu seus músculos e lavou seu corpo. Ela abriu os olhos
e passou os dedos ao redor do rosto. Um nó repentino subiu para sua garganta,
seus olhos marejaram e ela se segurou. Tinha que parar de se martirizar. O
que Harry pensaria dela se tivesse a chance de colocar os olhos nela agora? O
que ele pensaria se soubesse que ela havia ido para cama com Draco Malfoy? E
se ele soubesse que ela havia gostado e que gostava de todas as vezes em que
eles duelavam durante o sexo? Na verdade, de todas as vezes que faziam sexo!
Ah, se ele soubesse... Se ele soubesse a vida que ela tinha agora, as roupas
que usava, o tesouro que tinha no seu cofre em Gringotes, as comidas que
comia, os vinhos que bebia... Soluçou sabendo que qualquer lágrima que
estivesse escapando de seus olhos estavam se misturando com a água do
banho.
Era isso que Voldemort queria, não era? Era aquela vida que ele esperava que
ela tivesse, não era? A vida carregada da culpa daquilo que ele a obrigava a
fazer. Ela sentia que definharia não sabendo o que mais a consumia, a
vergonha, o sentimento de traição ou a culpa. Aquilo era tão difícil de se viver.
Naquele momento ela apenas preferiria ser jogada em uma masmorra, parecia
muito mais fácil e ela havia se preparado para aquilo caso fosse pega, não para
o que estava vivendo.
Ela fechou a caixa sabendo que Draco havia a posto ali. Ele normalmente
ordenava a Tryn que entregasse seus presentes a Hermione e dissesse em que
ocasião deveria usar, mas parece que dessa vez não foi preciso e ela foi capaz
de entender perfeitamente que aquilo deveria ser para a cerimônia de inverno
mais tarde. Obviamente que ele não estava tentando agradá-la, aquilo não
passava de ordens que ele deveria cumprir. Muito provavelmente Narcisa havia
dado algum toque a ele sobre seu baixo estoque de acessórios visto que ela
mesma não tinha paciência para frequentar o centro e gastar o dinheiro que
não era seu em artigos caros como aqueles. Seu estoque já era muito mais do
que ela imaginara ter algum dia na vida, mas aos olhos de Narcisa, não
importava a quantidade de brincos, colares e anéis, sempre seria precário.
- Bem, isso foi mais rápido do que eu imaginei. – Jodie disse erguendo os
olhos para receber Hermione.
- Jodie, eu sinto muito... – Hermione começou quase que imediatamente.
- Não. Não sente. – ela retrucou. – Sei que não sente. – colocou a carta de
Hermione sobre uma pilha de livros e se levantou dispensando a coruja ao seu
lado. – Olha, eu entendo. Não sou estúpida ao ponto de acreditar no que o
mestre quis vender a todos nós. – ela pausou e respirou fundo voltando atrás.
– Quero dizer, confesso que sempre soou bem convincente as matérias da
mídia e os discursos do mestre a seu respeito, e que depois de um tempo é até
interessante e empolgante aceitar tudo isso. Mas estar perto de você me fez
entender que tudo isso não passa de uma fachada, não é? – Hermione não
soube o que responder ao ser pega de surpresa por aquilo. Ela apenas
permaneceu imóvel enquanto o silêncio esperava pela sua fala. – Vamos,
Hermione! É apenas uma fachada, não é?
- Ainda não entendo como as pessoas acreditam que alguém como Draco
Malfoy se permitiria olhar para uma Sangue-Ruim. – Hermione se limitou a
dizer.
Jodie a encarou.
A pergunta que ela fez atingiu Hermione duramente. Ela desviou o olhar e
recuou.
- Cada passo que dou sinto que fui forçada a dá-lo. – disse mais para si
mesma do que para a mulher. Recobrou a postura e encarou Jodie novamente.
– Sou uma prisioneira, eu não faço nada além daquilo que me mandam fazer.
- Causei irritações demais a ele e isso fez minha morte ser uma vingança
muito fácil e rápida.
- Isso foi o que ele te disse? É uma tola por acreditar nessa desculpa.
- Esse é apenas um dos motivos. – Hermione disse embora não estivesse
nem um pouco a fim de contar que teria que dar um herdeiro a ele.
- Esse motivo não tem força o suficiente para deixar uma inimiga como
você viva dentro de uma fortaleza como essa, sentando-se num dos patamares
mais altos do trono e casada com o herdeiro da família mais poderosa e
importante da história do mundo bruxo. – Jodie terminou e elas se olharam em
silêncio por um longo minuto até que a mulher desviou o olhar e deu as costas
para se concentrar em dar uma pequena volta pelo salão enquanto Hermione
percebia que o cérebro dela fervia trabalhando rápido. – Quando Draco se
tornou um comensal o mestre tinha planos em fazer com que ele fosse seu
herdeiro. Todos esperaram pelo dia em que isso seria anunciado e por um bom
tempo Lúcio e Narcisa esnobaram esse destino, mas Draco era alguém muito
diferente naquela época. Ingênuo, esnobe, arrogante, orgulhoso, mimado e
preconceituoso. Ele não passava de uma criança sem controle e o mestre fez
questão de querer mudar isso colocando-o debaixo da autoridade de Elliot
Singh para um treinamento pesado e intensivo que fez Draco crescer e mudar
em muito pouco tempo. Mas então por motivos que eu apenas posso sugerir e
não afirmar, o mestre desistiu da idéia de torná-lo herdeiro. Todos sabemos
que ele procura por um agora. Ele quer que você dê um a ele, não é? Um seu e
de Draco. - Hermione não soube exatamente o que fazer. Lembrou de Narcisa
lhe ensinando que mesmo que estivesse sendo carregada para a forca não
poderia desfazer sua postura e tudo que foi capaz de fazer foi permanecer
intacta e firme. – Me diga. – insistiu Jodie. – Você irá dar a ele um herdeiro,
não é? Um que ele criará desde pequeno para ser exatamente como ele. Isso é
verdade?
Ela respirou, piscou mais do que deveria e disse sentindo seu coração ser
esmagado:
- Sim.
Jodie a olhou parecendo intrigada com tudo aquilo. Hermione apenas a achava
esperta demais por ligar tudo aquilo nos minutos em que estavam ali.
- Fui uma péssima inimiga e ele sabe que os planos dele me fariam sofrer
mais do que eu sofreria no inferno.
- É uma tola por acreditar nisso também. – Jodie foi dura outra vez.
- Acaso você tem o conhecimento de um motivo mais convincente? –
irritou-se ela.
- Não! Mas estamos falando sobre o herdeiro dele! Draco significa muito
dentro do ciclo do mestre e ele o rejeitou. Por que ele escolheria logo você
junto com Draco para dar a ele um herdeiro? – ela parecia realmente intrigada
com aquilo e Hermione se preocupava pois pelo pouco que conhecia a mulher,
sabia que quando ela tinha dúvidas sobre algo ela corria os quatro cantos da
terra para ter suas respostas. – Se nunca se questionou isso, saiba que está na
hora de começar, se não for esperta aqui dentro eles te engolirão, e se está
tentando encontrar uma maneira de deixar esse lugar, deve parar
imediatamente de jogar seu tempo no lixo. A marca em seu braço te liga a ele
e você nunca será capaz de se desconectar. – Hermione não entendeu o porque
a mulher havia dito aquilo, parecia uma forma muito sutil de dar um conselho.
– Peço também que se atente em enviar avisos se caso vier a se atrasar
novamente como hoje. – ela recuou e deixou de ser a mulher irreconhecível
que estava sendo desde que Hermione entrara naquela sala. – Tenho
permissão para encerrar a sessão de hoje já que liberei os mentores?
- Sim. – foi tudo que saiu de sua boca e então observou a mulher dar as
costas e começar a recolher suas coisas. Hermione não podia negar que estava
surpresa que a única dica que havia dado a Jodie há um tempo atrás dizendo
que não estava tão contente assim pelo retorno de Draco pudesse levar a
mulher a tudo aquilo em um prazo tão curto de tempo. – Espere! – soltou
quando ela estava quase saindo do salão. – Sabe que se espalhar isso...
- Não passarão de rumores e fofocas. – ela terminou para Hermione. – Eu
não seria estúpida de desmanchar a credibilidade do meu nome em rumores e
fofocas. – ela disse. – E não apenas por isso, Hermione. Tirando o fato de ter
escolhido o lado errado da guerra para lutar, a admiro pelo empenho que tem
em tudo aquilo em que coloca as mãos, pelo conhecimento que carrega e pela
apatia a futilidade da vida feminina desse lugar. A respeito agora por ser uma
Malfoy também e pode ter certeza que isso só mudará se caso eu precise pisar
nas suas costas para não ser pisada. São as regras de sobrevivência. Todos
sabemos disso aqui. – ela disse e saiu.
A porta foi aberta e ela refez sua postura automaticamente na cadeira. Viu
Luna entrar e antes que pudesse se sentir confortável pela presença da amiga
seu cérebro a alertou que ela era um problema a mais. Tinha que tirar Luna de
Brampton Forte o mais rápido que pudesse.
- Onde você estava? Estive procurando por você aqui desde que o dia
amanheceu! – Luna se aproximou. Hermione não podia negar que era um alívio
ver a amiga saudável entretanto. – Fui ao quartel e me informaram que Malfoy
também não colocou os pés aqui.
Hermione encarou o sorriso maroto de Luna e percebeu que não tinha paciência
para aquilo.
- Sim, nós fizemos sexo a noite toda e perdemos a hora dormindo, Luna. –
ela disse de uma vez.
- Sei que homens como Draco são ensinados sobre magias muito discretas
para evitar que moças espertas encontrem um caminho fácil para entrar para a
família, mas talvez ele não esteja usando já que o motivo pelo qual estamos
fazendo sexo é cumprir a ordem de Voldemort. Tenho tentado tomar poções de
urgência, mas tenho que esperar que ele durma antes de tomar e as vezes
estou tão cansada que acabo dormindo na espera e você sabe que essas
poções só funcionam algumas horas após o ato. – ela soltou o ar decepcionada.
– E meu estoque de poções acabou. E não posso usar minha varinha para fazer
nenhum tipo de feitiço protetor já que ele poderia ver.
- Não quero falar sobre isso. – ela apressou-se. – Estive te procurando para
avisar que eles soltarão Viktor.
Não era bem uma novidade visto o andamento das sessões de interrogatório
- Draco não ficará feliz com isso. – comentou Hermione.
- Soube que ele que terá que assinar a procuração. – informou Luna. – Já
que ele quem ordenou que o prendessem.
- Talvez ele tenha sugerido isso. Manteria a paz. Viktor foi preso porque
poderia significar uma ameaça, não porque era uma. – disse Hermione. – Acha
que vão o usar como agente duplo novamente? Não faria sentido visto que a
Ordem esteve esperando por ele todo esse tempo. O que acha que
pensaríamos se depois de tudo isso e depois de todo o tempo que o prenderam
aqui ele aparecesse na casa dos Black?
O silêncio durou mais um bom tempo até Hermione finalmente voltar a dizer
algo.
- Tem feito algum progresso com os arquivos que Nott lhe passou? – Luna
mudou o assunto em resposta a aquilo.
- Espero que sim. – tornou a dizer Luna. – É importante saber o que mais a
lenda dessas terras escondem.
- Não, Luna! Não sei. E talvez metade do mundo bruxo também não saiba.
– porque ela havia aprendido que algumas histórias apenas Luna e o pai dela
conheciam no mundo bruxo.
- Os Brampton eram uma das grandes famílias bruxas num desses séculos
passados bem antigos. – começou Luna empolgada. – Dizem que eles eram
donos de quase toda a metade da Escócia e produziam o melhor Whisky de
Fogo do mundo bruxo. Mas por algum motivo econômico eles começaram a cair
em decadência, perderam tudo, mas nunca venderam suas terras. Elas foram
tomadas pelo Ministério Bruxo na caça as bruxas mais tarde na história e
retidas por ele não passando a ninguém por algum motivo muito secreto. Sei
que todos que carregavam o sobrenome Brampton foram queimados na
fogueira na caça as bruxas e todos eles amaldiçoaram suas terras antes de
serem queimadas.
Hermione achou uma história muito breve e confusa.
- Não sei. – respondeu ela. – Talvez as pastas de Nott digam algo sobre
isso, não? Sei que com o passar dos anos eles foram obrigados a liberarem
algumas por pressão trouxa com a união dos países do Reino Unido. Mas todos
sabem sobre as terras amaldiçoadas da família Brampton. Lembro que meu pai
costumava dizer que trouxas moravam numa das penínsulas que antes havia
pertencido a eles e se falavam sobre rumores de que era a cidade mais
assombrada da Escócia.
Hermione achou tudo aquilo muito vago. Com certeza aquela história não
passava de contos para roda de criança e que foi se perdendo com o passar dos
anos. As histórias de Luna nunca eram muito confiáveis, mas sempre tinham
um ponto a provar.
- Acho que posso trabalhar com isso, Luna. – forçou um sorriso para a
amiga. – Obrigada.
Luna se levantou.
- Certo. – ela parecia contente por ter ajudado em algo – Vou tentar me
aproximar da cela de Krum hoje a noite já que sei que todos vão estar muito
entretidos com essa tal cerimônia de inverno ou seja lá o que ela for. –
Hermione percebeu que ela não parecia muito feliz por não poder participar.
A loira assentiu, foi embora e assim que ela saiu Hermione imediatamente
soltou o ar sentindo a pressão da responsabilidade que tinha sobre Luna. Era
necessário tirá-la de lá o mais rápido possível senão Voldemort a mataria assim
que tivesse a oportunidade. Ele não iria transformá-la em comensal, nem
deixaria ela morar em Brampton Fort sem nenhuma pretensão de usá-la ainda
mais com ela desfrutando de todo conforto quando deveria estar no escuro das
masmorras passando frio e fome.
Isso era uma das outras coisas na qual deveria estar trabalhando dia e noite.
Céus, ela se sentia mais atarefada agora do que quando estava na Ordem.
Fechou os olhos, respirou fundo e começou a contar em sussurros até sentir
que sua mente estava vazia. Abriu os olhos e tentou se concentrar no presente
e no ambiente onde estava. Abaixou os olhos para a mesa e viu algumas pastas
e pergaminhos que Jodie havia deixado. Os manuseou e se permitiu ficar ali por
algumas horas reordenando os conteúdos para a semana seguinte de modo a
não perderem o cronograma devido ao seu atraso de hoje. Quando finalmente
olhou no relógio se assustou e se levantou num pulo. Céus! Ela poderia entrar
em um grande problema por outro atraso.
O caminho para casa não ajudava muito e assim que parou de frente a
mansão, subiu os degraus da varanda com pressa, passou para dentro de se
desculpou pelo atraso no mínimo umas cinco vezes para a consultora que
Narcisa havia indicado para escolher sua roupa da noite. Ambas subiram para o
closet e passaram alguns bons minutos ali onde a mulher tratava de dar uma
aula completa a Hermione que desejava urgentemente que ela fosse embora ou
teria que enfrentar os olhares de Draco por estar atrasada.
Assim que finalmente se viu livre da mulher, tirou a roupa, tomou um banho
rápido e chamou Tryn para tratar de seu cabelo e também de sua maquiagem.
Quando a elfa terminou e deixou o lugar Draco apareceu atando o nó de sua
gravata. Hermione se lembrou de que ele tinha treino aquele dia e havia
começado a se arrumar dentro do Q.G da catedral.
- Ainda não está pronta? – perguntou ele parando e a encarando não muito
contente com o que via.
O silêncio entre eles os consumiu como sempre quando ele se aproximou por
trás, postou as mãos uma de cada lado seu quadril e a puxou para colar nele.
Hermione se lembrou de como as mãos dele conseguiam ser firmes explorando
seu corpo e piscou mais do que deveria quando ele abaixou a boca para
próximo de seu ouvido enquanto ainda mantinham contato visual pelo espelho.
- Nós não temos tempo. – ela tratou de lembrá-lo também se lamentando
por isso.
- Não aqui. – respondeu e uma de suas mãos a cercou pela cintura como
suporte para a outra que subiu o zíper de seu vestido. – Esperarei por você do
lado de fora. – informou ele, a soltou, se afastou pegando o casaco de seu
terno e saindo do closet enquanto o vestia.
Colocou as jóias que deveria, pegou seus pertences e desceu com pressa
olhando todos os relógios, das paredes, dos armários e dos móveis, entrou na
carruagem e encontrou Draco a encarando. Sentou-se no banco oposto ao dele
como sempre faziam e soltou o ar aliviada por saber que não iria ouvir o
enjoativo tom que ele tinha para reclamar de atrasos.
Ela ergueu os olhos para encará-lo e guardou para si a surpresa pela pergunta.
- Não tente me irritar. – ela apenas disse e desviou o olhar. Ele aparentava
ter tido um bom treino, ela já havia notado que ele costumava agir assim
quando tinha bons treinos.
Olhou pela janela enquanto deixavam o pátio e passavam pelo portão de saída
da residência de Draco. Observou a noite por um bom tempo e lamentou pelo
inverno. A estação fria nunca havia sido sua preferida. Voltou-se para o interior
da cabine e encontrou os olhos de Draco ainda sobre ela. Merlin, ele a
devorava! Ela queria entender como ele conseguia a seduzir sem ter a menor
intenção. Talvez nem ele mesmo percebesse o poder de todo o seu potencial.
- Eu não me importo realmente com o seu dia, mas... – ele olhou para o
relógio em seu punho e então fechou as janelas. – Temos quinze minutos e
nenhum tempo para pensar. – terminou como se estivesse comentando sobre o
tempo e ela soube exatamente o que ele estava sugerindo, e Deus do céu, se
ele dissesse aquilo mais uma vez com aquele olhar ela podia jurar que perderia
a cabeça. – Eu disse que não temos tempo para pensar. – ele tornou a dizer
quando ela hesitou.
Ela sempre hesitava. Claro que hesitava. Era aquela voz que chegaria em sua
mente depois que tudo aquilo terminasse e ela visse o homem que ele
realmente era. Olhos nos olhos, tudo que conseguiu pensar foi que no meio de
tudo aquilo, Brampton Fort e ela prisioneira, merecia pela menos alguns
segundos de anestesia de toda dor que passava. Mesmo que ele fosse Draco
Malfoy.
Ela apenas precisou mover um músculo indicando que estava se movendo para
perto que ele usou de seus surpreendentes movimentos para trazê-la muito
mais rápido para seu colo.
- Não deixe seu sangue-ruim fazer você esquecer que é uma bruxa! –
provocou ele e ela sentiu a fúria subir pelo seu sangue. Draco abriu um sorriso
sabendo que era exatamente aquilo que ele queria e quando ela brigou para
sair de cima dele, ele a agarrou pelo pescoço e a beijou.
Ela lutou, tentou se afastar mas ele seguiu a boca dela e a prendeu fazendo
seus corpos entrarem ainda mais em contato. O calor dele fez as borboletas
aparecerem em seu estômago novamente e enquanto tentava cravar as unhas
contra os braços dele como vingança sentiu aquela língua invadir a sua com
toda a agilidade que ele tinha. Foi tarde demais para que ela pudesse se apoiar
na cabine para sair de cima dele. Tentou se vingar enquanto o beijava, tentou
morder seus lábios, tentou dominar a situação, tentou se afastar, mas os lábios
dele eram lindos e macios demais para ser estragado por ela, ele era
dominador demais para ceder a ela e aquele beijo era bom demais para que ela
juntasse forças para acabá-lo.
Foi somente quando realmente aceitou que já era tarde demais para negar
aquilo que ela desceu as mãos para o meio das calças dele e passou
ousadamente os dedos ali. Ele se afastou minimamente para puxar o ar e olhar
nos olhos dela que ainda estava furiosa.
- Poderia matá-lo por aquilo que disse. – ela ofegou enchendo sua mão
entre as pernas dele o apertando ameaçadoramente.
Aquela mínima vitória a fez sentir que podia continuar aquilo com muito mais
vontade. Começou a sentir o membro dele ganhando vida debaixo de tecido de
sua calça e do movimento sutil de sua mão ali. Juntou as duas mãos, afrouxou
a gravata dele e abriu os botões de sua camisa enquanto ele se livrava do
casaco do terno. Desceu novamente sua mão e o tocou sobre o tecido. Desatou
o cinto da calça e abriu o zíper, mas antes que pudesse colocar sua mão para o
lado de dentro para realmente tocá-lo, Draco usou de sua força e agilidade
mais uma vez levantando-a e a girando dentro daquela cabine que de repente
havia se tornado mais minúscula do que parecia.
Ela foi obrigada a colocar os joelhos contra o assento para se apoiar e segurou
os fundo da cabine para manter a distância entre seu rosto. Ela odiou aquela
posição, mas logo esqueceu o desconforto quando ele, por trás, separou suas
pernas, colocou uma mão por dentro da fenda de seu vestido, subiu os dedos
pela sua coxa e os deslizou para dentro de sua calcinha. Os movimento que ele
começou ali a fez prender a respiração inicialmente, contendo-se para não
soltar nenhum som. A outra mão dele empurrou o zíper do vestido que usava
para baixo e ela deixou as alças escorrerem pelo seu braço até se verem livre
deles. Draco encheu a mão com um seio dela, e intensificou os movimentos lá
embaixo. Ela começou a ofegar em resposta.
Sentiu a boca dele em seu ombro, a língua quente em sua pele, a respiração
abafada, mas não conseguia entender o que ele realmente fazia ali quando
colocava pressão. Ele estava a entretendo tão bem com o movimento dos
dedos em outro lugar que sua respiração acelerava cada vez mais e seu corpo
começava a se agoniar com a urgência que ele estava provocando. Deus! Ela
não conseguia entender como ficava tão molhada daquele jeito.
Seus dedos não conseguiram enterrar na madeira da cabine e ela levou uma
das mãos aos cabelos dele e os puxou começando a soltar gemidos longos nos
intervalos de sua respiração rápida. Seu corpo se contorceu e ela largou os
cabelos loiros e desceu a mão para tocar a dele que trabalhava intensamente lá
embaixo pedindo para que não parasse. Quando achou que já não aguentaria
mais, ele a soltou e ela quis protestar e espancá-lo por aquilo.
Mas antes mesmo que pudesse retrucar qualquer coisa ele deslizou para dentro
dela sem pressa, como se quisesse a torturar, e então ela se viu perder o
compasso de toda a sua respiração se perguntando quando foi que ele havia
ficado tão duro sem que ela percebesse. Gemeu sentindo o quão fundo ele
estava indo e curvou as costas apertando o estofado do banco e empurrando a
parede da cabine acima de sua cabeça.
- A quem está tentando convencer de que... – ela teve que gemer quando
ele começou a se movimentar - ...tem algum domínio sobre mim... – soluçou e
ofegou sentindo como era fácil para ele deslizar para dentro e para fora -
...quando fazemos sexo? – ele aumentou o ritmo, mas ainda parecia estar sem
pressa e apenas aproveitando o prazer que sua área molhada e quente o
proporcionava. – Nós dois sabemos que não é assim que funciona e Oh! – ela
soltou um gemido longo de protestou. – Deus, Draco! Por que está indo tão
devagar?
Ele apenas sorriu e ela colocou o salto sobre o outro banco para buscar apoio, o
cercou com a outra perna e ergueu seu quadril começando um movimento
muito mais ágil que o dele. Não se importou que estivesse por baixo. Fez seu
quadril ir contra o dele inúmeras vezes rebolando e estimulando sua área mais
sensível. Draco tomou seu tempo para descer até o pescoço dela, a lamber,
seguir para seu seio e usar a boca para brincar com ele enquanto cravava os
dedos no macio de sua nádega em sinal de que aprovava qualquer movimento
dela.
O sôfrego dele aumentava cada vez mais e os ruídos que escapavam de sua
garganta eram roucos e muito prazerosos de se ouvir. Hermione sentia que
estava em um estágio muito mais avançado que o dele quando tentava conter
seus gemidos e não era capaz. Seu corpo inteiro ardia em uma agonia
imensamente prazerosa e intensificar seus movimentos parecia o caminho mais
rápido para o alívio. Draco subiu e tomou sua boca fazendo suas línguas
brincarem mais uma vez. Ele segurou o quadril dela soltando um som urgente,
a pressionou contra o banco e estocou dentro dela com rapidez.
Hermione sorriu sabendo que era aquilo que precisava e sentiu que não estava
muito longe de atingir o seu ápice. Draco parecia trabalhar para que o dele
também não estivesse. Ela ergueu o tronco apoiando-se no banco com uma
mão e segurando os cabelos da nuca dele com a outra. Ambos trocaram
olhares com o peito subindo e descendo em compassos exagerados e fora do
ritmo. Hermione tinha a respiração tão pesada que cada vez que soltava o ar
emitia um som. Não tinha controle sobre isso e todas as vezes que tentava ter
acabava segurando a respiração e não podia manter por muito tempo.
Draco parou quando ela sentiu que estava prestes a gozar, ele pressionou seu
quadril contra o dela e eles se mexeram limitadamente quando Hermione
tentou continuar por ela mesma estreitando os olhos irritada para ele.
- Não pare, pelo amor de Deus! – suplicou ela puxando o cabelo dele.
Ele começou novamente mais devagar segurando os quadril dela para impedir
que ela tomasse alguma iniciativa. Hermione julgou aquilo tortura. Se
contorceu pendendo a cabeça para trás gemendo em protesto e perdendo o
contato visual com ele.
- Mal posso esperar por isso também. – disse e voltou a estocar forte como
se também não estivesse aguentando manter aquele ritmo.
Ela gemeu alto e tornou a olhá-lo nos olhos. Seus sons se misturaram um sobre
o outro acompanhando o ritmo ao qual iam. As investidas dele estavam tão
suficientes para ela que não bastou muito e ela sentiu todo o corpo formigar,
perdeu o controle sobre a respiração, tentou puxar o ar e não conseguiu. Sua
boca aberta tentou soltar o som que não veio pela garganta e então seu corpo
sofreu o primeiro espasmo quando seus músculos todos se contraíram e
relaxaram de uma vez. Ela pendeu a cabeça para trás, sua garganta emitiu um
som gostoso e ela tentou puxar o ar pela boca novamente mas não conseguiu.
Seu corpo sofreu outro espasmo e ela sentiu que toda aquela agonia
encontrava o fim mais delicioso de todos. Olhou-o nos olhos e foi no seu
terceiro e último espasmo que ele soltou o som de seu clímax e jogou seus
líquidos dentro dela.
Hermione deitou mole sobre o assento e deixou seu pulmão puxar o oxigênio
que precisava. Por que aquilo tinha sempre que chegar ao fim? Ela desejou
estar em casa com ele na cama para poderem se recuperar, se olharem
novamente e começarem tudo de novo. Porque era assim quase todas as noites
e ela precisava sentir aquela dormência em sua dor. Precisava daquela
anestesia. Precisava esquecer de tudo e aquilo a fazia esquecer.
- Seja rápida agora. Temos poucos minutos. – ele disse saindo de dentro
dela.
Ela se viu obrigada a sentar. Estava toda bagunçada. Colocou os braços para
dentro das alças do vestido e alongou as costas subindo o zíper novamente.
Abriu a janela e usou a varinha para colocar no lugar os cabelos, repintar a
maquiagem e limpar-se. Desceu a fenda de seu vestido para o lugar certo,
ajeitou sua roupa de baixo e quando encarou Draco ele estava apertando a
gravata novamente e terminando de colocar o terno. Seus olhos se
encontraram e o silêncio os consumiu como nas muitas noites anteriores. O
vento gelado entrou pela janela que ela havia aberto e soprou entre eles
quando a carruagem diminuiu a velocidade e parou.
- O que está preparada para ver hoje a noite? – ele quebrou o silêncio
entre aquela troca de olhar.
Hermione ponderou por alguns segundos a resposta que deveria dar enquanto
conseguia escutar o cocheiro descer de seu posto e a agitação do lado de fora.
- Uma grande festa? – sugeriu ela. – Não faria sentido nos vestirmos assim
para outra coisa que não fosse uma festa ou um baile.
Hermione assentiu, passou o longo tecido de pele pelos braços cobrindo suas
costas, sentiu os pelos fazerem cócegas em sua pele, respirou fundo e saiu
para o banho de flashes no tapete vermelho que se estendia do lado de fora.
Seria uma noite difícil e certamente entediante. Mas talvez, quem sabe,
interessante.
Capítulo 13
Hermione Malfoy
- Por que rejeita todos os pedidos de entrevista? – alguém gritou ao fundo
da multidão por trás dos flashes e penas que sobrevoavam rabiscando tudo
aquilo que se era falado em blocos de pergaminhos.
- Tenho uma agenda muito apertada devido ao meu novo posto dentro da
Sessão da Cidade, e também não creio que eu tenha uma vida tão interessante
ao ponto de ficar repetindo respostas para as mesmas perguntas na frequência
das propostas que recebo. – ela respondeu e antes mesmo que terminasse os
flashes a cegaram mais uma vez e um turbilhão de perguntas soou de uma vez.
- Nos diga algo sobre como tem sido seus primeiros meses de casada! – ela
conseguiu ouvir aquilo umas duas ou três vezes.
- Tem sido bastante agradável. – Draco respondeu por ela aparecendo por
trás e cercando sua cintura. Os flashes a cegaram mais uma vez. – Temos
aproveitado como nenhum outro casal na história. – a falsa simpatia de Draco
era clara para ela que sabia que não estavam aproveitando como o resto da
cidade achava que estavam. – Agora se nos dão licença, precisamos entrar. –
ele apontou o caminho para Hermione e tocou suas costas informando para ela
ir a frente.
- Se saiu bem. – ele disse ainda com a mão em suas costas a guiando por
trás. – Não ande tão rápido. – ele usava um tom como se estivessem
conversando sobre algo interessante. – Aqui, a esquerda. – disse ele e
Hermione virou a cabeça para encontrar os pais de Pansy Parkinson.
- O que? – não entendeu quando tomaram a direção deles. – Por que não
entramos logo?
O casal se voltou para eles com aquele ar de glória contida. A Sra. Parkinson
abriu um sorriso imediato para Draco porém Hermione notou que o Sr.
Parkinson assumiu uma postura neutra como se estivesse tentando esconder
qualquer desgosto.
- Draco! – a mulher sorriu. – Que ousadia sua vir até nós! – ela disse e
Hermione se surpreendeu pelas palavras duras saindo do sorriso caloroso que
estava em seus lábios.
- O seu pai pensa demais na política. Um infortúnio que nos levou a essa
situação. – o Sr. Parkinson se manifestou.
- Ele é um homem do Estado, nada mais faz do que o trabalho dele. – disse
Draco.
- Não acredito que tenha sido exatamente por ser um homem do Estado
que ele tenha proposto esse casamento. – jogou o Homem.
- Me deixa surpresa o ver defendendo seu pai. Pensei que o odiasse. – ela
se viu comentar.
Hermione não gostou do tom que ela havia usado, mas com relutância tirou seu
adorno de peles, colocou-o sobre a cadeira e seguiu a mulher.
Narcisa abriu a boca para retrucar, mas foi interrompida por Draco.
- Hermione, quer algo para beber? – ele perguntou seriamente.
Por um momento ela pensou, surpresa, que ele estava sendo educado, mas
então ele a encarou profundamente com aquele olhar de General do exército de
Voldemort e quase sibilou:
- Sim, você quer algo para beber. – ele foi duro. – Me diga o que quer ou
trarei qualquer coisa.
- Não me traga nada muito forte. – foi tudo que disse sobre a questão da
bebida. Segurou seu braço com delicadeza, mas tratou de cravar as unhas nele.
Aproximou-se do corpo do homem, alongou a coluna e forçou os pés para
alcançar o rosto dele e começou numa voz suave, baixa e melodiosa – Nunca
mais me olhe e fale comigo como se eu fosse um dos seus soltados, querido,
ou farei com que saibam que a mulher que possui tem prazer em enfeitar sua
linda cabeça.
Draco soltou um riso achando aquilo realmente divertido. Ele a segurou pelo
queixo olhando fundo em seus olhos e respondeu usando a mesma voz mansa
e baixa:
Sentiu a boca dele se fechar contra a sua, havia frieza e desprezo naquele
beijo. Se soltaram e trocaram faíscas pelo olhar novamente antes de Draco se
voltar para a mãe e lhe dar atenção. Hermione o observou quando ele
simplesmente tocou os cabelos da mãe, tomou sua mão e lhe beijou os nós dos
dedos. Ele perguntou se ela precisava de algo e quando ouviu uma resposta
negativa perguntou pelo pai. Narcisa apontou para um lado do salão e o
informou que seu pai discutia politica com um grupo significativo de comensais.
Draco então anunciou que logo voltaria e deixou as duas sem sequer tornar a
olhar para Hermione.
Voldemort nunca havia dito sobre aquele prazo para ela, mas Hermione não
duvidava que a pressa fosse tamanha.
Narcisa riu.
- Não há nada de tão especial assim no seu filho, se quer saber. – ela
tratou de dizer. – É apenas sexo e no final de tudo estamos apenas cumprindo
ordens. E realmente esse não é um assunto muito confortável para se discutir
aqui agora.
- Não acredita realmente que eu irei fazer isso, não é? – riu ela.
Narcisa suspirou impaciente.
- Elas saberão que não estará sendo verdadeira, Hermione! Se não agir
como se tivesse uma máscara começarão a achar seu comportamento muito
estranho aqui! Será que depois de todo esse tempo ainda não aprendeu isso? –
ela jogou.
Hermione sentiu uma mão em suas costas antes de retrucar para a mulher e se
voltou para trás para encontrar Draco chegando e lhe oferecendo uma taça de
champagne enquanto carregava uma de whisky.
- Não fique só com a minha mãe a festa inteira. – ele disse quando ela
pegou a taça da mão dele. Draco então voltou-se para a mãe e pediu para que
fosse informado quando seu pai trocasse de círculo de conversa.
Ele as deixou e Hermione o acompanhou com o olhar até quando ele foi parado
por dois homens de seu departamento. Voltou-se para Narcisa e a encontrou a
observando.
- Olha para ele como se estivesse cheia de dúvidas. – ela comentou e
talvez tivesse razão.
Hermione tomou um gole de seu champagne e o encarou mais uma vez usando
sua máscara de simpatia para se adequar ao ambiente da festa. Ele não era
assim, aquele sorriso não era dele, todo aquele ar não era nada parecido com
ele. Ela não sabia quem ele realmente era, mas tinha absoluta certeza de que
aquele ali não era ele.
- Ele gosta de ser um mistério. – disse mais para si mesmo do que para
Narcisa quando tornou a olhá-la.
- O que? – ela riu e então elas começaram a andar. – Você sabe que não
seria nada interessante que elas me conhecessem realmente.
- Não acho. – concordou ela. – Mas saiba que agora é uma figura pública e
depois de toda a história inventada para a sua aceitação em Brampton Fort, as
pessoas querem saber quem é a nova integrante da família Malfoy e a nova
princesa do mestre. Você precisa ser alguém para eles. Alguém para se mostrar
nos jornais e nas revistas. Não percebeu que qualquer informativo que solte
uma insignificante notícia sobre você hoje em dia vende como água no deserto?
Precisa se impor sobre a mídia e mostrar a eles algum lado seu, nem que tenha
que inventar uma personalidade para mostrar. Se continuar se escondendo
deles, eles tornarão sua vida uma bagunça lançando fofocas e inventando
informações para conseguirem um lugar no mercado. Deve se importar sua
imagem aqui, com aquilo que falam sobre você, com aquilo que inventam sobre
você. É importante deixar com que as pessoas te conheçam sutilmente. Conte
alguns de seus maiores desejos, compartilhe pensamentos, mostre estilos de
vida, deixem que saibam de seus gostos. Muita gente pode te amar e acredite,
Hermione, se ganhar as pessoas terá muito poder e o seu nome na mídia agora
é um salto para que isso aconteça. Não desperdice suas oportunidades.
Hermione ponderou sobre aquilo por um longo minuto e como se houvessem
reinventado a luz, de repente, tudo aquilo fez muito sentido. Olhou a mulher ao
seu lado e se perguntou o por que para Narcisa era importante que ela
soubesse disso. Porque já havia estado tempo demais em Brampton Fort para
perceber que por trás das palavras de cada pessoa sempre havia um toque de
interesse.
- Perguntei por que você quer que eu ganha as pessoas? – ela foi mais
específica.
Narcisa sorriu.
- Sei que é esperta para chegar a resposta dessa pergunta. – Hermione
ergueu as sobrancelhas ao escutar aquilo. – Mas agora apenas me siga.
Não houve tempo para que Hermione pudesse se manifestar quanto aquilo da
forma como queria. Queria espremer a mulher em perguntas mesmo que
soubesse que sempre teria respostas vagas como aquela que ela havia dado.
Teve o pressentimento de que todo aquele discurso fazia parte de algo muito
maior, algo que uma sessão de perguntas não ajudariam realmente.
Ela não queria que isso tivesse acontecido, mas sentiu uma fisgada em seu
peito e teve que puxar o ar fundo enquanto via que Draco falava com
naturalidade como se tivesse assunto sobrando. Sabia que o homem nunca
falaria assim com ela, mesmo que fossem marido e mulher. Ele também nunca
olharia para ela do jeito que olhava para Pansy, como se não tivesse nada a
esconder, sem receios, sem desprezo. Hermione soltou o ar e tomou de um vez
o resto da bebida em seu copo.
- Aposto que não sente, Sangue-Ruim, mas farei com que realmente sinta.
– Pansy parecia se sentir feliz por poder alfinetá-la.
Hermione voltou-se para Pansy e ignorou todo aquela ar esnobe que ela
possuía. Não valia a pena bater boca com aquela mulher, ela não estava ao seu
nível como assim diria Narcisa Malfoy. Tratou-se de lembrar que ocupava o
lugar que ela desejava e que estava muito acima dela porque o status que
tinha poderia colocá-la debaixo de seus sapatos facilmente. Isso poderia soar
tão esnobe quanto a pose da mulher a sua frente, mas não importava, era o
que manteria Hermione de pé naquele momento. Imaginou-se dez degraus
acima da mulher, puxou o ar e disse:
Draco achou graça e soltou um riso que fez Hermione sentir que despencara
dos seus dez degraus. Lembrou-se de que deveria manter a postura mesmo
que o mundo desmoronasse ao seu lado e assim o fez.
- Vejo que ainda se prendem aos costumes de Hogwarts onde tirar sarro de
uma Sangue-Ruim parece bem divertido. – ela começou e tentou não
expressão nenhum tipo de emoção. – Mas veja só o que o destino nos
reservou, não é? Você preso a mim para o resto da vida. – disse encarando
Draco. – E você desejando estar no meu lugar. – disse voltando-se para Pansy.
– Realmente algo que não esperávamos. – fingiu um forçado desapontamento.
– Deve ser mesmo difícil lidar com isso para vocês dois. Deixarei que desfrutem
um pouco do passado as minhas custas. – abriu um sorriso falso para Pansy e
desviou seu olhar para Draco. Não havia mais sorriso no rosto deles agora.
Ergueu a taça em sua mão. – Querido, minha taça está vazia. – a estendeu
para ele que a pegou. Hermione quase podia ouvir o rosnado dele. – Seja
rápido, por favor. – deu as costas, sorriu, puxou o ar e se afastou tomando
caminho para chegar a Jodie se sentindo muito Malfoy de seu próprio jeito.
Draco Malfoy
Ela era absolutamente irritante. Pansy havia dito aquilo umas cinquenta vezes
depois que Hermione havia os deixado e ele não poderia deixar de concordar
mais com a mulher. Parecia um pesadelo tê-la de volta, como se estivessem
em Hogwarts vendo aquela mãozinha ridícula se levantando toda vez que uma
pergunta era feita dentro de sala de aula. Ele queria estrangulá-la por aquele
discurso patético que dera, mas ao contrário disso, foi obrigado a pedir que um
dos elfos fosse até ela servir mais um copo de champagne.
Tentou ignorá-la e não se sentiu muito melhor por tomar a direção de seu pai.
O encontrou do outro lado do salão sendo interrogado pelo insistente supervisor
dos portos da Oceania. Se intrometeu entre eles e pediu licença educadamente
ao homem para se afastar com o pai.
- O que quer? – vociferou Draco. – Espero que não tenha escondido nada
tão grave por muito tempo.
Lúcio suspirou, mapeou a área ao redor deles e abaixou o tom de voz para
tornar a encarar Draco e dizer:
Lúcio assentiu.
- E você evite motivos para se encontrar com o mestre. Sabe que ainda
tem problemas para esvaziar a mente na presença dele. – alertou o pai.
- Não vamos começar com isso. – Lúcio revirou os olhos. – Sei que sabe o
que deve fazer. – ele disse e bateu no ombro do filho. – Aproveite que tem um
membro da Ordem dormindo com você todas as noites e a explore. Cuide bem
dela. Hermione pode ser a chave para nossa liberdade se isso tudo der certo.
Draco quase rosnou ao ver o pai terminar aquilo e o abandonar voltando para o
supervisor dos portos do forte da Oceania. Achava patético como Lúcio Malfoy
gostava de se sentir esperto. Ele não passava de um Primeiro Ministro de
fachada que provava das regalias da paz e tranquilidade que Draco lutava para
manter no meio daquela guerra todos os dias. Deu as costas e tomou qualquer
caminho parando apenas para trocar seu copo de whisky por um cheio e
gelado.
- Hei. – Draco repetiu sem a mesma animação parando para poder encará-
lo.
- Não acredito! – riu Theodoro. – Ainda não encontrou um bom lugar para
levar suas amantes, Sr. Malfoy?
- Ela me deixa exausta. – disse Draco sabendo que era importante que
Theodoro tivesse aquele tipo de informação devido as suas sérias suspeitas de
que ele havia aberto a boca para o mestre sobre sua antiga relutância em levar
Hermione para cama.
Mas era uma verdade muito irritante saber que Hermione o deixava, sem
dúvidas, exausto. Ele nunca havia perdido a hora para acordar, nunca dormira
tão profundamente nem nunca se sentira tão cansado como nos últimos dias ao
ponto de se permitir dormir como fazia quando criança. Ele comprara a guerra
que começara com Hermione na cama e aquilo estava lhe tomando muito das
forças, mas o excitava! Ah, como o excitava!
- Sabe que atiça muito mais minha curiosidade quando faz todo esse
mistério. – ele disse mantendo seu ar divertido e inabalável de antes. Draco
sorriu tomando um gole de sua bebida. Se ele realmente havia sido comprado
contra Draco, a oferta que ele tinha em mãos era, no mínimo, muito valiosa
para que ele quisesse sair da sombra de proteção de alguém que carregava o
status de Draco. – Até porque depois de tudo que te ouvi dizer agora posso
apenas presumir que está louco por ela na cama.
Ele foi pego de surpresa por aquilo e percebeu que os poderes de dedução do
amigo iam além do que Draco poderia apostar. Por um curto segundo ele reviu
tudo que havia dito e se viu encarando o erro de suas próprias palavras. O que
ele queria esconder com tudo aquilo, afinal? Theodoro não precisava ser
nenhum profissional na arte da dedução para chegar a conclusão que havia
chegado. Draco pensou que o melhor caminho seria negar e se ele realmente
quisesse negar, sabia exatamente o que fazer e o que dizer, porque havia
aprendido a manipular e a enganar como ninguém. Mas ele não havia se
tornado alguém inteligente para dar mais uma mancada além do que já havia
dado sendo possessivo o suficiente para fazer com que Theodoro apostasse na
sua desconfiança. Riu descontraidamente para o amigo e tomou mais um curto
gole de seu whisky.
Draco riu embora não quisesse. Ele jamais, repetindo: jamais, seria louco por
Hermione. Sempre soaria como uma ofensa se alguém repetisse aquilo. Além
do mais, ele era Draco Malfoy, jamais seria louco por uma mulher, elas que
sempre seriam por ele.
- Sim, aquilo foi algo interessante. – ele disse sabendo que não era
exatamente naquele ponto que ele queria chegar. – E novo, sem dúvida.
Perdeu a graça com o tempo, como tudo sempre perde. – pausou – Mas me
manteve entretido por alguns meses e é disso que estou falando. – retomou a
linha daquilo que importava – Hermione é algo tão único que tem me
interessado o suficiente para me deixar irritado.
Theodoro riu.
- Porque nos odiamos. – disse voltando a encarar o amigo a sua frente que
franziu o cenho ainda confuso.
- Não deve ser assim tão diferente. – ele disse.
- Não esperava que fossemos subir nos patamares do trono hoje. – ela
sussurrou para ele.
- Cale-se, o mestre vai falar. – foi tudo que ele respondeu e foi logo depois
que ele completou sua ordem que a voz de Voldemort soou clara por todo o
salão.
A sua frente ele encarou o povo enganado pelo grande imperador das trevas
enquanto o mesmo trazia a tona todo um discurso sobre os maravilhosos feitos
do ano que estava chegando ao fim. Draco ouviu seu nome ser citado umas
duas ou três vezes em créditos a segurança das muralhas, a estabilidade da
guerra e a dedicação em seus serviços. Notou que Voldemort procurava
introduzir ao povo uma história seguida de seu nome que o colocava agora
como um homem de família que continuaria o imenso legado dos Malfoy. Foi
nessa linha de raciocínio que ele seguiu para o nome de Hermione que foi
engrandecida pela beleza impecável e pela inteligência assustadora. Somente
alguém como ela tinha peso o suficiente para assumir o sobrenome Malfoy, ele
terminou. Draco quis fazer uma careta de desgosto. Ele sabia bem o quanto ela
desmerecia aquele sobrenome.
- Agora. – foi tudo que disse e então passou o próprio punho da marca de
frente ao seu rosto para vestir sua máscara de comensal. Hermione o imitara
ao seu lado.
- Por favor, me diga que isso não será apavorante. – disse ela com um
receio muito aparente em sua voz.
Ela não respondeu nada, não estava assustada, ele sabia, mas parecia ter
medo daquilo que poderia acontecer. O campo aberto a frente deles se mostrou
como todo ano se mostrava. Ali era o outro lado da muralha, amplo, deserto,
vazio e que se perdia no horizonte. Naquele noite, como de costume, os
Dementadores demarcavam o limite O chão de terra enlameada e seca estava
abaixo deles.
- Que o show comece. – Draco foi capaz de ouvir Voldemort dizer num tom
pessoal e maníaco. Aquele era um dia feliz demais para ele.
O chão do meio da arena se abriu num quadrado vazio, dele e aos poucos um
corpo emergiu preso a correntes. Quando o prisioneiro ergueu a cabeça e se
mostrou a reação de Hermione foi exatamente a que Draco havia previsto.
- O que ele está fazendo ali? Por que ele está preso? Ele havia sido solto! –
ela lançou de uma vez.
- Ele é um peso morto. Mesmo que tenha sido inocentado depois de todas
as mentiras bem contadas que nos disse, a Ordem não o aceitaria de volta
depois de toda a ausência que teve e ele sabe muito sobre o ciclo na morte
para ser solto por aí. Sempre soubemos que ele jogava o próprio jogo. Viktor
nunca esteve realmente de um lado nessa guerra e nós dois sabemos o fim de
gente que escolhe ser neutro. Voldemort quer a alma dele. Krum é jovem,
forte, tem personalidade marcante, é dotado de inteligência e tem bastante
conhecimento em magia. Um aperitivo precioso para o mestre. Agora, calada!
Faça mais um barulho e a farei pagar por ele! – findou Draco.
E ela aparentava estar surpresa o suficiente para não ter voz para emitir mais
nenhum som.
- Viktor Krum. – a voz de Voldemort ecoou pelo ar, alta e poderosa. – Que
você sirva de exemplo para muitos. – Draco sabia que o exemplo era para ele.
Draco não respondeu nada a isso, contanto que ela não se movesse estava
tudo bem. Ouve um uivo pela multidão de comensais se divertindo com o show
quando Krum consegui rolar e se esquivar de dois ataques durante o quase fim
de sua consciência.
Mas logo uma das criaturas se enrolou no seu pescoço. Krum se debateu no
chão tentando fazer a criatura o soltar. As outras o devoraram injetando nele
mais do veneno. Alguns longos minutos de agonia se passaram e então Viktor
Krum era apenas um corpo mole e sem consciência no chão enlameado da
arena. Voldemort desceu até lá quando a projeção de uma escada se fez saindo
de seu trono. As Mortalhas todas fugiram com a chegada do mestre.
No fim seu mestre puxou o braço de volta e tudo que restou do Dementador foi
seu manto negro esfarrapado caindo sobre o corpo sem vida de Viktor Krum.
Voldemort abriu os braços olhou para o céu e gritou uma maldição conhecida.
Assim a marca negra surgiu em meio as nuvens. Ele bateu as mãos acima da
cabeça e sumiu voltando a reaparecer em seu trono.
Aquilo era um alimento para Voldemort e seguindo aquilo ele se manteria
eterno. Homens e mulheres fortes, belos, inteligentes e dotados de muito
conhecimento sempre seriem os pratos prediletos de seu mestre e todo inverno
aquele ritual servia para acrescentar anos a mais em sua longevidade, mas não
apenas para aquilo, servia também como alerta a todos. A escolha de seu prato
principal todo inverno era muito meticulosa e a daquele ano Draco tinha plena
certeza de que era uma lição exclusiva para ele.
Capítulo 14
Theodoro Nott
Já havia fechado seu departamento, mas ele gostava de ficar até tarde em sua
sala. Gostava de encher seu copo com gelo e algum conhaque caro. Gostava de
colocar os pés em cima de sua mesa e gostava de ligar o rádio num volume
baixo e em alguma estação que passassem músicas que o fazia se lembrar do
pai em sua infância, quando ele o ensinava a montar aviões com cola e depois
os fazia voar com a varinha. Eram tempos bons e se lembrar daquilo fazia
Theodoro ainda se sentir humano depois de todos os anos que passara em
Brampton Fort.
Aquele dia em especial não foi nenhuma surpresa quando a porta se abriu e por
ela entrou uma bela mulher de pele morena em seu usual vestido social
discreto, de cabelos volumosos, marrons e muito largamente cacheados que lhe
desciam até os ombros usando aqueles óculos retangulares e estreitos que
caíam perfeitamente bem em seu maravilhoso rosto macio que tinha aquela
boca deliciosamente apetitosa. Ela entrou, fechou a porta e se escorou nela
com as mãos para trás mantendo os olhos fixos nele. Theodoro lançou um olhar
rápido para o relógio em seu braço e sorriu ao ver as horas.
- Será que você não poderia ser um pouco menos perfeita? – esperou por
pelo menos algum sorriso dela, mas nunca o obteve. – Poderia atrasar pelo
menos alguns minutos da próxima vez, Jodie.
- Se assim quiser. – ela deu de ombros. – Mas gosto de ser pontual quando
estou tratando de negócios.
Jodie suspirou como se isso fosse um ponto não muito positivo da convivência
com Hermione.
- Ela questiona a maioria delas. Nos faz lembrar dos antigos livros e
estatutos do Ministério antes do mestre e mais um monte de palhaçada que
acaba por nos fazer perder tempo em coisas insignificantes.
- O mestre fez bem em querer que ela ****. Brampton Fort precisa de um
pouca da humanidade dela. – Jodie disse.
- Gosta dela, não gosta? – sabia que Jodie não gostava, apenas se fingia
gostar. - Ela é uma Malfoy, é melhor gostar dela do que odiá-la. Ela tem poder
com o sobrenome que tem e sendo a coisinha preciosa do mestre, o dia que ela
decidir te esmagar ela poderá com toda facilidade. Está sendo esperta em se
fazer com que ela acredite que gosta dela. - ele riu e tomou um gole de sua
bebida.
- Não estou me empenhando em fazer com que ela acredite que gosto
dela. – Jodie pareceu um pouco aborrecida com aquilo – Estou sendo
profissional. Estamos fazendo um trabalho juntas. E Hermione não tem a
mínima noção do poder que tem. Não ainda. Na maior parte do tempo ela se vê
como um ratinho no meio de leões famintos.
- Não pode deixar que ela saiba o poder que tem. – ele disse calmamente
enquanto colocava os dedos por trás do joelho dela e a fazia descruzar as
pernas para que ele pudesse se colocar entre elas.
Ela sorriu. Ele gostava daquele sorriso. Jodie se fazia de profissional objetiva e
fria, mas não passava de uma mulher com desejos insaciados.
- Farei o meu melhor. – ela disse e aquilo bastou para ele.
Hermione Malfoy
Ela sonhou que estava no lugar de Viktor Krum, sabia que era um sonho, mas
ainda assim não deixava de ser aterrorizante. Conseguia sentir o peso das
correntes. Podia ver a parede de Dementadores limitando seu espaço de um
lado, e logo do outro ela via sobre os patamares do trono ocupado por
Voldemort e logo atrás de sua figura sinistra havia um mar de Comensais em
suas mascaras e capas negras sendo ofuscados pelo brilho intenso de uma luz
branca que a iluminava vinda do fundo do átrio do salão.
A voz de Voldemort clamava pelo início daquela loucura e então Hermione viu
Mortalhas se arrastando pelo chão enlameado em sua direção. Ela tentou correr
mas estava presa ao chão e foi exatamente quando todas aquelas criaturas
mortais voaram para cima dela que conseguiu abrir os olhos sentando-se na
cama de uma vez.
Estava ofegante e o coração batia forte contra suas costelas. Olhou para o lado
e Draco não ocupava o seu lado da cama. Pelas brechas da pesada cortina ela
via que do lado de fora o dia cinza e comum de Brampton Fort já havia
começado. Fechou os olhos ainda sentada e contou até cinco muito devagar até
sentir que estava chegando ao seu estado de tranquilidade. Foi só um sonho.
Abriu os olhos novamente para encarar o quarto ao seu redor. Tornou a olhar o
lugar de Draco vazio ao seu lado. Era domingo e domingo para Draco nada
mais era do que qualquer outro dia da semana com suas atividades rotineiras,
mas não era exatamente o fato de que o lugar ao seu lado estava vazio e sim o
fato de que ele estava intocado e exatamente como ela havia visto antes de
dormir. Ele não passou a noite em casa.
Não era nada que realmente a devesse deixar preocupada. A verdade era que
ela pouco se importava com Draco, mas sabia que muitas das noites de sábado
para dormindo que não passava em casa eram dedicadas ao quartel general.
Sabia disso porque ele tinha que provar pelas normas do departamento que
estivera toda a noite lá e Hermione até mesmo já havia visto alguns dos
arquivos em que ele e mais uma centena de comensais deveriam assinar. Ela
sabia que Draco gostava do que fazia, mas não havia como negar que era um
trabalho muito exaustivo.
Hermione se levantou aliviada por saber que pelo menos tinha o final de
semana para respirar longe daquela maldita Catedral. Moveu-se para o
lavatório e durante seu banho lembrou-se de seu sonho. Sentiu alguns
pequenos segundos de terror e tentou respirar com cuidado. Não era você
naquela arena. Era Viktor Krum.
Vestiu-se como a dama que deveria ser mesmo aos finais de semana, olhou-se
no espelho passando pelo seu momento de aprovação e quando voltou ao
quarto se deparou com a cena da porta se abrindo e Draco entrando. Ele tinha
a aparência cansada, os cabelos desalinhados e os olhos fundos. Eles trocaram
um rápido olhar e ele seguiu seu caminho pelo quarto puxando a gravata do
pescoço e a jogando sobre o sofá da lareira junto com o casaco do terno.
- Não. – ele respondeu dando as costas para ela e caminhando para sua
arca de bebidas desabotoando a camisa. – Vou descansar o que posso. Tenho
que voltar para a Catedral depois do almoço portanto procure não me
perturbar.
Ela recebeu a resposta. Seria até divertido perturbá-lo e Deus sabia o quanto
ela precisava de diversão, mas Draco parecia destruído e também haviam
coisas suficientes para que ela pudesse se manter ocupada. Deu as costas
enquanto ouvia o som da bebida dele sendo despejada no copo e seguiu para
porta.
- Hei. – ouviu ele dizer e foi obrigada a parar e se virar novamente.
O silêncio durou entre eles alguns segundos antes que Draco continuasse.
- Conversei com o mestre. – ele soltou finalmente ainda de costas para ela.
O silêncio durou mais alguns segundos enquanto ele levava o copo a boca.
- E por que está me dizendo isso? – perguntou ela confusa quando não
obteve mais nenhuma informação. O silêncio dele estava começando a irritá-la.
– Vai abrir a boca ou não?
- Não. – respondeu.
- Por que não? – ele voltou-se para ela com uma expressão não muito
contente. A pergunta a surpreendeu ainda mais.
- O mestre tem. – ele aproximou-se devagar – Ele disse que esperou todo
o inverno e que não esperará também a primavera inteira.
- Não sei o que está havendo. – tentou desviar - Talvez não estejamos
tentando o suficiente, certo? Agora tenho muito o que fazer. Podemos
conversar sobre isso outra hora. – deu as costas e tomou seu caminho para
porta mas foi impedida no meio do caminho quando ele avançou e a segurou
pelo braço fazendo-a voltar-se para ele novamente.
- Você sabe que o tanto que tentamos é até mais do que o suficiente! – ele
foi rude. – Vai me dizer agora o que tem feito e vai parar!
- Vamos, Hermione. Pense um pouco mais. – disse ele – Só não seja burra
de acreditar que fiz isso porque de alguma forma posso até gostar de você. Nós
dois temos um status. Estamos ligados e se você cair, eu caio junto. Somos
uma família, não somos?
- Isso não é exatamente o que define uma família. – disse sabendo mesmo
que Draco nunca seria capaz de fazer algo por alguém sem sair no lucro.
- Isso é o que eu considero família. – aquilo pareceu definitivo. – Agora
saia desse quarto ou eu a arrastarei para fora dele.
Ela ainda esperou alguns segundos antes de dar as costas e sair do quarto.
Desceu para o café e se deliciou com a maravilhosa mesa que Tryn sempre se
dedicava a montar. Ela sabia que uma hora a pressão sobre a gravidez
começaria, mas não arriscaria deixar de tomar as poções que com muita
dificuldade Luna conseguia roubar da sessão de enfermarias da Catedral para
ela. Tentou se esquecer daquilo embora não fosse uma tarefa muito fácil.
Pegou o jornal em busca de entretenimento e virou a página do Diário do
Imperador em suas mãos.
A matéria era sobre um importante restaurante do centro ter sido fechado para
a festa de aniversário de uma das filhas da elite de comensais e também havia
outra importante que se referia as novas atividades de primavera que
começariam na semana seguinte. Hermione lia toda aquela futilidade grata por
saber que a mídia aparentemente havia a deixado em paz depois de incontáveis
meses de perseguição e também grata porque finalmente toda aquela neve do
lado de fora estava derretendo depois de daqueles frios e depressivos meses de
inverno. Até tentava se focar em se entreter com aquelas folhas de jornais,
mas saber que Draco estava no andar de cima ocupando o espaço particular
que tinha era como um dedo incomodo indo fundo da garganta de Hermione.
Dispensou o restante daquilo que havia posto no prato fechando o jornal e se
levantando.
- Nós não fizemos nada essa manhã. – abriu um dos livros e entre as
páginas viu as folhas cortadas para acomodarem os pequenos frasquinhos. –
Obrigada pelas poções, Luna.
- O que está havendo? – Luna finalmente pareceu se preocupar com as
expressões da amiga.
Hermione suspirou, passou os dedos pela tenta, deu as costas para amiga e
colocou as mãos na cintura enquanto fazia o som de seu salto ecoar na madeira
do piso.
- Oh. – foi a reação da loira e então ela se manteve em silêncio por algum
tempo também. – Acha que eu deveria parar de pegar as poções?
- Não vai dar certo! Além do mais, mesmo se eu for, se está pretendendo
nunca ficar grávida, sabe que Voldemort não vai nada gentil com você também.
- Sei disso! Mas posso aguentar a pressão. Se não estiver aqui posso ser
teimosa o quanto quiser e você não precisará pagar por isso!
Luna suspirou frustrada por aquilo. Passou por Hermione e sentou-se no nicho
da janela principal passando a mão sobre a luneta antiga que havia ali.
- Hermione. – ela começou num tom um pouco baixo – Sei o quanto será
bom se eu conseguir sair daqui e chegar até a Ordem com vida. Sei o tanto de
informação que eu poderia passar para eles. Sei o quanto isso será bom para o
nosso lado, mas não sinto que é certo te abandonar aqui. – ela encontrou seu
olhar com o da amiga – Não é certo te deixar sozinha aqui. Se eu tiver que
morrer, não me importo, mas não posso me ver te abandonando nesse lugar
sozinha.
- E quanto a você? Não me prometa que vai ficar bem. Eu sei que não vai.
- Não, Hermione! Você não é um deles. Essa marca não tem o poder de te
fazer um deles.
- Não estou falando do ciclo de Voldemort, Luna. Estou falando dos Malfoy.
– esclareceu ela. – Sou um deles agora e meu lugar é com eles. Assinei um
papel para isso e você sabe o que aquele papel significa. Se eles estão com
Voldemort, eu também devo estar.
Hermione sorriu.
- Estou com Voldemort assim como os Malfoy estão, Luna. Mas isso não
significa que estou do lado dele. – levantou-se – Por isso estou te mandando de
volta para Ordem.
Luna suspirou frustrada por perder aquela guerra.
- Acha que podemos confiar nessa sua idéia? – ela perguntou depois de
alguns segundos em silêncio.
- Tenho revistado o escritório de Draco com frequência. Sei aquilo que ele
trás da Catedral e aquilo que leva. Sei do que se trata a maioria dos trabalhos
que ele trás para casa. Sei também onde ficam a maioria das coisas principais
no escritório dele. É muito grande e o tempo que eu tenho quando ele não está
em casa é pouco. Mas tenho feito o possível conseguir entender a maioria dos
arquivos rascunhos do sistema de portões de Brampton Fort. – ela devolveu as
pastas para uma das gavetas da mesa. - Ele é responsável por liberar a entrada
e saída de todos cada pessoa pelos portões, assim como é responsável por
computar tudo isso. Tenho que colocar as mãos nos arquivos oficiais e estudá-
los, saber realmente como o sistema todo funciona. Assim ficarei mais segura
para seguir em frente com essa idéia. – soltou o ar de uma vez e encarou Luna
colocando as mãos na cintura. – Mas é uma idéia. A única que consigo enxergar
agora. E Deus! Precisamos ser rápidas. Vou precisar que faça algumas coisas
para mim e eu também terei que visitar com mais frequência a torre de Draco
na catedral, ver como os arquivos são organizados lá, como eles entram e
como saem...
- Você está certa. – ela se sentou em sua cadeira. Em outros tempos ela
teria se jogado ali, mas tinha se tornado quase parte dela seguir as regras de
educação de Narcisa Malfoy. – Temos que ser cuidadosas. – concordou. – Mas
não podemos deixar de trabalhar por isso. Mesmo que a idéia ainda seja
primitiva, temos que preparar polisuco. – se levantou e foi até um dos
caldeirões vazios.
- Polisuco? – Luna franziu o cenho. – Para quem?
Hermione a olhou.
Draco Malfoy
Sentou-se e foi seguido por ela em silêncio. Ele pediu que Tryn servisse a
entrada e assim que seu prato se encheu de salada ele tratou de se ocupar em
seguir o serviço de todo jantar e ignorar que estava acompanhado. Obviamente
que suas tentativas de ignorá-la nunca eram muito bem sucedidas. Sentiu-se
absurdamente irritado quando ela tratou de fazer um dos enormes livros do
Departamento da Cidade flutuar a sua frente para que pudesse ler enquanto
comia. Ele não conseguia nem mesmo dimensionar o ódio que tinha das manias
sem nexo que ela muito provavelmente havia adquirido da família miserável a
qual havia sido criada.
- Hermione, vai mesmo ler na mesa de jantar? – tentou ser discreto e não
expressar nenhuma emoção embora quisesse explodir aquele livro ali.
Ela levou seus olhos até ele. Draco sabia que ela sabia que ele se incomodava
com aquilo, sua mãe havia lhe ensinado todas as regras de comportamento.
- Me desculpe, minha leitura vai atrapalhar algum diálogo que iremos
desenvolver durante o jantar? – ela foi irônica ao fato de que sempre jantavam
em silêncio. Lançou a ela apenas um olhar fatal que ela desafiou com o seu
num ar completamente insignificante. – Não tenho tempo para ler isso em
outro lugar, sinto muito. – ela não sentia.
Ele quis levantar da mesa para não ter que encarar aquilo durante a hora de
paz do seu jantar, mas soube que engolir sua irritação seria um bom caminho
para não deixa-la vencer, já que muito do que ela fazia era apenas para deixá-
lo irritado, embora soubesse que realmente Hermione estava abarrotada de
deveres na Sessão da Cidade. Ela logo começaria a percorrer as Casas de
Justiça e estava passando por uma série de avaliações pela Academia de
Brampton Fort. As vezes Draco até tinha curiosidade de perguntá-la como
estava se saindo, mas a idéia de começar um diálogo com Hermione que
poderia ser duradouro lhe causava repulsa.
Comeram em silêncio. Ela mantinha toda a atenção naquele livro. Ele esperava
que ela tivesse consciência de que aquilo não poderia se repetir, mas tentar
adestrar Hermione realmente era o mesmo que desperdiçar energia.
Antes mesmo que terminasse toda sua refeição, ele anunciou sua licença e se
retirou subindo para o escritório onde abriu as pesadas cortinas, estirou-se
numa poltrona e deixou seus olhos se perderem na vista do lado de fora onde a
primavera tentava desabrochar. Aquele era o seu tempo diário onde podia
descarregar em silêncio todo o cansaço da Catedral e lidar com todas as suas
frustrações. Nós últimos quase seis meses esse tempo havia sido destinado a
pensar em Hermione o no quanto o irritava saber que ela estava em algum
lugar daquela casa, da sua casa, carregando o seu sobrenome, dormindo na
sua cama e carregando o anel da sua família. Aos poucos estava aprendendo a
aceitar aquilo e voltar a descarregar pensamentos apenas relacionados a
Catedral e Voldemort. Acostumar-se com Hermione era algo que ele não
queria, mas trazia paz e isso era bom. Não podia passar uma vida inteira
dentro de uma casa que nunca poderia ser seu lar por causa de alguém
insignificante como ela.
Fechou os olhos e sentiu suas forças se revigorarem apenas pelo silêncio e pela
calma. Gostava de imaginar que estava sozinho como nos tempos onde não
havia uma aliança em seu dedo. Gostava de pensar que se levantaria dali,
tomaria seu banho, beberia seu vinho enquanto lia um bom livro e se deitaria
no prazer de estar absolutamente sozinho.
Passou horas olhando para aquilo com os braços cruzados. Haviam muitas
coisas que ainda deveriam ser ligadas e muitas lacunas a serem preenchidas.
Tratava de misturar seus serviços da catedral e seus objetivos pessoais naquele
mesmo painel para evitar que qualquer olhar que não fosse o dele sobre todo
aquele trabalho não o incriminasse. Mas ele conseguia enxergar as camadas
que separavam muitas das suas pesquisas ali.
Foi somente depois daquelas horas de reflexão que ele decidiu que já estava
perdendo tempo olhando para aquilo que já havia decorado em sua mente.
Tinha que encontrar informações, se não as encontrasse seria sempre uma
perda de tempo olhar para o seu painel como se esperasse que gloriosamente
ele se solucionasse.
- Não vai perguntar o porque quero que a demita? – ela tinha uma
sobrancelha levantada.
- Não pense que sou idiota por não saber que está fazendo isso para me
distrair e abrir a boca para soltar a estupidez que tem a dizer em relação a
minha secretária. – disse ele enquanto sentia o hálito úmido dela contra seu
pescoço. Ela ajeitou seus quadris contra o dele e o movimento discreto foi
suficiente para alertar o membro entre suas pernas. - Sabe que não a deixaria
falar se não estivesse me entretendo. – as mãos dela foram para dentro de sua
blusa e cercaram seu tronco quando terminou de abrir todos os botões. O rosto
dela veio para a frente do seu e ficaram a centímetros um do outro. Os olhos
dourados dela brilhavam sobre os dele.
- Os Mori estão abrindo um processo contra a sua família para fazer com
que paguem pelo péssimo investimento que seu pai empurrou para eles no
passado quando ainda estavam no Japão. – ela disse tudo de uma vez e ele viu
seu próprio sorriso morrer ao escutar aquilo vindo dela.
Draco precisou de alguns minutos para absorver tudo aquilo. Seria possível que
um dos temores da sua família poderia estar vindo a tona depois de tanto
tempo? O que seu pai havia administrado de tão errado para que os Mori
descobrissem a verdade?
- Por favor, Draco! – ela o cortou revirando os olhos. – Sabe que eu estudei
mais do que devia sobre sua família e sei que foi o seu pai quem vazou as
informações visando o lucro. Ninguém nunca saberia que metade da fortuna
dos Mori foi passada para o cofre dos Malfoy nessa brincadeira. Mas sabe que
eles sempre desconfiaram do dedo do seu pai por trás disso tudo. Tanto que
sua família sempre os manteve por perto, dentro do ciclo social, fazendo
favorzinho em nome da amizade. Trouxeram os Mori para debaixo das asas de
Voldemort no auge da guerra, os colocaram na Vila dos Comensais, deram a
Seiji Mori um alto cargo no Ministério, fizeram de Naomi Mori sua secretaria, os
colocaram na mídia como bons amigos dos Malfoy, os tem como pessoas de
confiança. Nada mais fazem do que manter um possível inimigo por perto, nada
mais fazem do que trabalhar para manter a verdade afastada deles.
- E temos feito isso com bastante empenho! – Draco sentiu que deveria
defender sua família depois de todas as ofensivas que ela havia lançado. – Acha
que os Mori são a única família que estão nessa posição? Fazer o que fazemos
com eles é algo que a nossa família tem feito a séculos com outras famílias e
não é nada muito difícil de se fazer, não é nada que nos demande muito
trabalho. Não há nenhum modo possível dos Mori terem provas contra meu pai.
- Tem certeza de que não há? – ela pareceu estar muito certa do que dizia
– A única prova que há está em Gringotes, dentro do cofre de sua família.
Draco sentiu seus músculos enrijecerem no mesmo instante. Naomi recebia sua
cópia. Se ela olhasse o histórico da conta e juntasse o ano com a quantia que
havia sido movida para dentro do cofre dos Malfoy, sem dúvida enxergaria que
era o valor exato que sua família havia perdido no Japão.
- O selo só pode ser violado pelo destinatário. – ele tratou de se lembrar. –
Quando a cópia volta assinada para ela para que seja reenviada a Gringotes o
selo também é inviolável.
- E aonde essa cópia fica quando está a avaliando para assiná-la e tornar a
enviá-la a Gringotes? – perguntou ela embora já parecesse saber a resposta.
- E a quanto tempo ela trabalha para você? Não é muito difícil desenvolver
um feitiço de violação contra segurança sem que ninguém perceba quando se é
inteligente o suficiente para isso.
Draco se levantou confuso ainda tentando fazer todas as ligações que deveria.
Era possível que Hermione estivesse certa? Sim, era muito possível e não
apenas isso, no fundo, os Mori eram inteligentes para sempre terem um receio
e desconfiança atrás dos Malfoy e os anos que Naomi estivera familiar com sua
torre na Catedral eram bem suficientes para que ela já tivesse desenvolvido
qualquer feitiço de último grau para ter acesso ao que não deveria ter. Se
perguntou quando foi que esteve tão ocupado em outros assuntos que movera
inconscientemente aquilo para terceiro plano.
- Como sabe sobre o processo que eles tem aberto? – ele percebeu o
quanto estava sério quando escutou sua própria voz ser fria como o inverno
que haviam acabado de passar.
- Seiji Mori faz visitas constantes a sala de Theodoro e não faz muitas
semanas que tive acesso a sala de Processos. Seiji tem aberto um contra a sua
família com autorização de Theodoro e tem o arquivado dentro do
departamento como caso solucionado e confidencial. Está na área de casos que
atingem a proporção para fora de Brampton Fort e chegam aos tribunais do
Ministério da Magia.
Draco sentiu seu coração palpitar e deu as costas para ela encarando a
vastidão de seu terreno pela janela. Deveria contar isso ao seu pai o mais
rápido possível. Os dois teriam que quebrar muita cabeça para conter aquilo.
Enquanto isso ele apenas tentava loucamente encontrar saídas para aquela
situação. Aquele não era o fim de sua família, mas se não agisse seria uma
queda muito grande e muito comprometedora.
Aproximou-se sem pudor. Ela pareceu não entender exatamente o que ele
estava fazendo, mas não lutou e nem fugiu. Draco segurou seus quadris e
então foi rude ao arrastá-la para a estante mais perto fazendo com que as
costas dela batessem contra o móvel sem dó.
- O que você quer com tudo isso, Hermione? – perguntou com o rosto a
centímetros do dela e sem vacilar no contato visual.
Hermione poderia ser muito inteligente para solucionar seu problema, mas ele
queria entender o porque ela estava jogando do lado dele quando na verdade
ela deveria estar agindo em completo descaso.
- Sou uma de vocês. Se caírem, eu caio junto, se lembra? – respondeu ela
como se não fosse óbvio.
- Terá que servir. – ela disse e ele puxou a perna dela para cima abrindo
espaço para empurrar seu quadril contra o dela. – Não quero perder todo o
trabalho que tenho feito por culpa das falcatruas da sua família. – ela continuou
cercando-o novamente por dentro de sua blusa e abaixando um tom de sua voz
o que a tornava mais sexy do que era. – E aliás, sei que sua secretaria sempre
quis um bom cargo no Ministério...
- Hermione! – ela a cortou – Já entendi tudo que teve a dizer. Agora seria
uma boa hora para se calar e deixar que eu termine o que estou começando
aqui. – ele já abria os botões do vestido dela.
Hermione abriu um sorriso com aquilo e ele soube que estava seguindo o
caminho certo.
- Não diga que está começando isso quando sabe que os créditos para essa
vez deverão ser dados a mim. – ela continuou com aquela voz como se em
algum momento fosse morder os lábios e fazê-lo delirar no quanto aquela boca
aparentava ser a parte mais deliciosa de seu corpo.
Ele sempre se impressionava com o poder que o atrito entre seus corpos e suas
bocas tinham. A atmosfera parecia esquentar tão rápido que bastava alguns
segundos e, nem se quisessem voltar atrás, conseguiriam se conter. As mãos
dela em suas costas não eram nada comparado a ele tirando proveito para
passar a sua sobre as partes que mais gostava. Explorava os seios por cima do
tecido de seu vestido, as penas, a curva dos quadris, a pele macia. Gostava de
pressionar seu corpo contra o dela e sentir cada reação dela transferida para
ele. Gostava de sentiu o movimento de seu corpo com a respiração, com os
soluços, a busca por ar, o arrepio. Aquelas pequenas coisas também tinham o
poder de excitá-lo.
Desgrudaram-se e ele se afastou para vê-la por inteiro. Ela era absurdamente
linda. Chegava a cegá-lo as vezes. O contato visual não foi quebrado quando
ela deixou aquela estante e moveu-se pelo seu escritório lentamente enquanto
terminava de abrir o restante dos botões de seu vestido. Ele gostava de ver
quando ela estava naquele estado. A boca inchada, a ponta linda de seu nariz
vermelha, os olhos cheios de desejo, os cabelos bagunçados.
De costas para sua mesa ela deixou que o tecido que a cobria escorregasse até
seus pés e ele se deixou ver aquele maravilhoso corpo coberto apenas pela
roupa íntima. Eram naqueles momentos que ele se questionava se ela era a
mulher mais linda que já havia levado para cama. Livrou-se de sua camisa já
aberta e avançou para ela tentando compensar o tempo que haviam ficado
separados.
Draco a colocou em cima de sua mesa e ela o cercou com as pernas e com os
braços. Suas bocas se grudaram novamente e o som de coisas indo ao chão
soaram, mas já estavam tão acostumados com isso que não se importaram. Ele
a ajustou sobre sua mesa e o som de mais coisas foram ao chão. Aquilo
também o excitava.
Percebeu o quanto queria aquilo quando notou sua própria pressa. Eles não
faziam sexo há um bom tempo considerando a frequência que tinham antes.
Aquela havia sido uma semana corrida para ela e querendo ou não, ele sentia
que ela estava colocando suas energias em muitas outras coisas que estavam
bem longe deles. Ele precisava novamente dela e de como eram quando faziam
aquilo juntos.
Apenas a forma como suas bocam dançavam era muito suficiente para ele. A
forma como ela gostava que movimentar o quadril contra o dele sobre o tecido
de sua calça. Tudo era apenas suficiente. A livrou da parte de cima de deixou
que sua boca pudesse explorá-la. Sentia que estava absolutamente pronto para
ela e de alguma forma ela percebeu isso.
- Hei. – ela tentou chamar sua atenção entre sua respiração ofegante. –
Draco! – ele a olhou. – Não vamos pular o aquecimento, vamos? – ela ergueu
uma das sobrancelhas e ele percebeu que estava tentando adiantar as coisas.
Já haviam feito aquilo dezenas de vezes e se conheciam, não por completo,
mas se conheciam da melhor forma possível. Ele a pegou em sinal de que havia
entendido muito bem o sinal que havia recebido. A colocou contra um dos
armários e desceu sua boca aos poucos por todo seu corpo até passar uma das
pernas dela sobre o seu ombro e deliciar-se com o calor que havia entre suas
pernas.
Todas as reações que ela tinha o excitava. Ela adorava aquilo. Sua respiração
mudava, os gemidos que não existiam começavam a aparecer, os dedos dela
entre seus cabelos eram suaves e as vezes severo quando ele sabia que estava
chegando ao ponto que ela gostaria de chegar. Ele gostava de ouvir a
respiração dela crescer aos poucos enquanto ele trabalhava. Gostava de como
o corpo dela reagia, gostava de vê-la completamente vulnerável a ele. Gostava
de fazer com que ela se contorcesse, com que puxasse seus cabelos, com que
pedisse que ele não parasse.
Os dedos dela se fecharam contra os seus fios e o gemido que ela soltou assim
como a tensão de seus músculos avisavam para ele que seu trabalho não se
prolongaria mais por muito tempo. Estava conhecendo bem o corpo dela e
como ela funcionava. Sabia o que a deixava louca e quando fez com que seus
movimentos regredissem para algo mais lento ele escutou seu nome soar rouco
em protesto pela sala enquanto sentia os dedos dela o fazerem pagar por
aquilo puxando seus fios. As costas dela arquearam contra o móvel e seus
dedos pressionaram a madeira do topo. Ele se deliciou com cada líquido que
vinha do sexo dela. Ela era dele e ela estava muito molhada. Molhada para ele.
Os quadris dela pediam urgente por algo mais forte e ele não a entregou, foi
aos poucos e da forma como ele sabia que o corpo dela respondia melhor, com
movimentos lentos e dotados de pressão, que ele se sentiu ficar ainda mais
duro ao receber o orgasmo dela. Não havia como não ficar satisfeito ao ter
consciência de que conhecia o corpo dela e sabia trabalhar para que aquele
momento durasse para ela e ela sempre pedia por ele. Draco gostava de como
ela sempre sabia o que queria, como queria e o que a daria prazer. Ela também
se conhecia.
Fez todo o caminho de volta até encontrar seu rosto lindo, sua expressão
mortificada, sua cor rubra na pele branca, seus olhos dourados exalando
gratificação e satisfação. Ele adorava vê-la assim porque sabia o quanto ela se
odiava por ter que responder a ele daquela forma.
- Gosta do meu sabor, não gosta? – ela disse. Sempre tentava contornar
sua culpa por saber que se rendia a ele.
Ele abriu um sorriso e escorregou seu dedo na fenda entre as pernas dela.
Hermione fechou os olhos e separou os lábios em resposta ao toque dele. Draco
queria fazer com que ela lembrasse que se deixava ser vulnerável e que ele a
dominava com facilidade, mas senti-la tão profundamente molhada e quente o
fez esquecer isso muito rapidamente.
- Quero estar dentro de você. – deixou que um dedo seu escorregasse para
dentro dela. – Agora.
Hermione abriu os olhos e o desejo estava ali explicito novamente. A mão dela
sondou seu pau duro contido pela calça e o olhar dela foi duvidoso.
- Desse jeito? – implicou ela querendo alegar que ele não estava duro o
suficiente para ela.
- Eu disse que quero estar dentro de você agora, Hermione, o que não te
deixa tempo para me chupar! – embora fosse delicioso quando ela o chupava,
ali ele sentia falta de ter as paredes apertadas dela envolvendo toda a extensão
de seu membro e também, não queria se ver mais uma vez adorando a
ingenuidade de Hermione chupando seu pau e tendo que se controlar
loucamente para não gozar antes da hora. Ele já havia mostrado quem estava
no domínio ali.
Hermione começou a desatar o cinto de sua calça com rapidez e ele ainda podia
ver por aqueles olhos dourados que ela estava disposta a fazer com que ele
fosse o vulnerável dessa vez, mas não dava muita atenção para isso quando a
boca dela chamava atenção para a respiração que lhe estava difícil com o dedo
dele dentro dela. Tomou a boca dela novamente contra a sua e sempre se
surpreendia como aquilo era capaz de acendê-los ainda mais.
Ela começou a fazer com que eles se movessem. Draco percebeu que ela
apenas procurava por coloca-lo em uma posição favorável e foi apenas tomar
consciência da atitude esperta dela e querer detê-la que eles começaram a agir
como se estivessem em uma guerra indireta. Ele não conseguia esperar para
estar dentro dela e seu desejo crescia junto com sua impaciência. Foi quando
simplesmente a pegou novamente e tornou a colocá-la na mesa. Aquilo a irritou
profundamente e ela, dali, tão rápida quanto foi colocada o empurrou. Ele a
puxou não deixando que sua bocas ficassem muito tempo longe uma da outra e
eles cambalearam batendo contra uma frágil estante solta que derrubou algum
de seus livros. Aquilo foi a gota d’água. Ele usou de sua força para domá-la e
colocou-a contra a parede prendendo os braços dela acima da cabeça.
- Eu disse que quero estar dentro de você! – ele disse pausadamente para
ter certeza de que aquele cérebro estava mesmo entendendo – Preciso estar
dentro de você, Hermione!
E foi sem pressa que ele começou a abrir caminho por dentro dela. Hermione
mordeu os lábios para reprimir qualquer som vindo de sua garganta. Ele puxou
a outra perna dela para cima. Foi mais um pouco fundo e todos os pelos de seu
corpo levantaram. Quente e apertada. Ela havia sido feita para ele.
Empurrou mais e fundo e ela choramingou de prazer. Ele sabia que era grande
dentro dela. Recolheu apenas um pouco e empurrou mais até estar
completamente dentro dela. Hermione cercou os braços ao redor de seu
pescoço e colocou o rosto no dele. Draco pressionou seus quadris no dela e isso
a fez gemer, soltar os lábios e ofegar.
- Gosta quando estou dentro de você, não gosta? – foi fundo nela e agarrou
um de seus seios.
- Sim. – ela respondeu cega com a voz fraca e entre seus gemidos e
arfadas.
- Repita isso para mim, Hermione! – ele pediu ao perceber que a confissão
dela o excitava muito.
- Sim, eu gosto. – ela repetiu olhando-o como se implorasse por alívio. Ele
estocou fundo. Foi e voltou sentindo que logo seu membro gritaria dentro dela.
Hermione pendeu a cabeça soltando seus gemidos deliciosos e prazerosos de se
ouvir. Ele lambeu a garganta dela e enfiou sua mão dentro dos cabelos
castanhos e molhados de suor na raiz. Era assim que ele gostava de vê-la.
Sentiu as unhas dela cravarem em seus traseiro, os quadris dela se ergueram
contra os dele. – Não pare. – ela suplicou quase chorosa. Ele não parou. Sabia
o ponto que deveria parar. Investiu contra ela e na posição que tocava as
partes mais sensíveis de seu corpo. Ela estava louca, delirando, sua respiração
estava completamente fora de ordem. – Eu preciso... – ela sussurrou débil,
gemeu e se contorceu – Preciso gozar, Draco! – Céus, ela era mais sexy do que
qualquer mulher que ele já havia levado para cama.
Colocou suas mãos uma de cala lado dela sobre a mesa e pendeu seu corpo
cansado e ofegante. O silêncio era preenchido apenas pelo som de suas
respirações.
- Merlim, porque paramos de fazer isso? – a voz dela soou fraca e como se
estivesse fazendo aquela pergunta apenas para ela.
- Foi você quem esteve a semana toda ocupada. – ele se livrou da culpa.
Nunca havia imaginado que pudesse sentir falta do sexo que fazia com alguém.
Poderia ter procurado qualquer outra mulher, mas sabia que se sentiria
satisfeito apenas se fosse com suamulher. Deu-se tempo o suficiente para
recuperar o fôlego e a chamou. – Hermione. – ela o olhou abaixo dele. –
Limpe-se, precisamos ir a casa dos meus pais.
- Agora?
- Não acha que está muito tarde? – o som doce da voz dela preencheu o
espaço.
Foi para o quarto e quando chegou as duchas a encontrou lá. Não foi nenhuma
surpresa para ele quando teve vontade de tomá-la novamente. Ela era sua,
afinal. E sempre achava impressionante o fato de que ela conseguia o seduzir
sem ter a menor intenção, sem ter a menor consciência. Permitiu que seus
programas se atrasassem apenas alguns minutos para estar ali com elas nas
duchas e no tempo de uma hora eles conseguiram descer, entrar na carruagem
e seguirem para a casa de seus pais.
Não era longe chegar até lá, nas ruas tortuosas e nos bosques de estrada de
pedra da Vila dos Comensais nunca havia muito movimento, especialmente em
uma hora como aquela. Logo ao chegarem a porta da gigantesca mansão foram
recebidos por ninguém menos que seu pai que logo tratou de expor seus
receios pelo horário e pela urgência do recado. Draco o tranquilizou da melhor
forma possível sem adiantar nenhum detalhe enquanto seguiam para a sala
privada do térreo da mansão.
Sua mãe já se encontrava sentada elegantemente num dos divãs usando seu
enorme hobby de cetim verde musgo e seu rosto sem maquiagem lembrava a
Draco os beijos de boa noite que recebia em sua infância. Lúcio passou uma
das pernas sobre uma mesa próxima sentando-se. Draco enfiou a mão nos
bolsos e encostou-se no móvel mais perto, pediu que Hermione começasse
tudo que deveria dizer e assim ela fez.
Dedicou a iniciar tudo com as suas visitas periódicas a sala privada da Sessão
da Cidade e sua curiosidade pela área de casos solucionados e confidenciais.
Interessou-se pelo caro dos Mori devido a falta dos papéis de encerramento
vindas das casas de justiça. Foi só então que ela começou a ligar os pontos.
Seu pai obviamente tentou argumentar contra quando as diretas acusações
contra ele apareceram, mas ela tinha todas as respostas na mão. Lúcio deu-se
por vencido e então assumiu uma expressão preocupada assim como a que
Draco muito provavelmente havia assumido quando ela contou a ele tudo
aquilo.
Ela findou belamente. Havia feito uma bela venda de sua solução e ficou claro
que fora bem sucedida quando Lúcio tomou a frente e a apoiou, sua mãe até
tentou argumentar contra algumas falhas que não haviam sido pontuadas, mas
Hermione tinha muito bem suas respostas. Draco também interveio e querendo
ou não teve que apoiar a idéia. Seria a melhor a ser tomada no momento já
que ninguém tinha nenhuma outra.
- Ela não precisa estar necessariamente do nosso lado. Ela precisa apenas
ter uma motivação como agora. – disse Lúcio - Descubra o porque ela quer sua
secretária longe.
- Não é necessário que diga o que devo fazer quando sabe que eu já tenho
conhecimento disso. – Draco foi rude, virou de uma vez o copo e o devolveu a
bandeja de prata. – Espero que não me venha reclamar depois que tentei
resolver seus problemas sozinho mais uma vez. Sinto muito se te fiz ter que
passar a noite em casa por isso.
Draco afastou-se com desgosto, deu meia volta e o deixou, mas quem sabe
Lúcio tivesse razão. Não sabia se deveria esperar que não e magicamente
nunca se cansar de Hermione ou se deveria esperar que sim e passar a dar
razão ao seu pai e a todas as justificativas que ele tinha para explicar a família
destruída na qual vivia.
Capítulo 15
Pansy Parkinson
Jogou a bolsa sobre sua cama assim que entrou no conforto de sua torre. A
revista pulou para fora dela sobre sua colcha como se não pudesse lhe dar um
segundo de descanso e foi ao chão bem diante de seus pés. Ela leu pela
milésima vez naquele dia as letras em destaque da capa.
Pansy abaixou-se e a pegou. O ódio dentro de si era tão profundo que ao invés
de fazer com que ela gritasse, queimasse aquilo ou quebrasse algo, ela apenas
se mantinha em um estado profundo de desgosto o frieza. Carregou aquilo em
suas mãos e a lançou sobre sua mesa ao lado da lareira.
“Cinco fatos que você não sabia sobre a nova Sra. Malfoy.”
E lá estava ela. A figura de Hermione Granger Malfoy vestida como uma rainha
poderosa de pé sobre um cenário renascentista exuberante e rico bem ao lado
de uma alta cadeira real estofada perfeitamente branca. Sua mão repousava
discretamente sobre um dos braços dela e lá também estava o anel da família
gritando em seu dedo. Seu olhar profundo, a forma como seus cabelos se
moviam com o vento, sua expressão séria e o queixo na postura devida
mostrava que ela era sim uma Malfoy. Pansy havia treinado aquela mesma
pose por anos.
O ódio fez com que ela se sentasse calmamente em toda a sua classe. Seu
dedo passou as páginas insignificantes até ela novamente. Leu tudo. Cada
pequena preposição, cada minúsculo artigo, cada maldita palavra. E entrevista
era ridícula e girava em torno do trabalho que vinha fazendo dentro da Catedral
e o convívio com Draco, o que ela deixou debaixo de mistério falando que ele
era uma pessoa quieta e reservada. Pansy se irritava com tudo aquilo. O que
havia de especial naquela Sangue-Ruim? Será que ninguém percebia a
hipocrisia que se havia entorno da adoração que todos tinham pela figura
imaculada da de repente-influente Hermione Malfoy? E aquelas imagens?
Quando o interesse da mídia se fechou em torno da Sangue-Ruim Pansy ria por
dentro sabendo que a pobreza de Hermione nunca deixaria que ela tivesse tipo
para editorial e sessões fotográficas. Mas que mágica eles haviam feito para
fazer com que ela estivesse tão perfeita quanto exatamente era? Parecia que
ela não estava nem mesmo fazendo esforço nenhum! Fechou a revista com
nojo. Aquela mulher tinha o seu homem todos os dias e ela já havia se cansado
de dar o tempo que Draco havia imposto para que se adequasse a nova
companhia que estava tendo.
Olhou no relógio e sorriu. Era a hora perfeita. A hora que Hermione subia para
a torre dele todos os dias. Sabia porque monitorava Draco com uma frequência
até mesmo doentia. Levantou-se com pressa e cruzou a Catedral até chegar a
sala de Draco. A secretária nojenta havia sido demitida repentinamente há
quase dois meses atrás e desde então todas as piranhas de Brampton Fort
havia se candidatado para o cargo, mas Draco parecia querer alguém de
confiança, portanto o caminho para a sala dele ainda estava completamente
livre de qualquer intruso.
Bateu na porta apenas uma vez e a abriu sem se importar se ele queria receber
alguém ou não. Ele ergueu os olhos de sua mesa e dos papéis que pareciam o
ocupar no mesmo instante. Suas sobrancelhas se ergueram surpresa ao vê-la e
não pareceram muito contentes pois logo se unirão.
- Pensei que fosse Hermione. – disse e voltou para seus papéis.
Pansy não soube o que pensar por um momento. Seria mesmo possível que
alguns meses de convivência e sexo frequente poderiam mudar a mente de
Draco com relação a aquela Sangue-Ruim.
- Então porque se faz de satisfeito com sua adorável esposa? Ela já deixou
de ser novidade para você faz muito tempo! É quase final de primavera e vocês
se casaram no outono do ano passado!
Ele fez um movimento rápido com as sobrancelhas como se estivesse surpreso
por saber que já havia se passado todo aquele tempo.
- Tem sido bom e diferente, Pansy. Tem sido o suficiente por agora, não
significa que será suficiente para sempre e não significa que eu nunca mais vou
tocar você se é o que quer saber.
Ele suspirou.
- Ah, Deus! – cobriu o rosto com as mãos cansado – Pansy, não teste a
minha paciência, sabe onde isso pode dar.
- E a sua paciência é sempre a única que importa, não é? Por que me
colocar de molho enquanto aproveita sua lua-de-mel eterna com a Sangue-
Ruim não foi testar nem um pouco da minha não, não é? – ele revirou os olhos
e ela se irritou – Me conhece e sabe que eu não iria te incomodar se fosse
qualquer outra mulher. Igual quando esteve com Astoria. Mas estamos falando
de Hermione Jane Granger! Esta preferindo ela do que qualquer outra mulher.
Será que tem idéia do quanto isso soa errado e perfeitamente desprezível?!
- Eu sei quem você é, Draco Malfoy. – ela estreitou os olhos. – Você está a
preferindo sim porque Draco Malfoy nunca se deixaria ser sexualmente
satisfeito pela mesma mulher por tanto tempo seguido. – ela se aproximou e
passou os braços ao redor do pescoço dele. – Esse lugar é meu! – sussurrou
ficando a centímetros do rosto dele – Sou a única mulher do qual nunca se
cansou. – segurou o rosto dele e olhou fundo em seus olhos poderosos – Ela já
tomou meu lugar ao seu lado, não deixe que ela também me tome esse. - O
olhar dele mudou e ela soube que era daquele olhar que ela precisava, era
ainda o olhar duro que ele sempre tinha, mas era o olhar que ela sabia
persuadir. Ele sabia que naquele momento ele se lembrava de que haviam
crescido juntos, que haviam compartilhado de muitas coisas juntos, que de
alguma forma se pertenciam. - Sabe que eu preciso de um espaço em sua
vida, Draco. Tem me fechado por culpa de Hermione. Deveria se julgar pela
troca que está fazendo. Não creio que possa estar agindo de forma consciente
quando volta para casa ao invés de subir até minha torre. – fechou a boca
rapidamente sobre os lábios dele e recuou alguns poucos centímetros – Não
precisa estar com ela todos os dias.
- Gosto do sexo que tenho com ela. – a sinceridade dele sempre a
machucava, ele sempre se preocupava em não alimentar nada dentro dela e ela
havia se acostumado com aquilo.
Ele a aceitou e deu um passo para colar seu corpo no dela. Pansy sentiu sua
vitória e desfrutou do único homem que ela amava na vida a tocando e a
beijando. Aquele era o único momento que ela sentia que poderia se desligar
de qualquer outra coisa. Ela o tinha e adorava a forma como ele sabia se
apropriar do corpo dela. Eles tinham uma história juntos, uma história longa, e
ele a conhecia como nenhum outro jamais conheceria, ele sabia como ela
funcionava por inteiro e ele sabia como trabalhar com ela. Confiava nele.
Draco a colocou sobre a mesa e foi somente quando ele abaixou o zíper de sua
roupa e descobriu seus ombros que ela soube que ele estava disposto a provar
que ela nunca sairia da vida dele, que ele sempre estaria lá para tocá-la quando
quisesse, mas os passos do lado de fora da sala, algumas batidas na porta e a
entrada de Hermione fez com que ele se desgrudasse.
Pansy se virou para receber o olhar que gostaria. Ela pareceu primeiramente
confusa pelo que via, mas rapidamente sua expressão se tornou serena e
inexpressiva enquanto seus olhos pulavam de Draco para Pansy com muita
calma. Ela deu um passo a frente sem medo.
- Deveria trancar a porta. – a voz dela soou rígida pela sala em direção a
Draco.
- Seja rápida Sangue-Ruim, não vê que está nos tomando tempo? – Pansy
deliciou-se ao dizer aquilo enquanto colocava as alças de sua roupa no lugar.
O olhar de Hermione foi frio quando piscou com calma e direcionou-se para ela.
Aqueles olhos dourados ficaram sobre ela alguns segundos como se estivesse
pensando se valia a pena retrucar aquilo ou não. A conclusão pareceu ter feito
com que ela resolvesse ignorar, pois tornou a piscar e voltar seus olhos para
cima de Draco. Havia desgosto e desprezo agora.
- Estou voltando para casa. – ela anunciou – Vai estar lá para o jantar?
- Não. – foi o que ele respondeu. – Tem algo importante para mim?
Ela ficou em silêncio. Seu olhar continuou firme e por alguma razão ele se
tornou um pouco significativo demais. Um envelope que ela carregava nas
mãos fez um barulho discreto quando a palma de sua mão se fechou contra ele
de forma nada gentil.
- Não. – ela arrastou-se para responder. Respirou fundo e recuou um
passo. – Não tenho a intenção de atrapalhar a diversão de vocês. – forçou um
sorriso de desprezo. – Devo trancar a porta?
Hermione se calou e Pansy recebeu um olhar muito seco vindo dela. Pansy fez
questão de abrir um sorrisinho vitorioso e ela nada respondeu com o olhar,
continuou firme e muito calmo. Ela tornou olhar para Draco.
- Vejo você em casa. – disse para ele e saiu e então Pansy soube que
aquela era a resposta ao seu sorriso vitorioso porque não importava que fosse
importante para Draco e que tivessem uma história juntos, era ela quem o teria
para o resto da vida compartilhando da mesma cama, do mesmo lar, da mesma
família.
Pansy olhou para Draco sentindo o incomodo de saber que sempre seria um
objeto pairando entre os Malfoy. Era uma escolha que ela havia feito em não
sair daquela zona porque mesmo que sua razão a dissesse que estava agindo
de maneira estúpida, seu coração não deixava que ela abandonasse todos os
sentimentos que a ligava a Draco.
- Saia. – ele foi frio ao ordenar aquilo e ela soube que ele havia entendido a
intenção da visita dela.
- Pansy, eu fui muito objetivo. – ele a encarou com aquele olhar mortal
enquanto tornava a se sentar – Saia! – repetiu com muito gosto.
Ela saiu de cima da mesa se irritando também. Ele não deveria ficar irritado,
pelo contrário, onde estava o espírito que sempre havia existido nele em querer
humilhar Hermione? Ele deveria estar se sentindo bem por deixar claro para ela
que ele jamais seria um marido fiel.
- Por que está irritado? Não vamos continuar aquilo que começamos? –
soltou ela com indignação.
- Não. – ele foi objetivo e voltou a se concentrar naquilo que havia deixado
de lado quando se levantou.
- Pansy! – a voz dele foi um tom mais alto, curto, seco e temível em o grau
que a fez recuar. O aviso foi claro: “basta!”. E ela parou, sabia que não deveria
avançar aquele ponto. – S-a-i-a!
Ela saiu.
Draco Malfoy
Ele se viu parado de frente a porta principal de sua própria casa. O vento úmido
da noite alertava o início, ainda não tão próximo, do verão. Pansy apontara
para ele o tempo que se havia passado desde seu casamento e ele mal
conseguia acreditar que já estava com Hermione em sua casa há tanto tempo.
Logo faria um ano e para ele sequer parecia ter se passado um mês, ainda se
lembrava da noite de seu casamento como se não tivesse sido há muito tempo.
Entrou e o silêncio usual o recebeu. O vazio de sua casa o acolhia com frieza e
ele já estava acostumado. Olhou no relógio em seu bolso para checar se estava
sendo pontual e dirigiu-se para a sala de jantar.
Lá estava Hermione vindo de uma das entradas que dava para a cozinha em
seus trajes elegantes e ao mesmo tempo discretos. Ela parou ao lado de sua
cadeira com o olhar firme em direção a ele. Detrás daquele olhar havia a
sombra do que ela vira há algumas horas atrás em sua sala.
Draco preferia ignorar qualquer reação que ela queria ter diante daquilo. Ela
não tinha direito. Sempre soubera que ele jamais seria um marido fiel, e da
parte dela também não era necessário que houvesse qualquer resposta, afinal,
ela o odiava. Mas enquanto caminhava para tomar seu assento ele se sentia na
pele de seu pai, encarando sua mãe. Quantas vezes sua mãe não deveria ter se
sentado a mesa com seu pai sabendo das mulheres com o qual ele havia
passado suas horas do dia.
Puxou sua cadeira e sentou-se sentindo o gosto de todas aquelas sensações
amargar em sua garganta. Hermione se sentou logo em seguida. O silêncio era
o de sempre, mas dessa vez era extremamente incomodo. Ordenou que Tryn
servisse a entrada e assim foi feito.
Hermione deu duas garfadas e parou. Ela vinha repetindo aquela forma de
comer faziam alguns dias e o café da manhã era a refeição que definitivamente
ela parecia ter abolido. Ele não se importava com o fato dela não ter fome, mas
aquilo soou para ele como um pretexto para quebrar aquele silêncio
insuportável.
- Tinha algo para me entregar quando foi a minha sala. – acabou por dizer
aquilo quando abriu a boca.
- Era apenas uma envelope que eu segurava. – ela sobrepôs. Pausou e foi
naquele único segundo de pausa que ele percebeu que o cérebro dela trabalhou
rapidamente – Papéis sobre a gerência das casas de justiça. Estamos nos
processos finais. Tinha que trazer para casa. – foi tudo que ela disse.
Ele a olhou enquanto engolia sua comida e tomou um breve gole de seu vinho.
- Sei que era para mim. – disse e esperou por uma resposta dela, mas não
houve nenhuma. O olhar que ela tinha sobre ele era cheio de julgamentos. –
Tudo bem. – respondeu de forma calma ao modo agressivo com o qual ela o
olhava e tornou a focar-se em sua comida. – Não é necessário que o passe a
mim se julgar que não deve. – encheu a boca de comida e a viu brincar com a
dela no prato. – Quando será seu discurso? – perguntou assim que esvaziou a
boca.
- Por que quer conversar, Draco? – ela foi agressiva novamente pelo tom
cansado e sem paciência que ela usou. A verdade era que o irritava saber que
ela estava irritada. Ela não deveria estar!
- Não quero conversar, quero saber quando será o seu discurso. – ele sabia
que continuar fazendo com que ela falasse a irritaria mais ainda. E o fato dele
estar irritado com ela fazia com que ele quisesse vê-la ainda mais irritada.
- Pensei que não fosse do seu agrado que levantássemos diálogos na hora
do jantar...
- Não, Draco. – ela se levantou – Eu não estou do seu lado. Nós não somos
um time. Eu não quero que trabalhe no meu discurso para promover seus
interesses. Interesses que eu não tenho conhecimento nenhum.
- É uma tola por acreditar que pode vencer algo aqui dentro sozinha. Deve
escolher bem seus aliados e não sei se percebeu mas o sobrenome que tem te
dá uma excelente dica sobre o lado que deveria escolher. Pode continuar
querendo seguir a hierarquia do departamento em que trabalha, mas vou te
dizer algo, Hermione. Jodie trabalha para Theodoro e acredite ou não, ela faz o
que ele manda. Por mais que ela tenha dito que terá autonomia no seu
discurso, se ele pedir para mudá-lo, você terá que mudar e não sei se percebeu
mas Theodoro não tem sido um bom colaborador para o nosso lado nesses
últimos tempos.
Ele riu.
- Uma família como a que perdeu? – não soube exatamente o porque
deixou que sua provocação chegasse até aquele nível, mas o fogo de ódio que
brilhou nos olhos dela não o deixou se surpreender quando seu prato de comida
foi atirado contra ele num ato de pura violência. A comida sujou sua roupa cara
e ele não se importou. Era o mínimo que ela poderia ter feito diante de uma
ofensa como aquela. Ele passou os olhos pela sujeira que ela havia feito e
depois a olhou novamente. Algum palavrão muito pesado parecia estar
querendo sair da boca dela, mas todo aquele ódio pareceu descer amargo
porque de repente os olhos dela brilharam se enchendo de água e então ela se
retirou antes que ele pudesse ver qualquer cena que não quisesse.
Suspirou. Procurou por sua varinha enquanto gritava por Tryn. Limpou-se e
pediu para que elfa fizesse o mesmo com o restante da sala de jantar.
Levantou e subiu para seu escritório batendo a porta com mais força do que
deveria quando finalmente chegou no lugar.
Se ela se achava no direito de ter raiva apenas por ter o visto com Pansy, ele
faria com que ela tivesse ainda mais raiva até que finalmente ela resolvesse
abrir a boca e soltar tudo aquilo que queria dizer a ele. Até porque tudo que ele
queria era entender o que a fazia ter raiva.
Draco se aproximou sem medo. Colou seu corpo contra o dela e segurou a
bancada passando os braços um de cada lado fazendo com que Hermione não
tivesse rota de escape. Ela soltou o ar cansada. Eles se encararam pelo
espelho. O silêncio soou desafiador entre eles. Era óbvio que ela o queria a
milhões me metros de distância, mas ela aparentava estar tão cansada e com
tanto ódio que um parecia ter o poder de anular a força do outro, portanto ela
apenas permaneceu ali.
- Tem direito de ter raiva pelas coisas que eu disse durante o jantar. –
começou ele.
- Isso é o um pedido de desculpas? – o olhar dela continuava carregado de
repreensão.
- Me deixe ir. – exigiu ela friamente quando viu que não tinha rota de
escape.
- Não antes de explicar o porque se acha no direito de ficar com raiva por
ter me visto com Pansy.
O olhar dela subiu para ele pelo espelho surpreso dessa vez. Ela parecia não
acreditar que ele estava querendo mesmo tocar naquele assunto. Tomou
alguns segundos para processar e aceitou entrar naquele assunto com
coragem.
- Não sou burra, Draco! – ela o cortou – Sei bem sobre a nossa relação,
mas o fato de estarmos juntos por um contrato não me faz ser menos humana.
- Não um envolvimento que justifique o fato de ficar com raiva por ter me
visto com...
- Sou sua esposa! – ela o cortou subindo o tom de sua voz. Ele pode sentir
a fúria emanar dela e resolveu se afastar. Ela voltou-se para ele e aqueles
olhos dourados agora se dirigiram a ele diretamente. – Você me deve
respeito...
- Sim, deve! – o tom dela era profundamente severo – Temos nos odiado
por muito tempo, Draco e não é porque moramos debaixo do mesmo teto que
isso vai mudar! Mas não pense que tem o direito de me tocar com essas mãos
e me fazer ver essas mesmas tocando outro corpo. Entenda bem que não estou
pedindo por sua fidelidade, até porque sei que não seria fiel nem se quisesse,
estou pedindo que não me deixe ver você com as mulheres que leva para
cama. Sei que sou mais um dos seus objetos sexuais, não é necessário que me
dê provas! – ela deu as costas e tomou o rumo da saída.
- É isso que considera respeito? Que eu leve mulheres para a cama pelas
suas costas?
Ela deu as costas novamente e dessa vez ele a deixou ir. Sim, ele estava no
lugar de seu pai agora e isso as vezes o deixava sem saída. Afinal, era isso que
seu pai queria quando o fez se casar com Hermione. Soltou o ar sentindo-se
revoltado por saber que ela tinha um ponto a defender quando soltou tudo
aquilo e ele deveria considerar cada palavra daquela.
Se havia aprendido algo com Hermione era que quanto mais ele atacasse, mais
ela teria para contraatacar e o que ele não queria era incentivar a falta de
respeito na pobre e fraca relação que tinham conseguido equilibrar, senão
viveriam um inferno pior a cada dia e ele havia descoberto que viver um inferno
todo dia com Hermione era extremamente cansativo.
Soltou o ar cansado e foi tomar seu banho. Demorou mais tempo do que o que
havia previsto, mas sentiu que havia renovado um pouco das forças e
organizado um pouco a sua mente. As palavras de Hermione continuavam
sendo remoídas em sua cabeça e foi assim que ele voltou para o quarto.
Encontrou Hermione debaixo de uma luz fraca no sofá próximo a lareira. Ela lia
um livro grande e pesado e levantou os olhos para ele assim que o viu voltando
para o quarto. Ele parou. Encararam-se por alguns segundos. Ela ainda não
tinha nenhum olhar amigável.
Foi até ela e estendeu a taça. Ela a pegou e ele rumou para o sofá oposto onde
se estirou da maneira mais confortável possível. O silêncio entre ele pairou
enquanto Hermione tinha sua taça nas mãos e mantinha os olhos nele como se
estivesse esperando por aquilo que ele fosse fazer em seguida com muita
curiosidade.
Ela revirou os olhos como se ele tivesse matado alguma expectativa dela.
- Não somos mais tão animais quanto éramos antes. – foi o que ela
comentou.
- Não importa. Sabe que estaríamos. – disse e tomou do vinho.
Ela soltou o ar não muito contente por saber a verdade que ele falava e levou
sua taça a boca. Mas foi exatamente quando ela estava a entornando que
parou a meio caminho. Afastou a taça e olhou com um olhar diferente para o
líquido em seu copo. Draco a examinou enquanto ela ficava ali entretida com o
funcionamento engenhoso de seu cérebro.
- Sei disso. – ela usou uma voz muito baixa para responder.
- Não a quero. – foi o que saiu de sua boca. A aliança que tinha em seu
dedo fez um ruído contra o vidro e Hermione colocou sua taça na pequena
mesa que havia ao lado.
Ele não discutiu. Desviou o olhar para a lareira apagada logo ao lado. Deixou
que seus pensamentos fluíssem e se perguntou se não seria interessante que
ele e Hermione fizessem aquilo com mais frequência. Embora não dissessem
nada, ele sentia que havia uma quebra da tensão com a qual eles dois lhe
davam sempre que estavam juntos. Afinal, Hermione estava certa quando
diziam que eles tinham sim um envolvimento. Eram envolvidos um com o outro
desde que se conheceram. Primeiro aquela relação de gato e rato em Hogwarts,
depois um contra o outro em uma guerra mundial, agora marido e mulher. Ele
sentia que aquele silêncio carregava o cansaço da longa histório que já haviam
tido.
- Eu nunca quis ser como o meu pai. – se permitiu dizer depois de alguns
longos minutos em silêncio e soube que aquilo seria suficiente para alertá-la.
Ele não queria ter aquele tipo de conversa, mas sabia que em algum ponto de
sua longa vida com Hermione aquilo deveria ser posto as claras. – Eu
costumava pensar que ele um dia seria o herói da humaninade, que ele salvaria
o mundo e ensinaria a todos sobre os preconceitos que ele havia me ensinado,
que o mundo o exaltaria e que então eu seguiria seu legado. – tomou um gole
de seu vinho. – Mas então Lorde Voldemort reapareceu, eu vi que minha família
não era a fachada que aparecia nas revistas e finalmente consegui ver que meu
pai não passava de um cafajeste influente. Mas isso é o que menos me faz
odiá-lo. O que mais me irrita além do descaso que ele tem por minha mãe é a
forma como ele tenta justificar quem ele é me colocando na mesma situação
que ele. Dentro de uma casa, com uma aliança na mão, tento o poder que eu
tenho e ao lado de uma mulher que me obrigaram a chamar de esposa. –
soltou o ar com calma – Não queria que tivesse visto o que viu hoje, fez com
que eu me sentisse como ele.
Tornou a encará-la e viu seu olhar repreensivo suaviar aos poucos. Ela abaixou
os olhos para o livro em suas pernas e passou os dedos pela folha
distraidamente.
- É bom saber que afetou os dois lados. – sua voz soou calma dessa vez.
Ela passou a página e ergueu os olhos dourados para ele – Foi bom ter sido
honesto. Nos poupou de uma semana muito desconfortável em casa.
Ele sabia que ela ficaria com aquele olhar rancoroso por bem mais de uma
semana. Conhecia pouco sobre Hermione, mas sabia que ela não se sentia bem
sabendo que estava agindo como animal indo para cama com ele apenas por
prazer. Havia sido uma longa jornada até fazer com que ela se sentisse
realmente confortável fazendo isso, não queria tocar naquela ferida enquanto
não tivesse certeza de que havia sido cicatrizada.
O silêncio entre eles durou. Draco deixou que rolasse e ela também. Era a
primeira vez que se encontravam naquela situação, a primeira vez que
partilhavam de um ambiente onde não estivessem de passagem, tratando de
algo importante por obrigação, fazendo sexo, comendo ou dormindo. Aquilo
parecia confortável e íntimo para o que significavam um para o outro.
- O que não vai acontecer. – mas ele bem sabia que ela havia encontrado
uma maneira de revirar seus arquivos se aproveitando da fragilidade em seu
escritório agora que ele estava sem secretária.
- Temos que acordar meia hora mais cedo. – ele lembrou-se de avisá-la. –
Adiantei a reunião com o Conselho, assim não se atrasará para suas visitas a
Academia nessas semanas finais.
Ela parou e virou-se para ele com uma expressão de surpresa contida. Assentiu
com a cabeça e disse:
Assentiu de volta em sinal de que havia entendido e desviou o olhar. Soube que
ela tomou o rumo da cama e ele se reacomodou no sofá. Bebeu mais um gole
de seu vinho e deixou o sabor lhe dizer tudo sobre aquela safra. Engoliu e seus
olhos caíram sobre a taça cheia de Hermione do outro lado na mesinha ao lado
da onde estava a minutos atrás. Sua cabeça vagou inconsciente por milhões de
pensamentos e foi somente depois de alguns minutos que percebeu que estava
conseguindo ligar um ponto ao outro. Ela quase não comia e quando comia,
comia muito. Também dormia mais do que o usual, não estava bebendo álcool,
se sentia cansada com frequência. Draco não sabia muito bem mas... Seus
olhos pularam para a figura de Hermione despindo-se de seus hobby. Sabia que
deveria perguntar, mas não sabia se estava pronto para receber uma resposta
que não gostaria de ouvir. Tornou a encarar o vinho deixado por Hermione. Não
sabia o que pensar direito, mas se algo estava ficando claro ali era que ela
muito provavelmente estava grávida e ele não tinha a menor idéia de como
reagir a isso.
Uma noite nunca fora tão longa. Havia demorado para sair do conforto de perto
da lareira para a cama, e ao deitar ele não havia conseguido engatar em
nenhum sono muito profundo. Além de ter demorado para conseguir pregar os
olhos, seus sonos superficiais o traziam para a realidade com frequência. Teve
tempo para pensar mais do que para dormir e quando deu a hora para eles,
Draco já havia colocado sua cabeça em ordem.
Ele se esticou do seu lado e colocou os braços para trás como apoio para sua
cabeça. Hermione virou os olhos para ele e ele a olhou de volta. Se encararam
no escuro da manhã em silêncio por um bom tempo até que ele abrisse a boca:
- Problemas?
- É a segunda vez essa semana que eu digo. – ela disse e com aquilo ele
pode concluir que ela não estava se sentindo bem todos os dias.
Hermione suspirou.
- Deveria contar a ele. – disse analisando pelo espelho que lado do rosto
seria melhor para começar.
Ela ainda continou ali. Chocada. Esperou que o lado ferido dela começasse a
exclamar que ele não tinha coração, não era ser humano, não se importava
com a humanidade das outras pessoas, mas o que recebeu em resposta foi a
raiva dela vestida com as roupas Malfoy que havia adiquirido depois que ela
tomou todos os segundos que precisava para acreditar em tudo que ele havia
dito.
Hermione Malfoy
Bateu na porta e esperou, quem abriu foi Luna e assim que a loira a viu, abriu
um sorriso e deixou que ela passasse para o lado de
dentro. Whitehall continuava exatamente como ela se lembrava, a única
diferença era que Luna havia feito do lugar uma zona bastante habitável. Os
dois caldeirões próximos a fachada de vidro ficavam sempre a fogo baixo, as
janelas sempre abertas para o pátio leste e papéis e livros espalhados por cima
da mesa eram reflexo do intenso trabalho que Hermione lhe passava.
- Que bom que veio, tenho cinzas pela lareira inteira e não sei como limpar
isso sem uma varinha. – sorriu Luna fechando a porta as suas costas –
Ninguém colocou uma elfa a minha disposição como fizeram com você. –
brincou a loira. – Tento manter tudo em bom estado, mas fica difícil quando
não se pode usar magia. Meu pai sempre me tirava a varinha alguns finais de
semana para mostrar o quanto eu havia me tornado dependente dela. Ele
sempre tinha razão. – Hermione agitou sua varinha contra a lareira e em um
instante tudo estava limpo. Virou-se para a loira e elas se encararam em
silêncio até que Luna percebesse que havia algo de errado com o motivo da
visita que recebia. – O que houve?
Luna desfez o sorriso que tinha no rosto com rapidez. Apressou-se na direção
de Hermione e olhou a marca mais de perto.
- Não pode ir até ele. Nott não está te liberando dos seus serviços já faz
quase um mês. Sua posse será semana que vem. Tem muito o que fazer.
- Draco deixará Brampton Fort hoje a noite com a zona sete. Está trancado
com eles no quartel desde ontem. Sabe que isso é quase a religião dele.
Ninguém lhe passaria essa informação e mesmo que lhe passassem, ele pouco
se importaria. Draco pode ser meu marido, Luna, mas isso não faz dele meu
herói. Cada um por si aqui dentro, se esqueceu?
- Precisa manter a calma. – disse a loira – Você não é do tipo que tem
medo, Hermione. Está hesitando em subir ao gabinete dele?
- Ser corjosa não me faz ter menos medo, Luna. – disse Hermione
- Por que não vai até lá e simplesmente o mata? Eles te deram uma
varinha!
- Não sou eu quem devo matá-lo, sabe disso. A profecia pela qual lutamos
na Ordem não diz respeito a nós. – Aproximou-se mais da amiga – Eu vou até
lá, Luna. Me conhece e sabe bem como eu entrarei naquela sala, mas não sei o
que pode acontecer ali e Voldemort pode ser bem imprevisível. Apenas quero
que fique claro que independente do que acontecer, você não deixará de ir a
torre de Draco hoje a noite. Precisa chegar até aquele documento. É a chave
que precisamos para ganharmos a sua passagem para fora daqui. É a nossa
última chance. A nova secretária de Draco começará semana que vem assim
que ele voltar portanto precisa fazer isso funcionar hoje.
Luna assentiu.
Hermione sorriu.
- Ótimo. – o calor em seu braço a alertou mais uma vez – Tenho que ir. –
Luna assentiu – Não se esqueça de ir a torre de Draco. Isso é muito
importante. Não pode falhar, não dessa fez...
Hermione lançou para Luna um olhar muito significativo de que podia dar tudo
errado, e que se desse errado ela não tinha nenhum plano B. Passou pela
amiga e deixou Whitehall. Seguiu seu caminho sentindo a dor em seu braço se
agravar mais a cada passo.
As vezes ela se sentia como Harry carregando aquela marca em seu braço.
Voldemort sempre fazia doer mais nela do que em qualquer outro comensal.
Querendo ou não ela se sentia bem, a fazia se lembrar da posição a qual
realmente pertencia ali dentro embora tivesse muito poder.
Teve que passar por todo o sistema de segurança quando chegou a torre do
gabinete do mestre. Sua varinha fora confiscada e o processo de
reconhecimento a cansou como da primeira vez que esteve ali. Mal se lembrava
direito dela. Parecia ter sido a muito tempo atrás e a realidade de Brampton
Fort ainda não havia lhe caído inteiramente.
Seguiu destino quando foi finalmente liberada e antes de entrar na sala encarou
aquela porta como se estivesse prestes a passar a corda da forca em torno do
pescoço com as próprias mãos. Respirou fundo e resolveu entrar de vez
debaixo da chuva quando passou para o lado de dentro.
Hermione pensou no sobrenome que carregava para manter seus pés firmes no
chão enquanto avançava e parava a uma distância considerável deles com a
melhor pose que um Malfoy poderia ter. O silêncio predominou enquanto o
olhar dos dois caia sobre ela e ela tentava revidar com o máximo de confiança
que lhe cabia.
- Merecia uma maldição por ser tão abusada, Sangue Ruim! – Bellatrix
revidou – Reverencie seu mestre.
- Fez com que eu fosse uma de suas escravas, me obrigou a casar com
Draco Malfoy e conseguiu fazer com que eu o chamasse de mestre. Esse é o
mais longe que conseguirá chegar. Não faço reverências, nunca fiz, nunca
precisei e não será agora.
O sorriso que Voldemort abriu fez com que ela sentisse seu estômago revirar.
- Eu pediria para que se sentasse, mas sei que não gostaria de se fazer
confortável na minha presença então vou permitir faça o que bem...
Ela tinha alguma idéia de que Draco sabia sobre o fato de estar tomando
poções que poderiam a proteger da gravidez, mas por que ele contaria isso a
Voldemort?
- Sangue Ruim...
- Ótimo. – soltou ele – Não quero que isso se torne público. Seguraremos o
máximo que puder. – ele se levantou e Hermione recuou um passo
involuntariamente – Marcarei todas as suas visitas a enfermaria e Bella e eu
estaremos com você em todas elas. Todos os laudos passarão pela minha mão
antes da sua. Quando a criança nascer terá o direito de ficar com ela um ano
porque ela precisará do seu corpo ainda. Depois de um ano eu a marcarei e
você a entregará para Bellatrix. Ela crescerá aos meus cuidados e aos de Bella.
Sei que será impossível fazer com que meu herdeiro não saiba que você foi a
mulher que o gerou portanto ele terá noção da sua existência, mas não passará
disso. Não será a mãe dele e não terá contato algum com ele. Fui claro?
Hermione absorveu tudo aquilo com frieza. Deixou que ele esperasse pela
resposta por um tempo até finalmente dizer:
- Eu poderia matar essa criança se quer saber.
Voldemort riu.
- O que te faz pensar que não? Está dentro de mim. Eu quem tenho
controle sobre o meu corpo.
- Sim.
O sorriso que Voldemort abriu fez seu estômago revirar mais uma vez. Bellatrix
se aproximou e Hermione sentiu que se não se livrasse daquela pressão com
rapidez teria sérios problemas de saúde.
Ele assentiu.
Hermione fez uma careta e deixou a sala. Sair dali foi como ter a corda da forca
retirada de seu pescoço, mas uma pressão em seu peito fazia com que não
tivesse o alívio não fosse completo. Desceu da torre sabendo que deveria voltar
para o departamento de Theodoro, mas parou no meio do caminho quando
percebeu que sua respiração estava rápida e não era de seu cansaço. A pressão
em seu peito encheu seus olhos e ela mal conseguiu ver o degrau a sua frente,
colocou a mão sobre seu estomago como se isso tivesse o efeito de amenizar a
náusea que sentia. Fechou os olhos e percebeu que derramaria-se em lágrimas
se não fosse forte para se recompor e foi com a motivação de que alguém a
encontraria naquele estado que puxou o ar e tentou refazer sua postura sem
derramar uma gota sequer pelos olhos. Foi assim que o ódio lhe subiu e ele
todo estava destinado a uma única pessoa. Ela tinha certeza de que Theodoro
poderia aguentar um pouco mais sua ausência.
Avançou para o quartel a passos firmes. Não precisava nem mesmo passar pela
segurança mais. Deixou que o som de seu salto contra o chão a estimulasse a
seguir em frente. Em sua cabeça ela remoía a razão do ódio que sentia. Cruzou
toda a nave central de distribuiçãoo até entrar pelo corredor onde sabia que
daria para o subsolo que era inteiramente destinado a zona sete.
- Precisarei de sua varinha, seu cartão da zona sete e se não for parte do
exército ou do departamento, precisarei de sua carta de acesso. – O segurança
disse de maneira entediada sem sequer levantar os olhos para Hermione.
O homem finalmente levantou o olhar e refez toda sua postura quase que
imediatamente.
- Sra. Malfoy. – ele pareceu surpreso e ao mesmo tempo em um grande
impasse – Tenho ordens de não deixar que ninguém passe sem autorização.
- Acha mesmo que deveria seguir essa ordem comigo? – ela deixou que
soasse quase como uma ameaça e bastou para que ele abrisse espaço para ela
passar.
- Sra. Malfoy? – foi chamada pela primeira alma que cruzou seu caminho. –
Não pode estar aqui.
- Não perca seu tempo fazendo isso. – foi rude, deu as costas e continuou
seu caminho.
O último ginásio de corredor era uma longa caminhada por entre colunas altas
de mármore e paredes de pedra cinzenta. Hermione escutava o som do próprio
salto contra o piso, mas dessa vez o vazio fazia com que o barulho ecoasse pelo
espaço. Quando viu a porta dupla a sua frente apenas agitou a varinha para
que ela se abrisse e seu salto continuasse no mesmo ritmo para dentro da
ampla sala onde foi recepcionada por uma série de olhares sob o silêncio de
uma discussão que havia sido interrompida.
Draco estava logo a frente com sua varinha em mãos e rodeado por mapas
abertos em todas as direções. Ele tinha o olhar surpreso e ao mesmo tempo
irritado enquanto Hermione continuava seu passo firme em direção a ele
sentindo os olhares daqueles que ela mesmo já havia enfrentado em campo de
batalha. Não se sentia ameaçada ali. Cada um daqueles rostos ela conhecia e
todos eles sabiam quem ela era, o quão forte era e o quanto a temiam.
Parou frente a Draco e seu primeiro movimento foi levantar a mão e acertá-la
sem dó contra o rosto dele. O som da batida foi seguido do som da respiração
surpresa dos demais. Ele já não parecia estar muito contente por ter sido
interrompido, mas depois do presente que recebera a fúria cresceu dentro do
olhar cinzento e intimidador que ele naturalmente tinha. Ela começou:
- Cale a boca! – a voz dele foi profundamente ríspida, grossa, rude e fria
quando ele a segurou pelo pulso e a trouxe para si com tanta brutalidade que a
fez se lembrar de que não deveria medir forças com um homem como ele
nunca.
Por mais que ele estivesse tentando fazer com que ela perdesse a postura,
lutou para se livrar dos dedos fortes que ele tinha.
- Eu disse para calar a boca! – dessa vez sua voz severa soou pela sala
inteira com o poder de fazer o músculo de qualquer alma ali se retrair. – O que
diabos pensa que está fazendo invadindo meu departamento? Isso é uma
reunião privada, Hermione!
Talvez foi ali, quando ele viu a marca bem visível em seu braço, que Draco
tenha se interessado pelo que ela tinha a dizer porque a expressão furiosa que
havia em seu rosto e se complementou com um olhar curioso. Quando ele
tornou a olhá-la nos olhos, embora a vontade de mata-la já parecesse um
pouco distante, ele mostrou que ainda não havia esquecido o tapa que levera.
- Cinco minutos! – disse alto para o grupo de comensais da zone sete e a
arrastou pelo braço até uma extremidade do salão, onde passaram pela
entrada de uma câmara. Ele a soltou, fechou a porta e agitou a varinha
isolando o ambiente em que estavam. – Você tem cinco minutos.
Aquilo soara como se ele quisesse ter feito uma pergunta. Como se quisesse ter
reclamado por não ter sido avisado de que ela fora chamada por Voldemort e
que fora até ele. Mas obviamente ele também tinha consciência que não
gostaria de ter sido interrompido em sua reunião, por isso engolira o próprio
questionamento.
- Por que disse a Voldemort que eu estava tomando poções para não
engravidar?
- Quantas vezes eu tenho que pedir para não dizer o nome dele?! – ele
pareceu extremamente aborrecido com aquilo.
Ela ignorou.
Ele suspirou soltando o ar com calma como se já soubesse que algum dia iria
ter que encarar essa discussão.
Ela cerrou os olhos não entendendo o que ele queria dizer. Aquilo não se
encaixava com toda a visão que ela tinha desenvolvido sobre Draco no pouco
tempo em que haviam convivido debaixo do mesmo teto.
- Ordens são ordens? – ela repetiu desconfiada – Acha que eu sou
estúpida?
- Então não me trate como se eu fosse uma! Sei do joguinho frágil que
mantém com Voldemort! – foi rígida - Em troca de que disse a ele que eu
estava tomando poções? Em troca de fazer com que ele continue acreditando
que você é um servo fiel quando na verdade odeia ordens, odeia estar preso,
odeia prestar contas a ele, odeia ter que serví-lo, odeia estar marcado com a
marca dele! Sei que quer destruí-lo!
Draco suspirou mais calmo do que ela esperava que ele estivesse. O silêncio
durou entre eles enquanto ele caminhava com as mãos no bolso, encostava-se
numa das mesas de frente a ela e cruzava os braços.
- Quanto tempo demorou para perceber isso? – a voz dele saiu macia,
uniforme e indiferente.
Ela o olhou desconfiada. Não era aquela reação que estava esperando. Sua
certezas se abalaram por alguns segundos.
Ele ergueu e abaixou uma das sobrancelhas como se aquela resposta fosse a
que ele estivesse esperando.
- Então espero que não esteja sendo ingênua ao ponto de acreditar que o
Lorde já não sabe de tudo isso que disse. – fez sua voz soar de modo pacífico -
Por que acha que eu comando um exército? Ele acredita que sabe me comprar,
que sabe me usar, que sabe me fazer andar na linha e é nisso que eu quero
que ele continue acreditando. Quero que ele continue acreditando que me
conhece realmente, que sabe quem eu verdadeiramente sou. – ele soltou - A
ordem foi bem clara, Hermione. Ele quer um herdeiro e ele queria que
fizéssemos isso para ele. Você estava apenas fazendo seu papel de rebelde
inconformada tomando poções e nos trazendo mais dor de cabeça. Eu nos fiz o
favor de adiantar as coisas. Primeiro porque preciso sempre provar que ainda
estou jogando do lado dele, segundo porque eu não seria capaz de te fazer
parar de tomar as poções por minhas próprias mãos. Não seria nada
confortável para mim te levar para cama sabendo que estava completamente
desprotegida, eu sempre soube que estava correndo atrás de se proteger desde
a primeira vez que fizemos sexo.
- É sua culpa. – sua voz saiu quase que rouca. Pausou enquanto sentia
seus olhos arderem. Engoliu a saliva com dificuldade. – É sua culpa. – repetiu -
Nunca deveria ter dito a ele!
- Então por que não deixou que ele descobrisse de outro? – sua voz forte
sobressaiu a dele.
- Está se sentindo traída? – ele levantou uma das sobrancelhas.
- Sim! – ela não tinha dúvidas disso – Você não queria isso, eu também
não, e quem disse a ele que eu estava tomando poções foi você! Apenas para
fazê-lo acreditar que ainda continua do lado dele porque não cansa de ser um
comensal cheio de vontade própria! – ela terminou ofegante, não de cansaço,
mas de revolta. Ainda não conseguia acreditar que Draco podia ser tão
indiferente. – Eu estou trazendo uma vida para o mundo! – saiu mais alto do
que ela planejava – Como foi incapaz de pensar no quanto isso é forte?
- Tudo que você consegue ser é leal a si mesmo. – ela soltou com
desgosto. - Eu não preciso pisar em ninguém para conseguir as coisas que
quero.
- Bem, isso é o que me faz um sonserino e é você uma grinfinória. – disse
ele – A lei aqui dentro é clara: ou pisa ou será pisada. Pensei que já soubesse
disso. Tenho interesses próprios e não pode julgar as coisas que faço em troca
daquilo que quero, mesmo que isso envolva a sua desgraça. Não pode bater o
pé como uma criança esperando por justiça. Isso é Brampton Fort. Está dentro
do ciclo de comensais agora.
- Eu deveria me vingar? É isso que um sonserino faria? – sua voz saiu cheia
de desgosto. Será que ele mesmo não percebia o valor sujo daquelas palavras?
- Deveria fazer aquilo que quiser fazer, Hermione. – segurou seu queixo e
precisou aproximar-se apenas mais um pouco, os olhos de ambos continuaram
fixos um no outro e ele selou seus lábios nos dela. Afastou-se e colocou sua
boca bem próximo ao ouvido dela. – Esse filho é fardo seu. Sabe que não
brincamos mais daquele jogo de adolescentes que éramos acostumados em
Hogwarts. Agora sim estamos numa guerra real. Sabia disso desde o começo e
a próxima vez que invadir uma das minhas reuniões privada, farei com que
perca o cargo que está assumindo com Theodoro e não pense que não tenho
suspeitas sobre o quanto ele é importante para os seus interesses. – por um
rápido segundo ela pode perceber que ele inalou seu perfume antes de se
afastar – Seu tempo terminou. – deu as costas e foi em direção porta.
Hermione girou a varinha e trancou a maçaneta quando ele a girou. Sua boca
formigava onde ele havia tocado com os lábios, mas ela sentia que dos seus
olhos ainda saiam faíscas.
- Nós não terminamos. – ela tentou continuar firme.
Hermione soltou um grunido de frustração. As vezes ela sentia que nunca seria
boa ou inteligente o suficiente para sobreviver a aquele lugar. Parecia outro
mundo.
Narcisa Malfoy
Observou quando Pansy tocou o colar que sempre usava enquanto falava
esnobemente sobre umas das suas concorrentes no ramo de organização de
festas. Narcisa admirava Pansy pela paixão que ela tinha por tudo aquilo que
gostava, ela era persistente e estava sempre de cabeça erguida. Queria que ela
tivesse sido uma Malfoy e se não fosse pela sua personalidade vulgar talvez ela
até tivesse sido uma candidata vencedora. Ela e Draco tinham muito em
comum e por um tempo Narcisa até pensou que Pansy conseguiria fazer Draco
amá-la, mas obviamente seu filho tinha herdado muito do pai.
Narcisa nunca quis que Draco tivesse o mesmo destino que o pai. Sempre
esperou que um dia ele fosse encontrar uma boa garota pelo qual se
apaixonaria e se casaria. Ela não queria que nenhuma mulher no mundo,
independente de quem fosse, tivesse que passar pelo mesmo que ela passava
todos os dias. Chegou até mesmo a incentivar o filho durante Hogwarts o que o
fez enchegar Astoria. Deu todo o seu apoio, mas a natureza de Draco nunca o
segurou em uma garota só. Pansy havia sido a única que ele nunca se cansara
e por esse motivo chegou a esperar pelo dia em que ele fosse perceber que ela
talvez fosse a mulher de sua vida.
Mas Pansy amava Draco desde que se entendia por gente e por esse motivo,
sempre quando a olhava dava graças aos deuses por ter sido Hermione o
destino de seu filho. Pelo menos Hermione o odiava e por isso nunca sofreria
para lidar com a natureza dele.
- ...e até mesmo pensei que fosse uma ótima idéia, mas não durou por
muito tempo. Tenho experiência e sei que esse tipo de coisa nunca chega a se
concretizar sem ser seguida de um grande desastre. – ela terminou e tomou
um gole do chá em sua mão com a elegância de uma verdadeira Malfoy.
Narcisa as vezes percebia o quanto Pansy se esforçava em mostrar toda a sua
educação próximo a ela ou a Lúcio, mesmo depois de seu filho ter se casado. –
Por isso mesmo sou bem seletiva, não basta ter muito dinheiro para me pagar,
precisa no mínimo ter um bom ciclo social e ser bem influente.
Narcisa sorriu.
- Faz bem, querida. – ela disse colocando sua chícara sobre a mesa de
centro e se levantando. – Fico feliz que tenha vindo. – ela começou outro
tópico. – Sei que está sempre muito ocupada.
- Bem, a verdade é que além de não nos falarmos já faz um bom tempo,
gostaria de saber o porque cortou Hermione da lista de convidados do jantar
dos Martin. – ela foi direta.
Pansy pareceu surpresa com o que havia escutado. Ficou confusa por alguns
segundo, como se não soubesse o que responder e então disse:
- Bem, a Sra. Martin não estava muito convencida de que ela se sentiria
confortável já que boa parte dos convidados não fazem parte do ciclo social
limitado que ela tem.
- A Sra. Martin não estava muito convencida ou você a convenceu de que
Hermione não se sentiria confortável? – Perguntou Narcisa apoiando as mãos
no enconto do sofá onde antes estava sentada.
Pansy se calou. Dessa vez a direta havia sido menos sutil e a outra começara a
se sentir coagida.
- Cissa, não creio que seja um problema muito grande não ter Hermione
nesse jantar. Ela não conhece ninguém, ficaria sozinha e sabe que ter
convidados isolados em um evento pode cair em cima do organizador. Eu tenho
uma reputação para zelar.
- Eu sei que tipo de reputação gosta de zelar, Pansy. – com as roupas que
vestia e o jeito que se atirava em cima de qualquer homem, Narcisa realmente
sabia de que reputação ela realmente gostava – Livia Jackson, Bell Harvey,
Kendra Collins e Jenna Thompson são nomes que estavam na lista e que
adorariam ver e conversar com Hermione novamente. Elas foram apresentadas
na cerimônia de inverno do ano passado e se animaram bastante com a
eloquência e o conhecimento extenso de Hermione.
Pansy revirou os olhos.
- Eu ajudei. – soltou de uma vez. – Mas Emilliana também não estava tão
convencida de que seria uma boa idéia.
- Porque você disse que não seria. – Narcisa não queria se mostrar irritada
e era muito boa em esconder emoções – É a organizadora do jantar e se disse
que algo não vai dar certo, pela sua experiência sabemos que não irá. Por que
pediu que a tirasse da lista?
Pansy abriu a boca para retrucar, mas de lá não saiu som nenhum. Uma veia
pulsou em sua têmpora e quando ela abriu a boca novamente, Narcisa soube
que ela nunca teria dado certo como uma Malfoy.
- Eu não a quero lá! Todas as atenções estão nela! Depois daquela revista
estúpida parece que ela usa um chapéu e todos estão usando o mesmo no
outro dia. Ela dá uma discurso sobre segregação social e no outro dia de
repente todos estamos comentanto sobre isso! – ela soltou um riso fraco -
Segregação social! Um ciclo de comensais discutindo segregação social como se
fosse um assunto de extrema importância! Hipocrisia!
- Nós estamos do lado de dentro das muralhas por causa de uma guerra,
Pansy!
- Ela não me roubou ninguém! Eu sei que o dia em que Draco se cansar
dela ele voltará para mim como das outras dezenas de vezes que fez isso. Ela
me roubou o lugar que eu iria ocupar na sua família. Você sabe melhor do que
ninguém que eu deveria ter sido a Sra. Malfoy ao invés dela! Vocês nos
obrigaria a casar em algum momento, precisam de um herdeiro legítimo!
- Nós nunca dissemos a você que era a candidata para Draco. – interviu
Narcisa. – Deixamos claro que ele poderia escolher, mas que tinha uma prazo
para isso.
- E sabiam que ele escolheria a mim. Acha que esse colar com a pedra da
família Malfoy veio por que motivo?
- Pansy, não a vejo faz um bom tempo. – ele foi em direção mulher –
Espero que minha esposa não esteja a perturbando com futilidade. E sinto
muito por interrompê-la, mas precisava dar um aviso importante. – ele colocou
uma das mãos no ombro da mulher, mas a deixou ali por pouco tempo fazendo
com que ela decesse até a lombar das costas nuas de Pansy. – Narcisa, espero
que não se importe mas convidei Hermione para o jantar.
Pansy puxou o ar incomodada e Narcisa não soube dizer se era pelo toque do
homem ou pela menção de Hermione.
Draco odiaria aquilo quando ficasse sabendo, mas Narcisa não poderia
discordar.
- Tem razão. – disse e escutou Pansy limpar a garganta alto como se
estivesse farta de escutar o nome Hermione.
Pansy pulou seus olhos verdes de Narcisa para ele. Ela os estreitou.
- Com a sua adorável nora? – soou extremamente irônica e fez uma careta
de desgosto – Só pode estar brincando!
Narcisa permanecia intacta em seu lugar. Lúcio alisou seu terno limpando a
garganta. Ela se aproximou.
- Você a mima como se ela fosse uma de suas amantes. – disse da maneira
mais neutra que conseguiu e apressou-se para alcançar Pansy antes que ela
deixasse sua casa.
Draco Malfoy
A verdade era que ele gostaria de ter pego a barraca princpal, mas escolheu
permanecer na mesma ala em que a zona sete havia sido destinada a se
intalar. Era importante mostrar contato e cumplicidade, a cada dia que se
passava ele sentia que finalmente estava perto de alcançar o nível que lutara
para chegar há anos.
- Essa é uma das noites que terei que me dedicar aos papéis, Sam. – disse
puxando um rolo de pergaminhos.
- Então tenho certeza de que podemos adiantar logo as coisas. – ela sorriu,
aproximou-se mais e puxou o zíper da frente de seu macacão até em baixo.
Ele deixou seus olhos caírem para o colo perfeito da mulher, o volume dos dois
seios, a respiração fazendo seu peito se mover. Ele sorriu, mas hesitou e foi
quando hesitou que se lembrou que em situações como aquela ele nunca
hesitava.
- Tenho uma pilha de pergaminhos para ler até amanhã de manhã. Eu não
tinha idéia de as coisas por aqui estavam chegando a esse ponto. – ele
desviou-se dela passando a vasculhar seu malão.
- Foi tão sexy vê-lo furioso quando descobriu que estavam omitindo nosso
caso para a Catedral. – o tom de sua voz denunciou que estava achando
estranho ele a ignorar. O que realmente era bastante. Ela deu a volta de se
encostou na mesa apoiando as mãos de casa lado da madeira lisa ainda com o
zíper de sua roupa aberta. – Soube que se casou. – ela trouxe o comentário. –
Com Hermione Granger. – acrescentou.
- A última vez que a vi ela estava ao lado de Harry Potter recurando toda a
linha de frente da zona cinco. – ela continuou.
- Ela era uma agente dupla. – Draco havia perdido a conta das vezes que
havia dito aquilo para as pessoas que comentavam sobre seu casamento.
- Gosta dela? – ela pareceu despretensiosa, mas Draco bem sabia o valor
daquela resposta.
Ele ponderou com as mãos em seu malão se deveria ou não responder aquela
resposta conforme a história que contavam nos jornais.
- E você era meu treinador. – ela sussurrou e ambos riram. Os dedos dela
se moveram por ele e seguraram o fim de sua blusa. Samantha a puxou para
cima e ele ergueu os braços para se livrar dela também. Virou-se para ela e
encontrou com aquele sorriso de satisfação. Sam deslizou os dedos pelo seu
peitoral e abdomem com um olhar cheio de desejo. – Você nunca desaponta,
Draco. – ele sabia que não. Ela ficou na ponta dos pés novamente com a boca a
centímetros da sua. – Tire minha roupa. – pediu num sussurro pausado e
ousado.
Draco não hesitou dessa vez. Suas mãos a livraram das mangas do macacão
tão rápido quanto sua boca foi de encontro a dela e foi naquele beijo que ele se
desconcentrou em terminar de livrá-la do couro por inteiro. Foi naquele beijo
que ele percebeu que não beijava nenhuma mulher que não fosse Hermione há
um bom tempo porque no momento em que sua boca se encontrou com a da
mulher Draco esperou pelo movimento famíliar da boca de Hermione mas ele
não veio. A beijou com mais intensidade e esperou pelas reações de Hermione
mas nenhuma delas apareceu. Sam era tão entregue a ele como qualquer outra
mulher. Sentia que sua boca ficava no vácuo a cada movimento que fazia.
Afastou-se frustrado e ela estava ofegante.
- Wow, o que foi isso? – ela ofegou rindo - Eu nunca pensei que pudesse
ficar melhor do que já era, mas você melhorou seu beijo, Draco!
O canto de sua boca se esticou num sorriso inconsciente e antes que pudesse
se afastar ela começou a lher beijar o pescoço. Draco estava pronto para
segurá-la pelos ombros quando ela o tocou entre as pernas e ele percebeu que
não fazia sexo há um bom tempo. A gravidez de Hermione os havia afastado e
Draco estava tão comprometido com problemas em seu departamento que
sequer percebera a falta que sentia.
Samantha fora sutil, como se estivesse tocando algum tipo de pedra rara e
quebrável. Ou talvez ele estivesse muito acostumado com o toque vigoroso de
Hermione. Deslizou sua mão para os cabelos vermelhos da mulher.
- Vamos lá, Sam. Eu sei que pode fazer melhor do que isso. – ele disse e
foi o suficiente para fazer com que ela parasse de brincar aquele joguinho ruim
de sedução. Funcionava com Hermione porque ele gostava de vê-la se render.
A mulher abaixou-se, o livrou do cinto, abriu sua calça e a abaixou. O resto foi
o serviço que ela já sabia fazer. Ele apoiou-se numa das pilastras de madeira e
deixou-se apreciar o desejo crescer. Sim, ele sentia muita falta de sexo, mas
não estava gostando da forma como sua mente o lembrava constantemente
que Hermione poderia fazer aquilo dez vezes melhor do que Sam ou mesmo
que não pudesse, com Hermione era melhor porque era diferente. Diferente de
qualquer outro diferente que já havia provado.
O que estava acontecendo, afinal? Sam era um dos melhores sexos que já
havia tido. Nada podia se comparar ao apertado do armário de equipamentos
do ginásio da zona três nos intervalos dos aulões de domingo. Por que agora
parecia que toda aquela emoção não era nada?
Ela parou no momento que não deveria e se ergueu. Seu sorriso sedutor
carregava um orgulho de que havia feito um excelente trabalho. Ele a segurou
pelo braço e percebeu que fora rude. A verdade é que estava se irritando com
sua mente lhe jogando o nome de Hermione numa frequência doentia. Colocou
a mulher contra a pilastra. Ela gemeu e não havia sido de prazer. Arrancou-lhe
a roupa. Ele queria acabar logo com aquilo. Talvez assim o fantasma de
Hermione o deixasse em paz.
Abrir espaço para entrar dentro de Sam fora mais complicado do que ele se
lembrava. Ela não estava pronta para recebe-lo e na verdade ele não se
importava nem um pouco. Faria aquilo acabar logo. Investiu contra ela e o
gemido da mulher era de puro prazer, mas ele sabia que estava a machucando.
Sam estava mentindo com aquele gemido falso. Se estivesse com Hermione ela
já terio o empurrado e com certeza estaria o fazendo pagar pela tentativa de
usá-la como um animal. Comparar o fazia ter ainda mais raiva. A tirou daquela
posição e a colocou de costas. Não queria olhar para aquela boca emitindo sons
nada verdadeiros. A empurrou contra a mesa e a fez deitar sem dó. Ivestiu
sabendo que a posição estava completamente desconfortável para ela e que até
mesmo o móvel a machucava. Ficou ali até finalmente se livrar da agonia do
desejo, fora dela para não lhe dar a chance de atingir qualquer orgasmo
insignificante.
A primeira coisa que ela fez foi sair da posição que estava quando ele lhe deu
espaço. Draco sentia que talvez os gemidos insuportavelmente animados e
falsos dela haviam lhe provocado dor de cabeça. Ela virou-se para ficar de
frente pra ele e ele pode ver o sorriso em seu rosto.
- É bom ser sua mais uma vez. – ela passou o dedo na borda dos lábios
como se tentasse limpar o batom manchado. Draco sabia que até mesmo Pansy
que o deixava fazer o que quisesse com ela teria sido honesta.
- Saía, Sam. – ele não teve medo algum em ser direto. – E nunca apareça
sem ser chamada.
- Já disse que tenho muito o que fazer. – deu as costas e recolocou sua
calça. Céus, ele odiava sexo ruim!
- Eu disse para sair! – ele não queria aumentar o tom de voz, mas o fez
antes mesmo que notasse.
Ela não protestou mais. Vestiu a roupa na mesma velocidade em que foi tirada
e saiu sem abrir a boca. Ele a viu sair para ter certeza de que estava sozinho.
Fechou o botão da calça e puxou o zíper. Passou a mãos pelos cabelos e se
jogou na cama fitando o tecido da barraca a alguns metros acima. O nome
Hermione ainda latejava em seu cérebro e ele tinha vontade de colocar fogo em
cada pedaço de matéria.
Capítulo 17
Narcisa Malfoy
O discurso de Hermione havia sido impecável. Ela tinha uma eloquência que
assustava e uma entonação com um poder de convencimento que Narcisa
jamais imaginara que ela pudesse ter. Realmente Hermione havia feito um
excelente trabalho junto com a equipe de Theodoro, mas sabia que o dedo de
Draco estava ali em algum lugar de maneira sutil e bastante discreta. Gostava
de saber que seu filho não ignorava Hermione por completo. Ele sabia que ter
alguém da família em mais um lugar de poder dentro do ciclo de Voldemort era
um ponto a mais para os Malfoy.
Mas embora Narcisa soubesse que Hermione sabia suprir bem o lado
profissional de sua família para com os esposos de seus amigas, seu lado
perante o ciclo social ao qual realmente deveria se preocupar estava
desmoronando como se fosse uma colossal construção de areia debaixo da
chuva.
Chegou ao palco onde Hermione estivera de pé a alguns minutos atrás e foi
obrigada a apertar o passo para chegar a porta na lateral por onde ela estava
passando. Fugiu da imprensa com a agilidade que havia adquirido com os anos
e passou para o lado de dentro de um corredor cheio de funcionários do
departamento de Theodoro com suas devidas identificações penduradas no
pescoço. Falavam todos de uma vez e analisavam pranchetas e agendas
enquanto andavam como se não houvesse amanhã. Narcisa passou por eles
sem nenhum problema e conseguiu chegar a porta onde um dos homens de
seu filho estava parado.
- Não me importo. – ela foi neutra ao dizer aquilo, não havia sido rude, não
havia sido gentil e talvez tenha sido por isso que ele temeu pelo que pudesse
acontecer ao cargo que muito provavelmente provia algum tipo de status a sua
família dentro de Brampton Fort e empurrou a porta para que ela passasse.
- ...e cancele as reunião da semana que vem. Preciso dar atenção a
imprensa agora que... – a voz de Hermione morreu assim que seus olhos
dourados caíram sobre a figura de Narcisa entrando em sua suntuosa sala
improvisada.
- Gostaria de trocar algumas palavras com Hermione e seria bom que você
se retirasse por alguns minutos. – o tom que usou para falar foi claro para
Jodie de que ela não tinha outra opção.
O silêncio entre as duas durou pouco enquanto a troca de olhares fez com que
Narcisa notasse o quanto a outra Sra. Malfoy estava incomodada.
- Jodie, poderia nos deixar a sós por um momento, por favor. – Hermione
pediu com serenidade.
- Narcisa, por favor. – pediu Hermione com mais firmeza dessa vez. –
Jodie, saberei me lembrar da minha própria agenda. Agora, por favor. –
apontou para a porta.
- Tem me evitado. – Narcisa não esperou pra dizer nada assim que a porta
foi novamente fechada.
- Eu não tenho tempo para isso. – ela deu as costas.
- Nunca tem tempo para nada, Hermione. Tem apenas tempo para o
trabalho que presta a Theodoro!
- O jantar dos Martin será semana que vem e você está na lista. – ela
tentou começar por ali.
- Sim. Recebi o convite. – Hermione ergueu o olhar e forçou um sorriso
rápido para ela antes de voltar para os pergaminhos – Foi bastante gentil da
sua parte se esforçar para me colocar na lista, mas não poderei ir.
- Estou farta de a ver achando que tem alguma escolha! – Sim, Narcisa já
estava irritada – Eu venho fazendo o meu e o seu papel dentro dessa família
porque você simplesmente acha que pode se dedicar a carreira medíocre que
lhe deram aqui! – ela estendeu a mão e fechou a pasta de Hermione sem se
importar se estava sendo educada ou não – Draco mantém o vinculo
profissional de nossas famílias e você mantém o vinculo afetivo. Isso é uma lei,
Hermione! Nossa família funciona assim há anos e você já deveria estar sendo
uma figura comum entre nós já faz um bom tempo, mas ainda não passa de
uma curiosidade e um nome importante e pouco conhecido nos encontros,
jantares e reuniões da elite de Brampton Fort. Vai desistir desse trabalho agora
ou nunca saberá como tocar o nome dos Malfoy!
Hermione retribuía sua irritação com um olhar neutro, o olhar que Narcisa
havia a ensinado a fazer, o olhar que mostrava que não se rebaixaria ao nível a
que estava sendo submetida ali com o tom que Narcisa usava.
- É isso que quer que eu faça? Que eu desista do meu trabalho? – ela
usava uma voz suave, porém firme. – O que aconteceu com o lema ‘nunca se
render’?
- Um Malfoy deve saber pesar os prós e os contras muito bem para tomar
uma decisão, Hermione. E um Malfoy nunca trabalha sozinho. Está sendo
egoísta mantendo esse trabalho apenas para benefício próprio.
- Bem, mas sou casada com ele, não é?! – ela se levantou. – Agora, sei
que irá se importar, mas essa não é uma boa hora para discutirmos sobre
qualquer coisa. Terei que pedir para se retirar. Nos veremos no jantar.
- Você sabe o quanto isso é importante. Sabe o quanto nossas relações nos
mantém no poder, Hermione! – cerrou os dentes – Por que está inventando de
agir como se não se importasse? Nós caímos, você caí junto!
- Você não entende, eu não posso ir! – dessa vez ela usou do mesmo tom
para replicar.
- Eu trabalhei duro para devolver o seu nome para aquela lista e...
- Céus! Será que eu o mundo inteiro sabia que eu estava tomando poções?
– ela soltou abrindo um olhar cheio de angústia.
- Eu sei que está. – Narcisa sabia bem o que era ser mãe.
Hermione suspirou desviando o olhar. Precisou de alguns segundos antes de
fechar os olhos, umedecer os lábios e responder:
- Nem sequer pensei que deveria. – Hermione a olhou e Narcisa pode ver
que ela se debatia com questões muito mais sérias do que aquela.
- Ele não quer mesmo ser como o Lúcio. – disse embora aquele comentário
fosse mais para ela mesma do que para Hermione. Olhou nos olhos daquela
pobre mulher a sua frente. Ela seria uma mãe. Uma mãe que não tocaria em
seu filho, uma mãe que não o teria. Seria uma mãe que nunca escutaria seu
filho chamá-la de mãe. Narcisa conseguia medir a dor daquilo. – Me lembro de
quando disse a Lúcio que estava grávida de Draco. – ela tentou se transportar
para aquele dia. Sorriu. – Aquele homem ficou louco. – ela queria poder voltar
no tempo – As vezes penso que ele realmente me amou aquela época. Talvez
tenha sido a única.
Hermione não replicou e elas entraram num silêncio profundo. Cada uma em
seu mundo, como se aquela notícia tivesse o poder de sustentar uma lacuna de
longas horas de silêncio.
- Meus pais tinham uma casa de campo ao sul da Inglaterra. – Hermione
começou com a voz e os olhos baixo - Era uma viagem longa de carro, mas
valia a pena. – ela parecia estar falando mais com si mesmo do que com
Narcisa. – Quando eu estava no sexto ano meus pais passaram por uma crise
no consultório e meu pai pensou em vender a casa, mas minha mãe insistiu
que ela precisava de um lugar para levar seus netos para passar o verão e acho
que esse foi um argumento de peso final. – ela soltou um riso fraco e infeliz. O
silêncio durou por mais um tempo até que ela tornou a encarar Narcisa. Os
olhos úmidos e a voz travada. – Quando eles foram assassinados... – sua voz
morreu e ela engoliu a saliva como se estivesse engolindo veneno. Soltou o ar
e desviou o olhar novamente como se tivesse vergonha do brilho que
aumentava em seus olhos – Eu não pude nem mesmo ver o enterro deles. –
havia tanta dor naquela voz – Nunca pude nem visitar o túmulo deles, nem
passar perto, nem saber onde haviam sido enterrados. – ela puxou ar ajeitando
a postura na cadeira como se tivesse consciência de que estava desmoronando
na frente da mulher que a ensinara a manter seu orgulho de pé. – Seria como
correr para uma emboscada. – concluiu e limpou o canto dos olhos. – Pensei
que nunca no mundo inteiro eu pudesse sentir uma dor maior do que a que eu
senti quando os perdi. Mas eu tinha amigos. Eles se tornaram minha família e
eu pude ver o esforço de cada um deles para tomar a forma desse vazio que
havia sido aberto em minha vida. – ela tornou a engolir a saliva de forma
pesada. – Mas isso... – a mão dela tomou o tecido fino e escuro sobre sua
barriga. – Dói mais do que qualquer dor que já senti. – ela amassou o tecido
entre os dedos e apertou os lábios como se tentasse superar o nó que lhe
subia. – Eu estou criando vida. – ela usou o restante de voz que ainda tinha. –
Cresce dentro de mim. – Narcisa sabia perfeitamente o que ela sentia. – E não
vai ser meu. – ela soluçou e dessa vez não foi possível impedir que uma
lágrima grossa pulasse de seus olhos dourados.
- Ele me dará um ano quando nascer. Disse que a criança ainda precisará
do meu corpo.
Narcisa sabia que aquilo não era de todo uma verdade. Voldemort queria
apenas que ela se apegasse ao filho para poder tirá-lo dela. Assentiu tentando
mostrar que era uma decisão justa embora não fosse.
- Bem. – Narcisa se levantou – Você sabia que não seria fácil desde o
começo. – alisou sua roupa colocando no lugar aquilo que talvez tenha saído
dele – Encontrarei um vestido para você. – pigarreou – Ainda podemos
esconder essa barriga. – deu as costas e seguiu seu caminho sozinha até a
porta. Segurou a maçaneta ainda conseguindo calcular a dor que Hermione
escondia por trás de sua máscara todos os dias. Voltou-se para ela. - Você
precisa ser forte. – disse embora soubesse que ela não iria ser. Nada poderia
prepará-la para aquilo e sabia que o único sofrimento para o qual havia se
preparado eram para sessões de maldições cruciatos e torturas medievais.
Nada daquela preparação a ajudaria ali.
Hermione piscou calmamente em resposta. Narcisa apenas puxou o ar e saiu
dali sem saber ainda como lidar com a situação.
Draco Malfoy
A carruagem o levou direto do portão Sul até o pátio central da Catedral onde
desceu sentindo o calor do início do verão. Olhou para o céu e viu as nuvens
brancas tampando o azul. Nunca havia sol em Brampton Fort. Atravessou toda
a extensão do pátio e passou para o lado de dentro do saguão onde logo pode
enxergar, por entre as poucas pessoas que atravessavam ali, a figura de
Hermione vindo em sua direção acompanhada por Jodie, como sempre. As duas
pareciam discutir sobre algo e foi quando os olhos dourados de Hermione
caíram sobre ele por apenas alguns segundos enquanto falava antes de se
voltarem novamente para Jodie que fez ele levantar uma nota mental sobre a
evolução da beleza natural de Hermione. Não a via a quase uma semana e ela
parecia ainda mais bonita que a última vez que colocara os olhos sobre ela.
Usava um vestido estampado que não era inteiramente claro, mas era quase
como se ela quisesse fazer com que o sol abrisse por entre as nuvens e ele
percebeu que o modelo do tecido fino e levemente marcado na cintura
disfarçava os quatro meses que ela carregava da gravidez. Lembrar-se de que
ela estava grávida fez com que o verão parecesse se tornar final de outono.
A alguns passos de se encontrarem Jodie saiu pela tangente dela seguindo
outro rumo e então Hermione avançou para fazer com que seus passos se
igualassem ao dele.
- Não tenho tido tempo de deixar a Catedral com essa facilidade toda. – ela
disse – Além do mais, não sabia que chegaria pelo portão sul. Desci assim que
soube que sua carruagem já estava a caminho da Catedral.
- As criticas tem sido bastante positivas. – respondeu ela. Ele notou que
havia algo de diferente em sua voz, mas não conseguia classificar o que era.
Parecia sem vida. – Deveria ler O Diário do Imperador.
- Não tenho tido tempo para jornais ultimamente. – ele disse.
Eles deram alguns passos em silêncio antes que ela tornasse a abrir a boca.
- Sua mãe tem insistido para eu desista do meu cargo. – ela trocou o
assunto por completo, afinal saberia sobre tudo que havia acontecido sobre a
guerra no dia seguinte quando comparecesse a reunião do conselho.
- Vai desistir? – ele lançou um olhar rápido para ela quando fizeram a curva
para dentro de um dos corredores.
- Sabe que como uma Malfoy você deveria, não sabe? – comentou ele.
- Desde que deixou Brampton Fort tenho ficado na catedral até mais tarde.
Devo esperá-lo para o jantar hoje? – perguntou ela.
- Não sei. – ele realmente não sabia – Tenho muito assunto para discutir
com o mestre antes da reunião com o conselho amanhã. – ele puxou o relógio
do bolso e o analisou por alguns segundos. – Ele não irá me chamar para o
gabinete tão cedo então prefiro que siga sua rotina dos últimos dias. – ela não
contrariou nem contestou, mas também não assentiu nem concordou. Sabia
que ela não gostava de depender da palavra dele. – Assim que tiver um tempo
livre, vá até minha torre. Tina tem algo para passar a você.
Tina era sua mais nova secretária. Era apenas uma das mulheres que tão
loucamente almejavam pelo cargo mas se mostrava tão incompetente quanto
qualquer umas das outras que não haviam levado a nomeação.
- Terei um tempo livre no final do dia. – Hermione lhe respondeu embora
ele soubesse que na verdade tudo que ela queria ter perguntado era sobre a
procedência do que significava esse “algo” destinado a ela.
A objetividade dela foi suficiente para fazer com que ele entendesse que ela
tinha pressa em deixá-lo ou que na realidade nunca queria mesmo ter tido a
necessidade de se encontrar com ele.
- Ótimo. – encerrou ele – E por favor, não faça sua amiguinha lunática
tentar invadir meu escritório novamente. Você pode ter tido a chance de
vasculhar até mais do que eu acreditava que pudesse, mas Lovegood não é tão
esperta quanto você. – ela não reagiu, apenas escutou como se já esperasse
que ele fosse fazer aquele comentário a respeito da invasão de Luna em seu
escritório na noite em que deixara Brampton Fort. Hermione certamente teria
passado por todos os sistemas de segurança, mas Hermione era Hermione e
Luna Lovegood cometera um erro bastante previsível embora tivesse ido mais
longe do que ele acreditava que ela conseguiria. – Por que confiou a Lovegood
uma tarefa como aquela? Não é nada inteligente. Me faz questionar se não há
nada por trás disso.
- Pense o que quiser. – ela soltou cansada. Ele a olhou enquanto Hermione
reduzi a velocidade do passo e parava. A acompanhou parando para ficar de
frente a ela. enquanto percebia que seu cérebro automaticamente se
questionava o que havia dito de errado para que recebesse aquela reação.
Draco percebeu que ela tinha algo para dizer, mas ao mesmo tempo que
parecia não saber como dizer ele também pode notar que ela estava cansada e
não se parecia muito com cansaço físico. Seus longos cílios fizeram sombra
sobre a cor amendoada que tinham seus olhos quando não estavam expostos a
claridade. Os braços dela se cruzaram logo depois de ter umedecido os lábios e
colocado as ondas de seus cabelos para trás das orelhas. Draco pode notar a
ondulação na parte mais baixa de sua barriga. Era muito pequena, mas estava
lá. Existia.
Certo, ela havia feito a pergunta primeiro e sabia que resistir era perca de
tempo e energia. Deu de ombros.
- Isso depende dos rebeldes, depende do meu exército, depende da
reunião do conselho e depende principalmente da discussão que terei com o
mestre. – era a resposta que tinha. – Agora, por que? – era sua vez.
- Certo. – a voz dela soou baixa e suave, e foi quando ele finalmente
conseguiu perceber que o que faltava no som de sua voz era o tom melodioso
que naturalmente tinha. Ela tornou a umedecer os lábios. – Se caso for deixar a
cidade ainda hoje me deixe saber. – ela pediu e agora que ele havia notado o
que faltava em sua voz percebera que gostava bem mais do som natural de
antes.
Ele a observou ir, a bainha de seu vestido dançando no ritmo de seu andado
firme e suave. Havia algo errado com ela. Draco queria não se importar e na
realidade talvez não se importasse realmente, talvez tudo fosse culpa da
convivência que haviam construído e que eram obrigados a ter. A figura um do
outro havia se tornado tão familiar e tão constante que não pensar em
Hermione como parte do seu dia, de sua semana ou de seu mês era quase
impossível.
Deu as costas sabendo que deveria passar por cima daquilo, seu mundo girava
em torno de preocupações muito maiores que Hermione. Passou pelo toten que
indicava a entrada e avançou uma curta distância pelo foyer amplo e luxuoso
de seu quartel até chegar ao balcão único de informação. Bateu com o anel de
sua aliança no mármore o que fez a mulher bem arrumada do outro lado
levantar os olhos e ajeitar a postura no mesmo instante.
- Faça com que o mestre saiba que eu estou de volta a Brampton Fort. –
ele disse a ela. Sim, gostava de fazer de qualquer um seu secretário, mesmo
sabendo que já tinha uma.
– Envie de volta. – disse. Ele sabia que deveria mandar uma nota de
parabéns, elogiava bom serviço quando preciso, mas não queria paparicá-la
com nenhum elogia agora no começo. – Tornarei a olhar quando tiver tempo. –
isso era o suficiente para ela saber que ele havia apreciado o serviço. Como
levantado, sua figura era bastante conhecida e se ele não tivesse gostado, com
certeza teria o prazer de mandar uma nota bastante desagradável em resposta
ao ato.
A verdade era que tinha tempo para rever uma pilha de pastas daquela, apenas
não queria trabalhar. Havia passado por dias intensos do lado de fora da
muralha e estava cansado de todo aquele ambiente. Quando deixou seus
passos o conduzirem dentro da catedral percebeu que estava indo em direção a
torre de Pansy. Não fazia aquilo havia muito tempo, mas até que sentia falta do
pedaço de conforto que existia dentro do inferno que era aquele edifício.
Costumava frequentar o quarto de Pansy sempre quando sentia que precisava
se desligar por um tempo ou por alguma razão. Tomar aquele caminho
novamente o fez se sentir leve, como se as coisas estivessem finalmente se
normalizando depois de seu conturbado casamento com Hermione.
A porta do quarto de Pansy era sempre aberta para ele. Passar para o lado de
dentro o fez se lembrar que a última vez que estivera ali fora no dia em que
entregara o anel de sua família para uma Sangue-Ruim. Tinha a impressão de
que havia sido há mil anos. Tudo que ele conhecia de Hermione naquela época
era sua bravura e determinação em campo de batalha assim como seu esperto
cérebro que conduzia a Ordem. Agora o que ele conhecia dela se limitava ao
modo como orquestrava os talheres em suas mãos durante o jantar, a forma
como passava a folha durante a leitura de um jornal, o gemido que fazia
quando sentia prazer, como seu corpo respondia a um orgasmo, o gosto de seu
beijo intenso, o toque de sua mão macia, a textura de sua pele, o silêncio de
seu sono, o suspiro de sua respiração quando trocava de posição durante a
noite, a forma como se espreguiçava pela manhã. E no final, isso era todo o
apenas que ele conhecia de Hermione e nada mais. Ela ainda era um mistério.
Um mistério que ele não tinha interesse em desvendar embora ainda se
lembrasse de algumas poucas situações que haviam vivido que o fizera se
questionar se ela não era um bom campo para se explorar.
A porta do quarto de Pansy estava sempre aberta para ele. Lembrou-se disso
quando girou a maçaneta e viu que não estava trancada. Deixou seu passo o
arrastar pelo carpete roxo. Ela não estava lá. O quarto cheirava ao perfume
forte que sempre usava. Não era o perfume que ela tinha quando eram
crianças, mas ele ainda conseguia se sentir bastante familiarizado com o
ambiente. Familiarizado o suficiente para se sentir confortável. Sentiu o peso
do cansaço o atingir. Agradeceu na realidade por não ter encontrado Pansy ou
ela iria loucamente o fazer querer sexo. As vezes ele ainda ia ali ingenuamente
esperando por uma boa conversa, as conversas que costumavam ter antes de
ela ter se transformado na frustração que vivia todos os dias por ele nunca ter
se apaixonado por ela. A verdade era que ela deveria ficar agradecida apenas
por ele ter consciência de que ela era o mais perto de amar uma mulher que
ele acreditava que um dia poderia chegar.
Aproximou-se da arca onde Pansy deixava suas bebidas absurdamente caras.
Pegou um copo do que ela tinha de mais forte e deixou o líquido queimar por
sua garganta. Passou a mão pelos cabelos, abriu os botões de sua blusa, tirou
os sapatos e afundou no colchão da cama. Voldemort muito provavelmente
ainda demoraria para chamá-lo. Ele ficaria a espera bem ali sem mover um
músculo. Colocou os braços como apoio para a cabeça e fechou os olhos apenas
para descansar a mente dos dias conturbados que tinha passado.
Combater as investidas da Ordem nos últimos dias havia sido uma tarefa mais
difícil do que qualquer outra que já fizera. Hermione podia não estar mais com
eles, mas definitivamente eles tinham alguma carta na manga que ele não
esperava que tivessem. O nome Hermione veio em sua mente novamente.
Sempre vinha com uma frequência que ele depreciava intensamente. Lembrar-
se do olhar vago que ela lhe dera hoje foi a última coisa que sua mente
processou ainda em estado consciente.
No estado seguinte ele foi transportado para onde era verdadeiramente verão.
Havia sol. Havia grama verde. Macieiras, arbustos, dentes-de-leão. Mas o vento
era diferente, era forte e bastante presente, o que o fez perceber que estava no
topo de algum vale. Só podia estar do lado de fora da muralha e aquilo o fez se
sentir imediatamente bem.
Passou seu olhar pelo local e a viu. O vento balançava seu vestido e o sol
finalmente dava a ela a glória do verão que lhe era apagado nos dias cinzentos
de Brampton Fort. Estava de costas e ele podia ver os lindos cachos de seu
cabelo lhe descendo até a cintura ao mesmo tempo que eram levados pelo
vento. Só podia ser ela e para sua surpresa, ele queria que fosse. Se
aproximou e a medida que avançou tomou a consciência de que se fosse
mesmo ela, ele não poderia estar do lado de fora da muralha. Foi assim que as
nuvens cobriram o sol e a única coisa que o fazia saber que era verão, era o
vento úmido e quente, assim como em Brampton Fort.
Ele parou a poucos passos de distância dela. Queria tocá-la, sentia falta de
tocá-la. Por tanto tempo pode tocá-la e embora todas as vezes parecesse
errado ele gostava. Tinha plena consciência de que estava em um sonho,
portanto apenas deu seu passo final e colocou suas mãos uma de cada lado da
cintura da mulher. Ele conhecia todas as formas dela. Deslizou suas mãos
devagar alguns centímetros mais baixo enquanto colava seu corpo no dela. O
cheiro dela o invadiu quando ele deixou o vapor de sua respiração passar pela
orelha e encontrar o pescoço. Fez questão de inalar mais do seu cheiro. Ele
gostava. Era embriagante, doce, floral e natural. Ela não reagiu a ele de
nenhuma forma e ele continuou ali, tocando-a, estando fisicamente próximo
mas com aquela distância universal entre eles.
“Quero pular.” a voz dela soou profundamente vaga. Exatamente como estava
soando quando ele percebeu que não havia melodia em seu tom.
Pular aonde? Olhou para frente e pode enxergar um precipício sem fim afundar
a apenas um passo dela. Se ela pulasse certamente morreria. Ele queria que
ela morresse, só assim ele estaria livre novamente, livre como antes fora, como
antes de enfiar a droga de uma aliança em seu anelar esquerdo.
“Pule.” sussurrou em seu ouvido com se pudesse ser alguma versão sedutora
da morte.
Sua mão deslizou para longe dos quadris dela quando ela deu seu passo.
Pequenos pedaços de pedras e terra caíram precipício abaixo. Uma lufada de
vento soprou seus cabelos e seu vestido mais uma vez e Draco pode sentir seu
perfume pela última vez. Ela se virou para ele. Seus olhos dourados, sua boca
rosada, a linha de seu queixo, o desenho de suas sobrancelhas, tudo nela era
perfeito demais. Tão perfeito que agora parecia até mesmo um desperdício que
ela se jogasse dali. Mas ele a queria morta. Mesmo que nunca mais fosse tocar
seu corpo, mesmo que nunca mais fosse ouvir seu gemido, mesmo que nunca
mais fosse escutar sua respiração dormindo, observá-la acordar, sentir seu
perfume, nem escutar sua voz irritante e ao mesmo tempo suave, ele a queria
morta. Sempre quisera. Havia a trago para Voldemort para ter o prazer de
assistir a sua morte dramática, lenta e dolorosa.
“Ainda quer que eu pule?” ela perguntou usando aquela voz doce.
Aquela havia sido a pergunta de sua própria consciência, não dela. Em primeiro
lugar, quem queria pular era ela! Ele também queria que ela pulasse. Queria
mesmo?
“Draco.” sentiu uma mão em seu pulso. Virou de costas e viu Pansy Parkinson.
“Eu sabia que voltaria para mim. Sempre volta.”
De onde ela havia aparecido? Ele não tinha tempo para ela agora. Voltou-se
para a figura do menino e ele tinha lágrima nos olhos enquanto ainda corria.
Virou-se para o penhasco e o lugar de Hermione estava vazio. Seu coração
pulsou ao mesmo tempo que se desvencilhava da mão em seu pulso, avançava
para o lugar onde Hermione deveria estar e o nome dela vinha como um vômito
em sua garganta.
- Hermione! – ele abriu os olhos e tudo que viu foi o quarto escuro e
arroxeado de Pansy Parkinson. Seu coração batia forte contra suas costelas e
ele ainda conseguia escutar em seu subconsciente o eco de sua própria voz.
Virou o rosto e ainda conseguiu pegar Pansy ao seu lado murchando o próprio
sorriso.
O silêncio entre eles foi incomodo e Draco torceu para que tivesse dito o nome
dela apenas em seu sonho.
- Sonha com ela? – ela soltou com desgosto. Não parecia nada contente e
foi aí que ele soube que havia mesmo aberto a boca para pronunciar o nome de
Hermione.
Ele soltou o ar e relaxou seus músculos. Se ela estava frustrada com ele, ele
também tinha o direito de ficar frustrado com si mesmo. Ergueu as mãos e
apertou os olhos com os dedos. Sentou-se pisando os pés no carpete apoiando
os cotovelos um em cada perna e tomando seu tempo para soltar um longo
suspiro enquanto sentia o próprio coração se acalmar. Foi apenas um sonho
idiota.
- Draco. – a voz de Pansy o chamou séria a suas costas. Ele não queria
lidar com ela agora. Não respondeu. – Draco! – ela tornou a chamá-lo. Ele
continuou mudo. Escutou ela se arrastar para fora da cama. Parou de braços
cruzados a frente dele. – Há quanto tempo não faz sexo com ela?
Ele uniu as sobrancelhas confuso pela pergunta dela. Ergueu os olhos para
encarar sua figura vestida num de seus vestidos justos e curtos de verão. Não
entendeu o porque da pergunta e considerando que Pansy sabia coisa sobre ele
mesmo que nem ele sabia apenas respondeu considerando entender qual a
teoria que ela tinha para ter feito aquela pergunta.
- Bastante tempo.
- Temos nos evitado. – foi tudo que ele respondeu tornando a abaixar os
olhos para o carpete. Não queria chegar no tópico da gravidez, primeiro porque
Pansy não sabia nem deveria, segundo porque não queria deixar a entender
que estava respeitando o espaço de Hermione, o que na verdade não estava,
apenas lhe faltava força de vontade e interesse para quebrar o muro que havia
se erguido entre eles já que sabiam que na verdade faziam sexo porque ela
precisava engravidar e agora que haviam cumprido com seus deveres e o peso
do resultado os atormentava, sexo não parecia tanto a solução de seus
problemas nem o mais atrativo dos entretenimentos.
Claro que ele estivera. Sam havia sido uma delas, mas essas mulheres se
resumiam ao número mínimo de três, em tempos passados ele teria duplicado
esse número. E tudo bem que estava começando a se acostumar com a
realidade de que ninguém lhe daria o sexo que ele tinha com Hermione, mas
continuava a ser frustrante todas as vezes que se aventurava nesse campo e
sexo nunca, em hipótese alguma, poderia ser frustrante.
- Sim. – respondeu.
- Sim.
- Não. – soltou sem hesitar e aquela foi tão esclarecedora para ele quanto
para ela. Ele não estava sonhando que a tocava novamente, não sonhava que
escutava seu gemido, nem sentia suas partes quentes, húmidas e apertadas o
envolver, sonhara apenas que ela dava fim a própria vida.
- Não gosto da forma como tem demonstrado se importar com ela a esse
ponto. – Pansy foi sincera como sempre era.
- Nem mesmo eu. – ele findou se levantando.
Passou por ela, pegou o copo que havia deixado em uma de suas estante, foi
em direção a arca, o encheu e o virou de uma vez. Puxou o relógio do bolso e
viu que já era madrugada. Não tinha noção de que estava tão cansado. Olhou a
marca em seu braço e ela continuava lá, mas não queimava, não ardia, nem
mesmo formigava. Se o Lorde queria adiar a conversa que deveriam ter sobre a
guerra, para Draco era apenas benefício. Poderia continuar a levando da forma
como bem entendia. Recolocou o relógio no bolso e virou-se para um dos
espelhos na parede. Ajeitou os cabelos da melhor forma possível e abotoou os
botões que estavam abertos. Sua camisa estava amassada e ele usou a varinha
para se colocar novamente de forma apresentável a qualquer público que
pudesse o ver aquela hora.
- Sim. – ele gostava de perguntar que poderia responder apenas com sim e
não.
- Não vem ao meu quarto há quase um milênio e simplesmente vai embora
assim? – ele conseguiu ver o olhar de insatisfação dela pelo espelho bem as
suas costas.
Ela sorriu e ele soube que para ela aquilo havia soado como um coral de anjos
e que o fato de ter dito o nome de Hermione enquanto dormia não passava de
mais um dos infortúnio relacionado a presença da Sangue-Ruim em suas vidas
agora.
- Sinto falta do nosso sexo. – ela disse usando a voz que sabia que o
seduzia. – Você não sente? – perguntou enquanto se sentava na cama de uma
forma muito provocadora.
Draco virou-se para ela. Na verdade o único sexo que ele sentia falta era o de
Hermione, mas disso Pansy já sabia e ele não gostaria de lembrá-la.
- Sabe que um dia irei sentir. – optou por dizer.
Ela incorporou o teatro de sempre e fez aquele bico de quem estava falsamente
chateada.
- Sei, mas está demorando muito. – ela disse e ele sorriu. Não gostava dos
teatros dela, mas fazia bastante tempo que não a via em suas performances. –
Estou me cansando de ser paciente. – ela deitou se apoiando nos cotovelos
exatamente da forma como sabia que iria provocá-lo e aquilo o fazia se lembrar
de como o corpo dela também era bom. Era o corpo familiar de Pansy e nunca
deixava de ser sexy.
Ele se aproximou, deixou sua mão correr por uma de suas pernas, afasto-as,
segurou Pansy pela cintura e a arrastou para o centro da cama encaixando seu
corpo no dela quando se deitaram.
Ele considerou enquanto analisava todas as linhas do seu rosto de perto. Ela
era bonita, muito bonita. Ele sabia bem apreciar a beleza de toda mulher. Foi
quando percebeu que a boca dela estava um pouco inchada e sem batom. Fez
seu dedo desenhar a linha do seu lábio inferior. Puxou um sorriso.
- Sabe que sim. – ela usou daquele tom sedutor de novo. – Por que? Está
com ciúmes?
Ele riu mais alto. Não tinha ciúmes dela, nunca tivera, e ela também dizia que
não tinha dele, mas ele sabia que ela tinha. Ela dizia que não tinha porque
sabia que ele gostava daquele relacionamento aberto. O relacionamento que
teriam se caso chegassem a se casar.
- Eu tenho que ir pra casa. – essa foi sua veredito final sobre considerar
passar a noite ali. A deixou na cama e colocou seus sapatos.
- Mas você não quer ir. – argumentou ela quase que em protesto.
- Hermione está me esperando e o assunto que eu e ela temos a tratar é
do meu interesse. – Sim, ele sabia que ela estaria o esperando e já que
Voldemort não havia o chamado ele adiantaria seus serviços.
Quando olhou pela janela para ver a fachada de sua casa enquanto fazia a volta
no pátio para estacionar de frente a escadaria ficou surpreso por não ver
nenhuma luz acessa em nenhum dos andares, nem mesmo a sombra de
alguma luz. Desceu assim que parou e quando passou para o lado de dentro foi
recebido pelo silêncio e pela penumbra.
Ele tinha certeza que se Hermione tivesse buscado o que ele pediu para ela
buscar em seu escritório ela não estaria dormindo. Passou os olhos pela
enorme sala, fitou o lustre e as cortinas fechadas bem como gostava. Hermione
ainda insistia em mantê-las abertas durante o dia. A verdade era que ela havia
mudado bastante a rotina e a ordem daquela casa desde que chegara ali. De
início lutara bastante, mas agora apenas havia se cansado. Estalou os dedos e
num segundo Tryn estava a sua frente com os olhos apertados.
Ele desconfiou. Passou pela criatura e seguiu caminho adentrando mais a casa.
Seu estomago protestava pela falta do jantar e ele sabia que não deveria
comer aquela hora, mas mesmo assim passou pelo salão da sala de jantar e
pelas câmaras chegou até a cozinha.
Ele a encontrou lá. Sabia que ela não teria dormido. Desceu três degraus para
o chão de madeira maciça e envelhecia da cozinha. Era o lugar mais simples
que havia na casa e quem o frequentava eram apenas elfos, mas Draco não se
importava com as lições de sua mãe e aparentemente Hermione também não.
Ela estava sentada na bancada que havia bem no meio do ambiente e ergueu
os olhos para ele assim que apareceu. Eles estavam vermelhos e Draco soube
que ela havia andado chorando. Sempre ficava grato por não presenciar
quando ela fazia isso e ela também fazia questão de não deixá-lo ver.
- Não sabia que frequentava a cozinha. – ela usou uma voz baixa para se
manifestar. Seu tom continuava sem aquela melodia que ele conhecia. Vê-la o
fez se lembrar do sonho e de sua voz dizendo que gostaria de acabar com a
própria vida.
- Venho quando tenho fome. – aquilo era uma mentira, mas sabia que ela
apenas havia dito aquilo porque fora informada que a cozinha era local para
elfos.
Ela não disse mais nada. Draco se aproximou e passou por ela que não se
preocupou em ajeitar a postura como havia sido ensinada. Ele viu um pote de
alguma comida estranha bem ao lado da pasta que pedira para ela buscar em
seu escritório na Catedral.
Ele puxou a tábua de um pão e trouxe para a bancada, buscou um queijo que
havia num dos gabinetes e de uma pequena adega embutida na parede pegou
um vinho. Quando foi buscar sua taça, pensou nela.
- Quer vinho?
Draco se sentou bem a sua frente, derramou vinho em sua taça, cortou uma
fatia de pão e uma fatia de queijo, juntou os dois e comeu um pedaço. Bebeu
quando sentiu sede. Apenas não desgrudou os olhos de Hermione e ela
também fez o mesmo colocando na boca uma colher do que quer que fosse
aquilo em sua taça.
Ele sabia que ela tinha muitas perguntas. Tudo que Draco tinha certeza desde
que ela entrara naquela casa era que ela tinha muitas perguntas e ela havia
tentando resposta para algumas delas, mas a maioria ele não respondia porque
não queria, o resto porque não poderia. Ele esperou que ela soltasse a
pergunta, mas ela nunca vinha.
- O que é isso? – ele apontou com a cabeça para a taça dela.
Ele precisou de alguns segundos para se lembrar que aquela era uma comida
trouxa.
- Fiz. – respondeu sem muito caso – Algumas vezes apenas não consigo
superar o fato de não comer algo que quero.
Ele sabia que aquilo era culpa da gravidez e novamente se lembrar da gravidez
o fez se lembrar daquele garotinho em seu sonho, correndo cheio de
desespero. Draco não conseguia mais se lembrar do rosto que ele tinha.
- Não vai fazer suas perguntas? – ele teve que se manifestar depois de
muito se perguntar o que havia de errado com ela.
Ela apenas piscou com calma, seu olhar vazio como nunca antes. O mesmo
olhar que ela usara para olhá-lo naquele sonho. Sua boca pressionou a comida
garganta abaixo e ela entreabriu os lábios.
A pergunta fez com que ela piscasse os olhos ainda com calma e deixasse uma
linha de dúvida surgir em sua expressão.
- Você não quis fazer essa pergunta. – ela soltou. A voz suave.
Ele ocupou sua boca com vinho, apreciou o sabor antes de engolir.
- Tenho como voltar no tempo? – tirou as dúvidas dela..
Hermione suspirou e desviou o olhar para a pasta. Seus dedos correram a capa
e ela a abriu. Mais uma colher de sorvete foi para sua boca. Ele teve
curiosidade de experimentar aquilo. Santo Deus! Será que Hermione tinha
consciência de como cada milímetro de seu rosto em cada movimento singular,
principalmente sua boca, fazia com que ele tivesse vontade de sumir com
aquele balcão entre eles? Levou outro pedaço de pão a boca enquanto checava
se sua expressão continuava neutra.
Os olhos dela passaram pela folha tempo o suficiente para que o fizesse saber
que ela lia. Talvez pela milésima vez. Quando ela tornou a erguer os olhos,
havia mais sorvete dançando em sua boca. Ele teve inveja daquela comida
maldita. Sustentaram aquela troca de olhar em silêncio mais uma vez por
infinitos minutos.
Ele sorriu.
- Eu não sei quais os planos que tem me passando isso, Draco, mas farei o
que quer que eu faça. – ela deu o seu ultimato sobre o assunto em seu tom
sem vida.
Draco franziu o cenho nada contente com aquela resposta. Não era o tipo de
resposta que ela daria para uma implicância estúpida dele. Hermione nunca se
rendia as ignorâncias que ele gostava de lançar no ar para ela. A segurou pelo
pulso quando ela fez menção de tomar seu caminho. A puxou para si abrindo
seu corpo para ela. Cercou sua cintura e fez com que seus rostos ficassem a
centímetros de distância.
- Eu não sei qual tem sido o seu problema, Hermione, mas é melhor tratar
de resolvê-lo. Isso tudo é um jogo muito perigoso e se escolher desistir de
jogá-lo vão te carregar para o fundo do poço. – começou baixo porém firme o
suficiente. - Malfoys nunca vão para o fundo do poço. – Sibilou. Sentiu o hálito
dela bater contra ele. Estava gelado. Tinha aroma de baunilha. – Não tem mais
amiguinhos babacas para amarrar o cadarço dos seus sapatos quando se sentir
fraca demais para isso. Aprenda a sobreviver sozinha. Use o cérebro que tem.
Conseguiu ser brilhante para me fazer demitir minha ex-secretária e ter minha
torre toda para você, mas mandar Lovegood invadir meu escritório? Aquilo não
foi nada inteligente! Não pode deixar que o seu miserável estado de espírito
desligue o cérebro que tem! – estava começando a ter raiva do quanto queria
devorá-la por inteiro. Seu cheiro, sua respiração, seus olhos e a boca. A boca! –
Eu não te quero no fundo do poço, porque se for parar lá, eu também irei e se
eu souber que fui para o fundo do poço por sua culpa, juro que saberá o que é
ter um péssimo marido. – havia aprendido bem com seu pai.
- Não é como se você fosse um bom. – ele continuava com aquele maldito
tom.
- Escute! – seus dentes cerraram e ele soltou o pulso dela para lhe segurar
pela mandíbula. Conseguia ver cada detalhe de sua íris de tão próximo e céus,
como ele queria aquela boca. – Considere o recesso que estou dando para a
relação física que temos um ato de extrema compreensão do seu estado atual.
Ela deu as costas e saiu deixando aquele tom infernal ficar ecoando pelas
paredes. Ele voltou-se para sua comida sentindo o desconforto das palavras
dela. Maldita hora em que se vira encurralado para dizer a Voldemort que ela
tomava poções. Se a loira lunática ao menos tivesse encontrado uma forma de
ocupar os espaços vazios que deixava nas gavetas da enfermaria talvez ainda
estivesse tentando enrolar com o caso do maldito herdeiro.
Lançou o pedaço de pão que estava a meio caminho de sua boca em uma
tentativa frustrada de externar a raiva que seus pensamentos lhe provocavam.
Puxou a pasta que mandara entregar para Hermione disfarçada de
memorandos para o departamento de Theodoro. A abriu e viu a lista de
agendamentos para saída do portão norte do dia de amanhã. Ela havia
marcado dois nomes. Os dois primeiros e os dois que ela sabia pelos históricos
que havia colocado a mão que eram os que deixavam Brampton Fort
diariamente.
Fechou a pasta e a empurrou para longe. Girou a varinha e ela se consumiu em
fogo até virar cinzas sobre a mesa. Tryn daria um jeito naquela bagunça assim
que o sol aparecesse clareasse o dia. O que ele precisava era de Luna Lovegood
de volta na Ordem carregando tudo que sabia que Hermione faria ela carregar
para fora daquelas muralhas.
Capítulo 18
Hermione Malfoy
- Você ainda está aqui. – ela murmurou pesadamente. Achava que ele
ficaria pouco tempo em Brampton Fort, mas já era a segunda noite que
passava em casa desde que voltara.
- Vou embora hoje novamente. – a voz dele sempre parecia mais grave e
profunda pela manhã. Ele esticou uma mão bem a frente dos olhos, a abriu e
fechou como se quisesse melhorar a circulação ali e colocou o braço para apoiar
sua cabeça. Virou os olhos para ela e eles se encararam em silêncio.
Havia sido uma noite difícil de se dormir para ela. O silêncio deles contava que
sabiam as programações para o dia de hoje e talvez por esse motivo, ele
também não tenha tido uma noite muito agradável.
- Tem certeza de que está tudo pronto para hoje? – ele fez sua voz soar
novamente naquele tom que parecia fazer tudo vibrar.
Ela assentiu. Ficou de lado e ergueu um pouco o tronco quando apoiou um dos
cotovelos no colchão e a cabeça na própria mão. Umedeceu os lábios e puxou
os cabelos para trás fazendo-os pender para um lado só.
- Como foi com Voldemort ontem? – ela não havia tido a chance de
perguntar já que ele chegara em casa bem depois da hora que ela se deitara.
A reação dele foi uma careta e um som engraçado com os lábios enquanto
usava a língua para alisar os próprios dentes.
- Já disse para parar de usar o nome dele, Hermione. – ele sempre parecia
tão aborrecido com aquilo.
- Como foi com o mestre ontem? – tornou a perguntar lutando para não
revirar os olhos. Sabia que realmente não era muito apropriado usar o nome de
Voldemort carregando a marca dele em seu braço. Voldemort parecia conseguir
cheirar conspiração através dela.
Ele desviou o olhar para o nada a frente de si. Hermione sabia que ele tinha
consciência de que ela perguntava aquilo porque uma reunião entre Draco e
Voldemort jamais seria exposta em detalhes nas sessões com o conselho.
- Ele me disse para seguir a frente da guerra como sempre fiz. Continuou a
me dar carta livre para tomada de decisões. Parece estar ocupado com outras
coisas. – foi o que respondeu.
- Você diria isso em uma reunião do conselho. Não é isso que quero saber.
– ela disse insatisfeita.
- Gosto de como seu cérebro funciona, Hermione. – foi tudo que ele
comentou. – Sim, eu acredito que a Ordem esteja em posse do véu original.
Aliás, acredito até que tenha sido por ele que se deixou ser pega. Fez todo o
sentido depois que soube sobre o roubo do véu.
- E por que exatamente quer Luna de volta na Ordem?
- Por que a que de volta na Ordem? – ela insistiu mostrando que não
interessava o que ele havia respondido.
- Você sabe que eu não jogo do lado de Voldemort nem do lado da Ordem
nessa guerra. Jogo do nosso lado. Do lado dos Malfoy. Jogo por mim, pela
minha própria pele e pelas demais pessoas que seguem com o meu sobrenome
por estarem ligadas a mim. A quero de volta na Ordem porque quero realmente
ver do que a Ordem é capaz. Eu não gosto muito do campo das incertezas e
tendo reduzi-lo o máximo que posso. – ele disse como se estivesse contando
sobre como o céu estava nublado.
Hermione piscou encarando seu perfil clarear quase imperceptivelmente pela
luz que aos poucos escapava das brechas entre as cortinas. A barba lhe
apontava o rosto e muito provavelmente ele a tiraria assim que se levantasse
da cama. Hermione gostava daquele visual em seu rosto. Tirava um pouco de
sua aparência perfeccionista e alinhada de todos os dias. Ela gostava dos seus
cabelos bagunçados, como estavam ali agora. Gostava de sua voz assim que
acordava. Ela até gostava dele pela manhã. Era uma figura menos detestável,
menos Draco, menos Malfoy, era muito mais humana, mais tocável, mais longe
do monstro que ela sabia que ele poderia ser quando queria ou devia, embora
sempre vestisse aquela capa de indiferença e frieza típica de qualquer Malfoy.
Ela deixou o silêncio rolar enquanto o observava desfrutar dos últimos minutos
que ainda tinha para ficar na cama. Queria soltar uma sugestão perigosa, e
como nos últimos dias não estava se importando muito com bastante coisa e
finalmente estava aceitando que a vida que vivia era um fardo que carregaria
para sempre e que a carregaria para o fim do poço, abriu a boca e deixou sua
voz fluir com a naturalidade que Draco havia usado anteriormente:
Ele piscou em silêncio e calmamente. Sua voz soou somente após um longo
minuto.
- Sim, de fato seria excelente ter o seu cérebro jogando ao meu favor. –
ele começou como se já tivesse refletido sobre aquilo mais de uma vez e
tivesse a resposta exata para aquela pergunta. – Mas existem fatores de maior
peso que me fazem desistir da ideia. O primeiro de todos é que não confio em
você, o segundo é que jamais jogaria ao meu favor, o terceiro é que teria que
compartilhar com você coisas que nem mesmo para minha sombra eu
compartilharia.
Aquele era o decreto dele e ela aceitava. Realmente jamais jogaria a favor dele.
A verdade é que ele a usava para jogar a favor dele até certo ponto e ela sabia
muito bem que se soubesse das verdadeiras intenções dele nas jogadas que
tinha, ela muito espertamente se aproveitaria para colocar seus interesses a
frente e era isso que Draco inteligentemente evitava fazendo ela saber do
mínimo de informação possível.
Deitou-se de costas encarando o teto distante e ainda escuro. Draco fazia bem
em não confiar nela, e ela jamais confiaria nele. Eram tão diferentes, tão
opostos. Eram lados diferentes de uma guerra e sempre seriam, mesmo que
para Hermione tudo aquilo tivesse acabado e ela tinha que fingir se divertir
trabalhar com leis e sistemas absurdos como se não soubesse de nada que
acontecia do lado de fora daquelas muralhas enquanto vivia em uma casa com
um homem que dormia e acordava ao seu lado em silêncio e carregando um
filho que jamais escutaria chamá-la de mãe. Estava mesmo fadada a viver
assim e eram em momentos como aquele, onde se deparava com sua
realidade, que sentia que não seria uma má ideia ficar ali, naquela cama,
parada encarando o teto até que o último dia de sua vida finalmente a
consumisse.
Mas a vida em seu ventre mostrou sinal de que notara que o dia havia
começado. Ela pouco o sentia e quanto sentia ainda duvidava de que realmente
fosse o bebê que seu corpo milagrosamente criava. Sentia aquela vida como se
fossem borboletas na parte mais baixa de sua barriga, mas com o passar dos
dias aquilo se tornava mais consistente, mais presente e mais forte. Tocou o
volume de sua barriga por cima da seda de sua camisola. Fechou os olhos e
respirou fundo. Queria saber como seu corpo era capaz de produzir aquele
milagre. Uma pequena paz invadiu seu coração e foi dela que tirou a força para
se sentar, jogar as pernas para fora das cobertas e se levantar. Tinha que ser
forte.
Sabia que na verdade deveria ter se mantido calada, ou dito qualquer coisa em
relação a estar agoniada, mas a verdade era que realmente não tinha ânimo
para levantar mesmo sabendo que aquele era o dia em que Luna talvez
conseguisse fugir daquela maldita cidade. Suspirou e tirou os cabelos que
ficaram para dentro da gola.
- Até onde sei minha mãe havia a ajudado na compra de roupas para essa
finalidade. – ele lançou o comentário.
- Roupas não vão esconder minha barriga para sempre, Draco. – disse
embora ele já soubesse disso.
- Está apenas nervoso. – ela usou uma voz calma receando pela reação da
proximidade e pela sua invasão de espaço. Segurou a gravata na mão dele
como se pedisse permissão para tentar. Ele não reagiu de nenhum modo e foi
assim que ela lhe tomou a gravata, precisou ficar na ponta dos pés para passá-
la de novo no pescoço dele e começou com calma e precisão o nó que nem um
feitiço faria com a perfeição que ele gostava. – Está errando aqui. - ela avisou
com uma voz suave e concentrada enquanto passava a parte de cima pela
parte de baixo exatamente como deveria ser. Quando deu o toque final e
apertou o nó, abaixou a gola da blusa dele ajeitando-a numa perfeita simetria e
levantou os olhos para encarar os dele fixos sobre ela em silêncio. Afastou-se.
O olhar dele cravado sobre ela era de algum modo diferente. – Não é
necessário se preocupar com hoje. Quero Luna longe de Brampton Fort muito
mais do que você. Meu plano para hoje já existe faz um bom tempo. – disse
mesmo sabendo que ele já sabia daquilo. Aquilo não era nada que o
preocupava. Ela sabia o que realmente o preocupava, mas receava por
perguntar porque o que o preocupava também a preocupava. Afastou-se um
pouco mais e se apoiou numa das quinas da parede. Desviou o olhar. – Acha
que Voldemort... – a careta dele a fez parar – O mestre. – concertou. – Acha
que ele saberá que está envolvido com a fuga de Luna?
- O fato de haver chances da guerra virar muda muita coisa. – ela disse e
ele se voltou para ela.
- Nem tantas quanto imagina. – ele disse. – As chances que acha que
existem não passam de especulações.
- E o mestre saberia que mandar Luna de volta para Ordem poderia ser a
sua chance de especular algo.
Hermione pode perceber que ele via a chance de ser culpado e talvez por isso
estivesse nervoso. Por que ele estava tomando um risco como aquele?
- Você sabe que ele terá que castigar alguém. – ela se manifestou antes
que Draco deixasse o closet.
- Por mais que eu gostaria que ele te fizesse pagar, ele não faria nada com
você! Está gerando o precioso herdeiro que ele tanto quer. – Draco disse e foi
embora. Aquele não seria um bom dia para insistir em qualquer assunto com
ele.
Precisou se apressar visto que se ela não estivesse pronta até a hora que ele
normalmente ia a catedral, ele iria embora sem ela fazendo com que ela
precisasse pedir por outra carruagem o que a faria se atrasar.
Tomou café com o Draco silencioso e dedicado ao seu jornal de todos os dias e
partiram para a Catedral na mesma carruagem de sempre com o silêncio
também marcante de todos os dias. Ela queria perguntar para onde ele iria
dessa vez e quanto tempo ficaria fora de Brampton Fort, mas julgou que seria
melhor se manter calada visto que ele não estava nos seus melhores dias.
Entraram por um pátio mais reservado. Ele desceu primeiro e ela desceu em
seguida. Seus passos eram os únicos a serem escutados aquela hora da manhã
quando avançaram pelo jardim interno.
- Siga sua rotina normal. – ele disse a apenas alguns passos do saguão
onde se separavam.
- Não precisa me dizer o que fazer. Tenho esse plano já faz um bom
tempo, Draco. Tive tempo o suficiente para poli-lo bem. – ela disse.
Ele não retrucou. Quando chegaram ao saguão para tomarem cada um o seu
rumo, ele apenas lançou a ela um olhar significativo e virou em direção a ala
que deveria tomar. Hermione continuou seu passo firme contra as pedras do
saguão. Havia uma pouca movimentação de pessoas pelo horário, mas em
apenas alguns minutos aquilo estaria tão cheio quanto o piso principal do
Ministério da Magia no final do expediente. Olhou no grande relógio acima do
vitral do piso duplo e administrou em sua cabeça os minutos que tinha.
A porta a sua frente abriu. Um homem um pouco mais alto que ela apareceu. O
bigode espesso acima de seus lábios era quase uma marca registrada. O rosto
redondo, as bochechas rosadas, os poros enormes. Ele vestia um robe
volumoso e vinho com o símbolo do departamento que trabalhava, o que fazia
com que ficasse maior do que realmente era. Estava absurdamente confuso ao
vê-la.
- Espero não tê-lo acordado, Alastair Harrow. – Hermione se aproveitou do
olhar confuso que ele tinha, que muito provavelmente o impedia de raciocinar
naquele momento. – Eu e você temos algo a tratar. - estendeu a mão e
empurrou a porta o que fez com que ele automaticamente desse espaço para
que ela passasse. Ninguém em sã consciência barraria um Malfoy.
- Eu disse que temos algo a tratar. – ela disse enquanto passava seu dedo
médio sobre a poeira acumulada de uma das esculturas do quarto. Aquele era
um bom quarto.
- Não tenho negócios com os Malfoy. – ele retrucou, sua voz ainda soava
perdida.
- Acontece que esse é o seu dia de sorte. – ela sorriu e voltou-se para ele
que ainda se mantinha com a mão na maçaneta. Limpou a poeira de seu dedo.
– Hoje, terá a honra de prestar um grande favor a família Malfoy. – ela usou a
varinha para fechar a porta o que fez com que ele se assustasse e mudasse um
pouco de sua expressão para a defensiva. Notou que a mão dele foi parar no
bolso onde detinha sua varinha. Ela se aproximou com calma enquanto notava
a mão dele se fechar pelo volume do tecido de seu robe. Parou bem a frente
dele e olhou bem em seus olhos. A confusão do homem já parecia ter dado
lugar a toda desconfiança que um comensal poderia carregar contra uma
Sangue-Ruim. – Apenas não terá a chance de dizer não. – apontou sua varinha
para ele mostrando de vez para o que viera. Ele tentou reagir com rapidez
puxando sua varinha na mesma velocidade, mas ela o desarmou com a mesma
facilidade dos velhos tempos. Levantou uma sobrancelha vitoriosa em sinal de
que ele não tinha muito para onde correr com a varinha dela empunhada em
sua direção. Aproximou-se ainda mais encostando sua varinha no peito dele.
Olhou fundo em seus olhos e sentiu a magia fluir de seu punho. A antiga
Hermione teria começado com um pedido de desculpas, mas ela não se sentia
tanto como a antiga Hermione. – Você vai me escutar com bastante cuidado. –
começou assim. – Você está cansado. Muito cansado. Não dorme bem há dias.
Tem feito seu trabalho com empenho por isso quase não tem descansado.
Talvez seja por isso que perderá o horário hoje pela manhã. Irá me dar um fio
de seu cabelo, o passe de identificação da segurança e o terno que havia
separado para usar hoje. Depois disso irá dormir até que alguém o acorde. –
ergueu a outra mão e começou a lhe puxar da memória as lembranças do que
estava acontecendo agora. - Quando lhe perguntarem o que houve, dirá apenas
que perdeu a hora, se lhe perguntarem sobre seu cartão de segurança, dirá que
não sabe como perdeu. Ninguém nunca esteva em seu quarto. Não se lembra
de nada estranho e nem nunca se lembrará. – ela terminou. Abaixou sua
varinha e tudo que ele fez foi piscar, erguer a mão, puxar um fio de cabelo e
lhe entregar.
Hermione o pegou e cruzou os braços enquanto o homem fazia tudo que ela
havia lhe mandado. Quando se viu em posse do cartão de segurança e do terno
que havia pedido, o observou voltar para sua cama, deitar e dormir como se
nunca tivesse sido acordado.
Pegou uma pasta com o símbolo do departamento que ele trabalhava, a varinha
que havia ficado no chão quando ela o desarmara, saiu do quarto e o trancou.
Ela não era tão boa naquele feitiço de persuasão quanto Gina e não se daria a
chance ter menos tempo se caso ele caísse em si ou acordasse antes do que
ela pretendia que ele acordasse.
O caminho para cruzar para a ala leste ainda estava vazio e ela teria ajoelhado
para agradeceu a Merlin por isso se não estivesse com os minutos contados.
Precisou dar apenas uma batida na porta de Luna para que ela atendesse no
segundo seguinte. Seus olhos estavam atentos e maiores do que o normal, o
que mostrava que ela não havia dormido devido a ansiedade. Hermione passou
para o lado de dentro quando a amiga deu espaço.
- Não pode chorar, Luna. – estendeu a maleta para ela. – Eles irão notar os
olhos vermelhos.
- Nós já passamos por isso. Não temos tempo para passarmos novamente.
– pegou a varinha e a mostrou para Luna. – Essa é a varinha dele. Tente não
fazer muita magia ou verão que não lhe pertence. – mostrou o cartão. – Esse
passe é a identificação de segurança. Comensais que entram e saem com
frequência o carregam para escaparem da burocracia de identificação que é o
que não pode passar de maneira alguma ou verão que está sob o efeito de
Polissuco. Não o perca. – deu a volta na mesa e colocou o cartão e a varinha
sobre a maleta. – A chave de portal a levará direto para o saguão de entrada
do Ministério. Assim que chegar lá tentará sair o mais rápido possível. Flu,
cabine telefônica, entrada principal. Saia de lá de algum jeito. Encontre um
bom lugar para aparatar. Sabe como chegar até a Ordem.
Hermione não conseguiu evitar a reação de horror que teve ao ser atingida
pelas palavras de Luna, mas já havia se acostumado tanto com a expressão fria
que era obrigada a vestir todos os dias que apenas piscou e respondeu:
- Sabe que sou infeliz, Luna. Não diga coisas apenas porque está magoada.
- Não diga o que não sabe. Meus amigos são minha família! Sabe disso.
Esteve comigo desde que perdi os meus pais.
- Você não pertence mais a essa vida, Hermione. Parou de enxerga-la há
um bom tempo. Acha que não há nenhum escape para você e apenas enxerga
a vida que está fadada a levar. Se afunda nela e está aprendendo a fazer parte
dela. Te machuca, mas nós duas sabemos que esse processo tem te levado a
ser cada dia mais como eles, como um Malfoy. Me pergunto se no futuro você
conseguiria se encaixar na Ordem novamente.
- Pare, por favor... – Hermione pediu numa voz baixa, mas sem emoção.
Temia pelas verdades das palavras dela.
- Notei isso quando me pediu para não contar a ninguém sobre ter se
casado com Malfoy nem sobre o herdeiro que deve dar a Voldemort. Sabe que
irei guardar seu segredo, Hermione. Sou boa nisso. Sempre fui a fiel dos
segredos da maioria das missões da Ordem. Não quer que seus amigos saibam
a vida que tem levado aqui por ter medo de não estar sendo fiel a quem
verdadeiramente é, mas você está. Está se tornando uma Malfoy, mas do seu
próprio jeito...
- Luna...
- É fácil pra você me mandar embora! – pela primeira vez a voz dela soou
ferida – Vai ficar aqui esbanjando a influência que tem, o dinheiro em Gringotes
que finalmente pode gastar. Paz! Uma casa, uma família! Por pior que seja! Eu
vou voltar para o inferno do medo que costumávamos viver!
- Tínhamos uma vida difícil, mas estávamos entre amigos! Não era nenhum
inferno!
- Você não achava nenhum inferno porque tinha Harry para te distrair. Era
a linha de frente de uma guerra. Você mandava. Não era mandada! Estava
sempre entretida em tentar superar o cérebro de Draco Malfoy. O medo para
você era diferente! Perdeu seus pais, mas tinha seus amigos! Eu perdi tudo que
eu tinha que era o meu pai e ninguém nem mesmo se importou em ocupar o
vazio de uma lunática que mal sabia sobre as coisas que filosofava!
- Pare, Luna!
- Não! – dessa vez Luna realmente parecia querer expor o que sua calma
voz escondera por muito tempo – Tudo bem que talvez eu esteja exagerando.
Sua vida aqui está sendo bem pior do que eu poderia imaginar, mas para mim
é diferente! Estou sozinha como sempre estive desde que meu pai morreu, mas
pelo menos aqui eu não sinto que vivo debaixo do medo de sermos pegos ou de
perdermos a guerra! O medo constante que vivíamos na Ordem! Estou cansada
da guerra! Não quero voltar para ela! Aqui é uma prisão tanto quanto a casa
dos Black é para a Ordem! Eu-não-quero-voltar!
- Ameaça em cima do poder que tem, hum? – a voz dela soou baixa e
voltou ao seu tom sonhador de sempre. – Agora sim você se parece com uma
verdadeira Malfoy.
Hermione até gostaria de se desculpar, mas sabia que realmente faria aquilo se
preciso. Virou o relógio para a amiga.
- Cinco minutos. – Deu as costas. – Agora é com você. – disse e
deixouWhitehall.
- Não me diga que fez algo de errado. – ele disse parando e colocando uma
das mãos dentro do bolso de sua calça.
O gosto dele era familiar e céus, ela havia se esquecido o quanto ele era um
maestro naquela arte. Agora que provava daquilo novamente podia perceber
que havia sentido falta. Intensificou mostrando sua intenção e ele não a
recuou. Colou ainda mais seu corpo no dele e sentiu falta daqueles músculos se
movendo contra sua pele. Ela nunca deveria tê-lo provado. Seus dedos abriram
o botão do terno e puxaram a camisa para o lado de fora da calça. Foi somente
ali que Draco a afastou respirando pesadamente quase como se tivesse
recuperado a consciência.
- O que? – quase sorriu, mas o olhar confuso lhe venceu. – Você está
grávida.
- Não significa que estou doente. – retrucou ela. – Faça sexo comigo. –
repetiu.
- Não, seu maldito covarde! – sua voz estava forte como nunca estivera
antes. Era uma Malfoy. – Sua mulher está grávida! Sim, sua mulher! Você
colocou esse filho em mim! O filho é seu! É o seu sangue! O seu sobrenome!
Você nem mesmo irá precisar cria-lo! Encare isso!
- Não! – ela disse com todas as letras auto e bastante audível. – Seja o
homem que quer ser! Sim, eu estou grávida! Acha que pode simplesmente
ignorar? Encare isso! – se aproximou novamente. Ele permaneceu a muralha
que era. Ela se irritava com aquilo. Era o modo que ele tinha de ser o covarde
que era sem ser questionado. – Encare isso! – repetiu firmemente mas ele
continuou ali a encarando. Ela via naqueles olhos cinzas que ele apenas queria
estrangulá-la. – ENCARE ISSO! – bateu na mesa.
- Não me dê esse tipo de desculpa, seu covarde! Teve o mesmo tempo que
eu tive para superar essa realidade! – ela apertou os dentes.
- Mentira! – ele queria puxá-lo até o máximo. Queria ver até onde ele iria.
Queria dar um fim aquilo. – Covarde! Está sempre fugindo!
- Então faça sexo comigo! – ela tornou a insistir. Ele se calou ainda com
aquele olhar furioso. – Faça, Draco! – ergueu o queixo o desafiando. Ele
continuou imóvel do outro lado da mesa. – Covarde. – riu fracamente em
desdém. Aquela palavra o atingia de tal modo que parecia remoê-lo inteiro por
dentro. Draco se moveu tornando a dar a volta para se aproximar. – Duvido
que faça. – talvez aquilo o encorajasse – É um maldito Sonserino. Está no seu
sangue. Egoísta. – ela ergueu a mão para detê-lo quando ele estava a um
passo de distância, mas ele a segurou pelo pulso e a empurrou até que suas
costas batessem contra a parede da sala.
- Você sempre tem que vencer, não é? – ele retrucou furioso e a beijou.
Sim! Era aquilo que ela queria e não, ele não era covarde. Ela apenas queria
que ele superasse, queria que ele passasse por cima daquilo, que ele não
regredisse e voltasse a ser o Draco que ela havia conhecido quando criança
porque aquele Draco era muito mais irritante e insuportável do que o de agora
e sabia que de certa forma, Draco estava entendendo aquilo por mais que sua
reação tivesse sido a de querer matá-la. Ela nunca havia invadido tanto o
espaço dele. Nunca havia quebrado o que conseguira quebrar quando o viu
derrubar sua máscara de gelo e por isso entendia porque ele a olhava como se
quisesse estrangulá-la.
Ele parecia querer fazer com que o tempo que haviam perdido fosse
compensado. Parecia querer extrair todo o sabor dela e ela havia se esquecido
o quanto ele era realmente bom naquilo. As vezes tinha até raiva por saber que
ele era tudo que realmente diziam que ele era.
O corpo dele tinha a capacidade de esquentar o seu com muita facilidade. Os
músculos se movendo por baixo dos tecidos era excitante e a intensidade com
que maestravam aquele beijo a fazia ficar ansiosa pelo que já sentia falta.
Draco puxou uma de suas pernas e Hermione o cercou com ela. Estava
começando a perceber a urgência que crescia entre eles, mas não era o desejo,
era a falta. A falta que fazia para os dois.
Ela ocupou suas mãos com a fivela do cinto dele. Ele com o seio dela. E céus,
nunca haviam se beijado tanto. A mão dele escorregou para dentro de seu
vestido, sentiu a pele de sua coxa, subiu puxando o elástico de sua calcinha e
no momento que ele tocou o pequeno volume em sua barriga a boca dele
desgrudou da dela arfando como se tivesse se esquecido daquele pequeno
detalhe. Ela o olhou apreensiva ofegando. Hermione temeu que ele fosse se
afastar, mas ele entendia que precisava tocá-la e foi isso talvez que o tenha
feito mover sua boca para a mandíbula dela.
Ela não precisava de preliminares. As mão dele tinham poder para muita coisa
e foi assim que ele abriu espaço por entre as pernas dela, afastou sua calcinha
e entrou fazendo com que ela fincasse as unhas nas costas dele e engolisse a
própria respiração. Tinha até mesmo se esquecido do quanto era bom tê-lo
dentro dela e talvez parecessem até mesmo desesperados pelo número de
tecido que ainda vestiam. Não se importavam.
O prazer já lhe crescia como se quisesse explodir o cérebro. Fechou os olhos e
sentiu a boca dele na sua novamente. O movimento começou fazendo com que
ela perdesse o controle de sua respiração. Seus dedos entraram por entre os
fios loiros da nuca dele e ela sentiu a necessidade de puxá-los. Tentou se
manter silenciosa, mas a medida que a agonia lhe crescia ela ouvia seus sons
se manifestarem em socorro.
Ele parecia tocá-la sem problemas agora. Hermione até notava que as mãos
dele refaziam o caminho de sua cintura a seu quadril com frequência. Por um
segundo ela gostou de Draco. Admitiu que talvez aquilo fosse realmente difícil
para ele e ela deveria o admirar por estar sendo bastante corajoso para um
infeliz Sonserino que era, mas foi apenas por um segundo. O segundo que a fez
segurar uma das mãos dele por cima do tecido fino de seu vestido. Escondeu o
rosto em seu pescoço e o sentiu parar quando ela estava quase chegando ao
seu ápice. Ele recomeçou somente depois que abaixaram a respiração. Ela
abriu um sorriso fino. Sim, faça durar. Pensou.
Aquilo era diferente de tudo que já haviam feito. Não era nenhum show
performático. Eles dois sabiam o motivo e o objetivo daquilo. Não iriam fazer
sexo como costumavam fazer antes. Era diferente agora, muito novo, muito
temível. Precisavam começar de baixo, aos poucos. Cada um carregava seus
receios ali. Precisavam quebrar cada muro de uma vez. Hermione gostava que
estivessem entendendo aquilo juntos. Gostava que Draco estivesse sendo
compreensível com relação aquilo. Jamais pensara que ele pudesse ser
compreensível mesmo sabendo que ele não era de todo desprezível por pelo
menos amar a mãe.
Veio primeiro que ele. Seu corpo tremeu todo por baixo do dele enquanto
soltava seu som final com o rosto escondido no pescoço dele. Draco veio depois
com seu som de alívio sendo abafado por seus cabelos castanhos. Eles ficaram
ali em silêncio até que suas respirações voltassem ao normal. Hermione contou
os segundos batendo no relógio próximo.
- Nunca mais faça o que fez hoje. – a voz dele soou grave e casada
próxima ao seu ouvido depois do que se pareceram horas.
Ela sabia que havia passado da linha de segurança, mas talvez ele a
agradecesse por ter feito ele encarar aquilo de alguma forma.
- Você não pode ser uma companhia agradável nem mesmo por um
minuto, pode?
O som de batidas na porta trouxeram os dois para o alerta fazendo com que se
separassem e passassem a ajeitarem suas roupas com agilidade.
- Sr. Malfoy? – era a voz de Tina do outro lado. – Sinto muito por
interromper, mas Alastair Harrow está aqui com uma acusação que pode ser
preocupante.
Draco parou e levou seu olhar para Hermione. Ela respondeu com um perplexo
e duvidoso.
- O que? – ele a olhou como se ela fosse burra – Feitiço de persuasão? Que
merda é essa? Por que não usou Imperius, inferno?
- Ele não precisa vir até minha torre para isso. Deve descer ao quartel e
pedir para remarcar uma chave de portal com urgência. – Draco se mostrou
extremamente aborrecido.
Alastair olhou fundo nos olhos de Hermione enquanto passava para o lado de
dentro como se tivesse alguma lembrança recente não muito clara que a
envolvia. Hermione apenas cruzava os dedos para que Luna já tivesse no
Ministério a essa hora. Draco poderia apenas ter pedido para que Tina checasse
a chave de portal, não cancelasse.
- Fui dormir tarde noite passada. Minha chave de portal de volta estava
marcada para as onze da noite. Estava cansado, talvez por isso tenha perdido a
hora. Mas não entendo o motivo de ter acordado no estado que acordei. Nem
mesmo minha maleta e meu terno para hoje consegui encontrar. Sempre soube
que o andar dos quartos tinha uma segurança precária...
- Não questione o trabalho que faço com a segurança da Catedral, Harrow.
Não está aqui para isso. – Draco foi frio. O que fez o homem se calar no mesmo
instante. O olhar de Alastair sempre se tornava um desconfiando quando se
cruzava com Hermione. - Tem alguma justificativa específica para o fato de não
encontrar seus pertences? – Draco perguntou e Hermione soube que seria ali
que saberiam que Alastair tinha sido enfeitiçado.
- Eu tinha. Luna conseguiu, não conseguiu?! – ela usou o mesmo tom para
responder embora soubesse que agora ele realmente tinha um motivo para se
enfurecer.
- Isso aqui não é a Ordem da Fênix onde fica feliz por ter vencido por
pouco! Por ter escapado por um fio! – ele apertou seu braço e ela temeu que
ficasse a marca – Estamos conspirando bem debaixo do nariz de Voldemort!
Não pode se dar ao luxo de pisar na bola nem mesmo um centímetro! Deve
calcular as coisas com uma margem de erro muito precisa! Aprenda que se
tiver que matar, mate! Se não conseguir trabalhar desse jeito me avise que eu
te deixo de fora! – ele a soltou e ela cambaleou segurando o braço que lhe
queimava enquanto o observava deixar a sala.
Fazia um bom tempo que não viajava por chave de portal para nenhum lugar. A
sensação era de que havia se desintegrado ao voar quilômetros em um
segundo, como se tivesse passado a velocidade da luz, como se tivesse morrido
e ressurgido novamente.
A chave era a maçaneta de uma porta que havia em uma sala inteiramente de
pedras na saída do portão em Brampton Fort. A porta ficava de pé e sozinha
bem no centro do lugar. Tudo que Luna fez foi se aproximar e segurar a
maçaneta. No segundo seguinte ela estava parada em uma sala retangular
estreita com a mão na maçaneta de uma porta diferente.
- Dia, Harrow! – escutou a voz masculina ao seu lado e olhou para ver um
homem também com a mão na maçaneta de outra porta alinhada a sua.
- Dia. – respondeu escutando a voz masculina sair de si mesma.
Não sabia o sobrenome de quem quer que fosse aquele homem, mas abriu sua
porta imitando-o e se deparou presa em um cercado numa das laterais do
saguão do Ministério da Magia, que aquele horário estava esbanjando vida.
Haviam duas filas para sair do cercado e ela percebeu que era outra inspeção.
Estava cansada de inspeções.
Saída dos fortes, era o que estava escrito numa das placas que estava
pendurada acima do cercado. Luna tratou de ficar bem atrás do homem que o
cumprimentara a segundos atrás na fila menor. Havia apenas uma pessoa a
frente dele que já estava passando pela supervisão.
- Então, - o homem a sua frente puxou o assunto – aposto que não teve
tempo de pegar ninguém acordado ontem na Catedral. – ele disse. Luna não
teve a menor ideia do que responder e apenas concordou com um resmungo. –
Não vejo o motivo de termos que voltar todos os dias. Eles podiam fazer um
andar dormitório aqui no Ministério para esses dias que temos que ficar até
tarde ou marcam nossa volta para a madrugada. – continuou ele mesmo
quando foi sua vez de passar pela inspeção. Luna observou bem o que ele
colocou sobre o balcão. Maleta, varinha, passe. – De qualquer forma. Estou a
um passo de ser transferido para Brampton Fort. Minha família inteira tem
esperado por isso. Os papéis estão todos em processo na Catedral. – Luna
notou um grupo de homens uniformizados avançar pelo saguão em direção ao
cercado onde estava com uma pressa que a preocupou - ...Oceania não tem
sido o melhor lugar para nós e minha mulher com minhas filhas insistem que a
vida inteira acontece em Brampton Fort. Aposto que é por causa dos Malfoy.
Lucy diz que eles tem o poder de transformar qualquer pântano em uma
Beverly Hills. – ele riu alto. – Esses adolescentes de hoje... – o homem pegou
sua maleta e a varinha. – Talvez pudéssemos almoçar juntos hoje, Alastair. – o
homem se despediu.
Colocou sua maleta, a varinha e o passe no balcão. Precisava sair dali logo.
Olhou em volta mediu a distancia de onde estava para a cabine de telefone no
centro do saguão.
- Atenção! – um deles soou alto. Luna tratou de pegar logo a maleta que
estava ao seu alcance. Não dava para esperar pela varinha. Passou para o lado
de dentro do saguão se livrando daquele maldito cercado e seguiu seu caminho
como se aquele atenção não se aplicasse a ela. – Precisamos de um homem
chamado Alastair Harrow com urgência!
Luna não ousou olhar para trás e o que se seguiu dali foi uma grande confusão
para ela. Precisou correr no momento em que o homem do balcão anunciou
que ela era Alastair Harrow. Frases como “Parem aquele homem!” foram
proferidas por diversas bocas e então o saguão inteiro pareceu ter sido
chamado a atenção.
Correu e começou a desviar de feitiços que eram lançados em sua direção. O
saguão estava cheio, o que a deixava usar muita gente com escudo humano.
Correr com aquele corpo era um problema.
O inferno começou quando ela deixou a cabine. Não tinha para onde correr
exatamente, mas correu para o lado que tinha mais espaço. Fugiu dos feitiços,
lançou os seus e tentou recuar comensais para tentar abrir a brecha por onde
pudesse escapar. Aquele era o campo de guerra e ela estava acostumada. Não
havia sentido falta nenhuma e muito provavelmente Hermione estaria dando
um show se estivesse ali.
Mal conseguiu acreditar quando achou uma brecha por entre dois comensais e
um muro em pedaços. Pulou. Foi atingida por um feitiço e saiu rolando sentindo
o gosto de sangue na boca. Não teve tempo para pensar, se levantou e correu.
Correu como nunca havia corrido antes na vida. Foi atingida por outro feitiço. A
dor lhe correu a espinha e ela caiu gritando em sua voz masculina estrondosa.
Havia adrenalina demais em seu sangue e foi assim que ela lutou contra o
crucio que lhe havia atingido. Cambaleou sentindo como se seu corpo fosse se
desintegrar se desse mais um passo. Precisava conseguir. Precisava ficar mais
longe. Gritou novamente.
Morreria.
Caiu no chão. Gritou. Ela sabia como superar aquela maldição. Sabia! Havia
treinado para isso. Se levantou e correu. A roupa que vestia começou a ficar
frouxa demais para si e ela sabia que a maldição a deixaria junto com o efeito
do Polissuco. Isso lhe deu força e ela continuou correndo. Correu, correu e
tropeçou nos próprios sapatos quando eles se tornaram grandes demais para
seus pés. Saiu rolando pelo chão. Talvez estivesse longe o suficiente e foi assim
que se agarrou a pasta e aparatou.
Abriu os olhos e rolava de uma calçada para o asfalto onde finalmente parou no
mesmo momento em que escutou o barulho intenso de uma buzina junto com a
freada de um carro há mínimos metros de si. Levantou-se quase que num pulo.
Sua corrida foi atenta a cada esquina que virava e a cada alma inocente ou não
pelas ruas. Quando finalmente alcançou a entrada da casa dos Black, tocou a
mão nos lugares específicos proferindo as palavras corretas do feitiço. Escutou
a porta abrindo suas trancas internas com uma lentidão que a agoniou.
Passou para o lado de dentro e foi recebida pelo escuro e por Arthur Weasley
que havia sido tirado do cochilo de sua vigia. Ele a olhou assustado e seus
olhos se abriram a cada segundo que a ficha lhe caía repetidas vezes.
Capítulo 19
Luna Lovegood
- Vocês poderiam isolar a porta, por favor? – pediu depois de ter ficado
calada por quase uma hora inteira. Molly trocou olhares com uma das outras
senhoras e agitou a varinha fazendo a voz de Harry se calar do outro lado. –
Obrigada. – agradeceu e se calou novamente.
Somente quando estavam lhe passando a varinha pela centésima vez para
rever seu estado de saúde geral foi quando Rony Weasley passou para o lado
de dentro. Suas orelhas ainda estavam vermelhas e Luna presumiu que ele
tivesse brigando com Harry.
- Hei. – foi o que ele disse ao se aproximar da maca onde Luna estava
sentada.
- Oi. – Luna respondeu com seu tom de sempre. Eles nunca haviam
trocado muitas palavras mesmo.
Luna sabia que ele não estava sendo mal educado ou rude, essa era a realidade
da guerra.
- Tudo bem, eu entendo. – ela disse tomando mais uma das poções que
colocavam em sua mão. Fez uma careta. Tinha um gosto amargo.
- Não estou. – ela o cortou e ele engoliu a saliva junto com as palavras que
diria em seguida. – Tive bastante tempo pra descansar. Acredite.
- Isso é bom. – ele disse sem jeito. Rony não era mesmo bom em lidar com
momentos de tensão ou sérios demais. – Quero dizer, não o fato de ter estado
lá, ter sido capturada... – pigarreou vendo que não estava seguindo pelo
caminho que queria. – Bem, acha que conseguiria aguentar algumas horas de
depoimento, explicações, interrogatório e...
- Por que ela não está aqui? Por que ela não está com você? – o olhar dele
se abriu para um morto. Todo mundo sempre havia acreditado que Rony nunca
esquecera Hermione realmente.
Rony assentiu entendendo que ela não gostaria de ter que ficar repetindo
aquilo que tinha para falar. Foi justamente quando Harry irrompeu para dentro
da sala. Os cabelos bagunçados, os olhos poderosamente verdes por trás das
lentes redondas, a respiração ofegante e a roupa um tanto desajeitada.
Os olhos dele se cravaram em Luna e ficaram ali. Ele parecia ter receio, mas
mesmo assim, com a voz ofegante disse:
- Apenas me diga que ela está viva.
Luna sabia que ele não perderia o tempo que Rony havia perdido. Ele não diria
“oi”, não perguntaria se ela estava bem ou se sentindo bem, se algo muito
grave havia acontecido com ela. No fundo, desde que ele descobrira que amava
Hermione, ela havia se tornado a alegria dele e sua única fonte de forças. Era-
se esperado aquela reação.
Harry tirou o óculos soltando o mesmo ar que Rony havia prendido por quase
um ano. Ele pressionou o pulso contra os olhos e Luna quase pode visualizar o
fogo que o queimava por dentro.
- POR QUE INFERNOS ELA NÃO ESTÁ COM VOCÊ? – ele gritou como se
tentasse tirar toda a dor que tinha por dentro também.
- Harry! – Molly exclamou tomando a direção do homem. – Por favor! – ela
o empurrou gentilmente para fora da sala. – Luna dirá tudo que tem a dizer e
responderá a qualquer pergunta mais tarde.
- Ela está bem, Harry. – Luna disse. Harry talvez fosse o homem que mais
sofresse na face da terra. A pressão da guerra estava toda em seus ombros. Ele
mudava de comportamento com bastante frequência por causa disso. Mudava
de temperamento com facilidade também. Hermione e Rony eram as pessoas
que mais entendiam aquilo e Luna apenas queria ajudar no que pudesse e
muitas vezes sentia até dó. Não havia lhe restado muita coisa no mundo, assim
como não havia restado muita coisa para ela também. Por um lado eles eram
até iguais.
Talvez ter dito que Hermione estava bem foi um tanto motivador para ele
porque a Sra. Weasley foi capaz de arrastá-lo para fora da sala e fechar a
porta. Rony continuou lá parado ainda esfregando os dedos no polegar. Luna
não o encarou e o silêncio reinou por um tempo enquanto os frascos de poções
foram tirados das mãos de Luna.
- Você não parece muito feliz de estar aqui. – Rony manifestou-se após
alguns minutos enquanto tiravam os curativos de Luna para verificarem mais
uma vez o processo de cura.
Luna ergueu os olhos para ele. Rony não costumava ser muito comunicativo,
não com ela. Haviam se tornado próximos de uma maneira um pouco singular
porque ela sabia que ele ainda achava que ela delirava em seu mundo da lua.
- Hermione onde está precisa mais de mim do que vocês. – foi tudo que ela
escolheu dizer. Normalmente ela não responderia visto que estava guardando
para seu depoimento, mas achou interessante ele ter percebido aquilo e ter se
importado com ela quando na verdade todos queriam saber os segredos de
Voldemort e Hermione.
Luna sorriu.
- Anima. – respondeu.
Eles ficaram ali trocando olhares por alguns segundo. Era quase estranho estar
de volta. Luna se perguntou se Rony também entendia que a vida que viviam,
na realidade não era vida.
- Vou precisar da pasta que trouxe. – ela disse. Ele assentiu e deixou a
sala.
Tinha que começar a se lembrar de todo o discurso que tinha preparado para
explicar quase um ano de história. Contar a todos eles que Hermione agora era
marcada como Comensal e que sofria nas mãos de Voldemort. Não podia falar
do herdeiro. Não podia falar sobre o novo sobrenome que Hermione. Tinha que
passar as ordens de Hermione sobre como proceder os estudos de Brampton
Fort e os exames e testes com sangue envenenado que carregava devido a
Marca Negra. Tinha que sorrir e tinha que dizer que estava feliz por ter voltado,
embora na verdade não estivesse.
- Querida. – a voz de Molly Weasley soou doce e cuidadosa quando ela
segurou seu queixo para ter atenção. Luna a encarou. Molly havia sido o mais
perto de família que ela tivera desde que perdera a sua, mas ainda assim não
era a mesma coisa. – Sei que tem um bom coração e talvez por isso possa
omitir algo pelo fato de Harry estar presente nessa reunião que estão
organizando para lhe fazerem todos os questionamentos. – ela não parecia
muito confortável de dizer aquilo. – Eu preciso que seja honesta. – olhou bem
em seus olhos. – Bastante honesta comigo. – completou – Você esteve lá
dentro. Dentro do ciclo deles. Viu muita coisa. Conheceu muita coisa. Por favor,
Luna. Me responda. Nós temos chance?
- Não. – Luna sabia daquela resposta desde que fora tirada de sua cela e
movida para Whitehall. Jamais diria aquilo a Harry, nem que ele tivesse que
passar a vida inteira naquela guerra para nada. A expressão que Molly Weasley
abriu era dolorosa de se ver. Luna sabia que ela também pensava da mesma
maneira. – Talvez tenhamos chance. – disse aquilo não por estar sofrendo ao
ver a expressão de Molly.
- Talvez tenhamos chance se o quem tem feito a Ordem dar dor de cabeça
para eles ultimamente seja fonte de um único milagre. – Luna disse.
Molly pareceu processar aquilo com bastante cuidado.
Draco Malfoy
Seu dia começava do lado de fora de Brampton Fort. Começava bem no inferno
que chamavam de Ministério da Magia. Se tivesse escolha, pularia aquela tarefa
de seu dia cheio e corrido, mas já havia recebido lições o suficiente de seu pai
para saber que não mostrar que se importava com sobrenome que carregava e
com o legado que deveria deixar na história era como negar seu próprio
sangue.
Brincava com um pêndulo giratório que servia para nada mais que enfeitar,
irritar e distrair quando seu pai entrou na sala.
- Draco. – ele soltou cansado ao ver a figura do filho – Por que nunca pode
esperar do lado de fora?
- Fora da minha cadeira, Draco. – ele não parecia estar com muita
paciência.
- Ainda não. – adiantou-se Draco – Precisamos conversar e não gosto
quando assume o lugar de influência. Ficará de pé bem aí onde está e é melhor
que me escute com muita atenção.
- Sua mãe pediu para que viesse até o Ministério dizer isso?
- Sabe mais que ninguém que minha mãe evita qualquer faísca de conflito
entre nós dois.
- Diga isso para o seu jantar de aniversário na sexta. – Lucio disse e Draco
revirou os olhos.
Virou-se para tornar a encarar o pai e finalmente começou a achar que aquilo
tomaria algum rumo.
- Que se houver algo concreto a respeito daquele véu não iremos encontrar
em nenhum livro, nenhum pergaminho, manuscrito ou o que quer que seja. A
Ordem de Merlin sempre teve um cofre de segredos particular há séculos.
- Um cofre de segredos que foi destruído quando o mestre fez questão de
matar cada membro daquela ordem por nome. – Draco completou.
- Você sabe que membros das classes mais baixas escaparam e alguns
deles até foram acolhidos pela Ordem da Fênix. – disse seu pai.
- Ele conseguiu fingir muito bem então. – duvidava muito sobre o que seu
pai havia sugerido.
- Nós mais do que ninguém sabemos que o mestre sabe guardar muito
bem para ele os segredos que lhe convém. São os mais perigosos. São os que
mais tememos. – colocou Lucio.
Não podia negar que seu pai estava certo. Hermione tinha informações que
adiantariam muito do serviço que ele e seu pai andavam desenvolvendo sobre
o roubo do véu e o porque de logo o véu. Se a Ordem fora realmente
responsável pelo roubo, Hermione muito provavelmente carregava todas as
respostas que eles queriam.
- Ela tem que entender que é uma de nós agora. – seu pai ainda insistia
naquilo.
- Ela não escolheu ser uma de nós. Nem eu quis que ela fosse uma de nós.
Não é tão simples assim como imagina que seja. Ela é leal ao lugar de onde
veio. Não vou simplesmente lhe fazer perguntas que se ela responder muito
provavelmente estará traindo sua integridade e sua devoção aos amiguinhos
retardados que tinha.
Seu pai apenas piscou os olhos com calma, deu as costas e voltou para sua
cadeira. Draco sabia que ele não abriria a boca para discutir novamente sobre
seu casamento com Hermione. Lucio já havia deixado claro que eles deveriam
construir confiança um no outro, que não deveria haver segredos, e que não
adiantava fugir dessa realidade porque ele mesmo havia tentado fugir com
Narcisa e no final ambos perceberam que havia sido desgastante e uma grande
perda de tempo.
Lucio mostrou as mãos em sinal de paz mas com um pequeno sorriso nos
lábios.
- Estou apenas falando de Hermione. Desisti de tentar interferir no seu
casamento. Sua mãe e eu já o alertamos sobre perda de tempo, mas vemos
que insist...
- Você não vai querer continuar! – Draco o cortou, o tom grave, os olhos
mortíferos e uma veia em seu pescoço.
Seu pai mostrou as mãos mais uma vez e dessa vez deixou o sorriso morrer.
Era tudo provocação e provocação era um ponto que Draco jamais superaria
mesmo depois de todos aqueles anos em que sustentavam a relação que
tinham. Lúcio sabia bem que provocá-lo era um caminho que sempre vinha
com uma vingança de prato frio da parte do filho e por isso fez bem em parar
por ali.
- Bem, eu só quero deixar claro que não vamos progredir enquanto você
não fizer Hermione abrir a boca. Me recuso a correr mais riscos do que já corri
tentando chegar o mais fundo possível na história do véu. – ele voltou ao seu
tom profissional. - Draco apenas piscou em silêncio recebendo a ordem. – Eu
até te daria algumas dicas, mas sei que odeia que lhe digam como um serviço
deve ser feito.
Draco engoliu aquilo com toda a paciência que conseguia extrair de suas
entranhas. Aproximou-se da mesa e inclinou-se sobre ela com as mãos
apoiadas na superfície enquanto encarava os olhos do pai.
- Me deixe ser bem mais claro aqui. – começou – Você não conhece
Hermione como eu conheço. Se está esperando que ela vai abrir a boca só
porque deu a ela o sobrenome Malfoy, é melhor que esteja pronto para esperar
por muito tempo! E muito tempo é algo que nós não temos!
- Não temos outra escolha. Deve se lembrar que sempre seguimos pelo
caminho mais seguro.
- Hermione não é o caminho mais seguro! Ela não está do nosso lado! –
quando será que uma benção dos céus cairia sobre a cabeça de seu pai e o
fizesse entender isso de uma vez por todas? – Ela ainda não entende que
realmente faz parte do nosso meio. O segundo em que ela tiver que nos
entregar para se beneficiar tenho absoluta certeza de que nem hesitar ela irá!
- E mesmo assim ela ainda continua sendo o nosso caminho mais seguro! –
insistiu seu pai.
Draco revirou os olhos cansado dando as costas e passando a mão pelos fios
loiros. Discutir qualquer coisa com seu pai sempre lhe cansava. Desistiu.
- E você faça Hermione abrir a boca. – disse seu pai – De maneira sábia. –
completou ele - Ela é sua esposa, tem seu sobrenome e vive debaixo do seu
teto. Não é qualquer outro que pode comprar, colocar contra a parede ou
ameaçar.
Draco soltou o ar como se estivesse intoxicado e saiu antes que perdesse seu
juízo próprio. As vezes não sabia se odiava seu pai por ele ser responsável pela
infelicidade de sua mãe, ou se era porque conseguia enxergar em Lúcio tudo
que ele era. Evitava ter que suportá-lo e os poucos minutos que estivera ali já
haviam sido suficientes para fazer com que usasse toda a cota de paciência que
costumava separar para seu dia.
Conseguiu uma chave de Portal para deixar o Ministério com a facilidade que
seu nome e sua posição sempre lhe proporcionava. Tinha ainda que fazer visita
a mais de cinco acampamentos e provavelmente conseguiria voltar para o Fort
em dois dias e bem a tempo do jantar de aniversário que sua mãe estava
preparando para ele mesmo sua data já havendo passado. Ele não iria insistir
contra. Sua mãe sempre tinha a boba ilusão de que algum ano conseguiria
fazer com que a civilidade que se portavam em eventos de família um dia
deixaria de ser apenas falsidade.
Pelo menos Draco estava grato de saber que tinha o dia cheio, ou pelo menos
queria estar. Precisava de distrações. Aquela manhã quando tomava café da
manhã com Hermione sentia que o silêncio dela era significativo. Eles
permaneciam sempre tanto tempo em silêncio que Draco já era capaz de lê-los
e ele sabia por que o silêncio dela era significativo, ele lembrava bem de que
dia era o dia de hoje e aquilo o incomodava.
Hermione havia sido afastada da Catedral e de seus serviços como punição pela
fuga de Luna que havia sido a alguns poucos dias atrás. Ela assumira toda a
culpa e Draco ainda apresentara suas justificativas para mostrar que ela havia
agido sozinha. Voldemort pareceu bastante convencido e furioso. Ele exigiu que
ela torturasse alguns prisioneiros como punição e ao invés de resistir, de se
mostrar teimosa, Hermione empunhou a varinha e obedeceu. Obedeceu apenas
para deixá-lo mais furioso ainda porque ele queria que ela sofresse, que ela
resistisse em fazer algo que ia completamente contra quem era, contra sua
índole. Isso tudo porque ele não podia tocá-la, não podia fazer com que ela
sofresse fisicamente pela atitude ousada que tivera. Ela carregava seu herdeiro
afinal.
Draco jamais imaginara que Hermione fosse capaz de fazer aquilo. Ela era a
perfeita coração de leão da Grifinória. Leal, corajosa e todas as coisas boas que
atrasavam a humanidade. Mas quando ela empunhou aquela varinha e torturou
aquele prisioneiro Draco não a viu mais. Não viu a Hermione que achava que
conhecia. Ela havia o olhado e ali ele percebera que o que ela queria dizer é
que havia entendido como tudo funcionava em Brampton Fort e que sua guerra
era maior, era contra Voldemort e que não estava mais no mundo da Ordem da
Fênix, não podia ser quem realmente era ali ou seria massacrada e engolida e
era isso que Voldemort queria.
- Draco! – seu nome ser exclamado num tom mais elevado o fez tirar os
olhos do relógio e perceber que havia sido traído por ele mais uma vez. –
Draco! – Draco olhou a voz bem a sua frente de pé segurando uma lista de
nomes imensa. – Está tudo bem? – o homem perguntou num inglês precário.
Draco olhou a lista de nomes e se surpreendeu por ter estado perdido na
própria cabeça por tanto tempo que nem vira a troca de assunto acontecer. –
Não nos interrompeu nem nos criticou desde que chegou.
- Sempre nos interrompe e nos critica. – respondeu – Parece dessa vez não
está nem nos escutando.
Draco se levantou assumindo de uma vez por todas que se ocupar não fora a
sua melhor saída.
- Preciso ir para casa. – sabia que já era tarde, mas não deveria ter
deixado o Fort em primeiro lugar.
- Senhor, sua chave de portal está marcada apenas para amanhã e não é
de volta para Brampton Fort. – o homem que o esteve acompanhando desde
que chegou disse bem ao seu lado.
Foi assim que em menos de vinte minutos ele estava dentro de sua cara
carruagem tomando o rumo de sua mansão. Uma das coisas que se passava
por sua cabeça era se alguma vez na vida havia agido de modo mais estúpido
que naquele momento. Ele definitivamente precisava urgente organizar sua
vida ou consideraria seriamente estar beirando a insanidade.
A verdade era que não queria aceitar e talvez estivesse aceitando mesmo ainda
não querendo aceitar. Talvez essa fosse a realidade. Pensou enquanto subia os
extensos degraus de mármore da varanda da frente de sua casa. Há alguns
meses, quando ainda não havia nenhuma aliança em seu dedo, ele acreditara
que passar o resto da vida não aceitando que se casar com Hermione e fazer
um filho com ela fosse a solução para manter sua vida exatamente como era. O
problema era que ali estava ele com uma mulher grávida e tentar não aceitar
estava muito longe de sua realidade.
Foi direto para seu escritório onde a primeira coisa que fez foi encher um copo
de gelo e whisky. Tomou-o de uma vez para sentir um pouco do efeito do
álcool. Bagunçou os cabelos, tirou o terno, afrouxou a gravata sem pressa.
Encheu mais um copo e olhou a vista do jardim apagado. Teria que encontrar
uma forma de adiantar o serviço que deixara de fazer hoje no dia seguinte. Não
podia atrasar mais o jantar de sua mãe ou receberia de presente aquela
expressão de infelicidade que ela escondia todos os dias do rosto.
A passos lentos ele foi desviando delas enquanto ouvia o som distante da água
correndo vindo do banheiro. O nome Hermione se repetiu em sua cabeça várias
vezes. Depois, mais outros milhões de questionamentos surgiram quando ele
passou para o lado de dentro do lavatório e pisou no chão inundado. Hermione
também estava no chão, logo a frente, vestida em seu robe de banho, o rosto
apoiado no braço que estava na banheira, que por sinal transbordava.
Draco não respondeu. Não tinha uma resposta plausível para aquela pergunta e
naquele momento nem pensou em tentar encontrar uma. Avançou com calma
fazendo a sola de seu sapato afundar na fina camada de água sobre o chão.
Empurrou uma garrafa com o pé. Vazia. Aproximou e se abaixou para ficar de
frente a ela. Os olhos brilhosos e âmbar se voltaram para ele. Não como
normalmente. Sentiu o peso de todo o ressentimento que ela carregava
exposto ali. Ele se perguntou quanto tempo ela deveria ter ficado ali chorando
para chega naquele estado.
- Você não deveria estar bebendo. – ele disse e a resposta dela foi uma
risada débil. Estava bêbada.
Draco abaixou os olhos para sua mão e a viu segurando um frasco de poção
aberto. A cor do líquido ali o preocupou. Passou os olhos mais uma vez pelo
lavatório e no balcão das pias encontrou uma caixa de acrílico com mais frascos
da mesma poção. Faltava alguns frascos e ele se lembrava daquela caixa cheia
numa das estantes da Casa de Poções. Passou os olhos ao redor do lavatório e
boiando na água da banheira havia um dos fracos. Vazios.
Algo dentro dele cresceu e ele tomou o frasco da mão dela. Aquele ainda
estava cheio, mas aberto. Era veneno. Não o veneno suficiente para matá-la,
mas o suficiente para a criança que carregava.
- ME DEIXE! – o tom do grito alto que ela soltou o congelou. Ele nunca
ouvira ressentimento, raiva e dor ser externado de forma tão cruel quanto
aquela. Nem imaginara que ela pudesse ter um tom de voz poderoso como
aquele. Soltou-a. Ela se apoiou no chão com as mãos. Encarou o mármore
escuro ofegante. O silêncio os abraçou novamente enquanto ele se afastava. –
Eu não bebi. – ela disse num tom muito baixo. – Não consegui. – engasgou
com a voz trêmula.
- Uma? – ela levantou os olhos para ele. Havia milhares de lágrimas presas
ali. – Você quer apenas uma?
Ele suspirou.
- Ele não me deixou ver. – ela encheu o peito para dizer aquilo como se
quisesse prender a dor que sentia. Cambaleou mesmo se apoiando numa das
colunas da parede. Ela pigarreou como se quisesse limpar a garganta. – Sua tia
esquisita e o mestre estavam lá. Ficaram em outra sala. Virão tudo,
conversaram com os enfermeiros e esclareceram todas as dúvidas que tinham
enquanto eu ficava isolada em uma antessala com todos aqueles
desconfortáveis apetrechos em minha barriga observando no mudo todos muito
entretidos com a visão que tinham da vida que eu estou criando. – ela já
estava com os dentes cerrados naquele ponto. – A vida que EU estou criando! –
repetiu enquanto mostrava as lágrimas presas em seus olhos novamente. –
Não me deixaram nem mesmo escutar o coração dele. – ela sussurrou aquilo
deixando sua voz morrer no silêncio.
A fúrias nos olhos dela se mostraram com muita vontade quando ele terminou
de dizer aquilo.
Hermione apoiou as costas na coluna e encarou o chão molhado. Ela ficou ali
por um minuto. Em silêncio. Draco a observou. A barriga dela já era difícil de se
esconder e toda vez que a observava se pegava bastante curioso com a
sensação que a imagem lhe provocava. Definitivamente eles estavam ligados.
Aquilo não o agradava, mas aguçava muito seu sentimento de posse e ele sabia
cuidar do que lhe pertencia. Sabia muito bem. Mas não queria ter essa
sentimento, não por ela. Esse eterno dilema era sua cruz.
- Eu falhei. – ela começou baixo – Falhei com a Ordem. Falhei com Harry. –
ela suspirou e limpou uma das bochechas com as costas da mão. – Falhei com
meus amigos, com as pessoas que tinham esperanças em nós, com meus pais
e comigo mesma. – ela puxou o ar e pausou. – Eu não queria falhar aqui
dentro, mas eu não vejo nenhum outra alternativa. Eu não posso ser forte. Não
consigo. Não consigo lutar sozinha. – ela engasgou com as próprias palavras e
seu corpo tremeu. – O grito daquele homem. – Draco sabia que aquele homem
havia sido o que ela torturara fazia alguns dias. – Ecoa dentro da minha cabeça
todo o segundo. – ela ergueu os olhos para ele – Eu sei que eu deveria ser
forte. Que deveria lutar contra Voldemort. – ela se desencostou da coluna e
caminhou cambaleante em sua direção – Mas eu vou ter que falhar nisso
também porque não sou capaz de matar o herdeiro que ele tanto quer nem
muito menos capaz de fazer o que devo fazer para lutar contra ele. – a dor ali
nos olhos dela estavam absurdamente escancarada – Não sou forte o suficiente
para fazer o que devo fazer para vencer o jogo dele...
Ela soluçou e ele apenas deu espaço para que ela voasse em direção a pia.
Draco fez uma careta quando ela vomitou. Suas mãos inconscientemente
afastaram os cabelos dela. Ele segurou seus cachos até que ela terminasse o
serviço. Os braços dela tremiam enquanto ela se apoiava na bancada.
Hermione parecia não apenas fraca, mas cansada.
Draco a pegou no colo quando percebeu que as forças dela a arrastavam para o
chão novamente. A carregou de volta para o quarto e a deitou na cama, do
lado em que ela sempre dormia. Ela se aninhou ali exausta de lado e de costas
para ele que se sentou na beira da cama e a observou. Depois de todo o
estrago que ela havia feito e do tanto de álcool que havia ingerido não era
novidade que estivesse prestes a apagar.
Há meses atrás ela não se passava da mulher que havia deixado Hogwarts e se
tornado o maior nome entre os rebeldes depois de Harry Potter. Seu dever era
caçá-la, capturá-la, matá-la. Hoje, ali, aquela mesma mulher era sua, dormia
em sua cama, morava em sua casa, comia de sua comida, carregava o próximo
nome Malfoy a se mostrar na terra. Havia sido tão fácil se esquecer de que ela
era uma inimiga que mal conseguia se lembrar da última vez que tomara café
da manhã desejando que a silenciosa companhia dela não existisse.
- É sempre difícil, para qualquer um, quando nos marcam com uma dessas.
– ele tocou a Marca Negra no braço dela. – No sexto ano, quando todos
acreditavam que eu era um Comensal, ouvi dizer que você era a única que
acreditava o contrário mesmo eu me negando a mostrar meu braço. – afastou
um cacho de cima dos olhos dela. – Você sempre vê coisas boas nas pessoas.
Tem esperança nelas. Isso é lindo, Hermione. Mas te torna fraca. Não pode se
dar a chance de ser fraca quando tem uma dessas. – mostrou a marca em seu
braço dessa vez. – Se for fraca, não demorará a estar no lugar daquele homem
que torturou.
- Não. Não preferiria, porque ele não deve nem estar mais vivo a essa
altura do campeonato. O lugar dele é o lugar de perdedores. Você não vence
estando no lugar dele. Você vence sendo um câncer dentro do sistema.
- Sim. – talvez já até tivesse apagado por completo. – Passei todos esses
anos crescendo em silêncio, com cuidado e muita atenção. Quando me notarem
eu já serei muito grande, muito forte, muito destrutivo. Eu venço no final,
Hermione. Não Harry Potter, Voldemort, a Ordem Fênix ou os rebeldes. Eu
venço. Sou um Malfoy. Malfoys constroem legados. – ela já parecia ter apagado
fazia um bom tempo. - Ficam para a história. – ele concluiu baixo.
Ela ficou ali em silêncio, os olhos fechados, a respiração muito calma. Draco
finalmente considerou que ela tivesse apagado, mas então ela abriu a boca e
disse num sussurro que ele quase não foi capaz de escutar:
Não olhou as horas quando finalmente decidiu se levantar. Tudo que fez foi
tirar o cinto da calça, se livrar da blusa que usava e se jogar de seu lado da
cama. Encarou o teto por segundos e então foi sua vez de apagar.
Sonhou que Hermione havia bebido do veneno. Que havia bebido todos os
frascos da poção. Se viu tentando mantê-la acordada no caminho para o
hospital, correndo pelos corredores com ela enquanto o sangue lhe escorria e
finalmente, depois de tanta agonia, recebendo a notícia de que a imprudência
dela a levara a fatalidade. Percebeu seu fôlego sumir e quando o recuperou
seus olhos estavam abertos encarando a abóboda bem detalhada em cima de
sua cama.
Estava claro e o colchão se mexia. Olhou para o lado e a encontrou lá. Soltou o
ar. Ela estava acordando. Movendo-se preguiçosamente. A ver fez com que ele
quisesse beijá-la, tirar sua roupa e tomar seu corpo mais uma vez para
agradecer que ela não havia lhe dado o trabalho de tomar aquela maldita
poção, mas ficou ali, parado, a observando se sentar e colocar os pés para fora
da cama com dificuldade.
Hermione pareceu olhar o quarto a sua volta com curiosidade. Não demorou e
ela já estava com a mão na cabeça soltando um gemido que ele sabia que ela
soltaria mais cedo ou mais tarde. Ela deveria estar com uma dor de cabeça
mortal.
- Ah, céus... – ela soltou passando o olho por todo o quarto. – Draco? – ela
virou os olhos para ele atrás de si e depois passou novamente seus olhos pela
bagunça. – Fizemos sexo ontem a noite?
Ele riu da forma como ela parecia confusa e perdida. Passou as mãos pelo rosto
e levou os braços para detrás da cabeça.
- O que te faz pensar isso? – sua voz saiu rouca e ainda grogue.
- Meu corpo dói. – ela disse enquanto levantava como se sentisse cada
músculo. – O quarto está uma bagunça e minha cabeça... – sua voz foi
morrendo e ele percebeu que a memória estava lhe clareando a noite anterior.
Ela não falou mais nada. Desviou da bagunça no chão para alcançar o armário
mais próximo. Abriu umas duas gavetas até encontrar uma poção incolor e a
ingeriu de uma vez. Ficou ali em silêncio pousando a mão na pequena barriga e
segurando os próprios cabelos. Draco se sentou com calma e a observou.
- Você não me deve nenhuma justificativa. – disse e ela ficou ali, o olhando
como se em sua memória cada pedaço da outra noite viesse com dificuldade.
Ele se levantou e foi até ela. Hermione deixou o olhar cair sobre seu corpo. Ela
sempre fazia isso. – Eu preciso deixar a cidade novamente. Quero que vá ficar
com minha mãe hoje.
- Continuo não querendo você sozinha. – ele foi sério, mas ela segurou seu
braço impedindo que ele desse as costas para seguir para o lavatório.
Os olhos dela estavam nos seus e o seus estavam também nos dela. Conseguia
enxergar o próximo passo dela. Hermione gostava de tocar seu abdômen, de
subir na ponta dos pés e de sentir sua respiração de perto. Draco sabia que o
toque da mão sempre gelada dela faria com que seus pelos se arrepiassem, sua
vontade crescesse e ele acabasse a tomando para si antes mesmo que pudesse
calcular se deveria ou não.
- Não posso. – ele decretou. Não era acostumado com a forma que eles
faziam sexo ultimamente. Havia muito toque, muito olhar, muita mão, muito
beijo. Ele gostava, mas nunca havia feito nada muito parecido com aquilo.
Havia momentos que nem ele sabia como proceder. Mesmo que se sentisse
muito confortável estando com ela, aquele tipo de sexo lhe subia uma bandeira
de alerta e sempre se via na defensiva. Odiava ter que evitar, mas seguia seu
sentido.
- Hei. – ela segurou seu braço mais firme quando ele deu as costas em
direção ao lavatório. Draco se virou curioso para entender o porque ela não o
soltava. Entendeu quando encontrou os olhos dela sobre sua Marca Negra. – ...
Câncer... – ela sussurrou e ele soube exatamente do que ela estava se
lembrando naquele momento.
- Estarei de volta para o jantar. – cortou fazendo-a entender que não iriam
discutir sobre aquilo. Mas quando Hermione tornou a encará-lo, ele viu o olhar
que jamais havia recebido dela em sua vida. Talvez agora ela não enxergasse
mais o monstro que a vida toda o julgara ser. Ela puxou o ar para dizer alguma
coisa, mas ele a interrompeu novamente. – Eu estarei aqui para o jantar. –
repetiu mais pausadamente para que ela entendesse de uma vez por todas que
não iria discutir aquilo. Deu as costas e seguiu seu caminho.
Lord Voldemort
Gostava de ficar sob a luz da noite, fumando charuto, observando alguma
mulher nua se movendo entre seus lençóis. A única coisa que estragava aquela
noite era o vento húmido e quente que ele odiava. Verões eram ruins até sem
sol. Mas tinha Bellatrix ali em seus lençóis. Nenhuma companhia era melhor do
que a de dela. Ela o conhecia e sabia o satisfazer. Ela também conhecia muito
de seus segredos e era sua serva mais fiel.
- Meu senhor. – ela começou com a voz arranhada. – Está quente. – usou
de um falso tom para mostrar que não estava contente. – Preciso de seu corpo
frio. – ela fez seu pedido e Voldemort apenas tirou o charuto da boca e soltou o
ar como se quisesse fazer com que aquele momento fosse eterno. – O que te
incomoda, meu mestre? – ela perguntou quando viu que ele não lhe dava muita
atenção.
- Odeio quando pensa nela demais. – ela disse com uma cara
completamente desgostosa – Principalmente quando estamos fazemos sexo.
- Vou desejá-la enquanto não puder tê-la. Aprenda a lidar com isso.
- Sei disso. – ela quase rosnou – Saiba que se eu souber que encostou em
um fio de cabelo dela nunca mais irá me tocar novamente.
Voldemort riu.
- Se essa foi uma tentativa de ameaça saiba que soou bastante como uma
piada. - disse soltando fumaça – Te conheço, Bella. Adoraria ver o desespero
dela se eu tentasse tocá-la. Adoraria saber que ela iria conviver com essa
memória.
Bellatrix pareceu fazer pouco caso, mas Voldemort sabia bem que ela adoraria.
Adoraria porque era parte do mesmo princípio que a fizera aceitar o herdeiro vir
dela. Bella era fã de causar traumas nas pessoas, por isso ele gostava dela.
- Quero saber o vai fazer com o bebê que ela carrega? – ela se virou
deixando o corpo a mostra para ele. Os dedos finos se emaranharam em seus
cachos negros distraidamente e Nagini deslizou por cima dela fazendo com que
um sorriso brotasse nos lábios rosados que tinha. – Eu não faria nada que
colocasse a fidelidade de Draco em risco. – disse pousando o dedo sobra a
cobra para sentir a textura enquanto ela deslizava.
Voldemort soltou mais fumaça.
- Draco sabe que o herdeiro é meu, ele sabe ser bastante profissional
quanto a isso.
- Por quê?
- Porque gosto de testar a fidelidade de Draco. Eu o conheço bem. Ela é a
única mulher para ele.
Bella riu.
Ele soltou fumaça sem pressa. Tirou o charuto da boca e o analisou entre seus
dedos novamente.
Rony Weasley
Luna Lovegood abriu uma caixa de alumínio com muito cuidado. Uma fumaça
gelada saiu dali de dentro enquanto ela retirava um frasco de vidro preenchido
com um líquido vermelho vivo.
- Hermione não pôde fazer muita coisa nem avançar muito nos estudos,
porque não queria que ninguém soubesse que ela estava mexendo com essas
coisas. Ela não tinha o material necessário e mesmo tentando ser discreta para
adquiri-los era um risco. – informou Luna.
- Ela quer que eu faça alguma coisa específica? Quero dizer... Sou bom
com Herbologia e entendo bem de Poções por causa disso, mas não sou
nenhum pesquisador ou especialista como Hermione.
- Ela anotou tudo nesses pergaminhos. – Luna entregou um rolo para ele. –
A marca libera algum tipo de toxina que deixa o sangue dela envenenado. Esse
veneno faz a ponte de ligação entre ela e Voldemort. Ela conseguiu encontrar a
fonte da ligação. Está em um desses cálculos. Gina é boa com cálculos. O que
ela quer é que tentem encontrar uma erva, raiz ou qualquer coisa que reaja
contra o veneno anulando a ponte de ligação ou pelo menos deixando-a fraca.
Hermione anotou alguma opções que talvez possam ajudar, mas ela não teve
como fazer os testes e também disse que essa pode não ser a única maneira de
interferir nessa ponte.
- Me parece que ela tinha bastante tempo livre. – Gina comentou com
aquele tom maldoso novamente. Rony viu Luna desviar o olhar para ela como
se tentasse entender o que havia mudado desde que deixara a Ordem.
Era verdade que Gina e Hermione não se davam muito bem fazia alguns anos,
mas desde que Harry poupara discrição ao deixar todo mundo saber que eles
haviam tido um caso, Gina parecia estar bastante empenhada em soltar
comentários venenosos sobre a antiga amiga Nascida Trouxa.
- Você não vai fazer as pessoas odiarem Hermione, Gina. – Rony disse para
a irmã, um tanto quanto irritado pelo comportamento contínuo dela.
- Mas ela sabia o que eu sentia! Ela sabia desde sempre! – Gina assumira
sua postura irritada de vez. – Me desculpem, mas não creio que seria uma boa
ideia contar comigo para esse... projeto.
- Gina! – Neville interrompeu – Sério, eu vou precisar da sua ajuda!
- Pelo amor de Merlin, Gina! Está sendo uma criança egoísta agora!
Hermione está em um lugar muito ruim para você achar que tem o direito de
agir assim! Essa sua teimosia não vai durar muito!
Rony rosnou.
- Luna, eu não sei se vou conseguir fazer isso sozinho. – Neville comentou.
- A idéia nunca foi deixar que você trabalhasse sozinho. – Luna disse.
- Relaxa, cara. – Rony deu um tapa no braço do amigo – Eu sei que tem
muita gente empenhada no véu, mas podemos dividir esses cérebros aí. Talvez
uma das salas do subsolo monte um bom laboratório.
Neville não parecia muito contente com a tarefa. Ele sabia que era
responsabilidade demais receber uma tarefa de Hermione sem ter a ajuda dela
e encheu a boca para dizer isso, mas antes que sua voz saísse o alarme do
andar de baixo tocou. Ele engoliu as palavras e soltou um palavrão.
- Estou de ronda essa semana. – disse e apressou-se pelo corredor.
Rony e Luna trocaram olhares. Ele percebeu que as mãos dela tremeram
quando colocava o frasco com o sangue de Hermione novamente na caixa de
onde havia tirado.
- Tudo bem, Luna. – Rony segurou sua mão. – Só mais um dos sustos
semanais.
Harry Potter
Ela usava um giz branco para desenhar no chão de madeira velha da casa de
seus pais. Traçava linhas, setas, círculos e especulava ideias com a voz doce e
determinada que sempre tivera.
Harry não queria puni-la por estar apenas sendo ela mesma.
- Eu não sei se vamos passar do dia de amanhã, Hermione. – ele se
levantou do sofá e foi até ela. – Por favor, só por agora não tente ser a deusa
Hera que há em você.
Ela sorriu.
- Me esforcei tanto para fazer com que você esquecesse que era o Garoto-
Que-Sobreviveu aqui dentro e olhe só eu estragando tudo.
Harry a trouxe para si novamente cercando sua cintura e beijando seu pescoço.
Os cabelos dela sempre cheiravam tão bem. Ele admitia que nunca havia se
dado muito bem com as mulheres. Sua fama fora algo que sempre havia
ajudado, mas ele amava estar com Hermione. Era tão confortável. Não tinha
medos, não ficava nervoso, não se preocupava em tomar cuidado com as
palavras, em parecer idiota, em fazer alguma besteira. Ele gostava de como ela
o anestesiava e o trazia paz.
Ela era Hermione Granger, nunca tiraria o pé do chão por mais maravilhosa que
fosse a ilusão.
- Essa pode ser a última noite que vamos ter juntos e é isso que está
escolhendo me dizer?
O silêncio vez ou outra era preenchido pelo gritos de ordem no andar de cima.
Sapatos pisando forte no piso de madeira chegava até seus ouvidos como um
sinal de que as coisas não pareciam muito fáceis de lidar do lado de fora da
Ordem naquele momento. Invasões no bloco Grimmaud era sempre algo
inesperado, mas eles conseguiam controlar a situação todas as vezes.
Os olhos azuis de Luna estavam paralisados sobre ele. Ela o olhava com
curiosidade, como se não o reconhecesse e ele continuava ali sentado em uma
pequena arquibancada encostada no fim da parede com os cotovelos apoiados
nos joelhos para poder encarar o chão, e não os olhos dela.
- Ela me disse que costumava conversar com você sobre nós. – ele
finalmente disse esperando fazer os olhos dela calarem as perguntas que
faziam em silêncio.
- Ah, sim. – ela pareceu se lembrar. – Sim, ela falava bastante sobre vocês
dois. Já que não tinha mais Gina, eu fui o que restou.
Harry nunca esperara que Luna Lovegood pudesse ter receios, mas desde que
ela perdera seu pai muito dela havia mudado.
- Está sendo dramático. – ela disse e ele teve raiva a encarando como se
ela não soubesse do que estava falando.
- Depois de todos esses anos você ainda não aprendeu que agir por
impulso sempre te leva por esse caminho, Harry?
Ele sempre havia achado calma na voz sonhadora de Luna, por mais indignada
que ela soasse.
Ele considerou. Havia seguido por muitos caminhos desde que levaram
Hermione e nenhum deles deu muito certo.
- Você é uma boa amiga, Luna. – ele comentou e a encarou. Era uma pena
que ninguém quase nunca prestasse atenção nela.
- Sei que sou. – ela respondeu com um sorriso, mas havia ressentimento
ali.
Hermione Malfoy
Arranhava com pressa a pena contra o pergaminho. A ordem das palavras em
sua mente corria mais rápido do que podia escrever e muitas vezes perdia a
linha de raciocínio e tinha que voltar para reler o último parágrafo enquanto
esperava que as palavras perdidas voltassem.
- Não acredito que ainda não está pronta. – Draco anunciou irrompendo
para dentro do quarto.
Ele soltou o ar impaciente largando o cinto que desatava para adiantar seu
serviço. Hermione sentiu as mãos dele pousarem em seu quadril e por um
segundo se desconcentrou na palavra que estava lendo. Ele a ajeitou e subiu o
zíper, ela moveu o corpo para ajustar o vestido sem precisar usar as mãos e
moveu-se em direção ao closet ainda sem tirar os olhos do pergaminho.
- Meu corpo está criando uma pessoa, Draco! Será que dava para você
tentar imaginar quanta energia isso me custa? – ela se ajeitou para colocar o
outro par no pé que faltava enquanto ele vestia a calça do terno que iria usar. –
Preciso de uma coruja.
- Compre uma. – ele retrucou sem dar muita atenção a ela. – Você tem
todo o dinheiro da minha conta bancária.
- Isso porque elas são minhas corujas e eu as uso para o trabalho que faço.
Não usará nada meu para o seu trabalho, principalmente para mandar
cartinhas para Theodoro.
Ela revirou os olhos.
- Sério, você precisava ter tido um irmão para aprender a dividir suas
coisas.
Ele teve que rir com o comentário e Hermione apenas maneou a cabeça e deu
as costas voltando para o quarto. Chamou por Tryn e pediu que a elfa
encontrasse um modo de fazer com que aquele pergaminho chegasse as mãos
de Theodoro o mais rápido possível.
Draco soltou a ar impaciente e chamou por Tryn que acabou tendo a ordem de
Hermione adiada para cumprir a dele.
Ela terminava de ajeitar seu penteado. Mostrou as mãos nuas para ele e disse:
Ela quase nem o escutou, puxou a caixa para si e abriu. O colar era fios de
prata que se entrelaçavam fazendo surgir pedras vermelhas entre os espaços
que se estreitavam a media que faziam o desenho do pescoço. Era a pedra da
Família. Hermione não conseguia nem ter ideia do quanto aquilo havia sido
caro. Ele não havia comprado aquilo em nenhum lugar em Brampton Fort.
- Assim elas pensarão que você mal pode se aguentar de tanta felicidade e
me deu um presente como esse logo que soube da notícia. – ela fechou a caixa
e o encarou pelo espelho. Não havia nenhuma expressão em seu rosto como
sempre, mas o olhar mostrava que ele não havia ficado contente com o tom
irônico que ela usou. – O que nós dois sabemos que não é verdade. – ela
concluiu.
Hermione puxou e soltou o ar. Guardou seu caro presente e se levantou para
alcançá-lo a porta do quarto. Desceram juntos, cruzaram a sala principal,
saíram para o lado de fora e foi exatamente quando desciam as escadas da
varanda principal que ela avistou uma ave escura pela noite descer numa
velocidade que a alertou.
Draco parou assim que a ave pousou num dos braços da carruagem. O animal
era completamente reconhecível. Negro, grande, olhos vivos e vermelhos. Era a
coruja de Voldemort.
- Mandar uma coruja parece bastante civilizado da parte do Mestre. –
comentou Hermione.
Draco não disse nada, apenas avançou e pegou o pergaminho que o animal
carregava. Ele logo voou e foi embora fazendo saber que Voldemort não
esperava resposta. Levou alguns poucos segundos até que Draco terminasse de
ler.
- Nós? – estranhou.
Ela já sabia aquela resposta. Havia sido uma pergunta estúpida e ele
respondera de modo estúpido por justa causa, mas queria ter a miserável
esperança de que ele dissesse que não era necessário ou obrigatório que
realmente fossem.
- Devo me preocupar? – dessa vez tratou de fazer uma pergunta que não
fosse estúpida o que fez ele desviar o olhar da janela para ela.
Ele a encarou por alguns segundos como se estivesse pensando em uma
resposta.
- Talvez fosse bom que não pensasse muito sobre isso. – ele se decidiu por
responder e tornou a se focar na janela.
Hermione ainda o encarou por alguns minutos e percebeu que talvez ele
também estivesse se perguntando a mesma coisa e que a resposta dele fora a
melhor tanto para ele quanto para ela. Eles nem ao menos sabiam se seria um
encontro privado ou coletivo.
Desviou o olhar e deixou o pergaminho de lado. Torceu para que fosse apenas
mais um daqueles encontros coletivos tediosos num horário incomum. Tocou a
própria barriga quando a vida lá dentro lhe cutucou. Olhou o volume sobre o
tecido fino de seu vestido e deslizou sua mão por ele. Se sentia bem mais
grávida nesse segundo trimestre. Começava a sentir que sua pressão caía com
facilidade por pouca coisa, se cansava com mais rapidez e os hormônios
queriam consumi-la alguns dias. Não se sentia inchada, não tinha muita fome,
mas sentia vontade de comer algo sempre com muita frequência. Enjôos
haviam ficado para trás embora alguns cheiros a incomodasse e sua barriga
crescia em cada noite o dobro do que já havia crescido até ali. Ela tinha sonhos
estranhos com cores que mexiam com sensações de emoção. Tudo aquilo para
ela era absurdamente novo, queria alguém para compartilhar aquela
experiência, queria ouvir se outras mulheres haviam passado pela mesma
coisa, queria ter seus amigos podendo paparicá-la e às vezes tudo que tinha
era Narcisa Malfoy que nem sempre era alguém acessível.
- Eu o sinto com mais frequência agora. – ela comentou deixando sua mão
fazer o caminho de sua barriga novamente. Sabia mais coisas também, mas
obviamente que Draco não estaria interessado em ouvir.
- O que mais? – ele perguntou e embora que tivesse sido em um tom até
desinteressado ela se surpreendeu.
- Não deveria fazer isso. – ele comentou. Ela sabia que não, não deveria se
apegar.
Hermione esperou que ele fosse dizer que o que fazia era errado. Que se
importar com algo que não seria seu era no mínimo o que Voldemort queria
que acontecesse. Mas ele não disse nada. Ele sempre dizia, mas se manteve
calado. Olhou-o, e ele a olhava de volta. Havia algo ali e ela não conseguiu
captar.
Hermione apenas assentiu. Draco não tinha o menor interesse de estar ali,
principalmente porque a família inteira estaria junta e se havia algo que
Hermione entendera sobre Draco durante todo o tempo que estavam juntos era
que família era sinônimo de desgosto para ele.
Assim que foram acomodados na sala principal Narcisa surgiu com um sorriso
bonito de se olhar. Era tão caloroso para o padrão de frieza ao qual havia se
acostumado que Hermione sentiu a necessidade de retrucar tentando abrir seu
próprio sorriso com dificuldade. Não era como ser recebida por Molly Weasley.
Não teria abraços, beijos, apertos de bochecha nem elogios de como havia
crescido e estava linda, mas era o mais próximo que receberia disso. O sorriso
de Narcisa. Ela estava feliz, afinal família para ela, por mais destruída que
estivesse, não passava perto do desgosto de Draco.
Draco cruzou os braços sem desviar o olhar de Pansy que havia ignorado o
chamado de Narcisa. Ele sorriu. Hermione sentiu uma agonia lhe crescer e se
conteve para não abrir a boca.
- Se está tentando fazer Hermione ter ciúmes com esse comentário está
perdendo seu tempo, Pansy. Conhece o tipo de relação que temos. Tente
atingi-la de outra forma.
- O comentário foi para você. – ela disse a ele e direcionou o olhar para
Hermione parando alguns segundos em sua barriga visível. – E eu não sei mais
que tipo de relação vocês dois tem. – lançou um último olhar desgostoso para
ele e deu as costas. – É sempre um prazer, Cissa. – ela se despediu – Sei o
caminho da porta.
- O que ela queria aqui? – Draco logo perguntou num tom baixo para a
mãe.
- Ver Hermione. Essa é minha maior aposta. Pansy sabia sobre seu jantar
de aniversário hoje. – respondeu Narcisa dando a volta para se aproximar de
Hermione. – Desde que Hermione se afastou da Catedral os rumores sobre uma
possível gravidez tem aumentado cada vez mais. O Diário do
Imperador mencionou mais uma vez a ideia e isso tem levantado a curiosidade
de muita gente. – ela direcionou o olhar para Hermione. – Como se sente?
- Está ansiosa para ver o rostinho dele? – ela usou um tom muito amigável
e Hermione quase sentiu como se estivesse tendo a gestação de qualquer
mulher normal.
Mas a verdade era que não estava e pensar no rostinho de seu filho fez com
que suas vistas embaçassem e ela tivesse que engolir o nó em sua garganta.
Queria poder desejar ver o rostinho de seu bebê, mas tudo que ela desejava
era que ele continuasse ali dentro dela, seguro e saudável. Pelo menos ali ele
era dela e ninguém lhe poderia tirar.
Desviou os olhos para Draco que a encarava sentado de uma poltrona por um
segundo, abaixou os olhos para a própria barriga e a tocou. Forçou um sorriso,
limpou a garganta e assentiu com a cabeça.
- Talvez sim. – respondeu baixo.
- Bom. – Narcisa disse, a olhou por uns segundos e se afastou. Havia algo
ali.
- Dando ordens?
- Agora você está sendo maldoso. – ela apontou o dedo para ele que riu.
- Havia necessidade?
- Espinafre? – não tinha certeza se era daquilo que ele estava se referindo.
- Sim. – ele concordou. – É bom. – informou a sua mãe. – As sopas
também são muito boas.
- Ah, sim. Você adora poções. – ela sorriu de volta – Que elfo lhe ensinou
essa tarefa? – Hermione podia perceber pelo tom dela de que era
absolutamente incomum aceitar que ela talvez tivesse se sujeitado a adquirir
experiências de Elfos Domésticos.
- Nenhum. – respondeu Hermione. – Minha mãe me incentivou bastante
em casa, por isso me dei bem com poções quando entrei em Hogwarts. Molly
Weasley foi quem mais me ensinou.
- É, ela tinha que cozinhar para muita gente. Precisava mesmo de uma
ajuda. – comentou Draco e aquilo sim havia soado ofensivo. Hermione sabia
que ele se referia a quantidade de filhos da Sra. Weasley como um exagero
proveniente de sua classe social. Hermione se lembrou porque Draco Malfoy era
odiável. – Você é mesmo bem estranha, Hermione. – ele se levantou. – Bem
diferente.
- Todos sorrindo? – a voz de Lucio soou alto assim que ele passou para o
lado de dentro da sala. – Será que finalmente tenho uma família feliz? – ele
parou e encarou Hermione – Não, você não está sorrindo. – ele sorriu – Mas
todo nós sabemos que faz todo o sentido nunca sorrir, primavera. – piscou para
ela. – Como está meu aniversariante? – Lúcio abriu os braços para o filho.
- Estive ocupado.
- Faça o que eu digo e não o que eu faço, certo? – bateu no ombro do filho
e riu. Draco se esquivou para longe. – Parabéns atrasado. É uma pena nunca
mais termos nos instalado na Travessa do Tranco um final de semana para
comemorar essa data como nos velhos tempos, não acha?
- Eu colocaria fogo naquele lugar com prazer. – Hermione podia ver que
Draco estava a um passo de começar a vociferar suas palavras.
Narcisa pigarreou para chamar atenção e afastar as faíscas que havia entre a
troca de olhares de pai e filho.
- Posso não ter sentado em meu lugar, mas eu quem ainda dito as ordens.
– Lúcio estalou o dedo e ordenou pelo jantar que logo foi servido. – Me diverte
querer defender os possíveis “direitos” de sua mãe. – ele riu consigo mesmo
enquanto pegava seus talheres e preparava a comida em seu prato com eles. –
Duvido bastante que considere os direitos de Hermione dentro da casa de
vocês. – levantou os olhos para Draco com um sorriso de lado e uma
sobrancelha levantada e então enfiou uma garfada de comida na boca com uma
expressão bem satisfeita.
- Não acha que já é o suficiente por hoje? – Draco disse com o olhar
voltado para o pai enquanto pegava os próprios talheres. Hermione podia sentir
a tensão que emanava ao seu lado.
Lúcio abriu a boca para retrucar, mas Narcisa foi mais rápida:
- Por favor rapazes, nós estamos aqui para algo muito maior do que isso.
Poderíamos deixar a falta de civilidade de vocês para bem depois. – disse ela e
Hermione achou completamente injusto que a falta de civilidade tivesse sido
atribuída também a Draco. Mas logo fez sentido quando imaginou que Narcisa
nunca se permitiria acusar o amado marido.
As bocas se calaram, mas a de Lúcio ainda tinha aquele sorriso de que sabia
que era uma ameaça. Lúcio lembrava muito de Draco em Hogwarts, a forma
como jogava suas palavras apenas para implicar. Hermione se perguntava se
Draco havia mesmo mudado ou se apenas vestia aquela máscara inexpressiva
e fria para evitar agir como o pai que tanto desprezava.
O silêncio seguiu pelo jantar. Era sempre triste estar sentado entre eles. Todas
as vezes que se sentava a mesa dos Malfoy para qualquer refeição, se
lembrava dos Weasley em suas férias de Hogwarts. Dos barulhos, das risadas,
das conversas separadas, dos gêmeos, da movimentação e da comida
maravilhosa. Havia sido um passado muito colorido, porque tudo havia mudado
depois da guerra. Mas os Malfoys, ela se questionava se aquele silêncio havia
os acompanhado desde antes da guerra, se havia sido morto assim para eles
desde sempre. Eram uma família e sabiam apenas conversar sobre negócios,
negócios, futuro, negócios, dinheiro, negócios, planos e negócios. Se por algum
motivo o assunto escapasse o medo de haver uma grande confusão passava a
ser uma ameaça forte o suficiente para os fazerem se calar novamente.
- Soube que irão dar um dia de sol para o último dia de verão. – Narcisa
continuou – Isso pode ser uma boa notícia para você.
- Amanhã? – Hermione ergueu as sobrancelhas. Narcisa sabia sobre suas
reclamações em não ver o sol brilhar.
- Vamos mesmo conversar sobre o tempo? – Lúcio interferiu. Era claro que
ele não estava gostando da falação.
Narcisa se ajeitou em sua cadeira enquanto a mesa era trocada para receber
chá. Ela se voltou para Draco e ele piscou com calma e passou o olhar para os
outros da mesa. De repente um botão finalmente parecer acender no cérebro e
passou os olhos novamente pela mesa e tornou a encarar Draco.
- Não estamos aqui por causa do seu aniversário, estamos? – ela se viu
perguntar.
- Não, primavera. – Lúcio foi quem abriu a boca e ela logo direcionou seu
olhar para ele. Não gostava daquele nome, a fazia lembrar de como Draco
sempre tinha um apelido para dar a alguém em Hogwarts. – Estamos aqui para
negociar.
- Sim, primavera.
- Pare de me chamar por esse nome. – dessa vez ela foi realmente rude. –
Por que eu seria o objeto de negociação de vocês?
- O acordo que temos com o mestre deixa claro que ele terá total direito
sobre a criança. – Lúcio começou. – Mas o sobrenome Malfoy ainda pertencerá
a ela. Sendo assim o legado que deixaríamos seria um Malfoy como herdeiro de
todo o império do mestre. Entretanto eu, você e todo o restante do mundo
sabemos que Lorde Voldemort não tem sequer a mínima intenção de deixar
esse mundo, o que significa que ainda teríamos uma história ao lado do maior
imperador de todos os tempos. – ele fez uma pausa. O chá continuava
intocado. – Há uma chave nesse mar de maravilhas que ficaria gravado em
nossa história que muda tudo. – ele continuava a encarando como se esperasse
que ela fosse dizer que chave era aquela.
- O mestre é um líder das trevas, Hermione. Todos sabemos disso. –
Narcisa tomou a palavra percebendo que Hermione ainda continuava confusa. –
E por mais que hoje em dia a fachada de que maldade é apenas uma questão
de ponto de vista tenha vendido muito bem, as pessoas sabem que o seguem
porque o temem, porque não querem viver como você costumava viver sendo
uma rebelde. Ele é um imperador, repressor, ditador. O dia que ele cair, a
queda será muito grande e nesse dia o nosso nome não poderá estar ao lado
dele.
- Por favor, diga que vai salvar meu bebê. – ela sussurrou sentindo um nó
torcer sua garganta.
Hermione sentia seu coração bater acelerado. Sim, ela faria qualquer coisa.
Sentir esperança parecia tão imensamente maravilhoso depois de todo o poço
em que havia descido.
- Minha vida. – ela se sentiu ofegante – Eu confiaria minha vida a eles sem
hesitar.
- Você acreditaria, com veemente certeza, que...
- Sim. – Hermione adiantou Narcisa – Eles cuidariam do meu filho. Não por
ele, mas por mim. Cuidariam e protegeriam. Eu posso afirmar isso com toda
certeza. – Hermione podia julgar que até mesmo adrenalina seu sangue deveria
estar recebendo naquele momento.
- Hermione. – Draco começou com calma. Seu nome fluindo da boca dele
soava bonito e eram raras as vezes que Hermione apreciava isso. – O quão
segura é a sede da Ordem da Fênix?
- Como pode ter certeza disso? – Lúcio soava sempre bastante profissional.
- Eu sei! Eu criei toda a segurança! Sei que as pessoas ali dariam a vida
para proteger meu filho se eu pedisse que fizessem. – ela sentou mais ereta
em sua cadeira – Eles são confiáveis! O lugar é confiável! Sobreviveu todo esse
tempo!
Ela pulou seus olhos de Draco para Narcisa, de Narcisa para Lúcio.
- Nós temos o véu. – ela soltou e Lúcio abriu um sorriso como se estivesse
feliz por não ter precisado pressionar para ter essa resposta. – Quero dizer, a
Ordem talvez tenha o véu. O véu do Ministério da Magia. – ela via pelo sorriso
de Lúcio que aquele era o lugar em que ele queria ter chegado – Se tivermos o
véu a Ordem pode ser o lugar mais seguro para se estar agora.
- É uma história mais longa do que pode imaginar. É ainda incerto o poder
do artefato, é complexo e eu só saberia decifrar para poder usá-lo se o tivesse
comigo. Mas se souber a história que o envolve concordaria comigo.
Hermione ainda não conseguia se mover. Aquela conversa não poderia ter
terminado ali. Precisava saber como fariam para tirar seu filho de Brampton
Fort, como fariam para entregá-lo a Ordem...
Ela o olhou e por um motivo eles ficaram ali naquele olhar por um longo
minuto. Hermione queria muito saber se ele ao menos imaginava a dimensão
do quanto aquilo era importante para ela, se ele conseguia sentir o que ela
sentia quando pensava em seu filho, se para ele aquela vida era importante
como para ela, não pelo fato de ser um Malfoy, o próximo na linguagem, mas
sim por ser fruto dele.
- Draco. – ela começou baixo. Puxou o ar e piscou os olhos molhados
lutando contra todos os hormônios que corriam seu corpo. – Você pode não ser
a minha pessoa mais favorita no mundo. Porque sabe que se eu tivesse a
chance de te deixar, deixar tudo isso, eu não pensaria duas vezes. – respirou –
Mas. – sentia seus olhos se encherem de súplica – Se salvar meu filho, se o
livrar de Voldemort, eu juro, juro – enfatizou – que vou lhe dever minha vida.
Draco Malfoy
Ela abraçava o lençol de lado e ele deixou sua visão cair para uma das pernas
esguias subindo até o meio de seus quadris onde a camisola começava a lhe
cobrir e fazia o restante do desenho de seu corpo. A respiração dela era calma,
seu rosto todo estava relaxado, o rosa em suas maçãs pareciam mais rosas,
seu cabelo parecia mais claro, sua boca parecia mais suculenta, tudo nela que
já era bastante perfeito parecia ainda mais perfeito. A consciência de ter a
mulher mais bonita do mundo lhe socou mais uma vez e ele foi obrigado a
desviar o olhar. O que era beleza se ela continuava sendo Hermione? Era quase
um desperdício.
Ela se levantou. Não conseguiu escutar os passos dela pelo quarto, mas logo
ele pensou em um palavrão quando escutou o rolar das cortinas e sentiu a luz
intensa invadir o ambiente. Demorou segundos apenas para seus olhos se
acostumarem e rapidamente teve a visão de sua própria pele pálida sob a luz
do sol.
A claridade o fez lembrar das férias de verão nos anos de Hogwarts, o fez se
lembrar dos verões de sua infância, de quando via seus pais juntos e acreditava
que se amavam, que eles eram uma família como qualquer outra, mas com
poder, com dinheiro, com influência. Ficava grato por saber que seu filho seria
mandado para longe, independente de onde fosse. Assim ele não cresceria
tendo que ver que seus pais não eram como aqueles que haviam se casado por
amor para formar uma família dos sonhos, ele cresceria consciente unicamente
de seu papel como Malfoy.
Seus olhos estavam de certo modo tão entorpecidos pela imagem dela que a
pergunta não chegou a ser bem processada.
- O quê?
- Vou ter que ir a Catedral em uma hora bastante movimentada. Sei que eu
deveria pensar nisso sozinha, mas você conhece o lugar melhor do que eu.
Haveria alguma entrada em que eu poderia passar sem ser vista?
- Converse com minha mãe, vocês duas vão para lá no mesmo horário. Eu
não quero resolver seus problemas. – talvez tivesse soado mesmo mal
humorado.
O silêncio que se seguiu lhe trouxe paz. Se aquele momento fosse durante os
primeiros meses de casamento certamente estaria sendo obrigado a escutar
Hermione o enfrentar porque obviamente, o problema não era apenas dela, se
alguém a visse saberia que ela está grávida e esse problema estava também
diretamente ligado a ele.
- Você não quer ir trabalhar. – a voz que ela usava continuava aquela que
acompanhava o ritmo do silêncio. Era quase delicioso.
Ele abriu os olhos para vê-la sentada sobre as próprias pernas ao seu lado. A
imagem dela sob o sol ainda conseguia lhe pegar desprevenido.
- Você deveria tirar um dia de descaso. Pelo menos um. – ela falou, sua
voz soava doce e incrivelmente natural. – Não precisa ser necessariamente
hoje, mas deveria. – ela se levantou e foi ao lavatório.
Aquilo era verdade. Principalmente para pessoas como ele que trabalhavam
com tanta frequência. Não se sentia um escravo. Fazia o que gostava e
Voldemort garantia que ele continuasse sempre fazendo o que gostava.
Gostava de ser líder, de mandar, lançar ordens e de ser bom nisso, mas ainda
era humano, certo?
Seus dedos primeiro entraram pela raíz dos cabelos dela. Afastou sua cabeça
para poder provar com a boca a pele macia de seu pescoço. A cercou pela
cintura colando seu corpo ao dela e subiu até ter o lóbulo de sua orelha entre
os dentes.
Ele até gostava de ter uma mulher em casa em momentos como aquele. Se
descobrira até ser um homem bastante “matinal”. Nunca havia se dado muito
ao luxo de dormir com as mulheres que levava para a cama. Nem com Pansy,
nem quando namorou Astoria, nem quando insistiam para que ele ficasse. Não
gostava de acordar acompanhado de alguém, parecia haver um peso de
compromisso que ele resistia em aceitar. Com Hermione havia sido bastante
tranquilo lidar com isso. Ele sabia que ela também não estava feliz com a
companhia dele, portanto não era como se ele estivesse alimentando qualquer
esperança de compromisso com ela. Momentos como aquele serviam para
matar um pouco da exaustão da convivência que as vezes chegava ao nível do
detestável. Haviam concordado com aquilo até verbalmente já.
O corpo dela era gostoso de se ter nos braços. Ele havia se acostumado as
formas dela, a quais posições se encaixavam melhor, e mesmo que a barriga
dela estivesse crescendo, ainda não havia chegado ao ponto de os atrapalhar.
Um dia certamente haveria de chegar, mas por enquanto ele desfrutava de
como as curvas dela ficavam ainda mais bonitas a medida que sua barriga
crescia. Saber que ela gerava seu filho também lhe dava frios na espinha de
vez em quando.
Hermione se virou para recebê-lo. Os seios dela pareciam de certo modo terem
aumentado minimamente de tamanho, mas já era o suficiente para o deixar
bastante feliz, por assim dizer, quando os tinha pressionados contra seu corpo.
A forma como faziam sexo tinha atingido um nível que ele jamais havia tido
ideia de que existia. Para ele sexo sempre fora uma questão de dar prazer ao
nível de manter sua imagem de desejado por boa parte do gênero feminino.
Isso tudo envolvia honra, dominação, confiança, satisfação, prazer e todos os
derivados desse setor. Com Hermione eles haviam passado por isso e vez ou
outra voltavam para lá novamente, mas chegaram a um nível de total conforto
que as vezes ele só queria estar dentro dela com seu corpo no dela e ficar ali
sentindo o prazer o consumir aos pouco, sem pressa, sem eventos brilhantes,
sem gemidos intensos. Não era o seu melhor tipo de sexo, ele confessava, nem
mesmo seu favorito, mas era gostoso, relaxante e bem mais prazeroso. Chegar
em casa para ter aquele tipo de sexo as vezes o animava mais do que estar
pronto para dar a Hermione o sexo de sua vida. E era mútuo. Ela mesma
muitas vezes se sentava sobre ele e o usava pelos minutos que precisasse. Era
bom e era bom que fosse com ela porque se sentia confortável o suficiente para
isso. Nunca tivera a intenção de impressioná-la em primeiro lugar.
Sua boca se uniu a dela pela talvez milionésima vez desde que a beijara pela
primeira vez. O sabor era familiar, os movimentos eram familiares, mas a
sensação era sempre única e não, ele não se cansava. As mulheres com quem
já havia ficado depois dela eram altamente usadas a nível de comparação, o
que muitas vezes o irritava, se irritava com a existência de Hermione por isso,
mas acabava precisando do seu corpo no fim das contas.
Puxou sua perna, a encostou na a parede e entrou dentro dela sem a menor
pressa. Os suspiros que ela soltava quando isso acontecia sempre ficavam
gravados em sua mente e sim, ele se lembraria daquilo quando fosse levar
outra mulher para cama. Deixou que a sensação de estar dentro dela o
dominasse, que o prazer o invadisse, que a paciência o permitisse aproveitar
aquilo pelo máximo de tempo que tinha. Ele sempre começava mais devagar.
Tinha bastante tempo e soube aproveitar isso. O corpo dela chegou a tremer
umas duas vezes contra o seu. Ele adorava a forma como o corpo dela reagia
ao seus orgasmos. A forma como os músculos travavam e relaxavam em
pequenos espasmos, a forma como ela puxava seus cabelos levemente, a
forma como abafava seus sons contra o pescoço dele e como seus dedos se
cravavam em sua pele. Mulheres faziam isso o tempo todo, mas ela, ela tinha
um jeito especial.
Estava com sua boca na dela quando sentiu que depois de todos os minutos
que estavam ali finalmente estava pronto para dar um fim a sua própria agonia
e foi assim que o fez. Seu corpo pesou e ele tratou de esconder o rosto contra
a curva do pescoço dela um tanto ofegante. Hermione firmou os pés no chão
novamente e ele ficou ali, sentindo a água bater em suas costas. O silêncio
pairou sobre eles enquanto Draco esperava para se afastar dela. Sempre se
afastavam e quando não se afastavam era porque haviam praticado o tipo de
sexo que tirava deles qualquer resquício de forças, mas ali ele deveria, deveria
se separar dela porque era estranho quando se tocavam fora do sexo. Naquele
momento parecia apenas errado se afastar dela.
Suas mãos desceram pela cintura dela e se alocaram próximo aos quadris onde
podia sentir o início do volume que seu filho fazia no pé da barrida dela. Aquele
dia parecia estranho.
- Draco. – a voz dela soou quando os minuto passou e ele simplesmente
continuou ali. Sentiu as mãos dela se moverem fazendo o desenho de seu
pescoço e nuca. – O que foi? – ela parecia preocupada e ao mesmo tempo
confusa, mas ainda assim sua voz era doce, sempre doce, ele queria que aquilo
o irritasse. – Draco. – ela o chamou mais uma vez e ele deixou o pescoço dela
para encará-la. A boca vermelha e inchada, a ponta do nariz vermelho, o
cabelo bagunçado. Ele adorava aquela imagem dela. Sempre a tinha depois que
faziam sexo. – Qual é o problema?
Nada, ele se viu respondeu, mas ao invés disso ficou ali, encarando seus olhos
perfeitamente dourados, sua boca vermelha, a ponta de seu nariz vermelho.
Hermione o encarava de volta como se estivesse vivendo o maior suspense de
sua vida. Draco tentou balançar a cabeça e responder nada novamente, a soltar
e terminar seu banho, mas não. Continuou exatamente ali.
- Eu sinto... – escutou sua própria voz dizer – Como se não devesse viver o
dia de hoje.
Ela continuava ali, o olhando. O silêncio entre eles e o olhar dela, aquele que
percebia a completa estranheza daquela situação, mas que mesmo que ele
estivesse soando até idiota, ela parecia fazer esforço para entrar no mundo
dele, para compreender, para tentar achar uma resposta para ele. Ele não veria
isso nem mesmo no olhar de sua mãe.
- Não. Não é. – ela o segurou pelo pulso. – Quero dizer, você quem tem o
direito de julgar quão importante é aquilo que sente porque só você está
sentindo. Mas não acho que é idiota considerar algo que o incomoda ao ponto
de chegar a me dizer. - Sim, ela havia tocado em um ponto importante. Nem
ele havia julgado aquilo – Vamos lá. Ficar aqui não significa que vá ficar
comigo. Essa casa é enorme. Podemos ir para a Catedral no almoço e voltar.
Você tem um milhão de pessoas que podem fazer seu departamento rodar sem
você por um dia apenas.
Certo, ela já estava agindo de um jeito único demais que o fez erguer uma
barreira antes que cruzasse alguma linha que não queria cruzar.
- Não tente entrar na minha vida desse jeito, Hermione. – ele rebateu e foi
o suficiente para fazê-la recuar.
Ele tomou seu banho enquanto ela simplesmente o deixou. Grifinórios e suas
estranhas manias de serem prestativos até mesmo com inimigos. Decidiu que
tudo aquilo era apenas uma tremenda besteira. Sua mãe o teria repreendido e
Pansy teria soltado uma gargalhada daquelas bonitas de se ouvir. Parou para
fazer a barba quando decidiu que procrastinas era uma doença de dias como
aquele, colocou sua farda e desceu.
- Te vejo no almoço. – foi tudo que ela disse antes de puxar um chapéu
que descansava na cadeira ao lado e deixar a sala.
Ele a viu tomar o rumo do corredor que passava por trás da cozinha e soube
exatamente onde ela passaria a manhã. Soltou um riso fraco enquanto
colocava chá em sua porcelana e puxava o Diário do Imperador. Fazia até
sentido que seu pai a chamasse de primavera.
Não foi o bastante e antes de deixar a casa ele a avistou pela janela no meio do
jardim. Os pés dentro do espelho d`água do chafariz, um braço servindo de
apoio para seu corpo e uma mão sobre a barriga, os olhos fechados voltados
para o céu como se pudesse tirar do sol algum tipo de energia. Ele riu e foi
para a Catedral.
O dia lá também havia começado cedo. Talvez o sol tivesse acordado bastante
gente como fizera com ele. Alguns reclamavam, outros até discutiam que
deveriam haver mais dias como aquele. Mas Draco sabia que dias como aquele
implicavam na segurança da cidade portanto era melhor que sempre fosse
nublado.
Foi direta para o seu discurso diário e logo após subiu para sua torre e informou
Tina que tinha o horário de seu almoço fechado. Interrogatórios deveriam ser
passados para depois desse período e reuniões consideradas fora de questão
para o dia todo.
- Você não deveria estar com tia Bella? – perguntou a ela olhando as horas
em seu relógio de bolso.
- Vou encontrá-la em um minuto. – ela respondeu – Nos encontramos logo
quando cheguei. Hermione veio comigo. – disse – Draco. – ela o parou o
segurando pelo pulso. Olhou rapidamente de um lado para o outro e se
aproximou um passo. – Não estou gostando da forma como tudo isso está bem
organizado.
- Hermione está bem. – ele disse – Vamos estar com o Lorde, ele não
deixaria que ninguém encostasse o dedo nela.
- Mantenha os olhos abertos, Draco. – ela tocou seu rosto por um segundo,
deu as costas e seguiu seu caminho.
- Vim com Narcisa. Bellatrix estava nos esperando quando chegamos. Ela
tomou o cuidado de limpar o caminho. – respondeu Hermione. Era evidente o
desconforto em toda a sua postura. – Draco. – sua voz soou muito baixa agora.
– Bellatrix me disse que...
A reação dela foi expressiva. Seus olhos assumiram um tom assustado e ela se
mexeu em sua cadeira muito mais incomodada do que antes.
- Draco. – soou quase pausado – Por que sua mãe gastaria saliva e tempo
para lhe informar algo que não passa de uma provocação?
Ele queria encontrar uma resposta para amenizar a agonia dela, mas no mesmo
momento Voldemort os surpreendeu com sua presença. Ele veio sério, tomou
seu lugar em silêncio e descansou sobre a mesa bem ao seu lado uma pasta de
couro de dragão até gorda com o símbolo da extensão do St. Mungo’s que
havia na cidade. Hermione encarou o objeto quase que com sede. Ela sabia o
que havia ali.
- Espero não ter atrapalhado nenhum de seus planos devido ao convite em
cima da hora, Draco. – ele se dirigiu a Draco.
Draco piscou não muito paciente com a indireta que havia levado. Claramente
ele era obrigado a apresentar os relatórios.
- Sabe também que eu gosto quando é mais bem feito. – Draco retrucou.
- É engraçada a forma como ainda espera que eu vá agir como seus outros
comensais. – disse Draco. – Não vou me desculpar por estar lhe causando
suspeitas, mestre. Sabe exatamente o meu tipo de gestão, sabe de todos os
benefícios que isso tem trazido ao seu império, sabe que nunca escondi nada, e
caso não esteja satisfeito, procure alguém que faça um trabalho melhor do que
o meu. Talvez Severo esteja disposto a assumir a posição novamente com
aquela velha política que quase o levou ao declínio, certo?
Draco puxou e soltou o ar buscando paciência. Ele odiava aquelas fases em que
Severo conseguia horários extras no gabinete do mestre.
- Quantas vezes eu terei que provar minha lealdade? – tentou não se
mostrar irritado.
- Algumas vezes você parece não ter ideia do cargo que ocupa. –
Voldemort disse – Inúmeras vezes não será o suficiente. Nunca será o
suficiente. Eu devo confiar em você todo o segundo e realmente confio, mas
devo testá-lo sempre. As pessoas não mudam com facilidade, mas elas
mudam. Tenho te testado desde que coloquei minha marca em seu braço e vou
continuar o testando, inclusive hoje o testarei.
- O que quer dizer com isso? – a curiosidade lhe aflorou – O que Hermione
está fazendo aqui se eu estou sendo o tópico?
Voldemort negou.
- Você não é o tópico aqui, Draco. Meu herdeiro é o tópico. – ele puxou a
pasta que havia deixado de lado e desviou seu olhar para Hermione. – Não
gostei do fato de terem deixado o relacionamento pessoal de vocês atrapalhar
na eficiência do cumprimento da ordem que lancei aos dois. Hermione apenas
engravidou porque eu tive que interferir na situação. – ele puxou a taça de
vinho que ingeria e tomou um longo gole. – Também não gostei da rebeldia de
Hermione em esquematizar todo um plano de fuga para a amiguinha vivendo
debaixo do seu teto. – encarou Draco. – Alguém precisa pagar pelo seu erro. –
virou-se novamente para Hermione. – Acha que pode ir contra mim tentando se
mostrar forte ao torturar prisioneiros? – o olhar que Hermione mantinha sobre
ele era forte, resistente. Se havia algo que ela conseguia fazer era encarar
Voldemort. – Aquilo não pagou o débito que você abriu, minha preciosa
Hermione. Eu poupei sua vida para que sofresse e até então você tem tido uma
boa vida. – estendeu a pasta a ela. – Você queria as informações da criança
que acha que é sua, não queria? – Hermione hesitou em pegar – Tome. É tudo
seu. Todo o histórico desde as primeiras tiragens na ala das enfermarias. Quero
que tenha as informações daquilo que vou tirar de você.
Ela pegou a pasta com receio enquanto lançava um rápido olhar a Draco. Seu
primeiro movimento foi abri-la e não guardá-la ao contrário do que Draco faria,
mas sabia que Hermione estava sedenta por informações. Diferente do que ele
havia pensando desde que recebera a intimação para o almoço no dia anterior,
estar ali agora o preocupava e ele conseguia captar cada movimento de tudo.
Seus olhos deveriam estar mais atentos do que o de qualquer coruja durante a
noite.
- Eu estou esperando uma menina? – sua voz saiu quase num sussurro.
Aquela informação batera em Draco como uma notícia completamente
inesperada. Hermione ergueu o olhar confusa para encarar o sorriso de
satisfação de Voldemort e o apreensivo de Draco. Ele não tinha ideia de qual
era o peso daquela realidade ali. – É uma menina. – sua voz saíra mais forte
dessa vez. Ela tornara a abrir a boca para dizer algo, mas sua voz nunca saiu.
O que aconteceu foi de repente uma de suas mãos apertando com força a
espessura da mesa e seu corpo se curvando para frente como se tivesse
sentido uma forte dor inesperada. – Draco. – ela o chamou ofegante quase que
em socorro e ele se viu levantar também quase que imediatamente. Não. Era
um teste. Ele não sabia como agir.
- Isso pode acabar comprometendo a saúde dela. – Draco se viu dizer algo
estúpido em reflexo da agonia que sentia – Ela pode acabar não podendo gerar
mais nenhum herdeiro.
A chamada equipe irrompeu pela sala. Eram medibruxos e ele até conhecia
alguns.
- Vamos lá. Tirem ela logo daqui antes que isso comece a chegar naquela
fase nojenta. – Voldemort gesticulou com as mãos.
Narcisa passou confusa para o lado de dentro sendo guiada por Bellatrix. O
primeiro olhar que ela lançou foi para Hermione. Sua mãe não era surpreendida
com facilidade, mas Draco a viu colocar a mão na boca enquanto encurtava o
passo até ela.
Draco via aquela cena e não percebeu talvez quando tudo se tornou muito
mudo para ele como se fosse um reflexo de seu próprio corpo em como estava
reagindo a aquela atmosfera. Todos os seus músculos se mantinham rígidos e
ele foi conseguir escutar novamente o zunido do silêncio somente quando seu
cérebro lhe mandou a mensagem de que era seguro e ele se localizou na sala
vazia ao lado de Voldemort.
- ...um processo muito limpo. – dizia o Lorde das trevas ao seu lado
quando seu ouvido tornou a captar sons – Não é nenhum tipo de magia negra e
ela não passará por nenhum ritual. Será bem simples e verá que ela estará em
casa hoje mesmo. – o tapa no ombro que recebeu fez Draco voltar o olhar para
Voldemort com cuidado. – Espero não ter tomado muito tempo de sua agenda.
Tem alguma reunião hoje?
Draco piscou e seu próprio cérebro trabalhou rápido para lhe enviar a resposta.
- Não. – respondeu quase que roboticamente – Tenho vistoria nas
masmorras. Interrogatório.
Voldemort assentiu.
Sentiu como se sua cabeça flutuasse enquanto avançava de volta para a ala de
seu departamento. Encontrou com Tina logo na entrada que o esperava com a
prancheta apertada contra o peito.
- Esse foi um almoço rápido, senhor. – ela comentou e Draco sentia ter a
ideia de que havia durado quase um dia inteiro.
- Está tudo pronto nas masmorras? – ele perguntou. Sério demais. Frio
demais. Mais até do que costumava ser.
As masmorras eram longe. Era um lugar muito diferente do que Hogwarts havia
pintado sobre masmorras. Andaram pelos corredores de cela com uma pequena
equipe de seu departamento e quando chegaram a primeira que ele deveria
entrar Draco percebeu que nem sequer sabia quem iria encontrar.
- Relatório. – foi somente o que precisou dizer para Tina e em segundos
tinha uma pasta nas mãos.
- Não sei de que Ordem está falando. – não era o caso daquele prisioneiro.
Draco se mexeu impaciente. Seu cérebro lhe lançou uma imagem de como os
medibruxos havia puxado Hermione com força e de como ela lutou. Precisou
piscar para limpar sua visão.
Realmente não deveria trabalhar. Não havia nele nenhum perfil de ataque e
personalidade que o ligasse a Ordem.
- Não me faça querer engolir essa mentira. – Draco não sentia um pingo de
paciência.
- Posso te fazer engolir bastante coisa, uma delas poderia ser meu pau. –
cuspiu o homem.
- Eu já disse...
Antes que ele terminasse Draco lhe enfiou o punho fechado novamente contra
o rosto. O homem cuspiu sangue e Draco ao invés de enxergar o homem,
enxergou a realidade de que o filho que Hermione carregava. Sua filha. Estava
morta. Morta. A palavra lhe pesou.
Draco Malfoy
Narcisa estava sentada em sua sala, no escuro. Ela carregava chá quente nas
mãos e tinha um olhar fundo. Draco se aproximou quando ela se levantou e o
chamou. Uma das mãos quentes dela tocaram seu rosto quando ele parou.
- Não queria voltar para casa. – ele respondeu. O gosto de todo o álcool
que havia consumido trancado em sua torre na Catedral parecia cada vez mais
longe agora. – Eu não queria vê-la. Continuo não querendo.
- Ela vai passar por um momento muito difícil agora, Draco. Tente não ser
tão egoísta. Você talvez não consiga sequer imaginar a dor que ela está
sentindo. – sua mãe disse e se afastou.
- Ela ainda está sentindo dor?
- Não estou falando de dor física. – ela respondeu – Você não sabe o que
acontece com uma mulher quando ela sabe que esta gerando um filho, Draco.
– ele odiava que dissessem a ele que não sabia de algo. – Hermione passou por
um processo bem limpo de aborto. Temos magia ao nosso favor. Obviamente
que ela passou por muita dor no começo, mas o processo de cura a acalmou
mais. – ela respirou fundo deixando seu chá sobre a mesa de centro - Poderia
ter dado muito errado porque ela já estava em um estágio bastante avançado
de gravidez, mas a equipe que a atendeu estava bastante preparada. Você
sabe, nenhum daqueles medibruxos iria querer uma sentença de condenação
vinda do mestre se errassem em algum detalhe. – Draco tinha que concordar
com aquela parte – Eles informaram que em uma semana e meia ela estaria
perfeitamente pronta para engravidar novamente. – Narcisa o encarou – Eu
não sei exatamente o que aconteceu ali, Draco. – ela disse – Mas sei que para
esses médicos terem conseguido uma magia que recupere Hermione em uma
semana e meia, o Lorde deve estar louco para vê-la grávida novamente e se eu
fosse você, não ousaria pisar fora dessa linha. – ela se aproximou novamente –
Cuide bem disso porque se há alguém que Hermione esteja odiando tanto
quanto Voldemort nesse momento, esse alguém é você.
- Ela não fez a criança sozinha. Era filha tanto sua quanto dela e você
esteve lá, de pé, parado, olhando inexpressivo enquanto assistia a mulher que
carregava um fruto seu sofrer um atentado daquele sem mover um músculo,
dizer uma palavra, expressar uma emoção!
- Era um teste! Ela sabia que era um teste! Eu não poderia fazer nada!
Hermione é racional o suficiente para ter consciência disso. – ele se sentiu
irritado pela acusação da mãe.
Ele não poderia discutir contra aquele argumento. Enfiou as mãos no bolso
sentindo-se absolutamente perdido. Nunca, em sua vida inteira, ele havia se
percebido tão deslocado. Não conseguia pensar em nenhuma ação racional, não
sabia como agir, o que fazer. Não sabia nem o que queria.
Draco deixou seu corpo pesar contra o encosto. Bagunçou os cabelos, afrouxou
a gravata e apertou os olhos com pulsos. Soltou o ar e relaxou. Tentou limpar a
mente o máximo que conseguiu. Seu corpo estava exausto e ele se deixou
pesar.
Para ele parecia ter se passado horas ali naquela posição, naquele sofá,
naquela penumbra. Olhou em volta e se deu conta de uma pequena pessoa
descendo as escadas com dificuldade. Olhou com mais cuidado e viu cabelos
loiros cumpridos como o seu, como o de sua mãe e como o de seu pai.
- Papai? – a pequena pessoinha fez soar sua voz infantil. Ela olhou envolta
um tanto perdida até encontrar seus olhos extremamente cinzas com o dele. Os
olhos dela eram exatamente como os dele. – Papai! – ela correu até ele e
escalou sua perna para subir em seu colo. – Está escuro. – ela passou os
bracinhos em volta de seu pescoço e o apertou com força. Draco tocou o cabelo
da criança e sentiu a textura dos cabelos de Hermione. – Onde está a mamãe?
Draco tocou a fina camisola da garotinha e alisou suas costas.
Ela afastou-se para olhá-lo e Draco viu o nariz de Hermione nela, viu a boca de
Hermione, o queixo de Hermione, as bochechas de Hermione. Piscou seus
olhinhos cinzas e fez uma expressão de dúvida.
Draco abriu os olhos naquele momento quase que em um susto. Tudo estava
exatamente como deveria estar na realidade. Não havia nenhuma garotinha por
ali. Continuava escuro e ele puxou o relógio para ver que não havia cochilado
mais de alguns minutos, mas foi o suficiente para decidir que precisava ver
Hermione. Precisava saber como ela estava. Em que estado estava.
Subiu as escadas, cruzou os corredores e chegou ao seu quarto onde encontrou
uma última vela ainda acesa ao ponto de findar. A cama estava fazia, mas
estava desfeita do lado de Hermione. Olhou a redor confuso e dirigiu-se para o
lavatório. A encontrou lá, de frente para o espelho, vestida em uma de suas
habituais camisolas, os cabelos estavam bagunçados, os pés descalços, as
mãos apoiadas na bancada tremiam, seu corpo inteiro e sua postura parecia
frágil. Pelo espelho ele podia ver os olhos vermelhos e fundos dela e não
demorou para que ela conseguisse avistar sua presença ali.
Draco surpreendentemente se viu temer pelo que sua mãe havia lhe dito. Ele
não queria ter o olhar condenador de Hermione, seria demais, parecia horrível
ter que suportar mais aquilo, mas contrário do que realmente esperava, ela
parecia tão exausta que talvez sequer forças para olhá-lo com ódio tinha.
Aproximou-se com cuidado e se colocou ao lado dela, vê-la naquele estado
provocava um pressão irritante em seu peito.
- Hermione... – ele sentia uma culpa que nunca sentira antes. Como se
tudo aquilo, como se o estado em que ela estava, como se o casamento que
tinha, a morte de sua filha, a vida que levava fosse culpa inteiramente e
exclusivamente sua. E realmente era. Ele nunca deveria tê-la trago para
Brampton Fort. Nunca deveria tê-la capturado. Sua garganta pareceu se fechar
como se a pressão em seu peito estivesse subindo. Ele precisou respirar fundo.
– Eu queria poder ter feito...
- Você não poderia ter feito nada. – ela o cortou usando uma voz baixa que
quase nem parecia dela. Sua voz era sempre melodiosa, calma e firme, mas ele
nunca havia ouvido aquele som morto sair de sua boca. – Agiu como deveria
agir, não o culpo por isso.
Ele soltou o ar e deu mais um passo em direção a ela. Afastou seus cabelos
para trás do ombro e deslizou o dedo pela pele de seu pescoço. Era estranho
tocá-la quando não estavam fazendo sexo, mas ele precisava.
Ela segurou sua mão e a afastou. Os dedos dela estavam gelados, úmidos e
pegajoso. Ele recuou.
- Eu apenas não estava me sentindo bem. – ela usou aquela voz morta.
Ele a observou dar as costas e seguir o caminho de volta para o quarto com um
pouco de dificuldade. Draco se considerou idiota. Em que mundo ele havia
aterrissado para se preocupar com Hermione, afinal? Ele não precisava daquilo,
nunca havia precisado. O que havia um dia importado ali entre eles já não
existia mais. E sempre que se lembrava disso se sentia ferido.
Seguiu sua rotina o resto da semana inteira. Acordou pela manhã no horário
normal, tomou café, foi para a Catedral, teve que se ausentar para fora de
Brampton Fort alguns dias, mas sempre voltava para casa, comia seu jantar e
dormir. A companhia de Hermione não existia. Ela ficava na cama quando se
levantava e quando voltava ela ainda estava lá. Todo o tipo de refeição que
costumava fazer em sua companhia também voltara a ser como nos velhos
tempos. Perguntava com frequência a Tryn se ela estava se alimentando ou se
havia feito algo no dia e tudo que recebia da elfa era um aceno negativo com a
cabeça. Chamara sua mãe algumas vezes, mas a resposta havia sido a mesma.
Não ouvir a voz de Hermione no começo havia sido quase que um alívio, mas
agora estava realmente começando a preocupa-lo. Ela não poderia
simplesmente vegetar para sempre. Por mais que precisasse de seu próprio
tempo para se recuperar, não parecia exatamente que estava se recuperando.
Soltou o ar com calma enquanto se aventurava para dentro do quarto de Pansy
na Catedral. Era cedo e fim de semana o que não fez com que ele se
surpreendesse por encontra-la entre os lençóis de sua cama. Não se importou
em fazer o barulho necessário para encher um copo de gelo e whisky e se
sentar em uma das confortáveis poltronas de seu quarto sempre escuro.
- Que bom então que já está acordada. – ele comentou após provar de sua
bebida. Ela riu e moveu-se se espreguiçando. Ele recebeu a risada dela como
algo errado. Sim, parecia errado que qualquer pessoa no mundo sorrisse.
Quando Pansy se sentou a primeira coisa que notou foi seu cabelo. – O que fez
com o cabelo? – soara estúpido já que era bastante visível que ela havia o
cortado bem acima dos ombros.
Pansy não vestiria seu roupão. A camisola que usava que desenhava
perfeitamente seu corpo e que mal lhe cobria abaixo dos quadris era o
suficiente para se usar perto dele. Ela se dirigiu ao seu lavatório e Draco bebeu
mais de sua bebida.
- Isso não soa muito com o que o Draco Malfoy que eu conheço diria. – ela
apareceu na porta enxugando o rosto molhado.
- O Draco Malfoy que conhece é o Draco Malfoy que sua própria cabeça
criou. – ele respondeu e bebeu mais um gole.
- Você está aqui para conversar. – ela o olhou e cruzou os braços a sua
frente. – Você sabe que isso nunca da certo. Eu não sou sua amiguinha de
papo, Draco. Nós temos algo muito mais intenso.
- Por intenso você quer dizer sexo, não é? – ele começou - Eu não quero o
seu teatro, Pansy. Não hoje.
Ela soltou um suspiro aborrecida. Colocou uma perna de cada lado dele e se
sentou passando as mãos na barba rala que nascia ao redor de seu queixo.
- Você esquece que eu existo por quase um ano, vem ao meu quarto e diz
que não quer sexo. Esse pode ser seu superficial pensamento de agora, mas
sabe o que significa vir ao meu quarto desde sempre. – ela se encaixou mais
em seu colo. Pansy era boa com aquilo, ela era apenas excelente em usar seu
corpo. – Me diga, Draco. – ela deixo seus lábios roçarem no dele – Do que
lembra quando me vê com o cabelo assim.
Ele soltou o ar não acreditando que ela estava mesmo tocando naquele
assunto.
Tinham treze anos quando descobriram pela primeira vez em suas vidas o que
era sexo. Eram novos demais e mal sabiam o que estavam fazendo. Voltar no
tempo era como ver duas crianças querendo ser dois adultos naquele verão em
que suas famílias alugaram um castelo sobre o alto de um penhasco. Naquela
época Pansy usava os cabelos quase exatamente como agora e quando ela se
afastou de seu pescoço para encará-lo ele também quase teve saudade da
criança que ela costumava ser. Encarou seus olhos perfeitamente azuis, o
rosado de suas bochechas que era quase o mesmo de sua boca chamativa. Ele
tocou o rosto dela, arrastou seu dedo pelo lábio inferior carnudo e desejável.
Haviam aprendido sexo juntos. Haviam adquirido experiências com outros,
trago para cama deles, compartilhado do que gostavam e não gostavam.
Haviam crescidos juntos e então toda a obsessão de Pansy estragara o que eles
poderiam ter tido.
O olhar dela talvez também tivesse escurecido, porque se lembrar que aquilo
não seria mais um problema para ela fez com que ele quisesse empurrá-la, ir
embora e se trancar em seu escritório novamente onde poderia beber até
perder a consciência. Desviou o olhar, tomou um longo e grande gole de sua
bebida e tornou a encará-la.
- Eu sabia que ela era fraca. – aquilo foi o suficiente para que Draco a
empurrasse. Ela reclamou pelo tratamento e se afastou dele quando ele se
levantou. – Está louco? Nunca me tratou com essa agressividade! Acaso está
com pena dela?
- EU NÃO ME IMPORTO COM ELA! – Ele se sentiu furioso. Vinha se sentindo
bastante furioso ultimamente. – É APENAS HERMIONE! MAS ELA ESTAVA
CARREGANDO MEU FILHO! MEU SANGUE! VOCÊ NÃO TEM CÉREBRO OU ESTÁ
FINGINDO QUE NÃO TEM UM, PANSY? NÃO SE SORRI PARA ALGUÉM QUE
ACABOU DE PERDER UM FILHO! – ele terminou ofegante.
Ele quis retrucar grosseiramente, fazê-la se sentir mal por ter dito o que disse,
fazê-la se sentir como ele se sentia, mas a racionalidade das palavras dela o
atingiu de modo que o calou. Deu as costas soltando o ar com raiva. Virou o
copo de whisky e o deixou sobre uma das secretarias encostada na parede.
Inclinou o corpo sobre ela e fechou os olhos sentindo a madeira envernizada
contra a palma de suas mãos. Respirou fundo. Havia algo que Pansy não
entendia ali. Algo que nem ele sabia explicar.
- Existe algo, Pansy... – ele começou depois de alguns minutos – Algo que
parece crescer dentro de você quando... – soltou o ar e se desencostou do
móvel - ...quando aguém te diz que terá um filho. Cresce com o tempo. É como
um... – ele parecia perdido nas próprias palavras quando tornou a encará-la. –
É como um... sentimento. – aquela palavra parecia tão estranha.
- Sentimento? – ela riu mais alto parecendo não acreditar no que ouvia –
Meu Deus! Quem é você?
- Hei! – ela se adiantou e se colocou entre ele e a porta – Você veio ao meu
quarto e não vai embora antes de...
- De o que? – ele a interrompeu sem paciência. – De fazermos sexo? –
sugeriu ele – É isso que sempre quer! É apenas nisso que pensa!
- E quando foi que sexo não foi a única coisa em que pensou quando
estava comigo, Draco?
- Você sabe que está repetindo esse discurso, não sabe? – ela o deteve se
colocando a frente dele novamente quando ele tentou desviar a rota de saída. –
Veio com essa ideia quando toda a fantasia da sua família caiu e olhe só o que
nos acompanhou durante todos os anos até aqui: sexo! Não diga que esta
começando a se cansar porque nós já passamos por isso mais de uma vez.
- E continuamos estancados no mesmo lugar!
- Eu queria que fosse o que deveríamos ser depois de todos os anos que
nos conhecemos! Queria que fosse uma amiga! A única que um dia eu poderia
ter! Que escutasse de vez em quando! Que fosse uma companhia!
- Eu não sou sua amiga, sou sua amante! Não vou abrir mão desse status
porque eu sei que vai ser o mais alto que conseguirei com você!
- Então me devolva o colar que te dei. – ele queria feri-la. Tudo que ela se
preocupava era status. Ela era tão igual quanto todas as outras pessoas que o
rodeava. – Se tudo que quer é apenas sexo você não precisa carregá-lo no
pescoço com o orgulho que carrega. Sexo não significa nada para mim. Não
significa o que você quer que signifique. Se fosse assim eu e Hermione
estaríamos vivendo uma intensa história de romance, mas nós estamos bem
longe de uma. Se fosse assim eu estaria apaixonado por metade das mulheres
de Brampton Fort. Se fosse assim eu e você teríamos nos casado como quer há
muito tempo atrás.
Ele fez menção de desviar-se dela novamente, mas dessa vez ela colou contra
a porta e não disse nada, tomando seu tempo para engolir e digerir todas as
palavras dele.
- Foram as palavras mais sábias que eu escutei de sua boca em anos. – ele
retrucou tão sério quanto ela. Nada de teatro, nada de gemidos altos, nada de
falsa sedução, nada de sexo. Realmente aquelas haviam sido as palavras que
ele escutaria de Pansy sem sua máscara. Ele queria que ela fosse assim
sempre. Que ela se despisse de todo o armamento que usava para chamar sua
atenção e a de metade dos homens da cidade. Assim ele se lembrava ao menos
um pouco da criança que ela havia sido um dia.
Pansy ainda o encarou por alguns segundos como se esperasse que ele fosse
desmentir aquela baboseira toda. Como se ele fosse sorrir, agarrá-la e arrastá-
la para cama, mas quando finalmente pareceu convencida que nada daquilo era
mentira, se afastou, abriu a porta e o deixou passar.
Draco desceu dali direto para sua sala onde se trancou e esvaziou a última
garrafa de álcool que lhe restava. Contou no relógio as horas que faltavam para
o seu dever principal ali na Catedral aquele final de semana e se permitiu
esvaziar a mente. Era tudo que precisava fazer. Nunca precisara daquilo com
tanta frequência em sua vida, nem mesmo quando descobrira que sua família
era uma farsa.
Cobriu o rosto e soltou o ar sentindo aquela agonia que lhe corroía quando a
memória lhe trazia as lembranças que mais queria esquecer. Não era sua culpa.
Ele não poderia ter feito nada. O que poderia ter feito? Tinha sonhos onde
encarava sua própria figura de pé, estática, com a expressão fria que sempre
carregava, naquela sala de jantar, encarando Hermione sofrer pela morte da
filha que gerava. Sua filha também. Até que ponto havia chegado com
Voldemort que o fizera encarar o assassinato de sua própria filha do mesmo
modo que assistia a morte de prisioneiros no salão principal da Catedral?
Ficava horas tentando descobrir onde havia falhado. Por que havia falhado?
Como nunca desconfiara daquilo? Talvez se tivesse se envolvido na gravidez de
Hermione desde o começo. Se tivesse ido com ela nas consultas marcadas
pudesse ter conseguido as devidas informações antes delas serem enviadas a
Voldemort e talvez aí então fosse capaz de evitar isso, encontrar uma forma de
contornar a situação, de fazê-lo aceitar uma garota. Como não havia sido capaz
de proteger sua própria família? Era um Malfoy! Independente de qualquer
relação que tivesse com Hermione, eram uma família e ele tinha o dever de
protegê-la. Crescera debaixo desse ensinamento. Como pode falhar? Ele nunca
falhava!
Batidas na porta o tiraram de seus devaneios.
- Senhor? – era a voz de Tina. Ele odiava como aquela mulher parecia ter
medo dele ultimamente. O receio na voz dele o fazia querer demiti-la todas as
vezes. – Sua audiência aberta começa em trinta minutos.
- Mãe? – parou quando encontrou-se com ela. – O que está fazendo aqui
domingo a tarde?
- O que o resto da cidade inteira está. – ela usava um tom baixo de voz. –
Todos sabem que passar a audiência aberta anual sobre a guerra para domingo
a tarde foi uma estratégia para ter um auditório vazio.
- Não fez muita diferença, fez? – ela aproximou-se dele. – Tem certeza de
que está preparado para hoje? Há pessoas aqui com cinquenta pedras na mão.
Todos sabem que as coisas estão oscilando.
- Já passei por audiências piores quando assumi o posto que ocupo. Vim
me preparando a semana inteira para isso. Trabalhei tempo o suficiente para
estabilizar essa guerra, tenho bastante argumento contra qualquer acusação
deles.
- Apenas sente lá com a confiança que sei que tem e haja como se nada
pudesse te quebrar, certo?! Essa é uma audiência aberta. – soava como um
conselho, mas ele sabia que era uma ordem. Assentiu.
Ela assentiu novamente concordando, mas não deu as costas nem foi embora.
Ele esperou que ela fosse, mas ela continuou ali, o encarando, como se
estivesse em um dilema sobre dar as costas ou encontrar uma forma de
perguntar o que queria.
- Sei que talvez tenha tido uma semana difícil. – ela disse depois de limpar
a garganta. Olhou para os lados. – Hermione? – foi somente o que questionou.
- Ela não levanta. Não come. Não fala. – era tudo que ele tinha a dizer
sobre ela.
Ela mostrou as mãos em sinal de paz. Sabia que ele sofria de culpa, mas nunca
comentaria, e se ele um dia chegasse a comentar, ela diria que ele deveria
aprender a lidar com isso e que era o mínimo que deveria saber depois de
todos aqueles anos servindo a Voldemort. Deu as costas e foi embora.
Draco soltou o ar e se julgou por ter sido rude. Respirou fundo sabendo que
estava prestes a entrar um uma sala cheia de homens que deveria bajular e
carregar uma expressão de que mataria qualquer um que passasse a sua frente
não era a mais sábia das decisões. Continuou seu caminho e assim que
alcançou os fundos do palco encontrou os rostos familiares e uma bela mesa de
aperitivos.
- Vejam só se não é a nossa grande estrela da tarde! – exclamou um dos
associados se aproximando com um copo de bebida em sua mão. – Achávamos
que nunca chegaria.
- É melhor que esteja preparado para hoje. A casa está cheia. – Simon lhe
estendeu uma taça de bebida extra que havia em sua outra mão.
Draco recusou.
A lembrança atingiu Draco como algo bom para seu cérebro depois de toda a
confusão daquela semana. Se lembrar daquela época era como se lembrar de
quando era leigo o suficiente por achar que estalar os dedos fazia com que o
mundo se ajoelhasse aos seus pés.
- Realmente não sei como nossos fígados sobreviveram aquela época. – ele
bateu no ombro de Draco ainda rindo.
- Como foi sua chegada? – perguntou Draco.
Draco sorriu.
Draco desejou ter aceitado a bebida mais cedo para poder ocupar sua boca e
disfarçar qualquer reação contra o comentário dele.
- Foi um choque para todos. – foi o que Draco escolheu dizer. Havia sido
um choque até mesmo para ele.
- Jamais imaginei que de todas as mulheres que tinha nas mãos escolheria
ela. Quero dizer, o mundo inteiro sabe que ela é uma mulher excepcionalmente
linda e que muitos homens por aí se matariam para tê-la, mas você tem todo o
histórico de sua família e...
- Hermione é muito única, Isaac. – Draco o cortou antes que ouvisse o que
não estava afim de contornar. – Uma vez que a tem qualquer outra mulher se
torna comum demais. – talvez assim desse um ponto final no assunto.
Ele ergueu as sobrancelhas surpreso.
Draco assentiu.
- Papai!
Draco escutou uma voz infantil de longe e teve que piscar enquanto sua cabeça
deu voltas para ter certeza de que não estava entrando no delírios de seus
pensamentos novamente. Isaac pareceu reconhecer o chamado e voltou-se
para uma garotinha de no máximo quatro anos que corria até ele sobre os
sapatinhos dourados e um vestidinho de veludo azul marinho. Draco recuou
quase que instantaneamente. Nunca havia sido fã de crianças. Não sabia bem
como lidar com elas já que não faziam parte de sua realidade. Não visitava
parques nem ia ao centro com frequência e quando era sua obrigação
comparecer em a jantares familiares crianças eram raras e ficavam sempre em
um grupo longe de sua atenção. Eram seres estranhos e Draco não tinha muita
paciência para falta de comportamento adequado.
- É, eu sei. Eles crescem rápido. Vai ver quando tiver um. – ele tentava
fazer com que a menina não se escondesse atrás de suas pernas. – Vamos
pequena, esse é Draco Malfoy. Aquele da revista. Apresente-se. Não finja que
não lhe dei educação. – falou com a garotinha.
Draco não sabia como funcionava o cérebro daqueles pequenos. Não sabia
como se portar quando se direcionasse a eles. Quando se agachou para ficar na
altura dos olhos da menininha percebeu que era a primeira vez em sua vida
adulta que ligava sua atenção a de uma criança. A garota parecia tão receosa.
Parecia quase ter medo de sua figura. Era normal. Crianças costumavam o
temer. Talvez fosse culpa de sua postura intocável.
- Qual é o seu nome? – ele perguntou a ela. Não sabia se estava fazendo
aquilo certo. Usara o mesmo tom que usaria com qualquer outro adulto. Talvez
isso fosse errado. Talvez ele devesse amaciar um pouco a voz, mas ao
contrário de recuar, a garotinha ainda relutando aproximou-se e estendeu a
mão.
- Me chamo Elise. – disse ela numa voz suave, infantil e doce enquanto
suas bochechas coravam sob a pele pálida que realçavam seus olhos escuros.
Draco segurou a mãozinha pegajosa da menina e a apertou. – Prazer em
conhecer o senhor. – ela reproduziu como uma frase decorada, o que fez Draco
sorrir.
Olhou fundo nos olhos daquela menina. Ela não se parecia nada com a que o
atormentava em seus pesadelos, mas ainda lhe provocava aquela sensação
incomoda e angustiante. Queria que fosse dele. Queria ter tido a sua. Sua filha.
- Você é uma garotinha muito bonita, Elise. – ele disse também não
sabendo se estava fazendo certo.
Dessa vez a menina corou intensamente e deu as costas para correr, mas uma
mão a deteve e não foi a de Isaac.
- Não mesmo moçinha! Você não vai fugir assim novamente! – a voz era
feminina e quando Draco ergueu os olhos encontrou a mulher. Cabelos
castanhos, olhos azuis, vestido verde. Ela continuava exatamente como Draco
se lembrava. Ele se ergueu novamente e a mulher o notou. Quando seus olhos
se encontraram ela corou. Colocou os cabelos para trás da orelha e ajeitou a
postura quase que imediatamente. – Draco. – ela disse parecido ter sido pega
de surpresa.
- Devo dizer que é ótimo voltar a escutar o sotaque britânico. – riu Astoria.
Draco sempre havia achado que ela sorria demais. – Já andamos olhando
algumas casas do outro lado do rio. Brampton Fort é muito peculiar. É um lugar
muito bonito. Você sabe que eu nunca tive a chance de conhecer antes. –
findou ela.
- Bom, espero que encontrem um bom lugar para morar. – Draco já estava
começando a se nausear com aquela situação. – A torre que foi disponibilizada
para vocês estará a disposição enquanto trabalhar para mim. – bateu nos
ombros de Isaac e deu as costas.
Não esperava ter que lidar com ele tão rápido, mesmo que soubesse que havia
autorizado o convite para que ele comparecesse ao pré-palco. As primeiras
semanas dele em Brampton Fort ainda era de cuidados de sua equipe e Draco
não tinha o menor interesse em participar de sua adaptação nem de seu
aprendizado sobre o departamento.
Draco não conseguiu ficar nem mesmo um minuto por sua conta. Logo alguns
dos homens de seu conselho o pararam para o repreender por ter escolhido
chegar no pré-palco faltando poucos minutos para a abertura da audiência. Foi
seu dever também cumprimentar algum dos títulos altos que se encontravam
ali e gastou poucos minutos com isso.
- Então o que quer de mim vindo até aqui? – desejou não ter perguntando
aquilo quase que imediatamente. Ela demorou alguns segundos para expressar
qualquer reação, mas logo suas sobrancelhas se ergueram como se esperasse
que ele entendesse lesse as entrelinhas. E ele leu, só esperava estar errado. –
Sou casado, Astoria. – preferiu dizer - Você também.
Ela franziu o cenho parecendo confusa e ele esperou que aquilo fosse um sinal
de que ele estivesse errado.
- Quem?
- Hermione. – Astoria respondeu. – Hermione Granger. Como ela é?
- Quero saber como ela é. Quero que me diga isso apenas. Quero saber o
que ela significa para você.
- Ela é minha mulher. – foi tudo que escolheu responder. – Onde quer
chegar?
Astoria pareceu perceber que ele não iria seguir o script dela enquanto não
tivesse uma visão mais ampla sobre o significado de toda aquela abordagem.
- Por anos eu achei que havia errado com você. – ela finalmente começou.
– Eu me julguei por ter chegado tão perto da chance de me tornar uma Malfoy
e ter estragado tudo. Eu sei que estava apenas tentando se desafiar quando
ficou comigo. Queria ver se conseguia ser o homem de uma mulher só. Se
podia ser capaz de entender o que era amor, se era capaz de se apaixonar. Sei
que eu errei. Sei que deveria ter feito coisas que não fiz. Eu tinha a chance da
minha vida nas mãos e era só uma adolescente para entender como
administrar isso. Eu queria saber o que ela fez. O que ela tem de diferente.
Como ela conseguiu te afetar. Nada nunca te afeta.
Draco não sabia o que responder. Ele odiava ser pego de surpresa e jamais
havia esperado que Astoria, depois de todos os anos que haviam estado
separados, e depois da família que ela havia construído, tivesse logo aquela
questão para levantar.
- Você não errou em nada, Astoria. – ele preferiu seguir por esse caminho
do que pelo que ela realmente queria. – Eu não deveria ter feito o que fiz com
você. – aquilo ela melhor que responder qualquer coisa relacionado a
Hermione.
Ele se irritou com a forma como ela se julgava capaz de colocá-lo contra a
parede. Se irritou também por ter percebido que ela havia conseguido por
alguns segundos.
- Você disse que amava seu marido, não disse? Disse que amava sua
família, não disse?
- Então não deveria se importar com isso. – ele a cortou usando um tom
firme. – Meu relacionamento com Hermione fica entre ela e eu. Espero que
essa conversa aqui nunca mais aconteça. Seu marido está trabalhando para
mim e não quero que ele tenha nenhum problema comigo por sua causa.
Preciso do serviço dele. Supere o que tiver que superar e faça isso logo. – foi
severo, sabia como ser rude. Ela Não pareceu nem um pouco abalada. Uma das
mulheres da organização passou avisando naquele momento que ele tinha
apenas cinco minutos. Draco tirou mais uma uva do talo enquanto ainda
encarava Astoria. – Eu e Hermione temos uma história longa. Não mexa com
isso. – ele não precisava de outra Pansy na cidade. Comeu da fruta e deu as
costas.
Teve receio por trazer Astoria de volta ao seu ciclo de convívio quando esteve
trabalhando com os papéis de transferência de Isaac. Precisava do serviço dele,
sabia o tipo de homem que ele era e precisava apostar na confiança que
poderia construir ali. Mas Astoria era o seu pé atrás. Haviam se passado muitos
anos desde a época em que a vira pela última vez e eles nem se falavam
aquele tempo. Ela nunca havia aceitado realmente o fim do relacionamento que
tiveram e ele sempre tivera a clara consciência de ter errado com ela. Sua vida
inteira fora baseada em nunca dar esperanças para nenhumas das garotas e
mulheres que se envolvera e Astoria havia sido o seu grande erro. Não tinha a
consciência do estrago que havia feito com ela porque simplesmente não se
importava realmente, mas agora temia que isso pudesse lhe prejudicar com
Isaac.
Obviamente que teve que ser sutil, Voldemort era alguém que pegava
suspeitas quando elas nem ao menos ainda haviam sido pensadas. Mas Draco
trabalhara anos para construir uma base forte onde pudesse pisar. Estava na
hora de começar a andar a passos largos. Ele só precisava que Hermione
começasse a cooperar ou a imagem que os Malfoy deveriam vender naquele
momento. E foi exatamente com esse pensamento que voltou para casa.
Nunca uma audiência durara tanto quanto aquela. Draco sabia que seria
chamado até o gabinete de Voldemort no dia seguinte para esclarecer tudo
aquilo e já havia preparado um discurso que o fizesse recuar o suficiente para
que Draco pudesse continuar agindo. Sabia que chegaria uma hora que
Voldemort simplesmente não compraria mais suas ideias, mas estava
gerenciando aquilo com cuidado para que pudesse ir o mais longe que
conseguisse antes de decidir jogar sua carta divisora de águas.
E embora encarar o Lorde naquele momento fosse uma grande provação para
ele, não poderia se dar ao luxo de estragar um trabalho de anos por sua cabeça
estar confusa o suficiente em colocar em seus devidos lugares os sentimentos
que lhe afloravam por causa da morte de algo que nunca nem ao menos havia
conhecido. Claro que se toda a maldita história de herdeiro e Hermione não
existisse teria talvez o que girava em torno de umas quinhentas preocupações
a menos.
Céus, ele precisava que Hermione cooperasse.
Subiu as escadas da entrada de sua casa e passou para o lado de dentro. Tudo
estava escuro como costumava ser antes Hermione. Parecia errado agora. O
incomodava da mesma forma como havia o incomodado quando ela costumava
acender todas aquelas luzes durante a noite. Seus passos o levaram
diretamente para a sala de jantar. As luzes lá também se encontravam
apagadas e a mesa lisa e limpa. Por um segundo ele se perguntou o que havia
de errado, mas não demorou muito para que lhe fosse refrescado a memória.
- Tryn. – chamou a elfa e num estalo ela apareceu. – Onde está Hermione?
- A Sra. Hermione Malfoy não deixou o quarto hoje, Sr. Draco Malfoy. – ela
respondeu o que vinha respondendo fazia uma semana.
- Nenhuma ordem foi dada a Tryn e Tryn pensou que o Sr. Draco Malfoy
não fosse voltar para o jantar. – disse a elfa.
Draco olhou ao redor ainda impaciente e com raiva por perceber o quanto havia
se acostumado com Hermione. Quis castigar sua elfa assim como havia
aprendido com seu pai, mas passara um bom tempo para se livrar daquilo e
não estava disposto a cair nos velhos hábitos que seu pai perdera tempo o
ensinando.
- Tryn tem certeza que pode mobilizar todos os elfos para preparar uma
boa refeição para o Sr. Draco Malfoy o mais rápido possível. – respondeu a
criatura.
Draco assentiu. Elfos Domésticos podiam ser extremamente eficientes e
eficazes sem dor de cabeça quando bem tratados. Isso seu pai nunca havia o
ensinado.
- Sempre arrume a mesa para nós dois, Tryn. Não o faça apenas quando
lhe for dito o contrário. – foi tudo que disse antes de retomar seu caminho.
Se enfiou para o lado de dentro de uma sala íntima qualquer no andar de baixo.
Não tinha nem o menor interesse de subir até seu escritório. Se enfurnara lá
por tempo o suficiente aquela semana para saber que só o ambiente poderia o
adoecer. Também não tinha a menor intenção de ir ao quarto onde saberia que
encontraria Hermione e nem a biblioteca pois sabia que aquele lugar já
carregava o perfume dela. Aliás, cada esquina daquela casa parecia carregar o
perfume dela. Sentia que somente o nome Hermione era capaz de lhe provocar
náuseas.
Acomodou-se em uma poltrona com um copo de conhaque e abriu o jornal. Não
tivera a oportunidade de fazer aquilo aquela manhã quando fora chamado
antes de seu horário de entrada para responder a corujas enviadas de urgência
do sul da Europa. Certamente deixar sua casa sem ler propriamente as edições
diárias doDiário do Imperador era um risco a se correr. Aqueles meios de
informação tinham o poder de alterar a forma como as pessoas o encaravam
com uma facilidade que o assustava certas vezes.
Não foi de muita surpresa ver uma antiga imagem sua do dia de sua posse ao
cargo que ocupava estampada na primeira página. Queria ter tido o tempo de
ler aquilo pela manhã, assim saberia mais o que se passava pela cabeça das
pessoas que o encarara hoje.
Ele sabia que ela se referia ao discurso que havia dado na audiência. Talvez ela
estivesse tão impaciente para ver o jornal do dia seguinte quanto ele. Havia
sido absolutamente limpo em suas apalavras na audiência. Se colocara como
independente ao mostrar que seus atos estavam acima do Conselho e de seus
interesses. Esperava ser no mínimo aclamado no dia seguinte.
Não culpava que alguns escorregões tenha feito com que se voltassem contra
ele, a segurança da escolha daquelas pessoas sobre o lado que ocupavam
naquela guerra dependia dele e muitos questionaram quando o Lorde lhe dera
o cargo de General por causa de sua idade e falta de experiência. Nada mais
justo que relembrassem disso quando qualquer coisa de errado surgisse mesmo
depois de todas as suas conquistas. Mas era capaz de administrar isso. Os
jornais do dia seguinte não poderiam encontrar nenhuma maneira de criticá-lo
depois de sua brilhante audiência. Esperava que nenhuma outra página daquele
jornal se referisse ao sobrenome Malfoy, mas se arrependeu desse pensamento
assim que passou para a página seguinte e se deparou com uma imagem de
Hermione.
Não era tão recente. A imagem mostrava Hermione saindo de uma das Cortes
da cidade para onde devia fazer suas visitas semanais devido ao trabalho que
fazia para o departamento de Theodoro. Ali estava ela impecavelmente linda e
absolutamente profissional, mas apenas o título daquela matéria já lhe causava
dor de cabeça. “Por onde anda a nova Sra. Malfoy? Por Abbey Day.” Céus,
aquilo não poderia ser algo bom.
“A nova intitulada Sra. Malfoy mostrou a todos que não seria apenas mais um
rostinho bonito dentro da família Malfoy. Depois de entrar para a família mais
rica e influente do mundo bruxo, Hermione Jane Malfoy se dedicou a mostrar
que suas habilidades no campo administrativo poderiam ser tão boas quanto
sua contribuição na guerra. Em poucos meses colocou em ordem o que um
departamento inteiro tentava há dois anos. Não apenas bastando seu novo
sobrenome, sua posição na Catedral e sua presença no Conselho por ordens
diretas do Mestre, Hermione Malfoy também se tornou um ícone no mundo da
moda e conquistou a simpatia de metade das vitrines do Centro. Mas todos tem
se perguntado o que poderia ter possivelmente acontecido para que sua
admirável presença fosse varrida até mesmo das esquinas onde suas
obrigações administrativas eram requeridas com frequência. Os rumores de
gravidez tem ganhado lugar nos meios de comunicação mais importantes de
Brampton Fort, mas seria um herdeiro Malfoy o motivo real para um
desaparecimento desse nível? Uma questão muito mais profunda pode estar
sendo mantida por trás dos cadeados da mansão Malfoy principalmente porque
não apenas Hermione Malfoy não deixa o lugar, como se estivesse de algum
modo aprisionada ali, como Draco Malfoy tem enfrentado problemas com a
guerra depois de anos de inúmeras conquistas. Seria ainda cedo ou até mesmo
sem sentido julgar uma possível crise dentro do lar do casal que se casou
debaixo da história de um amor secretamente mantido por anos[...]”
Draco parou não podendo mais continuar. Levantou-se enquanto sentia que
todo seu sangue queria lhe subir até a cabeça. Puxou o ar, deixou o jornal de
lado, tomou sua bebida em um gole e saiu dali para tomar a direção de seu
quarto. Não poderia deixar que aquilo continuasse.
Não se importou com educação quando passou para o lado de dentro. Estava
escuro como estivera todos os dias daquela semana. Hermione se encontrava
de seu lado da cama com as costas contra um amontoado de travesseiros. Os
olhos fechados e debaixo de um sono que ele não entendia como poderia ser
tão eterno. Aproximou-se e na cabeceira viu a pasta que Voldemort dera a ela
com todo o histórico do bebê que havia carregado esparramada junto com
frascos de poções para sono que se acumulavam a uma semana ali.
- Draco? – a voz de Hermione saiu num sussurro fraco e rouco. Ele não
ousou olhá-la. Acenou a varinha para a lareira fazendo-a acender e continuou a
puxar todos os papéis de volta para a pasta. – O que está fazendo.
Ele não se importou. Abriu as gavetas para ter certeza de que não havia nada
relacionado aquilo ali.
- Deixe isso. – ela falou se sentando e puxando sem forças a pasta para
seu lado. Draco a tomou e a fechou. Hermione se levantou. – Deixe... – sua voz
morria como se não tivesse mais de onde extrair força. Ele deu as costas e
caminhou em direção a lareira. Ela pareceu entender quase que imediatamente
o que aquilo significava. – Não! – sua voz soou mais forte mais ainda assim
fraca o suficiente como se ela estivesse fazendo todo o esforço do mundo para
fazer com que soasse um pouco além do sussurro. – Draco! – ela se apressou e
tentou pará-lo segurando-o pelo braço, mas suas mãos estavam fracas. –
Draco, não! – ela tentou alcançar a pasta e ele a tirou do caminho.
Draco a viu ali, frágil, exposta, apertando aquela pasta contra si como se fosse
seu próprio bebê. A alça da camisola deslizou pelo braço dela e ele pode
perceber que ela havia perdido peso. Como ele poderia ter deixado aquilo
passar por todos aqueles dias em silêncio?
- Não. – respondeu a ordem dela. – Hermione... – sua voz morreu. Vê-la ali
o fez se esquecer de como aquele comportamento poderia atrapalhar todo o
trabalho que tinha. Ali ele conseguia finalmente ver tudo que ela havia
escondido por trás de sua máscara desde quando passara a viver debaixo de
seu teto. Ele nunca havia imaginado que por trás da orgulhosa, poderosa e
indestrutível Hermione ela escondia aquilo. Ela estava completamente destruída
e parecia não ter mais de onde tirar incentivo para se esconder atrás da
máscara que a colocava de pé todos os dias para enfrentar a vida daquele lado
da guerra. – Não posso deixar que continue vivendo assim. – não somente
porque ela atrapalharia todo o seu trabalho, mas porque ele não conseguia
suportar vê-la assim.
Desviou o olhar sabendo que não poderia encarar aquela cena por muito mais
tempo. Aquilo o corroía e ele sabia o porque, mas não podia pensar naquilo.
Não podia. Passou a mão pelos cabelos e sentou-se numa das poltronas ali.
Precisava contornar a situação, precisava encontrar um jeito de se comunicar
com ela, fazê-la entender que precisava reagir, que deixar com que aquilo a
consumisse apenas os faria andar para trás.
- Eu sei que é difícil lidar com tudo isso. – começou. Precisava escolher
suas palavras muito bem. Precisava ser o Draco sensível que a entendia. Seguir
por esse caminho parecia a escolha mais sábia. Não podia deixar que nenhuma
sensação diferente o dominasse, tinha que ser profissional, ser profissional
havia o ajudado durante todos aqueles anos. – Mas não pode deixar que o
Lorde te vença. – sim, precisava usar aquelas palavras. - O estado em que
está apenas irá consumi-la cada vez mais e se continuar...
- Cale-se. – escutou a voz dela por baixo da sua e parou. – Apenas cale-se
e saia. – ela tentou se fazer audível.
- Acha que sou culpado? – a coragem lhe fez pisar naquele campo. Tinha
medo da resposta, mas mesmo assim perguntou. Perguntou sentindo que cada
centímetro de sua alma era consumida por aquela angústia sem fim.
O olhar dela já dizia a resposta. Havia dito desde a primeira vez que se
encontraram depois que ela perdera a filha e ele simplesmente ignorara.
Passara a semana inteira ignorando e aquilo o havia atormentando
dolorosamente. Ele não sabia lidar com aquilo. Sentia sua cabeça quase latejar.
Conseguia até mesmo imaginar as lembranças que se passavam na cabeça de
Hermione naquele momento de silêncio que havia entre eles. Conseguia
imaginar Hermione tentando convencer medibruxos a lhe passarem
informações, conseguia imaginar os esforços inúteis que havia feito para tentar
chegar a elas por trás de Voldemort, conseguia enxergar as frustrações que ela
vivenciara. Ele havia a deixado sozinha.
- Você não pode me deixar viver com isso, Hermione. – sua voz saiu
apertada. Não, ele não tinha culpa. Não podia ter. Tudo era pra ter saído
exatamente como eram os planos.
- Culpa? – ela soltou com desgosto – Não sabia que tinha a capacidade de
sentir culpa depois de todos esses anos servindo a Voldemort.
- Você não sabe o que é ter que sobreviver desse lado da guerra,
Hermione!
- Eu sei o que é ter que sobreviver do meu lado da guerra e lá nós não
tínhamos carruagens, muralhas, parques, restaurantes caros nem mesmo
mansões!
- E você acha que isso tudo nos faz mais felizes? Olhe para nós dois agora,
Hermione! – a encarou - Olhe para o rosto das pessoas que esbarra na rua, na
Catedral! Você acha que elas são felizes? As pessoas tentam mascarar a vida
que vivem aqui. Tentam fingir que tudo está bem! Tentam viver a vida que
eram acostumados lá fora, mas todos eles, cada um deles, vive debaixo do
medo! A mínima chance de perder essa guerra já os assusta! Todos aqui
temem pelo que aconteceria a eles se Voldemort caísse. – pausou - Eu tento
manter essas pessoas seguras no mundo que Voldemort criou e não sei se
percebeu mas tento trazer o máximo de gente possível para essa realidade.
Estar do lado dele é seguro porque ele é poderoso o suficiente para fazer quem
não está viver o caos! Sabe disso muito bem e é inteligente para saber que
ninguém poderia destruir alguém como ele estando do lado de fora, por isso a
Ordem vivia tentando colocar espiões dentro do ciclo de comensais! E você
ainda sabia que isso continuava não sendo o suficiente. – se calou depois de
vomitar todas aquelas palavras. Ela o olhava com os olhos bem abertos como
se não estivesse esperando por aquilo. – Eu fiz uma escolha quando o Lorde me
deu aquele exército, Hermione. Eu sabia que os sacrifícios viriam e que eu
precisaria lidar com eles da forma mais profissional possível. Eu prendi pessoas,
matei, torturei. Sei o nome de todos eles e a alma de cada um me persegue!
Não sou feliz nem tenho orgulho disso, mas eu sabia que esse era o único
caminho inteligente a se seguir se um dia eu quisesse derrotar Voldemort de
alguma forma e não me julgue nem tente porque no fundo desse seu cérebro
inteligente, você sabia que havia chegado em um ponto que estar com os
rebeldes era como dar murro em ponta de faca. – passou a mão pelos cabelos
e balançou a cabeça soltando o ar. – Fiz tantas coisas imperdoáveis. Você não
conseguiria imaginar nem a metade. Eu sabia que era errado, eu sabia que as
coisas que fiz me perseguiriam para o resto da vida, mas também sabia que
esse era o preço que eu deveria pagar, eu havia me comprometido a lidar com
os sacrifícios, mas eu jamais iria imaginar que ele iria querer que eu... – sua
própria voz falhou. - ...que eu sacrificasse um filho meu. – enfim disse.
- Você não poderia ter se importado menos quando eu disse que estava
grávida, Draco. – ela sussurrou. Havia dor em seus olhos. Sempre havia dor ali
agora. Dor e mais um pacote de outros sentimentos.
- Mas eu me importei. – ele disse. Se perguntou se em seus olhos também
havia dor como nos dela. Nunca havia aberto a boca para dizer nada daquilo
para ninguém, nem mesmo para sua mãe.
- Não pareceu.
- Porque não era para parecer! – será que ela não entendia? - Eu sabia que
meu filho teria que ser uma dos meus sacrifícios. Eu sabia que eu precisava
sacrificá-lo para continuar ganhando o Lorde, eu sabia que ele seria mais um
dos meus preços e eu tentei, Hermione! Eu tentei não me importar! Eu tentei e
foi a coisa mais difícil que eu já tentei fazer na vida! Eu achei que conseguiria,
achei que poderia administrar, que seria fácil, mas você não tem ideia de como
era te ver, te tocar e saber que estava carregando o meu filho. Eu não
conseguia suportar a ideia de que teria que deixá-lo nas mãos do Lorde e eu
achava que se eu simplesmente ignorasse isso eu poderia conseguir me tornar
indiferente, mas eu não consegui! Não consegui ignorar porque todos os dias
eu dormia ao seu lado, eu via que a primeira coisa que fazia quando acordava
ela tocar sua barriga como se estivesse respondendo algum movimento, e eu
sabia que era o meu filho ali e isso me consumiu até o ponto que eu decidi
arriscar tudo que tinha construído até agora dentro do ciclo de Voldemort para
me esquivar desse único sacrifício que eu percebi que não seria capaz de fazer.
– ele via as bochechas dela molhadas em lágrima silenciosas enquanto ela o
olhava como se estivesse encarando um completo estranho. Draco percebia
que sua própria voz falhava e sentia seus olhos arderem em uma sensação que
ele era pouco acostumado. - Eu não poderia ter a culpa de saber que estava
abrindo mão de um filho para dá-lo a Voldemort. Eu conseguiria carregar a
morte da população mundial inteira, Hermione, mas não isso, portanto por
favor... – implorou. Sabia que estava implorando. – Por favor tire esse fardo de
mim. – sentia como se seu coração estivesse sendo esmagado - Eu beiraria a
insanidade para o resto da minha vida, como tenho beirado essa semana
inteira, se tiver que carregar a culpa da morte de um filho. Meu filho. Nossa
filha.
Ele mal podia acreditar que havia chegado ao fim de tudo aquilo. Não achou
que poderia se sentir minimamente revigorado depois de ter verbalizado tanta
coisa que lutava para trancar em um baú empoeirado dentro de sua própria
mente. O silêncio entre eles o matou. Quando ela fechou os olhos e os apertou
Draco tomou a consciência de que daria sua herança inteira para ter a mínima
noção do que se passava na cabeça dela.
- Por que?
- Tryn veio avisar o Sr. Draco Malfoy de que o jantar está servido. – era a
voz de Tryn, mas ela pareceu distante, muito distante. Pareceu um barulho
sem total importância. O que era crucial para ele ali eram os olhos de
Hermione, era o que ela podia dizer a ele. Precisava que ela dissesse que ele
não era culpado, que ele não poderia ter feito nada. Que não havia mesmo
nenhuma forma de salvar sua filha. Ele precisava. – Sr. Draco Malfoy? – o som
da elfa tornou a incomodar. Ele precisava que Hermione dissesse alguma coisa.
Ele precisava da resposta dela.
- Eu sei. – ele cortou a elfa. Sua voz soava completamente sem vida.
Virou os corredores de sua casa, desceu pela escada principal e seguiu para a
sala de jantar. Ajeitou sua gravata, tirou o terno e alinhou os cabelos como se
seu corpo estivesse ligado no automático. Afastou sua cadeira e se sentou.
Encarou o prato vazio. Ele não precisava do perdão de Hermione. Nem se ela
dissesse que ele não era culpado ele sabia no fundo que poderia ter feito algo.
Poderia ter estado presente desde o começo, poderia ter corrido até ela quando
a viu reagir ao veneno de Voldemort, poderia ter feito com que aqueles
medibruxos revertessem o que quer que tivesse acontecido com Hermione ou
sua filha, ele sabia que poderia ter feito e mesmo que tivesse certeza de que
seria em vão, ele poderia ter feito.
Raiva, frustração, angústia, dor, tudo subiu por suas veias de uma vez só.
Lançou longe seu prato. Se levantou fazendo questão de derrubar a própria
cadeira. Sua mão tratou de pegar a lançar longe cada objeto em cima daquela
mesa. Um som sobressaia o outro estrondosamente. Sua própria magia
involuntária tratou de estourar todas as luzes do lustre e ele quis gritar, quis
gritar alto, mas quando parou ofegante com os punhos contra a mesa soube
que deveria ter gritado porque seus olhos ardiam e algo quente escorria deles e
talvez se tivesse gritado não precisaria ter que lidar com o nó que prendia até
mesmo sua respiração ali entalado em sua garganta.
Quando acordou no outro dia o céu já estava claro. Sua cabeça latejava como
nunca e ele estava deitado em seu próprio sofá usando a mesma roupa do dia
anterior. Seu corpo doía e se ocupou em contar o número de garrafas
espalhadas pelo chão. Sentou-se e a primeira lembrança que seu cérebro tratou
de lhe refrescar foi ele e Hermione na noite passada e todas as palavras que
haviam sido proferidas. Aquele peso assentou-se em suas costas novamente e
seu coração foi esmagado.
Sua foto estava na capa novamente. A reportagem era exatamente o que ele
havia esperado, e queria ter se sentido satisfeito, mas tudo aquilo parecia
irrelevante. Largou o jornal de lado e foi para o seu quarto onde poderia
encontrar algo que aliviasse o mundo que queria explodir em sua cabeça.
Teve o receio de saber que a encontraria assim que abrisse a porta e foi
exatamente assim que aconteceu. Hermione estava sentada no nicho da janela
quando ele entrou. Ela estava vestida em seu roupão, abraçava as próprias
pernas e desviou o olhar da paisagem do lado de fora para colocar seus olhos
sobre ele. A pasta que ele havia tentando queimar na noite anterior estava
aberta a sua frente.
Seus olhos sobre os dela e os dela sobre os dele congelaram por alguns
segundos enquanto o silêncio incomodava entre eles. Draco fechou a porta
atrás de si e quebrou o contato tentando ignorá-la. Seus pés o levou
automaticamente para uma das prateleiras e ele começou a caçar sua poção.
- Segunda porta à direita. – a voz dela encheu o quarto.
Ele parou por um segundo e seguiu a direção que ela havia dito. Puxou a
pequena porta de vidro a direita e encontrou os frascos que precisava. Tomou
um deles enquanto se sentia irritado pela maldita mania que ela tinha de
mudar tudo de lugar.
- Draco. – foi por cima de seus pensamentos que a voz dela surgiu
novamente. Ele se virou para encará-la. Estavam perto e ele conseguia ver os
olhos dela dourados pela claridade da janela. Não estavam vermelhos como na
noite anterior, mas estavam fundos como se ela tivesse passado a noite
acordada. Ela parecia não saber se deveria mesmo dizer algo ou não. – Eu sei
que tudo que poderia ter feito teria simplesmente sido em vão. Não haveria
nenhuma forma de mudar o que aconteceu, nem se voltássemos no tempo. E
se não pensar dessa forma perderá a cabeça assim como eu tenho perdido. –
ela abaixou os olhos. – Não o julgo por não ter feito nada durante aquele
almoço. Ele estava te testando e você conseguiu ser racional, era seu dever,
coisas estavam em jogo para você. Respeito isso.
- Eu só não queria que por causa disso você achasse que foi menos difícil
para mim quando... – ele não queria ter que verbalizar aquilo. - ... essa
semana... não tem sido fácil.
O silêncio entre eles foi incomodo. Ele não sabia o que dizer, nem o que fazer e
por uns segundos se sentiu idiota.
- Como você está? – perguntou depois de um tempo. Era uma pergunta
idiota, mas ele realmente queria saber. Não a queria sobre o efeito de poções
novamente, nem enfurnada naquela cama com os olhos vermelhos e recusando
suas refeições.
Ele assentiu.
- Certamente temos. – foi tudo o que disse e foi tudo que fora necessário
dizer para deixar muita coisa entendida ali entre eles.
22. Capítulo 22
Hermione Malfoy
Tinha consciência de que estava acordada, mas ainda não queria abrir os olhos.
Sentia o corpo pesado de uma noite de sono mal aproveitada. Ela sabia que se
não fizesse esforço nenhum não abriria os olhos, ficaria ali, parada, escutando
o som de sua própria respiração até cair novamente em seu sono. Dormir a
fazia esquecer. Tomava poções para não ter sonhos nem pesadelos e havia se
prendido a esse ciclo. Ficar inconsciente, acordar e tornar a ficar inconsciente o
mais rápido possível antes que toda a dor que havia em seu peito molhasse
seus olhos novamente.
Mas sabia que precisava reagir. Os dias passavam e ela sabia que não poderia
se dar por vencida por mais que quisesse, por mais que tudo em seu corpo, sua
mente, seu espírito e sua alma implorassem para que ela se desse por vencido.
Havia tanta raiva dentro de si, tanto ódio e rancor. Ela queria colocar tudo
aquilo nas costas de Draco, mas ele havia implorado para que ela não fizesse
isso e o modo com havia implorado fizera com que ela recolhesse tudo aquilo
novamente e guardasse dentro de si. Ele havia sido tão verdadeiro, aqueles
olhos, ela nunca havia o visto tão vulnerável. Não poderia colocar tudo que
sentia sobre ele porque ela percebera que ele já carregava também dor o
suficiente assim como ela e o fato dele ter mostrado isso fez com que ela não
conseguisse mais o reconhecer. Ele tinha outro lado. Havia outro alguém que
ela não conhecia por trás da máscara que ele usava sempre. Ela duvidava que
ele já tivesse mostrado isso a alguém. Talvez Pansy? Será? Astoria? Quem
sabe. Narcisa com certeza.
Abriu os olhos. O lado que ele ocupava na cama estava vazio, mas ela já havia
notado a falta da presença dele mesmo com os olhos fechados. Havia uma leve
luz entrando para dentro do quarto o que a fez presumir que horas eram. Ela já
não acordava aquela hora fazia dias. Talvez o efeito de todas as poções do sono
que havia tomado estivessem agora sendo drenados para longe de seu sangue.
Havia se acostumado a dormir com Draco. Já não achava mais ruim acordar no
meio da noite e sentir o calor do corpo dele perto do seu. Não se importava
mais com a respiração dele nem com a forma como ele gostava de ocupar
quase a cama inteira. Não podia dizer que gostava, mas simplesmente não a
incomodava mais. Havia várias coisas em Draco que já não lhe incomodava
mais. O que realmente lhe chamava atenção agora era tudo que ele havia lhe
dito faziam exatamente duas semanas. Ela havia guardado aquilo e pensado
por horas e dias em muita coisa.
Decidiu por não seguir sua antiga rotina, não queria e não se forçaria a nada,
ainda mais quando tudo nela clamava para voltar para cama, fechar os olhos e
ficar quieta ali o resto do dia. Ela ainda estava tomando o controle das coisas
aos poucos. Voltou para o quarto, pegou a pilha de notificações enviadas
diretamente de Theodoro e seguiu para a mesa de desjejum na sala de jantar.
Draco sentava em seu lugar vestido em sua farda e tomando seu café em
silêncio enquanto lia o Diário do Imperador. Ele ergueu os olhos para ela assim
que notou sua presença e se manteve debaixo de sua mascara inexpressiva
enquanto trocaram um rápido olhar. Ela se perguntou o Draco que ele havia
mostrado para há algumas semanas atrás estivesse por trás daquela máscara
se surpreendendo por vê-la ali e se questionando se deveria ou não dizer algo.
Hermione sentiu apenas o olhar longe de reprovação dele por vê-la em sua
roupa de dormir na sala de jantar durante uma refeição importante. Ela não se
importava, sabia que ele não iria abrir a boca para criticar. Ela havia saído do
quarto e isso era já um bom avanço. Deveria ser.
Aquilo tudo a incomodou ao ponto de arrastar tudo para o lado trazer apenas
sua xícara para perto onde conseguia sentir o calor do líquido mais próximo de
seu rosto. Passou uma perna por baixo da outra em sua cadeira e não se
importou em colocar o cotovelo na mesa para poder apoiar sua têmpora contra
o pulso. Começou a ler a matéria da primeira página esperando pelo tom
repreensivo de Draco sobre seu comportamento, mas ele não veio. Aquela era
sua casa também, não era? Qual era a razão daquela ser sua casa se não
poderia nem mesmo se sentir confortável ali. Estava cansada de ser quem não
era. De agir como se depreciasse qualquer tipo de ação contra as etiquetas da
realeza.
- Hei. – a voz de Draco. Céus, aquela voz. Parecia fazer vibrar até mesmo
as porcelanas. Hermione o encarou. – Deveria ler isso. – ele disse folheando o
jornal e tirando do meio dele uma página que estendeu para ela.
Hermione a pegou, tomou um gole de seu chá esperando que o calor lhe
trouxesse algum conforto e começou a ler a matéria. Eram sobre a má
eficiência das Casas de Justiça. Parecia que sua reforma estava sendo
esquecida. Hermione não gostou de saber daquilo. Aquelas velhas cabeças que
a contradiziam deveriam estar encontrando caminho pelas brechas que sua
ausência estava causando. Encarou as notificações enviadas por Theodoro e
soube que estava ignorando aquilo por mais tempo que realmente poderia.
Estendeu a mão e abriu a primeira delas. Naquele momento Draco levantou
deixando o jornal de lado, alisou sua roupa e tomou a direção da saída.
- Vai estar em casa para o jantar? – ela o interrompeu e ele parou para
voltar-se para ela.
Draco parecia ter sido pego de surpresa e pela hesitação que havia em seus
olhos Hermione percebeu que ele já tinha outros planos. Não se importava que
ele não estivesse em casa para o jantar visto que nos últimos dias ela nem
havia se dado ao trabalho de cuidar das ordens daquela refeição em sua casa,
mas ao contrário do que ela achou que ele responderia ele apenas disse:
Foi quando se lembrou do Draco adolescente que ela via pelos corredores
durante seu sexto ano em Hogwarts. Arrogante como sempre, mas diferente,
ela se lembrava de como ele havia estado diferente aquele ano. Se lembrou de
Harry confessando que antes de atacar Draco havia o visto em um péssimo
estado desabafando com ninguém menos que um fantasma. Ele não havia sido
sempre forte como era agora. Ele também havia sido fraco, havia sido fraco
como ela, havia se deixado ser pisado debaixo do jogo de Voldemort. Todos
aqueles anos ele criara resistência ao mundo que vivia, a realidade que estava
sujeito e que agora ela também estava. Precisava ser forte como ele, precisava
criar sua resistência. Queria ser forte como ele.
Precisou chamar Tryn para ajustar sua roupa quando percebeu que perdera
peso. Uma saia lápis justa de cor escura que saia de sua cintura e lhe
desenhava até depois dos joelhos, uma blusa solta, fina e listrada em branco
para contrapor o justo de sua saia, um salto alto no tom mais neutro que tinha
e joias caras. Ela se sentia em sua forma novamente, havia se acostumado
tanto ao modo como se vestia que mal conseguia saber se poderia tornar a
vestir um jeans novamente.
A elfa a ajudou a terminar o restante quando Hermione pediu. Antes de sair do
quarto novamente evitou abrir a pasta que a tragaria de volta para cama e a
trancou em uma gaveta em sua cabeceira. Aquilo foi quase como ir contra a
força de todos os seus músculos, mas era preciso.
- Então quer dizer que você ainda está viva? – Theodoro era um homem
alto, tinha o rosto fino, os olhos verdes, as sobrancelhas escuras e marcantes e
quando sorria afundava em sua bochechas covinhas que o fazia parecer alguém
receptivo, charmoso e amoroso. – Mal posso acreditar que realmente estou te
vendo. – ele deu a volta e se sentou em sua cadeira do outro lado da mesa. –
Vejo que decidiu vir trazer suas justificativas pessoalmente. – ele deitou
confortavelmente em sua cadeira cruzando os dedos sobre a mesa e ainda
carregando aquele sorriso nos lábios. – É sempre bom te ver. Havia até mesmo
me esquecido do quanto é linda. Foi bom me lembrar.
- Nenhuma? Então deve ser por isso que ficou surpresa pela matéria
no Diário do Imperador.
- Essa não é a questão. – ela logo cortou quando percebeu que ele estava
prestes a entrar num tom acusador. – Quando fui acusada pela fuga de Luna e
o mestre tratou de me isolar em casa, tudo estava correndo em perfeita ordem.
Você disse que Jodie estava em perfeitas condições de cobrir minha ausência.
- Contanto que você continuasse por dentro do controle e isso eu sei que
fazia quando resolvíamos nossas questões por cartas e se comunicava
diariamente com Jodie. Mas de repente e simplesmente você parou de existir,
Hermione. – ele estava sério e ali ela escutava seu chefe - Estou tentando te
contatar há semanas. Jodie tem reportado problemas que eu não posso me
envolver. Sou o governador, tenho milhões de departamentos para administrar.
Nomeio pessoas para que façam seus devidos trabalhos e me ajudem a segurar
essa cidade de uma forma organizada. Você não pode sumir sem dar nenhuma
explicação como fez. Você é uma peça muito importante dentro desse Sessão.
Há muita coisa em suas mãos que eu não posso segurar se deixar tudo cair.
Ela soltou o ar, fechou os olhos por um segundo mais longo e os abriu
encarando os de Theodoro. Deveria ser firme, mas ele tinha razão no que dizia
e ela. Simplesmente não poderia agir de forma ignorante.
- Não poderia ter me avisado isso? – ele decidiu perguntar depois de alguns
segundos.
Eles ficaram em silêncio ali. Theodoro não tirava os olhos dela, como se
finalmente tivesse percebido que ela tinha os olhos fundos e havia perdido
peso. O sorriso com o qual ele havia a recebido fora esquecido há um bom
tempo já.
Ele se levantou de sua cadeira, deu a volta novamente e sentou em sua própria
mesa bem a frente dela enfiando as mãos no bolso. Hermione sentia que a
proximidade que ele chamou ali era íntima, mas não estranha.
- Posso ver agora que realmente não está em seu perfeito estado de saúde.
Peço desculpas se fui muito duro, mas sabe que é o meu dever como...
- Eu entendo. – Hermione o cortou antes que ele pudesse ser gentil demais
e saísse da normalidade ao qual ela havia se acostumado naquela cidade. –
Você tem uma cidade para administrar e confiou a mim um papel importante.
Reconheço minha falta de compromisso.
- Por que? – foi tudo que ele perguntou. Ela sabia também que ele não
começaria dizendo que ela não podia fazer aquilo. Estava pronta para enfrentar
as palavras persuasivas de Theodoro.
Ele ergueu as sobrancelhas surpreso pelo desafio no tom dela, mas Hermione
sabia que ele não a colocaria contra a parede nem desceria para um tom rude
ou insistiria em todos os argumentos que poderia jogar contra ela.
- E você é a única pessoa aqui com poder o suficiente para fazer com que
essas punições sejam devidamente feitas, Hermione! Você não é apenas uma
Malfoy, é também a joia do mestre e as pessoas pensam duas vezes antes de
tentar te comprar, você pode arruinar a vida de quem quiser, quando quiser, a
hora que quiser e faz parte de uma família que tem se provado ser bem
eficiente nesse ponto por anos.
Hermione não havia gostado o tom que a voz dele havia mudado para dizer
aquilo. Como se tivesse inveja ou algo do tipo. Percebeu que ele estava usando
o poder de distorcer palavras para convencê-la de que ela, e apenas ela, era
valiosa ali. Ele queria mantê-la presa ao cargo que tinha e ela desconfiava que
Voldemort mesmo poderia estar por trás disso.
- Como pode querer passar esse poder para as minhas costas, Theodoro? –
ela controlou para deixar sua voz o mais estável possível. – Você é o
governador dessa cidade, o mestre por ele mesmo te deu esse cargo. Como
pode, por qualquer razão, se achar incapaz de punir seus próprios
subordinados?
Ele soltou uma risada fraca ainda surpreso por como ela estava se impondo
naquela discussão.
- Me parece que depois de todo esse tempo você ainda não entendeu como
as coisas funcionam desse lado da guer...
- Seu eu fosse você pararia por aí, Hermione... – um brilho passou pelos
olhos dele. Hermione não tinha medo, já havia sido boa o suficiente em sua
vida.
- Não, eu não deveria. Eu deveria estar acima de você se é assim que
acredita que as coisas funcionam! – ela estava bem consciente de sua postura
e Theodoro deixou a mesa para se colocar a frente dela com a expressão mais
séria que já havia o visto carregar. – Escute bem, Theodoro. Eu fiz pelo seu
departamento o que você mesmo poderia ter feito se não estivesse ocupado
demais sendo comprado pelos influentes dessa cidade. Então não diga que
precisa de mim aqui porque faz soar como se quisesse que eu fizesse algo que
quem deveria fazer é você! Aquele caderno de leis já está feito! Está selado
pela Catedral. Vai seguir a ordem, punir quem deve punir e conter quem deve
conter porque esse é o seu papel, não o meu! Meu trabalho era gerir as Casas
de Justiça, eu apenas passaria para você o nome daqueles que não faziam seu
trabalho de maneira adequada e tenho certeza de que Jodie é bastante
qualificada para isso.
Hermione sabia que havia ido bastante longe ao acusá-lo. O olhar de Theodoro,
fixo nela, era tão frio que por um segundo ela pensou que ele fosse sacar a
varinha e mata-la ali mesmo. Mas um longo minuto de silêncio bastou para que
ele trocasse sua expressão assassina por uma séria e controlada o suficiente
com muita dificuldade.
- Certo, Hermione. Talvez eu seja o culpado. – ele disse e ela não esperava
que ele fosse ceder. Talvez ele não fosse acostumado a ser contestado. –
Talvez eu seja mesmo negligente. Talvez eu viva fundo demais no mundo sujo
de Brampton Fort e talvez seja por isso que eu preciso de você.
Ela não imaginava que ele fosse tão bom naquele jogo. Haviam retornado a
estaca zero e ela esperava realmente ir fundo em uma discussão ali com ele.
Não queria que ele tivesse cedido, mas ele havia porque ela sabia que ele
precisava dela ali. Queria saber se aquele desejo era apenas uma ordem vinda
de Voldemort. Mantê-la ocupada. Longe da guerra. Soltou o ar e fechou os
olhos frustrada.
Theodoro venceu a distância que havia entre eles. O olhar que queria acabar
com sua vida a segundos atrás por ter sido desafiado e acusado agora se
resignava a um cheio de desapontamento.
- Não vou forçá-la a nada. – ele disse com a voz baixa e perto o suficiente
para fazê-la querer recuar, mas ela ficaria exatamente ali, com sua postura
intacta e o olhar firme sobre sua decisão. – Você mesma sabe que não é
permitida a fazer isso, mas vou te dar tempo...
- Você não precisa mudar nada. Eu sei que gosta do que faz, Hermione. Vi
seu empenho sobre o trabalho que fizemos. Fizemos isso juntos. Não consegue
se lembrar do quanto gastamos nosso tempo em cima de tudo que fizemos? Os
projetos. O novo caderno de leis. Fizemos juntos e gastamos bastante suor
nele.– ele estava tentando manipulá-la. Ela sabia. – Eu me lembro de como se
sentiu gratificada quando apresentou aquele discurso, de quando apresentou o
novas leis e de como tudo seria gerido a partir de agora. – ele segurou o rosto
dela. - Você estava tão orgulhosa por ter concertado algo que estava errado.
Sei que gosta de concertar as coisas, tem essa essência em você. – Os olhos
dele ficaram cada vez mais próximos e somente quando Hermione conseguiu
sentir a respiração dele bater contra seu rosto foi que tomou consciência da
verdadeira intenção de Theodoro.
Afastou-se quase que imediatamente cortando a mão dele para longe de seu
rosto, não de maneira agressiva, mas também não havia sido delicada.
- Por favor, Theodoro, nós temos sido profissionais até agora. – ela não
queria ter soado severa. Esperava não ter soado mesmo afinal de contas. Ela
não sabia qual era o nível de atuação dele, mas Theodoro parecia ter ficado
ainda mais decepcionado depois que ela o afastara.
Hermione não estava gostando nem um pouco desse novo jogo dele. O que
quer que fosse, ela não queria entrar.
- O que eu tinha para fazer aqui está feito. – ela disse ainda com um olhar
desconfiado sobre ele. Preferiria ignorar aqueles últimos minutos do que ter
que lidar com eles. Quanto menos palavras trocasse com Theodoro melhor, ele
sabia manipulá-las bem. – Quero deixar claro que se não tomar uma posição e
seguir a risca o novo caderno de leis eu o liberarei para o conhecimento do
povo para que eles possam saber de quem exatamente é a culpa. – aquele
brilho mortal passou novamente pelos olhos de Theodoro. Hermione ignorou.
Deu as costas e deixou a sala dele.
Ele não desistiria fácil. Não deixaria que ela saísse de seu departamento,
principalmente se Voldemort tivesse algum dedo ali. Ela não sabia se estava
disposta a lutar, principalmente também porque tudo em seu corpo ainda pedia
para que ela simplesmente voltasse para casa, abraçasse a pasta com as
informações de sua filha e chorasse até cair novamente no sono. Mas talvez
aquilo passasse e ela conseguisse forças, conseguisse ser como Draco,
conseguisse construir barreiras e se esconder nelas. Toda a experiência de sair
de casa já estava até sendo uma boa distração até agora.
Desceu até o subsolo do Q.G. sem ter problemas com a segurança. As pessoas
já haviam se acostumado com sua figura e ela até gostava quando nenhum
guarda perdia seu tempo tentando barra-la. Os Malfoy podiam ter todos os
problemas do mundo, mas ela confessava que tinha também privilégios que ela
não sabia se conseguiria viver sem agora.
Pousou ambas as mãos sobre um parapeito baixo que impedia que avançasse
mais para tocar o vidro e observou a ação. O exército de Voldemort havia
desenvolvido a habilidade de luta física quando a Ordem começou a usar
magias tão poderosas que superavam a magia negra muito usada por
comensais. Hermione sentia-se orgulhosa por estar por trás de todas essas
magias e ter conseguido ensina-las aos rebeldes. Por isso a primeira tentativa
do exército era sempre desarmar. Contar com magia involuntária durante uma
luta física era uma aposta perdida ainda mais porque o exército era muito bem
treinado e os rebeldes pouco tinham noção e pobremente conseguiam agir por
reflexo nessas situações. A Ordem logo trabalhou em invocar feitiços sem a
necessidade da varinha, apenas com o poder do sangue mágico que corriam
em suas veias quando o exército começou a ganhar a maioria de sua batalhas
no punho, mas isso ainda estava em processo e era difícil, demandava
profissionalismo, muito conhecimento, concentração e força de vontade. Mas
Hermione se lembrava que poucos na Ordem, junto com ela, estavam
começando a dominar a coisa quando ela foi capturada.
O fato de Draco estar no mezanino e não com a zona sete em campo no andar
de baixo era um indício de que muito provavelmente aquela era a primeira
tentativa de simulação e ele queria ver a reação de sua zona para montar um
plano específico. Ela finalmente percebeu que eles estavam montando um
planejamento de ataque e não resistindo a um.
Sentiu a presença de Draco as suas costas, o perfume familiar dele invadiu o
oxigênio a sua volta. O reflexo no vidro mostrava pouco da cabeça dele acima
de seus ombros encarando a vista com tanta atenção quanto ela e a silhueta
espaçosa de seu corpo atrás do dela.
- O que faz aqui? – as vezes a voz dele soava como um trovão por mais
baixa e calma que fosse.
Ela deixou que o silêncio acontecesse entre eles por alguns segundos enquanto
observava um corpo perdido do exército lidar com uma magia muito
comumente usada pela Ordem para ganhar tempo.
- Vim dizer a Theodoro que estou abrindo mão do meu cargo como líder
das Casas de Justiça. – informou ela.
- Você não precisa fazer isso, Hermione. – foi o ele disse depois de um
tempo. – Seu trabalho pode ser uma boa distração para você agora.
- Por isso mesmo preciso deixá-lo. – ela disse. – Quero que outras coisas
me sirvam de distração.
- Não muito inteligente para seu exército. – comentou Hermione para ele
sobre a ordem que havia lançado
E Hermione assistiu enquanto toda a zona sete conseguia domar o ponto mais
alto de dominação dos rebeldes e tornar o que Draco havia dado como cartada
final para a vitória deles em uma reviravolta que ela não esperava que o
exército fosse capaz. Ele era inteligente. Ele era muito inteligente. E isso era
bem afrodisíaco, ela tinha que confessar.
- Seu ato quase custou nosso domínio sobre a operação inteira, me diga
qual foi seu erro. – disse Draco.
- Sim, senhor. Peço perdão. Estarei mais atento aos detalhes. – prometeu o
homem de forma muito profissional e Draco apenas acenou em concordância.
Hermione tinha que admitir que sem dúvidas Draco era uma figura muito
tentadora exercendo seu poder de general. Ele era sério e soava mais velho do
que realmente aparentava. Só ali ela havia percebido o quanto ela era tudo que
ele não gostava. Draco era acostumado a pessoas que lhe prestavam
continência, seguiam duas ordens e abriam o caminho para ele passasse.
Hermione o desafiava até mesmo na hora de montar a mesa do jantar diferente
da forma como ele gostava. Por um segundo ela se sentiu mal. Não era apenas
o seu sangue odiável, era tudo que ela era, era quem ela era, desde de
Hogwarts, durante toda aquela guerra e até mesmo agora estando casados.
Sempre seria odiada por Draco Malfoy por mais familiarizados que estivessem
um com o outro. Ele havia a odiado desde de a primeira vez que a vira e a
odiaria até a última.
O que estava fazendo com casada com Draco Malfoy, mesmo? Suspirou e
voltou sua atenção para o pedaço da vila que havia se materializado novamente
no andar de baixo. Ela não queria ter que pensar em sua relação com Draco.
Já haviam administrado para que a convivência entre eles beirasse o tolerável.
Sexo havia sido uma chave importante para isso. Portanto até o presente
momento ainda não haviam se matado nem levantado a varinha um para o
outro embora em muitos momentos ela se lembrava de que haviam chegado
bem perto.
Moveu seu interesse do andar de baixo para o modelo reduzido onde um grupo
de bruxos controlava o movimento rebelde em uma determinada área. Ela
notou que ali era o povoado inteiro e que no andar de baixo apenas uma
pequena parte era reproduzida em volume real. Seus olhos mapearam todo o
espaço e ela sentiu uma remota lembrança aflorar em seu cérebro. Ela
conhecia aquele lugar, aquele povoado. Por que os comensais estavam forjando
um ataque contra um povoado que eles já dominavam?
- Use aquela magia nova a favor dos rebeldes. – Draco disse a um dos
bruxos que movia algumas figuras rebeldes com sua varinha no modelo sobre a
mesa. – Quero ver como eles vão reagir. – e assim ele se virou para o andar de
baixo, cruzou os braços e apenas observou.
- Assista mais um pouco. – ele disse mostrando que ela poderia tirar as
próprias conclusões se continuasse assistindo.
Nos minutos seguintes nada de muito esclarecedor aconteceu, mas então,
enquanto um grupo da zona sete atrasava alguns rebeldes correndo para um
campo longe da praça onde a concentração da suposta vitória dos rebeldes
acontecia, um dos rebeldes projetados que acabara de ser desarmado,
estendeu as mãos como se estivesse se preparando para uma magia
involuntário e lançou um raio de reconhecimento por toda a área com uma
potencia o suficiente para derrubar qualquer alma viva pelo caminho, mas
todos se seguraram para manter o equilíbrio. No segundo seguinte o mesmo
rebelde fechou o punho, o girou e jogou para o ar uma espécie de círculo azul
neon que pairou ali, acima da cabeça de todos, um espaço de tempo curto o
suficiente até começar a lançar contra os comensais raios em jatos cor de fogo
que funcionavam quase como uma bomba. Não os atingia fisicamente, mas
atingia muito próximo e fazia um estrago o suficiente para lançá-los longe,
quebrar equipamentos urbanos, destruir calçadas, desfazer as pedras
justapostas da pavimentação das ruas. Hermione deu um passo a frente
extasiada segurando o parapeito que a impedia de inclinar-se contra o vidro.
- Merlin. O que é isso? – sua voz saiu quase que num sussurro.
- Observe mais. – foi tudo que ele pronunciou e ela continuou observando.
- Essa é uma magia que ninguém nunca viu antes. – ele começou, a voz
tão semelhantemente cansada quanto o semblante que ele deixou tomar conta
de sua expressão quando começou a falar. – O escudo de reconhecimento
percorre a área e aponta os inimigos para que os raios sejam lançadas nas
direções corretas. Eles não tem poder destrutivo para matar ou qualquer coisa
do tipo embora façam bastante estrago, mas o comensal dentro do campo de
influência desse raio perde a memória curta por alguns segundos. Parece
inofensivo dizer que são apenas alguns segundos, mas você sabe que em um
campo de batalha um segundo pode custar sua vida. – ele observou mais a
loucura lá embaixo - Tudo isso é o suficiente para trazer o caos, principalmente
quando mais de um rebelde consegue externar essa magia.
Ela o encarou.
- Nós não temos a versão inteira aqui, mas se quiser se distrair com o que
temos. – ele apontou para alguns pergaminhos sobre uma mesa de estudo
numa das extremidades do lugar. – Eu vou ter que concertar isso. – disse se
referindo ao caos na simulação e se afastou lançando ordens aos bruxos. –
Parem tudo. Acendam as luzes e abram as linhas.
Hermione o deixou seguindo para a mesa com os pergaminhos que Draco havia
indicado. Dois bruxos estavam ali trabalhando no que parecia ser toda a
papelada da dissecação da magia. Ela se aproximou tentando não parecer
muito invasiva mas logo quando foi notada, os dois bruxos que pareciam estar
em uma discussão intensa se calaram e deram espaço para que ela fizesse o
que quisesse. Mesmo sabendo que tinha autoridade para realmente fazer o que
quisesse, foi educada.
Hermione assentiu.
- Obrigada. – agradeceu e afastou-se apenas alguns passos para deixar
que os dois continuassem trabalhando.
Usou a varinha para fazer o rolo ficar aberto a sua frente. Era grosso, mas
sabia que não era o suficiente para uma magia que aparentava ser complexa
como aquela. Seus olhos percorreram todo o pergaminho uma vez e aquilo foi o
suficiente para que ela concluísse que era diferente de tudo que já havia visto.
Hermione havia aprendido que a estrutura de feitiços eram mais simples que os
de magias mais profundas. Feitiços normalmente consistiam na combinação do
poder e significado do som da pronúncia da língua que o originara. A maioria
deles vinha do latim por ser uma língua mais limpa e de bastante influência,
mas poderiam vir de diversas outras línguas primárias, línguas de povos que
nunca nem haviam desenvolvido a escrita. Magia era algo muito mais
complexo. Magia era a combinação de feitiços, cálculos, runas, línguas e
demandavam um poder de conhecimento, concentração e treinamento muito
grande para serem externadas por uma varinha ou elaboradas por uma mente
geniosa. Ela havia aprendido a ler magia e estudos de magia quando ainda
estava em Hogwarts em suas aulas extras com Minerva e todas elas seguiam
um padrão, das mais simples as mais complexas. Primeiro o estudo de línguas
e significados de pronúncia de cada feitiço que o envolvia, a conclusão desse
estudo era automaticamente ligado as variáveis dos cálculos que consistiam no
corpo da magia e todo o seu processo de execução, isso se somava
automaticamente as runas ou ligação histórica que a essência da magia deveria
carregar, geralmente associada a povos primitivos ou comunidades de criaturas
mágicas.
Ela não teve consciência do tempo passando, mas quando seu subconsciente
captou um ordem lançada pela voz de Draco sobre a última simulação ela
levantou os olhos para ver as luzes se apagando e o painel de contagem
regressiva começar dos sessenta segundos. Ela perdera as outras simulações e
percebeu também que havia conjurado um caderno de notas e uma pena onde
rabiscara já cinco páginas de cálculo. Olhou ao redor e encontrou os olhos de
Draco sobre ela há uma distância razoável. Eles se encararam por alguns
segundos e então Draco piscou e voltou-se para um dos bruxos para lançar
algumas ordens. Hermione voltou a cair os olhos novamente para o seu
trabalho e suspirou percebendo que ainda estava longe de chegar a algo
plausível, mas podia já dizer que aquele não era um caso perdido. Alguns
minutos avançaram e Draco apareceu ao seu lado.
- Você me parece bem entretida. – ele apontou para o caderno que ela
tinha nas mãos.
- Isso aqui é um trabalho bem complicado. – ela se referiu a magia. Ele
murmurou algo em concordância. – Parece algo sem lógica, mas se realmente
fosse ele não poderia ser externado ou conjurado. – ela apontou para o centro
do pergaminho. – Vê isso? – perguntou – Sequência de runas. Cada uma delas
tem um cálculo. Nunca tinha visto tirarem cálculo de runas antes, nunca havia
pensado que isso era possível, mas isso parece tornar a essência bem
manipulável. É isso que monta o corpo físico da magia.
- Sim, nós chegamos a essa parte. – ele disse. – É assim que conseguimos
reproduzi-la. Podemos usá-la contra a Ordem agora. Alguns soldados das zonas
cinco, seis e sete tiveram treinamento para conjurá-la.
Hermione assentiu. Sabia daquilo. Era o mais óbvio depois de longas horas de
estudo e era o que mais parecia fazer sentido ali naquele mar de surrealismo.
Mas ela acreditava ter chegado a um ponto que não acreditava que eles
tivessem.
- Sim, esse seria o mais lógico. – Hermione retrucou – Mas não pode
ignorar que eles conversam melhor com as runas. Faça as associações. Irá
conseguir enxergar.
- Como pode saber de tudo isso? – ele perguntou numa voz baixa.
- Tive aulas extras com Minerva. – disse. – Por muitos anos. – acrescentou.
- Minerva McGonagall? – um dos bruxos, o do sotaque pesado, murmurou
enquanto seus olhos percorriam o pergaminho – Ela é a melhor. – pareceu
tomar consciência do que falou e pigarreou. – Ela era. – corrigiu.
Hermione podia até dizer que ele se sentia mal por aquilo.
- Eu não acho que essa é uma magia complexa. – Hermione disse. – Está
apenas fora do padrão que usamos.
O silêncio percorreu eles. Draco pareceu tomar seu tempo para pensar no que
quer que as engrenagens de sua cabeça estivesse trabalhando. Ele deu as
costas subitamente e começou a caminhar em direção aos bruxos que
trabalhavam no modelo reduzido.
Hermione engoliu a própria saliva percebendo que estava tão ansiosa tanto
quanto qualquer outro ali. Se aproximou do vidro e esperou. Não demorou
muito para que novamente, um rebelde que havia acabado de ser desarmado
repetisse o processo que ela havia visto antes. O tempo desacelerou para os
rebeldes quando o escudo de reconhecimento percorria a área e dessa forma os
comensais tiveram mais tempo de preparar as varinhas.
O circulo neon foi lançado e mais de um feitiço reverso voou contra ele. O
primeiro passou rente, o segundo atingiu o circulo e o desestabilizou, o terceiro
o atingiu novamente e foi suficiente para fazer com que o círculo se dissolvesse
no ar e desaparecesse. Hermione se viu soltar um ar que não notara ter
prendido e deixou que um sorriso de satisfação se esticasse em seus lábios.
Uma exclamação de surpresa e vitória correu a boca dos bruxos ali. Os
comensais no andar de baixo apenas continuaram concentrados na missão que
tinha.
- Sou boa. – foi tudo que precisou dizer com perfeita consciência de sua
postura. Seus olhos se cruzaram com os de Draco e ele tinha um sorriso
discreto e tão igual ao dela nos lábios.
Quando a simulação acabou com a vitória dos comensais Draco pediu para que
ela o acompanhasse até o andar de baixo. Seu salto ecoou pelo ginásio inteiro
enquanto ela avançava as costas dele. Os soltados se alinharam todos
ajeitando a postura para receber seu general e muitos desviaram discretamente
o olhar para ela sem entender o que fazia ali.
- Tenho orgulho do trabalho que fizeram hoje. – Draco começou, mas longe
do tom amigável ou simpático. Ele era um general. – Sei que trabalharam o seu
máximo. – e todos ali pareciam realmente exausto. – As tentativas de hoje
foram muito informativas. Iremos polir o que se deve ser polido e nas próximas
simulações estarei com vocês em campo. – Draco falou enquanto passeava
entre eles com os braços para trás. – Mas aposto que estão bastante satisfeitos
de terem conseguido eliminar aquela magia nova que a Ordem tem usado
contra nós durante a última simulação. – Uma onda de satisfação cruzou a
expressão de todos ali. Hermione notou que Draco se aproximava de um dos
soltados na ponta que a olhava como se pudesse ter a chance de tocá-la.
Hermione sentiu suas bochechas corarem e desviou o olhar. – Infelizmente
aquela foi uma única tentativa portanto vamos usar os minutos que ainda
temos para treinar o máximo possível. – ele parou bem de frente ao comensal
que desviara o olhar de Hermione quase que imediatamente ao notar Draco. –
Se eu o pegar olhando para minha mulher mais uma vez vou arruinar sua vida
sem pensar duas vezes. – seu tom foi altamente severo e nem um pouco
particular para com o homem, o que fez Hermione notar uma série de outros
comensais desviarem o olhar dela para qualquer outro lugar imediatamente.
Uma das mulheres do grupo apenas revirou os olhos.
Por um segundo ela sentiu toda a tensão reter seus músculos. Sua cabeça girou
em um discurso muito metodológico sobre a explicação de magia estrutural
para introduzir a diferença e os desafios que enfrentara com essa em
específico, mas logo percebeu que aqueles ali a sua frente eram soldados, não
alunos. Ela se lembrou de como costumava estar na pele de Draco Malfoy, só
que na Ordem, quando ela passava todos os comandos de uma missão para
aqueles que considerava amigos próximos na úmida e abafada cozinha da
mansão Black. Ela sabia fazer aquilo.
- Vocês todos podem olhar para mim. Ninguém irá cortar suas cabeça ou
arruinar suas vidas. – escolheu começar assim e logo recebeu um olhar sério e
desaprovador de seu amado marido. Os olhares da sala se desviaram receosos
para sua figura. – Diferente das outras magias, o corpo físico dessa em
específico é ainda bastante desconhecido, portanto apenas um ponto fraco foi
encontrado até agora. – olhar aqueles rostos a sua frente a fazia se lembrar de
quando era costumada a encontra-los em campo de batalha - Como
conseguiram perceber, na última simulação, Draco tratou de desacelerar o
tempo do grupo da resistência no momento ideal para que todos vocês
tivessem maior chance de alvo e assim pudéssemos ver se o ponto fraco que
enxerguei não era na verdade apenas um ponto enganoso. No tempo real vocês
vão ter que administrar a ação no que gira em torno de cinco-seis segundos no
máximo, o que parece razoável, mas considerando o tempo de recuperação que
será necessário devido ao impacto do campo de reconhecimento lançado antes,
temos que reduzir o tempo de ação para três-quatro segundos, contando com
uma margem de segurança, o que é bastante apertado. Vocês tem
apenas uma tentativa para destruir a magia. No momento em que o conjurador
da magia estiver se preparando para lançar o círculo, vocês já devem estar
preparados com sua varinha. Tem que ser rápido, é sua única chance e única
tentativa, pode parecer um tanto impossível, mas me lembro de todos vocês e
sei o quanto são bons. Treinamento os farão atingir seus objetivos com
facilidade. – e finalizou.
Draco estava bem as suas costas conversando com um dos bruxos que fazia
anotações frenéticas em uma prancheta. Logo quando a conversa deles acabou
sentiu o corpo de Draco aproximar-se do seu. Uma respiração quente confortou
seu lado direito e ela escurou a voz dele contra seu ouvido num tom baixo e
grave o suficiente para fazê-la se arrepiar:
Ele ergueu as sobrancelhas e assim que a ideia pareceu lhe cair um sorriso
brincou em seus lábios.
- Espero que não fique brava comigo por não me lembrar, querida. – disse
em seu tom irônico. – Acha que deveríamos preparar algo especial para a data?
- Para você. – ela repetiu muito certa de suas palavras. – Tenho um trato a
lhe propor.
- Não é uma esposa assim tão ruim. – fez seu último comentário, a tocou
no queixo rapidamente e voltou-se para os comensais da zona sete que ainda
continuavam empenhados em suas tarefas como se não fossem nem mesmo
humanos. Hermione apenas revirou os olhos e puxou um ar. Não esperou por
aquilo mas um fino e discreto sorriso trabalhou para se abrir em seus lábios
antes de deixar o ginásio.
Tomou a carruagem para casa. Já era fim de tarde e ela precisava lançar as
ordens do jantar para Tryn. O caminho era conhecido, mas ela sentia que
parecia estar o fazendo pelo primeira vez depois de anos. Desceu em sua casa
minutos depois e tratou de arrumar o que tinha que arrumar para o jantar.
Quando subiu para o quarto e viu todo aquele ambiente novamente seu
coração pesou, a realidade lhe bateu quase que com um soco. Ela precisou
respirar fundo para conseguir desviar seu caminho para o lavatório. Tirou sua
roupa com calma e tomou um banho deixando que a satisfação de sua
produtividade naquele dia superasse a tristeza que lhe invadia. Enquanto
estivera na Catedral havia conseguido empurrar todos aqueles sentimentos,
mas agora que voltara a bolha onde havia vivido as ultimas semanas sentia que
tudo aquilo estava de volta a superfície e era quase impossível empurrá-la
novamente para o fundo de sua alma. Não havia distração ali, não havia nada
que pudesse chamar sua atenção a não ser a dor que vivenciara todas aquelas
semanas.
Queria ficar com os olhos fechados sentindo todo o calor que havia ali e todas
as sensações boas que lhe provocava. Ela abriu um sorriso quando apenas
aquelas sensações fizeram seu coração se regozijar mais uma vez. Ele voltava
para ela. Sempre voltava. Ela era sua família.
- Estou feliz por estar em casa. – ela disse num tom baixo acomodando-se
mais sobre o peito nu de Lúcio Malfoy. Sentiu os dedos dele percorrerem o
caminho de sua espinha e mais daquelas sensações adormeceram seus
membros.
- Sim, sei disso. – ele soava sério e ela sabia que não era por estar
cansado da presença dela. Ele carregava algo nos olhos no momento em que
passara para o lado de dentro de casa.
O silêncio se estendeu. Para Narcisa era delicioso, era tudo que ela desejava
todos os dias. O silêncio, seu marido, seus corpos unidos como deveria ter sido
desde o primeiro dia em que havia pisado na mansão Malfoy como uma. Sentia
seus olhos pesarem, Lúcio sempre lhe exigia energia além do que ela achava
que poderia dar, o mundo parecia distante, mas a verdade era que não queria
dormir. Sabia que assim que o sol saísse novamente, ele deixaria aquela cama,
tomaria seu banho e iria embora para voltar sabe-se lá quando.
- Sabe que não gosto de guardar segredos de você, não sabe Narcisa? –
ele disse num tom tão baixo que foi quase um sussurro. Ela achara que ele
havia dormido, mas aparentemente não.
- As vezes queria apenas que guardasse alguns deles para você. – disse no
mesmo tom que ele. Ela conhecia os segredos de Lúcio, muitos deles não
gostaria nunca de ter ouvido. Sentia-se culpada muitas vezes por amar um
homem como ele.
- Sabe que eu preciso de você, Cissa. – os dedos dele correram por seus
cabelos loiros e um arrepio correu sua espinha. – Eu preciso que sempre saiba
quem eu sou. É minha mulher, preciso que pelo menos você saiba quem eu
sou. – ele desenhou a linha de sua mandíbula que a fez o encarar a puxando
pelo queixo. – Você sabe que tudo que eu faço é por nossa família.
Ela negou com a cabeça encarando os profundos olhos cinzentos de seu
marido.
- Não, Lúcio. Tudo que você faz é pelo nome Malfoy. – ela afastou os
cabelos loiros que caiam em seus olhos – Eu não o culpo porque foi o que os
seus pais te ensinaram a fazer a vida inteira. Eu apenas... – ela suspirou
fechando os olhos por um segundo. Aproximou-se do marido e selou seus
lábios rapidamente sobre os dele. – Posso lhe pedir algo? – ela tentou usar sua
voz mais suave. – Por favor, não estrague esse momento. Por favor. – ela
quase implorou em seus sussurros. – Você não vem para casa faz tanto tempo,
nós não ficamos juntos faz tanto tempo. Eu senti sua falta tanto. Vamos ficar
juntos, em silêncio. Tenho medo de saber qualquer segredo seu agora.
O olhar dele era sincero. Tão sincero que ela sentia aquele calor em seu
coração de que era verdade sim, ele precisava dela. Narcisa sabia que conhecia
Lúcio como nenhum outra pessoa conhecia e era naqueles momentos, que ele a
olhava daquela forma, que sabia que ninguém nunca havia recebido aquele
olhar dele, nunca. Era a única parte dele que era apenas e unicamente
exclusiva dela. Não poderia dar as costas a isso, não poderia desapontá-lo.
- Sabe que eu sempre irei o amar independente do que for. – disse ao abrir
os olhos. Sentiu um aperto em seu peito tão profundo. Ela realmente não
queria ouvir. Não queria saber mais dos segredos escuros de seu marido. Ela
queria apenas aproveitar que ele estava ali com ela, mas ele insistia em querer
colocar a culpa de saber que o amava novamente ali. – Acho que já sei o quer
me dizer. – sussurrou.
- Creio também que realmente já saiba. – ele usou o mesmo tom que ela e
Narcisa sentiu o aperto em seu peito aumentar ainda mais. Quis se afastar
dele. – Quero primeiro que saiba que eu não tive muita escolha, querida. – ela
apenas assentiu. Queria tanto se afastar dele. – O mestre me disse que era
uma menina, você sabe que meninas não podem carregar mais o sobrenome
Malfoy quando se casam e com a relação que Draco tem com Hermione, não
acredito que eles se dariam ao trabalho de fazer outro filho, um que pudesse
continuar a linhagem.
Era sempre sobre isso que ele se preocupava. A linhagem. Os Malfoy. Não
conseguiu mais e teve que se afastar. De as costas a ele se sentou do lado
aposto da cama puxando o lençol consigo para se cobrir. Podia dizer que até
sentia vergonha de ter feito amor com ele há alguns minutos atrás.
- O mestre lhe pediu autorização? – ela trabalhou para conseguiu dizer.
- Sim, você poderia. – ela sussurrou fechando os olhos. Por que ela o
amava tanto? Como conseguia? – Apenas não se deu ao trabalho porque uma
menina na família, a essa altura, não era lucrativo. – ela suspirou – Consigo ver
que não está feliz com tudo isso. Por que? Não conseguiu o que queria?
- Mesmo sabendo disso concordou com o mestre quando ele disse que
matariasua neta. – ela sentia os dentes apertados e um nó subir em sua
garganta. – Se tivéssemos tido uma filha, Lúcio. Você a amaria? A amaria
mesmo depois que ela trocasse de sobrenome? – puxou o ar – Por que fez isso
com sua neta? Por que fez isso com Draco? Por que fez isso com o seu filho,
Lúcio? Você sabe que ele deve ter alguma ideia de que você sabia sobre tudo
isso agora, não sabe?
Narcisa viu seus olhos embaçarem e precisou piscar para afastar as lágrimas.
Ela havia estado tão pronta para receber aquele bebê. Uma esperança havia lhe
crescido. Alguém poderia amá-la além de Draco. Mais alguém. A felicidade e
esperança nos olhos de Hermione quando Draco havia lhe dito naquele jantar
que estavam trabalhando para não deixar que seu filho caísse nas mãos de
Voldemort era tudo que ela mais lembrava.
- Você já sabia que ele iria matá-la naquele jantar. – sua voz saiu tão baixa
que ela mal sabia se conversava com ela mesmo ou se Lúcio a escutava. –
Mesmo assim não contou a ninguém, não contou nem a mim. Deixou que
colocássemos todas aquelas esperanças no coração de Hermione. Você queria
apenas pressioná-la, manipulá-la para fazer com que ela dissesse sobre o véu.
Agora eu entendo o porque nem mesmo se deu ao trabalho de finalizarmos
aquela discussão, de mostrar a ela como faríamos para tirar a criança de
Brampton Fort. Você apenas a usou.
- Céus, Narcisa. – ele se moveu as suas costas – Diz como se nunca tivesse
me visto fazer isso antes!
- Ela é sua família agora. – será que ele nunca entenderia o que seria
aquilo?
- Por isso mesmo ela deve aprender, entender e aceitar como as coisas
funcionam. Você mesma sabe que sacrifícios são necessários e sabe que no
começo é realmente complicado entender esse mundo. – ele a envolveu com
seus braços. Narcisa sentiu o calor dele a abraçar e a respiração quente contra
seu pescoço. – Sabe que não é nada impossível de se administrar. Você
aprendeu com o tempo. Ela também aprenderá. – ele depositou ali um beijo
calmo. Subiu mais um pouco e a beijou outra vez. – Cissa. – sua voz estava
agora em seu ouvido, rouca, grave. – Ainda me ama?
Ela tremeu. Ele poderia ser quem fosse, não havia dúvidas em seu coração.
- Como pode sequer duvidar? – ela não conseguia dizer aquilo sem sentir
dor em seu coração. Sua noite já estava arruinada de qualquer maneira. Ela
não conseguiria mais encostar nele sem se lembrar, sem sentir culpa de amá-lo
tanto.
- Então durma comigo. Tenho mil coisas para fazer amanha. Preciso
descansar. Vamos deitar novamente. Sei que foi difícil para você ter que
escutar isso, mas estou grato por não haver mais segredos entre nós. – sua
voz era calma e sincera.
Hermione Malfoy
Verificou pela quinta vez se tudo estava conforme havia pedido a Tryn. Taças
de cristal, talheres de prata, porcelana decorada, guardanapos de algodão
espesso. Se olhou no espelho pela última vez enquanto escutava o carro de
Draco chegar no pátio de entrada.
Vestia um longo de tecido fino que desenhava seu corpo muito bem até os pés.
O tom era de um vermelho profundamente escuro, quase burgundy. A alça
cruzava seu ombro e se entrelaçava até a parte de baixo de suas costas a
deixando exposta. As joias que havia escolhido carregavam pedras escuras
envoltas em cordões de prata. O penteado ficara por conta de Tryn e todo o
seu cabelo estava puxado para o lado esquerdo. Sua maquiagem não estava
muito carregada por motivos óbvios de equilíbrio visual, mas tomara o cuidado
até de fazer as unhas.
Respirou fundo. Estava considerando aquele dia como o dia em que sua vida
seria dividida. Ela mudaria. A Hermione que havia sido todos esses anos seria
guardada em um lugar especial e distante dentro de si, ela era sua essência e
precisava ficar guardada, mas agora precisava mudar, precisava ser uma
Malfoy porque esse era o seu destino, o caminho que deveria seguir. Tudo
aquilo, aquele ambiente, aquelas pessoas, Draco, Brampton Fort, a Marca
Negra, tudo, era quem ela deveria ser agora. Era o que ela deveria aceitar. Era
o que ela deveria viver. Aquele era seu mundo agora, precisava se encaixar
nele definitivamente.
Ele desceu aqueles olhos cinzas congelantes por todo o corpo dela e pegou a
taça.
- Você está perfeito. – ela sorriu. E realmente estava. Ela não se lembrava
de nenhuma vez em que havia visto Draco fora da perfeição. Nem mesmo
quando ele acordava. Ah, quando ele acordava...
Ele também abriu um inclinando a cabeça como se aceitasse que se era assim
que ela preferia, tudo bem. Foi em direção a cadeira dela e a afastou esperando
até que ela se sentasse. Depois foi até a sua e tomou seu lugar.
- Devo dizer que não estava esperando nada perto disso. – disse depois de
tomar um gole da bebida que havia recebido e depositá-la sobre a mesa. –
Durante o dia inteiro tudo que realmente ocupou minha cabeça foi o peixe que
eu sabia que provaria agora.
Hermione teve que rir sentindo o som escapar de sua garganta com
naturalidade. Encolheu os ombros uma vez satisfeita em saber que apreciavam
sua culinária. Ela nunca tivera muita chance na Ordem com a Sra. Weasley por
perto.
- Sim. – ela respondeu. - Soube que seu pai deixou Brampton Fort hoje
pela manhã, portanto a chamei. Talvez ela estivesse precisando de companhia
e distração tanto quanto eu. – disse e esperou os segundos que Draco precisou
para pedir que fossem servidos. – E ela havia expressado bastante interesse
sobre me ver cozinhar da última vez que conversamos sobre isso. –
acrescentou. – Fomos ao centro comprar aquilo que precisávamos, o que foi
ótimo para amenizar a nossa imagem perante a imprensa visto as últimas
reportagens. Almoçamos em uma das casas de chá e quando voltamos ela me
ajudou.
- Minha mãe esteve na cozinha com você? – ele parecia realmente
incrédulo enquanto era servido pela salada que ela havia preparado com
torradas temperada.
Draco riu alto e com tanto gosto que pegou Hermione de surpresa. Ela nunca
havia o visto fazer aquilo antes. A energia era tão contagiante que ela se viu
incapaz de sorrir.
Hermione se viu rir. Ela não esperava que aquilo fosse escapar do profissional,
principalmente porque nada entre eles escapava do profissional, mas
ultimamente, desde que havia perdido sua filha, Draco tem se comportado com
ela como nunca antes se comportara. Muito de seus altos iam além do gentil e
ela se perguntava se aquilo era fruto do Draco que ele havia mostrado a ela há
algumas semanas.
- Obrigada. – ela disse depois de longos minutos com a voz baixa, quase
em um sussurro.
Ele pareceu intrigado e curioso pelo que ela havia dito e a encarou, mastigou e
engoliu o que havia em sua boca, bebeu um gole do champagne e indagou:
- Pelo o que?
Ela suspirou não sabendo se conseguia ter coragem para dizer aquilo a Draco
Malfoy.
- Por estar sendo compreensivo comigo. – ela entendia que não era fácil
ser gentil com alguém que não se gosta.
- Estive pensando em discutir isso após o jantar. – ela assumiu sua postura
profissional.
- Quer me deixar bastante satisfeito por causa do seu peixe, assim você
pode me ganhar um “sim” no que quer que seja esse trato, não é? Onde
aprendeu essa estratégia fajuta?
Ela não pode conter um sorriso.
- E o que te fez pensar que esse seu “golpe baixo” funcionaria comigo?
Ela o encarou. Ele mastigava sua comida com um sorriso discreto nos lábios.
- Eu não pensei que já estivesse nesse clima. Além do mais... – sua voz
morreu como se ele tivesse acabado de se lembrar de algo importante e os
segundos em silêncio que se seguiram fez com que a expressão dele se
tornasse séria e profunda novamente. Ela sabia o porque. – Eu não acho que
seria bom que ficasse grávida assim tão... – sua voz morreu novamente.
- Oh. – Hermione lutou contra o sangue quente que quis colorir as maças
de seu rosto. Desviou o olhar. – Não. – limpou a garganta. – Eles não poderiam
manipular a vida assim tão facilmente. – ela se referiu aos medibruxos. – Seria
arriscado mudar o funcionamento do meu corpo. Eles apenas fizeram meu
processo de cura ser bem rápido e aumentaram bastante as chances durante
meu período fértil todo mês. Meu corpo continua funcionando como antes. –
piscou e o olhou novamente. Ele a encarava.
- Então podemos administrar isso, não é? – ele parecia querer ter certeza.
- Teríamos que ser cuidadosos porque eu não acho que meu corpo reagiria
com qualquer feitiço ou magia de proteção. Mas sim, acredito que podemos
administrar isso. – concluiu ela.
Eles se encararam por alguns segundos até Draco abrir um sorriso sincero.
- Então é melhor que faça hoje a noite valer a pena porque não acho que
seria inteligente arriscar nada nos próximos dias. – ela tentou ficar séria.
Draco ergueu uma sobrancelha e riu.
Ela sorriu. Sabia que ele gostava, principalmente quando se referia a sexo. Ela
conhecia tudo que ele gostava e não gostava com relação a aquela única área
em específico.
- Pelo jantar. – ela pegou sua taça mostrando orgulho de seu feito.
Ele riu.
- Você não fez isso para mim, Hermione. Fez isso porque quer algo em
troca. Brampton Fort tem lhe ensinado bem... – ele foi obrigado a parar porque
naquele mesmo momento Tryn interrompeu o jantar avisando que havia uma
coruja importante de fora da cidade esperando por ele em seu escritório.
Draco perguntou o porque Tryn não havia trago o pergaminho até ele ali e ela
respondeu que a coruja se recusava a entregar o recado a alguém que não
fosse ele. Draco soltou o ar não parecendo muito contente, cruzou um rápido
olhar com Hermione e se levantou.
Draco não demonstrou nenhuma expressão. Nem quando seus dedos tornaram
a amassar o papel novamente, nem quando dispensou a coruja, nem quando
deu a volta na mesa e se sentou em sua cadeira inclinando-se nela. Ele estava
pensativo. Era tudo que Hermione conseguia ler em seu rosto. Havia apenas
um ar de frustração em seu olhar.
Ele saiu de um estado pensativo para finalmente notar na presença dela ali. Por
um segundo Hermione viu que ele exigiria a saída dela irritado como sempre
fazia, mas então aqueles olhos cinzas se suavizaram a tempo e ele apenas
disse:
- Hermione, por favor. Eu não quero ser rude com você. – havia
sinceridade em suas palavras. Agora finalmente ele expressava algo. Parecia
extremamente cansado. Preocupado também.
- O meu pessoal? – foi a vez dela unir as sobrancelhas. – Eles não são meu
pessoal. Não mais. Eu não trabalho mais para eles. Não posso mais trabalhar
para eles e agora não quero mais trabalhar para eles.
- Então quer dizer que agora trocou de lado?! Quer trabalhar para o
Lorde?! É isso que quer?!
- Não. Quero trabalhar para você! – ela não havia preparado aquele
discurso para sair dessa forma.
- Quero trabalhar para você! Com você! – repetiu muito certa de suas
palavras e de sua postura. Ele ainda a olhava com aquele olhar cheio de
dúvidas. – Você não trabalha para Voldemort, apenas finge que trabalha para
ele. – aproximou-se ainda mais e tocou o ébano escuro e lustrado da mesa
vitoriana que os separava. – Escute, Draco. – começou com cuidado. – Eu
decidi confiar em você. Ainda não sei quais são suas verdadeiras motivações,
mas elas não podem ser piores do que as de Voldemort porque eu sei... – ela
puxou o ar - ...eu sei que tem um coração. – hesitou - Me mostrou que tem
um. – finalizou.
- Não seja estúpido. – ela o cortou. O olhar dele se tornou severo pela
ousadia das palavras dela. Um dos motivos pelo qual ele a odiava. Ela o
confrontava. Sempre o confrontava. – Sei que não gosta de se dar a chance de
ser estúpido então não se dê agora. – o olhar dele continuava severo. – Escute.
– ela o olhou bem nos olhos. – Nós lutamos essa guerra um contra o outro por
muito tempo. Sabe disso. Você trabalhava seu exército para superar a Ordem e
eu trabalhava a Ordem para superar seu exército. Nós crescemos muito,
aprendemos muito, conquistamos muito. Há coisas da Ordem que não pode
superar da mesma forma que há coisas que a Ordem simplesmente não pode o
superar. Nós dois somos grandes, Draco. Não se lembra das vezes que
trabalhamos juntos? Livramos sua família de perder muito dinheiro e influência
quando descobri sobre sua secretária. Tiramos Luna daqui de dentro. Ontem
quando encontrei o ponto fraco daquela magia. – ela pausou - Imagine o que
podemos fazer juntos. – deixou que ele processasse aquilo. Que ele
imaginasse. – Eu me lembro pouco de quando disse sobre ser um câncer dentro
do sistema. Crescer em silêncio para quando Voldemort descobrir o estrago já
estar muito além do reparável. Quero ser parte disso. – deu mais tempo para
que ele processasse. – Sei que fingiu todo esse tempo lutar em nome de
Voldemort, mas tudo que realmente fez foi proteger o povo e ganhar a
confiança de seus homens. Inteligente e paciente. Você teve que matar. Teve
que matar alguns para salvar muitos outros. Teve que matar também porque
se não matasse não seria o exército de Voldemort e precisava se mostrar
autêntico. – ela suspirou - A Ordem perdeu há muito tempo a chance chegar
até Voldemort para destruí-lo quando toda essa estrutura foi montada.
Draco piscou sem desviar o olhar dela. Eles ficaram ali. O silêncio enchia o
espaço entre eles.
- Você não está? – indagou ela erguendo uma das sobrancelhas. Ele não
respondeu. – Todos esses argumentos não foram o suficiente? Se não foram
então pense, Draco. Pense em todos esses anos. Todas as batalhas nos quais
nos confrontamos. Como nós dois puxamos essa guerra ao máximo. Pense nos
nossos cérebros pensando juntos em um mesmo propósito. Temos o mesmo
inimigo, se lembra?
Ele não respondeu. Desviou o olhar. O silêncio dele pareceu durar um minuto.
Dois... Três... Hermione não se moveu. Nem ele. Ela deixou que ele pensasse e
ele realmente parecia ponderar cada tópico que se passava em sua cabeça
naquele momento. Ela quase podia enxergar as engrenagens dele trabalhando
até que então ele jogou sobre a mesa o pergaminho amassado que recebera.
Os olhos dele tornaram a se encontrar com os dela e ele começou:
- A Ordem tem em mãos um poder que não sabe controlar nem estudar. –
ela esclareceu. Tinha mais o que falar sobre aquilo, mas aquele não era um
momento para discutir aquilo. Tinha outra meta ali. – Eles estão seguindo pelo
caminho de sempre, acham que podem ganhar a guerra por briga de território.
Esse caminho não é saudável para eles. – Draco a encarava intrigado. – Vai ser
fácil tomar Godric’s Hollow novamente. – ela apressou-se a dizer. – Não os
ataque por agora. A Ordem sempre deixa para fazer rondas depois de dois três
dias para derrubar toda a magia que vocês constroem em volta do vilarejo. A
Ordem também tem uma organização bem primitiva de delimitação de fronteira
e eles costumam usar feitiços que eu criei portanto não será nada tão
trabalhoso. Nada como o trabalho que estão fazendo com York pelo menos.
Apenas espere que eles se acomodem por lá.
- Podemos ser grandes juntos, certo? – ele usou um tom baixo para
reproduzir aquilo.
Ele a encarou. Os olhos cinzas muito profundos. Ele não parecia nada
convencido, mas ela sabia que poderia convence-lo apenas na prática, porque
suas palavras para ele eram vazias. Ainda havia pouca confiança entre eles.
Teriam que construir aquilo juntos.
- Sou uma leoa, você é uma serpente. Se você pode, eu também posso.
- Sou uma Malfoy. – tinha uma expressão tão frio quanto a que ele sempre
usava. Ela estava pronta para aquilo. Havia demorado para entender que
aquela sujeira não poderia ser limpa sem sujar as próprias mãos também.
- Quero que a queda dele seja grande. – sentia seus próprios dentes
travados ao dizer aquilo.
Draco sorriu dessa vez ele mostrava que o interesse era o mesmo.
- Agora você está falando como uma verdadeira Malfoy. – deu as costas.
Pegou um dos rolos pendurados na parede e o abriu em sua mesa. – E talvez
tenha razão. Nós temos toda Oceania, Ásia e África sob controle. A Europa é o
continente com mais numero de grupos rebeldes que ainda não temos controle.
A América possui alguns grupos de resistência, mas são fracos. Ainda não
conseguíamos estabilizá-los porque eles conseguem se mover rápido. Há algo
selvagem sobre eles que...
- Sim. Um mês para cada país que ainda não tem total controle.
- Estamos carregando essa guerra por anos, Hermione. Acha que seis
meses pode por fim a tudo?
- Bom o suficiente.
Ele assentiu como se tivesse finalmente entendido o porque ela havia dado
aquele tempo.
- Estou enxergando o que quer dizer. – ele fez com que um rolo se abrisse
no ar. O calendário estava estampado nele.
- Eu poderia engravidar em três ou quatro meses. – Ela encheu o pulmão
de ar. Não sabia se estava pronta para isso ainda, mas teria que estar.
Sacrifícios deveriam ser feitos. Teria que aprender a trancar e guardar todo e
qualquer tipo de sentimento. – Assim quando tiver vencido a guerra eu estarei
próxima de dar a luz. Voldemort prometeu que eu poderia ficar um ano com a
criança. Um ano é tempo o suficiente para estabilizar o império dele.
Draco assentiu.
Hermione sorriu.
- Todos distraídos o suficiente levando uma vida normal seria perfeito para
agirmos contra a cabeça de Voldemort.
- Pare de dizer o nome dele, Hermione.
Ele sorriu.
- Sim, podemos. E com a confiança de seus homens temos o exército do
nosso lado. Ninguém com o Lorde, além de algumas fiéis almas.
A boca dele era faminta contra a sua e ela o beijou com tanta vontade quanto
ele. Não demorou muito para ter suas costas empurradas contra a parede. Ela
já ofegava. A falta de ar vinha dele, do calor dele, do beijo dele. Seus joelhos
sempre tremiam quando ele a tocava.
- Você pode estar incrivelmente sexy com esse vestido, Hermione, mas eu
ainda a prefiro sem roupa. – ele disse descendo o caminho por sua mandíbula,
ouvido, pescoço.
Ela riu fracamente. Sentia seu peito subir e descer tentando controlar o efeito
que ele a causava. Draco deveria dizer aquilo para um milhão de mulheres. Ela
não se importava que ele tivesse amantes, quantas quisesse. Nunca o quis
apenas para ela, nunca o amou, mas se sentia poderosa por saber que de todas
as mulheres que ele teria, ela seria a única que carregaria seu sobrenome, que
estaria ali para sempre.
Ele riu e subiu os olhos para encontrar com os dela. Tão próximos que ela
quase pode entrar naquelas íris cor de inverno.
- Quantas vezes vamos ter que fazer sexo para que você possa finalmente
entender que as coisas acontecem no meu tempo sempre? – não deixou que
ela respondesse e tomou sua boca novamente. – Eu não quero perder a
diversão.
Draco puxou todo o seu vestido e fez com que as pernas dela tivessem espaço
para cercá-lo. Hermione puxou a gravata que ainda estava no pescoço dele e a
jogou longe. Sua mãos logo de ocuparam com os botões da camisa dele. Ele a
pegou e murmurou algo sobre não fazer aquilo ali. Ela não entendeu mas se
deixou ser conduzida para o corredor.
Enterrou suas mãos nos cabelos loiros e pendeu a cabeça para trás sentindo
cada membro seu formigar com o toque da língua dele. Saber que eles estavam
a caminho do sexo a deixava tão loucamente molhada, tão desesperada, tão
pulsante. Como que ele conseguia causar nela aquele efeito? Ela já se sentia
inteiramente pronta para ele. Draco tinha o poder de fazer o desejar crescer
nela tão rápido apenas com um toque cheio de intenção. Isso a surpreendia
todas as vezes e mesmo depois de tantas vezes ela não se cansava.
Independente de como eles faziam, independente de ser calmo ou selvagem,
ele sempre fazia crescer nela aquele desejo, ele sempre tinha um toque ou um
olhar diferente que a fazia o querer. Que outra opção ela tinha a não ser se
entregar? Até se perguntava se era por isso que ele já havia ficado com tantas
mulheres, porque era tão difícil dizer não a Draco Malfoy. Quantas vezes ela
havia negado a Rony, a Harry, a Viktor, homens com quem tivera
relacionamentos, e para Draco Malfoy ela simplesmente era incapaz de se
pronunciar contra depois que havia conhecido do que ele era capaz. Ele já havia
a feito atingir graus de satisfação tão comprometedores que hoje ela sabia que
se ele apenas lhe lançasse um olhar, apenas um olhar, ela sabia que era
suficiente para acendê-la.
Era isso que ele usava com todas as outras mulheres? Era definitivamente esse
poder que ele usava porque além de ter a impressão de que metade das
mulheres de Brampton Fort já haviam estado na cama com seu marido, tinha a
impressão também de que apenas o cheiro dele levantada nelas algum tipo de
antena que as fazia o seguir loucamente. Draco obviamente se orgulhava disso.
Se orgulhava do poder que tinha desde Hogwarts.
Ele tornou a conduzi-la pelo corredor. A força do desejo com o qual se pegavam
era sempre prazeroso antes de se lançarem no ato. Eles tatearam juntos pela
porta do quarto entretidos um com o outro. Ela não se importava com as outras
mulheres dele contanto que não soubesse quem nem quando. Havia estipulado
isso para si mesma e havia dito a ele porque sabia que seria demais não
conseguir dizer nãopara um homem que a tocava sabendo que algumas horas
mais cedo ele estava dentro de outra. Ela preferia se manter na ignorância. Ele
havia respeitado até então. Se ele traía a representação do status que tinham
ela não sabia com quem, embora sua própria mente tivesse uma lista até
grande de suspeitas.
- Draco. – seus lábios soltaram entre seus suspiros e toda corrente elétrica
que desestabilizava seu corpo. – E se não funcionar...?
- Nós faremos outro. – ele retrucou. Sua boca subiu novamente e a beijou
mostrando que aquilo não era importante agora.
- Será nossa menina, então. – ele disse. Sério. – Ninguém tocará nela.
Será nossa e somente nossa.
Hermione sorriu. A mão nos cabelos dele desceu para tocar seu rosto. Sentiu
um calor envolver seu coração enquanto olhava nos olhos dele. Todo o histórico
de Draco Malfoy, suas mulheres, sua arrogância, sua prepotência e orgulho do
poder que tinha e os anos de ofensa que carregava dele, foram varridos de sua
memória num estalo apenas. Ela havia visto um Draco diferente naquele
mesmo quarto há algumas semanas. Enxergara um general de olhos vermelhos
e voz apertada, mostrando a ela algo que parecia tão intimo, tão secreto. Draco
era egoísta e possessivo, mas ali estava ele dizendo que ninguém tocaria na
filha deles. Ele parecia um Draco sem máscara quando usava daquele tom,
daquela forma tão diferente, tão única que tinha a capacidade de fazê-la
esquecer em segundos, como mágica, de toda a imagem que ela demorara
anos para montar dele. Apenas quebrou a distância e o beijou. Talvez estivesse
agradecendo, mas pela primeira vez em um beijo deles ela conseguiu sentir
afeto, e foi diferente de qualquer outro beijo que ela já havia dado em qualquer
outro homem. Porque tudo com Draco tinha que ser simplesmente diferente.
Era tão diferente que a confundia e a frustrava porque não conseguia colocar
tudo em seu devido lugar como deveria ser.
Ela nem sequer notou quando ele tornou a se encaixar de um modo diferente
sobre ela. O beijo deles estava bom, diferente, e chamava muito de sua
atenção, mas ela sentia como se estivesse sendo abraçada. Era tão diferente
que até o calor entre o corpo deles parecia ter mudado. Ela cercou o tronco
dele permitindo que aquilo continuasse. De algum modo parecia errado, havia
algo sobre o desconforto do novo, como se nem ela nem ele soubesse o que
fazer exatamente, mas não queriam parar.
Hermione percebeu que se continuassem aquilo fariam algo que ainda não
haviam feito antes, e eles continuaram. Ela esperou que ele fosse parar e a
repreender, dizer que não era para ela reagir daquela forma nunca mais, mas
ele continuou, continuou como se estivesse curioso para saber o que era aquilo.
Sua boca tornou a correr seu pescoço, a linha de seu queixo, seu ouvido, seu
colo, mas dessa vez ele a beijava. Ele quase nunca a beijava e muitas vezes
quando suas bocas se tocavam era algo que ela não considerava propriamente
um beijo, era uma troca de sabores, de desejo, de vontade e prazer. Tudo que
ele sempre queria era prova-la, provar de sua pele, chupá-la, marcá-la e ali
estava ele beijando-a e fazendo com que a atmosfera que os envolvia ali
mudasse completamente de nível. Pensaria sobre aquilo com mais afinco
quando todo seu corpo não estivesse tendo aquelas oscilações de frio e calor
toda vez que sentia os lábios dele estalando em sua pele alternados com o
calor da boca e respiração dele. Ela deixou que ele descesse, que aquela língua
traçasse sua pele. Um som escapou de sua garganta quando ele tomou seu seio
com a boca. Ela tornou a deixar que seus dedos se perdessem entre os cabelos
dele e abriu seu corpo por completo para ele. O calor entre eles continuava
diferente.
Os dedos dele correram a lateral de seu corpo, apertaram suas coxas, traçaram
sua barriga e displicentemente tocaram a parte entre suas pernas sobre o
tecido de sua calcinha. Hermione pesou a respiração para não deixar nenhum
som mais lhe escapar. Ela já estava bastante úmida e ele parecia ter gostado
disso. Ele brincou ali molhando o tecido que a cobria. Ela sentiu suas costas
querendo arquear, mas se conteve. Precisou prender a própria respiração.
Ele a deixou e ela quase protestou, mas voltou a ter os olhos dele sobre os dela
novamente. Ele ainda parecia confuso, como se quisesse ficar mais tempo a
olhando ali, mas a beijou. Aquele mesmo beijo de antes e ela se entregou a
ele, havia uma intensidade agora que solidificava aquela experiência. Aquela
espécie de abraço entre seus corpos voltou a os aquecer. Hermione desceu sua
mão pelo abdômen dele tomando o tempo que gostava de tomar para apreciar
sua forma e alcançou a fivela do cinto da calça onde trabalhou para abrir, tirar
o acessório e o jogar longe. Suas mão tocou o volume de sua calça e um
murmúrio prazeroso espaçou de Draco contra sua boca. Ela sorriu tocando-o
mais. Ele já estava duro, mas ela o queria mais duro ainda.
Conseguiu ficar por cima dele. Draco tinha as costas contra uma série de
travesseiros e almofadas que eles logo trataram de colocar no chão antes que
ela voltasse sua atenção para a calça dele. Hermione o livrou das roupas com a
ajuda dele assim como da última peça que a cobria e o tocou com propriedade,
sem medo, sem receio. Ela não tinha vergonha com ele. Não tinha vergonha de
seu corpo, nunca precisara ser prefeita para ele, nunca sentira que precisara
ser perfeita para ele e aquilo a fizera experimentar coisas e sentir coisas que
ela não imaginava que existiam na cama. O tocou. Conhecia aquela parte do
corpo dele. Seus dedos circularam toda a superfície ereta. Um ar longo e
demorado ar escapou da boca de Draco. Os olhos dele estavam vidrados nela
que se mantinha sentada em suas pernas. Aquele era um estado comum de
estarem, seus olhos um no outro não. Parecia que havia alguma coisa errada e
notando isso Draco se sentou e a puxou mais para perto. O braço dele a
envolveu e uma de suas mãos entraram por debaixo de seus cabelos longos.
Suas bocas ficaram a milímetros de distância, seus olhos continuaram grudados
um no outro. Havia algo errado ali, como se seus corpos não estivessem
grudados o suficiente, como se não houvessem mais o suficiente e aquela
posição pareceu errada para aquele momento.
Draco a beijou finalmente. Uma mão dele desceu para sua nádega e a apertou.
Hermione o cercou mais com suas pernas fazendo com que o seu úmido
pudesse tocá-lo. A mão dele afundou pelo colchão tocando-a nas costas como
se quisesse trazer mais dela para junto dele. Ela o tocou no queixo sentindo na
ponta dos dedos a pouca barba que lhe nascia, mas logo passou os braços o
cercando pelos ombros quando ele decidiu refazer o caminho da linha de seu
queixo com a boca, mas diferente dessa vez. Ele foi devagar. Devagar como se
quisesse encontrar algo que sua pressa de antes e de todas as outras vezes
não havia o deixado provar. Aquele toque fez simplesmente todo o seu corpo
adormecer. Ela perdeu as forças por alguns segundos e o mundo inteiro
pareceu girar. O que era aquilo? Nunca sentira antes! Draco a segurou e se
pressionou contra ela como se quisesse fundir seu corpo no dela. Hermione
gemeu sentindo a pressão em sua área sensível e arqueou as costas
inevitavelmente. Ele desenhou a linha de sua garganta com a boca até seu
queixo. Seus olhos se encontraram novamente e ele sugou os lábios inferiores
dela antes de tornar a descer para o seu colo. As mãos em sua cintura. Ela se
sentia pequena para ele.
- Eu não sei. – ela sussurrou sem força. A garganta seca. Nem ela sabia.
Nunca havia sentido nem feito nada parecido com aquilo. – Apenas continue. -
e ele continuou.
Cumplices. Foi a palavra que ela pensou. Agora eles eram cumplices, não
haveria mais segredos e ela o conheceria de verdade, conheceria o coração
dele, o que ela havia o mostrado aquele dia. Eles tinham uma história que
parecia completa o suficiente para ser escrita em novas páginas agora. Será
que esse status estava os mudando ao ponto de chegar ao sexo daquela
forma?
Ele desceu para seus seios novamente. Ele os apreciou com a boca e com a
mão. Hermione sentia seu peito subir e descer enquanto tudo nela latejava lá
embaixo. Ele a segurava pelas costas as vezes trazendo-a para si como se ela
fosse mesmo maleável assim. Hermione deixou seus dedos correrem pelos
cabelos dele, nuca, franja. Ele subiu novamente e a beijou mais uma vez como
se precisasse daquilo. Ela o beijou de volta e então ele fez novamente o
caminho pelo seu corpo. Garganta, seios, barriga. Barriga. Não havia mais
nenhuma vida ali para fazer o volume que tinha antes. Tentou se concentrar no
toque das mãos dele que pareciam pegar fogo. Ele a apertava. Quadris, cintura,
nádegas. Seu coração batia tão forte que parecia querer quebrar suas costelas.
Aquele toque. Todo aquele toque era diferente. E a língua dele, quente, parecia
querer provar cada centímetro de sua pele.
Os nós de seus dedos ficaram brancos e ela curvou o corpo conseguindo vê-lo
contra ela. Sua respiração parou e ela se viu incapaz de puxar oxigênio. Seu
corpo todo tremeu, ela arqueou puxando o lençol acima de sua cabeça e subiu
os quadris em sinal urgência. O som que escapou de sua boca foi o de puro
prazer quando seus músculos se contraíram e relaxaram vezes seguidas em
espasmos que ela não pode controlar.
- Você estava precisando mesmo disso, não estava? – ele usou aquela voz
profunda.
Ela revirou os olhos. Ele não perdia nunca aquela sua essência.
- Cale a boca!
Ele riu pelo nariz e a beijou. Aquele beijo novamente. Calmo e paciente
enquanto seus corpos se ajustavam um contra o outro. Dessa vezes ele tocou
seu rosto. A mesma mão que havia se unido a dela segundos atrás. Afastou-se
e a olhou nos olhos. Aquilo era tão diferente e ele parecia perceber que
realmente era.
- Nós ainda não terminamos. – ele disse desenhando seus lábios com o
polegar.
- Não reclame. Foi você quem pediu para que eu fizesse valer a pena. – a
beijou antes de se deitar e coloca-la sobre ele.
Hermione não sentou como costumava fazer. Não parecia próprio ou certo
desgrudar seu corpo do dele ou colocar seus olhares longe demais um do outro,
mesmo que soubesse que ele gostava de ter a visão dela nua sobre ele. Se
ajeitou, molhou o membro dele com seu líquido sem pressa e dando espaço
para que ele pudesse apreciar enquanto ela escorregava por ele com o
movimento de seu quadril. Apenas o movimento já a estimulou e fechou os
olhos para sentir cada sensação quando se ajustou e o fez deslizar para dentro
dela muito devagar. O som de satisfação escapou da boca dos dois e Draco
enfiou as mãos por seus cabelos. Ela se moveu. Devagar, sem pressa também.
Colocou sua boca contra a dele sentindo que poderia dar aquele passo e
continuou.
O prazer a alcançou com facilidade e ela se aproveitou dele, de como ele era
grande e duro dentro dela, de como aquilo fazia seu corpo tornar a queimar.
Ele sempre permitia que ela fosse na velocidade que quisesse. Quando ela
estava por cima ela mandava, ela ia em seu tempo. De alguma forma aquilo lhe
era prazeroso. Talvez para ele o seu prazer era algum tipo de fonte para ele. A
forma como ela gostava de carregar aquilo pacificamente até não aguentar
mais, a forma como ela gostava de ser silenciosa. Ele parecia muitas vezes
gostar de seu silêncio, na verdade ela apenas se segurava, sua respiração era
forte para que desse conta, mas sua voz só se manifestava quando ela estava a
beira da loucura. Ela se perguntava se ele gostava de seu silêncio devido ao
número de mulheres escandalosas que ele já deve ter arrastado para cama.
As mãos dele correram seu rosto, afastaram seus cabelos e ela o beijou com a
respiração tão pesada quanto a dele. Acelerou sentindo ser estimulada pela sua
parte mais sensível devido ao contato minucioso de seus corpos. O atrito lhe
fazia crescer urgência. As mãos dele se alocaram em seus quadris e ele
sussurrou para que ela se segurasse mais um pouco. Ela tentou estabilizar.
Precisou parar e ele pareceu aprovar o ato e logo ela entendeu o porque. Senti-
o pulsar dentro dela, sua pulsação o acompanhava, parados, suas respiração
arfantes uma contra a outra. Ela já conseguia ler o quanto ele estava seco de
urgência também. Aquilo era uma tortura, ela rebolou louca por mais
movimento e ele soltou um som de que se ela fizesse aquilo novamente ele
talvez não respondesse por si. Se esforçou para parar novamente, Aquilo
parecia fazer crescer nela o dobro da vontade que iria lhe crescer se ela
continuasse se movimentando como estava. O sangue em suas veias queimava
e lhe fazia transpirar como se estivesse debaixo do sol quente por horas. Ela
achou que talvez pudesse atingir seu orgasmo ali mesmo, mas por mais
torturante que fosse, por mais prazer que sentisse, por mais ânsia e desejo,
ainda não parecia suficiente para o nível em que estava. Seu corpo inteiro
tremeu clamando por uma ação.
Ficaram parados. Aquela tortura novamente. Ela não aguentaria, não como
antes, não com a sensação ainda recente da velocidade e do atrito dele dentro
dela. Estava pronta para alertá-lo sobre aquilo, mas ele começou.
Devagar. Não! Devagar não era o suficiente. Em que nível de insanidade ele
queria deixá-la?
- Draco... – ela suplicou com seu olhar. Ele pareceu querer resisti-la por
um segundo, mas então nem ele mesmo pareceu aguentar.
Deu a ela o que ela e ele precisavam. Constante, rápido, fundo. Não tinha nem
mais consciências das palavras que saiam de sua boca numa voz rouca, arfante
e tão desesperada que ela reconhecia ser a que usava com Draco. Apenas com
ele, porque ele era o único que a fazia chegar a esse estado. A boca dele foi
contra a sua a calando e suas línguas se tocaram como já haviam feito milhares
de vezes, mas ainda assim, era diferente, até mesmo o sabor parecia diferente
porque tudo ali era diferente.
Ela queria tocá-lo, nunca desejara tocá-lo antes, mas como se ele lesse seus
pensamentos, seus pulsos foram libertados e ela se permitiu encostar nele
como nunca havia encostado antes. Deixou suas mãos tocarem seu rosto, sua
nuca, seu peito. Carregou com elas a surpresa, a incerteza e a dúvida que ele
também carregava sobre o que quer que estivessem fazendo ali, mas também
carregou o desespero que seu corpo sentia naquele momento. O cerou com os
braços e deixou seus dedos afundarem contra os ombros dele. Apreciou a
sensação do suor em suas costas que o tornara escorregadio. Ele parou mais
uma vez e ela rebolou em desespero. Implorou. Apenas a pequena pressão que
ele colocava nos quadris era suficiente para fazer com que pequenos espasmos
tomassem conta se deu corpo. Ela achou que gozaria ali mesmo. Implorou
novamente usando palavras que não tinham nexo e pareciam não fazer
sentido, mas ele entendeu e deu a ela o que queria. Fundo até que ela gozasse
sentindo os reais espasmos de seu corpo dominá-la. Ela sorriu contra a boca
dele. Aquilo era tão bom. Transcendental. Draco nunca fazia sexo apenas para
ele, para o prazer dele, para se satisfazer unicamente. A fonte de prazer dele
era vê-la se render.
Achou que ele fosse apenas trocá-la de posição, mas Draco a seguiu em
segundos e derramou-se dentro dela emitindo uma espécie de grunhido muito
familiar a ela pela garganta. Fora um aviso porque ele não queria que aquilo
fosse um ato de longos minutos que destruísse todas as energias que tinham,
ele faria com que ficassem ali a noite inteira.
Então eles se viram ali. Em silêncio. Respirando pesadamente com suas bocas
muito próximas, seus corpos colados e o suor entre eles. Era como se
estivessem esperando o momento em que fossem se distanciar um do outro
como sempre faziam quando estavam satisfeitos de todos aqueles toques em
excesso. Hermione se lembrou da última vez que eles haviam feito sexo. Ele
havia reagido daquela mesma maneira. Não se distanciou.
Ela sorriu. Não soube exatamente o porque, talvez apenas estivesse satisfeita o
bastante pelos orgasmos que tivera. Sabia ainda que aquilo também era só o
começo.
- Eu não sei o que foi, Draco. Me interessa saber apenas que foi bom.
Ela riu.
Ele riu novamente. Aquele mesmo riso que havia dado ao descobrir que sua
mãe estivera na cozinha com ela durante a tarde.
Ela sorria com o tanto que era contagiante quando ele se divertia tão
sinceramente daquela forma. Era uma surpresa vê-lo naquele estado, era como
se estivesse o vendo se permitir estar á vontade, sem se preocupar com muita
coisa, pelo menos por agora. Era como se estivesse o vendo se permitir ficar
sem sua máscara e querendo ou não ela quase lia nos olhos dele que parecia
ser um alívio e um luxo que ele não se dava quase nunca.
- Essa é uma guerra que levaremos para o resto da vida então, Draco.
Eu soumandona. Não pode me mudar. – disse. – Bem. – suspirou – Um motivo
a mais para me odiar.
Ele pareceu absorver aquilo. O sorriso em seus lábios continuou lá, mas os
motivos que pareciam tê-lo feito sorrir havia o deixado.
- Eles se parecem com o sol de verão. – ele respondeu quase num sussurro
encarando fundo seus olhos.
- Sei disso.
De repente aquele calor que ele plantara com suas palavras pareceu crescer
dentro dela. Crescer e crescer... Hermione se moveu para mais perto ainda.
Seus dedos tocaram a barba que lhe apontava e ela o beijou. Parecia o certo e
ela não hesitou. Ela pode notar imediatamente o instinto que o fez querer
recuar, mas ao contrario disso ele a aceitou e ela partiu sua boca para poder
sentir o calor da dele, e ele continuou a aceitando.
Suas bocas dançaram uma contra a outra ainda, seus lábios brincaram e
somente então suas línguas se tocaram. Tudo calmo, sem pressa e ela se
aproveitou do momento e da sensação de que o quarto se desfazia a sua volta,
de que seus sentidos eram reduzidos ao estado miserável de nível sensorial, de
que de repente nada no mundo mais havia além do calor dele. Ao mesmo
tempo parecia que ela nunca havia beijado antes, que sua boca havia se
preparado a vida inteira para aquele momento e talvez tivera ensaiado tanto
que ela não imaginava que pudesse existir no mundo a perfeição de
movimentos tão sincronizados. Também nunca estivera tão consciente, mesmo
depois de um ano com ele, um ano que haviam se tocado de tantas formas
diferentes, de que a boca que tocava, a língua que sentia, o sabor que provava
era de Draco Malfoy.
Se aproveitou daquele beijo, porque talvez ela nunca mais o receberia, tinha
tanta certeza de que aquela era uma experiência única que até mesmo seu
coração se machucou um pouco ao pensar naquilo. Havia afeto ali como nunca
antes e parecia ser único demais para que ela tivesse a esperança de que fosse
acontecer outra vez.
As mãos dele desceram por seu corpo e ela sentiu correntes elétricas em sua
espinha. A intenção do toque dele a acendeu novamente. Como ele conseguia
fazer aquilo? Por Merlin! Ele deveria usar algum tipo de magia desconhecida,
não tinha outra explicação!
Acho que já me cansei da nossa pausa, Hermione. – e num piscar de olhos ela
estava por baixo do corpo dele mais uma vez naquela noite. Não tivera sequer
tempo para exclamar algo pelo susto da agilidade dele. Nos lábios dele estava
estampado o maior sorriso que Hermione já vira na vida. A contagiava também
e ela talvez estivesse abrindo um bem parecido com o dele naquele mesmo
momento. – Você deveria me cozinhar peixes todos os dias. Parece me colocar
em bom humor. – ele comentou e ela riu antes de ter sua boca ocupada pela
dele novamente. Ah, céus... Aquela sensação!
24. Capítulo 24
Draco Malfoy
- Pelo amor de Merlin, Draco... – ela suspirou - ...eu não tenho mais
forças... – foi o que ele entendeu do sussurro quase inaudível dela.
Sua boca abriu um sorriso contra a pele dela. Ele também não tinha mais.
Sentia todo o cansaço daquela noite inteira sobre ele, mas se sentia leve
também, leve como nunca antes, não sabia que sexo tinha aquele poder
também. A verdade era que não dava aquele crédito ao sexo, dava aquele
crédito a ela. Hermione. Nunca havia imaginado que a ideia de tê-la ao seu
lado, de poder usar o cérebro dela, de tê-la como cúmplice, o animasse tanto.
Teria que contar seus segredos a ela, mas por incrível que pareça isso também
não estava o incomodando. Ela teria que ser confiável,
era sua mulher, sua esposa e seria a mãe de seu filho. Quem se não ela
poderia se tornar mais confiável?
Beijou aquele pescoço mais uma vez muito consciente do que estava fazendo
dessa vez e a deixou levantando-se para ir ao lavatório onde seguiu toda sua
rotina diária. Ele não era o tipo de homem que beijava mulheres durante o
sexo. Gostava de sentir o sabor dela, da pele delas, gostava de provar, de
morder, de sentir língua com língua, mas beijar era algo que nunca tivera
necessidade ou vontade com nenhuma delas. Noite passada ele havia beijado
Hermione mais do que sua vida inteira com mulheres. Se vira preso na
atmosfera diferente que os envolvera e sua boca o traiu tantas vezes que ele
começou a apreciar e sentir necessidade de pressionar os lábios contra a pele
dela. Fazia isso pela simples sensação de satisfação que descobrira naquele
gesto que parecia tirar algo de dentro dele que não conhecia para externar na
pele dela ou contra aqueles lábios macios e belamente cheios.
Tentou se distrair com a matéria que lia sobre o bem estar da vida em alguns
bairros próximos aos limites da muralha e sobre atividades a se praticar ao ar
livre agora que o outono estava chegando ao fim. Nada muito interessante até
Hermione aparecer enrolada no lençol de sua cama com os olhos fundos e os
cabelos mal presos no topo da cabeça. Vê-la pareceu acender algo nele. Apenas
a encarou enquanto ela se arrastava descalça, se sentava em sua cadeira e
enchia uma sua xícara de chá.
- Meus Deus! Será que pelo menos hoje eu poderia não ser julgada pelas
suas regras de etiqueta?! Estou faminta! Isso aqui não é um castelo e nós não
somos nenhuma família real! – ela respondeu e ele riu fracamente da
indignação dela.
Hermione estreitou os olhos, mas dessa vez ela abriu um sorriso achando
divertido.
- Será que seu amor próprio conhece algum tipo de fronteira? – ela disse e
ele riu em resposta.
- Escute. – ele pontuou mostrando que tinha algo diferente para falar.
Terminou seu chá e se levantou. – Tem planos para ir a Catedral hoje?
Hermione assentiu e pegou sua xícara de chá para segurá-la entre as duas
mãos enquanto trazia as pernas para o assento da cadeira. Será que ela tinha
consciência de que ficava extremamente linda quando assumia aquele ar
rebelde e confortável?
Sorriu. Hermione gostava de ser totalmente imprudente sempre que via uma
brecha com relação as regras de conduta que sua mãe com certeza havia
passado a ela. Pensou em repreendê-la, mas tudo que fez na verdade foi
responder.
- Mesmo horário de sempre. – usou do mesmo tom para fazer com que sua
voz chegasse até ela enquanto avançada para a porta principal.
**
Suas primeiras horas na Catedral aquela manhã seguiram a rotina normal. Seu
discurso com o exército no pátio leste, reunião com o Conselho, seu treino
diário onde se viu tão distraído e cansado que acabou suando o dobro do
normal, ministrou uma das aulas de agilidade, improviso e reflexo para o
programa de treinamento que preparava comensais para seu exército e deu
uma pausa na zona sete para finalizar as estratégias de ação em York. No meio
de tudo isso liberou uma chave de portal para o comensal do acampamento de
Godric’s Hollow e o rebelde capturado que vinha com ele. Quando voltou para
sua torre já era quase almoço. Sua mãe o esperava em sua sala e ele a
recebeu com um sorriso e um beijo na bochecha antes de sentar em sua mesa
e abrir a pasta das programações da tarde que Tina havia lhe passado.
- Temos uma agenda cheia para o mês inteiro. – sua mãe começou - Na
verdade temos uma agenda cheia até a Cerimônia de Inverno.
- Sabe que essa é uma parte importante dentro do todo. – ela foi cuidadosa
ao dizer aquilo.
- Sei que é. – ele ergueu os olhos para ela e sorriu – Apenas me passe as
diretrizes e eu serei todo seu. – sua mãe sorriu em resposta. Ele se reclinou
em sua cadeira se divertindo com as imagens criativas que sua cabeça criava
ao imaginá-la na cozinha enquanto analisava bem a figura dela ali, de pé, em
sua postura elegante e clássica. – Me diga que aprendeu algo com Hermione
ontem. – disse e a viu sorrir confusa.
- Não sei o que quer dizer. – ela retrucou.
- Não finja agora que não esteve na cozinha a tarde inteira ontem com
Hermione, Sra. Malfoy. – divertiu-se ele. – Não se envergonha disso?
Ele suspirou e desviou o olhar. Sim, ele se sentia leve. Desde que acordara
aquela manhã se sentia leve e estivera a manhã inteira bastante distraído
enquanto as engrenagens do seu cérebro trabalhavam para encontrar uma
justificativa para isso. Sentia-se diferente, definitivamente. A pena em seu
dedo girou uma, duas, três vezes e ele molhou os lábios.
- Mãe... – começou. Girou a pena mais uma vez e tornou a encará-la. –
Acha que meu pai é grato por ter você? – ao menos grato, porque Draco sabia
que seu pai não amava sua mãe.
Ela mordeu os lábios não muito certa sobre o que se passava em sua cabeça.
Nunca havia antes conversado com sua mãe sobre o relacionamento que ela
tinha com seu pai. Ele já havia visto o suficiente para não ousar tocar no
assunto.
- Sei que meu pai confia a vida a você. – disse – Você acha que é de
confiança porque o ama ou porque partilham do mesmo sobrenome?
Foi a vez de sua mãe ponderar sobre aquilo. Ela cuidadosamente se aproximou
e se sentou em uma das cadeiras a frente da mesa dele.
- Acredito que no começo mais porque o amava. Hoje porque entendo bem
mais que estamos no mesmo barco. Se ele afundar eu vou junto. – ela disse e
Draco assentiu. O silêncio os seguiu por alguns segundos. – Quer saber se
Hermione é confiável? – ele não respondeu, mas não precisou. Sua mãe havia
entendido. – Filho, sei que foi criado debaixo da regra de que não se deve
confiar em ninguém. – ela disse com cuidado - Seu pai sempre foi muito claro
quanto a isso e nunca tive muito espaço para te ensinar as coisas que eu
acredito. Confiança é algo que se constrói no escuro. É difícil para alguém como
você querer jogar no incerto assim depois de tudo que aprendeu com essa
guerra e com o histórico de nossa família, mas... – ela sorriu - algumas
conquistas são muito prazerosas quando apenas arriscamos. – Draco não
respondeu nada. Continuou a encarando enquanto ponderava sobre aquelas
palavras. Sua mãe havia exposto um bom ponto, mas continuava sabendo que
aquele tipo de discurso não o comprava, por isso ela acabou suspirando e
desfazendo o sorriso. – Mas se precisar de um argumento que lhe permita
algum tipo de estatística: Hermione entende muito mais que está atada a você
e ao sobrenome que tem depois que perdeu a filha do que antes, Draco. Ela
tem mil motivos para estar do seu lado mais do que para ainda estar do lado da
Ordem. Ela está presa a Marca Negra, está presa em um casamento com você,
vocês dois terão um filho mais cedo ou mais tarde. Ela é muito racional e
esperta o suficiente para saber que não dá mais para lutar pela vida antiga que
tinha. Você é o único futuro que ela tem. – ela disse sua última frase com um
pesar que Draco sabia que vinha mais da visão dela do que propriamente da de
Hermione. Talvez era isso que sua mãe via, que seu pai era o único futuro que
ela tinha. Seria ele o mesma para Hermione? Será que ele também a via da
mesma maneira?
- Draco. – ela falou com calma – Você é meu filho e eu o amo com tudo
que há em mim. Faria tudo que fosse preciso, por mais estúpido que fosse, por
você. Acha que isso me torna fraca?
Não desse ponto de vista exatamente. Pensou.
- Mas acha que o fato de eu fazer tudo por você me torna uma pessoa
fraca? – insistiu ela.
- Então não diga que Hermione é fraca. – sua mãe o cortou antes que ele
pudesse continuar insistindo que a tornava vulnerável. - Ela estava disposta a
entregar tudo o que sabia sobre as pessoas pelo qual havia dado a vida ao se
deixar ser capturada. Ela daria tudo a Lúcio. Ela contaria tudo. Tudo pelo filho
que carregava. Ela não estava sendo fraca, ela estava sendo forte pelo filho
dela. Tenha certeza de quais são os interesses dela, de onde o coração dela
está, então saberá por quem ela facilmente daria a vida. Isso não é ser fraca.
Hermione é altruísta, ela consegue pensar mais no outro no que nela mesma.
Isso é algo que considera patético porque não entende, Draco. Seu pai
conseguiu colocar muito dele em você.
Ela foi séria e ele apenas engoliu as palavras dela. Sua mãe sempre havia
criticado seu egoísmo o que era, no mínimo, irritante. Ela sempre tivera o
discurso de que ele nunca saberia abrir mão se seu egoísmo até encontrar algo
que amasse o suficiente e verdadeiramente para tal. Draco se lembrava de ter
tentando entender isso a época de sua vida em que mais se confrontou, mas se
viu incapaz. Egoísmo fazia parte de quem ele era, embora tivesse se visto a
beira de alguma esperança quando descera do pódio de seu orgulho para
implorar ao seu pai que arriscassem muito do que haviam construído até ali
dentro do ciclo de Voldemort para poder salvar o futuro do filho que nem ao
menos conhecia ainda.
- Isso é algo que me preocupa. – ela foi séria e ele sorriu tentando
tranquiliza-la.
- Me dê seis a nove meses para dar fim a essa guerra de uma vez por
todas, mãe. – disse se lembrando do que ele e Hermione haviam conversado na
noite anterior. Saber que Hermione estava disposta a se tornar uma aliada era
ao mesmo tempo preocupante e excitante.
- Senhor. – Tina apareceu e deu espaço para alguém passar. – Sua esposa.
– anunciou ela.
- Estou livre para que me use. – sorriu Narcisa. Draco sabia bem o quanto
sua mãe dava pulos de alegria internamente sobre discussões de encontros
sociais.
- Vou fazer o esforço valer algo. – ela disse sorrindo enquanto ele pegava a
pasta. Teve uma urgência de querer se levantar para recebê-la e beijá-la em
algum lugar. Qualquer lugar. Queria apenas aquela sensação de satisfação que
havia o preenchido na noite anterior todas as vezes que pressionava a boca
contra a pele dela ou a boca. Queria, mesmo que não fossem fazer sexo,
mesmo que ele não tivesse a menor intenção de tirar a roupa dela e tomá-la
totalmente para si. Apenas um beijo. Totalmente incomum, mas ele queria.
Não se moveu além de analisar a capa de couro de dragão tingida de um vinho
púrpura, a cor da Sessão da Cidade e o símbolo do departamento.
- Sim. Eu teria que me pronunciar de qualquer maneira, farei com que seja
aberto.
Ela assentiu e quando se juntou a sua mãe para tomarem o caminho da saída a
porta de sua sala foi aberta com tanta violência que ela recuou um passo pela
surpresa inesperada. Pansy Parkinson passou para o lado de dentro com os
olhos tão furiosos que Draco esperou até que ela fosse sacar a varinha, mas
tudo que ela fez com se inclinar sobre sua mesa com os olhos bem fixos nele.
Tina se desculpava, mas a voz de Pansy foi alta quando ela se pronunciou cheia
de ódio:
Os olhos turquesa dela brilharam, se encheram d’água e ele viu dor. Toda a
expressão dela se converteu em dor. Aquilo foi o suficiente para que ele
entendesse o que ela estava passando. Ele se viu suavizar diante da figura
dela. Pansy era orgulhosa demais e tinha amor próprio além do limite para se
permitir chegar naquele estado. Ela havia cortado os longos cabelos, usava as
roupas mais provocantes que já a vira colocar, estava sempre tentando fazer
com que seu caminho se cruzasse com o dele e mesmo assim ele não havia
dado a ela a atenção que ela pedia. Ela havia estado debaixo da sombra por um
ano inteiro e ele nem sequer a procurara, nem sequer sentira falta. Nunca
havia ficado tanto tempo sem tê-la. Não que se lembrava.
- Por favor, Draco... – a voz dela saiu trêmula e baixa dessa vez. – Astoria
não... Não de novo...
Deu a volta em sua mesa muito ciente de que Hermione e sua mãe ainda
estavam ali. A segurou pelo braço e se aproximou dela deixando-se ficar perto
o suficiente para esconder seu rosto dos demais daquela sala.
- Por que está agindo como se Astoria fosse a mulher da minha vida? –
falou baixo para que apenas ela ouvisse. – Quero que você saia daqui agora, se
acalme e nós iremos conversar sobre isso quando eu tiver tempo. – ele não foi
ríspido mas ela continuou a encará-lo em silêncio com aquele olhar de que ele
estava mexendo com os últimos restos que haviam sobrado do coração dela. –
E pare de agir como alguém que eu sei que não é.
Ela continuou com seus turquesas brilhantes e molhados focados nele com uma
intensidade diferente.
- Sinto a sua falta. – ela sussurrou e naquele olhar Draco percebeu que era
verdade e que não havia nenhuma pedaço de encenação naqueles olhos dela. A
dor era verdadeira e pela primeira vez ele a machucara e ela estava o deixando
ver que doía.
Ele abriu a boca para retrucar algo, mas nada saiu. Tornou a fechá-la deixando
que os olhos dela o consumissem. Se viu sem reação diante de uma Pansy que
parecia existir por culpa dele. Uma Pansy toda ferida. Por que ela estava
fazendo aquilo? Aquela não era a Pansy que ele conhecia. A Pansy que ele
conhecia o chamava de canalha com um sorriso safado na boca vermelha e
inchada enquanto faziam sexo mesmo sabendo que duas ou três horas antes
ele estivera com outra.
- Pansy... – ele tornou a dizer muito baixo, mas ela puxou seu braço para
longe do toque dele, deu as costas e foi embora deixando Hermione em seu
campo de visão.
A energia do olhar dela havia se modificado. Ela o olhava diferente agora, mas
era um olhar que ele já conhecia, nada perto do calor com o qual ela estava o
olhando ultimamente. Dessa vez ele a sentia distante, distante como
costumava a sentir logo quando haviam se casado, logo naqueles primeiros
meses. Como nunca havia reparado que eles haviam se aproximado? Como
haviam se aproximado? Quando? Naquele único olhar dela ele sentiu que toda
magia da forma como aquele dia havia começado fora quebrada. Sentiu uma
imensa raiva de Hermione por saber que a reação dela havia o afetado daquela
maneira.
Nada bom para ele durava por muito tempo de qualquer forma. Estava
acostumado. Chamou por Tina e discutiu com ela alguns segundos sobre como
aconteceria a tarde deles. Lançou ordens e foi somente em um determinado
momento, quando ela se debruçou sobre a mesa para fazer uma anotação em
um pergaminho que havia lhe passado, que uma luz se acendeu em seu
cérebro.
Tina sempre usava saias curtas e decote. Ele reparou que os cabelos dela
estavam presos. Algo em toda aquela situação o incomodou. Ele nunca
demorava para reparar em uma mulher. Nunca. Há quantos meses que Tina já
trabalhava para ele mesmo? Tinha certeza que se alguém perguntasse qual era
a cor do cabelo dela e ela não estivesse perto para que ele pudesse olhar,
erraria. E quando mesmo ela havia prendido o cabelo? Ela estava de cabelos
presos pela manhã, ou havia os prendido no meio do dia?
Dispensou Tina antes que começasse a olhar nela tudo que não havia notado
antes e seu corpo já estava cansado demais para que desse a ela o que ele
normalmente daria a qualquer mulher: o sexo de sua vida. Foi direto para o
almoço que havia marcado com o coronel de cada zona e repassou a
necessidade de se sentarem para discutirem um novo modo de coordenarem a
guerra agora que a Ordem estava ganhando força e queria que isso fosse feito
de modo democrático, onde a ajuda e opinião deles fossem de extrema
importância.
A verdade era que não tinha o menor interesse em escutar os coronéis de suas
zonas. Draco fazia seu trabalho como queria e se um dia tivesse realmente
escutado a voz daqueles que se intitulavam seus conselheiros ele nunca teria
conseguido alcançar a estabilidade da guerra. Ele sabia como proceder tudo
aquilo, mas precisava que seus homens se sentissem parte do processo então
sacrifícios eram necessários.
Quando voltou do almoço seguiu caminho direto até o primeiro andar das
masmorras, onde um pequeno grupo de sua equipe já estava o esperando
juntamente com Hermione que discutia com um deles de maneira séria e
curiosa tentando entender o que estava sendo lhe mostrado em um mapa que
estava aberto. Certamente Tina já havia informado ao seu pessoal que
Hermione estaria com eles porque ninguém questionou a presença dela quando
eles entraram em uma hall de pedras, desceram os degraus de uma escada
helicoidal fechada e se depararam em uma câmara de reunião.
Três faziam parte de seu conselho, velhos insuportáveis que usariam das
informações colhidas ali para tagarelarem na manhã seguinte sobre soluções
inúteis. Os dois outros homens faziam parte da zona sete, homens que o
acompanhavam de perto e que certamente o ajudaria mais que o conselho de
velhos que Voldemort montara para lhe encher a paciência todas as manhãs.
- Traga-o o mais rápido possível assim que terminar. Ainda tenho que lidar
com o prisioneiro. – Draco disse enquanto folheava os resultados que tinha que
conferir.
O bruxo saiu se desculpando pelo atraso. Fox pareceu se engajar em uma outra
conversa, deixando Hermione finalmente, e um dos homens de seu conselho o
cutucou para reclamar sobre a falta de profissionalismo dos bruxos da
comissão. Draco apenas concordou entretido com os números que lhe eram
apresentados nas páginas que folheava.
- Fox não lhe contou sobre isso? - Draco teve que voltar uma página para
ter certeza de que não havia entendido nenhum número errado.
Ela pareceu entender muito bem a provocação e voltou-se para ele cerrando os
olhos.
- Não sabia que conseguia agir como um completo idiota. – ela parou e fez
uma expressão de falsa surpresa. – Oh, não. Na verdade eu sabia sim. – e ficou
extremamente séria no mesmo momento.
Ele a encarou durante os segundos que tomou para virar para a próxima página
e tornou a ocupar sua atenção com os papéis.
- Esse mês é a resposta para sua pergunta. – ele foi seco e ergueu os olhos
para ela. – Por que está interessada em Astoria?
Ela puxou ar para retrucar, mas recolheu qualquer palavra ou justifica pronta
para ser lançada e juntou os dentes. Estavam tão perto que Draco conseguia
enxergar os pequenos poros de seu rosto.
- Do que você tem medo afinal, Draco? – foi o que ela sussurrou com os
dentes cerrados. Apenas aquela pergunta o fez querer recuar. – Não consegue
se lembrar que passei minha vida inteira, desde de que te conheci, te odiando?
Eu não poderia sequer pensar em te amar, ou tentar concorrer pelo seu
coração junto com metade dessa cidade enquanto carrego na memória todos os
insultos que já me fez e toda a ameaça que representou para mim durante
esses anos de guerra! Eu não o amo e não precisa se preocupar quanto a isso!
- E eu também não a amo nem jamais poderia amá-la! Eu não sou desse
tipo de material! Mas não se finja de estúpida e ignore o que temos passado,
Hermione, nem o que ainda vamos passar! Sim, ficamos boa parte de nossas
vidas odiando um ao outro, mas olhe para mim e me diga que continua me
odiando. Diga que me odeia! – ele esperou que ela dissesse. Ela não disse. Algo
acendeu dentro de si quando o silêncio dela preencheu aquela frase que ele
esperava dos lábios dela. – Eu me importo com você. – tornou a dizer. Dessa
vez não sentia mais a tensão em seu maxilar. - Não é como se eu quisesse,
mas eu me importo. Tenho que me importar. Você é uma parte de mim agora,
certo? – ela era uma deles, era uma Malfoy. – Nossos futuros estão
entrelaçados e pensei que havíamos deixado claro ontem que tentaríamos
tornar isso mais fácil para nós dois.
- O que significa que não deveria ser rude comigo sem motivo!
- O que significa que você não deveria ter me dado aquele olhar quando
Pansy saiu de minha sala!
E então finalmente as coisas haviam sido esclarecidas ali e ela não parecia ter
gostado nem um pouco de saber que era por causa de seu olhar que ele estava
agindo daquela forma com ela.
- Porque pensei que já fosse bem consciente que não gosto de saber que
não sou a única mulher que anda tocando! Parkinson me faz lembrar disso! Eu
não sou nenhum tipo de prostituta! Não espere que eu continue sorrindo
quando lembro que o homem que me tocou ontem a noite pode estar tocando
da mesma forma qualquer outra mulher que eu inocentemente colocar os olhos
sobre!
Chegou a ficar feliz por nunca ter realmente dito aquilo na verdade. Não queria
ser mal interpretado. Nem mesmo ele sabia porque havia a tocado daquela
forma ontem. Eles haviam entrado em uma atmosfera nova e completamente
deliciosa que chamava por todos aqueles tipos de sensações e toques que ele
não podia lutar contra e nem queria lutar contra. Eles haviam feito tantos tipos
de sexo diferente que talvez aquele tivesse sido apenas mais um deles. A única
diferença é que aquele sexo não satisfazia apenas seu corpo, mas parecia
quase ter renovado seu espírito.
Draco reparou a sua volta que os homens na mesa encaravam ele e Hermione
com olhares curiosos. Talvez ele e ela tivessem vociferado aos sussurros de
maneira pouco discreta. Contou até três escondeu tudo que havia lhe aflorado
durante aquele pequeno desentendimento entre ele e Hermione e sua
expressão profissional voltou assim que a testemunha se sentou a frente deles
na outra extremidade da mesa.
- Olá, Casey. – começou com sua voz mais neutra enquanto olhava os
últimos números que não tivera a chance de terminar de ver. – Espero que não
esteja irritado pelos procedimentos de reconhecimento.
Foram quase duas horas inteiras para que tudo fosse relatado sem perder
nenhum detalhe. O ataque havia sido feito de uma maneira comum, como
qualquer outro ataque da Ordem, mas segundo Casey, o homem sentado a
frente deles, disse que feitiços e magias desconhecidas e aparentemente
impenetráveis haviam sido usadas em momentos de surpresa que foram de
fator determinante para a perda das terras.
Claramente que o olhar de desgosto que recebeu de volta não foi nada
educado, mas despois de sua óbvia constatação ninguém mais ousou replicar
sobre as ordens de ação de Draco que visivelmente estava dando a ela um voto
de confiança. O que ela realmente apreciava. Não queria decepcioná-lo. Queria
que ele pudesse mesmo confiar nela porque ela estava confiando nele e não
queria ser decepcionada. Aquela guerra precisava de um fim. Voldemort
precisava de um fim. E por mais que ela detestasse isso, a única esperança que
via era em Draco.
Com o fim daquela sessão eles foram dispensados. Hermione sabia o que viria
a seguir e temia pelo que quer que a esperava. Mas estava pronta. Havia
seriamente se preparado. Se levantou e seguiu Fox quando ele a convidou.
Aparentemente todos ali estavam bem conscientes e avisados sobre sua
presença.
Fox avisou que não seria um caminho agradável. Hermione já havia o feito na
verdade, quando Luna estava alojada nas masmorras, mas preferiu deixar que
a imaginação de Fox a visse como uma donzela, já que estava vestida mesmo
como uma. Será que ele não se lembrava dos campos de batalha onde ela se
tornava poderosa com sua varinha e o cérebro que tinha. Aparentemente não,
porque durante toda a caminhada ele foi agradável ao esclarecer novamente os
procedimentos que Tina já havia lhe passado para ler.
Draco ficou para trás para resolver qualquer outro questionamento que seus
conselheiros levantavam enquanto Casey não ia embora. Ele apareceu somente
depois de longos minutos quanto Hermione, Fox e o outro homem da zona sete
o esperavam na porta de uma das celas nomeada “79”. Aquela era uma ala
diferente da que Hermione estivera quando visitava Luna, mas a porta ainda
era de aço fundido e muito pesada.
Draco veio ainda discutindo, dessa vez severamente, com um dos homens de
seu conselho. Ele parecia realmente aborrecido por estar sendo seguido
daquela maneira e quando se aproximou parou e excedeu sua voz
imponentemente calando definitivamente o homem. Ele retrucou algo
realmente rude e o outro apenas fez uma careta, deu as costas e sumiu. Draco
se virou para eles e seus olhos se encontraram com os dela imediatamente. Ele
avançou e a puxou pela cintura a guiando para um canto reservado sem pedir
licença aos seus homens.
- Eu sei que queria você aqui. – ele começou com a voz baixa para que
somente ela escutasse. Hermione sempre admirou como ele conseguia mudar
suas expressões tão rapidamente. Segundos atrás ele parecia querer engolir o
homem de seu conselho, agora enquanto a olhava nos olhos ele estava apenas
neutro. – A queria aqui porque assim poderia enxergar como as coisas
funcionam e eu não iria precisar lhe explicar sobre o que aconteceu em Godric’s
Hollow, nem como estou agindo com relação a isso. Mas não acho que seria
interessante continuar com isso...
- Estou apenas dizendo que talvez não seja uma boa idéia...
- Fiz algo de errado?
- Não.
- Isso é por causa dos homens do seu conselho? Eles não me querem por...
Ela se calou. Sim, sabia daquilo e por mais que existissem muitas pessoas na
Ordem, ela conhecia todos. Não tão bem quanto seu ciclo mais próximo, mas
conhecia todos.
Ela puxou o ar. Precisava mostrar que estava pronta. Ele ainda tinha aquele
olhar de que não estava inteiramente convencido de que ela era capaz de
realmente ser uma Malfoy ou de enfrentar aquele mundo junto com ele. Ela
precisava ser forte, precisava mostrar que era forte e que sabia como colocar
sua máscara e jogar aquele jogo. Talvez ela tivesse usado vestidos e salto o
suficiente para que o fizesse se esquecer de quem ela costumava ser.
Ele a encarou ainda com aquele olhar de dúvida sob sua máscara neutra, fria e
dura.
Mas aquilo parecia ter acontecido a no mínimo uma década atrás. Naquele
momento ela encarou Draco pegar a pasta de Tina e abri-la, tomando alguns
segundos para analisar as páginas contidas ali enquanto esperava pelos dois
homens da zona sete passarem para o lado de dentro. Hermione encheu o
pulmão de oxigênio e se vestiu de sua melhor postura Malfoy enquanto
estabilizava a respiração. Não deixaria que nada, simplesmente nada, tivesse
poder o suficiente para transformar sua expressão fria, ao menos que se
permitisse. Além do mais, sabia que ninguém ali dentro poderia ser Harry ou
Rony. O ciclo interno da Ordem era bem protegido quando se tratava de
capturas.
O grande surpresa foi quando se viu seguir Draco para o lado de dentro e
finalmente encarar o dito prisioneiro em um péssimo estado. Seu coração
parou. O homem que se contorcia nas correntes presas ao chão, mas congelou
os olhos sobre ela assim que a viu sair de trás de Draco, o que o fez ergueu os
olhos da pasta para entender a súbita aquietação.
Draco parou com os olhos sobre ele. Ele com os olhos fixos em Hermione,
Hermione com os olhos fixos nele. O silêncio. Hermione lutava para não deixar
sua mascara cair. Lutava duramente. Lembranças começaram a atormentar sua
mente quase que loucamente. Seu coração queria quase quebrar suas costelas
com todos aqueles batimentos violentos.
O barulho da pasta se fechando nas mãos de Draco ecoou e ele virou-se para
ela. Hermione sentiu o calor da mão dele em sua cintura e o encarou quando
ele fez com que ela desse alguns passos para trás, afastando-a o máximo
possível. O lugar era pequeno e ele precisou encostar a boca bem próximo de
seu ouvido para fazer com o que quer que dissesse ficasse apenas entre eles.
- Draco. – ela o cortou e aproximou sua boca do ouvido dele assim como
ele fazia. O toque de seus rostos a fazia se lembrar de quando eles se tocavam
na cama, principalmente das sensações da noite anterior. Fechou os olhos para
lutar contra a vontade de encarar os olhos do homem acorrentado por cima dos
ombros de Draco. – Confie em mim.
Ele se afastou e Hermione encarou seu olhos cinzas ainda muito próximos.
- Se lembra de quando lancei a ordem para que torturassem Lovegood
porque levantou para ajudar aquele rebelde durante uma audiência aberta com
o mestre? – a voz baixa dele sempre vibrava bem mais e sim, ela se lembrava
bem de como o havia abominado aquele dia. Ela assentiu bem consciente de
que lutava para não mostrar nada além de sua expressão fazia. – Você não
pode me olhar como me olhou aquele dia. Não quero que torne a me encarar
daquela forma, então seria melhor que realmente não participasse...
Ele ainda a encarou por alguns segundos com aquele olhar de receio que talvez
só ela conseguisse visualizar. Distanciou-se dela finalmente, entendendo que
ela talvez precisasse mesmo. O olhar do prisioneiro ainda estava sobre ela
completamente imóvel. Hermione também notou que os demais da cela tinham
suas atenções nela e em Draco. Não era a primeira vez que eles estavam ao
cochicho naquele dia, o que obviamente levantava a curiosidade. Draco apenas
retomou a atenção para a pasta ficando de frente ao rebelde.
- Diga seu nome. – a voz dele soou forte, mas ao mesmo tempo Hermione
percebeu que havia um ar de tédio em seu tom, como se estivesse repetindo
aquilo pela milésima vez em sua vida.
- De tudo que tem para me perguntar vai escolher isso, Malfoy? – ele
vociferou cheio de raiva nos olhos, olhos que continuavam travados sobre nela.
- Não é uma pergunta, é uma ordem. – Draco foi simples. Tornou a fechar
a pasta e cruzou os braços. – Diga seu nome. – repetiu.
“... e você deveria fazer o mesmo, Hermione!” Rony incentivou naquele verão
do sexto ano enquanto pegava sua cerveja e subia as escadas do depósito da
loja dos gêmeos no Beco Diagonal.
Ela riu.
“Além do mais!” Ela se voltou para Fred. “Me pergunto com que dinheiro sujo
vocês conseguiram montar essa estrutura!”
“Você não sabe nem metade do quanto esses alunos investem quando querem
pregar uma boa peça.” Ele mostrou as mãos “Não posso fazer muita coisa se
Fred e George Weasley são sinônimos de qualidade no ramo há anos!” Ela riu e
revirou os olhos passando por caixas e mais caixas empilhadas. “Rony apenas
está animado porque nos quer rico o suficiente para ajudarmos mamãe e papai.
Assim eles terão dinheiro para lhe comprar a vassoura do ano.”
“Rony é um idiota.” Ela disse e não era bem por causa do dinheiro que ele
queria dos gêmeos. Sabia que a essa altura ele deveria estar procurando algum
lugar para se atracar com Lilá Brown.
“Sempre a admirei por suas sábias palavras, Hermione.” brincou Fred ao
escutar aquilo e ela riu novamente. A energia dos gêmeos era sempre
revigorante.
“Olha, devo confessar que vocês tem um futuro descente por aqui...” disse
finalmente sorrindo e olhando para ele por cima dos ombros enquanto avaliava
o conteúdo de uma das caixas abertas.
“50%, maaas...” Ele enfatizou. “Nós dois sabemos que eu sou o mais
inteligente.” Ele abriu um sorriso largo. “E mais atraente.” Concluiu.
Ela riu alto, revirou os olhos e quando se preparou para das as costas o
momento mais inusitado de sua vida, até então, aconteceu quando Fred
simplesmente a puxou pelo pulso, segurou sua nuca e a beijou. Naquele
segundo, assim, daquela maneira, ele se tornou o segundo homem que ela
havia beijado em sua vida. E sua surpresa era tanta que nem consciência para
se afastar ela conseguiu.
Quando finalmente ele desgrudou sua boca da dela Hermione se viu encarando
os dois oceanos azuis que ele tinha nos olhos de muito perto. Ela não sabia
como reagir. Queria empurrá-lo, mas todos os seus músculos pareciam
travados.
“Por que fez isso, Fred?” Se viu sussurrar incapaz de encontrar a própria voz.
“Meu Deus, Herms! Parece que você viu um fantasma! Beijo tão mal assim?”
Ela conseguiu finalmente se esquivar do toque dele. Parecia tão errado. Será
que ele não sabia que ela gostava de Rony? Será que para ele ainda não
parecia assim tão claro? Balançou a cabeça confusa. Por que ele havia a
beijado?
Ele riu.
“Porque você é bonita demais para não ser beijada.” Fred disse aquilo como se
não fosse óbvio demais para ela.
Aquilo foi a coisa mais ridícula que já tinha ouvido. Porque alguém a beijaria
apenas porque era bonita. Alias... Era bonita? Sentiu suas bochechas corarem.
Virou para a caixa novamente encontrando qualquer coisa para olhar que não
fossem os olhos dele.
“Eu gosto de Rony.” Disse finalmente. Baixo. Ainda com a esperança de que ele
não ouvisse.
“Sério mesmo?” Ele pareceu surpreso. “Quero dizer, eu já tinha uma ideia.
Quero dizer, todo mundo já tem uma ideia. Mas tinha esperanças de que você
não fosse tão estúpida assim. Acho que todo mundo também tinha.” Ela cerrou
os olhos e lançou contra ele a primeira peça perdida que conseguiu alcançar.
Ele desviou rindo. “Não quebre nada, Herms, ou terei que fazê-la pagar pelo
estra...”
“Veja só! Você o deixa cinco minutos sozinho e ele começa a gritar
desesperadamente como minha mãe! Mas escute...” Ele deu um passo para se
aproximar dela e Hermione recuou em resposta. Não deixaria que homens a
beijassem apenas porque a achavam bonita. Fred limpou a garganta recebendo
a rejeição dela. “Ninguém precisa saber sobre isso visto que claramente você
não gostou.”
“Não, Fred.” Ela disse quase que imediatamente. “Não é que eu não tenha
gostado... Eu só não esperava que... Não sei... Logo você... Eu.. Nunca havia
pensado que... Só acho que não é legal que tenha feito isso...” Ela se calou não
encontrando nenhuma palavra adequada.
“Hermione.” Ele começou com uma voz séria e amorosa. Era a primeira vez que
ela via Fred Weasley agir daquela forma. Longe de suas constantes piadas e
sarcasmo. “Acho encantador que ainda seja muito ingênua com todo esse
mundo.” Ele deu mais um passo se aproximando e dessa vez ela não recuou.
“Sim, eu a acho bonita e atraente. Sim, eu a beijei. E não, eu não estou
esperando nada disso, mas apenas entenda que relações começam de algum
lugar.”
Ela entendia o que ele queria dizer. Entendia perfeitamente. Mas estava muito
ocupada pensando em Rony o tempo inteiro para considerar nada que não
fosse sua defesa de que grandes romances apenas surgiam de grandes
paixões, mesmo que soubesse que paixões não eram eternas. Molhou os lábios,
colocou os cabelos atrás de sua orelha e puxou o ar.
Ele assentiu.
“Manterei seu segredo.” Ele foi sincero. “E o nosso beijo.” Concluiu com um
sorriso.
Ela teve que desviar os olhos para não corar.
- Diga o seu nome, desgraçado! Não sabe seguir ordens?” – chutou Fox
novamente mostrando que estava realmente irritado com a teimosia do
homem.
Ele a encarou, os olhos brilhando de ódio, talvez por ter escutado a voz dela ser
direcionada a ele.
- Você parece saber bem meu nome, minha querida Hermione traidora. –
vociferou ele sem piedade. Hermione sentiu o nome traidora lhe cortar
novamente. – Por que não informa isso a todos por você mesma então? Aliás,
não vejo o porque de uma pergunta tão idiota visto que todos aqui já sabem a
resposta.
A cela inteira ficou em silêncio. Draco puxou uma cadeira velha que estava
encostada em uma das paredes, a colocou bem de frente ao prisioneiro e se
sentou cruzando as pernas, colocando a pasta em seu colo e as mãos unidas
sobre ela.
- Vou lhe dar dez segundos para escolher que tipo de interrogatório quer
ter e então começaremos tudo isso novamente. – ele puxou o relógio de dentro
do bolso e o abriu em sua frente. O silêncio acompanhou os segundos. O
ponteiro do relógio de Draco pareciam quase sonoros demais enquanto corriam
e durante todo o processo ele e o prisioneiro trocaram olhares. Draco calmo e
desafiador, o prisioneiro furioso. Quando o relógio foi devolvido ao bolso apenas
puxou o ar se fez pronunciar: - Certo. – Quebrou o silêncio. Todos já sabiam de
quem havia sido a vitória daquele confronto. – Diga seu nome. – ordenou.
- Fred Weasley.
**
De fato a segundo parte era a pior de todas. Eles usavam técnicas de tortura
que Hermione sabia que pertenciam ao exército trouxa. Torturas que
colocavam o prisioneiro debaixo de tanta dor ou tanta pressão psicológica que
não restava nenhuma parte em seu cérebro consciente que poderia lutar contra
o efeito da venenosa veritaserum.
Quando tornou a abrir os olhos Draco passava por ela com Tina logo atrás. Os
olhos cinzas caíram sobre ela. Frios. Mas por apenas alguns segundos. Ele
seguiu seu caminho deixando as masmorras e ela continuou exatamente onde
estava. Cobriu a boca e quando se viu sozinha se deixou chorar. Como podiam
ser tão frios? Como Draco podia ser tão frio? Tão indiferente... Fred era tão
humano quanto ele, quanto ela, quanto qualquer um naquela cela. Por que
trata-lo como se fosse algum tipo de animal?
Todos aqueles gritos de dor... Todas aquelas torturas que ela mal conseguia
entender como havia conseguido encarar sem mudar sua expressão, sem se
recolher, sem se manifestar. Será que ela estava mesmo se tornando um
deles? Um comensal?
Sentiu que ficaria ali o resto do dia se não se recuperasse. Nunca deveria ter
deixando seus músculos relaxarem. Nunca deveria ter se permitido sentir a
fraqueza que por tanto tempo segurara ali dentro daquela cela. Contou até
cinco e tentou se recuperar. Não conseguiu. Puxou o ar com força e tentou se
recuperar mais uma vez, mas não conseguiu. Céus! Tinha que se concentrar.
Tentou tomar o controle sobre sua própria respiração. Tentou esvaziar a mente.
Esvaziar a mente. Isso. Como se estivesse sob a ameaça de que pudesse ser
lida. Afastou todos os seus pensamentos. Se focou unicamente em sua
respiração. Tentou estabilizá-la novamente e aos poucos conseguiu. Quando
sentiu que finalmente estava em um estado domável, limpou o rosto e refez a
postura. Sentiu a tensão voltar para todos os seus músculos. Dessa vez ela não
os daria descanso. Alisou a própria roupa e fez o som de seus saltos ecoarem
contra o piso novamente. Subiu até a torre de Draco ao invés de esperá-lo na
saída sul como Tina havia lhe dito.
- Sra. Malfoy. Essa hora normalmente ele está trabalhando com muita coisa
para fechar o dia...
- Eu sei o que ele está fazendo. – cortou ela. – Poderia, por favor, ao
menos dizer que estou aqui.
Tina hesitou por alguns segundos, mas então se levantou e foi até a porta de
Draco sem se importar em expressar que não estava muito feliz por estar
fazendo um favor a Hermione.
Draco pediu para que ela entrasse quando foi informado de que Hermione
estava ali. De alguma forma ela se sentiu satisfeita por saber que ele não havia
a dispensado, o que normalmente ele faria. Hermione entrou e recebeu apenas
dois segundos do olhar de Draco sobre ela antes que ele voltasse para os
papéis em sua mesa. A porta foi fechada as suas costas e ela se aproximou.
Ele subiu os olhos para ela apenas mais um segundo enquanto corria sua pena
por um livro aberto grande e pesado.
- Seus olhos estão vermelhos. Suas mãos tremem. – ele comentou, molhou
a pena no tinteiro e continuou.
- Eu entendo, Hermione. – ele disse. Ela abriu a boca para retrucar, mas
ele falou antes dela. – Acredite. – A encarou. – Eu realmente entendo. – Ele
assentou a pena e fechou o livro. – Não espero que se torne alguém como
minha mãe, ou como eu mesmo, da noite para o dia. – ele usou um tom calmo
e ela não pode deixar de agradecer por não ser repreendida como sempre era
por ele. - Alguém a viu? – ele perguntou.
Não que ela soubesse. Até onde tinha consciência estivera sozinha de frente
para aquela cela. Negou com a cabeça.
- Bom. – ele disse. – Não precisa me esperar para voltar para casa, mas se
quiser não vejo necessidade de ficar plantada na saída sul esperando por mim.
Pode se sentar se quiser. Já estou terminando com os...
- Eu não posso deixa-lo morrer, não posso deixar que ele vire um dos
sacrifícios para a cerimônia de inverno. Você me ajudou com Luna. Podemos
fazer o mesmo com...
- Certamente que não! – ele a cortou com mais firmeza agora. – Hermione!
Pense mais um pouco! Eu a ajudei com Lovegood porque tinha o interesse que
ela levasse alguns dos segredos de Brampton Fort de volta para Ordem assim
eu saberia, baseado nas ações deles, se possuíam ou não o véu. – ele falava
baixo, mas ríspido o suficiente. - Não espere que eu vá me arriscar novamente
por alguém que foi estúpido o suficiente para se deixar ser pego.
Ela hesitou.
- Mas Fred...
- Você disse que queria isso! – ele tornou a repetiu com mais clareza a
cortando novamente. – Você disse que queria isso. Eu a avisei que seria uma
caminho escuro e sujo e mesmo assim você disse que queria, que estava
pronta, que estava preparada. Eu até mesmo a avisei antes de entrarmos
naquela cela e mesmo assim...
- E por que você precisaria do perdão de uma família que está abaixo da
cadeia alimentar? Uma família rebelde que não possui nem nunca possuiu o
mínimo de influência no mundo bruxo?
Hermione sentiu uma fúria se misturar com sua angústia. Será Draco não tinha
o mínimo de percepção? As vezes a convivência com ele dentro daquele mundo
fazia com que ela esquecesse o caráter que ele tinha.
- Porque eles abriram os braços para mim! – voltou-se para ele bem
consciente de que havia subido o tom de sua voz. - Me receberam e me
amaram quando pessoas como você me desprezaram e me menosprezaram por
ter nascido com poderes que eu nunca pedi para ter! Eu nunca pedi para ser
uma bruxa, Draco! Quando eu perdi minha família eles preencheram o espaço
vazio que ficou em mim sem que eu nem precisasse pedir! Eles sempre se
preocuparam e cuidaram de mim sem receber nada em troca além de amor!
Você não entenderia isso! Nunca entenderia isso!
- Você sabe o porque eu nunca entenderia. – foi o que ele pareceu resolver
dizer depois de longos segundos de silêncio.
Ela processou aquilo. Ele não parecia contente em ter que compartilhar aquilo.
Ela sabia o porque. Draco possuía a família mais infeliz que ela já havia
conhecido. Ele nunca entenderia o que era fazer algo apenas por amor, sem
esperar absolutamente nada em troca. Não havia sido criado dessa maneira.
Hermione fechou os olhos e suspirou. Não era possível que o rancor que sentia
agora também mudasse tão rapidamente para um estado passível. Céus! O que
ela sentia por ele afinal? Hora achava que apenas o odiava, hora o considerava,
hora queria fugir da presença dele, hora queria tocá-lo, hora o desprezava,
hora sentia que apenas o calor do corpo dele a bastava! Não era justo que não
conseguisse se organizar, chegar a um acordo consigo mesma!
Quando abriu os olhos o viu se levantar, dar a volta na mesa e ficar bem a
frente dela. Ele cruzou os braços a encarando profundamente. Os olhos dele já
diziam o que ela sabia.
- Se lembra de ontem a noite? – ele começou sério e ela sabia que ele não
estava falando sobre a noite que haviam passado na cama. - Do acordo que
fizemos em meu escritório? Dos planos que fizemos? – ela desviou o olhar. Se
lembrava muito bem. – Tudo aquilo é real. Existe sim uma boa chance de
conseguirmos o que nós dois queremos. Você certamente foi capaz de ver isso.
– ele falava baixo. – Mas eu acredito já ter me aberto com você sobre
sacrifícios, Hermione.
Ela fechou os olhos sentindo o calor da mão dele contra seu rosto. Mãos que há
poucos minutos iam tão brutalmente contra Fred Weasley, mas mãos que
haviam a tocado com tanto cuidado e desejo na noite anterior. Mãos que
costumavam encontrar formas discretas de tocar sua barriga quando ainda
gerava a filha dele. Mas mãos que já haviam torturado e matado homens. Mãos
que também a tocavam agora de um modo tão compreensivo quando ela sabia
que ele poderia ser apenas rude. Mas mãos que, com certeza, já haviam ferido
aqueles que ela amava. Segurou a mão dele e a tirou de seu rosto. Não porque
era estranho que ele a tocasse fora da cama, mas porque as vezes se lembrava
muito do que ele sempre havia representado para ela.
- Posso pelo menos falar com ele? Deixá-lo ciente de que não estou do lado
de Voldemort. Nem eu nem você.
Draco pareceu tentar considerar aquilo de modo bastante relutante por alguns
segundos. E ela até mesmo se surpreendeu por vê-lo se esforçar com aquilo.
Ele estava diferente com ela e mesmo que ela soubesse que aquilo fosse
temporário, porque assim que toda a dor da perda entre eles se acalmasse as
coisas voltariam a ser como antes, Hermione ainda apreciava o lado
compreensivo dele.
- Seria loucura, Hermione. – ele finalmente disse. Ela assentiu. Era racional
o suficiente para saber que passar aquele tipo de informação a Fred era
arriscado e ele poderia usá-la para se livrar da morte. – Deve aprender a não
confiar nas pessoas tão facilmente e embora o conheça, o caráter de qualquer
ser humano se torna imprevisível quando ele encara a morte de tão perto. - Ele
certamente parecia saber muito sobre aquilo. Draco deve ter encarado mortes
atrás de mortes sentado ao lado de Lord Voldemort e também como um bom
Sonserino, conhecia bastante sobre o comportamento humano para usá-lo a
seu favor. – Bem. – ele se manifestou dando as costas. – Acredito que se
apenas nos concentrarmos no jantar que nos espera em casa e na noite que
vamos ter para nos recuperar da passada, podemos ter a chance acreditar que
tudo está bem. – ele forçou um sorriso e tornou a se sentar em sua cadeira. –
Aliás, quero explicações sobre o poder que a Ordem detém. Acredito que não se
importaria que eu deitasse no sofá com uma garrafa de vinho para escutá-la
quando chegarmos em casa. Estou bem casado por não ter dormido ontem a
noite.
Ela se viu rir suavemente sem que pudesse conter. Não que Fred tivesse sido
tirado de sua mente repentinamente, mas era a única reação que tinha para as
palavras dele que a olhou confuso.
- É engraçado ver como o mundo bruxo parou no tempo. Sua família com
certeza no final do século XIX. As vezes você se comporta como um verdadeiro
aristocrata. – ela soltou um riso fraco novamente maneando a cabeça. – Não
acredito que você precise se preocupar com o que eu pensarei de suas
maneiras se não se sentar propriamente em uma poltrona, vestido em seu
terno fino, com uma boa taça de vinho para me escutar. É sua casa, Draco, e
vamos ter que ficar debaixo do mesmo teto por tempo o suficiente para se ver
preso a essas questões todas as vezes que estivermos compartilhando o
mesmo cômodo.
Ela sorriu não esperando escutar aquilo de Draco Malfoy. O Draco que ela
pensava conhecer estava sempre bem apresentado. Sabia se sentar
perfeitamente e até mesmo o modo como segurava o jornal durante o café da
manhã ou se curvava para responder algum correio era de uma postura
impecável. Ela não esperava que ele fosse tão rebelde ao ponto de contrariar
aquele modo de vida em que fora criado.
- Bem, talvez eu não o julgue sobre deitar no sofá se não me julgar todas
as vezes que desço em meu pijama para tomar o desjejum. – ela se aproveitou
do momento.
Ele parou de arranhar a pena no pergaminho e a encarou.
Abriu a boca para retrucar, mas foi cortada pelos passos aditados que surgiram
do outro lado da porta e em menos de dois segundo ela foi escancarada.
Homens passaram para o lado de dentro com as respirações carregadas.
Hermione sentiu seu coração querer sair pela boca no mesmo instante. Eles
estavam se referindo a Brampton Fort? Encarou Draco e ele já estava
perfeitamente intacto em sua postura de general enquanto se levantava. Não
apresentava nenhum sinal de desespero além da expressão neutra de sempre.
- Especifique. – foi o que ele disse. Calmo.
Draco apertou os lábios mas não disse nada por um momento. Todos pareciam
ansiar por qualquer palavra sua, mas ninguém dizia uma palavra, nem mesmo
Tina que aparecia silenciosamente por trás dos homens.
- Sim! Eles parecem ter um grupo formado. Os mesmos que nos tiraram
York, os mesmos que nos tiraram Godric’s Hollow.
Draco assentiu.
Draco ergueu as sobrancelhas colocando seu olhar sobre o homem que dissera
aquilo.
- Draco...
- Superado meu exército. Sim. – ele terminou para ela. – Entendi essa
parte muito bem.
- O que é bom para você. – ela logo disse. – Esse grupo está ocupado com
Highshire exatamente agora, o que deixa Godric’s Hollow ou York inteiramente
livre.
- Quando vai voltar para casa? – ela perguntou quando ele terminou de
lançar todas as suas ordens.
- Não sei. – ele respondeu ocupado em guardar tudo que havia sobre sua
mesa. – Você mesma sabe o quanto um campo de batalha é imprevisível.
Nunca se sabe com que tipo de feitiço você vai cruzar caminho e temo que
regressamos para um estado de guerra onde as coisas não estão mais tão
estáveis assim. Se a Ordem continuar se movendo rápido dessa forma, acredito
que não verei Brampton Fort tão cedo.
Ela não gostou da ideia. Não gostou de saber que ele estaria exposto a um
campo de batalha. Não gostou de saber que ele não voltaria para casa tão
cedo. Algo nela quis pedir para ir com ele, mesmo sabendo que era impossível
que sua pobre alma tivesse mínimas chances de um dia pisar do lado de fora
daquelas muralhas enquanto Voldemort existisse. Algo dentro de si também
queria pedir para que ele fosse cuidadoso. Mas ela se manteve calada.
- Lamento por não ter jantar nem descanso para você essa noite. – ela
disse. Baixo o suficiente para convidá-lo ao nível de intimidade.
Ele não pareceu estar muito interessado naquilo aquele momento. Aqueles
olhos cinzas a encaravam como se tivesse algo a dizer, mas não sabia
exatamente se deveria. A relutância era clara, mas não demorou muito para
que ele vencesse mais a distância entre eles, tocasse sua cintura e aproximasse
a boca de seu ouvido. Hermione sabia que ele fazia aquilo porque a porta
estava aberta e Tina não estava muito distante o esperando.
- Encontre uma forma de ser meus olhos na Catedral enquanto eu estiver
ausente. – ele sussurrou. A voz sempre grave e profunda o suficiente para
fazer os pelos de sua nuca se moverem. Ela assentiu em resposta e ele
afastou-se, mas não o suficiente. Seus olhos foram pegos pelos dele a uma
proximidade muito íntima. Ela esperava que tudo desse certo. Por mais
surpreendente que fosse, não queria que nada de ruim acontecesse com ele. As
palavras para que ele tomasse cuidado estavam presas em sua língua, prestes
a serem cuspidas, mas ela hesitou. Hesitou e não as disse. Hesitou do mesmo
modo como hesitou ao perceber que uma estranha vontade lhe crescia.
Vontade que sua boca tocasse a dele. Os olhos dele desceram para sua boca,
como se ele também estivesse com a mesma vontade, e ela fez o mesmo para
a dele. A hesitação de ambos os prenderam num longo segundo onde hora
havia quase certeza que se beijariam, hora recuavam em relutância. Eles não
iriam para cama. Não fariam sexo. Não poderiam se beijar. Não havia nenhum
motivo para que fosse necessário. – Vá para casa. – ele soltou num sussurro
quase inaudível. Subiu os olhos para os dela uma última vez, separou-se dela e
sumiu com Tina.
O clássico estilo vitoriano era típico inglês, mas chegava a ser um tanto
obscuro. Ela já havia se acostumado com aquele estilo. Deu uma volta curiosa,
tocando decorações, mexendo em pedaços de pergaminhos empilhados, lendo
títulos de livros na estante. Suspirou. Não era tão diferente de como era na
Ordem. A guerra era imprevisível. Não se podia fazer planos para o jantar ou
para a manhã do dia seguinte sem ter consciência de que a qualquer momento
seria necessário sair correndo com a varinha em punho. A diferença agora era
que se sentia uma mulher presa em seu castelo durante a Primeira Guerra
Mundial. Teria que encontrar uma forma de ser mais útil do que aquilo.
E foi com esse pensamento que deixou a torre de Draco. Aproveitou que o
quartel inteiro deveria estar sob aviso e que o tumulto estava bem longe das
masmorras para descobrir a cela onde Fred havia sido colocado. Fez a ele uma
visita tomando cuidado extra para que ninguém a visse.
- Não sou exatamente uma traidora, Fred. – ela respondeu, mas tomou
cuidado para não desfazer sua postura.
Ele forçou um riso fraco que pareceu uma tosse que logo em seguida veio
acompanhada de um gemido de dor.
- Eu entendo perfeitamente. – ele disse quase não dando conta de suas
palavras. – Roupas caras, joias, e não pense que não reparei que a aliança em
seu dedo é a mesma que a de Draco Malfoy.
Ela não discutiria aquilo. Não com ele. Não no estado em que ele se encontrava
nem porque não poderia. Qualquer palavra ali poderia ser arriscado demais.
Mas se aproximou. Aproximou mais do que deveria, mas não se importou.
- Fred. – pediu ela com cuidado. – Olhe para mim. Olhe nos meus olhos. –
ela não precisou pedir duas vezes. O silêncio os envolveu. Se ela pudesse
contar tudo por um olhar ela gostaria muito conseguisse. – Você não
entenderia. – sussurrou.
Ele respondeu com o silêncio, mas não desviou o olhar do dela. Hermione
queria muito poder estar sendo honesta com ele por aquela simples troca de
olhar e talvez estivesse mesmo conseguindo porque demorou, mas finalmente
ela se viu observando um Fred frágil, com medo, e longe do olhar de desgosto
que lançava a ela. Talvez ele estivesse a vendo como a Hermione que revirava
os olhos com um sorriso no rosto quando ele fazia suas brincadeiras agora.
- Herms... – ele sussurrou de volta cheio de dor e medo. – Eu vou morrer?
Ela sentiu seus olhos quererem embaçar. Não. Não era essa a Hermione que
era agora. Recuou. Era uma Malfoy. Tinha a Marca Negra em seu braço e era
bastante consciente da realidade cruel do mundo que os cercava agora.
Se lembrou de sua filha, a filha que fora tirada dela com tanta brutalidade. Os
motivos claramente iam além de pagar sua dívida pela fuga de Luna, mas o
aviso era claro o suficiente e ela jogava um jogo diferente agora, tinha que
jogar um jogo diferente, e por mais sujo que fosse, nele pelo menos havia
esperança. Respirou fundo vestindo sua capa protetora, sua masca neutra, seu
olhar frio e imparcial.
- Sim, você vai. – disse com calma, deu as costas e seguiu fazendo o som
de seu salto ecoar até sair.
25. Capítulo 25
Lord Voldemort
Ela não o temia. Não podia temê-lo se ainda, depois de tudo, ela ousava
desafiá-lo. Hermione certamente fazia jus ao maldito sangue precioso que lhe
corria nas veias, mesmo sem ter a mínima consciência dele. Se sentia
altamente tentado em dar um fim a vida dela assim que seu herdeiro fosse
produzido, mesmo que fosse um belo de um desperdício acabar com uma coisa
tão bonita como ela. Provavelmente encontraria um outro uso para ela assim
que lhe tirasse seu herdeiro.
Ah... Seu herdeiro! A mistura do sangue dela com o sangue Malfoy. Ele se
perguntava sobre o poder dessa criatura todos os dias. Um sangue que nunca
teria se misturado na história do mundo. Ele estava orgulhoso de seu feito.
Teria o filho deles ao seu lado. Teria o poder dele a seu favor. Faria com que
seu herdeiro fosse um fiel incondicional. Leal a ele e unicamente a ele. Assim
teria o mundo em suas mãos. Certamente seu herdeiro seria ambicioso como
Draco, sedento por poder e reconhecimento. Voldemort prometeria seu império
inteiro a ele, mesmo que nunca tivesse a intenção de deixá-lo.
Quando Hermione passou para o lado de dentro de seu gabinete ele via apenas
a figura de uma insolente. Alguém que ousava desafiá-lo era alguém morto e
ele tinha muita vontade de matá-la. A sede por vê-la morta e ensanguentada
ressecava até mesmo suas veias, mas ele precisava ser paciente, aquele
momento chegaria no dia oportuno e ele beberia cada segundo do sofrimento
físico dela.
A viu parar logo a frente de sua mesa. Vestia um de seus elegantes vestidos e
ousava se manter em sua postura desdém. Confiante exatamente como Draco
havia aprendido gostar de se apresentar. Voldemort pegou a edição do Diário
de Imperador daquele dia e jogou aberto sobre a mesa bem a frente dela.
- Você fez de mim uma Malfoy, mestre. Meu lugar não é abaixo de
ninguém. Já deveria saber disso quando me colocou sob a direção de Theodoro
Nott com o dever de solucionar os problemas das Casas de Justiça. Eu coloquei
regras, aboli as chances de corrupção, evitei guerras entre família poderosas
que te servem e que ficariam muito insatisfeitas com o mal funcionamento das
atividades dentro do seuforte. Mesmo assim quando dei as costas ao
departamento por causa de uma ordemsua, fui obrigada a assistir todo o meu
trabalho desmoronar por culpa de Nott. Não iria esperar que eu ficasse calada,
ou iria mestre?
Ela piscou com calma. Aproximou-se mais e tocou as bordas do outro lado de
sua mesa.
- O que quer em retorno pelos seus serviços? – foi tudo que disse.
- Minha filha. – ela não precisou pensar duas vezes. – Quero ficar com
minha filha caso venha a engravidar de uma menina novamente.
Ele pode ver a mandíbula dela travar a saliva descer seca por sua garganta e a
fúria exalar de seus olhos.
- Eu não quero apenas que poupe a vida da minha criança caso eu venha
engravidar de uma menina. Você não quer uma herdeira, quer um herdeiro e
se eu tiver uma menina quero ficar com ela! – os dentes dela estavam
cerrados.
- Não terá nenhum filho, Sra. Malfoy. Já me fiz claro quanto a isso.
- Não. – apenas.
- Me ofereça algo mais valioso e eu deixarei que fique com o filho que
quiser contanto que me dê um herdeiro. – mostrou as mãos.
Ela engajou num silêncio confuso onde ele quase podia enxergar as
engrenagens do cérebro dela funcionando com agilidade. Então os olhos dela
brilharam como se estivessem enchendo-se d’água, a expressão em seu rosto
mostrou dor e ele esperou que ela apenas fosse dar as costas e ir embora. Mas
esse momento não chegou. Ela pareceu engolir tudo aquilo, refazer a postura e
piscar até que seus olhos mostrassem apenas um deserto cruel.
Draco Malfoy
Passou para o lado de dentro do quarto que haviam separado para ele sentindo
o começo de uma dor de cabeça que muito provavelmente iria acompanhá-lo
durante as próximas horas. Estava absolutamente exausto e todo o seu corpo
pedia apenas por descanso. Estava cansado de viajar, de dar seus discursos, de
ter que ser estratégico, de entrar em batalhas pesadas, de ter que lhe dar com
pessoas.
Ao menos estava na Inglaterra novamente. Nas últimas semana tivera que dar
uma volta pela Europa juntamente com Voldemort para apaziguar os rumores
que os rebeldes andavam espalhando sobre o enfraquecimento do império.
Draco também fora obrigado a remanejar suas tropas de segurança para
reforçar as principais áreas de influência dentro de cada país e assim que
voltara para Inglaterra teve que entrar em uma zona de conflito que parecia
resistir as forças da Ordem da Fênix por alguns dias. Havia conseguido
estabilizar o conflito fazia apenas dois, mas tinha certeza que a Ordem não
insistiria ali por um bom tempo visto que encontrara uma forma de colocar a
população residente da área a favor deles. Talvez aquilo tenha ferido
profundamente o orgulho da Ordem, porque recuaram sem muita insistência.
Sentia-se apenas imensamente feliz e grato por saber que no dia seguinte tinha
um discurso para pronunciar pela manhã para a região e então finalmente,
depois de um mês inteiro, estaria retornando para casa. Ele mal conseguia
acreditar que sua casa pudesse ser um lugar tão desejado. Nunca havia sentido
a necessidade de voltar para lá nos outros anos da guerra, quando tudo era
ainda mais intenso e mais cansativo. Agora, tinha dia que chegava até mesmo
a fantasiar que pegaria uma chave de portal no fim do dia, entraria em uma
carruagem até sua casa, subiria os degraus da varanda, passariam para o lado
de dentro, encontraria Hermione para o jantar, desfrutaria da companhia
silenciosa dela, subiria para seu escritório, trabalharia no que quer que lhe
interessasse e quando fosse para cama talvez encontrasse Hermione e a
arrastasse para um banho, ou apenas deitasse e dormisse sentindo a presença
dela ao seu lado.
O relógio batia quase duas da manhã quando Hermione saiu de cima dele
carregando o lençol consigo bastante satisfeita pelo orgasmo que acabara de
ter. A mão dela foi direto para uma jarra de chocolate que ela mesma havia ido
buscar na cozinha. Enfiou alguns na boca, andou até um dos móveis para
buscar uma carta que ele havia recebido aquela tarde.
Esperou que ela lesse. Era a completa descrição sobre os estranhos eventos e
ataques rápidos e repentinos que aconteciam no sul da Inglaterra juntamente
com o sumiço de comensais da morte. Era uma leitura tediosa, mas ela fazia
com bastante atenção e parecia muito entretida com todo o assunto. Vez ou
outra ela fazia alguma pergunta sobre algum termo que desconhecia e Draco
respondia calmamente. Não esperava mesmo que ela soubesse algumas das
linguagens que eles comumente usavam para descrever um espécie de ataque
ou reação que haviam desenvolvido.
Draco notou muito bem que ela se referiu a eles na terceira pessoa. Sabia
muito bem que se isso tivesse sido dito há algum tempo atrás ela teria se
incluído, muito provavelmente usando o pronome “nós”.
- Mas não negue que faz bastante sentido. – ele teve que dizer.
Ele teve que rir enquanto a observava subir na cama novamente, passar a
perna por ele e se sentar em seus quadris.
- Está mesmo sugerindo que eles tenham encontrado uma nova magia para
se transportar? – riu novamente – Tem noção do quanto isso é insano?
Estamos falando de um novo meio de transporte que não seja Flu, Aparatação,
Chave de portal, vassoura, tapete voado ou...
- Eu sei que é bastante louco. – ela o cortou. – Mas você terá que
concordar comigo que é muito mais fácil usar um pouco de criatividade e um
punhado de conhecimento sobre magia do que ter que trabalhar para atingir
uma magia de segurança muito bem consolidada em todo o território da Grã-
Bretanha há anos.
Certo. Ele não podia ir contra ela com aquele argumento. Mesmo que algo
daquele tipo precisasse de anos para ser desenvolvido não podia contestá-la
visto que a Ordem andava usando feitiços e magias que demoravam anos para
serem desenvolvidas.
A viu virar mais um longo gole de vinho, colocar a garrafa na cabeceira ao lado
e tornar a focar-se na leitura. Draco puxou distraidamente o lençol dela.
Contemplou seu belo corpo sentado sobre ele. Tocou seu quadris e desenhou a
lateral de sua cintura com as mãos. Fez o caminho da copa de seus seios
redondos, cheios e de um volume tão proporcional que chegava a perfeição.
Sentiu-se excitado novamente apenas por observar o corpo dela.
Subiu sua mão devagar pela barriga lisa e alva. Se lembrou de quando tinha
um pequeno volume ali, o lugar em que a filha deles havia estado. Se lembrou
de quando faziam sexo aquela época, de como ele havia aprendido a tocar na
barriga dela discretamente e de como ela era linda grávida. A encarou e ela
continuava entretida na leitura. Ela era linda de qualquer forma. Ele suspirou
continuando o caminho com sua mão por entre os seios dela. Encheu sua mão
com um deles. Queria tanto que ela estivesse grávida. Que ainda estivesse
gerando a filha deles. Sabia que ela também tinha o mesmo desejo e
compartilhar aquilo parecia funcionar como uma anestesia para a dor que
sentia quando se deparava com a realidade.
Sentou-se. A cercou pela cintura e fez sua boca tocar a pele do pescoço dela.
Ele gostava de puxar a pele dela, lambê-la para sentir o sabor único, mas ali
apenas pressionou os lábios contra aquele pele macia. Gostava da sensação
que tinha quando a beijava. A sensação de satisfação. Não a satisfação carnal
de possuir o corpo dela, de saciar um desejo que lhe ardia, sexo. Quando
apenas pressionava os lábios contra ela, sentia algo que o satisfazia além do
físico.
Fez o caminho para a mandíbula com sua boca e percebeu que a mão dela
pousou e sua nuca distraidamente enquanto ainda estava entretida com a
leitura. Os dedos dela se moveram por entre os cabelos de sua nuca tão
distraidamente e com tanta calma que ele sentia como se ela estivesse lhe
fazendo alguma espécie de carinho sem perceber. Seus lábios se esticaram
num sorriso discreto ao sentir novamente aquela satisfação que o atingia além
do físico mesmo que não estivesse a beijando.
- Eu ainda não terminei! – ela exclamou com raiva, mas sem esconder que
estava surpresa pelo movimento rápido. – Me devolva! Eu quero terminar!
Ele aproximou-se do ouvido dela. Soltou sua respiração quente ali enquanto
descia a mão pela barriga lisa, macia, suave, até finalmente enterrar seus
dedos na cavidade úmida do sexo dela. Hermione prendeu o ar contorcendo
discretamente o corpo e afundando as unhas em seu braço.
- Me faça parar, Hermione. – ele soltou. Baixo e grave. – Me prove que
quer que eu pare. – circulou os dedos deixando-a mais molhada.
Draco sorriu e arrastou seus dentes pelo lóbulo da orelha dela antes de voltar
para o pescoço onde provou, mordeu e chupou cada pedaço de pele que ela
tinha. Subiu por sua garganta, beijou toda a linha de seu queixo e a encarou.
Ele estava completamente duro. Não era certo que uma mulher tivesse o poder
de lhe dar tanto desejo assim. Tudo que ele havia feito havia sido apenas tocá-
la.
Afastou as pernas dela e quis ter a visão daquele olhos dourados enquanto
deslizava com muita facilidade e sem pressa para dentro dela. Hermione abriu
a boca como se quisesse puxar o ar, mas não conseguia. Tudo que ela soltou
foi um gemido rouco de puro prazer quando ele foi até o fundo e pressionou os
quadris contra o dela. Ele sentiu os pelos de sua nuca se levantarem. Ela era
tão apertada e tão escorregadia que seu corpo inteiro queimava quando se
sentia dentro dela.
Enterrou suas mãos no colchão para poder tocar os seios dela mais uma vez
enquanto ainda se movimentava. Os gemidos dela começaram a aparecer com
mais frequência e ele diminuiu a velocidade. O som de sua respiração ofegante
se misturava com o dela. Sentiu os mamilos rígidos de Hermione contra a
palma de suas mãos e moveu-se o mais fundo possível dentro dela. Ela tentou
mover os quadris pedindo por velocidade, mas ele não daria a ela. Desceu sua
mão até tocar o sexo dela novamente e soube que a partir dali ela perderia
completamente a sanidade.
Seus movimentos continuaram mínimos, mas ele pressionou os dedos contra o
clitóris dela. O gemido que ela soltou foi alto e ele bebeu e se deliciou com o
som. Foi fundo com muita paciência e continuou a pressionar. Ela soltou outro
gemido alto e puxou o lençol soltando-o do colchão. Movimentou-se devagar e
ela escondeu o rosto no travesseiro abafando o gemido constante que competia
com sua respiração. Ele a puxou pelos cabelos não deixando que ela abafasse
seus sons. Chupou seu pescoço escutando o próprio som que saiu de sua
garganta quando as paredes delas massagearam seu membro duro dentro dela.
Hermione se contorceu em agonia debaixo de seu corpo e as costas dela
grudadas nele começou a deslizar com o suor de ambos.
O corpo dela inteiro se contorceu e ela ergueu os quadris a um ponto que quase
deixou completamente o colchão. A boca aberta não conseguia puxar nem
soltar ar. Os nós dos dedos que ela usava para segurar o lençol da cama
estavam brancos e então ela soltou um grito agudo seguido de um espasmo
intenso que o obrigou a segurá-la. Não, ela ainda não havia terminado. Se
segurou para não gozar ao perceber o quanto aquilo tudo o afetava mesmo que
não estivesse fazendo nenhum movimento. Continuou a usar os dedos para
fazer pressão. Ela travou tentando puxar o ar novamente. Seu corpo se
contorceu em agonia. A palma da mão dela bateu contra o travesseiro e o
apertou com força. Os olhos dela também se fecharam com força e então mais
um grito e um espasmo. As paredes dela se moveram impiedosamente contra o
membro dele e ele precisou se segurar mais uma vez, mas não conseguiu.
Jorrou para dentro dela ao mesmo tempo que escutava mais um grito agudo
que veio acompanhado da massagem em seu membro e os espasmos do corpo
dela.
Segundos depois um gemido longo escapou da boca dela junto com espasmos
diminutos que aos poucos trouxeram seus músculos para o estado normal e
relaxado. Ele finalmente a deixou deitando-se de costas ao seu lado com a
respiração ofegante. Encarou o teto também escutando a respiração cansada
dela não muito longe da dele. Fechou os olhos por um segundo para se
concentrar em seus batimentos cardíacos e então girou a cabeça para encará-la
ao seu lado.
- Meu Deus... – ela usou de uma voz rouca que morreu por fraqueza.
Fechou os olhos novamente com aquele sorriso bobo nos lábios. – Isso é tão
bom... – disse soltando o ar ainda ofegante. Moveu-se preguiçosamente até
ele, até ter seu corpo sobre o dele. Os dedos dela entraram por seus cabelos
loiros e molhados. – Isso é tão bom... – ela sussurrou sem forças novamente,
dessa vez com a boca grudada em seu ouvido. – Deve ser algum tipo de
pecado...
Ele riu.
Ela colocou a língua entre os dentes e riu tão deliciosamente que ele se viu
cerca-la pela cintura não querendo dar a chance de que ela pudesse sair dali.
Deslizou os dedos pela linha de suas costas percebendo a forma como sua mão
se movia devido as curvas femininas que a desenhavam. Soltou o ar satisfeito
por saber que sua respiração estava se assentando.
A respiração quente que saia dos lindos lábios entreabertos dela batia contra a
sua. Ela tinha a boca muito perto da dele. Draco quis acabar com aquela
expectativa que havia ali e tentou vencer a pequena distância, mas ela afastou
os lábios quase que imediatamente abrindo um sorriso provocador. Ela estava
mesmo o provocando? Porque se estivesse ele a faria pagar por estar
conseguindo.
O gosto dela o invadiu e Draco provou dele como nunca havia provado antes. O
toque da língua quente de Hermione na sua o fez querer se fundir a ela por
inteiro. Os dedos dela se perderam em seus cabelos e ele sentiu como se
estivesse beijando alguém pela primeira vez na vida. Céus! Ela sabia fazer
aquilo tão bem! Sabia mover os lábios, a língua, sabia respirar na hora certa,
sabia tocá-lo enquanto fazia tudo aquilo, tocá-lo onde ele pudesse ter
consciência de que estava sendo tocado para que tudo fosse parte daquilo, até
mesmo seu toque. Seu toque calmo, cuidadoso, sereno.
Ela cortou o beijo e se afastou. Ele quis capturar a boca dela novamente, mas
ela tocou os lábios dele com os dedos colocando-os entre suas bocas e
impedindo que ele pudesse continuar provando seu sabor. Ele ficaria com
aquela maldita vontade. Encostou sua testa na dela frustrado, mas ao mesmo
tempo sentindo como se o mundo ao redor dele pudesse desmoronar que ele
não se importaria enquanto tivesse o corpo dela ali debaixo do seu, quente,
macio e confortável.
- Draco. – ela usou uma voz rouca e baixa. Ele afastou-se muito pouco
para poder encará-la. – Quem foi sua primeira?
A pergunta o fez se questionar sobre o que ela esteve pensando aquele tempo
para poder fazer exatamente aquela pergunta agora. Franziu o cenho.
Ela sorriu.
- Pansy. – respondeu por fim. – Era verão. Nós tínhamos treze anos. Não
sabíamos direito o que estávamos fazendo.
- Treze?! – ela soltou um riso junto com o ar. – Você começou cedo. –
comentou.
- Sei disso. – na verdade não era algo de que ele se orgulhava agora. –
Quem foi seu primeiro? – perguntou.
Ela puxou o ar como se não tivesse calculado que ele rebateria a mesma
pergunta. Abriu a boca para rebater alguma coisa, mas então tornou a fechá-la
sem soltar som nenhum. Desviou os olhos, mordeu o interior da boca torcendo
os lábios, puxou ar novamente e disse:
- A forma como pareceu incomodada ao ter que dizer que foi ele. – disse
Draco. – Você não gostou?
Ela sorriu.
Ela suspirou.
Ele sorriu de volta não querendo insistir em nada muito particular visto que ela
poderia querer pagar na mesma moeda e fazê-lo soltar qualquer coisa sobre
sua vida que não queria. Saiu de cima dela deitando-se de costas ao seu lado.
Ela se sentou jogando as pernas para fora da cama, esticou a coluna e fez
aquela cascata de camada de ondas castanhas tampar suas costas. Suspirou e
puxou o lençol para cobrir-se. Fixou-se em um ponto no horizonte e deixou o
silêncio os consumir. Draco sabia que a mente dela trabalhava. Parecia remoer
alguma lembrança. Então ela tornou a abrir a boca:
- Rony pode ser bem estúpido as vezes. – usava uma voz baixa. – No dia
seguinte ele parecia querer fazer as outras pessoas saberem sobre o que
havíamos tido na noite anterior. Como se ele quisesse provar que eu era
definitivamente dele de alguma maneira. Principalmente a Harry. Nunca
entendi exatamente o porque. Nós brigamos e terminamos. Foi um tanto
decepcionante. Mas eu deveria ter previsto algo do tipo vindo dele. Você pode
esperar algo idiota vindo de Rony quando ele se anima demais. Claro que hoje
ele é uma pessoa um pouco diferente. A guerra mudou um pouco de todos nós.
Mas quando tínhamos aquela idade... – ela suspirou. – Não importa. – finalizou.
- Me parece que você ainda nutre algum tipo de sentimento por ele. –
Draco comentou se aproveitando de como ela havia aberto o assunto.
- Então não se cubra para mim nessa nova realidade. – ele puxou o lençol
dela tentando usar um tom mais descontraído. Ela soltou uma exclamação
surpresa e estreitou os olhos para ele quando o lençol foi lançado para o outro
lado do quarto. – Gosto de vê-la assim.
- Eu não te daria o prazer! – ela sorriu puxando a blusa dele que estava
logo ao lado. A vestiu não se importando em fechar os botões. Puxou a jarra de
chocolate, colocou alguns na boca e subiu no colchão sentando-se na outra
extremidade da cama. Apoiou as costas contra um dos dosséis, acomodou a
jarra entre as pernas e o encarou. – E quanto a você?
Ele riu fracamente sabendo que haviam mesmo concordado sobre aquilo. Sabia
que nenhum deles iria cumprir sua palavra com relação a aquele pequeno
acordo.
- Não há nenhum mistério nos meus envolvimentos. – optou por dizer. - O
processo é quase sempre o mesmo para cada mulher. Eu as acho bonita, as
encaro, elas vem até mim, eu as levo para cama e fim. – concluiu, pegou mais
um pedaço de chocolate e o colocou na boca.
- E quanto a Astoria Greengrass? – ela soltou e ele foi obrigado a sorrir não
acreditando que ela estava mesmo querendo discutir sobre aquilo.
Ela continuava a encará-lo com aqueles olhos curiosos. Cruzou os braços não
parecendo muito satisfeita com as respostas que recebia.
- E Parkinson?
Ele deixou o sorriso se dissipar ao perceber que não sabia responder aquele
questionamento. Pegou um pedaço de chocolate da jarra e analisou o formato
entre seus dedos por alguns segundo.
- O que é o amor pra você, Hermione? Você parece ter o dom de banaliza-
lo tão facilmente.
O silêncio que o seguiu deu a ele como único entretenimento o olhar dela.
Hermione o encarava com um olhar indecifrável e em um determinado
momento seus lábios esticaram em um fino e discreto sorriso.
- Você é uma pessoa interessante, Draco Malfoy. – foi tudo que ela
comentou.
Hermione levantou saindo da cama, deu a volta para buscar o pergaminho que
estivera lendo antes e precisou de tempo para finalizá-lo por completo
enquanto caminhava pelo quarto. Draco era obrigado a confessar que a visão
dela com nada mais que sua blusa e os pés descalços era extremamente
tentadora. A observou quando ela deixou o pergaminho de lado, caminhou até
a mesa onde haviam aberto um enorme mapa da Grã-Bretanha mais cedo, a
viu apoiar as mãos nas extremidades da mesa, se inclinar e analisar as
informações ali.
- Estudou o que eu pedi para que estudasse sobre a Ordem de Merlin? – ela
fez sua voz soar finalmente.
- Acaso eu pareço alguém que tem tempo para se enfiar em uma biblioteca
ultimamente, Hermione?
- Eu disse que está diretamente ligado ao véu. Pensei que lhe interessasse
saber o que é.
- Por que você simplesmente não me diz o que é nós trabalhamos em cima
disso?
Ela puxou o ar buscando paciência e tornou a voltar sua atenção para o mapa.
- Não acha que já tenho provas o suficiente para acreditar no que quer que
seja?!
- Draco, não é assim tão simples. Nem mesmo eu sei se o que sei sobre o
véu é o que ele realmente é.
- Por isso quer que eu estude? Para que eu me convença da sua convicção
da mesma forma como você se convenceu dela? Foi assim que mostrou a
Ordem da Fênix que eles deveriam roubar o véu? Colocou todos para estudar?
- Cale-se, Malfoy. – ela só usava seu sobrenome quando estava realmente
aborrecida e ele achava injusto que não podia fazer o mesmo. – Eu sacrifiquei
muito para que a Ordem colocasse as mãos naquele véu.
- Ele era nossa última esperança, Draco! – ela ergueu os olhos para ele
novamente mostrando o que a ferida do sacrifício que fizera ainda não havia
sido totalmente cicatrizada. Draco parou porque não gostava quando ela se
referia a Ordem e se incluía no meio. Hermione suspirou, desviou o olhar,
mexeu nos cabelos inquieta e tornou a abrir a boca, dessa vez usando um tom
de voz mais suave. – Sei que realmente não tem tido tempo. Sei que faz muito
mais sentido que eu lhe diga o que é. Sei que estou sendo incompreensiva,
mas é que realmente irá soar idiota se eu simplesmente lhe disser minhas
conclusões sobre o véu.
- Eu não sou seus amigos, Hermione. – ele optou por dizer. Ela o encarou
de volta de uma forma diferente.
O silêncio durou entre eles por alguns minutos até que Hermione finalmente
começasse:
- Não muito. Quase ninguém sabe muito sobre o que é. Nem mesmo os
Inomináveis. O véu simplesmente estava lá antes mesmo do Ministério existir.
Alguns historiadores dizem que era um instrumento usado para pena de morte
no passado, outros dizem que é um portal mal desenvolvido que gerou uma
magia irreversível. A verdade é que ninguém teve muito interesse em estuda-lo
visto que a maioria dos bruxos que tentaram acabaram sendo tragados pela
tentadora vontade de atravessá-lo. Dizem que te leva a loucura estudar a
magia do véu.
- Dumbledore sabia que iria morrer e o segredo morreria com ele visto que
era o único vivo que carregava o título de primeira classe. Ele quebrou seu voto
deixando uma carta para mim, talvez por saber que iria morrer de qualquer
forma. Dumbledore não foi específico, nem direto. Era um discurso sobre como
eu deveria ser confiante, corajosa e sempre comprometida em combater a
força das trevas. De que dias obscuros viriam, de que o medo tomaria conta de
boa parte do dia e da noite, de que o desejo de se corromper poderia se tornar
forte. – ela gesticulou - Ele usou palavras bonitas, encorajadoras, palavras que
me seguiram por muito tempo. Mas o que me trouxe muita curiosidade, foi que
no final, havia um paragrafo escrito com uma tinta quase imperceptivelmente
diferente. Como se tivesse sido adicionado bem depois. Nesse paragrafo ele
dizia, sem ligação nenhuma com as palavras do resto do texto, que se um dia
eu viesse a ser honrada com o título de primeira classe pela Ordem de Merlin,
eu deveria ser bem consciente dos segredos que ele carregava. Disse que
acreditava que eu era capacitada o suficiente para encontrá-los e carrega-los
comigo e terminou dizendo que se a Ordem de Merlin tivesse sido o que
originalmente era, talvez hoje nós carregássemos conhecimentos além de
qualquer coisa compreensível. E... – ela pausou. Sorriu discretamente. –
Dumbledore me conhecia. Ele sabia que aquilo me perseguiria mesmo que eu
não soubesse do que se tratava. Não é muito sábio que se coloque um enigma
desse com promessa de conhecimento no meio e me entregue sem que eu
tenha a chance de perguntar o “por que”. Ele sabia que eu dedicaria minha vida
a isso e eu dediquei. Por anos eu pesquisei sobre a primeira classe, sobre a
Ordem de Merlin, sobre tudo que o envolvia e eu sempre me deparava com a
mesma história contada de inúmeras formas até que eu pudesse perceber que
não encontraria nada revelador em livros de história. Comecei a ler sobre
Merlin. Pesquisei tudo que havia sobre ele. Li sobre cada homem e mulher que
recebeu as honras da primeira classe desde que a Ordem de Merlin deixou de
ser uma organização e com todas as informações que consegui montei um
quebra-cabeça cheio de espaços em branco. Espaços que somente com o
passar dos dias, dos anos, foram por si só se preenchendo até que enfim, um
dia, eu conseguisse finalmente chegar a conclusão que... – ela o encarou
sorrindo um tanto satisfeita – A Ordem de Merlin nunca surgiu como dedicatória
ao bruxo. Tudo que a história conta é distorcido. Merlin e um grupo de
alquimistas criaram a Ordem e eles eram dedicados ao estudo de magia vinte e
quatro horas por dia. No entanto naquela época trouxas e bruxos trabalhavam
juntos e os alquimistas de Merlin alcançaram um patamar de conhecimento tão
elevado, eles eram capazes de manipular e trabalhar com tudo de forma tão
perfeita e com tanta maestria que todos, até mesmo os bruxos, começaram a
se sentir ameaçados. Merlin e seus alquimistas passaram a ser conhecidos
como a Ordem de Merlin provavelmente quando a perseguição começou e
talvez devido a ela tanto do trabalho deles foi perdido.
- Sim, Voldemort fez questão de mata-los pessoalmente. Acha que ele sabe
algo sobre isso tudo? – Draco perguntou acompanhando perfeitamente o
raciocínio dela.
Hermione deu de ombros.
- Não sei. – ela soltou. – Acredito que não. Realmente acredito que não,
porque o segredo é passado somente para alguém que recebe a honra da
primeira classe da Ordem de Merlin. Veja a história. Olhe os homens e
mulheres que carregaram o título de primeira classe todos esses anos. Sempre
havia um entre eles que era grande, poderoso e influente. Eu não sei se há
algum tipo de mágica, algum feitiço, mas eu sei que esse conhecimento é
passado somente entre eles. - Ela concluiu. O silêncio os cobriu. Os segundos
passaram devagar e foi quase um minuto inteiro que se passou e ele não
comentou nada. Hermione soltou o ar parecendo um tanto agoniada com isso.
Revirou os olhos e tornou a fazer sua voz soar. – Certo! Eu sei! – ela exclamou.
– É uma história cheia de falhas, de buracos, de suposições, mas eu juro,
Draco, que passei anos estudando sobre isso. Eu juro que fiquei dias trancada
no meu quarto, com pilhas e mais pilhas de livros, jornais, pergaminhos, cartas
antigas, cópia de arquivos oficiais. Eu juro! Essa foi a minha conclusão, mas o
que quer que seja o arco e o véu, a Ordem esta conseguindo formas de extrair
o poder contido nele. Devagar e com dificuldade, eu posso pressentir, mas o
suficiente para causar o estrago que está causando.
- Seja o que for, estou trabalhando com sua comissão. Eles são bons, mas
poderiam ser bem melhores. – levantou as mãos em sinal de paz quando Draco
tomou ar, mas ela não lhe deu chance de falar. – Ok! Prometo tomar cuidado
para separar os mais confiáveis dos fiéis a Voldemort. – ele sorriu em resposta
e se levantou. Ela mordeu os lábios quando o viu caminha até ela. – E eu me
odeio por ter que confessar o quanto te ver assim me faz tão fraca.
Ele teve que rir. Passou seus braços pela cintura dela e aproximou bem seu
rosto para poder sentir o delicioso cheiro de rosas que sempre ficava
impregnado em sua pele.
- Sei disso. – ela usou o mesmo tom de voz, aproximou-se e deixou que o
lábio inferior dele escorregasse por entre seus dentes mais uma vez. – Mas não
pense que é o único que tem poder aqui. – disse e o tocou. O tocou com aquela
propriedade que ela tinha, com aquelas mãos macias, do jeito exato que o faria
reagir com muita rapidez.
Ele logo enterrou seu rosto contra o pescoço dela sentindo a vibração em sua
garganta o entregar. Sorriu.
- E eu odeio ter que confessar que adoro quando faz isso. – encarou
aqueles olhos dourados, olhos que ele mal conseguia decifrar a maioria das
vezes. Nunca havia se interessado pelos olhos de uma mulher tanto quanto os
dela.
- Pelo menos há algo que gostamos um no outro. – ela disse e ele teve que
rir.
Batidas na porta chamaram sua atenção e ele se sentou e pediu para quem
quer que fosse que entrasse. Uma mulher loira e de rosto fino passou para o
lado de dentro acompanhada de um moreno alto. Chefes de acampamento.
Draco encarou ambos com os cotovelos em cada joelho ainda de sua cama.
- Sua mulher e sua mãe enviaram corujas essa manhã. – a mulher falou
estendendo dois pedaços de pergaminho dobrados e selados com o brasão de
sua família.
Draco pegou informando um agradecimento silencioso apenas com um aceno
de cabeça.
- Não para mim. – Draco sorriu um sorriso sincero. – Quero ir para casa.
Levantou-se, tirou sua capa, sua blusa e os sapatos. Usou a varinha para
inspecionar as magias de segurança e reforçar algumas de privacidade naquele
lugar novo onde passaria a noite e primeiro se focou na carta de sua mãe. Ela
reclamava sobre todos os compromissos que Hermione estava precisando
atender sozinha e sobre como isso era ruim para a imagem da família. Mas
mesmo depois de todas as palavras objetivas e racionais que sua mãe sempre
usava, ela perguntava se ele estava bem, e então ele sorria porque sabia que
ela queria ter feito aquela pergunta antes de todas as outras, mas havia a
deixado por último porque era uma Malfoy e era assim que deveria agir.
“Acredito ter uma teoria sobre o porque a Ordem está capturando comensais.
Sei que a forma como nos comunicamos é bastante segura, mas não vejo a
necessidade de arriscar nem mesmo debaixo dessa segurança. Também
acredito ter encontrado uma forma de quebrar a nova magia que a Ordem vem
usando nos ataques. Vamos testar amanhã, então se conseguirmos sucesso
vou precisar da sua autorização para começarem a treinar quem estiver no
quartel. Procure não me boicotar dessa vez, querido. Eu sei o que estou
fazendo. Tenha mais um pouco de confiança. Não vou roubar seus homens. O
exército continua sendo seu.” Houve uma pausa onde ele só sabia que a
mensagem não havia terminado porque podia escutar o som da respiração dela
muito distante, quase inaudível. “Volte para casa.” Ela concluiu e ele soube que
aquilo era tudo que ela tinha para dizer.
Eu vou. Sorriu. Tudo que queria era estar em casa. Pediu para que a
mensagem fosse tocada novamente e céus, como era bom ouvir a voz dela. O
fazia sentir como se estivesse em seu escritório, com um bom copo de whisky
na mão a vendo andar de um lado para o outro sobre seu salto enquanto falava
tudo aquilo. Draco respondeu mesmo sabendo que estaria em casa no dia
seguinte, ela receberia a carta logo pela manhã e ele ainda estaria preso a um
discurso aquele horário.
“Sem truques dessa vez, querida. Não me importo que esteja encontrando uma
forma de ser útil. Pelo contrário. Sem ressentimentos. E sei que talvez deva
estar aproveitando ter a cama só para você, mas sabe que a sorte não irá durar
por muito tempo.” Concluiu, selou o pergaminho e o mandou de volta junto
com o de sua mãe.
**
Seu discurso foi encorajador e um tanto ousado, mas ele sentia que podia
arriscar. Aquelas pessoas acreditavam que estavam seguras com o exército
dele ali. Que enquanto Draco Malfoy estivesse liderando aqueles homens e
ditando ordens, eles estariam seguros de qualquer ataque da Ordem. A Ordem
havia se tornado um inimigo. Invadiam suas casas procurando por apoio e
pagavam qualquer preço para ter controle do território, mantê-lo longe de
comensais, e era dessa forma que os inocentes pagavam, porque comensais
não poupavam quem apoiava rebeldes e quem estava no poder eram os
comensais. Era mais seguro estar do lado de quem tinha o controle, o poder, a
influência. Draco Malfoy era a resposta deles, porque Voldemort estava muito
ocupado sentado em seu trono, no átrio principal da Catedral, torturando e
matando por divertimento junto com seu ciclo interno.
Tinha uma chave de portal marcada para logo após seu discurso, mas como
sempre, em tempos instáveis como aquele, teve que tomar um rumo diferente
para atender um chamado que vinha negligenciando há um tempo por priorizar
apenas regiões sob ataque nos últimos meses. Pelo menos não teve que deixar
o Reino Unido. Em Manchester, uma das comunidades bruxas mais influentes
da área estavam pedindo por reforços na segurança alegando vários grupos de
apoio aos rebeldes dentro da comunidade. Draco teve que lidar com aquilo, o
que lhe consumiu tempo. Foi capaz de pegar sua chave de porta já era quase
fim de tarde.
Passou por todos as etapas de segurança assim que apareceu na entrada sul de
Brampton Fort e quando saiu da área de retenção na muralha encontrou a
aterrorizante imprensa do lado de fora com suas máquinas fotográficas e suas
insuportáveis perguntas lançadas ao ar, uma mais alta que a outra, como se
ele fosse parar para dar atenção. Não tinha paciência, não agora. Estava grato
apenas por ver sua mãe o esperando. Ela quase não se dava ao luxo de
demonstrar tanto afeto assim em público.
Ele riu.
- Eu sei com quem sou casado, mãe. Só quero saber onde ela está.
- Não Catedral, como sempre. Ela parece acampar naquele lugar. –
respondeu sua mãe. – Não gosto disso.
- Não gosta que ela seja útil para coisas realmente uteis? – ele sorriu para
ela. – Desista, mãe. Hermione não é o tipo de mulher que você sonhou como
nora a vida inteira.
Ela suspirou e parou antes de entrar em sua carruagem assim que a porta foi
aberta.
- Eu sei que você acabou de voltar das férias com seus amiguinhos de
guerra. Vou apenas te lembrar que desse lado da muralha nós ainda presamos
pelo senso da honestidade com moderação, obrigada.
Ela assentiu.
- Vá para casa, descanse durante o pouco de tempo que ainda tem e, pelo
amor de Merlin, seja pontual hoje a noite. – ela falou.
Draco apenas assentiu, beijou a testa de sua mãe, deu as costas e seguiu para
sua carruagem que o esperava.
**
- Eu quero que ela saia dali agora! – Draco sabia que não tinha como parar
naquele ponto e não se importou em aumentar o tom de voz. – Por que ela
está ali sozinha? Mande ela sair! Abra os microfones! Ela tem que sair!
- Chega, eu vou descer! – Draco soltou sentindo que poderia suar frio ali ao
vê-la estender a mão com uma coragem e prepotência, mostrando todo o
interesse de enfrentar o ataque que receberia sozinha.
- Não pode. – uma mulher foi quem disse. – Nós arrumamos o cenário
apenas para um.
- Draco? – a voz dela soou pelo mezanino como se ela estivesse ali entre
eles. – Não é o melhor momento para dizermos “oi” um para o outro. Corey,
corte o microfone, por favor. – ela pediu ao chefe da comissão.
- Hermione, você vai sair daí exatamente agor... – ele se calou ao ver que
sua voz havia sido cortada. Encarou Corey Brant quase que no mesmo instante.
Não pensou duas vezes e avançou contra o homem, e parece que todos os
outros tentaram segurá-lo. – COMO TEVE CORAGEM DE COLOCAR MINHA
MULHER EM UMA SIMULAÇÃO? ELA NÃO É NEM MESMO TREINADA!
Draco sentia seus dedos apertarem cada vez mais forte a barra de ferro que o
separava do vidro. Ele sabia que teria uma esposa no hospital por meses se
alguma daquelas coisas a atingisse. O grupo de Brant anunciava a ela alguns
pontos da magia usando nomes que ele não conhecia.
A cada minuto que se passava mais coisas pareciam ganhar vida. Ele
finalmente entendeu o que ela estava tentando conseguir. Ela queria impor-se
sobre a magia, mostrar domínio, mostrar quem tinha mais poder e que
conhecia com o que estava lidando. Ela parecia tentar isso atingindo pontos
fracos que agora ele podia notar. Se ele tivesse conhecimento disso antes, as
batalhas que havia enfrentado o tempo que estivera fora de Brampton Fort
teriam sido mais fácil.
- Não. Não me faz sentir como se fosse magia negra. – Ela respondeu. -
Estou tentando encontrar uma forma de dissipá-la, desativá-la, desliga-la, mas
parece ter vida própria. É como se apresentar para um Hipogrifo. Eu mostrei
que tenho poder, mas preciso ganhar a confiança.
- Como ela conseguiu fazer com que a deixassem ser parte da simulação? –
ele apenas perguntou. Era estritamente proibido, para qualquer tipo de
comensal, entrar em uma simulação sem treino. Independente de quem fosse.
- Não haja como se não soubesse no que acabou de se meter. – ele não
usou do mesmo tom dócil. Ela apenas riu em respostas. Carregava os sapatos
em uma mão. Sua varinha continuava na outra. Estava suada e ainda um tanto
ofegante. – Você está parecendo uma criança bem arrumada que passou a
festa de aniversário inteira correndo.
Ela estreitou os olhos ainda com aquele sorriso vivo e lindo nos lábios.
- Não seja tão ingrato, estou te ajudando na guerra. – ela se distanciou dos
bruxos da comissão passando a ir em direção a saída e Draco a seguiu. –
Também não faça esse drama de preocupação ou vou começar a acreditar que
realmente se importa. Até onde sei não iria gostar que isso acontecesse. Nunca
me ordenou para deixar um campo de batalha quando eu costumava me
colocar a frente dos seus homens antes de me capturar. – ela empurrou a porta
do ginásio e eles deram para o corredor. – Na verdade nós tínhamos uma
seleção de bruxos da zona sete que iriam fazer a simulação hoje, mas nenhum
deles pareceu ter potencial o suficiente para enfrentar a magia quando fizemos
alguns testes mais cedo. Então me voluntariei. Eles sabiam que não podiam me
ter na simulação, por isso acabei abusando um pouco do poder do sobrenome
Malfoy. Portanto não ouse demitir ninguém... – ela continuou a falar e ele
deixou. Deixou porque ela parecia tão viva, como se tivesse sido privada de
todo o seu potencial por décadas. Ele deixou porque a voz dela era
absolutamente refrescante e encantadora. Ele deixou porque nunca havia a
visto com aquele humor e era maravilhoso poder ver de onde ela havia saído
quando perdera a filha para agora. Ele deixou porque se perguntava se era
assim que ela se comunicava com seus companheiros na Ordem. Ele deixou
porque sentia falta. Falta da presença, da voz, da companhia, da inteligência
dela. - ...pensamos que não seria uma boa ideia incluir essa ação específica no
plano para tomar York novamente, o que eu me sinto na obrigação de dizer que
está sendo adiado sem necessidade... – ela virou uma das esquinas tomando a
direção de um dos lavatórios mais próximo e foi exatamente naquele momento
que ele não se segurou, não pensou duas vezes, nem mesmo hesitou.
Parou e a segurou pelo pulso fazendo com que ela se voltasse para ele.
Quebrou a distância no mesmo momento com apenas um passo. Enfiou os
dedos pelos cabelos de Hermione e colou sua boca contra a dela. Um beijo tão
simples e mesmo assim seu peito queimou quase que no mesmo instante com
a sensação de satisfação que era tê-la tão próximo. Não era nada parecido com
o que ele costumava fazer com as mulheres. Não era como se estivesse
encurralando contra a parede uma mulher que ele tinha o desejo de levar para
cama uma vez ou duas. Havia feito isso a vida inteira. Hermione era diferente.
Ela era sua mulher. Estaria com ele no caminho para casa, durante o jantar, na
cama que passariam a noite, no café da manhã do dia seguinte e ainda assim
ele queria colocá-la contra a parede.
Quando ela se distanciou e ele abriu os olhos para poder encarar de tão perto
os dela, seu coração pareceu comprimir-se num ponto minúsculo e logo depois
expandir-se infinitamente, quase que ao mesmo tempo. Parecia ter ficado longe
dela por anos, não por um mês apenas. Queria tocá-la como se quisesse ter
certeza de que realmente era ela e ali ele soube que definitivamente havia
voltado para casa. Ela era sua casa. O fazia realmente sentir que estava em
casa. O fazia desejar pelo simples momento que estaria sentando em uma
mesa próximo a lareira de uma de suas salas respondendo algum correio
enquanto a tinha não muito longe sentada em uma poltrona folheando um livro
qualquer.
Deslizou os dedos pela pele macia de seu rosto. Ela soltou os sapatos e ao
mesmo tempo em que subiu na ponta dos pés e o cercou pelo pescoço, Draco
tornou a colar sua boca contra a dela, dessa vez abrindo espaço por entre seus
lábios, provando seu sabor tão familiar, sentindo todas as sensações que aquilo
lhe provocava. A cercou pela cintura colando aquele pequeno corpo contra o
dele. Céus, ele deveria ter feito isso bem antes! Deveria ter feito isso bem
antes, quando desceu as escadas do mezanino para encontrá-la. Deveria tê-la
segurado desse jeito na frente de todos aqueles bruxos.
No instante seguinte, quando o ar começou a ficar pouco entre seus rostos, ele
a arrastou até tê-la contra a parede. A segurou pelas coxas quando levantou
aquelas belas pernas para tê-las em volta de seu quadril. Sua mão começou
um trabalho minucioso assim como sua boca passou a tomar o rumo de seu
pescoço.
Ela pareceu desconcertada por alguns segundos. Mordeu os lábios e por fim
sorriu.
- Digamos que não gostaríamos que eu ficasse grávida tão cedo. – ela
disse.
E foi interessante porque ela usou os dedos para brincar com os cabelos de sua
nuca como normalmente fazia enquanto entravam em um estado de silêncio.
Era completamente estranho, mas ele não queria se separar do corpo dela.
- Não sei. – ele respondeu. – Acredito que não por muito tempo. – A guerra
era inconstante. Ele conhecia aquilo e sabia que ao mesmo tempo que tinha a
certeza de que poderia passar um final de semana inteiro ali, sabia que poderia
receber um chamado naquele exato momento sobre algo que não havia
previsto.
Os dedos dela desceram e subiram sua nuca e ele não se moveu. Apenas
fechou os olhos e se concentrou no quanto queria ter vivido aquilo no último
mês. Como havia conseguido ficar tanto tempo longe de uma sensação tão
acolhedora?
- Eu não quero que você vá. – ela disse com aquela voz macia e baixa.
- Porque a Ordem não sabe com o tipo de poder que está lidando. Estou
esperando pelo momento em que eles usarão algum tipo de magia que nenhum
dos lados poderá controlar e eu não quero que esteja presente quando isso
acontecer. – ela explicou e ele apenas sorriu.
Ele não havia esperado por aquilo. Admirava o quanto ela conseguia ser sincera
as vezes. Ele não tinha essa mesma capacidade. Guardava tudo para si e não
tinha a menor coragem de expor nada. Sabia que muita coisa a respeito de
como via a vida era distorcido demais para ser expressado. Apenas assentiu em
resposta a ela.
- Sabe que uma hora ou outra vamos acabar enfrentando os motivos que
nos torna loucos por cogitar não odiarmos um ao outro, não sabe? – se viu
dizer.
Hermione desviou o olhar como se aquilo fosse algo que a atormentava todos
os dias. Como se sempre estivesse tentando encontrar um motivo para se
desviar daquele pensamento. As pernas dela deixaram seu quadril e Draco se
afastou.
Ele assentiu em resposta. Ela continuou parada como se esperasse que ele
fizesse algo ou dissesse algo. Foi um estranho momento de silêncio. Estranho e
incomodo o suficiente para fazê-lo colocar as mãos no bolso, passar por ela e ir
embora.
Enquanto seus passos tomavam o caminho para longe da área da zona sete,
ele só conseguia pensar uma coisa. Hermione havia praticamente acabado de
lhe dizer que via razões para deixar de odiá-lo, mas que ainda estava presa a
coisas que pareciam muito mais fortes do que isso. Draco não tinha a menor
ideia do que pensar em relação aquilo. Sabia apenas que soava como um aviso
e tudo nele gritava para recuar, porque, de repente e pela primeira vez, a
mínima chance de virar a moeda que carregara com Hermione por tanto tempo
pareceu assustadora.
26. Capítulo 26
Theodoro Nott
Desceu as escadas que davam direto para o hall principal e assim que saiu para
o pátio sul onde sua carruagem o esperava a raiva ficou entalada em sua
garganta quando foi seguido pela imprensa. Estava cansado. Havia publicado
sua sutil justificativa e mesmo assim eles ainda o seguiam gritando seu nome e
perguntas diretas demais para serem respondidas.
Fazia quase um mês que Hermione armara uma bendita conferência pública por
suas costas e soltara informações de seu departamento que o acusavam como
sendo um corrupto, o que na verdade ele era. Sim, ele havia acabado com o
trabalho que ela fizera com as Casas de Justiça no momento em que ela se
ausentou da Catedral, mas a verdade era que ela não entendia que estava
lidando com um mundo de comensais e não com a velha bancada de
conselheiros da Corte Superior do Ministério da Magia, composta de homens
que haviam vivido a utopia de um ideal nobre e honrado.
Fugiu como pode se fechando em sua cabine segundos depois. Parou alguns
minutos para fechar os olhos e se livrar do ódio que tinha quando a imprensa
lhe perseguia em momento que tinha que justificar algum erro que havia
cometido. Maldita cidade! Aquele lugar era cheio de hipócritas! Pessoas que o
acusavam de corrupto como se fossem os seres mais santos a andarem sobre a
face da terra. Soltou o ar e bateu duas fezes na madeira a suas costas, não
demorou e entrou em movimento.
E era apegado com a ainda chance de se tornar a mão direita do mestre que
ele não desistia. Assim que sua carruagem chegou aos portões da mansão de
Draco Malfoy na Vila dos Comensais ele teve que descer e usar a varinha para
persuadir a segurança deixa-lo passar. Ele não era bem vindo. Nunca era bem
vindo.
Quando bateu a campainha da porta principal foi recebido pelo elfo doméstico
da casa que o mandou embora informando que Hermione havia dito que a
próxima vez que usasse algum feitiço nos seguranças para invadir sua
propriedade seria reportado a Catedral com risco de que seu nome fosse parar
na imprensa mais uma vez. Theodoro apenas chutou a elfa abrindo passagem.
Sabia onde Hermione estaria e conhecia a casa de Draco.
- O que fez com minha elfa? – ela perguntou usando um tom seco e nada
convidativo.
- Deveria contratar uma equipe de funcionários para essa casa como todo
mundo faz. Ajudaria na segurança. – ele disse.
- Nott, você sabe que poderiam te mandar para Askaban pelo que faz todas
as vezes que invade minha casa, não sabe? Eu tenho poder para levar isso para
o Ministério e longe das suas Casas de Justiça corruptas alguma bendita alma
honesta por lá te jogaria aos Dementadores!
Theodoro riu.
- Acha que pode me ameaçar com o nome de Draco? Acha que Draco me
dá medo? – ela não entendia nada sobre aquele mundo. – Draco é um amigo,
Hermione!
Ele revirou os olhos. Hermione e seus discursos moralistas. Era uma qualidade,
sem dúvida, admirável nela, a tornava linda por dentro também, mas ao
mesmo tempo a tornava ingênua demais para aquele mundo.
- Me deixe dizer algo sobre Draco e eu que você não entende, Hermione! –
ele se aproximou e começou cansado. – Faço parte de uma das oito famílias
mais poderosas da Grã-Bretanha. Quando entrei em Hogwarts, esperava que as
pessoas se ajoelhassem para que eu passasse. Isso até perceber que um
Malfoy dividia o ano comigo. Um Malfoy! Ninguém compete com um Malfoy! Eu
detestava ter que dividir minha soberania com Draco Malfoy, assim como Draco
Malfoy detestava que eu sempre estivesse o lembrando que havia competição
entre nossos nomes. Mas, - ergueu o indicador. – não podíamos destruir um ao
outro. Não podíamos passar a perna um no outro, não podíamos nem ousar
humilhar um ao outro, porque a nossas famílias tinham negócios. Nessa
momento você deve estar pensando que idiotice lembrar dos laços entre nossas
famílias! Éramos apenas adolescentes! E é exatamente nesse ponto que me
parece que você ainda não conseguiu entender sobre ser uma Malfoy! – ele se
aproximou mais. – Quando se nasce com um sobrenome poderoso, as
responsabilidades de carregá-lo são nos ensinadas desde quando começamos a
dominar a língua que falamos. Adolescentes como éramos, já sabíamos que
iramos crescer, que iriamos assumir as cabeças de nossas famílias por sermos
primogênitos. Sabíamos que teríamos que lidar com os negócios. Não podíamos
criar rivalidade. Criar guerra entre as famílias poderosas nos faz fracos. Uma
das primeiras lições que nos são ensinadas: Não se mexe na posição natural da
nossa hierarquia. Tivemos exemplos o suficiente na história para no provar o
quanto ficamos vulneráveis quando há guerra entre nós! Agora que sabe de
tudo isso, me deixe esclarecer como eu e Draco funcionamos em uma
linguagem bem simples: As vezes nós estamos de bem um com o outro, as
vezes estamos de mau, mas nunca, absolutamente nunca, damos as costas um
ao outro.
- E o que foi que estava tentando fazer usando a secretária de Draco, Nott?
Não chama isso de dar as costas?
Ela soltou o ar pela boca e fechou os olhos como se estivesse sem paciência.
- Saia da minha casa, Nott. – foi tudo o que disse.
- Volte para o meu departamento, por favor. – pediu e suavizou seu tom.
- Não dá para acreditar que ainda insiste nisso. – ela o encarou incrédula. –
Descobri destruiu todo o meu trabalho e quer que eu volte para o seu
departamento? Acha que eu sou estúpida! Eu já disse que não vou voltar!
Quantas vezes vai ter que invadir minha casa para me escutar te dar a mesma
resposta?
- Vou invadir sua casa até parar de ignorar minhas chamadas e vou insistir
para voltar até que diga “sim”. – ele foi bem claro.
- Não vai acontecer! – ela subiu uma oitava e dessa vez foi ela quem se
aproximou mostrando de vez sua impaciência. – Eu sei que Voldemort está por
trás disso! Ele quer me deixar longe da guerra! Está usando você e o seu
departamento para isso! Eu já disse que não sou idiota e depois de descobrir
que estragou meu trabalho você já deveria saber disso muito bem! – Ela
ofegou. Ele soltou o ar frustrado por não sabendo mais o que dizer para ela.
Sim, já acreditava que ela soubesse sobre as intenções do mestre em mantê-la
presa ao seu departamento e longe da guerra, mas ele havia falhado nessa
tarefa. – Sei que se eu voltasse para o seu departamento seu nome ficaria
limpo da noite para o dia, mas eu sei que não é isso que o move porque pode
limpar seu nome a hora que quiser com o poder que tem. Por que insiste tanto
nisso? O que está tentando provar ao seu mestre?
- Eu queria estar fazendo isso apenas para prová-lo que posso te colocar no
curso inicial novamente. Você não tem nem ideia do quanto eu queria estar me
rebaixando a esse estado apenas para isso, Hermione. – ele disse sentindo que
não deveria entrar naquele campo. Ele não queria fazer nada estúpido
novamente. – Não tem ideia do quanto eu gostaria que fosse apenas por esse
único motivo, mas acredito que se eu quisesse realmente provar algo ao
mestre eu já teria desistido faz um bom tempo.
Ela o encarou por um momento completamente confusa, mas ao mesmo tempo
não deixou sua postura se desfazer por nenhum segundo.
- Eu não acredito que você tenha qualquer outro motivo, Nott. – ela
retornou para aquele olhar completamente seguro ao dizer aquilo.
Ele riu fracamente enquanto encarava aquele belo rosto confiante a sua frente
que parecia muito mais lindo sem a maquiagem que ela era obrigada a usar.
Não esperava que ela entendesse. Hermione já havia se apegado a sua imagem
relacionada com a de Voldemort.
Theodoro a segurou pelo pulso quase que imediatamente. Não havia calculado
aquele movimento, mas agora era tarde demais.
- Não. – disse assim que a viu voltar-se para ele novamente. – Escute, eu
sei que tudo isso soou patético. Você não precisa acreditar, certo?! Por isso
mesmo prefiro que acredite que estou insistindo que volte para o meu
departamento por causa do mestre, o que também não deixa de ser uma
verdade. Mas entenda, Hermione. Você é uma Malfoy. É a mulher de Draco. Eu
não quero problemas com isso. Tento dar as costas, tento me afastar, tento me
convencer que ganhar um ponto com o mestre é tudo que realmente me move,
mas então eu te vejo... – se aproximou e tocou o rosto dela. – Quando eu te
vejo consigo perceber o quanto sou idiota por tentar mentir para mim mesmo.
- Não, Theodoro. Vá embora... – ela tentou se afastar, mas ele não a
deixou ir.
- Não, Hermione! Me escute, porque essa vai ser a única vez que vou dizer
isso! Eu entendo que me veja como mais um vilão dos outros milhões que a
cercam aqui nessa cidade, mas você me afeta. – ele se viu angustiado por
saber que aquela era uma frase que ele usava com qualquer outra quando
encontrava uma mulher um pouco mais difícil de se levar para cama. Nunca a
faria entender o que aquilo realmente significava para ele. – Você me afeta de
uma forma diferente porque eu a admiro por tudo aquilo que já te disse. – ele
se aproximou ainda mais. Ela não recuou. – E... – ele não sabia mais o que
dizer. Também não se via muito capaz de raciocinar com a forma como ela o
encarava.
Os olhos dela pareciam ter o poder de transportá-lo para outra dimensão ali tão
de perto. Os lábios dela semiabertos eram absolutamente convidativos e ele
sentia a necessidade de tocá-los porque pareciam tão absurdamente macios.
Ele se perguntava qual seria o sabor dela. Qual seria a sensação se a beijasse e
foi exatamente naquele momento que ele, impulsivo como conseguia ser,
venceu a distancia entre suas bocas.
A sensação pareceu subir por suas veias empalhando-se por cada pedaço de
seu corpo fazendo-o quase querer fundir-se a ela. A macies daqueles lábios, o
cheiro delicioso do banho que ela havia acabado de tomar, o calor do corpo
dela. Ele não ousou tentar se aprofundar, abrir caminho pela boca dela, provar
de seu sabor. O que tinha já parecia demais para o que realmente merecia, só
não conteve cercá-la pela cintura.
Hermione não se moveu, não recuou, não o empurrou, mas também não
respondeu. Theodoro percebeu as consequências do que fazia apenas quando o
estrondoso barulho da porta principal batendo sem piedade o fez afastar-se
dela. Hermione mostrou-se assustada quase que no mesmo segundo e então
ambos viram a figura de Draco Malfoy os encarando.
Hermione Malfoy
Hermione não conseguiu reagir. Sentiu-se como uma pedra quando nem se
mover conseguiu. Draco não a encarava, ele parecia não reconhecer que ela
estava ali, mas em compensação Theodoro, ao seu lado, recebia toda a
atenção. Não havia nada próximo a raiva ou fúria no olhar de Draco.
Claramente não era nada próximo ao amigável. Ele apenas mantinha a frieza e
neutralidade que lhe era sempre constante.
- Não me faça contar para te ver fora da minha casa. – Draco finalmente
tornou a abrir a boca. Theodoro não se moveu. – Você sabe muito bem que não
vai querer me desafiar, Theodoro. – disse ele ao vê-lo resistir.
Eles continuaram se encarando ainda por mais alguns segundos. Hermione não
ousava nem mesmo olhar para Theodoro. Talvez ele estivesse desafiando Draco
durante aquele silêncio.
- Draco... – ela foi calada apenas pelo olhar que ele lhe lançou. Não era
ameaçador nem expressava raiva, mas era frio e neutro, exatamente como o
que ele usava para encarar Theodoro. Hermione percebeu que não se lembrava
da última vez que recebera dele aquele olhar.
Theodoro desviou o olhar para ela e ela respondeu lançando o seu para longe
do dele. Talvez aquilo tivesse o feito cair em si, porque não demorou e ele
passou por Draco e saiu batendo a porta sem o menor cuidado.
Draco desceu seu olhar frio pelo corpo de Hermione. Ela então percebeu que
não estava usando nada muito bem apropriado. Não entendeu o porque sentiu
as maças de seu rosto esquentarem. Ela não queria deixar que ele pensasse
que ela estivera fazendo qualquer outra coisa com Theodoro que não fosse
tentar expulsá-lo de lá.
- Espero que não tenha usado nossa cama. – foi tudo que ele comentou,
passou por ela e continuou seu caminho.
- Draco, eu não...
- Eu não quero saber, Hermione. – foi o que disse. – Você não quer saber
sobre os meus casos. Eu não quero saber sobre os seus.
Ela não teve coragem para rebater nem continuar insistindo em querer se
justificar. Primeiro porque se sentia frustrada ao tentar encontrar uma
justificativa que não soasse estúpida, segundo porque não precisava fazer com
que ele soubesse que ela não tinha outro homem quando era bem consciente
que ele tinha muitas outras mulheres.
Cobriu o rosto assim que Draco subiu pela escada principal e sumiu no andar
superior. Soltou o ar frustrada por estar confusa. Por alguns segundos ela havia
acreditado que Theodoro realmente tivesse dito a verdade, talvez por isso
tivesse o deixado beijá-la. Os olhos dele expressavam tanto sinceridade que ela
havia se deixado acreditar. Se ele estivesse mentindo era muito bom com
farsas.
Tentou não se concentrar naquilo quando voltou para a cozinha para organizar
a bagunça que havia feito. Estava acostumada a jantar no mesmo horário todos
os dias e detestava quando era obrigada a participar daqueles eventos durante
a noite onde tinha que esperar pela comida e fazer social com dezenas de
pessoas que sabia que a odiavam.
Quando subiu para o quarto Draco estava tomando seu banho. Dedicou-se na
tarefa de escolher uma boa roupa e quando finalmente conseguiu chegar a
duas opções sentou-se em sua penteadeira, puxou todo o cabelo para um lado
e começou a trançá-lo do topo. Enquanto seus dedos trabalhavam sua mente
não conseguia parar. O olhar que Draco havia a lançado, o tom de sua voz, ela
sentia que precisava concertar aquilo, mas se sentia ridícula quando se
lembrava que ele também tinha suas outras mulheres. Não havia nada para ser
concertado. Ele havia dito que não queria saber, ela tinha que deixar aquilo
passar.
Draco apareceu não muito tempo depois. Hermione o observou pelo seu
espelho enquanto ele se ocupava na atividade de vestir-se. Muitas vezes
quando apenas o observava acabava concluindo que nunca em sua vida teria
tido a chance de conquistar um homem poderoso, bonito e influente com ele.
As vezes usava esse único pensamento quando sentia que tudo em seu
casamento era uma completa maldição. Se apegar a coisas superficiais nunca
foi algo que a definisse, mas quando se tratava da beleza de Draco Malfoy ela
até chegava a considerar.
Os olhos dele se cruzaram com o dela pelo espelho. Hermione ficou apenas
esperando. Estava tentando conversar o que já havia planejado para conversar
com ele, como se tudo estivesse normal.
- Trinta. – Draco respondeu de uma vez, mas seu tom de voz não mostrava
o mínimo interesse. Talvez ele estivesse querendo apenas passar por aquela
conversa o mais rápido possível.
- Não está dando muito certo. Todos os trinta nomes que não foram
identificados como mortos em batalha ou em serviço estão mortos agora. – ele
disse parando para escolher a gravata que iria usar.
Hermione se viu frustrada ao vê-lo tratar aquilo como uma simples conversa
sobre o tempo. Virou-se em sua cadeira para poder encará-lo diretamente.
Ele parou. Soltou o ar pela boca como se não estivesse com paciência e virou-
se para ela.
- E não estou.
- Sim, está! – aquela situação estava a irritando. – E sabe por que acredito
que está? Porque viu Theodoro me beijar assim que entrou em casa.
- Não! Você não tem o direito de ficar irritado, Draco! – ela estava
completamente pronta para desafiá-lo e aquilo pareceu finalmente enfurece-lo.
- Sim eu tenho! – ele voltou-se para ela novamente. – Quantas vezes nós
já discutimos sobre Nott? Quantas vezes você mesma disse que ele era alguém
para se tomar cuidado? Estava me fazendo de idiota ou era apenas uma
estratégia para nunca me fazer cogitar um caso entre vocês? Além do mais,
você sabe que Nott e eu não estamos sob bons termos ultimamente e me faz
vê-lo exatamente dentro da minha própria casa! Você quer que eu aplauda o
que vi, Hermione? Quer que eu a cumprimente? Se caso precisar de uma
plateia para a próxima vez, posso conseguir para você!
- Eu não deveria ficar surpresa por escutar isso de alguém que sempre
pensou tão baixo de mim! – ela não queria gritar, mas segurar sua voz era um
desafio naquele momento. – Eu não sou você! Eu não tenho todos os homens
dessa cidade na minha cama! Eu não preciso disso! Mas você não tem nem
ideia do que é viver em um lugar onde sabe que cada rosto que te olha te
odeia! Sou uma Nascida Trouxa em uma cidade abarrotada de comensais! Sou
obrigada a escutar hipocrisia jorrar da boca das pessoas que falam comigo
todos os dias. Me tratam como se me respeitassem, como se me admirassem,
mas a verdade é que eu vejo o preconceito escondido no olhar delas. – Sua
garganta ardeu e ela engoliu o gosto amargo das próprias palavras. Piscou para
não deixar seus olhos embaçarem. – Theodoro gosta de mim. – continuou –
Pode ser uma mentira, uma jogada, uma armadilha, mas você não tem ideia do
quanto é confortante e acolhedor escutar o que ele me disse hoje depois de eu
ter vivido um ano no que mais parece uma caverna escura, fria e vazia. – ela
finalmente se viu entender como Theodoro havia feito com que ela se sentisse.
– Não sou sempre racional, Draco. Sou humana. Não uma máquina. Não uma
pedra. Ele fez com que eu me sentisse bem por alguns poucos segundos e isso
é tão raro quando se vive aqui. – suspirou - Você não entenderia.
Ela não queria continuar, não queria continuar a se ridicularizar. Ele já havia
deixado claro que pensava bem mais baixo dela. Não era obrigada a provar
nada para ele. Não precisava mostrar quem realmente era, acreditava que suas
ações já tivessem a capacidade de fazê-lo compreender quem ela era.
Aparentemente suas ações haviam o feito acreditar que era uma mulher que
precisava da atenção masculina em massa.
O silêncio entre eles não durou muito porque Draco não parecia nada contente
com o que havia escutado. Ele puxou a gravata do pescoço e a lançou contra o
chão soltando um palavrão. Informou que precisava de uma bebida como se
quisesse matar alguém e saiu batendo a porta tão forte que a fez recuar.
Hermione sabia que aquele era, finalmente, o fim da compreensão e educação
que ele havia desenvolvido com ela desde de que perdera a filha.
Draco Malfoy
Ele também a fazia se sentir bem. Pensou lançando um rápido olhar para o gelo
no copo de whisky em sua mão. Apoiou-se sobre o parapeito da varanda de seu
quarto e encarou o imenso jardim dos fundos de sua casa. O inverno sempre o
lembrava mais de quando seu treinador o prendia em lagos congelado sem
oxigênio e sem varinha para que conhecesse seu instinto de sobrevivência do
que frio, neve, natal, ano novo e todas as malditas festividades da estação.
Virou um gole de sua bebida e deixou o vento gelado ativar sua resistência.
Encarou o copo em sua mão. Tinha gravado em sua memória todas as vezes
que fizera Hermione gritar durante o sexo. Todas as vezes que a fizera perder o
controle de si mesma. Todas as vezes que a tocava e a sentia estremecer. Ele
sabia sim fazê-la se sentir bem.
Sexo. Soltou o ar com uma risada fraca e encarou o horizonte. Nada mais
superficial do que sexo. Era idiota por julgar Hermione como alguém superficial.
Era idiota também por tê-la acusado de ser como Pansy Parkinson. Já havia
vivido com ela durante um ano para saber que não havia nela nada que o
fizesse lembrar de Pansy. Hermione não era o tipo de mulher que se satisfazia
por ter uma dúzia de homens a seguindo, ela era o tipo que apenas não se
importava.
Ele não tinha o direito de se irritar pelos casos dela, nem de se incomodar por
isso, mas quando se lembrava que não encostava em nenhuma outra mulher
que não fosse ela por meses, a ideia de imaginá-la com outro o consumia. E
não tocava em outra mulher por escolha. Hermione estava ali para ele todos os
dias e ele se via cada vez mais ser tragado por ela, mesmo que não a tocasse,
ela havia se tornado parte de sua rotina, parte de seu pensamento, parte de
algumas de suas expectativas, parte do seu futuro e cada vez menos ele se via
tentado a arrastar para um canto vazio alguma mulher que cruzasse seu
caminho.
No último mês ele havia pensado tanto em voltar para casa que quando se via
na necessidade de ter uma mulher, julgava a si mesmo por estar cometendo
um crime. Ele se lembrava de que todas as vezes que tocara outras mulheres
desde que tivera Hermione. A imagem dela o perseguia e o incomodava. O
incomodava tanto que foi diminuindo o número de mulheres, diminuindo,
diminuindo e diminuindo até que sem nem mesmo perceber Hermione pareceu
se tornar a única mulher existente no mundo. Depois que ela engravidara tudo
pareceu piorar ainda mais. Ele se via tão cheio de conexões a ela que as vezes
parecia que haviam tido uma história longa, quando na verdade tudo que
tinham era um ano de convivência, uma filha perdida, um relacionamento cheio
de falhas, buracos e estragos. Se cansava todas as vezes que pensava naquilo.
Tudo que queria, na verdade, era que se acostumasse com ela o suficiente para
poder voltar a ser quem era antes sem ser perseguido pela imagem dela. Sabia
que tecnicamente se tornaria seu pai quando atingisse essa fase, mas as vezes
parecia melhor do que se ver apegado para sempre a Hermione.
- Draco. – a voz dela soou logo atrás de si. Cheia de receio, mas doce e
suave. Se lembrava de quando odiava a voz dela. Era muito mais fácil quando a
voz dela era apenas detestável. As vezes tinha a sensação de que o macio que
o tom dela carregava se derretia dentro dele. – Vamos nos atrasar.
Encarou o copo em sua mão. Ele não queria ir para aquele maldito evento. Era
uma grande perca de tempo. Se todas aquelas pessoas soubessem o caos que
era fora daqueles muros ninguém estaria fazendo festas nem promovendo
jantares. Bateu a aliança em seu anelar contra o vidro. Maldita hora em que
colocara aquele anel no dedo. Virou-se e a encontrou parada apenas a um
passo para fora do quarto. Ela era absolutamente linda e estava fabulosa com o
longe vestido que usava. Deixou o ar escapar por entre seus dentes enquanto a
checava da cabeça aos pés. Ela tinha que parar de ser linda. E junto com isso
tinha que parar de ser também inteligente, sexy, generosa, esperta, racional e
todas as muitas outras malditas qualidades que a faziam ser única.
- Não está congelando aqui fora? – ela perguntou como se o julgasse louco
por estar ali enquanto cruzava os próprios braços contra o corpo. Ele havia sido
o poço da arrogância com ela e mesmo assim ali ela estava o encarando com
os olhos cheios de receio, como se já estivesse tentando se proteger do insulto
que ele poderia tornar a jogar em cima dela a qualquer momento.
- Te ofendi quando falei sobre ter casos com os bruxos da comissão? – ele
perguntou sem nem mesmo saber o que fazia. As palavras saíram de sua boca
antes que tivesse o tempo para pensar nelas duas vezes.
Hermione pareceu ficar confusa por cima de sua postura receosa. Ela não sabia
o que viria daquilo e até mesmo ele temia pelo que poderia fazer. Não admitia
seus erros em voz alta. Nunca admitia seus erros em voz alta.
O ar quente que saiu se sua boca quando ela expirou subiu como vapor. Seus
lábios tremeram com o frio e mesmo assim ela ficou ali parada o encarando.
Draco desviou o olhar, bateu novamente com a aliança em seu copo. Nunca
admitia seus erros. Tomou o último gole de uma vez.
- Então eu não deveria ter dito. – disse e passou por ela voltando para o
quarto.
Não queria ver a expressão dela. Ela já deveria saber que aquilo era o mais
perto de suas desculpas que um dia chegaria. Largou o copo sobre um móvel
qualquer e voltou para terminar de vestir-se. Abotoou sua camisa, atou o cinto,
vestiu o terno, alinhou os cabelos e desceu. Desceu e entrou na carruagem
seguido de Hermione.
O caminho era longo e o silêncio entre eles era terrível. Eles não ousavam
cruzar o olhar e Draco desejou nunca ter visto o que viu quando chegou em
casa. Ele queria muito voltar a ser o que eles haviam sido no último final de
semana que tivera a chance de passar em Brampton Fort. Haviam ocupado as
noites com sexo, conversas aleatória, soluções para a guerra, conflitos do
mundo mágico e qualquer outro pensamento que atravessasse a mente deles.
Todo aquele clima entre eles agora era péssimo.
- Gosto de improvisar.
- Não dá para acreditar que conseguiu voltar para Brampton Fort a tempo
da nosso jantar! – Isaac anunciou com um sorriso estampado nos lábios. –
Confesso que estava ansioso para finalmente conhecer sua adorável esposa. –
ele tomou uma mão de Hermione e a beijou com bastante educação.
- Quem iria acreditar que logo você ganharia o coração desse aqui, não é?
– Astoria disse se referindo a Draco.
- Quem iria acreditar, não é? – foi tudo que ela disse e antes que pudesse
perceber Draco se viu rir pela reação dela, mas passou a mão pela boca
tentando disfarçar seu mal comportamento. Os olhos dourados de Hermione
apenas lhe lançaram um rápido olhar enquanto puxava o ar.
- Sabia que as roupas que uso são vendidos no dia seguinte pelo triplo do
preço? – ela usou um tom baixo para que somente ele pudesse escutar. – O
vestido que usei no baile anual do Diário do Imperador semana passado
esgotou no dia seguinte.
Tiveram que se distanciar quando chegaram a mesa. Draco sabia que era o
único ali que poderia se sentar próximo a Isaac e Hermione por ser sua mulher
sentou-se do outro lado ao lado de Astoria. O restante da mesa de organizou
por hierarquia. Os pratos começaram a serem servidos e as conversar foram
tomando corpo.
- McGonagall me fez ler um de seus papéis durante uma detenção que
recebi quando estava no sexto ano. – Isaac se direcionou a Hermione após um
gole em sua bebida. – Foi a primeira vez que me deparei com o seu nome.
- Ah, meu irmão acabou indo para a Grifinória também. – uma mulher
comentou.
- E ele foi a vergonha da sua família por anos. – comentou outra.
A mesa riu.
- Eu acredito que Draco ainda possa ser covarde para muitas outras coisas.
– Astoria se pronunciou de modo descontraído. – Isaac me contou que quando
ele viu nossa menininha na audiência aberta, ele agiu como se estivesse vendo
um tipo de fantasma.
A mesa riu novamente. Draco não viu graça, mas teve que forçar um sorriso.
Tratou de ocupar a boca com sua taça. Hermione a sua frente também pareceu
não ter visto graça. O olhar dela ficou sobre ele alguns segundos.
O homem riu.
- Não vai poder fugir delas por muito tempo, a não ser que queira matar a
linhagem da sua família, garoto. – disse ele.
A palavra garoto o atingiu com força. Sentiu o sangue esquentar em suas veias,
sua boca secou e ele calculou a força que deveria fazer para lançar o garfo em
sua mão direto contra a garganta do homem.
- Tem muitas coisas acontecendo por agora. – ela continuou num tom
descontraído, tentando trazer de volta o clima de antes. – Os conflitos estão
passando por uma nova fase, Draco está precisando deixar a cidade com
frequência. E... – ela precisou de um gole de sua bebida. – ...desejamos por
tanto tempo ficar juntos. Um ano ainda não parece o suficiente para sermos
somente eu e ele.
- Ah! – exclamou a mulher ao lado de Hermione com uma empolgação
excessiva. – Adoro um bom romance!
Uma outra mulher fez um comentário sobre o quão imbecil aquilo soava e a
mesa tornou a rir. Draco ficou grato por Hermione ter encontrado uma forma
de colocar um ponto final naquele assunto.
- Não me envolvo no trabalho do meu pai. – Draco disse e viu ali sua deixa.
– Mas posso garantir que ninguém iria ousar protestar contra o Ministério.
- Por isso trabalhamos sempre para que eles estejam do nosso lado. –
acrescentou Draco.
- Devemos ser leais, não nos adaptar. – um dos homens comentou e Draco
tratou de gravar o nome dele em sua lista.
- Vem fazendo um bom trabalho, Isaac. Pode ter certeza que eu já o teria
mandado embora se não estivesse. – Draco tratou de comentar.
Draco cruzou seu olhar mais uma vez com Hermione. Ela havia entendido. Uma
mulher reclamou sobre o assunto, mas outro homem se manifestou em seguida
a favor do velho governo. Os comentários se seguiram, cada um expressando
sua própria opinião sobre o velho governo. Logo a conversa se assentou sobre
os efeitos do fechamento do parlamento bruxo. Alguns homens apoiaram
Hermione em sua defesa pela história, mostrando que o povo era um inimigo
em potencial. Draco seguiu mostrando como o povo estava do lado deles.
Quando seguiram para uma sala ao lado após o jantar Hermione já era o objeto
de desejo de todos. Era sempre esperado o comentário dela. Tudo que ela dizia
era levado em extrema consideração e Draco se sentiu orgulhoso por vê-la ser
uma Malfoy como deveria. Ele, por sua vez, foi obrigado a ter que suportar
aqueles que vinham com suas honras falsas e exageradas tentando ganhar
pontos com mais um Malfoy. Vez ou outra seu olhar se cruzava com o dela e
eles exclamavam em silêncio o quão exaustivo era tudo aquilo.
Draco se perguntava quem dali seria o primeiro a dar uma entrevista no dia
seguinte se considerando amigos próximos dele ou de Hermione para exagerar
e criar rumores sobre qualquer coisa que tivessem dito durante aquele jantar.
Ele já conseguia apostar algumas cabeças naquele jogo. Detestava eventos
como aquele e estava ali por Isaac e pelo potencial que ele apresentava em ser
uma das únicas possíveis pessoas de confiança naquela cidade. Ainda precisava
de mais tempo para ter certeza daquilo, mas já trabalhava nisso fazia anos e
sabia que era um processo demorado.
Os convidados foram tomando seus respectivos rumos mais tarde do que Draco
havia imaginado. Pretendia ficar ali mais tempo. Mostrar que era um bom
amigo da família Bennett. Forçou um sorriso e acenou para um casal que
estava indo embora. Encontrou Hermione não muito distante se despedindo de
uma das senhoras ao qual havia passado boa parte da última hora
conversando. Aproximou-se por trás assim que ela ficou só, passou um braço
por sua cintura e colou a boca em seu ouvido.
- Queria te arrastar para algum lugar onde eu pudesse arrancar esse
vestido de você. – sussurrou.
- Parece que estou fazendo um bom trabalho. – foi o que ela disse
voltando-se para ele.
- Não tem nem ideia! – ele sorriu e ela sorriu de volta, mas não por muito
tempo. Uma vozinha abafada e distante pareceu alcançá-los. O sorriso dela se
desfez no mesmo instante. Talvez ela estivesse pensando que estava
alucinando. Draco sabia bem o que era. Não demorou e a voz, ainda abafada,
ficou muito mais próxima. Hermione quase pulou para longe quando uma porta
dupla ao lado deles moveu ao som de batidas rápida. – Hermione. – Draco
tocou seu braço. – É apenas a filha deles. – estendeu a mão e abriu a porta.
A menina passou quase voando por eles para dentro da sala. Ela chorava pelo
pai e Isaac apareceu quase no mesmo instante para acudir a criança. Astoria
aproximou-se soltando exclamações surpresas por ver a menina ali. Logo uma
mulher apareceu se desculpando por não tê-la conseguido segurar e informou
que Elise estivera chorando e implorando para descer desde o começo do
jantar. Havia sido impossível fazê-la dormir.
- Não, Hermione. – a cortou. – Olhe para mim. – ele ordenou e ela ergueu
o olhar para ele. Seus olhos brilhavam. Ele quase quis desistir de ficar ali. Sabia
que olhar para a menina deles a faria se lembrar e se lembrar era doloroso. –
Nós temos que superar iss...
- Não agora! – ela cortou com os dentes cerrados. Os olhos dela brilharam
ainda mais. – Vamos embora!
Elise bocejou.
- Eu também, mas não consigo dormir sem que papai me conte uma
história. Ele me fez prometer que eu me desculpasse pelo meu mal
comportamento, então já que se sente cansada posso te contar uma das
histórias que ele costuma contar para mim. – ela voltou-se para o pai. – Seria
um bom pedido de desculpas, não seria?
Isaac riu.
Hermione sorriu.
- O que acha de você escolher um bom lugar? – sugeriu ela enquanto se
distanciavam.
- Nunca vi uma menina da idade dela ser tão sociável. – bateu uma vez em
seu ombro e passou por ele.
Draco puxou ar e virou a bebida em seu copo de uma vez só. Astoria ainda
estava ali. A encarou por alguns segundos e passou por ela. Precisava de mais
álcool. Afastou-se até o estoque de bebidas e tornou a encher seu copo e dessa
vez foi bem mais generoso. Tomou um longo gole e encarou Hermione sentada
em um chaise longue com Elise. A menina não parava de falar, mas sempre
dava pausas para bocejar. Hermione parecia um tanto desconcertada, mas
havia um sorriso em seu rosto junto com um brilho nos olhos que ele não
conseguia olhar por muito tempo. Uma senhora logo se aproximou das duas,
talvez para se despedir de Hermione, mas acabou engajando em alguma
discussão divertida com a menininha.
Draco não respondeu nada. Tomou mais um longo gole de sua bebida e não se
moveu sabendo que não era prudente deixar a mesa de bebidas visto que logo
precisaria de mais.
- Oh. – Astoria soltou uma exclamação baixa. – Deve ter sido doloroso.
Draco apenas assentiu concordando. Ela continuou ali, ao seu lado, parada,
sem abrir a boca.
- Aqui estamos eu, você e uma mesa novamente. O que quer, Astoria? –
finalmente abriu a boca.
Ela pareceu um tanto surpresa pela direta que recebera. Abriu a boca para
responder qualquer coisa no mesmo tom, mas respirou fundo fechou os olhos
rapidamente e riu. O encarou.
- Ainda acha que eu quero algo com você, Draco? – balançou a cabeça e
desviou o olhar. – Francamente. Quantas vezes vou ter que dizer que amo o
meu marido?
Draco se viu sorrir. Por isso havia escolhido Astoria Greengrass. Abaixou os
olhos para sua bebida e brincou com o líquido no copo por alguns segundos. Ela
era a garota perfeita quando a conheceu. Não era excepcional, mas era
inteligente, bonita, de boa família e sabia o compreender quando se esforçava
bastante. E ele havia tentando. Havia realmente tentado. Fizera tudo que seus
colegas faziam com suas namoradas. A levara em encontros, lhe dera
presentes, andara de mãos dadas... tudo! No final ele se viu apenas
absolutamente entediado. Ainda se lembrava do sono poderoso que tinha
quando a acompanhava para tomar os chás de Madame Puddifoot em
Hogsmeade.
- Me desculpe por não ter conseguido me apaixonar por você. – ele disse.
- Para alguém que nunca se desculpa por nada, deve realmente se sentir
culpado.
- Não me faça querer te matar, Astoria. – foi tudo que ele respondeu.
Ela riu.
- Você não foi o único homem que me fez mal, Draco. – ela foi sincera. –
Tive que passar por alguns relacionamentos realmente ruins para que a vida
pudesse me dar algumas lições. Confesso que sempre fui muito superficial e
talvez isso tenha me levado a fazer escolhas ruins. Fico grata por Isaac não ter
sido minha escolha ou eu teria acabado me enfiando em um casamento com
grande chances de desastre. – ela sorri - Ele me ensinou muitas coisas.
Acredito que acabamos nos ensinando muitas coisas com o passar dos anos.
Crescemos juntos. E eu finalmente pude entender que o que uma mulher
precisa não é de um homem-troféu para exibir para as amigas ou na rua.
Pensar dessa forma por anos me levou aos meus fracassos. O que uma mulher
precisa é muito mais do que isso. Claro que um homem assim seria a cereja no
topo do bolo, mas o que uma mulher realmente quer é um homem que procure
entende-la, um homem que a apoie, um homem que a faça se sentir bem. – ela
disse aquilo e Draco quis quebrar seu copo com a força dos dedos. Theodoro
Nott fazia sua mulher se sentir bem, segundo sua própria mulher. – Isaac é
tudo isso e também a cereja em cima do bolo. – ela riu de sua própria
conclusão.
Draco se viu rir da pergunta. Astoria entendia que pessoas como eles não
tinham o luxo de se casar por amor, na verdade.
- Eu a odeio. Sempre a odiei. – ele respondeu. Não se importava que aquilo
talvez a fizesse questionar as histórias que os jornais e revistas contavam.
- Então talvez a ame. – foi o que ela disse. Ele franziu o cenho e a encarou
confuso. – As pessoas estão tão acostumadas a verem o ódio como o oposto do
amor. – ela sorriu. - O ódio não é o oposto do amor. O oposto do amor é a
indiferença. Indiferente a Hermione Granger eu tenho absoluta convicção que
você nunca foi. Sempre se importou com ela. Em Hogwarts, costumava fazer
comentários sobre ela mesmo quando ela não estava por perto. A linha entre o
amor e o ódio pode até ser comprida, mas muito frágil. – ela suspirou
novamente. – Você a olha diferente. Não sei o que é, mas é diferente. Nunca
me olhou da forma como olha para ela quando estávamos juntos.
Talvez fosse porque nunca havia a odiado tanto quanto odiara Hermione.
- Não. – respondeu.
Hermione assentiu. Disse que iria se despedir de algumas mulheres que parecia
ter conhecido em algum evento anterior importante. Eles se separaram e Draco
foi em busca de Isaac. Não o encontrou. Voltou pelo caminho que daria ao hall
de entrada e quando estava colocando novamente seu casaco Hermione
apareceu pedindo pelo seu. Isaac os encontrou apenas quando estavam
descendo das escadas para o pátio onde a carruagem os esperava.
- Astoria me disse que já estavam indo! – ele disse. – Por que tão cedo?
Estava esperando que todos fossem embora para que pudéssemos esvaziar um
bom whisky em meu escritório, como nos velhos tempos, enquanto nossas
mulheres conversavam sobre... coisas de mulher.
Draco riu.
- Sim, percebi que ela tem uma inclinação para coisas úteis. – disse.
Hermione apenas sorriu em resposta. – Escute. – ele se aproximou de Draco. –
Entendo que precise ir. Está a frente de uma guerra. – colocou uma mão no
ombro de Draco. – Fico grato que tenha vindo hoje. Sabe que isso nos coloca
em uma posição muito boa para a imprensa e para a cidade. Foi apenas um
simples jantar e mesmo assim apareceu. – Se aproximou mais e abaixou a voz.
– Nós dois não somos homens honrados, sabe disso. Somos parte das famílias
poderosas e você é um Malfoy. Mas quero que saiba que estou do seu lado. Não
por lealdade, não porque somos colegas, não porque nossas famílias nunca se
desentenderam. O mundo gira muito rápido e foda-se o velho governo ou o
império ou o que quer que venha a acontecer. Estou do seu lado porque é um
Malfoy e Malfoys nunca caem.
Draco apenas assentiu. Sorriu. Era exatamente isso que ele tinha para terminar
ali. Saber se Isaac era inteligente mesmo, ou era apenas mais um fantoche de
Voldemort.
**
Foi para o quarto somente quando admitiu que estava incapaz de pensar.
Aquele dia havia sido longo demais e embora estivesse finalmente em casa,
debaixo do seu conforto, as coisas não estavam acontecendo como ele havia
planejado que acontecesse. Tudo que ele queria era estar vivendo o mesmo
que estivera na última vez que havia tido a oportunidade de voltar para casa.
Ter Hermione a noite inteira e pensar sobre a guerra. Agora tudo o que tinha
era uma mulher em sua cama que não podia tocar, uma visita ao gabinete do
mestre no dia seguinte, um Nott interessado em sua esposa e pensamentos
extremamente irritantes que o perseguiam.
- Já estou indo. – foi tudo o que respondeu usando uma voz baixa e calma.
Draco seguiu para o closet onde trocou toda a roupa do jantar por sua calça de
algodão. A roupa já conseguiu lhe prover um pouco de conforto e se sentiu
grato pelo menos por isso. Voltou para o quarto e Hermione continuava
exatamente no mesmo lugar. Ela parecia muito longe daquele quarto calada
como estava.
Ele afastou as cobertas do seu lado da cama e deitou. Colocou os braços atrás
para trás como apoio para sua cabeça e fechou os olhos. O silêncio o
incomodou. Por mais cansado que estivesse se viu bem distante do sono.
- Por Deus! Não se desculpe! – Quando ela iria aprender que Malfoys não
pediam desculpas.
- Hermione, pensei que minha mãe já tivesse lhe ensinado, mas Malfoys
não pedem descul...
- Não vi que estava com raiva. – disse e a viu puxar o ar e abrir a boca
pronta para se mostrar revoltada novamente, mas então simplesmente mudou
a expressão, soltou o ar, cobriu o rosto e virou de costas novamente.
- Não estou. – ela sussurrou. Suspirou umas duas ou três vezes e puxou os
cabelos para trás. – Me desculpe.
- NÃO! – ela tornou a voltar-se para ele. O olhar firme. Ele a encarou de
volta. Ela trocou novamente a expressão e ele viu dor brilhar no dourado de
seus olhos. – Eu não sei mais quem eu sou. – ela soltou. A voz fraca. – Eu
quero tanto um filho. Eu nunca pensei que pudesse querer tanto algo. Eu sei
que ele irá vir uma hora ou outra e talvez isso não esteja me fazendo bem
porque eu sinto como se todo o amor do mundo já estivesse em mim por
causa disso. Quero tanto e já amo tanto. Isso tem me feito ser o pior de mim.
– os olhos dela brilharam e dessa vez ele soube que eram só lágrimas. Ela
suspirou decepcionada. – Estou sendo fria, minimalista, racional. Engano as
pessoas, minto, tento ser esperta a qualquer custo. Vou deixar que Fred
Weasley seja morto, prometi entregar Harry Potter a Voldemort quando passei
a maior parte da minha vida lutando para o proteger dele. Tudo porque eu
quero tanto algo. Tudo por algo que eu-quero. – a voz dela morreu e uma
lágrima solitária escorreu sua bochecha pálida. Ela logo a limpou. – Eu nunca
fui egoísta, Draco. – ela concluiu com a voz trêmula.
Eles se encararam por alguns segundos em silêncio. Draco engoliu a saliva. Ela
estava passando pela fase que ele havia esperado que ela chegasse.
- Deus do céu! – ela suplicou. – Será que você poderia não ser um ser
detestável agora?
- Você não entende. – a dor estava ali novamente. – Na verdade, não tem
o menor interesse de entender, de me entender. Não conhece quem eu era.
Para você tudo que eu era não passava de uma Sangue-Ruim sabe-tudo. Eu
tenho uma alma, Draco. E diferente de você eu não procuro escondê-la. Ao
menos procurava não escondê-la.
- Me ajudando? – ela subiu uma oitava não acreditando no que ele havia
dito. – Realmente acha que eu consigo dormir?
- É o melhor que pode fazer! – ele se aproximou. – O que você quer,
Hermione? Quer que eu te conforte? É isso que quer? Pensei que já me
conhecesse para saber que eu não vou te confortar, não vou te abraçar não vou
te contar uma historinha para dormir! Eu estou te dando o melhor conselho que
pode receber agora. Ou você que eu fale para desistir? Se é isso que quer vá
em frente. Desista. Volte para o seu ponto zero, de onde começou, que se bem
me lembro foi exatamente aqui nesse quarto, bem ali naquela cama, de onde
você não queria levantar, não queria comer, não queria nem mesmo existir! Se
quer desistir, volte para a cama, não levante mais dela, chore o dia inteiro pela
criança que vão te tirar e pela vida miserável que vai ter, se é isso que vai te
fazer se sentir melhor. – buscou ar. – Agora se quer ter a mínima chance de
virar isso, Hermione. Engula o que quer que estiver passando agora, vá para a
cama, durma, acorde amanhã, levante e lide com isso. Se amanha piorar, não
importa. Vá dormir, acorde no dia seguinte, levante e lide com isso. Durma,
acorde, levante e lide com isso. – aproximou-se mais. – Lide com isso. –
repetiu. - Todos os dias. Até ficar forte. – terminou. O silêncio os preencheu.
Hermione não ousava desviar os olhos dele. Draco apenas deu as costas e
tornou a se sentar na cama. Encarou as próprias mãos. Soltou o ar. – Eu não
sou alguém que irá te dizer um monte de palavras que fazê-la se sentir bem
por alguns segundos. Não sou Theodore. – se viu dizer. Ergueu os olhos para
ela. – Se algum dia eu quiser te fazer bem, acredite, não vai ser por alguns
segundos.
Ela continuou em silêncio, parada e com os olhos fixos nele. Ele havia
terminado ali. Tornou a deitar. Usou os braços como apoio para sua cabeça e
fechou os olhos. Novamente ele se viu cansado, mas com o sono muito longe.
Não demorou muito e Hermione apagou a lareira e o restante das luzes. Ele
abriu os olhos a tempo de vê-la se despir de seu robe e se enfiar debaixo das
cobertas ao lado dele. Tornou a fechar os olhos e inalou o cheiro dela. Aquilo
lhe trouxe um conforto do qual ficou bastante grato. Estava em casa. Não
precisava passar a noite fazendo sexo com Hermione embora isso soasse
bastante apelativo. A presença dela ali ao seu lado já parecia ser um pouco
confortante. Estava seguro ali. Estava em casa. Aquilo era o suficiente para
fazê-lo se sentir minimamente bem.
O sono não chegou e estava sentindo que já haviam se passado horas. Seus
olhos continuavam fechados e seus pensamento não lhe davam nem um
segundo de descanso. Se mover parecia estúpido, a última coisa que queria era
se sentir mais acordado do que já estava.
Ela suspirou.
- Ele me deixaria ficar com a criança, caso fosse menina. – ela disse depois
de alguns segundos.
O silêncio se estendeu por um tempo até Draco finalmente tornar a abrir a
boca:
- Sabe que ele pode não deixar, não sabe? Mesmo que entregue Potter.
- Sei. – foi tudo que ela respondeu. O silêncio novamente. Dessa vez ele
durou bem mais. – Talvez eu consiga fazer algo que o obrigue a cumprir o
acordo. – suspirou. – Ainda não sei, mas eu tenho que tentar. Não sei se
aguentaria perder outro filho, Draco.
Ele abriu os olhos e viu o teto logo acima. Virou a cabeça para encontrar os
olhos abertos dela o encarando no escuro.
- Não vamos perder mais nenhum filho. Precisa acreditar nisso. – disse –
Temos um plano para isso.
Ela fechou os olhos, respirou fundo e balançou minimamente a cabeça
negativamente contra o travesseiro.
- Não é isso, Draco. – a voz dela foi quase mais baixa que um sussurro. Ela
arrastou para mais perto dele. – Eu quero ficar com meu filho. Seja ele menino
ou menina. Não quero só salvá-lo, manda-lo para longe dessa cidade onde ele
vai ser criado talvez por alguém que eu nunca nem vi, não sabendo quando eu
teria novamente a chance de vê-lo. – os olhos dela brilharam e a voz dela
tremeu. – Eu quero tê-lo comigo. Quero fazê-lo dormir todos os dias, quero
conhece-lo, quero que ele saiba que eu onde eu estiver, ali será o lugar mais
seguro do mundo. Quero mostrar a ele que o amo. Todos os dias. Eu quero ser
a mãe dele. – mais uma lágrima silenciosa escorreu o canto dos olhos dela.
Draco engoliu em seco. Virou-se para ela e tocou seu rosto com muito cuidado.
Via nos olhos de Hermione sua mãe. O amor e cuidado único que via nos olhos
silenciosos dela. Tinha na língua as palavras que iriam fazer com que mais
lágrimas escapassem daqueles olhos. Ela sabia que aquilo não era o melhor
para o filho que iriam ter e era exatamente aquilo que devia lhe cortar o
coração. Primeiro, ele e Hermione não eram uma família para criar um filho.
Segundo, Voldemort não deixaria que eles ficassem com um, já havia se feito
bem claro a respeito disso. Terceiro, a situação em que estavam e o modo
como jogavam dentro daquela guerra não tornava a casa deles o lugar mais
seguro do mundo.
Não disse nada. Não tinha coragem o suficiente para ser racional ali. Ela havia
dito todas aquelas palavras e criara nele a vontade de ter seu filho com ele
todos os dias. Ficou em silêncio para se fazer acreditar que talvez houvesse
uma chance, uma saída, uma boa justificativa. Soltou o ar e arrastou os dedos
pela pele macia dela. Imaginou como seria. Talvez ele e Hermione pudessem
fingir que eram uma família. Que eram felizes. Quem sabe.
Passou os braços por ela e a trouxe para perto. Suas pernas se entrelaçaram
encontrando uma posição confortável para a proximidade que ele havia criado.
O calor do corpo dela contra o seu o envolveu e ele considerou que talvez
assim pudesse dormir. O silêncio os encheu e durou.
Seu queixo tocava os cabelos dela e ele conseguia sentir aquele cheiro floral
acalmar seus pensamentos. O inalou até finalmente conseguir sentir o sono
chegar mais próximo.
- Não.
Draco respirou e fechou os olhos. Tinha um conselho para si mesmo: Lide com
isso.
27. Capítulo 27
Hermione Malfoy
Hermione cruzava o átrio do salão principal e tinha o som dos saltos de seu
sapato contra o chão abafados pelas conversas e por toda a movimentação ao
seu redor. Carregava um pesado fichário que continha talvez umas cinquenta
especificações fitas e arranjos. Detestava estar ali fazendo parte da organização
da Cerimônia de Inverno quando seu grupo da Comissão trabalhava tão duro
em solucionar os problemas que colocavam em jogo a segurança da guerra e
consequentemente a de todos ali.
Hermione retribuiu o sorriso e antes que pudesse dar as costas para voltar para
a câmara de onde havia saído, seu nome foi exclamado em algum lugar ao seu
lado. Ela virou-se e encontrou Astoria de pé quase cercada por um grupo de
organizadores. Hermione foi até ela.
- O que acha? – Astoria apontou para duas placas com diversas imagens de
cadeiras expostas a frente delas. – Louis XIV ou Louis XV?
Hermione observou com atenção os modelos de mobiliário. Ela definitivamente
era a favor do estilo de Louis XV, mas sabia que o Barroco mais rústico e
tradicional de Louis XIV agradaria o gosto da maioria.
Astoria se iluminou.
- Pensou? – ela pareceu se animar bastante com aquilo. – Se precisar de
qualquer companhia para sua empreitada eu estou completamente disponível!
Estou fascinada com essa galeria no Centro que vende originais dos maiores
nomes bruxos da história da arte. Tenho certeza que já esteve lá, mas eu
poderia te dar algumas boas ideias se caso se interessar.
- Não são?! – animou-se Astoria ainda mais. – Sei que pode parecer bobo,
mas fico tão animada de estar de volta. – ela sorriu. – Não que o forte da
América seja ruim. Estávamos protegidos e era tudo que precisávamos para
uma guerra. Mas me sinto de volta em casa. Estar no meio das pessoas que eu
cresci vendo ao meu redor é muito reconfortante. - Hermione sorriu e não foi
forçado. Ao menos Astoria tinha essa chance. – Espero que não esteja com
nenhum ressentimento por Narcisa estar me passando alguma de suas tarefas.
- Não. De forma alguma. – apressou-se Hermione a responder. – Tenho
absoluta certeza de que é melhor do que eu para desempenhá-las. Além do
mais, estou bastante ocupada com outras coisas que ocupam o topo da minha
lista de prioridades. – tentou ser discreta.
Astoria sorriu.
Hermione se viu desconcertada. Não havia sido abordada assim antes por uma
mulher do status de Astoria.
- Sei que a admiro bastante. Não é do tipo de mulher que senta em uma
varanda a tarde para tomar chá e discutir sobre polêmicas bobas de um mundo
fútil. Sei que deve considerar as coisas que fazemos bem fúteis. E não precisa
ficar surpresa em me ver falando isso, tenho um marido que se incomoda com
isso e não sabe ficar calado de vez em quando. Aprendi a entender que
realmente são fúteis. – ela suspirou. – Fui criada para amar essas coisas e
aprendi a amá-las e apreciá-las, não sou nem nunca seria o tipo que teria
coragem para estender uma varinha e enfrentar uma dúzia de comensais
treinados. Nunca tive interesse em ser estratégica. Nunca estudei política com
afinco nem também nunca me interessei. Quando Draco e eu namoramos eu
sempre estive tão preocupada em mostrar ser a melhor para ocupar o cargo de
Sra. Malfoy. Sempre procurava provar que ninguém organizaria um chá da
tarde melhor do que eu, que ninguém poderia promover ações beneficentes
melhor do que eu, que ninguém conseguia ser tão sociável, tão política e tão
elegante quanto eu. Estive sempre tão focada em mostrar ser a Sra. Malfoy
ideal que nem mesmo me dediquei a entender e ser o tipo de mulher que Draco
realmente gostava. Por isso entendo que ele tenha tido qualquer coisa com
você quando ainda estávamos juntos.
Hermione se viu sem palavras. Astoria parecia ser muito mais do que ela havia
imaginado. Nada de conversas exaustivas sobre a nova moda decorativa com
tapeçarias orientais. Nada do que ela havia esperado.
- Lamento por... – acabou deixando sua voz morrer quando não soube
realmente pelo que se lamentava.
- Eu imaginei que você ficaria sem saber o que dizer quando eu acabasse
lhe falando tudo isso. – ela sorriu muito honestamente. – Eu precisava falar
tudo isso. A primeira vez que me encontrei com Draco ele fez o favor de já me
fazer entender que me enxergava como uma possível ameaça a paz dele e
consequentemente a sua. A da relação de vocês, na verdade. Não acho que ele
tenha acreditado que eu sou apenas uma Bennett agora, mas queria deixar
claro para você e para ele que eu amo meu marido. Que os ressentimentos do
passado foram superados. Que eu de fato me tornei uma Bennett e com muito
mais orgulho do que eu acredito que me tornaria como uma Malfoy. – ela
soltou o ar sentindo-se satisfeita por ter dito aquilo finalmente. - Sou
imensamente grata por saber que tive a chance de ser feliz nessa vida quando
tudo poderia ter dado errado para mim. Todas as minhas relações eu me
esforçava em ser perfeita ao invés de ser eu mesma. Quando a guerra começou
e eu fui obrigada a me casar com Isaac para salvar minha família eu achei que
minha vida tinha acabado. Estava com um homem que eu mal tinha trocado
quatro ou cinco palavras na vida, indo para um continente que eu não conhecia
ninguém, deixando minha família para trás e grávida de uma criança que
ninguém sabia. – ela suspirou e desviou o olhar. Hermione se simpatizou muito
com aquilo. – Foi tudo muito difícil. Principalmente quando acabei tendo um
aborto espontâneo ainda no primeiro trimestre. Eu não havia contado a
ninguém que estava grávida, mas aquela criança havia se tornado a única coisa
boa que parecia estar acontecendo na minha vida naquele momento. Foi
péssimo. – Hermione entendia aquilo tão bem. – Mas Isaac é um homem tão
maravilhoso. Mesmo quando ele percebeu que o filho não era dele, ele ficou ao
meu lado. Ele me entendeu, me colocou de pé e me provou que nós só
tínhamos um ao outro e que deveríamos procurar nos fazer bem. Sempre.
Porque essa seria nossa luta para sobreviver a guerra. Eu o amo como nunca
amaria nenhum outro homem. Ele me fez enxergar o mundo de outra forma e
eu consegui sair do casulo da vida perfeita que eu achava que tinha porque
nasci e fui criada em uma família de boa linhagem e com dinheiro. Ele me fez
ser alguém melhor.
De repente Hermione se viu completamente confortável ali com ela. Se Astoria
estivesse inventando tudo aquilo ela era muito boa porque até mesmo a dor
que ela transpareceu nos olhos quando falou de seu aborto, Hermione
conseguiu identificar como sendo tão real quanto a dela quando se lembrava de
sua menina.
- Ele confirmou, na verdade. – ela disse. – Reconheci seu olhar assim que
encarou Elise. Eu por muito tempo não conseguia olhar para crianças, me fazia
lembrar o filho que eu havia perdido e era absurdamente doloroso. Quando
comentei com Draco, ele parecia tão entretido em te ver com minha filha que
confirmou como se nem tivesse prestando atenção em mim direito.
Hermione nunca havia falado de sua filha com ninguém além de Draco depois
que havia a perdido. Nem mesmo com Narcisa. A mulher era compreensiva o
suficiente para apenas ignorar que um dia Hermione havia estado grávida. De
alguma forma Narcisa parecia ressentir por isso também e talvez por isso não
comentasse.
- Apenas não diga a ninguém. As pessoas não sabiam que eu... – ela
deixou sua voz morrer novamente. Estava fazendo isso com mais frequência do
que gostaria naquela estranha conversa.
- Eu passei por isso, Hermione. Não é algo que você quer que as pessoas
saibam. Minha própria família nunca nem soube que estava grávida e perdi um
filho quando me casei com Isaac. Nunca contei nada a eles. – ela disse. –
Lamento por sua filha.
- Bom, acredito que logo vocês poderão ter mais filhos. – Astoria tornou a
caminhar e Hermione a seguiu dessa vez. – Sei que não substitui aquela que
perdeu, mas trás bastante alegria.
Hermione sorriu.
- Sua menina é linda. – ela queria tanto um filho. Perder sua filha havia
esvaziado um espaço que ela mesma havia criado dentro de si quando soube
que estava grávida. Não conseguia se livrar dele.
- Não tenho companhia para o almoço. Narcisa vai estar em uma reunião
com Pansy sobre os assuntos da cerimônia e eu prefiro evitar. – fez uma careta
e Astoria riu.
Hermione sorriu. Tinha mil coisas para fazer, mas acabou respondendo:
- Claro.
**
Deu alguns passos para trás onde pode ter uma melhor visão de sua parede.
Sussurrou um palavrão e sacou a varinha. Estavam todos tortos. Todos os seus
quadros. Fez uma magia para alinhá-los e assim que estavam todos
equilibrados belamente pode analisar a composição.
Péssimo.
Soltou o ar de uma vez. Aquilo era exaustivo e muito, muito, muito entediante.
Subiu em uma cadeira e ficou na ponta dos pés para conseguir alcançar o
quadro mais alto. No mesmo momento a porta da sala de visitas abriu e virou o
rosto para ver Draco passar para o lado de dentro. Sorriu. Ele ainda estava
inteiro.
- Aí está você. – ele anunciou sua presença.
- Chegou cedo. – ela rebateu e voltou sua atenção para o quadro. – Pensei
que fosse chegar só para o jantar.
- O quartel estava vazio. – ele disse e pelo som parecia estar enchendo
algum copo com bebida.
Desceu e o viu rapidamente se sentar num dos sofás com seu copo de bebida
antes de se voltar novamente para sua parede. Draco havia retornado a
Brampton Fort, mas Hermione não tivera a chance de se encontrar com ele
aquela manhã. Cerrou os olhos vendo todos aqueles quadros e repensou numa
nova organização enquanto mastigava o canto da boca.
- Que diabos está fazendo? – ele perguntou quebrando o silêncio.
- Mais vida?
- Eu sei. – ela também acreditava que sua sala de visitas era fantástica até
Astoria visita-la e sair vomitando mil ideias. – Mas parece que aparentemente
nossa sala de visitas não tem uma tema.
- Deus do céu! Quem é você e o que fez com a minha mulher? – ele soltou.
Hermione riu.
- Astoria?
- Sim. – respondeu subindo na cadeira novamente. – Se ela tiver algum
receio de mim por ter me casado com você, ela com certeza sabe disfarçar
muito bem. E ela foi gentil. Me senti na obrigação de ser um pouco mais do que
política. Atar laços, aproximar nossas relações, criar algum vínculo. É saudável
para a nossa imagem diante da imprensa visto que vocês já tiveram um
relacionamento público no passado e aparentemente as datas coincidem com
quando supostamente começamos a nos interessar um pelo outro. – ele não
poderia contrariar aquilo. Conseguiu pendurar o quadro e tentava alinhá-lo com
seu melhor senso de percepção tendo que ficar na ponta dos pés para
conseguir tocar ar bordas do quadro. – E não vai nem acreditar no momento
épico que vivi assim que voltamos para a Catedral. Apenas visualize eu,
Astoria, sua mãe e Pansy Parkinson enclausuradas numa mesma sala
discutindo sobre os pratos para o jantar pós-cerimonia. – riu somente de se
lembrar. – Juro que teve um momento em que elas pareciam querer competir
de uma maneira bem educada sobre quem te conhecia melhor. – cerrou os
olhos para analisar melhor seu trabalho.
- Você está falando tanto, Hermione, que acho que estou começando a ter
dor de cabeça. – ele comentou.
Ela revirou os olhos e desceu da cadeira. Visualizou ele novamente no sofá com
seu copo de álcool folheando o que parecia ser uma pasta. Afastou-se para
encarar a parede de longe e soltou o ar frustrada ao ver o quadro torto. Foi
vencida novamente pela varinha quando fez com que ele se alinhasse com
apenas um movimento dela e colocou as mãos nos quadris. Parecia bem melhor
assim.
- Pronto. – soltou satisfeita. – O que acha?
Ele ergueu os olhos sem interesse dos papéis que analisava e encarou a parede
logo a frente por alguns poucos segundos antes de se voltar novamente para o
arquivo.
- Isso é um legítimo...
Ela riu.
- Não, não vou. Quero isso fora da minha parede até amanhã. – disse
voltando-se para seus papéis.
Ele soltou um riso que foi abafado quando chegou ao seu pescoço.
Ela tinha palavras para retrucar, mas não conseguiu externá-las quando sentiu
a respiração quente dele contra seu seio por cima do vestido. Sentiu os pelos
de sua nuca eriçarem. Draco apertou uma nádega sua com aqueles dedos
poderosos e pressionou seu quadril contra o dela a deixando sentir o volume
que ela bem conhecia. Puxou o ar, sorriu e fechou os olhos largando a pasta
para enfiar seus dedos contra os cabelos loiros e macios.
- Estou realmente me esforçando para não ficar grávida com todas as
contas e todo o calendário, mas com o número de vezes que praticamos sexo
juro que as coisas nos colocam em uma situação apertava. – ela acabou
dizendo com uma voz fraca.
- Não me diga que se fizermos sexo agora pode engravidar. – e uma leve
irritação do tom de voz dele.
Ela encarou a expectativa nos olhos dele de que ela dissesse que não.
Suspirou.
- Isso está começando a me irritar. – seu tom sério alertou que ele
definitivamente não estava contente.
- Não estou. – colocou sua boca bem próximo ao ouvido dele. – E vejam só
quem acabou de te fazer de tolo agora. – sussurrou e sorriu. – Se acha
esperto, não é? – riu.
Ela sentia uma imensa falta nele. Tivera os homens com quem havia se
envolvido em relações íntimas ao longo da vida, entretanto todos eles se
limitavam a um número de vezes com o qual Hermione havia se permitido
estar. Exceto Draco. Draco havia passado o número de vezes de todos eles, até
mesmo de Harry, com quem ela estivera repetidas vezes durante os anos na
Ordem da Fênix. E ninguém, absolutamente ninguém havia a tocado como
Draco. Ele sabia fazer aquilo como se fosse um mestre e ela não se recordava
de nenhuma vez que não tivesse perdido as forças com ele. Ele sabia fazê-la
aproveitar até mesmo durante aquela vezes rápidas, simples e preguiçosas de
quando ele acordava e se esgueirava silenciosamente para o lado dela a
fazendo acordar com um toque nada discreto. As vezes sentia que um simples
pensamento dele era o suficiente para fazê-la deseja-lo. Se sentia tão
absurdamente livre com ele e ela nunca, nunca, havia se sentido livre com
nenhum outro homem na cama. Era íntima dele como nunca havia sido com
mais ninguém e as vezes tinha a impressão que conhecia cada pequeno
centímetro do corpo dele assim como ele conhecia cada um dela.
Naquele momento em que suas línguas dançavam e eles brigavam pelo mesmo
ar ofegando quando podiam, seu corpo gritava em agonia e desespero pela
falta do toque dele. Qualquer um que fosse, calmo, possessivo, agressivo,
sedutor, qualquer um! Ela apenas precisava. A última vez que havia o visto fora
quando eles haviam comparecido ao jantar na casa dos Bennett. Ele disse que
deveria ter ficado mais dias, mas precisou deixar a cidade logo no dia seguinte
por um chamado de urgência em um país bem distante. Eles não tiveram a
chance de irem para a cama como gostariam aquela vez porque ela poderia
engravidar e se ela contasse o número de dias que não sentia o toque dele
poderia com facilidade decretar que nunca haviam ficado tanto tempo sem
praticar sexo antes, nem nunca precisara tanto quanto antes. Isso lhe fazia
crescer uma imensa necessidade e ao mesmo tempo lhe gerava tanta culpa,
mas mesmo assim não a parava. Nunca havia a parado antes e ela se sentia
mal por saber que nem mesmo sua culpa tinha poder o suficiente para pará-la.
Suas mãos puxaram a blusa dele para o lado de fora com pressa e ela enfiou as
mãos por dentro do tecido para sentir a pele quente e os músculos firmes de
suas costas. Draco afastou suas mãos para longe agilmente, e espremeu seu
seio com sua mão massiva por cima do tecido do vestido. Ela cercou o corpo
dele com as pernas movendo-se de modo provocador. Puxou o ar e ofegou
quando ele libertou sua boca e ocupou-se com sua pele. A saliva dele parecia
fogo, assim como seu toque. Fez seus dedos procuraram a fivela do cinto dele e
começou a desatá-la com agilidade quando cogitou que as mãos dele
passeando por seu corpo por baixo do vestido talvez fosse suficiente para fazê-
la atingir seu clímax. Abaixou o zíper da calça dele e enfiou sua mão por dentro
dos tecidos para poder senti-lo.
O gemido dele em sua orelha a fez se arrepiar junto com calor da respiração
que ele deixava ali. Seus dedos moveram-se pelo membro já bem acordado
dele. Sabia exatamente onde ele gostava de ser tocado ali e como. Aquilo fora
o suficiente para fazê-lo gemer novamente enquanto provava com voracidade o
sabor de sua pele. Ele a mordeu fazendo-a arquear as costas. Ofegou.
Precisava tê-lo dentro dela.
Draco tomou sua boca novamente e tirou a mão dela de dentro de sua calça.
Hermione tocou sua nuca e ele novamente tirou a mão dela. Travou os joelhos
contra o corpo dele e girou o seu fazendo-os caírem no tapete com ela por
cima. Hermione sentou-se e o encarou ofegante. Seus dedos passaram a abrir
os botões da camisa dele e ela rebolou para sentir o volume do membro dele e
se deixar ainda mais molhada. Tocou diretamente o tórax quando afastou a
camisa. Desceu as mãos pelo abdômen depois as subiu rapidamente sentindo
os mamilos dele contra a palma de sua mão. Draco a segurou pelo pulso e a
girou ficando novamente por cima. Suas mãos foram presas acima de sua
cabeça.
A primeira reação dele foi unir as sobrancelhas como se não soubesse do que
ela estava falando, mas não bastou dois segundos para que aqueles olhos
cinzas se movessem para as mãos que prendiam seu pulso contra o tapete. O
olhar dele se suavizou, mas sua expressão continuou confusa. Aos poucos ela
sentiu os dedo dele afrouxarem e deixarem seu pulso um a um até que ela se
visse livre.
- Draco. – tornou a chamá-lo com a voz suave dessa vez e os olhos dele
caíram sobre os dela no mesmo segundo. – O que há de errado? – questionou
também confusa. Ele ficou em silêncio. Ela não entendeu. Ergueu uma mãos
para tocar o rosto dele e talvez tornar a fazer a mesma pergunta, mas os olhos
dele se moveram para sua mão no mesmo segundo e ela recuou
imediatamente, principalmente por ver que ele havia afastado o rosto quase
que imperceptivelmente. Ela uniu as sobrancelhas ainda mais confusa. –
Desculpe, eu não quis deixá-lo realmente com raiva, fiz apenas uma
provocação boba. – se referiu a tê-lo enganado quando estavam no sofá.
Ele negou com a cabeça quase que imediatamente.
- Não foi isso. Não estava prestando atenção no que eu estava fazendo. –
ele soltou. Aproximou-se dela novamente deixando-se parar a centímetros de
seu rosto.
Seus olhos se fitaram tão próximos que ela se viu mergulhar dentro dos dele.
Moveu cuidadosamente suas mãos e as colocou uma de cada lado de seu rosto.
Ele não afastou as mão dela dessa vez. Hermione queria ter certeza de que
podia tocá-lo. Passou uma mão por seus cabelos loiros sem tirar os olhos dos
dele. Tocou seu pescoço e deixou o polegar passar pela barba que lhe crescia
no fim do maxilar. Desceu a outra mão por seu peito, abdômen, cercou sua
cintura e subiu por suas costas. Ele não a impediu nem desviou o olhar do dela.
Hermione sabia que ele prestava atenção e sentia com cuidado cada centímetro
de pele que ela tocava como se procurasse por algo errado ali.
Hermione juntou as mãos no cós da calça dele e a empurrou até onde pode
libertando o membro vivo que pulsava enclausurado. Havia um leve toque de
tensão entre eles que tentava ser ignorado. A melhor maneira era continuar o
que eles haviam começado.
Sem desgrudarem os olhos um do outro se ajustaram confortavelmente e ele
deslizou para dentro dela. O volume que foi a ocupando aos poucos fez com
que seu corpo formigasse, adormecesse e estremecesse ao mesmo tempo. Sua
garganta não conteve o som que lhe escapou. Draco começou a se movimentar
devagar. Ela contorceu debaixo do corpo dele. Toda aquela agonia contida em
seu corpo durante o tempo que não o tivera queimou.
Ofegou e sentiu a boca seca. Logo os movimentos dele não eram o suficiente.
Sussurrou para que ele acelerasse. Ele ainda a deixou desejar por mais por um
tempo antes de dar a ela o que queria. Ela pediu para que ele fosse fundo. Ele
foi. Seus dedos dela se fecharam nos cabelos da nuca dele quando toda aquela
urgência lhe informou que ainda estava ali.
Soltou um longo gemido cortado quando sua visão escureceu como se ela
tivesse entrado dentro das pupilas dele. Seu corpo estremeceu, contraiu-se e
relaxou quando atingiu aquele tão prazeroso alívio. Draco veio logo em
seguida, quase no mesmo segundo e eles relaxaram os músculos. Ainda
ofegantes se encararam por longos minutos em silêncio até que Draco saísse de
cima dela para deitar ao seu lado no tapete.
Encararam o teto em silêncio. Ela havia tido o que queria. Havia conseguido
atingir o seu clímax, havia delirado com o toque dele, havia gemido de prazer e
agonia. Suspirou. Mas sua cabeça latejava com o a lembrança da rispidez que
ele usou algumas vezes para afastar sua mão. Como se não quisesse o toque
dela, como se tivesse aversão a ele. Hermione quem deveria ter tido aversão
ao toque dele desde a primeira vez que haviam feito sexo, mas não teve. Ele
nunca permitido que ela tivesse.
- Tem que se concentrar sempre que fazemos sexo para não abominar que
eu te toque. – disse ela. – Deveria ter dito que não gostava que eu te tocasse
bem antes. Eu teria encontrado uma forma de parar. Pensei que fossemos
completamente honestos com relação a sexo.
- Não. – ele disse quase que instantaneamente. – Não é isso. Não é sempre
assim, Hermione. Eu gosto do seu toque, dos seus sons, do seu corpo. Não há
nada de errado com isso.
- Acredito que a forma como me tocou me fez lembrar que gosto quando
me toca quando estamos fazendo sexo. Isso deve ter me feito reagir contra.
Não é tão simples assim ficar tanto tempo longe de casa, voltar e perceber que
a mulher que eu sempre odiei está me recebendo com um sorriso educado.
Ela levou alguns poucos segundos para processar aquilo. Virou o rosto para ele.
- Nós temos uma história diferente agora. – ela usou sua voz mais calma
para lembra-lo disso.
- Sim. – ele concordou. – Creio que minha cabeça, sem me informar, se
apegou ao pensamento de como isso é estranho. – virou-se para ela. - Creio
que ela estava tentando me informar sobre o que costumávamos ser antes.
- Acha que mudamos tanto assim? Ainda acredito que estamos sendo
apenas civilizados um com o outro.
Ela acabou rindo. Suspirou e tornou a encarar o teto assim como ele.
- O fato de termos perdido uma filha o faz aceitar que passamos do limite
do aceitável?
- Como perceber que você é bem mais tolerável quando tem um sorriso
sincero no rosto. – ele pareceu nem mesmo perceber o impacto do que dissera.
Ela uniu as sobrancelhas um tanto confusa. Virou-se novamente para ele.
Quis muito tocá-lo, dizer algo que o fizesse sorrir também, mas no momento
em que se deslocou tomando ar para dizer qualquer coisa, ele se levantou e
ambos tiveram suas atenções voltadas para a janela mais próxima onde uma
coruja negra de olhos vermelhos usava o bico para bater insistentemente no
vidro. Era a coruja de Voldemort.
Draco foi quem abriu a janela para que o animal passasse para o lado de dentro
e soltasse nas mãos dele um pedaço de pergaminho cuidadosamente dobrado.
Hermione se levantou tentando segurar o tecido da frente de seu vestido da
melhor maneira possível enquanto observava a coruja se descolar para o
espaldar de uma cadeira, onde se acomodou e esperou pela resposta que
deveria receber.
- Algum problema? – ela perguntou quando não o viu falar por muito
tempo.
- Ele quer nos ver amanhã. – Draco disse sem se voltar para ela.
- O que ele quer com nós dois juntos? – ela engoliu seco.
- Não seja ingênua, Hermione. Sabe bem o que ele quer conosco. – foi o
que Draco respondeu, amassando o papel e lançando-o dentro da lareira.
- Diga a ele que estamos tentando. Acabamos de tentar. – ela disse e ele
soltou um riso fraco e forçado.
- Nós não estamos realmente tentando, sabe disse. – ele voltou-se para
ela.
- Você está sempre longe. Chegou essa manhã e só fui te ver agora. Ficou
semanas fora da cidade. Ele não pode esperar que eu engravide estando com
você durante uma noite aleatória cada mês. – ela disse, Draco assentiu e se
aproximou dela.
- E essa será a justificativa de amanhã. – ele disse muito calmamente
encarando a expressão em seu rosto que ela sabia que não havia sido capaz de
neutralizar. – O que há de errado?
Draco franziu o cenho como se fosse argumentar contra aquilo, mas suavizou
sua expressão logo depois como se considerasse justa a declaração dela.
- Não existe outra opção. – ele disse. – Apenas o encare como sempre o
encara. Como se fosse uma rainha.
- Nem mesmo nos seus sonhos mais loucos, Hermione. – deu as costas,
conjurou um pergaminho e uma pena. Rabiscou qualquer coisa e devolveu para
a coruja que saiu sem nem mesmo hesitar.
Hermione ficou apenas calada o observando. Assim que a janela foi fechada
novamente ela se pronunciou.
- Acho que nunca irá estar. – ele buscou seu copo e tornou a enchê-lo.
- Eu sei cada fraqueza da Ordem, poderia derrubá-los em minutos! –
insistiu ela.
- Não, Draco. Não está entendendo que eu também poderia ser a fraqueza
deles. Como acha que a Ordem iria reagir se me visse lutando ao seu lado?
Ele tomou um longo gole de sua bebida ainda de costas, encarou no copo como
se o analisasse e somente depois abriu a boca:
- Sim. Essas são suas motivações. – voltou-se para ela - Agora me diga se
essas motivações seriam o suficiente para te fazer apontar uma varinha contra
a Ordem? Entenda, Hermione, que você irá encará-los cara a cara. Não é o
mesmo que estar aqui com a Comissão e o meu grupo de estrategistas
trabalhando dentro de uma sala fechada contra um lado do qual foi aliada por
anos.
- Onde você estava quando eles tiraram minha filha de dentro de mim? –
ela se aproximou calmamente. – Você simplesmente havia voltado ao seus
afazeres do dia enquanto eles me carregavam para uma sala cheia de
apetrechos médicos e me fizeram sentir tudo. Absolutamente tudo. Cada
milímetro da dor que eu deveria sentir eles me deixaram sentir e tudo em mim
doía mais do que qualquer dor que eu já havia sentido porque não era só físico.
Eu estava destruída. A única pessoa que eu tinha era sua mãe e tudo que ela
pode fazer foi assistir. – suas vistas embaçaram e sua garganta queimou ao se
lembrar de como ela havia sentido que sua vida estava acabando naquele dia. -
Eu não fui preparada para isso. Fui preparada parar suportar maldições de
tortura e interrogatórios e eu não sabia que existiam coisas piores do que isso.
– cerrou os dentes lutando contra o nó em sua garganta, o engoliu com força e
lutou para refazer seu orgulho. - Você não sabe o que eu senti, nem o que eu
vivi aquele dia. Posso muitas vezes entrar em conflito comigo mesma quando
vejo no que estou me tornando, mas entenda que a imagem daquele dia, a dor
que eu senti e que ainda sinto quando me lembro que eu poderia estar
contando os dias para segurar minha menina agora é a motivação mais forte
que eu tenho para acabar com a vida de quem ameaçar me fazer passar por
isso novamente. – concluiu muito confiante de suas próprias palavras.
Draco não pronunciou sequer uma palavra por um bom tempo. Eles se
encararam em silêncio até que ele se aproximou ainda mais e perguntou:
- Vou te treinar.
As palavras dele a pegaram de surpresa. Não tinha a mínima ideia de como ele
pretendia fazer aquilo, mas com toda a certeza não iria declinar. Se ela
soubesse lutar como uma verdadeira comensal e ainda por cima ser capaz de
usar a magia que sabia iria se sentir bastante invencível.
- Então vamos ter que ir para cama mais cedo. – foi o que ela disse em
resposta e dessa vez ele sorriu se aproximando bem mais, fazendo a ponta dos
dedos deslizarem por sua perna e levantarem a barra de seu vestindo.
- Essa é uma excelente ideia. – ele usou aquela voz que a fazia arrepiar.
Puxou o ar sentindo-se já fraca e quis muito rosnar. Ele tinha que parar de ter
aquele poder sobre ela.
**
- Por isso mesmo decidi que estava na hora de dar uma oportunidade a
imprensa. Se as pessoas veem tanto interesse em mim ou em minha relação
com Draco, elas merecem respostas. – sorriu educadamente como deveria.
Hermione sorriu.
- Isaac e Astoria Bennett tem uma filha que por sinal tem se tornado uma
celebridade e tanto devido ao bom gosto para as roupas que usa. Você e seu
marido acabaram de fazer um ano de casados e devo parabeniza-los por isso. –
Hermione sorriu e agradeceu educadamente. – Vocês dois não se sentem
inspirados?
- Você quer dizer se pensamos ou não sobre filhos? – ela quis ter certeza
de que estavam entrando mesmo naquele campo.
- Você sabe o que eles dizem sobre nunca se conhecer uma pessoa
verdadeiramente até ir morar com ela. Não me entenda mal, não quero dizer
que Draco não era bem o que eu esperava que ele fosse. – suspirou um tanto
frustrada, mas sorriu. – A verdade é que realmente ele não é quem eu
esperava que ele fosse. – Não havia se preparado para aquela pergunta. – As
pessoas se sentem atraídas por ele por toda a beleza física que ele tem, talvez
pelo ar um tanto misterioso e também pelo poder que tem, mas Draco é bem
mais do que tudo isso. Eu pensei que o conhecia quando me casei com ele, mas
a verdade é que ele parece ter uma surpresa para revelar todos os dias. Ele é
um homem muito interessante, muito profundo e as vezes tenho a impressão
de que mesmo ficando com ele para o resto da vida nunca vou chegar a
conhecê-lo realmente. - foi exatamente ali que ela percebeu que não estava
mentindo nem omitindo como fizera com as outras perguntas. – A vida como
ele é um desafio. Eu não teria o desafio que tenho com ele todos os dias com
nenhum outro homem. E talvez ele também se sinta da mesma forma com
relação a mim. Nós dois temos nossas divergências, claro, mas aprendemos um
com o outro. Acredito que esse é o processo que temos que passar para nos
tornarmos realmente uma família.
- E você o ama?
Hermione sorriu.
- Definitivamente. – mentiu.
- Então nós terminamos por aqui. – concluiu o homem satisfeito, pegou sua
pena e fechou o caderno. – Mais uma vez obrigado e é uma honra. – se
levantou e estendeu a mão. Hermione a apertou. – A matéria sairá essa
próxima semana junto com a cobertura de todo o evento.
- Se ousar mudar uma vírgula do que quer que foi dito aqui pode dar adeus
a carreira que construiu. – usou seu tom mais educado.
O homem apenas engoliu em seco e ela deu as costas seguindo pela larga
galeria onde estava. Desceu os poucos degraus que davam para o hall central
da entrada do salão principal e não demorou para encontrar Draco não muito
distante discutindo com um grupo de homens. Nenhum deles usava os trajes
para a Cerimônia de Inverno, o que indicava que ele já estava resolvendo
problemas antes mesmo de conseguir entrar no salão. Os olhos cinzas dele se
encontraram com os dela, cruzando a distancia que estavam, enquanto ele
parecia comentar sobre algo não muito agradável com um dos homens que
carregava um rolo grande de pergaminho.
Ela balançou a cabeça em sinal de que aquele não era um bom momento para
trabalhar. Ele apenas ergueu de leve as sobrancelhas, encolheu os ombros
quase que imperceptivelmente avisando que não tinha muita escolha e tornou a
dar atenção ao grupo.
Olhou para os lados e quando notou todos entretidos com algo, virou-se para
alcançar a saída mais próxima. Não era um bom sinal Draco ter notado sua
presença no hall. Ela esperara que ele já tivesse conseguido entrar no salão
aquela altura embora o evento ainda estivesse no início. Não queria que ele
soubesse que sua breve ausência tinha outro motivo além da entrevista que
havia dado.
Eles quase não haviam conseguido chegar a tempo. Várias noites Draco
acabava não voltando para casa porque estava impedindo de deixar Brampton
Fort. Voldemort o impedira de deixar a cidade até que Hermione engravidasse.
Ele não ficara muito satisfeito quando ouvira a desculpa de que sua ausência
era a culpada pelo atraso na chegada do herdeiro que ele tanto queria. Isso
estava fazendo com que seu trabalho na Catedral não tivesse hora definida.
Hermione acabava o acompanhando muitas vezes. Draco nunca havia
questionado sua presença e ele parecia até gostar. Mas aquela tarde ela havia
voltado para casa porque percebera que todo seu envolvimento com a guerra e
sua participação na organização do evento a fizera esquecer que deveria ter
escolhido uma roupa.
Sua grande sorte era que muitas das grandes marcas e estilistas mandavam-
lhe roupas em excesso o que diminuía uma boa porcentagem do trabalho que
teria para encontrar algo em cima da hora. Tryn também era a melhor elfa que
alguém poderia ter. O grande problema é que toda a ajuda que conseguiu fez
com que o processo fosse rápido e ela acabasse tendo tempo para se lançar
exausta a um sono incomum que nunca lhe batia naquele horário.
Acabou acordando com um Draco furioso por ter presenciado seu descaso. Teve
que se apressar assim como ele que também não havia conseguido ser liberado
da Catedral em um bom horário. Seguiram para a Cerimônia de Inverno com
ela trabalhando para atar as sandálias enquanto os brincos enfeitiçados
tentavam se fechar em suas orelhas e com ele fechando os botões da blusa
enquanto ditava ordens a penas e pergaminhos que eram enviados como
memorandos janela a fora da cabine da carruagem.
Agora, enquanto ela andava pelos corredores procurando a escada que daria ao
lugar onde Fred Weasley assistiria ao evento atado e amordaçado esperando
pelo momento de sua execução, tudo que se passava por sua cabeça era o
quanto estava cansada.
Já fazia algumas semana que Draco tirava alguma de suas horas da manhã
para o que ele chamava de “treino”. Ela considerava tortura, mas ele insistia
que devia estimular os instintos de sobrevivência nela. Ele limitara o uso da
varinha, mas ela só havia conseguido se livrar de vários roxos no corpo e idas
constantes a ala das enfermarias porque tinha um certo conhecimento em usar
magia sem varinha, o que pareceu surpreender e frustrar Draco porque quase
todas as situações que ele a colocava ela era capaz de completar ilesa e sem
muito esforço mesmo quando era obrigada a largar a varinha. O que mais a
interessava eram as situações que lhe exigia atenção, concentração, lógica e
memória. Ela era boa. Ela também era boa em armamento trouxa. Seu pai
costumava a levar para caçar quando era criança. Mas havia se surpreendido
com essa parte porque raras as situações em que comensais usavam alguma
arma trouxa durante qualquer conflito. Ela não sabia que eles gastavam tempo
ensinando comensais a usarem algo tão trouxa como arma de fogo. Mas até
fazia sentido para ela visto que comensais são treinados para saberem
aproveitar de tudo que os cerca, se caso uma arma for parar na mão deles, é
melhor que saibam usar.
- O prisioneiro não deve receber nenhuma visita. Essas são ordens do seu
general. São ordens do protocolo. São ordens do seu mestre! – Ela se indignou.
Hermione cerrou os olhos para Theodoro e encarou o guarda que havia tomado
o status de porta voz.
- É melhor que tenha uma boa história para contar quando seu general
ouvir sobre isso. E você. – tornou a erguer os olhos para Theodoro. – Já que
está aí em cima, faça-se útil e informe a guarda da cela que as trocas
acontecerão de dez em dez minutos agora. – deu as costas fechou os olhos e
soltou um palavrão baixo por entre seus dentes cerrados.
- Seu casamento com Draco pode até te dar o bonito discurso de que
agora, você e ele são um. - Theodoro apressou-se a segui-la. – Mas para mim
Draco continua sendo o único que dá ordens por aqui. – ele chegou ao pé da
escada e avançou para passar dela. – Mas vou obedecê-la, madame. – caçoou
do guarda. – Estou tentando evitar entrar em mais panos sujos com um Malfoy.
– parou a frente dela a forçando a fazer o mesmo. – Mas farei como um favor,
não como uma ordem.
Ele riu.
- Alguém aqui está mesmo aprendendo a ser uma Malfoy bem detestável. –
zombou ele. – É bom que esteja mesmo se tornando alguém que deve ser. –
ele ficou sério repentinamente e se aproximou. – Mas eu sei quem realmente é.
- Não sabe nada sobre mim, Theodoro. – ela queria simplesmente poder
acabar com a vida dele ali mesmo. – O que queria com Fred, afinal?
Theodoro riu.
- Eu falhei com Draco o suficiente para lhe servir de qualquer ajuda por
agora, Hermione. – ele se aproximou ainda mais e abaixou o tom de voz. - Mas
eu estava sim esperando você. Sabia que mesmo se Draco tentasse te parar
você iria conseguir se livrar dele de alguma forma.
- Saia da minha frente, Theodoro. Tem a sorte de eu não ter dito a Draco
que invadiu nossa casa mais de uma vez...
- Acha mesmo que eu vou cair nessa? – se desvencilhou dele quando ele
tentou coloca-la contra a parede. – O que quer com isso?
- Eu sabia que iria tentar achar um jeito de chegar até Fred Weasley
porque eu sei quem você é, Hermione. Tive a oportunidade de conhecer o que
restava desse seu coração quando começou a trabalhar comigo e eu sei que
mesmo que esteja se tornando amarga, você se importa. Se importa com o seu
amigo, se preocupa com ele.
- Não, Hermione. Eu realmente não sei muita coisa, mas a pessoa que você
era, a ingenuidade que carregava, o coração que tinha. Era puro demais para
esse lugar. Eu sabia que viria até aqui porque sei que ninguém mais dessa
cidade faria o mesmo se estivesse no seu lugar. Eu sei que por mais que esteja
aprendendo a sobreviver nesse mundo nada ideal, a Hermione que você sabe
que realmente é nunca vai te deixar. – Ele foi calma e ela mal acreditou que ele
soubesse usar tão bem as palavras. Fechou os olhos e deu as costas a ele. Por
que ele sempre sabia exatamente o que dizer para fazê-la ceder? Não era justo
que ele pudesse ter esse poder tocando na parte mais frágil que ela carregava
agora. – Me diga qual é o seu plano. Eu quero ajudar. – ele estendeu a mão
para tocá-la.
- Não me toque! – ela esquivou e voltou-se para ele. – Você não pode jogar
comigo, Theodore. Jogou uma vez quando me fez entrar para o seu
departamento. Não vai conseguir isso de novo. Eu não sei quais são suas
intenções, eu não estou disposta a cair no que quer que....
- Eu sinto sua falta! Sinto falta de ter nossos cérebros pensando juntos!
Sinto falta da sua companhia, da sua voz, de tudo em você! – ele disse como
se não fosse óbvio, como se fosse um absurdo que ela não se lembrasse que
ele já havia lhe dito aquilo. – Eu quero que venha para o meu departamento
por escolha, por vontade própria, não porque foi forçada ou porque o mestre te
quer longe da guerra. Eu quero que você me escolha. Te entreguei a chance
para sair para que assim você pudesse ter a opção de ficar. – ele concluiu e
eles se encararam em silêncio por alguns segundos. – Você não ficou e eu
entendo. Por isso estou aqui, por isso te esperei, porque quero que saiba que
pode confiar em mim. – Ela não queria que fosse um jogo. Não parecia ser um.
Os olhos dele estavam honestos o suficiente para convencê-la de que não era.
– Sei que quer chegar até seu amigo, mas entenda que se subir aquelas
escadas seu nome será registrado. Você se manteve longe dele porque sabe a
imagem que precisa construir. Se seu nome for registrado, não importa a
desculpa que der ou a história que tiver, sabe que ninguém irá comprar. Vão
presumir que você ainda se importa ou que talvez ainda se importe com os
rebeldes que te fizeram companhia durante todos esses anos de guerra. Tenho
certeza de que não quer correr o risco de ter isso estampado em algum jornal.
– Hermione espremeu os lábios e soltou o ar. – Me diga o seu plano, Hermione,
porque sei que a essa altura do campeonato você não pode estar com nenhuma
ideia insana de fazê-lo escapar.
- Encontre uma forma de entregar isso a Fred. A poção lhe dará força e o
deixará imune a dor, o que tornará o que quer que ele irá enfrentar naquela
arena muito mais divertido de se assistir. Ele morrerá com honra, lutando até o
fim, até que seus próprios ferimentos o impeçam biologicamente de prosseguir.
– ela soltou o ar. – Ele gostaria que fosse assim. – seu coração apertou mas ela
lutou para não ceder. – Diga a ele... – ela queria que ele soubesse que ela
sabia o que estava fazendo, onde estava se metendo e porque precisava ser
daquela forma, mas não podia arriscar com Nott. Suspirou. – Diga a ele que eu
não tive outra escolha.
Ele assentiu.
- Não sabia que isso existia. – ele disse encarando o líquido no frasco.
- Eu mesma criei. – ela disse. Ninguém saberia que Fred havia bebido
qualquer coisa.
- Você tem um bom coração, Hermione. – antes que ela menos esperasse
ele tocou seu rosto. Com o mesmo cuidado da ultima vez que tivera a
oportunidade. Ele se aproximou em direção a sua boca e ela se afastou. Ele
parou.
- Eu deixei que fizesse uma vez, não vou deixar novamente. – ela não
pensou duas vezes em dizer aquilo.
Ele assentiu novamente concordando com o decreto dela embora não parecesse
muito feliz em ter que escutá-lo. Enfiou o frasco que recebera no bolso em
silêncio e fez seu caminho de volta para a escada. Hermione fechou os olhos
encostando a cabeça contra a parede de pedra.
Hermione sorriu.
Astoria sorriu fazendo uma expressão de que estava se derretendo por dentro.
Hermione riu.
- Não com você! – Astoria disse como se aquilo não fosse óbvio. – Ninguém
vai me notar! Vou escolher alguém menos importante para isso.
Hermione teve que rir, Astoria parecia ter algo mais para comentar, mas
Narcisa surgiu vestida em um elegante vestido cobre a interrompendo.
- Não, Hermione. Não é só isso que importa. – ela parou e Hermione foi
obrigada a fazer o mesmo. Elas se encararam. – Draco e você estão debaixo
dos holofotes vinte e quatro horas por dia. – ela começou com a voz uniforme e
a postura intacta de sempre. - As pessoas adoram a figura de vocês juntos por
causa da romântica história que tem e não vão se cansar enquanto tudo que
tiveram nos jornais sobre vocês for uma rápida caminhada lado a lado como se
fossem dois companheiros profissionais saindo de uma carruagem e entrando
na Catedral, isso quando decidem vir juntos a Catedral. Pelo menos uma noite,
ao menos uma, mostre que ama seu marido e faça isso pelo bem do discurso
que te livrou de ser ofendida de traidora e Sangue-Ruim pelas esquinas dessa
cidade. – Hermione puxou o fôlego com calma para receber as palavras de
Narcisa com paciência. Sabia exatamente o quanto ela se esforçava para
controlar os nervos em eventos que havia organizado. – E não pense que isso
vale só para você. Draco já recebeu o discurso dele. Agora, entre com um
sorriso no rosto e expresse o quanto está grata por ter um tempo livre longe da
guerra em uma cidade perfeitamente protegida. – Hermione se restringiu
apenas em assentir obedientemente. – Belo vestido, a propósito. – ela finalizou
e saiu.
Hermione suspirou e voltou-se para o imenso salão aberto a sua frente. Teria
que ser paciente e forte durante aquela noite. Preparou-se para avançar um
passo, mas ao invés disso regressou dois puxando o ar de uma vez enquanto
tampava a boca com os quando uma onda de náusea bateu contra ela sem
nenhum aviso prévio.
Parou imediatamente com aquele pensamento. Seu cérebro pareceu ativar uma
sirene que fez seu sangue esquentar e seu coração bater mais rápido.
Rapidamente ela começou a voltar no tempo, repassou dados, informações,
acontecimentos, datas e então ela parou, fechou os olhos e soltou o ar com
calma pela boca. Não. Não seria possível. Não iria fazer sentido.
Ocupou-se com uma taça de champanhe assim que teve a oportunidade e fez
seu caminho por entre as pessoas, sendo obrigada a parar e prestar toda a sua
educação quando necessário. Procurou por Draco, mas não o encontrou, o que
a fez se distrair com conhecidas de eventos anteriores. Embora conversar sobre
a vida alheia e as fofocas atuais fosse extremamente entediante, Hermione se
sentia muito mais parte do ambiente do que da última vez que fora obrigada a
atender a Cerimônia de Inverno e isso de alguma forma a ajudava a se sentir
menos tensa.
- Quer algo para beber? – ele voltou-se para Hermione apontando para a
taça vazia que ela tinha nas mãos. Ela sorriu, negou com a cabeça e disse que
estava bem. – Acaso está muito ocupada?
- Nós perdemos.
Hermione foi obrigada a estabilizar sua respiração. Refez sua postura e desviou
o olhar enquanto abusava de alguns segundos para fazer seu cérebro trabalhar
em capacidade máxima.
- Erramos? Nós não erramos! Garrett estava sob ordens! Ele simplesmente
ignorou todo o...
- Garrett viu a fácil oportunidade de conseguir tomar York. Ele tomou uma
decisão que iria lhe poupar tempo e dinheiro. Se pergunte se você não iria fazer
o mesmo no lugar dele. – ela o cortou. – Mesmo que seus homens levassem os
três dias determinados para conseguir tomar a região, no momento em que a
Ordem percebesse que não havia saída, eles usariam a magia para recuá-los. –
ela suspirou - Existe algum ponto cego que estamos perdendo nesse processo.
Ele não parecia muito confiante no que ela havia dito, mas estava
considerando. Assentiu em resposta. Hermione pode ver a frustração escondida
ali no olhar dele. Ele era tão diferente de Harry. Tinha todos os motivos para
sair chutando paredes, derrubando vasos caros, gritando com quem quer que
ousasse cruzar com sua opinião, mas estava ali, com sua expressão neutra
escondendo toda a vontade que tinha de fazer tudo aquilo. Sem dúvida, as
habilidades de sobrevivência que havia desenvolvido para dar conta da pressão
de estar sob Voldemort havia o mudado muito.
Draco assentiu. Ele já sabia daquilo, ela não precisava dizer a ele, mas de
alguma forma parecia justo deixar verbalizado um conforto para sua alma
atormentada naquele momento. Não era bem o conforto que ela costumava dar
a alguém, mas sabia que qualquer coisa além daquilo ou mais íntima do que
aquilo seria demais para os ouvidos dele. As vezes ela sentia que deveria se
vestir de Narcisa para chegar até o estado de compreensão de Draco Malfoy.
- Preciso subir até minha sala. Tenho que lidar com isso. Deslocar Garrett,
trazer de volta as zonas que estavam trabalhando em York, escolher de quem
vou querer depoimentos e como vou emitir um comunicado oficial sobre tudo
isso amanhã. – de repente tudo nele pareceu expressar o quanto estava
exausto. Hermione assentiu. Ela sabia que ele realmente estava, mesmo que
demonstrasse sempre estar em perfeito estado. Fazer o trabalho que tinha que
fazer preso em um lugar apenas fazia o serviço triplicar. – Precisamos fazer
algo. As pessoas estão pesando que estamos discutindo.
Ela se aproximou e ele passou os braços por sua cintura quase que
automaticamente. Hermione não precisou informar o que deveriam fazer, ele
apenas inclinou-se e colou seus lábios nos dela. Ela fechou seus olhos sentindo
o mundo ao redor deles desaparecer. Deveria se odiar por se ver ser envolvida
por ele cada vez mais. Cada beijo, cada toque, parecia fazer com que ela
amolecesse mais. Ela não queria amá-lo, desejá-lo nem derivados de nada
disso. Ela queria apenas uma relação mutua de respeito, educação e
compreensão. A verdade era que conhecia bem o caminho que ela estava
tomando e deveria se odiar por não estar lutando contra. Draco não era um
homem que ela admirava por inteiro e não podia se envolver daquela forma
com alguém que tão pouco conhecia.
Suas bocas se distanciaram minimamente. A sensação da respiração dele
contra seu rosto não a deixava abrir os olhos. Tinha que se afastar, já haviam
feito o suficiente para tirar qualquer pensamento de que estivessem discutindo
da cabeça das pessoas que os cercavam, mas ao contrário disso, ela apenas
ergueu as mãos e tocou o rosto dele. Deslizou seus dedos pelos fios loiros e
bem penteados e antes que pudesse fazer qualquer outro movimento a boca
dele se fechou novamente contra a dela.
Ele sempre a surpreendia. Quando seus lábios brincaram, ele a apertou mais
junto contra seu corpo. Ela sentiu todas as sensações que conhecia correrem ao
mesmo tempo por suas veias. Pensou que por mais que conhecesse o caminho
que estava seguindo e se odiasse por não lutar contra, por mais que já tivesse
andado por aquele caminho vezes seguidas, Draco era confuso demais para que
ela soubesse no que estava entrando. Mal sabia se o caminho que estava
seguindo era realmente o caminho que já conhecia.
Tiveram que finalizar o que quer que estivessem fazendo quando magicamente
entenderam juntos que aquilo não era para carrega-los para cama nem mesmo
para incitar qualquer desejo. Suas línguas mal haviam se tocado e aquilo era
completamente longe do terreno que eles pisavam com frequência quando
faziam sexo. Afastaram-se minimamente novamente. A respiração entre o
pequeno espaço entre seus rostos era tão confortante que ela entendeu o
porque sentia que Draco não parecia querer se afastar. Era quase absurdo
conseguir encarar a realidade de que Draco estava permitindo que aquilo
acontecesse no meio de um salão lotado de pessoas.
- Estou exausto. – ele sussurro. O tom de sua voz denunciava o quanto ele
realmente estava.
Hermione se surpreendeu por escutá-lo verbalizar aquilo. Era como ele não se
lembrasse que estavam em público ou como se não se importasse. Ela jamais
esperaria que ele fosse deixar que ela soubesse de algo como aquele pela boca
dele, nem mesmo quando estivessem sozinhos. Afastou-se mais e abriu os
olhos para vê-lo fazer o mesmo. Surpreendeu-se ainda mais quando ele deixou
que ela vesse que ele pedia por descanso. Seus dedos passaram pelo rosto
dele. Parecia tão humano e despido de qualquer máscara que ela se sentiu
imensamente atraída.
- Tem que vencer uma guerra. Não vai ser fácil. Sabe bem o preço que
deve pagar. – ela se viu dizer e sentiu que estava repetindo alguma cena em
sua vida. Sentiu como se estivesse lidando com Harry nos dias que ele
externava sua fraqueza mais do que o normal. – O que te move é poder e
influência. – Não justiça, como Harry. Talvez a busca por justiça fosse o que
atrasava Harry, afinal. – Sabe que o terá quando tudo isso acabar.
Draco assentiu e como que num clique ele estava neutro e frio novamente,
mostrando a ela que ele definitivamente não era Harry. Ele não precisava dela.
Podia recompor-se quando bem quisesse, sem precisar das palavras, do
conforto ou da companhia de ninguém.
- Preciso ir fazer o meu trabalho. – foi tudo que ele disse antes de deixá-la.
- Está envenenando a mente dele. – Pansy disse assim que chegou a ela.
Hermione suspirou sem paciência para lidar com Pansy naquele momento.
- É isso que diz a ele? Esse é o seu jogo com ele? Eu deveria ter usado esse
discurso antes. Mas claro que você é a sabe-tudo esperta o suficiente para
saber exatamente o que fazer para que ele caia no seu encanto falso. – ela riu
com desgosto. – Vou esperar ansiosa pelo momento em que ele acordar,
porque acredite, eu conheço muito bem Draco Malfoy e ele vai acordar.
- Ah! A sempre boa Hermione. – ela forçou um sorriso amarelo. – Você não
me engana. Nenhuma mulher me engana. Quer Draco tanto quanto qualquer
outra. Eu poderia até duvidar disso no começo, mas agora, agora está
estampado nessa sua cara de santa.
A paciência de Hermione esgotou naquele exato momento.
- Está na hora de você aprender que deve melhorar o tom de voz que usa
comigo. Eu sou quem você sempre quis ser. Tenho o poder e a influência do
sobrenome que você sempre quis. Portanto, se eu fosse você, tomava mais
cuidado com a forma como se dirige a mim. Eu poderia tê-la tirado da
organização da Cerimônia de Inverno no momento que eu quisesse e posso
muito bem acabar com a sua imagem exatamente quando eu quiser.
- E Theodoro era um Nott quando resolveu mexer onde não devia. Não tive
um segundo de hesitação ao fazer o que fiz com ele. O que te faz pensar que
eu teria com um Parkinson? – a alertou. – Fique avisada. O momento em que
eu decidir te esmagar, não vou hesitar. Portanto comporte-se e segure mais
sua língua afiada quando se dirigir a mim. Sou uma Malfoy e evite me fazer
lembrar que a detesto.
- Não ouse mexer comigo, Sangue-Ruim. Draco te faria pagar por isso.
- Tem certeza? – jogou Hermione e ficou surpresa por ver a duvida passar
no olhar dela. Hermione certamente não iria mesmo ousar mexer com Pansy
Parkinson. Sabia que o relacionamento que ela tinha com Draco passava do
sexo. Mas a dúvida no olhar dela lhe passava alguma informação valiosa. – Não
me faça contar os segundos para que você me solte. – aproveitou a deixa da
incerteza que havia no olhar de Pansy para se ver livre da mulher. A desafiou
com o olhar e não demorou para que ela relutantemente a soltasse.
- Não precisa se preocupar comigo. Eu não iria querer ser o culpado por
espalhar algo tão confidencial no momento. Não é todo mundo que recebe um
voto de confiança desse nível de Draco Malfoy. - Hermione assentiu. Se Draco
estava confiando em Isaac para aquela informação ele tinha algum plano com
isso. Provavelmente estava o testando para algo. – Bem, queria apenas ter
certeza de que Draco havia conseguido encontrá-la. Também seria muito
deselegante da minha parte não elogiá-la essa noite. Está fabulosa.
- Oh. Ele teve que subir até o escritório para resolver alguns problemas
relacionados a guerra. Trabalhar aqui de dentro triplica o serviço, mas o mestre
não iria gostar que ele perdesse a Cerimônia de Inverno. – ela explicou.
- Ele está tentando encontrar uma forma de ajudar. Está confuso se deve ir
até Draco se oferecer ou se deve apenas se fechar na dele.
Hermione quase sorriu. Iria dizer que ela estava sendo boba em pensar daquela
forma. Isaac havia sido transferido e uma vez feito isso ele só seria mandado
para outro forte se fosse extremamente necessário ou se fizesse uma grande
besteira. Ele não precisava ficar tão preocupado em se mostrar tão altamente
útil. E foi com aquele pensamento que ela recuou. Um filme repassou pela sua
cabeça desde o primeiro momento em que foi apresentada a aquele casal.
Sempre muito gentil, sempre muito prestativo, sempre se mostrando de
confiança, sempre buscando se aproximar deles. Sempre buscando se
aproximar deles. Se aproximar de Draco e Hermione. Isaac havia a parado
minutos atrás para ter certeza de que Draco havia a informado sobre terem
perdido York para poder ir até Astoria e lhe dar sinal verde para procurá-la e
dizer todas aquelas besteiras. Dessa forma Hermione se compadeceria do
estado de ambos, consolaria a mulher e diria que Isaac poderia procurar Draco
se quisesse e achasse que poderia ser útil naquele momento. Inspirou e sorriu
sabendo que deveria continuar o jogo deles.
- Você tem sido uma boa amiga, Hermione. – ela disse. Hermione sorriu
em resposta e Astoria seguiu seu caminho, muito provavelmente em busca do
marido.
Hermione desfez seu sorriso quase que no mesmo instante. Procurou por
Narcisa no meio daquela multidão e foi encontrada grudada no braço de Lucio
Malfoy que parecia bastante entretido com seus companheiros do Ministério da
Magia. Aproximou-se, chamou sua atenção e afastou-se com ela ao seu lado.
- Por que?
- Quão esperto ele é? – ela repetiu mais pausadamente para se fazer bem
clara.
- Muito. – ela respondeu. – Ao menos costumava ser. Os Bennett foram a
única família a serem admitidos dentro do círculo importante do mestre mesmo
não tendo jurado lealdade desde início. Sobreviveram inúmeras quedas
financeiras na história. São bastante espertos. O pai de Isaac o ensina sobre
negócios desde criança. Por que está interessada em...
Ela recebeu o olhar que ele lançou para ela quase que em câmera lenta. Dizia
em silêncio e discretamente que o quer que ela quisesse que ele tivesse feito,
estava feito. Automaticamente começou a pensar em como agradeceria por
aquilo, mas logo tratou de balançar a cabeça afastando aquele pensamento e
se focou em Draco.
Aquilo a surpreendeu.
- Você já sabe?
- Te encontro em minha sala. – foi tudo o que ele disse antes de dar as
costas e seguir o homem, sumindo pela primeira esquina que viraram.
Sentia-se viva.
28. Capítulo 28
Hermione Malfoy
O som de seu salto contra o piso ecoava pela sala pequena enquanto andava de
um lado para o outro pensativa.
- Então está me dizendo que a equipe do qual estava responsável durante
a ação apenas ignorou suas ordens, sabendo que você era a voz do
comandante para eles naquele momento, e seguiu com o plano inicial como
havia sido ensaiado nas salas de simulação? – ela elaborou a sentença.
- Até onde me recordo, você havia dito que eles podiam te escutar
perfeitamente. Se eles podiam te ouvir e moveram-se de acordo com o plano
original e não o modificado, significa que eles te ignoraram. – ela falou como se
não fosse bastante óbvio.
- Escute, dona...
- Esse é o seu julgamento, mas a verdade é que não estava lá. Não
saberia.
- Estou farta disso! – vociferou, deu as costas e saiu batendo a porta com
violência.
- Sra. Malfoy, nós ainda temos mais 10 pessoas para colher depoimento
antes do intervalo. – sua assistente nomeada apressou-se a segui-la quando
ela avançou pelos corredores
- EU ESTOU FARTA! – parou lançando sua pasta furiosa contra a parede. –
QUAL É A RAZÃO DE FAZERMOS ISSO SE TODOS ELES CONTINUAREM
MENTINDO? – voltou-se para a mulher. – NÃO VOU PERDER MEU TEMPO COM
ISSO! – deu as costas e continuou avançando firme.
A cada passo que dava sentia sua respiração ficar cada vez mais apertada,
como se não conseguisse puxar o tanto de oxigênio que realmente precisava.
Os nervos pareciam correr sua pele e ela começou a sentir que poderia suar
litros com o calor que subia pelo seu corpo.
Virou uma esquina e passou por um conhecido beco. Apertou o passo ao entrar
dentro do lavatório feminino. Empurrou a porta da primeira cabine que seus
olhos alcançaram, debruçou-se sobre a porcelana do sanitário e despejou ali
tudo que havia em seu estômago.
Cuspiu quando terminou o serviço sentindo mais raiva do que deveria. Ofegou.
Cobriu os olhos com uma mão e chorou. Não. Não. Não. Não. Não! Como pode
ter sido tão burra, tão estúpida, tão descuidada, com algo tão sério? Tentou se
controlar respirando fundo três ou quatro vezes e então se levantou. Foi até a
pia, colocou água na boca para tentar se livrar do gosto amargo e limpou suas
bochechas molhadas com os dedos trêmulos.
Fechou os olhos, respirou fundo mais vezes soltando o ar pela boca. Molhou
uma mão na água, afastou os cabelos e tocou sua nuca para refrescar-se e
deixar que o som da água corrente tivesse algum efeito calmante. Quando
conseguiu sentir que tudo estava sob controle, abriu os olhos e se encarou pelo
espelho. Lide com isso. Era tudo que deveria pensar.
Verificou seu vestido, puxou lenços de cima do mármore da pia para esfregar o
tecido sobre os joelhos, mas acabou apelando para a varinha. Tentou melhorar
o estado de seu cabelo, limpou as manchas de maquiagem debaixo dos olhos e
refez sua postura. Olhou-se no espelho novamente. Puxou o ar. Era uma
Malfoy, sua vida era um grande inferno mas precisava se apegar ao seu orgulho
naquele momento.
Alinhou o vestido e saiu para o corredor. Voltou para a sala principal daquela
ala, pegou seu sobretudo, suas luvas de couro, seu cachecol e sua touca.
Desceu, deixou o quartel e seguiu para o jardim interno. O inverno estava
quase chegando ao fim, mas ainda havia gelo por toda parte. Ela sabia que a
primavera daria sinais tardios aquele ano, como sempre. Brampton Fort era um
poço de Dementadores e o que diziam era que o lugar todo iria ao colapso se
eles desaparecessem. Ela não acreditava nos rumores. Apostava que a
combinação dos Dementadores com a terra serviam de algum benefício a favor
de Voldemort, o que explicava a Cerimônia de Inverno e sua importância. Mas
Hermione agora pouco se importava com isso, haviam mil coisas mais
importantes para se preocupar e o que quer que fosse não parecia interferir na,
ainda misteriosa, conspiração de Draco.
O vento frio que a cortou desacelero seu passo. Enfiou as mãos no bolso e
parou de frente a um espelho d’água congelado. A estátua no meio segurava
dentes de gelo que pareciam longe de querer começar a derreter. Hermione
logo sentiu a lã de sua meia-calça não ser tão eficiente contra o frio, mas
mesmo assim apertou os cotovelos contra o corpo e permaneceu onde estava.
Sentir-se castigada pelo frio a fazia se sentir ao menos minimamente melhor
naquele momento.
Tentou não pensar em seu estado, em estar enjoada e com sono. Aquilo traria
mais nervos a tona. Mas tentar não pensar naquilo e fazia se lembrar de Fred,
algo que a perseguia tanto quanto suas agoniantes suspeitas que se tornavam
cada vez mais certezas sempre que o dia virava. Fred morrera como um herói
orgulhoso, lutando naquela arena com tanta coragem e tanta força que até
mesmo Voldemort se irritou por não ver o rebelde cair com tanta facilidade. Até
mesmo os Dementadores ficaram impacientes e ela conseguiu sentir que as
reações do público que assistia começou a mudar de lado, torcendo, talvez pela
primeira vez, para que o rebelde conseguisse vencer as provas mortais.
Mas Fred caiu, eventualmente, e Hermione até teria tido tempo de chorar pela
sua morte se não tivesse que sair as pressas para atender a confusão no
departamento de Draco para acabar virando a noite com homens da Comissão
analisando as reações da Ordem durante o ataque. Desde então ela não havia
tido tempo de se lamentar por Fred como deveria e agora que estava se dando
esse tempo, esperou pela lágrima, mas ela não veio.
- Hei. – escutou uma voz familiar a chamar e olhou por cima dos ombros
para ver Narcisa de aproximando. – Estava chegando com Bella quando a vi
vindo para cá.
Hermione fez uma careta ao escutar o nome de Bellatrix.
- Tem certeza? Seu eu fosse você, mandava fazer alguns teste para
verificar a veracidade dessa informação.
Narcisa riu. Hermione entendia que ela procurava manter contato porque
Bellatrix era a fonte mais próxima de Voldemort que existia no mundo inteiro.
Suspirou e continuou a encarar a jornada de uma pequena aranha quase
invisível pela água congelada.
Uma lufada de vento a cortou novamente e ela piscou mais devagar para poder
apreciar a sensação, inalar com vontade e ver sua respiração condensar ao
soltar o ar pela boca. A ponta de seu nariz já estava dormente.
- Você é observadora.
- Estamos falando de Draco Malfoy. Não é como se ele fosse me contar
essas coisas. Se eu não o observar jamais vou conseguir entendê-lo ou
conhecê-lo.
- Não poderia julgá-lo. Nossos padrões são muito diferentes. Não saberia
dizer. Talvez para mim ele não esteja fazendo esforço algum, e talvez para ele
esteja fazendo mais do que um dia faria com qualquer outra pessoa.
Astoria riu.
- Vocês não tem ideia do que são anos de casamento, Hermione. – disse. –
Vão sim acabar enfrentando isso eventualmente com o tempo. Principalmente
se começarem a gostar um do outro.
Foi a vez de Hermione rir.
- Draco não vai te bajular só porque te quer, Hermione. Ele não é qualquer
homem que vai encontrar por aí. Ele é acostumado a ter mulheres sem precisar
fazer muito esforço. Já deveria saber isso.
Ela riu.
- Eu pensei que Draco fosse teimoso, mas você parece ser tanto ou mais do
que ele. Imagino o que deve ser aquela casa quando discordam sobre algo. –
comentou.
Hermione riu.
As vezes? Hermione jurava que, na verdade, era sempre. Sentia-se mal por
Narcisa com frequência. Ela era dedicada, devota e imensamente amorosa com
um homem que deveria ser o mesmo com ela, mas ao invés disso se
aproveitava de seu bom coração. Para Hermione aquilo era um imenso pecado
e por muitas vezes julgava Narcisa insana por permiti-lo, apoiá-lo e por muitas
vezes encorajá-lo.
- Por que não o deixa? – Nunca ousava interferir naquele assunto, era algo
privado que permitia somente a Narcisa. Além de tudo isso, era obscuro o
suficiente para fazê-la se manter longe, mas acreditava que havia chegado em
um estado de sua estranha relação com sua sogra que talvez permitisse que
fosse um pouco mais invasiva.
- Você é apenas um status para ele. Esposa. Nada mais. – não sabia se
deveria dizer aquilo, mas já que estava arriscando pisar naquele campo, não
pouparia o risco.
Ela acreditava que aquilo era o que todos pensavam, não somente ela.
- Ele não é somente infiel a você. Ele te usa, se aproveita de sua devoção
por ele...
Se encararam por alguns segundos. Hermione sabia que jamais venceria aquela
batalha se continuasse se focando na péssima pessoa que Lucio Malfoy era.
- Não.
Hermione podia quase sorrir por escutar aquela resposta se já não soubesse o
quanto aquilo era absurdamente deprimente.
Hermione não tinha o que contestar diante daquilo. Desviou o olhar girou os
punhos dentro do bolso de seu sobretudo e se sentou na mureta de tijolos que
continha a água. Usou a sola do sapato para brincar com uma minúscula pedra
sobre o pavimento de concreto por alguns segundos.
- Ele não faz o que quer comigo. Ele aprendeu o que deve fazer para que
eu diga “sim”. Nós estamos a muito tempo juntos. Tivemos tempo o suficiente
para aprendermos um sobre o outro.
- Porque isso faz parte de quem ele é. Não significa que ele não me ame.
- Por que ele sabe que sempre vai estar lá no momento em que ele quiser
que você esteja. Ele vai voltar para você quando bem quiser e saberá que vai
estar lá para atende-lo.
Ela encheu a boca novamente cheia de força para entrar firme naquela
discussão, mas exatamente como da outra vez, tornou a fechá-la ao chegar a
um impasse. Desviou o olhar e respirou fundo.
- Escute, Hermione. – seu tom foi suave – Já tive essa discussão com
Draco um milhão de vezes. Você não entende, assim como ele também não
entende o que Lucio e eu realmente somos. Draco acha que nós somos uma
projeção desastrosa do que fingimos ser para ele por muitos anos, você talvez
deve me ver como uma cega apaixonada por um homem sem caráter. –
suspirou – Isso não é verdade. Somos apenas um casal tentando sobreviver a
um casamento arranjado. Essa é a verdade.
Não. Essa não era a verdade. A verdade era que Narcisa não passava de uma
mulher infeliz por amar um homem que abusava de seu bom caráter. Essa era
a verdade. Levantou-se e foi até a mulher.
- Você é uma boa pessoa. Merece ser feliz. Essa é a verdade. – disse.
Tratou de pedir licença quando decidiu que precisava voltar. Seguiu seu
caminho de volta para o centro de treinamento, subiu até a ala onde tomava os
depoimentos, chamou pela assistente nomeada para ajuda-la e seguiu com a
lista de homens e mulheres que deveriam prestar depoimento. Dessa vez
procurou ser paciente. Eles mentiriam de qualquer forma, ela não perderia mais
seu tempo encontrando formas de ser esperta nos questionamentos para pegá-
los desprevenidos.
Verificou as horas quando finalmente conseguiu terminar seu serviço. Era meio
de tarde e ela sabia que tinha mais trabalho a fazer, mas antes de prosseguir
para sua próxima tarefa, mudou sua rota da ala que deveria seguir para a torre
de Draco. Sabia que naquela tarde ele atenderia a reunião mensal com o círculo
interno de Voldemort, mas esperava que ele já estivesse de volta e de fato,
quando chegou a torre do marido, encontrou a porta de sua sala aberta
ocupando ele e seu grupo de líderes.
Não demorou para que o último homem saísse carregando a nova ordem.
Hermione moveu-se assim que a porta foi fechada e tomou a frente. Draco
estava extremamente ocupado, como sempre, mas diferente do sempre, onde
ele aparentava sua expressão neutra e indiferente, ele estava agitado, agitado
de uma forma que a fazia entender que talvez ele estivesse contento algum
tipo de fúria
Ele ergueu os olhos para ela com a sobrancelha levantadas quase que
imediatamente. Hermione percebeu que havia cometido um erro no mesmo
instante.
Ela não deveria falar daquela forma com ele. Ele não era Harry. Não poderia
dizer a ele o que fazer, como agir ou qual a melhor decisão a tomar sobre a
guerra que carregava nas costas. Draco já havia feito aquilo sozinho por muitos
anos e com bastante sucesso.
- Se não fizer nada vão sentir que poderão mentir novamente em alguma
outra situação delicada. – ela apressou-se para se justificar.
- Não me diga o que eu já sei. – quando ele soltou aquilo em um tom muito
próximo ao da ignorância, ela conseguiu medir o nível da raiva que estava
contida dentro dele. Draco não tirava sua expressão neutra e fria do rosto com
facilidade.
Hermione respirou fundo, seria melhor deixar aquilo para outra hora, mas não
podia simplesmente deixar que o humor dele vencesse o estado em que eles
estavam dentro daquela guerra agora.
- Mas mesmo assim estou a colocando na mesa junto com todas as outras
que deve receber por conta própria! Quem sabe assim talvez se dê conta de
que pode estar cometendo um erro!
Aquilo o enfureceu elevando ao seu nível de incredulidade a um ponto que ele
parecia quase sem palavras.
- Acha que é melhor do que eu? Devo lembrá-la quem é o general aqui? Eu
carrego esse título por muito tempo e com muito sucesso!
Ela não tinha o direito de dar ordens a secretaria de Draco e nunca havia dado.
O silêncio que percorreu entre eles alertou a Hermione o tanto que ela e Draco
havia progredido nas oitavas do tom que usavam um com o outro durante
aquela discussão que não os levaria a lugar algum.
Havia cometido um erro grave lançando aquela ordem a Tina que agora pulava
seus olhos dela para Draco um tanto desconcertada por perceber ter entrado
em uma hora não muito boa. Hermione desviou seu olhar para Draco
esperando um olhar intenso e reprovador e foi exatamente o que recebeu. Tina
continuava paralisada. Ela não precisava obedecer Hermione, portanto se
mantinha ali esperando por uma ordem definitiva de Draco.
- Agora não, Tina. – foi tudo que ele resolveu dizer sem tirar os olhar
mortal de cima de Hermione e no momento em que a porta tornou a se fechar
ela decretou definitivamente que era melhor deixar para ser teimosa em outro
momento. – Você não dá ordens a minha secretária. – ele logo tratou de dizer.
- Eu não queria ter feito isso. – ela acabou dizendo. Quando abriu os olhos
para encarar Draco, ele tinha um olhar desconfiado sobre ela. Eles se
encararam em silêncio alguns segundos. – Estou tão frustrada quanto você,
Draco, entenda. Essa discussão não irá nos trazer nada além de perda de
tempo. Estou apenas querendo o ajudar e sabe o porque. Não sou nenhuma
das pessoas que o julgam por não estar tendo sucesso ultimamente, não sou
ninguém querendo tomar o seu lugar, não estou avaliando nenhuma das suas
decisões para leva-las a Voldemort. Sabe disso.
Hermione finalmente entendeu que toda a frustração dele não era sobre as
tentativas mal sucedidas em York e sim o fato de perceber que depois de todo
o seu esforço, seus homens ainda eram, na verdade, homens de Voldemort.
- Oh. – foi tudo que ela pronunciou. Aquilo mudava completamente a forma
como ela deveria ver as coisas. Respirou fundo sentindo que poderia ficar tonta
a qualquer momento. – Isso não é nada bom. – Aquilo significava que a
conspiração de Draco, em que ela apostava tanto, havia regredido
enormemente naquele improvisado teste de fidelidade. Não havia hora pior
para que ela engravidasse. – Talvez... – tentou pensar rápido. – Talvez seus
homens realmente sejam fieis a você. Talvez você deva testá-los de uma forma
melhor programada ou menos agressiva, que não os exponha tanto como
traidores de Voldemort.
- Não posso testá-los, Hermione! – ele exclamou como se não fosse óbvio.
– Enquanto eu estiver preso aqui, vou ser o general sentado em uma cadeira
mandando seus homens para uma guerra! As coisas já estão ruins, não quero
piorá-las! – ele bufou e deu as costas.
Hermione respirou fundo mais uma vez. Abraçou a própria cintura, colocou uma
mão sobre a testa e fechou os olhos por alguns segundos. Mordeu os lábios.
Precisava dizer a ele. Era o pior momento, mas ela precisava. Suspirou e abriu
os olhos. Observou-o derramar whisky num copo, o virar em um gole só e
inclinar-se sobre a bancada onde expunha suas bebidas.
- Draco. – o chamou. Era um bom passo. Ele ergueu os olhos para ela. –
Acho que estou grávida. – disse de uma vez.
Ele não expressou absolutamente nada por alguns segundos e tudo que houve
entre eles foi um silêncio mortal que a corroeu loucamente.
- Você acha? – foi tudo que ele disse.
- Conto nos dedos as vezes em que estive aqui e fizemos sexo antes de
receber a ordem de que não poderia mais deixar Brampton Fort. Você estava
cuidando de suas datas. Não pode estar grávida. – ele foi sério.
Ela não tinha nenhum palavra que pudesse confortá-lo. Sentia-se apenas
extremamente culpada. Seus hormônios queriam fazê-la chorar por ser tão
burra, mas ela não traria aquele desgosto para si mesma ao se permitir ser
vencida pelo seu lado frágil. Ela não era frágil. Não poderia ser.
- Não sei como. Não posso estar grávida. – deu de ombros - Mas ao mesmo
tempo que penso isso, sinto tudo, exatamente como da última vez.
Draco processou aquilo. Soltou o ar num riso fraco e sem nenhuma graça, deu
as costas e andou de um lado para o outro apenas uma vez antes de passar a
mão pelo cabelo e surpreender Hermione ao lançar contra a parede o copo que
segurava. Ela fechou os olhos recuando um passo ao som busco do vidro de
quebrando em mil pedaços e imaginou Tina do lado de fora sentada em sua
mesa se questionando o que diabos estava acontecendo. Hermione apenas
esperava que a mulher fosse discreta o suficiente para não ousar sequer
mencionar aquilo com ninguém.
- Não pode estar grávida. Esse é um péssimo momento. – ele disse depois
de um bom tempo sem mover os olhos. Ela não tinha absolutamente nada para
rebater aquele comentário. Aquele era de fato um péssimo momento. Ela havia
construído expectativas em cima do seu desempenho nas salas de simulação
quando Draco se dava tempo para treiná-la. Embora agora com a rotina tão
bagunçada quase não houvesse tempo para que se ocupassem com a parte dos
treinos, ela havia surpreendido o suficiente para que já começassem a pensar
juntos uma forma de barganhar sua saída de Brampton Fort para o campo de
York a Voldemort. Draco fechou os olhos e soltou o ar pendendo a cabeça para
trás. – Nós dois não devíamos...
A voz dele morreu. Ela sabia que ele diria que não deviam ter praticado sexo
quando sabiam que os medibruxos haviam usado alguma magia em Hermione,
mas sabia também que eles não teriam sobrevivido por muito tempo sem sexo.
Teriam se matado antes disso, porque por mais que tivessem conseguido
superar muitas coisas no relacionamento frágil que tinham, sexo continuava
sendo o que mais os mantinha longe de sérios e obscuros conflitos que os
dividiam e os traziam de volta a realidade de que tinham uma história antiga e
não resolvida.
Ele a encarou imediatamente bastante aborrecido com o que ela havia o feito
escutar.
- Nós já perdemos uma filha, Hermione! O que te faz pensar que considero
perdemos outro?
Ela suspirou.
- Não finja ignorar que é uma solução viável para a situação em que nos
encontramos agora.
Ele abri a boca para protestar contra o que ela havia dito, mas no último
momento decidiu fechá-la sem emitir som algum. Outra batalha pareceu ser
travada em seu cérebro e ele se levantou como se estivesse sendo
profundamente atormentado. Puxou mais um copo de whisky e o virou. Para
Hermione, era completamente angustiante o ver naquele estado quando estava
acostumado a vê-lo apenas por trás de sua máscara de neutralidade mesmo
quando o mundo parecia estar desmoronando a sua volta. Ali ela podia ver o
que era mais importante para ele dentro daquele jogo. Destruir Voldemort. E
ela simpatizava tanto com aquilo que chegava ao ponto de sentir orgulho do
trabalho que ele fazia e de como fazia, mesmo sendo sujo, mesmo sendo
altamente questionável. Era contra Voldemort.
Também não deixava de se sentir importante por ver que ele se permitia
despir-se da armadura que sempre usava para mostrar o que realmente se
passava com ele ali, diante dela. Diferente de como havia se apresentado ao
seus líderes mais cedo, com sua postura estável e inabalável de general
lançando ordens, determinado a seguir aquela guerra mesmo tendo sido
derrotado duas vezes.
- Estou exausto. – ele soltou inclinado sobre a bancada de bebidas depois
de um longo silêncio. Ela sabia que ele estava. – Você também está. – ele
endireitou a postura. – Não estamos pensando direito. – A encarou e
movimentou-se passando por ela e abrindo a porta da sala a suas costas. –
Tina, feche os compromissos de hoje. – ordenou ele. – Estou indo para casa
com Hermione.
Hermione até pensou em questionar não ser uma boa opção deixar a Catedral
em um momento como aquele, mas não ousou questionar Draco e a ideia de
voltar para casa também foi tão loucamente tentadora que ela apenas deu as
costas, atravessou a soleira da porta dele, voltou para a ala onde estava antes,
buscou suas coisas e o encontrou somente na saída do pátio leste onde o
acompanhou até a carruagem que tomaram de volta para casa.
Era bom saber que estava no caminho para o aconchego e calor do lugar que
havia aprendido a ver como um lar. Aquelas últimas semanas haviam sido um
desespero atrás do outro. Draco tinha o trabalho triplicado por não poder deixar
o forte e raras as noites que voltava para casa. Hermione havia perdido a conta
das noites que eles passaram atravessando os corredores do quartel com
papéis, homens, ordens a cumprir e decisões a tomar. Draco era muito mais
forte do que ela e nunca, absolutamente nunca, deixava aparentar estar
cansado, mesmo que realmente estivesse esgotado. Hermione tentava fazer o
mesmo, mas muitas vezes havia se entregado ao cansaço cochilando em cima
de pilhas de pergaminhos. Draco mesmo já havia a acordado quatro ou cinco
vezes na antecâmara das salas de simulação dizendo que ela deveria ir para
casa.
Ela ia, sempre se sentindo derrotada. Se perguntava como ele conseguia ter
tanta energia. Nem mesmo o melhor dos bruxos conseguiria ficar de pé por
tanto tempo, nem mesmo a base de poções. Quando ele ia para casa era
sempre tarde e era sempre direto para a cama. O horário do jantar já havia se
perdido, assim como o do café da manhã e muitas vezes o almoço não existia
para a barriga dele nem a dela. Sexo era um luxo e normalmente era algo
simples e mais rápido que ocasionalmente acontecia pela manhã quando
estavam no chuveiro ou na cama mesmo e tinham energia o suficiente, o que
era raro.
Aquela parecia de longe ser uma situação que Draco sabia enfrentar, parecia
dentro da normalidade de uma guerra, dentro do que ele costumava encarar e
já havia o feito dezenas de vezes nos anos anteriores. Mas o que o atrapalhava
era o fato de não poder se descolar da Catedral até o local do problema.
Trabalhar daquela forma estava atrapalhando as estratégias que ele adotava
para enfrentar os problemas daquela guerra da forma com era acostumado a
fazer. Voldemort certamente não se importava que York fosse um povoado
importante nas mãos dos rebeldes. Aquilo a mostrava o quanto aquele herdeiro
era importante para ele.
No momento exato em que passou a soleira da grande porta para o lado de
dentro de sua casa sentiu o conforto do ar quente a envolver. Respirou fundo e
virou a esquerda do hall principal indo direto para o vestíbulo, onde se despiu
de todas as camadas que a protegiam do frio. O cheiro de seu lar e o calor a
trouxe tanto conforto que ela também se permitiu tirar os sapatos e puxar os
cabelos para prendê-los desajeitadamente no topo da cabeça. Limitou-se a
observar Draco quando ele passou por ela, pendurou sua capa e seguiu pela
saída que dava direto ao corredor da sala de jantar.
Hermione caminhou por entre as salas sem rumo apenas para apreciar a
sensação de estar em casa. Apreciava a bela decoração que muitas vezes era
esquecida com a rotina de viver ali. Avaliou os novos móveis de sua sala de chá
e sorriu ao lembrar das sérias objeções que Draco teve contra as cadeiras.
Haviam chegado a um consentimento de que ela as trocaria se pudesse refazer
a casa de poções no sótão a seu gosto. O conflito havia sido grande porque a
casa de poções parecia ser de alto valor para ele, mas como Hermione já havia
tomado o ambiente como sua área particular fazia bastante tempo, não deixou
que ele revogasse algum direito pelo espaço antes abandonado agora. Ao
menos ela havia vencido a discussão, mas teria que se desfazer das cadeiras.
A ideia de saber que tinha até a manhã do dia seguinte para apenas ficar ali e
não somente dormir as horas que dava para voltar o mais rápido possível a
Catedral a fazia bem de uma forma que quase lhe arrancava um sorriso bobo
se não tivessem tantas preocupações rondando sua cabeça. Tentou se limitar a
pensar apenas se prepararia um bom e relaxante banho ou se iria a cozinha
encontrar algo para colocar no estômago antes que ficasse enjoada novamente.
Foi até o andar de cima, buscou em um armário uma boa e pesada manta,
tornou a descer e seguiu para o quintal de sua casa. Calçou as botas de plástico
paradas ao lado das portas que davam para o lado de fora. O calçado era de
um tom berrante que nada combinava com sua roupa, ia até quase seus
joelhos e eram muitos números acima do seu. Eram botas de chuva, não de
neve, mas ela não molharia suas meias de lã na neve acumulada. Quando
passou para o lado de fora e foi recebido pelo vento gelado, tratou de abraçar o
tecido volumoso que carregava. Algumas mechas de seu cabelo se soltaram e
ela tratou de coloca-las atrás da orelha enquanto avançava com cuidado pelas
escultura e ornamentos caro até chegar a escadaria.
Ela conhecia bem Draco para saber que ele havia notado sua aproximação
embora estivesse a ignorando. Hermione desceu até o degrau onde estava
sentado. Observou a paisagem branca e pura que Draco encarava por alguns
segundos antes de voltar-se para ele.
- Sei que gosta de ficar aqui, mas poderia pelo menos se cobrir com isso? –
ela estendeu a manta para ele. Draco apenas ergueu os olhos para ela como se
perguntasse o porque da preocupação dela. – Não quero ser a esposa
inconsequente caso venha a morrer congelado aqui fora. Sua mãe me culparia
por não ter feito nada.
Aquilo o fez rir, o que talvez tenha o motivado a erguer a mão para pegar a
manta, mas não o suficiente para se cobrir com ela. Ela não ficou satisfeita,
mas bem, se ele viesse a morrer pelo menos Hermione poderia justificar que
havia feito algo a respeito.
- Meu pai certamente a obrigaria a nunca se casar e ter um filho sem pai
para que ele pudesse carregar o nome Malfoy.
- Bem, esse é um bom motivo para você se cobrir então. Nós não o
queremos morto.
Acabou por descer mais alguns degraus e se sentou em um deles. Havia ido até
ali apenas para entregar a manta a Draco, mas a dor e agonia que o frio lhe
causava a atraiu exatamente como havia a atraído aquela manhã. A diferença
era que agora seus braços estavam descobertos e as botas de chuva não eram
exatamente uma proteção. Apertou mais os braços ao redor do corpo quando
uma rajada de vento trouxe o gelo contra seu rosto e fez seus cabelos se
soltarem. Foi o suficiente para congelar seus pensamentos e ela ficava muito
grata por isso embora estivesse morrendo de frio.
- Você não precisa ficar aqui. – a voz de Draco soou as suas costas. Se
aquilo foi um convite para pedir que ela o deixasse sozinho ela ignorou. – Você
me parece estar precisando dessa manta mais do que eu.
Ela lançou um rápido olhar para ele por cima dos ombros e sorriu.
- Não seria tão ruim se eu morresse. Você poderia se casar com alguém
que não desonrasse o seu sangue e ter um herdeiro do qual Voldemort não
tivesse interesse em tomar. – ela disse.
Pensou que ele não fosse dizer nada a respeito daquilo, mas depois de alguns
longos segundos em silêncio ele apenas comentou:
Hermione observou o vermelho vivo das botas de chuvas nos pés. Eram
gigantes para ela. Riu ao imaginar Draco as usando.
- É a mulher da casa agora, pode fazer isso. – ele disse sorrindo e ela
soube que foi uma sútil indireta para o fato de como ela mudava a casa,
principalmente nos últimos dias. – Só digo que essas me parecem bem úteis
para o inverno também. Se não fossem não estaria as usando agora. - Ela
apenas sorriu e revirou os olhos. Ele se aconchegou mais contra ela, a
respiração quente acolheu o lado direito de seu rosto e a fez se arrepiar e não
foi de frio. Uma mão dele recuou, tocou sua cintura e deslizou até a parte de
baixo de sua barriga, onde parou. – A última vez que fizemos sexo notei que
seu corpo estava diferente. – Nos últimos dias ela também notava o quanto
estava mudando rápido. Isso a fazia se questionar o quanto aquela gravidez
estava avançada, mas a verdade era que se embaraçava sempre que tentava
fazer as contas. Não poderia estar tão avançada assim. – Eu queria que
estivesse grávida porque gostava de tocá-la quando sabia que era a pessoa
dando vida a um filho meu. – ela não conteve um sorriso bonito nos lábios.
Fechou os olhos e tocou a mão dele sobre seu abdômen. Draco facilitou que ela
colocasse seus dedos entre os deles. – Uma parte de mim está feliz por saber
que pode estar grávida, Hermione. Quero que saiba disso.
Uma parte dela também estava muito feliz, tão feliz que as vezes ela sentia que
poderia abrir o sorriso mais idiota do mundo para qualquer problema que
aparecesse a sua frente. Escutar Draco dizer que também havia uma parte dele
que estava feliz a trazia satisfação e ao mesmo tempo alívio. Não seria como da
última vez em que ele havia a deixado sozinha e tratado o caso com uma
completa indiferença. Ela estava feliz assim como ele também, queriam aquilo,
o grande problema era que eram duas pessoas racionais demais para deixar
que aquilo os fizesse sorrir de alegria.
- Uma parte de mim está feliz. A maior parte está preocupada. – ela
acabou dizendo.
Sempre se simpatizava com ele quando sabia que sentiam a mesma coisa com
relação a algo, principalmente com relação aquilo. Moveu seus dedos contra a
mão dele sentindo a textura da pele pálida que o cobria. Queria que ele
soubesse que ela se simpatizava por partilharem do mesmo sentimento. Ele
talvez só não entendesse que para ela parecia bem pior.
Odiava tanto Draco por tê-la trazido para essa vida, talvez só não conseguisse
o odiar mais por ter a consciência de que a vida dele não era muito melhor do
que a dele e que havia trago para si mais problemas do que soluções quando a
capturou.
Draco passou os braços por ela a apertando mais contra seu corpo. O hálito
quente bateu contra seu ouvido e ela se deixou cair na sensação boa que
correu seu corpo. Respirou fundo e permitiu que o frio congelasse seus medos.
- Não é porque meus homens ainda não tem o nível de lealdade que eu
esperava deles que está tudo perdido, Hermione. – a voz dele foi grave,
paciente e acolhedora. – Temos um tempo muito mais curto agora, vamos ter
que pensar em outras estratégias, ter que agir de forma menos cuidadosa. Vai
precisar ser forte para o que possa vir a enfrentar, mas não vai estar sozinha.
Esse filho é nosso e Lorde vai cair pelas nossas mãos.
Hermione apenas suspirou e assentiu. A rajada de vento fez seus ossos
doerem, mas ela se mostrou resistente. Eles teriam que ser ainda mais
espertos, ainda mais ágeis, ainda mais inteligentes. Teriam que ter dúzias de
planos reservas guardados e teriam que arriscar muito, o que os fragilizava,
mas o jogo havia os levado até aquele ponto. Era a opção que tinham porque
desistir e se entregar ao prazer de Voldemort não era uma opção. Hermione só
esperava que eles conseguissem agir rápido porque se o filho que ela sabia que
esperava nascesse e ainda estivessem onde estavam agora, ela não suportaria
tê-lo arrancado de seus braços.
Ficou em silêncio e deixou que o frio a dominasse, que ele tivesse o poder de
congelar suas emoções e racionalizar seus medos. Começou a pensar sobre a
situação em que a guerra estava e como ela gostaria que as coisas
acontecessem. Pensou sobre York, sobre a Ordem, sobre o véu. Trabalhou
novamente nas tentativas fracassadas do exército de comensais em tomar
York, o povoado que precisava ser tomado para que o mundo inteiro estivesse
sob o domínio do império de Voldemort. Depois que o mundo fosse do Lorde
das Trevas a caçada aos rebeldes começaria, mais forte do que nunca, até que
nenhuma alma bruxa mais restasse para contrariar as vontades do imortal
Lorde Voldemort. Depois disso a perseguição aos trouxas começaria até que
nenhum deles habitasse mais a terra. Será que ela veria seu filho grande ao
lado de Voldemort quando tudo isso se concretizasse?
- A Ordem tem um poder que não se compara ao que ela tinha nem no
início da guerra agora. Se continuar fracassando em suas tentativas Voldemort
logo irá querer interferir e ele não vai gostar de saber que a Ordem esteve
manuseando um poder capaz de desafiá-lo a altura todo esse tempo sem que
ele soubesse. Ele vai querer descobrir a fonte desse poder e Voldemort já é
bastante invencível agora, não quero saber o que ele seria se chegasse ao véu.
- Parece louco, mas temos estrutura para isso. A Ordem mantem sua sede
no meio de uma zona inimiga. Londres é tomada por comensais. Eu posso criar
uma boa proteção de fronteira. Não é impossível. Claro que seria uma batalha
menor, mas se a vencesse seria pelo menos algo positivo depois dos dois
fracassos que enfrentou. Depois que conseguisse estabilizar o acampamento,
travaria batalhas menores como se pretendesse incorporar mais território ao
acampamento. Demoraria muito tempo, eu sei, mas poderia negociar com o
mestre para pular para a próxima etapa quando já tivéssemos com uma boa
área de York sob domínio porque poderia diminuir as forças em York para
colocá-las na caçada aos rebeldes.
- Seria muito para que eu conseguisse administrar. Teria que abrir mão de
alguns controles para poder dar conta, precisaria de mais gente de confiança.
- Nós somos dois, Draco. Não precisa fazer isso sozinho.
- Podemos trabalhar nisso. – ele acabou por dizer. – Teremos que chamar
um medibruxo para confirmar que está grávida, assim o mestre pode ser
avisado e eu poderei sair de Brampton Fort para mover o acampamento.
Preciso estar junto com o exército, tenho que trabalhar com eles agora mais do
que nunca.
Conscientizar Voldemort sobre sua gravidez não era algo que ela queria que
acontecesse tão cedo, mas sabia que era necessário. Se eles não tinham
tempo, as coisas tinham que acontecer rápido. Respirou fundo e assentiu
concordando.
- Precisa trabalhar com seus homens. Não vai conseguir isso preso aqui. –
ela disse por mais que não o quisesse longe. Sorriu. – Precisa apenas prometer
que sempre voltará vivo. Não quero a trágica vida que deu a minha filha caso
venha a morrer.
- Qual a primeira memória que tem de mim, Hermione? – Draco fez sua
voz soar longe depois de um bom tempo em que eles ficaram em silêncio vendo
a noite cair.
- Na verdade, acho que perdi a minha primeira memória sobre você. Não
consigo me lembrar da primeira vez que a vi, consigo ter vagas imagens suas
do primeiro e do segundo ano, mas não sei qual foi a primeira. Sei que cheguei
a consciência da sua existência por ser amiga de Potter. A memória mais viva
que tenho sua foi de quando me bateu no terceiro ano. Depois dessa memória
você se torna bem constante nas minhas lembranças até mais ou menos o
quinto ano. Eu a odiava com todas as minhas forças. – Hermione acabou rindo
junto com ele. – Me lembro do quarto ano e de como você não parecia você no
baile de inverno. Me lembro de ficar enjoado com o interesse que começou a
surgir a respeito da sua figura, mas acho que mais fui indiferente a sua
existência em Hogwarts do que a notei. Sei também que cheguei a admirá-la
em alguns momentos.
- Sim. Você era diferente. – ele justificou. – Quero dizer, com relação as
outras garotas. Por volta do terceiro e quarto ano, as meninas começaram a
querer fazer essas coisas de menina. Você sabe. Usar maquiagem, colocar uma
roupa mais curta, tentar ajustar o uniforme para mostrar o corpo, fofocar sobre
garotos, copiar umas as outras. Hogwarts foi se tornando um mar de garotas
que colocavam um corpete sempre que viam a oportunidade, se entupiam de
maquiagem com aqueles brilhos e coisas que cintilavam, algumas até não
exageravam tanto assim, mas não perdiam na competição pela atenção de
quem era popular e sempre reluziam quando tinham uma companhia masculina
prestável. Você parecia completamente alheia a tudo isso seguindo sua vida ao
lado de Potter e Weasley como se sempre estivessem ocupados com um grande
enigma. Continuava no seu modesto jeans sem deixar de usar o uniforme
conforme as regras da escola e nem por isso deixaram de comentar sobre você.
Não era qualquer garota que conseguia isso. É verdade quando dizem que a
maioria dos homens não gastam muita energia com aquelas mulheres que
colocam saltos enormes e usam vestidos curtos e justos. Eles normalmente vão
se interessar bem mais por uma linda visão que encontrarem de cabelo preso e
rosto limpo na fila de alguma loja de poções numa manhã chuvosa. Você não
era o tipo que fazia os garotos enlouquecerem para passarem a mão, levarem
para cama ou torcerem para que cruzasse as pernas para que pudessem
descobrir a cor da calcinha, embora alguns bons pervertidos se aventurassem
para esse lado. Você era o tipo que os fazia juntar as economias para chamar
para um jantar mais ajeitado onde eles tivessem a chance de impressionar,
pudessem te ouvir falar e onde um beijo no final faria valer mais que uma boa
passada de mão. Acredite, eu conheço homens, sou um deles e acompanhei a
caminhada de muitos deles da perversidade ao casamento.
Ela acabou rindo.
- E fico grato que não tenha. – sorriu ele. – Tenha certeza que se você
tivesse aparecido na minha frente de vestido justo e salto naquela época eu
com certeza iria ter te desejado loucamente, mas não deixaria de achar
patético sua tentativa de querer chamar atenção usando o caminho que todas
as outras usavam. Você sempre teve mais personalidade do que isso. Foi
exatamente o que aconteceu com sua amiga Weasley.
- Péssimos conselhos você deu a ela, Hermione. Achei que fossem amigas.
Hermione riu.
- Eu apenas disse que ela deveria mostrar um pouco mais de presença e
agir normalmente quando Harry estivesse por perto. Não falei para que ela
redescobrisse o mundo da maquiagem e refizesse o guarda-roupa. Isso foi obra
das outras amigas dela.
- Não diga isso. Eu a alertei, mas ela não quis abrir mão por ver que estava
conseguindo o que queria. Insisti até que ela se aborrecesse e me acusasse de
ciúmes. Acho que ela sempre temeu que eu fosse interessada em Harry.
- A sua?
- Sim. Ela queria ser vista na companhia masculina para tentar gerar
ciúmes em Potter, claro que eu era um de seus maiores alvos. Ela queria me
usar e eu não deixaria isso passar em branco. Me mostrei interessado e a
desejei sim pela provocação que ela incitava, era patético também porque ela
parecia ser alguém interessante e inteligente. Sempre que cruzava as pernas
de forma provocadora, me lançava um olhar mais intenso ou abusava de
indiretas, eu a desejava, mas também queria rir por dentro por ver uma boa
garota apelando para aquele tipo de comportamento. Não era nada inteligente.
Era um truque até bem eficaz que poderia funcionar bem no meio de
adolescente loucos a espera de garotas que lhe dessem esperança, não com
alguém como eu. A usei e a descartei no momento em que vi que ela estava
pronta para abrir mão de Potter na esperança de que eu a quisesse. Claro que
ela caiu em si para a bagunça que havia feito. Potter, atrasado como esperado,
a fisgou depois das inúmeras chances que teve e foi conveniente para ela ficar
com ele. Era o que queria desde o começo.
Hermione achava difícil acreditar que Gina tivesse se envolvido com Draco.
Aquilo a incomodava de uma forma um tanto agoniante. Sabia que Gina era
uma boa pessoa que conquistaria Harry sendo apenas a garota esperta que era,
mas naquela época Gina havia se afastado dela e somente voltaram a
conversar quando ela atou um relacionamento com Harry e foi pedir desculpas
por tê-la acusado de ciúmes. Soube que ficou em silêncio um bom tempo antes
de se manifestar:
Não estava gostando nem um pouco de como se sentia com relação aquilo.
- Não muito longe. – ele respondeu e aquilo pareceu trazer algum tipo
estranho de alívio. – Ela era uma garota ingênua. Eu tinha que fazer a coisa
andar da forma como ela via na cabeça dela. Abusamos de alguns cantos
isolados nos corredores vazios da escola, mas nada mais do que isso. Acredite,
tudo isso aconteceu mais rápido do que imagina. - Sim, ela imaginava que
tivesse sido rápido. Ainda assim a incomodava. A verdade era que tudo que
envolvia Gina a incomodava, ela era teimosa e sempre insistia que Hermione
tinha culpa por algo que não aconteceu como ela queria que tivesse acontecido.
– Você está silenciosa. – ele comentou depois de um longo minuto em que ela
não disse nada.
A pergunta pareceu o pegar de surpresa e ele hesitou como havia hesitado uma
vez quando estavam discutindo sobre patronos e ele não soube se queria que
ela soubesse que ele nunca havia produzido um.
- Tem sorte.
- Continua sendo incomum a forma como guarda para você tanta coisa em
silêncio.
Ele pareceu precisar de alguns segundos para pensar sobre aquilo.
Hermione sabia ele não gostava de mostrar ou ser dominado por nenhuma
emoção ou sentimento. Aquilo ele não havia aprendido em seu treinamento,
Narcisa tinha um tanto desse comportamento assim como Lucio que embora
bastante inconstante sempre adotava a postura neutra em momentos de
tensão quando precisava aparentar um pouco mais de profissionalismo ou
tomar uma importante decisão. Ela sabia bem que era mais uma questão de
orgulho do que de alto controle. Malfoys nunca dariam o gosto de se mostrarem
raivosos a ninguém quando necessário tomar uma decisão que os desfavorecia
e consequentemente também evitavam comemorar vitória quando algo os
favorecia.
- Sim, as vezes. – ele teve que concordar. – Mas deveria se sentir bastante
exclusiva por isso.
- Deveria?
- Vamos ficar muito tempo juntos, não creio que eu tenha energia o
suficiente para ficar me policiando toda vez que estiver por perto. Dividimos a
mesma casa.
- Tem razão sobre isso. – concluiu ela. Não era saudável que ele guardasse
tanto para si, mas não diria aquilo porque sabia que ela não seria com quem
ele iria compartilhar seus segredos. Pelo menos não agora. Talvez nunca.
Ficava grata apenas por saber que ele permitia que ela o conhecesse aos
poucos.
O vento gélido os cortou mais uma vez na escura noite que já havia se feito
trazendo os últimos flocos de neve que ainda caiam. Ela sentia que a
temperatura caia mais a medida que parava de nevar. Sua mão e seus pés já
estavam dormente e foi inevitável quando bateu os dentes.
Ele riu.
- Você é tão fraca. – zombou ele. – Pode levar a manta se quiser. Não
preciso dela.
- É louco? – ela queria soltar aquela indagação com muita raiva, mas o
modo como ele estava rindo e se divertindo com aquilo colocou um sorriso em
seu rosto. Ele quase nuca se mostrava naquele estado e sabia que a realidade
que se encontravam colocaria um fim naquela descontração num piscar de
olhos. Deveria aproveitar enquanto conseguia. – É isso que faz com sua esposa
grávida?
- Não tente parecer uma vitima indefesa, sei bem quem é! – ele se
levantou também enquanto ela enrolava a manta em torno de si subindo os
degraus, tomando cuidado com o pé que mal sentida, a horrorosa bota gigante
e o mármore escorregadio. – Deus do céu, Hermione! – Draco soltou
repentinamente e teve que segurá-la pelo braço quando suas botas
escorregaram sobre o gelo que havia se compactado num degrau e ela lutou
pelo equilíbrio que rapidamente foi reestabelecido com a ajuda dele. – Será que
poderia pelo menos ter um pouco mais de cuidado?!
Ela precisou respirar fundo para acalmar seu coração do susto da perda de
equilíbrio, teria conseguido reestabelecer o controle dos pés sozinha, mas
Draco agilizou o processo com a ajuda. O olhou e acabou sorrindo da seriedade
que ele havia assumido.
Hermione riu.
- Espero que nosso filho não herde seu horroroso nariz. – devolveu na
mesma moeda.
Hermione cerrou os olhos com um sorriso nos lábios e tudo foi extremamente
natural quando ele apenas se aproximou largando a coberta no chão, passou os
braços pela cintura dela e aproximou sua boca sem pressa, naturalmente e
carregando um sorriso bonito. Ela o receber de muito boa vontade, tendo
tempo para inalar a respiração dele antes de sentir seus lábios se grudarem
pacientemente. Aquilo fez seu corpo inteiro aquecer. Será que era assim que
ele havia beijado Gina? Será que era assim que beijada Pansy? Aquele
pensamento deveria ter a feito querer se afastar, mas ela apenas colocou os
cotovelos contra os ombros dele e passou os dedos pelos fios loiros de sua
cabeça.
- Deveria ter pensando nisso quando insultou meu nariz. – ele retrucou e
ambos riram.
Seus lábios se encontraram mais uma vez. Era louco para ela imaginar o que
eles estavam fazendo ali. Quando seus lábios dançaram calmamente e se
fecharam um contra o outro novamente aquele calor invadiu seu corpo, correu
suas veias e explodiu em seu peito. Era impossível que estivesse sendo tão
natural, como se já tivessem feito aquilo dezenas de outras vezes.
Deslizou sua mão para a nuca dele, pescoço e tocou seu rosto a fim de se
afastar para poder encarar seus olhos profundos e cinzas. Queria encará-lo nos
olhos. Mas no momento em que se afastou para poder vê-lo, sua atenção foi
chamada quando Tryn apareceu implorando por desculpas para informar que
haviam comunicados importantes esperando por Draco em seu escritório no
andar superior. Hermione o encarou imediatamente esperando pela reação
dele. Queria poder dizer a ele que ele não precisava atender nada agora. Havia
deixado a Catedral por um fim.
Livrou-se das ridículas botas de chuva, tornou a prender os cabelos que agora
estavam um tanto úmidos devido a exposição a neve, pegou a manta que ficara
no chão e seguiu para o andar de cima indo direto para o quarto onde acendeu
a lareira e se deixou aquecer novamente antes de se enfiar na água quente do
banho.
Enquanto a água quente escorria pelo seu corpo ela deixou seus olhos se
fecharem e sorriu ao se lembrar do momento de descontração que havia tido
com Draco. Era tanta pressão que eles carregavam que não conseguia se
lembrar da ultima vez em que havia se sentido no ânimo para rir daquela
forma. Também não se lembrava de nenhuma vez em que vira Draco se
comportar assim, nem mesmo quando ele se aproximou, a abraçou e a beijou.
Sentiu seu sorriso murchar. Aquilo era preocupante.
Quando saiu de seu banho o cansaço já lhe pesava. Colocou suas peças íntimas
e apenas se cobriu com o robe de sua camisola para ir até a cozinha colocar
qualquer coisa leve no estômago antes de ir para cama. Chamou por Tryn
quando estava fazendo seu caminho de volta para o quarto e perguntou por
Draco. A elfa informou que ele continuava trancado em seu escritório, mas que
não havia emitido nenhuma ordem para que preparassem o carro de volta para
a Catedral.
Hermione apressou seu passo de volta para o quarto. Ele não voltaria para a
Catedral, já teria voltado se fosse realmente necessário. Encarou-se no espelho
do lavatório. Estava pálida. Precisava de mais cor. Beliscou as bochechas.
Avaliou-se novamente e continuou se achando pálida. Talvez se usasse um
pouco do pigmento de um batom rosa que tinha. Testou e achou bem melhor.
Acabou por colocar algo na boca também, simples e discreto. Deu leve
batidinhas nos lábios para disfarçar ainda mais o uso do cosmético e avaliou-se
novamente. Gostaria de poder marcar os olhos com algo escuro. Talvez nos
cílios. Logo desistiu da ideia quando percebeu que seria demais. Soltou os
cabelos. Bem melhor. Desfez o nó de seu robe e julgou-se uma idiota por ter
colocado uma calcinha e um sutiã ridículo. Talvez devesse trocar para algo mais
escuro. Preto seria uma escolha bem melhor...
Parou.
Encarou-se.
Sentiu-se até mesmo enjoada no mesmo minuto. Foi até a pia e lavou o rosto.
Deixou a água escorrer e concentrou-se na pequena cólica no pé de sua
barriga. Acaso estava ficando louca? Qual é o seu problema,
Hermione? Questionou em silêncio. Limpou-se com uma toalha de rosto e a
usou para se livrar de qualquer resquício de batom em sua boca.Você é ridícula.
Martirizou-se e largou a toalha para tornar a encarar-se no espelho.
Tentou se concentrar em seu corpo como vinha fazendo nos últimos dias
quando tinha aquele tempo. Puxou a seda de seu robe para trás quando ficou
de lado para analisar seu perfil e focou-se na parte de baixo de sua barriga. Já
estava muito minimamente visível. Hermione não esperava que já estivesse tão
avançada, a sentia até mesmo um pouco dura.
Draco apareceu segundos depois. Vinha com sua expressão séria, mas no
momento em que colocou os olhos sobre o reflexo dela no espelho, pareceu
relaxar.
- Não faria isso nem por glória, prestígio ou influência. – ele disse já
abrindo os botões de sua blusa. – Realmente preciso descansar.
- Eu teria dito isso bem antes se não soubesse que poderia acabar ferindo
seu sensível orgulho.
Tudo que ele fez foi rir. Livrou-se do cinto da calça e aproximou-se por trás
dela, segurou-a pelo quadril, afastou seus cabelo e beijou seu ombro subindo a
boca até seu pescoço.
O hálito dele chegou em seu ouvido e ele mordeu de leve o lóbulo de sua
orelha. Hermione acabou se virando e antes que pudesse contar os segundos,
suas bocam já haviam feito o caminho para se encontrarem deixando que
pudessem explorar suas línguas juntas e o sabor um do outro. Ela colou seu
corpo no dele para que pudesse sentir o calor. Os dedos dele entraram por seus
cabelos e passearem em sua coxa com vontade.
O ar faltou a eles antes do normal e quando Draco fez menção de movê-la,
Hermione se viu soltar um quase imperceptível gemido de protesto. Ele riu da
preguiça dela contra sua boca. Hermione achou que o problema fosse apenas
consigo, mas quando ele se afastou para tomar um ar que normalmente não
precisava foi sua vez de rir. Draco veio em seguida e eles riram juntos do
desastre. Afastaram-se minimamente.
Ela riu.
- Estamos mesmo marcando data e hora para isso agora? Céus! A que
ponto chegamos.
Ele riu e se afastou.
Ela sorriu.
A forma como ele riu descontraidamente daquilo a fez sorrir com a boca já
cheia de espuma.
- Hermione, meu eu de agora já está bastante envergonhado de nós dois
nesse momento. – ele disse se livrando dos sapatos e pegando também sua
escova. Ela acabou rindo e sendo obrigada a cuspir na pia. Imaginou como
seria quando o filho deles nascesse. – Me diga. – ele chamou sua atenção antes
de começar a limpar os dentes. – Com quantos meses acha que está?
Ela notou que ele observava sua barriga. Cuspiu novamente e encarou a
própria barriga. Limpou a boca.
- Não lembro de ter sido notável nesse estágio da última vez. Não sei se
parece maior agora porque que fico tentando encontrar algo aí.
Ela acabou sorrindo amavelmente.
Fez seu caminho até a cama. Tirou o robe e vestiu sua camisola. Não demorou
a escutar o barulho dos chuveiros. Passou cumprir o ritual de sempre, tirando
de cima da cama os inúmeros travesseiros para poder afastar as coberta. Fez
um feitiço para que o fogo da lareira durasse a noite toda quando sentiu que o
frio não queria lhe abandonar e sentou-se na cama sentindo os braços moles e
a pálpebra pesada. Estava grata por Draco não ter mencionado o sobre o
jantar. Quando deitou, se cobriu e fechou os olhos sentiu a fraca dor no pé da
barriga que não queria lhe abandonar, mexeu-se incomodada, mas estava
cansada demais para se preocupar. Um calafrio correu seu corpo e ela apenas
se encolheu mais nas cobertas. Antes que pudesse pensar em mais qualquer
coisa o sono a venceu, mas não como deveria.
O corpo de Draco deitou bem ao lado do seu. Ela queria que ele ficasse quieto
logo, e ele ficou, por um tempo muito curto, porque antes que ela caísse
novamente no seu sono leve, ele moveu-se bem mais para perto dela. Sentiu
mãos frias tocando seu pescoço e indo até sua nuca. Mais dedos gelados
afastaram cabelos de sua testa. Gemeu em protesto novamente.
- Eu estou bem. – ela não soube se sua voz conseguiu sair, apenas
esperava que tivesse conseguido. Ele afastou as mãos geladas e ela ficou grata
por isso, mas ele começou a se mover demais e ela cerrou novamente os olhos
para vê-lo começar a se levantar. Hermione juntou força para girar o corpo.
Tudo que conseguiu foi passar o braço por ele. Usou sua mão para empurrar
seu tronco contra o colchão novamente. – Apenas me deixei dormir. Você
também precisa descansar. – escutou sua própria voz baixa e distante. – Estou
bem.
Tonou a fechar os olhos. Ele ficou quieto alguns segundos, mas então seus
braços passaram pela cintura dela e a trazendo para bem perto, a obrigando a
escalar o corpo dele e deitar a cabeça contra seu peito. Ele era um corpo
gelado e ela protestou contra o frio num murmúrio indecifrável. Antes que
pudesse juntar força para se afastar apreciou a calma e a paz de tê-lo quieto.
Não demorou para cair no breu novamente. Dessa vez o sono pareceu ser
profundo.
Ela estava sentada debaixo da sobra de uma das árvores, suas pernas
brilhavam com o sol sobre elas, mas ela não conseguia sentir o calor dele. Pelo
contrário. Sentia frio. Mas o verde e o modo como os alunos se vestiam a sua
volta mostrava que estavam em algo muito próximo do verão. Seu corpo
estava estranho e ela o sentia estranho. Suas mãos estavam pegajosas e havia
um desconforto que a incomodava. Encarou o próprio corpo e a viu na
adolescente que se lembrava ter sido. O vestido que usava era um que Gina lhe
dera no natal do quinto ano. Era leve, solto, claro e alegre. Havia sido uma
roupa completamente fora da estação para o natal, mas era mais barato
comprar coisa boa por um preço acessível quando se estava fora da estação,
então ali era a primeira vez que Hermione havia tido a oportunidade de usá-lo.
Aquilo começou a fazê-la se lembrar daquele dia. Era uma memória. Inicio do
sexto ano. Início de outono. Levantou-se tomando cuidado com os livros que
carregava consigo, os catou pela grama e se lembrou que Harry e Rony
estavam na biblioteca colocando em dia os trabalhos que ela havia finalizado
dois antes antes daquele domingo ensolarado. Iria até eles ajudá-los porque
era isso que sempre fazia. Dava-lhes uma lição por deixarem acumular tudo
para cima da hora, se afastava para que se desesperassem e depois os
procurava para ajuda-los.
Não conseguiu evitar sorrir por estar naquele mágico lugar novamente. Sentia
um terrível aperto no coração por saber que daquele ponto, a calmaria, a paz,
os risos e as brincadeiras não durariam muito até o caos da guerra. Seus pés
se moveram sobre a grama macia e ela se lembrou que estava descalça. Um
par de sandálias rasteira estava próximo ao tronco da árvore. Hermione
encarou sua roupa novamente. Se lembrava de ter achado aquele vestido lindo,
se lembrava de ter se sentido especial com ele, de ter se sentido bonita, se
lembrava de ter se perguntado se havia surpreendido Rony usando aquilo.
Agora quando olhava para sua roupa via um vestido que era da coleção de
verão do ano anterior e um par de sandálias simples demais. Ela era a Sra.
Malfoy no corpo de Hermione Granger com dezesseis anos.
Pegou as sandálias e tentou seguir aquele dia como se lembrava. Sabia que
tinha a intenção de alcançar Harry e Rony na biblioteca e começou a seguir o
caminho de volta para o castelo, mas se lembrava bem de que algo havia a
parado. Logo escutou o grito assustado de uma criança e um coro de
gargalhadas. Virou-se para encarar dois sextanistas azando um primeiranista
que cruzava com o caminho deles. Sim, aquilo havia a parado. Era monitora e
deveria prezar pela ordem mesmo durante finais de semana.
Draco sequer havia reparado em sua presença. Era errado que aquilo a ferisse,
tinha dezesseis anos, queria mesmo era que Draco realmente esquecesse que
ela existia.
Ambos riram.
- É! Não há nada de errado com ele. Estamos apenas dando orelhas mais
proporcionais ao tamanho da curiosidade dessa peste. – disse Goyle se
divertindo.
Hermione se lembrava de ter revirado os olhos, mas não o fez porque estava
muito mais focada na imagem de Draco com Astoria. Sabia que naquele dia
havia sentido uma imensa raiva por ver Draco ali tão próximo e não ter feito
nada em relação aos amigos. Ela punia Harry e Rony como punia qualquer
outro aluno quando eles desrespeitavam as regras, mas ali, ali naquele sonho,
ela via o Draco Malfoy adolescente do qual se lembrava e sentia-se angustiada
por não ter o olhar dele. Ou talvez não fosse aquilo que a deixava angustiada.
Incomodava saber que aquele Draco não a conhecia como agora, não havia
partilhado uma convivência de mais de um ano, não se importava com ela.
Aquele Draco ainda a via apenas como a Sangue-Ruim amiga da pessoa que
mais odiava naquela escola.
- O que foi, Granger? Não me lembro de ter escutado ninguém aqui fazer
uma pergunta para que pudesse vir correndo com a mão levantada responder.
Goyle riu como um retardado. Hermione se lembrava de ter ficado furiosa, mas
ali sentiu-se ferida. O tom de Draco, o desprezo e a indiferença com relação ao
que poderia sentir. Era nada mais do que uma excluída ali, longe da elite do
sangue, da popularidade e dos cofres de cada um daquele ciclo. O olhar de
Astoria era quase um cheio de piedade e julgamento, como se estivesse
tentando descobrir qual o designer da roupa que usava, de que coleção
ultrapassada fazia parte e em que ponta de estoque ela havia adquirido.
- Não sei como alguém teve a coragem de nomeá-lo monitor! – voltou-se
para Draco. - É incapaz de cumprir seus deveres propriamente! Cansei de
contar as vezes em que usou seu distintivo apenas para benefício próprio! Seus
amigos estavam desrespeitando as regras da escola exatamente na sua frente
e você não moveu um dedo a respeito disso! – cuspiu ela como na lembrança
que tinha.
Todos riram, até mesmo Astoria, que pareceu ter o feito apenas porque todos
os outros estavam. Hermione se lembrava de ter revirado os olhos e saído
bufando cheia de desesperanças com o insuportável temperamento de Draco,
mas naquele momento ficou ali, observando o rosto de cada um, como se
tivesse pausado a cena. O de Draco, satisfeito com sua resposta, o de Astoria,
orgulhosa pela vitória de seu homem e os de Zabini e Goyle felizes por acharem
difícil que ela insistisse em tornar a abrir a boca.
Hermione apenas fechou os olhos sentindo todos os calafrios quase fazerem
seus dentes baterem. Abriu-os e encarou Draco tristemente. Queria ter o poder
de ir até ele para dizer que um dia se casariam depois de terem enfrentado
uma grande guerra em lados opostos. Queria dizer a eles que sofreriam juntos
a perda de uma filha, que se desejariam na cama como homem e mulher, que
fariam uma aliança contra Voldemort juntos, que se conheceriam aos poucos e
aprenderiam um com o outro devido a uma convivência cheia de altos e baixos
e que talvez nesse futuro encontrassem uma forma de superar os enormes
abismos que haviam entre eles.
Deu alguns passos para trás para reconhecer a estreita casa de dois andares
que possuía um estreito e belo sótão escondido entre o teto alto e pontiagudo.
Os vidros estavam quebrados, trepadeiras haviam tomado conta da fachada e a
madeira das janelas já tinham perdido o verniz parecia fazer muito tempo.
Aquilo machucou sua alma que já não se encontrava em perfeito estado por
estar encarando o que via. Sempre que se encontrava perturbada tinha aquele
sonho.
Entrou com cuidado, empurrando a porta que precisava de óleo nas dobradiças
e andou sobre o piso de madeira já desgastado. Ela sabia que sua casa não
estava naquele estado, haviam a dito a ela que fora vendida para um casal
trouxa que tinha duas belas crianças depois de ter passado um bom tempo no
mercado, mas para Hermione, aquele era o estado da casa de seus pais em sua
mente.
Subiu até o sótão como sempre fazia naquele sonho. Quando abriu a porta e
passou para o lado de dentro, viu seu quarto exatamente como a última
lembrança que tinha dele. Sua mãe estava lá, sentada em sua cama, seus
olhos estavam tristes e havia uma rancor em sua expressão.
- Você nos abandonou. – Disse ela. Havia rancor também em sua voz.
- Você nos abandonou e olhe no que se tornou. – sua mãe a olhou de cima
a baixo. – Lutou em vão ao lado de perdedores, foi capturada, se casou com o
inimigo, perdeu uma filha, fez uma aliança com ele e continua vivendo sua vida
de miséria escondida atrás de roupas, sapatos e joias caras.
- Essa não era a vida que eu queria. Não escolhi essa vida.
- Escolheu sim. Escolheu essa vida quando nos abandonou.
O rosto de sua mãe logo mudou de um rancoroso para um piedoso. Ela era a
mulher mais amorosa que Hermione já havia conhecido. Sua mãe entendia sua
dor exatamente como ela gostaria que fosse entendida. Sentou-se no chão e
deixou sua cabeça no colo dela. Queria poder se lembrar do cheiro de sua mãe,
mas não conseguia.
- Filha, você está amando o homem que não quer. – ela disse depois de um
tempo alisando seus cabelos.
Para Hermione nenhum nome precisou ser dito ali. Já sabia a quem sua mãe se
referia. Sua mãe era a única mulher com quem ela poderia ter aquele tipo de
conversa embora soubesse que tudo aquilo era um sonho e sua mãe nada mais
era do que sua própria consciência.
- É uma tola por achar que o oposto do amor é o ódio. O oposto do amor é
a indiferença e indiferença é algo que está cada vez mais acabando entre você
e Draco.
- Também é uma tola por dizer “jamais”. Ele é seu marido, seu parceiro.
Precisam aprender a construir uma vida harmoniosa juntos, isso demando um
esforço que pode trazer sentimentos.
- Eu não quero amá-lo, mãe. Ele não é o homem que eu quero, ele não é
um homem bom, não é um homem admirável.
- Por que?
Hermione sorriu. Se fazia essa pergunta todas as vezes que Draco aparecia e
ela não conseguia conter um sorriso ou quando ele a tocava e ela não
conseguia dizer “não” mesmo quando se sentia a mulher mais cansada do
mundo.
- Mas é bom quando vê sinais de que ele possa estar pensando em você, se
preocupando com você ou querendo você. – comentou sua mãe.
Sua mãe suspirou e ela a seguiu. A mão de sua mãe pesava tanto em sua
cabeça que ela já estava bastante consciente de que se mexia
desconfortavelmente com frequência, mas não queria por fim aquela conversa.
Precisava de sua mãe embora soubesse que o conselho dela nunca viria porque
aquela não era mesmo sua mãe.
- Creio que resta apenas uma questão a ser levantada então. – a voz doce
de sua mãe soou novamente. Lutou para não se entregar a agonia que lhe
crescia porque precisava enfrentar o ultimo questionamento. – Se tivesse a
chance agora de anular esse casamento, tornar a ser Hermione Granger, dar as
costas a Draco Malfoy e a tudo que construíram no ano que passaram juntos,
você pegaria?
- Sim. – Respondeu. A mão de sua mãe já não estava mais em sua cabeça,
mas ela continuava pesada e parecia ficar cada vez mais, o que fazia aquela
cena perder o foco e se tornar um breu com cada vez mais frequência. – Essa
resposta eu sei desde o dia em que assinei o papel que me fez ser uma Malfoy.
- Não creio que seja mais a mesma pessoa que assinou aquele papel. – a
voz de sua mãe ficava cada vez mais parecia com a sua. – Mudou desde que se
casou com Draco Malfoy. Tem certeza que daria as costas a ele se tivesse essa
chance nas mãos agora?
- Mãe... – Ela queria sua mãe de volta. Não se sentia bem. Contorceu-se e
gemeu de dor sentindo calafrios e uma pressão em sua cabeça. – Mãe, tem
algo errado comigo. – sua mãe sempre sabia o que fazer quando ela não estava
bem. – Mãe?!
- Hermione?! – Era a voz de sua mãe. Não. Não era. – Hermione! – Quem
era? Gemeu e sentiu-se cada vez mais pesada. Aquela dor... O que era aquela
dor? – Hermione!
Ela queria responder quem quer que fosse, mas não conseguia. Sua boca não
se movia. Parecia em uma dimensão diferente. Não queria deixar sua mãe
novamente.
Ela não voltou, mas foi tragava para dentro de seu quarto novamente. Era noite
e tudo parecia muito pálido ou muito escuro. Se lembrava daquele sonho.
Aquele a perseguia há anos. Tinha medo dele, muito medo, não importasse
quantas vezes o tivesse ou quantos anos tivesse, porque sabia que a pessoa
que iria aparecer ali não era nenhuma projeção de sua consciência, era uma
invasora, uma estranha invasora.
Caminhou até o espelho mesmo que não quisesse, mesmo que tivesse toda
aquela dor a incomodando. Encarou seu reflexo, mas ele não era seu reflexo
embora se parecesse muito consigo mesma, aquela era a invasora de seu
sonho. Os cabelos eram os mesmos, o desenho do rosto era muito parecido, o
corpo era quase idêntico. O calafrio que já sentia intensificou no momento em
que ela falou. Tinha uma voz poderosa e parecia ecoar insuportavelmente alta
em sua cabeça embora a boca nunca mexesse:
Hermione temeu ficar presa ali com toda a angústia da dor que sentia e de
como isso a fazia se contorcer e gemer, mas a medida que a intrusa do outro
lado do espelho repetia sua eterna frase Hermione lutou para acordar. Aos
poucos o quarto foi se apagando, a voz que ela pensara ser de sua mãe a
chamando foi se tornando cada vez mais real e muito masculina.
- Hermione!
Foi como se seus ouvidos tivessem sido destapados. A imagem da intrusa ainda
era muito real em sua memória, como se ela pudesse estar em algum lugar
exatamente ao seu lado. Foi mais difícil abrir os olhos do que esperava. Viu o
rosto de Draco de seu lada da cama iluminado pela baixa lareira que ela
deixara queimando a noite toda. Sua visão não era boa, sua cabeça parecia
pesar quilos, os calafrios pareciam mais intensos e a dor que sentia vinha do pé
de sua barriga.
- Draco... – sua boca estava incrivelmente seca. Ela quase não conseguia
se mover. O que havia de errado com ela. – Há algo de errado comigo.
- É bem notável. – ele disse. – Apenas me diga o que você precisa, por
favor.
O ”por favor” parecia ser a dica para que ela soubesse que ele estava um tanto
desesperado mesmo que segurasse sua expressão inabalável de sempre.
Tentou engolir uma saliva que não existia. Conseguiu sentir algo pegajoso em
sua virilha. Abriu a boca para responder que não sabia o que precisava, não
sabia o que havia de errado enquanto fracamente tentava afastar a coberta e o
lençol, mas no mesmo momento sentiu uma horrível pontada onde a dor a
incomodava. Encolheu-se e prendeu a respiração, fechando os olhos com força
lutando para não emitir nenhum som embora ainda conseguiu ouvir sua
garganta protestar por isso. Quando finalmente teve a chance de respirar outra
vez o fez ofegante. Tocou sua virilha e quando olhou seus dedos trêmulos
novamente, eles estavam vermelhos.
Puxou o ar e por alguns segundos não soube como reagir. Estava fraca,
pesada, sua cabeça doía, sua visão estava embaçada, aquela irritante dor em
sua barriga... Tentou não se desesperar, mas seus olhos embaçaram no mesmo
instante. Encarou Draco. Ele tinha os olhos fixos em seus dedos vermelhos.
- Por favor, chame um medibruxo. – dessa vez deixou que o seu “por
favor” fosse a dica de seu desespero.
Ela nunca tinha visto Draco sem palavras antes, foi a primeira vez que o viu
congelar daquela forma.
- Não sei. – sua voz quase não saiu. Amaldiçoou Brampton Fort por não ser
possível aparatar dentro das muralhas. Precisava de um medibruxo exatamente
naquele momento. Começou a achar difícil puxar oxigênio. Sua visão parecia
cada vez mais escura e ela começava a achar que perderia os sentidos. Tinha
bastante consciência das lágrimas pularam seus olhos inundados. – Não
consigo acreditar que perdi outro bebê. – a dor em sua garganta para conter o
nó entalado parecia quase maior do que todas as suas outras dores e lutar para
conseguir falar tomou muito de sua força.
Ela mal conseguia vê-lo direito e o oxigênio não estava chegando normalmente
ao seu pulmão.
- Não acho que consigo. – não soube se disse aquilo como queria. Não
conseguia mais mover nenhum musculo, sentia-se mais fraca do que já havia
se sentido em toda sua vida. Aquilo quase lhe parecia morte. O que havia de
errado com ela? O que estava acontecendo? Por que? O que havia a feito
chegar naquele estado? Esteve bem durante todo aquele dia.
- Não. Não. Não. – ele segurou seu rosto com as duas mãos, mas ela mal
pode sentir o toque dele. - Hermione. Tem que ficar acordada. – a voz dele
parecia distante. – Hermione! Olhe para mim! – ela não conseguia focá-lo.
Será que a morte era assim? Não queria morrer. Antes que pudesse perceber,
tudo que lhe fazia companhia era o silêncio e o breu. Pareceu ficar naquele
estado por horas como se estivesse caindo em um infinito buraco negro. Não
havia luz em lugar algum, não havia consciência, só havia o breu.
Pareceu horas, horas e horas, quase uma eternidade, mas quando começou a
recobrar algum senso de consciência, pareceu ter sido apenas um segundo, um
piscar de olhos, um pequeno instante de distração. Ainda se via sem forças
para abrir totalmente os olhos, mas estava grata por não haver mais tanta dor.
Tudo que escutava era o som da voz de Draco cheia de indignação e irritação.
- ...e isso poderia ter acabado com a vida dela! Será que não poderiam ter
feito algo menos arriscado?! – seu tom estava tão alterado que estava alto. Ele
quase nunca se permitia exaltar. Tentou chamar por ele, mas não conseguiu
encontrar forças.
- Nós não consideramos que ela precisaria de forças para mais de um,
senhor. Não consideramos nem mesmo que ela passaria pela situação de
aborto! – alguém falou e a palavra “aborto” foi o suficiente para fazer com que
ela conseguisse soltar qualquer grunhindo para ter atenção.
No mesmo instante sentiu como se mil mãos começassem a checá-la. Seu
pulso, sua têmpora, seu pescoço. Agulhas pareciam estar espalhadas em algum
braço que ela não conseguia se orientar para definir exatamente qual.
- Não sei como conseguiram licença para exercer magia curativa quando
não conseguem nem mesmo se atentar a detalhes como esse! Existiam
chances e vocês a ignoraram!
- O mestre...
- Draco... – ela soltou num sussurro que se misturou com sua respiração
fraca.
- Draco! – era a voz de Narcisa. Estava muito próxima a ela. – Ela está te
chamando.
Forçou para abrir os olhos. Conseguiu apenas cerrá-los. Havia claridade, mas
ela conseguia reconhecer que continuava em seu quarto e em sua cama. Não
demorou a encontrar os olhos cinzas dele sobre ela.
- Eu perdi? – foi tudo que ela precisava dizer, embora não tivesse soado
mais alto que um sussurro, para que ele entendesse que ela queria saber de
seu bebê.
- Precisa descansar, Sra. Malfoy. – era a voz de uma mulher que ela não
conhecia vinda de algum outro lugar ali. - Vai saber de tudo quando acordar
novamente com mais forças.
- Desculpa ter estragado sua noite de descanso... – foi tudo que ela
conseguiu dizer a Draco antes de sua voz voltar a morrer.
O mundo começou a ficar longe novamente e ela foi forçada a fechar os olhos
se entregando a fraqueza que sentia. Entrou num mundo de sonhos e ficou
presa num em que um gigantesco pássaro azul voava a sua frente. Ele lhe dava
medo assim com a mulher do reflexo no espelho do sono que a perseguia
desde criança. O tempo parecia correr em câmera lenta fazendo as enormes
asas do pássaro mostrarem toda a sua beleza durante o movimento assim com
deixar bem claro a mensagem que parecia ecoar da pequena cabeça dele para
a dela:
Draco Malfoy
- Lucio. – Voldemort voltou-se para seu pai assim que Snape calou a boca.
– Como anda a mudança dos departamentos?
Mais um tedioso relatório que poderia ser tratado em particular começou a ser
verbalizado ali. Draco já estava cansado de saber a movimentação da união de
Gringotes e a forma como os duendes estavam caindo nas estratégias do
mestre para entregarem o controle de todo o tesouro bruxo.
Seu pai se aproveitou da situação e se intrometeu quando viu uma
oportunidade. Draco ficou surpreso de vê-lo querer agir logo ali, mas conseguiu
entender com rapidez no momento em que secretario do tesouro se manifestou
um tanto indignado:
- Está querendo dizer que não sou capaz de exercer meu trabalho?
Lucio riu.
- É óbvio que não tem. – voltou-se para o homem pela primeira vez. – Por
Merlin! Eles são duendes. Não se é possível ter controle sobre eles e se a ideia
for essa acredito ser muito arriscada. Podem estar abrindo Gringotes para você
agora, mas estão sempre com um pé atrás. – voltou-se para Voldemort. – Nós
estamos falando de mudar o controle do tesouro bruxo, mestre. Gringotes é
centenário. Não se pode confiar um trabalho desse a um homem apenas.
Voldemort não disse nada por um bom tempo. Draco sabia que ele estava
ponderando a situação levantada ali por Lucio. Tinha que admitir que seu pai
fazia um excelente trabalho contra o poder do mestre. A maioria daquelas
cabeças sentadas ali na mesa do círculo interno dos comensais eram obra dele,
uma obra que distribuía o controle e o poder do Lorde das Trevas nas mãos de
muitos que se diziam e se mostravam confiáveis e fiéis, nada mais do que isso.
- Como quiser, milorde. – não queria ter usado seu tom tedioso, sabia que
estava soando de forma rebelde, mas não conseguiu evitar. Ele deveria estar
recebendo informações de sua casa naquele instante, deveria saber como
Hermione estava.
- Será que você poderia ter sido um pouco menos rebelde? – Lucio
vociferou ao se aproximar dele.
- Não me diga como jogar o meu jogo. – seus olhos não desgrudaram do
de Theodoro.
Draco sentiu suas entranhas revirarem, mas apenas cerrou os punhos e virou-
se para ele.
- Não é assim que eu trabalho. Me conhece. Não preciso parecer
assustador, preciso apenas vê-lo encarar a morte tendo a consciência de que
eu a coloquei lá. – o sorriso de Theodoro se desfez. – Desse jeito é melhor. –
comentou a nova expressão dele e o deixou seguindo o mais rápido possível
para sua torre. Assim que subiu todas as escadas e chegou ao hall do ambiente
comum. Tina o esperava. Estalou os dedos para que ela o seguisse enquanto
atravessava até sua sala. Quando sentou-se em sua cadeira, a mulher já de pé
a frente de sua mesa. – Me informe. – ordenou abrindo a pilha de pastas que já
haviam se acumulado em sua mesa. Ela já estava pronta com sua prancheta.
- Isso não. – a cortou novamente e de forma mais severa tendo que erguer
os olhos para encará-la.
Ela ficou ainda mais confusa. Mexeu em seus papéis franzindo o cenho como se
tentasse descobrir o que ele queria. Acabou puxando um pedaço de
pergaminho aberto.
- Faz para mim. – passou por ela. – Estou indo para casa.
Assim que passou para o lado de dentro de sua casa foi recebido por uma
curandeira que carregava uma dúzia de pequenos frascos cheios de poções em
uma bandeja de madeira envelhecida. A mulher disse que Hermione havia
acordado não fazia mais do que duas horas, Draco pediu para que aprontassem
a equipe de medibruxos responsável por Hermione em um dos escritórios de
recepção daquele andar e apressou-se para subir as escadas e fazer o caminho
até seu quarto.
- Como se sente?
Ela piscou com calma tirando as mãos do colo para segurar as laterais do
colchão. Havia uma agulha em sua mão que era ligada a uma bolsa cheia de
um líquido cintilante porém translúcido pendurado num suporte de madeira.
- Estranha. – ela respondeu com uma voz fraca e rouca.
Era compreensível. Ela iria se sentir melhor depois alguns dias tomando as
poções que deveria e seguindo as recomendações dos medibruxos.
Ela assentiu.
- Narcisa me explicou.
Hermione havia sido vítima da própria magia colocada para que ela tivesse
mais chances de gravidez. Os medibruxos informaram que não era uma magia
simples porque o mestre havia feito diversas especificações e uma delas era
que a vida gerada por Hermione deveria ser protegida sob prioridade nas
circunstâncias mais extremas. Na teoria realmente era excelente, o grande
problema foi quando a magia reconheceu que Hermione estava gerando duas
vidas e não apenas uma. A magia entrou em contradição com si mesma
tentando identificar um deles como intruso para expulsá-lo embora preso a
característica de proteção incondicional. O corpo de Hermione acabou por
entrar em colapso como resposta a isso.
- Espero que ao menos um deles seja menino. – acabou por dizer, mesmo
sabendo que aquilo não era só o que realmente pensava sobre isso. – O
que você pensa sobre isso?
- Ainda não tive tempo para pensar. – ela disse e eles entraram no silêncio.
Hermione trouxe novamente as mãos para o colo e as encarou analisando por
um momento a agulha em sua veia. - É realmente necessário que tenhamos
toda essa gente morando aqui em casa?
- Você passou por um trauma, está gerando duas vidas aí dentro e não a
quero em um hospital. – Ele disse e ela não contestou. Sabia que estar em casa
por mais grave que fosse seu caso, aliviava a situação para a imprensa. – Não
será por muito tempo. – também não gostava da ideia de ter pessoas tirando a
privacidade que tinha em sua casa. Lembrava-se de ter detestado Hermione
por isso quando haviam se casado, mas aprendera a conviver com ela. Haviam
criado a privacidade deles e não gostava da ideia de ter que abrir mão disso por
um tempo.
O silêncio novamente. Céus, como ele queria tocá-la. Suas mãos coçavam. Era
tão bom vê-la com as maças do rosto rosadas e os olhos vivos novamente.
Queria tocá-la para ter certeza de que não se quebraria ou de que era
realmente real, mas não se moveu. Apenas a observou quando ela se levantou
e arrastou o suporte de madeira consigo até a janela onde sentou-se
novamente.
Ele não estava certo se deveria passar aquela informação para ela.
- Disse que precisará apenas de um. – foi tudo o que Voldemort disse.
- Ele vai matar o outro. Vai esperar que nasçam, e vai matar o outro. – ela
disse com a voz apertada. – Especialmente se for uma menina. Irá matar os
dois se os dois forem meninas.
- Ainda não sabemos sobre isso...
- Mas iremos! Pode parecer que temos tempo, mas não temos, Draco! – o
encarou.
- Hermione. – ele se levantou – Vamos cuidar disso. São dois bebês! Sei
que temos apenas cinquenta por cento em cima dos dois por serem idênticos,
mas tenho...
- Não fale de porcentagens, Draco! São nossos filhos! Eles não são
mercadoria, não são negócios, são vidas! Não pode apostar em cima deles! –
ela tentou exaltar o tom da voz, mas saiu apenas um rouco cheio de
indignação.
A encarou confuso por alguns segundos, mas não demorou para que sua mente
clareasse. Puxou o ar e lutou para não revirar os olhos.
- Potter? – soltou com desgosto. – Acredite, Hermione, você não vai querer
carregar a culpa da morte de Harry Potter.
- O que te faz pensar que o Lorde das Trevas esperaria nove meses até que
você tivesse novamente a chance de lhe dar um herdeiro? Isso é importante
para ele, Hermione! Acha que ele quer essa criança para brincar de casinha
com minha tia Bella? Ele tem planos e sabe-se lá Deus o porque ele está com
tanta pressa!
- E é por causa dessa profecia que nós precisamos de Harry Potter vivo! –
disse e viu Hermione trocar de expressão no mesmo instante. Aproximou-se
dela. Não gostava da ideia de falar sobre aquilo com pessoas desconhecidas
rondando os corredores de sua casa. – Temos um interesse em comum,
queremos que Voldemort caia. – abaixou o tom de voz. - Ele não irá descansar
enquanto estiver vivo, portanto precisa morrer. Alguém terá que matá-lo e esse
alguém não sou eu, nem você. Já há uma profecia que diz quem deve matar o
Lorde das Trevas portanto guarde Potter para o momento certo, Hermione.
Ela abriu a boca para contestar, mas tornou a fechá-la. Ficou em silêncio um
tempo embora não desviasse os olhos dele. Não parecia nada contente, mas ao
mesmo tempo seu olhar era angustiante. Fechou os olhos desistindo do que
quer que fosse protestar contra e soltou o ar um tanto frustrada, dando as
costas para poder encarar o pátio externo.
- Eu não sei o que fazer. – a voz dela soou baixa. – Como você consegue
fazer isso? Ficar tão calmo, tão centrado! Parece sequer se preocupar! – havia
um pouco de indignação junto com sua frustração. – Como consegue dizer que
vamos encontrar uma forma de lidar com isso? – tornou a virar-se para ele. -
Eu não consigo parar todos esses pensamentos. Não consigo parar de imaginar
o que Voldemort faria ou o quão horrível seria ter uma criança minha sendo
tirada dos meus braços, porque perder a vida que eu carregava da última vez
já me pareceu terrivelmente doloroso para que eu já me sentisse
suficientemente atormentada dessa vez. – ela puxou ar devido a sua corrida
com as palavras e então começou a andar de um lado para o outro
gesticulando como estivesse buscando as palavras para se expressar. – Eu
tentei. Desde que comecei a desconfiar que eu pudesse estar grávida. Tentei
deixar que as emoções, os medos e as inseguranças não tomassem conta de
mim. Tentei me manter confiante e inabalável como você sempre se mantém. –
puxou o ar novamente buscando oxigênio para continuar. - Quando te contei e
nós viemos para casa eu tentei ser otimista, tentei olhar para toda essa
preocupação, pressão e tensão sem deixar que elas me abalassem. Eu me
permiti sorrir, me permiti ficar feliz por estar grávida ao invés de me martirizar
por ter sido tão burra. Me permiti lembrar que na verdade eu queria isso. Me
permiti tentar apreciar sua companhia. E... – os olhos dela brilharam e sua voz
ficou apertada. – Foi bom. E... – ela puxou oxigênio novamente. – E parece que
esse susto foi algum tipo de punição por isso. Como se os olhos de Voldemort
estivessem a todo o segundo me vigiando a espreita do momento em que eu
sorrir para que ele possa me derrubar. Agora tenho que ter uma casa cheia de
medibruxos me cercando como seu eu pudesse vivenciar tudo de novo a
qualquer momento, sem poder saber realmente se essas duas vidas estão
mesmo bem, se estão se desenvolvendo corretamente, se a droga dessa magia
os afetou de alguma forma ou se vou mesmo chegar a tê-los um dia em meus
braços. – Ela parou e apertou os pulsos contra os olhos. – Merlin. Eu odeio
esses hormônios.
Ele sentiu uma urgência crescer. Queria ir até ela, segurá-la pelos pulsos,
trazê-la para si, tocar seus cabelos, mesmo que parecessem não tão macios
por aparentarem estar bastante embaraçados. Quis confortá-la e ter
consciência disso o segurou bem onde estava.
Ali ela não era a vaga imagem que ele tinha da Hermione que conhecera em
Hogwarts nem a que havia enfrentado durante os anos de guerra. Ali ela era
sua mulher, a que vivia debaixo do seu teto e sabia quais pratos ele preferia
para o jantar, a que deitava ao seu lado na cama, que sabia quais os dias que
mais o cansavam, a que horas levantava e a que horas dormia, a que conhecia
até mesmo a qualidade de seu sono. Ali ela era a mulher que sempre deitaria
em sua cama como uma Malfoy, a que sempre viveria na mesma casa que ele,
a que sempre estaria ao seu lado e a que o acompanharia nos seus melhores e
piores momentos. Ali ela era a única mulher com quem ele se via verbalizar
coisas que jamais colocaria para fora, a única além de sua mãe que conheceria
alguns dos segredos que ele jamais deixaria que ninguém soubesse e a única
que estava carregando o laço de sangue entre eles em sua barriga. E a única
que o fazia... sentir. Sentir demais.
- Hermione. – ele disse calmamente deixando-se apreciar como era
diferente toda vez que o nome dela saia de sua boca. – Preciso que olhe para
mim. – ela só tirou as mãos dos olhos quando soube que estava pronta para
fazer isso sem deixar que derramasse alguma lágrima. – Você já me conhece o
suficiente para saber que não faço promessas com facilidade. – se aproximou
mais. – Quero que saiba que é uma promessa quando eu digo que ninguém irá
tocar nos filhos que carrega. Eles também são meus. Que sejam um ou vinte.
Me arrependo o suficiente de não ter te feito essa promessa da última vez em
que esteve grávida.
- PARE de pensar que é a única que é capaz de bolar uma estratégia aqui!
– ele a cortou sério o suficiente para fazê-la engolir qualquer outra palavra que
tivesse para rebater. A segurou pelos ombros e a fez encarar novamente
através das vidraças. – Consegue ver todas aquelas pessoas amontoadas no
nosso portão? Aquela será a nossa arma. A imprensa, o boca a boca, a imagem
que já temos diante da mídia. Jornais, rádios, revistas. O povo será nossa
arma.
Ela ficou em silêncio alguns segundos tentando entender o que ele havia dito.
- Deixe que ele saiba. Voldemort sabe que eu não sou como os outros
comensais, sabe que eu desaprovo muita das decisões dele, mas já me testou o
suficiente para não ousar questionar que estou do lado dele nessa guerra. Além
do mais, posso defender meus filhos porque Vodemort conhece a relação que
tenho com meu pai e foi ele quem aceitou o acordo de entregar meu herdeiro
ao Lorde. Seria natural que eu lutasse contra uma vontade do meu pai.
- Você não lutou quando ele induziu meu aborto bem na sua frente da
última vez.
- Porque eu posso muito bem não ter tido tempo de formar uma opinião
forte sobre a ideia de filhos naquela época, mas agora tive e quero protegê-los.
E não use esse tom acusador quando sabe como realmente me senti sobre a
última vez.
Ela se desculpava demais e isso a fazia ser compreensiva demais. Ninguém que
ele conhecia ou que já conhecera era compreensiva como ela, nem mesmo sua
mãe. As vezes ele achava um tremendo exagero, mas ao mesmo tempo não
conseguia detestá-la por isso.
Deslizou sua mão dos ombros pelos braços dela. Estava a tocando e agora já
era tarde demais para recuar. Passou um de seus braços pela cintura dela e
aproximou-se ainda mais para colar seu corpo no dela. Céus! Ele não conseguia
descobrir o que é que corria cada extensão do seu corpo quando a tinha assim
tão próxima. Não era como o desejo por sexo, o desejo de olhar o suficiente
para os detalhes de uma mulher e sentir a urgência de arrastá-la para um
canto mais reservado, mas era tão forte e tão intenso quanto.
- Sei que será bem mais complicado. Construiremos uma base forte com o
público e ficaremos de olho para agir contra qualquer oportunidade que o
mestre tiver de chegar até nós. – concluiu para ela.
Hermione ficou em silêncio como se estivesse considerando toda a ideia.
Ele soltou o ar lutando para não revirar os olhos. Ela estava insistindo com
Harry Potter.
- Certo, Hermione. Potter será nossa última opção. Última opção. – ele se
fez claro. – Enquanto isso iremos trabalhar com o que eu disse. Podemos
ganhar tempo jogando com Voldemort.
Ela o encarou profundamente como se quisesse passar que nada era mais sério
do que aquilo para ela. Quando pareceu ter certeza de que a mensagem
daquele olhar fora passado, caminhou passando por ele e voltando até a
cabeceira da cama onde puxou uma minúscula alavanca colocada do lado onde
Hermione deitava. Ela teve apenas o tempo de se sentar com cuidado e ajeitar
o suporte de madeira ao qual estava aprisionada antes de escutarem batidas
educadas na porta para então receberem uma das curandeiras que entrou
receosa e começou um atendimento cuidadoso em Hermione.
Draco apenas observou enquanto Hermione pedia pelas receitas daquilo que
estavam lhe dando e uma explicação detalhada de qual o tratamento que
estava recebendo. Ela era educada, sua voz saia completamente dócil e amável
em respeito a profissional que a atendia. Qualquer outra mulher que ele
conhecesse estaria lançando ordens no lugar dela e ainda exigindo que fossem
atendidas imediatamente ou haveria consequências. Hermione era gentil até
mesmo com elfos que não os serviam. No começo, ele achava que era uma
patética encenação, mas com o tempo aprendeu que aquela era apenas quem
ela era.
Hermione assentiu sem mudar sua expressão. Ele precisou respirar fundo e
desviar o olhar rapidamente para curandeira para que ela finalmente
entendesse. Quando sua ficha caiu ela abriu um sorriso. Um sorriso tão
adorável que ele quase não se esqueceu de que ela estava fingindo. Ela
estendeu o braço e a mão até ele que se aproximou e a segurou.
- Queria que pudesse ficar. – sua voz doce quase o fazia sentir o mel
deslizar por sua língua. Ele desejou que fosse verdade.
Ele abriu um sorriso convincente. Podia ser um bom ator. Fazia isso há anos.
- Queria que pudesse vir comigo. – não era realmente uma mentira.
- Mantenha-me informada. – ela disse e ele soube pelo olhar dela que era
um pedido sério.
Ele assentiu, segurou seu queixo e abaixou-se para beijá-la. Quando seus
lábios estavam contra os dela inalou seu cheiro para guardá-lo em sua memória
inconscientemente. Afastou-se e a observou abrir os olhos calmamente para
que ele pudesse ver o misto do âmbar e dourado que formavam sua íris.
Ele selou rapidamente seus lábios nos dela mais uma vez e se afastou, virando-
se para a curandeira que detinha um sorriso sonhador nos lábios e um olhar
encantador. Era isso que ele queria, isso que ele precisava. Cada curandeiro
naquela casa deveria sair falando para o mundo que Draco e Hermione Malfoy
eram o casal mais apaixonado que já tiveram o prazer de observar.
- Você cuide bem da minha esposa. – disse a ela e a viu corar e assentir a
cabeça no mesmo segundo.
Deixou o quarto. Não contou dez passos e escutou a porta abrir e fechar as
suas costas. Suspirou virou-se para encará-la. Ela tinha um olhar furioso e veio
determinada até ele com os pés descalços sobre o carpete e a camisola de
algodão tão larga que deixava um de seus ombros nu.
- Não vamos dizer isso um para o outro. – ela cuspiu a ordem tomando
cuidado para manter o tom de voz baixo.
- E não pretendo entender. – a cortou como ela havia feito antes. – Vamos
fazer isso com autenticidade. Como deve ser feito. Acostume-se. Agora volte
para o quarto, querida, e encha os ouvidos daquela curandeira de lindas
histórias falsas sobre Hogwarts e nosso espírito aventureiro no amor.
- Sim, sim. Já fizeram o favor de me dizerem isso mais de dez vezes nós
últimos três dias.
A mulher soltou o ar e tomou a frente.
O silêncio entre eles gerou uma expressão receosa no rosto dos dois homens e
da mulher. Draco conseguia ver que eles preferiam muito mais estar no funeral
de alguém próximo do que ali.
- Devo lembrá-los de que quase mataram minha mulher mais uma vez?
- Senhor, entendemos...
- Sabemos bem...
Draco poderia sorrir por escutar exatamente o que queria ouvir, mas apenas
permaneceu neutro.
- Você deve falar com a imprensa. – ela disse assim que chegou até ele.
- Eles querem ouvir você, Draco. Eles querem respostas. Eu sou apenas a
outra Malfoy que pede por privacidade e não tem autorização para responder
perguntas pessoais.
Narcisa suspirou.
- Certo. Mas não pode adiar isso por muito tempo. É sua casa que está
cercada por carros da St. Mungus. – ela disse e Draco assentiu. – Que horas
pretende voltar para casa?
- Eu quero voltar para casa, mãe. O que te faz pensar que eu iria preferir
uma noite conturbada e cheia ao invés de uma lareira e uma cama?
- Não é uma questão de preferência, Draco. Você tem uma esposa que não
está bem e o mundo sabe disso, precisa ser o marido atencioso e preocupado
mesmo que não queira.
Draco revirou os olhos.
Entrou na cabine e fez seu caminho de volta para a Catedral onde foi recebido
por Tina que tratou de apressá-lo para dentro de uma reunião com o Financeiro
que não estava nada amigável graças aos péssimos comentários que seu
Conselho vinha soltando nos últimos dias. Saiu de lá direto para um encontro
com a Comissão onde foi apresentado a nova magia que garantia uma melhor
segurança para a fronteira estável que iria precisar ao estabelecer um
acampamento no meio de uma zona dominada pela Ordem.
A Comissão estava desenvolvendo magias que ele nunca imaginara ser possível
desenvolver. Hermione tinha uma grande participação naquilo porque estava
passando a ter domínios sobre elementos identificados nas análises da nova
magia que a Ordem vinha usando, dessa forma ela era capaz de introduzir ao
grupo da Comissão o que vinha os fazendo avançar como nunca. Draco tinha
absoluta certeza que aquilo entraria para os livros de história. As vezes ele
simplesmente não entendia como Hermione podia ser tão brilhante. Eles
estavam avançando anos e anos de estudos em alguns poucos meses.
Sabia que deveria acompanhar o grupo da Comissão até a sala de simulação
onde provariam os benefícios da nova segurança junto com os planos para a
tomada do edifício escolhido para se tornar o novo acampamento no centro de
York, mas simplesmente não queria. Destinou um de seus líderes para essa
tarefa, ordenando que fosse reportado todos os detalhes e voltou para sua sala
assim que viu a chance.
Tina se surpreendeu por vê-lo novamente tão cedo e ele não deu nenhum
esclarecimento, apenas se fechou em sua sala onde encheu um copo de bebida
e se sentou em sua cadeira livrando-se da gravata e puxando as mangas da
blusa. Fechou os olhos e inclinou-se no espaldar ajustando-se
confortavelmente. A única imagem que não conseguia sair de sua cabeça quase
materializou-se novamente e ele pode sentir a estranha sensação em seus
lábios e sua língua. Algo como se estivessem dormentes ou formigando. Parecia
o preço por ter dito algo tão estrangeiro.
Eram palavras vazias, ele sabia que eram, mas não deixava de incomodá-lo.
Era quase como se fosse impossível dizer aquilo sem que não tivesse nenhum
significado. Pareciam palavras fortes demais para serem vazias. Não eram. Ele
sabia que não eram. Mas tentava se convencer de que eram.
E a reação de Hermione...
Abriu os olhos puxando o ar. Era incapaz de se deixar pensar naquilo sem ser
dominado por uma agonia que beirava o insuportável. Deu um longo gole em
sua bebida e puxou oDiário do Imperador dobrado de um canto de sua mesa.
Precisava de distração. A ideia de que Hermione havia escutado aquilo de sua
boca mesmo que não tivesse significado algum o perturbava loucamente. Não
Hermione. Por que logo Hermione?
Não tinha tempo para se dedicar a leitura do principal jornal dos fortes de
Voldemort fazia um bom tempo. Detestava não saber o que andava
influenciando a mente do público, mas estipular prioridades nos últimos dias
também era uma de suas prioridades e acabara descartando sua atualização
diária de informação.
Não havia tido aquela visão dos dois, mas conseguia se lembrar bem daquele
dia. O dia que Hermione havia dito achar estar grávida. O dia em que ele havia
se cansado da louca rotina que vinha tendo e apenas foi para casa antes que
chegasse a enlouquecer. O dia em que achara graça por ver Hermione
incrivelmente linda mesmo usando uma bota de chuva vermelha maior que o
pé. Se lembrava bem de como era vê-la ali, sentada nos degraus de sua casa,
abraçando o próprio corpo ao tentar se proteger do frio e com os cabelos
esvoaçando na direção do vento. Eles haviam criado uma intimidade que o
assustava sempre que se dava conta. Era confortável tê-la por perto, vê-la não
tentar parecer a melhor das mulheres ou não tentar esconder seus defeitos.
Não tentar ser sexy para impressioná-lo nem fingir ser alguém que não é para
ter sua atenção. Ele gostava disso, gostava que ela mostrasse realmente quem
era sem ter receios, gostava de como isso a deixava tão absurdamente linda.
Sentia que podia ser o mesmo, que podia ser ele mesmo, que podia despir-se
de todas as suas máscaras e de todos os seus segredos mesmo que ela nem
tivesse consciência de metade deles.
“...e para aqueles que duvidaram de toda a história entre Draco e Hermione
Malfoy, para aqueles que julgaram que o romance entre eles não passava de
uma farsa apenas por se comportarem, na maioria das vezes, friamente um
com o outro em público. A mídia fez questão de divulgar uma história que mais
se assemelha a um conto de fadas do que apenas uma história de romance.
Isso gerou no público um apego pela figura do novo casal Malfoy de uma forma
que os grandes observadores ficam sempre a espera daquele momento em que
haverá uma troca de olhar amoroso, um momento em que vão dar as mãos de
alguma forma especial ou se beijarem em público. A grande verdade é que
Draco e Hermione Malfoy são apenas um casal apaixonado que se mantiveram
em segredo por tanto tempo que guardam seus momentos românticos para
espaços privados e reservados onde se sentem mais confortáveis, o que
qualquer casal normal faria. Fontes diretas da Catedral também informam
constantemente que o casal procura manter discrição em ambiente profissional
tanto quanto...”
Ele leu apenas esse trecho antes de voltar a se focar na imagem com o zoom,
onde conseguia distinguir a figura de Hermione, com as botas vermelhas, e a
sua logo atrás dela a envolvendo com uma manta. Draco franziu o cenho um
tanto confuso. Não havia nada romântico naquilo. Estavam apenas conversando
e ele apenas queria protegê-la do frio. Fora erro dela levar apenas uma manta
quando na verdade estava decidida a ficar exposta ao frio como ele.
Obviamente que ele havia se sentido tentado a se aproximar, mas não havia
nenhum tipo de intenção romântica naquele ato. Olhar aquela imagem
entretanto o fazia ter duvidas.
Não podia continuar olhando aquilo. Fechou o jornal e o enfiou em uma das
gavetas em que guardava coisas desnecessárias. Levantou-se, encheu um copo
e o virou de uma vez. As sombras do jornal se movendo de encontro uma a
outra e a lembrança de ter feito aquilo atormentavam sua cabeça. Era quase
como sentir novamente o calor de Hermione e escutar o riso baixo preso em
sua garganta...
Deixou o copo e se aproximou dela. Tina Muller era uma mulher casada, ele
sabia. Tinha um filho pequeno, ele também sabia. Era uma mulher presa a um
homem que ele não conhecia e não se importava em conhecer. Eram uma
família irrelevante. Mas se realmente sabia algo sobre a mulher a sua frente era
que ela o desejava. Ela conseguia se vestir de modo que os detalhes
estragavam um pouco do comportado ao qual ela deveria se apresentar
sempre. Também costumava prender os cabelos sempre que sabia que ficaria
com ele em sua sala revisando papéis por muito tempo para que assim ele
pudesse ter a visão livre de seu pescoço até o decote simples, mas
significativo.
- Senhor? – ela soltou incerta, mas sem recuar e pareceu fazer a saliva
descer rasgando sua garganta.
Draco parou exatamente de frente a ela. Seus olhos azuis pareciam ainda mais
azuis de perto. Ela era realmente bonita. Deu mais um passo duvidando que ela
recuasse. Ela não recuou. Foi corajosa e manteve seus olhos exatamente
fixados nos dele. Draco ajustou-se de modo a ficar extremamente perto. Ele
precisava fazer aquilo. Tinha que fazer aquilo. Ela não recuou, não piscou nem
tentou desviar o olhar parecendo incomodada. Ele sabia que ela havia desejado
aquilo por muito tempo. Apenas ergueu uma mãos e fez a ponta de seus dedos
tocarem a base da garganta dela. Desviou seu olhar para encarar sua mão
percorrer a pele dela e envolveu seu pescoço. Ela tinha a pele macia. Tornou a
encará-la e ela agora tinha as maças do rosto bem rosadas, sua boca estava
entreaberta como se precisasse de mais oxigênio e as pálpebras de seus olhos
mexiam-se como se lutassem para não se fecharem.
- Você me quer, não é mesmo? – usou sua voz profusa e quase pode sentir
o corpo inteiro dela estremecer.
- Quem não o quer? – ela usou uma voz quase falha e inaudível.
Desviou seu olhar para a boca dela. Parecia macia como sua pele e ele queria
ter vontade de senti-la, mas não tinha. Os olhos dela não tinham o brilho do
verão que os de Hermione tinham. A boca dela não era tão rosada quanto a de
Hermione. Nem mesmo seu cheiro era tão bom quanto o de Hermione. E o
mais importante de tudo, ela não causava nele o efeito que Hermione causava.
Ela não o fazia sentir aquele calor em seu peito, um calor acolhedor e
confortável. Certas vezes quando tocava Hermione, ele tinha a impressão de
que conseguia sentir seu coração vivo e pulsando com intensidade.
Ali, encarando Tina, ele esperava pela ansiedade dominar cada pedaço de seu
corpo, esperava pelas sensações que iriam o fazer querer tocá-la, penetrá-la e
escutar os sons que fazia quando sentia prazer, mas nada daquilo chegava
como antes. Sua cabeça não se libertava da incessante análise que seus olhos
faziam. Não eram os olhos de Hermione, não era a boca de Hermione, não era
os cabelos dela, o cheiro dela, a pele dela. Não era Hermione. Isso o irritava.
Ela não podia ter tomando conta dele dessa forma. Ele costumava adorar
mulheres, todos os tipos delas e não conseguia nem mesmo se lembrar da
última vez que havia tido uma que não fosse Hermione. Não conseguia nem
mesmo entender como ou quando Hermione se tornara a única mulher com
quem se ocupava.
Passou seu polegar pelo lábio inferior de Tina. Ela fechou os olhos sem perceber
e puxou o ar. Aquilo costumava ser muito apelativo para ele, costumava
provocá-lo, mas nada aconteceu. Tudo que ela continuava sendo era apenas
uma mulher que não o interessava a sua frente e completamente domada por
ele. Sentia que do ponto em que ela estava já tinha o poder para fazer o que
quisesse com ela.
- O que quer que eu faça com você? – perguntou embora não tivesse o
mínimo interesse de fazer nada.
- O que quiser. – ela respondeu num tom quase inaudível novamente e
abriu os olhos para encará-lo cheia de expectativas e com um desejo
queimando em sua íris.
Draco poderia sorrir se não estivesse com raiva. Não achava possível que
tivesse perdido o interesse por mulheres. Continuou sério a encarando e talvez
isso tenha feito Tina finalmente perceber que embora a proximidade e o toque
dele desse sinais de que a queria, não havia desejo ou interesse em seu olhar,
o que a fez automaticamente recuar. Suas bochechas coraram violentamente e
ela engoliu novamente a saliva como se estivesse fazendo descer pela garganta
uma afiada navalha.
Draco podia dizer que sua paciência não estava cooperando com seu estado de
irritação naquele momento. Sua tentativa com Tina fora o pior colírio que
poderia ter jogado nos olhos depois de se ver romanticamente envolvido com a
única mulher que um dia havia desejado a matar e um jornal. Era como se
finalmente estivesse encarando com os olhos completamente abertos e limpos
quem ele costumava ser e quem ele era agora. Como tudo isso havia
acontecido sem que ele tivesse dado importância? Claramente havia notado, de
uma forma desleixada, mas havia notado. Por que não havia dado importância?
Essa era a pergunta e só existia uma pessoa que poderia lhe dar uma resposta.
- Temos que conversar. – foi direto ao ponto assim que chegou até ela.
Lavern não deu nem meio segundo e tratou de se manifestar antes que Pansy
tivesse tempo:
- Lembro-me bem que havia prometido me deixar desenhar seu traje para
a Cerimônia de Inverno do ano passado. – ele usou de sua afeminada voz para
deixar aquilo sair num arrastado sotaque francês.
- Como vai o casamento, Draco? – Amélie foi quem não deixou que Pansy
se manifestasse dessa vez também usando de seu mais sexy sotaque francês.
Sua paciência estava se esgotando. Será que não haviam notado que a
conversa não era com eles? Draco sabia bem que a pergunta dela era uma
tremenda de uma indireta. Eles Haviam dividido algumas salas escuras no
passado com e podia dizer que, embora ela não fosse o seu tipo de primeira
escolha, a mulher tinha um tremendo poder de persuasão com o corpo. – Sua
adorável esposa foi ao nosso ateliê faz algumas semanas com aquela amiga
Astoria. Ela é uma mulher bastante interessante e educada, posso dizer. Sem
dúvida bonita e bastante inocente embora saiba se impor, por assim dizer. –
Amélie continuou a usar seu sotaque passando para um tom mais provocante.
- Meu casamento está perfeitamente bem, Amélie. Fico grato que tenho
perguntado. – ele acabou sendo seco embora devesse ter soado educado. A
menção a Hermione havia o afetado, principalmente quando Amélie zombou de
seu espírito puro, e pensar nisso foi o suficiente para fazê-lo voltar-se
rapidamente para Pansy. – Temos que conversar agora.
- Eu disse agora, Pansy. – foi toda a saliva que se permitiu gastar ali e
passou por eles. Contou cinco segundos e Pansy já estava ao seu lado
acompanhando seus passos.
Obviamente que a torre do quarto de Pansy não era muito distante do único
lugar em que a vida da Catedral fervia. Não passou poucos minutos e ele já
estava pisando no carpete púrpura do quarto dela. Tratou de se ocupar em
trancar a porta dela e lançar um silenciador e no minuto que virou-se ela já
estava fazendo o vestido que usava deslizar pelo seu corpo. Pansy não era o
tipo de mulher que se podava a usar roupas íntimas nunca. Ela estava sempre
pronta. Sempre.
Ela sorriu.
- Acha mesmo que eu iria perder tempo? – ela se aproximou depois de dar
tempo o suficiente para que ele apreciasse seu corpo nu de onde estava. –
Você tem me evitado por tempo demais para que eu perca qualquer chance.
Além do mais, nós não conversamos. Conversar para nós é apenas uma
consequência, Draco, ou se esqueceu de quem éramos? – ela ergue o braço
para passar pelo seu pescoço, mas Draco segurou seu punho antes que ela
pudesse concretizar seu ato com sucesso.
- Eu sei o que vi e não me importo. – ela usou a outra mão para começar a
abrir os botões de sua camisa.
E talvez ela tivesse razão. Embora sua intenção de ir até ela fosse escutar
sobre o que havia pensado da reportagem, no fundo sabia que era daquilo que
realmente precisava. Precisava tocá-la, precisava tocar outra mulher e Pansy
sabia fazer com que ele quisesse, mesmo que não fosse exatamente como
antes, sabia que consideraria um crime negá-la quando ela estava ali, sem
roupa nenhuma, o tocando e usando aquela voz.
Não foi mais do que alguns segundos de hesitação para fazer suas mãos e seu
corpo trabalhar junto com ela. Embora sentir Pansy contra ele fosse familiar e
não fosse nenhuma novidade, se havia alguém com quem ele deveria dar
aquele passo era ela. Não que estivesse inseguro, mas se ver bem longe da
tentação de tocar outra mulher que não fosse Hermione era o suficiente para
deixa-lo mais do que em estado de alerta.
O sabor dela, ele conhecia. Os sons dela, ele conhecia. O corpo dela, conhecia
muito. Assim como Hermione, Pansy era um campo inteiramente bem
explorado, mas diferente de Hermione, faltava algo. Enquanto suas mãos
tocavam cada parte exposta da pele quente de Pansy, enquanto seus hálitos e
salivas se misturavam, enquanto a domava como sempre havia domado e
batiam contra as coisas que haviam no caminho para cama, ele não se privou
de se sentir acuado e uma parte de seu cérebro o alertava constantemente
para esse fato. Não era nenhum desafio sentir desejo por uma mulher como
Pansy e sim, ele precisava tocá-la, precisava sentir quem realmente era. Era
um canalha, sempre havia sido, ser aquilo sempre havia lhe trazido algum tipo
de conforto, havia o construído como homem, precisava encontrar em qual
momento e porque havia imperceptivelmente deixado de ser um.
Ele foi bruto. Ela gostou. Ela gostaria de qualquer coisa de qualquer forma. O
ápice de seu exagero verbal chegou quando ela começou a beirar seu orgasmo.
Por algum motivo ele queria acabar logo com aquilo e isso também o ajudava a
ficar mais irritado. Estava fazendo sexo e por mais que o desejo o consumisse
naquele momento, ainda não era o suficiente para deixá-lo completamente
alheio ao simples pensamento de que não estava apreciando aquele ato como
costumava e como deveria. Aquela pequena parte de seu cérebro continuava o
alertando que deveria se acuar.
Ela veio com um grito de que estava tento o melhor sexo de sua vida. Ele viu
espaço para finalmente poder acabar com aquilo. Não demorou a terminar seu
serviço sentindo-se aliviado por descarregar toda a energia que havia levantado
naqueles minutos e ainda mais aliviado por ter chegado ao fim. Encarou Pansy
abrir um sorriso tão satisfeito que parecia estar caminhando por algum tipo de
paraíso naquele momento. Foi naquele exato momento que algo lhe pesou.
Pesou em seus ombros, em sua cabeça e em seu corpo topo. Ele havia a usado
para sexo. Havia a usado para sexo como usara toda e qualquer mulher antes
de Hermione e nada havia ficado mais claro do que aquilo naquele momento.
Era diferente com Hermione porque com ela não era só sexo. Ele não a usava
para o prazer físico apenas já fazia um bom tempo, ele a usava para ter
também todos os outros prazeres adicionais que vinham com isso, a sensação
de satisfação, de liberdade, de leveza, de conforto e familiaridade de se sentir
vazio e completo ao mesmo tempo, de calor e bem estar. Não era apenas sexo,
era bem mais do que isso, o que estendia todas aquelas sensações para não só
quando estavam na cama, mas para quando conversavam, o que quer que
fosse, para quando permaneciam no mesmo ambiente mesmo que fosse em
silêncio, para quando agiam juntos como cúmplices, para quando dormiam lado
a lado, para quando até mesmo discutiam bravamente suas opiniões distintas
ou colocavam as expostas na mesa suas rivalidades.
- Eu duvido que sua adorável mulher faça isso tão bem quanto eu. - Pansy
gemeu um riso de satisfação ao seu lado. – Ela parece ser muito rígida para te
satisfazer na cam...
- Cale-se Pansy. - foi tudo que ele se limitou a dizer ao interrompê-la
severamente.
Hermione podia não ser como Pansy na arte da sedução. Pansy não media
esforços e tinha muita consciência do que fazia e como fazia para chamar
atenção ou acender qualquer olhar que estivesse sobre ela. Hermione era sutil
e nas mínimas coisas ela superava qualquer decote ou rebolado de Pansy.
Pansy não tinha ideia do que era ver Hermione coberta apenas com uma
camisa sua aberta segurando em uma mão um pedaço de pergaminho e na
outra uma taça de vinho andando descalça e distraidamente sob a luz de uma
lareira. Pansy nunca havia tido a chance de ver a postura dela quando lia em
voz altas andando de um lado para o outro, completamente distraída de sua
própria sensualidade. Pansy não tinha a menor noção de como um único sorriso
de Hermione era capaz de fazê-lo deseja-la mais do que já havia desejado
qualquer outras mulher. Hermione era totalmente alheia ao fato de que tinha o
poder de seduzir qualquer homem sem a menor intenção. Draco não entendia,
mas havia algo no modo como Hermione se livrava dos sapatos, colocava o
cabelo para cima e alongava o pescoço de um lado e do outro massageando um
dos ombros assim que chegava em casa que ele simplesmente não conseguia
resistir. Pansy jamais entenderia aquilo.
- Você parece irritado. Sei que não está satisfeito com o que viu no jornal. -
Ela rolou ficando de bruços e balançou os pés no ar ainda com seu sorriso no
rosto.
Ele a observou intrigado por alguns segundos e não deixou de observar que em
qualquer outro momento do passado ele teria soltado uma risada daquilo que
havia escutado da boca dela mesmo que agora para ele isso o irritasse. Ela
estava falando de Hermione da mesma maneira que sempre falava, com
desprezo, e ele se lembrava de não se importar com aquilo, nem minimamente
sequer. Agora apenas queria apertar a garganta dela até que sua boca ficasse
roxa. Além do mais, era isso que ela pensava sobre o que havia estampado no
jornal? Que ele sabia que estavam tirando fotos dele e de Hermione? Que era
essa sua intenção?
- Eu não sabia. – ele disse.
- Não sabia sobre o que? – ela pareceu confusa, mas ainda com aquele
sorriso nos lábios.
Ela levou alguns segundos para processar aquilo, mas no momento em que
cada palavra dele fez sentido para ela o sorriso que havia em seus lábios
murchou.
Ela ficou estática por mais alguns segundos como se estivesse tentando
acreditar. Como que num clique, ela deu as costas, se levantou, passou o robe
de seda pelos braços e o amarrou na cintura enquanto procurava em suas
gavetas pelo que logo apareceu. Era oDiário do Imperador daquele dia. Ela o
abriu sobre a cama exatamente na página em que haviam as imagens com ele
e Hermione e as observou atentamente. Draco sentou-se.
- Você não agiria assim com ela. – ela disse quase que tentando convencer
a si mesma. – Você a odeia, não a odeia? - Draco abriria a boca para dizer com
prazer e muita vontade que “sim”, mas não tinha tanta certeza dessa
declaração. Seu silêncio fez com que Pansy movesse seus olhos para ele. – A
odeia, não é? – insistiu ela. – Por que está a tratando dessa forma? – tornou a
olhar confusa as imagens. – Está a tratando como se... – ela pareceu repudiada
com o pensamento que se passou em sua cabeça. O encarou novamente. –
Gosta dela?
- Não. – ele apressou-se a dizer e se arrependeu no mesmo segundo. Não
é que não gostasse dela, mas também não era como se ainda a odiasse. O que
diabos sentia por ela?
- Então por que está a tratando... assim?– ela encarou as imagens com
desgosto.
- Eu não... – ele soltou o ar frustrado por ter que dizer aquilo. - ...sei. Eu
não sei.
- Você não trata mulheres assim, Draco! Nunca tratou! – jogou o jornal em
cima dele.
- Não na última foto! – ela não parecia nem tentar diminuir seu estado
alterado. – Vocês estão claramente se beijando!
- Hermione e eu... – tentou pensar em qualquer coisa que justificasse
enquanto colocava sua calça. - ...fazemos sexo com bastante frequência e você
sabe disso.
Ele sabia que não beijava mulheres daquela forma. Qualquer tipo de beijo que
dava em uma mulher era para incitar desejo. Sentou-se na cama calmamente e
puxou o jornal para poder observar mais uma vez aquela imagem. Aquele não
havia sido o único beijo que dera em Hermione em que não tivera a finalidade
de incitar nenhum desejo. Se lembrava bem agora de todas as vezes que caiam
exaustos um sobre o outro na cama, sorriam rapidamente satisfeitos pelo
desejo consumido e ele se deixava vencer pela tentação de se inclinar e colar
seus lábios nos dela uma última vez antes de se moverem cada um para o seu
lado. Se lembrava bem de quando estavam entrelaçados debaixo do chuveiro e
ele encarava fundo seus olhos antes de beijá-la uma última vez para então
seguir seu dia. Conseguia se lembrar de como se sentia grato ultimamente
pelas vezes em que era necessário colar seus lábios nos dela em público para
que pudessem disfarçar seu relacionamento para o resto do mundo.
- Gosto de beijá-la. Me sinto tentando a fazer isso com frequência. Me sinto
tentado a tocá-la, a ouvi-la e a tê-la por perto. Ela me faz bem. – ele soltou
aquilo baixo quando sabia que deveria guardar para si. Hermione gostava
quando ele jogava para fora e ele estava começando a perceber o quanto isso
ajudava em sua saúde mental. Ela sempre o escutava com atenção e nem
todas as vezes opinava ou o julgava, mas estava sempre disposta a escutá-lo,
dos seus pensamentos mais idiotas aos que mais o consumia.
- Ela é uma Sangue-Ruim! Uma rebelde! Ela não pertence ao nosso mundo!
- E talvez seja por isso que ela é tão diferente!
- Ela é autêntica, Pansy! – ele soltou o jornal e ergueu os olhos para ela
novamente. – Hermione é verdadeira! Ela não finge ser alguém que não é. A
imagem que ela vende para os jornais é puramente ela. As coisas que ela
pensa, as coisas que ela acredita, aquilo que ela defende. Não há mascaras, ela
evita as máscaras! Eu não sou o centro dos interesses dela, ela não me trata
bem quando não quer e se precisar soltar qualquer verdade na minha cara ela
não irá pensar duas vezes. Eu aprendi a respeitá-la! Não porque ela exigiu
respeito, mas porque ela demonstrou que o merecia! – soltou o ar. - Não é a
beleza dela, não é o modo como se veste ou como se comporta na frente das
câmeras, é quem ela é! A pessoa que ela é!
- Não tem o direito de falar isso, Pansy! O Draco que conhece é aquele que
te procurou todos esses anos apenas para sexo e distração. Você não sabe
sobre aquilo que dou ou não valor!
- Não elabore esse discurso para mim! Você nunca se importou realmente
com o que uma mulher tinha além de físico!
- Ingênua.
- Na verdade nem tanto. Não é tão fácil derrubar Hermione. Ela pode dar o
benefício da dúvida a muita gente que não deveria, mas se realmente observar,
esse estranho método faz com que ela ganhe respeito com muita facilidade, até
mesmo de daqueles que você sabe que são os piores. – ele apenas deitou
novamente e puxou as almofadas da cama para apoiarem sua cabeça. – As
vezes até mesmo o som leve da respiração dela durante o sono parece gerar
curiosidade e cansei de me pegar a observando por longos minutos me
perguntando o que ela deveria estar pensando. – ele se permitiu esquecer que
Pansy estava ali. - As vezes me sinto tentado a saber quais são todos os medos
dela, todas as ansiedades, todas as expectativas. As vezes queria ter o poder
de barganhar pelos pensamentos dela. As vezes sinto que tenho a necessidade
de viver o mundo dela, enxergar através dos olhos dela e sentir as coisas que
ela sente para saber se existe algum tipo de esperança fora desse círculo de
pedras onde vivi a vida inteira.
Ele achou que iriam imergir em algum tipo de silêncio como costumava ser com
Hermione, mas não demorou muito para que a voz de Pansy soasse o fazendo
lembrar de que ela não era Hermione e de que ela não seria nem um pouco
compreensiva.
Hermione nunca teria dito aquilo de algum pensamento que ele tivesse
colocado para fora.
- Esse sou eu, Pansy. Você quem nunca teve o interesse de saber o que eu
era além do sexo e da minha opinião geral sobre o resto do mundo.
Ela cruzou os braços trocando o peso de perna e tentou manter sua expressão
ríspida embora já não conseguisse manter longe o brilho exagerado nos olhos e
o nó apertado que engolia a cada quinze segundo.
- Não faz diferença. – ela soltou. Draco não gostou, mas não se
pronunciou. Talvez para Hermione fizesse. – Não faz diferença porque nós
somos iguais e eu estive com você desde o começo. Sempre estive do seu lado,
crescemos juntos, nos divertimos, seguimos nossas vidas, mas sempre
terminávamos em algum momento aqui. Eu, você e a cama. Não vou aceitar
que depois de tudo que nós passamos você resolva se apaixonar por alguém
que não o merece. Alguém que sempre odiou e desprezou.
- Diz isso apenas porque perderam um filho. – ela fez uma expressão de
descaso ao dizer aquilo e no mesmo segundo Draco soube que ela havia
cometido o pior erro de sua vida.
Ele se levantou sentindo o sangue fervendo em suas veias.
- Não abra a boca para falar sobre isso, Pansy. – Vociferou com o rosto a
centímetros do dela. – Não ouse abrir a boca sequer para mencionar ou eu
mesmo terei o prazer de cortar sua garganta.
- Por que veio aqui, Draco? Por que veio atrás de mim se de repente me
tornei tão desprezível e incapaz de compreender seu estado sensível e
patético?
Ele deveria ter aquela resposta na ponta da língua. Na verdade a tinha sim,
mas não sabia se poderia externá-la. Estava ali porque alguma parte de si não
permitia que Hermione fosse a única. Ela não podia ser a única. Não ela.
Deu as costas soltando o ar sentindo a raiva ainda incrustrada em suas veias.
Pegou seu cinto e começou a passá-lo pelo cós de sua calça. Precisava ir
embora dali.
- Vir até aqui não foi uma boa ideia. – foi tudo que concluiu. Atou o cinto e
puxou sua camisa.
- Draco! Acorda! Nós fizemos sexo! Quando sexo se tornou uma má ideia
para você?
Ele poderia ter facilmente soltado uma risada daquilo se não estivesse tentando
manter sob controle seu estado de desgosto.
Pansy riu.
- Viu?! Ela te dominou, Draco! Está duvidando de uma acusação minha
apenas porque é contra ela!
- Estou duvidando porque sei que ela não faria, Pansy, não porque é uma
acusação contra ela.
- Por que ela não é uma de nós. Ela não é do tipo que faz ameaças de
graça.
- Mas ela se acha uma Malfoy agora.
Aquilo a calou. Draco sabia o quanto aquilo a machucava. Pansy teria dado a
vida para ser uma Malfoy. A conclusão que ele via nos olhar feridos dela era
apenas a pura e dolorosa verdade do mundo dela. Hermione agora era parte de
sua família e parte de seu futuro independente do que acontecer. Ela não. Ela
era apenas uma mulher do lado de fora daquele círculo.
- Ela é sua família agora e vai defendê-la. Entendi. Ela deixou de ser
Hermione Granger há muito tempo para você. – Pansy usou uma voz baixa. –
Eu pensei que fosse ao menos ser sua amante como sempre fui todos esses
anos, mas depois de todo esse tempo em que você foi só um nome e uma
imagem que me olhava como se nunca tivesse me levado para cama antes,
perdi as esperanças de que pudesse tê-lo como sempre o tive. Ela o roubou de
tudo, inclusive de mim.
- Por que dá tanto poder a ela? – ele se aproximou. – Por que a acusa
como se ela tivesse o poder de me controlar, me dominar, me usar de
fantoche? Entenda algo, Pansy, Hermione não tem poder sobre mim. Ela pode
tentar o quanto quiser, mas eu quem tenho domínio sobre mim. Ela não me
roubou de absolutamente nada e ela não me roubaria porque eu sei que ela
não quer. Se eu não te procurei todo esse tempo é porque não quis. – soltou
um riso de desgosto. – Depois de todos esses anos e tudo que conhece sobre
mim não dá nem para encher metade de uma xícara de chá. – maneou a
cabeça decepcionado. – Eu vou ter você quando eu quiser. Vou ter ela quando
eu quiser. Vou ter a mulher que eu quiser, quando eu bem quiser. Foi sempre
assim, sempre será assim e não tente me convencer de que ela está me
domando. Ela não tem esse poder.
- Ela não tem um jogo, Pansy! Ela não joga! Ela não conhecesse esse
mundo.
- Todo mundo sempre tem um jogo aqui, Draco. Você, de todas as pessoas
nesse lugar, sabe que todo mundo tem um jogo. Sempre há um jogo.
- Não ela. – ele sabia qual era o único jogo dela ali.
- Tem certeza?
Não. Seu ser racional sabia que nunca se podia ter certeza de ninguém.
Pensou que quando saísse dali iria se sentir melhor, iria se sentir exatamente
como costumava se sentir antes, como se tivesse conseguido barganhar um
bom pedaço de entretenimento para o seu dia. Mas não se sentia e em sua
cabeça um milhão de pensamentos fervilhava. Ainda estava a beira daquele
enorme precipício que só agora ele havia conseguido enxergar. E de todas as
pessoas, se surpreendia consigo mesmo por não considerar que Hermione não
tivesse um jogo, porque se havia algo que ser um Malfoy o ensinara, era que
todo mundo sempre tinha um.
**
Havia tentado ocupar seu dia nas salas de simulação assim que deixara o
quarto de Pansy. Não foi bem como o esperado. Mesmo tendo cancelado todos
os seus encontros e discussões do dia, ter ido se distrair com o trabalho de
suas zonas o mostrou o quanto aquele dia havia se tornado um pesadelo. Seus
homens não estavam acreditando na causa que ele estava apresentado. Draco
sabia que era loucura tomar um edifício no meio de uma zona inimiga e fazer
dele um acampamento, mas ele precisava daquela opção e tentou vendê-la
mais uma vez aos seus homens. Ele costumava ser bom com as palavras, mas
sua cabeça estava em outro lugar e embora ele tentasse estabilizar seus
pensamentos como sempre conseguira para poder fazer seu trabalho como
deveria, não obteve tanto sucesso.
No momento em que pisou dentro de casa tinha uma certeza bem clara em sua
cabeça: Hermione não tinha o poder controlá-lo. Depois de deixar seu cérebro
processar o suficiente do que vinha vivendo, as palavras de Pansy, o que vira
no jornal e como sua perspectiva sobre muitas coisas vinham se distorcendo,
culpar Hermione fora a maneira mais objetiva de lidar com a situação, embora
soubesse bem que não fosse a mais racional.
Livrou-se de seu casaco no vestíbulo e avançou passando pelo hall até a sala
principal. As luzes estavam todas acessas como Hermione sempre ordenava
que estivessem. Parou em seu caminho para a escada escutando o som de uma
conversa enquanto abria os botões em seu pulso e dobrava as mangas de sua
blusa. Virou-se para encontrar uma das salas privadas daquele andar com as
portas abertas, o que o fez poder visualizar os dois medibruxos que cuidavam
do caso de Hermione conversando com a própria. Ela estava de costas, usava
seu longo robe de seda verde escuro que chegava a arrastar no chão, seus
cabelos estavam soltos revelando a cascata de cachos, ela assentia em
concordância com o que os medibruxos falavam e não havia mais nenhuma
agulha ligada a ela.
- Mestre Malfoy. – era Tryn a sua frente e a voz da elfa chamou atenção de
Hermione. Ela virou-se para olhá-lo quase que imediatamente e o sorriso que
abriu ao vê-lo foi apenas lindo. – Tryn precisa de ordens para saber se deve ou
não preparar a mesa de jantar.
- Melhor. – ela usou sua voz madura e suave para responder. - Desculpe,
não tive tempo de falar com Tryn sobre o jantar. Não vou poder estar jantando,
mas não acho que você tenha alguma pretensão em pular a refeição.
- Arrume a mesa só para mim. – informou a criatura e ela logo foi embora
com sua ordem.
Encarou Hermione e ela ainda estava ali as maças rosadas do rosto apertando
seus olhos vivos como ele nunca vira antes. Ele queria perguntar o que estava
a fazendo tão feliz. Se lembrava bem de ter deixado aquele casa pela manhã
com a lembrança de um olhar furioso dela, mas a realidade de estar encarando
aquele sorriso sentindo-se forçado a abrir um também era quase demais depois
do dia que havia tido e dos pensamentos que atormentavam sua cabeça. Fez
menção de dar as costas e seguir seu caminho, mas ela o parou colocando a
mão calmamente sobre seu braço enquanto dizia seu nome para ter sua
atenção. Ele parou e tornou a encará-la.
As maças do rosto dela rosaram ainda mais, ela desviou o olhar e seu sorriso
abriu mais quando ela disse num tom baixo e bonito:
- Vou completar doze semanas. - Foi o suficiente para fazer com que todo e
qualquer pensamento que o atormentava fosse varrido de sua cabeça tão
rápido quanto o fogo se apaga quando perde oxigênio. – Eu também... – ela
fechou os olhos como se estivesse lembrando de algo capaz de arrebatar até
mesmo seu fôlego. – Escutei o coraçãozinho deles.
- Eles estão bem? – foi a primeira pergunta que veio em sua cabeça. –
Digo, saudáveis.
- Preciso acreditar que são meninos. – ela quase sussurrou com aquele
lindo sorriso.
Ele sorriu. Foi tão fácil. Sua vida inteira ele sempre achava sorrir tão difícil e
desnecessário. Aproximou-se ainda mais, estendeu a mão e tocou seu rosto
não resistindo a sensação de senti-la, sentir o calor dela, mesmo que fosse só
com aquele simples toque.
- Como você consegue ser sempre a melhor parte do meu dia? – ele queria
que tivesse sido um pensamento apenas para ele, mas escutou sua voz baixa
externar todas aquelas palavras.
Hermione puxou oxigênio, suavizou seu sorriso, fechou os olhos, soltar o ar
calmamente e inclinou o rosto sobre a mão dele como se quisesse sentir mais
de onde aquele toque vinha.
- Eu queria que estivesse aqui. – ela abriu os olhos para encará-lo outra
vez. – Queria que também tivesse escutado. Eles são saudáveis. Os
curandeiros disseram que os dois estão saudáveis e estão se desenvolvendo
bem embora um esteja recebendo mais nutrientes do que o outro. – ela soltou
o ar fechando os olhos rapidamente outra vez. – Foi um alívio tão grande.
- Vou estar aqui da próxima vez. – ele disse e ela sorriu assentindo.
Ele assentiu. Sentiu uma enorme urgência em beijá-la. Queria sentir os lábios
dela contra os dele, era quase uma fome pela vontade de sentir a boca dela,
queria selar aquele momento que era só deles, só ela e só ele, trocando
palavras que não seriam escutadas por mais ninguém, palavras que pareciam
tão insignificantes, mas tão sagradas.
As vezes ele se sentia tão parte dela que era assustador. Tinha que haver uma
explicação, tinha que haver o porque de momentos como aquele. Distanciou-se
quando aquilo se tornou intimidador o suficiente, o que fizeram todas as
informações das últimas horas caírem sobre ele novamente. Como ela
conseguira fazer com que ele se livrasse delas por alguns minutos com tanta
facilidade? Informou que precisava tomar seu banho e ela apenas assentiu
liberando mais um de seus sorrisos dóceis, soltou seu braço e mover-se de
volta para os medibruxos que a esperavam.
Subiu até seu quarto sentindo os músculos tensos. Tomou seu banho ainda
com os músculos tensos. Desceu e comeu seu jantar sozinho com os músculos
tensos e durante todo o tempo que passou em seu escritório, mesmo
acompanhado de seu copo de whisky, seus músculos continuaram tensos.
Seus pensamentos giravam entre as palavras de Pansy e o quanto era mais
difícil do que ele esperava resistir a Hermione. Ele queria culpa-la, era fácil, era
prático, era o esperado e parecia a solução. Culpá-la a faria ser detestável, mas
ela não era. Ele não conseguia detestá-la, não mais. Sabia quem ela era agora,
a mulher que era, poderosa e frágil, sexy e doce, clássica e revolucionária.
Theodoro estava certo quando dissera que ela parecia mil mulheres em uma.
Pansy também estava certa porque ela o dominava, e ele a queria, todo o
tempo. Até mesmo naquele exato momento ele a queria. Queria que ela
estivesse ali sentada em alguma das poltronas com um livro na mão e uma
taça de vinho na outra, vestida em seu robe de banho com os cabelos presos
no topo da cabeça, o rosto corado sem a maquiagem que era obrigada a usar
sempre. Queria apenas a companhia dela.
Quando já não havia mais luz, sentia o conforto de sua cama, suas cobertas
pesadas, seu travesseiro de penas e era obrigado a escutar o irritante barulho
distante da eventual movimentação que ocorria no corredores do outro lado da
porta de seu quarto, se pegou encarando o teto. Seus músculos ainda estavam
tensos e ele sentia o sono muito longe de alcança-lo. Tentou fechar os olhos
uma ou duas vezes mais sua cabeça não o libertava dos pensamentos que o
mantinham acordado.
Sua cama era fria sem o calor do corpo de Hermione ao seu lado. Havia se
acostumado a dormir com ela. Não era como se estivesse em algum
acampamento ou em algum outro Forte a milhares de quilômetros de casa. Era
completamente estranho deitar em sua própria cama, em sua casa e não ter o
corpo de Hermione ao seu lado. Ela era parte de sua cama, parte de sua casa e
chegava a ser incomodo não tê-la ali.
Sentia que precisava dela. Não somente porque parecia faltar algo quando ela
não estava ali, mas porque ela sempre tinha uma estratégia para
inconscientemente fazê-lo acabar dormindo sempre que tinha uma mente
turbulenta. Hermione sempre sentia quando pensamentos demais zuniam em
sua cabeça. Bastava somente ficarem no completo escuro debaixo da coberta e
minutos depois ela sempre perguntava em uma voz sonolenta o porque ele
ainda estava acordado. Ele dizia que estava pensando e ela sempre retrucava
dizendo que era normal que os pensamentos que ele guardava tanto para si se
revoltassem contra ele e não o deixasse dormir por ficarem sempre tão
trancados em seu cérebro. Ele achava graça que ela nunca insistisse para que
ele contasse nada a ela, mas encontrasse sempre uma forma ridícula de criticá-
lo por não fazê-lo assim que enxergava uma oportunidade.
Acabava sempre abrindo a boca para colocar para fora suas dúvidas, seus
ressentimentos e suas opiniões eventualmente. Na maioria das vezes era algo
relacionado a guerra, ou a Catedral, ou a seus exército, ou a grande
conspiração na qual ele havia a metido. No silêncio e no escuro ele despejava
para ela uma montanha de informações tão cansativas que sempre apostava
que ela acabaria caindo no próprio sono antes mesmo que ele chegasse a
metade. Mas ela nunca dormia. Colocava-se em cena perguntando seus “por
quês” ou expondo uma opinião sempre quando julgava necessário. Ele gostava
de quando se permitia que passassem por esses debates noturnos. Costumava
lhe trazer o sono que ele esperava que não chegaria. Também admirava
Hermione por ser capaz de abrir a boca com facilidade para dizer algo que
normalmente ele levaria dias para considerar em colocar para fora.
Não sabia quais dos quartos Hermione estava, mas se fora ela quem havia
escolhido onde passaria a noite, ele tinha em mente um que ficava no corredor
oposto ao quarto deles. Draco cruzou o caminho passando pelo mezanino com
vista para uma das salas do andar de baixo que ligava a área externa dos
jardins e então encontrou o lugar com a porta aberta. Passou para o lado de
dentro. Hermione estava deitada em um divã de couro branco próximo a
lareira, que estava acesa exatamente como ela gostava. Havia uma curandeira
drenando seu sangue para fora do corpo e no exato momento em que os olhos
dourados dela voltaram-se para ele, Draco notou o quanto estavam opacos e
pesados. Pensou que talvez não tivesse sido uma boa ideia ir até ali, mas assim
que concluiu esse pensamento, Hermione abriu um sorriso fraco, porém bonito
e receptivo.
- Pensei que estivesse dormindo. – ela disse com a voz rouca. A curandeira
finalmente notou a presença dele e recuou corando violentamente enquanto
informava que aquele já era o último tubo de sangue.
Ele pode notar que o rosa nas bochechas dela começavam a reaparecer. Talvez
fosse o líquido na bolsa que estivesse fazendo o efeito de reanimá-la. Seus
olhos gradualmente ganhavam brilho novamente.
- Que tipo de tratamento é esse?
Ela encarou a bolsa com o líquido logo acima dela e acomodou-se mais
confortavelmente em seu divã.
Ele tirou as mãos do bolso e sentou-se no divã próximo as pernas dela. Apoiou
os cotovelos em cada joelhos e encarou o desenho do tapete que estavam
sobre.
- Você parece mentalmente exausto. – ela usou sua voz baixa para
comentar. Ele tinha que confessar que se surpreendia todas as vezes que ela
notava seu estado de espírito com uma facilidade que nem mesmo sua mãe
tinha. Com uma dificuldade ainda aparente ela se sentou, continuou o
encarando e passou a mão por suas costas uma única vez como se tentasse de
alguma forma lhe passar um conforto rápido, mas muito consciente de que
aquilo era invasivo e não fazia parte de quem eles eram. Ele gostava da
sensação da mão dela em contato direto com sua pele, mesmo que fosse
rápido. As vezes quando faziam sexo as mãos dela o tocavam e percorram seu
corpo, braços, troncos e rosto como se ela estivesse lendo palavras gravadas
em sua pele. Eles se tocavam muito mais agora e não era mais tão intimidador
como antes. – As vezes eu acho que todos os pensamentos que guarda para
você um dia irão te matar.
Ele sorriu já sabendo que ela soltaria algo parecido com aquilo. Também se
surpreendia com o quanto ela o fazia sorrir em momentos que nem mesmo se
sentia descontraído.
- Estou tentando. – aquilo foi o suficiente para que ela entendesse que ele
não estava tento muito sucesso.
- Ele disse que ficará do meu lado caso tudo acorra como o esperado.
Ela abriu o sorriso um pouco mais. O Conselho fora criado logo que ele
assumira a guerra e o cargo de General. Algumas cabeças duvidosas e
maliciosas não confiavam muito que um simples garoto tivesse a mente
brilhante de vencer toda uma resistência e ganhar um império para Voldemort,
o que causou conflito o suficiente dentro do círculo interno para fazer com que
o Lorde criasse um Conselho que supostamente deveria guiá-lo, para conter os
ânimos daqueles que queriam voar em seu pescoço por alcançar a cadeira ao
lado do trono do grande mestre das trevas.
Ele cerrou os olhos não acreditando que não havia enxergado aquilo antes.
Encarou as próprias mãos e acabou por sorrir e tornar a encarar Hermione.
- A verdade é que me surpreende que não tenha visto isso antes. – ela
disse – Sei que existe algo a mais o incomodando porque normalmente teria
visto essa chance antes mesmo que ela existisse.
- Estou bem agora. – sua voz foi doce, mas foi informação o suficiente para
fazer com que ele entendesse que ela sabia que não era aquilo que realmente o
incomodava.
Sorriu com ela, mas não conseguiu mantê-lo quando percebeu que suas mãos
suavam. Precisava dizer a ela. Precisava que ela soubesse. Isso o consumia.
Por que precisava que ela soubesse? Uniu suas mãos sentindo que precisava se
livrar do suor e respirou fundo. Hermione acompanhava aquilo com os olhos,
em silêncio e obviamente na expectativa de entender qual era o problema.
- Draco? – ela usou um tom baixo e incerto para chamar sua atenção.
Ele puxou o ar mais uma vez e usou seu tom mais neutro para dizer:
Ele a encarou.
- Somos casados e você não quer se sentir como seu pai. – ela fez o favor
de concluir. Ele se viu obrigado a desviar seu olhar do dela tornando a encarar
suas mãos. Ainda não entendia como o cérebro dela trabalhava tão
perfeitamente, como ela conseguia captar tudo tão rápido, como ela conseguia
compreendê-lo, entende-lo, enxergar sempre a frente. – Draco, eu não sou sua
mãe e você não é seu pai.
- Mas ela o ama e eu não amo você, Draco. – a voz dela saiu confiante pela
primeira vez. Aquilo fez com que ele se lembrasse daquela manhã quando ela
se vira obrigada a dizer que o amava para que uma simples curandeira ouvisse.
Ele a encarou se lembrando de como ela se enfurecera com aquilo. Ela levava
aquilo a sério. Draco apenas achava que ele não. Apenas achava. – Essa é a
diferença. – a voz dela normalizou-se, mas ele conseguia enxergar o
ressentimento no fundo de seu olhar. Por mais que ela estivesse começando a
ficar boa em esconder suas emoções como uma Malfoy deveria, o olhar dela era
sempre um livro aberto, ou talvez ele apenas tivesse aprendido a lê-la o
suficientemente bem. Estendeu sua mão para tocá-la, mas ela se afastou.
Havia sim um tipo de ressentimento naqueles olhos dourados. Como se
estivesse decepcionada, mas não com ele, com ela mesma. – Nós dois sabemos
que esse casamento é apenas um documento com nossas assinaturas e nada
mais do que isso. Desde o começo sabíamos que não precisávamos ser fiéis um
ao outro. Eu não espero que seja fiel. Nunca esperei. Não é necessário que se
perturbe por ser apenas quem é só porque está ligado a mim agora. Pensei que
havíamos deixado isso claro entre nós desde o começo. – surpreendentemente
a voz dela fora fria e seca embora ainda tivesse um tom calmo.
Ela terminou seu discurso com os olhos fixos sobre ele, como se esperasse pelo
momento em que ele fosse discordar de algo ali. Ele não discordava, eles
haviam deixado aquilo bem claro desde o começo, mas o começo era diferente.
E a forma como se tratavam agora? E a filha que haviam perdido? E a forma
como faziam sexo, como se tocavam, como se olhavam? Ele se importava com
ela agora, não se importava com ela antes. Será que ela não se importava com
ele agora? Será que ela continuava a não se importar com ele como antes?
- Hermione, nós vamos ter dois filhos. Dois filhos com os quais nós dois
iremos nos importar. Eu cresci achando que tinha uma família perfeita, que
meu pai era algum tipo de herói inteligente e esperto demais para esse mundo
e que minha mãe era sortuda por tê-lo como família, por me ter, por ter todo o
luxo que temos e ser parte de um sobrenome que já tem um legado na história
do mundo. Você não tem ideia do quanto foi perturbador ver toda essa fantasia
que eles criaram desmoronar.
- Nós não vamos mentir para os nossos filhos, Draco. Eles vão crescer
entendendo nosso relacionamento. – a voz dela ainda estava fria, como se
estivesse jogando palavras que era obrigada a dizer.
- Nenhuma criança quer viver em um lar com uma mãe e um pai que se
suportam pelo bem de um documento e uma linhagem, Hermione.
Draco não havia sido enganado pelos pais a vida inteira. Qualquer pessoa,
sendo ela criança ou não, com discernimento e razão o suficiente para
diferenciar frio e calor saberia que seu pai e sua mãe viviam atrás de uma
fachada. Draco apenas se recusara a enxergar, olhar a ferida e lidar com ela
por muito tempo. Esperou até que alguém fizesse isso por ele. Esperou até
Voldemort.
Foi até a janela e a escancarou precisando do vento gelado contra seu rosto ao
invés do irritante calor da lareira que ela tanto gostava. Ele não gostava de
pisar naquele terreno. Não gostava daquele assunto. Não se sentia confortável
nem consigo mesmo quando pensava sobre ele.
- Eu não quero parecer como o meu pai para os meus filhos. – disse depois
de sentir vento o suficiente contra o seu rosto capaz de congelar pelo menos
um pouco de seus pensamento.
- Por que?
- Nós estamos falando dos nossos filhos. Do nosso futuro. Não pode acabar
aqui. – ela estava surpreendentemente fria e não havia nada do acolhedor ao
qual ele era acostumado.
- Vai acabar aqui. – ele voltou-se para ela mostrando que não tinha o
menor interesse de continuar com aquilo. Ela recuou , talvez tivesse percebido
que ele havia falado demais coisas que normalmente nunca sequer haviam
saído de sua boca alguma vez na vida. Cruzou os braços encarando a figura
que ela era ali sentada naquele divã. Absolutamente linda mesmo em seu
estado mais pobre. Ela era invasiva e esperta. Sabia como fazê-lo abrir a boca
da maneira mais sorrateira possível. Talvez Pansy estivesse certa sobre o jogo
dela. Cruzou os braços. – Ameaçou Pansy na Cerimonia de Inverno?
- Por que eu ameaçaria Pan... – deixou sua voz morrer. Um segundo ela
permaneceu em silêncio e então sua expressão mudou como se estivesse
lembrando de algo importante. – Oh. – ela desviou o olhar por mais um
segundo e depois tornou a encará-lo. – Sim, eu a ameacei. – falou como se não
conseguisse acreditar no que estava admitindo.
- Não se faça de vítima aqui, Hermione! Estou apenas dizendo para não
fazer novamente. Pansy é meu problema, não seu!
- Ela é meu problema sim, Draco! – ela se levantou, ele lutou contra a
urgência de ir até ela ajudá-la. – Ela me persegue e me culpa por algo que eu
nem mesmo me importo! Ela acha que eu jogo o mesmo jogo que ela, que a
minha vida se baseia em te ganhar. Eu não preciso que você me ame ou me
queira. – ela se aproximou. - Eu a quero fora do meu caminho sim, onde eu
não vou precisar gastar minha paciência com ela! Parkinson me odeia porque
consegui tudo que ela queria sem fazer esforço algum e não se engane
pensando que ela queria você. Ela não o queria e continua não o querendo. O
que ela realmente sempre quis foi o título do seu sobrenome e o homem que
você é na cama porque se ela realmente o quisesse, quisesse você, Draco
Malfoy, a pessoa que é, ela se importaria em realmente te conhecer e pelo
pouco que que ela se gaba em te conhecer me faz pensar que talvez eu, em um
ano, tenha aprendido mais sobre você do que ela aprendeu em todos os anos
que vocês dois tiveram juntos. – ela puxou o ar cansada. – E por favor, não
crie o hábito de me contar das mulheres com quem tem sexo. Já me fiz clara
uma vez quanto a não ter o menor interesse de saber onde e quando as mãos
que você usa para me tocar resolvem também tocam outras mulheres. Não
gosto de me sentir um objeto mesmo sabendo que sou um, mesmo sabendo
que tipo de relação nós dois temos.
Ela finalizou como se tivesse vomitado tudo que tentara engolir, mas que não
lhe caíra bem. Até mesmo sua respiração estava acelerada.
- Você não é um objeto. – a verdade é que ele sentia que ela havia sido a
única mulher que não fora um objeto, porque todo o resto fora, até mesmo
Astoria havia sido um quando ele a usara para tentar ser algo que não era.
Hermione nunca havia sido algo de interesse dele para ser usado e no
momento em que ela começara a fazer parte de sua vida ele se vira
completamente desarmado com o quanto ela o envolvera numa atmosfera
completamente diferente da qual era acostumado sem que nem mesmo
pudesse ter notado essa mudança claramente. Como ela havia feito isso? Como
ela havia conseguido administrar as circunstâncias, manipulá-lo, fazer com que
tudo parecesse ter tanto significado? Ele não gostava de como ela havia
conseguido se enraizar, de como ela havia conseguido entrar tanto e tão
profundo onde ele jamais imaginara que alguém pudesse alcançar. Aproximou-
se dela unindo as sobrancelhas ao perceber o quanto era difícil não querer
tocá-la. Como ela havia conseguido fazer com que ele chegasse nesse ponto? O
que ela havia feito para que ele não a resistisse? Olhou bem em seus olhos. –
Qual é o seu jogo, Hermione?
Ela pareceu confusa, como se aquela pergunta fosse completamente
inesperada. Aquilo deveria fazer parte do jogo dela.
- Eu não tenho um jogo, Draco. – sua voz soou incerta, não sabendo
realmente se era aquilo que deveria responder, se era aquilo que ele estava
mesmo perguntando. Deveria ser mesmo parte de seu jogo.
- Que jogo? Para que finalidade? Com que proposito? Do que você está
falando? Eu não tenho um jogo, Draco. – ela gesticulou rapidamente com as
mãos como se quisesse apagar o que quer que estivesse tentando colocar no
lugar em sua cabeça. – Quer saber?! Esqueça! – ela foi severa dessa vez. –
Apenas saia. Volte apenas quando resolver agir normalmente.
Ela deu as costas dando por encerrado aquela conversa e ele a segurou pelo
pulso impedindo que ela fosse muito longe. Obrigou-a a se virar para encará-lo.
Ele se aproximou bem para encarar fundo em seus olhos. Ele conseguia ler os
olhos dela. Hermione resistiu usando seu melhor olhar frio para a condição em
que se encontrava.
- Você é doente. – ela ainda parecia incerta por mais que sua voz fosse
forte.
- Talvez... – foi tudo que ele retrucou antes de serem interrompidos por
uma curandeira.
Ela entrou pedindo mil desculpas e falando da forma mais formal e educada
possível o quanto sentia muito por precisar tirar mais um tubo de sangue de
Hermione. Hermione por sua vez apenas concordou como se já esperasse por
aquilo.
- Boa noite. – ela respondeu. Havia um sorriso doce em seus lábios, mas
faísca em seus olhos.
Seguiu seu caminho de volta para o quarto julgando-se estúpido por ter saído
de lá em primeiro lugar. Sua própria respiração denunciava o quanto se achava
o pior dos estúpidos. A verdade era que se sentia encurralado e não sabia como
havia chegado até aquele beco. Ele a queria. Queria voltar para ela naquele
exato momento e dizer o quanto ela fazia sua cabeça ir a loucura e o quanto
não conseguia suportar a vontade de senti-la a todo o momento, que fosse
apenas o calor de seu corpo ou um simples toque displicente em seu braço ou o
cheiro doce e cítrico que vinha de sua pele ou até mesmo a agonia de seus
corpos buscando por alívio debaixo das faíscas selvagens de centenas de
arfadas entre beijos, toques e sabores que o fazia sentir-se inteiramente dela.
Mas ele não faria isso, primeiro porque sabia que não seria verdadeiro. Ele não
era movido por emoções, nunca havia sido. Emoções eram meras projeções de
sentimentos que iam e vinham num piscar de olhos. Emoções eram um campo
de incertezas e ele não apostava em nada incerto. Segundo porque ela não era
exclusiva. Não poderia ser. Não ela.
Draco pareceria um garoto ali, se não fosse pela barba apontando por toda sua
mandíbula. Seu rosto meio enterrado no travesseiro e sua respiração ritmada.
Hermione sorriu e quase estendeu a mão para tocar seu rosto como teria feito
em qualquer outro dia. Ele tinha o sono extremamente leve, e então, acordaria.
Hermione usaria sua voz, quase inaudível e rouca da manhã, para dizer que ele
iria se atrasar. Draco iria sorrir rapidamente, como sempre fazia ainda
sonolento, moveria tentando se espreguiçar, e então, levantaria para tomar o
rumo do lavatório. Ela não se atrasaria tanto, levantaria também, se juntando a
ele no chuveiro.
Aquela seria uma manhã qualquer para eles, se mais ou menos, há uma
semana, Draco não tivesse simplesmente, mudado sua forma de agir, como se
alguém tivesse apertado algum botão em seu cérebro e trocado por inteiro seu
comportamento para com ela. Hermione soltou o ar com calma e virou-se
novamente para tê-lo longe de sua visão. Acordava todos os dias, desde então,
se sentindo uma idiota. Uma idiota porque não sabia como conseguia se sentir,
inteiramente despedaçada, quando na verdade, sabia que deveria ser
completamente indiferente. Estava decepcionada consigo mesma por ter se
deixado enganar por algo que Draco Malfoy não era. Mal podia acreditar que ele
a fizera esquecer que não era exclusiva, que ao mesmo tempo que a tinha,
também tinha outras. Ela não conseguia entender como sua própria mente
bloqueara essa parte, a parte que havia concordado consigo mesma, de que
não era única e que devia ser indiferente a isso, que não deveria se importar
porque simplesmente não queria, nem precisava ser exclusiva. Quando isso
havia mudado?
Virou para o outro lado, fechou os olhos e tentou se deslocar para algum lugar
vazio dentro de sua própria cabeça. Lugar este, em que não se sentisse uma
idiota. Não demorou a cair num cochilo, que pareceu uma simples piscada.
Quando tornou a abrir os olhos, escutou o barulho distante do chuveiro ligado e
o calor do corpo de Draco ao seu lado já não existia mais. Hermione se sentia
estranha, dessa vez. Sabia bem que estava enjoada e que isso duraria a manhã
inteira. Tinha que levantar para comer algo antes que sua situação piorasse,
mas seu corpo estava mole. Sentia que poderia dormir por mais umas doze
horas, no mínimo.
Sentou-se, colocou os pés para fora da cama e cobriu o rosto para esfregar os
olhos. O som do chuveiro cessou e ela tentou não se concentrar na constante
ânsia, que lhe subia repetidas vezes. Quando se levantou, vestiu seu robe e
abriu as cortinas para poder observar o dia começar do lado de fora. A neve
estava derretida e Hermione mal podia esperar pelo verde vivo da grama
novamente, ao menos aquilo, ela poderia usar de consolo. Sentiu-se tentada a
abrir as portas da varanda para poder respirar um pouco do ar puro do lado de
fora, mas sabia que se sentiria decepcionada, por sentir o ar ainda um tanto
gelado, quando em qualquer outro lugar, longe da vista de Dementadores, ele
seria fresco e renovador. Desceu direto para a sala de jantar que, estava
milimetricamente arrumada, com o café da manhã. Não se sentou, pois sabia
que se tivesse que fugir dali, se levantar seria uma barreira a menos a
enfrentar. Então, apenas empurrou sua cadeira e lutou um tempo contra a
vontade de correr dali, para depois se engajar, na difícil decisão, de algo que
fosse menos apelativo para seu paladar. Acabou por pegar algumas torradas e
tentou empurrá-las garganta abaixo, enquanto abria o Diário do
Imperador sobre a mesa.
Enquanto caminhava para sua cadeira, os olhos dele focaram-se nela e, por um
segundo, ela pensou que ele fosse perguntar o porquê ainda estava vestida em
seu robe ou se estava tudo bem, como normalmente teria feito, por mais frio e
indiferente que fosse. Mas a verdade, é que Draco não demorou em desviar o
olhar, para então, sentar-se em sua cadeira e encher sua xícara de chá,
ignorando por completo a presença dela. Hermione apenas se limitou a apertar
os lábios e dobrar novamente o jornal, devolvendo-o ao lugar de onde havia o
tirado. Forçou-se a pegar mais algumas torradas e saiu dali, antes que o cheiro
da comida piorasse seu estado.
A pretensão dela era apenas ficar ali alguns segundos, até se recuperar, mas
quando eles foram se passando, Hermione foi achando cada vez mais difícil
abrir novamente os olhos e acabou por se entregar. Mal soube em que
momento, foi tragada pelo sono. Sua consciência vagou por mundos perdidos
em sua cabeça, mas, ainda assim, seu sono estava leve o suficiente para que
conseguisse ter a noção de que estava deitada em sua cama, em seu quarto,
em sua casa. Em algum momento, ao qual seu sono ficou demasiadamente
leve, ela sentiu algo tocar seu rosto, como se fossem dedos gelados correndo
lentamente por sua têmpora. Quis acordar, se mover, dizer algo. Talvez fosse
Draco. Mas seu corpo estava totalmente entregue e Hermione apenas
continuou naquele mundo, escuro e pacífico.
Não demorou a ver na cabeceira ao seu lado, um frasco de poção. Fez sua mão
alcançá-lo e leu o rótulo. Era sua poção para indisposição. Os medibruxos
haviam lhe passado uma lista de poções e ela evitava mais de noventa por
cento dela. Aquele pequeno frasco, no entanto, era seu grande companheiro de
quase todos os dias, pelo menos, seria durante seu primeiro trimestre, isso,
Hermione tinha certeza. Aquela gravidez estava se saindo bem mais intensa do
que a anterior havia sido. Sono excessivo, enjoos, indisposição. Tinha que lutar
contra tudo aquilo todos os dias.
Abriu o frasco e o tomou. O girou entre os dedos depois e leu mais uma vez o
rótulo. Ela não se lembrava de ter pegado aquela poção, antes de se deitar na
cama. Tentou refazer seu caminho desde o lavatório até a cama novamente e,
em nenhum momento, se viu parar na cabeceira. Seu olhar vagamente mapeou
o quarto e parou alguns segundos sobre o relógio em cima da lareira. Piscou
algumas vezes, ainda se sentindo grogue, mas não demorou até que
arregalasse os olhos e praguejasse pulando para fora da cama.
Eram quinze para as dez e ela nem sequer estava pronta. Apressou-se no
chuveiro para ter mais tempo no closet. No momento, em que colocava sua
saia, Tryn surgiu anunciando a chegada de Narcisa Malfoy e Hermione
praguejou pela pontualidade da mulher. Teve que se apressar ainda mais,
lutando com as roupas que não lhe cabiam mais e ficou extremamente grata
por ter aprendido a ordenar sua varinha a fazer penteados, simples e rápidos,
que tinha certeza, agradariam o gosto de Narcisa. Desceu minutos depois para
receber a Sra. Malfoy que, pacientemente, esperava sentada num dos sofás em
das salas privadas, próximo a escada principal.
- Não me compre com sua gravidez, quando nem um por cento dessa
cidade sabe ainda, se realmente está grávida. – ela se levantou. – Precisamos
nos apressar, temos que voltar para o seu closet, não vou sair com você
vestida assim. Não que esteja ruim, apenas não é mais como devemos
apresentá-la.
Narcisa continuou com seu olhar severo por mais alguns segundos, até
finalmente, soltar o ar e suavizar sua expressão. O silêncio ainda durou mais
alguns segundos, até que a Narcisa se deslocasse novamente até ela, dessa vez
com um ar menos rígido.
- Trouxe algo para você. – parou de frente para ela, chamou por Tryn e
pediu por algo que havia trazido.
- Obrigada. Eu sei que isso significa algo importante para você. – sua voz
saiu baixa e por alguns segundos ela hesitou. – Mas e se forem meninas...
- Eu sei que está preocupada com o que aconteceu com seu último bebê,
mas precisa se lembrar que aquilo não vai acontecer novamente. Mesmo se
forem meninas. – Narcisa a cortou. – E precisamos voltar ao seu closet,
exatamente agora, ou ficaremos mais atrasadas do que já estamos. –
Hermione murchou os ombros ao escutar aquilo. – Não existe outra opção,
Hermione. Sinto muito. As pessoas precisam ver que você está bem e
precisamos colocar você e Draco no “olho” da mídia, de uma vez por todas.
Temos uma imagem para construir de vocês dois e vai ser complicado desfazer
a antipatia que muitos tem do sobrenome Malfoy. Isso não vai ser fácil.
Tudo que Hermione se sentiu permitida a fazer foi revirar os olhos e seguir
Narcisa. Deixou a caixa que havia recebido sob a cabeceira da cama e seguiu
para o closet. Narcisa parecia conhecê-lo muito melhor do que ela mesma.
Ficou surpresa quando recebeu uma saia média simples de tecido leve e de um
tom vermelho real profundo. O corte era rodado e aquilo a intrigou. Narcisa não
gostava de colocar nada muito rodado. Recebeu um suéter de listras
horizontais e largas que variavam entre, um cinza quase branco e um preto
marcante, de gola larga e folgada. Hermione colocou sem questionar e puxou
as mangas como deveria, antes mesmo que Narcisa a mandasse. O restante de
seus acessórios foram de ouro e tudo muito simples, nada tão extravagante. O
sapato era o que havia de mais confortável no seu closet, dourado e sem salto.
A bolsa que Narcisa a estendeu era pequena e tinha uma alça fina e longa.
Quando a mulher pediu para que Hermione prendesse o cabelo no alto, sentiu-
se extremamente tentada a questionar, mas não ousou destruir o espírito
criativo em que ela parecia ter imergido.
- Sim, é disso que precisamos. Não pude fazer muito milagre, devido ao
guarda-roupa que tem agora, mas vamos mudar isso hoje. – Narcisa disse
satisfeita. – As pessoas precisam ver um pouco do que você se parece fora da
Catedral. Nós te traduzimos como alguém muito profissional porque sempre
está lidando com o profissional e, graças a isso, conseguimos reformular o
elegante que se era vendido nas lojas. Agora, precisamos passar para o seu
elegante despojado, te aproximar mais do natural, mostrar seu lado mais
humano. Você terá que se mostrar mais nas ruas, terá que se mostrar mais
sensível, mais acessível, se livrar um pouco do ar intimidador, das cores mais
pesadas. Sei que ainda está usando algumas cores escuras, mas nós temos um
quase branco no seu suéter e ainda é início de primavera. – ela parecia
realmente satisfeita. - Olhe bem para você. Não tem nada de muito carregado.
Você está mais jovem, mais leve, mais natural. Terão a impressão de que
estava em casa, preparando seu jardim para a primavera, quando eu resolvi te
arrastar para o um simples passeio no centro.
Hermione apenas assentiu. A ideia de criar um novo visual, para a imagem que
venderia do seu eu descontraído fora da Catedral, fora ideia de Narcisa. Draco
pouco se importava com as roupas que usava, ele sempre estava mais atento a
parte da atuação, a parte de ser o casal perfeito. Narcisa insistia que as roupas
que usavam eram uma grande chave para a encenação. Ela também parecia
estar trabalhando essa parte com Draco porque, aparentemente, ele também
nunca havia se preocupado em construir uma imagem fora da Catedral.
Aquilo tudo era cansativo, irritante e enjoativo, mas se fosse para dar uma
chance de segurança para os filhos que estava gerando, definitivamente,
evitaria murmurar ou resmungar. Isso a fez entrar na carruagem de Narcisa em
silêncio.
Assim que desceu no centro e começou seu dia com Narcisa, Hermione foi logo
obrigada a confessar que nunca se sentira tão incomodada com o fato, de toda
e qualquer alma, se preocupar tanto com sua vida. Ela estava se cansando de
sorrir e responder que se sentia bem melhor. Estava se cansando de ignorar as
perguntas sobre estar grávida ou respondê-las, apenas dizendo que não podia
respondê-las. Estava se cansando de estar ali, como sempre se cansava. O
teatro a cansava, a encenação, a mentira.
Passou por uma verdadeira aula sobre seu novo guarda-roupa. Crepe de seda,
chiffon, musseline, lã fria e rendas, tudo fazia parte do cardápio. Embora o
tweed, o brocado ou o jacquard ainda fizesse parte de algumas das peças
iniciais da transição do inverno para a primavera, eram pouquíssimas peças. A
paleta de cores variava nos tons pastéis, sem chegar perto do infantil.
Explorava o perolado, mostarda envelhecido, rosa chá, cinzas, beges e marrons
desbotados. Havia chapéus com todos os tipos de fitas e tamanhos, luvas com
todos os tipos de textura, sandálias das mais confortáveis que já colocara na
vida e, finalmente, sapatos t-straps, ao invés, de pumps e plataformas que
deixavam seus pés em péssimo estado tão frequentemente.
Hermione pareceria um adorável embrulho de presente, se não fosse pelo
constante ar vitoriano que era trazido nas estampas, nas texturas, no jogo de
cores, de transparências, de camadas e até mesmo nos cortes. Sem dúvidas,
não seria inteiramente adorável. Ainda haveria aquele elemento de poder que a
tornaria intimidadora. Era uma Malfoy, afinal. Estampas pequenas e florais
estavam proibidas, ela não precisava ser adorável a esse ponto, nem mesmo
poderia arriscar parecer uma adolescente de quatorze anos.
Narcisa como uma boa entendedora, sempre questionava quando algo pesado
demais aparecia, mas aparentava estar muito satisfeita com o resultado, o que
foi um sinal para que Hermione desse bastante ouvido ao que era se falado e
explicado. Quando a tarde chegou, ela se sentiu bem melhor e o incomodo de
antes deu lugar para sua distração. Aprender sobre moda sempre lhe fora mais
um dos fardos que deveria carregar como uma Malfoy e, constantemente,
quando se empenhava naquela tarefa, se pegava se distraindo com facilidade.
Narcisa notou aquilo e várias vezes estalou os dedos discretamente para
chamar sua atenção para algo.
Quando a tortura chegou ao fim, ela pensou que poderia se sentir aliviada e
respirar fundo, mas no momento que deixou o edifício em que estava, a notícia
sobre sua presença no centro havia se espalhado, o que fizera a mídia se
amontoar à sua espera. Colocar um sorriso no rosto foi quase como puxar
energia, de onde já não lhe havia mais.
- Sim.
- Ótimo.
Às vezes, ela se sentia como Draco. Sentia que falava como Draco, que agia
como Draco, que lançava ordens como Draco, mas isso se dava apenas porque
era ele quem havia sido o modelo que ela observara. Queria se tornar como
ele, forte como ele, resistente como ele. Sentia que estava chegando lá, que
conseguia construir bem sua armadura protetora todos os dias, o único
problema, era que embora sua armadura estivesse se tornando forte, não era o
suficiente para amenizar nada do que sentia. Podia estar aprendendo a não
demonstrar, mas o sentimento ficava ali escondido e enclausurado.
- Desculpe. – foi tudo que ela respondeu, mesmo sabendo que Narcisa não
apreciava quando ela se desculpava, assim como Draco também, não. Elas
entraram novamente no silêncio por mais um tempo, enquanto Hermione
refletia sobre o que havia dito aos repórteres e sobre as perguntas feitas a ela.
– A última vez que conversei com Draco, ele havia me dito que o exército
moveria o acampamento de York essa semana. Eu esperei pelo dia em que ele
fosse deixar Brampton Fort, mas a semana está acabando e ele continua aqui.
O que a Seção Financeira tem com relação a isso?
Narcisa suspirou.
- Draco não tem apoio financeiro, não tem apoio do mestre, não tem apoio
do Conselho e a Ordem ainda está usando uma magia muito incerta, instável e
poderosa. Se ele falhar mais uma vez, não há duvidas de que o Conselho
deixará o terreno bem preparado para que ele perca o cargo de general.
Narcisa suspirou um tanto impaciente.
Hermione não viu outra saída que não fosse o silêncio. Colocar sua máscara
não era mais difícil, lidar com o que sentia que era. Por mais tranquila que
pudesse conseguir aparentar, deixar de pensar que agora ela não tinha apenas
um filho para proteger, mas dois, era o suficiente para que sentisse uma
constante dor de cabeça.
- Por que me parece que você sempre sabe mais sobre eu e ele do que ele
e eu?
Narcisa sorriu.
- Ser paciente com Draco? – não era possível que Narcisa estivesse
colocando Draco naquela posição. – Acaso Draco é paciente comigo?
- Ele se permite demais com você, Hermione. Isso pode acabar sendo um
pouco demais para ele em alguns momentos.
- Eu não me importo. Draco deve saber que sou humana tanto quanto ele.
Eu não tenho somente um cérebro, também tenho um coração.
- Draco não sabe o que isso significa. Ter um coração. Ele cresceu cercado
de pessoas que não tem.
- Você tem um e ele sabe te tratar com decência. Ele sabe ser justo,
compreensivo e até mesmo carinhoso com você.
- E acaso pensa que minha relação com Draco sempre foi assim? Você não
tem a menor ideia, de como foi difícil chegar ao ponto em que estamos hoje,
Hermione. O problema com Draco é que ele demorou muito tempo para abrir
os olhos para aquilo que realmente possui significando e, mesmo assim, ainda
tem muito que aprender. – suspirou – Portanto, seja paciente, você terá que
ficar com ele por muito tempo. Entenda que ele ainda não tem ideia do
significado de certas coisas e, talvez, nunca tenha.
- Da mesma forma que você é compreensiva com seu marido porque ele
não faz ideia do significado de absolutamente nada? – ela não segurou a língua.
– Você pode amar Lúcio e ser compreensiva com ele o quanto quiser, mas eu
não amo Draco e nunca vou deixar que ele abuse de mim, por não entender o
limite de certas coisas. Serei compreensiva sempre que tiver consciência de
que o ato é recíproco. Posso não ser um péssimo ser humano, mas não gosto
que me façam de idiota.
Narcisa suspirou e desviou o olhar.
Era extremamente grata pela existência daquela mulher em Brampton Fort. Por
mais que Narcisa fosse calada, ela sempre estava presente, verificando se
Hermione estava bem, se sentia dor, se havia febre, se estava tomando as
poções que deveria. E em momentos que menos esperava, mas,
consequentemente os que ela mais precisava, a sogra abria a boca para soltar
num tom calmo e paciente que tudo ficaria bem e que precisava ser forte.
Muitas vezes, aquilo dava brecha para que Hermione pensasse que poderia
usá-la como costumava usar sua mãe, mas Narcisa não era o tipo de mulher
que a receberia em seu colo, que afagaria seus cabelos, que sussurraria
palavras bonitas e diria que a amava no final. Entretanto, a frieza de tudo que a
cercava, fazia Narcisa parecer calorosa mais do que o suficiente e isso era tudo
que Hermione conseguiria vivendo aquela nova vida.
Assim que chegou em casa, tratou de verificar os memorandos da Comissão,
que o grupo com o qual estava trabalhando tinha a bondade de enviar a ela,
assim que Tryn os entregou. Fechou-se numa das salas daquele mesmo andar,
para poder analisar aquilo que haviam enviado. Eles estavam trabalhando em
cima de um padrão que Hermione havia dado a eles para aprimorarem o feitiço
de proteção que usariam para as fronteiras do acampamento de York. Ela era
mestre em manter-se segura dentro de zonas inimigas. Havia feito a Ordem
sobreviver debaixo de seus feitiços, por muito tempo. Tinha propriedade para
cuidar do assunto e ficava grata que a Comissão desse inteira liberdade a ela.
Nunca pensou que ter tido Minerva MacGonagall como tutora, pudesse lhe dar
tanta influência no meio de altos conhecedores de magia.
Mesmo que tudo parecesse estável, nos informativos enviados pela Comissão,
que tudo parecesse estar em perfeita ordem, Hermione temia pelo poder da
Ordem que era absurdamente instável e imprevisível, o que fez com que ela
mais uma vez analisasse tudo aos detalhes. Não queria deixar passar nada.
Precisava ter certeza de que não havia nenhuma brecha naquela magia.
Precisava ter certeza de que Draco e seus homens ficariam seguros.
O relógio ao lado do sofá onde havia se sentado soou um singelo alerta, quando
atingiu uma hora redonda a fazendo sair de um cochilo que não se lembrava de
ter entrado. Esfregou os olhos e se sentou martirizando-se por ter acabado
dormindo, mais uma vez. Detestava ficar em casa sem ter muito que fazer,
principalmente, quando poderia estar tendo um dia produtivo na Catedral.
Olhou o horário, se levantou sem pressa, foi até o casa de poções no sótão
deixar todos os pergaminhos que havia recebido da Comissão para analisar
mais tarde, desceu até a cozinha para ter certeza de que Tryn estava
administrando bem o preparo do jantar e voltou para a sala de jantar onde
começou a abrir os armários de prataria para escolher qual deles usaria aquela
noite.
Escutou Draco chegando, não muito tempo depois. Quando ele apareceu na
sala de jantar, como sempre aparecia, livrando-se da gravata e dobrando as
mangas da blusa, ela finalizava o alinhamento dos últimos talheres. Eles
trocaram um rápido olhar e Hermione esperou por qualquer cumprimento
mínimo que fosse, mas ele desviou o olhar e seguiu seu caminho até sua
cadeira em silêncio.
Ambos se sentaram e Draco logo tratou de chamar por Tryn para ordenar o
inicio do jantar. Eles foram servidos com uma salada inicialmente e Draco
passou a se alimentar, enquanto abria um envelope que carregara consigo
desde que passara para o lado de dentro da sala de jantar e se perdeu na
leitura entre suas garfadas.
Era sua salada favorita e ela não foi capaz de apreciar o sabor da noz em sua
boca, nem os bons pedaços de morango com alface porque, mais uma vez,
suas entranhas reviravam com o quão incômodo era ser ignorada por Draco.
Quando ele ordenou a troca para o prato principal, sem sequer passar os olhos
no de Hermione para saber se ela havia ou não terminado sua entrada, ela
sentiu sua língua coçar.
Segurou-se o quanto pode e quando se deu conta de que ele estava finalizando
sua refeição, assim como sua carta, e se levantaria sem nem mesmo pedir
licença, ela não conseguiu mais se conter.
Ele não respondeu nada por alguns segundos, deixando a voz dela morrer no
silêncio. Os olhos dele continuaram fixos e inabalados, sobre a enorme carta
que tinha nas mãos.
- Tenho mesmo que te contar tudo agora? – foi tudo que ele se limitou a
dizer, sem nem mesmo olhá-la, entre o intervalo de um parágrafo e outro.
Hermione mal pode acreditar no que havia escutado. Na indiferença, na frieza,
na falta de respeito. Ela se indignou. Soltou os talheres sem fazer questão de
ser delicada e foi com aquele ato que Draco finalmente moveu seus olhos para
ela como se desaprovasse o comportamento.
- O que há de errado com você, Draco? – ela tentou se conter, mas seu
sangue fervia com o resultado das palavras que ele havia soltado. – Acaso você
se lembra de que nós temos um acordo? Se lembra de que deveríamos ser
cúmplices? Se lembra de que perdemos uma filha porque não estávamos
trabalhando como um time? Se lembra disso?
Os olhos dele ficaram fixos sobre os dela por mais tempo do que ela esperava.
Com resultado do que sua cabeça pareceu debater durante alguns segundos,
ele apenas suspirou, fechou a carta, ajeitou-se em sua cadeira e disse:
Ela ergueu as sobrancelhas surpresa, embora tivesse muito suas dúvidas sobre
o que ele havia dito.
- Iria usar nosso cofre? – tinha que se portar como incrédula diante
daquilo. Não conseguia nenhum outro tipo de reação.
- Eu poderia.
Ele, definitivamente, não poderia estar falando sério.
Por mais que Draco tivesse a justificativa que fosse ou por mais que soubesse
lidar com aquele mundo melhor do que ela, deveria entender muito claramente
que ele não tinha uma vida mais, sozinho, e que as coisas não eram mais
exatamente como logo quando se casaram. Ela não era mais tão ingênua, não
ficava mais calada, entedia como certas coisas funcionavam no mundo dos
Comensais. Muita coisa para ela estava em jogo. Se ele fosse destituído, eles
estariam arruinados e Hermione não podia se dar a esse luxo. Não agora.
Estava grávida de dois filhos. Dois. Tinha dias em que era difícil processar
aquela informação, porque por mais que estivesse os gerando, a figura de dois
seres humanos que lhe fariam ser mãe, dois seres humanos que dependeriam
completamente dela, seres humanos estes, que teriam suas personalidades,
suas vontades e seus desejos. Tudo isso ainda era muito abstrato para o
cérebro dela.
Parou para respirar aliviada, por ter dito algo apenas quando alcançou o sótão.
O confortável calor que vinha do fogo baixo de suas poções e o cheiro
combinado de todas elas foram um tranquilizante instantâneo. Os nichos no
teto davam lugar às janelas e permitiam que ela visualizasse o céu, sempre
cinza de Brampton Fort. A chegada da primavera estava começando a permitir,
que o breu da noite, atrasasse algumas horas e depois de um ano vendo o sol
poucas vezes, Hermione aprendera a apreciar mais aquelas pequenas coisas.
Sentou-se em uma das poltronas que havia movido para aquele cômodo,
enquanto não providenciava as mudanças que gostaria de fazer ali. Astoria
havia implorado para ajudar porque nunca vira ninguém da classe alta
reformando um sótão e que aquilo seria, sem dúvidas, um ótimo desafio.
Hermione aceitara a companhia, até porque Astoria era boa e ela, por sua vez,
pouco entendia do assunto, embora se esforçasse visto o repentino interesse
que passara a ter na arrumação de sua casa.
Fechou os olhos por alguns segundos, ponderando se havia feito a coisa certa
ou não. Seus hormônios gritavam que havia, mas sua razão ainda se
questionava se fora realmente necessário que tivesse sido daquela forma,
naquele momento. Draco estava sendo, o que sempre havia sido nos últimos
dias: indiferente. Indiferente a ela, indiferente a sua gravidez, indiferente ao
casamento que tinham, indiferente a cumplicidade frágil que haviam começado
a lapidar não fazia muito tempo. Hermione sentia, finalmente, que ele estava
sendo o homem com quem ela havia se casado. O Draco dos primeiros dias,
fechado em seu próprio universo, ocupado demais para dar atenção a ela, a
não ser que estivessem fazendo sexo. Ela não sabia entender o porque ele
havia se fechado, quando nos últimos meses ele fora tão aberto. Não tão
aberto como ela era acostumada, mas aberto o suficiente para o padrão Draco
Malfoy.
Abriu os olhos sentindo-se confusa e com aquela pressão no peito que sentia,
todas às vezes, que começava a se questionar sobre aquilo. Levantou-se e
começou a organizar os livros que havia deixado espalhado pelo local,
devolvendo-os a estante que ainda estava montando para a Casa de Poções.
Distraiu-se alguns segundos, ao realocar alguns livros que Narcisa havia
indicado logo quando se casara, livros que a faria entender melhor os Malfoy e
a história que os envolvia. A linhagem Malfoy era a única linhagem direta de
Merlin que havia sobrevivido os séculos, por esse motivo, eles eram
considerados o sangue mais puro do mundo bruxo.
A lenda contava que Merlin havia persuadido uma ninfa, a mais bonita das
criaturas de seu tipo, com uma rubi enfeitiçada de poderes, a saciar seus
desejos por uma noite inteira. A ninfa, comprada pela rubi, se envolveu com o
bruxo e acabou gerando mais um dos herdeiros de Merlin, um que recebera o
nome Malfoy. Obviamente, havia toda uma encenação e maquiagem para a
história ficar mais interessante e fantasiosa, mas Hermione lera outras versões
que insistiam que, na verdade, Merlin acabara se envolvendo com uma bruxa
qualquer da alta corte de Arthur, bonita demais para ser confundida com uma
ninfa, e esse envolvimento acabara gerando o garoto Malfoy. Talvez, Merlin
tivesse a presenteado com uma rubi quando o envolvimento ficara sério,
porque de acordo com alguns escritos no nome de Merlin, o filho Malfoy era seu
preferido. Hermione também tentava ligar os pontos daquela história de outras
formas mais racionais, a rubi enfeitiçada, muito provavelmente, havia sido dada
a mãe do menino com o intuito de algum tipo de proteção, porque a terrível
fada Morgana, irmã de Arthur, detestava Merlin visto que a história contava que
ela havia conseguido dar fim a dois outros de seus herdeiros, nada mais justo
que ele tentasse proteger seu favorito. Aquilo, para Hermione, era o mais
plausível visto que no futuro, quem derrubara todo o poderio construído por
Morgana, não deixando pedra sobre pedra, não deixando que ninguém de seu
sangue continuasse sua história, havia sido um Malfoy.
Consequentemente, as linhagens de Merlin foram tomando corpo e, uma a
uma, fora caindo com o passar dos séculos. Os Malfoy haviam conseguido se
consolidar na história como a única sobrevivente, devido à preciosa pedra
vermelha dada por Merlin. Hermione a vira no cofre dos Malfoy, há uns meses,
pela primeira vez. Ficava isolada em um canto importante, coberta por um
jaula de vidro, num pedestal de prata feito somente para expô-la. Era uma
pedra qualquer de rubi lapidado, como todas as outras de seu tipo que,
provavelmente, caberia no centro de sua mão sem pesar muito. Narcisa havia
dito que a pedra era um dos motivos pelo qual Voldemort os mantinha por
perto e sempre ocupando altas posições em seu império. Seria muito mais
trabalhoso derrubá-lo, enquanto um Malfoy com a proteção de Merlin estivesse
ao seu lado.
Hermione duvidava muito que aquela pedra fosse especial. Não havia nada de
muito extraordinário quando a vira. Talvez, um dia, tivesse o interesse em
destrinchá-la, ver qual magia a envolvia, estudar como havia sido construída;
tentar reproduzi-la. Talvez a magia da pedra, se assemelhasse à construção da
magia que a Ordem vinha usando, assim teria certeza se o véu que conseguira
para a Ordem era legitimamente de Merlin.
Hermione sabia que ele deveria estar furioso com ela. Draco detestava quando
levava um sermão autoritário, como o dela, por alguém que estava abaixo dele.
Obviamente que ela não estava abaixo dele, da perspectiva dela, mas tinha
plena certeza de que, da perspectiva de Draco, ela certamente estava abaixo
dele.
- Quem te deu?
- Sua mãe.
- Eu sei.
Ele abaixou os olhos para o que tinha na mão e o analisou por alguns
segundos.
- Por que? – ele perguntou.
- Desculpe. – chamou a atenção dele que logo ergueu os olhos para ela. –
Por ter falado com você daquela forma no jantar.
Secou-se, vestiu sua camisola, fez toda a sua rotina noturna e seguiu para a
cama. Assim que voltou para o quarto, encontrou Draco com os olhos sobre os
documentos em sua mão, mas estranhamente ele parecia em outro mundo e
não necessariamente atento ao que deveria. Hermione preparou o lado onde se
deitava, tirando a pilhas de travesseiros e afastou as cobertas. Sentou-se,
passou as mãos no rosto, enquanto suspirava e tentava relaxar. Alisou o
mármore do chão com os pés e alongou as costas passando o cabelo para um
lado, para poder massagear o pescoço antes de se deitar. Seu músculo estava
tenso e ela não sentia sono, mesmo sabendo que não demoraria dormir quando
deitasse. Soltou o ar e quis que tudo estivesse bem. Era tudo que queria. Que
tudo estivesse bem, mas tudo que podia realmente desejar era que tudo ficasse
bem.
- Não estou perguntando se quer. – ele foi seco e Hermione sentiu raiva da
pouca consideração que ele estava tendo por ela ali.
- Draco, eu falo sério quando digo que não quero, por favor não me faça
querer. – ela implorou.
Sabia que era incapaz de resisti-lo quando ele a tocava. Havia mergulhado
naquilo no começo do casamento, quando mesmo o odiando intensamente, era
absolutamente impossível não saber que sentiria seu coração explodindo dentro
do peito em prazer, todas às vezes, que era tocada por ele e agora se via
perdida e incapaz de se livrar daquilo.
Ele continuou sua investida a deixando cada vez mais desarmada. Tentou
mover-se desconfortavelmente e até tentou parar as mãos dele, mas cada vez
que sentia a língua quente em contato com sua pele ou o calor do corpo dele a
explorando debaixo da camisola, sua boca repentinamente puxava o ar,
mostrando que estava se rendendo e Hermione se odiava por isso. Se odiava e
odiava Draco porque ele sabia bem que ela não queria.
Draco a arrastou para o meio da cama, prendeu seus braços acima de sua
cabeça e se colocou entre suas pernas. Ela sabia o que ele faria, e se fosse bem
sucedido, não havia mais volta. Os quadris dele começaram a se mover a
estimulando. Hermione não queria encará-lo. Virou o rosto e fechou os olhos
sentindo todo o seu corpo esquentar. Sua respiração já estava pesada e foi
ficando cada vez mais, quando começou a lutar contra a vontade de gemer.
Não queria dar esse gosto a ele.
O hálito dele rondou seus seios ainda por cima da camisola, e a essa altura, ela
já o queria dentro dela, principalmente quando conseguia o sentir duro e
enclausurado dentro de sua calça. A boca de Draco explorou seu pescoço mais
uma vez e subiu por sua garganta. Hermione estava muito certa de que ele iria
beijá-la. Chegou a sentir o hálito dele a centímetros de sua boca. Ela não queria
que acontecesse, não queria ser beijada, mas estranhou quando os segundos
foram passando e sua boca não chegou a ser tomada por ele. Abriu os olhos e
encarou os cinzas dele sobre ela, viu no brilho do olhar dele, o relance do
homem que havia lhe feito companhia nos últimos meses e não o Draco
indiferente dos últimos dias. Ele parou o movimento do seu quadril contra o
dela. Hermione sentiu seu corpo protestar, mas sua razão falava mais alto que
a tentação naquele momento. Eles se encararam por alguns poucos segundos.
- Está usando o olhar que costumava usar quando nos casamos. – a voz
dele soou incomodada.
- Eu pensei que estava começando a te conhecer. – ela deixou sua voz soar
extremamente baixa. – Mas, de repente, percebi que não o conheço em
absolutamente nada.
Ele não respondeu no mesmo instante, mas não muito tempo depois se
manifestou, calmo, porém sério:
- Acaso ignorar o ódio e a raiva, fez com que eles fossem embora?
Ela queria responder que sim, mas sabia bem da verdade porque todas as
vezes que alguma lembrança do passado voltava, o ódio e a raiva vinham
juntos.
Agora ela entendia todo o comportamento dele, todos os altos e baixos dos
últimos dias, as perguntas sem nexo, os olhares congelantes que ele a lançava,
os momentos em que sentia que Draco avaliava e julgava até mesmo o modo
como ela respirava. Talvez ele tivesse passado ou ainda estava passando, por
um grande conflito em relação a ela.
- Por isso, você prefere nos levar novamente para onde começamos? – sua
voz foi baixa.
- Por isso, que eu prefiro que fiquemos onde começamos. – ele se sentou.
Claro que Draco preferia, o lugar onde começaram era seguro. Eram apenas
um homem, uma mulher e sexo, nada mais. – E fim. – fez menção de se
levantar, mas Hermione o segurou pelo pulso.
- Draco. – ela se viu fazer o que nunca teria feito em sua vida. Sentiu-se
estúpida, mas não recuou quando Draco a encarou esperando que ela
continuasse. Não se importava com o conflito que ele estava passando, o que
haviam vivido desde que perderam a filha havia sido real. – Se quer que
sejamos o que éramos no começo, corpos vazios coexistindo nessa casa, nessa
cama, na Catedral, apenas porque somos incapazes de superar nosso passado,
vamos ignorar completamente os últimos meses? A forma com fazíamos sexo,
como pensávamos juntos, como agíamos juntos. Vamos esquecer que rimos,
que compartilhamos pensamentos estúpidos no escuro da madrugada, que não
éramos apenas educados um com o outro. – era quase doloroso ter que se
lembrar de como ela se sentia confortável em encostar nele, de como o sorriso
dele havia ficado gravado em sua memória, de como ele displicentemente a
cumprimentava sempre quando entrava em um ambiente que ela estava, de
como conversavam durante o jantar sobre coisas irrelevantes. Era doloroso
porque Draco estava ignorando tudo aquilo. – Vamos mesmo esquecer que as
coisas deixaram de ser vazias, invasivas e intocáveis e passaram a ter um
significado?
- Que significado, Hermione? – ele parecia tragado, e agora, ela podia ver
no olhar dele que para Draco, as coisas não pareciam tão fáceis, tão claras, tão
objetivas. Ele estava confuso, mas muito certo sobre algo.
- Mas essa não é a realidade. Não ela inteira. A realidade é que temos um
passado. – ele insistiu, embora, seus olhos brilhassem de uma forma diferente,
de uma forma que ela passara a conhecer, como se estivesse enxergando as
coisas por um ângulo diferente naquele momento, como se estivesse se
entregando a algo, mesmo que ainda quisesse se manter resistente.
- E por isso vamos esquecer o que tivemos esses últimos meses? –
Hermione conseguia enxergar o perigo do caminho que estava seguindo com
Draco, porque ela já havia o percorrido mais de uma vez. Mas ainda não
conseguia abrir mão do fato de que já haviam avançado juntos nele, por um
tempo bastante considerável. – Vamos ignorar tudo o que conseguimos
construir? Você sabe que não foi fácil. – teve receio, mas mesmo assim,
levantou a mão e tocou o rosto dele, sabendo que não faria isso normalmente,
mas se eles dois eram capazes de enxergar onde estavam em relação ao
relacionamento deles, ela não precisava se conter e medir seus toques por
saber que ele era Draco Malfoy. Tirou seu tempo para observá-lo. Tudo nele era
tão perfeito que parecia ter sido minuciosamente esculpido. Os músculos de seu
rosto, a linha de seu queixo, o desenho de seu nariz, os olhos perfeitamente
cinzas, intimidadores e tempestuosos. Hermione conseguia se lembrar
perfeitamente, de como Draco fazia aqueles olhos serem tão acolhedores, às
vezes, de como ele fazia seu toque frio aquecer sua pele, de como ele
surpreendentemente fazia sua voz, dura e afiada, soar pacífica e compreensiva.
Ela queria que ele soubesse que havia reparado nisso, que ela havia sido grata
por, todas às vezes, que ele se permitira ser gentil além do educado, por, todas
às vezes, que se deixara falar sobre algum pensamento privado, por, todas às
vezes, que havia a tocado sem ter medo de ser cuidadoso e intenso. Hermione
sabia que Draco não havia fingido nada daquilo, por mais que tivesse se
questionado muitas vezes esses últimos dias, devido ao estranho
comportamento dele. Agora, ela sabia que ele não havia. Levou sua mão até a
nuca dele e sentiu os fios macios e loiros entre seus dedos, enquanto os olhos
dele percorriam cada extensão de seu rosto. Havia uma certa angústia contida
ali. Hermione queria entender o que era. – Draco, se você ao me dissesse... -
Ela engoliu as palavras quando ele avançou até sua boca passando os braços
pelo seu tronco para se apoiar no colchão. Mas Draco parou e não a beijou.
Parou apenas a milímetros de seus lábios, com a respiração pesada, como se
estivesse contendo a fome que surgira em seus olhos, no momento em que
avançou. Hermione não deixou de querer protestar por ele ter se contido.
Aquele era o Draco que havia estado ao seu lado nos últimos meses, não a
criatura distante e indiferente dos últimos dias. Aquele Draco não era
detestável. Aquele Draco havia se permitido com ela e Hermione não queria
que aquele Draco tivesse parado, nem que ele estivesse tentando resisti-la,
naquele exato momento. Sabia que ele tinha razão. Sabia que eles deveriam
recuar. E por mais que não quisesse abrir mão do mínimo que haviam
vivenciado juntos, era bastante racional para enxergar a potencialidade daquilo
e o grande desastre que poderia acarretar. Mas foi sabendo que ele tinha razão
e que deveriam recuar que ela juntou a saia de sua camisola e passou uma
perna por ele, sentando-se em seu colo sem deixar que suas bocas se
afastassem de onde estavam. Juntou sua outra mão na nuca dele e afastou-se
minimamente apenas para poder ver seus olhos incrivelmente cinzas, com a
intensidade que ela havia se acostumado a encarar nos últimos meses. – Se
vamos voltar a ser como éramos antes. Corpos vazios movidos unicamente pelo
prazer. Então deixe que eu, Hermione, não somente o meu corpo, o tenha uma
última vez. Mas não somente o seu corpo. Você, Draco. Ao menos, uma última
vez. – sussurrou. Ela o queria, o queria como havia o tido todas as outras vezes
que fizeram sexo desde que haviam perdido a filha.
Mas só mais uma noite. Uma para Hermione se lembrar de como havia sido.
Puxou sua camisola e a tirou por cima da cabeça. Draco a tocou quase que
imediatamente, mas um toque receoso. Ele ainda parecia resistir de alguma
forma. Uniu seus rostos novamente deixando suas bocas na mesma distância
de antes, onde ela podia sentir o hálito dele. Movimentou seu quadril contra o
dele para senti-lo ainda, vagamente, acordado dentro de sua calça. Quase era
capaz de ouvir as engrenagens na cabeça dele. Deixou seus lábios roçarem os
dele e, talvez, aquilo tenha sido demais para Draco porque, finalmente, ele a
tomou como deveria. Suas bocas se encaixaram exatamente como milhares de
outras vezes e foi absolutamente renovador.
Ah, o sabor dele... Havia algo na forma como seu beijo com ele acontecia. Logo
quando haviam se casado, parecia vazio, mas ardia em desejo, agora parecia
completo e cheio de significado. A forma como suas bocas se moviam, como
seus lábios dançavam, como suas línguas se tocavam, como tudo entrava em
harmonia. As mãos de Draco traçaram seu corpo como se estivessem a tocando
pela última vez, como se nunca mais fosse ter a chance de, verdadeiramente,
senti-la. Os braços dele passaram por sua cintura e a trouxeram para perto,
fazendo seu corpo colar no dele. Era essa a proximidade que tinham e até a
forma como seus corpos se encostavam, tinha um significado quando estavam
sendo Draco e Hermione e não somente corpos com desejo.
Draco tirou a única peça de seu pijama e deitou sobre ela novamente, tomando
cuidado para não esmagá-la. Hermione fechou os olhos para poder sentir todas
as reações de seu corpo, enquanto a boca dele percorria seu colo, seu pescoço,
sua orelha e suas mãos apertavam sua pele e exploravam seu seio.
Ela perdeu suas mãos nos cabelos dele e deixou sua respiração se tornar
expressiva. Sabia que antes que realmente o tivesse, Draco exploraria seu
corpo o tanto que quisesse. Hermione não se importava. Ele conhecia bem
como ela funcionava e suas mãos não eram displicentes, passavam pelos
lugares certos, na intensidade certa, nos momentos certos e sempre se
surpreendia com o quão rápido Draco era capaz de fazê-la sentir que iria
explodir.
Quando ele deslizou para dentro dela, sem pressa alguma, ergueu-se para
poder vê-la. Hermione precisou conter sua respiração, até seu corpo reagir num
mínimo espasmo e sua garganta soltar um opressivo gemido. Draco sorriu e ela
cerrou os olhos dando a ele aquela minúscula vitória antecipada demais. Passou
seu braços pelo pescoço dele e ergueu-se para recuperar sua boca. Ele cedeu
beijando-a e indo fundo dentro dela.
Draco foi paciente, exatamente como ela havia previsto. Devagar. Aproveitando
cada mínima sensação. Acabou por deitar sobre ela e cercar sua cintura com os
braços. Seus corpos se juntaram sem que nenhuma brecha existisse entre eles,
e ele começou a movimentar-se, com calma, fazendo com que ela tivesse a
perfeita consciência do tamanho dele e de seus músculos o envolvendo.
Hermione logo não foi capaz de conter, a forma como sua garganta exigia se
manifestar, quando expirava o ar. Pediu para que ele fosse mais rápido e Draco
não recusou. Fez sua boca colar contra a dela mais uma vez e se escondeu na
curva de seu pescoço. Ela desceu mão por suas costas, explorando a pele dele
como se fosse um tipo raro de pergaminho. O contato de seus corpos a
estimulava a um nível assustador.
Draco aumentou ainda mais a velocidade, mostrando que precisava daquela
intensidade. A agonia finalmente a castigou e Hermione soube em qual campo
estava entrando. Tentou segurar, mas seus gemidos eram meramente
consequência do calor e a angústia que a consumia. Arqueou seu corpo e no
momento em que Draco sentou-se sobre os joelhos e a trouxe consigo, ela
soube que seus corpos estavam numa sintonia perturbadora. Eram como duas
folhas de papel brincando próximas demais do fogo.
Engoliu o próprio gemido e a respiração, quando seu cérebro pareceu dar voltas
e sua visão escureceu por um segundo. Seu corpo contraiu-se e relaxou num
espasmo expressivo. O som que saiu de sua garganta, logo em seguida, foi
agudo e rouco. Ela teve um último espasmo menor, sentindo o reflexo de ser
consumida pelo prazer, e soltou o ar respirando ofegante de costas contra o
colchão. Draco inclinou-se sobre ela novamente e beijou sua boca. O calor da
língua dele e o sabor familiar era quase uma recompensa final. Ele se afastou
com um sorriso nos lábios e eles se encararam.
- Ainda não terminei. – a voz dele foi profunda, fazendo vibrar até mesmo
as veias de todo seu corpo fragilizado.
Draco sorriu em resposta ao que ela havia dito como se estivesse avisando que
não pretendia ter pressa. Hermione realmente esperava que ele não tivesse.
Não queria que terminasse nunca, essa era a verdade. Queria ele daquela
forma todas as noites. Não só o físico dele, mas ele, o olhar dele, o sorriso
dele, o toque dele, o beijo, o cuidado, a intensidade. Pensar que aquela era a
última vez que estavam se permitindo, que estavam se tocando como Draco e
Hermione, não apenas como homem e mulher, era angustiante, mas sabia que
era o melhor, o mais seguro, o mais racional.
Quando Draco a colocou por cima dele, Hermione se sentou e não deixou que
ele tivesse tempo de protestar a ausência de fricção entre eles. Moveu-se como
sabia que ele gostava, sem muita paciência para brincar com o tempo, sentindo
ele duro e pulsante. Draco dava os sinais de quando ela devia conter-se para
prolongar mais o estado em que ele se encontrava. Hermione sabia que estava
os regendo naquele momento e fez seu serviço com maestria até que ele
descesse o dedo até ela para tocá-la em seu ponto mais sensível, enquanto
ainda trabalhava sobre ele.
O toque foi o suficiente para colocá-la sob um estado nervoso e desequilibrá-la.
Seu corpo ardeu novamente e Hermione não parou. Cada membro seu
começou a formigar, de cima a baixo, e ela não conseguiu encontrar outra
forma de buscar por alívio que não fosse a velocidade com o qual se movia.
Draco não parecia muito longe do caminho que Hermione tomava e sentou-se,
colando seu corpo no dela num abraço quente e suado.
Draco não deu a ela um segundo de descanso e suas costas já estavam contra
o colchão. Ela achou que havia alcançado o alívio, mas ainda havia uma parte
de si que precisava de mais. Ele continuou investindo contra ela. Hermione
puxou seus cabelos ofegando e acreditando que desfaleceria. Draco foi forte e
fundo, seus olhos cinzas sobre ela contavam claramente que ele se lembraria
daquela vez, se lembraria dos sons dela, do toque dela, do olhar, do significado
de cada simples busca por ar, porque quando se tocassem novamente apenas
como homem e mulher, nada daquilo mais existiria, nada daquilo seria
permitido e ele se lembraria de como havia sido aquela noite, se lembraria de
quem eles haviam sido ali, de que haviam chegado um dia ali.
Quando vieram juntos, dando um fim a tudo aquilo, Hermione não soube
exatamente como se sentiu. Embora todo seu físico clamasse satisfação, com
todos os espasmos e contrações de seus músculos, seu peito estava apertado.
Os músculos de Draco relaxaram quando ele liberou tudo que tinha dentro dela.
Ele a observou ofegante como se estivesse entendendo o significado daquilo.
Seus dedos passaram pelo rosto dela desenhando a linha de sua têmpora e
foram até sua nuca onde entraram por seus cabelos. Draco inclinou-se e tocou
os lábios dela com os seus. Beijaram-se como se entendessem a situação com
muita racionalidade.
Ele se afastou quase como se não quisesse, deitou ao lado dela e a trouxe
consigo, embora Hermione também já se movimentasse para não se separar
dele, mesmo que Draco não tivesse tido o esforço de levá-la consigo.
Acomodou sua cabeça sobre o peito dele e fez uma mão sua ir displicentemente
até os fios de seus cabelos loiros.
O silêncio os uniu, enquanto ela escutava o coração dele acalmar-se. Hermione
não queria dizer nada, e talvez ele também não quisesse, porque apenas
ficaram ali, existindo. Não dormiam juntos daquela forma fazia dias e ela sabia
bem, que aquela noite seria a última. Fechou os olhos, ajeitou-se
confortavelmente sobre Draco, passou os braços pelo seu tronco e ficou quieta,
sentindo os dedos dele brincarem displicentemente com os cabelos atrás de sua
orelha.
Seu corpo deu sinais de exaustão quase que minutos depois. Estava grávida e
talvez fosse por isso. Ela não queria dormir sentindo a dor no peito de que
aquilo acabaria quando o sol nascesse. Lutou contra a vontade de dormir, mas
não demorou a ser tragada completamente pelo sono, bem consciente de que
estava caindo para a inconsciência bem antes de Draco.
Draco não voltou para casa aquele dia, nem o dia seguinte, no outro, ele
chegara tarde e saíra cedo e Hermione jantara sozinha, dormira sozinha e
acordara sozinha exatamente como nos anteriores.
Ao menos, sabia que havia tido uma última vez com ele.
**
- Não sei se cheguei a comentar, mas estou feliz por ter decidido se
mostrar finalmente. – Astoria tornou a se aproximar dela no boticário em que
se encontravam no centro. – Aqui, encontrei o que estava procurando. –
estendeu a ela um frasco com o rótulo de uma poção de sua lista.
- Obrigada. – pegou a poção. – O que quer dizer com eu ter decidido me
mostrar? – elas começaram a avançar, distraidamente, pelas prateleiras.
- Por que ele bancaria o protetor? – ela se arrependeu de ter soltado aquilo
no mesmo instante, puniu a si mesma por ter se distraído, ao passar o olhar
sobre uma seção com frascos, de ervas raras.
- Hermione, vamos lá. Todo mundo sabe que está grávida. Você não
precisa mais fazer esse papel. Sem contar que já deixei de contar o número de
vezes que perdeu o fôlego enquanto conversávamos. - Hermione parou e a
encarou. Astoria parou logo em seguida e seu sorriso murchou. – Desculpe, eu
não tive a intenção de ser invasiva a esse ponto, só achei que fôssemos
próximas o suficiente para que não precisássemos guardar essa informação
uma da outra.
Hermione passou os olhos de um lado para o outro do corredor em que
estavam. Deu uma longa piscada enquanto soltava o ar e se aproximou da
mulher.
- Precisa ser discreta e, por favor, não confirme a ninguém. – foi tudo o
que disse quase sussurrando.
O sorriso de Astoria voltou quase que cruzando seu rosto inteiro dessa vez.
- Quatorze. – respondeu.
- Sei como é. Ainda é um pouco cedo. – ela parecia ter um sorriso pregado
no rosto agora. – Faz bem dar esse tempo para você por agora.
- Sim, eu sei, mas Draco precisa de mim também. Tenho que ir a Catedral
hoje. Eles vão mover o acampamento de York amanhã e preciso me certificar
de que tudo está correndo exatamente como planejado.
- Admiro seu empenho com a guerra. – ela comentou e parou quando
Hermione fez o mesmo para ver algumas raízes. – Deve ser ruim quando Draco
tem que se ausentar de Brampton Fort, por causa do exército.
- Sabemos que é necessário. – ela ficaria por ali com o que dissera,
enquanto pegava um dos frascos na prateleira, mas se lembrou da farsa que
tinha que viver com Draco. Não podia ficar só por ali como costumava sempre
fazer agora. Ela tinha que disseminar seu grande amor por ele. – Porém,
bastante injusto. – acrescentou devolvendo o frasco a prateleira e retomando
sua caminhada. – Ele faz falta. Ficamos tanto tempo separados e agora que
finalmente conseguimos ficar juntos, parece quase irreal como conseguimos
administrar os sentimentos quando estávamos longe. – mentiu embora fosse
impossível não deixar de lembrar do vazio que era a cama todas as vezes que
ele não dormia nela.
- Isaac me faz falta até mesmo quando tem que ficar até tarde na estação
ou verificando as escalas nos portões. Imagino o que deve ser para você já
Draco fica, às vezes, por semanas fora.
- Nos últimos meses, nem tanto. Ele conseguiu administrar para poder
cumprir tudo daqui. Foi um trabalho intenso, mas eu o ajudei. – concluiu
Hermione. Astoria foi quem parou dessa vez para separar algumas ervas em
potinhos separados. Ela comentou algo sobre jardins e Hermione apenas
respondeu que estava trabalhando no dela. Uma curiosidade lhe bateu
repentinamente e acabou perguntando sem receio: - Foi difícil para você
começar a aceitar Isaac quando se casou?
- Éramos muito educados um com o outro, posso dizer, mas não posso
deixar de admitir que foi um pouco complicado. Ele não me via com muito bons
olhos porque sabia que minha família havia nos juntado apena, para se salvar,
quando o império do mestre começou a tomar muito corpo. Eu também estava
bastante apegada ao pai do filho que perdi. Tive que me esforçar porque achei
que Isaac fosse me desprezar caso soubesse que o filho não era dele, então
tentei nos forçar para a cama muitas vezes, até mesmo quando ele não queria
ou não podia, apenas para que ele não desconfiasse quando minha barriga
começasse realmente a aparecer. Eventualmente, minha máscara veio a cair,
quando eu perdi o bebê e ele ficou sabendo com quantas semanas eu estava
através do medibruxo. Foi perturbador por alguns meses conviver com ele,
principalmente porque ele não é nenhum idiota e percebeu que eu estava
tentando enganá-lo, tentando fazer parecer com que o filho fosse dele. Tive
raiva por um tempo porque ele poderia ter sido mais compreensivo em
entender o meu estado. Eu não podia deixar aquele casamento desmoronar.
Minha família dependia de mim. Só fui perceber que ele também queria que as
coisas dessem certo, quando acabei indo para um lado meio obscuro. Eu ficava
muito quieta, não queria sair, não queria conversar, não me importava com a
casa, não me importava em preparar nada, em cuidar de nada, em me dedicar
a nada, em ser produtiva. Acho que isso começou a preocupá-lo e foi,
justamente, quando começamos a ser honestos um com o outro. Ele começou a
ser mais cuidadoso e eu comecei a tentar enxergar as qualidades dele. As
coisas foram melhorando com o passar do tempo, não foi nada da noite para o
dia, mas sinto que temos um laço muito forte um com o outro por causa disso.
Na verdade, eu sempre quis que as coisas acontecessem comigo como
aconteceram com você e com a maioria. Me apaixonar, ter o casamento dos
sonhos com um homem que me escolheu e que eu também escolhi, começar
uma vida juntos com todos aqueles sentimentos fortes e tudo isso, mas acho
que quando as coisas começam com muitas expectativas, as eventuais
frustrações parecem muito mais difíceis de enfrentar. Nós não tínhamos
absolutamente nenhuma expectativa um com o outro e foi uma surpresa boa
quando as coisas começaram a acontecer. Acredito que comecei a aceitar
Isaac, no momento em que ele me deixou saber que ele também estava me
aceitando e a partir daí fomos abrindo os braços um para o outro, cada vez
mais. Sabemos lidar com as oscilações de sentimentos porque eles vem e vão
toda hora. Construímos o amor e consequentemente, com o tempo, a paixão
surgiu, e isso é forte entre nós, essa aceitação que temos, a decisão que
tomamos de estar presente um para o outro, independente do sentimento ou
da condição.
Hermione sorriu. Foi um dos sorrisos mais sinceros que já havia dado naquele
lugar.
Hermione sorriu.
- Tolice. Não tenho motivos para estar triste. – ela passou uma mão sobre
a barriga esticando as camadas de tecidos leves que descia de sua cintura para
que Astoria pudesse ter uma boa visão do tamanho que ela já estava devido a
gravidez. Na última semana, sua barriga esticara mais do que ela esperava. –
Tenho uma boa razão para estar feliz.
Astoria sorriu abrindo os olhos surpresa, ao ter a visão do tamanho de sua
barriga.
Hermione assentiu.
- Não deve contar a ninguém. Ainda não posso sair afirmando essas coisas
por aí. Deixem especularem.
Hermione intrigou-se.
- Astoria, você realmente é boa. É tão boa que eu me sinto mal por não
estar te pagando nada.
- Não. – ela a cortou. – Você não está entendendo. – ela deu as costas um
tanto sem graça, puxou o ar e caminhou de volta para sua luxuosa poltrona.
Puxou um dos catálogos da pilha ao seu lado e o colocou no colo, mas não o
abriu. Hermione continuou sem entender. – Eu entendo o porque não entende.
Você não cresceu nesse mundo. Eu não posso trabalhar. Sou uma Bennett.
Faço parte de uma das famílias tradicionais.
- Não pode deixar que isso influencie nos seus desejos. Eu não aceitei isso
e inclusive acho isso uma grande ignorância.
- É uma grande besteira, eu sei. E você tem o poder de não aceitar isso, é
uma Malfoy, pode fazer o que bem quiser. Mas eu não. Sou uma Bennett e é
melhor que eu continue seguindo as coisas como devem ser seguidas.
- Está desperdiçando um talento.
- Não estou.
- Eu sei que sou, Hermione. Sou muito boa. E é isso que não entende. – ela
suspirou. – Eu não quero falar isso, você é uma boa pessoa e não quero que
pense mal de mim. Estou apenas fazendo o que é meu trabalho fazer.
- Não faço nada de graça. Na verdade, ninguém faz nada de graça. Não
nós, não entre nossas famílias tradicionais. Já deveria saber que não estou
trabalhando no seu sótão apenas porque me interessei ou porque somos
próximas. Já deveria saber que é assim que funciona entre nós, usamos o que
sabemos fazer, influência, persuasão para estarmos sempre... – ela parecia
estar medindo cada palavra. – ...colocando nossas família em uma constante
troca de favores. – pareceu ser o melhor que ela conseguiu, e ainda assim, não
soava muito agradável. - Farei o seu sótão e dessa forma estará em dívida
comigo, não será nada tão gigantesco, mas precisa compreender a figura por
inteiro. Não será nada que te coloque na obrigação de me atender ou atender
minha família quando eu precisar de algum apoio, até porque é uma Malfoy e
vocês entram muito como exceção, mas precisa entender que tudo faz parte de
uma construção. Dessa forma eu desenvolvo relações e imponho minha família
sobre as outras. Principalmente porque você é uma Malfoy e todas as outras
famílias devem vocês e não é uma dívida na qual você trabalhou ou Narcisa
trabalhou para levantar, e sim, uma dívida histórica nas quais aqueles que
vieram antes de vocês fizeram o excelente trabalho de construir. Vocês estão
acima de todas as outras famílias. É importante que eu faça a minha parte
dentro desse trabalho, de fazer com que minha família esteja dentro desse
sistema, competindo pela hierarquia, competindo pela influência e assim como
todas as outras competindo também pela proteção de um Malfoy.
- Não quero que faça o meu sótão. – foi tudo que acabou dizendo.
- Hermione, entenda que não estou tentando derrubar sua família por me
oferecer a lhe prestar um serviço insignificante. Eu teria que ter o poder de
voltar muito tempo na história para destruir toda a influência de vocês. Estou
apenas tentando garantir...
- Isso é um sistema...
Astoria não questionou mais uma palavra e Hermione deixou a sala em que
estavam, desceu as escadas de volta para o salão de amostras da loja e seus
olhos inconscientemente caíram sobre a exposição de berços num dos cantos à
sua direita. Ela desviou seu olhar, rapidamente, e continuou seu caminho. Saiu
para o lado de fora e foi até sua carruagem, pedindo desculpas por estar
apressada aos jornalistas empilhados na porta, cumprindo assim, seu bom
papel de atenciosa.
Antes de entrar em sua carruagem, parou sentindo a garganta lhe apertar.
Fechou os olhos quando eles arderam e mordeu os lábios. Não podia nem
mesmo ter uma amiga. Uma que fosse verdadeira. Respirou fundo, engoliu
tudo aquilo com dificuldade e entrou em sua cabine, buscando a máscara que
sabia muito bem colocar agora.
O caminho da grande avenida central para a Catedral era rápido. Não demorou
muito e sua carruagem já estava parando de frente à gigantesca edificação.
Pulou para o lado de fora e começou a avançar em direção a grande entrada,
usando a cabeça para cumprimentar aqueles que ela conhecia. Seu pés a
guiaram até a torre de Draco. Quando chegou a ante-sala a cruzou, enquanto
Tina se levantava para detê-la e Hermione apenas a ignorou.
- Sra. Malfoy, não pode! Tenho que... – ambas pararam quando Hermione
tentou abrir a maçaneta da porta da sala de seu marido e a encontrou
trancada. Estranhou. – ...anunciá-la. – terminou Tina um tanto receosa.
Ela abriu o lugar e encontrou a pasta no topo. A abriu e viu todo o roteiro para
ser seguido.
- Perfeito. – a fechou e ergueu os olhos para ele. Todo ódio que cativara
sobre aquela figura, lhe atormentou pelos segundos, em que seus olhos
estiveram um sobre o outro. – Se sabia que eu viria de qualquer forma, visto
que estará deixando Brampton Fort para York hoje, por que me chamou? –
cruzou os braços.
- Durante o ataque?
- Sim. Preciso que faça isso da Catedral. Não quero que exista o risco de
perdermos, caso sejamos surpreendidos com algo novo por parte da Ordem.
Você é a única que saberia pensar em algo rápido para resistirmos ao invés de
recuarmos, no pior dos casos.
- Não se esqueça que temos sessão fechada do salão principal e jantar com
o ciclo interno hoje à noite. – ele a lembrou antes que ela saísse.
- Mal posso esperar. – foi tudo que ela proferiu antes de bater a porta e
deixar a presença dele que estava a sufocando.
Não tinha estômago para aguentar as sessões fechadas no ciclo interno de
Voldemort, Hermione estava simplesmente em um estado incapaz de suportar
as atrocidades do antro de psicopatas, que adoravam ver o sangue que sempre
escorria pelo mármore, assim como, os gritos das torturas constantes.
Malditos hormônios! Ela sentia que estava desmoronando, seu orgulho estava
desmoronando, sua armadura, que com tanta dificuldade conseguira construir,
estava desmoronando em pedaços. Não era forte. Nunca conseguiria ser forte.
De pouco adiantava as máscaras que conseguira administrar e colocar em sua
expressão, os sentimentos por trás delas sempre falariam mais alto, sempre a
feririam, sempre a torturariam e a fariam ser eternamente fraca. Hermione não
conseguiria sobreviver àquele lugar, não conseguiria sobreviver sendo uma
Malfoy, não conseguiria sobreviver em seu casamento.
- Hei. – ele manifestou-se. – Aposto que nem notou que cruzou comigo
nesse corredor, há dez minutos.
Hermione estava pouco se importando com quem passava por ela, há dez
minutos, quando havia deixado a sala de Draco.
- E isso o incomodou o suficiente para me esperar aqui? Se estiver
pretendendo usar todo aquele seu discurso de antes, saiba que minha resposta
é não. Não vou voltar para o seu departamento.
- Não insisto mais nada com você, desde que passei da linha quando a
beijei. Já me fiz claro que a quero de volta, mas que quero que tome essa
decisão por você mesma. – ele descruzou os braços e se aproximou. – Na
verdade, quero saber como se sente.
- Como me sinto?
- Me sinto bem. – foi tudo o que disse então. – O que você faz por aqui?
- Sabe que eu o pus nessa situação e, mesmo assim, você continua vindo
até mim.
Ele riu.
- Não. – ela disse, mas se viu usar a mesmo tom baixo que ele usava e
ficar exatamente onde estava ao invés de recuar. – Você passou da linha uma
vez, não vai passar nova...
- Ao menos eu tranco minha porta. – a voz de Draco soou alta e forte vindo
do final do corredor a cortando e fazendo-a engolir o ar no mesmo segundo. Ele
se aproximou, vindo seguido de Tina. E Hermione deu um passo afastando-se
de Theodoro, no mesmo segundo, que seu corpo conseguiu ter alguma outra
reação. – Não exija discrição quando não for capaz de dá-la igualmente,
querida esposa.
Hermione sentiu-se furiosa pela ironia contida nas palavras dele, enquanto o
via se aproximar.
- Não tenho tempo. – foi tudo o que ele disse em resposta antes de virar
uma esquina e desaparecer.
- O dia que eu precisar de você, eu irei até você. Espero ter sido clara. – foi
tudo que ela disse e deu as costas para seguir o mesmo caminho de Draco.
Ele chamou por ela, mas Hermione apenas ignorou e seguiu seu caminho. Era
estupidez pensar que Theodoro Nott fosse preencher algum vazio dentro de si,
mas a consciência de saber que ninguém ali naquele lugar seria capaz de um
dia preencher qualquer vazio nela era terrível, o suficiente, para que a fizesse
considerar dar meia volta e tentar algo com ele. Apenas esperava que esse
pensamento nunca a levasse a fazer qualquer idiotice.
**
- Estou bem. E já pedi para que me chamem de Hermione, por favor. – foi
tudo o que respondeu.
- Temos poções caso sinta que precisa de mais energia. – um dos bruxos
comentou e de repente ela sentiu os olhares sobre ela como se estivessem
esperando pela resposta.
- Não acho que seria uma boa escolha pra mim. – Disse. Precisava mesmo
que especulassem e que comentassem, precisava que eles soubessem antes de
uma confirmação oficial e Voldemort, verbalmente, expressara sua indignação
quanto ao vazamento de informações.
Draco o convencera de que deveria punir a mídia e sua extrema habilidade em
cavar informações, ainda que Hermione bem soubesse que ele tivesse
trabalhado para que o descuido fosse da parte dos documentos do St. Mungus.
Voldemort jamais cortaria a mídia pela raiz, isso estragaria os planos de ter um
público fiel e não um público amedrontado. Permitir que apenas, jornais e
revistas produzidos somente para o público dos fortes circulasse entre os
comensais, já era uma medida demasiadamente ditatorial.
Hermione estalou os dedos e num segundo um dos bruxos estendeu uma das
varinhas sobre a mesa. Ela a pegou e a apontou para sua garganta.
- Draco? – foi cuidadosa com o Tom de sua voz porque sabia que estava
soando na cabeça dele.
- Certo. – então ele pausou. Era a primeira vez que Draco falava
diretamente com ela. Os dois sabiam que havia terceiros escutando e eram
bem conscientes no que deveriam trabalhar, sempre que tinham a chance.
Hermione esperava que ele fosse se despedir, ela esperava que ele fosse atuar
o papel dele, dizer que a amava, e assim, ela teria que repetir o mesmo,
sentindo suas entranhas revirarem, mas Draco se manteve em silêncio por
alguns segundos e ela considerou que, talvez, ele estivesse esperando que ela
dissesse algo. Mas no momento em que pensou em dizer qualquer coisa ele
tornou a se pronunciar: - Você foi para casa?
Ele suspirou.
- Tomarei. – respondeu ele. – Fique atenta. Posso precisar que seu cérebro
pense rápido.
- Ele vai ficar bem, Sra. Malfoy. – ela disse ao pegar a varinha de volta.
Forçou um sorriso, percebendo que não tinha nenhum em seus lábios.
- Sei que ele vai. – Sabia apenas porque queria que Draco não ficasse.
Não demorou até que todo o grupo na ante-sala em que estava passasse a se
concentrar no mapa aberto sobre uma mesa a sua frente. Hermione conseguia
ver todos os pontos em vermelho das zonas preparadas para entrar em campo.
Haviam também os pontos azuis que representavam Draco e os líderes de cada
grupo de ação.
O mapa de York era linear e cercava parcialmente o território trouxa como uma
meia lua. O edifício que eles tomariam como acampamento era uma espécie de
hospedaria que fora tirada de funcionamento, no momento em que a Ordem
tomara a região. Ficava, exatamente, no cruzamento das duas vias principais
que cortavam a área e era uma das edificações mais expressivas de York. Era
um excelente lugar para estabelecer o funcionamento de uma equipe como a
de Draco, ou até mesmo a Ordem, o que fora um trabalho a mais para se
certificarem de que o lugar estava realmente vazio.
Quando o relógio bateu seis horas da manhã, Hermione já foi capaz de ver o
primeiro grupo se mover. Sabia que Draco fazia parte do primeiro grupo de
ataque. Ele iria junto e, de alguma forma, isso fez suas mãos suarem. Aquilo
era completamente diferente das outras vezes em que Draco deixara Brampton
Fort para se dedicar fisicamente à guerra. Poder fazer parte e saber como as
coisas estavam acontecendo era um tanto perturbador.
A intenção era fazer com que tudo começasse como qualquer outro ataque
pequeno, em uma área qualquer de York. As zonas responsáveis por York
faziam isso a todo momento para mapear o funcionamento da segurança que a
Ordem alocava na região. Eles entrariam em ação em quatro lugares
estrategicamente pensados e recuariam. No momento em que o grupo de
Draco recuava ao sul, outro grupo já entrava em ação ao norte. A Ordem
reagiu exatamente como o previsto, segundo os líderes responsáveis por
reportarem e avaliarem o andamento das ações.
Hermione assentiu e abriu a linha com o grupo do outro lado da câmara em que
estavam.
No momento, em que se preparou para ordenar que abrissem sua linha com o
líder que fosse disponível para atendê-la, a voz de Draco soou chamando por
seu nome num tom forte e ofegante. Ela nem mesmo precisou piscar, para que
tivesse a varinha nas mãos apontada para sua garganta.
- É o que parece.
- Há algum problema se a Comissão fizer o trabalho dela do primeiro
andar? Porque os outros estão prometendo serem um pouco conflituosos.
- Não.
- Perfeito. – foi tudo o que Draco disse e desligou sem dar o tempo que ela
queria para fazer todos os seus questionamentos.
Aquela era uma péssima situação. Draco não estava encurralado, mas o fato da
Ordem ter acesso livre dentro do prédio impedia que ele fosse tomado e
isolado.
- O que tem em mente? – tentou ser calma.
- Não posso manter isso por mais tempo, Hermione! Sabe bem, que
quando a Ordem se vê encurralada demais começa a usar magias que ninguém
consegue controlar. Não posso puxá-los a esse limite, sabe que não posso
vencer a Ordem com magia. Nem posso permitir que fiquemos no impasse em
que estamos por dias, não tenho forças o suficiente para isso. A melhor escolha
seria recuar, antes que os comecemos a ter prejuízo.
- Não! Precisa apenas fechar os portais.
Ele resfolegou.
- E como espera que eu faça isso? Eu não criei essa forma nova de se
transportar que eles vêm usando, nem sei como funciona. A Comissão também
informou conhecer muito pouco sobre a magia.
- Não tivemos tempo para estudar sobre ela, mas temos a descrição.
- Não é o suficiente.
- Você não pode recuar! Não vai recuar! – estariam arruinados se ele
falhasse mais uma vez em York, principalmente, com toda a turbulência que
havia enfrentado para conseguir a liberação para àquela ação. Se Draco
chegasse a ser destituído de seu cargo, por mais que fossem Malfoys, não
teriam mais o nível do poder que tinham, agora. Aquele mundo era de
Voldemort e ele quem ditava as regras. – Não recue, tenho algo em mente.
- Isso é mito. – Hermione deu as costas e seguiu até a porta que ligava ao
salão do outro lado.
- Sabe que não pode, simplesmente, utilizar esse salão. – dessa vez ela
começou a soar ameaçadora. - Iremos pagar caro por quebrar regras.
- Eu quem irei pagar caro por quebrar regras. Draco me nomeou para
liderar vocês nessa ação. – viu a mulher fazer menção de puxar sua varinha no
momento em que conseguiu chegar a última chave de portal ainda aberta.
Hermione foi mais rápida e colocou a sua em punhos evitando que a mulher
recuasse a dela. – Nem ouse. – foi tudo o que se prestou a dizer, antes de
tocar o insignificante objeto, que num único puxão a fez viajar quilômetros.
Draco Malfoy
Seus passos nunca haviam sido tão pesados. Enquanto avançava pelo corredor
do segundo andar daquela terrível hospedaria, sentia o sangue borbulhando em
suas veias, simplesmente, porque não conseguia acreditar que o que não
poderia ficar pior, piorasse. Lançou decidido um jato verde de sua varinha na
direção de um rebelde que vinha correndo atrapalhando seu caminho e ele caiu
se contorcendo sobre o carpete num grito agonizante. Passou por ele e não
hesitou em derrubar qualquer outro que tentara o barrar. Desceu a escada para
o primeiro andar, desviando dos corpos estirados nos degraus e assim que
chegou ao mezanino, encontrou Hermione cercada pelo grupo da Comissão. A
figura dela quase brilhava no meio de todo aquele caos. Ele já tinha muitos
problemas para encarar ali, não precisava de mais um.
Pouco se importou com a maldita farsa que estavam levando, quando se
infiltrou por entre os bruxos da Comissão e chegou até ela, que externava
ordens como se soubesse exatamente o que estava fazendo. Agarrou-a pelo
braço e a arrastou para longe deles.
Percebeu o quanto havia sido violento, pela forma como ela cambaleou para
retomar o equilíbrio.
- Você não tem autorização para deixar Brampton Fort! Antes de ser uma
Malfoy, você é prisioneira do mestre! Será que não é capaz de medir o que o
seu simples ato de rebeldia pode nos trazer? Tem que voltar agora!
- Não vou voltar e você não vai me fazer! – Hermione esquivou-se, quando
Draco tentou segurá-la novamente. – Está me fazendo perder tempo. Estou
tentando finalizar essa ação, enquanto tudo o que quer, é recuar quando sabe
que isso te levaria a problemas muito maiores na Catedral.
- Sou responsável por esse maldito exército antes dos meus problemas na
Catedral! Estou tomando a melhor decisão, antes que acabe por levar todos nós
a um fracasso muito maior!
- Darei ordens...
- Segure-os por mais uns minutos! – Hermione fez sua voz sobressair a
dele.
- Cale a boca! – Draco cuspiu a arrastando para longe do parapeito. –
QUEM PENSA QUE É PARA DAR ORDENS AOS MEUS HOMENS?!
Ela virou-se, apenas, para gritar a exclamação mais autoritária que já a vira
externar:
- SEGURE SEUS HOMENS! – findou e continuou seu caminho de volta ao
grupo da Comissão.
Soltou um rugido raivoso, deu meia volta e fez seu caminho até a escada
principal. O homem logo o viu descendo e correu para esperá-lo ao pé da
escada.
- Creio que limpamos o suficiente, mas ainda assim, é loucura tentar isolar
o edifício enquanto os rebeldes tiverem liberdade de aparecerem aqui quando
bem entenderem.
- Não vamos levar isso para frente por muito tempo. – foi tudo que ele se
permitiu dizer. Sabia que aquilo representava uma terrível derrota.
Conseguiu recuar dois rebeldes tentando manter o duelo o mais físico possível,
pois sabia que era a forma mais eficiente de combater a resistência. Eles
conseguiram desaparecer pelo portal, segundos depois, ainda levando um
Comensal. Draco cruzou novamente algumas linhas até um dos líderes e
proferiu.
- Vamos isolar as zonas de portal para que o exército não precise segurar a
resistência, assim a Sra. Malfoy terá mais tempo para encontrar uma magia
que anule os portais da Ordem sem que perca mais Comensais. – respondeu
um deles.
Não muito tempo depois, quando haviam retomado o controle da situação, ele
a vira encarando paralisada a escada principal, enquanto seu exército fazia a
limpa dos corpos que atrapalhavam a subida. Um bruxo da Comissão perguntou
se estava tudo bem e como, se Hermione estivesse num transe, ela apenas
respondeu que havia se esquecido daquilo, daquele caos, das batalhas, da
parte física da guerra, deu as costas e sumiu. Draco procurou afastar o
interesse de procurá-la depois daquilo.
As horas foram se passando e ele continuou no lobby, enfileirando e
identificando cada rebelde ajoelhado contra o piso de tábua corrida para enviar
as masmorras da Catedral. Voldemort, certamente, faria bom uso deles para
suas sessões de terror, o que o liberava da tarefa maçante de interrogatório.
Não muito tempo depois, foi avisado por um de seus líderes, que haviam
conseguido fechar o portal do segundo andar com sucesso e que estavam se
movendo para a ação do último andar.
A mulher sorriu.
Draco decidiu apenas assentir, diante daquele comentário, o que fez a mulher
prestar sua reverência antes de dar as costas e seguir para seus deveres. Sua
atenção foi logo desviada há um grupo de comensais, que traziam mais
rebeldes capturados para o lobby. Voldemort faria a festa.
Lançou mais ordens para criar um novo sistema de organização de despacho
dos capturados, porque sabia que precisaria de mais espaço, quando os
Comensais começassem a descer os infelizes, com falta de sorte, deixados para
trás no segundo e no terceiro andar. Subiu até o primeiro andar onde
encontrou um grupo pequeno da Comissão que havia sido designado a preparar
um quarto para levantar o sistema de chaves de portal com destino a Brampton
Fort. Ordenou que a conexão fosse aberta, somente, quando o portal do
terceiro andar fosse fechado e todo a limpa tivesse sido realizado.
Hermione gostava do sol e sempre que a via sob a luz dele, conseguia entender
o porquê daquilo. Seu corpo inteiro gritou pela vontade de ir até ela sem
cautela nenhuma. Chegou até mesmo, ver a imagem de seu corpo se movendo
até ela, conseguiu imaginar sua mão tocando seu rosto, afastando a mexa de
seu cabelo, conseguiu vê-la sorrir e fechar os olhos, Draco conseguiu, até
mesmo, escutar a voz cansada e doce que Hermione usaria para informar que
estava cansada. Ele não entendia a necessidade que seu corpo tinha em querer
algo tão simples, como aquilo. Não entendia como seu corpo via tanto
significado em algo tão pequeno. E também, não conseguia compreender como
o corpo dela lhe fazia tanta falta.
Não a tocava há quase duas semanas. A última vez, que se permitira estar
inteiramente com Hermione, havia sido o seu decreto final, e talvez, seu maior
erro porque chegar ao estado de admitir que ele precisasse fazer com que
àquela fosse a última vez, levara Draco para um campo que ele nunca havia
pisado, antes. Era assustador e, às vezes, era tão intensa a vontade de
somente sentir o calor de Hermione, novamente, que procurava por qualquer
outra companhia que pudesse saciá-lo. Verdadeiramente, ele se sentia saciado.
Fisicamente, ele se sentia em perfeito estado, mas, mentalmente, se via
tragado à constante, repetitiva, irritante e insaciável vontade de ao menos
sentir o toque dela em sua nuca, porque por mais que se satisfizesse
fisicamente, com qualquer outra mulher, aquela detestável vontade por
Hermione continuava surgindo e surgindo e surgindo incansavelmente.
Sabia que não poderia viver daquela forma, sabia que aquilo era errado, sabia
que depender da vontade que tinha por alguém era uma grande ferida em seu
próprio orgulho, e talvez, uma grande falha da própria natureza. Precisava
matar aquilo, acabar com aquilo, findar o que havia sido estúpido o suficiente
de se permitir envolver. Hermione era perigosa. Ela era uma perfeita e
poderosa feiticeira. Não conhecia ninguém com o cérebro daquela mulher e,
não duvidava, que havia algum jogo por trás daquilo.Precisava haver um jogo.
Ela tinha que ter alguma culpa, porque era o corpo dela que lhe fazia falta, era
o cheiro dela, era a boca dela, o calor dela, o sabor dela, a voz dela, a
compreensão, o companheirismo, a sinceridade. Hermione tinha que ter alguma
culpa e Draco não queria cair naquela emboscada. Sentia-se sem poder e
odiava se sentir sem poder. Por tanto, apenas inspirou fundo e aproximou-se
em sua postura fria.
- Vou sair daqui quando eu decidir sair daqui. – ela disse aquilo quase que
como um decreto.
Que seja? Então quer dizer, que Hermione não queria mais ser teimosa? Quer
dizer, que só porque sabia que precisava voltar e que tudo que ele estava
fazendo era pensar no bem estar dela, ela se sentia no direito de dizer um
indiferente e tedioso “que seja”?
- Isso significa que vai me obedecer quando eu ordenar que deverá pegar
sua chave de portal? – Draco a segurou pelo braço, quando ela fez menção de
passar por ele para deixá-lo. Precisava se certificar da obediência dela.
- Por que tudo para você tem que ser uma ordem? – estreitou os olhos
afastando-se com desgosto. – Já tentou pedir algo alguma vez, Draco? Eu
educadamente o atenderia se você educadamente fizesse um pedido.
Quão ingênua era ela?
- Pare de falar dessa forma. – foi quase automático. Detestava quando ela
usava a língua afiada que tinha, contra ele.
- Pare de me lançar ordens! – ela foi rude e desviou-se dele para passá-lo,
mas Draco tentou contê-la novamente pelo braço. Hermione se esquivou com
agilidade e o encarou severamente. – E pare de me tocar! Eu não o quero me
tocando! Não quero agora e não quero nunca mais! – ela cuspiu e ele não teve
outra reação a não ser deixá-la ir depois daquilo.
Por um momento, a voz dela ecoou em sua cabeça e Draco temeu que sua
máscara tivesse caído, porque aquelas palavras haviam sido claras o suficiente
para fazê-lo compreender que, definitivamente, ele não a teria, nunca mais.
31. Capítulo 31
Harry Potter
- Eu sei que era ela, eu a vi e tenho absoluta certeza! Hermione Granger!
Estava com eles! Lutava com eles! – insistiu o homem, empurrando o prato de
sopa que a Sra. Weasley havia o servido.
- Como pode ter tanta certeza, se disse que ela colocou a máscara de
comensal segundos depois e não teve tempo o suficiente para prestar atenção
nos detalhes? – Rony questionou.
Gina fez sua risada obscura soar pela cozinha do Largo Grimmauld e os olhares
se voltarem para sua figura quieta e de braços cruzados sob a sombra de um
dos cantos da parede.
- Pagou esse homem para dizer isso, Harry? – a ruiva foi sarcástica.
- Não use a palavra jamais, Rony. – Luna interferiu. – Jamais é algo muito
concreto para um lugar tão imprevisível quanto Brampton Fort.
Gina rolou os olhos.
Luna estreitou os olhos e puxou o ar para retrucar algo, mas foi a voz de Rony
que soou:
- Ronald! – pronunciou a Sra. Weasley. – Não fale assim com sua irmã! E
Gina, por favor, segure um pouco mais a língua.
A mulher soltou um rosnado baixo e se enviou mais para debaixo da sombra.
Harry desviou o olhar para Luna.
- Nós vamos chegar lá, Gina! – Harry não conseguiu mais segurar. – Quero
ouvir sobre Hermione e quando terminarmos com ela, nós seguiremos para o
problema com York. Enquanto isso, tente se manter calada.
Ela puxou o ar, furiosa, como se fosse retrucar algo rude, mas acabou apenas
fazendo uma careta de desgosto, saiu debaixo das sombras e deixou o cômodo.
Harry notou que o silêncio que ficou no ambiente era um tanto constrangedor,
mas não fez nada para quebrá-lo, o que talvez tenha levado Rony a limpar a
garganta e se manifestar:
- Ao menos sabemos que ela ainda está viva. Há quanto tempo vínhamos
discutindo se Voldemort já havia acabado com a vida dela ou não? Até mesmo
Luna, que sempre defendeu não acreditar que ele tinha o interesse de matá-la
tão cedo, estava se questionando sobre isso.
- Não é bem assim. – Luna defendeu-se. – Eu apenas estou confusa sobre
o rumo que as coisas tomaram depois que saí de lá.
- Mas você sempre defendeu realmente que Voldemort não tinha interesse
em matar Hermione, e já faz algumas semanas que parou de se pronunciar
sobre isso. – Tonks finalmente abriu a boca, sentada em uma das cadeiras da
mesa.
- Apenas porque não sei o que de fato anda acontecendo por lá. – Luna
concluiu. – Apenas por isso. Não estou retirando que Voldemort não mostrou
interesse em matá-la quando ela chegou lá, não posso defender que isso não
mudou quando já não posso mais...
- Pessoalmente, acredito que ela tenha um plano com isso. – Tonks tornou
a se manifestar. – Se é que era mesmo Hermione. – lançou um olhar
desconfiado ao homem sentado à mesa com eles.
- E como eu disse, talvez Voldemort esteja usando algo, alguém ou alguma
ameaça maior, para obrigá-la a lutar por eles. – disse Luna. – Ela nunca nos
trairia.
- Bem, nós todos esperamos que ela fosse fazer algo por Fred, como fez
por Luna, só que até agora nada. – Neville foi cuidadoso devido à presença da
Sra. Weasley à mesa.
- Sabemos que ela está sendo bem cuidada nessa parte. – Luna disse.
Harry sabia que todos concordavam com aquilo. Até ele mesmo concordava,
embora a magia de Merlin fosse aquilo de mais exótico que ele já vira em toda
a sua vida. Somente a inteligência de Hermione daria conta de algo tão
complexo. Talvez se Minerva ainda estivesse viva, quem sabe, eles até
estariam fazendo um melhor uso do poder que tinham nas mãos agora.
- Sei que não sobrou muito do grupo que tínhamos destinado a York,
mas... – Tonks se calou quando Harry levantou de sua cadeira. – Harry?
- Vocês podem continuar. – apenas queria sair dali e foi tudo que fez.
Nunca iria se acostumar com o toda a expectativa que havia sobre ele. Sua
figura sempre chamava atenção, todos sempre queriam ouvir o que ele tinha
para dizer ou o que pensava sobre algo. Constantemente se via farto daquilo,
mas sempre entrava em contradição por saber que seu senso de liderança era
inevitável, portanto, ele mesmo era culpado por se colocar debaixo do holofote.
- Presumi que não fosse conseguir ficar muito tempo lá. – a ruiva não
estava contente. Raramente estava contente. Ele sabia que a culpa pela
infelicidade dela era dele.
- Gina, eu gostaria muito que deixasse meu quarto. – foi cuidadoso com as
palavras.
- Eu deixarei. – levantou-se. – Mas não antes de me certificar que você não
irá tornar a falar comigo daquela forma na frente de todos. Não quando sabem
que você e eu estamos com chance de voltar.
- Nós não estamos com chance de voltar, Gina. Eu tenho o peso da guerra,
de uma proferia. Não quero o peso de um relacionamento. Sabe disso há muito
tempo.
Uniu as sobrancelhas no mesmo segundo e lutou para não ser impulsivo como
sabia bem que era para não destratar Gina, mais uma vez. Respirou fundo e
tentou relaxar os músculos de seu maxilar.
- Por que você precisa ser tão ignorante sempre que as coisas dizem
respeito à Hermione?
Harry revirou os olhos. Não podia lidar com aquilo agora, não de novo, não
naquele momento.
Ele soltou o ar finalmente, quando Gina passou pela soleira de sua porta e
desapareceu. Jogou-se em sua cama e encarou o teto pálido e encardido da
antiga casa dos Black. Suspirou, fechando os olhos. Talvez Hermione tivesse
mesmo o roubado por inteiro e isso fosse injusto. Ele nunca mais teria paz sem
ela, mesmo que toda aquela guerra chegasse ao fim, mesmo que ele
conseguisse derrotar Voldemort, mesmo que tudo terminasse bem, se Harry
não tivesse Hermione, não teria mais paz. Gina estava certa. Ninguém, jamais,
conseguiria alcançar o significado que Hermione tinha para ele. Que grande
erro havia sido se envolver com ela.
- Harry? – ele escutou a voz dela vindo do andar debaixo, assim que o eco
do estalo de sua aparatação na antiga casa de seus pais extinguiu-se. Ele não
queria respondê-la. – Harry? – ela tornou a chamar.
- Suba as escadas. – foi o que ele respondeu, sem muita vontade. Escutou
os passos dela alcançarem os degraus. – Cuidado com os três últimos degraus.
Estão se desfazendo.
Não demorou muito e a viu aparecer pelo portal frágil, que antes fechava a
porta de um quarto que ele esperava que fosse de seus pais. A figura de
Hermione em seu jeans, seu casaco e seu par de tênis era familiar e
acolhedora. Vê-la, fez-lhe perceber que sentia falta do conforto que ela sempre
oferecia quando não estava sendo mandona e exigente.
Harry sabia que não podia. Hermione havia dado a ele aquele refugio para que
tivesse um tempo para si sempre que precisasse, mas já fazia mais de uma
semana que ele não voltava para a Ordem. O silêncio durou entre os dois por
muito tempo, até que ele sentisse que finalmente queria dizer algo.
- Eu pensei que fosse ser mais fácil. Que fosse ser mais rápido. Que
tivéssemos mais poder, porque o bem sempre vence na ficção. Pensei que meu
sentimento de vingança fosse forte o suficiente para deter tudo isso num piscar
de olhos. – ela apertou os lábios ao escutar aquilo com um brilho nos olhos de
quem queria dizer que sentia muito, mas sabia que ele já escutara aquilo vezes
o suficiente. – Eu não esperava que fôssemos afundar dessa forma. Que
fôssemos ser vencidos tantas vezes. Que fôssemos perder tanta gente. Eu
pensei que fosse forte.
- Você é, Harry. Não duvide disso. Não pode duvidar disso. – Hermione
respondeu. – A Ordem não depende de você, nós não lutamos por você.
Lutamos contra Voldemort. Cada um tem sua razão.
- E por isso o protegemos. – ela suspirou. – Escute, não vou pedir para
voltar. Irá fazer isso quando quiser. Minha intenção não é invadir seu espaço,
só queria ver se estava bem. - Harry assentiu. Ela o analisou por mais alguns
segundos e depois moveu seus olhos pelo restante do quarto. Um sorriso
discreto surgiu em seus lábios. – Você organizou tudo com muito cuidado.
Ele sorriu por sentir uma pontada de orgulho vinda da parte dela. Sentia falta
de sua companhia. Estendeu a mão e Hermione encarou o convite, tocou a dele
e ele a puxou para junto. Ela não hesitou e deitou ao lado dele, encolhida sobre
seu peito. Harry a cercou pelo ombro e quis que ela não tivesse vontade de ir
embora.
Harry riu. Com certeza estariam. Olhou-a e Hermione ergueu a cabeça para
poder também encará-lo.
- Sou grato por ter você e Rony. – Hermione sorriu ao escutar aquilo. Ele
não pensou muito no que fez quando, simplesmente, inclinou-se e estalou um
beijo nela. Foi somente no segundo que se afastou que caiu em si que fora
sobre os lábios dela e não na testa, como normalmente fazia.
Harry sentiu a necessidade de dizer a ela que aquilo não mudaria nada, mas
naquele mesmo segundo, seu cérebro pareceu processar algo lá no fundo que o
fez reconhecer a textura dos lábios de Hermione sobre o dele, naquele curto
segundo, em que eles estiveram juntos. A curiosidade por querer ter mais
tempo para ter uma melhor percepção da forma como os lábios dela se
moldavam sobre os seus o dominou, e curiosidade fora algo que sempre o
levara a tomar as decisões mais inconsequentes de sua vida.
Afastou-se minimamente da boca dela para lidar com o fato de que queria
prová-la. Harry precisava dizer algo, qualquer coisa que fosse. Não sabia o que
dizer. Era péssimo com mulheres e, talvez, ficar calado, fosse uma opção sábia.
Nunca tivera a intenção de chegar até aquele ponto com Hermione, mas
também nunca deixara de cogitar que um dia pudesse. Quantas vezes já havia
a observado com orgulho por ver o quanto ela havia se tornado uma mulher
linda e poderosa. Talvez tivesse sim, o direito de se dar a chance se ela
permitisse e, no segundo que esse pensamento lhe bateu, teve o incentivo
suficiente para ir novamente contra ela, dessa vez, com vontade, trabalhando
para que seus lábios abrissem caminho pelos dela.
Sabia que não deveria tratar mulheres daquela forma, deveria ser mais
cuidadoso, deveria ser romântico, deveria ao menos tê-la convidado para algo,
talvez um jantar com um vinho, mas no momento em que sentiu o calor da
boca dela, da língua e sabor dela, nada mais fez sentido. Harry estava a
beijando e Hermione estava deixando. Talvez estivesse tão confusa quanto ele
e talvez estivesse achando tudo tão estranho quanto ele.
E céus, ela beijava bem. Ou talvez ele tivesse ficado muito tempo sem tocar em
uma mulher. Quem sabe, fosse até mesmo por isso que seu corpo reagiu, e
reagiu rápido, o que o fez empurrar aquilo para algo mais intenso. Hermione
percebeu e algo nela pareceu querer recuar. Harry não queria que aquilo
acabasse, portanto não demorou e a girou colocando-se por cima dela.
A última mulher que tocara havia sido Gina e fazia muito tempo. Harry mal se
lembrava o que era o corpo de uma mulher, e ter o seu encaixado daquela
forma com o de Hermione ali, parecia demais para que pudesse aguentar. Foi
quase que por instinto que suas mãos começaram a explorá-la, começaram a
querer tocá-la ousadamente e ele não se conteve.
- Vamos nos dar essa chance, Hermione. – foi tudo que ele se limitou a
dizer.
- Não. É errado. – ela era sempre a voz racional que o tentava trazer de
volta para a razão, sempre que se via preso aos seus atos impulsivos. Harry
havia jurado depois da morte de Sirius que nunca mais contrariaria a voz
racional de Hermione, mas já havia quebrado aquele juramento diversas vezes,
desde então. Era incapaz de sair de seu estado impulsivo, uma vez que
mergulhava nele.
- Vamos fazer isso, Hermione. Vamos nos dar a chance. – insistiu ele. -
Sabe que já se questionou como seria se um dia isso acontecesse. Sabe que
iremos passar o resto da vida nos questionando se isso nunca acontecer. - O
olhar dela parecia um tanto assustado. Milhões de pensamentos se passavam
pela cabeça dela, porque Harry sabia que ela era assim. Esperou que ela fosse
recuar. Ele não queria que ela recuasse, mas sabia que Hermione era racional
demais, às vezes. – Somos duas pessoas livres. - Surpreendeu-se, quando ela
se decidiu por inclinar a cabeça até ele e beijá-lo novamente. Ele não evitou
sorrir. Ela também era rebelde quando precisava ser, e das boas.
Terrível erro o dele em ter insistido por aquela primeira vez. Jamais pensou que
seu coração fosse se apegar a ela daquela forma, jamais esperou que Hermione
fosse se tornar tão exclusiva, tão única, tão insubstituível, mesmo que
soubesse que ela, como Hermione Granger, já ocupava um trono muito especial
em sua vida.
Lembrava-se bem de que ela não quis dormir com ele aquela noite. Lembrava-
se dela evitando o olhar dele, na semana seguinte. Lembrava-se de como a voz
dela havia saído rouca quando implorou para que não contasse aquilo para
ninguém, quando acabaram tendo uma segunda vez. Se lembrava de todas as
outras vezes depois daquela e se lembrava de como foi tão simples e fácil se
envolverem graças ao quão confortável já se sentiam um com o outro, o
quanto já se conheciam e o quanto se entendiam.
Harry soltou o ar, tornando a encarar o teto. Não havia poupado esforços para
esconder o quanto a amava e o nível do envolvimento que tinham quando ela
foi capturada. Rony se aproximou até sentar-se na beira do colchão de sua
cama com cuidado.
- Eu teria a resgatado se estivesse lá e se fosse realmente ela. – Rony
comentou depois de um longo minuto em silêncio.
- Ela estaria morta agora se o tivesse feito. – foi tudo que Harry se limitou
a dizer. Neville ainda não havia conseguido desenvolver a fórmula de uma
poção que inibisse os efeitos da Marca Negra. A prova disso era o número de
comensais mortos que eles tinham no subsolo da Ordem.
O silêncio novamente.
- Não. – foi tudo que Harry disse, embora tivesse mais a dizer sobre aquilo.
Hermione era uma prisioneira e estava sujeita a pressões de todos os lados.
Era nisso que acreditava. Sentiu o bolso de sua calça esquentar e enfiou a mão
para alcançar a moeda que trocara com Draco a última vez que haviam se
visto. – Ele está me chamando já faz um tempo. – comentou com Rony quando
rodou a moeda entre os dedos a frente de seus olhos.
- Malfoy? Você está o ignorando?
- Sabe que não vou conseguir segurar a curiosidade de saber o que ele
quer por muito tempo. – foi o que respondeu.
- Tome cuidado com isso, cara. Malfoy é estranho, além de ser um inimigo.
A Ordem deveria saber sobre isso de vocês.
Harry suspirou e leu as coordenadas que Malfoy lhe passava na espessura da
moeda.
Hermione Malfoy
Estava novamente naquela hospedaria em York. Não era a primeira vez que a
visitava em seus sonhos. Sabia bem que, a vontade de correr para longe, que a
dominou durante cada milésimo de segundo que permanecera naquele lugar, a
afetara profundamente e não seria tão cedo que conseguiria se livrar da intensa
perseguição que aquilo fazia com sua mente.
O sol surgia pelas janelas leste do lobby da hospedaria e ela observava, em
silêncio e sozinha, o que ninguém mais parecia dar atenção. A beleza daquela
estrela era absurda. O calor, o conforto, a luz. Hermione sentia falta de ver o
nascer-do-sol. Caminhou até a entrada principal e passou pela soleira da
enorme porta até a varanda da frente. A brisa gelada da madrugada ainda
soprava. Fechou os olhos, sem se importar com a linha de Comensais que
guardavam a entrada. Respirou fundo e se deixou ficar ali, observando o escuro
de suas pálpebras se tornarem um tom de laranja denso à medida que o sol
avançava no céu.
Sua memória trouxe de volta os rostos de Rony, Harry, Luna, Neville, Gina, Sr.
e Sra. Weasley, Tonks, Lupin... Eles haviam sido sua família e, por mais que
duvidasse muito de que todos eles estivessem em York, por fazerem parte do
círculo principal de protegidos da Ordem, estar ali fazia com que Hermione
sentisse que estava os encarando frente a frente, depois de quase um ano e
meio.
Ter estado ali a fizera se dar conta do quanto havia mudado. Nunca imaginou
que fosse ter essa visão, mas enxergava a Ordem como rebeldes. Eram uma
resistência fraca e jamais chegariam a Voldemort, apenas faziam bagunça e
alongavam o fim da guerra. Ela havia feito parte desse grupo e lutara com eles,
tão avidamente, acreditando num bem maior, numa paz, que não poderia ser
jamais alcançada pela utopia ética da Ordem, dos rebeldes, da resistência. O
mundo era diferente agora. Draco havia enxergado isso. Os Malfoy haviam
enxergado isso e Hermione era parte deles agora. Sentia orgulho disso, de
fazer parte de um lado que tentava derrubar Voldemort com o cérebro, não
com um exército. E estar ali, sentindo que encarava frente a frente a Ordem da
Fênix, só a fizera pensar em como não conseguia sentir vergonha. Vergonha da
sua traição. Hermione não queria um fim mal a ninguém da Ordem. Queria que
seus velhos amigos e sua velha família ficassem bem, seguros e salvos. Tudo
que queria era o fim de Voldemort, mas sabia que eles enxergariam seu novo
eu, como uma traidora, mesmo que tudo que ela estivesse fazendo fosse
derrotar Voldemort, mas com uma visão e uma tática diferente.
Naquela memória, Hermione sabia que Draco chegava e dizia a ela que sua
chave de portal de volta para Brampton Fort estava a esperando. Ela sabia que
suspiraria, daria as costas ao sol e voltaria para a realidade ao qual a Marca
Negra a prendia com toda a relutância, que a perseguiria ali e para sempre, até
o fim de Voldemort ou o seu próprio fim. Mas em seu sonho, ali, assim como
em todos os outros que tivera antes desse com York, ela apenas passou pela
linha de Comensais enfileirados com cuidado, ignorando que se aquilo fosse
realidade eles teriam a parado, desceu os degraus da varanda, passou pela
calçada e pisou na avenida. Hermione podia ser livre em seu sonho e queria
que isso fosse libertador, mas não era, porque não tinha para onde ir.
Não podia voltar para a Ordem. Por mais que quisesse ver seus amigos
novamente, sentir o calor acolhedor deles, tomar uma boa sopa da Sra.
Weasley e receber o carinho que sempre recebera, isso implicaria voltar a lutar
com a Ordem e se havia aprendido algo durante o tempo que ficara em
Brampton Fort, esse algo era que a Ordem estava fadada à derrota, mais cedo
ou mais tarde, por mais poder que tivesse em mãos. Voldemort não seria
derrotado daquela forma.
Avançou, querendo se sentir livre, mas não se sentia. Nem mesmo em seu
sonho sentia-se livre. Talvez a casa de seus pais fosse o único lugar do qual
realmente gostaria de ir, mas eles não estariam lá. Parou no meio da avenida.
Não tinha para onde ir. Mesmo livre em seu sonho, não tinha para onde ir.
Seus olhos embaçaram. Era tão acostumada a forçar fraquezas como àquela,
goela abaixo, que foi quase natural lutar contra a sua própria garganta ardendo
insanamente. Soluçou sentindo-se sozinha e cobriu o rosto com as mãos.
- Bastante estúpido da sua parte. – exatamente o que ela esperava que ele
dissesse. Suicídio fugir com uma Marca Negra estampada no braço. Mas era
seu sonho e em seu sonho Hermione queria ter tido a opção de correr para fora
daquele hotel em York. O único problema era que sempre parava no meio do
caminho e se perguntava para onde iria. Encarou Draco a sua frente. A figura
dele havia se tornado tão familiar que mesmo que estivesse furiosa e a ponto
de querer matá-lo, era confortável ter algo tão familiar por perto. – Vamos. –
ele estendeu a mão. – Vamos para casa.
Suspirou e encarou a mão estendida dele. Voltaria sim, porque não tinha outro
lugar para ir, mas não daria sua mão a Draco. Ele havia deixado claro que ela
estava sozinha e que deveria se manter sozinha. Passou por ele e fez seu
caminho de volta a hospedaria.
Acordou aos poucos, como se soubesse que depois daquela importante decisão,
não tivesse mais nada a ser acrescentado. Já tivera várias versões daquele
mesmo sonho. Versões onde Draco era ignorante e eles tinham sérias
discussões no meio daquela avenida. Versões aonde ela, mesmo incerta de
onde ir, corria sem rumo apenas para tentar sentir a sensação de liberdade.
Versões em que acidentalmente acabava sendo convencida de que era insana
por sair da zona de proteção de Voldemort com uma Marca Negra estampada
no braço e acordava assustada esperando pela dor.
Saiu da cama, tomou seu banho, precisou procurar por um vestido novo e
desceu para o desjejum e logo quando se sentou à mesa, escutou a carruagem
de Draco no pátio externo. Hermione sabia que ele voltaria de York hoje,
apenas porque tinha um discurso aberto marcado para o fim da manhã e
provavelmente deveria estar furioso por ter que deixar seu exército no meio de
algo importante para vir lembrar aos curiosos protegidos de Voldemort como o
andamento da guerra estava próximo do fim, graças a ele.
Ela tomava seu chá quando ele passou para o lado de dentro. Não parecia
furioso, ao contrário do que ela esperava, mas parecia cansado. Hermione
conseguia ver isso através do olhar dele, e conseguir perceber que Draco
Malfoy estava cansado, mostrava o tanto que a figura dele era extremamente
familiar. Draco vestia sempre sua capa impenetrável e tudo que qualquer um
sempre veria nele era sua expressão fria, neutra e inabalável. Bem, ela não era
qualquer um. Era esposa dele e imaginar que estavam alcançando dois anos
juntos, às vezes a assustava.
- Eu não sabia que horas chegaria. Na verdade, não sabia nem que viria.
Soube ontem quando eles lançaram a nota oficial do seu discurso aberto de
hoje na Catedral. Deveria ter me escrito algo. – Hermione não deu atenção a
ele e continuou seu café com o Diário do Imperador em mãos.
- Eu administro uma guerra e agora quer que eu faça o seu serviço por
você? Eu sabia que iria ter conhecimento de que eu voltaria hoje a Brampton
Fort, o mínimo que eu esperava de você, era que procurasse saber pelo
menos o horário em que eu chegaria para estar me esperando como uma boa,
atenciosa e preocupada esposa.
Hermione sentiu uma crescente ânsia ferver seu sangue. Aquela vontade de
voar contra o pescoço dele a dominou e como uma boa Malfoy que aprendera a
ser, engoliu tudo aquilo com paciência, respirou fundo, dobrou o jornal com
calma, piscou e o encarou pela primeira vez.
- Acha que eu sou estúpida ou o que? – tentou ser o mais calma e mansa
possível. – Quem acha que vai enganar com o seu teatrinho de casal perfeito
quando metade das mulheres dessa cidade sabe que fizeram sexo com você,
não faz muito tempo? Eu não vou fazer papel de boba idiota que se ajoelha aos
seus pés. Não vou ser a pobre coitada que não sabe nada sobre o infiel marido
para um público que eu, por sinal, detesto. Ainda me resta um mínimo de
orgulho, Draco. Não farei esse papel. Não sou sua mãe e se quiser ser o seu
pai, esse não é o meu problema. Só peço que me informe caso não se importe
com os filhos que eu estou carregando. Se não tiver interesse em tentar
protegê-los e se não tiver sequer interesse neles, por favor, me deixe saber
que eu estou sozinha porque eu me lembro de ter te escutado dizer que
faríamos isso, juntos. Mas você não tem feito seu papel.
- Eu tenho feito...
- Seu papel? – ela não queria sequer escutar o som da respiração dele. –
Fazer um teatro aqui e ali em público, não vai nos tornar o casal perfeito se
existirem mulheres por aí comentando sobre terem ido para cama com Draco
Malfoy. – levantou-se. – Tenha uma boa refeição.
A agonia de saber o que passaria aquele dia já era demais para que ainda
tivesse que encontrar paciência para suportar a companhia de Draco.
**
Queria não ter usado a mesma carruagem que Draco para ir à Catedral, mas
quando Hermione insinuou que daria ordens à Tryn para que outra carruagem
fosse preparada, ele apertou os olhos para ela, como se estivesse procurando
pela hora em que teria a oportunidade de usar as palavras do desjejum contra
ela, o que a fez desistir da ideia. De alguma forma, acreditava no poder que a
mídia dava a eles e queria apostar nela. Principalmente se o resultado daquele
dia acabasse sendo um desastroso. Queria tanto que Draco fosse pelo menos
mais cuidadoso. Depois que havia o pegado com a porta de sua sala trancada
na companhia de outra mulher, Hermione não parava de imaginar quantas
vezes ele fazia aquilo por dia. Não conseguia deixar de discutir com si mesma,
quem poderia estar aquecendo a cama do seu marido todo o tempo que ele
passava em York.
Ela pediria desculpas, se não estivesse com tanta raiva dele. Sabia que devia se
controlar e que demonstrar que algo a afetava, não era algo muito bem aceito
por Malfoys. Tinha uma relação de amor e ódio com seu novo sobrenome tão
instável que se via confusa várias vezes.
Não respondeu nada a Draco, não queria engajar em outro tipo de discussão
com ele que a levaria a sentir mais raiva. Ansiedade já bastava para ela por
agora.
- Deixei Brampton Fort por chave de portal e caso não tenha lido as notas
abertas oficiais das ações de quando movemos o acampamento para o centro
da zona inimiga, eu lutei pelo seu mestre e voltei para onde ele me obriga a
ficar presa. – Hermione foi séria.
- Não. – respondeu.
- Oh. – ela pareceu confusa por não ver Bellatrix mais em seu lugar e um
pouco desconcertada com o que Hermione dissera. – Na verdade estou. –
Hermione nunca vira Narcisa agir daquela forma. – Veja, eles fizeram uma
coletânea com as fotos de todas as suas últimas aparições, comentando a
visibilidade da sua barriga em todas elas. As pessoas estão indo à loucura por
saber que está esperando um Malfoy. Não é sempre que se vê um rosto novo
na nossa família. Somos a família mais antiga e importante do mundo bruxo e,
como várias outras famílias antigas, deveríamos ter Malfoys por todos os
lugares, mas ao contrário disso, nossa linhagem termina em Draco. – ela
sorriu. – Por enquanto. – acrescentou.
- É cedo ainda. – Hermione estranhou que a sogra não tivesse notado isso.
- Oh. – Narcisa disse aquilo pela segunda vez, dando-se conta de que
realmente ainda era cedo.
- Você tem dias ruins todos os dias, todos nós temos. Eu sei que existe
algo a...
- Pare. – Narcisa foi firme ao cortá-la. Hermione parou. O que quer que
fosse estava realmente a afetando. – Não quero falar sobre isso e você vai
apenas ignorar minha distração.
Hermione ficou surpresa pelo tom severo.
- Narcisa, eu não estou a obrigando a nada. Minha intenção não era colocá-
la contra a parede ou algo do tipo. Pensei apenas que tivéssemos liberdade
para contar uma com a outra quando sentíssemos que precisássemos. Quantas
vezes você foi a única pessoa que esteve comigo quando pensei que ninguém
estaria?! Não é necessário que me diga nada se não quiser, mas também não
precisa fingir que tudo está bem quando eu estiver por perto. Posso ser alguém
a menos para quem precisa fingir.
Narcisa abriu a boca para retrucar algo, provavelmente, grosseiro, mas decidiu
permanecer calada depois de um tempo. Suspirou incomodada e pareceu
pensar rápido.
- Nós... – ela não soube exatamente qual seria a melhor maneira de dizer
aquilo. – Não estamos conversando com tanta frequência. – talvez aquilo
bastasse. - Ele anda ocupado. – justificou.
Narcisa não pareceu achar que aquilo bastasse. Tornou a se sentar com calma
e uniu as mãos.
- Ele não precisa demonstrar, são os filhos dele e você é a esposa dele. É
naturalmente esperado que ele tenha interesse.
- Não é assim que funciona. – ela não concordava. – Não comigo. Quem
tem interesse corre atrás, não importa que esteja ocupado ou não. Talvez você
não enxergue dessa forma por causa de Lúcio.
- Como não? Quando vai perceber que tudo em sua família gira em torno
dele?
- Ele arruinou sua vida. Ele estragou a personalidade de Draco e ainda fez
questão de enfiá-lo em um casamento comigo. Lúcio é a única razão pelo qual
você, Draco e ele não são uma família genuína. E não me julgue por estar
falando isso, tenho total direito de abrir minha boca porque me colocaram no
meio da tempestade reprimida que vocês são juntos. Eu mal havia mudado de
sobrenome e ele já fazia questão de traçar a ruína da minha vida. – Hermione
não teve vergonha de dizer o que sempre dizia a Narcisa e a mulher continuou
firme em sua expressão dura, mas ao contrário do que sempre fazia, ela não
abriu a boca para defender o marido. Hermione suspirou, abandonando um
pouco seu ar de indignação. – Me desculpe por ser honesta demais, eu sei que
ama seu marido e que dizer essas coisas só me afasta de você, mas... – ela
não podia engolir aquilo. – Não consigo engolir o fato de que ele te reprime
tanto. Não consigo engolir o fato de que Lúcio não se importa em fazer de você
uma piada. Ele te fez esquecer de que merece ser feliz, te fez esquecer de que
tem o direito de ser simplesmente humana, porque você é uma, antes de ser
uma Malfoy. Não consigo engolir o fato de que ele tem total controle sobre você
e você deixa que ele tenha. Eu simplesmente detesto que Draco tenha crescido
vendo você ser inteiramente submissa a Lúcio porque, às vezes, realmente
temo pela raiva que ele transparece quando resolvo confrontá-lo. E
eu sempre o confronto quando necessário.
- Você tem uma personalidade forte, Hermione.
- Você também. Tão mais forte quanto a minha. Consegue suportar uma
vida deprimente e solitária em nome de um sentimento. Eu jamais seria capaz
disso.
Hermione abriu a boca para retrucar, mas acabou por se calar quando não
conseguiu encontrar nada plausível que derrubasse aquela afirmação. Soltou o
ar frustrada e desviou o olhar. Precisou ponderar por um tempo sobre aquilo.
- Talvez... Talvez se... – ela soltou numa voz baixa. Fechou os olhos e
balançou a cabeça como se estivesse limpando seus pensamentos. –
Deveríamos nos preparar para a enfermaria. – ergueu os olhos para Hermione
e se levantou como se estivesse decretando de fato o fim daquele assunto. –
Talvez seja prudente que apareça por lá com antecedência.
**
Seu corpo inteiro tremia, enquanto esperava de pé pela ordem de poder deitar
na maca. Não estava frio. Talvez fosse a camisola fina de algodão que ela tivera
que colocar, ou talvez fossem seus pés sobre o linóleo gelado que cobria a
cabine em que se encontrava. Ou talvez, fosse apenas o nervosismo que a
dominava.
- Precisa ficar mais calma, Sra. Malfoy. – a curandeira ao seu lado disse. –
Posso ver suas mãos tremendo quando nem mesmo estou olhando. – Hermione
escondeu as mãos, unindo-as atrás de seu corpo. – Tenho balinhas de café se
quiser. Pode ajudar os bebês a se moverem. Terei uma visualização melhor.
- Eles parecem bem ativos desde que acordei. – Não queria colocar nada na
boca enquanto estivesse ali, e agradecia pelos pequenos chutes que sentia na
base de sua barriga desde o início da manhã.
- Não sei se deveria me preocupar com o tamanho da sua barriga. – a
curandeira disse distraída com toda a aparelhagem. – Você não parece ter
ganhado muito peso e sua barriga está bem menor do que deveria estar, mas
talvez seja apenas sua genética. Lembro-me que estava mais avançada da
última vez que a vi grávida e sua barriga parecia menor do que agora.
Hermione esticou o tecido que usava para poder analisar o tamanho de sua
barriga. Realmente não era grande, mas era maior do que já havia estado em
toda sua vida.
- Tem sido difícil esconder. – ela comentou. – Acha que isso está afetando
os gêmeos? Acha que poder trazer algum problema para eles no futuro?
A mulher sorriu.
- Fique tranquila. Você ainda vai ficar gigante. Talvez demore um pouco,
mas está criando dois seres humanos aí dentro. A natureza não falha. -
Hermione engoliu em seco. Não conseguia se imaginar gigante. – Com foi seu
primeiro trimestre?
Suspirou.
Não havia nada recompensador no começo daquela gravidez. Tudo que havia
sentido era cansaço, náusea, falta de ar e se lembrava de ter tido dias em que
mal tivera vontade de levantar da cama. O medo de se apegar a seus gêmeos
da forma como havia se apegado a sua filha, naturalmente, a fizera querer
sentir menos interesse pelas vidas que estava gerando e a fizera querer
esquecer que estava grávida, mais de uma centena de vezes. Isso havia
mudado fazia poucos dias, quando começara a sentir pequenos chutes. O
primeiro foi logo a sua direita e, alguns dias depois, Hermione já conseguia
sentir os dois bebês. Durante a noite, quando tudo se acalmava e ela ficava
deitada, podia senti-los a todo o momento. Sentia-se normalmente frustrada
por não ter prestado atenção suficiente naqueles chutes e empurrões durante o
dia. Cada um deles parecia ter o poder de querer fazê-la colocar um sorriso nos
lábios, mesmo que quisesse simplesmente chorar.
Ela encarou Hermione por uns segundos, com um pouco de receio em seu
olhar. A medibruxa respirou fundo, apertou os lábios e disse num tom muito
baixo:
Hermione puxou o ar e o prendeu. Tudo que lhe restou foi assentir, embora
estivesse agora mais aflita do que antes. Queria fugir dali. Não queria que
aquele dia terminasse como havia terminado o dia em que haviam lhe tirado
sua filha. Não estava pronta para isso. Torcia para que tivesse tempo de,
brilhantemente, convencer Voldemort de manter seus gêmeos vivos se fossem
meninas, embora duvidasse muito de que qualquer coisa fosse capaz de
comprar Voldemort a aceitar esperar um ano para que tivesse a chance de vê-
la engravidar de um herdeiro.
Hermione suspirou. Não sabia se queria Draco ali ou não. Ela havia acreditado
que ele se importava com os filhos porque ele havia dito, mas com as atitudes
que vinha tomando ultimamente, aquilo havia passado a se tornar palavras
vagas. Tinha pouca esperança de que ele se importava de alguma forma.
- Ele... – Hermione não sabia ao certo o que dizer e foi exatamente nos
segundos em que pensava em uma justificativa para dar a mulher, que a sua
atenção foi chamada para a porta que acabara de ser aberta.
Voldemort tomou seu tempo para criticar a demora da preparação e pediu para
que as coisas fossem logo adiantadas. A mulher não enrolou mais nenhum
segundo e não demorou em Hermione sentir o gelado de um gel em sua
barriga.
Já havia feito aquilo antes e não foi muito diferente. O que a matava era o
silêncio da mulher operando a máquina e o silêncio de todos os outros naquela
câmara. Observava com atenção as imagens mostradas em um estranho e
antigo monitor que mostrava uma imagem muito clara, entretanto, bastante
confusa.
- Normal. – a mulher foi profissional. – Não quer dizer que eles não se
movem durante o dia, acontece que você só está mais distraída.
- Será que dá pra pularmos para a parte do motivo ao qual estamos aqui?
– Bellatrix soou entediada.
- Faça o que tudo que tiver que fazer. – Voldemort a interrompeu e foi
inevitável que Hermione sentisse os pelos de sua nuca levantar ao escutar a
voz poderosa do bruxo.
A mulher continuou em silêncio dessa vez. A pausa pareceu quase uma
eternidade até que ela informasse que ligaria o som dos batimentos do coração
e, no momento em que o fez, Hermione chegou a prender sua respiração. Por
um segundo apenas, foi assustador. Eram seus e eram reais. Eram seres
humanos. O som continuou soando em seus ouvidos e ela foi sentindo como se
sua cabeça estivesse latejando nele e mel estivesse escorrendo pela sua
garganta, enquanto seu próprio coração parecia derreter. Quis chorar porque
naquele exato momento, o único pensamento que se passava em sua cabeça
começou a gritar pelo seu corpo inteiro: Que sejam meninos! Que sejam
meninos!
O oxigênio lhe faltou. Não, não, não, não, não! Seu olhar foi direto para Draco
e ele parecia estático, moveu-se rapidamente para Voldemort e ele soltava um
ar de frustração explícito.
Hermione abriu a boca para protestar, mas foi a voz de Draco que soou.
Voldemort ignorou.
- Quero que as tire e quero falar com a equipe de medibruxos. – ele
começou a se mostrar finalmente furioso. – Quero a droga de uma maldita
magia que faça com que essa mulher seja capaz de gerar APENAS HERDEIROS!
- Quer dizer que agora Draco Malfoy se importa com filhos? Essas
crianças não sãoseus filhos e o herdeiro que vai gerar para mim não será seu
filho!
- Sim. Será. – Draco foi direto. – Será meu e você não pode mudar o fato
de que será. O fato de eu entregar meu herdeiro para você, “mestre”, não
exclui, não elimina, nem apaga o fato de.que.é.meu.
- Então, por isso veio até aqui, quando da outra vez não fez sequer questão
de se lembrar que sua esposa estava carregando um filho. Veio aqui porque,
repentinamente, decidiu que se importa com essas crianças em específico e
está disposto a me confrontar para que eu não lance a ordem que vai matá-las.
É isso? – Voldemort se aproximou dele.
Draco não mostrou sequer uma gota de receio através de sua expressão.
- Exatamente. – foi o que ele respondeu. – E se ordenar que as mate, eu
deixarei seu exército e quero ver quem será capaz de segurar o fim dessa
guerra.
- Eu duvido que queira associar sua imagem com a guerra. Precisa ser
aceito pelo público. – Draco se aproximou tão ameaçador quanto ele. – Seu
império foi levantado por guerra e só poderá ser mantido por guerra. Sabe
disso, conhece história, sabe como o mundo funciona. Você precisa de um
general, eu sou o melhor que tem e eu estou disposto a lutar por você, mas se
matar as crianças que eu estou disposto a te entregar, esqueça que ainda terá
meu cérebro e minha varinha nessa guerra por você.
Hermione percebeu que a mulher ainda estava fazendo seu trabalho com o
dispositivo, apertando sua barriga e escorregando para lá e para cá. Todos os
olhos foram voltados para ela e houve um silêncio momentâneo.
- Pensei que tivesse dito que eram gêmeos idênticos. – Narcisa manifestou-
se.
- E são. – confirmou a mulher. – Eu não entendo. – ela balançou a cabeça.
– Na verdade, sei que é possível que eles sejam de sexos diferentes, mas as
chances são tão poucas e tão mínimas que é praticamente desconsiderado. A
biologia tem suas explicações, mas talvez o fato de ela ter engravidado sob
magia, ou talvez, até mesmo o fato de ser bruxa tenha ajudado. Os casos de
gêmeos idênticos de sexo diferentes só aconteceram com bruxos, até hoje.
Talvez um trouxa, aqui ou ali, na história, mas é extremamente raro.
- Isso significa que não é necessário que mate nenhum dos bebês. – foi
quase uma ideia e ela torceu para que fosse comprada.
- Não seria prudente acabar com nenhum dos bebês nesse ponto da
gestação. Ela já está bem avançada. – explicou a medibruxa. – Isso afetaria o
outro bebê, o menino.
Narcisa perguntou se ela precisava de ajuda para vestir novamente sua roupa e
Hermione agradeceu a oferta dizendo que sim. Mesmo que não precisasse, não
queria ficar sozinha. A mulher encarou o filho antes de acompanhar Hermione,
repassou os olhos nervosamente pela sala para se certificar de quem estava ali
e soltou num tom baixo para que somente Draco pudesse ouvir:
- Não deveria ter gritado. Seu pai vai ter que cuidar do problema que
acabou de criar.
- Meu pai não é nenhum tipo de deus, mãe. Ninguém pode cuidar do
problema que eu acabei de criar. Vá atrás de tia Bella e tente especular o que o
mestre possa ter em mente. Eu fico com Hermione.
Hermione parou de tentar desamassar a camisola que usava no mesmo
segundo em que escutou Draco proferir suas palavras finais. O olhou
imediatamente.
- Precisamos conversar. – foi tudo que ele disse antes de dar as costas e
seguir para a antessala da câmara em que estavam.
Hermione não teve com quem questionar quando Narcisa apenas lhe lançou um
rápido olhar, antes de seguir seu caminho em direção a saída por onde Bellatrix
havia ido embora. Suspirou quando viu que a única escolha que tinha era ir
acompanhar Draco. Foi o que fez.
Virou-se para encará-lo, enquanto limpava o suor que ainda restava na palma
das mãos no tecido de algodão que a cobria. Draco cruzou os braços,
encostando-se na parede oposta à Hermione e, sem encará-la, ele pareceu
pensar por alguns longos segundos, como se estivesse decidindo em como
começar aquilo, antes de finalmente abrir a boca:
Draco soltou o ar impaciente, não gostando muito do tom que ela havia usado
para dizer aquilo.
- Sim. E faça com que ela seja interessante. – foi sua grosseira resposta. -
Quanto mais as pessoas estiverem do nosso lado e envolvidas conosco, mais
Voldemort terá que pensar duas vezes antes de arriscar triscar o dedo em um
Malfoy. Ande mais com Astoria, faça passeios com Elise, aceite pedidos de
entrevista, não sei. Faça com que te amem e se interessem cada vez mais por
você. – disso Hermione já sabia. Nas últimas semanas, tudo o que realmente
fizera fora dar entrevistas e aparecer em público. – Preciso que o mestre te
veja mais ativa na guerra. Ele parece ter apreciado o fato de você ter tomado
iniciativa com York. Talvez ele pense que tudo o que quer é proteger nossos
filhos, mas mostre-se útil. Enquanto provar ter boa utilidade o Lorde verá que
não é viável te fazer mal. Vou te dar uma boa posição oficial com a Comissão e
ver se posso transitá-la para dentro e fora de Brampton Fort com frequência,
assim ele poderá vê-la bastante ativa com as atividades que envolvem meu
departamento e perceber que apesar de sermos um pouco rebeldes,
trabalhamos para ele.
Não trabalho para ele. Foi o que Hermione pensou quase que automaticamente,
mas sabia que trabalhar daquele lado da guerra era um bem maior. Todo
aquele teatro era para um bem maior.
- Mais alguma ordem? – queria que Draco entendesse a ironia quando ela
jogou aquela indagação no ar logo que ele se calou.
- Sei que é inconsistente ainda, mas não posso pensar em mais nada
enquanto não tiver uma reação definitiva da parte dele sobre tê-lo enfrentado
hoje. Fiz coisas pesadas todos esses últimos anos para provar minha lealdade
ao mestre e destruí tudo isso em cinco minutos. Não por ter sido rude ou por
ter exaltado a voz, sempre fui um tanto “mal educado” com o Lorde, mas por
ter deixado claro que eu agora tenho um motivo que me faz enfrentar e
contrariar as ordens dele com ameaças. Não fiz isso, nem quando ele me
ordenou que eu casasse com você.
Eles ficaram em silêncio por um longo minuto. Hermione esperava que ele
dissesse mais, mas não com relação ao fato dele ter enfrentado Voldemort ou
como eles deveriam agir para tentar amenizar a situação em que Draco havia
os colocado.
- Isso é tudo que tem pra dizer? – ela perguntou incerta.
Draco ergueu os olhos para ela pela primeira vez. Hermione criou esperança de
que o marido pudesse comentar algo sobre os filhos, quando ela pensou tê-lo
visto hesitar ou passar por um segundo de impasse.
- Sim. – ele acabou por decretar. – Fique atenta a toda a situação e seja
inteligente para fazer sua parte. Inteligente eu sei que é. Teremos que tomar
decisões muito rápidas agora. – ela continuou a apenas encará-lo e aquilo
pareceu incomodá-lo. – Por que parece estar com raiva?
Será que Draco não era capaz de descobrir aquilo por ele mesmo?
Ela apenas suspirou frustrada. Não entendia como um ser humano conseguia
ser como ele. Tão frio.
- Seu pai ainda é o extrato da perfeição aos olhos de Voldemort. Não existe
servo mais fiel depois de Bellatrix e talvez isso ainda nos permita ficar intactos
porque é ele quem toma posicionamento pelos Malfoy ainda. Você apenas será
testado com mais frequência agora, para ter certeza de que Voldemort continua
sendo sua melhor opção. Ele jamais desconfiaria do seu pai. Lúcio faz um
excelente teatro para o mestre. Agora, se não tem mais nada a acrescentar,
por favor, saia. – Hermione foi o mais direta e uniforme possível.
Não queria que Draco fosse. Mesmo que sentisse raiva e estivesse detestando
qualquer coisa relacionada a ele nos últimos dias, tinha a mínima esperança de
que o homem comentasse algo sobre os filhos. Queria poder conversar sobre os
bebês com Draco, mesmo que tivesse que aturá-lo por isso. Hermione não
havia feito aqueles filhos, sozinha, e Draco já mostrara interesse o suficiente
neles. Se ela estava disposta a abrir mão da raiva que sentia para que os dois
pudessem comentar sobre os próprios filhos, porque ele também não estaria?
Será que era tão imaturo a esse ponto ou será que apenas era insensível o
bastante para não ter o que falar? Pensar assim, a fazia imaginar que talvez
houvesse algo de errado com ela por ter mil coisas que gostaria de
compartilhar com ele, escutar os pontos de vista que ele tinha, conhecer como
ele enxergava a situação.
Mas tudo que Draco fez foi apenas hesitar por alguns segundos, o que permitiu
que Hermione aumentasse seu nível de esperança, para depois vê-lo então
mover-se e deixar o local, destruindo toda e qualquer chance de poder escutar
outra coisa da boca dele que não fosse ordens.
Seu sangue ferveu assim que o marido bateu a porta. Ela quis ir atrás dele e
gritar sua fúria. Por quê? Por que ela queria cobrar tanto dele agora? Por que
se sentia no direito de cobrar coisas de Draco que no inicio do casamento ela
jamais teria se importado? Por que sentia que ele deveria agir de outra forma?
Por quê? Era quase que vivenciar o inferno sempre quando a realidade de que a
relação deles havia mudado batia em sua consciência. Mudara tanto ao ponto
de que não conseguia deixar de se importar com coisas que ela jamais teria se
importado antes? Como essa mudança havia sido tão sutil que sequer tivera
noção do nível em que estavam atingindo?! Como havia permitido isso?! Será
que era tão impossível voltar a ser o que eram antes?
Trocou sua roupa sentindo raiva dele, mas também sentindo raiva de si
mesma. Precisava voltar a olhar Draco com indiferença. Mesmo que ele fosse
agora pai dos filhos que gerava. Aquilo estava a cegando tanto que mal
conseguia se lembrar de que há poucos minutos, estivera aliviada por descobrir
que havia um menino em seu útero e isso salvaria a vida de sua menina por
enquanto. Ter consciência de que aquela raiva a cegava era o bastante para ter
noção do quanto Draco Malfoy a afetava e isso era ainda inaceitável. Hermione
não queria estar presa a ele e se sentia ridícula por ver que estava vivendo isso
sozinha. Por saber que o marido a afetava, mas ela não o afetava. Era
absurdamente doloroso se ver naquele nível, se ver abaixo dele, perceber que
ela agora era mais uma das que se envolvera com ele. Draco parecia fazer
questão de, com frequência, deixar claro que ela pouco significava algo. Isso
não a teria incomodado antes, sabia que não. Agora incomodava e não era só
doloroso, era humilhante.
Nott parecia surpreso pela presença dela ali e até mesmo receoso pela atitude.
Theodoro não escondeu o receio em seus olhos. Hermione entendia que poderia
estar sendo intimidadora, mas precisava daquela determinação ou não seria
capaz de fazer o que pretendia.
Ela sentiu a necessidade de protestar que havia feito o que era certo, mas teve
que se focar. Não era para aquilo que havia ido até ali. Puxou o ar sem
desfazer sua postura e disse com confiança:
- Faça o que quer fazer comigo. – Hermione seguiria o passo dele. Deixaria
que Nott a guiasse.
Mas ele pareceu confuso por um segundo e só depois que alguns deles se
passaram, pareceu entender o que ela queria dizer, mas, ainda assim, parecia
receoso.
- Eu sei o que quer. – seu tom foi mais baixo pela proximidade. – Faça.
Theodoro pareceu em dúvida por um longo minuto em que seus olhos pularam
dos dela para sua boca, com frequência. Ele parecia debater entre ir em frente
ou ser cuidadoso, como se soubesse que agora Hermione tinha sangue Malfoy e
muito provavelmente escondia algo na manga.
Essa pequena guerra, entretanto, foi breve porque logo ele deu um passo
quebrando a distância entre eles. Segurou o rosto dela entre suas mãos
parando sua boca a centímetros da dela, enquanto a arrastava até que suas
costas batessem contra uma estante. Seus hálitos brigaram por espaço e
Hermione se preparou para sentir o gosto dele quando Nott tomou ar duas
vezes em sinal de que devoraria sua boca. Mas não aconteceu. Ela pensou em
perguntar o que havia de errado, o porquê ele estava hesitando, mas no
segundo em que tomou ar para perguntar, Theodoro tomou também o dele e
avançou provando sua boca.
Beijar alguém novo era sempre como se estivesse beijando pela primeira vez.
Hermione não era acostumada a ter alguém diferente toda noite ou fazer trocas
com frequência. Sua vida inteira ela sempre fora bastante consistente com
quem quer que estivesse se envolvendo. Causalmente ou não. Talvez esse
tenha sido um dos motivos pelo qual sequer se passou pela cabeça dela, a ideia
de ter outro quando começara a se envolver com Draco, mesmo que fosse
casual, mesmo que estivessem cumprindo uma ordem, mesmo que tivessem
um acordo silencioso de que eram livres por não significarem nada um para o
outro.
Theodoro, porém, parecia ser capaz de fazer com que ela se sentisse
confortável o suficiente para que se lembrasse que fizera aquilo milhões de
vezes antes e sabia como fazer. Hermione não se privou, assim como também
não se privara com Harry quando ele também a fizera se sentir tão confortável.
Enfiou suas mãos pelos cabelos de Nott e sentiu que ele pressionou seu corpo
contra o dela para poder senti-la por inteiro, mas se lembrar de Harry, naquele
momento, não foi uma ajuda. Foi como se estivesse recebendo um aviso da
Hermione do passado, a Hermione que crescera com seus pais, que conhecera
seus melhores amigos em Hogwarts, que lutara contra todas as forças ruins de
Voldemort. A Hermione leal, fiel, companheira, corajosa e guerreira. Ela era
boa. Deveria ser. Como e porque havia se corrompido tanto?
A boca dele desceu pelo seu pescoço e ela se sentiu a pior pessoa do mundo
quando seu cérebro a lembrou de que seus dois melhores amigos, que inclusive
eram melhores amigos entre si, haviam se tornado seus amantes. Lembrou-se
de ter ido atrás de Krum dezenas de vezes somente para poder ter alguma
resposta de Rony quando era apaixonada por ele. Lembrou-se de impedir
Harry, centenas de vezes, de ser honesto sobre o envolvimento que tinham
com as pessoas que o cercavam. Agora, ela estava ali, grávida de um homem
que passou a vida inteira odiando, pronta para se entregar para outro homem
que fazia parte de um grupo de pessoas que detestava, pessoas que não
sabiam o que significava humanidade, respeito, família ou amor. Grávida.
- Pare. – sua voz saiu fraca e Hermione tentou afastá-lo. – Pare! – foi mais
firme. O que ela havia se tornado? Por que estava fazendo aquilo? Por que
havia se permitido fazer aquilo por causa de Draco Malfoy? – PARE! – dessa
vez, tentou empurrá-lo e Theodoro não pareceu gostar do ato. Segurou os
pulsos dela com firmeza e os prendeu contra a estante, logo acima de sua
cabeça. Ela se assustou quando ele não parou. – Eu estou grávida, Theodoro!
- Todo mundo sabe disso! Você veio até mim! – ele a olhou de modo
irritado. – Não ouse me parar agora! – e tentou abrir caminho por sua boca
novamente.
Hermione não conseguia ficar surpresa por ver que o fato de estar grávida não
o incomodava. Nott era um comensal, não havia nele noção de respeito. Tentou
desvencilhar-se, mas ele não permitiu e foi nesse momento em que ela se
lembrou das poucas, porém produtivas, sessões que tivera com Draco nas
manhãs e madrugadas das salas de simulação. Ela não era boa com a parte
física, seu conhecimento em magia conseguia superar esse déficit, mas não ser
boa não significava ser precária. Num segundo Hermione torceu os pulsos, usou
os cotovelos para empurrar os braços dele para longe dela, enquanto mordia
seus lábios para distraí-lo de sua força. Empurrou o corpo de Theodoro com o
seu e usou um dos joelhos para impulsionar a distância que queria que ele
tomasse. O homem cambaleou para longe dela, soltando um guincho de dor e
usando os dedos para verificar o estado de seus lábios.
- Eu estou grávida! Acaso você não tem o mínimo de respeito? Deveria ter
parado quando eu disse para parar!
Hermione o olhou novamente, como se estivesse pronta para sacar sua varinha
se ele ousasse descontar a raiva que havia visto nos olhos dele, mas dessa vez,
seu olhar estava limpo e sua expressão menos tensionada.
Ela se lembrava de tê-lo escutado dizer, mais de uma vez, que a queria, que
havia se apaixonado, que pensava nela e se importava com ela. Uniu as
sobrancelhas.
- Se acaso se importasse comigo, e não com o desejo que tem por mim,
teria parado. – foi tudo o que ela disse em retorno. A última vez que estivera
com Draco na cama, ele também havia dito que não se importava com o que
ela queria, mas parara quando vira nos olhos dela que ela não queria. Soltou o
ar e tornou a tocar a maçaneta.
Theodoro colocou sua mão sobre a dela chamando sua atenção novamente.
- Eu sempre recebi mulheres que chegaram até mim do mesmo jeito que
você chegou, com o coração quebrado por causa de Draco. – Meu coração não
está quebrado por causa de Draco. Foi o primeiro pensamento de Hermione ao
escutá-lo. – Você foi a única que me parou. – Theodoro finalizou e deixou que
ela fosse.
Ela foi. Meu coração não está quebrado por causa de Draco. Ou estava? Não.
Ele não tem esse poder. Ou tinha?
Draco Malfoy
A tampa do piano estava levantada, ele tinha o braço apoiado nela e a testa
encostada no braço, enquanto uma garrafa quase vazia de whisky pendia em
sua mão. Sentado desajeitadamente sobre uma perna no banco, com a gravata
frouxa e os botões da camisa abertos, corria seus dedos pelas teclas bem
preservadas do caro instrumento neoclássico produzindo um som não muito
agradável. Não sabia tocar. Conhecia algumas notas, apesar disso, e pedaços
de peças famosas, mas era absolutamente péssimo.
Na meia luz de uma das salas próximo a de jantar, Draco tentava se lembrar
das teclas que deveria apertar para fazer soar algo parecido com uma famosa
peça de um daqueles grandes artistas clássicos que todo mundo conhecia. Ele
se lembrava de que conseguia fazer com uma mão, uma das melhores partes,
mas sua memória não estava o ajudando. Continuava, entretanto, porque
precisava de uma distração e o álcool já havia perdido aquele efeito há
semanas.
Toda vez que virava um gole de whisky ou conhaque ou qualquer bebida forte
que fosse, ele se lembrava de como havia ficado tanto tempo sem sentir falta
delas nos últimos meses. Não tinha problemas com bebidas, seu pai sempre
havia se preocupado em ensiná-lo a não ser um idiota com relação a isso,
embora Lúcio mesmo não desse as melhores lições, mas de qualquer forma,
Draco tivera tanto tempo em Hogwarts para passar mal com álcool que hoje e
há muito tempo, já não havia mais graça. Aquela bebida só lhe servia para
colocar sua cabeça em um tipo de nuvem quando ela parecia pesar o peso do
mundo e, muitas vezes, falhava pela resistência que ele tinha a ela.
Errou a tecla seguinte e por frustração, fez questão de também errar a
próxima. Esperou alguns rápidos segundos para tentar novamente e foi aí que
conseguiu sentir a presença dela. Hermione havia seguido direto para o quarto
assim que eles chegaram da Catedral. Ela parecia cansada e o número de vezes
com que fechara os olhos durante a viagem da Catedral para casa, fez com que
Draco desconfiasse de que estava com algum tipo de dor de cabeça severa.
Ele sentiu um gosto amargo em sua garganta e teve que soltar o ar, buscando
paciência. Ergueu os olhos para vê-la com os cabelos presos no topo da cabeça,
o rosto limpo de maquiagem, os olhos pesados e um tanto vermelhos. Ainda
vestia o vestido que usara durante todo o dia, mas tinha um tecido de lã que
usava para se envolver protegendo os braços e as costas. Hermione parecia
cansada, sem humor, sem vida.
- Com quantas mulheres você acha que eu me envolvo por dia, Hermione?
Eu não sei o que se passa pela sua cabeça, mas eu tenho uma guerra para
vencer, um imperador para derrubar, filhos para salvar e um teatro falso para
expor ao mundo sobre uma linda e feliz vida que eu não vivo. Eu não tenho
tempo para uma mulher por noite ou para mulheres em geral se quer saber. –
mulheres sempre haviam sido uma diversão extra para Draco e agora deixaram
de ser, justamente, por culpa de Hermione. Maldito jogo em que ele havia se
deixado cair com ela. - Está criando uma imagem minha em sua cabeça apenas
porque me viu com uma mulher, uma vez, trancado em minha sala. Não sabe
nem o que estávamos fazendo lá, Hermione. Não viu nada, não estava lá. – ele
levantou-se e virou um longo gole de bebida. Ela ficou em silêncio. Draco não
queria dizer aquilo, não queria nunca ter tocado naquele assunto, mas talvez a
quantidade de álcool que havia ingerido não o deixara segurar a língua e ter a
paciência costumeira que tinha com a afiada de Hermione. – Eu não levo para
cama qualquer mulher que aparece na minha frente e eu não quero levar
mulheres para cama a todo segundo. Não quero que comentem sobre você
principalmente. É minha esposa e vai ser mãe dos meus filhos. Não quero que
olhem para você como olham para a minha mãe algumas vezes, por culpa do
meu pai. Eu não sou como ele. – ou pelo menos tentava arduamente não ser,
embora na maioria das vezes, se visse no impasse de ir a favor de Hermione
para poder ir contra o seu pai ou ir a favor de seu pai para ir contra Hermione.
Era sempre mais fácil ir a favor de Hermione e isso o surpreendia e o assustava
muitas vezes, porque durante sua vida inteira, sempre fora mais fácil ir a favor
de seu pai.
Virou novamente a garrafa. Precisava de mais álcool porque sempre quando ela
estava por perto, havia um tipo de energia que o impulsionava a vacilar em seu
alto controle. Draco a queria tanto que tudo dentro de si parecia querer entrar
num tipo de vácuo que o levaria até ela por inércia. Ele lutava contra e
precisava de concentração para isso, mas estava farto do quão cansativo era
tudo aquilo. Jogou-se numa das poltronas e desviou o olhar da figura de
Hermione, apenas para tornar mais fácil a tarefa de esquecer o quanto sua
mulher era absolutamente encantadora, mesmo quando ele sentia raiva ou
quando ela o olhava com rancor. Eles entraram em silêncio e Hermione moveu-
se do piano até o banco onde ele estivera antes para sentar-se com cuidado.
Draco não conseguiu ficar muito tempo com os olhos longe dela e logo se viu a
observando correr os dedos sobre as teclas do instrumento distraidamente.
- Obrigada por dizer isso. – a voz dela soou baixa e sincera dessa vez.
Merlin, como ele sentia falta daquele tom! Era calmo e pacífico. Fazia com que
se lembrasse de quando conversavam no escuro da noite, antes de dormir, e
de como aquilo tinha o poder de fazer sua cabeça flutuar num oceano de paz
sem a ajuda de qualquer gota de álcool. – Seria tão mais fácil para nós se
pudéssemos conversar. – Hermione apertou uma tecla como se estivesse
curiosa para saber que som produziria. A nota aguda soou no silêncio que ela
criou, mas logo a soltou.
A forma como viviam agora não era como antes. Abriam a boca um com o
outro para serem ignorantes e rudes e isso só criava mais ódio e mais raiva. E
o mais grave de tudo era que não era só insuportável como antes, agora
também era doloroso.
Sentia falta de conversar com ela. Sabia que se eles conversassem, não seria
como eram antes. Indiferentes um ao outro, como no começo. Tudo porque
quanto mais eles conversavam, mais Draco a conhecia, e quanto mais ele a
conhecia, mais a queria e quanto mais a queria, mais se assustava, mais
hesitava, mais ele tinha medo e queria se afastar. O que havia conhecido de
Hermione era irreal. Não podia existir nenhum ser humano no mundo mais
altruísta, compreensivo, pacificador e justo do que ela. A forma como sua
mulher enxergava a vida e as circunstâncias era algo que ele julgara utópico
sua vida inteira. Ela havia o mostrado dezenas de vezes que não era utopia.
O silêncio que cresceu entre eles fez lembrá-lo de antes, quando a companhia
dela não era incômoda, quando não havia nada de estranho entre eles e eram
capazes de ficar em um mesmo ambiente sem trocar farpas. Sabia que não
deveria se dar ao luxo de voltar a conversar com Hermione como antes, voltar
a trocar ideias de modo casual, mas já havia guardado tantas palavras e
pensamentos dentro dele que gostaria que existisse uma poção para aliviar a
insanidade que isso lhe causava. Hoje mesmo, Draco havia contado as horas
para chegar em casa, onde poderia se encharcar de álcool para tentar se livrar
do peso de ter visto e tido informações sobre seus filhos, e dos pensamentos
que borbulhavam em sua cabeça por causa disso. Sua boca inteira havia
coçado quando Hermione o olhara, no vestiário, esperando que ele comentasse
ao menos algo.
Era fácil para ela ser aberta e compartilhar essas coisas, como se não tivesse
significado nenhum. Talvez fosse acostumada demais a essa fácil troca de
informações de onde viera e não entendesse o real valor do que era ter alguém
com quem pudesse ter confiança para compartilhar todo tipo de informação.
Ele, sim, entendia o valor daquilo. Sempre havia guardado tudo para si. Nunca
tivera alguém como Hermione. Se ela soubesse o valor que isso tinha para ele,
certamente não o teria olhado com tanta raiva.
Soltou o ar e afundou mais em sua poltrona, passando a perna por um dos
braços dela. Colocou a garrafa contra sua têmpora na esperança de que o
material frio pudesse aliviar o calor da dor em sua cabeça, por guardar tanto
para si depois que Hermione havia o mostrado que sabia escutá-lo. Sentia falta
da opinião dela, da voz dela, dos pensamentos que ela também compartilhava.
Estava tão louco para escutar os pensamentos dela sobre seus filhos quanto
estava para compartilhar os seus.
- Hermione, o que sentiu hoje... – sua voz começou baixa. -... quando
escutou o coração deles batendo? – talvez seu senso e racionalidade se
aproximassem mais de sua razão quando estava sob efeito do álcool. Era como
se estivesse sendo informado de que seu afastamento dela não tinha outro
motivo que não fosse teimosia.
Hermione puxou o ar ao escutar aquilo e deslizou seus dedos para longe das
teclas do piano.
- Nós somos uma bagunça. Como conseguimos criar isso? – ele fechou os
olhos tentando se lembrar do som. – Vida. – sussurrou.
E tinha razão. Não estavam sendo uma completa catástrofe quando geraram
aquelas vidas. Se ela soubesse a falta que aqueles dias faziam a ele, será que
lhe daria às costas? Será que ela diria que estava sendo ridículo? Será que ela
o deixaria saber que só fazia falta a ele? Tentou afastar aqueles receios que o
atormentavam com demasiada frequência e se concentrou em ficar satisfeito
que, ao menos com relação aos filhos, eles sentiam o mesmo.
- Eu nunca pensei que fosse dar minha vida por nada nem ninguém até
hoje. – Draco sequer era capaz de descrever. – Nunca tive tanta coragem para
contrariar Voldemort. – ela talvez não fizesse ideia da dimensão que isso
atingia. – Eu estava pronto para usar minha varinha se necessário, Hermione.
Só a ideia de alguém tocando em você me faz ter calafrios.
Ela ficou em silêncio por um bom tempo. Ele apenas observou a figura dela de
costas.
Mulheres haviam dito aquilo para ele a vida inteira. Mulheres com quem havia
ido para cama uma ou duas vezes e que se apaixonavam enlouquecidamente.
Vivera aquilo dezenas de vezes, principalmente quando era adolescente, porque
garotas adolescentes se apaixonavam com uma facilidade assustadora e a
forma como viviam suas paixões era sempre intensa e sufocante. Draco nunca
havia se importando com nenhuma delas, com o choro de nenhuma, com as
palavras de nenhuma, nunca havia dado esperanças a ninguém. Ele não
assumia a culpa sobre aquilo que não tivera responsabilidade. Mas Hermione...
Hermione não havia chorado um coração partido. Tudo que ela havia o feito
enxergar com aquelas palavras era o quão incapaz ele sempre seria de
completar qualquer pessoa, o quão incapaz ele seria de poder proporcionar
felicidade, amor, companheirismo a qualquer um que fosse. Aquilo o incomodou
de tal modo que fez a angústia lhe subir pelas veias e ficar entalada em sua
garganta, simplesmente porque sabia que realmente era incapaz. Era incapaz e
talvez por isso tivesse passado sua vida inteira sem dar esperanças a ninguém,
talvez fosse por isso que jamais tivesse sido capaz de se apaixonar, talvez
fosse por isso que aceitava e consentia com o infeliz futuro que seu sobrenome
o condenava a ter, talvez fosse por isso que tivesse medo daquilo que
Hermione o fazia sentir.
- Posso ficar aqui? – ela pediu numa voz que quase o fez desmoronar. Sua
mãe era forte. Ele nunca havia a visto vacilar.
- O que aconteceu? – ele logo tratou de perguntar.
Sua mãe puxou o ar, numa tentativa não muito eficiente de retomar sua
postura e focou-se apenas nela, como se aquilo fosse assunto das duas e
exclusivamente delas.
- Eu estou o deixando. – a voz de sua mãe continuava trêmula. – Lúcio. –
especificou. – Estou o deixando. – repetiu.
32. Capítulo 32
Draco Malfoy
Ele levou os braços para trás com a finalidade de usar como apoio para sua
cabeça sobre a pilha de travesseiros. Seu corpo despido estava estirado sobre a
cama desconhecida e Draco desejou por um copo de whisky com gelo,
enquanto observava sua companhia atravessar o quarto tão nua quanto ele. Ela
veio com um sorriso no rosto, usou o dossel da cama como apoio para girar e
pular na cama sobre os joelhos com uma graça que somente Veelas possuíam,
soltando um risinho muito satisfeito que soava quase como a melodia de uma
bela música clássica.
- Hum? – Draco murmurou para que ela não acabasse entendendo que ele
não se importava.
- Saber que se está transando com Draco Malfoy. – ela disse e riu. Ele
limitou-se a esticar a boca num sorriso simples como resposta. O encanto de
uma Veela era sempre fascinante, embora a magia do encanto fosse muito
perceptível, isso sempre o impediu de ser completamente domado pelo poder
delas. Apenas as achava incrivelmente bonitas. Seu pai sempre havia lhe dito
que quanto mais puro seu sangue fosse, menos eficiente era o encanto de uma
Veela. Draco sabia que era mentira. Veelas eram apenas seres sedutores
para quase todos os homens, não todos. Ele dera a sorte de fazer parte da
minoria, embora ainda se visse bastante atraído pela figura perfeita delas,
especialmente quando eram modelos estrangeiras. – Eu não sei como faz isso,
Draco, mas você sabe usar o corpo de uma mulher. – a Veela girou e se
colocou de pé sobre o colchão, apoiando-se no dossel para expor seu corpo
esguio e esbelto por completo a ele. – Devo confessar que me animei por saber
que estaria em Brampton Fort durante a minha curta estadia para a campanha
de primavera, mesmo que estando casado. Eu sabia que faríamos um bom par
na cama agora que finalmente noivei com o jogador número um do time
nacional de Quadribol australiano.
- Tenho absoluta certeza de que ele ficaria bem satisfeito em te ver aqui
agora. – sua voz saiu no automático.
Ela riu.
- Assim como sua mulher. – a modelo jogou e ele sentiu a saliva amargar
em sua boca quase que imediatamente.
Sua cabeça latejava ‘Hermione’ como sempre, mas quando ela era citada, era
como se alguém estivesse materializando a figura que ele tentava aprisionar
em seus pensamentos.
- Nós somos. – precisavam ser. Quem sabe com aquela farsa convenceriam
até Lorde Voldemort.
A mulher riu.
- Devo dizer que agora acho bastante interessante a forma como estão
apaixonados. – ela foi até Draco novamente e ajoelhou com as pernas uma de
cada lado de seu quadril, inclinando a cabeça de modo a fazer o gigantesco
cabelo loiro, quase branco, pender para um lado apenas. – De qualquer forma,
odiamos sua mulher. Nós, Veelas. – deslizou as mãos novamente por seu
abdômen como se precisasse aproveitar cada segundo com ele. - Não gostamos
de mulheres como ela. Mulheres bonitas que não são como nós. Veelas. E ela é
tão perfeita que... – fez uma careta de desgosto. – Aposto que ela seria uma
fada se a linhagem de fadas humanas não tivesse terminado em Morgana. – riu
do próprio pensamento. – Odiamos fadas também, de qualquer forma. – riu
novamente. – Elas eram lindas, poderosas e podiam ganhar homens pelo
coração, não pela beleza. Nós Veelas podemos fazer isso somente com homens
que não estão presos no nosso encantamento e Deus sabe como eles são
poucos...
Ela sorriu.
- Adoro sua arrogância. – a Veela deitou sobre Draco, deixando suas bocas
muito próximas. - Sou tão acostumada a homens idiotas jogando flores em
minha janela, que sua ignorância me excita. A forma como me comeu
pensando em outra, a forma como me tocou como se eu não fosse suficiente,
como se eu não tivesse a mínima chance de satisfazê-lo, como se eu não fosse
digna de ter o seu pau dentro de mim. – ela sussurrou fazendo com que Draco
respirasse seu hálito doce de Veela. – Não faz ideia do quanto aquilo me
excitou e ainda me excita. Não há nada como foder um homem, cujo coração
pertence à outra.
Draco não gostou do que a mulher ali estava insinuando. Deteve seus pulsos.
- Não tenho um coração.
Ela riu.
Soltou o ar e sentiu a sua própria raiva projetar-se junto a ele. Queria poder
explodir aquele lugar e seu punho fechou quase que automaticamente ao sentir
necessidade de socar algo. Precisou conter-se e, no momento que se afastou
da porta, deparou-se com sua imagem refletida no espelho sobre a pia. Teve
que desviar rápido o olhar por não conseguir encarar-se. Malditos banheiros de
hotel. Sempre minúsculos.
Entrou para debaixo do chuveiro e fez com que a água gelada corresse por sua
cabeça e seu corpo. Concentrou-se somente em sua respiração como havia
aprendido, esperando até que pudesse inalar o ar sem que desejasse tirar a
vida de alguém.
Aquilo era doentio. Estava doente. Era a única explicação plausível. Não havia
outra. Quando decidira voltar a ser o que sempre havia sido com mulheres e
especialmente com Hermione, tudo que tinha em mente era apenas se livrar de
algo que sua razão o alertava ter pouco conhecimento sobre. Mas conforme os
dias se passavam, Draco percebia cada vez mais que, aquilo do qual tinha
pouco conhecimento, era muito maior do que ele esperava que fosse, porque
quanto mais se envolvia com outras mulheres, mais percebia que queria
apenas uma, mais se conscientizava de que abriria mão de todas as outras para
ter apenas uma, mais chegava à conclusão de que apenas uma era suficiente.
Ele só podia estar doente. Ainda se lembrava do quanto havia sido difícil ficar
longe de mulheres quando se comprometera com Astoria em sua adolescência.
Como será que não havia sequer notado que passara meses sem tocar em
outra, quando nem mesmo estabelecera um compromisso com Hermione?
Deveria Draco continuar insistindo naquela tortura? Seria loucura? Será que
tudo aquilo passaria? Poderia ele voltar a ser o que era antes, se continuasse
seguindo aquele caminho? Sua relação com Hermione estava cada dia mais
insuportável e sua rotina cada vez mais estressante. Sentia como se estivesse
caminhando ao lado do mau humor a todo segundo e quando tinha sua mulher
por perto, ele precisava de tanto esforço para se manter concentrado que se
sentia exausto com frequência. Sempre que se aventurava com uma mulher, a
fim de conseguir uma tentativa bem sucedida, tinha o cruel desejo por
Hermione esfregado diante de sua consciência.
Quantas pessoas ele já havia matado? Quantas pessoas ele já havia torturado?
Quantos ele já havia sentenciado à morte? Quantos ele já entregara nas mãos
de Voldemort? Quantos erros ele já havia cometido que o perseguiam? Sua
filha morta era um deles. Por que Hermione tinha que ser o que mais o
torturava? Cada dia pior, cada dia mais intenso, cada dia mais infernal.
Deixou-se ser torturado por sua consciência por mais tempo, enquanto tentava
usar a água gelada para colocar seus pensamentos em ordem. Não conseguiu.
Acabou precisando juntar esforço e concentração para aprisioná-los em algum
canto escuro de sua mente. Saiu do chuveiro e roubou a toalha pendurada na
parede. Quando voltou ao quarto, a modelo estava sentada na cama, enrolada
num robe de seda floral e com uma tigela de biscoito nas mãos. Ela abriu um
sorriso sedutor e estreitou os olhos ao vê-lo com a toalha enrolada nos quadris.
- Você todo faz sentido, Draco Malfoy. Vou guardar essa lembrança até a
próxima vez que tivermos a chance de repetirmos isso. Espero estar casada até
lá. Fará tudo ser mais divertido. – ela pulou para fora da cama, enquanto ele
começava a vestir-se tentando ignorá-la. – Aliás, pensei que não fosse sair de
lá nunca mais. – apontou para o banheiro. – Tenho sessão de fotos em vinte
minutos e desfile hoje à noite. Dizem que sua mulher vai estar lá. Eles estão
loucos atrás de um assento de rainha para ela agora. – a mulher zombou e
tomou a direção do banheiro. Ele ficaria tão grato se aquela Veela parasse de
alfinetá-lo usando Hermione. – Vou lembrar que tive o marido dela essa tarde
quando colocar meus olhos sobre ela. – Draco precisou respirar fundo enquanto
passava o cinto pelo cós da calça. Seria isso que seu pai ouvia das amantes que
tinha? – Eu vou ser a estrela da noite se ela não roubar tanto a atenção.
Certamente nos apresentarão. Aposto que sua mulher será gentil e educada
sem esforço. Ela parece ser desse tipo.
Draco sabia que Hermione era verdadeiramente educada, não apenas porque
havia câmeras em todo o lugar. Diferente do restante das mulheres que a
cercavam. Tão vadias e egoístas quanto a Veela que estava à sua frente.
- Terminou com seu monólogo sobre minha mulher? – ele fechava os
botões de sua camisa.
Usou distração para deixar o hotel em que estava no centro e voltar para a
Catedral. Felizmente a viagem era curta. Assim que subiu até sua torre,
encontrou Tina eufórica à sua espera.
- Vai se atrasar, senhor! – ela tratou de se pronunciar logo que o viu. – Sua
mulher mandou uma coruja faz trinta minutos. Ela quer saber se há algo de
errado. Não é normal que se atrase para nada.
Assim que desceu em sua casa, encarou a bela fachada que ainda tinha o poder
de lembrá-lo sobre o seu bom gosto. Suspirou frustrado por saber que, em
algum momento, já havia sentido uma ardente vontade de estar ali, por saber
que Hermione estaria o esperando do lado de dentro. Fora um tempo curto. Um
tempo bom. Sua casa nunca fora tão acolhedora. Draco nunca sentira tanta
vontade de voltar sempre que precisava deixá-la. Agora, no entanto, a figura
parecera transformar-se novamente para o mesmo de quando se casara. Ao
menos aquilo havia voltado a ser como antes. O desejo de não ter que lidar
com Hermione no único lugar que ele podia chamar de “lar” voltara tão forte
como antes. Diferente, talvez. Mas tão forte quanto.
Pela fachada ele pôde notar as cortinas fechadas das compridas janelas ao leste
da edificação. Hermione estaria ali com toda certeza. Talvez sua mãe também,
se não estivesse trancada no quarto como fazia em seus piores dias. Sabia
disso porque ultimamente Hermione parecia ver conforto no escuro. Logo que
se mudara para sua casa, as primeiras ordens que sua esposa dera à Tryn fora
as de manter as janelas sempre abertas durante o dia e os lustres e velas
sempre acessos durante a noite. Havia sido como se ela tivesse trazido consigo
a vida para dentro de sua casa. Draco havia achado insuportável no começo.
Agora apenas estranhava quando Hermione fechava as cortinas e deixava
aceso o mínimo de velas possível por onde passava. Até mesmo sua constante
mania de acordar, empurrar as cortinas e se espreguiçar diante do jardim dos
fundos, algo que parecia ser um tipo de tradição, ela abandonara. Agora sua
mulher apenas levantava da cama quando ele pedia para que a elfa a
chamasse, quando ele já estava pronto para ir à Catedral.
Os dias se passavam e cada vez mais Hermione parecia piorar. Não era como
se ela estivesse se trancando no quarto, se negando a ver a luz do dia, como
quando perdera a filha. Ela ia à Catedral e passava o dia trancada na sala que
Draco havia destinado a ela ou ocupada em alguma reunião com a Comissão.
Estava sempre pronta para o jantar, passava seu tempo diário na biblioteca
após a refeição, não se negava a aparecer publicamente como deveria, mesmo
que detestasse, nem se recusava a forçar seu constante sorriso quando
necessário. Ela fazia seu trabalho, como se fosse uma máquina, como se fosse
uma embalagem vazia, um robô. E seu silêncio era cruel. Não trocavam
nenhuma palavra que não fosse necessária.
Ele não chamou por Tryn assim que entrou. Tinha sua certeza de onde
Hermione estaria e avançou por entre as salas até o fim da parte leste, onde a
luz do dia ao lado de fora parecia estar sendo bloqueada. Não demorou a
escutar o som baixo e quase cansado da voz de Hermione soando num
monólogo. À medida que se aproximou, conseguiu entender o que quer que ela
estivesse falando e parecia ser com sua mãe:
- Tenho guardado meus pensamentos para mim por anos, Hermione. Não
faz bem. Não é saudável. – a voz de sua mãe era tão sem vida quanto a de sua
mulher. Narcisa estava de pé parecendo apreciar uma das tapeçarias na
parede. O silêncio entre elas durou e Draco parou antes de atravessar os arcos
que separavam o caminho do qual vinha, da ampla sala que elas estavam para
poder observar o quanto o ar que as cercavam era deprimente. As duas
estavam ali, usando roupas caras, acessórios luxuosos, sapatos exclusivos, mas
Hermione estava no chão com a cabeça apoiada no assento de uma cadeira
como se estivesse querendo poder ficar ali o dia inteiro e sua mãe estava de
pé, em sua costumeira postura ereta com um olhar perdido, vazio e opaco. –
Deve estar me julgando uma idiota superficial por ficar nesse estado por causa
de um homem, quando você tem que vender sorrisos falsificados por aí para
tentar salvar a vida dos seus filhos.
O silêncio.
- Sinto muito estar ocupando a casa de vocês. Vou encontrar um lugar para
ir. Prometo.
- Você não vai a lugar nenhum. Sabe que não quer ficar sozinha e sabe que
eu também não quero ficar.
O silêncio novamente. Havia ficado claro que as duas pareciam estar querendo
se considerar uma o suporte da outra ali. Draco ficava grato por sua esposa em
momentos como aquele. Mulheres sempre haviam sido um poço de educação e
intimidade com sua mãe a vida inteira, mas nenhuma delas tinha o interesse de
ter Narcisa como companhia, todas elas queriam apenas exibir o bom partido
que eram para seu filho. Era quase uma ironia que a única mulher que não se
prestara a esse papel, nem sequer tivera interesse nele, acabara sendo a única
que realmente se importava com sua mãe.
- Iremos lidar com isso quando conseguirmos ter certeza de que o Lorde
não tomará um deles, nem matará o outro. – foi tudo que ele disse e logo viu o
brilho de desprezo correr no fundo dos olhos de Hermione quando a encarou
em seguida. Sabia que não marcava nenhum ponto com ela fazia tempo. Tudo
que Draco fazia parecia feri-la. Às vezes tinha a intenção de feri-la
simplesmente porque sabia que era isso que ele fizera a vida inteira e precisava
manter as coisas como sempre haviam sido, mas, em outras, ele estava sendo
apenas ele mesmo e quando recebia o olhar duro dela em seguida, podia ver o
quanto eram dois seres humanos completamente incompatíveis.
- Não. – ele respondeu e viu toda a vontade de ficar distante dele expressa
na postura de sua mulher. – Tomei uma decisão idiota essa manhã e acabei
esquecendo o compromisso.
- Hum. – Hermione soltou sem vontade. – Então é melhor se apressar.
Estamos em cima da hora. Vou estar te esperando na carruagem. – ela
avançou para deixar o local que estavam e tocou o braço de sua mãe
calmamente e significativamente quando passou por ela, como se estivesse
informando naquele único ato que esperava verdadeiramente que Narcisa
ficasse bem durante o tempo que ela estivesse fora.
Quando se viu sozinho com sua mãe, tentou entender o porquê ela não parava
de encará-lo com um olhar tão duro, severo e um tanto decepcionado.
- Você estava com outra, não estava? – Narcisa indagou quando ele pensou
em expressar seu descontentamento com a reação dela. Acabou por se ver
surpreso ao ouvir aquelas palavras. Uniu as sobrancelhas.
Seu sangue esquentou como sempre esquentava quando alguém fazia aquele
tipo de comentário. Draco conseguia até lidar com o fato, mas quando era sua
mãe que proferia aquelas palavras, ele tinha vontade de perder o limite porque
de todos naquele lugar, Narcisa era a única que sabia que ele realmente não
era.
- Sabe que eu não sou. – tentou não travar a mandíbula, nem vociferar.
- Então porque está agindo como se fosse? – ela parou de frente a um dos
móveis que expunha as bebidas que ele mantinha distribuídas pela casa. No
momento em que Draco viu sua mãe pegar um copo e enchê-lo, soube que
definitivamente ela estava à beira da loucura. Sua mãe nunca bebia. Ela não
gostava. Beber socialmente sempre fora uma tortura para Narcisa, ele sabia.
- Não entendo sua frustração, nem sua raiva pelo fato de eu ter estado
com uma mulher. A única pessoa que talvez tenha o direito de ter essa reação
seria Hermione e sabemos claramente que ela não se importa.
- Você sabe que ela se importa sim, Draco, mas não estou frustrada pelo
fato de ter estado com outra mulher. Eu não tenho esse direito. Estou frustrada
por vê-lo negligenciar o fato de que não quer estar com outras mulheres. – ela
virou o copo cheio de uma vez - Por que insiste nisso? – soltou o ar, cansada. -
Está agindo exatamente como seu pai! Você sempre foi quem mais o julgou por
cuidar do nome Malfoy e não da própria família. – tornou a encher o copo. –
Acaso você está cuidando da sua própria família, Draco? Eu sei que tem um
coração. Não consigo imaginar que é possível que seja indiferente ao ver que
sua mulher, grávida dos seus filhos, não tem um brilho de vida sequer nos
olhos. Ela está vivendo um dia após o outro, obrigatoriamente, assim como eu
vivi por anos, e eu sei que a única coisa que a tira da cama pela manhã são os
filhos que espera. – sua mãe tornou a virar outro copo de álcool. Draco odiava
vê-la tão frágil assim. Narcisa queria anestesiar alguma dor. Talvez se
Hermione continuasse ali, ela então não bebesse. Talvez tudo que sua mãe
precisasse era de companhia. Era incapaz de imaginar que Narcisa fosse aquela
mulher por trás da muralha que a escondia. - Eu sei que não é como seu pai,
então pare de tentar ser.
- Está certo. Eu não entendo. Não entendo porque não consigo. Vocês dois
parecem uma montanha russa inconstante. Posso não entender as várias faces
do ódio que sentem um pelo outro, mas entendo perfeitamente o afeto que
aprenderam a criar quando perderam a filha. Entendo porque eu vi. Não tente
apagar isso porque não será capaz. Vocês estão seguindo pelo mesmo caminho
que seu pai e eu seguimos. Sabe muito bem o resultado disso.
Ele tomou ar para usar qualquer justificativa que ainda não tinha construído,
mas a aparição de Tryn o livrou de qualquer palavra que estupidamente fosse
colocar para fora.
Draco encarou a elfa e quase estreitou os olhos. Maldita Hermione. Ela estava
fazendo o mesmo que ele fazia quando ela se atrasava. Soltou o ar sem
paciência.
- Sei o que estou fazendo. – disse a sua mãe e deu as costas para tomar
seu caminho.
Trocou de roupa o mais rápido possível, sem perder seu costumeiro nível
detalhista e apressou-se para a carruagem assim que ficara pronto, seguindo
um caminho que certamente não cruzaria com o de sua mãe.
- Minha mãe contou o que a fez deixar a casa do meu pai? – perguntou ele,
tentando afastar aquela caixa de pensamentos de sua cabeça.
Hermione não desviou o olhar e, por um segundo, Draco pensou que ela
estivesse distante demais em seus próprios pensamentos para não tê-lo
escutado.
- Não. – ela então respondeu. – Narcisa o contou? – aquela voz sem vida.
- Seu pai?
Deu de ombros.
- Deixou a cidade faz dois dias. Não falo com ele. – Lúcio ficara três dias
preso em casa depois que sua mãe havia o largado, depois disso, deixou
Brampton Fort. – Como a convenceu? – era uma pergunta que estava entalada
com Draco desde que sua mãe aparecera na porta de sua casa informando que
abandonara seu pai depois de anos.
- Mas ela falou com você. Ela quis dizer a você que abandonou meu pai.
- Talvez porque tocamos no assunto aquele dia, algumas horas mais cedo.
– Hermione deu de ombros. – Eu sei que você também vem a incentivando a
fazer o mesmo faz tempo. Não vou levar crédito pela decisão que Narcisa
tomou. Algo fez com que ela o deixasse, porque por mais que a opção de
deixá-lo sempre existisse para sua mãe, todos esses anos ela nunca a
escolheu.
Ele queria perguntar o que Hermione pensava que tivesse sido. Queria saber se
sua mulher pensava sobre aquilo e criava hipóteses tanto quanto ele. Mas
apenas ficou calado. Sabia que cruzar aquela linha os levaria de volta a um
passado não muito distante e ainda estava convencido de que não era
saudável. Manteve-se calado e dessa forma eles ficaram o restante do caminho.
**
- Até onde eu saiba, ele é quem colocou e trouxe metade dos nomes que
ocupavam uma vaga no círculo interno hoje. – outro comentou.
Draco apenas se manteve em silêncio. Certamente alguém ali estaria
esperando pelo momento em que pudesse soltar uma propaganda de
autopromoção para que tivesse a chance de chamar atenção o suficiente dele.
Quem sabe assim ele levasse o nome para seu pai.
Draco precisou conter a gargalhada que quis dar ao escutar aquelas poucas
palavras. Aquilo acontecia com tanta frequência quando era obrigado ir a
eventos com público mais comum.
- Draco cuida da guerra, não quem entra e sai do círculo interno, Jeremih.
– Isaac manifestou-se em bom humor.
- Tudo bem, Isaac. Aposto que ele só está tentando prestar honras a quem
deve. – disse Draco e Isaac soltou uma gargalhada. Ele teve que conter sua
própria novamente. – Estamos sendo bem recompensados, Jeremih. Pode ter
certeza. Não tem sido tão ruim ocupar os degraus do trono do mestre.
Isaac riu ainda mais alto.
Seus olhos quase que inconscientemente voltaram-se para Hermione outra vez
e, pela terceira vez, ele a encontrou trocando olhares com Theodoro Nott, que
sussurrava algo no ouvido da irmã com um sorriso torto nos lábios, mas os
olhos fixos em Hermione. Qualquer traço de descontração que havia em seu
rosto murchou automaticamente e Draco se limitou novamente apenas a
escutar o que os outros em sua mesa conversavam.
Não queria notar em Hermione, mas era involuntário. Quando menos percebia
já estava a observando. Queria analisá-la, entender a linguagem corporal dela,
saber se estava conseguindo aturar estar ali ou se ela estava prestes a entrar
em colapso. Sabia que sua mulher estava cheia de hormônios no corpo e isso a
deixava extremamente instável. Queria ficar de olho para entrar em ação caso
visse que ela estava prestes a largar toda aquela farsa. Durante a cerimônia de
união, ele tivera que segurar as mãos nervosas que ela mantinha sobre as
pernas duas vezes, lembrando-a de que não podia simplesmente levantar e ir
embora.
Draco sabia o porquê ela estava nervosa. Certamente estava se culpando por
esse casamento. Depois que Hermione expôs Nott pela corrupção em seu
departamento para a imprensa, eles encontraram coisas ainda mais sujas que
tinham o nome dos Nott envolvido. Dessa forma, a família se afundou cada vez
mais ao ponto de Voldemort estar cogitando na mudança de governador. Casar
a filha mais nova, que mal completara dezenove anos, com o filho mais novo
de um dos casais Carrow, que mesmo sendo mais novo tinha no mínimo o
dobro da idade da menina, fora uma solução até bem pensada. Os Carrow eram
uma peça fundamental dentro do círculo interno e estavam com Voldemort
desde o inicio, além de fazerem parte do círculo de famílias tradicionais do
mundo bruxo. O único problema é que eles eram cães tão fieis e leais ao
mestre quanto Bellatrix. Ele não cheirava nada agradável entre uma aliança dos
Nott com os Carrow. Os Nott sempre foram uma peça que ele julgara estar em
cima do muro e por muito tempo Draco mantivera Theodoro de seu lado,
sempre o bajulando, para que o homem mantivesse a família no status do
incerto e não dos cegamente fieis a Voldemort. Os Carrow certamente os
colocariam ao lado do Lorde das Trevas. Aquele casamento decretava que os
Nott eram definitivamente uma peça perdida dentro de seu jogo. Pelo menos
agora tinha certeza de que fizera a escolha certa em trazer de volta o casal
Bennett para Brampton Fort.
- Porque, como eu disse, ele não é idiota. O Lorde precisa de aceitação. Ele
sabe que você logo ganhará a guerra dele e então ele não vai poder se manter
recluso à Brampton Fort para sempre. Ele não vai querer parecer um maníaco
controlador de poder quando precisar finalmente mostrar sua cara. O Lorde
ainda precisa convencer quem ficou em cima do muro todo esse tempo do lado
de fora o apoiando na guerra porque era mais seguro. E claro que ele sabe que
o círculo interno tem seus benefícios. Como eu disse. O círculo interno o faz ter
oitenta braços ao invés de dois.
Isaac não era idiota, por mais que se fizesse de um muitas vezes. Draco
apreciou mais um gole de seu vinho e pensou um pouco mais sobre como iria
prosseguir aquilo.
- Você acha que pode mudar isso? – Isaac o encarou e Draco fez o mesmo.
– Acha que pode fazer com que o império do mestre se mantenha sem guerra?
- Ele não teria um império se eu fosse capaz e ele quer um império. Mas
isso não interessa. O que o mestre quer é claro. Ele quer ser absoluto. Quero
saber é se vocêacredita que um império fundado por guerra é obrigado a se
manter por guerra.
- Soa como a realidade que a história tem nos mostrado até hoje, não é
mesmo?
- Não quero saber da história, Isaac. Quero saber de você. Sim ou não.
Acredita ou não? – estava farto daquela imparcialidade.
Não culpou Isaac pelo nervosismo aparente. Era evidente que ele tinha que
tomar o posicionamento que Draco acreditava que ele vinha esperando para
tomar a tempos ali.
- Sim. – Bennett soltou finalmente. – E não acredito que uma guerra possa
ser invencível para sempre. Seria utopia.
Draco poderia sorrir se aquele não fosse um momento significativo. Era aquele
o posicionamento que estivera esperando.
- Então acredita que o mestre não pode ser invencível para sempre.
- Sim.
- Acredita que ele cairá algum dia?
- Sim.
- Não.
- Sim, gostaria.
- Ótimo, porque eu tenho o poder de te colocar lá. Não diretamente.
Primeiro porque não quero que as pessoas associem o fato de você ter chegado
lá por minha causa, segundo porque não dito quem entra e quem sai. Trabalho
com as circunstâncias. – como um bom Malfoy.
Isaac concordou com um aceno único de cabeça, e então, soltou um riso fraco,
acomodando-se mais no espaldar de sua cadeira.
- Você realmente é um maldito Malfoy.
Isaac riu e então eles ficaram em silêncio por mais um tempo ao qual Draco
julgou necessário. Bennett precisava digerir aquela conversa para entender que
agora ele não era apenas um simples Comensal de Voldemort servindo em
Brampton Fort.
- Acha mesmo que pode criar um espaço para mim no círculo interno?
- Não vou criar nenhum espaço. O espaço perfeito para você já existe.
- Os Nott fizeram uma aliança com os Carrow. Vai mexer com as duas
famílias se tirar Theodoro da posição dele.
- Não será tão diretamente assim, Isaac. Como disse, trabalho com as
circunstâncias. E, aliás, estou aqui no casamento deles, eu e minha mulher.
Somos, em parte, responsáveis pela aliança deles. Eles sabem separar os
negócios do pessoal.
- Theodoro não ficaria feliz.
O silêncio novamente.
Foi até Hermione, esta que não estava muito distante. O que o fez chegar bem
antes de Theodoro, o obrigando a desviar para um grupo de conhecidos no
meio do caminho. Eles dois trocaram rápidos olhares e Draco voltou sua
atenção para Astoria e Hermione, após passar seu recado silencioso de que
Theodoro não deveria ousar se aproximar.
Pediu os próximos minutos de sua esposa para Astoria e ela os concedeu num
tom bastante contente, deixando-os a sós. Draco fez questão de tocar as costas
de Hermione e estendeu sua mão bem a frente dela. Os olhos dourados de sua
mulher o encararam sem entender o convite dele.
- Não pode recusar uma dança ao seu marido na frente de tanta gente,
Hermione.
Ela olhou a pista de dança. Estava quase vazia se não fosse por um ou dois
casais que ocupavam o espaço dançando ao som de um jazz suave. Forçou um
sorriso de satisfação e felicidade e aceitou a oferta colocando sua mão sobre a
dele.
Draco conhecia todos os sorrisos falsos dela, porque ela só tinha um verdadeiro
e aquele sim, era único e glorioso. Era absolutamente inconfundível quando
Hermione abria um sorriso sincero.
Conduziu-a até o centro da pista. Não se importou com os olhares sobre eles.
Isso era algo bom. Colocou as mãos dela uma sobre cada ombro seu e
aproximou-se deslizando as suas pela cintura dela. Seu corpo inteiro respondeu
à proximidade e Draco sentiu como se quisesse derreter e evaporar ao mesmo
tempo. Seu sangue esquentou quando o corpo de Hermione colou no seu.
Céus, como ele sentia falta do corpo dela, do calor da pele dela contra a sua,
das formas dela, da maciez, dos sons dela. Ele a queria muito e era louco saber
que seu corpo era capaz de responder como se estivesse sem tocar qualquer
mulher há anos.
- Oh. – Hermione alisou sua barriga sobre o tecido fino do vestido. – Sentiu
isso?
- Sim. – a reação de Hermione foi quase que uma mensagem para ele.
Será que ele deveria demonstrar mais que se importava com os filhos? Sentia
que dava tanto de si para garantir o futuro deles, seria mesmo possível que ele
estava sendo exatamente como seu pai era? Será que ele estava se dedicando
mais ao nome Malfoy do que propriamente a sua família? Talvez Draco devesse
perguntar à Hermione sobre eles, sobre o desenvolvimento deles. Talvez
devesse tocar a barriga dela como tantas pessoas estranhas faziam. – Eu não
achava que conseguiria senti-los. Não agora. Na verdade, eles não costumam
se mexer assim.
- Você tem alguma ideia? – a leveza do tom dela o fez sentir-se realmente
próximo a ela depois de tanto tempo.
- Não. Na verdade, nunca pensei que realmente fosse me importar com
meus próprios filhos. Sempre soube que deveria trazer um herdeiro para
carregar meu sobrenome, mas nunca pensei que fosse me importar com ele da
forma como me importo agora. Nunca pensei que fosse ser algo tão
importante. – mais uma vez Draco estava os levando de volta ao que
costumavam ser não fazia muito tempo. Suspirou. – Queria que pudéssemos
ser uma família, Hermione. Mas eu não sei o que é uma família e nós, eu e
você, também jamais poderíamos ser uma.
Ela não disse nada de imediato, mas eventualmente acabou comentando algo:
Ah, sim. O ódio, os preconceitos, os fatos do passado. Aquilo seria uma tarefa
difícil. Talvez impossível. Mas eles tinham uma vida inteira juntos. Será que um
dia os dois seriam capazes de curar todo o ódio? Quem sabe se eles chegassem
a esse estágio um dia, ele poderia tê-la por inteiro, sem sentir o receio de que
em alguma hora uma lembrança fosse trazer aquela vontade de fazê-la sofrer,
aquela vontade de exigir vingança.
Suspirou.
- Talvez eu também ficasse apenas satisfeito se pudéssemos. – mas não
queria mexer nas lembranças que o fazia ter razões para odiá-la. Não era o
momento para trazer aqueles sentimentos à tona. Ela estava grávida, eles
estavam em público e Draco sabia que já podia ser bastante ignorante mesmo
sem pensar naquilo que traria seu ódio por ela.
Eles continuaram em silêncio e Draco avaliou o quanto havia sido arriscado ter
iniciado aquela conversa. Os dois não deveriam voltar jamais para aquele
estágio de estarem tão próximos, por mais que ele quisesse, por mais que ele
sentisse falta. Era arriscado devido ao número de problemas que carregavam e
ao receio que ele tinha de pisar naquele território sabendo que os dois eram
incompatíveis.
Percebeu o mais novo casal Carrow deixar a mesa de príncipe e princesa que
haviam toscamente preparado para os dois e para os familiares. Eles foram em
direção à pista de dança e Draco notou que Hermione percebera o mesmo que
ele quando seus músculos tencionaram novamente.
- Relaxe, Hermione. – disse mais uma vez. - Tente fingir que somos
somente eu e você.
- Por que eles nos convidaram? – a voz dela foi baixa, abafada e
vulnerável. Ela estava se permitindo ficar daquela maneira ali porque sentia
culpa e ele temia que as pessoas pudessem ver isso.
- Somos a única chance de garantir que eles estarão nos jornais amanhã. –
Draco respondeu.
- Os Carrow me olham como se a única coisa que eles fossem capaz de ver
é meu sangue trouxa.
- Está se tornando uma boa Malfoy. – ele sabia que ela se tornaria
exatamente como sua mãe. Hermione esconderia tudo que era atrás de sua
máscara Malfoy. Talvez Draco também fosse o mesmo. Só que era apenas
natural para ele. – Isso tem te feito mal.
Ela suspirou e tornou a acomodar a cabeça em seu ombro.
Por que Hermione estava sempre o julgando? Inferno! Ele sentia falta da
mulher que não o julgava quando eles apenas conversavam no escuro da noite.
- Você parece ter pouco conhecimento das coisas das quais me importo,
Hermione. Não faz nem uma semana que me condenava por passar cada
segundo livre do meu dia com uma mulher diferente, como se eu não tivesse
prioridades. – Soltou o ar frustrado no mesmo segundo que se calou,
arrependendo-se de suas palavras. Eles sempre entravam no campo da
discussão com uma facilidade tão grande. Isso era o que o preocupava. Isso
era o que o fazia ter certeza de que realmente deveriam se manter no nível da
indiferença. Naquele nível, eles eram incapazes de afetar um ao outro daquela
forma.
Mas era uma tortura. A respiração dela em seu pescoço, o calor do corpo dela
contra o seu, o cheiro dela... era tudo exatamente como quando costumavam
ficar antes de dormir, não fazia muito tempo. Eles conversavam antes. Sabiam
conversar sem discutir. Deus! Draco sentia falta. E por mais que ele estivesse
convencido de que deveriam se manter no nível da indiferença, não conseguia
deixar de sentir falta.
- Eu disse que vou usá-lo, não que vou fazê-lo ficar de acordo com uma
conspiração. – Draco já sabia que talvez ela estivesse o julgando naquele exato
momento, simplesmente porque sabia que todo esse jogo de interesses para
grifinórios era algo deplorável. Grifinórios e o patético espírito de lealdade que
tinham. Ao menos sabia que Hermione não abriria a boca para condená-lo
porque ela já tinha aprendido que não havia lugar para heróis em Brampton
Fort. Heróis eram engolidos ali. Ela sabia que precisava ser esperta e sorrateira.
Esse era o lema.
- Creio que devo continuar fingindo minha boa amizade com Astoria, então.
– jogou ela.
- Sim. – ele respondeu. – Os Bennett estão nos usando para influência, nós
vamos usá-los para nossos interesses. A troca está sendo bem feita. Eles ficam
satisfeitos e nós também.
Hermione suspirou
- Acaso existe alguma amizade que eu poderia ter aqui à parte dos
negócios?
Não. Era a resposta para a pergunta dela. Mas sua mulher já sabia a resposta e
Draco mais uma vez seria compreensivo:
- Sei que isso pode ser cruel para você, Hermione, mas isso aqui não é o
salão comunal da Grifinória. Sabe disso.
- Fico satisfeita que ao menos tenha consciência de que é cruel para mim.
– foi tudo que ela disse. Baixo, mas no tom certo para que ele pudesse escutar.
E ali estava Hermione novamente, prestes a abaixar a guarda. Em sua mente,
tentava entender a dela. Não tentava julgá-la, embora fosse difícil. Grifinórios
tinham um coração voraz, feroz e corajoso. Isso fazia com que tivessem uma
mente impulsiva e consequentemente estúpida. Talvez isso que a deixasse tão
confusa, tão perdida e tão infeliz, porque ali ela precisava ser esperta, sagaz e
sorrateira e isso matava o coração tão ativo e grifinório que tinha. Draco não
conseguia compreender como isso a afetava tanto. Ter um cérebro esperto e
em constante alerta era tão melhor do que um coração que a guiasse a
decisões estúpidas e impulsivas. Será que Hermione entendia isso? Ele sabia
que ela entendia. Sua esposa era boa em ser esperta e atenta a detalhes. Ela
conseguia ser uma boa sonserina. Na verdade, ela era todas as casas. Tinha o
coração de um grifinório, o cérebro de um corvinal, a educação de um Lufa-lufa
e o ego de um sonserino. Hermione era um pouco de cada casa. Mas ser
obrigada a ser somente uma sonserina ali, fazia-lhe mal. Draco não entendia.
Era possível que ela estivesse saturada de tentar administrar ser uma sonserina
sem matar seu coração grifinório. Talvez ela estivesse perdida em si mesma,
tentando entender aquilo que perdera e aquilo que ganhara de quem pensava
ser desde que se tornara uma Comensal. Quem sabe, Hermione mesma
estivesse se julgando duramente. Ele não sabia. Não saberia. Ela não diria a
ele. Talvez se eles conversassem mais vezes sem discutir, Draco poderia
alcançar novamente a mulher que costumava ser um livro aberto para ele não
fazia muito tempo.
Por que havia sido tão diferente com ela? Draco tinha se permitido tão
igualmente com outras mulheres, principalmente Astoria, em outros momentos
de sua vida e não havia sido como fora com Hermione. Por que logo com
Hermione? Existiam tantas mulheres no mundo! Por que logo ela?!
A música chegou ao fim, mas ele não a soltou. Ela também não fez menção de
se afastar. A sorte que tiveram foi que outra começou logo em seguida. Aquilo
estava se saindo melhor do que Draco esperava. Ficar ali com ela o distraía dos
indiscretos olhares da família Nott, principalmente os de Theodoro. Naquele
momento, ele não precisava se mostrar contente e feliz, não necessitava exibir
uma falsa educação sempre que alguém tentasse puxar assunto com o Malfoy
presente em um casamento qualquer, não tinha que se preocupar se estava ou
não mostrando seu perfeito relacionamento com Hermione como deveria, nem
precisava se atentar em desvendar se sua esposa estava ou não prestes a sair
correndo. Ali, Draco podia apenas aproveitar que a tinha tão próximo dele e
estava a tocando. Era assustador ver o quanto seu corpo ainda a queria, mas
apenas de todos aqueles pontos positivos, o mais assustador era perceber que
sentia mais falta de Hermione do que só do corpo dela. O silêncio e a distância
que ele podia enxergar entre suas almas era tão claro que o mostrava, mais
uma vez, o quanto ele sentia falta de sua mulher.
Mais uma vez, porque era cada vez mais nítido, conforme os dias se passavam
e eles se afundavam naquele estado de indiferença, o quanto ele a queria. Não
o corpo dela, mas ela em si. Sexo ele tinha. Qualquer mulher que Draco se
esforçasse em olhar por mais de três segundos certamente o daria sem hesitar.
Ele não precisava de sexo, mesmo que seu corpo respondesse à presença do de
sua esposa até quando ele não precisava. Ele a queria. Hermione. A voz dela, a
companhia dela, os pensamentos dela, a sinceridade, honestidade, a
inteligência, a cumplicidade. Draco queria tudo de volta. Sentia que podia ter
muito mais do pouco que tivera dela no curto tempo em que a relação deles
alcançara um estranho nível de harmonia. Quanto mais os dias se passavam,
mais ele percebia e era capaz de enxergar claramente que precisavam voltar
para aquele estado, porque ele a queria. Todas as vezes que era obrigado a
tocá-la, todas as vezes que estavam em público e precisavam agir como se
fossem o casal mais perfeito da humanidade, Draco percebia que a queria de
volta porque podia sentir a proximidade de seus corpos, mas ainda mais
evidente a distância de suas almas. A troca de sorrisos falsos que sumiriam
assim que ninguém estivesse olhando para eles, as mãos atadas que
deslizariam para longe uma da outra assim que saíssem de frente as câmeras,
os olhares vazios que sempre continuariam vazios, tudo como se fosse um
trabalho que deveriam cumprir, um negócio, um plano esquemático e bem
calculado. E todos acreditavam na performance deles. Simplesmente porque
aquele lugar já estava acostumado com falsidades. E assim ele a tinha por
perto, sempre, mas não provava dela. Isso só piorava sua vontade de tê-la.
Por que eles faziam tudo aquilo, afinal? Questionava-se de vez enquanto. Toda
aquela confusão de estarem afastados, como se fosse a melhor decisão que
haviam tomado, quando claramente eles estavam num estágio muito pior agora
do que quando se casaram. No inicio do casamento era puro ódio. Desejo
também, claro, mas apenas porque eram homem e mulher e a atração era
inevitável. Mas agora não era só ódio. O ódio ainda existia porque não era
muito difícil para Draco sentir a vontade de colocá-la na forca de Voldemort,
quando se lembrava das vezes em que tivera que se humilhar diante de todo o
círculo interno, no salão principal da Catedral, para explicar que havia
desperdiçado o tempo e o dinheiro de seu mestre numa missão onde perdera
metade de seus homens por causa de uma maldita Sangue-Ruim que
conseguira ser mais inteligente. Porém, a diferença é que mesmo que ainda
sentisse esse ódio e essa vontade de entregá-la nas mãos de Voldemort quando
se lembrava dessas coisas, agora Draco hesitava. Hesitava porque há tempos
essa Sangue-Ruim morava em sua casa, dormia em sua cama, carregava seus
filhos, usava seu sobrenome e fazia sua cabeça enlouquecer.
O que seria do futuro deles? Lutavam para salvar os filhos e acabar com
Voldemort pelas sombras. Se eles conseguissem isso, o que seria do mundo
quando o Lorde caísse? O que seria deles? Morariam juntos? Continuariam
aquela farsa de casal perfeito? Certamente não. Mas como poderiam seguir
suas vidas, estando eles ligados um ao outro. Não somente estariam casados
como estariam com dois filhos. Será que eles poderiam se separar? Divórcio era
uma palavra inexistente nos casamentos de sua família, mas nascidos-trouxas
também. Seu pai sempre havia o alertado de que nenhum Nascido-Trouxa
podia assinar um contrato de casamento com a pena dos Malfoy, mas na noite
de seu casamento, Hermione pegou a caneta e assinou seu nome naquele papel
sem nenhum problema. Ainda assim, Draco havia mantido o pensamento de
que, se ela era uma exceção na linhagem de toda a sua família, certamente o
casamento deles também poderia ser uma exceção no perfeito histórico de
todos os casais felizes para sempre dos Malfoy. Mas com crianças...
Deveria haver um jeito. Eles poderiam seguir vidas separadas dentro de uma
casa. Claro que poderiam. Só não queria que Hermione fosse como sua mãe.
Ela não seria. Ela não o amava. Mas então porque sua mulher havia se tornado
tão igualmente à Narcisa, ultimamente? Não falhava com o jantar, mantinha a
casa em ordem, cuidava da organização de suas roupas e inclusive as separava
para ele quando tinham eventos importantes a comparecer. Ela também ficava
sempre em silêncio durante o jantar e em todo o momento em que não era
obrigada a dizer algo. Até havia voltado a organizar a mesa como ele ordenava
que fosse organizada antes deles se casarem e ela mudar tudo.
Hermione precisava estar bem consigo mesma para que os dois pudessem viver
em paz debaixo do mesmo teto, mesmo que fossem viver vidas separadas.
Draco, talvez, pudesse intervir nisso sem acabar se aproximando como da
última vez. Talvez. Bem, quem sabe se ele tentasse entender o coração
grifinório dela, se ele fosse mais atento ao que importava para sua esposa, ao
invés de tentar mostrar que uma mente esperta e pretensiosa era muito melhor
do que um coração dominador e que somente assim Hermione poderia
sobreviver ao mundo em que viviam. Ele precisava cuidar disso, sempre
pensava à frente. Precisava fazer isso pela paz em sua casa e pelos seus filhos.
E... por ela?
- Sabemos que você não está trabalhando em nada disso. – o ato final de
York já havia sido discutido e Hermione enrolava a Comissão com a quebra da
segurança da Ordem porque, provavelmente, estava confusa se queria ou não
fazer aquilo. Ela havia desenvolvido o sistema de segurança da Ordem e sabia
exatamente como derrubá-lo. Aqueles estudos com a Comissão eram uma
grande besteira que Draco só não discutia porque sabia que ela ficaria naquele
irritante silêncio, concordaria com ele no final e faria coisas completamente
diferentes do acordado.
- Vai sair de Brampton Fort? – ela indagou aquilo porque Voldemort sempre
encontrava desculpas para detê-lo ali. Ou talvez fosse porque eles conversavam
tão pouco, que até mesmo informações importantes como aquela acabavam
não sendo trocadas. – Posso mesmo ir com você? O que quer que eu faça em
York? O grupo da Comissão que destinei para lá pode muito bem fazer o
trabalho sem mim.
Foi a vez de Draco ficar em silêncio. Ele não entendia mais nada do que
acontecia com sua mulher. Que infernos se passava na cabeça dela?
Ela não respondeu. Na verdade, ele pensou que ela não fosse responder por
que a pergunta ficou no ar por quase um minuto inteiro.
- Desaparecer... talvez... – ela sussurrou tão baixo que Draco mal pôde
escutar.
Desaparecer? Para onde? Aquilo não fazia sentido. Mas o tom que Hermione
usara o fazia querer abaixar o dele também. Fazia-o querer sussurrar em seu
ouvido o que havia de errado, mas talvez isso fosse só aquela constante
urgência em saber o que se passava na cabeça dela incomodando-o
novamente.
- Isso é impossível. – acabou por dizer. Draco não era não iria confortá-la.
Não era esse tipo de pessoa. Ela sabia. – De qualquer forma, você não tem
escolha. Irá comigo.
Hermione suspirou com muita calma, soltando o ar, como se esperasse que
pudesse ficar fazendo aquilo por muito mais tempo.
**
Draco havia a visto. Mais cedo. Antes de ficar pronta para sair de casa e ir
atender a mais um evento aquele dia.
Ela estava chorando e no momento em que essa informação bateu contra ele,
Hermione descobriu o rosto, apoiou-se novamente na penteadeira, olhou-se no
espelho, encheu o pulmão e ficou se encarando até que conseguisse colocar
novamente em sua expressão, a máscara da neutralidade.
Agora que Draco estava no sofá, ao lado da lareira do quarto com uma das
taças de um vinho que buscara na adega, ele repassava aquela cena em sua
cabeça, repetidas vezes. Sua mente não parava de bombardeá-lo com todas as
vezes que vira sua mãe naquele mesmo estado. Será que ele estava mesmo
sendo exatamente como seu pai? Por que Hermione e ele estavam andando por
um caminho tão parecido com o de seus pais, quando sabia que ela não o
amava como sua mãe amava Lúcio? Não fazia sentido. Não fazia o menor
sentido.
Deixou a taça de lado, saiu do quarto e avançou o corredor para a ala oposta
de onde estava. Bateu à porta do quarto que Hermione preparara para sua mãe
e por um minuto longo ele não teve nenhuma resposta, até que escutou a voz
fina e baixa de Narcisa responder que a porta estava aberta.
Draco entrou. Ela já estava pronta para dormir. A longa camisola, os cabelos
escovados e lisos até abaixo do ombro, o rosto limpo, mas vermelho. Seus
olhos brilhavam. Sua mãe tinha um livro na mão. Parecia um álbum. Ele se
aproximou e encostou-se no dossel da cama em que Narcisa dormia para poder
encará-la de frente. Vê-la naquele estado sempre o assustava. Ela era tão
forte. Draco se lembrava que ela era tão forte.
- O que significa aquilo? – Draco apontou para o malão fechado de sua mãe
parado ao lado da porta. – Hermione disse que você havia desfeito sua mala. –
e ele podia ver as gavetas abertas e vazias do armário próximo à janela.
Sua mãe abaixou os olhos para o álbum em seu colo. Draco pôde ver as
imagens se movendo da distância em que estava. Ela passou a página com
calma, mas sem prestar realmente atenção em sua ação.
- Aquele lugar não é mais sua casa, tire isso da sua cabeça.
- Então que lugar é minha casa, Draco? – ela ergueu os olhos para ele. Sua
mãe sofria. – Eu preciso pertencer há algum lugar.
- Eu sou sua casa, o que significa que essa é sua casa. Você não precisa
sair daqui.
- Sim, eu preciso. – Narcisa estava convicta. – Eu não quero ficar aqui. Me
faz mal ver você e Hermione se afundando na vida que seu pai e eu tivemos.
Vou para alguma hospedaria no centro amanhã. Talvez eu consiga um quarto
da Catedral. Bella entenderia se eu pedisse, mesmo que isso acabe tornando as
coisas públicas. Quem sabe eu precise que o mundo saiba que sempre fomos
uma farsa. Possivelmente assim eu consiga entender o peso do que realmente
fiz. Talvez eu consiga enxergar melhor a realidade.
Seu pai ficaria absolutamente furioso se sua mãe destruísse a imagem do nome
Malfoy daquela forma. Seria um grande escândalo. Em outros tempos, Draco
teria apoiado Narcisa com muita vontade, mas agora...
- Sim. Agora que vocês estão construindo a farsa de vocês. – ela suspirou e
fechou o álbum em seu colo. – Não vale à pena, Draco. Veja isso. – ergueu o
álbum. – Fotos lindas de uma família que nunca existiu. – largou o livro sobre a
mesa ao seu lado. – Eu me cansei dessa família. Estou farta. Não me importo
mais. Não me importo mais com o sobrenome Malfoy, com a droga do legado
que temos, com a infernal imagem a qual temos que manter.
Draco suspirou.
- Por que o deixou, mãe? Todos esses anos você o suportou com essa
justificativa de amor, de o coração quer o que quer, de não ter outra escolha e
agora, quando ninguém esperava, você simplesmente o deixa. O que
aconteceu?
- Não ainda?
- Não ainda. Entenda, Draco, eu sou a única pessoa que o seu pai confia.
Mesmo que eu tenha o deixado, não significa que deixei de amá-lo. Preciso de
tempo para destruir todos os laços que me unem a ele. Ainda não sei se sou
capaz de destruir a confiança que temos um no outro. Significa muito para
mim.
Ele tinha suas dúvidas de que sua mãe fosse abrir mão daquela confiança. Eles
entraram num silêncio que durou um longo minuto. Draco apenas tomou aquele
tempo para pensar sobre Narcisa ter finalmente deixado seu pai.
- Como ele reagiu? – perguntou. – Sei que ele estava em casa quando o
deixou.
Ela puxou o ar como se tivesse sido bombardeada com as cenas que ele
gostaria tanto de ter visto.
Draco suspirou.
- Deixou? – indagou como se não esperasse que Lúcio fosse ter aquela
reação. – Quando ele vai voltar?
- Não sei. Ele sempre abre pedidos...
- Mãe, você sabe que meu pai realmente não se importa. – não iria
consolar sua mãe. Draco não era esse tipo de pessoa. Qualquer palavra de
esperança, para o estado em que Narcisa estava, poderia colocá-la de pé
novamente de cara com o precipício do qual havia caído e a última coisa que
ele queria, era que sua mãe caísse novamente.
Sua mãe sorriu. O olhar ainda estava triste, mas era um sorriso verdadeiro. Ela
o segurou pelos ombros e o analisou calmamente. Havia certo orgulho no olhar
dela sempre que fazia isso. Como se estivesse abrindo os olhos finalmente para
enxergar que seu bebê era um homem agora.
- Por que veio até aqui, Draco? Sei que quer saber o que aconteceu, mas
sabia que eu não ia te contar. Não agora.
Ele soltou o ar e desviou o olhar. Enfiou as mãos nos bolsos da calça de seu
pijama.
- Eu não a entendo. – encarou sua mãe. – Ela não me ama como você ama
meu pai. Sei que Hermione estava cansada. Até pensei que talvez devesse ter
dito a ela que não precisava ir para aquele desfile patético só para estar
presente na mídia, mas eu sei que mesmo se eu tivesse dito que ela não
precisaria ir, ela iria.
- Ela está fazendo isso pelos filhos, Draco. Jamais se perdoaria se um deles
fosse tirado dela porque não compareceu a um jantar ou a um evento qualquer,
onde pudesse ter se esforçado para fazer com que o mundo amasse um pouco
mais sua família.
- Então por que ela estava chorando? – ele balançou a cabeça. – Quero
dizer... Não é como se Hermione estivesse se derramando em lágrimas, mas
ela... – Draco não sabia encontrar a palavra. – Ela... – soltou o ar. – Ela não
chegou a chorar o que parecia querer, na verdade. Mas não é isso que importa.
O que importa é por que! Por quê? Ela está tão... tão... – moveu-se impaciente.
– Inferno! Por que é tão difícil falar dela?
- Por que não pergunta a ela o que está havendo, se é o “por que” que o
incomoda tanto?
- Não vou perguntar a ela! Nós não conversamos. Não somos amigos. Não
temos nada em incomum além de incompatibilidade.
Abriu a boca para continuar a rebatê-la, mas calou-se quando percebeu que
não tinha nenhuma resposta. Pensou e logo soltou o ar.
- Quer saber. Você está certa. Por que eu me importaria? – havia sido um
erro ir até ali. – Sei que quer ficar sozinha. – aproximou-se e lhe estalou um
rápido beijo na testa. – Boa noite e não ouse sair da minha casa. Vai nos
colocar num grande problema se fizer isso. Não ao meu pai, porém a mim e
Hermione
Tinha o sono leve e acabou por escutar quando Hermione chegou. Ele esperou
que ela fosse fazer muito mais barulho e acender muito mais luzes, mas ou ele
estava cansado o suficiente para cair novamente no mundo dos sonhos ou ela
realmente fizera muito pouco barulho.
- Vou tirar meu vestido, me deixe fechar os olhos só por alguns minutos. –
sussurrou tão baixo, ainda dormindo, que ele quase não foi capaz de identificar
as palavras dela.
Hermione não tinha sequer noção de que a noite havia passado e já era dia.
Draco não teve coragem de chamá-la novamente. Ela já negligenciava tanto
seus descansos extras para dar conta de atender a todos os eventos que tinha
que atender e ainda ser a cabeça da Comissão que ele não poderia ser tão
egoísta com a mulher que gerava seus filhos.
Para sua surpresa, Voldemort apareceu algumas horas depois. Aquilo tencionou
todos os seus músculos. O Lorde das Trevas nunca ia ao departamento de
ninguém. Na verdade, ele nunca saía de sua torre ao menos que fosse
extremamente necessário.
- Sua visita faz com que eu me sinta especial. – Draco assinou o último
pergaminho que precisava assim que Voldemort entrou e levantou-se para
mostrar seu respeito.
- Por que não havíamos acordado em nada com relação a sair matando
meus filhos. – lutou para não cruzar os braços. Seria algo que o Lorde tomaria
como uma afronta. - Entenda, sei que quer fazer Hermione sofrer. Concordo,
foi para isso que eu a capturei. Mas você a casou comigo e me ordenou que
fizesse um filho com ela para que pudesse ter um herdeiro. Eu não me importo
que tenha meus filhos, mas me importo que os mate. São meus também, não
somente dela. Encontre outras formas de fazê-la sofrer. Sei que sabe
recompensar aqueles que o servem bem e não creio que matar meus filhos seja
uma boa forma de recompensar todo o trabalho que faço e que ainda farei em
seu nome. Sei que posso ser arrogante e um tanto rebelde, mas todos esses
anos eu provei quem eu verdadeiramente sirvo.
- Você sabe como usar as palavras, Draco. Isso é o que me preocupa. – ele
suspirou. – De qualquer forma, é fraco por deixar que algo como filhos tenha
tanta importância assim para você. Não pensei que fosse sentimental a esse
ponto. Sempre se provou ser ambicioso.
Não podia mais esperar. Abriu as cortinas, cruzou os braços de frente para a
cama e a chamou usando um tom firme. Ela respondeu imediatamente, mas
ainda preguiçosamente rolando sobre as cobertas. Fez uma careta e gemeu
tampando os olhos com o braço, assim que tentou abri-los.
- O quê!? – o tom dela foi surpreso. Hermione esfregou os olhos, o que não
ajudou muito com a maquiagem já borrada e sentou-se passando as mãos pelo
cabelo, praguejando por seu estado. – Ainda vamos para York?
- Sim. Precisamos sair em meia hora. Esteja pronta. Peça para Tryn ajudá-
la. Estarei esperando do lado de fora. – deu as costas.
Ele a encarou. Hermione estava se colocando de pé. Usava apenas suas peças
íntimas e ele não a via daquela forma fazia tempo. Moravam na mesma casa,
mas se evitavam. A barriga dela era muito mais evidente daquela forma.
- Eu tentei.
Draco sentiu seu sangue esquentar. Maldita mulher aquela. Veelas nunca
haviam sido confiáveis, ele sabia disso. Não deveria correr riscos como aquele.
Não era mais um homem solteiro.
- Hermione! – a chamou antes que ela sumisse pelo arco do lavatório. Ela
parou e o encarou. – Eu realmente sinto muito. Aquela Veela foi uma decisão
estúpida. – Draco nunca se desculpava e sempre que se aproximava daquele
campo sentia-se humilhado, mas não dessa vez.
Ela conseguiu captar a exclusividade daquele momento e ficou em silêncio por
alguns segundos, antes de desviar o olhar. Soltou o ar, fechou os olhos e
passou as mãos pelo cabelo.
**
Draco a colocou para revistar todo o perímetro da cidade bruxa de York durante
a tarde, enquanto ele revisava os turnos de seus homens e a segurança da
área que já haviam retomado. Ele achou que sua mulher fosse preferir estar ao
ar livre, mesmo que fosse mais cansativo. Porém, o olhar que recebera assim
que a ordenara para sua tarefa, mostrou que havia sido um erro pensar que
Hermione gostaria de passear pela cidade onde morrera e foram presos tantos
de seus antigos companheiros.
Ela não queria ter estado ali. Não queria ter sido obrigada a ir. Draco não
entendia. Quando ela voltou para o acampamento, a hospedaria que haviam
tomado no início das ações em York, ele pôde ver que Hermione estava
completamente infeliz. Não por nenhuma postura ou expressão, mas pelo olhar
frio e pelo silêncio que sempre a acompanhava. Ele não entendia. Por que ela
preferia estar na prisão que era Brampton Fort?
- Espero que não esteja cansada. – ele decidiu dizer, enquanto ela
mastigava uma de suas garfadas.
Hermione ergueu os olhos e o encarou. Pareceu analisar o que ele havia dito
com neutralidade, embora seus olhos fossem aquela constante frieza.
Hermione parou com o garfo a meio caminho da boca. Encarou a moeda ao seu
lado. Ele já sabia que ela tinha conhecimento sobre que moeda era aquela. Era
uma das moedas da Liga dos Alquimistas.
- Sim, mas não as encontrei. Acabei tento coisas mais importantes para me
preocupar.
- Eu as escondi.
- Harry tem uma delas. Dumbledore deu uma a ele. – Draco sabia que sua
mulher evitava o máximo de discussão possível entre eles, óbvio que ela
cederia.
- Dumbledore?
- Dumbledore.
- Não. Narcisa disse que Dumbledore tinha mais de uma. Não sou idiota.
Apenas liguei os pontos.
- Sim.
- Sei disso, mas... – ele tirou o relógio de seu bolso para analisá-lo. –
Vamos nos atrasar. Precisamos ir.
- Canadá.
- E estaremos.
- Quanto tempo isso vai durar? Seus líderes te chamam toda hora e
nenhum jantar dura mais de...
- Hermione, eu tenho feito isso por muito tempo. – foi tudo que Draco se
prestou a dizer. – Pegue seu casaco. Um longo e grosso, de preferência. Não
quero que notem sua barriga e ainda está frio por lá.
Ela não se moveu. Ele podia ver pelo olhar dela que não havia nem mesmo um
pingo de curiosidade. Hermione não queria ir. Viu-a hesitar e querer protestar
em defesa de sua vontade, duas ou três vezes, quando sua mulher abriu e
fechou a boca, mas acabou por permanecer em silêncio. Fechou os olhos,
soltou o ar, ajeitou os cabelos e deu as costas para buscar o casaco pendurado
atrás da cadeira.
- Não.
Draco a observou. Ela realmente aparentava estar cansada. Talvez tudo que
precisasse era de um dia inteiro só para si. Quem sabe uma pausa daquela
agitação pudesse suprir toda a exaustão acumulada a qual Hermione era
obrigada a ignorar. Mas não era isso que realmente o incomodava.
- Por que está fazendo isso, Hermione? – acabou por finalmente perguntar.
- Você não questiona mais nada. Finge não se importar com nada.
- Sei que se importa, sim. Se há algo que aprendi sobre você todo esse
tempo que estivemos juntos é que tem a tendência de se importar demais, até
mesmo com coisas desnecessárias.
- Talvez eu finalmente tenha percebido que são desnecessárias. – ela
retrucou, mas Draco ainda não acreditou nas palavras dela. Havia a visto
contendo seu choro quando estava sozinha. Claramente sua mulher se
importava. Hermione suspirou e focou-se em algo que não fosse ele. – Eu me
lembro de ter dito a você que não conseguiria ser forte por muito tempo. Estou
apenas tentando me livrar daquilo que me faz ter que ser forte.
- Fingir que não se importa não vai te tornar insensível, Hermione, vai
apenas te ensinar a um fingimento cada vez melhor. – ele sabia disso melhor
do que ninguém.
- Ao menos serei uma autentica Malfoy. – ela o encarou - Não é isso que
você e Narcisa também fazem? Você me parece insensível o suficiente, se eu
chegar a ser metade do que é, ficarei satisfeita. – e calou-se.
Draco continuou a encará-la, esperando que ela fosse retirar aquelas palavras,
mas não retirou. Aquela era Hermione se entregando por completo ao mundo
ao qual era obrigada a viver agora. Todo esse tempo ele a vira tentar se
encaixar de sua maneira única, sem perder a Hermione firme e determinada
sempre a mostrar um ponto de vista diferente, enquanto tentava se encontrar
naquele novo mundo. Mas ali sua esposa tinha acabado de dizer que já havia se
entregado e que percebera ser uma perda de tempo toda a luta que havia
levantado entre quem era e quem deveria ser.
Ele decidiu-se por não tocar mais naquela área. Hermione era quem se
responsabilizaria pelas próprias decisões, embora ele lamentasse que ela
estivesse se entregando. Draco gostava da Hermione questionadora, de forte
opinião, sempre pronta para confrontá-lo. Ali ela estava se tornando sua mãe.
A dedicada esposa Malfoy que se calava quando o marido ordenava, que
organizava a mesa com tudo ao alcance dele, que cuidava de suas roupas e
ajudava a manter os laços de interesses familiares comparecendo sempre a
eventos e festividades na companhia das esposas dos amigos de seu marido.
Ele não se sentia nem minimamente interessado por aquela vida.
Pegou a moeda que havia deixado sobre a mesa, analisou o desenho do brasão
num dos lados do artefato. O portal estava se abrindo, ele notava pelo
desaparecimento do relevo. Encarou Hermione e estendeu a mão para ela.
Conseguia vê-la não querer se importar, mas o ar do receio a cercava e isso ela
não era capaz de esconder. Mas apesar disso, sua mulher estendeu a mão e
uniu a sua na dele. Novamente Draco sentiu o toque físico dela, pele com pele
e, ainda assim, a distância de suas almas era gritante.
Quando o chão pressionou contra seus pés novamente, seu primeiro instinto foi
puxar o ar e encontrar seu equilíbrio, o que não foi difícil, visto o costume que
tinha em usar chaves de portal. Hermione ainda cambaleou enquanto buscava
por ar e somente quando ela conseguiu se estabilizar e perceber que havia
chegado ao destino foi que soltou a mão dele, como se estivesse esperando por
esse momento desde quando ataram suas mãos.
- Que diabos nós estamos fazendo aqui? – a pergunta pareceu soar mais
para ela do que para ele quando cruzaram a estrada.
- Me leve de volta agora, Draco! – o tom dela foi severo e seus passos
continuavam a ser firmes.
- O quê?! – aquilo era a última coisa que ele pensava que pudesse escutar
dela naquela situação.
- Acredite, Harry, você não quer me ver. – a voz dela estava fraca e
aquelas palavras foram o suficiente para que Draco entendesse a reação de sua
mulher. Hermione não queria que Potter conhecesse em quem ela havia se
transformado. Não queria que ele soubesse que ela já havia pensado em
entregá-lo a Voldemort pelo egoísmo de querer seus filhos. Então Draco
finalmente enxergou que talvez tivesse cometido um terrível erro ao trazê-la
até ali.
E provavelmente aquilo tivesse sido suficiente para Potter, pois ele enterrou a
mão pela nuca de Hermione até alcançar seus cabelos, e então a beijou. Os
músculos dela abandonaram toda a tensão de antes em segundos, e sem
conter, ela ergueu os braços para tocar os cabelos negros dele, fazendo com
que Draco enxergasse o anel de sua família gritar no anelar dela.
Imediatamente, Draco sentiu o gosto do deserto em sua boca. Não havia nem
mesmo saliva para que ele pudesse engolir. Foi quando finalmente entendeu o
que Theodoro uma vez havia lhe dito. Que por mais que Hermione fosse dele,
jamais realmente a teria.
Alguém já a tinha, e estava longe de ser ele.
33. Capítulo 33
Draco Malfoy
Esperava uma resposta de Harry Potter após ter feito sua delicada proposta
sentados naquela mesa desconfortável e pequena naquele café de beira de
estrada decadente e vazio. O homem, por sua vez, mantinha-se em silêncio o
encarando com aquela tensão no olhar cheia de dúvidas. Potter havia desistido
de dar total atenção a Hermione quando ela começara a ignorá-lo
completamente.
- Mais café? – perguntou o único atendente aproximando-se da mesa em
que estavam carregando um recipiente com café.
O silêncio.
Ela engoliu a saliva como se fosse uma navalha descendo por sua garganta.
Não queria fazer sua voz soar, Draco sabia porque mesmo não a olhando e
mesmo não a tocando, conseguia sentir a tensão dos músculos dela ao seu
lado.
Ela havia empurrado Potter não muito tempo depois que havia sido beijada
exclamando que aquilo era errado, que não podia fazer aquilo e que sentia
muito. Potter entrou rapidamente num estado de sofrimento patético exigindo
por justificativas que Hermione não deu. Foi quando Draco se sentiu idiota por
não estar reagindo para ter o controle daquela situação.
Sabia que tentar gritar por atenção seria inútil e sabia que a única pessoa
capaz de colocar Potter para escutá-lo, seria Hermione. Portanto precisou
pronunciar o nome dela apenas uma vez para que ela, mesmo sem trocar
qualquer olhar com ele, entendesse que precisava controlar a situação para ele.
Ela já parecia estar a beira de um colapso ao ser bombardeada pelas perguntas
de Potter, mas mesmo assim, respirou fundo fechando os olhos e depois
encarou o homem de uma maneira que o fez calar a boca logo após alguns
segundos. Séria e calada.
Hermione apenas disse que deveriam entrar e serem rápidos. Ali Draco viu que
ela ainda não entendia o propósito de ter sido arrastada até ali, mas mesmo
assim escolhia atendê-lo. Ele seguiu de volta para o café não querendo encarar
a troca de olhares de Potter e Hermione. Ela logo o seguiu e Potter foi obrigado
a fazer o mesmo tentando novamente soltar duas dúvidas para Hermione, que
se manteve calada, fazendo-o se calar muito antes de entrarem novamente no
recinto.
Foi quando Draco apressou-se para chamar a atenção para si iniciando logo a
exposição de sua proposta. Não demorou para ter a atenção de Potter como
esperava. Agora que havia acabado tudo que precisava colocar sobre a mesa,
esperava por uma reação do Homem, mas ele mantinha-se calado.
- Cada um por si, Potter. Eu não me importo com o restante deles. Nenhum
deles pode matar Voldemort. Você é quem carrega a profecia.
- Quer que eu abandone a Ordem e me salve sozinho?
- Preciso apenas que se salve, pode levar quem quiser com você contanto
que não deixe ninguém te capturar nem se arrisque estupidamente. A Ordem
precisa cair ou ao menos aparentar cair. Só assim posso trabalhar melhor em
enfraquecer o sistema de Voldemort com o fim da guerra e a queda da Ordem
decretaria o fim da guerra.
- Está dizendo que está do nosso lado agora? – ele franziu o cenho.
- Não estou do seu lado, Potter. Estou do meu lado. Até onde eu
saiba eu quem estou usando você.
Ele pulou os olhos novamente dele para Hermione um tanto quanto indignado
com a pouca reação dela.
- Em que mundo pesou que eu iria concordar com isso?
Ele engoliu a saliva como se a ideia de ser morto por Voldemort fosse um
veneno amargo em sua garganta.
- Por que? Eu sei que você é forte! Por que não está lutando contra ele?
Hermione puxou o ar calmamente embora o modo como usava o dedo para
esfregar o lugar vazio em que o anel da família Malfoy estivera antes mostrasse
o quanto aquilo estava sendo difícil para ela.
- Draco não é um inimigo, Harry. O modo como ele tem lutado contra
Voldemort é mais eficiente do que todas as batalhas que travamos com a
Ordem. – ela disse, mas não encarou Harry.
Ela puxou o ar mais uma vez e ergueu finalmente os olhos para ele.
- Não. – sua voz saiu pacífica e suave. - Ele não me obrigou a dizer nada,
acredite.
- Neville trabalhou com Gina em cima das amostras que mandou o máximo
que pode. Eles conseguiram entender como funciona a ligação da marca negra
no sangue com Voldemort. Conseguiram enfraquecer um pouco dessa ponte.
Alguns dos Comensais que capturamos conseguiram aguentar um bom tempo
vivos por causa da poção que Neville desenvolveu para enfraquecer a ponte da
ligação, mas nenhum deles estava disposto a lutar contra a morte. De qualquer
forma, Neville e Gina ainda estão trabalhando nisso com os sangues dos
Comensais que capturamos porque aparentemente seu sangue é diferente,
segundo Neville.
- Sim. Isso é normal. Quando eu estava estudando isso tinha que tirar meu
próprio sangue vezes seguidas para repor o estoque.
- Não. Neville disse que isso não é normal. Isso só acontece com o seu
sangue. O sangue de qualquer outro comensal que capturamos não absorve o
veneno da Marca Negra como o seu. Enquanto formos capaz de conservá-lo o
veneno estará lá. Diferente do seu. – explicou ele. - Gina sugeriu que talvez
você seja capaz de desfazer a ponte de ligação sozinha, por si mesma,
diferente dos outros comensais.
- Precisa sumir com todos esses estudos. Qualquer resquício deixado irá
me obrigar a reportar a Voldemort quando minha esquipe fizer o limpa na sede
da Ordem e se ele souber que vocês sequer pensaram na ideia de trabalhar em
cima da Marca Negra, ele se certificará de mudar a magia. Isso sim faria o
trabalho de vocês ser perdido. – Draco disse.
Potter ficou num silencio incerto pulando seus olhos dele para Hermione
enquanto pensava. Draco conseguia enxergar o esforço que Hermione fazia
para não se mexer desconfortavelmente em sua cadeira.
Potter se mostrava claramente confuso, mas ainda parecia pronto para resistir
ao beco ao qual estava sendo encurralado.
- Tenho sido obrigada a viver uma vida muito diferente, Harry. – ela fez
sua voz soar calma e longe da dor que seus olhos mostravam. – Você não
entenderia.
- Me faça entender!
- Não temos tempo para isso e existem coisas que você não gostaria de
saber, acredite. – estava acostumado a ver Hermione exibir toda a sua
vulnerabilidade e mesmo que estivesse aprendendo a controlar aquele seu lado,
ainda era bastante frequente para Draco, mas vê-la daquela forma ali o
incomodava porque esperava uma reação muito diferente.
O homem a sua frente pareceu hesitante, mas ele parecia ceder ao confronto
que havia se visto imergir. Aquilo era mais do que o suficiente para Draco.
- E o véu? – perguntou ele e Draco soube que naquele momento que Potter
já comprara a ideia.
O silencio se instalou mais uma vez enquanto Potter ficava em seu mundo de
incertezas.
- Pode parecer que estou te usando, Potter, mas na verdade isso é uma
troca mutua de interesses. – Draco sabia usar seu profissionalismo cruamente.
– Eu uso você e você me usa. Confio em você para fazer o que estou pedindo
que faça e você confia em mim para fazer o que disse que pretendo fazer.
Básico.
- Harry. – ela soltou antes que ele fosse embora. Ele tornou a encará-la. –
Sinto sua falta. Realmente sinto.
Ele lançou um olhar tão triste e frustrado a ela que Draco teve certeza que
devastaria Hermione ainda mais.
O silêncio caiu sobre eles e Draco se viu imediatamente sem saber como reagir
agora que estava sozinho com Hermione novamente. Havia sido um erro leva-
la até ali, mesmo que ela tivesse feito um importante papel na decisão de
Potter em colaborar.
- Nós terminamos por aqui. – foi tudo o que disse e se levantou.
Foi apenas um segundo para estarem de volta ao quarto de onde haviam saído
na sede do acampamento de York. Hermione mostrou sua reação logo quando
se ambientou, puxando de volta o braço que Draco ainda segurava. Desprezo.
Foi tudo que ele sentiu da parte dela.
Observou-a quando ela deu as costas e quase vagou perdida até o pedestal ao
lado da porta, onde tirou o casaco e pendurou. Ela respirava fundo e ele
conseguia ver claramente os dedos trêmulos em sua mão. Draco esperava pelo
momento que ela fosse se virar e externar toda sua raiva nele, mas não
conseguia prever absolutamente nada, porque se colocasse em jogo a forma
como ela vinha e comportando nos últimos dias, teria que aguentar o silencio
dela e o silencio dela era pior do que mil gritos enfurecidos. Ao menos era o
que ele pensava, até vê-la apoiar uma mão na parede e cobrir o rosto com a
outra para desmoronar lentamente em um poço de soluços.
Draco havia a visto realmente chorar uma vez. Fora uma das cenas mais
dolorosas que ele presenciara, não só por causa da dor dela, mas porque
perdera uma filha. Ver Hermione naquele estado e naquele momento, expondo
aquela fraqueza e aquela derrota, mostrava que ele definitivamente cometera
um dos piores erros em sua relação com Hermione ao levá-la até Potter.
- Que outra maldita reação acha que eu teria? – ela vociferou apertando o
punho e quando ergueu os olhos para ele, Draco pode visualizar por completo
todo o ódio que ela guardava por ele. – Eu juro que não estou fazendo nada
para te prejudicar. Juro que estou tentando ser a menor das pedras no seu
caminho. Por que, ainda assim, você sente a necessidade de me fazer tão mal?
Por que infernos você gosta de ser tão cruel?
- Minha intenção não era ser cruel, Hermione. Eu apenas...
- Apenas? – ela não deu espaço para que ele terminasse. Ela estava furiosa
e ao mesmo tempo imensamente infeliz. – Me fez encarar o homem que eu
cresci amando sabendo que não hesitaria em colocá-lo nas mãos de Voldemort
se a vida dos meus filhos ficassem em jogo! Eu pensei... – ela soluçou entre
suas lágrimas - ...que fosse capaz de entender o que isso significava para mim!
– ele nunca havia visto ninguém chorar daquela forma. - Pensei que depois de
todo esse tempo que fomos obrigados a ser a companhia um do outro, tivesse
aprendido algo sobre mim! – ela tentou estabilizar-se ainda se apoiando na
parede. Tudo no rosto dela estava vermelho. Seus olhos, seu nariz, as maças
de seu rosto, os lábios molhados. – As pessoas que vão atacar e capturar são
minha família, Draco! Eu vou ser a responsável por tudo de ruim que acontecer
a eles quando revelar ao seu maldito exército como passar a segurança da
Ordem! Acaso não sabe o que culpa significa? Ao menos foi divertido o
suficiente para você me ver esconder toda a vergonha e a culpa que senti
enquanto encarava Harry bem a minha frente? – ela cobriu o rosto e desabou
em mais dos seus soluços.
- Não era minha intenção, Hermione. – era tudo que ele conseguia dizer.
Draco ficou estático onde estava escutando o som abafado da ainda intensa
vulnerabilidade que Hermione estava expondo. Sua mente foi a loucura numa
velocidade assustadora e o sangue em suas veias gelou quanto começou a ser
bombardeado pela realização de que sua relação com Hermione estava
definitivamente fora de alcance e muito distante da reparação. E o que mais o
confrontava naquele momento era o seu desejo de que nada daquilo nunca
tivesse acontecido.
Passara boa parte de sua adolescência irritando-a sempre que via a
oportunidade e assim que a guerra se iniciou, a figura implicante de Hermione
se transformara numa inimiga. Ele sabia que passara boa parte de sua vida
sendo algo ruim para ela e isso nunca havia o incomodado antes, até agora. E
justificar que isso fazia sentido porque ela era parte de sua família e a futura
mãe de seus filhos já não cumpria mais o dever de encobrir o real valor que ele
havia encontrado no ser humano que ela era. E por mais que ele reconhecesse
esse valor, não queria dar crédito a ele. Na verdade, queria, mas sabia que se
desse crédito a ele, colocaria seu coração ali e ele nunca, em sua vida inteira,
havia tido a sensação de que estava com o coração nas mãos e tinha o poder
de colocá-lo no lugar que quisesse.
Por que estava sendo tão egoísta com seu próprio coração? Odiava Hermione
tanto assim? Passou os dedos pelo cabelo enquanto soltava o ar frustrado por
não ter sido capaz de prever a forma como ela se sentiria ao ver Harry Potter e
como isso afetaria o relacionamento deles.
O que diabos ele deveria fazer? Não podia ficar confinado ao espaço daquele
quarto com ela. Se pelo menos estivessem em casa ele poderia seguir para
outro lugar totalmente oposto. Sentou-se na cama completamente derrotado e
soltou o ar cobrindo o rosto. Deveria esperar? Será que esperar seria uma boa
opção? Então esperou. Esperou até que não conseguiu mais escutar a
respiração penosa de Hermione do outro lado da porta que os separava. Vez ou
outra ainda podia escurar uma arfada ou um suspiro, mas não a condenava
nem a julgava por ter desabado. Sabia que ela chorava não apenas pelo que
havia passado hoje. Deveria estar segurando todas aquelas lágrimas já fazia
um bom tempo.
Pareciam ter passado horas quando ele escutou o som da água começar a
encher a banheira. Não sabia o que estava se passando com Hermione, mas
escutar algo novamente vindo do banheiro o fazia se sentir um tanto aliviado.
Continuou a esperar e isso lhe deu tempo o suficiente para chegar a conclusão
de que Hermione não sairia dali tão cedo. Aquele era o único espaço onde ela
poderia se manter separada dele e isso o fez perceber que a última coisa que
ela gostaria de ver, era ele. Errara o suficiente com ela para se sentir na
necessidade de pelo menos fazer algo certo dessa vez. Mesmo que ainda
estivesse em dúvida do que realmente seria certo a fazer.
- Hermione? – ela não respondeu, mas ele foi capaz de escutar o som da
água quieta se mover na banheira. – Sei que precisa do seu espaço agora.
Preciso do meu também. Apenas esteja pronta pela manhã. Pode fazer isso? –
esperou pela resposta. Ela não veio.
Suspirou, afastou-se e deixou o quarto. Ainda não sabia se aquilo era ou não o
certo a fazer. Talvez ele devesse tentar encontrar uma forma de concertar a
situação em que havia enfiado o relacionamento deles agora ali mesmo, mas
sabia que poderia colocar tudo ainda mais em risco no estado emocional que
Hermione se encontrava. Se estava fazendo o certo ou não, não importava.
Hermione queria e precisava ficar longe dele. Ele ao menos devia isso a ela.
**
Hermione estava pronta e sentada a mesa do café da manhã posta quando ele
chegou no quarto. O sol da manhã que vinha das cortinas abertas da varanda e
caia sobre a mesa colorida e bem arrumada e sobre ela. Ficou imediatamente
grato por vê-la sob a luz novamente e não se escondendo dela. Talvez libertar
as lágrimas que ela havia prendido por tanto tempo tivesse feito algum bem.
Mas assim que recebeu o olhar rancoroso dela em resposta a sua chegada,
como se toda a pouca beleza da pacífica refeição que estava tendo tivesse sido
jogada no lixo, lembrou-se de que não havia absolutamente nada pelo que ele
pudesse ficar grato ali.
Por alguns segundos em que trocaram olhares ele não soube o que fazer. Não
soube se deveria dizer algo, se deveria perguntar algo, se deveria reagir de
alguma forma. Claramente ele via que ela não estava nem um pouco disposta a
ter que aturar qualquer tipo de interação, então ele apenas decidiu-se em fazer
o que precisava fazer.
Tomou seu banho o mais rápido que pode e assim que voltou para o quarto, ela
ainda estava na mesa entretida com o Profeta Diário numa mão e a xícara de
chá na outra. Quando ele tomou seu lugar a mesa notou que o anelar de sua
mão ainda estava vazio onde deveria estar o anel de sua família. Pensou em
perguntar se ela havia perdido o anel, ela diria que não já que ele sabia que ela
não o perdera. Mandaria que ela o colocasse de volta e talvez aquela atitude
piorasse ainda mais o estado em que estavam.
Ficou em silêncio.
Tentou se concentrar no que deveria fazer até o fim do dia em Brampton Fort e
logo se viu na necessidade de perguntar quais eram os planos de Hermione
para o dia, assim poderiam combinar suas agendas, mas o receio de abrir a
boca o manteve calado durante seu desjejum.
Antes que ele pudesse ter a chance de pensar em uma saída para o estranho e
incomodo silêncio que se estendia entre eles, ela fechou o jornal, devolveu-o a
mesa, levantou-se e saiu do quarto sem dizer uma palavra sequer. Soltou o ar
sentindo-se um fracasso com ela mais uma vez. Puxou o jornal. Sentia falta
doProfeta Diário com frequência em Brampton Fort por mais que as notícias
importantes sempre fossem colocadas no Diário do Imperador, por mais local
que o jornal fosse.
“Ministro da Magia pública novas normas de segurança aprovadas pelo Lorde
das Trevas.” Era a notícia da primeira Página. Draco sabia que no Diário do
Imperador, aquela notícia estaria na terceira ou na quarta página, enquanto
qualquer coisa sobre algum evento local ocuparia a primeira. Tratou de pular
logo para grande citação de seu pai marcada logo ao meio.
Draco sequer precisou continuar sua leitura. Seu pai conseguia ser sutil quando
precisava ser, por mais arriscado que aquela simples fala pudesse ser contra o
sistema de Voldemort. Passou os olhos rapidamente pela lista das novas
normas. Já as conhecia. Havia discutido a maioria delas com seu pai antes que
ele as levasse a Voldemort, mas parabenizou seu pai pela ordem em que ele as
publicou. As melhores encobriam as não tão animadoras e o fim era bastante
motivador cobrindo boa parte das novas leis de locomoção entre territórios
bruxos, o que obviamente muitos criticavam com a guerra, principalmente os
comerciantes.
- Não me toque. – seu tom foi ríspido. – Não me toque. Nem quando
ninguém estiver olhando nem quando estivermos em público. Não me importo
mais com essa farsa. Todos já entenderam a ideia. Somos uma família perfeita.
Agora mantenha distância. – e aquelas foram as primeiras palavras que ele
escutou de Hermione depois da noite que tiveram.
Ela sumiu seguindo para o lado de fora e ele precisou de dois segundos para
recuperar o grande empurrão que acabara de receber. Respirou fundo e passou
os olhos rapidamente por onde estava para checar quem pudesse ter tido a
chance de presenciar aquilo. Felizmente as poucas pessoas que ocupavam o
pequeno átrio de entrada estavam longe e entretidas com seus afazeres.
Conseguiu apenas ver um ou dois desviarem rapidamente o olhar assim que ele
os alcançou.
Seguiu o mesmo caminho que ela e ficou grato pelo pouco movimento da mídia
do lado de fora mesmo que soubesse que precisava de apenas uma foto no
jornal. Alcançou Hermione com facilidade e entrou na carruagem que
esperavam por eles. Ela não parecia feliz e ele sabia que também não havia se
esforçado para parecer no caminho até a carruagem, mesmo que claramente a
mídia estivesse ali disposta a captar qualquer justificativa para iniciar um rumor
que pudesse prejudica-los.
O cofre de sua casa estava entre os maiores de Gringotes. Ficava numa seção
privilegiada e era de alta segurança. Sempre que visitava o banco, por mais
que tivesse que passar pelo mesmo processo que todo mundo para conseguir
sua chave, sentia que faltava apenas que estendessem o tapete vermelho para
que pudesse passar quando a conseguia.
A nave principal do cofre dos Malfoy era gigantesca e se estendia até onde as
luzes não precisavam ser acessar. Era um museu que acumulava preciosidades
carregadas por séculos e séculos. Havia tanto tesouro apenas naquela única
parte que mesmo que Draco quisesse gastar tudo durante o período de sua
vida, não conseguiria. Mas ele não seria louco de tentar. Aquele parte em
específico era o que fazia dos Malfoy uma família intocável. Podia viver muito
bem com o anexo que havia em seu nome, e além do mais, ainda herdaria tudo
aquilo. Tinha o direito de trabalhar apenas com seu anexo que já comportava o
suficiente para no mínimo três gerações de sua família.
Draco parou juntamente com o duende que o seguida. Fechou a pasta com a
planilha de valores que tinha nas mãos e a encarou. Interessava a ela? Era uma
longa justificativa para que ele quisesse dar a ela, mas sabia que alguns dos
números que carregava em sua pasta eram dela e isso talvez lhe desse o
direito de saber o que fazia no cofre que dividiam.
- Quero que minha mãe tenha algo caso algo aconteça. – não entrou em
detalhes visto que estavam com companhia, mesmo sabendo que duendes
eram extremamente reservados.
Viu o olhar dela suavizar pela primeira vez desde que voltaram para o quarto
na noite anterior, mas ainda sim, a resistência que havia nela era muito mais
clara.
Ela soltou o ar frustrada não deixando que aquela eterna raiva em seu olhar a
deixasse.
- Eu não estou contrariando o fato de estar fazendo algo por sua mãe,
Draco. Na verdade acredito que esteja fazendo algo correto e nobre, o que,
para mim, é uma surpresa. Estou apenas pontuando que tomou uma decisão
sem sequer mencionar nada comigo usando algo que supostamente é nosso. Eu
tinha o direito de fazer parte dessa decisão.
Draco admirou que mesmo com a raiva que ela mostrava nos olhos, havia sido
sincera, sensata e equilibrada. Poderia ver que ela lutava para não reagir de
nenhuma forma agressiva demais, pois poderia matá-lo se caso se permitisse.
Não tinha nenhuma pretensão de piorar a situação entre eles portanto apenas
respirou fundo e disse:
- Você está certa e não tiro sua razão.
Deu as costas para continuar sua discussão com o duende, mas ela tornou a se
pronunciar antes que ele conseguisse dizer qualquer coisa:
- Isso quer dizer que não irá me deixar de fora da próxima vez que quiser
tomar uma atitude com relação a algo que é nosso? Porque se aprendi algo
sobre você é que não sabe dividir posses.
Precisou respirar fundo quando recebeu aquilo como um grande dedo na ferida
aberta entre eles. Tornou a encará-la. Ainda não pretendia pior a situação.
O cansaço lhe bateu logo que começou a ter que encontrar saídas demais em
sua discussão. Por cinco ou seis minutos seu cérebro se envolveu tanto com a
frustração de estar tendo que ser esperto para conseguir algo simples, que fez
com que se descuidasse de Hermione. Quando finalmente conseguiu o que
queria e pôs um fim a irritante companhia do duende notou que ela não estava
mais por perto.
Refez o caminho saindo de seu cofre de volta para a nave principal praguejando
consigo mesmo que aquele era um péssimo lugar para que ela decidisse
explorar naquele momento, mas não teve tanto tempo de se preocupar em
como a encontraria porque ela estava muito próximo as portas de entrada
analisando cuidadosamente a pedra escarlate de sua família de uma certa
distância.
A pedra de rubi dada por Merlin ao primeiro herdeiro Malfoy era a primeira bela
visão de qualquer um que entrasse no cofre da família. Ficava em um canto
importante logo próximo a entrada sob display num pedestal de prata que saia
do chão de mármore e torcia seu caminho até a altura dos olhos de um adulto.
Na ponta a pedra ficava perfeitamente assentada num encaixe cuidadosamente
trabalhado e uma jaula de vidro cercava a pequena área que ocupava. Apenas
quem tivesse o sobrenome Malfoy tinha o poder de tirá-lo do pedestal.
Draco se aproximou tomando tempo para apreciar o desenho do perfil dela com
o volume visível de sua barriga pelo vestido claro e fino que usava. Ela parecia
entretida o suficiente com o singelo monumento que não notou a aproximação
dele até que estivesse perto o suficiente para que seu reflexo aparecesse no
vidro. Ele manteve distância quando parou logo atrás dela devido ao visível
incomodo que a linguagem de seu corpo expressou assim que o notou. Enfiou
as mãos no bolso e apreciou a pedra tanto quando ela.
- Por que?
Ela deveria. Draco se lembrava bem da primeira vez que havia a segurado.
Lembrava-se do quanto havia se sentido importante. Sua mãe costumava lhe
contar a famosa história de como Merlin havia entregue a pedra a ninfa que
gerara o primeiro Malfoy da história como se fosse o maior conto de fadas de
todos os tempos toda noite antes de dormir quando era criança.
Draco sabia que somente Malfoys eram capazes de abrir a proteção de vidro e
tirar o rubi de seu pedestal. No dia que se vira ter o poder de segurar a pedra
de sua família, que se vira ter o poder de abrir a proteção, de mover o rubi,
segurá-lo sem que nada de ruim acontecesse a ele, a realização de fazer parte
de algo grande, de algo importante, de algo que atravessara os séculos serviu
como um marco em sua vida. Naquele dia ele finalmente entendera que Malfoy
não era apenas um sobrenome. Malfoy era um legado e ele tinha
responsabilidades por fazer parte dele.
- Eu não acredito que não tenha tido o interesse. Sei que sabe que
somente quatro pessoas no mundo podem tocar nela. – disse. – Costumavam
ser três, até o dia em que nos casamos.
- Sei disso. – foi tudo que ela respondeu. A voz suave e concentrada. –
Apenas não acredito que ter a certeza de que pertenço a algo que ainda não
consigo me ver encaixar vá me fazer bem. Seria contraditório demais para que
meu cérebro processasse.
Ele não sabia que ela pensava daquela forma. Na verdade, ela era tão única
que poucas as vezes a vira tentar se encaixar entre eles. Não gostaria que ela
tentasse. Ainda detestava se lembrar de que ela estava agindo como sua mãe,
submissa e calada. Não era ela.
- Gosto que seja única como é. Gosto quando não tenta se encaixar. –
duvidava que mesmo usando aquelas palavras, pudesse concertar a situação
entre eles.
Aquelas palavras caíram contra ele tão pesadamente que quase se viu sem ar,
como se tivesse sido apunhalado no estômago.
- Quando tempo levou para fantasiar tudo isso, Hermione? – virou-se a
tempo de vê-la parar.
Ele quem havia a mostrado de que poderiam ter uma história diferente?
Quando?
- Eu estava confusa, Draco! – ela virou-se mais uma vez. – Não tente
continuar me prendendo no seu jogo! Estou cansada de fazer papel de...
- Me deixe falar, Hermione! – sua voz extrapolou o tom normal para cobrir
a dela e ele a segurou pelo braço quando ela fez menção de dar as costas a ele
mais uma vez.
- NÃO ME TOQUE! – ela puxou o braço como se ele fosse a criatura mais
asquerosa na terra. – Quantas vezes vou ter que dizer para não me tocar?
- Pare de tentar me aprisionar nesse seu limbo, Draco! Estou tentando sair
dele!
- E por que você se importa? O que você quer discutir? O que quer
resolver?
- Quero nos resolver! Quero concertar isso que está acontecendo! Estamos
discutindo agora, mas sabe que quando isso aqui acabar teremos que dividir
um carruagem até a Catedral, depois teremos que dividir uma refeição, depois
uma cama, uma casa, vida, filhos, futuro! Não podemos dar as costas um para
o outro só porque carregamos raiva e ódio. Confesso que pensei coisas sobre
você que agora acredito estarem erradas e você tem pensado coisas sobre mim
que estão completamente erradas! Eu nunca tive a intenção de ter fazer
vulnerável para poder me dar o prazer de te ver sofrer, Hermione. Está me
confundindo com o Draco que conheceu em Hogwarts. Pode não acreditar
porque está cega de raiva agora e por saber que eu posso realmente não ser
um homem honesto. Sim, eu jogo jogos, eu engano pessoas, eu as manipulo,
as uso, isso é parte de quem eu sou, mas acredite, você nunca foi um alvo. Eu
não sou cruel. – disse, mas o olhar dela continuava inalterado e aquilo o
frustrava imensamente. – Deus, Hermione! Diga o que eu tenho que fazer? –
precisava ser racional e sincero. - O jogo entre nós dois virou e não estamos
sabendo jogar. Eu estou cometendo erros, você está cometendo erros e nós
dois estamos nos afundando.
O olhar dela continuou duro até que ela soltou o ar ainda com raiva e desviou o
olhar dele. Draco nunca se vira ser tão expressivo quanto agora, sentiu-se fora
dos próprios sapatos. O silêncio não durou muito tempo.
- Queria que suas palavras tivessem algum efeito. – ela foi cética. – Não
consigo digerir nenhuma delas porque você soa como o homem que eu
acreditei que pudesse ser. – por um segundo ele viu um brilho de frustração e
tristeza passar pelos olhos dela. – Esse homem não é real. – passou por ele
mais uma vez e vagou perdida como se pensamentos demais estivessem a
atormentando naquele momento.
Ele virou-se apenas para poder observá-la. Não havia mais nada o que pudesse
dizer. Mesmo que continuasse tentando justificar ou expor o que fosse, ela
definitivamente descartaria. Lamentava que ela não tivesse considerado as
palavras que ele dissera. Sentira-se tão fora de sua zona de conforto ao deixar
de lado seu orgulho para ser verdadeiro que não esperava que ela fosse rejeitá-
lo.
“Eu estava me apaixonando por você, Draco.” Ela havia sido e ele sabia que
aquelas palavras os atormentariam para o resto de sua vida. Já conseguia
prever a noite que teria quando deitasse na cama e tentasse esvaziar a mente
para pegar no sono. Não seria capaz de se livrar daquilo. Não conseguia ver
Hermione apaixonada por ele em sua mente. De todas as mulheres no mundo,
ela era a única que já lhe dera olhares de desprezo suficientes para que ele
tivesse certeza que ela era inalcançável. Como conseguia fazer seu caminho até
o coração dela? Não planejara nada daquilo.
- Não posso desfazer a realidade. – a voz dela saiu baixa dessa vez. – Não
posso magicamente fazer meus filhos serem frutos do amor e não posso deixar
de ser uma Malfoy. – quando ela ergueu os olhos, eles caíram diretamente
sobre a rubi em seu pedestal. – Sou parte de algo que não deveria ser. Ocupo
um lugar que não é meu. Preciso aprender que passarei o resto da vida
pagando por isso. Não sei o porque as vezes me esqueço que Voldemort me
aprisionou a essa vida para que eu sofresse. Ele sabia exatamente o que fazia
quando me casou com você. Ele queria ter certeza de que mesmo que fosse
varrido da terra, eu ainda estaria presa a uma vida horrível.
Draco poderia dizer que ela não era uma Malfoy tão ruim, que na verdade ele
não conseguia pensar em ninguém melhor do que ela para ocupar um cargo de
Sra. Malfoy agora já tivera uma boa amostra de todo seu potencial naquela
posição, mas não ousou soltar qualquer som. Ele mesmo sabia o quanto ser um
Malfoy era desafiador, difícil, exaustivo e desgastante. Era um fardo a se
carregar, um que não se podia mostrar. Eram obrigados a esconder aquilo atrás
do orgulho.
- Não gosto dessa sensação. – ela comentou, mas foi mais para ela mesma
do que para ele. Girou a pedra entre os dedos para poder analisa-la de todos os
ângulos. – No futuro talvez eu seja tão pior quanto qualquer outro Malfoy.
Tenho certeza de que as coisas serão mais fáceis se eu simplesmente me
tornar desprezível. – ela soltou o ar, dessa vez cansada e visivelmente triste.
Talvez estivesse pensando em Potter e imaginar que sua cabeça pudesse estar
girando em torno dele fazia com que seu sangue gelasse de alguma forma
muito estranha.
Foi até ela.
- Você não precisa ser. – ela não precisava esconder quem realmente era
atrás de máscaras como vinha fazendo, como ele vinha fazendo, como seu pai
e sua mão vinham fazendo. Sabia que era a melhor escolha, mas ela não
precisava. Não precisava porque agora sabia o quanto isso causava todos
aqueles efeitos colaterais nela.
- Não seja ridículo, Draco. Sabe que é o caminho mais fácil. Tanto é que
você mesmo é desprezível. – aquele desgosto presente em seu tom de voz
apareceu novamente quando ela tornou a se dirigir a ele.
Draco não ousou se manifestar novamente. Sentia-se ridículo toda vez que se
dava a chance, portanto apenas a observou por um segundo a mais até decidir
que era melhor que simplesmente desse as costas e voltasse para a carruagem,
mas no momento em que começou a se dirigir para a saída, foi obrigado a
parar subitamente ao escutar uma exclamação aguda e assustada da parte
dela. Virou-se imediatamente a tempo de ver a pedra de sua família ir em
queda livre de encontro ao mármore do chão. Mal teve tempo de ter qualquer
reação quando a pedra simplesmente parou a centímetros de se chocar,
irradiou por um segundo um tipo estranho de luz e como se fosse sugada num
piscar de olhos, estava de volta no pedestal de onde Hermione havia a tirado. O
domo de vidro selou o perímetro logo em seguida.
- O que aconteceu? – tratou de perguntar quando sua visão captou
Hermione encarando a mão vazia um tanto chocada.
Ele apressou-se até ela, fez menção de esticar a mão para puxar a dela, mas
quando se tocou de que a tocaria, travou, desistiu da ideia e apenas esticou o
pescoço para analisar a mão que a mulher ainda deixava estendida.
Ela ergueu os olhos apertados para ele recebendo aquilo como uma afirmação
de total incredulidade.
- Eu sei o que senti! Foi como se estivesse esquentando em minha mão,
logo depois veio a dor e então minhas veias pareciam que estavam carregando
fogo pelo meu braço!
Voltou sua atenção para a pedra, moveu a proteção de vidro com uma mão e
com a outra tirou o rubi do pedestal de prata. Nada aconteceu. Girou a pedra
entre os dedos exatamente como ela havia feito e a encarou. Ela pulou seus
olhos da pedra para ele uma dúzia de vezes e então estendeu a mão para toca-
la novamente. No mesmo segundo que seus dedos encontraram o rubi ela
recuou instantaneamente soltando outra exclamação de dor expressiva e alta.
- Não posso tocar. Por que não posso tocar? – ela soltou confusa e aflita
enquanto esfregava os dedos que estavam perfeitamente bem.
Ele não sabia explicar. Devolveu a rubi ao pedestal e a enclausurou com a jaula
de vidro. Pediu que Hermione tentasse pegá-la como havia feito antes. Ela
tentou. Tentou remover a vidro, mas foi incapaz, como se tudo estivesse selado
contra ela porque ele tentou logo em seguida e tudo se moveu como ele queria.
Não entendeu. Ela havia assinado os papeis do casamento, ele estava lá, havia
visto. Ela era uma Malfoy. Aquilo só deveria acontecer se ela não fosse uma e
se ela estivesse tentando pegar a pedra de sua família e não estivesse
conseguindo, então...
- Senhor, com todo o respeito, eles exigem no nome do Lorde que ela seja
levada na carruagem exclusiva. Gostaríamos qualquer escândalo fosse evitado
pelo bem do respeito que todos tem ao banco de Gringotes.
Ela era nascida trouxa, talvez fosse isso que a impedira de tocar a pedra.
Balançou a cabeça assim que teve esse pensamento. Não havia distinção entre
o sangue bruxo, isso era apenas uma jogada dos privilegiados membros das
famílias tradicionais com seus preconceitos. O que infernos havia de errado
então? Precisava encontrar outra resposta que não fosse um erro em seu
casamento! E alias... O que diabos Voldemort queria com Hermione?
Apressou-se para deixar o banco o mais rápido possível. Saiu a tempo de ver
Hermione entrar em sua carruagem exclusiva e partir. Logo que chegou a
Catedral, Tina o esperava na escadaria do lobby da entrada que tomara. Ela
apressou-se para informa-lo de que iria mandar uma coruja, mas que recebera
o comunicado de que ele já estava a caminho, portanto preferiu espera-lo para
dizer pessoalmente que Voldemort estava convocando uma cerimônia fechada
com o círculo interno de Comensais no salão principal naquele exato momento.
- Ele mandou que buscassem Hermione. O que ela tem a ver com isso? –
perguntou quase que imediatamente.
- Não faço ideia, senhor. A Sra. Malfoy tinha uma sessão de experimentos
marcada com o grupo da Comissão essa manhã. É tudo que eu sei sobre ela. –
respondeu Tina.
Draco bufou e passou por ela avançando com pressa até o salão principal.
Assim que chegou ao local, encontrou alguns dos Comensais do círculo interno
conversando entre si em grupos separados próximo as plataformas do trono.
Não demorou a encontrar seu pai em um deles. A aparência dele era, de longe,
comprometedora. Nunca vira seu pai fora de sua postura, mesmo quando
estava um pouco fora de si por causa do álcool. Assim que o alcançou,
conseguiu sentir o cheiro do licor da distância que estava. Foi cauteloso ao se
aproximar, pediu licença educadamente e focou-se em tirar seu pai dali.
- Estive pensando que você poderia ter essa resposta. O Lorde a trouxe
para a Catedral em uma carruagem exclusiva. O que ele está tramando? E
como ousa aparecer assim a uma sessão do círculo interno? – o empurrou
contra um encontro de paredes assim que conseguiu passar para o lado de fora
do salão por uma das saídas de câmara.
Seu pai riu secamente em resposta. Draco tentou imaginar quantos litros de
álcool seu pai havia ingerido para chegar naquele estado. Seu pai era forte.
- O que Voldemort está tramando com ela? Para que ele precisa dela? O
que ele quer com essa sessão fora de agenda? – vociferou contra o rosto de
Lúcio Malfoy que apenas riu secamente mais uma vez.
- Há tanto sobre essa maldita mulher que você fode todas as noites, Draco.
Ficaria orgulhoso do que eu consegui para você quando souber...
- Mostre algum respeito pela mulher que está carregando seu netos! - Tudo
aquilo estava colocando seu sangue numa temperatura arriscada. Apertou mais
seu braço contra a garganta do pai. – É melhor que me diga logo se sabe de
algo sobre esse circo! E é melhor que também tenha respostas para o fato de
Hermione ser incapaz de tocar no rubi da nossa família! Ela assinou os papéis
do casamento! Ela é uma Malfoy!
- Claro que ela é uma Malfoy, Draco, e claro que ela é incapaz de tocar na
joia da nossa família! – riu ele. – Você não faz a menor ideia...
- Eu exijo respostas. – foi a ultima coisa que disse antes de dar as costas e
voltar para o salão deixando-o para trás.
- Vai ter todas elas em um minuto! – escutou a voz dele soltar num tom
divertido as suas costas.
Continuou seu caminho com a cabeça fervendo até seu assento nos patamares
do trono. Não conversou com ninguém, não olhou para ninguém e não se
importou com educação. Voldemort não demorou a aparecer. Ele não estava na
companhia de Hermione. Quem o acompanhava era Severo Snape e aquilo não
era um bom sinal para Draco. Assim que ele fez presença todos prestaram sua
reverencia e tomaram seus lugares com pressa. Voldemort não se sentou.
Manteve-se de pé no centro do salão e muito informalmente declarou que não
tomaria muitos minutos.
- Não seja tímida, minha rara joia. – Voldemort estendeu a mão em direção
ela, como se ela fosse a coisa mais doce e preciosa do mundo inteiro. Hermione
foi obrigada a avançar até ele quando um dos homens da guarda, que a
acompanhava, fez um gesto a intimando para avançar e obedecer o chamado
do mestre. Ela aproximou-se claramente receosa, mas sem sair da orgulhosa
postura que mantinha. – Seu sangue ainda é inútil para mim para o objetivo
que tenho porque obviamente a linhagem de Morgana foi comprometida com as
inúmeras misturas de sangue no decorrer dos anos. – disse quando ela já
estava próximo o suficiente. - Mas o filho que espera é a reconstrução exata do
que eu preciso. O sangue puro da linhagem de Merlin e o sangue de Morgana. É
exatamente o que eu preciso. – ele fechou uma mão no pulso de Hermione e a
puxou bruscamente, o que fez Draco levantar-se de sua cadeira
automaticamente. Ninguém tocaria sua mulher daquela forma. – Não ouse
fazer nada estúpido, Draco. – foi a resposta de Voldemort a sua reação. – Vou
pegar apenas uma amostra fresca do sangue da criatura mágica que temos
aqui. Assim todos, inclusive ela, poderá ter certeza do que estou falando. –
puxou uma faca e abriu a mão dela.
- O mestre disse para não tentar nada estúpido, Draco. – Snape usou sua
voz seca para reafirmar o que Draco havia escutado antes, mas continuava a
não se importar.
Seus pés travaram quando Voldemort passou a faca pela palma da mão de
Hermione. Ela resmungou muito baixo em reação a dor e tratou de cerrar o
punho rapidamente. Snape coletou para dentro do frasco da poção apenas uma
gota e deixou o resto respigar no chão. Draco sentiu seu sangue ferver de
raiva. Ninguém tinha o poder de tocá-la daquela forma! Apertou o passo até ela
a fim de afastá-la de Voldemort, mas no momento em que chegou perto, ela se
afastou como se soubesse que ele pretendia tocá-la, o que o obrigou a parar.