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Prólogo

Interrogar, torturar, interrogar novamente e então, finalmente, matar. Ou


então simplesmente torturar e matar. Ou violentar mulheres. Ou virgens.
Eram sempre mais excitantes as virgens. Os gritos. O sangue. O choro. E
ainda deixá-las viver por mais uns dias para que pudessem conviver com a
lembrança. Deixar que fossem esquecidas no escuro chorando noites a fim.
Deixar com que morressem de fome sem ver a luz do dia para que
pudessem sofrer cada segundo possível da vida que ainda lhes restava.
Apenas por diversão. Entretenimento.

Para Draco Malfoy era entediante.

Claro que tudo aquilo fazia parte da vida de um Comensal, entretanto, não
era exatamente por aquilo que ele havia se tornado um. Aquilo não lhe
trazia poder, não lhe trazia domínio, não lhe dava entretenimento, não lhe
ensinava nada. Ele nunca havia sido o tipo de pessoa que desperdiçava seu
tempo apreciando o sofrimento alheio. Não com tanta frequência, pelo
menos. Isso o diferenciava de qualquer outro Comensal. O diferenciava,
inclusive, de Lorde Voldemort.

Mas, como um, lá estava ele. Sentado obediente em seu trono como líder
do exército de Comensais na grande arena do horror, o salão principal do
covil que muitos insistiam em chamar de quartel, o quartel de Voldemort.
Ele sentava obedientemente porque tinha segredos que nenhum humano
jamais saberia e jamais se atreveria em ousar saber. Por isso, ali estava
atendendo ao chamado das sessões de tortura, sofrimento, gritos, sangue e
terror. Ali ficaria até que tudo finalmente acabasse e ele pudesse ir a uma
das salas de treinamento aprender alguma nova magia para seus combates.
– Tragam-me nossas novas convidadas! – todo o salão pode escutar
Voldemort exclamar vivificado pela última morte que havia tido o prazer de
conduzir.

Lá foram os capachos de aliados que de nada serviam além de serviçais.


Arrastaram o corpo sem vida de uma das bibliotecárias da ordem dos
rebeldes que residiam no sul da Europa para fora do salão enquanto outros
abriam as pesadas portas para duas figuras que fizeram Draco Malfoy
perder sua entediada expressão intocável ao puxar o canto dos lábios num
fino e discreto sorriso.

Sendo arrastadas pelas correntes que lhe prendiam os membros vinha Luna
Lovegood em sua expressão sempre lunática, porém dessa vez um tanto
sofrida, e ninguém menos que Hermione Granger, a rainha de Harry James
Potter, o pior inimigo de Lorde Voldemort. Seus olhos estavam vermelhos,
as bochechas e a ponta do nariz rosadas, os lábios secos, o cabelo
desgrenhado, a postura intacta e orgulhosa.

– Ah! – exclamou Voldemort satisfeito. – Minhas doces convidadas. –


pausou aproximando-se das duas. Parou de frente a Luna Lovegood
encarando aqueles preciosos olhos azuis. Respirou como se inalasse vigor. –
Inocência. – ele sorriu. – Você exala inocência, minha querida. – afastou
dela os fios de cabelo que lhe tampavam o rosto. – Eu gosto da inocência.
Sabe por quê? Porque gosto quando posso arrancá-la brutalmente de uma
mente. Mas gosto de fazê-lo aos poucos porque o sofrimento dura mais. –
ele sorriu docilmente para ela – Você ainda experimentará a morte, querida.
Contudo, não agora. – olhou para seus comensais capachos. – Tiram-na
daqui. Cuidarei dela com mais cuidado depois.

Os serviçais arrastaram-na para longe de Hermione Granger carregando-a


para fora do salão. Ambas não ousaram sequer trocar um olhar. Hermione
apenas fechou os olhos com força enquanto escutava a amiga ser levada
para longe.

Voldemort parou de frente a castanha dessa vez. Encarou em silêncio


aquela figura como se observasse um famosíssimo quadro pendurado
contra a parede de algum museu famoso qualquer. Segurou-a pelo queixo
forçando-a abrir os olhos incrivelmente chamativos pelo tom âmbar que
possuíam. Trocaram olhares pelo que pareceu milhares de segundos
enquanto todo o salão falecia em um silêncio intenso.

– Por anos eu sonhei o que faria se a tivesse em minhas mãos. – começou


Voldemort após um longo suspiro. – Por anos eu sonhei com esse dia. – ele
sorriu para ela que permanecia imutável em sua expressão. – Desde que se
tornou meu segundo pesadelo, Sangue-Ruim. Desde que se tornou minha
noite mal dormida. Desde que passou a estragar os meus planos com essa
sua incrível arte de ser inteligente e esperta, de sempre proteger Potter, de
sempre conseguir escapar. –sorriu abertamente dessa vez. – Eu sonhei com
esse dia. –arrastou os dedos sobre a pele pálida do rosto dela. – Merlin! –
ele exclamou perdido em um suspiro soluçante. - Você é arrebatadoramente
linda. – sua unha roçou por baixo da copa dos lábios rosados e
perfeitamente convidativos dela. – Seu sangue imundo não merece
tamanha beleza. – todos puderam notar nela uma longínqua expressão de
nojo. – Você serviria facilmente para os deleites do meu tão prezado ciclo
interno de comensais. Gostaria de vê-los te possuir, gostaria de vê-la gritar
e chorar. Gostaria de te ver se contorcer no chão ao ser torturada. Gostaria
de te ver pagar por todo o ódio que já me fez passar. – ele soltou o ar. –
Mas, - enfatizou dramaticamente. – eu sonhei muito com o que faria se a
tivesse em minhas mãos, Sangue-Ruim. Praticar todos esses atos em você
a tornaria tão igual a qualquer outro prisioneiro que já tive e você, maldita,
não é qualquer um. – soltou o rosto da mulher e encarou-a de cima a baixo.
Quase podia sentir o desejo emanando dos Comensais a sua volta
esperando que ele liberasse o corpo dela para eles. Voldemort não o faria. –
Você sofrerá diferente. –sorriu doentiamente. – Sofrerá diferente de
qualquer outro prisioneiro que já tive em minhas mãos. Sofrerá até que a
vida decida te deixar. Sofrerá em minhas mãos. Porque me pertencerá. –
ele segurou o pulso da mulher com força, aproximou sua boca do ouvido
dela e sussurrou apenas para que somente ela pudesse escutar. – Irá me
dar um herdeiro.

Todos puderam ver a face de Hermione Granger se contorcer numa de


náusea. No entanto, antes mesmo que ela pudesse agir desgostosamente,
sua expressão de nojo se tornou numa de dor e então ela fechou os olhos
com força e seu grito ecoou pelo salão inteiro enquanto ela sentira seu
pulso queimar com a palma ossuda da mão de Voldemort o pressionando.

No segundo em que tudo voltou ao silêncio de antes, Voldemort a soltou e


se afastou com uma expressão incrivelmente satisfeita estampada em seu
rosto ofídico. Hermione curvou-se pressionando o pulso que ainda queimava
dolorosamente. Num impulso curioso ela o descobriu e todos puderam ver a
marca negra, a marca de Voldemort, que agora estava cravada na pele da
castanha.

Um murmúrio assustado percorreu todo o salão. Comensais se inclinaram


em cochichos uns aos outros e então a voz de Voldemort soou audivelmente
sobressaindo sobre o coro silencioso de seus discípulos.

– Draco! – chamou.

O silêncio voltou novamente.

– Sim, mestre. – a voz do loiro soou entediada.

– Desça até aqui. – ordenou e Draco obedeceu sem se preocupar em


esconder seu desinteresse sobre toda aquela situação. – Ela é sua. –
Voldemort disse quando ele se postou bem ao seu lado. – Exclusivamente
sua. – disse em bom som para que ficasse claro para todos do salão que
ninguém além de Draco teria permissão para tocar na mulher.

Draco encarou Hermione Granger, que ainda ofegava pela dor e permanecia
dominada pela surpresa de encontrar a marca em seu braço tanto quanto
todos os outros ali naquele lugar. Aquele pedaço de mulher era sem dúvida
a beleza encarnada. Ele ainda se lembrava do ano em Hogwarts que ela
começara a ser abençoada com tamanhos atributos. Mas ainda assim, ela
não passava de uma Sangue-Ruim.
Draco e seu exército haviam a capturado no meio de toda aquela guerra.
Claro que ela havia se deixado ser pega. Poderia facilmente ter escapado,
mas soube que estava se dando em troca de algo muito importante para os
rebeldes. Harry Potter. Ela se deu para que ele pudesse escapar? Talvez,
porém previsível demais para uma Grifinória. Draco julgava-a burra pelo
ato, mesmo que a palavra burra seguida do nome de Hermione Granger
nunca no mundo fosse fazer sentido algum. Então, ainda a encarando, ele
soltou um riso debochado e deu as costas.

– Eu não a quero. – recusou Draco.

Um murmúrio confuso percorreu todo o salão.

– Mestre! – um Comensal ousou a atenção de Voldemort para que pudesse


se oferecer em tomá-la.

Voldemort ignorou claramente.


– Draco! – o chamou novamente fazendo-o parar no meio do caminho que
havia tomado para deixar o salão. – Tem ideia do que essa maldita significa
para mim? Estou dando-a a você! – havia uma raiva contida no tom que
usava.

Draco se virou. Voldemort tinha um plano para tudo aquilo. Claro que tinha.

– Eu não toco em Sangues-Ruim! – cuspiu Draco.

– Eu não me importo com suas preferências! – Voldemort se aproximou


dele. – O sangue é a última coisa que me importa depois de tudo que ela
significou dentro dessa guerra! Estou dando-a a você e irá aceitá-la
querendo ou não! – a essa altura Voldemort já não escondia qualquer tom
de fúria contra o Comensal mimado que Lúcio Malfoy havia criado em casa.
– É uma ordem e irá obedecer. Ou esqueceu a quem deve devoção agora? –
jogou as palavras contra o homem loiro. – Encare seu pulso e veja de quem
é a marca que está gravada nele! – Draco permaneceu imóvel. – ENCARE-
A, DRACO!
Draco não encarou. Permaneceu imóvel e apenas torceu o nariz numa
expressão muito conhecida provinda de sua família.

– É sua, mestre. – vociferou de modo automático, arrastado e desgostoso,


como se não quisesse soltar palavra nenhuma.

– Então sabe que a Sangue-Ruim agora lhe pertence. – Voldemort quase


soletrou para o Comensal a sua frente.

– Como desejar, mestre. – Draco soltou novamente em sua voz pausada,


assustadora e sem vida.

– Perfeito. – Voldemort deu as costas. – Pode voltar a se sentar em sua


cadeira, Draco.
Todos viram Draco voltar a cruzar o salão obedientemente. Ele trocou
olhares com Hermione quando passou perto dela e recebeu o usual de
desprezo. O que sempre havia recebido dela. Quis matá-la, mas não o fez.
Não o precioso troféu de Voldemort. Sentou-se em sua cadeira e lamentou
pelo tempo que ainda gastaria naquele maldito lugar.

– Tirem a Sangue-Ruim e me tragam aquela outra! – a voz de Voldemort


voltou a soar. – Preciso torturar alguém.
1. Capítulo 1

Hermione Granger

Hermione foi arrastada por comensais para dentro de um cômodo qualquer


e deixada lá. A porta foi fechada com força assustando-a pelo ato
desnecessário e avisando-a de que estava só. Ou pelo menos parecia que
estava só.

Com a mão segurando o pulso que ainda ardia ela analisou o lugar que
estava. Era grande e muito bem iluminado. Tinha uma cama perfeitamente
arrumada com dosséis e cortinas, uma estante de livros que cobria toda a
extensão da parede da porta até onde o pé direito alcançava, um
escrivaninha de mogno com tinteiros, pergaminhos e todos os tipos de
penas imagináveis. Uma penseira jazia quieta mais para além da
escrivaninha sobre um pórtico de granito barrocamente decorado e uma
sequencia de caldeirões vazios pendurados em araras que desciam do teto
em tirantes de aço logo próximo a lareira que estava cercada por poltronas
neoclássicas forradas de estampas tipicamente inglesas. Tudo sobre um
piso de mármore claro extremamente polido e uniforme.

As suas costas ela encontrou uma gloriosa fachada de janelas enormes


cobertas por cortinas de pano claro e fino que anunciavam o dia do lado de
fora cercando toda extensão e até além da maravilhosa e convidativa cama.
Girando ainda extasiada com a maravilha decorativa que estava diante de
seus olhos ela avistou um pouco para longe do fim da estante de livros um
arco que abria para o próximo cômodo sugerindo a área de lavatórios. Ela
teve curiosidade de ir até lá, mas permaneceu estática em seu lugar.
Encarou a porta entre os milhares de livros ao redor e logo depois desceu
para as correntes que ainda a prendiam.

Tornou a encarar a porta.

Movida por uma curiosidade muito maior ela avançou receosa até a porta.
Segurou a maçaneta, a girou e puxou. A porta se abriu fazendo passar pela
fresta a brisa gelada do corredor do outro lado. Ela havia decorado o
caminho que havia percorrido até ali, mas dar novamente no salão não
parecia uma ideia muito boa.

Fechou a porta quando o receio a dominou.

Estava errado. Estava tudo errado. Não era aquilo que deveria estar
acontecendo! Onde estava todos os crucios que ela deveria suportar? Onde
estava o interrogatório? Onde estava sua cela escura, sua fome, seu frio,
seu choro? Onde estava seu sofrimento? Onde?

Hermione se afastou arrastando seus pés pelo piso polido e lustroso.


Caminhou até a escrivaninha, mas parou a meio caminho dela. Olhou para
as imensas cortinas que tampavam a extensão de janelas e questionou o
que poderia ver através delas. Tomou um novo rumo mas teve que parar
abruptamente e se virar num pulo de susto quando a porta foi escancarada.

Draco Malfoy surgiu em toda sua poderosa glória sendo seguido por um elfo
de orelhas altas e pontas caídas com grandes olhos escuros sofredores.
Vestia uma velha camisa escura surrada e rasgada que parecia ter três
vezes o seu tamanho.

- Gostou do seu quarto, Granger? – Draco fez soar sua voz claramente
masculina por todo o cômodo. Havia nela um tom de deboche. – Este é o
whitehall, um dos quartos da ala leste da catedral. Pega o sol da manhã e
tem vista para um dos maiores pátios. Pode trocar se preferir. Ninguém
gosta do sol da manhã por aqui. – ele dizia como se tivesse decorado uma
fala. – Essa é Tryn, a elfa que irá te atender. O jantar será servido dentro
de uma hora, portanto esteja arrumada e de modo apresentável. Se sentará
na primeira cadeira a direita ao lado da cabeceira e não fará soar sua voz
por um segundo sequer ou pagará por isso. – ele estendeu a varinha para
ela e Hermione sentiu as corrente a abandonares e voarem para a mão de
Malfoy. Ele deu as costas e seguiu de volta para a porta. – Para que
aprenda a se comportar como o mestre bem entender, seus ataques de
rebeldia servirão de punição para sua amiga Lovegood, que depois da
sessão de crucio no salão principal agora pouco não aguentará mais nada,
por tanto, seja uma boa menina, para que sua amiga consiga se recuperar.
– ele disse antes de sair.
- Malfoy! – exclamou Hermione surpreendendo-se com o som de sua
própria voz que ela já não escutava fazia um tempo considerável. A porta
bateu avisando que ele havia deixado o quarto. Ela prendeu o ar e correu
para escancarar a porta e encontrá-lo no meio do corredor – Malfoy! – ela
tornou a exclamar quando ele a ignorou. – MALFOY! – ela berrou dessa vez
e seu tom continha uma raiva explícita pelo modo como ele a ignorava. Ele
parou e se virou para ela. – Por que? Por que tudo isso? É errado! – era
tudo que gritava em sua cabeça naquele momento e foi tudo que ela
conseguiu perguntar.

- Não deve fazer essas pergunta para mim, Granger. Eu não sou seu
mestre, você é apenas minha responsabilidade. Pertence a ele, não a mim.
– ele mostrou as mãos como se tentasse convencê-la disso. – Não dou a
mínima para o que farão ou deixarão de fazer com você, por mim poderiam
tê-la matado hoje no salão principal. Foi para isso que eu a trouxe até aqui
afinal, mas como não sou eu quem dito as ordens finais, cabe a todos
apenas obedecer. Inclusive você, sangue-ruim. - e assim ele deu as costas
e sumiu na primeira esquina que surgiu.

Hermione permaneceu estática no corredor ainda com a voz de Malfoy


ecoando por todos os cantos de sua cabeça. Ela ainda se sentia atordoada o
suficiente para que qualquer frase clara e objetiva lhe parecesse um
anagrama. Seu olhar passou pelo corredor que se estendia a sua frente e as
suas costas. Seu coração pulou quando sentiu estar livre para poder correr
e encontrar uma saída mas o lugar lhe parecia tão extremamente enorme
que ela sequer sabia que nível de labirinto aquilo podia ser. Ainda pensou
em Luna. Não poderia fugir sem ela. Ela tinha que ser bem mais
estratégica. Não era hora para que fosse impulsiva e estúpida. Respirou
fundo com medo do que quer que estivessem planejando para ela ali
dentro. Tinha que ser forte para aguentar o tempo que fosse até conseguir
se libertar

Voltou para seu quarto encontrou Tryn a olhando receosamente. Hermione


devolveu um olhar curioso. Sempre tivera muito apreço por elfos
domésticos e por um motivo ela imaginava o quanto aquela deveria sofrer
na mão de patrões comensais.

- Seu banho está pronto, Srta. sangue-ruim. – a elfa disse.


- Meu nome é Hermione Granger. – Hermione tentou ser gentil embora
não tivesse gostado que a elfa houvesse se referido a ela como sangue-
ruim.

- Tryn sabe sobre o nome da Srta. Sangue-ruim. – a elfa respondeu


muito claramente – É melhor que tome logo seu banho porque Tryn precisa
deixar a Srta. Sangue-ruim impecável para o jantar.

- Eu não estou indo a lugar nenhum. – Hermione disse antes que


pudesse refletir sobre suas palavras.

- Se Tryn não obedecer as ordens do meu senhor, Tryn será castigada,


e se a Srta. Sangue-ruim não obedecer as ordens do seu mestre, seu
mestre castigará Luna Lovegood. – a elfa disse e Hermione se lembrou das
palavras decoradas de Draco Malfoy. Ela ainda queria entender que jogo
Voldemort estava forçando-a a jogar. – Tryn viu Luna Lovegood e Tryn
afirma com toda certeza que Luna Lovegood não aguentaria ser castigada
novamente.

Hermione engoliu em seco.

- Onde ela está? – sua voz saiu rouca.

- Junto com os outros prisioneiros. – respondeu a elfa. – Mas tem uma


cela própria.

Hermione precisou fechar os olhos quando sentiu que sua garganta ardeu e
sua visão embaçou. Havia tentado salvar a amiga assim que a viu ser
capturada, mas a verdade é que não foi capaz de salvar nem mesmo a
própria pele quando impulsivamente ela havia corrido atrás da amiga. A
verdade, era que tudo ainda era muito mais complexo do que a desculpa de
tentar salvar sua amiga quando se viu obrigada a se entregar. Talvez
ninguém da Ordem fosse entender. Ou pelo menos Harry pudesse. Mas
agora ela precisava ser inteligente. Ser estratégica para conseguir livrar as
duas. Ela tinha que entrar no jogo de Voldemort. Tinha que conhecer onde
estava pisando. Tornou a encarar a elfa que a olhava com os enormes olhos
amendoados e então encarou o arco que separava seu quarto do lavatório.
Soltou o ar frustrada e passou a se mover até ele.

Não se surpreendeu quando encontrou um ambiente surpreendentemente


tão lindo que chegava até a ser assustador. Tudo era muito bem decorado
com pedras, mármore polido e escuro, vasos de herbáceas em lugares
estratégicos, luzes bem direcionadas e vitrais coloridos. O pé direito sempre
exagerado dava o ar assustador. Estava úmido e ela logo notou o porque.
Perto dos vitrais havia uma enorme banheira de pedra com água bem
aquecida.

Hermione tirou o suéter que usava e passou a desabotoar sua camisa.


Quando se livrou de toda a parte de cima e passou abrir os botões de sua
calça, se virou e no mesmo segundo deu um pulo de susto passando a
cobrir os seios com agilidade.

- Hei! – ela protestou alto ao encontrar a elfa de pé a observando com


bastante atenção. – Esse é um momento particular, você pode esperar do
lado de fora! – sequer media o tom que usava por estar realmente
aborrecida.

- Tryn não tem ordens para acatar os pedidos da Srta. Sangue-ruim.

Hermione riu forçadamente de modo sarcástico recuando um passo.

- Vai me assistir tomar banho? – usou uma voz esganiçada como se


tentasse mostrar a elfa o quanto aquilo soava insano.

- Tryn só precisa estudar o corpo da Srta. Sangue-ruim para encontrar


a roupa perfeita para o jantar mais tarde. Tryn não pode decepcionar seu
senhor. Deve se acostumar a ficar exposta. – Hermione precisou fazer uma
careta ao ouvir as palavras da elfa. – Livre-se do restante de roupa que a
Srta. Sangue-ruim ainda veste.
O pedido da elfa havia sido firme porém havia soado melodioso naquela
vozinha arranhada e Hermione sabia que tudo que ela estava fazendo era
apenas seguir ordens. Parecia que não era a primeira vez da elfa naquele
serviço portanto, ainda relutando e sentido todo o seu rosto corar, ela
começou a se livrar do restante de roupa. Precisou respirar fundo muitas
vezes até conseguir endireitar-se sem tentar cobrir seu corpo. O olhar da
elfa parecia muito curioso e Hermione precisou desviar o seu para bem
longe do dela. Virou-se quando foi pedido e depois deu mais uma volta.
Sem tornar a olhar a elfa.

- A Srta. Sangue-ruim deve subir ao closet quando terminar o banho. –


a vozinha da elfa soou satisfeita.

Hermione finalmente teve coragem de descer o olhar para ela novamente,


mas não a encontrou no lugar que ela deveria estar. Escutava os passinhos
dela contra a pedra e a procurou pelo lavatório. Encontrou-a quando ela
sumiu pela entrada de uma pequena câmara atrás dos nichos de pias.
Suspirou interrogativa e presumiu que por ali deveria ser o closet enquanto
ainda escutava os passinhos dela sumirem aos poucos como se estivesse
subindo uma escada.

Voltou-se para água quente, subiu os degraus do mármore frio e se enfiou


na água convidativa, quente e acolhedora. Fechou os olhos mas não
conseguiu mantê-los fechados por muito tempo porque o medo a dominava.
Medo daquele lugar, do que enfrentaria, das pessoas. Ela tinha medo do
castigo. Medo de que Luna fosse morta. Medo de Malfoy. Voldemort. Medo
de não conseguir escapar.

Escapar.

A palavra ecoou em sua cabeça.

Por um segundo ela perdeu a respiração e no outro ela emergiu seu braço
para fora da água encarando a clara marca-negra agora em seu pulso. Ela
apertou com força seu braço quando sentiu que a ficha caia rápido demais.
Seu cérebro jogou milhões de informações simultâneas e então ela soube
que o desespero tomou conta de si quando soluçou e ficou sem respirar.
Ela era dele. Enquanto ele vivesse ela seria de Lorde Voldemort. Ela sabia o
que acontecia com comensais capturados. A própria marca estampada no
braço deles os matava. Comensais fugidos eram mortos pela marca.
Comensais arrependidos eram mortos pela marca. Comensais que trocavam
de lado eram mortos pela marca. Todos eles eram produtos exclusivos de
Voldemort e todos eram irrevogavelmente dele. Trabalhavam para ele ou
estavam mortos. Mortos pelo sinal que os marcava. O símbolo que os
tornava comensais. Agora ela era um deles. Agora ela não tinha escolha.
Ela não tinha saída.

Hermione sentia seu coração bater contra suas costelas tão forte que
pensou que uma delas fosse se quebrar. Puxou o ar com vontade e soltou o
braço. Sua garganta queimou. Sua visão embaçou. Mas o medo não a
deixou fechar os olhos. O medo a dominou por completo e as lágrimas
rolaram por sua face. Ela soluçou vezes seguidas e seus soluços ecoaram
junto o barulho do movimento da água contra todas as pedras daquele
lugar lindo e ao mesmo tempo assustador.

- TRYN! – escutou sua voz berrar pela elfa num tom de desespero. –
TRYN! – sua voz cortou novamente o eco e então um estalo ao seu lado a
assustou e ela se afastou do barulho cortando a água da enorme banheira
que estava. Encontrou a elfa de pé sobre o beiral de pedra.

- Tryn não é surda. – a elfa disse um tanto aborrecida.

- Tryn! Que lugar é esse? Onde eu estou? – Hermione podia escutar sua
voz tremida perguntar gaguejante.

- Essa é a catedral do mestre Lorde Voldemort que o transformou em


seu quartel...

- Onde fica? – Hermione cortou a elfa.


- Brampton Fort, Srta. Sangue-ruim. A cidade dos comensais. –
concluiu a elfa.

Hermione se calou fazendo ecoar sua respiração ofegante. Não conseguia


entender a dimensão das respostas que a elfa estava lhe dando mas a
assustava ainda mais.

- Algum comensal já conseguiu fugir daqui? – perguntou deixando que


o desespero a impedisse de ser discreta.

- Comensais entram e saem todos os dias de Brampton Fort, Srta.


Sangue...

- Estou falando sobre fugir, Tryn! – Hermione a cortou novamente.

- A única informação que Tryn tem sobre isso é que muito


possivelmente um comensal que foge do mestre não vive para contar
história. – respondeu a elfa e então o silêncio dominou o lugar. – A marca o
mataria. – concluiu.

Hermione afastou seus olhos do da elfa sentindo-se em choque. Ela já sabia


sobre a marca antes mesmo da elfa fazer sua conclusão, mas escutar dela
pareceu lhe atingir ainda mais grosseiramente. Seu coração doeu como se
estivesse sendo esmagado. Pensou em Harry, Rony, Gina, todos os
Weasley, sua mãe, seu pai, os membros da Ordem, sua vida fora daquele
lugar. Ela nunca mais voltaria para eles. Não enquanto Voldemort vivesse.
Se era esse o sofrimento que Voldemort estivesse esperando que ela
vivesse então ali ela seria capaz de trocá-lo por uma vida inteira de
maldições imperdoáveis que fizessem ela gritar e se contorcer contra o
chão. Seria melhor do que conviver com a escravidão e o aprisionamento
eterno. A sensação de pertencer a ele. A Voldemort. Era nojento. Era
repugnante. Era assustador.

- A Srta. Sangue-ruim deve se apressar. – a voz da elfa soou e então


num estalo ela sumiu novamente.
Hermione se encolheu em um canto da banheira. As lágrimas agora
escorriam silenciosas. Ela ficou quieta encarando a marca cravada agora em
seu braço. Se antes ela tinha a ilusória esperança de que pudesse ser
inteligente e estratégica para conseguir escapar, agora ela se sentia
condenada. Completamente condenada. A uma vida da qual ela não tinha
escolhas. A uma vida da qual ela não poderia sair. Não, até que Harry
matasse Voldemort.

**

A elfa precisou forçá-la a deixar seu banho. Precisou quase carregá-


la até o closet e precisou ordenar vezes seguidas para que ela endireitasse
a postura. Hermione fazia tudo como se algum programa em seu cérebro,
bem longe do consciente, estivesse a guiando.

A sua frente no closet cercado por araras e espelhos ela viu três exagerados
vestidos que a elfa havia separado.

- A Srta. Sangue-ruim pode escolher um deles. – fez soar Tryn.

Hermione os analisou sem interesse. Não se via vestida em nenhum deles


apenas porque a deixariam quase desnuda e eram exagerados em linhas
decorativas.

- Não usarei isso. – Embora Hermione não estivesse medindo qualquer


palavra sua, dessa vez ela precisou se esforçar para fazer sair seu tom de
repugnância.

- A Srta. Sangue-ruim tem o corpo que Tryn nunca viu em mulher


alguma e precisa saber usá-lo para agradar meu senhor. Tryn sabe que seu
senhor gosta de mulheres vulgares.
- Eu não vou me tornar alguém vulgar apenas para agradar seu senhor.
Nada em que eu me transforme pode agradar o seu senhor. Ele me odeia.
Sou nascida trouxa. – Hermione pegou um dos vestidos. O que mais
aparentava ter pano. Estendeu-o a elfa. – Mude o corte!

- Tryn não tem ordens para acatar os pedidos da Srta. Sangue-ruim. –


a elfa disse calmamente.

- É um elfo doméstico e eu estou pedindo para que mude o corte do


vestido. – Hermione soltou o ar – Por favor.

- Tryn seria castigada...

- Eu também seria! – Hermione a cortou. – Ele lhe deu ordens para que
eu estivesse apresentável, não desnuda...

- Mas Tryn sabe como o meu senhor gosta de ver uma mulher vestida!

- Eu não me importo com o que ele gosta ou deixa de gostar! –


Hermione notou que havia elevado o tom de sua voz. – Mude o corte do
vestido, Tryn! Mude! Por favor! Eu estarei apresentável. Assim como foi
ordenado a mim estar, e a você me deixar! Por favor.

Tryn a olhou com receio. Sabia que não deveria acatar ordens da mulher,
mas não eram ordens, eram pedidos quase suplicantes. Sabia das mulheres
que ela mesma vestia como prostitutas para o seu senhor, sabia do que o
agradava, sabia que quando seu senhor a ordenara que aprontasse
Hermione Granger para o jantar ele estava se referindo a deixá-la como
todas as mulheres que ela arrumava para ele. Mas as ordens não haviam
sido claras e o pedido da mulher a sua frente agora encontrava todas as
brechas necessárias para que Tryn pudesse escolher entre ajudá-la ou não.

Tryn estralou os dedos e Hermione percebeu que o vestido em suas mãos


sofrera modificações. Ela o abriu frente ao seus olhos e o viu num tom azul
camurça que enganava atingir o tom preto em suas curvas. O decote havia
sido fechado para um quadrado e embora ainda lhe parecesse mostrar mais
do que o devido com as mangas lhe caindo pelo braço o corte despojava de
um elegante, vulgar e comportado ao mesmo tempo.

Hermione o vestiu. Apertou o cinto em sua cintura como o modelo sugeria e


se sentiu confortável embora sentisse que seus seios haviam ganho um
volume amais com o decote quadrado revelando partes dela que poucas
vezes estiveram expostas ao sol. Olhou-se no espelho e embora seus
cabelos estivessem molhados e embaraçados ela se sentia diferente com
aquele vestido caro. Sentia-se bonita. Bem longe da mulher de jeans e
camiseta que era. Ela se sentia como na realeza britânica, mas ainda se
sentia ela mesma. Sorriu, mas ele logo morreu. Não conseguia sorrir.

- Obrigada, Tryn. – disse a elfa com a maior sinceridade que conseguiu


tirar de dentro de seu coração.

Os olhos da elfa brilharam, mas ao invés de responder a mulher, apenas


arrastou para ela um par de sapatos alto num tom marrom muito
desbotado. Hermione os calçou. Admirou-se novamente no espelho e
parabenizou mentalmente Tryn pelo excelente gosto.

A elfa ordenou que ela se sentasse em uma cadeira próximo a uma das
araras que circulava um espelho mais reservado. Hermione se sentou e
Tryn passou a trabalhar em seu cabelos. Segurava-o e soltava estalos com
os dedos e aos poucos Hermione via a agilidade da pequena criatura em
dominar com destreza suas madeixas.

Em poucos minutos a elfa deixou seus cachos com uma perfeição que
Hermione nunca os viu antes ter. Nos que se seguiram ela conseguiu
prender as mechas da frente em um lindo penteado no topo de sua cabeça.
A pequena criatura girou sua cabeça e começou a trabalhar em seu rosto
dessa vez. Foi um trabalho rápido e quando a elfa tornou a virá-la para o
espelho Hermione pode ver que não houve muita modificação além de ter
sido corada nas bochechas e delineada nos olhos muito discretamente. Ela
se sentiu a mulher mais linda do mundo, mas isso não melhorava seu
ânimo nem um pouco.
Acompanhou Tryn quando ela a carregou para fora do quarto. Hermione se
sentiu grata por ter uma guia. Tentou decorar as esquinas que virava, mas
eram muitas. Desceu uma colossal escada que antes ela havia subido para
chegar ao seu quarto, deparou-se no saguão de entrada, viu a porta dupla
pesada e gigantesca tipicamente gótica em seu topo e entendeu porque se
referiam ao lugar como catedral. Avançou sem perder os passinhos rápidos
da elfa e notou que por onde passava e cruzava com humanos, eles lhe
lançavam olhares estranhos que variavam do desprezo para a admiração.

Passou por várias portas até chegar a um salão extenso e retangular que
dispunha de uma mesa com cadeiras de encosto exageradamente altos
feitas de uma madeira escura e envolta de estofados vinhos muito pouco
chamativos.

Quase todas as cadeiras estavam ocupadas e todos os olhares se voltaram


para ela assim que entrou. Hermione reconheceu os rostos dos comensais
mais famosos do ciclo interno de Voldemort. Comensais da linha de frente
de missões. Comensais que partilhavam dos segredos de seu metre.
Comensais que sentavam a mesa de seu mestre.

Hermione se lembrou das palavras de Draco Malfoy que indicavam a cadeira


que deveria se sentar, mas mesmo de longe ela viu seu lugar ocupado por
ninguém menos que Bellatrix Lestrange. Procurou por Malfoy e não o
encontrou. Respirou fundo e tentou não murchar a postura nem se deixar
mostrar abalada. Parou de acompanhar a elfa porque ela havia parado.
Todos os olhos estavam sobre Hermione e o silêncio era completamente
desconfortável.

Deu um passo fazendo ecoar seu salto contra o piso de mármore pavão.
Deu outro e mais outro e passou pela elfa parada. Os olhares continuavam
fixos sobre ela enquanto avançava para a cadeira que se sentava a mais
famosa das comensais. Parou quando chegou perto suficiente. Seus olhos
âmbar estavam fixou nos negros de Bellatrix que a olhava com um desgosto
incontido. Sentia todos os olhares sobre ela. Sentia que a qualquer
momento ela cairia no chão sem vida por uma maldição jogada por algum
deles.
Puxou o ar e abriu a boca para avisar que a outra estava ocupando seu
lugar, mas precisou parar assim que uma porta a suas costas foi
escancarada e por ela entrou Draco Malfoy.

- Está sentada no lugar da sangue-ruim, tia Bella. – a voz dele soou


fazendo vibrar as taças de cristal da mesa posta.

Bellatrix fez uma cara engraçada e fuzilou Hermione com seus olhos
medonhos.

- Esse é meu lugar! – ela disse pausadamente sem esconder o ar


raivoso de sua voz.

- Não mais, Bella. – Voldemort escancarou outra porta ao fim do salão e


entrou junto com Lúcio Malfoy.

- O que! – Bellatrix disse numa oitava acima do tom normal. – Esse


sempre foi o meu lugar, mestre! A sua direita! Sentado ao seu lado! Está
dando-o a sangue-imundo? – ela dizendo parecia um tremendo de um
abuso.

- Sim. – Voldemort disse calmamente. – E por favor, Bella, sem


escândalos.

Um murmúrio baixo e rápido percorreu por todos da mesa. Bellatrix se


levantou quando seu mestre se aproximou e tocou o rosto da comensal.
Hermione se afastou tanto quanto pode.

- Sinto-me ofendida depois de todos esses anos de completa devoção...


– Bellatrix começou, mas seu mestre a cortou.

- Entenderá o porque das minhas decisões quando o tempo bem convir,


minha querida Bella.
Bellatrix rosnou mas pareceu tão verdadeiramente fascinada pelas palavras
de seu mestre que simplesmente cedeu dando a volta na cadeira e
sentando-se na próxima encarando mortalmente Hermione quando o
caminho que fez lhe permitiu.

Todos haviam tomado seus lugares. Inclusive Voldemort. Mas Hermione


permanecia de pé. A presença daquele rosto ofídico enfraquecia qualquer
membro seu.

- Sente-se, Granger. – a voz profunda de Malfoy a despertou.

Ela o encontrou sentado bem de frente a cadeira que Bellatrix havia


abandonado, bem ao lado oposto da cabeceira onde Voldemort ocupava.

Hermione se sentou.

O silêncio.

Cada músculo dela estava tencionado por estar ao lado da figura mais
temível do mundo naquele momento. Notou que o olhar de Malfoy nunca se
encontrava com o dela e de certa forma ela agradeceu o modo com que
estava sendo ignorada, mas sentada ali ela se sentia como parte deles e
isso a incomodava ainda mais.

- Convoquei a todos para um anúncio muito importante, mas


primeiramente gostaria que todos se servissem e aproveitassem o jantar. –
Voldemort disse e embora parecessem palavras muito convidativas, a
entonação que havia usado apresentava todo um ar entediado.

Assim surgiu o banquete e muito educadamente todos se serviram exceto


Hermione que permaneceu sem mover um músculo sequer. Sentiu-se como
um fantasma por ninguém estar realmente lhe dando atenção alguma.
- Mestre. – a voz de Walden Mcnair soou por toda a mesa chamando a
atenção de Voldemort após ele ter limpado a garganta. Hermione
reconheceu o comensal. – Todos nós temos nos questionados sobre
algumas dúvidas que não nos puderam ser bem esclarecidas quanto a
sangue-ruim. – começou ele muito cuidadosamente nas palavras. –
Gostaríamos de saber se essas perguntas poderão ser feitas e respondidas
ou devemos nos permanecer calados.

O silêncio e Hermione sentiu o olhar de Voldemort pular dela para seus


comensais. Ela não ousaria olhar para ele. Apenas fixou seus olhos nos
cinzas de Draco Malfoy que se ergueram para ela certificando-se de que ela
não faria soar sua voz.

- Acredito que fui claro e transparente quando disse que agora ela é
uma de nós...

- Mestre, ela é uma sangue-ruim! – interrompeu Selwyn.

- Vai questionar minhas decisões, Selwyn? – seu tom soara ameaçador.


Selwyn engoliu suas palavras. – Sim, ela é uma sangue-ruim. – Voldemort
direcionou-se agora para toda mesa. – Mas como comensais de confiança.
Comensais do meu ciclo privado. Comensais que estão comigo desde o
início. Todos sabem que ela não é apenas uma sangue-ruim! Todos sabem
que ela não é apenas mais uma sangue-ruim nessa guerra! Todos sabemos
o que ela significou e agora ela está conosco e todos sabem o que isso
significa para guerra portanto sem comentários, sem perguntas, sem
reclamações. Todos seguirão minhas ordens.

Voldemort concluiu e agora finalmente reinava o silêncio. Hermione


permanecia com seu olhar colado no de Draco Malfoy que ainda se
certificava de que ela estava bem calada. Segundos depois ele desviou para
sua comida novamente passando a ignorar a presença dela. Hermione se
sentiu desafiada com aquele olhar ameaçador dele. Foi como vê-lo ter
novamente seus dezesseis anos lançando olhares para ela e seus amigos
em Hogwarts. Foi como voltar aquela guerra infantil de gato e rato. Ela
abriu a boca para revidar qualquer coisa irônica as palavras de Voldemort
numa impulsiva loucura insana, mas em um segundo ela se lembrou de
Luna e então a guerra infantil que eles tinham naquela época sumiu para
um canto distante de suas lembranças dando lugar a seriedade do que eles
viviam agora. O ápice da guerra. Tudo era tão intenso, tão assustador e tão
minimamente sério que a fez recuar no seu espírito aventureiro.

Para Hermione, aquilo se estendeu por horas. O silêncio. O barulho dos


garfos raspando no fundo do prato, os olhares desgostosos que recebia com
frequência. Ela apenas permanecia calada e sem mover um músculo
sequer. O cheiro da boa e cara comida inundava sua alma e a transportava
para uma dimensão que fazia sua boca salivar mais do que o normal de
qualquer ser humano. Ela tinha fome. Mas não ousava comer. Não junto
com eles. Não podia se sentir mais parte de tudo aquilo do que já se sentia.

Num momento em que ela se questionava há quantos meses estavam


presos ali a jantar, Voldemort fez soar um pigarreio e então ele se levantou
com uma taça de prata nas mãos.

- Quero propor um brinde. – ele começou e Hermione viu Draco a sua


frente soltar seus talheres e pegar sua taça num tédio explícito. Todos os
outros comensais fizeram o mesmo. Hermione não ousava olhar para
Voldemort, mas sabia que ele se demorava em continuar porque aquele
olhar ofídico estava sobre ela. – Você também sangue-ruim. – Hermione
precisou se focar em Luna para não ser agressiva, soltar qualquer palavra
de rebeldia ou agir de modo descontrolado. Apenas estendeu sua mão e
segurou a taça cheia e intocada a frente de seu prato. – Um brinde ao
noivado de Draco Malfoy e Hermione Granger.

Silêncio.

Ninguém brindou.

Hermione sentiu todo o seu corpo queimar pelas palavras de Voldemort e


quase derrubou a taça que havia acabado de pegar. Olhou para Draco e o
viu com a mão em sua taça olhando para seu mestre como se ainda
tentasse processar a moral da frase. Num segundo ele abriu um sorriso
forçado e riu fracamente.
- É uma piada, não é? – a voz do loiro soou indecisa.

Voldemort puxou o ar tediosamente e abaixou sua taça quando ninguém o


acompanhou em seu brinde. Foi a vez de Lúcio Malfoy intervir.

- Concordei com o mestre sabendo que essa decisão o faria


compreender um pouco mais sobre eu e sua mãe...

- MAS QUE PORRA ESTÁ TENTANDO FAZER COM A MINHA VIDA? –


berrou Draco se levantando dessa vez. Todos se assustaram com a voz
poderosa que ele tinha. – MINHA VIDA! – frisou ele e Hermione precisou
fechar os olhos puxando o ar e o prendendo ao sentir que a onda furiosa
que o homem a sua frente emanava a atingia assustando-a. – ACHA QUE
AINDA SOU UMA CRIANÇA? QUE PODE FAZER ESCOLHAS POR MIM? – ele
ofegava furioso quando Hermione tornou a abrir os olhos desejando estar
bem longe dali.

- Draco, - Lúcio continuou ainda numa voz calma. – o fará entender


muitas coisas sobre nossa família...

- NÃO COLOQUE A DESGRAÇA DA NOSSA MALDITA FAMÍLIA NO MEIO


DISSO! – Draco o cortou novamente. – VOCÊ ESTÁ SEMPRE QUERENDO
ARRUMAR DESCULPAS! – voltou-se para Voldemort. – EU VENCI BATALHAS
EM SEU NOME! TE ENTREGUEI PAÍSES INTEIROS E VOCÊ ME DÁ UMA
SANGUE-RUIM? – ele jogou a taça de cristal contra a parede. – UMA
MALDITA SANGUE-RUIM! – empurrou sua cadeira quase a levando ao chão
e começou a pisar forte para a saída. – EU A TROUXE PARA QUE A
MATASSE! – voltou-se novamente para Voldemort. – SE NÃO A MATAR EU
O FAREI! – ele não media a irresponsabilidade de estar apontado o dedo
para seu mestre.

- Se a matar eu o matarei em seguida. – Voldemort fez soar numa voz


sem pressa e ao mesmo tempo ameaçadora. Draco não se importou, deu as
costas e seguiu com seus passos pesados. – DRACO! – dessa vez a voz de
Voldemort pareceu ter alcançado a alma de todo o continente europeu.
Draco parou e se virou. Uma expressão fria, intocável e orgulhosa estava
estampada em seu rosto. Nenhuma palavra que Voldemort pudesse soltar
mudaria aquela expressão. – Você é meu comensal. Fiz de você o que é
hoje. – terminou o ofídico sabendo que aquelas palavras bastariam para
ele.

- Não. Sabe que não, – ele torceu o nariz numa careta. – mestre. – fez
uma reverência irônica e sumiu batendo com força a porta pelo qual saíra.

Voldemort soltou um longo suspiro cansado. Encarou seus comensais a


mesa e descansou sua taça sobre ela.

- Bem. O anúncio está dado. – dizendo isso o ofídico se retirou.

Todos os outros o seguiram em silêncio fazendo comentários baixos entre


si. Hermione não ousou olhar para nenhum deles.

- Prepare-se para sofrer na minha mão, sangue-imundo. – ela escutou


a voz arranhada de Bellatrix em seu ouvido e precisou segurar firme os
braços de sua cadeira para não pular de susto.

Ousou olhar para a mulher enquanto ela tomava seu caminho de saída e a
viu vestida num lindo e exagerado vestido vermelho, mais vulgar do que
qualquer outro que Tryn havia a apresentado naquele closet. Desviou o
olhar com pressa temendo ser pega em seu ato depravado.

Permaneceu ali quando todos se foram. Ignorando-a como se ela fosse


algum tipo de fantasma sob alguma capa de invisibilidade. Permaneceu
calada e sem mover um músculo como havia ficado durante todo o jantar.
Encarou a comida a sua frente e teve vontade de atacá-la mas antes que
ela pudesse tudo desapareceu. Ela fechou os olhos lamentando, mas logo
teve que os abrir. Tudo por causa do medo. Não podia fechar os olhos. Não
conseguia.

- Tryn. – ela sussurrou baixo incerta de que a elfa apareceria ou não.


Tryn apareceu num estalo e Hermione soltou o ar aliviada. – Posso comer
em meu quarto? – perguntou receosa.
Tryn a encarou com seus grandes olhos amendoados. Hermione quase
podia escutá-la dizer que o jantar havia sido encerrado, mas logo a elfa
abriu a boca e pronunciou bondosamente:

- Tryn pode providenciar isso para a Srta. Sangue-ruim.

Hermione tentou sorrir, mas não conseguiu.

- Obrigada. – disse quase num sussurro. A elfa assentiu e fez menção


de que sumiria. – Tryn! – Hermione chamou sua atenção antes que a outra
fosse embora. – Não sei voltar para o meu quarto.

Ela se sentiu envergonhada quando a elfa soltou um suspiro reprovador.


Dessa vez conseguiu abrir um fino sorriso que logo sumiu sem deixar
resquícios.

**

Ela sentia seu corpo vagar em uma realidade fora da do comum.


Tudo parecia muito calmo, muito confortável e muito quieto enquanto uma
voz masculina soava forte, distante e constante da nuvem que ela parecia
planar. Estava ali fazia horas e aquele estado a satisfazia de maneira que
não tinha vontade de sair nunca, mas quando ao longe o tempo pareceu
fazer sentido, ela se questionou o que estava acontecendo. Foi quando seus
olhos se abriram e ela sentou-se quase que num pulo ao acordar para a
realidade.

O cenário se resumia ao whitehall, seu quarto. Por um segundo ela


teve uma pontada de alívio percorrendo pelo corpo ao saber que não era
uma cela escura e fria, mas no segundo seguinte ela se lembrou do dia
anterior e todos os seus músculos tencionaram-se. Estava sentada na
maravilhosa e confortável cama ao qual passara a noite. Tudo parecia mais
claro do que no dia anterior naquele quarto e ela percebeu que isso era
devido a luz de um dia nublado que se fazia passar pelas cortinas finas da
fachada de janelas ao lado de sua cama.

A voz masculina constante que soava em seu sonho agora era mais clara e
ela notou que vinha do lado de fora. Não do corredor, mas da janela.
Hermione se arrastou para fora da cama sentindo o frio golpear seu corpo
quando se viu vestida em nada menos do que a camisola fina que Tryn
havia deixado disposta sobre sua cama quando ela voltou do jantar.

Caminhou até a fachada de janelas e afastou com cuidado a cortina. Teve


de prender a respiração ao encontrar aquilo que seus olhos jamais haviam
esperado encarar. Uma enorme praça se estendia dois andares abaixo do
que ela se encontrada. Estava abarrotada de milhares de homens
enfileirados em uma mesma posição. Estavam sérios enquanto ninguém
menos que Draco Malfoy passeava entre eles fazendo soar de forma bruta,
alta e imponente sua voz. Era o líder deles e isso estava claro para ela
quando todos os milhares de homens urraram em uníssono uma
concordância assustadora as palavras de Malfoy. Ao longe da praça, pela
vista que ela tinha, pode ver uma muralha próxima de pedras cinzas
justapostas. Podia ver pontos se mexendo no topo como se fossem guardar.
A muralha sumia de vista e tudo que ela podia apreciar além dela e da
praça eram os tetos em platibandas, lajes e telhas inclinadas de dezenas e
mais dezenas de edificações que sumiam no horizonte. Ela suspirou.
Brampton Fort. Hermione não imaginava que pudesse ser tão grande.

Afastou-se da janela e por um motivo que ela entendia e não entendia seu
coração estava disparado. Tornou a sentar-se na cama e ali ficou por um
tempo que não lhe fez questão alguma saber.

O sol não apareceu nunca. O dia ficou nublado. O exército da praça se


dissipou e tudo entrou num silêncio consumidor e ela permaneceu ali,
sentada em sua cama.

Whitehall

Parecia muito acolhedor. Apenas parecia. Não era.


Tryn apareceu num estalo que a assustou. Qualquer mínimo barulho a
assustava. Hermione não fazia a mínima ideia de que horas eram quando a
elfa veio até ela num estado afoito e um tanto furioso.

- A srta. Sangue-ruim perdeu o desjejum! – exclamou Tryn em sua


vozinha esganiçada enquanto puxava de uma vez o espesso edredom que
cobria as pernas da mulher sentada. – Tryn precisa garantir que a Srta.
Sangue-ruim não perca os compromissos a qual deve comparecer! – ela
tremia e parecia ter sofrido sérias agressões recentemente. – Se Tryn não
cumprir com seus deveres, Tryn será punida severamente por seu senhor...
– e a elfa sumiu para dentro do banheiro.

Hermione manteve-se quieta assim como havia permanecido toda manhã. A


elfa reapareceu com seus passinhos apressados praguejando sobre algo
muito baixo. Ela vinha dando ordens e por algum motivo isso fez Hermione
se lembrar de Molly Weasley. Seu coração apertou dolorosamente enquanto
ela se via arrastar-se para fora da cama e seguir para o banheiro despindo
da fina camisola que usava para entrar no banho quente que Tryn havia
preparado.

O processo foi o mesmo do dia anterior, seu banho, o closet, o pedido para
que mudasse o corte do vestido, sapatos, cabelo, maquiagem e então
finalmente ela estava de volta a realeza britânica quando se olhou no
espelho no fim de todo o processo. Escutou as ordem ditadas por Tryn
sobre o horário que deveria acordar, o horário que deveria comparecer ao
desjejum, o horário que deveria comparecer para o jantar, o horário que
deveria comparecer aos chás da tarde com as senhoras de comensais, o
horário que deveria comparecer as leituras de atas da guerra, o horário que
era permitido visitar a biblioteca, o horário que ela tinha permissão para
visitar os centros de Brampton e finalmente o horário que ela tinha
permissão para se retirar e dormir.

- Quero ver Luna. – foi o que Hermione disse após todo o discurso
sobre os horários que deveria seguir.

- Não tem permissão. – a elfa respondeu.


- Tenho sido obediente. Seguirei todos os horários. Estou fazendo as
vontades de Voldermort!

A elfa tremeu assim que o nome foi pronunciado.

- A Srta. Sangue-ruim não pode se referir ao mestre de maneira tão


irreverente!

- Tenho feito as vontades dele! – ignorou Hermione. – Quero ver Luna!

- Tryn apenas segue ordens! A Srta. Sangue-ruim não tem permissão.


– e aquilo pareceu um grande ponto final.

Hermione soltou o ar frustrada. Para uma prisioneira ela até que estava
sendo muito inconveniente ao exigir encontrar com a amiga.

- O que devo fazer agora? – perguntou então sem se preocupar em


esconder seu aborrecimento.

- Há um mês a elite das filhas de comensais fazem reuniões semanais


sobre a festa de apresentação da Srta. Ellie Nott que está regressando de
Hogwarts no final da primavera. – disse a elfa. Hermione não tinha idéia do
que aquilo significava. – O mestre quer que compareça as reuniões e a
próxima acontecerá em exatos dez minutos, portanto a Srta. Sangue-ruim
deve me seguir.

- Tenho opção?

- Não.

E então ela apenas deixou que seu corpo fosse guiado pelos passos da elfa.
Deixar Whitehall era sempre desconfortante. Tinha a impressão de que não
seria perturbada se estivesse segura ali dentro, mas quando começava a
andar pelos labirintos da catedral de Voldemort era como se sentisse que
estava sendo jogada á imensidão do universo onde a qualquer momento
qualquer coisa ruim pudesse lhe acontecer.

O caminho foi mais longo do que o do dia anterior para a sala de jantar. As
cores que compunham os ambientes sempre procuravam manter a escala
cinzenta e os tons mais mortos que poderia existir dentro de uma paleta de
cores. Não era de se admirar.

Foi deixada em um salão qualquer depois de ter subido e descido escadas,


cruzados salas, salões e mais milhares de corredores. Esse era pequeno. O
piso do mesmo mármore pavão, as paredes eram pedra aparente e o teto
sempre muito alto. Havia vitrais numa das fachadas. Mas Hermione não
teve muito tempo para analisar a decoração do salão. Não naquele
momento. Haviam olhos em cima dela assim como no jantar da noite
anterior.

Eram todas moças muito bem cuidadas. Tão bem vestidas como Hermione,
mas não tão bem comportadas quanto ela. Quase todas usavam decotes
que iam muito além do generoso e muitas delas não se importavam com a
transparência do tecido. Mas ainda assim não eram todas. Hermione
salvava algumas que tentavam não ser tão vulgar. A unanimidade que
havia entre todas elas era o olhar. O olhar de desconforto e desprezo.
Todos em cima de Hermione.

- Foi nos avisado que estaria aqui. – quem tomou a fala foi uma
mulher. A voz não era estranha. – Hermione Granger. – então ela surgiu do
meio das outras para a suas vistas.

Hermione sentiu seus dedos formigarem.

- Pansy Parkinson. – foi tudo que Hermione foi capaz de dizer ao


encarar os longos cabelos pretos e lisos da mulher. Aqueles olhos azuis
eram inconfundíveis. A postura também. Mas aquele vestido era muito
diferente dos couros que Hermione já havia a visto usar. A mulher vestia
um veludo azul petróleo que puxava uma fenda do fim de seu vestido nas
coxas até a altura do quadril. Da cintura para cima nada mais era do que
um tecido fino e transparente que voltava ao veludo apenas para lhe cobrir,
quase que de maneira obrigada, a parte da frente dos seios. Seu colo
estava exposto. Pálido. E chamava atenção para um colar dourado com uma
pedra vermelha muito cara reluzindo de maneira imponente sobre todo o
visual. Hermione não sabia se olhava para o colar, para os olhos, ou para as
partes do corpo da outra que se mostravam livremente a curiosidade alheia.

- Quem diria. – Pansy andou até ela. – Nunca imaginei que estaríamos
nessa situação um dia, sangue-ruim. – ela suspirou dramaticamente e
balançou no ar a taça de espumante que tinha nas mãos. – Eu ainda
esperava ter a chance de te matar, não de ter que te receber em uma
reunião com minhas amigas. – ela sorriu. – Quer alguma bebida? – o tom
foi ironicamente educado.

Hermione estreitou os olhos. Sentia a vibração desgostosa de todas elas.


Queria fugir dali, mas para onde? Whitehall? Para que na outra semana ela
fosse obrigada a estar exatamente ali novamente? Puxou o ar e manteve
sua postura.

- Seria muita gentileza se não viesse acompanhada de algum tipo de


veneno. – respondeu irônica.

Pansy riu.

- Bem que eu queria que realmente tivesse, sangue-ruim. – suspirou


falsamente aborrecida. – Mas quem sou eu para tocar na nova pedrinha
preciosa do mestre. – riu e deu as costas. – Sirva-se. – apontou para
alguns elfos que estavam estáticos em um canto do salão carregando taças
e garrafas de várias bebidas. – Depois sente-se porque hoje temos muito o
que discutir, não é meninas?

Nenhuma delas respondeu, mas voltaram a conversar entre si tirando


Hermione do foco de visão. O que trouxe a ela um certo alívio.
Foi até os elfos e se serviu daquilo de mais forte que eles tinham. Não era,
na verdade, tão forte quanto ela gostaria que fosse mas na terceira golada
já sentiu como se sua cabeça estivesse querendo flutuar. Foi o suficiente.

Sentou-se como Pansy havia dito e apenas esperou. O tempo passou


devagar e a reunião havia sido o ápice de futilidade que ela já presenciara
na vida. A garota Nott estava vindo formada de Hogwarts e a festa tinha a
intenção de apresentá-la a Lorde Voldemort. Para Hermione era um grande
pretexto para festa.

Como comensais podiam estar pensando em festa em meio a uma guerra?


Será que aquelas mulheres conheciam o mundo como ele estava fora das
muralhas de Brampton Fort? Pansy certamente conhecia e ainda assim se
preocupava com preparativos para festas? Hermione não sabia o que
significava genuinamente uma festa desde o fim de seu sexto ano e a
verdade era que não sentia falta. Sentia falta mesmo era de paz, descanso
e tranquilidade. Tudo que a guerra não permitia que ela tivesse.

No entanto, permaneceu ali. Invisível. Cumpriu seu papel para que ninguém
viesse fazer mal a Luna. Sentiu-se tão inútil que seu mundo se fechou na
taça que tinha em mãos e na cadeira que estava sentada. Poderia ter
permanecido ali pelo resto de seus dias se num determinado momento ela
não tivesse escutado seu nome. Sim, seu nome, e não o tão usado:
“sangue-ruim”.

Ela tentou procurar quem havia dito enquanto ponderava a opção de estar
alucinando, mas então ela viu a mulher da voz reafirmar a pergunta.
Lembrava-se daquele rosto. Embora a maquiagem estivesse bastante
carregada ela se lembrava muito claramente daquela mesma voz e das
linhas daquele rosto. Já havia feito dupla com ela em uma das aulas de
Runas Antigas em Hogwarts no terceiro ano. Era uma garota Corvinal. Ou
talvez Hermione estivesse só em um estado louco de consciência.

- Quer mesmo minhas considerações? – respondeu quando a outra


tornou a lhe perguntar sobre o que achava.
- Não. – ela respondeu muito sinceramente. Embora tivesse soado
muito gentil o interesse da mulher sobre as opiniões de Hermione a
expressão que ela tinha impressa no rosto não era de nada amigável ou
simpático.

Hermione se limitou a dar de ombros.

- O que posso fazer senão concordar?

- Nada. – a mulher acrescentou e então seguiu-se a roda quando a


mulher fez a mesma pergunta a outra que estava ao lado de Hermione.

Num instante Hermione sentiu que poderia explodir, correr até a mulher,
segurar seu pescoço fino e sensível até vê-la ficar roxa, mas no outro ela
simplesmente se perguntou de onde havia tirado tamanha agressividade de
dentro de si. No instante subsequente ela pôs-se de pé. Sentiu os olhares
sobre si. Ignorou-os e deu as costas. Ficou escutando o barulho de seu salto
avançando pelo mármore do piso ecoando no salão para preencher o
enorme silêncio que as mulheres faziam ao encará-la tomando o rumo da
saída.

Quando bateu a porta do salão e se viu no corredor que Tryn a deixara ela
percebeu que suas mãos tremiam contra a taça que segurava. Como podia
ser tão invisível e em um segundo atrair tanta atenção?

Passou a andar. Deixou que seus pés a carregassem. O mármore do piso


era sempre o mesmo e o labirinto de espaços tão igualmente repetitivos
quanto o chão. Soube que largou sua taça vazia em algum lugar dos quais
havia passado quando lhe surgiu a oportunidade de fazer. Continuou a
andar até se ver perdida.

- Tryn. – sussurrou quando parecia estar tomando rumos escuros. A


elfa apareceu num estalo. – Me leve para algum lugar onde eu possa ser
sempre invisível.
A elfa pareceu olhar confusa para ela.

- Tryn não tem permissão para pegar capas da invisibilidade.

Hermione soltou o ar sem muita vontade de fazer algo.

- Posso ir ao meu quarto? – perguntou.

- A Srta. Sangue-ruim tem permissão para se retirar somente após o


jantar. – disse a elfa muito categoricamente.

- Posso ir a biblioteca?

- No devido horário. – respondeu a elfa e Hermione se lembrou que


ainda não era o horário devido.

Bufou. Será possível? Que maldito lugar aquele!

- Há algum lugar para onde eu possa ir com algum enxame de gente


que não note a minha presença?

- Talvez o centro da cidade. – respondeu a outra – Mas muito


dificilmente há algum lugar em que a Srta. Sangue-ruim não seja notada.

- Não quero ir a essa maldita cidade! – Hermione quase se viu gritar.

- Há uma audiência aberta sobre os rumos da guerra. – disse a elfa e


finalmente Hermione prendeu a respiração, sentiu seus ouvidos se abrirem
e sua mente clarear. Sim! Aquilo lhe interessava muito! Será?
- Tryn, me leve para esse lugar! – exclamou.

Então lá estava ela seguindo os passos apressados da elfa. Sentiu o efeito


do álcool querendo abandoná-la. Seu espírito estava criando um ânimo
enquanto ponderava sobre os benefícios que poderia ter estando tão perto
daquele lado da guerra. Talvez ela pudesse conseguir algum tipo de
informação. Talvez ela conseguisse levar isso até o conhecimento da
Ordem. Talvez ela não precisasse ser agora somente a escrava eterna de
Lorde Voldemort.

Seu coração quase parou quando Tryn a introduziu num auditório


gigantesco e abarrotado de gente. A elfa sumiu como sempre fazia e lá
ficou Hermione encarando a vastidão daquele lugar, a quantidade de
pessoas e a acústica perfeita que fazia soar uma voz vinda de uma mesa
redonda no centro de toda aquela arena. A mesa estava composta por
alguns comensais muito conhecidos que Hermione reconheceu por estarem
sempre em frete de batalhas e missões em nome de Voldemort. Entre eles
estava sentado Draco Malfoy com o ar mais poderoso que alguém poderia
ter. Sempre a surpreendia saber que ele não tentaria matá-la ou capturá-la
caso viessem a se esbarrar. Ela se lembrava de Draco Malfoy apenas como
o garoto insuportável que convivera com ela em Hogwarts. Depois disso ele
era somente o distante comensal do outro lado da guerra, o líder do
exército de Voldemort, nada mais do que um alvo de combate.

Abriu espaço por entre as pessoas tentando ter uma melhor visão da mesa
redonda e quando a conseguiu, parou e tentou absorver o máximo de
informações que conseguia.

Estavam discutindo questões sobre os últimos movimentos do exército


contra as investida dos rebeldes. As perguntas pareciam públicas, como se
tivessem sido tiradas daquela audiência presente ali e todas eram
direcionadas a Draco Malfoy embora um ou outro comensal da mesa
redonda intervisse algumas horas. Malfoy respondia a todas com muito
domínico e conhecimento. Hermione estava se indignando com a forma
como todos achavam muito correto a brutalidade com a qual a ditadura de
Voldemort era implantada.

Seu coração parou dessa vez quando uma pergunta direcionada a mesa foi
a respeito de Hermione Granger fazer parte do ciclo interno de comensais
de Voldemort. A resposta de todos da mesa foram variações do que Lorde
Voldemort dissera no jantar do dia anterior sobre não contestar suas
vontades. Houve alguns acréscimos sobre a importância de não tratá-la
como uma prisioneira comum, Hermione Granger havia representado
demais o nome dos rebeldes para ser tratada como qualquer outro deles. E
assim se seguiu os outros temas abordados pelas perguntas.

Ver tudo aquilo fez Hermione soluçar enquanto sentia sua boca perder a
saliva a cada segundo que se passava. Não era possível que eles tivessem
audiências abertas ao público de Brampton Fort, os protegidos de
Voldemort, salões e catedrais, comida cara, vestidos pomposos e cidades
fortificadas enquanto a Ordem se reunia na sala de jantar da casa de Harry
para discutir os movimentos do exército de Draco Malfoy.

Antes que ela pudesse ser dominada completamente pela frustração e pelo
sentimento de eminente derrota, sentiu duas mãos lhe apertarem os
braços. Sentiu o calor do corpo por trás do seu e uma respiração úmida ao
pé de um de seus ouvidos. Seus pelos todos se levantaram porque ela
conhecida. Conhecia aquelas mãos, conhecia aquele calor e conhecia aquela
respiração. Desvencilhou-se e se virou para encarar ninguém menos que
Viktor Krum.

- Viktor! – ela exclamou. Por um segundo de perturbação emocional e


informacional ela quis jogar-se nos braços dele como se tivesse encontrado
um pedaço do conforto de casa. Mas seu cérebro soube organizar
rapidamente a situação, então no segundo seguinte ela apenas se limitou a
estar em choque e sem reação.

Ele tornou a se aproximar segurando-a novamente pelos braços e colando


seu corpo no dela, voltando a fazê-la sentir sua respiração ao pé do ouvido.

- Fica bem sem jeans. – a voz dele soou estupidamente canalha.

- O que faz aqui? – ela balbuciou numa voz fraca. – O que diabos faz
aqui?
- Surpresa por me ver sendo um comensal? – ele tinha um sorriso
cínico quando se afastou para ter o rosto dela bem próximo ao dele. – Se
eu fosse você não ficaria tanto assim. Seu amigo Ronald Weasley sempre
desconfiou, não foi? Quantas vezes ele a alertou? Talvez você tenha perdido
a conta.

- Por que? – foi tudo que sua voz fraca e em choque conseguiu
pronunciar.

Ele riu e a soltou.

- Talvez se tivesse ido para cama com o ruivo e não comigo, você teria
acreditado nele.

Hermione sentiu todas as lágrimas do universo se acumularem em seus


olhos antes mesmo que ela pudesse processar e entender as palavras dele.

- Maldito seja você, Viktor! De que lado está jogando? – ela conseguiu
dizer sem nem ter consciência de seu cérebro estar funcionando. Apenas se
lembrava das milhares de vezes que Viktor Krum estivera entre eles
naquela mesa de jantar na casa de Harry intervindo a favor da Ordem.

- Jogo do lado que vence, Hermione. – e foi embora sumindo por entre
as pessoas.

Ela ficou estática. Apoiou-se no pilar ao seu lado para se certificar de que
suas pernas estavam firmes sobre o salto. Olhou ao redor e ali ela pode ter
a absoluta certeza do lado da guerra que estava vencendo. Sabia
claramente que lado sempre vencera, mas estando ali ela chegou a
convicção de que a mesa de jantar de Molly Weasley nunca teria poder
suficiente para vencer o império de Lorde Voldemort.

Soluçou e as lágrimas escorreram.


2. Capítulo 2

Draco Malfoy

- Você é um projeto frustrado, Draco. – Voldemort disse.

Draco riu sentando-se na poltrona a frente da de seu mestre. Levou o copo de


whisky a boca e ingeriu o líquido forte enquanto deslizava seus dedos pela
camurça carmesim do braço da poltrona.
- Soa muito ingrato, mestre. - falou divertido.

- Se direciona a mim de maneira muito ousada. – repreendeu Voldemort.

- Está faltando a parte em que me chama de mimado no seu discurso. –


tamborilou os dedos no copo fazendo com que o gelo tilintasse. – O que é uma
grande verdade. – encarou o líquido e tornou a ingeri-lo. Sorriu e encarou o
ofídico a sua frente. – Quer que eu o tema como todos os seus outros
comensais, não quer? Por isso sou seu projeto frustrado?

Voldemort pareceu precisar de um momento de reflexão enquanto mordia o


charuto e deixava Draco se intoxicar com a fumaça expirada.

- As pessoas me temem porque elas tem juízo o suficiente para tal. –


suspirou – Agora você se acha inteligente o suficiente para pensar que pode ser
como eu apenas porque lidera o meu exército. Aproveita-se por saber que
nutro algum sentimento de apreço por você. É rebelde, abusado e mimado.
- Não me julgue um suserano ingrato, mestre, mas não é, de maneira
nenhuma plausível para qualquer ser humano, que domine minha vida da
forma como faz e ainda diga que nutre algum sentimento de apreço.

Foi a vez de Voldemort rir.

- Não enxerga os privilégios que tem, menino Malfoy? - Draco odiava


quando Voldemort se referia a ele daquela forma, como se fosse seu tio querido
que havia lhe dado os melhores presentes todos os natais de sua infância. – Eu
te dei meu exército!

- Matei Dumbledore! O homem que mais temia! Eu me fiz merecer seu


exército!

- Tem acesso direto a mim! Tem acesso a maioria dos meus planos, das
minhas pretensões! Compartilha do meu conhecimento! Da minha sala! Da
minha mesa de jantar!
- Ganhei suas guerras! Não julgue como um presente aquilo que eu
conquistei!

- Controle sua maldita língua afiada e ponha-se no seu lugar, Draco! –


Voldemort fez soar, mas não com a raiva que esperava de seu mestre, e sim
com uma paciência contida. Ele tragou seu charuto e sorriu, o que Draco não
esperava. – Gosto de você. Do orgulho que tem, da ousadia, e da coragem que
seu cérebro te fez ganhar com os anos. Mas é mimado. Mimado demais para
enxergar e para entender o apreço que tenho por você. – soltou a fumaça
calmamente. – Seria meu herdeiro se Lúcio não o tivesse criado tão errado. Por
isso é um plano frustrado. – Voldemort suspirou e deixou o charuto de lado
passando a se levantar. – Mas ainda não deixo de admirar suas qualidades,
Draco. Tem todas das quais eu gostaria que tivesse. Por isso me dará um
herdeiro.

- Por isso me quer casado com uma sangue-ruim? – Draco perdeu o ânimo.
Há uma semana que aturava aquele discurso e tudo que tinha direito a fazer
era pronunciar-se sobre seu claro desagrado. Nada que realmente o isentasse
da tarefa de ter Hermione Granger como esposa. – Está destruindo uma
linhagem inteira de puros-sangue! Os Malfoy são uma família milenar! Fizeram
muitos sacrifícios para manter a família como é.

- Poupe-me do seus textos cheios de orgulho!


Draco se levantou.

- Eu não quero uma sangue-ruim!

- Estou te dando a oportunidade de me dar um herdeiro!

- Trata isso como uma oportunidade? – indagou Draco fazendo uma careta.

- Me desagrada saber do seu pouco caso! Sou seu mestre, não sou?

- Sim! É meu mestre! Mas não sou Bellatrix Lestrange para lamber o chão
que pisa! Sabe que sou seu comensal! Sou o mais sincero de todos. Devoto o
suficiente para te fazer ganhar uma guerra!
- EU NÃO PRECISO DE VOCÊ! – Voldemort voltou-se para ele. Draco soube
que já havia provocado o suficiente com suas palavras sinceras demais. Sabia
que nunca deveria ferir o ego de Voldemort, mas ele gostava de provocar. –
VOCÊ NÃO PASSA DE UMA MÃO DE OBRA BARATA! FAZ O SERVIÇO QUE EU
FARIA MELHOR DO QUE VOCÊ, MAS FAZ PARA QUE EU APENAS DESEMPENHE
O MEU PAPEL DE MESTRE E DITADOR! NÃO SE ENXERGUE COMO ALGUÉM AO
MEU NÍVEL! PONHA-SE NO SEU LUGAR.

Draco calou-se. Qualquer outro comensal teria se ajoelhado em milhares de


“Perdão, mestre!”, mas era sabido que Voldemort conhecia o orgulho de Draco
o suficiente para ter a plena consciência de que ele não se prestaria a esse
papel. Era exatamente nessas horas, quando Voldemort não lhe apontava a
varinha e o amaldiçoava, que Draco via o apreço ao qual ele se referia.
Qualquer outro comensal estaria perdido por despertar a ira de seu mestre.

- SAIA! – berrou Voldemort.

Draco fez apenas uma reverência e deu as costas. Momentos como aquele,
Draco guardava bem em sua memória. Nunca havia sido o tipo de se submetia
a ordens e leis, mas aqueles momentos o fazia se questionar o porque havia
sido comprado tão facilmente por ela.
**

Jogou-se em sua cadeira, puxou a pena sobre a mesa e a girou entre


os dedos habilmente. Ponderou quando deixou sua cabeça pender sobre o
encosto. Sua sala era numa das alas mais afastadas da catedral. Longe até
mesmo da área do quartel, onde seu exército treinava. Seu exército. Podiam
até lutar em nome de Voldemort, mas todos aqueles homens eram seus
homens e se submetiam a suas ordens, que no caso eram as ordens de
Voldemort. Por enquanto.

Por enquanto.

Soltou o ar.

Tinha orgulho por poder se mostrar tão competente em uma tarefa. Claramente
Voldemort fora bem esperto em lhe passar a liderança visto que sua alegria
sempre fora gritar ordens, mas de maneira tão igualmente esperta, Draco se
aproveitara. Seus homens venciam uma guerra. Venciam em cima das
estratégias que Draco varava noites para bolar e seus homens sabiam disso.
Obviamente que quando havia sido mais novo, ele ficara maravilhado com suas
vitórias e sim, lutava por Voldemort. Mas hoje, quando estava na frente de
todo o seu exército, sabia que aquele homens acreditavam mais em sua causa
do que na do ditador. Porque eles tinham história juntos. Voldemort não estava
em campo de batalha com eles, tomando países, matando pessoas, proferindo
maldições, derrubando outros ditadores e outros governos, contendo
resistências nem domando Ministérios da Magia. Voldemort era só um nome
pelo qual eles lutavam e há uns anos isso estava se tornando claro para Draco.
Cada vez mais claro. E as vezes se perguntava se já havia passado pela cabeça
de Voldemort que Draco poderia ser um perigo futuro. Será que Draco
realmente poderia ser um perigo futuro?

Ponderar tais coisas lhe dava dor de cabeça. Mais do que tratar de estratégias
de ataque.

Abriu os olhos quando escutou leves batidas na porta. Ajeitou-se


desleixadamente sobre a cadeira atrás de sua mesa e agitou a varinha para dar
passagem ao visitante.

Sua mãe se mostrou ao passar pela porta. Vinha elegante num dos seus
vestidos escuros, com os cabelos loiros penteados e brilhosos, olhos azuis
poderosos e postura intacta. Draco olhava para aquela mulher e tinha a certeza
de que mesmo depois de todas as guerras que já estivera na frente, ainda não
havia se tornado um monstro. Não havia, porque ele ainda sabia o que era
amor. Sabia, porque amava aquela mulher.
Ela vinha com um envelope nas mãos e não disse nada quando se sentou numa
das cadeiras a frente da mesa e o colocou sobre o colo. Os dois se encararam
em silêncio por longos segundos. Cada um sabia sobre o que o outro
lamentava.

Foi ela quem quebrou o silêncio, puxando o ar, engolindo a saliva e


umedecendo os lábios.

- Sua tia me disse que esteve com o Lorde ontem pela manhã. – a voz era
fria e firme. Sua mãe nunca fora calorosa nem nunca se mostrara emotiva.
Draco sempre se lembrava dela de cabeça erguida, por mais que tivesse todos
os motivos para nunca estar.

- Estive. – confirmou Draco.

Silêncio.
- Ele considerou o nome da família...

- É uma ordem, mãe. – Draco a cortou. – Uma ordem dada pelo meu
mestre. A senhora sabe que não há como reverter as leis de Lorde Voldemort.

- Uma ordem absurda. – expôs a mãe. – Já leu os jornais da cidade? Estão


colocando a sangue-ruim como um prêmio. Uma honra dada pelo mestre a
nossa família! Mas não é isso que as pessoas comentam nas ruas! Dizem que
estamos acolhendo uma sangue-ruim. E o pior! Dizem que você está
apaixonado por ela! Pela beleza dela! Que foi você quem pediu ao mestre para
tê-la como mulher!

Draco sentiu uma fúria repentina pela ingratidão do povo que ele lutava para
manter em segurança, mas logo a engoliu.

- É uma ordem do meu mestre, mãe. – disse frio e seco, mais desejando
vomitar do que ter que dizer aquilo.
Narcisa Malfoy fechou os olhos e baixou a cabeça soltando o ar e comprimindo
os lábios numa reação de aborrecida.

- Disse que nunca se casaria. – sua mãe disse baixo.

- E além de me casar, terei que fazer um filho. – cuspiu Draco.

Sua mãe resfolegou sarcástica.

- Seu pai deve estar adorando tudo isso. – quase soava com nojo.

Draco fez uma careta.


- Por que não deveria afinal? Ser avô do herdeiro de Lorde Voldemort. Tem
ideia de como isso irá parar nos livros de história dos próximos anos? Seremos
a maior família que esteve ao lado do reinado do maior bruxo de todos os
tempos. O herdeiro desse bruxo terá o nosso sobrenome.

Sua mãe ergueu os olhos extremamente azuis para ele. Sabia que sua mãe
sofria por ele.

- Sinto muito Draco. – ela disse. Não havia sido caloroso, mas embora
soara frio, sabia que sua mãe realmente sentia por ele.

- Quando foi que meu pai realmente considerou que eu estaria no meio
desse interesse? Sou só um objeto para os objetivos dele. Isso não é novidade
há muito tempo. – Draco se levantou. - Estou cansado. – deu as costas para a
mãe indo até a abertura dos vitrais. – Cansado de seguir regras, de me
ajoelhar diante das leis de Lorde Voldemort! Não quero me casar com aquela
maldita sangue-ruim. Não quero fazer filho nenhum. Meu pai está me pondo
nessa situação porque quer que eu não tenha alternativas a não ser a de ser
como ele.

A sala jazeu em silêncio e Draco soube que fora além do que deveria ir em suas
palavras. Pode quase sentir as vibrações da tristeza da mãe chegar até ele.
Será que havia chegado a ofendê-la? Virou-se para ela e a encontrou intacta,
sentada em sua perfeita postura sobre a cadeira, mas os olhos dela a
denunciavam como sempre haviam denunciado. Ele suspirou. Foi até ela,
encostou-se na mesa e segurou o rosto da mãe.

- Me desculpe, mãe. – disse.

Ela segurou a mão dele e levou-a aos lábios. Levantou-se e entregou para ele o
envelope que havia trago. Segurou o rosto do filho e ficou na ponta dos pés
para lhe estalar um beijo frio contra o maxilar.

- Seja obediente ao seu pai e ao seu mestre. – ela disse muito baixo, como
se não quisesse dizer. Lançou a ele um último olhar, deu as costas e saiu da
sala deixando Draco novamente sozinho.

Draco enfiou a mão dentro do envelope e tirou de dentro uma pequena caixa
preta de couro. Girou-a levantando-a a altura dos olhos para analisar a linha de
prata que a cercava e o brasão da família Malfoy cravado em relevo logo no
topo. Sabia o que aquilo significava.
Abriu a pequena caixa e encontrou o anel de noivado da linhagem Malfoy.
Aquilo certamente estivera no dedo de sua mãe quando ela havia sido noiva de
seu pai, assim como também estivera antes no de sua avó, no de sua tataravó
e assim por diante. A ideia o perturbava. Fechou a caixa e a pressionou contra
a palma de sua mão fazendo uma careta. Maldita a hora que ele havia trago
aquela sangue-ruim para dentro de Brampton Fort.

**

Ele não dormia bem fazia um bom tempo. Por algum motivo, a Ordem da Fênix
estava se rebelando de uma forma nunca antes vista. Draco sabia que esse
motivo tinha dois nomes bem específicos: Hermione Granger e Luna Lovegood.
Mas tinha que estar agradecido por ter comensais muito bem infiltrados dentro
da organização de resistência.

Levantou-se de sua cama. Ainda estava escuro. As velas foram se acendendo a


medida que ele avançava em suas atividades matinais. Quando deixou seu
quarto já estava perfeitamente alinhado em sua farda. Nada realmente
pomposo. Para um general ele se vestia até que discreto. Ele só não dispensava
nunca, o broche dourado de comensal que ele prendia na manga do braço
direito. O broche que só ele tinha e só ele tinha permissão para usar.
Desceu para quebrar o jejum e encontrou a mesa posta. Fez sua refeição sem
pressa enquanto lia cuidadosamente os artigo do Diário do Imperador, o jornal
de Brampton Fort, onde não foi surpresa alguma encontrar Hermione Granger
estampada na primeira matéria. Ela estava impressa em duas fotos, uma
mostrava a última imagem que oProfeta Diário conseguira dela, num ataque a
vila de Kingstone, enquanto os rebeldes mostravam-se em linha de frente para
fechar algum feitiço protetor contra a cidade, e na outra imagem Hermione
estava no pátio interno da catedral, com um feição séria e acompanhada de
ninguém menos do que Narcisa Malfoy. A primeira foto que a imprensa de
Brampton havia conseguido. Certamente Hermione ainda não havia dado um
passeio pela cidade, senão eles já teriam milhares para esparramar pelas folhas
do Quinzenário das Comensais e as demais revistas de fofoca.

Draco leu toda a matéria e ela toda se resumia a futilidade de apontar as


melhoras que Hermione havia sofrido ao passar do lado da resistência para o
lado de Voldemort, citando inclusive o preço do vestido que ela usava na foto
com sua mãe. Havia apenas um último parágrafo que falara superficialmente
sobre as feições de ambas as mulheres, que estavam juntas, mas pareciam
querer estar a milhares de quilômetros de distância. Draco sorriu ao ver que
sua mãe era uma mulher que não perdia tempo. Sabia que ela sondaria
Hermione o máximo que pudesse.

Fechou o jornal, acabou com seu chá num gole apenas e levantou seguindo
para o Hall, do Hall para a varanda, da varanda para as escadas, das escadas
para dentro da cabine de sua carruagem.

O dia estava começando a amanhecer quando ele deixou a vila dos comensais.
Amanhecia cinza como sempre. Brampton Fort nunca se vestia de dias
ensolarados. A guerra acabara com eles. Era sempre nublado. Muito raramente
eles tinham filetes de sol escapando por entre as nuvens, mas nunca eram bem
recebidos pelo público residente da cidade. Os protegidos do mestre. Podiam
ser tão pior ou tão cruéis quanto ele.
O caminho para a catedral era decorado. Sair da vila dos comensais era sempre
deixar sua casa para trás e seguir para um longo dia de trabalho. O caminho
que tomava todos os dias era mais longo, mas seguia um rumo pela muralha
que o poupava de ter que se infiltrar no meio da cidade, entre os condomínios
populares, o centro sempre movimentado e os olhares curiosos da imprensa.
Era agradável, principalmente quando cortavam por dentro do parque do gelo,
que só tinha movimento durante o inverno e ainda assim nas horas de maior
claridade. E Draco tinha um tempo amais para rever seu discurso do dia.
Portanto, para ele, aquela rotina nunca mudaria enquanto o satisfizesse.

Desceu na praça da catedral. Com certeza a imprensa teria oportunidade para


fotos aquele dia, mas como comensais do ciclo mais importante de Voldemort e
ainda líder do exército, ele era obrigado a estar se mostrando na mídia da
cidade com uma frequência considerável. Era importante para que o povo se
sentisse seguro enquanto ele se mostrasse passivo e como se tudo estivesse
em perfeito controle para as câmeras doDiário do Imperador e as demais
revistas locais.

Avançou para dentro da gigantesca edificação gótica e viu o saguão comumente


vazio para aquele horário. Seu caminho para o pátio leste era longo, mas já o
fizera tantas vezes que para ele era curto. Seguiu até encontrar os arcos da
galeria externa. Entrou pelo lado contrário e desceu as escadas. O pátio estava
vazio exceto pelos outros comandantes em suas posições. Olhou no relógio e
contou cinco minutos enquanto caminhava até eles, os cumprimentava com um
aceno de cabeça e se colocava em sua posição afrente deles.
Esperou.

Três minutos e então um enxame de homens surgiu das galerias externas e


ocupou o pátio de maneira milimetricamente organizada. Todos bateram
continência ao general e uniram as varinhas para o céu fazendo-se projetar
uma única marca negra por entre as nuvens. Era a primeira imagem que
qualquer um de Brampton Fort veria ao abrir sua janela pela manhã.

Ao completar os cinco minutos contados por Draco, ele ergueu a voz e começou
a discursar. Podia estar passando agora para a segunda metade de sua terceira
década de vida, mas quando estava exatamente naquele lugar, de frente a
milhares de homens, fazendo sua voz soar com toda a autoridade de que era
dotado, ele se sentia um homem velho, digno de completo respeito. Sentia
como se não pudesse ser mais maduro, mais conhecido, mais vitorioso do que
qualquer homem na terra. Esse ego o vivificava, lhe dava fôlego e o
impulsionava.

As primeiras partes de seu discurso sempre se resumiam em glorificar o


reinado de Voldemort sobre o mundo. A segunda em parabenizar o empenho de
cada um e as recentes vitórias. A terceira em avisos recentes tomados pelo
conselho privado do quartel. E finalmente a quarta parte (quando havia quarta
parte), que consistia em dar algumas prévias sobre as futuras atividades.
Terminado todas as partes, seus homens gritavam em uníssono a continência
cantada e Draco os dispensava para a grade de tarefas de cada um.
Era sempre assim. Três vezes por semana.

Aquele dia em especial o surpreendeu quando seus homens foram dispensados


e pela galeria externa ele viu Severo Snape se aproximar. Draco começou a
sair de seu posto, mas foi abordado pelo homem.

- Belo discurso. – Snape começou secamente como sempre.

Draco trocou o peso de uma perna para a outra.

- Estou ocupado. – grunhiu Draco e seguiu seu caminho.

Snape o seguiu.
- Acostumou-se com isso, não foi? Alguns anos de estabilidade podem te
fazer cair na rotina, Draco! Seria um perigo para a guerra. A guerra nunca vai
acabar enquanto existir o Lorde.

- Não me diga como comandar um exército nem como proceder em uma


guerra, Severo. Eu consegui a estabilidade da guerra e eu sei domá-la com
muito cuidado. – dizia Draco enquanto tomava o caminho contrário da galeria
para voltar a catedral. - Não preciso de seus conselhos. Tenho meu próprio
grupo de conselheiros.

Severo resfolegou numa risada fraca e cuspida.

- Seu ego é realmente imutável.

- O que quer, Severo? – tentou adiantar Draco impaciente quando passou a


subir as escadas para alcançar a ala da torre de sua sala.
- Só julguei pertinente avisar que tome cuidado com o rumo que pode
tomar a administração da frente de batalha do mestre. Ele não gostaria de ter
traidores que estampem sua marca no braço.

Draco processou as palavras do homens mais rápido do que gostaria. Sentiu o


sangue fluir por suas veias e antes que pudesse pensar em sua ação, se viu
voltando-se para Snape, segurando-o pela gole de sua capa e o prensando
contra a parede.

- Está me julgando traidor ou capaz de criar traidores? – vociferou.

- Eu diria que os dois! – Snape respondeu calmamente, sem demonstrar


surpresa alguma pela ação repentina do outro.

- Não me conhece para ficar fazendo seus julgamentos baseado em


vinganças!
- Muito pelo contrário, Draco! Eu o conheço muito mais do que pensa que
conheço. Eu estava lá quando nasceu. Te vi crescer. Fui seu professor, seu
conselheiro, até que me tirou meu exército...

- Nunca foi seu exército! – Draco apertou o punho contra a garganta do


homem.

- Nem nunca será o seu! – retrucou Snape – Sabe por quem todos esses
homens lutam e não é por você, Draco!

- Se julga muito sábio, não é Severo? – Draco aproximou-se mais do nariz


agudo de Snape e cuspiu baixo para ele – Dumbledore também era muito
sábio. – soltou seu antigo professor. – Eu o matei.

Deu as costas. Severo não o seguiu dessa vez.


- Não irei tomar como uma ameaça. – escutou Snape erguer a voz as suas
costas.

- Não fará muita diferença. – retrucou Draco e virou a esquina.

Ele carregou o peso das palavras de Snape até sua sala. Jogou-se em sua
cadeira e fechou os olhos comprimindo a ponta dos dedos contra suas
pálpebras enquanto inclinava o encosto e jogava os pés sobra sua mesa. Será
possível que a maldita sombra de seu professor era tão bom assim em
legilimência?

Não. Definitivamente não havia como Snape ser capaz de conseguir extrair
informações que nem ele ainda havia digerido com clareza. Snape o conhecia
tão bem assim?

Draco quis álcool, mas julgou cedo demais para a bebida forte que desejava.
Soltou o ar pesadamente e deixou-se ficar quieto. Tinha que esvaziar a mente e
foi isso que vez. Deixou-a vazia. Por minutos ele conseguiu sentir-se livre ao
esquecer-se de tudo que o cercava. Foi quase como ser criança novamente,
mas então ele escutou as batidas na sua porta. Lamentou por estar de volta ao
seu mundo, agitou a varinha e deu passagem para o visitante.

Seu pai passou pela porta.

- Acordando cedo, pai! – surpreendeu-se Draco. – Isso sim é uma nova!

Lúcio avançou. Não tinha uma feição nada agradável.

- Sabe que eu entro e saio pelos portões oeste! – a raiva estava clara em
sua voz – Com que autoridade manda seus homens me barrarem na entrada de
Brampton Fort? Sabe que tenho que ir ao Ministério da Magia durante a semana
e sempre volto na madrugada! Precisei esperar até que o seu exército fizesse a
maldita marca nas nuvens para me liberarem a entrada! – Draco riu. – NÃO
BRINQUE COMIGO, DRACO! NÃO VAI ME FAZER PAGAR POR TER PERMITIDO
QUE O MESTRE A CASE COM A SANGUE-RUIM!
Draco considerou um julgamento bem fundamentado.

- Eu certamente deveria puni-lo por isso, mas não pai. Ainda não foi pela
sangue-ruim que fiz meus homens te barrarem na entrada da cidade. - o pai
pareceu confuso agora. – Eu disse para eles te deixarem passar só quando
trouxer junto as mulheres que te fazem companhia em Londres. Até porque fica
mais tempo com elas do que em casa e para o bem e a segurança da
estabilidade da guerra, preciso conhecer bem de que lado essas mulheres
jogam já que não são protegidas do mestre.

Seu pai se irou.

- COMO OUSAR FALAR ASSIM? SOU SEU PAI!

- E eu seu general. – Draco se levantou e foi se servir de whisky, não


aguentaria aquilo sem uma boa dose de anestesia. – E não grite na minha sala.
Lúcio bateu o punho na mesa.

- O mestre tem um profundo respeito pela hierarquia familiar, Draco! –


começou seu pai cuspindo as palavras de maneira rude. – Faça mais uma de
suas brincadeiras e eu o faço perder seu cargo.

Draco riu sem receios dessa vez e virou-se para o pai balançando o copo na
mão.

- Tente, pai. – ingeriu o líquido - Está sendo muito ingênuo para quem é
Ministro da Magia. – seguiu para a porta. - Eu venço as guerras do mestre,
você apenas lê discursos já escritos. Acha que mesmo que ele jogaria seu
exército na mão de outro? – saiu – Tenho uma reunião com o conselho agora.
Não esqueça as mulheres da próxima vez que quiser entrar na cidade. – e
bateu a porta deixando seu pai só.

**
A ala norte sempre havia sido um caminho decorado, principalmente a torre
que ele subia nesse exato momento. O fim da tarde estava chegando e Draco
sabia dos compromissos que tinha para aquela noite. Se pudesse ir para sua
casa na companhia de alguma mulher, beber um bom vinho, ler um livro e rir.
Mas não. Ele não podia. E odiava que precisasse cumprir deveres impostos.

Chegou numa porta muito conhecida e sabia que ela estaria trancada para
qualquer outra pessoa, menos para ele. Girou a maçaneta e entrou no quarto.
Sorriu. Tinha cheiro de vinho de boa qualidade e charuto verdadeiro.
Amortência. Seguiu por cima do carpete púrpura pelo quarto escurecido pelas
cortinas pesadas até o lavatório e ao chegar no ambiente de mármore negro
encontrou-a dentro da banheira, com os cabelos presos num amontoado no
topo da cabeça. O cheiro de sabão vinha da espuma que cobria toda a água e
misturava-se com a amortência e os perfumes caros de Pansy Parkinson.

Ela abriu um sorriso sedutor assim que o viu. Havia, no beiral da


banheira, um par de taças de cristal e uma garrafa de vinho barato. Ela tomou
na mão a taça cheia e ingeriu sem pressa o líquido escuro.

- Está atrasado. – ela fez a voz escoar pelo ambiente molhado. – Meus
dedos já estão enrugando.
Draco encostou-se na bancada da pia e cruzou os braços.

- Não sou desocupado, Pansy.

- Não me dê essa desculpa. – ela encheu a taça vazia. – Aposto que estava
com uma das filhas de Walder. Elas comentaram sobre suas investidas.

Draco soltou uma gargalhada.

- Ah, céus, Pansy! Você não sabe mesmo bancar uma ingênua. – riu
novamente. – Como se eu fosse do tipo que lanço investidas. Por favor. Eu não
quero seus teatros hoje.

Ela apertou os lábios para esconder um sorriso divertido. Pegou a taça que
havia acabado de encher e se ergueu sobre as águas para sair da banheira.
Draco cerrou os olhos no mesmo instante ao sentir um vento frio no abdômen e
seu membro se agitar contra sua calça.
Pansy sabia do que ele gostava e nada como seu esguio corpo molhado para
atrair a atenção daqueles olhos arrebatadoramente cinzas. Caminhou até Draco
de maneira que ele tivesse tempo o suficiente para contemplá-la, passou um
dos braços em torno do pescoço do loiro e ofereceu a taça.

- Não deu para conseguir um melhor na adega da catedral, mas é o


suficiente para te fazer relaxar. Deve ter tido um dia muito cansativo no quartel
e sei que tem um encontro com a sangue-ruim hoje a noite. – ela sorriu. – Um
pouco de álcool te fará bem.

Ele aceitou a taça. Os olhos de Pansy brilhavam. Cheirou o vinho sem tirar seus
olhos do dela e o virou dentro da pia.

- Não me faça de estúpido, Pansy. – ele soltou calmamente. – Nunca mais


me fará tomar amortência e se continuar tentando vai se esquecer do que é me
ter dentro de você.
Ela sorriu o mais sedutoramente que conseguia e colou seu corpo no
dele quando desceu sua mão e sondou o terreno entre as penas do homem por
cima da calça.

- Sinto falta de você dentro de mim. – sussurrou ao pé do ouvido dele.


Draco sentiu a mão dela o apertar. Puxou o ar tentando se concentrar, mas
aquela mulher sabia bem como deixá-lo louco. – Não me importa o quanto se
aborrece comigo. Sempre volta pra mim. – ela soltou um riso rouco de
deboche. – Amor. – concluiu e o beijou.

Draco se deixou saborear o gosto de Pansy. Sua boca quente e sua língua ágil.
Sentiu que ela desatava o cinto de sua calça. Enfiou os dedos dentro dos fios
negro e liso e aquele coque no topo cabeça se desfez. Apertou com força um
seio dela sentindo a pele molhada e escorregadia. O conjunto inteiro o excitou.
Pansy sabia do que ele gostava. Maldita mulher.

Ela desceu pelo pescoço dele. Desatou os botões com agilidade quando
encontrou a gravata já frouxa. Beijou o peito nu do homem com cuidado e
então abaixou-se para engolir o membro já pulsante do amante. Draco suspirou
fechando os olhos e deixando Pansy fazer o serviço que ela sabia bem
proceder.

Ele podia ter milhões de motivos para odiar Pansy Parkinson, mas ela tinha
razão quando dizia que em algum momento ele voltaria para rasgar seu vestido
e se enterrar fundo em sua toca quente e úmida até ouvi-la gritar. Porque
Pansy fazia parte de sua existência. Ela era quase que um complemento dele.
Haviam crescido juntos. Estudado juntos. Compartilhado segredos. Foram
grandes amantes, grandes cumplices. Eles se conheciam genuinamente. Mas
nada pode ser assim tão perfeito e tudo desanda a partir do momento real em
que Pansy o deseja e o ama, e Draco apenas a deseja. Ele nunca poderia amá-
la, porque amar era algo surreal que ele reservava apenas para sua mãe. Se
amor existisse, a única pessoa digna de recebê-lo era sua mãe e fim.

Pansy deixou o membro de Draco quando ele estava vivo, pulsante, vermelho e
grande. Sorriu muito satisfeita e muito excitada pelo desejo de ter aquilo
dentro dela, levantou-se e fez menção de que se sentaria na bancada para que
Draco pudesse penetrá-la, mas ele segurou-a pelos braços e a girou colando as
costas dela contra seu peito. Apertou mais uma vez o seio dela, chupou seu
pescoço e afundou seus dedos entre as pernas dela.

Pansy gemeu.

O gemido que ele gostava e não a gritaria escandalosa que ela muitas vezes o
fazia presenciar. Aquele gemido sabia o deixar ainda mais duro. Encontrou-a
tão molhada que quando imaginou seus pênis escorregando ali para dentro
quase desistiu de deixá-la ainda mais úmida, mas continuou. Continuou a fazer
ela gemer. Progressivamente. Brincava da maneira que ele sabia que o corpo
dela funcionava. Ele soube que seu trabalho estava encaminhado quando ela
ofegou, contorceu-se ao arquear e tremeu o corpo soltando dessa vez um longo
gemido satisfeito. Ele a girou e colocou-a sobre a bancada.
- Agora, está pronta para mim. – ele sorriu safadamente enquanto abria as
pernas dela.

Enterrou-se devagar para apreciar cada segundo o prazer. Muito concentrado


ele foi com calma para que seu corpo nutrisse e se arrepiasse com o delicioso
calor pulsante em seu membro. Pouco se importou com Pansy. Aquele era seu
momento e sabia que o que quer que fizesse, ela gostaria, e a prova disso era
que quando ele começou a enterrar fundo e aumentar o ritmo ela começou tão
paralelamente, o seu escândalo. Pansy era uma amante exageradamente vocal.
Era bom as vezes. Algumas era tolerável. E em outras era quase que
desanimador.

Ele até havia gostado mais quando eram adolescentes, porque faziam sexo
selvagem e ela sabia responder muito bem, mas aquela fase havia ficado para
trás e reviviam dela agora, apenas quando necessitavam. As vezes ele só
queria empurrar para dentro dela e ficar degustando do maravilhoso sabor do
prazer o máximo que conseguisse e sempre que tentava ela estava lá pedindo
sua pressa. Pansy gostava de sexo forte e objetivo. Por isso ele ia até ela
sempre que precisava de sexo forte e objetivo.

Pansy gozou mais uma vez e ele não se importou ainda empurrando para
dentro dela. Depois de continuar suas investidas, ela começou a gemer alto
outra vez, mas ele já sentia que poderia facilmente chegar ao seu ápice. A
abandonou e ela mesmo assim sorriu.
- Ainda temos muito tempo antes do seu encontro com a sangue-ruim, não
é? – ela miou sobre a bancada. Draco foi para a banheira imergindo seu corpo
na água morna. – Quer sair daqui e se encontrar com ela? – perguntou levando
o dedo a intimidade para lambuzá-lo e chupá-lo segundos mais tarde. – Gosto
disso. – e riu.

Draco divertiu-se com o comentário.

- Seus teatros as vezes funcionam, Pansy – ele pegou a garrafa de vinho. –


Gostei da intenção de parecer esperar que eu fosse ter algum respeito.

Pansy riu alto descendo da bancada.

- Eu o conheço bem. – ela se uniu a ele na banheira. – Sei o canalha que é.


Ele inalou o cheiro de amortência que emanava da garrafa. Sentiu-se tentado
em provar, mas colocou-a de lado quando Pansy cercou seus quadris com as
pernas e beijou sua boca. A mão dela alcançou seu membro ainda vivo e tratou
de massageá-lo.

Draco gostava quando ela fazia isso. Segurou os cabelos dela enquanto
explorava sua boca e a deixava trabalhar, mas ela não deixou que ele
apreciasse aquilo por muito tempo e logo se encaixou nele novamente
passando a movimentar-se. A sorte é que era tão bom quanto a mão dela.

Pansy ia pra frente e para trás. Puxava o ar e o soltava entre sôfregos e


gemidos. Aumentava o ritmo e com ele, o tom de voz. Draco segurou seus
quadris e ela como uma boa entendedora rebolou e apertou suas paredes.

Ele enlouqueceu, ela percebeu e foi ainda mais rápido. Draco já ouvia seus
grunhidos enquanto encarava a expressão que ele mais gostava em Pansy, a de
puro prazer. Sentiu-se queimar por dentro e os movimentos dela já não eram
suficiente. Girou-a prensando contra a borda da banheira e estocou forte. Tão
forte que os seios dela pulavam a cada investida. Pansy gemia alto, sem
intervalos e sem pudor. E então, em alguns segundos de pura glória, ele
explodiu, mas ela ainda não havia chegado ao momento dela, portanto Draco
tratou de usar as mãos assim que escorregou para fora dela, mas somente
após tomar os segundos que precisou para apreciar seu ápice.
Pansy gritou arqueando-se contra o mármore molhado. Draco afastou-se para a
outra ponta, encostou-se e ofegou com a água na altura do queixo. Ela também
se limitava a ofegar do seu lado da banheira.

- Nós nunca perdemos o ritmo, não é Draco. – ela soltou deslizando para
ter a água na altura do queixo assim como ele.

Draco sorriu. Fechou os olhos e pendeu a cabeça para trás esperando seu pulso
voltar ao normal. A água o ajudou assim como o silêncio e o cheiro de charuto
e vinho bom. Ele poderia ficar ali para o resto na noite, mas então se lembrou
de que Pansy ainda estava lá. Silenciosa. Ele abriu os olhos e a encontrou o
encarando com os azuis dela.

Focaram-se em silêncio por um minuto. Pansy vestia-se dela mesma com


aquela expressão. Nada de teatros, nada de ser sedutora, nada ser esnobe. Era
apenas ela, com seus olhos azuis, os cabelos pretos molhados e as bochechas
rosadas. Lembrava-o de quando brincavam de afogar sapos no lago perto da
mansão Malfoy nos verões de suas infâncias. Pansy havia sido uma criança
sozinha e mesmo que ele não gostasse muito de meninas naquela época, havia
se interessado pelas brincadeiras perversas que ela sempre tinha em mente e
até que se divertia bastante com todas elas.

- Senti sua falta. – ela quebrou o silêncio.


- Notei. – ele apenas respondeu referindo-se ao fato dela ter tido o prazer
de três clímax naquele pouco tempo que tiveram.

Ela abriu um sorriso ao compreendê-lo, mas logo o murchou.

- Não sente minha falta, não é?

Ele suspirou sabendo o jogo que ela colocaria entre eles. Draco já não tinha
paciência.

- Não sinto falta de quem eu posso ter quando quiser. – respondeu.


- Canalha. – ela pronunciou calma e lentamente.

- Não sou seu tipo, Pansy. – disse – Já deveria ter desistido a muito tempo.

- Sabe que já desisti. – ela suspirou – Mas também sabe que precisamos
de sexo. Nosso sexo! Ficamos com pessoas diferentes, nos divertimos com
pessoas diferentes, mas sabe que precisamos voltar um ao outro.

Draco riu de como aquilo soava romântico.

- Não nos pertencemos só porque tivemos nossa primeira vez juntos. Pare
com essa maldita mania que nos trazer pra essa conversa. – ele tornou a
fechar os olhos descansando a cabeça sobre a borda da banheira.
Soube que Pansy estava engolindo qualquer onda de frustração que ele havia
gerado, porque ela era assim. Orgulhosa. Ela nunca desistiria mesmo que
dissesse que já havia.

A água denunciou quando ela saiu de seu canto e foi até ele. Draco sentiu as
mãos dela subirem por seu abdômen e cercarem seu pescoço ao mesmo tempo
que ela encaixava seu corpo no dele.

- Eu sou a única mulher capaz de te amar, Draco. – ela sussurrou no


ouvido dele. – Porque todas as outras sempre acabam por descobrir o canalha
que é.

- Eu não preciso de uma mulher que me ame. Tudo que uma mulher tem a
me oferecer é sexo. – ele segurou Pansy pelo braço e a afastou levantando-se e
saindo da banheira. Sabia que ela pretendia deixá-lo duro novamente para ela,
mas ele temia por isso. Sabia o tipo de sexo que ela estava pedindo e ele não
tinha qualquer intenção de alimentar as esperanças da mulher dando-o a ela.

- Não era isso que pensava quando éramos amigos e nunca havíamos feito
sexo na vida. – ela disse enquanto o via cercar os quadris com uma toalha e
puxar outra para se secar.
- Eu olhava para o sexo feminino de uma forma diferente aquela época e
por merlin, Pansy! Pare com esse assunto de uma vez por todas.

Ela se calou, mas sua cara de descontentamento era visível por cima daquela
máscara esnobe de Pansy Parkinson. Esnobe. Era tudo em que ela havia se
tornado. Esnobe, rancorosa, cheia de si. Draco ainda se lembrava da criança
que ela fora um dia. Não que ela já tivesse alguma vez sido amável e adorável,
mas ela era verdadeira e não se escondia atrás de máscaras. Talvez ele
gostasse mais daquela Pansy que ela fora, mas então ele se lembrava dos
teatros que ela fazia quando iam transar e então ele escolhia que era bem mais
divertido e prazeroso usufruir dela vestida de suas máscaras durante o sexo do
que quando ela resolvia ser a criança que um dia havia sido.

- Vai se encontrar com a sangue-ruim? – ela quebrou o longo silêncio


enquanto o assistia preparar-se para se vestir.

- Sim.

- Ainda está um pouco cedo.


- Não gosto de me atrasar.

Pansy revirou os olhos.

- Sim. Agora é um general muito pontual. – ela saiu da água e se cobriu


com um roupão. – Isso é o que uma guerra faz a um homem. – ela soltou um
risinho forçado enquanto pegava a calça dele no chão. - Gostava mais de
quando se atrasava para as aulas e as reuniões de monitoria em Hogwarts,
mas quando te vejo naquela farda, dando ordens a todos aqueles homens,
falando com todo aquele domínio para os jornais, programas e audiências, me
sobe um tesão.

Ele riu secando os cabelos.

- Me diga um homem do meu exército que não lhe dê tesão, Pansy. – ele
tomou a calça da mão dela.
- É difícil não o ter quando os vejo treinando. – ela riu girando algo entre
os dedos. - Lançando maldições, matando homens, manejando utensílios de
luta, com todo aquele suor e aquelas expressões masculinas. E se todos
aqueles peões me excitam, imagina o que o general deles não me faz? – ela
mordeu os lábios. - Tem a sorte de eu não ter problemas com homens casados,
Draco.

Draco riu.

- Vadia.

Ela riu.

- Canalha.
E por isso ele gostava de sua relação com Pansy. Se conheciam. Ele sabia
quem era e ela também sabia quem era ela. Nada de garotas carentes, falsas,
depressivas. Pansy tinha muita confiança em quem era.

Draco tratou de se alinhar novamente no terno caro. Colocou sua calça, sua
regata, a camisa, a gravata e postou-se de frente ao espelho para ajeitar seus
fios loiros. Encarou o reflexo de Pansy que esteve silenciosa e precisou parar.
Ela tinha nas mãos a pequena caixa preta de couro dos Malfoy bem aberta na
frente de seus olhos azuis.

Ela estava completamente concentrada no anel que via dentro da caixinha e


uma de suas mãos estava fechada sobre o colar de pedra vermelha que nunca
saia de seu pescoço. Passou a mão sobre o bolso de sua calça e o encontrou
vazio no lugar onde deveria estar o que ela tinha agora nas mãos. Draco viu
nos olhos dela e em toda sua expressão que ela havia se despido novamente
das máscaras. Ali ela era novamente aquela criança verdadeira que ele
conhecera. Suspirou e praguejou mentalmente por seu descuido.

- Pansy. – ele a chamou mas ela estava absorta demais no mundo que
criara entre ela e aquele anel. – Me dê isso.
Ela não disse nada. Apenas soltou seu colar e alisou a peça dentro da caixa.

- Vai dar a ela, não vai? – ela disse baixo enquanto ainda mantinha seus
olhos fixos ali.

Draco não queria passar por aquilo.

- Me dê isso, Pansy.

Ela o encarou dessa vez.

- Vai dar a ela, não vai? – ela repetiu com a voz mais consistente.
Draco soltou o ar impaciente.

- Sabe que vou.

Ela piscou e desviou o olhar novamente para a peça.

Olhar nos olhos dela era desconfortante. Eles refletiam dor e isso era muito
incomum da parte da mulher.

- Pensei que um dia fosse tê-lo. – ela sussurrou.

- Sabe que sempre pretendi nunca dá-lo a ninguém, Pansy.


Ela soltou um riso fraco e desgostoso.

- E deixar a linhagem Malfoy morrer em você? Seu pai jamais permitiria


isso! – ela fechou a caixa e a estendeu para Draco ainda com aquela dor
explicita nos olhos. – Pensei que poderia ter sido eu a escolhida para ser sua
mulher quando a hora de gerar um herdeiro chegasse.

Ele tomou o objeto da mão dela.

- Pare, Pansy. – ele não queria se irritar com ela. Não com a Pansy
verdadeira de sua infância. A Pansy que ele realmente gostava. – Sabe que já
lhe dei o colar.

- Para dizer que sou especial? – agora ela assumira sua máscara de rancor.
– Só porque tem a pedra da sua família? Porque sou a mulher que conhece a
mais tempo? Ou porque sou uma mulher que te conhece bem? Sou só uma
mulher que te dá sexo assim como outras tantas. Apenas me considera. Por
isso me deu esse colar.

Ele devolveu a caixa ao bolso em silêncio ainda encarando a dor dela. Ele
queria poder fazer com que aquilo o afetasse, mas ser indiferente era um traço
de sua personalidade.

- Você parece não ter coração, Draco. Mas eu sei que tem. – ela continuou.
– Aquela noite. A nossa primeira. A forma como foi gentil, como teve cuidado,
como esteve preocupado em fazer com que fosse bom. Aprendemos juntos. –
ela suspirou e por um segundo Draco pensou que ela fosse chorar, mas sabia
que Pansy era amarga e orgulhosa demais para isso. – Fez com que eu me
apaixonasse. Mas então você nunca mais foi aquele homem novamente e só
me restou amá-lo. – ela deu as costas. – Sozinha. – foi até o beiral da
banheira, pegou a garrafa de vinho e ingeriu um longo gole. – Amortência tem
o seu cheiro. – ela comentou mas pareceu ter sido mais com ela mesma do que
com ele.

Draco apenas se limitou a pegar o terno e vesti-lo ainda a encarando quando


ela voltou a falar.

- Não te afeta, não é? Saber tudo isso. – ele mostrou as mãos em resposta
e ela riu fracamente. – Por isso parece que não tem um coração. – ela tomou
mais um gole. – Mas saber que gostaria que te afetasse é o suficiente para
mim.
Draco soltou o ar devagar. Sabia que uma hora teria que escutar algum
discurso dela sobre seu casamento. Ele só não tinha que se justificar, não
precisava e nem gastaria sua saliva arrumando justificativas para acalentar os
sentimentos dela.

- E sei que não diz, mas deveria parar de me culpar em silêncio por não ser
recíproco. Só não sinto muito por você, porque sempre conheceu o terreno em
que pisava, Pansy. – foi até ela, tomou a garrafa de suas mãos e a colocou de
volta no beiral da banheira – Deveria parar de tomar isso. - e deu as costas
saindo do banheiro.

Raras as vezes Pansy se dava ao luxo de expor suas fragilidades e Draco não
tinha paciência para lhe dar com isso. Sempre que ela se dava a esse luxo tinha
que ser com ele ao seu lado. Como se esperasse que um dia ele fosse ter
piedade, como se isso pudesse fazer com que ele a correspondesse. Pelo menos
os comentários sobre seu casamento já haviam sido feitos e a próxima vez que
ele quisesse o sexo dela, teria e iria embora sem precisar ouvir seus rancores
sobre o assunto.

Desceu as escadas da torre, cruzou da ala norte para a sul e passou pelo o
saguão. Sabia que ainda tinha um pouco de tempo, portanto tratou de passar
em sua sala e guardar a sete chaves, alguns pergaminhos que certamente seu
pai procuraria para especular. Ainda não era hora de compartilhar algumas
estratégias.
Por fim, voltou a cruzar toda a catedral até o pátio leste. Quando tomou a
galeria externa viu Hermione Granger e Tryn virem em sua direção. A elfa
estalou os dedos e desapareceu assim que o viu. Hermione continuou a andar
até ele.

Ela vinha muito bem vestida num vestido de um tom mostarda apagado. O
modelo era bonito, simples e bastante elegante. Nada do gosto dele, embora o
fizesse lembrar sua mãe. O decote não o satisfazia, mas mostrava que ela tinha
um par de seios bonitos, uniformes e desejáveis por estarem muito bem
acomodados no corte do busto do vestido. As pernas dela eram escondidas pela
longa saia e apareciam ocasionalmente com seu andado devido a uma fenda,
que por sinal, não era tão generosa quanto Draco gostaria que fosse. Ainda
assim, ela estava apresentavelmente digna para receber um anel da família
Malfoy.

Pararam um de frente para o outro na extensa galeria. A beleza de Hermione


surpreendia até mesmo quem já estava acostumado.

- Pontual, Granger. Isso me lembra Hogwarts. – ele até queria ter feito
soar debochado, mas acabou por sair tão frio quanto gelo.
- Continuo sendo Hermione Granger. – ela respondeu no mesmo tom.

- Uma infeliz notícia. – ele ofereceu o braço. Ela o olhou num misto de
receio e surpresa. – Vamos sair por esse pátio leste. Haverá gente
suficientemente escondida para publicar fotos no jornal de amanhã, portanto
não pense que está isenta da tarefa de ser ao menos cordial.

Ela pressionou os lábios fazendo uma linha fina enquanto puxava o ar como se
estivesse engolindo algum orgulho e então passou seu braço fino e descoberto
pelo dele.

A proximidade quase o fez recuar, mas engolindo seu orgulho tal como ela
havia feito. A guiou para saírem da galeria, atravessarem o pátio, sairem pelos
arcos de limite e entrarem na cabine de sua carruagem que o esperava na
estrada de saída.

Fizeram questão de sentar em bancos diferentes, mas não aliviou o fato de que
estariam obrigados a desviarem o olhar constantemente por estarem um de
frente para o outro.
Draco reparou no colar que ela usava. Havia comprado exclusivamente para ela
e dado a Tryn para vesti-la para essa noite. Não que ele quisesse realmente dar
um presente ao infortúnio de uma sangue-ruim, mas aos olhos de todos e
principalmente de Voldemort, ela era sua noiva e ele tinha que cumprir
obedientemente seu papel de bom noivo pois sabia que aqueles olhos de cobra
estariam o vigiando dia e noite. Ele não havia imaginado que cairia tão bem
sobre o busto dela, nem mesmo que combinaria tanto com os olhos âmbar que
tinha. Os três fios de ouro em níveis diferente envolviam pequenas pedras
safiras amarelas. O fio no nível mais próximo do pescoço afirmava a postura
intacta e inabalável que ela mantinha e o fio do último nível havia se
acomodado a curvatura da protuberância de seus seios. Então ele percebeu que
ela não precisava estar vulgar para que ele a desejasse. Aquele colar
assentando em seu seio fez com que ele encarasse Hermione e imaginasse qual
seria a expressão que ela tinha quando gemia de prazer. O som da voz de
Pansy o chamando de canalha ecoou em sua mente e ele quase riu. Quase.

Ela manteve os olhos na janela, mas ele havia a visto estudar a cabine em que
estavam antes de fixar sua atenção no caminho que seguiam. Os dedos dela
alisavam distraidamente o veludo vinho do assento que estava sentada. Por um
segundo Draco se perguntou se uma mulher poderia possuir um ar tão singelo
quanto o que ela tinha ali, com os olhos na janela sendo banhada pela luz da
noite. No outro a palavra sangue-ruim ecoou em sua cabeça.

- Quantas cidades dessa existem pelo mundo? – ela perguntou a uma


altura da viajem em que o silêncio já parecia quase cansativo.
Draco quase a agrediu com as palavras antes de se lembrar que não havia
forma alguma de qualquer informação que ele desse a ela passasse para os
ouvidos da Ordem.

- Uma para cada continente. – respondeu.

Foi esse o único dialogo que trocaram e a reação dela para a resposta dele
havia sido de dar pena em qualquer ser humano que não fosse Draco Malfoy.

Pararam de frente a uma fachada bem iluminada. Havia tochas e a edificação


era de pedras e de decoração muito rica. Queria levar Hermione em um lugar
que a roupa que usasse parecesse tão casual quanto as de seus dia a dia.

Saltaram para fora da cabine e dessa vez ninguém estava se escondendo para
tirar fotos. Hermione segurou o braço de Draco e os dois seguiram frios e sem
direcionar qualquer olhar para as câmeras. Sabiam do papel que tinham que
cumprir e assim o fizeram até entrarem no recinto.
Era acolhedor e ao mesmo tempo sombrio. A elite dos protegido de Voldemort
ocupavam os lugares e davam vida a um dos restaurantes mais bem
conceituados de Brampton Fort.

Draco não havia reservado mesa, mas já havia uma separada para eles. Aquilo
deveria ter sido obra de seu pai, ou Voldemort. Ambos se acomodaram. Era
uma mesa reservada, porém não tão escondida.

Draco pediu vinho de qualidade ainda se lembrando do cheiro que vinha da


garrafa no banheiro de Pansy. Hermione muito educadamente informou que
partilharia da escolha do companheiro e assim, foram deixados sós.

O silêncio que havia entre eles não era incomodo. Enquanto trocavam olhares,
sabiam que poderiam facilmente fazer passar aquele jantar sem haver a
necessidade de trocarem sequer uma palavra. Mas seria bom demais para ser
verdade.

- Se continuar sendo obediente o mestre deixará que sua amiguinha Di Lua


seja sua dama. – Draco quebrou o silêncio como se preferisse estar perdendo
uma batalha a ter que passar por aquilo.
Os olhos de Hermione brilharam, mas ela manteve-se sem mover um músculo,
ainda completamente inexpressiva.

- Ficarei satisfeita apenas quando a livrarem definitivamente do tratamento


que está recebendo.

- Não se iluda, Granger. Lovegood sempre será a arma que o mestre terá
para te domar. - O vinho chegou e foi servido no copo dos dois. Draco tomou o
seu enquanto se acomodava mais confortavelmente em sua cadeira e apreciava
o sabor da bebida. – Minha mãe a ajudará com os preparativos do casamento
para garantir que tudo sairá conforme o mestre quer. – ele notou que toda vez
que se referia a Voldemort daquela maneira, ela deixava transparecer um nojo
silencioso e distante. – Pode pedir o que quiser. – ele se referiu ao cardápio
dessa vez.

Ela abriu a pasta do menu como se não tivesse interesse. Passou rapidamente
os olhos por ela e pediu qualquer coisa que se assemelhasse ao que costumava
provar de Molly Weasley, ou seja, barato demais para o seu bolso. Draco
apenas disse um número mostrando que conhecia o lugar muito bem.

- Haverá um festa de noivado. – Hermione disse sem ânimo, assim que


foram deixados novamente a sós.
- Haverá? – ele não sabia.

- Narcisa Malfoy disse que é uma tradições de sua família e obviamente


que isso também serviria de agrado para a débil futilidade da elite desse lugar.
– ela pegou a taça e provou do vinho.

Draco saboreou as palavras dela. Por um segundo ele apreciou a mulher que
estava a sua frente. Aparentemente ela pensava na futilidade da cidade tão
igualmente quanto ele. Certamente ela já teria conhecido bem a parte feminina
dos protegidos de Voldemort.

Mas aquele momento de apreciação durou apenas um segundo.

- Poupe-me dos seus desagrados. – ele foi frio e ignorou qualquer


comentário anterior dela. – Terá o sobrenome Malfoy em pouco dias, por tanto
não quero que fique se apresentando por aí como uma Granger prisioneira,
frágil, desarmada e encurralada.
- Tenho orgulho suficiente para isso. – ela respondeu e ele soube que era
verdade apenas pelas imagens que tinha dela andando pela catedral ou até
mesmo pela foto que saíra no jornal com Narcisa.

- Por mais que esteja condenada a uma família destruída, a um homem


que te odeia e um filho que não será seu. – ele se debruçou sobre a mesa
encarando aqueles olhos brilhantes e âmbar mais de perto. – Não vou querer
ouvir uma palavra de lamento. Será uma Malfoy e por mais que o mundo
quebre ao seu redor manterá seu maldito orgulho de pé.

Ele afastou-se com um sorriso sarcástico nos lábios e bebeu mais um gole de
seu vinho. Claro que ele tinha que se prevenir de uma vida ao lado de uma
mulher choraminguenta, lamuriadora, depressiva e frágil. Pela primeira vez ele
viu os olhos de Hermione arderem em ódio. Talvez tivesse sido tostado em fogo
ali se os olhos dela tivessem o poder de projetar labaredas.

- Isso foi o que eles te ensinaram a vida inteira? – ela questionou. – Manter
seu maldito orgulho de pé? Porque do seu orgulho depravado eu já tive uma
excelente amostra em Hogwarts.
- Teremos uma vida inteira de convivência para que possa julgar isso mais
profissionalmente. – ele assumira sua expressão divertida. Ela pode mergulhar
ainda mais em seu ódio com a reposta dele e então Draco finalmente se
lembrou de Hogwarts, da sensação maravilhosa que era desfrutar do ódio que
ele era capaz de causar nela. Aquele jogo de gato e rato tão infantil, mas a
sensação de ver os olhos dela ardendo em ódio naquele momento era a mesma
sensação de vê-la no mesmo estado quando era adolescentes.

A comida chegou fazendo-a engolir a resposta que jogaria de volta a ele. Draco
tratou de se interessar em seu prato quente e delicioso obrigando-a a fazer o
mesmo. O jantar se seguiu em completo silêncio fazendo-os voltar ao estado
frio e seco de antes.

Por alguma razão muito incomoda, Draco surpreendeu-se com suas palavras
referentes a uma vida inteira com Hermione. Mesmo que seu cérebro tivesse o
feito dizer de modo aparentemente tranquilo, agora revia o fato e isso quase o
fazia se remexer inquieto em sua cadeira. Claro que casar-se com Hermione as
ordens de Voldemort e ainda sobre as leis, costumes e história da família
Malfoy era casar-se para permanecer casado até que definitivamente, a morte
os livrasse do fardo, mas talvez seu cérebro ainda não tivesse processado o
peso ou até mesmo a gravidade da questão da qual estava se submetendo.
Quase preferiu ser exilado, morto, ou até mesmo passar o resto da vida nas
masmorras da catedral, mas então ele se lembrou de que era apenas uma
aliança selada, um anel no dedo e uma mulher em sua casa. Exilado ele não
teria exército, ele não poderia ir para cama com a mulher que bem entendesse,
nem poderia comer pratos como aquele que apreciava. Hermione era uma
mulher, tinha um corpo bonito, boas tetas e um rosto exageradamente perfeito.
Não seria difícil fazer um filho com ela, levá-la pra cama, nem cumprir seus
deveres como marido presente quando bem quisesse. Aquilo serviu para
acalmá-lo momentaneamente.
Terminaram suas refeições sem pressa. Draco notou que ela não
seguia nenhuma regra de etiqueta, mas que trocava os talheres de mãos muito
graciosamente para cortar a carne, que bebia do vinho sempre depois de comer
uma garfada de salada e que suspirava com frequência quando engolia, como
se o sabor lhe desse esse prazer. Ele se perguntou se ela também estaria
reparando em como ele comia. Não achava que tivesse alguma mania. Ele
apena comia segundo a educação que sempre haviam lhe ensinado.

Os pratos foram recolhidos e o vinho acabou na garrafa quando foi divido em


ambas as taças pela última vez. Draco virou o pouco que havia ficado para ele,
enfiou a mão no bolso de sua calça, tirou a pequena caixinha de couro dos
Malfoy e a colocou em cima da mesa.

- Use-o sempre ou encontrarei um modo de torturar sua amiga lunática eu


mesmo. – disse.

Hermione a pegou com cuidado e analisou a caixa antes de abri-la. Encarar o


anel fez com que ela abrisse um sorriso muito vitorioso nos lábios. Draco não
gostou da reação.

- Fico me perguntando o nível do ódio que domina o seu coração, se é que


o tem, por me dar um anel como esse. – ela comentou e ele sentiu a raiva
aflorar pelo sangue que corria em suas veias. – Está na sua família a mais de
dois séculos, não é? – ela o tirou da caixinha e o girou entre os dedos. – O anel
de noivado da família Malfoy. – resfolegou uma risada fraca. – Sabia que
existem muitos livros de História da Magia que o mencionam? O famoso anel
passado de geração para geração. Mulheres dos quais os primogênitos Malfoy
foram abrigados a tomar como esposas para manter a linhagem pura. –
Hermione o colocou no dedo anelar muito lentamente e então ergueu seus
olhos âmbar para Draco. – Queria que eu tivesse um sangue para merecê-lo. –
segurou sua taça fazendo o anel destacar em seu dedo. – Mas eu não tenho. –
e bebeu seu último gole de vinho.

Draco sentiu a provocação dela atingi-lo como um punho forte contra seu
estômago. Quis arrancar a mão de Hermione e fazer um colar para que ela a
carregasse no pescoço e vivesse com um coto enfaixado para o resto da vida.
Sem mão e sem anel. Maldita.

- Nós terminamos por aqui. – ele foi mais seco do que realmente pretendia.
Pediu a conta enquanto remoía seu ódio e a via vitoriosa do outro lado da
mesa. Tinha somente como conforto a esperança de revidar fazendo-a sofrer
cada dia que estivesse dentro de sua casa quando aquele casamento finalmente
tivesse acontecido. Ela sofreria. Sofreria muito. Queria vê-la sorrir por ter
aquele anel no dedo quando estivesse dormindo em sua cama.

Deixaram o restaurante. Dessa vez havia flashes nem um pouco escondidos


esperando-os a caminho do conforto da cabine de sua carruagem. Foi mais
difícil cruzassem os braços dessa vez, mas o fizeram tentando não se
mostrarem relutantes. Draco inclinou-se para ela e foi discreto ao dizer que ela
deveria se posicionar para mostrar bem o anel, afinal Voldemort seria o
primeiro a ver o jornal no dia seguinte. Ela ficou bem mais próxima e subiu sua
mão pelo braço dele fazendo o anel destacar contra a cor escura de seu terno.
A posição não era nada confortável para ambos, mas dava a visão mais perfeita
possível da peça na mão branca de Hermione.
Ele abriu a porta e ofereceu sua mão como apoio para que ela entrasse. Ele
entrou em seguida e sentou, claro, no banco contrário. Foram em silêncio todo
o caminho de volta para a catedral. Hermione reservou-se novamente a vista
da janela e Draco a encarar a mão dela que detinha o anel de sua família.

Teria que se acostumar a vê-la usando aquilo ou não iria conseguir dormir
mais. Ele imaginou como seria ter uma mulher morando na mesma casa que
ele. Dividindo a mesma cama. Jantando em sua mesa de jantar ou até mesmo
carregando um filho seu. Parecia muito surreal. Ele não queria nada daquilo.
Imaginou se seu pai também não queria quando havia sido obrigado a se casar
com sua mãe. Certamente não. Nunca havia entendido porque seu pai nunca
fizera esforços para serem ao menos uma família de fachada, mas agora sabia
bem. Ele nunca se esforçaria para manter nem mesmo as aparências com
Hermione. Precisaria de uma ameaça muito consistente para tal.

Mas seu pai era um caso diferente. Sua mãe nunca havia sido nenhuma
sangue-ruim. Pelo contrário. Seus avós desempenharam um excelente papel
seguindo as exigências históricas para encontrar a melhor família, a melhor
mulher, a mais bonita. Seu pai nunca havia odiado sua mãe durante todo o
período escolar nem tentado a matar durante todo o resto. Quantas vezes
Draco soubera que era o seu cérebro contra o de Hermione naquela guerra. E
sua mãe sempre havia amado seu pai também. Mas seu pai nunca sequer havia
respeitado sua mãe. Moravam debaixo do mesmo teto e eram nada mais do
que estranhos desempenhando uma obrigação ao carregar o sobrenome
Malfoy.
Pararam de frente a entrada do pátio leste. Era próximo ao quarto de
Hermione. Eles se encararam pela primeira vez desde que tinham tomado seus
lugares, em silêncio e no escuro da cabine.

- Preciso saber se Tryn está servindo-a bem. – ele quebrou o silêncio. – O


mestre quer que receba o melhor dos tratamentos.

- Ela é ótima. – ela se reservou a responder.

Ele assentiu satisfeito e empurrou a porta dando a passagem a ela.

- Não irá descer? – ela perguntou.

- Irei para casa. – ele respondeu.


Foi a vez dela assentir.

- O jantar estava bom...

- Não precisa fazer isso, Granger. – ele a cortou antes que ela continuasse
com sua cordial educação fria, decorada e sem vida.

- Precisa aprender a como pronunciar meu primeiro nome. Não deve ser
tão difícil. – foi a última coisa que ela disse antes de descer e tomar o rumo
para a catedral.

Ele deixou-se encará-la em seu andado elegante, vestida em seu longo, com os
cabelos abrindo em cachos muito uniformes, até que ela sumisse pelos arcos de
entrada. Ficou ainda alguns segundos encarando o nada antes de dar o sinal
para que seguisse o caminho de casa.
Ele nunca havia levado uma mulher para sair.

3. Capítulo 3

Narcisa Malfoy

Tomou o desjejum sozinha. Como sempre. Havia preparado o jantar na


noite anterior quando Lúcio lhe dissera que iria para casa. Mas ele não viera.
Ficou imaginando em que quarto de hotel barato ele havia ido dormir com sua
amante. Isso sequer a entristecia mais. Ou talvez ela pensasse que não a
entristecia. Doía mais saber que era uma mulher sozinha do que pensar em
Lúcio a traindo. Lúcio a traía desde o dia em que haviam noivado.
Antigamente, ela teria jogado o jantar no chão e teria o esperado para gritar o
tanto que pudesse quando ele voltasse para casa. Mas no dia anterior, assim
como em muitos outros, ela apenas se levantou cansada de esperá-lo. Guardou
a comida por ela mesma, subiu para o quarto, tirou o vestido impecável, que
comprara apenas para a ocasião, limpou-se da maquiagem, desfez o penteado,
leu um capítulo de seu livro e dormiu. Sozinha. Como sempre.

Ela imaginava com frequência como teria sido se nunca tivesse se animado
tanto em se tornar uma Malfoy quando os pais de Lúcio propuseram o noivado.
Imaginava-se casada com sua pequena paixão adolescente. O vizinho de seu
residencial. Qualquer um que não possuísse o sobrenome Malfoy. Talvez agora
ela tivesse um homem que a amasse, que não a traísse, que estaria um casa
para o jantar todos os dias.

Suspirou.

Pobre do destino da garota sangue-ruim. Se ela soubesse as maldições daquela


família certamente estaria a procura da morte nesse momento. Ou talvez ela
estivesse fadada a uma história diferente da sua. Sabia que a sangue-ruim
sempre havia odiado seu filho, muito diferente dela, que amara Lúcio Malfoy
desde o momento que colocara os olhos sobre ele. Lindo, forte, alto, sedutor.
Era o homem perfeito, mas com um coração podre. Suficientemente canalha
para fazê-la acreditar que ele também poderia amá-la e que juntos seriam uma
família perfeita. Mas a dura convivência a mostrara quem ele era.
Talvez se ela não amasse tanto a Lúcio, teria um amante. Assim como ele tinha
tantas. Mas não podia. Por mais que nunca tivesse sido a mulher mais adorável
do mundo, era uma mulher íntegra e honrava a aliança que carregava no dedo.
Por orgulho e por amor a Lúcio. Talvez nisso a sangue-ruim poderia ter um
destino diferente. Talvez ela encontrasse um amante, era uma mulher muito
bonita. Talvez ela fosse esperta o bastante para desonrar seus votos de
casamento e fidelidade.

Ou talvez ela tivesse criado Draco bem o bastante para ter passado um pouco
de seu coração para ele. Mas Draco era demasiado filho de seu pai. Lúcio havia
sido seu grande herói durante toda a infância. Havia sido seu herói tempo o
suficiente até que crescesse e percebesse que a família que imaginava ter era
uma farsa e por grande culpa de Lúcio. Mas Lúcio havia se aproveitado do
reinado na vida do filho para enfiar na cabeça do garoto tudo que ele mesmo
era e Draco se mostrou ter absorvido bem a medida em que atingiu a
adolescência. Era até um bom garoto, mas assim que passou a ter consciência
de todo o seu potencial com as garotas, da lábia que poderia ter para ser
influente e do poder que tinha para conseguir as coisas, ele se tornou tão Lúcio
Malfoy quanto o próprio pai.

A garota sangue-ruim estava mesmo perdida.

Terminou seu chá, dobrou o jornal e se levantou. Quando cruzou a sala para
tomar a escada e voltar ao quarto a porta se abriu e ela foi presenteada com a
visão de seu marido. Cabelos despenteados, gravata frouxa e o terno dobrado
em seu braço. Não queria sentir nem o cheiro que ele exalava. Os olhos
maravilhosamente cinzas dele caíram sobre ela e Narcisa foi obrigada a voltar
um degrau e ajeitar a postura.
- O que faz aqui? – ele tinha a voz rouca.

- Eu moro aqui. – ela foi fria.

Ele bateu forte a porta em resposta e ela lutou para não se sobressaltar com o
barulho estrondoso.

- Não deveria estar com a sangue-ruim vendo vestidos por aí? – ele passou
por ela. – Ainda tem café da manhã? – Narcisa o seguiu enquanto ele avançava
meio grogue para a sala de jantar. – Onde está aquele maldito elfo que ainda
não apareceu?

- Ainda é muito cedo para se olhar vestidos no centro da cidade. O


desjejum ainda está posto e Rubby está podando os arbustos do jardim. –
respondeu enquanto recebia o terno que ele praticamente jogara sobre ela.
Lúcio desmoronou em sua cadeira na mesa de jantar, encheu seu copo de chá
preto e puxou um prato onde jogou tomates, ovos, batatas e bacon.

- É melhor que esse casamento seja o melhor casamento da história da


família Malfoy. É uma grande quebra na tradição. Sei que posso contar com
você para isso. Portanto trate de fazer com que as lojas abram mais cedo para
recebê-la. – ele parecia ainda bêbado, mas tinha uma postura perfeita sentado
em sua cadeira de mestre da casa. – Pode ir agora. – ele a dispensou como se
ela fosse um elfo doméstico.

Narcisa soltou o ar frustrada, deu as costas e saiu da presença de seu


carinhoso, dócil e benevolente marido. Subiu para o quarto, estendeu o terno
sobre a poltrona dele, mas não antes de cheirá-lo. Fedia a sexo. Quase o jogou
no chão, mas era melhor deixar onde saberia que Rubby trataria de levar para
limpar. Ela sabia que para não sofrer mais do que sofria, era preferível fingir
que tudo estava bem. Que Lúcio tivera uma dura noite de intenso trabalho em
seu escritório no Ministério da Magia e que tudo que ele precisava agora era de
uma massagem e um bom tempo para o sono.

Vestiu-se da melhor forma possível. Gostava sempre de estar apresentável,


afinal era uma Malfoy. Ajeitou seus fios dourados e maquiou-se com muita
habilidade. Tornou a descer e encontrou Lúcio subindo as escadas. Ela agiu
como se tudo estivesse perfeitamente bem. Agiu como a esposa de seu marido.
- Vou a catedral. – ela o abordou. Estalou seus lábios sobre os dele e
continuou a descer as escadas. – Se precisar de algo estarei no centro durante
a tarde.

Ela continuou a avançar. Ele não respondeu e não era de hoje que ela se
abateria por isso. Saiu pela porta, desceu os eternos degraus da fachada
neoclássica de sua casa e entrou na cabine de sua carruagem. O caminho para
a catedral era sempre rápido. O fazia com frequência.

Assim que desceu no pátio sul, atravessou a ala que separava o salão principal
e andou por debaixo de uma longa marquise até chegar ao jardim interno onde
encontrou Bellatrix Lestrange sentada num dos agradáveis mobiliários do
jardim tomando seu desjejum.

- Que bom que veio. – Bella disse assim que Narcisa se juntou a ela.
Fechou a revista da qual estava se ocupando e estendeu-a para sua nova
companheira. – Veja. Seu filhinho e a sangue-ruim ainda são notícia. – e sugou
um pouco do chá em sua xícara. – Parece que a cidade realmente não encontra
nada de bom do qual falar.

Narcisa pegou a revista, olhou a capa e soltou um muxoxo.


- Me surpreende que um quinzenário sobreviva as custas das novidades
dessa cidade! – disse e folheou a revista – Ainda publicam mais imagens
diferente da noite desse jantar?! – comentou enquanto olhava as imagens. -
Pensei que eles já houvessem acabado com todo o estoque.

- Não. Há rumores de que o Diário do Imperador possuem fotografias deles


dentro do restaurante. Tudo esta girando em torno dessa especulação. Quem
irá comprar as imagens e se elas realmente existem. Ah, e claro! – Bella
revirou os olhos. – As roupas da sangue-ruim. Sabe quem está a vestindo?

- Draco colocou Tryn a disposição dela. – responder Narcisa.

Bellatrix fez uma careta enquanto engolia mais um gole de seu chá.

- Ah! Maldita elfa. – praguejou. – Ela é boa.


- Sim. O mestre colocou a sangue-ruim sobre a responsabilidade de Draco
sabe que ele nunca o decepcionou. A garota é preciosa demais para que fosse
jogada diante do seus deveres como comensal sem a devida orientação.

Bellatrix resmungou baixo.

- Eu teria matado essa horrorosa no dia em que aquela marca apareceu no


braço dela! Ela está tomando meu lugar.

Narcisa fez uma careta.

- Por favor, Bella! Está mesmo pensando nessa estupidez? Sabemos que
para o mestre você é insubstituível. Ele já tratou de deixar isso bem claro em
muitas das missões e até mesmo aqui dentro da catedral.
- Eram tempos de guerra muito diferentes do de agora. Seu filho herdou o
exército do lorde das trevas e todos nós pudemos nos banhar da futilidade de
Brampton Fort sem se preocupar com as batalhas travadas entre essas
resistências devido a ditadura do mestre! – ela debruçou-se sobre a mesinha -
Me escute bem, Cissa. Eu sou a rainha desse palácio. Sempre fui! E agora essa
garota estúpida apareceu, tomou conta dos jornais, das revistas, dos
comentários, da moda. Ela virou a menina dos olhos do mestre! O lorde deu
minha cadeira nos jantares coletivos para ela, Cissa! Minha cadeira! Meu lugar!
– ela bufou e tornou a sentar-se corretamente em sua cadeira. – Mas eu estou
trabalhando nisso. – Bella manteve a xícara nas mãos muito refinadamente. –
Estou deixando Nightmare Grey. – era o seu quarto na catedral – Estou de
olhou em uma das mansões da Vila dos Comensais. Aquela do alto da colina.
Com pedras cinzas e um pequeno lago na frente. Quero ver qual será o
movimento do lorde quando eu deixar a catedral.

Bellatrix eram uma das poucos que poderia jogar com o mestre daquela forma
e não sair morta. Sabe-se lá o que Voldemort nutria por aquela mulher.

- Seria ótimo estarmos mais próximas. – Narcisa se reservou a comentar.

- Seria ótimo ouvir um pedido do mestre para que eu voltasse. – ela bebeu
do chá.
- Tome cuidado nas situações que anda encurralando o mestre. Ele é
imprevisível, Bella. Sabe disso.

- Nunca foi comigo. – ela retrucou quase sabiamente. – Me diga, o que fará
durante a tarde? – desvirtuou o assunto.

- Sairei com a sangue-ruim para o centro da cidade provavelmente e não


sei quanto tempo isso irá me tomar. Tenho visitas agendadas em talvez umas
mil lojas.

Bellatrix revirou os olhos.

- Ah, claro. “Quem irá fazer o vestido da estúpida noivinha?” – soltou um


muxoxo – Estou farta dessa sangue imundo!
- Não me desanime mais, por favor. – retrucou Narcisa.

- Bem, é uma pena que não poderá estar aqui. Estava planejando deixar
Brampton Fort para conseguir alguns ingredientes exclusivos e inéditos para a
cidade. Vou abrir uma loja de ingredientes para poções no centro.

Narcisa ergueu as sobrancelhas surpresa.

- Uau. Isso é uma nova!

- Sim. A cidade está precisando.

A loira riu.
- A cidade já tem três, Bella.

- Que nunca tem os ingredientes que eu preciso na hora que eu preciso,


portanto, quem melhor do que eu para abrir uma loja de ingredientes. Tenho
acesso para entrar e sair da cidade. Draco me daria sempre que eu precisasse.

- Deve tomar cuidado. Sabe que o lado de fora não é estável e vive em
constante perigo.

Foi a vez de Bellatrix rir.

- Por favor, Cissa! Está mesmo falando comigo sobre perigo? Está me
ofendendo! – ela soltou um riso desdém. – Eu sou o perigo! – e tomou o último
gole de seu chá.
Narcisa revirou os olhos.

- Certo. – levantou-se. – Espero que Draco te alerte mais detalhadamente


sobre isso quando for pedir para sair.

Bellatrix ignorou.

- Pansy estava a procurando.

- Tão cedo?

- Sim. Não perguntei a ela o que queria.


- Certo. Ela certamente arrumará um jeito de me encontrar. Se voltar a vê-
la, diga estou aqui.

- Não será um problema.

Então Narcisa deu as costas e seguiu de volta pela marquise até estar de volta
ao edifício. Percorreu todo o caminho para a ala leste, subiu as escadas
principais, parou para dar seus cumprimentos a filha de um dos amigos de seu
marido e entrou finalmente no labirinto de corredores do segundo pavimento.
Não demorou para estar de frente a porta do Whitehall. Ajeitou o vestido e a
postura antes de bater educadamente.

Tryn abriu a porta. Narcisa não pediu licença para entrar. Encontrou Hermione
sentada na beirada de uma cadeira, debruçada sobre um pequeno caderno e
com uma pena nas mãos. Ergueu os olhos para Narcisa assim que terminou de
escrever o que quer que estivesse trabalhando.

Ambas trocaram um segundo de silêncio.


- Eu poderia ter ordenado que viesse a minha casa, mas não gostaria de
alguém como você lá. – Narcisa disse.

Hermione abriu um sorriso irônico como se já estivesse acostumada com todas


as ofensas que recebia, ou apenas já soubesse que ela diria algo do tipo.

- É um prazer recebê-la aqui, Sra. Malfoy. – disse acompanhada do sorriso


forçado. – Por favor, sente-se. – apontou para a cadeira a sua frente.

Narcisa também forçou seu sorriso. Ajeitou a bolsa sobre um dos ombros e
avançou para sentar-se na cadeira indicada.

- Temos muito o que fazer. – tirou da bolsa uma agenda e a abriu sobre a
mesa. – Agendei uma série de entrevistas com equipes de cerimoniais. – ela
voltou-se para a elfa. – Tryn, trate de nos arrumar um salão vazio na catedral
para recebermos todos eles. E também estará responsável por levá-los até nós.
- Sim, Sra. Malfoy! – Tryn fez uma reverência exagerada e sumiu num
estalar de dedos.

- Bem. – continuou Narcisa voltando-se para sua agenda na mesa. – Mais


tarde iremos deixar a catedral para ir ao centro. Alguns estilistas prepararam
um desfile de vestido de noivas e gostaria que fosse se familiarizando com o
perfil de cada um deles. – ela virou a página. – Suas damas de honra serão
Pansy Parkinson e Lesl...

- Luna Lovegood. – Hermione a cortou. Houve um segundo de silêncio e


então Narcisa levantou seus olhos para encarar o da outra.

- Perdão? – indagou confusa.

- Luna Lovegood. – repetiu Hermione. – Será minha segunda dama de


honra.
Narcisa resfolegou.

- Não querida. Sua amiga está bem presa nas masmorras...

- Ela será minha segunda dama de honra. – tornou a repetir Hermione


muito confiante nas palavras que soltava. – Desconsidere quem quer que seja
para esse papel.

- Escute, o que quer que tenham dito a você sobre sua amiga, não passa
de uma ferramenta para torná-la mais obediente.

- Sou obediente o suficiente. – Hermione deu um sorriso forçado. – Foi uma


promessa que eu recebi do seu mestre, portanto desconsidere quem quer que
seja para minha segunda dama de honra.
Narcisa encarou os olhos orgulhosos da mulher a sua frente. Torceu a boca,
voltou para sua agenda e riscou o nome de Leslie Chupp. Pigarreou e
continuou:

- Então na próxima semana estaremos olhando os locais para a cerimônia.


O mestre não permitirá que façamos fora da cidade, portanto podemos até
procurar por alguns salões nas vilas mais abastadas da cidade, mas ainda
assim o lugar mais pomposo que encontraremos será a catedral.

- Não quero que seja aqui.

- Sua opinião não conta, querida.

- Não me chame de querida. – Hermione foi séria.


Narcisa ergueu os olhos para ela em silêncio, lançou um olhar desaprovador e
continuou como se não houvesse escutado nada da parte da outra.

- Conheço o desenhista perfeito para fazer o vestido das damas. Mas não
quero que ele faça o seu. Veremos alguns trabalhos dele antes que eu possa
decidir sobre isso...

- Por acaso eu poderei escolher algo do meu casamento? – interrompeu


Hermione.

Narcisa processou a pergunta dela. Que insolência da parte dela! Teria muito no
que trabalhar para que ela se tornasse uma Malfoy! Pensou que um “não”
bastaria, mas não foi exatamente o que conseguir responder.

- É uma sangue-ruim, rebelde, pobre e de péssimo mal gosto. Eu não seria


estúpida o bastante para deixar que estragasse tudo com suas péssima
escolhas. Entenda, garota! Isso será um grande evento. Não será só mais um
casamento da família Malfoy! O mestre quer que seja grande e será!
- Não sou uma sangue-ruim, sou nascida trouxa. Não sou rebelde, faço
parte da resistência. Nunca fui pobre e você não conhece os meus gostos. –
Hermione foi dura e firme. – Minha decisão será a decisão final. É
o meu casamento e eu não me importo que seja com um Malfoy nem tão pouco
me importo com as ordens de seu mestre.

Narcisa fechou brutalmente sua agenda.

- Está sendo abusada, sangue-ruim!

- Estou? – Hermione fingiu surpresa. – Não vejo abuso algum em querer


tomar as decisões do meu casamento.

- Não é seu! – Narcisa sentiu uma veia sua querendo pulsar. – Esse
casamento é tudo menos seu! Não foi você quem escolheu se casar!
Escolheram você como noiva! Não há nada de feliz no seu destino para que
queira fazer escolhas de um casamento que estará fadado ao fracasso! –
Narcisa parou para ofegar quando se viu fazer um discurso que gostaria que a
Sra. Malfoy tivesse feito a ela quando estava noiva de seu marido.
Hermione pegou ar para retrucar, mas fechou a boca. Fez uma careta de
desgosto ao saber que não poderia competir com a verdade. Por um segundo
só Narcisa voltou a ter dó daquela pobre criatura. Sabia de todos os sonhos de
menina que ela carregou a vida toda. O casamento dos sonhos. Aquele que
toda garota tem em mente, aquele que toda garota sonha realizar um dia.

- Só estava tentando encontrar um jeito de aproveitar a tempestade, já


que sou obrigada a ficar debaixo dela. – a voz de Hermione foi baixa porém
séria.

Narcisa puxou o ar e ajeitou a postura.

- Guarde isso para o futuro. Vai precisar mais do que agora. – guardou sua
agenda. – Levante-se. Me deixe ver o que está vestindo. – viu a mulher se
levantar relutante e se afastar para que pudesse ser observada por inteiro de
um ângulo melhor. Narcisa analisou com cuidado. – Vire-se. – pediu e
Hermione se virou. – Adorável e frágil. – disse finalmente – Não é como eu
quero que esteja. Quem a vestiu?

- Tryn.
- Sim, ela é boa, mas não está como sempre deve estar. Vamos ao seu
closet. – se levantou. – Mostre-me onde é. – e seguiu Hermione. O quarto dela
era muito bonito, o lavatório espetacular e o closet, bem, o closet era peculiar.
– Bem, isso é bastante pequeno. – viu a outra erguer as sobrancelhas por seu
comentário. – Certo. Vamos lá. – Puxou sua varinha e começou a ordenar que
as araras se mostrassem, descessem e subissem fazendo todas as roupas
passarem por seus olhos. – Primeiro, não terá Tryn para sempre. Deverá
aprender a se vestir de maneira adequada e nunca, jamais, em situação
alguma, mostre-se... – hesitou – confortável demais. – completou. Hermione
entenderia. – Deve estar sempre com os cabelos penteados e de maquiagem
no rosto. Nada exagerado, mas um batom, pelo menos, faz muita diferença.
Pareça sempre natural. Tem um rosto bonito, não precisa de muita coisa. – ela
tirou alguns vestidos e jogou-os sobre um banco – Escolha roupas com o
decote mais arredondado ou quadrados. Use decotes em “V” apenas para
festas, apresentações, jantares e saídas importante. – estendeu um vestido
para ela após passar o olho em muitos. Hermione o pegou. – Use roupas com
esse fechamento envelope, alguns modelos incitam uma fenda na perna
quando anda. Cuidado com modelos rodados, podem te fazer parecer muito
menina. Nunca use cores muito vivas, a vida não é uma festa para isso. Precisa
mostrar as curva do seu corpo de maneira discreta e chamar atenção com
algum outro elemento. Tem um corpo muito bonito, portanto deve tomar
cuidado com vestidos muito apertados e muito curtos, pode te deixar vulgar
demais e vadia com o sobrenome Malfoy é inaceitável. Pode escolher chamar
atenção com um chapéu no verão ou primavera. Ou pode escolher chamar
atenção com jóias. Onde estão suas jóias?

- Não tenho muitas. – respondeu Hermione apontando para a mesa de


vidro que abrigava as poucas peças.

Narcisa fez uma careta assim que a viu.


- Draco te deu alguma?

- Todas essas foram Tryn quem trouxe. Ele deve ter dado a ela.

- Deve pedir mais a ele.

- O que? – Hermione quase engasgou com a própria saliva.

- Se não encontrar uma forma de gastar o dinheiro do seu marido, ele


encontrará alguém com quem gastar. – pegou um colar e um par de brincos. –
Isso ajudará. – estendeu para Hermione. – Os sapatos... – ela parou de frente
a estante de sapatos que se estendia até o teto e a rolou para poder ver todos.
– Deve escolher sempre cores neutras. Pode até escolher alguns exagerados
quando sua roupa for mais discreta, mas nunca, me escute bem, nunca deixe
de usar salto alto. – pegou um sapato e deu a Hermione. Virou-se para ela e a
encontrou carregando tudo que havia lhe passado. – Sua roupa deve completar
o sobrenome que carregará. Nunca esteja exageradamente vulgar. Seduza com
o elegante. Incite a curiosidade. Sua roupa deve lhe ajudar a estar sempre no
domínio de sua soberania e sempre com o orgulho intacto. Nunca frágil demais.
Nunca! Lembre-se disso. Agora vista-se. Vou estar esperando-a na porta.
Temos muita gente para receber.

Deu as costas e saiu.

**

Estava farta de como todos os grupos de cerimoniais que recebiam


pareciam querer lamber o chão para que passasse. Estava disposta a pagar por
um que tivesse bons trabalhos, boas indicações, fosse discreto o suficiente e
competente o bastante, mas tinha a enorme impressão de que assim que
contratasse qualquer um daqueles, o felizardo sairia se vangloriando por toda a
cidade. Conviveu quieta com essa impressão até que Hermione Granger
comentou algo sobre isso numa das trocas. Quase sorriu por sentir um breve
momento de afeto pela mulher por estarem compartilhando do mesmo
pensamento.

Bastava que mais alguns grupos entrassem pela porta daquele salão e logo ela
estaria bêbada junto com a noiva de seu filho já que se afogavam em álcool
cada vez que um deles resolvia discursar longamente sobre seus incríveis
feitos.
- Deveríamos parar isso e fazer um sorteio com os grupos agendados. São
todos iguais, afinal. – Hermione disse assim que um dos grupos saiu pela porta
do salão que se encontravam.

Narcisa quase concordou se não fosse apenas um comentário irônico dotado de


insensatez.

- Tragam-nos doces. – disse para qualquer um dos elfos. – E parem com


todo esse álcool ou vamos estar bêbadas logo pela manhã! Aposto que em
algum lugar dessa catedral encontrarão sucos para nos servir!

Os elfos se agitaram em seus afazeres e logo quem estava entrando pela porta
para anunciar o próximo grupo era Tryn.

- A Srta. Pansy Parkinson pede para poder falar com a Sra. Narcisa Malfoy
antes do próximo grupo. – disse a elfa tremendo de medo por ter sido obrigada
a quebrar a rotina da manhã.
Por algum motivo, Narcisa sentiu-se iluminar.

- Claro, mande-a entrar. – respondeu quase imediatamente.

Escutou Hermione soltar um longo suspiro ao seu lado.

- Devia ter mandado nos servir algo mais forte. – ela murmurou mais para
ela mesma do que para a Sra. Malfoy.

Narcisa ignorou e se levantou assim que Pansy irrompeu pelo salão em sua
direção.
- Bom dia, Sra. Malfoy! – ela estava radiante em um vestido de renda
escura e transparente. Os cabelos negros e extremamente lisos esvoaçavam
quando andava e a sua beleza e juventude parecia afetar até mesmo as
paredes de pedra do salão. – Estive a procurando durante toda a manhã.

- Bella me avisou. – Narcisa recebeu beijos educados um de cada lado do


rosto. – Está cada dia mais bonita, Pansy. – elogiou-a.

- Obrigada. – a outra agradeceu esnobemente e tomou da mão de um dos


elfos uma taça da bebida que estavam retirando. – Tinha a esperança de
encontrá-la antes de começar sua agenda, mas não haverá problemas. Tenho
uma ótima proposta a fazer.

Narcisa apreciou a empolgação explicita no sorriso de Pansy, mas temeu pela


ideia que estivesse passando pela cabeça da mulher. Conhecia aquela criatura
desde criança e não havia nada que Pansy Parkinson quisesse que não
conseguisse.

- Faça-a. – disse embora já temesse pelo que poderia ouvir.


Pansy puxou o ar após um gole de sua bebida.

- Deixe-me escolher a equipe para a cerimônia e o banquete. Sabe que sei


organizar bem qualquer espécie de evento e nunca ouvi critica alguma sobre
meus trabalhos. Sabe disso. – Ela fez um sinal de aviso que ainda não havia
terminado quando Narcisa sugou ar para dizer qualquer coisa. – Sei que precisa
fazer um evento brilhante. Conheço as pessoas certas que não serão
compradas para abrir a boca a imprensa e manterão sigilo sobre qualquer
escolha feita e qualquer decisão tomada.

- Não. – Hermione levantou-se de sua cadeira e Narcisa se lembrou de que


ela também estava no salão.

O sorriso de Pansy morreu rapidamente e seus olhos pularam de Hermione


para a Sra. Malfoy avaliando ambas muito precisamente. Pela primeira vez,
Narcisa viu Pansy sentir-se aparentemente desconfortável com a roupa que
usava. Ela nunca havia sido um exemplo de mulher íntegra, vestia-se como
vestia-se para ter a atenção de seu filho.
- Não estávamos falando com você, sangue-ruim. – Pansy emboçou uma
cara de nojo.

- Não irá tomar decisão alguma sobre o meu casamento. – reafirmou


Hermione.

- Já conversamos sobre isso, Srta. Granger. – Narcisa interrompeu


tentando fazer soar o mais educada possível.

- Parece bem satisfeita com a ideia do seu casamento! – Pansy aproximou-


se da outra mulher com um sorriso esnobe e superior. Hermione não deixou
por baixo quando uniu o par de salto que tinha nos pés e ajeitou perfeitamente
sua postura. – Acaso está feliz com o destino que terá? Oh! – Pansy soltou um
riso irônico. – Claro que está! Que mulher não estaria feliz em ter Draco Malfoy
para o resto da vida? Um homem e tanto, não é? Mas eu deveria alertá-la de
que ele a odeia, sangue-ruim. Sempre odiou.

- Não pense que não me lembro que é obcecada por Draco Malfoy, Pansy
Parkinson! – retrucou Hermione numa expressão fria e dominadora. – Lembro-
me bem do pouco tempo que namoraram em Hogwarts e lembro-me bem de
todo o seu comportamento quando Malfoy a deixou. – ela se aproximou. –
Tenho um anel que não tem. Um anel que quer tanto quanto quer a ele.
A ideia do meu casamento te incomoda. Não sou burra, sabe disso. – pulou os
olhos de Pansy para a Sra. Malfoy. – Se forem tomar todas as decisões, –
Colocou o copo que carregava numa das bandejas que um elfo equilibrava. –
podem me chamar no dia da cerimônia, me enfiar em um vestido qualquer e
me fazer decorar tudo que eu tiver que dizer. Não preciso perder meu tempo
aqui. – deu as costas e saiu.

O silêncio durou entre ambas as mulheres que restaram no salão. Narcisa


sentiu-se querendo abrir um sorriso fino no canto dos lábios. Ela daria uma boa
Malfoy. Mas Pansy voltou-se para ela e teve que engolir qualquer pensamento
sobre Hermione.

- Quem deu permissão para todo esse abuso? – protestou Pansy


claramente enfurecida. – Vou fazer essa garota engolir todas aquelas
palavras...

- Pansy, escute! – cortou Narcisa. – Sei que os eventos que organiza


agradam sempre a todos, mas esse precisa ser histórico.

- Sabe que posso fazer ser! – exclamou Pansy.


- Sei que pode, mas...

- Mas? – cortou Pansy surpresa e irritada. – Está defendendo a sangue-


ruim? – aumentou a voz - Vi a forma como olhou a olhou quando ela saiu
daqui! Eu deveria estar no lugar dela! Sempre quiseram isso! Você e o Sr.
Malfoy! Por que maldição está a defendendo? Ela irá manchar o nome de toda a
história da sua família! Os Malfoy nunca mais serão como antes...

- Não estou defendendo-a! – Narcisa quase precisou gritar para calar a


outra e Pansy fechou a boca imediatamente deixando passar em seu olhar a
vergonha por seu comportamento histérico e impensado. – Estou sendo
sensata em dizer que preciso pensar! – algumas atitudes de Pansy a irritava. –
E sabe que Draco jamais se casaria se ninguém nunca o obrigasse. Teria sido
você, mas creio que deva ter consciência de que precisaria mudar muita coisa
para ser uma Malfoy! Precisaria mudar mais do que a sangue-ruim precisará. –
calou-se surpresa ao escutar suas própria palavras.

O olhar que Pansy lhe lançou foi ainda mais surpreso. Quase tornou a abrir a
boca para dizer que não era exatamente aquilo que queria dizer, mas as
palavras não saíram. Irritou-se por isso. Deu as costas e tomou o mesmo rumo
de Hermione parando apenas para ordenar a Tryn que cancelasse o restante da
agenda.

**
Estava exausta e não havia produzido quase nada.

Seria possível que toda aquela responsabilidade pudesse lhe gerar tanta
pressão?

Havia ido ao centro sozinha. Se encontrara com todos os desenhistas e opinara


em todos os modelos de vestido de noiva que haviam apresentado a ela. Não
gostara de nenhum e até que não levar Hermione fora um alívio. Não queria
que ela criasse expectativas com nenhum daqueles modelos horrorosos. Ainda
havia muito no que trabalhar na mente daquela pobre criatura e uma influência
errada poderia fazer o trabalho ser ainda mais árduo.

A noite estava caindo e esperava em pé por Draco ao lado de um gigantesco


totem de concreto que anunciava a entrada da ala do Q.G. de Voldemort.
Agradecia a merlin por seu filho ter se tornado exageradamente pontual.
Não demorou muito e logo o viu cruzar o hall da ala. Os olhos dele caíram
sobre ela quase que imediatamente. As vezes se assustava ao ver seu filho de
longe. Sempre tinha a imagem de uma criança em sua cabeça e quando o via
se surpreendia como homem que ele havia se tornado. Era quase como olhar
para Lúcio Malfoy quando o conhecera. Lindo, alto, loiro, forte, olhos
assustadores.

- Mãe, o que faz em pé aqui? – ele perguntou assim que chegou até ela. –
Deveria ter entrado.

- Acabei de chegar do centro e sei que já estava na hora da sua saída do


Q.G. – ela se justificou.

- Por que não foi para casa? Tem algo para fazer aqui? – ele perguntou
quando começaram a andar lado a lado.

- Tenho que me encontrar com a sua noiva. – não escondeu o


desapontamento na voz. Ela teria que extrair forças de algum lugar para ter
que lidar com a sangue-ruim. Granger não poderia tomar decisões sobre o
casamento, mas deveria estar ao seu lado e o orgulho daquela mulher era
difícil. – Deve dar mais jóias a ela. Fui ao seu closet e não dá para fazer muitas
combinações.
Draco soltou um protesto infantil.

- Não vou ficar sustentando as futilidades de uma sangue-ruim!

- Não é uma futilidade, Draco! Ela saíra nas revistas e jornais toda a
semana carregando o anel de noivado da nossa família! Não irá demorar e
teremos imagens dela no Profeta Diário para o mundo inteiro assim que a
notícia vazar de Brampton Fort! Quero-a muito bem apresentável!

Seu filho bufou.

- Providenciarei. – ele fez soar como Lúcio fazia quando era obrigado a
levá-la para algum evento importante e apresentá-la como sua esposa para
garotas com metade da sua idade.
- Pansy me fez uma proposta hoje pela manhã. – ela disse e eles saíram
para o pátio leste. – Ela quer organizar a cerimônia e o banquete.

- Não. – Draco respondeu quase que imediatamente.

- Draco, sabe que ela faz eventos excelentes. E o mestre gosta de como ela
trabalhar para agradar seus gostos.

- Não. – reafirmou ele. – Sabe que Pansy sempre me amou. É o meu


casamento e não é com ela que eu estarei casando. A conhece e sabe que ela
encontraria alguma forma de humilhar Granger publicamente. Gostaria de ver
isso nas revistas?

Narcisa sentiu um calafrio percorrer toda a sua espinha apenas de imaginar


alguma polêmica envolvendo erros no evento histórico que deveria organizar.
- Não. – limitou-se a responder e continuou a caminhar calada ao lado de
seu filho.

- Talvez a pressão seja grande, mas sei que fará um ótimo trabalho, mãe.
– ele quebrou o silêncio. Narcisa apenas sorriu.

Era sempre preocupante ver ser filho soltar de modo sempre desajeitado
qualquer tentativa de ser amável. Tinha a sensação de que era como se ele
estivesse tentando calçar o pé esquerdo no sapato do direito.

Era demasiado filho de seu pai.

- Seu pai está em casa. – ela começou. – Estive pensando que talvez se
jantasse em casa hoje...
- Não posso. – ele a cortou. – Não me use para fazer com que meu pai se
esforce para se lembrar de que tem uma família.

- Draco! – ela parou e o segurou pelo braço. Ele era forte e podia
facilmente se esquivar e continuar seu caminho, mas por boa vontade ele
parou. Encarou o filho e viu aquele olhar frio e as sobrancelhas unidas com seu
ar zangado. Era a expressão que seu filho carregava sempre. Havia rancor
demais naquele coração sempre quando fitava de muito perto aqueles olhos. –
Você é o único acerto que eu tive para o seu pai.

Viu a expressão de Draco mudar quase que instantaneamente. Ele não disse
nada, mas suas sobrancelhas se separaram e seus olhos brilharam de uma
forma tão acolhedora que Narcisa sentia que no final de tudo, seu filho não era
de todo modo, apenas filho de seu pai. Sentiu as mãos frias dele tocarem seu
rosto.

- Diz isso com tanta frieza, sem desfazer sua seriedade e ao mesmo tempo
sei que é sua maior tristeza. – a voz do filho foi mansa e verdadeira.

- Só queria que estivéssemos juntos. – foi tudo que ela conseguiu dizer.
Ele pegou sua mão e beijou o nó de seus dedos.

- Nunca vamos estar realmente juntos. – e foi embora.

Narcisa não se moveu e apenas observou o filho sumiu de sua vista. Sabia
Draco Malfoy nunca negava a sinceridade, mesmo que ela fosse dura. Fechou
os olhos e inspirou muito devagar.

Talvez o mundo nunca soubesse realmente qual era a face de sua dor porque
os anos congelaram sua expressão fria e seu orgulho já havia secado qualquer
lágrima. Ninguém nunca saberia o quanto doía. Nunca.

Hermione Granger
Ela esperava de pé ao lado de Tryn no lugar mais fundo cavado
debaixo da catedral. O silêncio era grande e ela sentia um profundo aperto no
coração. Suspirou e mostrou a mão para seus olhos.

O anel dos Malfoy era milenar. Passara a ser registrado na história faziam
poucos séculos, mas sabia que ele existira muito antes disso. Era visível pelo
aspecto medieval perfeitamente conservado. Um dragão belamente singelo
envolvendo uma rubi gloriosa. Bem prata e bem vermelho. Muito Malfoy. Por
aquele anel, a rubi era conhecida como a pedra da família. Muitos livros
citavam aquilo. Mas a pedra só a fazia se lembrar do colar que Pansy Parkinson
carregava no pescoço.

Aquilo pesava em sua mão todos os dias. Pesava tanto que doía, mas ela ainda
tentava desvendar se sua dor não era psicológica porque não era exatamente a
mão que lhe doía. Era o coração.

O sonho de seu casamento dos sonhos seria para sempre um sonho.


Se sua mãe ainda fosse viva e a visse nessa situação, choraria por saber que
todos os seus planos de menina estavam agora no ralo. Nada mais foram do
que ilusões cheias de expectativas. Todas frustradas.

Deixou seus lamentos de lado quando escutou passos descendo pela escada de
pedras. Ajeitou a postura. Sentia-se arrumada demais para um lugar como
aquele, com o chão de terra batida e as paredes cavernosas de pedras pouco
polidas. Mas ao invés de desejar ir para um lugar próprio de suas vestimentas
almejava era por trocar suas roupas caras e se adequar ao lugar. Era ali o seu
lugar. Deveria estar ali. Não usufruindo dos confortos de Whitehall.

O homem que surgiu carregava uma lamparina na mão e tinha a cara que um
carcereiro poderia ter. Tinha um maço de cigarro encardido pendendo pelos
lábios finos e tortos, uma barba rala, um rosto oleoso e fedia como se não
tomasse banho a uma quinzena.

- Olá mocinha. – ele resmungou quando passou por ela e começou a abrir
uma pesada porta de ferro presa contra as pedras frias que os confinavam. –
Me siga em silêncio.

Hermione foi obediente. Seguiu por um corredor que só foi iluminado pela
lamparina do homem. Era estreito e infinito. As curvas que os guiavam
serpenteavam pelo subsolo e tudo que havia de novo era o número em tintas
desbotadas estampadas na porta de ferro de cada sela que se seguia. Uma
após a outra. Infinitamente.

164 foi o número que estava na porta onde o carcereiro estancou. Ele tirou do
bolso um enorme bolo de chaves enferrujadas e Hermione presumiu que
naquele lugar não havia magia pelo modo como ele tratava toda a situação
desajeitadamente. Tanto a lamparina como o bolo enorme de chaves.

Foi quase eterna a busca pela chave certa. Quando a tranca foi finalmente
aberta, o carcereiro precisou de muito força para conseguir empurrar a porta e
Hermione poder entrar no ambiente frio, úmido, escuro e assustador da cela.

Era alto. Muito alto. Lá em cima havia uma pequena abertura que trazia a luz
azulada da noite para dentro do enorme poço. Uma grade descia de lá de cima
e ia até o chão dividindo o espaço em dois. Hermione ainda precisava que seus
olhos se acostumassem com o escuro.

- Luna? – ela chamou e sua voz ecoou poço acima.


Ainda houve um segundo de silêncio até que ela escutasse a doce e sonhadora
voz de sua amiga.

- Você é uma ilusão? – estava fraca.

- Não Luna, sou eu, Hermione! Não sou nenhuma ilusão. – Hermione sentia
sua garganta apertar. Viu a amiga deitada encolhida contra o chão do outro
lado da grade quando ela começou a se esforçar para erguer a cabeça.
Aproximou-se da grade e tocou-a. – Luna... – sentiu sua voz fraquejar. – Me
desculpe.

- Você está tão bonita, Hermione. Quem a arrumou? – a loira sentou-se


dessa vez.

- Eu mesma dessa vez. – precisou lembrar-se muito bem de todo o


discurso de Narcisa Malfoy para acertar na roupa, no cabelo, nas jóias e no
sapato. – Tenho que andar assim.
Luna desencostou-se da parede e arrastou-se até a grade. Hermione pôs-se de
joelhos e finalmente fitou a amiga de perto. Ela tinha os cabelos desalinhados,
a boca inchada e os olhos fundos. Hermione sentiu seu coração se apertar
ainda mais.

- É verdade? – a voz dela foi baixa.

- Muitas coisas aqui são verdades. Verdade muito dolorosas. – Hermione


respondeu.

- Voldemort fez de você uma comensal? – ela foi mais especifica dessa vez.

Hermione sentiu a dor da afirmação que teria que dar a ela. Se ao menos
tivesse apenas essa triste notícia.
- Sim. – respondeu tristemente.

- Me deixe ver. – ela pediu e Hermione soube do que ela se referia.

Enfiou o braço pelo espaço das barras de ferro e o virou para Luna, que
segurou-o e o fitou por muito tempo.

- Não pode escapar. – a voz de Luna foi um sussurro. – É a eterna


prisioneira dele.

Hermione fechou os olhos sentindo que poderia chorar mais uma vez por
aquilo. Os abriu e puxou o ar tentando manter-se firme. Trouxe seu braço de
volta quando a amiga o deixou.

- Sou, Luna. Mas sou apenas eu. – ela não queria ser tão direta dizendo
que seu caso não se aplicava também a amiga, mas tinha medo de que
pudessem estar escutando-a. – Tenho sido obediente para que não a
maltratem.

- Sim. – ela sorriu fracamente encostando a cabeça nas grades. – Eles tem
me tratado melhor. Enviam-me comida todos os dias e já não me trazem
dementadores com frequência. Até me mudaram de cela. Agora tenho a luz lá
em cima para saber se é dia ou noite.

Hermione teve de sorrir pela satisfação de Luna, mas queria tanto lamentar por
ela.

- Tenho a esperança de que te deem um quarto lá em cima. Tenho sido


realmente obediente, Luna! Obedeço a tudo. Faço tudo o que me mandam
fazer...

- Por que se rende a eles? – Luna a cortou mesmo com a voz frágil.
Hermione engoliu as palavras como se não entendesse o porque da pergunta.
Será que não havia ficado claro o suficiente para ela?

- Porque se eu não me render farão mal a você!

- Posso aguentar! Tenho aguentado bem!

- Não aguentaria uma vida inteira!

- Não se sacrifique por mim, Hermione!

Soltou o ar frustrada.
- Será que ainda não entendeu que eu não tenho esperança? – tentou
Hermione novamente. – De nós duas você é a única que ainda tem alguma!

- Para alguém tão inteligente está sendo bem burra em acreditar que eu
sairia daqui e deixaria você! – Luna foi direta. – Se for ficar aqui, vou ficar com
você. – Por que ela tinha que ser tão teimosa? Luna não media o perigo das
coisas nem mesmo depois de ter recebido amostras o suficiente de tortura. – O
que é isso em seu dedo? – a voz dela foi curiosa dessa vez.

Hermione recuou a mão que segurava a grade com rapidez numa atitude
bobamente receosa. Mordeu o canto dos lábios nervosamente ao se lembrar de
que ainda tinha que compartilhar isso com a amiga. Estendeu a mão pela grade
e Luna pregou os olhos enormemente azuis no anel.

Levou alguns longos segundos para que a voz de Luna tornasse a ecoar pelo
poço.

- É o anel da família Malfoy? – ela ainda parecia não entender bem. – Sim,
é o anel. O anel de noivado dos Malfoy. Já o vi desenhado em livros antes. É
exatamente assim! – os olhos dela se despregaram do anel e se encontraram
com os de Hermione. – É o anel de noivado da família. – repetiu receosa. - O
que faz no seu dedo, Hermione?
A essa altura Hermione sabia que a amiga havia desvendado o segredo, mas os
olhos dela afirmavam que queria escutar uma resposta de sua boca.

- Vão me casar com Draco Malfoy. – disse Hermione.

O silêncio veio duradouro dessa vez. Ambas trocavam olhares. Hermione


apenas esperava uma reação de Luna, mas ela parecia lunática como sempre.

- Ele é um homem bastante desejável. – ela comentou depois de muito


tempo.

Hermione quase bufou, mas segurou-se.


- Não, Luna! – exclamou frustrada. – Não consegue se lembrar de Draco
Malfoy? Um garoto insuportável e um homem horrível! Aquele que lidera as
coisas terríveis que sempre combatemos!

- Não sou estúpida, Hermione! – ela exclamou – Estou tentando mostrar


que ao menos não se casará com um monstro deformado!

- Não é uma brincadeira, Luna. – ela disse porém soou mais como um
alívio por saber que sua amiga apenas estava tentando mostrar um ponto
positivo. Talvez tivesse mostrado tristeza demais no seu olhar para que sua
amiga precisasse encontrar algo para o seu consolo.

- Ele pediu para casar com você? Pensei que ele a odiasse. Há algum plano
nisso? Nenhum Malfoy nunca desposou um Nascido Trouxa.

- Obrigaram a ele também. – Hermione passou a justificar. – Ele ainda me


odeia tanto quanto sempre odiou. Voldemort quer um herdeiro e ele quer que
venha de uma união entre mim e Draco Malfoy.
Luna ponderou algum tempo sobre aquilo e então sorriu fracamente.

- Faz todo o sentido. – ela disse.

- Não faz sentido nenhum, Luna!

- Claro que faz! – ela foi rápida – Já se olhou no espelho, Hermione? Já


olhou a aparência de Draco Malfoy? Voldemort quer um herdeiro perfeito e
vocês dois o darão a ele sem dúvida alguma.

Hermione recuou em silêncio fazendo uma cara de nojo. Lembrou-se do dia em


que Voldemort dissera a ela que deveria dar um herdeiro a ele. Fechou os olhos
sentido uma pontada de angústia e nojo, e ao mesmo tempo, uma pontada de
alívio.
- Ah, Luna. – ela suspirou tristemente sentido a bílis subir do seu
estomago. – Foi horrível quando Voldemort disse que eu deveria dar um
herdeiro a ele. Cheguei a pensar que... – teve que parar para engolir a saliva
amarga em sua boca. – Que ele e eu... – ela não conseguiria dizer.

Luna soltou uma risada fraca.

- Eu duvido que aquela... coisa... seja capaz de produzir filhos. – disse


Luna.

Hermione abriu um sorriso que tão logo morreu.

- Mas quando penso em Malfoy me sinto tão enjoada quanto. – ela


confessou.
- Hermione, por favor. Não se lembra que todas as garotas sempre
quiseram Draco Malfoy em Hogwarts?

- Não é isso! É o que Malfoy representa. É tudo que ele é e sempre foi. Me
casarei com ele, Luna! Um dos dias mais importantes da vida de uma mulher!
Serei entregue a ninguém menos que Draco Malfoy e por Merlin eu não o
quero! Sabe que não o quero Luna! Quero o homem que sempre amei.

Viu os enormes olhos de Luna caírem em lamento. Luna sabia de sua história.

- Harry Potter... – sussurrou Luna e Hermione achou que poderia cair num
choro estético e profundo, mas apenas limitou-se a fechar os olhos e encostar o
rosto na grade quase sem forças. – Eu também pensei que um dia fossem se
acertar, que tudo iria dar certo e que finalmente os veria juntos.

- Eu também pensei, Luna. – ela sussurrou como a amiga. – Pensei que


mesmo depois de todos os caminhos errados que tomamos, um dia seríamos
finalmente apenas ele e eu. Mas eu ainda acredito. – ela abriu os olhos. – Harry
precisa chegar até Voldemort e cumprir a profecia. Posso ser eternamente feliz
e posso ser eternamente infeliz. – ela sorriu para Luna. – Ele ainda é minha
esperança, Luna. A última que me resta. Me ama e encontrará uma forma de
não me desapontar. Ele nunca me desapontou.
Luna sorriu fracamente. Hermione sabia que era o sorriso que merecia receber
ao saber que o seu estava bobamente sonhador. Sentia uma enorme falta de
Harry. Seu amigo. Seu melhor amigo e seu amante. O homem que amava, o
homem que a entendia, sempre a compreendia, a valorizava. Eram como
irmãos amantes e nada nunca poderia os fazer mais completos do que isso.
Nunca estiveram juntos realmente como ela já havia estado com outros
homens. Rony, Krum e seus demais namorados, mas era para Harry que ela
sempre voltava e era para ela que ele também sempre voltava. Harry era seu.
Seu conto de fadas. Seu herói. Seu personagem principal.

- Espero que Harry seja rápido então. – foi tudo que Luna disse.

Hermione suspirou sentindo o peso da realidade. Desencostou-se das grades da


cela de Luna e segurou a mão da amiga.

- Talvez consiga com que seja minha dama de honra. Se conseguir vão
tirá-la daqui. Pelo menos para o dia do meu infeliz casamento. – disse para a
loira. – Precisa ver esse lugar, Luna! É uma catedral enorme! Eles tem uma
cidade gigantesca onde moram todos os comensais, os protegidos de Voldemort
e suas famílias. É assustador, enorme e tão cheio de gente. É uma cidade
fortificada. Chamam-na de Brampton Fort.
Luna ergueu as sobrancelhas.

- Eles construíram sobre as terras antigas de Brampton? – disse a loira e


Hermione não compreendeu. – Voldemort é mesmo ousado em abusar de
antigas lendas bruxas...

Ela teria continuado se a porta de ferro tão tivesse sido aberta e o carcereiro
tivesse gritado para Hermione que seu tempo havia se esgotado.

- Luna, há mais uma coisa que deveria saber. – apressou-se Hermione. –


Viktor Krum é um deles. Ele é um comensal.

- Que previsível! – disse ela mas sem esconder sua expressão de surpresa.
– Sempre desconfiei daquele Durmstrang!
- Luna! Minha descoberta não muda em nada. Viktor continua dentro da
Ordem...

- Moça! – o carcereiro quase gritou. Hermione olhou aflita de Luna para o


homem e soube que a amiga estava tentando entender o que esperava dela.
Queria que Luna lhe desse uma direção, mas ao mesmo tempo sabia que a
loira não daria. – Não me faça ir até aí buscá-la. Não serei educado nem gentil.

Hermione se levantou e lamentou mentalmente por ter comentado sobre Krum


tarde demais.

- Pense sobre isso, por favor. – disse a Luna e a amiga assentiu. Havia um
pesar tão grande nos seus olhos azuis por saber que ficaria novamente sozinha
que Hermione quase quis plantar raízes ali e criar uma guerra com o carcereiro.
– Serei obediente e prometo tirá-la daqui. – o homem havia entrado e
segurado seu braço com força. Hermione precisou de outra duas vezes maior
para se esquivar do homem. – Me toque outra vez e farei com que perca a
cabeça! – rugiu para o homem ao se lembrar do anel que carregava no dedo.
Ajeitou a postura orgulhosa, lançou um olhar triste para Luna e saiu para o
caminho de volta.

Não seria a última vez que a deixariam ver Luna. Não mesmo!
**

Acordou quase que num susto e se deparou com o breu de Whitehall. Sua
respiração estava ofegante mas não conseguia se lembrar com o que estava
sonhado.

Sentou-se.

Eram quase quatro da manhã quando conseguiu piscar o suficiente para limpar
suas vistas e enxergar os ponteiros do relógio na saída de pedras da lareira. A
luz da penseira a ajudou.

Deitou-se novamente e encarou o teto distante e abobadado através do tecido


fino das cortinas que cobriam os dosséis da cama. Sua respiração já havia se
estabilizado.
Não havia sono, mas ela fechou os olhos e tentou dormir. Obviamente não foi
capaz. Tornou a abrir os olhos se esforçou para conseguir lembrar de seu
sonho, mas também não foi capaz.

Soltou o ar frustrada e tornou a sentar-se. Sua primeira noite foi a única que se
lembrava de que havia tido um sono pacificado. O resto era apenas assim.
Acordava com frequências, tinha o sono leve e demorava horrores para
conseguir dormir. Quando o dia chegava ela simplesmente estava moída. Devia
confessar que quase dormira durante as entrevistas dos cerimoniais que
Narcisa Malfoy havia agendado.

Era tudo culpa daquela maldita sensação de estar sendo vigiada em qualquer
lugar. Até mesmo em Whitehall, em sua cama ou em seu banheiro. A sensação
de que se chegasse sequer a pensar algo errado, arrastariam Luna de seu poço
mal iluminado para alguma sala de tortura. Se é que aquele poço já não era.

Sentou-se e afastou os pesados mantos e peles para o lado sentindo o vento


frio atingir seu corpo através da fina camisola que usava. Pisou os pés no
mármore e vestiu o robe que pendurava ao lado da cama. Não ajudou muito a
espantar o frio, mas ela podia conviver com isso já que não tinha uma varinha
para acender a lareira. Maldita dependência. Teve dificuldades até para riscar
um fósforo e acender as velas que tinha sobre sua mesa sem queimar os
dedos.
Sentou-se e encarou a grande bagunça sobre o mogno lustroso que quase não
se via. Marcou a página de alguns livros, fechou-os e empilhou-os para limpar
um pouco da bagunça. Estava tentando ler os livros da parede de estantes de
Whitehall, mas todos falavam sobre magia ilegal, métodos medievais, rituais
sangrentos e poções malignas. Ela ainda tinha a esperança de encontrar na
biblioteca da catedral algum livro sobre medibruxaria, mas parecia ser uma
busca bastante trabalhosa e também não podia negar que os livros de sua
estante eram interessantíssimos.

Puxou uma imagem que havia recortado do jornal local de debaixo de um dos
cadernos de couro de dragão que ganhara de Narcisa Malfoy para que pudesse
se organizar com as agendas dos preparativos do casamento. Era uma das
fotos que haviam tirado no dia em que Draco Malfoy a levara para jantar.
Estavam saindo do restaurante e por algum motivo muito curioso ela se via
encarando aquela imagens por horas quando acordava de madrugada sem o
seu tão precioso sono.

Ele trajava aquele finíssimo terno e ela seu glorioso vestido longo. Ambos
pareciam celebridades, mas o que fazia Hermione encarar aquela imagem por
horas era o modo como Draco se inclinava para dizer discretamente a ela que
mostrasse melhor o anel e a forma como ela havia se aproximado e suspendido
sua mão pelo braço dele tentando mostrar a valiosa peça dos Malfoy. Foram
movimentos muito bem justificados, mas na fotografia era como escutar Malfoy
sussurrar para ela qualquer coisa amável e vê-la se enroscar em seu braço de
maneira a aumentar as superfícies de contato entre eles. Romântico demais.
Até a matéria do dia ousara inventar uma relação que eles mantinham desde
Hogwarts.

Ridículo.
Sempre que olhava para aquele recorte no jornal tinha seu estomago
embrulhando aos poucos. As vezes se perguntava como seria o toque de Draco
Malfoy e considerava até que poderia sobreviver as noites que haveria de ser
obrigada a ter com seu futuro marido, mas então ela se lembrava da figura
estúpida que ele era em Hogwarts ao passar a mão nas garotas que queria, a
hora que queria. Se perguntava quantas de lá para cá ele havia levado para a
cama. Imaginava aquela mão imunda dele que havia passado em inúmeras
mulheres percorrendo seu corpo, aquela boca que beijara a boca de incontáveis
outras em sua pele e então ela quase saia correndo para despejar na privada
qualquer refeição anterior aos seus pensamentos.

Respirou fundo largando a fotografia e tentou limpar sua mente antes que seu
estômago a traísse. Até mesmo Gina havia cedido para Malfoy em Hogwarts.

Bufou.

Levantou-se de sua cadeira e puxou, apenas um pouco, a cortina da fachada


envidraçada. Sentou-se numa das poltronas ali e abraçou as pernas enquanto
encarava o céu negro e sem estrelas. Fechou os olhos e limpou a mente. Talvez
conseguisse algum pouco de sono se fizesse isso.
Mas ele não veio como em quase todas as noites que fazia o mesmo. Os
minutos passaram silenciosos enquanto ela permanecia ali em sua poltrona.
Sentia lá no fundo, a dor que a acordara e não a deixava voltar a dormir. Seu
futuro infeliz. Seu casamento infeliz. Um filho que não seria seu. Ela não
conseguia ter idéia da dimensão em que aquilo a afetaria. Sabia que a afetaria,
mas não sabia o que era um casamento nem mesmo sabia o que era amar um
filho. Sabia que eram coisas intensas porque os outros falavam que era. Seria
forte o suficiente para enfrentar tudo aquilo sem ter esperança alguma? Ela
estaria presa aquela vida para sempre. Para sempre! Por que não a matavam
logo? Seria tão mais fácil para ela! Por que Harry não a vinha buscar? Ele
deveria matar Voldemort! Se Voldemort fosse morto ela seria livre! Livre para
estarem juntos! Livre para não ter que se casar com Draco Malfoy nem fazer
filhos com um homem que odiava!

Ah, seus sonhos...

Suspirou longamente.

Talvez ela ainda não tivesse idéia do que era ter um filho ou do que era ser
casada, mas o sonho de seu casamento perfeito era tão vívido agora. Tão
vívido pelo seu brutal assassinato. Tudo destruído. Todo seu conto de fadas
destruído. O que poderia ser mais doloroso do que isso agora?
Tornou a abrir os olhos e viu que o céu já era de um profundo cinza
esverdeado. A aurora. Minutos depois ela escutou a movimentação no pátio a
dois pavimentos abaixo. A multidão de homens se juntou uniformemente assim
como o som. Hermione tornou a fechar os olhos e um espasmo elétrico
percorreu todo o seu corpo quando a voz de Draco Malfoy chegou aos seus
ouvido dura, abafada e muito viril.

Escutou de longe todo o discurso de Malfoy enquanto escutava ao mesmo


tempo a própria respiração. Ele tinha uma voz muito forte e piorava quando
estava discursando para seu exército. Era uma voz diferente da do Draco que
ela havia conhecido. O Draco que havia conhecido sabia esbanjar o poder, mas
era tudo que sabia. Apenas esbanjava o poder do sobrenome que carregava. A
primeira oportunidade que Draco tivesse para enfrentar qualquer coisa que
fosse, ele se mostraria covarde. Mas será que tudo havia mudado? Porque
quem ganhava a guerra era o exército do homem covarde que ela havia
conhecido na escola. Aqueles discursos de Malfoy não incitavam qualquer faísca
de covardia. Quem havia tratado isso em Draco Malfoy?

Abriu os olhos quando já era silêncio a um bom tempo tanto no pátio do lado
de fora quanto em seu quarto. O céu já era de um cinza mais suave e quando
ela esticou o pescoço para olhar o relógio em cima da lareira, julgou que era
hora de se arrumar para o desjejum. Hoje ela teria uma companhia especial.

Não teve pressa para o banho nem mesmo para passar na sua difícil tarefa de
escolher uma roupa conforme os padrões que Narcisa Malfoy a fizera estudar.
Por fim acabou por colocar um bom vestido matinal de um púrpura bem
fechado. Nada de cores fortes, a vida não é uma festa. Escolheu jóias
adequadas e não ousou no sapato para não correr o risco de errar. Prendeu os
cabelos sabendo que aquilo deveria aliviar o peso da cor de sua roupa. Estava
ótima. O tecido era leve, mas a cor lhe passava seriedade. O sapato lhe dava
elegância e o salto o orgulho que deveria conservar sempre inatingível. Os
cabelos presos poderia ser o seu erro. Talvez adorável demais, mas a cor de
sua roupa e o salto que usava quebrava qualquer intenção de fragilidade,
portanto manteve. Talvez algum chapéu, mas logo recusou a idéia ao se
lembrar de que não era verão nem primavera.

Maquiou-se. Não era tão boa quanto Tryn, mas não precisava de muita coisa e
era manhã. Selecionou um par de luvas de qualquer cor clara, vestiu-as e
finalmente saiu de Whitehall desejando poder ficar ali o resto do dia.

A catedral já estava em pura movimentação. Hermione torceu para não


encontrar ninguém que soltasse qualquer comentário ofensivo. Vestiu sua
máscara fria e intocável e caminhou sobre seu salto cruzando toda sua ala até
o jardim interno.

O encontrou lindamente verde mesmo que fosse outono. Parecia ter sido
fechado aquela manhã. Havia uma vez desfrutado de um belo café-da-manhã
na companhia de Narcisa Malfoy ali e os mobiliários externos estavam quase
todos ocupados. Hoje estavam todos vazios.

Encontrou uma mesa posta. Muito bonita. Muito colorida. Parecia primavera.
Faltava apenas o sol. Sempre faltava o sol em Brampton Fort. Sabia que era
sua mesa principalmente porque Tryn estava de pé logo ao lado.
- Tryn fica satisfeita que a Srta. Sangue ruim tenha encontrado o caminho
sozinha. - comentou a elfa assim que ela se aproximou o suficiente.

- Depois de um tempo se descobre que não há tantos segredos para se


trocar de ala. – respondeu Hermione tirando as luvas e sentando-se no seu
lugar. Olhou para a comida e a desejou, mas tornou a encarar a elfa. – Onde
está Malfoy?

- O Sr. Malfoy tem reunião com o conselho todas as manhãs. – respondeu


a pequena criatura. – A Srta. Sangue-ruim deve esperar por ele.

Hermione tamborilou o dedos sobre o vidro da mesa e quase, muito


minimamente quase, se sentiu feliz pelo verde que a cercava e pelo colorido da
mesa, mas o peso do anel em seu dedo e a marca em seu braço sempre a
lembrava de que não tinha motivos para se sentir nem sequer miseravelmente
contente.

- Está muito bonita, Srta. Sangue-ruim. – elfa quebrou o silêncio mesmo


que de maneira displicente.
Hermione sorriu satisfeita pelo tempo que havia levado escolhendo todo seu
maldito visual. Sabia que o comentário da elfa era nada mais do que uma
aprovação das lições que Narcisa havia dado a ela.

- Obrigada, Tryn. – gostava mesmo de ser uma boa aluna, mesmo que
não fosse uma matéria que apreciasse. – Ao menos um elogio vou receber.

Notou que a elfa pareceu contente por saber que havia considerado sua
opinião. Gostava daquela elfa, mesmo que ela a chamasse de sangue-ruim.
Estava se tornando um tratamento tão comum que a cada dia o insulto da
palavra diminuía mais.

Draco Malfoy veio ao longe acompanhado de ninguém menos que... Severo


Snape? Seria possível? Ele parecia ter envelhecido muito mais do que os anos
que haviam se passado. Era uma figura quase extinta na guerra, pelo que
Hermione que se lembrava. Ele liderava o exército de Voldemort antes de
Draco.
As feições de Malfoy não estavam nada amigáveis enquanto avançava pelo
jardim e Snape o seguia. Ambos dialogavam secamente e Hermione não era
capaz de escutar nem ruídos do que se passava entre eles. Viu apenas quando
Draco se virou e disse algo que fez a expressão de Snape se tornar uma
divertida, desdém e então ele retrucou algo, se virou e foi embora, mas não
antes de fixar seus olhos nela. Hermione sentiu todos os seus pelos levantarem
quando os olhos do antigo professor se fixou por segundos sobre ela.

Draco ainda permaneceu um tempo lá até alisar a farda e voltar seu caminho
para mesa com aquela mesma expressão de que mataria qualquer mosca que
ousasse cruzar sua visão.

- Não quis fazê-la esperar. – disse ele puxando as mangas ao se sentar já


pegando a jarra de suco mais próxima. Não a olhou, portanto quando fez soar
aquela cordial frase num tom desprezível, quase que parecera ter sido
direcionado a um fantasma.

Hermione o viu encher sua taça de prata e percebeu tudo ao seu redor morrer.
A mesa já não parecia tão colorida e o verde do jardim já se mostrava quase
prestes a falecer. Até mesmo a fome que tinha desaparecera. No entanto
forçou-se a encher, nem que fosse um pouco, a sua taça.

Levou-a a boca e tentou encontrar o sabor da fruta, mas pareceu que bebia
água estranha. Serviu-se de qualquer coisa a sua frente e o sabor também era
escasso. Comeu então para não passar fome, mas desejou estar sozinha.
Sozinha tudo tinha sabor e cor. Malfoy estragava tudo.

Ele comia como se estivesse em alguma conferência aberta ao público e fosse o


palestrante. Havia muitos movimentos calculados, mas ele parecia se sentir
confortável assim e a comida parecia também estar suavizando as linhas de
ódio que havia em seu rosto quando sentou-se a mesa.

Ficaram em silêncio por tanto tempo que Hermione quase se esqueceu de que
ele estava ao seu lado. A comida já estava ganhando até sabor, mas então ele
tratou de estragar tudo novamente ao quebrar o silêncio.

- Presumo que tenha cofre em Gringotes com seu nome. Colocarei algum
ouro nele assim que for ao banco. – ele pausou para tomar um gole de sua
taça. – Minha mãe disse que irão ao centro portanto compre o que quiser. Não
tenho tempo nem vontade de ficar escolhendo presentes para você.

Soltou o ar muito incomodada. Teve vontade de vomitar o que havia ingerido.


A idéia de usar o dinheiro de Draco Malfoy como se fosse o seu era no mínimo
humilhante.
- O cofre que tenho está no Beco Diagonal. – ela respondeu sentindo um
gosto amargo na boca.

- Pode ter certeza de que o mestre já tratou de providenciar a transferência


a muito tempo. Além do mais, deverá fechá-lo assim que nos casarmos. Meu
cofre passará a ser também seu. – ele disse aquilo e engoliu a saliva como se
estivesse ingerindo uma pedra goela abaixo.

Ela soltou um riso fraco e forçado de completo desprezo. De todos os assuntos


que poderia se esforçar em ter com Draco Malfoy, aquele era um dos que ela
fugiria eternamente. Hermione sabia que ele poderia até se incomodar em ter
que partilhar seu ouro com ela, mas ele era rico o suficiente para não lhe fazer
tanta diferença e muito obviamente a idéia de ter seu orgulho ferido por ser
dependente de um homem que odiava era bastante satisfatória para ele. Não
daria o prazer a ele de ver isso estampado em sua cara. Ajeitou a postura em
sua cadeira, comeu rapidamente um pedaço de sua batata e aproveitou que ele
já havia quebrado o silêncio.

- Krum faz parte do seu exército? – ela tentou ser discreta e


desinteressada.
- Trata-o pelo sobrenome agora? – Hermione esperou que aquilo pudesse
ter sido dito em tom de deboche pelo Draco que conhecia, mas ao invés disso
foi frio enquanto ele ainda se mantinha concentrado em tudo a sua volta menos
nela.

- Não foi a resposta adequada a minha pergunta. – ela retrucou.

Ele colocou os olhos nela pela primeira vez desde que havia se sentado a mesa.
Mastigava o que quer estivesse comendo e usou o tempo em que sua boca
estivera ocupada para estudá-la com os olhos.

- Sim, Granger. Ele é do meu exército. – respondeu indiferente após ter


passado tanto tempo calado com os olhos nela que Hermione quase começava
a sentir que poderia vacilar em sua postura intacta. Ele tinha olhos
abominavelmente poderosos e quase hipnotizantes.

- Presumo que ele esteja com vocês desde o início. – ela não desviaria o
olhar.
- Por que não pergunta a ele? – Draco não desviaria os dele muito menos.
– Já dividiram uma cama portanto devem ter intimidade o suficiente para
discutir questões como essa.

Agora ele havia ido muito longe. Hermione quis se levantar e jogar o bule de
chá preto e leite inteiro em cima dele, mas limitou-se apenas a estreitar os
olhos.

- Isso foi há muito tempo atrás! – disse ríspida e seca. – Deveria respeitar
a privacidade alheia ou também tomarei a liberdade para falar de suas
prostitutas!

Ele riu. Riu! E dessa vez não havia mais qualquer resquício das linhas de
expressão aborrecidas que Snape colocara nele. Hermione se lembrou porque
socou aquela linda cara em seu terceiro ano e quase o fez de novo.

- Tem uma língua afiada para responder provocações, Granger. – ele


finalmente desviou o olhar voltando a concentração para sua refeição. –
Exatamente como em Hogwarts.
Ela ficou calada num misto de raiva e confusão. O Draco que conhecia não teria
parado ali. Por que ele sempre a surpreendia quando menos esperava? Não que
ele estivesse tentando agradá-la, ele não se importava com ela e isso era um
fato. Talvez aquele só fosse ele agora? Será? Teria mesmo aquela guerra
transformado a infantilidade insuportável de Draco Malfoy? Ela esperava que
sim, mas ao mesmo tempo tinha medo da pessoas desconhecida em que ele
pudesse ter se transformado. Aqueles olhos cinzas a assustavam, o modo
como ele sempre tinha domínio sobre o que falava e sua expressão sempre fria,
sempre desinteressada, sempre imutável, como se tivesse sob controle tudo
que o rodeava, como se tivesse poder para partir o mundo ao meio se
precisasse. Quando pensava nisso sentia os pelos de sua nuca se eriçarem.
Seus receios eram quase tão grandes que a fazia até desejar que ele fosse o
debochado e irritante que conhecera.

Preferiu que o desjejum seguisse daquela maneira. Em completo


silêncio. Sentia-se um pouco mais tranquila quando Draco a ignorava. Ele
terminou sua pequena refeição, puxou o jornal, o abriu e enterrou-se na
leitura.

Hermione apenas o observava ocasionalmente quando ele levava


displicentemente, sua taça a boca, mas foi quando a marca em seu pulso
queimou que um frio percorreu toda a sua espinha e ela foi obrigada a recolher
a mão numa pressa desajeitada que fez derrubar seus talheres e virar sua taça.
Num reflexo rápido, ela arrastou a cadeira para não molhar o vestido com o
suco que escorreu pelo vidro e pingou pelo seu lado da mesa, mas havia sido
apenas um reflexo e a dor em seu braço era o que tinha toda a sua atenção.
A agitação tirou Draco de seu jornal e ele levou seus olhos para Hermione. Um
sorriso irritante se esboçou pela lateral de sua boca e ele apenas estralou os
dedos para que Tryn imediatamente interferisse na bagunça causada pela
mulher.

- Ele faz doer mais em você, não é? – comentou Draco ainda com aquele
sorriso.

Hermione não respondeu. Apenas tapou a marca e a pressionou tentando


aliviar a dor de algum modo. A marca no braço dele estava mais evidente, por
outro lado no dela, estava pulsante e fazia a pele ao redor ficar vermelha.

Já sabia que havia se entregado as expressões do medo que a cobriu. Sim, o


medo. Ela temia Voldemort. Nunca temera, mas agora ela temia. Pertencia a
ele e não havia uma maneira sequer de se defender sem uma varinha.

Draco havia dobrado o jornal, passado rapidamente os olhos pelo relógio e se


colocado de pé. Hermione viu Voldemort surgir por uma das entradas do jardim
e foi obrigada a se levantar também. Sentiu suas mãos suarem ao mesmo
tempo em que a dor aliviava.
- Mestre. – Draco fez uma reverência simplista quando Voldemort chegou a
mesa.

- Draco. – foi tudo que o ofídico respondeu, mas seus olhos estavam em
Hermione. Talvez ele estivesse esperando pela reverência que deveria receber,
mas ela não veio. – Está particularmente mais bela a cada dia.

Hermione sentia seus dedos tremerem, mas manteve os pés unidos, a postura
ereta, os olhos nele e a boca fechada. Sua marca ainda ardia, mas não
demonstraria qualquer aversão a isso.

- Não seja mal educada, Granger. – alertou Draco.

- Obrigada. – disse secamente, mas não foi o suficiente. Os olhos ainda


continuavam nela. – Mestre. – acrescentou pensando muito em Luna.
Voldemort abriu um sorriso nauseante. Pareceu muito satisfeito com as
palavras dela. Sentou-se e apreciou a mesa.

- É uma mesa muito bonita. – comentou enquanto Draco e Hermione


tomaram seus assentos e ele puxava o bule e enchia uma xícara com chá
preto. – Estive pensando bastante sobre os dois. – deu um gole no chá. – Está
satisfeito com onde mora, Draco?

- Sim. – respondeu Draco. Hermione notou que ele usava com Voldemort a
mesma expressão que usava com ela: nenhuma expressão.

- Acho um lugar pequeno para um casal. – comentou ele.

- É o suficiente para um casal. – foi quando Hermione percebeu que uma


linha tênue de desconforto começou a surgir na expressão do homem.
- Não gosto da palavra suficiente. – disse Voldemort.

- Para mim é suficiente. – repetiu Draco.

O modo pausado que Draco havia usado para dizer aquilo fizera soar quase que
como uma provocação, mas se havia sido Voldemort desconsiderara.

- Estive pensando nas mansões das ilhas do lago de verão. Há casas muito
boas por...

- Não vou me mudar. – Draco o cortou. Voldemort claramente não havia


apreciado o ato. – Mestre. – acrescentou o homem e aquilo pareceu atenuar a
expressão severa que Voldemort adotara.
- Diga-me, sangue-ruim. – Voldemort deixou Draco de lado. – Já foi a casa
de Draco?

As mãos de Hermione suavam.

- Sim. – seria onde iria acontecer sua festa de noivado.

- Sim, mestre. – corrigiu Voldemort. – Não achou um tanto simplista?

- Achei um lugar bastante generoso, mestre. - não conseguia evitar que


soasse com nojo.

- Não gostaria de um espaço maior? – sugeriu o ofídico.


- Não me faria diferença, mestre. – talvez aquilo pudesse o irritar, já que a
irritava bastante.

- Imagino suas referências de padrões de espaço por considerar a casa de


Draco um lugar generoso. – debochou Voldemort e tomou um gole do chá.

- Nunca vivi em espaços muito grandes, portanto seria confortável manter


os meus padrões. – Hermione ousou retrucar e arrependeu-se quase que
imediatamente. Teve medo de que Voldemort pudesse se irritar, mas ele
apenas deu de ombros e tomou mais um gole.

- São dois contra um. – disse ele e Hermione soube que ele só estava
abrindo mão de obrigar Draco a trocar de casa. – Pensei que seria interessante
que ambos procurassem um novo lugar para viver, mas vejo que já possuem
muito em comum por defenderem uma mesma causa. Talvez já tenham
discutido sobre isso.

- Não gostamos de conversar. – foi a vez de Draco dizer algo ainda com
aquela feição inexpressiva.
- Uma pena, pois vejo então que terei que obrigá-los a fazer isso. – tinha
algo divertido no tom de Voldemort e por algum motivo Hermione sentia que
Draco estava tão incomodado quanto ela. – Quero que a partir de hoje
compartilhe com ela toda as nossas estratégias, os nossos movimentos e os
nossos ataques.

- Por favor, não! – Hermione se viu suplicar quase que imediatamente.


Arrependeu-se também tão imediatamente e voltou a sua postura.

- Não vejo necessidade, mestre. – Draco disse e dessa vez havia quase que
uma preguiça no sem tom de voz.

Voldemort passou os olhos pelos dois muito atentamente. Hermione quase


suplicou de novo, mas manteve-se calada. Aquilo era uma espécie horrível de
tortura. Ela não queria saber qualquer movimento dos comensais. Saber sobre
seus planos e estratégias era ver a Ordem a beira de ataques e não poder fazer
nada. Era saber tudo que sempre quis saber e não ter poder para mudar
absolutamente nada. Era uma tortura.
- É uma ordem, Draco. – Voldemort disse e Draco rolou os olhos, mostrou
as mãos e soltou o ar aborrecido em forma de rendição.

- Como quiser, mestre. – agora havia o tédio em sua voz.

Voldemort sorriu novamente satisfeito.

- Bem então não quero continuar a atrapalhar o café da manhã dos dois.
São um belo casal. Me darão um herdeiro excelente. – levantou-se deixando a
xícara ainda cheia e Draco levantou em sinal de respeito a licença do mestre.
Hermione fez o mesmo.

Ambos viram o ofídico se afastar em completo silêncio. Apenas quando


Voldemort havia sumido de vista e Hermione pensara em tornar a se sentar
que Draco abriu a boca.

- Patético. – resmungou o loiro, deu as costas e também foi embora.


Foi estranho e perturbador quando ela conseguiu captar pela primeira vez que
havia algo de errado entre a devoção que, como comensal, Draco devia a
Voldemort.

Lorde Voldemort

Sua torre era a mais alta e a central. Seus melhores momentos estavam
reservados aos que ficava de pé voltado para a janela leste sentindo o vento
cortar sua figura pequena em relação ao mundo. Ali ele observava o vasto
campo vazio para fora da muralha e também a gigantesca cidade de Brampton
Fort perder-se em seu campo de visão.

Gostava do anoitecer porque o escuro o acalmava. Gostava também quando


Bellatrix estava come ele. Ela era doentia e ele gostava da insanidade dela. Mas
era quando estava sozinho que o seu nível de insatisfação o alertava sobre o
mundo.

Ele era o ditador de seus protegidos, o mestre de seus comensais, o bruxo mais
poderoso de todos os tempos. Mas apenas dentro de suas cidades. Cidades
fortificadas, protegidas por seu exército, e de uma sociedade paralela muito
bem estabelecida. A segregação era evidente e ele a detestava. Não queria
aquele poder.

Voldemort sempre se imaginara o ditador do mundo, onde uma maioria o


seguiria e resistente minoria sofreria uma incansável perseguição até se
extinguir, mas não havia sido bem isso que acontecera quando ele se reergueu
das cinzas. Seus ideia fizeram com que famílias clássicas, bem afortunadas e de
fortes valores o seguissem, o que lhe garantiu uma proteção forte e um grupo
seleto de seguidores. Tudo tomou uma proporção de crescimento muito grande
e uma boa parcela do mundo inteiro o defendia e lhes prestava juramento. No
entanto a outra parcela caiu muito fortemente contra todo o seu império em
ascendência e ele se obrigara a criar suas cidades para manter e proteger seus
seguidores, suas famílias e seus amigos.

O mundo fora de suas muralhas eram um caos. Draco fizera o favor de torná-lo
um pouco mais estável com seu exército, mas o número de resistências era
alarmante. Os Ministérios eram todos seus, todo o poder era seu, no entanto
isso ainda não amedrontava as pessoas ao pontos delas se renderem. Elas
preferiam morrer a segui-lo. Estúpidas! Tudo por causa de Harry Potter e de
sua maldita profecia. Voldemort era indestrutível!
Escutou a portas de sua sala se abrir cautelosamente. Conhecia a única pessoa
ousada o suficiente para entrar em sua sala sem permissão. Não precisou nem
mesmo se virar e suas certezas se tornaram ainda mais certezas quando o
cheiro cítrico dela se espalhou pelo ar e não foi levado pelo vento que
atravessava todas as suas janelas abertas.

- Mandou me chamar, mestre? – a fonética era rouca, mansa e densa.

- Mandei a chamar faz mais de uma semana, Bella. – respondeu ríspido.

- Esperei para que sentisse minha falta. – ela não usava um tom muito
agradável.

- Soube que comprou uma casa na vila dos comensais. – ele foi direto ao
ponto.
- Estou cansada desse lugar.

Ele se virou.

- Está querendo chamar atenção. – e havia conseguido.

Ela se aproximou naquele andado sedutor que só ela possuía.

- Só a sua atenção que eu quero. – ela disse baixo pela proximidade.

Voldemort segurou o rosto da mulher com sua mão ossuda. Bellatrix era a
serva mais devota que ele tinha, a mais ousada e a mais abusada. Ela
era sua mulher. A única que teria, a única que possuiria. Quando era bonito
costumava ter centenas de mulheres o seguindo, o admirando, o babando, mas
quando ressurgiu, Bellatrix foi a única a se dobrar diante dele e se entregar por
inteira a quem ele era. Aquela mulher era a única merecedora de recompensas.
A única.

- Está com ciúmes.

- Evidentemente estou. – seu tom de desagrado ainda estava lá.

- É minha única mulher, não há nenhum porque para ciúmes.

Ela riu desdenhosamente incrédula e se esquivou de sua mão fria gingando o


seu andado para longe dele.

- Você aprecia a beleza dela! – exclamou Bella claramente insatisfeita. – Eu


observo a forma como a olha! A deseja! Assim como metade dos homens dessa
maldita cidade! – estava irritada – Vi bem como tocou a boca dela quando fez
daquela sangue-ruim uma comensal! - segurou um pequeno frasco de poção
que encontrou sobre sua mesa. – Você a deseja! Não a matou porque a quer! –
repetiu girando o frasco entre os dedos enquanto seus olhos faiscavam. – QUER
POSSUÍ-LA! – espatifou o frasco quando o lançou contra a parede.

- Por favor, Bella. Me poupe da sua infantilidade. Eu a deu ao seu sobrinho.


– ele revirou os olhos e se jogou em seu sofá. Ela era doentia.

- Deu ela ao líder do seu exército! Uma sangue-ruim! Fez ela se sentar em
meu lugar! – estava furiosa – MEU LUGAR! – aproximou-se novamente. – Meu
lugar ao seu lado! Sempre foi o meu lugar! Deu ela a Draco, mas tem poder
para levá-la a sua cama quando quiser e Draco nunca poderá protestar contra
isso!

- Draco protesta contra muitas coisas...

- Ela é bonita! – Bella o cortou sem se importar com Draco. – Ela é jovem!
Bonita! Irá te satisfazer bem! – o tom dela já era alto e contínuo o bastante
para lhe dar dor de cabeça. – Todos falam sobre ela! Todos comentam o quanto
ela é sua pedra preciosa! O quanto ela é bonita! O quanto você se importa
apenas com ela agora! O quanto...
- BASTA, BELLA! – ele a cortou severo o suficiente para fazer com que ela
se assustasse e calasse a irritante boca. – Deveria ter parado quando disse
para me poupar de sua infantilidade! Você é minha única mulher! – repetiu
pausadamente e mais claramente – Não irá a lugar algum! Ficará na catedral.

Ela tinha os olhos brilhando daquela forma insana. Os Cabelos altos e pretos, a
maquiagem exagerada e o vestido com um corpete que a deixava ainda mais
bela. Ela era uma mulher e tanto. Ela era sua e nada mais o satisfazia do que
posses.

Bellatrix quase correu até ele, levantou a saia de seu vestido com as mãos,
passou as pernas um de cada lado de seu corpo e sentou-se em seu colo.
Quase colou seu rosto ao dele.

- Suplique, mestre. Suplique para que eu não vá! Para que eu não fique
longe!

- Não. – disse calmamente. – Conhece-me o suficiente para saber o que eu


desejo.
- Acho que deseja a sangue-ruim! Suplique, minha serpente! – segurou o
rosto dele com as duas mãos. – Por favor.

- Não! – dessa vez ele foi mais firme.

- Então diga que não a deseja!

- Ela nos dará um filho! Um que eu não posso dar a você, Bella! Será o
nosso herdeiro!

- DIGA QUE NÃO A DESEJA! – Bella irritou-se mais uma vez e Voldemort
manteve-se calado. Manteve-se calado tempo o suficiente para Bella entender
que ele não diria o que ela queria que ele dissesse. Foi quando ela saltou para
longe dele e dessa vez havia tristeza em seus olhos. – Diga que não a deseja,
mestre. Por favor. – foi quase uma súplica.
Ele manteve-se calado.

Bella chegou a abrir a boca mais duas vezes como se fosse dizer qualquer outra
coisa, mas sempre tornava a fechá-la como se não tivesse palavra nenhuma
para soltar. Deu as costas e saiu batendo a porta com uma força brutal.
Voldemort apenas alisou o polegar em seus dedos um tanto perturbado.
Visitaria o quarto dela mais tarde para acalmá-la.

Bellatrix não deixaria a catedral. Ela nunca deixaria.


4. Capítulo 4

Draco Malfoy

Soltou para fora de sua cabine e contemplou a fachada renascentista de sua


linda e enorme casa. Pela primeira vez desde de que se mudara, ele a odiou.
Odiou como ela brilhava aquela noite e como havia sido difícil passar o portão
de sua propriedade com toda a mídia de Brampton Fort empilhada ali. Logo
aquele lugar estaria abarrotado de gente insuportável e ele seria obrigado a ser
o mais educado e cordial dos homens com cada um deles. E como se não
bastasse todo o infortúnio, acompanhado de Hermione Granger.

Subiu as escadas, passou pela varanda, a porta o hall e finalmente chegou a


sua enorme sala. Estava bem iluminada, muito bem decorada e todas as
cortinas estavam abertas. Não parecia sua casa de forma alguma. Todos os
lustres estavam acessos e ele parou para contemplar uma beleza que
usualmente não via. Mesmo que fosse distante ele conseguia escutar todo o
barulho abafado vindo da intensa movimentação na cozinha. Teve uma enorme
preguiça da noite que estava por vir.
- Draco! – a voz de sua mãe veio eufórica das escadas. – Draco! Viu
Hermione?

Ergueu as sobrancelhas surpreso ao escutar sua mãe usando o primeiro nome


de sua noiva.

- Acabei de chegar. – informou assim que ela terminou de descer todos os


degraus.

Sua mãe soltou o ar aborrecida e passou os dedos nervosamente pela testa.

- Nós chegamos no fim da manhã! Permiti que ela explorasse a casa e não
a encontro em lugar algum. Draco! – ela exclamou num tom ofegante. – Acha
que ela pode ter fugido? Ela já deveria estar se arrumando! Os convidados
chegarão em pouco mais de uma hora...
- Mãe! – Draco a cortou. Segurou a mão de sua mãe e deu-lhe um beijo na
testa. – Acalme-se. Ela não teria para onde ir se fugisse. Fugir não é uma
opção nada inteligente para ela e pode ter certeza de que ela é inteligente o
bastante para saber disso.

- Eu já estou a procurando há muito tempo. – ela assumiu um ar mais


tranquilo.

- Talvez eu possa ter uma idéia de onde ela esteja. – abandonou sua mãe e
subiu as escadas.

O segundo pavimento de sua residências era mais bem distribuído que o


primeiro. Haviam muitas salas e muitos quartos, mas não interessava. O
terceiro era onde certamente Hermione estaria. Um único pavimento inteiro
destinado a sua biblioteca particular.

Todas as velas e lustres estavam apagados, mas havia janelas o suficiente para
iluminar bem o local. Ele andou muito calmamente pelo piso de tábula corrida
por entre as estantes mais reservadas e não demorou a encontrá-la. Ela estava
sentada no vão da janela, descalça e sem se preocupar se o seu fino vestido
sujaria, amassaria ou perderia alguma linha nos alisares das vidraças. Tinha um
livro aberto nas mãos e usava a luz do lado de fora para sua leitura. Aquilo o
fez se lembrar da Hermione Granger de Hogwarts, sentada no vão das janelas
do castelo, em noites de ronda, perdida em sua leitura. Achava engraçado
como certas coisas nunca mudavam. Naquela época ele nunca imaginaria a
situação em que se encontravam agora.

- Notou que já é noite a um tempo considerável, Granger? – ele deixou sua


voz cortar o vazio infinito do silêncio e isso a arrancou da leitura num susto
bastante expressivo.

- Malfoy! – ela exclamou fechando o livro que tinha nas mãos.

- Fiz uma pergunta. – ele queria a resposta.

Ela olhou pela janela, olhou para a biblioteca e piscou perturbada.

- Não. – respondeu.
- Mentira. – ele retrucou.

Ela uniu as sobrancelhas ao receber aquela palavra dele.

- Eu realmente não...

- Não insista, Granger. – ele a cortou. – Por mais plausível que sua
desculpa possa parecer, sei que notou bem quando escureceu. – ele a viu abrir
a boca para retrucar, mas ela logo a fechou em desistência do que quer que
fosse falar. Seus olhares cruzaram em silêncio até ele desviar os dele e
caminhar para mais próximo encostando-se no pilar ao lado da janela onde ela
estava. – Nenhuma maneira, por mais burra que seja, pode te livrar dessa
noite. Se enfiar na leitura e justificar a qualquer um que não notou quando
escureceu não é uma desculpa inteligente, por mais que pareça bem do seu
feitio se perder dessa forma em um livro. – ela ficou em silêncio o encarando -
Estávamos próximos demais nessa guerra. – disse – Você era o inimigo.
Lutamos um contra o outro muito tempo. Sei como seu cérebro funciona.
Ela ficou calada bastante tempo antes de finalmente abrir a boca.

- Não me conhece genuinamente, Malfoy.

- Obviamente não, mas teremos tempo suficiente para que isso não seja
um problema entre nós, não é mesmo?

- Parece que isso não o incomoda.

- Pois saiba que incomoda mais do que deveria, se isso a satisfaz.

- Ao menos algo temos em comum então. – ela saiu do vão da janela,


catou os sapatos que havia deixado no chão e os colocou de volta nos pés. –
Tem uma excelente biblioteca aqui. – ela elogiou enquanto ajeitava a postura e
tentava desamassar o vestido com as mãos. – E presumo que já saiba que não
deve me chamar de Granger hoje a noite. Não na frente das pessoas.
- Como desejar, Hermione.

- Não é um desejo. Não meu.

- Gostaria de ser chamada de Sra. Malfoy quando nos casarmos? –


provocou seriamente

- Seria bastante desagradável.

- Bom saber. Presumo então que você também já saiba o meu primeiro
nome.
- Felizmente, Draco. Me poupa o trabalho de ter que aprendê-lo.

- Então suponho que estamos bem apresentados.

Ela assentiu. Draco achava engraçado o modo como ela sempre tinha um olhar
desconfiado voltado para ele, mesmo que sempre estivesse olhando-o
orgulhosamente.

Ficaram momentaneamente no silêncio, se encarando. Ela com aquele olhar


orgulhoso e desconfiado, ele com o seu totalmente inexpressivo.

- Deveria ir se arrumar. – foi a última coisa que ela disse antes de dar as
costas e sair.
Draco cruzou os braços enquanto a observava sumir pelas estante. Deus do
céu! Ela era tão bonita que quase parecia pecado olhá-la.

**

- Não gostei da cor de sua gravata! – Narcisa apontou para Draco assim
que entrou em seu escritório. – Tryn! – lançou a ordem a elfa e num estalar de
dedos a pequena criatura trocou centenas de vezes as cores da sua
insignificante peça de roupa.

Viu a mãe cruzar o carpete com seu salto alto até a janela. Do lado de fora a
movimentação era quase intensa e as carruagens se amontoavam diante da
escadaria da fachada principal. Ela desviou o olhar e começou a andar
calmamente de um lado para o outro.

- Onde está, Granger? – perguntou ele afundando-se mais em sua poltrona


e girando sua pena entre os dedos.
- Hermione está quase pronta. – respondeu, mas parecia inerte em outros
assuntos pessoais enquanto fazia sua caminhada enjoativa de frente a janela.

- É a única pessoa em Brampton Fort que a trata pelo primeiro nome. –


comentou ele.

- Sim. – sua mãe ainda parecia não querer se distrair de suas aflições
internas. – Ela não será Granger por muito tempo e não gosto de me lembrar
que ela entrará para a família com as pessoas a chamando de sangue-ruim por
aí. Uma ofensa bem inconveniente para nós!

- Ofensa? – ele riu. - É a verdade.

- Uma verdade bem inconveniente! – repetiu sua mãe ao erguer os olhos


para ele. – E sim, ofensa! O livros de história da magia, de ética e de moral os
tratam como Nascidos Trouxas desde o princípio! Sangue-ruim é uma ofensa!
Não consegue distinguir? Deus do céu! Você é igual ao seu pai! – protestou ela
e tornou a olhar pela janela.
Draco calou-se sentindo o peso das últimas palavras da mãe. Não. Ele não era
igual ao seu pai! Nunca seria igual ao seu pai. Poderia ser igual a qualquer um,
menos seu pai!

- E onde ele está? – conseguiu sentir o gosto amargo em sua boca apenas
por se referir a ele.

- Enfiado em um quarto caro de hotel com qualquer puta por aí. – Por
algum motivo, aquela simples resposta de sua mãe, a entonação, o rancor
contido, a situação, o fez se lembrar de Hermione. Foi como poder escutá-la
dizer algo do tipo referindo-se a ele no futuro ao qual estavam destinados a ter.
Ficou perturbado com a inevitável analogia de seu cérebro e tentou esquecer,
mas aquilo apenas o comparou outra vez ao seu pai. Sentiu que seu maxilar já
travava de raiva. Ele não era igual ao seu pai! – Ele já deveria estar aqui. Tem
certeza que seus guardas afirmaram que ele chegou pelo portão leste no meio
da tarde?

- Sim. – respondeu apenas.

Sua mãe respirou fundo e tornou a andar de um lado ao outro.


- Ele sabe que não deveria atrasar, ele sabe que isso é importante e eu
tenho me esforçado tanto... – ela abaixou o tom da voz ao inaudível ainda
andando de um lado para o outro.

Draco se manteve calado, mas sabia que seu pai estava atrasando apenas
porque sua mãe não queria que ele atrasasse. Aquilo começou a remoer dentro
dele de uma forma que chegava a quase tornar o ar rarefeito. Permaneceu
calado. Jurou que permaneceria calado.

A porta se abriu uma segundo vez e quem passou por ela foi Hermione seguida
de uma dupla de elfos. Ela estava linda como sempre, mas seu pai ainda estava
entalado o suficiente em sua garganta para que Draco se importasse em
admirar uma boa mulher como ela merecia.

Narcisa deu ordens aos elfos e correu para analisar cada mínimo detalhe da
roupa de Hermione. Não demorou e já haviam mais três mulheres da
organização dentro de seus escritório opinando sobre o cabelo, o vestido e a
maquiagem da sangue-ruim. Draco apenas começou a bater nervosamente a
ponta da pena que estava em sua mão contra a mesa da escrivaninha a medida
que se sentia desconfortável com a falação do ambiente.
- Mãe! – exclamou mais alto até do que deveria. Todos se calaram e foi um
tremendo de um alívio. – Tenho certeza de que pode encontrar outro lugar para
fazer o que quer que estiver fazendo agora.

Houve um grande minuto de silêncio enquanto sua mãe estreitava os lábios e


olhava as feições de Draco. No seguinte ela apenas estalou os dedos para as
mulheres e apontou para a porta. Deu novas ordens aos elfos e todos eles se
retiraram.

- Somos apenas muito detalhistas. – justificou a mãe estalando o dedo


para Hermione e apontando para uma das poltronas da sala. Hermione respirou
fundo e sentou-se obedientemente. – Queríamos deixar sua noiva perfeita.

- Ela já está perfeita. – teria soado um elogio se ele não tivesse feito
parecer um pedido ríspido de que não voltassem a fazer toda aquela algazarra
em seu escritório.

- Hermione, tem certeza de que não precisamos passar novamente suas


regras de comportamento? – Narcisa se direcionou a ela.
- Fui espera o suficiente para aprender da primeira vez. – ela respondeu e
todos foram tomados de suas atenções quando a porta se abriu outra vez.

Lúcio Malfoy passou por ela vestido num traje fino, com a barba desfeita e os
cabelos loiros bagunçados.

- Todos juntos? – ele comentou ao entrar. Parecia bêbado. – Lindo.

Draco viu sua mãe recuar um passo ao vê-lo, como se não quisesse sentir que
ele tinha o perfume de outra mulher impregnado em sua roupa, mas então ela
fez exatamente como Hermione ao ajustar a postura, abriu um sorriso muito
amável e se dirigiu a ele. Draco sentiu todo o ódio corroer suas veias com
aquela cena.

- Que bom que chegou querido. – Narcisa foi até ele e tentou ajustar a
gravata torta em seu pescoço, mas ele a afastou com uma mão e atravessou a
sala até a arca onde Draco mantinha suas bebidas.
- Vejo que organizou tudo perfeitamente, Narcisa. – puxou um copo e o
encheu de gelo. – Sempre faz seus serviços com muito competência.

Narcisa sorriu. Sorriu um sorriso convencida de que aquele era o único elogio
que receberia na noite vindo de seu marido. Ela nunca recebia elogios que não
fossem estritamente profissional, porque sim, seu pai tratava o casamento
como um negócio.

Draco se levantou e foi até o pai quando ele passou a escolher entre suas
garrafas de whisky. O deteve antes que ele pudesse encher o copo. Lúcio
ergueu seus olhos e o fitou secamente.

- O que pensa que está fazendo? – indagou ao filho.

- Já se olhou no espelho? – Draco ignorou o olhar selvagem do pai e não


fez questão de esconder o nojo que tinha ao olhá-lo naquele péssimo estado
que ele havia se apresentado.
- Draco! – sua mãe apressou-se a repreendê-lo.

- Fiz uma pergunta. – Draco ignorou a mãe. Já era tarde demais.

- Fiz outra primeiro. – Lúcio retrucou afastando a mão que o impedia de


entornar o whisky em seu copo.

- Chega de bebida, papai! – vociferou Draco tomando a garrafa de sua mão


e devolvendo-a ao seu devido lugar. – Você já está bêbado o suficiente,
atrasado e fedendo a perfume de mulher.

- Draco, por favor! – dessa vez sua mãe quase implorou.


- Mas obviamente tem motivos muito claros para se apresentar nesse
estado. – Draco continuou a ignorar a mãe. – Eu só espero que não esteja
tramando uma maneira de humilhar minha mãe ou o trabalho dela.

Lúcio encarou Draco com aquele olhar desgostoso até ter descaramento o
suficiente par sorrir. Sorrir! Aproximou-se do filho para que ele pudesse sentir o
seu hálito de álcool e disse num tom que a conversa não passasse deles:

- Não tentaria estragar o trabalho de sua mãe ao menos que eu quisesse


acabar com uma dos noites que vai entrar para a história dessa família. –
soltou um riso fraco e debochado. Aproximou-se do filho e sussurrou: – Sabe
que eu estou apenas tentando humilhá-la.

- Com que propósito? – Draco quis matá-lo.

- Divertimento pessoal. – sorriu, levantou seu copo e mostrou-o a Draco. –


Agora me sirva com sua bebida, filho.
O ataque de fúria que subiu em Draco não o fez não medir as forças quando
tomou o copo da mão do pai e o lançou com força contra o chão. O som do
vidro se espatifando levou sua mãe a loucura.

- Draco! – ela foi até eles.

- Não tem um sequer respeito pela mulher que te deu um filho? – cuspiu
Draco.

- Não pode falar sobre ter respeito, Draco! – riu seu pai.

Draco avançou violentamente contra o pai, mas Narcisa se colou entre eles.
- PARE, DRACO! – ela foi tão séria e sua voz soou tão autoritária que até
mesmo ela recuou.

- COMO PODE ACEITAR? – Draco finalmente deu atenção a mãe. – OLHE


PARA ELE, MÃE! COMO PODE ACEITAR?

- E O QUE EU DEVERIA FAZER, DRACO? NÃO TENHO PODER PARA MUDAR


CERTAS COISAS! – ela ofegou. Lúcio riu e ela fechou o olhos para não deixar
transparecer a enorme tristeza que o deboche dele causava nela. – Não posso
lutar contra ele. – quando ela abriu os olhos Draco viu o orgulho de sua mãe se
desfazer por completo quando ela disse quase que sussurrando para ele: - Eu o
amo.

Quantas milhares de vezes ele havia escutado sua mãe dizer aquilo sobre seu
pai. Sua mãe orgulhosa, fria e quase insensível. Conhecia a mulher sistemática
que ela era, e sempre que a via abrir a boca para justificar sua cega tolerância
aos absurdos de seu pai ele quase podia sentir como era difícil para ela ter que
abrir mão de todo o seu orgulho para dar espaço a aquela verdade. Era a
humilhação e a frustração que ela carregaria para sempre em sua vida. Para
sempre. E o que ela poderia fazer? As vezes Draco queria vê-la lutar contra ele,
mas sabia que ela já havia lutado o bastante para saber que era inútil e
desgastante.

Era quase inevitável não se conter diante da submissão de sua mãe perante as
provocações de seu pai. Aquilo causava nele desgosto e tristeza. Aquilo
significava a realidade que ele nunca havia superado na vida. A realidade de
que sua família era uma desgraça, uma mentira, uma grande e enorme farsa.
Seus pais juntos diante dele o lembrava do dia em que seu mundo de ilusões
havia desmoronado.

- Não posso suportar. – ele olhou da mãe para o pai. – Não posso mais
suportar nós todos juntos. – deu as costas a eles. Assim que o fez encontrou
Hermione ainda sentada em sua poltrona com a postura ereta e um olhar
assustado e apreensivo. Draco quase soltou um palavrão por ter se esquecido
de que ela estava ali. Soltou o ar e num único segundo de inocência ele
procurou pela magia que o faria voltar o tempo para poder evitar que ela
tivesse assistido aquilo. – Levante-se, Granger. – já era tarde demais para
voltar no tempo. – Temos convidados demais para te apresentar hoje a noite.

Hermione Granger

Tédio era tudo que ela via estampado na cara de Draco Malfoy e tédio era tudo
que ela igualmente sentia. Talvez sua cara também estivesse como a dele. Ele
pelo menos tinha uma alegria aqui e ali quando topava com algum amigo ou
alguma mulher que já havia levado para cama, mas ela, ela não tinha
absolutamente nada com o que se distrair.
Abria um sorriso forçado todas as vezes que alguém passava por ela e a olhava
de cima a baixo. Ignorava o olhar e sorria simpática. Ou pelo menos ser
simpática era sua pretensão.

Hermione já havia deslizado sua mão para longe do braço de Draco a um bom
tempo e ele sequer notara. Pegou qualquer taça da bandeja de um elfo que
passava e levou a boca. Ficou insatisfeita com o gosto da água, mas grata por
não ser álcool. Tudo que ela não queria era ficar bêbada para ser capaz de
fazer qualquer coisa errada e sabia que se provasse de qualquer líquido forte,
não iria parar tão cedo. Tudo nela pedia para que não estivesse sóbria naquele
momento nem naquele lugar.

Andou por entre as pessoas. Sorria ocasionalmente para os olhares


preconceituosos e tomava de sua água desejando um litro puro de álcool. A
bainha de seu luxuoso vestido produzia um ruído irritante enquanto andava
com todas aquelas pedras penduradas e ela não via a hora de tudo aquilo
acabar para se livrar daquela roupa exagerada e poder tirar seus sapatos que
começavam a incomodar.

A verdade era que se sentia deslocada. Tão deslocada que era intimidador e
isso a atrapalhava muitas vezes em manter sua postura. Lembrava-se
ocasionalmente da simplória discussão familiar que foi obrigada a presenciar há
algumas horas atrás e quando encarava as feições de Draco se perguntava se
fora aquilo que havia o transformado. Porque durante toda a discussão, no
momento em que ela esperou pela reação de profundo ressentimento que ele
deveria expressar, ele simplesmente fechou-se para sua expressão
convencional. Os olhos cinzas sem vida e sem interesse em qualquer coisa que
fosse.

Ela não fazia idéia de quem ele era agora, mas certamente muito do que ela
havia visto em Lúcio Malfoy dizia respeito ao Draco que conhecera em
Hogwarts.

Ao longe viu Malfoy por entre as pessoas. Pansy tinha chegado até ele e
claramente se atirava como uma puta para ter a devida atenção. E Draco a
dava. O sorriso que ele tinha nos lábios era tão verdadeiro que o mudava, o
fazia parecer um ser humano tão agradável que Hermione sentiu uma
momentânea raiva por saber que Pansy tinha o poder de transformá-lo naquilo.
Draco era uma enigma para Hermione enquanto para Pansy ele era apenas um
livro aberto.

Soltou um longo suspiro frustrado e deu as costas a visão dele para seguir
caminho. Ele tinha total liberdade para continuar com suas centenas de
mulheres sendo elas Pansy ou não. Não importava para Hermione. Não
precisava que Draco fosse fiel a ela.

Deixou que seus pés a guiassem. Passou por entre as pessoas e já estava tão
farta de tudo aquilo que simplesmente abriu mão de dar qualquer mínima
atenção a elas. Narcisa provavelmente a mataria se soubesse que não estava
sorrindo para os olhares que recebia.

Viu-se deixando a sala principal e não se importou. Seguiu pelo fluxo contrário
até se ver na espetacular sala de jantar que ficava logo atrás da cozinha. O piso
era de tábua corrida como o da biblioteca e quase do mesmo tom escuro da
enorme mesa. Bem em seu centro, logo acima, tinha um lustre transcendental
que ficava pendurado no teto distante e abobadado. A casa de Draco era de um
luxo que ela nunca havia visto na vida. Se questionava como poderia ser os
outros tipos de casa das zonas abastadas de Brampton Fort já que Voldemort
julgava a residência de Draco tão modesta.

Atravessou a sala de jantar e passou por um corredor vazio e quase escuro que
cortava a lateral da cozinha. Haviam janelas sequenciadas em toda a extensão
para que ela pudesse ver o enorme jardim que se estendia para um bosque lá
onde o horizonte se estreitava. Era os fundos da casa e o quintal estava vazio.
O silêncio fazia com que ela escutasse o cricrilar dos grilos altos e as vozes da
algazarra de seu noivado muito distante.

Foi obrigada a subir alguns poucos degraus quando chegou ao fim do corredor.
Isso a elevou a um patamar diferente e o piso continuou a ser de madeira, mas
dessa vez parecia menos maciço e as tábulas bem mais estreitas e
desniveladas. As janelas que vinham do corredor se abriam em enormes portas
de arco que estavam escancaradas e cercavam o ambiente quase circular. Ela
podia ver todo o gramado dos fundos da casa do lado de fora assim como
também podia sentir o vento a atingir. Era revigorante.
Ousou andar para próximo de uma das portas e tocou a fina e clara cortina que
estava haviam arrastado para poderem abrir as portas. Deixou seu olhar passar
mais uma vez pelo jardim e quase sorriu pela beleza daquele lugar. Queria
poder estar ali no pôr-do-sol. O pôr-do-sol que não existia em Brampton Fort.

Quando quase chegou ao arco que foi capaz de ver um espécie de deque
coberto por uma larga marquise. Havia mobiliários externos, madeira talhada,
estátua de bronze, grandes vasos de arbustos em arte topiaria, estofados em
estampa inglesa, ela mal podia imaginar o quanto tudo aquilo havia custado
fora toda a casa que ele tinha. Como que aquilo podia ser modesto?

- Bonito lugar não é mesmo, sangue-ruim?

Hermione virou-se num pulo e quase deixou sua taça de água cair. Encontrou
Lúcio Malfoy com as mãos enfiadas no fundo dos bolsos da calça de seu terno a
encarando com um sorriso divertido nos lábios. Um sorriso que ela receou.

Um turbilhão de exclamações bombardearam seu cérebro, mas tudo que ela


conseguia realmente pensar era em como os olhos dele brilhavam no quase
escuro em que se encontravam.
- Me seguiu? – ela perguntou sem nem mesmo pensar.

- Sim. – respondeu ele sem se importar no que ela fosse pensar e


aproximou-se um pouco.

Ela recuou enquanto tinha outro turbilhão de exclamações em sua cabeça.


Dessa vez estava em dúvida se deveria implorar a ele que não contasse a
Narcisa que ela não estava na reunião ao lado de Draco ou se perguntava o
porque dele ter a seguido já que nenhuma justificativa rápida que seu cérebro
havia lhe passado fazia muito sentido.

- Me seguiu para poder dizer que estou descumprindo minhas regras de


comportamento não estando agora na minha própria festa de noivado? – se viu
dizer.

Ele riu e desviou o caminho quando ela continuou a recuar.


- Não. – respondeu e se interessou em analisar de modo distraído a
fechadura de uma das portas enquanto caminhava muito calmamente pelo
ambiente. – Te segui porque não pude resistir.

Resistir? Ela se questionou.

- Perdão? – se viu quase exclamar.

Ele ergueu os olhos para ela novamente e abriu um sorriso quase que
charmoso demais. Voltou a desviar o olhar para analisar o lugar como estava
fazendo antes e se justificou.

- Não pude resistir a todo esse ar ingênuo que você emana. É


completamente diferente dos usuais se quer saber. Estive a observando
durante a festa e quando a vi sumir, não pude resistir em te seguir.
Ele ergueu os olhos novamente para ela e Hermione se assustou ao notar a
proximidade que ele já estava dela. Mal havia notado a estratégia que ele havia
usado para não fazê-la recuar enquanto ele se aproximava.

Hermione não gostou de ter sido tão burra por não notar, nem mesmo gostou
da distância que ele queria encurtar e sua única alternativa foi dar as costas e
descer para o deque. Tentou não parecer que estava fugindo e caminhou com
cuidado por entre os mobiliários fingindo estar interessada na decoração assim
como ele havia feito antes.

- Eu lhe devo desculpas. – ele continuou e a distância da voz avisou que ele
também descia para o deque por outra porta.

- Por ter me seguido? – Por que ele iria querer pedir desculpas a uma
sangue-ruim?
- Não. – respondeu. – Pelo que foi obrigada a assistir mais cedo no
escritório de Draco.

Escutar a pronuncia do nome dele a fazia se arrepiar.

- Não precisa se desculpar. – ela parou para sentir o alto relevo dos traços
decorativos de uma mesa de chá. Deixou sua taça desancar ali. – Não deve
nenhuma desculpa a mim por isso. São problemas da sua família e não me
dizem respeito.

- Sensato pensar dessa forma, mas não vejo que tenhamos problema
nenhum. – a proximidade da voz dele alertou que ela deveria continuar seu
caminho, mas não conseguiu quando o escutou afirmar que não enxergava
problemas em sua família. Será que é porque o problema seria ele? – Draco
cresceu e por algum motivo a prepotência dele o fez tomar essas atitudes
impulsivas baseado em pensamentos errados. Talvez ele tenha...

- ...Senso de justiça? – sugeriu ela ao cortá-lo quando se viu repudiada


pela atitude dele de querer culpar Draco. Virou-se e se assustou mais uma vez
ao vê-lo logo a sua frente.
- Justiça? – indagou ele ao ver suas palavras serem traduzidas de modo a
incriminá-lo. – O que quer dizer com isso?

- É o Ministro da Magia! Deveria entender sobre justiça muito mais do que


eu! – retrucou ela e num passo ele a assustou novamente. A encurralou contra
a mesa e Hermione logo tentou se esquivar, mas ele a segurou. A prendeu pela
cintura e não teve pudor algum ao colar seu corpo com o dela. – O que está
fazendo? – quase gritou. Tentou lutar mas ele era forte. Forte como Draco era
forte. Será que tinham a mesma força? Ela não queria experimentar da força de
Draco como estava experimentando da de seu pai agora. – Me solte.

- O que quer dizer com justiça, sangue-ruim?! – a voz dele foi baixa, mas a
proximidade fez quase parecer um grito. – Já viu justiça em algum lugar? – os
olhos dele eram tão poderosamente cinzas que ela quase sentia que não seria
capaz de puxar oxigênio quando os olhava. – Se engana em pensar que poderia
haver justiça em Draco! – ele soltou um friso fraco pelo nariz. – Se engana em
querer encontrar justiça em qualquer lugar!

- Me solte! – ela exigiu e se contorceu para fugir dele, mas ele apenas a
prendeu com mais força.
- Justiça não existe! Nunca existiu! É apenas uma utopia! Aprenda isso,
sangue-ruim! – segurou o rosto dela e ela se esquivou. Lúcio foi mais bruto e o
segurou de modo que ela não pudesse desviar e fosse obrigada a olhá-lo. – Não
sabe nada sobre o mundo. Não sabe nada sobre esse mundo. É ingênua
demais. – os olhos dele percorriam cada linha do rosto dela e parecia se
fascinar com cada uma delas. – Você é como a primavera. Como uma doce
primavera. – ele se aproximou demais e Hermione sentiu a respiração dele
contra seu rosto. – É singela e delicada como a primavera. Mas tem todo esse
poder de atrair a atenção, de encantar as pessoas, de ser desejada, de
dominar. Esse orgulho te sustenta.

- Por favor, me solte. – suplicou uma última vez antes de sentir o hálito
úmido e quente dele contra sua boca. Não ousava sequer tentar imaginar quais
seriam as pretensões que ele tinha em mente estando tão próximo.

- É melhor que saia do seu lindo mundo de flores, primavera. Aqui ninguém
se importa com justiça, com dignidade, com honestidade, nem muito menos
com amor, o amor que você acha que existe, o amor que você carrega do
mundo de afetos do qual vivia com todos aqueles marginais da resistência. –
ele sussurrava e quando Hermione sentiu que tinha uma mão dele que
escorregava por sua cintura e descia sorrateira por suas costas como se ela
estivesse sem seu vestido contorceu-se para se livrar dele desesperadamente..
– Aqui é sempre inverno, primavera.

- Você é louco! – ela cuspiu e quase gritou esquivando-se da mão lenta e


esperta que descia. – O que está fazendo? – ele só poderia ter algum tipo de
doença! – EU SOU A NOIVA DO SEU FILHO! – gritou.
Por um mero segundo aquilo pareceu acordá-lo, mas não fez muita diferença
quando viu nos olhos dele que o desejo continuava a olhá-la. Apenas o que fez
recuá-lo foi o barulho distante de uma taça se espatifando no chão e uma
risada longe e abafada acompanhada de uma voz masculina se aproximando.

Hermione pode notar o quanto seu coração estava disparado quando se viu
livre. Não demorou muitos segundos e a dona da risada apareceu quase sendo
engolida pelo proprietário da voz masculina. O casal mal notou na presença de
Lúcio e Hermione quando desceram para o deque.

Lúcio parecia quase furioso por ter sido obrigado a interromper seu momento e
quando a consciência bateu em Hermione, quis gritar para o homem o quão
insano ele havia sido, mas na lógica de seu desespero apenas não pestanejou
em fugir. Não ligou quando acabou por esbarrar no casal com sua pressa e nem
sequer isso pareceu fazê-los acordar do momento que estavam tendo.

Andou tão rápido que nem mesmo saber se estava tomando o caminho certo
fez diferença. Seu coração continuava a bater rápido e cada vez mais rápido a
medida que sua memória continuava a lembrá-la do que havia passado. Da
força que ele tinha, do olhar desejoso, do hálito úmido contra o seu rosto. Tudo
era intensamente nojento e fazia os pelos de seu corpo se arrepiarem pela
repulsa.
Cair na sala principal, ver todas as pessoas, a música e o falatório foi quase que
um banho de paz. Parou, fechou os olhos e respirou fundo se apoiando num
dos pilares de passagem. Ali, com todas aquelas pessoas, ele não poderia
segurá-la novamente como havia feito, nem sussurrar todas aquelas palavras,
nem descer aquela mão imunda por suas costas.

- Hermione! – a voz alta de Narcisa a fez abrir os olhos instantaneamente.


– Pelos céus, onde se meteu?! – ela vinha apressada e com uma expressão
severa. - Tenho a procurado já faz bastante tempo, se quer saber! - Hermione
quis avisar a mulher que esteve com seu marido e que ele era um louco
depravado, mas não conseguiu abrir a boca. – Está pálida, o que houve?

- Nada. – se viu responder quase que imediatamente.

- Não seja mentirosa, mas o que quer que tenha sido, não é importante!
Draco está sendo fotografado longe da sua companhia e não é isso que
queremos que apareçam nos jornais e revistas! Vamos! Recomponha-se e trate
de encontrá-lo imediatamente! – dizendo isso ela foi embora.

Hermione tornou a fechar os olhos. Respirou fundo mais de uma vez e apenas
tornou a abri-los quando sentiu que seu coração já batia num ritmo normal.
Tentou levar para o mais oculto de sua memória a situação que havia vivido a
minutos atrás. Só não poderia encontrar com Lúcio novamente ou vomitaria.
Começou a andar devagar. Dessa vez os olhares de desprezo pareciam
bastante receptíveis. Eram como um aviso de que estava segura.

Encontrou o lugar onde Draco antes estivera com Pansy, mas dessa vez a
encontrou sozinha. Olhou de um lado para o outro e não conseguiu localizá-lo.
Mudou sua rota e seguiu atenta até finalmente encontrá-lo a porta dos jardins
sem companhia alguma. Aproximou-se.

- Onde esteve? – ele perguntou e tomou um gole do vinho que tinha nas
mãos.

- Tentando seguir um caminho sem ser carregada por você. – ela passou
seu braço pelo dele ainda tentando entrar no seu estado máximo de
normalidade.

- Não deveria sair do meu lado.


- Sequer notou quando o deixei.

Tiveram de silenciar-se e sorriram para um casal que os beirou curiosamente.

- Não presto atenção em gente como você, Granger. Portanto deveria ter
no mínimo o senso de preservar a estabilidade da recuperação de sua amiga
lunática e cumprir todos os seus deveres do modo mais perfeito possível. – ele
usou um tom baixo e intimidador.

- Eu só precisava de um pouco de ar! Esse lugar parece me deixar doente.

- Não quero estragar o trabalho da minha mãe, querida. - ele sorriu quando
outro grupo de pessoas passou por eles. – Então você não trate de se esforçar
para isso. Muitas coisas estão em jogo para ela se algo der errado. Portanto
supere sua aversão as pessoas e me avise quando precisar de ar para irmos
juntos!
Ela quase rosnou baixo por todo o sermão que havia recebido. Não era
nenhuma criança! Mas certamente que dessa vez ela não sairia de perto dele já
que com certeza preferia a companhia de Draco. Pelo menos ela sabia que se
eles estivessem a sós, ele não a agarraria como seu pai havia feito. Draco a
odiava o suficiente para isso. Ela esperava e acreditava que sim.

- Estou cansada disso. – resmungou.

Aquilo pareceu diverti-lo.

- Temos muito em comum. – riu ele e tomou mais um gole de seu vinho.

Hermione o encarou.
- Está bêbado? – colocou nojo em seu tom e em sua expressão também.

Ele crispou os lábios.

- Ainda faltam alguns copos para isso. – Draco se colocou em movimento e


Hermione foi obrigada a ir junto. – Está pálida. O que houve? – Perguntou ele.

Ela engoliu a saliva que pareceu escassa.

- O vento está frio lá fora. – respondeu. Não queria contar que o Sr. Malfoy
havia resolvido lhe fazer uma grande e desagradável surpresa.
- Não me parece um fator que a deixaria assim. Só me soa como uma
justificativa bastante burra. – tomou outro gole – Mas não me importo. Não me
faz diferença saber ou não das suas verdades se não quer compartilhá-las. –
um casal de senhores cruzou o caminho deles. - Sr. e Sra. Bolton. – Draco fez
um educado cumprimento.

- Draco, querido! – exclamou a velha numa voz rachada e aguda. –


Estávamos curiosos para conhecer sua noiva.

- Está é Hermione Granger. – ele tratou de apresentá-la como já havia feito


milhares de vezes desde que os convidados começaram a lotar a sala principal
de sua casa.

- Muito bonita, de fato. – disso o Sr. Bolton a olhando por cima dos
redondos óculos fundos.

- Sim, muito bonita. – concordou a velha.


- É um prazer. – Hermione usou do cordial que treinara.

- Sabemos que não é. – lamentou a velha.

- Mas devemos fingir que é. – Hermione retrucou a sinceridade.

- Sangue-ruim, não é verdade? – perguntou a Sra. Bolton.

- Nascida trouxa. – corrigiu Hermione ajeitando a postura.

- Sangue-ruim. – reafirmou a outra como se soubesse e não se importasse.


– Me responda uma coisa, querida. O que fizeram para que mudasse de lado na
guerra depois de tantos anos na resistência?
- Foi uma decisão dela. – Draco interferiu passando o braço em volta da
cintura de Hermione. – Tudo já estava bem planejado e foi uma decisão
tomada por ela muito tempo antes de ser trazida a Brampton Fort. Hermione já
havia mostrado sua fidelidade a nós anos antes. O mestre apenas a aceitou por
motivos muito bem discutidos dentro do ciclo interno de comensais. – o tom
dele estava sério. Era uma história mentirosa e somente os comensais íntimos
de Voldemort, aqueles que estavam no salão principal no dia de sua chegada,
que sabiam a verdade. Estavam todos juramentados a concordar que Hermione
decidira se juntar a eles. Aquela mentira doía nela toda vez que era proferida a
alguém.

Viu o casal analisá-la muito atentamente como todos faziam.

- E a moça que veio com você? Foi nos informado que vieram duas. – a
Sra. Bolton continuava a se direcionar para Hermione. – Não é a filha do louco
editor do antigo O Pasquim?

- Sim. Luna Lovegood. – Hermione sentiu seu coração apertar quando


respondeu. – O mestre ainda não tem confiança suficiente nela. – mentiu como
a ensinaram. Era uma sorte, ou talvez não, que as pessoas de Brampton Fort
não tivessem acesso as mídias fora da cidade porque certamente aquelas
mentiras seriam facilmente descobertas por qualquer publicação recente
do Profeta Diárioinformando sobre a participação ativa de ambas na resistência
semanas antes de serem capturadas.
- Bem, é realmente um prazer conhecer a nova jóia do mestre. – a velha
pareceu finalmente estar satisfeita. – Dará uma boa Sra. Malfoy. Tem a classe
de uma. Certamente o mestre notou isso em você assim que a viu.

Hermione não sabia se deveria sorrir ou não. Toda aquela mentira a afetava
dolorosamente.

- Obrigada. – respondeu mas soube que foi sem emoção alguma.

- Vamos. – Draco quase a empurrou quando os Bolton seguiram seu


caminho. – Já estão distribuindo as taças para o brinde.

Narcisa apareceu estralando os dedos e apontado para a escada privada. Os


três avançaram para o pavimento superior e Draco e Hermione separaram-se
assim que souberam que não havia mais ninguém com quem devessem manter
as aparências.
Draco entrou em um escritório e Hermione vislumbrou por segundos Lúcio
Malfoy e Lorde Voldemort antes que tivesse que seguir seu caminho com
Narcisa até a sala em que haviam se instalado. Os pelos de sua nuca
levantaram apenas por se lembrar da existência de Lúcio Malfoy novamente.

Foram necessários três elfos para a ajudar a trocar de roupa, mudar o


penteado e a maquiagem. Narcisa dava ordens específicas hora ou outra e
frequentemente alguém batia a porta e anunciava os minutos que restavam.
Ainda tinham tempo e mesmo assim ela parecia afoita. Aquela mulher tinha
uma experiência grande em conter qualquer tipo de sentimento já que mesmo
que seus olhos denunciassem o suor que não lhe escorria as têmporas, seu
controle emocional era, de fato, digno de todas as aclamações.

Quando Hermione colocou-se de pé, finalmente pronta, até mesmo a mulher


que estava encarregada de informar os minutos, se permitiu parar alguns
segundos para vislumbrá-la. Hermione olhou-se no espelho e tudo que viu foi
alguém que ela não sabia quem era. Uau!

Hermione encarou Narcisa e ela a olhava com aquele ar interminavelmente frio


e ao mesmo tempo sereno. O resultado final de toda a sua mudança pareceu
trazer paz a Sra. Malfoy e por algum motivo esse ato anunciava ter o poder de
transportá-la para dentro de sua mente.
- Eu me lembro, quando foi a minha vez. – ela disse mas não parecia ser
para Hermione mesmo que seus olhos estivessem nela. – Eu também tinha um
lindo vestido e pessoas me olhando como se eu fosse alguma deusa do olimpo.
– Sorriu para Hermione e pareceu acordar de seus devaneios sem sequer
desviar o olhar. – Está se saindo bem, Hermione.

Não soube se precisava agradeceu ou não portanto ficou apenas calada


encarando aquela estranha e divina criatura no espelho até que novamente os
minutos foram informados e Narcisa tornou a carregá-la pelos corredores do
segundo pavimento.

Foi levada ao escritório onde Draco ficara e assim que entrou eles pararam
qualquer conversa que estavam tendo. Sentiu três pares de olhos a devorarem
cruelmente. Lúcio Malfoy parou com o copo de vinho a meio caminho da boca,
Voldemort deixou de mascar o charuto e Draco apenas ficou quieto com os
braços cruzados mas com os olhos perfeitamente cinzas analisando-a dos
sapatos até o cabelo. Ele foi o primeiro a desviar o olhar, mas inteligentemente
ele seguiu para encarar tanto o de seu pai quanto o de Voldemort e no segundo
quase seguinte, já havia se deslocado da mesa que estava recostado para
plantar-se bem ao seu lado.

- Vamos acabar com isso logo de uma vez. – ele disse e Hermione sentiu a
mão quente dele tocar sua lombar nua pelo vestido.
O primeiro toque direto, pele com pele, a fez prender a respiração e quase
recuar. Ele tocava uma parte de seu corpo mas era como se estivesse o
tocando todo. Ao mesmo tempo, sentiu que aquele toque fora quase que um
aviso a Lúcio e Voldemort. Como se tentasse lembrar a eles a quem ela havia
sido entregada como noiva.

Seguiram para fora do escritório e receberam taças de cristais cheias de


espumante a caminho da escada principal. Draco e Hermione deram os braços
novamente e Narcisa emparelhou-se com ela.

- Lembra-se do que deve dizer? – perguntou a Sra. Malfoy.

- Tanto que desejaria esquecer. – respondeu Hermione.

Hermione a viu se juntar ao marido e ambos deram os braços assim como ela e
Draco. Viu que a mulher alisou amorosamente o braço do terno do esposo, mas
olhar para Lúcio foi constrangedor. Ele ainda mantinha seus olhos sobre ela e
era como se pudesse ver através de sua roupa. Hermione pensou que fosse
vomitar mesmo que o Ministro da Magia do mundo bruxo fosse um senhor que
sofresse com o agravante problema de ter uma aparência imensuravelmente
além da satisfatória.
Desceram apenas alguns degraus da escada principal e posicionaram-se de
modo que Voldemort estivesse no degraus mais alto, a Sr. e a Sra. Malfoy logo
abaixo e então, finalmente, Draco e Hermione.

A grande sala abaixo deles estava abarrotada de pessoas e todos carregavam a


mesma taça na mão. O burburinho abaixou-se a medida que Hermione sentiu a
marca queimar em seu braço e logo depois toda a atenção estava voltada para
o onde estavam na escada. Hermione sentiu suas mãos suarem com todos
aqueles olhares de uma vez só. Repassou o que deveria dizer pela milionésima
vez em sua cabeça e por algum motivo confundiu algumas palavras.

Voldemort começou:

- Este é um momento importante dentro de Brampton Fort, é um momento


importante para a minha ditadura e é um momento importante para o mundo,
que em breve saberá dar o devido valor á aquilo que temos lutado por tanto
tempo. – Hermione nunca havia imaginado que ele pudesse ter aquele poder de
carisma. – Estamos todos aqui neste momento histórico, familiar e acolhedor,
para oficializar ao mundo uma aliança que me gera profunda satisfação. Não
somente o noivado do líder do meu exército com a minha mais nova e preciosa
jóia, mas também uma aliança com a família que me presta uma competente
devoção desde o início. Uma família pelo qual nutro um imenso apreço. Hoje, o
meu reinado forja com a família Malfoy um laço estreito. Hoje, oficialmente, a
família Malfoy se torna o braço direito do meu império.
Hermione viu o claro olhar de inveja em cada ser humano abaixo deles.

- Hoje a família Malfoy quebra uma tradição histórica ao receber um valioso


presente do nosso aclamado líder mundial. Um presente além do valor dos
serviços que tão orgulhosamente prestamos em prol da raça bruxa dominante.
– a voz do Sr. Malfoy encheu o ambiente tão poderosa quanto a de Voldemort.

- E nada poderia nos deixar mais felizes do que esse maravilhoso presente
em nossa família. Receber Hermione, a jóia do nosso tão querido mestre, é de
fato uma honra do qual nos orgulhamos.– foi a vez da Sra. Malfoy.

Hermione sentiu todo o seu corpo fraquejar, mas pensar em Narcisa Malfoy
com sua postura intacta, fria e inatingível ajudou sua voz a sair límpida, clara e
poderosa por todo o ambiente:

- Portanto, propomos um brinde. – ela ergueu a taça. – Um brinde a nova


era da história Malfoy. A era onde a união pelo poder se torna de um peso
incomparável a qualquer outra ideologia carregada ao longo dos anos.
Draco ergueu sua taça logo após Hermione e fez soar a voz que discursava
para o seu exército:

- A era onde os Malfoy se consolidam socialmente de uma forma nunca


antes vista na história. – ele cercou a cintura de Hermione com um braço – A
era onde a quebra da tradição nos leva ao apogeu. A nova era onde estaremos
no topo.

- A nova era. – Hermione pronunciou com sua taça levantada.

- A nova era. – Draco concordou.

- A nova era. – seguiu o Sr. e a Sra. Malfoy.


- A nova era. – Voldemort.

- A nova era. – todos.

Muitos flashes se seguiram enquanto cada um levava a taça a boca. Hermione


sentiu que seu braço havia congelado. Ainda escutava o coro de toda a sala
clamar pelo brinde. Um clamou dotado da mais densa inveja presente no
mundo.

- Beba, Hermione. – a voz de Draco soou ríspida em seu ouvido.

Ela bebeu obedientemente. Viu os fotógrafos subindo os primeiro degraus para


um melhor posicionamento e ela soube que era hora. Engoliu seco e virou-se.
Draco não fez qualquer cerimônia e segurou seu rosto. A mão dele era tão
grande que chegou a sua nuca, mas quando isso se passou pela cabeça dela, os
lábios dele já cobriam os dela e os cliques das máquinas e o estouro dos flashes
eram quase tudo que ela conseguia escutar.
5. Capítulo 5

Pansy Parkinson

Ela se enrolou no lençol e observou Draco enquanto ele calmamente vestia


todas as três elegantes peças de seu terno. Sabia que quando ele chegara em
seu quarto tudo que ele queria era apenas sentar, beber um bom vinho e
conversar, mas ela não conseguia tê-lo por perto sem sentir o seu toque. E
Draco nunca a tocava a não ser quando faziam sexo. Ela não podia suportar tê-
lo ao seu lado como apenas um amigo e sempre que ele tentava, ela estaria
disposta a fazê-lo lembrar-se que ela era sua amante. Sua eterna amante!

Toda aquela infernal festa de noivado havia destruído suas estruturas. Nunca
em sua vida pudera imaginar sentir que algo tão horrível corroer suas
entranhas. A dor da inveja foi tanta que chegou a sentir seus olhos embaçarem
com as lágrimas que ameaçaram a afogar. Quis subir aquelas escadas e matar
Hermione Granger. Aquela sangue-ruim não merecia toda a glória! Quem
deveria estar com Draco naquela cerimônia história era ela! Pansy Parkinson!
Ela era a única que merecia Draco Malfoy!
Mas havia voltado para sua torre na catedral com o consolo de saber que Draco
também odiava a maldita jóia preciosa de Lorde Voldemort, só não esperava
recebê-lo em seu quarto aquela semana ainda, tentá-lo ao sexo, e ter como
resultado um Draco que não via já fazia anos.

Fora bom como sempre era. Draco era o homem que a satisfazia por completo.
Mas sabia quando ele ia para a cama com ela pensando em outra. E ele
pensava em Hermione Granger. Ele mesmo tinha consciência de que pensava
nela e que desejava estar com ela ao invés de estar com Pansy. Por isso ele
havia sido bruto. Muito provavelmente ela teria alguns hematomas em sua pele
no dia seguinte, porque quando ele olhava em seus olhos e via que não eram
os de Hermione, sentia os dedos dele quase entrarem em sua carne. Ele tinha
raiva por desejá-la.

- Não entendo porque tem raiva. – ela quebrou o silêncio. Ele a olhou com
aquele olhar furioso. Ela riu. Sabia como lhe dar com aquilo. Não era a primeira
vez. – Você não tinha idéia de que a desejava tanto, não é?

- Não sei do que está falando. – ele deu as costas e sentou-se na cama
para colocar os sapatos.
Pansy riu novamente embora sentisse que seu coração estava sendo moído a
cada segundo. Precisava mascarar sua dor. Era a única forma de manter de pé
sua confiança.

- Por favor, Draco. Eu o conheço bem. Não perca suas energias nesse jogo
de se fazer de desentendido. Sei quando me come pensando em outra.

- Por Deus, Pansy! Por que não tenta colocar alguma rédea nesse seu
maldito palavreado?!

- A verdade o incomoda?

- Bastante, se quer saber!

Ela se arrastou até ele e passou seus braços em torno de seu corpo.
- Não há porque ter tanta raiva, Draco. – sussurrou acomodando-se
próximo ao ouvido dele. – É mais do que natural. – beijou seu pescoço
calmamente. – Ela é uma mulher e você é um homem.

- Ela não é qualquer mulher.

- Não deixa de ser uma mulher!

Draco se esquivou dela e se levantou.

- Não aconselharia você a ficar encontrando desculpas para aliviar o seu


descontentamento em saber que penso nela quando faço sexo com outra
mulher.
- Descontentamento? – Pansy riu alongando-se na cama. As palavras dele
foram duras ao se referir a qualquer outra mulher e não exclusivamente a
Pansy. Significava que ela não era a única com quem ele andava fodendo por
aí. Ou então era apenas uma provocação. – Ela é uma sangue-ruim! –
exclamou – É apenas desejo e pode ser saciado. Assim como quando se
apaixonou por aquela garota em Hogwarts! Qual era mesmo o nome dela? –
dramatizou Pansy. - Astoria! – riu fingindo-se lembrar. – Cansou-se dela assim
como qualquer paixão tem fim. Diferente de mim. – Ela se levantou e foi até
ele. – Nunca se cansa de mim. – passou os braços em torno do pescoço dele. –
Seu desejo por mim nunca é saciado.

- Você é uma mulher e eu sou um homem, enquanto me provocar eu


cederei. Não quer dizer que tenho qualquer desejo insaciável por você.– disse
enquanto tirava os braços dela de cima dele.

- E é exatamente aí onde eu marco o meu ponto, Draco! – Pansy jogou-se


novamente na cama sem perder o ar divertido. – Tenho certeza de que quando
matar seu desejo com ela estará em paz, porque a maldita sangue-ruim
certamente não ficará te provocando. Ela é santa demais para isso e
obviamente não te quer! – Draco parou de abotoar a camisa para lançar um
olhar sepulcral e fulminador sobre ela. Foi aquele olhar que fez tudo clarear na
mente de Pansy. – Oh! – riu e sentou-se – Então quer dizer que é esse o
motivo da sua raiva? Saber que ela não te quer?

- Cale essa boca infernal, Pansy! – a voz dele foi tão profundamente séria
que quase a fez recuar.
Ela riu. Não deixaria se abater.

- Está com raiva porque enquanto me fode e deseja estar com ela, ela
sequer deve se lembrar de seu nome!

Draco parou tudo que estava fazendo e a encarou. Pansy pensou que aquela
fosse a hora de sua morte, mas ao invés disso, como se ele estivesse querendo
revidar não agindo da forma que ela esperava, Draco apenas foi até ela, sentou
na cama e cruzou os braços naquele ar sério. Foi até difícil ver ele assumir
aquele constante ar indiferente novamente.

- Está errada. – ele começou sabiamente, como se estivesse dando uma


entrevista numa de suas conferências. – Ela pensa em mim. E arrisco dizer que
todos os dias. Ela pensa em mim tocando todo aquele lindo corpo que ela tem.
Mas ao invés de sentir desejo, ela sente nojo. Sente nojo porque ela sabe o
canalha que sempre fui. Ela sabe que eu já levei para cama mais mulheres do
que ela mesmo pode imaginar. Ela sabe que com a mesma mão que eu toco
você e outras mulheres, eu tocarei ela. Ela tem respeito, Pansy, e foi isso que
fez com que ela nunca me quisesse.
Uau! Pansy recuou. De fato ele queria desarmá-la!

- Está dizendo que eu não tenho respeito? – ousou perguntar mesmo que
temesse a resposta.

Draco ergueu as sobrancelhas.

- E porque saber que não tem estaria te afetando agora? Sempre teve
orgulho de ser a vadia que é!

Ela prendeu o ar ao receber o baque das palavras dele e afastou-se puxando os


lençóis.
- POR QUE MALDIÇÃO ESTÁ ME FAZENDO TER VERGONHA AGORA? VOCÊ
SEMPRE GOSTOU DE QUEM EU SOU! – gritou.

Foi quando ele abriu um sorriso cínico e vitorioso.

- Eu nunca gostei de quem é, Pansy. Apenas nunca fez diferença para mim.
– ele disse calmamente e Pansy sentiu sua máscara escorregar do domínio de
seu poder. – Nunca me importei. – ela não conseguiu se esconder em lugar
nenhum e quase podia sentir a força que a fez chorar no dia do noivado de
Draco querer puxá-la novamente. – Você se sente ameaçada por Hermione
Granger. Ela está ocupando o lugar que sempre quis e agora me vê desejando-
a. – ele ajeitou a gravata - O que mais teme, Pansy?

- Eu não temo nada! – insistiu Pansy sentindo raiva. – Você é meu!

- Teme. - Ele corrigiu. – E não é a Granger que teme. Teme apenas pelo
dia em que eu deixarei de vir até você. Teme pelo dia em que eu encontre
alguém que seja suficiente para mim. Alguém que eu ame. – ele se aproximou,
segurou o queixo dela com os dedos e olhou bem em seus olhos. – Deveria já
me conhecer o suficiente para saber que isso nunca irá acontecer comigo. –
beijou sua boca, se afastou pegando o casaco de seu terno e saindo do quarto.
Pansy soltou um longo suspiro enquanto sentia a fragilidade de ter perdido sua
máscara para a mão sorrateira de Draco.

- Acontece com todo mundo, Draco. – escutou sua própria voz sussurrar -
Só estou tentando ser aquela a quem irá amar quando acontecer com você.

Draco Malfoy

Ele desceu a ala de sua sala sem pressa alguma. Cruzou com uma das filhas de
Rosney e não parou para dar a devida atenção que sabia que deveria dar a ela,
afinal, era uma mulher que ele gostaria de ter novamente em sua cama, mas
sabia que estava atrasado e aquela noite ele não estaria livre para ela. Não
gostaria de adiantar o serviço para tê-la pegando em seu pé até que ele
finalmente tivesse tempo.
As mulheres eram assim, talvez fosse só com ele, mas nenhuma delas nunca
havia se dado ao respeito com ele. Draco até gostaria de perder um pouco do
seu tempo usando dos artifícios da conquista, mas nunca realmente precisou.
Quando não havia uma lista de mulheres se oferecendo de todas as formas
para ele, ele simplesmente ia até a que queria. Nunca teve qualquer problema.
Claro que algumas delas até fingiam não querer, mas ele não tinha paciência
com isso e escolhia outra para que servisse de lição a anterior.

Uma vez havia se apaixonado. Na idade certa, mas não no tempo certo. Estava
em seu sexto ano em Hogwarts quando conheceu Astoria. Era uma garota linda
que sabia dialogar muito bem. Tinha um coração meio rancoroso e uma
vingança contida por algum golpe financeiro que havia arrastado sua família ao
ralo num passado muito remoto, mas era uma mulher daquelas que tinha
aquilo que o mundo chamava de atitude e Draco admirou. Foi até um grande
incentivo para que transformasse seu lado covarde de ser. Astoria fez o tipo
que fingia não o querer e pela primeira vez ele se permitiu correr atrás de uma
garota. Não porque ela havia sido especial, mas porque tinha curiosidade de
saber qual era a graça de trocar corujas de madrugada, como era comprar
presentes esperando agradar alguém, usar palavras bonitas para agradar uma
garota, dar e receber carinho. E assim ele acabou por se apaixonou
acidentalmente.

No entanto o encanto acabou como se era esperado que acabasse e não houve
amor nenhum entre eles que fizesse Draco continuar persistindo na relação.
Mas foi uma grande lição e pela primeira vez ele pode entender, por mais
mínimo que fosse, o valor que se dá quando algo é conquistado.
Definitivamente havia sido um período diferente em sua vida, onde ele
conseguiu se conservar apenas para Astoria e isso havia enlouquecido Pansy.
Astoria o satisfazia bem, eles tinham harmonia na cama, na conversa e nos
gostos, mas era seu sexto ano e tudo estava muito difícil. Voldemort estava
exigindo muito dele e obviamente que Draco tinha mais interesse no ciclo da
morte do que em uma garota que queria bombons em sua cama com uma
cartinha romântica do lado no fim do dia. Em pouco tempo, ir para cama com
Astoria passara a ser monótono, mesmo que ambos fossem muito criativos, e
ele precisou confessar que fora um alívio e tanto voltar a ativa quando
dispensou a garota Greengrass.

Mas ele sabia o que era se apaixonar. Já havia vivido do encanto, e sim, ele já
havia sido bobo para entender o que era ter o coração pulando quando se vê a
garota pelo qual se está apaixonado surgir por qualquer porta que seja. Tinha
que admitir que era triste que fosse um sentimento passageiro demais.

Os acessos da catedral estavam vazios aquela hora, sobretudo devido a


importante atividade que iria acontecer em instantes. Provavelmente todas as
pessoas que deveriam estar circulando pela catedral estavam agora
amontoadas na porta do salão principal para conseguir um bom lugar nas duas
galerias laterais.

Espertamente Draco tomou o caminho pelos fundos do jardim interno para


evitar esbarrar em qualquer civil comum de Brampton Fort. Seguiu por dois
pátios da ala sul e passou pela fila das famílias importantes e bem abastadas
que tomavam seus camarotes particulares.
Aquela era uma audiência aberta feita por Voldemort. Ele não fazia nenhuma
audiências aberta a quase dois anos. Aquilo era um evento gigantesco para a
cidade inteira e Draco precisou usar uma política de imigração muito severa
para moradores de fortes em continentes diferentes que vieram apenas para
aquela importante data.

A verdade era que tudo que Voldemort queria, era dar o seu show de horror
abertamente. A audiência aberta nada mais era do que as sessões de torturas
frequentes que ele fazia apenas para o seu ciclo de comensais próximos. A
última havia sido quando Hermione Granger fora proclamada comensal.

Draco chegou a sala comum detrás do átrio do salão principal e lá já estavam


amontoados a minimíssima parcela de pessoas que ocupavam os patamares do
trono. Voldemort não estava presente e soube imediatamente que todos
esperavam apenas por ele.

- Draco! – escutou a voz de um de seus conselheiros. Era Payne. Vinha


com uma cara não muito amigável e um olhar severo debaixo das grossas e
negras sobrancelhas. – Eu não a quero no conselho!

Draco revirou os olhos. Claro que ele deveria ter se preparado para escutar
aquilo.
- Ela não fará parte do conselho. Ela apenas estará presente nele! –
justificou pela trigésima vez.

- Eu não quero a presença dela! É uma sangue-ruim! – retrucou ele


decidido.

- É uma ordem do mestre.

- Uma ordem sem cabeça!

- Vai contestá-lo, Payne? Por que não diz a ele que é uma ordem sem
fundamento e desnecessária? Por que não expõe a ele que se nega a seguir
seus comandos? – sugeriu Draco muito calmamente e Payne se calou sem
mudar sua expressão enraivecida. – Ordens do mestre são incontestáveis. E
será até uma boa diversão vê-la completamente desarmada ao saber das
nossas investidas contra os amiguinhos preciosos dela.
Payne não mudou a expressão embora parecesse ponderar bastante sobre as
palavras de Draco.

- Não estou gostando disso. – disse após seu minuto de silêncio. – Há um


grande erro na decisão do mestre em torná-la uma de nós. – ele fez uma
careta. – Sabe que sou um bom conselheiro, não sabe? – Draco considerou. –
Me escute, há um grande erro nisso. – virou-se e foi embora.

Draco tinha que concordar. Talvez aquele pudesse ser um grande erro, mas
pensar sobre isso era confuso. Voldemort nunca se dava ao luxo de errar. Havia
algo ali que ele pretendia compreender. Mas no momento ele estava
suficientemente ocupado com as investidas da resistência contra o seu exército.
Não havia estratégia nenhuma por parte das investidas deles, claro, Hermione
não estava mais lá, mas eles estavam abusando de uma selvageria que Draco
compreendia por partir de Harry Potter. Aquela cicatriz dele sempre foi
impulsiva e burra. Esperaria o momento certo para recuá-los.

Sentou-se onde sempre se sentava. Negou uma bebida que um dos elfos
ofereceu e sentiu o tédio dominá-lo. Ah, como ele odiava essas sessões. Odiava
sobretudo porque era obrigado a estar lá. Ele poderia estar em casa, no fundo
de seu escritório particular, olhando seu quadro montado, pensando para onde
moveria suas tropas, tomando um bom whisky e escutando um jazz muito
suave num volume distante e tranquilizador.
Mas não.

Olhou no relógio.

Voldemort ainda se daria a importância se atrasar para aumentar as


expectativas de todo o público amontoado nas galerias e nos camarotes. Era
melhor que Draco encontrasse uma forme de se distrair com o próprio cérebro.

Viu Hermione entrar pelas portas da ala central. Estava impecavelmente


arrumada. Muito elegante e muito poderosa. Tão poderosa que quase fazia
parecer que os olhares de repulsa que recebia, eram olhares invejosos. Por um
rápido segundo apenas, Draco teve orgulho de saber que ela seria sua mulher.
Um segundo que passou quase despercebido e logo foi compensado pelo
verdadeiro fato dela ser uma sangue-ruim e um membro da resistência.

Ela colocou os olhos nele e parou. Soltou um suspiro evidente como se tentasse
convencer a si mesma de que tinha forças para ir até ele. E foi o que ela fez.
Sentou-se logo ao lado num assento talhado de madeira escura e negou a
bebida que um elfo a ofereceu. Corbray, um comensal do ciclo interno de
Voldemort a cumprimentou muito educadamente e aquilo surpreendeu tanto a
ela quanto a Draco. Hermione sorriu elegantemente em resposta e Draco
apenas assentiu com a cabeça quando o mesmo cumprimento foi direcionado a
ele. Não deixou de questionar-se o porque de toda aquela educação, mas logo
suas dúvidas foram sanadas quando o enxergou devorando Hermione com o
olhar ao beber de seu drink já a uma distância considerável.

Sentia-se incomodado demais por saber que ela chamava atenção dos homens.
Ela iria ser uma Malfoy! Ao menos respeito eles deveriam ter!

- Quanto tempo isso durará? – a voz séria dela tirou sua atenção de
Corbray. A olhou e ainda escutou a pergunta dela ecoar em sua mente sem
fazer nenhum sentido. Ele nunca havia reparado no quanto a voz dela era
suave, uniforme e fresca.

- Horas. – respondeu quase que inconsciente de sua resposta. Ela piscou e


desviou o olhar enquanto ajeitava-se na cadeira. Parecia haver algo estranho
acontecendo com ela. – Pensei que estivesse com minha mãe, porque ela não
veio com você?
- Eu estava. – ela respondeu enquanto passava os olhos pelas pessoas da
sala. – A Sra. Malfoy foi para casa. Seu pai parece estar lá, portanto ela julgou
pertinente que chegar com ele e não comigo seria muito mais bem esperado.

Ele sentiu vontade de revirar os olhos mas não o fez. Esperou ali em sua
cadeira ao lado de Hermione. Cada segundo, por mais rápido que pudesse
passar, para ele seria eterno. Apenas o incomodava que Hermione estivesse
incomodada e ele sabia muito bem o porque, e isso o alertava ao perigo que
era ter ela em uma das audiências no templo da catedral tão cedo.

- Não está pronta para isso. – pegou-se dizendo a ela. Logo teve um par de
olhos incrivelmente âmbar voltados para ele. Desde o dia de seu noivado ele
começara a reparar nela os atributos que a faziam ser tão bela e os olhos
obviamente eram um fator de grande peso.

- O que quer dizer? – ela indagou confusa e o movimento de seus lábios


chamou a atenção dele mais uma vez.

Aquilo fez com que a raiva o dominasse novamente. Odiava sentir que a
desejava. Depois que sentira a textura dos lábios dela, a sensação havia se
encravado em sua memória de tal maneira que sempre se via reviver o modo
como segurara aquele lindo rosto e de como a boca dela era macia e se
ajustava perfeitamente contra a dele. Céus, ele queria sentir o sabor dela!
Queria poder sentir a boca dela por inteira se movimentando contra a sua,
sentir sua língua quente, sua respiração perder espaço em seu rosto, suas
mãos pedirem urgência para abrir sua calça! Queria poder a ouvir gemer
debaixo de seu corpo e queria ela, Hermione Granger! Aquilo o devorava!
Maldita sangue-ruim! Merecia estar morta! Merecia que ele a possuísse e a
matasse!

- Não está pronta para ver o que verá hoje. Certamente fará besteira e isso
será problema para mim. – percebeu que sua raiva fazia com que a olhasse
com desprezo embora quisesse arrastá-la para seu quarto e arrancar sua
roupa.

Ela desviou o olhar e engoliu a saliva com dificuldade. Quando a olhava sentia
que ela estava tão longe da realidade de odiá-lo e desejá-lo. Ela era tão
convincente em expressar que odiá-lo bastava para repugná-lo em todos os
sentidos. Aquilo fazia com que ela fosse a única mulher que já conhecera que
não se encaixava nos padrões dele. Ela nunca havia claramente se oferecido
para ele, nem mesmo nunca havia fingido não o querer. Ela realmente nunca o
quisera e parecia não querer ainda mais.

Para Draco tudo isso era como um desafio. Ele queria aceitar. Provar que essa
moeda viraria e que ele a teria a rastejando aos seus pés tão cedo quanto seu
orgulho pudesse imaginar. Mas tudo que ele queria na verdade, tudo que
realmente desejava, era não se importar como nunca havia se importado.
Hermione sempre havia existido em uma realidade muito diferente da sua. Até
mesmo em Hogwarts. Era uma aluna muito bonita e bastante desejada,
principalmente quando abria a boca para agraciar todos em classe com sua
extrema inteligência, mas mesmo lá ela parecia tão fora de seu padrão que
nunca a considerou. Era uma sangue-ruim no final de todas as contas, ele não
estava perdendo nada. Além de sangue-ruim ainda andava com a corja de
Potter e se prestava ao ridículo namorando o mais estúpido dos Weasley.

Tudo mudara depressa demais quando Voldemort a transformou numa


comensal e aquela mulher passara a fazer parte do meio em que ele vivia e
como se não bastasse, carregando o anel de noivado de sua família. Hermione
Granger seria sua mulher, sua esposa, aquela que seria sua companheira para
a vida. Não! Ele não a queria! Ele a queria apenas por uma noite. Queria
usufruir de seu corpo, do sabor de sua boca, do som de seu gemido e nada
mais! Ele a queria como queria qualquer outra bela mulher. Apenas para sexo.
Nada de família!

- Tenho um coração, Malfoy, e sei que ele não irá me ajudar hoje. Sou
humana, tenho sentimentos e sei como expressá-los. Não sou nenhuma
máquina como vocês. Frios, calculistas, inexpressivos. – a voz dela chegou
baixa até ele. Ela tinha a visão focada bem longe da dele.

- Ouse soltar um suspiro na hora errada e saiba que o mestre o fará


responder por ele. – alertou a ela.

- E de que modo isso seria um problema para você? – ela voltou a encará-
lo.
- Sou responsável por você, se não se lembra. Eu deveria tê-la preparado
para hoje.

- Não se prepara ninguém para isso. – ela fez soar como se fosse um
absurdo usar dessas palavras.

- Explique isso ao Lorde e ele jamais compreenderia. – desviou seu olhar. –


As pessoas que estão aqui hoje acreditam na mentira que contamos a elas.
Pensam que você é uma de nós. Elas não hesitarão em desconfiar de você se
der a eles brechas para que possam.

Ela ficou um minuto em silêncio encarando as próprias mãos.

- Ele irá torturar pessoas, não irá? – indagou ela após seu silêncio.
- Ele sempre tortura. – respondeu.

Hermione prendeu o ar, fechou os olhos e tornou a abri-los depois de recuperar


o oxigênio. Então ela o olhou. Havia tanto sofrimento em seus olhos que ele
não conseguia entender como um ser humano podia ser tão expressivo como
ela, ou talvez ele vivesse em um mundo inexpressivo demais.

- Por favor, Malfoy. Não posso assistir a isso. Não posso. – ela suplicou. –
Não estou pronta.

- Nunca estará. – ele retrucou.

- Então é melhor que nunca me façam estar presente!


Ela quase riu.

- Não haveria propósito nos planos do mestre em torná-la uma de nós se


fosse viver apenas das regalias, Granger.

Ela soltou o ar frustrada e claramente enraivecida sem se importar em


esconder seu olhar sofrido.

Surpreendentemente, para Draco, não demorou quase nada para ver


Voldemort chegar acompanhado de sua tia Bellatrix, seu pai e sua mãe. Narcisa
mantinha seu braço unido com o do marido, mas Lúcio não fez muito questão
de continuar assim quando deslizou facilmente para longe dela e se anuiu ao
grupo de velhos amigos para uma rodada de whisky enquanto Voldemort fazia
questão de cumprimentar cada um em particular antes de anunciar a ordem
para a entrada.

Draco viu a mãe ter um segundo de perturbação quando ela mesma se


percebeu longe do marido e sem a companhia de Bellatrix que acompanhava
Voldemort como um cão acompanha seu dono. Ele não queria se levantar para
ir até ela, mas sentiu-se obrigado. Então agradeceu mentalmente Hermione
quando ela se levantou e foi até Narcisa. As duas pareciam bem próximas, mas
o modo como conversavam ainda era tão profissional, seco e sem emoção que
o fazia se questionar se era orgulho demais ou aversão demais que reinava
naquela relação.
- Soube que terá Hermione nas reuniões do seu conselho. – Voldemort
finalmente chegara até ele. – Tenho recebido reclamações por essa decisão
sua.

Draco achou interessante ver Voldemort pronunciar o primeiro nome dela com
tanta suavidade. Tinha a impressão de que seria o último a deixar de chamar
Hermione de sangue-ruim ou Granger.

- Pelo que bem me lembro a ordem que me foi passada era a de que ela
deveria ter conhecimento de todas as pretensões e movimentos do exército de
comensais. – Detestava quando Voldemort não era objetivo. Tinha sempre uma
mania insuportável se querer jogar o verde para conseguir colher do maduro.

- E devo confessar que teve uma excelente estratégia para cumprir essa
ordem. – confirmou o ofídico sem deixar de soltar um fraco sorriso. Ele
sentando-se na cadeira onde antes estivera Hermione e sua tia Bella sentou-se
no braço cercando o pescoço de seu precioso mestre. – Irá mantê-la a par de
tudo, mas não irá precisar dirigir a palavra a ela nenhum segundo.
- Esse é o ponto. – confirmou ele sentindo que o tédio daquela conversa
poderia levá-lo a cova.

- A evita de uma forma que não me agrada. – Voldemort finalmente foi ao


ponto.

- Iremos mesmo ter essa conversa aqui? – questionou ele.

- Não seja abusado, garoto! Escolha bem as palavras que usa com o seu
mestre! – exclamou sua tia autoritariamente.

Draco puxou o ar buscando paciência e lutou para não revirar os olhos. Não se
importaria se de repente sua tia explodisse e deixasse de existir. Odiava quem
o tratava por garoto. Não era mais garoto. Havia deixado de ser um há um bom
tempo. Deixou de ser garoto em Hogwarts ainda! Deixou de ser garoto quando
matou Dumbledore, o que sua tia obviamente nunca seria capaz de fazer.
- Por favor, Bella. – Voldemort foi paciente com ela. – Draco, como
pretende levar para cama uma mulher que detesta com tanta vontade?

- Eu não pretendo. – ele desejou ter aceito a bebida oferecida antes para
que pudesse se afogar no álcool agora. – Quem pretende que eu a leve é você,
mestre.

- E minhas pretensões são também as suas, afinal é meu comensal, não é?

- Não tenho a escolha de não ser, tenho?

Voldemort o encarou profundamente.

- Acaso se arrepende de ter feito a escolha errada quando pode?


- Não.

- Por que não, se faz parecer que sim?

- Não faço. Nunca fiz. A escolha de ser um comensal foi minha e nunca me
arrependi. Eu sou quem sou graças a minha escolha. Você me ensinou a ter
poder, a ser influente, a saber persuadir, a dominar, a ser temido. É o meu
mestre. Me deu um exército, me deu controle, me deu fama. Eu não teria nem
seria nada disso se não fosse por você e pela escolha que fiz. Sou apenas um
filho crescido, mestre, e todo filho crescido quer sua independência. – explicou
Draco.

Voldemort o analisou por um longo minuto.

- Não a terá. – ele concluiu.


Draco sorriu.

- Sei disso. Estou no processo de aceitação.

Voldemort o olhou de maneira desconfiada e Draco receou por isso. Não


deveria, afinal que ameaça alguém poderia ser a Lorde Voldemort? Talvez isso
estivesse se passando pela cabeça de seu mestre naquele exato momento.

- Fico feliz que tenha se tornado maduro para entender tudo isso. Sei que
posso tê-lo sempre ao meu lado. É alguém que me traz orgulho todos os dias. –
disse o ofídico. Draco lutou novamente para não revirar os olhos. Voldemort
sabia bem como bajular seus servos de alta patente para que o ego deles
sempre estivesse alimentado, mas Draco não se importava com isso
diferentemente de todos os outros comensais de seu mestre. – Estou prestes a
iniciar uma audiência aberta com Hermione presente. – mudou ele. – Ela tem
sido bastante obediente todo esse tempo, creio que tenha a alertado sobre os
riscos de cometer qualquer erro hoje.
- Sim. – respondeu Draco. – Ela tem sido bastante orientada quanto a isso,
mas devo dizer que é um grave risco levá-la a uma audiência aberta. Ela não
está pronta.

Voldemort sorriu. Aquele seu sorriso de prazer quando ouvia os gritos de seus
inimigos sob tortura.

- Por que acha que ela não está pronta? Não viu como ela se adequou
perfeitamente a Brampton Fort? Meus comensais e protegidos estão até
passando a gostar bastante dela.

- Ela foi obrigada a se adequar. Estava sobre ordens e ameaças. Qualquer


um se adequaria. Sabe bem que ela não está pronta. Granger pode estar entre
nós, mas ela nunca será uma de nós. Será capaz de mantê-la aqui, obediente e
calada, apenas enquanto souber ameaçá-la certeiramente.

Dessa vez Voldemort riu e se levantou.


- Ah, Draco. – passou os braços em torno da cintura de Bellatrix. – Você é
inteligente, mas não o suficiente para entender que tenho cartas na minha
manga para mantê-la aqui sobre nenhuma ameaça. Quando menos esperar
verá que ela será uma de nós. Eu a libertarei e ela irá escolher ficar
exatamente aqui onde está. Conosco. Mas não se preocupe, Draco. São
investimentos a longo prazo. – sorriu. – Por hoje só faça o seu papel e cumpra
as responsabilidade que passei a você quando a entreguei em suas mãos.
Mantenha seus olhos nela. Eu adoraria castigá-la por qualquer mínimo erro que
cometesse. – deu as costas e partiu para a roda onde se encontrava seu pai.

Draco odiava quando Voldemort não compartilhava suas estratégias e tinha a


ligeira impressão de que estava envolvido em todos os planos que o faziam
sorrir para Draco como se ele tivesse voltado a ser o garoto de Hogwarts. Não
estava gostando daquilo. Não estava já fazia um bom tempo.

**

A pesada porta do salão principal era de madeira maciça reforçada com


enormes chapas de aço. Rangiam como um leão rugia e eram lentas, mas
anunciavam a tão esperada entrada do maior imperador que mundo bruxo já
teve.

Draco pode vislumbrar as galerias lotadas e todos os camarotes ocupados


quando Voldemort se colocou em movimento e ele o seguiu. Enquanto
cruzavam o salão, todos adotavam um silêncio sepulcral. Ao seu lado ele tinha
Hermione, logo atrás vinham seu pai e sua mãe juntamente com a linha de
frente do ciclo interno de comensais, incluindo Severo Snape. A sua frente
havia apenas Bellatrix e a frente dela estava o seu glorioso mestre.

Não era uma tarefa fácil cruzas todo o gigantesco salão enquanto o barulho dos
sapatos contra o mármore ecoavam pelo silêncio. Teve tempo o suficiente para
se concentrar em não olhar para o rosto de nenhuma pessoa nem ter interesse
sobre aquelas partes do ambiente. Continuou a andar e estudar bem a nova
ordem de assentos nos patamares do trono. Havia sido mudado depois de todo
o discurso de Voldemort em seu noivado.

Obviamente o nível mais alto era destinado a cadeira do mestre. Consistia num
enorme trono fundido de cobre e ferro, com esmeraldas e moldes de pequenas
serpentes. A peça era embelezada pelo gigantesco vitral ao seu fundo e Nagini,
que já jazia quieta enroscada nos pés do trono a espera de seu amado dono.

Um patamar abaixo do de Voldemort, ao lado esquerdo do nível maior, estava a


cadeira única de Bellatrix. Não havia ninguém que ocupasse o lado esquerdo
que não fosse ela. Do lado direito, no mesmo nível do patamar de Bellatrix,
havia sua cadeira e a de Hermione. Do seu lado, porém um nível abaixo, estava
a cadeira de seu pai e sua mãe. Então havia um pulo de quase três níveis e ali
estava um patamar grande que abrigava as fileiras das cadeiras do ciclo interno
de comensais seguindo a linha de prioridade onde os mais importantes
ocupavam as fileiras da frente e os menos, as de trás.
Todos os lugares foram ocupados sem qualquer confusão. Draco gostava de se
sentir importante e o lugar que ocupava era definitivamente alto o bastante
para que ele se sentisse bem satisfeito quanto a isso. Só queria ocupar o seu
patamar sozinho, mas tudo bem que fosse obrigado a dividi-lo com Hermione.
Ela estava especialmente bela e querendo ou não, era uma boa propriedade
para se expor.

Voldemort começou a discursar sentado em seu trono. O silêncio era tão


grande que ele não precisava sequer aumentar a voz. As palavras dele
duravam e se estendiam até quase parecerem infinitas e foi naquele momento
que Draco se desligou como sempre se desligava. Não tinha paciência para
aquilo.

Geralmente lembrava-se de como ficava maravilhado com os discursos de


Voldemort quando havia se tornado comensal. Ria de sua ingenuidade hoje.
Aquelas palavras de seu mestre eram tão vazias quanto o vento. Tinham o
único objetivo de atingir seu povo que ainda vivia na ingenuidade. Voldemort
não pensava em nada além de ter poder e momentos como aquele eram
importantes para se manter onde estava. As pessoas pareciam não entender.
Talvez elas achassem que Voldemort realmente se importava em construir um
mundo de raça pura, soberana e claro que ele queria construir, mas apenas
para estar no comando de tudo. A verdade era que todos ali se relacionavam
por interesses. Esse era o mundo afinal. O interesse estava acima de qualquer
valor.

Aquilo durou horas talvez. Conseguiu prestar um pouco mais de


atenção apenas quando trouxeram um dos prisioneiros mais antigos para
dentro do salão. Voldemort ainda continuou a discursar enquanto descia as
escadarias de seu trono e passava a circular o coitado largado no chão. Já havia
sido tão torturado que perdera a sã consciência. Era um prisioneiro
insignificante, mas ele inaugurara as masmorras da catedral e o mestre parecia
ter algum certo tipo de afeto por manter um louco vivo. Talvez tivesse algum
valor sentimentalmente insano naquilo tudo.

Draco voltou a acordar de vez quando Voldemort chutou seu prisioneiro e ele
conseguir perceber Hermione se retrair em sua cadeira. A olhou de imediato e
viu que os olhos dela ziguezagueavam por aquela cena como se quisessem
gritar o quanto tudo aquilo era um absurdo.

- O conhece? – Draco perguntou.

Ela levou seus olhos âmbar a ele e ajeitou-se em sua cadeira como se tivesse
sido pega em flagrante.

- Não. – respondeu usando uma voz rouca.

- Então por que age como se devesse defende-lo?


Hermione cerrou os olhos como se não estivesse acreditando em sua pergunta.

- Porque ele é inocente! – respondeu ela como se não houvesse nada mais
óbvio no mundo.

Draco soltou um riso fraco não acreditando que ela havia dado aquela resposta.

- Granger, acaso a Ordem da Fênix julga inocentes os comensais que


capturam? – ela não respondeu e o silêncio dela bastou. – É o mesmo princípio.
– piscou calmamente e voltou a encarar Voldemort em seu discurso. – É melhor
se acostumar rápido porque temos um número significativo de prisioneiros que
possa conhecer e eu a quero bem quieta se algum deles for trazido para cá.

Ela ficou tão quieta que ele até pensou que ela pudesse ter prendido a
respiração, mas não foi o suficiente para que o fizesse se desconectar
novamente daquela tediosa audiência. Voldemort parecia ter um bom plano de
discurso e logo todo o público que ele tinha começou a interagir em
concordância ao que ele dizia quando as ironias do mestre provocaram risadas
de deboche dos ocupantes das galerias e camarotes. Mais prisioneiros foram
trazidos e o interrogatório começou.

Draco não voltou a olhar Hermione, mas sabia que ela estava quieta e em
silêncio assim como deveria ficar. Entre os quatro novos prisioneiro ela
conhecia um e ele sabia que ela conhecia porque ele havia sido um membro da
Ordem antes de ter sido capturado numa de suas vigias no centro de Londres.
O longo olhar que ele lançou a ela também o denunciou.

Foi um longo interrogatório onde Voldemort poupou por um bom tempo o uso
de maldições imperdoáveis. Mas obviamente seu mestre não podia manter toda
aquela paciência por um bom tempo e quando nenhum deles abriu a boca para
dizer coisas úteis as torturas começaram. Os gritos e os moribundos se
contorcendo no chão era algo tão normal para Draco que ele quase poderia
palitar os dentes enquanto assistia a tudo aquilo.

A plateia se indignava junto com Voldemort quando as informações não


conseguiam ser retiradas e incentivavam o mestre a aumentar toda a tortura.
Mas por decência, Voldemort estava sendo manso. Ele sempre guardava rituais
perigosos, estupro e sangue para as audiências fechadas. O que era um ponto
a favor de Hermione.

Mas ela parecia não considerar isso já que não tinha idéia dos absurdos de uma
audiência fechada. Draco a olhou e a viu estática com os olhos brilhando,
cheios de dor e cheios de horror. Cada vez que um grito ecoava pelo átrio do
salão ela se retraia como se a maldição pudesse atingi-la.

- Granger, assim as pessoas irão te notar. – ele tentou alertar.

Ela sequer notou que ele havia dito algo. Seus olhos expressavam avidamente
o choque de tudo aquilo e ela nem mesmo lutava para esconder. O prisioneiro
da Ordem a olhava sempre que suas torturas acabavam e só desviava quando
outra começava.

Hermione apertava com força os braços da cadeira como se tentasse descontar


ali qualquer poder de manifestação reprimido. Draco a viu começar a ofegar
quando o prisioneiro começou a se movimentar na direção da escadaria do
patamar que dividiam. Voldemort o deixou ir e apenas intensificou a tortura
sobre ele fazendo com que Draco percebesse imediatamente a provocação.

O caminho foi difícil para o vigia capturado. Cada degrau que ele avançava era
uma nova tortura, uma dor diferente, um grito mais sofrido, mas o olhar de
determinação que ele tinha para chegar até Hermione era claro e mesmo que
Voldemort o interrogasse cada vez mais alto, o capturado o ignorava. Para ele
era como houvesse apena ela naquele salão.
Draco já havia se ajeitado em sua cadeira sabendo que seria surpreendido pelo
que quer que fosse acontecer. Por que diabos Voldemort provocava Hermione
na frente do seu público? Ela obviamente não se controlaria por muito tempo e
ele tinha a pequena impressão que Voldemort desejava pelo momento que ela
fosse cometer seu primeiro erro.

Ele quer castigá-la.

- Ele não sabe! – Hermione exclamou abrindo finalmente a boca fazendo


sua voz soar rouca e fraca porém audível o suficiente para que ecoasse por
todo o salão. – Ele diz a verdade quando fala que não sabe! – reafirmou ela
para as incessantes perguntas do interrogatório de Voldemort.

- E de que maneira sabe disso, minha querida Hermione? – aquilo fez


murmúrios correrem pelo salão.

- Foi capturado antes de passarem qualquer informação a ele. – ela


responder rapidamente como se aquilo tivesse o poder de fazer Voldemort
parar com suas torturas e realmente tinha, mas havia sido um grande erro
dela.
- Então está me dizendo que ele é inútil para mim? – Voldemort perguntou
pausadamente.

Hermione ficou calada por um segundo enquanto encarava o prisioneiro que


estava a poucos degraus de finalmente chegar aos pés dela.

- Estou dizendo que ele apenas não sabe. – ela disse.

- Está me dizendo que ele é inútil. – concluiu Voldemort e girou a varinha


entre os dedos. Draco sabia o que aquilo significava e temeu pela reação de
Hermione. A varinha de seu mestre foi apontada para o moribundo tentando
subir o último degrau. – Avada Kedavra!

- NÃÃO! – Hermione se levantou no momento em que a maldição o atingiu


e foi capaz de segurá-lo antes que ele desmoronasse contra o mármore.
- Isso é o que eu faço com prisioneiros inúteis! – Voldemort exclamou
avivado por ter matado um inimigo e o público pareceu tão vivificado quanto. –
Gosto de ter vaga nas masmorras para prisioneiros que me servirão de algo! -
Hermione havia se entregado ao choque. Olhava estática o antigo companheiro
nos braços. – Tirem o corpo desse imundo daqui! – ordenou Voldemort e sua
ordens foram atendidas com agilidade.

- Granger. – Draco tentou chamar a atenção dela para que deixasse o


corpo que tinha em mãos mas ela pareceu não escutar.

Os serviçais de Voldemort subiram todos os degraus e tomaram o corpo.


Hermione não fez nenhuma objeção. Se levantou e Draco viu as lágrimas nos
olhos dela junto com a raiva bem guardada que tinha. Por um segundo ele
pensou que ela fosse avançar contra Voldemort quando passou a descer
rapidamente a escadaria de seu patamar, mas ela desviou o caminho,
escancarou a porta lateral e saiu do salão.

Draco viu os olhos de Voldemort o focarem como se estivessem lhe dando


ordens. Bufou e se levantou. Seu mestre sabia que aquilo aconteceria e era
aquilo que queria. Desceu e foi atrás de Hermione. Passou pela mesma porta
que ela e a encontrou andando apressada pelo enorme corredor que saía da
ala. Apressou-se par emparelhar seu passo com o dela.
- Granger! – a chamou e ela não deu importância continuando seu
caminho. Ele conseguiu alcançá-la facilmente e a segurou pelo braço com a
força da raiva de ter sido ignorado mas quando viu o rosto dela banhado pelas
lágrimas que escorriam dos olhos ele se viu a soltar quase que imediatamente.
Não era acostumado com aquele tipo de emoção. – Que diabos foi aquilo? A
ordem era...

- Me manter calada? – ela o cortou. A raiva ainda estava em seus olhos


juntos com a dor e as lágrimas. Ela era tão bonita daquele jeito como era de
qualquer outro. – Fiquei calada por tempo demais! – a voz era rouca e
carregada de sofrimento – Não sou nenhuma pedra como todos vocês! Acha
que a Ordem usa qualquer tipo de tortura como essa para conseguir
informações dos comensais que capturamos? Nós somos humanos! Não vemos
alegria nenhuma em torturar alguém! Quem quer que ela seja! – ela soluçou e
pareceu se odiar por isso – Eu o conhecia, Malfoy! Eu conhecia aquele homem
que vocês mataram! Era uma boa pessoa! Tinha uma família! A mulher dele e a
filha sofrem desde que ele sumiu! Você sabe o que é uma família, Malfoy? Uma
família feliz? Uma família com amor? Um família onde um se importa com o
outro, onde um toma conta do outro e um protege o outro? Me parece que não!
– ele deixou que ela esvaziasse a raiva e ela o fez. Calou-se e o encarou como
se esperasse que ele tivesse alguma reação as palavras dela mas ele não teve.
O que ela esperava que ele fizesse afinal? – Não tem sentimento nenhum,
Malfoy? – a voz dela foi como um sussurro agora.

- Quer que eu chore por ele como você? – sabia que estava sério como
uma pedra.
- Não. Deveria apenas sentir muito pela perda de um marido e um pai!
Aquele homem se arriscava para proteger a família! Ele só queria proteger a
família! Agora a família não o tem mais.

- Esse é o sentimento da família dele, não meu. – tornou a segurá-la pelo


braço e passou a avançar pelo corredor.

- Me solte!

- Não.

- Não tem coração! – ela cuspiu. – Ele te tirou o coração quando o


transformou em comensal! Te transformou em um assassino! Te tirou a alma!
Te arrancou o sentimento! Eu me lembro de alguém diferente em Hogwarts.

- Eu era uma criança em Hogwarts. – respondeu calmamente.


- Uma criança que não teria se transformado no que é se tivesse tido um
destino diferente! – exclamou ela.

- E graças a merlin não tive. – disse aquilo pareceu ser suficiente para um
ponto final a ela e ele agradeceu.

Continuaram a seguir em silêncio pelo corredor. Soube para qual sala levá-la.
Precisava de algum de seus homens e quando chegou a antecâmara do átrio lá
estavam exatamente quem precisava. Ele quase riu por saber que Voldemort
esperava tanto pelo erro de Hermione que já havia organizado tudo.

- Ela já está aqui? – perguntou a um dos homens e soltou Hermione.

- Sim. – respondeu ele.


- Certo. Tragam-na. – ordenou Draco e o outro sumiu para dentro da
segunda sala obedientemente.

- O que pretende fazer? – Hermione perguntou confusa. Draco não quis


respondê-la. Não quis porque por algum motivo dobrar o sofrimento dela
parecia... desumano. – Draco. – ela o chamou pelo nome e ele não conseguiu
evitar olhar para ela ao ser surpreendido. Ela era esperta. – O que pretende
fazer? – tornou a perguntar mais pausadamente.

Ele não queria responder, mas ela fazia tanta questão que ele se sentiu sem
alternativas para se manter mudo.

- Diz que eu não tenho um coração. – desviou o olhar sentindo-se


incomodado por alguma razão. – Vou te dar essa certeza.

E foi exatamente quando voltaram carregando Luna Lovegood amordaçada. Os


olhos de Hermione abriram-se e ela imediatamente se colocou em movimento
para alcançar a amiga, mas Draco ordenou que a segurassem e assim foi feito.
Hermione se debateu contra o homem que a segurou e olhou para Draco em
desespero.
- Malfoy, por favor, não faça isso! – implorou ela.

Ele fingiu que não a escutou. A verdade era que ela deveria agradecer o que ele
estava fazendo. Nunca gostou daquilo, nunca gostou de sofrimento, nunca
gostou de ver ninguém sob tortura, gritos, dor, sangue. Nunca! Não via prazer
nenhum naquilo como muito dos comensais viam. Mas o que ele poderia fazer
se Voldemort jogara nas mãos dele a maldita da responsabilidade sobre ela.

Aproximou-se e parou bem a sua frente. Os olhos lindos e assustados dela o


fitaram.

- Por favor, não faça isso! – ela implorou chorosa novamente. – Não faça!

- Espero que esteja consciente, Granger, que isso irá acontecer apenas por
sua culpa. – ele foi frio, seco e objetivo. Como deveria ser. – Se erra , é
punida. Já havia ficado bastante claro para você.
Ela soluçou.

- Por favor. – sussurrou e as lágrimas escorreram novamente.

Draco a olhou por um longo segundo. Parecia tão errado fazer mal a ela. Ela
era como um pequeno passarinho indefeso, mas Draco sabia que por trás
daquela inocente face angelical havia a culpa das maiores perdas de seu
exército. O cérebro fascinante de Hermione Granger.

Deu as costas, lançou um olhar ao homem que segurava Lovegood e aquilo


bastou para que ele a jogasse no chão, apontasse sua varinha a ela e
começasse a torturá-la.

Hermione gritou junto com a amiga e chorou. Draco cruzou os braços para
aquela cena sentindo que não poderia se desligar daquilo até que acabasse. O
incomodo se instalou em suas veias querendo deixa-lo inquieto e ele se
concentrou.
Hermione começou a gritar que parassem. Pediu para que a torturassem ao
invés de Luna e Draco questionou a sanidade da mulher. Ela queria trocar de
lugar com Luna! Era louca? Talvez devesse jogar a maldição sobre ela por
alguns segundos para ver se ela queria mesmo trocar de lugar.

O torturador de Luna era da divisão de armamento do seu Q.G. e ele era


definitivamente um dos comensais que sentiam-se renovador ao torturar
alguém. Draco já havia ministrado alguma das aulas para calouros dessa
divisão e uma aula básica já ensinava a dominar cruelmente um inimigo a
partir da maldição imperius. Hermione parecia sentir cada dor que aquele
homem fazia Luna sentir e Draco começou a se incomodar demais com toda
aquela gritaria, toda aquela dor, e toda aquela crueldade.

- Basta! – ordenou audivelmente sobre toda a confusão e o torturador


parou sem evitar esconder sua insatisfação. Hermione pendeu sem forças
ofegante sendo segurada por um dos outros homens e Luna ainda gemia no
chão pelos resquícios da maldição. O silêncio foi renovador e mandou embora
toda a sensação de desconforto que o impediu de assistir aquela sessão como
assistia as de Voldemort. Draco não podia ser alguém perfeitamente justo, mas
sabia que o que Hermione havia feito não a fazia merecer ser castigada. Ela
tinha sido bem obediente até então e claramente havia se rendido as
provocações de Voldemort, nada mais. – Estão dispensados desse serviço. –
disse aos seus homens
- Mas senhor, ainda....

- Conteste minhas ordens mais uma vez e deixará de prestar qualquer


serviço para o meu exército. – Draco cortou o torturador. – E essa é uma
segunda chance.

- Sim, senhor. – o homem pareceu arrepender-se de imediato.

- Então tire-a daqui e a leve de volta as masmorras. – disse Draco.

O homens pôs Luna novamente de pé e a arrastou pelo caminho de volta.


Hermione foi solta e correu até a amiga, mas bateu contra a porta que se
fechou a sua frente impedindo-a se conseguir chegar a ela em tempo. A
frustração a levou ao chão e ali ela ficou até a sala ser esvaziada.

Draco a observou por um bom tempo. Ela não se moveu. Parecia a mais
destruída das mulheres mesmo vestida com aquela fina roupa, com os cabelos
bem penteados, perfumada. Olhá-la ali era como ver a Hermione que por trás
da postura orgulhosa que ela mantinha todos os dias dentro daquela catedral.

Foi até ela e abaixou-se ao seu lado. Viu que as mãos frouxas dela tremiam.
Ela não ergueu os olhos para ele. Ele quis afastar uma mexa do cabelo dela que
havia saído do alinhamento do penteado, mas precisou abrir e fechar sua mão
para não encostar nela.

- Apreciou bem o que acabou de ver? – a voz dela foi baixa, fraca e rouca.

- Não. – respondeu usando seu mesmo tom de voz contínuo.

- Eu o odeio. – disse cheia de desgosto.

- Fiz a você o favor de não ser Voldemort a lhe aplicar esse castigo. Tenha
certeza de que ainda estaria gritando se fosse ele a torturar sua amiguinha
lunática.
- Não tenho palavras para agradecer. – ela foi irônica.

Havia tanta dor e tanto desprezo em cada palavra que ela dizia que Draco
sentia que não seria capaz de tocá-la nem que Hermione fosse obrigada a
aceitar. Se antes ele sabia que ela o odiava, agora ele tinha essa certeza.
Quase a agradeceu por ela não estar o olhando. Certamente quando ela o
fizesse enxergaria um monstro e ele não estava pronto para receber aquele
olhar de uma mulher.

- Tem dez minutos para tomar de volta o seu lugar no salão principal. – ele
levantou-se. – Dessa vez estou certo de que ficará quieta e calada até o fim. –
deu as costas e a deixou.

6. Capítulo 6
Hermione Granger

Abriu os olhos e encontrou a claraboia alta de Whitehall exibindo uma luz


cinzenta e esverdeada. A voz de Draco Malfoy discursando para o seu exército
encheu seus ouvidos segundos depois.

Suspirou.

Estava atrasada.

Não se importando muito com isso levantou-se sem pressa e se colocou a


cumprir seus deveres. Tomou um bom banho e dispensou vestidos aquele dia
embora ainda fosse obrigada a usar uma longa calça fina e solta juntamente
com uma blusa que combinasse, colares, brincos e o salto. Se olhou no espelho
e julgou tudo muito social, mas não se importou também.
Voltou ao quarto o encontrou a mesa posta de frente a grande fachada de
janelas. Tryn não estava lá, mas Hermione desejou que ela estivesse. Gostava
da companhia da elfa mesmo que a criatura se negasse a manter uma boa e
amigável conversa. Abriu as cortinas e encontrou o exército de Voldemort se
dispersando do pátio. Sentou-se e fez seu prato para o desjejum.

Comeu e ficou encarando o pátio vazio por um bom tempo. Queria que tudo
parasse e ela pudesse ficar ali, sem ter que cumprir com nenhum obrigação,
sem ter que se casar, sem saber de nenhum plano estratégico de Voldemort.
Mas o tempo não parou e ela foi obrigada e se colocar de pé. Caminhou pelo
quarto evitando sair pela porta e acabou por sentar-se novamente, mas dessa
vez em sua escrivaninha.

Já havia organizado da melhor forma possível todos os seus livros, papéis e


cadernos, mas ainda assim não era capaz de evitar manter uma certa
desorganização, porque aquela era a única forma de manter escondida para si
mesma as imagens que não conseguia jogar no lixo.

Puxou uma delas e a encarou. Lembrou-se de ter permanecido quase uma hora
da noite anterior olhando aquela foto. O quanto estava linda naquele vestido.
Nunca imaginou que pudesse ficar tão bonita. Mas aquilo era o mínimo a se
prestar atenção. Ela estava beijando Draco Malfoy. Ou Draco Malfoy estava a
beijando. Não fazia diferença. Estavam se beijando.
Não gostava de pensar dessa forma. Não gostava de usar o termo “beijar” em
sua cabeça. Aquilo era só a boca de Malfoy e a dela, lutando pelo mesmo
espaço. Pensar assim a tranquilizava, mas cedo ou tarde a palavra “beijar”
voltava a lhe rondar a mente.

Lembrou-se de ter acordado na manhã seguinte de seu noivado e ao invés de


pensar em Harry, ela pensou em Draco. Não de maneira amável, afetiva ou
calorosa, mas pensou na companhia dele. Fora obrigada a ficar com ele muito
tempo durante toda a festa e quase todos os dias quebravam o jejum juntos no
jardim interno da catedral. A companhia dele havia se tornado familiar assim
como a de Narcisa, e de certa forma estar com um deles era aquilo de menos
pior que poderia existir em Brampton Fort. Pensou isso até ter sido arrastada
para dentro de uma sala e ter escutado a voz de Malfoy autorizando a tortura
de Luna.

Desde então olhar aquela imagem era como não ver a si mesma. Tentava se
convencer que não era ela. Se perguntava todos os dias a quem deveria
implorar para que não fosse ela. Não fosse ela beijando Draco Malfoy naquela
foto. Não fosse ela carregando aquele anel. Não fosse ela quem viveria com ele.
Não ele. Ela preferia ser entregue a outro. Qualquer outro. Mas não ele. Por
que? Por que aquele castigo?

Amassou a foto e a jogou no lixo mesmo sabendo que antes de dormir a tiraria
de lá. Levantou-se e se arrastou para fora do quarto. Foi obrigada e recompor a
postura assim que cruzou com a primeira pessoa da catedral. Já não a olhavam
como antes, agora todos se resumiam a simplesmente ignorá-la. Era um alívio.

O caminho que deveria seguir já havia sido feito, mas somente até a entrada
da ala do Q.G. Nunca havia passado do toten de entrada e dessa vez ela faria.
Ninguém a guiaria, mas Tryn e Narcisa já haviam lhe explicado o caminho uma
dúzia de vezes. Estava mais curiosa com o que veria do com receio de se
perder e foi exatamente a curiosidade que a surpreendeu.

Era realmente uma unidade de tratamento militar. Embora ela não tivesse
seguido para a entrada dos departamentos de treinamento, as placas que
direcionavam os caminhos para cada um deles informavam o quão provido de
ordem eles eram. Isso a fazia se arrepiar. A casa dos Black não passavam de
três pavimentos e grandes anexos feitos depois da mudança definitiva da
Ordem para lá. Eles estudavam magia legal e discutiam depois do jantar cada
movimento que deveriam fazer, tentavam solucionar cada problema que lhes
eram lançados e se perguntavam sobre os partidos do exército de Voldemort.
Haviam crescido, aprendido e se tornado bons lutadores a partir dos erros que
haviam cometido e das perdas que haviam sofrido. Ninguém nunca havia os
treinados, não davam a eles discursos de incentivo pela manhã nem montavam
hierarquias e departamentos com treinamentos para áreas específicas. Que
esperança a sala de Jantar dos Black teriam contra Voldemort e seus
seguidores? Nem mesmo escondida a Ordem estava, porque até mesmo o
Ministro da magia sabia onde estava a sede. A Ordem gastava mais tempo e
tinham mais dor de cabeça protegendo a eles mesmos do que tentando matar
Voldemort. Que esperança tinham?

Tomou o elevador e esperou até chegar ao último andar. Era um espaço


pequeno com carpete, pé direito baixo e papéis de parede escuro. Estava
silencioso e vazio. Ela andou pelo corredor até subir uns degraus logo ao fim.
Entrou em um hall e lá encontrou a porta descrita por Tryn. Era grande, de
duas folhas e madeira talhada em serpentes. Hermione parou a sua frente e se
questionou se estava pronta.

- Entre. – a voz de uma mulher lhe chamou atenção e Hermione se virou


para encontrar com uma oriental bem vestida, maquiada e perfumada. Ela
estava de social embora a roupa colasse em seu corpo como se fosse uma
segunda pele. Os cabelos negros eram escorridos e paravam em seu queixo.
Olhos estreitos e boca rosada. Por alguma razão Hermione desconfiou o motivo
dela ser a secretária daquele lugar e aquilo não a agradou. – Eles estão
esperando por você. – a mulher saiu de detrás de sua mesa. – E está atrasada.

- Sei disso. – Hermione escolheu dizer calmamente.

- Então o que está esperando para entrar? – retrucou a mulher.

- Estou esperando você dizer o que tem para dizer me olhando dessa
forma. – disse Hermione.
A oriental sorriu um sorriso desdém e cruzou os braços.

- Será a futura Sra. Malfoy, não é? – aquele sorriso divertido nos lábios
dela irritou Hermione. – É sortuda porque estará na cama de Draco Malfoy
todos os dias, se que saber. Aliás, provavelmente já deve saber o tamanho
dessa sorte.

- Não sei. – Hermione apressou-se a dizer. Não queria que ninguém tivesse
na cabeça que ela já havia divido uma cama com Draco.

A mulher riu.

- Me parece até que não o quer.

Hermione se irritou.
- Não o quero. – disse mesmo sabendo que deveria não dizer.

A mulher ergueu as sobrancelhas surpresa.

- Não? – aproximou-se de Hermione. – Toda mulher o quer. Toda. – frisou


– Talvez você o queira e ainda não conseguiu descobrir. Não conheci nenhuma
mulher na minha vida que não o quisesse. É melhor tomar cuidado, porque eu
não vou me importar com o dia em que ele aparecer com uma aliança no dedo,
e acredito que ele também não se importará.

Hermione sentiu o sangue em suas veias borbulhar.

- Pode tê-lo quando quiser. – foi séria. – Tem minha permissão para isso. –
acrescentou e suas últimas palavras não agradaram a outra mulher. Deu as
costas, abriu a porta e entrou na sala do conselho.
Toda a mesa parou de discutir o que quer que estivessem discutindo para
recebê-la com olhares irritados. Ao menos Hermione sabia que estava
retrucando com o mesmo olhar.

- Não sabe bater antes de entrar? – um dos homens da mesa pôs-se a


falar. – Isso é uma reunião particular.

Hermione queria poder ser cínica mas escolheu apenas ser rebelde.

- Não pedi para estar aqui. – fechou a porta atrás de si.

- Está atrasada. – a voz de Draco inundou seus ouvidos. Ele estava sentado
na ponta da longa mesa.
Hermione simplesmente o ignorou. Não conseguia olhá-lo, muito menos
respondê-lo, mesmo que fosse para provocá-lo, ofendê-lo ou ser rebelde. Não
conseguia suportar a idéia de que ele existisse. Não depois do que ele havia
feito. Não depois de ter sido obrigada a ver Luna ser torturada. Por ordens dele.

Andou para tomar o assento da outra ponta da mesa. Queria estar o mais
distante possível. Já bastava ter que estar próximo demais quando tomavam
café da manhã ocasionalmente no jardim inteiro na catedral.

- Deveria adestrá-la melhor, Draco. – um dos homens da mesa comentou.

- Não me diga o que fazer com minha noiva, Maine. – Draco retrucou
irritado. – Ela não é nenhum animal.

- É uma sangue-ruim. – outro comentário veio da boca de outro homem.


- E sangues-ruins não se sentam nessa mesa. – mais outro comentário.

Hermione gostou de arrastar sua cadeira e se sentar como uma rainha toma
seu trono após ter escutado aquelas curtas palavras.

- Não sentam mesmo? – provocou. – Podem me expulsar daqui se é o que


querem. Eu adoraria.

- Ninguém irá expulsá-la. – Draco fez soar autoritário e o silêncio veio em


seguida. – Ela está aqui sob ordens e ninguém irá tirá-la daqui. – acrescentou -
Devem ir ao mestre para contestar as decisões que ele toma. – Ninguém o
respondeu. Ele olhou para cada um com se tentasse dizer a eles que todos
estavam de aviso prévio, então chamou sua secretária: – Naomi. – Num
segundo a oriental entrava pela porta e se postava ao lado de Malfoy. – Onde
está Viktor?

Hermione ergueu os olhos com atenção.


- Tive informações que ele voltou a Brampton Fort pelo portão norte há
pouco mais de cinco minutos e tomou uma carruagem para a catedral, senhor.
– respondeu ela usando um tom de voz cantado e sedutor.

- Teremos que tolerar para sempre os atrasos dele? – resmungou um dos


homens.

- Precisamos dele. – respondeu outro.

- Obrigado, Naomi. Pode nos deixar. – Draco disse a secretaria sem sequer
lhe dar muita atenção. - A mulher deixou a sala. – Vamos esperar por ele. –
decretou.

Houve um resmungo baixo em algum canto da sala.


- Ele está sempre atrasado quando diz que participará do conselho! –
comentou um homem.

- Ele é um espião de valor e iremos esperar por ele sempre que necessário.
– Draco disse já usando um tom cansado.

A aquela altura Hermione já sabia bem de que Viktor se tratava aquele.

- Draco. – uma voz tão cansada quanto a dele surgiu. – Temos uma turma
que se formará em dois meses.

- Quantos? – Draco perguntou.

- Onze homens e três mulheres.


- Estamos formando poucos.

- Mas estamos formando gente qualificada. – outro dos homens entrou


para a discussão.

- Quantos aplicaram para o exército? – perguntou Draco ignorando o outro.

- Cinco apenas.

Malfoy ficou em silêncio por um minuto. Passou a mão pelos cabelos a abaixou
a cabeça.
- Temos de forçar todos a aplicarem para o exército. – tornou a dizer o
outro homem.

- Não se ganha lealdade pela força! – Draco tornou a falar e dessa vez
havia um fundo de irritação em sua voz.

- Temos de fazer com que queiram aplicar para o exército durante o


programa de treinamento. – sugeriu um dos homens.

- O programa já está montado com essa finalidade! – interveio Draco


novamente.

- Temos de ordenar que reformulem o programa se ele não está cumprindo


a finalidade. – disse a voz cansada.

- O que há de errado com o sistema, afinal?! – Draco estava irritado, mas


não se exaltou.
- A Guerra está ganha. – alguém disse.

- A guerra está quase ganha! – corrigiu outro homem. – Potter ainda está
vivo. A guerra nunca estará ganha enquanto ele estiver vivo carregando aquela
maldita profecia! – praguejou o homem. – Mas Draco tornou o mundo estável
demais. As pessoas acreditam que agora podem ter a chance de voltar para
suas casas após o programa de treinamento e defenderem os fortes do mestre
pelo mundo enquanto desfrutam do conforto e da segurança de suas muralhas.

O silêncio veio logo em seguida. Draco parecia pensar e todos respeitavam


aquilo muito calmamente.

- Ordene que reformulem o programa. – disse finalmente embora não


parecesse nem um pouco satisfeito com isso. – Quero ter acesso a todo o
processo de reformulação e as atas de todas as reuniões. Trocaremos o diretor
e semana que vem vou precisar que vocês me tragam indicações para o lugar.
Pensarei mais sobre isso em casa. – ele finalizou e ninguém contestou ou
resmungou. – Naomi. – chamou novamente. Dessa vez a oriental demorou
alguns segundos amais para aparecer, mas quando abriu a porta veio
acompanhada de Viktor Krum.
Hermione prendeu a respiração assim que o viu. Definitivamente ela não estava
pronta para aquilo.

- Peço desculpas pelo atraso. – Viktor estava eufórico e havia um ar de


preocupação em sua expressão. Ele se apressou para tomar uma cadeira
enquanto Draco pedia algo para sua secretária e a dispensava. – Consegui
algumas informações hoje antes de sair da Ordem. – Hermione sentiu que seus
olhos não conseguiam sequer se mover de cima dele. – Vão parar com todos os
ataques e intensificar as rondas em Londres. Estão desconfiando que o mestre
se esconde na Capital.

- O que? – Hermione viu-se indagar antes que pudesse se controlar.

Krum desviou seus olhos para ela surpreso e então abriu um sorriso puxando
apenas um lado da boca enquanto assumia um ar divertido.

- Veja quem está aqui. – ele riu – Eu não havia nem notado. – estreitou os
olhos. – Céus, Hermione! Você já é linda, mas depois de todo esse trato que
Brampton Fort lhe deu...
- Viktor. – Draco o cortou de modo severo. – Essa é toda a informação que
tem? – o chamou de volta a reunião.

- Eles vão recuar as poucas tropas que tem. Estão levando todos de volta
ao Grimmald Place. – disse Viktor ainda com os olhos em Hermione e ainda
com aquele sorriso cínico.

- Por que eles fariam isso? – ela tratou de perguntar quase que
imediatamente.

- Sangue-ruim, você não tem poder de fala aqui dentro. – disse um dos
homens.

- Tudo bem, eu quero saber porque eles fariam isso! – interveio Draco a
favor dela.
- Potter está perdendo a cabeça. – Viktor começou e Hermione sentiu que
seu coração poderia derreter. – Desde que pegaram Hermione e Luna ele tem
agido como louco. Todos sabem que Potter não está preparado para enfrentar o
mestre...

- Isso não é verdade! – Hermione exclamou.

- Deixe-o falar, Granger! – Draco foi ríspido.

- Todos da Ordem sabem que Potter não está preparado para o mestre. –
repetiu Krum. – Harry tem feito planos sem estratégia, tem avançado como se
estivesse caçando o último fôlego de vida. Eles tem tido vitórias que antes não
teriam conseguido, mas o número de perdas que eles vem sofrendo com todo
esse desespero não justifica as vitórias. – Hermione sentiu os olhos
embaçarem. Não choraria. Não ali. Não podia. – Eles perderam Hermione e ela
quem sempre soube balancear bem os prejuízos que sofreriam para ter uma
boa vitória. Além do mais, ela quem sempre soube montar bons planos
estratégicos. Sem Hermione as chances da Ordem nessa guerra caíram quase
pela metade.

- Então esse é o motivo para que Potter esteja agindo como se fosse um
animal... – comentou um dos homens.
Viktor tornou a fixar seus olhos em Hermione com aquele sorriso estúpido nos
lábios.

- Não vamos nos fazer de idiotas, senhores. – aquele tom divertido de


Krum fazia Hermione sentir seu sangue pulsar. – Sabemos muito bem que
Potter está pouco se importando com quem tem chances nessa guerra. Tiraram
a preciosa Hermione dele e ninguém é ingênuo demais para não saber que
Potter e Granger partilham muito mais do que bela amizade permite já há um
bom tempo.

- Pare, Viktor. – ela vociferou sentindo a garganta queimar.

Ele riu.

- De qualquer maneira, quem está reestabelecendo o controle da Ordem é


Lupin e Shacklebolt. Eles estão tentando frear um pouco da insanidade de
Potter. – ele votou-se para Draco. – Estão tentando unir novamente a
resistência depois do massacre de três anos atrás.

- Pensei que você já tivesse dado um jeito de mantê-los sem contato! – um


homem comentou.

- Eles estão buscando outras alternativas. Estou tentando cortar todas elas
como fiz da última vez. – respondeu Viktor.

Hermione sentiu o sangue ferver.

- Foi você?! – ela não podia acreditar que ele quem havia sido culpado pelo
último massacre da resistência. – Eu sabia que havia sido alguém! – a surpresa
lhe despejou um banho de tristeza. Não podia acreditar que já havia caído no
encanto de um monstro.

Viktor deu de ombros assim que tornou a encará-la.


- Teria dado certo e eu não poderia deixar que isso acontecesse. –
justificou o homem e voltou-se para Draco. – Se eles conseguirem
reestabelecer contato com os outros grupos da resistência nós iremos ter um
sério problema. Eles juntos somam quase o total do nosso exército.

- Não irá acontecer. – Draco disse com muita certeza. – Mas me dará um
belo discurso para amanhã.

- Toda a resistência unida pode dar um bom número, mas somos treinados
e muito melhores do que eles. Além do mais, a resistência se nega a usar os
antigos feitiços ilegais, o que nos deixa bem a frente deles. – os dos homens
comentou.

- Não se trata de quem é melhor. – Draco interviu. – Não quero que a


resistência saiba do número que podem atingir de estiverem unidos. – ele
voltou-se para Viktor. – Se a Ordem está buscando alternativas para
reestabelecer contados, então eles estão mandando seus membros para fora do
país.
- Sim. – confirmou Krum.

- Quero saber para onde cada um deles está indo. Quero nomes, datas,
cidades e objetivo. – ordenou.

- Farei o possível. – Krum respondeu.

- Estamos encerrados por hoje. – Draco se levantou, os demais o seguiram


e se dispersaram para fora da sala. Hermione permaneceu sentada em seu
lugar e observou Draco e Viktor de aproximarem. – Quanto tempo vai ficar em
Brampton Fort? – perguntou Draco a ele.

- Vim apenas para reunião do conselho e já estou voltando. – informou


Viktor. – fiquei ausente por uma semana e temo que eles possam desconfiar de
mim. – comentou. – Ronald Weasley tem sérios problemas em me aceitar na
mesa de jantar todas as noites e acredito que ele está fazendo a cabeça de
Potter quanto a isso. Se Hermione ainda estivesse na Ordem ela conseguiria
uma forma de amenizar a desconfiança dos dois. Ela sempre julgou que a
implicância do Weasley fosse por termos estados juntos quando o cabeça de
fogo ainda gostava dela. Ronald sempre teve problemas para superar casos
antigos. Mas agora preciso mostrar alguma lealdade. Tenho que cumprir com
alguma missão importante deles. Essa desconfiança pode acabar me quebrando
Draco ficou seriamente em silêncio por alguns segundos enquanto trocava o
peso de perna.

- Temos que pensar sobre isso. Continue agindo como sempre agiu. Depois
de todo esse tempo, não é agora que vão te descobrir. Tente arrumar algum
caso com alguma garota disponível, pode te encobrir por um tempo.

- Pensei sobre isso, mas sabe que vou precisar de algo mais consistente
para voltar a me firmar lá dentro. Depois que Hermione foi capturada tudo
mudou e é como se todo mundo desconfiasse da própria sombra. – Krum
respondeu. – Isso não é nada bom para mim. Tenho brechas dentro da Ordem
que qualquer um que procure um pouco mais acharia.

- Iremos trabalhar em cima disso também. – confirmou Draco.


Os dois deram as mãos, bateram rapidamente um no ombro do outro e se
despediram. Assim que Viktor saiu da sala Hermione pulou de sua cadeira e
apertou o passo para alcançá-lo.

- Viktor! – ela o alcançou na altura do hall.

- Veio me convencer a parar de entregar a Ordem, Hermione? – ele não


parou de andar e ela era obrigada a dar dois passos rápido para acompanhar
um dele.

- É um traidor e não posso lutar contra isso por mais que eu quisesse. –
disse ela – Quero saber sobre Harry.

Ele riu.

- Já lhe dei mais informações do que mereceria receber. – foi curto.


- Por favor, Viktor! – suplicou. – Se alguma vez na vida realmente gostou
de mim eu imploro que me diga por respeito a isso!

- Eu não devo respeito a nada que eu já senti, Hermione. – ele a olhou


sorrindo. – Não que eu nunca tenha sentido nada verdadeiro por você, mas o
que quer que um dia eu senti, foi superado. Foi você quem me deixou, se
lembra? Me trocou pelo Weasley.

- Isso foi há muito tempo! Éramos adolescentes! Eu não sabia nem mesmo
o que estava fazendo com você ou com Rony! Por favor, Viktor! – ela tentou ao
máximo não parecer desesperada, mas sabia que não estava tendo muito
sucesso. – Você é a única fonte que pode me dizer o que está acontecendo lá
fora.

Ele riu mais uma vez e finalmente parou.


- Eu estava tentando amenizar o seu sofrimento, Hermione. Mas já que faz
tanta questão de saber. Seu Harry está alucinando. Perdendo a cabeça. Ele não
se importa com a guerra, com Voldemort ou com qualquer profecia. Ele quer
você. Quer encontrá-la. E sabe que Potter nunca foi muito controlado sem você
por perto para tentar frear os impulsos loucos dele. Ele sabe que precisa de
você, esteve com ele desde que tudo começou. Potter não sabe o que é
enfrentar essa guerra sem você. – Viktor segurou seu rosto. – Bem, pelo
menos ele está aprendendo agora. – ele deu um passo para se aproximar e ela
recuou. – Voltarei para o seu casamento e posso trazer mais informações sobre
como seu Harry está com os dias contados para se enfiar para sempre no
mundo da insanidade. – sorriu maliciosamente – E podemos encontrar algum
lugar escondido para uma rapidinha. Queria muito saber se você ainda gemeria
para mim como antigamen... - Krum foi obrigado a parar quando a mão dela
ardeu com força contra o seu rosto. Ele não deixou se abater. Afastou-se
sorrindo enquanto alisava o lado vermelho do rosto. – Acho que não. – mostrou
a mão, deu as costas e continuou seu caminho.

Hermione se deu conta de que tinha raiva assim como tinha os olhos
embaçados. Sua garganta queimava e ela queria poder correr até Harry,
confortá-lo, dizer que estava ali para ele, que lutaria por ele, que tudo ficaria
bem, que eles ainda teriam uma vida juntos. Queria dar paz a ele.

- Eu não confiaria fielmente nele se fosse você. – viu Draco aproximar-se


assim que levantou os olhos quando o escutou. Aquele ar sério e a expressão
contínua a irritava ainda mais.

- Como você confia? – ela questionou de maneira desprezível.


Draco parou de frente a ela.

- Viktor Krum é um agente duplo que joga seu próprio jogo. Apenas um
idiota não enxergaria isso. Você nunca terá certeza de que lado ele realmente
está. – disse Draco. – Deveríamos tomar o desjejum no jardim interno? –
sugeriu ele.

Hermione sentiu que vomitaria se continuasse a olhá-lo por mais um segundo.

- Não na minha companhia. – deu as costas.

- Granger! – ele tentou segurá-la pelo braço, seu tom foi ríspido, mas ela
se desvencilhou.
- Não me toque. – ordenou com nojo e o deixou.

**

Champs-Élysées. Era a única fiel comparação que ela podia fazer todas as
vezes que descia no centro de Brampton Fort com Narcisa. Estar ali a fazia se
lembrar dos verões que passava com os pais na França quando a guerra era
apenas uma realidade presente porém distante, exceto pela ausência de sol e
calor. O verde era estonteante, os passeios eram ocupados por pessoas sérias e
frias, a avenida era cheia de carruagens. Era tudo muito largo e muito grande.
A fazia se sentir pequena demais.

O noite anunciava que chegaria em breve e Hermione já estava cansada. A


animava saber que aquela era sua última ida ao centro para resolver sobre seu
vestido. O casamento finalmente estava chegando e os últimos preparativos
estavam por conta de Narcisa. Hermione havia tentado fazer com que aquele
fosse seu casamento ao impor suas escolhas, mas descobrira no fim de tudo,
que não se importava. Não se importava que cor ou qual seriam as flores de
seu buque, como seria a decoração, quantas velas ficariam acesas, quantos
pratos serviriam no jantar, qual a música da valsa, os vestidos das damas, a
cor dos tapetes, o jardim, a banda, a hora, os convidados, as mesas, não
importava! Ela não queria. Ela trocaria uma noite na cama de Voldemort por
uma vida com Draco Malfoy. Ao menos com Voldemort seria apenas uma noite.
Ela fecharia os olhos e se concentraria em algo para não vomitar, depois
tomaria um banho fervendo e provavelmente esfolaria a própria pele tentando
se limpar da imundice dele. Preferia isso a uma vida inteira fadada a se deitar
com Draco Malfoy quando ele bem entendesse. Não importava para ela a
beleza de um ou de outro. Draco Malfoy era tão imundo quanto Lorde
Voldemort.
- Sei que tem caldeirões em Whitehall. – Narcisa comentou empurrando
uma dúzia de sacolas para Tryn assim que desceram da joalheria de volta ao
passeio. – Você os usa?

- Não. – respondeu Hermione alisando o corpo de seu novo vestido e


preferiu carregar suas próprias sacolas ao invés de jogá-las sobre Tryn que
sofria ao carregar tantas. – Só posso voltar ao meu quarto depois do jantar.

- A noite é uma boa hora para o preparo de poções. Sabe dos estados da
lua. – disse Narcisa.

- Boa parte das poções que usam as fases da lua são ilegais. – disse
Hermione.

- Não pela nova lei, Hermione. Sabe disso. – Narcisa usou de um tom como
se quisesse avisar a Hermione de que ela não precisava temer o preparo de
poções. – Além do mais, soube que era a melhor aluna de poções em
Hogwarts. Digo, era a melhor aluna em todos as matérias. Gostava de poções?
- Sim. Preparar poções é sempre uma atividade muito prazerosa. –
Hermione precisou aprender a caminhar como Narcisa para conseguir
acompanhá-la. Também precisou refinar seu vocabulário para não quebrar o
gelo que parecia sempre muito bem vindo entre elas.

- Então certamente irá gostar do lugar onde te levarei agora.

Hermione ficou confusa.

- Já é tarde, não creio que estarão dispostos a nos atender.

Narcisa lançou um rápido olhar a ela e voltou a prestar atenção no caminho.


- Essa estará aberta para nós. Além do mais, creio que você precise de
alguma distração e definitivamente fazer compras me parece algo muito
cansativo para você. Talvez possa levar algo para ocupar os caldeirões de
whitehall essa noite ou quando quiser.

As vezes Hermione ficava esperando que seria nessa hora onde Narcisa a
olharia de novo como havia feito antes e abriria um sorriso simples, discreto e
convidativo. Mas não. Ela era uma Malfoy em sua expressão única. Tanto
quanto Draco.

Caminharam em silêncio por um bom tempo e Hermione pensou que elas


tomariam a carruagem, mas ao invés disso, seguiram caminho. Cruzaram para
o outro lado da avenida e continuaram a caminhar.

- O que achou do seu vestido de noiva? – perguntou Narcisa.

- Muito bem feito. – respondeu Hermione. – Foi uma ótima escolha. Tenho
certeza de que todos ficarão surpresos.
Voltaram ao silêncio e por algum motivo Hermione percebeu que Narcisa não
havia terminado em suas perguntas. Logo teve essa certeza.

- Ele te fez algo, não fez? – Narcisa finalmente chegou ao que queria.

- Perdão. – Hermione não entendeu. – Quem?

- Draco. – Narcisa disse e Hermione sentiu seus pelos eriçarem.

- Não entendo o que quer dizer. – tratou de informar.

Narcisa pareceu suspirar impaciente.


- Tento te decifrar desde que começamos tudo isso. – começou a mulher. –
Antes apenas não gostava da idéia do casamento, agora parece abominá-lo.
Suponho que Draco tenha te feito algo. Ele te levou para cama a força?

- Não! - Hermione apressou-se a responder assustada com as deduções


que a mulher poderia ter sobre sua mudança de comportamento.

- Sim, eu tinha minhas dúvidas de que ele faria isso. – comentou Narcisa.

- Nós nunca... – Hermione se encontrou sem palavras e de repete mais


desconcertada do que deveria. – Ele nunca... – tentou se concentrar. – Nada
nunca aconteceu, nem nunca tocamos no assunto. Evitamos. Talvez evitemos
até mesmo em pensar sobre isso.

Narcisa riu fracamente como se tivesse escutado uma piada.


- Talvez você sim, mas pode ter certeza que Draco não. Ele é homem,
Hermione, e você não é nenhuma mulher descartável. Acredite, Draco é filho de
Lúcio Malfoy e ele aprendeu bem demais com o pai. Aprendeu bem mais do que
deveria, aliás. – Narcisa voltou a ser fria. – Mas meu filho se tornou um
homem, diferente do pai.

- Um péssimo homem, talvez. – Hermione se viu comentar antes que


pudesse perceber. Repreendeu-se em seguida.

O olhar que Narcisa rapidamente lançou a ela era desprovido de qualquer


repreensão ou desgosto.

- O que ele lhe fez afinal? – Narcisa desacelerou o passo.

- Por que quer saber?


- Sempre quero saber sobre o meu filho.

- Seu filho deu ordem para que eu assistisse Luna ser torturada. –
Hermione disse sem nenhuma delonga, aquilo não afetaria Narcisa de qualquer
forma. Ela estava acostumada com aquele mundo. – Ele fez o que deveria ter
feito. – concluiu.

A mulher não fez nenhum comentário logo em seguida. Ainda caminharam mais
um pouco em silêncio antes que ela finalmente dissesse algo.

- Não precisa abominá-lo por isso. Draco estava sob ordens tão igualmente
como você em não cometer erros. – ela disse.

- Não estou questionando as ordens que ele deve cumprir. O verdadeiro


motivo é o nível de humanidade que um homem tem ao ordenar o sofrimento
de alguém e ainda assistir a um ato de tortura como se não fosse nada mais do
que uma interessante partida de Quadribol. – disse Hermione. – Que tipo de
homem é esse?

Narcisa soltou um suspiro.

- Me surpreende que depois de todo esse tempo aqui você ainda meça o
nível de humanidade de um comensal e espere por uma atitude movida a isso.
Acho que ainda não entendeu muito bem o mundo do qual faz parte agora,
Hermione. Você deveria ficar muito feliz e bastante agradecida com qualquer
ato raro de misericórdia que alguém resolvesse praticar.

- Ato de misericórdia? – surpreendeu-se Hermione. – Trata me forçar a


assistir Luna ser torturada um ato de misericórdia?

Narcisa não responder de imediato novamente. Elas continuaram a andar até


finalmente chegarem as escadas que levava a entrada de um boticário. As duas
subiram juntas e foi quando a mulher decidiu voltar a se manifestar.
- Você ainda não entende como tudo funciona aqui. – segurou a maçaneta
da entrada e parou. Voltou-se para Hermione e a encarou. – Se continuar a
encarar todos de Brampton Fort com o olhar do mundo em que costumava
viver, vai sofrer e abominar esse lugar. Cada dia que passar aqui será uma
tortura a mais, um decepção a mais, um sofrimento a mais. Irá definhar. –
explicou ela. - Deve aprender a ver com o olhar de um comensal da morte e
adequar isso a quem você é. Terá que se transformar em um novo alguém e só
assim talvez possa haver alguma chance de não perder o resto da sua vida
afogada em um mundo de desilusão, angústia e fracasso que se seguirá dia
após de dia.

Hermione escutou com atenção e gravou as palavras da mulher, mas ainda


assim pareceu um discurso decorado. Talvez fosse a expressão quase robótica
que Narcisa sempre carregava.

- Prefiro isso a perder quem realmente sou. – disse.

- Verá que não. – retrucou Narcisa e abriu a porta.

As duas passaram para o lado de dentro e pararam em silêncio e assustadas


assim que uma gritaria abafada inundou seus ouvidos. As mulheres trocaram
olhares confusos e Hermione perguntou o porque de Narcisa ter a levado a
aquele lugar.
- Bella? – Narcisa chamou assim que avançou para próximo do balcão.

- ESTAMOS FECHADOS! – Bellatrix apareceu berrando ao passar por uma


porta detrás do balcão. Os olhos dela caíram de imediato em Narcisa e de
alguma forma, a fúria que estava bem aparente ali se suavizou para uma
tristeza expressiva. – Cissa! – ela soltou como se estivesse encontrando com o
relento. – Cissa! Que bom que veio! Não tem nem a menor idéia do que
aconteceu! – mas foi quando Hermione se moveu para perto de Narcisa que de
repente, foi como ver o poder da fúria que voltou para os olhos de Bellatrix
querer transformá-la em um animal assim que a louca pôs os olhos nela. – POR
QUE TROUXE ESSA MALDITA PARA DENTRO DA MINHA LOJA? – Bellatrix puxou
a varinha e Hermione recuou.

- Bella, não! – Narcisa foi séria ao se colocar a frente da mulher para


conter o braço que ela levantava na tentativa de lançar qualquer azaração. –
Nós só estamos precisando de alguns ingredientes.

- TIRE-A DAQUI! – Bella gritou. Hermione pensou que talvez ela fosse pular
o balcão e a agarrar pelo pescoço. – ELA NÃO PISA NESSE LUGAR! EU A
PROIBO!
- Bella! Pare agora! – Narcisa ordenou como se estivesse falando com uma
criança. – Está agindo feito louca! Perdeu a cabeça? – aquilo fez Bellatrix ofegar
quando considerou as palavras da outra, mas mesmo assim seus olhos ainda
faiscavam para Hermione que ela pensou que pudesse ser azarada se
continuasse a encarando. – Hermione, vá procurar algo de que precise.

- Ela não levará nada daqui. – vociferou Bella.

- Ela levará o que quiser desde que possa pagar. – Narcisa parecia a mais
sensata das mulheres enquanto passava para o outro lado do balcão. – Vá,
Hermione.

O olhar que recebeu de Narcisa fez Hermione entender que deveria deixar as
duas a sós e foi exatamente o que fez. Deu as costas e se enfurnou para dentro
das estantes o mais rápido que pode. Escutou o cochicho das duas e tentou se
distrair com os produtos enquanto se afastava mais para o fundo da loja.

Tinha todos os tipos de ingredientes possíveis embora as amostrar parecessem


poucas. Nada se comparava a algumas que um dia haviam existido no Beco
Diagonal, mas também não era nada mal para uma loja de poções.
Hermione andou sem compromissos e até se surpreendeu por ler em alguns
frascos nomes de ingredientes de altíssima raridade. O preço também não
ajudava, mas considerando que era igualmente raro encontrar um pobre em
Brampton Fort, talvez aquele fosse um produto até acessíveis para muito dos
cofres da cidade.

Começou a escutar os cochichos novamente e Hermione soube que havia se


aproximado do balcão outra vez. Ela parou e tentou escutar. Parecia
indecifrável, mas bastou que se acostumasse com os murmúrio e após alguns
minutos já estava tendo a capacidade de entender o que conversavam.

- Tem que contar isso a Draco! – ouviu Bela insistir.

- Sabe que não posso. É confidencial demais para sair da sua privacidade
com o mestre! – justificou Narcisa.
- Que privacidade?! – questionou Bella. – Nós não temos privacidade mais,
Cissa! Ele quer a sangue-ruim! - Hermione apurou os ouvidos sentido o
coração acelerar – Ele nem sequer me procura mais! Semana passada fui
punida por entrar em seu gabinete sem pedir permissão. Eu nunca pedi
permissão! Sou a mulher dele!

- Draco não tem poder algum contra isso! – disse Narcisa – Se o mestre
realmente a quiser, Hermione pode carregar a aliança que for com Draco, o
mestre a terá.

Hermione sentiu a boca secar e o sangue gelar. Aproximou-se de uma das


estantes de onde o som estava mais próximo e pegou um dos frascos de
boticário para abrir uma fresta por onde conseguiu enxergar as duas detrás do
balcão.

- Draco sabe como contê-lo! – continuou a insistir Bellatrix – E Draco não


divide nada que é dele, mesmo que seja uma imunda de uma sangue-ruim
maldita! O mestre sempre teve muita de sua atenção voltada em satisfazer
todas as vontades de Draco.

- Isso não é verdade. – protestou Narcisa. – Draco não luta contra as


vontades do mestre e o mestre não abre mão das dele para satisfazer as de
Draco! Se alguma vez ele fez isso, acredite, teve um interesse! Draco não tem
o poder de conter o veto do Lorde das Trevas, Bella!
Bellatrix bufou frustrada e quase chorosa.

- Diga a ele pelo menos, Cissa! Por favor! Sabe que Draco pode encontrar
uma forma de mantê-la longe do mestre! Ele é inteligente e estratégico o
suficiente para isso! Todos sabemos! – Bella tocou o braço da outra mulher
num ar de desespero. – Diga a ele que quando se casar é provável que o
mestre leve mais sua mulher para a cama do que ele próprio...

Hermione não conseguiu continuar a escutar. Seus ouvidos pareceram ter sido
tapados quando ela se afastou da fresta por onde enxergava as duas. Seu
coração batia forte e ela o escutava abafado em sua cabeça. Voltou pelas
estantes de onde veio e parou ofegante quando não soube o que estava
fazendo ou para onde estava indo. O sangue gelado que corria em suas veias a
agoniava e ela não conseguia achar um pensamento conexo que pudesse fazer
com que voltasse a sã consciência, que a fizesse parar de escutar o próprio
coração e que pudesse lhe trazer paz.

Foi quando seus olhos embaçaram que ela conseguiu acordar. Não choraria!
Não mais! Havia prometido a si mesma. Fechou os olhos com força e se
esforçou a retomar sua respiração normal. Precisava fugir daquele lugar.
Brampton Fort. Tinha que conseguir sair dali. Não podia esperar por Harry e
sua profecia, nem muito menos pelas últimas esperanças da Ordem. Não mais.
Ajeitou a postura e tomou o caminho de volta para o balcão.

- Podemos ir embora daqui? – Hermione direcionou-se a Narcisa assim que


a viu.

Ambas as mulheres detrás do balcão levantaram os olhos para ela. Bellatrix


tratou de ser rápida em passar a fulminá-la. Não importava para Hermione.

- Encontrou algo que queira levar? – Indagou Narcisa apontando para o


vidro que ela carregava numa das mãos.

- Sim. – respondeu quase que automático olhando confusa para o pote com
raízes de valeriana que tinha com ela. Precisou de segundos para se lembrar
que havia o retirado da prateleira para poder enxergar do outro lado e
esquecera de o devolver ao lugar. – Sim. – tornou a afirmar, aproximou-se e o
colocou sobre o balcão. – Vou levá-lo.
- Não se faz poções com um ingrediente apenas, Hermione. – Narcisa a
olhou de modo desconfiado.

- É tudo que eu quero por agora. – insistiu ela.

Não demorou e elas já tomavam o caminho para a carruagem. O céu já havia


tomado um tom escuro e as avenidas de passeios passavam a ser ocupadas
pelo público frequentador dos pubs e restaurantes.

Hermione caminhou mais rápido do que deveria e soube que Narcisa precisou
aumentar seu passo para acompanhá-la. As duas entraram na carruagem e
Narcisa ordenou que fossem a catedral.

Tudo que Hermione queria era conseguir uma maneira de mandar embora o
desespero que tentava controlar. Ela não conseguia encontrar nenhuma
desculpa que pudesse tranquilizar ou fazê-la aceitar que estava mesmo fadada
a ir para cama não só com Draco Malfoy, mas também com Lorde Voldemort.
- Hermione. – escutou Narcisa a chamar. Por um momento Hermione quis
ignorar a mulher a sua frente. Aquela mulher não se importava com tudo que
ela passaria em sua vida sendo uma eterna prisioneira ali. – Hermione! –
Hermione a encarou. – Escutou o que conversávamos, não foi?

- Se ele me quer, porque me deu a Draco Malfoy? – ela se viu perguntar


antes mesmo que pudesse ter idéia do que estava perguntando. Seu cérebro
estava conseguindo trabalhar mais rápido do que suas emoções.

- O mestre não pode te engravidar. Draco sim. – a forma como Narcisa


disse aquilo, como se não fosse óbvio e como se fosse bastante natural,
provocou raiva em Hermione. - Você é propriedade do mestre. Olhe a marca
em seu braço. Ele pode fazer com você o que bem entender.

O desespero de ser dele daquela maneira esquentou seu sangue e o esfriou


rapidamente. Hermione precisou fechar os olhos e segurar nas bordas do banco
onde sentava para se concentrar em não ofegar.
- Eu não... – sentiu sua garganta arder. – Não posso viver isso! – abriu os
olhos e focou Narcisa. Ela parecia tão tranquila em sua inexpressividade.
Hermione sentiu-se só. – Não teria forças para aguentar isso...

- Draco jamais tocaria em você se o mestre já tiver alguma vez feito isso. –
Narcisa comentou. – Draco não dividiria você com o ele de maneira alguma e o
Lorde sabe bem disso. O mestre quer mais um herdeiro seu com Draco do que
te possuir, Hermione. Ele pode ser o Lorde das Trevas, mas é bem sensato ao
considerar tudo que é necessário para ter os planos de sua mente
concretizados.

- Isso não o isenta de poder me arrastar para a cama dele assim que tiver
o herdeiro que tanto quer. – Hermione tratou de dizer.

- Bem. – Narcisa suspirou. – Acredito que até lá, você terá tempo para
pensar em algo.

O cérebro de Hermione trabalhou rápido.


Sim terei. – foi seu primeiro pensamento.

Uma onda de paz fez com que ela inspirasse e expirasse como se estivesse
fazendo isso pela primeira vez na vida. Encostou-se no banco e fechou os
olhos. Teria tempo para pensar em algo sim. Ela era Hermione Granger e havia
lutado contra todo o exército das trevas. Viveu anos em uma guerra. Sabia
como vencer uma batalha.

Abriu os olhos e encontrou Narcisa a encarando.

- Agiu como se pudesse ser arrastada para o quarto do mestre assim que
descêssemos na catedral. – comentou Narcisa. – Impulsivo demais.

- Não seria uma situação impossível de acontecer. Pensa que conheço seu
filho para saber que ele se importa em não querer dividir com o mestre a
sangue-ruim da futura esposa? Eu jamais associaria o que ouvi com uma
informação que não tinha.
- Sabe que Draco é egoísta. – retrucou Narcisa.

- Sou uma sangue-ruim. – surpreendeu-se por não se afetar. Talvez tivesse


escutado aquilo demais.

- Não importa, é a noiva dele. – informou a mulher. – Precisa confiar em


Draco, Hermione. Não esperando que ele vá te ajudar, mas precisa acreditar
nos instintos dele. Precisa conhecê-lo, precisa estar aberta a isso ao invés de
abominá-lo. Draco deu ordens para que torturassem sua amiga Lovegood
justamente para que pudesse justificar ao mestre que já haviam lhe aplicado
um castigo. Ficou evidente naquela audiência aberta que o Lorde procurava um
motivo para poder castigá-la.

- Você não estava lá. – Hermione disse ao se lembrar da facilidade com que
Draco dera aquela ordem.

- Ora, não seja infantil, Hermione! – exclamou Narcisa. – Draco


argumentou por horas com o mestre quando a audiência chegou ao fim e ele
exigiu que trouxessem você e a prisioneira! Você não consegue nem imaginar o
que ele teria a feito assistir se tivesse torturado Lovegood. Ele não se
importaria em chegar ao ponto de deixar sua amiga perder a sanidade. Ela
ainda está frágil, vive em uma masmorra.
Hermione soltou um longo suspiro e encarou a vista da janela.

- Não acredito que Malfoy tenha feito algo por mim. – comentou.

- Ele não fez por você. Não exatamente por você. Ele agiu por princípio.
Você não merecia o que o mestre queria lhe dar.

- E por que ele se importaria com isso? – questionou Hermione tornando a


olhar a mulher.

- Porque será a esposa dele. – foi a vez de Narcisa desviar o olhar. Os


lábios dela se apertaram numa linha fina e ela continuou: - E Draco quer provar
a ele mesmo que não é como o pai.
**

Hermione nunca precisava se despedir de Narcisa quando a carruagem parava


no fim do dia bem de frente a entrada do pátio leste. A mulher logo tratava de
listar a agenda inteira do dia seguinte e ambas chegavam até mesmo a discutir
rapidamente sobre o que deveriam priorizar em detrimento a chegada da
grande data. Então Hermione descia e tomava o conhecido caminho
para Whitehall.

Aquela noite em especial ela se questionava, depois do que acabara


acidentalmente por ter informação e principalmente por toda a reação que se
vira passar, se gostaria mesmo de ter uma noite com Lorde Voldemort para não
ser tocada por Draco Malfoy. Evidentemente havia ficado claro que ela não
suportaria o toque de Voldemort, e para não ter o dele, ela faria quantas noites
de sexo fossem necessário com Draco Malfoy. Ter essa clareza a assustou, mas
ela não abriria mão se essa fosse a única opção.

Subiu as escadas para os corredores do segundo pavimento relembrando cada


lição que Narcisa havia lhe dado aquele dia. Hermione precisava de um longo
banho e uma madrugada de reflexão para abrir mão de seu orgulho e absorver
mais uma vez as palavras da mulher. Certas vezes se perguntava qual o
sentimento que nutria por ela e suas conclusões eram sempre confusas e
subjetivas. Se espelhar em Narcisa parecia um bom caminho para entender e
se adequar aquela estranha vida ao qual estava condenada.

Abriu a porta de whitehall e entrou com as dezenas de sacolas que insistia em


evitar passar para Tryn. Tratou de lançá-las desleixadamente sobre sua cama
enquanto arrancava os sapatos e puxava os cabelos para prendê-los. Fechou os
olhos e girou o pescoço tentando de alguma forma aliviar a tensão em seus
ombros. Suspirou e tornou a encarar a bagunça de sacolas.

Não passaria nenhum trabalho escravo a sua elfa, portanto agilizou-se em


puxar uma por uma delas e começou separando as roupas, sapatos e jóias que
deveria levar ao closet. Ela definitivamente precisava de uma varinha. Tinha a
esperança de que logo dariam uma a ela.

Não havia jantado e estava com fome. Queria perguntar a Tryn se poderia
jantar em seu quarto, mas tinha receio de que a elfa a informasse que teria que
jantar com Malfoy. Sabia que se realmente tivesse ela já teria sido informada,
mas ainda assim tinha receio. Não suportava estar perto dele. Os jantares e
cafés-da-manhã que eram obrigados a estar juntos não passavam de refeições
silenciosas e incômodas. Nenhum dos dois se enforcava realmente em dar
atenção ao outro. Para Draco, com sua inexpressividade, parecia apenas mais
uma solitária refeição, onde ele chegava, sentava, não a cumprimentava,
enchia uma xícara de chá, fazia um prato, comia, lia seu jornal, se levantava e
ia embora. Hermione era somente incapaz de ignorar a presença dele. Era
torturante o ter por perto porque sempre se lembrava da inércia maldita que a
expressão dele tinha ao fazê-la assistir Luna sob tortura.
- Tryn. – chamou e a elfa apareceu num estalo. – Posso jantar
em Whitehall hoje?

- Sim. – respondeu a elfa – A stra. Sangue-ruim gostaria de jantar agora?

Hermione estava pronta para responder que sim quando se lembrou que
primeiro seria conveniente uma banho que pudesse fazê-la relaxar, embora
banhos lhe dessem perturbadores períodos de reflexão.

- Vou tomar primeiro um banho. – decidiu-se.

- A srta. Sangue-ruim quer que Tryn o prepare?

- Não. Posso fazer isso.


A elfa pareceu se aborrecer por não ter sido destinada a nenhuma tarefa.

- Tryn pode organizar as comprar da Srta. Sangue-Ruim.

- Posso fazer isso também, obrigada Tryn. Tornarei a chamá-la para trazer
o jantar assim que estiver pronta. – disse e isso pareceu satisfazer a pequena
criatura que logo se foi.

Hermione suspirou cansada, juntou uma muda com as roupas novas, colocou
alguns sapatos em cima e tentou pegá-los da melhor maneira a manter o
equilíbrio das coisas, mas assim que os puxou juntos, uma outra sacolas rolou
por cima das outras estando presa ao laço de um dos vestidos e então num
segundo de susto Hermione só escutou o barulho do estilhaçar de vidro no
chão. Ela praguejou a falta de uma varinha e tentou olhar por cima da pilha de
coisas que carregava para ver o que havia destruído, mas não foi capaz. Deu
um passo para devolver a cama a pilha de roupas e sapatos e no mesmo
minuto em que firmou o pé no chão, sentiu a dor de ser cortada pelo caco do
vidro. Mordeu os lábios e gemeu assim que começou a sentir o líquido quente e
pegajoso na sola do pé. Lançou tudo de volta a cama e chamou por Tryn num
tom angustiado.
A elfa voltou num estalo.

- Sabe curar ferimentos, Tryn? – perguntou sentando-se na cama com


cuidado. As pontadas que vinham do seu pé se intensificavam e ela soube que
o corte havia sido profundo.

- Tryn precisa ver o que aconteceu. – a elfa não se importou em pisar em


todos os cacos no chão para chegar até Hermione. Um minuto de análise e ela
sumiu num estalo e tornou a reaparecer em outro equilibrando meia dúzia de
pequenos potes nos bracinhos curtos.

Hermione tentou não prestar atenção no trabalho que a elfa começou. Sentir a
dor já bastava demais. Olhou a bagunça que criara e se perguntou quando
havia aprendido a ser tão desastrada. Como havia se tornado tão dependente
de uma varinha? Santo Cristo! Ela precisava de uma varinha! Ao menos sua
destruição não tinha valor. Não iria precisar da aquisição feita na loja de
Bellatrix de qualquer forma...

Seus pensamentos todos pararam de uma vez quando ela notou seu sangue se
unindo com a pasta da ceiva que escorria pelos talos das raízes de valeriana
sobre o chão de mármore. O ponto onde os dois se uniram formava um líquido
branco e ralo que aos poucos se tornava incolor. Por segundos Hermione piscou
como se não tivesse que se preocupar com aquilo, mas seus conhecimentos em
poções a alertou tão rapidamente quanto deveria.

- Tryn. – chamou a elfa. – Por que meu sangue está reagindo com raiz de
valeriana?

A elfa ergueu os enormes olhos confusos para Hermione, pulou para a bagunça
no chão e depois de um rápido tempo de análise ela tornou a encarar
Hermione.

- Seu sangue está envenenado. – respondeu como se Hermione já devesse


saber.

- O que? – preocupou-se. – Como? Como sabe disso?

- A Srta. Sangue-Ruim tem a marca do mestre portanto a Srta. Sangue-


Ruim tem o sangue envenenado. – explicou a criatura.
Hermione não compreendeu e gemeu ao sentir a pressão em seu pé ferido.

- Como posso estar viva com um sangue envenenado? – perguntou


rapidamente e sentiu um repentino alívio quando a dor a abandonou de vez.

- Tryn não sabe responder a pergunta da Srta. Sangue-Ruim. – disse a elfa


afastando-se com os potes novamente em mãos. – Tryn apenas sabe que faz
parte do feitiço da marca do lorde das trevas. – A criatura doméstica esperou
que Hermione analisasse o ferimento desaparecido em seu pé. – Pode ficar
dolorido por algumas horas. – informou. – A Srta. Sangue-ruim quer que Tryn
limpe a bagunça?

Hermione apenas confirmou que sim enquanto via seu pé novo em folha. Talvez
seus olhos pudessem se ocupar com aquela visão, mas seu cérebro apenas
processava as palavras da elfa. Pensou nas fracas propriedades inibidoras das
plantas valerianas e na reação com seu sangue. Ela queria saber quem anulava
quem naquela reação.
Bem. Acredito que até lá, você terá tempo para pensar em algo.
Escutou a voz de Narcisa ecoar em sua cabeça.

- Tryn. – tornou a chamar a elfa que logo ergueu os olhos para ela. –
Separe uma amostra da reação. – pediu e a criatura acenou em confirmação.

Talvez aquela era a chance de se apegar a uma esperança que não fosse Harry.

7. Capítulo 7

Hermione Granger
Uma gota de felicidade ao menos. Estava tão seca de alegria que aquela única
gota havia sido devorada sem qualquer piedade. Hermione deu leves batidas
cuidadosamente na porta, girou a maçaneta e entrou. Seu sorriso veio em
sequencia assim como os olhos embaçados.

Luna estava sentada no meio de uma imensa cama com as pernas cruzadas e
sorriu para Hermione assim que a viu. As duas apenas sorriam em silêncio
encarando uma a outra.

- O que achou da minha nova cela? – indagou Luna.

Hermione passou os olhos rapidamente enquanto se aproximava. Era


definitivamente menor que Whitehall e mais escuro devido as paredes de pedra
aparente, mas era aconchegante e nem um pouco desprovido de
ornamentações luxuosas.

- Me parece muito confortável. – respondeu ela.


Ambas voltaram a trocar olhares e sorrisos. A visão de uma Luna desnutrida,
com os cabelos opacos e a pele pálida faziam os olhos de Hermione se
encherem d’água. Não queria se sentir culpada por aquilo, mas era inevitável.

- Sabe que nós não temos motivos para ficarmos sorrindo assim, igual duas
bobas. – comentou Luna e Hermione riu. A loira se arrastou para fora da cama
e as duas se abraçaram. Hermione sentiu o corpo ossudo e fraco de Luna o que
fez seu coração apertar ainda mais. – Você poderá me ver quando quiser?

- Nada aqui acontece por alguma vontade minha, Luna. – respondeu


quando se afastaram – Mas posso dizer que talvez iremos nos encontrar com
mais frequência, espero. - Luna abriu um grande sorriso por aquilo e sentou-se
na beira de sua cama. – Gostaria que a liberassem pela catedral como fazem
comigo. Que a deixem visitar o centro, ir a biblioteca, escolher a própria
refeição. – sentou-se ao lado da amiga e segurou sua mão. – Estou fazendo o
máximo para que isso aconteça.

- Você quer dizer, está obedecendo a todos eles. – disse ela. Hermione
suspirou e confirmou. Elas ficaram em silêncio por um bom tempo até que Luna
decidiu se pronunciar outra vez como se soubesse que discutir com Hermione
sobre seus atos protetores fosse perda de tempo. – Eu vi a cidade. Pelos vidros
dos nichos ali daquele lado. – apontou para uma parede com rasgos fundos por
onde entrava a iluminação. – As outras aberturas só me dão vista para a
muralha, e aquela ali para algum jardim de inverno, ou talvez algum fosso de
ventilação bem cuidado. – apontou para outra fachada com janelas.
Hermione assentiu.

- Grande, não é?

Luna confirmou com a cabeça.

- Maior do que eu esperava. – comentou e novamente elas entraram em


um profundo silêncio. – Parabéns por hoje. É o seu grande dia. – disse embora
seu tom fosse mais de lamento do que de qualquer ânimo previsto pelas
congratulações. Hermione apenas não conseguiu dizer nada. Havia tido uma
conturbada noite de breves cochilos e reflexões perturbadoras. Aquele era
realmente o seu grande dia. Infelizmente, não o que ela havia imaginado
durante toda a sua vida. - Lamento, Hermione. Lamento por você e por Harry.

Hermione fechou os olhos sentindo a enorme falta que ele fazia para ela. Os
abriu e levantou-se. Caminhou para a direção dos nichos e vislumbrou um
pedaço limitado da cidade. Parecia o norte. Talvez fosse.
- Viktor disse que Harry está agindo como louco e está levando a Ordem
com ele. Remo e Kingsley estão tentando freá-lo. – contou. – Foi a última
informação que tive.

Luna precisou de um tempo para digerir e então ficou em silêncio como se


esperasse para que Hermione continuasse, mas ela não continuou.

- Não acredita no que ele disse. – foi o que a loira concluiu daquilo.
Hermione parou e voltou-se para a amiga. – Posso saber por que?

- Viktor não disse a eles que... – parou, olhou de um lado para o outro e
tornou a se aproximar. Reformulou tudo novamente. – Se Viktor realmente
joga do lado deles, Malfoy e todo o exército do Lorde das Trevas deveriam
saber o porque eu não te deixei para trás aquele dia em Southport quando as
ordens para mim sempre foram nunca se deixar ser pega independente do
sacrifício a ser feito.
- Está dizendo que eles não sabem que se sacrificou pela Ordem?

Hermione negou com a cabeça.

- Malfoy não é nenhum idiota. Ele provavelmente sabe que eu me entreguei


aquele dia, acredito que ele não saiba pelo que.

- Ele te interrogou?

- Não.

- Não? – Luna pareceu confusa. – Sequer tocou no assunto?


- Sequer. – confirmou Hermione. – Malfoy é esperto demais, Luna.
Lutamos contra o exército que ele lidera por anos. Sabemos que ele nunca
seguiria um caminho tão óbvio para conseguir uma informação desse peso.
Acredito que ele talvez considere formas de aprender a me manipular.

A loira ergueu as sobrancelhas surpresa.

- Acha que pode lutar contra isso?

Hermione suspirou cansada e tornou a se sentar ao lado da amiga.

- Luna, – começou num tom baixo e desapontado. – acho que está na hora
de parar de mentirmos para nós mesmas. – disse e a loira apenas a encarou
em silêncio e apreensiva. – Sabe que fiz um sacrifício em vão.
- Pretende entregar a ele esse segredo? – Luna ficou surpresa – Hermione,
essa foi a maior arma que a Ordem já encontrou, tenho certeza que Harry a
conseguiu depois que o exército de Malfoy nos capturou e recuou os ataques.
Era exatamente esse o tempo que ele precisava, por isso você se sacrificou. E
também não tem certeza dos planos da Ordem agora.

- Luna, se lembra das expectativas que tínhamos? Consegue se lembrar?


Viktor disse que Harry está agindo como louco, e nós duas sabemos que não é
exclusivamente porque ele me perdeu.

- Hermione...

- Nós sabíamos que a guerra ia finalmente acabar se... – ela parou sentiu
um nó subir sua garganta junto com a raiva contida que tudo aquilo lhe
causava. – Por isso estou aqui, Luna. Por isso nós duas estamos aqui! – disse
com os dentes cerrados enquanto suas vistas tornavam a embaçar. – Mesmo
que Harry não esteja realmente agindo como louco, absolutamente nada
aconteceu! Nada! A guerra não chegou ao fim, Voldemort continua vivo, essa
maldita cidade continua de pé! – encarou Luna. – Me sacrifiquei em vão. Algo
deu errado.

A loira a encarou e Hermione viu o olhar de tristeza naqueles profundos e


grandes azuis que ela tinha.
- Mesmo assim, não pode entregar as cartas a Malfoy quando ele as exigir.
– insistiu Luna. – Não estamos na Ordem para saber o que aconteceu, quais
são os planos, porque nada aconteceu.

- Eu posso desmascarar, Viktor. É uma arma que tenho. – disse.

- Não sei bem se Malfoy vai preferir acreditar em um agente duplo que o
ajudou a manter suas vitórias nessa guerra, ou em uma prisioneira rebelde
como você. – comentou Luna.

- Sim, estou considerando isso. Preciso sondar Draco Malfoy. – seu corpo
todo se arrepiou ao se lembrar disso. – Ele é abominável, mas preciso saber
como e quando agir, para isso tenho que conhecer o terreno em que pisarei. –
ela suspirou.

As duas ficaram em silêncio assim que Luna concordou com a amiga. Sabia que
Luna confiava nela. Haviam estado tempo o suficiente juntas naquela guerra.
- Ainda planeja conseguir fazer com que eu escape? – Luna perguntou
finalmente.

Hermione se surpreendeu com a pergunta dela. A encarou como se tentasse


avisá-la que ela sequer precisava ter se desgastado perguntando aquilo.

- Todos os dias, Luna. – respondeu.

- Por que você não para?! – o tom aborrecido da amiga a surpreendeu


ainda mais. – Se você não pode ir eu não vou, Hermione!

- Luna! Sabe que eu tenho que fazer isso não só por você, mas por mim
também!
- Você precisa de alguém! Precisa de um suporte! Eu sou seu suporte,
Hermione. Se lembra de quando dividimos as duplas antes de irmos a
Southport? Somos responsáveis uma pela outra em campo de batalha. Temos
que cuidar e proteger uma a outra. Nós ainda estamos em batalha. Ainda
temos que lutar. – disse a outra.

Hermione não podia contrariá-la. Mesmo que ela dissesse aquilo e Hermione
concordasse, não podia condenar Luna a seguir a vida que era obrigada devido
a marca estampada em seu braço. Estava feliz por ter a amiga com ela,
principalmente ali. Ela não sentia aquela sensação há muito tempo. A sensação
de estar com alguém que realmente a conhecia, alguém verdadeiro, alguém
que não estava esperando por um deslize seu.

- Tenho estado tão só, Luna. – se viu comentar com o olhar baixo e o
coração dolorido. – E tenho que ser tão forte. Tão orgulhosa. – suspirou e
levantou os olhos para a amiga. – Sinto que a cada dia que se passa eu tenho
mais justificativas e mais motivos para mudar. Para aceitar como todos são
aqui. Para ser como eles. Isso me assusta porque as vezes é quase inevitável
não ser como eles. Alguns absurdos são tão comuns e temo que o costume
também os torne comuns a mim.

Luna segurou a mão de Hermione.


- Você disse que é inevitável. – pontuou Luna.

Hermione sacudiu a cabeça negativamente.

- Não quero mudar.

- Você tem que fazer o que é necessário para sobreviver a esse meio,
Hermione. – a voz sonhadora de Luna sempre era confortante. – Tenho certeza
que você nunca vai mudar, vai apenas se adequar. - Hermione sorriu. Um
sorriso verdadeiro. Um que não dava há muito tempo. – Viu? Tenho que ser
seu suporte. - Hermione riu e revirou os olhos. Passou os braços em torno de
Luna e a abraçou novamente. – Você não tem um casamento para comparecer?
Vai se atrasar.

- Acha que consigo me esconder aqui com você até o final do dia? – tentou
Hermione.
Luna sorriu.

- Se meu pai ainda fosse vivo eu tenho certeza de que ele iria conseguir
encontrar uma boa resposta para a sua pergunta! Ele sempre soube tudo sobre
feitiços de distração. – respondeu a loira.

- E ele testou todos que conhecia em você certamente! – brincou


Hermione.

- Eu nunca entendo porque vocês sempre dizem isso quando falo que meu
pai era bom em feitiços de distração! – protestou a amiga.

Hermione riu e foi tão gostoso que ela se encantou com a capacidade de ainda
sentir essas emoções.
- Vejo você no casamento, Luna. – trocou um último olhar com ela e se
levantou. – Estou feliz que pelo menos você estará lá para lamentar pela minha
causa quando todos os outros estarão lamentando apenas pela de Malfoy.

Luna sorriu amavelmente e sentou-se novamente no centro da cama como se


gostasse de estar ali. Hermione considerou que depois dos meses que ela havia
estado trancafiada em um enorme posso escuro, ela podia desfrutar de
qualquer mania estranha sem que fosse julgada.

- Sou seu apoio. – disse ela sonhadoramente.

Hermione agarrou a grande argola que pendia na porta, a puxou, sorriu uma
última vez para a amiga e a deixou. Ingênua Luna. Pelo menos a tinha embora
nenhuma palavra que ela dissesse pudesse fazer Hermione deixar de pensar
numa forma para livrá-la daquele lugar.

Draco Malfoy
Virou o Whisky de Fogo e bateu o copo contra a mesa. Seus olhos cinzas
fuzilaram sua mãe quando ela tirou o copo de sua mão e a garrafa de álcool de
seu lado. Sentiu-se uma criança, mas parecia quase certo ser uma criança
birrenta aquele dia.

- Eu não o quero bêbado logo hoje. – ela foi fria. Por algum motivo que ele
sabia bem qual era, sua mãe estava o tratando como se ele tivesse passado a
vida fazendo escolhas erradas. Aquilo o irritava. Por que sua mãe haveria de
defender Granger? Ele sabia bem o porque.

- Sabe que tenho motivos o suficiente para beber o quanto eu quiser hoje.
– foi até a mãe e pegou de volta a garrafa que ela havia levado para longe.

Ela suspirou cansada.


- Está agindo feito uma criança. – disse.

- Sei disso. – retrucou ele teimosamente enquanto enxia seu copo mais
uma vez até o topo.

Narcisa foi até ele.

- Draco. – seu tom foi ríspido quando ela deteve a mão que estava prestes
a levar o copo a boca. Ele lançou a ela um olhar tão igualmente severo e ambos
tiveram um breve embate silencioso enquanto trocavam olhares. – Por favor. –
foi quase uma súplica.

Ele bufou, soltou seu copo, deu as costas a ela e se jogou no caro sofá da
antecâmara do salão principal da catedral. Pendeu a cabeça para trás e usou os
dedos para pressionar os olhos tentando de alguma forma aliviar a tensão em
seu corpo. Sentia-se quase sufocado pelo fraque de seu traje.
- O que tenho que fazer para que o tempo pare, mãe? – sentiu ter
novamente dez anos, quando era obrigado acompanhar seus pais em eventos
importantes no Ministério. - Existe alguma magia que não deixe que esse dia
aconteça? Algo que faça com que ele não chegue ao fim.

A mulher não respondeu, mas as palavras dele fizeram com que todas as
expressões dela se suavizassem. O silêncio os contemplou por longos minutos
enquanto Narcisa sentava-se numa das cadeiras próximo ao filho.

O fim de tarde do lado de fora que entrava pela abertura na parede não era
bonito como quase nenhum era em Brampton Fort, mas o barulho das
carruagens, a movimentação de pessoas e as conversas que chegavam
abafadas a antecâmara informavam o evento especial e alertava Draco de que
ele deveria estar lá, com elas, cumprimentando e agradecendo pela presença
enquanto Hermione podia se manter escondida dos olhares tendo uma dúzia de
elfos e mulheres compondo sua produção para tornar ainda mais grandiosa a
sua aparição.

Ele não conseguia aceitar isso. Ficaria ali naquela antecâmara. Seria teimoso e
infantil, mas ninguém o obrigaria a enfrentar aquela falsa recepção. Aquele
casamento era uma farsa além de uma eterna condenação. Merlin! Por que o
tempo não parava?

- Sempre soube que esse dia chegaria. – Narcisa começou numa voz suave
e uniforme. Draco desviou seu olhar para ela. – Eu nunca coloquei em você
nenhuma pressão, Draco. Sabe que não. Mesmo que soubéssemos toda a
tradição da família. – ela desviou o olhar – Nutria a esperança de que pudesse
encontrar alguém que amasse, mesmo que os anos fossem se passando e você
nunca permitisse que alguém chegasse ao seu coração. – ele revirou os olhos -
Sei que tem suas razões porque conhece bem que tipo de pessoa é. – ela
tornou a encarar o filho. – Mas tudo isso fez com que eu temesse por esse dia.
Pelo dia em que colocassem uma moça a sua frente e dissessem que aquela
seria sua esposa. – ela suspirou. – E sabe que nunca foi por você que eu temi.

Aquilo estranhamente o feriu por mais que sua mãe tivesse todos os motivos e
as razões para reafirmar cada palavra.

- Não sou como meu pai. – ele disse.

- Não é? Mesmo? – ela duvidou enquanto erguia as sobrancelhas. – É


inevitável, você a odeia, sempre odiou.

- E é recíproco. – disse ele aborrecido. – Não é como se ela tivesse posto


os olhos em mim e se apaixonado, mãe! Ela não é como você, a história dela
não é como a sua!
- Não será menos pior! – sua mãe se levantou e Draco soube que havia
usado as palavras certas para feri-la apenas pelas que ela havia usado para
revidar.

A seguiu levantando-se e aproximando-se.

- Por que a defende? – ele deveria parar.

- Por que ninguém merece o destino dela. – respondeu ela.

Draco sentiu a indignação lhe subir a garganta.

- Ela é uma rebelde! Uma sangue-ruim! É a responsável pelas minhas


maiores derrotas! Sustentou essa guerra muito tempo! Ela e o inferno dos
malditos amiguinhos dela! Como pode dizer que ela não merece um futuro
como o que terá?

Narcisa deu a ele o olhar que sabia destruí-lo. Olhava-o como se estivesse
encarando o marido. Aquele olhar que tinha todos os motivos para desaprová-
lo, mas todos para amá-lo. Ela tocou o rosto do filho.

- Você não entende, filho. – ela usou um tom baixo. – É algo que também
ninguém entenderia.

- E você entende? – ela deveria já que falava com sentimento.

Viu um sorriso desprovido de qualquer alegria aparecer no rosto de sua mãe.

- Ela não é como eu, não terá uma história como a minha. Você conhece
minha história, mas mesmo com tudo o que vivo, eu tenho você para amar. E
tenho o seu pai. – Narcisa estalou um beijo terno no rosto do filho - Ela não
terá nada. – se afastou. – Sinto muito por hoje, mas por favor, cumpra com o
seu papel. Não por ela, mas por mim. Sabe que seu pai quer que tudo saia
perfeito, se algo der errado ele me culpará para o resto da vida. – e saiu.
Draco sentiu o calor da fúria que a menção de seu pai lhe causava. A engoliu e
considerou que deveria cumprir com aquela injusta divisão de tarefas.
Aguentaria a insuportável companhia de todas aquelas pessoas o bajulando
antes da cerimônia se era o que sua mãe queria que ele fizesse para ter uma
noite de sexo com seu pai. Pensar naquilo aumentou sua fúria ainda mais.
Como ela podia amar um homem como aquele?

Virou o copo de whisky e prometeu a si que aquele seria o último. Se esforçaria


para pensar apenas na causa de sua mãe, mesmo que a imagem dela
encarando Hermione com certo afeto o enojasse.

Saiu de sua confortável solidão para o inferno do saguão de recepção. Desejou


que o álcool daquele último copo fizesse algum afeito e amaldiçoou sua
resistência a líquidos fortes. Estava tudo belamente elegante. As luzes que se
acenderiam quando caísse a noite no saguão aberto estavam todas dispostas
em lugares estratégicos e mesmo apagadas compunham com a decoração.
Draco chegou a conclusão de que sua mãe havia transformado o local em um
jardim tipicamente francês com todos aqueles arbustos artísticos dispostos
simetricamente por toda a extensão da área, além das esculturas e do
constante barulho de água que vinha de chafarizes que nunca estavam
próximos demais se acabasse por se movimentar distraidamente.

Draco aguentou todas as bajulações com muita educação. Foi quase como em
sua festa de noivado, só não tinha Hermione ao seu lado, mas estava sendo tão
insuportável quanto. Teve que se enfiar na roda de assuntos onde seu pai
discursava as maravilhas que fazia no mundo bruxo como Ministro da Magia e
ainda contar sobre seus planos contra os rebeldes. Tudo pelo bem da política.
Era uma pena que tivesse que fazer parte daquele meio.

Viu o momento em que Pansy chegou. De longe ela parecia exuberante usando
um longo vestido cinza prateado, decotado, justo e com uma fenda exatamente
na medida que ele gostava. Quando ela se aproximou Draco sorriu por dentro
ao se lembrar do porque levava aquela mulher para a cama, mas logo foi
obrigado a desviar o olhar dela para voltar sua atenção ao chefe de
departamento de seu pai. Obviamente, como se era esperado, não demorou e
ela estava se enfiando entre os chefes de governo para ter sua devida atenção.

Ela começou cumprimentando seu pai. Elogiou as vestes do homem e depois


soltou um breve e divertido comentário sobre suas primeiras impressões da
excelente organização do evento que sem dúvida só poderia ter vindo de
Narcisa Malfoy. Logo depois ela tratou de elogiar todos os homens por seus
competentes serviços a nova ordem Bruxa e prontamente agradeceu pelas
ultimas sensatas decisões do parlamento apenas para mostrar que havia um
pouco de conteúdo em seu cérebro e não somente no decote onde todos
tratavam de manter os olhos, inclusive seu pai.

Por fim ela não deixou Draco de fora. Seu espírito falsamente contente divertiu
um pouco dos homens na roda ao fazer uma rápida brincadeira sobre o
semblante severo que ele possuía no dia de seu próprio casamento. Ganhado a
simpatia de todos ela apenas pediu perdão pelo ato rude e exigiu um pouco da
atenção do noivo aos outros alegando precisar se despedir dos últimos minutos
de solteiro de Draco Malfoy. Todos riram e Draco aproveitou a chance de se
livrar dos assuntos governamentais de seu pai. Desculpou-se e seguiu Pansy. A
mulher não tardou em se aproximar assim que ambos deixaram a roda e
passou seu braço pelo dele.
- Não tão próximo, Pansy. – alertou Draco.

- Por que? – ela tinha aquele ar de sempre. O de deboche, de


despreocupada, de rainha do entretenimento. Draco imaginou que ela
provavelmente passou horas em seu quarto trabalhando em seu psicológico
para não vacilar com a máscara que usaria hoje.

- Sabe que a mídia está em cima de mim. – justificou.

- Então porque não melhora essa cara? – riu ela. - Parece que está em um
velório.

- Tenho meus motivos.


- E tem autorização para deixar que eles sejam passados para os jornais? –
questionou ela.

- Não é novidade para ninguém que isso tudo é uma farsa. Acha que todos
acreditam na mentira que contamos? As pessoas apenas aceitam por confiar
cegamente em qualquer plano que o metre tenha com isso tudo. – disse.

Pansy parou e se colocou a frente dele.

- Eu não me importo com qualquer que sejam os planos dele. – ela soltou
num tom grave e sedutor enquanto se aproximava perigosamente. Draco
recuou sabendo que um flash registraria aquilo a qualquer momento. – Não me
importo também que será um homem casado daqui a alguma horas. – ela
continuou a se aproximar e ele teve que detê-la. Ela parecia se esforçar em
achar aquilo engraçado.
- Pare. – exigiu ele. - Isso não é uma brincadeira e você está agindo como
uma criança. – tentou ser gentil ao empurrá-la para que nenhuma câmera
mostrasse o quanto ele queria ser agressivo.

- Criança? Criança como esse seu bico de quem está sendo forçado a jantar
antes da sobremesa? – ela riu e se afastou sabendo que ele não estava sendo
nem um pouco receptivo a implicação dela apenas pelo olhar severo que ele
passara a usar. – Certo. – mostrou as mãos - Não me culpe. Estou apenas
tentando descontrair um noivo nervoso.

- Não, Pansy. Você está apenas querendo uma foto sua nos jornais de
amanhã.

Ela deu de ombros.

- Sabe que eu não aceito perder as minha usuais atenções para uma
sangue-ruim. – ela disse e dessa vez Draco não ousou reprimir um sorriso
discreto.
- Deveria tentar algo melhor do que isso. – sugeriu ele.

- E estou. – ela tornou a caminhar e ele continuou a segui-la.

- Está? – ele ergueu as sobrancelhas, aquilo não o agradou.

- Sim. – confirmou ela. – Durante o banquete vou dar uma boa olhada nas
instalações para me certificar de que encontrarei um bom lugar onde você
possa me foder na festa de seu próprio casamento.

Dessa vez ele não pode deixar de rir.

- Você adoraria isso, não é mesmo?


- Draco, pensar nisso já me deixa molhada. – debochou ela.

- Obrigado, mas passarei a oportunidade. – divertiu-se ele.

Aquilo fez com que ela o olhasse aborrecida.

- Falo sério, se quer saber. – disse ela.

- Eu também. – ele parou. – Não é possível que depois de todos esses anos
que convivemos juntos você ainda cogite a idéia de que eu arriscaria arruinar o
evento que minha mãe organizou para ser perfeito.
- Por uma mulher? Claro que eu cogitaria.

Aquilo realmente não o agradou.

- Está me confundindo com meu pai? - a menção daquilo a surpreendeu e


ele não entendeu porque a surpreendeu.

- Bem, não será muito diferente dele quando tivermos nossa primeira
transa depois de seu casamento.

Agora ela realmente havia pisado fundo para enfurecê-lo. Aproximou-se.

- Você me conhece, Pansy. Por que está fazendo isso? – tentou ser o mais
discreto possível embora não conseguisse evitar vociferar.
- Fazendo o que? – indagou ela.

- Não se faça de desentendida. – segurou o braço dela e colocou ali a força


de sua raiva. – Acabou de me comparar com meu pai.

- Draco, sei que não gosta, mas você já deveria ter superado isso. É tão
igual quanto ele e sabe que existem evidências o suficiente que comprovam
isso. Não minta para si mesmo, vai ser mais difícil quando tiver que encarar
todas essas evidência escancaradas bem a frente do seu próprio nariz. Vai se
casar e traíra sua mulher. Quando tiver seu filhinho e ele descobrir que a
família que vive é uma farsa você dirá o que a ele? Que tem motivos para isso?
Essa não é a resposta de seu pai quando pergunta o por que ele traí sua mãe?

Draco queria queimá-la viva por dizer tudo aquilo.

- Por que, pelos mil infernos, todos insistem em comparar esse maldito
casamento com minha família? Nunca mais ouse comparar minha mãe a uma
sangue-ruim! Nunca mais me compare com qualquer atitude do meu pai! E
qualquer filhinho que possa eventualmente aparecer, não será dela nem meu!
Sabe muito bem o porque tudo isso está acontecendo. – soltou o braço dela
sabendo que poderia provocar qualquer dano permanente.

- Não fuja disso, Draco. – ela disse. – Seu pai te colocou nessa situação
para fazer com que você entendesse os motivos dele.

Ele franziu o cenho não podendo acreditar naquilo.

- Está o defendendo? – se afastou. – Por que está fazendo isso?

- Não é como se você fosse amar Hermione Granger algum dia, Draco! –
disse aquilo como se não fosse algo óbvio. – Vai sentir exatamente o que seu
pai sente quando tiver aquela mulher em sua casa.
- Se comparar minha mãe mais uma vez com aquela mulher, juro que
nunca mais encostarei o dedo em você, Pansy! E pelo que eu conheço da sua
desesperada obsessão, isso seria um excelente castigo!

- Não conseguirá. Já tentou uma vez e não deu certo. – ela deu de ombros.
– Estou apenas o alertando. Sabe que fui sua amiga antes de ser sua amante e
as vezes se esquece disso.

Ele cerrou os olhos e a assistiu dar as costas e ir embora tentando entender o


porque ela resolvera de repente agir daquela forma e dizer aquelas coisas
mesmo sabendo que ele ficaria furioso. Pansy jamais faria algo que o
desagradaria a aquele ponto. Aquilo era algo que comprometia a frágil relação
dos dois e ela tinha essa consciência. Havia algo errado ali e ele descobriria.

**

Draco quase pode vê-la. Hermione. Passara bem em frente a porta do local
onde dezenas de elfos e especialistas de beleza trabalhavam para deixá-la
espetacular. A porta estava aberta e ele ousou espiar, mas foi fechada pelo
lado de dentro antes que ele pudesse ver qualquer coisa.
Não podia negar a ele mesmo o nível de sua curiosidade. Não via problemas
nos velhos mitos de azar sobre ver a noiva antes do casamento. Até porque
aquele casamento já era um grande azar. Não se importava, mas aquele
mistério que todos insistiam em manter, atraía qualquer tipo de ansiedade.

Também cruzara com Pansy e Lovegood quando atravessou o corredor da porta


de Hermione Granger. Ambas usavam quase o mesmo vestido por serem
damas. Draco não conseguiu evitar um sorriso ao se divertir sabendo que
Pansy estava odiando a idéia de não ser exclusiva.

Entrou na antesala preparada para ele e fez a devida reverência a Voldemort,


que já estava lá. Ignorou seu pai e se colocou ao lado de seu padrinho,
Theodoro Nott.

- Com raiva? – perguntou Teodoro.

- Esse é um dia realmente ruim. Não posso evitar. – justificou Draco.


O outro soltou um riso fraco.

- Granger não é tão mal assim. Lembra-se do que falei quando estávamos
no sexto ano? – ele questionou de maneira divertida e Draco sorriu ao se
lembrar. - Se eu não tivesse tanta certeza de que ela era virgem aquela época,
sem dúvida a arrastaria para dentro de algum armário e ela não teria sequer
tempo de raciocinar algo. Bastava apenas cruzarmos em algum corredor vazio.

Draco riu.

- Ela pode ser a mulher mais linda do mundo, não deixará de ser Hermione
Granger.

- Sim, isso é um terrível fato. – concordou ele – Ao menos sabemos que


será um esposo bem ausente.
Draco riu outra vez. Gostava de Nott. Ele nunca havia sido como Crabble e
Goyle, aqueles eram apenas dois idiotas que seguiam suas ordens e ainda as
seguia. Teodoro era alguém a sua altura, por isso não havia negado a escolha
de sua mãe para que ele fosse seu padrinho de casamento.

- Essa é uma frase que certamente soa muito bem. – disse Draco. – Mas
não me livra de estar aprisionado a essa mulher.

- Sim, e ela era realmente estranha. Não que tenha deixado de ser, digo,
ela é uma rebelde, amante de ninguém menos que Harry Potter e parece que
toda inteligência do mundo está retida no cérebro dela. Mas em Hogwarts,
mesmo quando começou a chamar atenção, ela nunca se permitiu misturar
com as outras garotas.

- Ela já enxergava a guerra, Theodoro. Uma guerra torna qualquer assunto


de garota fútil demais. – Draco estalou os lábios – E de qualquer forma, isso
tudo é apenas suposição. Ela é um grande enigma com o qual terei que lidar.

- Acha que pode acabar gostando dela?


Draco encarou as sobrancelhas erguidas de Theodoro e o sorriso divertido
brincando em seu rosto. Riu. Estar com Nott sempre o levava de volta a sala
comunal da Sonserina, onde os dois costumavam praticar um pouco de
perversidade ao zombar da inferioridade alheia no fim do dia.

- Eu a odiei quase a minha vida inteira. Está realmente considerando essa


possibilidade? – riu Draco.

O outro deu de ombros.

- Eu só não a descarto. Quero dizer, você está se casando com a


esquisita da sangue-ruim. Se lembra de quantas vezes a humilhamos em
Hogwarts?

- Éramos crianças. – Draco tratou de dizer.


- Adolescentes. – concertou Theodoro.

- Não há muita diferença e convenhamos que ela bem que merecia. –


zombou Draco.

Nott riu.

- É por isso que aquele homem dando ordens em campo de batalha não me
convence, Draco. Para mim você sempre será o Draco Malfoy que conheci em
Hogwarts. – brincou Theodoro. Draco não se importava em regredir um pouco
no tempo quando estava na companhia dele. – Vamos, trate de colocar
novamente aquela cara de quem esta encarando o inimigo. Está na nossa hora
de entrar. – apontou para uma das organizadoras que o chamava. – Tente se
divertir, Draco. Casamentos são festas, não velórios.

- Este está se parecendo muito com um. – disse e seguiu a mulher que
insistia para que se apressasse.
Respirou fundo enquanto escutava seus passos se misturarem em eco com os
da mulher ao seu lado. O pequeno momento de descontração que teve com seu
amigo de infância apenas o fez perceber que não seria facilmente distraído
naquele terrível dia.

Recebeu as instruções para esperar alguns minutos quando parou de frente a


uma porta dupla ogival de carvalho. Esperou juntamente com a mulher parada
logo ao seu lado. Ela havia dito alguns minutos, mas cada segundo parecia
horas naquele silêncio.

Escutou passos curtos vindos da galeria que atravessara e quando a olhou


encontrou sua mãe caminhando em sua direção. Ela chegou até ele segurou
suas mãos e deu um beijo em cada uma. As mãos dela estavam geladas e
Draco pode ver todas as linhas de preocupação estampadas na expressão que
carregava.

- Sabe o que deve fazer. Apenas cumpra o seu papel. – ela estava tão séria
que Draco podia quase sentir toda a tensão que ela emanava. – Por favor, não
faça nenhuma besteira. Essa não é a hora. – ela se colocou na ponta dos pés e
beijou o rosto do filho. – Sinto muito. – disse baixo, virou-se e voltou por onde
tinha vindo no mesmo ritmo uniforme e apressado.
Draco respirou fundo mais uma vez e soltou o ar pela boca. A mulher ao seu
lado deu o sinal de que poderia avançar assim que as portas estivessem
abertas e foi embora. Logo, em pouco menos de um minuto, lá estavam elas
escancaradas a sua frente. Ele passou sem pressa, cumprimentou algumas
autoridades de Brampton Fort que estavam do outro lado, encontrou-se com
Theodoro Nott que vinha pelo lado oposto e ambos de alinharam no fim do
longo tapete vermelho que cruzava o salão principal. Deu o primeiro passo e foi
seguido por Theodoro.

- Não tente disfarçar que está nervoso. – brincou Theodoro ao seu lado,
mas dessa vez Draco realmente não conseguiria se distrair, por mais que seu
amigo estivesse tentando ajudar.

Os olhares em cima dele eram muitos, por mais que ainda existisse algumas
poucos lugares vazios tanto nas galerias quanto nos camarotes. Ele conseguia
distinguir os elementos, mas a decoração era demasiada barroca e por todos os
lugares ele conseguia ver as cores vinho e prateado dos Malfoy, além de
cumpridas bandeiras que desciam do teto distante com o brasão da família
estampado. Estava tudo tão bem decorado e tão suntuoso que era, de fato,
uma grande perda de tempo tentar reparar em algum defeito.

Avançou com Theodoro e parou apenas para cumprimentar alguns chefes de


estado, outros do ciclo interno de Voldemort que sentavam nos patamares do
trono e outros amigos bastantes íntimos da família que estavam ocupando os
assentos principais junto ao púlpito da cerimonia onde já se encontrava o Juiz
da lei.
Draco subiu os poucos degraus e se colocou em seu lugar. Theodoro ficou logo
atrás e então, finalmente, a real espera. Vez ou outra era informado de que
não demoraria muito, mas Draco sabia que demoraria. Alguns longos minutos
depois ele viu seu pai cruzar o tapete vermelho com sua mãe. Ela era obrigada
a parar sempre que seu pai resolvia cumprimentar alguém das primeiras fileira.
Não havia nenhuma expressão nela, mas seu pai era o único que parecia
extremamente contente aquele dia. Assim que eles conseguiram chegar ao
seus assentos, todo o salão já estava ocupado. Apesar do grande número de
pessoas, os lugares estavam dispostos de maneira tão perfeitamente uniforme
que o nível de organização quase não deixava transparecer o enxame de
convidados para aquela cerimônia.

O último aviso veio em seu ouvido de que Hermione entraria em menos de


cinco minutos. Draco se alinhou, lançou um olhar a Theodoro viu o sorriso na
cara do amigo. Havia problemas maiores para Draco do que achar ruim que seu
velho amigo estivesse divertindo-se com a terrível situação em que se
encontrava. Voltou-se novamente para frente e então presenciou o momento
em que a nave de todo o salão serviu de caixa acústica para as notas do órgão
que anunciaram a abertura da maior e mais pesada porta ao fim do extenso
tapete vermelho vinho.

A porta era lenta como sempre, mas Draco não teve problemas em logo
conseguir ver Hermione parada do outro lado. O órgão soava tão estridente que
fazia seu coração acelerar, ou talvez fosse apenas Hermione que estava
causando aquele evento.

Ela começou a andar assim que as portas estancaram. Bastou alguns passos e
Draco finalmente pode vê-la perfeitamente. Foi exatamente quando seu
coração parou, e não foi só o dele, porque no mesmo segundo Theodoro se
pronunciou as suas costas:

- Santo Deus. – sussurrou ele. – Olha só isso.

Ela estava tão magnificamente gloriosa que nada a não ser ela chamava
atenção. O tom marfim do pomposo vestido era quase tão claro quanto
qualquer luz que estava sobre ela naquele momento. As cores escuras que a
cercava ajudava com que ela se destacasse ainda mais. Os cabelos castanhos
estavam mais lisos embora ali ainda tivesse um pouco dos comuns cachos.
Estavam parcialmente presos num simplório, porém elegante, penteado. A
expressão que carregava era a mais fria que Draco já havia visto no escultural
rosto de Hermione, mas aquilo não diminuía sua beleza nem uma gota sequer,
pelo contrário, a tornava ainda mais atraente. Ele gostava da seriedade, da
frieza e dos olhares de desgosto, talvez sua mãe tivesse ensinado isso a ela.

Queria sorrir por saber que aquela seria sua mulher e que todos saberiam
daquilo. Por segundos não se importou que fosse Hermione Granger, a sangue-
ruim de Hogwarts. Não importava. Era tão linda, a mulher mais linda.

Foi somente quando ela parou a sua frente e ele conseguiu desgrudar seus
olhos dos dourados dela que percebeu que quem havia a carregado por todo o
tapete havia sido Lorde Voldemort. Logo atrás dela também estavam Luna
Lovegood e Pansy Parkinson. Pansy parecia insignificante ocupando aquele
lugar na cerimônia. Sabia que ela estava furiosa, mas não se importava. Ela
seria sua amante e ocupava o lugar certo, ali, debaixo das sombras. Hermione
seria sua mulher, e parecia muito bem adequada para os holofotes. Ele não
trocaria, não parecia correto. Não naquele momento.

- Ela é toda sua. – Voldemort disse a Draco quando soltou a mão de


Hermione.

Draco apenas lançou a ele um olhar rápido e sem ânimo. Estendeu a mão para
Hermione e a viu hesitar alguns segundos, mas antes mesmo que ele pudesse
se preocupar com aquilo, ela ergueu sua mão e pousou sobre a dele. A dela
estava fria e levemente úmida. O toque era, sem dúvida, estranho.

Ambos viraram-se e subiram o último degrau que faltava para estarem de


frente ao juiz de cerimônia. Feito isso, a mão de Hermione foi ágil e deslizou
para longe da de Draco, como se estivesse desejando por isso desde que uniu
a sua a dele.

Quis dizer a ela que deveria evitar demonstrar o desprezo que tinha por ele
durante aquelas poucas horas, mas foi impedido pelo juiz que elevou sua voz
fazendo a convocação para que todos proferissem as honras ao mestre, que
estava presente.
O coral de vozes começou em uníssono. Todos liam pelo caderno de
programação, inclusive Draco e Hermione. Assim que o discurso poético foi
finalizado Voldemort pode tomar seu assento. Nada muito distante e em lugar
de honra. Então finalmente o juiz começou. Os textos românticos foram
retirados de pauta e tudo que foi anunciado pela boca do juiz não passavam de
leis matrimoniais e assuntos sobre a tradição familiar dos Malfoy. Foi longo.
Principalmente quando passou a ser citado os nomes dos casais mais
significativos da história da família e seus maravilhosos feitos para o mundo,
apenas para servir de exemplo para Draco e Hermione. Tradicionalmente, nas
cerimônias de casamento da família Malfoy era se feito uma associação entre
um antigo casal para que servisse de exemplo ao novo, mas como Hermione
era uma sangue-ruim, seria uma ofensa aos nomes antigos fazer qualquer tipo
de associação. Narcisa obviamente tratara daquilo ao informar o juiz de que
apenas citasse os nomes e contasse suas histórias sem que houvesse qualquer
tipo de analogia.

A troca de alianças foi feita e as promessas foram proferidas. O contato pelo


olhar foi evitado. Na saúde e na doença. Na alegria e na tristeza. Na riqueza e
na pobreza. Até que a morte os separasse. No fundo, todos ali sabiam que
eram promessas falsas e palavras vazias. Então, finalmente, Voldemort tomou
a posição de ministrante, fez a declaração final de “felizes para sempre” e
encerrou a cerimônia. Foi um alívio embora Draco soubesse que a tortura
daquele dia ainda não havia chegado ao fim.

Draco e Hermione voltaram-se para os convidados, ele ofereceu sua mão de


apoio e ela aceitou. Então ambos desceram as escadas e cruzaram todo o
tapete novamente seguindo atrás de Voldemort e do juiz. Atrás deles vieram
Theodoro, Lovegood e Pansy. E por último então vieram Lúcio e Narcisa.
Não saíram pela porta principal, seguiram o desenho da nave para a esquerda e
cruzaram a galeria que tinha passado mais cedo. Draco olhou para Hermione
quando ela soltou sua mão assim que os olhares do público saíram de cima
deles. Ela estava silenciosa e seu olhar estava sempre fixo no caminho que
deveria seguir. Aquele deveria estar sendo um dos dias mais infelizes de sua
vida. Ele não lamentava por ela. Estava tendo um dia tão ruim quanto o dela.

Dessa vez eles não foram até o fim da galeria. Em um silêncio quase mortal,
cruzaram para um segundo corredor e se direcionaram para o interior da ala
norte, onde subiram algumas escadas e entraram em uma sala dotada de uma
decoração mais aconchegante.

Tanto o juiz quanto Voldemort se posicionaram atrás de uma mesa de carvalho


que estava bem ao centro da sala. O juiz convocou Draco e Hermione para se
aproximarem e eles foram obedientes.

Draco logo viu os papéis sobre a mesa. Haviam dois, um a sua frente e outro a
frente de Hermione, entre os dois pergaminhos, somente uma pena
descansava. Ele conseguia quase cheirar a magia que envolvia aquele conjunto
bem diagramado sobre a mesa.
- Uma vez que assinarem os papéis, não haverá mais volta. – anunciou o
juiz. – Ele será arquivado no Departamento de Mistérios juntamente com os
demais documentos da família e somente poderá ser acessado por processo
de...

- Conhecemos a lei da família. – cortou Draco.

Recebeu olhares severos de sua mãe e Voldemort, mas não se importou já que
não estava diante do público de Brampton Fort. O juiz recebeu a desaprovação
e tratou de pular o protocolo tirando a pena do descanso e a estendendo a
Draco que a pegou, passou os olhos rapidamente por todos da sala e puxou o
papel que deveria assinar. Já encontrou ali as assinaturas de todas as
testemunhas que estavam presentes naquela sala. Havia apenas a linha onde
deveria colocar a sua.

Não deveria hesitar. Não deveria. Mas hesitou. Era inevitável. Assinar aquele
papel o prenderia a Hermione para o resto de sua vida e sim, ele podia quase
sentir o cheiro de toda a magia que envolvia aquela pena e aquele pedaço de
pergaminho. Não colocaria o seu nome ali. Levantou os olhos e viu Voldemort o
encarando de maneira apreensiva. Desviou para Hermione e os olhos dourados
dela o olhavam como se tivessem uma pontada de esperança, esperança de
que ele não assinaria.

Quase podia enxergar Voldemort interrompendo aquilo para lembrar a ele que
era um comensal da morte. Lembrar a quem pertencia e de quem era a marca
que carregava no braço. Respirou fundo, posicionou a ponta da pena sob a
linha de sua assinatura, contou até três mentalmente e assinou. Estava feito.
Soltou a pena sobre a mesa e se afastou. Sua parte estava feita.

Viu Hermione assumir um ar de desapontamento e as atenções que estavam


sobre ele caírem dessa vez sobre ela. A mulher não olhou para ninguém,
apenas estendeu a mão e arrastou a pena para o seu lado sem o menor
interesse. Girou-a sobre a madeira e a ajustou em sua mão de maneira
preguiçosa, como se quisesse fazer com que aquilo se estendesse por horas.
Ela hesitou também quando colocou a ponta da pena em cima da linha de sua
assinatura.

- Hermione, sabe que não precisa fazer isso. – Luna Lovegood se


pronunciou.

Voldemort riu sem vontade.

- Ela sabe que precisa sim. – disse.


- Hermione... – Luna tentou novamente.

- Cale-se traidora, ou voltará para cela de onde veio! – Lúcio Malfoy foi
quem a cortou.

Draco viu Hermione fechar os olhos ainda com a pena parada sobre a linha da
assinatura. Ela respirou fundo e tornou a abri-los, engoliu a saliva e como se
também tivesse contado até três fez a pena deslizar assim como ele havia feito.

O silêncio ainda durou enquanto ela mantinha os olhos fixos sobre sua própria
assinatura naquele pedaço de pergaminho. Levou alguns segundos para que
finalmente soltasse a pena e erguesse os olhos. Estavam aguados e brilhantes
e se encontraram imediatamente com os de Draco.

- Certo. – o juiz limpou a garganta. – Estão devidamente oficializados como


marido e...
- Sabemos. – Draco o cortou outra vez desviando seus olhos do de
Hermione. – Não precisa dizer.

O juiz se calou, juntou os papéis e os colocou debaixo do braço, recolheu a


pena e a guardou a uma caixa preta de couro. Antes de sair, tratou de devolver
o artefato para a família do qual pertencia deixando-a na mão de Lúcio Malfoy.

Ele foi seguido por todo o resto logo que saiu. Narcisa foi até Draco enquanto
Luna avançava até Hermione para lhe dar um abraço fraco e silencioso antes de
ir.

- Eu as coloquei em uma gaveta separada, bem na primeira atrás da mesa.


– disse sua mãe em voz baixa – Fez excelentes escolhas. – e foi embora junto
com seu pai.

A porta foi fechada por Pansy, a última a sair. O silêncio que se fez foi tão
incomodo que Draco quis ir embora junto com os outros também. Trocou
olhares silenciosos com Hermione e viu que ela estava tão incomodada quanto
ele. Se olharam e entenderam exatamente que aquela era uma situação com o
qual deveriam aprender a lidar.
Hermione desviou o olhar do dele querendo evitar o contato e se dirigiu sem
pressa para as grandes janelas da varanda onde podia espionar os convidados
se acomodando para o banquete no jardim interno. Draco a observou por um
minuto e tentou entender como uma mulher, vestida em uma roupa como
aquela, parecia tornar tudo tão miserável ao seu redor. Tudo parecia tão banal
se comparado a ela que seria inevitável não se pegar olhando-a da forma como
a olhava naquele exato momento durante o restante daquela noite.

Suspirou frustrado por saber que sim, a beleza dela o atraía, desviou o olhar e
deu a volta na mesa. Abriu a gaveta que sua mãe havia o indicado e tirou as
três estreitas e longas caixas de madeira que acomodavam as varinhas que
escolhera para Hermione. As alinhou sobre a mesa e retirou com cuidado a
tampa de cada uma delas. Observou as três varinhas e se preocupou.
Realmente esperava que fosse uma delas.

- Granger. – a chamou e no momento em que o fez rosnou baixo ao se


lembrar que não poderia mais chamá-la por aquele nome. Soltou o ar
aborrecido e se concertou: - Hermione. – era definitivamente estranho ouvir
aquele nome saindo de sua boca. Ergueu os olhos e a encontrou o encarando. –
Preciso que venha até aqui.

Ela desceu os olhos dele para as três caixas de varinha sobre a mesa e tornou a
olhá-lo novamente. Draco pode ver a curiosidade atingi-la em cheio.
- O que quer? – indagou ela. Aquela voz sempre parecia sair como se fosse
algum tipo de melodia.

Ele respirou tentando encontrar paciência no oxigênio inalado, mas foi inútil.

- Apenas preciso que venha até aqui, seria trabalhoso demais? – disse
aquilo e quase que imediatamente o olhar dela se fechou para um de desprezo.
Ele tinha que confessar que certas vezes aquele olhar o incomodava. Hermione
foi até ele como se cada passo que desse tivesse uma razão a mais para
desconfiar de que não estava indo para algum matadouro. Aquilo realmente o
incomodou. – Precisa ficar com uma dessas varinhas. – disse assim que ela
parou do outro lado da mesa.

- Não posso ter a minha de volta? – indagou ela.

Draco soltou o ar cansado. Realmente esperava que tivessem passado aquela


informação a ela.
- Você é uma Malfoy agora. – começou ele de maneira preguiçosa. – Não
pode ter uma varinha como qualquer outro bruxo tem. – ele a viu revirar os
olhos e quis ofendê-la por aquilo. – Essas são varinhas que estão na família a
séculos, pertenceram a pessoas importantes e todas elas foram honradas a
família por reis e nobres. Jamais faça descaso disso novamente. – embora
parecesse infantil ele foi ríspido, frio e esnobe. Ela não tinha idéia do quanto
aquilo era grande. Ela nunca havia carregado nas mãos uma varinha com
história, ela não tinha dignidade para tal coisa. – Escolha uma.

Hermione tinha os olhos estreitos para ele.

- Você deveria apresentá-las a mim. – disse como se estivesse o


provocando.

Por que ela simplesmente não poderia pegar uma e se calar? Ele respirou fundo
e soltou o ar contando até cinco. Empurrou para ela a primeira caixa e
começou:
- Século XIII, Álamo, cinzas de Hipogrifo, 28 cm, maleável. Só teve 5
donos desde que foi honrada a família. – ele foi rápido e objetivo.

Ela segurou a caixa e arrastou para mais perto. Analisou a varinha em silêncio,
mas não a pegou.

- Quantas varinhas a família Malfoy tem no estoque de honrarias? – ela


indagou curiosa sem tirar os olhos da impecável varinha na caixa.

- Muitas. – respondeu ele.

- Por que estou vendo somente três aqui? – ela tornou a fazer uma
pergunta mesmo que parecesse saber a resposta.

Ele se mexeu incomodado.


- É dever do noivo escolher três opções de varinhas para a esposa. – quase
não conseguiu descolar os dentes.

Hermione tirou a caixa de cima da mesa e a analisou mais de perto, mas ainda
sem tocar na varinha.

- Porque escolheu essa? – os olhos dourados dela caíram diretamente nele.

Certo, aquilo realmente estava o aborrecendo.

- Apenas escolha uma e fique com ela! – ele foi duro novamente.
- É algo que quero saber. – ela usou um tom doce como se o que tivesse
pedido não fosse grande coisa e como se estivesse tentando entender o porque
ele estava sendo ríspido. Belo teatro o dela. Ele bem sabia que ela estava
tentando o provocar. Não podia deixar que ela vencesse aquilo. – Não entendo
o porque não deveria me contar.

Ele lutou para não revirar os olhos. Respirou fundo novamente pela terceira vez
e trocou de posição incomodado.

- Álamo. – começou ele – O tom marfim é incomum e não é em qualquer


lua que a madeira pode ser retirada para a fabricação de varinha. Você
combina com qualquer tom claro por isso, por mais que insistam em fantasiá-la
como uma de nós, naturalmente você parecerá deslocada. Além do mais, seria
estupidez negar que sua arte em duelos vai além do extraordinário. – ele parou
antes que seus próximos padrões de escolha soassem como mais elogios. A viu
abrir um sorriso quase imperceptível.

Ela finalmente pegou a varinha. Era comprida, fina e delicada nas mãos dela.
Hermione a girou habilmente entre os dedos e suspirou. Encarou Draco.

- Cinzas de Hipogrifo, certo? – ela devolveu a varinha de volta a caixa e a


colocou sobre a mesa. – Detesto voar.
Ele ficou apreensivo. Bem, ele não sabia sobre aquilo. Uma daquelas varinhas
tinha que ser a certa. Pegou a caixa da varinha de Álamo, a fechou e a separou
das demais. Empurrou a outra caixa para Hermione e deu a ficha técnica:

- Século XVII, cedro, lágrima de sereiano, 35 cm, rígida. Oito donos desde
a fabricação. – viu Hermione pegar a caixa com rapidez.

- Essa é uma das cinco varinhas com lágrima de sereiano feitas no século
XVII? – ela estava surpresa – Está me dizendo que essa é uma das cinco
varinhas que eles fizeram com a única amostra de lágrimas de sereianos que já
foi colhida na história do mundo? – ela parecia quase sufocada pela fascinação.
– Eu não sabia que uma delas havia ido para sua família.

- O rei Carlos I presenteou a família. Ele havia aumentado os impostos


portuários e um navio pirata conseguiu escapar pagando com a amostra das
lágrimas. Parte dos Malfoy eram responsáveis pelo recolhimento de impostos
aquela época. Eles que levaram a amostra até o rei, portanto nada mais justo.
– explicou Draco.
- E por que a escolheu para mim? – perguntou ela com interesse.

Ele soltou ar impaciente sabendo que deveria demonstrar fazer pouco caso
daquilo.

- É uma Grifinória e uma das grandes características dessa casa é a


lealdade. E se tem uma coisa que eu realmente sei sobre você é que é esperta
demais para ser enganada. Acredite, sei bem disso. – disse e ela pareceu bem
satisfeita com aquilo. – Por isso escolhi alguma especial e rara que fosse feita
de cedro. Acredito que a madeira seja um fator dominante na fabricação de
varinhas, não o artefato mágico que as compõe.

Ela franziu o cenho.

- Por que?
Ele deu de ombros.

- É possível conseguir pelos de unicórnio, músculo de coração de dragão,


fênix que doam penas em qualquer lugar. São seres mágicos. Madeira está em
todo o lugar, mas é necessário o tempo certo, a pessoa certa e o corte certo
para que possam se tornar varinhas. Soa muito mais especial do que qualquer
ser mágico. – explicou.

Hermione o encarou de uma maneira que nunca havia feito antes. Como se
tivesse sido surpreendida e estivesse tentando entender se havia sido de uma
forma boa ou de uma forma ruim. Quando ele pensou que ela fosse sorrir, ela
apenas respirou fundo e pegou a varinha. Draco percebeu que havia cometido
um erro assim que a viu nas mãos de Hermione. Era uma varinha grande, bem
trabalhada porém rude para as mãos de uma mulher. Não parecia encaixar com
a figura de Hermione. Talvez a própria Hermione não tivesse reparado naquilo,
ela parecia bastante fascinada com a varinha, mas o objeto respondeu por si e
tudo que restou para ela fazer foi devolvê-lo a caixa e coloca-lo de volta sobre
a mesa.

Draco o pegou em silêncio e o juntou com a outra varinha rejeitada. Arrastou a


última caixa para ela e sentiu sua apreensão levá-lo ao nível do nervosismo.
Aquela tinha que ser a varinha.
- Século XVIII, Lima-prata, sangue de unicórnio adulto, 30 cm, bastante
rígida. Somente três donas. – disse.

Hermione puxou a caixa para si.

- As histórias dizem que é uma boa madeira para oclumência e


legilimência. – comentou ela.

- Mito. – ele afirmou.

- É muito bonita. – ele viu que ela não foi capaz de evitar comentar quando
levantou a caixa para analisar mais de perto.

- É a única varinha feita por encomenda na história da família. Leanor


Malfoy foi quem mandou que fosse confeccionada. Ela exigiu essa varinha após
dizer que a que o seu marido tinha lhe dado era uma varinha infiel.
Evidentemente não era bem sobre as varinhas mágicas que ela reclamava, mas
essa em especial foi a única combinação de Prata-lima com sangue de unicórnio
registrada na história. Leanor Malfoy conseguiu prodígios na arte da psicologia,
vidência, oclumência e legilimência com essa varinha, por isso o mito da
madeira, isso começou só no século XIX. – contou Draco.

- Sim, me lembro de ter lido sobre Leanor Malfoy, mas nunca se falou
muito sobre sua varinha. – Hermione tornou a colocar a caixa sobre a mesa –
Foi por isso a escolheu para mim?

- Não. – respondeu ele sabendo que ela havia tentado se encaixar na


história que ele contara e não tivera sucesso.

- Por que a escolheu para mim então? – ela queria saber.

Dessa vez ele estava realmente incomodado. Deveria omitir sobre a verdadeira
razão. Era uma estúpida razão, suas outras escolhas haviam sido bem
fundamentadas, porém essa havia sido quase que uma aposta. Não havia
nenhum motivo específico que o fez escolher uma varinha de Lima-prata. Sabia
que Hermione abandonara a matéria de adivinhação no terceiro ano de
Hogwarts, sabia que não era por sua incapacidade, e sim pela controversa
metodologia de ensino de Sibila Trelawney. Tanto que Hermione se provara
excelente na arte da clarividência e legilimência com o passar dos anos naquela
guerra. Mas mesmo assim aquilo não era nela uma característica marcante.
Talvez ele pudesse justificar que o sangue de unicórnio adulto fosse puro
demais assim como ela parecia estando inserida no meio de Brampton Fort,
mas essa justificativa era ainda mais estúpida do que o real motivo que o levou
a escolher aquela varinha.

- A escolhi porque é a varinha mais bonita do estoque de honrarias. – disse


de uma vez. Era sem dúvida a mais bem trabalhada de todas as varinhas da
família Malfoy. A madeira por si só já a diferenciava de qualquer outra, mas a
simplicidade e elegância com que havia sido esculpida era de tirar o fôlego e
sempre que colocava os olhos nela, não conseguia deixar de compará-la com
Hermione. Aquele objeto nas mãos dela seria quase que o complemento que
lhe faltava. Hermione ergueu as sobrancelhas surpresa e por alguns segundo a
viu parecer desconcertada, o que o fez entender que ela havia compreendido
bem a razão da escolha. Foi quando soube que deveria ter calado a boca. Com
que finalidade ele havia revelado aquilo? Por que? Sentiu-se o mais imbecil dos
homens. Limpou a garganta e tentou amenizar o efeito do silêncio naquela sala
– Lima-prata era muito comum no século XIX depois que os rumores sobre a
madeira se espalharam, mas quando se viu que era apenas mito, a demanda
caiu e quase todas foram perdidas.

Hermione assentiu evitando o olhar.

- É sem dúvida rara e exótica. – comentou ela. Estendeu a mão e a pegou.


Draco sentiu sua última esperança querer decepcioná-lo. Não havia nenhum
motivo forte que garantisse que aquela varinha escolheria Hermione. Mas foi
quando ela respirou fundo olhando para a varinha em sua mão que ele dobrou
sua atenção e soube que talvez pudesse ter acertado. Os olhos dourados dela
foram para cima dele e então tornaram a descer para a varinha novamente. Ela
trocou o objeto de mão, abriu e alongou os dedos. Ele esperou pelo que ela
fosse dizer esperançosamente, mas demorou mais alguns segundos para que
ela limpasse a garganta e dissesse: - Disse que ela só teve três donas. Uma foi
Leanor Malfoy. Quem seriam as outras duas?
Aquela era uma história que sua família buscava sempre omitir.

- Início do século XX. – ele tentou se lembrar com detalhes – Louis Malfoy
se casou com uma sangue-puro, mas ela não era de alto nascimento nem de
nenhuma família tradicional da época. O que é uma vergonha. Essa varinha
estava entre as três escolhas dele para ela e embora a história conte que a
varinha não a escolheu, ela se recusou a usar outra. – pausou – A outra foi
Victoria Malfoy. Meio do Século XX. Era a filha mais nova de Jamie e Alexandra
Malfoy. Ela entregou a varinha quando se casou.

Hermione sorriu. Ele achou bonito como aquilo apareceu naturalmente em seu
rosto. Ela tornou a empunhar a varinha e analisá-la mais de perto. Depois de
um longo minuto em silêncio, o minuto que ela usou para redesenhar cada
mínimo detalhe da peça em sua mão, ela finalmente ergueu o olhar para Draco
e arrastou a caixa vazia de volta para ele.

- Vou ficar com essa. – ela disse.


- Ela a escolheu? – perguntou ele.

- Parece que sim. – respondeu ela e ele se perguntou o porque daquele


fato. – Parece uma varinha especial, mas com nenhuma história muito
grandiosa. Ela certamente encontrou algo em comum comigo. - a guardou –
Um dia talvez eu saiba o porque ela me escolheu. - deu as costas a ele e
caminhou de volta para as portas de vidro. – Estava apostando em alguma?

- A de Álamo me parecia a escolha perfeita. – disse ele enquanto juntava


as caixas e as guardava. - Meus homens sempre temeram duelar com você.

Ela ficou em silêncio um bom tempo. Por mais que aquilo acabasse sendo um
elogio, ela não demonstrou nenhum apreço pelas palavras. Ele não entendeu.

- Acho que eu não preciso mais de uma boa varinha para duelar. – foi o
que ela disse usando uma tom baixo e uniforme. Então ele entendeu.
Deu a volta na mesa e foi até as portas assim como ela para olhar também a
movimentação no jardim interno. O silêncio entre eles não era mais incomodo
como antes e ele percebeu que ignorar um ao outro parecia uma boa forma de
lidar com aqueles momentos que certamente tornariam a acontecer,
principalmente agora que dividiriam a mesma casa. Notou também que não era
tão perturbador manter uma conversa sem o interesse de ofendê-la ou ser
agressivo, por mais que não gostasse da mulher, viveria com ela para o resto
da vida. Talvez pudesse encontrar uma forma de ser simples e objetivo sempre
que precisasse. Eles trabalhariam para encontrar uma boa forma para lidar um
com o outro. Sua mãe e seu pai haviam conseguido. Não seria impossível.

- Vamos. – deu as costas para ela e seguiu para porta. – Temos que fazer a
tão esperada aparição como Sr. e Sra. Malfoy.

Ela levantou o olhar para ele e Draco soube com aquele olhar que Hermione
lamentava o mesmo que ele naquele exato momento. Aquela noite ainda não
estava nem perto de acabar.
Capítulo 8

Narcisa Malfoy

Ela não tinha crédito algum para elogiar a beleza de seu filho, era a mãe e a
cultura regia que por mais que tentasse, suas palavras seriam inválidas. Mas
ela simplesmente não podia olhá-lo sem considerar o quanto ele chamava
atenção. As vezes o olhava e enxergava o encanto de Lúcio entrando em sua
casa pela primeira vez para pedi-la em casamento e fazê-la se apaixonar
perdidamente. Sem dúvida ele carregava a mesma essência. Talvez estivesse
impregnado no sobrenome Malfoy e no sangue-puro que carregava. Lamentava
por quebrarem aquela corrente com Hermione, mas era inútil tentar olhá-la
com desprezo. Era uma Malfoy e embora tivesse se tornado dura e fria como
eles, ainda tinha um coração.
Ele e ela. Draco e Hermione. Era inegável o quanto eles juntos formavam um
excelente casal. Voldemort vira aquilo. Naquela noite, em especial, eles parecia
quase um jovem casal da realeza. Hermione estava exuberante e por mais que
aquilo apagasse tudo que estivesse ao seu redor, Draco era a única exceção
que ela não conseguia anular. E não era porque era a mãe dele, mas porque
ela ainda via cada moça presente naquele casamento suspirar por ele e ignorar
a presença de Hermione ao seu lado.

Mas por mais que tudo estivesse minimamente perfeito, o que a preocupava
era o noticiário do dia seguinte. Eles eram o casal mais infeliz que ela já havia
visto e era tão notório que certamente comentariam sobre aquilo. A lente de
uma câmera captaria facilmente o modo como se tocavam friamente, como não
trocavam nenhuma palavra sequer e como simplesmente estavam
inexpressivos.

Tinha que concertar aquilo, não era algo que dependia dela exatamente, mas
tinha que agir. Não se importou em cortar o entediante assunto do casal ao
qual era obrigada a dar atenção naquele momento e apressou-se para cruzar
todo o jardim, embora parecesse uma missão quase impossível. Era
interrompida a cada minuto por alguém que certamente precisava fazer a
média com algum Malfoy e Narcisa se esforçava ao máximo para usar de toda
educação que havia adquirido com os anos na tentativa de se livrar daqueles
que detinham seu caminho.

Quando finalmente chegou a mesa dos dois, esperou que os Price terminassem
a apresentação da família ao casal. Somente tomou seu assento ao lado de
Draco quando ambos disseram, de maneira quase decorada, os cumprimentos
finais e toda a corja Price se retirou.

- Problemas? – Draco perguntou assim que ela tomou sua cadeira.

- Sim. – respondeu e viu Hermione assumir um olhar de alerta.

- Tudo me parece em perfeita ordem. – comentou Draco.

- E está. – disse Narcisa. – Exceto por vocês dois.

Nenhum dos dois expressou qualquer reação ao que ela havia dito.
- Estamos casados. Esse era o nosso papel. – respondeu ele.

- Por favor Draco, sabe que o dever de vocês vai muito além disso. Por
agora eu só preciso que parem de arruinar o papel de “manter as aparências”.
– implorou ela.

Draco riu.

- O que tem em mente que eu faça? – o filho pareceu se divertir com


aquilo.

- Interaja com a sua esposa. – Narcisa foi ríspida e viu os olhos de


Hermione se estreitarem com a definição que havia usado para se referir a ela.
– Eu não quero os jornais anunciando que eram duas estátuas de gelo que
foram colocados uma do lado da outra. – se levantou e estalou os dedos para a
elfa ao lado que logo tratou de apresentar a próxima família a prestar
cumprimentos.
Deu as costas a eles e sentiu o alívio de que ao menos algo a respeito havia
feito. Distanciou-se da mesa e enquanto procurava o máximo desviar das
pessoas, checava se a música estava soando exatamente como deveria. Foi
quando estava a altura da mesa do centro do jardim que foi chamada atenção
pelo toque suave e firme em sua cintura. Ela conhecia o toque de Lúcio. Sorriu
e em segundos ele estava no campo de sua visão.

- Hei. – cumprimentou gentilmente.

Ele sorriu. Ela ainda sentia suas mãos suarem quando isso acontecia. Era
sempre hipnotizante o sorriso que ele tinha.

- Fez um excelente trabalho, Cissa. – a voz dele foi calma e cheia encanto.
Ele segurou seu rosto e a beijou ternamente.

A maravilha daquele momento fez com que sua alma fosse quase arrebatada.
Era por aquilo que ela havia se esforçado tanto. Doara tanto de si naquele
árduo trabalho apenas para ter esse momento. O momento em que seu marido
a tocaria e agiria como deveria ter agido cada dia desde o dia que haviam se
tornado oficialmente um casal.
Mas quase que instantaneamente caiu em si e se lembrou de que não havia
sido exatamente por um sorriso e um beijo que havia se esforçado tanto. No
mesmo momento também se lembrou de que seu marido era Lúcio Malfoy e o
conhecia muito bem.

- Vai passar a noite em casa? – perguntou o mais indiferente possível


assim que ele se afastou.

Não havia mais sorrisos para ela.

- Sabe que não posso. – começou Lúcio e ela sabia porque ele não podia.
Deveria ter encontrado alguma outra mulher pra passar a noite.

- Sinto sua falta. Nunca está em casa. Esperava que ao menos hoje tivesse
reservado um tempo para sua família. – foi séria e sabia que ele odiava quando
ela utilizava a palavra família como se estivesse devendo algo a isso. Sabia que
deveria ignorar e evitar discussões, mas realmente não esperava que Lúcio
fosse dispensá-la no dia do casamento do próprio filho. Não depois de todo o
trabalho que tivera para fazer com que tudo saísse perfeito.

- Narcisa, desde de que meus pais morreram você é a pessoa que mais me
conhece. Por que se esforça em fazer com que eu a despreze? – ele deslizou as
mãos para longe dela. Narcisa se sentiu acuada quase que imediatamente. – Só
porque não irei estar essa noite em casa, não significa que eu não me importe
com a família. Tudo que eu faço é pela família, sabe disso.

Narcisa estreitou os olhos. Sabia que ele estava tentando fazer com que ela se
sentisse culpada. Normalmente era tão bom e tão perverso que tinha sucesso
nas tentativas mesmo ela sabendo que queria apenas fazer mal a ela. Lúcio
nunca havia feito nada pela família. Narcisa e Draco eram sua família, mas o
que ele considerava família era o sobrenome Malfoy, não sua mulher e seu
filho.

Engoliu seu orgulho sabendo que não iria valer a pena dizer tudo que tinha
direito, pois sabia que se dissesse ele encontraria a resposta certa para fazer
com que ela se sentisse a última das mulheres. Se esforçou para fazer aparecer
em seu rosto um sorriso verdadeiro.

- Me desculpe, querido. – tocou-lhe o rosto calmamente. – É realmente um


homem muito ocupado.
Deu as costas não podendo esperar que ele tivesse a chance de retrucar
qualquer coisa que a fizesse se sentir mal. Pegou a taça que um garçom
oferecia a uma das mesas e procurou o caminho mais fácil para sair do jardim.
Não deu qualquer tipo de atenção para ninguém que a tentou parar e bastou
apenas dois goles para que ela devorasse o álcool em sua taça.

Em poucos minutos ela já estava cruzando um dos corredores da ala para o


qual entrara e sem nenhum critério de escolha, se enfiou para dentro da
primeira porta que enxergou. Estava escuro, assim, o som da festa ficou
abafado quando bateu a porta, fechou os olhos com força e descansou suas
costas contra a parede. Seus dedos involuntariamente pressionaram a taça em
sua mão e tudo que ela escutou em seguida foi o som do vidro se espatifando
quando o lançou para longe.

Abriu os olhos e sentiu o nó subir e entalar em sua garganta. Soltou o ar


procurando aliviar a dor que apertou em seu peito. Respirou fundo e se
questionou o porquê de estar perdendo seu controle. Fechou os olhos mais uma
vez e tentou limpar sua mente. Engoliu o nó em sua garganta com força.
Inspirou e expirou. Abriu os olhos e desencostou-se da parede. Alisou seu
vestido e refez sua postura. Viu seu reflexo em uma janela escura não muito
longe. Aproximou-se e se encarou silenciosamente.

Ela já não era mais bonita como Hermione. Estava ficando velha. Ergueu a mão
e tocou o próprio rosto ao enxergar os defeitos que a maquiagem ajudava a
esconder. Talvez precisasse de algumas poções para resolver uns problemas
embaixo dos olhos. Talvez algo que pudesse suavizar as expressões entre suas
sobrancelhas. Deveria ficar grata de não ter marcas de sorriso nem linhas de
expressão muito fortes. Mas definitivamente precisava rejuvenescer. Talvez
fosse por isso que seu marido a evitava mais com o passar dos anos. Cada vez
Lúcio estava pior. Ela jamais julgaria que a abandonaria em um dia como esse.
Narcisa nunca estaria aos pés das mulheres jovens que ele levava para a cama.

A dor em seu peito veio forte novamente e o nó subiu para a garganta de uma
vez. Suas vistas embaçaram e ela se viu novamente no estado louco de antes.
Respirou fundo e apertou os olhos. Estava fazendo tudo errado. Contou até oito
calmamente enquanto procurava esvaziar a mente.

Era uma Malfoy. Repetiu isso para si mesma mentalmente. Era uma Malfoy.
Abriu os olhos e se encarou no reflexo com determinação. Reafirmou mais uma
vez sua postura e limpou a garganta.

- Amo meu esposo. – disse em voz baixa para o reflexo. – Amo minha
família. – sua expressão fria lhe deu confiança. – Sou uma Malfoy.

Deu as costas e seguiu para o banquete. Tinha um papel a cumprir ali.


Hermione Granger

Tedioso era a palavra exata para definir o que era obrigada a fazer.
Obviamente que no começo havia sido interessante encontrar cara a cara com
todos os nomes que tivera que estudar antes daquela festa, mas depois de um
tempo tudo passou a ser tão monótono que qualquer inseto parecia mais
interessante. Draco ao seu lado também parecia estar em um estado não muito
diferente.

O elfo anunciou a próxima família e os cumprimentos foram feitos. A fila dos


nomes estava finalmente chegando ao fim e pelo menos por isso ela agradecia.
Mas aquela noite ainda estava longe de chegar ao fim. Até o momento ela e
Draco se evitavam ao máximo. Faziam o discurso que tinham que fazer de
acordo com o protocolo, mas não trocavam nenhuma palavra. Aquilo não era
um problema para Hermione e para ele também não parecia ser. Mas Narcisa
havia dito que deveriam interagir porque para ela aquilo era um problema e
ainda assim, nem Draco nem menos Hermione tinham o interesse de tomar a
iniciativa de fazer qualquer contato.
Correto que era extremamente ruim ser obrigada a aturar tudo aquilo. Mas
nada se comparava ao tormento de saber que quando aquele banquete
acabasse e todos fossem embora, ela teria que se dirigir com Draco para
qualquer lugar que tivessem planejado para eles passarem a noite, onde
deveriam cumprir o papel de homem e mulher ao fazer o que Narcisa
carinhosamente chamava de “consumar a união”. Aquilo a assustava e não,
definitivamente ela não queria chegar nessa parte. Mal conseguia suportar a
presença de Draco, como suportaria a proximidade dele, o toque dele? Não
tinham intimidade para praticar o que deveriam praticar. Ela não seria capaz.

A última família foi chamada e o casal dono do sobrenome se apresentou e fez


os devidos agradecimentos pelo convite, desejou felicidade ao novo casal e
recebeu os cumprimentos dos Malfoys. Foram dispensados e Hermione respirou
fundo cansada, mas sabendo que pelo menos aquela etapa já havia vencido.

- Estou surpreso. – Draco disse enquanto pegava sua taça que


surpreendentemente estava cheia de água e não álcool. Hermione presumiu
que só poderia estar falando com ela já que evidentemente não havia ninguém
na mesa além deles. – Você sabia todos os nomes. – ele bebeu da água.

- Sim. Fui obrigada a estudar sobre cada um deles. – respondeu. –


Aparentemente não posso ser uma noiva que não conhece os próprios
convidados. – ela também bebeu de sua água e sentiu-se quase renovada ao
fazer isso.
- Estudar. – Draco repetiu a palavra como se houvesse algo a mais ali que
ele gostaria de saber. –E o quanto esse estudo te deu de conhecimento?

- O suficiente para saber que os Barker estão furiosos porque não se casou
com a filha deles, que os Anderson são a única família que não está usando
roupas caras para aparentarem estar sem dinheiro já que ainda não pagaram a
dívida que tem com os Wright. – ela passou os olhos pelo jardim. – E que o Sr.
Evan Morris trai por quase vinte anos a Sra. Morris com...

- Kendra Wood. – eles disseram juntos e riram fracamente pela situação


que todos sabiam exceto a pobre Sra. Morris.

Trocaram rápidos olhares desconcertados e deram o ultimato de que aquilo já


havia sido demais para os dois. Calaram-se e retornaram ao status do silêncio,
onde se evitavam.

- Cinco minutos. – anunciou uma das moças da organização que cruzou


rapidamente da mesa deles para o centro do jardim.
Hermione desejou que tivesse mais tempo para o descanso, mas não havia
nada que pudesse fazer contra aquilo. Pegou sua água e molhou a garganta
que ainda reclamava de todos os cumprimentos que fora obrigada a dirigir aos
convidados em particular.

Viu Narcisa sair de uma ala próximo a mesa onde estava e se infiltrar
entre os convidados. Seu andar estava mais perfeito do que nunca, sua postura
impecável assim como o vestido, a maquiagem e o cabelo. Tudo nela transmitia
elegância. Questionou se um dia se tornaria realmente uma Sra. Malfoy. Não
conseguia se enxergar sobrevivendo ao processo. Não conseguia enxergar sua
vida com Draco Malfoy, não conseguia sequer enxergar a realidade de estar
casada com ele, mesmo que já estivesse. Era tudo tão fora do que ela havia um
dia considerado para sua vida, era fora até mesmo de todos os caminhos
absurdos que sua vida poderia tomar. Ela não era capaz nem mesmo de
imaginar, não sabia nem por onde começar se tentasse.

Desviou seu olhar de Narcisa e o passou pelos convidados. Todos se


restringiam a conversas formais, provar das caras bebidas e usufruir da suave
música que vinha da orquestra. Era a vista de um entediante encontro.
Suspirou e olhou para o céu. Havia estrelas e a lua estava cheia. Lembrou-se
de Lupin e soube que alguém longe daquele lugar também estava tendo uma
noite ruim.

- Aquele é o nosso sinal. – escutou a voz de Draco ao seu lado. Abaixou o


olhar e teve tempo apenas de registrar a orquestra dobrar o volume da música
que acabara de começar.
Os olhares se voltaram rapidamente para sua mesa e de repente ela e Draco
eram a atenção de todos. Levantou-se sabendo como deveria prosseguir. Deu a
volta na mesa pelo lado oposto que seu mais recente marido e se encontrou
com ele para unirem as mãos e seguirem por entre os convidados para o centro
do jardim.

Ela não imaginou que fosse ser tão assustador os olhares que a encaravam. Era
como se estivesse a caminho de ser degolada vestida como rainha. Sentiu a
mão de Draco apertar a sua.

- Concentre-se. – ele a alertou baixo e ela percebeu que havia diminuído a


velocidade do próprio passo. Deixou de prestar atenção nos olhares e se
esforçou para conseguir a concentração que era necessária.

O meio do jardim havia sido cercado com grandes arranjos, parte do espaço
era ocupado pela orquestra, a outra parte era apenas o vazio tablado polido por
cima da espessa grama uniforme. Assim que chegaram ali, Draco a puxou pela
mão que estava unida a dela e a colocou a sua frente de costas para ele. A
outra dele pousou distraidamente em sua cintura e então Draco a fez passear
por todos os arranjos antes de levá-la ao centro como se estivesse mostrando
algum produto aos convidados que se acumulavam para assistir a parte mais
esperada daquele banquete.
A mão em sua cintura finalmente a guiou para o centro e então a orquestra
silenciou-se. Não havia sequer um cochicho ecoando. Tudo pareceu morrer e
ela se sentiu sozinha com Draco. Num jogo de mãos, a que estava unida com a
dela a girou para que pudesse ficar de frente com ele. Os olhos dourados de
Hermione cravaram-se instantaneamente nos cinzas dele e ela quase perdeu o
fôlego ao ver o quanto seus olhos pareciam poderosos de perto. Ainda com as
mãos unidas ele ergueu o braço dela e o passou por cima de seu ombro. Num
gesto firme e suave, os dedos dele deslizaram para longe dos dela e tudo que
restou para Hermione foi deixar sua mão descer calmamente para pousá-la ali.
No instante em que sua mão se aquietou sobre o ombro de Draco, a sua outra
vaga foi capturada pela dele suavemente e erguida de maneira a fazê-la
aprumar a postura. A outra dele cercou sua cintura sem pressa, como se
quisesse fazer valer cada segundo, e então ele a trouxe gentilmente para colar
o corpo dela no dele.

Foi quase em câmera lenta que ela viu seus rostos ficarem tão próximos. Teve
tempo de inalar o ar e prendê-lo ao tempo em que sentiu a respiração de Draco
bater contra ela. O calor do corpo dele a envolveu e ela sentiu que suas
bochechas corariam a qualquer momento. Ah céus! O que ele estava fazendo?
Tudo parecia estar acontecendo tão devagar. Os olhos de Draco desviaram para
a boca de Hermione e foi inevitável quando viu os seus caírem para a boca
dele. Sabia que não era o momento, mas naquele milésimo segundo em que
ela presenciou suas bocas se caçarem no ar, a hesitação da vontade de se
tocarem, Merlim! Ela quis que ele a beijasse, mas então a orquestra lançou o
toque das primeiras notas e ela se viu deslizar pelo tablado quando Draco a
guiou junto com a melodia.

Seus olhares foram restaurados e ela se julgou doente por desejar o beijo de
Malfoy. Maldição! O que era aquilo? Os olhos dele firmemente estancados sobre
os dela não ajudavam a fazer com que a magia que a prendia naquele
mundinho encantado fosse quebrada. O poder daqueles cinzas parecia ser mais
forte do que qualquer pensamento racional que ela tentasse repetir para si
mesma. Odiou Draco Malfoy ainda mais.
- Vi as fotos que guarda em Whitehall. – a voz dele foi profundamente
baixa que quase fez suas próprias cordas vocais vibrarem. Ela pensou que fosse
derreter ali mesmo, mas no momento que processou o que ele havia dito,
acordou para o peso do que aquilo significava.

- Que fotos? – indagou rapidamente e desejou que não fosse o que ela
estava pensando.

- As nossas fotos. – ele respondeu com um sorriso discreto brincando nos


lábios.– Os recortes de jornal que deixa na mesa de seu escritório.

Ela não sabia se deveria se exaltar ou se deveria dar espaço a vergonha que
insistia em atingi-la naquele momento, mas precisou de um segundo para
refletir que se fizesse caso das imagens, aí sim se colocaria em uma situação
comprometedora.

- O que estava fazendo em meu quarto? – questionou não achando graça


no sorriso que ele insistia em manter.
- Aquele não é seu quarto privado, Hermione. – ela ainda não havia se
acostumado com o som de seu nome na voz de Draco Malfoy. – Deveria ter
previsto isso.

- E previ. – aquilo ajudaria a desmerecer as fotos que ela lutava todos os


dias para jogar fora e não conseguia. – Quero saber o que estava fazendo em
meu quarto.

- Se não se lembra, tive que escolher três varinhas para uma


desconhecida. Algo eu tinha que saber sobre você.

- Deveria ter perguntado. – ela mal deu tempo para que ele pudesse ter
dito algo mais.

Ele riu fracamente.


- Eu não desperdiço meu tempo. – giraram. – Quero saber por que guarda
aquelas imagens. – a saliva que ela engoliu desceu seco e quase seguiu a
direção oposta que Draco a guiava, mas ele a segurou firme pela cintura e a
forçou a deslizar para onde ele queria. – Concentre-se. Ninguém quer que você
arruíne a dança.

- Por acaso o incomoda que eu as guarde comigo? – perguntou.

- Não. – a girou novamente. – Sorria. – ordenou – Apenas quero um


motivo.

- Não tenho nenhum motivo que venha o interessar. – forçou seu sorriso.

- Por favor, Hermione. Me poupe desse jogo. – ele a guiou tão


elegantemente que ela mal conseguiu calcular direito o que seus pés haviam
feito – Eu quero o motivo. – ela se calou. – Ao menos que tenha algo a
esconder.
- Se eu quisesse esconder algo, Malfoy, eu teria dado um fim nas fotos que
viu, e não as deixado a mostra.

Ele ergueu a sobrancelha com aquele sorriso ridículo.

- Ao menos que tivesse a pretensão de me fazer pensar dessa forma.

Ela lutou para não revirar os olhos. Aquilo estava ficando infantil demais e por
alguma razão era justamente o caminho que Draco queria que aquele assunto
tomasse. Queria lançar sobre ele seu pior olhar, mas era obrigada a manter
aquele maldito e infeliz sorriso estampado na cara.

- O que é tão engraçado, Malfoy? – soava quase irônica.


- Está com raiva. – ele sorria. – E eu sou o culpado por isso. – a girou. –
Estou apenas tentando me dar a chance de ter um pouco de diversão nesse
tedioso casamento.

Ela não pode mais continuar sorrindo. Seus olhos estreitaram e ela quis
simplesmente devorá-lo.

- Quer um motivo, Malfoy? É isso que quer? Olho aquelas fotos e me


pergunto como conseguirei sobreviver perto de um verme como você. – quis
cuspir, mesmo que aquelas palavras tivessem regredido sua idade para os anos
de Hogwarts.

Ele riu com vontade dessa vez enquanto rodavam no último acorde da música.

- Agora está furiosa. – os olhos cinzas dele pareciam querer contaminá-la


com aquele veneno que só Draco Malfoy tinha. – Bem melhor. – ele a girou
com suavidade para o término da dança – Isso me faz sentir como se eu
estivesse de volta a Hogwarts. - o braço que a cercava pela cintura a apertou
com suavidade e dessa vez ele colou o corpo dela ainda mais ao seu. Hermione
voltou a sentiu a respiração de Malfoy contra seu rosto. Percebeu o encanto
dele querer possuí-la, mas ela lutou. – Tenho um bom palpite para o seu real
motivo.–os violinos soaram alto na última nota e então finalmente a orquestra
encerrou fazendo o silêncio durar pouco antes dos aplausos.

- Se eu mesma não tenho um motivo, como você pode ter um palpite? –


ela quase sussurrou. Draco estava tão próximo que mesmo se sussurrasse ele
escutaria.

Ele sorriu como se quisesse chamá-la de ingênua. Hermione sabia exatamente


que momento era aquele e o que deveria fazer, mas lutava tão bravamente
contra o poder de Malfoy em querer embriagá-la com aquela proximidade, com
aquele perfume, e com aquele tom de voz, que temeu pelo que fosse sair nos
jornais no dia seguinte.

- Sorria. – ele ordenou mais uma vez e Hermione sentiu sua mão seu
abandonada. Ela esperou que fosse ser exatamente como no dia de seu
noivado, mas dessa vez os dedos dele escorregaram por baixo de seu cabelo
quando ele tocou seu rosto. Ela não conseguiu sorrir e então finalmente ele
quebrou a barreira da proximidade quando cobriu seus lábios com os próprios.
Hermione se lembrou da sensação novamente e antes que pudesse pensar em
qualquer coisa, ela se viu perder as forças de lutar contra o infernal poder que
ele tinha. Os flashes dispararam por todos os lados e tudo para ela soou
abafado enquanto sentia a pressão dos lábios frios de Malfoy contra os dela. Foi
somente quando ele se afastou, depois do que pareceu uma eternidade, e que
ela tomou fôlego, foi que reparou que prendera a respiração por todo aquele
tempo. – Olha para aquelas imagens e lamenta por nos odiarmos tantos
quando vê que formamos um belo casal. – disse ele quando se afastou
milímetros da boca dela. Ele pode até ter usado o tom de quem ainda estava
tentando provocar, para que ela ficasse com ainda mais raiva, mas a vibração
do ruído da voz que tinha juntamente com o perfume que exalava e as
sensações que corriam pelo corpo de Hermione, fez com que ela se sentisse
completamente embriagada.
- Péssimo palpite. – ela se surpreendeu por ter tido a capacidade de dizer
algo. Talvez ainda fosse alguma parte do seu sistema racional que ainda lutava,
mas ainda assim havia saído como nada mais que um sussurro.

Draco riu fracamente e então ela sentiu o braço em sua cintura a apertar
gentilmente enquanto a boca dele voltou a cobrir a sua. Ela escutou um flash
de perto ao mesmo tempo que não lutou quando os lábios de Draco
trabalharam para abrir espaço. Ela estava inteiramente pronta para sentir o
gosto dele, o beijo dele, o sabor, a textura, mas foi exatamente no segundo
seguinte que ela soube que finalmente teria aquilo, o céu acima da cabeça de
todos ruiu estrondosamente.

Hermione contraiu todos os músculos e se afastou assustada. Olhou para o céu


escuro e não viu nenhum sinal de nuvem. Aquele sem dúvida havia sido o som
mais estranho que escutara. Parecia ter sido um trovão que caíra exatamente
ao seu lado, mas embora tivesse sido assustador como um, o som não poderia
ser comparado. Abaixou os olhos e viu todos os convidados procurando no céu
o mesmo que ela havia procurado. Encarou Draco a sua frente e ele era o único
que não se importava com o céu. A realidade bateu contra ela e então um giro
de confusão embrulhou seu estomago. Não soube exatamente se deveria se
questionar o que havia sido aquele barulho estrondoso, ou se deveria procurar
pela maldita resposta de estar lamentando ter pedido o beijo de Draco Malfoy.
Foi no seu minuto de confusão que Draco saiu de seu posto e a passos firmes e
decididos, sem se importar com ela, com a festa com os convidados, com nada,
tomou o rumo por entre os convidados. Hermione apenas juntou a saia de seu
vestido e tentou alcançar o passo dele.

- O que foi isso? – ela perguntou.

Ele a ignorou completamente. O Draco de minutos antes, que parecia


descontraído ao se divertir com algumas bobas provocações, agora havia dado
espaço ao Draco da inexpressão congelada que ela constantemente via. Ele
passou com pressa por entre os convidados que sussurravam atônitos.
Hermione tentava acompanhá-lo com dificuldade.

- Draco, – Pansy veio por um lado – não pode...

- Não agora, Pansy. – ele a cortou e passou por ela.


Bellatrix se aproximou.

- O mestre quer uma resposta dentro de quinze minutos. – ela disse e foi
embora tão rápido quanto havia se aproximado.

Draco continuou em seus passos e Hermione viu que ele tomava o rumo da
entrada da ala norte. Olhou para trás e ao longe viu Narcisa estalando os dedos
para alguém. Nos segundos seguinte a orquestra começava uma nova música e
então ela entrou pelo corredor da ala. Quem vinha na direção oposta era um
homem que ela não conhecia. O homem vinha com tanta pressa quanto os
passos do seu querido novo marido.

- Quem soou o canhão? – Draco perguntou imediatamente sem parar de se


movimentar

- O portão sul. – respondeu o homem ofegante.


- O portão sul não está aberto para chave de portais essa noite. – disse
Draco.

- A notícia não veio de fora, senhor.

Draco não disse nada em resposta. Os dois homens trocaram olhares e tudo
pareceu muito bem solucionado naquele silêncio entre eles.

- Me traga Viktor Krum. – foi a única coisa que Draco disse.

- Senhor, nos estamos tent...

- Agora! – Draco foi ríspido e seco.


- Agora mesmo, senhor. – o homem se virou e saiu na direção oposta com
ainda mais pressa.

Draco não teve nem um minuto de descanso e outro homem alto saiu de um
corredor que interceptava o que andavam. Era moreno, alto e musculoso.
Estava bem vestido, o que indicava que estava no casamento, Hermione não
conseguiu se lembrar quem ele era mesmo que tivesse estudado sobre todos os
convidados. Tudo explodia e se confundia muito facilmente em seu cérebro
naquele momento.

- Senhor... – ele veio até Draco.

- Deixe todo o exército sob aviso. – Draco cortou o homem antes mesmo
que ele pudesse fazer a pergunta que deveria.

- Imediatamente, Senhor. – o homem deu meia volta e voltou pelo


corredor do qual viera.
- Draco! – uma voz veio de trás deles. Hermione se virou rapidamente para
ver um homem afrouxando a gravata enquanto corria na direção do homem
que chamara.

Hermione virou um corredor seguindo logo atrás de Draco. O homem logo os


alcançou, vinha com uma pasta na mão.

- Dementadores.–o homem disse ofegante e passou a pasta para a mão de


Draco. Eles começaram a subir escadas. – Eles estão abandonando todos os
postos.

- O que? – Draco pareceu surpreso.

- Por isso soaram o canhão. – justificou o homem – Ainda estamos


esperando receber os memorandos dos outros fortes, mas se tivermos a
resposta que tivemos da guarda da muralha de Brampton Fort, é muito possível
que estejamos encarando um ato de traição.
- Estamos sem dementadores além da muralha? – o tom que Draco usou
havia um tom sério de preocupação.

- Sim. – respondeu o homem.

Draco ficou alguns segundos em silêncio antes de soltar um palavrão baixo.


Eles chegaram ao último patamar e trocaram de ala. Tornaram a cruzar mais
um corredor para o acesso as torres.

- O que é isso? – perguntou ao homem se referindo a pasta em sua mão.

- Os depoimentos da guarda de vigia.

- É tudo que tem até agora?


- Em documento, sim. – respondeu o outro.

- Eu não me importo com documentos agora. – devolveu a pasta para o


homem. – Quero todas as informações o mais rápido possível. Estarei em
minha sala.

O homem não respondeu nada, apenas deu meia volta e desapareceu.


Hermione continuou a seguir Draco e precisou tomar cuidado para não tropeçar
no vestido quando passou a subir os degraus compridos da torre principal.
Quando finalmente chegaram ao topo, cruzaram um pequeno hall de um
escritório vazio e entrou seguida do marido na sua esplendorosa sala. Ele nem
mesmo parecia fazer idéia de que ela estava ali.

Draco foi para detrás de sua mesa, empurrou para longe a cadeira, puxou da
parede um enorme pedaço de pergaminho com um mapa que Hermione tentou
decifrar rapidamente o que era, e o abriu sobre a mesa. O mapa era bem
desenhado e tinha grandes pontos negros espalhados em diversas áreas. A
legenda era visível e nenhum daqueles nomes Hermione conhecia. O silêncio foi
cruel enquanto Draco estava debruçado sobre aquele mapa. Ela quase podia
ver o cérebro dele trabalhando duramente. A recaída estúpida que tivera por
aquele homem parecia algo sem importância e para se discutir mais tarde já
que tudo aquilo que acontecia a deixava loucamente curiosa.
Batidas rápidas na porta foram seguidas da entrada de outro homem. Draco
ergueu os olhos de seu mapa e encarou o visitante.

- Os fortes reportaram para o portão sul que os dementadores


abandonaram os postos. - o homem disse. – Estamos recebendo mensagens de
todas as outras torres de vigias e das outras áreas onde destinamos o uso de
dementadores. As mensagem são as mesmas. Os dementadores... –o homem
respirou fundo. – desapareceram. – concluiu.

O silêncio que veio de Draco fez Hermione ver o cérebro do homem


trabalhando rapidamente e arduamente. Ele deu as costas por um minuto e
então decretou sua resposta:

- Quero que montem um documento com depoimentos, hora, nomes e o


máximo de informação possível de cada lugar que usamos dementadores.
Quero uma descrição minuciosa dos assuntos tratados nos últimos contatos, o
comportamento, e uma entrevista particular com cada comensal responsável
pelo contato com dementadores. – voltou-se para o homem. – Cada um deles.
– frisou – O mais rápido possível.
Mal havia terminado de falar e pela porta passou outro homem. O de antes foi
embora no mesmo segundo carregando o dever que havia recebido.

- Senhor! - o homem ofegava. – Askaban. – ele inspirou oxigênio. – Está


em rebelião.

Aquilo pareceu vacilar o equilíbrio de Draco Malfoy. Por um segundo Hermione


se preparou para correr junto com os dois todo o caminho de volta ou para
onde quer que eles precisassem seguir imediatamente, mas então o homem
moreno e forte que viera até Malfoy no corredor do primeiro patamar passou
pela porta e a figura dele pareceu ser exatamente o que Draco precisava
naquele momento.

- Mason. – Draco se direcionou para o homem instantaneamente. – Mande


a zona cinco para Askaban e a zona seis para fazer a varredura da área. Agora!

O gigante moreno saiu tão rapidamente quanto entrou. Draco voltou para
detrás de sua mesa e o modo como fechou o mapa e o lançou para longe de
sua vista foi suficiente para que Hermione percebesse que ele estava furioso.
Viktor Krum finalmente apareceu pela porta, obviamente não em um bom
momento para Draco. O primeiro olhar dele foi para Hermione e ela sentiu
como se estivesse sendo despida.
- Sinto informar, mas a situação em Askaban está fora de qualquer controle
a essa altura do campeonato. – Krum apressou-se para dizer pulando seus
olhos de Hermione para Draco.

Draco tinha os dois punhos fechados contra o mogno lustroso de sua


gigantesca mesa, ele se apoiava no peso dos braços e tomava alguns segundos
de silêncio, aparentemente para tentar se tranqüilizar.

- Me diga que não é a Ordem. – a voz de Draco soou baixa e grave. Estava
em profundo desapontamento.

Viktor pareceu temer responder.

- É a Ordem.
Hermione sentiu um calor em seu peito e quis sorrir no mesmo instante. Viu os
músculos da mandíbula de Draco se contraírem e a veia de sua têmpora saltar.
Ele deu um soco de frustração na mesa e ergueu os olhos para Viktor.

- Por que eu não estava sabendo disso? – vociferou ele enquanto seus
olhos pareciam queimar em ódio.

- Eu disse que precisava fazer algo por eles, do contrário poderiam me


descobrir. – justificou Krum.

Draco deu as costas puxando o fôlego como se tentasse buscar controle pelo
ar. Os músculos de sua mandíbula trabalhavam como se estivessem querendo
massacrar alguém entre os dentes. Ele foi de um lado para o outro e sua
respiração se tornava mais pesada a cada segundo. Certa hora ele passou os
olhos pela sala e se aborreceu ainda mais com algo. Fitou rapidamente o
homem que dera a notícia sobre Askaban. Sua figura ainda estava parada no
mesmo lugar completamente imóvel.

- ONDE ESTÃO MEUS HOMENS? – Draco trovejou inconformado. O homem


deu as costas e saiu rápido como uma gazela foge do predador. Draco tornou a
andar de um lado para o outro. – A Ordem está planejando reunir todos os
rebeldes. – disse enquanto seu cérebro trabalhava – Temos prisioneiros em
Askaban que poderia facilmente ser a ponte para a Ordem conseguir contato
com outros grupos. –Draco parou e encarou Viktor Krum. Foi no mesmo
segundo que Voldemort passou pela porta seguido de Bellatrix Lestrange,
Theodoro Nott, e mais dois homens que Hermione não reconheceu. Seus
músculos se contraíram e ela afastou um passo apenas pela incômoda presença
do bruxo.

- Espero ouvir que soaram o canhão por acidente. - Voldemort disse.

- A guarda não cometeria esse tipo de erro, sabe disso. – Draco respondeu
parando e encostando-se na própria mesa. – Dementadores estão
abandonando seus postos em todas as partes do planeta. Algo está os forçando
ou estão fazendo isso por livre e espontânea vontade. Se estão agindo por
interesse próprio, esse pode ser um caso de traição. – ele enfiou as mãos no
bolso. – Isso é algo para ser estudado, o real problema é que a Ordem tinha
domínio dessa informação e Askaban está em rebelião nesse exato momento. –
desencostou-se de sua mesa. – Sabemos que a Ordem tem planos para tentar
reunir mais uma vez todos os grupos da resistência. – ele começou a andar,
quase que involuntariamente, de um lado para o outro novamente. – Ordenei a
execução de todos os prisioneiros ligados a grupos de rebeldes, mas a lista é
grande, está levando dias. A Ordem os quer e a essa altura, eles estão muito
perto de tê-los.

O silêncio que se seguiu foi perturbador. Hermione pulou seus olhos de


Voldemort para Draco e vice-versa. Todo o resto da sala pareceu fazer o
mesmo.
- Como está agindo? – foi a única coisa que Voldemort perguntou.

- Liberei duas zonas avançadas para Askaban. Toda a informação que


tenho até agora é de que estão em rebelião. Por agora, preciso de comensais
lá. Preciso que dominem a situação e que me reportem detalhes para que eu
possa agir com a zona sete no caso por inteiro. – Draco respondeu.

- Me desculpe. – interrompeu Theodoro Nott limpando a garganta. – Eu sei


que Askaban parece um assunto bastante preocupante, mas não sei se
notaram na parte em que estamos sem dementadores. – Theodoro deu um
passo a frente. – Draco, não podemos ficar nas terras de Brampton sem
dementadores.

- Sei disso. – Draco disse.

Cinco homens entraram na sala montaram uma guarda próximo a porta.


Voldemort aproximou-se de Draco muito calmamente. Ele não demonstrava
nenhum sinal de preocupação ou aborrecimento.
- Tem duas semanas para concertar isso. – disse o bruxo num tom sereno,
porém dotado de uma autoridade que só Voldemort exalava. – Se eu ouvir que
a Ordem teve qualquer tipo de vitória, por mais miserável que seja, eu a
colocarei na sua lista de fracassos e sei bem o quanto odeia fracassos.

O bruxo deu as costas e saiu sendo seguido por Bellatrixque


surpreendentemente estivera nas sombras durante toda aquela noite e pelos
dois homens que Hermione não tinha idéia de quem fossem. A sala caiu em
silêncio. Hermione ainda podia sentir o cérebro de Draco trabalhando. A
ameaça de Voldemort não havia o afetado ou nem mesmo o surpreendido. Ele
parecia saber lidar bem com aquilo, parecia conhecer bem as obrigações, e por
vezes Hermione sentia que ele via aquela guerra mais como dele do que de
Voldemort.

- Viktor. – Draco ergueu o olhar e recebeu outro do homem que Hermione


notou estar apreensivo. – Tem me servido todos esses anos de uma maneira
muito única...

- Eu não o sirvo, eu sirvo o Lorde das Trevas. – Viktor o interrompeu.


- Você não me interrompe enquanto eu falo. – Draco usou de um
autoridade que a surpreendeu ao mesmo tempo que a assustou. - O exército é
meu, as ordens são minhas, e você serve a mim. – ele foi claro e Hermione
estranhou o modo como ninguém contestou aquilo, nem mesmo Viktor tornou a
retalhar contra aquela idéia. – Sei que está escondendo algo.

- Sabe bem que eu sempre tenho algo para esconder. Eu jogo o meu jogo.
– ele respondeu. – Tem sido assim por todos esses anos.

- Tem sido assim todos esses anos porque eu tinha plena certeza de que
lado estava o seu interesse. – parou frente ao outro – Agora, eu já não tenho
toda essa certeza e você sabe o quanto eu odeio ter que lidar com a dúvida. –
Draco usava de um tom uniforme e cada palavra era dita com calma e sem
nenhuma pressa. – Portanto, você não terá permissão para sair por nenhum
dos portões nem tomar qualquer chave de portal, e se for realmente esperto
como sei que é, me entregará sua varinha e acompanhará meus homens para o
seu novo exílio. – dito aquilo Draco estendeu a mão e esperou pacientemente.

Hermione sentiu a tensão daquele momento. Viktor Krum estava visivelmente


aborrecido e pela sua expressão era possível saber que aquilo não havia estado
em seus planos. Aquele pareceu ser o tempo em que ele colocou o cérebro para
trabalhar e remoera cada palavra de Draco. Por um momento Hermione
esperou que ele simplesmente fosse lutar para tentar fugir, mas com toda
relutância, ele apenas enviou a mão no bolso, tirou sua varinha e a colocou na
mão de Draco.
- A Ordem está esperando que eu retorne. – ele avisou.

- Dê a ele um bom quarto. – Draco apenas disse para os dois guardas que
haviam se colocado um a cada lado de Viktor e deu as costas.

- Vai dar a ele um bom quarto? – Theodoro desdenhou assim Viktor foi
levado para fora da sala.

- Ele me serviu bem e por muito tempo. – Draco deu meia volta e colocou a
varinha de Viktor sobre sua mesa. – E ainda não posso dizer nada sobre as
intenções dele. Estou apenas sendo cuidadoso.

- Krum está certo, a Ordem está o esperando. – alertou Theodoro.


- Essa é a menor das minhas preocupações agora. –Draco tomou o rumo
dos guardas próximos a porta. – Pensarei nisso depois, por agora eu só não
posso deixar que ele saia daqui. – voltou-se para um dos guardas. – Reúna o
conselho e o chefe da guarda, estarei lá em quinze minutos. - deu a ordem e
voltou-se para outro. – Prepare minha saída pelo portão sul. – voltou-se para o
último deles. – Diga a Mason que quero a zona sete em formação no pátio leste
em uma hora. – Voltou-se para Theodoro. – Preciso que você me mantenha
informado das atividades de seu departamento enquanto eu estiver fora.

- Certo. – respondeu ele.

- Tem alguma previsão?

- Nenhuma previsão. – Theodoro disse e Hermione não entendeu. – Sou só


o governador, isso não tem nada em comum com a minha área.

- Você conhece a maldição.


- Não sou o único que conhece.

- É o único que eu confio.

Theodoro riu.

- Você não confia em ninguém, Draco. – o homem disse num tom


divertido. – Mas sabe que cuidarei disso por interesse próprio.

- Perfeito. Estava contando com isso. – Draco disse dando as costas ao


homem e foi naquele minuto que os olhos dele acidentalmente caíram sobre
Hermione. No primeiro segundo ele pareceu surpreso, no segundo ele olhou
para os lados num misto de confusão e dúvida, no terceiro ele apenas uniu as
sobrancelhas aborrecido. – O que está fazendo aqui?

Hermione não gostou do tom nem um pouco gentil que ele havia usado, e
também não se agradou do fato de ter sido simplesmente esquecida.
- Vim logo atrás de você todo o caminho do jardim para cá, se não se
lembra. – tentou ser estúpida.

Draco rosnou em resposta.

- Você deve voltar ao banquete. – tomou o rumo de sua mesa.

- Acha que eu sou um de seus homens? – moveu-se para perto, cheia de


indignação, tentando se manter no campo de visão dele, que insistia em
manter a atenção em qualquer outra coisa que não fosse ela. – Acha que vai
simplesmente ordenar que eu volte para aquele inferno? O que espera que eu
diga? “Sim, senhor”? Vou estar na reunião do conselho, faço parte dele.

O riso que Draco soltou foi seco.


- Não, você não estará. – ele juntou papéis em sua mesa. – E não faz parte
do conselho, está presente nas reuniões diárias apenas pela conveniência do
cumprimento de uma ordem que me foi passada. – pegou a varinha de Krum e
deu a volta na mesa. – E quem pensa que é, rebelde? – ele se aproximou dela
e Hermione sentiu-se intimidada pelo olhar que ele usou. – Ter o meu
sobrenome não te torna menos sangue-ruim nem menos prisioneira. Continua
tendo que servir a ordem de qualquer verme desse lugar. – tomou o rumo da
porta. – Encontrarei alguém para trazer minha mãe até você, ela certamente
saberá o que fazer. – e saiu batendo a porta.

Hermione sentiu o sangue ferver. Juntou as saias de seu vestido e apressou-se


para a saída. Quando estava prestes tocar a maçaneta viu a barreira de um
braço que deteve sua mão.

- Hei. – a voz masculina chamou sua atenção enquanto ela procurava


afastar-se do braço quase que com repulsa. – Não é uma hora muito boa para
irritar Draco Malfoy.

- Acha que eu me importo com ele? – respondeu erguendo os olhos para


encontrar Theodoro Nott. Por um momento havia se esquecido de que ele
estava ali. Tentou alcançar a porta mas ele se fez de barreira novamente. E por
alguma razão, o modo como Nott se posicionava erguendo o braço, dava a ele
toda a facilidade para agarrá-la se ela realmente lutasse contra. – O que pensa
que está fazendo?
- Estou te poupando de ser arrastada pelos guardas de Draco. – ele
respondeu calmamente. – Ninguém dá ordens a ele, apenas o Lorde. Se eu
fosse você, não tentaria novamente.

Hermione observou-o com atenção, curiosidade e ao mesmo tempo confusa.


Theodoro era o exemplo de pessoa que sofrera uma mudança muito
considerável desde Hogwarts. Os cabelos negros com aspecto de que
precisavam ser aparados e os olhos igualmente escuros eram os mesmos, mas
a fisionomia agora era definitivamente de um homem e completamente
diferente do que ela vira em Hogwarts. Certamente ela não o reconheceria
como Theodoro Nott se não fosse pelo seu tedioso estudo de convidados.

- Nott. – ela se viu respirando fundo.– Saia do meu caminho.

Theodoro a encarou diferente do que qualquer outra pessoa já havia a


encarado naquele lugar. Não era amigável, mas também não era frio e
desinteressado. Aquele olhar fez Hermione se lembrar vagamente das vezes em
que havia cruzado algum olhar silencioso com Theodoro Nott em Hogwarts. Ele
mostrou as mãos, deu espaço a ela e abriu a porta.
- Não se esqueça que eu a alertei. –ele apenas disse.

O primeiro impulso de Hermione foi o de sair dali o mais rápido que


conseguisse, mas seu cérebro gritou imediatamente que mesmo que corresse,
Malfoy já havia se enfurnado no labirinto que aquela catedral era e ela jamais
saberia para onde ele havia ido, porque precisar de ajuda e orientação naquele
lugar era como contar com o fim da guerra. Seus olhos pularam da passagem
da porta para Theodoro e ela se viu soltar as saias de seu vestido frustrada.
Poderia odiar aquele homem por todas as ofensas e calunias que ele havia
proferido contra ela em Hogwarts, mas aquilo havia sido a anos atrás, quando
eram apenas adolescentes, e ele ali, poderia ser a única esperança para suas
dúvidas.

- Quero saber sobre a maldição do qual estavam falando. –Hermione disse.

Theodoro riu. Tornou a segurar a maçaneta da porta e a fechou sem pressa,


como se tivesse um motivo para se divertir agora.

- Você deveria aprender a pedir, sabia? – ele disse com calma enquanto
cruzava os braços. Ela estreitou os olhos quando viu um sorriso débil brincar
nos lábios dele. Ser motivo de piada naquele lugar já estava começando a
irritá-la. – Pensei que fosse mais esperta e não se deixasse levar por rancores
da época de Hogwarts.
- Vai me dizer sobre a maldição ou não? – Hermione não estava com
paciência para qualquer jogo de palavras que tivesse em mente.

- Vamos com calma, Sra. Malfoy. – ele não usou o termo sangue-ruim e
vindo de Theodoro Nott, pelo que ela conhecia dele, a surpreendeu, mas ainda
não a agradou. – O que pensa que vai conseguir lançando ordens a mim?
Primeiro, se quer uma informação que eu tenho, deveria me convencer a
passá-la a você.

Hermione o encarou por um longo segundo. Se ele realmente fosse o Theodoro


que ela conhecera, não havia dúvida de que aquilo era uma jogada para fazê-la
se humilhar a troco de nada. Balançou a cabeça, passou por ele e segurou a
maçaneta para ir embora. No mesmo instante a mão úmida do homem cobriu a
sua. Ela paralisou com o toque.

- Vai desistir tão fácil, Hermione? – a voz dele não precisou sair alta visto a
distância próxima, porém cuidadosa que ele tomara. Ela ergueu o olhar para
ele. – Não me olhe como se eu merecesse ir para a cruz. – Hermione puxou sua
mão quando percebeu que a dele não tinha o interesse de deixar a sua. – Hei.
– ele protestou pelo ato rude. – Sem ressentimentos de Hogwarts. – ele
levantou as mãos em sinal de paz. – Sei que não nos demos muito bem
naquela época, mas sabe que os tempos eram outros, éramos adolescentes,
novos e sem um pingo de maturidade. – ela não iria cair naquele papo. – As
coisas mudaram muito desde aquele tempo.
- Deixamos de ser opostos e passamos a ser opostos extremos? – ela
questionou. – É isso que quer dizer? Porque a única coisa que mudou, foi que
passamos do encanto de Hogwarts para uma guerra. Você pode até não ser
parte de um exército ou empunhar uma varinha contra o meu lado, mas é leal
ao meu inimigo.

Ele riu com o que ela disse.

- A guerra acabou para você. Sei que ainda não engoliu a idéia, mas é
divertido ter ver na sua esperança de escape ou o que quer que esteja
planejando. – ele se aproximou um pouco mais e Hermione recuou o mesmo
tanto. – Quero continuar a te ver nessa ilusão. – ele se divertiu - Se quiser
alguma informação, vai procurar saber onde me encontrar. Mas lembre-se, Sra.
Malfoy: Ninguém faz nada de graça desse lado da guerra. –ele abriu a porta e
passou por ela.

- Quero saber agora. – ela puxou as saias e avançou com ele.


Ele tornou a rir. Apontou para Narcisa Malfoy que vinha num passo longo e
firme na direção oposta. Hermione diminuiu a velocidade e parou sentindo a
frustração de saber que agora ela não tinha mais nenhuma brecha para
encontrar oportunidades de chegar até Draco em sua reunião com o conselho.

- Creio que agora você tenha deveres a cumprir, Sra. Malfoy . – Theodoro
disse de longe, passou por Narcisa e foi embora. Hermione resmungou baixo.

- Vamos. – disse Narcisa assim que chegou até ela. – Temos que te tirar de
dentro da Catedral.

Hermione não entendeu a urgência com que aquilo soara.

- Por quê?

- Você não tem nem a menor idéia das coisas que estão acontecendo,
Hermione. – Narcisa apenas respondeu.
Capítulo 9

Ronald Weasley
Aparatou na esquina tentando fazer o mínimo de barulho possível. Empunhou a
varinha quase que imediatamente e correu para de trás da árvore do quintal de
uma casa assim que viu uma senhora sair das sombras para debaixo da luz
fraca de um poste antigo. Ele agachou e tentou conter a respiração quente e
ofegante que produzia uma espécie de névoa contra a noite fria de Godric’s
Hollow. Esperou que a senhora miúda passasse e então varreu a área com os
olhos tomando todo o cuidado de alguém que vivera anos em guerra.
Levantou-se assim que traçou seu caminho para cruzar a rua. Alisou as roupas
trouxas, levantou o capuz de seu casaco e enfiou as mãos no bolso. Pulou para
a calçada e da maneira mais natural possível, caminhou.

O risco de estar ali poderia custar sua vida. Mas ele precisava ter certeza de
que não deixaria passar nenhum lugar em branco apenas porque poderia ser
capturado ou morto.

Não muito longe ele viu por entre os muito bem arrumados sobrados um lote
escuro ocupado por uma casa em pedaços. Olhou de um lado para o outro da
rua e apertou o passo. Tinha que fazer aquilo o mais rápido possível. Tinha que
dar o fora dali. Sentia a adrenalina do perigo fazer com que cada folha seca
arrastada pelo vento fosse um comensal gritando as suas costas.

Respirou fundo e empurrou o enferrujado portão da cerca que fechava o jardim


da frente. Andou pelas pedras irregulares sobre a grama crescida e mal
cuidada. A madeira dos degraus da varanda rangeram quando ele subiu para o
nível da casa. Na porta entreaberta ele leu:

Neste local, na noite de 31 de outubro de 1981,

Lilian e Tiago Potter perderam a vida,

Seu filho, Harry, é o único bruxo

a ter sobrevivido à Maldição da Morte. Esta casa, invisível aos trouxas,

foi mantida em ruínas como um monumento aos Potter

a uma lembrança da violência

que destruiu sua família.

Colocou o primeiro pé para dentro da casa escura e se preparou para qualquer


alarme, ataque ou maldição imperdoável que pudesse vir em sua direção.
Nada. Estranhou.
Entrou para o hall onde encontrou uma escada aos pedaços. A madeira velha
do chão também rangia a cada passo que dava. Rony passou cuidadosamente
do hall para a sala de estar. Tudo estava quebrado, mas surpreendentemente
limpo o que confundiu ainda mais a cabeça do ruivo. Atravessou a sala com
cuidado e passou por uma frágil porta de madeira e vidro. Se viu no que
parecia a cozinha, e foi ali que ele o encontrou.

- Harry? – chamou a figura largada no chão, recostada em um balcão velho


e com uma garrafa de álcool na mão. Os olhos verdes do amigo brilharam no
escuro do cômodo quando ele os ergueu para Rony. – Harry! – exclamou num
cochicho. – Por um acaso ficou louco? Pelo amor de Merlin! Vamos, levanta!
Temos que sair daqui! Eles podem nos pegar!

Harry não deu nenhuma importância para o tom que ele usara nem mesmo
para o desespero do amigo. Ele apenas arrastou o fundo da garrafa pelo chão e
a levou até a boca.

- Não aqui. – disse numa voz rouca e desinteressada depois de um longo


gole.
Rony já estava farto daquela atitude e até respeitava o momento difícil pelo
qual Harry passava porque a dor da perda de Hermione não era só dele, mas se
arriscar daquela forma era exagero.

- Harry, sei que quer se entregar, desistir da guerra. Mas vamos pensar
numa maneira mais apropriada de prosseguir com isso, certo? – ele tentou um
cochicho mais calmo, ainda que atento, como se tentasse convencer uma
criança de que faca não é brinquedo. – Por agora seria mais sensato que você
praticasse essa cena no chão da cozinha da casa dos Black, não aqui! Vamos,
levante.

O olhar que Harry direcionou a ele foi preguiçoso. Ele tomou mais um gole de
seu líquido forte e começou numa voz arrastada:

- Depois que perdemos Godric’s Hollow para os comensais, Hermione se


arriscou em colocar um feitiço de reflexo nessa casa. Assim eu poderia vir aqui
sempre que quisesse. A magia do sistema de proteção não toca a casa por
causa do reflexo e os comensal responsáveis por fazer rondas, sempre que
alcançam a esquina, se deparam com a memória de que já a fizeram.

Rony processou aquilo com atenção. Digeriu cada palavra e concluiu que fazia
muito sentido já que havia alcançado a casa e estava vivo.
- Nunca me contou isso.

- Nunca precisei. Hermione disse que era um presente e que achava


importante que eu tivesse algo pessoal já que tudo sobre mim sempre foi um
livro aberto dentro da Ordem. Ela disse que esse poderia ser o meu refúgio e
que ninguém precisava saber. - ele disse como se estivesse dentro de outro
mundo. Entornou a garrafa mais uma vez.

Rony foi capaz de identificar a dor dentro de cada palavra que ele havia usado.
Sempre que o nome de Hermione saia da boca dele era como se ouvisse ao
longe alguém gritar de agonia. Havia sido estranho a forma como Harry reagira
depois que ela fora capturada. Fora um choque e uma grande desilusão para
todos da Ordem, mas para Harry, fora o fim de sua sanidade. Por um bom
tempo Rony não conseguiu entender a reação do amigo, mas foi somente
quando considerou que talvez Harry e Hermione não fossem somente amigos e
que muitas peças de um quebra-cabeça confuso finalmente começaram a fazer
todo sentido.

Aproximou-se de Harry, sentou-se ao seu lado ainda atento a qualquer barulho


incomum ao redor e recostou-se na bancada assim como o amigo. Deixou que
o silêncio durasse entre eles. Harry parecia tão longe daquele lugar que Rony
até considerou que ele poderia ter esquecido de sua presença.
- Quando começou? – Rony finalmente perguntou a grande questão que o
atormentava a meses. – Você e Hermione.

Harry balançou a cabeça de um lado para o outro.

- Não vou falar sobre isso com você.

- Quero saber. – Insistiu o ruivo.

- Não – decretou Harry.

- Harry, eu realmente quero saber. –Tentou novamente.


Harry suspirou e levantou os olhos para o amigo. Os dois se encararam em
silêncio e Rony esperou que ele entendesse que não importava, apenas queria
saber, era justo que soubesse.

- Sei que nunca deixou de gostar dela, Rony. – Harry pareceu bastante
sóbrio ao dizer aquilo.

Rony revirou os olhos já cansado de escutar aquilo durante anos.

- Não é bem isso. – tentou justificar – Eu a vejo como um fracasso pessoal.


Estraguei as coisas quando tivemos nossa chance, mas sempre quando reflito
sobre isso chego a conclusão de que não gostaria de tentar novamente. Por um
bom tempo eu estive conformado com o modo como as pessoas diziam que não
importava se não estivéssemos juntos, havíamos sido feitos um para o outro.
Mas então o tempo foi mudando tudo e tenho que admitir que desde que essa
idéia começou a se perder tenho ficado um pouco aborrecido.
- Por isso não quero falar sobre Hermione com você. – Completou Harry.

- Harry. – Rony negou com a cabeça. – Não é como se eu ainda gostasse


dela. É apenas a idéia de que ela me pertencia. Estamos falando de Hermione.
Gostava que as pessoas pensassem que nos pertencíamos. Apenas a idéia.

Harry soltou um riso forçado. Abaixou os olhos para a garrafa em sua mão,
refletiu por um segundo e tornou a bebeu do líquido.

- Qual o seu primeiro pensamento se eu disser que já dormi com ela? –


indagou Harry sem encarar o outro.

Ergueu as sobrancelhas. Sentiu seu estômago revirar. Seu sangue esquentou e


ele precisou respirar fundo. Temia por aquilo. Havia vivido sobre o receio
daquele sentimento por quase toda uma vida.

- Já dormiu com ela? – esperou que ele negasse.


- Qual o seu primeiro pensamento? – insistiu Harry.

Rony soltou o ar de uma vez. Havia se preparado para aquilo, mas não sabia
que fosse ser duro daquela forma.

- Penso em te matar. – admitiu. – Mas não acredite que é porque ainda


posso gostar dela. – ele apressou a justificar. – Desde quando começamos a ter
idade suficiente para reparar em garotas, sempre temi que de nós dois, ela
fosse escolher você. Você nem ao menos se importava com isso, não olhava
para ela, mas porque eu gostava dela achei que ela fosse te escolher. Eu nunca
quis que fosse uma competição, nunca quis sentir ciúmes nem nada, mas é
algo que eu não consigo controlar. Talvez seja meu orgulho, porém algo em
mim aceita vê-la com qualquer outro homem, menos você. – Harry não
respondeu nada. Rony sentiu-se nervoso por ter dito aquilo. Imaginou que
nunca fosse dizer. – Porque não importa a multidão de pessoas que nos
rondam todos os dias, Harry. Desde Hogwarts e no fim sempre seremos eu,
você e ela. Ela a garota, e por Merlin! Você já viu no que ela se tornou? – Harry
soltou um riso fraco. – Você sempre foi Harry Potter, tem essa vida imersa em
mistério, é quieto, usa poucas palavras, é bom em um milhão de coisas e
qualquer pessoa no mundo conhece o seu nome. Eu sempre fui apenas mais
um Weasley. Eu precisava que ela me escolhesse, entende?

O silêncio caiu sobre eles. Foi cruel e duradouro.


- Sempre temi que tivesse esse ponto de vista. – Harry finalmente disse.

- Eu sei que nunca deveria tê-la enxergado como um prêmio. Eu nunca


quis sentir que precisava ser tão bom quanto você. É meu melhor amigo e sei
que sua vida é um inferno, mas você continua sendo Harry Potter. – suspirou. –
Todos temos esse lado inseguro e eu precisava que ela me ajudasse com o
meu. – concluiu Rony e torceu os lábios sabendo que era um estúpido por
pensar daquela forma. – Entretanto, independente de tudo, ainda quero saber
sobre você e ela.

Harry suspirou e negou com a cabeça.

- Ela não me escolheu. – ele disse. – Hermione nunca me escolheu. Você


sempre foi a escolha dela. Sempre. – por alguma razão, o modo como ele dizia
aquelas palavras parecia lhe provocar dor. – Mas você desistiu dela. A única
escolha que a restou foi seguir em frente.
Rony se detestou por não poder argumentar contra aquilo.

- Podemos pular essa parte, por favor. – Comentou. – Quero saber quando
começou. Você e ela.

Ele negou com a cabeça novamente.

- Não sei. – deu de ombros. – Aconteceu como se tivéssemos começado


desde o primeiro dia que nos conhecemos. Como se tivéssemos avançado sem
pressa todos esses anos. Como se tivéssemos esperado o tempo certo, mesmo
que entre nós sempre pairasse a sombra de que nós poderíamos ter sido algo
imperceptivelmente perdido, porque você sempre foi a escolha dela. – Rony
sentiu um misto de sentimentos confusos – Nós tivemos nossas oportunidades,
mas quando ela tinha você e eu tinha Gina. Estávamos cheios de esperança e
ainda não havíamos nos atolado nesse inferno da guerra, as coisas parecia
estar andando pelo caminho certo, como deveria ser. Então os anos se
passaram e perdemos tudo isso. De repente quando tudo estava errado, eu e
ela não nos importamos que nós também parecêssemos errado.

Rony soltou o ar cansado.


- Eu não quero uma desculpa, Harry. Quero saber quando começou. –
repetiu.

Harry suspirou frustrado. Tomou mais um gole de seu álcool e disse como se
estivesse contando um pecado:

- Logo depois que perdemos Godric’s Hollow. Quando ela me trouxe aqui e
disse que eu precisava de um refúgio.

Rony tomou seus segundos para voltar no tempo até aquela época. Foi uma
das grandes perdas da Ordem e eles se sentiram devastados por meses. Aquilo
fazia anos e naquele tempo eles ainda nem tinham consciência da magnitude
daquela guerra.

- Harry... – ele cortou o silêncio. – Isso faz muito tempo.


- Eu sei. – a voz do amigo saiu engasgada.

O ruivo sentiu o sangue esquentar e teve que engolir a saliva para tentar se
controlar.

- Todo esse tempo minha irmã tem esperado por você...

- Ela sabe. – Harry o cortou.

- Contou a ela? – surpreendeu-se Rony.

- Não. – respondeu ele.


- Hermione contou?

- Não. – Harry suspirou - Gina não é idiota, Rony. - Naquele momento


Rony entendeu o porque Hermione e Gina já não se tratavam como antes há
muito tempo. O silêncio pairou sobre eles novamente. Foi bastante incômodo. –
Escute, sei que está tudo errado. Nunca deveria ter acontecido, mas a primeira
vez que eu a tive, como mulher, eu senti que no meio do inferno que eu estava
vivendo ela podia ser minha paz e que isso não seria nenhum problema porque
ninguém precisava saber. Eu precisava do sentimento que ela me causava. Não
porque eu gostava dela como você gostava, não porque eu estava apaixonada
por ela, eu não sei se um dia eu estive, mas porque ela esteve comigo desde o
começo de tudo e ela entendia o peso do que estava sobre mim. Hermione
esteve comigo em cada detalhe da minha história e lutava comigo. Então se
tornou o meu refúgio. E foi somente quando ela foi pega que eu pude perceber
que havia cometido meu pior erro. – Harry se mexeu incomodado no chão.
Hesitou em levar a garrafa a boca mais um vez e então desistiu dela. A largou e
encarou Rony. – Quis dar um ponto final entre Gina e eu para protegê-la. Mas
quando me envolvi com Hermione eu entendia ela e Gina como duas coisas
completamente diferentes. Eu havia me apaixonado por Gina, havia a pedido
em namoro, havíamos tido uma história muito concreta, todos sabiam sobre
nós, eu tinha muitos planos com ela. Com Hermione tudo começou de uma
forma muito confusa, nunca conversamos sobre nós, nunca colocamos nenhum
status sobre o que acontecia entre nós, nunca contamos a ninguém, nós
apenas nos vivíamos.

- Como pode ter certeza de que ela estava bem com isso? Conhece
Hermione. – questionou Rony.
- Eu não tinha. Nunca tive. – Harry respondeu. – Nós nunca conversamos
sobre nós. Nunca. – frisou ele. – Nós vivemos uma guerra, Rony. Eu carrego a
profecia que é responsável por boa parte dela. Somos a resistência de todo o
domínio de Lorde Voldemort. O perigo, a constante apreensão da qual vivemos
todos os dias. Tudo. Absolutamente tudo era mais importante do que eu e ela.
E disso eu posso ter certeza de que ela tinha consciência. Nós dois erámos
apenas um vicioso momento de distração do qual desesperadamente
precisávamos. – soltou o ar. - Com frequência. – concluiu.

- Com frequência... – repetiu Rony em voz baixa apenas para ele. Soltou
um riso fraco e balançou a cabeça. Ele não queria sentir o ciúme, mas era
inevitável. – Iam para cama com frequência...

- Não, Rony. Você não entendeu. Não era só ir para cama com ela. Era
estar com ela. Era ouvi-la, era sentir o toque dela, o cheiro dela, o abraço dela.
No começo era estranho, mas eu precisava da sensação de ter realmente um
refúgio. Era como respirar fundo depois de prender a respiração por muito
tempo. – abaixou os olhos. - Ela se tornou um vício. Não sei como fazer isso
sem ela. Não sei como lutar, não sei como encarar essa profecia, como dar
ordens, como prosseguir. Não sei. Preciso dela, preciso do seu conselho, da sua
paz, do seu incentivo e da sua força. E não só isso. Preciso da sua inteligência,
sem ela nós não temos a menor chance!

- Está errado. – Rony disse de imediato – Pensa assim só porque a perdeu.


– ele não queria dar nenhum discurso egoísta e lutou para que não deixasse
esse seu lado vencer. – Sua dependência é uma ilusão que você mesmo criou,
Harry. – tentou ser cauteloso – Precisa sair dela. A guerra ainda não acabou. –
ele pausou. - Nós dois estávamos errados, certo?! – tentou ir por outro
caminho. - Eu coloquei Hermione como um prêmio e você como um escape. Em
momentos errados e em situações erradas.

- Você não soa como Rony Weasley dizendo essas coisas. – Harry riu sem
forças.

- Eu estou tentando consertar sua bagunça. Deveria considerar pelo menos


isso.

- Eu não preciso de você aqui, Rony.

- A Ordem precisa de você. Precisa da sua presença. Precisa do seu nome.

Harry tornou a pegar a garrafa e a entornou em tantos goles dessa vez que
Rony pensou que ele poderia acabar com todo o líquido em segundos.
- Sou um fracasso sem ela. – ele disse com a voz engasgada e trêmula
assim que abaixou a garrafa. – A Ordem não precisa de mais fracassos.

Rony se indignou.

- Tem idéia do quanto Hermione estaria furiosa com você se o visse


assim?! Se o escutasse dizer isso?!

Harry riu embriagado. Cobriu o rosto com as mãos num ato descoordenado e
apertou os olhos com os dedos enquanto pendia a cabeça para trás e a
encostava na bancada.

- Eu a quero tanto... – chorou ele.


- Certo. – Rony revirou os olhos. – Eu também disse isso por quase um ano
depois que terminamos. – disse enquanto se levantava. – Você vai superar. –
limpou o pó de seu jeans. – Realmente precisamos de você, Harry. Não pode
simplesmente sumir por todo esse tempo. As pessoas estão com medo de que
você esteja tentando se entregar.

- Por quê? – riu Harry enquanto levantava os olhos para o amigo. – Por que
eu tenho agido como louco desde que perdemos Hermione? – ele ridicularizou
os comentários que circulavam nos cochichos da Ordem.

- Por que tem agido como se não tivéssemos mais nenhuma esperança. –
Rony se aborreceu.

- E temos alguma? – Harry quase gritou completamente irritado com o


modo como Rony parecia querer insistir naquilo. – Já olhou para o mundo em
que vivemos, Rony? Já prestou atenção no domínio de Voldemort? Na
preparação de um comensal? Já reparou como sempre vivemos assustados?
Como sempre estamos em perigo? Já contou quantas derrotas tivemos? – ele
fez uma careta de dor. – Hermione se sacrificou em vão e não a temos mais. –
ele balançou a cabeça - Não tenho mais força para lutar essa guerra.
Rony respirou fundo e bagunçou os cabelos. Deu as costas e enfiou as mãos no
bolso. Ás vezes tentava imaginar o peso que Harry carregava e acabava
agradecendo por não ser ele. Harry era a imagem da Ordem e nas piores
derrotas sofridas por eles, Rony sempre via Hermione sussurrar para o amigo
de que ele não podia abaixar a cabeça, ele era a esperança da resistência, e
então lá estava Harry com a cabeça erguida pensando em um novo movimento.
Quantas vezes Rony havia se imaginado desistir no lugar de Harry. Harry havia
ido longe e bastou Hermione ir embora para que Rony visse que ela era o pilar
que sustentava as suas forças. Aquilo era tão errado quanto ele ter visto
Hermione como um prêmio. Talvez agora que ela não estava mais com eles,
Harry pudesse entender que aquela luta ele tinha que lutar por si só, não
porque alguém o dizia para lutar. Ele precisava ser a base de sua própria força,
porque o peso que ele carregava não o permitia depender de alguém. Ele teria
ajuda, mas era a guerra dele no fim das contas.

- Os dementadores sumiram. – começou Rony. – Conseguimos a rebelião


em Askaban e as nossas chaves de portal estão todas intactas.

O silêncio durou. Rony se virou para encarar Harry e dessa vez viu o amigo
com os olhos vidrados nele.

- Os dementadores? – indagou Harry erguendo as sobrancelhas.

Rony afirmou com a cabeça.


- Talvez Hermione não tenha se sacrificado em vão. – concluiu.

Harry se mexeu lentamente como se mil coisas estivessem se passando em sua


cabeça naquele momento. Ele largou a garrafa de álcool mais uma vez e enfiou
a mão dentro do bolso do casaco como se estivesse procurando algo ali. Rony
franziu o cenho confuso e visualizou uma moeda de prata brilhante que
apareceu na mão de Harry segundos depois.

- O que é isso? – indagou enquanto via as duas caras da moeda esculpida


num brasão estranho e idêntico dos dois lados.

Harry a girou entre os dedos inerte no que quer que estivesse pensando.

- Você não vai querer saber. – respondeu ele.


Hermione Malfoy

Ela tomou a consciência de que estava acordada. Ainda de olhos fechados


moveu-se lentamente sentindo-se cada vez mais presente no mundo. O colchão
que a sustentava afundava gradativamente a medida que ela se movia, o calor
das cobertas era acolhedor e a seda do lençol que a envolvia a fazia querer tirar
a roupa para que todo seu corpo sentisse aquele toque suave deslizar pela pele.
Inalou o perfume impregnado naquela cama e se embriagou. Era dele. Era
forte, caro e santo Deus! Muito masculino! Não estava acostumada com aquilo.

De bruços ela abraçou o travesseiro e esticou o corpo quando sua garganta


soltou um gemido de prazer por todo aquele conforto. Sentiu seus lábios se
esticarem num sorriso fraco. Aquela definitivamente ela a melhor cama que ela
já havia deitado em toda a sua vida. Comparar com qualquer outra seria um
pecado.

Abriu os olhos e encontrou o lugar ao seu lado vazio. Seu sorriso murchou por
saber que aquilo seria temporário. Suspirou e girou passando a encarar o teto
alto, circular e abobadado altamente trabalhando numa arte barroca com muito
ouro e muita simetria. Piscou. Aquele era o quarto de Draco Malfoy. O
gigantesco quarto de Draco Malfoy. Tudo ali parecia querer impor poder. O
tamanho, os quadros, o piso, as esculturas, as poltronas, as cortinas, os
tapetes, as janelas, as paredes e sem dúvida alguma, a cama.

E que cama! Hermione tornou a girar e abraçou novamente o travesseiro


querendo se desligar daquela realidade mais uma vez. Ela não queria outro dia
naquele mundo. Fechou os olhos e inalou o perfume caro de Draco Malfoy. Ele
podia ser um ser humano terrível, mas Hermione tinha que admitir que aquele
homem cheirava bem.

Tentou ignorar tudo que sabia que deveria fazer assim que saísse da cama,
apenas permaneceu de olhos fechados sentindo aquele calor e o conforto
inigualável. Gostava da sensação de se sentir minúscula comparado ao
tamanho daquela cama, da sensação de que ali não havia ninguém a vigiando,
da sensação de estar longe da catedral.

Um estalo longe deixou seus ouvidos atentos, mas ela não teve forças para se
mover. Os passinhos sobre o piso brilhoso e escuro do quarto fez Hermione
quase resmungar.

- Sra. Hermione Malfoy. – a elfa chamou após limpar a garganta. Hermione


não respondeu. Ela preferia ser chamada de Sangue-Ruim. – Sra. Hermione
Malfoy. – a elfa tornou a chamar um pouco mais alto.
Hermione suspirou aborrecida.

- Sim. – respondeu de má vontade sem se mover.

- A Sra. Narcisa Malfoy está esperando a Sra. Hermione Malfoy no sala


privada. – anunciou a elfa.

Hermione processou aquilo em silêncio. Fez uma careta. Não queria sair
daquela cama, mas sabia que se não o fizesse teria problemas muitos maiores.
Podia apenas agradecer que pelo menos agora Narcisa não podia simplesmente
entrar em seu quarto exclamando ordens aos quatro ventos. Hermione tinha
que admitir que mudar-se para aquela casa tinha muitas vantagens.

- Obrigada, Tryn. – agradeceu a informação. Moveu-se com preguiça,


descobriu-se e sentiu a temperatura ambiente fria comparado ao calor do
conforto das cobertas. Sentou-se, puxou o hobby ao lado da cama e o vestiu. –
Me traga algo para comer, por favor. – pediu enquanto se levantava e tomava
a direção do lavatório.

- O Sr. Draco Malfoy desaprova alimentos em seu quarto, Sra. Hermione


Malfoy. – informou a elfa.

Hermione parou, tentou imaginar o porquê e riu achando patético.

- Então deveríamos estar gratas de que ele não está em casa. – concluiu
para elfa e seguiu seu caminho.

A quartos da área molhada ficaram numa grande câmara acoplada ao átrio do


quarto. O conjunto formava uma suíte esplêndida. O lavatório era inteiramente
forrado de uma cerâmica negra tão extremamente polida e limpa que certas
vezes podia se confundir até com um espelho. Cada torneira, cabide, pia ou
detalhe reluzia ouro. As toalhas eram fofas e volumosas, os espelhos eram
grandes e estratégicos, a iluminação era controlada e as janelas e vitrais
escassos.
Todo o espaço era composto por duas áreas de banho. Uma enorme banheira
se abria no nível do chão de um lado e seguindo uma escada larga e de poucos
degraus que descia por trás da banheira encontrava-se um paredão de duchas
confortavelmente reservado. Para Hermione aquela era, definitivamente, a
melhor parte daquele lugar. O primeiro banho que tomara ali ela se permitiu
ficar horas. Contudo agora estava atrasada e apenas se despiu e molhou o
corpo. Em poucos minutos ela passava dali para o closet.

Escolher sua roupa era sempre um desafio. Estava se tornando boa e rápido
naquilo, mas era obrigada a passar pela infelicidade do estudo rígido sobre
moda de Narcisa Malfoy para ter uma mão boa na hora de aceitar e rejeitar os
presentes enviados pelos representantes de grifes importantes em Brampton
Fort. Para Hermione essa era a prova da seriedade com a qual a futilidade era
tratada naquele lugar, porém como uma boa prisioneira, Hermione respondia
educadamente a todas as ordens.

Optou por um vermelho fechado. O tecido camurça era gostoso de se sentir. As


costas ficavam um pouco a mostra, mas Hermione havia gostado do desenho
que o tecido fazia ao cruzar a parte de trás de seu corpo. Também havia
gostado da simples linha fina dourada que cercava a cintura. A frente era
enganosamente comportada com um decote quadrado porém baixo. O
comprimento não podia ser acima do alcance de seu braço e aquele vestido
havia passado na prova. Sentou-se de frente ao espelho e concentrou-se para
se maquiar exatamente como havia sido ensinada. Preparou o cabelo. Cobriu-
se discretamente das jóias que havia ganho e por último colocou os sapatos
sabendo apenas que deveriam ser altos.

Olhou-se no espelho por longos minutos. Estava linda. Ela havia tomado um
cuidado especial para se arrumar sabendo que naquele momento ao menos
algo deveria agradar os olhos de Narcisa para aliviar um pouco do sermão que
receberia. Contudo todos os dias, quando ela terminava todo aquele processo
no closet, olhava-se no espelho e se perguntava se trocaria tudo aquilo por um
jeans, um par de tênis e um suéter. Se sua resposta fosse sim, ela respirava
aliviada sabendo que em algum lugar dentro ali, a Hermione Granger que
conhecia ainda estava viva.

Voltou para o quarto, engoliu uma fatia de pão com queijo, tomou um longo
gole de chá preto e saiu pelos corredores de escala intimidadora da mansão de
Draco Malfoy. Desceu as escadas, cruzou para o hall privado e entrou na sala
onde encontrou Narcisa sentada no extenso sofá de estampa inglesa. A mulher
tinha um olhar severo e irritado sem perder a elegância.

Hermione parou, juntou os pés, alinhou a postura e uniu as mãos atrás do


corpo tentando da maneira mais exemplar possível seguir todas as regras de
comportamento que havia sido ensinada. Tinha que apostar naquilo. Sabia que
não iria a salvar, mas ao menos poderia amenizar a fúria de Narcisa.

- Tem idéia de que horas são, Hermione? – a voz dela foi pacífica e seca e
os únicos músculos que se moveram nela foram os da boca.

Não. Foi o primeiro pensamento de Hermione, no entanto, ela ergueu o olhar


para o relógio na parede acima da cabeça de Narcisa e engoliu seco.
- Dez da manhã. – respondeu.

- Está consciente de que me fez esperar uma hora inteira? – indagou a


mulher.

Hermione engoliu em seco novamente.

- Sim. – respondeu.

- Seu comportamento foi uma clara demonstração de irresponsabilidade. –


ela se levantou. – Além de uma completa falta de respeito. – aproximou-se
calmamente.
- Meu corpo está apenas compensando algumas noites mal dormidas na
Catedral. – disse Hermione sabendo que deveria se manter calada. Argumentar
com Narcisa Malfoy era sempre um desperdício de energia.

- Eu não pedi por justificativas, Hermione. – ela foi severa. – Sabe que tem
horários a cumprir.

Hermione não questionou. Não tinha ânimo para comprar uma discussão com
Narcisa ali. O quantos antes aquilo terminasse, melhor.

Narcisa ia todas as manhãs a mansão de Draco desde o casamento. Faltava


apenas alguns dias para completar uma semana. Ela estava ali para aulas fúteis
de comportamento em público, regras de etiqueta ao andar, ao falar, ao comer,
ao se vestir, ao se sentar, ao levantar e mais idiotices. Ela ensinava como
receber visitar, como proceder em perguntas comprometedores da mídia, como
ser a anfitriã de um encontro, como organizar em chá. E o mais importante de
tudo, como ser a influência do mundo fútil.

Desde que fora levada para a casa de Draco após o casamento, Narcisa havia a
isolado de Brampton Fort. Havido recebido ordens de que não poderia deixar a
mansão, e não apenas isso, ela não tinha mais acesso a qualquer meio de
comunicação. Jornais e revistas haviam sito completamente tirados de sua
vista. E quando ela perguntava, lutava e insistia por um porquê, Narcisa a
imergia num mar de respostas vagas. Nada mais incitava Hermione a rebeldia
do que aquilo. Mas prezando pelo bem de Luna, ela se mantinha obediente. Até
certo ponto, obviamente. Não sabia até quando seria mantida daquela forma e
as dúvidas que bombardeavam sua mente eram mais fortes do que ser
obrigada a se conformar com as respostas de Narcisa.

Durando toda a manhã Narcisa concentrou os esforços em fazer Hermione


entender os passos que deveria seguir para se tornar uma figura amada dentro
da cidade, sem deixar de ser invejada. As pessoas tinham que querer vestir o
que ela vestia, pentear o cabelo como ela penteava, usar as jóias que ela
usava, e acima de tudo, tinham que começar a respeitá-la. Hermione escutou
com atenção, seria cobrada por aquilo, então guardou todos os passos.
Estudaria aquilo e colocaria em prática pelo nome que agora era seu
sobrenome.

Ao meio dia em ponto Tryn havia preparado uma pequena mesa de saladas
para o almoço. As duas se sentaram e Hermione foi avaliada por Narcisa como
sempre, no modo de comer e proceder uma conversa fria e contínua. Foi
durante o almoço que Narcisa a informou vagamente e como se não tivesse
nenhuma importância, a presença de Draco na catedral no dia anterior.

Desde o casamento ele havia deixado Brampton Fort sem previsão de volta.
Hermione havia se aproveitado daquilo para descansar seu corpo e sua mente,
além de sentir a liberdade dentro da mansão que pertencia a ele. Agora a ela
também. Narcisa sempre a alertava que ele poderia estar em casa a qualquer
momento e que ela deveria estar sempre preparada para recebê-lo como uma
fiel esposa. Hermione se permitiu carregar aquela informação, mas o primeiro
dia se passou, o segundo, o terceiro, o quarto e nem um sinal de Draco Malfoy.
Ela apenas parou de se preocupar com aquilo. Era a menor de suas
preocupações naquele momento.
Após o almoço recebeu orientações de como se comportar dentro de casa,
como dar ordem aos elfos e como respeitar o espaço de Draco Malfoy. Coisas
estúpidas que Hermione obviamente não seguiria. Ela não se importava com as
lições de Narcisa, nem com os costumes e mimos de Draco, aquela também era
sua casa agora, e ela não havia implorado para estar ali. Portou-se da melhor
maneira que poderia se portar e isso agilizou o serviço de Narcisa. Quando
Hermione pediu para que Tryn a acompanhasse até a porta o relógio ainda
apontava o início da tarde.

Ela aproveitou a falta de companhia e subiu para a casa de poções. Era uma
espécie de sótão. A escada que dava acesso ficava no último andar do lado
oposto a entrada da biblioteca e um tanto escondida. Era apertada e de pedra
aparente que dava para uma laje ampla e fechada pelo telhado. Hermione
julgou o lugar mais confortável da casa. Era o único lugar em que ela não se
sentia fora da escala, onde não parecia ser pequena demais para a magnitude
que a cercava. O lugar não tinha nenhuma decoração luxuosa, o piso era de
uma tábua corrida e descuidado, os móveis todos de madeira, os vidro um
tanto empoeirado, o teto era o telhado inglês de altura baixa comparado ao
restante da casa. As estantes abarrotadas de pequenas cabines para frascos de
poções estavam espalhadas pelas laterais assim como o estoques de
ingredientes. Uma estante de livros bastante simplória ficava exposta atrás de
um conjunto de mesa e cadeira não muito sofisticado e os caldeirões
espalhados pelo ambiente eram pendurados por corrente que se fixavam nas
treliças do teto. A luz era baixa, as janelas que existiam eram poucas, altas e
estreitas, mas eram suficientes. Durante a noite ela podia acender as velas que
haviam debaixo de cada mão francesa e além de tudo aquilo, havia ainda uma
luneta antiga e posta no nicho da abertura das duas janelas principais do local.
Não que Hermione se interessasse por astronomia, nunca havia tido tempo
realmente para parar e olhar para o céu, mas havia descoberto um certo
interesse pela atividade após se ver trancada dentro daquela casa sem muito
opção.
Ela havia trago a reação que seu sangue havia tido com a raiz de valeriana,
também havia trago seus poucos estudos. Não havia conseguido muito avanço
já que obviamente não tinha muitos recursos, também não queria aparentar
que estava trabalhando em algo importante. Haviam tantas outras coisas com a
qual sua mente se ocupava que ela quase não conseguia se concentrar quando
conseguia algum livro que poderia lhe ajuda. Na verdade, tudo que ela
precisava era de algumas sanguessugas e algumas experiências. Ela havia se
esquecido de como poções funcionavam, mas ainda era boa como em
Hogwarts. Não havia tido muito tempo para praticas atividades extras naquela
guerra.

Hermione foi até uma das cabines onde havia deixado o frasco com a reação. A
encarou por um bom tempo, sentou-se na única cadeira que havia ali e girou o
frasco entre os dedos. Abriu a pasta em cima da mesa e espalhou seus
pergaminhos sobre ela. Seus estudos e suas anotações estavam todas ali. Não
passavam de especulações bobas. Não podia avançar sem recursos. Ela soltou
o ar frustrada.

Estava cansada de passar o resto do dia ali, parada. Havia revistado toda a
biblioteca de Draco Malfoy e nada, absolutamente nada havia aberto seus olhos
para uma busca profunda do que deveria fazer. Ela não sabia o que deveria
fazer. Odiava não saber o que fazer. Odiava profundamente se sentir de mãos
atadas, aprisionada, vigiada. Odiava aquele lugar, odiava ter que seguir ordens
calada. Odiava ser mandada por quem odiava. Odiava saber que Draco voltaria
para aquele lugar. Odiava seu maldito novo sobrenome e odiava não tem o que
fazer, quando sabia que deveria estar fazendo milhões de coisas.

O barulho não foi impressionante quando ela lançou o pequeno frasco contra o
chão e ele se espatifou. Ela levantou-se e começou a amassar os pergaminhos
que tão trabalhosamente havia preparado. Descontou toda sua frustração e
quando finalmente parou o silêncio a presenteou unicamente com o som de sua
respiração ofegante.
- Já chega, Hermione. – sussurrou para si mesma. Foi até o nicho das
janelas e olhou o pátio da frente vazio. – Tryn. – chamou e num estalo a elfa
estava lá. – Prepare uma das carruagens de Draco. Eu estou de saída. – a elfa
ficou imóvel.

- A Sra. Hermione Malfoy não tem permissão para deixar a casa.

- Essa é uma ordem que foi dada a mim, não a você. – voltou-se para a
elfa.

- A Sra. Narcisa Malfoy deu ordens a Tryn que não deixasse a Sra.
Hermione Malfoy sair de casa. – a elfa soltou em seu modo robótico.

- Tryn, se esqueceu de quem são seus mestres agora? – aproximou-se. –


Você serve essa casa, e agora ela também me pertence. Narcisa Malfoy não é
nada mais do que uma convidada. Você vai descer agora e vai preparar uma
carruagem para mim, depois vai voltar aqui, limpar essa bagunça e queimar
esses pergaminhos, porque eu sou sua mestre, não Narcisa Malfoy. Entendeu
bem, Tryn? – disse num fôlego só. Assim que terminou revisou tudo que havia
dito e se questionou como havia conseguido falar daquela maneira com um
elfo. – Por favor. – acrescentou e se sentiu miseravelmente mais Hermione
Granger.

- Agora mesmo, Sra. Malfoy. – a elfa obedeceu quase instantaneamente,


deu meia volta e sumiu num estalo.

Hermione desceu as escadas e foi até seu closet. Checou o sol incomum que
brilhava alto no céu há quase uma semana. Colocou um chapéu qualquer,
pegou luvas e desceu o mais rápido que pode até o pátio.

- A Sra. não deveria fazer isso. – alertou o cocheiro assim que ela parou de
frente a cabine esperando que ele abrisse a porta.

- Não me diga o que eu deveria ou não fazer. – ela foi seca como uma
Malfoy deveria ser. – Me leve até a catedral. - O homem hesitou. – Agora! – o
homem abriu a porta e ela entrou.
O alívio da falsa liberdade disparou adrenalina em seu corpo e ela mexeu-se
inquieta durante toda a viagem. Ela não entendia o porquê havia sido tirada da
catedral e presa dentro da casa de Malfoy no dia de seu casamento como se
fosse uma questão de vida ou morte sair dali de dentro. Quando pisou no pátio
de entrada da majestosa edificação seu estômago revirou, mas ela engoliu a
saliva, alinhou a postura e andou como Narcisa havia lhe ensinado, como se
fosse rainha.

Tudo estava estranhamento em silêncio, vazio e calmo. Nada parecido com o


que ela se lembrava da catedral. De qualquer forma, ela tentou se focar o
porque de estar ali. Foi até o último andar, e trocou de ala duas vezes até
chegar a uma imensa placa presa a uma das vigas de entrada.

Sessão de Gerência da Cidade.

Aquele era o único caminho que conhecia. Havia passado de frente aquela placa
algumas dezenas de vezes nos tempos vagos em que se permitia explorar a
catedral. Entrou no saguão de recepção e foi direto a um balcão talhado onde
duas mulheres muito bem uniformizadas se encontravam.

- Preciso falar com Theodoro Nott. – disse a uma das mulheres usando o
tom que Narcisa havia lhe ensinado
- Tem hora marcada? – ela perguntou não gostando da atitude de
Hermione

- Não. – foi direta e criou nojo do sorriso discreto e desdém que a mulher
abriu.

- Sendo assim devo informar que está perdendo seu tempo aqui, Srta...?

- Senhora. – concertou em resposta – Sra. Hermione Malfoy. – viu o sorriso


da mulher murchar instantaneamente e foi a vez dela abrir o seu. Havia
gostado daquele poder. Escutou a voz de Theodoro Nott vindo de longe.
Hermione voltou sua atenção para o som e sem hesitar marchou em direção a
ele.

- Hei! – a mulher do balcão exclamou. – Com licença! – ela seguiu


Hermione confusa e perdida. – Não pode... – gaguejou. - ...simplesmente,
entrar aqui!
Hermione não deu ouvidos a mulher. Entrou por um hall não muito extenso e
virou a primeira esquina onde encontrou Theodoro e mais dois homens
discutindo seriamente sobre algo. Ele ergueu os olhos de uma pasta aberta na
mão de um dos homens que o acompanhava e notou na presença de Hermione
que se aproximava. O sorriso que ele abriu foi a expressão que ninguém ali
esperava.

- Sra. Malfoy. – ele deixou o som de sua voz soar em um regozijo


exageradamente educado. – Essa realmente é uma surpresa muito agradável.
– ela parou a frente dele. – Alguém já lhe disse hoje o quanto está
absolutamente adorável?

- Temos que conversar. – ela foi direta sem paciência para o diálogo
educado que ele havia iniciado.

Ele riu.
- Senhor, - começou a balconista. – ela passou seu autorização...

- Nenhum Malfoy precisa de autorização para entrar na missa sessão. –


Theodoro a cortou. – Senhores, – ele voltou-se para os homens. – sinto
informar que teremos que discutir isso mais tarde. Eu e a Sra. Malfoy temos
que tratar de negócios inacabados. – deu as costas. – Siga-me. – e Hermione
presumiu que aquilo havia sido para ela. O seguiu. – Pensei que havia
desistido. – ele disse assim que saíram para o hall. – Sei que a colocaram na
casa de Draco sobre a regra de não a deixar em qualquer circunstância, certo?
– ele lançou um olhar rápido para ela enquanto sorria.

- Devo lembrá-lo que fizeram daquela casa minha também. – ela disse não
gostando da forma como ele havia se referido a casa, exclusivamente, de
Draco.

Ele demonstrou ter achado graça naquilo.

- Sim, sim. – concordou. – Eu não esperava vê-la aqui tão cedo visto que a
Hermione que conheci em Hogwarts tinha um relacionamento muito amistoso
com regras. Vejo que as coisas mudaram um pouco. – riu fracamente quando
passaram a descer alguns degraus para um patamar mais reservado. – Mas
fique tranquila, Sra. Malfoy. – continuou ele. – Não serei eu quem vai reportar
sua atitude rebelde, tenho interesse de ter você por aqui. – ele disse passando
pela mesa de uma assistente. Abriu uma porta e deu espaço para Hermione
passar, ela assim o fez.
Não era uma sala luxuosa, havia livros nas estantes de madeira escura nas
laterais, uma mesa no centro e nada mais. O que realmente impressionava era
o conjunto de janelas ao fundo que dava vista para o horizonte de Brampton
Fort.

- Como tem sido sua nova vida de casada, Sra. Malfoy? – ele cortou o
silêncio enquanto fechava a porta e passava por ela.

- Tenho pressa. – Hermione foi seca. – Sei que sabe porque estou aqui,
podemos ir direto ao ponto.

Ele riu indo para detrás de sua mesa. Abriu uma gaveta, tirou três pastas de
couro de dragão e as mostrou para Hermione.

- Presumo que isso será o suficiente para o seu cérebro genial. – ele tornou
a dar a volta na mesa, encostou-se nela e estendeu as pastas para Hermione.
Ela deixou que o silêncio reinasse durante os minutos em que duvidou que
aquilo fosse ser fácil assim. Obviamente ele estava esperando que ela fosse até
ele buscar as pastas e Hermione simplesmente hesitou. Ela tinha absoluta
certeza de que havia escutado da boca dele que nada naquele lugar se fazia de
graça. Aproximou-se cuidadosamente e ele não se afastou. Ela manteve o
contato pelo olhar estreitando os olhos enquanto levantava a mão para tomar
as pastas da dele. Foi quando quase as alcançou que ele recuou abrindo um
sorriso debochado. Ela revirou os olhos.

- O que quer? – perguntou soltando o ar impaciente.

Ele cruzou os braços.

- Quando estávamos em Hogwarts ouvi dizer que tinha interesse em entrar


para o Departamento de Execução de Leis Mágicas...

- Vá direto ao ponto. – ela o cortou secamente.


- Quero que trabalhe para mim. – ele a obedeceu.

O silêncio entre eles foi confuso para ela e cheio de expectativas para ele.

- Em que exatamente eu seria útil para um governador? – ela estava


curiosa.

- Certo, Hermione... – ele parou subitamente. – Posso chamá-la de


Hermione, não posso? – ela considerou aborrecida que era muito melhor do
que Sra. Malfoy e assentiu. – Escute, - continuou com cuidado – eu cuido de
uma cidade inteira, tenho que lidar com pessoas diferentes todos os dias, eu
não posso sair ditando ordens pela rua. Sou uma figura política, e como
qualquer um do meu ramo, tenho que ser alguém amado pelo povo, o que
obviamente não tem acontecido nos últimos anos. Dito isso podemos chegar a
sua dúvida, “Por quê?”, não é mesmo? – ele desencostou-se da mesa, deu as
costas a ela e a passos lentos tomou a direção das janelas que davam vista
para a cidade enquanto continuava – Tenho tido problemas com corrupção
dentro dos meus tribunais e isso tem atrapalhado o anseio de justiça de muitas
figuras dentro de Brampton Fort, isso vem acontecendo há um bom tempo e o
que parecia pequeno tem me dado bastante dor de cabeça.
- Quer que eu seja regente dos seus tribunais? – perguntou erguendo as
sobrancelhas.

- Sim. – voltou-se para ela. – Quero que seja ditadora da justiça, mas
primeiro me entenda. – ele se aproximou do outro lado da mesa, apoiou as
mãos sobre a superfície e se inclinou mantendo o olhar fixo em Hermione. –
Isso aqui não é uma democracia. Lorde Voldemort é um ditador e essa cidade
não é uma preocupação para ele, essa cidade é para a proteção e conforto dos
aliados dele. –deu a volta novamente na mesa e se aproximou dela - Estamos
falando de uma metrópole, de um mundo paralelo fora da guerra e eu sou a
pessoa responsável por manter a ordem desse mundo, e agora eu preciso de
você. – parou exatamente a sua frente.

Ela estreitou os olhou.

- Por que eu? – questionou confusa.

- Porque sei que é boa em tudo que faz. – respondeu sem desviar seus
olhos dos dela.
Hermione processou aquilo e fez uma nova avaliação de tudo que havia
escutado. Sua conclusão foi um riso fraco e incrédulo.

- Quer me dar um cargo do qual não tenho experiência, não tenho


conhecimento muito menos sei com funciona. Quer que eu me ocupe em
aprendeu sobre tudo isso para assumir essa grande responsabilidade baseado
na sua duvidosa afirmação de que sou boa em tudo que faço. – riu novamente.
– Eu sei o que você quer, Nott. Aliás, eu sei o que Lorde Voldemort quer. Quer
me dar uma distração. Quer que eu me afaste da guerra, que eu aceite que não
faço mais parte dela. Acha que sou idiota ao ponto de ser enganada com esse
tipo de proposta?

Ele cruzou os braços como se já esperasse por aquilo.

- Não é uma questão de distração, Hermione. É uma prisioneira aqui


dentro, está sob as ordem de qualquer um, a guerra acabou para você
enquanto o mestre assim quiser e por mais que tente lutar, a marca que está
em seu braço te faz propriedade dele, me entende? Não pode lutar contra o
mestre aqui dentro, não aqui dentro, não sendo um comensal. – ele foi
cuidadoso ao dizer tudo aquilo. – Você tem a opção de dizer sim ou não. O
mestre está lhe oferecendo um status aqui, ele não a quer como qualquer
esposa importante carregando sacolas de compras nas ruas do centro. Ele não
a quer apenas como a mulher de Draco Malfoy. – ele mostrou as pastas
novamente para ela. – Pode tê-las se me prometer que irá considerar um ‘sim’
mesmo podendo dizer não.
Ela não gostou de como ele estava querendo sorrateiramente colocar a oferta
que havia feito acima do valor que aquelas pastas e as informações que elas
continham tinha. Era óbvio que ele estava tentando convencê-la de uma
maneira suave e amigável.

- O que te faz acreditar na minha palavra se eu pegar essas pastas? –


desconfiou ela.

- Não sou eu, Hermione. – ele sorriu. – Lorde Voldemort é quem que saber
se pode confiar na sua palavra.

Ela ponderou. Seria arriscado estender as mãos e pegar aquelas pastas, mas ao
mesmo tempo aquilo poderia ser uma carta em sua manga. Decidiu que ele
pensasse que ela havia caído naquele papo. Respirou fundo e aceitou as pastas.
Ele sorriu.
- Tome o tempo que precisar para me dar uma resposta. – ele disse. –
Pense com cuidado, Hermione.

Ela assentiu e deu as costas. No caminho de volta sorriu sabendo que talvez
fosse uma excelente idéia fazer Voldemort pensar que ela havia falsamente se
entretido com uma distração.

**

Quando desceu no pátio de casa já era noite, já havia passado a hora do jantar
e em uma hora Tryn perguntaria se poderia servir o chá. Ela não gostava da
agenda estritamente rígida de como as coisas aconteciam ali, mas ainda
precisava sondar Draco para ver se aquilo poderia ser algo discutível ou não.

Subiu os degraus de entrada carregando apenas uma sacola de sua ida ao


centro. Havia visitado todas as lojas de poções daquela cidade. Pelo menos as
que haviam no centro. Eram todas precárias. Não ousou ir a loja de Bellatrix
embora tivesse ficado parada de frente a entrada por quase um minuto inteiro.
Surpreendeu-se quando passou pelo hall de entrada e atravessou a sala
principal sem ser abordada por Tryn. Subiu até a casa de poções e deixou o
frasco de raiz de valeriana que havia comprado. Suspirou cansada ao olhar a
noite pela janela. Percebeu que aquele havia sido um dia cansativo e proveitoso
dentre todos os outros daquela semana. Colocou as pastas que pegara com
Theodoro sobre a mesa e decidiu que seria prudente analisá-las no dia
seguinte, com tempo, luz do dia e descansada. Desceu para o quarto e
estranhou que até aquele momento Tryn não havia aparecido para perguntar se
ela gostaria de algo para jantar. Mas não se importou, não tinha fome e se
tivesse, ela quebraria as regras da casa de Draco indo a cozinha para preparar
algo.

Livrou-se dos sapatos assim que entrou no quarto. Gostava do piso frio contra
seus pés. Jogou o chapéu sobre a cama, tirou as luvas e fez o mesmo. Sentou-
se e fechou os olhos enquanto soltava o cabelo e o deixava pesar sobre seus
ombros. Esticou a coluna, alongou o pescoço e pensou seriamente sobre a
proposta de Theodoro enquanto soltava o ar calmamente pela boca e deixava
seu coração desacelerar das atividades que havia feito durante a tarde.
Preocupou-se com o que Narcisa poderia dizer quando descobrisse que ela
havia deixado a mansão de Draco para uma ida a catedral e um passeio no
centro e considerou o sim que havia prometido pensar para Theodoro.

Suspirou farta de tudo aquilo e abriu os olhos. Prendeu a respiração quase que
imediatamente enquanto seus músculos retraíam. Foi presenteada com a visão
de Draco Malfoy bem a sua frente encostado numa das cômodas que cercavam
as laterais do quarto. As pernas cruzadas, a gravata desatada cercando o
pescoço e descendo pela linha de sua blusa desabotoada, os cabelos
desalinhados, o copo de whisky pendendo numa das mãos e os olhos
incrivelmente cinzas fixos nela. Aquela era uma visão tão incomum de Draco
Malfoy que além de surpreendê-la a assustou. Ela nunca havia o visto fora de
sua postura bem apresentável.
- O que faz aqui? – soltou antes que tivesse processado as próprias
palavras. Não estava pronta para vê-lo.

Draco soltou um riso fraco.

- Eu não preciso dar um motivo para estar na minha casa, preciso? –


perguntou ele e ela não teve o que responder. Ele tomou um gole do líquido em
seu copo. – Vejo que já está bem a vontade. – comentou apontado os sapatos
que ela havia deixado no meio do caminho.

- Você deveria estar longe de Brampton Fort. – ela conseguiu dizer.

- Sim, eu deveria. – ele concordou. – Infelizmente tenho gente o suficiente


para me lembrar que agora eu também tenho que cumprir meu novo status
como marido. – não escondeu o desgosto que tinha ao dizer aquilo. – Contudo,
cheguei em casa e surpreendentemente não encontrei minha amada esposa. –
ele disse tomando um ar irônico, desencostando-se da cômoda e cruzando o
quarto em direção a uma estante onde mantinha algumas bebidas numa das
pequenas cabines. – Me perguntei onde ela poderia estar já que claramente
sabia que ela estava sob ordens de não deixar essa casa em hipótese alguma. –
ele pausou enquanto enchia um novo copo até a metade. – Isso porque as
pessoas de Brampton Fort deveriam pensar que estamos muito ocupados em
uma feliz e divertida lua de mel, que o canhão no dia do casamento não passou
de um incidente e que nada de tão importante está acontecendo, nada que me
tiraria de dentro da cidade, nada que pudesse perturbar a maravilhosa idéia de
que a guerra do lado de fora dessas muralhas está bem estável. – foi até ela e
estendeu o copo de whisky. A única escolha que Hermione teve foi aceitá-lo em
silêncio. – Obviamente você não foi capaz de acatar a uma ordem e agora me
resta se preocupar com o que os jornais comentarão amanhã quando sua
imagem aparecer na primeira página. – disse ele tomando o rumo de uma das
poltronas e se sentando. Tomou mais um gole. – Onde estava?

- Fui a catedral. – respondeu receosa. – Depois ao centro.

Ele claramente não gostou do que ouviu.

- Falou com alguém? – perguntou ele.

- Theodoro Nott. – respondeu ela.


- Ele lhe ofereceu algum cargo?

- Sim.

- O que respondeu?

- Prometi considerar dizer sim.

Ele suspirou desviando o olhar e se enterrando mais um sua poltrona enquanto


tomava outro gole.

- Falou com alguém no centro? – perguntou.


- Não. – ela respondeu.

- Alguém te parou?

- Não.

- Viu alguém tirando fotos suas?

- Sim.

Ele aparentemente se aborreceu com aquilo. Pressionou os dedos contra os


olhos e coçou a cabeça bagunçando ainda mais os cabelos. Hermione o
observou em silêncio mantendo o copo de whisky que havia recebido dele entre
suas mãos quietas em seu colo.
- Sabia sobre a proposta de Nott? – foi a vez dela perguntar. Ele assentiu
com a cabeça em silêncio. – Quero saber o que pensa sobre isso. – ela tentou.

Ele deu de ombros.

- Não me importo se é isso que quer saber. Se eu quisesse que dissesse


sim ou não, eu teria dito. – respondeu – O mestre quis que a escolha fosse sua.
– finalizou ele.

O silêncio se seguiu calmo. Hermione pode notar o quanto a figura de Draco


exalava cansaço. Ela não tinha idéia do que ele havia feito todos aqueles dias
que estivera fora, mas podia ter a noção de que havia consumido muito da
energia dele. Observou-o quando ele levou o copo mais uma vez a boca,
entornou o liquido e apreciou o sabor antes de engoli-lo como se tivesse
pedido por aquilo por muito tempo. Ele abaixou o copo e pareceu entrar num
mundo de pensamentos muito distante. Ela abaixou seus olhos para o abdômen
do homem e se perguntou se aquilo era real. Talvez pudesse tocar para saber...
- Hermione. – ele cortou o silêncio a chamando e ela levantou os olhos
como se tivesse sido pega cometendo alguma imprudência. Ainda era estranho
ter o som de seu nome na voz profunda e marcante de Draco Malfoy. – Já fez
sexo por casualidade?

Aquilo a pegou de surpresa e ela sentiu seu corpo esquentar. Puxou o ar.

- Perdão? – aquilo estava tomando o rumo que ela temia.

- Casualidade. Conveniência. – ele disse irritando-se por saber que ela


havia entendido muito bem a pergunta. – Já fez sexo apenas por desejo?

Ela sentiu o peito subir e descer pela sua respiração enquanto tinha os olhos de
Malfoy fixos nos dela. Lutou contra sua resposta. Engoliu a saliva, entornou um
gole do seu copo de whisky e desviou o olhar.

- Sim. – respondeu numa voz rouca.


Primeiro ele pareceu processar a resposta dela, depois um sorriso maroto
surgiu em sua boca.

- Santa como você é? – ele riu. – Eu não esperava por essa resposta.

Ela se irritou.

- Eu nunca procurei por ter status de santa, Malfoy.

- Hei. – ele protestou. – Eu a chamo de Hermione. Você deve me chamar


de Draco. Acostume-se. Não é difícil. – ela revirou os olhos. – Me escute, não
sei se chegou a esquecer, mas eu e você temos que fazer um filho para Lorde
Voldemort. – ela sentiu seu corpo estremecer com as palavras frias dele. – Isso
significa que temos que fazer sexo, e não faça essa cara de quem não está feliz
com a idéia. É inevitável. Aceite. E não é como se você nunca tivesse feito isso
na vida. – ele se mexeu incomodado e ficou claro que aquele não era um
assunto confortável não só para ela. – Faremos sexo por casualidade. Você é
mulher, eu sou homem, não há muito segredo e nada vai mudar entre nós.
Será apenas sexo, sem envolvimento, sem compromissos, sem cobranças. Você
vive sua vida, eu vivo a minha. Temos um acordo? – ele finalmente parou. O
silêncio o seguiu. A troca de olhares foi sem dúvida desconfortável. Hermione
assentiu sem escolha. – Quero sua palavra. – exigiu ele.

- Sim, temos um acordo. – a voz dela foi fraca.

Ele soltou o ar aliviado como se tivesse acabado de passar por uma fase muito
difícil.

- Perfeito. – ele se levantou, puxou a gravata de seu pescoço e tirou a


camisa. Hermione se retraiu e prendeu a respiração. Ele não estava pensando
em fazer aquilo agora, estava? – Você ainda tem que comer algo. – ele apontou
para a porta. – Tryn não desfez a mesa do jantar. Não faça barulho quando
voltar, preciso dormir. – deu as costas e sumiu para o banheiro.

Hermione podia ouvir seu coração bater forte e rápido, o barulho estourava em
sua cabeça. Ao longe ela escutou o som das duchas sendo ligadas. Respirou
aliviada, levantou-se, colocou os sapatos de volta, deixou o copo de whisky em
qualquer lugar e saiu do quarto o mais rápido que pode.
Desceu até o salão de jantar. A mesa ainda estava posta, ela foi servida por
Tryn, mas não tocou na comida. Não tinha fome. Apenas deixou o tempo
passar enquanto era consumida pelo silêncio. Pareceu eterno até que a elfa
voltou e informou que já eram quase meia noite. Hermione se levantou e
permitiu que ela desfizesse a mesa.

Subiu sem pressa, fazendo cada passo durar mais do que o necessário. Parou
de frente a porta por um bom tempo antes de entrar no quarto agora escuro. O
silêncio era intimidador. Ela fechou a porta com cuidado e avançou tentando
fazer o mínimo de ruído possível. Draco estava deitado de bruços, abraçava um
dos travesseiros e respirava pesado e uniformemente. Hermione parou a uma
distância segura sem nem mesmo perceber. Seus olhos redesenharam a linha
de suas costas a mostra até descerem pelos braços que cercavam o
travesseiro. Ela quis tocar, mas no mesmo segundo sua atenção foi chamada
para um objeto na cabeceira larga ao seu lado. Ela afastou alguns livros até
conseguir alcançar o pequeno objeto prata e redondo. Tinha certeza que aquilo
não estava ali antes.

- Muito barulho, Granger. – reclamou Draco com os dentes apertado numa


voz rouca e baixa.

- Hermione. – ela corrigiu girando a moeda em sua mão. Já havia visto


aquilo em algum momento de sua vida. Tinha uma espécie de brasão idêntico
dos dois lados. Era familiar para ela.
- Malfoy. – o chamou e o escutou rosnar e murmurar algo inaudível. –
Draco. – se consertou ao chamá-lo novamente. – O que é isso?

Ele ergueu os olhos apertado para ela, as sobrancelhas unidas e o semblante


de quem estava pronto para matá-la. Olhou o objeto nas mãos de Hermione e
soltou o ar aborrecido.

- Você não vai querer saber. – vociferou um tanto grogue voltando a


enterrar o rosto no travesseiro.
Capítulo 10

Narcisa Malfoy

- Estava esperando por você. – Lúcio disse dobrando o jornal e deixando-o


de lado sobre a mesa assim que Narcisa entrou na sala de jantar.
- Voltando aos antigos costumes? – ela se surpreendeu pela atitude dele
enquanto se sentava ao seu lado. – Fazia isso quando Draco era criança. –
disse enquanto preenchia a louça de sua xícara com chá.

Ele sorriu, Narcisa sorriu de volta guardando para si a dúvida sobre o que ele
tinha em mente agindo daquela forma enquanto ambos iniciavam um café-da-
manhã silencioso.

- Como estão as coisas no ministério? – ela quebrou o silêncio após um


longo minuto.

- Quietas. – respondeu Lúcio e o silêncio voltou.

Narcisa continuou a comer. Não gostava do silêncio entre eles.

- Estão recebendo notícias sobre...


- Querida. - Lúcio a cortou – Não na hora do café-da-manhã. – sorriu ele.

Ela soltou o ar frustrada e voltou-se para seu prato. O silêncio veio e dessa vez
ela deixou durar. Lúcio também não o interrompeu e assim eles seguiram toda
a refeição restritos ao som de talheres e louças.

Seu marido era um homem quieto dentro de casa, não gostava de muito
barulho e durante as refeições qualquer conversa deveria ser regida
exclusivamente por ele. Narcisa sabia disso, mas havia meses que não
conversava com o próprio marido, tinha que tentar de alguma forma.

- Voltarei para o jantar. – ele disse se levantando ao terminar. – Arrume-se


bem, vamos a casa dos Parkinson.

Narcisa levantou os olhos surpresa.


- Por que está me dizendo isso agora?

- Por que foi uma decisão que tomei ontem. – ele disse – E você já estava
dormindo quando cheguei em casa.

Ela engoliu as milhões de perguntas que tinha sobre aquilo, não seria nada
sábio abrir uma discussão sobre o assunto. Apenas assentiu em confirmação
tendo todos os motivos para desconfiar daquela atitude. Sabia mais do que
ninguém que seu marido era o tipo de pessoa que não gostava de surpresas
durante a agenda da semana.

Quando ele saiu tudo que restou para Narcisa foi se questionar o porque de um
jantar com os Parkinson justo quando tudo parecia fora do lugar naquela
cidade. Ela respirou fundo, empurrou seu prato ao perder o apetite, e olhou
para o jornal que Lúcio havia deixado sobre a mesa. No mesmo segundo ela o
puxou sentindo uma veia de raiva saltar em seu pescoço.
A figura em destaque era Hermione no maravilhoso vestido que ela havia
escolhido para usar no dia anterior saindo de uma das lojas de artigos para
poções do centro. Narcisa levantou respirando fundo, deixou a sala de jantar,
cruzou o mais rápido que pode toda a mansão, passou pela varanda da frente,
desceu os degraus para o pátio e encontrou o cocheiro recostado em sua
cabine.

- Quero estar na casa de Draco em um minuto! – ela foi severa.

O homem pulou para abrir a porta para ela.

- Viu o jornal, querida? – Lúcio chamou sua atenção enquanto entrava na


cabine da carruagem da frente com um sorriso desdém e irritante.

Narcisa não o respondeu, apenas entrou, sentou-se e abrir a matéria em seu


colo enquanto sentia que começava a se mover. Leu enquanto a palavra
Sangue-Ruim corria em sua cabeça incessantemente. O artigo não era ruim,
dava a entender que Draco e Hermione não haviam saído de Brampton Fort
para uma Lua de Mel, elogiava o bom gosto de Hermione para se vestir e sua
beleza diante do sol não muito apreciado pelos moradores locais sugerindo que
ela havia dado um tempo em seu status de recém casada para aproveitar o
incomum dia ensolarado. O que preocupou Narcisa foi a repetida menção do
tempo em Brampton Fort, as pessoas estavam reparando que algo de errado
estava acontecendo. Mas o perigo não estava só ali, logo nos últimos
parágrafos havia uma sutil sugestão de que talvez Draco estivesse ocupado
demais em fazer com que a cidade voltasse ao normal. Fechou o jornal
engolindo a raiva. Bateu na cabine e colocou a cabeça para fora.

- Quero chegar lá hoje ainda! – protestou.

- Estamos indo na velocidade máxima, Sra. Malfoy. – foi a resposta do


cocheiro.

- Somos bruxos! Por Merlin! – murmurou ela fechando a janela com certa
brutalidade. – Não deveríamos ter esses tipos de limites.

Quando finalmente estacionaram no pátio da mansão de Draco ela mesma


abriu a porta e pulou para fora da cabine passando a subir com pressa os
degraus da varanda até a enorme porta principal onde foi recebida por Tryn
que provavelmente recebera a mensagem de sua passagem pelo portão da
propriedade.
- Chame Hermione imediatamente, Tryn. – ordenou Narcisa a elfa.

- A Sra. Hermione Malfoy está ocupada no momento, Sra. Narcisa Malfoy. –


disse a elfa acompanhando a mulher nos passos apressados mansão a dentro.
– A Sra. Hermione Malfoy esperava vê-la dentro de duas horas, não agora.

- Vá e diga a ela que o assunto que temos a tratar é de extrema urgência.

- Agora mesmo. – a elfa aparatou a deixando na sala principal.

Narcisa passou a andar de um lado para o outro impaciente pela a espera.


Notou as cortinas da sala principal todas abertas e soube imediatamente que
aquilo deveria ter sido alguma ordem vinda de Hermione. Draco odiava as
cortinas e odiava ainda mais que elas estivessem abertas, ele não deveria estar
em casa.

- Ela está na biblioteca. – anunciou Tryn assim que reapareceu.


- Sei o caminho. – disse a elfa quando passou a subir as escadas na
companhia da criatura.

Cruzou toda a mansão até o ultimo pavimento, entrou na enorme biblioteca e


andou pelo corredor checando cada estante até encontrar Hermione no topo de
uma das escada checando o nicho mais alto da estante.

- Desça. – Narcisa foi severa.

- Presumo que tenha lido O Diário do Imperador de hoje. – Hermione disse


sem tirar a atenção de um livro que tinha nas mãos. – E aliás, chegou duas
horas antes do combinado de todos os dias sem avisar, o que de acordo com
suas próprias regras, é um ato desprezível e desrespeitoso.

- Desça, Hermione. – Narcisa tornou a dizer no mesmo tom ríspido. –


Tenha um pingo de decência e não se faça de ingênua pois sabia muito bem
que eu estaria aqui antes da hora.
- Sim, eu sabia. – sorriu Hermione finalmente dando-lhe atenção. Ela
desceu com cuidado e colocou os sapatos que havia deixado sobre o carpete. –
E posso assegurar que valeu a pena vê-la quebrando suas próprias regras,
agora sei que eu não sou a única. – deu as costas e seguiu seu caminho a
passos firmes.

Narcisa sentiu a fúria correr em suas veias. Como ela ousava se comportar
daquela forma depois do que havia feito. Apertou seu passo até alcançá-la.

- Eu espero que tenha uma boa justificativa para explicar o porque quebrou
minhas ordens.

Hermione riu debochadamente.

- Por que? – indagou. – Acaso vai me colocar de castigo se eu não tiver? –


Ela ironizou dando a volta em uma mesa repleta de livros abertos e
pergaminhos mofados. Sentou-se exatamente como havia a ensinado, cruzou
as penas e em sua perfeita postura, puxou uma xícara de chá sobre a mesa e
tomou um gole. – Além do mais, a matéria não faz nenhuma ameaça aos
problemas da catedral.

Narcisa jogou o jornal aberto sobre a mesa bem a frente dela que abaixou o
olhos para encarar sua própria figura saindo de uma loja de poções estampado
sem piedade na primeira página.

- Hermione, você desobedeceu minha ordem e eu quero um motivo muito


claro para ter feito isso.

- Você está certa, sua ordem. – disse Hermione. – Uma ordem que tenho
absoluta certeza de que não veio de Lorde Voldemort.

Narcisa se calou e por um segundo pensou em se irar, sair do controle e


arrastar toda aquela bagunça para o chão. Mas não seria Narcisa Malfoy se
fizesse isso.
- Estou tentando fazer sua imagem na mídia e na cabeça das pessoas e
essa com certeza é uma ordem do mestre! – retrucou.

- Tem certeza de que está certa sobre isso? – questionou Hermione muito
segura do que dizia e Narcisa travou. – Eu não preciso de uma imagem
diferente do que a que eles mesmos tem construído sobre mim. Eu não preciso
de você me dizendo como eu tenho que agir, o que tenho que falar, como e
quando devo aparecer. Não sou sua criança. Farei isso por mim mesma e não
me importo com a matéria, recebi uma série de elogios frios se não reparou.
Posso não ser querida pelo povo, mas meu status está andando sobre uma
classe com bastante poder, leia novamente e me negue isso. – sorriu - Para
mim, no momento, isso basta. – tomou um gole do chá. – E sei porque queria
me manter aqui. – devolveu a xícara para a mesa. – Sabia sobre a oferta que
Nott iria me fazer, não sabia?

Narcisa suspirou irritada.

- Sim, sabia e era justamente...

- Odeio que todos saibam da minha vida exceto eu. – cortou Hermione. –
Sei que sendo quem eu sou nesse inferno de lugar não me resta escolha a não
ser viver assim, mas acha que vou me calar diante disso? Me manteve presa
aqui por interesse próprio, quis me afastar da catedral pois sabia da proposta
de Nott, sabia que isso havia vindo do seu mestre. Me jogou uma lista de meias
desculpas, justificativas irracionais, acha que sou estúpida? Queria me colocar
não seu jogo. E por que? – ela questionou. – A única resposta que me vem a
cabeça é que me quer tão Malfoy quanto você ou quanto qualquer outra esposa
na história da família: desocupada, inútil e fútil.

- Como ousa dizer isso! – Narcisa vociferou. – Não tem idéia do que é
cuidar de uma casa, Hermione!

Hermione riu.

- Não posso acreditar que eu estava certa! – exclamou ela. – Por quanto
tempo achava que correria contra uma vontade vinda de Lorde Voldemort
dentro do império dele?

- Pare de dizer o nome dele! Você deve respeito ao mestre! – Narcisa foi
severa.
- Pare de me dizer o que fazer! – ela se levantou. – Essa é a minha casa,
eu não sou uma criança e você não tem nenhum poder sobre mim.

- Eu estou apenas tentando te proteger! – dessa vez Narcisa quase gritou.

Hermione finalmente se calou e quando Narcisa escutou o eco de suas próprias


palavras se julgou insana por tê-las dito. O silêncio entre elas foi incômodo e
confuso. Narcisa arrependeu a si mesma pela atitude, sempre se arrependia
quando perdia o controle! Quando aprenderia a manter-se estável sempre?
Quando? Uma vida de arrependimentos nunca seria o suficiente?

- Proteger? – Hermione repetiu perdida. – Me proteger? – ela fez a


expressão mais confusa que Narcisa já vira. – Por que?

Narcisa soltou o ar cansada. Fechou os olhos frustrada e lamentou por ter


aberto a boca.
- Entenda Hermione, nenhuma Malfoy jamais trabalhou. – a encarou -
Talvez você pense que cuidar de casa, manter uma família, seja uma tarefa
simples, mas não é.

- Não é isso que quero saber. – interveio Hermione.

- É melhor que fique em casa. – apressou-se Narcisa. – É melhor que se


dedique a uma vida social, a cuidar de seu marido, a manter a ordem de sua
casa. É melhor que procure se manter afastada da catedral...

- Por que? – cortou Hermione confusa. Cada palavra que Narcisa dizia
parecia desagradá-la ainda mais. – O que isso tem haver com me proteger? Por
que quer me proteger? O que quer de mim? Qual é o seu jogo?

- Eu não tenho nenhum jogo, Hermione! – Narcisa se irritou. – Eu sou


apenas a esposa de um comensal...
- A mulher do Primeiro Ministro. – cortou Hermione com arrogância.

Narcisa revirou os olhos.

- Sim, eu posso saber de muita coisa, mas eu não sou eles! Não faço parte
do ciclo interno deles, não tenho poder. Sou apenas a mulher de um comensal,
o que acha que eu iria querer de você?

- Me diga isso você! – exclamou ela dando a volta na mesa – Foi você
quem surgiu com a idéia de me manter aqui como se fosse uma questão de
sobrevivência! Foi você quem me tirou da catedral e me colocou aqui, foi você
quem disse aos empregados da casa para me manterem aqui, foi você quem
deu meias informações quando eu questionava o porque de eu não poder sair,
e agora me diz que quer me proteger? – Hermione riu. – Sim, Narcisa. –
aproximou-se – Qual o seu jogo?

Narcisa se calou. Ela não tinha o que dizer. Nada que ela pudesse tentar dizer
ou nenhuma maneira de se expressar poderia fazer Hermione descer do
pedestal da eterna dúvida. Ela era uma prisioneira e ela mesma sabia que sua
vida era um jogo na mão de qualquer um dentro daquele lugar. O que Narcisa
poderia fazer para lutar contra isso? Não haviam palavras que pudesse
confortar a pobre criatura.
- Desconfia de mim. – disse Narcisa e soltou o ar cansada. – Sabe de uma
coisa, Hermione? Você realmente tem todos os motivos. Não posso julgá-la
estúpida por isso, pelo contrário, faz bem. Mas apenas quero que saiba que eu
estou nesse mundo a mais tempo que você, e acredite, não vai querer estar no
meio deles. Sei que desconfia que eu me preocupe com você quando eu não
deveria, mas nós duas não somos muito diferentes uma da outra agora. Temos
o mesmo status, carregamos o mesmo anel, o mesmo sobrenome, viemos de
fora para dentro desse império, dessa linhagem, os Malfoy. Agora, você é
família e não importa que a família Malfoy seja apenas uma fachada para todo
o mundo, para mim família é família e eu sempre irei prezar por ela. –
aproximou-se – Confie em mim.

Hermione a olhou nos olhos por um longo minuto silencioso até finalmente
piscar e responder calmamente:

- Nunca.

Narcisa soltou o ar e assentiu.


- É compreensível. – disse e então o silêncio durou alguns segundos entre
elas – Eu sinto muito por você, Hermione. – finalmente disse. – Realmente
sinto. – o olhar que Hermione lhe lançava era a prova de que ela não
acreditava em nenhuma palavra. – Eu sei o que é ser tirada do meio de
pessoas que te amam e ser colocada em uma casa, com um estranho, para o
resto da vida. Eu posso lhe garantir que não é uma vida muito feliz, mas você
ao menos entrou nela consciente disso. – Narcisa sentiu seu coração apertar
como sempre sentia quando se lembrava de como ela se sentira a mulher mais
feliz e sortuda do mundo no dia de seu casamento. – É muito mais difícil
quando se entra nessa vida cheia de esperanças e de repente você tem que
aprender a lhe dar com todas elas ruindo bem longe do seu alcance. -
Hermione finalmente mudou seu olhar. – Acredite, tudo que eu fiz foi porque
sei como as coisas funcionam do lado de cá. Tem que dizer não a Theodoro.

- Por que não me disse isso quando questionava o porque tinha que ficar
presa aqui? – perguntou Hermione dessa vez sem o tom agressivo de antes. –
Me manteve aqui com o propósito de adiar a proposta de Nott. Por que? O que
tinha em mente? Me convencer a viver como você antes que ele me fizesse a
proposta? Achava mesmo que ia conseguir?

- Não. – ela foi sincera. – Mas eu tinha que tentar.

O silêncio pairou sobre elas enquanto se encaravam. Era óbvio que Hermione
ainda não acreditava totalmente nela, mas parecia ter apreciado a sinceridade
com a qual Narcisa conduzia as palavras.
- Vou dizer sim a Nott. – Hermione quebrou o silêncio. Havia o tom de sua
teimosia na afirmação, mas dessa vez também vinha carregado como um
pedido de desculpas a luta contrária que Narcisa havia travado para que ela
não dissesse aquilo.

- Hermione...

- Por favor. – Hermione cortou Narcisa que estava pronta para partir para
um tom apelativo. – Se eu me arrepender, a responsabilidade dessa escolha
estará sobre mim, portanto deixe que eu conduza as coisas da minha maneira.
Isso não impede que me dê avisos ou que me alerte sobre algo, mas não tenha
a atitude de tentar me manipular novamente. Eu não sou um fantoche. – ela foi
cuidadosa ao dizer aquilo.

Narcisa não gostava da idéia de saber que havia agido errado, mas não pediria
desculpas, ela tinha um ponto a provar e se Hermione fosse esperta, ela se
deixaria ser um fantoche em suas mãos porque ela não tinha a menor idéia de
onde estava se metendo. E afinal, ela era uma grifinória, o senso de coragem
daquele tipo de gente as vezes ultrapassava o potencial de esperteza e como
uma Sonserina ela tinha todo o direito de até dizer aquilo.
- Apenas lhe digo para não se infiltrar em um meio que não sabe como
funciona, Hermione. É isso que eles querem. Seja mais esperta. Recolha-se. –
tentou.

- Não sou covarde. – ela disse segura de si. – E também não sou nenhuma
estúpida. Tenho lutado em uma guerra por anos. Sempre estive nas linhas de
frente, acha que vou simplesmente me conformar a uma vida dentro de casa? –
ela suspirou. – Ainda não acredito que não tenha algum jogo por trás da sua
idéia de me manter longe da catedral, mas se realmente está sendo verdadeira,
apenas peço que confie em mim.

Narcisa não confiava.

- Você não sabe o que está fazendo, Hermione.

- Sim, eu sei. – ela foi confiante novamente.


Narcisa soltou o ar cansada. Não se importaria mais. Se Hermione estava tão
segura do que fazia, que ela convivesse com os seus arrependimentos mais
tarde.

- Eu a avisei. – alertou Narcisa.

- Guardarei seu aviso. – disse Hermione e deu as costas. – E já que está


aqui, preciso deixar algo bem claro. Eu me casei com o seu filho, portanto essa
é a minha casa e eu a conduzirei da forma como eu bem entender. Não me
diga como tenho que me portar aqui, como devo dar ordens, como devo me
apresentar, a que horas devo acordar, como devo tratar Draco. Essa é a minha
casa e dele. Tenho certeza que qualquer desentendimento será resolvido por
nós. Não girarei em torno do mundo dele como quer.

Narcisa uniu os lábios sabendo que aquele discurso viria em algum momento.
Hermione era uma péssima esposa e por isso Lúcio e ela jamais a escolheriam
como uma possível candidata para Draco, mesmo que ela não fosse uma
Sangue-Ruim. Narcisa jamais entenderia porque Lúcio havia sugerido a união
dos dois para Voldemort, certamente ele tinha um ponto a provar, confiava no
marido, ele sempre havia feito escolhas duras porém boas para a família, ou
melhor, para a segurança do nome Malfoy e querendo ou não Narcisa estava
grata por fazer parte do meio.
- Faça como quiser, Hermione. – estava cansada. – Se quiser seguir pelo
caminho mais difícil, não sou eu quem vou convencê-la do contrário. Pude
notar que é demasiadamente teimosa para isso.

Hermione sentou-se. Forçou um sorriso e disse:

- Perfeito. – pegou sua xícara e tomou um gole do chá. – Sente-se. – ela


apontou para uma das cadeiras próximas a mesa. – Seja minha convidada. –
ela foi muito educada ao dizer aquilo. – Quer um chá?

- Está mesmo tomando chá na biblioteca? - desaprovou Narcisa.

Hermione suspirou.

- Minha casa, minhas regras. – ela retomou o assunto cansada ao perceber


que Narcisa não havia absorvido tudo que ela havia dito.
- Vai ter problemas com Draco quando ele souber disso. – ela contornou.

- Bem, tenho certeza que iremos lhe dar com isso no futuro. – forçou um
sorriso novamente. – Iremos aprender a viver na mesma casa. Foi capaz de
fazer isso com seu marido, não foi?

- Sim, Hermione. Eu fui. E Lúcio e Draco são mais parecidos do que você
pode imaginar. Eu sei como deve se portar para viver em paz, estou tentando
lhe dizer, mas você é teimosa o bastante para aceitar.

Ela riu.

- Quem disse que eu quero viver em paz? – ela colocou a xícara sobre a
mesa – Essa não é a vida que eu quero, pra que eu preciso de paz nela? – se
levantou e pegou um dos livros sobre a mesa, foi até Narcisa e o estendeu para
ela. Narcisa o pegou e encarou a figura desenhada de uma moeda prata com o
brasão igual dos dois lados. – Essa é uma das 100 moedas da Liga dos
Alquimistas do século XII. A liga se rompeu no século XVI com a caça as bruxas
e metade das moedas foram guardadas nos cofres da família Malfoy que eram
os mais seguros da época. Sei que depois de quase dois séculos elas se
tornaram propriedades da família pelo testamento de um dos alquimistas da
liga e pelo bom cuidado que o patrimônio teve durante todo esse tempo
guardado. No século passado a Ordem de Merlin comprou uma boa quantidade
delas e a distribuiu entre os membros da primeira classe, o resto continuou
com sua família...

- Nossa família. – corrigiu Narcisa e Hermione tomou um segundo para


respirar quando quase contra argumentou com aquilo.

- Sim. – teve que concordar. – Quero saber se tem mais alguma


informação sobre isso.

- Por que quer saber disso? – Narcisa questionou confusa.

- Não importa. Apenas quero saber. Vi que Draco carrega uma com ele. –
disse Hermione.
- Sim. Draco gostava delas quando ela criança. Lúcio deu a ele umas cinco,
disse que eram tesouros muito antigos e que era uma missão que ele cuidasse
delas como cuidava da própria vida. Você sabe, crianças. Draco ficou todo
fascinado, mas deixou de dar atenção a elas depois de um tempo porque não
havia o porque de realmente cuidar delas. Nenhum perigo as ameaçava, ele
apenas as guardou.

Hermione pareceu processar aquilo com atenção enquanto voltava para sua
cadeira e se sentava.

- A família ainda possui muitas delas? – perguntou.

Narcisa não fazia idéia. E por que Hermione parecia tão interessada naquilo?

- Não sei. – deu de ombros. – Apenas sei que elas fazem parte de um
seguro econômico da família. A Ordem de Merlin apenas conseguiu comprar
alguma delas porque naquela época algum terço do tesouro da família deveria
estar ameaçado. O preço delas vive oscilando mas sei que a cada ano elas
valorizam. Dumbledore tinha uma pela Ordem de Merlin, foi enterrada com ele
quando morreu, mas sei que ele tinha mais duas que havia comprado dos pais
de Lúcio a muitos anos atrás em troca do silêncio de algum segredo que não
sei. – Hermione havia erguido os olhos para ela no momento em que havia
mencionado o nome de Dumbledore.

- Dumbledore tinha mais de uma? – ela fez a pergunta mais para ela
mesma do que para Narcisa.

- Sim. Por que o interesse nisso, Hermione? – perguntou e ela negou com a
cabeça.

- Estou apenas procurando me manter ocupada. – ela forçou um sorriso. –


Há tantas histórias sobre os Malfoy que eu não sabia. – era notável que ela
estava fugindo da pergunta de Narcisa. – Já que agora faço parte dela me sinto
na obrigação de saber onde estou pisando.

Narcisa não insistiria. Fingiria que havia engolido aquilo.


- Faz bem. – se limitou a dizer e então o silêncio finalmente veio. A
observou enquanto ela desviava os olhos para a bagunça em sua mesa e
passava as mãos sobre as paginas dos livros perdida nos próprios
pensamentos. Ela estava escondendo algo. Narcisa pagaria muito para saber o
que ela estava tramando, mas certamente era melhor mostrar que estava
convencida de que não era nada importante. – Onde está Draco? – perguntou.

Hermione deu de ombros ainda imersa em seus pensamentos.

- Não sei. – respondeu sem tirar os olhos dos livros. – Quando acordei ele
já não estava mais aqui.

O desinteresse dela fez Narcisa perceber que o dever que Draco deveria ter
cumprido ao voltar para casa na noite anterior não havia sido cumprido.

- Como foi a noite? – ela perguntou. Hermione piscou e ergueu os olhos


para ela. Ambas trocaram olhares e Narcisa soube que ela havia entendido sua
pergunta.
- Desconfortável visto que o seu filho é mais espaçoso do que eu
imaginava. – ela respondeu e Narcisa soube que a noite de núpcias deles não
havia acontecido. Se perguntou o porque de Draco estar querendo adiar aquilo,
ele não poderia ir contra uma ordem de Voldemort por tanto tempo assim.

Narcisa respirou fundo e se levantou.

- Bem, já que é teimosa para seguir minhas lições, eu as cancelarei. Se


quiser saber sobre elas um dia, sabe onde me procurar. Mas saiba de uma
coisa. Você é uma de nós agora. É uma Malfoy. Tudo que você faz vira história,
portanto tome muito cuidado com qualquer decisão ou atitude que venha
expor. – aproximou-se. – E também há uma coisa que deve saber. Essa família
é muito importante, portanto quero que entenda que nós sempre iremos vir em
primeiro lugar. – disse pausadamente - Nós sempre seremos prioridade. Nós,
Hermione. Ninguém mais. – ela não respondeu, mas havia escutado bem. – Eu
sei o caminho até a saída. – finalizou e deu as costas.

Theodoro Nott
- Lupin? Remo Lupin? – Theodoro riu – Morto? - riu novamente sentando-
se em sua mesa. – Como eu desejei isso quando ele nos ensinou Defesa Contra
a Arte das Trevas.

Draco riu.

- Morto. – confirmou passando a mão sobre a barba que apontava em seu


queixo acomodando-se na cadeira da qual estava sentado. – Não há dúvida de
que o colocaram dentro de Askaban durante a rebelião. Foi um perigo para
ambos os lados, tanto o da Ordem quanto o nosso. Era lua cheia. Mas ficou
claro que a Ordem precisava focar nossa atenção em um ponto para que já
fosse tarde quando notássemos os fugitivos.

- Mais mortos além de Remo Lupin? – pergunto Theodoro.

- Quase metade das zonas iniciais que são responsáveis pelo armamento
de Azkaban. – lembrar aquilo evidenciou a preocupação de Draco. – Dois
líderes de resistência. Um do sul da Europa, outro das Américas. Faziam parte
do grupo fugitivo, mas ficaram para trás. A Ordem teve uma perda quase
insignificante comparada a nossa. Me preocupo com isso chegando nos jornais
dos Fortes do mestre. Não há como esconder do povo que algo muito grave
está acontecendo, você terá que cuidar disso.

- E os dementadores? Sabe que o tempo está se esgotando.

- Estou trabalhando nisso.

Theodoro duvidou. Conhecia o amigo.

- Draco, isso deveria ser a única coisa na qual você deveria estar
trabalhando. – alertou e aquilo irritou Draco.

- Se você fosse capaz de fazer o meu serviço certamente não seria um


governador, Theodoro. Eu disse que estou trabalhando nisso e é o suficiente.
Não posso me focar apenas em algo, talvez seja isso que os rebeldes queiram
agora. Tenho que ser muito mais cuidadoso. – ele suspirou cansado.

- Logo a mídia vai bater nessa tecla. Se não leu o Diário do Imperador de
hoje não percebeu que eles já estão começando a desconfiar de algo. Eu tenho
que segurar a cidade.

- Diga que está tudo sob controle.

- E está? – perguntou receoso.

- Faça o seu trabalho, Theodoro. Eu faço o meu. – findou Draco.

Theodoro mostrou as mãos em sinal de paz. Estava preocupado com a forma


como aquilo estava demorando mais do que ele esperava para se estabilizar,
mas realmente não iria contrariar o trabalho do amigo, ele sabia o que fazia.
Não estariam onde estavam naquela guerra se não fosse por uma importante
ajuda dele.

- Você vai ficar muito tempo fora dessa vez? – ele perguntou sabendo que
Draco sairia pelo portão leste em alguns minutos.

- Espero que não. – respondeu.

- Tenho certeza que sua mulher sentirá sua falta. – brincou Theodoro rindo.
Draco revirou os olhos. – Como foi a noite? Me conte o quanto a nova Sra.
Malfoy pode ser sexy.

- Tire os olhos dela. Ela tem o meu sobrenome não o seu.

- E você parece bem orgulhoso disso.


Draco riu.

- Ela foi uma pedra no meu sapato desde que a conheci e quando imagino
o ódio que ela deve sentir tendo o meu sobrenome, pertencendo a mim e toda
essa situação, confesso que até me sinto recompensando. Mas o que não quero
é tê-la por perto por toda uma vida. Não quero ter que me preocupar com ela
por ser uma Malfoy agora. Não quero ter que cuidar dela. – suspirou – Não ela.

- Ela não é boa na cama? – perguntou Theodoro e Draco fez uma careta
como se ele tivesse feito um comentário inconveniente. – O que? – mostrou as
mãos – Não fique agindo como se não conversássemos sobre isso!

- Ainda não fizemos sexo, Theodoro! – Draco disse.

Ele se surpreendeu.
- Não? Pensei que tivesse voltado para Brampton Fort porque o mestre
estava o pressionando com aquele lance de herdeiro e tudo mais.

Draco revirou os olhos.

- Sim, sim. – confirmou e Theodoro pode perceber que ele estava


incomodado com aquilo. – Mas levar Hermione para a cama não é como levar
qualquer outra mulher. Ela não quer ir para cama comigo, é evidente. Não
posso simplesmente forçá-la.

Theodoro riu.

- Você é Draco Malfoy! Pelo amor de Deus! Se esqueceu do seu poder de


sedução, ou o que?
Draco não estava gostado da conversa.

- Ela não me quer! – os dentes dele estavam cerrados. – Eu nunca tive


uma mulher que não me quisesse.

Theodoro continuava a achar aquilo hilário.

- Bem vindo ao mundo real, Draco. – soltou. – As vezes algumas mulheres


não nos querem até as convencermos do contrário. Tem apenas que seduzi-la.

- Perdeu a cabeça, Theodoro? – ele se irritou. – Se eu seduzi-la estarei


seduzindo Hermione Granger! Sim, aquela de Hogwarts! Sangue-ruim irritante
sabe tudo! Aquela amiguinha do Potter que acabou com metade das minhas
zonas iniciais semana passada! Aquela responsáveis pelas derrotas que eu já
tive! O cérebro por trás daquilo que eu lutei todos esses anos! Eu tenho sim o
pingo do orgulho que me faz ter consciência de que ela não é apenas uma
mulher... – ele parou subitamente sabendo que teria que admitir aquilo em voz
alta. - ...uma mulher muito bonita. – ele se esforçou para fazer com que soasse
um pouco menos do que ela realmente era.
Theodoro riu e deu de ombros.

- Sendo assim eu imagino que as coisas entre vocês ficarão bem


complicadas. – disse. – Você não a quer, ela não te quer e nenhum dos dois
fará nenhum esforço para fazer o serviço que devem fazer. – riu – Acha que o
mestre vai deixar que isso role pelo tempo que me parece que rolará? Fala
sério, Draco! Olhe-a como mulher! E que mulher! Pelo amor de Deus, não é tão
difícil agarrá-la e levá-la para cama! Mesmo que ela lute, veja isso como um
dever, e se ela lutar pelo menos você estará fazendo ela sofrer.

Draco se calou por alguns segundos como se estivesse considerando o que


tinha escutado.

- Já pensei dessa forma. – disse ele. – Mas não posso fazer isso. – se
levantou. – Não sou nenhum tipo de estuprador ou... – ele parou perturbando
com a idéia do que havia acabado de dizer – Não importa. Não posso. Meu
corpo não reagiria com uma mulher lutando contra mim, esqueça isso. Estamos
falando sobre sexo e eu não sei fazer isso sozinho, existem duas partes
envolvidas no processo. – deu as costas. – Tenho que ir, tenho uma chave de
portal me esperando daqui a 30 minutos no portão leste. Segure a cidade só
mais essa semana. – pediu.
Theodoro achou graça na tentativa de escapatória dele.

- Se eu fosse você não conseguiria dormir com uma mulher daquela de


camisola do meu lado. – ele tirou sarro.

- Se eu precisar de sexo tenho a mulher que eu quiser aqui dentro e lá


fora, Theodoro. – Draco disse já a altura da porta.

- Não ela. – provocou ele. Draco apenas lhe lançou um último olhar
irritado, abriu a porta e saiu por ela.

Theodoro sabia que ele passaria os próximos dias perturbado com aquilo,
conhecia Draco Malfoy. Riu com o próprio pensamento e se levantou de sua
cadeira, juntou os papéis em sua mesa e os carregou para fora de sua sala.
Tinha uma conferência dentro de uma hora com todo o departamento, aquilo
estava demorando mais tempo do que ele esperava para se resolver. Draco
tinha que tomar uma atitude com relação aquilo ainda aquela semana.
Assim que saiu de seu hall privado deu de cara com Olivia, sua secretaria, uma
tia nada atraente de uma família a qual devia um pequeno favor ao norte da
cidade. Entregou os papéis a ela e disse:

- Leve esses formulários para serem validados... – se calou ao sentir seu


pulso formigar. O calor subiu pelo seu braço e fez os pelos de sua nuca de
arrepiarem. Suspirou. – Esqueça. – disse, deu as costas e tomou o rumo para
fora da sessão.

Teve que cruzar toda a catedral para pegar a escada que dava acesso a torre
principal. Estava tudo tão vazio e quieto que apenas levou alguns minutos para
tomar a subida eterna para a torre. Durante o caminho procurou esvaziar sua
mente. Assim que chegou ao topo teve que puxar a manga de sua blusa e
mostrar a marca nítida em seu braço para a guarda independente que vigiava a
porta do gabinete do mestre. A porta foi aberta e ele pode passar.

O gabinete de Lorde Voldemort era um confinado octógono de teto alto com


janelas altas. Ele mantinha a lareira acesa fazendo com que sempre tivesse
fumaça pairando no ar para distribuir a luz restrita que vinha das janelas sem
tornar tudo claro demais para seu gosto. Theodoro adentrou o local e
aproximou-se da figura sentada atrás de uma simplória e única mesa de
mogno.
- Demorou. – a voz de Voldemort cortou o silêncio.

- Tive que cruzar toda a catedral. – justificou-se sabendo que não iria
adiantar se seu mestre estivesse de mal humor.

- Sente-se. – ele foi direto. Theodoro aproximou-se, puxou a cadeira e


sentou-se. O silêncio durou alguns segundos. Eram naqueles segundos que
Theodoro tinha a impressão de que Voldemort alcançava qualquer memória em
sua mente que nem ele mesmo tinha idéia de que podia existir. – Algo para
beber? – ofereceu Voldemort.

- Não. – respondeu Theodoro.

- Então acredito que possamos pular as formalidades. – disse o mestre.


Theodoro sentiu um calor se espalhar pelo seu corpo. Pular as formalidades
com seu mestre era alcançar um nível que apenas quem se sentava nos
patamares mais altos do salão principal tinha. Ele sempre havia lutado por isso.
Faria qualquer coisa para ter seu próprio patamar nos tronos da nave principal.

- Como quiser, mestre. – limitou-se a dizer.

Voldemort se reacomodou em sua cadeira antes de continuar:

- Hermione esteve aqui ontem. Sei que ela foi a sua sessão.

- Sim, ela foi. – confirmou Theodoro.

- Ela pegou as pastas?


- Sim.

Silêncio.

- Estou esperando que você me diga mais sobre isso. – manifestou-se ele.

Theodoro martirizou-se em silêncio.

- É óbvio que como o esperado o tamanho do cargo fez com que ela
desconfiasse que estão tentando mantê-la ocupada dentro de Brampton Fort.
Ela sabe que estão tentando afastá-la da guerra.
- E ela irá dizer sim porque ela quer que pensemos que caiu na cilada. –
disse ele.

- É isso que quer? – Theodoro estava confuso. – Que ela saiba que é uma
cilada? Ela irá dizer sim sabendo que você sabe que ela sabe que é uma cilada.
– ele se sentiu patético e riu fracamente.

Voldemort sorriu.

- E eu chamo isso de jogo. E sabe o que é mais interessante, não é o meu


jogo, nem o dela. É apenas um jogo e isso cheira desafio. – ele soava insano,
mas para alguém que dormia com Bellatrix Lestrange, não era nada tão
bizarro. – Quero conhecer as estratégias dela e esse cargo definitivamente é a
base para um bom começo.

- Ainda não temos o sim dela. – alertou Theodoro.


- Sim, nós temos. Ela apenas ainda não nos disse. Acredite, Theodoro,
aquela mulher lutou na linha de frente de uma guerra por muitos anos. Ela está
louca para entrar de cabeça nesse jogo. Ela está louca por um pouco de ação. –
ele se levantou calmamente e aproximou-se da lareira com o fogo baixo. O
silêncio durou como se Voldemort estivesse esperando um bom momento para
continuar. – Draco passou a noite em Brampton Fort. Acaso o viu? – ele
finalmente disse.

Theodoro estranhou o comentário e a pergunta.

- Ele foi a minha sala hoje pela manhã antes de ir embora. – contou.

- Sobre o que conversaram? – ele parecia interessado naquilo.

Aquela era uma pergunta muito abrangente. Theodoro teve que respirar fundo
para ganhar tempo para se lembrar de tudo, mas subitamente se conscientizou
do ponto ao qual Voldemort certamente estava interessado.
- Quer saber se ele levou Hermione para cama? – foi direto.

Voldemort voltou-se para ele com aquele sorriso aterrorizante nos lábios e
Theodoro sentiu que dali emanava maldade, mas de uma maneira muito sutil.
Ele gostava daquilo.

- Pode me por a par disso? – Voldemort avançou com calma e Theodoro


sorriu sabendo que a oportunidade que estava tendo ali talvez fosse a única de
sua vida.

- Eles não se querem. Se odeiam. Sei o quanto Draco sempre a odiou. Pelo
que ele me tem dito ela também não pensa diferente. Mas ele se sente atraído
por ela. Fisicamente. Qualquer um se sentiria. O problema é que Draco é
orgulhoso demais para tentar fazer qualquer aproximação e aparentemente, ela
também. Eles não irão se encostar por vontade própria, pode escrever isso. –
terminou.

- Eu disse a Draco que ele deveria voltar para casa e dormir com a mulher
dele. Foi uma ordem...
- E ele a obedeceu. Ele foi para casa e teve uma bela noite de sono ao lado
da mulher dele. – confirmou Theodoro. – Mas ele também sabe que o objetivo
da sua ordem, não foi a que ele cumpriu. - Voldemort se calou e voltou a focar
o fogo na lareira. Pelo minuto que ele se manteve inerte nos próprios
pensamentos Theodoro julgou que talvez pela primeira vez Voldemort poderia
começar a duvidar da lealdade de Draco. Não que realmente Draco fosse
desleal, provavelmente, uma hora ou outra, ele iria acabar levando Hermione
para cama, mas a ponta de esperança que estava aparecendo ali lhe parecia
única, porque Theodoro sempre soube que Draco precisava perder sua posição
para que as pessoas pudessem reparar nele. Draco era seu amigo, mas se
para ganhar uma boa posição no ciclo de Voldemort Theodoro tivesse que pisar
nele, não se importaria. – Draco não tocaria em Hermione nem que ordenasse
isso da maneira mais direta possível. Seria trair quem ele é. O conhece melhor
do que eu. – ele não precisava colocar lenha na fogueira, mas aquela ponta de
esperança lhe acendia a necessidade. – Conhece Draco, as vezes ele pensa que
tem tanto poder que acha pode passar por cima da sua autoridade, mestre. –
parou, ele não arriscaria dizer mais nada. Restou a ele apenas acreditar que a
faísca que havia acendido ali fosse o suficiente.

O silêncio de Voldemort foi perturbador, mas quando ele finalmente tirou os


olhos da lareira e tornou a encará-lo, Theodoro soube que seria melhor adiar a
reunião de sua sessão que estava agendada para aquele dia.

- Theodoro, - Voldemort soou tentador – gostaria de ser uma carta na


minha manga?

Theodoro abriu um sorriso interesseiro. Finalmente ele estava vendo o motivo


que o fez se tornar Comensal da Morte se materializar bem a sua frente depois
de tanto tempo.
Draco Malfoy

Aparatou no terraço de um prédio bem ao centro de Londres. O vento como


sempre soprava frio e úmido na noite avançada. Ele passou a mão sobre a
barba uniforme em seu rosto e se perguntou quando teria tempo para se
lembrar de tirá-la do rosto. Aquela era a última de suas preocupações.

Andou sobre o piso desregular alisando suas roupas trouxas até a porta que
dava para a escada de incêndio. Precisou usar a varinha para conseguir entrar.
Ele odiava todas aquelas coisas de trouxas, sempre muito engenhosas, tudo
que queriam era apenas imitar magia já que eram incapazes de fazê-la. Desceu
até o nível da rua e andou pela calçada escutando o barulho distante de uma
avenida movimentada. Cinco blocos de caminhada e ele finalmente chegou ao
seu beco de destino. Ao lado de uma porta de ferro pintada havia um homem
alto encostado na parede com as mãos no bolso. Draco se aproximou.
- Me deixe entrar. – foi firme.

- Convite. – pediu o homem sem demonstrar interesse.

Draco concentrou-se antes de dizer:

- Não preciso de convite.

O homem o olhou confuso de repente e precisou de alguns segundos para


piscar os olhos e abrir a porta para Draco.

A música com a batida pesada invadiu seus tímpanos quando entrou pelo hall
estreito e abarrotado de pessoas. Vozes altas, risadas, o som ensurdecedor,
cheiro de bebida, drogas e fumaça o irritou mas ele não desmanchou sua
postura enquanto avançava por entre as pessoas. Houve uma época em que ele
gostava daquele tipo de ambiente. Não mais.
Subiu por uma escada de ferro ao mapear lugar. O mezanino dava vista para
um tumulto de gente que se fazia de louco de frente para uma homem sobre
uma mesa de som. Draco apenas caminhou fazendo o perímetro. A porta pelo
qual havia entrado o direcionada para um lugar mais reservado e limitava seu
acesso apenas ao mezanino e a uma área fechada, mas confortável e por onde
o som entrava abafado e ele podia ver o tumulto logo abaixo.

Draco sentou-se no bar dali após passar os olhos sobre cada ser humano
presente no local. Pediu por uma bebida forte e sem muita demora foi servido.
Restou a ele apenas esperar enquanto bebia. Uma mulher sentou-se ao seu
lado após alguns minutos e tentou puxar qualquer assunto estúpido. Draco não
deu atenção e logo a mulher desistiu. Cansado ele checou o relógio sabendo
que não poderia ficar muito tempo longe de sua base, mas aquela era a sua
última tentativa de fazer as coisas voltarem ao normal. Ele tinha que arriscar
aquela chance. Se desse errado ele confessaria que não tinha mais nenhum
plano, que não sabia o que fazer, que precisaria de ajuda, mas para sua sorte,
a uma altura da noite o assento ao seu lado foi ocupado pela pessoa certa.

- Vodka. – pediu o homem e colocou sobre a mesa um punhado de moedas


de prata. Entre elas uma com o brasão da Liga dos Alquimistas. Draco estendeu
a mão e puxou a moeda para si.

- Bebida barata, Potter. – comentou.


- Nem todos são acostumados ao luxo, Malfoy. – respondeu o homem.

- E nem todos tem classe para poder usufruir dele. – retrucou Draco.

O homem apenas riu fracamente e tomou em um gole só a bebida que havia


sido posta a sua frente.

- É melhor que tenha uma boa razão para ter me chamado. – Potter seguiu
- A última vez que nos encontramos foi a três anos atrás e desde então todo
chamado que eu faço você ignora.

- Isso não é um brinquedo ou um correio coruja! Temos que manter o


mínimo de contato possível. Isso é uma guerra. O chamei porque eu tenho
interesses e sei que você também tem, e é pelo fato dos nossos interesses se
baterem que nós estamos aqui! Não responderia nenhum chamado seu se
soubesse que o estava fazendo apenas para uma troca de informações barata
após suas incontáveis perdas durante os últimos três anos. – disse Draco.
- E o que a sua perda tem em comum com Hermione? – questionou Harry.

- Mais do que imagina, Potter. – respondeu.

Potter ficou em silêncio por alguns bons segundos. Ele pediu mais um copo de
vodka e quando o recebeu o virou de uma vez novamente.

- Ela está morta? – ele pareceu ter criado muito coragem para fazer aquela
pergunta.

Draco o deixou agonizar a espera de uma resposta por alguns segundos até
finalmente a dar:
- Não.

Potter soltou o ar ao escutar aquilo. Cobriu o rosto com as mãos e ficou inerte
em alguns estado de alívio e sofrimento por alguns minutos.

- Estão planejando matá-la? – ele perguntou.

- Acha mesmo que o mestre iria matá-la depois de tudo que ela fez pela
resistência e por você? – Draco riu fracamente. – Seria um fim muito fácil para
uma inimiga como ela.

- O que estão fazendo com ela? – Potter vociferou.


- Isso você não vai saber. – Draco saboreou o sabor do que aquela
resposta iria provocar na cabeça do outro. Potter grunhiu apertando os olhos
contra seus punhos num estado de agonia silenciosa. Ele pediu mais um copo
de bebida e Draco se irritou com aquilo arrastando o copo para longe assim que
ele chegou. – Chega, Potter. – foi frio. – Preciso que esteja sóbrio para o que
vamos discutir aqui.

O outro claramente se irritou com a atitude de Draco.

- Se fizer algum mal a ela, eu juro...

- Escute. – Draco o cortou cansado daquele jogo de coração ferido. – Eu


não sei o que fizeram com os dementadores, mas sua Sangue-Ruim está presa
em um lugar que irá desmoronar junto com ela se não devolver as criaturas
para os lugares de onde as tiraram! Para ser mais claro, ela irá morrer e a
culpa será sua porque o poder de deixá-la viva agora depende de você.

Harry precisou de tempo para processar tudo aquilo.


- Espere. – ele se manifestou finalmente. – Por que precisa tanto de
dementadores ao ponto de me fazer uma ameaça como essa?

- Eu já te dei mais informações do que esperava. Tudo que você precisa


saber é que se não liberar uma boa quantidade de dementadores até o final do
dia de amanhã, ela estará morta e a prova que irei te dar para te garantir isso
é o corpo dela sem vida. – Draco sorriu. – Libere os dementadores, Potter. Eles
saberão para onde devem ir. O mestre a quer viva e isso depende de você
agora.

- Então quer dizer que vocês dependem de dementadores. – comentou


Harry finalmente voltando seu olhar para Draco.

Draco precisou rir.

- Acha mesmo que eu te daria uma informação desse nível? Temos


ganhado essa guerra por um período bem longo, é preciso muito mais do que
fizeram para nos preocuparem. – encarou Potter – Tudo que realmente precisa
saber é: Lorde Voldemort quer a sua Sangue-Ruim viva e isso irá depender de
você! Quem está retendo as criaturas é você!
- Acho que está blefando. – Potter retrucou.

- Sinta-se livre para descobrir isso por si só. – ele se levantou. – Eu já me


fiz bem claro. Se não quiser liberar os dementadores, não me fará diferença, eu
sempre a quis morta de qualquer forma. – foi frio, colocou sua moeda na mesa
para a troca, deu as costas e seguiu pelo caminho de onde viera. Sim, ele sabia
blefar, não sobreviveria Brampton Fort se não soubesse.

- Espere! – Harry estava logo as suas costas. Draco parou. Aquilo não
estava em seus planos. Deveria ignorar e seguir seu caminho, mas se viu
voltando-se para o homem. Harry se aproximou cuidadoso. – Você a vê com
frequência?

- Morreria por essa informação? – seria um grande favor que Potter faria a
humanidade.

- Pode dar um recado a ela? – pediu ele em agonia.


Draco riu.

- Seu? Nunca. – deu as costas e seguiu seu caminho

- Diga que eu a amo! – Potter foi claro e Draco se viu estancando mais uma
vez. – Diga que de todas as mulheres no mundo ela foi a única que eu sempre
amei e que sei que sempre iria amar. Que se eu pudesse voltar no tempo eu
teria feito ser diferente entre nós mesmo na guerra porque por ela valeria a
pena, apenas por ela. – ele sofria ao dizer aquilo. – Por favor. – ele implorou. –
Eu preciso que ela saiba disso para que eu possa viver em paz.

Draco voltou-se para o homem.

- Deveria ter nojo das próprias palavras, Potter. – disse com calma, deu as
costas e finalmente conseguiu ir embora. Negaria aceitar, mas talvez a idéia de
ter alguém no mundo amando sua mulher tiraria seu sono por algumas noites.
Algumas, Draco esperava. Apenas algumas. Porque por Hermione não valeria a
pena perder mais.

Capítulo 11

Hermione Malfoy
Hermione olhou no relógio, bateu nervosamente os dedos contra a superfície da
mesa e imaginou o que Luna estaria escutando naquele momento. Havia
combinado com a amiga que ela tentaria entrar numa das sessões de
interrogatório de Viktor Krum.

Luna havia sido liberada há alguns dias. Ela podia vagar pela catedral sem
escolta e podia sair pela cidade acompanhada. Hermione não podia negar o
alívio que sentia ao ver a amiga saudável e bem vestida depois de todo o
sofrimento físico que ela havia passado. Sentia que finalmente sua submissão
estava tendo algum resultado positivo, se é que ela poderia dizer positivo.

Havia tirado algumas horas para ir com Luna a um dos parques de Brampton
Fort. Elas caminharam em silêncio pela natureza um bom tempo. Depois de
todos os anos que passaram em guerra elas sabiam o valor do que era estar ao
ar livre sem precisar se esconder ou usar um disfarce ou se preocupar com um
possível ataque. Em silêncio elas fingiram que haviam voltado no tempo e
passeavam como se a realidade da guerra não existisse. Hermione nunca havia
visto Luna abrir um sorriso como aquele desde Hogwarts.

Mas Hermione sendo quem era, não deixou que o momento se alongasse como
Luna gostaria que tivesse e entre protestos da loira elas retomaram o foco.
Luna por ser uma figura que passava facilmente despercebida entre os
comensais da catedral poderia tentar se infiltrar numa das sessões de
interrogatório de Viktor Krum que aconteciam com hora marcada no salão
principal e vez ou outra era conduzida por Voldemort.

Hermione estava nervosa pela amiga, mas aquele era um dia que ela tinha
muitos motivos para se sentir apreensiva. Tentava se focar nos estudos que
havia começado aquela semana sobre o novo cargo que ocuparia no
departamento de cidades, mas aquele realmente era um dia impossível.

A segunda vez que olhou o relógio foi suficiente para que ela conseguisse forças
para fechar o livro pesado. O grupo sentado em sua mesa ergueu os olhos para
ela.

- Estou indo para casa. – ela anunciou aos mentores ao se levantar.

- Nós ainda temos mais uma hora, Hermione. – Jodie, sua principal
assessora comentou.
- Sei disso. – respondeu ela. – Mas tenho que ir. – juntou suas coisas. –
Vocês estão liberados. – disse quando percebeu que todos continuavam na
mesma posição a encarando como se ela estivesse fazendo alguma piada. –
Leon, você pode guardar essas coisas no mesmo lugar de sempre por favor? –
pediu educadamente apontando para uma pilha de pergaminhos que havia feito
a sua direita.

O homem se levantou para fazer o serviço e então todos começaram a recolher


as próprias coisas. Hermione jogou uma bolsa de rolos de pergaminhos sobre o
ombro e passou a tomar seu caminho, deixou o pequeno salão onde gastava
horas com o grupo de assessores que Nott havia montado para ela e passou a
cruzar o hall para a área de circulação. Não demorou e Jodie estava tentando a
alcançar.

- Não vai nos dizer no que temos que trabalhar para amanhã? – perguntou
a mulher.

- Estamos seguindo num bom ritmo, não acho que é preciso adiantar nada.
– respondeu Hermione.

- Hermione. – Jodie a chamou e pelo tom que ela usou Hermione achou
interessante parar e voltar-se para a mulher. Foi amigável e preocupado, e
considerando que Hermione havia pedido que não fosse chamada de Sra.
Malfoy, o nível da intimidade do uso de seu primeiro nome por desconhecidos
ainda a pegava de surpresa algumas vezes. – Ainda não me confirmou se o
horário que estamos trabalhando pode ser definitivo.

Jodie Hall era uma mulher apenas um pouco mais velha do que Hermione. Ela
era formada pela Academia de Especialização de Brampton Fort com o poder de
exercer Tirania, um dos pré-requisitos para assumir a posição que havia sido
proposta a Hermione. Era casada com um dos herdeiros do Profeta Diário e
toda a vida havia convivido com a alta sociedade do mundo bruxo, mas ao
contrário da mulher que Hermione esperava ao ter conhecimento desse
histórico, Jodie se provava ser muito racional e bastante dedicada a manter seu
interesse por novos conhecimentos. Ela havia servido a um dos tribunais por
um ano e sabia muito bem como tudo funcionava no sistema das casas de
justiça. Deixara o cargo para investir em outro aprendizado, mas por agora
havia sido nomeada assessora principal de Hermione Malfoy pelos meses que
se seguiriam a frente onde Hermione precisava aprender muito em um curto
prazo de tempo.

- Creio que poderá ser. É um horário que tem funcionado bem, mas eu
ainda preciso me estabilizar para te dar uma certeza. – Hermione foi cuidadosa.
Sempre tinha cuidado ao confirmar algo porque sabia que era orgulhosa para
voltar atrás com suas próprias palavras, fossem elas insignificantes ou não.

Jodie sorriu.
- Me desculpe, eu não queria pressionar. – ela era sincera. Hermione
achava interessante que comparado ao padrão de Brampton Fort Jodie podia
ser uma pessoa bem humilde para o status que carregava. – Faço isso pelos
mentores, eles tem horários muitos restritos e precisam marcar presença na
Academia todos os dias.

Hermione não os conhecia e não se importava também.

- Bem, creio que talvez eles possam esperar pelo menos mais uma
semana. – ela disse tomando cuidado para não soar grosseira ou autoritária. –
Espero que me entenda, Judie. Tudo tem acontecido de uma forma muito
rápida e eu ainda preciso me acostumar com muita coisa diferente. – ficou
grata por ter conseguido uma justificativa superficial.

- Eu entendo. – Jodie usou um sorriso amigável. – Sei o que é a vida de


recém-casada e muito provavelmente para você está sendo bem confuso não
ter Draco em casa. – Hermione teve que forçar um sorriso para concordar com
a mulher. Se ela acreditava que estava, Hermione a deixaria continuar
acreditando. – Sei que há uma audiência fechada marcada para hoje quando
ele voltar. Talvez esteja animada por ele estar voltando para casa. – ela usou
um tom baixo por saber que raras pessoas sabiam da ausência de Draco na
cidade.

Hermione suspirou. No fundo gostava de Judie e por algum motivo do universo


se sentia confortável perto dela. Talvez ela fosse uma pessoa confiável, mas
mesmo assim Hermione seguiria a passos lentos com a mulher. Por agora ela
apenas sorriu sincera e respondeu:

- Na verdade, Jodie. Não estou. – Jodie era uma mulher inteligente e


entenderia o que Hermione realmente quis dizer com aquilo e por julgar a
expressão surpresa e confusa que a mulher havia feito, talvez não fosse
demorar muito. – Nos vemos amanhã. – despediu-se. A mulher apenas sorriu
atordoada em resposta e Hermione se sentiu livre para seguir seu caminho.

O caminho estava se tornando cada vez mais decorado. Sair da sessão das
cidades, cruzar até o pátio leste onde atravessava a galeria e pegava sua
carruagem. Sabia que o quanto mais cedo saísse da catedral melhor. Draco
muito provavelmente já estava lá e a última coisa que ela queria era ter que
cruzar com ele.

O caminho para casa era um pouco longo. Ela ia em silêncio, mas a cada dia
que se passava acabava por se acostumar e ela já podia dizer que nem
demorava tanto assim. Nos portões da mansão havia sempre gente escondida.
A mídia sempre estava lá, mas também havia uma guarda que estava sempre
pronta para espantar os flashes. Narcisa disse que era apenas uma fase. A
mídia estava em cima porque o assunto Draco e Hermione estava vendendo.
Logo as pessoas se cansariam e Hermione contava os dias para que elas se
cansassem.
Assim que chegou em casa subiu para o sótão onde organizou cada rolo de
pergaminho na nova estante que pedira para Tryn esvaziar. Desceu para o
quarto, se livrou da roupa que usava e tomou banho. Queria fazer isso
enquanto sabia que Draco estava ocupado na audiência ao qual deveria estar
presente. Não queria correr o risco de precisarem tomar banho ao mesmo
tempo.

Ao terminar ela se enrolou em uma toalha e seguiu para o closet. Sua área era
junta com a dele e sua curiosidade também já havia a feito dar uma olhada nas
roupas de Draco. Ele era doentiamente organizado e o modo como exigia que
suas roupas fossem arrumadas era até mesmo engraçado.

Hermione gastou no mínimo dez minutos apenas passando os olhos por todo o
seu guarda-roupa. Não queria parecer arrumada demais, mas também sabia
que não podia usar qualquer roupa. Por algum motivo irritante ela sentia-se
nervosa com tudo aquilo. Chamou Tryn duas vezes e após mais quase dez
minutos ela finalmente colocou um vestido de corte reto com o busto num cinza
escuro e o resto num verde fechado. Simples, mas ela sabia o que deveria usar
para ostentar o visual sem parecer elegante demais. Desceu para sua prateleira
de jóias e colocou um colar um tanto exagerado. Anéis, brincos e pulseiras
vieram seguidos de uma escolha mais discreta. Tentou não usar maquiagem
demais, escolheu um dos sapatos altos e então finalmente se olhou no espelho.
Suas mãos suavam. Faltava alguma coisa. Ela ajeitou os cabelos de uma forma
diferente com as mãos e não gostou. Alisou o vestido enquanto colocava uma
mecha do cabelo para frente. Analisou-se no espelho virando de lado e foi
então que parou e balançou a cabeça.

O que estava fazendo? Ela não precisava impressionar Malfoy! Aliás, não havia
motivo para que ela tivesse que impressioná-lo. Deu as costas ao espelho,
fechou os olhos e rapidamente tentou se imaginar em seu jeans e suéter.
Gostava do conforto de como se vestia antes. Virou-se e se encarou novamente
no espelho. Mas também gostava de suas novas roupas. Suspirou preocupada e
decidiu que mesmo que seu visual não estivesse perfeito para o marido, estava
para ela e isso era o que mais importava.

Desceu e foi até a cozinha verificar se estava tudo nos conformes para o jantar.
Deu direções a Tryn de como arrumar a mesa segundo o que Narcisa havia a
ensinado e então finalmente sentiu que havia cumprido seu dever como dona
de casa para aquele dia. Ela tinha que confessar que não havia nada de
complicado quando se tinha empregados para dar ordens.

Foi quando terminava de agradecer a Tryn na sala de jantar pela estante vazia
que havia pedido na casa de poções que escutou o barulho vindo da porta
principal. Hermione sentiu todos os pelos de sua espinha levantarem. Ele
estava em casa. Ela ficou na dúvida se deveria ir até ele ou se deveria
simplesmente ignorar. Optou apenas por ficar onde estava já que realmente
não queria encontrá-lo. Voltou-se para a elfa e tomou o ar para continuar, mas
no mesmo segundo a criatura travou, arregalou os olhos, anunciou que seu
senhor a chamava e sumiu num estalo.

Hermione murchou os ombros ao ver-se sozinha. Conseguia ouvir a voz


grosseira de Draco se dirigindo a elfa chegar abafada até ela e sumir a medida
que ele avançava pela escada da sala principal. Inconscientemente ela alisou o
vestido para ver se tudo estava no lugar e ajeitou o cabelo. Sim, estava
nervosa, e ter consciência disso a irritava. Sacou a varinha e começou a limpar
os ornamentos da mesa de jantar. Alguns segundos depois a elfa voltou num
estalo surpreendendo Hermione e disse que seu senhor desceria para o jantar
em quinze minutos. Ela olhou o relógio e viu que quinze minutos era o tempo
exato que faltava para a hora do jantar. Draco parecia um ser tão pontual que
as vezes até assustava.
Ela e a elfa então se dedicaram ao serviço de montar a mesa. Não era nada
complicado com o poder de magia da criatura e a varinha de Hermione, em
poucos minutos todas as pratas e louças reluziam para servir a entrada. Tudo
estava pronto, mas Hermione não havia gostado de como a organização de
tudo estava ao alcance de quem se sentava na cabeceira. Rearranjou a posição
de alguns objetos e assim que soltou o último Draco passou por um dos arcos
para dentro da sala.

- Terminando o serviço em cima da hora? – a voz dele soou fazendo


Hermione prender a respiração.

- Estava apenas me certificando de que tudo está posto no lugar correto. –


justificou ela dando a volta para ir para sua cadeira a direita da cabeceira onde
Draco já havia se colocado.

- Aprecio o cuidado. – finalizou ele seriamente e pelo modo como havia dito
não parecia que realmente apreciava.

Em silêncio se sentaram e ela dirigiu seu olhar para ele para que tivesse sua
aprovação e pudesse ordenar a Tryn que a entrada fosse servida. Mas ele a
ignorou e antes mesmo que ela fosse mais direta ele ordenou que a entrada
fosse servida. Hermione uniu as sobrancelhas sabendo que de acordo com
Narcisa, a mulher era quem conduzia a entrada e saída de pratos durante o
jantar.

- Estava esperando que eu fosse dar essa ordem. – manifestou-se ela


enquanto a pequena cerâmica com sopa de batata era posta a sua frente.

- Estou acostumado o conduzir o jantar e prefiro manter as coisas como


eram. – ele respondeu friamente sem sequer direcionar o olhar a ela.

Hermione tinha a impressão de que desde que ele entrara ali, os olhos dele não
haviam caído sobre ela em nenhum momento. Draco parecia ter a intenção de
ignorá-la, o que para Hermione não era um ponto a favor considerando o tanto
de perguntas e dúvidas que ela tinha entalado na garganta.

O silêncio para ela foi um inimigo ali. Encarava esporadicamente a figura de


Draco Malfoy com a barba sem fazer e os olhos fundos, mas ainda sem deixar
de emanar o ar poderoso que ele havia adquirido, tomando de sua sopa num ar
muito desinteressado, com uma veia tensionada em seu pescoço e com uma
expressão muito dura.
Foi apenas quando ele esticou a mão para agarrar a garrada de vinho e
encontrou o espaço vazio que levantou os olhos, o passou pela mesa e então
direcionou-o para Hermione que estava pronta para aquela parte.

- Por que mudou a mesa? – ele mostrou que não estava nem um pouco
feliz com aquilo.

- Porque seria justo visto que não é mais o único que está a usando. –
respondeu.

Ele estreitou o olhar não achando plausível a justificativa dela.

- Justo? – cuspiu ele – Realmente acha que eu me importaria com o que é


justo? Essa é a minha casa e você não vai mudá-la nem que tenha o direito. Me
fiz claro?
Hermione deu de ombros e puxou a garrafa de vinho que estava tanto ao
alcance dela quanto dele na nova posição.

- Se quiser mesmo travar essa guerra, Draco, que fique claro também que
a escolha foi sua. – disse despreocupadamente enquanto enchia sua taça. – Vai
sair da cidade amanhã? – aproveitou que ele havia quebrado o silêncio.

- Não é o meu plano. – ele respondeu enquanto Hermione tomava um gole


de seu vinho. A resposta fez ela soltar um murmúrio enjoativo. – Seja mais
discreta nas suas reações de desgosto, Hermione. – ele demonstrou irritação
para com a atitude dela.

- Não preciso ser, querido esposo. – ela foi irônica devolvendo a taça a
mesa com tranquilidade. – Se não vai deixar a cidade como fez da última vez e
considerando que o prazo que o mestre te passou no dia do casamento vai se
esgotar amanhã, presumo então que o seu dever lá fora está cumprido. – ela
começou sorrateiramente.

Os olhos deles estavam estancados nela tão friamente que mesmo Hermione
tendo sido cuidadosa, soube que sua pergunta havia cutucado alguma ferida e
por não ser nenhuma idiota, soube que o que quer que Draco esteve fazendo
do lado de fora de Brampton Fort ainda o atormentava.
- Será que podemos comer em paz? – ele usou de um tom severo
desviando do assunto que ela havia apontado.

- Pode confirmar minha suposição? – retrucou ela.

- Pelo amor de Merlin, estamos jantando! Se quiser conversar faça isso


outra hora! – irritou-se ele.

- Não vou procurar outra hora para gastar meu tempo na sua companhia,
vou usar a que estou tendo agora! É uma única e simples resposta, Draco!

- Você vai ter a sua resposta logo, Hermione. Ela não depende de mim. –
ele vociferou se levantando. – Desfrute do jantar. – disse largando com
brutalidade o tecido de seu guardanapo sobre o prato.
Hermione permaneceu estática enquanto o observava deixar o salão não
entendendo o porque aquilo havia o irritado tanto. Ela suspirou frustrada por
saber que a linha de diálogo que esperava traçar não aconteceria e as dúvidas
que tinha continuariam sem ser sanadas. Olhou seu prato quase intocado e
chamou por Tryn.

- Pode me servir o resto do jantar. – pediu a elfa.

**

Ela preferiu gastar suas horas após o jantar na casa de poções. Tinha muito no
que trabalhar lá e até que nas primeiras horas se sentiu bastante ocupada, mas
a medida que ficava tarde ela percebia que suas mãos começavam a suar e
uma agonia duvidosa lhe subia pelo corpo. Passavam das onze da noite e ela já
não conseguia ler e absorver o conteúdo nem saber o que fazia quando checava
suas poções descansando em fogo baixo. Mergulhava tão facilmente nos
próprios pensamentos que se pegava andando de um lado para o outro com a
pena na mão pingando tinta.
Guardou toda sua bagunça da melhor forma que pode e suspirou fechando os
olhos se perguntando se aquela já era uma boa hora para descer para o quarto.
Tinha receio do que ele pudesse tentar se o pegasse acordado. Havia o irritado
durante o jantar e última coisa que precisava era que ele tentasse fazer com
que ela pagasse por isso.

Esperou que desse meia noite e então desceu. Quando entrou no quarto as
velas estavam apagadas, mas o encontrou de pé encostado no vão da janela
onde as cortinas estavam aberta. Os olhos dele caíram sobre ela e por
segundos eles trocaram olharem silenciosos até que ele desviasse os dele de
volta para a noite do lado de fora. Draco usava apenas a calça de seu pijama,
os pés descalços e as mão estavam escondidas dentro dos bolsos. Hermione
sentiu que todos os seus músculos estavam travados enquanto avançava com
cuidado. Ela tinha quase certeza de que o encontraria dormindo a aquela
altura.

- Parece cansado para estar acordado. – viu-se se dirigindo a ele.

Draco piscou, a encarou em silêncio, piscou novamente e voltou a olhar a noite


a ignorando. Ela não sabia se havia sido porque tinha o irritado durante o
jantar ou porque ele realmente preferia assim. Ela considerou que talvez seria
melhor se agisse como se ele não estivesse ali. O observou por um tempo e
não conseguiu decifrá-lo, mas sabia que algo de errado havia. A barba em seu
rosto estava crescida e ele parecia dez anos mais velho do que realmente era,
ela ficava impressionada como mesmo cansado como ele parecia, havia algo
que não conseguia derrubava o homem que ele era.
Hermione soltou o ar, cruzou o quarto para o closet. Despiu-se sem pressa,
colocou a camisola e cobriu-se com o hobby, lavou o rosto, hidratou a pele e
quando finalmente havia feito tudo, praguejou por não conseguir encontrar
mais nada para ocupar seu tempo. Olhou-se no espelho, respirou fundo, deu as
costas e voltou para o quarto.

Ele estava no mesmo lugar, mas dessa vez havia um copo de bebida em sua
mão. Hermione seguiu o caminho até seu lado da cama, o arrumou como
queria, despiu-se do hobby e o pendurou no dossel. Quando sentou-se o viu a
olhando. Seu coração quase perfurou as próprias costelas quando notou o olhar
que ele lançava sobre ela. Seus músculos travaram e seu cérebro gritou “não”.
O silêncio entre aquela trocar de olhares foi cruel para Hermione.

- Vá dormir. Já é tarde. – ele mudou para o desprezo e voltou a olhar a


noite.

Ela soltou o ar pela boca e se cobriu com as cobertas o mais rápido que pode.
Deitou de costas para ele e fechou os olhos tentando esvaziar sua mente.
Quase uma hora depois ela ainda estava acordada e ele no mesmo lugar.
Aquela situação estava começando a irritá-la, virou-se aborrecida e estava
pronta pra perguntar o que havia de errado com ele. Não podia dormir com
alguém a rondando daquela forma, mas ao mesmo tempo em que estava
pronta para soltar a pergunta, se questionava se talvez não seria melhor ficar
de boca fechada. Foi o encarando e se questionando se deveria ou não dizer
algo que finalmente conseguiu dormir.
Sonhou que estava na sede da Ordem. Uma onda de alegria a inundou e ela
correu pelos corredores gritando o nome de Harry. O encontrou numa das salas
da mansão dos Black e assim que o viu pendurou-se em seu pescoço o
apertando com tanta força que até seus próprios músculos doeram. De repente
dizer o quanto sentia falta dele e de todos era difícil demais e ao se afastar
começou a se embolar ao contar rapidamente o que havia acontecido com ela
quando fora capturada. Harry parecia uma figura distante, mas mesmo assim
ela continuou a atropelar as palavras. Foi quando se lembrou que deveria
perguntar o que a Ordem havia feito com Azkaban e os dementadores para
compreender o comportamento que Draco estava tendo que se lembrou de que
era casada com ele. Harry perguntou o que ela estava vestido numa voz que
não parecia dele e então ela olhou para si mesma nas roupas caras que usava
em Brampton Fort. Lembrou-se de que era uma comensal e que não podia
estar na Ordem sem estar morta. A realidade bateu forte e ela acordou.

Não sabia quanto tempo havia passado, mas o quarto ainda estava escuro.
Draco estava no mesmo lugar ao lado da janela. O copo em sua mão ainda
estava cheio e o whisky nele já parecia estar quente. Ela se perguntou o que
havia de errado com ele, deu as costas, seu corpo pesou e ela tornou a dormir
muito facilmente.

Acordou com a sensação de que estava sendo observada. O quarto ainda


estava escuro, mas assim que se virou encontrou as costas de Draco sentado
do seu lado da cama ainda encarando a vista da janela que começava a
mostrar indícios de que o sol chegaria em poucos minutos.
- Você dormiu? – ela escutou sua própria voz rouca e curiosa perguntar
quando viu a roupa de cama bagunçada ao seu lado.

- Tentei. – a voz dele saiu tão rouca quanto a dela. Baixa e grave que
quase fez Hermione tremer. Ele havia respondido como se estivesse falando
com sua consciência ou algo do tipo porque não havia nenhum tipo de
expressão no tom de sua voz.

Draco tinha os cotovelos apoiado nos joelhos e parecia extremamente


concentrado na vista da janela. Hermione se via mais confusa a cada segundo.
Ela empurrou as cobertas para longe e se arrastou pela cama sentando sobre
os joelhos logo atrás de Draco. Estreitou os olhos e tentou ver pela janela o que
chamava tanto a atenção dele.

- O que há de tão interessante lá fora? – perguntou confusa.

Ele não respondeu e o silêncio durou por mais alguns minutos. O primeiro raio
de sol que cortou o céu veio logo sobre eles. Hermione sentiu a dor nos olhos e
viu Draco se levantar como se aquele fosse um momento importante. Ele
caminhou para próximo da janela e Hermione apenar o observou quando ele
abriu as vidraças e o ventou cortou para dentro do quarto fazendo os cabelos
dela voarem.
O vento úmido e frio na manhã a alertou para mais um dia ensolarado, mas foi
apenas em um segundo que de repente um ar gélido cortou sua pele e a seda
fina de sua camisola. Ela pode ver o céu do lado de fora começar a ser coberto
gradativamente por nuvens cinzas e escuras e então bastou apenas alguns
minutos para que eles emergissem novamente no breu da noite. Foi quando o
cérebro de Hermione a avisou que os dementadores haviam voltado.

Draco fechou as janelas e ela o viu respirar fundo, esfregar o rosto e puxar os
cabelos. Não parecia claro para ela, mas de alguma forma ela parecia estar o
vendo tirar um peso grande das costas. Draco deu meia volta e sumiu para
dentro do lavatório.

Hermione continuou estática na mesma posição. Precisava de alguns segundos


para se recompor, por a cabeça no lugar e também tentar esquecer o modo
como ficara impressionada com os músculos das costas de Draco se movendo.
Rolou finalmente até a sua cabeceira e checou o relógio. Já era dia. Parecia
noite, mas era dia. Ela se levantou e foi até a janela. Enxergou o pátio vazio lá
fora e o céu escuro com as nuvens negras. Tomou o caminho do lavatório com
muito cuidado e parou no vão de entrada ao vê-lo pelo espelho secando o rosto
que havia acabado de lavar. Eles trocaram olhares pelo espelho e então
Hermione se manifestou:

- Acredito que já tive a resposta da minha pergunta do jantar.


Ela viu os olhos dele descerem pelo seu corpo e foi quando se lembrou de que
seu hobby ainda estava lá no quarto pendurado no dossel da cama. Tarde
demais. Cruzou os braços. Ele murmurou algo curto em resposta e desviou o
olhar para o próprio reflexo. Os dedos dele moveram o espelho para o lado e
tiraram de dentro do nicho por trás do vidro uma lâmina afiada.

Hermione o assistiu enquanto ele começava a tirar a barba de seu rosto sem
pressa, aproximou-se, foi para o seu lado da pia, arrastou seu espelho e tirou
de lá sua escova de dentes. Afastou os cabelos, os prendeu no topo da cabeça
de qualquer jeito e começou a escovar os dentes. O silêncio entre eles era sem
dúvida notável. A troca de olhares frequente pelo espelho tão igualmente.

Ela terminou e ele estava quase no fim do processo. Parecia não ter pressa
nenhuma. Hermione enxaguou o rosto e o secou. Aquele silêncio começou a
irritá-la assim como as dúvidas que tinha também. Guardou suas coisas,
colocou as mãos uma de cada lado da pia e o encarou pelo espelho.

- O que disse a eles ontem na audiência? – perguntou de uma vez.

Draco dirigiu seu olhar a ela pelo reflexo mas rapidamente voltou a avaliar o
movimento da lâmina sobre sua pele.
- Se quisesse realmente saber deveria ter ido a assistir. Tenho certeza de
que pode frequentar audiências fechadas. – a voz dele respondeu.

Ela respirou impaciente.

- Não tive tempo para a sua audiência, Draco! Tive que vir para cá colocar
em ordem o jantar que você não comeu! – disse.

- O jantar que você fez questão de não me deixar comer. – replicou ele
com muita calma.

Ela estreitou os olhos com a resposta dele.


- Não jogue a culpa em mim. – aborreceu-se ela. – Seria muito mais fácil
se respondesse as perguntas que eu faço.

Ele soltou uma risada forçada e incrédula.

- E mais o que, Hermione? Acha mesmo que eu iria me permitir, de boa


vontade, ser interrogado durante a hora do jantar? E por você! Quem pensa
que eu sou?

- Acha que podemos viver uma vida assim? Em silêncio? Se ignorando?!


Apenas porque nos odiamos?! – ele arrastava a lâmina muito calmamente pelo
último pedaço de barba enquanto ela tentava tirar a atenção dele. – Será que
devo te lembrar do maldito papel que assinamos no dia do casamento? Porque
por ele eu posso te garantir que vai ser muito tempo debaixo do mesmo teto,
Draco.

A veia no pescoço dele reapareceu no mesmo instante em que abandonou a


lâmina sobre a pia sem o menor cuidado.
- Eu estou tentando ter um momento de paz aqui, já acabou com a sua
tentativa de me irritar? – ele havia cerrado os dentes para dizer aquilo
enquanto puxava sua toalha para limpar o rosto. Hermione apenas limitou-se a
se voltar para a figura dele ao seu lado.

- Não, ainda não acabei, porque eu fiz uma pergunta e ainda estou
esperando a resposta.

- Não tem resp...

- Claro que não tem! – ela o cortou – Não tem porque talvez você esconda
algo deles e não quer que eu saiba! – ela mal havia terminado e num susto os
dedos dele cortaram a circulação de seu braço quando ele a arrastou até
prensá-la contra a parede.

- Você não fala nessa casa! Não abre a boca, não se manifesta, não faz um
ruído! – cuspiu ele com aqueles olhos cinzas cheios de fúria sobre ela. – Não
tem mais o direito para isso!
- Quer uma prova maior para minha suposição do que a sua atitude
extremista? – ela usou do mesmo tom não tendo medo em encarar fundo nos
olhos dele.

- Cale-se, Hermione! Eu disse que perdeu o direito de abrir a boca! – ele se


irritou ainda mais com a insistência dela e quase gritou.

- Me faça, Draco! Quero ver como vai me tirar esse direito! – ela não havia
tido a intenção mas assim que fechou a boca se arrependeu de como suas
palavras haviam soado. O vacilo de seus próprios olhos ao perceber aquilo
abriu espaço para que o cérebro de Draco processasse o desafio que ela
inconscientemente havia lançado e então os cinzas dele desceram para sua
boca quase que imediatamente.

Nos segundos que se seguiram ela o viu travar uma luta interna entre a raiva
que o consumia e qualquer pensamento confuso que pedia espaço para
aparecer em suas linhas de expressão. Por um único segundo ela pensou que a
raiva dele havia cedido espaço e foi naquele único segundo que ela conseguiu
ter a visão de que no segundo seguinte Draco avançaria contra sua boa num
ato de vingança. Ela desejou poder voltar no tempo e nunca ter dito suas
últimas palavras, mas ao contrário da visão que havia tido, no segundo
seguinte ele apenas a soltou e saltou para longe com desprezo.
- Eu apenas quero viver em paz na minha própria casa! – disse evitando os
olhos dela – Faça a sua parte, Hermione. Eu farei a minha.

O segundo em que trocaram olhares antes de Draco dar as costas foi


extremamente incomodo. Ela não quis saber para onde ele havia ido quando
saiu de seu campo de visão, apenas fechou os olhos com força e tomou alguns
bons minutos para se martirizar sobre sua nada sábia insistência. Talvez ela
devesse considerar que se ignorarem poderia ser um excelente caminho a
seguir para evitar chegarem perto do contato físico novamente.

Respirou fundo, abriu os olhos e então o som das duchas inundou seus ouvidos.
Ponderou involuntariamente e então uniu as sobrancelhas sentindo uma
pontada de angústia ao tomar consciência de que nem mesmo quando ele a
desejava ele deixava de tratá-la como se ela tivesse algum tipo de doença
contagiosa. Soltou o ar frustrada. Seria assim sempre. Havia sido desde
Hogwarts. Não mudaria nunca.

Draco Malfoy
Ele podia sentir o suor escorrendo pelo rosto, a blusa ensopada grudada em
seu corpo, o calor e todos os seus músculos tensionados com o peso que
suportava. A voz de seu treinador gritando ao fundo era a prova de seu
péssimo desempenho.

A força que fazia não era suficiente para quebrar a barreira de magia que
avançava contra ele. Draco continha a força do que iria o atingir com os
músculos e controlava a distância com a mente, tinha que dominar a magia e
estabilizar a barreira para finalmente parar de contê-la com a força dos braços,
só assim poderia passar daquele estágio para livrar-se da pressão da barreira e
quebra-la com o simples impacto de suas mãos unidas. Merlin sabia o quanto
ele era bom em controlar aquela magia com a mente em segundos e quebra-la
com os braços, mas não entendia o porque naquele momento todo o treino que
tinha parecia ter sido em vão.

- Vamos, Draco! – gritou seu treinador – Está usando sua força para conter
a barreira, não sua mente! Sabe que tem que usar sua força para quebrar a
barreira, não contê-la!

Draco urrou sentindo a frustração deixar sua concentração cair ainda mais. O
peso contra seus músculos aumentou e aos poucos a dor enfraqueceu sua
força. Ele sabia que o que estava suportando era mais do que poderia, mas
tentava tomar o controle da situação ainda tendo esperança de que tinha
chances de retomar a concentração que havia perdido, mas foi quando seus
músculos se negaram a suportar mais pressão que ele perdeu de vez a
concentração e as forças. O baque da barreira contra seus corpo o fez voar
cruzando todo o ginásio, bateu e afundou na parede própria para aquele tipo de
situação e então rolou sobre o chão até perder o momento.

Ofegou encarando o teto sentindo como se tivesse sido pisoteado por uma
manada. A voz de seu treinador gritava em indignação ao fundo, mas sua
cabeça latejava e ele não conseguia processar as palavras. Um zunido irritante
em seus ouvidos ficava cada vez mais distante e quando finalmente seu
coração alcançou um ritmo mais moderado ele pode distinguir as palavras que
seu treinador esbravejava.

- ... e você teve quase um minuto inteiro para recuperar a concentração! –


gritava ele. – Sabe que não pode quebrar uma magia como essa apenas com
sua força! Qual é o seu problema? Será que o que eu o ensinei não lhe serviu
de nada? – Draco pode vê-lo ao virar a cabeça. Ele se aproximou e agachou ao
seu lado. – Você pode segurar uma magia como essa no caso de não conseguir
pensar rápido e detê-la com sua concentração, mas não pode quebrá-la se não
alcançar o estágio em que sua mente pode controlar toda a força da magia! –
Draco se sentou e apertou os olhos com os punhos tentando melhorar a visão.

- Sei disso. – vociferou ele.

- Sabe? Porque o que eu vi foi você segurando a força da barreira com os


músculos! – exclamou o treinador.
- Eu estava tentando recuperar a concentração! – justificou Draco irritado
ao se levantar.

- E era preciso todo aquele tempo?! – questionou o treinador se levantando


também. – Vou te dizer, não pode submeter seus músculos a esse nível de
pressão durante todo esse tempo! Isso te tiraria todas as forças num campo de
batalha! Tem que usar sua concentração porque não está a usando!

- Você acha que eu não uso minha concentração para transferir a força da
magia para os meus músculos? – Draco quase gritou dando as costas.

- Um bruxo de cinco anos pode fazer isso, Draco! – disse o treinador e o


seguiu quando ele começou a andar de volta a posição inicial.

- Me mande mais uma, posso dar conta! Sabe que posso! – Draco sabia
que não podia.
- Não é necessário provar nada para mim ou para você mesmo! Nós dois
sabemos que pode dar conta desse tipo de magia com muita facilidade! Mas
agora você não está em condições, já tentamos três vezes, não posso fazê-lo
tentar mais uma...

- QUAL É O SEU PROBLEMA? – Draco se enfureceu e gritou virando-se para


o homem. – É o meu treinador ou não é? – Merlin, cada músculo de seu corpo
doía apenas por se irritar. – Está tentando me fazer desistir?

- Não! – seu treinador usou aquela voz de mãe aborrecida que tentava
explicar a sua criança o porque não deveria pular em cima da cama. – Estou
tentando te fazer entender que você tem um problema e deve concertá-lo. E o
seu problema está aqui! – ele apontou para a cabeça de Draco. – Não pode se
concentrar porque algo o perturba. Talvez não saiba nem mesmo o que o
perturba, mas existe algo, e você não vai por os pés nesse ginásio enquanto
não concertar isso porque eu preciso que o seu corpo funcione junto com a sua
mente e se sua mente não está em boas condições seu corpo não pode assumir
o trabalho dela!

- Não tente enfiar idiotices na minha cabeça! – exclamou.


- Não estou tentando! – ele se aproximou. – Escute bem, Draco. Sei que
gosta de ser o homem misterioso que se tornou, muito diferente do garoto que
o mestre me apresentou anos atrás. Sei que dentro dessa sua cabeça tem
segredos que não compartilha com ninguém. Sei que tem seus problemas e o
seu mundo conturbado. Sei também que para chegar ao ponto em que
conseguisse dominar todos esses problemas você passou por muitos treinos
doloridos como esse. Precisa entender, Draco. Há algo novo acontecendo
dentro dessa sua cabeça e você precisa aceitar e concertar. Eu sei que pode
fazer isso sozinho, porque todas as outras vezes que passou por isso você não
precisou da ajuda de ninguém por causa desse seu orgulho dominante.
Concerte isso e poderemos voltar a treinar. – ele deu meia volta e caminhou
para fora do ginásio.

O som da porta de ferro se fechando ecoou pelo ambiente amplo e Draco soube
que estava sozinho. Sua única opção foi praguejar alto, pegar suas coisas e se
mover para o vestiário.

A água gelada que jogou sobre o corpo foi um choque e o ajudou a acalmar o
turbilhão de maldições que queria lançar. Fechou os olhos e deixou a água
bater contra seu rosto. A voz de Elliot Singh, seu treinador, ainda era uma
alerta presente em seu cérebro. Cada treino em sua agenda daquele mês
parecia ter sido um passo para trás de tudo que ele mais dominava, cada um
deles havia sido uma queda de seu pódio e podia até dizer que não estava
muito surpreso pelo desempenho que havia acabado de ter nem a decepção
explicita do homem que, querendo ou não, o ajudo a ser quem era hoje.

- Draco! – era a voz de sua mãe no vestiário. Draco praguejou baixo dessa
vez porque sabia que a presença de sua mãe por perto era a última coisa que
precisava naquele momento. – Elliot disse que eu o encontraria aqui.
- Estou aqui. – respondeu sem vontade enquanto ouvia o salto dos sapatos
de sua mãe movimentando-se entre os armários.

- Sabe onde sua esposa está nesse exato momento? – a voz dela saiu mais
como se já soubesse a resposta do que como se realmente estivesse
interessada em localizar Hermione.

- Você pode usar o nome dela, mãe! Não precisa refrescar minha memória,
sem bem quem ela é! – respondeu com os dentes cerrados sentindo que a água
gelada já não parecia mais tão refrescante.

- Bem, Hermione foi convocada a se apresentar no gabinete do mestre faz


alguns minutos.

Draco sabia que em algum momento Voldemort faria seu movimento e ele
esperava que aquela notícia não fosse a prova das suas suspeitas.
- Quem te passou a informação? – perguntou.

- Jodie. A assistente de Hermione no departamento de Theodoro. –


respondeu ela. – Tive interesse de ver o trabalho que Hermione anda fazendo e
aproveitei que estava na catedral para subir até a sessão da cidade. Cruzei com
Jodie e ela me disse que Hermione havia sido...

- Por que veio até aqui para me dizer isso? – ele desligou o chuveiro.

Narcisa pareceu dar a ele alguns segundos como se esperasse que ele mesmo
pudesse responder a pergunta.

- Draco, não lhe passou pela cabeça por nenhum segundo o porque de
Hermione ter sido convocada pelo mestre?
Draco soltou o ar sem paciência, puxou a toalha e enterrou o rosto nela. Sim,
ele tinha suas apostas, mas não tinha o menor dos desejos de discutir sobre
aquilo.

- Por que está fazendo isso, mãe? – perguntou finalmente enquanto atava
a toalha ao redor dos quadris.

- Porque você sabe que eu já me calei tempo o suficiente diante dessa


situação. – ela foi direta. – Venha até aqui. – ordenou. Ele revirou os olhos, deu
a volta para sair do nicho que estava e cruzou os braços diante da mulher. –
Você está se afundando, está sendo seu próprio inimigo, está tentando fugir
daquilo que uma hora terá que encarar.

- Estou tentando lidar com essa situação da melhor forma possível! – ele
passou por ela foi até o seu armário.

- E o que é a melhor forma possível pra você, Draco? – ela o seguiu. – Ficar
até tarde na catedral? Gastar seu tempo com Pansy? Encontrar mulheres por aí
para não ter que voltar para sua casa? Quantas vezes eu te vi em casa nesses
últimas semanas só porque queria estar em um lugar onde Hermione não
estivesse. Te ter em casa, na casa do seu pai, por vontade própria, chega a ser
assustador!

- Eu evito manter contato...

- Por que? Será que não pode simplesmente aceitar...

- Aceitar? – ele a cortou virando-se e sentindo que talvez seus miolos


fossem explodir. – Está sugerindo que não estou aceitando? – matar alguém
talvez pudesse trazer alguma sensação de alívio... – A colocaram sobre minha
responsabilidade e eu aceitei! Fizeram dela minha noiva e eu aceitei! A
colocaram na minha casa com o meu sobrenome e eu aceitei! O que mais quer
que eu aceite? Eu já não aceitei o suficiente?

- Você não aceitou que ela é sua esposa, sua companheira, para o resto da
sua vida! Se não aceitar isso vai viver um inferno! – ela parecia querer gritar o
óbvio. – Ela está com você, dentro da sua casa, dividem a mesma cama! Não
pode ficar lutando para fazer com que ela seja uma estranha para sempre,
principalmente quando começarem a compartilhar momentos muito íntimos, o
que a propósito é outro problema que evita encarar!
Ele riu sabendo que a única opção que tinha era achar graça do discurso de sua
mãe.

- Eu não a quis, nunca a quis e continuo não a querendo! O que espera que
eu faça? Que eu a ame? Que eu cuide dela? Que ela seja minha companheira?
– ele riu da palavra. – Está delirando, mãe? Ela é uma Sangue-ruim!

- Ela é sua família!

- EU NÃO QUERO QUE ELA SEJA! – gritou – Aceite isso você já que gosta
dela!

- Eu não gosto dela, Draco! Apenas não a odeio! – irritou-se Narcisa. –


Quando seu pai se casou comigo ele também não me queria e continua não me
querendo, mas você cresceu conosco e sabe que ele sempre procurou me
respeitar na medida...
- Ele nunca te respeitou! – cortou Draco. – Ele sempre fingiu que a
respeitava! Fingiu para você e fingiu para mim!

- Ele nunca fingiu para mim! Talvez no começo sim, mas ele não
conseguiria fingir dentro da própria casa, para a própria família, dentro do
espaço dele, do refúgio dele. Eu me tornei a família dele, Draco! Entenda! Seu
pai nunca gostou realmente de mim e eu não sei tudo sobre ele, mas sei
muitos segredos, sei quem ele é, o conheço bem, porque no final do dia, da
semana, do mês, ele volta para casa e ele sabe que lá ele não precisa ser
ninguém diferente de quem ele é, ele sabe que eu estarei lá e depois de todos
esses anos ele sabe que eu sou a única pessoa que ele pode confiar. Ele
compartilha coisas comigo, segredos, os que ele quer, mas não somos
estranhos um para o outro. Eu sei que no fundo eu significo algo para ele. Nós
dois tivemos que construir isso e tem sido difícil até hoje, mas não temos outra
opção!

- Eu não sou o meu pai e Hermione não é você! Separe isso de uma vez
por todas...

- Não estou querendo fazer nenhuma comparação. Quero que entenda que
não pode fugir do papel que assinou no dia do seu casamento ao tentar ser
inimigo de Hermione para sempre! A casa dela é a mesma que a sua agora!
Deve parar de se afogar no seu orgulho, não por ela, mas por você mesmo!
Não precisa gostar dela, Draco, mas tem que parar de odiá-la!
Ele soltou uma risada fraca.

- Eu tenho motivos para odiá-la! Eu não a odeio apenas porque quero!

- Deve esquecer as coisas que ficaram no passado, Draco. Perde tempo


demais pensando nelas!

- Esquecer as coisas do passado? Acha que é fácil? Acha que Hermione


faria o mesmo? – ela só poderia estar brincando.

- Deve dizer a ela para fazer o mesmo. Uma hora ela entenderá que terá
que fazer. Hermione verá que não terá opção, assim como você também não
tem. Quanto tempo acha que pode empurrar isso que está vivendo?
Ele sentiu as palavras o abandonar. Não gostava de revirar aquela sujeira que
forçava em colocar debaixo do tapete. Ele sabia que tinha que limpá-la, mas
adiava o máximo que pudesse. Tudo era mais importante que se focar em
voltar aos dias de Hogwarts com Hermione dentro de sua casa. Ele lutava uma
guerra, uma maior do que a de Voldemort. Maldita havia sido a hora em que
seu pai resolvera colocar ela dentro do jogo. Draco sentou-se num dos bancos
do corredor e encarou fixo o chão enquanto descansava os cotovelos contra os
joelhos. Narcisa acomodou-se ao seu lado colocando a mão sobre o ombro do
filho.

- Sabe que deve parar de ignorá-la. – ela começou numa voz suave. –
Sabe que deve se importar com ela. Sabe disso. Se continuar agindo dessa
forma vamos ter problemas porque ela é uma de nós agora, Draco. Deve
aceitar isso para o seu e para o nosso bem. Sabe que seu pai a escolheu por
um motivo, e sabe que o mestre concordou também por um motivo ainda
maior, um do qual deve se preocupar todos os dias em tentar entender! – ela
se aproximou do ouvido do filho e diminuiu o tom de voz. – Ela é parte de tudo
isso agora, e não se esqueça. Nós, os Malfoy, sempre viemos em primeiro
lugar. – deu um beijo terno contra os cabelos molhados de Draco e se levantou.
– Seja o homem que eu sei que é e pare de agir como o seu pai. – finalizou e o
deixou.

Draco permaneceu um bom tempo onde estava odiando o quanto sua mãe era
dotada de razão. O som dos ponteiros do relógio na parede ecoavam pelo
ambiente. Ele considerou cada palavra que havia ouvido e por mais que
devesse tomar uma posição ele ainda precisava de sua teimosia. Somente com
a sua teimosia ele sentia que estava fazendo pelo menos algo pelo seu orgulho.

Levantou-se quase meia hora depois e se vestiu sem pressa. Subiu para sua
torre e sentou-se em sua cadeira colocando os pés sobre a mesa. Enviou um
memorando para Naomi pedindo para que ela cancelasse uma pequena
assembleia interna dentro de seu departamento que havia marcado para
discutir o caso de Viktor Krum. Havia a marcado naquele horário para ter uma
desculpa para não voltar para casa na hora do jantar. Encarou o relógio sobre
sua mesa e apenas esperou o tempo passar. Ele deveria voltar passa casa, mas
não queria.

Recebeu um memorando do departamento de Theodoro informando sobre uma


pequena recepção que seria feita aos chefes de províncias num dos salões da
área oeste. Por uma hora Draco olhou o convite e os minutos passando no
relógio de sua mesa. Não queria ir ao encontro, mas não queria ir para casa e
estar no encontro poderia ser uma boa desculpa para não ir para casa, mas
ainda assim, não se moveu de sua cadeira.

Mais alguns longos minutos e Naomi o informou que Pansy estava a procura
para saber se ele ainda estava na catedral. Aquele aviso era sinal de que ela
queria o encontrar e talvez se tivesse recebido esse recado no dia anterior
muito possivelmente ele teria se levantado e tomado a direção da torre dela.
Não gostava de ter o contato que Pansy queria com frequência, além de o
irritar ele também não queria causar nenhum tipo de confusão com relação ao
que ela pensava e ao que ele havia deixado claro sobre o relacionamento deles.
E também, no último mês podia até dizer que fugira de relações sexuais porque
toda vez que se deitava com uma mulher sabia que deveria estar se deitando
com Hermione para garantir que seu mestre teria o seu lado do acordo do
casamento cumprido. Levantou-se finalmente sabendo que tinha que dar um
fim ao tipo de situação que estava se forçando ficar apenas por pura teimosia.

- Estou indo para casa. – disse a Naomi. – Você pode ir também.


- Não vamos fazer hora extra hoje? – a voz dela soou tentadora e sua
expressão corporal assim como o olhar sedutor sugeriram tudo aquilo que ele
pudesse imaginar.

Ele achou tentador, mas sabia que no momento em que encostasse nela se
lembraria de Hermione e aquilo o atormentaria tanto que Naomi perderia a
graça.

- Não. – ele foi direto e teve tempo de vê-la se frustrar.

Desceu até o pátio leste e tomou a carruagem para casa. Já era noite, mas
ainda estava cedo para o horário em que normalmente estava voltando para
casa no último mês. No caminho, se preparou para encontrar Hermione
acordada.

Já acostumado com o tempo que levava para chegar ao portão de casa, pode
dizer que não se animou muito ao ver as luzes da fachada de sua mansão.
Desceu da cabine assim que a carruagem parou, subiu os degraus da frente,
passou pela varanda e atravessou para dentro do saguão confortável de
entrada. Considerando que muito provavelmente Hermione estaria na casa de
poções então seguiu direto para o quarto. Livrou-se de sua gravata, abriu os
botões da manga e tomou a direção do banheiro enquanto desabotoava o
restante da camisa.

Parou assim que chegou ao local e encontrou Hermione na banheira


acompanhada de uma garrafa de álcool. Ela o olhou como os olhos vermelhos e
sua primeira reação foi erguer a mão, enxugar o rosto e desviar o olhar.

- Chegou cedo hoje. – ela comentou tentando fazer com que ele tirasse a
atenção paro o fato de que ela parecia estar chorando. – Continua atrasado
para o jantar mesmo assim. – ela não voltou a encará-lo. – De novo. –
finalizou.

Ele ainda precisou de um tempo para observá-la surpreso por a encontrar ali.
Havia um limite silencioso que ambos inconscientemente respeitavam que era
evitar permanecerem muito tempo no mesmo ambiente, e aquele era um dos
ambientes que mais contava. Tinha que confessar que mesmo que a pouca
espuma e a água difusa o impedisse de realmente vê-la em seu banho, saber
que o corpo dela estava exposto ali debaixo o afetava mais do que ele gostaria
que afetasse.

- Mandou que desfizessem a mesa? – ele perguntou tentando focar-se em


outra coisa que não fosse o corpo dela ou os olhos vermelhos que havia visto.
Ela negou com a cabeça.

- Não. – respondeu. – Depois de quase um mês esperava que já tivesse


percebido que nunca desfaço a mesa do jantar quando o perde.

Ele não gostou do ataque, mas considerou que aquilo vinha tão naturalmente
para ela como vinha para ele.

- Pode pedir para que desfaçam a mesa. Não irei jantar. Não estou com
fome. – deu as costas para deixar o ambiente, já haviam interagido demais.

Ele achou que ela fosse respeitar o limite deles e o deixar ir, mas antes que
pudesse sair escutou a voz dela novamente:
- Por que não faz isso você? – ele tomou um segundo para processar as
palavras dela antes de se virar para tonar a encará-la. Estreitou os olhos como
se não tivesse entendido o que ela havia dito. – Por que você não faz isso? –
ela repetiu e o encarou. – Você quem perdeu o jantar. Você quem não vai
comer.

Ele sabia que aquilo poderia ser o início de uma longa briga e um mês havia
sido o suficiente para que ele soubesse bem disso. Não tinha mais ânimo para
aquelas irritantes discussões.

- Esse é o seu trabalho aqui. – disse mesmo assim. – Tenho um exército


para conduzir todos os dias.

- Eu também tenho um trabalho fora daqui. – ela não parecia


desconfortável com a presença dele durante o seu banho. – Por que não
podemos dividir os trabalhos da casa para uma forma muito mais funcional?

- Porque você conhece a regras de como a casa deve funcionar com você
aqui dentro ocupando a posição de esposa e isso não vai mudar sendo sua
proposta funcional ou não. – ele foi direto e curto tentando finalizar aquilo. –
Peça que desfaçam a mesa. – deu as costas e voltou para o quarto.
Respirou fundo sabendo que não dividia mais o mesmo espaço que ela. Pensou
em um palavrão e considerou que deveria ter ficado na catedral. Deveria ter ido
a recepção dos chefes de província e depois ter ido a torre de Pansy, assim
chegaria em casa e encontraria Hermione dormindo.

Cruzou o quarto e encheu um copo de whisky até a metade. O entornou em


dois goles rápidos. O álcool não fez efeito e ele teve que repetir o processo até
sentir que seus músculos estavam finalmente relaxando.

Foi até o pequeno sofá perto da lareira e sentou-se nele pendendo a cabeça
para trás, fechando os olhos e se perguntando o porque era tão difícil lidar com
Hermione. Ele não tinha idéia do que deveria fazer, de como deveria agir, do
que deveria falar. Ela apenas o irritava e ele tinha que ser rude para fazê-la se
calar, será que se convivessem dessa forma chegariam a algum estágio de paz?
Será que algum dia eles conseguiriam chegar a algum estágio de paz?

Ele ergueu uma mão e com o polegar massageou uma de suas têmporas
tentando aliviar o peso da agonia que seus próprios pensamentos lhe
causavam. Abriu os olhos quando escutou os passos dela vindo do banheiro.
Não demorou muito e ela entrou em seu campo de visão vestida no hobby de
seu pijama com os cabelos presos no topo da cabeça como quando estava na
banheira. O rosto limpo e livre de toda maquiagem que era obrigada a usar era
algo que captava sua atenção e definitivamente ele tinha que confessar que a
preferia assim do que enfeitada. Hermione parou a sua frente e cruzou os
braços. Havia um ar de determinação em sua expressão.

- Temos que fazer. – ela disse e um desconforto abalou sua determinação


fazendo ela desviar os olhos por um segundo.

- O que? – ele não entendeu.

- Sexo. – ela foi direta. – Temos que fazer.

Ele processou aquilo e se viu soltar uma risada fraca.

- E é assim que pretende começar? – questionou.


Ela se aborreceu com o comentário.

- Acaso você tem um começo melhor? Porque eu sou a única que estou
tentando aqui. – retrucou ela.

Draco olhou fundo nos olhos estreitos e dourados dela.

- Sim eu tenho, Hermione. – começou. – Me levanto, tiro a sua roupa e te


toco. Como você responderia a isso?

Ele notou quando Hermione respirou fundo tentando manter-se focada e não
dominada pelo sentimento de repulsa que aparecia no olhar dela.

- Eu o corresponderia. – ela foi firme respondendo segundos depois.


Draco ergueu as sobrancelhas surpreso pela resposta que havia ouvido. Riu.

- Corresponderia mesmo? – achou graça. – Porque eu vejo como me olha


como se eu fosse um monstro, Hermione. Não acho que você corresponderia.

Hermione se aborreceu.

- Eu tenho um dever. Você tem o mesmo. E quem me parece que não está
disposto a fazer algo aqui é você.

Ele riu.
- Não sou eu quem está de braços cruzados me olhando como se eu
merecesse ir para cruz! Se quer saber, isso não me atraí nem me parece nada
sedutor. Se quer começar algo aqui, terá que provar que realmente quer!

Hermione estreitou os olhos recebendo o desafio, mas não demorou muito para
que ela captasse o desconforto que ele queria provocar. Draco sabia bem que
ela recuaria, ao menos era o que ele esperava e o que seria mais apropriado,
mas ele temeu quando a viu descruzar os braços e puxar o ar como se
estivesse lamentando pela última gota de orgulho que havia lhe restado.

Draco se sentiu completamente desarmado e surpreso quando ela aproximou-


se, puxou a barra de seu hobby, ajoelhou-se colocando as pernas entre ele e
sentou-se devagar em seu colo dando tempo para ele olhar bem cada pedaço
do corpo dela coberto pelo tecido fino que passou diante de seus olhos. Quando
encontrou os dourados dela o olhando ele notou que ela estava completamente
desconfortável. Não que não soubesse o que estava fazendo, o corpo dela havia
se movido de forma brilhante naquela pequena e curta performance, mas
estava óbvio que ela temia a reação dele.

Nos segundos em que o silêncio durou entre o olhar que trocavam ele sentiu
que seus músculos haviam travado. Talvez estivesse em choque, mas
simplesmente não conseguia reagir a proximidade que ela havia criado tão de
repente. Aquilo deu espaço para que ela acomodasse o corpo sobre ele e se
aproximasse perigosamente como se devesse seguir o que havia começado.
Sentiu o hálito dela contra seu rosto e soltou o ar ao perceber que havia
prendido a respiração. O calor do corpo dela, a proximidade, seu cheiro de
rosas misturado com o perfume do banho que havia tomado era absolutamente
embriagante e Draco pode notar que não era tão difícil se sentir fascinado por
aquela mulher.
Foi exatamente quando sentiu os dedos frios dela tocarem seu pescoço de
modo hesitante que seu cérebro tornou a funcionar rápido tentando recuperar o
tempo perdido. A boca dela tocou a dele como no dia de seu casamento e ele
sentiu que se render seria o caminho mais fácil, mas seu cérebro gritou mais
alto alertando que havia algo de muito errado ali. A parou quando os dedos
dela alcançaram os botões de sua blusa que ainda estavam atados. Afastou-se
e olhou nos olhos âmbar dela que agora o olhava como se quisesse saber o que
havia feito de errado.

- Me dê um motivo para estar fazendo isso. – pediu tirando a mão dela dos
botões de sua camisa.

Ela uniu as sobrancelhas como se estivesse se perguntando o porque ele havia


feito uma pergunta tão estúpida como aquela.

- Temos uma ordem a cumprir. – lembrou ela.


- Não esse motivo. – esse ele já sabia. – Sei que foi ao gabinete do mestre
hoje. – a expressão dela mudou tão imediatamente que ele soube que estava
seguindo o caminho certo. - O que ele fez?

Os olhos dela pareciam estar se lembrando exatamente aquilo que havia vivido
dentro de gabinete de Voldemort. Por um segundo ele viu dor, mas então ela
piscou e pareceu refazer a postura.

- Não importa. – ela foi curta.

- Sim, importa. – ele a deteve novamente quando ela se aproximou para


continuar de onde ele havia a parado.

- Não. Não importa. – ela reafirmou unindo as sobrancelhas demonstrando


que estava começando a se irritar.
- Então porque está fazendo isso? Quero saber o que aconteceu porque sei
que não agiria dessa forma se nada tivesse acontecido!

- Como pode ter tanta certeza? – ela perguntou como se ele tivesse a
ofendido, como se ele não tivesse o direito de ter certeza das atitudes dela já
que não a conhecia.

- Porque nunca fez questão de agir assim desde que nos casamos mesmo
sabendo que tínhamos uma ordem a cumprir. – se fez claro. – Quero saber o
porque de só agora ser necessário você tomar essa atitude.

Ela revirou os olhos e saiu de cima dele visivelmente irritada.

- Você não tem o direito de falar que eu quem não quero depois disso! –
ela apontou para ele furiosa. – Não importa o que aconteceu! Sabe que temos
uma ordem a cumprir e já a adiamos tempo o suficiente.
Draco se levantou aborrecido com qualquer que fosse o motivo desnecessário
que a fizera se irritar tanto.

- Hermione, você estava em cima de mim, vestida desse jeito, com a sua
boca na minha! Tem idéia do quanto foi difícil te parar? – ela puxou o ar
discretamente e ele pode perceber que realmente ela não tinha. – Eu não a
pararia se realmente não importasse. Precisa aprender a compartilhar esses
segredos comigo, mas entenda, eu não quero saber porque me preocupo com
você e você não precisa me contar porque quer. Nós estamos na mesma família
agora e coisas que acontecem com você me afetam também!

Ela ainda continuava aborrecida.

- E sobre as coisas que acontecem com você? Elas não me afetam? Porque
quando sou eu quem faço perguntas você tem todo o direito de se irritar e se
silenciar. E não ouse negar isso, Draco! Estamos vivendo na mesma casa a
quase um mês! Sabe do que estou falando!

Ele simplesmente odiava com todas as forças aquele jeito dela!


- Por que você sempre tenta prolongar uma briga, Hermione? – ele
vociferou.

- Porque tento te mostrar o quanto você sempre está tentando fazer com
que as coisas funcionem de maneira injusta entre nós. – ela gesticulou. – Nós
não somos um casal, Draco, muito menos somos apaixonados um pelo outro,
mas isso é um casamento e eu me recuso a viver como o seu pai e sua mãe!
Não vou te deixar me manipular!

Ele sentiu o sangue esquentar em suas veias.

- Não faça insinuações sobre minha mãe! – ele a segurou pelo braço.

- E você não me toque dessa forma! – ela se desvencilhou com raiva


mostrando a ele a atitude agressiva do qual já havia pontuado em uma de suas
discussões. Aquilo a assustava e ele sabia.
Eles trocaram olhares em silêncio com a respiração rápida como se estivessem
procurando palavras para lançarem um sobre o outro novamente. Draco foi o
primeiro a desistir. Ela veio depois. E foi durante alguns poucos segundos que
eles se conversaram em silêncio sobre o quanto tudo aquilo era desgastante.

- Existem muitas coisas que você não entende, Hermione. – ele disse
frustrado.

Ela suspirou.

- Então porque você não pode me fazer entendê-las? – ela perguntou


embora não estivesse realmente esperando por uma resposta.

Hermione deu as costas, caminhou e sentou-se do seu lado da cama. O silêncio


durou entre eles mais alguns minutos até Draco se aproximar dela novamente
e colocar as mãos nos bolsos da calça.
- Ele tocou em você? Te forçou a fazer algo que não queria? – ele tinha que
tentar embora duvidasse muito.

Ela negou com a cabeça sem olhá-lo.

- Não. – respondeu usando um tom baixo.

Pensou mais um pouco e não foi difícil chegar até a pergunta que considerou
muito provável.

- Ele usou Lovegood para te ameaçar?

O silêncio dela pelos minutos que se seguiram foi o sim que ela não chegou a
dizer porque não era preciso.
- Ele a prendeu novamente. – foi tudo que ela comentou usando o mesmo
tom baixo de antes. – Não me deixe saber o quão feliz você está por isso. – ela
acrescentou segundos depois.

- Não estou feliz. Apenas não me importo. – deu de ombros. – Ele lhe
impôs alguma condição?

Ela respirou fundo.

- Não. – a voz dela havia voltado ao tom normal como se não valesse se
lamentar. – Mas ele fez bastante questão de deixar claro que sabia sobre o que
não estávamosfazendo. – e levantou os olhos para ele. Draco ergueu as
sobrancelhas. – Como ele sabe disso?

- Theodoro, talvez. – Draco sugeriu. – Não importa. O mestre sempre


encontra maneiras de saber daquilo que o interessa.
O silêncio seguiu novamente agora que Draco sabia o porque ela havia agido
daquela forma. E talvez, quando a encontrou no banheiro com os olhos
vermelhos, ela só estava aproveitando seu tempo particular para lamentar pela
vida que era obrigada a viver. Ele achava bom que ela evitasse expressar
aquele tipo de angústia na sua frente, não havia se casado para aguentar uma
mulher que não soubesse lidar com momentos difíceis. Não tinha paciência
para aquilo.

Ela finalmente se levantou e cruzou os braços a frente dele. Os dois trocaram


olhares por um bom tempo e ele percebeu que ela estava esperando algo. Ele
não se moveu e aguardou que ela se manifestasse.

- Você tem as suas respostas. – ela finalmente disse. – Ainda não é o


suficiente?

- É o suficiente por agora. – ele a respondeu e ela se mostrou impaciente.


- Então será que podemos continuar de onde paramos? – ela tinha aquele
tom severo irritante.

Ele se aborreceu novamente com aquela atitude constante dela.

- Por Merlin, Hermione! Você acha que as coisas acontecem assim? – tudo
bem que ela prezava pela amiga, mas sexo não era um botão em uma máquina
onde alguém simplesmente podia apertar “iniciar”.

Ela soltou uma risada seca.

- Como você espera que aconteça? Eu não estou afim de me prestar a fazer
nenhuma peça de teatro por aqui. Não precisamos fingir nada apenas para
fazer com que ao menos pareça que nos queremos. É óbvio para nós dois que
não nos queremos!
- E isso já é prova suficiente para você de que não se acontece desse jeito?
Será que você conseguiu escutar o que disse?

Hermione estreitou os olhos.

- Qual é o problema com você? – a entonação que ela usou deu a sensação
a ele de que seu cérebro havia sido perfurado. Era aquela mesmo entonação
que ela usava no auge das brigas que tinham. – Será que não passa pela sua
cabeça que temos que começar em algum lugar? Eu tenho certeza que passa,
Draco! – Céus, ele a odiava tanto! - Por que você tem que ser sempre tão
orgulhoso, tão pontual, tão cheio de costumes, tão cheio de razão? – ele odiava
quando ela começava a usar aquele tipo de “por que” e quando ela jogava
aquelas palavras cheia de preconceito como se ela não fosse exatamente a
mesma coisa. Fechou os olhos com força tentando fazendo com que aquela voz
se calasse. – Você é tão sonserino que não importa a coragem que tenha
conseguido construir durante todos esses anos, não é surpresa nenhuma que
haja como covarde agora! – ele cerrou os olhos para ela sentindo a fisgada que
havia recebido. Era bom que ela calasse a boca. – Não diga que eu não quero
quando você é o único que realmente não quer, ao menos eu...

Ele a calou quebrando a distância entre eles, usando uma mão para segurar
seu queixo fino brutalidade e colando sua boca na dela. Tentou abrir espaço
entre os lábios delas, mas ela não reagiu, tentou mais uma vez e dessa vez ela
resistiu, mais uma e então ela finalmente se rendeu. Era aquilo que ela queria,
não era? A sensação de suas línguas se tocando foi fora do comum. Pareciam
lutar uma contra a outra e a energia era tão nova e única que conseguiu o
entreter ao ponto de quase o fazer esquecer de que queria matá-la. Quase.
A soltou e se afastou ofegante. Os lábios dela estavam vermelhos e úmidos, e
Merlin, aquela visão o fez se perguntar o porque havia parado de provar o
quanto eles eram macios.

- Tem que aprender a calar a boca, Hermione! – ele vociferou sendo o mais
severo que podia naquele momento. – Você fala demais. Me dá dor de cabeça!

Ela o olhava como se não tivesse sido capaz de processar qualquer palavra que
havia escutado. O peito dela subia e descia tentando compensar o tempo que o
ar havia sido escasso entre eles. Foi então que ela se tocou para algo, e não
havia sido para o que ele havia dito.

- Por que diabos você parou? – ela soltou entre suas buscas por oxigênio.

Ele se fez a mesma pergunta enquanto olhava para a boca vermelha dela. A
voz dela o julgando como covarde soou em sua cabeça. Draco não deixaria que
ela nem mesmo ousasse repetir aquilo. Mas aquela boca o chamava tão alto
que tudo que ele conseguiu se focar foi em ter aquela energia novamente.
Draco a segurou pelo rosto e tomou aquela boca novamente para ele. Se era
assim que ela queria que fosse, assim seria. Havia uma corrente de tanta coisa
diferente naquele beijo que ele não podia descrever como selvagem embora
fosse bastante ativo, não podia descrever como intenso embora houvesse
muita energia nem mesmo podia dizer que era desesperador embora houvesse
uma sensação de urgência. Ele sentia que podia passar o dia brincando
daquilo. Era uma guerra muito prazerosa a forma como pareciam querer provar
quem era melhor que quem naquele beijo era uma entretenimento e tanto.

Notou que ainda havia a hesitação entre seus corpos. Queria tocá-la e queria
que seus corpos estivessem unidos assim como suas bocas estavam. Desceu
sua mão e a puxou pela cintura se irritando com o fato de que ela não havia
tomado nenhum atitude com relação aquilo. A sensação do toque e da
proximidade era sempre intimidador. Ele sabia que era tanto para ele quando
para ela, e talvez tivesse sido por isso que suas bocam tomaram centímetros
de distância quando a intimidade e a proximidade o assustaram.

Ofegaram apenas alguns segundos perdidos no que deveriam fazer. Draco pela
primeira vez sentiu que estava provando de algo tão novo e diferente que por
aqueles segundos ele temeu se conseguiria fazer aquilo. Mas foi apenas alguns
segundos. No seguinte ela passou os braços pelo pescoço dele como se
estivesse mostrando que teriam que se tocar de qualquer maneira, o olhou
como se estivesse tentando esclarecer que aquilo não significava nada e então
voltou a beijá-lo.

Ele gostou de saber que ela parecia estar consciente de que nada daquilo
passaria do casual. A arrastou para a cama e a jogou sobre ela. Hermione o
olhou surpresa e ofegante como se não tivesse esperado por aquilo. Ela havia
insistido por sexo, não era? Ela faria o sexo que ele queria fazer.

- Você também é agressivo na cama? – Hermione encontrou espaço para


perguntar erguendo uma sobrancelha quando ele deitou sobre ela.

- Apenas gosto de surpreender. – a beijou novamente para provar mais do


sabor que estava começando a se tornar familiar e delicioso. Céus, ele havia
gostado daquilo.

Desceu sua mão pela lateral no corpo dela, tocou sua coxa e enterrou os dedos
sobre a carne macia. Puxou a perna que segurava fazendo com que ela
abraçasse seus quadris, a empurrou um pouco para o lado e se encaixou entre
as pernas dela. Hermione moveu-se como se estivesse espreguiçando a coluna
e então os corpos deles se encaixaram tão perfeitamente que novamente
aquele susto atingiu a ambos. Suas bocas se separaram buscando ar e dessa
eles sabiam o que fazer. Os segundos foram poucos dessa vez antes de
voltarem a se beijar novamente.

Ele estava pronto para começar a explorar o corpo dela, livrá-la de toda aquela
roupa que antes parecia pouca e agora parecia muita, mas antes que suas
mãos alcançassem o interior do roupão dela, Hermione moveu o corpo de uma
maneira tão ágil, explorando o ponto fraco na posição deles, para fazê-los girar
e ela trocar de posição ficando por cima agora. Ele a olhou surpreso pela
atitude, ainda não sabendo se havia gostado daquilo.
- Se vai usar o meu corpo e eu vou deixar, é melhor que me faça gostar do
que iremos fazer! – ela soou cheia de prepotência.

É claro que ele a faria gostar. Ele era Draco Malfoy, podia apenas piscar para
podê-la fazer gostar. Por mais que tivesse que confessar que o que ela havia
feito o excitasse, não havia apreciado nem um pouco o tom que ela usara nem
mesmo o desafio que havia jogado como se ele estivesse tendo o interesse de
se aproveitar dela e do corpo que tinha. A agarrou pela cintura e fez com que
eles voltassem para a posição de antes. Ele por cima. Olhou bem nos olhos dela
e disse:

- Você quem insistiu por isso. Encontre uma maneira de se fazer gostar!

Dessa vez ele desceu para os lábios delas e os lambeu, seguiu para o pescoço
dando tempo para provar o sabor de sua mandíbula e do lóbulo de sua orelha.
Ela era deliciosa. Tocou o seio dela sobre o tecido fino quando ela começou a
usar os dedos para desatar os botões de sua camisa. Sentiu-se excitado com o
mistério de não poder tocar a textura de sua pele debaixo da seda tão macia
que cobria o volume que tinha nas mãos. A viu puxar o ar quando brincou com
o mamilo bem aparente sobre o tecido.
Ela o livrou da camisa e conseguiu se fazer ficar por cima mais um vez. Draco
deixou que ela pudesse observar e tocar o pacote que ele sempre escondia
embaixo da roupa enquanto deslizava os dedos pelas pernas que estavam uma
de cada lado de seu corpo. Hermione desceu as mãos para a calça dele.
Desatou o cinto, o botão e quando arrastou o zíper ele julgou que ela já havia
desfrutado demais do trono que ele a permitira ficar. A pegou pela cintura mais
uma vez e inverteu as posições. Ela claramente não gostou daquilo.

Draco finalmente puxou o cordão do hobby que ela usava e pressionou seus
quadris contra o dela sentindo seu sangue descer junto com aquela
maravilhosa agitação entre suas pernas. Hermione explorou o ponto fraco da
posição deles mais uma vez e fez com que eles girassem. Ele fez ela voltar para
baixo tão rápido quanto ela havia se colocado por cima. Hermione se irritou e
agiu também rápido fazendo-os girar novamente.

Aquela pequena guerra os levou ao chão e ela vitoriosa sentada sobre ele.
Draco quis se irritar mas a visão que teve dela, com o hobby aberto ainda
escondendo o que ele realmente queria ver, mas deixando que ele pudesse
apreciar a pele que descia pela sua barriga e se escondia novamente na peça
única que ela usava nos quadris o fez deixar que ela tivesse seus segundos de
glória. Ela os usou muito bem quando levou uma das mãos ao cabelo e os
soltou fazendo com que as ondas dos seus cachos escorregassem pelos seus
ombros de maneira suave e muito sedutora. Agradeceu mentalmente por ela
ser magnifica e se sentou, enterrou sua mão entre os cabelos dela, cercou sua
cintura e tomou sua boca.

A tocou arrastando sua mão para dentro do tecido. Sentiu a textura de sua pele
e o calor que emanava dela. Passou pela barriga, fez a curva abaixo dos seios
dela e encheu sua mão com eles. Desceu para o pescoço até poder fazer com
que sua boca alcançasse aquilo que brincava com as mãos. A respiração de
Hermione era tão ofegante que tudo que ele queria ouvir dela era um gemido,
mas não conseguiu lhe arrancar um.

Numa surpresa súbita os dedos dela se enterraram entre os cabelos dele e


muito discretamente ela moveu os quadris contra o dele. Draco reprimiu um
sorriso enquanto sua língua se divertia com os mamilos excitados dela.
Hermione fez com que o movimento se tornasse constante e o membro que ele
tinha dentro de sua calça avisou que já estava muito sensível e que logo
precisaria ser libertado. Percebeu que sua garganta começava a querer escapar
ruídos e não gostou de como estava sentido que estava mais excitado que ela,
e talvez era isso que ela quisesse.

Não teve problemas para levantar e ao mesmo tempo fazer com que ela tivesse
as pernas ao redor dele para tê-la em seu colo. A carregou até que as costas
delas dessem com o dossel da cama e a soltou deixando que os pés dela
tocassem o chão. Livrou-a do hobby e se permitiu contemplar o corpo dela por
apenas um segundo. Hermione tinha seios muito belos. Colou seu corpo
novamente no dela e beijou rapidamente seus lábios, apertou seus seios e
deslizou sua boca até o pé do ouvido dela.

- Feche os olhos. – ordenou numa voz baixa e deslizou sua mão para tocar
a parte entre as pernas dela sobre o tecido da calcinha que usava muito
discretamente.
Os dedos dela se enterraram no braço dele quando repetiu o movimento e
dessa vez quis mais tempo para sondar o território. A respiração dela perdeu o
compasso por alguns segundos, os dedos da outra mão se enterraram nos
cabelos loiros dele e ela moveu o corpo passando uma das pernas por ele.

- Faça novamente. – ela suplicou quase que como uma ordem.

Ele a olhou enquanto descia a mão mais uma vez pela sua barriga.

- Você não me diz o que fazer ou não, Hermione! – disse e enterrou os


dedos dentro da roupa íntima dela.

A viu prender a respiração e Draco achou que receberia o gemido dela, mas ele
não veio. Seus dedos circularam pela região macia, úmida e quente sabendo
onde deveria manter a atenção. Ela fechou os olhos e pendeu a cabeça para
trás. Sua boca estava aberta, mas dali não saia som. Foi quando ele precisou ir
fundo nela para deixá-la mais molhada que finalmente o gemido escapou da
boca dela, rouco e sexy. Ele sorriu recebendo seu ponto. Ela o olhou com os
olhos estreitos, mas ele trabalhava ali para que ela perdesse o controle.
- Eu mandei fechar os olhos. – disse ele.

- Cale a boca! – ela terminou e gemeu puxando seus cabelos quando ele
usou o dedo para ir fundo nela apenas mais uma vez para sentir o quando ela
estava completamente molhada para ele. Ele ainda queria muito mais do que
aquilo.

Aproximou sua boca da dela.

- Verá como eu trabalho aqui. – sussurrou e com a agilidade que tinha, a


girou e colou seu corpo nas costas dela. A prendeu contra o dossel passando a
cercá-la com o braço e agarrando um dos seis dela que havia se tornado o novo
brinquedo dele.

Enterrou os dedos mais uma vez entre as pernas dela e a viu lutar contra os
gemidos. Hermione agarrou o dossel e ele brincou com o clitóris dela para fazer
com que ela se rendesse a posição que claramente não havia gostado. Sentiu
quando uma mão dela entrou pela sua calça e se fechou em seu membro. Teve
que sorrir.
Sua garganta emitiu um som que ele abafou enterrando o rosto no pescoço
dela. Ela tinha uma mão muito macia, mas ele também sabia trabalhar e
quando foi fundo nela e deixou que a palma de sua mão fizesse pressão sobre o
ponto mais fraco, ele pode finalmente conseguir ver a guerra do silêncio dela
começar a perder. Isso não só a incomodou como também a irritou e então ela
finalmente lutou para sair da posição que ele havia a prendido.

Claro que ela era muito orgulhosa para ficar ali onde ele tinha completo
domínio sobre ela. Hermione finalmente conseguiu fazer com que ele perdesse
o controle. Draco ainda tentou a segurar de costas quando cambalearam pelo
quarto e esbarraram numa das mesas altas que deixava como display um vaso
extremamente caro do século passado. Conseguiu dominá-la colocando-a
contra a parede ao mesmo tempo em que o som da mesa e do vaso se
espatifando no chão ecoou pelo quarto. Não se importaram e talvez não
tivessem nem mesmo prestado atenção. Hermione conseguiu se virar para
encará-lo e abriu a boca para protestar, mas ele enterrou os dedos nela e
começou de onde havia parado fazendo-a arquear as costas e gemer.

Trocaram olhares como se tivessem todo o ódio do mundo um pelo outro, mas
o desejo que haviam acendido ali já havia alcançado um estágio que não dava
para voltar atrás. Ela parecia querer ainda encontrar espaço para abrir seus
protestos, mas ele não deixava tornando seu serviço a cada segundo mais
intenso. Os dedos dela apertaram seus cabelos mais uma vez. Ele olhou a boca
vermelha e inchada dela e aproximou-se de seu rosto. A respiração
descompassada e apressada bateu contra ele e o excitou. Ela estava perdendo
e sabia disso.
Sentiu sua vitória quando o gemido que ela soltou foi longo, quando as paredes
dela se fecharam contra seus dedos e quando todos os músculos dela se
retraíram e relaxaram contra seu corpo. Ela passou a ofegar compassadamente
dessa vez e cerrou os olhos para ele. Ele viu a raiva dela ali. A mensagem que
ela passou foi a que estava na hora de sua vingança.

Se deixou ser carregado quando ela o empurrou pelo quarto. Esbarraram em


duas ou três coisas quando ele tomou a boca dela novamente e não
conseguiram ver por onde andavam. Não se importaram. Ela fechou sua mão
novamente contra o membro dele enquanto o despia da calça quando o fez
parar contra uma mesa estreita num dos cantos perto da lareira. Ele a ajudou e
quando se viu livre de sua roupa julgou que já havia deixado Hermione achar
que estava controlando algo por tempo demais.

Colou o corpo dela no dele a abraçando pela cintura, a girou e a colocou sobre
a mesa escutando tudo que havia estado sobre ela ir parar no chão. Num
segundo Draco tirou a única peça que restava nela e tudo que recebeu de
Hermione foi o olhar surpreso, como se ela estivesse se perguntando como ele
conseguira fazer aquilo tão rápido.

Ele abriu as pernas dela e se colocou entre elas. Hermione lutou e relutou até
conseguir descer da mesa. Ele se irritou e considerou que estava sendo gentil
demais. A pegou e ela teve que se segurar colocando as pernas ao redor dele.
Esbarrou em alguma poltrona antes de finalmente conseguir deitá-la no sofá.
Hermione não perdeu tempo e usou a própria força para fazer com que eles
girassem e caíssem sobre o tapete. Ela sobre ele dessa vez. O olhar estreito
mostrava a ele a Hermione que ele conhecia dos campos de batalha que gritava
com toda a autoridade para a Ordem manter a linha.
- É a minha vez! – ela fez questão de deixar claro com os dentes cerrados.

Ele não ousou tentar tirar a vez dela novamente depois daquela pequena e
desconfortável guerra. Hermione segurou o membro dele com a mão macia e a
fez escorregar como se estivesse descobrindo um novo e diferente brinquedo. O
toque fazia sua respiração acelerar. Trocaram olhares quanto ela o deixou no
suspense fazendo-o tocar e deslizar pela sua parte molhada. Merlin, aquilo o
excitou e ele teve que fincar os dedos nas chochas dela.

Ainda como se tivesse o tempo do mundo nas mãos, Hermione se excitou o


usando para circular sua parte sensível. O macio dela contra seu membro rígido
e ereto o deixava ansioso para entrar dentro dela, mas Hermione parecia não
ter pressa para isso fechando os olhos e gemendo baixo tomando seu tempo
para se divertir as custas dele. Queria trocar de posição, se enterrar nela e
fazê-la gemer de verdade, mas aquela brincadeira o excitava e parecia muito
mais interessante, o fazia se perguntar quem era aquela Hermione que ele não
conhecia.

Hermione deitou seu novo brinquedo, pressionou o clitóris sobre ele e começou
um movimento discreto com os quadris. Draco arfou sentindo os líquidos dela
cobrindo seu pênis, o calor correu seu corpo e abrir seus poros. Ela ofegava e
continuava a tentar reprimir os próprios gemidos, mas mesmo assim ele
continuava a ouvi-la. Ah, se ela soubesse o quanto era absurdamente linda e
odiável. Ergueu o tronco para poder alcançar a boca deliciosa que ela tinha e a
beijou enterrando seus dedos entre as ondas macias de seu cabelo. Queria
beijá-la como antes, mas os sons que escapavam dele junto com os que
escapavam dela mais as respirações descompassadas tornava tudo muito difícil,
mas sentir o calor da língua dela foi suficiente. Desceu as mãos e as cravou nos
quadris dela pedindo para que ela aumentasse a velocidade. Ela aumentou por
necessidade, mas colocou as mãos em seu peito e o forçou para o chão
novamente.

- Eu disse que é a minha vez! – ela repetiu friamente.

Deus, que mulher era aquela? Quis mostrar que quem estava deixando ela ficar
ali era ele, mas antes que pudesse fazer algo, ela o surpreendeu enterrando
seu pênis dentro dela até o final. Não foi capaz de segurar o som que saiu de
sua boca e se juntou ao dela. A sensação de urgência das paredes apertadas
que ela tinha o fez querer investir com força dentro dela e teve que começar a
se concentrar. O que foi difícil com o som sexy que ela emitia e o movimento
provocador de seus quadris. Ela intensificava e desacelerava brincando com o
próprio êxtase e o levava a arfar cada vez mais.

Hermione alongou a coluna e arqueou as costas, seus movimentos mudaram da


horizontal para a vertical. A respiração dela se tornou ainda mais urgente e ela
intensificou a velocidade erguendo um dos braços para esconder o próprio rosto
nele. Draco precisou se segurar para não chegar ao estágio que ela estava
chegando. Mais algumas investidas e ela puxou os cabelos, soltou um gemido
longo e rouco e então ele pode presenciar a maravilhosa cena dos músculos
dela se retraindo e relaxando umas três vezes antes de cair sobre ele.
Seu membro lá embaixo suplicou por alívio aos sentir as paredes dela o
massagear impiedosamente. Ela havia parado ofegante e sem força, ele se
aproveitou do momento para girá-la sobre o tapete e colocá-la por baixo.
Desceu sua mão e tocou a parte entre suas pernas enterrando os dedos nela
para buscar mais do mel que ela havia tido o prazer de liberar. A massageou e
o espalhou. Tocou seu próprio membro para colocar mais do líquido dela nele.
A olhou nos olhos quando se empurrou para dentro dela novamente e a viu
prender a respiração para não soltar nenhum gemido.

Colou seu corpo no dela e começou seus movimentos de onde ela havia parado.
Ele desceu colando suas bocas e gemendo, sentindo sua língua e brincando
com os lábios inchados e molhados. Apertou o seio dela sentindo o mamilo
rígido contra a palma de sua mão. Seu corpo gritou por alívio e ele precisou se
concentrar e desacelerar antes de voltar a investir novamente.

Fez quentão de garantir que tocava seus clitóris toda vez que ia até o fundo
dela. Sempre que desacelerava se deixava ficar fundo ali pressionando seus
quadris para fazer pressão nas partes sensíveis dela. Hermione não demorou a
responder fazendo suas unha se enterrarem em sua costas. A certo ponto,
quando ele parou para retomar o fôlego, ela colocou os pés no chão, ergueu os
quadris e rebolou fazendo-o perder seu momento de concentração. Investiu tão
forte contra ela que quis gozar loucamente, precisou juntar força extra para
conseguir desacelerar e ganhar mais tempo.

Saiu de dentro dela e ela protestou. Agilmente a colocou de lado, colou seu
corpo contra as costas dela, puxou uma de suas pernas fazendo-a passar por
cima dele e entrou novamente nela. Era assim que ele queria. Investiu na
velocidade que o gemido dela pedia. Colocou os dedos contra o clitóris dela e o
massageou. Ela arqueou as costas e ele apertou o seio dela. Enterrou o rosto
em seu pescoço sentindo o cheio dos cabelos dela misturado com o suor de seu
corpo. Ela se moveu inquieta, sentiu os dedos dela tocarem a mão que usava
para massagear sua parte sensível durante suas investidas sem piedade. Ouviu
o sôfrego dela se misturar com o gemido alto que emitiu e mais uma vez os
músculos de todo o corpo dela se retraíram. Ele se deixou gozar dentro dela
sabendo que já não seria capaz de segurar por muito mais tempo. Sentiu toda
a agonia de seu corpo ser esvaziada pelo seu membro no tempo em que os
músculos das partes dela se fecharam contra o dele. O grunhido que saiu de
sua boca ele abafou contra os cabelos dela e então eles caíram no silêncio de
suas respirações ofegantes.

Hermione girou a cabeça e ele pode olhá-la nos olhos. A boca dela o chamou e
ele desceu mas hesitou antes de tocá-la sabendo que não era mais preciso
nenhum tipo de contato daquele nível. Afastou-se, a soltou e deitou sobre o
tapete encarando o teto ainda tentando recuperar o fôlego. Ela fez o mesmo ao
seu lado. O silêncio durou entre eles. Aquilo havia sido algo que ele nunca
tivera com mulher nenhum. Tinha que confessar que Hermione não tinha nada
da santa sabe-tudo que ele imaginava em Hogwarts. A olhou ao seu lado
encarando o teto assim como ele e se perguntou quando provaria daquilo
novamente. Olhou para o lado oposto e viu pelo chão suas roupas misturadas
com a bagunça dos seus artefatos caros quebrados.

- Obrigado por arruinar o meu quarto, Hermione. – soltou de maneira


irônica.

- Seu? – ela achou graça – Eu também durmo aqui. – o lembrou. – Quem


estava esbarrando nas coisas era você.
- Quem me fez esbarrar nelas foi você. – a culpou. – Se tivesse me
obedecido teríamos encontrado uma maneira mais civilizada de fazer isso. –
embora ele tivesse gostado da forma como haviam feito.

- Obedecido? – ela soltou como repulsa. – Quem você acha que eu sou?

Ele a olhou e a encontrou o olhando.

- Minha esposa. – respondeu.

Ela franziu o cenho.

- Não sou nenhuma propriedade sua. Sou sua esposa tanto quando você
é meumarido. – disse e sentou-se. Alongou a coluna, respirou fundo parecendo
apreciar o fato de ter acalmado a respiração e passou os dedos pelas ondas de
seu cabelo tentando ajeitá-lo da melhor forma possível. Ele não se importava
com o que ela pensava, de uma forma ou outra ela era propriedade dele. Ela
não o conhecia.

Analisou a silhueta de suas costas nuas sendo coberta pelo corte dos cachos de
seu cabelo. Não havia dúvida de que ela era linda não importasse de que
ângulo a olhasse. A viu juntar as pernas e se apoiar no chão. Ele foi mais
rápido, sentou-se e cercou sua cintura forçando-a a se manter no chão.

- Onde pensa que está indo? – sussurrou ao pé de seu ouvido.

- O que está fazendo? – ela perguntou surpresa.

- Onde pensa que está indo? – ele repetiu a pergunta mais pausadamente
mostrando a ela que quem havia feito a primeira pergunta fora ele.

- Tomar banho. – ela respondeu ainda surpresa.


- Não é uma má idéia. – ele tinha que confessar.

- Draco, o que está fazendo? – ela quis saber confusa.

Ele sorriu.

- O que te faz pensar que nós acabamos aqui, Hermione? – fez seus dentes
escorregarem suavemente pelo lóbulo de sua orelha enquanto soltava a
respiração. A sentiu puxar o ar e a viu fechar os olhos. Era bom que ela se
acostumasse que aquilo que fizeram não era suficiente para ele.
Capítulo 12

Hermione Malfoy

Voltou a consciência e ainda de olhos fechados pode perceber o ambiente claro


no qual se encontrava. Respirou fundo e soltou o ar com calma. Abriu os olhos
devagar e encontrou o teto abobadado do quarto onde dormia todas as noites.
Sentiu seu corpo exposto e descoberto. Tentou mover-se minimamente e
sentiu-se dolorida. Seus lábios se esticaram num sorriso discreto sem que ela
pudesse perceber. Havia perdido a conta de quantas vezes Draco havia feito
com que ela atingisse seu clímax na noite passada. Aquilo estava acontecendo
com frequência quase todas as noites já fazia mais de uma semana. Ela já não
sabia mais onde buscar forças.

Virou a cabeça e o encontrou deitado sobre a barriga ao seu lado. Um de seus


braços estava jogado desleixadamente sobre ela e sua respiração era a mesma
pesada de todas as noites. Hermione achava incrível como ele sempre parecia
tão inocente com as feições relaxadas, os olhos fechados, os cabelos
bagunçados e o rosto liso. Ela suspirou e seu sorriso morreu. Ele não era
inocente. Sabia que ele não era nem um pouco inocente.

Olhou a janela do lado oposto e viu o dia cinza do lado de fora. Por um segundo
ela lamentou por não ter o sol e no segundo seguinte a realidade lhe bateu.

- Draco. – o chamou escutando a própria voz fraca, fina e falha. Ele não
respondeu, sequer se mexeu, e Hermione estranhou o quanto ele parecia estar
tendo um sono pesado. Draco tinha um sono muito leve até onde ela havia
notado. – Draco. – o chamou novamente e dessa vez ele soltou algo num
murmúrio baixo, mas sem mover um músculo sequer. Hermione arrastou a
mão hesitante até ele e o tocou nos cabelos fazendo seus dedos deslizarem
sobre os fios loiros. – Draco. – o chamou com a voz mais limpa e clara dessa
vez.

Demorou alguns segundos para que ele abrisse os olhos cinzas e tentasse se
localizar no espaço e tempo. Eles trocaram olhares rápidos até ele conseguir
recobrar por completo a consciência, desviou o olhar dela, ergueu um pouco do
tronco para olhar a janela e perguntou:

- Que horas são?

- Tarde. – ela respondeu sabendo que não importavam as horas. Estavam


muito atrasados de qualquer maneira.

Ele precisou se apoiar no colchão passando por cima dela para alcançar o
relógio na cabeceira. Olhou as horas e soltou um palavrão. Saiu da cama e
Hermione puxou os lençóis para se cobrir enquanto sentava-se para o ver
andar nu pelo quarto tentando encontrar o casaco de sua farda. Ele não tinha
nem idéia do quanto era sexy fazendo aquilo, e com o passar dos dias ela se
descobria fascinada por observá-lo andar pelo quarto sem roupa, apenas como
veio ao mundo. Não havia como expressar as sensações que seu corpo
respondia ao ver a figura imponente e intimidadora que ele todo era. Tudo nele
parecia bem trabalhado, bem esculpido, bem simétrico. Talvez fosse o sangue
dele, a linhagem da qual vinha.

- Vai a catedral comigo? – ele perguntou parando e a encarando como se já


estivesse preparado para agredi-la verbalmente por estar parada na cama.
- Não tenho planos de fazer com que você se atrase ainda mais. – ela
resolveu não provocá-lo já que não tinha ânimo para começar e vencer uma
discussão logo pela manhã. – Vou depois do meio-dia.

Eles trocaram olhares em silêncio por alguns segundos como se esperassem


que em algum momento um deles fosse obrigado a começar a discussão e ali
parecia que nenhum deles realmente estava disposto. Draco se aproximou,
pegou o relógio do seu lado da cabeceira e seguiu para o banheiro. Hermione
se viu sozinha no quarto, fechou os olhos e esperou ansiosamente pelo som das
duchas. Não demorou e ela foi capaz de as escutar.

Quase que num pulo desceu da cama carregando os lençóis, abaixou-se e abriu
a última gaveta de sua cabeceira. Puxou dali uma pequena caixa de madeira, a
abriu e tirou o último frasco da ordem que ainda havia. Virou a poção de uma
vez e sentou-se na cama novamente apertando os olhos sentindo o gosto
amargo descer pela garganta e torceu para que o líquido pudesse fazer efeito
mesmo depois das horas perdidas. Ela não podia engravidar. Não podia! E sua
única opção era usar aquele método primitivo e ineficiente de poções
individuais já que não podia deixar nenhuma pista em sua varinha de que
andara fazendo feitiços de proteção. Sabia que poções como aquela eram de
efeito imediato e deveriam ser consumidas logo após o ato, mas ela também
não podia fazer aquilo na frente de Draco.

Não sabia o que iria fazer agora que seu estoque havia acabado. Ela mesma
havia as fabricado após a primeira noite deles. Era uma poção fácil e rápida que
não necessitava de muitos ingredientes em grandes quantidades, mas não
podia arriscar fazê-las novamente, primeiro porque faltava um dos três
ingredientes no estoque antigo e vazio da casa de poções, segundo porque
comprá-lo numa das lojas do centro poderia ser uma grande pista que muito
provavelmente chegaria aos ouvidos de Lorde Voldemort que parecia monitorar
cada pedra de Brampton Fort, terceiro porque caldeirões sabem guardar um
princípio mágico de poções feitas regularmente.

Hermione suspirou, empurrou tudo para dentro da gaveta novamente e a


fechou com força. Levantou-se e sentiu seu corpo sujo. O suor da noite
passada havia deixado sua pele pegajosa e o cheiro de tudo que haviam feito
antes de caírem no sono parecia emanar dela. Largou os lençóis e foi até o
banheiro descendo para detrás do paredão e encontrando-se com Draco ao
chegar as duchas.

Os olhos dele seguiram ela, mas ela não se importou tratando-se de se colocar
debaixo d’água sentindo o calor confortá-la e varrer seu corpo. A sensação de
estar sendo limpa era gostosa e ela se deixou molhar os cabelos fechando os
olhos e apreciando o momento.

- Temos a Cerimônia de Inverno hoje. – ele disse fazendo-a se lembrar de


que ele ainda estava ali. – Portanto não precisa...

- Arrumar o jantar. – ela terminou para ele. – Sei disso.


- Esteja em casa e pronta as nove em ponto. – ele concluiu e saiu antes
que ela pudesse argumentar qualquer coisa.

Inverno era a estação mais adorada de Lorde Voldemort e como demonstração


de seu imenso afeto pela paisagem cinza, a natureza morta, a noite prolongada
e o vento gélido, era oferecido todo ano uma importante cerimônia de iniciação
da estação para a alta sociedade de todos os fortes do grande imperador das
trevas. Os Malfoy normalmente não participavam com frequência de
comemorações festivas, mas aquela em especial era uma das quais não podiam
simplesmente ignorar porque fazia parte da tradição do governo do mestre.

Hermione não estava animada para mais um evento social onde a mídia estaria
presente. Teria que fazer o árduo trabalho de manter com frequência um
sorriso no rosto, ser educada com uma lista de pessoa das quais odiava e
procurar assuntos entediantes para discursar. Se ao menos Luna pudesse estar
lá. Mas ela não estaria. Embora ela houvesse sido liberada a alguns dias atrás
para morar em Whitehall, a loira não fazia parte da alta sociedade de Brampton
Fort portanto estaria livre para fazer qualquer outra atividade dentro da
catedral sem poder chegar perto da ala principal.

A água quente adormeceu seus músculos e lavou seu corpo. Ela abriu os olhos
e passou os dedos ao redor do rosto. Um nó repentino subiu para sua garganta,
seus olhos marejaram e ela se segurou. Tinha que parar de se martirizar. O
que Harry pensaria dela se tivesse a chance de colocar os olhos nela agora? O
que ele pensaria se soubesse que ela havia ido para cama com Draco Malfoy? E
se ele soubesse que ela havia gostado e que gostava de todas as vezes em que
eles duelavam durante o sexo? Na verdade, de todas as vezes que faziam sexo!
Ah, se ele soubesse... Se ele soubesse a vida que ela tinha agora, as roupas
que usava, o tesouro que tinha no seu cofre em Gringotes, as comidas que
comia, os vinhos que bebia... Soluçou sabendo que qualquer lágrima que
estivesse escapando de seus olhos estavam se misturando com a água do
banho.

O sentimento de traição a acompanhava todos os dias junto com todos os


outros desejos que seu corpo despertará desde a primeira vez que Draco e ela
haviam estado juntos. Ela esperava o contrário de tudo que estava
acontecendo. Nunca havia esperado que mesmo com todo ódio que tinha por
Draco, seu corpo sentia que precisava entrar naquele jogo que começavam
todas as vezes que se permitiam tocar um ao outro. Cobriu o rosto com as
mãos sentindo vergonha. Seu coração apertou forte em seu peito e ela soluçou
mais uma vez.

Era isso que Voldemort queria, não era? Era aquela vida que ele esperava que
ela tivesse, não era? A vida carregada da culpa daquilo que ele a obrigava a
fazer. Ela sentia que definharia não sabendo o que mais a consumia, a
vergonha, o sentimento de traição ou a culpa. Aquilo era tão difícil de se viver.
Naquele momento ela apenas preferiria ser jogada em uma masmorra, parecia
muito mais fácil e ela havia se preparado para aquilo caso fosse pega, não para
o que estava vivendo.

Permitiu que expressasse sua vulnerabilidade até conseguir juntar as forças


para retomar a postura e terminar seu banho. Chorou sabendo que havia
prometido a Harry que sempre estaria ao seu lado e agora simplesmente não
podia mais estar.
Assim que seguiu para o closet tentou ocupar a mente na sua difícil tarefa
diária de se vestir. Deixou-se quebrar a cabeça diante de suas roupas e quando
finalmente encontrou uma adequada, a vestiu e se olhou no espelho. Estava
ótimo como sempre. A cada dia ela demorava menos para finalizar aquele
serviço. Logo que se moveu para móvel de suas jóias, sentindo-se um pouco
melhor por ter percebido seu avanço miserável no mundo da moda que agora
vivia, parou e sofreu alguns segundos de confusão ao ver uma pequena caixa
de veludo com o emblema de uma das caras lojas do centro. Aquilo não estava
ali antes. Hermione a pegou e a abiu podendo então ver a perfeita peça de ouro
para seu pescoço. Era tão lindo que ela não pode deixar de perceber os
músculos seus rosto se esticando para abrir um sorriso discreto. Quem quer
que tivesse feito aquilo era um verdadeiro artista.

Ela fechou a caixa sabendo que Draco havia a posto ali. Ele normalmente
ordenava a Tryn que entregasse seus presentes a Hermione e dissesse em que
ocasião deveria usar, mas parece que dessa vez não foi preciso e ela foi capaz
de entender perfeitamente que aquilo deveria ser para a cerimônia de inverno
mais tarde. Obviamente que ele não estava tentando agradá-la, aquilo não
passava de ordens que ele deveria cumprir. Muito provavelmente Narcisa havia
dado algum toque a ele sobre seu baixo estoque de acessórios visto que ela
mesma não tinha paciência para frequentar o centro e gastar o dinheiro que
não era seu em artigos caros como aqueles. Seu estoque já era muito mais do
que ela imaginara ter algum dia na vida, mas aos olhos de Narcisa, não
importava a quantidade de brincos, colares e anéis, sempre seria precário.

Hermione terminou todo o serviço. Olhou-se no espelho, colocou-se de lado e


desenhou seu perfil para constar de que tudo estava exatamente no formato
que ela conhecia. Fechou os olhos e respirou fundo. Esperava realmente que
aquela poção servisse para alguma coisa. As vezes pensava que não deveria se
preocupar tanto. Nunca havia feito sexo com tanta frequência e sem proteção,
mas uma semana e um vacilo aqui e ali como o da noite passada não poderia
tão facilmente engravidá-la. Abriu os olhos e se encarou. Realmente esperava
que não.
Deu as costas e saiu do quarto. Quando passou a descer as escadas Tryn
apareceu carregando um bolo de pergaminhos lacrados. A elfa informou que
havia recebido aquilo durante toda a manhã, mas não queria perturbá-la pois
sabia que estava dormindo. Hermione pegou o pacote e passou a destrinchá-lo
quando se sentou rapidamente para a refeição leve do almoço. Eram todos de
Jodie. A mulher procurava por informações e perguntava muitas vezes se ela
iria a Catedral ou se poderia dispensar os mentores. No final de tudo ela enviou
que havia dispensado os mentores e que estaria na catedral aguardando por
informações.

Hermione respondeu a mulher informando que estava a caminho e que se


explicaria assim que pisasse os pés na Catedral, chamou Tryn e pediu que ela
despachasse uma das corujas mais rápidas com sua resposta, se levantou, saiu
de casa e tomou seu caminho diário entrando na cabine de sua carruagem e
esperando pelo tempo que levaria até a colossal estrutura de Lorde Voldemort.

A catedral fervia em plena atividade quando ela desceu no pátio principal


fazendo a alegria da mídia. Muitas pessoas voltavam do horário curto e livre do
almoço e Hermione tentou se camuflar no meio delas. Subiu para a sessão das
cidades e passou direto por todos os corredores sem perder tempo se
identificando. Todos ali sabiam quem ela era e aquele protocolo de identificação
sempre a irritava. Quando finalmente entrou em seu salão encontrou Jodie
fechando o pergaminho que escrevera antes de deixar sua casa.

- Bem, isso foi mais rápido do que eu imaginei. – Jodie disse erguendo os
olhos para receber Hermione.
- Jodie, eu sinto muito... – Hermione começou quase que imediatamente.

- Não. Não sente. – ela retrucou. – Sei que não sente. – colocou a carta de
Hermione sobre uma pilha de livros e se levantou dispensando a coruja ao seu
lado. – Olha, eu entendo. Não sou estúpida ao ponto de acreditar no que o
mestre quis vender a todos nós. – ela pausou e respirou fundo voltando atrás.
– Quero dizer, confesso que sempre soou bem convincente as matérias da
mídia e os discursos do mestre a seu respeito, e que depois de um tempo é até
interessante e empolgante aceitar tudo isso. Mas estar perto de você me fez
entender que tudo isso não passa de uma fachada, não é? – Hermione não
soube o que responder ao ser pega de surpresa por aquilo. Ela apenas
permaneceu imóvel enquanto o silêncio esperava pela sua fala. – Vamos,
Hermione! É apenas uma fachada, não é?

Hermione respirou fundo e não viu a necessidade de perder seu tempo


convencendo o cérebro de Jodie o contrário daquilo que ela já parecia bem
convencida.

- Eu jamais me aliaria a Voldemort se quer saber. Não por vontade própria.


– seu coração apertou por querer dizer aquilo a Harry se caso ele soubesse de
sua atual posição dentro do ciclo da morte. – Nunca. – terminou.
Os lábios finos de Jodie tremeram discretamente quanto ela os apertou.

- Então o mestre está a forçando, não é? – ela começou após alguns


segundos de silêncio. Se levantou em pausa e aproximou-se de Hermione. –
Você e Draco Malfoy nunca tiveram um romance secreto em Hogwarts,
tiveram?

- Ainda não entendo como as pessoas acreditam que alguém como Draco
Malfoy se permitiria olhar para uma Sangue-Ruim. – Hermione se limitou a
dizer.

Jodie a encarou.

- Uma história bem contada, usando as palavras certas e os arranjos


corretos tem um poder de convencimento que ultrapassa fronteiras e ganha o
coração de muita gente, Hermione. Ultrapassa até mesmo o preconceito.
Deveria ler alguns livros de romance já que se limita bastante aos didáticos.
- Continua sendo uma história louca e que não se cabe a realidade. –
apressou-se Hermione.

- Uma história muito bem contada. – recolocou Jodie. – Mas claramente é


visto agora que foi forçada a se casar com ele assim como foi forçada a se
tornar uma comensal. Me diga ao que mais foi forçada a fazer?

A pergunta que ela fez atingiu Hermione duramente. Ela desviou o olhar e
recuou.

- Cada passo que dou sinto que fui forçada a dá-lo. – disse mais para si
mesma do que para a mulher. Recobrou a postura e encarou Jodie novamente.
– Sou uma prisioneira, eu não faço nada além daquilo que me mandam fazer.

- Eu não acredito nisso.


Ela era mesmo esperta de não acreditar.

- Não tenho outra opção. – Hermione tentou convencê-la.

- Se você é a mulher da qual a resistência tinha mais orgulho então não


posso ser obrigada a acreditar que não está fazendo o seu movimento
sorrateiro dentro dos limites possíveis que encontrar. – ela respondeu ao recuo
de Hermione aproximando o passo que ela havia dado para trás. – Você é um
perigo aqui dentro. Por que o mestre a quis colocar aqui? Por que ele poupou
sua vida?

- Causei irritações demais a ele e isso fez minha morte ser uma vingança
muito fácil e rápida.

- Isso foi o que ele te disse? É uma tola por acreditar nessa desculpa.
- Esse é apenas um dos motivos. – Hermione disse embora não estivesse
nem um pouco a fim de contar que teria que dar um herdeiro a ele.

- Esse motivo não tem força o suficiente para deixar uma inimiga como
você viva dentro de uma fortaleza como essa, sentando-se num dos patamares
mais altos do trono e casada com o herdeiro da família mais poderosa e
importante da história do mundo bruxo. – Jodie terminou e elas se olharam em
silêncio por um longo minuto até que a mulher desviou o olhar e deu as costas
para se concentrar em dar uma pequena volta pelo salão enquanto Hermione
percebia que o cérebro dela fervia trabalhando rápido. – Quando Draco se
tornou um comensal o mestre tinha planos em fazer com que ele fosse seu
herdeiro. Todos esperaram pelo dia em que isso seria anunciado e por um bom
tempo Lúcio e Narcisa esnobaram esse destino, mas Draco era alguém muito
diferente naquela época. Ingênuo, esnobe, arrogante, orgulhoso, mimado e
preconceituoso. Ele não passava de uma criança sem controle e o mestre fez
questão de querer mudar isso colocando-o debaixo da autoridade de Elliot
Singh para um treinamento pesado e intensivo que fez Draco crescer e mudar
em muito pouco tempo. Mas então por motivos que eu apenas posso sugerir e
não afirmar, o mestre desistiu da idéia de torná-lo herdeiro. Todos sabemos
que ele procura por um agora. Ele quer que você dê um a ele, não é? Um seu e
de Draco. - Hermione não soube exatamente o que fazer. Lembrou de Narcisa
lhe ensinando que mesmo que estivesse sendo carregada para a forca não
poderia desfazer sua postura e tudo que foi capaz de fazer foi permanecer
intacta e firme. – Me diga. – insistiu Jodie. – Você irá dar a ele um herdeiro,
não é? Um que ele criará desde pequeno para ser exatamente como ele. Isso é
verdade?

Ela respirou, piscou mais do que deveria e disse sentindo seu coração ser
esmagado:
- Sim.

Jodie a olhou parecendo intrigada com tudo aquilo. Hermione apenas a achava
esperta demais por ligar tudo aquilo nos minutos em que estavam ali.

- Então porque ele escolheu você? – aquilo parecia realmente a consumir e


a pergunta fez Hermione se questionar o porque ela havia parado de se
questionar sobre aquilo também. – Entendo perfeitamente que Draco tenha
sido a opção mais adequada para o mestre visto que ele era o mais novo dos
comensais e de uma família de muito bom nome no passado e também consigo
entender o porque ele tenha desistido da idéia. Faz sentido visto que Draco não
se vê devoto ao mestre como se via no passado. – Hermione questionou aquilo
também. – Mas você... – ela se aproximou – Uma Sangue-Ruim. Porque ele te
quis? Por que ele escolheu você?

- Fui uma péssima inimiga e ele sabe que os planos dele me fariam sofrer
mais do que eu sofreria no inferno.

- É uma tola por acreditar nisso também. – Jodie foi dura outra vez.
- Acaso você tem o conhecimento de um motivo mais convincente? –
irritou-se ela.

- Não! Mas estamos falando sobre o herdeiro dele! Draco significa muito
dentro do ciclo do mestre e ele o rejeitou. Por que ele escolheria logo você
junto com Draco para dar a ele um herdeiro? – ela parecia realmente intrigada
com aquilo e Hermione se preocupava pois pelo pouco que conhecia a mulher,
sabia que quando ela tinha dúvidas sobre algo ela corria os quatro cantos da
terra para ter suas respostas. – Se nunca se questionou isso, saiba que está na
hora de começar, se não for esperta aqui dentro eles te engolirão, e se está
tentando encontrar uma maneira de deixar esse lugar, deve parar
imediatamente de jogar seu tempo no lixo. A marca em seu braço te liga a ele
e você nunca será capaz de se desconectar. – Hermione não entendeu o porque
a mulher havia dito aquilo, parecia uma forma muito sutil de dar um conselho.
– Peço também que se atente em enviar avisos se caso vier a se atrasar
novamente como hoje. – ela recuou e deixou de ser a mulher irreconhecível
que estava sendo desde que Hermione entrara naquela sala. – Tenho
permissão para encerrar a sessão de hoje já que liberei os mentores?

Hermione a encarou por um minuto em silêncio sem saber o que realmente


dizer de tudo aquilo.

- Sim. – foi tudo que saiu de sua boca e então observou a mulher dar as
costas e começar a recolher suas coisas. Hermione não podia negar que estava
surpresa que a única dica que havia dado a Jodie há um tempo atrás dizendo
que não estava tão contente assim pelo retorno de Draco pudesse levar a
mulher a tudo aquilo em um prazo tão curto de tempo. – Espere! – soltou
quando ela estava quase saindo do salão. – Sabe que se espalhar isso...
- Não passarão de rumores e fofocas. – ela terminou para Hermione. – Eu
não seria estúpida de desmanchar a credibilidade do meu nome em rumores e
fofocas. – ela disse. – E não apenas por isso, Hermione. Tirando o fato de ter
escolhido o lado errado da guerra para lutar, a admiro pelo empenho que tem
em tudo aquilo em que coloca as mãos, pelo conhecimento que carrega e pela
apatia a futilidade da vida feminina desse lugar. A respeito agora por ser uma
Malfoy também e pode ter certeza que isso só mudará se caso eu precise pisar
nas suas costas para não ser pisada. São as regras de sobrevivência. Todos
sabemos disso aqui. – ela disse e saiu.

Hermione soltou o ar e fechou os olhos. Teria a prova se Jodie era alguém de


confiança com o tempo mas as pessoas eram tão incertas em Brampton Fort
que sentia que para ser confundida bastava um segundo de alienação. Um
apenas.

Caminhou e sentou-se em uma das cadeiras colocando os cotovelos sobre a


mesa e cobrindo o rosto com as mãos. A vida ali era tão difícil. Encarar seu
futuro era tão difícil. Sentiu o nó novamente em sua garganta e o engoliu.
Pensou sobre as questões que Jodie havia levantando e considerou pensar
nelas mais do que em todas as outras. Julgou-se irresponsável por isso e então
lamentou por ser coisa demais para pensar e por não saber o que realmente
deveria priorizar. Tinha que encontrar uma forma de tirar Luna de Brampton
Fort, tinha que decifrar o homem com o qual dividia a cama, tinha que lidar
com sua vida de casada, tinha que descobrir o porque Voldemort havia a
escolhido, tinha que entender o porque Lúcio a queria casada com Draco, tinha
que lutar contra Voldemort naquele novo jogo que haviam começado, tinha que
estudar as milhões de coisas que seus mentores a ensinavam, tinha que
encontrar uma forma de não engravidar, tinha que descobrir o veneno em seu
sangue, tinha que se mostrar sempre impecável, tinha que entender o porque
os dementadores eram tão importantes para aquela terra, tinha que conseguir
encontrar onde Draco guardava as moedas que possuía da Liga dos
Alquimistas e mais incontáveis coisas que se ela fosse continuar sua lista sem
dúvidas enlouqueceria.

A porta foi aberta e ela refez sua postura automaticamente na cadeira. Viu
Luna entrar e antes que pudesse se sentir confortável pela presença da amiga
seu cérebro a alertou que ela era um problema a mais. Tinha que tirar Luna de
Brampton Forte o mais rápido que pudesse.

- Onde você estava? Estive procurando por você aqui desde que o dia
amanheceu! – Luna se aproximou. Hermione não podia negar que era um alívio
ver a amiga saudável entretanto. – Fui ao quartel e me informaram que Malfoy
também não colocou os pés aqui.

- Perdemos a hora. – Hermione disse cansada.

Luna sorriu se sentando a mesa junto com ela.


- Perderam a hora? – repetiu a loira interessada. – Perderam a hora
fazendo o que?

Hermione encarou o sorriso maroto de Luna e percebeu que não tinha paciência
para aquilo.

- Sim, nós fizemos sexo a noite toda e perdemos a hora dormindo, Luna. –
ela disse de uma vez.

Luna ficou um tempo em silêncio desmanchando o sorriso e absorvendo o que


havia escutado.

- Você não parece muito contente com isso. – ela disse.

Hermione curvou as sobrancelhas julgando a amiga insana. As vezes a mente


exótica de Luna ultrapassava alguns limites.
- Eu deixei o homem que eu odeio me tocar, o homem que me humilhou
durante toda a minha adolescência, o homem que estava lá quando meus pais
foram mortos, o homem que me ameaçou e ameaçou as pessoas que amo
inúmeras vezes durante essa guerra, o homem que lançou ordens para te
torturar na minha frente, Luna! Eu o deixei me tocar! – ela puxou o ar. - E
adivinha? – sentiu o nó em sua garganta - Eu gostei tanto que foi como se eu
estivesse redescobrindo como fazer sexo. Gostei tanto que nem consigo contar
as vezes em que gozei descontroladamente com ele dentro de mim! – ela
soltou com desgosto das próprias palavras. – Tenho que parecer contente com
isso?

Luna parecia um pouco atordoada com o que ouvira.

- Sexo faz as pessoas se sentirem melhor. – ela soltou.

- Sim. Faz. – concordou Hermione. – Esse é o ponto, Luna! Dentro desse


maldito inferno tudo que eu penso o dia todo é voltar para casa, para cama e
fazer sexo com Draco Malfoy a noite toda. Mas isso tem me matado aos
poucos.
- Está se julgando.

- Não seria eu se eu não estivesse. – ela soltou.

- Deve parar. – Luna a aconselhou – Draco é o seu futuro agora. No que


você pensa? Pensa em Harry?

- Penso em tudo! Penso em mim, penso em Harry, penso em tudo pelo


qual lutei toda a minha vida, penso na Ordem, penso em Rony, penso em
Draco fazendo o que ele faz comigo com as outras mulheres que ele tem, penso
em todos me julgando, penso em todas as circunstâncias, penso em ficar
grávida e... – seu coração palpitou. – Oh, Luna! – ela sentiu que desmancharia.
– Não tem nem idéia do quanto a idéia de engravidar me assusta!

- Vocês estão se protegendo? – ela perguntou.


Hermione suspirou.

- Sei que homens como Draco são ensinados sobre magias muito discretas
para evitar que moças espertas encontrem um caminho fácil para entrar para a
família, mas talvez ele não esteja usando já que o motivo pelo qual estamos
fazendo sexo é cumprir a ordem de Voldemort. Tenho tentado tomar poções de
urgência, mas tenho que esperar que ele durma antes de tomar e as vezes
estou tão cansada que acabo dormindo na espera e você sabe que essas
poções só funcionam algumas horas após o ato. – ela soltou o ar decepcionada.
– E meu estoque de poções acabou. E não posso usar minha varinha para fazer
nenhum tipo de feitiço protetor já que ele poderia ver.

Luna esticou o braço e tocou a amiga.

- Posso tentar pegar algumas poções na ala das enfermarias se quiser.


Talvez eles não venham sentir falta. – a loira tentou.

- E se eles sentirem? – Hermione abaixou os olhos. – O que vai acontecer


com você? O que aconteceria comigo? Eu encontrarei um jeito, talvez eu
compre algumas ingredientes misturados no centro, talvez eu consigo
encontrar algum feitiço que dure por bastante tempo...
- E durante esse tempo ficará desprotegida.

- E o que mais eu posso fazer, Luna? – ela se irritou e levantou os olhos


novamente para a amiga. – Não se preocupe quanto a isso. Também vou
encontrar um jeito de te tirar daqui o mais rápido possível. Sinto que aos
poucos você se tornará inútil para Voldemort e sabe bem o que ele faz com
peso morto aqui dentro, não sabe?

Luna revirou os olhos.

- Não quero falar sobre isso. – ela apressou-se. – Estive te procurando para
avisar que eles soltarão Viktor.

Não era bem uma novidade visto o andamento das sessões de interrogatório
- Draco não ficará feliz com isso. – comentou Hermione.

- Soube que ele que terá que assinar a procuração. – informou Luna. – Já
que ele quem ordenou que o prendessem.

- Talvez ele tenha sugerido isso. Manteria a paz. Viktor foi preso porque
poderia significar uma ameaça, não porque era uma. – disse Hermione. – Acha
que vão o usar como agente duplo novamente? Não faria sentido visto que a
Ordem esteve esperando por ele todo esse tempo. O que acha que
pensaríamos se depois de tudo isso e depois de todo o tempo que o prenderam
aqui ele aparecesse na casa dos Black?

- Entendi que parece que Voldemort quer afastá-lo da Ordem depois de


algumas conversas privadas que teve com Draco. Voldemort quer tratar Viktor
pessoalmente agora.
As duas ficaram em silêncio um tempo enquanto ponderavam sobre aquilo.

- Talvez as coisas melhorem para a Ordem enquanto Draco não tiver


nenhum informante dentro dela. – comentou Hermione.

- Espero que sim. – disse Luna.

O silêncio durou mais um bom tempo até Hermione finalmente voltar a dizer
algo.

- Estive pensando por um tempo. – começou ela. – Juntar todos os grupos


da resistência novamente pode ter sido a única tática que a Ordem encontrou
depois do sacrifício que fiz em vão. – disse e respirou fundo soltando o ar com
calma. - Mas penso que talvez não tenha sido realmente em vão. – as duas se
olharam. – Luna, como que a Ordem conseguiu atrair todos os dementadores?

Luna ergueu as sobrancelhas.


- Tenho feito essa pergunta desde o dia do seu casamento.

- Tenho me feito essa pergunta por muito tempo também.

Então as duas entraram novamente no silêncio enquanto desviavam da


possibilidade de começarem a levantar hipóteses esperançosas e sem
embasamento.

- Tem feito algum progresso com os arquivos que Nott lhe passou? – Luna
mudou o assunto em resposta a aquilo.

Hermione fechou os olhos frustrada soltando o ar.


- O único progresso que tenho feito é cumprir os cronogramas que Jodie
trás para mim. – olhou Luna. – Estou completamente sem tempo para olhar
aquelas pastas e sempre quando consigo um espaço para poder sentar com
elas, não consigo absorver todas aquelas informações vagas, sem fundamento,
e logo tenho que desviar minha atenção para outra coisa.

- Hermione, sabe que é isso que Voldemort queria te oferecendo esse


cargo. Te manter muito ocupada.

- Eu sei! – Hermione sabia daquele maldito jogo. – Eu ainda preciso


aprender a como lidar com isso. As coisas estão se tornando mais estáveis com
o passar dos dias e acho que vou conseguir mais domínio sobre o meu tempo e
sobre essa nova vida num futuro bem próximo. – tentou convencer a si mesma
daquilo.

- Espero que sim. – tornou a dizer Luna. – É importante saber o que mais a
lenda dessas terras escondem.

Hermione uniu as sobrancelhas ao escutar aquilo.


- Lenda? – questionou. Espere um minutos! O que ela havia deixado passar
que não sabia? – Que lenda? – conseguiu se lembrar de Luna dizendo uma vez
que Voldemort era louco de plantar o forte dele logo nas terras de Brampton.

- Não sabe da história da família Brampton? – Luna parecia surpresa com


aquilo. – Como não sabe da história da família Brampton? Todo mundo sabe da
história deles.

- Não, Luna! Não sei. E talvez metade do mundo bruxo também não saiba.
– porque ela havia aprendido que algumas histórias apenas Luna e o pai dela
conheciam no mundo bruxo.

- Os Brampton eram uma das grandes famílias bruxas num desses séculos
passados bem antigos. – começou Luna empolgada. – Dizem que eles eram
donos de quase toda a metade da Escócia e produziam o melhor Whisky de
Fogo do mundo bruxo. Mas por algum motivo econômico eles começaram a cair
em decadência, perderam tudo, mas nunca venderam suas terras. Elas foram
tomadas pelo Ministério Bruxo na caça as bruxas mais tarde na história e
retidas por ele não passando a ninguém por algum motivo muito secreto. Sei
que todos que carregavam o sobrenome Brampton foram queimados na
fogueira na caça as bruxas e todos eles amaldiçoaram suas terras antes de
serem queimadas.
Hermione achou uma história muito breve e confusa.

- O Ministério ainda tem o poder dessas terras? – perguntou ela.

Luna deu de ombros.

- Não sei. – respondeu ela. – Talvez as pastas de Nott digam algo sobre
isso, não? Sei que com o passar dos anos eles foram obrigados a liberarem
algumas por pressão trouxa com a união dos países do Reino Unido. Mas todos
sabem sobre as terras amaldiçoadas da família Brampton. Lembro que meu pai
costumava dizer que trouxas moravam numa das penínsulas que antes havia
pertencido a eles e se falavam sobre rumores de que era a cidade mais
assombrada da Escócia.

Hermione achou tudo aquilo muito vago. Com certeza aquela história não
passava de contos para roda de criança e que foi se perdendo com o passar dos
anos. As histórias de Luna nunca eram muito confiáveis, mas sempre tinham
um ponto a provar.
- Acho que posso trabalhar com isso, Luna. – forçou um sorriso para a
amiga. – Obrigada.

Luna se levantou.

- Certo. – ela parecia contente por ter ajudado em algo – Vou tentar me
aproximar da cela de Krum hoje a noite já que sei que todos vão estar muito
entretidos com essa tal cerimônia de inverno ou seja lá o que ela for. –
Hermione percebeu que ela não parecia muito feliz por não poder participar.

- Fará muito bem. – sorriu Hermione.

A loira assentiu, foi embora e assim que ela saiu Hermione imediatamente
soltou o ar sentindo a pressão da responsabilidade que tinha sobre Luna. Era
necessário tirá-la de lá o mais rápido possível senão Voldemort a mataria assim
que tivesse a oportunidade. Ele não iria transformá-la em comensal, nem
deixaria ela morar em Brampton Fort sem nenhuma pretensão de usá-la ainda
mais com ela desfrutando de todo conforto quando deveria estar no escuro das
masmorras passando frio e fome.
Isso era uma das outras coisas na qual deveria estar trabalhando dia e noite.
Céus, ela se sentia mais atarefada agora do que quando estava na Ordem.
Fechou os olhos, respirou fundo e começou a contar em sussurros até sentir
que sua mente estava vazia. Abriu os olhos e tentou se concentrar no presente
e no ambiente onde estava. Abaixou os olhos para a mesa e viu algumas pastas
e pergaminhos que Jodie havia deixado. Os manuseou e se permitiu ficar ali por
algumas horas reordenando os conteúdos para a semana seguinte de modo a
não perderem o cronograma devido ao seu atraso de hoje. Quando finalmente
olhou no relógio se assustou e se levantou num pulo. Céus! Ela poderia entrar
em um grande problema por outro atraso.

Organizou as pastas com pressa, as fechou e as juntou num canto da mesa


para o dia seguinte. Apertou o passo enquanto cruzava a catedral e então
tomou sua carruagem num pátio reservado onde disse ao cocheiro para ir o
mais rápido que pudesse.

O caminho para casa não ajudava muito e assim que parou de frente a
mansão, subiu os degraus da varanda com pressa, passou para dentro de se
desculpou pelo atraso no mínimo umas cinco vezes para a consultora que
Narcisa havia indicado para escolher sua roupa da noite. Ambas subiram para o
closet e passaram alguns bons minutos ali onde a mulher tratava de dar uma
aula completa a Hermione que desejava urgentemente que ela fosse embora ou
teria que enfrentar os olhares de Draco por estar atrasada.
Assim que finalmente se viu livre da mulher, tirou a roupa, tomou um banho
rápido e chamou Tryn para tratar de seu cabelo e também de sua maquiagem.
Quando a elfa terminou e deixou o lugar Draco apareceu atando o nó de sua
gravata. Hermione se lembrou de que ele tinha treino aquele dia e havia
começado a se arrumar dentro do Q.G da catedral.

- Ainda não está pronta? – perguntou ele parando e a encarando não muito
contente com o que via.

- Ainda não são exatamente nove horas. – ela respondeu colocando os


sapatos.

Hermione se livrou do roupão que vestia e percebeu os olhos de Draco sobre


ela enquanto dava as costas, pegava o vestido que havia sido escolhido e o
vestia. Se olhou no espelho antes de pegar a varinha para fechar a roupa e
encontrou os olhos cinzas dele a encarando as suas costas como se pudesse
devorá-la e fazê-la atingir seu ápice apenas com aquilo.

O silêncio entre eles os consumiu como sempre quando ele se aproximou por
trás, postou as mãos uma de cada lado seu quadril e a puxou para colar nele.
Hermione se lembrou de como as mãos dele conseguiam ser firmes explorando
seu corpo e piscou mais do que deveria quando ele abaixou a boca para
próximo de seu ouvido enquanto ainda mantinham contato visual pelo espelho.
- Nós não temos tempo. – ela tratou de lembrá-lo também se lamentando
por isso.

Ele abriu um sorriso safado como se quisesse chamá-la de ingênua.

- Não aqui. – respondeu e uma de suas mãos a cercou pela cintura como
suporte para a outra que subiu o zíper de seu vestido. – Esperarei por você do
lado de fora. – informou ele, a soltou, se afastou pegando o casaco de seu
terno e saindo do closet enquanto o vestia.

Hermione soltou o ar e fechou os olhos colocando as mãos sobre o estômago


como se tentasse acalmar as milhões de borboletas que brincavam com as
sensações dela. Abriu os olhos e puxou o ar se olhando no espelho. Ele é Draco
Malfoy e você o odeia, sua mente a lembrou e ela se sentiu grata por aquilo.
Ela não precisava ir muito longe para se lembrar que o odiava, ela não
precisava nem mesmo fazer muito esforço. Por mais em momentos como
aquele sua memória inteira se apagasse, ao fim de tudo ela precisava de
apenas uma das milhões de lembranças da passagem de Draco Malfoy em sua
vida para se lembrar que tinha motivos de sobra para odiá-lo.
Revirou os olhos se julgando fraca por cair nos encantos nojentos de um
homem sem caráter e deu as costas ao espelho hesitando na escolha do
perfume que deveria usar novamente. Brigou consigo mesma por não ter
deixado a mulher escolher o perfume que deveria usar, olhou a hora e chutou
um dos caríssimos que havia em seu estoque.

Colocou as jóias que deveria, pegou seus pertences e desceu com pressa
olhando todos os relógios, das paredes, dos armários e dos móveis, entrou na
carruagem e encontrou Draco a encarando. Sentou-se no banco oposto ao dele
como sempre faziam e soltou o ar aliviada por saber que não iria ouvir o
enjoativo tom que ele tinha para reclamar de atrasos.

- Dia ruim? – perguntou ele enquanto dava duas batidas na cabine


informando ao cocheira para seguir caminho.

Ela ergueu os olhos para encará-lo e guardou para si a surpresa pela pergunta.

- Como sabe? – perguntou.


- Está com a mesma expressão de todos os dias. – ele respondeu e ela
estreitou os olhos.

- Não tente me irritar. – ela apenas disse e desviou o olhar. Ele aparentava
ter tido um bom treino, ela já havia notado que ele costumava agir assim
quando tinha bons treinos.

Olhou pela janela enquanto deixavam o pátio e passavam pelo portão de saída
da residência de Draco. Observou a noite por um bom tempo e lamentou pelo
inverno. A estação fria nunca havia sido sua preferida. Voltou-se para o interior
da cabine e encontrou os olhos de Draco ainda sobre ela. Merlin, ele a
devorava! Ela queria entender como ele conseguia a seduzir sem ter a menor
intenção. Talvez nem ele mesmo percebesse o poder de todo o seu potencial.

- Eu não me importo realmente com o seu dia, mas... – ele olhou para o
relógio em seu punho e então fechou as janelas. – Temos quinze minutos e
nenhum tempo para pensar. – terminou como se estivesse comentando sobre o
tempo e ela soube exatamente o que ele estava sugerindo, e Deus do céu, se
ele dissesse aquilo mais uma vez com aquele olhar ela podia jurar que perderia
a cabeça. – Eu disse que não temos tempo para pensar. – ele tornou a dizer
quando ela hesitou.
Ela sempre hesitava. Claro que hesitava. Era aquela voz que chegaria em sua
mente depois que tudo aquilo terminasse e ela visse o homem que ele
realmente era. Olhos nos olhos, tudo que conseguiu pensar foi que no meio de
tudo aquilo, Brampton Fort e ela prisioneira, merecia pela menos alguns
segundos de anestesia de toda dor que passava. Mesmo que ele fosse Draco
Malfoy.

Ela apenas precisou mover um músculo indicando que estava se movendo para
perto que ele usou de seus surpreendentes movimentos para trazê-la muito
mais rápido para seu colo.

- Não rasgue meu vestido! – brigou ela.

- Não deixe seu sangue-ruim fazer você esquecer que é uma bruxa! –
provocou ele e ela sentiu a fúria subir pelo seu sangue. Draco abriu um sorriso
sabendo que era exatamente aquilo que ele queria e quando ela brigou para
sair de cima dele, ele a agarrou pelo pescoço e a beijou.

Ela lutou, tentou se afastar mas ele seguiu a boca dela e a prendeu fazendo
seus corpos entrarem ainda mais em contato. O calor dele fez as borboletas
aparecerem em seu estômago novamente e enquanto tentava cravar as unhas
contra os braços dele como vingança sentiu aquela língua invadir a sua com
toda a agilidade que ele tinha. Foi tarde demais para que ela pudesse se apoiar
na cabine para sair de cima dele. Tentou se vingar enquanto o beijava, tentou
morder seus lábios, tentou dominar a situação, tentou se afastar, mas os lábios
dele eram lindos e macios demais para ser estragado por ela, ele era
dominador demais para ceder a ela e aquele beijo era bom demais para que ela
juntasse forças para acabá-lo.

Foi somente quando realmente aceitou que já era tarde demais para negar
aquilo que ela desceu as mãos para o meio das calças dele e passou
ousadamente os dedos ali. Ele se afastou minimamente para puxar o ar e olhar
nos olhos dela que ainda estava furiosa.

- Poderia matá-lo por aquilo que disse. – ela ofegou enchendo sua mão
entre as pernas dele o apertando ameaçadoramente.

Ele sorriu com os lábios vermelhos e inchados.

- Adoraria a ver tentando, mas podemos guardar isso para quando


estivermos com mais tempo. – disse e tornou a beijá-la. Hermione se sentiu ser
devorada por ele e passou mais uma vez a mão sobre ele, enchendo-a
novamente e a apertando com menos cuidado. Draco soltou um gemido
desgostoso e afastou-se. – Tome cuidado com aquilo que tem em mãos,
Hermione! – ele soltou aborrecido e o tom dele a fez se sentir melhor. Pelo
menos ele não estava com aquele sorriso superior no rosto.
- Então freie sua língua da próxima vez que for soltar provocações, Draco!
– ela jogou o alerta e foi suficiente. Quem o beijou dessa vez foi ela e quem
pareceu não gostar da reação foi ele.

Aquela mínima vitória a fez sentir que podia continuar aquilo com muito mais
vontade. Começou a sentir o membro dele ganhando vida debaixo de tecido de
sua calça e do movimento sutil de sua mão ali. Juntou as duas mãos, afrouxou
a gravata dele e abriu os botões de sua camisa enquanto ele se livrava do
casaco do terno. Desceu novamente sua mão e o tocou sobre o tecido. Desatou
o cinto da calça e abriu o zíper, mas antes que pudesse colocar sua mão para o
lado de dentro para realmente tocá-lo, Draco usou de sua força e agilidade
mais uma vez levantando-a e a girando dentro daquela cabine que de repente
havia se tornado mais minúscula do que parecia.

Ela foi obrigada a colocar os joelhos contra o assento para se apoiar e segurou
os fundo da cabine para manter a distância entre seu rosto. Ela odiou aquela
posição, mas logo esqueceu o desconforto quando ele, por trás, separou suas
pernas, colocou uma mão por dentro da fenda de seu vestido, subiu os dedos
pela sua coxa e os deslizou para dentro de sua calcinha. Os movimento que ele
começou ali a fez prender a respiração inicialmente, contendo-se para não
soltar nenhum som. A outra mão dele empurrou o zíper do vestido que usava
para baixo e ela deixou as alças escorrerem pelo seu braço até se verem livre
deles. Draco encheu a mão com um seio dela, e intensificou os movimentos lá
embaixo. Ela começou a ofegar em resposta.
Sentiu a boca dele em seu ombro, a língua quente em sua pele, a respiração
abafada, mas não conseguia entender o que ele realmente fazia ali quando
colocava pressão. Ele estava a entretendo tão bem com o movimento dos
dedos em outro lugar que sua respiração acelerava cada vez mais e seu corpo
começava a se agoniar com a urgência que ele estava provocando. Deus! Ela
não conseguia entender como ficava tão molhada daquele jeito.

Seus dedos não conseguiram enterrar na madeira da cabine e ela levou uma
das mãos aos cabelos dele e os puxou começando a soltar gemidos longos nos
intervalos de sua respiração rápida. Seu corpo se contorceu e ela largou os
cabelos loiros e desceu a mão para tocar a dele que trabalhava intensamente lá
embaixo pedindo para que não parasse. Quando achou que já não aguentaria
mais, ele a soltou e ela quis protestar e espancá-lo por aquilo.

Draco tratou de se exibir novamente mostrando o quanto podia movê-la e


dominá-la quando a girou colocando-a de frente novamente. Hermione tentou
se aproveitar cercando suas pernas ao redor dele forçando-o a se sentar para
que ela pudesse estar sobre ele novamente, mas Draco facilmente encontrou o
apoio de sua mão para isso, a puxou e então ela se viu deitada sobre o banco.

- Já te dei liberdade demais noite passada. – ele disse e ela se enfureceu


por saber que ele achava que era o rei de tudo aquilo.

Mas antes mesmo que pudesse retrucar qualquer coisa ele deslizou para dentro
dela sem pressa, como se quisesse a torturar, e então ela se viu perder o
compasso de toda a sua respiração se perguntando quando foi que ele havia
ficado tão duro sem que ela percebesse. Gemeu sentindo o quão fundo ele
estava indo e curvou as costas apertando o estofado do banco e empurrando a
parede da cabine acima de sua cabeça.

- A quem está tentando convencer de que... – ela teve que gemer quando
ele começou a se movimentar - ...tem algum domínio sobre mim... – soluçou e
ofegou sentindo como era fácil para ele deslizar para dentro e para fora -
...quando fazemos sexo? – ele aumentou o ritmo, mas ainda parecia estar sem
pressa e apenas aproveitando o prazer que sua área molhada e quente o
proporcionava. – Nós dois sabemos que não é assim que funciona e Oh! – ela
soltou um gemido longo de protestou. – Deus, Draco! Por que está indo tão
devagar?

Ele apenas sorriu e ela colocou o salto sobre o outro banco para buscar apoio, o
cercou com a outra perna e ergueu seu quadril começando um movimento
muito mais ágil que o dele. Não se importou que estivesse por baixo. Fez seu
quadril ir contra o dele inúmeras vezes rebolando e estimulando sua área mais
sensível. Draco tomou seu tempo para descer até o pescoço dela, a lamber,
seguir para seu seio e usar a boca para brincar com ele enquanto cravava os
dedos no macio de sua nádega em sinal de que aprovava qualquer movimento
dela.

O sôfrego dele aumentava cada vez mais e os ruídos que escapavam de sua
garganta eram roucos e muito prazerosos de se ouvir. Hermione sentia que
estava em um estágio muito mais avançado que o dele quando tentava conter
seus gemidos e não era capaz. Seu corpo inteiro ardia em uma agonia
imensamente prazerosa e intensificar seus movimentos parecia o caminho mais
rápido para o alívio. Draco subiu e tomou sua boca fazendo suas línguas
brincarem mais uma vez. Ele segurou o quadril dela soltando um som urgente,
a pressionou contra o banco e estocou dentro dela com rapidez.
Hermione sorriu sabendo que era aquilo que precisava e sentiu que não estava
muito longe de atingir o seu ápice. Draco parecia trabalhar para que o dele
também não estivesse. Ela ergueu o tronco apoiando-se no banco com uma
mão e segurando os cabelos da nuca dele com a outra. Ambos trocaram
olhares com o peito subindo e descendo em compassos exagerados e fora do
ritmo. Hermione tinha a respiração tão pesada que cada vez que soltava o ar
emitia um som. Não tinha controle sobre isso e todas as vezes que tentava ter
acabava segurando a respiração e não podia manter por muito tempo.

Draco parou quando ela sentiu que estava prestes a gozar, ele pressionou seu
quadril contra o dela e eles se mexeram limitadamente quando Hermione
tentou continuar por ela mesma estreitando os olhos irritada para ele.

- Não pare, pelo amor de Deus! – suplicou ela puxando o cabelo dele.

Ele soltou um riso fraco.


- Calma, Hermione. Não seja tão desesperada. Ainda temos alguns minutos
a mais. – ele soltou de uma maneira tão sexy que Hermione achou que pudesse
virar manteiga ali dentro daquela carruagem.

Ele começou novamente mais devagar segurando os quadril dela para impedir
que ela tomasse alguma iniciativa. Hermione julgou aquilo tortura. Se
contorceu pendendo a cabeça para trás gemendo em protesto e perdendo o
contato visual com ele.

- Você é doente! – ela soluçou tentando fazer seus quadris se moverem


contra as mãos pesadas dele. Sua mente estava tão fora de sua consciência
que talvez nem ela soubesse o que estava dizendo. – Vou te fazer pagar por
isso!

Ele riu com vontade dessa vez.

- Mal posso esperar por isso também. – disse e voltou a estocar forte como
se também não estivesse aguentando manter aquele ritmo.
Ela gemeu alto e tornou a olhá-lo nos olhos. Seus sons se misturaram um sobre
o outro acompanhando o ritmo ao qual iam. As investidas dele estavam tão
suficientes para ela que não bastou muito e ela sentiu todo o corpo formigar,
perdeu o controle sobre a respiração, tentou puxar o ar e não conseguiu. Sua
boca aberta tentou soltar o som que não veio pela garganta e então seu corpo
sofreu o primeiro espasmo quando seus músculos todos se contraíram e
relaxaram de uma vez. Ela pendeu a cabeça para trás, sua garganta emitiu um
som gostoso e ela tentou puxar o ar pela boca novamente mas não conseguiu.
Seu corpo sofreu outro espasmo e ela sentiu que toda aquela agonia
encontrava o fim mais delicioso de todos. Olhou-o nos olhos e foi no seu
terceiro e último espasmo que ele soltou o som de seu clímax e jogou seus
líquidos dentro dela.

Hermione deitou mole sobre o assento e deixou seu pulmão puxar o oxigênio
que precisava. Por que aquilo tinha sempre que chegar ao fim? Ela desejou
estar em casa com ele na cama para poderem se recuperar, se olharem
novamente e começarem tudo de novo. Porque era assim quase todas as noites
e ela precisava sentir aquela dormência em sua dor. Precisava daquela
anestesia. Precisava esquecer de tudo e aquilo a fazia esquecer.

- Seja rápida agora. Temos poucos minutos. – ele disse saindo de dentro
dela.

Ela se viu obrigada a sentar. Estava toda bagunçada. Colocou os braços para
dentro das alças do vestido e alongou as costas subindo o zíper novamente.
Abriu a janela e usou a varinha para colocar no lugar os cabelos, repintar a
maquiagem e limpar-se. Desceu a fenda de seu vestido para o lugar certo,
ajeitou sua roupa de baixo e quando encarou Draco ele estava apertando a
gravata novamente e terminando de colocar o terno. Seus olhos se
encontraram e o silêncio os consumiu como nas muitas noites anteriores. O
vento gelado entrou pela janela que ela havia aberto e soprou entre eles
quando a carruagem diminuiu a velocidade e parou.

- O que está preparada para ver hoje a noite? – ele quebrou o silêncio
entre aquela troca de olhar.

Hermione ponderou por alguns segundos a resposta que deveria dar enquanto
conseguia escutar o cocheiro descer de seu posto e a agitação do lado de fora.

- Uma grande festa? – sugeriu ela. – Não faria sentido nos vestirmos assim
para outra coisa que não fosse uma festa ou um baile.

Draco a encarou por um tempo com um olhar indecifrável.


- Não se esqueça que nós chamamos isso de cerimônia. – ele terminou e a
porta foi aberta. – Pronta? – ele apontou para o lado de fora indicando que ela
deveria sair primeiro.

Hermione assentiu, passou o longo tecido de pele pelos braços cobrindo suas
costas, sentiu os pelos fazerem cócegas em sua pele, respirou fundo e saiu
para o banho de flashes no tapete vermelho que se estendia do lado de fora.
Seria uma noite difícil e certamente entediante. Mas talvez, quem sabe,
interessante.

Capítulo 13

Hermione Malfoy
- Por que rejeita todos os pedidos de entrevista? – alguém gritou ao fundo
da multidão por trás dos flashes e penas que sobrevoavam rabiscando tudo
aquilo que se era falado em blocos de pergaminhos.

- Tenho uma agenda muito apertada devido ao meu novo posto dentro da
Sessão da Cidade, e também não creio que eu tenha uma vida tão interessante
ao ponto de ficar repetindo respostas para as mesmas perguntas na frequência
das propostas que recebo. – ela respondeu e antes mesmo que terminasse os
flashes a cegaram mais uma vez e um turbilhão de perguntas soou de uma vez.

- Aceitaria uma única edição especial do Diário do Imperador em sua


homenagem então? – foi a pergunta que conseguiu captar e se surpreendeu
por terem usado a palavra homenagem quando sabia que ela não passava de
uma Sangue-Ruim traidora e prisioneira. Merlim, o que será que a mídia havia
enfiado dentro das cabeças do povo de Brampton Fort?

- Uma única entrevista para uma revista mensal e conhecida me satisfaria


nesse caso. Não é necessário nenhuma edição especial, obrigada. – ela
terminou.
- Por que pegou um cargo na Sessão da Cidade quando nenhuma outra
Sra. Malfoy se prestaria a se envolver no mundo trabalhista? – ela conseguiu
captar aquela pergunta no meio de todas as outras.

- Gosto de me sentir útil. – respondeu.

- Nos diga algo sobre como tem sido seus primeiros meses de casada! – ela
conseguiu ouvir aquilo umas duas ou três vezes.

- Tem sido bastante agradável. – Draco respondeu por ela aparecendo por
trás e cercando sua cintura. Os flashes a cegaram mais uma vez. – Temos
aproveitado como nenhum outro casal na história. – a falsa simpatia de Draco
era clara para ela que sabia que não estavam aproveitando como o resto da
cidade achava que estavam. – Agora se nos dão licença, precisamos entrar. –
ele apontou o caminho para Hermione e tocou suas costas informando para ela
ir a frente.

- Quando pretendem ter herdeiros? – começaram a gritar.


- O mais rápido possível. – Draco respondeu por último, sorriu, pediu
licença mais uma vez e deu as costas a bancada de jornalistas.

- Isso é horrível. – Hermione disse assim que deram passos o suficiente


para se verem livre da multidão de perguntas.

- Se saiu bem. – ele disse ainda com a mão em suas costas a guiando por
trás. – Não ande tão rápido. – ele usava um tom como se estivessem
conversando sobre algo interessante. – Aqui, a esquerda. – disse ele e
Hermione virou a cabeça para encontrar os pais de Pansy Parkinson.

- O que? – não entendeu quando tomaram a direção deles. – Por que não
entramos logo?

- Não se foge do tapete vermelho, Hermione. – começou ele. – Deve se


mostrar confortável estando nele e ponha um sorriso no rosto agora. – ela
quase podia vê-lo praguejando - Por que parou de tomar lições com minha
mãe?
- Não tenho tempo para isso. – ela respondeu se aborrecendo.

- Sr. e Sra. Parkinson. – Draco chamou a atenção deles e Hermione se viu


abrindo um sorriso falsamente amigável junto com o marido.

O casal se voltou para eles com aquele ar de glória contida. A Sra. Parkinson
abriu um sorriso imediato para Draco porém Hermione notou que o Sr.
Parkinson assumiu uma postura neutra como se estivesse tentando esconder
qualquer desgosto.

- Draco! – a mulher sorriu. – Que ousadia sua vir até nós! – ela disse e
Hermione se surpreendeu pelas palavras duras saindo do sorriso caloroso que
estava em seus lábios.

- Sabe que devemos manter as aparências diante da mídia. – ele falou. –


Ainda mais porque ambos sabem que meu casamento foi uma vontade do
mestre e ele não ficaria muito feliz de saber do ainda permanente desagrado de
vocês. – ele disse passando o braço ao redor da cintura de Hermione.
- Claro que não ficaria. – disse a Sra. Parkinson sorrindo aquele sorriso tão
falso para Hermione e estendendo sua mão a ela. Hermione a aceitou e a
mulher se aproximou para lhe dar dois cuidadosos beijos educados, um de cada
lado de seu rosto. – Nosso claro descontentamento tem sido tratado em
particular com o mestre, agradeço a preocupação.

- O seu pai pensa demais na política. Um infortúnio que nos levou a essa
situação. – o Sr. Parkinson se manifestou.

- Ele é um homem do Estado, nada mais faz do que o trabalho dele. – disse
Draco.

- Não acredito que tenha sido exatamente por ser um homem do Estado
que ele tenha proposto esse casamento. – jogou o Homem.

Draco soltou um riso como se tivesse escutado algo realmente engraçado.


- Vou fingir que não escutei o que quer que esteja sugerindo ao dizer isso,
Sr. Parkinson. – ele disse. – Espero que tenham um excelente inverno.

Hermione o acompanhou quando ele deixou o casal e seguiu finalmente para a


entrada.

- Me deixa surpresa o ver defendendo seu pai. Pensei que o odiasse. – ela
se viu comentar.

- Podemos ter nossos desacordos dentro da família, Hermione, mas no fim


de tudo carregamos o mesmo sobrenome e devemos nos defender dos ataques
de fora. – ele foi claro.

Seguiram em silêncio parando apenas para cumprimentar algumas figuras que


encontrou no caminho. No final do tapete vermelho, tiveram que posar juntou
para uma série de fotógrafos amontoados bem ao saguão da entrada da
Catedral. Não demorou muito e lá eles estavam entrando no glorioso átrio do
salão principal. Havia orquestra e todos conversavam muito educadamente uns
com os outros entre o mar de mesas espalhados ao pé dos patamares do trono
ao fundo.

Eles foram recebidos com uma empolgação nauseante enquanto passavam


pelas mesas. Draco engatava em tantos assuntos entediantes que ela
simplesmente o deixou assim que viu a oportunidade e seguiu sozinha para a
mesa onde sentariam durante o banquete.

- Não sente na mesa. – Narcisa apareceu alertando quando ela puxou a


cadeira que indicava seu nome.

Hermione não entendeu.

- Por que? – perguntou.

Narcisa quase revirou os olhos.


- Porque nós não queremos que você pareça uma antissocial no meio do
maior encontro de comensais do ano! – ela disse. – Vamos, ponha seu casaco
de pele sobre a cadeira e me siga. – ela ordenou.

Hermione não gostou do tom que ela havia usado, mas com relutância tirou seu
adorno de peles, colocou-o sobre a cadeira e seguiu a mulher.

- Com quem espera que eu interaja em um salão cheio de comensais? – ela


soltou – Esse lugar inteiro me odeia.

- Se tivesse ajudado Pansy na preparação da festa de apresentação da


Srta. Nott, com certeza teria assunto com metade das filhas da elite de
comensais desse lugar, mas obviamente você nunca é capaz de seguir aquilo
que dizemos que é melhor para você.

- Parkinson é outra que sempre me odiou, eu não perderia meu tempo me


atirando nas garras dela para que ela pudesse brincar livremente comigo. Além
do mais, não tenho o dom de ser útil em preparações de festas, principalmente
quando se está envolvido grandes quantidades de futilidade e dinheiro. Não
posso ficar nesse lugar sem sentir o peso de todos esses sorrisos falsos
voltados para mim!
Narcisa suspirou.

- Hermione, as vezes acho que você gosta de se fazer de burra para


compensar um pouco a sua extrema inteligência. – ela logo tratou de dizer. –
Pare de se diminuir porque está em um salão lotado de comensais. Sim, todos
aqui te odeiam e te invejam, é uma Malfoy! É muito superior a eles. Imponha-
se! Nada do que fizerem pode te atingir, você será lembrada na história, eles
são apenas coadjuvantes.

Hermione a olhou e percebeu o muro que Narcisa havia construído para se


sustentar presente em cada palavra da mulher.

- Deveria parar de se esconder atrás do sobrenome que tem. – Hermione


soube que não deveria terminar ali – Nós vivemos apenas uma vez. Um legado
na história não é nada comparado a uma vida miserável.

Narcisa abriu a boca para retrucar, mas foi interrompida por Draco.
- Hermione, quer algo para beber? – ele perguntou seriamente.

- Não. Estou bem por enquanto. – ela respondeu.

Por um momento ela pensou, surpresa, que ele estava sendo educado, mas
então ele a encarou profundamente com aquele olhar de General do exército de
Voldemort e quase sibilou:

- Sim, você quer algo para beber. – ele foi duro. – Me diga o que quer ou
trarei qualquer coisa.

- Ele é seu marido, Hermione. – Narcisa começou – Deve te agradar em


público ou as pessoas farão comentários de que ele não cuida daquilo que o
pertence.
Hermione não conseguia nem medir o quanto ela desprezava saber que
estavam sempre tentando fazer com que ela se lembrasse que era dominada e
nunca dominadora. Pulou seus olhos de Narcisa para Draco e foi obrigada a
engoliu seu olhar de desgosto.

- Não me traga nada muito forte. – foi tudo que disse sobre a questão da
bebida. Segurou seu braço com delicadeza, mas tratou de cravar as unhas nele.
Aproximou-se do corpo do homem, alongou a coluna e forçou os pés para
alcançar o rosto dele e começou numa voz suave, baixa e melodiosa – Nunca
mais me olhe e fale comigo como se eu fosse um dos seus soltados, querido,
ou farei com que saibam que a mulher que possui tem prazer em enfeitar sua
linda cabeça.

Draco soltou um riso achando aquilo realmente divertido. Ele a segurou pelo
queixo olhando fundo em seus olhos e respondeu usando a mesma voz mansa
e baixa:

- Eu duvido que seria capaz.


E Hermione também duvidava que seria, mas mesmo sabendo quem era como
pessoa, não conseguia medir até onde sua consciência se manteria sã quando
se dizia respeito a travar uma vingança contra Draco Malfoy.

Sentiu a boca dele se fechar contra a sua, havia frieza e desprezo naquele
beijo. Se soltaram e trocaram faíscas pelo olhar novamente antes de Draco se
voltar para a mãe e lhe dar atenção. Hermione o observou quando ele
simplesmente tocou os cabelos da mãe, tomou sua mão e lhe beijou os nós dos
dedos. Ele perguntou se ela precisava de algo e quando ouviu uma resposta
negativa perguntou pelo pai. Narcisa apontou para um lado do salão e o
informou que seu pai discutia politica com um grupo significativo de comensais.
Draco então anunciou que logo voltaria e deixou as duas sem sequer tornar a
olhar para Hermione.

- Belo show o de vocês dois. – Narcisa comentou.

Deveria ver como fazemos sexo, pensou Hermione.

- Tentamos conviver da melhor forma possível. – ela disse desejando ter


álcool nas mãos para ocupar sua boca naquele momento.
- Vocês dois vão se engolir em orgulho. – Narcisa comentou. – Espero que
estejam trabalhando com assiduidade pelo menos. O mestre a quer grávida
antes mesmo do fim do ano.

Voldemort nunca havia dito sobre aquele prazo para ela, mas Hermione não
duvidava que a pressa fosse tamanha.

- Não se preocupe quanto a isso. – disse e engoliu a saliva. – Se precisa ter


certeza de algo é que realmente prezo pelo bem estar de Luna aqui.

Narcisa riu.

- Hermione... – proferiu seu nome como se estivesse tentando mostrar a


ela de que não precisava bancar a ingênua. – Você está fazendo sexo com o
meu filho, sei que em algum ponto da intimidade de vocês, sua mente não fica
pensando na constante ameaça em cima da sua amiguinha.
Hermione com certeza teria engasgado se estivesse com algo na boca naquele
momento, cerrou os olhos para Narcisa não acreditando que até mesmo ela
conseguia alimentar o ego de Draco com aquele discurso.

- Não há nada de tão especial assim no seu filho, se quer saber. – ela
tratou de dizer. – É apenas sexo e no final de tudo estamos apenas cumprindo
ordens. E realmente esse não é um assunto muito confortável para se discutir
aqui agora.

- Claro que não é. – Narcisa disse sorrindo e claramente abandonou o


assunto apenas para não atiçar o desconforto de Hermione. – Apenas
continuem fazendo o serviço. – elas andaram alguns passos enquanto Narcisa
tratava de trocar os objetivos da conversa. – Não se esqueça também de que
deve elogiar Pansy e Bellatrix pela maravilhosa organização da cerimônia de
hoje. Deve elogiar a bela decoração e o excelente trabalho.

Hermione ergueu as sobrancelhas surpresa.

- Não acredita realmente que eu irei fazer isso, não é? – riu ela.
Narcisa suspirou impaciente.

- Elas saberão que não estará sendo verdadeira, Hermione! Se não agir
como se tivesse uma máscara começarão a achar seu comportamento muito
estranho aqui! Será que depois de todo esse tempo ainda não aprendeu isso? –
ela jogou.

Hermione sentiu uma mão em suas costas antes de retrucar para a mulher e se
voltou para trás para encontrar Draco chegando e lhe oferecendo uma taça de
champagne enquanto carregava uma de whisky.

- Não fique só com a minha mãe a festa inteira. – ele disse quando ela
pegou a taça da mão dele. Draco então voltou-se para a mãe e pediu para que
fosse informado quando seu pai trocasse de círculo de conversa.

Ele as deixou e Hermione o acompanhou com o olhar até quando ele foi parado
por dois homens de seu departamento. Voltou-se para Narcisa e a encontrou a
observando.
- Olha para ele como se estivesse cheia de dúvidas. – ela comentou e
talvez tivesse razão.

Hermione tomou um gole de seu champagne e o encarou mais uma vez usando
sua máscara de simpatia para se adequar ao ambiente da festa. Ele não era
assim, aquele sorriso não era dele, todo aquele ar não era nada parecido com
ele. Ela não sabia quem ele realmente era, mas tinha absoluta certeza de que
aquele ali não era ele.

- Ele gosta de ser um mistério. – disse mais para si mesmo do que para
Narcisa quando tornou a olhá-la.

- Ele definitivamente gosta. – concordou Narcisa e então passaram a andar.


– Fui interrogada pelos repórteres no tapete vermelho sobre você mais do que
qualquer outra coisa. – ela trocou o assunto.

- Eu deveria achar isso bom? – questionou Hermione.


- Sinta-se livre para achar o que quiser. – disse a mulher. – Apenas preciso
que pare de se esconder da mídia. Deve dar uma entrevista a eles, participar
de algum programa, soltar notas, deve fazer algo. O povo quer te conhecer e
você precisa mostrar algo a eles.

- O que? – ela riu e então elas começaram a andar. – Você sabe que não
seria nada interessante que elas me conhecessem realmente.

- Não acho. – concordou ela. – Mas saiba que agora é uma figura pública e
depois de toda a história inventada para a sua aceitação em Brampton Fort, as
pessoas querem saber quem é a nova integrante da família Malfoy e a nova
princesa do mestre. Você precisa ser alguém para eles. Alguém para se mostrar
nos jornais e nas revistas. Não percebeu que qualquer informativo que solte
uma insignificante notícia sobre você hoje em dia vende como água no deserto?
Precisa se impor sobre a mídia e mostrar a eles algum lado seu, nem que tenha
que inventar uma personalidade para mostrar. Se continuar se escondendo
deles, eles tornarão sua vida uma bagunça lançando fofocas e inventando
informações para conseguirem um lugar no mercado. Deve se importar sua
imagem aqui, com aquilo que falam sobre você, com aquilo que inventam sobre
você. É importante deixar com que as pessoas te conheçam sutilmente. Conte
alguns de seus maiores desejos, compartilhe pensamentos, mostre estilos de
vida, deixem que saibam de seus gostos. Muita gente pode te amar e acredite,
Hermione, se ganhar as pessoas terá muito poder e o seu nome na mídia agora
é um salto para que isso aconteça. Não desperdice suas oportunidades.
Hermione ponderou sobre aquilo por um longo minuto e como se houvessem
reinventado a luz, de repente, tudo aquilo fez muito sentido. Olhou a mulher ao
seu lado e se perguntou o por que para Narcisa era importante que ela
soubesse disso. Porque já havia estado tempo demais em Brampton Fort para
perceber que por trás das palavras de cada pessoa sempre havia um toque de
interesse.

- Por que quer que eu ganhe as pessoas? – perguntou.

Narcisa parou e a olhou.

- Quer poder não quer, Hermione? – ela jogou.

- Perguntei por que você quer que eu ganha as pessoas? – ela foi mais
específica.

Narcisa sorriu.
- Sei que é esperta para chegar a resposta dessa pergunta. – Hermione
ergueu as sobrancelhas ao escutar aquilo. – Mas agora apenas me siga.

Não houve tempo para que Hermione pudesse se manifestar quanto aquilo da
forma como queria. Queria espremer a mulher em perguntas mesmo que
soubesse que sempre teria respostas vagas como aquela que ela havia dado.
Teve o pressentimento de que todo aquele discurso fazia parte de algo muito
maior, algo que uma sessão de perguntas não ajudariam realmente.

Narcisa as introduziu num círculo de mulheres interessantes que para a


surpresa de Hermione, se agradaram com a sua presença. Muita coisa havia
mudado desde que ela ganhara o sobrenome Malfoy. Sentia que as pessoas a
agradavam por interesse quando antes apenas a desprezavam por ser quem
realmente era. Hermione se viu vestir a mesma máscara de Draco quando
sentiu-se obrigada a ser recíproca a toda aquela falsidade.

Enquanto tediosamente a conversa se arrastava por distrações no forte até a


segurança que tinham da guerra, Hermione manteve-se calada o máximo
possível fazendo comentários esporádicos apenas para não se excluir. Foi
interrogada algumas vezes sobre como era viver do lado de fora das muralhas
e ela se limitou a responder que era uma vida difícil, mas que sempre teve a
proteção de Draco de uma maneira sutil o que arrancou suspiros de algumas
senhoras de família e o olhar invejoso das moças na roda.
Cansada de se esforçar para acompanhar a conversa, ela simplesmente se
desligou e passou os olhos pelo salão de onde estava. Encontrou Jodie em uma
conversa particular com uma das secretárias da Sessão da Cidade num dos
cantos próximo as mesas de distribuição de bebidas. Pensou que talvez poderia
ir até ela e então continuou seu tuor reconhecendo muitos rostos que estiveram
presentes em seu casamento. Parou quando encontrou Draco e Pansy em uma
conversa divertida ao meio do salão.

Ela não queria que isso tivesse acontecido, mas sentiu uma fisgada em seu
peito e teve que puxar o ar fundo enquanto via que Draco falava com
naturalidade como se tivesse assunto sobrando. Sabia que o homem nunca
falaria assim com ela, mesmo que fossem marido e mulher. Ele também nunca
olharia para ela do jeito que olhava para Pansy, como se não tivesse nada a
esconder, sem receios, sem desprezo. Hermione soltou o ar e tomou de um vez
o resto da bebida em seu copo.

Tentou se concentrar novamente no seu grupo de conversa e teve muita


dificuldade para pescar tudo aquilo que havia perdido. Quando finalmente
achou que poderia voltar a se manifestar, Narcisa aproximou-se dela com
cuidado e pediu para que ela entregasse o recado a Draco de que seu pai havia
trocado de grupo.

Hermione pediu licença, deixou as mulheres e respirou fundo puxando sua


coragem grifinoriana para se infiltrar entre Pansy e Draco. Alinhou a coluna e
perdeu a conta das vezes que repetiu mentalmente que agora era uma Malfoy
para poder conseguir encarar Pansy sem se sentir ameaçada.

O olhar da mulher de cabelos longos e negros notou na aproximação de


Hermione e comentou isso com Draco mudando todas as suas feições para o
desprezo, o que fez ambos a encararem quando estava a apenas alguns passos
dos dois.

- Sinto muito interromper. – ela escolheu para dizer quando finalmente


chegou até eles.

- Aposto que não sente, Sangue-Ruim, mas farei com que realmente sinta.
– Pansy parecia se sentir feliz por poder alfinetá-la.

- Pansy... – Draco pronunciou o nome dela como se estivesse a alertando


para frear a língua, mas não parecia menos contente que ela pela intenção do
trabalho dela em desmerecer a presença de Hermione entre eles.
- Vim a mando de sua mãe. – disse a Draco. – Ela pediu para que eu o
informasse de que seu pai deixou o grupo do qual estava já que você está
muito ocupado para prestar atenção nisso. – foi seca – Dá próxima vez,
mantenha os olhos naquilo que te interessa ou invés de encontrar alguém para
assumir o papel de sua secretária quando não está no seu departamento.

Pansy riu alto e com gosto.

- Quanto tempo precisou para treinar esse discurso, Sangue-Ruim? – ela


perguntou.

Hermione voltou-se para Pansy e ignorou todo aquela ar esnobe que ela
possuía. Não valia a pena bater boca com aquela mulher, ela não estava ao seu
nível como assim diria Narcisa Malfoy. Tratou-se de lembrar que ocupava o
lugar que ela desejava e que estava muito acima dela porque o status que
tinha poderia colocá-la debaixo de seus sapatos facilmente. Isso poderia soar
tão esnobe quanto a pose da mulher a sua frente, mas não importava, era o
que manteria Hermione de pé naquele momento. Imaginou-se dez degraus
acima da mulher, puxou o ar e disse:

- Fez um ótimo trabalho na organização do salão. – foi séria e soube que


Pansy deveria se sentir honrada de receber aquelas palavras de uma Malfoy. –
Tem os meus parabéns.
Pansy ergueu as sobrancelhas surpresa, riu e tomou um gole de sua bebida.

- Quero ver dizer isso a Bella também. – ela disse.

Draco achou graça e soltou um riso que fez Hermione sentir que despencara
dos seus dez degraus. Lembrou-se de que deveria manter a postura mesmo
que o mundo desmoronasse ao seu lado e assim o fez.

- Vejo que ainda se prendem aos costumes de Hogwarts onde tirar sarro de
uma Sangue-Ruim parece bem divertido. – ela começou e tentou não
expressão nenhum tipo de emoção. – Mas veja só o que o destino nos
reservou, não é? Você preso a mim para o resto da vida. – disse encarando
Draco. – E você desejando estar no meu lugar. – disse voltando-se para Pansy.
– Realmente algo que não esperávamos. – fingiu um forçado desapontamento.
– Deve ser mesmo difícil lidar com isso para vocês dois. Deixarei que desfrutem
um pouco do passado as minhas custas. – abriu um sorriso falso para Pansy e
desviou seu olhar para Draco. Não havia mais sorriso no rosto deles agora.
Ergueu a taça em sua mão. – Querido, minha taça está vazia. – a estendeu
para ele que a pegou. Hermione quase podia ouvir o rosnado dele. – Seja
rápido, por favor. – deu as costas, sorriu, puxou o ar e se afastou tomando
caminho para chegar a Jodie se sentindo muito Malfoy de seu próprio jeito.
Draco Malfoy

Ela era absolutamente irritante. Pansy havia dito aquilo umas cinquenta vezes
depois que Hermione havia os deixado e ele não poderia deixar de concordar
mais com a mulher. Parecia um pesadelo tê-la de volta, como se estivessem
em Hogwarts vendo aquela mãozinha ridícula se levantando toda vez que uma
pergunta era feita dentro de sala de aula. Ele queria estrangulá-la por aquele
discurso patético que dera, mas ao contrário disso, foi obrigado a pedir que um
dos elfos fosse até ela servir mais um copo de champagne.

Tentou ignorá-la e não se sentiu muito melhor por tomar a direção de seu pai.
O encontrou do outro lado do salão sendo interrogado pelo insistente supervisor
dos portos da Oceania. Se intrometeu entre eles e pediu licença educadamente
ao homem para se afastar com o pai.

- O que diabos foi aquilo em cima da minha mesa ontem?! – Draco


começou com uma voz baixa e descontente. – Será que você poderia pelo
menos ser mais discreto? Aquilo passou pela mão da minha secretaria.
- Tive que arriscar. – justificou o pai. – Sinto muito, mas não podia me dar
ao luxo de adiar isso.

- O que quer? – vociferou Draco. – Espero que não tenha escondido nada
tão grave por muito tempo.

Lúcio suspirou, mapeou a área ao redor deles e abaixou o tom de voz para
tornar a encarar Draco e dizer:

- Desde o ataque da Ordem ao departamento de mistérios, onde conseguiu


pegar suas duas prisioneiras, tenho me dedicado a supervisionar mais a fundo
os danos causados por eles por minha conta já que as inspeções soltaram o
laudo de que tudo estava em seu devido lugar...

- Vá direito ao ponto! Não me agrada estar aqui de pé com você, portanto


não me enrole. – foi duro.
- O arco do véu não é o original. – disse de uma vez. – Nem mesmo o véu.
Foi substituído não tem muito tempo e não há nenhum registro sobre a troca.

Draco precisou de um tempo para processar e absorver aquilo.

- A Ordem é responsável por isso? – perguntou.

- Não estou sugerindo sobre os responsáveis. – respondeu Lúcio. – Não sei


quem foi, sei apenas que não é o original e que não há nenhum registro sobre o
desaparecimento do original. Sondei vagamente com alguns Inomináveis e eles
não fazem sequer idéia de que a coisa foi trocada!

- Contou isso a alguém? – perguntou.


- Apenas a você. – respondeu seu pai.

Eles passaram um minuto de silêncio como se pudessem conseguir pensar em


algo.

- Alguém o roubou. – declarou Draco.

- Acha que pode ter sido a Ordem?

- Grandes chances. – disse. – Sei que Hermione quis chamar a atenção


para a Sala Circular durante o ataque na tentativa de recuperar a amiguinha,
ela nos atraiu até ali, ela nos manteve ali, ela se permitiu ficar vulnerável para
nós e nós caímos na dela porque ela era valiosa demais e pensávamos que ela
realmente valia mais a pena do que qualquer tentativa arriscada da Ordem
dentro do Departamento de Mistérios. O tempo que ela nos teve ali foi o tempo
que a Ordem precisava para fazer a troca?
- Eu nunca ouvi dizer que pudesse ser possível remover o arco do véu. –
disse o pai. – Eu não sei o porque a Ordem iria querer algo como o véu da
morte. Há algum poder nele que se desconheça?

Lúcio deu de ombros.

- Se há, é conhecido apenas por Inomináveis. – ele disse – O que importa é


que temos apenas um mês. O ano irá acabar e a inspeção passará novamente
em todo o Ministério para confirmar se todas as magias estão em perfeita
harmonia e funcionamento. Eu não tenho idéia da camuflagem que se foi
colocado no véu atual, mas por ser uma inspeção que vai para o registro anual
acho muito difícil que se passe batido. – Lúcio parecia preocupado ao dizer
aquilo.

- Alguém sabe que andou rondando o Departamento de Mistérios desde o


ultimo ataque da Ordem?

- Alguns Inomináveis. – disse o pai. – Tenho compartilhado dos meus


receios quanto aos danos causados pelo último ataque mesmo depois que o
laudo da inspeção nos indicou de que estava tudo em seu devido lugar.
- Esconda que descobriu qualquer coisa sobre a Sala do Véu e peça que
reforcem a nova inspeção para o registo anual. Conte sobre seus receios antes
de começarem. Assim saberão que esteve preocupado em tentar fazer com que
algo fosse descoberto quando todos souberem que o véu não é o verdadeiro.
Trabalharei no que posso enquanto ainda ninguém sabe de nada.

Lúcio assentiu.

- E você evite motivos para se encontrar com o mestre. Sabe que ainda
tem problemas para esvaziar a mente na presença dele. – alertou o pai.

- Sei enganar melhor do que você. – irritou-se Draco.

- Não vamos começar com isso. – Lúcio revirou os olhos. – Sei que sabe o
que deve fazer. – ele disse e bateu no ombro do filho. – Aproveite que tem um
membro da Ordem dormindo com você todas as noites e a explore. Cuide bem
dela. Hermione pode ser a chave para nossa liberdade se isso tudo der certo.
Draco quase rosnou ao ver o pai terminar aquilo e o abandonar voltando para o
supervisor dos portos do forte da Oceania. Achava patético como Lúcio Malfoy
gostava de se sentir esperto. Ele não passava de um Primeiro Ministro de
fachada que provava das regalias da paz e tranquilidade que Draco lutava para
manter no meio daquela guerra todos os dias. Deu as costas e tomou qualquer
caminho parando apenas para trocar seu copo de whisky por um cheio e
gelado.

- Hei. – Theodoro anunciou sua chegada numa voz divertida.

- Hei. – Draco repetiu sem a mesma animação parando para poder encará-
lo.

- Como vai o general da fortaleza do mestre? – brincou ele. – Quem


planeja levar para casa esse noite?
Draco se permitiu soltar um riso sem força e sem graça ao perceber a
implicância do outro.

- Minha esposa. – respondeu e ocupou sua boca com whisky.

- Não acredito! – riu Theodoro. – Ainda não encontrou um bom lugar para
levar suas amantes, Sr. Malfoy?

- Não ando tendo ânimo para amantes. Não ainda. – disse.

Theodoro ergueu as sobrancelhas surpreso.

- Me diga que a nossa sabe-tudo de Hogwarts tem suprido bem as


necessidades do meu bom amigo. – sugeriu ele.
Draco o olhou bem nos olhos e antes mesmo que pudesse pensar, um sorriso
surgiu na lateral de sua boca. Abaixou os olhos para seu copo, tomou um gole e
conseguiu fazer seus olhos alcançarem Hermione do outro lado do salão
conversando com Jodie e mais um homem.

- Ela me deixa exausta. – disse Draco sabendo que era importante que
Theodoro tivesse aquele tipo de informação devido as suas sérias suspeitas de
que ele havia aberto a boca para o mestre sobre sua antiga relutância em levar
Hermione para cama.

Mas era uma verdade muito irritante saber que Hermione o deixava, sem
dúvidas, exausto. Ele nunca havia perdido a hora para acordar, nunca dormira
tão profundamente nem nunca se sentira tão cansado como nos últimos dias ao
ponto de se permitir dormir como fazia quando criança. Ele comprara a guerra
que começara com Hermione na cama e aquilo estava lhe tomando muito das
forças, mas o excitava! Ah, como o excitava!

- Estou esperando que me diga como ela é? – Theodoro começou naquela


tom safado e canalha que tinha quando discutiam sobre mulheres.
- Ela é minha mulher, Theodoro! – ele o lembrou – Não está mesmo
esperando que eu vá contar sobre ela a você como fazemos com qualquer outra
mulher, não é? Como se eu estivesse fazendo uma avaliação se ela é ou não
um bom prato. Hermione não está no menu. Ela é minha. E sei que tipo de
pessoa é! Não tenho a intenção de atiçar em você nenhum desejo que te leve a
ela.

- Havia me esquecido sobre o poder do seu instinto possessivo. – brincou


Theodoro. O homem sabia lhe dar muito bem com Draco, haviam sido longos
anos de convivência para que ele entendesse que estava abaixo de Draco
independente do quão bem nascido era e da fortuna de sua família. – Apenas
havia me acostumado com o modo com o qual discutimos sobre mulheres
desde Hogwarts.

Draco foi capaz de sorrir ao se lembrar de como eram abertos em relação a


mulheres, até mesmo Astoria tivera o prazer de ser desejada por Theodoro por
um longo período de tempo até Draco dispensá-la e enfim liberá-la para o
amigo. E ela havia sido bem uma puta se oferecendo para Theodoro na mesma
semana em que Draco havia a colocado para correr. Mulheres tinham formas
estranhas de se vingar. Ele apenas ria. Não se importava com o homem que ela
quisesse se deitar, sabia que ela sempre desejaria que fosse ele.

- Hermione não está no cardápio para as nossas discussões. – ele decretou.


– Temos um status permanente, eu e ela, e isso a tira de qualquer uma das
nossas discussões porque ela nunca estará livre para você. – e tomou um gole
de sua bebida.
- Isso é algo que eu não ouviria facilmente há alguns meses atrás. – disse
o outro. – Até onde sei a trouxe para Brampton Fort porque a queria morta.

- E continuo a querendo morta. – refrescou a memória do outro. – Acha


que quero estar preso a mesma mulher para o resto da vida? Francamente,
Theodoro! Me conhece, vamos pular todo esse seu interesse em me questionar
sobre Hermione ou me fará acreditar que foi pago para isso. – jogou baixo e
olhou nos olhos do amigo para ver sua reação, observou quando as pupilas dele
dilataram e o canto dos lábios tremeu antes de abrir um sorriso. Aquilo bastou
para Draco. Ele havia sido comprado por alguém e esse alguém muito
possivelmente não passava de Voldemort.

- Sabe que atiça muito mais minha curiosidade quando faz todo esse
mistério. – ele disse mantendo seu ar divertido e inabalável de antes. Draco
sorriu tomando um gole de sua bebida. Se ele realmente havia sido comprado
contra Draco, a oferta que ele tinha em mãos era, no mínimo, muito valiosa
para que ele quisesse sair da sombra de proteção de alguém que carregava o
status de Draco. – Até porque depois de tudo que te ouvi dizer agora posso
apenas presumir que está louco por ela na cama.

Ele foi pego de surpresa por aquilo e percebeu que os poderes de dedução do
amigo iam além do que Draco poderia apostar. Por um curto segundo ele reviu
tudo que havia dito e se viu encarando o erro de suas próprias palavras. O que
ele queria esconder com tudo aquilo, afinal? Theodoro não precisava ser
nenhum profissional na arte da dedução para chegar a conclusão que havia
chegado. Draco pensou que o melhor caminho seria negar e se ele realmente
quisesse negar, sabia exatamente o que fazer e o que dizer, porque havia
aprendido a manipular e a enganar como ninguém. Mas ele não havia se
tornado alguém inteligente para dar mais uma mancada além do que já havia
dado sendo possessivo o suficiente para fazer com que Theodoro apostasse na
sua desconfiança. Riu descontraidamente para o amigo e tomou mais um curto
gole de seu whisky.

- Me ofende esse seu tiro cego. Se esqueceu que ela é a Sangue-Ruim de


Hogwarts? – ela começou a usar o mesmo tom divertido de Theodoro.

- Tive que dá-lo. – Theodoro pareceu se agradar por não receber um


comentário aborrecido do amigo. – Não pode me negar informações, Draco!
Estive bem ao seu lado durante todos os anos em que o nome Hermione
Granger vinha sempre seguido de uma maldição. Agora que a leva para cama e
a chama de minha mulher, tenho todo o direito de julgar que só pode estar
louco por ela.

Draco riu embora não quisesse. Ele jamais, repetindo: jamais, seria louco por
Hermione. Sempre soaria como uma ofensa se alguém repetisse aquilo. Além
do mais, ele era Draco Malfoy, jamais seria louco por uma mulher, elas que
sempre seriam por ele.

- Se quer tanto saber, - não podia negar a um amigo traidor o direito de


algumas palavras que ele poderia sussurrar no ouvido de Voldemort. – temos
feito sexo. – limpou a garganta, desviou o olhar e começou a caminhar – Com
frequência. – completou. E sim, ela tem me deixado louco. – Se lembra do
sexto ano em Hogwarts? De quando pensávamos que éramos reis e que
absolutamente toda a garota existente no mundo nos desejava? – Theodoro riu
com aquilo. – De quando de repente todas elas haviam perdido a graça por
esperarem que nós as satisfizéssemos como nenhum outro homem havia feito
ou que um dia faria com elas. Quando todas de repente nos olhavam e
esperavam que tomássemos todas as iniciativas enquanto gemiam de prazer.
Quando tudo que elas faziam eram apenas se oferecer e torcer para que as
quiséssemos. – ambos riram. – Foi naquela época que me lembro que disse
que tudo que eu realmente queria era algo diferente, algo desafiador, algo novo
e que parecesse realmente interessante.

- Me lembro bem. – riu Theodoro – Foi quando começou a namorar Astoria


Greengrass.

- Sim, aquilo foi algo interessante. – ele disse sabendo que não era
exatamente naquele ponto que ele queria chegar. – E novo, sem dúvida.
Perdeu a graça com o tempo, como tudo sempre perde. – pausou – Mas me
manteve entretido por alguns meses e é disso que estou falando. – retomou a
linha daquilo que importava – Hermione é algo tão único que tem me
interessado o suficiente para me deixar irritado.

Theodoro riu.

- Acaso ela tem uma habilidade da qual desconhecemos? – perguntou o


homem.
Draco deixou-se pensar naquela pergunta e abriu um sorriso inconsciente por
saber a resposta. Esperava que Voldemort ficasse também feliz por ouvir
aquilo.

- Não. – respondeu encostando-se numa pilastra e deixando seus olhos se


fixarem sobre a figura de Hermione ainda na companhia de Jodie – Nunca fiz
sexo como faço com ela. – começou – E sei que o sexo que ela faz comigo
também não é o mesmo que ela faria com qualquer outro homem.

Theodoro pareceu confuso com aquilo.

- Por que? – perguntou.

- Porque nos odiamos. – disse voltando a encarar o amigo a sua frente que
franziu o cenho ainda confuso.
- Não deve ser assim tão diferente. – ele disse.

- É desafiador. – ele disse animado – O sabor da vitória sempre quando ela


grita de prazer é indescritível. Sei que ela se odeia por isso. Sei que sempre
quando acabamos ela deseja chorar por saber que adora que eu a faça gozar
vezes seguidas. Ela é diferente, Theodoro, de qualquer outra. Ela é muito
diferente. Foi a única que já conseguiu me domar na cama, me enganar e me
fazer gostar daquilo que eu não queria fazer. – aquilo fez o homem a sua frente
erguer as sobrancelhas surpresas – Ela se empenha muito e na maioria das
vezes eu venço, mas devo dizer que também é prazeroso quando ela vence. É
diferente porque geralmente, as mulheres que levo para cama querem apenas
fazer prova daquilo que ouviram sobre Draco Malfoy. Hermione me odeia e toda
vez que fazemos sexo é uma guerra muito deliciosa.

Eles ficaram alguns segundos em silêncio antes de Theodoro se manifestar:

- Sabe que vai enjoar disso, eu te conheço.


- Sei que vou. – concordou. – Mas por agora tem sido interessante, novo e
muito prazeroso. Tem dias que tenho vontade de deixar o Q.G, subir até o a
Sessão da Cidade e arrastá-la para alguma sala vazia, mas sei que isso não
seria nós. Gosto da intenção que temos, de como funcionamos, de como nos
aproximamos por obrigação e acabamos fazendo juntos a peça mais única das
artes. É realmente uma pena saber que não vai demorar muito para eu me
cansar disso, não é fácil encontrar distrações como essa no meio do mundo ao
qual vivemos, com toda essa guerra e todas essas incertezas que nos rondam
todos os dias.

Theodoro deu de ombros.

- Estamos melhor do que a Ordem pelo menos. – disse o homem e Draco


sorriu em resposta tendo que concordar. – O problema que terá que enfrentar
com ela é quando se cansar de tudo isso e as coisas voltarem ao normal.

- Hermione é insuportável por natureza. Por agora vou adiando pensar


nesses problemas futuros enquanto posso fazê-la calar a boca de uma maneira
que me faz até gostar dela por alguns minutos. – ambos tiveram que se voltar
para a movimentação de um lado do salão quando a música parou. – Esse é o
meu chamado. – disse Draco apontando para os patamares do trono quando
Voldemort apareceu subindo para sua majestosa cadeira acompanhado de sua
tia Bella. Deu as costas para Theodoro e deixou sua bebida em cima da bandeja
de qualquer elfo que passou por ele enquanto cruzava o salão. – Me siga agora.
– disse a Hermione assim que chegou até ela que parecia um pouco confusa.
- O que está havendo? – ela perguntou o seguindo e olhando envolta do
salão para ver todos tomando seus lugares nas mesas e nos gabinetes ao redor
acima das galerias mantendo-se de pé.

- Eu disse a você que eles chamavam isso de cerimônia. – a lembrou. – Me


dê sua mão. – ordenou assim que chegaram aos pés dos patamares. Hermione
obedeceu e ele a guiou subindo até o espaço reservado a eles dois logo ao lado
de Voldemort, um degrau abaixo. Não havia cadeiras para eles daquela vez. O
salão inteiro caiu em um silêncio mortal e ele pode quase sentir o cheiro das
expectativas de Hermione ao seu lado. Ela se mostrava da forma como uma
Malfoy deveria se mostrar, mas ele bem sabia que muito provavelmente
nadava em um lago de curiosidade e receio.

- Não esperava que fossemos subir nos patamares do trono hoje. – ela
sussurrou para ele.

- Cale-se, o mestre vai falar. – foi tudo que ele respondeu e foi logo depois
que ele completou sua ordem que a voz de Voldemort soou clara por todo o
salão.

Ele começou saudando a todos e muito educadamente agradeceu a presença de


cada chegando até mesmo a citar alguns nomes importantes vindos de outros
fortes e que ocupavam os camarotes. Draco sabia bem que aquele não era o
Voldemort que ele realmente era. Aquela pessoa que ele se fingia ser em
público era a sua máscara política, seu disfarce de imperador consciente e
preocupado com seu povo, seus peões, seus servos. As vezes Draco não sabia
se achava irritante ou engraçado quando ele se vestia daquela figura eloquente,
traiçoeira e enganosa.

A sua frente ele encarou o povo enganado pelo grande imperador das trevas
enquanto o mesmo trazia a tona todo um discurso sobre os maravilhosos feitos
do ano que estava chegando ao fim. Draco ouviu seu nome ser citado umas
duas ou três vezes em créditos a segurança das muralhas, a estabilidade da
guerra e a dedicação em seus serviços. Notou que Voldemort procurava
introduzir ao povo uma história seguida de seu nome que o colocava agora
como um homem de família que continuaria o imenso legado dos Malfoy. Foi
nessa linha de raciocínio que ele seguiu para o nome de Hermione que foi
engrandecida pela beleza impecável e pela inteligência assustadora. Somente
alguém como ela tinha peso o suficiente para assumir o sobrenome Malfoy, ele
terminou. Draco quis fazer uma careta de desgosto. Ele sabia bem o quanto ela
desmerecia aquele sobrenome.

Voldemort seguiu para as bem feitorias do Ministério em prol de sua ditadura e


de disseminar suas ordens mundo a fora. O nome de Lúcio não ficou de fora e
sim, o Primeiro Ministro da Magia teve suas honrarias vindas do mestre. Narcisa
Malfoy foi merecedora de algumas simbólicas e quase despercebidas palavras
afetivas. A sequencia de seu discurso seguiu para os departamentos dentro da
Catedral e de seus regentes. Não demorou muito para que então ele começasse
a bajular seus protegidos, o povo de Brampton Fort, a elite que ali estava
presente, e aqueles que faziam da cidade um excelente lugar para se viver. Por
último ele destinou alguns longos minutos para usar de exemplo a devoção de
Bellatrix a toda sua plateia. Usando muitos bem as palavras para um grande
final tratou de encerrar sua fala, abriu os braços em silêncio e todos souberam
que o grande momento estava chegando.
- Tudo que tem que fazer é passar o pulso com a marca na frente do seu
rosto. – Draco sussurrou para Hermione.

Ela pareceu confusa por um segundo.

- Agora? – perguntou ela no mesmo tom que ele.

Draco esperou que as luzes do salão diminuíssem a intensidade para


responder:

- Agora. – foi tudo que disse e então passou o próprio punho da marca de
frente ao seu rosto para vestir sua máscara de comensal. Hermione o imitara
ao seu lado.

No mesmo instante as capas no chão levantaram-se e Draco passou os braços


por ela a vestindo. Antes de colocar seu capuz encarou Hermione que havia
feito o mesmo que ele com sua capa. Ela o olhou. O mestre havia dado a ela
uma bela mascará.

- Por favor, me diga que isso não será apavorante. – disse ela com um
receio muito aparente em sua voz.

Ele não respondeu aquilo, apenas colocou o capuz e disse:

- Vire-se. – ordenou a ela e se virou. Hermione fez o mesmo e então eles


encararam o fundo do salão. A colossal parede e seu gigantesco vitral
assustador geométrico desenhado com a marca negra estava lá na frente deles
como todo inicio de inverno sempre estava. Ele começou a se desfazer de uma
forma mecânica e simétrica e sincronizada enquanto a parede se dividia ao
meio e pedra sobre medra se movia para fazer cada parte se arrastar para um
lado e quando o frio do lado de fora os cortou enquanto as paredes se moviam
Draco sentiu Nagini se arrastar entre seus pés, passando por Hermione ao seu
lado e continuando a subir até chegar a Voldemort e se enroscar nos seus pés.
Ele quase conseguia sentir a respiração ofegante de Hermione ao seu lado. – O
que quer que venha a ver aqui agora, - ele começou – não irá reagir de forma
alguma, não irá dizer nada, não irá sequer mover qualquer músculo. Assista
calada assim como aprendeu a fazer nas audiências abertas.

Ela não respondeu nada, não estava assustada, ele sabia, mas parecia ter
medo daquilo que poderia acontecer. O campo aberto a frente deles se mostrou
como todo ano se mostrava. Ali era o outro lado da muralha, amplo, deserto,
vazio e que se perdia no horizonte. Naquele noite, como de costume, os
Dementadores demarcavam o limite O chão de terra enlameada e seca estava
abaixo deles.

- O que é isso? – perguntou Hermione num sussurro.

- Nós chamar de Arena. – ele respondeu.

Os patamares do trono começaram a se mover para baixo e ele viu o chão


enlameado se aproximar. Quando eles pararam ainda a alguns metros do nível
da arena Draco desviou o olhar para o lado, encontrando sua mãe e seu pai
vestidos em suas capas e com suas máscaras no patamar abaixo dele. As
pessoas acima deles passavam para as laterais de modo a conseguir uma maior
visão da arena e logo que todos tomaram seus lugares uma luz forte veio do
interior da nave do salão, passou por eles e iluminou o centro do chão
lamacento metros abaixo deles.

- Que o show comece. – Draco foi capaz de ouvir Voldemort dizer num tom
pessoal e maníaco. Aquele era um dia feliz demais para ele.
O chão do meio da arena se abriu num quadrado vazio, dele e aos poucos um
corpo emergiu preso a correntes. Quando o prisioneiro ergueu a cabeça e se
mostrou a reação de Hermione foi exatamente a que Draco havia previsto.

- Viktor?! – ela soou realmente surpresa. – Viktor Krum?

- Calada, Hermione. – Draco foi ríspido.

- O que ele está fazendo ali? Por que ele está preso? Ele havia sido solto! –
ela lançou de uma vez.

- Ele é um peso morto. Mesmo que tenha sido inocentado depois de todas
as mentiras bem contadas que nos disse, a Ordem não o aceitaria de volta
depois de toda a ausência que teve e ele sabe muito sobre o ciclo na morte
para ser solto por aí. Sempre soubemos que ele jogava o próprio jogo. Viktor
nunca esteve realmente de um lado nessa guerra e nós dois sabemos o fim de
gente que escolhe ser neutro. Voldemort quer a alma dele. Krum é jovem,
forte, tem personalidade marcante, é dotado de inteligência e tem bastante
conhecimento em magia. Um aperitivo precioso para o mestre. Agora, calada!
Faça mais um barulho e a farei pagar por ele! – findou Draco.
E ela aparentava estar surpresa o suficiente para não ter voz para emitir mais
nenhum som.

- Viktor Krum. – a voz de Voldemort ecoou pelo ar, alta e poderosa. – Que
você sirva de exemplo para muitos. – Draco sabia que o exemplo era para ele.

- Você cairá, Voldemort! – a voz de Krum soou igualmente forte. – Draco e


Hermione juntos foi o seu maior erro!

Aquilo soou intrigante para os ouvidos de Draco.

- Por que? – riu Voldemort. – Porque sempre a quis? – a risada insana de


Bellatrix varreu o ar. – Não quero mais o ouvir falar! O que estamos
esperando?
Bastaram aquelas palavras de Voldemort e nos segundos seguintes mortalhas-
vivas pularam do chão e se arrastaram impiedosamente contra a figura do
homem acorrentado. Em desespero Krum correu para longe das criaturas, mas
foi inevitável visto que a corrente que o prendia não era tão longa.

As Mortalhas-Vivas dançaram sincronizadas, pulando por cima dele e sendo


muito educadas ao dar cada uma em um momento diferente a dose de seu
veneno para o homem que gritava e tentava lutar contra as bestas finas,
negras e perigosas. O show foi um entretenimento e tanto para todos que até
se divertiam com a forma como Viktor ainda tentava lutar contra elas e
conseguia êxito em algumas tentativas, mas o veneno o retardou como
previsto e logo ele não já tinha mais forças para ser tão esperto quanto
poderia.

- Ele vai morrer! – Hermione exclamou ofegante ao seu lado.

Draco não respondeu nada a isso, contanto que ela não se movesse estava
tudo bem. Ouve um uivo pela multidão de comensais se divertindo com o show
quando Krum consegui rolar e se esquivar de dois ataques durante o quase fim
de sua consciência.
Mas logo uma das criaturas se enrolou no seu pescoço. Krum se debateu no
chão tentando fazer a criatura o soltar. As outras o devoraram injetando nele
mais do veneno. Alguns longos minutos de agonia se passaram e então Viktor
Krum era apenas um corpo mole e sem consciência no chão enlameado da
arena. Voldemort desceu até lá quando a projeção de uma escada se fez saindo
de seu trono. As Mortalhas todas fugiram com a chegada do mestre.

Um Dementador saiu de seu posto assim como o esperado, sobrevoou a arena


e parou ao lado do corpo de Viktor Krum. Voldemort se pôs bem a frente deles.
Esperaram que a morte tomasse o homem e no segundo em que ela a fez o
Dementador não hesitou em sugar toda a sua alma antes que ela se dissipasse.
Assim que ele estava bem alimentado Voldemort enfiou com toda brutalidade
uma de suas mãos dentro do capuz da criatura. O som de seu guincho era
sempre estridente ao ponto de fazer Draco querer tapar os ouvidos.

Voldemort passou a sugar toda a magia da criatura pegando a alma recém


engolida. As veias no braço que o ligava ao ser maligno estavam
perturbadoramente mais visíveis do que o comum e aquilo sempre corroía
Draco em gastura. O processo era longo e agoniante. O Dementador guinchava
horrivelmente e Voldemort parecia sempre se deleitar em prazer embora Draco
soubesse que aquele tipo de magia era bem doloroso.

No fim seu mestre puxou o braço de volta e tudo que restou do Dementador foi
seu manto negro esfarrapado caindo sobre o corpo sem vida de Viktor Krum.
Voldemort abriu os braços olhou para o céu e gritou uma maldição conhecida.
Assim a marca negra surgiu em meio as nuvens. Ele bateu as mãos acima da
cabeça e sumiu voltando a reaparecer em seu trono.
Aquilo era um alimento para Voldemort e seguindo aquilo ele se manteria
eterno. Homens e mulheres fortes, belos, inteligentes e dotados de muito
conhecimento sempre seriem os pratos prediletos de seu mestre e todo inverno
aquele ritual servia para acrescentar anos a mais em sua longevidade, mas não
apenas para aquilo, servia também como alerta a todos. A escolha de seu prato
principal todo inverno era muito meticulosa e a daquele ano Draco tinha plena
certeza de que era uma lição exclusiva para ele.

Hermione podia estar estática e sem se mover ao seu lado muito


provavelmente horrorizada pelo que havia visto. Ele não se importava nem um
pouco, na verdade, quando os patamares voltaram a se mover para cima
tomando seu lugar original, a única coisa que se passava pela sua cabeça era
exatamente aquilo que Voldemort queria que estivesse se passando: Tente ser
esperto e você será o próximo.

Capítulo 14

Theodoro Nott
Já havia fechado seu departamento, mas ele gostava de ficar até tarde em sua
sala. Gostava de encher seu copo com gelo e algum conhaque caro. Gostava de
colocar os pés em cima de sua mesa e gostava de ligar o rádio num volume
baixo e em alguma estação que passassem músicas que o fazia se lembrar do
pai em sua infância, quando ele o ensinava a montar aviões com cola e depois
os fazia voar com a varinha. Eram tempos bons e se lembrar daquilo fazia
Theodoro ainda se sentir humano depois de todos os anos que passara em
Brampton Fort.

Aquele dia em especial não foi nenhuma surpresa quando a porta se abriu e por
ela entrou uma bela mulher de pele morena em seu usual vestido social
discreto, de cabelos volumosos, marrons e muito largamente cacheados que lhe
desciam até os ombros usando aqueles óculos retangulares e estreitos que
caíam perfeitamente bem em seu maravilhoso rosto macio que tinha aquela
boca deliciosamente apetitosa. Ela entrou, fechou a porta e se escorou nela
com as mãos para trás mantendo os olhos fixos nele. Theodoro lançou um olhar
rápido para o relógio em seu braço e sorriu ao ver as horas.

- Será que você não poderia ser um pouco menos perfeita? – esperou por
pelo menos algum sorriso dela, mas nunca o obteve. – Poderia atrasar pelo
menos alguns minutos da próxima vez, Jodie.
- Se assim quiser. – ela deu de ombros. – Mas gosto de ser pontual quando
estou tratando de negócios.

Ele soltou uma risada gostosa.

- Assim você me ofende. – ele tirou os pés da mesa e colocou seus


cotovelos sobre ela dessa vez. O silêncio durou enquanto ele passava o
indicados pelas bordas de seu copo. – Vai ficar aí na porta até o fim da noite?

- Estou esperando que sejamos rápidos. Meu marido me espera em casa


para o jantar. – ela foi como sempre muito profissional.

Ele soltou um riso fraco com aquela notícia.


- Por favor, Jodie! Nós dois sabemos que você não estava esperando nada
rápido vindo ao meu escritório. – ele disse.

- Vim ao seu escritório porque me chamou.

- Se sabe porque a chamei então se aproxime e abra a boca. – ele foi


objetivo.

Jodie desencostou-se da porta, aproximou-se devagar passando a mão sobre o


mogno da mesa enquanto andava lindamente até parar bem ao lado dele e se
sentar na mesa. Theodoro reclinou sobre a sua cadeira para poder apreciar
bem a morena ao seu lado.

- O que quer saber? – ela perguntou.

- O que considera importante.


- O que eu considero importante talvez não seja o que você considera
importante. – ela disse e ele teve que revirar os olhos. – Seja específico.

- Me diga como ela está se saindo no trabalho que deve cumprir? –


perguntou.

- Bem. – respondeu Jodie – Estamos quase no fim do inverno e com boa


parte adiantada. Hermione é muito compromissada. Ao menos parece ser. Ou
então está sendo apenas para que acreditemos que ela não está ocupando a
cabeça com mais nada.

- Estão seguindo o cronograma?

- Ela faz questão que o sigamos, eu sequer preciso a lembrar.


- E como ela está se saindo com o livro de leis?

Jodie suspirou como se isso fosse um ponto não muito positivo da convivência
com Hermione.

- Ela questiona a maioria delas. Nos faz lembrar dos antigos livros e
estatutos do Ministério antes do mestre e mais um monte de palhaçada que
acaba por nos fazer perder tempo em coisas insignificantes.

- Hermione é muito humanista.

- O mestre fez bem em querer que ela ****. Brampton Fort precisa de um
pouca da humanidade dela. – Jodie disse.
- Gosta dela, não gosta? – sabia que Jodie não gostava, apenas se fingia
gostar. - Ela é uma Malfoy, é melhor gostar dela do que odiá-la. Ela tem poder
com o sobrenome que tem e sendo a coisinha preciosa do mestre, o dia que ela
decidir te esmagar ela poderá com toda facilidade. Está sendo esperta em se
fazer com que ela acredite que gosta dela. - ele riu e tomou um gole de sua
bebida.

- Não estou me empenhando em fazer com que ela acredite que gosto
dela. – Jodie pareceu um pouco aborrecida com aquilo – Estou sendo
profissional. Estamos fazendo um trabalho juntas. E Hermione não tem a
mínima noção do poder que tem. Não ainda. Na maior parte do tempo ela se vê
como um ratinho no meio de leões famintos.

Theodoro sorriu e se levantou. Colocou-se bem a frente da mulher e deixou que


seus dedos subissem pela perna dela que estava cruzada.

- Não pode deixar que ela saiba o poder que tem. – ele disse calmamente
enquanto colocava os dedos por trás do joelho dela e a fazia descruzar as
pernas para que ele pudesse se colocar entre elas.

- Não me contratou para esse serviço. – ela disse.


- Também não a contratei para esse aqui. – ele abaixou o grave de sua voz
e a puxou para fazer com que seus corpos colassem e seus rostos ficassem a
centímetros de distância.

- Está se arriscando demais brincando com uma família como os Malfoy.


Sabe disso, Theodore. – alertou ela.

- Tenho o mestre ao meu lado, Jodie. Ninguém é maior do que ele. – se


aproximou e beijou aqueles maravilhosos lábios até perceber que ela estava
completamente rendida ao passar os braços ao redor de seu pescoço e permitir
que ele sondasse por baixo de seu vestido e que também desatasse o laço
atrás de sua roupa. – Agora você tem duas opções. – ele disse descolando seus
lábios dos dela. – Pode voltar para casa e ter um belo jantar com seu marido.
Ou pode me dizer que fará o seu melhor em tentar fazer com que Hermione
jamais saiba do poder que tem e terá mais uma vez o prazer de saber que eu
te satisfaço muito mais do que seu querido marido.

Ela sorriu. Ele gostava daquele sorriso. Jodie se fazia de profissional objetiva e
fria, mas não passava de uma mulher com desejos insaciados.
- Farei o meu melhor. – ela disse e aquilo bastou para ele.

Hermione Malfoy

Ela sonhou que estava no lugar de Viktor Krum, sabia que era um sonho, mas
ainda assim não deixava de ser aterrorizante. Conseguia sentir o peso das
correntes. Podia ver a parede de Dementadores limitando seu espaço de um
lado, e logo do outro ela via sobre os patamares do trono ocupado por
Voldemort e logo atrás de sua figura sinistra havia um mar de Comensais em
suas mascaras e capas negras sendo ofuscados pelo brilho intenso de uma luz
branca que a iluminava vinda do fundo do átrio do salão.

A voz de Voldemort clamava pelo início daquela loucura e então Hermione viu
Mortalhas se arrastando pelo chão enlameado em sua direção. Ela tentou correr
mas estava presa ao chão e foi exatamente quando todas aquelas criaturas
mortais voaram para cima dela que conseguiu abrir os olhos sentando-se na
cama de uma vez.
Estava ofegante e o coração batia forte contra suas costelas. Olhou para o lado
e Draco não ocupava o seu lado da cama. Pelas brechas da pesada cortina ela
via que do lado de fora o dia cinza e comum de Brampton Fort já havia
começado. Fechou os olhos ainda sentada e contou até cinco muito devagar até
sentir que estava chegando ao seu estado de tranquilidade. Foi só um sonho.

Abriu os olhos novamente para encarar o quarto ao seu redor. Tornou a olhar o
lugar de Draco vazio ao seu lado. Era domingo e domingo para Draco nada
mais era do que qualquer outro dia da semana com suas atividades rotineiras,
mas não era exatamente o fato de que o lugar ao seu lado estava vazio e sim o
fato de que ele estava intocado e exatamente como ela havia visto antes de
dormir. Ele não passou a noite em casa.

Não era nada que realmente a devesse deixar preocupada. A verdade era que
ela pouco se importava com Draco, mas sabia que muitas das noites de sábado
para dormindo que não passava em casa eram dedicadas ao quartel general.
Sabia disso porque ele tinha que provar pelas normas do departamento que
estivera toda a noite lá e Hermione até mesmo já havia visto alguns dos
arquivos em que ele e mais uma centena de comensais deveriam assinar. Ela
sabia que Draco gostava do que fazia, mas não havia como negar que era um
trabalho muito exaustivo.

Hermione se levantou aliviada por saber que pelo menos tinha o final de
semana para respirar longe daquela maldita Catedral. Moveu-se para o
lavatório e durante seu banho lembrou-se de seu sonho. Sentiu alguns
pequenos segundos de terror e tentou respirar com cuidado. Não era você
naquela arena. Era Viktor Krum.
Vestiu-se como a dama que deveria ser mesmo aos finais de semana, olhou-se
no espelho passando pelo seu momento de aprovação e quando voltou ao
quarto se deparou com a cena da porta se abrindo e Draco entrando. Ele tinha
a aparência cansada, os cabelos desalinhados e os olhos fundos. Eles trocaram
um rápido olhar e ele seguiu seu caminho pelo quarto puxando a gravata do
pescoço e a jogando sobre o sofá da lareira junto com o casaco do terno.

- Devo esperá-lo para o café? – ela perguntou cuidadosamente.

- Não. – ele respondeu dando as costas para ela e caminhando para sua
arca de bebidas desabotoando a camisa. – Vou descansar o que posso. Tenho
que voltar para a Catedral depois do almoço portanto procure não me
perturbar.

Ela recebeu a resposta. Seria até divertido perturbá-lo e Deus sabia o quanto
ela precisava de diversão, mas Draco parecia destruído e também haviam
coisas suficientes para que ela pudesse se manter ocupada. Deu as costas
enquanto ouvia o som da bebida dele sendo despejada no copo e seguiu para
porta.
- Hei. – ouviu ele dizer e foi obrigada a parar e se virar novamente.

- Sim. – ela deu sinal de que estava o ouvindo.

O silêncio durou entre eles alguns segundos antes que Draco continuasse.

- Conversei com o mestre. – ele soltou finalmente ainda de costas para ela.
O silêncio durou mais alguns segundos enquanto ele levava o copo a boca.

- E por que está me dizendo isso? – perguntou ela confusa quando não
obteve mais nenhuma informação. O silêncio dele estava começando a irritá-la.
– Vai abrir a boca ou não?

- Está grávida? – ele resolveu então se manifestar.


Ela ficou surpresa pela pergunta.

- Não. – respondeu.

- Por que não? – ele voltou-se para ela com uma expressão não muito
contente. A pergunta a surpreendeu ainda mais.

Ela não soube exatamente o que responder.

- Porque não. – perdeu-se por um momento. – Não sei. – deu de ombros. –


Talvez eu tenha algum problema...
- Você é perfeitamente normal, Hermione. – ele a cortou.

- E como pode ter certeza disso?

- O mestre tem. – ele aproximou-se devagar – Ele disse que esperou todo
o inverno e que não esperará também a primavera inteira.

Ela suspirou, desviou o olhar e passou os dedos pela testa.

- Não sei o que está havendo. – tentou desviar - Talvez não estejamos
tentando o suficiente, certo? Agora tenho muito o que fazer. Podemos
conversar sobre isso outra hora. – deu as costas e tomou seu caminho para
porta mas foi impedida no meio do caminho quando ele avançou e a segurou
pelo braço fazendo-a voltar-se para ele novamente.
- Você sabe que o tanto que tentamos é até mais do que o suficiente! – ele
foi rude. – Vai me dizer agora o que tem feito e vai parar!

- Não tenho feito nada! – ela se aborreceu.

- Que tipo de idiota acha que sou, Hermione?

- Eu-não-tenho-feito-nada! – insistiu ela sentindo a pressão dos dedos dele


em seu braço.

- Não minta para mim! – ele se irritou e aumentou o tom da voz.

- Eu não quero nenhum filho, ok?! – se viu dizer no mesmo tom e se


desvencilhou dele.
- E você acha que eu quero? – retrucou – Acha mesmo que quero alguém
com o meu sangue por aí na terra? – se aproximou dela sem a tocar. – Me
deixe te esclarecer uma coisa bem simples, Hermione. – ele manteve seu rosto
bem próximo ao dela. – Desse lado da guerra, quando se recebe uma ordem,
se cumpre uma ordem! – vociferou – Não vou mais te proteger do mestre,
entendeu bem? – ela não respondeu nada. – Entendeu? – ela teve que lutar
contra o reflexo de se encolher com o tom que ele usou. Apenas assentiu.
Aquilo bastou pra ele que deu as costas,, virou a bebida em um gole apenas,
colocou o copo sobre a cabeceira da cama e jogou-se sobre o emaranhado de
lençol e fronha. – Agora me deixe. – finalizou ele.

Hermione não se moveu. Permaneceu quieta por um bom tempo enquanto o


observava na cama e remoía as palavras que ele havia dito. Aproximou-se com
cuidado vendo o braço que ele usava para cobrir os olhos. Algumas vezes
durante a noite ela o via naquela mesma posição em sono profundo.

- Me proteger do mestre. – ela repetiu aquilo que se repetia em sua cabeça


com o som da voz dele. – Por que me protegeria do mestre?

Ele soltou ar cansado.


- Será que você não entendeu quando eu disse para me deixar? Eu tenho
apenas algumas horas e seria ótimo se me deixasse fingir que você não existe
enquanto elas passam! - resmungou ele.

- Draco, por que me protegeria do mestre? – ela se viu perguntando.

Podia quase imaginá-lo revirar os olhos naquele momento.

- Vamos, Hermione. Pense um pouco mais. – disse ele – Só não seja burra
de acreditar que fiz isso porque de alguma forma posso até gostar de você. Nós
dois temos um status. Estamos ligados e se você cair, eu caio junto. Somos
uma família, não somos?

- Isso não é exatamente o que define uma família. – disse sabendo mesmo
que Draco nunca seria capaz de fazer algo por alguém sem sair no lucro.
- Isso é o que eu considero família. – aquilo pareceu definitivo. – Agora
saia desse quarto ou eu a arrastarei para fora dele.

Ela ainda esperou alguns segundos antes de dar as costas e sair do quarto.
Desceu para o café e se deliciou com a maravilhosa mesa que Tryn sempre se
dedicava a montar. Ela sabia que uma hora a pressão sobre a gravidez
começaria, mas não arriscaria deixar de tomar as poções que com muita
dificuldade Luna conseguia roubar da sessão de enfermarias da Catedral para
ela. Tentou se esquecer daquilo embora não fosse uma tarefa muito fácil.
Pegou o jornal em busca de entretenimento e virou a página do Diário do
Imperador em suas mãos.

A matéria era sobre um importante restaurante do centro ter sido fechado para
a festa de aniversário de uma das filhas da elite de comensais e também havia
outra importante que se referia as novas atividades de primavera que
começariam na semana seguinte. Hermione lia toda aquela futilidade grata por
saber que a mídia aparentemente havia a deixado em paz depois de incontáveis
meses de perseguição e também grata porque finalmente toda aquela neve do
lado de fora estava derretendo depois de daqueles frios e depressivos meses de
inverno. Até tentava se focar em se entreter com aquelas folhas de jornais,
mas saber que Draco estava no andar de cima ocupando o espaço particular
que tinha era como um dedo incomodo indo fundo da garganta de Hermione.
Dispensou o restante daquilo que havia posto no prato fechando o jornal e se
levantando.

Subiu as escadas decidida a ir a casa de poções enquanto o horário que


marcara para receber Luna ainda não chegava. Ela gostava de estar do sótão.
Gostava do som do borbulhar de algumas poções descansando em fogo baixo.
Gostava do cheiro amadeirado, gostava de olhar na luneta no nicho da janela
principal durante a noite e gostava da ideia de privacidade, por mais falsa que
fosse ela.
Sentou-se em sua mesa fechou alguns livro, abriu espaço entre alguns
pergaminhos e trouxe as pastas que havia conseguido com Theodoro para a
superfície. As abriu e as tirou de lá várias anotações, vários papéis sublinhados,
várias referencias que conseguira. Sentia que mesmo depois de todo o trabalho
que tivera com aquelas pastas ainda não havia atingido nem metade do
caminho.

Conseguira separar os temas específicos. Em relação a localização havia


separado tudo sobre clima, mapas aleatórios que encontrara, registros
topográficos que a intrigavam. Sobre magia havia separado muitos
pergaminhos de cálculos que não entendia, mais pergaminhos sobre
desintegração de feitiços. Ela não era muito boa naquilo. Estava estudando o
máximo que podia para conseguir fazer uma real avaliação tudo aquilo, mas
eram assuntos dos quais ela não tinha nenhum domínio e estava começando a
achar que aquilo demoraria anos para começar a fazer algum sentido para ela.

Inclinou-se na cadeira e passou a mão pelo rosto cansada de se dedicar a


aquilo e nunca chegar a nada. Desviou seu olhar para a janela e o dia cinza lá
fora era o de sempre. Estava cansada daquele maldito inverno. Levantou-se e
checou algumas poções, foi quando estava quase na última que Tryn apareceu
num estalo.

- A Srta. Luna Lovegood está a espera da Sra. Hermione Malfoy na sala


principal. – anunciou a elfa.
- Traga Luna até aqui, Tryn. – pediu Hermione.

A elfa desapareceu num estalo e Hermione se preparou para receber a amiga,


abrindo espaço sobre a mesa. Não demorou muito e Luna e sua cabeleira loira
entrava pela porta do sótão carregando dois livros grandes e pesados.

- Olá! – ela disse animada aproximando-se e deixando os livros sobre a


mesa. – Trouxe suas poções. – disse apontando para os livros. – Não vai
precisar tomar nenhuma agora? – brincou ela.

Hermione a olhou achando aquilo completamente desnecessário.

- Nós não fizemos nada essa manhã. – abriu um dos livros e entre as
páginas viu as folhas cortadas para acomodarem os pequenos frasquinhos. –
Obrigada pelas poções, Luna.
- O que está havendo? – Luna finalmente pareceu se preocupar com as
expressões da amiga.

Hermione suspirou, passou os dedos pela tenta, deu as costas para amiga e
colocou as mãos na cintura enquanto fazia o som de seu salto ecoar na madeira
do piso.

- A pressão para que eu engravide começou. – respondeu finalmente.

- Oh. – foi a reação da loira e então ela se manteve em silêncio por algum
tempo também. – Acha que eu deveria parar de pegar as poções?

- Não! – Hermione respondeu imediatamente se virando para a amiga. –


Não, Luna! Não pode parar de pegar as poções.
- Certo, Hermione. – Luna mostrou que entendeu para acalmá-la. – Mas
sabe que cedo ou tarde eles saberão que sou eu quem faço as poções sumirem.
A nossa sorte é que ninguém dá muita atenção para elas portanto não há
nenhum tipo de fiscalização rígida. Draco sabe que está tomando as poções?

Hermione negou com a cabeça.

- Ele desconfia que estou fazendo algo. – soltou o ar um tanto irritada. –


Quem não desconfiaria? Com a frequência que fazemos sexo sem nenhuma
proteção, qualquer outra mulher no meu lugar já estaria grávida há muito
tempo.

- Por quanto tempo acha que podemos continuar mantendo isso?

- Não sei. – respondeu Hermione. – Não muito tempo. – ela começou a


andar de um lado para o outro. – Voldemort esperou todo o inverno e não teve
nenhum resultado. Ele não esperará toda a primavera. Tenho que te tirar
daqui, Luna. Não pretendo engravidar de forma alguma, e quando as coisas
apertarem sei que sobrará para você.
- Ah, por favor, Hermione! – Luna revirou os olhos. – Não vá me dizer que
ainda está com aquela idéia maluca!

- É a única que temos, Luna! – Hermione parou e se voltou para a amiga.

- Não vai dar certo! Além do mais, mesmo se eu for, se está pretendendo
nunca ficar grávida, sabe que Voldemort não vai nada gentil com você também.

- Sei disso! Mas posso aguentar a pressão. Se não estiver aqui posso ser
teimosa o quanto quiser e você não precisará pagar por isso!

Luna suspirou frustrada por aquilo. Passou por Hermione e sentou-se no nicho
da janela principal passando a mão sobre a luneta antiga que havia ali.
- Hermione. – ela começou num tom um pouco baixo – Sei o quanto será
bom se eu conseguir sair daqui e chegar até a Ordem com vida. Sei o tanto de
informação que eu poderia passar para eles. Sei o quanto isso será bom para o
nosso lado, mas não sinto que é certo te abandonar aqui. – ela encontrou seu
olhar com o da amiga – Não é certo te deixar sozinha aqui. Se eu tiver que
morrer, não me importo, mas não posso me ver te abandonando nesse lugar
sozinha.

- Não vai me abandonar, Luna. – Hermione se aproximou e se sentou ao


lado dela. – Tem que pensar no que é melhor para todos, não só para nós
duas. Eu sei que gosta de Brampton Fort. Sei que gosta de ir ao centro, de ir ao
parque, de vagar pela catedral sem ter o medo que tínhamos antes. Mas sabe
que essa não é a nossa realidade. – fechou os olhos e respirou fundo sabendo
que tinha dito algo errado. – Essa não é a sua realidade. – concertou. – Precisa
voltar para a sua realidade. – insistiu – Precisa ajudar a Ordem.

- E quanto a você? Não me prometa que vai ficar bem. Eu sei que não vai.

- Eu tenho um lugar ao qual pertenço agora. – disse com pesar. – Precisa


entender isso.

- Não, Hermione! Você não é um deles. Essa marca não tem o poder de te
fazer um deles.
- Não estou falando do ciclo de Voldemort, Luna. Estou falando dos Malfoy.
– esclareceu ela. – Sou um deles agora e meu lugar é com eles. Assinei um
papel para isso e você sabe o que aquele papel significa. Se eles estão com
Voldemort, eu também devo estar.

Luna fez uma careta.

- Quando foi que mudou de lado? – ela pareceu muito surpresa.

Hermione sorriu.

- Estou com Voldemort assim como os Malfoy estão, Luna. Mas isso não
significa que estou do lado dele. – levantou-se – Por isso estou te mandando de
volta para Ordem.
Luna suspirou frustrada por perder aquela guerra.

- Acha que podemos confiar nessa sua idéia? – ela perguntou depois de
alguns segundos em silêncio.

- Ainda não. Mas poderemos. Só temos um tempo curto agora. – ela se


moveu em direção a sua mesa – Vou ter que adiantar tudo que eu puder para a
idéia de te fazer passar por um dos portões como comensal e para isso não vou
ter tempo de me dedicar as pastas de Theodoro. Tenho feito e possível para
conseguir organizar todas as informações por temas, mas ainda assim, tudo é
muito vago. Vou precisar que leve isso com você para a Ordem. Assim como
algumas lembranças minhas também.

- Certo. – concordou Luna ainda com um ar de incredibilidade enquanto


Hermione fechava as pastas e organizava a mesa.

- Tenho revistado o escritório de Draco com frequência. Sei aquilo que ele
trás da Catedral e aquilo que leva. Sei do que se trata a maioria dos trabalhos
que ele trás para casa. Sei também onde ficam a maioria das coisas principais
no escritório dele. É muito grande e o tempo que eu tenho quando ele não está
em casa é pouco. Mas tenho feito o possível conseguir entender a maioria dos
arquivos rascunhos do sistema de portões de Brampton Fort. – ela devolveu as
pastas para uma das gavetas da mesa. - Ele é responsável por liberar a entrada
e saída de todos cada pessoa pelos portões, assim como é responsável por
computar tudo isso. Tenho que colocar as mãos nos arquivos oficiais e estudá-
los, saber realmente como o sistema todo funciona. Assim ficarei mais segura
para seguir em frente com essa idéia. – soltou o ar de uma vez e encarou Luna
colocando as mãos na cintura. – Mas é uma idéia. A única que consigo enxergar
agora. E Deus! Precisamos ser rápidas. Vou precisar que faça algumas coisas
para mim e eu também terei que visitar com mais frequência a torre de Draco
na catedral, ver como os arquivos são organizados lá, como eles entram e
como saem...

- Hermione! – Luna exclamou a cortando. – Tudo bem, eu entendi! –


respirou como se quisesse que Hermione fizesse o mesmo. – Precisamos ser
cuidadosas e se apressarmos muito tudo isso talvez possamos nos expor
demais.

Hermione era obrigada a concordar com ela.

- Você está certa. – ela se sentou em sua cadeira. Em outros tempos ela
teria se jogado ali, mas tinha se tornado quase parte dela seguir as regras de
educação de Narcisa Malfoy. – Temos que ser cuidadosas. – concordou. – Mas
não podemos deixar de trabalhar por isso. Mesmo que a idéia ainda seja
primitiva, temos que preparar polisuco. – se levantou e foi até um dos
caldeirões vazios.
- Polisuco? – Luna franziu o cenho. – Para quem?

Hermione a olhou.

- Para você. – respondeu.

Draco Malfoy

Já estava escuro quando desceu no pátio de entrada de sua casa. Suspirou já


cansado sabendo que ali há muito tempo deixara de ser seu refúgio. Algumas
vezes ele queria apenas esquecer que Hermione existia no mundo, mas
simplesmente não podia.
Subiu as escadas da frente puxando o relógio do bolso para ver o horário.
Estava exatamente na hora do jantar. Entrou e seguiu diretamente para sala de
jantar onde encontrou Hermione de pé ao lado de sua cadeira vestida como
uma rainha e com a postura impecável. Ela sempre o esperava e sempre se
vestia bem para o jantar. Aquilo o fazia se lembrar de sua família, de como sua
mãe se colocava na mesa e de como fazia com que ele também se colocasse
para esperar que seu pai chegasse para o jantar. Andar para o seu lugar
naquele momento o fazia se sentir como seu pai e repugnava essa sensação.

Sentou-se e foi seguido por ela em silêncio. Ele pediu que Tryn servisse a
entrada e assim que seu prato se encheu de salada ele tratou de se ocupar em
seguir o serviço de todo jantar e ignorar que estava acompanhado. Obviamente
que suas tentativas de ignorá-la nunca eram muito bem sucedidas. Sentiu-se
absurdamente irritado quando ela tratou de fazer um dos enormes livros do
Departamento da Cidade flutuar a sua frente para que pudesse ler enquanto
comia. Ele não conseguia nem mesmo dimensionar o ódio que tinha das manias
sem nexo que ela muito provavelmente havia adquirido da família miserável a
qual havia sido criada.

- Hermione, vai mesmo ler na mesa de jantar? – tentou ser discreto e não
expressar nenhuma emoção embora quisesse explodir aquele livro ali.

Ela levou seus olhos até ele. Draco sabia que ela sabia que ele se incomodava
com aquilo, sua mãe havia lhe ensinado todas as regras de comportamento.
- Me desculpe, minha leitura vai atrapalhar algum diálogo que iremos
desenvolver durante o jantar? – ela foi irônica ao fato de que sempre jantavam
em silêncio. Lançou a ela apenas um olhar fatal que ela desafiou com o seu
num ar completamente insignificante. – Não tenho tempo para ler isso em
outro lugar, sinto muito. – ela não sentia.

Ele quis levantar da mesa para não ter que encarar aquilo durante a hora de
paz do seu jantar, mas soube que engolir sua irritação seria um bom caminho
para não deixa-la vencer, já que muito do que ela fazia era apenas para deixá-
lo irritado, embora soubesse que realmente Hermione estava abarrotada de
deveres na Sessão da Cidade. Ela logo começaria a percorrer as Casas de
Justiça e estava passando por uma série de avaliações pela Academia de
Brampton Fort. As vezes Draco até tinha curiosidade de perguntá-la como
estava se saindo, mas a idéia de começar um diálogo com Hermione que
poderia ser duradouro lhe causava repulsa.

Comeram em silêncio. Ela mantinha toda a atenção naquele livro. Ele esperava
que ela tivesse consciência de que aquilo não poderia se repetir, mas tentar
adestrar Hermione realmente era o mesmo que desperdiçar energia.

Antes mesmo que terminasse toda sua refeição, ele anunciou sua licença e se
retirou subindo para o escritório onde abriu as pesadas cortinas, estirou-se
numa poltrona e deixou seus olhos se perderem na vista do lado de fora onde a
primavera tentava desabrochar. Aquele era o seu tempo diário onde podia
descarregar em silêncio todo o cansaço da Catedral e lidar com todas as suas
frustrações. Nós últimos quase seis meses esse tempo havia sido destinado a
pensar em Hermione o no quanto o irritava saber que ela estava em algum
lugar daquela casa, da sua casa, carregando o seu sobrenome, dormindo na
sua cama e carregando o anel da sua família. Aos poucos estava aprendendo a
aceitar aquilo e voltar a descarregar pensamentos apenas relacionados a
Catedral e Voldemort. Acostumar-se com Hermione era algo que ele não
queria, mas trazia paz e isso era bom. Não podia passar uma vida inteira
dentro de uma casa que nunca poderia ser seu lar por causa de alguém
insignificante como ela.

Fechou os olhos e sentiu suas forças se revigorarem apenas pelo silêncio e pela
calma. Gostava de imaginar que estava sozinho como nos tempos onde não
havia uma aliança em seu dedo. Gostava de pensar que se levantaria dali,
tomaria seu banho, beberia seu vinho enquanto lia um bom livro e se deitaria
no prazer de estar absolutamente sozinho.

Levantou-se logo quando sentiu que estava começando a gastar energia


demais com seus lamentos relacionados a Hermione e ordenou com sua
varinha que a estante de fundo se movesse. O móvel obedeceu seu comando
mostrando por trás um enorme painel cheiro de figuras e anotações ligadas por
cordões de várias cores. Draco suspirou e se aproximou. Aquilo era o trabalho
de quase uma vida inteira.

Passou horas olhando para aquilo com os braços cruzados. Haviam muitas
coisas que ainda deveriam ser ligadas e muitas lacunas a serem preenchidas.
Tratava de misturar seus serviços da catedral e seus objetivos pessoais naquele
mesmo painel para evitar que qualquer olhar que não fosse o dele sobre todo
aquele trabalho não o incriminasse. Mas ele conseguia enxergar as camadas
que separavam muitas das suas pesquisas ali.
Foi somente depois daquelas horas de reflexão que ele decidiu que já estava
perdendo tempo olhando para aquilo que já havia decorado em sua mente.
Tinha que encontrar informações, se não as encontrasse seria sempre uma
perda de tempo olhar para o seu painel como se esperasse que gloriosamente
ele se solucionasse.

Jogou-se na poltrona novamente, ordenou que o móvel voltasse para o lugar e


fechou os olhos. Começaria a se preparar psicologicamente para ir para o
quarto e ter seu segundo momento de convivência com sua adorável esposa.
Foi quando escutou batidas na porta e soube que não seria nenhuma outra
pessoa além dela. Quis gritar para que ela fosse embora, mas no momento em
que pensou nisso sentiu-se cansado por querer fazer isso. Agitou a varinha e
destravou a porta.

Ainda de olhos fechados escutou a porta se abrir e fechar e o barulho do salto


dela sobre o piso de mármore desenhado se aproximando. Ela vinha a passos
lentos e Draco abriu os olhos para recebê-la quando notou que ela estava perto
o suficiente. Hermione sempre se arrumava bem para os jantares, exatamente
como sua mãe fazia.

- Cansado? – ela perguntou usando sua voz doce e calma enquanto


colocava as mãos sobre sua mesa mogno.
- Não o suficiente para te negar sexo. – respondeu ele.

- Não estou pedindo por sexo.

- Me parece bastante que tem um pedido.

- Sim, eu tenho. – ela disse e isso explicou muito o porque da presença


dela ali quando na verdade ela deveria estar se trocando para se enfiar debaixo
das cobertas como sempre fazia.

- Não precisa fazê-lo. A resposta é não. – ele adiantou o seu aval.


- Quero que demita sua secretaria. – mesmo assim ela o fez e Draco
surpreendeu-se pelo pedido inesperado.

- Naomi Mori? – riu fracamente. – A resposta é não.

Hermione deu a volta em sua mesa e se aproximou da poltrona dele.

- Não vai perguntar o porque quero que a demita? – ela tinha uma
sobrancelha levantada.

- Não. – ele respondeu. – Qualquer que seja o motivo, é estúpido.

Ela abriu um sorriso significativo, de lado, e surpreendentemente colocou as


pernas uma de cada lado seu e se sentou em seu colo como muitas vezes já
havia feito.
- Pode repetir isso depois que eu te disser o porque quero que a demita. –
ela disse se reajustando mais perto dele. As mãos dela passaram pelos botões
de sua camisa e Draco deteve seu punho.

- Pensei que não estivesse pedindo por sexo. – disse ele.

- Eu não estava. – ela deu de ombros – Mas me aproveitei da idéia que


deu.

Ele sorriu aproveitando-se também da investida e escorregou as mãos para


dentro da saia do vestido deslizando os dedos até chegar em seu traseiro
macias, onde conseguiu segurá-la e puxá-la para mais perto ainda. Afinal, sexo
era a única coisa que sabiam fazer juntos que o fazia não lamentar por estarem
casados.

- Não pense que sou idiota por não saber que está fazendo isso para me
distrair e abrir a boca para soltar a estupidez que tem a dizer em relação a
minha secretária. – disse ele enquanto sentia o hálito úmido dela contra seu
pescoço. Ela ajeitou seus quadris contra o dele e o movimento discreto foi
suficiente para alertar o membro entre suas pernas. - Sabe que não a deixaria
falar se não estivesse me entretendo. – as mãos dela foram para dentro de sua
blusa e cercaram seu tronco quando terminou de abrir todos os botões. O rosto
dela veio para a frente do seu e ficaram a centímetros um do outro. Os olhos
dourados dela brilhavam sobre os dele.

- Os Mori estão abrindo um processo contra a sua família para fazer com
que paguem pelo péssimo investimento que seu pai empurrou para eles no
passado quando ainda estavam no Japão. – ela disse tudo de uma vez e ele viu
seu próprio sorriso morrer ao escutar aquilo vindo dela.

- Como sabe disso? – perguntou sério.

- Trabalho dos Tribunais de Justiça. – respondeu ela.

- Trabalha para Theodoro. – concertou ele.


- O que facilita tudo. – ela disse e ele recuou as mãos de dentro do vestido
dela e começou a não entender muito bem o que ela estava dizendo. –
Theodoro tem feito com que o processo seja aberto dentro da Sessão da Cidade
sem fazer com que a história se espalhe.

Draco precisou de alguns minutos para absorver tudo aquilo. Seria possível que
um dos temores da sua família poderia estar vindo a tona depois de tanto
tempo? O que seu pai havia administrado de tão errado para que os Mori
descobrissem a verdade?

- Primeiro, Hermione: O péssimo investimento dos Mori no Japão foi culpa


do vazamento de informações da companhia administradora...

- Por favor, Draco! – ela o cortou revirando os olhos. – Sabe que eu estudei
mais do que devia sobre sua família e sei que foi o seu pai quem vazou as
informações visando o lucro. Ninguém nunca saberia que metade da fortuna
dos Mori foi passada para o cofre dos Malfoy nessa brincadeira. Mas sabe que
eles sempre desconfiaram do dedo do seu pai por trás disso tudo. Tanto que
sua família sempre os manteve por perto, dentro do ciclo social, fazendo
favorzinho em nome da amizade. Trouxeram os Mori para debaixo das asas de
Voldemort no auge da guerra, os colocaram na Vila dos Comensais, deram a
Seiji Mori um alto cargo no Ministério, fizeram de Naomi Mori sua secretaria, os
colocaram na mídia como bons amigos dos Malfoy, os tem como pessoas de
confiança. Nada mais fazem do que manter um possível inimigo por perto, nada
mais fazem do que trabalhar para manter a verdade afastada deles.
- E temos feito isso com bastante empenho! – Draco sentiu que deveria
defender sua família depois de todas as ofensivas que ela havia lançado. – Acha
que os Mori são a única família que estão nessa posição? Fazer o que fazemos
com eles é algo que a nossa família tem feito a séculos com outras famílias e
não é nada muito difícil de se fazer, não é nada que nos demande muito
trabalho. Não há nenhum modo possível dos Mori terem provas contra meu pai.

- Tem certeza de que não há? – ela pareceu estar muito certa do que dizia
– A única prova que há está em Gringotes, dentro do cofre de sua família.

- E eles jamais teriam acesso a ele!

- Certamente não. – concordou ela. – Mas Gringotes envia para você e o


seu pai uma cópia do histórico do cofre nos últimos dez anos a cada ano. Quem
o recebe?

Draco sentiu seus músculos enrijecerem no mesmo instante. Naomi recebia sua
cópia. Se ela olhasse o histórico da conta e juntasse o ano com a quantia que
havia sido movida para dentro do cofre dos Malfoy, sem dúvida enxergaria que
era o valor exato que sua família havia perdido no Japão.
- O selo só pode ser violado pelo destinatário. – ele tratou de se lembrar. –
Quando a cópia volta assinada para ela para que seja reenviada a Gringotes o
selo também é inviolável.

- E aonde essa cópia fica quando está a avaliando para assiná-la e tornar a
enviá-la a Gringotes? – perguntou ela embora já parecesse saber a resposta.

- Em minha sala. – disse ele e ela ergueu a sobrancelha como se tentasse


mostrar a ele que ali estava o erro. – Trancada a senha. – acrescentou ele.

- E a quanto tempo ela trabalha para você? Não é muito difícil desenvolver
um feitiço de violação contra segurança sem que ninguém perceba quando se é
inteligente o suficiente para isso.

- Troco minha senha toda semana.


- Acha que ela também não sabe disso?

Ele se calou. Sentiu-se perdido. O silêncio começou a durar e Hermione saiu de


cima dele como se quisesse dar espaço para que ele pensasse exatamente o
que ela queria que ele estivesse pensando naquele momento.

Draco se levantou confuso ainda tentando fazer todas as ligações que deveria.
Era possível que Hermione estivesse certa? Sim, era muito possível e não
apenas isso, no fundo, os Mori eram inteligentes para sempre terem um receio
e desconfiança atrás dos Malfoy e os anos que Naomi estivera familiar com sua
torre na Catedral eram bem suficientes para que ela já tivesse desenvolvido
qualquer feitiço de último grau para ter acesso ao que não deveria ter. Se
perguntou quando foi que esteve tão ocupado em outros assuntos que movera
inconscientemente aquilo para terceiro plano.

- Como sabe de tudo isso? – perguntou a ela cruzando os braços


- Minha curiosidade sobre todo tipo de assunto tem me aberto muitos
caminhos tangentes aqui dentro. – justificou ela.

- Como sabe sobre o processo que eles tem aberto? – ele percebeu o
quanto estava sério quando escutou sua própria voz ser fria como o inverno
que haviam acabado de passar.

- Seiji Mori faz visitas constantes a sala de Theodoro e não faz muitas
semanas que tive acesso a sala de Processos. Seiji tem aberto um contra a sua
família com autorização de Theodoro e tem o arquivado dentro do
departamento como caso solucionado e confidencial. Está na área de casos que
atingem a proporção para fora de Brampton Fort e chegam aos tribunais do
Ministério da Magia.

Draco sentiu seu coração palpitar e deu as costas para ela encarando a
vastidão de seu terreno pela janela. Deveria contar isso ao seu pai o mais
rápido possível. Os dois teriam que quebrar muita cabeça para conter aquilo.
Enquanto isso ele apenas tentava loucamente encontrar saídas para aquela
situação. Aquele não era o fim de sua família, mas se não agisse seria uma
queda muito grande e muito comprometedora.

Sentiu Hermione se aproximar as suas costas muito sutilmente. Quis manda-la


embora, mas ao mesmo tempo sabia que deveria agir sobre ela, não conseguia
desviar sua atenção da tentativa de encontrar uma solução para aquele caso.
- Sabe o que fazer? – ela usou sua voz calma para fazer aquela pergunta e
ele percebeu que estava se fazendo aquele mesmo questionamento.

- Não. – respondeu depois de um tempo.

Ela se aproximou mais um pouco.

- Demita sua secretária. – começou ela – Amanhã ou o mais rápido


possível. Encontre para ela uma boa posição em outro lugar, uma que saiba
que ela deseja, mas tome cuidado para não provocar os Mori. Não procure
começar uma inimizade agora. Amigos não tem motivos para abrirem
procurações e revisões nos cofres de sua família, inimigos sim. Refaça toda a
segurança de sua sala, com novas senhas e novos feitiços de proteção. Remova
todo tesouro que tenha dos Mori para alguma sala fantasma em Gringotes
alegando proteção de herança contra o seu recém casamento, isso foi feito
inúmeras vezes na história de sua família e também sei que sua família possuí
dezenas de salas fantasma. Retire de ordem o histórico de todas as transação
de tesouro feita nos anos em que receberam a perda deles, faz mais de oito
anos o que deixará o processo fora de registro. Deixe que Theodoro e os Mori
continuem com o que quer que estejam planejando. Eles não irão muito para
frente sem a fonte de informações que é sua secretária e se de alguma forma
conseguirem avançar, os registros de que lucraram com o péssimo
investimento deles estará camuflado assim como o tesouro estará perdido em
alguma de suas salas fantasma.
Ele conseguia visualizar cada palavra dela. Conseguia se ver fazendo tudo
aquilo com uma facilidade absurda e conseguia ver o resultado de tudo numa
bela visita a Theodoro e algumas diretas que o faria temer por estar sendo
comprado por alguém fora de sua família. Virou-se para Hermione não
duvidando do quão ágil e esperto aquele cérebro era e finalmente notou o
quanto ela conseguia inconscientemente seduzir com a sua inteligência. Ela era
uma mulher estratégica. Aquilo era afrodisíaco.

Aproximou-se sem pudor. Ela pareceu não entender exatamente o que ele
estava fazendo, mas não lutou e nem fugiu. Draco segurou seus quadris e
então foi rude ao arrastá-la para a estante mais perto fazendo com que as
costas dela batessem contra o móvel sem dó.

- O que você quer com tudo isso, Hermione? – perguntou com o rosto a
centímetros do dela e sem vacilar no contato visual.

Hermione poderia ser muito inteligente para solucionar seu problema, mas ele
queria entender o porque ela estava jogando do lado dele quando na verdade
ela deveria estar agindo em completo descaso.
- Sou uma de vocês. Se caírem, eu caio junto, se lembra? – respondeu ela
como se não fosse óbvio.

- Não, Hermione! Se caíssemos, você não se importaria, mesmo sendo uma


de nós! Me diga, o que quer com tudo isso? – insistiu ele descendo uma das
mãos para a coxa da mulher.

- Tenho planos pessoais para o cargo que vou ocupar, é importante e me


abrirá muitos caminhos! – soltou ela não negando o toque dele - Ser regente
dos tribunais é um cargo de muita confiança dentro da Sessão de Gerência da
Cidade! Se a sua família for acusada de algo, você poderá perder seu posto,
assim como o seu pai e assim como eu!

- Sua justificativa não me desce! – disse embora soubesse muito bem o


quanto sua família estava em risco com aquilo, só não imaginava que Hermione
tivesse planos para usufruir do poder que teria regendo os tribunais.

- Terá que servir. – ela disse e ele puxou a perna dela para cima abrindo
espaço para empurrar seu quadril contra o dela. – Não quero perder todo o
trabalho que tenho feito por culpa das falcatruas da sua família. – ela continuou
cercando-o novamente por dentro de sua blusa e abaixando um tom de sua voz
o que a tornava mais sexy do que era. – E aliás, sei que sua secretaria sempre
quis um bom cargo no Ministério...

- Hermione! – ela a cortou – Já entendi tudo que teve a dizer. Agora seria
uma boa hora para se calar e deixar que eu termine o que estou começando
aqui. – ele já abria os botões do vestido dela.

Hermione abriu um sorriso com aquilo e ele soube que estava seguindo o
caminho certo.

- Não diga que está começando isso quando sabe que os créditos para essa
vez deverão ser dados a mim. – ela continuou com aquela voz como se em
algum momento fosse morder os lábios e fazê-lo delirar no quanto aquela boca
aparentava ser a parte mais deliciosa de seu corpo.

Colou seu rosto no de Hermione e sentiu a energia da boca dela a milímetros


da sua. Deu alguns segundos para que pudesse também apreciar a sensação do
físico dela contra o seu sem sequer nenhuma brecha de distância. Ele adorava
o corpo de uma mulher contra o seu, os seios, a cintura, os quadris, adorava o
de Hermione em especial, era perfeito e se encaixava no dele como nenhum
outro uma vez havia se encaixado.
- Não me importo com quem tenha começado ou não, Hermione. – disse e
tomou a boca dela para ele com sede dos beijos que faziam seu corpo inteiro
acordar. Sexo era a única parte daquele casamento que valia a pena.

Ele sempre se impressionava com o poder que o atrito entre seus corpos e suas
bocas tinham. A atmosfera parecia esquentar tão rápido que bastava alguns
segundos e, nem se quisessem voltar atrás, conseguiriam se conter. As mãos
dela em suas costas não eram nada comparado a ele tirando proveito para
passar a sua sobre as partes que mais gostava. Explorava os seios por cima do
tecido de seu vestido, as penas, a curva dos quadris, a pele macia. Gostava de
pressionar seu corpo contra o dela e sentir cada reação dela transferida para
ele. Gostava de sentiu o movimento de seu corpo com a respiração, com os
soluços, a busca por ar, o arrepio. Aquelas pequenas coisas também tinham o
poder de excitá-lo.

Desgrudaram-se e ele se afastou para vê-la por inteiro. Ela era absurdamente
linda. Chegava a cegá-lo as vezes. O contato visual não foi quebrado quando
ela deixou aquela estante e moveu-se pelo seu escritório lentamente enquanto
terminava de abrir o restante dos botões de seu vestido. Ele gostava de ver
quando ela estava naquele estado. A boca inchada, a ponta linda de seu nariz
vermelha, os olhos cheios de desejo, os cabelos bagunçados.

De costas para sua mesa ela deixou que o tecido que a cobria escorregasse até
seus pés e ele se deixou ver aquele maravilhoso corpo coberto apenas pela
roupa íntima. Eram naqueles momentos que ele se questionava se ela era a
mulher mais linda que já havia levado para cama. Livrou-se de sua camisa já
aberta e avançou para ela tentando compensar o tempo que haviam ficado
separados.

Draco a colocou em cima de sua mesa e ela o cercou com as pernas e com os
braços. Suas bocas se grudaram novamente e o som de coisas indo ao chão
soaram, mas já estavam tão acostumados com isso que não se importaram. Ele
a ajustou sobre sua mesa e o som de mais coisas foram ao chão. Aquilo
também o excitava.

Percebeu o quanto queria aquilo quando notou sua própria pressa. Eles não
faziam sexo há um bom tempo considerando a frequência que tinham antes.
Aquela havia sido uma semana corrida para ela e querendo ou não, ele sentia
que ela estava colocando suas energias em muitas outras coisas que estavam
bem longe deles. Ele precisava novamente dela e de como eram quando faziam
aquilo juntos.

Apenas a forma como suas bocam dançavam era muito suficiente para ele. A
forma como ela gostava que movimentar o quadril contra o dele sobre o tecido
de sua calça. Tudo era apenas suficiente. A livrou da parte de cima de deixou
que sua boca pudesse explorá-la. Sentia que estava absolutamente pronto para
ela e de alguma forma ela percebeu isso.

- Hei. – ela tentou chamar sua atenção entre sua respiração ofegante. –
Draco! – ele a olhou. – Não vamos pular o aquecimento, vamos? – ela ergueu
uma das sobrancelhas e ele percebeu que estava tentando adiantar as coisas.
Já haviam feito aquilo dezenas de vezes e se conheciam, não por completo,
mas se conheciam da melhor forma possível. Ele a pegou em sinal de que havia
entendido muito bem o sinal que havia recebido. A colocou contra um dos
armários e desceu sua boca aos poucos por todo seu corpo até passar uma das
pernas dela sobre o seu ombro e deliciar-se com o calor que havia entre suas
pernas.

Todas as reações que ela tinha o excitava. Ela adorava aquilo. Sua respiração
mudava, os gemidos que não existiam começavam a aparecer, os dedos dela
entre seus cabelos eram suaves e as vezes severo quando ele sabia que estava
chegando ao ponto que ela gostaria de chegar. Ele gostava de ouvir a
respiração dela crescer aos poucos enquanto ele trabalhava. Gostava de como
o corpo dela reagia, gostava de vê-la completamente vulnerável a ele. Gostava
de fazer com que ela se contorcesse, com que puxasse seus cabelos, com que
pedisse que ele não parasse.

Os dedos dela se fecharam contra os seus fios e o gemido que ela soltou assim
como a tensão de seus músculos avisavam para ele que seu trabalho não se
prolongaria mais por muito tempo. Estava conhecendo bem o corpo dela e
como ela funcionava. Sabia o que a deixava louca e quando fez com que seus
movimentos regredissem para algo mais lento ele escutou seu nome soar rouco
em protesto pela sala enquanto sentia os dedos dela o fazerem pagar por
aquilo puxando seus fios. As costas dela arquearam contra o móvel e seus
dedos pressionaram a madeira do topo. Ele se deliciou com cada líquido que
vinha do sexo dela. Ela era dele e ela estava muito molhada. Molhada para ele.
Os quadris dela pediam urgente por algo mais forte e ele não a entregou, foi
aos poucos e da forma como ele sabia que o corpo dela respondia melhor, com
movimentos lentos e dotados de pressão, que ele se sentiu ficar ainda mais
duro ao receber o orgasmo dela. Não havia como não ficar satisfeito ao ter
consciência de que conhecia o corpo dela e sabia trabalhar para que aquele
momento durasse para ela e ela sempre pedia por ele. Draco gostava de como
ela sempre sabia o que queria, como queria e o que a daria prazer. Ela também
se conhecia.

Fez todo o caminho de volta até encontrar seu rosto lindo, sua expressão
mortificada, sua cor rubra na pele branca, seus olhos dourados exalando
gratificação e satisfação. Ele adorava vê-la assim porque sabia o quanto ela se
odiava por ter que responder a ele daquela forma.

- Gosta do meu sabor, não gosta? – ela disse. Sempre tentava contornar
sua culpa por saber que se rendia a ele.

Ele abriu um sorriso e escorregou seu dedo na fenda entre as pernas dela.
Hermione fechou os olhos e separou os lábios em resposta ao toque dele. Draco
queria fazer com que ela lembrasse que se deixava ser vulnerável e que ele a
dominava com facilidade, mas senti-la tão profundamente molhada e quente o
fez esquecer isso muito rapidamente.
- Quero estar dentro de você. – deixou que um dedo seu escorregasse para
dentro dela. – Agora.

Hermione abriu os olhos e o desejo estava ali explicito novamente. A mão dela
sondou seu pau duro contido pela calça e o olhar dela foi duvidoso.

- Desse jeito? – implicou ela querendo alegar que ele não estava duro o
suficiente para ela.

- Eu disse que quero estar dentro de você agora, Hermione, o que não te
deixa tempo para me chupar! – embora fosse delicioso quando ela o chupava,
ali ele sentia falta de ter as paredes apertadas dela envolvendo toda a extensão
de seu membro e também, não queria se ver mais uma vez adorando a
ingenuidade de Hermione chupando seu pau e tendo que se controlar
loucamente para não gozar antes da hora. Ele já havia mostrado quem estava
no domínio ali.

Hermione começou a desatar o cinto de sua calça com rapidez e ele ainda podia
ver por aqueles olhos dourados que ela estava disposta a fazer com que ele
fosse o vulnerável dessa vez, mas não dava muita atenção para isso quando a
boca dela chamava atenção para a respiração que lhe estava difícil com o dedo
dele dentro dela. Tomou a boca dela novamente contra a sua e sempre se
surpreendia como aquilo era capaz de acendê-los ainda mais.
Ela começou a fazer com que eles se movessem. Draco percebeu que ela
apenas procurava por coloca-lo em uma posição favorável e foi apenas tomar
consciência da atitude esperta dela e querer detê-la que eles começaram a agir
como se estivessem em uma guerra indireta. Ele não conseguia esperar para
estar dentro dela e seu desejo crescia junto com sua impaciência. Foi quando
simplesmente a pegou novamente e tornou a colocá-la na mesa. Aquilo a irritou
profundamente e ela, dali, tão rápida quanto foi colocada o empurrou. Ele a
puxou não deixando que sua bocas ficassem muito tempo longe uma da outra e
eles cambalearam batendo contra uma frágil estante solta que derrubou algum
de seus livros. Aquilo foi a gota d’água. Ele usou de sua força para domá-la e
colocou-a contra a parede prendendo os braços dela acima da cabeça.

- Eu disse que quero estar dentro de você! – ele disse pausadamente para
ter certeza de que aquele cérebro estava mesmo entendendo – Preciso estar
dentro de você, Hermione!

O olhar dela suavizou imediatamente ao escutar aquilo. Ele se afastou e se


livrou de sua calça e todo o resto. Ela apenas o esperou ofegante e então soube
que havia desistido de tentar se empenhar em pegar um pouco do controle.
Aproximou-se novamente. Colou seu corpo no dela e sentiu a passagem que
ela abria ao passar uma das pernas por ele. Deixou seu rosto próximo ao dela
para sentir a respiração cheia de expectativas e muito ansiosa. Ele desceu sua
mão e molhou seu membro no dela sentindo-se excitado e massageando-a ao
mesmo tempo. A respiração dela já mudava de ritmo na mesma hora.
- Vá devagar. – escutou a voz dela cheia desejo.

- Sei como devo ir. – retrucou.

E foi sem pressa que ele começou a abrir caminho por dentro dela. Hermione
mordeu os lábios para reprimir qualquer som vindo de sua garganta. Ele puxou
a outra perna dela para cima. Foi mais um pouco fundo e todos os pelos de seu
corpo levantaram. Quente e apertada. Ela havia sido feita para ele.

Empurrou mais e fundo e ela choramingou de prazer. Ele sabia que era grande
dentro dela. Recolheu apenas um pouco e empurrou mais até estar
completamente dentro dela. Hermione cercou os braços ao redor de seu
pescoço e colocou o rosto no dele. Draco pressionou seus quadris no dela e isso
a fez gemer, soltar os lábios e ofegar.

Começou um movimento devagar e muito limitados. A pressão de seus quadris


era o que fazia com que ela ficasse a cada minuto mais molhada e o que fazia o
sangue dele esquentar cada vez mais. A agonia que crescia neles era o mais
delicioso. Seus rostos próximos e suas respirações rápidas indicavam em que
nível cada um estava e foi quando ele começou a fazer movimentos pequenos e
rápidos dentro dela que ela externou todos os gemidos que havia contido até
então. Ele conhecia aquele nível dela. Fora de si, longe de sua consciência. Era
excitante.
Parou antes que desse fim a agonia dela. Seus quadris se ajustaram não
querendo parar e ele conseguiu esperar apenas alguns segundos antes de
começar tudo de novo. Ele gostava dela naquele estado, queria que durasse
mais e parava quando sabia que fazia ela subir um degrau amais de prazer.

Seu suor começava a se misturar com o dela e os cheiros e os gemidos e a


agonia era tudo que o enchia naquele momento. A tirou da parede e debilmente
a carregou pela sala colocando-a do lado contrário da mesa o que fez com que
mais coisas fossem ao chão. Ela também não as manteve em ordem ao
procurar apoio com as mãos. Não parou com os movimentos, os intensificou
tendo momentos em que quase chegava a sair por completo de dentro dela.
Deus do céu, ele havia sentido falta daquilo. Aquele era o lugar que deveria
estar. Dentro dela, sentindo seu sangue ferver, sentido todas aquelas
sensações o consumir.

- Gosta quando estou dentro de você, não gosta? – foi fundo nela e agarrou
um de seus seios.

- Sim. – ela respondeu cega com a voz fraca e entre seus gemidos e
arfadas.
- Repita isso para mim, Hermione! – ele pediu ao perceber que a confissão
dela o excitava muito.

- Sim, eu gosto. – ela repetiu olhando-o como se implorasse por alívio. Ele
estocou fundo. Foi e voltou sentindo que logo seu membro gritaria dentro dela.
Hermione pendeu a cabeça soltando seus gemidos deliciosos e prazerosos de se
ouvir. Ele lambeu a garganta dela e enfiou sua mão dentro dos cabelos
castanhos e molhados de suor na raiz. Era assim que ele gostava de vê-la.
Sentiu as unhas dela cravarem em seus traseiro, os quadris dela se ergueram
contra os dele. – Não pare. – ela suplicou quase chorosa. Ele não parou. Sabia
o ponto que deveria parar. Investiu contra ela e na posição que tocava as
partes mais sensíveis de seu corpo. Ela estava louca, delirando, sua respiração
estava completamente fora de ordem. – Eu preciso... – ela sussurrou débil,
gemeu e se contorceu – Preciso gozar, Draco! – Céus, ela era mais sexy do que
qualquer mulher que ele já havia levado para cama.

Ela deitou-se sobre a mesa, empurrou os quadris, arqueou as costas, parou de


respirar então ele a viu ter seu orgasmo. Ele adorava vê-la atingindo seu
clímax. Gostava do espasmo de seus músculos, de sua boca aberta sem emitir
som algum, gostava do vermelho em seu rosto, do formato como seu corpo de
alongava, das paredes dela o estimulando impiedosamente. Estocou sentindo
que era sua vez, a viu largar-se quase morta sobre a mesa e seu estímulo final
foi as paredes dela mais uma vez se contraindo num orgasmo pequeno que o
fez derramar toda a sua semente fundo dentro dela.

Colocou suas mãos uma de cala lado dela sobre a mesa e pendeu seu corpo
cansado e ofegante. O silêncio era preenchido apenas pelo som de suas
respirações.
- Merlim, porque paramos de fazer isso? – a voz dela soou fraca e como se
estivesse fazendo aquela pergunta apenas para ela.

- Foi você quem esteve a semana toda ocupada. – ele se livrou da culpa.
Nunca havia imaginado que pudesse sentir falta do sexo que fazia com alguém.
Poderia ter procurado qualquer outra mulher, mas sabia que se sentiria
satisfeito apenas se fosse com suamulher. Deu-se tempo o suficiente para
recuperar o fôlego e a chamou. – Hermione. – ela o olhou abaixo dele. –
Limpe-se, precisamos ir a casa dos meus pais.

Ela o olhou confusa por um minuto.

- Agora?

- Sim, agora. – respondeu – Eles precisam saber sobre os Mori o mais


rápido possível e contará a eles tudo, inclusive sua engenhosa solução.
Ela puxou o ar e assentiu. Sentou-se e ele saiu de dentro dela dando espaço.
Quebrar a ligação de seus corpos sempre parecia errada, mas era necessária.
Ela desceu da mesa e pulou os objetos no chão dando a volta na mesa e
puxando a camisa dele sobre o chão para vesti-la.

- Não acha que está muito tarde? – o som doce da voz dela preencheu o
espaço.

- Acho. – confirmou ele a olhando abotoar sua camisa em volta de seu


corpo miúdo. Pegou sua calça e a vestiu. – Não posso deixar algo como isso
esperar um horário apropriado. Vá. – findou ele. Ela cruzou os braços e deixou
seu escritório sem mais pontuar. Olhou a bagunça em volta dele e procurou em
sua mesa por algum pergaminho não amassado pelas mãos de Hermione.
Encontrou um e pegou a pena que estava no chão. Rabiscou um aviso para sua
mãe, enrolou o papel e chamou por Tryn. A elfa apareceu no mesmo instante e
a primeira reação dela foi passar os olhos pelo ambiente destruído. Ela parecia
já estar acostumada. – Despache a coruja mais rápida que temos para a casa
dos meus pais carregando esse aviso, mande preparar uma carruagem e depois
limpe essa bagunça.

A elfa assentiu obedientemente, pegou o pergaminho e sumiu. Draco passou a


mão pelos cabelos e sentiu satisfação o preencher por completo mesmo
sabendo de tudo que os Mori poderiam estar tramando. Seu casamento tinha lá
algumas vantagens. Embora estivesse esperando o dia em que fosse se cansar
de Hermione. Até o presente momento ela havia sido bastante suficiente e
vinha o satisfazendo de forma tão positiva que ele não sentia a mínima
necessidade de procurar por alguém diferente dela, nem mesmo quando ela
passava por uma semanas ocupadas como essa última.

Infelizmente deveria ir a casa de seu pai o mais rápido possível informá-lo


sobre toda aquela situação ou receberia novamente reclamações dele por estar
resolvendo sozinho mais uma de suas péssimas administrações. Certamente se
pudesse escolher, ficaria em casa fazendo sexo com Hermione até que o dia
amanhecesse, mas não poderia se dar ao luxo de levar a culpa de um fracasso
sozinho embora os planos de Hermione fossem bastante plausíveis.

Foi para o quarto e quando chegou as duchas a encontrou lá. Não foi nenhuma
surpresa para ele quando teve vontade de tomá-la novamente. Ela era sua,
afinal. E sempre achava impressionante o fato de que ela conseguia o seduzir
sem ter a menor intenção, sem ter a menor consciência. Permitiu que seus
programas se atrasassem apenas alguns minutos para estar ali com elas nas
duchas e no tempo de uma hora eles conseguiram descer, entrar na carruagem
e seguirem para a casa de seus pais.

Não era longe chegar até lá, nas ruas tortuosas e nos bosques de estrada de
pedra da Vila dos Comensais nunca havia muito movimento, especialmente em
uma hora como aquela. Logo ao chegarem a porta da gigantesca mansão foram
recebidos por ninguém menos que seu pai que logo tratou de expor seus
receios pelo horário e pela urgência do recado. Draco o tranquilizou da melhor
forma possível sem adiantar nenhum detalhe enquanto seguiam para a sala
privada do térreo da mansão.
Sua mãe já se encontrava sentada elegantemente num dos divãs usando seu
enorme hobby de cetim verde musgo e seu rosto sem maquiagem lembrava a
Draco os beijos de boa noite que recebia em sua infância. Lúcio passou uma
das pernas sobre uma mesa próxima sentando-se. Draco enfiou a mão nos
bolsos e encostou-se no móvel mais perto, pediu que Hermione começasse
tudo que deveria dizer e assim ela fez.

Dedicou a iniciar tudo com as suas visitas periódicas a sala privada da Sessão
da Cidade e sua curiosidade pela área de casos solucionados e confidenciais.
Interessou-se pelo caro dos Mori devido a falta dos papéis de encerramento
vindas das casas de justiça. Foi só então que ela começou a ligar os pontos.
Seu pai obviamente tentou argumentar contra quando as diretas acusações
contra ele apareceram, mas ela tinha todas as respostas na mão. Lúcio deu-se
por vencido e então assumiu uma expressão preocupada assim como a que
Draco muito provavelmente havia assumido quando ela contou a ele tudo
aquilo.

Ao escutar tudo de novo ele finalmente pode perceber o quando ela


discretamente se empenhava em condenar sua secretaria. Mesmo que ela
estivesse carregando um enorme potencial de culpa, Draco percebeu que
Hermione se aproveitou de duas poucas situações desnecessárias para
condená-la discretamente. Ele começou a ponderar se aquilo era ou não o
motivo pelo qual a estava levando a colocar tudo aquilo a frente deles, mesmo
que ela tivesse planos para o poder que seu cargo lhe daria, ele não acreditava
que ela pudesse estar mesmo se esforçando ara expor tudo aquilo em troca
apenas da estabilidade da família. Conhecia como aquele cérebro estratégico
funcionava, ele não deixaria aquilo passar em branco, não engoliria aquela
história toda facilmente. Lutara contra a Ordem que ela direcionou pro muitos
anos.
Draco passou a notar o interesse do olhar de seu pai em cima de sua mulher no
momento em que ela começou a ditar as soluções muito pertinentes que havia
encontrado. Não havia dúvidas de que Hermione sabia seduzir muito bem
usando sua beleza e inteligência, mas foi naquele momento ele soube que seu
pai já havia tentado algo com Hermione. Até mesmo sua mãe muito
provavelmente notaria. Principalmente sua mãe. Mas o olhar que Hermione
lançava a ele esporadicamente era o que traduzia para Draco que Hermione
fugia de seu pai como quem foge de maldição. Sentia-se aliviado por isso, mas
o ódio que já sentia pela sua figura paterna parecia ganhar uma justificativa
amais.

Ela findou belamente. Havia feito uma bela venda de sua solução e ficou claro
que fora bem sucedida quando Lúcio tomou a frente e a apoiou, sua mãe até
tentou argumentar contra algumas falhas que não haviam sido pontuadas, mas
Hermione tinha muito bem suas respostas. Draco também interveio e querendo
ou não teve que apoiar a idéia. Seria a melhor a ser tomada no momento já
que ninguém tinha nenhuma outra.

A distribuição de tarefas aconteceu com rapidez e foi logo marcado um dia da


semana seguinte onde teriam de se encontrar para discutirem o assunto e os
avanços que haviam tomado. Lúcio tratou de acentuar o grau de gravidade
daquilo e Draco o cortou encerrando logo as tendências profissionais de seu pai
em tratar assuntos de família. Hermione estava visivelmente cansada e seguiu
direto para a carruagem doando apenas alguns poucos minutos de conversa
para sua mãe. Draco se serviu de uma bebida enquanto isso e assim que
Hermione deixou a sala quem se materializou próximo a ele foi seu pai.

- Percebeu o porque precisamos dela do nosso lado? – ele foi discreto.


Draco apernas ergueu o olhar para ele como se estivesse cansado o suficiente
para discutir sobre aquilo e tomou um gole de sua bebida.

- Não sei o porque tenta me convencer de que o cérebro dela é


excepcional. – começou ele – Eu sei o quanto Hermione é brilhante, pai. O
problema é que ela nunca estará do nosso lado.

- Ela não precisa estar necessariamente do nosso lado. Ela precisa apenas
ter uma motivação como agora. – disse Lúcio - Descubra o porque ela quer sua
secretária longe.

- Não é necessário que diga o que devo fazer quando sabe que eu já tenho
conhecimento disso. – Draco foi rude, virou de uma vez o copo e o devolveu a
bandeja de prata. – Espero que não me venha reclamar depois que tentei
resolver seus problemas sozinho mais uma vez. Sinto muito se te fiz ter que
passar a noite em casa por isso.

Seu pai soltou uma risada fraca.


- É divertido vê-lo me condenar por não querer passar a noite em casa.
Duvido que tenha vontade de entrar na sua toda vez que se lembra quem vai
estar lá dentro a sua espera. – ele sorriu – Pode ser fácil agora em que muito
provavelmente o sexo dela te satisfaz. – colocou a mão sobre o ombro de
Draco – Deixe que os anos passem e passará a me entender muito bem, filho.

Draco afastou-se com desgosto, deu meia volta e o deixou, mas quem sabe
Lúcio tivesse razão. Não sabia se deveria esperar que não e magicamente
nunca se cansar de Hermione ou se deveria esperar que sim e passar a dar
razão ao seu pai e a todas as justificativas que ele tinha para explicar a família
destruída na qual vivia.
Capítulo 15

Pansy Parkinson

Chegara do Centro cansada e enfurecida. Trabalhar com organização de


eventos para uma sociedade rica era extremamente exaustivo. Principalmente
em um dia como aquele quando o comentário de todas as bocas era um só. O
nome constante de Hermione soando em seus ouvidos a corroía de dentro para
fora e manter o humor durante aquele dia estava sendo um trabalho mais
árduo do que planejar festas perfeitas para as madames de Brampton Fort.

Jogou a bolsa sobre sua cama assim que entrou no conforto de sua torre. A
revista pulou para fora dela sobre sua colcha como se não pudesse lhe dar um
segundo de descanso e foi ao chão bem diante de seus pés. Ela leu pela
milésima vez naquele dia as letras em destaque da capa.

“A mulher que você gostaria de ser.”

Pansy abaixou-se e a pegou. O ódio dentro de si era tão profundo que ao invés
de fazer com que ela gritasse, queimasse aquilo ou quebrasse algo, ela apenas
se mantinha em um estado profundo de desgosto o frieza. Carregou aquilo em
suas mãos e a lançou sobre sua mesa ao lado da lareira.

“A mulher que você gostaria de ser.” Leu novamente.


“Descubra o segredo da inteligência de Hermione Malfoy.”

“Cinco fatos que você não sabia sobre a nova Sra. Malfoy.”

“De Hogwarts a Família mais importante do mundo bruxo.”

“Entrevista exclusiva com Hermione Malfoy.”

E lá estava ela. A figura de Hermione Granger Malfoy vestida como uma rainha
poderosa de pé sobre um cenário renascentista exuberante e rico bem ao lado
de uma alta cadeira real estofada perfeitamente branca. Sua mão repousava
discretamente sobre um dos braços dela e lá também estava o anel da família
gritando em seu dedo. Seu olhar profundo, a forma como seus cabelos se
moviam com o vento, sua expressão séria e o queixo na postura devida
mostrava que ela era sim uma Malfoy. Pansy havia treinado aquela mesma
pose por anos.
O ódio fez com que ela se sentasse calmamente em toda a sua classe. Seu
dedo passou as páginas insignificantes até ela novamente. Leu tudo. Cada
pequena preposição, cada minúsculo artigo, cada maldita palavra. E entrevista
era ridícula e girava em torno do trabalho que vinha fazendo dentro da Catedral
e o convívio com Draco, o que ela deixou debaixo de mistério falando que ele
era uma pessoa quieta e reservada. Pansy se irritava com tudo aquilo. O que
havia de especial naquela Sangue-Ruim? Será que ninguém percebia a
hipocrisia que se havia entorno da adoração que todos tinham pela figura
imaculada da de repente-influente Hermione Malfoy? E aquelas imagens?
Quando o interesse da mídia se fechou em torno da Sangue-Ruim Pansy ria por
dentro sabendo que a pobreza de Hermione nunca deixaria que ela tivesse tipo
para editorial e sessões fotográficas. Mas que mágica eles haviam feito para
fazer com que ela estivesse tão perfeita quanto exatamente era? Parecia que
ela não estava nem mesmo fazendo esforço nenhum! Fechou a revista com
nojo. Aquela mulher tinha o seu homem todos os dias e ela já havia se cansado
de dar o tempo que Draco havia imposto para que se adequasse a nova
companhia que estava tendo.

Olhou no relógio e sorriu. Era a hora perfeita. A hora que Hermione subia para
a torre dele todos os dias. Sabia porque monitorava Draco com uma frequência
até mesmo doentia. Levantou-se com pressa e cruzou a Catedral até chegar a
sala de Draco. A secretária nojenta havia sido demitida repentinamente há
quase dois meses atrás e desde então todas as piranhas de Brampton Fort
havia se candidatado para o cargo, mas Draco parecia querer alguém de
confiança, portanto o caminho para a sala dele ainda estava completamente
livre de qualquer intruso.

Bateu na porta apenas uma vez e a abriu sem se importar se ele queria receber
alguém ou não. Ele ergueu os olhos de sua mesa e dos papéis que pareciam o
ocupar no mesmo instante. Suas sobrancelhas se ergueram surpresa ao vê-la e
não pareceram muito contentes pois logo se unirão.
- Pensei que fosse Hermione. – disse e voltou para seus papéis.

- Preferiria que fosse ela? – indagou.

Ele não precisou de muito tempo para pensar aquela pergunta.

- Sim. – respondeu e aquilo a destruiu.

Pansy não soube o que pensar por um momento. Seria mesmo possível que
alguns meses de convivência e sexo frequente poderiam mudar a mente de
Draco com relação a aquela Sangue-Ruim.

- Sim? – viu-se repetir com indignação.


- Sim. – ergueu ele os olhos novamente com completo descaso. – Estou
ocupado e sei muito bem o porque veio aqui. Hermione viria apenas para fazer
algumas perguntas diárias e ir embora.

- E você preferiria as perguntas diárias a mim?!

Ele revirou os olhos.

- Eu estou ocupado, Pansy! – repetiu ele.

- Tem idéia de que estamos falando da Granger, a Sangue-Ruim?! Será que


ainda se lembra de tudo que ela representa para o nosso lado do mundo desde
Hogwarts?
Ele soltou o ar cansado ao vê-la se aproximando de sua mesa.

- Eu não me esqueci de quem é Hermione, Pansy! – disse impaciente – Mas


as coisas mudaram faz um bom tempo. Nós não estamos mais em Hogwarts,
ela não é mais a líder da Ordem e a guerra que lutamos agora é diferente.
Hermione é uma prisioneira em Brampton Fort. A vida que ela sempre quis
acabou. Ela é uma comensal, é minha esposa, vive em minha casa e dorme em
minha cama. Preciso aprender a conviver com ela de uma forma ou de outra e
por agora eu sigo a menos trabalhosa possível. Já me basta ter que carregar
uma guerra que não é minha nas costas há anos. Não quero chegar em minha
casa e ter outra para lutar.

- E onde eu fico agora que está brincando de casinha com a Sangue-Ruim,


Draco? – implicou ela. – Vocês se casam, ela aprende que sexo com você é
bom e então de repente Draco Malfoy se esquece de que há outras mulheres no
mundo.

- Não me esqueci disso. – disse ele.

- Então porque se faz de satisfeito com sua adorável esposa? Ela já deixou
de ser novidade para você faz muito tempo! É quase final de primavera e vocês
se casaram no outono do ano passado!
Ele fez um movimento rápido com as sobrancelhas como se estivesse surpreso
por saber que já havia se passado todo aquele tempo.

- Tem sido bom e diferente, Pansy. Tem sido o suficiente por agora, não
significa que será suficiente para sempre e não significa que eu nunca mais vou
tocar você se é o que quer saber.

- Então me prove isso agora. – ela pediu dando a volta na mesa e se


encostando nela bem ao lado dele.

Ele suspirou.

- Ah, Deus! – cobriu o rosto com as mãos cansado – Pansy, não teste a
minha paciência, sabe onde isso pode dar.
- E a sua paciência é sempre a única que importa, não é? Por que me
colocar de molho enquanto aproveita sua lua-de-mel eterna com a Sangue-
Ruim não foi testar nem um pouco da minha não, não é? – ele revirou os olhos
e ela se irritou – Me conhece e sabe que eu não iria te incomodar se fosse
qualquer outra mulher. Igual quando esteve com Astoria. Mas estamos falando
de Hermione Jane Granger! Esta preferindo ela do que qualquer outra mulher.
Será que tem idéia do quanto isso soa errado e perfeitamente desprezível?!

- Não estou preferindo Hermione! – ele se levantou – Merlim! Tenho


deveres a cumprir com ela. Posso ser o Draco que todos falam, mas eu não
tenho energia para dar conta de ter que comandar um exército, lutar uma
guerra, lidar com o Mestre, fazer os meus treinos, aguentar Hermione e ficar
com outras mulheres! Tenho que administrar o meu tempo da melhor forma
possível e por agora Hermione tem suprido o meu lado sexual, não é bem uma
questão de preferencia.

- Eu sei quem você é, Draco Malfoy. – ela estreitou os olhos. – Você está a
preferindo sim porque Draco Malfoy nunca se deixaria ser sexualmente
satisfeito pela mesma mulher por tanto tempo seguido. – ela se aproximou e
passou os braços ao redor do pescoço dele. – Esse lugar é meu! – sussurrou
ficando a centímetros do rosto dele – Sou a única mulher do qual nunca se
cansou. – segurou o rosto dele e olhou fundo em seus olhos poderosos – Ela já
tomou meu lugar ao seu lado, não deixe que ela também me tome esse. - O
olhar dele mudou e ela soube que era daquele olhar que ela precisava, era
ainda o olhar duro que ele sempre tinha, mas era o olhar que ela sabia
persuadir. Ele sabia que naquele momento ele se lembrava de que haviam
crescido juntos, que haviam compartilhado de muitas coisas juntos, que de
alguma forma se pertenciam. - Sabe que eu preciso de um espaço em sua
vida, Draco. Tem me fechado por culpa de Hermione. Deveria se julgar pela
troca que está fazendo. Não creio que possa estar agindo de forma consciente
quando volta para casa ao invés de subir até minha torre. – fechou a boca
rapidamente sobre os lábios dele e recuou alguns poucos centímetros – Não
precisa estar com ela todos os dias.
- Gosto do sexo que tenho com ela. – a sinceridade dele sempre a
machucava, ele sempre se preocupava em não alimentar nada dentro dela e ela
havia se acostumado com aquilo.

- E você a terá para o resto da vida. – respondeu sentindo a primeira


resposta dele quando seus quadris foram agarrados. – Terá muito tempo para
usar do sexo dela. – colocou sua boca na dele mais uma vez e ele não a
rejeitou – Volte para mim agora. – sussurrou – Sempre volta para mim. – e
tornou a beijá-lo.

Ele a aceitou e deu um passo para colar seu corpo no dela. Pansy sentiu sua
vitória e desfrutou do único homem que ela amava na vida a tocando e a
beijando. Aquele era o único momento que ela sentia que poderia se desligar
de qualquer outra coisa. Ela o tinha e adorava a forma como ele sabia se
apropriar do corpo dela. Eles tinham uma história juntos, uma história longa, e
ele a conhecia como nenhum outro jamais conheceria, ele sabia como ela
funcionava por inteiro e ele sabia como trabalhar com ela. Confiava nele.

Draco a colocou sobre a mesa e foi somente quando ele abaixou o zíper de sua
roupa e descobriu seus ombros que ela soube que ele estava disposto a provar
que ela nunca sairia da vida dele, que ele sempre estaria lá para tocá-la quando
quisesse, mas os passos do lado de fora da sala, algumas batidas na porta e a
entrada de Hermione fez com que ele se desgrudasse.
Pansy se virou para receber o olhar que gostaria. Ela pareceu primeiramente
confusa pelo que via, mas rapidamente sua expressão se tornou serena e
inexpressiva enquanto seus olhos pulavam de Draco para Pansy com muita
calma. Ela deu um passo a frente sem medo.

- Deveria trancar a porta. – a voz dela soou rígida pela sala em direção a
Draco.

- Lembrarei disso da próxima vez. – ele respondeu firme tentando mostrar


aborrecimento por ter sido interrompido embora certamente estivesse
perturbado pois era notável que Pansy havia conseguido distraí-lo ao ponto de
fazer com que ele se esquecesse que aquela era a hora que normalmente
recebia Hermione em sua sala.

- Seja rápida Sangue-Ruim, não vê que está nos tomando tempo? – Pansy
deliciou-se ao dizer aquilo enquanto colocava as alças de sua roupa no lugar.

O olhar de Hermione foi frio quando piscou com calma e direcionou-se para ela.
Aqueles olhos dourados ficaram sobre ela alguns segundos como se estivesse
pensando se valia a pena retrucar aquilo ou não. A conclusão pareceu ter feito
com que ela resolvesse ignorar, pois tornou a piscar e voltar seus olhos para
cima de Draco. Havia desgosto e desprezo agora.
- Estou voltando para casa. – ela anunciou – Vai estar lá para o jantar?

- Sim. – ele respondeu.

- Devo atrasá-lo? – ela perguntou lançando um rápido olhar a Pansy. Se


referia ao fato dele querer mais tempo para ficar na Catedral com ela. Pansy
esperou que ele respondesse “sim”.

- Não. – foi o que ele respondeu. – Tem algo importante para mim?

Ela ficou em silêncio. Seu olhar continuou firme e por alguma razão ele se
tornou um pouco significativo demais. Um envelope que ela carregava nas
mãos fez um barulho discreto quando a palma de sua mão se fechou contra ele
de forma nada gentil.
- Não. – ela arrastou-se para responder. Respirou fundo e recuou um
passo. – Não tenho a intenção de atrapalhar a diversão de vocês. – forçou um
sorriso de desprezo. – Devo trancar a porta?

- Não há necessidade. – ele respondeu não gostando da sugestão irônica


que ela havia feito.

- Tem certeza? Não há nenhuma secretaria para deter visitar por....

- Não há necessidade, Hermione! – ele a cortou e desse vez foi irritado.

Hermione se calou e Pansy recebeu um olhar muito seco vindo dela. Pansy fez
questão de abrir um sorrisinho vitorioso e ela nada respondeu com o olhar,
continuou firme e muito calmo. Ela tornou olhar para Draco.
- Vejo você em casa. – disse para ele e saiu e então Pansy soube que
aquela era a resposta ao seu sorriso vitorioso porque não importava que fosse
importante para Draco e que tivessem uma história juntos, era ela quem o teria
para o resto da vida compartilhando da mesma cama, do mesmo lar, da mesma
família.

Pansy olhou para Draco sentindo o incomodo de saber que sempre seria um
objeto pairando entre os Malfoy. Era uma escolha que ela havia feito em não
sair daquela zona porque mesmo que sua razão a dissesse que estava agindo
de maneira estúpida, seu coração não deixava que ela abandonasse todos os
sentimentos que a ligava a Draco.

- Saia. – ele foi frio ao ordenar aquilo e ela soube que ele havia entendido a
intenção da visita dela.

- Não dá pra acreditar que vai ficar irritado! – exclamou ela.

- Pansy, eu fui muito objetivo. – ele a encarou com aquele olhar mortal
enquanto tornava a se sentar – Saia! – repetiu com muito gosto.
Ela saiu de cima da mesa se irritando também. Ele não deveria ficar irritado,
pelo contrário, onde estava o espírito que sempre havia existido nele em querer
humilhar Hermione? Ele deveria estar se sentindo bem por deixar claro para ela
que ele jamais seria um marido fiel.

- Por que está irritado? Não vamos continuar aquilo que começamos? –
soltou ela com indignação.

- Não. – ele foi objetivo e voltou a se concentrar naquilo que havia deixado
de lado quando se levantou.

- Não? – ela não conseguia acreditar no que estava ouvindo.

- Se não conseguiu entender, eu disse a Hermione que vou estar em casa


para o jantar no horário de sempre o que me deixa muito pouco tempo para
terminar aquilo que eu já estava fazendo quando você entrou por aquela porta!
– ele se fez bastante claro. – Agora, saia!
- Estar incomodado por saber que ela o viu...

- Pansy! – a voz dele foi um tom mais alto, curto, seco e temível em o grau
que a fez recuar. O aviso foi claro: “basta!”. E ela parou, sabia que não deveria
avançar aquele ponto. – S-a-i-a!

Ela saiu.

Draco Malfoy
Ele se viu parado de frente a porta principal de sua própria casa. O vento úmido
da noite alertava o início, ainda não tão próximo, do verão. Pansy apontara
para ele o tempo que se havia passado desde seu casamento e ele mal
conseguia acreditar que já estava com Hermione em sua casa há tanto tempo.
Logo faria um ano e para ele sequer parecia ter se passado um mês, ainda se
lembrava da noite de seu casamento como se não tivesse sido há muito tempo.

Entrou e o silêncio usual o recebeu. O vazio de sua casa o acolhia com frieza e
ele já estava acostumado. Olhou no relógio em seu bolso para checar se estava
sendo pontual e dirigiu-se para a sala de jantar.

Lá estava Hermione vindo de uma das entradas que dava para a cozinha em
seus trajes elegantes e ao mesmo tempo discretos. Ela parou ao lado de sua
cadeira com o olhar firme em direção a ele. Detrás daquele olhar havia a
sombra do que ela vira há algumas horas atrás em sua sala.

Draco preferia ignorar qualquer reação que ela queria ter diante daquilo. Ela
não tinha direito. Sempre soubera que ele jamais seria um marido fiel, e da
parte dela também não era necessário que houvesse qualquer resposta, afinal,
ela o odiava. Mas enquanto caminhava para tomar seu assento ele se sentia na
pele de seu pai, encarando sua mãe. Quantas vezes sua mãe não deveria ter se
sentado a mesa com seu pai sabendo das mulheres com o qual ele havia
passado suas horas do dia.
Puxou sua cadeira e sentou-se sentindo o gosto de todas aquelas sensações
amargar em sua garganta. Hermione se sentou logo em seguida. O silêncio era
o de sempre, mas dessa vez era extremamente incomodo. Ordenou que Tryn
servisse a entrada e assim foi feito.

Hermione deu duas garfadas e parou. Ela vinha repetindo aquela forma de
comer faziam alguns dias e o café da manhã era a refeição que definitivamente
ela parecia ter abolido. Ele não se importava com o fato dela não ter fome, mas
aquilo soou para ele como um pretexto para quebrar aquele silêncio
insuportável.

- Tinha algo para me entregar quando foi a minha sala. – acabou por dizer
aquilo quando abriu a boca.

Ela ergueu o olhar para ele.

- Não tinha. – foi clara.


- O envelope que segurava. – ele a lembrou. – Era para mim.

- Era apenas uma envelope que eu segurava. – ela sobrepôs. Pausou e foi
naquele único segundo de pausa que ele percebeu que o cérebro dela trabalhou
rapidamente – Papéis sobre a gerência das casas de justiça. Estamos nos
processos finais. Tinha que trazer para casa. – foi tudo que ela disse.

Ele a olhou enquanto engolia sua comida e tomou um breve gole de seu vinho.

- Sei que era para mim. – disse e esperou por uma resposta dela, mas não
houve nenhuma. O olhar que ela tinha sobre ele era cheio de julgamentos. –
Tudo bem. – respondeu de forma calma ao modo agressivo com o qual ela o
olhava e tornou a focar-se em sua comida. – Não é necessário que o passe a
mim se julgar que não deve. – encheu a boca de comida e a viu brincar com a
dela no prato. – Quando será seu discurso? – perguntou assim que esvaziou a
boca.

- Por que quer conversar, Draco? – ela foi agressiva novamente pelo tom
cansado e sem paciência que ela usou. A verdade era que o irritava saber que
ela estava irritada. Ela não deveria estar!
- Não quero conversar, quero saber quando será o seu discurso. – ele sabia
que continuar fazendo com que ela falasse a irritaria mais ainda. E o fato dele
estar irritado com ela fazia com que ele quisesse vê-la ainda mais irritada.

- Pensei que não fosse do seu agrado que levantássemos diálogos na hora
do jantar...

- Hermione! – ele se irritou finalmente e a encarou. – É muito simples: eu


faço a pergunta, você responde! Quando será o seu discurso?

Eles tiveram uma guerra naquela troca de olhares silenciosa.

- Mês que vem. – ela respondeu quase que arrastada.


- Quero ter acesso a ele antes de todos os outros. – e voltou-se para sua
comida.

- Isso é impossível, Jodie deve ser a primeira a lê-lo.

- Jodie está do lado de Theodoro, ela modificará qualquer coisa que


escrever para beneficiar os interesses dele. Acha que os dois não trabalham
juntos? Jodie desceu do cargo que ela tinha para ajudar alguém a subir para
um cargo maior que o dela. Por mais amigos que os dois sejam, ela não está
fazendo isso por caridade.

- E você quer o discurso primeiro para modifica-lo de modo que os seus


interesses sejam beneficiados? O discurso é meu, Draco! Jodie disse que eu
tenho total autonomia sobre ele, o farei do modo como julgar melhor, e
ninguém irá modificá-lo.

- Pensei que tivéssemos concordado em trabalhar juntos desde que


apresentou o caso dos Mori.
- Trabalhamos juntos no caso dos Mori porque eu tinha interesses nele o
trouxendo a tona. Sabe disso.

- E uma coisa não liga a outra?

- Não, Draco. – ela se levantou – Eu não estou do seu lado. Nós não somos
um time. Eu não quero que trabalhe no meu discurso para promover seus
interesses. Interesses que eu não tenho conhecimento nenhum.

- É uma tola por acreditar que pode vencer algo aqui dentro sozinha. Deve
escolher bem seus aliados e não sei se percebeu mas o sobrenome que tem te
dá uma excelente dica sobre o lado que deveria escolher. Pode continuar
querendo seguir a hierarquia do departamento em que trabalha, mas vou te
dizer algo, Hermione. Jodie trabalha para Theodoro e acredite ou não, ela faz o
que ele manda. Por mais que ela tenha dito que terá autonomia no seu
discurso, se ele pedir para mudá-lo, você terá que mudar e não sei se percebeu
mas Theodoro não tem sido um bom colaborador para o nosso lado nesses
últimos tempos.

- Pensei que ele fosse seu amigo.


- E ele é.

- Isso não é amizade.

- E o que é amizade para você, Hermione? – Draco largou os talheres e


levantou os olhos para ela.

- Companheirismo. – ela parecia saber bem o que era. – Confiança. – Ah,


sim. Ela vivia no lindo mundo de fantasias, ele havia se esquecido disso. – Ter
amigos é como ter uma outra família.

Ele riu.
- Uma família como a que perdeu? – não soube exatamente o porque
deixou que sua provocação chegasse até aquele nível, mas o fogo de ódio que
brilhou nos olhos dela não o deixou se surpreender quando seu prato de comida
foi atirado contra ele num ato de pura violência. A comida sujou sua roupa cara
e ele não se importou. Era o mínimo que ela poderia ter feito diante de uma
ofensa como aquela. Ele passou os olhos pela sujeira que ela havia feito e
depois a olhou novamente. Algum palavrão muito pesado parecia estar
querendo sair da boca dela, mas todo aquele ódio pareceu descer amargo
porque de repente os olhos dela brilharam se enchendo de água e então ela se
retirou antes que ele pudesse ver qualquer cena que não quisesse.

Suspirou. Procurou por sua varinha enquanto gritava por Tryn. Limpou-se e
pediu para que elfa fizesse o mesmo com o restante da sala de jantar.
Levantou e subiu para seu escritório batendo a porta com mais força do que
deveria quando finalmente chegou no lugar.

Se ela se achava no direito de ter raiva apenas por ter o visto com Pansy, ele
faria com que ela tivesse ainda mais raiva até que finalmente ela resolvesse
abrir a boca e soltar tudo aquilo que queria dizer a ele. Até porque tudo que ele
queria era entender o que a fazia ter raiva.

Estirou-se em sua poltrona fazendo seus dedos massagearem os olhos


enquanto ordenava que um copo de whisky se enchesse e fosse até ele. O
tomou aos poucos enquanto tentava esvaziar sua mente. Tentou novamente
enquanto esvaziava o segundo copo, mas ainda assim não conseguia esquecer
a imagem de Hermione com aquela expressão crua, limpa e fria passando os
olhos dele para Pansy. Ele tinha uma certa culpa sim. Não por Hermione mas
por ter sido levado por Pansy numa situação como aquela. O problema é que
imaginar que estava vivendo para uma mulher apenas e essa mulher sendo
Hermione o fazia ter repulsa de si mesmo e Pansy cuspira isso em sua cara.

Sentiu-se sufocado de repente. Passou a tirar seu terno, a gravata, a abrir os


botões de sua camisa e puxar as mangas. Soltou o ar de uma vez e cobriu o
rosto. Bagunçou os cabelos se levantou e perceber que não conseguiria viver se
não resolvesse aquilo.

Foi para o quarto e o encontrou vazio, silencioso e escuro. O lado da cama de


Hermione estava intacto. Seguiu para o lavatório onde as luzes estavam
acessas. Ela estava lá, de costas para ele, de frente para o espelho. Vestia seu
hobby e passava loção nos braços. Ela parou assim que notou a presença dele.
Ergueu os olhos para o espelho conseguindo visualiza-lo as suas costas. Os
olhos dela estavam vermelhos. Ela havia chorado, portanto parecia cansada.

Draco se aproximou sem medo. Colou seu corpo contra o dela e segurou a
bancada passando os braços um de cada lado fazendo com que Hermione não
tivesse rota de escape. Ela soltou o ar cansada. Eles se encararam pelo
espelho. O silêncio soou desafiador entre eles. Era óbvio que ela o queria a
milhões me metros de distância, mas ela aparentava estar tão cansada e com
tanto ódio que um parecia ter o poder de anular a força do outro, portanto ela
apenas permaneceu ali.

- Tem direito de ter raiva pelas coisas que eu disse durante o jantar. –
começou ele.
- Isso é o um pedido de desculpas? – o olhar dela continuava carregado de
repreensão.

- Não peço desculpas por aquilo que eu repetiria novamente.

Ela soltou o ar fazendo uma careta de nojo.

- Me deixe ir. – exigiu ela friamente quando viu que não tinha rota de
escape.

- Não antes de explicar o porque se acha no direito de ficar com raiva por
ter me visto com Pansy.
O olhar dela subiu para ele pelo espelho surpreso dessa vez. Ela parecia não
acreditar que ele estava querendo mesmo tocar naquele assunto. Tomou
alguns segundos para processar e aceitou entrar naquele assunto com
coragem.

- Está sugerindo que eu não teria o direito de ficar com raiva?

- Não estou sugerindo nada, Hermione. – ela queria o enrolar, só podia. –


Fui bem claro. Está com raiva por ter me visto com Pansy.

- E eu não poderia estar?

Ele soltou o ar sentindo que poderia se irritar facilmente daquele ponto.


- Não me faça ter que te explicar sobre a relação que eu e você...

- Não sou burra, Draco! – ela o cortou – Sei bem sobre a nossa relação,
mas o fato de estarmos juntos por um contrato não me faz ser menos humana.

Ele não entendeu exatamente.

- Nós não temos envolvimento, Hermione. – ele quis deixar claro.

- Está errado. – ela foi firme – Pelo contrário. Temos um envolvimento


desde que nos conhecemos...

- Não um envolvimento que justifique o fato de ficar com raiva por ter me
visto com...
- Sou sua esposa! – ela o cortou subindo o tom de sua voz. Ele pode sentir
a fúria emanar dela e resolveu se afastar. Ela voltou-se para ele e aqueles
olhos dourados agora se dirigiram a ele diretamente. – Você me deve
respeito...

- Eu não devo nada a...

- Sim, deve! – o tom dela era profundamente severo – Temos nos odiado
por muito tempo, Draco e não é porque moramos debaixo do mesmo teto que
isso vai mudar! Mas não pense que tem o direito de me tocar com essas mãos
e me fazer ver essas mesmas tocando outro corpo. Entenda bem que não estou
pedindo por sua fidelidade, até porque sei que não seria fiel nem se quisesse,
estou pedindo que não me deixe ver você com as mulheres que leva para
cama. Sei que sou mais um dos seus objetos sexuais, não é necessário que me
dê provas! – ela deu as costas e tomou o rumo da saída.

- É isso que considera respeito? Que eu leve mulheres para a cama pelas
suas costas?

Ela tornou a se virar.


- Não. Isso não é exatamente o que eu considero respeito. Mas o que eu
poderia exigir de alguém que não sabe nem um terço do que significa respeito,
não é mesmo Draco? Você não tem qualidade para me respeitar, por isso estou
pedindo que pelo menos considere o grau do status que temos dá melhor forma
possível.

- Respeito é algo que fica difícil de administrar na nossa relação...

- Esqueça a nossa relação, Draco! – ela aumentou o tom ainda mais ao


cortá-lo. – Somos casados! O que eu chamo de lar é onde você também vive!
Somos família querendo ou não! Serei a mãe do seu filho! Não tem mais como
mudar isso, está além das nossas vontades! Sabe disso! Não estou pedindo o
seu respeito genuíno, até porque não saberia dá-lo! Estou apenas implorando
para que considere que sou humana, que não sou abrigada a ver o homem que
me toca quando quer levando outras mulheres para cama! Não me importo que
tenha aprendido isso com seu pai, mas se o odeia tanto pelo que ele faz com
sua mãe, use pelo menos o bom senso quando for pensar em nós. Está no
mesmo lugar que ele agora, idependente do ódio que tem por mim!

Ela deu as costas novamente e dessa vez ele a deixou ir. Sim, ele estava no
lugar de seu pai agora e isso as vezes o deixava sem saída. Afinal, era isso que
seu pai queria quando o fez se casar com Hermione. Soltou o ar sentindo-se
revoltado por saber que ela tinha um ponto a defender quando soltou tudo
aquilo e ele deveria considerar cada palavra daquela.
Se havia aprendido algo com Hermione era que quanto mais ele atacasse, mais
ela teria para contraatacar e o que ele não queria era incentivar a falta de
respeito na pobre e fraca relação que tinham conseguido equilibrar, senão
viveriam um inferno pior a cada dia e ele havia descoberto que viver um inferno
todo dia com Hermione era extremamente cansativo.

Soltou o ar cansado e foi tomar seu banho. Demorou mais tempo do que o que
havia previsto, mas sentiu que havia renovado um pouco das forças e
organizado um pouco a sua mente. As palavras de Hermione continuavam
sendo remoídas em sua cabeça e foi assim que ele voltou para o quarto.

Encontrou Hermione debaixo de uma luz fraca no sofá próximo a lareira. Ela lia
um livro grande e pesado e levantou os olhos para ele assim que o viu voltando
para o quarto. Ele parou. Encararam-se por alguns segundos. Ela ainda não
tinha nenhum olhar amigável.

- Vinho? – ele resolveu oferecer.


Ela deu de ombros e ele tomou aquilo como um sim. Ocupou-se em encher
uma taça para ela e uma para ele. Ele jamais faria aquilo em seu estado
normal, mas talvez aquele fosse o primeiro dia de sua vida inteira que ele havia
aceitado que Hermione era sua esposa, não pelo status, não pelo casamento,
ou pelo novo sobrenome dela, mas por finalmente entender que aquela era a
mulher que estaria com ele para o resto da vida e que aquilo era
definitivamente permanente. Ele não tinha para onde correr.

Foi até ela e estendeu a taça. Ela a pegou e ele rumou para o sofá oposto onde
se estirou da maneira mais confortável possível. O silêncio entre ele pairou
enquanto Hermione tinha sua taça nas mãos e mantinha os olhos nele como se
estivesse esperando por aquilo que ele fosse fazer em seguida com muita
curiosidade.

- Sabe que se não estivesse com essa cara muito provavelmente


estaríamos fazendo sexo, não sabe?

Ela revirou os olhos como se ele tivesse matado alguma expectativa dela.

- Não somos mais tão animais quanto éramos antes. – foi o que ela
comentou.
- Não importa. Sabe que estaríamos. – disse e tomou do vinho.

Ela soltou o ar não muito contente por saber a verdade que ele falava e levou
sua taça a boca. Mas foi exatamente quando ela estava a entornando que
parou a meio caminho. Afastou a taça e olhou com um olhar diferente para o
líquido em seu copo. Draco a examinou enquanto ela ficava ali entretida com o
funcionamento engenhoso de seu cérebro.

- Não está envenenada. – ele resolveu se manifestar e ela levantou os


olhos para ele como se tivesse sido arrancada de uma tempestade de
pensamentos.

- Sei disso. – ela usou uma voz muito baixa para responder.

- O que há de errado então com a bebida?


Ela fez que não com a cabeça e puxou o ar como se estivesse procurando o que
dizer.

- Não a quero. – foi o que saiu de sua boca. A aliança que tinha em seu
dedo fez um ruído contra o vidro e Hermione colocou sua taça na pequena
mesa que havia ao lado.

Ele não discutiu. Desviou o olhar para a lareira apagada logo ao lado. Deixou
que seus pensamentos fluíssem e se perguntou se não seria interessante que
ele e Hermione fizessem aquilo com mais frequência. Embora não dissessem
nada, ele sentia que havia uma quebra da tensão com a qual eles dois lhe
davam sempre que estavam juntos. Afinal, Hermione estava certa quando
diziam que eles tinham sim um envolvimento. Eram envolvidos um com o outro
desde que se conheceram. Primeiro aquela relação de gato e rato em Hogwarts,
depois um contra o outro em uma guerra mundial, agora marido e mulher. Ele
sentia que aquele silêncio carregava o cansaço da longa histório que já haviam
tido.

- Eu nunca quis ser como o meu pai. – se permitiu dizer depois de alguns
longos minutos em silêncio e soube que aquilo seria suficiente para alertá-la.
Ele não queria ter aquele tipo de conversa, mas sabia que em algum ponto de
sua longa vida com Hermione aquilo deveria ser posto as claras. – Eu
costumava pensar que ele um dia seria o herói da humaninade, que ele salvaria
o mundo e ensinaria a todos sobre os preconceitos que ele havia me ensinado,
que o mundo o exaltaria e que então eu seguiria seu legado. – tomou um gole
de seu vinho. – Mas então Lorde Voldemort reapareceu, eu vi que minha família
não era a fachada que aparecia nas revistas e finalmente consegui ver que meu
pai não passava de um cafajeste influente. Mas isso é o que menos me faz
odiá-lo. O que mais me irrita além do descaso que ele tem por minha mãe é a
forma como ele tenta justificar quem ele é me colocando na mesma situação
que ele. Dentro de uma casa, com uma aliança na mão, tento o poder que eu
tenho e ao lado de uma mulher que me obrigaram a chamar de esposa. –
soltou o ar com calma – Não queria que tivesse visto o que viu hoje, fez com
que eu me sentisse como ele.

Tornou a encará-la e viu seu olhar repreensivo suaviar aos poucos. Ela abaixou
os olhos para o livro em suas pernas e passou os dedos pela folha
distraidamente.

- É bom saber que afetou os dois lados. – sua voz soou calma dessa vez.
Ela passou a página e ergueu os olhos dourados para ele – Foi bom ter sido
honesto. Nos poupou de uma semana muito desconfortável em casa.

Ele sabia que ela ficaria com aquele olhar rancoroso por bem mais de uma
semana. Conhecia pouco sobre Hermione, mas sabia que ela não se sentia bem
sabendo que estava agindo como animal indo para cama com ele apenas por
prazer. Havia sido uma longa jornada até fazer com que ela se sentisse
realmente confortável fazendo isso, não queria tocar naquela ferida enquanto
não tivesse certeza de que havia sido cicatrizada.

O silêncio entre eles durou. Draco deixou que rolasse e ela também. Era a
primeira vez que se encontravam naquela situação, a primeira vez que
partilhavam de um ambiente onde não estivessem de passagem, tratando de
algo importante por obrigação, fazendo sexo, comendo ou dormindo. Aquilo
parecia confortável e íntimo para o que significavam um para o outro.

Hermione puxou o ar e fechou seu pesado livro. Draco a olhou e eles se


encararam por alguns segundos.

- Já encontrou alguém para seu escritório? – ela perguntou.

Ele negou com a cabeça.

- Preciso de alguém que eu consiga controlar e isso é algo um pouco difícil


de se encontrar em Brampton Fort quando se tem a inteligência e capacidade
que quero.

Ela parecia concordar com aquilo.


- Gostaria de ter acesso a alguns de seus documentos. – ela foi bem direta
e ele quase riu da tentativa.

- O que não vai acontecer. – mas ele bem sabia que ela havia encontrado
uma maneira de revirar seus arquivos se aproveitando da fragilidade em seu
escritório agora que ele estava sem secretária.

Hermione soltou o ar erguendo as sobrancelhas sem se importar muito com o


não que havia recebido. Ela já sabia que o receberia afinal. Colocou o livro de
lado e se levantou.

- Vou dormir. – foi a despedida dela e deu as costas.

- Temos que acordar meia hora mais cedo. – ele lembrou-se de avisá-la. –
Adiantei a reunião com o Conselho, assim não se atrasará para suas visitas a
Academia nessas semanas finais.
Ela parou e virou-se para ele com uma expressão de surpresa contida. Assentiu
com a cabeça e disse:

- Sem problemas. – afinal, eles nunca diziam obrigado um para o outro,


nem pediam desculpas.

Assentiu de volta em sinal de que havia entendido e desviou o olhar. Soube que
ela tomou o rumo da cama e ele se reacomodou no sofá. Bebeu mais um gole
de seu vinho e deixou o sabor lhe dizer tudo sobre aquela safra. Engoliu e seus
olhos caíram sobre a taça cheia de Hermione do outro lado na mesinha ao lado
da onde estava a minutos atrás. Sua cabeça vagou inconsciente por milhões de
pensamentos e foi somente depois de alguns minutos que percebeu que estava
conseguindo ligar um ponto ao outro. Ela quase não comia e quando comia,
comia muito. Também dormia mais do que o usual, não estava bebendo álcool,
se sentia cansada com frequência. Draco não sabia muito bem mas... Seus
olhos pularam para a figura de Hermione despindo-se de seus hobby. Sabia que
deveria perguntar, mas não sabia se estava pronto para receber uma resposta
que não gostaria de ouvir. Tornou a encarar o vinho deixado por Hermione. Não
sabia o que pensar direito, mas se algo estava ficando claro ali era que ela
muito provavelmente estava grávida e ele não tinha a menor idéia de como
reagir a isso.

Uma noite nunca fora tão longa. Havia demorado para sair do conforto de perto
da lareira para a cama, e ao deitar ele não havia conseguido engatar em
nenhum sono muito profundo. Além de ter demorado para conseguir pregar os
olhos, seus sonos superficiais o traziam para a realidade com frequência. Teve
tempo para pensar mais do que para dormir e quando deu a hora para eles,
Draco já havia colocado sua cabeça em ordem.

Hermione sentou-se primeiro do que ele embora ele sempre levantasse


primeiro que ela. A noite não havia sido boa para ambos e Draco notou que
mesmo antes do relório bater a hora que deveriam se levantar já estavam
acordados. Ela alinhou a coluna como se tentasse aliviar a tensão muscular da
noite mal dormida e colocou as pernas para fora da cama. Sentada jogou o
cabelo todo para um lado, respirou fundo e quando soltou o ar ele viu que ela
não tinha ânimo nenhum para levantar.

Ele se esticou do seu lado e colocou os braços para trás como apoio para sua
cabeça. Hermione virou os olhos para ele e ele a olhou de volta. Se encararam
no escuro da manhã em silêncio por um bom tempo até que ele abrisse a boca:

- Problemas?

- Não me sinto bem. – ela respondeu com a voz rouca e preguiçosa.


- É a segunda vez essa semana. – comentou ele depois de alguns
segundos.

- É a segunda vez essa semana que eu digo. – ela disse e com aquilo ele
pode concluir que ela não estava se sentindo bem todos os dias.

Ela virou-se deixando de encará-lo.

- Se não for a Catedral é melhor que começe a preparar suas cartas de


justificativa. – disse ele.

Hermione suspirou.

- É apenas durante as manhãs. – ela se levantou cansada – Passará.


Ele a observou vestir o hobby com calma e tomar o rumo do lavatório.
Na semana anterior ela não havia ido a Catedral uma vez por não ter se sentido
bem, talvez ela acabasse resolvendo ficar. Era justificável em seu estado, claro.

Ele se sentou, esfregou os olhos e passou os dedos por entre os cabelos.


Supirou e se levantou. Alguns dias ele sentia que estava cansado daquela
rotina e se perguntava quanto tempo mais demoraria, mas então se lembrava
de que deveria ser paciente e foi assim que ele seguiu para o lavatório, mas
logo quando passou do arco principal e atravessou o vestíbulo, conseguiu ver
Hermione debruçada sobre a pia segurando os cabelos com uma mão e a
varinha com a outra. Ele parou e ela abriu a torneira colocando água na boca,
cuspiu e ergueu-se soltando os cabelos. Ela parecia completamente sem forças.
Pelo espelho o suor frio brilhava em sua testa, mas ela parecia bem mais
corada agora.

- Está grávida? – ele perguntou de uma vez quando o olhar dela se


encontrou com o dele as suas costas pelo espelho. Ela ficou muda. Ele esperou
que ela respondesse, mas nada veio dela. Draco realmente não estava com
paciência para qualquer drama que ela estivesse enfrentando. – Hermione,
você está...

- Sim. – ela soltou antes que ele terminasse sua pergunta.


A resposta o incomodou, mas já estava pronto para ela.

- Há quanto tempo sabe?

- Recebi o resultado ontem.

- E quando pretendia me contar?

Ela parecia não querer responder aquilo.

- Ontem. – acabou por dizer – Quando fui a sua sala.


Então ele finalmente entendeu o motivo do envelope. Sabia que era para ele.
Aproximou-se indo para seu lado da pia. Empurrou o espelho e puxou a lâmina
para tirar os pelos do rosto. Hermione continava estática ao seu lado.

- O mestre sabe disso? – perguntou ele da maneira mais casual que


conseguiu.

- Não. – a voz dela saiu baixa.

- Deveria contar a ele. – disse analisando pelo espelho que lado do rosto
seria melhor para começar.

- Não deveríamos fazer isso juntos?


- Não é meu herdeiro, Hermione, é o dele. – ele disse passando o creme
pela barba. – Não tenho muita coisa haver com isso. Ele queria um filho seu,
não queria? Aí está o filho. – molhou a lâmina - Dê a ele quando nascer. –
finalizou e começou a raspar os fios de seu rosto.

Ela ainda continou ali. Chocada. Esperou que o lado ferido dela começasse a
exclamar que ele não tinha coração, não era ser humano, não se importava
com a humanidade das outras pessoas, mas o que recebeu em resposta foi a
raiva dela vestida com as roupas Malfoy que havia adiquirido depois que ela
tomou todos os segundos que precisava para acreditar em tudo que ele havia
dito.

- Pedirei que mandem o resultado para ele. – disse secamente, deu as


costas e saiu. Ela não melhoraria aquele humor tão cedo depois de ter o visto
com Pansy e depois de ter escutado o que ele havia dito ali, mas ele não se
importava, ou pelo menos achava que não.
Capítulo 16

Hermione Malfoy

Bateu na porta e esperou, quem abriu foi Luna e assim que a loira a viu, abriu
um sorriso e deixou que ela passasse para o lado de
dentro. Whitehall continuava exatamente como ela se lembrava, a única
diferença era que Luna havia feito do lugar uma zona bastante habitável. Os
dois caldeirões próximos a fachada de vidro ficavam sempre a fogo baixo, as
janelas sempre abertas para o pátio leste e papéis e livros espalhados por cima
da mesa eram reflexo do intenso trabalho que Hermione lhe passava.
- Que bom que veio, tenho cinzas pela lareira inteira e não sei como limpar
isso sem uma varinha. – sorriu Luna fechando a porta as suas costas –
Ninguém colocou uma elfa a minha disposição como fizeram com você. –
brincou a loira. – Tento manter tudo em bom estado, mas fica difícil quando
não se pode usar magia. Meu pai sempre me tirava a varinha alguns finais de
semana para mostrar o quanto eu havia me tornado dependente dela. Ele
sempre tinha razão. – Hermione agitou sua varinha contra a lareira e em um
instante tudo estava limpo. Virou-se para a loira e elas se encararam em
silêncio até que Luna percebesse que havia algo de errado com o motivo da
visita que recebia. – O que houve?

- Voldemort está me chamando para ir até seu gabinete. – soltou de uma


vez – Agora. – mostrou a marca em seu braço, mais clara do que nunca.

Luna desfez o sorriso que tinha no rosto com rapidez. Apressou-se na direção
de Hermione e olhou a marca mais de perto.

- Não pode ir até ele. Nott não está te liberando dos seus serviços já faz
quase um mês. Sua posse será semana que vem. Tem muito o que fazer.

- Luna, se esqueceu de quem Voldemort é aqui dentro?


As duas se calaram.

- Tem que avisar a Draco. – Luna colocou.

- Draco deixará Brampton Fort hoje a noite com a zona sete. Está trancado
com eles no quartel desde ontem. Sabe que isso é quase a religião dele.
Ninguém lhe passaria essa informação e mesmo que lhe passassem, ele pouco
se importaria. Draco pode ser meu marido, Luna, mas isso não faz dele meu
herói. Cada um por si aqui dentro, se esqueceu?

- Você está grávida dele! Como ele não se importaria?

- Ele não se importa! – Hermione findou o caso. – E quantas vezes terei


que pedir, por favor, para não tocar no assunto da minha gravidez.
- Não pode fugir disso para sempre, Hermione!

- Sei disso! – deu um ponto final.

Luna mostrou as mãos em sinal de paz pela tom agressivo de Hermione.

- Precisa manter a calma. – disse a loira – Você não é do tipo que tem
medo, Hermione. Está hesitando em subir ao gabinete dele?

- Ser corjosa não me faz ter menos medo, Luna. – disse Hermione

- Por que não vai até lá e simplesmente o mata? Eles te deram uma
varinha!
- Não sou eu quem devo matá-lo, sabe disso. A profecia pela qual lutamos
na Ordem não diz respeito a nós. – Aproximou-se mais da amiga – Eu vou até
lá, Luna. Me conhece e sabe bem como eu entrarei naquela sala, mas não sei o
que pode acontecer ali e Voldemort pode ser bem imprevisível. Apenas quero
que fique claro que independente do que acontecer, você não deixará de ir a
torre de Draco hoje a noite. Precisa chegar até aquele documento. É a chave
que precisamos para ganharmos a sua passagem para fora daqui. É a nossa
última chance. A nova secretária de Draco começará semana que vem assim
que ele voltar portanto precisa fazer isso funcionar hoje.

Luna assentiu.

- Já tenho polissuco suficiente preparada. – disse ela.

Hermione sorriu.
- Ótimo. – o calor em seu braço a alertou mais uma vez – Tenho que ir. –
Luna assentiu – Não se esqueça de ir a torre de Draco. Isso é muito
importante. Não pode falhar, não dessa fez...

- Hermione! – Luna a cortou – Não vou me esquecer, e precisa acreditar


que dará tudo certo.

Hermione lançou para Luna um olhar muito significativo de que podia dar tudo
errado, e que se desse errado ela não tinha nenhum plano B. Passou pela
amiga e deixou Whitehall. Seguiu seu caminho sentindo a dor em seu braço se
agravar mais a cada passo.

As vezes ela se sentia como Harry carregando aquela marca em seu braço.
Voldemort sempre fazia doer mais nela do que em qualquer outro comensal.
Querendo ou não ela se sentia bem, a fazia se lembrar da posição a qual
realmente pertencia ali dentro embora tivesse muito poder.

Teve que passar por todo o sistema de segurança quando chegou a torre do
gabinete do mestre. Sua varinha fora confiscada e o processo de
reconhecimento a cansou como da primeira vez que esteve ali. Mal se lembrava
direito dela. Parecia ter sido a muito tempo atrás e a realidade de Brampton
Fort ainda não havia lhe caído inteiramente.
Seguiu destino quando foi finalmente liberada e antes de entrar na sala encarou
aquela porta como se estivesse prestes a passar a corda da forca em torno do
pescoço com as próprias mãos. Respirou fundo e resolveu entrar de vez
debaixo da chuva quando passou para o lado de dentro.

Era luxuoso, escuro, intimidador, muito bem arrumado e quase glorioso.


Encontrou Voldemort sentado em um sofá próximo a sua suntuosa mesa de
mogno belamente talhada e quando se viu ainda mais intimidada pela presença
dele a figura de Bellatrix entrou em seu campo de visão parando atrás de
Voldemort e colocando sua mão sobre o ombro dele com bastante intimidade.

Hermione pensou no sobrenome que carregava para manter seus pés firmes no
chão enquanto avançava e parava a uma distância considerável deles com a
melhor pose que um Malfoy poderia ter. O silêncio predominou enquanto o
olhar dos dois caia sobre ela e ela tentava revidar com o máximo de confiança
que lhe cabia.

- Está atrasada. – Voldemort se manifestou.


- O que ela faz aqui? – Hermione usou do seu desprezo para perguntar
diretamente a Voldemort enquanto mantinha o olhar sobre Bellatrix.

- Merecia uma maldição por ser tão abusada, Sangue Ruim! – Bellatrix
revidou – Reverencie seu mestre.

- Ele não é meu mestre. – Hermione se fez clara.

- Está errada quanto a isso. – Voldemort respondeu – A marca em seu


braço é minha.

Hermione estreitou os olhos e deu apenas mais um passo a frente.

- Fez com que eu fosse uma de suas escravas, me obrigou a casar com
Draco Malfoy e conseguiu fazer com que eu o chamasse de mestre. Esse é o
mais longe que conseguirá chegar. Não faço reverências, nunca fiz, nunca
precisei e não será agora.
O sorriso que Voldemort abriu fez com que ela sentisse seu estômago revirar.

- Gosto de ver como esta acrescentando algumas carecteristicas sonserinas


a sua alma grifinória, Hermione, mas ninguém me põe limites. Não pedirei que
faça sua reverência agora porque ainda não tenho as armas certas para lhe
exigir isso, mas o dia em que eu as tiver quero que se lembre desse exato
momento enquanto se ajoelha diante de mim e saiba o quanto vou estar
adorando te ver me reconhecendo como seu verdadeiro mestre.

- Não se preocupe, vou me lembrar disso um dia também quando encarar


seu corpo morto. – ela disse e ele riu. – Para que me chamou, afinal?

- Eu pediria para que se sentasse, mas sei que não gostaria de se fazer
confortável na minha presença então vou permitir faça o que bem...

- Vá direto ao ponto. – Hermione o cortou.


- Cuidado com a boca, Sangue Ruim! – Bellatrix se sentiu mais ofendida
que seu próprio mestre.

- Bella, o que eu te disse sobre abrir a boca quando não permitido? –


Voldemort tornou a se manifestar. – Está grávida finalmente. – ele tornou a se
dirigir a Hermione ignorando sua rebeldia – Sabia que não conseguiria adiar
isso por muito tempo embora tenha demorado mais do que eu gostaria que
tivesse. Não pode jogar joguinhos fajutos e mal pensados comigo, Hermione.
Draco me contou que estava tomando poções trazidas da enfermaria da
Catedral e ordenei que mudassem a fórmula de fabricação para que não
tivessem mais efeitos. Sua amiguinha ladra não sabia disso e eu precisei
apenas esperar. O resultado não me decepcionou.

Ela tinha alguma idéia de que Draco sabia sobre o fato de estar tomando
poções que poderiam a proteger da gravidez, mas por que ele contaria isso a
Voldemort?

- Isso era tudo que queria? – ela tentou se manter no descaso.


- Na verdade não. – disse ele – Apenas te mostrei que quando jogar
comigo, deve usar um pouco mais de sua inteligência Hermione. Me senti
onfendido por achar que conseguiria se manter estéril com algumas poções da
infermaria para não cumprir a ordem que eu lhe dei. - Ela também sabia que
não conseguiria, mas que outro caminho tinha? – De qualquer forma, não foi
exatamente para isso que quis que viesse até aqui.

- Então vá direto ao ponto de uma vez por todas.

- Sangue Ruim...

- Bella! – Voldemort dirigiu-se a ela novamente para calá-la e ela assim o


fez o que o possibilitou de direcionar-se novamente a Hermione. – Está aqui
porque precisa saber claramente como funcionará todo o processo. O
documento que chegou as minhas mãos disse que está com três meses, isso foi
há algumas semanas atrás o que provavelmente já deve te colocar no quarto
mês, não é?

- Estou entranto no quarto mês pelas minhas contas. – acrescentou


Hermione.
- Onde está sua barriga? – perguntou ele.

- Primeira gravidez. Fica mais notável quando se chega ao quinto mês. Ao


menos foi o que me informaram.

- Ótimo. – soltou ele – Não quero que isso se torne público. Seguraremos o
máximo que puder. – ele se levantou e Hermione recuou um passo
involuntariamente – Marcarei todas as suas visitas a enfermaria e Bella e eu
estaremos com você em todas elas. Todos os laudos passarão pela minha mão
antes da sua. Quando a criança nascer terá o direito de ficar com ela um ano
porque ela precisará do seu corpo ainda. Depois de um ano eu a marcarei e
você a entregará para Bellatrix. Ela crescerá aos meus cuidados e aos de Bella.
Sei que será impossível fazer com que meu herdeiro não saiba que você foi a
mulher que o gerou portanto ele terá noção da sua existência, mas não passará
disso. Não será a mãe dele e não terá contato algum com ele. Fui claro?

Hermione absorveu tudo aquilo com frieza. Deixou que ele esperasse pela
resposta por um tempo até finalmente dizer:
- Eu poderia matar essa criança se quer saber.

Voldemort riu.

- Mas não mataria.

- O que te faz pensar que não? Está dentro de mim. Eu quem tenho
controle sobre o meu corpo.

- Você é Hermione. – ele se aproximou dela - Tem coração demais para


não ser capaz de matar essa criança mesmo sabendo do futuro ao qual estará a
condenando fazendo com que ela venha ao mundo. – e ele tinha razão – Fui
claro quanto a como tudo isso funcionará?
Ela sentia todo o seu ódio acumulado por dentro, mas mesmo assim ainda
respondeu:

- Sim.

O sorriso que Voldemort abriu fez seu estômago revirar mais uma vez. Bellatrix
se aproximou e Hermione sentiu que se não se livrasse daquela pressão com
rapidez teria sérios problemas de saúde.

- Não gosto da idéia de que o herdeiro veio de você. – ela começou


colocando-se ao lado de Voldemort novamente com uma intimidade irritante,
como se quisesse mostrar que quem ele queria era ela e mais ninguém. – Mas
então eu imagino o quanto deve te matar por dentro saber que serei a
mamãezinha dele e isso já me faz contente o suficiente para aceitar toda a
situação.

O sorriso vitorioso dela provocava tonturas em Hermione. Ela preferiu ignorar a


existência da mulher na sala e se voltou para Voldemort.
- Estou livre para ir? – perguntou.

Ele assentiu.

- A verei em sua posse semana que vem. – foi a despedida dele.

Hermione fez uma careta e deixou a sala. Sair dali foi como ter a corda da forca
retirada de seu pescoço, mas uma pressão em seu peito fazia com que não
tivesse o alívio não fosse completo. Desceu da torre sabendo que deveria voltar
para o departamento de Theodoro, mas parou no meio do caminho quando
percebeu que sua respiração estava rápida e não era de seu cansaço. A pressão
em seu peito encheu seus olhos e ela mal conseguiu ver o degrau a sua frente,
colocou a mão sobre seu estomago como se isso tivesse o efeito de amenizar a
náusea que sentia. Fechou os olhos e percebeu que derramaria-se em lágrimas
se não fosse forte para se recompor e foi com a motivação de que alguém a
encontraria naquele estado que puxou o ar e tentou refazer sua postura sem
derramar uma gota sequer pelos olhos. Foi assim que o ódio lhe subiu e ele
todo estava destinado a uma única pessoa. Ela tinha certeza de que Theodoro
poderia aguentar um pouco mais sua ausência.

Avançou para o quartel a passos firmes. Não precisava nem mesmo passar pela
segurança mais. Deixou que o som de seu salto contra o chão a estimulasse a
seguir em frente. Em sua cabeça ela remoía a razão do ódio que sentia. Cruzou
toda a nave central de distribuiçãoo até entrar pelo corredor onde sabia que
daria para o subsolo que era inteiramente destinado a zona sete.

- Preciso passar. – disse ao chegar a rampa de segurança.

- Precisarei de sua varinha, seu cartão da zona sete e se não for parte do
exército ou do departamento, precisarei de sua carta de acesso. – O segurança
disse de maneira entediada sem sequer levantar os olhos para Hermione.

- Não sei se me entendeu bem. – ela começou novamente colocando a sua


mão esquerda sobre o balcão de modo que o anel em seu dedo ficasse bem
visível. – Eu disse que precisso passar.

O homem finalmente levantou o olhar e refez toda sua postura quase que
imediatamente.
- Sra. Malfoy. – ele pareceu surpreso e ao mesmo tempo em um grande
impasse – Tenho ordens de não deixar que ninguém passe sem autorização.

- Acha mesmo que deveria seguir essa ordem comigo? – ela deixou que
soasse quase como uma ameaça e bastou para que ele abrisse espaço para ela
passar.

Hermione desceu com toda a sua determinação e agradesceu pela sempre


excelente organização do departamento conseguindo tomar a direção certa
apenas pela rápida análise de espaço e as indicações.

- Sra. Malfoy? – foi chamada pela primeira alma que cruzou seu caminho. –
Não pode estar aqui.

- Me diga onde está Draco, Rice. – disse com firmeza.


- No último ginásio do corredor, mas sabe que ele ficaria furioso se o
interrompesse. Não deveria nem mesmo estar aqui. O subsolo é restrito para a
Zona Sete e pessoas autorizadas. Temo que terei que pedir para se retirar. –
ele foi claro.

- Não perca seu tempo fazendo isso. – foi rude, deu as costas e continuou
seu caminho.

- Sra. Malfoy! – ele exclamou a seguindo – Não me force a chamar a


segurança!

- Fique á vontade, Rice. Sei que nunca me viu em um campo de batalha,


mas tenho certeza de que já escutou muito sobre isso. – disse e aquilo foi o
suficiente para deixar o homem para trás.

O último ginásio de corredor era uma longa caminhada por entre colunas altas
de mármore e paredes de pedra cinzenta. Hermione escutava o som do próprio
salto contra o piso, mas dessa vez o vazio fazia com que o barulho ecoasse pelo
espaço. Quando viu a porta dupla a sua frente apenas agitou a varinha para
que ela se abrisse e seu salto continuasse no mesmo ritmo para dentro da
ampla sala onde foi recepcionada por uma série de olhares sob o silêncio de
uma discussão que havia sido interrompida.
Draco estava logo a frente com sua varinha em mãos e rodeado por mapas
abertos em todas as direções. Ele tinha o olhar surpreso e ao mesmo tempo
irritado enquanto Hermione continuava seu passo firme em direção a ele
sentindo os olhares daqueles que ela mesmo já havia enfrentado em campo de
batalha. Não se sentia ameaçada ali. Cada um daqueles rostos ela conhecia e
todos eles sabiam quem ela era, o quão forte era e o quanto a temiam.

Parou frente a Draco e seu primeiro movimento foi levantar a mão e acertá-la
sem dó contra o rosto dele. O som da batida foi seguido do som da respiração
surpresa dos demais. Ele já não parecia estar muito contente por ter sido
interrompido, mas depois do presente que recebera a fúria cresceu dentro do
olhar cinzento e intimidador que ele naturalmente tinha. Ela começou:

- Espero que tenha uma boa razão para...

- Cale a boca! – a voz dele foi profundamente ríspida, grossa, rude e fria
quando ele a segurou pelo pulso e a trouxe para si com tanta brutalidade que a
fez se lembrar de que não deveria medir forças com um homem como ele
nunca.
Por mais que ele estivesse tentando fazer com que ela perdesse a postura,
lutou para se livrar dos dedos fortes que ele tinha.

- Vai me responder o por que...

- Eu disse para calar a boca! – dessa vez sua voz severa soou pela sala
inteira com o poder de fazer o músculo de qualquer alma ali se retrair. – O que
diabos pensa que está fazendo invadindo meu departamento? Isso é uma
reunião privada, Hermione!

- Realmente acha que eu me importo? – tentou desvencilhar-se dele mais


uma vez, o que o fez encarar o pulso da mulher.

Talvez foi ali, quando ele viu a marca bem visível em seu braço, que Draco
tenha se interessado pelo que ela tinha a dizer porque a expressão furiosa que
havia em seu rosto e se complementou com um olhar curioso. Quando ele
tornou a olhá-la nos olhos, embora a vontade de mata-la já parecesse um
pouco distante, ele mostrou que ainda não havia esquecido o tapa que levera.
- Cinco minutos! – disse alto para o grupo de comensais da zone sete e a
arrastou pelo braço até uma extremidade do salão, onde passaram pela
entrada de uma câmara. Ele a soltou, fechou a porta e agitou a varinha
isolando o ambiente em que estavam. – Você tem cinco minutos.

Aquilo soara como se ele quisesse ter feito uma pergunta. Como se quisesse ter
reclamado por não ter sido avisado de que ela fora chamada por Voldemort e
que fora até ele. Mas obviamente ele também tinha consciência que não
gostaria de ter sido interrompido em sua reunião, por isso engolira o próprio
questionamento.

- Por que disse a Voldemort que eu estava tomando poções para não
engravidar?

Draco rolou os olhos.

- Quantas vezes eu tenho que pedir para não dizer o nome dele?! – ele
pareceu extremamente aborrecido com aquilo.
Ela ignorou.

- Eu nunca o questionei o por que faz pouco caso do fato de eu estar


grávida de um filho seu, nem nunca exigi que desse atenção. Se fez bem claro
quando se mostrou indiferente a informação. Sei que nunca quis mais alguém
com o seu sangue caminhando por aí na terra por sua culpa, então por que
infernos disse a Voldemort que eu estava tomando poções?! – não estava
contente tanto quanto ele.

Ele suspirou soltando o ar com calma como se já soubesse que algum dia iria
ter que encarar essa discussão.

- Ordens são ordens. - foi tudo que ele disse.

Ela cerrou os olhos não entendendo o que ele queria dizer. Aquilo não se
encaixava com toda a visão que ela tinha desenvolvido sobre Draco no pouco
tempo em que haviam convivido debaixo do mesmo teto.
- Ordens são ordens? – ela repetiu desconfiada – Acha que eu sou
estúpida?

Ele revirou os olhos novamente.

- Sei muito bem quem é, Hermione.

- Então não me trate como se eu fosse uma! Sei do joguinho frágil que
mantém com Voldemort! – foi rígida - Em troca de que disse a ele que eu
estava tomando poções? Em troca de fazer com que ele continue acreditando
que você é um servo fiel quando na verdade odeia ordens, odeia estar preso,
odeia prestar contas a ele, odeia ter que serví-lo, odeia estar marcado com a
marca dele! Sei que quer destruí-lo!

Draco suspirou mais calmo do que ela esperava que ele estivesse. O silêncio
durou entre eles enquanto ele caminhava com as mãos no bolso, encostava-se
numa das mesas de frente a ela e cruzava os braços.
- Quanto tempo demorou para perceber isso? – a voz dele saiu macia,
uniforme e indiferente.

Ela o olhou desconfiada. Não era aquela reação que estava esperando. Sua
certezas se abalaram por alguns segundos.

- Não muito. – respondeu.

Ele ergueu e abaixou uma das sobrancelhas como se aquela resposta fosse a
que ele estivesse esperando.

- Então espero que não esteja sendo ingênua ao ponto de acreditar que o
Lorde já não sabe de tudo isso que disse. – fez sua voz soar de modo pacífico -
Por que acha que eu comando um exército? Ele acredita que sabe me comprar,
que sabe me usar, que sabe me fazer andar na linha e é nisso que eu quero
que ele continue acreditando. Quero que ele continue acreditando que me
conhece realmente, que sabe quem eu verdadeiramente sou. – ele soltou - A
ordem foi bem clara, Hermione. Ele quer um herdeiro e ele queria que
fizéssemos isso para ele. Você estava apenas fazendo seu papel de rebelde
inconformada tomando poções e nos trazendo mais dor de cabeça. Eu nos fiz o
favor de adiantar as coisas. Primeiro porque preciso sempre provar que ainda
estou jogando do lado dele, segundo porque eu não seria capaz de te fazer
parar de tomar as poções por minhas próprias mãos. Não seria nada
confortável para mim te levar para cama sabendo que estava completamente
desprotegida, eu sempre soube que estava correndo atrás de se proteger desde
a primeira vez que fizemos sexo.

O silêncio veio sobre eles novamente. Hermione escutava sua própria


respiração, baixa e ritmada enquanto encarava o mar de metal derretido que
eram os olhos dele.

- É sua culpa. – sua voz saiu quase que rouca. Pausou enquanto sentia
seus olhos arderem. Engoliu a saliva com dificuldade. – É sua culpa. – repetiu -
Nunca deveria ter dito a ele!

- Ele descobriria de qualquer outro jeito...

- Então por que não deixou que ele descobrisse de outro? – sua voz forte
sobressaiu a dele.
- Está se sentindo traída? – ele levantou uma das sobrancelhas.

- Sim! – ela não tinha dúvidas disso – Você não queria isso, eu também
não, e quem disse a ele que eu estava tomando poções foi você! Apenas para
fazê-lo acreditar que ainda continua do lado dele porque não cansa de ser um
comensal cheio de vontade própria! – ela terminou ofegante, não de cansaço,
mas de revolta. Ainda não conseguia acreditar que Draco podia ser tão
indiferente. – Eu estou trazendo uma vida para o mundo! – saiu mais alto do
que ela planejava – Como foi incapaz de pensar no quanto isso é forte?

- Eu tenho meu próprio jogo aqui dentro, Hermione. – ele descuzou os


braços e foi até ela - Não tem idéia do quão difícil é mantê-lo quando se é um
comensal porque ainda está muito ocupada querendo ser a grifinória leal,
corajosa e rebelde quando na verdade deveria estar sendo esperta! – ele ficou
tão próximo que Hermione sentiu a necessidade de recuar, mas seus pés
continuaram plantados exatamente no mesmo lugar, como se os olhos dele
conseguissem a tragar – A guerra aqui de dentro é mais importate que a guerra
lá fora. Pare de tentar lutar a guerra lá de fora aqui dentro, você não está mais
na Ordem da Fênix. Comece a abrir o seu próprio caminho.

- Tudo que você consegue ser é leal a si mesmo. – ela soltou com
desgosto. - Eu não preciso pisar em ninguém para conseguir as coisas que
quero.
- Bem, isso é o que me faz um sonserino e é você uma grinfinória. – disse
ele – A lei aqui dentro é clara: ou pisa ou será pisada. Pensei que já soubesse
disso. Tenho interesses próprios e não pode julgar as coisas que faço em troca
daquilo que quero, mesmo que isso envolva a sua desgraça. Não pode bater o
pé como uma criança esperando por justiça. Isso é Brampton Fort. Está dentro
do ciclo de comensais agora.

- Eu deveria me vingar? É isso que um sonserino faria? – sua voz saiu cheia
de desgosto. Será que ele mesmo não percebia o valor sujo daquelas palavras?

- Deveria fazer aquilo que quiser fazer, Hermione. – segurou seu queixo e
precisou aproximar-se apenas mais um pouco, os olhos de ambos continuaram
fixos um no outro e ele selou seus lábios nos dela. Afastou-se e colocou sua
boca bem próximo ao ouvido dela. – Esse filho é fardo seu. Sabe que não
brincamos mais daquele jogo de adolescentes que éramos acostumados em
Hogwarts. Agora sim estamos numa guerra real. Sabia disso desde o começo e
a próxima vez que invadir uma das minhas reuniões privada, farei com que
perca o cargo que está assumindo com Theodoro e não pense que não tenho
suspeitas sobre o quanto ele é importante para os seus interesses. – por um
rápido segundo ela pode perceber que ele inalou seu perfume antes de se
afastar – Seu tempo terminou. – deu as costas e foi em direção porta.

Hermione girou a varinha e trancou a maçaneta quando ele a girou. Sua boca
formigava onde ele havia tocado com os lábios, mas ela sentia que dos seus
olhos ainda saiam faíscas.
- Nós não terminamos. – ela tentou continuar firme.

Ele soltou o ar impaciente, usou sua varinha para reabrir a porta.

- Sim, nós terminamos. – passou por ela e a fechou.

Hermione soltou um grunido de frustração. As vezes ela sentia que nunca seria
boa ou inteligente o suficiente para sobreviver a aquele lugar. Parecia outro
mundo.

Narcisa Malfoy
Observou quando Pansy tocou o colar que sempre usava enquanto falava
esnobemente sobre umas das suas concorrentes no ramo de organização de
festas. Narcisa admirava Pansy pela paixão que ela tinha por tudo aquilo que
gostava, ela era persistente e estava sempre de cabeça erguida. Queria que ela
tivesse sido uma Malfoy e se não fosse pela sua personalidade vulgar talvez ela
até tivesse sido uma candidata vencedora. Ela e Draco tinham muito em
comum e por um tempo Narcisa até pensou que Pansy conseguiria fazer Draco
amá-la, mas obviamente seu filho tinha herdado muito do pai.

Narcisa nunca quis que Draco tivesse o mesmo destino que o pai. Sempre
esperou que um dia ele fosse encontrar uma boa garota pelo qual se
apaixonaria e se casaria. Ela não queria que nenhuma mulher no mundo,
independente de quem fosse, tivesse que passar pelo mesmo que ela passava
todos os dias. Chegou até mesmo a incentivar o filho durante Hogwarts o que o
fez enchegar Astoria. Deu todo o seu apoio, mas a natureza de Draco nunca o
segurou em uma garota só. Pansy havia sido a única que ele nunca se cansara
e por esse motivo chegou a esperar pelo dia em que ele fosse perceber que ela
talvez fosse a mulher de sua vida.

Mas Pansy amava Draco desde que se entendia por gente e por esse motivo,
sempre quando a olhava dava graças aos deuses por ter sido Hermione o
destino de seu filho. Pelo menos Hermione o odiava e por isso nunca sofreria
para lidar com a natureza dele.
- ...e até mesmo pensei que fosse uma ótima idéia, mas não durou por
muito tempo. Tenho experiência e sei que esse tipo de coisa nunca chega a se
concretizar sem ser seguida de um grande desastre. – ela terminou e tomou
um gole do chá em sua mão com a elegância de uma verdadeira Malfoy.
Narcisa as vezes percebia o quanto Pansy se esforçava em mostrar toda a sua
educação próximo a ela ou a Lúcio, mesmo depois de seu filho ter se casado. –
Por isso mesmo sou bem seletiva, não basta ter muito dinheiro para me pagar,
precisa no mínimo ter um bom ciclo social e ser bem influente.

Narcisa sorriu.

- Faz bem, querida. – ela disse colocando sua chícara sobre a mesa de
centro e se levantando. – Fico feliz que tenha vindo. – ela começou outro
tópico. – Sei que está sempre muito ocupada.

- É sempre um prazer, Cissa. – ela fazia questão de se mostrar íntima,


principalmente quando Draco estava por perto. – Sei que queria se encontrar
comigo. Bella comentou comigo faz um tempo.

- Queria que tivéssemos ido ao centro, mas a impressa está cheia de


perguntas devido as novas mudanças do Ministério e fiquei com receio de que
alguém poderia estragar o nosso passeio. – disse enquanto caminhava pela sua
sala privada na mansão Malfoy.
- Entendo. – Pansy sorriu compreensivamente. – Sei que ser a mulher do
Primeiro Ministro pode ser um pouco cansativo.

Ela não tinha nem idéia.

- Bem, a verdade é que além de não nos falarmos já faz um bom tempo,
gostaria de saber o porque cortou Hermione da lista de convidados do jantar
dos Martin. – ela foi direta.

Pansy pareceu surpresa com o que havia escutado. Ficou confusa por alguns
segundo, como se não soubesse o que responder e então disse:

- Bem, a Sra. Martin não estava muito convencida de que ela se sentiria
confortável já que boa parte dos convidados não fazem parte do ciclo social
limitado que ela tem.
- A Sra. Martin não estava muito convencida ou você a convenceu de que
Hermione não se sentiria confortável? – Perguntou Narcisa apoiando as mãos
no enconto do sofá onde antes estava sentada.

Pansy puxou o ar como se estivesse pensando em como justificar e se esquivar


educadamente da sutíl acusação a quão estava sendo exposta. Narcisa sabia
que a última coisa que ela gostaria de ficar é com alguma imagem ruim para a
mãe de Draco Malfoy.

- Eu não precisei convencê-la de nada, Hermione nunca foi uma figura


muito pública entre nossas famílias. Ela sempre está ocupada com os afazeres
da Catedral. – ela disse usando um sorriso bastante amigável. – Pelo menos ela
e Draco tem algo em comum.

- Eu fui a primeira a ver a lista de convidados de Emilliana Martin, Pansy.


Hermione era um dos primeiros nomes e ela me disse que estava animada em
ter uma figura tão cobiçada em seu jantar.
- Ela não parecia assim tão animada quando me passou a lista de
convidados.

- E se aproveitou disso para convencê-la a tirar Hermione?

Pansy se calou. Dessa vez a direta havia sido menos sutil e a outra começara a
se sentir coagida.

- Cissa, não creio que seja um problema muito grande não ter Hermione
nesse jantar. Ela não conhece ninguém, ficaria sozinha e sabe que ter
convidados isolados em um evento pode cair em cima do organizador. Eu tenho
uma reputação para zelar.

- Eu sei que tipo de reputação gosta de zelar, Pansy. – com as roupas que
vestia e o jeito que se atirava em cima de qualquer homem, Narcisa realmente
sabia de que reputação ela realmente gostava – Livia Jackson, Bell Harvey,
Kendra Collins e Jenna Thompson são nomes que estavam na lista e que
adorariam ver e conversar com Hermione novamente. Elas foram apresentadas
na cerimônia de inverno do ano passado e se animaram bastante com a
eloquência e o conhecimento extenso de Hermione.
Pansy revirou os olhos.

- Ela é perfeita, não é?

- Não, ela não é. – Narcisa tornou a se sentar. – Eu não me importo se


Hermione iria ou não se sentir deslocada no jantar. Queria apenas saber se foi
você quem convenceu Emilliana de tirá-la da lista.

- Nós duas concordamos que não seria uma boa idéia...

- Não tente omitir nada, Pansy. Eu a conheço bem.

Pansy espremeu os lábios em uma linha fina enquanto se ajeitava em sua


poltrona tentando encontrar uma posição mais confortável.
- Hermione nem sabe que Emilliana gostaria de tê-la lá. Por que se
preocupa com ela?

Narcisa puxou o ar cansada.

- Foi você ou não foi, Pansy?

Pansy soltou o ar e desviou o olhar.

- Eu ajudei. – soltou de uma vez. – Mas Emilliana também não estava tão
convencida de que seria uma boa idéia.
- Porque você disse que não seria. – Narcisa não queria se mostrar irritada
e era muito boa em esconder emoções – É a organizadora do jantar e se disse
que algo não vai dar certo, pela sua experiência sabemos que não irá. Por que
pediu que a tirasse da lista?

- Já expliquei que Hermione ficaria isolada.

- E eu já te dei o nome de todas aquelas que não deixariam isso acontecer.

- Não temos certeza disso.

- Eu tenho certeza disso. – Narcisa conhecia bem o interesse que aquelas


mulheres tinham em estreitar laços com os Malfoy e com as atenções todas em
cima da nova Sra. Malfoy esse seria um bom momento para aparecerem em
sua companhia – Sei que tem ciúmes de Hermione.
Pansy recebeu aquilo como uma ofensa.

- Nunca precisei ter ciúmes de uma Sangue-Ruim!

Narcisa tentou sorrir de forma amiguável.

- Então pare de agir como se precisasse.

Pansy abriu a boca para retrucar, mas de lá não saiu som nenhum. Uma veia
pulsou em sua têmpora e quando ela abriu a boca novamente, Narcisa soube
que ela nunca teria dado certo como uma Malfoy.

- Eu não a quero lá! Todas as atenções estão nela! Depois daquela revista
estúpida parece que ela usa um chapéu e todos estão usando o mesmo no
outro dia. Ela dá uma discurso sobre segregação social e no outro dia de
repente todos estamos comentanto sobre isso! – ela soltou um riso fraco -
Segregação social! Um ciclo de comensais discutindo segregação social como se
fosse um assunto de extrema importância! Hipocrisia!

- Todos nós temos um lado humano. Hermione fez bem em tocar em um


assunto como aquele. Ela preza pelas leias fundamentais da justiça e nada mais
plausível do que justiça em meio a uma guerra.

- Nós não estamos em guerra do lado de dentro das muralhas!

- Nós estamos do lado de dentro das muralhas por causa de uma guerra,
Pansy!

- Por que a defende tanto?!


- Porque ela é minha família agora e você já deveria saber disso. Escute,
sei que Hermione e você nunca se deram bem, mas precisa superar isso.
Ninguém se importa mais com o sangue que ela tem e todos nós sabemos que
até mesmo o mestre é mestiço. Agora, por favor, pare de pensar que Hermione
te roubou Draco. Sabe que eles dois receberam o destino de se odiarem para o
resto da vida.

- Ela não me roubou ninguém! Eu sei que o dia em que Draco se cansar
dela ele voltará para mim como das outras dezenas de vezes que fez isso. Ela
me roubou o lugar que eu iria ocupar na sua família. Você sabe melhor do que
ninguém que eu deveria ter sido a Sra. Malfoy ao invés dela! Vocês nos
obrigaria a casar em algum momento, precisam de um herdeiro legítimo!

- Nós nunca dissemos a você que era a candidata para Draco. – interviu
Narcisa. – Deixamos claro que ele poderia escolher, mas que tinha uma prazo
para isso.

- E sabiam que ele escolheria a mim. Acha que esse colar com a pedra da
família Malfoy veio por que motivo?

- Pelo de te manter na espera se caso ele não encontrasse nada melhor? -


Pansy se levantou revoltada de uma vez. Narcisa revirou os olhos – Por favor,
Pansy! Você conhece Draco tão bem quanto eu, sabe que ele faria isso.
- Não comigo! – ela estava definitivamente irritada – Ele me ama, apenas
não sabe ainda. Ele sempre foi confuso com relação as coisas que sente... – ela
precisou se calar quando a porta foi aberta.

- Hei. – cumprimentou Lúcio assim que passou pela porta mudando de


expressão ao ver que as duas não estavam tendo uma conversa muito
agradável. – Desculpe se interrompi algo. Narcisa, está tratando mal nossa
convidada? Pansy não me parece muito contente.

- Estamos apenas discutindo algumas questões desconfortáveis para nós


duas, querido. – Narcisa disse se levantando para alcançar o marido.

Lúcio desviou-se dela antes que fosse alcançado.

- Pansy, não a vejo faz um bom tempo. – ele foi em direção mulher –
Espero que minha esposa não esteja a perturbando com futilidade. E sinto
muito por interrompê-la, mas precisava dar um aviso importante. – ele colocou
uma das mãos no ombro da mulher, mas a deixou ali por pouco tempo fazendo
com que ela decesse até a lombar das costas nuas de Pansy. – Narcisa, espero
que não se importe mas convidei Hermione para o jantar.

Pansy puxou o ar incomodada e Narcisa não soube dizer se era pelo toque do
homem ou pela menção de Hermione.

- Lúcio, pensei que hoje iríamos receber os Collins para o jantar.

- Sim, os receberemos, por isso a convidei. Ted tem estado no meu pé há


um bom tempo no Ministério. Quer conhecer Hermione e já que somos duas
famílias muito próximos não seria justo que a apresentássemos em um evento
público qualquer. Sei que Draco não está na cidade, mas essa é uma ótima
oportunidade.

Draco odiaria aquilo quando ficasse sabendo, mas Narcisa não poderia
discordar.
- Tem razão. – disse e escutou Pansy limpar a garganta alto como se
estivesse farta de escutar o nome Hermione.

- Estou de saída. – ela anunciou esquivando-se de Lúcio e colocando sua


xícara de chá sobre a mesinha de centro.

- De forma alguma! – Lucio se pronunciou – Nós adoraríamos que também


ficasse para o jantar. Não é mesmo, querida?

Pansy pulou seus olhos verdes de Narcisa para ele. Ela os estreitou.

- Com a sua adorável nora? – soou extremamente irônica e fez uma careta
de desgosto – Só pode estar brincando!

Passou por ele e Narcisa em direção a porta.


- Espere, Pansy. Talvez não tenha sido uma boa idéia – ele tentou alcançar
o passo da moça – Podemos fazer um outro jantar... – a porta bateu quando
ela os deixou.

Narcisa permanecia intacta em seu lugar. Lúcio alisou seu terno limpando a
garganta. Ela se aproximou.

- Você a mima como se ela fosse uma de suas amantes. – disse da maneira
mais neutra que conseguiu e apressou-se para alcançar Pansy antes que ela
deixasse sua casa.

Draco Malfoy
A verdade era que ele gostaria de ter pego a barraca princpal, mas escolheu
permanecer na mesma ala em que a zona sete havia sido destinada a se
intalar. Era importante mostrar contato e cumplicidade, a cada dia que se
passava ele sentia que finalmente estava perto de alcançar o nível que lutara
para chegar há anos.

Todas as suas coisas já estavam lá quando passou cansado para o lado de


dentro de sua barraca. Ela simples, mas tinha uma uma lareira, uma boa cama,
uma mesa e um espaço até confortável. Poderia fazer aquele sacrifício por
alguns dias. Tirou sua capa e acendeu a lareira, quando abriu seu malão foi
presenteado com a visão de uma mulher entrando para dentro de sua barraca.
Seu corpo era delineado pelo macacão de couro preto justo, os cabelos
vermelho vivo eram volumosos, macios e ondulados que lhe desciam até a
cintura, olhos escuros e brilhosos, boca macia e sempre coberta pelo batom
vermelho. Draco sorriu. Por que será que não estava surpreso em vê-la?!

- Olá, treinador. – ela desceu os degraus.

- Sam. – ele a cumprimentou pelo nome – Como conseguiu passar a


segurança?
- A segurança aqui é feita pela zona dois. Idiotas. Basta observá-los por
cinco minutos. – disse ela e parou em uma pose com as mãos na cintura. – Sei
que costumeiramente pede para que chamem uma mulher para sua barraca
algumas noite. Bem, vim antes que me chamassem. – e riu.

- Essa é uma das noites que terei que me dedicar aos papéis, Sam. – disse
puxando um rolo de pergaminhos.

- Então tenho certeza de que podemos adiantar logo as coisas. – ela sorriu,
aproximou-se mais e puxou o zíper da frente de seu macacão até em baixo.

Ele deixou seus olhos caírem para o colo perfeito da mulher, o volume dos dois
seios, a respiração fazendo seu peito se mover. Ele sorriu, mas hesitou e foi
quando hesitou que se lembrou que em situações como aquela ele nunca
hesitava.

- Tenho uma pilha de pergaminhos para ler até amanhã de manhã. Eu não
tinha idéia de as coisas por aqui estavam chegando a esse ponto. – ele
desviou-se dela passando a vasculhar seu malão.
- Foi tão sexy vê-lo furioso quando descobriu que estavam omitindo nosso
caso para a Catedral. – o tom de sua voz denunciou que estava achando
estranho ele a ignorar. O que realmente era bastante. Ela deu a volta de se
encostou na mesa apoiando as mãos de casa lado da madeira lisa ainda com o
zíper de sua roupa aberta. – Soube que se casou. – ela trouxe o comentário. –
Com Hermione Granger. – acrescentou.

O nome dela soava estranho com aquele sobrenome agora.

- Sim, me casei. – disse em resposta ao comentário dela.

- A última vez que a vi ela estava ao lado de Harry Potter recurando toda a
linha de frente da zona cinco. – ela continuou.

- Ela era uma agente dupla. – Draco havia perdido a conta das vezes que
havia dito aquilo para as pessoas que comentavam sobre seu casamento.
- Gosta dela? – ela pareceu despretensiosa, mas Draco bem sabia o valor
daquela resposta.

Ele ponderou com as mãos em seu malão se deveria ou não responder aquela
resposta conforme a história que contavam nos jornais.

- Não. – respondeu antes que pudesse concluir seus pensamentos.

- Então porque está me ignorando? – ela perguntou – Se não me quisesse


já teria me mandado embora a muito tempo. – Draco sentiu a aproximação
dela por trás. – Eles estão pensando em fazer minha transferência para zona
seis, não precisa mais ficar envergonhada por fazer sexo com alguém da zona
cinco.

Ele sentiu um sorriso puxar o canto de seu lábio.


- Dormi com você quando estava na zona três, Sam. – ele disse e sentiu os
braços dela ao redor de seu tronco.

Ela ficou na ponta dos pés e alcançou o pé de seu ouvido.

- E você era meu treinador. – ela sussurrou e ambos riram. Os dedos dela
se moveram por ele e seguraram o fim de sua blusa. Samantha a puxou para
cima e ele ergueu os braços para se livrar dela também. Virou-se para ela e
encontrou com aquele sorriso de satisfação. Sam deslizou os dedos pelo seu
peitoral e abdomem com um olhar cheio de desejo. – Você nunca desaponta,
Draco. – ele sabia que não. Ela ficou na ponta dos pés novamente com a boca a
centímetros da sua. – Tire minha roupa. – pediu num sussurro pausado e
ousado.

Draco não hesitou dessa vez. Suas mãos a livraram das mangas do macacão
tão rápido quanto sua boca foi de encontro a dela e foi naquele beijo que ele se
desconcentrou em terminar de livrá-la do couro por inteiro. Foi naquele beijo
que ele percebeu que não beijava nenhuma mulher que não fosse Hermione há
um bom tempo porque no momento em que sua boca se encontrou com a da
mulher Draco esperou pelo movimento famíliar da boca de Hermione mas ele
não veio. A beijou com mais intensidade e esperou pelas reações de Hermione
mas nenhuma delas apareceu. Sam era tão entregue a ele como qualquer outra
mulher. Sentia que sua boca ficava no vácuo a cada movimento que fazia.
Afastou-se frustrado e ela estava ofegante.
- Wow, o que foi isso? – ela ofegou rindo - Eu nunca pensei que pudesse
ficar melhor do que já era, mas você melhorou seu beijo, Draco!

O canto de sua boca se esticou num sorriso inconsciente e antes que pudesse
se afastar ela começou a lher beijar o pescoço. Draco estava pronto para
segurá-la pelos ombros quando ela o tocou entre as pernas e ele percebeu que
não fazia sexo há um bom tempo. A gravidez de Hermione os havia afastado e
Draco estava tão comprometido com problemas em seu departamento que
sequer percebera a falta que sentia.

Samantha fora sutil, como se estivesse tocando algum tipo de pedra rara e
quebrável. Ou talvez ele estivesse muito acostumado com o toque vigoroso de
Hermione. Deslizou sua mão para os cabelos vermelhos da mulher.

- Vamos lá, Sam. Eu sei que pode fazer melhor do que isso. – ele disse e
foi o suficiente para fazer com que ela parasse de brincar aquele joguinho ruim
de sedução. Funcionava com Hermione porque ele gostava de vê-la se render.

A mulher abaixou-se, o livrou do cinto, abriu sua calça e a abaixou. O resto foi
o serviço que ela já sabia fazer. Ele apoiou-se numa das pilastras de madeira e
deixou-se apreciar o desejo crescer. Sim, ele sentia muita falta de sexo, mas
não estava gostando da forma como sua mente o lembrava constantemente
que Hermione poderia fazer aquilo dez vezes melhor do que Sam ou mesmo
que não pudesse, com Hermione era melhor porque era diferente. Diferente de
qualquer outro diferente que já havia provado.

O que estava acontecendo, afinal? Sam era um dos melhores sexos que já
havia tido. Nada podia se comparar ao apertado do armário de equipamentos
do ginásio da zona três nos intervalos dos aulões de domingo. Por que agora
parecia que toda aquela emoção não era nada?

Ela parou no momento que não deveria e se ergueu. Seu sorriso sedutor
carregava um orgulho de que havia feito um excelente trabalho. Ele a segurou
pelo braço e percebeu que fora rude. A verdade é que estava se irritando com
sua mente lhe jogando o nome de Hermione numa frequência doentia. Colocou
a mulher contra a pilastra. Ela gemeu e não havia sido de prazer. Arrancou-lhe
a roupa. Ele queria acabar logo com aquilo. Talvez assim o fantasma de
Hermione o deixasse em paz.

Abrir espaço para entrar dentro de Sam fora mais complicado do que ele se
lembrava. Ela não estava pronta para recebe-lo e na verdade ele não se
importava nem um pouco. Faria aquilo acabar logo. Investiu contra ela e o
gemido da mulher era de puro prazer, mas ele sabia que estava a machucando.

Sam estava mentindo com aquele gemido falso. Se estivesse com Hermione ela
já terio o empurrado e com certeza estaria o fazendo pagar pela tentativa de
usá-la como um animal. Comparar o fazia ter ainda mais raiva. A tirou daquela
posição e a colocou de costas. Não queria olhar para aquela boca emitindo sons
nada verdadeiros. A empurrou contra a mesa e a fez deitar sem dó. Ivestiu
sabendo que a posição estava completamente desconfortável para ela e que até
mesmo o móvel a machucava. Ficou ali até finalmente se livrar da agonia do
desejo, fora dela para não lhe dar a chance de atingir qualquer orgasmo
insignificante.

A primeira coisa que ela fez foi sair da posição que estava quando ele lhe deu
espaço. Draco sentia que talvez os gemidos insuportavelmente animados e
falsos dela haviam lhe provocado dor de cabeça. Ela virou-se para ficar de
frente pra ele e ele pode ver o sorriso em seu rosto.

- É bom ser sua mais uma vez. – ela passou o dedo na borda dos lábios
como se tentasse limpar o batom manchado. Draco sabia que até mesmo Pansy
que o deixava fazer o que quisesse com ela teria sido honesta.

- Saía, Sam. – ele não teve medo algum em ser direto. – E nunca apareça
sem ser chamada.

O sorriso dela murchou e ela uniu as sobrancelhas finalmente intrigada.


- Pensei que estivéssemos apenas começando.

- Já disse que tenho muito o que fazer. – deu as costas e recolocou sua
calça. Céus, ele odiava sexo ruim!

- O que há de errado com você?

- Eu disse para sair! – ele não queria aumentar o tom de voz, mas o fez
antes mesmo que notasse.

Ela não protestou mais. Vestiu a roupa na mesma velocidade em que foi tirada
e saiu sem abrir a boca. Ele a viu sair para ter certeza de que estava sozinho.
Fechou o botão da calça e puxou o zíper. Passou a mãos pelos cabelos e se
jogou na cama fitando o tecido da barraca a alguns metros acima. O nome
Hermione ainda latejava em seu cérebro e ele tinha vontade de colocar fogo em
cada pedaço de matéria.
Capítulo 17

Narcisa Malfoy
O discurso de Hermione havia sido impecável. Ela tinha uma eloquência que
assustava e uma entonação com um poder de convencimento que Narcisa
jamais imaginara que ela pudesse ter. Realmente Hermione havia feito um
excelente trabalho junto com a equipe de Theodoro, mas sabia que o dedo de
Draco estava ali em algum lugar de maneira sutil e bastante discreta. Gostava
de saber que seu filho não ignorava Hermione por completo. Ele sabia que ter
alguém da família em mais um lugar de poder dentro do ciclo de Voldemort era
um ponto a mais para os Malfoy.

Narcisa desceu a escada principal do auditório parando para cumprimentar os


maridos de suas amigas que trabalhavam no departamento de Theodoro
durante o caminho. As frases prontas e repetidas que mais ouvia eram:
‘Hermione realmente fala bem!’, ‘Que grande gênio que entrou para família de
vocês, hein?!’, ‘Aposto que Draco está bastante satisfeito com uma mulher
como essa.’, ‘Talvez as mudanças de Hermione façam os tribunais finalmente
funcionarem como deveriam!’

Mas embora Narcisa soubesse que Hermione sabia suprir bem o lado
profissional de sua família para com os esposos de seus amigas, seu lado
perante o ciclo social ao qual realmente deveria se preocupar estava
desmoronando como se fosse uma colossal construção de areia debaixo da
chuva.
Chegou ao palco onde Hermione estivera de pé a alguns minutos atrás e foi
obrigada a apertar o passo para chegar a porta na lateral por onde ela estava
passando. Fugiu da imprensa com a agilidade que havia adquirido com os anos
e passou para o lado de dentro de um corredor cheio de funcionários do
departamento de Theodoro com suas devidas identificações penduradas no
pescoço. Falavam todos de uma vez e analisavam pranchetas e agendas
enquanto andavam como se não houvesse amanhã. Narcisa passou por eles
sem nenhum problema e conseguiu chegar a porta onde um dos homens de
seu filho estava parado.

A segurança da Catedral e de Brampton Fort inteira era serviço do


departamento de Draco e Narcisa sabia bem que aquilo era o que menos lhe
dava trabalho, e embora nenhum dos seguranças fizessem parte do número de
zonas, todos eles sabiam reconhecer um Malfoy de longe. Talvez esse tenha
sido o motivo para a reação do guarda a porta de Hermione.

- Ela está ocupada, Sra. Malfoy. – ele disse parecendo confuso em se


decidir quem deveria obedecer.

- Não me importo. – ela foi neutra ao dizer aquilo, não havia sido rude, não
havia sido gentil e talvez tenha sido por isso que ele temeu pelo que pudesse
acontecer ao cargo que muito provavelmente provia algum tipo de status a sua
família dentro de Brampton Fort e empurrou a porta para que ela passasse.
- ...e cancele as reunião da semana que vem. Preciso dar atenção a
imprensa agora que... – a voz de Hermione morreu assim que seus olhos
dourados caíram sobre a figura de Narcisa entrando em sua suntuosa sala
improvisada.

- A senhora não deveria estar aqui. – Jodie que estava ao lado de


Hermione anotando tudo que dizia levantou sua voz para a presença de
Narcisa.

- Gostaria de trocar algumas palavras com Hermione e seria bom que você
se retirasse por alguns minutos. – o tom que usou para falar foi claro para
Jodie de que ela não tinha outra opção.

- Tenho a autoridade para retirá-la daqui e não me importo quem seja ou o


sobrenome que tem. – Jodie usou de um tom bastante profissional. Aquela
mulher era sempre toda profissional. Narcisa não gostava daquilo.

- Jodie, por favor. Não há necessidade. – Hermione interviu e voltou-se


para Narcisa. – Podemos adiar essa conversa para o jantar.
- Não podemos. – Narcisa foi firme e o suficiente para mostrar que
Hermione havia chegado a sua linha final.

O silêncio entre as duas durou pouco enquanto a troca de olhares fez com que
Narcisa notasse o quanto a outra Sra. Malfoy estava incomodada.

- Jodie, poderia nos deixar a sós por um momento, por favor. – Hermione
pediu com serenidade.

A morena não pareceu muito contente com isso.

- Sabe que tem compromissos, Hermione. – ela alertou.


- Ainda tenho vinte minutos antes da primeira reunião. – ela disse.

- Vinte minutos onde deveríamos discutir...

- Eu não sabia que dentro do departamento de Theodoro auxiliares podiam


confrontar seus superiores. – Narcisa cortou a mulher.

- Narcisa, por favor. – pediu Hermione com mais firmeza dessa vez. –
Jodie, saberei me lembrar da minha própria agenda. Agora, por favor. –
apontou para a porta.

Jodie lançou um último olhar significativo para Hermione e deixou a sala.

- Tem me evitado. – Narcisa não esperou pra dizer nada assim que a porta
foi novamente fechada.
- Eu não tenho tempo para isso. – ela deu as costas.

- Nunca tem tempo para nada, Hermione. Tem apenas tempo para o
trabalho que presta a Theodoro!

- É o meu trabalho e não o faço por Theodoro! – pontuou Hermione


enquanto se sentava detrás de uma mesa e espalhava uma dúzia de
pergaminhos por ela.

Narcisa soltou o ar impaciente. Não insistiria em uma nova discussão sobre as


precauções que deveria tomar com Theodoro. Ela apertou os lábios numa linha
fina e se aproximou colocando as duas mãos sobre a mesa.

- O jantar dos Martin será semana que vem e você está na lista. – ela
tentou começar por ali.
- Sim. Recebi o convite. – Hermione ergueu o olhar e forçou um sorriso
rápido para ela antes de voltar para os pergaminhos – Foi bastante gentil da
sua parte se esforçar para me colocar na lista, mas não poderei ir.

Aquela mulher só poderia estar querendo acabar com sua paciência.

- Podendo ou não, você irá. – ela usou de um tom pausado e seco. – Se


esqueceu de que tem um papel a cumprir como Malfoy? As mulheres dessa
família...

- Já estudei sobre os Malfoy, Narcisa. – Hermione a cortou folheando uma


pasta – Não vou a esse jantar. Não preciso ser nenhuma intermediária de
Draco dentro do ciclo social da família de vocês!

- Estou farta de a ver achando que tem alguma escolha! – Sim, Narcisa já
estava irritada – Eu venho fazendo o meu e o seu papel dentro dessa família
porque você simplesmente acha que pode se dedicar a carreira medíocre que
lhe deram aqui! – ela estendeu a mão e fechou a pasta de Hermione sem se
importar se estava sendo educada ou não – Draco mantém o vinculo
profissional de nossas famílias e você mantém o vinculo afetivo. Isso é uma lei,
Hermione! Nossa família funciona assim há anos e você já deveria estar sendo
uma figura comum entre nós já faz um bom tempo, mas ainda não passa de
uma curiosidade e um nome importante e pouco conhecido nos encontros,
jantares e reuniões da elite de Brampton Fort. Vai desistir desse trabalho agora
ou nunca saberá como tocar o nome dos Malfoy!

Hermione retribuía sua irritação com um olhar neutro, o olhar que Narcisa
havia a ensinado a fazer, o olhar que mostrava que não se rebaixaria ao nível a
que estava sendo submetida ali com o tom que Narcisa usava.

- É isso que quer que eu faça? Que eu desista do meu trabalho? – ela
usava uma voz suave, porém firme. – O que aconteceu com o lema ‘nunca se
render’?

- Um Malfoy deve saber pesar os prós e os contras muito bem para tomar
uma decisão, Hermione. E um Malfoy nunca trabalha sozinho. Está sendo
egoísta mantendo esse trabalho apenas para benefício próprio.

- Draco já se aproveitou bastante do meu status para promover alguns de


seus ideais de maneira bem sutil dentro dos meus discursos. – Hermione
cruzou os dedos sobre a mesa. – Não acredito que ele estaria de acordo com o
seu pensamento de me fazer desistir do meu cargo.
- Draco pode ser tão teimoso quanto você e ele ainda não entende que
querer ser diferente pode levar nossa família a ruína. – ela suspirou – As vezes
ele arrisca demais apenas para não seguir as palavras do pai.

- Bem, mas sou casada com ele, não é?! – ela se levantou. – Agora, sei
que irá se importar, mas essa não é uma boa hora para discutirmos sobre
qualquer coisa. Terei que pedir para se retirar. Nos veremos no jantar.

Narcisa parou para observá-la por alguns segundos. Se inclinou apoiando-se na


mesa.

- Você sabe o quanto isso é importante. Sabe o quanto nossas relações nos
mantém no poder, Hermione! – cerrou os dentes – Por que está inventando de
agir como se não se importasse? Nós caímos, você caí junto!

- Eu não posso ir. – sibilou ela.


- Eu disse que não é uma opção! – vociferou.

- Você não entende, eu não posso ir! – dessa vez ela usou do mesmo tom
para replicar.

- Eu trabalhei duro para devolver o seu nome para aquela lista e...

- Eu estou grávida! – o tom auto de Hermione a cortou.

A informação foi como um tapa em sua cara. Tentou se recuperar enquanto


observava Hermione olhar de um lado para o outro discretamente como se
estivesse arrependida de ter usado o tom que usara. Narcisa balançou a cabeça
de um lado para o outro como se tentasse colocar em ondem as milhares de
vozes e pensamentos distintos que gritavam em sua cabeça. Se afastou da
mesa.
- Mas... – sua voz saiu falha e ela precisou pigarrear. – Você não estava
tomando poções? – até onde sabia ela estava.

- Céus! Será que eu o mundo inteiro sabia que eu estava tomando poções?
– ela soltou abrindo um olhar cheio de angústia.

- Pensei que estivesse!

- Eu estava! Até o seu filho dizer isso a Voldemort!

- O que? – Ela uniu as sobrancelhas ouvindo mais vozes gritar em sua


cabeça. – Draco não faria isso!
- Ele fez.

Ela parou e desviou o olhar. Não era possível.

- Se ele fez foi porque não teve outra escolha. – disse.

- Ele tinha outra escolha sim, a de se manter calado.

Narcisa tornou a olhá-la.

- Se ele fez foi para nos livrar de problemas maiores no futuro.


Hermione revirou os olhos e encostou as costas no encontro de sua cadeira.

- De qualquer forma, - ela mostrou as mãos – não posso ir ao seu jantar.


Não tenho roupa. Minha barriga está crescendo e está se tornando cada dia
mais difícil escondê-la. Voldemort não quer que o público saiba, não por agora.

- Mestre. – a corrigiu embora sua cabeça estivesse em outro lugar naquele


momento. De repente o mundo pareceu pesar em suas costa. Levou uma das
mãos até o pescoço e massageou um dos ombros. Sentou-se na cadeira a
frente da mesa sentindo-se cansada demais. – Quantos meses? – perguntou.

- Não estou contando. – ela respondeu.

- Eu sei que está. – Narcisa sabia bem o que era ser mãe.
Hermione suspirou desviando o olhar. Precisou de alguns segundos antes de
fechar os olhos, umedecer os lábios e responder:

- Acabei de chegar ao quarto.

- Quarto? – Narcisa se viu surpresa. Ela tinha uma barriga pequena. –


Quando estava planejando me contar isso?

- Nem sequer pensei que deveria. – Hermione a olhou e Narcisa pode ver
que ela se debatia com questões muito mais sérias do que aquela.

- E Draco? – ela quis saber.

Hermione apertou os lábios discretamente e balançou a cabeça negativamente.


- Não falamos sobre isso. Ele disse que esse era um fardo meu.

Narcisa soltou um riso fraco pelo nariz.

- Ele não quer mesmo ser como o Lúcio. – disse embora aquele comentário
fosse mais para ela mesma do que para Hermione. Olhou nos olhos daquela
pobre mulher a sua frente. Ela seria uma mãe. Uma mãe que não tocaria em
seu filho, uma mãe que não o teria. Seria uma mãe que nunca escutaria seu
filho chamá-la de mãe. Narcisa conseguia medir a dor daquilo. – Me lembro de
quando disse a Lúcio que estava grávida de Draco. – ela tentou se transportar
para aquele dia. Sorriu. – Aquele homem ficou louco. – ela queria poder voltar
no tempo – As vezes penso que ele realmente me amou aquela época. Talvez
tenha sido a única.

Hermione não replicou e elas entraram num silêncio profundo. Cada uma em
seu mundo, como se aquela notícia tivesse o poder de sustentar uma lacuna de
longas horas de silêncio.
- Meus pais tinham uma casa de campo ao sul da Inglaterra. – Hermione
começou com a voz e os olhos baixo - Era uma viagem longa de carro, mas
valia a pena. – ela parecia estar falando mais com si mesmo do que com
Narcisa. – Quando eu estava no sexto ano meus pais passaram por uma crise
no consultório e meu pai pensou em vender a casa, mas minha mãe insistiu
que ela precisava de um lugar para levar seus netos para passar o verão e acho
que esse foi um argumento de peso final. – ela soltou um riso fraco e infeliz. O
silêncio durou por mais um tempo até que ela tornou a encarar Narcisa. Os
olhos úmidos e a voz travada. – Quando eles foram assassinados... – sua voz
morreu e ela engoliu a saliva como se estivesse engolindo veneno. Soltou o ar
e desviou o olhar novamente como se tivesse vergonha do brilho que
aumentava em seus olhos – Eu não pude nem mesmo ver o enterro deles. –
havia tanta dor naquela voz – Nunca pude nem visitar o túmulo deles, nem
passar perto, nem saber onde haviam sido enterrados. – ela puxou ar ajeitando
a postura na cadeira como se tivesse consciência de que estava desmoronando
na frente da mulher que a ensinara a manter seu orgulho de pé. – Seria como
correr para uma emboscada. – concluiu e limpou o canto dos olhos. – Pensei
que nunca no mundo inteiro eu pudesse sentir uma dor maior do que a que eu
senti quando os perdi. Mas eu tinha amigos. Eles se tornaram minha família e
eu pude ver o esforço de cada um deles para tomar a forma desse vazio que
havia sido aberto em minha vida. – ela tornou a engolir a saliva de forma
pesada. – Mas isso... – a mão dela tomou o tecido fino e escuro sobre sua
barriga. – Dói mais do que qualquer dor que já senti. – ela amassou o tecido
entre os dedos e apertou os lábios como se tentasse superar o nó que lhe
subia. – Eu estou criando vida. – ela usou o restante de voz que ainda tinha. –
Cresce dentro de mim. – Narcisa sabia perfeitamente o que ela sentia. – E não
vai ser meu. – ela soluçou e dessa vez não foi possível impedir que uma
lágrima grossa pulasse de seus olhos dourados.

Hermione precisou de seus minutos em silêncio para lutar contra toda a


emoção que queria externar. No final ela puxou o ar refazendo toda a sua
postura como se estivesse vestindo a mascara que havia deixado cair. Tornou a
empilhar todas as pastas que havia bagunçado.

- O mestre lhe passou alguma informação? – foi tudo que Narcisa


conseguiu dizer ainda desconfortável com toda a dor de Hermione.
Ela puxou o ar e soltou com calma antes de responder:

- Ele me dará um ano quando nascer. Disse que a criança ainda precisará
do meu corpo.

Narcisa sabia que aquilo não era de todo uma verdade. Voldemort queria
apenas que ela se apegasse ao filho para poder tirá-lo dela. Assentiu tentando
mostrar que era uma decisão justa embora não fosse.

- Bem. – Narcisa se levantou – Você sabia que não seria fácil desde o
começo. – alisou sua roupa colocando no lugar aquilo que talvez tenha saído
dele – Encontrarei um vestido para você. – pigarreou – Ainda podemos
esconder essa barriga. – deu as costas e seguiu seu caminho sozinha até a
porta. Segurou a maçaneta ainda conseguindo calcular a dor que Hermione
escondia por trás de sua máscara todos os dias. Voltou-se para ela. - Você
precisa ser forte. – disse embora soubesse que ela não iria ser. Nada poderia
prepará-la para aquilo e sabia que o único sofrimento para o qual havia se
preparado eram para sessões de maldições cruciatos e torturas medievais.
Nada daquela preparação a ajudaria ali.
Hermione piscou calmamente em resposta. Narcisa apenas puxou o ar e saiu
dali sem saber ainda como lidar com a situação.

Draco Malfoy

A carruagem o levou direto do portão Sul até o pátio central da Catedral onde
desceu sentindo o calor do início do verão. Olhou para o céu e viu as nuvens
brancas tampando o azul. Nunca havia sol em Brampton Fort. Atravessou toda
a extensão do pátio e passou para o lado de dentro do saguão onde logo pode
enxergar, por entre as poucas pessoas que atravessavam ali, a figura de
Hermione vindo em sua direção acompanhada por Jodie, como sempre. As duas
pareciam discutir sobre algo e foi quando os olhos dourados de Hermione
caíram sobre ele por apenas alguns segundos enquanto falava antes de se
voltarem novamente para Jodie que fez ele levantar uma nota mental sobre a
evolução da beleza natural de Hermione. Não a via a quase uma semana e ela
parecia ainda mais bonita que a última vez que colocara os olhos sobre ela.

Usava um vestido estampado que não era inteiramente claro, mas era quase
como se ela quisesse fazer com que o sol abrisse por entre as nuvens e ele
percebeu que o modelo do tecido fino e levemente marcado na cintura
disfarçava os quatro meses que ela carregava da gravidez. Lembrar-se de que
ela estava grávida fez com que o verão parecesse se tornar final de outono.
A alguns passos de se encontrarem Jodie saiu pela tangente dela seguindo
outro rumo e então Hermione avançou para fazer com que seus passos se
igualassem ao dele.

- Esperava te encontrar no Portão Sul. – ele começou sem reduzir a


velocidade de seu passo. Conseguia o acompanhar sem muito dificuldade.

- Não tenho tido tempo de deixar a Catedral com essa facilidade toda. – ela
disse – Além do mais, não sabia que chegaria pelo portão sul. Desci assim que
soube que sua carruagem já estava a caminho da Catedral.

- Como foi seu discurso de posse? – perguntou.

- As criticas tem sido bastante positivas. – respondeu ela. Ele notou que
havia algo de diferente em sua voz, mas não conseguia classificar o que era.
Parecia sem vida. – Deveria ler O Diário do Imperador.
- Não tenho tido tempo para jornais ultimamente. – ele disse.

- Como foi do outro lado da muralha? – ela perguntou se referindo a sua


estadia fora de Brampton Fort. A verdade é que ela queria saber se havia
acontecido algum confronto com a Ordem ou não, apenas não queria ser tão
direta.

- Perdemos. – foi tudo que ele respondeu.

Eles deram alguns passos em silêncio antes que ela tornasse a abrir a boca.

- Sua mãe tem insistido para eu desista do meu cargo. – ela trocou o
assunto por completo, afinal saberia sobre tudo que havia acontecido sobre a
guerra no dia seguinte quando comparecesse a reunião do conselho.
- Vai desistir? – ele lançou um olhar rápido para ela quando fizeram a curva
para dentro de um dos corredores.

- Não. – ela respondeu.

- Sabe que como uma Malfoy você deveria, não sabe? – comentou ele.

- Sim. – ela respondeu. – Mas não irei.

- Bom. – foi tudo que ele disse.

- Bom? – ela ergueu as sobrancelhas de um modo confuso.


- Sabe que sou interessado nos benefícios que seu cargo podem me trazer.
E sei que você também tem bastante interesse neles. – o trânsito de pessoas
se intensificava a medida que se aproximavam do QG e todas elas abriam
caminho assim que os viam avançar. Um Malfoy nunca deveria desviar das
pessoas. - Além do mais, não quero que minha mulher seja exatamente o que
as pessoas esperam que ela seja. - Ela não fez nenhum comentário com
relação a aquilo, mas sabia que muito provavelmente fizera uma nota mental
cheia de críticas. – Que horas irá voltar para casa? – ele mudou o assunto
assim que fizeram mais uma curva e foram jogados no hall de entrada do QG.

- Desde que deixou Brampton Fort tenho ficado na catedral até mais tarde.
Devo esperá-lo para o jantar hoje? – perguntou ela.

- Não sei. – ele realmente não sabia – Tenho muito assunto para discutir
com o mestre antes da reunião com o conselho amanhã. – ele puxou o relógio
do bolso e o analisou por alguns segundos. – Ele não irá me chamar para o
gabinete tão cedo então prefiro que siga sua rotina dos últimos dias. – ela não
contrariou nem contestou, mas também não assentiu nem concordou. Sabia
que ela não gostava de depender da palavra dele. – Assim que tiver um tempo
livre, vá até minha torre. Tina tem algo para passar a você.

Tina era sua mais nova secretária. Era apenas uma das mulheres que tão
loucamente almejavam pelo cargo mas se mostrava tão incompetente quanto
qualquer umas das outras que não haviam levado a nomeação.
- Terei um tempo livre no final do dia. – Hermione lhe respondeu embora
ele soubesse que na verdade tudo que ela queria ter perguntado era sobre a
procedência do que significava esse “algo” destinado a ela.

A objetividade dela foi suficiente para fazer com que ele entendesse que ela
tinha pressa em deixá-lo ou que na realidade nunca queria mesmo ter tido a
necessidade de se encontrar com ele.

- Ótimo. – encerrou ele – E por favor, não faça sua amiguinha lunática
tentar invadir meu escritório novamente. Você pode ter tido a chance de
vasculhar até mais do que eu acreditava que pudesse, mas Lovegood não é tão
esperta quanto você. – ela não reagiu, apenas escutou como se já esperasse
que ele fosse fazer aquele comentário a respeito da invasão de Luna em seu
escritório na noite em que deixara Brampton Fort. Hermione certamente teria
passado por todos os sistemas de segurança, mas Hermione era Hermione e
Luna Lovegood cometera um erro bastante previsível embora tivesse ido mais
longe do que ele acreditava que ela conseguiria. – Por que confiou a Lovegood
uma tarefa como aquela? Não é nada inteligente. Me faz questionar se não há
nada por trás disso.

- Pense o que quiser. – ela soltou cansada. Ele a olhou enquanto Hermione
reduzi a velocidade do passo e parava. A acompanhou parando para ficar de
frente a ela. enquanto percebia que seu cérebro automaticamente se
questionava o que havia dito de errado para que recebesse aquela reação.
Draco percebeu que ela tinha algo para dizer, mas ao mesmo tempo que
parecia não saber como dizer ele também pode notar que ela estava cansada e
não se parecia muito com cansaço físico. Seus longos cílios fizeram sombra
sobre a cor amendoada que tinham seus olhos quando não estavam expostos a
claridade. Os braços dela se cruzaram logo depois de ter umedecido os lábios e
colocado as ondas de seus cabelos para trás das orelhas. Draco pode notar a
ondulação na parte mais baixa de sua barriga. Era muito pequena, mas estava
lá. Existia.

- Eu não tenho todo o tempo do mundo, Hermione. – quebrou o silêncio


estranho que havia entre seus corpos.

Hermione ainda continuou a manter o silêncio. Draco observou seu peito se


mover ritmado com sua respiração. A pele dela o atraiu mais uma vez. Se
lembrou de quando a tocava com suas mãos, de quando sua boca percorria o
macio do branco em sua pele, se lembrou da textura que ela tinha, o sabor de
sua saliva. Ele já havia passado por isso antes, encará-la quando não estavam
fazendo sexo e como ser humano racional questionar-se como podiam ainda
ser duas pessoas com um infinito inteiro de distância os separando quando seus
corpos já haviam quase se fundido em um. Como conseguiam fazer com que a
vida entre eles funcionasse assim? Seria a rivalidade que tinham um pelo outro
o grande mantedor dessa situação? Ele não conseguia medir o quanto era
diferente tudo que envolvia sua relação com Hermione. Era tão confuso que
não conseguia nem mesmo saber se gostava ou não, se era prazeroso ou não,
se lhe servia de entretenimento ou não.
Deu um passo aproximando-se mais, talvez isso a intimidasse e ou fizesse com
que ela se sentisse mais incomodada para finalmente abrir a boca e soltar o
que quer que estivesse segurando. Funcionou, porque ainda com o olhar
distante ela resolveu fazer com que a voz suave soasse despretensiosa:

- Quanto tempo ficará longe de Brampton Fort quando deixar a cidade


novamente? – ela piscou e fez os olhos seguirem o caminho para focarem os
seus. Ele odiou que ela quisesse dar a volta no assunto que tinha a tratar.

- Por que quer saber? – ele queria força-la a ser direta..

- Quanto tempo? – ela insistiu.

Certo, ela havia feito a pergunta primeiro e sabia que resistir era perca de
tempo e energia. Deu de ombros.
- Isso depende dos rebeldes, depende do meu exército, depende da
reunião do conselho e depende principalmente da discussão que terei com o
mestre. – era a resposta que tinha. – Agora, por que? – era sua vez.

Ela puxou o ar e tornou a desviar o olhar.

- Tenho tomado poções e usado os feitiços que me foram passados pela


equipe da enfermaria para mantê-los informado de que tudo está bem com o
crescimento do feto. – ela quis parecer bastante profissional, mas Hermione era
péssima em esconder as emoções que tinha e ele percebeu que aquilo a
afetava bastante. Ela trocou o peso de perna, piscou e o olhou novamente. –
Recebi uma carta ontem. – puxou o ar – Do mestre. – acrescentou – Ele
marcou minha sessão inicial na Seção de Enfermarias para o fim desse mês.

Ele continuou a encará-la esperando que ela concluísse o porque da


informação, mas ela não concluiu.

- E? – ele se viu perguntar.


Ela piscou os olhos de uma forma mais demorada dessa vez soltando o ar como
se tivesse se frustrado com algo.

- Você irá? – o olhou deixando transparecer novamente aquele cansaço de


quem já havia se entediado em dar murro em ponta de faca, mas não
conseguia parar.

- A carta era para mim? – ele ergueu uma sobrancelha.

- Não. – ela respondeu.

- Então eu não tenho nada haver com isso. – concluiu ele.


Ela suspirou já sabendo que escutaria aquilo e ele pode perceber que não havia
sequer uma simples réstia de esperança em seu olhar. Não esperança de que
ele fosse se importar com a gravidez ou algo do tipo, mas ele não conseguia
entender aquele olhar. Ela parecia quase derrotada, quase cansada, quase
entediada, ele não encontrava nenhum adjetivo que pudesse descrever toda a
linguagem corporal que ela carregava.

- Certo. – a voz dela soou baixa e suave, e foi quando ele finalmente
conseguiu perceber que o que faltava no som de sua voz era o tom melodioso
que naturalmente tinha. Ela tornou a umedecer os lábios. – Se caso for deixar a
cidade ainda hoje me deixe saber. – ela pediu e agora que ele havia notado o
que faltava em sua voz percebera que gostava bem mais do som natural de
antes.

- Não dou informações aleatórias. – disse de maneira bastante egoísta


embora o pedido dela não tivesse soado nada como uma ordem. Apenas não
lhe queria fazer uma vontade.

- Eu apenas não quero me preocupar em estar perfeitamente pronta como


uma Malfoy deve estar sem necessidade se caso não for aparecer em casa. –
ela finalizou, deu as costas e seguiu a direção para entrar pelo corredor com o
caminho mais curto para a Seção da Cidade.

Ele a observou ir, a bainha de seu vestido dançando no ritmo de seu andado
firme e suave. Havia algo errado com ela. Draco queria não se importar e na
realidade talvez não se importasse realmente, talvez tudo fosse culpa da
convivência que haviam construído e que eram obrigados a ter. A figura um do
outro havia se tornado tão familiar e tão constante que não pensar em
Hermione como parte do seu dia, de sua semana ou de seu mês era quase
impossível.

Deu as costas sabendo que deveria passar por cima daquilo, seu mundo girava
em torno de preocupações muito maiores que Hermione. Passou pelo toten que
indicava a entrada e avançou uma curta distância pelo foyer amplo e luxuoso
de seu quartel até chegar ao balcão único de informação. Bateu com o anel de
sua aliança no mármore o que fez a mulher bem arrumada do outro lado
levantar os olhos e ajeitar a postura no mesmo instante.

- Faça com que o mestre saiba que eu estou de volta a Brampton Fort. –
ele disse a ela. Sim, gostava de fazer de qualquer um seu secretário, mesmo
sabendo que já tinha uma.

Ela pareceu assustada por um instante como se estivesse pensando em


retrucar que jamais conseguiria ter contato com o mestre, mas Draco era uma
figura bastante conhecida e ela conseguiu entender o porque ele usara as
palavras “faça com que ele saiba” e não “avise”. A mulher assentiu recebendo o
desafio que ele lançara. Ela não era burra. Por mais que estivesse em um
balcão de informação em um foyer, era funcionária de seu departamento e isso
já era o suficiente para saber que ela não era burra. Seu departamento não
contratava estúpidos.
- Foi me deixado documentos que deveriam ser entregues em suas mãos. –
ela pareceu se lembrar subitamente. – Me informaram para lhe passar mesmo
que não chegasse a pedir por eles. – ela puxou de um dos nichos do balcão e
lhe estendeu uma pasta de couro de dragão dura, a cor azul marinho indicava
que vinha de sua torre.

Pegou-a e a abriu para se dar conta de que os pergaminhos do lado de dentro


informavam sobre cada minuciosa atividade que havia ocorrido dentro de seu
departamento durante sua ausência. Sorriu. Sua nova secretaria não era assim
tão devagar quanto ele achava que fosse. Fechou a pasta e a estendeu para a
mulher.

– Envie de volta. – disse. Ele sabia que deveria mandar uma nota de
parabéns, elogiava bom serviço quando preciso, mas não queria paparicá-la
com nenhum elogia agora no começo. – Tornarei a olhar quando tiver tempo. –
isso era o suficiente para ela saber que ele havia apreciado o serviço. Como
levantado, sua figura era bastante conhecida e se ele não tivesse gostado, com
certeza teria o prazer de mandar uma nota bastante desagradável em resposta
ao ato.

A verdade era que tinha tempo para rever uma pilha de pastas daquela, apenas
não queria trabalhar. Havia passado por dias intensos do lado de fora da
muralha e estava cansado de todo aquele ambiente. Quando deixou seus
passos o conduzirem dentro da catedral percebeu que estava indo em direção a
torre de Pansy. Não fazia aquilo havia muito tempo, mas até que sentia falta do
pedaço de conforto que existia dentro do inferno que era aquele edifício.
Costumava frequentar o quarto de Pansy sempre quando sentia que precisava
se desligar por um tempo ou por alguma razão. Tomar aquele caminho
novamente o fez se sentir leve, como se as coisas estivessem finalmente se
normalizando depois de seu conturbado casamento com Hermione.

A porta do quarto de Pansy era sempre aberta para ele. Passar para o lado de
dentro o fez se lembrar que a última vez que estivera ali fora no dia em que
entregara o anel de sua família para uma Sangue-Ruim. Tinha a impressão de
que havia sido há mil anos. Tudo que ele conhecia de Hermione naquela época
era sua bravura e determinação em campo de batalha assim como seu esperto
cérebro que conduzia a Ordem. Agora o que ele conhecia dela se limitava ao
modo como orquestrava os talheres em suas mãos durante o jantar, a forma
como passava a folha durante a leitura de um jornal, o gemido que fazia
quando sentia prazer, como seu corpo respondia a um orgasmo, o gosto de seu
beijo intenso, o toque de sua mão macia, a textura de sua pele, o silêncio de
seu sono, o suspiro de sua respiração quando trocava de posição durante a
noite, a forma como se espreguiçava pela manhã. E no final, isso era todo o
apenas que ele conhecia de Hermione e nada mais. Ela ainda era um mistério.
Um mistério que ele não tinha interesse em desvendar embora ainda se
lembrasse de algumas poucas situações que haviam vivido que o fizera se
questionar se ela não era um bom campo para se explorar.

A porta do quarto de Pansy estava sempre aberta para ele. Lembrou-se disso
quando girou a maçaneta e viu que não estava trancada. Deixou seu passo o
arrastar pelo carpete roxo. Ela não estava lá. O quarto cheirava ao perfume
forte que sempre usava. Não era o perfume que ela tinha quando eram
crianças, mas ele ainda conseguia se sentir bastante familiarizado com o
ambiente. Familiarizado o suficiente para se sentir confortável. Sentiu o peso
do cansaço o atingir. Agradeceu na realidade por não ter encontrado Pansy ou
ela iria loucamente o fazer querer sexo. As vezes ele ainda ia ali ingenuamente
esperando por uma boa conversa, as conversas que costumavam ter antes de
ela ter se transformado na frustração que vivia todos os dias por ele nunca ter
se apaixonado por ela. A verdade era que ela deveria ficar agradecida apenas
por ele ter consciência de que ela era o mais perto de amar uma mulher que
ele acreditava que um dia poderia chegar.
Aproximou-se da arca onde Pansy deixava suas bebidas absurdamente caras.
Pegou um copo do que ela tinha de mais forte e deixou o líquido queimar por
sua garganta. Passou a mão pelos cabelos, abriu os botões de sua blusa, tirou
os sapatos e afundou no colchão da cama. Voldemort muito provavelmente
ainda demoraria para chamá-lo. Ele ficaria a espera bem ali sem mover um
músculo. Colocou os braços como apoio para a cabeça e fechou os olhos apenas
para descansar a mente dos dias conturbados que tinha passado.

Combater as investidas da Ordem nos últimos dias havia sido uma tarefa mais
difícil do que qualquer outra que já fizera. Hermione podia não estar mais com
eles, mas definitivamente eles tinham alguma carta na manga que ele não
esperava que tivessem. O nome Hermione veio em sua mente novamente.
Sempre vinha com uma frequência que ele depreciava intensamente. Lembrar-
se do olhar vago que ela lhe dera hoje foi a última coisa que sua mente
processou ainda em estado consciente.

No estado seguinte ele foi transportado para onde era verdadeiramente verão.
Havia sol. Havia grama verde. Macieiras, arbustos, dentes-de-leão. Mas o vento
era diferente, era forte e bastante presente, o que o fez perceber que estava no
topo de algum vale. Só podia estar do lado de fora da muralha e aquilo o fez se
sentir imediatamente bem.

Passou seu olhar pelo local e a viu. O vento balançava seu vestido e o sol
finalmente dava a ela a glória do verão que lhe era apagado nos dias cinzentos
de Brampton Fort. Estava de costas e ele podia ver os lindos cachos de seu
cabelo lhe descendo até a cintura ao mesmo tempo que eram levados pelo
vento. Só podia ser ela e para sua surpresa, ele queria que fosse. Se
aproximou e a medida que avançou tomou a consciência de que se fosse
mesmo ela, ele não poderia estar do lado de fora da muralha. Foi assim que as
nuvens cobriram o sol e a única coisa que o fazia saber que era verão, era o
vento úmido e quente, assim como em Brampton Fort.

Ele parou a poucos passos de distância dela. Queria tocá-la, sentia falta de
tocá-la. Por tanto tempo pode tocá-la e embora todas as vezes parecesse
errado ele gostava. Tinha plena consciência de que estava em um sonho,
portanto apenas deu seu passo final e colocou suas mãos uma de cada lado da
cintura da mulher. Ele conhecia todas as formas dela. Deslizou suas mãos
devagar alguns centímetros mais baixo enquanto colava seu corpo no dela. O
cheiro dela o invadiu quando ele deixou o vapor de sua respiração passar pela
orelha e encontrar o pescoço. Fez questão de inalar mais do seu cheiro. Ele
gostava. Era embriagante, doce, floral e natural. Ela não reagiu a ele de
nenhuma forma e ele continuou ali, tocando-a, estando fisicamente próximo
mas com aquela distância universal entre eles.

“Quero pular.” a voz dela soou profundamente vaga. Exatamente como estava
soando quando ele percebeu que não havia melodia em seu tom.

Pular aonde? Olhou para frente e pode enxergar um precipício sem fim afundar
a apenas um passo dela. Se ela pulasse certamente morreria. Ele queria que
ela morresse, só assim ele estaria livre novamente, livre como antes fora, como
antes de enfiar a droga de uma aliança em seu anelar esquerdo.

“Pule.” sussurrou em seu ouvido com se pudesse ser alguma versão sedutora
da morte.
Sua mão deslizou para longe dos quadris dela quando ela deu seu passo.
Pequenos pedaços de pedras e terra caíram precipício abaixo. Uma lufada de
vento soprou seus cabelos e seu vestido mais uma vez e Draco pode sentir seu
perfume pela última vez. Ela se virou para ele. Seus olhos dourados, sua boca
rosada, a linha de seu queixo, o desenho de suas sobrancelhas, tudo nela era
perfeito demais. Tão perfeito que agora parecia até mesmo um desperdício que
ela se jogasse dali. Mas ele a queria morta. Mesmo que nunca mais fosse tocar
seu corpo, mesmo que nunca mais fosse ouvir seu gemido, mesmo que nunca
mais fosse escutar sua respiração dormindo, observá-la acordar, sentir seu
perfume, nem escutar sua voz irritante e ao mesmo tempo suave, ele a queria
morta. Sempre quisera. Havia a trago para Voldemort para ter o prazer de
assistir a sua morte dramática, lenta e dolorosa.

“Ainda quer que eu pule?” ela perguntou usando aquela voz doce.

Aquela havia sido a pergunta de sua própria consciência, não dela. Em primeiro
lugar, quem queria pular era ela! Ele também queria que ela pulasse. Queria
mesmo?

“MÃE!” escutou a voz fina de uma criança gritar longe.


Draco virou-se imediatamente em direção a voz e se viu com cinco-seis anos
novamente correndo na direção de onde estava. O menino parecia
desesperado, como se estivesse suplicando por algo. A medida que ele se
aproximou Draco percebeu que não era realmente ele. Se parecia muito com
ele quando criança, mas não era. Tinha cabelos castanhos quase loiros e ele
não conseguia discernir exatamente se realmente se parecia com ele ou com
Hermione.

“Draco.” sentiu uma mão em seu pulso. Virou de costas e viu Pansy Parkinson.
“Eu sabia que voltaria para mim. Sempre volta.”

De onde ela havia aparecido? Ele não tinha tempo para ela agora. Voltou-se
para a figura do menino e ele tinha lágrima nos olhos enquanto ainda corria.
Virou-se para o penhasco e o lugar de Hermione estava vazio. Seu coração
pulsou ao mesmo tempo que se desvencilhava da mão em seu pulso, avançava
para o lugar onde Hermione deveria estar e o nome dela vinha como um vômito
em sua garganta.

- Hermione! – ele abriu os olhos e tudo que viu foi o quarto escuro e
arroxeado de Pansy Parkinson. Seu coração batia forte contra suas costelas e
ele ainda conseguia escutar em seu subconsciente o eco de sua própria voz.
Virou o rosto e ainda conseguiu pegar Pansy ao seu lado murchando o próprio
sorriso.
O silêncio entre eles foi incomodo e Draco torceu para que tivesse dito o nome
dela apenas em seu sonho.

- Sonha com ela? – ela soltou com desgosto. Não parecia nada contente e
foi aí que ele soube que havia mesmo aberto a boca para pronunciar o nome de
Hermione.

Ele soltou o ar e relaxou seus músculos. Se ela estava frustrada com ele, ele
também tinha o direito de ficar frustrado com si mesmo. Ergueu as mãos e
apertou os olhos com os dedos. Sentou-se pisando os pés no carpete apoiando
os cotovelos um em cada perna e tomando seu tempo para soltar um longo
suspiro enquanto sentia o próprio coração se acalmar. Foi apenas um sonho
idiota.

- Draco. – a voz de Pansy o chamou séria a suas costas. Ele não queria
lidar com ela agora. Não respondeu. – Draco! – ela tornou a chamá-lo. Ele
continuou mudo. Escutou ela se arrastar para fora da cama. Parou de braços
cruzados a frente dele. – Há quanto tempo não faz sexo com ela?

Ele uniu as sobrancelhas confuso pela pergunta dela. Ergueu os olhos para
encarar sua figura vestida num de seus vestidos justos e curtos de verão. Não
entendeu o porque da pergunta e considerando que Pansy sabia coisa sobre ele
mesmo que nem ele sabia apenas respondeu considerando entender qual a
teoria que ela tinha para ter feito aquela pergunta.

- Bastante tempo.

- Seja mais específico. – ela pediu ainda com os braços cruzados.

Ele puxou o ar.

- Quase um mês. – disse. Não sabia exatamente. Talvez não fosse


realmente quase um mês, mas a verdade é que parecia quase um ano.

Pansy ergueu apenas uma sobrancelha, como se duvidasse da veracidade


daquela resposta.
- Tem uma mulher na cama todos os dias e não a toca há quase um mês?

- Temos nos evitado. – foi tudo que ele respondeu tornando a abaixar os
olhos para o carpete. Não queria chegar no tópico da gravidez, primeiro porque
Pansy não sabia nem deveria, segundo porque não queria deixar a entender
que estava respeitando o espaço de Hermione, o que na verdade não estava,
apenas lhe faltava força de vontade e interesse para quebrar o muro que havia
se erguido entre eles já que sabiam que na verdade faziam sexo porque ela
precisava engravidar e agora que haviam cumprido com seus deveres e o peso
do resultado os atormentava, sexo não parecia tanto a solução de seus
problemas nem o mais atrativo dos entretenimentos.

- Esteve com outras mulheres, não esteve? – ela perguntou.

Claro que ele estivera. Sam havia sido uma delas, mas essas mulheres se
resumiam ao número mínimo de três, em tempos passados ele teria duplicado
esse número. E tudo bem que estava começando a se acostumar com a
realidade de que ninguém lhe daria o sexo que ele tinha com Hermione, mas
continuava a ser frustrante todas as vezes que se aventurava nesse campo e
sexo nunca, em hipótese alguma, poderia ser frustrante.
- Sim. – respondeu.

- Mas você a quer, não é?

- Sim.

- Por isso sonha com ela?

- Não. – soltou sem hesitar e aquela foi tão esclarecedora para ele quanto
para ela. Ele não estava sonhando que a tocava novamente, não sonhava que
escutava seu gemido, nem sentia suas partes quentes, húmidas e apertadas o
envolver, sonhara apenas que ela dava fim a própria vida.

- Não gosto da forma como tem demonstrado se importar com ela a esse
ponto. – Pansy foi sincera como sempre era.
- Nem mesmo eu. – ele findou se levantando.

Passou por ela, pegou o copo que havia deixado em uma de suas estante, foi
em direção a arca, o encheu e o virou de uma vez. Puxou o relógio do bolso e
viu que já era madrugada. Não tinha noção de que estava tão cansado. Olhou a
marca em seu braço e ela continuava lá, mas não queimava, não ardia, nem
mesmo formigava. Se o Lorde queria adiar a conversa que deveriam ter sobre a
guerra, para Draco era apenas benefício. Poderia continuar a levando da forma
como bem entendia. Recolocou o relógio no bolso e virou-se para um dos
espelhos na parede. Ajeitou os cabelos da melhor forma possível e abotoou os
botões que estavam abertos. Sua camisa estava amassada e ele usou a varinha
para se colocar novamente de forma apresentável a qualquer público que
pudesse o ver aquela hora.

- Está indo embora? – a voz dela tornou a soar.

- Sim. – ele gostava de perguntar que poderia responder apenas com sim e
não.
- Não vem ao meu quarto há quase um milênio e simplesmente vai embora
assim? – ele conseguiu ver o olhar de insatisfação dela pelo espelho bem as
suas costas.

- Eu apenas precisava de um lugar confortável que não fosse a casa


infernal dos meus pais, a minha que é ocupada por uma esposa e meu
escritório com aquelas pilhas de trabalho em cima da mesa.

Ela sorriu e ele soube que para ela aquilo havia soado como um coral de anjos
e que o fato de ter dito o nome de Hermione enquanto dormia não passava de
mais um dos infortúnio relacionado a presença da Sangue-Ruim em suas vidas
agora.

- Sinto falta do nosso sexo. – ela disse usando a voz que sabia que o
seduzia. – Você não sente? – perguntou enquanto se sentava na cama de uma
forma muito provocadora.

Draco virou-se para ela. Na verdade o único sexo que ele sentia falta era o de
Hermione, mas disso Pansy já sabia e ele não gostaria de lembrá-la.
- Sabe que um dia irei sentir. – optou por dizer.

Ela incorporou o teatro de sempre e fez aquele bico de quem estava falsamente
chateada.

- Sei, mas está demorando muito. – ela disse e ele sorriu. Não gostava dos
teatros dela, mas fazia bastante tempo que não a via em suas performances. –
Estou me cansando de ser paciente. – ela deitou se apoiando nos cotovelos
exatamente da forma como sabia que iria provocá-lo e aquilo o fazia se lembrar
de como o corpo dela também era bom. Era o corpo familiar de Pansy e nunca
deixava de ser sexy.

Ele se aproximou, deixou sua mão correr por uma de suas pernas, afasto-as,
segurou Pansy pela cintura e a arrastou para o centro da cama encaixando seu
corpo no dela quando se deitaram.

- Paciência é algo que aprendeu a ter quando se apaixonou por mim,


Pansy. – disse bem próximo de seu rosto.
- Não posso ir contra esse argumento. – ela disse e eles sorriram. Ela
enfiou sua mão nos cabelos dele tornando a bagunça-los. – Passe a noite aqui.
– ela pediu.

Ele considerou enquanto analisava todas as linhas do seu rosto de perto. Ela
era bonita, muito bonita. Ele sabia bem apreciar a beleza de toda mulher. Foi
quando percebeu que a boca dela estava um pouco inchada e sem batom. Fez
seu dedo desenhar a linha do seu lábio inferior. Puxou um sorriso.

- Com quem estava, Pansy?

Ela sabia do que ele se referia.

- Com dois dos seus homens. – respondeu ela e ele riu.


- Se divertiu?

- Sabe que sim. – ela usou daquele tom sedutor de novo. – Por que? Está
com ciúmes?

Ele riu mais alto. Não tinha ciúmes dela, nunca tivera, e ela também dizia que
não tinha dele, mas ele sabia que ela tinha. Ela dizia que não tinha porque
sabia que ele gostava daquele relacionamento aberto. O relacionamento que
teriam se caso chegassem a se casar.

- Eu tenho que ir pra casa. – essa foi sua veredito final sobre considerar
passar a noite ali. A deixou na cama e colocou seus sapatos.

- Mas você não quer ir. – argumentou ela quase que em protesto.
- Hermione está me esperando e o assunto que eu e ela temos a tratar é
do meu interesse. – Sim, ele sabia que ela estaria o esperando e já que
Voldemort não havia o chamado ele adiantaria seus serviços.

- São duas e meia da manhã. Eu tenho certeza de que Hermione não


estará te esperando. – ela se sentou novamente.

- Eu tenho. – foi tudo que ele disse antes de deixar o quarto.

Desceu as escadas da torre de Pansy e quando chegou ao pátio sua carruagem


estava lá o esperando como sempre. Não teve nenhum problema durante sua
viagem para a vila dos comensais. Ir para casa era apenas um problema no
inverno com todo aquele gelo.

Quando olhou pela janela para ver a fachada de sua casa enquanto fazia a volta
no pátio para estacionar de frente a escadaria ficou surpreso por não ver
nenhuma luz acessa em nenhum dos andares, nem mesmo a sombra de
alguma luz. Desceu assim que parou e quando passou para o lado de dentro foi
recebido pelo silêncio e pela penumbra.
Ele tinha certeza que se Hermione tivesse buscado o que ele pediu para ela
buscar em seu escritório ela não estaria dormindo. Passou os olhos pela
enorme sala, fitou o lustre e as cortinas fechadas bem como gostava. Hermione
ainda insistia em mantê-las abertas durante o dia. A verdade era que ela havia
mudado bastante a rotina e a ordem daquela casa desde que chegara ali. De
início lutara bastante, mas agora apenas havia se cansado. Estalou os dedos e
num segundo Tryn estava a sua frente com os olhos apertados.

- Onde Hermione está? – perguntou.

- A sra. Hermione Malfoy se retirou para os aposentos a quase três horas


atrás. – a voz da elfa estava rouca de sono.

Ele desconfiou. Passou pela criatura e seguiu caminho adentrando mais a casa.
Seu estomago protestava pela falta do jantar e ele sabia que não deveria
comer aquela hora, mas mesmo assim passou pelo salão da sala de jantar e
pelas câmaras chegou até a cozinha.

Ele a encontrou lá. Sabia que ela não teria dormido. Desceu três degraus para
o chão de madeira maciça e envelhecia da cozinha. Era o lugar mais simples
que havia na casa e quem o frequentava eram apenas elfos, mas Draco não se
importava com as lições de sua mãe e aparentemente Hermione também não.

Ela estava sentada na bancada que havia bem no meio do ambiente e ergueu
os olhos para ele assim que apareceu. Eles estavam vermelhos e Draco soube
que ela havia andado chorando. Sempre ficava grato por não presenciar
quando ela fazia isso e ela também fazia questão de não deixá-lo ver.

- Não sabia que frequentava a cozinha. – ela usou uma voz baixa para se
manifestar. Seu tom continuava sem aquela melodia que ele conhecia. Vê-la o
fez se lembrar do sonho e de sua voz dizendo que gostaria de acabar com a
própria vida.

- Venho quando tenho fome. – aquilo era uma mentira, mas sabia que ela
apenas havia dito aquilo porque fora informada que a cozinha era local para
elfos.

Ela não disse mais nada. Draco se aproximou e passou por ela que não se
preocupou em ajeitar a postura como havia sido ensinada. Ele viu um pote de
alguma comida estranha bem ao lado da pasta que pedira para ela buscar em
seu escritório na Catedral.
Ele puxou a tábua de um pão e trouxe para a bancada, buscou um queijo que
havia num dos gabinetes e de uma pequena adega embutida na parede pegou
um vinho. Quando foi buscar sua taça, pensou nela.

- Quer vinho?

- Não. – ela respondeu e eles voltaram para o silêncio.

Draco se sentou bem a sua frente, derramou vinho em sua taça, cortou uma
fatia de pão e uma fatia de queijo, juntou os dois e comeu um pedaço. Bebeu
quando sentiu sede. Apenas não desgrudou os olhos de Hermione e ela
também fez o mesmo colocando na boca uma colher do que quer que fosse
aquilo em sua taça.

Ele sabia que ela tinha muitas perguntas. Tudo que Draco tinha certeza desde
que ela entrara naquela casa era que ela tinha muitas perguntas e ela havia
tentando resposta para algumas delas, mas a maioria ele não respondia porque
não queria, o resto porque não poderia. Ele esperou que ela soltasse a
pergunta, mas ela nunca vinha.
- O que é isso? – ele apontou com a cabeça para a taça dela.

- Sorvete. – ela respondeu com a voz muito uniforme.

Ele precisou de alguns segundos para se lembrar que aquela era uma comida
trouxa.

- Onde conseguiu isso aqui?

- Fiz. – respondeu sem muito caso – Algumas vezes apenas não consigo
superar o fato de não comer algo que quero.
Ele sabia que aquilo era culpa da gravidez e novamente se lembrar da gravidez
o fez se lembrar daquele garotinho em seu sonho, correndo cheio de
desespero. Draco não conseguia mais se lembrar do rosto que ele tinha.

Eles ficaram em silêncio. Um silêncio eterno. Draco estava começando a


desconfiar de algo muito estranho. Ele sabia jogar com Hermione. Jogava com
ela desde que assumira a posição de líder do exército. A conhecia e ali, vendo
ela calada com aquela pasta na mão, era como não reconhecer a mulher com o
qual esteve lutando uma guerra por anos.

- Não vai fazer suas perguntas? – ele teve que se manifestar depois de
muito se perguntar o que havia de errado com ela.

Ela apenas piscou com calma, seu olhar vazio como nunca antes. O mesmo
olhar que ela usara para olhá-lo naquele sonho. Sua boca pressionou a comida
garganta abaixo e ela entreabriu os lábios.

- Não. – ela disse, a voz cansada e pesarosa.


Ele continuou a observá-la naquela troca de olhares que eles mantinham
parecia fazer horas. Aquela não estava sendo a Hermione que ele esperava que
ela fosse.

- O que há de errado? – perguntou sem pensar e se arrependeu no mesmo


segundo em que se calou. Nunca, nunca fazia nada sem pensar! Maldita hora
em que se sentia familiar demais com a presença dela.

A pergunta fez com que ela piscasse os olhos ainda com calma e deixasse uma
linha de dúvida surgir em sua expressão.

- Você não quis fazer essa pergunta. – ela soltou. A voz suave.

Ele ocupou sua boca com vinho, apreciou o sabor antes de engolir.
- Tenho como voltar no tempo? – tirou as dúvidas dela..

Hermione suspirou e desviou o olhar para a pasta. Seus dedos correram a capa
e ela a abriu. Mais uma colher de sorvete foi para sua boca. Ele teve
curiosidade de experimentar aquilo. Santo Deus! Será que Hermione tinha
consciência de como cada milímetro de seu rosto em cada movimento singular,
principalmente sua boca, fazia com que ele tivesse vontade de sumir com
aquele balcão entre eles? Levou outro pedaço de pão a boca enquanto checava
se sua expressão continuava neutra.

Os olhos dela passaram pela folha tempo o suficiente para que o fizesse saber
que ela lia. Talvez pela milésima vez. Quando ela tornou a erguer os olhos,
havia mais sorvete dançando em sua boca. Ele teve inveja daquela comida
maldita. Sustentaram aquela troca de olhar em silêncio mais uma vez por
infinitos minutos.

- Uma saca de galeões pelos seus pensamentos. – Ele se viu quebrar o


silêncio.

- Dez pelos seus. – ela retrucou.


Sentiu o canto de seus lábios se esticarem num sorriso. Tomou um gole de seu
vinho. Estava odiando o rumo que tudo aquilo estava tomando. Ele estivera
esperado por um comportamento muito diferente daquele.

- Acho interessante o conceito de sermos tão próximos e ao mesmo tempo


tão distantes. – cortou um pedaço de queijo. – Algumas vezes acho que te
conheço, outras acho que tudo sobre você é um grande mistério. – colocou-o
na boca.

Ela piscou com calma.

- Não minta. Sabe que estou sendo bastante previsível.

- E deve estar se odiando por isso.


- Eu não me importo mais. – ela deu de ombros.

Ele sorriu.

- Você não quer se importar. Isso é muito diferente de não se importar. – o


olhar dela mostrou que aquilo era uma verdade bastante dolorosa. Ele
simplesmente odiava a forma como ela mostrava sua alma inteira por aqueles
malditos olhos.

Hermione suspirou fechando e abrindo os olhos lentamente num ato


completamente frustrado. Fechou a pasta e a pegou, usou a varinha para
limpar a própria taça e se levantou. Quando ela deu a volta no balcão foi quase
impossível fazer com que seus olhos não caíssem para a quase imperceptível
ondulação que havia na parte mais inferior de sua barriga. Desviou o olhar o
mais rápido que pode. Embora o tamanho fosse mínimo, para ele parecia estar
quase em evidência pela forma como ela amarrara seu robe na cintura. Não era
nada como o vestido que havia usado na Catedral.
O pedido para que ela disfarçasse mais aquela barriga quando estivesse em
casa também ficou entalado em sua garganta quando ela colocou a pasta sobre
a bancada bem a frente dele.

- Eu não sei quais os planos que tem me passando isso, Draco, mas farei o
que quer que eu faça. – ela deu o seu ultimato sobre o assunto em seu tom
sem vida.

- O quão horrível é saber que está confiando em mim? – perguntou com


aquele sorriso irritante quando voltou seu olhar para ela.

- Eu tenho motivos demais para me martirizar, ainda é confuso saber qual


deles mais me atormenta. – ela respondeu embora soubesse que ele nada mais
fazia do que implicar.

Draco franziu o cenho nada contente com aquela resposta. Não era o tipo de
resposta que ela daria para uma implicância estúpida dele. Hermione nunca se
rendia as ignorâncias que ele gostava de lançar no ar para ela. A segurou pelo
pulso quando ela fez menção de tomar seu caminho. A puxou para si abrindo
seu corpo para ela. Cercou sua cintura e fez com que seus rostos ficassem a
centímetros de distância.
- Eu não sei qual tem sido o seu problema, Hermione, mas é melhor tratar
de resolvê-lo. Isso tudo é um jogo muito perigoso e se escolher desistir de
jogá-lo vão te carregar para o fundo do poço. – começou baixo porém firme o
suficiente. - Malfoys nunca vão para o fundo do poço. – Sibilou. Sentiu o hálito
dela bater contra ele. Estava gelado. Tinha aroma de baunilha. – Não tem mais
amiguinhos babacas para amarrar o cadarço dos seus sapatos quando se sentir
fraca demais para isso. Aprenda a sobreviver sozinha. Use o cérebro que tem.
Conseguiu ser brilhante para me fazer demitir minha ex-secretária e ter minha
torre toda para você, mas mandar Lovegood invadir meu escritório? Aquilo não
foi nada inteligente! Não pode deixar que o seu miserável estado de espírito
desligue o cérebro que tem! – estava começando a ter raiva do quanto queria
devorá-la por inteiro. Seu cheiro, sua respiração, seus olhos e a boca. A boca! –
Eu não te quero no fundo do poço, porque se for parar lá, eu também irei e se
eu souber que fui para o fundo do poço por sua culpa, juro que saberá o que é
ter um péssimo marido. – havia aprendido bem com seu pai.

- Não é como se você fosse um bom. – ele continuava com aquele maldito
tom.

- Escute! – seus dentes cerraram e ele soltou o pulso dela para lhe segurar
pela mandíbula. Conseguia ver cada detalhe de sua íris de tão próximo e céus,
como ele queria aquela boca. – Considere o recesso que estou dando para a
relação física que temos um ato de extrema compreensão do seu estado atual.

Ela se desvencilhou dos dedos dele.


- Não é como se eu não gozasse todas as vezes que me toca, Draco. – ela
usou um tom ríspido – Sim eu odeio saber que me dá prazer, mas isso só faz
você se sentir bem, não é? Saber que eu tenho que conviver com o peso de
gostar do sexo que temos. – como se ele também não tivesse que carregar
esse peso. - Você não me toca porque quer sempre fugir do estado em que eu
me encontro. Não quer ver, não quer se lembrar, não quer tocar. – afastou
desvencilhando-se dos braços dele. – Ao menos pode fugir disso. Queria eu ser
você.

Ela deu as costas e saiu deixando aquele tom infernal ficar ecoando pelas
paredes. Ele voltou-se para sua comida sentindo o desconforto das palavras
dela. Maldita hora em que se vira encurralado para dizer a Voldemort que ela
tomava poções. Se a loira lunática ao menos tivesse encontrado uma forma de
ocupar os espaços vazios que deixava nas gavetas da enfermaria talvez ainda
estivesse tentando enrolar com o caso do maldito herdeiro.

Lançou o pedaço de pão que estava a meio caminho de sua boca em uma
tentativa frustrada de externar a raiva que seus pensamentos lhe provocavam.
Puxou a pasta que mandara entregar para Hermione disfarçada de
memorandos para o departamento de Theodoro. A abriu e viu a lista de
agendamentos para saída do portão norte do dia de amanhã. Ela havia
marcado dois nomes. Os dois primeiros e os dois que ela sabia pelos históricos
que havia colocado a mão que eram os que deixavam Brampton Fort
diariamente.
Fechou a pasta e a empurrou para longe. Girou a varinha e ela se consumiu em
fogo até virar cinzas sobre a mesa. Tryn daria um jeito naquela bagunça assim
que o sol aparecesse clareasse o dia. O que ele precisava era de Luna Lovegood
de volta na Ordem carregando tudo que sabia que Hermione faria ela carregar
para fora daquelas muralhas.
Capítulo 18

Hermione Malfoy

Quando abriu os olhos o dia estava começando a se mostrar. No verão


amanhecia mais cedo embora o sol nunca realmente se mostrasse. O quarto
ainda estava envolto no escuro devido as pesadas cortinas que Draco insistia
em fechar. Se mexeu com preguiça enquanto percebia que havia acordado bem
antes do horário de levantar. Olhou para o outro lado da cama e o encontrou
ocupando seu espaço. Ele estava acordado com a cabeça apoiada em seu
travesseiro em pé.

- Você ainda está aqui. – ela murmurou pesadamente. Achava que ele
ficaria pouco tempo em Brampton Fort, mas já era a segunda noite que
passava em casa desde que voltara.
- Vou embora hoje novamente. – a voz dele sempre parecia mais grave e
profunda pela manhã. Ele esticou uma mão bem a frente dos olhos, a abriu e
fechou como se quisesse melhorar a circulação ali e colocou o braço para apoiar
sua cabeça. Virou os olhos para ela e eles se encararam em silêncio.

Havia sido uma noite difícil de se dormir para ela. O silêncio deles contava que
sabiam as programações para o dia de hoje e talvez por esse motivo, ele
também não tenha tido uma noite muito agradável.

- Tem certeza de que está tudo pronto para hoje? – ele fez sua voz soar
novamente naquele tom que parecia fazer tudo vibrar.

Ela assentiu. Ficou de lado e ergueu um pouco o tronco quando apoiou um dos
cotovelos no colchão e a cabeça na própria mão. Umedeceu os lábios e puxou
os cabelos para trás fazendo-os pender para um lado só.

- Como foi com Voldemort ontem? – ela não havia tido a chance de
perguntar já que ele chegara em casa bem depois da hora que ela se deitara.
A reação dele foi uma careta e um som engraçado com os lábios enquanto
usava a língua para alisar os próprios dentes.

- Já disse para parar de usar o nome dele, Hermione. – ele sempre parecia
tão aborrecido com aquilo.

- Não o chamo de mestre quando não é necessário.

- É sempre necessário. – ele pontuou com ênfase em todas as palavras.

- Como foi com o mestre ontem? – tornou a perguntar lutando para não
revirar os olhos. Sabia que realmente não era muito apropriado usar o nome de
Voldemort carregando a marca dele em seu braço. Voldemort parecia conseguir
cheirar conspiração através dela.
Ele desviou o olhar para o nada a frente de si. Hermione sabia que ele tinha
consciência de que ela perguntava aquilo porque uma reunião entre Draco e
Voldemort jamais seria exposta em detalhes nas sessões com o conselho.

- Ele me disse para seguir a frente da guerra como sempre fiz. Continuou a
me dar carta livre para tomada de decisões. Parece estar ocupado com outras
coisas. – foi o que respondeu.

- Você diria isso em uma reunião do conselho. Não é isso que quero saber.
– ela disse insatisfeita.

Ele tornou a encará-la.

- O que te faz pensar que terá uma resposta consistente?


Ela quis retrucar dizendo que sabia que eles estavam jogando do mesmo lado
agora. Que por isso ela confiava em acreditar que ele realmente queria Luna de
volta na Ordem.

- Escutei seus pais conversando. – ela resolveu começar finalmente – Os


escutei depois do fim de um dos jantares que eles promoveram quando estava
ausente da cidade. – disse – Seu pai dizia a sua mãe que o feitiço que criaram
juntos, você e ele, havia feito com que o véu do Departamento de Mistério
passasse a inspeção anual intacta e que não havia mais motivo para levantar
assuntos relacionados ao sumiço do véu original. - concluiu. – O sumiço do véu
original. – ela pontuou novamente. – Eu sei que acha que a ordem está em
posse do véu original e acha que por isso eles tem conseguido vencer batalhas
que jamais venceriam contra seu exército. Que talvez seja por isso que eles
conseguiram sumir com os Dementadores e que por isso estejam conseguindo
controlar forças mágicas que desconhecia. – ela sabia que ele odiava que ela
participasse do conselho – Acha que a Ordem finalmente tem a chance de virar
a moeda. Por isso quer Luna de volta na Ordem carregando todas as
informações sobre Brampton Fort, seu exército, minha marca negra e toda
mágica envolta desse lugar.

Ele esticou aquele sorrisinho de canto de boca tão típico.

- Gosto de como seu cérebro funciona, Hermione. – foi tudo que ele
comentou. – Sim, eu acredito que a Ordem esteja em posse do véu original.
Aliás, acredito até que tenha sido por ele que se deixou ser pega. Fez todo o
sentido depois que soube sobre o roubo do véu.
- E por que exatamente quer Luna de volta na Ordem?

- Nós ainda não sabemos se ela conseguirá chegar até lá viva.

- Por que a que de volta na Ordem? – ela insistiu mostrando que não
interessava o que ele havia respondido.

Ele tornou a focar o nada a sua frente.

- Você sabe que eu não jogo do lado de Voldemort nem do lado da Ordem
nessa guerra. Jogo do nosso lado. Do lado dos Malfoy. Jogo por mim, pela
minha própria pele e pelas demais pessoas que seguem com o meu sobrenome
por estarem ligadas a mim. A quero de volta na Ordem porque quero realmente
ver do que a Ordem é capaz. Eu não gosto muito do campo das incertezas e
tendo reduzi-lo o máximo que posso. – ele disse como se estivesse contando
sobre como o céu estava nublado.
Hermione piscou encarando seu perfil clarear quase imperceptivelmente pela
luz que aos poucos escapava das brechas entre as cortinas. A barba lhe
apontava o rosto e muito provavelmente ele a tiraria assim que se levantasse
da cama. Hermione gostava daquele visual em seu rosto. Tirava um pouco de
sua aparência perfeccionista e alinhada de todos os dias. Ela gostava dos seus
cabelos bagunçados, como estavam ali agora. Gostava de sua voz assim que
acordava. Ela até gostava dele pela manhã. Era uma figura menos detestável,
menos Draco, menos Malfoy, era muito mais humana, mais tocável, mais longe
do monstro que ela sabia que ele poderia ser quando queria ou devia, embora
sempre vestisse aquela capa de indiferença e frieza típica de qualquer Malfoy.

Ela deixou o silêncio rolar enquanto o observava desfrutar dos últimos minutos
que ainda tinha para ficar na cama. Queria soltar uma sugestão perigosa, e
como nos últimos dias não estava se importando muito com bastante coisa e
finalmente estava aceitando que a vida que vivia era um fardo que carregaria
para sempre e que a carregaria para o fim do poço, abriu a boca e deixou sua
voz fluir com a naturalidade que Draco havia usado anteriormente:

- Deveria me deixar jogar com você.

Ele piscou em silêncio e calmamente. Sua voz soou somente após um longo
minuto.
- Sim, de fato seria excelente ter o seu cérebro jogando ao meu favor. –
ele começou como se já tivesse refletido sobre aquilo mais de uma vez e
tivesse a resposta exata para aquela pergunta. – Mas existem fatores de maior
peso que me fazem desistir da ideia. O primeiro de todos é que não confio em
você, o segundo é que jamais jogaria ao meu favor, o terceiro é que teria que
compartilhar com você coisas que nem mesmo para minha sombra eu
compartilharia.

Aquele era o decreto dele e ela aceitava. Realmente jamais jogaria a favor dele.
A verdade é que ele a usava para jogar a favor dele até certo ponto e ela sabia
muito bem que se soubesse das verdadeiras intenções dele nas jogadas que
tinha, ela muito espertamente se aproveitaria para colocar seus interesses a
frente e era isso que Draco inteligentemente evitava fazendo ela saber do
mínimo de informação possível.

Deitou-se de costas encarando o teto distante e ainda escuro. Draco fazia bem
em não confiar nela, e ela jamais confiaria nele. Eram tão diferentes, tão
opostos. Eram lados diferentes de uma guerra e sempre seriam, mesmo que
para Hermione tudo aquilo tivesse acabado e ela tinha que fingir se divertir
trabalhar com leis e sistemas absurdos como se não soubesse de nada que
acontecia do lado de fora daquelas muralhas enquanto vivia em uma casa com
um homem que dormia e acordava ao seu lado em silêncio e carregando um
filho que jamais escutaria chamá-la de mãe. Estava mesmo fadada a viver
assim e eram em momentos como aquele, onde se deparava com sua
realidade, que sentia que não seria uma má ideia ficar ali, naquela cama,
parada encarando o teto até que o último dia de sua vida finalmente a
consumisse.
Mas a vida em seu ventre mostrou sinal de que notara que o dia havia
começado. Ela pouco o sentia e quanto sentia ainda duvidava de que realmente
fosse o bebê que seu corpo milagrosamente criava. Sentia aquela vida como se
fossem borboletas na parte mais baixa de sua barriga, mas com o passar dos
dias aquilo se tornava mais consistente, mais presente e mais forte. Tocou o
volume de sua barriga por cima da seda de sua camisola. Fechou os olhos e
respirou fundo. Queria saber como seu corpo era capaz de produzir aquele
milagre. Uma pequena paz invadiu seu coração e foi dela que tirou a força para
se sentar, jogar as pernas para fora das cobertas e se levantar. Tinha que ser
forte.

- Ainda está cedo. – Escutou a voz de Draco enquanto deslizava a manga


de seu robe pelo braço.

- Se eu não levantasse agora, não levantaria hoje. – ela acabou por


responder.

Sabia que na verdade deveria ter se mantido calada, ou dito qualquer coisa em
relação a estar agoniada, mas a verdade era que realmente não tinha ânimo
para levantar mesmo sabendo que aquele era o dia em que Luna talvez
conseguisse fugir daquela maldita cidade. Suspirou e tirou os cabelos que
ficaram para dentro da gola.

- Seu tom de voz tem me irritado ultimamente. – ele se manifestou


novamente.
Ela parou de amarrar o laço da cintura de seu robe confusa.

- Pensei que sempre o havia irritado.

Draco se mexeu em silêncio na cama como se estivesse um pouco incomodado.

- Apenas não gosto da forma como tem soado ultimamente.

Ela quis perguntar a intenção daquele comentário, mas se sentiu


desinteressada assim como andava se sentindo por tudo. Apenas se dirigiu até
o lavatório. Prendeu os cabelos, lavou o rosto, escovou os próprios dentes,
tomou seu banho, e quando chegou no closet se viu desafiada mais uma vez
pela tarefa de ter que se vestir como a rainha que deveria aparentar.
Já havia se acostumado com aquela tarefa. Já a fizera tantas vezes que havia
se tornado quase natural, mas nas últimas semanas, tentar esconder a barriga
que lhe crescia a fazia colocar e recolocar peças de roupa com uma frequência
que chegava a irritá-la.

Estava na quarta tentativa quando Draco apareceu com a toalha envolvida na


cintura como todas as manhãs quando estava em casa. Ele foi em silêncio
direto para o seu lado, assim como sempre fazia, e se dedicou a rotina de se
alinhar em sua farda. Hermione desviou o olhar e tirou o vestido que usava
para a tentativa seguinte.

Se olhou no espelho, virou de lado, usou a varinha para afrouxar alguns


pontos, mas foi inútil. Em algum momento, durante algum movimento seu, sua
barriga ficaria perceptível para o olhar atento de qualquer um. E visto que
recebia olhares desconfiados das pessoas que a cercavam diariamente, uma
hora ou outra seria colocada contra a parede. Sentou-se no banco de sua
penteadeira, colocou os cotovelos sobre ela e cobriu o rosto. Sabia que uma
hora pagaria por procrastinar seus estudos sobre feitiços de distração para
gravidez.

- Qual o motivo da frustração? – a voz de Draco soou.


Hermione ergueu os olhos e o viu pelo espelho a sua frente. Ele lançou um
olhar para ela do espelho a frente dele e tornou a voltar sua atenção para a
luta que travava com o nó de sua gravata.

- Não consigo escondeu minha barriga. – respondeu sem temer pelo


impacto de sua declaração.

- Até onde sei minha mãe havia a ajudado na compra de roupas para essa
finalidade. – ele lançou o comentário.

- Roupas não vão esconder minha barriga para sempre, Draco. – disse
embora ele já soubesse disso.

- Use um feitiço de distração. – ele parecia estar se irritando com o fato de


estar errando na perfeição do nó de sua gravata.
- Ainda não encontrei nenhum confiável. – mentiu.

- Bem, - começou ele com os dentes cerrados desfazendo o nó que havia


feito para recomeçar mais uma vez. Parecia mais irritado com a atividade que
fazia do que concentrado no que saia de sua boca. – eu não me importo que o
mundo saiba que está grávida. Sabe que quem quer que esconda isso é o
mestre e não queira falhar com ele. – soltou o ar de uma vez enquanto puxava
a gravata para longe do pescoço.

Hermione, que mais se empenhou em observar o guerra dele com a gravata do


que absorver suas palavras, se levantou e foi para o lado dele. Havia o
mapeado dezena de vezes com a rotina diária que tinham e sabia exatamente
onde as mãos dele estavam falhando na hora daquele nó.

- Está apenas nervoso. – ela usou uma voz calma receando pela reação da
proximidade e pela sua invasão de espaço. Segurou a gravata na mão dele
como se pedisse permissão para tentar. Ele não reagiu de nenhum modo e foi
assim que ela lhe tomou a gravata, precisou ficar na ponta dos pés para passá-
la de novo no pescoço dele e começou com calma e precisão o nó que nem um
feitiço faria com a perfeição que ele gostava. – Está errando aqui. - ela avisou
com uma voz suave e concentrada enquanto passava a parte de cima pela
parte de baixo exatamente como deveria ser. Quando deu o toque final e
apertou o nó, abaixou a gola da blusa dele ajeitando-a numa perfeita simetria e
levantou os olhos para encarar os dele fixos sobre ela em silêncio. Afastou-se.
O olhar dele cravado sobre ela era de algum modo diferente. – Não é
necessário se preocupar com hoje. Quero Luna longe de Brampton Fort muito
mais do que você. Meu plano para hoje já existe faz um bom tempo. – disse
mesmo sabendo que ele já sabia daquilo. Aquilo não era nada que o
preocupava. Ela sabia o que realmente o preocupava, mas receava por
perguntar porque o que o preocupava também a preocupava. Afastou-se um
pouco mais e se apoiou numa das quinas da parede. Desviou o olhar. – Acha
que Voldemort... – a careta dele a fez parar – O mestre. – concertou. – Acha
que ele saberá que está envolvido com a fuga de Luna?

- Talvez. – comentou ele voltando-se para o espelho. – Possivelmente


desconfiará. – disse enquanto analisava o nó que ela fizera. – Mas as
evidências todas levam a você. Tem encontrado um modo peculiar de exercer
sua rebeldia desde que chegou aqui, sem contar os registros de todas as vezes
que violou o sistema de segurança da minha torre apenas para ter acesso aos
meus arquivos confidenciais, não seria a primeira vez que seu cérebro genioso
me passaria para trás. E porque afinal eu iria querer Lovegood de volta a
Ordem carregando segredos do ciclo da morte? O mestre pensa que me
conhece pelas provas de fidelidade que já passei e isso tem me ajudado até
aqui. – findou colocando o terno.

A expressão dele era sempre única, fria e pálida, mas Hermione já se


acostumara tanto com ela que conseguia ler seus olhos cinzas, e mesmo que de
maneira bem incerta, ela poderia quase jurar que ele não estava tão certo de
seus pensamentos quanto o tom de sua voz se provava.

- O fato de haver chances da guerra virar muda muita coisa. – ela disse e
ele se voltou para ela.
- Nem tantas quanto imagina. – ele disse. – As chances que acha que
existem não passam de especulações.

- E o mestre saberia que mandar Luna de volta para Ordem poderia ser a
sua chance de especular algo.

- Para ele eu nunca me interessaria por chances como essa e fim,


Hermione. – ele deu seu ultimado já se mostrando cansado pela insistência
dela e deu as costas.

Hermione pode perceber que ele via a chance de ser culpado e talvez por isso
estivesse nervoso. Por que ele estava tomando um risco como aquele?

- Você sabe que ele terá que castigar alguém. – ela se manifestou antes
que Draco deixasse o closet.
- Por mais que eu gostaria que ele te fizesse pagar, ele não faria nada com
você! Está gerando o precioso herdeiro que ele tanto quer. – Draco disse e foi
embora. Aquele não seria um bom dia para insistir em qualquer assunto com
ele.

Precisou se apressar visto que se ela não estivesse pronta até a hora que ele
normalmente ia a catedral, ele iria embora sem ela fazendo com que ela
precisasse pedir por outra carruagem o que a faria se atrasar.

Optou por um vestido escuro, leve e largo de pregas. Em algum momento


alguém notaria o pequeno volume em sua barriga, mas sabia que em algum
momento os rumores precisariam começar. E desconfiava que Voldemort
tivesse a pretensão de tornar sua gravidez pública logo depois da sessão inicial
na enfermaria que havia sido marcada para o fim do mês, o que seria no início
da semana seguinte. Estava na metade de seu quarto mês e sentia que a cada
dia que se passava sua barriga crescia o tanto que havia crescido em três. A
cada dia a realidade lhe batia mais forte e tudo que sabia sobre a vida que
carregava depois de todos os testes que fazia em sua ida quase diária a
enfermaria era que tudo estava indo bem. Não era o suficiente para a
curiosidade que tinha.

Tomou café com o Draco silencioso e dedicado ao seu jornal de todos os dias e
partiram para a Catedral na mesma carruagem de sempre com o silêncio
também marcante de todos os dias. Ela queria perguntar para onde ele iria
dessa vez e quanto tempo ficaria fora de Brampton Fort, mas julgou que seria
melhor se manter calada visto que ele não estava nos seus melhores dias.
Entraram por um pátio mais reservado. Ele desceu primeiro e ela desceu em
seguida. Seus passos eram os únicos a serem escutados aquela hora da manhã
quando avançaram pelo jardim interno.

- Siga sua rotina normal. – ele disse a apenas alguns passos do saguão
onde se separavam.

- Não precisa me dizer o que fazer. Tenho esse plano já faz um bom
tempo, Draco. Tive tempo o suficiente para poli-lo bem. – ela disse.

Ele não retrucou. Quando chegaram ao saguão para tomarem cada um o seu
rumo, ele apenas lançou a ela um olhar significativo e virou em direção a ala
que deveria tomar. Hermione continuou seu passo firme contra as pedras do
saguão. Havia uma pouca movimentação de pessoas pelo horário, mas em
apenas alguns minutos aquilo estaria tão cheio quanto o piso principal do
Ministério da Magia no final do expediente. Olhou no grande relógio acima do
vitral do piso duplo e administrou em sua cabeça os minutos que tinha.

Subiu as escadas em direção a Whitehall e quando chegou no andar que queria


precisou tomar a direção da ala oposta. Nenhum comensal gostava dos quartos
da ala leste que recebiam a primeira claridade do dia, nem mesmo o comensal
que ela precisava alcançar.
Torceu para que não encontrasse ninguém em seu caminho e como os
comensais que se apossavam dos quartos daquele andar eram comensais que
iam e vinham para Brampton Fort com frequência, muitos deles ainda poderiam
dormir até a horário em que receberam permissão de saída. O trânsito de gente
saindo e gente entrando nunca podia ser intenso.

Hermione virou uma esquina e tomou a direção do quarto que vinha


monitorando fazia um bom tempo. Parou de frente a sua porta de madeira
escura e desenhada. Respirou fundo e percebeu que seu coração estava
acelerado. Pigarreou e vestiu a máscara de seu sobrenome. O sangue correu
em suas veias com um nível de adrenalina que surpreendentemente a deixou
relaxada e de um certo modo feliz. Sentia falta daquilo. Bateu e esperou. Era
diferente estar com aquela roupa, aquele salto, o anel em seu dedo, a
maquiagem e o cabelo. Sentia como se estivesse sendo a Hermione ativa na
guerra que sempre fora acostumada ser, em seu jeans e sweater, mas
diferente, diferente de uma forma que estava gostado. Se sentia mais
poderosa. Poderosa como uma Malfoy sempre deveria se sentir.

A porta a sua frente abriu. Um homem um pouco mais alto que ela apareceu. O
bigode espesso acima de seus lábios era quase uma marca registrada. O rosto
redondo, as bochechas rosadas, os poros enormes. Ele vestia um robe
volumoso e vinho com o símbolo do departamento que trabalhava, o que fazia
com que ficasse maior do que realmente era. Estava absurdamente confuso ao
vê-la.
- Espero não tê-lo acordado, Alastair Harrow. – Hermione se aproveitou do
olhar confuso que ele tinha, que muito provavelmente o impedia de raciocinar
naquele momento. – Eu e você temos algo a tratar. - estendeu a mão e
empurrou a porta o que fez com que ele automaticamente desse espaço para
que ela passasse. Ninguém em sã consciência barraria um Malfoy.

- Desculpe... – ele soou um tanto perdido enquanto ela avançava com


cuidado e passava os olhos pelo ambiente o mapeando com bastante calma e
precisão. – Não entendo o que faz aqui.

- Eu disse que temos algo a tratar. – ela disse enquanto passava seu dedo
médio sobre a poeira acumulada de uma das esculturas do quarto. Aquele era
um bom quarto.

- Não tenho negócios com os Malfoy. – ele retrucou, sua voz ainda soava
perdida.

- Acontece que esse é o seu dia de sorte. – ela sorriu e voltou-se para ele
que ainda se mantinha com a mão na maçaneta. Limpou a poeira de seu dedo.
– Hoje, terá a honra de prestar um grande favor a família Malfoy. – ela usou a
varinha para fechar a porta o que fez com que ele se assustasse e mudasse um
pouco de sua expressão para a defensiva. Notou que a mão dele foi parar no
bolso onde detinha sua varinha. Ela se aproximou com calma enquanto notava
a mão dele se fechar pelo volume do tecido de seu robe. Parou bem a frente
dele e olhou bem em seus olhos. A confusão do homem já parecia ter dado
lugar a toda desconfiança que um comensal poderia carregar contra uma
Sangue-Ruim. – Apenas não terá a chance de dizer não. – apontou sua varinha
para ele mostrando de vez para o que viera. Ele tentou reagir com rapidez
puxando sua varinha na mesma velocidade, mas ela o desarmou com a mesma
facilidade dos velhos tempos. Levantou uma sobrancelha vitoriosa em sinal de
que ele não tinha muito para onde correr com a varinha dela empunhada em
sua direção. Aproximou-se ainda mais encostando sua varinha no peito dele.
Olhou fundo em seus olhos e sentiu a magia fluir de seu punho. A antiga
Hermione teria começado com um pedido de desculpas, mas ela não se sentia
tanto como a antiga Hermione. – Você vai me escutar com bastante cuidado. –
começou assim. – Você está cansado. Muito cansado. Não dorme bem há dias.
Tem feito seu trabalho com empenho por isso quase não tem descansado.
Talvez seja por isso que perderá o horário hoje pela manhã. Irá me dar um fio
de seu cabelo, o passe de identificação da segurança e o terno que havia
separado para usar hoje. Depois disso irá dormir até que alguém o acorde. –
ergueu a outra mão e começou a lhe puxar da memória as lembranças do que
estava acontecendo agora. - Quando lhe perguntarem o que houve, dirá apenas
que perdeu a hora, se lhe perguntarem sobre seu cartão de segurança, dirá que
não sabe como perdeu. Ninguém nunca esteva em seu quarto. Não se lembra
de nada estranho e nem nunca se lembrará. – ela terminou. Abaixou sua
varinha e tudo que ele fez foi piscar, erguer a mão, puxar um fio de cabelo e
lhe entregar.

Hermione o pegou e cruzou os braços enquanto o homem fazia tudo que ela
havia lhe mandado. Quando se viu em posse do cartão de segurança e do terno
que havia pedido, o observou voltar para sua cama, deitar e dormir como se
nunca tivesse sido acordado.

Pegou uma pasta com o símbolo do departamento que ele trabalhava, a varinha
que havia ficado no chão quando ela o desarmara, saiu do quarto e o trancou.
Ela não era tão boa naquele feitiço de persuasão quanto Gina e não se daria a
chance ter menos tempo se caso ele caísse em si ou acordasse antes do que
ela pretendia que ele acordasse.
O caminho para cruzar para a ala leste ainda estava vazio e ela teria ajoelhado
para agradeceu a Merlin por isso se não estivesse com os minutos contados.
Precisou dar apenas uma batida na porta de Luna para que ela atendesse no
segundo seguinte. Seus olhos estavam atentos e maiores do que o normal, o
que mostrava que ela não havia dormido devido a ansiedade. Hermione passou
para o lado de dentro quando a amiga deu espaço.

Em silêncio elas se prepararam. Enquanto Luna finalizava o Polissuco com o fio


de cabelo, Hermione tratava de colocar tudo dentro da pequena pasta do
homem inclusive o caderno que preparara para se comunicarem, o que ela
duvidava bastante que passasse pela inspeção de segurança, mas que Luna
havia insistido com afinco que tentassem. Nenhum artefato mágico ou
enfeitiçado saia ou entrava sem a devida autorização. Fechou a maleta e a
trancou. Virou-se para Luna. Ela estava de pé com o copo de café tampado que
na verdade estava cheio de Polissuco. Os grandes olhos azuis estavam
vermelhos.

- Não pode chorar, Luna. – estendeu a maleta para ela. – Eles irão notar os
olhos vermelhos.

Ela permaneceu parada.


- Eu não quero voltar. – disse.

Hermione revirou os olhos recolocando a maleta sobre a mesa.

- Nós já passamos por isso. Não temos tempo para passarmos novamente.
– pegou a varinha e a mostrou para Luna. – Essa é a varinha dele. Tente não
fazer muita magia ou verão que não lhe pertence. – mostrou o cartão. – Esse
passe é a identificação de segurança. Comensais que entram e saem com
frequência o carregam para escaparem da burocracia de identificação que é o
que não pode passar de maneira alguma ou verão que está sob o efeito de
Polissuco. Não o perca. – deu a volta na mesa e colocou o cartão e a varinha
sobre a maleta. – A chave de portal a levará direto para o saguão de entrada
do Ministério. Assim que chegar lá tentará sair o mais rápido possível. Flu,
cabine telefônica, entrada principal. Saia de lá de algum jeito. Encontre um
bom lugar para aparatar. Sabe como chegar até a Ordem.

Luna continuava parada a encarando. Hermione devolveu o olhar. Elas ficaram


em silêncio por um tempo até que Luna finalmente abrisse a boca.

- Está sendo a Hermione que eu era acostumada a ouvir na Ordem, mas


veste a máscara deles agora. Se parece muito com uma autêntica Malfoy. E eu
não estou falando só da roupa, do cabelo, da maquiagem e de todas essas joias
que nem se vendêssemos a casa dos Black compraríamos, Hermione. – ela se
aproximou – Você quer que eu vá embora, eu estou indo. E tudo bem! Eu
entendo que está fazendo isso pela guerra e pela Ordem. Por Harry. Porque
sabe bem de que lado está e de que lado sempre esteve. – colocou o copo em
cima da mesa entre elas. - Mas não pode negar que de um certo modo, gosta
de ser uma Malfoy.

Hermione não conseguiu evitar a reação de horror que teve ao ser atingida
pelas palavras de Luna, mas já havia se acostumado tanto com a expressão fria
que era obrigada a vestir todos os dias que apenas piscou e respondeu:

- Sabe que sou infeliz, Luna. Não diga coisas apenas porque está magoada.

- Todo Malfoy é infeliz de algum jeito. Está se encaixando entre eles. A


cada dia que se passa você mergulha mais no mundo deles. Conhece a história
deles, sabe o quanto eles são influentes, sente que deve um favor a história
sendo um deles porque essa é quem você é. Você sabe que agora faz parte de
um legado. Não quer desapontar o mundo. Não trocaria nada disso pelo seus
amigos novamente. – a voz dela era aquela sonhadora de todos os dias, mas
Hermione sabia que em algum lugar daquela voz estava o ressentimento que
sentia.

- Não diga o que não sabe. Meus amigos são minha família! Sabe disso.
Esteve comigo desde que perdi os meus pais.
- Você não pertence mais a essa vida, Hermione. Parou de enxerga-la há
um bom tempo. Acha que não há nenhum escape para você e apenas enxerga
a vida que está fadada a levar. Se afunda nela e está aprendendo a fazer parte
dela. Te machuca, mas nós duas sabemos que esse processo tem te levado a
ser cada dia mais como eles, como um Malfoy. Me pergunto se no futuro você
conseguiria se encaixar na Ordem novamente.

- Pare, por favor... – Hermione pediu numa voz baixa, mas sem emoção.
Temia pelas verdades das palavras dela.

- Notei isso quando me pediu para não contar a ninguém sobre ter se
casado com Malfoy nem sobre o herdeiro que deve dar a Voldemort. Sabe que
irei guardar seu segredo, Hermione. Sou boa nisso. Sempre fui a fiel dos
segredos da maioria das missões da Ordem. Não quer que seus amigos saibam
a vida que tem levado aqui por ter medo de não estar sendo fiel a quem
verdadeiramente é, mas você está. Está se tornando uma Malfoy, mas do seu
próprio jeito...

- Chega, Luna! – Hermione fez sua voz se sobressair sobre a da amiga – Eu


mereço ter o direito de não querer que meus amigos saibam o que estou
passando. É bem pior do que eu imaginava que pudesse ser...
- Seria muito melhor se eu apenas pudesse ficar aqui...

Hermione revirou os olhos novamente.

- Luna...

- É fácil pra você me mandar embora! – pela primeira vez a voz dela soou
ferida – Vai ficar aqui esbanjando a influência que tem, o dinheiro em Gringotes
que finalmente pode gastar. Paz! Uma casa, uma família! Por pior que seja! Eu
vou voltar para o inferno do medo que costumávamos viver!

- Tínhamos uma vida difícil, mas estávamos entre amigos! Não era nenhum
inferno!
- Você não achava nenhum inferno porque tinha Harry para te distrair. Era
a linha de frente de uma guerra. Você mandava. Não era mandada! Estava
sempre entretida em tentar superar o cérebro de Draco Malfoy. O medo para
você era diferente! Perdeu seus pais, mas tinha seus amigos! Eu perdi tudo que
eu tinha que era o meu pai e ninguém nem mesmo se importou em ocupar o
vazio de uma lunática que mal sabia sobre as coisas que filosofava!

- Pare, Luna!

- Não! – dessa vez Luna realmente parecia querer expor o que sua calma
voz escondera por muito tempo – Tudo bem que talvez eu esteja exagerando.
Sua vida aqui está sendo bem pior do que eu poderia imaginar, mas para mim
é diferente! Estou sozinha como sempre estive desde que meu pai morreu, mas
pelo menos aqui eu não sinto que vivo debaixo do medo de sermos pegos ou de
perdermos a guerra! O medo constante que vivíamos na Ordem! Estou cansada
da guerra! Não quero voltar para ela! Aqui é uma prisão tanto quanto a casa
dos Black é para a Ordem! Eu-não-quero-voltar!

- Você sabe que a guerra nos exige sacrifícios!

- Eu já me sacrifiquei bastante! Fui torturada por um período de tempo que


para mim pareceu bastante com a eternidade! Não quero correr o risco de ter
que passar por isso nova...
- CHEGA! – a voz de Hermione soou mais poderosa do que ela mesma
havia medido. Deu a volta na mesa. – Você sabe de que lado está. Sabe o que
tem que fazer. E tem cinco minutos para isso! – puxou o relógio na mesa e o
colocou também sobre a maleta. Aproximou-se dela e olhou fundo em seus
olhos. – É uma rebelde e pagará por isso com sua vida mais cedo ou mais tarde
aqui dentro, mas juro que se me falhar hoje, Luna, farei com que se arrependa
de achar que a vida aqui é calma e sabe que eu tenho influência o suficiente
para isso.

Luna apenas piscou e pareceu absorver as palavras de Hermione.

- Ameaça em cima do poder que tem, hum? – a voz dela soou baixa e
voltou ao seu tom sonhador de sempre. – Agora sim você se parece com uma
verdadeira Malfoy.

Hermione até gostaria de se desculpar, mas sabia que realmente faria aquilo se
preciso. Virou o relógio para a amiga.
- Cinco minutos. – Deu as costas. – Agora é com você. – disse e
deixouWhitehall.

Encostou a testa na porta do lado de fora. Sentiu a respiração lhe apertar o


próprio peito e soube que ainda era humana por sentir que tudo aquilo lhe doía
ainda. Sim, era uma Malfoy de seu próprio jeito. Fazia aquilo pela guerra, por
Harry, pela Ordem e por tudo que acreditava. Ameaçaria quem fosse preciso.
Cinquenta vezes se fosse preciso. E não se desculpava mais. Ela não precisava
ser a Hermione de coração bom que todos esperavam que ela fosse. Não
estava mais no mundo que costumava viver. Agora ela era uma Malfoy e
mesmo sendo uma Malfoy sabia de que lado estava, sabia a que lado deveria
ser leal. Apenas jogaria diferente. Era uma Malfoy!

Puxou o ar e refez a postura. Era uma Malfoy. Tomou o caminho de volta


descendo para o saguão. Já estava cheio e as pessoas abriam espaço para ela
passar como se devessem até mesmo fazer uma reverência. Era uma Malfoy.
Pegou o caminho oposto da Seção da Cidade e subiu as escadas da ala da torre
de Draco.

- Onde está Draco, Muller? – perguntou a secretaria que já estava em sua


mesa sem nem mesmo olhá-la ou diminuir o passo assim que chegou ao topo
da torre. Estava disposta a esperar o tempo que fosse na sala dele.

- Acabou de chegar do discurso. Está na sala dele. – ela respondeu se


levantando.
- Ótimo. – ela retrucou continuando a avançar em direção porta dupla ao
fim da antessala.

- Espere, Sra. Malfoy! Eu devo anunciá-la...

- Não haverá necessidade. – Hermione a cortou. – Apenas não deixem que


nos perturbem. – abriu a porta e encontrou Draco logo um pouco a frente
analisando um pedaço de pergaminho. Ele ergueu os olhos para ela enquanto
ela passava para o lado de dentro sem deixar seus pés perderem o ritmo em
que estavam. Fechou a porta e agitou a varinha as suas costas para trancá-la.

- Não me diga que fez algo de errado. – ele disse parando e colocando uma
das mãos dentro do bolso de sua calça.

Ela continuou a avançar em silêncio e bastante determinada. Era uma Malfoy,


era a mulher dele e ninguém lhe tiraria esse título. Tomou da mão dele o
pergaminho que segurava deixando-o de lado, ficou na ponta dos pés, deixou
seus dedos se enfiarem entre seus fios loiros, colou seu corpo no dele e o
beijou.

Hermione esperou que ele a afastasse, mas na realidade ele pareceu em


choque apenas por um segundo, no outro ele se deixou levar e no seguinte ele
a envolveu respondendo a sua boca como se nunca tivessem tido um motivo
para ter deixado de fazer aquilo com frequência.

O gosto dele era familiar e céus, ela havia se esquecido o quanto ele era um
maestro naquela arte. Agora que provava daquilo novamente podia perceber
que havia sentido falta. Intensificou mostrando sua intenção e ele não a
recuou. Colou ainda mais seu corpo no dele e sentiu falta daqueles músculos se
movendo contra sua pele. Ela nunca deveria tê-lo provado. Seus dedos abriram
o botão do terno e puxaram a camisa para o lado de fora da calça. Foi somente
ali que Draco a afastou respirando pesadamente quase como se tivesse
recuperado a consciência.

- O que diabos está fazendo? – ele a segurou pelos pulsos.

- Faça sexo comigo. – ela respondeu ofegante.


Ele fez uma careta.

- O que? – quase sorriu, mas o olhar confuso lhe venceu. – Você está
grávida.

- Não significa que estou doente. – retrucou ela. – Faça sexo comigo. –
repetiu.

- Qual é o seu problema? – os olhos dele se tornaram um irritado.

- COVARDE! – ela gritou e ele ergueu as sobrancelhas surpreso. Hermione


se afastou. – Eu sabia que por trás dessa muralha que pensa que se tornou
você continuava sendo o mesmo Draco mimado e covarde de Hogwarts. – ela
quem tinha motivos para estar irritada.
- Saia da minha sala. – ele ordenou com bastante frieza.

- Não, seu maldito covarde! – sua voz estava forte como nunca estivera
antes. Era uma Malfoy. – Sua mulher está grávida! Sim, sua mulher! Você
colocou esse filho em mim! O filho é seu! É o seu sangue! O seu sobrenome!
Você nem mesmo irá precisar cria-lo! Encare isso!

- Hermione, saia-da-minha-sala. – ele repetiu pausadamente em sua


expressão dura e estável.

- Não! – ela disse com todas as letras auto e bastante audível. – Seja o
homem que quer ser! Sim, eu estou grávida! Acha que pode simplesmente
ignorar? Encare isso! – se aproximou novamente. Ele permaneceu a muralha
que era. Ela se irritava com aquilo. Era o modo que ele tinha de ser o covarde
que era sem ser questionado. – Encare isso! – repetiu firmemente mas ele
continuou ali a encarando. Ela via naqueles olhos cinzas que ele apenas queria
estrangulá-la. – ENCARE ISSO! – bateu na mesa.

- EU ESTOU ENCARANDO! – ele gritou de volta finalmente derrubando a


máscara de gelo que usava. Deu as costas soltando o ar furioso. – Eu estou! –
repetiu dando a volta da mesa para se manter afastado. – Sei lidar com
problemas pessoais melhor do que pensa!
- Vê isso como um problema pessoal? – ela não gostou daquele título.

- Que outra coisa isso poderia ser, Hermione? Em primeiro eu te queria


morta quando te trouxe para cá! Nunca quis uma mulher! Nunca quis um filho!
Agora sou casado com você e você está grávida! O que quer que eu faça? Te
leve para um piquenique em algum campo florido com sol?

Ela apertou os olhos.

- Não me dê esse tipo de desculpa, seu covarde! Teve o mesmo tempo que
eu tive para superar essa realidade! – ela apertou os dentes.

- E conseguiu? – as sobrancelhas unidas dele mostrava o tanto que estava


furioso.
- Tento o meu melhor todos os dias!

- Eu também! – ele mostrou as mãos.

- Mentira! – ele queria puxá-lo até o máximo. Queria ver até onde ele iria.
Queria dar um fim aquilo. – Covarde! Está sempre fugindo!

- Deixei de fugir das coisas faz tempo!

- Então faça sexo comigo! – ela tornou a insistir. Ele se calou ainda com
aquele olhar furioso. – Faça, Draco! – ergueu o queixo o desafiando. Ele
continuou imóvel do outro lado da mesa. – Covarde. – riu fracamente em
desdém. Aquela palavra o atingia de tal modo que parecia remoê-lo inteiro por
dentro. Draco se moveu tornando a dar a volta para se aproximar. – Duvido
que faça. – talvez aquilo o encorajasse – É um maldito Sonserino. Está no seu
sangue. Egoísta. – ela ergueu a mão para detê-lo quando ele estava a um
passo de distância, mas ele a segurou pelo pulso e a empurrou até que suas
costas batessem contra a parede da sala.
- Você sempre tem que vencer, não é? – ele retrucou furioso e a beijou.

Sim! Era aquilo que ela queria e não, ele não era covarde. Ela apenas queria
que ele superasse, queria que ele passasse por cima daquilo, que ele não
regredisse e voltasse a ser o Draco que ela havia conhecido quando criança
porque aquele Draco era muito mais irritante e insuportável do que o de agora
e sabia que de certa forma, Draco estava entendendo aquilo por mais que sua
reação tivesse sido a de querer matá-la. Ela nunca havia invadido tanto o
espaço dele. Nunca havia quebrado o que conseguira quebrar quando o viu
derrubar sua máscara de gelo e por isso entendia porque ele a olhava como se
quisesse estrangulá-la.

Também nunca haviam se beijado o tanto quanto estavam agora.

Ele parecia querer fazer com que o tempo que haviam perdido fosse
compensado. Parecia querer extrair todo o sabor dela e ela havia se esquecido
o quanto ele era realmente bom naquilo. As vezes tinha até raiva por saber que
ele era tudo que realmente diziam que ele era.
O corpo dele tinha a capacidade de esquentar o seu com muita facilidade. Os
músculos se movendo por baixo dos tecidos era excitante e a intensidade com
que maestravam aquele beijo a fazia ficar ansiosa pelo que já sentia falta.
Draco puxou uma de suas pernas e Hermione o cercou com ela. Estava
começando a perceber a urgência que crescia entre eles, mas não era o desejo,
era a falta. A falta que fazia para os dois.

Ela ocupou suas mãos com a fivela do cinto dele. Ele com o seio dela. E céus,
nunca haviam se beijado tanto. A mão dele escorregou para dentro de seu
vestido, sentiu a pele de sua coxa, subiu puxando o elástico de sua calcinha e
no momento que ele tocou o pequeno volume em sua barriga a boca dele
desgrudou da dela arfando como se tivesse se esquecido daquele pequeno
detalhe. Ela o olhou apreensiva ofegando. Hermione temeu que ele fosse se
afastar, mas ele entendia que precisava tocá-la e foi isso talvez que o tenha
feito mover sua boca para a mandíbula dela.

Hermione sentiu a necessidade de abrir um pequeno sorriso ao sentir a boca


dele descer seu pescoço, lamber seu colo, beijar sua garganta. A mão dele
subiu tocando seu seio por debaixo do tecido de seu vestido largo e ela escutou
sua garganta emitir um som prazeroso. Ele colou ainda mais seu corpo no dela
e o volume na calça dele estava lá.

Ela não precisava de preliminares. As mão dele tinham poder para muita coisa
e foi assim que ele abriu espaço por entre as pernas dela, afastou sua calcinha
e entrou fazendo com que ela fincasse as unhas nas costas dele e engolisse a
própria respiração. Tinha até mesmo se esquecido do quanto era bom tê-lo
dentro dela e talvez parecessem até mesmo desesperados pelo número de
tecido que ainda vestiam. Não se importavam.
O prazer já lhe crescia como se quisesse explodir o cérebro. Fechou os olhos e
sentiu a boca dele na sua novamente. O movimento começou fazendo com que
ela perdesse o controle de sua respiração. Seus dedos entraram por entre os
fios loiros da nuca dele e ela sentiu a necessidade de puxá-los. Tentou se
manter silenciosa, mas a medida que a agonia lhe crescia ela ouvia seus sons
se manifestarem em socorro.

Ele parecia tocá-la sem problemas agora. Hermione até notava que as mãos
dele refaziam o caminho de sua cintura a seu quadril com frequência. Por um
segundo ela gostou de Draco. Admitiu que talvez aquilo fosse realmente difícil
para ele e ela deveria o admirar por estar sendo bastante corajoso para um
infeliz Sonserino que era, mas foi apenas por um segundo. O segundo que a fez
segurar uma das mãos dele por cima do tecido fino de seu vestido. Escondeu o
rosto em seu pescoço e o sentiu parar quando ela estava quase chegando ao
seu ápice. Ele recomeçou somente depois que abaixaram a respiração. Ela
abriu um sorriso fino. Sim, faça durar. Pensou.

Aquilo era diferente de tudo que já haviam feito. Não era nenhum show
performático. Eles dois sabiam o motivo e o objetivo daquilo. Não iriam fazer
sexo como costumavam fazer antes. Era diferente agora, muito novo, muito
temível. Precisavam começar de baixo, aos poucos. Cada um carregava seus
receios ali. Precisavam quebrar cada muro de uma vez. Hermione gostava que
estivessem entendendo aquilo juntos. Gostava que Draco estivesse sendo
compreensível com relação aquilo. Jamais pensara que ele pudesse ser
compreensível mesmo sabendo que ele não era de todo desprezível por pelo
menos amar a mãe.
Veio primeiro que ele. Seu corpo tremeu todo por baixo do dele enquanto
soltava seu som final com o rosto escondido no pescoço dele. Draco veio depois
com seu som de alívio sendo abafado por seus cabelos castanhos. Eles ficaram
ali em silêncio até que suas respirações voltassem ao normal. Hermione contou
os segundos batendo no relógio próximo.

- Nunca mais faça o que fez hoje. – a voz dele soou grave e casada
próxima ao seu ouvido depois do que se pareceram horas.

Ela sabia que havia passado da linha de segurança, mas talvez ele a
agradecesse por ter feito ele encarar aquilo de alguma forma.

- Me desculpe. – sua voz saiu baixa.

- Malfoys nunca se desculpam.


- Não precisamos ser Malfoys um para o outro. – ela afastou o rosto para
poder encará-lo.

Ele deu de ombros.

- Eu não me importo com você se desculpando. – ele disse – Gosto de vê-la


se humilhar.

Ela estreitou os olhos soltando o ar com desgosto.

- Você não pode ser uma companhia agradável nem mesmo por um
minuto, pode?

O som de batidas na porta trouxeram os dois para o alerta fazendo com que se
separassem e passassem a ajeitarem suas roupas com agilidade.
- Sr. Malfoy? – era a voz de Tina do outro lado. – Sinto muito por
interromper, mas Alastair Harrow está aqui com uma acusação que pode ser
preocupante.

Draco parou e levou seu olhar para Hermione. Ela respondeu com um perplexo
e duvidoso.

- O que Alastair Harrow está fazendo em minha torre, Hermione? – as


sobrancelhas dele estavam começando a se juntar.

Ela balançou a cabeça confusa.

- Eu não sei. – respondeu – Tranquei a porta.


- Trancou a porta? – ele uniu os dentes sendo irônico. – Pensou em
desacordá-lo?

- Usei um feitiço de persuasão e o deixei dormindo.

- O que? – ele a olhou como se ela fosse burra – Feitiço de persuasão? Que
merda é essa? Por que não usou Imperius, inferno?

- Está doente? Eu não uso maldições imperdoáveis!

- Elas deixaram de ser imperdoáveis há muito tempo, Hermione! – ele


socou a blusa de volta para dentro da calça. – Só espero que sua ingenuidade
não me force a estragar o que tínhamos planejado. – abotoou o terno e passou
os dedos pelos fios loiros que haviam saído do lugar. – Espero que seja boa de
teatro.
Draco abriu a porta e ela ainda ajeitava a alça de seu vestido. Tina estava do
outro lado com um olhar apreensivo. Apenas o modo como ela o olhava deixava
Hermione entender que havia levado mais broncas do que elogios e não, nunca
havia ido para cama com Draco, mas que isso não tirava o desejo que ela tinha
desse fim.

- O Sr. Harrow perdeu o horário de sua chave de portal para o Ministério. –


Tina recuou quando Draco deu um passo para fora mostrando que não queria
que ela entrasse em sua sala.

- Ele não precisa vir até minha torre para isso. Deve descer ao quartel e
pedir para remarcar uma chave de portal com urgência. – Draco se mostrou
extremamente aborrecido.

- O problema é que tenho bastante certeza de que alguém usou algum


feitiço em mim. – Harrow aproximou-se vindo das sessões de janelas do lado
norte. Ainda usava o mesmo robe volumoso com o símbolo do departamento
que trabalhava. Ele parecia também extremamente aborrecido. – Acordei sem
minha varinha, sem meu cartão de identificação, com a porta trancada, dor de
cabeça, e vestindo o que visto quando abro minha porta para alguém. Gritei até
que alguém que estivesse passando no corredor destrancasse minha porta.
Draco deu um tempo para que as palavras dele fossem absorvidas.

- Muller, cancele e a chave de portal de Harrow imediatamente. – Draco


disse dando espaço para que o homem entrasse em sua sala.

Alastair olhou fundo nos olhos de Hermione enquanto passava para o lado de
dentro como se tivesse alguma lembrança recente não muito clara que a
envolvia. Hermione apenas cruzava os dedos para que Luna já tivesse no
Ministério a essa hora. Draco poderia apenas ter pedido para que Tina checasse
a chave de portal, não cancelasse.

- Qual a última lembrança que tem? – começou Draco.

- Fui dormir tarde noite passada. Minha chave de portal de volta estava
marcada para as onze da noite. Estava cansado, talvez por isso tenha perdido a
hora. Mas não entendo o motivo de ter acordado no estado que acordei. Nem
mesmo minha maleta e meu terno para hoje consegui encontrar. Sempre soube
que o andar dos quartos tinha uma segurança precária...
- Não questione o trabalho que faço com a segurança da Catedral, Harrow.
Não está aqui para isso. – Draco foi frio. O que fez o homem se calar no mesmo
instante. O olhar de Alastair sempre se tornava um desconfiando quando se
cruzava com Hermione. - Tem alguma justificativa específica para o fato de não
encontrar seus pertences? – Draco perguntou e Hermione soube que seria ali
que saberiam que Alastair tinha sido enfeitiçado.

O homem fez uma careta confusa, mas respondeu:

- Talvez eu tenha os perdido...

Draco soltou o ar lançando um rápido e discreto olhar de acusação sobre


Hermione.

- Sim, você foi enfeitiçado. – concluiu ele.


Tina apareceu a porta, havia um ar de desespero em seus olhos azuis.

- A chave de portal foi usava exatamente há um minuto atrás. – ela


interrompeu e Hermione sentiu um peso deixar seu coração. Luna havia
conseguido. – Por Alastair Harrow. – concluiu Tina.

Draco precisou de apenas alguns segundos para absorver aquilo.

- Chame a zona um. Quero as masmorras confiscadas. Quero a contagem


de todos os prisioneiros que temos. Todos! Quero a segurança inteira do
ministério atrás de Alastair Harrow. Alerte o centro de Londres, o Beco diagonal
e todos vilarejos bruxos e trouxas. Eu quero a pessoa que pegou naquela chave
de portal ou alguém terá que morrer hoje! – voltou-se para Harrow – Preciso
prendê-lo. Medidas de segurança. – o homem não gostou nada daquilo mas
não lutou – Acompanhe a Srta. Muller e espero que esteja preparado para uma
longa sessão de interrogatório. – Draco deu as costas para eles – Isso era tudo
que eu precisava para hoje! – resmungou.

O homem continuou apenas com seu olhar desgostoso e acompanhou Tina


quando ela saiu apressada para das conta das Ordens que havia recebido.
Draco voltou-se para Hermione, a segurou pelo braço e a puxou para perto
enquanto saia da linha de visão da porta.
- Que merda foi essa, Hermione? Pensei que tivesse um bom plano! – ele
vociferou num cochicho.

- Eu tinha. Luna conseguiu, não conseguiu?! – ela usou o mesmo tom para
responder embora soubesse que agora ele realmente tinha um motivo para se
enfurecer.

- Isso aqui não é a Ordem da Fênix onde fica feliz por ter vencido por
pouco! Por ter escapado por um fio! – ele apertou seu braço e ela temeu que
ficasse a marca – Estamos conspirando bem debaixo do nariz de Voldemort!
Não pode se dar ao luxo de pisar na bola nem mesmo um centímetro! Deve
calcular as coisas com uma margem de erro muito precisa! Aprenda que se
tiver que matar, mate! Se não conseguir trabalhar desse jeito me avise que eu
te deixo de fora! – ele a soltou e ela cambaleou segurando o braço que lhe
queimava enquanto o observava deixar a sala.

Draco parecia ser acostumado com um serviço impecável demais, o que


automaticamente poderia liga-lo a um trabalho sujo. Hermione ainda precisaria
se acostumar com o impecável embora se recusasse ao serviço sujo. Por agora,
tudo que realmente lhe importava era que Luna havia conseguido.
Luna Lovegood

Fazia um bom tempo que não viajava por chave de portal para nenhum lugar. A
sensação era de que havia se desintegrado ao voar quilômetros em um
segundo, como se tivesse passado a velocidade da luz, como se tivesse morrido
e ressurgido novamente.

A chave era a maçaneta de uma porta que havia em uma sala inteiramente de
pedras na saída do portão em Brampton Fort. A porta ficava de pé e sozinha
bem no centro do lugar. Tudo que Luna fez foi se aproximar e segurar a
maçaneta. No segundo seguinte ela estava parada em uma sala retangular
estreita com a mão na maçaneta de uma porta diferente.

- Dia, Harrow! – escutou a voz masculina ao seu lado e olhou para ver um
homem também com a mão na maçaneta de outra porta alinhada a sua.
- Dia. – respondeu escutando a voz masculina sair de si mesma.

Não sabia o sobrenome de quem quer que fosse aquele homem, mas abriu sua
porta imitando-o e se deparou presa em um cercado numa das laterais do
saguão do Ministério da Magia, que aquele horário estava esbanjando vida.
Haviam duas filas para sair do cercado e ela percebeu que era outra inspeção.
Estava cansada de inspeções.

Saída dos fortes, era o que estava escrito numa das placas que estava
pendurada acima do cercado. Luna tratou de ficar bem atrás do homem que o
cumprimentara a segundos atrás na fila menor. Havia apenas uma pessoa a
frente dele que já estava passando pela supervisão.

- Então, - o homem a sua frente puxou o assunto – aposto que não teve
tempo de pegar ninguém acordado ontem na Catedral. – ele disse. Luna não
teve a menor ideia do que responder e apenas concordou com um resmungo. –
Não vejo o motivo de termos que voltar todos os dias. Eles podiam fazer um
andar dormitório aqui no Ministério para esses dias que temos que ficar até
tarde ou marcam nossa volta para a madrugada. – continuou ele mesmo
quando foi sua vez de passar pela inspeção. Luna observou bem o que ele
colocou sobre o balcão. Maleta, varinha, passe. – De qualquer forma. Estou a
um passo de ser transferido para Brampton Fort. Minha família inteira tem
esperado por isso. Os papéis estão todos em processo na Catedral. – Luna
notou um grupo de homens uniformizados avançar pelo saguão em direção ao
cercado onde estava com uma pressa que a preocupou - ...Oceania não tem
sido o melhor lugar para nós e minha mulher com minhas filhas insistem que a
vida inteira acontece em Brampton Fort. Aposto que é por causa dos Malfoy.
Lucy diz que eles tem o poder de transformar qualquer pântano em uma
Beverly Hills. – ele riu alto. – Esses adolescentes de hoje... – o homem pegou
sua maleta e a varinha. – Talvez pudéssemos almoçar juntos hoje, Alastair. – o
homem se despediu.

- Claro. – Luna respondeu quase que automático enquanto seus olhos


continuavam vidrados no grupo que ficava cada vez mais próximo.

Colocou sua maleta, a varinha e o passe no balcão. Precisava sair dali logo.
Olhou em volta mediu a distancia de onde estava para a cabine de telefone no
centro do saguão.

- O copo com o café, senhor. – a mulher do outro lado do balcão pediu.


Luna ainda estava com os olho voltados para o grupo de homens que se
aproximava. Não gostava da seriedade em seus rostos. – Senhor. – a mulher
tornou a pediu sua atenção. Luna finalmente acordou para o copo de café.

- Oh, claro. – colocou-o sobre o balcão também.


- Maleta cheia hoje, Harrow. – o homem ao lado da mulher do outro lado
do balcão disse ao confiscar seus pertences. Luna apenas sorriu em resposta. –
Soube que lhe apreenderam um artefato enfeitiçado na saída de Brampton Fort.
Sem autorização. – o homem riu devolvendo a maleta para o balcão e pegando
a varinha. – Quando vai aprender que não pode passar com artefatos mágicos
sem autorização. É a quinta vez esse mês! Vão começar a pegar no seu pé.
Sabe o quanto Draco Malfoy preza pela segurança desses portões e não me
venha com aqueles resmungos de ‘Ele é só um garoto...’

O grupo de homens finalmente chegou ao cercado.

- Atenção! – um deles soou alto. Luna tratou de pegar logo a maleta que
estava ao seu alcance. Não dava para esperar pela varinha. Passou para o lado
de dentro do saguão se livrando daquele maldito cercado e seguiu seu caminho
como se aquele atenção não se aplicasse a ela. – Precisamos de um homem
chamado Alastair Harrow com urgência!

- Hei! – o homem atrás do balcão ainda em posse da varinha de Harrow


exclamou um tanto confuso.

Luna não ousou olhar para trás e o que se seguiu dali foi uma grande confusão
para ela. Precisou correr no momento em que o homem do balcão anunciou
que ela era Alastair Harrow. Frases como “Parem aquele homem!” foram
proferidas por diversas bocas e então o saguão inteiro pareceu ter sido
chamado a atenção.
Correu e começou a desviar de feitiços que eram lançados em sua direção. O
saguão estava cheio, o que a deixava usar muita gente com escudo humano.
Correr com aquele corpo era um problema.

Precisava de uma varinha! Precisava de uma varinha! Precisava de uma


varinha!

Fechou sua mão na primeira que viu a oportunidade e respondeu as azarações


que lhe eram lançadas enquanto cortava as pessoas com a maior velocidade
que conseguia em direção a cabine telefônica. Quando finalmente chegou até
ela as pessoas que saiam apressadas e assustadas lhe liberaram o caminho ao
contrário do que se era gritado pelo seguranças que agora haviam muito
provavelmente brotado do chão e colunas.

- Suba! Suba! Suba! – torceu enquanto digitava agilmente o clássico código


com uma mão e projetava uma barreira fajuta para proteger seu espaço com a
outra que segurava uma péssima varinha. Ela era precária naquilo. Hermione
teria dado conta do recado em dois segundos e uma piscada de olhos. – Suba!
– suas mão suavam.
Mal acreditou que estava subindo quando a cabine deixou o chão. A velocidade
talvez pudesse condená-la ao fracasso porque já haviam cacos de vidro em
todo lugar e a cabine havia saído de sua rota normal alguns centímetros apenas
devido aos feitiços que passaram sua barreira.

Quando a escuridão a envolveu tudo que ela conseguiu escutar durante os


minutos que se passavam era o som do batimento de seu coração. Preparou a
varinha novamente assim que tornou a ver uma réstia de luz e quando emergiu
para o mundo de Londres, comensais uniformizados saindo de todos os cantos
corriam com a varinha em punho na direção onde estava.

O inferno começou quando ela deixou a cabine. Não tinha para onde correr
exatamente, mas correu para o lado que tinha mais espaço. Fugiu dos feitiços,
lançou os seus e tentou recuar comensais para tentar abrir a brecha por onde
pudesse escapar. Aquele era o campo de guerra e ela estava acostumada. Não
havia sentido falta nenhuma e muito provavelmente Hermione estaria dando
um show se estivesse ali.

Mal conseguiu acreditar quando achou uma brecha por entre dois comensais e
um muro em pedaços. Pulou. Foi atingida por um feitiço e saiu rolando sentindo
o gosto de sangue na boca. Não teve tempo para pensar, se levantou e correu.
Correu como nunca havia corrido antes na vida. Foi atingida por outro feitiço. A
dor lhe correu a espinha e ela caiu gritando em sua voz masculina estrondosa.
Havia adrenalina demais em seu sangue e foi assim que ela lutou contra o
crucio que lhe havia atingido. Cambaleou sentindo como se seu corpo fosse se
desintegrar se desse mais um passo. Precisava conseguir. Precisava ficar mais
longe. Gritou novamente.
Morreria.

Caiu no chão. Gritou. Ela sabia como superar aquela maldição. Sabia! Havia
treinado para isso. Se levantou e correu. A roupa que vestia começou a ficar
frouxa demais para si e ela sabia que a maldição a deixaria junto com o efeito
do Polissuco. Isso lhe deu força e ela continuou correndo. Correu, correu e
tropeçou nos próprios sapatos quando eles se tornaram grandes demais para
seus pés. Saiu rolando pelo chão. Talvez estivesse longe o suficiente e foi assim
que se agarrou a pasta e aparatou.

Abriu os olhos e rolava de uma calçada para o asfalto onde finalmente parou no
mesmo momento em que escutou o barulho intenso de uma buzina junto com a
freada de um carro há mínimos metros de si. Levantou-se quase que num pulo.

- Como pode aparecer do nada?! – gritou o motorista do carro a sua frente


colocando a cabeça para o lado de fora da janela.
- Desculpe! – ela gritou de volta e a voz que lhe saiu foi a sua.

Deu as costas e correu. Estava nos arredores do largo Grimmaud e o exército


de Draco tinha acampamento permanente montado ali. Deveriam estar a sua
procura em cada centímetro de espaço.

Sua corrida foi atenta a cada esquina que virava e a cada alma inocente ou não
pelas ruas. Quando finalmente alcançou a entrada da casa dos Black, tocou a
mão nos lugares específicos proferindo as palavras corretas do feitiço. Escutou
a porta abrindo suas trancas internas com uma lentidão que a agoniou.

Passou para o lado de dentro e foi recebida pelo escuro e por Arthur Weasley
que havia sido tirado do cochilo de sua vigia. Ele a olhou assustado e seus
olhos se abriram a cada segundo que a ficha lhe caía repetidas vezes.

Luna encostou as costas contra a porta ofegante. Estava de volta. Escorregou


até o chão sentindo cada centímetro de dor lhe fisgar o corpo. O gosto de
sangue ainda estava em sua boca e ela temia pelo estrago que havia ali. Estava
de volta a Ordem da Fênix. Aquela maldita prisão. Aquele maldito medo. Aquela
maldita solidão.
- MOLLY! – a voz de Arthur Weasley deve ter alcançado até o último andar
daquela mansão.

Luna se deixou abrir o choro de um bebê.

Capítulo 19

Luna Lovegood

Ficara as últimas horas passando por um sistema de reconhecimento criado por


Hermione há poucos anos atrás. Ficava no subsolo, em uma sala branca, e ela
teve que passar por tudo sozinha. Não havia sido difícil. Todos da Ordem
haviam sido treinados para passar por aquilo. Apenas algumas horas depois
que foi levada para uma sala ainda no subsolo onde recebeu todos os cuidados
de saúde. Tomando calmantes, poções revigorantes, fazendo curativos, e
explicando como havia escapado. Falou até se sentir cansada e simplesmente
se calou mesmo recebendo dezenas de perguntas de Molly Weasley e as
senhoras que a acompanhavam.
Ela podia escutar os gritos de Harry do outro lado da sala onde haviam a
enfiado. Impediam que ele entrasse a qualquer custo. Ele era uma das últimas
pessoas que gostaria de ver. Não por não sentir falta ou por não gostar dele,
mas por saber qual seria sua primeira pergunta.

- Vocês poderiam isolar a porta, por favor? – pediu depois de ter ficado
calada por quase uma hora inteira. Molly trocou olhares com uma das outras
senhoras e agitou a varinha fazendo a voz de Harry se calar do outro lado. –
Obrigada. – agradeceu e se calou novamente.

Somente quando estavam lhe passando a varinha pela centésima vez para
rever seu estado de saúde geral foi quando Rony Weasley passou para o lado
de dentro. Suas orelhas ainda estavam vermelhas e Luna presumiu que ele
tivesse brigando com Harry.

- Hei. – foi o que ele disse ao se aproximar da maca onde Luna estava
sentada.
- Oi. – Luna respondeu com seu tom de sempre. Eles nunca haviam
trocado muitas palavras mesmo.

- Ela ainda não está pronta para interrogatórios, Rony. – Molly


interrompeu.

- Ela terá que estar logo. – ele retrucou.

Luna sabia que ele não estava sendo mal educado ou rude, essa era a realidade
da guerra.

- Tudo bem, eu entendo. – ela disse tomando mais uma das poções que
colocavam em sua mão. Fez uma careta. Tinha um gosto amargo.

O silêncio durou alguns segundos enquanto Rony (talvez cautelosamente?)


receosamente se aproximava mais um pouco. Luna podia ver pelo modo como
ele esfregava os dedos no polegar o nervosismo que lhe crescia. Rony Weasley
nunca havia sido muito bom com as palavras e muito provavelmente ele
deveria estar encontrando a melhor forma de proceder com o diálogo que era
obrigado a iniciar ali.

- Luna, eu sei que talvez esteja cansada...

- Não estou. – ela o cortou e ele engoliu a saliva junto com as palavras que
diria em seguida. – Tive bastante tempo pra descansar. Acredite.

- Isso é bom. – ele disse sem jeito. Rony não era mesmo bom em lidar com
momentos de tensão ou sérios demais. – Quero dizer, não o fato de ter estado
lá, ter sido capturada... – pigarreou vendo que não estava seguindo pelo
caminho que queria. – Bem, acha que conseguiria aguentar algumas horas de
depoimento, explicações, interrogatório e...

- Sim. – Luna o poupou de ter que se esforçar para terminar. Sorriu de


modo gentil para tentar ver se conseguia aliviar as linhas de tensão na testa de
Rony. Ele logo assentiu com a cabeça e ela esperou que ele fosse dar as costas
e deixar a sala, mas claro, ele continuou ali e ela sabia bem a pergunta que
coçava em sua língua. – Hermione está bem. Está viva. – ela disse de uma vez.
Ele pareceu ter finalmente soltado o ar dos pulmões que parecera ter prendido
por quase um ano inteiro.

- Por que ela não está aqui? Por que ela não está com você? – o olhar dele
se abriu para um morto. Todo mundo sempre havia acreditado que Rony nunca
esquecera Hermione realmente.

- Eu acredito que poderei responder tudo isso na minha hora de


depoimentos, explicações, interrogatórios e derivados. – disse ela.

Rony assentiu entendendo que ela não gostaria de ter que ficar repetindo
aquilo que tinha para falar. Foi justamente quando Harry irrompeu para dentro
da sala. Os cabelos bagunçados, os olhos poderosamente verdes por trás das
lentes redondas, a respiração ofegante e a roupa um tanto desajeitada.

Os olhos dele se cravaram em Luna e ficaram ali. Ele parecia ter receio, mas
mesmo assim, com a voz ofegante disse:
- Apenas me diga que ela está viva.

Luna sabia que ele não perderia o tempo que Rony havia perdido. Ele não diria
“oi”, não perguntaria se ela estava bem ou se sentindo bem, se algo muito
grave havia acontecido com ela. No fundo, desde que ele descobrira que amava
Hermione, ela havia se tornado a alegria dele e sua única fonte de forças. Era-
se esperado aquela reação.

- Ela está. – Luna respondeu.

Harry tirou o óculos soltando o mesmo ar que Rony havia prendido por quase
um ano. Ele pressionou o pulso contra os olhos e Luna quase pode visualizar o
fogo que o queimava por dentro.

- POR QUE INFERNOS ELA NÃO ESTÁ COM VOCÊ? – ele gritou como se
tentasse tirar toda a dor que tinha por dentro também.
- Harry! – Molly exclamou tomando a direção do homem. – Por favor! – ela
o empurrou gentilmente para fora da sala. – Luna dirá tudo que tem a dizer e
responderá a qualquer pergunta mais tarde.

- Ela está bem, Harry. – Luna disse. Harry talvez fosse o homem que mais
sofresse na face da terra. A pressão da guerra estava toda em seus ombros. Ele
mudava de comportamento com bastante frequência por causa disso. Mudava
de temperamento com facilidade também. Hermione e Rony eram as pessoas
que mais entendiam aquilo e Luna apenas queria ajudar no que pudesse e
muitas vezes sentia até dó. Não havia lhe restado muita coisa no mundo, assim
como não havia restado muita coisa para ela também. Por um lado eles eram
até iguais.

Talvez ter dito que Hermione estava bem foi um tanto motivador para ele
porque a Sra. Weasley foi capaz de arrastá-lo para fora da sala e fechar a
porta. Rony continuou lá parado ainda esfregando os dedos no polegar. Luna
não o encarou e o silêncio reinou por um tempo enquanto os frascos de poções
foram tirados das mãos de Luna.

- Você não parece muito feliz de estar aqui. – Rony manifestou-se após
alguns minutos enquanto tiravam os curativos de Luna para verificarem mais
uma vez o processo de cura.
Luna ergueu os olhos para ele. Rony não costumava ser muito comunicativo,
não com ela. Haviam se tornado próximos de uma maneira um pouco singular
porque ela sabia que ele ainda achava que ela delirava em seu mundo da lua.

- Hermione onde está precisa mais de mim do que vocês. – foi tudo que ela
escolheu dizer. Normalmente ela não responderia visto que estava guardando
para seu depoimento, mas achou interessante ele ter percebido aquilo e ter se
importado com ela quando na verdade todos queriam saber os segredos de
Voldemort e Hermione.

Ele assentiu sem fazer mais perguntas.

- Bem. – limpou a garganta – Sentimos sua falta. Acho que percebemos


que o tom de sua voz tinha a capacidade de acalmar muitas das nossas brigas.
– ele pressionou os lábios e sorriu de lado. – Gina guardou seus brincos de
cenoura no cofre pessoal dela. Espero que isso te anime.

Luna sorriu.
- Anima. – respondeu.

Eles ficaram ali trocando olhares por alguns segundo. Era quase estranho estar
de volta. Luna se perguntou se Rony também entendia que a vida que viviam,
na realidade não era vida.

- Vamos estar na sala principal te esperando quando estiver pronta com


isso tudo aí. – ele se afastou em direção a porta. Ela assentiu.

- Vou precisar da pasta que trouxe. – ela disse. Ele assentiu e deixou a
sala.

Tinha que começar a se lembrar de todo o discurso que tinha preparado para
explicar quase um ano de história. Contar a todos eles que Hermione agora era
marcada como Comensal e que sofria nas mãos de Voldemort. Não podia falar
do herdeiro. Não podia falar sobre o novo sobrenome que Hermione. Tinha que
passar as ordens de Hermione sobre como proceder os estudos de Brampton
Fort e os exames e testes com sangue envenenado que carregava devido a
Marca Negra. Tinha que sorrir e tinha que dizer que estava feliz por ter voltado,
embora na verdade não estivesse.
- Querida. – a voz de Molly Weasley soou doce e cuidadosa quando ela
segurou seu queixo para ter atenção. Luna a encarou. Molly havia sido o mais
perto de família que ela tivera desde que perdera a sua, mas ainda assim não
era a mesma coisa. – Sei que tem um bom coração e talvez por isso possa
omitir algo pelo fato de Harry estar presente nessa reunião que estão
organizando para lhe fazerem todos os questionamentos. – ela não parecia
muito confortável de dizer aquilo. – Eu preciso que seja honesta. – olhou bem
em seus olhos. – Bastante honesta comigo. – completou – Você esteve lá
dentro. Dentro do ciclo deles. Viu muita coisa. Conheceu muita coisa. Por favor,
Luna. Me responda. Nós temos chance?

- Não. – Luna sabia daquela resposta desde que fora tirada de sua cela e
movida para Whitehall. Jamais diria aquilo a Harry, nem que ele tivesse que
passar a vida inteira naquela guerra para nada. A expressão que Molly Weasley
abriu era dolorosa de se ver. Luna sabia que ela também pensava da mesma
maneira. – Talvez tenhamos chance. – disse aquilo não por estar sofrendo ao
ver a expressão de Molly.

- O que quer dizer? – o olhar dela se abriu.

- Talvez tenhamos chance se o quem tem feito a Ordem dar dor de cabeça
para eles ultimamente seja fonte de um único milagre. – Luna disse.
Molly pareceu processar aquilo com bastante cuidado.

- Nós conseguimos o véu. – foi tudo que ela respondeu.

Draco Malfoy

Seu dia começava do lado de fora de Brampton Fort. Começava bem no inferno
que chamavam de Ministério da Magia. Se tivesse escolha, pularia aquela tarefa
de seu dia cheio e corrido, mas já havia recebido lições o suficiente de seu pai
para saber que não mostrar que se importava com sobrenome que carregava e
com o legado que deveria deixar na história era como negar seu próprio
sangue.
Brincava com um pêndulo giratório que servia para nada mais que enfeitar,
irritar e distrair quando seu pai entrou na sala.

- Draco. – ele soltou cansado ao ver a figura do filho – Por que nunca pode
esperar do lado de fora?

Draco sorriu deixando o brinquedo para lá.

- Sentado na antessala de pernas cruzadas esperando ouvir a liberação de


sua secretária? – tentou soar irônico enquanto tirava os pés de cima da mesa
do pai e se ajeitava na cadeira girando-a para ficar de frente – Não faz meu
estilo.

- Fora da minha cadeira, Draco. – ele não parecia estar com muita
paciência.
- Ainda não. – adiantou-se Draco – Precisamos conversar e não gosto
quando assume o lugar de influência. Ficará de pé bem aí onde está e é melhor
que me escute com muita atenção.

Lúcio soltou um riso fraco pelo nariz.

- As vezes você soa muito como eu. Faz de propósito?

- Faço como me ensinou. Mesmo depois de ter se tornado a maior


decepção de todos os tempos. – retrucou Draco se inclinando sobre a mesa
para colocar os cotovelos sobre ela e se distrair novamente com o maldito
pendulo. – Há quase um mês não usa sua cota de permanência em Brampton
Fort. É o Primeiro Ministro, não pode se distrair do seu trabalho, e precisa
garantir a ordem do mundo bruxo, mas se dedicar ao cargo que ocupa não
significa ficar vinte e quatro horas com o status ‘trabalhando’. Você tem uma
casa.

- Sua mãe pediu para que viesse até o Ministério dizer isso?
- Sabe mais que ninguém que minha mãe evita qualquer faísca de conflito
entre nós dois.

- Diga isso para o seu jantar de aniversário na sexta. – Lucio disse e Draco
revirou os olhos.

- Estou apenas o alertando. – Draco voltou para sua linha de raciocínio –


Se não usar sua cota de permanência em Brampton Fort vou alegar que não
precisa dela. A cidade já está cheia e estou cansado de liberar chaves de portal
para suas passagens de duas horas. Theodoro ficará feliz em saber que doará
sua permanência para outro.

- Faria isso apenas para me provocar. – ele disse quase entediado.

Draco deu de ombros.


- Apenas faço as coisas como me ensinou. – retrucou e foi a vez de Lúcio
revirar os olhos.

- Certo. – seu pai mostrou as mãos em sinal de paz – Prometo deixar de


viver do lado de fora da cidade. – disse, porém Draco sabia que as palavras
dele eram apenas uma tentativa de ponto final para aquele inconveniente que
ele não estava a fim de discutir. – Quem o chamou aqui foi eu.

- E espero que vá logo direto ao ponto. – comentou Draco.

- Irei. Tenho agendamento em dez minutos. Puxou a cadeira a frente de


sua mesa e se sentou com toda a classe de um Malfoy tomando cuidado com o
terno absolutamente caro que usava. – Não existe nenhum registro no
Ministério sobre o véu além das inspeções anuais. Os mitos variam de boca em
boca. Cada um tem sua história para contar sobre o véu. Nenhuma bem
fundamentada. Resumindo, ele não passa de um artefato amaldiçoado.

Draco precisou de um minuto de silêncio para processar aquilo.


- Acha que maldições estão de alguma forma ligadas a Dementadores? –
soltou.

- Por quê? – seu pai pareceu confuso com aquilo.

- A maldição das terras de Brampton e o véu.

- Me parece apenas uma simples coincidência. E ainda não sabemos sobre


o véu.

Draco soltou o ar um tento frustrado e se levantou.


- Estou cansado de especular. Me chame quando tiver algo consistente. –
sua intenção era ir embora.

- A Ordem de Merlin é um ponto em comum entre meus estudos e as


histórias que ouço de Inomináveis. – seu pai disse e Draco parou a meio
caminho da porta.

Virou-se para tornar a encarar o pai e finalmente começou a achar que aquilo
tomaria algum rumo.

- O que quer dizer? – perguntou.

- Que se houver algo concreto a respeito daquele véu não iremos encontrar
em nenhum livro, nenhum pergaminho, manuscrito ou o que quer que seja. A
Ordem de Merlin sempre teve um cofre de segredos particular há séculos.
- Um cofre de segredos que foi destruído quando o mestre fez questão de
matar cada membro daquela ordem por nome. – Draco completou.

- Você sabe que membros das classes mais baixas escaparam e alguns
deles até foram acolhidos pela Ordem da Fênix. – disse seu pai.

- Um número muito pouco e as classes mais baixas não saberiam nem


chutar sobre um dos segredos da Ordem de Merlin. Membros da primeira classe
eram os únicos que tinham acesso a esses segredos e nem eram todos. O
mestre os matou de qualquer forma. Arrancou deles todos os segredos. Foi logo
quando nos instalamos nas terras de Brampton. Se a Ordem de Merlin tivesse
algum segredo sobre o véu o Lorde o conhece agora e acredito que certamente
daria bem mais atenção ao Departamento de Mistérios do que aparenta dar se
fosse algo realmente sério. – Draco tratou de justificar todos os pontos.

Lucio se levantou de sua cadeira e foi até o filho.

- Não quero julgar os poderes do mestre carregando a marca dele em meu


braço. – começou Lucio num tom baixo – Mas membros da Primeira Classe da
Ordem de Merlin eram magos com conhecimentos além do que um dia eu e
você juntos poderíamos imaginar. Quantas vezes nossa família enganou o
mestre por sermos muito bons em Legilimência e Oclumência? Um membro da
Primeira Classe muito facilmente poderia fazer o mesmo.
Draco processou aquilo em silêncio por alguns segundos.

- O mestre não os mataria sabendo que poderia estar deixando passar


alguma informação. – concluiu.

- Ele pode não ter realmente os matado. – jogou seu pai.

Draco estreitou os olhos.

- Ele conseguiu fingir muito bem então. – duvidava muito sobre o que seu
pai havia sugerido.
- Nós mais do que ninguém sabemos que o mestre sabe guardar muito
bem para ele os segredos que lhe convém. São os mais perigosos. São os que
mais tememos. – colocou Lucio.

Draco revirou os olhos.

- O que tem a sugerir então?

- Reviste cada pedra das masmorras. Faça um levantamento de cada


prisioneiro. Converse com sua mulher. – seu pai parecia saber bem sobre o que
sugeria.

- Hermione? – Draco ergueu uma das sobrancelhas confuso.


- Sim. Sabe que se há alguém que possui informações que podem filtrar
nossas dúvidas, dorme em sua cama.

Não podia negar que seu pai estava certo. Hermione tinha informações que
adiantariam muito do serviço que ele e seu pai andavam desenvolvendo sobre
o roubo do véu e o porque de logo o véu. Se a Ordem fora realmente
responsável pelo roubo, Hermione muito provavelmente carregava todas as
respostas que eles queriam.

- Ela não iria cooperar. – respondeu ele.

- Ela tem que entender que é uma de nós agora. – seu pai ainda insistia
naquilo.

- Ela não escolheu ser uma de nós. Nem eu quis que ela fosse uma de nós.
Não é tão simples assim como imagina que seja. Ela é leal ao lugar de onde
veio. Não vou simplesmente lhe fazer perguntas que se ela responder muito
provavelmente estará traindo sua integridade e sua devoção aos amiguinhos
retardados que tinha.
Seu pai apenas piscou os olhos com calma, deu as costas e voltou para sua
cadeira. Draco sabia que ele não abriria a boca para discutir novamente sobre
seu casamento com Hermione. Lucio já havia deixado claro que eles deveriam
construir confiança um no outro, que não deveria haver segredos, e que não
adiantava fugir dessa realidade porque ele mesmo havia tentado fugir com
Narcisa e no final ambos perceberam que havia sido desgastante e uma grande
perda de tempo.

- Draco, veja bem. – pigarreou ele ajeitando o terno enquanto sentava –


Nós dois sabemos que você gosta de ser teimoso, mas prefere ser inteligente.
Então trate de se resolver com Hermione. Eu ajudei a arrastá-la para dentro
dessa família por um motivo. Não faça com que as coisas sejam mais
desgastantes do que já são. Tudo que tem mostrado até agora é um péssimo
serviço.

Draco começou a sentiu o sangue em suas veias lhe enviando sinais de


profundo desgosto.

- Você sabe que não deve tocar no assunto do meu casamento.

Lucio mostrou as mãos em sinal de paz mas com um pequeno sorriso nos
lábios.
- Estou apenas falando de Hermione. Desisti de tentar interferir no seu
casamento. Sua mãe e eu já o alertamos sobre perda de tempo, mas vemos
que insist...

- Você não vai querer continuar! – Draco o cortou, o tom grave, os olhos
mortíferos e uma veia em seu pescoço.

Seu pai mostrou as mãos mais uma vez e dessa vez deixou o sorriso morrer.
Era tudo provocação e provocação era um ponto que Draco jamais superaria
mesmo depois de todos aqueles anos em que sustentavam a relação que
tinham. Lúcio sabia bem que provocá-lo era um caminho que sempre vinha
com uma vingança de prato frio da parte do filho e por isso fez bem em parar
por ali.

- Bem, eu só quero deixar claro que não vamos progredir enquanto você
não fizer Hermione abrir a boca. Me recuso a correr mais riscos do que já corri
tentando chegar o mais fundo possível na história do véu. – ele voltou ao seu
tom profissional. - Draco apenas piscou em silêncio recebendo a ordem. – Eu
até te daria algumas dicas, mas sei que odeia que lhe digam como um serviço
deve ser feito.
Draco engoliu aquilo com toda a paciência que conseguia extrair de suas
entranhas. Aproximou-se da mesa e inclinou-se sobre ela com as mãos
apoiadas na superfície enquanto encarava os olhos do pai.

- Me deixe ser bem mais claro aqui. – começou – Você não conhece
Hermione como eu conheço. Se está esperando que ela vai abrir a boca só
porque deu a ela o sobrenome Malfoy, é melhor que esteja pronto para esperar
por muito tempo! E muito tempo é algo que nós não temos!

Lúcio deu de ombros.

- Não temos outra escolha. Deve se lembrar que sempre seguimos pelo
caminho mais seguro.

- Hermione não é o caminho mais seguro! Ela não está do nosso lado! –
quando será que uma benção dos céus cairia sobre a cabeça de seu pai e o
fizesse entender isso de uma vez por todas? – Ela ainda não entende que
realmente faz parte do nosso meio. O segundo em que ela tiver que nos
entregar para se beneficiar tenho absoluta certeza de que nem hesitar ela irá!
- E mesmo assim ela ainda continua sendo o nosso caminho mais seguro! –
insistiu seu pai.

Draco revirou os olhos cansado dando as costas e passando a mão pelos fios
loiros. Discutir qualquer coisa com seu pai sempre lhe cansava. Desistiu.

- Apenas continue fazendo o seu trabalho. – jogou para ele.

- E você faça Hermione abrir a boca. – disse seu pai – De maneira sábia. –
completou ele - Ela é sua esposa, tem seu sobrenome e vive debaixo do seu
teto. Não é qualquer outro que pode comprar, colocar contra a parede ou
ameaçar.

- Você é desprezível. – comentou Draco com uma careta.


Lúcio sorriu.

- Homens normalmente tendem a me odiar. – seus dentes brancos


brilharam

Draco soltou o ar como se estivesse intoxicado e saiu antes que perdesse seu
juízo próprio. As vezes não sabia se odiava seu pai por ele ser responsável pela
infelicidade de sua mãe, ou se era porque conseguia enxergar em Lúcio tudo
que ele era. Evitava ter que suportá-lo e os poucos minutos que estivera ali já
haviam sido suficientes para fazer com que usasse toda a cota de paciência que
costumava separar para seu dia.

Conseguiu uma chave de Portal para deixar o Ministério com a facilidade que
seu nome e sua posição sempre lhe proporcionava. Tinha ainda que fazer visita
a mais de cinco acampamentos e provavelmente conseguiria voltar para o Fort
em dois dias e bem a tempo do jantar de aniversário que sua mãe estava
preparando para ele mesmo sua data já havendo passado. Ele não iria insistir
contra. Sua mãe sempre tinha a boba ilusão de que algum ano conseguiria
fazer com que a civilidade que se portavam em eventos de família um dia
deixaria de ser apenas falsidade.
Pelo menos Draco estava grato de saber que tinha o dia cheio, ou pelo menos
queria estar. Precisava de distrações. Aquela manhã quando tomava café da
manhã com Hermione sentia que o silêncio dela era significativo. Eles
permaneciam sempre tanto tempo em silêncio que Draco já era capaz de lê-los
e ele sabia por que o silêncio dela era significativo, ele lembrava bem de que
dia era o dia de hoje e aquilo o incomodava.

Hermione havia sido afastada da Catedral e de seus serviços como punição pela
fuga de Luna que havia sido a alguns poucos dias atrás. Ela assumira toda a
culpa e Draco ainda apresentara suas justificativas para mostrar que ela havia
agido sozinha. Voldemort pareceu bastante convencido e furioso. Ele exigiu que
ela torturasse alguns prisioneiros como punição e ao invés de resistir, de se
mostrar teimosa, Hermione empunhou a varinha e obedeceu. Obedeceu apenas
para deixá-lo mais furioso ainda porque ele queria que ela sofresse, que ela
resistisse em fazer algo que ia completamente contra quem era, contra sua
índole. Isso tudo porque ele não podia tocá-la, não podia fazer com que ela
sofresse fisicamente pela atitude ousada que tivera. Ela carregava seu herdeiro
afinal.

Draco jamais imaginara que Hermione fosse capaz de fazer aquilo. Ela era a
perfeita coração de leão da Grifinória. Leal, corajosa e todas as coisas boas que
atrasavam a humanidade. Mas quando ela empunhou aquela varinha e torturou
aquele prisioneiro Draco não a viu mais. Não viu a Hermione que achava que
conhecia. Ela havia o olhado e ali ele percebera que o que ela queria dizer é
que havia entendido como tudo funcionava em Brampton Fort e que sua guerra
era maior, era contra Voldemort e que não estava mais no mundo da Ordem da
Fênix, não podia ser quem realmente era ali ou seria massacrada e engolida e
era isso que Voldemort queria.

Enquanto Draco andava pelo prédio do primeiro acampamento que deveria


visitar aquele dia ele ponderava que havia sido melhor que Hermione se
afastasse da Catedral por alguns dias. Já haviam indiretas demais nos jornais e
revistas da cidade sobre uma possível gravidez. Draco não sabia se estava
preparado para essa polêmica e logo não haveria mais como esconder de
ninguém. Talvez Voldemort também tivesse considerado isso ao afastá-la.

Foi recebido pelos líderes do acampamento. Era um prédio baixo


aparentemente abandonado nos subúrbios de Londres bem próximo a sede da
Ordem da Fênix que era a famosa casa dos Black. Draco passou o resto da
manhã revendo as rotas de vigilância, montando novas estratégias e tentando
entender o novo código de segurança que a Ordem havia conseguido
milagrosamente restaurar nas redondezas. Somente quando a tarde estava
começando que conseguiu ir para o próximo acampamento no Sul do País de
Gales. Interrogou três suspeitos apreendidos e os soltou ordenando aos lideres
que os rastreassem por um ano.

Era meio de tarde quando conseguiu ir para o próximo compromisso. Centro de


Paris e conferência com os líderes responsáveis pela ordem do país. Era uma
reunião extensa o que não ajudou para manter a distração que até então havia
o impedido de lembrar com a frequência irritante de sempre que dia era
aquele. O relógio o perseguia desde que chegara no Ministério pela manhã e
até o presente momento Draco quase podia se lembrar do números de vezes
que o ponteiro de segundos travou sua atenção.

Ali enquanto ouvia em um francês culto o resumo mensal das atividades do


país se perguntava se a cadeira que estava sentado era mesmo desconfortável
ou se o problema era com ele. Sempre gostava de participar de encontros
mensais nas sedes de cada país. Como representante de Voldemort os líderes o
temiam e ele adorava ser temido. Achar aquele serviço entediante o
preocupava.
Foi direcionado para uma sala menor logo após a prolongada reunião. Ali alguns
líderes mais próximos começaram a apresentar o resultado dos serviços que
haviam implantado no país. Draco tentou se manter atento aos fatos e opinar,
mas por mais de uma vez se viu entretido no ponteiro de segundos do relógio
pendurado na parede.

- Draco! – seu nome ser exclamado num tom mais elevado o fez tirar os
olhos do relógio e perceber que havia sido traído por ele mais uma vez. –
Draco! – Draco olhou a voz bem a sua frente de pé segurando uma lista de
nomes imensa. – Está tudo bem? – o homem perguntou num inglês precário.
Draco olhou a lista de nomes e se surpreendeu por ter estado perdido na
própria cabeça por tanto tempo que nem vira a troca de assunto acontecer. –
Não nos interrompeu nem nos criticou desde que chegou.

- Eu deveria? – ele ergueu as sobrancelhas.

- Sempre nos interrompe e nos critica. – respondeu – Parece dessa vez não
está nem nos escutando.
Draco se levantou assumindo de uma vez por todas que se ocupar não fora a
sua melhor saída.

- Preciso ir para casa. – sabia que já era tarde, mas não deveria ter
deixado o Fort em primeiro lugar.

- Senhor, sua chave de portal está marcada apenas para amanhã e não é
de volta para Brampton Fort. – o homem que o esteve acompanhando desde
que chegou disse bem ao seu lado.

- Não me escutou? – Draco não entendia como algumas pessoas apenas


gostavam de ser devagar – Eu disse que preciso ir para casa.

Foi assim que em menos de vinte minutos ele estava dentro de sua cara
carruagem tomando o rumo de sua mansão. Uma das coisas que se passava
por sua cabeça era se alguma vez na vida havia agido de modo mais estúpido
que naquele momento. Ele definitivamente precisava urgente organizar sua
vida ou consideraria seriamente estar beirando a insanidade.
A verdade era que não queria aceitar e talvez estivesse aceitando mesmo ainda
não querendo aceitar. Talvez essa fosse a realidade. Pensou enquanto subia os
extensos degraus de mármore da varanda da frente de sua casa. Há alguns
meses, quando ainda não havia nenhuma aliança em seu dedo, ele acreditara
que passar o resto da vida não aceitando que se casar com Hermione e fazer
um filho com ela fosse a solução para manter sua vida exatamente como era. O
problema era que ali estava ele com uma mulher grávida e tentar não aceitar
estava muito longe de sua realidade.

Encontrou a casa escura como costumava encontrar antes de ter se casado. As


janelas estavam todas fechadas, os candelabros e lustres apagados. A sala de
jantar vazia e morta. Incomum. Sabia que mesmo que Hermione não estivesse
o esperando para o jantar, ela tinha a horrorosa mania de sair acendendo a
casa como se fossem dar uma festa ou algo do tipo.

Foi direto para seu escritório onde a primeira coisa que fez foi encher um copo
de gelo e whisky. Tomou-o de uma vez para sentir um pouco do efeito do
álcool. Bagunçou os cabelos, tirou o terno, afrouxou a gravata sem pressa.
Encheu mais um copo e olhou a vista do jardim apagado. Teria que encontrar
uma forma de adiantar o serviço que deixara de fazer hoje no dia seguinte. Não
podia atrasar mais o jantar de sua mãe ou receberia de presente aquela
expressão de infelicidade que ela escondia todos os dias do rosto.

A noite lá fora não o acalmava nem colocava seus pensamentos em ordem. Se


perguntava o que fazia ali. Por que havia sido tão estúpido? Que justificativa
encontraria para esconder sua real justificativa. E afinal, qual era sua real
justificativa? Ele não precisava ter ido com ela a aquele hospital. Não precisava!
Ela sabia que ele não precisava e sabia que ele não iria. Ele não se importava
com aquela gravidez e ela também sabia disso! E por que maldição aquilo
ficava irritantemente o atormentando a cada segundo que se passava?

Derrubou uma sequencia de pequenas estátuas de cobre que ficavam a mostra


numa estante ao lado das janelas ao se sentir extremamente frustrado consigo
mesmo. Tacou seu próprio copo contra a parede ainda sentindo que merecia
ser dominado pela insensatez e então se jogou contra sua cadeira cobrindo o
rosto e sabendo que de fato estava beirando a insanidade. Tudo em sua vida
talvez tivesse sido diferente se Voldemort nunca tivesse existido ou se ele
tivesse apenas continuado a ser o garoto insuportável que se lembrava da
infância.

Soltou o ar e apertou os olhos. Piscou e encarou o teto por alguns segundos. Se


lembrou de quando fazia aquilo e conseguia esvaziar sua mente. Havia sido
daquela maneira que conseguira sobreviver seus primeiros meses de
casamento. Agora já era uma tática completamente inútil.

- Tryn. – chamou e assim apareceu a elfa quase no mesmo instante. –


Onde está Hermione?

- A Sra. Hermione Malfoy pediu para que Tryn a deixasse em paz há


algumas horas atrás quando chegou do hospital. – informou a elfa.
Draco arqueou as sobrancelhas estranhando a atitude. Depois que a vira
estender a varinha para um moribundo e torturá-lo, não se surpreendia com o
tratamento que ela agora dava a elfos domésticos.

Levantou-se aceitando que muito provavelmente ele estaria refugiada no sótão.


A Casa de Poções havia se tornado quase a toca dela desde que se mudara.
Tomaria um banho para criar forças e ir até lá, se ele conseguisse ir na
verdade, mas quando entrou no quarto foi obrigado a parar por alguns
segundos. Haviam coisas quebradas por todo o lugar.

A passos lentos ele foi desviando delas enquanto ouvia o som distante da água
correndo vindo do banheiro. O nome Hermione se repetiu em sua cabeça várias
vezes. Depois, mais outros milhões de questionamentos surgiram quando ele
passou para o lado de dentro do lavatório e pisou no chão inundado. Hermione
também estava no chão, logo a frente, vestida em seu robe de banho, o rosto
apoiado no braço que estava na banheira, que por sinal transbordava.

Ela não o olhou. Encarava o nada com os olhos inchados, vermelhos e


molhados. Não havia muito sinal de vida nela, no olhar dela, mas respirava.
Garrafas vazias de álcool jaziam no chão. Uma quebrada um pouco mais longe.
Draco girou a varinha fazendo com que a água parasse de correr. O silêncio os
abraçou de vez e Hermione abriu a boca para perguntar numa voz fraca e
completamente sem vida:
- O que faz aqui? – ela não se moveu um centímetro, nem mesmo o olhou.

Draco não respondeu. Não tinha uma resposta plausível para aquela pergunta e
naquele momento nem pensou em tentar encontrar uma. Avançou com calma
fazendo a sola de seu sapato afundar na fina camada de água sobre o chão.
Empurrou uma garrafa com o pé. Vazia. Aproximou e se abaixou para ficar de
frente a ela. Os olhos brilhosos e âmbar se voltaram para ele. Não como
normalmente. Sentiu o peso de todo o ressentimento que ela carregava
exposto ali. Ele se perguntou quanto tempo ela deveria ter ficado ali chorando
para chega naquele estado.

- Você não deveria estar bebendo. – ele disse e a resposta dela foi uma
risada débil. Estava bêbada.

- Tarde demais. – ela respondeu ainda com aquela voz morta.

Draco abaixou os olhos para sua mão e a viu segurando um frasco de poção
aberto. A cor do líquido ali o preocupou. Passou os olhos mais uma vez pelo
lavatório e no balcão das pias encontrou uma caixa de acrílico com mais frascos
da mesma poção. Faltava alguns frascos e ele se lembrava daquela caixa cheia
numa das estantes da Casa de Poções. Passou os olhos ao redor do lavatório e
boiando na água da banheira havia um dos fracos. Vazios.
Algo dentro dele cresceu e ele tomou o frasco da mão dela. Aquele ainda
estava cheio, mas aberto. Era veneno. Não o veneno suficiente para matá-la,
mas o suficiente para a criança que carregava.

- Hermione! – exclamou já sentindo a fúria de Voldemort. – Tomou isso? –


ela olhou o frasco e ficou calada com aquele olhar morto. – TOMOU ISSO? – ele
não estava com paciência. Se ela tivesse tomado aquilo talvez já fosse tarde
demais.

Com calma ela abriu a boca e sua voz arrastada saiu:

- E se eu disser que tomei?

Ele sentiu o sangue gelar.


- ESTÁ LOUCA? – ele a segurou pelos pulso e tentou levantá-la. Ela lutou –
POR ACASO PERDEU A CABEÇA?

- ME SOLTA! – Hermione se debateu impedindo que fosse levantada por


ele.

- TEM QUE IR PARA UM HOSPITAL!

- ME DEIXE! – o tom do grito alto que ela soltou o congelou. Ele nunca
ouvira ressentimento, raiva e dor ser externado de forma tão cruel quanto
aquela. Nem imaginara que ela pudesse ter um tom de voz poderoso como
aquele. Soltou-a. Ela se apoiou no chão com as mãos. Encarou o mármore
escuro ofegante. O silêncio os abraçou novamente enquanto ele se afastava. –
Eu não bebi. – ela disse num tom muito baixo. – Não consegui. – engasgou
com a voz trêmula.

Draco puxou o ar e os cabelos. Encostou-se no balcão das pias e a observou ali


por alguns segundos. Ela estava em um estado absolutamente miserável e
quase doía nele a olhar assim. Ali ele conseguia enxergar o quanto ambos
estavam perdidos. Os dois beiravam a insanidade um de cada lado da história.
Juntos, mas separados, um de costas para o outro, um ignorando o outro,
desconsiderando o outro.

- Hermione. – o nome dela fluiu em sua boca confortavelmente. Ela tinha


um nome bonito. Admitia isso desde seu primeiro ano em Hogwarts. – Me dê
uma razão para tudo isso.

- Uma? – ela levantou os olhos para ele. Havia milhares de lágrimas presas
ali. – Você quer apenas uma?

Ele suspirou.

- O que houve no hospital? Você estava bem até hoje de manhã.

- Eu nunca estou bem. – ela replicou com desgosto.


- Me diga logo o que houve, Hermione. – não tinha paciência.

Hermione estreitou os olhos em resposta ao tom dele. Puxou o ar e começou a


tentar se colocar de pé. Ele a observou enquanto ela buscava apoio e se
desequilibrava. Não a ajudaria. Ela quem havia se colocado naquele estado.

- Ele não me deixou ver. – ela encheu o peito para dizer aquilo como se
quisesse prender a dor que sentia. Cambaleou mesmo se apoiando numa das
colunas da parede. Ela pigarreou como se quisesse limpar a garganta. – Sua tia
esquisita e o mestre estavam lá. Ficaram em outra sala. Virão tudo,
conversaram com os enfermeiros e esclareceram todas as dúvidas que tinham
enquanto eu ficava isolada em uma antessala com todos aqueles
desconfortáveis apetrechos em minha barriga observando no mudo todos muito
entretidos com a visão que tinham da vida que eu estou criando. – ela já
estava com os dentes cerrados naquele ponto. – A vida que EU estou criando! –
repetiu enquanto mostrava as lágrimas presas em seus olhos novamente. –
Não me deixaram nem mesmo escutar o coração dele. – ela sussurrou aquilo
deixando sua voz morrer no silêncio.

Ele ergueu as sobrancelhas e cruzou os braços.


- Então veio para casa, se colocou nesse estado, destruiu o que viu pela
frente e tentou matar a criança que carrega por causa disso?

A fúrias nos olhos dela se mostraram com muita vontade quando ele terminou
de dizer aquilo.

- EU ESTOU BÊBADA! POSSO AGIR IRRACIONALMENTE SEM


JUSTIFICATIVA! - Por um segundo Draco pensou que ela fosse avançar pelo
espaço que havia entre eles e o matar com as próprias mãos. Achou até graça
que até quando bêbada ela tentava soar como a culta Hermione sabe tudo. Mas
bastou um suspiro e toda aquela fúria foi engolida pela dor muito maior que
não conseguia dar espaço para mais nada naquele olhar fundo e vermelho.

Hermione apoiou as costas na coluna e encarou o chão molhado. Ela ficou ali
por um minuto. Em silêncio. Draco a observou. A barriga dela já era difícil de se
esconder e toda vez que a observava se pegava bastante curioso com a
sensação que a imagem lhe provocava. Definitivamente eles estavam ligados.
Aquilo não o agradava, mas aguçava muito seu sentimento de posse e ele sabia
cuidar do que lhe pertencia. Sabia muito bem. Mas não queria ter essa
sentimento, não por ela. Esse eterno dilema era sua cruz.
- Eu falhei. – ela começou baixo – Falhei com a Ordem. Falhei com Harry. –
ela suspirou e limpou uma das bochechas com as costas da mão. – Falhei com
meus amigos, com as pessoas que tinham esperanças em nós, com meus pais
e comigo mesma. – ela puxou o ar e pausou. – Eu não queria falhar aqui
dentro, mas eu não vejo nenhum outra alternativa. Eu não posso ser forte. Não
consigo. Não consigo lutar sozinha. – ela engasgou com as próprias palavras e
seu corpo tremeu. – O grito daquele homem. – Draco sabia que aquele homem
havia sido o que ela torturara fazia alguns dias. – Ecoa dentro da minha cabeça
todo o segundo. – ela ergueu os olhos para ele – Eu sei que eu deveria ser
forte. Que deveria lutar contra Voldemort. – ela se desencostou da coluna e
caminhou cambaleante em sua direção – Mas eu vou ter que falhar nisso
também porque não sou capaz de matar o herdeiro que ele tanto quer nem
muito menos capaz de fazer o que devo fazer para lutar contra ele. – a dor ali
nos olhos dela estavam absurdamente escancarada – Não sou forte o suficiente
para fazer o que devo fazer para vencer o jogo dele...

Ela soluçou e ele apenas deu espaço para que ela voasse em direção a pia.
Draco fez uma careta quando ela vomitou. Suas mãos inconscientemente
afastaram os cabelos dela. Ele segurou seus cachos até que ela terminasse o
serviço. Os braços dela tremiam enquanto ela se apoiava na bancada.
Hermione parecia não apenas fraca, mas cansada.

Draco a pegou no colo quando percebeu que as forças dela a arrastavam para o
chão novamente. A carregou de volta para o quarto e a deitou na cama, do
lado em que ela sempre dormia. Ela se aninhou ali exausta de lado e de costas
para ele que se sentou na beira da cama e a observou. Depois de todo o
estrago que ela havia feito e do tanto de álcool que havia ingerido não era
novidade que estivesse prestes a apagar.

Há meses atrás ela não se passava da mulher que havia deixado Hogwarts e se
tornado o maior nome entre os rebeldes depois de Harry Potter. Seu dever era
caçá-la, capturá-la, matá-la. Hoje, ali, aquela mesma mulher era sua, dormia
em sua cama, morava em sua casa, comia de sua comida, carregava o próximo
nome Malfoy a se mostrar na terra. Havia sido tão fácil se esquecer de que ela
era uma inimiga que mal conseguia se lembrar da última vez que tomara café
da manhã desejando que a silenciosa companhia dela não existisse.

- É sempre difícil, para qualquer um, quando nos marcam com uma dessas.
– ele tocou a Marca Negra no braço dela. – No sexto ano, quando todos
acreditavam que eu era um Comensal, ouvi dizer que você era a única que
acreditava o contrário mesmo eu me negando a mostrar meu braço. – afastou
um cacho de cima dos olhos dela. – Você sempre vê coisas boas nas pessoas.
Tem esperança nelas. Isso é lindo, Hermione. Mas te torna fraca. Não pode se
dar a chance de ser fraca quando tem uma dessas. – mostrou a marca em seu
braço dessa vez. – Se for fraca, não demorará a estar no lugar daquele homem
que torturou.

- Eu preferiria estar no lugar dele. – ela respondeu roucamente com a voz


baixa e quase inaudível. – Fui preparada para isso.

- Não. Não preferiria, porque ele não deve nem estar mais vivo a essa
altura do campeonato. O lugar dele é o lugar de perdedores. Você não vence
estando no lugar dele. Você vence sendo um câncer dentro do sistema.

- E é isso que você é? – ela já havia fechado os olhos. – Um câncer dentro


do sistema?
Ela parecia tão longe do mundo real.

- Sim. – talvez já até tivesse apagado por completo. – Passei todos esses
anos crescendo em silêncio, com cuidado e muita atenção. Quando me notarem
eu já serei muito grande, muito forte, muito destrutivo. Eu venço no final,
Hermione. Não Harry Potter, Voldemort, a Ordem Fênix ou os rebeldes. Eu
venço. Sou um Malfoy. Malfoys constroem legados. – ela já parecia ter apagado
fazia um bom tempo. - Ficam para a história. – ele concluiu baixo.

Ela ficou ali em silêncio, os olhos fechados, a respiração muito calma. Draco
finalmente considerou que ela tivesse apagado, mas então ela abriu a boca e
disse num sussurro que ele quase não foi capaz de escutar:

- Sempre soube que você era o mais inteligente depois de mim em


Hogwarts.
Draco sorriu antes mesmo que pudesse perceber. Na verdade, ele sempre
havia sido o mais inteligente. Ela apenas queria ser a sabe-tudo. A observou
por muito tempo. Talvez tivesse ficado ali por horas. Ele sentado, ela deitada.
Só não conseguia deixar de entender como mesmo estando em um estado
completamente destruído ela parecia ainda tão linda.

Não olhou as horas quando finalmente decidiu se levantar. Tudo que fez foi
tirar o cinto da calça, se livrar da blusa que usava e se jogar de seu lado da
cama. Encarou o teto por segundos e então foi sua vez de apagar.

Sonhou que Hermione havia bebido do veneno. Que havia bebido todos os
frascos da poção. Se viu tentando mantê-la acordada no caminho para o
hospital, correndo pelos corredores com ela enquanto o sangue lhe escorria e
finalmente, depois de tanta agonia, recebendo a notícia de que a imprudência
dela a levara a fatalidade. Percebeu seu fôlego sumir e quando o recuperou
seus olhos estavam abertos encarando a abóboda bem detalhada em cima de
sua cama.

Estava claro e o colchão se mexia. Olhou para o lado e a encontrou lá. Soltou o
ar. Ela estava acordando. Movendo-se preguiçosamente. A ver fez com que ele
quisesse beijá-la, tirar sua roupa e tomar seu corpo mais uma vez para
agradecer que ela não havia lhe dado o trabalho de tomar aquela maldita
poção, mas ficou ali, parado, a observando se sentar e colocar os pés para fora
da cama com dificuldade.
Hermione pareceu olhar o quarto a sua volta com curiosidade. Não demorou e
ela já estava com a mão na cabeça soltando um gemido que ele sabia que ela
soltaria mais cedo ou mais tarde. Ela deveria estar com uma dor de cabeça
mortal.

- Ah, céus... – ela soltou passando o olho por todo o quarto. – Draco? – ela
virou os olhos para ele atrás de si e depois passou novamente seus olhos pela
bagunça. – Fizemos sexo ontem a noite?

Ele riu da forma como ela parecia confusa e perdida. Passou as mãos pelo rosto
e levou os braços para detrás da cabeça.

- O que te faz pensar isso? – sua voz saiu rouca e ainda grogue.

- Meu corpo dói. – ela disse enquanto levantava como se sentisse cada
músculo. – O quarto está uma bagunça e minha cabeça... – sua voz foi
morrendo e ele percebeu que a memória estava lhe clareando a noite anterior.
Ela não falou mais nada. Desviou da bagunça no chão para alcançar o armário
mais próximo. Abriu umas duas gavetas até encontrar uma poção incolor e a
ingeriu de uma vez. Ficou ali em silêncio pousando a mão na pequena barriga e
segurando os próprios cabelos. Draco se sentou com calma e a observou.

- Draco... – a voz dela tornou a soar depois de um longo minuto. Os olhos


dourados dela se voltaram para ele. – Eu estava com raiva.

Ele negou com a cabeça.

- Você não me deve nenhuma justificativa. – disse e ela ficou ali, o olhando
como se em sua memória cada pedaço da outra noite viesse com dificuldade.
Ele se levantou e foi até ela. Hermione deixou o olhar cair sobre seu corpo. Ela
sempre fazia isso. – Eu preciso deixar a cidade novamente. Quero que vá ficar
com minha mãe hoje.

Ela revirou os olhos.


- Eu não vou tentar matar o bebê novamente. – ela disse.

- Continuo não querendo você sozinha. – ele foi sério, mas ela segurou seu
braço impedindo que ele desse as costas para seguir para o lavatório.

- Fique então. – o pedido dela o surpreendeu. Pareceu surpreender até ela


mesma também.

Os olhos dela estavam nos seus e o seus estavam também nos dela. Conseguia
enxergar o próximo passo dela. Hermione gostava de tocar seu abdômen, de
subir na ponta dos pés e de sentir sua respiração de perto. Draco sabia que o
toque da mão sempre gelada dela faria com que seus pelos se arrepiassem, sua
vontade crescesse e ele acabasse a tomando para si antes mesmo que pudesse
calcular se deveria ou não.

- Não posso. – ele decretou. Não era acostumado com a forma que eles
faziam sexo ultimamente. Havia muito toque, muito olhar, muita mão, muito
beijo. Ele gostava, mas nunca havia feito nada muito parecido com aquilo.
Havia momentos que nem ele sabia como proceder. Mesmo que se sentisse
muito confortável estando com ela, aquele tipo de sexo lhe subia uma bandeira
de alerta e sempre se via na defensiva. Odiava ter que evitar, mas seguia seu
sentido.
- Hei. – ela segurou seu braço mais firme quando ele deu as costas em
direção ao lavatório. Draco se virou curioso para entender o porque ela não o
soltava. Entendeu quando encontrou os olhos dela sobre sua Marca Negra. – ...
Câncer... – ela sussurrou e ele soube exatamente do que ela estava se
lembrando naquele momento.

Segurou a mão dela e a tirou de seu braço.

- Estarei de volta para o jantar. – cortou fazendo-a entender que não iriam
discutir sobre aquilo. Mas quando Hermione tornou a encará-lo, ele viu o olhar
que jamais havia recebido dela em sua vida. Talvez agora ela não enxergasse
mais o monstro que a vida toda o julgara ser. Ela puxou o ar para dizer alguma
coisa, mas ele a interrompeu novamente. – Eu estarei aqui para o jantar. –
repetiu mais pausadamente para que ela entendesse de uma vez por todas que
não iria discutir aquilo. Deu as costas e seguiu seu caminho.

Lord Voldemort
Gostava de ficar sob a luz da noite, fumando charuto, observando alguma
mulher nua se movendo entre seus lençóis. A única coisa que estragava aquela
noite era o vento húmido e quente que ele odiava. Verões eram ruins até sem
sol. Mas tinha Bellatrix ali em seus lençóis. Nenhuma companhia era melhor do
que a de dela. Ela o conhecia e sabia o satisfazer. Ela também conhecia muito
de seus segredos e era sua serva mais fiel.

O belo corpo nu se moveu em sua cama preguiçosamente. Ela se esticou e


abriu os olhos. Aqueles negros olhos provocantes. Sorriu assim que o viu ao pé
da janela.

- Meu senhor. – ela começou com a voz arranhada. – Está quente. – usou
de um falso tom para mostrar que não estava contente. – Preciso de seu corpo
frio. – ela fez seu pedido e Voldemort apenas tirou o charuto da boca e soltou o
ar como se quisesse fazer com que aquele momento fosse eterno. – O que te
incomoda, meu mestre? – ela perguntou quando viu que ele não lhe dava muita
atenção.

Ele tornou a morder o charuto. Apreciou a sensação de tê-lo entre os dentes


depois o tirou da boca para observar seu belo formato e como se encaixava em
seus dedos.
- Você sabe o que me incomoda. – respondeu finalmente enquanto estava
entretido na textura do objeto em sua mão.

Bella se enrolou nos lençóis deitando de bruços para de aproximar mais da


beira da cama, onde ficaria mais próximo dele.

- Odeio quando pensa nela demais. – ela disse com uma cara
completamente desgostosa – Principalmente quando estamos fazemos sexo.

Ele voltou a morder o charuto.

- Vou desejá-la enquanto não puder tê-la. Aprenda a lidar com isso.
- Sei disso. – ela quase rosnou – Saiba que se eu souber que encostou em
um fio de cabelo dela nunca mais irá me tocar novamente.

Voldemort riu.

- Se essa foi uma tentativa de ameaça saiba que soou bastante como uma
piada. - disse soltando fumaça – Te conheço, Bella. Adoraria ver o desespero
dela se eu tentasse tocá-la. Adoraria saber que ela iria conviver com essa
memória.

Bellatrix pareceu fazer pouco caso, mas Voldemort sabia bem que ela adoraria.
Adoraria porque era parte do mesmo princípio que a fizera aceitar o herdeiro vir
dela. Bella era fã de causar traumas nas pessoas, por isso ele gostava dela.

- Quero saber o vai fazer com o bebê que ela carrega? – ela se virou
deixando o corpo a mostra para ele. Os dedos finos se emaranharam em seus
cachos negros distraidamente e Nagini deslizou por cima dela fazendo com que
um sorriso brotasse nos lábios rosados que tinha. – Eu não faria nada que
colocasse a fidelidade de Draco em risco. – disse pousando o dedo sobra a
cobra para sentir a textura enquanto ela deslizava.
Voldemort soltou mais fumaça.

- Draco sabe que o herdeiro é meu, ele sabe ser bastante profissional
quanto a isso.

- Meu mestre... – Bella soltou um riso sedutor. – Estamos falando do


próximo sangue Malfoy a pisar na terra.

- O que é um sangue Malfoy em comparação ao meu, Bella? Eles não


ousariam me desafiar, sabem bem o lugar de quem decide me desafiar.

- Imploro seu perdão se o ofendi de alguma maneira, meu senhor, mas


sabe mais do que ninguém que eu jamais ousaria tocar em sua superioridade.
Apenas digo o que sei que já sabe. Tem aclamado os Malfoy e passado a mão
na cabeça deles por muitos anos. Eles não estão tão acostumados com a sua
fúria. Sei que tem os seus planos, mas considere que Draco é mimado o
suficiente para pegá-lo de surpresa. Hermione é a mulher dele.
Sim, Voldemort sabia de tudo aquilo.

- A fidelidade de Draco está acima do sangue dele e de suas posses. Ele já


me provou isso mais de uma vez. A fidelidade dele está onde há poder. Eu dou
poder a ele. E se há algo que Draco aprendeu a ser depois que se tornou
comensal, é racional. Eu já disse, ele sabe como ser profissional. Ele teme
perder qualquer pedaço de sua posição, poder ou conhecimento e é muito
cuidadoso com isso.

- Mas ele está seguindo um caminho muito estranho com Hermione. –


comentou Bella.

- Eu quero que ele siga esse caminho.

- Por quê?
- Porque gosto de testar a fidelidade de Draco. Eu o conheço bem. Ela é a
única mulher para ele.

Bella riu.

- Eu ainda não aposto nessa teoria. – fez uma pequena reverência


mostrando seu respeito pela opinião contrária. - Hermione é uma Sangue-Ruim
para ele, meu mestre.

Ele soltou fumaça sem pressa. Tirou o charuto da boca e o analisou entre seus
dedos novamente.

- Nós dois sabemos que ela não é. – terminou Voldemort.


20. Capítulo 20

Rony Weasley
Luna Lovegood abriu uma caixa de alumínio com muito cuidado. Uma fumaça
gelada saiu dali de dentro enquanto ela retirava um frasco de vidro preenchido
com um líquido vermelho vivo.

- É o sangue dela. – disse Luna entregando o frasco a Neville. – Só tenho


cinco amostras aqui dentro então é melhor que seja cuidadoso.

- Creio que será o suficiente. – Neville analisou o frasco lançando a Rony


um olhar incerto. Rony sabia que não era suficiente. (Sugestão: que ele estava
mentindo.)

- Hermione não pôde fazer muita coisa nem avançar muito nos estudos,
porque não queria que ninguém soubesse que ela estava mexendo com essas
coisas. Ela não tinha o material necessário e mesmo tentando ser discreta para
adquiri-los era um risco. – informou Luna.

- Bem, - Gina se pronunciou – eu imagino o quanto isso deve ter sido


devastador para ela. - O tom de Gina (sugestão: da mulher, da menina) era
sempre aquele seco quando se referia a Hermione. Rony lançou para a irmã um
olhar de reprovação. – O que foi? – ela retrucou e percebeu que os outros
também a olhavam apreensivos. – Vocês sabem que ela adora desvendar um
mistério!
Rony revirou os olhos e Neville limpou a garganta para perguntar:

- Ela quer que eu faça alguma coisa específica? Quero dizer... Sou bom
com Herbologia e entendo bem de Poções por causa disso, mas não sou
nenhum pesquisador ou especialista como Hermione.

- Ela anotou tudo nesses pergaminhos. – Luna entregou um rolo para ele. –
A marca libera algum tipo de toxina que deixa o sangue dela envenenado. Esse
veneno faz a ponte de ligação entre ela e Voldemort. Ela conseguiu encontrar a
fonte da ligação. Está em um desses cálculos. Gina é boa com cálculos. O que
ela quer é que tentem encontrar uma erva, raiz ou qualquer coisa que reaja
contra o veneno anulando a ponte de ligação ou pelo menos deixando-a fraca.
Hermione anotou alguma opções que talvez possam ajudar, mas ela não teve
como fazer os testes e também disse que essa pode não ser a única maneira de
interferir nessa ponte.

- Me parece que ela tinha bastante tempo livre. – Gina comentou com
aquele tom maldoso novamente. Rony viu Luna desviar o olhar para ela como
se tentasse entender o que havia mudado desde que deixara a Ordem.
Era verdade que Gina e Hermione não se davam muito bem fazia alguns anos,
mas desde que Harry poupara discrição ao deixar todo mundo saber que eles
haviam tido um caso, Gina parecia estar bastante empenhada em soltar
comentários venenosos sobre a antiga amiga Nascida Trouxa.

- Você não vai fazer as pessoas odiarem Hermione, Gina. – Rony disse para
a irmã, um tanto quanto irritado pelo comportamento contínuo dela.

- Não é o que eu quero. – ela retrucou igualmente aborrecida pela


repreensão do irmão.

- É exatamente o que parece que você quer! Mamãe já disse um milhão de


vezes que soa maldoso! Além do mais, ela nunca te traiu! Nem a você, nem a
mim, nem a ninguém. Harry estava livre e ela também.

- Mas ela sabia o que eu sentia! Ela sabia desde sempre! – Gina assumira
sua postura irritada de vez. – Me desculpem, mas não creio que seria uma boa
ideia contar comigo para esse... projeto.
- Gina! – Neville interrompeu – Sério, eu vou precisar da sua ajuda!

- Eu não quero ajudar. – ela deu as costas.

Rony a segurou pelo braço.

- Pelo amor de Merlin, Gina! Está sendo uma criança egoísta agora!
Hermione está em um lugar muito ruim para você achar que tem o direito de
agir assim! Essa sua teimosia não vai durar muito!

Gina soltou-se dele.


- Não me importo. Vão ter que começar sem mim. – foi seu decreto final
antes de sair da sala.

Rony rosnou.

- Luna, eu não sei se vou conseguir fazer isso sozinho. – Neville comentou.

- A idéia nunca foi deixar que você trabalhasse sozinho. – Luna disse.

- Relaxa, cara. – Rony deu um tapa no braço do amigo – Eu sei que tem
muita gente empenhada no véu, mas podemos dividir esses cérebros aí. Talvez
uma das salas do subsolo monte um bom laboratório.

Neville não parecia muito contente com a tarefa. Ele sabia que era
responsabilidade demais receber uma tarefa de Hermione sem ter a ajuda dela
e encheu a boca para dizer isso, mas antes que sua voz saísse o alarme do
andar de baixo tocou. Ele engoliu as palavras e soltou um palavrão.
- Estou de ronda essa semana. – disse e apressou-se pelo corredor.

Rony e Luna trocaram olhares. Ele percebeu que as mãos dela tremeram
quando colocava o frasco com o sangue de Hermione novamente na caixa de
onde havia tirado.

- Tudo bem, Luna. – Rony segurou sua mão. – Só mais um dos sustos
semanais.

- Rony! – Neville reapareceu na porta. – Estão invadindo o bloco


novamente. Precisamos de mais forças lá fora, chame o máximo de gente
possível e veja se Harry está bem trancado em algum lugar. – terminou e
sumiu novamente.

- Parece que esse é um daqueles sustos grandes. – comentou Luna.


- É... – Rony foi obrigado a responder enquanto tentava pensar rápido. –
Vai ficar tudo bem. – pensar positivo fora uma lição que aprendera para
sobreviver ao Quadribol. – Você poderia por favor se certificar de que Harry
está em um lugar seguro? – Luna assentiu – E não deixei que aquela coisa de
herói da história suba a cabeça dele.

- Não sei se vou ser capaz disso. – ela disse.

- Não se preocupe, Harry já superou um pouco dessa parte desde que


Hermione foi capturada. – disse e se enfiou na agitação do corredor.

Harry Potter
Ela usava um giz branco para desenhar no chão de madeira velha da casa de
seus pais. Traçava linhas, setas, círculos e especulava ideias com a voz doce e
determinada que sempre tivera.

- Hermione. – Harry a interrompeu e ela parou. Ergueu os olhos para ele,


soltou o giz e se levantou limpando as mãos no jeans.

Eles trocaram um olhar em silêncio. Depois de todos aqueles anos juntos,


palavras era algo que quase nunca parecia necessário ser usado.

- Me desculpe. – ela se pronunciou. – Eu sei que esse é o seu lugar de


escape, mas não consigo me conter.

Harry não queria puni-la por estar apenas sendo ela mesma.
- Eu não sei se vamos passar do dia de amanhã, Hermione. – ele se
levantou do sofá e foi até ela. – Por favor, só por agora não tente ser a deusa
Hera que há em você.

Hermione riu e aceitou o abraço em que ele a envolveu.

- Nós ainda podemos encontrar...

- Uma solução milagrosa? – ele a cortou encarando seus olhos dourados.


Segurou seu rosto absurdamente maravilhoso banhado pela luz da lua. –
Escute, Hermione. Não me importa se morrermos amanhã. Hoje à noite eu
tenho você e você sabe o quanto gosto de estar aqui na sua companhia.

Ela sorriu.
- Me esforcei tanto para fazer com que você esquecesse que era o Garoto-
Que-Sobreviveu aqui dentro e olhe só eu estragando tudo.

- Vou avisando que não é a primeira vez. – brincou ele.

- Hei! – ela o empurrou e eles riram.

Harry a trouxe para si novamente cercando sua cintura e beijando seu pescoço.
Os cabelos dela sempre cheiravam tão bem. Ele admitia que nunca havia se
dado muito bem com as mulheres. Sua fama fora algo que sempre havia
ajudado, mas ele amava estar com Hermione. Era tão confortável. Não tinha
medos, não ficava nervoso, não se preocupava em tomar cuidado com as
palavras, em parecer idiota, em fazer alguma besteira. Ele gostava de como ela
o anestesiava e o trazia paz.

- Eu quero viver o agora, como se eu fosse alguém normal, como se não


houvesse guerra. Sabe que consigo fazer isso só com você. – ele selou seus
lábios nos dela por um minuto demorado. – Eu não me importo que somos
errados, que o que nos envolveu foram motivações erradas, que nossos laços
são frágeis. Eu não me importo, Hermione. Eu nos vejo agora e aqui. Eu e
você. Amanhã é incerto, o futuro é incerto, mas agora eu tenho você e eu
preciso de você. – adorava se perder no olhar dela. Sondou seu rosto perfeito,
deixou seus dedos percorrerem os lábios que havia aprendido a desejar. – Diga
que também precisa de mim.
Ela sorriu. Um sorriso triste.

- Eu também preciso de você, Harry. – a boca dela disse, mas os olhos


não. Os olhos dela nunca diziam. Ela piscou e percebeu de imediato que não
soara convincente.

- O que foi? – perguntou sabendo exatamente o que ela iria começar a


abordar.

Hermione se afastou. Deu as costas e encarou a rua pela janela por um


momento.

- Sua honestidade soa romântica. – ela lhe lançou um olhar sorrindo e


voltou-se novamente para a janela. – Mas nós existimos apenas aqui, Harry.
Nessas condições. – voltou-se para ele – Se há um futuro para todos nós, ele
apenas existe com o fim da guerra. Consegue nos ver juntos sem a guerra? A
guerra é o que nos une, Harry. Se um dia ela acabasse eu não seria mais sua
paz, não seria mais seu escape. Nem você o meu.

Ela era Hermione Granger, nunca tiraria o pé do chão por mais maravilhosa que
fosse a ilusão.

- Essa pode ser a última noite que vamos ter juntos e é isso que está
escolhendo me dizer?

O olhar dela se contraiu num triste reconhecendo o segundo deslize daquela


noite. Aproximou-se dele num passo só e tocou seu rosto.

- Me desculpe, Harry. – ela parecia mesmo arrependida – Me desculpe, as


vezes eu penso demais algumas coisas mesmo quando não deveria. – ficou na
ponta dos pés e selou seus lábios nos dele por um segundo – Eu te amo. É isso
que escolho dizer. Te amo. Sabe que eu amo. Eu faria qualquer coisa para
colocar um sorriso nesse seu rosto, para te livrar desse fardo, para te ver livre,
livre para... – ele a calou cercando sua cintura, colando seu corpo no dela e a
beijando.
**

O silêncio vez ou outra era preenchido pelo gritos de ordem no andar de cima.
Sapatos pisando forte no piso de madeira chegava até seus ouvidos como um
sinal de que as coisas não pareciam muito fáceis de lidar do lado de fora da
Ordem naquele momento. Invasões no bloco Grimmaud era sempre algo
inesperado, mas eles conseguiam controlar a situação todas as vezes.

Os olhos azuis de Luna estavam paralisados sobre ele. Ela o olhava com
curiosidade, como se não o reconhecesse e ele continuava ali sentado em uma
pequena arquibancada encostada no fim da parede com os cotovelos apoiados
nos joelhos para poder encarar o chão, e não os olhos dela.

- Ela me disse que costumava conversar com você sobre nós. – ele
finalmente disse esperando fazer os olhos dela calarem as perguntas que
faziam em silêncio.

- Quem? – Luna pareceu confusa não entendendo do que ele estava


falando. Claro, ela estava em outra sintonia.
- Hermione. – ele respondeu.

- Ah, sim. – ela pareceu se lembrar. – Sim, ela falava bastante sobre vocês
dois. Já que não tinha mais Gina, eu fui o que restou.

Harry nunca esperara que Luna Lovegood pudesse ter receios, mas desde que
ela perdera seu pai muito dela havia mudado.

- Você acha que ela me amou? – ele perguntou.

- Ela não está morta, Harry.


- Realmente acredita que vamos um dia ficar juntos novamente, Luna? –
ele começou – Foi você quem disse que Voldemort fez dela uma comensal. Ela
jamais poderá sair do lado dele. Eu teria que ir até ela e ir até ela é ir atrás de
Voldemort! Eu não estou pronto para ele! Morreria para vê-la.

- Valeria a pena? – ela perguntou.

Harry já havia pensado naquilo dezena de vezes.

- Claro. – respondeu desviando o olhar.

- Está sendo dramático. – ela disse e ele teve raiva a encarando como se
ela não soubesse do que estava falando.

- Não deveria falar assim do que não sabe, Luna!


- Eu sei de vocês há bastante tempo! Sério, Harry! Olhe para você mesmo!
O que acha que estaria fazendo se isso fosse há um ano atrás? Era preciso uma
equipe inteira para te manter preso no subsolo quando a Ordem sofria ataques
e você ainda encontrava uma forma de escapar. Eu estou sozinha com você
agora e nem tranquei a porta! Está sendo estúpido, ok?! Talvez ela tenha te
amado, talvez ela te ame, talvez tudo que ela fez não passou de uma forma
para te ver feliz no meio de toda essa confusão. Isso não importa! Você tem
uma profecia para cumprir, Harry. Cada um de nós devemos aprender a lidar
com nosso fardo da melhor forma possível. Alguns tem fardos piores do que os
outros, mas não vá se entregar só porque não vê mais esperança e porque não
tem mais a mulher que o faria esquecer que não vê mais esperanças por uma
noite.

- Eu vejo esperança. – ele retrucou – Temos o véu. – ele apontou para o


véu posto no centro da sala onde estavam - Hermione se sacrificou por ele.
Conseguimos coisas incríveis com ele, recrutamos Dementadores, conseguimos
persuadir novos recrutas de Voldemort para o nosso lado, Conseguimos
recuperar o domínio de vilas bruxas que havíamos perdido, conseguimos
vencer batalhas importantes que jamais conseguiríamos, mas eu não consigo
fazer parte disso! Não posso! Se me perguntar como conseguimos isso eu não
saberia dizer. Tudo isso era projeto dela e eu não consigo fazer parte porque
cada reunião, cada discussão, cada estudo, cada planejamento, eles dizem o
nome dela como se não se lembrassem quem ela realmente era.

Soltou o ar e passou as mãos pelos cabelos. Luna ficou o encarando por um


bom tempo. Ele preferia receber os olhares de condenação a ter que falar sobre
tudo que sentia. Era acostumado com olhares de condenação desde Hogwarts.
- Você não a merece. – ela disse e ele se surpreendeu com o que escutou.

Franziu o cenho e ajeitou a postura.

- O que quer dizer? – devia ter escutado errado.

- Você não a merece. – ela repetiu com ênfase enquanto se aproximava –


Eu sei que sua vida não tem sido muito fácil desde sempre, Harry, mas
Hermione também está vivendo bem longe de um mar de rosas em Brampton
Fort e tem vivido bem longe de um também desde que te conheceu. Mesmo
assim ela está trabalhando duro para se manter na guerra e te ajudar. Ela
conseguiu que eu trouxesse todas essas informações, estudou muito para
adiantar o máximo possível e tenho certeza que agora está trabalhando para
tentar encontrar uma nova forma de trazer mais informações para nós. – ela
puxou o ar – Ela está sendo engolida pelo sistema daquela cidade todos os
dias, mas tem permanecido do nosso lado e trabalhando debaixo de todas as
ameaças e perigos daquele lugar! E você, Harry? Eu tenho certeza que se
realmente a quisesse. Se a quisesse de verdade. Se tudo que te importasse
mesmo fosse ela, você estaria agora lutando essa guerra como nunca lutou
antes. Se preparando para Voldemort como nunca se preparou antes. Tomando
a frente e assumindo o lugar que deve assumir para enfrentar sua profecia, dar
um fim em Voldemort e livrá-la da marca que a aprisiona. Assim você a teria de
volta. Mas não é isso que estou vendo, portanto não a merece porque enquanto
ela está do outro lado da guerra lutando por você, você está aqui desse lado,
falando dela como se ela estivesse morta e como já tivesse sido derrotado
por...
- EU TENTEI, LUNA! – ele a cortou não aguentando a acusação. – Eu tentei
ir atrás dela. Fui culpado pelo extermínio de quase metade da Ordem nas
missões suicidas que comandei! Acredite, eu estou aqui porque sei que se me
levantasse para fazer algo, estragaria tudo!

Luna soltou o ar, um tanto indignada.

- Depois de todos esses anos você ainda não aprendeu que agir por
impulso sempre te leva por esse caminho, Harry?

Ele sempre havia achado calma na voz sonhadora de Luna, por mais indignada
que ela soasse.

- É involuntário... – sussurrou encarando os próprios pés. – Estou perdido e


ela era quem conseguia me colocar em ordem sempre que isso acontecia.
- Bem, é hora de ver se ela te ensinou bem. Se consegue se pôr em ordem
por você mesmo agora, certo? – ela colocou a mão em seu ombro. – Precisa
ser inteligente. Hermione era a alma da Ordem e continua sendo. Ela nos deu
trabalho o suficiente me trazendo de volta para cá. Você não precisa ser Harry
Potter. Apenas faça o que ela pediu para fazermos.

Ele considerou. Havia seguido por muitos caminhos desde que levaram
Hermione e nenhum deles deu muito certo.

- Você é uma boa amiga, Luna. – ele comentou e a encarou. Era uma pena
que ninguém quase nunca prestasse atenção nela.

- Sei que sou. – ela respondeu com um sorriso, mas havia ressentimento
ali.

Hermione Malfoy
Arranhava com pressa a pena contra o pergaminho. A ordem das palavras em
sua mente corria mais rápido do que podia escrever e muitas vezes perdia a
linha de raciocínio e tinha que voltar para reler o último parágrafo enquanto
esperava que as palavras perdidas voltassem.

- Não acredito que ainda não está pronta. – Draco anunciou irrompendo
para dentro do quarto.

- Shiii! – pediu ela concentrada em ser pergaminho.

- Estamos atrasados, Hermione! – disse enquanto desfazia o nó da gravata.


- Não estamos. – ela retrucou ainda arranhando a pena no pergaminho. –
Você é quem está sempre preocupado em ser pontual. – se levantou enquanto
ainda lia os últimos parágrafos. – Poderia fechar meu vestido, por favor?

Ele soltou o ar impaciente largando o cinto que desatava para adiantar seu
serviço. Hermione sentiu as mãos dele pousarem em seu quadril e por um
segundo se desconcentrou na palavra que estava lendo. Ele a ajeitou e subiu o
zíper, ela moveu o corpo para ajustar o vestido sem precisar usar as mãos e
moveu-se em direção ao closet ainda sem tirar os olhos do pergaminho.

- O que é isso? – Draco perguntou entretido em sua troca de roupa.

- Eu continuo gerenciando as Casas de Justiça e Theodoro está um pouco


perdido tentando colocar as coisas em ordem enquanto não posso fazer minhas
visitas diárias. – respondeu ela parando um pouco sua leitura para escolher
algum sapato que combinasse com o azul de seu vestido.

- Cartas para Theodoro? – foi mais um comentário para si mesmo. Ele a


olhou pelo espelho quando ela pegou um par de sapatos e deixou o closet
parando apenas para enfiar algum tipo de torrada que havia sobre sua mesa de
joias. – Será que você poderia parar de comer por um segundo, Hermione?
Tem comida em cada esquina dessa casa!
Hermione reapareceu na porta do closet segurando o pergaminho e um par do
sapato em uma mão e tentado colocar o outro no pé.

- Meu corpo está criando uma pessoa, Draco! Será que dava para você
tentar imaginar quanta energia isso me custa? – ela se ajeitou para colocar o
outro par no pé que faltava enquanto ele vestia a calça do terno que iria usar. –
Preciso de uma coruja.

- Compre uma. – ele retrucou sem dar muita atenção a ela. – Você tem
todo o dinheiro da minha conta bancária.

- Há três corujas nessa casa, não precisamos de outra. O problema é que


nenhum delas está disponível no momento. – e ela não usava o dinheiro dele
nem que sua vida dependesse disso. Trabalhava e ganhava o suficiente para
manter o padrão do luxo que lhe era exigido.

- Isso porque elas são minhas corujas e eu as uso para o trabalho que faço.
Não usará nada meu para o seu trabalho, principalmente para mandar
cartinhas para Theodoro.
Ela revirou os olhos.

- Sério, você precisava ter tido um irmão para aprender a dividir suas
coisas.

Ele teve que rir com o comentário e Hermione apenas maneou a cabeça e deu
as costas voltando para o quarto. Chamou por Tryn e pediu que a elfa
encontrasse um modo de fazer com que aquele pergaminho chegasse as mãos
de Theodoro o mais rápido possível.

Recolheu todo o trabalho que havia movido da biblioteca e da Casa de Poções


para o quarto quando o horário começara a ficar apertado no fim do dia antes
que Draco reclamasse da bagunça. Checou seu cabelo e sua maquiagem no
espelho quando Draco saiu impecável de dentro do closet.

- Nossa carruagem está pronta? – ele perguntou enquanto fechava os


botões dos pulsos.
- Não sei, foi você quem acabou de descer de uma, não foi? – ele havia
deixado Brampton Fort pela manhã e só havia voltado agora.

Draco soltou a ar impaciente e chamou por Tryn que acabou tendo a ordem de
Hermione adiada para cumprir a dele.

- Você está pronta? – ele perguntou vestindo o terno

Ela terminava de ajeitar seu penteado. Mostrou as mãos nuas para ele e disse:

- Joias. – era o que faltava. Entrou novamente para o closet, sentou-se em


sua mesa e começou a colocar os itens que já havia separado parando apenas
para enfiar mais algumas torradas na boca.
Olhou pelo espelho o reflexo de Draco quando ele apareceu logo atrás. Estava
pronta para informar que não demoraria mais nenhum segundo quando ele
colocou na mesa de frente para ela uma caixa de couro lisa com um alto relevo
que a espantou. Ela conhecia aquela marca de todo o estudo com Narcisa sobre
como ser rica e derivados.

- Guarde. – ordenou ele.

Ela quase nem o escutou, puxou a caixa para si e abriu. O colar era fios de
prata que se entrelaçavam fazendo surgir pedras vermelhas entre os espaços
que se estreitavam a media que faziam o desenho do pescoço. Era a pedra da
Família. Hermione não conseguia nem ter ideia do quanto aquilo havia sido
caro. Ele não havia comprado aquilo em nenhum lugar em Brampton Fort.

- Pensei que o aniversário fosse seu. – ela comentou passando o dedo


sobre o objeto que parecia até mesmo irreal tamanha a perfeição. – Devo me
culpar por não ter escolhido nada para você?

- Meu aniversário já passou e não gosto de presentes. – o tom dele deu a


entender que o presente que ela recebia não era exatamente para agradá-la. –
Logo o Lorde irá permitir que as pessoas saibam que está grávida, portanto
quero que use isso.

- Assim elas pensarão que você mal pode se aguentar de tanta felicidade e
me deu um presente como esse logo que soube da notícia. – ela fechou a caixa
e o encarou pelo espelho. Não havia nenhuma expressão em seu rosto como
sempre, mas o olhar mostrava que ele não havia ficado contente com o tom
irônico que ela usou. – O que nós dois sabemos que não é verdade. – ela
concluiu.

- Apenas guarde, Hermione. – foi o que ele respondeu, deu as costas e


sumiu.

Hermione puxou e soltou o ar. Guardou seu caro presente e se levantou para
alcançá-lo a porta do quarto. Desceram juntos, cruzaram a sala principal,
saíram para o lado de fora e foi exatamente quando desciam as escadas da
varanda principal que ela avistou uma ave escura pela noite descer numa
velocidade que a alertou.

Draco parou assim que a ave pousou num dos braços da carruagem. O animal
era completamente reconhecível. Negro, grande, olhos vivos e vermelhos. Era a
coruja de Voldemort.
- Mandar uma coruja parece bastante civilizado da parte do Mestre. –
comentou Hermione.

Draco não disse nada, apenas avançou e pegou o pergaminho que o animal
carregava. Ele logo voou e foi embora fazendo saber que Voldemort não
esperava resposta. Levou alguns poucos segundos até que Draco terminasse de
ler.

- É para nós. – ele comentou e estendeu o pergaminho para ela.

- Nós? – estranhou.

- Sim, Hermione. Eu e você. – ele pareceu irritado com a demora dela em


pegar o papel. Ela o pegou receosa e leu. Era uma intimação para o almoço do
dia seguinte no salão de jantar do ciclo interno. Leu e releu diversas vezes. De
algum modo seu cérebro parecia querer procurar por algum erro ali naquelas
linhas. – Hermione! – ele exclamou seu nome e quando ela ergueu os olhos ele
já estava dentro da carruagem. – Precisamos chegar lá ainda hoje.
Ela entrou, fechou a porta e Draco bateu na cabine. Em menos de um minuto já
estavam avançando pelas ruas estreitas da Vila dos Comensais. Hermione
observou bem Draco enquanto o silêncio se assentava entre eles como sempre.
Ela queria um vacilo da expressão crua que ele usava com frequência.

- Nós vamos? – ela perguntou.

- Claro que vamos. – ele respondeu sem olhá-la.

Ela já sabia aquela resposta. Havia sido uma pergunta estúpida e ele
respondera de modo estúpido por justa causa, mas queria ter a miserável
esperança de que ele dissesse que não era necessário ou obrigatório que
realmente fossem.

- Devo me preocupar? – dessa vez tratou de fazer uma pergunta que não
fosse estúpida o que fez ele desviar o olhar da janela para ela.
Ele a encarou por alguns segundos como se estivesse pensando em uma
resposta.

- Talvez fosse bom que não pensasse muito sobre isso. – ele se decidiu por
responder e tornou a se focar na janela.

Hermione ainda o encarou por alguns minutos e percebeu que talvez ele
também estivesse se perguntando a mesma coisa e que a resposta dele fora a
melhor tanto para ele quanto para ela. Eles nem ao menos sabiam se seria um
encontro privado ou coletivo.

Desviou o olhar e deixou o pergaminho de lado. Torceu para que fosse apenas
mais um daqueles encontros coletivos tediosos num horário incomum. Tocou a
própria barriga quando a vida lá dentro lhe cutucou. Olhou o volume sobre o
tecido fino de seu vestido e deslizou sua mão por ele. Se sentia bem mais
grávida nesse segundo trimestre. Começava a sentir que sua pressão caía com
facilidade por pouca coisa, se cansava com mais rapidez e os hormônios
queriam consumi-la alguns dias. Não se sentia inchada, não tinha muita fome,
mas sentia vontade de comer algo sempre com muita frequência. Enjôos
haviam ficado para trás embora alguns cheiros a incomodasse e sua barriga
crescia em cada noite o dobro do que já havia crescido até ali. Ela tinha sonhos
estranhos com cores que mexiam com sensações de emoção. Tudo aquilo para
ela era absurdamente novo, queria alguém para compartilhar aquela
experiência, queria ouvir se outras mulheres haviam passado pela mesma
coisa, queria ter seus amigos podendo paparicá-la e às vezes tudo que tinha
era Narcisa Malfoy que nem sempre era alguém acessível.

Levantou os olhos e encontrou Draco a encarando. Era quase difícil acreditar às


vezes quando se lembrava de que a primeira experiência que estava tendo de
uma gravidez era com o filho do homem sentado a sua frente. Nunca em sua
vida inteira ela imaginara que seria justamente com ele, o menino loiro
insuportável de Hogwarts. Havia acreditado, quando estava na Ordem, que o
momento em que Draco Malfoy apontasse a varinha para ela durante alguma
batalha, esse seria o momento de sua morte.

- Eu o sinto com mais frequência agora. – ela comentou deixando sua mão
fazer o caminho de sua barriga novamente. Sabia mais coisas também, mas
obviamente que Draco não estaria interessado em ouvir.

- O que mais? – ele perguntou e embora que tivesse sido em um tom até
desinteressado ela se surpreendeu.

Puxou o ar e se ajeitou sentindo uma pequena pontada de alegria vinda do


além.
- Acredito que ele possa sentir e ouvir coisas agora. – disse – Li em um
livro.

- Não deveria fazer isso. – ele comentou. Ela sabia que não, não deveria se
apegar.

- Sei disso. – respondeu. Puxou o ar e desviou o olhar – É apenas ruim


demais viver sem respostas para aquilo que mais tem me importado no
momento.

Hermione esperou que ele fosse dizer que o que fazia era errado. Que se
importar com algo que não seria seu era no mínimo o que Voldemort queria
que acontecesse. Mas ele não disse nada. Ele sempre dizia, mas se manteve
calado. Olhou-o, e ele a olhava de volta. Havia algo ali e ela não conseguiu
captar.

Pararam de frente a enorme mansão de Lucio e Narcisa. Hermione achava a


casa de Draco grande, mas todas as vezes que ia até ali entendia o porquê de
Voldemort havia uma vez sugerido que ele conseguisse uma casa nova antes
de se casar.
- Nós não temos a intenção de ficar por muito tempo. Entendido? – ele
cochichou para ela assim que passaram para o lado de dentro do hall bem
iluminado.

Hermione apenas assentiu. Draco não tinha o menor interesse de estar ali,
principalmente porque a família inteira estaria junta e se havia algo que
Hermione entendera sobre Draco durante todo o tempo que estavam juntos era
que família era sinônimo de desgosto para ele.

Assim que foram acomodados na sala principal Narcisa surgiu com um sorriso
bonito de se olhar. Era tão caloroso para o padrão de frieza ao qual havia se
acostumado que Hermione sentiu a necessidade de retrucar tentando abrir seu
próprio sorriso com dificuldade. Não era como ser recebida por Molly Weasley.
Não teria abraços, beijos, apertos de bochecha nem elogios de como havia
crescido e estava linda, mas era o mais próximo que receberia disso. O sorriso
de Narcisa. Ela estava feliz, afinal família para ela, por mais destruída que
estivesse, não passava perto do desgosto de Draco.

- Vejam só quem está aqui. – ela se deixou ser ouvida.


A princípio Hermione pensou que ela estivesse se referindo a presença deles,
mas então ninguém menos que Pansy Parkinson surgiu logo atrás andando em
seu gingado único com sua roupa sempre marcante. Hermione deixou morrer o
sorriso que com tanta dificuldade conseguira puxar num segundo.

- Já estou de saída. – ela mostrou as mãos em sinal de paz. – Não vim


estragar a festinha de vocês. Vim mais cedo conversar com Narcisa e acabamos
perdendo a hora. – ela sorria para Narcisa e Draco ignorando a presença de
Hermione. – Estava apenas esperando a carruagem da Catedral. – parou bem a
frente de Draco em sua melhor pose e lançou a ele um olhar muito
significativo. – Alguém ainda não foi buscar o presente de aniversário. – o tom
foi sedutor e Hermione se viu puxando o próprio ar. Era claro qual o presente
que ele ainda não havia ido buscar.

- Pansy. – Narcisa pigarreou e Hermione quase pôde escutar a conclusão


pedindo para que ela tivesse um pouco mais de respeito.

Draco cruzou os braços sem desviar o olhar de Pansy que havia ignorado o
chamado de Narcisa. Ele sorriu. Hermione sentiu uma agonia lhe crescer e se
conteve para não abrir a boca.
- Se está tentando fazer Hermione ter ciúmes com esse comentário está
perdendo seu tempo, Pansy. Conhece o tipo de relação que temos. Tente
atingi-la de outra forma.

- O comentário foi para você. – ela disse a ele e direcionou o olhar para
Hermione parando alguns segundos em sua barriga visível. – E eu não sei mais
que tipo de relação vocês dois tem. – lançou um último olhar desgostoso para
ele e deu as costas. – É sempre um prazer, Cissa. – ela se despediu – Sei o
caminho da porta.

- Volte mais vezes, querida. – Narcisa usou de um tom extremamente


educado.

Hermione observou os cabelos longos e negros de Pansy arrastarem de um lado


para o outro em sua lombar enquanto se retirava da sala.

- O que ela queria aqui? – Draco logo perguntou num tom baixo para a
mãe.
- Ver Hermione. Essa é minha maior aposta. Pansy sabia sobre seu jantar
de aniversário hoje. – respondeu Narcisa dando a volta para se aproximar de
Hermione. – Desde que Hermione se afastou da Catedral os rumores sobre uma
possível gravidez tem aumentado cada vez mais. O Diário do
Imperador mencionou mais uma vez a ideia e isso tem levantado a curiosidade
de muita gente. – ela direcionou o olhar para Hermione. – Como se sente?

Hermione puxou o ar hesitando no que responder.

- Bem. – optou por ser objetiva.

- E quanto ao meu neto?

Aquela era uma pergunta ainda mais difícil de se responder.


- Eu também gostaria de saber sobre ele. – foi o que ela disse.

O olhar dela se compadeceu sobre Hermione. Narcisa se aproximou e tocou seu


braço.

- Está ansiosa para ver o rostinho dele? – ela usou um tom muito amigável
e Hermione quase sentiu como se estivesse tendo a gestação de qualquer
mulher normal.

Mas a verdade era que não estava e pensar no rostinho de seu filho fez com
que suas vistas embaçassem e ela tivesse que engolir o nó em sua garganta.
Queria poder desejar ver o rostinho de seu bebê, mas tudo que ela desejava
era que ele continuasse ali dentro dela, seguro e saudável. Pelo menos ali ele
era dela e ninguém lhe poderia tirar.

Desviou os olhos para Draco que a encarava sentado de uma poltrona por um
segundo, abaixou os olhos para a própria barriga e a tocou. Forçou um sorriso,
limpou a garganta e assentiu com a cabeça.
- Talvez sim. – respondeu baixo.

- Bom. – Narcisa disse, a olhou por uns segundos e se afastou. Havia algo
ali.

- Onde está meu pai? – Draco se manifestou.

- A caminho. – ela respondeu. – Acredito eu. – acrescentou. – Conhece seu


pai, Draco. – ela tratou de dizer ao ver a expressão insatisfeita dele. – Fiz seu
prato favorito. – desviou o assunto.

- Você fez? – ele ergueu uma das sobrancelhas desconfiado.

Ela rolou os olhos e sorriu.


- Eu dei uma ajudinha.

- Dando ordens?

- Agora você está sendo maldoso. – ela apontou o dedo para ele que riu.

- Hermione sabe cozinhar. – Draco comentou pegando-a de surpresa. –


Deveria pegar algumas dicas com ela.

Narcisa desviou um olhar curioso para Hermione.


- Sabe cozinhar? – ela parecia um tanto surpresa.

- Um pouco. – Hermione respondeu e o viu revirar os olhos. Draco


condenava a modéstia. – E como você sabe disso? – ela se dirigiu a ele. –
sempre se surpreendia com o Draco que ele podia ser perto da mãe.

Ele se ajeitou em sua poltrona de um modo muito confortável.

- Existem três lugares prováveis de te encontrar em casa, Hermione: O


sótão, a biblioteca e a cozinha. – ele estava tão certo sobre aquilo, ela até
gostaria de ir mais vezes ao jardim, que era absolutamente maravilhoso, porém
o estado do céu sempre a desanimava. – E não pense você que não sei quando
cozinhou para o jantar.

Foi a vez de Hermione erguer as sobrancelhas. Observou quando Narcisa


sentou no braço da poltrona de Draco e passou o braço ao redor de seu ombro.
Os dois pareciam relaxados e a olhavam descontraídos.
- Por que não disse que sabia que eu havia feito a comida? – ela se sentiu
mais confortável com o ambiente.

Ele deu de ombros.

- Havia necessidade?

- Iria gostar de saber se havia gostado.

Um sorriso dele foi contido. Ele piscou com calma e disse:

- Eu gostei. – findou. – Pode cozinhar o jantar quantas vezes preferir por


mim. – mostrou as mãos.
Narcisa riu.

- Ele está me alfinetando, Hermione. – ela interferiu com um sorriso. –


Draco sabe que eu ficaria enfurecida se a impressa soubesse que um Malfoy se
aventura pelos cômodos dos empregados da casa porque não consegue largar a
velha vida plebéia que tinha. – ela dizia aquilo sem ao menos saber que a
ofendia. Hermione sabia que não era a intenção dela. Ela havia sido criada em
outro mundo. – De qualquer modo, Draco pareceu ter gostado e não vou me
opor ao fato de que isso me instigou curiosidade. Adoraria experimentar
qualquer coisa feita por você porque sei o quanto é difícil agradar esse garoto.
– ela puxou a orelha de Draco num ato tão maternal que infantilizou todo o
aspecto masculino do homem na poltrona. Hermione teve que sorrir diante
daquela cena e bem ao contrário do que ela esperava, ele não a afastou nem se
irritou com o tratamento, ele parecia muito confortável e bastante distraído. –
Me diga Draco, o que ela cozinha que mais gosta?

- Ela sabe fazer peixe muito bem. – comentou ele erguendo as


sobrancelhas para sua mãe. Eles pareciam muito interessados naquilo, como se
fosse algo tão incomum para a realidade que viviam que era como se
estivessem discutindo alguma habilidade exótica que Hermione possuía. – O
que foi aquilo que fez há umas duas semanas atrás? Você faz com frequência. É
como se fosse um prato adicional.

- Espinafre? – não tinha certeza se era daquilo que ele estava se referindo.
- Sim. – ele concordou. – É bom. – informou a sua mãe. – As sopas
também são muito boas.

- Ora se isso não é bastante interessante. – comentou Narcisa realmente


impressionada. Ela se aproximou de Hermione. – Me deixe ver suas mãos,
espero que elas não estejam comprometidas devido a esse trabalho. – ela
analisou as mãos de Hermione que simplesmente deixou. A mulher tinha suas
crenças e Hermione não perderia seu tempo convencendo-a de que cozinhar
não era um trabalho escravo. – Tem certeza de que isso lhe serve de
entretenimento?

- É um bom passatempo. – Hermione sorriu. – É como fazer poções.

- Ah, sim. Você adora poções. – ela sorriu de volta – Que elfo lhe ensinou
essa tarefa? – Hermione podia perceber pelo tom dela de que era
absolutamente incomum aceitar que ela talvez tivesse se sujeitado a adquirir
experiências de Elfos Domésticos.
- Nenhum. – respondeu Hermione. – Minha mãe me incentivou bastante
em casa, por isso me dei bem com poções quando entrei em Hogwarts. Molly
Weasley foi quem mais me ensinou.

O sorriso de Narcisa amarelou e Draco prendeu um riso.

- É, ela tinha que cozinhar para muita gente. Precisava mesmo de uma
ajuda. – comentou Draco e aquilo sim havia soado ofensivo. Hermione sabia
que ele se referia a quantidade de filhos da Sra. Weasley como um exagero
proveniente de sua classe social. Hermione se lembrou porque Draco Malfoy era
odiável. – Você é mesmo bem estranha, Hermione. – ele se levantou. – Bem
diferente.

- Todos sorrindo? – a voz de Lucio soou alto assim que ele passou para o
lado de dentro da sala. – Será que finalmente tenho uma família feliz? – ele
parou e encarou Hermione – Não, você não está sorrindo. – ele sorriu – Mas
todo nós sabemos que faz todo o sentido nunca sorrir, primavera. – piscou para
ela. – Como está meu aniversariante? – Lúcio abriu os braços para o filho.

Hermione observou o comportamento de Draco mudar em segundos. Ele logo


se vestiu de sua figura mais comum. Sério, frio, calculista. O Draco de
segundos atrás virou quase uma figura de algum delírio seu.
- Você está atrasado. – Draco o olhou com uma seriedade profunda.

- Estive ocupado.

- Me ensinou a nunca estar atrasado. – sempre havia rancor em seu tom


quando se dirigia ao pai.

- Faça o que eu digo e não o que eu faço, certo? – bateu no ombro do filho
e riu. Draco se esquivou para longe. – Parabéns atrasado. É uma pena nunca
mais termos nos instalado na Travessa do Tranco um final de semana para
comemorar essa data como nos velhos tempos, não acha?

- Eu colocaria fogo naquele lugar com prazer. – Hermione podia ver que
Draco estava a um passo de começar a vociferar suas palavras.
Narcisa pigarreou para chamar atenção e afastar as faíscas que havia entre a
troca de olhares de pai e filho.

- Querido, é sempre bom te ter em casa. – ela se aproximou de Lúcio. –


Nós todos sabemos que é ocupado e entendemos seu atraso. Não é fácil ser
Primeiro Ministro. – Passou as mãos pelas costas do marido enquanto Draco se
afastava com desgosto das palavras da mãe e da cena que presenciava. – Já
que estamos atrasados, sugiro pularmos para a parte princi... – sua voz morreu
ao ver Draco deixar a sala. – Bem... – limpou a garganta – Parece que alguém
já pensou nisso. – e forçou um sorriso. – A mesa está pronta.

Hermione acompanhou quando todos seguiram para a sala de jantar. Draco


bem a frente. O local de destino acabou não sendo exatamente o lugar onde ela
já havia jantado com os Malfoy algumas vezes. Era menor, mais aconchegante,
mais reservado. A escala um tanto monumental do que ela se lembrava da sala
de jantar daquela casa havia certamente se perdido ali. Não entendia o porquê,
sabendo que Draco gostava de distâncias, principalmente quando se dizia
respeito a compartilhar um ambiente com o pai.

A mesa ficava em um nicho sobre um curto patamar elevado a sala que o


cercava. Havia muita madeira, tapeçaria e pequenos lustres. Era quase um
pouco menor do que a sua mesa de jantar. Hermione se colocou ao lado de
Draco e todos puderam sentar somente quando Lúcio tomou seu lugar ao lado
de Narcisa e não na cabeceira assim Hermione e Draco ficaram bem a frente de
Lúcio e Narcisa.
Negar se sentar a cabeceira deveria significar algo que Hermione começara a
especular. Lançou um olhar a Draco esperando ver nele a reação de surpresa
por seu pai ter se negado sentar em seu lugar de direito, mas não havia nele
nenhum tipo de reação.

- Estive pensando se poderíamos adiantar...

- Cissa, querida. – Lúcio a interrompeu. – Iremos comer e só depois iremos


discutir, certo?

- Ela organizou isso. – Draco tinha um tom longe do agradável enquanto


cobria as pernas com seu guardanapo – Não acha que ela teria o direito de
proceder da forma como quisesse?

- Posso não ter sentado em meu lugar, mas eu quem ainda dito as ordens.
– Lúcio estalou o dedo e ordenou pelo jantar que logo foi servido. – Me diverte
querer defender os possíveis “direitos” de sua mãe. – ele riu consigo mesmo
enquanto pegava seus talheres e preparava a comida em seu prato com eles. –
Duvido bastante que considere os direitos de Hermione dentro da casa de
vocês. – levantou os olhos para Draco com um sorriso de lado e uma
sobrancelha levantada e então enfiou uma garfada de comida na boca com uma
expressão bem satisfeita.

Draco parecia furioso o suficiente para não mover um músculo sequer.


Hermione sabia que quando ele estava furioso e precisava se controlar quase
nem respirava. Se cansara de observá-lo naquele estado. O som de Narcisa
limpando sua garganta soou.

- É melhor nos concentrarmos no jantar. – ela se fez soar em seu tom


amigável e seu sorriso amarelo.

- Me diga se ele considera os direitos que muito provavelmente deve


reivindicar, Hermione. – Lúcio ignorou a mulher e insistiu no assunto encarando
Hermione com aquele olhar de quem podia enxergar através de suas roupas.
Ela ficou em completo silêncio. – Não me diga que vai se calar? – ele insistiu. –
Vai ficar do lado do maravilhoso marido que tem? – ele riu e encarou Narcisa –
Não sabia que havia a treinado para ser igual você também.

Draco fez o menor sinal de movimento com intenção de se levantar e em um


reflexo Hermione o deteve o segurando pelo pulso. Sabia quais eram as
consequências de quando ele saía de seu estado imóvel quando estava irritado.
Draco parou a tempo recebendo o recado de que tudo que Lúcio queria era
apenas implicar. Ela logo deslizou a mão para longe dele. Ainda era estranho
tocá-lo. Tocavam-se apenas quando faziam sexo e nada muito além disso.

- Hum... – Lúcio engoliu sua comida – Estive me questionando se você


preparou algum bolo para cantarmos parabéns, Narcisa. – riu de seu próprio
comentário.

Em situações como aquela Hermione conseguia entender perfeitamente todo o


comportamento de Draco em Hogwarts.

- Não acha que já é o suficiente por hoje? – Draco disse com o olhar
voltado para o pai enquanto pegava os próprios talheres. Hermione podia sentir
a tensão que emanava ao seu lado.

Lúcio abriu a boca para retrucar, mas Narcisa foi mais rápida:
- Por favor rapazes, nós estamos aqui para algo muito maior do que isso.
Poderíamos deixar a falta de civilidade de vocês para bem depois. – disse ela e
Hermione achou completamente injusto que a falta de civilidade tivesse sido
atribuída também a Draco. Mas logo fez sentido quando imaginou que Narcisa
nunca se permitiria acusar o amado marido.

As bocas se calaram, mas a de Lúcio ainda tinha aquele sorriso de que sabia
que era uma ameaça. Lúcio lembrava muito de Draco em Hogwarts, a forma
como jogava suas palavras apenas para implicar. Hermione se perguntava se
Draco havia mesmo mudado ou se apenas vestia aquela máscara inexpressiva
e fria para evitar agir como o pai que tanto desprezava.

O silêncio seguiu pelo jantar. Era sempre triste estar sentado entre eles. Todas
as vezes que se sentava a mesa dos Malfoy para qualquer refeição, se
lembrava dos Weasley em suas férias de Hogwarts. Dos barulhos, das risadas,
das conversas separadas, dos gêmeos, da movimentação e da comida
maravilhosa. Havia sido um passado muito colorido, porque tudo havia mudado
depois da guerra. Mas os Malfoys, ela se questionava se aquele silêncio havia
os acompanhado desde antes da guerra, se havia sido morto assim para eles
desde sempre. Eram uma família e sabiam apenas conversar sobre negócios,
negócios, futuro, negócios, dinheiro, negócios, planos e negócios. Se por algum
motivo o assunto escapasse o medo de haver uma grande confusão passava a
ser uma ameaça forte o suficiente para os fazerem se calar novamente.

- Ouvi dizer que irão quebrar a estátua de gelo do parque de inverno. –


Hermione comentou tentando parecer distraída. Todos pararam para olhá-la
por um segundo como se ela estivesse fazendo algo de errado. Na verdade ela
sabia que estava, Narcisa havia a instruído a ficar sempre calada durante as
refeições. Malfoys não conversavam durante as refeições, era falta de etiqueta,
mas Hermione sabia que quando ela era uma Black conversar durante as
refeições não era falta de etiqueta. Malfoys apenas não sabiam ser uma família.
- Você quer dizer da entrada sul? – Narcisa foi quem se manifestou a
respeito, talvez para não fazer desfeita. Ela era sempre muito preocupada em
manter a classe e a educação.

- Sim. A que nunca derrete. – confirmou Hermione.

- Ah. – ela fez um som de desapontamento – É uma pena. É uma estátua


bonita. Por que farão isso?

- Parece que a magia para mantê-la inteira fora do inverno é de alguma


maneira prejudicial ao entorno. São questões do departamento de urbanização
da Sessão da Cidade. – Hermione tentou manter a conversa o mais natural
possível.

- Soube que irão dar um dia de sol para o último dia de verão. – Narcisa
continuou – Isso pode ser uma boa notícia para você.
- Amanhã? – Hermione ergueu as sobrancelhas. Narcisa sabia sobre suas
reclamações em não ver o sol brilhar.

- Sim. – ela confirmou.

- Como sabe disso? – Draco se manifestou perguntando para mãe. – Não


há nenhuma sessão sobre o tempo no Diário do Imperador.

- Vamos mesmo conversar sobre o tempo? – Lúcio interferiu. Era claro que
ele não estava gostando da falação.

- Bellatrix me mandou uma coruja essa tarde me informando sobre o fato e


me convidando para almoçar com ela em algum quarto recluso sem janelas. –
Narcisa disse ignorando o comentário do marido e a forma como soara
levantando as sobrancelhas e ironizando o estilo único de Bellatrix fora
engraçado o que fez com que os três sorrirem deixado Lúcio perplexo. –
Apenas espero que ela não invente de fazermos isso nas masmorras. Você sabe
como ela ama aquele lugar.

Draco soltou um riso fraco e distraído quando a mãe se direcionou a ele.


Hermione percebeu ter um sorriso no rosto. Não um grande, mas um satisfeito.
Era a primeira vez que via a mesa de jantar dos Malfoy com alguma mínima
vida.

- O Lorde também nos mandou uma coruja. – Draco comentou. – Nos


intimou para um almoço amanhã.

Narcisa ergueu as sobrancelhas.

- Você e Hermione? – ela pareceu interessada com o fato. – Talvez tenha


sido por isso que Bella me convidou para o almoço, o Mestre estaria bastante
ocupado para gastar tempo com ela.
- É curioso o fato de ser um almoço. – Hermione comentou. – Não soa
nada aleatório a escolha de uma refeição no meio do dia.

Narcisa deu de ombros.

- O mestre não os atenderia em um horário como o jantar. É importante


demais e normalmente é um horário separado para o ciclo interno. Ficariam
sabendo se a sala de refeições dele fosse fechada durante o jantar para receber
um casal exclusivo. Rumores sairiam correndo com facilidade e logo teríamos
isso estampado no Diário do Imperador. Até onde sei ele ainda quer a realidade
da gravidez bem longe do conhecimento das pessoas. Talvez esteja apenas
tentando evitar a imprensa. – Hermione apenas assentiu em resposta e abaixou
o olhar para o seu prato de comida. – Você me parece bastante preocupada.

- Eu acredito ter o direito de estar. – Hermione não usou de um tom rude.


Ergueu os olhos para Narcisa e notou que não apenas ela a encarava, mas
Draco e Lúcio também pareciam interessados em sua figura. – Há alguma razão
para eu não estar? – ela perguntou pulando seus olhos de um para o outro.

Narcisa se ajeitou em sua cadeira enquanto a mesa era trocada para receber
chá. Ela se voltou para Draco e ele piscou com calma e passou o olhar para os
outros da mesa. De repente um botão finalmente parecer acender no cérebro e
passou os olhos novamente pela mesa e tornou a encarar Draco.
- Não estamos aqui por causa do seu aniversário, estamos? – ela se viu
perguntar.

- Não, primavera. – Lúcio foi quem abriu a boca e ela logo direcionou seu
olhar para ele. Não gostava daquele nome, a fazia lembrar de como Draco
sempre tinha um apelido para dar a alguém em Hogwarts. – Estamos aqui para
negociar.

Negociar. Claro. Malfoys não se reuniam para fazer jantares de aniversário.

- E eu sou o objeto da negociação de vocês. – ela concluiu aquilo pela


forma como parecia ser a única ali que não sabia o que estava acontecendo.

- Sim, primavera.
- Pare de me chamar por esse nome. – dessa vez ela foi realmente rude. –
Por que eu seria o objeto de negociação de vocês?

- Não um objeto... – Narcisa interrompeu.

- Você está carregando o próximo Malfoy da linhagem, Hermione. – Draco


passou por cima da mãe. – E eu não sei se percebeu, mas tem uma situação
muito delicada envolvendo tudo isso.

- O acordo que temos com o mestre deixa claro que ele terá total direito
sobre a criança. – Lúcio começou. – Mas o sobrenome Malfoy ainda pertencerá
a ela. Sendo assim o legado que deixaríamos seria um Malfoy como herdeiro de
todo o império do mestre. Entretanto eu, você e todo o restante do mundo
sabemos que Lorde Voldemort não tem sequer a mínima intenção de deixar
esse mundo, o que significa que ainda teríamos uma história ao lado do maior
imperador de todos os tempos. – ele fez uma pausa. O chá continuava
intocado. – Há uma chave nesse mar de maravilhas que ficaria gravado em
nossa história que muda tudo. – ele continuava a encarando como se esperasse
que ela fosse dizer que chave era aquela.
- O mestre é um líder das trevas, Hermione. Todos sabemos disso. –
Narcisa tomou a palavra percebendo que Hermione ainda continuava confusa. –
E por mais que hoje em dia a fachada de que maldade é apenas uma questão
de ponto de vista tenha vendido muito bem, as pessoas sabem que o seguem
porque o temem, porque não querem viver como você costumava viver sendo
uma rebelde. Ele é um imperador, repressor, ditador. O dia que ele cair, a
queda será muito grande e nesse dia o nosso nome não poderá estar ao lado
dele.

- O mestre está em seu apogeu. – Draco disse – Todo apogeu entra em


declínio uma hora ou outra, você conhece história muito bem. Não há como
manter um reinado como o dele eternamente por mais esforço que se faça. –
ele a encarou – Eu não quero o meu filho nas mãos de Voldemort.

Hermione sentiu suas extremidades formigarem e suas vistas embaçaram


quando seus olhos se encheram de água. Será? Será que havia qualquer réstia
de esperança para se beber?

- Por favor, diga que vai salvar meu bebê. – ela sussurrou sentindo um nó
torcer sua garganta.

- Claro que nós acreditamos que o tempo de Voldemort ainda é muito


incerto. – Lúcio interrompeu – Ele ainda está muito estável no poder. –
bebericou de seu copo - Nós poderíamos deixar que o Mestre tivesse a criança.
Há o prometido de que ela saberá o valor de seu sobrenome e como um Malfoy
saberia bem administrar o futuro do nome que carrega. Todo Malfoy sabe que
nós nunca caímos e deve estar preparado para o que for para nunca cair. Mas
ainda seria incerto. Essa criança não cresceria debaixo de nosso poder e não
temos o menor conhecimento de como Voldemort pretende criá-la. Passar uma
geração seria arriscado demais e nós não jogamos no campo do arriscado.
Temos que tomar a responsabilidade por isso.

Hermione sentia seu coração bater acelerado. Sim, ela faria qualquer coisa.
Sentir esperança parecia tão imensamente maravilhoso depois de todo o poço
em que havia descido.

- Draco esteve em alguns países do leste Europeu esses últimos dias. –


Narcisa disse - Conversou com alguns grupos bruxos centenários que se
mantém reclusos a guerra devido a tratados do Ministério. Lúcio foi a Itália e
Alemanha conhecer alguns orfanatos trouxas de fácil acesso por chaves de
portais anônimas e em áreas de pouca cobertura da magia de monitoramento
do Ministério. Encontramos bons lugares, mas ainda existe uma barreira a ser
vencida: confiança. Me diga Hermione. – ela reclinou sobre a mesa unindo as
mãos – O quanto você confia na Ordem da Fênix?

Nesse ponto ela se sentia desesperada em chegar ao fim daquela conversa e


saber que seu bebê estaria longe de Voldemort assim que nascesse.

- Minha vida. – ela se sentiu ofegante – Eu confiaria minha vida a eles sem
hesitar.
- Você acreditaria, com veemente certeza, que...

- Sim. – Hermione adiantou Narcisa – Eles cuidariam do meu filho. Não por
ele, mas por mim. Cuidariam e protegeriam. Eu posso afirmar isso com toda
certeza. – Hermione podia julgar que até mesmo adrenalina seu sangue deveria
estar recebendo naquele momento.

Narcisa, Lúcio e Draco trocaram olhares.

- Hermione. – Draco começou com calma. Seu nome fluindo da boca dele
soava bonito e eram raras as vezes que Hermione apreciava isso. – O quão
segura é a sede da Ordem da Fênix?

Ela franziu o cenho.


- Você sabe o quão segura é. – sua voz parecia uma oitava acima. – Nunca
conseguiu entrar lá.

Draco puxou o ar ainda com calma.

- Hermione, nós sabemos o lugar, sabemos até qual é a magia de


segurança. É apenas muito difícil quebrá-la. – ele continuou.

- Mas é um lugar seguro! – exclamou Hermione.

- Como pode ter certeza disso? – Lúcio soava sempre bastante profissional.
- Eu sei! Eu criei toda a segurança! Sei que as pessoas ali dariam a vida
para proteger meu filho se eu pedisse que fizessem. – ela sentou mais ereta
em sua cadeira – Eles são confiáveis! O lugar é confiável! Sobreviveu todo esse
tempo!

- A duras penas! – acrescentou Draco.

- Isso não é verdade! – exclamou ela.

- Hermione! – Narcisa chamou sua atenção. A voz pacífica parecia ser


resultado da agitação que talvez estivesse demonstrando em excesso. –
Entendemos que quer muito salvar seu bebê. Eu a entendo perfeitamente. Mas
você precisa ser muito - ela respirou – muito – enfatizou – racional agora. Tem
que pensar no futuro do seu filho para bem além do que está desejando.

Ela pulou seus olhos de Draco para Narcisa, de Narcisa para Lúcio.
- Nós temos o véu. – ela soltou e Lúcio abriu um sorriso como se estivesse
feliz por não ter precisado pressionar para ter essa resposta. – Quero dizer, a
Ordem talvez tenha o véu. O véu do Ministério da Magia. – ela via pelo sorriso
de Lúcio que aquele era o lugar em que ele queria ter chegado – Se tivermos o
véu a Ordem pode ser o lugar mais seguro para se estar agora.

- Como pode ter certeza disso? – Lúcio tornou a perguntar.

Hermione se perguntou se estava fazendo a coisa certa ao abrir a boca daquela


forma, mas querendo ou não era uma Malfoy agora e estavam todos no mesmo
barco ali e também, antes que pudesse pensar na Ordem ou na guerra pensaria
em seu filho.

- É uma história mais longa do que pode imaginar. É ainda incerto o poder
do artefato, é complexo e eu só saberia decifrar para poder usá-lo se o tivesse
comigo. Mas se souber a história que o envolve concordaria comigo.

Lúcio a encarou por um tempo em silêncio.


- Eu quero saber agora. – jogou ele.

- Não é algo que se eu te contasse, acreditaria.

Ele ficou ali, a encarando por mais um bom tempo.

- Então terá que encontrar uma forma de me provar isso, primavera. – se


levantou – Minha hora bateu. Tenho que ir.

- Querido! – Narcisa se levantou com pressa como se tentasse querer


alcançá-lo – Não vai ficar? – ele deu as costas e seguiu seu caminho para fora
da sala – Você me disse que ficaria. – ela pareceu contrariada em deixar a
mesa da forma como queria deixar ou ver seu marido sair pela porta sem ir
atrás apenas para seguir suas normas de etiqueta. Ela passou seus olhos por
Draco e Hermione – Com licença. Perdão. – e apertou o passo para alcançar o
marido.
O silêncio reinou um tempo entre ela e Draco ainda ali sentados.

- Nosso horário acabou aqui. – Draco comentou, mas ainda demorou um


tempo antes de finalmente se levantar.

Hermione ainda não conseguia se mover. Aquela conversa não poderia ter
terminado ali. Precisava saber como fariam para tirar seu filho de Brampton
Fort, como fariam para entregá-lo a Ordem...

- Hermione. – a voz de Draco a chamou. – Precisamos ir.

Ela o olhou e por um motivo eles ficaram ali naquele olhar por um longo
minuto. Hermione queria muito saber se ele ao menos imaginava a dimensão
do quanto aquilo era importante para ela, se ele conseguia sentir o que ela
sentia quando pensava em seu filho, se para ele aquela vida era importante
como para ela, não pelo fato de ser um Malfoy, o próximo na linguagem, mas
sim por ser fruto dele.
- Draco. – ela começou baixo. Puxou o ar e piscou os olhos molhados
lutando contra todos os hormônios que corriam seu corpo. – Você pode não ser
a minha pessoa mais favorita no mundo. Porque sabe que se eu tivesse a
chance de te deixar, deixar tudo isso, eu não pensaria duas vezes. – respirou –
Mas. – sentia seus olhos se encherem de súplica – Se salvar meu filho, se o
livrar de Voldemort, eu juro, juro – enfatizou – que vou lhe dever minha vida.

- Nunca precisei ter créditos com você, Hermione. Continuo não


precisando. – deu as costas – Não demore. Não estou com paciência para ver
meus pais discutindo. – disse antes de deixar a sala.

Draco Malfoy

Abriu os olhos e precisou mantê-los cerrados. Havia mais claridade do que


normalmente deveria ter e se questionou se deixara de fechar as cortinas na
noite anterior. Talvez estivesse atrasado. Puxou o relógio em sua cabeceira e
conferiu o horário. Estava quase uma hora adiantado. Deitou de costas e
passou uma mão pelos cabelos sentindo preguiça e soltando o ar como forma
de protesto. Haviam algumas manhãs que ele simplesmente gostaria de poder
fechar os olhos novamente e tornar a dormir.
Olhou para o lado e encontrou Hermione como nunca estivera antes. A luz do
sol que escapava de uma das cortinas mal fechadas se deitava sobre ela como
se tivesse encontrado o lugar certo para se estar. Draco sentiu aquela sensação
de falta de fôlego por um segundo mais uma vez. Hermione lhe causava aquela
sensação em momentos mais inesperados. A olhava e por um segundo a
consciência de ter a mulher mais bonita do mundo lhe batia com força.

Ela abraçava o lençol de lado e ele deixou sua visão cair para uma das pernas
esguias subindo até o meio de seus quadris onde a camisola começava a lhe
cobrir e fazia o restante do desenho de seu corpo. A respiração dela era calma,
seu rosto todo estava relaxado, o rosa em suas maçãs pareciam mais rosas,
seu cabelo parecia mais claro, sua boca parecia mais suculenta, tudo nela que
já era bastante perfeito parecia ainda mais perfeito. A consciência de ter a
mulher mais bonita do mundo lhe socou mais uma vez e ele foi obrigado a
desviar o olhar. O que era beleza se ela continuava sendo Hermione? Era quase
um desperdício.

Sentou-se tentando de algum modo espantar a vontade de permanecer ali.


Colocou os pés para fora da cama e apoiou os cotovelos um em cada joelho
para poder esfregar o rosto em uma posição mais confortável. Sentiu o
movimento do corpo de Hermione sobre o colchão atrás de si e ficou imóvel por
uns segundos esperando que ela estivesse apenas trocando de posição.
- Ainda é cedo. – a voz dela soou baixa e arranhada enquanto ele ainda
sentia o movimento do corpo dela.

- Não parece que é. – ele disse de volta.

Ela se levantou. Não conseguiu escutar os passos dela pelo quarto, mas logo
ele pensou em um palavrão quando escutou o rolar das cortinas e sentiu a luz
intensa invadir o ambiente. Demorou segundos apenas para seus olhos se
acostumarem e rapidamente teve a visão de sua própria pele pálida sob a luz
do sol.

A claridade o fez lembrar das férias de verão nos anos de Hogwarts, o fez se
lembrar dos verões de sua infância, de quando via seus pais juntos e acreditava
que se amavam, que eles eram uma família como qualquer outra, mas com
poder, com dinheiro, com influência. Ficava grato por saber que seu filho seria
mandado para longe, independente de onde fosse. Assim ele não cresceria
tendo que ver que seus pais não eram como aqueles que haviam se casado por
amor para formar uma família dos sonhos, ele cresceria consciente unicamente
de seu papel como Malfoy.

Olhou para o lado quando a figura de Hermione apareceu de pé passando um


dos braços pelo dossel, onde descansou a cabeça. O sol continuava a lhe cobrir
e ali fazia todo o sentido para ele porque talvez ela gostasse tanto daquela
estrela. Seus olhos pareciam ainda mais dourados e sua pele parecia quase
brilhar.
- Como vamos fazer hoje? – ela perguntou. Sua voz arranhada pelo sono
parecia quase sedutora dentro daquele quadro.

Seus olhos estavam de certo modo tão entorpecidos pela imagem dela que a
pergunta não chegou a ser bem processada.

- O quê?

- Vou ter que ir a Catedral em uma hora bastante movimentada. Sei que eu
deveria pensar nisso sozinha, mas você conhece o lugar melhor do que eu.
Haveria alguma entrada em que eu poderia passar sem ser vista?

Ele estreitou os olhos.


- Você sabe que há portões de entrada privativas. – respondeu ele.

- Eles mantém apenas a imprensa longe.

- Ninguém vai estar chegando esse horário na Catedral, Hermione.

- Eu vou. Outras pessoas também podem.

- Outras pessoas tomariam a entrada principal.

- Não dá pra generalizar em um lugar como aquele, Draco.


Ele soltou o ar cansado e deixou suas costas cair sobre o colchão. Cobriu o
rosto e desejou férias.

- Converse com minha mãe, vocês duas vão para lá no mesmo horário. Eu
não quero resolver seus problemas. – talvez tivesse soado mesmo mal
humorado.

O silêncio que se seguiu lhe trouxe paz. Se aquele momento fosse durante os
primeiros meses de casamento certamente estaria sendo obrigado a escutar
Hermione o enfrentar porque obviamente, o problema não era apenas dela, se
alguém a visse saberia que ela está grávida e esse problema estava também
diretamente ligado a ele.

- Eu nunca o vi assim antes. – a voz dela soou, mas soou doce, de um


modo que quase acompanhou o ritmo do silêncio. Não o irritou embora ele
soubesse que deveria ter.
- Assim como? – o tom com que retrucou era quase gutural.

Sentiu o colchão afundar com o peso dela.

- Você não quer ir trabalhar. – a voz que ela usava continuava aquela que
acompanhava o ritmo do silêncio. Era quase delicioso.

Ele abriu os olhos para vê-la sentada sobre as próprias pernas ao seu lado. A
imagem dela sob o sol ainda conseguia lhe pegar desprevenido.

- Continuo sendo humano, não é?

- Você tenta não o ser com bastante frequência.


Soltou um riso fraco e virou a cabeça para encarar o teto bem decorado. Por
um minuto ficar em casa, mesmo que Hermione estivesse lá, pareceu mais
agradável do que ter que enfrentar a Catedral mais um dia.

- Você deveria tirar um dia de descaso. Pelo menos um. – ela falou, sua
voz soava doce e incrivelmente natural. – Não precisa ser necessariamente
hoje, mas deveria. – ela se levantou e foi ao lavatório.

Aquilo era verdade. Principalmente para pessoas como ele que trabalhavam
com tanta frequência. Não se sentia um escravo. Fazia o que gostava e
Voldemort garantia que ele continuasse sempre fazendo o que gostava.
Gostava de ser líder, de mandar, lançar ordens e de ser bom nisso, mas ainda
era humano, certo?

Tornou a sentar-se ainda se permitindo desfrutar do próprio desânimo.


Levantou-se e primeiramente foi até a janela onde Hermione havia aberto as
cortinas. Encarou seu jardim do lado de fora e se surpreendeu ao finalmente
ver todo o potencial de seu colorido. Escutou o som das duchas vindo do
banheiro e decidiu que enfrentar o dia era sempre seu dever. Muitas coisas
entravam em jogo se ele não estivesse diariamente com o olho por cima de
toda a movimentação de cada metro quadrado daquele lugar.
Seguiu para o lavatório onde decidiu adiar seu barbeado em um dia. Desceu
para as duchas e encontrou Hermione no fim de seu banho. Seu passos quase
que inconsciente o guiaram até ela que se mantinha de costas.

Seus dedos primeiro entraram pela raíz dos cabelos dela. Afastou sua cabeça
para poder provar com a boca a pele macia de seu pescoço. A cercou pela
cintura colando seu corpo ao dela e subiu até ter o lóbulo de sua orelha entre
os dentes.

Ele até gostava de ter uma mulher em casa em momentos como aquele. Se
descobrira até ser um homem bastante “matinal”. Nunca havia se dado muito
ao luxo de dormir com as mulheres que levava para a cama. Nem com Pansy,
nem quando namorou Astoria, nem quando insistiam para que ele ficasse. Não
gostava de acordar acompanhado de alguém, parecia haver um peso de
compromisso que ele resistia em aceitar. Com Hermione havia sido bastante
tranquilo lidar com isso. Ele sabia que ela também não estava feliz com a
companhia dele, portanto não era como se ele estivesse alimentando qualquer
esperança de compromisso com ela. Momentos como aquele serviam para
matar um pouco da exaustão da convivência que as vezes chegava ao nível do
detestável. Haviam concordado com aquilo até verbalmente já.

O corpo dela era gostoso de se ter nos braços. Ele havia se acostumado as
formas dela, a quais posições se encaixavam melhor, e mesmo que a barriga
dela estivesse crescendo, ainda não havia chegado ao ponto de os atrapalhar.
Um dia certamente haveria de chegar, mas por enquanto ele desfrutava de
como as curvas dela ficavam ainda mais bonitas a medida que sua barriga
crescia. Saber que ela gerava seu filho também lhe dava frios na espinha de
vez em quando.
Hermione se virou para recebê-lo. Os seios dela pareciam de certo modo terem
aumentado minimamente de tamanho, mas já era o suficiente para o deixar
bastante feliz, por assim dizer, quando os tinha pressionados contra seu corpo.

A forma como faziam sexo tinha atingido um nível que ele jamais havia tido
ideia de que existia. Para ele sexo sempre fora uma questão de dar prazer ao
nível de manter sua imagem de desejado por boa parte do gênero feminino.
Isso tudo envolvia honra, dominação, confiança, satisfação, prazer e todos os
derivados desse setor. Com Hermione eles haviam passado por isso e vez ou
outra voltavam para lá novamente, mas chegaram a um nível de total conforto
que as vezes ele só queria estar dentro dela com seu corpo no dela e ficar ali
sentindo o prazer o consumir aos pouco, sem pressa, sem eventos brilhantes,
sem gemidos intensos. Não era o seu melhor tipo de sexo, ele confessava, nem
mesmo seu favorito, mas era gostoso, relaxante e bem mais prazeroso. Chegar
em casa para ter aquele tipo de sexo as vezes o animava mais do que estar
pronto para dar a Hermione o sexo de sua vida. E era mútuo. Ela mesma
muitas vezes se sentava sobre ele e o usava pelos minutos que precisasse. Era
bom e era bom que fosse com ela porque se sentia confortável o suficiente para
isso. Nunca tivera a intenção de impressioná-la em primeiro lugar.

Sua boca se uniu a dela pela talvez milionésima vez desde que a beijara pela
primeira vez. O sabor era familiar, os movimentos eram familiares, mas a
sensação era sempre única e não, ele não se cansava. As mulheres com quem
já havia ficado depois dela eram altamente usadas a nível de comparação, o
que muitas vezes o irritava, se irritava com a existência de Hermione por isso,
mas acabava precisando do seu corpo no fim das contas.
Puxou sua perna, a encostou na a parede e entrou dentro dela sem a menor
pressa. Os suspiros que ela soltava quando isso acontecia sempre ficavam
gravados em sua mente e sim, ele se lembraria daquilo quando fosse levar
outra mulher para cama. Deixou que a sensação de estar dentro dela o
dominasse, que o prazer o invadisse, que a paciência o permitisse aproveitar
aquilo pelo máximo de tempo que tinha. Ele sempre começava mais devagar.

Tinha bastante tempo e soube aproveitar isso. O corpo dela chegou a tremer
umas duas vezes contra o seu. Ele adorava a forma como o corpo dela reagia
ao seus orgasmos. A forma como os músculos travavam e relaxavam em
pequenos espasmos, a forma como ela puxava seus cabelos levemente, a
forma como abafava seus sons contra o pescoço dele e como seus dedos se
cravavam em sua pele. Mulheres faziam isso o tempo todo, mas ela, ela tinha
um jeito especial.

Estava com sua boca na dela quando sentiu que depois de todos os minutos
que estavam ali finalmente estava pronto para dar um fim a sua própria agonia
e foi assim que o fez. Seu corpo pesou e ele tratou de esconder o rosto contra
a curva do pescoço dela um tanto ofegante. Hermione firmou os pés no chão
novamente e ele ficou ali, sentindo a água bater em suas costas. O silêncio
pairou sobre eles enquanto Draco esperava para se afastar dela. Sempre se
afastavam e quando não se afastavam era porque haviam praticado o tipo de
sexo que tirava deles qualquer resquício de forças, mas ali ele deveria, deveria
se separar dela porque era estranho quando se tocavam fora do sexo. Naquele
momento parecia apenas errado se afastar dela.

Suas mãos desceram pela cintura dela e se alocaram próximo aos quadris onde
podia sentir o início do volume que seu filho fazia no pé da barrida dela. Aquele
dia parecia estranho.
- Draco. – a voz dela soou quando os minuto passou e ele simplesmente
continuou ali. Sentiu as mãos dela se moverem fazendo o desenho de seu
pescoço e nuca. – O que foi? – ela parecia preocupada e ao mesmo tempo
confusa, mas ainda assim sua voz era doce, sempre doce, ele queria que aquilo
o irritasse. – Draco. – ela o chamou mais uma vez e ele deixou o pescoço dela
para encará-la. A boca vermelha e inchada, a ponta do nariz vermelho, o
cabelo bagunçado. Ele adorava aquela imagem dela. Sempre a tinha depois que
faziam sexo. – Qual é o problema?

Nada, ele se viu respondeu, mas ao invés disso ficou ali, encarando seus olhos
perfeitamente dourados, sua boca vermelha, a ponta de seu nariz vermelho.
Hermione o encarava de volta como se estivesse vivendo o maior suspense de
sua vida. Draco tentou balançar a cabeça e responder nada novamente, a soltar
e terminar seu banho, mas não. Continuou exatamente ali.

- Eu sinto... – escutou sua própria voz dizer – Como se não devesse viver o
dia de hoje.

O cenho dela franziu e uma expressão confusa apareceu em seu rosto. Se


tivesse dito aquilo a Pansy ela estaria naquele exato momento, rindo como
nunca na vida.
- O que quer dizer exatamente? – ela começou a usar uma voz cuidadosa –
Tipo... morrer?

Ele balançou a cabeça negativamente. A palavra “morrer” parecia muito


pesada.

- Não. – respondeu. – Apenas... – sua voz morreu. Não tinha uma


justificativa, uma resposta, algo que tirasse a confusão do olhar dela, porque
aquilo parecia tão abstrato para ele quanto para ela. – Não sei.

Ela continuava ali, o olhando. O silêncio entre eles e o olhar dela, aquele que
percebia a completa estranheza daquela situação, mas que mesmo que ele
estivesse soando até idiota, ela parecia fazer esforço para entrar no mundo
dele, para compreender, para tentar achar uma resposta para ele. Ele não veria
isso nem mesmo no olhar de sua mãe.

- Eu acho... – ela começou – Que você deveria ficar em casa hoje.


Ele negou com a cabeça. Não.

- Esqueça, Hermione. É apenas um pensamento idiota. – ele se afastou.

- Não. Não é. – ela o segurou pelo pulso. – Quero dizer, você quem tem o
direito de julgar quão importante é aquilo que sente porque só você está
sentindo. Mas não acho que é idiota considerar algo que o incomoda ao ponto
de chegar a me dizer. - Sim, ela havia tocado em um ponto importante. Nem
ele havia julgado aquilo – Vamos lá. Ficar aqui não significa que vá ficar
comigo. Essa casa é enorme. Podemos ir para a Catedral no almoço e voltar.
Você tem um milhão de pessoas que podem fazer seu departamento rodar sem
você por um dia apenas.

Certo, ela já estava agindo de um jeito único demais que o fez erguer uma
barreira antes que cruzasse alguma linha que não queria cruzar.

- Não tente entrar na minha vida desse jeito, Hermione. – ele rebateu e foi
o suficiente para fazê-la recuar.
Ele tomou seu banho enquanto ela simplesmente o deixou. Grifinórios e suas
estranhas manias de serem prestativos até mesmo com inimigos. Decidiu que
tudo aquilo era apenas uma tremenda besteira. Sua mãe o teria repreendido e
Pansy teria soltado uma gargalhada daquelas bonitas de se ouvir. Parou para
fazer a barba quando decidiu que procrastinas era uma doença de dias como
aquele, colocou sua farda e desceu.

Hermione já estava no fim de seu desjejum. Ela virava as páginas do Diário do


Imperador e tomava a réstia de seu chá. Quando o viu ela o fechou, colocou-o
sobre a mesa e se levantou.

- Te vejo no almoço. – foi tudo que ela disse antes de puxar um chapéu
que descansava na cadeira ao lado e deixar a sala.

Ele a viu tomar o rumo do corredor que passava por trás da cozinha e soube
exatamente onde ela passaria a manhã. Soltou um riso fraco enquanto
colocava chá em sua porcelana e puxava o Diário do Imperador. Fazia até
sentido que seu pai a chamasse de primavera.
Não foi o bastante e antes de deixar a casa ele a avistou pela janela no meio do
jardim. Os pés dentro do espelho d`água do chafariz, um braço servindo de
apoio para seu corpo e uma mão sobre a barriga, os olhos fechados voltados
para o céu como se pudesse tirar do sol algum tipo de energia. Ele riu e foi
para a Catedral.

O dia lá também havia começado cedo. Talvez o sol tivesse acordado bastante
gente como fizera com ele. Alguns reclamavam, outros até discutiam que
deveriam haver mais dias como aquele. Mas Draco sabia que dias como aquele
implicavam na segurança da cidade portanto era melhor que sempre fosse
nublado.

Foi direta para o seu discurso diário e logo após subiu para sua torre e informou
Tina que tinha o horário de seu almoço fechado. Interrogatórios deveriam ser
passados para depois desse período e reuniões consideradas fora de questão
para o dia todo.

O conselho o esperava e a reunião foi maçante como sempre. Tinha


treinamento o resto da manhã inteira e se sentiu exausto mais cedo do que
deveria. Aquela estranha sensação o perseguia junto com o estranho dia
ensolarado. Quando saiu do Q.G. sua mãe o esperava ali no saguão. Ela
acelerou o passo para encontrar com o dele.

- Você não deveria estar com tia Bella? – perguntou a ela olhando as horas
em seu relógio de bolso.
- Vou encontrá-la em um minuto. – ela respondeu – Nos encontramos logo
quando cheguei. Hermione veio comigo. – disse – Draco. – ela o parou o
segurando pelo pulso. Olhou rapidamente de um lado para o outro e se
aproximou um passo. – Não estou gostando da forma como tudo isso está bem
organizado.

Ele franziu o cenho.

- O que quer dizer?

Ela puxou o ar e olhou novamente para os lados.

- Bella olhou para Hermione quando descemos da carruagem e usou um


tom irônico para dizer que esperava que ela não tivesse planos para a tarde. –
usou um tom baixo para dizer aquilo.
Draco precisou processar aquilo com mais cuidado.

- Quantas vezes tia Bella a chamou para almoços na Catedral? – ele


perguntou.

- Poucas vezes. Não consigo me lembrar de nenhuma. – ela respondeu. –


Quero dizer, costumamos tomar o desjejum juntas quando tenho planos aqui
dentro. Almoçamos muito no centro ou em algum parque, mas não consigo me
lembrar de nenhuma outra vez que ela tenha me tirado de casa para lhe fazer
companhia aqui, para um almoço, um onde vamos nos sentar e comer como se
fosse um jantar.

Ele ainda estava confuso.

- O que você sugere?


- Eu não sei. – ela respondeu. – Estou preocupada com Hermione. De
alguma forma eu acredito que isso tudo se ligue a ela.

- Hermione está bem. – ele disse – Vamos estar com o Lorde, ele não
deixaria que ninguém encostasse o dedo nela.

Narcisa ficou em silêncio o encarando por um longo segundo. Assentiu


finalmente aceitando que aquilo soava bastante convincente e acrescentou:

- Mantenha os olhos abertos, Draco. – ela tocou seu rosto por um segundo,
deu as costas e seguiu seu caminho.

Draco subiu para a torre de Voldemort. A sala de refeições do Mestre estava


aberta e quando ele entrou encontrou Hermione já sentada de um lado dos três
lugares já postos. Ela ergueu o olhar para recebê-lo apenas e ele foi até seu
lugar de frente a ela para se sentar. A cabeceira era sempre do mestre.
- Alguém a viu quando chegou? – ele perguntou assim que se acomodou
em seu lugar.

Ela negou com a cabeça.

- Vim com Narcisa. Bellatrix estava nos esperando quando chegamos. Ela
tomou o cuidado de limpar o caminho. – respondeu Hermione. Era evidente o
desconforto em toda a sua postura. – Draco. – sua voz soou muito baixa agora.
– Bellatrix me disse que...

- Eu sei o que ela te disse. – ele a cortou. – Agora não é o momento. – a


repreendeu. – Ela estava apenas te provocando, esqueça isso.

Ela uniu as sobrancelhas quase que imediatamente.


- Como sabe disso?

- Minha mãe me disse. – respondeu ele e se arrependeu no mesmo


momento.

A reação dela foi expressiva. Seus olhos assumiram um tom assustado e ela se
mexeu em sua cadeira muito mais incomodada do que antes.

- Draco. – soou quase pausado – Por que sua mãe gastaria saliva e tempo
para lhe informar algo que não passa de uma provocação?

Ele queria encontrar uma resposta para amenizar a agonia dela, mas no mesmo
momento Voldemort os surpreendeu com sua presença. Ele veio sério, tomou
seu lugar em silêncio e descansou sobre a mesa bem ao seu lado uma pasta de
couro de dragão até gorda com o símbolo da extensão do St. Mungo’s que
havia na cidade. Hermione encarou o objeto quase que com sede. Ela sabia o
que havia ali.
- Espero não ter atrapalhado nenhum de seus planos devido ao convite em
cima da hora, Draco. – ele se dirigiu a Draco.

- Não, Mestre. – Draco respondeu. Sabia que qualquer outro comensal


nesse exato momento estaria declarando suas honras pelo convite e o quanto
havia sido presenteado de privilégios que enchiam seus olhos. Draco não fazia
esse tipo de comensal.

- Sei que você esteve colhendo os relatórios de atividades dos países da


Europa esse mês. – comentou ele – Tem algum planejamento em apresentá-los
para mim?

Draco piscou não muito paciente com a indireta que havia levado. Claramente
ele era obrigado a apresentar os relatórios.

- Sim, Mestre. – respondeu.


- Bom. Porque sabe que gosto quando é mais eficiente.

- Sabe também que eu gosto quando é mais bem feito. – Draco retrucou.

Voldemort sorriu aquele sorriso amarelo em resposta. Aquele homem era


definitivamente assustador.

- Seria bom que começássemos a apreciar da comida. Aposto que Draco


tem muito no que trabalhar. – ele estalou os dedos e mais de um elfo foi
responsável pelo serviço de encher os pratos. – O motivo de tê-los chamado
aqui pode ser um pouco desagradável. – ele começou somente após engolir
uma garfada de seu prato. Draco encarou Hermione e tudo que ela tinha feito
até o presente momento era engolido uma de sua azeitonas. Ele se preocupou
bastante com o fato da direta ter sido lançada logo de início. – Sabem que por
sentarem em um nível muito alto dentro dessa hierarquia torna a
responsabilidade de vocês maior e bem mais direta a mim. Ambos tem feito
excelentes trabalhos dentro e fora da Catedral, mas me preocupa saber o nível
de relutância que possuem em relação a ordens. – ele se voltou para Draco
primeiro. – Sei que é fiel a mim, sei de que lado esteve desde o começo e
também sei que detesta ordens. Severo tem questionado muito a forma
amigável com que tem administrado o exército. A zona sete atua de maneira
muito próxima a você.
- Foi me dada a liberdade de gerir esse departamento da forma como bem
me interessasse. – foi tudo que ele respondeu.

- Essa não é a resposta que eu gostaria de ouvir. – Voldemort se


pronunciou.

- É engraçada a forma como ainda espera que eu vá agir como seus outros
comensais. – disse Draco. – Não vou me desculpar por estar lhe causando
suspeitas, mestre. Sabe exatamente o meu tipo de gestão, sabe de todos os
benefícios que isso tem trazido ao seu império, sabe que nunca escondi nada, e
caso não esteja satisfeito, procure alguém que faça um trabalho melhor do que
o meu. Talvez Severo esteja disposto a assumir a posição novamente com
aquela velha política que quase o levou ao declínio, certo?

- Eu não gosto de questionar o seu trabalho, Draco. Ninguém poderia fazê-


lo melhor do que você. Gosto de trabalhar com pessoas boas e você tem se
mostrado mais que capacitado desde que assumiu o cargo, mas me conhece e
sabe que se escapar um vago milímetro do seu trabalho, do que realmente
deve fazer, eu vou estar lá olhando.

Draco puxou e soltou o ar buscando paciência. Ele odiava aquelas fases em que
Severo conseguia horários extras no gabinete do mestre.
- Quantas vezes eu terei que provar minha lealdade? – tentou não se
mostrar irritado.

- Algumas vezes você parece não ter ideia do cargo que ocupa. –
Voldemort disse – Inúmeras vezes não será o suficiente. Nunca será o
suficiente. Eu devo confiar em você todo o segundo e realmente confio, mas
devo testá-lo sempre. As pessoas não mudam com facilidade, mas elas
mudam. Tenho te testado desde que coloquei minha marca em seu braço e vou
continuar o testando, inclusive hoje o testarei.

Draco não gostou da ideia. Franziu o cenho.

- O que quer dizer com isso? – a curiosidade lhe aflorou – O que Hermione
está fazendo aqui se eu estou sendo o tópico?

Voldemort negou.
- Você não é o tópico aqui, Draco. Meu herdeiro é o tópico. – ele puxou a
pasta que havia deixado de lado e desviou seu olhar para Hermione. – Não
gostei do fato de terem deixado o relacionamento pessoal de vocês atrapalhar
na eficiência do cumprimento da ordem que lancei aos dois. Hermione apenas
engravidou porque eu tive que interferir na situação. – ele puxou a taça de
vinho que ingeria e tomou um longo gole. – Também não gostei da rebeldia de
Hermione em esquematizar todo um plano de fuga para a amiguinha vivendo
debaixo do seu teto. – encarou Draco. – Alguém precisa pagar pelo seu erro. –
virou-se novamente para Hermione. – Acha que pode ir contra mim tentando se
mostrar forte ao torturar prisioneiros? – o olhar que Hermione mantinha sobre
ele era forte, resistente. Se havia algo que ela conseguia fazer era encarar
Voldemort. – Aquilo não pagou o débito que você abriu, minha preciosa
Hermione. Eu poupei sua vida para que sofresse e até então você tem tido uma
boa vida. – estendeu a pasta a ela. – Você queria as informações da criança
que acha que é sua, não queria? – Hermione hesitou em pegar – Tome. É tudo
seu. Todo o histórico desde as primeiras tiragens na ala das enfermarias. Quero
que tenha as informações daquilo que vou tirar de você.

Ela pegou a pasta com receio enquanto lançava um rápido olhar a Draco. Seu
primeiro movimento foi abri-la e não guardá-la ao contrário do que Draco faria,
mas sabia que Hermione estava sedenta por informações. Diferente do que ele
havia pensando desde que recebera a intimação para o almoço no dia anterior,
estar ali agora o preocupava e ele conseguia captar cada movimento de tudo.
Seus olhos deveriam estar mais atentos do que o de qualquer coruja durante a
noite.

Voldemort pegou sua taça de vinho, mordeu um pedaço de seu queijo e


deliciou-se com a bebida enquanto tinha os olhos em Hermione. Ela folheava
cada páginas com pressa e cuidado ao mesmo tempo. Draco desejou que ela
não se mostrasse fraca, que não se mostrasse vulnerável e maleável, mas não
foi bem isso que ele recebeu. Os olhos dela começaram a entrar no mundo
daqueles papéis e não demorou para que ela se mostrasse encantada e com os
olhos em lágrimas. Foi somente então, que em uma virada de página seus
olhos assumiram um brilho estranho. Ela franziu o cenho e pareceu olhar um
pouco mais de perto a informação que acabara de ler.

- Eu estou esperando uma menina? – sua voz saiu quase num sussurro.
Aquela informação batera em Draco como uma notícia completamente
inesperada. Hermione ergueu o olhar confusa para encarar o sorriso de
satisfação de Voldemort e o apreensivo de Draco. Ele não tinha ideia de qual
era o peso daquela realidade ali. – É uma menina. – sua voz saíra mais forte
dessa vez. Ela tornara a abrir a boca para dizer algo, mas sua voz nunca saiu.
O que aconteceu foi de repente uma de suas mãos apertando com força a
espessura da mesa e seu corpo se curvando para frente como se tivesse
sentido uma forte dor inesperada. – Draco. – ela o chamou ofegante quase que
em socorro e ele se viu levantar também quase que imediatamente. Não. Era
um teste. Ele não sabia como agir.

Voldemort ainda tinha aquele sorriso de satisfação e também se levantou.

- Eu pensei ter deixado bem claro desde o começo que eu queria um


herdeiro e não uma herdeira. – ele soltou com muita tranquilidade. – Até
pensei em deixar você ficar com a criança, mas lembrar do que me deve por
causa da Srta. Lovegood me fez considerar que eu não teria paciência para
esperar até que pudesse produzir meu herdeiro novamente.
Ela empurrou a cadeira para trás e dessa vez suas mãos apertaram com força o
apoio dos braços enquanto ela se curvava e cerrava os dentes para não soltar
nenhum gemido sequer. Draco sentia a agonia de correr até ela, mas sabia que
deveria ficar imóvel porque mostrar qualquer tipo de preocupação pela vida que
ela carregava poderia significar ir contrário a ideia de que sabia que aquela vida
primeiramente era de Voldemort, não dele.

Voldemort estalou os dedos e um elfo apareceu em seu serviço.

- Traga a equipe que mandei preparar. – ele ordenou – Narcisa e Bella


também.

- Isso pode acabar comprometendo a saúde dela. – Draco se viu dizer algo
estúpido em reflexo da agonia que sentia – Ela pode acabar não podendo gerar
mais nenhum herdeiro.

- Não se preocupe com isso. – Voldemort respondeu. – A tônica que ela


bebeu está apenas a induzindo ao aborto e a equipe que irá atendê-la tomará
os cuidados necessários para deixá-la preparada para engravidar o mais rápido
possível novamente. Seu pai foi bem claro quando fizemos o acordo do
casamento que o nome Malfoy não poderia morrer com você.
- Draco. – a voz dela soou novamente. Ele a olhou a ela parecia querer
dizer algo, mas sua luta contra qualquer dor que estivesse sentindo parecia
maior. – Não deixe eles... – ela ofegou em súplica – Por favor. - Sim, ele tinha
que deixar e de alguma maneira aquilo doía nele também.

A chamada equipe irrompeu pela sala. Eram medibruxos e ele até conhecia
alguns.

- Vamos lá. Tirem ela logo daqui antes que isso comece a chegar naquela
fase nojenta. – Voldemort gesticulou com as mãos.

- Não! – Hermione lutou quando tentaram auxiliá-la. – NÃO! – ela gritou


quando começaram a tentar usar da força.

Alguns dos medibruxos lançaram a Voldemort um olhar de que não haviam


estudado para lidar com aquela parte e ele apenas retrucou severamente:
- Ela é só uma. Será que vou ter que contar quantos vocês são?

- NÃO! – Hermione gritou ferozmente enquanto seus rosto se banhava em


lágrima. – VOCÊS NÃO PODEM MATAR MEU BEBÊ! – alguém respondeu que ele
já deveria estar morto e ela chorou alto expondo uma dor tão forte que pareceu
até atingir Draco. – ME DEIXEI! – havia um sofrimento tamanho em seu tom
que ela parecia até longe de sua própria sanidade.

Narcisa passou confusa para o lado de dentro sendo guiada por Bellatrix. O
primeiro olhar que ela lançou foi para Hermione. Sua mãe não era surpreendida
com facilidade, mas Draco a viu colocar a mão na boca enquanto encurtava o
passo até ela.

- Hermione. – ela começou a repetir o nome da nora tentando chamar sua


atenção.

- ME DEIXE! – Hermione chorou dolorosamente.


- Nós precisamos ir, Hermione. – Narcisa começou a ajudar a equipe. –
Está tudo bem. Você precisa ser forte. Se lembra? Precisa ser forte. – a voz de
sua voz era mansa e severa ao mesmo tempo. Ela levantou um rápido olhar
para Draco antes de ter sua atenção em Hermione novamente. – Vou estar com
você.

Draco via aquela cena e não percebeu talvez quando tudo se tornou muito
mudo para ele como se fosse um reflexo de seu próprio corpo em como estava
reagindo a aquela atmosfera. Todos os seus músculos se mantinham rígidos e
ele foi conseguir escutar novamente o zunido do silêncio somente quando seu
cérebro lhe mandou a mensagem de que era seguro e ele se localizou na sala
vazia ao lado de Voldemort.

- ...um processo muito limpo. – dizia o Lorde das trevas ao seu lado
quando seu ouvido tornou a captar sons – Não é nenhum tipo de magia negra e
ela não passará por nenhum ritual. Será bem simples e verá que ela estará em
casa hoje mesmo. – o tapa no ombro que recebeu fez Draco voltar o olhar para
Voldemort com cuidado. – Espero não ter tomado muito tempo de sua agenda.
Tem alguma reunião hoje?

Draco piscou e seu próprio cérebro trabalhou rápido para lhe enviar a resposta.
- Não. – respondeu quase que roboticamente – Tenho vistoria nas
masmorras. Interrogatório.

Voldemort assentiu.

- Draco. – ele se aproximou bem – Eu quero um herdeiro. – disse bem


pausadamente e somente deu as costas para ir embora quando Draco assentiu
informando que havia entendido bem.

Os últimos minutos daquela loucura pareciam ter sido deletados de seu


cérebro. Ainda precisou do zunido de silêncio dentro de sua cabeça para colocar
no lugar tudo que deveria colocar. Devia agir normalmente, como se tudo
estivesse bem e para isso precisava pensar que tudo estava bem. Realmente
estava. Era um teste. Ele havia passado. Será que havia? Não se importava
com Hermione, não deveria se importar, nem com o filho que já não tinha
mais. Certo?

Sentiu como se sua cabeça flutuasse enquanto avançava de volta para a ala de
seu departamento. Encontrou com Tina logo na entrada que o esperava com a
prancheta apertada contra o peito.
- Esse foi um almoço rápido, senhor. – ela comentou e Draco sentia ter a
ideia de que havia durado quase um dia inteiro.

- Está tudo pronto nas masmorras? – ele perguntou. Sério demais. Frio
demais. Mais até do que costumava ser.

- Sim. – ela respondeu e precisou apertar o passo quando ele


simplesmente tratou de tomar o rumo do lugar. – Tem uma lista bastante
extensa das celas que deve visitar. – ela dizia enquanto o acompanhava – Os
primeiros são os apreendidos daquela...

- Eu sei quem são. – ele a cortou.

As masmorras eram longe. Era um lugar muito diferente do que Hogwarts havia
pintado sobre masmorras. Andaram pelos corredores de cela com uma pequena
equipe de seu departamento e quando chegaram a primeira que ele deveria
entrar Draco percebeu que nem sequer sabia quem iria encontrar.
- Relatório. – foi somente o que precisou dizer para Tina e em segundos
tinha uma pasta nas mãos.

Folheou o perfil do sujeito e tentava ler mas as letras pareciam todas


embaralhadas. O choro doloroso de Hermione pareceu encher seus ouvidos e
ele sentiu sua cabeça latejar. Fechou a pasta irritado e a devolveu para Tina.
Entrou na cela, puxou sua cadeira até e sentou enquanto observava os homens
de seu departamento mover o prisioneiro e suas correntes até o centro da cela.

- Você não trabalha para a Ordem, trabalha? – começou Draco. Sempre


esperava a boa vontade dos prisioneiros. Alguns deles já haviam sofrido
psicologicamente o suficiente e abriam a boca sem Veritasserum com
facilidade.

- Não sei de que Ordem está falando. – não era o caso daquele prisioneiro.
Draco se mexeu impaciente. Seu cérebro lhe lançou uma imagem de como os
medibruxos havia puxado Hermione com força e de como ela lutou. Precisou
piscar para limpar sua visão.

- Ordem da Fênix. – disse – Uma organização rebelde. A maior de todas.


Você trabalha para eles ou não trabalha?

- Não trabalho. – o prisioneiro respondeu.

Realmente não deveria trabalhar. Não havia nele nenhum perfil de ataque e
personalidade que o ligasse a Ordem.

- Para qual grupo trabalha? – perguntou. Sua cabeça latejou novamente e


aquele zunido veio acompanhado com o som de Hermione gritando para que a
deixassem.

- Eu não trabalho para ninguém.


- Tente ser mais convincente. – Draco se levantou sentindo que havia uma
agonia crescente dentro de si. A dor de Hermione. O sorriso de satisfação de
Voldemort. Agachou a frente do homem. – Para qual grupo trabalha? – tornou
a perguntar.

- Eu já disse que não trabalho para ninguém. – repetiu o homem.

- Não me faça querer engolir essa mentira. – Draco não sentia um pingo de
paciência.

- Posso te fazer engolir bastante coisa, uma delas poderia ser meu pau. –
cuspiu o homem.

Draco se deu conta de si somente quando escutou o urro do homem e seu


punho latejando.
- Para qual grupo trabalha? – sua pergunta se tornava cada vez mais
impaciente.

O homem precisou de um tempo para cuspir um dente e respirar.

- Eu já disse...

Antes que ele terminasse Draco lhe enfiou o punho fechado novamente contra
o rosto. O homem cuspiu sangue e Draco ao invés de enxergar o homem,
enxergou a realidade de que o filho que Hermione carregava. Sua filha. Estava
morta. Morta. A palavra lhe pesou.

- PARA QUAL GRUPO TRABALHA? – rugiu e enfiou novamente o punho no


homem. – DIGA PARA QUAL GRUPO TRABALHA! – enfiou mais um, mais outro.
Seu cérebro o fez se lembrar do som doloroso do choro de Hermione. – PARA
QUAL – mais um – GRUPO – mais um – TRABALHA? – havia tanto ódio em si
que seu braço ia contra o homem com uma violência que Draco não conseguia
contar. Mais um soco, mais outro, mais outro, mais outro, mais outro e ele
urrou sentindo todo o sangue em sua cabeça quando o homem perdeu a
consciência e ficou no chão. Draco se afastou ofegante, a adrenalina ainda em
suas veias, o punho dormente. O silêncio correu a cela e o zunido em seu
ouvido também. – Acorde-o. – ordenou para seus homens. A imagem de
Hermione não saia de sua visão.

- Senhor, talvez seja melhor adiar os interroga...

- EU DISSE PARA ACORDÁ-LO. – rugiu Draco. – Nós ainda temos uma


tarde bem longa.
21. Capítulo 21

Draco Malfoy

Já era uma hora bastante avançada da madrugada quando a carruagem parou


de frente a sua casa. Tudo estava apagado, e parado na entrada também havia
a carruagem de sua mãe. Draco desceu e entrou relutante.
Não queria ter voltado. Tinha medo do que encontraria. Sabia que haviam
enviado Hermione para casa com sua mãe que a acompanhara durante o
processo. Tinha talvez umas cinquenta mil perguntas em sua mente. Queria
saber se havia sido doloroso. Se ela ainda sentiria dor daqui para frente. Se ele
deveria se manter alheio e ignorar a situação. Se ela ainda teria que ir a
hospitais. Se ela voltaria a trabalhar logo. Se ela estava pronta pra engravidar
novamente. Quanto tempo demoraria para que ficasse curada.

Narcisa estava sentada em sua sala, no escuro. Ela carregava chá quente nas
mãos e tinha um olhar fundo. Draco se aproximou quando ela se levantou e o
chamou. Uma das mãos quentes dela tocaram seu rosto quando ele parou.

- São três da manhã. – ela disse.

- Não queria voltar para casa. – ele respondeu. O gosto de todo o álcool
que havia consumido trancado em sua torre na Catedral parecia cada vez mais
longe agora. – Eu não queria vê-la. Continuo não querendo.

- Ela vai passar por um momento muito difícil agora, Draco. Tente não ser
tão egoísta. Você talvez não consiga sequer imaginar a dor que ela está
sentindo. – sua mãe disse e se afastou.
- Ela ainda está sentindo dor?

- Não estou falando de dor física. – ela respondeu – Você não sabe o que
acontece com uma mulher quando ela sabe que esta gerando um filho, Draco.
– ele odiava que dissessem a ele que não sabia de algo. – Hermione passou por
um processo bem limpo de aborto. Temos magia ao nosso favor. Obviamente
que ela passou por muita dor no começo, mas o processo de cura a acalmou
mais. – ela respirou fundo deixando seu chá sobre a mesa de centro - Poderia
ter dado muito errado porque ela já estava em um estágio bastante avançado
de gravidez, mas a equipe que a atendeu estava bastante preparada. Você
sabe, nenhum daqueles medibruxos iria querer uma sentença de condenação
vinda do mestre se errassem em algum detalhe. – Draco tinha que concordar
com aquela parte – Eles informaram que em uma semana e meia ela estaria
perfeitamente pronta para engravidar novamente. – Narcisa o encarou – Eu
não sei exatamente o que aconteceu ali, Draco. – ela disse – Mas sei que para
esses médicos terem conseguido uma magia que recupere Hermione em uma
semana e meia, o Lorde deve estar louco para vê-la grávida novamente e se eu
fosse você, não ousaria pisar fora dessa linha. – ela se aproximou novamente –
Cuide bem disso porque se há alguém que Hermione esteja odiando tanto
quanto Voldemort nesse momento, esse alguém é você.

Ele franziu o cenho. Aquilo soava errado.

- Não foi minha ideia matar a criança!


Narcisa pareceu aborrecida com o tom dele.

- Ela não fez a criança sozinha. Era filha tanto sua quanto dela e você
esteve lá, de pé, parado, olhando inexpressivo enquanto assistia a mulher que
carregava um fruto seu sofrer um atentado daquele sem mover um músculo,
dizer uma palavra, expressar uma emoção!

- Era um teste! Ela sabia que era um teste! Eu não poderia fazer nada!
Hermione é racional o suficiente para ter consciência disso. – ele se sentiu
irritado pela acusação da mãe.

- Hermione está incapacitada de ser racional, Draco! Acabaram de matar o


filho dela! Ali ela não estava se importando com os seus ou os nossos riscos
caso você se expressasse de alguma maneira. Ela estava quase clamando
misericórdia porque sabia que a criança também era sua.

- Mesmo se eu tivesse feito algo, eu não teria o poder de mudar nada!


- Ela não se importava com isso também.

- Como pode saber dessas coisas?

- Eu também sou mãe!

Ele não poderia discutir contra aquele argumento. Enfiou as mãos no bolso
sentindo-se absolutamente perdido. Nunca, em sua vida inteira, ele havia se
percebido tão deslocado. Não conseguia pensar em nenhuma ação racional, não
sabia como agir, o que fazer. Não sabia nem o que queria.

Sentou-se no sofá sentindo que seu corpo pesara. Narcisa o acompanhou


sentando-se bem ao seu lado. Ela segurou sua mão machucada e a analisou em
silêncio. Não perguntou nada e Draco ficou agradecido por isso.
- Eu sei que seu pai o ensinou a ser como uma câmara reclusa a prova de
tudo e eu não fui também o melhor exemplo para livrá-lo desse fardo, mas
mesmo sendo quem somos, é importante nos permitir admitirmos que as vezes
as coisas nos atingem em uma escala que nos abalara além do físico. – ela
parecia completamente desconcertada ao dizer aquilo. Como se escolhesse
cada palavra com muito cuidado. Draco apenas assentiu. Um estranho silêncio
passou por eles e então ela se levantou. – Ela está no quarto. Tomou poções
pesadas para poder dormir, mas não creio que tenha conseguido ainda. – ele
assentiu novamente. – Estou exausta e preciso ir para casa. Vocês vão ficar
bem sem mim. – foi assim que ela pegou suas coisas e deixou a casa.

Draco deixou seu corpo pesar contra o encosto. Bagunçou os cabelos, afrouxou
a gravata e apertou os olhos com pulsos. Soltou o ar e relaxou. Tentou limpar a
mente o máximo que conseguiu. Seu corpo estava exausto e ele se deixou
pesar.

Para ele parecia ter se passado horas ali naquela posição, naquele sofá,
naquela penumbra. Olhou em volta e se deu conta de uma pequena pessoa
descendo as escadas com dificuldade. Olhou com mais cuidado e viu cabelos
loiros cumpridos como o seu, como o de sua mãe e como o de seu pai.

- Papai? – a pequena pessoinha fez soar sua voz infantil. Ela olhou envolta
um tanto perdida até encontrar seus olhos extremamente cinzas com o dele. Os
olhos dela eram exatamente como os dele. – Papai! – ela correu até ele e
escalou sua perna para subir em seu colo. – Está escuro. – ela passou os
bracinhos em volta de seu pescoço e o apertou com força. Draco tocou o cabelo
da criança e sentiu a textura dos cabelos de Hermione. – Onde está a mamãe?
Draco tocou a fina camisola da garotinha e alisou suas costas.

- Mamãe está passando por um momento difícil. – ele se viu dizer.

Ela afastou-se para olhá-lo e Draco viu o nariz de Hermione nela, viu a boca de
Hermione, o queixo de Hermione, as bochechas de Hermione. Piscou seus
olhinhos cinzas e fez uma expressão de dúvida.

- Por que? – foi o que ela perguntou.

Draco abriu os olhos naquele momento quase que em um susto. Tudo estava
exatamente como deveria estar na realidade. Não havia nenhuma garotinha por
ali. Continuava escuro e ele puxou o relógio para ver que não havia cochilado
mais de alguns minutos, mas foi o suficiente para decidir que precisava ver
Hermione. Precisava saber como ela estava. Em que estado estava.
Subiu as escadas, cruzou os corredores e chegou ao seu quarto onde encontrou
uma última vela ainda acesa ao ponto de findar. A cama estava fazia, mas
estava desfeita do lado de Hermione. Olhou a redor confuso e dirigiu-se para o
lavatório. A encontrou lá, de frente para o espelho, vestida em uma de suas
habituais camisolas, os cabelos estavam bagunçados, os pés descalços, as
mãos apoiadas na bancada tremiam, seu corpo inteiro e sua postura parecia
frágil. Pelo espelho ele podia ver os olhos vermelhos e fundos dela e não
demorou para que ela conseguisse avistar sua presença ali.

Draco surpreendentemente se viu temer pelo que sua mãe havia lhe dito. Ele
não queria ter o olhar condenador de Hermione, seria demais, parecia horrível
ter que suportar mais aquilo, mas contrário do que realmente esperava, ela
parecia tão exausta que talvez sequer forças para olhá-lo com ódio tinha.
Aproximou-se com cuidado e se colocou ao lado dela, vê-la naquele estado
provocava um pressão irritante em seu peito.

- Hermione... – ele sentia uma culpa que nunca sentira antes. Como se
tudo aquilo, como se o estado em que ela estava, como se o casamento que
tinha, a morte de sua filha, a vida que levava fosse culpa inteiramente e
exclusivamente sua. E realmente era. Ele nunca deveria tê-la trago para
Brampton Fort. Nunca deveria tê-la capturado. Sua garganta pareceu se fechar
como se a pressão em seu peito estivesse subindo. Ele precisou respirar fundo.
– Eu queria poder ter feito...
- Você não poderia ter feito nada. – ela o cortou usando uma voz baixa que
quase nem parecia dela. Sua voz era sempre melodiosa, calma e firme, mas ele
nunca havia ouvido aquele som morto sair de sua boca. – Agiu como deveria
agir, não o culpo por isso.

Ele soltou o ar e deu mais um passo em direção a ela. Afastou seus cabelos
para trás do ombro e deslizou o dedo pela pele de seu pescoço. Era estranho
tocá-la quando não estavam fazendo sexo, mas ele precisava.

- Você deveria dormir um pouco. – solto o ar – Pode ajudar a esquecer.

Ela segurou sua mão e a afastou. Os dedos dela estavam gelados, úmidos e
pegajoso. Ele recuou.

- Eu apenas não estava me sentindo bem. – ela usou aquela voz morta.

- Posso chamar um medibruxo.


- Não preciso. – ela respondeu e ele pode finalmente sentir a fina agulha de
ressentimento que saia junto com seu tom de voz.

Ele a observou dar as costas e seguir o caminho de volta para o quarto com um
pouco de dificuldade. Draco se considerou idiota. Em que mundo ele havia
aterrissado para se preocupar com Hermione, afinal? Ele não precisava daquilo,
nunca havia precisado. O que havia um dia importado ali entre eles já não
existia mais. E sempre que se lembrava disso se sentia ferido.

Seguiu sua rotina o resto da semana inteira. Acordou pela manhã no horário
normal, tomou café, foi para a Catedral, teve que se ausentar para fora de
Brampton Fort alguns dias, mas sempre voltava para casa, comia seu jantar e
dormir. A companhia de Hermione não existia. Ela ficava na cama quando se
levantava e quando voltava ela ainda estava lá. Todo o tipo de refeição que
costumava fazer em sua companhia também voltara a ser como nos velhos
tempos. Perguntava com frequência a Tryn se ela estava se alimentando ou se
havia feito algo no dia e tudo que recebia da elfa era um aceno negativo com a
cabeça. Chamara sua mãe algumas vezes, mas a resposta havia sido a mesma.
Não ouvir a voz de Hermione no começo havia sido quase que um alívio, mas
agora estava realmente começando a preocupa-lo. Ela não poderia
simplesmente vegetar para sempre. Por mais que precisasse de seu próprio
tempo para se recuperar, não parecia exatamente que estava se recuperando.
Soltou o ar com calma enquanto se aventurava para dentro do quarto de Pansy
na Catedral. Era cedo e fim de semana o que não fez com que ele se
surpreendesse por encontra-la entre os lençóis de sua cama. Não se importou
em fazer o barulho necessário para encher um copo de gelo e whisky e se
sentar em uma das confortáveis poltronas de seu quarto sempre escuro.

- Seria assustador acordar e encontrar alguém sentado em minha poltrona.


– a voz dela saiu preguiçosa e abafada pelo próprio travesseiro.

- Que bom então que já está acordada. – ele comentou após provar de sua
bebida. Ela riu e moveu-se se espreguiçando. Ele recebeu a risada dela como
algo errado. Sim, parecia errado que qualquer pessoa no mundo sorrisse.
Quando Pansy se sentou a primeira coisa que notou foi seu cabelo. – O que fez
com o cabelo? – soara estúpido já que era bastante visível que ela havia o
cortado bem acima dos ombros.

- Cortei. Não parece óbvio o suficiente? – ela passou os dedos pelas


madeixas escuras que agora estavam curtas e em camadas. – Gostou?

- Não. – ele gostava dos cabelos longos dela. Gostava de segurá-los e de


puxá-los quando faziam sexo.
- Vai se acostumar. – ela piscou e se levantou.

Pansy não vestiria seu roupão. A camisola que usava que desenhava
perfeitamente seu corpo e que mal lhe cobria abaixo dos quadris era o
suficiente para se usar perto dele. Ela se dirigiu ao seu lavatório e Draco bebeu
mais de sua bebida.

- Me diga... – a voz dela soou de lá de dentro depois de alguns minutos. –


que veio buscar seu presente de aniversário. – ela riu. – Bem atrasado.

- Não estou procurando por sexo, Pansy. – ele respondeu.

- Isso não soa muito com o que o Draco Malfoy que eu conheço diria. – ela
apareceu na porta enxugando o rosto molhado.
- O Draco Malfoy que conhece é o Draco Malfoy que sua própria cabeça
criou. – ele respondeu e bebeu mais um gole.

- O Draco Malfoy que eu conheço é o Draco Malfoy que cresceu comigo. –


findou ela e entrou novamente para dentro do lavatório. – E ele não teria
demorado tanto para vir buscar seu presente de aniversário.

- Será que poderíamos esquecer meu aniversário e esse maldito presente.


– ele estava começando a se irritar.

Ela surgiu novamente e caminhou até ele.

- Você está aqui para conversar. – ela o olhou e cruzou os braços a sua
frente. – Você sabe que isso nunca da certo. Eu não sou sua amiguinha de
papo, Draco. Nós temos algo muito mais intenso.
- Por intenso você quer dizer sexo, não é? – ele começou - Eu não quero o
seu teatro, Pansy. Não hoje.

Ela soltou um suspiro aborrecida. Colocou uma perna de cada lado dele e se
sentou passando as mãos na barba rala que nascia ao redor de seu queixo.

- Você esquece que eu existo por quase um ano, vem ao meu quarto e diz
que não quer sexo. Esse pode ser seu superficial pensamento de agora, mas
sabe o que significa vir ao meu quarto desde sempre. – ela se encaixou mais
em seu colo. Pansy era boa com aquilo, ela era apenas excelente em usar seu
corpo. – Me diga, Draco. – ela deixo seus lábios roçarem no dele – Do que
lembra quando me vê com o cabelo assim.

Ele soltou o ar não acreditando que ela estava mesmo tocando naquele
assunto.

- Você não vai querer ir fundo nessa história, Pansy.


- Então você se lembra. – ela sorriu e desceu a boca por seu pescoço.

Tinham treze anos quando descobriram pela primeira vez em suas vidas o que
era sexo. Eram novos demais e mal sabiam o que estavam fazendo. Voltar no
tempo era como ver duas crianças querendo ser dois adultos naquele verão em
que suas famílias alugaram um castelo sobre o alto de um penhasco. Naquela
época Pansy usava os cabelos quase exatamente como agora e quando ela se
afastou de seu pescoço para encará-lo ele também quase teve saudade da
criança que ela costumava ser. Encarou seus olhos perfeitamente azuis, o
rosado de suas bochechas que era quase o mesmo de sua boca chamativa. Ele
tocou o rosto dela, arrastou seu dedo pelo lábio inferior carnudo e desejável.
Haviam aprendido sexo juntos. Haviam adquirido experiências com outros,
trago para cama deles, compartilhado do que gostavam e não gostavam.
Haviam crescidos juntos e então toda a obsessão de Pansy estragara o que eles
poderiam ter tido.

- Pansy. – ele começou encarando aqueles profundos olhos azuis


dissimulados – Sei que fez isso para chamar minha atenção. Sei também que
faz muita coisa para chamar minha atenção, mas você não usa o cabelo assim
desde quando tinha quatorze anos. Se fizer as contas isso vai dar muito tempo.

O olhar dela escureceu.


- Eu vi uma mulher que odeio carregando o filho do homem que eu amo.
Como acha que eu iria reagir a isso, Draco?

O olhar dela talvez também tivesse escurecido, porque se lembrar que aquilo
não seria mais um problema para ela fez com que ele quisesse empurrá-la, ir
embora e se trancar em seu escritório novamente onde poderia beber até
perder a consciência. Desviou o olhar, tomou um longo e grande gole de sua
bebida e tornou a encará-la.

- Hermione perdeu o filho. – ele não precisava dizer a Pansy que na


verdade era filha.

O sorriso que ela abriu o enojou.

- Eu sabia que ela era fraca. – aquilo foi o suficiente para que Draco a
empurrasse. Ela reclamou pelo tratamento e se afastou dele quando ele se
levantou. – Está louco? Nunca me tratou com essa agressividade! Acaso está
com pena dela?
- EU NÃO ME IMPORTO COM ELA! – Ele se sentiu furioso. Vinha se sentindo
bastante furioso ultimamente. – É APENAS HERMIONE! MAS ELA ESTAVA
CARREGANDO MEU FILHO! MEU SANGUE! VOCÊ NÃO TEM CÉREBRO OU ESTÁ
FINGINDO QUE NÃO TEM UM, PANSY? NÃO SE SORRI PARA ALGUÉM QUE
ACABOU DE PERDER UM FILHO! – ele terminou ofegante.

Ela fez uma careta confusa e riu. Riu com vontade.

- Desde quando você começou a ser sentimental? – ela se afastou – Não,


porque até onde sei você não queria filhos. Nunca quis. E agora está sofrendo
por um que nunca nem chegou a conhecer!

Ele quis retrucar grosseiramente, fazê-la se sentir mal por ter dito o que disse,
fazê-la se sentir como ele se sentia, mas a racionalidade das palavras dela o
atingiu de modo que o calou. Deu as costas soltando o ar com raiva. Virou o
copo de whisky e o deixou sobre uma das secretarias encostada na parede.
Inclinou o corpo sobre ela e fechou os olhos sentindo a madeira envernizada
contra a palma de suas mãos. Respirou fundo. Havia algo que Pansy não
entendia ali. Algo que nem ele sabia explicar.

- Existe algo, Pansy... – ele começou depois de alguns minutos – Algo que
parece crescer dentro de você quando... – soltou o ar e se desencostou do
móvel - ...quando aguém te diz que terá um filho. Cresce com o tempo. É como
um... – ele parecia perdido nas próprias palavras quando tornou a encará-la. –
É como um... sentimento. – aquela palavra parecia tão estranha.

Pansy fez uma careta e riu.

- Sentimento? – ela riu mais alto parecendo não acreditar no que ouvia –
Meu Deus! Quem é você?

Draco soltou o ar frustrado.

- Adeus, Pansy. - Deu as costas e foi em direção porta. Não tinha


paciência. Não sabia nem porque havia ido até ali em primeiro lugar.

- Hei! – ela se adiantou e se colocou entre ele e a porta – Você veio ao meu
quarto e não vai embora antes de...
- De o que? – ele a interrompeu sem paciência. – De fazermos sexo? –
sugeriu ele – É isso que sempre quer! É apenas nisso que pensa!

- E quando foi que sexo não foi a única coisa em que pensou quando
estava comigo, Draco?

- Não não, Pansy. Não transfira os seus pensamento para


mim! Você sempre quis sexo e por isso eu sempre a procurei para sexo, mas
isso não é tudo que significa para mim! – ele exclamou – Por que acha que eu
te dei esse colar afinal? Você tem a consciência de que é uma das poucas
pessoas nesse mundo do qual eu compartilho afeto e não sabe ser nenhum
pouco criativa com relação a isso! Tudo que você quer de mim é sexo e amor!
Eu te dou sexo, e não vou te dar amor apenas porque te dou sexo e não vai
conseguir amor através de sexo portanto se quer um conselho, Pansy, mude
sua estratégia. Está começando a me cansar.

- Você sabe que está repetindo esse discurso, não sabe? – ela o deteve se
colocando a frente dele novamente quando ele tentou desviar a rota de saída. –
Veio com essa ideia quando toda a fantasia da sua família caiu e olhe só o que
nos acompanhou durante todos os anos até aqui: sexo! Não diga que esta
começando a se cansar porque nós já passamos por isso mais de uma vez.
- E continuamos estancados no mesmo lugar!

- O que quer de mim, Draco?! – ela finalmente se mostrou realmente


irritada.

- Eu queria que fosse o que deveríamos ser depois de todos os anos que
nos conhecemos! Queria que fosse uma amiga! A única que um dia eu poderia
ter! Que escutasse de vez em quando! Que fosse uma companhia!

- Eu não sou sua amiga, sou sua amante! Não vou abrir mão desse status
porque eu sei que vai ser o mais alto que conseguirei com você!

- Então me devolva o colar que te dei. – ele queria feri-la. Tudo que ela se
preocupava era status. Ela era tão igual quanto todas as outras pessoas que o
rodeava. – Se tudo que quer é apenas sexo você não precisa carregá-lo no
pescoço com o orgulho que carrega. Sexo não significa nada para mim. Não
significa o que você quer que signifique. Se fosse assim eu e Hermione
estaríamos vivendo uma intensa história de romance, mas nós estamos bem
longe de uma. Se fosse assim eu estaria apaixonado por metade das mulheres
de Brampton Fort. Se fosse assim eu e você teríamos nos casado como quer há
muito tempo atrás.

Ele fez menção de desviar-se dela novamente, mas dessa vez ela colou contra
a porta e não disse nada, tomando seu tempo para engolir e digerir todas as
palavras dele.

- Eu acho... – ela começou depois de um longo minuto com o tom de uma


conclusão final - ...que está passando por um sério problema. Você soa muito
confuso e isso me assusta. – ela não estava nada feliz com aquele olhar. –
Talvez você precise passar um tempo sozinho. Só você. Vou te deixar ir e fingir
que essa conversa nunca aconteceu.

- Foram as palavras mais sábias que eu escutei de sua boca em anos. – ele
retrucou tão sério quanto ela. Nada de teatro, nada de gemidos altos, nada de
falsa sedução, nada de sexo. Realmente aquelas haviam sido as palavras que
ele escutaria de Pansy sem sua máscara. Ele queria que ela fosse assim
sempre. Que ela se despisse de todo o armamento que usava para chamar sua
atenção e a de metade dos homens da cidade. Assim ele se lembrava ao menos
um pouco da criança que ela havia sido um dia.

Pansy ainda o encarou por alguns segundos como se esperasse que ele fosse
desmentir aquela baboseira toda. Como se ele fosse sorrir, agarrá-la e arrastá-
la para cama, mas quando finalmente pareceu convencida que nada daquilo era
mentira, se afastou, abriu a porta e o deixou passar.
Draco desceu dali direto para sua sala onde se trancou e esvaziou a última
garrafa de álcool que lhe restava. Contou no relógio as horas que faltavam para
o seu dever principal ali na Catedral aquele final de semana e se permitiu
esvaziar a mente. Era tudo que precisava fazer. Nunca precisara daquilo com
tanta frequência em sua vida, nem mesmo quando descobrira que sua família
era uma farsa.

Cobriu o rosto e soltou o ar sentindo aquela agonia que lhe corroía quando a
memória lhe trazia as lembranças que mais queria esquecer. Não era sua culpa.
Ele não poderia ter feito nada. O que poderia ter feito? Tinha sonhos onde
encarava sua própria figura de pé, estática, com a expressão fria que sempre
carregava, naquela sala de jantar, encarando Hermione sofrer pela morte da
filha que gerava. Sua filha também. Até que ponto havia chegado com
Voldemort que o fizera encarar o assassinato de sua própria filha do mesmo
modo que assistia a morte de prisioneiros no salão principal da Catedral?

Ficava horas tentando descobrir onde havia falhado. Por que havia falhado?
Como nunca desconfiara daquilo? Talvez se tivesse se envolvido na gravidez de
Hermione desde o começo. Se tivesse ido com ela nas consultas marcadas
pudesse ter conseguido as devidas informações antes delas serem enviadas a
Voldemort e talvez aí então fosse capaz de evitar isso, encontrar uma forma de
contornar a situação, de fazê-lo aceitar uma garota. Como não havia sido capaz
de proteger sua própria família? Era um Malfoy! Independente de qualquer
relação que tivesse com Hermione, eram uma família e ele tinha o dever de
protegê-la. Crescera debaixo desse ensinamento. Como pode falhar? Ele nunca
falhava!
Batidas na porta o tiraram de seus devaneios.

- Senhor? – era a voz de Tina. Ele odiava como aquela mulher parecia ter
medo dele ultimamente. O receio na voz dele o fazia querer demiti-la todas as
vezes. – Sua audiência aberta começa em trinta minutos.

Draco soltou o ar e levantou os olhos cansados.

- Estarei lá em dez minutos. – respondeu sem um pingo de vontade.

Levantou-se de sua cadeira se sentindo pesado. Encarou seu próprio reflexo


pelo vitral colorido de fundo. O fantasma daquela menina o perseguia. Sua
filha. Havia se acostumado com a ideia de um filho quando Hermione estava
grávida, mas uma menina parecia muito mais real agora. O atormentava. O
atormentava junto com Hermione. As duas o condenavam. Sua filha quando
sonhava com seu ser imaginário e Hermione com todas as vezes que chegava
em casa e a encontrava ali, imóvel, na cama, exatamente onde havia a deixado
antes de ir embora, fraca, sem se alimentar, sem abrir a boca para emitir um
som sequer.
Ajeitou a gravata. Certificou-se de que seus cabelos estavam alinhados e de
que não havia nenhum amassado em sua roupa. Soltou o ar e tentou se livrar
de todo aquele peso. Quando abriu a porta de sua sala vestia a máscara de
sempre. Intacto e inabalável. Puxou o relógio de seu bolso e verificou que havia
perdido a hora do almoço. Ultimamente ele andava perdendo a própria noção
do tempo. Avistou sua mãe logo na porta da entrada privada do auditório
principal.

- Mãe? – parou quando encontrou-se com ela. – O que está fazendo aqui
domingo a tarde?

- O que o resto da cidade inteira está. – ela usava um tom baixo de voz. –
Todos sabem que passar a audiência aberta anual sobre a guerra para domingo
a tarde foi uma estratégia para ter um auditório vazio.

- Essa ideia foi do conselho e saiba que não concordei.

- Não fez muita diferença, fez? – ela aproximou-se dele. – Tem certeza de
que está preparado para hoje? Há pessoas aqui com cinquenta pedras na mão.
Todos sabem que as coisas estão oscilando.
- Já passei por audiências piores quando assumi o posto que ocupo. Vim
me preparando a semana inteira para isso. Trabalhei tempo o suficiente para
estabilizar essa guerra, tenho bastante argumento contra qualquer acusação
deles.

Narcisa assentiu e o olhou com firmeza.

- Apenas sente lá com a confiança que sei que tem e haja como se nada
pudesse te quebrar, certo?! Essa é uma audiência aberta. – soava como um
conselho, mas ele sabia que era uma ordem. Assentiu.

- Sabe que sou bom nisso.

Ela assentiu novamente concordando, mas não deu as costas nem foi embora.
Ele esperou que ela fosse, mas ela continuou ali, o encarando, como se
estivesse em um dilema sobre dar as costas ou encontrar uma forma de
perguntar o que queria.
- Sei que talvez tenha tido uma semana difícil. – ela disse depois de limpar
a garganta. Olhou para os lados. – Hermione? – foi somente o que questionou.

Draco desviou o olhar quase que imediatamente e se afastou um passo. Não


tinha interesse em tocar naquele assunto. Não ali. Parecia inconveniente, mas
ele sabia que era sim conveniente visto que uma sala fechada e isolada tornaria
aquilo muito menos casual e o que ele menos queria era se aprofundar em
assuntos como aquele. Apenas negou com a cabeça quando tornou a encarar
sua mãe em sinal de que sobre ela não havia muito o que comentar além das
atualizações que ela provavelmente recebera durante a semana.

- Ela não levanta. Não come. Não fala. – era tudo que ele tinha a dizer
sobre ela.

Narcisa respirou fundo sem perder sua postura.

- Tem que encontrar uma forma de concertar isso.


Ele fez uma careta.

- Eu não tenho que fazer nada. – aproximou-se e sentiu sua mandíbula


travar. – Não quero conversar sobre isso. Tenho uma audiência aberta para
enfrentar e a última coisa que preciso agora é do nome Hermione e tudo que o
envolve para me atormentar.

Ela mostrou as mãos em sinal de paz. Sabia que ele sofria de culpa, mas nunca
comentaria, e se ele um dia chegasse a comentar, ela diria que ele deveria
aprender a lidar com isso e que era o mínimo que deveria saber depois de
todos aqueles anos servindo a Voldemort. Deu as costas e foi embora.

Draco soltou o ar e se julgou por ter sido rude. Respirou fundo sabendo que
estava prestes a entrar um uma sala cheia de homens que deveria bajular e
carregar uma expressão de que mataria qualquer um que passasse a sua frente
não era a mais sábia das decisões. Continuou seu caminho e assim que
alcançou os fundos do palco encontrou os rostos familiares e uma bela mesa de
aperitivos.
- Vejam só se não é a nossa grande estrela da tarde! – exclamou um dos
associados se aproximando com um copo de bebida em sua mão. – Achávamos
que nunca chegaria.

- Sou alguém ocupado, Simon. Diferente de você. – tentou soar tão


descontraído quanto ele, o que para Draco era uma tarefa que demandava
bastante esforço.

- É melhor que esteja preparado para hoje. A casa está cheia. – Simon lhe
estendeu uma taça de bebida extra que havia em sua outra mão.

Draco recusou.

- Prefiro estar sóbrio para o que vou enfrentar. - disse.


Uma terceira voz familiar lhe chamou atenção fazendo o se virar e deixar
Simon.

- Creio que do tanto de álcool que já o vi ingerir, Draco, nem se bebesse


essa festinha inteira conseguiria sair do estado sóbrio. - Isaac Bennett vinha
com um sorriso aberto em sua direção. – Me lembro de você quando estava no
meu sexto ano. Um quartanista que havia conseguido roubar três barris inteiros
de vinho da cozinha para subornar sua entrada na nossa pequena festinha. –
Isaac riu – Me lembro bem de como ficou mal aquela noite.

A lembrança atingiu Draco como algo bom para seu cérebro depois de toda a
confusão daquela semana. Se lembrar daquela época era como se lembrar de
quando era leigo o suficiente por achar que estalar os dedos fazia com que o
mundo se ajoelhasse aos seus pés.

- Não monte a minha imagem de pré-adolescente fraco, Isaac. Você era


um sextanista que não aguentava quatro copos de whisky sem vomitar. – disse
e Isaac riu alto. Draco se viu sorrir pela primeira vez naquela semana.

- Realmente não sei como nossos fígados sobreviveram aquela época. – ele
bateu no ombro de Draco ainda rindo.
- Como foi sua chegada? – perguntou Draco.

Isaac liderava o Departamento de Segurança do Forte da América. Era um


anexo da Sessão da Cidade que se estendia até lá. Seu trabalho fora nomeado
marcante por três anos consecutivos, o que fizera com que Draco o estudasse e
o transferisse para a Europa para ocupar um dos cargos altos de seu
departamento.

- Não posso reclamar. – Isaac deu de ombros. – De fato realmente quer


que eu trabalhe para você. Comitiva de recepção. Uma torre exclusiva para
minha família. Jantar no melhor restaurante do centro. Convite para esse essa
recepção pré-palco. Devo dizer que não fui muito inteligente de aceitar sua
oferta logo de cara, talvez se eu tivesse me feito de difícil fosse capaz de
ganhar algumas boas regalias.

Draco sorriu.

- Você sabe que eu não sou de implorar, Isaac.


- Mas sabe ser bastante persuasivo quando quer. – eles começaram a
caminhar para saírem do caminho do fluxo de pessoas. – Me permita dizer algo.
Não foi nada inteligente passar essa audiência para domingo a tarde. Só fez
chamar mais a atenção.

- Eu não concordei com a mudança. – Draco justificou. – Mas parece que


depois de todos esses anos liderando essa guerra as pessoas ainda não gostam
de me dar ouvidos.

- Não consegue controlar os homens de seu próprio conselho?

- É difícil conter um bando de velhos tradicionais que acham ser donos da


sabedoria. As vezes é importante deixar com que decidam as coisas e vejam o
quão estúpidos são, assim talvez percebam o lugar real que ocupam dentro
dessa cadeia alimentar.

Isaac riu e bebeu de sua própria bebida.


- Soube que se casou com Hermione. Hermione Granger. Devo confessar
que foi um choque e tanto. – ele comentou.

Draco desejou ter aceitado a bebida mais cedo para poder ocupar sua boca e
disfarçar qualquer reação contra o comentário dele.

- Foi um choque para todos. – foi o que Draco escolheu dizer. Havia sido
um choque até mesmo para ele.

- Jamais imaginei que de todas as mulheres que tinha nas mãos escolheria
ela. Quero dizer, o mundo inteiro sabe que ela é uma mulher excepcionalmente
linda e que muitos homens por aí se matariam para tê-la, mas você tem todo o
histórico de sua família e...

- Hermione é muito única, Isaac. – Draco o cortou antes que ouvisse o que
não estava afim de contornar. – Uma vez que a tem qualquer outra mulher se
torna comum demais. – talvez assim desse um ponto final no assunto.
Ele ergueu as sobrancelhas surpreso.

- Ela é boa assim?

Draco assentiu.

- Ela é boa assim. – finalizou. Não queria entrar no detalhe da história


romântica que haviam escrito para os dois, nem do suposto envolvimento que
haviam tido em Hogwarts. Isso estava estampado em muitas revistas e jornais
para que tivesse que ficar reproduzindo.

- Papai!
Draco escutou uma voz infantil de longe e teve que piscar enquanto sua cabeça
deu voltas para ter certeza de que não estava entrando no delírios de seus
pensamentos novamente. Isaac pareceu reconhecer o chamado e voltou-se
para uma garotinha de no máximo quatro anos que corria até ele sobre os
sapatinhos dourados e um vestidinho de veludo azul marinho. Draco recuou
quase que instantaneamente. Nunca havia sido fã de crianças. Não sabia bem
como lidar com elas já que não faziam parte de sua realidade. Não visitava
parques nem ia ao centro com frequência e quando era sua obrigação
comparecer em a jantares familiares crianças eram raras e ficavam sempre em
um grupo longe de sua atenção. Eram seres estranhos e Draco não tinha muita
paciência para falta de comportamento adequado.

- Não é nenhum fantasma, Draco. – Isaac riu passando as mãos nos


cabelos castanhos ondulados da menina enquanto ela se agarrava em sua
perna. – É apenas minha filha.

- Eu não imaginava que ela já tivesse esse tamanho. – justificou sua


reação a criança. Não que desprezasse crianças no geral, mas ultimamente vê-
las o afetava de uma forma completamente estranha. Sabia que Isaac tinha se
casado há alguns anos atrás e que tivera uma filha.

- É, eu sei. Eles crescem rápido. Vai ver quando tiver um. – ele tentava
fazer com que a menina não se escondesse atrás de suas pernas. – Vamos
pequena, esse é Draco Malfoy. Aquele da revista. Apresente-se. Não finja que
não lhe dei educação. – falou com a garotinha.
Draco não sabia como funcionava o cérebro daqueles pequenos. Não sabia
como se portar quando se direcionasse a eles. Quando se agachou para ficar na
altura dos olhos da menininha percebeu que era a primeira vez em sua vida
adulta que ligava sua atenção a de uma criança. A garota parecia tão receosa.
Parecia quase ter medo de sua figura. Era normal. Crianças costumavam o
temer. Talvez fosse culpa de sua postura intocável.

- Qual é o seu nome? – ele perguntou a ela. Não sabia se estava fazendo
aquilo certo. Usara o mesmo tom que usaria com qualquer outro adulto. Talvez
isso fosse errado. Talvez ele devesse amaciar um pouco a voz, mas ao
contrário de recuar, a garotinha ainda relutando aproximou-se e estendeu a
mão.

- Me chamo Elise. – disse ela numa voz suave, infantil e doce enquanto
suas bochechas coravam sob a pele pálida que realçavam seus olhos escuros.
Draco segurou a mãozinha pegajosa da menina e a apertou. – Prazer em
conhecer o senhor. – ela reproduziu como uma frase decorada, o que fez Draco
sorrir.

Olhou fundo nos olhos daquela menina. Ela não se parecia nada com a que o
atormentava em seus pesadelos, mas ainda lhe provocava aquela sensação
incomoda e angustiante. Queria que fosse dele. Queria ter tido a sua. Sua filha.
- Você é uma garotinha muito bonita, Elise. – ele disse também não
sabendo se estava fazendo certo.

Dessa vez a menina corou intensamente e deu as costas para correr, mas uma
mão a deteve e não foi a de Isaac.

- Não mesmo moçinha! Você não vai fugir assim novamente! – a voz era
feminina e quando Draco ergueu os olhos encontrou a mulher. Cabelos
castanhos, olhos azuis, vestido verde. Ela continuava exatamente como Draco
se lembrava. Ele se ergueu novamente e a mulher o notou. Quando seus olhos
se encontraram ela corou. Colocou os cabelos para trás da orelha e ajeitou a
postura quase que imediatamente. – Draco. – ela disse parecido ter sido pega
de surpresa.

- Astoria. – retrucou ele.

Ela sorriu. O sorriso dela continuava bonito.


- Céus. É bom te ver! – ela não parecia ter mais o que dizer. – Soube que
se casou. Foi uma notícia e tanto no forte da América. – disse após um longo
segundo de silêncio incomodo. Draco assentiu.

- Disse isso a ele, querida. – Isaac disse.

- Como estão se sentindo de volta a Inglaterra? – perguntou Draco


tentando não deixar com que aquele silêncio voltasse novamente.

- Devo dizer que é ótimo voltar a escutar o sotaque britânico. – riu Astoria.
Draco sempre havia achado que ela sorria demais. – Já andamos olhando
algumas casas do outro lado do rio. Brampton Fort é muito peculiar. É um lugar
muito bonito. Você sabe que eu nunca tive a chance de conhecer antes. –
findou ela.

Astoria havia se casado com Isaac para se proteger da guerra. Os Greengrass


não possuíam vínculos com Voldemort e naquela altura os Bennett já haviam
conseguido ser transferidos para o forte da América. Era muito risco viver fora
de um forte quando a Europa estava tão dividida e uma família de brasão como
os Greengrass não se sujeitariam estar fora do ciclo social do lado vencedor.
Obviamente que o casamento não havia sido de todo ruim para ela. Os Bennett
eram ricos e influentes e Isaac em especial tinha uma reputação bastante
considerável com as garotas desde Hogwarts, só sempre estivera muito focado
nos estudos ou no trabalho para dar a devida atenção a elas, o que muito
provavelmente o ajudara a se estabilizar com Astoria facilmente. Ela havia sido
praticamente entregue a ele.

- Bom, espero que encontrem um bom lugar para morar. – Draco já estava
começando a se nausear com aquela situação. – A torre que foi disponibilizada
para vocês estará a disposição enquanto trabalhar para mim. – bateu nos
ombros de Isaac e deu as costas.

Não esperava ter que lidar com ele tão rápido, mesmo que soubesse que havia
autorizado o convite para que ele comparecesse ao pré-palco. As primeiras
semanas dele em Brampton Fort ainda era de cuidados de sua equipe e Draco
não tinha o menor interesse em participar de sua adaptação nem de seu
aprendizado sobre o departamento.

Draco não conseguiu ficar nem mesmo um minuto por sua conta. Logo alguns
dos homens de seu conselho o pararam para o repreender por ter escolhido
chegar no pré-palco faltando poucos minutos para a abertura da audiência. Foi
seu dever também cumprimentar algum dos títulos altos que se encontravam
ali e gastou poucos minutos com isso.

Escolhia qual uva experimentar quando Astoria colocou-se ao seu lado na


mesa. Estar de costas ali havia sido uma estratégia para esconder seu rosto do
público e ter alguns segundos de paz, mas aparentemente ela estivera o
observando com cuidado.

- Está me seguindo? – perguntou ele se julgando por não ter prestado


atenção antes. Colocou uma das uvas na boca.

- Com os olhos. – ela respondeu sem medo ou vergonha.

- Por que? – ele a olhou finalmente.

- Porque você é Draco Malfoy. – aquilo era bastante explicativo já. – É o


que todos nesse lugar fazem, não é mesmo?

- Então o que quer de mim vindo até aqui? – desejou não ter perguntando
aquilo quase que imediatamente. Ela demorou alguns segundos para expressar
qualquer reação, mas logo suas sobrancelhas se ergueram como se esperasse
que ele entendesse lesse as entrelinhas. E ele leu, só esperava estar errado. –
Sou casado, Astoria. – preferiu dizer - Você também.

Ela franziu o cenho parecendo confusa e ele esperou que aquilo fosse um sinal
de que ele estivesse errado.

- Desde quando alianças como a nossa significam fidelidade no mundo em


que vivemos? – ela fechou os olhos e balançou a cabeça negativamente. – Não
é isso que quero dizer. Eu amo meu marido. Amo a família que temos. E não
estou tentando me arranjar com você agora, Draco. Me desculpe se fiz
entender isso. Sei que posso ter sido uma pessoa diferente no passado, mas
muitas coisas mudam depois que saímos da adolescência, principalmente
quando caímos logo de cara com uma guerra como essa. – ela olhou para os
lados puxando o ar – Apenas quero saber como ela é?

Draco uniu as sobrancelhas.

- Quem?
- Hermione. – Astoria respondeu. – Hermione Granger. Como ela é?

- Qual é o seu interesse? – porque deveria haver um.

- Quero saber como ela é. Quero que me diga isso apenas. Quero saber o
que ela significa para você.

Ele ficou atordoado.

- Ela é minha mulher. – foi tudo que escolheu responder. – Onde quer
chegar?

Astoria pareceu perceber que ele não iria seguir o script dela enquanto não
tivesse uma visão mais ampla sobre o significado de toda aquela abordagem.
- Por anos eu achei que havia errado com você. – ela finalmente começou.
– Eu me julguei por ter chegado tão perto da chance de me tornar uma Malfoy
e ter estragado tudo. Eu sei que estava apenas tentando se desafiar quando
ficou comigo. Queria ver se conseguia ser o homem de uma mulher só. Se
podia ser capaz de entender o que era amor, se era capaz de se apaixonar. Sei
que eu errei. Sei que deveria ter feito coisas que não fiz. Eu tinha a chance da
minha vida nas mãos e era só uma adolescente para entender como
administrar isso. Eu queria saber o que ela fez. O que ela tem de diferente.
Como ela conseguiu te afetar. Nada nunca te afeta.

Draco não sabia o que responder. Ele odiava ser pego de surpresa e jamais
havia esperado que Astoria, depois de todos os anos que haviam estado
separados, e depois da família que ela havia construído, tivesse logo aquela
questão para levantar.

- Você não errou em nada, Astoria. – ele preferiu seguir por esse caminho
do que pelo que ela realmente queria. – Eu não deveria ter feito o que fiz com
você. – aquilo ela melhor que responder qualquer coisa relacionado a
Hermione.

Ela o olhou com uma expressão nada feliz.


- As histórias contam que você e ela se envolveram quando você e
euestávamos juntos. – ela disse e ele se repreendeu por nunca ter feito aquela
sobreposição de informações. – O que ela tinha de diferente, Draco? O que ela,
uma Nascida Trouxa, conseguiu fazer que eu não consegui?

Ele se irritou com a forma como ela se julgava capaz de colocá-lo contra a
parede. Se irritou também por ter percebido que ela havia conseguido por
alguns segundos.

- Você disse que amava seu marido, não disse? Disse que amava sua
família, não disse?

- Sim, mas apenas...

- Então não deveria se importar com isso. – ele a cortou usando um tom
firme. – Meu relacionamento com Hermione fica entre ela e eu. Espero que
essa conversa aqui nunca mais aconteça. Seu marido está trabalhando para
mim e não quero que ele tenha nenhum problema comigo por sua causa.
Preciso do serviço dele. Supere o que tiver que superar e faça isso logo. – foi
severo, sabia como ser rude. Ela Não pareceu nem um pouco abalada. Uma das
mulheres da organização passou avisando naquele momento que ele tinha
apenas cinco minutos. Draco tirou mais uma uva do talo enquanto ainda
encarava Astoria. – Eu e Hermione temos uma história longa. Não mexa com
isso. – ele não precisava de outra Pansy na cidade. Comeu da fruta e deu as
costas.

Teve receio por trazer Astoria de volta ao seu ciclo de convívio quando esteve
trabalhando com os papéis de transferência de Isaac. Precisava do serviço dele,
sabia o tipo de homem que ele era e precisava apostar na confiança que
poderia construir ali. Mas Astoria era o seu pé atrás. Haviam se passado muitos
anos desde a época em que a vira pela última vez e eles nem se falavam
aquele tempo. Ela nunca havia aceitado realmente o fim do relacionamento que
tiveram e ele sempre tivera a clara consciência de ter errado com ela. Sua vida
inteira fora baseada em nunca dar esperanças para nenhumas das garotas e
mulheres que se envolvera e Astoria havia sido o seu grande erro. Não tinha a
consciência do estrago que havia feito com ela porque simplesmente não se
importava realmente, mas agora temia que isso pudesse lhe prejudicar com
Isaac.

Não deixou que aquilo se tornasse mais um de seus problemas e ao se sentar


em seu lugar da mesa da audiência se lembrou de que antes de tudo deveria
ser um Malfoy. As perguntas vieram carregadas. Tentaram o apedrejar de
todas as formas, mas o que não esperavam foi que ele escolhesse não encobrir
nada. Fora sincero ao dizer que não concordara com a mudança da audiência e
que apenas deixara que mudassem porque sabia que lotariam o salão e o que
precisava naquele momento era que todos os ouvidos de Brampton Fort
escutassem com cuidado os fatores que vinham colocando a prova a
estabilidade da guerra. Fez questão de dizer que os motivos ainda eram
duvidáveis, incertos, que muita coisa não passava de especulação e que pouco
do que fizeram havia sido ineficaz. Aproveitou-se de que Voldemort não estava
ali e pela primeira vez ele arriscou dar um passo largo em seus planos mais
secretos.
Usou de uma linguagem limpa e permeável para lançar no ar um pedido de
confiança. Não queria envolver Voldemort, queria que inconscientemente as
pessoas associassem a guerra a ele exclusivamente e que se ele havia a
estabilizado, ele poderia a ganhar. Ele. Draco Malfoy.

Obviamente que teve que ser sutil, Voldemort era alguém que pegava
suspeitas quando elas nem ao menos ainda haviam sido pensadas. Mas Draco
trabalhara anos para construir uma base forte onde pudesse pisar. Estava na
hora de começar a andar a passos largos. Ele só precisava que Hermione
começasse a cooperar ou a imagem que os Malfoy deveriam vender naquele
momento. E foi exatamente com esse pensamento que voltou para casa.

Nunca uma audiência durara tanto quanto aquela. Draco sabia que seria
chamado até o gabinete de Voldemort no dia seguinte para esclarecer tudo
aquilo e já havia preparado um discurso que o fizesse recuar o suficiente para
que Draco pudesse continuar agindo. Sabia que chegaria uma hora que
Voldemort simplesmente não compraria mais suas ideias, mas estava
gerenciando aquilo com cuidado para que pudesse ir o mais longe que
conseguisse antes de decidir jogar sua carta divisora de águas.

E embora encarar o Lorde naquele momento fosse uma grande provação para
ele, não poderia se dar ao luxo de estragar um trabalho de anos por sua cabeça
estar confusa o suficiente em colocar em seus devidos lugares os sentimentos
que lhe afloravam por causa da morte de algo que nunca nem ao menos havia
conhecido. Claro que se toda a maldita história de herdeiro e Hermione não
existisse teria talvez o que girava em torno de umas quinhentas preocupações
a menos.
Céus, ele precisava que Hermione cooperasse.

Subiu as escadas da entrada de sua casa e passou para o lado de dentro. Tudo
estava escuro como costumava ser antes Hermione. Parecia errado agora. O
incomodava da mesma forma como havia o incomodado quando ela costumava
acender todas aquelas luzes durante a noite. Seus passos o levaram
diretamente para a sala de jantar. As luzes lá também se encontravam
apagadas e a mesa lisa e limpa. Por um segundo ele se perguntou o que havia
de errado, mas não demorou muito para que lhe fosse refrescado a memória.

- Tryn. – chamou a elfa e num estalo ela apareceu. – Onde está Hermione?

- A Sra. Hermione Malfoy não deixou o quarto hoje, Sr. Draco Malfoy. – ela
respondeu o que vinha respondendo fazia uma semana.

Ele soltou o ar impaciente.


- A mesa não esta posta. – comentou ele.

- Nenhuma ordem foi dada a Tryn e Tryn pensou que o Sr. Draco Malfoy
não fosse voltar para o jantar. – disse a elfa.

Draco olhou ao redor ainda impaciente e com raiva por perceber o quanto havia
se acostumado com Hermione. Quis castigar sua elfa assim como havia
aprendido com seu pai, mas passara um bom tempo para se livrar daquilo e
não estava disposto a cair nos velhos hábitos que seu pai perdera tempo o
ensinando.

- Tem algo para jantar nessa casa? – perguntou afrouxando a gravata


tentando aliviar sua tensão de alguma forma.

- Tryn tem certeza que pode mobilizar todos os elfos para preparar uma
boa refeição para o Sr. Draco Malfoy o mais rápido possível. – respondeu a
criatura.
Draco assentiu. Elfos Domésticos podiam ser extremamente eficientes e
eficazes sem dor de cabeça quando bem tratados. Isso seu pai nunca havia o
ensinado.

- Não esqueça de colocar a mesa também. – disse e deu as costas.

- Tryn deve colocar o prato da Sra. Hermione Malfoy? – perguntou a elfa e


ele teve que parar. Deixou a brecha de segundos em silêncio enquanto
ponderava sobre aquilo e a elfa se aproveitou. – Porque Tryn não acredita que
a Sra. Hermione Malfoy desceria. A Sra. Hermione Malfoy não come faz dias.

- Sempre arrume a mesa para nós dois, Tryn. Não o faça apenas quando
lhe for dito o contrário. – foi tudo que disse antes de retomar seu caminho.

Se enfiou para o lado de dentro de uma sala íntima qualquer no andar de baixo.
Não tinha nem o menor interesse de subir até seu escritório. Se enfurnara lá
por tempo o suficiente aquela semana para saber que só o ambiente poderia o
adoecer. Também não tinha a menor intenção de ir ao quarto onde saberia que
encontraria Hermione e nem a biblioteca pois sabia que aquele lugar já
carregava o perfume dela. Aliás, cada esquina daquela casa parecia carregar o
perfume dela. Sentia que somente o nome Hermione era capaz de lhe provocar
náuseas.
Acomodou-se em uma poltrona com um copo de conhaque e abriu o jornal. Não
tivera a oportunidade de fazer aquilo aquela manhã quando fora chamado
antes de seu horário de entrada para responder a corujas enviadas de urgência
do sul da Europa. Certamente deixar sua casa sem ler propriamente as edições
diárias doDiário do Imperador era um risco a se correr. Aqueles meios de
informação tinham o poder de alterar a forma como as pessoas o encaravam
com uma facilidade que o assustava certas vezes.

Não foi de muita surpresa ver uma antiga imagem sua do dia de sua posse ao
cargo que ocupava estampada na primeira página. Queria ter tido o tempo de
ler aquilo pela manhã, assim saberia mais o que se passava pela cabeça das
pessoas que o encarara hoje.

“Comunicados oficiais vindos da Catedral informam, de última hora, a


antecipação imediata da audiência aberta anual sobre assuntos da guerra para
a data de hoje em um horário pouco usual. Os justos questionamentos
levantados a partir dessa rápida tomada de decisão tem colocado em jogo a
gestão do então General Draco Malfoy, que trará seu pronunciamento essa
tarde. Os rumores tem trago ao conhecimento do público que embora a
justificativa oficial tenha girado em torno da apertada agenda militar do
exército, o que os forçou a perceber que a necessidade de um adiantamento
soava melhor que a de um adiamento para o Conselho, torna claramente
legível as entrelinhas de que na realidade, um adiantamento, visivelmente
desnecessário, tem a intenção de pegar a banca questionadora despreparada já
que os últimos acontecimentos com relação a guerra tem gerado ondas de
preocupação geral[...]”
Draco parou de ler assim que os detalhes sobre os últimos acontecimentos da
guerra começaram a ser citados como se nunca tivessem antes sido noticiados
pelo jornal. Um elfo lhe trouxe uma carta de sua mãe que havia acabado de ser
entregue por um coruja. O pedaço de pergaminho era pequeno e haviam
apenas algumas poucas palavras rabiscadas em uma linha curta:

“Sábias palavras hoje.”

Ele sabia que ela se referia ao discurso que havia dado na audiência. Talvez ela
estivesse tão impaciente para ver o jornal do dia seguinte quanto ele. Havia
sido absolutamente limpo em suas apalavras na audiência. Se colocara como
independente ao mostrar que seus atos estavam acima do Conselho e de seus
interesses. Esperava ser no mínimo aclamado no dia seguinte.

Não culpava que alguns escorregões tenha feito com que se voltassem contra
ele, a segurança da escolha daquelas pessoas sobre o lado que ocupavam
naquela guerra dependia dele e muitos questionaram quando o Lorde lhe dera
o cargo de General por causa de sua idade e falta de experiência. Nada mais
justo que relembrassem disso quando qualquer coisa de errado surgisse mesmo
depois de todas as suas conquistas. Mas era capaz de administrar isso. Os
jornais do dia seguinte não poderiam encontrar nenhuma maneira de criticá-lo
depois de sua brilhante audiência. Esperava que nenhuma outra página daquele
jornal se referisse ao sobrenome Malfoy, mas se arrependeu desse pensamento
assim que passou para a página seguinte e se deparou com uma imagem de
Hermione.
Não era tão recente. A imagem mostrava Hermione saindo de uma das Cortes
da cidade para onde devia fazer suas visitas semanais devido ao trabalho que
fazia para o departamento de Theodoro. Ali estava ela impecavelmente linda e
absolutamente profissional, mas apenas o título daquela matéria já lhe causava
dor de cabeça. “Por onde anda a nova Sra. Malfoy? Por Abbey Day.” Céus,
aquilo não poderia ser algo bom.

“A nova intitulada Sra. Malfoy mostrou a todos que não seria apenas mais um
rostinho bonito dentro da família Malfoy. Depois de entrar para a família mais
rica e influente do mundo bruxo, Hermione Jane Malfoy se dedicou a mostrar
que suas habilidades no campo administrativo poderiam ser tão boas quanto
sua contribuição na guerra. Em poucos meses colocou em ordem o que um
departamento inteiro tentava há dois anos. Não apenas bastando seu novo
sobrenome, sua posição na Catedral e sua presença no Conselho por ordens
diretas do Mestre, Hermione Malfoy também se tornou um ícone no mundo da
moda e conquistou a simpatia de metade das vitrines do Centro. Mas todos tem
se perguntado o que poderia ter possivelmente acontecido para que sua
admirável presença fosse varrida até mesmo das esquinas onde suas
obrigações administrativas eram requeridas com frequência. Os rumores de
gravidez tem ganhado lugar nos meios de comunicação mais importantes de
Brampton Fort, mas seria um herdeiro Malfoy o motivo real para um
desaparecimento desse nível? Uma questão muito mais profunda pode estar
sendo mantida por trás dos cadeados da mansão Malfoy principalmente porque
não apenas Hermione Malfoy não deixa o lugar, como se estivesse de algum
modo aprisionada ali, como Draco Malfoy tem enfrentado problemas com a
guerra depois de anos de inúmeras conquistas. Seria ainda cedo ou até mesmo
sem sentido julgar uma possível crise dentro do lar do casal que se casou
debaixo da história de um amor secretamente mantido por anos[...]”

Draco parou não podendo mais continuar. Levantou-se enquanto sentia que
todo seu sangue queria lhe subir até a cabeça. Puxou o ar, deixou o jornal de
lado, tomou sua bebida em um gole e saiu dali para tomar a direção de seu
quarto. Não poderia deixar que aquilo continuasse.
Não se importou com educação quando passou para o lado de dentro. Estava
escuro como estivera todos os dias daquela semana. Hermione se encontrava
de seu lado da cama com as costas contra um amontoado de travesseiros. Os
olhos fechados e debaixo de um sono que ele não entendia como poderia ser
tão eterno. Aproximou-se e na cabeceira viu a pasta que Voldemort dera a ela
com todo o histórico do bebê que havia carregado esparramada junto com
frascos de poções para sono que se acumulavam a uma semana ali.

Afastou os frascos de poções vazios sem se importar com o barulho que


pareceu enfim fazer Hermione se mover. Começou a catar todos os papéis para
enfiá-las na pasta novamente.

- Draco? – a voz de Hermione saiu num sussurro fraco e rouco. Ele não
ousou olhá-la. Acenou a varinha para a lareira fazendo-a acender e continuou a
puxar todos os papéis de volta para a pasta. – O que está fazendo.

Ele não se importou. Abriu as gavetas para ter certeza de que não havia nada
relacionado aquilo ali.
- Deixe isso. – ela falou se sentando e puxando sem forças a pasta para
seu lado. Draco a tomou e a fechou. Hermione se levantou. – Deixe... – sua voz
morria como se não tivesse mais de onde extrair força. Ele deu as costas e
caminhou em direção a lareira. Ela pareceu entender quase que imediatamente
o que aquilo significava. – Não! – sua voz soou mais forte mais ainda assim
fraca o suficiente como se ela estivesse fazendo todo o esforço do mundo para
fazer com que soasse um pouco além do sussurro. – Draco! – ela se apressou e
tentou pará-lo segurando-o pelo braço, mas suas mãos estavam fracas. –
Draco, não! – ela tentou alcançar a pasta e ele a tirou do caminho.

Quando estava a um passo de lançar tudo aquilo contra o fogo Hermione


conseguiu extrair tudo que ainda lhe restava e tomou a pasta para a segurança
de suas mãos. Ou talvez ela tivesse se aproveitado da própria hesitação que lhe
batera antes de colocar todos aqueles papéis para queimar. Ela cambaleou,
teve que se apoiar no dossel e deslizou quase que instantaneamente para o
degrau onde se apoiava a cama no chão. As lágrimas brotaram dos olhos dela e
molharam suas bochechas enquanto ela silenciosamente o olhava ofegante
como se tivesse corrido uma maratona.

Draco a viu ali, frágil, exposta, apertando aquela pasta contra si como se fosse
seu próprio bebê. A alça da camisola deslizou pelo braço dela e ele pode
perceber que ela havia perdido peso. Como ele poderia ter deixado aquilo
passar por todos aqueles dias em silêncio?

- Não dá mais para suportar, Hermione. – ele disse depois de um longo


minuto encarando o olhar frágil e condenador dela. Parecia ainda assustada
com aquilo tudo. Ela não respondeu absolutamente nada e eles ficaram mais
um longo minuto ali encarando um ao outro.
- Saia. – ela ordenou mas sua voz não tinha a intensidade que ela
aparentemente queria que tivesse. Ele percebeu que finalmente a escutava
depois de dias em silêncio.

- Não. – respondeu a ordem dela. – Hermione... – sua voz morreu. Vê-la ali
o fez se esquecer de como aquele comportamento poderia atrapalhar todo o
trabalho que tinha. Ali ele conseguia finalmente ver tudo que ela havia
escondido por trás de sua máscara desde quando passara a viver debaixo de
seu teto. Ele nunca havia imaginado que por trás da orgulhosa, poderosa e
indestrutível Hermione ela escondia aquilo. Ela estava completamente destruída
e parecia não ter mais de onde tirar incentivo para se esconder atrás da
máscara que a colocava de pé todos os dias para enfrentar a vida daquele lado
da guerra. – Não posso deixar que continue vivendo assim. – não somente
porque ela atrapalharia todo o seu trabalho, mas porque ele não conseguia
suportar vê-la assim.

- Então me deixe morrer. – ela sussurrou.

As palavras dela cortaram através dele. Sentia como se estivesse finalmente


encarando uma ferida infecionada que tentara esconder por mais tempo do que
deveria. Se arrependeu de ter deixado o andar de baixo, seu conhaque e seu
jornal. Todo o seu lado racional implorava para que ele refizesse sua postura e
usasse de seu tom profissional para informar a ela que não estava permitida a
desfrutar do luxo que a morte lhe traria.
Queria ser o Draco Malfoy que havia a encarado no dia do casamento, o Draco
que a via como uma prisioneira no jogo de Voldemort, uma que deveria pagar
por tudo que havia feito, aquele Draco saberia no mínimo o que fazer porque
não se importaria em entender o que se passava com ela. O Draco de agora
não tinha a menor capacidade de olhá-la sequer sem sentir que a angústia lhe
roubasse o fôlego. A perda dela havia sido dele também e a dor dela parecia ter
o poder de sair dela e penetrar nele como um veneno que o tragava e o
arrastava cada vez mais para perto da insanidade, para longe do racional.

Desviou o olhar sabendo que não poderia encarar aquela cena por muito mais
tempo. Aquilo o corroía e ele sabia o porque, mas não podia pensar naquilo.
Não podia. Passou a mão pelos cabelos e sentou-se numa das poltronas ali.
Precisava contornar a situação, precisava encontrar um jeito de se comunicar
com ela, fazê-la entender que precisava reagir, que deixar com que aquilo a
consumisse apenas os faria andar para trás.

- Eu sei que é difícil lidar com tudo isso. – começou. Precisava escolher
suas palavras muito bem. Precisava ser o Draco sensível que a entendia. Seguir
por esse caminho parecia a escolha mais sábia. Não podia deixar que nenhuma
sensação diferente o dominasse, tinha que ser profissional, ser profissional
havia o ajudado durante todos aqueles anos. – Mas não pode deixar que o
Lorde te vença. – sim, precisava usar aquelas palavras. - O estado em que
está apenas irá consumi-la cada vez mais e se continuar...
- Cale-se. – escutou a voz dela por baixo da sua e parou. – Apenas cale-se
e saia. – ela tentou se fazer audível.

- Hermione, estou tentando...

- Por favor, Draco! – ela suplicou com os dentes cerrado. – Saia.

Draco tornou a encará-la. Os olhos molhados e condenadores dela. Ele sabia


porque ela o olhava daquela forma. Não queria pisar naquele campo minado.
Não tinha coragem. O Draco covarde que havia dentro dele implorava para que
se levantasse, gritasse com ela e a puxasse pelo braço, queimasse aquela pasta
e deixasse claro que aquele comportamento ela não poderia ter em sua casa.
Mas ele havia lutado muitos anos contra o Draco covarde e mesmo que tudo
dentro dele gritasse para segui-lo agora, olhar para os olhos de Hermione
acordava seu lado insano, ele precisava curar aquela ferida que havia entre
eles, ela era séria, profunda. Não era nada do que haviam carregado aqueles
anos, não era a lembrança de inúmeros insultos em Hogwarts nem a rixa que
haviam levado por anos naquela guerra. Eles haviam perdido um filho.

- Acha que sou culpado? – a coragem lhe fez pisar naquele campo. Tinha
medo da resposta, mas mesmo assim perguntou. Perguntou sentindo que cada
centímetro de sua alma era consumida por aquela angústia sem fim.
O olhar dela já dizia a resposta. Havia dito desde a primeira vez que se
encontraram depois que ela perdera a filha e ele simplesmente ignorara.
Passara a semana inteira ignorando e aquilo o havia atormentando
dolorosamente. Ele não sabia lidar com aquilo. Sentia sua cabeça quase latejar.
Conseguia até mesmo imaginar as lembranças que se passavam na cabeça de
Hermione naquele momento de silêncio que havia entre eles. Conseguia
imaginar Hermione tentando convencer medibruxos a lhe passarem
informações, conseguia imaginar os esforços inúteis que havia feito para tentar
chegar a elas por trás de Voldemort, conseguia enxergar as frustrações que ela
vivenciara. Ele havia a deixado sozinha.

- Sim. – ela finalmente tornou óbvio o que já parecia.

Draco sentiu seus membros formigarem e a cabeça latejar. Escondeu o rosto


nas mãos apoiando os cotovelos em cada perna. Soltou o ar como se quisesse
expelir sua própria vida pelos pulmões. Ele não podia viver com aquela culpa.
Não conseguiria.

- Você não pode me deixar viver com isso, Hermione. – sua voz saiu
apertada. Não, ele não tinha culpa. Não podia ter. Tudo era pra ter saído
exatamente como eram os planos.
- Culpa? – ela soltou com desgosto – Não sabia que tinha a capacidade de
sentir culpa depois de todos esses anos servindo a Voldemort.

- Eu não sou uma máquina. – sentia sua mandíbula travada.

- Então por que tenta ser uma com tanta vontade?

- Você não sabe o que é ter que sobreviver desse lado da guerra,
Hermione!

- Eu sei o que é ter que sobreviver do meu lado da guerra e lá nós não
tínhamos carruagens, muralhas, parques, restaurantes caros nem mesmo
mansões!
- E você acha que isso tudo nos faz mais felizes? Olhe para nós dois agora,
Hermione! – a encarou - Olhe para o rosto das pessoas que esbarra na rua, na
Catedral! Você acha que elas são felizes? As pessoas tentam mascarar a vida
que vivem aqui. Tentam fingir que tudo está bem! Tentam viver a vida que
eram acostumados lá fora, mas todos eles, cada um deles, vive debaixo do
medo! A mínima chance de perder essa guerra já os assusta! Todos aqui
temem pelo que aconteceria a eles se Voldemort caísse. – pausou - Eu tento
manter essas pessoas seguras no mundo que Voldemort criou e não sei se
percebeu mas tento trazer o máximo de gente possível para essa realidade.
Estar do lado dele é seguro porque ele é poderoso o suficiente para fazer quem
não está viver o caos! Sabe disso muito bem e é inteligente para saber que
ninguém poderia destruir alguém como ele estando do lado de fora, por isso a
Ordem vivia tentando colocar espiões dentro do ciclo de comensais! E você
ainda sabia que isso continuava não sendo o suficiente. – se calou depois de
vomitar todas aquelas palavras. Ela o olhava com os olhos bem abertos como
se não estivesse esperando por aquilo. – Eu fiz uma escolha quando o Lorde me
deu aquele exército, Hermione. Eu sabia que os sacrifícios viriam e que eu
precisaria lidar com eles da forma mais profissional possível. Eu prendi pessoas,
matei, torturei. Sei o nome de todos eles e a alma de cada um me persegue!
Não sou feliz nem tenho orgulho disso, mas eu sabia que esse era o único
caminho inteligente a se seguir se um dia eu quisesse derrotar Voldemort de
alguma forma e não me julgue nem tente porque no fundo desse seu cérebro
inteligente, você sabia que havia chegado em um ponto que estar com os
rebeldes era como dar murro em ponta de faca. – passou a mão pelos cabelos
e balançou a cabeça soltando o ar. – Fiz tantas coisas imperdoáveis. Você não
conseguiria imaginar nem a metade. Eu sabia que era errado, eu sabia que as
coisas que fiz me perseguiriam para o resto da vida, mas também sabia que
esse era o preço que eu deveria pagar, eu havia me comprometido a lidar com
os sacrifícios, mas eu jamais iria imaginar que ele iria querer que eu... – sua
própria voz falhou. - ...que eu sacrificasse um filho meu. – enfim disse.

O silêncio entre eles durou um minuto inteiro.

- Você não poderia ter se importado menos quando eu disse que estava
grávida, Draco. – ela sussurrou. Havia dor em seus olhos. Sempre havia dor ali
agora. Dor e mais um pacote de outros sentimentos.
- Mas eu me importei. – ele disse. Se perguntou se em seus olhos também
havia dor como nos dela. Nunca havia aberto a boca para dizer nada daquilo
para ninguém, nem mesmo para sua mãe.

- Não pareceu.

- Porque não era para parecer! – será que ela não entendia? - Eu sabia que
meu filho teria que ser uma dos meus sacrifícios. Eu sabia que eu precisava
sacrificá-lo para continuar ganhando o Lorde, eu sabia que ele seria mais um
dos meus preços e eu tentei, Hermione! Eu tentei não me importar! Eu tentei e
foi a coisa mais difícil que eu já tentei fazer na vida! Eu achei que conseguiria,
achei que poderia administrar, que seria fácil, mas você não tem ideia de como
era te ver, te tocar e saber que estava carregando o meu filho. Eu não
conseguia suportar a ideia de que teria que deixá-lo nas mãos do Lorde e eu
achava que se eu simplesmente ignorasse isso eu poderia conseguir me tornar
indiferente, mas eu não consegui! Não consegui ignorar porque todos os dias
eu dormia ao seu lado, eu via que a primeira coisa que fazia quando acordava
ela tocar sua barriga como se estivesse respondendo algum movimento, e eu
sabia que era o meu filho ali e isso me consumiu até o ponto que eu decidi
arriscar tudo que tinha construído até agora dentro do ciclo de Voldemort para
me esquivar desse único sacrifício que eu percebi que não seria capaz de fazer.
– ele via as bochechas dela molhadas em lágrima silenciosas enquanto ela o
olhava como se estivesse encarando um completo estranho. Draco percebia
que sua própria voz falhava e sentia seus olhos arderem em uma sensação que
ele era pouco acostumado. - Eu não poderia ter a culpa de saber que estava
abrindo mão de um filho para dá-lo a Voldemort. Eu conseguiria carregar a
morte da população mundial inteira, Hermione, mas não isso, portanto por
favor... – implorou. Sabia que estava implorando. – Por favor tire esse fardo de
mim. – sentia como se seu coração estivesse sendo esmagado - Eu beiraria a
insanidade para o resto da minha vida, como tenho beirado essa semana
inteira, se tiver que carregar a culpa da morte de um filho. Meu filho. Nossa
filha.
Ele mal podia acreditar que havia chegado ao fim de tudo aquilo. Não achou
que poderia se sentir minimamente revigorado depois de ter verbalizado tanta
coisa que lutava para trancar em um baú empoeirado dentro de sua própria
mente. O silêncio entre eles o matou. Quando ela fechou os olhos e os apertou
Draco tomou a consciência de que daria sua herança inteira para ter a mínima
noção do que se passava na cabeça dela.

- Eu não quero acreditar em você. – a voz dela soou completamente


confusa e ele se sentiu ainda mais do que ela.

Ele deixou os segundos correrem em mais um silêncio enquanto se perguntava


qual deveria ser sua reação a aquilo.

- Por que?

- Porque eu o odeio. – ela tinha muita certeza daquilo. – E se eu acreditar


em você não poderia mais odiá-lo. – ela balançou a cabeça e fechou os olhos
com força novamente. – Eu nunca imaginei que poderia alcançar sua alma. –
sussurrou e tornou a encará-lo - ... nem mesmo imaginei que... poderia ser
assim... – a voz dela era tão baixa que ele julgava que ela estivesse
conversando consigo mesma. - ... Eu... – sua voz sumiu debaixo do som de
batidas na porta.

Nem ele nem ela desviaram o olhar um do outro.

- Tryn veio avisar o Sr. Draco Malfoy de que o jantar está servido. – era a
voz de Tryn, mas ela pareceu distante, muito distante. Pareceu um barulho
sem total importância. O que era crucial para ele ali eram os olhos de
Hermione, era o que ela podia dizer a ele. Precisava que ela dissesse que ele
não era culpado, que ele não poderia ter feito nada. Que não havia mesmo
nenhuma forma de salvar sua filha. Ele precisava. – Sr. Draco Malfoy? – o som
da elfa tornou a incomodar. Ele precisava que Hermione dissesse alguma coisa.
Ele precisava da resposta dela.

Seus olhos não se desviaram dos dela. Conseguia visualizar os olhos


profundamente dourados de Hermione e toda as engrenagens do cérebro dela
funcionando com rapidez. Havia confusão e dor em cada centímetro de sua
expressão. A voz da elfa tornou a soar e mais batidas na porta. Ele não
desviava os olhos de Hermione. Precisava de seu ultimato.

- Draco... – ela sussurrou e negou com a cabeça em completa angústia. Ele


conseguia tocar a resposta dela. Sabia qual era. Não queria escutar. - ...eu não
posso... não conseguiria... – e sua voz morreu como se ela já soubesse que ele
não queria escutar.
Ele finalmente desviou o olhar. Era isso. Deixou que sua mente absorvesse
aquela resposta. Fechou os olhos por alguns segundos e soltou o ar. As batidas
na elfa na porta continuavam soando em sua cabeça lá longe como se
estivessem a milhas de distância. Não se arrependia de nada que havia dito ali.
Se levantou. Deu as costas a ela e foi em direção a porta. Quando a abriu a elfa
deu espaço para que ele passasse e ele assim o fez. Ignorou a presença
criatura e seguiu seu caminho.

- Sr. Draco Malfoy, o jantar...

- Eu sei. – ele cortou a elfa. Sua voz soava completamente sem vida.

Virou os corredores de sua casa, desceu pela escada principal e seguiu para a
sala de jantar. Ajeitou sua gravata, tirou o terno e alinhou os cabelos como se
seu corpo estivesse ligado no automático. Afastou sua cadeira e se sentou.
Encarou o prato vazio. Ele não precisava do perdão de Hermione. Nem se ela
dissesse que ele não era culpado ele sabia no fundo que poderia ter feito algo.
Poderia ter estado presente desde o começo, poderia ter corrido até ela quando
a viu reagir ao veneno de Voldemort, poderia ter feito com que aqueles
medibruxos revertessem o que quer que tivesse acontecido com Hermione ou
sua filha, ele sabia que poderia ter feito e mesmo que tivesse certeza de que
seria em vão, ele poderia ter feito.
Raiva, frustração, angústia, dor, tudo subiu por suas veias de uma vez só.
Lançou longe seu prato. Se levantou fazendo questão de derrubar a própria
cadeira. Sua mão tratou de pegar a lançar longe cada objeto em cima daquela
mesa. Um som sobressaia o outro estrondosamente. Sua própria magia
involuntária tratou de estourar todas as luzes do lustre e ele quis gritar, quis
gritar alto, mas quando parou ofegante com os punhos contra a mesa soube
que deveria ter gritado porque seus olhos ardiam e algo quente escorria deles e
talvez se tivesse gritado não precisaria ter que lidar com o nó que prendia até
mesmo sua respiração ali entalado em sua garganta.

Trancou-se em seu escritório e bebeu até perder a consciência.

Quando acordou no outro dia o céu já estava claro. Sua cabeça latejava como
nunca e ele estava deitado em seu próprio sofá usando a mesma roupa do dia
anterior. Seu corpo doía e se ocupou em contar o número de garrafas
espalhadas pelo chão. Sentou-se e a primeira lembrança que seu cérebro tratou
de lhe refrescar foi ele e Hermione na noite passada e todas as palavras que
haviam sido proferidas. Aquele peso assentou-se em suas costas novamente e
seu coração foi esmagado.

Levantou-se com dificuldade e encontrou em sua mesa uma pilha de


pergaminhos selados com o símbolo da Catedral. Do lado estava o Diário do
Imperador dobrado e com a data do dia de hoje. O horário no relógio o alertou
que seu atraso já havia feito estrago em suas obrigações do dia e que os
pergaminhos da Catedral haviam sido as tentativas de contato de Tina.
Nunca em todos os seus anos de general havia sido tão irresponsável. Deveria
estar se sentindo mal por isso, mas a verdade é que agora aquilo parecia pouco
lhe importar. Respondeu apenas um dos chamados de Tina sem vontade
pedindo para que ela segurasse o departamento por mais algumas horas. Sua
cabeça latejou com mais vontade e ele tentou ignorar abrindo o jornal sobre a
mesa.

Sua foto estava na capa novamente. A reportagem era exatamente o que ele
havia esperado, e queria ter se sentido satisfeito, mas tudo aquilo parecia
irrelevante. Largou o jornal de lado e foi para o seu quarto onde poderia
encontrar algo que aliviasse o mundo que queria explodir em sua cabeça.

Teve o receio de saber que a encontraria assim que abrisse a porta e foi
exatamente assim que aconteceu. Hermione estava sentada no nicho da janela
quando ele entrou. Ela estava vestida em seu roupão, abraçava as próprias
pernas e desviou o olhar da paisagem do lado de fora para colocar seus olhos
sobre ele. A pasta que ele havia tentando queimar na noite anterior estava
aberta a sua frente.

Seus olhos sobre os dela e os dela sobre os dele congelaram por alguns
segundos enquanto o silêncio incomodava entre eles. Draco fechou a porta
atrás de si e quebrou o contato tentando ignorá-la. Seus pés o levou
automaticamente para uma das prateleiras e ele começou a caçar sua poção.
- Segunda porta à direita. – a voz dela encheu o quarto.

Ele parou por um segundo e seguiu a direção que ela havia dito. Puxou a
pequena porta de vidro a direita e encontrou os frascos que precisava. Tomou
um deles enquanto se sentia irritado pela maldita mania que ela tinha de
mudar tudo de lugar.

Puxou os cabelos para trás e fechou os olhos usando a estante de apoio


enquanto sentia o alívio da poção lavar sua estrondosa dor de cabeça. Tinha
que tomar banho ainda, colocar sua farda, tomar o desjejum e ir para a
Catedral enfrentar as milhões de acusações sobre seu atraso enquanto seu
cérebro remoía o olhar de Hermione em sua memória. Tudo que havia dito na
noite anterior parecia irreal. Não conseguia saber se havia mesmo dito porque
sabia que seu ser racional nunca teria deixado que aquilo acontecesse. Mas se
havia mesmo dito ou não, o que mais o incomodava fora a resposta de
Hermione e tudo que realmente parecia importar no mundo agora era que o
tempo voltasse e ele pudesse ver uma reação diferente, que ele pudesse
escutar algo dela que o confortasse.

- Draco. – foi por cima de seus pensamentos que a voz dela surgiu
novamente. Ele se virou para encará-la. Estavam perto e ele conseguia ver os
olhos dela dourados pela claridade da janela. Não estavam vermelhos como na
noite anterior, mas estavam fundos como se ela tivesse passado a noite
acordada. Ela parecia não saber se deveria mesmo dizer algo ou não. – Eu sei
que tudo que poderia ter feito teria simplesmente sido em vão. Não haveria
nenhuma forma de mudar o que aconteceu, nem se voltássemos no tempo. E
se não pensar dessa forma perderá a cabeça assim como eu tenho perdido. –
ela abaixou os olhos. – Não o julgo por não ter feito nada durante aquele
almoço. Ele estava te testando e você conseguiu ser racional, era seu dever,
coisas estavam em jogo para você. Respeito isso.

Ele piscou. Não estava esperando por aquilo.

- Eu só não queria que por causa disso você achasse que foi menos difícil
para mim quando... – ele não queria ter que verbalizar aquilo. - ... essa
semana... não tem sido fácil.

- Eu sei. – ela disse erguendo os olhos para ele novamente. – Você me


disse e eu acredito. – ela puxou e soltou o ar com calma. Fechou os olhos por
um segundo e os abriu sem pressa. – Estou grata por ter dito tudo aquilo
ontem. Eu não estava esperando. - Era parecia lúcida. Depois de uma semana
inteira ela parecia finalmente lúcida, fora de efeito de poções ou de toda a dor
que parecia a consumir e aprisiona-la naquele quarto. Ele se surpreendeu por
ver o quanto ter sido compreendido o fizera bem.

O silêncio entre eles foi incomodo. Ele não sabia o que dizer, nem o que fazer e
por uns segundos se sentiu idiota.
- Como você está? – perguntou depois de um tempo. Era uma pergunta
idiota, mas ele realmente queria saber. Não a queria sobre o efeito de poções
novamente, nem enfurnada naquela cama com os olhos vermelhos e recusando
suas refeições.

- Eu preciso de tempo. – foi tudo o que ela respondeu depois de um longo


minuto em silêncio. – Vou passar por cima disso. Tenho que passar por cima
disso, certo?

Ele assentiu.

- Nós vamos. – disse quase inconsciente de suas próprias palavras, mas


assim que as escutou conseguiu sentir o que havia entre ele e Hermione agora.
Eles não eram mais simplesmente completos estranhos inimigos que se
conheciam apenas de ouvir falar. Dentro de algumas semanas fariam um ano
de casados e muita coisa já havia se passado entre eles. – Hermione. – ele
deixou que o nome dela fluísse pela sua boca depois de alguns longos minutos
que o silêncio se manteve entre a troca de olhares dos dois. – Nós temos o
mesmo inimigo.
Os lábios dela se espremeram numa linha fina enquanto ela puxava o ar e o
soltava. Os olhos dourados voltaram-se para a paisagem do lado de fora e
somente depois de alguns segundos ela respondeu:

- Certamente temos. – foi tudo o que disse e foi tudo que fora necessário
dizer para deixar muita coisa entendida ali entre eles.

22. Capítulo 22
Hermione Malfoy

Tinha consciência de que estava acordada, mas ainda não queria abrir os olhos.
Sentia o corpo pesado de uma noite de sono mal aproveitada. Ela sabia que se
não fizesse esforço nenhum não abriria os olhos, ficaria ali, parada, escutando
o som de sua própria respiração até cair novamente em seu sono. Dormir a
fazia esquecer. Tomava poções para não ter sonhos nem pesadelos e havia se
prendido a esse ciclo. Ficar inconsciente, acordar e tornar a ficar inconsciente o
mais rápido possível antes que toda a dor que havia em seu peito molhasse
seus olhos novamente.

Mas sabia que precisava reagir. Os dias passavam e ela sabia que não poderia
se dar por vencida por mais que quisesse, por mais que tudo em seu corpo, sua
mente, seu espírito e sua alma implorassem para que ela se desse por vencido.
Havia tanta raiva dentro de si, tanto ódio e rancor. Ela queria colocar tudo
aquilo nas costas de Draco, mas ele havia implorado para que ela não fizesse
isso e o modo com havia implorado fizera com que ela recolhesse tudo aquilo
novamente e guardasse dentro de si. Ele havia sido tão verdadeiro, aqueles
olhos, ela nunca havia o visto tão vulnerável. Não poderia colocar tudo que
sentia sobre ele porque ela percebera que ele já carregava também dor o
suficiente assim como ela e o fato dele ter mostrado isso fez com que ela não
conseguisse mais o reconhecer. Ele tinha outro lado. Havia outro alguém que
ela não conhecia por trás da máscara que ele usava sempre. Ela duvidava que
ele já tivesse mostrado isso a alguém. Talvez Pansy? Será? Astoria? Quem
sabe. Narcisa com certeza.
Abriu os olhos. O lado que ele ocupava na cama estava vazio, mas ela já havia
notado a falta da presença dele mesmo com os olhos fechados. Havia uma leve
luz entrando para dentro do quarto o que a fez presumir que horas eram. Ela já
não acordava aquela hora fazia dias. Talvez o efeito de todas as poções do sono
que havia tomado estivessem agora sendo drenados para longe de seu sangue.

Estendeu a mão e tocou o travesseiro dele alisando a fronha amassada e


acabando com o formato onde a cabeça dele estivera antes de levantar. Ela
puxou o ar e lutou para não fechar os olhos novamente. Se tornasse a fechar
os olhos não voltaria a abri-los tão cedo e deixaria as horas passar, o dia
passar e então aquela seria mais 24 horas perdidas em sua vida.

Havia se acostumado a dormir com Draco. Já não achava mais ruim acordar no
meio da noite e sentir o calor do corpo dele perto do seu. Não se importava
mais com a respiração dele nem com a forma como ele gostava de ocupar
quase a cama inteira. Não podia dizer que gostava, mas simplesmente não a
incomodava mais. Havia várias coisas em Draco que já não lhe incomodava
mais. O que realmente lhe chamava atenção agora era tudo que ele havia lhe
dito faziam exatamente duas semanas. Ela havia guardado aquilo e pensado
por horas e dias em muita coisa.

Tentou achar motivação e moveu-se deitando de costas para encarar o teto


decorado. Não podia fechar os olhos. Aproveitou mais uma onde de motivação
conseguiu se colocar de pé. Embrulhou-se em seu roupão e seguiu para o
lavatório. Precisava viver aquele dia. Não podia mais adiar para amanhã.
Sempre adiava para o dia seguinte e assim deixava com que as horas
passassem e o dia acabasse e seu estado improdutivo dentro daquele quarto
diria para si mesma “amanhã”.
Molhou o rosto e se olhou no espelho. Se lembrou de Harry, Rony, Gina, Neville
e todos da ordem. Se lembrou das sopas da Sra. Weasley, das geniosas
invenções dos gêmeos, da cozinha sempre cheia na mansão dos Black. Aquilo
tudo estava tão distante agora. Se lembrava de todos eles como se estivesse se
lembrando de sua infância com seus pais, como se não tivesse mais nada o que
fazer por eles. Se perguntou quando fora que sua vida em Brampton Fort havia
se tornado tão parte de sua realidade.

Decidiu por não seguir sua antiga rotina, não queria e não se forçaria a nada,
ainda mais quando tudo nela clamava para voltar para cama, fechar os olhos e
ficar quieta ali o resto do dia. Ela ainda estava tomando o controle das coisas
aos poucos. Voltou para o quarto, pegou a pilha de notificações enviadas
diretamente de Theodoro e seguiu para a mesa de desjejum na sala de jantar.

Draco sentava em seu lugar vestido em sua farda e tomando seu café em
silêncio enquanto lia o Diário do Imperador. Ele ergueu os olhos para ela assim
que notou sua presença e se manteve debaixo de sua mascara inexpressiva
enquanto trocaram um rápido olhar. Ela se perguntou o Draco que ele havia
mostrado para há algumas semanas atrás estivesse por trás daquela máscara
se surpreendendo por vê-la ali e se questionando se deveria ou não dizer algo.

Hermione sentiu apenas o olhar longe de reprovação dele por vê-la em sua
roupa de dormir na sala de jantar durante uma refeição importante. Ela não se
importava, sabia que ele não iria abrir a boca para criticar. Ela havia saído do
quarto e isso era já um bom avanço. Deveria ser.

Puxou sua cadeira e se sentou colocando sobre a mesa ao seu lado as


notificações seladas de Theodoro. Encarou por um momento sem saber o que
fazer toda a elegância que aquela mesa sempre era posta. Mais pratos do que
precisava, mais talheres do que iria usar, mais comida do que iria ingerir.
Encheu sua porcelana com chá preto tentando se lembrar mais o que
costumava comer durante o desjejum, pegou um dos pães colocados logo a sua
frente e o deixou descansar em seu prato. Bebeu do chão e provou um pedaço
do pão. Sem sabor. Ou talvez ela apenas não quisesse comer. Respirou fundo.
Deveria se esforçar. Quando seus olhos desviaram para Draco na cabeceira da
mesa ele a encarava com seus olhos profundamente cinzas. Trocaram olhares
em silêncio mais uma vez e ele se fez ouvir:

- Como se sente? – perguntou.

Hermione quase sentiu uma onda de satisfação querer levantar um sorriso em


seu rosto. Talvez o Draco que ele mostrara para ela estivesse segurando aquela
pergunta desde que a vira passar para o lado de dentro do sala. Ela ponderou
sobre a pergunta para poder respondê-la verdadeiramente e depois de alguns
segunda ela disse:

- Diferente. – parecia a resposta mais sincera que conseguira tirar de si.


Eles ficaram ali mais alguns segundos em silêncio até que ela percebeu que
havia um certo ar incomodo entre eles. Hermione puxou o ar e decidiu se
pronunciar em algo. – Posso ter a primeira página? – perguntou quando viu que
ele já estava avançado com o jornal.

Draco não se importou e passou para ela a primeira folha do Diário do


Imperador. Hermione a pegou e eles finalmente cortaram a troca de olhares.
Tornou a encarar toda aquela mesa pomposa a sua frente. Seu coração pesou
ao se lembrar de como ela costumava tomar café da manhã com seus pais. Sua
mãe sempre se preocupava em assar bolinhos nos finais de semana para torná-
los mais especiais. Hermione ficava encarregada de preparar a mesa enquanto
seu pai fervia água para preparar um bom chá matinal. Quando tudo estava
pronto eles se sentavam a mesa, comiam e ficavam conversando por horas,
mesmo que todos já tivessem terminado sua devida refeição. Não havia taças
de cristal, porcelana cara e importada, opções de sucos ou chás, talheres que
brilhavam como se tivessem acabado de sair da fábrica, nem guardanapos do
mais fino algodão de toda a Inglaterra.

Aquilo tudo a incomodou ao ponto de arrastar tudo para o lado trazer apenas
sua xícara para perto onde conseguia sentir o calor do líquido mais próximo de
seu rosto. Passou uma perna por baixo da outra em sua cadeira e não se
importou em colocar o cotovelo na mesa para poder apoiar sua têmpora contra
o pulso. Começou a ler a matéria da primeira página esperando pelo tom
repreensivo de Draco sobre seu comportamento, mas ele não veio. Aquela era
sua casa também, não era? Qual era a razão daquela ser sua casa se não
poderia nem mesmo se sentir confortável ali. Estava cansada de ser quem não
era. De agir como se depreciasse qualquer tipo de ação contra as etiquetas da
realeza.

O Diário do Imperador não estampava nenhuma imagem na primeira página.


Havia apenas uma palavra em negrito grande o suficiente para chamar mais
atenção do que qualquer imagem: GUERRA.
Hermione se mexeu incomoda em sua cadeira tentando se fazer mais
confortável ali. Há quanto tempo ela não se envolvia com a guerra? Dedicara
muito de seu tempo para o cargo que ocupava na Sessão da Cidade e se
irritara o suficiente com as reuniões do Conselho para frequentá-la como
deveria. Finalmente percebeu que o que Voldemort queria ele havia
conseguido. Afastá-la da guerra por completo. Hermione não tinha nem ideia
do que se passava ultimamente naquele mundo. Não sabia dos últimos
ataques, das últimas perdas e ganhos, dos planos de Draco nem poderia
presumir os planos da Ordem. Ela havia imergido tão profundamente no mundo
do filho que gerava que simplesmente dera as costas a guerra. Tudo havia se
tornado secundário.

A reportagem era extensa e pontuava todas as ultimas perdas de Draco,


entretanto o defendia com uma frieza bem realista baseado em seus anos como
general e o último discurso que dera durante uma audiência aberta algumas
semanas atrás. Algumas estratégias foram liberadas ao público e Hermione as
leu com atenção, mas soube que aquilo era ralo demais e havia sido liberado
apenas para acalmar a preocupação alheia.

- Hei. – a voz de Draco. Céus, aquela voz. Parecia fazer vibrar até mesmo
as porcelanas. Hermione o encarou. – Deveria ler isso. – ele disse folheando o
jornal e tirando do meio dele uma página que estendeu para ela.
Hermione a pegou, tomou um gole de seu chá esperando que o calor lhe
trouxesse algum conforto e começou a ler a matéria. Eram sobre a má
eficiência das Casas de Justiça. Parecia que sua reforma estava sendo
esquecida. Hermione não gostou de saber daquilo. Aquelas velhas cabeças que
a contradiziam deveriam estar encontrando caminho pelas brechas que sua
ausência estava causando. Encarou as notificações enviadas por Theodoro e
soube que estava ignorando aquilo por mais tempo que realmente poderia.
Estendeu a mão e abriu a primeira delas. Naquele momento Draco levantou
deixando o jornal de lado, alisou sua roupa e tomou a direção da saída.

- Vai estar em casa para o jantar? – ela o interrompeu e ele parou para
voltar-se para ela.

Draco parecia ter sido pego de surpresa e pela hesitação que havia em seus
olhos Hermione percebeu que ele já tinha outros planos. Não se importava que
ele não estivesse em casa para o jantar visto que nos últimos dias ela nem
havia se dado ao trabalho de cuidar das ordens daquela refeição em sua casa,
mas ao contrário do que ela achou que ele responderia ele apenas disse:

- Sim. – e deu as costas. – Mesmo horário de sempre. – disse e sumiu.

Hermione suspirou. Ele deveria estar enfrentando muita coisa naquele


departamento. Deveria estar encarando rostos amedrontados, palavras
ofensivas, discursos acusadores. Ele deveria ter recebido chamados de
Voldemort mais de uma vez e mesmo assim, aquela expressão fria se mantinha
intacta em seu rosto. Ela se perguntava como ele conseguia fazer aquilo? Como
ele havia conseguido levantar da cama no dia seguinte em que ela perdera a
filha deles? Como ele conseguia?

Foi quando se lembrou do Draco adolescente que ela via pelos corredores
durante seu sexto ano em Hogwarts. Arrogante como sempre, mas diferente,
ela se lembrava de como ele havia estado diferente aquele ano. Se lembrou de
Harry confessando que antes de atacar Draco havia o visto em um péssimo
estado desabafando com ninguém menos que um fantasma. Ele não havia sido
sempre forte como era agora. Ele também havia sido fraco, havia sido fraco
como ela, havia se deixado ser pisado debaixo do jogo de Voldemort. Todos
aqueles anos ele criara resistência ao mundo que vivia, a realidade que estava
sujeito e que agora ela também estava. Precisava ser forte como ele, precisava
criar sua resistência. Queria ser forte como ele.

Levantou-se. Iria a Catedral.

Precisou chamar Tryn para ajustar sua roupa quando percebeu que perdera
peso. Uma saia lápis justa de cor escura que saia de sua cintura e lhe
desenhava até depois dos joelhos, uma blusa solta, fina e listrada em branco
para contrapor o justo de sua saia, um salto alto no tom mais neutro que tinha
e joias caras. Ela se sentia em sua forma novamente, havia se acostumado
tanto ao modo como se vestia que mal conseguia saber se poderia tornar a
vestir um jeans novamente.
A elfa a ajudou a terminar o restante quando Hermione pediu. Antes de sair do
quarto novamente evitou abrir a pasta que a tragaria de volta para cama e a
trancou em uma gaveta em sua cabeceira. Aquilo foi quase como ir contra a
força de todos os seus músculos, mas era preciso.

Desceu e tomou a carruagem primeiro para o centro onde desceu no grande


edifício da extensão de Gringotes em Brampton Fort. Assinou todos os papéis
necessários para mover seu ouro que havia colocado em uma casa separada
dentro do cofre dos Malfoy para dentro da casa de Draco. Quando visitou seu
cofre percebeu que havia feito em um ano mais do que imaginara que um dia
faria em uma vida inteira e quando colocara os olhos no de Draco soube que de
fato todos aqueles anos como general do exército de Voldemort foram um
ótimo investimento para a fortuna dos Malfoy. Hermione sabia que tinha que
assumir aquilo. Deveria parar de brincar de ingênua ao ser uma Malfoy porque
haviam a obrigado a ser, precisava finalmente ser uma porque agora seu
sangue era.

Quando desceu na Catedral e fez seu caminho em direção a Sessão da Cidade


já passara do meio dia e tratou de ignorar todos os olhares que se voltaram
para ela com a agitação do horário. Sabia que aquilo seria a notícia do Diário do
Imperadorno dia seguinte. Hermione Malfoy torna a aparecer. Chamou por
Theodoro quando alcançou sua torre dentro do departamento. Fora informada
de que ele não estava lá mas pediram para que esperasse já que ele mesmo
havia declarado que se ela aparecesse ele deveria ser tirado de qualquer outra
atividade para atendê-la.

Hermione esperou do lado de dentro da grandiosa sala do governador de


Brampton Fort. A sala dele era bem mais iluminada que a de Draco, mas os
ornamentos era mais simplórios. Hermione sabia que haviam coisas na sala de
Draco que pertenciam ao museu que eles tinham dentro do cofre da família e
ninguém ali poderia competir com isso.
Ela tocava os dedos bem polidos de uma das compridas estátuas de cristal que
haviam ao longo de uma das paredes quando Theodoro passou para o lado de
dentro. Ela verificou se sua postura estava intacta enquanto se virava para ele
e era recebida por um sorriso largo e caloroso.

- Então quer dizer que você ainda está viva? – Theodoro era um homem
alto, tinha o rosto fino, os olhos verdes, as sobrancelhas escuras e marcantes e
quando sorria afundava em sua bochechas covinhas que o fazia parecer alguém
receptivo, charmoso e amoroso. – Mal posso acreditar que realmente estou te
vendo. – ele deu a volta e se sentou em sua cadeira do outro lado da mesa. –
Vejo que decidiu vir trazer suas justificativas pessoalmente. – ele deitou
confortavelmente em sua cadeira cruzando os dedos sobre a mesa e ainda
carregando aquele sorriso nos lábios. – É sempre bom te ver. Havia até mesmo
me esquecido do quanto é linda. Foi bom me lembrar.

- Li a matéria sobre as Casas de Justiça no Diário do Imperador hoje. – ela


disse não tendo interesse nos comentários galanteadores que Theodoro soltava
com facilidade para qualquer mulher com um pouco mais de retoque.

- E quanto as minhas notificações? – ele ergueu uma sobrancelha.


Ela puxou o ar.

- Devo confessar que não.

- Nenhuma? Então deve ser por isso que ficou surpresa pela matéria
no Diário do Imperador.

- Essa não é a questão. – ela logo cortou quando percebeu que ele estava
prestes a entrar num tom acusador. – Quando fui acusada pela fuga de Luna e
o mestre tratou de me isolar em casa, tudo estava correndo em perfeita ordem.
Você disse que Jodie estava em perfeitas condições de cobrir minha ausência.

- Contanto que você continuasse por dentro do controle e isso eu sei que
fazia quando resolvíamos nossas questões por cartas e se comunicava
diariamente com Jodie. Mas de repente e simplesmente você parou de existir,
Hermione. – ele estava sério e ali ela escutava seu chefe - Estou tentando te
contatar há semanas. Jodie tem reportado problemas que eu não posso me
envolver. Sou o governador, tenho milhões de departamentos para administrar.
Nomeio pessoas para que façam seus devidos trabalhos e me ajudem a segurar
essa cidade de uma forma organizada. Você não pode sumir sem dar nenhuma
explicação como fez. Você é uma peça muito importante dentro desse Sessão.
Há muita coisa em suas mãos que eu não posso segurar se deixar tudo cair.
Ela soltou o ar, fechou os olhos por um segundo mais longo e os abriu
encarando os de Theodoro. Deveria ser firme, mas ele tinha razão no que dizia
e ela. Simplesmente não poderia agir de forma ignorante.

- Eu fiquei doente. – mentiu ela.

Hermione pode jurar que enxergou um brilho de preocupação passar pelos


olhos verdes de Theodoro.

- Não poderia ter me avisado isso? – ele decidiu perguntar depois de alguns
segundos.

- Não. – ela respondeu.


- Por que? – suas sobrancelhas se uniram em uma expressão intrigada.

Hermione se viu contra a parede. Precisava contornar aquilo.

- Eu não estava em condições de pensar sobre nada. – resolveu dizer.

Eles ficaram em silêncio ali. Theodoro não tirava os olhos dela, como se
finalmente tivesse percebido que ela tinha os olhos fundos e havia perdido
peso. O sorriso com o qual ele havia a recebido fora esquecido há um bom
tempo já.

- E como você está se sentindo agora? – havia um ar sincero em suas


palavras, como se ele estivesse realmente preocupado.
Hermione se sentiu incomodada com aquilo, mas ao mesmo tempo era
confortante ter alguém que parecia no mínimo interessado em saber como ela
estava. Não que Draco não estivesse também, ele havia até mesmo
perguntado, o que já era uma grande surpresa, mas aquela inexpressão que
sempre habitava em seu rosto era mais intimidadora do que confortante.

- Estou me recuperando. – sua resposta saiu baixa e o simples sorriso que


Theodoro abriu com aquelas palavras fazendo suas covinhas surgirem foram
suficientes para fazer Hermione sentiu um calor abraçá-la. Ela precisava de
conforto, sabia que precisava, e ninguém naquele lugar jamais a daria conforto,
mas o que quer que Theodoro estivesse fazendo a trazia esperança.

Ele se levantou de sua cadeira, deu a volta novamente e sentou em sua própria
mesa bem a frente dela enfiando as mãos no bolso. Hermione sentia que a
proximidade que ele chamou ali era íntima, mas não estranha.

- Posso ver agora que realmente não está em seu perfeito estado de saúde.
Peço desculpas se fui muito duro, mas sabe que é o meu dever como...

- Eu entendo. – Hermione o cortou antes que ele pudesse ser gentil demais
e saísse da normalidade ao qual ela havia se acostumado naquela cidade. –
Você tem uma cidade para administrar e confiou a mim um papel importante.
Reconheço minha falta de compromisso.

Ele abriu um sorriso amigável em seu rosto.

- Hermione, - ele começou com uma voz suave. – se precisar de mais


tempo posso forçar Jodie a continuar segurando seu departamento por mais
algumas semanas. Mas irá precisar me dizer quando acha que poderá voltar as
suas atividades, porque as coisas não andam muito bem e acho que conseguiu
perceber isso pela matéria que leu hoje. – ele estava tentando a persuadir.
Theodoro tinha a arte de saber usar as palavras e parecer sempre amigável
enquanto escondia seu verdadeiro interesse por trás delas.

Hermione puxou o ar tentando manter em mente esse pensamento enquanto


encarava os olhos solidários de Theodoro.

- Theodoro, eu não vim aqui para te entregar nenhuma justificava sobre o


meu desaparecimento embora eu realmente tenha a dado. – ela começou com
cuidado. – Vim dizer que estou abrindo mão do meu cargo.
O sorriso dele desapareceu. O silêncio preencheu o espaço entre eles e
Hermione soube que a frustração lhe batia apena pelo brilho que seus olhos
assumiram.

- Por que? – foi tudo que ele perguntou. Ela sabia também que ele não
começaria dizendo que ela não podia fazer aquilo. Estava pronta para enfrentar
as palavras persuasivas de Theodoro.

- Tenho minhas razões pessoais e acredito que poderia ser compreensivo


em aceitar apenas isso. – tinha que se manter firme naquela palavra. Era uma
Malfoy, não precisava se submeter a soltar nada plausível a Theodoro se não
quisesse, mesmo ele sendo seu chefe.

Ele ergueu as sobrancelhas surpreso pelo desafio no tom dela, mas Hermione
sabia que ele não a colocaria contra a parede nem desceria para um tom rude
ou insistiria em todos os argumentos que poderia jogar contra ela.

- Hermione, - ele começou sério – eu. preciso. de. você. – disse


pausadamente fazendo cada palavra sua sair muito clara.
- Não, sua Sessão não precisa mais de mim. – ela esclareceu que era o
departamento e não ele. – Fiz meu trabalho, coloquei em ordem o que deveria
colocar e se as coisas estiverem andando pelo caminho errado, foi porque as
devidas punições não foram feitas quando deveriam. Eu gerei um novo caderno
de leis, tem o selo da Catedral nele, se as velhas cabeças que comandam as
Casas de Justiça não quiserem o seguir por apenas acharem que estão acima
da lei, quem terá que lidar com eles será você. Eu me fiz ser bem clara quando
disse que todos seriam punidos se a nova ordem não fosse seguida e não sei
conseguiu entender com isso que a essência de todo os seus problemas,
Theodoro, são as cabeças corruptas e facilmente compráveis que martelam a
sentença final nas Casas de Justiça!

- E você é a única pessoa aqui com poder o suficiente para fazer com que
essas punições sejam devidamente feitas, Hermione! Você não é apenas uma
Malfoy, é também a joia do mestre e as pessoas pensam duas vezes antes de
tentar te comprar, você pode arruinar a vida de quem quiser, quando quiser, a
hora que quiser e faz parte de uma família que tem se provado ser bem
eficiente nesse ponto por anos.

Hermione não havia gostado o tom que a voz dele havia mudado para dizer
aquilo. Como se tivesse inveja ou algo do tipo. Percebeu que ele estava usando
o poder de distorcer palavras para convencê-la de que ela, e apenas ela, era
valiosa ali. Ele queria mantê-la presa ao cargo que tinha e ela desconfiava que
Voldemort mesmo poderia estar por trás disso.

- Como pode querer passar esse poder para as minhas costas, Theodoro? –
ela controlou para deixar sua voz o mais estável possível. – Você é o
governador dessa cidade, o mestre por ele mesmo te deu esse cargo. Como
pode, por qualquer razão, se achar incapaz de punir seus próprios
subordinados?

Ele soltou uma risada fraca ainda surpreso por como ela estava se impondo
naquela discussão.

- Me parece que depois de todo esse tempo você ainda não entendeu como
as coisas funcionam desse lado da guer...

- Eu estou bem consciente de como as coisas funcionam aqui! – ela o


cortou jamais imaginando que sua voz pudesse tomar aquele tom de
severidade. Estava farta das pessoas dizendo que ela não sabia como as coisas
funcionavam em Brampton Fort. Ela já havia vivenciado mais do que o
suficiente, muito ainda além do que esperava, para saber bem sobre esse lado
da guerra. – Se não consegue punir quem deve ser punido é porque é tão
facilmente comprável quanto todas as cabeças que batem os martelos nas
Casas de Justiça. Quer me manter aqui porque acha que tenho a firmeza para
manter a ordem? Precisa de mim para fazer isso? Realmente precisa de mim
para fazer isso? Se precisa mesmo, que tipo de governador é você? Que tipo de
poder e influência tem?

- Seu eu fosse você pararia por aí, Hermione... – um brilho passou pelos
olhos dele. Hermione não tinha medo, já havia sido boa o suficiente em sua
vida.
- Não, eu não deveria. Eu deveria estar acima de você se é assim que
acredita que as coisas funcionam! – ela estava bem consciente de sua postura
e Theodoro deixou a mesa para se colocar a frente dela com a expressão mais
séria que já havia o visto carregar. – Escute bem, Theodoro. Eu fiz pelo seu
departamento o que você mesmo poderia ter feito se não estivesse ocupado
demais sendo comprado pelos influentes dessa cidade. Então não diga que
precisa de mim aqui porque faz soar como se quisesse que eu fizesse algo que
quem deveria fazer é você! Aquele caderno de leis já está feito! Está selado
pela Catedral. Vai seguir a ordem, punir quem deve punir e conter quem deve
conter porque esse é o seu papel, não o meu! Meu trabalho era gerir as Casas
de Justiça, eu apenas passaria para você o nome daqueles que não faziam seu
trabalho de maneira adequada e tenho certeza de que Jodie é bastante
qualificada para isso.

Hermione sabia que havia ido bastante longe ao acusá-lo. O olhar de Theodoro,
fixo nela, era tão frio que por um segundo ela pensou que ele fosse sacar a
varinha e mata-la ali mesmo. Mas um longo minuto de silêncio bastou para que
ele trocasse sua expressão assassina por uma séria e controlada o suficiente
com muita dificuldade.

- Certo, Hermione. Talvez eu seja o culpado. – ele disse e ela não esperava
que ele fosse ceder. Talvez ele não fosse acostumado a ser contestado. –
Talvez eu seja mesmo negligente. Talvez eu viva fundo demais no mundo sujo
de Brampton Fort e talvez seja por isso que eu preciso de você.
Ela não imaginava que ele fosse tão bom naquele jogo. Haviam retornado a
estaca zero e ela esperava realmente ir fundo em uma discussão ali com ele.
Não queria que ele tivesse cedido, mas ele havia porque ela sabia que ele
precisava dela ali. Queria saber se aquele desejo era apenas uma ordem vinda
de Voldemort. Mantê-la ocupada. Longe da guerra. Soltou o ar e fechou os
olhos frustrada.

- Estou abandonando o meu cargo, Theodoro. Isso é tudo. – o encarou e


esperou mais um longo minuto.

Theodoro venceu a distância que havia entre eles. O olhar que queria acabar
com sua vida a segundos atrás por ter sido desafiado e acusado agora se
resignava a um cheio de desapontamento.

- Não vou forçá-la a nada. – ele disse com a voz baixa e perto o suficiente
para fazê-la querer recuar, mas ela ficaria exatamente ali, com sua postura
intacta e o olhar firme sobre sua decisão. – Você mesma sabe que não é
permitida a fazer isso, mas vou te dar tempo...

- Eu não preciso de tempo...


- Mas eu vou te dá-lo. – ele a cortou fazendo aquilo soar em um tom
decisivo. – Vai pensar isso com cuidado.

- Eu não vou mudar de ideia.

- Você não precisa mudar nada. Eu sei que gosta do que faz, Hermione. Vi
seu empenho sobre o trabalho que fizemos. Fizemos isso juntos. Não consegue
se lembrar do quanto gastamos nosso tempo em cima de tudo que fizemos? Os
projetos. O novo caderno de leis. Fizemos juntos e gastamos bastante suor
nele.– ele estava tentando manipulá-la. Ela sabia. – Eu me lembro de como se
sentiu gratificada quando apresentou aquele discurso, de quando apresentou o
novas leis e de como tudo seria gerido a partir de agora. – ele segurou o rosto
dela. - Você estava tão orgulhosa por ter concertado algo que estava errado.
Sei que gosta de concertar as coisas, tem essa essência em você. – Os olhos
dele ficaram cada vez mais próximos e somente quando Hermione conseguiu
sentir a respiração dele bater contra seu rosto foi que tomou consciência da
verdadeira intenção de Theodoro.

Afastou-se quase que imediatamente cortando a mão dele para longe de seu
rosto, não de maneira agressiva, mas também não havia sido delicada.
- Por favor, Theodoro, nós temos sido profissionais até agora. – ela não
queria ter soado severa. Esperava não ter soado mesmo afinal de contas. Ela
não sabia qual era o nível de atuação dele, mas Theodoro parecia ter ficado
ainda mais decepcionado depois que ela o afastara.

Ele ergueu as mãos em sinal de paz.

- Desculpe por ter cruzado a linha. – ele se afastou também. – Mas


também não haja como se não soubesse que qualquer homem que se aproxima
de você precisa se segurar para não tocá-la, Hermione. Todo esse tempo que
esteve longe... Eu havia me esquecido do quanto tudo em você emana beleza.

Hermione não estava gostando nem um pouco desse novo jogo dele. O que
quer que fosse, ela não queria entrar.

- O que eu tinha para fazer aqui está feito. – ela disse ainda com um olhar
desconfiado sobre ele. Preferiria ignorar aqueles últimos minutos do que ter
que lidar com eles. Quanto menos palavras trocasse com Theodoro melhor, ele
sabia manipulá-las bem. – Quero deixar claro que se não tomar uma posição e
seguir a risca o novo caderno de leis eu o liberarei para o conhecimento do
povo para que eles possam saber de quem exatamente é a culpa. – aquele
brilho mortal passou novamente pelos olhos de Theodoro. Hermione ignorou.
Deu as costas e deixou a sala dele.
Ele não desistiria fácil. Não deixaria que ela saísse de seu departamento,
principalmente se Voldemort tivesse algum dedo ali. Ela não sabia se estava
disposta a lutar, principalmente também porque tudo em seu corpo ainda pedia
para que ela simplesmente voltasse para casa, abraçasse a pasta com as
informações de sua filha e chorasse até cair novamente no sono. Mas talvez
aquilo passasse e ela conseguisse forças, conseguisse ser como Draco,
conseguisse construir barreiras e se esconder nelas. Toda a experiência de sair
de casa já estava até sendo uma boa distração até agora.

Desceu até o subsolo do Q.G. sem ter problemas com a segurança. As pessoas
já haviam se acostumado com sua figura e ela até gostava quando nenhum
guarda perdia seu tempo tentando barra-la. Os Malfoy podiam ter todos os
problemas do mundo, mas ela confessava que tinha também privilégios que ela
não sabia se conseguiria viver sem agora.

O subsolo era completamente destinado a zona sete, a zona mais alta do


exército de Voldemort. Ser um comensal da zona sete demandava um esforço
que muitos dentro do ciclo de comensais gostariam de ter. Era necessário
passar pelos anos de treinamento no Q.G., ter experiência em campo de
batalha e ser de extrema confiança. Draco os escolhia a dedo e era a única
zona que ele mantinha contato frequente e direto. Eram os melhores.

Hermione sempre havia admirado o quanto o exército de Voldemort havia


crescido em organização com o passar dos anos na guerra. Ela podia dizer que
no começo, quando era ainda apenas uma adolescente, eles eram poucos em
número e mal organizados e quem exercia o poder de dominação eram o nome
assustador de Voldemort que renascia das cinzas para o topo com uma rapidez
surpreendente. Agora o exército era uma força poderosa que mantinha
Voldemort no conforto de seu império. Durante esse período a Ordem da Fênix
havia apenas passado da esperança do povo para um grupo de rebeldes
tentando sobreviver uma vida contra o sistema.

Ela avançou pelos corredores do subsolo seguindo as direções que conhecia.


Hermione já havia mapeado aquele lugar diversas vezes. Draco havia lhe feito
alguns chamados enquanto estava enfurnado em atividades ali, mas ela mesmo
gostava de descer até ali para esperar por ele quando sabia que estariam
voltando para casa no mesmo horário. Chegou a porta de um dos ginásios e os
guardas que a guardavam deram espaço para que ela passasse.

- Eles estão em simulação, Sra. Malfoy. – Informou um dos guardas


enquanto abria a porta para ela.

Hermione apenas assentiu e passou para dentro de um mezanino fechado por


vidros. A luzes estavam baixas e alguns bruxos trabalhavam na reprodução de
um modelo reduzido de vila bem próximo a vista que dava para o andar de
baixo onde a mesma vila se erguia em escala humana e a zona sete agia contra
o que parecia um ataque da resistência. Draco discutia com um dos bruxos
sobre como mover as peças no modelo reduzido e ergueu os olhos para ela
assim que ela se aproximou enquanto ainda falava. Seus olhos se encontraram
por alguns segundos e ele os desviou continuando em sua discussão como se a
ignorasse.
- ...mova os rebeldes para o centro e deixe alguns em becos aleatórios.
Tente fazer com que percamos a formação. – Draco continuava dizendo e
Hermione parou movendo sua atenção para o andar de baixo onde tinha uma
ampla visão dos acontecimentos.

Pousou ambas as mãos sobre um parapeito baixo que impedia que avançasse
mais para tocar o vidro e observou a ação. O exército de Voldemort havia
desenvolvido a habilidade de luta física quando a Ordem começou a usar
magias tão poderosas que superavam a magia negra muito usada por
comensais. Hermione sentia-se orgulhosa por estar por trás de todas essas
magias e ter conseguido ensina-las aos rebeldes. Por isso a primeira tentativa
do exército era sempre desarmar. Contar com magia involuntária durante uma
luta física era uma aposta perdida ainda mais porque o exército era muito bem
treinado e os rebeldes pouco tinham noção e pobremente conseguiam agir por
reflexo nessas situações. A Ordem logo trabalhou em invocar feitiços sem a
necessidade da varinha, apenas com o poder do sangue mágico que corriam
em suas veias quando o exército começou a ganhar a maioria de sua batalhas
no punho, mas isso ainda estava em processo e era difícil, demandava
profissionalismo, muito conhecimento, concentração e força de vontade. Mas
Hermione se lembrava que poucos na Ordem, junto com ela, estavam
começando a dominar a coisa quando ela foi capturada.

O fato de Draco estar no mezanino e não com a zona sete em campo no andar
de baixo era um indício de que muito provavelmente aquela era a primeira
tentativa de simulação e ele queria ver a reação de sua zona para montar um
plano específico. Ela finalmente percebeu que eles estavam montando um
planejamento de ataque e não resistindo a um.
Sentiu a presença de Draco as suas costas, o perfume familiar dele invadiu o
oxigênio a sua volta. O reflexo no vidro mostrava pouco da cabeça dele acima
de seus ombros encarando a vista com tanta atenção quanto ela e a silhueta
espaçosa de seu corpo atrás do dela.

- O que faz aqui? – as vezes a voz dele soava como um trovão por mais
baixa e calma que fosse.

- Na catedral ou no seu departamento? – ela perguntou e percebeu pelo


pobre reflexo que ele puxou o ar e cruzou os braços atrás de si.

- Bem, considerando que nessas últimas semanas você pouco administrou


uma saída do nosso quarto me sinto no direito de confessar que mais me
interessa saber o que faz na Catedral do que no meu departamento. – ele
esclareceu, mas como se esperasse que ela mesmo tivesse chegado a essa
conclusão sozinha.

Ela deixou que o silêncio acontecesse entre eles por alguns segundos enquanto
observava um corpo perdido do exército lidar com uma magia muito
comumente usada pela Ordem para ganhar tempo.
- Vim dizer a Theodoro que estou abrindo mão do meu cargo como líder
das Casas de Justiça. – informou ela.

Ele pareceu tomar um tempo para processar aquilo.

- Você não precisa fazer isso, Hermione. – foi o ele disse depois de um
tempo. – Seu trabalho pode ser uma boa distração para você agora.

- Por isso mesmo preciso deixá-lo. – ela disse. – Quero que outras coisas
me sirvam de distração.

- Senhor... – um dos bruxos debruçados sobre o modelo reduzido o


chamou e Draco o cortou já sabendo exatamente o que dizer.
- Mantenha-os nas laterais. – foi a ordem de Draco.

- Não muito inteligente para seu exército. – comentou Hermione para ele
sobre a ordem que havia lançado

- Eu sei. – ele respondeu – Apenas assista.

E Hermione assistiu enquanto toda a zona sete conseguia domar o ponto mais
alto de dominação dos rebeldes e tornar o que Draco havia dado como cartada
final para a vitória deles em uma reviravolta que ela não esperava que o
exército fosse capaz. Ele era inteligente. Ele era muito inteligente. E isso era
bem afrodisíaco, ela tinha que confessar.

- Vejo que tem trabalhado na linha de formação do seu exército. – disse


depois de limpar a garganta tentando soar o mais neutra possível.
- Já estava na hora, não acha? – ele disse e deu as costas. Ela quase pode
ver o sorriso discreto que brincava nos lábios dele pelo reflexo. – Luzes! –
estalou os dedos lançando sua ordem para um dos bruxos e tudo se acendeu
fazendo sumir a projeção da vila dando lugar a um enorme ginásio de paredes
e piso branco. – Abra a linha para eles. – pediu enquanto levava sua varinha
para a garganta. Recebeu o aceno de um bruxo e começou: - Não muito
perfeito para a primeira tentativa. – Hermione escutou a voz dele soar ampla
do outro lado do vidro. O grupo disperso pelo ginásio começou a se juntar e
erguer a cabeça para o mezanino. – É preciso que segurem a suposta vitória
deles por mais alguns minutos. O grupo que irá derrubar os postos de vigilância
e trabalhar nas fronteiras precisará de no mínimo trinta minutos, portanto
recuem mais antes de força os rebeldes para as laterais e os segurem o
máximo de tempo possível, eles não iriam dispersar, seria estúpido. – ele
pausou por alguns segundos deixando o grupo discutir entre eles no andar de
baixo o que havia sido acabado de ser dito. - Forjar um ataque e deixar que
eles beirem a vitória por muito tempo é bastante arriscado. – Draco chamou
atenção mais uma vez. – Temos que ser o mais discretos possível para não
aparentar que na verdade quem tem o controle da situação somos nós. E de
uma vez por todas, nós não vencemos a Ordem usando magia! Eles são muito
bons nessa área. Desarmem, usem suas habilidades, será mais fácil controlá-
los assim. Lincoln. – Draco chamou o comensal pelo sobrenome e não pelo
status dentro do departamento o que mostrava a relação próxima que ele
mantinha entre general e soldado ali.

- Sim, senhor. – a voz do homem soou no mezanino como se ele estivesse


próximo e não um andar abaixo. Hermione notou um comensal de cabelos
loiros e cortados bem rentes a raiz prestar uma respeitosa continência.

- Seu ato quase custou nosso domínio sobre a operação inteira, me diga
qual foi seu erro. – disse Draco.

- Deixar minha posição, senhor? – o homem pareceu incerto.


Não. Hermione pensou. Errou seu calculo de distância. Agora que ela entendia
todo o plano tudo fez sentindo quando se lembrou daquele mesmo homem
saindo da posição que estava na esquina da avenida principal.

- Não. – disse Draco. – Você errou o cálculo de ação. – Hermione sentiu


seus lábios quererem abrir um sorriso discreto de satisfação por perceber que
ainda era boa. Aquele homem fora impulsivo. Se lembrava exatamente de
quando ele deixou a posição. Vinte e três metros aproximados de distância para
se percorrer há um passo de um metro e meio vencido por segundo em um
tempo de quinze segundos era querer clamar por um milagre. Hermione se
lembrava do quanto todos da Ordem cometiam erros como aquele com
frequência, principalmente Harry e Rony que adoravam ser impulsivos. – Se
algum dos rebeldes tivesse visto Newcastle cobrir sua falha teriam percebido
que estávamos deixando com que ganhassem. – continuou Draco. - Isso seria
nossa ruína. Informei que forjar um ataque é extremamente arriscado, não
podemos nos dar ao luxo de erros cometidos por comensais da zona três. Não
há plano B que nos faça tomar o controle se a Ordem perceber que estamos
servindo de distração! Essa é uma lição para todos.

- Sim, senhor. Peço perdão. Estarei mais atento aos detalhes. – prometeu o
homem de forma muito profissional e Draco apenas acenou em concordância.

- Terá tempo para treinar nas nossas próximas simulações. É um bom


soldado. Não estaria aqui se não fosse. – o tom de Draco fora calmo embora
ainda houvesse um ar de punição ali, mas Hermione notou que o comensal
parecia se sentir bem por ter sido alertado de sua falha e surpreendentemente
devoto a Draco mesmo aparentando ser mais velho. – Preparem-se para mais
uma simulação em sessenta segundos. Sei que estão todos cansados, mas
temos um horário apertado hoje. Sei que conseguirão administrar isso sem
tempo para descanso em suas melhores formas, afinal são todos soldados da
zona sete. – ele finalizou, tirou a varinha da garganta e voltou-se para o bruxo
ao seu lado. – Prepare a próxima simulação e corte as linhas. – ordenou e o
bruxo tratou de adiantar os preparativos enquanto Draco engajou em uma
discussão sobre a mesa do modelo reduzido com mais um grupo de outros
bruxos. No andar de baixo uma contagem regressiva de sessenta segundos
começou em um painel gigantesco em uma das paredes. O grupo ali correu
para suas posições.

Hermione tinha que admitir que sem dúvidas Draco era uma figura muito
tentadora exercendo seu poder de general. Ele era sério e soava mais velho do
que realmente aparentava. Só ali ela havia percebido o quanto ela era tudo que
ele não gostava. Draco era acostumado a pessoas que lhe prestavam
continência, seguiam duas ordens e abriam o caminho para ele passasse.
Hermione o desafiava até mesmo na hora de montar a mesa do jantar diferente
da forma como ele gostava. Por um segundo ela se sentiu mal. Não era apenas
o seu sangue odiável, era tudo que ela era, era quem ela era, desde de
Hogwarts, durante toda aquela guerra e até mesmo agora estando casados.
Sempre seria odiada por Draco Malfoy por mais familiarizados que estivessem
um com o outro. Ele havia a odiado desde de a primeira vez que a vira e a
odiaria até a última.

O que estava fazendo com casada com Draco Malfoy, mesmo? Suspirou e
voltou sua atenção para o pedaço da vila que havia se materializado novamente
no andar de baixo. Ela não queria ter que pensar em sua relação com Draco.
Já haviam administrado para que a convivência entre eles beirasse o tolerável.
Sexo havia sido uma chave importante para isso. Portanto até o presente
momento ainda não haviam se matado nem levantado a varinha um para o
outro embora em muitos momentos ela se lembrava de que haviam chegado
bem perto.
Moveu seu interesse do andar de baixo para o modelo reduzido onde um grupo
de bruxos controlava o movimento rebelde em uma determinada área. Ela
notou que ali era o povoado inteiro e que no andar de baixo apenas uma
pequena parte era reproduzida em volume real. Seus olhos mapearam todo o
espaço e ela sentiu uma remota lembrança aflorar em seu cérebro. Ela
conhecia aquele lugar, aquele povoado. Por que os comensais estavam forjando
um ataque contra um povoado que eles já dominavam?

- Use aquela magia nova a favor dos rebeldes. – Draco disse a um dos
bruxos que movia algumas figuras rebeldes com sua varinha no modelo sobre a
mesa. – Quero ver como eles vão reagir. – e assim ele se virou para o andar de
baixo, cruzou os braços e apenas observou.

Hermione moveu-se para perto dele.

- Pensei que o povoado de York já fosse parte do império do mestre. –


comentou ela numa voz baixa.

- A Ordem o tomou há pouco tempo. – Draco respondeu. Hermione se


surpreendeu. York? Como poderiam ter tomado York? Era um dos povoados
bruxos mais expressivos da Inglaterra e seu raio de influência cobria quase
todo o norte e noroeste do país. Havia sido um dos primeiros povoados que o
exército de Voldemort colocara as mãos em cima. – A reação dos civis tem sido
a nosso favor, então é apenas uma questão de tempo e estratégia para agir na
hora certa e tomar o povoado novamente.

Dominação de território nunca havia sido o interesse da Ordem, mas


claramente expandir seu poder de dominação sempre havia sido o interesse de
Voldemort, portanto a Ordem também tivera que entrar de cabeça nisso, além
do mais, o apoio do povo era algo de muito valor e a Ordem por muito tempo
acreditou que as pessoas queriam fugir do domínio de comensais, o problema é
que com a força e o poder que Voldemort tinha, era muito mais seguro poder
andar nas ruas de um povoado que era protegido pelo Lorde das Trevas do que
ter que se esquivar pelas esquina em um povoado que a Ordem segurava a
duras penas com medo de qualquer ataque surpresa da força massiva do
exército de comensais. Com essa realidade muita gente se rendeu ao Lorde,
muitos se tornaram comensais e muitos juraram apoio ao Império.

Mas o que realmente a incomodava era o como. Como a Ordem conseguira


tomar algo como York? Aquele território estava sobre o domínio de Voldemort
desde o início da guerra!

- Como? – foi tudo que ela precisou perguntar.

- Assista mais um pouco. – ele disse mostrando que ela poderia tirar as
próprias conclusões se continuasse assistindo.
Nos minutos seguintes nada de muito esclarecedor aconteceu, mas então,
enquanto um grupo da zona sete atrasava alguns rebeldes correndo para um
campo longe da praça onde a concentração da suposta vitória dos rebeldes
acontecia, um dos rebeldes projetados que acabara de ser desarmado,
estendeu as mãos como se estivesse se preparando para uma magia
involuntário e lançou um raio de reconhecimento por toda a área com uma
potencia o suficiente para derrubar qualquer alma viva pelo caminho, mas
todos se seguraram para manter o equilíbrio. No segundo seguinte o mesmo
rebelde fechou o punho, o girou e jogou para o ar uma espécie de círculo azul
neon que pairou ali, acima da cabeça de todos, um espaço de tempo curto o
suficiente até começar a lançar contra os comensais raios em jatos cor de fogo
que funcionavam quase como uma bomba. Não os atingia fisicamente, mas
atingia muito próximo e fazia um estrago o suficiente para lançá-los longe,
quebrar equipamentos urbanos, destruir calçadas, desfazer as pedras
justapostas da pavimentação das ruas. Hermione deu um passo a frente
extasiada segurando o parapeito que a impedia de inclinar-se contra o vidro.

- Merlin. O que é isso? – sua voz saiu quase que num sussurro.

- Observe mais. – foi tudo que ele pronunciou e ela continuou observando.

Os comensais que eram atingidos levantavam confusos como se não


soubessem exatamente o que fazer ou onde estavam. Os que conseguiam
escapar do raio de influência do ataque do círculo neon que ainda continuava
no ar lançando suas bombas e aqueles que não haviam sido reconhecidos pelo
escudo de reconhecimento gritavam ordens para os comensais que se
levantavam desnorteados. Hermione encarou Draco surpresa. Ele apenas
piscou os olhos desviando-os do caos no andar debaixo para os olhos dela
carregando aquela expressão neutra e séria em seu rosto.

- O que é isso? – ela tornou a perguntar. Nunca havia visto nenhuma


magia como aquela.

Draco puxou o ar e o soltou cansado. Voltou a encarar o ataque e deu um


passo a frente para tornar a ficar ao lado dela.

- Essa é uma magia que ninguém nunca viu antes. – ele começou, a voz
tão semelhantemente cansada quanto o semblante que ele deixou tomar conta
de sua expressão quando começou a falar. – O escudo de reconhecimento
percorre a área e aponta os inimigos para que os raios sejam lançadas nas
direções corretas. Eles não tem poder destrutivo para matar ou qualquer coisa
do tipo embora façam bastante estrago, mas o comensal dentro do campo de
influência desse raio perde a memória curta por alguns segundos. Parece
inofensivo dizer que são apenas alguns segundos, mas você sabe que em um
campo de batalha um segundo pode custar sua vida. – ele observou mais a
loucura lá embaixo - Tudo isso é o suficiente para trazer o caos, principalmente
quando mais de um rebelde consegue externar essa magia.

Hermione balançou a cabeça confusa.


- Eu nunca ouvi falar em nada parecido. – ela tentava pensar em alguém
da Ordem que conseguisse surgir com algo daquele tipo, mas não conseguia.

- Temos um grupo estudando toda a magia, mas... – ele parecia mesmo


cansado – Hermione, você não tem nem ideia do quanto ela é complexa. Não
segue a estrutura de nada que somos acostumados a ver.

Ela o encarou.

- Posso olhar? – ela pediu.

- Nós não temos a versão inteira aqui, mas se quiser se distrair com o que
temos. – ele apontou para alguns pergaminhos sobre uma mesa de estudo
numa das extremidades do lugar. – Eu vou ter que concertar isso. – disse se
referindo ao caos na simulação e se afastou lançando ordens aos bruxos. –
Parem tudo. Acendam as luzes e abram as linhas.
Hermione o deixou seguindo para a mesa com os pergaminhos que Draco havia
indicado. Dois bruxos estavam ali trabalhando no que parecia ser toda a
papelada da dissecação da magia. Ela se aproximou tentando não parecer
muito invasiva mas logo quando foi notada, os dois bruxos que pareciam estar
em uma discussão intensa se calaram e deram espaço para que ela fizesse o
que quisesse. Mesmo sabendo que tinha autoridade para realmente fazer o que
quisesse, foi educada.

- Será que poderiam me mostrar os estudos dessa nova magia? – apontou


para o vidro que dava vista ao ginásio. Um dos bruxos assentiu e começou uma
busca entre os milhões de pergaminhos que pareciam estar amontoados ali.
Demorou um longo minuto até que ele estendesse um rolo grosso para ela.
Hermione o pegou. – Isso é tudo que tem?

- Sim, senhora. Os outros estudos relacionados que temos aqui são


caminhos para conseguir incluí-lo na simulação. – informou o bruxo em um
sotaque carregado. Ele não era inglês definitivamente.

Hermione assentiu.
- Obrigada. – agradeceu e afastou-se apenas alguns passos para deixar
que os dois continuassem trabalhando.

Usou a varinha para fazer o rolo ficar aberto a sua frente. Era grosso, mas
sabia que não era o suficiente para uma magia que aparentava ser complexa
como aquela. Seus olhos percorreram todo o pergaminho uma vez e aquilo foi o
suficiente para que ela concluísse que era diferente de tudo que já havia visto.

Em seu quinto ano, quando Harry começou a ter aulas de oclumência e


legilimencia com Snape, Dumbledore havia a feito tomar aulas de feitiços
avançados com McGonagall. Até o início da guerra Hermione tinha aulas extras
com a professora. Quando se mudaram para a sede da Ordem, Hermione
continuou tendo aulas com especialistas de lugares diferentes do mundo que
haviam se juntado a resistência e McGonagall se tornara sua tutora ainda mais
próxima. Quando Hermione atingira seu nível de conhecimento as duas
começaram a crescer muito mais juntos, até que Minerva fosse assassinada em
um dos ataques que custara a Ordem a perca de Godric’s Hollow.

Hermione havia aprendido que a estrutura de feitiços eram mais simples que os
de magias mais profundas. Feitiços normalmente consistiam na combinação do
poder e significado do som da pronúncia da língua que o originara. A maioria
deles vinha do latim por ser uma língua mais limpa e de bastante influência,
mas poderiam vir de diversas outras línguas primárias, línguas de povos que
nunca nem haviam desenvolvido a escrita. Magia era algo muito mais
complexo. Magia era a combinação de feitiços, cálculos, runas, línguas e
demandavam um poder de conhecimento, concentração e treinamento muito
grande para serem externadas por uma varinha ou elaboradas por uma mente
geniosa. Ela havia aprendido a ler magia e estudos de magia quando ainda
estava em Hogwarts em suas aulas extras com Minerva e todas elas seguiam
um padrão, das mais simples as mais complexas. Primeiro o estudo de línguas
e significados de pronúncia de cada feitiço que o envolvia, a conclusão desse
estudo era automaticamente ligado as variáveis dos cálculos que consistiam no
corpo da magia e todo o seu processo de execução, isso se somava
automaticamente as runas ou ligação histórica que a essência da magia deveria
carregar, geralmente associada a povos primitivos ou comunidades de criaturas
mágicas.

Enquanto ela tentava encontrar esses elementos naquele imenso rolo de


pergaminho, tudo que ela conseguia identificar era uma imensa bagunça. Não
havia um corpo inteiro de cálculo e ele não estava ligado aos estudos de
feitiços. Inclusive, não havia estudo de feitiços e se houvesse ela não estava
conseguindo identificar. Cálculos se espalhavam em diferentes áreas o que
excluía todo o sentido de unificação e ligação da essência da magia, mas
Hermione, ainda assim, se enfiou naquele mundo tentando descobrir um
sentido para tudo aquilo.

Ela não teve consciência do tempo passando, mas quando seu subconsciente
captou um ordem lançada pela voz de Draco sobre a última simulação ela
levantou os olhos para ver as luzes se apagando e o painel de contagem
regressiva começar dos sessenta segundos. Ela perdera as outras simulações e
percebeu também que havia conjurado um caderno de notas e uma pena onde
rabiscara já cinco páginas de cálculo. Olhou ao redor e encontrou os olhos de
Draco sobre ela há uma distância razoável. Eles se encararam por alguns
segundos e então Draco piscou e voltou-se para um dos bruxos para lançar
algumas ordens. Hermione voltou a cair os olhos novamente para o seu
trabalho e suspirou percebendo que ainda estava longe de chegar a algo
plausível, mas podia já dizer que aquele não era um caso perdido. Alguns
minutos avançaram e Draco apareceu ao seu lado.

- Você me parece bem entretida. – ele apontou para o caderno que ela
tinha nas mãos.
- Isso aqui é um trabalho bem complicado. – ela se referiu a magia. Ele
murmurou algo em concordância. – Parece algo sem lógica, mas se realmente
fosse ele não poderia ser externado ou conjurado. – ela apontou para o centro
do pergaminho. – Vê isso? – perguntou – Sequência de runas. Cada uma delas
tem um cálculo. Nunca tinha visto tirarem cálculo de runas antes, nunca havia
pensado que isso era possível, mas isso parece tornar a essência bem
manipulável. É isso que monta o corpo físico da magia.

- Sim, nós chegamos a essa parte. – ele disse. – É assim que conseguimos
reproduzi-la. Podemos usá-la contra a Ordem agora. Alguns soldados das zonas
cinco, seis e sete tiveram treinamento para conjurá-la.

Hermione assentiu. Sabia daquilo. Era o mais óbvio depois de longas horas de
estudo e era o que mais parecia fazer sentido ali naquele mar de surrealismo.
Mas ela acreditava ter chegado a um ponto que não acreditava que eles
tivessem.

- Tem um ponto fraco na magia. – ela disse e quase que imediatamente


Draco moveu os olhos para ela como se estivesse se perguntando o porque ela
não dissera aquilo antes. – Está vendo esses feitiços em latim sem nenhum
estudo de caso? – ela apontou para as palavras soltas em latim nas laterais.
Draco estalou os dedos as suas costas sem tirar os olhos do pergaminho e no
segundo seguinte os dois bruxos que trabalhavam na mesa de estudo estavam
ao seu lado escutando tudo que dizia. – São de um latim bem primitivo e
parecem conversar muito bem com as runas. Se pegar cada calculo de cada
runa e associar com a ordem dos feitiços vai conseguir enxergar passo a passo
a montagem do corpo da magia.

- Os feitiços são para o momento da conjuração. – um dos bruxos a


corrigiu educadamente.

- Sim, esse seria o mais lógico. – Hermione retrucou – Mas não pode
ignorar que eles conversam melhor com as runas. Faça as associações. Irá
conseguir enxergar.

Os dois bruxos pareceram tomar um tempo para absorverem a informação e


analisar aquilo de uma nova perspectiva. Draco a encarou confuso.

- Como pode saber de tudo isso? – ele perguntou numa voz baixa.

- Tive aulas extras com Minerva. – disse. – Por muitos anos. – acrescentou.
- Minerva McGonagall? – um dos bruxos, o do sotaque pesado, murmurou
enquanto seus olhos percorriam o pergaminho – Ela é a melhor. – pareceu
tomar consciência do que falou e pigarreou. – Ela era. – corrigiu.

Hermione podia até dizer que ele se sentia mal por aquilo.

- Se analisar mais os cálculos tomando cuidado para não perder essas


associações, vai conseguir chegar a conclusão de que há muitas variáveis bem
aqui. – ela apontou para uma das primeira runas da sequência. – Esse é o
momento exato em que o aquele círculo se fecha. Aquele azul que lança os
raios. Ele tem alguns segundos de instabilidade, apenas alguns. Se colocar
qualquer feitiço de efeito reverso nessa equação irá desestabilizar as outras, ele
não terá força para fazer as demais associações e então a magia se quebrará.

Draco puxou o ar.

- Me parece bem simples. - ele parecia incerto.


- Mas faz bastante sentido enxergando por essa perspectiva. – acrescentou
um dos bruxos levantando o olhar para Draco.

- Eu não acho que essa é uma magia complexa. – Hermione disse. – Está
apenas fora do padrão que usamos.

O silêncio percorreu eles. Draco pareceu tomar seu tempo para pensar no que
quer que as engrenagens de sua cabeça estivesse trabalhando. Ele deu as
costas subitamente e começou a caminhar em direção aos bruxos que
trabalhavam no modelo reduzido.

- Quero testar isso. – ele informou a ela. Hermione o acompanhava. –


Parem novamente. – ele ordenou as bruxos. – Acenda as luzes e abra as linhas.
– ele levou a varinha a garganta e quando recebeu um aceno do bruxo e voz de
Draco ecoou do outro lado do vidro. – Vamos usar a magia novamente. Dessa
vez os rebeldes irão usá-la contra vocês e preciso que prestem atenção no
momento em que o círculo for lançado. Vocês terão muito poucos segundos
para usar qualquer magia de fonte reversa contra ele. Precisarão pensar muito
rápido, agir quase que por reflexo, portanto quando o escudo de
reconhecimento for lançado, já deixem suas varinhas preparadas. – ele tirou a
varinha da garganta e os comensais que haviam desviado seu olhar para o
mezanino voltaram as suas posições. – Feche as linhas. – Draco ordenou aos
bruxos. As luzes se apagaram novamente e a pausa feita voltou a ação.
Hermione se preparou para pedir que o tempo fosse desacelerado já que muito
provavelmente a primeira tentativa poderia ser frustrada devido ao tempo curto
que eles tinham para atingir o circulo ainda com uma magia instável, mas
Draco já parecia ter pensado nisso quando disse antes dela: - faça com que o
tempo corra devagar na hora do lançamento. Não para a zona sete, assim eles
terão tempo para se recompor e atacar. E vamos ter mais chances de saber se
estamos perdendo tempo com isso ou não. – seus olhos cinzas caíram sobre os
dela – Espero que esteja certa. – ele foi sério.

Hermione engoliu a própria saliva percebendo que estava tão ansiosa tanto
quanto qualquer outro ali. Se aproximou do vidro e esperou. Não demorou
muito para que novamente, um rebelde que havia acabado de ser desarmado
repetisse o processo que ela havia visto antes. O tempo desacelerou para os
rebeldes quando o escudo de reconhecimento percorria a área e dessa forma os
comensais tiveram mais tempo de preparar as varinhas.

O circulo neon foi lançado e mais de um feitiço reverso voou contra ele. O
primeiro passou rente, o segundo atingiu o circulo e o desestabilizou, o terceiro
o atingiu novamente e foi suficiente para fazer com que o círculo se dissolvesse
no ar e desaparecesse. Hermione se viu soltar um ar que não notara ter
prendido e deixou que um sorriso de satisfação se esticasse em seus lábios.
Uma exclamação de surpresa e vitória correu a boca dos bruxos ali. Os
comensais no andar de baixo apenas continuaram concentrados na missão que
tinha.

- Estamos trabalhando nessa magia a semanas! – um dos bruxos exclamou


voltando-se para Hermione. – Como conseguiu chegar a isso em apenas
algumas horas?
Hermione sorria satisfeita.

- Sou boa. – foi tudo que precisou dizer com perfeita consciência de sua
postura. Seus olhos se cruzaram com os de Draco e ele tinha um sorriso
discreto e tão igual ao dela nos lábios.

Quando a simulação acabou com a vitória dos comensais Draco pediu para que
ela o acompanhasse até o andar de baixo. Seu salto ecoou pelo ginásio inteiro
enquanto ela avançava as costas dele. Os soltados se alinharam todos
ajeitando a postura para receber seu general e muitos desviaram discretamente
o olhar para ela sem entender o que fazia ali.

- Tenho orgulho do trabalho que fizeram hoje. – Draco começou, mas longe
do tom amigável ou simpático. Ele era um general. – Sei que trabalharam o seu
máximo. – e todos ali pareciam realmente exausto. – As tentativas de hoje
foram muito informativas. Iremos polir o que se deve ser polido e nas próximas
simulações estarei com vocês em campo. – Draco falou enquanto passeava
entre eles com os braços para trás. – Mas aposto que estão bastante satisfeitos
de terem conseguido eliminar aquela magia nova que a Ordem tem usado
contra nós durante a última simulação. – Uma onda de satisfação cruzou a
expressão de todos ali. Hermione notou que Draco se aproximava de um dos
soltados na ponta que a olhava como se pudesse ter a chance de tocá-la.
Hermione sentiu suas bochechas corarem e desviou o olhar. – Infelizmente
aquela foi uma única tentativa portanto vamos usar os minutos que ainda
temos para treinar o máximo possível. – ele parou bem de frente ao comensal
que desviara o olhar de Hermione quase que imediatamente ao notar Draco. –
Se eu o pegar olhando para minha mulher mais uma vez vou arruinar sua vida
sem pensar duas vezes. – seu tom foi altamente severo e nem um pouco
particular para com o homem, o que fez Hermione notar uma série de outros
comensais desviarem o olhar dela para qualquer outro lugar imediatamente.
Uma das mulheres do grupo apenas revirou os olhos.

- Perdão, senhor. – foi tudo que o homem disse.

Draco deu as costas e continuou:

- Hermione encontrou um ponto fraco na magia. Ela explicará melhor a


todos, assim poderemos avançar com um treinamento inicial por agora e nas
próximas semanas estaremos separando sessões de treino específicos.
Precisamos ter isso sob domínio. Todos puderam perceber o quão
comprometedora se torna a nossa situação quando somos atacados por essa
magia. – ele se virou para Hermione que entendeu ser sua vez de se
pronunciar.

Por um segundo ela sentiu toda a tensão reter seus músculos. Sua cabeça girou
em um discurso muito metodológico sobre a explicação de magia estrutural
para introduzir a diferença e os desafios que enfrentara com essa em
específico, mas logo percebeu que aqueles ali a sua frente eram soldados, não
alunos. Ela se lembrou de como costumava estar na pele de Draco Malfoy, só
que na Ordem, quando ela passava todos os comandos de uma missão para
aqueles que considerava amigos próximos na úmida e abafada cozinha da
mansão Black. Ela sabia fazer aquilo.
- Vocês todos podem olhar para mim. Ninguém irá cortar suas cabeça ou
arruinar suas vidas. – escolheu começar assim e logo recebeu um olhar sério e
desaprovador de seu amado marido. Os olhares da sala se desviaram receosos
para sua figura. – Diferente das outras magias, o corpo físico dessa em
específico é ainda bastante desconhecido, portanto apenas um ponto fraco foi
encontrado até agora. – olhar aqueles rostos a sua frente a fazia se lembrar de
quando era costumada a encontra-los em campo de batalha - Como
conseguiram perceber, na última simulação, Draco tratou de desacelerar o
tempo do grupo da resistência no momento ideal para que todos vocês
tivessem maior chance de alvo e assim pudéssemos ver se o ponto fraco que
enxerguei não era na verdade apenas um ponto enganoso. No tempo real vocês
vão ter que administrar a ação no que gira em torno de cinco-seis segundos no
máximo, o que parece razoável, mas considerando o tempo de recuperação que
será necessário devido ao impacto do campo de reconhecimento lançado antes,
temos que reduzir o tempo de ação para três-quatro segundos, contando com
uma margem de segurança, o que é bastante apertado. Vocês tem
apenas uma tentativa para destruir a magia. No momento em que o conjurador
da magia estiver se preparando para lançar o círculo, vocês já devem estar
preparados com sua varinha. Tem que ser rápido, é sua única chance e única
tentativa, pode parecer um tanto impossível, mas me lembro de todos vocês e
sei o quanto são bons. Treinamento os farão atingir seus objetivos com
facilidade. – e finalizou.

- Nós vamos montar uma base de treinamento improvisada para


vencermos os minutos que nos falta. – Draco tomou a fala quase de imediato. –
Hermione irá auxiliá-los em qualquer dúvida que tenham por agora. – disse e
começou a lançar uma série de ordens e regras para o treinamento.

Um espaço fora limitado onde os comensais da zona sete foram colocados.


Ondas do campo de reconhecimento iriam atingi-los e eles precisavam acertar
um alvo que pairava acima de suas cabeças no menor espaço de tempo
possível.
Hermione respondeu perguntas sobre o momento exato em que o círculo
detinha seu ponto fraco e passou uma lista de feitiços reversos que possuíam
tempo de viagem bem curtos. Ela pensou que três segundos pudesse ser muito
pouco para eles, mas percebeu que muitos conseguiam concretizar a tarefa no
espaço de um segundo e meio, o que de fato a surpreendia.

Cruzou os braços e observou enquanto o grupo praticava incansavelmente. Se


estivesse na Ordem Rony já teria resmungado e reclamado no mínimo um
milhão de vezes sobre “pegar-muito-pesado”. Não havia dúvida sobre o porque
Voldemort estava ganhando aquela guerra.

Draco estava bem as suas costas conversando com um dos bruxos que fazia
anotações frenéticas em uma prancheta. Logo quando a conversa deles acabou
sentiu o corpo de Draco aproximar-se do seu. Uma respiração quente confortou
seu lado direito e ela escurou a voz dele contra seu ouvido num tom baixo e
grave o suficiente para fazê-la se arrepiar:

- Gostaria de saber o que a fez de repente estar do nosso lado, Hermione.


Ela puxou o ar tentando se estabilizar, abriu a boca para retrucar, mas sentiu o
braço dele cercar sua cintura e puxá-la para si. Por um segundo ela não
entendeu a atitude, mas então viu o jato de um feitiço ricocheteado passar a
centímetros de se corpo. Olhou para o chão e viu que estivera além da linha
que delimitava o campo de ação do grupo e Draco havia a puxado de volta.

- Gostaria mais de saber o porque me deixou participar. – foi o que ela


administrou falar tentando não se mostrar abalada, principalmente porque ele
ainda a segurava contra ele. Eles se tocavam apenas quando faziam sexo, era
quase uma regra. Virou-se para ele forçando o fim daquela proximidade
incomum. – Amanhã faremos um ano de casados. – ela começou séria.

Ele ergueu as sobrancelhas e assim que a ideia pareceu lhe cair um sorriso
brincou em seus lábios.

- Espero que não fique brava comigo por não me lembrar, querida. – disse
em seu tom irônico. – Acha que deveríamos preparar algo especial para a data?

Hermione puxou o ar sem paciência.


- Farei um jantar para você se estiver nos seus planos comer em casa.

- Para mim? – ele ergueu uma das sobrancelhas intrigado.

- Para você. – ela repetiu muito certa de suas palavras. – Tenho um trato a
lhe propor.

Ele trocou o peso de perna e cruzou os braços.

- Um trato? – quis ter certeza de que ouvira certo.

- Um trato. – confirmou Hermione.


Draco continuo com aquela expressão desconfiada.

- E por que não poderia me propor esse trato no jantar de hoje?

- Porque tratos especiais devem ser fechados em datas especiais. – ela


respondeu. Malfoys sabiam tratar apenas de negócios, não era? Ela usaria a
língua deles então.

Ele absorveu aquela informação e um sorriso voltou a se abrir em seus lábios.

- Bem interessante esse seu cérebro, Hermione. – ele comentou – Sabe


qual o meu prato favorito, não sabe?
- Peixe. – ela respondeu sem mudar sua expressão neutra por um
segundo.

Ele soltou um riso fraco.

- Não é uma esposa assim tão ruim. – fez seu último comentário, a tocou
no queixo rapidamente e voltou-se para os comensais da zona sete que ainda
continuavam empenhados em suas tarefas como se não fossem nem mesmo
humanos. Hermione apenas revirou os olhos e puxou um ar. Não esperou por
aquilo mas um fino e discreto sorriso trabalhou para se abrir em seus lábios
antes de deixar o ginásio.

Tomou a carruagem para casa. Já era fim de tarde e ela precisava lançar as
ordens do jantar para Tryn. O caminho era conhecido, mas ela sentia que
parecia estar o fazendo pelo primeira vez depois de anos. Desceu em sua casa
minutos depois e tratou de arrumar o que tinha que arrumar para o jantar.

Quando subiu para o quarto e viu todo aquele ambiente novamente seu
coração pesou, a realidade lhe bateu quase que com um soco. Ela precisou
respirar fundo para conseguir desviar seu caminho para o lavatório. Tirou sua
roupa com calma e tomou um banho deixando que a satisfação de sua
produtividade naquele dia superasse a tristeza que lhe invadia. Enquanto
estivera na Catedral havia conseguido empurrar todos aqueles sentimentos,
mas agora que voltara a bolha onde havia vivido as ultimas semanas sentia que
tudo aquilo estava de volta a superfície e era quase impossível empurrá-la
novamente para o fundo de sua alma. Não havia distração ali, não havia nada
que pudesse chamar sua atenção a não ser a dor que vivenciara todas aquelas
semanas.

Enrolou-se em seu roupão de banho e voltou para o quarto. Destrancou a


gaveta onde havia colocado a pasta, a abriu em seu colo e puxou uma das
imagens que mais lhe fizera companhia nas semanas anteriores. Seus olhos
embaçaram instantaneamente ao ver a imagem desfocada das mãozinhas se
movimentando vagarosamente dentro de sua barriga. Ela cobria os olhinhos
que pouco estavam formados ainda. Aquele aperto quase a tragou para o
estado de dor profunda novamente. Ela precisou controlar sua respiração e ser
forte. Precisava ser forte.

“Meu bebê.” seus lábios sussurraram e seus dedos correram a figura em


movimento. Hermione engoliu o nó doloroso em sua garganta. Fechou os olhos
e uma lágrima lhe escorreu pela bochecha. “Preciso seguir a vida.” Queria dizer
a imagem, por mais que soasse como uma loucura, mas não conseguia. Tudo
que ela mais queria era olhar para aquilo um dia e sentir apenas saudades.
Uma saudade distância. Saudade de sentir aquela vida dentro dela lhe fazendo
companhia a cada segundo do dia. Ela parecia ainda longe desse objetivo.

Escutou carruagem de Draco estacionar no pátio do lado de fora. Ela precisava


se arrumar para o jantar. Limpou os olhos, devolveu a pasta a gaveta, se
colocou de pé seguindo para o closet. Precisava seguir a vida. Talvez repetisse
a mesma coisa no dia seguinte, mas ainda assim, precisava seguir a vida.
23. Capítulo 23
Narcisa Malfoy

Queria ficar com os olhos fechados sentindo todo o calor que havia ali e todas
as sensações boas que lhe provocava. Ela abriu um sorriso quando apenas
aquelas sensações fizeram seu coração se regozijar mais uma vez. Ele voltava
para ela. Sempre voltava. Ela era sua família.

- Estou feliz por estar em casa. – ela disse num tom baixo acomodando-se
mais sobre o peito nu de Lúcio Malfoy. Sentiu os dedos dele percorrerem o
caminho de sua espinha e mais daquelas sensações adormeceram seus
membros.

- Sim, sei disso. – ele soava sério e ela sabia que não era por estar
cansado da presença dela. Ele carregava algo nos olhos no momento em que
passara para o lado de dentro de casa.
O silêncio se estendeu. Para Narcisa era delicioso, era tudo que ela desejava
todos os dias. O silêncio, seu marido, seus corpos unidos como deveria ter sido
desde o primeiro dia em que havia pisado na mansão Malfoy como uma. Sentia
seus olhos pesarem, Lúcio sempre lhe exigia energia além do que ela achava
que poderia dar, o mundo parecia distante, mas a verdade era que não queria
dormir. Sabia que assim que o sol saísse novamente, ele deixaria aquela cama,
tomaria seu banho e iria embora para voltar sabe-se lá quando.

- Sabe que não gosto de guardar segredos de você, não sabe Narcisa? –
ele disse num tom tão baixo que foi quase um sussurro. Ela achara que ele
havia dormido, mas aparentemente não.

Ajeitou-se novamente sobre ele.

- As vezes queria apenas que guardasse alguns deles para você. – disse no
mesmo tom que ele. Ela conhecia os segredos de Lúcio, muitos deles não
gostaria nunca de ter ouvido. Sentia-se culpada muitas vezes por amar um
homem como ele.

- Sabe que eu preciso de você, Cissa. – os dedos dele correram por seus
cabelos loiros e um arrepio correu sua espinha. – Eu preciso que sempre saiba
quem eu sou. É minha mulher, preciso que pelo menos você saiba quem eu
sou. – ele desenhou a linha de sua mandíbula que a fez o encarar a puxando
pelo queixo. – Você sabe que tudo que eu faço é por nossa família.
Ela negou com a cabeça encarando os profundos olhos cinzentos de seu
marido.

- Não, Lúcio. Tudo que você faz é pelo nome Malfoy. – ela afastou os
cabelos loiros que caiam em seus olhos – Eu não o culpo porque foi o que os
seus pais te ensinaram a fazer a vida inteira. Eu apenas... – ela suspirou
fechando os olhos por um segundo. Aproximou-se do marido e selou seus
lábios rapidamente sobre os dele. – Posso lhe pedir algo? – ela tentou usar sua
voz mais suave. – Por favor, não estrague esse momento. Por favor. – ela
quase implorou em seus sussurros. – Você não vem para casa faz tanto tempo,
nós não ficamos juntos faz tanto tempo. Eu senti sua falta tanto. Vamos ficar
juntos, em silêncio. Tenho medo de saber qualquer segredo seu agora.

O olhar dele era sincero. Tão sincero que ela sentia aquele calor em seu
coração de que era verdade sim, ele precisava dela. Narcisa sabia que conhecia
Lúcio como nenhum outra pessoa conhecia e era naqueles momentos, que ele a
olhava daquela forma, que sabia que ninguém nunca havia recebido aquele
olhar dele, nunca. Era a única parte dele que era apenas e unicamente
exclusiva dela. Não poderia dar as costas a isso, não poderia desapontá-lo.

- Eu preciso que saiba, Cissa. – ele tocou seu rosto.


Ela soltou o ar frustrada e fechou os olhos. Não podia desapontá-lo. Ele
precisava dela.

- Sabe que eu sempre irei o amar independente do que for. – disse ao abrir
os olhos. Sentiu um aperto em seu peito tão profundo. Ela realmente não
queria ouvir. Não queria saber mais dos segredos escuros de seu marido. Ela
queria apenas aproveitar que ele estava ali com ela, mas ele insistia em querer
colocar a culpa de saber que o amava novamente ali. – Acho que já sei o quer
me dizer. – sussurrou.

- Creio também que realmente já saiba. – ele usou o mesmo tom que ela e
Narcisa sentiu o aperto em seu peito aumentar ainda mais. Quis se afastar
dele. – Quero primeiro que saiba que eu não tive muita escolha, querida. – ela
apenas assentiu. Queria tanto se afastar dele. – O mestre me disse que era
uma menina, você sabe que meninas não podem carregar mais o sobrenome
Malfoy quando se casam e com a relação que Draco tem com Hermione, não
acredito que eles se dariam ao trabalho de fazer outro filho, um que pudesse
continuar a linhagem.

Era sempre sobre isso que ele se preocupava. A linhagem. Os Malfoy. Não
conseguiu mais e teve que se afastar. De as costas a ele se sentou do lado
aposto da cama puxando o lençol consigo para se cobrir. Podia dizer que até
sentia vergonha de ter feito amor com ele há alguns minutos atrás.
- O mestre lhe pediu autorização? – ela trabalhou para conseguiu dizer.

- Você sabe que o mestre não precisava da minha autorização. Ele me


contou apenas para ter certeza de que nossos interesses ainda continuam
seguindo o mesmo trilho. Eu não poderia ter salvo ninguém, Cissa. – ele disse.

- Sim, você poderia. – ela sussurrou fechando os olhos. Por que ela o
amava tanto? Como conseguia? – Apenas não se deu ao trabalho porque uma
menina na família, a essa altura, não era lucrativo. – ela suspirou – Consigo ver
que não está feliz com tudo isso. Por que? Não conseguiu o que queria?

Ele soltou o ar pesadamente.

- Draco. – disse mostrando que a razão era Draco. O silêncio pairou no ar


por alguns segundos como se ele estivesse pensando na melhor forma de dizer
aquilo. – Sabe que ele me evita o quanto pode, mas mesmo assim, ele veio até
mim e desceu do enorme pedestal de orgulho onde se mantem há anos e quase
implorou para que eu desse suporte na ideia de levar o filho para fora de
Brampton Fort quando nascesse. Ele queria aquela criança. Tenho notado como
ele vem agindo nas últimas semanas. O conheço. Tem sido difícil para ele.
Principalmente na primeira semana. Ele parecia tão perdido.
Sim, Draco tinha um coração.

- Mesmo sabendo disso concordou com o mestre quando ele disse que
matariasua neta. – ela sentia os dentes apertados e um nó subir em sua
garganta. – Se tivéssemos tido uma filha, Lúcio. Você a amaria? A amaria
mesmo depois que ela trocasse de sobrenome? – puxou o ar – Por que fez isso
com sua neta? Por que fez isso com Draco? Por que fez isso com o seu filho,
Lúcio? Você sabe que ele deve ter alguma ideia de que você sabia sobre tudo
isso agora, não sabe?

- Draco sabe como as coisas funcionam do lado de Voldemort, Cissa. Ele


sabe que sacrifícios devem ser feitos toda hora. E você não haja como se não
soubesse disso também. Eu não poderia ter dito ao mestre para poupar a vida
da criança sendo que ele apenas estava me informando sobre a intenção de
matá-la. Ele não queria minha opinião.

Narcisa viu seus olhos embaçarem e precisou piscar para afastar as lágrimas.
Ela havia estado tão pronta para receber aquele bebê. Uma esperança havia lhe
crescido. Alguém poderia amá-la além de Draco. Mais alguém. A felicidade e
esperança nos olhos de Hermione quando Draco havia lhe dito naquele jantar
que estavam trabalhando para não deixar que seu filho caísse nas mãos de
Voldemort era tudo que ela mais lembrava.
- Você já sabia que ele iria matá-la naquele jantar. – sua voz saiu tão baixa
que ela mal sabia se conversava com ela mesmo ou se Lúcio a escutava. –
Mesmo assim não contou a ninguém, não contou nem a mim. Deixou que
colocássemos todas aquelas esperanças no coração de Hermione. Você queria
apenas pressioná-la, manipulá-la para fazer com que ela dissesse sobre o véu.
Agora eu entendo o porque nem mesmo se deu ao trabalho de finalizarmos
aquela discussão, de mostrar a ela como faríamos para tirar a criança de
Brampton Fort. Você apenas a usou.

- Céus, Narcisa. – ele se moveu as suas costas – Diz como se nunca tivesse
me visto fazer isso antes!

- Ela é sua família agora. – será que ele nunca entenderia o que seria
aquilo?

- Por isso mesmo ela deve aprender, entender e aceitar como as coisas
funcionam. Você mesma sabe que sacrifícios são necessários e sabe que no
começo é realmente complicado entender esse mundo. – ele a envolveu com
seus braços. Narcisa sentiu o calor dele a abraçar e a respiração quente contra
seu pescoço. – Sabe que não é nada impossível de se administrar. Você
aprendeu com o tempo. Ela também aprenderá. – ele depositou ali um beijo
calmo. Subiu mais um pouco e a beijou outra vez. – Cissa. – sua voz estava
agora em seu ouvido, rouca, grave. – Ainda me ama?
Ela tremeu. Ele poderia ser quem fosse, não havia dúvidas em seu coração.

- Como pode sequer duvidar? – ela não conseguia dizer aquilo sem sentir
dor em seu coração. Sua noite já estava arruinada de qualquer maneira. Ela
não conseguiria mais encostar nele sem se lembrar, sem sentir culpa de amá-lo
tanto.

- Então durma comigo. Tenho mil coisas para fazer amanha. Preciso
descansar. Vamos deitar novamente. Sei que foi difícil para você ter que
escutar isso, mas estou grato por não haver mais segredos entre nós. – sua
voz era calma e sincera.

Narcisa engoliu a saliva, puxou o ar e assentiu. Deitou-se com ele novamente,


acomodou-se contra ele, mas não sentiu nenhuma daquelas deliciosas
sensações de antes. Ali tudo que apenas havia restado era a certeza de que
vivia um amor doloroso, um amor que vivia sozinha porque ele nunca diria que
a amava de volta.

- Lúcio. – ela o chamou depois de um longos minutos em silêncio. Ele


murmurou algo dizendo que a escutava, mas que já estava a beira de seu
sono. – Quando acha que Hermione deveria saber sobre quem ela é?
Ele respirou fundo e ajustou-se trazendo-a mais para si.

- Ainda precisamos dela como uma Sangue-Ruim por bastante tempo,


querida. Não pense sobre isso agora, apenas durma.

Hermione Malfoy

Verificou pela quinta vez se tudo estava conforme havia pedido a Tryn. Taças
de cristal, talheres de prata, porcelana decorada, guardanapos de algodão
espesso. Se olhou no espelho pela última vez enquanto escutava o carro de
Draco chegar no pátio de entrada.
Vestia um longo de tecido fino que desenhava seu corpo muito bem até os pés.
O tom era de um vermelho profundamente escuro, quase burgundy. A alça
cruzava seu ombro e se entrelaçava até a parte de baixo de suas costas a
deixando exposta. As joias que havia escolhido carregavam pedras escuras
envoltas em cordões de prata. O penteado ficara por conta de Tryn e todo o
seu cabelo estava puxado para o lado esquerdo. Sua maquiagem não estava
muito carregada por motivos óbvios de equilíbrio visual, mas tomara o cuidado
até de fazer as unhas.

Respirou fundo. Estava considerando aquele dia como o dia em que sua vida
seria dividida. Ela mudaria. A Hermione que havia sido todos esses anos seria
guardada em um lugar especial e distante dentro de si, ela era sua essência e
precisava ficar guardada, mas agora precisava mudar, precisava ser uma
Malfoy porque esse era o seu destino, o caminho que deveria seguir. Tudo
aquilo, aquele ambiente, aquelas pessoas, Draco, Brampton Fort, a Marca
Negra, tudo, era quem ela deveria ser agora. Era o que ela deveria aceitar. Era
o que ela deveria viver. Aquele era seu mundo agora, precisava se encaixar
nele definitivamente.

Encheu duas taças de champagne enquanto escutava a voz de Draco no hall de


entrada lançando ordens a um dos elfos enquanto avançava. Hermione segurou
as taças, verificou seu vestido rapidamente com um olhar e inalou o orgulho
que corria em sua veia. Apoiou um braço no encosto de uma das cadeiras,
tomou um gole da bebida e no momento que afastou a taça da boca Draco
passou para o lado de dentro enrolando a manga de sua camisa. Ele congelou
quase que instantaneamente com os olhos sobre ela. Hermione sentiu um
sorriso se abrir em seu interior.
- Oh. – foi tudo que ele disse enquanto levantava as sobrancelhas.

Hermione trabalhou para abrir um sorriso agradável.

- Olá, querido. – ela disse e se aproximou. Estendeu a outra taça a ele. –


Como foi seu dia?

Ele desceu aqueles olhos cinzas congelantes por todo o corpo dela e pegou a
taça.

- Ocupado. – ele respondeu não parecendo prestar muita atenção nas


próprias palavras.

- Bom. – pouco se importava com o dia dele.


Deu as costas e avançou até a cadeira na cabeceira onde ele se sentava
durante todas as refeições. A afastou como um convite para que ele se
sentasse. Ele ainda estava congelado no mesmo lugar.

- Não acho que estou vestido inapropriadamente? – ele abriu os braços


mostrando as mangas que havia dobrado e a gravata desatada que cercava seu
pescoço.

- Você está perfeito. – ela sorriu. E realmente estava. Ela não se lembrava
de nenhuma vez em que havia visto Draco fora da perfeição. Nem mesmo
quando ele acordava. Ah, quando ele acordava...

Ele também abriu um inclinando a cabeça como se aceitasse que se era assim
que ela preferia, tudo bem. Foi em direção a cadeira dela e a afastou esperando
até que ela se sentasse. Depois foi até a sua e tomou seu lugar.

- Devo dizer que não estava esperando nada perto disso. – disse depois de
tomar um gole da bebida que havia recebido e depositá-la sobre a mesa. –
Durante o dia inteiro tudo que realmente ocupou minha cabeça foi o peixe que
eu sabia que provaria agora.
Hermione teve que rir sentindo o som escapar de sua garganta com
naturalidade. Encolheu os ombros uma vez satisfeita em saber que apreciavam
sua culinária. Ela nunca tivera muita chance na Ordem com a Sra. Weasley por
perto.

- Foi um desafio escolher o cronograma do cardápio de hoje, mas sua mãe


foi uma boa ajuda. – ela disse enquanto abria o guardanapo em seu colo.

- Minha mãe? – ele pareceu confuso e surpreso enquanto também


assentava seu guardanapo. – Ela esteve aqui hoje?

- Sim. – ela respondeu. - Soube que seu pai deixou Brampton Fort hoje
pela manhã, portanto a chamei. Talvez ela estivesse precisando de companhia
e distração tanto quanto eu. – disse e esperou os segundos que Draco precisou
para pedir que fossem servidos. – E ela havia expressado bastante interesse
sobre me ver cozinhar da última vez que conversamos sobre isso. –
acrescentou. – Fomos ao centro comprar aquilo que precisávamos, o que foi
ótimo para amenizar a nossa imagem perante a imprensa visto as últimas
reportagens. Almoçamos em uma das casas de chá e quando voltamos ela me
ajudou.
- Minha mãe esteve na cozinha com você? – ele parecia realmente
incrédulo enquanto era servido pela salada que ela havia preparado com
torradas temperada.

- Sim. – respondeu Hermione não vendo o porque de tanta incredulidade.

Draco riu alto e com tanto gosto que pegou Hermione de surpresa. Ela nunca
havia o visto fazer aquilo antes. A energia era tão contagiante que ela se viu
incapaz de sorrir.

- Eu gostaria de ter visto isso. – comentou ele. – O que ela disse da


experiência?

- Que se parece bastante com preparo de poções. – respondeu e viu Draco


rir mais uma vez.
- Sou bom em poções. Acha que poderia me aventurar nessa sua área
exótica?

- Seria interessante vê-lo tentar.

- Você quis dizer divertido. – ele corrigiu ainda descontraído e ocupou a


boca com salada.

Hermione se viu rir. Ela não esperava que aquilo fosse escapar do profissional,
principalmente porque nada entre eles escapava do profissional, mas
ultimamente, desde que havia perdido sua filha, Draco tem se comportado com
ela como nunca antes se comportara. Muito de seus altos iam além do gentil e
ela se perguntava se aquilo era fruto do Draco que ele havia mostrado a ela há
algumas semanas.

- Obrigada. – ela disse depois de longos minutos com a voz baixa, quase
em um sussurro.
Ele pareceu intrigado e curioso pelo que ela havia dito e a encarou, mastigou e
engoliu o que havia em sua boca, bebeu um gole do champagne e indagou:

- Pelo o que?

Ela suspirou não sabendo se conseguia ter coragem para dizer aquilo a Draco
Malfoy.

- Por estar sendo compreensivo comigo. – ela entendia que não era fácil
ser gentil com alguém que não se gosta.

Ele desviou o olhar. Sua expressão séria e indecifrável.


- Concordei que teríamos que superar tudo isso, certo? – ele lançou um
olhar rápido a ela que assentiu em resposta. – Eu não nos vejo fazendo isso da
forma como éramos antes. – ele se referia a indiferença que habitava na
relação que tinham e ela era obrigada a concordar. Era algo que eles
trabalhariam juntos, porque do mesmo jeito que era difícil para ele ser gentil
com ela, para ela também era difícil ser gentil com ele. Haviam anos de rancor
um pelo outro em jogo e ela ainda se lembrava de como ele costumava
discriminá-la em Hogwarts. Ela respirou fundo. Tinha que empurrar essa
Hermione para longe. Os minutos se passaram em silêncio até ele voltar a se
pronunciar: – Então. – disse quando a entrada foi trocada pelo prato principal e
os olhos dele se iluminaram ao ver as batatas e o peixe lindamente posto em
seu prato. Ela nunca teria notado o olhar dele se aquele momento fosse
durante os primeiros meses de casado que haviam passado. Hoje ela já
entendia muito mais que o olhar dele não era constantemente frio e seco, ela
só precisava prestar um pouco mais de atenção. – Você havia dito algo sobre
um trato.

- Estive pensando em discutir isso após o jantar. – ela assumiu sua postura
profissional.

Ele tomou um tempo para considerar aquilo.

- Quer me deixar bastante satisfeito por causa do seu peixe, assim você
pode me ganhar um “sim” no que quer que seja esse trato, não é? Onde
aprendeu essa estratégia fajuta?
Ela não pode conter um sorriso.

- Conviver com Sonserinos tem me ensinado alguns golpes baixos


interessantes. – tratou de dizer.

Ele soltou um riso fraco.

- E o que te fez pensar que esse seu “golpe baixo” funcionaria comigo?

Ela o encarou. Ele mastigava sua comida com um sorriso discreto nos lábios.

- Eu tenho um elemento surpresa. – apenas disse sentindo que seus lábios


mostravam o mesmo sorriso que os dele.
- O que? Sexo?

Ela ergueu uma das sobrancelhas.

- Sou mesmo previsível assim?

- Sexo? – ele insistiu.

Hermione puxou o ar.


- Sim. – respondeu usando seu tom mais neutro possível, como se
estivessem conversando sobre o clima do lado de fora.

Ele riu reclinando em sua cadeira.

- Eu não pensei que já estivesse nesse clima. Além do mais... – sua voz
morreu como se ele tivesse acabado de se lembrar de algo importante e os
segundos em silêncio que se seguiram fez com que a expressão dele se
tornasse séria e profunda novamente. Ela sabia o porque. – Eu não acho que
seria bom que ficasse grávida assim tão... – sua voz morreu novamente.

- Oh. – Hermione lutou contra o sangue quente que quis colorir as maças
de seu rosto. Desviou o olhar. – Não. – limpou a garganta. – Eles não poderiam
manipular a vida assim tão facilmente. – ela se referiu aos medibruxos. – Seria
arriscado mudar o funcionamento do meu corpo. Eles apenas fizeram meu
processo de cura ser bem rápido e aumentaram bastante as chances durante
meu período fértil todo mês. Meu corpo continua funcionando como antes. –
piscou e o olhou novamente. Ele a encarava.

- Então podemos administrar isso, não é? – ele parecia querer ter certeza.
- Teríamos que ser cuidadosos porque eu não acho que meu corpo reagiria
com qualquer feitiço ou magia de proteção. Mas sim, acredito que podemos
administrar isso. – concluiu ela.

Eles se encararam por alguns segundos até Draco abrir um sorriso sincero.

- Essa é uma boa notícia. – ele disse

Hermione retribuiu com o mesmo sorriso, limpou a garganta, refez a postura


em sua cadeira e voltou-se para seu prato.

- Então é melhor que faça hoje a noite valer a pena porque não acho que
seria inteligente arriscar nada nos próximos dias. – ela tentou ficar séria.
Draco ergueu uma sobrancelha e riu.

- Gosto de desafios. – disse com um sorriso tentador nos lábios.

Ela sorriu. Sabia que ele gostava, principalmente quando se referia a sexo. Ela
conhecia tudo que ele gostava e não gostava com relação a aquela única área
em específico.

- Você deveria me agradecer. – ela disse depois de alguns segundos


aproveitando que o ar de descontração que ainda pairava entre eles.

- Agradeceu pelo o que? – ele perguntou depois de um gole em sua bebida.

- Pelo jantar. – ela pegou sua taça mostrando orgulho de seu feito.
Ele riu.

- Você não fez isso para mim, Hermione. Fez isso porque quer algo em
troca. Brampton Fort tem lhe ensinado bem... – ele foi obrigado a parar porque
naquele mesmo momento Tryn interrompeu o jantar avisando que havia uma
coruja importante de fora da cidade esperando por ele em seu escritório.

Draco perguntou o porque Tryn não havia trago o pergaminho até ele ali e ela
respondeu que a coruja se recusava a entregar o recado a alguém que não
fosse ele. Draco soltou o ar não parecendo muito contente, cruzou um rápido
olhar com Hermione e se levantou.

Tryn nunca havia interrompido nenhum de seus jantares. Hermione se levantou


quando viu que ele sumiu pela porta mais próxima ao acesso para o andar de
cima.Não! Foi tudo que ela pensou. Havia planejado aquilo com cuidado. Soltou
o ar frustrada e lançou ordens a elfa para cuidar do jantar antes de segui-lo.

O alcançou no andar já de cima avançando pelo corredor de sua sala privada.


Entrou seguido dele. A coruja o esperava em cima de sua mesa com um
pergaminho emassado na pata o que mostrava a pressa daquele que havia
enviado a mensagem. Draco o pegou e leu. Hermione apenas o observou
trocando de mão a taça que nem sequer notara que havia levado junto.

Draco não demonstrou nenhuma expressão. Nem quando seus dedos tornaram
a amassar o papel novamente, nem quando dispensou a coruja, nem quando
deu a volta na mesa e se sentou em sua cadeira inclinando-se nela. Ele estava
pensativo. Era tudo que Hermione conseguia ler em seu rosto. Havia apenas
um ar de frustração em seu olhar.

- O que foi? – ela resolveu perguntar.

Ele saiu de um estado pensativo para finalmente notar na presença dela ali. Por
um segundo Hermione viu que ele exigiria a saída dela irritado como sempre
fazia, mas então aqueles olhos cinzas se suavizaram a tempo e ele apenas
disse:

- Podemos conversar amanhã, Hermione. Obrigado pelo jantar. Fez um


ótimo trabalho, estava uma delícia. Preciso de um tempo agora. – ele falou
quase que roboticamente fazendo um sinal para que ela deixasse a sala.
Ela não iria embora. Deu um passo a frente cuidadosamente.

- Draco, o que aconteceu? – disse pausadamente.

Ele puxou e soltou o ar impaciente. Apertou os olhos com os dedos e disse:

- Hermione, por favor. Eu não quero ser rude com você. – havia
sinceridade em suas palavras. Agora finalmente ele expressava algo. Parecia
extremamente cansado. Preocupado também.

- Eu posso ajudar. – ela decidiu dizer.

Ele a encarou. As sobrancelhas unidas. Um olhar furioso e intrigado ao mesmo


tempo.
- Ajudar? – ele forçou um riso fraco - Por que está fazendo isso, Hermione?
Desde ontem! Será que não percebeu que estávamos trabalhando em um
ataque contra o seu pessoal?

- O meu pessoal? – foi a vez dela unir as sobrancelhas. – Eles não são meu
pessoal. Não mais. Eu não trabalho mais para eles. Não posso mais trabalhar
para eles e agora não quero mais trabalhar para eles.

- Então quer dizer que agora trocou de lado?! Quer trabalhar para o
Lorde?! É isso que quer?!

- Não. Quero trabalhar para você! – ela não havia preparado aquele
discurso para sair dessa forma.

A expressão de raiva dele sumiu dando lugar apenas a curiosa, a intrigada, a


questionadora.
- O que? – ele parecia não ter entendido direito.

Ela deu mais um passo a frente.

- Quero trabalhar para você! Com você! – repetiu muito certa de suas
palavras e de sua postura. Ele ainda a olhava com aquele olhar cheio de
dúvidas. – Você não trabalha para Voldemort, apenas finge que trabalha para
ele. – aproximou-se ainda mais e tocou o ébano escuro e lustrado da mesa
vitoriana que os separava. – Escute, Draco. – começou com cuidado. – Eu
decidi confiar em você. Ainda não sei quais são suas verdadeiras motivações,
mas elas não podem ser piores do que as de Voldemort porque eu sei... – ela
puxou o ar - ...eu sei que tem um coração. – hesitou - Me mostrou que tem
um. – finalizou.

Ele precisou de um longo minuto para processar aquilo.


- Hermione. – seu nome soou pela boca dele que de alguma forma ainda
não parecia totalmente convencido. – Eu disse que conversaremos amanhã.
Agora preciso apenas que deixe...

- Não seja estúpido. – ela o cortou. O olhar dele se tornou severo pela
ousadia das palavras dela. Um dos motivos pelo qual ele a odiava. Ela o
confrontava. Sempre o confrontava. – Sei que não gosta de se dar a chance de
ser estúpido então não se dê agora. – o olhar dele continuava severo. – Escute.
– ela o olhou bem nos olhos. – Nós lutamos essa guerra um contra o outro por
muito tempo. Sabe disso. Você trabalhava seu exército para superar a Ordem e
eu trabalhava a Ordem para superar seu exército. Nós crescemos muito,
aprendemos muito, conquistamos muito. Há coisas da Ordem que não pode
superar da mesma forma que há coisas que a Ordem simplesmente não pode o
superar. Nós dois somos grandes, Draco. Não se lembra das vezes que
trabalhamos juntos? Livramos sua família de perder muito dinheiro e influência
quando descobri sobre sua secretária. Tiramos Luna daqui de dentro. Ontem
quando encontrei o ponto fraco daquela magia. – ela pausou - Imagine o que
podemos fazer juntos. – deixou que ele processasse aquilo. Que ele
imaginasse. – Eu me lembro pouco de quando disse sobre ser um câncer dentro
do sistema. Crescer em silêncio para quando Voldemort descobrir o estrago já
estar muito além do reparável. Quero ser parte disso. – deu mais tempo para
que ele processasse. – Sei que fingiu todo esse tempo lutar em nome de
Voldemort, mas tudo que realmente fez foi proteger o povo e ganhar a
confiança de seus homens. Inteligente e paciente. Você teve que matar. Teve
que matar alguns para salvar muitos outros. Teve que matar também porque
se não matasse não seria o exército de Voldemort e precisava se mostrar
autêntico. – ela suspirou - A Ordem perdeu há muito tempo a chance chegar
até Voldemort para destruí-lo quando toda essa estrutura foi montada.

- Eu não lutei pelo povo. Lutei por...


- Você. – ela o cortou. - Sim, eu sei. Lutou por você mesmo. Bastante
egoísta se pensarmos, mas não o culpo porque eu também fui. Achei que
lutava para o povo, mas na verdade eu lutava pelos meus amigos, pela Ordem,
eu pouco me importava sobre a segurança do povo quando tomávamos
qualquer vilarejo. Eu estava tão focada em chegar até Voldemort que não
pensava nas famílias que se trancavam em suas casas com medo de um ataque
do exército de Voldemort. Você estava lutando por você mesmo, pelos seus
interesses, mas pelo menos conseguia manter seus territórios livres de
ataques. – ela fechou os olhos. – Eu estava sendo tão mais egoísta que você. –
admitiu. – Mas quero lutar pelo povo agora. – abriu os olhos para encarar os
dele – Quero o fim disso, dessa guerra, desse império, do poder de Voldemort.
Quero lutar por todos, pelos meus amigos, por quem sou agora, pelo filho que
eu sei e você também sabe que vamos ter que colocar no mundo mais cedo ou
mais tarde. Eu sei que sou boa o suficiente para isso, mas me deixe lutar com
você. Me deixe ser parte do tumor que está fazendo crescer silenciosamente
aqui. Nós. dois. podemos. ser. grandes. Temos que planejar tudo com muito
cuidado, temos que acabar com os segredos entre nós, temos que ter foco. Me
deixe te ajudar. – findou ela finalmente soltando o ar e esperando pela resposta
de Draco encarando fundo em seus olhos.

Draco piscou sem desviar o olhar dela. Eles ficaram ali. O silêncio enchia o
espaço entre eles.

- E você está pronta para compartilhar seus segredos? – perguntou ele.

- Você não está? – indagou ela erguendo uma das sobrancelhas. Ele não
respondeu. – Todos esses argumentos não foram o suficiente? Se não foram
então pense, Draco. Pense em todos esses anos. Todas as batalhas nos quais
nos confrontamos. Como nós dois puxamos essa guerra ao máximo. Pense nos
nossos cérebros pensando juntos em um mesmo propósito. Temos o mesmo
inimigo, se lembra?
Ele não respondeu. Desviou o olhar. O silêncio dele pareceu durar um minuto.
Dois... Três... Hermione não se moveu. Nem ele. Ela deixou que ele pensasse e
ele realmente parecia ponderar cada tópico que se passava em sua cabeça
naquele momento. Ela quase podia enxergar as engrenagens dele trabalhando
até que então ele jogou sobre a mesa o pergaminho amassado que recebera.
Os olhos dele tornaram a se encontrar com os dela e ele começou:

- Eles tomaram Godric’s Hollow. Recuaram a base que tínhamos lá.


Precisaram de apenas um ataque. – ele disse nada contente e orgulhoso de
suas palavras. Hermione processou. Pegou o pedaço do pergaminho,
desamassou e leu. Era um rabisco feito as pressas contando sobre o acontecido
e dizendo que enviaria um relato e uma testemunha no dia seguinte. – Você
disse que a Ordem perdeu há muito tempo a chance de chegar a Voldemort.
Bem, acredito que agora eles tenham recuperado essa chance.

Hermione negou com a cabeça e o encarou largando o pergaminho sobre a


mesa.

- A Ordem tem em mãos um poder que não sabe controlar nem estudar. –
ela esclareceu. Tinha mais o que falar sobre aquilo, mas aquele não era um
momento para discutir aquilo. Tinha outra meta ali. – Eles estão seguindo pelo
caminho de sempre, acham que podem ganhar a guerra por briga de território.
Esse caminho não é saudável para eles. – Draco a encarava intrigado. – Vai ser
fácil tomar Godric’s Hollow novamente. – ela apressou-se a dizer. – Não os
ataque por agora. A Ordem sempre deixa para fazer rondas depois de dois três
dias para derrubar toda a magia que vocês constroem em volta do vilarejo. A
Ordem também tem uma organização bem primitiva de delimitação de fronteira
e eles costumam usar feitiços que eu criei portanto não será nada tão
trabalhoso. Nada como o trabalho que estão fazendo com York pelo menos.
Apenas espere que eles se acomodem por lá.

Draco assentiu. Precisou de um minuto em silêncio e então se levantou dando


as costas a ela e seguindo para a janela por onde podia ver o pátio no andar de
baixo.

- Podemos ser grandes juntos, certo? – ele usou um tom baixo para
reproduzir aquilo.

- Certo. – confirmou Hermione no mesmo tom. Deu a volta na mesa e se


aproximou dele. O suor de sua taça molhava seus dedos. Se colocou ao lado
dele.

- É um caminho profundo e bem sujo, Hermione. – ele a alertou.


- Eu estou pronta.

Ele a encarou. Os olhos cinzas muito profundos. Ele não parecia nada
convencido, mas ela sabia que poderia convence-lo apenas na prática, porque
suas palavras para ele eram vazias. Ainda havia pouca confiança entre eles.
Teriam que construir aquilo juntos.

- Tem certeza? Vai precisar ser bem corajosa.

Ela ajustou a postura.

- Sou uma leoa, você é uma serpente. Se você pode, eu também posso.

Ele se virou para ela.


- Terá que aprender a ser muito discreta, a sacrificar muitas coisas. Terá
que aprender a manipular, a barganhar, a jogar sujo, a mentir, a comprar
pessoas. Terá que montar uma imagem para o público que não será você de
verdade, terá que usar uma máscara todos os dias na frente das pessoas, terá
que aprender a conter e guardar todo e qualquer tipo de sentimento. Terá que
matar, terá que estar por trás de mortes, terá que aprender a lidar com isso.
Terá que usar o pescoço de muita gente para não colocar o seu em risco e
nunca, nunca, coloque o seu em risco, por isso tudo que for feito,
absolutamente tudo, é necessário que tenha o controle, o controle de cada
simples parte. Nada pode escapar de controle.

Ela engoliu sua saliva e voltou para ele também.

- Sou uma Malfoy. – tinha uma expressão tão frio quanto a que ele sempre
usava. Ela estava pronta para aquilo. Havia demorado para entender que
aquela sujeira não poderia ser limpa sem sujar as próprias mãos também.

Draco abriu um sorriso fraco porém sincero.


- Sim, você é. – ele disse e ela sentiu aquilo tocar seu coração. Será que
ele a aceitava?

Abriu um sorriso como o dele e puxou o ar erguendo o próprio queixo.

- Teremos que vencer a guerra para Voldemort primeiro. – disse.

- E porque isso? – ele ergueu uma das sobrancelhas.

- Quero que a queda dele seja grande. – sentia seus próprios dentes
travados ao dizer aquilo.

Draco sorriu dessa vez ele mostrava que o interesse era o mesmo.
- Agora você está falando como uma verdadeira Malfoy. – deu as costas.
Pegou um dos rolos pendurados na parede e o abriu em sua mesa. – E talvez
tenha razão. Nós temos toda Oceania, Ásia e África sob controle. A Europa é o
continente com mais numero de grupos rebeldes que ainda não temos controle.
A América possui alguns grupos de resistência, mas são fracos. Ainda não
conseguíamos estabilizá-los porque eles conseguem se mover rápido. Há algo
selvagem sobre eles que...

- Eu conheço os grupos da resistência, Draco. – ela o cortou – Já estive em


contato com muitos deles. – ela se aproximou do mapa. – Vamos vencer essa
guerra em seis meses. – ela disse.

- Seis meses? – ele soou surpreso.

- Sim. Um mês para cada país que ainda não tem total controle.
- Estamos carregando essa guerra por anos, Hermione. Acha que seis
meses pode por fim a tudo?

- Quão bom é seu exército?

- Bom o suficiente.

- Então seis a nove meses é o máximo que temos. – ela o encarou.

Ele assentiu como se tivesse finalmente entendido o porque ela havia dado
aquele tempo.

- Estou enxergando o que quer dizer. – ele fez com que um rolo se abrisse
no ar. O calendário estava estampado nele.
- Eu poderia engravidar em três ou quatro meses. – Ela encheu o pulmão
de ar. Não sabia se estava pronta para isso ainda, mas teria que estar.
Sacrifícios deveriam ser feitos. Teria que aprender a trancar e guardar todo e
qualquer tipo de sentimento. – Assim quando tiver vencido a guerra eu estarei
próxima de dar a luz. Voldemort prometeu que eu poderia ficar um ano com a
criança. Um ano é tempo o suficiente para estabilizar o império dele.

Draco assentiu.

- Com o império estável o controle de entrada e saída dos fortes ficariam


altamente maleáveis e vulneráveis.

Hermione sorriu.

- Todos distraídos o suficiente levando uma vida normal seria perfeito para
agirmos contra a cabeça de Voldemort.
- Pare de dizer o nome dele, Hermione.

Ela revirou os olhos.

- O Lorde. – ela concertou. – Seria tempo o suficiente para agirmos contra


ele e você ganhar a confiança dos homens que lidera. Se tiver a confiança deles
terá a confiança da famílias deles.

- Podemos usar todo esse povo. – ele sorriu.

Ele sorriu.
- Sim, podemos. E com a confiança de seus homens temos o exército do
nosso lado. Ninguém com o Lorde, além de algumas fiéis almas.

- Então ele cairá. – Draco concluiu com um sorriso.

Eles se encararam, cada um com um sorriso nos lábios.

- Então ele cairá. – ela repetiu.

O silêncio, a troca de olhar e os sorrisos. Durou apenas alguns segundos


porque Draco logo tratou de vencer a distância entre eles, tomar a taça das
mãos dela para jogá-la displicentemente contra o chão, segurá-la pela nuca e
beijá-la. Hermione não lutou. No segundo em que o calor dele a envolveu, ela o
cercou pelo pescoço.

A boca dele era faminta contra a sua e ela o beijou com tanta vontade quanto
ele. Não demorou muito para ter suas costas empurradas contra a parede. Ela
já ofegava. A falta de ar vinha dele, do calor dele, do beijo dele. Seus joelhos
sempre tremiam quando ele a tocava.

- Você pode estar incrivelmente sexy com esse vestido, Hermione, mas eu
ainda a prefiro sem roupa. – ele disse descendo o caminho por sua mandíbula,
ouvido, pescoço.

Ela riu fracamente. Sentia seu peito subir e descer tentando controlar o efeito
que ele a causava. Draco deveria dizer aquilo para um milhão de mulheres. Ela
não se importava que ele tivesse amantes, quantas quisesse. Nunca o quis
apenas para ela, nunca o amou, mas se sentia poderosa por saber que de todas
as mulheres que ele teria, ela seria a única que carregaria seu sobrenome, que
estaria ali para sempre.

- Então tire-o logo. – ela tratou de sussurrar buscando ar – As vezes você é


muito devagar para algumas coisas. – o provocou.

Ele riu e subiu os olhos para encontrar com os dela. Tão próximos que ela
quase pode entrar naquelas íris cor de inverno.
- Quantas vezes vamos ter que fazer sexo para que você possa finalmente
entender que as coisas acontecem no meu tempo sempre? – não deixou que
ela respondesse e tomou sua boca novamente. – Eu não quero perder a
diversão.

Draco puxou todo o seu vestido e fez com que as pernas dela tivessem espaço
para cercá-lo. Hermione puxou a gravata que ainda estava no pescoço dele e a
jogou longe. Sua mãos logo de ocuparam com os botões da camisa dele. Ele a
pegou e murmurou algo sobre não fazer aquilo ali. Ela não entendeu mas se
deixou ser conduzida para o corredor.

Suas pernas deixaram os quadris dele no caminho para o quarto.


Ziguezaguearam pelo corredor enquanto ela puxava a camisa dele para fora do
cós da calça. Suas mãos correram o tronco dele, ela gostava das formas dele,
eram esculturais e muito desejáveis. Abdômen, peito, costas, ombros, gostava
de sentir os músculos dele se movimentando contra seu tato. Ele tinha umas
costas massivas e isso sempre lhe arrancava o fôlego. Ela finalmente tirou a
camisa dele e deixa-la por ali. Foi colocada contra um dos móveis no caminho e
somente percebeu a força quando escutou algumas porcelanas se quebrando.
Eles sempre tinham que quebrar alguma coisa. Já haviam conversado sobre
aquilo, mas aparentemente era inevitável.

Enterrou suas mãos nos cabelos loiros e pendeu a cabeça para trás sentindo
cada membro seu formigar com o toque da língua dele. Saber que eles estavam
a caminho do sexo a deixava tão loucamente molhada, tão desesperada, tão
pulsante. Como que ele conseguia causar nela aquele efeito? Ela já se sentia
inteiramente pronta para ele. Draco tinha o poder de fazer o desejar crescer
nela tão rápido apenas com um toque cheio de intenção. Isso a surpreendia
todas as vezes e mesmo depois de tantas vezes ela não se cansava.
Independente de como eles faziam, independente de ser calmo ou selvagem,
ele sempre fazia crescer nela aquele desejo, ele sempre tinha um toque ou um
olhar diferente que a fazia o querer. Que outra opção ela tinha a não ser se
entregar? Até se perguntava se era por isso que ele já havia ficado com tantas
mulheres, porque era tão difícil dizer não a Draco Malfoy. Quantas vezes ela
havia negado a Rony, a Harry, a Viktor, homens com quem tivera
relacionamentos, e para Draco Malfoy ela simplesmente era incapaz de se
pronunciar contra depois que havia conhecido do que ele era capaz. Ele já havia
a feito atingir graus de satisfação tão comprometedores que hoje ela sabia que
se ele apenas lhe lançasse um olhar, apenas um olhar, ela sabia que era
suficiente para acendê-la.

Era isso que ele usava com todas as outras mulheres? Era definitivamente esse
poder que ele usava porque além de ter a impressão de que metade das
mulheres de Brampton Fort já haviam estado na cama com seu marido, tinha a
impressão também de que apenas o cheiro dele levantada nelas algum tipo de
antena que as fazia o seguir loucamente. Draco obviamente se orgulhava disso.
Se orgulhava do poder que tinha desde Hogwarts.

Ele tornou a conduzi-la pelo corredor. A força do desejo com o qual se pegavam
era sempre prazeroso antes de se lançarem no ato. Eles tatearam juntos pela
porta do quarto entretidos um com o outro. Ela não se importava com as outras
mulheres dele contanto que não soubesse quem nem quando. Havia estipulado
isso para si mesma e havia dito a ele porque sabia que seria demais não
conseguir dizer nãopara um homem que a tocava sabendo que algumas horas
mais cedo ele estava dentro de outra. Ela preferia se manter na ignorância. Ele
havia respeitado até então. Se ele traía a representação do status que tinham
ela não sabia com quem, embora sua própria mente tivesse uma lista até
grande de suspeitas.

Quando passaram para o lado de dentro ele finalmente se cansou de brincar


com seu corpo por cima do tecido de seu vestido. Se desfizeram dele e ela foi
lançada contra a cama. Draco deitou por cima, mas ela logo se aproveitou da
instabilidade e trocou de posição sentando sobre ele. Ele não gostou da ideia e
tornou a coloca-la por baixo novamente prendendo suas mãos acima da cabeça
para que ela não pudesse ter a chance de se aproveitar novamente. Ele se
afundou em seu pescoço. Havia vencido a força dele apenas algumas vezes.

- Draco. – seus lábios soltaram entre seus suspiros e toda corrente elétrica
que desestabilizava seu corpo. – E se não funcionar...?

- O que? – ele murmurou contra sua pele.

- Isso tudo. O plano. – ela tentou conter sua respiração.

- Nós faremos outro. – ele retrucou. Sua boca subiu novamente e a beijou
mostrando que aquilo não era importante agora.

- E se eu tiver outra menina. – ela tornou a interromper.


Ele parou. Afastou-se alguns centímetros para poder encarar seus olhos. Tudo
parou ali e tudo mudou ali. O desejo que havia carregado até o quarto não
diminuiu, mas a atmosfera mudou. Tocar naquele assunto acendia a conexão
invisível que eles tinham.

- Será nossa menina, então. – ele disse. Sério. – Ninguém tocará nela.
Será nossa e somente nossa.

Hermione sorriu. A mão nos cabelos dele desceu para tocar seu rosto. Sentiu
um calor envolver seu coração enquanto olhava nos olhos dele. Todo o histórico
de Draco Malfoy, suas mulheres, sua arrogância, sua prepotência e orgulho do
poder que tinha e os anos de ofensa que carregava dele, foram varridos de sua
memória num estalo apenas. Ela havia visto um Draco diferente naquele
mesmo quarto há algumas semanas. Enxergara um general de olhos vermelhos
e voz apertada, mostrando a ela algo que parecia tão intimo, tão secreto. Draco
era egoísta e possessivo, mas ali estava ele dizendo que ninguém tocaria na
filha deles. Ele parecia um Draco sem máscara quando usava daquele tom,
daquela forma tão diferente, tão única que tinha a capacidade de fazê-la
esquecer em segundos, como mágica, de toda a imagem que ela demorara
anos para montar dele. Apenas quebrou a distância e o beijou. Talvez estivesse
agradecendo, mas pela primeira vez em um beijo deles ela conseguiu sentir
afeto, e foi diferente de qualquer outro beijo que ela já havia dado em qualquer
outro homem. Porque tudo com Draco tinha que ser simplesmente diferente.
Era tão diferente que a confundia e a frustrava porque não conseguia colocar
tudo em seu devido lugar como deveria ser.
Ela nem sequer notou quando ele tornou a se encaixar de um modo diferente
sobre ela. O beijo deles estava bom, diferente, e chamava muito de sua
atenção, mas ela sentia como se estivesse sendo abraçada. Era tão diferente
que até o calor entre o corpo deles parecia ter mudado. Ela cercou o tronco
dele permitindo que aquilo continuasse. De algum modo parecia errado, havia
algo sobre o desconforto do novo, como se nem ela nem ele soubesse o que
fazer exatamente, mas não queriam parar.

Hermione percebeu que se continuassem aquilo fariam algo que ainda não
haviam feito antes, e eles continuaram. Ela esperou que ele fosse parar e a
repreender, dizer que não era para ela reagir daquela forma nunca mais, mas
ele continuou, continuou como se estivesse curioso para saber o que era aquilo.
Sua boca tornou a correr seu pescoço, a linha de seu queixo, seu ouvido, seu
colo, mas dessa vez ele a beijava. Ele quase nunca a beijava e muitas vezes
quando suas bocas se tocavam era algo que ela não considerava propriamente
um beijo, era uma troca de sabores, de desejo, de vontade e prazer. Tudo que
ele sempre queria era prova-la, provar de sua pele, chupá-la, marcá-la e ali
estava ele beijando-a e fazendo com que a atmosfera que os envolvia ali
mudasse completamente de nível. Pensaria sobre aquilo com mais afinco
quando todo seu corpo não estivesse tendo aquelas oscilações de frio e calor
toda vez que sentia os lábios dele estalando em sua pele alternados com o
calor da boca e respiração dele. Ela deixou que ele descesse, que aquela língua
traçasse sua pele. Um som escapou de sua garganta quando ele tomou seu seio
com a boca. Ela tornou a deixar que seus dedos se perdessem entre os cabelos
dele e abriu seu corpo por completo para ele. O calor entre eles continuava
diferente.

Os dedos dele correram a lateral de seu corpo, apertaram suas coxas, traçaram
sua barriga e displicentemente tocaram a parte entre suas pernas sobre o
tecido de sua calcinha. Hermione pesou a respiração para não deixar nenhum
som mais lhe escapar. Ela já estava bastante úmida e ele parecia ter gostado
disso. Ele brincou ali molhando o tecido que a cobria. Ela sentiu suas costas
querendo arquear, mas se conteve. Precisou prender a própria respiração.
Ele a deixou e ela quase protestou, mas voltou a ter os olhos dele sobre os dela
novamente. Ele ainda parecia confuso, como se quisesse ficar mais tempo a
olhando ali, mas a beijou. Aquele mesmo beijo de antes e ela se entregou a
ele, havia uma intensidade agora que solidificava aquela experiência. Aquela
espécie de abraço entre seus corpos voltou a os aquecer. Hermione desceu sua
mão pelo abdômen dele tomando o tempo que gostava de tomar para apreciar
sua forma e alcançou a fivela do cinto da calça onde trabalhou para abrir, tirar
o acessório e o jogar longe. Suas mão tocou o volume de sua calça e um
murmúrio prazeroso espaçou de Draco contra sua boca. Ela sorriu tocando-o
mais. Ele já estava duro, mas ela o queria mais duro ainda.

Conseguiu ficar por cima dele. Draco tinha as costas contra uma série de
travesseiros e almofadas que eles logo trataram de colocar no chão antes que
ela voltasse sua atenção para a calça dele. Hermione o livrou das roupas com a
ajuda dele assim como da última peça que a cobria e o tocou com propriedade,
sem medo, sem receio. Ela não tinha vergonha com ele. Não tinha vergonha de
seu corpo, nunca precisara ser prefeita para ele, nunca sentira que precisara
ser perfeita para ele e aquilo a fizera experimentar coisas e sentir coisas que
ela não imaginava que existiam na cama. O tocou. Conhecia aquela parte do
corpo dele. Seus dedos circularam toda a superfície ereta. Um ar longo e
demorado ar escapou da boca de Draco. Os olhos dele estavam vidrados nela
que se mantinha sentada em suas pernas. Aquele era um estado comum de
estarem, seus olhos um no outro não. Parecia que havia alguma coisa errada e
notando isso Draco se sentou e a puxou mais para perto. O braço dele a
envolveu e uma de suas mãos entraram por debaixo de seus cabelos longos.
Suas bocas ficaram a milímetros de distância, seus olhos continuaram grudados
um no outro. Havia algo errado ali, como se seus corpos não estivessem
grudados o suficiente, como se não houvessem mais o suficiente e aquela
posição pareceu errada para aquele momento.

Ele a deitou novamente sem quebrar aquela proximidade. Aquela mesma


espécie de abraço outra vez. Agora parecia ter voltado ao estado certo. Sentia
que cada parte de seu corpo o tocava. Ela nunca imaginou que aqueles olhos
pudessem ter tantos detalhes, pudessem ser tão profundos. Seus lábios se
roçavam, a respiração quente dele era tudo que ela tinha e parecia ser tudo
que ela precisava embora ela já latejasse para tê-lo dentro dela. Seu corpo se
movia junto com o dele, como se quisesse fazer com que mais de suas peles se
tocassem.

Draco a beijou finalmente. Uma mão dele desceu para sua nádega e a apertou.
Hermione o cercou mais com suas pernas fazendo com que o seu úmido
pudesse tocá-lo. A mão dele afundou pelo colchão tocando-a nas costas como
se quisesse trazer mais dela para junto dele. Ela o tocou no queixo sentindo na
ponta dos dedos a pouca barba que lhe nascia, mas logo passou os braços o
cercando pelos ombros quando ele decidiu refazer o caminho da linha de seu
queixo com a boca, mas diferente dessa vez. Ele foi devagar. Devagar como se
quisesse encontrar algo que sua pressa de antes e de todas as outras vezes
não havia o deixado provar. Aquele toque fez simplesmente todo o seu corpo
adormecer. Ela perdeu as forças por alguns segundos e o mundo inteiro
pareceu girar. O que era aquilo? Nunca sentira antes! Draco a segurou e se
pressionou contra ela como se quisesse fundir seu corpo no dela. Hermione
gemeu sentindo a pressão em sua área sensível e arqueou as costas
inevitavelmente. Ele desenhou a linha de sua garganta com a boca até seu
queixo. Seus olhos se encontraram novamente e ele sugou os lábios inferiores
dela antes de tornar a descer para o seu colo. As mãos em sua cintura. Ela se
sentia pequena para ele.

- O que é isso, Hermione? – a vibração da voz dele em seu ouvido trouxe


novamente aquela sensação de dormência.

- Eu não sei. – ela sussurrou sem força. A garganta seca. Nem ela sabia.
Nunca havia sentido nem feito nada parecido com aquilo. – Apenas continue. -
e ele continuou.
Cumplices. Foi a palavra que ela pensou. Agora eles eram cumplices, não
haveria mais segredos e ela o conheceria de verdade, conheceria o coração
dele, o que ela havia o mostrado aquele dia. Eles tinham uma história que
parecia completa o suficiente para ser escrita em novas páginas agora. Será
que esse status estava os mudando ao ponto de chegar ao sexo daquela
forma?

Ele desceu para seus seios novamente. Ele os apreciou com a boca e com a
mão. Hermione sentia seu peito subir e descer enquanto tudo nela latejava lá
embaixo. Ele a segurava pelas costas as vezes trazendo-a para si como se ela
fosse mesmo maleável assim. Hermione deixou seus dedos correrem pelos
cabelos dele, nuca, franja. Ele subiu novamente e a beijou mais uma vez como
se precisasse daquilo. Ela o beijou de volta e então ele fez novamente o
caminho pelo seu corpo. Garganta, seios, barriga. Barriga. Não havia mais
nenhuma vida ali para fazer o volume que tinha antes. Tentou se concentrar no
toque das mãos dele que pareciam pegar fogo. Ele a apertava. Quadris, cintura,
nádegas. Seu coração batia tão forte que parecia querer quebrar suas costelas.
Aquele toque. Todo aquele toque era diferente. E a língua dele, quente, parecia
querer provar cada centímetro de sua pele.

Cumplices. Pansy Parkinson também era cumplice dele. Eles se conheciam


desde sempre. Ela deveria saber que ele tinha um coração, deveria conhecer
todos os segredos dele. Ela deveria conhecer aquele Draco que ela havia visto
apenas por alguns poucos minutos. Ela deveria o conhecer profundamente,
conhecer quem ele realmente era, conhecer os lugares mais fundos e mais
escuros de quem ele era. Será que aquele era o sexo que eles faziam? Será por
isso que ele sempre voltava para ela? Que ele nunca havia se cansado dela? A
ideia de Draco Malfoy tocando Pansy Parkinson daquele mesmo modo fez com
que algo lhe cortasse dentro de si, mas antes que pudesse continuar seu
raciocínio sobre aquilo seus pensamentos foram completamente lavados de sua
mente e ela perdeu a lucidez quando a boca dele tocou sua umidade.
Ela pegou fogo. Estava tão necessitada, tão pronta, tão molhada que ele nem
precisou trabalhar muito para que ela explodisse. Estava também bastante
acostumada para saber que ele não iria se contentar com aquilo. Não demorou
para que a urgência lhe crescesse mais uma vez. Ela tentava conter os próprios
sons, mas era apenas impossível quando sentia que tudo dentro dela se
contorcia em agonia. As mãos dele fizeram o desenho de sua cintura enquanto
ainda trabalhava nela. Hermione ofegava, seus músculos se contraiam e ela
ainda nem havia tido ser orgasmo. Ele encheu uma mão com o seio dela e
Hermione segurou seu pulso. Ele afastou a mão dela usando a sua e antes que
ela raciocinasse como aquilo havia acontecido, seus dedos estavam
entrelaçados nos dele.

Os nós de seus dedos ficaram brancos e ela curvou o corpo conseguindo vê-lo
contra ela. Sua respiração parou e ela se viu incapaz de puxar oxigênio. Seu
corpo todo tremeu, ela arqueou puxando o lençol acima de sua cabeça e subiu
os quadris em sinal urgência. O som que escapou de sua boca foi o de puro
prazer quando seus músculos se contraíram e relaxaram vezes seguidas em
espasmos que ela não pode controlar.

Se viu ofegante contra o colchão e completamente sem forças. Sua mão


continuava unida a dele. Como eles haviam feito aquilo? Ela esperou que ele
fosse abandoná-la, mas ele não quebrou o contato. Antes mesmo que tivesse
tempo para se recuperar ela percebeu que sua respiração não estabilizava. Seu
coração ainda continuava feroz contra suas costelas. Aquele calor ainda estava
dentro dela e ela olhou Draco ainda trabalhando ali. Ele iria fazer ela gozar
mais uma vez. Encarou o teto. Céus! Ele queria matá-la? Ela não tinha energia!
Ele parecia lê-la, como se soubesse exatamente do que ela precisava, da
pressão exata que precisava, ele a decifrava, porque apenas sabia exatamente
o que fazer. E tudo lhe veio com força mais uma vez. A agonia, o desejo, a
urgência. Tudo lhe queimou, a consumiu. Ela nem sabia mais quais eram os
sons que saiam de sua boca. Não conseguia controlar. Ela assentiu para ele
mostrando que estava no caminho certo quando aqueles olhos poderosos se
abriram para ela. Seu corpo tremeu, adormeceu. Quente e frio correram por
sua espinha. Ela arqueou novamente. Ele a segurava como se a dominasse.
Puxou os lençóis, puxou os cabelos dele, empurrou seu quadril contra ele.
Encolheu-se novamente respirando rápido. Seu corpo tremeu mais uma vez.
Tocou a ponta dos pés contra os massivos ombros dele e quando simplesmente
achou que fosse falecer, o teto rodou junto com o quarto, ela viu estrelas, a
vibração em sua garganta foi expressiva e novamente os espasmos
incontroláveis até cair contra o colchão, dessa vez, sem o mínimo de forças
restantes.

Draco a abandonou dessa vez. As mãos dele a seguraram pela cintura


enquanto fazia o caminho de volta correndo a língua por sua barriga, o meio de
seus seios, sua garganta e então novamente aqueles olhos estavam ali sobre
ela, o corpo dele contra o seu. Ela tinha plena consciência de que já suava
como se tivesse corrido uma maratona. Ele sorriu parecendo gostar de vê-la
naquele estado. Ele havia a colocado naquele estado. No começo ela havia
odiado aqueles sorrisos, os sorrisos de vitória, de que havia a tido em suas
mãos. Agora ela apenas havia aprendido a apreciá-los.

- Você estava precisando mesmo disso, não estava? – ele usou aquela voz
profunda.

Ela revirou os olhos. Ele não perdia nunca aquela sua essência.
- Cale a boca!

Ele riu pelo nariz e a beijou. Aquele beijo novamente. Calmo e paciente
enquanto seus corpos se ajustavam um contra o outro. Dessa vezes ele tocou
seu rosto. A mesma mão que havia se unido a dela segundos atrás. Afastou-se
e a olhou nos olhos. Aquilo era tão diferente e ele parecia perceber que
realmente era.

- Nós ainda não terminamos. – ele disse desenhando seus lábios com o
polegar.

- Você já me tirou bastante energia. – ela sorriu.

- Não reclame. Foi você quem pediu para que eu fizesse valer a pena. – a
beijou antes de se deitar e coloca-la sobre ele.
Hermione não sentou como costumava fazer. Não parecia próprio ou certo
desgrudar seu corpo do dele ou colocar seus olhares longe demais um do outro,
mesmo que soubesse que ele gostava de ter a visão dela nua sobre ele. Se
ajeitou, molhou o membro dele com seu líquido sem pressa e dando espaço
para que ele pudesse apreciar enquanto ela escorregava por ele com o
movimento de seu quadril. Apenas o movimento já a estimulou e fechou os
olhos para sentir cada sensação quando se ajustou e o fez deslizar para dentro
dela muito devagar. O som de satisfação escapou da boca dos dois e Draco
enfiou as mãos por seus cabelos. Ela se moveu. Devagar, sem pressa também.
Colocou sua boca contra a dele sentindo que poderia dar aquele passo e
continuou.

O prazer a alcançou com facilidade e ela se aproveitou dele, de como ele era
grande e duro dentro dela, de como aquilo fazia seu corpo tornar a queimar.
Ele sempre permitia que ela fosse na velocidade que quisesse. Quando ela
estava por cima ela mandava, ela ia em seu tempo. De alguma forma aquilo lhe
era prazeroso. Talvez para ele o seu prazer era algum tipo de fonte para ele. A
forma como ela gostava de carregar aquilo pacificamente até não aguentar
mais, a forma como ela gostava de ser silenciosa. Ele parecia muitas vezes
gostar de seu silêncio, na verdade ela apenas se segurava, sua respiração era
forte para que desse conta, mas sua voz só se manifestava quando ela estava a
beira da loucura. Ela se perguntava se ele gostava de seu silêncio devido ao
número de mulheres escandalosas que ele já deve ter arrastado para cama.

As mãos dele correram seu rosto, afastaram seus cabelos e ela o beijou com a
respiração tão pesada quanto a dele. Acelerou sentindo ser estimulada pela sua
parte mais sensível devido ao contato minucioso de seus corpos. O atrito lhe
fazia crescer urgência. As mãos dele se alocaram em seus quadris e ele
sussurrou para que ela se segurasse mais um pouco. Ela tentou estabilizar.
Precisou parar e ele pareceu aprovar o ato e logo ela entendeu o porque. Senti-
o pulsar dentro dela, sua pulsação o acompanhava, parados, suas respiração
arfantes uma contra a outra. Ela já conseguia ler o quanto ele estava seco de
urgência também. Aquilo era uma tortura, ela rebolou louca por mais
movimento e ele soltou um som de que se ela fizesse aquilo novamente ele
talvez não respondesse por si. Se esforçou para parar novamente, Aquilo
parecia fazer crescer nela o dobro da vontade que iria lhe crescer se ela
continuasse se movimentando como estava. O sangue em suas veias queimava
e lhe fazia transpirar como se estivesse debaixo do sol quente por horas. Ela
achou que talvez pudesse atingir seu orgasmo ali mesmo, mas por mais
torturante que fosse, por mais prazer que sentisse, por mais ânsia e desejo,
ainda não parecia suficiente para o nível em que estava. Seu corpo inteiro
tremeu clamando por uma ação.

- Draco. – o nome dele saiu rouco do fundo de sua garganta em súplica.


Engoliu seco. – Eu não consigo mais...

- Eu sei. – ele a cortou e em segundos suas costas se viram contra o dossel


da cama. Ele de joelhos se moveu dentro dela como tanta vontade que apenas
mostrou que o que crescera nela aquele tempo de pausa também havia
crescido nele. Cercou os quadris dele com as pernas e tentou passar seus
braços pelo pescoço dele, mas Draco apenas segurou seus pulsos e o prendeu
acima de sua cabeça. A boca dele havia encontrado um espaço em seu pescoço
que ela sabia que ficaria com a marca no dia seguinte. E ele estocou e ela o
sentiu e gemeu loucamente. O sentiu fundo e quando pensou que fosse apenas
morrer ele parou. Ela quis gritar em protesto, mas os olhos dele alcançaram os
dela a fazendo perder a voz imediatamente. – Respire. – ele ordenou e ela
obedeceu. Sua busca por ar foi tão grande quanto a dele. Seu peito parecia
encher o máximo e ela sentia que ainda não era oxigênio o suficiente.

Ficaram parados. Aquela tortura novamente. Ela não aguentaria, não como
antes, não com a sensação ainda recente da velocidade e do atrito dele dentro
dela. Estava pronta para alertá-lo sobre aquilo, mas ele começou.
Devagar. Não! Devagar não era o suficiente. Em que nível de insanidade ele
queria deixá-la?
- Draco... – ela suplicou com seu olhar. Ele pareceu querer resisti-la por
um segundo, mas então nem ele mesmo pareceu aguentar.

Deu a ela o que ela e ele precisavam. Constante, rápido, fundo. Não tinha nem
mais consciências das palavras que saiam de sua boca numa voz rouca, arfante
e tão desesperada que ela reconhecia ser a que usava com Draco. Apenas com
ele, porque ele era o único que a fazia chegar a esse estado. A boca dele foi
contra a sua a calando e suas línguas se tocaram como já haviam feito milhares
de vezes, mas ainda assim, era diferente, até mesmo o sabor parecia diferente
porque tudo ali era diferente.

Ela queria tocá-lo, nunca desejara tocá-lo antes, mas como se ele lesse seus
pensamentos, seus pulsos foram libertados e ela se permitiu encostar nele
como nunca havia encostado antes. Deixou suas mãos tocarem seu rosto, sua
nuca, seu peito. Carregou com elas a surpresa, a incerteza e a dúvida que ele
também carregava sobre o que quer que estivessem fazendo ali, mas também
carregou o desespero que seu corpo sentia naquele momento. O cerou com os
braços e deixou seus dedos afundarem contra os ombros dele. Apreciou a
sensação do suor em suas costas que o tornara escorregadio. Ele parou mais
uma vez e ela rebolou em desespero. Implorou. Apenas a pequena pressão que
ele colocava nos quadris era suficiente para fazer com que pequenos espasmos
tomassem conta se deu corpo. Ela achou que gozaria ali mesmo. Implorou
novamente usando palavras que não tinham nexo e pareciam não fazer
sentido, mas ele entendeu e deu a ela o que queria. Fundo até que ela gozasse
sentindo os reais espasmos de seu corpo dominá-la. Ela sorriu contra a boca
dele. Aquilo era tão bom. Transcendental. Draco nunca fazia sexo apenas para
ele, para o prazer dele, para se satisfazer unicamente. A fonte de prazer dele
era vê-la se render.
Achou que ele fosse apenas trocá-la de posição, mas Draco a seguiu em
segundos e derramou-se dentro dela emitindo uma espécie de grunhido muito
familiar a ela pela garganta. Fora um aviso porque ele não queria que aquilo
fosse um ato de longos minutos que destruísse todas as energias que tinham,
ele faria com que ficassem ali a noite inteira.

Então eles se viram ali. Em silêncio. Respirando pesadamente com suas bocas
muito próximas, seus corpos colados e o suor entre eles. Era como se
estivessem esperando o momento em que fossem se distanciar um do outro
como sempre faziam quando estavam satisfeitos de todos aqueles toques em
excesso. Hermione se lembrou da última vez que eles haviam feito sexo. Ele
havia reagido daquela mesma maneira. Não se distanciou.

- O que nós acabamos de fazer, Hermione? – indagou ele e seus olhos se


encontraram mais uma vez.

Por que parecia que os olhos dele tinham poderes sobrenaturais?

- Sexo. – ela respondeu.


Ele negou com a cabeça.

- Não foi sexo. – puxou o ar ainda tentando estabilizar sua própria


respiração. - Parece errado pensar que foi.

Ela sorriu. Não soube exatamente o porque, talvez apenas estivesse satisfeita o
bastante pelos orgasmos que tivera. Sabia ainda que aquilo também era só o
começo.

- Eu não sei o que foi, Draco. Me interessa saber apenas que foi bom.

Ele assentiu sorrindo. Escondeu o rosto contra o pescoço dela como se


precisasse de concentração para conter sua respiração. Quando ele finalmente
pareceu retomá-la fez menção de que se afastaria. Ela soltou um resmungo
involuntariamente e quase automaticamente. Ele riu fracamente em resposta e
a puxou consigo quando tornou a se deitar sobre uma pilha de travesseiros que
haviam ficado sobre a cama. Hermione se acomodou completamente sobre ele.
Uniu as mãos uma sobre a outra em cima do peitoral dele e apoiou seu queixo
ali podendo o encarar de modo confortável. Ele a encarava de volta, os braços
servindo de apoio para sua cabeça. Aquilo era novo também. Todo aquele
toque.
- Você sabe que isso foi só um aquecimento, não sabe? – a voz dele soou
baixa devido a proximidade que seus rostos ainda mantinham.

Ela riu.

- Já viemos para a cama vezes o suficiente para eu saber como as coisas


funcionam quando você está animado para se provar inigualáveis.

Ele ergueu uma sobrancelha com o sorriso estampado nos lábios.

- Você quem me passou o desafio, Hermione.


Ela revirou os olhos.

- Pare de usar minhas palavras para justificar seus desejos incontroláveis.

Ele riu novamente. Aquele mesmo riso que havia dado ao descobrir que sua
mãe estivera na cozinha com ela durante a tarde.

- Você deveria parar ser mandona assim. – ele se divertiu. – Eu quem


mando, você não. Quantas vezes vamos ter que discutir isso?

Ela sorria com o tanto que era contagiante quando ele se divertia tão
sinceramente daquela forma. Era uma surpresa vê-lo naquele estado, era como
se estivesse o vendo se permitir estar á vontade, sem se preocupar com muita
coisa, pelo menos por agora. Era como se estivesse o vendo se permitir ficar
sem sua máscara e querendo ou não ela quase lia nos olhos dele que parecia
ser um alívio e um luxo que ele não se dava quase nunca.
- Essa é uma guerra que levaremos para o resto da vida então, Draco.
Eu soumandona. Não pode me mudar. – disse. – Bem. – suspirou – Um motivo
a mais para me odiar.

Ele pareceu absorver aquilo. O sorriso em seus lábios continuou lá, mas os
motivos que pareciam tê-lo feito sorrir havia o deixado.

- Um motivo a mais para eu te odiar. – ele repetiu. Puxou o ar e seu sorriso


sumiu.

Eles entraram em um silêncio esperado. Nunca haviam conversado daquela


forma após terem feito sexo. Na verdade ela não se lembrava de terem
conversado após nenhum ato além da última vez que fizeram sexo.

- Nós temos muito o que conversar. – ela disse depois de um tempo –


Sobre a guerra, sobre nossos passos...
Ele assentiu.

- Faremos isso amanhã. – ele disse. Tirou um de seus braços de detrás de


sua cabeça e afastou os cabelos dela para longe de seu rosto. Ela estremeceu
com o toque. Ele poderia ter feito isso passando a mão apenas uma vez, mas
mesmo quando seus cabelos já havia sido puxados para trás, ele continuou a
deixar seus dedos encostarem em sua pele, como se quisesse aquela desculpa
para tocá-la e parecia querer fazer valer a pena. – Seus olhos. – ele disse bem
baixo depois de um silêncio onde ela notara que estivera hipnotizada pelos
olhos dele.

- O que tem eles? – indagou sentindo as costas dos dedos dele


adormecerem a pele de seu rosto quando ele os fazia deslizar ali sem pressa.

- Eles se parecem com o sol de verão. – ele respondeu quase num sussurro
encarando fundo seus olhos.

Hermione abriu um sorriso sentindo as palavras dele aquecerem seu coração.


- Os seus se parecem com o céu de inverno. – ela sussurrou de volta e
uma alegria a invadiu pela comparação dele. – Gosto de verão.

Ele abriu um sorriso fraco.

- Sei disso.

De repente aquele calor que ele plantara com suas palavras pareceu crescer
dentro dela. Crescer e crescer... Hermione se moveu para mais perto ainda.
Seus dedos tocaram a barba que lhe apontava e ela o beijou. Parecia o certo e
ela não hesitou. Ela pode notar imediatamente o instinto que o fez querer
recuar, mas ao contrario disso ele a aceitou e ela partiu sua boca para poder
sentir o calor da dele, e ele continuou a aceitando.

Suas bocas dançaram uma contra a outra ainda, seus lábios brincaram e
somente então suas línguas se tocaram. Tudo calmo, sem pressa e ela se
aproveitou do momento e da sensação de que o quarto se desfazia a sua volta,
de que seus sentidos eram reduzidos ao estado miserável de nível sensorial, de
que de repente nada no mundo mais havia além do calor dele. Ao mesmo
tempo parecia que ela nunca havia beijado antes, que sua boca havia se
preparado a vida inteira para aquele momento e talvez tivera ensaiado tanto
que ela não imaginava que pudesse existir no mundo a perfeição de
movimentos tão sincronizados. Também nunca estivera tão consciente, mesmo
depois de um ano com ele, um ano que haviam se tocado de tantas formas
diferentes, de que a boca que tocava, a língua que sentia, o sabor que provava
era de Draco Malfoy.

Se aproveitou daquele beijo, porque talvez ela nunca mais o receberia, tinha
tanta certeza de que aquela era uma experiência única que até mesmo seu
coração se machucou um pouco ao pensar naquilo. Havia afeto ali como nunca
antes e parecia ser único demais para que ela tivesse a esperança de que fosse
acontecer outra vez.

E como se realmente tivessem ensaiado, todos aqueles movimentos pareceram


se dissolver um a um até que acabassem. Quando se afastou abriu seus olhos
para encontrar os dele ainda fechados. Ele primeiro sorriu e somente depois
disso tornou a mostrar aquela cor cinza profunda de suas íris.

- Interessante... – ele comentou baixo. Parecia ter sido um comentário


mais para ele mesmo do que para ela.

Quando Hermione era adolescente e o mundo entre garotos e garotas começou


a se tornar bastante envolvente, logo quando ela havia começado a se
encontrar com Mclaggen as escondidas de Harry e Rony pelos corredores de
Hogwarts e seu corpo passou a lhe dar sinais que ela nunca havia notado antes,
sua mãe lhe dissera algo que ela pouco havia dado atenção, mas que agora
fazia todo o sentido. Ela dissera que um beijo tinha o poder de ser tão mais
íntimo do que qualquer relação sexual. Naquela época e por muito tempo
Hermione havia julgado que sua mãe dissera aquilo apenas para preservá-la,
para mostrar que ela deveria escolher alguém especial, que tivesse um
significado forte para ela porque uma relação sexual era nada mais que algo
para satisfazer seu corpo se as coisas não fossem devidamente combinadas. E
ela realmente havia escolhido. Rony havia sido um sonho que ela fizera crescer
por muito tempo dentro de si, desde criança até sua adolescência, mas ela
havia fantasiado demais e talvez isso tivesse se voltado contra a relação deles.
Ali agora ela entendia genuinamente o que sua mãe lhe dissera. Naquele único
e simples beijo, que talvez nem durara tanto quanto ela sentia que havia
durado, ela trocara com Draco algo que em um ano de convivência nunca
haviam trocado, mesmo depois de noites e noites intensas de sexo, mesmo
depois de brigas em que tudo parecia voar e se quebrar a volta deles, mesmo
depois de todos os tipos de beijo e todos os tipos de sexo, todos os tipos de
olhares e provocações, mesmo depois de uma filha, ela trocara ali algo que
havia alcançado fundo dentro de si, algo que ela não havia tocado antes, algo
que ela nem mesmo sabia que existia ali dentro.

- Realmente interessante... – foi tudo que sua boca conseguiu reproduzir.


Será que ela conseguiria tocar aquilo novamente algum dia em sua vida?
Parecia especial. Tão especial quanto tudo que já havia vivido. Tão especial
quanto seus pais, quanto suas aventuras, quanto Harry e Rony, quanto os
Weasley, quanto Hogwarts, quanto as vitórias e conquistas que tivera naqueles
anos de guerra, tão especial quanto a filha que havia sentido dentro de si por
tão poucos meses.

As mãos dele desceram por seu corpo e ela sentiu correntes elétricas em sua
espinha. A intenção do toque dele a acendeu novamente. Como ele conseguia
fazer aquilo? Por Merlin! Ele deveria usar algum tipo de magia desconhecida,
não tinha outra explicação!
Acho que já me cansei da nossa pausa, Hermione. – e num piscar de olhos ela
estava por baixo do corpo dele mais uma vez naquela noite. Não tivera sequer
tempo para exclamar algo pelo susto da agilidade dele. Nos lábios dele estava
estampado o maior sorriso que Hermione já vira na vida. A contagiava também
e ela talvez estivesse abrindo um bem parecido com o dele naquele mesmo
momento. – Você deveria me cozinhar peixes todos os dias. Parece me colocar
em bom humor. – ele comentou e ela riu antes de ter sua boca ocupada pela
dele novamente. Ah, céus... Aquela sensação!

24. Capítulo 24

Draco Malfoy

Acordou sentindo o corpo pesado e um sono arrebatador querer tragá-lo de


volta a inconsciência. Abriu os olhos sabendo que se não se movesse acabaria
sendo vencido pelo sono e não tinha a menor intenção de atrasar suas
responsabilidades.

Estava completamente descoberto e sem roupa. Hermione se encontrava mal


enrolada em alguns lençóis deitada de barriga para baixo. Ele se viu no mesmo
estado por cima dela. Como havia chegado ali, não sabia, talvez o cheiro de
lavanda que exalava dos cabelos dela o tivessem atraído, porque se lembrava
bem de terem ido dormir em cantos separados da cama como sempre faziam.

A vontade de ficar ali o dominou. A cercou pela cintura e enterrou o rosto no


emaranhado de cabelos castanhos. Hermione resmungou, o que o fez sorrir. Ela
estava morta. Draco havia usado todas as energias dela e não esperava que ela
fosse acordar ou se mover tão cedo. Afastou-se um pouco, tirou os cabelos do
caminho e acomodou-se próximo ao ouvido dela. Cada extensão da pele dela
cheirava ao sexo que eles haviam passado a noite fazendo.

- Deveríamos dar outra rodada antes de eu ir a Catedral. – sua voz saiu


baixa, rouca e ainda sonolenta.

Hermione resmungou algo em resposta, mais dormindo do que acordada, que


se pareceu muito com um xingamento. Ele apenas riu e deixou seus lábios,
junto com sua respiração quente, correrem pela pele macia do pescoço dela.
Aquele gelado da pele dela contra o tecido de seus lábios estava lhe causando
fascinação. Antes mesmo que pudesse medir seu ato pressionou a boca contra
uma marca que fizera nela na noite anterior em um beijo demorado apreciando
cada sensação que o corpo dela provocava sobre ele até mesmo quando ela
estava inconsciente.

- Pelo amor de Merlin, Draco... – ela suspirou - ...eu não tenho mais
forças... – foi o que ele entendeu do sussurro quase inaudível dela.
Sua boca abriu um sorriso contra a pele dela. Ele também não tinha mais.
Sentia todo o cansaço daquela noite inteira sobre ele, mas se sentia leve
também, leve como nunca antes, não sabia que sexo tinha aquele poder
também. A verdade era que não dava aquele crédito ao sexo, dava aquele
crédito a ela. Hermione. Nunca havia imaginado que a ideia de tê-la ao seu
lado, de poder usar o cérebro dela, de tê-la como cúmplice, o animasse tanto.
Teria que contar seus segredos a ela, mas por incrível que pareça isso também
não estava o incomodando. Ela teria que ser confiável,
era sua mulher, sua esposa e seria a mãe de seu filho. Quem se não ela
poderia se tornar mais confiável?

Beijou aquele pescoço mais uma vez muito consciente do que estava fazendo
dessa vez e a deixou levantando-se para ir ao lavatório onde seguiu toda sua
rotina diária. Ele não era o tipo de homem que beijava mulheres durante o
sexo. Gostava de sentir o sabor dela, da pele delas, gostava de provar, de
morder, de sentir língua com língua, mas beijar era algo que nunca tivera
necessidade ou vontade com nenhuma delas. Noite passada ele havia beijado
Hermione mais do que sua vida inteira com mulheres. Se vira preso na
atmosfera diferente que os envolvera e sua boca o traiu tantas vezes que ele
começou a apreciar e sentir necessidade de pressionar os lábios contra a pele
dela. Fazia isso pela simples sensação de satisfação que descobrira naquele
gesto que parecia tirar algo de dentro dele que não conhecia para externar na
pele dela ou contra aqueles lábios macios e belamente cheios.

Seu corpo estava extremamente cansado e invejou Hermione quando voltou


para o quarto já em sua farda e a encontrou da mesma forma espalhada na
cama com o lençol mal lhe cobrindo o corpo. Ele sorriu estando satisfeito por
saber que era o responsável pelo estado em que ela se encontrava e também
por saber que a mulher mais sexy que já vira era sua. Céus, ele queria que
seus olhos tirassem foto.
Desceu para o desjejum e seguiu o ritual de sempre. Chá preto, carboidrato e
oDiário do Imperador. A falta da presença de Hermione começou a incomodá-lo
quando já estava na metade do jornal. Tinha a sensação de que regredira
algumas semanas e que ela não desceria para se alimentar porque estava
ocupada demais em seu casulo chorando pela filha que haviam perdido.

Tentou se distrair com a matéria que lia sobre o bem estar da vida em alguns
bairros próximos aos limites da muralha e sobre atividades a se praticar ao ar
livre agora que o outono estava chegando ao fim. Nada muito interessante até
Hermione aparecer enrolada no lençol de sua cama com os olhos fundos e os
cabelos mal presos no topo da cabeça. Vê-la pareceu acender algo nele. Apenas
a encarou enquanto ela se arrastava descalça, se sentava em sua cadeira e
enchia uma sua xícara de chá.

- Posso ter as primeiras páginas? – ela pediu se referindo ao jornal.

Draco estendeu as primeiras páginas a ela que pegou e começou a se entreter


na leitura enquanto enchia a mão de biscoitos e os enfiava de um em um na
boca.
- A cada dia que se passa você se apresenta em um estado pior para o
desjejum. – ele comentou e o que recebeu em resposta foi a visão dela
revirando os olhos

- Meus Deus! Será que pelo menos hoje eu poderia não ser julgada pelas
suas regras de etiqueta?! Estou faminta! Isso aqui não é um castelo e nós não
somos nenhuma família real! – ela respondeu e ele riu fracamente da
indignação dela.

- Não são minhas regras de etiqueta, Hermione. – ele disse e dobrou o


jornal colocando-o de lado. – A verdade é que pouco me importa, mas fui
criado em torno de toda essa atmosfera sem noção, portanto não espere que
eu a aplauda quando aparecer desse jeito para o café-da-manhã. Mesmo que
seja extremamente sexy e excitante saber que por baixo desse lençol não está
usando nada. – sabia que já tinha um sorriso tentador estampado nos lábios.

Hermione estreitou os olhos, mas dessa vez ela abriu um sorriso achando
divertido.

- Você é um pervertido. – comentou ela.


Draco mostrou as mãos dando de ombros.

- As mulheres me amam. – apenas disse e a viu revirar os olhos


novamente.

- Será que seu amor próprio conhece algum tipo de fronteira? – ela disse e
ele riu em resposta.

- Escute. – ele pontuou mostrando que tinha algo diferente para falar.
Terminou seu chá e se levantou. – Tem planos para ir a Catedral hoje?

- Sim. Jodie quer me ver. – respondeu ela se ajustando confortavelmente


em sua cadeira.
- Perfeito. Faça as coisas que deve fazer e me encontre em minha torre.
Temos muito o que conversar.

Hermione assentiu e pegou sua xícara de chá para segurá-la entre as duas
mãos enquanto trazia as pernas para o assento da cadeira. Será que ela tinha
consciência de que ficava extremamente linda quando assumia aquele ar
rebelde e confortável?

- Algum horário de preferência? – a voz dela soou quebrando o feitiço em


que ela havia o prendido.

- Veja com Tina. – pediu e ela assentiu confirmando. Deu as costas e


tomou seu rumo para o pátio onde sabia que sua carruagem o esperava.

Quando estava quase na altura da sala principal escutou a voz alta de


Hermione chegar até ele da sala e jantar:
- E o jantar? – ela perguntava.

Sorriu. Hermione gostava de ser totalmente imprudente sempre que via uma
brecha com relação as regras de conduta que sua mãe com certeza havia
passado a ela. Pensou em repreendê-la, mas tudo que fez na verdade foi
responder.

- Mesmo horário de sempre. – usou do mesmo tom para fazer com que sua
voz chegasse até ela enquanto avançada para a porta principal.

**

Suas primeiras horas na Catedral aquela manhã seguiram a rotina normal. Seu
discurso com o exército no pátio leste, reunião com o Conselho, seu treino
diário onde se viu tão distraído e cansado que acabou suando o dobro do
normal, ministrou uma das aulas de agilidade, improviso e reflexo para o
programa de treinamento que preparava comensais para seu exército e deu
uma pausa na zona sete para finalizar as estratégias de ação em York. No meio
de tudo isso liberou uma chave de portal para o comensal do acampamento de
Godric’s Hollow e o rebelde capturado que vinha com ele. Quando voltou para
sua torre já era quase almoço. Sua mãe o esperava em sua sala e ele a
recebeu com um sorriso e um beijo na bochecha antes de sentar em sua mesa
e abrir a pasta das programações da tarde que Tina havia lhe passado.

- Temos uma agenda cheia para o mês inteiro. – sua mãe começou - Na
verdade temos uma agenda cheia até a Cerimônia de Inverno.

- Sim. Eu estava esperando ansiosamente por essa época do ano


novamente. – ele foi irônico folheando os papéis e marcando aquilo que deveria
ser mudado.

- Sabe que essa é uma parte importante dentro do todo. – ela foi cuidadosa
ao dizer aquilo.

- Sei que é. – ele ergueu os olhos para ela e sorriu – Apenas me passe as
diretrizes e eu serei todo seu. – sua mãe sorriu em resposta. Ele se reclinou
em sua cadeira se divertindo com as imagens criativas que sua cabeça criava
ao imaginá-la na cozinha enquanto analisava bem a figura dela ali, de pé, em
sua postura elegante e clássica. – Me diga que aprendeu algo com Hermione
ontem. – disse e a viu sorrir confusa.
- Não sei o que quer dizer. – ela retrucou.

- Não finja agora que não esteve na cozinha a tarde inteira ontem com
Hermione, Sra. Malfoy. – divertiu-se ele. – Não se envergonha disso?

Sua mãe riu e ao mesmo tempo pareceu sem graça.

- Foi uma experiência interessante devo confessar. – ela disse – Quero


dizer, não que a cozinha seja um lugar apropriado para pessoas como nós, mas
foram apenas algumas horas.

- Você gostou? – ele se viu interessado.

Sua mãe deu de ombros.


- Não acho que tenho o mesmo dom que ela, nem acho que teria paciência
para ficar em um local com tantos alfos domésticos por tanto tempo. Mas a
companhia de Hermione é definitivamente prazerosa. – ela disse e ele sorriu
satisfeito. Sabia que se havia algo que sua mãe temia era a solidão e Hermione
fora alguém que começara a ocupar o tempo dela desde que havia chegado a
Brampton Fort. O relacionamento das duas era no mínimo interessante, mas
mesmo assim o agradava que de alguma forma uma tivessem se tornado a
companhia da outra. – E o que houve com você? – sua mãe perguntou depois
de alguns segundos.

Ele ficou confuso com a pergunta.

- Nada que eu saiba... – respondeu não sabendo se deveria perguntar o


que ela queria dizer com aquilo.

- Está sorrindo. – ela o alertou.


Ele uniu as sobrancelhas reparando que sim, realmente estava.

- Sim, e o que há de errado com isso?

Sua mãe sorria com tudo aquilo e ficou curioso.

- Está sorrindo desde que te vi passar por aquela porta. Sorrindo de um


modo verdadeiro. Sorrindo como costumava fazer quando era criança. – ela
comentou – Acho que a última vez que te vi sorrir assim por tanto tempo foi
quando recebeu sua carta de Hogwarts quando fez onze anos.

Ele suspirou e desviou o olhar. Sim, ele se sentia leve. Desde que acordara
aquela manhã se sentia leve e estivera a manhã inteira bastante distraído
enquanto as engrenagens do seu cérebro trabalhavam para encontrar uma
justificativa para isso. Sentia-se diferente, definitivamente. A pena em seu
dedo girou uma, duas, três vezes e ele molhou os lábios.
- Mãe... – começou. Girou a pena mais uma vez e tornou a encará-la. –
Acha que meu pai é grato por ter você? – ao menos grato, porque Draco sabia
que seu pai não amava sua mãe.

Ela mordeu os lábios não muito certa sobre o que se passava em sua cabeça.
Nunca havia antes conversado com sua mãe sobre o relacionamento que ela
tinha com seu pai. Ele já havia visto o suficiente para não ousar tocar no
assunto.

- Acredito que sim. Da maneira dele, claro. – ela respondeu.

Draco ponderou sobre aquilo sério e por alguns segundos.

- Sei que meu pai confia a vida a você. – disse – Você acha que é de
confiança porque o ama ou porque partilham do mesmo sobrenome?
Foi a vez de sua mãe ponderar sobre aquilo. Ela cuidadosamente se aproximou
e se sentou em uma das cadeiras a frente da mesa dele.

- Acredito que no começo mais porque o amava. Hoje porque entendo bem
mais que estamos no mesmo barco. Se ele afundar eu vou junto. – ela disse e
Draco assentiu. O silêncio os seguiu por alguns segundos. – Quer saber se
Hermione é confiável? – ele não respondeu, mas não precisou. Sua mãe havia
entendido. – Filho, sei que foi criado debaixo da regra de que não se deve
confiar em ninguém. – ela disse com cuidado - Seu pai sempre foi muito claro
quanto a isso e nunca tive muito espaço para te ensinar as coisas que eu
acredito. Confiança é algo que se constrói no escuro. É difícil para alguém como
você querer jogar no incerto assim depois de tudo que aprendeu com essa
guerra e com o histórico de nossa família, mas... – ela sorriu - algumas
conquistas são muito prazerosas quando apenas arriscamos. – Draco não
respondeu nada. Continuou a encarando enquanto ponderava sobre aquelas
palavras. Sua mãe havia exposto um bom ponto, mas continuava sabendo que
aquele tipo de discurso não o comprava, por isso ela acabou suspirando e
desfazendo o sorriso. – Mas se precisar de um argumento que lhe permita
algum tipo de estatística: Hermione entende muito mais que está atada a você
e ao sobrenome que tem depois que perdeu a filha do que antes, Draco. Ela
tem mil motivos para estar do seu lado mais do que para ainda estar do lado da
Ordem. Ela está presa a Marca Negra, está presa em um casamento com você,
vocês dois terão um filho mais cedo ou mais tarde. Ela é muito racional e
esperta o suficiente para saber que não dá mais para lutar pela vida antiga que
tinha. Você é o único futuro que ela tem. – ela disse sua última frase com um
pesar que Draco sabia que vinha mais da visão dela do que propriamente da de
Hermione. Talvez era isso que sua mãe via, que seu pai era o único futuro que
ela tinha. Seria ele o mesma para Hermione? Será que ele também a via da
mesma maneira?

- Eu a quero como uma aliada. – ele disse – Ela é inteligente, forte,


racional, estratégica e esperta. Meu pai sempre esteve certo quando disse que
a queria do nosso lado. Ela parece estar desprendendo dos laços que tinha com
a Ordem, acho que ela se sente diferente agora depois de todo esse tempo
debaixo do ciclo do Lorde. Apenas não sei se seria prudente confiar a ela
nossos segredos.
- Por que ela é uma Sangue-Ruim? – sua mãe perguntou de forma neutra e
um pouco confusa. Ele apenas se surpreendeu por perceber que havia se
esquecido daquele fato.

- Não. – respondeu com tanta certeza que também tornou a se


surpreender. Desde quando ele havia esquecido sobre o sangue de Hermione? -
Por ela ter sacrificado tanto por tão pouco. Ela lutou pela Ordem por anos
mesmo sabendo que era uma causa perdida. Se deixou ser capturada por eles.
Se casou com alguém que odiava porque Luna Lovegood estava sob ameaça de
morte. Luna Lovegood. – as vezes simplesmente não a entendia. – Ela
superestima demais valores sentimentais. Isso a torna fraca.

Narcisa se mexeu inquieta em sua cadeira e o encarou da mesma forma que o


encarava todas as vezes que ele expunha algum ideal que seu pai lhe ensinara
que ela não concordava.

- Draco. – ela falou com calma – Você é meu filho e eu o amo com tudo
que há em mim. Faria tudo que fosse preciso, por mais estúpido que fosse, por
você. Acha que isso me torna fraca?
Não desse ponto de vista exatamente. Pensou.

- Te torna definitivamente vulnerável em um ponto, fato. O que pode ser


usado contra você. – ele respondeu.

- Mas acha que o fato de eu fazer tudo por você me torna uma pessoa
fraca? – insistiu ela.

- Não. – respondeu. – Mas...

- Então não diga que Hermione é fraca. – sua mãe o cortou antes que ele
pudesse continuar insistindo que a tornava vulnerável. - Ela estava disposta a
entregar tudo o que sabia sobre as pessoas pelo qual havia dado a vida ao se
deixar ser capturada. Ela daria tudo a Lúcio. Ela contaria tudo. Tudo pelo filho
que carregava. Ela não estava sendo fraca, ela estava sendo forte pelo filho
dela. Tenha certeza de quais são os interesses dela, de onde o coração dela
está, então saberá por quem ela facilmente daria a vida. Isso não é ser fraca.
Hermione é altruísta, ela consegue pensar mais no outro no que nela mesma.
Isso é algo que considera patético porque não entende, Draco. Seu pai
conseguiu colocar muito dele em você.
Ela foi séria e ele apenas engoliu as palavras dela. Sua mãe sempre havia
criticado seu egoísmo o que era, no mínimo, irritante. Ela sempre tivera o
discurso de que ele nunca saberia abrir mão se seu egoísmo até encontrar algo
que amasse o suficiente e verdadeiramente para tal. Draco se lembrava de ter
tentando entender isso a época de sua vida em que mais se confrontou, mas se
viu incapaz. Egoísmo fazia parte de quem ele era, embora tivesse se visto a
beira de alguma esperança quando descera do pódio de seu orgulho para
implorar ao seu pai que arriscassem muito do que haviam construído até ali
dentro do ciclo de Voldemort para poder salvar o futuro do filho que nem ao
menos conhecia ainda.

Ele sorriu fracamente quando o silêncio os envolveu tempo o suficiente para


que se visse perdido nos milhões de pensamentos e lembranças em sua mente
quando as palavras de sua mãe se dissolveram dentro dele.

- Quem diria que um dia eu a escutaria em defesa de Hermione. –


comentou ele. – Logo Hermione.

Sua mãe riu suavemente.

- As coisas vem mudando bastante desde que ela chegou.


Ele era obrigado a concordar.

- Inclusive a guerra. – acrescentou e embora devesse soar preocupado


apreciou o modo como estava conseguindo lidar com aquele tópico de uma
maneira bem mais leve desde que o dia começara.

- Isso é algo que me preocupa. – ela foi séria e ele sorriu tentando
tranquiliza-la.

- Me dê seis a nove meses para dar fim a essa guerra de uma vez por
todas, mãe. – disse se lembrando do que ele e Hermione haviam conversado na
noite anterior. Saber que Hermione estava disposta a se tornar uma aliada era
ao mesmo tempo preocupante e excitante.

Narcisa cresceu as sobrancelhas surpresa pelo que havia escutado.


- Achei que as coisas não estavam muito boas para o nosso lado pelo que
havia me contado, mas já que... – ela foi interrompida pelas batidas na porta
de sua sala.

- Senhor. – Tina apareceu e deu espaço para alguém passar. – Sua esposa.
– anunciou ela.

Hermione atravessou para o lado de dentro agradecendo Tina por segurar a


porta entretida com a leitura de uma pasta que tinha a cor do departamento de
Theodoro. Usava um daqueles vestidos soltos de tecido fino cheios de camada
na saia que marcava sua cintura em um tom azul muito escuro, mas havia
tomado o cuidado de colocar um blazer pequeno e abóbora que não lhe cobria
todo o braço para talvez equilibrar a cor e se proteger da estação que estavam,
seus passos firmes sob o salto fazia os cachos castanhos largos e macios
acompanharem seu ritmo e Draco não teve outra escolha a não ser deixar seus
lábios se esticarem sem medo. Vê-la o fazia se lembrar ainda mais claramente
do que haviam combinado na noite anterior, da madrugada intensa que haviam
passado, de como ela estava conseguindo superar um dia melhor do que o
outro a perda da filha e de como ela era simplesmente a mulher mais linda que
ele já havia colocado os olhos. O sorriso de surpresa e felicidade que ela abriu
ao tirar os olhos da pasta em suas mãos e ver Narcisa era tão verdadeiro que o
encheu de satisfação por saber que sua mãe agora tinha alguém que não a
bajulava porque ela era uma Malfoy ou porque tinha um filho general.
- Hei! – ela exclamou para Narcisa fechando a pasta. – Espero que não
tenha planos para o almoço. Recebi aquela agenda de compromissos que me
passou e estive pensando se poderíamos discutir sobre ela com calma.

- Estou livre para que me use. – sorriu Narcisa. Draco sabia bem o quanto
sua mãe dava pulos de alegria internamente sobre discussões de encontros
sociais.

- Se estiver criando esperanças de se livrar de algum compromisso já vou


avisando que é um gasto de saliva desnecessário com minha mãe. – comentou
ele quando Hermione parou ao lado dela e estendeu para ele a pasta que vinha
carregando.

- Vou fazer o esforço valer algo. – ela disse sorrindo enquanto ele pegava a
pasta. Teve uma urgência de querer se levantar para recebê-la e beijá-la em
algum lugar. Qualquer lugar. Queria apenas aquela sensação de satisfação que
havia o preenchido na noite anterior todas as vezes que pressionava a boca
contra a pele dela ou a boca. Queria, mesmo que não fossem fazer sexo,
mesmo que ele não tivesse a menor intenção de tirar a roupa dela e tomá-la
totalmente para si. Apenas um beijo. Totalmente incomum, mas ele queria.
Não se moveu além de analisar a capa de couro de dragão tingida de um vinho
púrpura, a cor da Sessão da Cidade e o símbolo do departamento.

- O que devo fazer com isso? – ele perguntou.


- Abra e analise a primeira página. Já é o suficiente. – ela disse e ele
obedeceu ao se deixar ser tomado pela curiosidade. As primeiras linhas foram o
suficiente para fazê-lo entender que aquilo eram descrições de casos que foram
julgados fora da normativa do novo caderno de leis. Ele sequer precisou
perguntar o que ele tinha em comum com aquilo quando ela tornou a abrir a
boca. – Esse não é o único caderno que não foi arquivado. Jodie acabou de me
passar alguns eles, deve estar furiosa com Theodoro por algum motivo. Vou
torná-los públicos, assim como minha saída do departamento também.

- Está pensando em fazer um discurso? – Narcisa interveio.

- Sim. Eu teria que me pronunciar de qualquer maneira, farei com que seja
aberto.

- Theodoro ficaria louco. – comentou Draco e Hermione deu de ombros.


- Ele já está com você desde que o chantageou com o caso de sua ex-
secretária, não acho que me incluir na lista mudaria alguma coisa. Além do
mais, o Lorde está por trás da posição que eu ocupava e tenho um bom
argumento para convencê-lo de que trabalharei a seu favor com bastante
empenho, preciso apenas chamar a atenção o suficiente para que ele queira me
ver.

Draco considerou as palavras dela e pensou por um tempo

- Não acha arriscado demais se aventurar com o mestre assim? – foi


Narcisa quem se pronunciou.

- Nós não teríamos nada a perder. – Draco disse no lugar de Hermione e


ela sorriu para ele em resposta. – Tem certeza de que é um bom argumento? –
perguntou a ela que assentiu. – Perfeito. – concluiu. – Acha que eu deveria
confiar mesmo em deixar você fazer isso sozinha? – ela revirou os olhos e ele
soltou um riso suave.

- Certo. – Narcisa se levantou. – Já que estão todos em muito bom humor


hoje, posso apressar minha companhia para o almoço. Tenho pessoas para
receber durante a tarde, não posso me atrasar e Hermione está adorável
demais para não dar o ar da graça no centro. Quero que tirem fotos assim irá
chover propostas para que aprove as coleções de inverno das vitrines mais
famosas...
- Mãe! – Draco a cortou sem paciência. – Por favor. – não tinha o menor
interesse em ficar escutando aquele tipo de futilidade. Narcisa ergueu as mãos
em sinal de desculpas. Ele voltou-se para Hermione. – Quero você de volta
aqui.

Ela assentiu e quando se juntou a sua mãe para tomarem o caminho da saída a
porta de sua sala foi aberta com tanta violência que ela recuou um passo pela
surpresa inesperada. Pansy Parkinson passou para o lado de dentro com os
olhos tão furiosos que Draco esperou até que ela fosse sacar a varinha, mas
tudo que ela fez com se inclinar sobre sua mesa com os olhos bem fixos nele.
Tina se desculpava, mas a voz de Pansy foi alta quando ela se pronunciou cheia
de ódio:

- O QUE ELA ESTÁ FAZENDO AQUI?

Draco encarou a mulher confuso. Desviou o olhar para Hermione, talvez


pensando que Pansy pudesse estar se referindo a ela, mas mesmo assim não
fazia sentido. O olhar de Hermione mostrava que ela talvez estivesse também
tentando entender se Pansy se referia a ela.
- Seja mais específica, Pansy. – Draco tentou soar neutro tornando a
encará-la.

- ASTORIA! – Pansy tornou a gritar cheia de fúria. – EU A VI SE MUDANDO


DA CATEDRAL HOJE!

- Pare de gritar. – ordenou ele não se importando em demonstrar que


desaprovava a atitude. – Transferi Isaac Bennett porque quero que ele trabalhe
para mim. Astoria vem com o pacote.

- VOCÊ VAI MANDÁ-LA DE VOLTA! – Pansy gritou novamente com toda a


autoridade que achava que tinha.

- Não vou. – ele apenas disse.


- VAI SIM! VOCÊ A QUER DE VOLTA! ISSO QUE QUER! JÁ NÃO ESTÁ
SATISFEITO COM METADE DE BRAMPTON FORT NA SUA CAMA? EU NÃO A
QUERO AQUI! NÃO ELA! NÃO ASTORIA! NÃO NOVAMENTE! VAI MANDÁ-LA
DE...

- PARE DE GRITAR! – Draco se deixou rugir para que ela finalmente


parasse de gritar. Funcionou porque ela se recolheu e recuou sentindo-se
ameaçada pelo poder de sua voz. Ele se levantou. – Eu não discuto o que faço
no meu trabalho com você e você não entra na minha sala assim e exige que
eu cumpra suas vontades! Astoria não vai embora! Fim! – se viu com a mesma
raiva que ela e talvez a fúria com o qual soara fizera com que toda as
expressões de Pansy mudassem.

Os olhos turquesa dela brilharam, se encheram d’água e ele viu dor. Toda a
expressão dela se converteu em dor. Aquilo foi o suficiente para que ele
entendesse o que ela estava passando. Ele se viu suavizar diante da figura
dela. Pansy era orgulhosa demais e tinha amor próprio além do limite para se
permitir chegar naquele estado. Ela havia cortado os longos cabelos, usava as
roupas mais provocantes que já a vira colocar, estava sempre tentando fazer
com que seu caminho se cruzasse com o dele e mesmo assim ele não havia
dado a ela a atenção que ela pedia. Ela havia estado debaixo da sombra por um
ano inteiro e ele nem sequer a procurara, nem sequer sentira falta. Nunca
havia ficado tanto tempo sem tê-la. Não que se lembrava.

- Por favor, Draco... – a voz dela saiu trêmula e baixa dessa vez. – Astoria
não... Não de novo...
Deu a volta em sua mesa muito ciente de que Hermione e sua mãe ainda
estavam ali. A segurou pelo braço e se aproximou dela deixando-se ficar perto
o suficiente para esconder seu rosto dos demais daquela sala.

- Por que está agindo como se Astoria fosse a mulher da minha vida? –
falou baixo para que apenas ela ouvisse. – Quero que você saia daqui agora, se
acalme e nós iremos conversar sobre isso quando eu tiver tempo. – ele não foi
ríspido mas ela continuou a encará-lo em silêncio com aquele olhar de que ele
estava mexendo com os últimos restos que haviam sobrado do coração dela. –
E pare de agir como alguém que eu sei que não é.

Ela continuou com seus turquesas brilhantes e molhados focados nele com uma
intensidade diferente.

- Sinto a sua falta. – ela sussurrou e naquele olhar Draco percebeu que era
verdade e que não havia nenhuma pedaço de encenação naqueles olhos dela. A
dor era verdadeira e pela primeira vez ele a machucara e ela estava o deixando
ver que doía.

Ele abriu a boca para retrucar algo, mas nada saiu. Tornou a fechá-la deixando
que os olhos dela o consumissem. Se viu sem reação diante de uma Pansy que
parecia existir por culpa dele. Uma Pansy toda ferida. Por que ela estava
fazendo aquilo? Aquela não era a Pansy que ele conhecia. A Pansy que ele
conhecia o chamava de canalha com um sorriso safado na boca vermelha e
inchada enquanto faziam sexo mesmo sabendo que duas ou três horas antes
ele estivera com outra.

- Pansy... – ele tornou a dizer muito baixo, mas ela puxou seu braço para
longe do toque dele, deu as costas e foi embora deixando Hermione em seu
campo de visão.

A energia do olhar dela havia se modificado. Ela o olhava diferente agora, mas
era um olhar que ele já conhecia, nada perto do calor com o qual ela estava o
olhando ultimamente. Dessa vez ele a sentia distante, distante como
costumava a sentir logo quando haviam se casado, logo naqueles primeiros
meses. Como nunca havia reparado que eles haviam se aproximado? Como
haviam se aproximado? Quando? Naquele único olhar dela ele sentiu que toda
magia da forma como aquele dia havia começado fora quebrada. Sentiu uma
imensa raiva de Hermione por saber que a reação dela havia o afetado daquela
maneira.

- Isso foi completamente inapropriado. - Comentou Narcisa e Draco


desviou seu olhar de Hermione para ela. – Eu não esperava nada parecido
vindo de Pansy. Quer que eu fale com ela?

- Não há necessidade. – ele deu as costas e pegou as pastas em sua mesa.


– Não é como se Pansy se importasse mais com você mãe. Eu já estou casado.
Draco sabia que aquele tipo de comentário a feria, mas somente reparou que
deveria não ter dito aquilo quando a viu desviar o olhar. Hermione
automaticamente tomou a atenção dela dizendo que era melhor que se
apressassem. O olhar que ela o lançou antes de deixar sua sala foi sério e ele
recebeu mais uma confirmação que havia perdido a alegria daquele dia.

Nada bom para ele durava por muito tempo de qualquer forma. Estava
acostumado. Chamou por Tina e discutiu com ela alguns segundos sobre como
aconteceria a tarde deles. Lançou ordens e foi somente em um determinado
momento, quando ela se debruçou sobre a mesa para fazer uma anotação em
um pergaminho que havia lhe passado, que uma luz se acendeu em seu
cérebro.

Tina sempre usava saias curtas e decote. Ele reparou que os cabelos dela
estavam presos. Algo em toda aquela situação o incomodou. Ele nunca
demorava para reparar em uma mulher. Nunca. Há quantos meses que Tina já
trabalhava para ele mesmo? Tinha certeza que se alguém perguntasse qual era
a cor do cabelo dela e ela não estivesse perto para que ele pudesse olhar,
erraria. E quando mesmo ela havia prendido o cabelo? Ela estava de cabelos
presos pela manhã, ou havia os prendido no meio do dia?

Tentou se lembrar da última mulher em que havia colocado realmente os olhos


e todos as vezes a figura de Hermione lhe aparecia. Linda não importava como.
Linda em sua camisola, linda enrolada na toalha de banho, linda durante um
jantar, linda nua, linda quando gemia de puro prazer, linda suada, linda quando
se arrumava, linda quando acordava, linda quando estudava, quando lia, ou até
mesmo quando se atrapalhava para se apressar quando ele reclamava que
estavam atrasados para algum evento. Precisou até mesmo se esforçar para se
lembrar da última mulher que levara para cama que não fosse ela. Hermione
havia ocupado tanto seu mundo que ele nem sequer sentia falta ou necessidade
de procurar outra, nem mesmo quando ficavam semanas sem sexo. Aquilo não
lhe fazia nenhum sentindo. Ele adorava mulheres, todos os tipos delas. Como
havia ficado tanto tempo sem sequer notar que elas existiam? Aquilo o
preocupou seriamente.

Dispensou Tina antes que começasse a olhar nela tudo que não havia notado
antes e seu corpo já estava cansado demais para que desse a ela o que ele
normalmente daria a qualquer mulher: o sexo de sua vida. Foi direto para o
almoço que havia marcado com o coronel de cada zona e repassou a
necessidade de se sentarem para discutirem um novo modo de coordenarem a
guerra agora que a Ordem estava ganhando força e queria que isso fosse feito
de modo democrático, onde a ajuda e opinião deles fossem de extrema
importância.

A verdade era que não tinha o menor interesse em escutar os coronéis de suas
zonas. Draco fazia seu trabalho como queria e se um dia tivesse realmente
escutado a voz daqueles que se intitulavam seus conselheiros ele nunca teria
conseguido alcançar a estabilidade da guerra. Ele sabia como proceder tudo
aquilo, mas precisava que seus homens se sentissem parte do processo então
sacrifícios eram necessários.

Quando voltou do almoço seguiu caminho direto até o primeiro andar das
masmorras, onde um pequeno grupo de sua equipe já estava o esperando
juntamente com Hermione que discutia com um deles de maneira séria e
curiosa tentando entender o que estava sendo lhe mostrado em um mapa que
estava aberto. Certamente Tina já havia informado ao seu pessoal que
Hermione estaria com eles porque ninguém questionou a presença dela quando
eles entraram em uma hall de pedras, desceram os degraus de uma escada
helicoidal fechada e se depararam em uma câmara de reunião.

Três faziam parte de seu conselho, velhos insuportáveis que usariam das
informações colhidas ali para tagarelarem na manhã seguinte sobre soluções
inúteis. Os dois outros homens faziam parte da zona sete, homens que o
acompanhavam de perto e que certamente o ajudaria mais que o conselho de
velhos que Voldemort montara para lhe encher a paciência todas as manhãs.

Todos eles se sentaram tomando cuidado para deixar o lugar de Draco ao


centro. Hermione se colocou ao seu lado quando um dos homens de sua zona,
com quem mantinha uma conversa, lhe apontou o assento. Será que ela não
percebia a forma como ele a olhava? Ele bem sabia que Fox tinha uma noiva
não muito agradável e estaria se casando com ela no inicio do ano seguinte
para salvar as dividas de sua família. Portanto tinha muita consciência do que o
olhar sobre sua mulher significava. Muitas vezes se perguntava se Hermione
tinha algum tipo de amante. Alguém que suprisse um pouco o seu lado
sentimental visto que ele não tinha a menor intenção ou interesse de preencher
esse espaço na vida dela. Obviamente que se ela quisesse alguém atencioso ,
Fox era uma boa opção e ela não parecia estar excluindo isso porque a
conversa que estavam tento parecia bastante interessante para os dois.

O ranger da porta na outra extremidade da câmara chamou a atenção de todos


assim que se sentaram. Um dos bruxos da Comissão de Estudos e
Experimentos apareceu carregando uma pasta.
- Ele ainda está passando pelo último teste. O procedimento é mais
demorado porque ele ficou muito tempo fora da cidade. – informou o bruxo
colocando a pasta na mesa e a empurrando para Draco que a pegou e logo a
abriu.

- Traga-o o mais rápido possível assim que terminar. Ainda tenho que lidar
com o prisioneiro. – Draco disse enquanto folheava os resultados que tinha que
conferir.

O bruxo saiu se desculpando pelo atraso. Fox pareceu se engajar em uma outra
conversa, deixando Hermione finalmente, e um dos homens de seu conselho o
cutucou para reclamar sobre a falta de profissionalismo dos bruxos da
comissão. Draco apenas concordou entretido com os números que lhe eram
apresentados nas páginas que folheava.

- Quando Astoria se mudou para Brampton Fort? – Hermione falou baixo o


suficiente para que somente ele ouvisse e usou um tom de voz displicente
como se estivesse apenas comentando sobre o fim do outono.

- Fox não lhe contou sobre isso? - Draco teve que voltar uma página para
ter certeza de que não havia entendido nenhum número errado.
Ela pareceu entender muito bem a provocação e voltou-se para ele cerrando os
olhos.

- Não sabia que conseguia agir como um completo idiota. – ela parou e fez
uma expressão de falsa surpresa. – Oh, não. Na verdade eu sabia sim. – e ficou
extremamente séria no mesmo momento.

Ele a encarou durante os segundos que tomou para virar para a próxima página
e tornou a ocupar sua atenção com os papéis.

- Lamento desapontá-la. – disse e parou a imitando. – Oh, não. Na


verdade, não lamento.

Hermione tornou a cerrar os olhos e aproximou-se mais. Os dentes estavam


cerrados.
- Eu apenas fiz uma pergunta.

- Esse mês é a resposta para sua pergunta. – ele foi seco e ergueu os olhos
para ela. – Por que está interessada em Astoria?

- Parkinson deu a entender que ela significa algo para você.

- E acaso está preocupada com isso? – ele se aproximou igualmente para


deixar aquela conversa apenas entre eles o máximo possível. Sentia seu
maxilar travado. A última coisa que precisava era de outra Pansy em sua vida
achando ruim que Astoria estivesse por perto. – A única mulher que significa
algo para mim é minha mãe, Hermione, e depois de um ano inteiro comigo eu
esperava que já soubesse disso.

- Eu apenas queria conversar!


Ele riu fracamente embora não conseguisse encontrar graça em lugar algum.

- Acha que eu sou idiota? – uniu as sobrancelhas.

Ela puxou ar para retrucar, mas recolheu qualquer palavra ou justifica pronta
para ser lançada e juntou os dentes. Estavam tão perto que Draco conseguia
enxergar os pequenos poros de seu rosto.

- Do que você tem medo afinal, Draco? – foi o que ela sussurrou com os
dentes cerrados. Apenas aquela pergunta o fez querer recuar. – Não consegue
se lembrar que passei minha vida inteira, desde de que te conheci, te odiando?
Eu não poderia sequer pensar em te amar, ou tentar concorrer pelo seu
coração junto com metade dessa cidade enquanto carrego na memória todos os
insultos que já me fez e toda a ameaça que representou para mim durante
esses anos de guerra! Eu não o amo e não precisa se preocupar quanto a isso!
- E eu também não a amo nem jamais poderia amá-la! Eu não sou desse
tipo de material! Mas não se finja de estúpida e ignore o que temos passado,
Hermione, nem o que ainda vamos passar! Sim, ficamos boa parte de nossas
vidas odiando um ao outro, mas olhe para mim e me diga que continua me
odiando. Diga que me odeia! – ele esperou que ela dissesse. Ela não disse. Algo
acendeu dentro de si quando o silêncio dela preencheu aquela frase que ele
esperava dos lábios dela. – Eu me importo com você. – tornou a dizer. Dessa
vez não sentia mais a tensão em seu maxilar. - Não é como se eu quisesse,
mas eu me importo. Tenho que me importar. Você é uma parte de mim agora,
certo? – ela era uma deles, era uma Malfoy. – Nossos futuros estão
entrelaçados e pensei que havíamos deixado claro ontem que tentaríamos
tornar isso mais fácil para nós dois.

- O que significa que não deveria ser rude comigo sem motivo!

- O que significa que você não deveria ter me dado aquele olhar quando
Pansy saiu de minha sala!

E então finalmente as coisas haviam sido esclarecidas ali e ela não parecia ter
gostado nem um pouco de saber que era por causa de seu olhar que ele estava
agindo daquela forma com ela.

- Escute, Draco! Lamento se a presença de Parkinson em qualquer lugar


me provoque aquele tipo de reação!
- Você olhou bem para mim!

- Porque pensei que já fosse bem consciente que não gosto de saber que
não sou a única mulher que anda tocando! Parkinson me faz lembrar disso! Eu
não sou nenhum tipo de prostituta! Não espere que eu continue sorrindo
quando lembro que o homem que me tocou ontem a noite pode estar tocando
da mesma forma qualquer outra mulher que eu inocentemente colocar os olhos
sobre!

- Eu nunca... – foi cortado pela entrada de um dos bruxos da comissão


acompanhando de sua testemunha logo quando estava pronto para replicar
imprudentemente que nunca havia tocado nenhuma mulher do modo como
havia a tocado ontem.

Chegou a ficar feliz por nunca ter realmente dito aquilo na verdade. Não queria
ser mal interpretado. Nem mesmo ele sabia porque havia a tocado daquela
forma ontem. Eles haviam entrado em uma atmosfera nova e completamente
deliciosa que chamava por todos aqueles tipos de sensações e toques que ele
não podia lutar contra e nem queria lutar contra. Eles haviam feito tantos tipos
de sexo diferente que talvez aquele tivesse sido apenas mais um deles. A única
diferença é que aquele sexo não satisfazia apenas seu corpo, mas parecia
quase ter renovado seu espírito.
Draco reparou a sua volta que os homens na mesa encaravam ele e Hermione
com olhares curiosos. Talvez ele e ela tivessem vociferado aos sussurros de
maneira pouco discreta. Contou até três escondeu tudo que havia lhe aflorado
durante aquele pequeno desentendimento entre ele e Hermione e sua
expressão profissional voltou assim que a testemunha se sentou a frente deles
na outra extremidade da mesa.

- Olá, Casey. – começou com sua voz mais neutra enquanto olhava os
últimos números que não tivera a chance de terminar de ver. – Espero que não
esteja irritado pelos procedimentos de reconhecimento.

- Entendo que são medidas de segurança. – respondeu o homem que se


sentara. – Não volto ao forte faz dois anos.

Alan Casey. Ele era o chefe de acampamento em Godric’s Hollow. Chegara


aquela manhã carregando um capturado da Ordem e todos os detalhes de
como haviam perdido o vilarejo. Draco procedeu com todas as perguntas
necessárias enquanto todo o relato era feito por Casey. Uma pena corria um
pergaminho registrando cada palavra que mais tarde deveriam ser enviadas ao
Lorde.
Hermione Malfoy

Foram quase duas horas inteiras para que tudo fosse relatado sem perder
nenhum detalhe. O ataque havia sido feito de uma maneira comum, como
qualquer outro ataque da Ordem, mas segundo Casey, o homem sentado a
frente deles, disse que feitiços e magias desconhecidas e aparentemente
impenetráveis haviam sido usadas em momentos de surpresa que foram de
fator determinante para a perda das terras.

Draco terminou aquilo tudo passando diretrizes a serem levadas ao


acampamento. Ele estava otimista em conseguir de volta Godric’s Hollow antes
que a Ordem pudesse desfrutar a vitória como deveriam. As diretrizes haviam
sido baseadas no que ela havia dito a ele ontem sobre esperar que eles
derrubassem as fronteiras de proteção e trocassem pela deles, o que foi
altamente questionado pelos homens do conselho, mas Draco se manteve firme
defendendo o que eles haviam discutido na noite anterior. Hermione até
mesmo se pronunciou calando a boca dos homens que queriam usar de uma
experiência estratégica do século passado para encarar a nova força que a
Ordem tinha tomado.

Claramente que o olhar de desgosto que recebeu de volta não foi nada
educado, mas despois de sua óbvia constatação ninguém mais ousou replicar
sobre as ordens de ação de Draco que visivelmente estava dando a ela um voto
de confiança. O que ela realmente apreciava. Não queria decepcioná-lo. Queria
que ele pudesse mesmo confiar nela porque ela estava confiando nele e não
queria ser decepcionada. Aquela guerra precisava de um fim. Voldemort
precisava de um fim. E por mais que ela detestasse isso, a única esperança que
via era em Draco.

Com o fim daquela sessão eles foram dispensados. Hermione sabia o que viria
a seguir e temia pelo que quer que a esperava. Mas estava pronta. Havia
seriamente se preparado. Se levantou e seguiu Fox quando ele a convidou.
Aparentemente todos ali estavam bem conscientes e avisados sobre sua
presença.

Fox avisou que não seria um caminho agradável. Hermione já havia o feito na
verdade, quando Luna estava alojada nas masmorras, mas preferiu deixar que
a imaginação de Fox a visse como uma donzela, já que estava vestida mesmo
como uma. Será que ele não se lembrava dos campos de batalha onde ela se
tornava poderosa com sua varinha e o cérebro que tinha. Aparentemente não,
porque durante toda a caminhada ele foi agradável ao esclarecer novamente os
procedimentos que Tina já havia lhe passado para ler.

Draco ficou para trás para resolver qualquer outro questionamento que seus
conselheiros levantavam enquanto Casey não ia embora. Ele apareceu somente
depois de longos minutos quanto Hermione, Fox e o outro homem da zona sete
o esperavam na porta de uma das celas nomeada “79”. Aquela era uma ala
diferente da que Hermione estivera quando visitava Luna, mas a porta ainda
era de aço fundido e muito pesada.
Draco veio ainda discutindo, dessa vez severamente, com um dos homens de
seu conselho. Ele parecia realmente aborrecido por estar sendo seguido
daquela maneira e quando se aproximou parou e excedeu sua voz
imponentemente calando definitivamente o homem. Ele retrucou algo
realmente rude e o outro apenas fez uma careta, deu as costas e sumiu. Draco
se virou para eles e seus olhos se encontraram com os dela imediatamente. Ele
avançou e a puxou pela cintura a guiando para um canto reservado sem pedir
licença aos seus homens.

- Eu sei que queria você aqui. – ele começou com a voz baixa para que
somente ela escutasse. Hermione sempre admirou como ele conseguia mudar
suas expressões tão rapidamente. Segundos atrás ele parecia querer engolir o
homem de seu conselho, agora enquanto a olhava nos olhos ele estava apenas
neutro. – A queria aqui porque assim poderia enxergar como as coisas
funcionam e eu não iria precisar lhe explicar sobre o que aconteceu em Godric’s
Hollow, nem como estou agindo com relação a isso. Mas não acho que seria
interessante continuar com isso...

- Está querendo que eu vá embora? – ela o cortou.

- Estou apenas dizendo que talvez não seja uma boa idéia...
- Fiz algo de errado?

- Não.

- Isso é por causa dos homens do seu conselho? Eles não me querem por...

- Silêncio, Hermione! – ele a repreendeu. – Estou querendo tentar fazê-la


se lembrar de que tem um homem da Ordem preso dentro daquela cela e nós
não vamos ter uma sessão muito agradável de conversa!

Ela se calou. Sim, sabia daquilo e por mais que existissem muitas pessoas na
Ordem, ela conhecia todos. Não tão bem quanto seu ciclo mais próximo, mas
conhecia todos.

- Você sabe quem é? – ela finalmente perguntou depois de alguns


segundos em silêncio.
- Ainda não. – ele respondeu.

Ela puxou o ar. Precisava mostrar que estava pronta. Ele ainda tinha aquele
olhar de que não estava inteiramente convencido de que ela era capaz de
realmente ser uma Malfoy ou de enfrentar aquele mundo junto com ele. Ela
precisava ser forte, precisava mostrar que era forte e que sabia como colocar
sua máscara e jogar aquele jogo. Talvez ela tivesse usado vestidos e salto o
suficiente para que o fizesse se esquecer de quem ela costumava ser.

- Eu estou pronta, Draco. – ela disse. Calma. Respiração estável.

Ele a encarou ainda com aquele olhar de dúvida sob sua máscara neutra, fria e
dura.

- Eu a avisei. – ele finalizou e quando deu as costas a ela, Hermione viu


Tina sair de dentro da cela carregando uma pasta que estendeu a Draco.
Ela informou que veritaserum estava preparada e que o prisioneiro havia
acordado dos sedativos já fazia algumas horas. Hermione se lembrou de
quando fora capturada. Eles a desacordaram, talvez para trazê-la para
Brampton Fort sem que visse nada, e quando acordou já estava em uma cela
escura acorrentada e longe de Luna. Somente a encontrou quando foi levada
para o nave principal onde encontrou Voldemort cara a cara pela primeira vez
em sua vida. Não a interrogaram nem a torturaram antes disso, o que ela havia
ficado sabendo há algumas horas que era um procedimento padrão e
comumente feito por Draco na maioria das vezes.

Mas aquilo parecia ter acontecido a no mínimo uma década atrás. Naquele
momento ela encarou Draco pegar a pasta de Tina e abri-la, tomando alguns
segundos para analisar as páginas contidas ali enquanto esperava pelos dois
homens da zona sete passarem para o lado de dentro. Hermione encheu o
pulmão de oxigênio e se vestiu de sua melhor postura Malfoy enquanto
estabilizava a respiração. Não deixaria que nada, simplesmente nada, tivesse
poder o suficiente para transformar sua expressão fria, ao menos que se
permitisse. Além do mais, sabia que ninguém ali dentro poderia ser Harry ou
Rony. O ciclo interno da Ordem era bem protegido quando se tratava de
capturas.

O grande surpresa foi quando se viu seguir Draco para o lado de dentro e
finalmente encarar o dito prisioneiro em um péssimo estado. Seu coração
parou. O homem que se contorcia nas correntes presas ao chão, mas congelou
os olhos sobre ela assim que a viu sair de trás de Draco, o que o fez ergueu os
olhos da pasta para entender a súbita aquietação.
Draco parou com os olhos sobre ele. Ele com os olhos fixos em Hermione,
Hermione com os olhos fixos nele. O silêncio. Hermione lutava para não deixar
sua mascara cair. Lutava duramente. Lembranças começaram a atormentar sua
mente quase que loucamente. Seu coração queria quase quebrar suas costelas
com todos aqueles batimentos violentos.

O barulho da pasta se fechando nas mãos de Draco ecoou e ele virou-se para
ela. Hermione sentiu o calor da mão dele em sua cintura e o encarou quando
ele fez com que ela desse alguns passos para trás, afastando-a o máximo
possível. O lugar era pequeno e ele precisou encostar a boca bem próximo de
seu ouvido para fazer com o que quer que dissesse ficasse apenas entre eles.

- Eu disse que não era uma boa ideia...

- Draco. – ela o cortou e aproximou sua boca do ouvido dele assim como
ele fazia. O toque de seus rostos a fazia se lembrar de quando eles se tocavam
na cama, principalmente das sensações da noite anterior. Fechou os olhos para
lutar contra a vontade de encarar os olhos do homem acorrentado por cima dos
ombros de Draco. – Confie em mim.

Ele se afastou e Hermione encarou seu olhos cinzas ainda muito próximos.
- Se lembra de quando lancei a ordem para que torturassem Lovegood
porque levantou para ajudar aquele rebelde durante uma audiência aberta com
o mestre? – a voz baixa dele sempre vibrava bem mais e sim, ela se lembrava
bem de como o havia abominado aquele dia. Ela assentiu bem consciente de
que lutava para não mostrar nada além de sua expressão fazia. – Você não
pode me olhar como me olhou aquele dia. Não quero que torne a me encarar
daquela forma, então seria melhor que realmente não participasse...

- Draco! – ela tornou a cortá-lo. Piscou calmamente. Respiração estável.


Expressão fria. Tocou o pulso da mão que ele tinha em sua cintura tentando
transmitir pelo toque, que ela estava tentando e que precisava tentar. A
diferença é que o toque apenas mandou um arrepio pelo sua espinha a
lembrando de que eles não estavam na cama. Por mais que seu impulso
racional quisesse fazer com que ela recuasse o toque, ela não recuou. – Aquela
foi uma época diferente. As coisas mudaram agora.

Ele ainda a encarou por alguns segundos com aquele olhar de receio que talvez
só ela conseguisse visualizar. Distanciou-se dela finalmente, entendendo que
ela talvez precisasse mesmo. O olhar do prisioneiro ainda estava sobre ela
completamente imóvel. Hermione também notou que os demais da cela tinham
suas atenções nela e em Draco. Não era a primeira vez que eles estavam ao
cochicho naquele dia, o que obviamente levantava a curiosidade. Draco apenas
retomou a atenção para a pasta ficando de frente ao rebelde.
- Diga seu nome. – a voz dele soou forte, mas ao mesmo tempo Hermione
percebeu que havia um ar de tédio em seu tom, como se estivesse repetindo
aquilo pela milésima vez em sua vida.

Os cabelos ruivos do prisioneiro estavam tão sujos de sangue seco em algumas


partes que haviam endurecido. O homem riu. Uma risada forçada e cheia de
desgosto. Os olhos azuis ainda continuavam sobre ela.

- De tudo que tem para me perguntar vai escolher isso, Malfoy? – ele
vociferou cheio de raiva nos olhos, olhos que continuavam travados sobre nela.

- Não é uma pergunta, é uma ordem. – Draco foi simples. Tornou a fechar
a pasta e cruzou os braços. – Diga seu nome. – repetiu.

O ruivo cuspiu no chão cheio de raiva.


- Eu já pensei muitas coisas sobre você, Hermione! – disse ele. – Só não
pensei que pudesse ser uma traidora! – sua boca foi calada quando Fox lhe
enfiou a bota no rosto fazendo-o exclamar de dor e cair no chão.

O coração de Hermione se remoeu inteiro e ela lutou contra todas as lágrimas


que quiseram embaçar sua visão. Respiração estável. Era tudo que precisava.
Piscou com frieza e indiferença. Ele não entendia... Não entendia que era para
o bem de todos...

“... e você deveria fazer o mesmo, Hermione!” Rony incentivou naquele verão
do sexto ano enquanto pegava sua cerveja e subia as escadas do depósito da
loja dos gêmeos no Beco Diagonal.

Ela riu.

“O que? Desistir de Hogwarts? Eu não poderia deixar esse fracasso estampado


no meu currículo!” Ela disse divertida antes de ver Rony sumir.
“Assim você me ofende, querida Herms!” Se pronunciou Fred.

“Além do mais!” Ela se voltou para Fred. “Me pergunto com que dinheiro sujo
vocês conseguiram montar essa estrutura!”

Fred Weasley riu sem medo.

“Você não sabe nem metade do quanto esses alunos investem quando querem
pregar uma boa peça.” Ele mostrou as mãos “Não posso fazer muita coisa se
Fred e George Weasley são sinônimos de qualidade no ramo há anos!” Ela riu e
revirou os olhos passando por caixas e mais caixas empilhadas. “Rony apenas
está animado porque nos quer rico o suficiente para ajudarmos mamãe e papai.
Assim eles terão dinheiro para lhe comprar a vassoura do ano.”

“Rony é um idiota.” Ela disse e não era bem por causa do dinheiro que ele
queria dos gêmeos. Sabia que a essa altura ele deveria estar procurando algum
lugar para se atracar com Lilá Brown.
“Sempre a admirei por suas sábias palavras, Hermione.” brincou Fred ao
escutar aquilo e ela riu novamente. A energia dos gêmeos era sempre
revigorante.

“Olha, devo confessar que vocês tem um futuro descente por aqui...” disse
finalmente sorrindo e olhando para ele por cima dos ombros enquanto avaliava
o conteúdo de uma das caixas abertas.

“Decente?” Fred riu encostando-se na estante ao lado dela e cruzando os


braços. “Minha querida, você já viu meu apartamento?”

“Não é exatamente apenas seu!”

Ele revirou os olhos.

“Certo, George tem sua parcela de envolvimento nos negócios, mas...”


“50%?” Ela o cortou divertida voltando-se para encará-lo enquanto cruzava os
braços igualmente e erguia as sobrancelhas.

“50%, maaas...” Ele enfatizou. “Nós dois sabemos que eu sou o mais
inteligente.” Ele abriu um sorriso largo. “E mais atraente.” Concluiu.

Ela riu alto, revirou os olhos e quando se preparou para das as costas o
momento mais inusitado de sua vida, até então, aconteceu quando Fred
simplesmente a puxou pelo pulso, segurou sua nuca e a beijou. Naquele
segundo, assim, daquela maneira, ele se tornou o segundo homem que ela
havia beijado em sua vida. E sua surpresa era tanta que nem consciência para
se afastar ela conseguiu.

Quando finalmente ele desgrudou sua boca da dela Hermione se viu encarando
os dois oceanos azuis que ele tinha nos olhos de muito perto. Ela não sabia
como reagir. Queria empurrá-lo, mas todos os seus músculos pareciam
travados.
“Por que fez isso, Fred?” Se viu sussurrar incapaz de encontrar a própria voz.

“Meu Deus, Herms! Parece que você viu um fantasma! Beijo tão mal assim?”

Ela conseguiu finalmente se esquivar do toque dele. Parecia tão errado. Será
que ele não sabia que ela gostava de Rony? Será que para ele ainda não
parecia assim tão claro? Balançou a cabeça confusa. Por que ele havia a
beijado?

“Você gosta de mim?” Perguntou incapaz de conceber a ideia de que Fred


Weasley estivesse apaixonado por ela. “Está apaixonado por mim?”

Ele riu.

“Não! Merlin! É só um beijo, Herms!”


“Por que me beijou, então?!” Agora sim ela estava completamente confusa.

“Porque você é bonita demais para não ser beijada.” Fred disse aquilo como se
não fosse óbvio demais para ela.

Aquilo foi a coisa mais ridícula que já tinha ouvido. Porque alguém a beijaria
apenas porque era bonita. Alias... Era bonita? Sentiu suas bochechas corarem.
Virou para a caixa novamente encontrando qualquer coisa para olhar que não
fossem os olhos dele.

“Eu gosto de Rony.” Disse finalmente. Baixo. Ainda com a esperança de que ele
não ouvisse.

“Sério mesmo?” Ele pareceu surpreso. “Quero dizer, eu já tinha uma ideia.
Quero dizer, todo mundo já tem uma ideia. Mas tinha esperanças de que você
não fosse tão estúpida assim. Acho que todo mundo também tinha.” Ela cerrou
os olhos e lançou contra ele a primeira peça perdida que conseguiu alcançar.
Ele desviou rindo. “Não quebre nada, Herms, ou terei que fazê-la pagar pelo
estra...”

“FRED! SUBA AQUI AGORA!” A voz de George veio do andar de cima.

Fred soltou o ar cansado.

“Veja só! Você o deixa cinco minutos sozinho e ele começa a gritar
desesperadamente como minha mãe! Mas escute...” Ele deu um passo para se
aproximar dela e Hermione recuou em resposta. Não deixaria que homens a
beijassem apenas porque a achavam bonita. Fred limpou a garganta recebendo
a rejeição dela. “Ninguém precisa saber sobre isso visto que claramente você
não gostou.”

“Não, Fred.” Ela disse quase que imediatamente. “Não é que eu não tenha
gostado... Eu só não esperava que... Não sei... Logo você... Eu.. Nunca havia
pensado que... Só acho que não é legal que tenha feito isso...” Ela se calou não
encontrando nenhuma palavra adequada.
“Hermione.” Ele começou com uma voz séria e amorosa. Era a primeira vez que
ela via Fred Weasley agir daquela forma. Longe de suas constantes piadas e
sarcasmo. “Acho encantador que ainda seja muito ingênua com todo esse
mundo.” Ele deu mais um passo se aproximando e dessa vez ela não recuou.
“Sim, eu a acho bonita e atraente. Sim, eu a beijei. E não, eu não estou
esperando nada disso, mas apenas entenda que relações começam de algum
lugar.”

Ela entendia o que ele queria dizer. Entendia perfeitamente. Mas estava muito
ocupada pensando em Rony o tempo inteiro para considerar nada que não
fosse sua defesa de que grandes romances apenas surgiam de grandes
paixões, mesmo que soubesse que paixões não eram eternas. Molhou os lábios,
colocou os cabelos atrás de sua orelha e puxou o ar.

“Eu entendo seu ponto, Fred. Mas gosto de Rony.” Teimou.

Ele assentiu.

“Manterei seu segredo.” Ele foi sincero. “E o nosso beijo.” Concluiu com um
sorriso.
Ela teve que desviar os olhos para não corar.

“FRED!” George berrou dessa vez.

“ MEU MERLIN! QUE ESCÂNDALO! JÁ ESTOU INDO!” Berrou Fred de volta e


tocou Hermione nos ombros de modo amigável antes de dar as costas e seguir
seu caminho . Hermione apreciou o toque por ter sido sem as intenções que
temia que ele estivesse nutrindo por ela.

“Fred.” O chamou quando ele estava a beira da escada. “Você é um bom


amigo.” Disse.

Ele riu e lançou por cima dos ombros:


“Claro que eu sei que sou!” E sumiu.

- Diga o seu nome, desgraçado! Não sabe seguir ordens?” – chutou Fox
novamente mostrando que estava realmente irritado com a teimosia do
homem.

- Eu não sigo ordens de crianças mimadas. – zombou o prisioneiro


encarando Draco com nojo e recebeu um chute no estomago dessa vez o que o
fez encurvar soltando uma exclamação embora lutasse para expressar a
verdadeira dor. – Vejo que não sabe usar sua varinha para uma tortura de
verdade! – implicou com Fox. – Que tipo de aborto é...

- Diga de uma vez, Fred! – Hermione o cortou impaciente quando se


cansou daquele show todo. Ele precisava cooperar, assim tudo acabaria rápido.

Ele a encarou, os olhos brilhando de ódio, talvez por ter escutado a voz dela ser
direcionada a ele.
- Você parece saber bem meu nome, minha querida Hermione traidora. –
vociferou ele sem piedade. Hermione sentiu o nome traidora lhe cortar
novamente. – Por que não informa isso a todos por você mesma então? Aliás,
não vejo o porque de uma pergunta tão idiota visto que todos aqui já sabem a
resposta.

- É um procedimento. – Tina se manifestou mais preocupada com o que a


pena registrava no pergaminho que tinha nas mãos do que com o que
realmente acontecia. Ela logo percebeu que havia cometido um erro quando
Draco lançou a ela um olhar duro e questionador. Ela apenas engoliu seco em
resposta e recuou um passo voltando sua atenção a pena.

A cela inteira ficou em silêncio. Draco puxou uma cadeira velha que estava
encostada em uma das paredes, a colocou bem de frente ao prisioneiro e se
sentou cruzando as pernas, colocando a pasta em seu colo e as mãos unidas
sobre ela.

- Me deixe te explicar sobre como as coisas funcionam. – ele começou


sério, ainda com aquele distante ar de tédio. – Temos duas etapas para te fazer
abrir a boca e tenha certeza de que conseguiremos. Nós vamos tirar qualquer
tipo de informação de você. Querendo ou não querendo. Você não terá controle
sobre isso. – puxou o ar mostrando novamente sue tédio. - Primeiro
deixaremos que responda a um interrogatório sem qualquer tipo de magia,
assim poderá inventar qualquer mentira estúpida para as perguntas que
faremos. Essa parte você pode escolher se será dolorosa ou não. Pode querer
ser difícil, o que tornará as coisas bem dolorosas e demoradas para você
obviamente. Gente como você gosta de passar por isso com honra, ou seja,
escolhe um interrogatório trabalhoso. Mas não se preocupe, estamos muito
acostumados com isso. Depois dessa etapa usaremos veritaserum e temos uma
técnica muito eficiente e extremamente dolorosa que o impede de se
concentrar o suficiente para lutar contra o efeito da poção ou usar qualquer
truque para se tornar imune.

- Terá que me fazer bebe-la primeiro! – cuspiu o prisioneiro.

- Não se preocupe quanto a isso também. Temos anos de práticas com


sucesso. Posso garantir que você mesmo a tomará até lá e não será sob a
maldição imperius. – Draco piscou calmamente. – Agora você pode escolher
com sabedoria se fará com que a primeira etapa seja cansativa ou não.
Preferimos que escolha ser difícil, assim estará exausto o suficiente para tornar
o segundo processo ainda mais eficiente. Ou talvez seja sábio em tentar
guardar um pouco de energia para a segunda etapa. Assim talvez quem sabe
consiga, de alguma forma bem miserável, ter forçar para lutar contra a poção.
Mas não me importo realmente, qualquer decisão que tomar nos fará saber
tudo que queremos de qualquer forma.

Draco se calou e muito pacientemente esperou pela reação do prisioneiro de


joelhos a sua frente.

- Seu desgraçado... – foi a reação dele com os dentes cerrados e a


expressão jorrando ódio e desgosto.
Draco havia o colocado contra a parede definitivamente e satisfeito apenas
suspirou em resposta e soltou:

- Vou lhe dar dez segundos para escolher que tipo de interrogatório quer
ter e então começaremos tudo isso novamente. – ele puxou o relógio de dentro
do bolso e o abriu em sua frente. O silêncio acompanhou os segundos. O
ponteiro do relógio de Draco pareciam quase sonoros demais enquanto corriam
e durante todo o processo ele e o prisioneiro trocaram olhares. Draco calmo e
desafiador, o prisioneiro furioso. Quando o relógio foi devolvido ao bolso apenas
puxou o ar se fez pronunciar: - Certo. – Quebrou o silêncio. Todos já sabiam de
quem havia sido a vitória daquele confronto. – Diga seu nome. – ordenou.

O prisioneiro rangeu os dentes e com toda a relutância e ódio que poderia


caber em uma pessoa ele soltou:

- Fred Weasley.
**

De fato a segundo parte era a pior de todas. Eles usavam técnicas de tortura
que Hermione sabia que pertenciam ao exército trouxa. Torturas que
colocavam o prisioneiro debaixo de tanta dor ou tanta pressão psicológica que
não restava nenhuma parte em seu cérebro consciente que poderia lutar contra
o efeito da venenosa veritaserum.

Aquilo durou horas. Hermione começou a se ver exausta na metade do


processo. Talvez porque seus músculos estivessem tão tensos e travados com
todo o esforço para não mudar sua expressão diante de tanto horror que
quando tudo acabou e Draco condenou Fred Weasley a condenação, dizendo
que ele seria um bom petisco para a cerimônia de inverno, ela quis intervir.
Chegou a dar um passo em direção a ele para intervir, mas travou novamente.
Havia conseguido até ali. Não colocaria tudo a perder, trataria aquilo de outra
maneira.

Fox e o outro homem da zona sete foram os primeiros a saírem carregando um


Fred inconsciente com eles de maneira totalmente bruta e sem cuidado.
Hermione saiu logo em seguida deixando Draco e Tina discutirem sobre algo
que não a interessou prestar atenção naquele momento. Do lado de fora ela se
permitiu relaxar os músculos e talvez aquele foi um péssimo erro. Suas pernas
bambearam e ela teve que se encostar na parede. Colocou uma mão sobre o
estômago implorando para que ele se acalmasse e segurou os cabelos no topo
da cabeça impedindo que eles caíssem sobre seus olhos. Soltou o ar pela boca
e se viu abaixar a guarda.
Toda a angústia do que vivenciara aquelas últimas horas lhe bateu duramente e
ela sentiu nojo de si mesma. Fechou os olhos. Nojo por ter deixado que
fizessem aquilo. Por ter ficado simplesmente parada. Fred havia a chamado de
traidora uma dezena de vezes a encarando com olhos cansados e cheios de
ódio. Hermione tinha certeza que o som daquelas palavras a atormentaria por
dias e noites.

Quando tornou a abrir os olhos Draco passava por ela com Tina logo atrás. Os
olhos cinzas caíram sobre ela. Frios. Mas por apenas alguns segundos. Ele
seguiu seu caminho deixando as masmorras e ela continuou exatamente onde
estava. Cobriu a boca e quando se viu sozinha se deixou chorar. Como podiam
ser tão frios? Como Draco podia ser tão frio? Tão indiferente... Fred era tão
humano quanto ele, quanto ela, quanto qualquer um naquela cela. Por que
trata-lo como se fosse algum tipo de animal?

Todos aqueles gritos de dor... Todas aquelas torturas que ela mal conseguia
entender como havia conseguido encarar sem mudar sua expressão, sem se
recolher, sem se manifestar. Será que ela estava mesmo se tornando um
deles? Um comensal?

Sentiu que ficaria ali o resto do dia se não se recuperasse. Nunca deveria ter
deixando seus músculos relaxarem. Nunca deveria ter se permitido sentir a
fraqueza que por tanto tempo segurara ali dentro daquela cela. Contou até
cinco e tentou se recuperar. Não conseguiu. Puxou o ar com força e tentou se
recuperar mais uma vez, mas não conseguiu. Céus! Tinha que se concentrar.
Tentou tomar o controle sobre sua própria respiração. Tentou esvaziar a mente.
Esvaziar a mente. Isso. Como se estivesse sob a ameaça de que pudesse ser
lida. Afastou todos os seus pensamentos. Se focou unicamente em sua
respiração. Tentou estabilizá-la novamente e aos poucos conseguiu. Quando
sentiu que finalmente estava em um estado domável, limpou o rosto e refez a
postura. Sentiu a tensão voltar para todos os seus músculos. Dessa vez ela não
os daria descanso. Alisou a própria roupa e fez o som de seus saltos ecoarem
contra o piso novamente. Subiu até a torre de Draco ao invés de esperá-lo na
saída sul como Tina havia lhe dito.

- Sra. Malfoy! – Tina se manifestou assim que a viu apareceu. – Há algo


errado?

- Sim. Preciso falar com meu marido, por favor. – informou.

A mulher pareceu um pouco desconcertada.

- Sra. Malfoy. Essa hora normalmente ele está trabalhando com muita coisa
para fechar o dia...
- Eu sei o que ele está fazendo. – cortou ela. – Poderia, por favor, ao
menos dizer que estou aqui.

Tina hesitou por alguns segundos, mas então se levantou e foi até a porta de
Draco sem se importar em expressar que não estava muito feliz por estar
fazendo um favor a Hermione.

Draco pediu para que ela entrasse quando foi informado de que Hermione
estava ali. De alguma forma ela se sentiu satisfeita por saber que ele não havia
a dispensado, o que normalmente ele faria. Hermione entrou e recebeu apenas
dois segundos do olhar de Draco sobre ela antes que ele voltasse para os
papéis em sua mesa. A porta foi fechada as suas costas e ela se aproximou.

- Está consciente do estado em que se apresentou para minha secretária? –


ele se manifestou depois de alguns segundos.
Ela não entendeu. Estava em sua postura, como deveria estar. Respiração
estável. Máscara posta. Fria. Inexpressiva.

- O que quer dizer?

Ele subiu os olhos para ela apenas mais um segundo enquanto corria sua pena
por um livro aberto grande e pesado.

- Seus olhos estão vermelhos. Suas mãos tremem. – ele comentou, molhou
a pena no tinteiro e continuou.

- Eu... – ela tentava encontrar alguma forma de pedir desculpas pela


fraqueza, mas sabia que como uma Malfoy, desculpar-se já era um sinal de
fraqueza.

- Eu entendo, Hermione. – ele disse. Ela abriu a boca para retrucar, mas
ele falou antes dela. – Acredite. – A encarou. – Eu realmente entendo. – Ele
assentou a pena e fechou o livro. – Não espero que se torne alguém como
minha mãe, ou como eu mesmo, da noite para o dia. – ele usou um tom calmo
e ela não pode deixar de agradecer por não ser repreendida como sempre era
por ele. - Alguém a viu? – ele perguntou.

Não que ela soubesse. Até onde tinha consciência estivera sozinha de frente
para aquela cela. Negou com a cabeça.

- Creio que não. – respondeu.

- Bom. – ele disse. – Não precisa me esperar para voltar para casa, mas se
quiser não vejo necessidade de ficar plantada na saída sul esperando por mim.
Pode se sentar se quiser. Já estou terminando com os...

- Draco. – ela o cortou. – Temos que tirar Fred de Brampton Fort.

Ele se calou a encarando, dessa vez suas sobrancelhas se uniram.


- Certamente que não. – foi o que ele disse.

Ela deu mais um passo se aproximando.

- Eu não posso deixa-lo morrer, não posso deixar que ele vire um dos
sacrifícios para a cerimônia de inverno. Você me ajudou com Luna. Podemos
fazer o mesmo com...

- Certamente que não! – ele a cortou com mais firmeza agora. – Hermione!
Pense mais um pouco! Eu a ajudei com Lovegood porque tinha o interesse que
ela levasse alguns dos segredos de Brampton Fort de volta para Ordem assim
eu saberia, baseado nas ações deles, se possuíam ou não o véu. – ele falava
baixo, mas ríspido o suficiente. - Não espere que eu vá me arriscar novamente
por alguém que foi estúpido o suficiente para se deixar ser pego.

- Mas eu não posso...


- Hermione! – ele a cortou novamente. – Você disse que queria isso.

Ela hesitou.

- Mas Fred...

- Você disse que queria isso! – ele tornou a repetiu com mais clareza a
cortando novamente. – Você disse que queria isso. Eu a avisei que seria uma
caminho escuro e sujo e mesmo assim você disse que queria, que estava
pronta, que estava preparada. Eu até mesmo a avisei antes de entrarmos
naquela cela e mesmo assim...

- Eu sei! – ela exclamou o fazendo se calar. Fechou os olhos e deu as


costas. O silêncio acompanhou os segundos do relógio. Sua garganta queimou
e ela lutou contra tudo aquilo. Por que infernos tinha que ser tão sensível?
- Weasley é um rebelde. Nós conseguimos todos os segredos que
queríamos dele hoje. Uma hora ou outra ele terá que ser eliminado. As
masmorras não é nenhum tipo de hotel e nem mesmo o Lorde permitiria que
ele ficasse vivo as custas da catedral sem justificativa. Ele é inútil agora, mas
útil o suficiente para ser carregado para a cerimônia de inverno pelo nome que
tem. Um rebelde do ciclo interno da Ordem daria uma morte com bastante
entretenimento. Não há nenhum outro propósito para ele aqui, Hermione.

Ela soltou o ar e se viu a beira de um colapso novamente. Tentou limpar sua


mente e manter a tensão em seus músculos. Não podia se colocar no estado do
qual mal conseguira se recuperar novamente.

- A família dele nunca me perdoaria... – comentou mais para si mesma do


que para ele. Pensava em como a Sra. Weasley poderia estar reagindo agora
sabendo que um dos filhos dela havia sido capturado. Ela nunca nem mesmo
havia se recuperado da traição de Percy em permanecer do lado do Ministério
mesmo depois que Voldemort dominou o poder.

- E por que você precisaria do perdão de uma família que está abaixo da
cadeia alimentar? Uma família rebelde que não possui nem nunca possuiu o
mínimo de influência no mundo bruxo?
Hermione sentiu uma fúria se misturar com sua angústia. Será Draco não tinha
o mínimo de percepção? As vezes a convivência com ele dentro daquele mundo
fazia com que ela esquecesse o caráter que ele tinha.

- Porque eles abriram os braços para mim! – voltou-se para ele bem
consciente de que havia subido o tom de sua voz. - Me receberam e me
amaram quando pessoas como você me desprezaram e me menosprezaram por
ter nascido com poderes que eu nunca pedi para ter! Eu nunca pedi para ser
uma bruxa, Draco! Quando eu perdi minha família eles preencheram o espaço
vazio que ficou em mim sem que eu nem precisasse pedir! Eles sempre se
preocuparam e cuidaram de mim sem receber nada em troca além de amor!
Você não entenderia isso! Nunca entenderia isso!

Enquanto ela o olhava com desgosto ele permanecia em silêncio a encarando.


Não poderia ser possível que em um minuto ela pensasse que conseguiria nutrir
afeto por ele e num segundo apenas tudo mudasse para rancor. Apenas porque
ele havia demonstrado quem era. Não era possível que depois de tudo que eles
haviam passado, da pouca história que haviam montado em um ano, as coisas
entre eles ainda fossem tão frágil. Que o passado que tinham ainda tivesse
tanto peso. Mesmo depois de uma filha perdida.

- Você sabe o porque eu nunca entenderia. – foi o que ele pareceu resolver
dizer depois de longos segundos de silêncio.
Ela processou aquilo. Ele não parecia contente em ter que compartilhar aquilo.
Ela sabia o porque. Draco possuía a família mais infeliz que ela já havia
conhecido. Ele nunca entenderia o que era fazer algo apenas por amor, sem
esperar absolutamente nada em troca. Não havia sido criado dessa maneira.
Hermione fechou os olhos e suspirou. Não era possível que o rancor que sentia
agora também mudasse tão rapidamente para um estado passível. Céus! O que
ela sentia por ele afinal? Hora achava que apenas o odiava, hora o considerava,
hora queria fugir da presença dele, hora queria tocá-lo, hora o desprezava,
hora sentia que apenas o calor do corpo dele a bastava! Não era justo que não
conseguisse se organizar, chegar a um acordo consigo mesma!

Quando abriu os olhos o viu se levantar, dar a volta na mesa e ficar bem a
frente dela. Ele cruzou os braços a encarando profundamente. Os olhos dele já
diziam o que ela sabia.

- Se lembra de ontem a noite? – ele começou sério e ela sabia que ele não
estava falando sobre a noite que haviam passado na cama. - Do acordo que
fizemos em meu escritório? Dos planos que fizemos? – ela desviou o olhar. Se
lembrava muito bem. – Tudo aquilo é real. Existe sim uma boa chance de
conseguirmos o que nós dois queremos. Você certamente foi capaz de ver isso.
– ele falava baixo. – Mas eu acredito já ter me aberto com você sobre
sacrifícios, Hermione.

- Draco, não é certo que eu tenha que...


- Sim. É certo, Hermione! – ele a cortou. – Nós já perdemos uma filha. Isso
sim não é certo! E pense em nosso filho. Uma hora ou outra ele estará em jogo
para nós. Você abriria mão dele por Fred Weasley? Acha que a Sra. Weasley
iria abrir mão do dela por você? Esse é o mundo real. Você fugiu dele por muito
tempo dentro da Ordem, vivendo em um mundo utópico, defendendo uma ideia
utópica. – ele tocou seu rosto. Havia hesitação no toquei, mas ela apreciou e
tornou a encará-lo. – Sei que é racional, Hermione. Sei que estava muito certa
sobre suas decisões ontem. Encontre novamente os motivos que a fizeram
aceitar a realidade.

Ela fechou os olhos sentindo o calor da mão dele contra seu rosto. Mãos que há
poucos minutos iam tão brutalmente contra Fred Weasley, mas mãos que
haviam a tocado com tanto cuidado e desejo na noite anterior. Mãos que
costumavam encontrar formas discretas de tocar sua barriga quando ainda
gerava a filha dele. Mas mãos que já haviam torturado e matado homens. Mãos
que também a tocavam agora de um modo tão compreensivo quando ela sabia
que ele poderia ser apenas rude. Mas mãos que, com certeza, já haviam ferido
aqueles que ela amava. Segurou a mão dele e a tirou de seu rosto. Não porque
era estranho que ele a tocasse fora da cama, mas porque as vezes se lembrava
muito do que ele sempre havia representado para ela.

- Posso pelo menos falar com ele? Deixá-lo ciente de que não estou do lado
de Voldemort. Nem eu nem você.

Draco pareceu tentar considerar aquilo de modo bastante relutante por alguns
segundos. E ela até mesmo se surpreendeu por vê-lo se esforçar com aquilo.
Ele estava diferente com ela e mesmo que ela soubesse que aquilo fosse
temporário, porque assim que toda a dor da perda entre eles se acalmasse as
coisas voltariam a ser como antes, Hermione ainda apreciava o lado
compreensivo dele.

- Seria loucura, Hermione. – ele finalmente disse. Ela assentiu. Era racional
o suficiente para saber que passar aquele tipo de informação a Fred era
arriscado e ele poderia usá-la para se livrar da morte. – Deve aprender a não
confiar nas pessoas tão facilmente e embora o conheça, o caráter de qualquer
ser humano se torna imprevisível quando ele encara a morte de tão perto. - Ele
certamente parecia saber muito sobre aquilo. Draco deve ter encarado mortes
atrás de mortes sentado ao lado de Lord Voldemort e também como um bom
Sonserino, conhecia bastante sobre o comportamento humano para usá-lo a
seu favor. – Bem. – ele se manifestou dando as costas. – Acredito que se
apenas nos concentrarmos no jantar que nos espera em casa e na noite que
vamos ter para nos recuperar da passada, podemos ter a chance acreditar que
tudo está bem. – ele forçou um sorriso e tornou a se sentar em sua cadeira. –
Aliás, quero explicações sobre o poder que a Ordem detém. Acredito que não se
importaria que eu deitasse no sofá com uma garrafa de vinho para escutá-la
quando chegarmos em casa. Estou bem casado por não ter dormido ontem a
noite.

Ela se viu rir suavemente sem que pudesse conter. Não que Fred tivesse sido
tirado de sua mente repentinamente, mas era a única reação que tinha para as
palavras dele que a olhou confuso.

- É engraçado ver como o mundo bruxo parou no tempo. Sua família com
certeza no final do século XIX. As vezes você se comporta como um verdadeiro
aristocrata. – ela soltou um riso fraco novamente maneando a cabeça. – Não
acredito que você precise se preocupar com o que eu pensarei de suas
maneiras se não se sentar propriamente em uma poltrona, vestido em seu
terno fino, com uma boa taça de vinho para me escutar. É sua casa, Draco, e
vamos ter que ficar debaixo do mesmo teto por tempo o suficiente para se ver
preso a essas questões todas as vezes que estivermos compartilhando o
mesmo cômodo.

Ele ergueu as sobrancelhas abrindo um sorriso divertido.

- Você deveria ter me dito isso faz um ano. – disse puxando um


pergaminho. – Pelo menos esse favor o destino poderia ter me feito. Uma
mulher que não me enche o saco quanto a boas maneiras como minha mãe
costuma fazer sempre que tem a chance.

Ela sorriu não esperando escutar aquilo de Draco Malfoy. O Draco que ela
pensava conhecer estava sempre bem apresentado. Sabia se sentar
perfeitamente e até mesmo o modo como segurava o jornal durante o café da
manhã ou se curvava para responder algum correio era de uma postura
impecável. Ela não esperava que ele fosse tão rebelde ao ponto de contrariar
aquele modo de vida em que fora criado.

- Bem, talvez eu não o julgue sobre deitar no sofá se não me julgar todas
as vezes que desço em meu pijama para tomar o desjejum. – ela se aproveitou
do momento.
Ele parou de arranhar a pena no pergaminho e a encarou.

- Nós estamos falando de uma das principais refeições do dia, Hermione. –


ele disse e ela sorriu. Claro, ele não poderia ser assim tão rebelde quanto ela
estava imaginando.

Abriu a boca para retrucar, mas foi cortada pelos passos aditados que surgiram
do outro lado da porta e em menos de dois segundo ela foi escancarada.
Homens passaram para o lado de dentro com as respirações carregadas.

- Senhor! – um deles exclamou. – Estamos sob ataque!

Hermione sentiu seu coração querer sair pela boca no mesmo instante. Eles
estavam se referindo a Brampton Fort? Encarou Draco e ele já estava
perfeitamente intacto em sua postura de general enquanto se levantava. Não
apresentava nenhum sinal de desespero além da expressão neutra de sempre.
- Especifique. – foi o que ele disse. Calmo.

- Highshire, senhor! A província mais importante da Escócia! Estamos a


perdendo!

Draco apertou os lábios mas não disse nada por um momento. Todos pareciam
ansiar por qualquer palavra sua, mas ninguém dizia uma palavra, nem mesmo
Tina que aparecia silenciosamente por trás dos homens.

- É a Ordem? – ele perguntou.

- Sim! Eles parecem ter um grupo formado. Os mesmos que nos tiraram
York, os mesmos que nos tiraram Godric’s Hollow.
Draco assentiu.

- Vamos ter que entrar em campo. – pronunciou ele. – Tina, prepare


chaves de portal para toda a zona sete.

- Senhor, tem certeza de que irá mover a zona sete?

Draco ergueu as sobrancelhas colocando seu olhar sobre o homem que dissera
aquilo.

- Vai questionar minhas estratégias, Davies? – o homem se desculpou


quase imediatamente. – Quero todos, absolutamente todos, em formação no
pátio leste em cinco minutos. Tina! – exclamou e a mulher pisou novamente na
sala no mesmo segundo enquanto os homens corriam para provavelmente para
o pátio leste ou para passar a ordem dada. – Encontre uma forma de me
colocar a parte do que aconteceu dentro de dois um minuto! Prepare-se para
montar um relatório para enviar aos homens do conselho e não se esqueça
abrir contato direto com o quartel. Talvez iremos precisar de mais reforço. – a
mulher assentiu e saiu carregando consigo uma expressão intensa de
preocupação e desespero.
Draco saiu de sua mesa, fechou a porta com vontade, soltou sua respiração e
fechou os olhos. Hermione deu um passo em direção a ele.

- Draco...

- Me dê dez segundos, Hermione! – ele a cortou rispidamente levantando


uma das mãos em sinal de pare. Ela deu a ele os dez segundos em que ele
parecia engolir alguma espécie de fúria que parecia querer tomar conta de si. O
silêncio reinou pelos dez segundos, mas quando eles acabaram, Draco estava
de volta em sua postura como se nada tivesse acontecido. – Eles estão se
movendo rápido. Não faz nem vinte e quatro horas desde que tomaram
Godric’s Hollow. – ele voltou-se para ela.

- Eles estão com um grupo fechado. – ela apressou-se a dizer. – O que


quer dizer que apenas esse grupo é capaz de praticar as magias que tem...

- Superado meu exército. Sim. – ele terminou para ela. – Entendi essa
parte muito bem.
- O que é bom para você. – ela logo disse. – Esse grupo está ocupado com
Highshire exatamente agora, o que deixa Godric’s Hollow ou York inteiramente
livre.

Draco pareceu considerar aquilo. Um minuto e ele escancarava a porta de sua


sala e pedia a Tina que exigisse a formação das zonas seis e cinco no pátio
leste junto com a zona sete.

- Quando vai voltar para casa? – ela perguntou quando ele terminou de
lançar todas as suas ordens.

- Não sei. – ele respondeu ocupado em guardar tudo que havia sobre sua
mesa. – Você mesma sabe o quanto um campo de batalha é imprevisível.
Nunca se sabe com que tipo de feitiço você vai cruzar caminho e temo que
regressamos para um estado de guerra onde as coisas não estão mais tão
estáveis assim. Se a Ordem continuar se movendo rápido dessa forma, acredito
que não verei Brampton Fort tão cedo.

Ela não gostou da ideia. Não gostou de saber que ele estaria exposto a um
campo de batalha. Não gostou de saber que ele não voltaria para casa tão
cedo. Algo nela quis pedir para ir com ele, mesmo sabendo que era impossível
que sua pobre alma tivesse mínimas chances de um dia pisar do lado de fora
daquelas muralhas enquanto Voldemort existisse. Algo dentro de si também
queria pedir para que ele fosse cuidadoso. Mas ela se manteve calada.

Tina entrou as pressas estendendo para ele impressões de depoimentos feitos


as pressas pelo que ela julgou ser algum contato direto que ela não tinha
consciência que existia. Não seria possível que ela conseguisse aquelas
informações tão rápido assim. Draco as colheu e levou consigo. Ele parou logo
a porta. Hermione não esperava que ele parasse. Ele certamente deveria seguir
até o pátio leste porque os minutos estavam passando e seus homens já
deviam estar a postos. Draco voltou seu olhar para ela e ela afastou aqueles
pensamentos para longe. Se aproximou.

- Lamento por não ter jantar nem descanso para você essa noite. – ela
disse. Baixo o suficiente para convidá-lo ao nível de intimidade.

Ele não pareceu estar muito interessado naquilo aquele momento. Aqueles
olhos cinzas a encaravam como se tivesse algo a dizer, mas não sabia
exatamente se deveria. A relutância era clara, mas não demorou muito para
que ele vencesse mais a distância entre eles, tocasse sua cintura e aproximasse
a boca de seu ouvido. Hermione sabia que ele fazia aquilo porque a porta
estava aberta e Tina não estava muito distante o esperando.
- Encontre uma forma de ser meus olhos na Catedral enquanto eu estiver
ausente. – ele sussurrou. A voz sempre grave e profunda o suficiente para
fazer os pelos de sua nuca se moverem. Ela assentiu em resposta e ele
afastou-se, mas não o suficiente. Seus olhos foram pegos pelos dele a uma
proximidade muito íntima. Ela esperava que tudo desse certo. Por mais
surpreendente que fosse, não queria que nada de ruim acontecesse com ele. As
palavras para que ele tomasse cuidado estavam presas em sua língua, prestes
a serem cuspidas, mas ela hesitou. Hesitou e não as disse. Hesitou do mesmo
modo como hesitou ao perceber que uma estranha vontade lhe crescia.
Vontade que sua boca tocasse a dele. Os olhos dele desceram para sua boca,
como se ele também estivesse com a mesma vontade, e ela fez o mesmo para
a dele. A hesitação de ambos os prenderam num longo segundo onde hora
havia quase certeza que se beijariam, hora recuavam em relutância. Eles não
iriam para cama. Não fariam sexo. Não poderiam se beijar. Não havia nenhum
motivo para que fosse necessário. – Vá para casa. – ele soltou num sussurro
quase inaudível. Subiu os olhos para os dela uma última vez, separou-se dela e
sumiu com Tina.

Hermione puxou o ar que havia esquecido de inalar e o soltou com calma.


Notou a frustração em si e lamentou que ele tivesse ido embora. Que idiota
pensar que iriam se despedir com um beijo como se fossem um casal. Balançou
sua cabeça apertando os lábios e se repreendendo por seu estúpido
pensamento e voltou-se para o escritório a sua volta.

O clássico estilo vitoriano era típico inglês, mas chegava a ser um tanto
obscuro. Ela já havia se acostumado com aquele estilo. Deu uma volta curiosa,
tocando decorações, mexendo em pedaços de pergaminhos empilhados, lendo
títulos de livros na estante. Suspirou. Não era tão diferente de como era na
Ordem. A guerra era imprevisível. Não se podia fazer planos para o jantar ou
para a manhã do dia seguinte sem ter consciência de que a qualquer momento
seria necessário sair correndo com a varinha em punho. A diferença agora era
que se sentia uma mulher presa em seu castelo durante a Primeira Guerra
Mundial. Teria que encontrar uma forma de ser mais útil do que aquilo.
E foi com esse pensamento que deixou a torre de Draco. Aproveitou que o
quartel inteiro deveria estar sob aviso e que o tumulto estava bem longe das
masmorras para descobrir a cela onde Fred havia sido colocado. Fez a ele uma
visita tomando cuidado extra para que ninguém a visse.

Ele estava acorrentado pelos braços, pendurado acima do chão, em um estado


quase inconsciente. Depois do que havia passado Hermione estava até surpresa
por vê-lo ainda lutar. Ela se aproximou dele. Havia sangue e suor no homem.
Várias partes de seu rosto estavam inchadas.

- Amigável de sua parte me fazer uma visita particular. – ele se manifestou


com desgosto, mas fraco o suficiente para quase não conseguir administrar a
ordem das palavras. – Espero que tenha trago chá.

- Não sou exatamente uma traidora, Fred. – ela respondeu, mas tomou
cuidado para não desfazer sua postura.

Ele forçou um riso fraco que pareceu uma tosse que logo em seguida veio
acompanhada de um gemido de dor.
- Eu entendo perfeitamente. – ele disse quase não dando conta de suas
palavras. – Roupas caras, joias, e não pense que não reparei que a aliança em
seu dedo é a mesma que a de Draco Malfoy.

Ela não discutiria aquilo. Não com ele. Não no estado em que ele se encontrava
nem porque não poderia. Qualquer palavra ali poderia ser arriscado demais.
Mas se aproximou. Aproximou mais do que deveria, mas não se importou.

- Fred. – pediu ela com cuidado. – Olhe para mim. Olhe nos meus olhos. –
ela não precisou pedir duas vezes. O silêncio os envolveu. Se ela pudesse
contar tudo por um olhar ela gostaria muito conseguisse. – Você não
entenderia. – sussurrou.

Ele respondeu com o silêncio, mas não desviou o olhar do dela. Hermione
queria muito poder estar sendo honesta com ele por aquela simples troca de
olhar e talvez estivesse mesmo conseguindo porque demorou, mas finalmente
ela se viu observando um Fred frágil, com medo, e longe do olhar de desgosto
que lançava a ela. Talvez ele estivesse a vendo como a Hermione que revirava
os olhos com um sorriso no rosto quando ele fazia suas brincadeiras agora.
- Herms... – ele sussurrou de volta cheio de dor e medo. – Eu vou morrer?

Ela sentiu seus olhos quererem embaçar. Não. Não era essa a Hermione que
era agora. Recuou. Era uma Malfoy. Tinha a Marca Negra em seu braço e era
bastante consciente da realidade cruel do mundo que os cercava agora.

Se lembrou de sua filha, a filha que fora tirada dela com tanta brutalidade. Os
motivos claramente iam além de pagar sua dívida pela fuga de Luna, mas o
aviso era claro o suficiente e ela jogava um jogo diferente agora, tinha que
jogar um jogo diferente, e por mais sujo que fosse, nele pelo menos havia
esperança. Respirou fundo vestindo sua capa protetora, sua masca neutra, seu
olhar frio e imparcial.

- Sim, você vai. – disse com calma, deu as costas e seguiu fazendo o som
de seu salto ecoar até sair.
25. Capítulo 25

Lord Voldemort

Ela não o temia. Não podia temê-lo se ainda, depois de tudo, ela ousava
desafiá-lo. Hermione certamente fazia jus ao maldito sangue precioso que lhe
corria nas veias, mesmo sem ter a mínima consciência dele. Se sentia
altamente tentado em dar um fim a vida dela assim que seu herdeiro fosse
produzido, mesmo que fosse um belo de um desperdício acabar com uma coisa
tão bonita como ela. Provavelmente encontraria um outro uso para ela assim
que lhe tirasse seu herdeiro.

Ah... Seu herdeiro! A mistura do sangue dela com o sangue Malfoy. Ele se
perguntava sobre o poder dessa criatura todos os dias. Um sangue que nunca
teria se misturado na história do mundo. Ele estava orgulhoso de seu feito.
Teria o filho deles ao seu lado. Teria o poder dele a seu favor. Faria com que
seu herdeiro fosse um fiel incondicional. Leal a ele e unicamente a ele. Assim
teria o mundo em suas mãos. Certamente seu herdeiro seria ambicioso como
Draco, sedento por poder e reconhecimento. Voldemort prometeria seu império
inteiro a ele, mesmo que nunca tivesse a intenção de deixá-lo.

Quando Hermione passou para o lado de dentro de seu gabinete ele via apenas
a figura de uma insolente. Alguém que ousava desafiá-lo era alguém morto e
ele tinha muita vontade de matá-la. A sede por vê-la morta e ensanguentada
ressecava até mesmo suas veias, mas ele precisava ser paciente, aquele
momento chegaria no dia oportuno e ele beberia cada segundo do sofrimento
físico dela.

A viu parar logo a frente de sua mesa. Vestia um de seus elegantes vestidos e
ousava se manter em sua postura desdém. Confiante exatamente como Draco
havia aprendido gostar de se apresentar. Voldemort pegou a edição do Diário
de Imperador daquele dia e jogou aberto sobre a mesa bem a frente dela.

- Insolente da sua parte o que fez. – tirou o charuto da boca. – Organizar


uma conferência pública sem meu conhecimento. Expor uma das cabeças que
eu mesmo nomeei para cuidar do meu forte. Anunciar seu ligamento ao
departamento de Draco sem que eu fosse consultado. Acaso é louca? Está
precisando receber outra lição para se colocar em seu lugar?

- Você fez de mim uma Malfoy, mestre. Meu lugar não é abaixo de
ninguém. Já deveria saber disso quando me colocou sob a direção de Theodoro
Nott com o dever de solucionar os problemas das Casas de Justiça. Eu coloquei
regras, aboli as chances de corrupção, evitei guerras entre família poderosas
que te servem e que ficariam muito insatisfeitas com o mal funcionamento das
atividades dentro do seuforte. Mesmo assim quando dei as costas ao
departamento por causa de uma ordemsua, fui obrigada a assistir todo o meu
trabalho desmoronar por culpa de Nott. Não iria esperar que eu ficasse calada,
ou iria mestre?

Voldemort se viu rir. Reclinou-se em sua cadeira confortavelmente e uniu suas


mãos ossudas.

- Está adquirindo um espírito vingativo admirável, Sra. Malfoy. – teve que


comentar. – Por que não pulamos logo essa maldita enrolação? Sei
perfeitamente que o que realmente quis com isso não foi vingança embora
tenha a conseguido no processo. – sorriu – Você queria minha atenção. Queria
que eu a chamasse aqui. Diga de uma vez o que pretende com isso.

Ela piscou com calma. Aproximou-se mais e tocou as bordas do outro lado de
sua mesa.

- Estou me juntando a Comissão de Estudos e Experimentos do


departamento de Draco. Vou servir na guerra a seu favor. Trabalharei junto
com Draco para sua vitória. – ela soltou de uma vez.
Voldemort se viu rir novamente. Colocou o charuto entre os dentes e encarou
aquele belo rosto que ela tinha. Olhos âmbar, boca cheia, nariz bem
desenhado. Ela era uma pequena coisa delicada que sabia usar o magnífico
cérebro que tinha.

- O que quer em retorno pelos seus serviços? – foi tudo que disse.

- Minha filha. – ela não precisou pensar duas vezes. – Quero ficar com
minha filha caso venha a engravidar de uma menina novamente.

Voldemort precisou apenas de um segundo para depois rir com bastante


vontade dessa vez. A expressão que ela fazia todas as vezes que o via rir era
repugnante.

- Minha querida, Hermione. – levantou-se, deu a volta na mesa e se


colocou atrás dela. – Você não vai ter filho nenhum mesmo que engravide
trinta vezes. – Puxou uma mexa do cabelo dela para trás revelando a pele
limpa do pescoço tentador que ela tinha. – Vai me dar um herdeiro e terei o
prazer de matar todo o resto caso eles venham a aparecer. Seja menina ou
menino. – desenho o caminho da artéria dela com os dedos gentilmente. Ela
não fazia a mínima ideia do quanto ele a desejava quando a via. – Mas. –
acrescentou e deslizou sua mão pelo ombro dela afastando a alça do vestido
que usava. Conseguia sentir o cheiro da repugnância que ela tinha. Até aquilo o
excitava. – Devo confessar que me senti bastante atraído pela sua proposta e
por causa dela você me deu boa ideia. – a deixou tornando a dar a volta na
mesa para ficar de frente a ela. – Não espere ficar com nenhum filho. Eu não te
daria essa alegria. Você não a merece. Mas. – ergue o indicador. – Vença a
guerra para mim e preste atenção que eu não estou dizendo para trabalhar na
guerra para mim. Estou dizendo: vença a guerra. Se vencê-la para mim
pouparei a vida de sua próxima criança seja ela menino ou menina.

Ele pode ver a mandíbula dela travar a saliva descer seca por sua garganta e a
fúria exalar de seus olhos.

- Eu não quero apenas que poupe a vida da minha criança caso eu venha
engravidar de uma menina. Você não quer uma herdeira, quer um herdeiro e
se eu tiver uma menina quero ficar com ela! – os dentes dela estavam
cerrados.

- Não terá nenhum filho, Sra. Malfoy. Já me fiz claro quanto a isso.

- MAS EU QUERO! – Ela pressionou o punho fechado contra a superfície da


mesa. Ela estava furiosa. – Eu venço a guerra para você e me deixará ficar com
minha filha! Vou te dar seu herdeiro, mas se eu engravidar de uma menina não
irá apenas poupar a vida dela, vai me deixar ficar com ela!
Voldemort tinha um sorriso no rosto. Era bom ter as pessoas na palma de sua
mão. Soltou a fumaça pela boca, piscou com calma e disse:

- Não. – apenas.

Ela se viu inconformada.

- Tem ideia do conhecimento que eu tenho? Estive a frente do único grupo


da resistência forte o suficiente para manter essa guerra por anos! Posso
ganhá-la para você dentro de meses! Será o imperador do mundo inteiro! Terá
todos os continentes em suas mãos, dominará quem quiser, fará o que quiser!

- Eu já tenho esse poder, Hermione. – ele disse com calma.


- ENTÃO O QUE QUER?

Ele suspirou sem deixar a satisfação daquele momento morrer em sua


expressão e tornou a sentar-se em sua cadeira.

- Me ofereça algo mais valioso e eu deixarei que fique com o filho que
quiser contanto que me dê um herdeiro. – mostrou as mãos.

Ela engajou num silêncio confuso onde ele quase podia enxergar as
engrenagens do cérebro dela funcionando com agilidade. Então os olhos dela
brilharam como se estivessem enchendo-se d’água, a expressão em seu rosto
mostrou dor e ele esperou que ela apenas fosse dar as costas e ir embora. Mas
esse momento não chegou. Ela pareceu engolir tudo aquilo, refazer a postura e
piscar até que seus olhos mostrassem apenas um deserto cruel.

- Venço a guerra para você. – A voz dela finalmente soou. Fria e


inexpressiva. – E te dou Harry Potter. – concluiu.
Voldemort não pode conter o sorriso que se abriu em seu rosto. Um sorriso que
parecia querer rasgar de um lado ou outro. Seu peito de encheu de satisfação.
Harry Potter significava o fim de uma profecia que o perseguia por anos. Um
não pode viver enquanto o outro sobreviver. Ele sabia exatamente o que aquilo
significava e vivia aquela maldita frase todo santo dia.

- Considere um acordo, minha querida. – foi tudo o que precisou


responder.

Draco Malfoy

Passou para o lado de dentro do quarto que haviam separado para ele sentindo
o começo de uma dor de cabeça que muito provavelmente iria acompanhá-lo
durante as próximas horas. Estava absolutamente exausto e todo o seu corpo
pedia apenas por descanso. Estava cansado de viajar, de dar seus discursos, de
ter que ser estratégico, de entrar em batalhas pesadas, de ter que lhe dar com
pessoas.
Ao menos estava na Inglaterra novamente. Nas últimas semana tivera que dar
uma volta pela Europa juntamente com Voldemort para apaziguar os rumores
que os rebeldes andavam espalhando sobre o enfraquecimento do império.
Draco também fora obrigado a remanejar suas tropas de segurança para
reforçar as principais áreas de influência dentro de cada país e assim que
voltara para Inglaterra teve que entrar em uma zona de conflito que parecia
resistir as forças da Ordem da Fênix por alguns dias. Havia conseguido
estabilizar o conflito fazia apenas dois, mas tinha certeza que a Ordem não
insistiria ali por um bom tempo visto que encontrara uma forma de colocar a
população residente da área a favor deles. Talvez aquilo tenha ferido
profundamente o orgulho da Ordem, porque recuaram sem muita insistência.

Sentia-se apenas imensamente feliz e grato por saber que no dia seguinte tinha
um discurso para pronunciar pela manhã para a região e então finalmente,
depois de um mês inteiro, estaria retornando para casa. Ele mal conseguia
acreditar que sua casa pudesse ser um lugar tão desejado. Nunca havia sentido
a necessidade de voltar para lá nos outros anos da guerra, quando tudo era
ainda mais intenso e mais cansativo. Agora, tinha dia que chegava até mesmo
a fantasiar que pegaria uma chave de portal no fim do dia, entraria em uma
carruagem até sua casa, subiria os degraus da varanda, passariam para o lado
de dentro, encontraria Hermione para o jantar, desfrutaria da companhia
silenciosa dela, subiria para seu escritório, trabalharia no que quer que lhe
interessasse e quando fosse para cama talvez encontrasse Hermione e a
arrastasse para um banho, ou apenas deitasse e dormisse sentindo a presença
dela ao seu lado.

Jogou-se contra a cama confortável do quarto e fechou os olhos. Lembrou-se


que se estivesse em casa estaria escutando a respiração de Hermione ao seu
lado. Lembrou-se de como havia odiado aquilo no começo. De como havia
odiado o cheiro dela, a presença dela, o som de sua respiração. Draco havia se
acostumado tanto com ela que agora sentia falta. Ela representava o conforto
de sua casa, a estabilidade da guerra, a rotina do dia-a-dia. Ele sentia falta.
Ainda estava vivo em sua memória o última final de semana que passara em
Brampton Fort. Havia sido há um mês atrás, três semanas após sua saída
repentina do forte devido ao ataque em Highshire e céus! Como havia
aproveitado aquelas duas únicas noites que sabia que não teria por um bom
tempo.

O relógio batia quase duas da manhã quando Hermione saiu de cima dele
carregando o lençol consigo bastante satisfeita pelo orgasmo que acabara de
ter. A mão dela foi direto para uma jarra de chocolate que ela mesma havia ido
buscar na cozinha. Enfiou alguns na boca, andou até um dos móveis para
buscar uma carta que ele havia recebido aquela tarde.

- Tem certeza que a Ordem desceria até o sul da Inglaterra nessa


velocidade sem ser notada? – ela fez sua voz soar.

- Leia. – ele apenas respondeu.


Então ela pegou a garrafa de vinho aberta e acomodou-se confortavelmente
numa das enormes poltronas próximo a cama. Draco apenas cruzou os braços
atrás de sua cabeça para poder observá-la. Observar o quanto ela não tinha
ideia de como era sexy e do quanto isso a tornava ainda mais sexy. O lençol
solto sobre seu corpo desleixadamente sentado na poltrona, o desenho de uma
perna firme e nua que se apoiava na mesa de centro, a garrafa que segurava
displicentemente. Até mesmo o enorme pergaminho que se estendia até o chão
ajudava a completar todo o figurino. Talvez porque desde Hogwarts ele havia
julgado sexy a figura de Hermione Granger engajada em algum tipo de leitura,
mesmo que naquela época pouco se importasse com ela. Ele sempre se
lembrava da imagem dela lendo algo. Ela parecia se perder tão facilmente. Era
quase tudo do pouco de lembranças que tinha sobre ela em Hogwarts.

Esperou que ela lesse. Era a completa descrição sobre os estranhos eventos e
ataques rápidos e repentinos que aconteciam no sul da Inglaterra juntamente
com o sumiço de comensais da morte. Era uma leitura tediosa, mas ela fazia
com bastante atenção e parecia muito entretida com todo o assunto. Vez ou
outra ela fazia alguma pergunta sobre algum termo que desconhecia e Draco
respondia calmamente. Não esperava mesmo que ela soubesse algumas das
linguagens que eles comumente usavam para descrever um espécie de ataque
ou reação que haviam desenvolvido.

- Isso é ridículo. – ela se levantou. Ainda estava na metade do pergaminho


e ele sentia que haviam se passado horas. – Viagem no tempo é uma suposição
bastante ridícula. – ela comentou ainda com os olhos pregados nas letras,
inclinou apenas levemente a cabeça para poder beber um gole do vinho e
caminhou até ele.

- É apenas uma suposição, Hermione. Você sabe que viagens no tempo é


possível desde que se tenha um Vira-Tempo. – ele disse.
Ela tirou o pergaminho de sua atenção e o encarou.

- Vira-Tempo são confiscados pelo Ministério em todo o território. A Ordem


nunca conseguiria atingir essa dimensão. Eu nunca conseguiria. Não com a
estrutura que eles tem.

Draco notou muito bem que ela se referiu a eles na terceira pessoa. Sabia
muito bem que se isso tivesse sido dito há algum tempo atrás ela teria se
incluído, muito provavelmente usando o pronome “nós”.

- Mas não negue que faz bastante sentido. – ele teve que dizer.

Ela inclinou a cabeça considerando aquilo.


- Talvez. – disse ainda duvidosa. – Um Vira-Tempo é muito impossível.
Talvez eles tenham encontrado uma nova forma de se transportar.

Ele teve que rir enquanto a observava subir na cama novamente, passar a
perna por ele e se sentar em seus quadris.

- Está mesmo sugerindo que eles tenham encontrado uma nova magia para
se transportar? – riu novamente – Tem noção do quanto isso é insano?
Estamos falando de um novo meio de transporte que não seja Flu, Aparatação,
Chave de portal, vassoura, tapete voado ou...

- Eu sei que é bastante louco. – ela o cortou. – Mas você terá que
concordar comigo que é muito mais fácil usar um pouco de criatividade e um
punhado de conhecimento sobre magia do que ter que trabalhar para atingir
uma magia de segurança muito bem consolidada em todo o território da Grã-
Bretanha há anos.

Certo. Ele não podia ir contra ela com aquele argumento. Mesmo que algo
daquele tipo precisasse de anos para ser desenvolvido não podia contestá-la
visto que a Ordem andava usando feitiços e magias que demoravam anos para
serem desenvolvidas.

A viu virar mais um longo gole de vinho, colocar a garrafa na cabeceira ao lado
e tornar a focar-se na leitura. Draco puxou distraidamente o lençol dela.
Contemplou seu belo corpo sentado sobre ele. Tocou seu quadris e desenhou a
lateral de sua cintura com as mãos. Fez o caminho da copa de seus seios
redondos, cheios e de um volume tão proporcional que chegava a perfeição.
Sentiu-se excitado novamente apenas por observar o corpo dela.

Subiu sua mão devagar pela barriga lisa e alva. Se lembrou de quando tinha
um pequeno volume ali, o lugar em que a filha deles havia estado. Se lembrou
de quando faziam sexo aquela época, de como ele havia aprendido a tocar na
barriga dela discretamente e de como ela era linda grávida. A encarou e ela
continuava entretida na leitura. Ela era linda de qualquer forma. Ele suspirou
continuando o caminho com sua mão por entre os seios dela. Encheu sua mão
com um deles. Queria tanto que ela estivesse grávida. Que ainda estivesse
gerando a filha deles. Sabia que ela também tinha o mesmo desejo e
compartilhar aquilo parecia funcionar como uma anestesia para a dor que
sentia quando se deparava com a realidade.

Sentou-se. A cercou pela cintura e fez sua boca tocar a pele do pescoço dela.
Ele gostava de puxar a pele dela, lambê-la para sentir o sabor único, mas ali
apenas pressionou os lábios contra aquele pele macia. Gostava da sensação
que tinha quando a beijava. A sensação de satisfação. Não a satisfação carnal
de possuir o corpo dela, de saciar um desejo que lhe ardia, sexo. Quando
apenas pressionava os lábios contra ela, sentia algo que o satisfazia além do
físico.
Fez o caminho para a mandíbula com sua boca e percebeu que a mão dela
pousou e sua nuca distraidamente enquanto ainda estava entretida com a
leitura. Os dedos dela se moveram por entre os cabelos de sua nuca tão
distraidamente e com tanta calma que ele sentia como se ela estivesse lhe
fazendo alguma espécie de carinho sem perceber. Seus lábios se esticaram
num sorriso discreto ao sentir novamente aquela satisfação que o atingia além
do físico mesmo que não estivesse a beijando.

De repente se viu na necessidade de ter a atenção dela, de ter a boca dela, de


ser notado por ela, mas ela continuava com aquela maldita carta. Usou o calor
de sua respiração contra o ouvido dela, brincou com sua boca ali em todos os
pontos fracos que conhecia. Tomou um de seus seios e a tocou com desejo
tornando a colocar a boca contra seu pescoço. Conseguia sentiu a respiração
dela começar a se tornar expressiva e mais audível. Soube que estava a
afetando quando ela fez um movimento com os quadris quase que de maneira
inconsciente. Ele se sentiu loucamente estimulado ao se lembrar da sensação
de quando ela rebolava e ele estava dentro dela. Aproveitou-se da deixa, subiu
por sua garganta e criou todas as esperança de que logo sentiria a boca dela
contra a sua, de que logo provaria de seu sabor novamente, de que sentiria a
língua quente dela tocar a sua... mas então, a mão que ela tinha em sua nuca
desceu para seu peito com agilidade e o empurrou para baixo fazendo-o deitar
novamente.

- Nunca me interrompa quando eu estiver lendo. – ela foi ríspida embora


claramente mostrasse sinais de que tentava estabilizar a respiração.
Ele se viu loucamente frustrado. Maldita mulher. Mas sorriu. Sorriu porque ela
era ingênua o suficiente para achar que um pedaço de pergaminho pudesse
competir com ele. Hermione sempre insistia em lhe negar atenção quando
queria, talvez porque queria irritá-lo ou talvez apenas porque simplesmente
não queria lhe dar atenção e essa ideia o irritava bastante. Ele nunca permitiria
que uma mulher dissesse “não” a ele. Tirou o pergaminho da mão dela e girou
a colocando debaixo de seu corpo num piscar de olhos. Hermione o olhou
furiosa.

- Eu ainda não terminei! – ela exclamou com raiva, mas sem esconder que
estava surpresa pelo movimento rápido. – Me devolva! Eu quero terminar!

- Cale-se, Hermione. Eu sei o que você realmente quer. – lançou em algum


lugar no chão o pergaminho e enterrou o rosto contra o pescoço dela. Provou o
gosto de sua pele e a ouviu resmungar.

- Pare, Draco! – ela protestou e ele apertou o mamilo de seu seios a


fazendo tropeçar na respiração. – As coisas nem sempre são como e quando
você quer!

Ele aproximou-se do ouvido dela. Soltou sua respiração quente ali enquanto
descia a mão pela barriga lisa, macia, suave, até finalmente enterrar seus
dedos na cavidade úmida do sexo dela. Hermione prendeu o ar contorcendo
discretamente o corpo e afundando as unhas em seu braço.
- Me faça parar, Hermione. – ele soltou. Baixo e grave. – Me prove que
quer que eu pare. – circulou os dedos deixando-a mais molhada.

Ela soluçou puxando o ar e moveu os quadris.

- Merlin... – ela sussurrou entre a respiração. – Eu te odeio!

Draco sorriu e arrastou seus dentes pelo lóbulo da orelha dela antes de voltar
para o pescoço onde provou, mordeu e chupou cada pedaço de pele que ela
tinha. Subiu por sua garganta, beijou toda a linha de seu queixo e a encarou.
Ele estava completamente duro. Não era certo que uma mulher tivesse o poder
de lhe dar tanto desejo assim. Tudo que ele havia feito havia sido apenas tocá-
la.

Afastou as pernas dela e quis ter a visão daquele olhos dourados enquanto
deslizava com muita facilidade e sem pressa para dentro dela. Hermione abriu
a boca como se quisesse puxar o ar, mas não conseguia. Tudo que ela soltou
foi um gemido rouco de puro prazer quando ele foi até o fundo e pressionou os
quadris contra o dela. Ele sentiu os pelos de sua nuca se levantarem. Ela era
tão apertada e tão escorregadia que seu corpo inteiro queimava quando se
sentia dentro dela.

Começou a se movimentar com calma e escondeu o rosto em seu pescoço onde


podia sentir o cheiro dos cabelos dela. Se permitiu ser consumido por todas
aquelas sensações. Ele adorava sexo. Adorava o que ele e Hermione faziam.
Era diferente, mas tinha todo o prazer e toda aquela satisfação que o
preencheria e o faria sorrir na manhã do dia seguinte quando acordasse e a
visse ao seu lado.

- Draco... – seu nome escapou da garganta dela num tom suplicante. As


unhas fincaram em suas costas e ele notou o movimento dos quadris dela. –
Por favor...

Ele aumentou a velocidade percebendo que havia se segurado por tempo


demais. Afastou-se e a encarou. Ela abriu um sorriso de satisfação mostrando
que estava gostando daquilo tanto quanto ele. Hermione era a mulher com o
sorriso mais bonito que ele já havia visto. Ela quase não abria um, não para
ele, não em Brampton Fort. Os dedos dela entraram por seus cabelos e ela
ofegou com aquele sorriso ainda a mostra. Suas costas arquearam apreciando
todo o prazer que sentia e seus olhos se fecharam. Ela gemeu docemente por
entre suas arfadas.
Draco não a queria naquele estado. Eles faziam aquele tipo de sexo pela
manhã. Faziam aquele tipo de sexo quando se encontravam no chuveiro.
Faziam aquele tipo de sexo quando sabiam que tinham que dormir cedo para
acordar cedo no outro dia. Ele iria embora de Brampton Fort no dia seguinte e
não sabia quando teria novamente a chance de voltar para casa. Ele a queria
em um estado muito diferente daquele.

Saiu de dentro dela e escutou um protesto longo. A colocou de bruços, segurou


suas belas nádegas e ela empinou fazendo com que ele pudesse escorregar
novamente para dentro dela. Hermione tentou conter o som que lhe subiu a
garganta, mas não conseguiu. Ele ficava loucamente excitado quando a ouvia
gemer. Era delicioso.

Seus movimento se tornaram rápidos e limitados. Ele enterrou seus dedos no


cabelo dela e usou a boca para brincar com sua orelha enquanto deixava que
ela apreciasse todo o prazer que os envolvia em um estado ainda são.

Enterrou suas mãos no colchão para poder tocar os seios dela mais uma vez
enquanto ainda se movimentava. Os gemidos dela começaram a aparecer com
mais frequência e ele diminuiu a velocidade. O som de sua respiração ofegante
se misturava com o dela. Sentiu os mamilos rígidos de Hermione contra a
palma de suas mãos e moveu-se o mais fundo possível dentro dela. Ela tentou
mover os quadris pedindo por velocidade, mas ele não daria a ela. Desceu sua
mão até tocar o sexo dela novamente e soube que a partir dali ela perderia
completamente a sanidade.
Seus movimentos continuaram mínimos, mas ele pressionou os dedos contra o
clitóris dela. O gemido que ela soltou foi alto e ele bebeu e se deliciou com o
som. Foi fundo com muita paciência e continuou a pressionar. Ela soltou outro
gemido alto e puxou o lençol soltando-o do colchão. Movimentou-se devagar e
ela escondeu o rosto no travesseiro abafando o gemido constante que competia
com sua respiração. Ele a puxou pelos cabelos não deixando que ela abafasse
seus sons. Chupou seu pescoço escutando o próprio som que saiu de sua
garganta quando as paredes delas massagearam seu membro duro dentro dela.
Hermione se contorceu em agonia debaixo de seu corpo e as costas dela
grudadas nele começou a deslizar com o suor de ambos.

As unhas dela enterraram no antebraço da mão que tocava seu sexo. Os


quadris dela levantara e as pernas dela abriram dando a ele mais espaço para
que pudesse entrar completamente dentro dela. A respiração dela estava tão
rápida que ele sabia que ela estava chegando lá. Fez mais um pouco de pressão
e mais um gemido alto veio seguido do som de seu nome. Investiu com mais
velocidade e somente quando ela prendeu a respiração e tencionou
completamente os músculos que ele soube que aquele era o momento dela.
Parou fundo e usou seus dedos para pressioná-la ao máximo. Do ponto que ela
estava ele não precisava fazer mais nada além de esperar. Esperar que a
natureza a levasse lentamente e quase dolorosamente ao êxtase.

O corpo dela inteiro se contorceu e ela ergueu os quadris a um ponto que quase
deixou completamente o colchão. A boca aberta não conseguia puxar nem
soltar ar. Os nós dos dedos que ela usava para segurar o lençol da cama
estavam brancos e então ela soltou um grito agudo seguido de um espasmo
intenso que o obrigou a segurá-la. Não, ela ainda não havia terminado. Se
segurou para não gozar ao perceber o quanto aquilo tudo o afetava mesmo que
não estivesse fazendo nenhum movimento. Continuou a usar os dedos para
fazer pressão. Ela travou tentando puxar o ar novamente. Seu corpo se
contorceu em agonia. A palma da mão dela bateu contra o travesseiro e o
apertou com força. Os olhos dela também se fecharam com força e então mais
um grito e um espasmo. As paredes dela se moveram impiedosamente contra o
membro dele e ele precisou se segurar mais uma vez, mas não conseguiu.
Jorrou para dentro dela ao mesmo tempo que escutava mais um grito agudo
que veio acompanhado da massagem em seu membro e os espasmos do corpo
dela.
Segundos depois um gemido longo escapou da boca dela junto com espasmos
diminutos que aos poucos trouxeram seus músculos para o estado normal e
relaxado. Ele finalmente a deixou deitando-se de costas ao seu lado com a
respiração ofegante. Encarou o teto também escutando a respiração cansada
dela não muito longe da dele. Fechou os olhos por um segundo para se
concentrar em seus batimentos cardíacos e então girou a cabeça para encará-la
ao seu lado.

Hermione tinha um sorriso bobo nos lábios. Os fios de cabelos grudavam no


suor de seu rosto e mesmo assim ela ainda era linda. Ela tinha os olhos
fechados, mas logo os abriu para que ele pudesse ver aquele brilho intenso. No
mesmo segundo que ela colocou os olhos sobre ele um sorriso se esticou em
seus lábios. Era para ele. Naquele momento ele soube que ninguém havia dado
a ela um orgasmo como aquele. Era diferente, ele não havia estocado
freneticamente até ouvi-la gritar, não havia tido nenhum tipo de atrito
constante e louco até que chegassem ao êxtase e ninguém nunca havia dado a
ela nada parecido, ele sabia. Percebeu que sorria de volta.

- Meu Deus... – ela usou de uma voz rouca que morreu por fraqueza.
Fechou os olhos novamente com aquele sorriso bobo nos lábios. – Isso é tão
bom... – disse soltando o ar ainda ofegante. Moveu-se preguiçosamente até
ele, até ter seu corpo sobre o dele. Os dedos dela entraram por seus cabelos
loiros e molhados. – Isso é tão bom... – ela sussurrou sem forças novamente,
dessa vez com a boca grudada em seu ouvido. – Deve ser algum tipo de
pecado...
Ele riu.

- Não se preocupe. Somos casados. – disse.

Ela colocou a língua entre os dentes e riu tão deliciosamente que ele se viu
cerca-la pela cintura não querendo dar a chance de que ela pudesse sair dali.
Deslizou os dedos pela linha de suas costas percebendo a forma como sua mão
se movia devido as curvas femininas que a desenhavam. Soltou o ar satisfeito
por saber que sua respiração estava se assentando.

Hermione afastou-se deixando seu rosto a centímetros do dele. Draco pode


encarar bem seus olhos dourados e o sorriso ainda estampado naqueles lábios
cheios, macios e muito bem desenhados. Ela tocou seu rosto. As mãos úmidas
com o suor dos cabelos que ela havia tocado. Os dedos dela deslizaram por sua
têmpora e ele quis muito entrar dentro da mente dela. Quis saber o que ela
estava pensando. Talvez ela quisesse lhe agradecer pelo que ele havia lhe
dado, mas sabia que ela nunca soltaria um agradecimento por aquilo. Talvez
ela o beijasse ao invés de lhe agradecer. Sim, ele queria que ela o beijasse.

A respiração quente que saia dos lindos lábios entreabertos dela batia contra a
sua. Ela tinha a boca muito perto da dele. Draco quis acabar com aquela
expectativa que havia ali e tentou vencer a pequena distância, mas ela afastou
os lábios quase que imediatamente abrindo um sorriso provocador. Ela estava
mesmo o provocando? Porque se estivesse ele a faria pagar por estar
conseguindo.

Hermione roçou os lábios contra os dele muito pacientemente, como se


estivesse desfrutando de uma maravilhosa sensação. Ele estava tão frustrado
por ter só aquilo, mas ao mesmo tempo não pode negar o quão bom foi sentir
os pelos de seu corpo se arrepiarem quando ela tomou seu lábio inferior entre
os dentes e o fez escorregar por eles. Draco ficou louco com a brincadeira.
Enfiou os dedos por entre os cabelos castanhos molhados. Tentou avançar para
a boca dela mais uma vez, mas ela tornou a se afastar minimamente. Ele não
aguentou. Trocou aquela posição ficando por cima do corpo dela. Não houve
distancia entre seus rostos dessa vez, suas bocas trocaram respirações cheias
de expectativas apenas por alguns segundos antes de Draco sugar o lábios dela
e abrir caminho com sua língua.

O gosto dela o invadiu e Draco provou dele como nunca havia provado antes. O
toque da língua quente de Hermione na sua o fez querer se fundir a ela por
inteiro. Os dedos dela se perderam em seus cabelos e ele sentiu como se
estivesse beijando alguém pela primeira vez na vida. Céus! Ela sabia fazer
aquilo tão bem! Sabia mover os lábios, a língua, sabia respirar na hora certa,
sabia tocá-lo enquanto fazia tudo aquilo, tocá-lo onde ele pudesse ter
consciência de que estava sendo tocado para que tudo fosse parte daquilo, até
mesmo seu toque. Seu toque calmo, cuidadoso, sereno.

Ela cortou o beijo e se afastou. Ele quis capturar a boca dela novamente, mas
ela tocou os lábios dele com os dedos colocando-os entre suas bocas e
impedindo que ele pudesse continuar provando seu sabor. Ele ficaria com
aquela maldita vontade. Encostou sua testa na dela frustrado, mas ao mesmo
tempo sentindo como se o mundo ao redor dele pudesse desmoronar que ele
não se importaria enquanto tivesse o corpo dela ali debaixo do seu, quente,
macio e confortável.
- Draco. – ela usou uma voz rouca e baixa. Ele afastou-se muito pouco
para poder encará-la. – Quem foi sua primeira?

A pergunta o fez se questionar sobre o que ela esteve pensando aquele tempo
para poder fazer exatamente aquela pergunta agora. Franziu o cenho.

- Por que? – indagou ele.

Ela sorriu.

- Responda. – pediu. – É apenas curiosidade.


Ele não sabia se queria responder aquilo. Ninguém sabia quem havia sido sua
primeira. Ninguém nunca nem havia perguntado. A verdade é que naquela
época nem sabia direito o que estava fazendo. Cogitou desconversar, mas
então se deu conta de que nutriu o interesse de fazer a mesma pergunta a ela.

- Pansy. – respondeu por fim. – Era verão. Nós tínhamos treze anos. Não
sabíamos direito o que estávamos fazendo.

Ela ergueu as sobrancelhas um tanto surpresa.

- Treze?! – ela soltou um riso junto com o ar. – Você começou cedo. –
comentou.

- Sei disso. – na verdade não era algo de que ele se orgulhava agora. –
Quem foi seu primeiro? – perguntou.
Ela puxou o ar como se não tivesse calculado que ele rebateria a mesma
pergunta. Abriu a boca para rebater alguma coisa, mas então tornou a fechá-la
sem soltar som nenhum. Desviou os olhos, mordeu o interior da boca torcendo
os lábios, puxou ar novamente e disse:

- Rony. – respondeu. – Tinha dezessete anos. Era fim de outono.

- Se arrepende? – se viu soltar.

- Não. – ela respondeu quase que imediatamente tornando a encará-lo. –


Por que está me perguntando isso?

- A forma como pareceu incomodada ao ter que dizer que foi ele. – disse
Draco. – Você não gostou?
Ela sorriu.

- Digamos que um número quase insignificante de mulheres gostam da


primeira vez, Draco.

- Então você não gostou. – deduziu ele ainda em um tom interrogativo.

Ela suspirou.

- Foi especial. É tudo que importa. Eu o amo. De uma forma diferente


agora, mas o amo. Eu não poderia me arrepender. – foi tudo que ela disse. Um
silêncio perdurou entre eles. Draco continuou a encará-la esperando que ela
contasse a ele qual era o real problema de tudo aquilo. – Isso é tudo que você
vai ter, Draco! – ela sorriu quando o viu com um olhar insistente.

Ele sorriu de volta não querendo insistir em nada muito particular visto que ela
poderia querer pagar na mesma moeda e fazê-lo soltar qualquer coisa sobre
sua vida que não queria. Saiu de cima dela deitando-se de costas ao seu lado.
Ela se sentou jogando as pernas para fora da cama, esticou a coluna e fez
aquela cascata de camada de ondas castanhas tampar suas costas. Suspirou e
puxou o lençol para cobrir-se. Fixou-se em um ponto no horizonte e deixou o
silêncio os consumir. Draco sabia que a mente dela trabalhava. Parecia remoer
alguma lembrança. Então ela tornou a abrir a boca:

- Rony pode ser bem estúpido as vezes. – usava uma voz baixa. – No dia
seguinte ele parecia querer fazer as outras pessoas saberem sobre o que
havíamos tido na noite anterior. Como se ele quisesse provar que eu era
definitivamente dele de alguma maneira. Principalmente a Harry. Nunca
entendi exatamente o porque. Nós brigamos e terminamos. Foi um tanto
decepcionante. Mas eu deveria ter previsto algo do tipo vindo dele. Você pode
esperar algo idiota vindo de Rony quando ele se anima demais. Claro que hoje
ele é uma pessoa um pouco diferente. A guerra mudou um pouco de todos nós.
Mas quando tínhamos aquela idade... – ela suspirou. – Não importa. – finalizou.

- Me parece que você ainda nutre algum tipo de sentimento por ele. –
Draco comentou se aproveitando de como ela havia aberto o assunto.

- Sim. Eu nutro. – ela o olhou por cima dos ombros. – Eu o chamo de


decepção.

- Por isso se envolveu com Potter? – ele jogou verde.


Ela claramente notou o que ele realmente queria confirmar com aquela simples
pergunta, mas pareceu não se importar. Pegou a garrafa de vinho que havia
deixado na cabeceira e tomou um gole do líquido.

- Talvez. – respondeu. – Mas não havia nenhum senso vingativo em mim


quanto a Rony quando me envolvi com Harry. Não sou esse tipo de pessoa.
Mas não posso ser cínica ao ponto de dizer que o que ele fez não influenciou
em nada para que eu me permitisse ficar com Harry. – ela soltou o ar. – A
verdade é que Harry se provou fazer mais bem a mim do que Rony. Mas nem
por causa disso nosso envolvimento deixou de ser errado. Nossas intenções e
interesses um com o outro eram diferentes e isso nos fez sermos injustos um
com o outro. – Ela suspirou e tornou a deixar a garrafa sobre a cabeceira. –
Mas isso também não importa. Nada disso mais importa. Fui obrigada a colocar
tudo isso no passado. – se levantou. – Sei que agora vivo outra realidade.

- Então não se cubra para mim nessa nova realidade. – ele puxou o lençol
dela tentando usar um tom mais descontraído. Ela soltou uma exclamação
surpresa e estreitou os olhos para ele quando o lençol foi lançado para o outro
lado do quarto. – Gosto de vê-la assim.

- Eu não te daria o prazer! – ela sorriu puxando a blusa dele que estava
logo ao lado. A vestiu não se importando em fechar os botões. Puxou a jarra de
chocolate, colocou alguns na boca e subiu no colchão sentando-se na outra
extremidade da cama. Apoiou as costas contra um dos dosséis, acomodou a
jarra entre as pernas e o encarou. – E quanto a você?

Ele ergueu uma sobrancelha.

- O que tem eu? – indagou entendendo o braço e puxando a jarra das


pernas dela. Acomodou um braço atrás de sua cabeça como apoio e enfiou o
outro na jarra para pegar um chocolate e enfiá-lo na boca. – Quer mesmo
saber sobre meus envolvimentos, Hermione? – encarou aqueles olhos curiosos
que dividia a cama com ele.

- Pensei que tivéssemos combinado sobre não guardarmos segredos um do


outro. – ela comentou.

Ele riu fracamente sabendo que haviam mesmo concordado sobre aquilo. Sabia
que nenhum deles iria cumprir sua palavra com relação a aquele pequeno
acordo.
- Não há nenhum mistério nos meus envolvimentos. – optou por dizer. - O
processo é quase sempre o mesmo para cada mulher. Eu as acho bonita, as
encaro, elas vem até mim, eu as levo para cama e fim. – concluiu, pegou mais
um pedaço de chocolate e o colocou na boca.

- E quanto a Astoria Greengrass? – ela soltou e ele foi obrigado a sorrir não
acreditando que ela estava mesmo querendo discutir sobre aquilo.

- Astoria foi um experimento fracassado. – foi tudo que ele disse.

Ela continuava a encará-lo com aqueles olhos curiosos. Cruzou os braços não
parecendo muito satisfeita com as respostas que recebia.

- E Parkinson?
Ele deixou o sorriso se dissipar ao perceber que não sabia responder aquele
questionamento. Pegou um pedaço de chocolate da jarra e analisou o formato
entre seus dedos por alguns segundo.

- Pansy é um mistério. – foi a conclusão que conseguiu chegar. Colocou o


pedaço dentro da boca e tornou encarou os olhos de Hermione.

- Você a ama? – ela perguntou depois de um longo minuto em silêncio e ele


se viu sorrir ao escutar aquilo.

- Acredito que eu saberia se a amasse. – respondeu.

- Ela é importante para você?

Ele ponderou aquele questionamento.


- De uma forma bastante exótica... sim. – se viu obrigado a admitir.

- Então você a ama. – concluiu Hermione.

Ele ergueu a sobrancelha novamente e sorriu.

- O que é o amor pra você, Hermione? Você parece ter o dom de banaliza-
lo tão facilmente.

- Existem várias formas diferentes de se amar, Draco. – justificou ela. – E


afinal o que você sabe sobre amor?! – ela soltou como se quisesse dizer que ele
não tinha o direito de falar sobre algo que não deveria conhecer.
Ele estreitou os olhos não acreditando que ela pudesse julgá-lo como alguém
tão alheio a esse tipo de assunto.

- Amor é um mistério. É uma dimensão que a raça humana ainda não


conseguiu dominar e manipular. É forte o suficiente para motivar ações não
pensadas. Forte o suficiente para atravessar o tempo e o espaço. Forte o
suficiente para te fazer feliz quando a pessoa que ama está feliz. – o olhar que
ela lançou sobre ele estava silencioso agora. – Me parece algo bastante especial
e poderoso demais para ser distribuído ou consumido por aí sem moderação. –
ajustou sua posição não muito contente por ter que andar sobre aquele
terreno. – Não sou uma pessoa sentimental, Hermione, mas não é por causa
disso que sou ignorante a algo que nos faz tão humanos.

O silêncio que o seguiu deu a ele como único entretenimento o olhar dela.
Hermione o encarava com um olhar indecifrável e em um determinado
momento seus lábios esticaram em um fino e discreto sorriso.

- Você é uma pessoa interessante, Draco Malfoy. – foi tudo que ela
comentou.

Hermione levantou saindo da cama, deu a volta para buscar o pergaminho que
estivera lendo antes e precisou de tempo para finalizá-lo por completo
enquanto caminhava pelo quarto. Draco era obrigado a confessar que a visão
dela com nada mais que sua blusa e os pés descalços era extremamente
tentadora. A observou quando ela deixou o pergaminho de lado, caminhou até
a mesa onde haviam aberto um enorme mapa da Grã-Bretanha mais cedo, a
viu apoiar as mãos nas extremidades da mesa, se inclinar e analisar as
informações ali.

- Estudou o que eu pedi para que estudasse sobre a Ordem de Merlin? – ela
fez sua voz soar finalmente.

- Acaso eu pareço alguém que tem tempo para se enfiar em uma biblioteca
ultimamente, Hermione?

Ela ergueu os olhos para ele de onde estava.

- Eu disse que está diretamente ligado ao véu. Pensei que lhe interessasse
saber o que é.

- Por que você simplesmente não me diz o que é nós trabalhamos em cima
disso?
Ela puxou o ar buscando paciência e tornou a voltar sua atenção para o mapa.

- Primeiro que nós não podemos trabalhar em cima de nada do véu.


Teríamos que tê-lo. Segundo que eu já disse que não posso simplesmente lhe
dizer o que é. Você não acreditaria.

- Não acha que já tenho provas o suficiente para acreditar no que quer que
seja?!

- Draco, não é assim tão simples. Nem mesmo eu sei se o que sei sobre o
véu é o que ele realmente é.

- Por isso quer que eu estude? Para que eu me convença da sua convicção
da mesma forma como você se convenceu dela? Foi assim que mostrou a
Ordem da Fênix que eles deveriam roubar o véu? Colocou todos para estudar?
- Cale-se, Malfoy. – ela só usava seu sobrenome quando estava realmente
aborrecida e ele achava injusto que não podia fazer o mesmo. – Eu sacrifiquei
muito para que a Ordem colocasse as mãos naquele véu.

- Mesmo não tendo total certeza sobre o que ele era?

- Ele era nossa última esperança, Draco! – ela ergueu os olhos para ele
novamente mostrando o que a ferida do sacrifício que fizera ainda não havia
sido totalmente cicatrizada. Draco parou porque não gostava quando ela se
referia a Ordem e se incluía no meio. Hermione suspirou, desviou o olhar,
mexeu nos cabelos inquieta e tornou a abrir a boca, dessa vez usando um tom
de voz mais suave. – Sei que realmente não tem tido tempo. Sei que faz muito
mais sentido que eu lhe diga o que é. Sei que estou sendo incompreensiva,
mas é que realmente irá soar idiota se eu simplesmente lhe disser minhas
conclusões sobre o véu.

- Eu acredito bastante no seu cérebro. Não vou te julgar. – ele se sentou.


Ela soltou um riso fraco e não muito contente, abaixou os olhos para o mapa,
mas não o analisou.

- Harry e Rony disseram a mesma coisa. - a forma como ela usou as


palavras deu a entender que eles não haviam sim a julgado.

- Eu não sou seus amigos, Hermione. – ele optou por dizer. Ela o encarou
de volta de uma forma diferente.

O silêncio durou entre eles por alguns minutos até que Hermione finalmente
começasse:

- Me diga sabe sobre a Ordem de Merlin.

Draco precisou de um tempo para juntar as informações que tinha.


- O que sei é o que todos sabem. O que estudamos em Hogwarts. Foi
fundada por Merlin e mais um grupo de bruxos com o intuito de criar leis
protetoras aos trouxas. Hoje é apenas um título dado a bruxos que alcançam
grandes conquistas. – ele disse.

- Me diga o que sabe sobre o véu. – pediu ela.

- Não muito. Quase ninguém sabe muito sobre o que é. Nem mesmo os
Inomináveis. O véu simplesmente estava lá antes mesmo do Ministério existir.
Alguns historiadores dizem que era um instrumento usado para pena de morte
no passado, outros dizem que é um portal mal desenvolvido que gerou uma
magia irreversível. A verdade é que ninguém teve muito interesse em estuda-lo
visto que a maioria dos bruxos que tentaram acabaram sendo tragados pela
tentadora vontade de atravessá-lo. Dizem que te leva a loucura estudar a
magia do véu.

- Mentira. – ela disse muito convicta de suas palavras. – É tudo mentira. –


ela repetiu. – Tudo o que sabe sobre a Ordem de Merlin e sobre o véu são
mentiras que tomaram consistência por servirem como justificativas plausíveis,
maquiadas, bonitas no passado e acabaram entrando para história. O véu
nunca esteve naquele lugar antes mesmo do Ministério existir. A Ordem de
Merlin não foi fundada por Merlin...
- Como pode defender isso com tanta convicção? – ele a cortou. – Está
andando na contramão da história, Hermione.

Ela soltou o ar como se já esperasse por isso.

- Eu costumava comentar com Dumbledore que tinha o fantasioso sonho de


receber algum título da Ordem de Merlin. Eu queria que meu nome fizesse
parte da história. Dumbledore costumava me dizer que é sempre uma honra
conquistar algo bom e grandioso, mas também sempre acrescentava que não
sabia se era uma benção ou uma maldição carregar as consequências daquele
título. Por muito tempo eu pensei que ele estivesse se referindo a como as
pessoas sempre esperam que você seja extraordinário o tempo inteiro depois
de receber uma premiação como a que ele recebeu, mas a verdade é que ele se
referia ao segredo que todo honrado da primeira classe é jurado a carregar
debaixo de uma espécie avançada de voto perpétuo.

Draco uniu as sobrancelhas um tanto confuso. Sentou-se de modo a fazer seus


pés tocarem o mármore frio e encarou as própria mãos enquanto processava
novamente tudo que ela havia dito.
- Como você poderia saber disso? – finalmente perguntou

Ela trocou o peso do corpo de perna parecendo tentar encontrar a melhor


forma de dizer aquilo, puxou ar e continuou:

- Dumbledore sabia que iria morrer e o segredo morreria com ele visto que
era o único vivo que carregava o título de primeira classe. Ele quebrou seu voto
deixando uma carta para mim, talvez por saber que iria morrer de qualquer
forma. Dumbledore não foi específico, nem direto. Era um discurso sobre como
eu deveria ser confiante, corajosa e sempre comprometida em combater a
força das trevas. De que dias obscuros viriam, de que o medo tomaria conta de
boa parte do dia e da noite, de que o desejo de se corromper poderia se tornar
forte. – ela gesticulou - Ele usou palavras bonitas, encorajadoras, palavras que
me seguiram por muito tempo. Mas o que me trouxe muita curiosidade, foi que
no final, havia um paragrafo escrito com uma tinta quase imperceptivelmente
diferente. Como se tivesse sido adicionado bem depois. Nesse paragrafo ele
dizia, sem ligação nenhuma com as palavras do resto do texto, que se um dia
eu viesse a ser honrada com o título de primeira classe pela Ordem de Merlin,
eu deveria ser bem consciente dos segredos que ele carregava. Disse que
acreditava que eu era capacitada o suficiente para encontrá-los e carrega-los
comigo e terminou dizendo que se a Ordem de Merlin tivesse sido o que
originalmente era, talvez hoje nós carregássemos conhecimentos além de
qualquer coisa compreensível. E... – ela pausou. Sorriu discretamente. –
Dumbledore me conhecia. Ele sabia que aquilo me perseguiria mesmo que eu
não soubesse do que se tratava. Não é muito sábio que se coloque um enigma
desse com promessa de conhecimento no meio e me entregue sem que eu
tenha a chance de perguntar o “por que”. Ele sabia que eu dedicaria minha vida
a isso e eu dediquei. Por anos eu pesquisei sobre a primeira classe, sobre a
Ordem de Merlin, sobre tudo que o envolvia e eu sempre me deparava com a
mesma história contada de inúmeras formas até que eu pudesse perceber que
não encontraria nada revelador em livros de história. Comecei a ler sobre
Merlin. Pesquisei tudo que havia sobre ele. Li sobre cada homem e mulher que
recebeu as honras da primeira classe desde que a Ordem de Merlin deixou de
ser uma organização e com todas as informações que consegui montei um
quebra-cabeça cheio de espaços em branco. Espaços que somente com o
passar dos dias, dos anos, foram por si só se preenchendo até que enfim, um
dia, eu conseguisse finalmente chegar a conclusão que... – ela o encarou
sorrindo um tanto satisfeita – A Ordem de Merlin nunca surgiu como dedicatória
ao bruxo. Tudo que a história conta é distorcido. Merlin e um grupo de
alquimistas criaram a Ordem e eles eram dedicados ao estudo de magia vinte e
quatro horas por dia. No entanto naquela época trouxas e bruxos trabalhavam
juntos e os alquimistas de Merlin alcançaram um patamar de conhecimento tão
elevado, eles eram capazes de manipular e trabalhar com tudo de forma tão
perfeita e com tanta maestria que todos, até mesmo os bruxos, começaram a
se sentir ameaçados. Merlin e seus alquimistas passaram a ser conhecidos
como a Ordem de Merlin provavelmente quando a perseguição começou e
talvez devido a ela tanto do trabalho deles foi perdido.

- Que relação isso tem com o véu? – Draco perguntou.

- O véu foi apenas um dos elementos onde eles esconderam o


conhecimento que haviam adquirido. Na verdade não o véu. O arco. O véu é
apenas uma proteção, uma distração poderosa, para qualquer pessoa que tiver
a curiosidade de se aproximar. – ela deu a volta na mesa, encostou-se nela e
cruzou os braços. – Obviamente que a história se distorceu. Foi uma guerra
rápida e muito eficiente de bruxos se unindo com trouxas para destruírem
bruxos. Isso não soava muito bem para ensinar nas escolas de magia e
bruxaria visto que na época havia uma segregação grande entre de bruxos e
trouxas, não seria interessante mostrar que eles podiam ser aliados. Merlin foi
vencido, ou talvez ele mesmo tenha calculado que se deixar ser vencido seria
melhor. Ele era sábio. Ele sabia onde seu conhecimento tinha chegado, ele
sabia o poder que tinha e talvez tivesse medo que esse poder fosse passado.
Passado e ensinado para pessoas que não fariam nada de bom com ele. – ela
suspirou. – Quanto ao Ministério. Conta-se que o arco já estava lá quando o
Ministério se instalou, mas Kingsley me assegurou que todos os artefatos do
Departamento de Mistérios foram tragos de fora. Ele era muito próximo de um
dos antigos inomináveis que Voldemort tratou de matar pessoalmente um por
um, para poder substituí-los.

- Sim, Voldemort fez questão de mata-los pessoalmente. Acha que ele sabe
algo sobre isso tudo? – Draco perguntou acompanhando perfeitamente o
raciocínio dela.
Hermione deu de ombros.

- Não sei. – ela soltou. – Acredito que não. Realmente acredito que não,
porque o segredo é passado somente para alguém que recebe a honra da
primeira classe da Ordem de Merlin. Veja a história. Olhe os homens e
mulheres que carregaram o título de primeira classe todos esses anos. Sempre
havia um entre eles que era grande, poderoso e influente. Eu não sei se há
algum tipo de mágica, algum feitiço, mas eu sei que esse conhecimento é
passado somente entre eles. - Ela concluiu. O silêncio os cobriu. Os segundos
passaram devagar e foi quase um minuto inteiro que se passou e ele não
comentou nada. Hermione soltou o ar parecendo um tanto agoniada com isso.
Revirou os olhos e tornou a fazer sua voz soar. – Certo! Eu sei! – ela exclamou.
– É uma história cheia de falhas, de buracos, de suposições, mas eu juro,
Draco, que passei anos estudando sobre isso. Eu juro que fiquei dias trancada
no meu quarto, com pilhas e mais pilhas de livros, jornais, pergaminhos, cartas
antigas, cópia de arquivos oficiais. Eu juro! Essa foi a minha conclusão, mas o
que quer que seja o arco e o véu, a Ordem esta conseguindo formas de extrair
o poder contido nele. Devagar e com dificuldade, eu posso pressentir, mas o
suficiente para causar o estrago que está causando.

- E por isso eu acredito em você. – ele piscou e a encarou.


O olhar dela quase se tornou um grato. Ele imaginou que convencer a Ordem
da Fênix de tudo aquilo que ela havia acabado de lhe dizer havia sido um
trabalho duro. A viu abrir um sorriso discreto e desviar o olhar.

- Seja o que for, estou trabalhando com sua comissão. Eles são bons, mas
poderiam ser bem melhores. – levantou as mãos em sinal de paz quando Draco
tomou ar, mas ela não lhe deu chance de falar. – Ok! Prometo tomar cuidado
para separar os mais confiáveis dos fiéis a Voldemort. – ele sorriu em resposta
e se levantou. Ela mordeu os lábios quando o viu caminha até ela. – E eu me
odeio por ter que confessar o quanto te ver assim me faz tão fraca.

Ele teve que rir. Passou seus braços pela cintura dela e aproximou bem seu
rosto para poder sentir o delicioso cheiro de rosas que sempre ficava
impregnado em sua pele.

- Eu adoro saber que te deixo fraca. – murmurou procurando pela


respiração que saia da boca entreaberta dela.

- Sei disso. – ela usou o mesmo tom de voz, aproximou-se e deixou que o
lábio inferior dele escorregasse por entre seus dentes mais uma vez. – Mas não
pense que é o único que tem poder aqui. – disse e o tocou. O tocou com aquela
propriedade que ela tinha, com aquelas mãos macias, do jeito exato que o faria
reagir com muita rapidez.
Ele logo enterrou seu rosto contra o pescoço dela sentindo a vibração em sua
garganta o entregar. Sorriu.

- E eu odeio ter que confessar que adoro quando faz isso. – encarou
aqueles olhos dourados, olhos que ele mal conseguia decifrar a maioria das
vezes. Nunca havia se interessado pelos olhos de uma mulher tanto quanto os
dela.

- Pelo menos há algo que gostamos um no outro. – ela disse e ele teve que
rir.

- Sexo? – Riu e sentiu a necessidade de puxar mais oxigênio para seu


pulmão quando ela trabalhou bem com os dedos. – Bem superficial, não acha?

Foi a vez dela rir.


- Ainda estamos trabalhando na parte profunda do nosso relacionamento,
Draco. – ela disse num tom sedutor o massageando deliciosamente. – Acredito
estarmos lidando muito bem com a parte superficial...

- ...já faz um bom tempo. – ele completou já cansado de toda aquela


falação. Tomou aquela boca com vontade, a segurou pelas pernas e a colocou
sobre a mesa. A teria quantas vezes quisesse. Ela era dele e ele adorava isso.

Batidas na porta chamaram sua atenção e ele se sentou e pediu para quem
quer que fosse que entrasse. Uma mulher loira e de rosto fino passou para o
lado de dentro acompanhada de um moreno alto. Chefes de acampamento.
Draco encarou ambos com os cotovelos em cada joelho ainda de sua cama.

- Sua mulher e sua mãe enviaram corujas essa manhã. – a mulher falou
estendendo dois pedaços de pergaminho dobrados e selados com o brasão de
sua família.
Draco pegou informando um agradecimento silencioso apenas com um aceno
de cabeça.

- Foi um prazer poder trabalharmos juntos novamente, general. – o


moreno disse enfiando as mãos no bolso de sua capa de comensal. – É
realmente uma pena que esteja indo embora amanhã.

- Não para mim. – Draco sorriu um sorriso sincero. – Quero ir para casa.

O homem riu suavemente.

- Entendo. – disse – Apenas vim informar que acabamos de receber a


confirmação da Catedral para sua chave de portal amanhã logo após seu
pronunciamento. Sua secretaria mandou uma nota dizendo que se quiser trocar
o horário deve contatá-la antes da meia noite. – Draco assentiu. – Sei que
estivemos trabalhando duro esses últimos dias, mas agora que tudo está de
volta ao normal preciso dizer que foi uma honra tê-lo conosco. Posso dizer em
nome de todas as zonas primárias do acampamento. Muitos deles nunca
haviam trabalhado de forma tão direta assim com a zona sete. Acredito que
isso acendeu uma onda de entusiasmo por todo o acampamento, como nos
velhos tempos. Quando a guerra era mais intensa.
- Entendo. – Draco disse. – Pelo menos algo bom veio disso tudo. Acredito
que vamos precisar dessas entusiasmo para os próximos meses. Vamos
começar a movimentar as zonas como mais frequência como antes. Quero dar
um fim a essa guerra de uma vez. As pessoas precisam de normalidade e
tranquilidade novamente. Todos nós precisamos. – fez seu papel. Sabia que
aquela sua pequena frase se espalharia na boca de muitos e seria amado,
ganharia poder e influência. Exatamente como queria, exatamente como
precisava.

O moreno assentiu, fez uma pequena reverencia e deu as costas saindo do


quarto. A mulher não o acompanhou. Draco ficou a encarando como se
esperasse que ela dissesse o que queria de uma vez e talvez estivesse sendo
intimidador porque ela logo começou a ficar sem graça.

- Se precisar de alguma coisa, me deixei saber. – foi o que ela disse.


Colocou os cabelos para trás das orelhas, deu as costas e deixou o quarto.
Draco soltou um riso fraco achando engraçado o modo como as mulheres se
comportavam a sua volta. Mas talvez algum dia em sua vida tenha insinuado
que gostaria de leva-la para cama, então não a culpava inteiramente.

Levantou-se, tirou sua capa, sua blusa e os sapatos. Usou a varinha para
inspecionar as magias de segurança e reforçar algumas de privacidade naquele
lugar novo onde passaria a noite e primeiro se focou na carta de sua mãe. Ela
reclamava sobre todos os compromissos que Hermione estava precisando
atender sozinha e sobre como isso era ruim para a imagem da família. Mas
mesmo depois de todas as palavras objetivas e racionais que sua mãe sempre
usava, ela perguntava se ele estava bem, e então ele sorria porque sabia que
ela queria ter feito aquela pergunta antes de todas as outras, mas havia a
deixado por último porque era uma Malfoy e era assim que deveria agir.

Respondeu cuidadosamente, mesmo que soubesse que a encontraria no dia


seguinte. Estava grato que sua mãe estivesse cuidando dos compromissos de
Hermione, mas sabia que Hermione conseguia ser esperta para atende-los
sozinha e fazer seu papel de esposa preocupada porque o marido cuidava da
segurança do restante do mundo em tempos perigosos como aquele.

Preparou-se da maneira mais confortável possível na cama antes de abrir a


carta de Hermione. Ela conhecia uma forma interessante e segura para se
comunicar. Somente ele poderia quebrar o selo e o pergaminho sempre estava
em branco. Draco acenou com a varinha em direção ao pergaminho assim que
quebrou o selo, cruzou os braços atrás de sua cabeça como apoio, fechou os
olhos, soltou a respiração e quando escutou a voz dela soar pelo quarto foi
como estar em casa.

“Acredito ter uma teoria sobre o porque a Ordem está capturando comensais.
Sei que a forma como nos comunicamos é bastante segura, mas não vejo a
necessidade de arriscar nem mesmo debaixo dessa segurança. Também
acredito ter encontrado uma forma de quebrar a nova magia que a Ordem vem
usando nos ataques. Vamos testar amanhã, então se conseguirmos sucesso
vou precisar da sua autorização para começarem a treinar quem estiver no
quartel. Procure não me boicotar dessa vez, querido. Eu sei o que estou
fazendo. Tenha mais um pouco de confiança. Não vou roubar seus homens. O
exército continua sendo seu.” Houve uma pausa onde ele só sabia que a
mensagem não havia terminado porque podia escutar o som da respiração dela
muito distante, quase inaudível. “Volte para casa.” Ela concluiu e ele soube que
aquilo era tudo que ela tinha para dizer.
Eu vou. Sorriu. Tudo que queria era estar em casa. Pediu para que a
mensagem fosse tocada novamente e céus, como era bom ouvir a voz dela. O
fazia sentir como se estivesse em seu escritório, com um bom copo de whisky
na mão a vendo andar de um lado para o outro sobre seu salto enquanto falava
tudo aquilo. Draco respondeu mesmo sabendo que estaria em casa no dia
seguinte, ela receberia a carta logo pela manhã e ele ainda estaria preso a um
discurso aquele horário.

“Sem truques dessa vez, querida. Não me importo que esteja encontrando uma
forma de ser útil. Pelo contrário. Sem ressentimentos. E sei que talvez deva
estar aproveitando ter a cama só para você, mas sabe que a sorte não irá durar
por muito tempo.” Concluiu, selou o pergaminho e o mandou de volta junto
com o de sua mãe.

**

Seu discurso foi encorajador e um tanto ousado, mas ele sentia que podia
arriscar. Aquelas pessoas acreditavam que estavam seguras com o exército
dele ali. Que enquanto Draco Malfoy estivesse liderando aqueles homens e
ditando ordens, eles estariam seguros de qualquer ataque da Ordem. A Ordem
havia se tornado um inimigo. Invadiam suas casas procurando por apoio e
pagavam qualquer preço para ter controle do território, mantê-lo longe de
comensais, e era dessa forma que os inocentes pagavam, porque comensais
não poupavam quem apoiava rebeldes e quem estava no poder eram os
comensais. Era mais seguro estar do lado de quem tinha o controle, o poder, a
influência. Draco Malfoy era a resposta deles, porque Voldemort estava muito
ocupado sentado em seu trono, no átrio principal da Catedral, torturando e
matando por divertimento junto com seu ciclo interno.

Tinha uma chave de portal marcada para logo após seu discurso, mas como
sempre, em tempos instáveis como aquele, teve que tomar um rumo diferente
para atender um chamado que vinha negligenciando há um tempo por priorizar
apenas regiões sob ataque nos últimos meses. Pelo menos não teve que deixar
o Reino Unido. Em Manchester, uma das comunidades bruxas mais influentes
da área estavam pedindo por reforços na segurança alegando vários grupos de
apoio aos rebeldes dentro da comunidade. Draco teve que lidar com aquilo, o
que lhe consumiu tempo. Foi capaz de pegar sua chave de porta já era quase
fim de tarde.

Passou por todos as etapas de segurança assim que apareceu na entrada sul de
Brampton Fort e quando saiu da área de retenção na muralha encontrou a
aterrorizante imprensa do lado de fora com suas máquinas fotográficas e suas
insuportáveis perguntas lançadas ao ar, uma mais alta que a outra, como se
ele fosse parar para dar atenção. Não tinha paciência, não agora. Estava grato
apenas por ver sua mãe o esperando. Ela quase não se dava ao luxo de
demonstrar tanto afeto assim em público.

- Você me deixou a beira de um ataque quando fui informada que pegou


uma Chave de Portal para Manchester! – Narcisa protestou assim que ele a
alcançou ignorando a imprensa gritando seu nome. – Confirmei sua presença
no evento de hoje assim que recebi sua carta de manhã.
- Não era necessário a preocupação. Eu estava tão louco para voltar para
casa, quanto você para me ter nos seus adoráveis eventos. – ele disse a
apressando para seguirem na direção onde suas carruagens estavam
estacionadas. – Onde está Hermione?

Ele ergueu uma sobrancelha para ele de modo divertido.

- Não estava esperando que ela viesse te receber, estava?

Ele riu.

- Eu sei com quem sou casado, mãe. Só quero saber onde ela está.
- Não Catedral, como sempre. Ela parece acampar naquele lugar. –
respondeu sua mãe. – Não gosto disso.

- Não gosta que ela seja útil para coisas realmente uteis? – ele sorriu para
ela. – Desista, mãe. Hermione não é o tipo de mulher que você sonhou como
nora a vida inteira.

Ela suspirou e parou antes de entrar em sua carruagem assim que a porta foi
aberta.

- Eu sei que você acabou de voltar das férias com seus amiguinhos de
guerra. Vou apenas te lembrar que desse lado da muralha nós ainda presamos
pelo senso da honestidade com moderação, obrigada.

Ele revirou os olhos.

- Não espere por nenhum pedido de desculpas.


- Sou uma Malfoy há tempo suficiente para já saber disso. – ela ficou
sorrindo para ele por um segundo. Havia satisfação no brilho daqueles olhos. –
É bom te ter de volta. Realmente fiquei preocupada com você dessa vez. Eles
estão pegando pesado. – ela foi amorosa de seu próprio jeito Malfoy ao dizer
aquilo. – Quanto tempo acha que vai poder ficar aqui?

Ele deu de ombros.

- Não sei. Talvez de três a quatro dias, espero. Tempos incertos


novamente. Acostume-se. – respondeu.

Ela assentiu.

- Vá para casa, descanse durante o pouco de tempo que ainda tem e, pelo
amor de Merlin, seja pontual hoje a noite. – ela falou.
Draco apenas assentiu, beijou a testa de sua mãe, deu as costas e seguiu para
sua carruagem que o esperava.

- Catedral. – lançou a direção, entrou e bateu a porta.

**

O quartel estava mais movimentado do que nunca com as novas escalas de


circulação de equipe onde os grupos de fora voltavam com frequência para
receberem atualizações em seus treinos. Draco seguia direto para a zona sete
onde havia sido informado que Hermione estava conduzindo uma simulação.
Assim que entrou no mezanino do ginásio de simulação encontrou o cenário
montado e todos em seus postos observando o chão abaixo deles. Ele procurou
por Hermione e não a viu ali. Aproximou-se e passou os olhos por toda a
equipe, mas continuou a não encontra-la.
- É bom ver que continua vivo. – comentou um de seus colegas assim que
o viu. – Chegou na hora do show.

- Onde está Hermione? – ele logo perguntou. O homem apenas apontou


com a cabeça em direção a simulação abaixo deles. – Ela está na simulação? –
seu coração acelerou e ele aproximou-se do vidro. Viu Hermione de costas, seu
vestido rodado, o salto e a varinha em mãos. Ela não estava nem mesmo
vestida apropriadamente. – Desligue. – foi sua primeira ordem e seu tom não
foi amigável. Ninguém desligou. – Eu disse para desligarem!

- Senhor, nós já ativamos a formação da magia. – Era um dos chefes da


comissão, Corey Brant.

- Eu quero que ela saia dali agora! – Draco sabia que não tinha como parar
naquele ponto e não se importou em aumentar o tom de voz. – Por que ela
está ali sozinha? Mande ela sair! Abra os microfones! Ela tem que sair!

- Senhor, nós já tentamos convencê-la de parar de fazer isso, mas ela é


bastante insistente. – O chefe da comissão tornou a se pronunciar.
Ele tinha milhões de palavras para gritar para toda aquela equipe, mas todas
elas travaram em sua garganta assim que visualizou a magia tomar forma ao
redor dela. Ele conhecia qual magia era aquela. Nem mesmo a Ordem usava
com frequência pois não conseguia dominá-la propriamente.

- Chega, eu vou descer! – Draco soltou sentindo que poderia suar frio ali ao
vê-la estender a mão com uma coragem e prepotência, mostrando todo o
interesse de enfrentar o ataque que receberia sozinha.

- Não pode. – uma mulher foi quem disse. – Nós arrumamos o cenário
apenas para um.

- Senhor, nós ligamos sua voz. – mais um deles informou.

Draco puxou sua varinha quase que imediatamente e a colocou contra a


garganta.
- Hermione! – a chamou. – Saia daí agora!

- Draco? – a voz dela soou pelo mezanino como se ela estivesse ali entre
eles. – Não é o melhor momento para dizermos “oi” um para o outro. Corey,
corte o microfone, por favor. – ela pediu ao chefe da comissão.

Desde quando ela tratava aqueles homens pelo primeiro nome?

- Hermione, você vai sair daí exatamente agor... – ele se calou ao ver que
sua voz havia sido cortada. Encarou Corey Brant quase que no mesmo instante.
Não pensou duas vezes e avançou contra o homem, e parece que todos os
outros tentaram segurá-lo. – COMO TEVE CORAGEM DE COLOCAR MINHA
MULHER EM UMA SIMULAÇÃO? ELA NÃO É NEM MESMO TREINADA!

- GENERAL, POR FAVOR! – Brant se manifestou no mesmo tom, mas


segurando seu ar de medo, intimidado pelo poder de Draco contra ele. – Eu sei
que está apenas protegendo sua mulher, mas acredite, nenhum outro homem
da zona sete poderia conseguir entender no que viemos trabalhando todo esse
tempo com as equações da nova magia! Ela vai ficar bem! Nós temos controle
sobre a simulação!
Draco se calou e deixou de prestar atenção no que quer que ele tivesse dito
assim que escutou a palavra “proteger”. Ele nunca quis proteger Hermione. A
palavra lhe bateu como um balde de água fria. Por que estava se preocupando
com ela? Desde quando havia se preocupado com ela? Não deveria se importar,
não daquela forma. Sentiu-se patético. O que havia acontecido com ele? A
encarou pelo vidro. Ela estava construindo campos de força para enclausurar as
coisas que tomavam vida ao seu redor tentando destruí-la. Quão estúpido ele
era por pensar que Hermione era uma donzela indefesa em perigo? Ela era
Hermione Granger, sempre havia sido, por mais que tivesse seu sobrenome
agora, e vê-la ali o fazia se lembrar da mulher que andava na linha de frente da
Ordem da Fênix, sem medo de enfrentar o exército de comensais que ele
colocava contra ela todas as vezes durante aquela maldita guerra.

Aproximou-se do vidro. Suas mãos se fecharam em torno da barra de aço que


o impedia de tocá-lo. Ele nunca havia tido a oportunidade de ver o quanto a
varinha que havia a escolhido a respondia com tanta rapidez. Hermione parecia
viva, até mesmo quando as coisas pareceram sair um pouco do controle e o
grupo de Brant abriu o pedido de pausa, Hermione recusou. Ela sabia
exatamente para onde correr, por trás da onde deveria se esconder, no que
deveria confiar. Ela se livrou dos sapatos e fazia seu vestido dançar com todos
os movimentos e todo o poder que exalava de suas ordens.

Draco sentia seus dedos apertarem cada vez mais forte a barra de ferro que o
separava do vidro. Ele sabia que teria uma esposa no hospital por meses se
alguma daquelas coisas a atingisse. O grupo de Brant anunciava a ela alguns
pontos da magia usando nomes que ele não conhecia.
A cada minuto que se passava mais coisas pareciam ganhar vida. Ele
finalmente entendeu o que ela estava tentando conseguir. Ela queria impor-se
sobre a magia, mostrar domínio, mostrar quem tinha mais poder e que
conhecia com o que estava lidando. Ela parecia tentar isso atingindo pontos
fracos que agora ele podia notar. Se ele tivesse conhecimento disso antes, as
batalhas que havia enfrentado o tempo que estivera fora de Brampton Fort
teriam sido mais fácil.

Algumas exclamações de surpresa e satisfação correu todo o grupo quando ela


pareceu conseguir atingir algo que ele não entendeu primeiramente. Somente
depois de alguns segundos percebeu que ela estava dominando as coisas ao
redor dela, como se tivesse atingido o núcleo das forças que se levantaram
contra ela. Toda a postura e o olhar de Hermione expressavam sua profunda
concentração e ali no mezanino o grupo da comissão mostrava seu animo pela
conquista que haviam acabado de obter.

- Corey! – a voz dela soou no mezanino. Estava ofegante. – Consegui. – ela


anunciou.

- Sim, conseguimos perceber isso! – ele não se preocupava em conter o


animo em sua voz. – Como se sente?
- A magia parece me enviar poder... – ela ofegou. – Muito poder... –
acrescentou. – É como se conversasse comigo.

- Se parece com magia negra? – perguntou ele.

- Não. Não me faz sentir como se fosse magia negra. – Ela respondeu. -
Estou tentando encontrar uma forma de dissipá-la, desativá-la, desliga-la, mas
parece ter vida própria. É como se apresentar para um Hipogrifo. Eu mostrei
que tenho poder, mas preciso ganhar a confiança.

- Faça o que tem que fazer. – terminou Brant.

Draco apenas observou. Os minutos foram se passando até que finalmente


Hermione conseguiu retornar tudo ao seu devido lugar. Ela mesma foi capaz de
dissipar a magia e quando tudo pareceu voltar ao seu estado normal ela
cambaleou como se algo estivesse a deixando. A simulação inteira foi desligada
dando lugar apenas ao ginásio branco e vazio. Ele ficou parado em seu lugar
enquanto observava toda a comissão descer as escadas em seus breves
aplausos e soltando elogios brilhantes a Hermione. Não parecia correto que
uma bruxa como ela fosse Nascida Trouxa.
- General, não imaginávamos que pudesse ficar tão furioso. – era Brant se
aproximando. – Mas sua mulher tem sido algo que nunca tivemos antes. A
Ordem da Fênix sempre foi mais poderosa com relação a magia. Acredito no
potencial que temos de virar esse jogo agora.

Draco apenas assentiu observando os bruxos do grupo de Brant


cumprimentarem Hermione com seus sorrisos no rosto no andar de baixo.

- Como ela conseguiu fazer com que a deixassem ser parte da simulação? –
ele apenas perguntou. Era estritamente proibido, para qualquer tipo de
comensal, entrar em uma simulação sem treino. Independente de quem fosse.

- Nós tivemos confirmação de que ela tinha bastante personalidade nos


campos de batalha, senhor. Não fizemos isso as cegas, embora...

- Como ela conseguiu, Brant? – ele cortou o homem repetindo mais


pausadamente enquanto virava-se para ele.
O homem engoliu em seco e hesitou ao responder:

- Me desculpe, general, mas ela nos ameaçou.

Draco soltou uma risada de desgosto.

- Me parece que ela finalmente está pegando o espírito Malfoy para


conseguir as coisas. – comentou mais para ele do que para Brant e deu as
costas.

Desceu as escada e assim que Hermione notou sua presença se aproximando,


ele recebeu um enorme sorriso e por alguns instantes a beleza que
resplandecia naquele simples ato de satisfação o fez esquecer que queria
arrastá-la pelo braço dali. Estava tão grato por saber que não estava
carregando-a as pressas para a ala das enfermarias. Ali conseguia notar o
quanto ela havia feito falta para ele. Havia se acostumado demais com a
companhia de Hermione.
- É bom ver que conseguiu retornar para casa inteiro, querido. – ela se
manifestou e ele conseguiu notar a ironia ali.

- Não haja como se não soubesse no que acabou de se meter. – ele não
usou do mesmo tom dócil. Ela apenas riu em respostas. Carregava os sapatos
em uma mão. Sua varinha continuava na outra. Estava suada e ainda um tanto
ofegante. – Você está parecendo uma criança bem arrumada que passou a
festa de aniversário inteira correndo.

Ela estreitou os olhos ainda com aquele sorriso vivo e lindo nos lábios.

- Não seja tão ingrato, estou te ajudando na guerra. – ela se distanciou dos
bruxos da comissão passando a ir em direção a saída e Draco a seguiu. –
Também não faça esse drama de preocupação ou vou começar a acreditar que
realmente se importa. Até onde sei não iria gostar que isso acontecesse. Nunca
me ordenou para deixar um campo de batalha quando eu costumava me
colocar a frente dos seus homens antes de me capturar. – ela empurrou a porta
do ginásio e eles deram para o corredor. – Na verdade nós tínhamos uma
seleção de bruxos da zona sete que iriam fazer a simulação hoje, mas nenhum
deles pareceu ter potencial o suficiente para enfrentar a magia quando fizemos
alguns testes mais cedo. Então me voluntariei. Eles sabiam que não podiam me
ter na simulação, por isso acabei abusando um pouco do poder do sobrenome
Malfoy. Portanto não ouse demitir ninguém... – ela continuou a falar e ele
deixou. Deixou porque ela parecia tão viva, como se tivesse sido privada de
todo o seu potencial por décadas. Ele deixou porque a voz dela era
absolutamente refrescante e encantadora. Ele deixou porque nunca havia a
visto com aquele humor e era maravilhoso poder ver de onde ela havia saído
quando perdera a filha para agora. Ele deixou porque se perguntava se era
assim que ela se comunicava com seus companheiros na Ordem. Ele deixou
porque sentia falta. Falta da presença, da voz, da companhia, da inteligência
dela. - ...pensamos que não seria uma boa ideia incluir essa ação específica no
plano para tomar York novamente, o que eu me sinto na obrigação de dizer que
está sendo adiado sem necessidade... – ela virou uma das esquinas tomando a
direção de um dos lavatórios mais próximo e foi exatamente naquele momento
que ele não se segurou, não pensou duas vezes, nem mesmo hesitou.

Parou e a segurou pelo pulso fazendo com que ela se voltasse para ele.
Quebrou a distância no mesmo momento com apenas um passo. Enfiou os
dedos pelos cabelos de Hermione e colou sua boca contra a dela. Um beijo tão
simples e mesmo assim seu peito queimou quase que no mesmo instante com
a sensação de satisfação que era tê-la tão próximo. Não era nada parecido com
o que ele costumava fazer com as mulheres. Não era como se estivesse
encurralando contra a parede uma mulher que ele tinha o desejo de levar para
cama uma vez ou duas. Havia feito isso a vida inteira. Hermione era diferente.
Ela era sua mulher. Estaria com ele no caminho para casa, durante o jantar, na
cama que passariam a noite, no café da manhã do dia seguinte e ainda assim
ele queria colocá-la contra a parede.

Quando ela se distanciou e ele abriu os olhos para poder encarar de tão perto
os dela, seu coração pareceu comprimir-se num ponto minúsculo e logo depois
expandir-se infinitamente, quase que ao mesmo tempo. Parecia ter ficado longe
dela por anos, não por um mês apenas. Queria tocá-la como se quisesse ter
certeza de que realmente era ela e ali ele soube que definitivamente havia
voltado para casa. Ela era sua casa. O fazia realmente sentir que estava em
casa. O fazia desejar pelo simples momento que estaria sentando em uma
mesa próximo a lareira de uma de suas salas respondendo algum correio
enquanto a tinha não muito longe sentada em uma poltrona folheando um livro
qualquer.

Hermione piscou e seus lábios abriram um sorriso discreto e sincero. Como se


quisesse dizer silenciosamente que estava grata, de alguma forma, por tê-lo de
volta. Draco soltou o pulso dela e tocou seu rosto com as duas mãos. Ela era
tão linda. Ele queria que ela estivesse com ele durante toda aquela guerra.
Queria que ela ficasse de pé ao lado dele impondo todo o poder que tinha
quando era obrigado a entrar no meio de um ataque. Queria que ela viajasse o
mundo com ele.

Deslizou os dedos pela pele macia de seu rosto. Ela soltou os sapatos e ao
mesmo tempo em que subiu na ponta dos pés e o cercou pelo pescoço, Draco
tornou a colar sua boca contra a dela, dessa vez abrindo espaço por entre seus
lábios, provando seu sabor tão familiar, sentindo todas as sensações que aquilo
lhe provocava. A cercou pela cintura colando aquele pequeno corpo contra o
dele. Céus, ele deveria ter feito isso bem antes! Deveria ter feito isso bem
antes, quando desceu as escadas do mezanino para encontrá-la. Deveria tê-la
segurado desse jeito na frente de todos aqueles bruxos.

No instante seguinte, quando o ar começou a ficar pouco entre seus rostos, ele
a arrastou até tê-la contra a parede. A segurou pelas coxas quando levantou
aquelas belas pernas para tê-las em volta de seu quadril. Sua mão começou
um trabalho minucioso assim como sua boca passou a tomar o rumo de seu
pescoço.

- Draco! – ela primeiramente sussurrou. – Draco! – chamou sua atenção


novamente, dessa vez tentando pará-lo. – Draco, pare. Não podemos... – ela
engoliu as próprias palavras puxando o ar quando ele alcançou seu ouvido. –
Draco! – dessa vez a voz dela foi mais firme. – Pare! – ela exclamou e ele
parou. Afastou-se para encarar seu rosto sentindo-se confuso. Ela nunca o
parava. Ninguém nunca o parava. Nenhuma mulher nunca havia o parado. –
Não podemos. – ela justificou.
Ele uniu as sobrancelhas confuso.

- Por que? – Ela se incomodava de estar na Catedral?

Ela pareceu desconcertada por alguns segundos. Mordeu os lábios e por fim
sorriu.

- Digamos que não gostaríamos que eu ficasse grávida tão cedo. – ela
disse.

Draco ergueu as sobrancelhas. Puxou o ar e o soltou frustrado. Fez uma careta.


- Isso é crueldade. – comentou e ela riu. O som foi delicioso, o que o fez
acomodar-se contra o pescoço dela novamente. Aquele cheiro era tão familiar e
ele poderia ficar ali por horas. Parecia seguro, confortável e lhe dava a
sensação de que nunca se tornaria cansativo.

E foi interessante porque ela usou os dedos para brincar com os cabelos de sua
nuca como normalmente fazia enquanto entravam em um estado de silêncio.
Era completamente estranho, mas ele não queria se separar do corpo dela.

- Draco. – ela o chamou depois de um longo minuto que apreciaram a


companhia que se faziam. Ele resmungou algo em sinal de que a escutava e ela
continuou. – Quanto tempo vai ficar aqui?

- Não sei. – ele respondeu. – Acredito que não por muito tempo. – A guerra
era inconstante. Ele conhecia aquilo e sabia que ao mesmo tempo que tinha a
certeza de que poderia passar um final de semana inteiro ali, sabia que poderia
receber um chamado naquele exato momento sobre algo que não havia
previsto.

Os dedos dela desceram e subiram sua nuca e ele não se moveu. Apenas
fechou os olhos e se concentrou no quanto queria ter vivido aquilo no último
mês. Como havia conseguido ficar tanto tempo longe de uma sensação tão
acolhedora?
- Eu não quero que você vá. – ela disse com aquela voz macia e baixa.

- Por que? – ele murmurou contra o pescoço dela.

- Porque a Ordem não sabe com o tipo de poder que está lidando. Estou
esperando pelo momento em que eles usarão algum tipo de magia que nenhum
dos lados poderá controlar e eu não quero que esteja presente quando isso
acontecer. – ela explicou e ele apenas sorriu.

- Cuidado, Hermione, ou vou começar a acreditar que realmente se importa


com a minha segurança.

Ela riu fracamente em resposta.


- Não tenho medo de dizer que me importo, Draco. – ela soltou e aquilo
bateu contra ele o deixando atento. – Não tenho problemas para dizer as coisas
que sinto, ao contrário de você. Ainda não cheguei no seu nível onde
aparentemente consegue desligar suas emoções com facilidade. Como se, de
alguma forma, pudesse se livrar de sua própria humanidade. Eu não fui criada
como uma Malfoy e é exatamente por isso que eu posso dizer que realmente
me importo. – Draco se sentiu na obrigação de encará-la dessa vez e Hermione
deslizou a mão da nuca para tocar seu rosto com muito cuidado. – Nós temos
muitos problemas. Coisas que eu nem imagino que possam ser concertadas
entre nós. O que eu sei que sou jamais aceitaria você porque eu sei que não há
nada de nobre no seu egoísmo constante. Sei que não há nada de nobre em
nenhuma das suas intenções. Tudo que faz e pensa é em prol de você mesmo e
do sobrenome Malfoy. Existem coisas sobre você que eu guardo comigo por
medo trazê-las a tona e descobrir que seria louca em cogitar não te odiar. – ela
suspirou - Não quero viver com alguém que eu odeio. Nós já descobrimos que
isso tem dado bastante dor de cabeça. Não precisamos nos amar, obviamente,
mas acredito que dizer que me importo com sua segurança é um passo que eu
não teria dado assim que nos casamos.

Ele não havia esperado por aquilo. Admirava o quanto ela conseguia ser sincera
as vezes. Ele não tinha essa mesma capacidade. Guardava tudo para si e não
tinha a menor coragem de expor nada. Sabia que muita coisa a respeito de
como via a vida era distorcido demais para ser expressado. Apenas assentiu em
resposta a ela.

- Sabe que uma hora ou outra vamos acabar enfrentando os motivos que
nos torna loucos por cogitar não odiarmos um ao outro, não sabe? – se viu
dizer.
Hermione desviou o olhar como se aquilo fosse algo que a atormentava todos
os dias. Como se sempre estivesse tentando encontrar um motivo para se
desviar daquele pensamento. As pernas dela deixaram seu quadril e Draco se
afastou.

- Fomos unidos por obrigação e em cima de ameaças. – ela finalmente


disse. - Atamos nossas alianças agora por interesse. Interesse porque vamos
ter um filho em algum momento da nossa história e interesse porque agora
compartilhamos de um sobrenome que faz parte da história. – ela passou as
mãos pelo cabelo os ajeitando, passou por ele e buscou os sapatos que havia
deixado no chão. - Vamos continuar trabalhando em cima apenas disso por
enquanto. – Ergueu os olhos para ele e tentou um sorriso. Ela não queria
enfrentar as coisas que guardava para si a respeito dele. – Por agora estou
satisfeita que tenha voltado. Temos muito o que discutir sobre a guerra. –
Suspirou. – Te vejo em casa?

Ele assentiu em resposta. Ela continuou parada como se esperasse que ele
fizesse algo ou dissesse algo. Foi um estranho momento de silêncio. Estranho e
incomodo o suficiente para fazê-lo colocar as mãos no bolso, passar por ela e ir
embora.

Enquanto seus passos tomavam o caminho para longe da área da zona sete,
ele só conseguia pensar uma coisa. Hermione havia praticamente acabado de
lhe dizer que via razões para deixar de odiá-lo, mas que ainda estava presa a
coisas que pareciam muito mais fortes do que isso. Draco não tinha a menor
ideia do que pensar em relação aquilo. Sabia apenas que soava como um aviso
e tudo nele gritava para recuar, porque, de repente e pela primeira vez, a
mínima chance de virar a moeda que carregara com Hermione por tanto tempo
pareceu assustadora.
26. Capítulo 26

Theodoro Nott

Desceu as escadas que davam direto para o hall principal e assim que saiu para
o pátio sul onde sua carruagem o esperava a raiva ficou entalada em sua
garganta quando foi seguido pela imprensa. Estava cansado. Havia publicado
sua sutil justificativa e mesmo assim eles ainda o seguiam gritando seu nome e
perguntas diretas demais para serem respondidas.
Fazia quase um mês que Hermione armara uma bendita conferência pública por
suas costas e soltara informações de seu departamento que o acusavam como
sendo um corrupto, o que na verdade ele era. Sim, ele havia acabado com o
trabalho que ela fizera com as Casas de Justiça no momento em que ela se
ausentou da Catedral, mas a verdade era que ela não entendia que estava
lidando com um mundo de comensais e não com a velha bancada de
conselheiros da Corte Superior do Ministério da Magia, composta de homens
que haviam vivido a utopia de um ideal nobre e honrado.

Fugiu como pode se fechando em sua cabine segundos depois. Parou alguns
minutos para fechar os olhos e se livrar do ódio que tinha quando a imprensa
lhe perseguia em momento que tinha que justificar algum erro que havia
cometido. Maldita cidade! Aquele lugar era cheio de hipócritas! Pessoas que o
acusavam de corrupto como se fossem os seres mais santos a andarem sobre a
face da terra. Soltou o ar e bateu duas fezes na madeira a suas costas, não
demorou e entrou em movimento.

Desde que Hermione tivera a coragem de expô-lo, Lord Voldemort havia


deixado claro que seu fracasso na arte de ser sutil lhe custaria a proximidade
com o mestre que com tanto esforço conseguido e todas as regalias que isso
lhe proporcionava até que ele se provasse mais útil.

E era apegado com a ainda chance de se tornar a mão direita do mestre que
ele não desistia. Assim que sua carruagem chegou aos portões da mansão de
Draco Malfoy na Vila dos Comensais ele teve que descer e usar a varinha para
persuadir a segurança deixa-lo passar. Ele não era bem vindo. Nunca era bem
vindo.
Quando bateu a campainha da porta principal foi recebido pelo elfo doméstico
da casa que o mandou embora informando que Hermione havia dito que a
próxima vez que usasse algum feitiço nos seguranças para invadir sua
propriedade seria reportado a Catedral com risco de que seu nome fosse parar
na imprensa mais uma vez. Theodoro apenas chutou a elfa abrindo passagem.
Sabia onde Hermione estaria e conhecia a casa de Draco.

Abriu a porta que passava para a cozinha e encontrou Hermione envolvida de


um roupão pesado de banho, os cabelos presos no topo da cabeça, os pés
descalços, um dedo enfiado na boca e um pote de geleia na mão. Céus, ele
queria odiar aquela mulher, mas toda vez que a via não conseguia pensar em
outra coisa além do quão exótica, linda, sexy e inteligente ela podia ser. Ela
tirou o dedo da boca e colocou o pote de geleia sobre a extensa mesa no centro
de todo o ambiente enquanto o encarava com um desgosto aparente.

- O que fez com minha elfa? – ela perguntou usando um tom seco e nada
convidativo.

- Deveria contratar uma equipe de funcionários para essa casa como todo
mundo faz. Ajudaria na segurança. – ele disse.

- Quero você fora da minha casa agora. – decretou ela.


- Não vou embora. – teimou ele.

- Nott, você sabe que poderiam te mandar para Askaban pelo que faz todas
as vezes que invade minha casa, não sabe? Eu tenho poder para levar isso para
o Ministério e longe das suas Casas de Justiça corruptas alguma bendita alma
honesta por lá te jogaria aos Dementadores!

- Sabe que eu não iria precisar fazer isso se simplesmente respondesse


meus pedidos. Tudo que eu quero fazer é conversar, Hermione!

Ela passou por ele.

- Nós já conversamos. – deixou a cozinha e ele a seguiu. – Agora eu quero


você fora da minha casa. – disse enquanto atravessava todo o andar térreo de
volta a hall principal. – Draco voltou hoje para Brampton Fort e está a caminho
de casa exatamente agora. – Ela abriu a pesada porta da frente e cruzou os
braços. – Se ele chegar e te encontrar aqui sabe que ele não vai cansar até
arruinar sua vida.

Theodoro riu.

- Acha que pode me ameaçar com o nome de Draco? Acha que Draco me
dá medo? – ela não entendia nada sobre aquele mundo. – Draco é um amigo,
Hermione!

Ela uniu as sobrancelhas parecendo não acreditar no que escutava.

- Amigo? – ela soltou incrédula. – Qual é o seu conceito de amizade? Por


Merlin! Você e Draco não são amigos!

Ele revirou os olhos. Hermione e seus discursos moralistas. Era uma qualidade,
sem dúvida, admirável nela, a tornava linda por dentro também, mas ao
mesmo tempo a tornava ingênua demais para aquele mundo.
- Me deixe dizer algo sobre Draco e eu que você não entende, Hermione! –
ele se aproximou e começou cansado. – Faço parte de uma das oito famílias
mais poderosas da Grã-Bretanha. Quando entrei em Hogwarts, esperava que as
pessoas se ajoelhassem para que eu passasse. Isso até perceber que um
Malfoy dividia o ano comigo. Um Malfoy! Ninguém compete com um Malfoy! Eu
detestava ter que dividir minha soberania com Draco Malfoy, assim como Draco
Malfoy detestava que eu sempre estivesse o lembrando que havia competição
entre nossos nomes. Mas, - ergueu o indicador. – não podíamos destruir um ao
outro. Não podíamos passar a perna um no outro, não podíamos nem ousar
humilhar um ao outro, porque a nossas famílias tinham negócios. Nessa
momento você deve estar pensando que idiotice lembrar dos laços entre nossas
famílias! Éramos apenas adolescentes! E é exatamente nesse ponto que me
parece que você ainda não conseguiu entender sobre ser uma Malfoy! – ele se
aproximou mais. – Quando se nasce com um sobrenome poderoso, as
responsabilidades de carregá-lo são nos ensinadas desde quando começamos a
dominar a língua que falamos. Adolescentes como éramos, já sabíamos que
iramos crescer, que iriamos assumir as cabeças de nossas famílias por sermos
primogênitos. Sabíamos que teríamos que lidar com os negócios. Não podíamos
criar rivalidade. Criar guerra entre as famílias poderosas nos faz fracos. Uma
das primeiras lições que nos são ensinadas: Não se mexe na posição natural da
nossa hierarquia. Tivemos exemplos o suficiente na história para no provar o
quanto ficamos vulneráveis quando há guerra entre nós! Agora que sabe de
tudo isso, me deixe esclarecer como eu e Draco funcionamos em uma
linguagem bem simples: As vezes nós estamos de bem um com o outro, as
vezes estamos de mau, mas nunca, absolutamente nunca, damos as costas um
ao outro.

- E o que foi que estava tentando fazer usando a secretária de Draco, Nott?
Não chama isso de dar as costas?

Ele revirou os olhos.


- Sim! Sim! Eu estava tentando passar a perna na sua família. Fui um
idiota por isso e sei muito bem! Mas você tem que entender que nós não
estamos mais no mundo de negócios de antes! Nossas famílias apenas mantém
laços porque somos prevenidos e sempre precisamos ter uma outra rocha para
pular caso a de agora venha a desmoronar, mas sabemos que nada pode
derrubar o mestre. Qualquer um que tentar seria um idiota! O que estava
fazendo pelos Mori era um número de benefícios grande que seriam me
recompensados no presente de agora. Nesse mundo que vivemos agora. Eu fui
contra a história, contra a segurança e o equilíbrio da hierarquia tentando o que
tentei. Estava pensando unicamente em mim, mas de maneira errada. Draco
me encurralou, mas não me expôs. Ele foi esperto porque se não fosse não
seria um Malfoy. Como acha que eles chegaram ao topo?

- Acredita mesmo que vou comprar essa história de que se arrepende do


que fez?

- Eu não preciso que acredite em nada, Hermione. Preciso apenas que


saiba. E você trabalhou comigo tempo o suficiente para saber que não sou
assim tão orgulhoso como quer me colocar agora. Eu sei admitir quando estou
errado, sabe disso. Quando se cresce com Malfoys ao seu redor, se aprende
que só eles tem o direito de serem orgulhosos.

Ela soltou o ar pela boca e fechou os olhos como se estivesse sem paciência.
- Saia da minha casa, Nott. – foi tudo o que disse.

E ela continuava a resisti-lo. Theodoro passou por ela, empurrou a porta


fazendo-a se fechar e voltou-se para ela novamente. Se aproximou, mas
Hermione recuou.

- Volte para o meu departamento, por favor. – pediu e suavizou seu tom.

Ela riu e balançou a cabeça negativamente. Cobriu o rosto com as mãos e


soltou o ar.

- Não dá para acreditar que ainda insiste nisso. – ela o encarou incrédula. –
Descobri destruiu todo o meu trabalho e quer que eu volte para o seu
departamento? Acha que eu sou estúpida! Eu já disse que não vou voltar!
Quantas vezes vai ter que invadir minha casa para me escutar te dar a mesma
resposta?
- Vou invadir sua casa até parar de ignorar minhas chamadas e vou insistir
para voltar até que diga “sim”. – ele foi bem claro.

- Não vai acontecer! – ela subiu uma oitava e dessa vez foi ela quem se
aproximou mostrando de vez sua impaciência. – Eu sei que Voldemort está por
trás disso! Ele quer me deixar longe da guerra! Está usando você e o seu
departamento para isso! Eu já disse que não sou idiota e depois de descobrir
que estragou meu trabalho você já deveria saber disso muito bem! – Ela
ofegou. Ele soltou o ar frustrado por não sabendo mais o que dizer para ela.
Sim, já acreditava que ela soubesse sobre as intenções do mestre em mantê-la
presa ao seu departamento e longe da guerra, mas ele havia falhado nessa
tarefa. – Sei que se eu voltasse para o seu departamento seu nome ficaria
limpo da noite para o dia, mas eu sei que não é isso que o move porque pode
limpar seu nome a hora que quiser com o poder que tem. Por que insiste tanto
nisso? O que está tentando provar ao seu mestre?

- Eu queria estar fazendo isso apenas para prová-lo que posso te colocar no
curso inicial novamente. Você não tem nem ideia do quanto eu queria estar me
rebaixando a esse estado apenas para isso, Hermione. – ele disse sentindo que
não deveria entrar naquele campo. Ele não queria fazer nada estúpido
novamente. – Não tem ideia do quanto eu gostaria que fosse apenas por esse
único motivo, mas acredito que se eu quisesse realmente provar algo ao
mestre eu já teria desistido faz um bom tempo.
Ela o encarou por um momento completamente confusa, mas ao mesmo tempo
não deixou sua postura se desfazer por nenhum segundo.

- Eu não acredito que você tenha qualquer outro motivo, Nott. – ela
retornou para aquele olhar completamente seguro ao dizer aquilo.

Ele riu fracamente enquanto encarava aquele belo rosto confiante a sua frente
que parecia muito mais lindo sem a maquiagem que ela era obrigada a usar.
Não esperava que ela entendesse. Hermione já havia se apegado a sua imagem
relacionada com a de Voldemort.

- Sinto sua falta, Hermione. – se sentiu disposto a dizer aquilo e ao se ver


dizendo aquilo decretou que seria a primeira e única vez que daria a ela o sabor
de saber o que se passava por dentro de sua mente. Por mais que Voldemort
estivesse por trás do interesse de tê-la de volta em seu departamento e ele
muitas vezes quisesse mata-la quando a via vestida com aquela resistência
impenetrável, ele sabia que havia uma motivação maior. – Sinto falta de vê-la
pela manhã carregando seu copo de café pronta para enfrentar o dia mesmo
que o mundo pareça estar desmoronando para você. Sinto falta de ver o
quanto é determinada para solucionar qualquer problema que colocam em suas
mãos. Sinto falta das nossas discussões diplomáticas, de te ter por perto, de
ouvir suas sugestões. Sinto falta da sua companhia. Sinto falta de ver o quanto
é forte, porque tinha dias que eu conseguia ver em seus olhos que parecia não
haver mais sentido para nada e mesmo assim estava lá encontrando uma
forma de chegar ao fim do dia sem ser um fracasso, sem desistir, sem se
entregar. Ninguém mais parecia ver isso. – ele concluiu num fôlego só.
Esperou por qualquer resposta dela, uma que provavelmente sairia confiante
apenas dizendo para que ele saísse de sua casa. Obviamente que não esperava
que ela acreditasse em nenhuma palavra sua, mas ela ficou parada, o
encarando com aqueles olhos lindos e aquilo lhe provocava sensações que
faziam a palma de sua mão ficar úmida.

- Theodoro... – ela o chamou pelo nome e por um segundo algo se acendeu


nele. Talvez tivesse conseguido tocar em algo que ninguém havia tocado nela
ali naquele lugar. Ele sabia que parecia mesmo ser o único que conseguia
enxergar o que se passava com ela, mas era obrigado a ignorar. – Apenas... –
ela desviou o olhar. Suspirou, passou uma mão pelo rosto rapidamente e deu
as costas. – Apenas saia da minha casa. – ela finalizou indo em direção a porta.

Theodoro a segurou pelo pulso quase que imediatamente. Não havia calculado
aquele movimento, mas agora era tarde demais.

- Não. – disse assim que a viu voltar-se para ele novamente. – Escute, eu
sei que tudo isso soou patético. Você não precisa acreditar, certo?! Por isso
mesmo prefiro que acredite que estou insistindo que volte para o meu
departamento por causa do mestre, o que também não deixa de ser uma
verdade. Mas entenda, Hermione. Você é uma Malfoy. É a mulher de Draco. Eu
não quero problemas com isso. Tento dar as costas, tento me afastar, tento me
convencer que ganhar um ponto com o mestre é tudo que realmente me move,
mas então eu te vejo... – se aproximou e tocou o rosto dela. – Quando eu te
vejo consigo perceber o quanto sou idiota por tentar mentir para mim mesmo.
- Não, Theodoro. Vá embora... – ela tentou se afastar, mas ele não a
deixou ir.

- Não, Hermione! Me escute, porque essa vai ser a única vez que vou dizer
isso! Eu entendo que me veja como mais um vilão dos outros milhões que a
cercam aqui nessa cidade, mas você me afeta. – ele se viu angustiado por
saber que aquela era uma frase que ele usava com qualquer outra quando
encontrava uma mulher um pouco mais difícil de se levar para cama. Nunca a
faria entender o que aquilo realmente significava para ele. – Você me afeta de
uma forma diferente porque eu a admiro por tudo aquilo que já te disse. – ele
se aproximou ainda mais. Ela não recuou. – E... – ele não sabia mais o que
dizer. Também não se via muito capaz de raciocinar com a forma como ela o
encarava.

Os olhos dela pareciam ter o poder de transportá-lo para outra dimensão ali tão
de perto. Os lábios dela semiabertos eram absolutamente convidativos e ele
sentia a necessidade de tocá-los porque pareciam tão absurdamente macios.
Ele se perguntava qual seria o sabor dela. Qual seria a sensação se a beijasse e
foi exatamente naquele momento que ele, impulsivo como conseguia ser,
venceu a distancia entre suas bocas.

A sensação pareceu subir por suas veias empalhando-se por cada pedaço de
seu corpo fazendo-o quase querer fundir-se a ela. A macies daqueles lábios, o
cheiro delicioso do banho que ela havia acabado de tomar, o calor do corpo
dela. Ele não ousou tentar se aprofundar, abrir caminho pela boca dela, provar
de seu sabor. O que tinha já parecia demais para o que realmente merecia, só
não conteve cercá-la pela cintura.
Hermione não se moveu, não recuou, não o empurrou, mas também não
respondeu. Theodoro percebeu as consequências do que fazia apenas quando o
estrondoso barulho da porta principal batendo sem piedade o fez afastar-se
dela. Hermione mostrou-se assustada quase que no mesmo segundo e então
ambos viram a figura de Draco Malfoy os encarando.

- Vocês estavam mesmo entretidos para não terem sequer me escutado


chegar. – foi tudo que ele comentou, extremamente sério e extremamente
temível.

Hermione Malfoy

Hermione não conseguiu reagir. Sentiu-se como uma pedra quando nem se
mover conseguiu. Draco não a encarava, ele parecia não reconhecer que ela
estava ali, mas em compensação Theodoro, ao seu lado, recebia toda a
atenção. Não havia nada próximo a raiva ou fúria no olhar de Draco.
Claramente não era nada próximo ao amigável. Ele apenas mantinha a frieza e
neutralidade que lhe era sempre constante.

- Não me faça contar para te ver fora da minha casa. – Draco finalmente
tornou a abrir a boca. Theodoro não se moveu. – Você sabe muito bem que não
vai querer me desafiar, Theodoro. – disse ele ao vê-lo resistir.

Eles continuaram se encarando ainda por mais alguns segundos. Hermione não
ousava nem mesmo olhar para Theodoro. Talvez ele estivesse desafiando Draco
durante aquele silêncio.

- Draco... – ela foi calada apenas pelo olhar que ele lhe lançou. Não era
ameaçador nem expressava raiva, mas era frio e neutro, exatamente como o
que ele usava para encarar Theodoro. Hermione percebeu que não se lembrava
da última vez que recebera dele aquele olhar.

Theodoro desviou o olhar para ela e ela respondeu lançando o seu para longe
do dele. Talvez aquilo tivesse o feito cair em si, porque não demorou e ele
passou por Draco e saiu batendo a porta sem o menor cuidado.
Draco desceu seu olhar frio pelo corpo de Hermione. Ela então percebeu que
não estava usando nada muito bem apropriado. Não entendeu o porque sentiu
as maças de seu rosto esquentarem. Ela não queria deixar que ele pensasse
que ela estivera fazendo qualquer outra coisa com Theodoro que não fosse
tentar expulsá-lo de lá.

- Espero que não tenha usado nossa cama. – foi tudo que ele comentou,
passou por ela e continuou seu caminho.

Ela puxou o oxigênio de uma vez ao escutá-lo dizer aquilo. O seguiu.

- Draco, eu não...

- Ótimo. – ele a cortou e ela se viu imediatamente sem palavras pelos


segundos seguinte.
- Draco! – queria fazê-lo parar e conseguiu.

Ele voltou-se para ela.

- Eu não quero saber, Hermione. – foi o que disse. – Você não quer saber
sobre os meus casos. Eu não quero saber sobre os seus.

- Mas nós não...

- Chega, Hermione! Eu não quero saber! – dessa vez ele se mostrou


aborrecido por ter que insistir na mesma tecla.

Ela não teve coragem para rebater nem continuar insistindo em querer se
justificar. Primeiro porque se sentia frustrada ao tentar encontrar uma
justificativa que não soasse estúpida, segundo porque não precisava fazer com
que ele soubesse que ela não tinha outro homem quando era bem consciente
que ele tinha muitas outras mulheres.

Cobriu o rosto assim que Draco subiu pela escada principal e sumiu no andar
superior. Soltou o ar frustrada por estar confusa. Por alguns segundos ela havia
acreditado que Theodoro realmente tivesse dito a verdade, talvez por isso
tivesse o deixado beijá-la. Os olhos dele expressavam tanto sinceridade que ela
havia se deixado acreditar. Se ele estivesse mentindo era muito bom com
farsas.

Tentou não se concentrar naquilo quando voltou para a cozinha para organizar
a bagunça que havia feito. Estava acostumada a jantar no mesmo horário todos
os dias e detestava quando era obrigada a participar daqueles eventos durante
a noite onde tinha que esperar pela comida e fazer social com dezenas de
pessoas que sabia que a odiavam.

Quando subiu para o quarto Draco estava tomando seu banho. Dedicou-se na
tarefa de escolher uma boa roupa e quando finalmente conseguiu chegar a
duas opções sentou-se em sua penteadeira, puxou todo o cabelo para um lado
e começou a trançá-lo do topo. Enquanto seus dedos trabalhavam sua mente
não conseguia parar. O olhar que Draco havia a lançado, o tom de sua voz, ela
sentia que precisava concertar aquilo, mas se sentia ridícula quando se
lembrava que ele também tinha suas outras mulheres. Não havia nada para ser
concertado. Ele havia dito que não queria saber, ela tinha que deixar aquilo
passar.
Draco apareceu não muito tempo depois. Hermione o observou pelo seu
espelho enquanto ele se ocupava na atividade de vestir-se. Muitas vezes
quando apenas o observava acabava concluindo que nunca em sua vida teria
tido a chance de conquistar um homem poderoso, bonito e influente com ele.
As vezes usava esse único pensamento quando sentia que tudo em seu
casamento era uma completa maldição. Se apegar a coisas superficiais nunca
foi algo que a definisse, mas quando se tratava da beleza de Draco Malfoy ela
até chegava a considerar.

- Vou precisar de uma liberação sua já que conseguimos sucesso na


simulação de hoje. Suas zonas vão precisar de atualização no treino. – ela
começou com cuidado e receosa atando o final de sua trança. Ele respondeu
apenas um murmúrio em confirmação. Hermione esfregou os dedos se sentindo
nervosa. Respirou fundo e se concentrou novamente em deixar tudo aquilo
passar. Eles não eram um casal, apenas faziam sexo por conveniência. – Seu
departamento já fez alguma contagem do número de comensais
desaparecidos?

Os olhos dele se cruzaram com o dela pelo espelho. Hermione ficou apenas
esperando. Estava tentando conversar o que já havia planejado para conversar
com ele, como se tudo estivesse normal.

- Estamos atrasados, Hermione. – foi tudo que ele respondeu desviando o


olhar enquanto passava os braços para dentro de sua blusa. Não falou mais.
Eles não estavam atrasados.

- Não estamos atrasados. – ela disse. – Seu departamento tem um


número ou não tem?

- Trinta. – Draco respondeu de uma vez, mas seu tom de voz não mostrava
o mínimo interesse. Talvez ele estivesse querendo apenas passar por aquela
conversa o mais rápido possível.

- Acredito que a Ordem esteja os levando para a sede. - ela continuou. -


Tentando livrá-los da Marca Negra, ou tentando inibir o efeito dela. Luna levou
informações conseguiu escapar.

- Não está dando muito certo. Todos os trinta nomes que não foram
identificados como mortos em batalha ou em serviço estão mortos agora. – ele
disse parando para escolher a gravata que iria usar.
Hermione se viu frustrada ao vê-lo tratar aquilo como uma simples conversa
sobre o tempo. Virou-se em sua cadeira para poder encará-lo diretamente.

- Estou te dizendo que a Ordem da Fênix pode estar tentando encontrar


uma solução para o que aprisiona todo e qualquer comensal a Lorde Voldemort
e é assim que você reage? Como se não fosse nada mais do que algo para se
comentar e se esquecer?

Ele parou. Soltou o ar pela boca como se não estivesse com paciência e virou-
se para ela.

- Será que você poderia me dar um descanso? – ele começou e pela


primeira vez ela notou um o sinal de irritação que ele parecia estar tentando
engolir antes. – Será que não percebeu que eu passei um mês inteiro no meio
de toda essa guerra?! Será que não consegue nem mesmo, por um segundo,
tentar imaginar que talvez eu esteja farto de tudo isso?!

Ela ficou surpresa pela atitude dele.


- Não acredito que esteja. – disse receosa por qualquer reação que ele
tivesse, mas pronta para enfrentá-lo. – Na verdade, não acredito que tenha
permissão para estar. Está na linha de frente de tudo isso e estou apenas
tentando te ajudar.

Ele revirou os olhos e deu as costas passando a gravata pelo pescoço.

- Bem, tente ajudar em outro momento. – ele estava claramente sendo


rude.

- Você não precisa ser ignorante. – ela se levantou.

- E não estou.
- Sim, está! – aquela situação estava a irritando. – E sabe por que acredito
que está? Porque viu Theodoro me beijar assim que entrou em casa.

- Cale a boca, Hermione. – dessa vez ele foi agressivo.

- Não! Você não tem o direito de ficar irritado, Draco! – ela estava
completamente pronta para desafiá-lo e aquilo pareceu finalmente enfurece-lo.

- Sim eu tenho! – ele voltou-se para ela novamente. – Quantas vezes nós
já discutimos sobre Nott? Quantas vezes você mesma disse que ele era alguém
para se tomar cuidado? Estava me fazendo de idiota ou era apenas uma
estratégia para nunca me fazer cogitar um caso entre vocês? Além do mais,
você sabe que Nott e eu não estamos sob bons termos ultimamente e me faz
vê-lo exatamente dentro da minha própria casa! Você quer que eu aplauda o
que vi, Hermione? Quer que eu a cumprimente? Se caso precisar de uma
plateia para a próxima vez, posso conseguir para você!

Hermione se viu incrédula diante de tudo aquilo.


- Deus! Qual é o seu problema? – ela não conseguia reagir as palavras
dele. Se sentiu ofendida. – Nott e eu nunca tivemos nada além do profissional!

Draco forçou uma risada.

- Se você e Nott nunca tiveram nada além do profissional depois do que eu


vi, tento imaginar quantos outros tantos casos você não se ocupou em ter com
os homens que vem trabalhando na comissão.

Hermione puxou ar quase que imediatamente não conseguindo acreditar no


que seus ouvidos haviam acabado de escutar. A ofensa lhe bateu tão forte que
no segundo seguinte tudo que se viu fazer foi cruzar o pouco espaço entre eles
e erguer a mão para esmaga-la contra o rosto dele. Draco a deteve pelo pulso
e a empurrou para longe. Ela teve cambaleou e teve que se segurar numa das
paredes. Seu maxilar estava travado e a fúria corria em todas as suas veias.

- Eu não deveria ficar surpresa por escutar isso de alguém que sempre
pensou tão baixo de mim! – ela não queria gritar, mas segurar sua voz era um
desafio naquele momento. – Eu não sou você! Eu não tenho todos os homens
dessa cidade na minha cama! Eu não preciso disso! Mas você não tem nem
ideia do que é viver em um lugar onde sabe que cada rosto que te olha te
odeia! Sou uma Nascida Trouxa em uma cidade abarrotada de comensais! Sou
obrigada a escutar hipocrisia jorrar da boca das pessoas que falam comigo
todos os dias. Me tratam como se me respeitassem, como se me admirassem,
mas a verdade é que eu vejo o preconceito escondido no olhar delas. – Sua
garganta ardeu e ela engoliu o gosto amargo das próprias palavras. Piscou para
não deixar seus olhos embaçarem. – Theodoro gosta de mim. – continuou –
Pode ser uma mentira, uma jogada, uma armadilha, mas você não tem ideia do
quanto é confortante e acolhedor escutar o que ele me disse hoje depois de eu
ter vivido um ano no que mais parece uma caverna escura, fria e vazia. – ela
finalmente se viu entender como Theodoro havia feito com que ela se sentisse.
– Não sou sempre racional, Draco. Sou humana. Não uma máquina. Não uma
pedra. Ele fez com que eu me sentisse bem por alguns poucos segundos e isso
é tão raro quando se vive aqui. – suspirou - Você não entenderia.

Ela não queria continuar, não queria continuar a se ridicularizar. Ele já havia
deixado claro que pensava bem mais baixo dela. Não era obrigada a provar
nada para ele. Não precisava mostrar quem realmente era, acreditava que suas
ações já tivessem a capacidade de fazê-lo compreender quem ela era.
Aparentemente suas ações haviam o feito acreditar que era uma mulher que
precisava da atenção masculina em massa.

O silêncio entre eles não durou muito porque Draco não parecia nada contente
com o que havia escutado. Ele puxou a gravata do pescoço e a lançou contra o
chão soltando um palavrão. Informou que precisava de uma bebida como se
quisesse matar alguém e saiu batendo a porta tão forte que a fez recuar.
Hermione sabia que aquele era, finalmente, o fim da compreensão e educação
que ele havia desenvolvido com ela desde de que perdera a filha.
Draco Malfoy

Ele também a fazia se sentir bem. Pensou lançando um rápido olhar para o gelo
no copo de whisky em sua mão. Apoiou-se sobre o parapeito da varanda de seu
quarto e encarou o imenso jardim dos fundos de sua casa. O inverno sempre o
lembrava mais de quando seu treinador o prendia em lagos congelado sem
oxigênio e sem varinha para que conhecesse seu instinto de sobrevivência do
que frio, neve, natal, ano novo e todas as malditas festividades da estação.

Virou um gole de sua bebida e deixou o vento gelado ativar sua resistência.
Encarou o copo em sua mão. Tinha gravado em sua memória todas as vezes
que fizera Hermione gritar durante o sexo. Todas as vezes que a fizera perder o
controle de si mesma. Todas as vezes que a tocava e a sentia estremecer. Ele
sabia sim fazê-la se sentir bem.

Sexo. Soltou o ar com uma risada fraca e encarou o horizonte. Nada mais
superficial do que sexo. Era idiota por julgar Hermione como alguém superficial.
Era idiota também por tê-la acusado de ser como Pansy Parkinson. Já havia
vivido com ela durante um ano para saber que não havia nela nada que o
fizesse lembrar de Pansy. Hermione não era o tipo de mulher que se satisfazia
por ter uma dúzia de homens a seguindo, ela era o tipo que apenas não se
importava.
Ele não tinha o direito de se irritar pelos casos dela, nem de se incomodar por
isso, mas quando se lembrava que não encostava em nenhuma outra mulher
que não fosse ela por meses, a ideia de imaginá-la com outro o consumia. E
não tocava em outra mulher por escolha. Hermione estava ali para ele todos os
dias e ele se via cada vez mais ser tragado por ela, mesmo que não a tocasse,
ela havia se tornado parte de sua rotina, parte de seu pensamento, parte de
algumas de suas expectativas, parte do seu futuro e cada vez menos ele se via
tentado a arrastar para um canto vazio alguma mulher que cruzasse seu
caminho.

No último mês ele havia pensado tanto em voltar para casa que quando se via
na necessidade de ter uma mulher, julgava a si mesmo por estar cometendo
um crime. Ele se lembrava de que todas as vezes que tocara outras mulheres
desde que tivera Hermione. A imagem dela o perseguia e o incomodava. O
incomodava tanto que foi diminuindo o número de mulheres, diminuindo,
diminuindo e diminuindo até que sem nem mesmo perceber Hermione pareceu
se tornar a única mulher existente no mundo. Depois que ela engravidara tudo
pareceu piorar ainda mais. Ele se via tão cheio de conexões a ela que as vezes
parecia que haviam tido uma história longa, quando na verdade tudo que
tinham era um ano de convivência, uma filha perdida, um relacionamento cheio
de falhas, buracos e estragos. Se cansava todas as vezes que pensava naquilo.
Tudo que queria, na verdade, era que se acostumasse com ela o suficiente para
poder voltar a ser quem era antes sem ser perseguido pela imagem dela. Sabia
que tecnicamente se tornaria seu pai quando atingisse essa fase, mas as vezes
parecia melhor do que se ver apegado para sempre a Hermione.

- Draco. – a voz dela soou logo atrás de si. Cheia de receio, mas doce e
suave. Se lembrava de quando odiava a voz dela. Era muito mais fácil quando a
voz dela era apenas detestável. As vezes tinha a sensação de que o macio que
o tom dela carregava se derretia dentro dele. – Vamos nos atrasar.
Encarou o copo em sua mão. Ele não queria ir para aquele maldito evento. Era
uma grande perca de tempo. Se todas aquelas pessoas soubessem o caos que
era fora daqueles muros ninguém estaria fazendo festas nem promovendo
jantares. Bateu a aliança em seu anelar contra o vidro. Maldita hora em que
colocara aquele anel no dedo. Virou-se e a encontrou parada apenas a um
passo para fora do quarto. Ela era absolutamente linda e estava fabulosa com o
longe vestido que usava. Deixou o ar escapar por entre seus dentes enquanto a
checava da cabeça aos pés. Ela tinha que parar de ser linda. E junto com isso
tinha que parar de ser também inteligente, sexy, generosa, esperta, racional e
todas as muitas outras malditas qualidades que a faziam ser única.

- Não está congelando aqui fora? – ela perguntou como se o julgasse louco
por estar ali enquanto cruzava os próprios braços contra o corpo. Ele havia sido
o poço da arrogância com ela e mesmo assim ali ela estava o encarando com
os olhos cheios de receio, como se já estivesse tentando se proteger do insulto
que ele poderia tornar a jogar em cima dela a qualquer momento.

Sua aliança bateu contra o copo nervosamente dessa vez.

- Te ofendi quando falei sobre ter casos com os bruxos da comissão? – ele
perguntou sem nem mesmo saber o que fazia. As palavras saíram de sua boca
antes que tivesse o tempo para pensar nelas duas vezes.
Hermione pareceu ficar confusa por cima de sua postura receosa. Ela não sabia
o que viria daquilo e até mesmo ele temia pelo que poderia fazer. Não admitia
seus erros em voz alta. Nunca admitia seus erros em voz alta.

- Sim. – ela respondeu com a voz baixo como se duvidasse se deveria


mesmo responder ou não.

O ar quente que saiu se sua boca quando ela expirou subiu como vapor. Seus
lábios tremeram com o frio e mesmo assim ela ficou ali parada o encarando.
Draco desviou o olhar, bateu novamente com a aliança em seu copo. Nunca
admitia seus erros. Tomou o último gole de uma vez.

- Então eu não deveria ter dito. – disse e passou por ela voltando para o
quarto.

Não queria ver a expressão dela. Ela já deveria saber que aquilo era o mais
perto de suas desculpas que um dia chegaria. Largou o copo sobre um móvel
qualquer e voltou para terminar de vestir-se. Abotoou sua camisa, atou o cinto,
vestiu o terno, alinhou os cabelos e desceu. Desceu e entrou na carruagem
seguido de Hermione.
O caminho era longo e o silêncio entre eles era terrível. Eles não ousavam
cruzar o olhar e Draco desejou nunca ter visto o que viu quando chegou em
casa. Ele queria muito voltar a ser o que eles haviam sido no último final de
semana que tivera a chance de passar em Brampton Fort. Haviam ocupado as
noites com sexo, conversas aleatória, soluções para a guerra, conflitos do
mundo mágico e qualquer outro pensamento que atravessasse a mente deles.
Todo aquele clima entre eles agora era péssimo.

- Estive pensando. – ele começou. Hermione piscou com calma e o


encarou. – Os Bennett tem uma lista bastante restrita de convidados para hoje
a noite. – disse. – Creio que seria um bom momento para conseguir fazer uma
separação daqueles que são leais ao mestre. Precisamos saber quais as
pessoas mais influentes da cidade seriam as primeiras a darem as costas ao
mestre caso o império dele ameasse desmoronar. Até hoje minha família
conseguiu distinguir poucos entre alguns porque é um processo cuidadoso.
Muitos se escondem atrás do medo de dar a entender algum tipo de
deslealdade ao mestre e acabar sendo entregue, principalmente com um Malfoy
por perto.

Ela assentiu em resposta.

- Há algum plano específico para hoje a noite então? – ela perguntou.


Ele negou com a cabeça.

- Estive pensando em improvisar. – sorriu.

Ela processou a ideia e sorriu de volta.

- Gosto de improvisar.

Pararam de frente a nova casa dos Bennett.

- Seja apenas cuidadosa. – ele disse e ela assentiu.


Desceram e foram recebidos pelo vento frio. Draco pode visualizar ao longe um
lago congelado logo ao lado da esplendida mansão que se estendia a sua
frente. Certamente que um casal como Isaac e Astoria não se aventurariam em
morar em nada menor do que aquilo.

Assim que passaram para o lado de dentro se depararam com o ambiente


vitoriano carregado. Receberam ajuda para tirar o casaco e logo Isaac apareceu
sendo seguido por Astoria.

- Não dá para acreditar que conseguiu voltar para Brampton Fort a tempo
da nosso jantar! – Isaac anunciou com um sorriso estampado nos lábios. –
Confesso que estava ansioso para finalmente conhecer sua adorável esposa. –
ele tomou uma mão de Hermione e a beijou com bastante educação.

- Por favor, Bennett. Você já me conhece. – Hermione respondeu usando


um tom adorável.

- Dos corredores de Hogwarts, sim. – disse Isaac. – E por favor, me chame


Isaac. Essa é Astoria, dos corredores de Hogwarts também.
- Claro. – disse Hermione e fez um leve comprimento com a cabeça, mas a
Astoria ignorou aproximando-se dela para lhe dar um abraço.

- Quem iria acreditar que logo você ganharia o coração desse aqui, não é?
– Astoria disse se referindo a Draco.

Hermione pareceu engasgar de leve com a própria saliva, pigarreou e sorriu em


resposta.

- Quem iria acreditar, não é? – foi tudo que ela disse e antes que pudesse
perceber Draco se viu rir pela reação dela, mas passou a mão pela boca
tentando disfarçar seu mal comportamento. Os olhos dourados de Hermione
apenas lhe lançaram um rápido olhar enquanto puxava o ar.

Hermione elogiou a casa enquanto avançavam. Astoria parecia ter escolhido o


lugar porque ela quem contou toda a tediosa história. O restante dos
convidados estavam todos em uma bela e ampla sala. Faltava apenas mais um
grupo de convidados que logo Astoria e Isaac precisaram se retirar para
recebe-los.
Draco estava entretido em descrever o cenário da guerra do lado de fora da
muralha para um grupo de homens que Isaac havia escolhido a dedo como
auxiliares próximos do trabalho que fazia para o policiamento interno de
Brampton Fort quando foram direcionados para a sala de jantar.

Hermione se aproximou assim que eles começaram a se mover.

- Sabia que as roupas que uso são vendidos no dia seguinte pelo triplo do
preço? – ela usou um tom baixo para que somente ele pudesse escutar. – O
vestido que usei no baile anual do Diário do Imperador semana passado
esgotou no dia seguinte.

- É sobre isso que é obrigada a conversar? – ele riu. Hermione estivera se


ocupando com um grupo de mulheres que já conhecia dos eventos anteriores
que era obrigada a atender.
- Você não faz nem ideia. – ela fez uma careta. – E claro que estou agindo
como se já soubesse de toda essa baboseira. – ela soltou o ar. - Como as
pessoas podem ser estúpidas ao ponto de comprar uma simples roupa que não
vale o preço.

- É claro que vale. – ele disse como se não fosse óbvio.

- Não! – ela discordou. – É apenas um vestido.

- Não é apenas um vestido, Hermione. É um vestido que você usou. Já está


passando da hora de se acostumar com isso de vez. – ele disse e ela revirou os
olhos.

Tiveram que se distanciar quando chegaram a mesa. Draco sabia que era o
único ali que poderia se sentar próximo a Isaac e Hermione por ser sua mulher
sentou-se do outro lado ao lado de Astoria. O restante da mesa de organizou
por hierarquia. Os pratos começaram a serem servidos e as conversar foram
tomando corpo.
- McGonagall me fez ler um de seus papéis durante uma detenção que
recebi quando estava no sexto ano. – Isaac se direcionou a Hermione após um
gole em sua bebida. – Foi a primeira vez que me deparei com o seu nome.

Hermione havia acabado de responder um comentário insignificante feito por


Astoria.

- Eu estava no meu terceiro ano, não estava?. – ela precisou de alguns


segundos para voltar no tempo.

- Quarto. – corrigiu Draco.

- Foi o que escrevi sobre transfiguração de seres vivos? – ela perguntou a


Isaac.
- Não. – ele respondeu. – Na verdade era um que havia escrito no seu
terceiro ano sobre os princípios da transfiguração visto por quarenta autores
diferentes. – ele riu como se antecipasse uma piada. – Me lembro de ter lido as
cento e cinquenta páginas que escreveu em três dias de detenção e tudo que
eu conseguia pensar toda vez que via seu nome no topo daquela pilha de
pergaminhos era: Deus do céu, essa garota só pode ser doente.

Hermione projetou o maravilhoso som de sua risada.

- Escreveu cento e cinquenta páginas sobre transfiguração em seu terceiro


ano? – um dos homens a algumas cadeiras a direita de Draco comentou. –
Você deve ser uma Corvinal.

- Na verdade, sou uma Grifinória. – ela respondeu.

- Ah, meu irmão acabou indo para a Grifinória também. – uma mulher
comentou.
- E ele foi a vergonha da sua família por anos. – comentou outra.

- Não diga isso! – um senhor de meia idade interveio. – Fui da Grifinória


também. É uma casa maravilhosa e cheia de corajosos.

- Eu acredito que as personalidades das casas de Hogwarts são uma grande


besteira. – a mesma mulher tornou a se pronunciar. – Draco Malfoy é um
perfeito Sonserino e nós todos aqui sabemos que é o mais corajoso dessa mesa
por enfrentar essa guerra com tanta vontade.

- Sou bem pago por isso, Sra. Norington. – Draco se pronunciou.

A mesa riu.

- Eu acredito que Draco ainda possa ser covarde para muitas outras coisas.
– Astoria se pronunciou de modo descontraído. – Isaac me contou que quando
ele viu nossa menininha na audiência aberta, ele agiu como se estivesse vendo
um tipo de fantasma.

A mesa riu novamente. Draco não viu graça, mas teve que forçar um sorriso.
Tratou de ocupar a boca com sua taça. Hermione a sua frente também pareceu
não ter visto graça. O olhar dela ficou sobre ele alguns segundos.

- Você tem uma menina. – Hermione comentou voltando-se para Astoria.

- Sim. Ela está com quase cinco agora. – disse Astoria.

- Elise. – a mulher ao lado de Hermione comentou. – A pequena Elise. Ela é


adorável. Deveria conhecê-la.

- Eu adoraria. – Hermione disse e Draco soube que nada soaria mais


sincero durante aquela noite do que palavras que saíram da boca dela.
- Não gosta de crianças, Sr. Malfoy? – o homem de meia idade tornou a se
pronunciar.

Draco se permitiu ficar alguns segundos a mais bebendo de sua taça.

- Apenas não sou acostumados a tê-las por perto com frequência. –


resolveu responder devolvendo sua bebida a mesa.

O homem riu.

- Não vai poder fugir delas por muito tempo, a não ser que queira matar a
linhagem da sua família, garoto. – disse ele.
A palavra garoto o atingiu com força. Sentiu o sangue esquentar em suas veias,
sua boca secou e ele calculou a força que deveria fazer para lançar o garfo em
sua mão direto contra a garganta do homem.

- Nós estamos esperando pelo momento certo. – a voz de Hermione soou


depois de um pigarreio. – Não é mesmo, querido? – a voz dela soava
chamando a atenção dele mas seu cérebro continuava calculando o movimento
que deveria fazer com a mão. Um simples movimento. Aquele velho nunca
mais falaria. – Querido? – piscou e encarou os olhos dourados dela a sua
frente. Havia um toque de atenção no olhar dela, como se tentasse fazê-lo se
lembrar de que ninguém ali era seu inimigo. Não ainda. Ela o chamava de
querido apenas por implicância ou quando queria sua atenção.

- Sim. – concordou com ela e limpou a garganta. – Estamos esperando o


momento certo.

- Tem muitas coisas acontecendo por agora. – ela continuou num tom
descontraído, tentando trazer de volta o clima de antes. – Os conflitos estão
passando por uma nova fase, Draco está precisando deixar a cidade com
frequência. E... – ela precisou de um gole de sua bebida. – ...desejamos por
tanto tempo ficar juntos. Um ano ainda não parece o suficiente para sermos
somente eu e ele.
- Ah! – exclamou a mulher ao lado de Hermione com uma empolgação
excessiva. – Adoro um bom romance!

Uma outra mulher fez um comentário sobre o quão imbecil aquilo soava e a
mesa tornou a rir. Draco ficou grato por Hermione ter encontrado uma forma
de colocar um ponto final naquele assunto.

- Draco. – Isaac tornou a se manifestar. - Soube que o Ministério está


fechando o parlamento bruxo definitivamente.

- Não me envolvo no trabalho do meu pai. – Draco disse e viu ali sua deixa.
– Mas posso garantir que ninguém iria ousar protestar contra o Ministério.

- Todos já sabem, desde o começo, que o mestre não apoia o velho


governo. – Hermione se manifestou logo em seguida. Seus olhares se cruzaram
rapidamente e ele pode perceber que ela havia captado o momento perfeito.
Todos descontraídos, vinho suficiente já havia sido ingerido. Ela havia
entendido. – Me surpreende que o parlamento tenha resistido por tanto tempo.
O interesse do povo não é válido em uma ditadura.
Ela deixou aquilo em aberto e Draco achou perfeito. As mulheres na mesa
lançaram olhares surpresos e alguns condenadores sobre ela, até mesmo
Astoria. Não era esperado que uma mulher como ela fosse comentar sobre
política, Hermione aparentemente não fazia ideia disso.

- O interesse do povo! – um homem riu. – Quem se importa com o


interesse do povo? O povo quer mil coisas ao mesmo tempo, se confundem
entre si, protestam por idiotices. A democratização em excesso acabou com os
valores que fundaram o governo bruxo nesse país!

- Você quer dizer as famílias poderosas do Reino Unido? – Hermione


interveio. – Não creio que elas tenham fundado o governo bruxo. O Ministério
foi uma sucessão do Conselho Bruxo que precisou ser reformulado visto
algumas revoluções populacionais. As famílias poderosas da Grã-Bretanha
apenas tinham um voto de maior peso durante esse processo.

O homem claramente desaprovou o que escutara.

- Eu não estava falando sobre o círculo das famílias poderosas. – ele


retrucou. – Estava falando sobre os valores clássico que foram deturpados com
o passar dos séculos.
- Os valores clássicos do qual diz respeito foram formulados pelo círculo de
famílias poderosas, se assim prefere. Todos esses valores foram derrubados
pelo Estatuto em 1692 devido a movimentos populacionais, o que
imediatamente anula o fato de terem sido deturpadas com o passar dos séculos
visto que não deveriam nem mesmo ser praticadas. Obviamente que com a
ascensão do mestre tudo foi retomado. – Hermione foi obrigada a acrescentar.
Tomou um gole de sua bebida. – 1780. – ela continuou. – Foi o ano em que
fecharam o parlamento por interceder demais a favor do povo. O ato seguiu o
golpe absolutista do Ministro da Magia da época, o que causou a maior e mais
duradoura revolução populacional da história bruxa, todos já conhecemos isso.
– devolveu a taça a mesa. – Todos esses exemplos mostram o poder que o
povo tem. – concluiu ela.

- Por isso trabalhamos sempre para que eles estejam do nosso lado. –
acrescentou Draco.

- Tem uma mente brilhante, moça. – o senhor de meia idade comentou.


Hermione sorriu.

- Acaso é a favor do povo, Sra. Malfoy. – o homem tornou a se manifestar.


– Ao menos é o que dá a entender.
- Não. – ela desviou o olhar para ele. – Não estava expressando nenhuma
opinião, Sr. Wigham. Apenas estava expondo os fatos.

- A revolução de 1780 não foi a maior e mais duradoura. – disse o homem.

- De acordo com quem? – Hermione não parecia muito contente. A mesa os


escutava atentos e em silêncio. – Acaso está expressando uma opinião pessoal
porque está duvidando da minha capacidade de expor fatos?

O homem se mostrou desconcertado quando Hermione o encurralou. Soltou um


riso fraco.

- Você é uma mulher...


- Uma mulher? – Hermione o cortou imediatamente erguendo as
sobrancelhas mal acreditando no que estava escutando. – Acredita que por eu
ser uma mulher não deva me interessar nem comentar sobre história e política?
Acredita que eu não tenha conhecimento suficiente para falar sobre esses
assuntos? Me surpreende que um homem estudado duvide de tudo que eu
disse. Acaso tem biblioteca em casa, Sr. Wigham?

- Uma das melhores da cidade. – ele respondeu claramente irritado.

- Então talvez devesse passar mais tempo de qualidade nela. – findou


Hermione.

A mesa explodiu em gargalhadas. Hermione soltou o ar como se estivesse se


sentindo melhor depois do que disse. Draco evitou mostrar que estava sorrindo
e ocupou a boca com sua taça.

- Essa é a garota que escreveu cento e cinquenta páginas no terceiro ano


sobre os princípios da transfiguração visto por quarenta autores, senhoras e
senhores! – riu Isaac mostrando que já havia ingerido álcool o suficiente. – Eu
entendo agora, Draco. Vocês dois. – ele riu e se alongou na cadeira. Soltou um
grande suspiro. – Eu sinto falta do velho governo! – mostrou as mãos em sinal
de culpa. – Não me entendam errado, mas as vezes sinto falta dos grandes
negócios, reuniões de balanço, fechamento de contratos. Cresci vendo meu pai
se divertir com tudo isso e me preparei um bom tempo para entrar no ramo.
Mas todos devemos nos adaptar as condições favoráveis, não é mesmo?

- Devemos ser leais, não nos adaptar. – um dos homens comentou e Draco
tratou de gravar o nome dele em sua lista.

- Sim, sim. – soltou Isaac em resposta, mas não se importando muito.

- Vem fazendo um bom trabalho, Isaac. Pode ter certeza que eu já o teria
mandado embora se não estivesse. – Draco tratou de comentar.

- Sim, sim. – ele repetiu e riu.

Draco cruzou seu olhar mais uma vez com Hermione. Ela havia entendido. Uma
mulher reclamou sobre o assunto, mas outro homem se manifestou em seguida
a favor do velho governo. Os comentários se seguiram, cada um expressando
sua própria opinião sobre o velho governo. Logo a conversa se assentou sobre
os efeitos do fechamento do parlamento bruxo. Alguns homens apoiaram
Hermione em sua defesa pela história, mostrando que o povo era um inimigo
em potencial. Draco seguiu mostrando como o povo estava do lado deles.

Quando seguiram para uma sala ao lado após o jantar Hermione já era o objeto
de desejo de todos. Era sempre esperado o comentário dela. Tudo que ela dizia
era levado em extrema consideração e Draco se sentiu orgulhoso por vê-la ser
uma Malfoy como deveria. Ele, por sua vez, foi obrigado a ter que suportar
aqueles que vinham com suas honras falsas e exageradas tentando ganhar
pontos com mais um Malfoy. Vez ou outra seu olhar se cruzava com o dela e
eles exclamavam em silêncio o quão exaustivo era tudo aquilo.

Draco se perguntava quem dali seria o primeiro a dar uma entrevista no dia
seguinte se considerando amigos próximos dele ou de Hermione para exagerar
e criar rumores sobre qualquer coisa que tivessem dito durante aquele jantar.
Ele já conseguia apostar algumas cabeças naquele jogo. Detestava eventos
como aquele e estava ali por Isaac e pelo potencial que ele apresentava em ser
uma das únicas possíveis pessoas de confiança naquela cidade. Ainda precisava
de mais tempo para ter certeza daquilo, mas já trabalhava nisso fazia anos e
sabia que era um processo demorado.

Os convidados foram tomando seus respectivos rumos mais tarde do que Draco
havia imaginado. Pretendia ficar ali mais tempo. Mostrar que era um bom
amigo da família Bennett. Forçou um sorriso e acenou para um casal que
estava indo embora. Encontrou Hermione não muito distante se despedindo de
uma das senhoras ao qual havia passado boa parte da última hora
conversando. Aproximou-se por trás assim que ela ficou só, passou um braço
por sua cintura e colou a boca em seu ouvido.
- Queria te arrastar para algum lugar onde eu pudesse arrancar esse
vestido de você. – sussurrou.

Hermione pareceu surpresa de inicio, mas riu e se desvencilhou dele.

- Parece que estou fazendo um bom trabalho. – foi o que ela disse
voltando-se para ele.

- Não tem nem ideia! – ele sorriu e ela sorriu de volta, mas não por muito
tempo. Uma vozinha abafada e distante pareceu alcançá-los. O sorriso dela se
desfez no mesmo instante. Talvez ela estivesse pensando que estava
alucinando. Draco sabia bem o que era. Não demorou e a voz, ainda abafada,
ficou muito mais próxima. Hermione quase pulou para longe quando uma porta
dupla ao lado deles moveu ao som de batidas rápida. – Hermione. – Draco
tocou seu braço. – É apenas a filha deles. – estendeu a mão e abriu a porta.

A menina passou quase voando por eles para dentro da sala. Ela chorava pelo
pai e Isaac apareceu quase no mesmo instante para acudir a criança. Astoria
aproximou-se soltando exclamações surpresas por ver a menina ali. Logo uma
mulher apareceu se desculpando por não tê-la conseguido segurar e informou
que Elise estivera chorando e implorando para descer desde o começo do
jantar. Havia sido impossível fazê-la dormir.

- Draco. – Hermione o chamava se aproximando como se quisesse se


esconder nele e o tocando para chamar sua atenção. – Draco, eu quero ir
embora. Vamos embora.

- Ainda não terminamos aqui. – ele respondeu.

- Draco, por favor...

- Não, Hermione. – a cortou. – Olhe para mim. – ele ordenou e ela ergueu
o olhar para ele. Seus olhos brilhavam. Ele quase quis desistir de ficar ali. Sabia
que olhar para a menina deles a faria se lembrar e se lembrar era doloroso. –
Nós temos que superar iss...
- Não agora! – ela cortou com os dentes cerrados. Os olhos dela brilharam
ainda mais. – Vamos embora!

- Hermione! – Astoria aproximou-se. Hermione puxou o ar e voltou-se para


ela. – Essa é Elise, minha filha. E me desculpe pela entrada nada triunfal, não
estava dentro da programação.

A menina estava no colo do pai, os olhos vermelhos, os bracinhos em volta do


pescoço dele. Ela vestia um pijama infantil que a fazia parecer uma boneca.
Hermione se aproximou com cuidado.

- Olá. – se dirigiu a menina. – Me chamo Hermione.

- Eu sei. – a menininha disse. – Te vi na revista. Mamãe lê para mim. Você


usava um vestido bonito. Você é bonita. - Hermione riu e agradeceu, mas sua
voz saiu baixa. – Está tudo bem com você? Parece que vai chorar.
Aquilo pareceu ser o aviso de Hermione. Ela negou com a cabeça, limpou a
garganta e respirou fundo.

- Não, eu só... – ela pensou. – Estou cansada apenas.

Elise bocejou.

- Eu também, mas não consigo dormir sem que papai me conte uma
história. Ele me fez prometer que eu me desculpasse pelo meu mal
comportamento, então já que se sente cansada posso te contar uma das
histórias que ele costuma contar para mim. – ela voltou-se para o pai. – Seria
um bom pedido de desculpas, não seria?

Isaac riu.

- De fato seria. – respondeu.


- Você iria querer ouvir? – Elise tornou a voltar-se para Hermione.

- Eu adoraria. – respondeu Hermione.

Isaac a colocou no chão.

- Vai ter que se sentar, é um pouco longa. – disse a menininha.

Hermione sorriu.
- O que acha de você escolher um bom lugar? – sugeriu ela enquanto se
distanciavam.

Isaac riu da cena e aproximou-se de Draco.

- Nunca vi uma menina da idade dela ser tão sociável. – bateu uma vez em
seu ombro e passou por ele.

Draco puxou ar e virou a bebida em seu copo de uma vez só. Astoria ainda
estava ali. A encarou por alguns segundos e passou por ela. Precisava de mais
álcool. Afastou-se até o estoque de bebidas e tornou a encher seu copo e dessa
vez foi bem mais generoso. Tomou um longo gole e encarou Hermione sentada
em um chaise longue com Elise. A menina não parava de falar, mas sempre
dava pausas para bocejar. Hermione parecia um tanto desconcertada, mas
havia um sorriso em seu rosto junto com um brilho nos olhos que ele não
conseguia olhar por muito tempo. Uma senhora logo se aproximou das duas,
talvez para se despedir de Hermione, mas acabou engajando em alguma
discussão divertida com a menininha.

- Vocês perderam um, não perderam? – Astoria se aproximou. Draco a


olhou confuso. – Um filho. – ela explicou. – Hermione ficou grávida e perdeu a
criança, não foi?
Como ela sabia daquilo?

- Como sabe disso?

- Perdi um também. – ela disse. – Eles dizem que é comum na primeira


gravidez, eu ainda estava no primeiro trimestre, mas não é algo muito fácil de
explicar. Eu nem estava querendo filhos. Mas é uma parte de você que vai
embora. – ela suspirou. - Eu não suportava ver crianças por quase um ano e o
primeiro olhar que Hermione lançou para Elise... Eu conheço aquela dor.

Draco não respondeu nada. Tomou mais um longo gole de sua bebida e não se
moveu sabendo que não era prudente deixar a mesa de bebidas visto que logo
precisaria de mais.

- Hermione estava no segundo trimestre. – foi tudo o que disse.

- Oh. – Astoria soltou uma exclamação baixa. – Deve ter sido doloroso.
Draco apenas assentiu concordando. Ela continuou ali, ao seu lado, parada,
sem abrir a boca.

- Aqui estamos eu, você e uma mesa novamente. O que quer, Astoria? –
finalmente abriu a boca.

Ela pareceu um tanto surpresa pela direta que recebera. Abriu a boca para
responder qualquer coisa no mesmo tom, mas respirou fundo fechou os olhos
rapidamente e riu. O encarou.

- Ainda acha que eu quero algo com você, Draco? – balançou a cabeça e
desviou o olhar. – Francamente. Quantas vezes vou ter que dizer que amo o
meu marido?

- Prove. Palavras são apenas palavras, Astoria. – bebeu mais um gole.


Ela riu.

- Por que sempre te incomodou tanto o possível fato de eu ainda nutrir


qualquer tipo de sentimento por você, Draco? – ela disse enquanto ambos
observavam Hermione e Elise. – Sei que conhece o valor do sentimento. Vê sua
mãe sendo sufocada por eles todos os dias, e você a ama, e odeia vê-la tão
presa a isso. Te incomoda a mínima chance de eu não ter te superado porque
sabe que o que fez comigo foi absolutamente errado. Me iludiu, me fez criar
milhões de sentimentos e expectativas. Eu acredito que preferiria desejar a
morte ao seu pior inimigo do que vê-lo no mesmo estado que sua mãe se vê
com seu pai. Presa a tantos sentimentos. Talvez seja por isso que não
consegue deixar Pansy Parkinson longe de sua vida. Ela é tão doente por você,
e se vê incapaz de dar as costas a ela porque sua própria mente deve lembrá-lo
em algum momento que a dor que ela sofre pode ser a mesma dor que sua
mãe guarda. – ela virou-se para ele. – Levei anos para te superar e sabe o que
me ajudou? Perceber, depois de muito tempo, que apesar de todo o luxo, de
toda a fama e de todos os seus atributos físicos, que sua vida é bastante
miserável.

Draco se viu sorrir. Por isso havia escolhido Astoria Greengrass. Abaixou os
olhos para sua bebida e brincou com o líquido no copo por alguns segundos. Ela
era a garota perfeita quando a conheceu. Não era excepcional, mas era
inteligente, bonita, de boa família e sabia o compreender quando se esforçava
bastante. E ele havia tentando. Havia realmente tentado. Fizera tudo que seus
colegas faziam com suas namoradas. A levara em encontros, lhe dera
presentes, andara de mãos dadas... tudo! No final ele se viu apenas
absolutamente entediado. Ainda se lembrava do sono poderoso que tinha
quando a acompanhava para tomar os chás de Madame Puddifoot em
Hogsmeade.
- Me desculpe por não ter conseguido me apaixonar por você. – ele disse.

Ela soltou um riso baixo novamente.

- Para alguém que nunca se desculpa por nada, deve realmente se sentir
culpado.

- Não me faça querer te matar, Astoria. – foi tudo que ele respondeu.

Ela riu.

- Você não foi o único homem que me fez mal, Draco. – ela foi sincera. –
Tive que passar por alguns relacionamentos realmente ruins para que a vida
pudesse me dar algumas lições. Confesso que sempre fui muito superficial e
talvez isso tenha me levado a fazer escolhas ruins. Fico grata por Isaac não ter
sido minha escolha ou eu teria acabado me enfiando em um casamento com
grande chances de desastre. – ela sorri - Ele me ensinou muitas coisas.
Acredito que acabamos nos ensinando muitas coisas com o passar dos anos.
Crescemos juntos. E eu finalmente pude entender que o que uma mulher
precisa não é de um homem-troféu para exibir para as amigas ou na rua.
Pensar dessa forma por anos me levou aos meus fracassos. O que uma mulher
precisa é muito mais do que isso. Claro que um homem assim seria a cereja no
topo do bolo, mas o que uma mulher realmente quer é um homem que procure
entende-la, um homem que a apoie, um homem que a faça se sentir bem. – ela
disse aquilo e Draco quis quebrar seu copo com a força dos dedos. Theodoro
Nott fazia sua mulher se sentir bem, segundo sua própria mulher. – Isaac é
tudo isso e também a cereja em cima do bolo. – ela riu de sua própria
conclusão.

- Apenas palavras, Astoria. – foi tudo que ele disse.

Ela suspirou e eles ficaram em silêncio mais alguns segundos.

- Você realmente a ama? – ela perguntou. – Hermione. A ama?

Draco se viu rir da pergunta. Astoria entendia que pessoas como eles não
tinham o luxo de se casar por amor, na verdade.
- Eu a odeio. Sempre a odiei. – ele respondeu. Não se importava que aquilo
talvez a fizesse questionar as histórias que os jornais e revistas contavam.

- Então talvez a ame. – foi o que ela disse. Ele franziu o cenho e a encarou
confuso. – As pessoas estão tão acostumadas a verem o ódio como o oposto do
amor. – ela sorriu. - O ódio não é o oposto do amor. O oposto do amor é a
indiferença. Indiferente a Hermione Granger eu tenho absoluta convicção que
você nunca foi. Sempre se importou com ela. Em Hogwarts, costumava fazer
comentários sobre ela mesmo quando ela não estava por perto. A linha entre o
amor e o ódio pode até ser comprida, mas muito frágil. – ela suspirou
novamente. – Você a olha diferente. Não sei o que é, mas é diferente. Nunca
me olhou da forma como olha para ela quando estávamos juntos.

Talvez fosse porque nunca havia a odiado tanto quanto odiara Hermione.

- Escute, Astoria. Se o que realmente a faz me perseguir agora é o fato da


minha história com Hermione bater com o período que estávamos juntos,
confie em mim, nunca foi minha intensão. Eu realmente tentei fazer com que o
utópico de nós dois desse certo. Não deu. Isso é tudo. – virou o último gole. -
Agora eu preciso ir porque já escutei e vi demais por hoje. – deixou o copo na
mesa e foi até Hermione. Elise parecia não ter resistido e estava dormindo
sobre um rolo de almofadas, Hermione tinha um braço no espaldar para apoiar
a cabeça em sua mão e velava em silêncio o sono da menininha. – Hermione. –
a chamou e ela ergueu os olhos para ele com calma. – Vamos. – disse.
- Não podemos ficar mais um pouco? – a voz dela soou tão doce que ele
quase considerou dizer que não havia problema nenhuma. Estava surpreso por
ver que ela queria continuar ali depois de ter implorado para ir embora por
causa de Elise.

- Não. – respondeu.

- Já terminou o que tinha que terminar aqui? – ela perguntou piscou


parecendo um pouco cansada e se levantou.

- Não. – respondeu. – Mas já me cansei do dia de hoje. Está na hora de


terminar.

Hermione assentiu. Disse que iria se despedir de algumas mulheres que parecia
ter conhecido em algum evento anterior importante. Eles se separaram e Draco
foi em busca de Isaac. Não o encontrou. Voltou pelo caminho que daria ao hall
de entrada e quando estava colocando novamente seu casaco Hermione
apareceu pedindo pelo seu. Isaac os encontrou apenas quando estavam
descendo das escadas para o pátio onde a carruagem os esperava.

- Astoria me disse que já estavam indo! – ele disse. – Por que tão cedo?
Estava esperando que todos fossem embora para que pudéssemos esvaziar um
bom whisky em meu escritório, como nos velhos tempos, enquanto nossas
mulheres conversavam sobre... coisas de mulher.

Draco riu.

- Hermione não iria gostar disso, tenho certeza. – disse.

Ele riu de volta.

- Sim, percebi que ela tem uma inclinação para coisas úteis. – disse.
Hermione apenas sorriu em resposta. – Escute. – ele se aproximou de Draco. –
Entendo que precise ir. Está a frente de uma guerra. – colocou uma mão no
ombro de Draco. – Fico grato que tenha vindo hoje. Sabe que isso nos coloca
em uma posição muito boa para a imprensa e para a cidade. Foi apenas um
simples jantar e mesmo assim apareceu. – Se aproximou mais e abaixou a voz.
– Nós dois não somos homens honrados, sabe disso. Somos parte das famílias
poderosas e você é um Malfoy. Mas quero que saiba que estou do seu lado. Não
por lealdade, não porque somos colegas, não porque nossas famílias nunca se
desentenderam. O mundo gira muito rápido e foda-se o velho governo ou o
império ou o que quer que venha a acontecer. Estou do seu lado porque é um
Malfoy e Malfoys nunca caem.

Draco apenas assentiu. Sorriu. Era exatamente isso que ele tinha para terminar
ali. Saber se Isaac era inteligente mesmo, ou era apenas mais um fantoche de
Voldemort.

Eles se despediram e assim que Hermione e ele se acomodaram dentro da


carruagem e entraram em movimento, ela se manifestou:

- Acha que ele desconfia do que estamos fazendo?

Draco negou com a cabeça.


- Isaac cresceu aprendendo a jogar o grande jogo dos negócios, Hermione.
Ele está apenas sendo esperto. Como acha que os Bennett conseguiram
receber a Marca Negra tão rápido mesmo tendo decidido se juntar ao mestre
somente depois que o poder dele se consolidou? – sorriu. - Eles estavam do
nosso lado. E enquanto o nosso barco ainda estiver navegando, eles vão estar
do nosso lado.

**

O restante da viagem para casa havia sido silenciosa e demorada. Hermione


havia fixado o olhar na janela e durante todo o caminho não fez mais nada
mais do que encarar a paisagem que os cruzava. Assim que chegaram em casa
Draco tratou de se fechar em sua sala.

Equilibrando a cadeira somente com as duas pernas de trás e com os pés


cruzados sobre sua mesa ele encarava o painel em seu escritório. Tinha nas
mãos uma carta de Voldemort. Estava sendo convocado ao gabinete para
atualizá-lo sobre a guerra. Draco já havia preparado aquele discurso. Se
preocupava apenas com a reação do mestre quando ele soubesse o nível da
magia que a Ordem estava utilizando. Não mencionaria nada do véu. Até o
presente momento os relatórios de inspeção do Ministério não haviam
identificado o roubo do artefato.
Tentou se concentrar no painel a sua frente. Estava bem organizado. Mostrava
suas estratégias, a situação atual da guerra atrelado aos conflitos dentro de
Brampton Fort. Algumas de suas expectativas e jogadas ainda se encontravam
fora dele, mas sempre que Draco sentava ali ele pensava sobre como inclui-los
e quando inclui-los da melhor maneira possível. Talvez um dia mostrasse para
Hermione como ele gostava de se organizar com aquilo. Por enquanto ele
seguia com ela a passos de tartaruga. Assim tinha tempo para ser cuidadoso.

Foi para o quarto somente quando admitiu que estava incapaz de pensar.
Aquele dia havia sido longo demais e embora estivesse finalmente em casa,
debaixo do seu conforto, as coisas não estavam acontecendo como ele havia
planejado que acontecesse. Tudo que ele queria era estar vivendo o mesmo
que estivera na última vez que havia tido a oportunidade de voltar para casa.
Ter Hermione a noite inteira e pensar sobre a guerra. Agora tudo o que tinha
era uma mulher em sua cama que não podia tocar, uma visita ao gabinete do
mestre no dia seguinte, um Nott interessado em sua esposa e pensamentos
extremamente irritantes que o perseguiam.

Entrou e encontrou Hermione de pé encarando a lareira com os braços


cruzados. Ela já estava coberta pelo seu longo robe e desviou o olhar
calmamente para ele.

- Pensei que estivesse dormindo. – ele disse abrindo os botões de sua


blusa.
Ela assentiu e tornou a encarar o fogo dançar a sua frente.

- Já estou indo. – foi tudo o que respondeu usando uma voz baixa e calma.

Draco seguiu para o closet onde trocou toda a roupa do jantar por sua calça de
algodão. A roupa já conseguiu lhe prover um pouco de conforto e se sentiu
grato pelo menos por isso. Voltou para o quarto e Hermione continuava
exatamente no mesmo lugar. Ela parecia muito longe daquele quarto calada
como estava.

Ele afastou as cobertas do seu lado da cama e deitou. Colocou os braços atrás
para trás como apoio para sua cabeça e fechou os olhos. O silêncio o
incomodou. Por mais cansado que estivesse se viu bem distante do sono.

- Posso escutar o seu cérebro, Hermione. – disse ainda com os olhos


fechados. – É bem irritante.
- Desculpe. – a voz dela soou.

- Por Deus! Não se desculpe! – Quando ela iria aprender que Malfoys não
pediam desculpas.

- Desculpe. – foi tudo que ela disse.

Ele abriu os olhos e suspirou.

- Hermione, pensei que minha mãe já tivesse lhe ensinado, mas Malfoys
não pedem descul...

- VOU PEDIR DESCULPAS QUANTAS VEZES EU QUISER! – ela se exaltou e


ele se viu surpreso. Não havia esperado aquilo. Sentou-se e ela se virou para
ele. – VOU PEDIR DESCULPAS SEMPRE QUE EU QUISER PEDIR DESCULPAS!
SEMPRE QUE HOUVER A NECESSIDADE DE SE PEDIR DESCULPAS! POR QUE
VOCÊ SABE O QUE ISSO SIGNIFICA? SIGNIFICA TER EDUCAÇÃO! SIGNIFICA
RESPEITO! – ela ofegou.

Draco se sentou e a encarou um tanto confuso.

- Não vi que estava com raiva. – disse e a viu puxar o ar e abrir a boca
pronta para se mostrar revoltada novamente, mas então simplesmente mudou
a expressão, soltou o ar, cobriu o rosto e virou de costas novamente.

- Não estou. – ela sussurrou. Suspirou umas duas ou três vezes e puxou os
cabelos para trás. – Me desculpe.

- Pare de pedir des...

- NÃO! – ela tornou a voltar-se para ele. O olhar firme. Ele a encarou de
volta. Ela trocou novamente a expressão e ele viu dor brilhar no dourado de
seus olhos. – Eu não sei mais quem eu sou. – ela soltou. A voz fraca. – Eu
quero tanto um filho. Eu nunca pensei que pudesse querer tanto algo. Eu sei
que ele irá vir uma hora ou outra e talvez isso não esteja me fazendo bem
porque eu sinto como se todo o amor do mundo já estivesse em mim por
causa disso. Quero tanto e já amo tanto. Isso tem me feito ser o pior de mim.
– os olhos dela brilharam e dessa vez ele soube que eram só lágrimas. Ela
suspirou decepcionada. – Estou sendo fria, minimalista, racional. Engano as
pessoas, minto, tento ser esperta a qualquer custo. Vou deixar que Fred
Weasley seja morto, prometi entregar Harry Potter a Voldemort quando passei
a maior parte da minha vida lutando para o proteger dele. Tudo porque eu
quero tanto algo. Tudo por algo que eu-quero. – a voz dela morreu e uma
lágrima solitária escorreu sua bochecha pálida. Ela logo a limpou. – Eu nunca
fui egoísta, Draco. – ela concluiu com a voz trêmula.

Eles se encararam por alguns segundos em silêncio. Draco engoliu a saliva. Ela
estava passando pela fase que ele havia esperado que ela chegasse.

- Não sou seu terapeuta. – disse. A expressão dela mudou no mesmo


instante.

- Deus do céu! – ela suplicou. – Será que você poderia não ser um ser
detestável agora?

- Você quer um conselho, Hermione? Vá dormir. – era o melhor que ele


podia fazer por ela.
Ela o encarou incrédula. Por um segundo pareceu não saber o que falar, mas
então seu rosto se contorceu numa careta.

- Você não entende. – a dor estava ali novamente. – Na verdade, não tem
o menor interesse de entender, de me entender. Não conhece quem eu era.
Para você tudo que eu era não passava de uma Sangue-Ruim sabe-tudo. Eu
tenho uma alma, Draco. E diferente de você eu não procuro escondê-la. Ao
menos procurava não escondê-la.

Ele uniu as sobrancelhas e se levantou.

- Eu te dei um conselho: Vá dormir! Estou te ajudando! Não seja


ignorante! – se viu irritado e sem paciência por ver que ela estava o colocando
no meio de seu momento temperamental.

- Me ajudando? – ela subiu uma oitava não acreditando no que ele havia
dito. – Realmente acha que eu consigo dormir?
- É o melhor que pode fazer! – ele se aproximou. – O que você quer,
Hermione? Quer que eu te conforte? É isso que quer? Pensei que já me
conhecesse para saber que eu não vou te confortar, não vou te abraçar não vou
te contar uma historinha para dormir! Eu estou te dando o melhor conselho que
pode receber agora. Ou você que eu fale para desistir? Se é isso que quer vá
em frente. Desista. Volte para o seu ponto zero, de onde começou, que se bem
me lembro foi exatamente aqui nesse quarto, bem ali naquela cama, de onde
você não queria levantar, não queria comer, não queria nem mesmo existir! Se
quer desistir, volte para a cama, não levante mais dela, chore o dia inteiro pela
criança que vão te tirar e pela vida miserável que vai ter, se é isso que vai te
fazer se sentir melhor. – buscou ar. – Agora se quer ter a mínima chance de
virar isso, Hermione. Engula o que quer que estiver passando agora, vá para a
cama, durma, acorde amanhã, levante e lide com isso. Se amanha piorar, não
importa. Vá dormir, acorde no dia seguinte, levante e lide com isso. Durma,
acorde, levante e lide com isso. – aproximou-se mais. – Lide com isso. –
repetiu. - Todos os dias. Até ficar forte. – terminou. O silêncio os preencheu.
Hermione não ousava desviar os olhos dele. Draco apenas deu as costas e
tornou a se sentar na cama. Encarou as próprias mãos. Soltou o ar. – Eu não
sou alguém que irá te dizer um monte de palavras que fazê-la se sentir bem
por alguns segundos. Não sou Theodore. – se viu dizer. Ergueu os olhos para
ela. – Se algum dia eu quiser te fazer bem, acredite, não vai ser por alguns
segundos.

Ela continuou em silêncio, parada e com os olhos fixos nele. Ele havia
terminado ali. Tornou a deitar. Usou os braços como apoio para sua cabeça e
fechou os olhos. Novamente ele se viu cansado, mas com o sono muito longe.

Não demorou muito e Hermione apagou a lareira e o restante das luzes. Ele
abriu os olhos a tempo de vê-la se despir de seu robe e se enfiar debaixo das
cobertas ao lado dele. Tornou a fechar os olhos e inalou o cheiro dela. Aquilo
lhe trouxe um conforto do qual ficou bastante grato. Estava em casa. Não
precisava passar a noite fazendo sexo com Hermione embora isso soasse
bastante apelativo. A presença dela ali ao seu lado já parecia ser um pouco
confortante. Estava seguro ali. Estava em casa. Aquilo era o suficiente para
fazê-lo se sentir minimamente bem.

O sono não chegou e estava sentindo que já haviam se passado horas. Seus
olhos continuavam fechados e seus pensamento não lhe davam nem um
segundo de descanso. Se mover parecia estúpido, a última coisa que queria era
se sentir mais acordado do que já estava.

- Hermione. – se viu chamá-la. A voz baixa era o suficiente para alcança-la.


Ela murmurou um som em resposta. Ele sabia que ela não estava dormindo.
Não iria dormir tão cedo assim como ele. – Prometeu entregar Harry Potter ao
mestre?

Ela suspirou.

- Ele me deixaria ficar com a criança, caso fosse menina. – ela disse depois
de alguns segundos.
O silêncio se estendeu por um tempo até Draco finalmente tornar a abrir a
boca:

- Sabe que ele pode não deixar, não sabe? Mesmo que entregue Potter.

- Sei. – foi tudo que ela respondeu. O silêncio novamente. Dessa vez ele
durou bem mais. – Talvez eu consiga fazer algo que o obrigue a cumprir o
acordo. – suspirou. – Ainda não sei, mas eu tenho que tentar. Não sei se
aguentaria perder outro filho, Draco.

Ele abriu os olhos e viu o teto logo acima. Virou a cabeça para encontrar os
olhos abertos dela o encarando no escuro.

- Não vamos perder mais nenhum filho. Precisa acreditar nisso. – disse –
Temos um plano para isso.
Ela fechou os olhos, respirou fundo e balançou minimamente a cabeça
negativamente contra o travesseiro.

- Não é isso, Draco. – a voz dela foi quase mais baixa que um sussurro. Ela
arrastou para mais perto dele. – Eu quero ficar com meu filho. Seja ele menino
ou menina. Não quero só salvá-lo, manda-lo para longe dessa cidade onde ele
vai ser criado talvez por alguém que eu nunca nem vi, não sabendo quando eu
teria novamente a chance de vê-lo. – os olhos dela brilharam e a voz dela
tremeu. – Eu quero tê-lo comigo. Quero fazê-lo dormir todos os dias, quero
conhece-lo, quero que ele saiba que eu onde eu estiver, ali será o lugar mais
seguro do mundo. Quero mostrar a ele que o amo. Todos os dias. Eu quero ser
a mãe dele. – mais uma lágrima silenciosa escorreu o canto dos olhos dela.

Draco engoliu em seco. Virou-se para ela e tocou seu rosto com muito cuidado.
Via nos olhos de Hermione sua mãe. O amor e cuidado único que via nos olhos
silenciosos dela. Tinha na língua as palavras que iriam fazer com que mais
lágrimas escapassem daqueles olhos. Ela sabia que aquilo não era o melhor
para o filho que iriam ter e era exatamente aquilo que devia lhe cortar o
coração. Primeiro, ele e Hermione não eram uma família para criar um filho.
Segundo, Voldemort não deixaria que eles ficassem com um, já havia se feito
bem claro a respeito disso. Terceiro, a situação em que estavam e o modo
como jogavam dentro daquela guerra não tornava a casa deles o lugar mais
seguro do mundo.

Não disse nada. Não tinha coragem o suficiente para ser racional ali. Ela havia
dito todas aquelas palavras e criara nele a vontade de ter seu filho com ele
todos os dias. Ficou em silêncio para se fazer acreditar que talvez houvesse
uma chance, uma saída, uma boa justificativa. Soltou o ar e arrastou os dedos
pela pele macia dela. Imaginou como seria. Talvez ele e Hermione pudessem
fingir que eram uma família. Que eram felizes. Quem sabe.

Passou os braços por ela e a trouxe para perto. Suas pernas se entrelaçaram
encontrando uma posição confortável para a proximidade que ele havia criado.
O calor do corpo dela contra o seu o envolveu e ele considerou que talvez
assim pudesse dormir. O silêncio os encheu e durou.

Seu queixo tocava os cabelos dela e ele conseguia sentir aquele cheiro floral
acalmar seus pensamentos. O inalou até finalmente conseguir sentir o sono
chegar mais próximo.

- Hermione. – a chamou mais uma vez. A última. Ela respondeu com um


murmúrio sonolento dessa vez. - Acha que minha vida é miserável? – Astoria
havia dito aquilo.

Ela respirou fundo e soltou o ar devagar como se estivesse pensando a


pergunta que havia sido feita.
- Não sei. – respondeu muito baixo. - Você é feliz? – ela perguntou de
volta.

Ele não precisou pensar tanto para responder:

- Não.

Hermione suspirou e se acomodou mais contra ele.

- Então talvez realmente seja miserável. – ela disse.

Draco respirou e fechou os olhos. Tinha um conselho para si mesmo: Lide com
isso.
27. Capítulo 27

Hermione Malfoy

Hermione cruzava o átrio do salão principal e tinha o som dos saltos de seu
sapato contra o chão abafados pelas conversas e por toda a movimentação ao
seu redor. Carregava um pesado fichário que continha talvez umas cinquenta
especificações fitas e arranjos. Detestava estar ali fazendo parte da organização
da Cerimônia de Inverno quando seu grupo da Comissão trabalhava tão duro
em solucionar os problemas que colocavam em jogo a segurança da guerra e
consequentemente a de todos ali.

- Sra. Malfoy! – uma mulher veio contra ela a um passo apressado. –


Estive a procurando nas câmaras para buscar o fichário.
- Aqui está. – Hermione o estendeu para ela. – Está me parecendo
bastante ocupada hoje, vim até aqui trazê-lo a você.

A mulher pareceu surpresa e pegou o caderno.

- Até mim? - ela sorriu. – Obrigada.

Hermione retribuiu o sorriso e antes que pudesse dar as costas para voltar para
a câmara de onde havia saído, seu nome foi exclamado em algum lugar ao seu
lado. Ela virou-se e encontrou Astoria de pé quase cercada por um grupo de
organizadores. Hermione foi até ela.

- O que acha? – Astoria apontou para duas placas com diversas imagens de
cadeiras expostas a frente delas. – Louis XIV ou Louis XV?
Hermione observou com atenção os modelos de mobiliário. Ela definitivamente
era a favor do estilo de Louis XV, mas sabia que o Barroco mais rústico e
tradicional de Louis XIV agradaria o gosto da maioria.

- Temo que Louis XV tornaria o ambiente muito romântico, não queremos


isso. – comentou Hermione pensativa.

- Temo por isso também. – concordou Astoria analisando as placas


juntamente com Hermione. – Louis XIV, então?

Hermione pressionou os lábios e inclinou a cabeça de leve enquanto unia as


sobrancelhas.

- Também não me parece adequado. – ela disse. – Muito pesado. – pensou


em voz alta. Supirou e pensou mais um pouco. – O que acha de Queen Anne? –
olhou para o grupo – Vocês tem Queen Anne? – Eles assentiram. – Ótimo. – ela
voltou-se para Astoria. – Estilo Queen Anne: elegante simples e racional. Não
muito pesado, não muito romântico e bastante patriótico.
Narcisa ergueu as sobrancelhas surpresa.

- Brilhante! – ela exclamou e voltou-se para o grupo. – Mande todos os


mostruários de mobiliário Queen Anne que tiverem para Narcisa Malfoy o mais
rápido possível. – o grupo dispersou-se com rapidez e Astoria voltou-se para
Hermione. – Céus, eu nunca teria pensado em Queen Anne! Acabei de voltar
da América e há algumas variações do estilo lá. Estava tentando surpreender
com algo bem europeu sem partir para o Renascimento nem nada muito
Nouveau. – ela fez uma careta. – Acho que acabei voltando muito no tempo. –
seguiu Hermione quando ela começou a andar calmamente. – Estou tentando
demais fazer isso certo. – soltou o ar frustrada. – Não sei o que há, costumo
ser muito boa com isso.

- Sim, você é. Definitivamente. – encorajou Hermione. – Sua casa é


absolutamente espetacular e devo confessar que depois do breve tour que você
me deu acabei até pensando em adquirir alguns bons quadros para minha sala
de visitas. – não, ela não havia pensado.

Astoria se iluminou.
- Pensou? – ela pareceu se animar bastante com aquilo. – Se precisar de
qualquer companhia para sua empreitada eu estou completamente disponível!
Estou fascinada com essa galeria no Centro que vende originais dos maiores
nomes bruxos da história da arte. Tenho certeza que já esteve lá, mas eu
poderia te dar algumas boas ideias se caso se interessar.

Hermione respirou fundo. Não sabia como sair daquela.

- Hum. – soltou forçando um sorriso. – É realmente péssimo que meus


horários sejam tão apertados agora que tenho que administrar mais uma área
de atuação com a Cerimônia de Inverno. – disse e escutou Astoria soltar um
murmúrio claramente frustrado pela boca. Elas caminharam alguns passos em
silêncio e Hermione se sentiu péssima. Narcisa havia reforçado a ela que os
Bennett eram uma família próxima, que as coisas deveriam continuar assim e
que ela tinha que fazer sua parte. Astoria parecia estar fazendo a dela. – Mas
acredito que posso encontrar um bom intervalo para essa tarde. – acabou
dizendo e se arrependeu logo em seguida quando Astoria tornou a se iluminar.
– Soube que foi você quem escolheu a paleta de cores e estampas. São
absolutamente magníficas. – continuou Hermione olhando os tecidos serem
estendidos nas galerias superiores.

- Não são?! – animou-se Astoria ainda mais. – Sei que pode parecer bobo,
mas fico tão animada de estar de volta. – ela sorriu. – Não que o forte da
América seja ruim. Estávamos protegidos e era tudo que precisávamos para
uma guerra. Mas me sinto de volta em casa. Estar no meio das pessoas que eu
cresci vendo ao meu redor é muito reconfortante. - Hermione sorriu e não foi
forçado. Ao menos Astoria tinha essa chance. – Espero que não esteja com
nenhum ressentimento por Narcisa estar me passando alguma de suas tarefas.
- Não. De forma alguma. – apressou-se Hermione a responder. – Tenho
absoluta certeza de que é melhor do que eu para desempenhá-las. Além do
mais, estou bastante ocupada com outras coisas que ocupam o topo da minha
lista de prioridades. – tentou ser discreta.

Astoria sorriu.

- Como trabalhar na guerra? – ela disse e Hermione se surpreendeu. As


mulheres com as quais era obrigada a forçar um sorriso e desenvolver
conversas sempre evitavam esses assuntos. – Eu imagino que deve pensar que
todas nós não damos a mínima para os estragos do lado de fora da muralha,
nem para o quanto podemos não estar realmente seguros como parece que
estamos.

Hermione se viu desconcertada. Não havia sido abordada assim antes por uma
mulher do status de Astoria.

- Eu acredito que aqui cada um tenha o direito de se preocupar com a


guerra de sua própria maneira. – foi a melhor resposta que encontrou.
- Sensato. – Astoria disse. – Você é uma mulher muito inteligente. Cresceu
com trouxas, sobreviveu como espiã por anos em um grupo decadente e agora
é jogada dentro desse mundo insano carregando um título que qualquer um se
mataria para ter. Imagino que deve pegar um pouco nos seus nervos de vez
em quando.

Hermione sorriu não sabendo ao certo se deveria.

- Certamente. – se limitou a dizer.

- Sei que a admiro bastante. Não é do tipo de mulher que senta em uma
varanda a tarde para tomar chá e discutir sobre polêmicas bobas de um mundo
fútil. Sei que deve considerar as coisas que fazemos bem fúteis. E não precisa
ficar surpresa em me ver falando isso, tenho um marido que se incomoda com
isso e não sabe ficar calado de vez em quando. Aprendi a entender que
realmente são fúteis. – ela suspirou. – Fui criada para amar essas coisas e
aprendi a amá-las e apreciá-las, não sou nem nunca seria o tipo que teria
coragem para estender uma varinha e enfrentar uma dúzia de comensais
treinados. Nunca tive interesse em ser estratégica. Nunca estudei política com
afinco nem também nunca me interessei. Quando Draco e eu namoramos eu
sempre estive tão preocupada em mostrar ser a melhor para ocupar o cargo de
Sra. Malfoy. Sempre procurava provar que ninguém organizaria um chá da
tarde melhor do que eu, que ninguém poderia promover ações beneficentes
melhor do que eu, que ninguém conseguia ser tão sociável, tão política e tão
elegante quanto eu. Estive sempre tão focada em mostrar ser a Sra. Malfoy
ideal que nem mesmo me dediquei a entender e ser o tipo de mulher que Draco
realmente gostava. Por isso entendo que ele tenha tido qualquer coisa com
você quando ainda estávamos juntos.

Hermione franziu o cenho e parou.

- Nós nunca tivemos.

Astoria também parou e a encarou.

- Sim, tiveram. Ao menos é o que os jornais dizem. Eles nunca me


mencionaram, claro, mas Draco e eu estávamos juntos quando ele começou a
se interessar por você.

Hermione ergueu as sobrancelhas, puxou o ar e piscou. Nunca havia feito essa


conexão antes.
- F-foi apenas um leve interesse, as coisas f-ficaram mais séria bem depois
que...

- Tudo bem, Hermione. – Astoria a cortou rindo. – Eu não guardo mais


ressentimentos de nada daquilo. Guardei por bastante tempo de Draco, acho
que foi mais porque eu não acabei me tornando a poderosa Sra. Malfoy do que
pelo fato de não ter sido amada por ele. Quando li as histórias nos jornais,
confesso que um pouco desse ressentimento voltou. Fiquei intrigada querendo
saber o porque logo você. Eu entendo agora. Você é diferente de tudo que ele é
acostumado e ele já teve todos os tipos de mulheres que você pode imaginar.
Draco já experimentou das inteligentes, das elegantes, das dóceis, das sexys,
das amorosas, das corajosas, das intelectuais, das sociáveis, das sensatas, das
racionais, das sentimentais. – ela suspirou. – Você é todas elas ao mesmo
tempo. Ele jamais irá ficar entediado com você. Deveria ver o quanto ele se
entediava comigo as vezes. – ela riu. – Você é a pessoa perfeita para ele. Eu
teria me tornado Narcisa dentro desse casamento. Você, mesmo que tivesse a
chance de acabar se tornando Narcisa, seria forte para enfrentá-lo e seguir com
sua vida mesmo que o amasse. – ela sorriu amavelmente e deu de ombros de
leve. - Eu não seria. – concluiu.

Hermione se viu sem palavras. Astoria parecia ser muito mais do que ela havia
imaginado. Nada de conversas exaustivas sobre a nova moda decorativa com
tapeçarias orientais. Nada do que ela havia esperado.
- Lamento por... – acabou deixando sua voz morrer quando não soube
realmente pelo que se lamentava.

Astoria apenas riu.

- Eu imaginei que você ficaria sem saber o que dizer quando eu acabasse
lhe falando tudo isso. – ela sorriu muito honestamente. – Eu precisava falar
tudo isso. A primeira vez que me encontrei com Draco ele fez o favor de já me
fazer entender que me enxergava como uma possível ameaça a paz dele e
consequentemente a sua. A da relação de vocês, na verdade. Não acho que ele
tenha acreditado que eu sou apenas uma Bennett agora, mas queria deixar
claro para você e para ele que eu amo meu marido. Que os ressentimentos do
passado foram superados. Que eu de fato me tornei uma Bennett e com muito
mais orgulho do que eu acredito que me tornaria como uma Malfoy. – ela
soltou o ar sentindo-se satisfeita por ter dito aquilo finalmente. - Sou
imensamente grata por saber que tive a chance de ser feliz nessa vida quando
tudo poderia ter dado errado para mim. Todas as minhas relações eu me
esforçava em ser perfeita ao invés de ser eu mesma. Quando a guerra começou
e eu fui obrigada a me casar com Isaac para salvar minha família eu achei que
minha vida tinha acabado. Estava com um homem que eu mal tinha trocado
quatro ou cinco palavras na vida, indo para um continente que eu não conhecia
ninguém, deixando minha família para trás e grávida de uma criança que
ninguém sabia. – ela suspirou e desviou o olhar. Hermione se simpatizou muito
com aquilo. – Foi tudo muito difícil. Principalmente quando acabei tendo um
aborto espontâneo ainda no primeiro trimestre. Eu não havia contado a
ninguém que estava grávida, mas aquela criança havia se tornado a única coisa
boa que parecia estar acontecendo na minha vida naquele momento. Foi
péssimo. – Hermione entendia aquilo tão bem. – Mas Isaac é um homem tão
maravilhoso. Mesmo quando ele percebeu que o filho não era dele, ele ficou ao
meu lado. Ele me entendeu, me colocou de pé e me provou que nós só
tínhamos um ao outro e que deveríamos procurar nos fazer bem. Sempre.
Porque essa seria nossa luta para sobreviver a guerra. Eu o amo como nunca
amaria nenhum outro homem. Ele me fez enxergar o mundo de outra forma e
eu consegui sair do casulo da vida perfeita que eu achava que tinha porque
nasci e fui criada em uma família de boa linhagem e com dinheiro. Ele me fez
ser alguém melhor.
De repente Hermione se viu completamente confortável ali com ela. Se Astoria
estivesse inventando tudo aquilo ela era muito boa porque até mesmo a dor
que ela transpareceu nos olhos quando falou de seu aborto, Hermione
conseguiu identificar como sendo tão real quanto a dela quando se lembrava de
sua menina.

- Ele parece ser mesmo um bom homem. – disse sorrindo amavelmente.


Desviou o olhar e soltou o ar. Astoria conhecia sua dor. – Também perdi um
filho. – se viu dizer depois de alguns segundos. – Uma menina. – acrescentou.

- No segundo trimestre. Deve ter sido muito doloroso. – ela disse e


Hermione levou seus olhos até ela imediatamente. – Draco me contou. – ela
logo disse. – Há algumas semanas, no jantar em minha casa. Você estava com
Elise.

- Ele contou? – Hermione estranhou e ao mesmo tempo se surpreendeu.

- Ele confirmou, na verdade. – ela disse. – Reconheci seu olhar assim que
encarou Elise. Eu por muito tempo não conseguia olhar para crianças, me fazia
lembrar o filho que eu havia perdido e era absurdamente doloroso. Quando
comentei com Draco, ele parecia tão entretido em te ver com minha filha que
confirmou como se nem tivesse prestando atenção em mim direito.

Hermione nunca havia falado de sua filha com ninguém além de Draco depois
que havia a perdido. Nem mesmo com Narcisa. A mulher era compreensiva o
suficiente para apenas ignorar que um dia Hermione havia estado grávida. De
alguma forma Narcisa parecia ressentir por isso também e talvez por isso não
comentasse.

- Apenas não diga a ninguém. As pessoas não sabiam que eu... – ela
deixou sua voz morrer novamente. Estava fazendo isso com mais frequência do
que gostaria naquela estranha conversa.

- Eu passei por isso, Hermione. Não é algo que você quer que as pessoas
saibam. Minha própria família nunca nem soube que estava grávida e perdi um
filho quando me casei com Isaac. Nunca contei nada a eles. – ela disse. –
Lamento por sua filha.

- Também lamento pelo seu.


Elas ficaram em silêncio encarando uma a outra enquanto os segundos
passavam. Hermione não conseguia olhar com indiferença ou tédio. Nem
mesmo receio ela se via ter permissão para ter com Astoria. A mulher havia
compartilhado com ela algo íntimo de sua vida e Hermione não tinha coragem
de quebrar a conexão que ela havia feito ali.

- Bom, acredito que logo vocês poderão ter mais filhos. – Astoria tornou a
caminhar e Hermione a seguiu dessa vez. – Sei que não substitui aquela que
perdeu, mas trás bastante alegria.

Hermione sorriu.

- Sua menina é linda. – ela queria tanto um filho. Perder sua filha havia
esvaziado um espaço que ela mesma havia criado dentro de si quando soube
que estava grávida. Não conseguia se livrar dele.

- Obrigada. – Astoria foi tão gentil que Hermione se viu na necessidade de


apreciar da companhia dela por mais tempo.
Ela nunca se sentia confortável na companhia de ninguém ali. Absolutamente
ninguém. Narcisa era o mais próximo de uma boa companhia que tinha. Draco
também. Eventualmente.

- Não tenho companhia para o almoço. Narcisa vai estar em uma reunião
com Pansy sobre os assuntos da cerimônia e eu prefiro evitar. – fez uma careta
e Astoria riu.

- Entendo perfeitamente. – Astoria disse num espírito de cumplicidade


mostrando que também já havia passado pelo mesmo. Hermione se viu rir
juntamente com ela. – E estou adorando uma cafetaria excelente próximo
aquela galeria do qual mencionei a você. O que acha?

Hermione sorriu. Tinha mil coisas para fazer, mas acabou respondendo:

- Claro.
**

Deu alguns passos para trás onde pode ter uma melhor visão de sua parede.
Sussurrou um palavrão e sacou a varinha. Estavam todos tortos. Todos os seus
quadros. Fez uma magia para alinhá-los e assim que estavam todos
equilibrados belamente pode analisar a composição.

Mordeu o lábio inferior.

Péssimo.

Soltou o ar de uma vez. Aquilo era exaustivo e muito, muito, muito entediante.
Subiu em uma cadeira e ficou na ponta dos pés para conseguir alcançar o
quadro mais alto. No mesmo momento a porta da sala de visitas abriu e virou o
rosto para ver Draco passar para o lado de dentro. Sorriu. Ele ainda estava
inteiro.
- Aí está você. – ele anunciou sua presença.

- Chegou cedo. – ela rebateu e voltou sua atenção para o quadro. – Pensei
que fosse chegar só para o jantar.

- O quartel estava vazio. – ele disse e pelo som parecia estar enchendo
algum copo com bebida.

- Isso sim é um milagre. – ela comentou conseguindo finalmente tirar o


quadro.

Desceu e o viu rapidamente se sentar num dos sofás com seu copo de bebida
antes de se voltar novamente para sua parede. Draco havia retornado a
Brampton Fort, mas Hermione não tivera a chance de se encontrar com ele
aquela manhã. Cerrou os olhos vendo todos aqueles quadros e repensou numa
nova organização enquanto mastigava o canto da boca.
- Que diabos está fazendo? – ele perguntou quebrando o silêncio.

- Tentando colocar alguma vida na nossa sala de visitas, querido. – ela


respondeu estendendo a mão, fechando um olho e tentando medir com o
polegar um novo espaço.

- Mais vida?

- Eu sei. – ela também acreditava que sua sala de visitas era fantástica até
Astoria visita-la e sair vomitando mil ideias. – Mas parece que aparentemente
nossa sala de visitas não tem uma tema.

- Aparentemente? – ele ergueu uma sobrancelha duvidoso.


- Astoria deu uma breve passada aqui antes de voltar para casa para
checar se Elise está se dando bem com a nova babá. Passei a tarde com ela no
centro. Comprei quadros numa das galerias, encomendei alguns móveis e
comprei chapeis novos. – contou e não demorou para escutar uma longa risada
de Draco. – Não ria! – exclamou num tom falsamente irritado e tentou fazer
uma imitação barata da voz de Astoria para continuar: - Deveria saber que os
móveis são de um artesão italiano muito reconhecido que trabalha com ébano
verdadeiro e usa técnicas do século XVIII. E o mais importante de tudo: sem
magia! Isso que é paixão pela arte, não acha?

- Deus do céu! Quem é você e o que fez com a minha mulher? – ele soltou.

Hermione riu.

- É, eu sei. – soltou o ar pesadamente movendo-se até a cadeira para


arrastá-la para a outra extremidade da parede. – Ela é uma boa companhia. –
acabou por dizer.

- Astoria?
- Sim. – respondeu subindo na cadeira novamente. – Se ela tiver algum
receio de mim por ter me casado com você, ela com certeza sabe disfarçar
muito bem. E ela foi gentil. Me senti na obrigação de ser um pouco mais do que
política. Atar laços, aproximar nossas relações, criar algum vínculo. É saudável
para a nossa imagem diante da imprensa visto que vocês já tiveram um
relacionamento público no passado e aparentemente as datas coincidem com
quando supostamente começamos a nos interessar um pelo outro. – ele não
poderia contrariar aquilo. Conseguiu pendurar o quadro e tentava alinhá-lo com
seu melhor senso de percepção tendo que ficar na ponta dos pés para
conseguir tocar ar bordas do quadro. – E não vai nem acreditar no momento
épico que vivi assim que voltamos para a Catedral. Apenas visualize eu,
Astoria, sua mãe e Pansy Parkinson enclausuradas numa mesma sala
discutindo sobre os pratos para o jantar pós-cerimonia. – riu somente de se
lembrar. – Juro que teve um momento em que elas pareciam querer competir
de uma maneira bem educada sobre quem te conhecia melhor. – cerrou os
olhos para analisar melhor seu trabalho.

- Você está falando tanto, Hermione, que acho que estou começando a ter
dor de cabeça. – ele comentou.

Ela revirou os olhos e desceu da cadeira. Visualizou ele novamente no sofá com
seu copo de álcool folheando o que parecia ser uma pasta. Afastou-se para
encarar a parede de longe e soltou o ar frustrada ao ver o quadro torto. Foi
vencida novamente pela varinha quando fez com que ele se alinhasse com
apenas um movimento dela e colocou as mãos nos quadris. Parecia bem melhor
assim.
- Pronto. – soltou satisfeita. – O que acha?

Ele ergueu os olhos sem interesse dos papéis que analisava e encarou a parede
logo a frente por alguns poucos segundos antes de se voltar novamente para o
arquivo.

- Horrível. – foi a declaração dele.

Ela ergueu as sobrancelhas surpresa.

- Foi o melhor lugar que eu encontrei! – ela se defendeu.

- Não é o lugar, Hermione. É o quadro.


Se viu abrir a boca ainda mais incrédula.

- Isso é um legítimo...

- Deggah, eu sei. – ele a cortou e ergueu os olhos para Hermione. – Não


sou fã do trabalho dele. – deu de ombros.

Ela riu.

- E você sabe sobre história da arte bruxa.


- Tem praticamente um museu dentro dos cofres da minha família. Não
acha que eu deveria ter ao menos uma mínima noção das coisas que vou
herdar?

Hermione soltou o ar e lutou contra a vontade de revirar os olhos novamente.

- Bem, vai acabar se acostumando eventualmente. – disse indo para trás


do sofá servir-se de um drinque.

- Não, não vou. Quero isso fora da minha parede até amanhã. – disse
voltando-se para seus papéis.

- Vai ficar exatamente ali até eu me enjoar. – ela decretou. – Além do


mais, foi um bom investimento. Arte é um dos raros investimentos que não
perde valor, pelo contrário. – observou a bela arte contra a parede bebeu um
gole do whisky diluído. Sorriu satisfeita e enterrou os dedos do pé no tapete
macio. Ela não sabia que era tão macio. – Agora, por Merlin, me fale sobre algo
realmente interessante.
- Novas estratégias para York. – ele fechou a pasta e a ergueu.

Hermione apressou-se, tomou-a dele e sentou-se sobre as pernas no sofá bem


ao lado dele. Adorava ficar sem os sapatos, sentia-se tão mais confortável, tão
mais livre, mesmo que ainda estivesse usando um rodado de musseline de seda
italiana estampado, conseguia se imaginar de moleton. Abriu a pasta e analisou
os papéis. Alguns eram mapas entulhados de desenhos de setas, círculos e
marcações em “x”.

- Isso é tão mais interessante. – comentou mais para si mesma do que


para ele enquanto lia as anotações em outros pedaços de papéis. Deveria ter se
ocupado com a Comissão aquela tarde, e não com Astoria, Narcisa e a tão cheia
de indiretas Pansy Parkinson. – Não entendo o porque mudam com tanta
frequências as estratégias para York.

- É um dos povoados mais importantes, Hermione. – Draco disse. – A


Ordem tem o domínio deles agora. Precisamos ser cautelosos para consegui-los
de volta. Estamos recebendo informações de que todos os esforços da Ordem
estão concentrados em York já que não conseguiram manter suas outras
conquistas.
- Não havia me dito que estão conseguindo informantes. – ela ergueu os
olhos para ele.

- Alguns residentes tem conseguido passar informações. Querem a Marca


Negra e abrigo seguro em troca. Sabem que os protegidos do mestre residem
em um lugar intocável, só não sabem da existência dos fortes. – explicou ele.

- E está mesmo confiando nessas informações? – questionou ela um tanto


desconfiada.

Ele riu e bebeu de seu whisky.

- Diz isso como se não me conhecesse. – deixou seu copo na mesa de


canto ao lado do sofá. Tomou o copo da mão dela, virou a bebida e o deixou
junto com o seu. Aproximou-se dela. – Não confio em ninguém. Sabe disso. –
usou aquele tom denso com um sorriso no rosto que exalava perigo. Ela se viu
sorrir sabendo o que aquilo significava. Se deixou ser conduzida quando uma
mão dele tocou sua cintura e a outra deslizou pela bainha de seu vestido
tentadoramente. – Apenas uso as informações que são me passadas para
conseguir sondar o campo em que estou trabalhando. – ele continuou a usar
aquela terrível voz e Hermione não viu outra alternativa a não ser deixar que
ele cuidadosamente e sedutoramente afastasse suas pernas e a deitasse no
sofá contra dela.
- Presumo que esteja confuso então visto o número de vezes que interfere
nos planos para York. – ela ergueu uma sobrancelha com um sorriso no rosto.

Ele soltou um riso que foi abafado quando chegou ao seu pescoço.

- Acha que é esperta, não é Hermione? Deixe-me lembrá-la que ficamos


em guerra por muito tempo, eu e você, e quem venceu foi eu. Sei o que estou
fazendo. – desceu a boca por seu colo enquanto o toque expressivo de sua mão
deslizava para dentro do vestido que usava.

Ela tinha palavras para retrucar, mas não conseguiu externá-las quando sentiu
a respiração quente dele contra seu seio por cima do vestido. Sentiu os pelos
de sua nuca eriçarem. Draco apertou uma nádega sua com aqueles dedos
poderosos e pressionou seu quadril contra o dela a deixando sentir o volume
que ela bem conhecia. Puxou o ar, sorriu e fechou os olhos largando a pasta
para enfiar seus dedos contra os cabelos loiros e macios.
- Estou realmente me esforçando para não ficar grávida com todas as
contas e todo o calendário, mas com o número de vezes que praticamos sexo
juro que as coisas nos colocam em uma situação apertava. – ela acabou
dizendo com uma voz fraca.

Ele parou quase que imediatamente e se afastou minimamente para encarar os


olhos dela. Havia um ar de preocupação no olhar dele.

- Não me diga que se fizermos sexo agora pode engravidar. – e uma leve
irritação do tom de voz dele.

Ela encarou a expectativa nos olhos dele de que ela dissesse que não.
Suspirou.

- Talvez eu possa. – disse.


Ele soltou o ar irritado saindo de cima dela tornando a sentar-se. Passou as
mãos pelo cabelo.

- Isso está começando a me irritar. – seu tom sério alertou que ele
definitivamente não estava contente.

Hermione se sentou e mordeu o canto da boca para evitar deixar transparecer


qualquer sorriso. Ele não demorou para olhá-la. Ela por sua vez tentava conter
a vontade de rir. Draco estreitou os olhos e Hermione se deixou abrir o sorriso.
Passou as pernas por cima dela sentando-se em seu colo.

- Não estou. – colocou sua boca bem próximo ao ouvido dele. – E vejam só
quem acabou de te fazer de tolo agora. – sussurrou e sorriu. – Se acha
esperto, não é? – riu.

- Me lembre de nunca mais confiar em você, Hermione. – ele disse com um


ar ainda nada contente, cravou os dedos em suas coxas e a trouxe para ele de
modo agressivo a fazendo puxar o ar surpresa. Sorriu sabendo que havia tido
êxito em sua provocação.
Hermione tirou as mãos do abdômen dele e as ergueu para tocar a nuca. Draco
as deteve no meio do caminho e as prender as suas costas com brutalidade.
Um mão dele entrou por seus cabelos e os segurou com muita propriedade
obrigando-a a se afastar para encará-lo. Mostrou com orgulho seu sorriso
satisfeito, aproximou sua boca da dele e deixou que o calor de sua respiração o
envolvesse. Seus lábios se roçaram e ela moveu o quadril tentadoramente
contra o dele. A respiração de Draco pesou instantaneamente.

Quando ele se cansou da provocação, dando-se por vencido, avançou para


beijá-la, mas Hermione se afastou. Ele cerrou os olhos no mesmo instante,
cravou as mãos uma de cada lado de seu quadril e a lançou contra o sofá. Em
menos de um segundo ele estava por cima dela e tomava sua boca como se
nunca mais fosse ter a chance para isso. Hermione respondeu a urgência, tanto
do beijo quanto de seus corpos.

Ela sentia uma imensa falta nele. Tivera os homens com quem havia se
envolvido em relações íntimas ao longo da vida, entretanto todos eles se
limitavam a um número de vezes com o qual Hermione havia se permitido
estar. Exceto Draco. Draco havia passado o número de vezes de todos eles, até
mesmo de Harry, com quem ela estivera repetidas vezes durante os anos na
Ordem da Fênix. E ninguém, absolutamente ninguém havia a tocado como
Draco. Ele sabia fazer aquilo como se fosse um mestre e ela não se recordava
de nenhuma vez que não tivesse perdido as forças com ele. Ele sabia fazê-la
aproveitar até mesmo durante aquela vezes rápidas, simples e preguiçosas de
quando ele acordava e se esgueirava silenciosamente para o lado dela a
fazendo acordar com um toque nada discreto. As vezes sentia que um simples
pensamento dele era o suficiente para fazê-la deseja-lo. Se sentia tão
absurdamente livre com ele e ela nunca, nunca, havia se sentido livre com
nenhum outro homem na cama. Era íntima dele como nunca havia sido com
mais ninguém e as vezes tinha a impressão que conhecia cada pequeno
centímetro do corpo dele assim como ele conhecia cada um dela.
Naquele momento em que suas línguas dançavam e eles brigavam pelo mesmo
ar ofegando quando podiam, seu corpo gritava em agonia e desespero pela
falta do toque dele. Qualquer um que fosse, calmo, possessivo, agressivo,
sedutor, qualquer um! Ela apenas precisava. A última vez que havia o visto fora
quando eles haviam comparecido ao jantar na casa dos Bennett. Ele disse que
deveria ter ficado mais dias, mas precisou deixar a cidade logo no dia seguinte
por um chamado de urgência em um país bem distante. Eles não tiveram a
chance de irem para a cama como gostariam aquela vez porque ela poderia
engravidar e se ela contasse o número de dias que não sentia o toque dele
poderia com facilidade decretar que nunca haviam ficado tanto tempo sem
praticar sexo antes, nem nunca precisara tanto quanto antes. Isso lhe fazia
crescer uma imensa necessidade e ao mesmo tempo lhe gerava tanta culpa,
mas mesmo assim não a parava. Nunca havia a parado antes e ela se sentia
mal por saber que nem mesmo sua culpa tinha poder o suficiente para pará-la.

Suas mãos puxaram a blusa dele para o lado de fora com pressa e ela enfiou as
mãos por dentro do tecido para sentir a pele quente e os músculos firmes de
suas costas. Draco afastou suas mãos para longe agilmente, e espremeu seu
seio com sua mão massiva por cima do tecido do vestido. Ela cercou o corpo
dele com as pernas movendo-se de modo provocador. Puxou o ar e ofegou
quando ele libertou sua boca e ocupou-se com sua pele. A saliva dele parecia
fogo, assim como seu toque. Fez seus dedos procuraram a fivela do cinto dele e
começou a desatá-la com agilidade quando cogitou que as mãos dele
passeando por seu corpo por baixo do vestido talvez fosse suficiente para fazê-
la atingir seu clímax. Abaixou o zíper da calça dele e enfiou sua mão por dentro
dos tecidos para poder senti-lo.

O gemido dele em sua orelha a fez se arrepiar junto com calor da respiração
que ele deixava ali. Seus dedos moveram-se pelo membro já bem acordado
dele. Sabia exatamente onde ele gostava de ser tocado ali e como. Aquilo fora
o suficiente para fazê-lo gemer novamente enquanto provava com voracidade o
sabor de sua pele. Ele a mordeu fazendo-a arquear as costas. Ofegou.
Precisava tê-lo dentro dela.
Draco tomou sua boca novamente e tirou a mão dela de dentro de sua calça.
Hermione tocou sua nuca e ele novamente tirou a mão dela. Travou os joelhos
contra o corpo dele e girou o seu fazendo-os caírem no tapete com ela por
cima. Hermione sentou-se e o encarou ofegante. Seus dedos passaram a abrir
os botões da camisa dele e ela rebolou para sentir o volume do membro dele e
se deixar ainda mais molhada. Tocou diretamente o tórax quando afastou a
camisa. Desceu as mãos pelo abdômen depois as subiu rapidamente sentindo
os mamilos dele contra a palma de sua mão. Draco a segurou pelo pulso e a
girou ficando novamente por cima. Suas mãos foram presas acima de sua
cabeça.

A boca dele a beijou novamente. Hermione não queria desfazer o contato de


seus quadris. As mãos dele a soltaram e entraram por dentro de seu vestido
novamente arrancando sua peça debaixo bruscamente. A língua dele foi
faminta para o seu seio e ela gemeu sentindo-se ser estimulada. O vestido
pareceu incomodá-lo. Ele segurou o decote e o puxou bruscamente fazendo os
pequenos botões que fechavam a frente voarem e se espalharem pelo tapete.
Dessa vez sentiu o calor da boca dele e aquela língua poderosa diretamente
contra seu mamilo rígido.

Arqueou as costas, colocou os pés no chão e ergueu o quadril para pressioná-lo


contra o dele. Enfiou os dedos em seus cabelos e Draco afastou as mãos dela
novamente. Aquilo estava a incomodando. Ele tornou a tomar sua boca e
Hermione tentou colocar ar mãos por dentro da camisa para cerca-lo pelo
tronco. Ele afastou suas mãos bruscamente dessa vez. O que ele estava
fazendo? Tentou colocar suas mãos uma em cada ombros dele e no mesmo
segundo as mãos dele agarraram seu pulso e prenderam seus braços acima de
sua cabeça.
Ela gemeu, dessa vez em protesto, contra a boca dele. Draco não parou. Suas
mãos continuavam presas. A língua dele seguiu por seu queixo e sua garganta
e ela ofegou ar de volta para os pulmão primeiramente assim que se viu livre
da boca dele.

- Draco! – o chamou. Sua voz estava fraca. Moveu-se incomodada. Ofegou.


– Draco! – sua voz foi bem mais alta do que havia pretendido dessa vez e o
parou imediatamente. Afastou-se e a encarou confuso. A boca inchada e a
respiração acelerada. – Não está me deixando te tocar. – ela disse com o peito
subindo e descendo.

A primeira reação dele foi unir as sobrancelhas como se não soubesse do que
ela estava falando, mas não bastou dois segundos para que aqueles olhos
cinzas se movessem para as mãos que prendiam seu pulso contra o tapete. O
olhar dele se suavizou, mas sua expressão continuou confusa. Aos poucos ela
sentiu os dedo dele afrouxarem e deixarem seu pulso um a um até que ela se
visse livre.

- Draco. – tornou a chamá-lo com a voz suave dessa vez e os olhos dele
caíram sobre os dela no mesmo segundo. – O que há de errado? – questionou
também confusa. Ele ficou em silêncio. Ela não entendeu. Ergueu uma mãos
para tocar o rosto dele e talvez tornar a fazer a mesma pergunta, mas os olhos
dele se moveram para sua mão no mesmo segundo e ela recuou
imediatamente, principalmente por ver que ele havia afastado o rosto quase
que imperceptivelmente. Ela uniu as sobrancelhas ainda mais confusa. –
Desculpe, eu não quis deixá-lo realmente com raiva, fiz apenas uma
provocação boba. – se referiu a tê-lo enganado quando estavam no sofá.
Ele negou com a cabeça quase que imediatamente.

- Não foi isso. Não estava prestando atenção no que eu estava fazendo. –
ele soltou. Aproximou-se dela novamente deixando-se parar a centímetros de
seu rosto.

Seus olhos se fitaram tão próximos que ela se viu mergulhar dentro dos dele.
Moveu cuidadosamente suas mãos e as colocou uma de cada lado de seu rosto.
Ele não afastou as mão dela dessa vez. Hermione queria ter certeza de que
podia tocá-lo. Passou uma mão por seus cabelos loiros sem tirar os olhos dos
dele. Tocou seu pescoço e deixou o polegar passar pela barba que lhe crescia
no fim do maxilar. Desceu a outra mão por seu peito, abdômen, cercou sua
cintura e subiu por suas costas. Ele não a impediu nem desviou o olhar do dela.
Hermione sabia que ele prestava atenção e sentia com cuidado cada centímetro
de pele que ela tocava como se procurasse por algo errado ali.

Hermione juntou as mãos no cós da calça dele e a empurrou até onde pode
libertando o membro vivo que pulsava enclausurado. Havia um leve toque de
tensão entre eles que tentava ser ignorado. A melhor maneira era continuar o
que eles haviam começado.
Sem desgrudarem os olhos um do outro se ajustaram confortavelmente e ele
deslizou para dentro dela. O volume que foi a ocupando aos poucos fez com
que seu corpo formigasse, adormecesse e estremecesse ao mesmo tempo. Sua
garganta não conteve o som que lhe escapou. Draco começou a se movimentar
devagar. Ela contorceu debaixo do corpo dele. Toda aquela agonia contida em
seu corpo durante o tempo que não o tivera queimou.

Ofegou e sentiu a boca seca. Logo os movimentos dele não eram o suficiente.
Sussurrou para que ele acelerasse. Ele ainda a deixou desejar por mais por um
tempo antes de dar a ela o que queria. Ela pediu para que ele fosse fundo. Ele
foi. Seus dedos dela se fecharam nos cabelos da nuca dele quando toda aquela
urgência lhe informou que ainda estava ali.

Ela contorceu-se. Não demorou e seus quadris já estavam se movimentando


quase que em desespero. Seus olhos não desgrudavam. A respiração dele
escapava por entre os dentes, ela se via precisar de oxigênio cada vez rápido.
Havia sentido falta daquilo, da sensação, da agonia, da busca por alívio. Sentia
que estava sentindo tudo em dobro. Curvou-se e puxou os cabelos dele.
Informou que estava muito perto de ter seu coração explodindo para fora do
peito e ele não parou, ao contrário, foi ainda mais fundo, ainda mais rápido.
Parecia estar precisando daquilo tanto quanto ela.

Soltou um longo gemido cortado quando sua visão escureceu como se ela
tivesse entrado dentro das pupilas dele. Seu corpo estremeceu, contraiu-se e
relaxou quando atingiu aquele tão prazeroso alívio. Draco veio logo em
seguida, quase no mesmo segundo e eles relaxaram os músculos. Ainda
ofegantes se encararam por longos minutos em silêncio até que Draco saísse de
cima dela para deitar ao seu lado no tapete.
Encararam o teto em silêncio. Ela havia tido o que queria. Havia conseguido
atingir o seu clímax, havia delirado com o toque dele, havia gemido de prazer e
agonia. Suspirou. Mas sua cabeça latejava com o a lembrança da rispidez que
ele usou algumas vezes para afastar sua mão. Como se não quisesse o toque
dela, como se tivesse aversão a ele. Hermione quem deveria ter tido aversão
ao toque dele desde a primeira vez que haviam feito sexo, mas não teve. Ele
nunca permitido que ela tivesse.

- É sempre assim? – procurou usar a voz mais calma e neutra que


conseguiu.

- O que? – ele perguntou confuso.

- Tem que se concentrar sempre que fazemos sexo para não abominar que
eu te toque. – disse ela. – Deveria ter dito que não gostava que eu te tocasse
bem antes. Eu teria encontrado uma forma de parar. Pensei que fossemos
completamente honestos com relação a sexo.
- Não. – ele disse quase que instantaneamente. – Não é isso. Não é sempre
assim, Hermione. Eu gosto do seu toque, dos seus sons, do seu corpo. Não há
nada de errado com isso.

- Você inconscientemente me afastava. – ela o lembrou.

- Acredito que a forma como me tocou me fez lembrar que gosto quando
me toca quando estamos fazendo sexo. Isso deve ter me feito reagir contra.
Não é tão simples assim ficar tanto tempo longe de casa, voltar e perceber que
a mulher que eu sempre odiei está me recebendo com um sorriso educado.

Ela levou alguns poucos segundos para processar aquilo. Virou o rosto para ele.

- Nós temos uma história diferente agora. – ela usou sua voz mais calma
para lembra-lo disso.
- Sim. – ele concordou. – Creio que minha cabeça, sem me informar, se
apegou ao pensamento de como isso é estranho. – virou-se para ela. - Creio
que ela estava tentando me informar sobre o que costumávamos ser antes.

Ela acabou sorrindo.

- Acha que mudamos tanto assim? Ainda acredito que estamos sendo
apenas civilizados um com o outro.

Ele sorriu em resposta e tornou a encarar o teto.

- Talvez no seu mundo de afeto em excesso ainda estejamos sendo apenas


civilizados. No meu, nós já passamos dos limites do aceitável faz um bom
tempo.

Ela acabou rindo. Suspirou e tornou a encarar o teto assim como ele.
- O fato de termos perdido uma filha o faz aceitar que passamos do limite
do aceitável?

Ele riu embora aquilo não tivesse tanta graça.

- Esse e mais alguns fatores. – respondeu ele.

- Como? – ela quis saber.

- Como perceber que você é bem mais tolerável quando tem um sorriso
sincero no rosto. – ele pareceu nem mesmo perceber o impacto do que dissera.
Ela uniu as sobrancelhas um tanto confusa. Virou-se novamente para ele.

- Isso soa bem romântico. – disse.

Ele riu novamente.

- Você e o seu mundo de afetos novamente. – ele sentou. – Para mim é


apenas um fato. Vai preferir encarar dessa forma, porque tenho absoluta
certeza que não quer me olhar de um modo romântico. Temos muitos
problemas obscuros na nossa relação para querer isso. – a olhou por cima dos
ombros e ela se apoiou sobre os cotovelos para conseguir observá-lo melhor. –
Quando não estamos tentando arrumar conflitos um com o outro é só uma
questão de tempo para ver você sorrir em algum momento. – ela sorriu ao
ouvir aquilo. - Viu?! – ela riu.

Quis muito tocá-lo, dizer algo que o fizesse sorrir também, mas no momento
em que se deslocou tomando ar para dizer qualquer coisa, ele se levantou e
ambos tiveram suas atenções voltadas para a janela mais próxima onde uma
coruja negra de olhos vermelhos usava o bico para bater insistentemente no
vidro. Era a coruja de Voldemort.
Draco foi quem abriu a janela para que o animal passasse para o lado de dentro
e soltasse nas mãos dele um pedaço de pergaminho cuidadosamente dobrado.
Hermione se levantou tentando segurar o tecido da frente de seu vestido da
melhor maneira possível enquanto observava a coruja se descolar para o
espaldar de uma cadeira, onde se acomodou e esperou pela resposta que
deveria receber.

- Algum problema? – ela perguntou quando não o viu falar por muito
tempo.

- Ele quer nos ver amanhã. – Draco disse sem se voltar para ela.

O coração de Hermione acelerou. A última vez que haviam recebido aquela


coruja com uma mensagem de que Voldemort estava os intimando para um
encontro ela acabara tento a filha arrancada de si.

- O que ele quer com nós dois juntos? – ela engoliu seco.
- Não seja ingênua, Hermione. Sabe bem o que ele quer conosco. – foi o
que Draco respondeu, amassando o papel e lançando-o dentro da lareira.

Ela puxou o ar buscando energizar algum estado de paz.

- Diga a ele que estamos tentando. Acabamos de tentar. – ela disse e ele
soltou um riso fraco e forçado.

- Nós não estamos realmente tentando, sabe disse. – ele voltou-se para
ela.

- Você está sempre longe. Chegou essa manhã e só fui te ver agora. Ficou
semanas fora da cidade. Ele não pode esperar que eu engravide estando com
você durante uma noite aleatória cada mês. – ela disse, Draco assentiu e se
aproximou dela.
- E essa será a justificativa de amanhã. – ele disse muito calmamente
encarando a expressão em seu rosto que ela sabia que não havia sido capaz de
neutralizar. – O que há de errado?

- Eu não quero ir. – ela declarou.

Draco franziu o cenho como se fosse argumentar contra aquilo, mas suavizou
sua expressão logo depois como se considerasse justa a declaração dela.

- Não existe outra opção. – ele disse. – Apenas o encare como sempre o
encara. Como se fosse uma rainha.

Ela sorriu ainda um tanto angustiada. Encostou-se em um dos pilares


decorativos da lateral da lareira e o encarou.
- Nós estamos no caminho certo. Não quero mais problemas e parece que
todas as vezes que me encontro com Voldemort sou obrigada a pagar alguma
consequência. – soltou o ar. – Precisa vencer logo essa guerra. Eu temo pelo
momento em que vou descobrir que estou grávida sem ser o momento certo. O
que estamos fazendo tem dado certo até agora, mas ainda assim é incerto, é
arriscado. Posso engravidar mesmo achando que isso seria impossível.

Ele absorveu aquilo em silêncio considerando cada palavra e imergindo em seus


próprios pensamentos.

- Se ao menos alguém além de você conseguisse dominar aquela magia. –


ele disse enfiando as mãos no bolso.

Ele fechou os olhos soltando novamente o ar ao se lembrar de que aquele era


um problema que ela deveria ter se dedicado a solucionar durante aquele dia e
não sair passeando no Centro. Havia tentado ensinar, havia simplificado os
passos da melhor maneira possível e mesmo com tudo sendo seguido e
executado da forma como deveria ser, apenas Hermione conseguia se impor
sobre a magia para conseguir domá-la.
- Me leve para o campo de batalha. – abriu os olhos para encará-lo.

Draco levou um segundo para processar aquilo e no seguinte riu.

- Nem mesmo nos seus sonhos mais loucos, Hermione. – deu as costas,
conjurou um pergaminho e uma pena. Rabiscou qualquer coisa e devolveu para
a coruja que saiu sem nem mesmo hesitar.

Hermione ficou apenas calada o observando. Assim que a janela foi fechada
novamente ela se pronunciou.

- Acha que não estou pronta?

- Acho que nunca irá estar. – ele buscou seu copo e tornou a enchê-lo.
- Eu sei cada fraqueza da Ordem, poderia derrubá-los em minutos! –
insistiu ela.

- Me informe sobre a fraqueza deles e eu mesmo os derrubarei.

- Não, Draco. Não está entendendo que eu também poderia ser a fraqueza
deles. Como acha que a Ordem iria reagir se me visse lutando ao seu lado?

Ele tomou um longo gole de sua bebida ainda de costas, encarou no copo como
se o analisasse e somente depois abriu a boca:

- Está pensando neles quando na verdade deveria pensar em você.


Ela franziu o cenho confusa com o que ele queria dizer.

- Estou pensando em mim! – contrapôs. – Estou pensando no filho que eu


quero. Estou pensando no trabalho que estamos desenvolvendo contra o
império.

- Sim. Essas são suas motivações. – voltou-se para ela - Agora me diga se
essas motivações seriam o suficiente para te fazer apontar uma varinha contra
a Ordem? Entenda, Hermione, que você irá encará-los cara a cara. Não é o
mesmo que estar aqui com a Comissão e o meu grupo de estrategistas
trabalhando dentro de uma sala fechada contra um lado do qual foi aliada por
anos.

Não, ele quem não entendia.

- Onde você estava quando eles tiraram minha filha de dentro de mim? –
ela se aproximou calmamente. – Você simplesmente havia voltado ao seus
afazeres do dia enquanto eles me carregavam para uma sala cheia de
apetrechos médicos e me fizeram sentir tudo. Absolutamente tudo. Cada
milímetro da dor que eu deveria sentir eles me deixaram sentir e tudo em mim
doía mais do que qualquer dor que eu já havia sentido porque não era só físico.
Eu estava destruída. A única pessoa que eu tinha era sua mãe e tudo que ela
pode fazer foi assistir. – suas vistas embaçaram e sua garganta queimou ao se
lembrar de como ela havia sentido que sua vida estava acabando naquele dia. -
Eu não fui preparada para isso. Fui preparada parar suportar maldições de
tortura e interrogatórios e eu não sabia que existiam coisas piores do que isso.
– cerrou os dentes lutando contra o nó em sua garganta, o engoliu com força e
lutou para refazer seu orgulho. - Você não sabe o que eu senti, nem o que eu
vivi aquele dia. Posso muitas vezes entrar em conflito comigo mesma quando
vejo no que estou me tornando, mas entenda que a imagem daquele dia, a dor
que eu senti e que ainda sinto quando me lembro que eu poderia estar
contando os dias para segurar minha menina agora é a motivação mais forte
que eu tenho para acabar com a vida de quem ameaçar me fazer passar por
isso novamente. – concluiu muito confiante de suas próprias palavras.

Draco não pronunciou sequer uma palavra por um bom tempo. Eles se
encararam em silêncio até que ele se aproximou ainda mais e perguntou:

- Você quer vingança?

Ela negou com a cabeça.

- Eu quero paz. E me parece que o preço por ela é bem alto.


Ele pareceu pensar sobre algo por alguns segundos encarando fundo em seus
olhos.

- Amanhã. Eu e você. Sala de simulação. Antes do sol nascer. – ele disse e


as informações fizeram bastante sentido para ela.

- O que pretende fazer? – perguntou confusa.

- Vou te treinar.

As palavras dele a pegaram de surpresa. Não tinha a mínima ideia de como ele
pretendia fazer aquilo, mas com toda a certeza não iria declinar. Se ela
soubesse lutar como uma verdadeira comensal e ainda por cima ser capaz de
usar a magia que sabia iria se sentir bastante invencível.
- Então vamos ter que ir para cama mais cedo. – foi o que ela disse em
resposta e dessa vez ele sorriu se aproximando bem mais, fazendo a ponta dos
dedos deslizarem por sua perna e levantarem a barra de seu vestindo.

- Essa é uma excelente ideia. – ele usou aquela voz que a fazia arrepiar.
Puxou o ar sentindo-se já fraca e quis muito rosnar. Ele tinha que parar de ter
aquele poder sobre ela.

**

- É uma honra poder recebê-la, Sra. Malfoy. – o entrevistador disse


apontando a poltrona em que Hermione sentaria. – Devo confessar que
ninguém poderia competir com o vestido que escolheu. Está absurdamente
encantadora.

- Obrigada e, por favor, me chame de Hermione. – foi o que ela disse


enquanto se sentava em sua poltrona e respirava fundo incorporando a
personagem que deveria fazer ali. – Espero não ter causado muitos problemas
trazendo sua equipe aqui na noite da Cerimônia de Inverno. Entendam que
estou tentando apenas otimizar o meu tempo.
- De forma alguma. Como já disse. É uma honra. – o entrevistador disse. –
E sem dúvidas torna ainda tudo mais especial. Agradeço que tenha considerado
o pedido. Sabe que estamos tentando uma entrevista faz bastante tempo e o
seu silêncio tornam os rumores cada vez mais absurdos.

- Por isso mesmo decidi que estava na hora de dar uma oportunidade a
imprensa. Se as pessoas veem tanto interesse em mim ou em minha relação
com Draco, elas merecem respostas. – sorriu educadamente como deveria.

O homem devolveu o sorriso bastante satisfeito pelo oportunidade que estava


tendo.

- Certo. Vamos começar. – ele ajeitou-se em sua poltrona, colocou o


caderno e a pena sobre a mesa entre eles, limpou a garganta e começou. –
Primeiramente, há rumores de que desde que expôs as corrupções do
governador Theodoro Nott, a família Nott cortou todo o qualquer vínculo com os
Malfoy e que não conseguem nem mesmo permanecer no mesmo ambiente por
muito tempo. Gostaria de saber o que tem a dizer sobre isso.

Hermione sorriu calmamente sabendo que iriam começar exatamente com


aquele assunto.
- O relacionamento que desenvolvi com Theodoro Nott é inteiramente
profissional. Ele levou para o pessoal quando ignorou meu trabalho e devolvi na
mesma moeda, é assim que as coisas funcionam e ele entende isso. E a família
Nott jamais cortaria relações com os Malfoy. Dentro de círculos de famílias
como a nossas há altos e baixos todo o momento. Nossas famílias tem laços
profissionais que beneficiam os dois lados, dessa forma seria bastante
insensato pensar que daríamos as costas por um conflito pequeno que já foi
resolvido.

O homem assentiu concordando.

- Há grandes rumores de que agora está trabalhando dentro do


departamento do seu marido. O que a fez a decidir trabalhar na guerra?

- Primeiramente eu sempre estive envolvida com a guerra e nunca dei as


costas a ela. Draco e eu trabalhamos juntos há muito mais tempo do que todos
imaginam. Quando nos casamos ele quis que eu aproveitasse a estabilidade da
guerra para ter a chance de me envolver com uma área que eu já tive interesse
de trabalhar antes. Mas mesmo quando eu parecia não estar envolvida, sempre
discutíamos em casa sobre tudo que acontecido no mundo fora das muralhas.
Agora que me desliguei do departamento de Nott e a guerra intensificou um
pouco, me senti novamente atraída a estar mais presente. Acreditamos que
fazemos um bom time juntos.
- Definitivamente. – disse o homens. – Sabemos que trabalharam juntos
para a estabilizar a guerra antes, quando estava entre os rebeldes agindo em
nosso favor. Também acreditamos que são um bom times juntos. Poderia nos
contar algo sobre a guerra?

Hermione sorriu.

- Sinto muito, mas Draco é o general. Somente ele pode prestar


comunicados oficiais sobre a guerra.

O homem riu fracamente como se pedisse desculpas, mas desse a entender


que havia valido a tentativa.

- Obviamente que não podemos ignorar as críticas sobre seu constante


envolvimento com cargos e posições de muita influência na Catedral. Por ser de
uma família tradicional, é se esperado que se envolva com outras atividades. O
que tem a dizer sobre isso?
Hermione suspirou. Sabia que aquela também viria.

- As pessoas devem estar esperando que eu venha me defender. – sorriu.


– A verdade é que eu organizei o sistema das Casas de Justiça dessa cidade e
agora estou trabalhando para salvar o mundo que eles vivem de uma guerra.
Eu não deveria me defender por isso. É verdade que por ser de uma família
tradicional tenho outros deveres, mas todos sabem que tenho conseguido
conciliar isso para satisfazer ambos os lados.

O homem pareceu satisfeito com o que ouviu.

- Bem, ultimamente tem sido vista com frequência na companhia de


Astoria Bennett. Algumas fontes nos informaram que seu marido e a Sra.
Bennett estavam envolvidos em um relacionamento sério exatamente quando
começou a se envolver com ele. Parece que existem pessoas frustradas por
terem esperado algum tipo de rivalidade. Essas informações procedem? Como
se tornaram próximas?
- Sim, Draco e Astoria estavam juntos quando ele e eu começamos a nos
aproximar, mas entenda, Draco e eu não começamos a nos amar da noite para
o dia. Eu não tive nenhum tipo de culpa pelo fim do relacionamento deles até
porque naquele ponto ele e eu mais nos odiávamos do que nos aturávamos. As
coisas foram acontecendo devagar e com o passar dos anos. Astoria, por outro
lado, é feliz com a família que tem. Draco e Isaac tem um bom relacionamento
e por isso, eventualmente, acabamos nos aproximando. Ela tem sido uma
amiga honesta e sincera. Sou grata por isso. – concluiu.

- Isaac e Astoria Bennett tem uma filha que por sinal tem se tornado uma
celebridade e tanto devido ao bom gosto para as roupas que usa. Você e seu
marido acabaram de fazer um ano de casados e devo parabeniza-los por isso. –
Hermione sorriu e agradeceu educadamente. – Vocês dois não se sentem
inspirados?

- Você quer dizer se pensamos ou não sobre filhos? – ela quis ter certeza
de que estavam entrando mesmo naquele campo.

- Sim. – ele confirmou. – Todos sabem que um herdeiro deverá vir em


algum momento.

Hermione respirou fundo. Sentiu-se imensamente tentada em expressar o


quanto queria um filho.
- Sim, sim. – concordou com o homem. – Nós também sabemos, mas terá
que concordar comigo quando digo que agora não é exatamente momento
perfeito para uma criança. Estamos no meio de uma guerra em que eu e ele
estamos envolvidos ativamente. Gostaríamos de esperar por um momento mais
apropriado embora, caso aconteça, não deixará de ser bem vindo.

- Certo. – sorriu o homem e logo puxou ar para continuar. – Como o


número de perguntas foi pré-determinado visto o pouco tempo que temos,
gostaria de usar essa última pergunta para satisfazer a curiosidade dos muitos
fãs do casal Malfoy. Vocês dois tem uma história bastante romântica que chama
muita atenção e são extremamente reservados. Sua voz nunca está tão
presente na mídia como muitas pessoas acharam que iria estar e Draco Malfoy
se pronuncia sempre a comunicados oficiais e nada mais. As pessoas gostariam
de saber sobre sua vida com ele, como tem sido, se tem suprido as
expectativas. Como exatamente é Draco e Hermione Malfoy.

Hermione ergueu as sobrancelhas surpresa por escutar aquela. Não havia


esperado que aquilo fosse interessante. Previra todas os questionamentos
anteriores, mas não aquele. Parecia bobo e sua expressão talvez a denunciou
porque o entrevistador se desculpou por ser invasivo, o que a obrigou a sorrir e
dizer que não havia nenhum tipo de problema.

- Você sabe o que eles dizem sobre nunca se conhecer uma pessoa
verdadeiramente até ir morar com ela. Não me entenda mal, não quero dizer
que Draco não era bem o que eu esperava que ele fosse. – suspirou um tanto
frustrada, mas sorriu. – A verdade é que realmente ele não é quem eu
esperava que ele fosse. – Não havia se preparado para aquela pergunta. – As
pessoas se sentem atraídas por ele por toda a beleza física que ele tem, talvez
pelo ar um tanto misterioso e também pelo poder que tem, mas Draco é bem
mais do que tudo isso. Eu pensei que o conhecia quando me casei com ele, mas
a verdade é que ele parece ter uma surpresa para revelar todos os dias. Ele é
um homem muito interessante, muito profundo e as vezes tenho a impressão
de que mesmo ficando com ele para o resto da vida nunca vou chegar a
conhecê-lo realmente. - foi exatamente ali que ela percebeu que não estava
mentindo nem omitindo como fizera com as outras perguntas. – A vida como
ele é um desafio. Eu não teria o desafio que tenho com ele todos os dias com
nenhum outro homem. E talvez ele também se sinta da mesma forma com
relação a mim. Nós dois temos nossas divergências, claro, mas aprendemos um
com o outro. Acredito que esse é o processo que temos que passar para nos
tornarmos realmente uma família.

- E você o ama?

Hermione sorriu.

- Definitivamente. – mentiu.

- Então nós terminamos por aqui. – concluiu o homem satisfeito, pegou sua
pena e fechou o caderno. – Mais uma vez obrigado e é uma honra. – se
levantou e estendeu a mão. Hermione a apertou. – A matéria sairá essa
próxima semana junto com a cobertura de todo o evento.

Hermione assentiu sorriu amavelmente.

- Se ousar mudar uma vírgula do que quer que foi dito aqui pode dar adeus
a carreira que construiu. – usou seu tom mais educado.

O homem apenas engoliu em seco e ela deu as costas seguindo pela larga
galeria onde estava. Desceu os poucos degraus que davam para o hall central
da entrada do salão principal e não demorou para encontrar Draco não muito
distante discutindo com um grupo de homens. Nenhum deles usava os trajes
para a Cerimônia de Inverno, o que indicava que ele já estava resolvendo
problemas antes mesmo de conseguir entrar no salão. Os olhos cinzas dele se
encontraram com os dela, cruzando a distancia que estavam, enquanto ele
parecia comentar sobre algo não muito agradável com um dos homens que
carregava um rolo grande de pergaminho.

Ela balançou a cabeça em sinal de que aquele não era um bom momento para
trabalhar. Ele apenas ergueu de leve as sobrancelhas, encolheu os ombros
quase que imperceptivelmente avisando que não tinha muita escolha e tornou a
dar atenção ao grupo.
Olhou para os lados e quando notou todos entretidos com algo, virou-se para
alcançar a saída mais próxima. Não era um bom sinal Draco ter notado sua
presença no hall. Ela esperara que ele já tivesse conseguido entrar no salão
aquela altura embora o evento ainda estivesse no início. Não queria que ele
soubesse que sua breve ausência tinha outro motivo além da entrevista que
havia dado.

Eles quase não haviam conseguido chegar a tempo. Várias noites Draco
acabava não voltando para casa porque estava impedindo de deixar Brampton
Fort. Voldemort o impedira de deixar a cidade até que Hermione engravidasse.
Ele não ficara muito satisfeito quando ouvira a desculpa de que sua ausência
era a culpada pelo atraso na chegada do herdeiro que ele tanto queria. Isso
estava fazendo com que seu trabalho na Catedral não tivesse hora definida.
Hermione acabava o acompanhando muitas vezes. Draco nunca havia
questionado sua presença e ele parecia até gostar. Mas aquela tarde ela havia
voltado para casa porque percebera que todo seu envolvimento com a guerra e
sua participação na organização do evento a fizera esquecer que deveria ter
escolhido uma roupa.

Sua grande sorte era que muitas das grandes marcas e estilistas mandavam-
lhe roupas em excesso o que diminuía uma boa porcentagem do trabalho que
teria para encontrar algo em cima da hora. Tryn também era a melhor elfa que
alguém poderia ter. O grande problema é que toda a ajuda que conseguiu fez
com que o processo fosse rápido e ela acabasse tendo tempo para se lançar
exausta a um sono incomum que nunca lhe batia naquele horário.
Acabou acordando com um Draco furioso por ter presenciado seu descaso. Teve
que se apressar assim como ele que também não havia conseguido ser liberado
da Catedral em um bom horário. Seguiram para a Cerimônia de Inverno com
ela trabalhando para atar as sandálias enquanto os brincos enfeitiçados
tentavam se fechar em suas orelhas e com ele fechando os botões da blusa
enquanto ditava ordens a penas e pergaminhos que eram enviados como
memorandos janela a fora da cabine da carruagem.

Desceram absolutamente impecáveis no tapete vermelho, passaram por todo o


processo do ano anterior e quando conseguiram entrar na Catedral ela logo foi
direcionada pelo grupo do Diário do Imperador que a esperava e Draco foi
parado para receber mensagens urgentes que vinham de fora de Brampton Fort
como sempre.

Agora, enquanto ela andava pelos corredores procurando a escada que daria ao
lugar onde Fred Weasley assistiria ao evento atado e amordaçado esperando
pelo momento de sua execução, tudo que se passava por sua cabeça era o
quanto estava cansada.

Já fazia algumas semana que Draco tirava alguma de suas horas da manhã
para o que ele chamava de “treino”. Ela considerava tortura, mas ele insistia
que devia estimular os instintos de sobrevivência nela. Ele limitara o uso da
varinha, mas ela só havia conseguido se livrar de vários roxos no corpo e idas
constantes a ala das enfermarias porque tinha um certo conhecimento em usar
magia sem varinha, o que pareceu surpreender e frustrar Draco porque quase
todas as situações que ele a colocava ela era capaz de completar ilesa e sem
muito esforço mesmo quando era obrigada a largar a varinha. O que mais a
interessava eram as situações que lhe exigia atenção, concentração, lógica e
memória. Ela era boa. Ela também era boa em armamento trouxa. Seu pai
costumava a levar para caçar quando era criança. Mas havia se surpreendido
com essa parte porque raras as situações em que comensais usavam alguma
arma trouxa durante qualquer conflito. Ela não sabia que eles gastavam tempo
ensinando comensais a usarem algo tão trouxa como arma de fogo. Mas até
fazia sentido para ela visto que comensais são treinados para saberem
aproveitar de tudo que os cerca, se caso uma arma for parar na mão deles, é
melhor que saibam usar.

Surpreendeu-se por não se deparar com a figura de Draco tentando impedi-la


assim que conseguiu alcançar as escadas que davam para a cela panorâmica de
Fred Weasley. Draco certamente imaginara que ela tentaria fazer seu caminho
até Fred durante a Cerimônia de inverno, e mesmo a vendo no hall de entrada
do salão após sua entrevista, sabendo que ela não entrara no salão, não havia
encontrado uma forma de segui-la.

Aproximou-se da guarda posta ao pé da escada. Ela tinha o direito de exigir ver


o prisioneiro a hora que bem entendesse, mesmo que isso significasse
problemas futuros para ela e pra quem carregasse o mesmo sobrenome. Não
era sensato exigir seus direitos. Tinha que ser mais esperta do que isso.

- Guardas. – ela começou em sua melhor postura. – Novas ordens do seu


general: As trocas devem ser feitas de dez em dez minutos a partir de agora
para minimizar as chances de qualquer visita que o prisioneiro possa receber.
Me deem licença que preciso passar a mesma ordem aos guardas da cela.

- Desculpe, madame, mas o prisioneiro já está com uma visita. – informou


um dos guardas um tanto desconcertado.
O que? Não! Isso estragaria tudo. Estragaria sua tentativa de subir as escadas
com a desculpa de que deveria informar os guardas da cela sobre as novas
ordens visto que nenhum deles tinha a liberdade de abandonar os postos sob
nenhuma ordem.

- O prisioneiro não deve receber nenhuma visita. Essas são ordens do seu
general. São ordens do protocolo. São ordens do seu mestre! – Ela se indignou.

- Nem a de um velho amigo procurando se despedir? – Theodoro Nott


apareceu no topo da escada. – Me desculpe, Sra. Malfoy. – desceu alguns
degraus com um sorriso no rosto. - Informei aos guardas que tomaria
responsabilidade pelas consequências da minha imprudência.

- Isso não os isenta das consequências da imprudência deles. – mostrou


seu descontentamento aos guardas que se entreolharam um tanto
amedrontados.
- Desculpe, madame. – o guarda tornou a se pronunciar. – Ele é o
governador. – não tinham o poder para detê-lo.

Hermione cerrou os olhos para Theodoro e encarou o guarda que havia tomado
o status de porta voz.

- É melhor que tenha uma boa história para contar quando seu general
ouvir sobre isso. E você. – tornou a erguer os olhos para Theodoro. – Já que
está aí em cima, faça-se útil e informe a guarda da cela que as trocas
acontecerão de dez em dez minutos agora. – deu as costas fechou os olhos e
soltou um palavrão baixo por entre seus dentes cerrados.

- Seu casamento com Draco pode até te dar o bonito discurso de que
agora, você e ele são um. - Theodoro apressou-se a segui-la. – Mas para mim
Draco continua sendo o único que dá ordens por aqui. – ele chegou ao pé da
escada e avançou para passar dela. – Mas vou obedecê-la, madame. – caçoou
do guarda. – Estou tentando evitar entrar em mais panos sujos com um Malfoy.
– parou a frente dela a forçando a fazer o mesmo. – Mas farei como um favor,
não como uma ordem.

Ela o encarou completamente séria.


- Fará como uma ordem porque eu sou uma Malfoy e você é um Nott.
Estou acima de você.

Ele riu.

- Alguém aqui está mesmo aprendendo a ser uma Malfoy bem detestável. –
zombou ele. – É bom que esteja mesmo se tornando alguém que deve ser. –
ele ficou sério repentinamente e se aproximou. – Mas eu sei quem realmente é.

- Não sabe nada sobre mim, Theodoro. – ela queria simplesmente poder
acabar com a vida dele ali mesmo. – O que queria com Fred, afinal?

- Fred? – riu Theodoro. – Que íntimo, Sra. Malfoy.


- Vocês não eram próximos, nem em Hogwarts, principalmente depois dela.
– ela o ignorou. – Você o odiava. Draco te colocou aqui, foi isso? Para me
esperar.

Theodoro riu.

- Eu falhei com Draco o suficiente para lhe servir de qualquer ajuda por
agora, Hermione. – ele se aproximou ainda mais e abaixou o tom de voz. - Mas
eu estava sim esperando você. Sabia que mesmo se Draco tentasse te parar
você iria conseguir se livrar dele de alguma forma.

- Saia da minha frente, Theodoro. Tem a sorte de eu não ter dito a Draco
que invadiu nossa casa mais de uma vez...

Theodoro riu alto a cortando e deixando-a completamente confusa. Passou um


braço por sua cintura e a conduziu pelo curto caminho de volta até dobrar a
primeira esquina, informando aos guardas, que precisava de um tempo para
negociar sua punição por invadir a cela de um prisioneiro com uma Malfoy, mas
que logo voltaria para cumprir o almejado desejo que ela tinha em passar a
ordem para os guardas da cela.
- Eu estou tentando te ajudar. – ele abaixou a voz.

- Acha mesmo que eu vou cair nessa? – se desvencilhou dele quando ele
tentou coloca-la contra a parede. – O que quer com isso?

- Eu sabia que iria tentar achar um jeito de chegar até Fred Weasley
porque eu sei quem você é, Hermione. Tive a oportunidade de conhecer o que
restava desse seu coração quando começou a trabalhar comigo e eu sei que
mesmo que esteja se tornando amarga, você se importa. Se importa com o seu
amigo, se preocupa com ele.

- Eu já disse e vou repetir: Não sabe nada sobre mim, Theodore.

- Não, Hermione. Eu realmente não sei muita coisa, mas a pessoa que você
era, a ingenuidade que carregava, o coração que tinha. Era puro demais para
esse lugar. Eu sabia que viria até aqui porque sei que ninguém mais dessa
cidade faria o mesmo se estivesse no seu lugar. Eu sei que por mais que esteja
aprendendo a sobreviver nesse mundo nada ideal, a Hermione que você sabe
que realmente é nunca vai te deixar. – Ele foi calma e ela mal acreditou que ele
soubesse usar tão bem as palavras. Fechou os olhos e deu as costas a ele. Por
que ele sempre sabia exatamente o que dizer para fazê-la ceder? Não era justo
que ele pudesse ter esse poder tocando na parte mais frágil que ela carregava
agora. – Me diga qual é o seu plano. Eu quero ajudar. – ele estendeu a mão
para tocá-la.

- Não me toque! – ela esquivou e voltou-se para ele. – Você não pode jogar
comigo, Theodore. Jogou uma vez quando me fez entrar para o seu
departamento. Não vai conseguir isso de novo. Eu não sei quais são suas
intenções, eu não estou disposta a cair no que quer que....

- Escute, Hermione! – ele conseguiu ser gentil e ríspido ao mesmo tempo


quando a segurou pelos ombros e a colocou contra a parede. Seus olhos se
cruzaram e ele se aproximou ficado a poucos centímetros de seu rosto. – Não
estou jogando com ninguém e é por isso que eu estou aqui. Olhe bem nos
meus olhos. Tenho a teoria de que pessoas como você conseguem ver a
verdade pelos olhos das pessoas. – ele hesitou um segundo, mas logo tomou
fôlego e continuou. - Eu trabalhei com o mestre logo quando se casou. Queria
manter os olhos em você e em Draco. Comprei Jodie a levando para cama para
ter informações, sabotei algum dos seus projetos para ter sua atenção. Sim, eu
fiz tudo isso, mas os dias foram passando e te ter tão próxima me fez te
conhecer e você não faz a mínima ideia do poder que conseguiu sobre mim.
Sabe quando se escuta falar de uma utopia por muito tempo e tudo que você
consegue pensar é “Céus, se realmente existisse, se realmente desse certo, se
realmente fosse verdade!” Eu pensei que mulheres como você não existissem.
Você é uma mistura de todos os tipos de qualidade e me mata ver o quanto seu
próprio marido não te dá o valor que merece. Quando você se ausentou eu me
senti imensamente vazio. Não importava quem eu tivesse para me distrair,
tudo que eu pensava era o que poderia estar acontecendo de errado com você.
Eu queria estar no lugar de Draco. Queria estar do seu lado, poder cuidar de
você, poder te conhecer muito além do infernal profissional ao qual você me
aprisionava. – ele soltou o ar um tanto frustrado. – O que eu fiz foi por você,
Hermione. – ela não entendeu. – Estragar o seu trabalho. – ele especificou. –
Estraguei seu trabalho por você. Precisava de um bom motivo para sair do meu
departamento e eu o dei a você. Sua imagem continua intacta e soube
trabalhar bem com isso também para conseguir convencer o mestre de não
interferir no seu trabalho dentro do departamento de Draco.
- Como espera que eu acredite nisso quando tudo o que faz é me perseguir
e implorar para que eu volte para o seu departamento?

- Eu sinto sua falta! Sinto falta de ter nossos cérebros pensando juntos!
Sinto falta da sua companhia, da sua voz, de tudo em você! – ele disse como
se não fosse óbvio, como se fosse um absurdo que ela não se lembrasse que
ele já havia lhe dito aquilo. – Eu quero que venha para o meu departamento
por escolha, por vontade própria, não porque foi forçada ou porque o mestre te
quer longe da guerra. Eu quero que você me escolha. Te entreguei a chance
para sair para que assim você pudesse ter a opção de ficar. – ele concluiu e
eles se encararam em silêncio por alguns segundos. – Você não ficou e eu
entendo. Por isso estou aqui, por isso te esperei, porque quero que saiba que
pode confiar em mim. – Ela não queria que fosse um jogo. Não parecia ser um.
Os olhos dele estavam honestos o suficiente para convencê-la de que não era.
– Sei que quer chegar até seu amigo, mas entenda que se subir aquelas
escadas seu nome será registrado. Você se manteve longe dele porque sabe a
imagem que precisa construir. Se seu nome for registrado, não importa a
desculpa que der ou a história que tiver, sabe que ninguém irá comprar. Vão
presumir que você ainda se importa ou que talvez ainda se importe com os
rebeldes que te fizeram companhia durante todos esses anos de guerra. Tenho
certeza de que não quer correr o risco de ter isso estampado em algum jornal.
– Hermione espremeu os lábios e soltou o ar. – Me diga o seu plano, Hermione,
porque sei que a essa altura do campeonato você não pode estar com nenhuma
ideia insana de fazê-lo escapar.

Ela negou com a cabeça soltado o ar e fechando os olhos.


- Não. Ele precisa morrer. – sua voz saiu baixa.

- Me diga o que pretendia fazer, eu tomo a responsabilidade por isso. -


Hermione abriu os olhos e encarou os dele bem de perto. Pesou as chances que
tinha na balança. – Me deixe provar que pode confiar em mim.

Se ela tivesse um nome que pudesse cobrir o seria exatamente perfeito e


mesmo que ele falhasse, mesmo que ele não fosse de confiança, quem
realmente deveria temer era Voldemort e de qualquer forma, o ofídico já
poderia esperar que ela tentasse algo a favor do ruivo. Se Theodoro desse seu
nome a imprensa ele sairia como um mentiroso procurando vingança em cima
do nome de Hermione visto que precisava restaurar sua imagem pública a
qualquer preço. Nada lucrativo para ele.

Hermione tomou fôlego, colocou os dedos em seu decote e retirou dali um


pequeno frasco que continha um líquido viscoso e nada apetitoso. Colocou-o na
mão de Theodoro.

- Encontre uma forma de entregar isso a Fred. A poção lhe dará força e o
deixará imune a dor, o que tornará o que quer que ele irá enfrentar naquela
arena muito mais divertido de se assistir. Ele morrerá com honra, lutando até o
fim, até que seus próprios ferimentos o impeçam biologicamente de prosseguir.
– ela soltou o ar. – Ele gostaria que fosse assim. – seu coração apertou mas ela
lutou para não ceder. – Diga a ele... – ela queria que ele soubesse que ela
sabia o que estava fazendo, onde estava se metendo e porque precisava ser
daquela forma, mas não podia arriscar com Nott. Suspirou. – Diga a ele que eu
não tive outra escolha.

Ele assentiu.

- Não sabia que isso existia. – ele disse encarando o líquido no frasco.

- Eu mesma criei. – ela disse. Ninguém saberia que Fred havia bebido
qualquer coisa.

Eles se encararam em silêncio até que um fino sorriso sincero cruzasse os


lábios dele.

- Você tem um bom coração, Hermione. – antes que ela menos esperasse
ele tocou seu rosto. Com o mesmo cuidado da ultima vez que tivera a
oportunidade. Ele se aproximou em direção a sua boca e ela se afastou. Ele
parou.
- Eu deixei que fizesse uma vez, não vou deixar novamente. – ela não
pensou duas vezes em dizer aquilo.

Ele assentiu novamente concordando com o decreto dela embora não parecesse
muito feliz em ter que escutá-lo. Enfiou o frasco que recebera no bolso em
silêncio e fez seu caminho de volta para a escada. Hermione fechou os olhos
encostando a cabeça contra a parede de pedra.

- Certo, senhores. – Hermione escutou Theodoro anunciar aos guardas. –


Me parece que ainda vamos ter que prestar bons depoimentos pela quebra de
protocolo. Me deem licença, por favor.

Hermione suspirou, desencostou-se da parede e escutou um guarda reclamar


sobre o poder de homens como Theodoro antes de tomar seu caminho de volta.
Tentava se convencer de que tivera sorte por encontra-lo ali. Usá-lo certamente
a livraria do risco de ter seu nome associado com o de Fred Weasley nas
próximas semanas.
Assim que recolheu a longa saia de seu vestido e desceu os três degraus para o
hall principal foi recebida por Astoria que moveu-se rapidamente em sua
direção assim que a viu.

- Nude e preto?! – ela apontou para o vestido que Hermione usava. –


Sério? Isso é tão inovador que já vou providenciar uma nova ala no meu closet.
Tenho certeza que vai virar a nova sensação. – ela puxou o fôlego
repentinamente enquanto ainda analisava seu vestido. – Por Merlin! Me diga
que essas rendas são francesas! Vejam só essas pérolas minúsculas... – ela
falou consigo mesma passando delicadamente as mãos entre as pregas que
moldavam sua cintura. – Isso deve ter lhe custado uma fortuna!

Hermione sorriu.

- Eu o ganhei. – disse e viu Astoria revirar os olhos e rir.

- Claro! Você é uma Malfoy!


- O estilista é um tanto desconhecido, mas a carta que ele enviou com o
vestido é absolutamente encantadora. Disse que o modelo é inspirado em mim
e o explica peça por peça, corte por corte e detalhe por detalhe baseado no
pouco que conhece da minha personalidade.

Astoria sorriu fazendo uma expressão de que estava se derretendo por dentro.

- Eu preciso conhecê-lo! E você parece uma rainha do inverno! Não menos


do que isso! Não faz nem ideia do quanto está me matando de inveja.

Hermione riu.

- Obrigada. – Hermione agradeceu o exagero de elogios recebidos. – Acaso


viu Draco?

- Sim. Isaac acabou de livrá-lo de uma dúzia de homens que estavam o


detendo aqui. Acabaram de entrar. Onde você estava?
- Estava dando uma entrevista ao Diário do Imperador. Preciso encontrar
Draco. Está pensando em entrar agora?

- Não com você! – Astoria disse como se aquilo não fosse óbvio. – Ninguém
vai me notar! Vou escolher alguém menos importante para isso.

Hermione teve que rir, Astoria parecia ter algo mais para comentar, mas
Narcisa surgiu vestida em um elegante vestido cobre a interrompendo.

- Astoria! Você está absolutamente linda. Verde é definitivamente sua cor.


– Narcisa se introduziu entre elas. Astoria tratou de agradecer encantada por
receber o elogio. – Hermione, por que não entramos? – Hermione concordou e
a seguiu informando a Astoria que poderiam conversar mais dentro do salão. –
Havia me dito que seria uma rápida entrevista.

- E foi. – respondeu ela.


- Draco entrou com Isaac. Ele deveria ter entrado com você.

- Passamos juntos pelo tapete vermelho. Isso que importa.

- Não, Hermione. Não é só isso que importa. – ela parou e Hermione foi
obrigada a fazer o mesmo. Elas se encararam. – Draco e você estão debaixo
dos holofotes vinte e quatro horas por dia. – ela começou com a voz uniforme e
a postura intacta de sempre. - As pessoas adoram a figura de vocês juntos por
causa da romântica história que tem e não vão se cansar enquanto tudo que
tiveram nos jornais sobre vocês for uma rápida caminhada lado a lado como se
fossem dois companheiros profissionais saindo de uma carruagem e entrando
na Catedral, isso quando decidem vir juntos a Catedral. Pelo menos uma noite,
ao menos uma, mostre que ama seu marido e faça isso pelo bem do discurso
que te livrou de ser ofendida de traidora e Sangue-Ruim pelas esquinas dessa
cidade. – Hermione puxou o fôlego com calma para receber as palavras de
Narcisa com paciência. Sabia exatamente o quanto ela se esforçava para
controlar os nervos em eventos que havia organizado. – E não pense que isso
vale só para você. Draco já recebeu o discurso dele. Agora, entre com um
sorriso no rosto e expresse o quanto está grata por ter um tempo livre longe da
guerra em uma cidade perfeitamente protegida. – Hermione se restringiu
apenas em assentir obedientemente. – Belo vestido, a propósito. – ela finalizou
e saiu.
Hermione suspirou e voltou-se para o imenso salão aberto a sua frente. Teria
que ser paciente e forte durante aquela noite. Preparou-se para avançar um
passo, mas ao invés disso regressou dois puxando o ar de uma vez enquanto
tampava a boca com os quando uma onda de náusea bateu contra ela sem
nenhum aviso prévio.

Precisou se concentrar e no segundo em que se sentiu minimamente melhor,


sua mente automaticamente fez as contas de quando fora a última vez que
havia se alimentado. Acostumara-se a fazer isso nos primeiros meses de sua
gravidez quando se sentia enjoada por ter se esquecido de colocar algo no
estômago.

Parou imediatamente com aquele pensamento. Seu cérebro pareceu ativar uma
sirene que fez seu sangue esquentar e seu coração bater mais rápido.
Rapidamente ela começou a voltar no tempo, repassou dados, informações,
acontecimentos, datas e então ela parou, fechou os olhos e soltou o ar com
calma pela boca. Não. Não seria possível. Não iria fazer sentido.

Balançou a cabeça para limpar seus pensamentos. Tornou a encarar o salão a


sua frente, sorriu e passou para o lado de dentro deixando com que a música e
todo o barulho das conversas a envolvesse naquele ambiente estranhamente
acolhedor e intimidados ao mesmo tempo.

Ocupou-se com uma taça de champanhe assim que teve a oportunidade e fez
seu caminho por entre as pessoas, sendo obrigada a parar e prestar toda a sua
educação quando necessário. Procurou por Draco, mas não o encontrou, o que
a fez se distrair com conhecidas de eventos anteriores. Embora conversar sobre
a vida alheia e as fofocas atuais fosse extremamente entediante, Hermione se
sentia muito mais parte do ambiente do que da última vez que fora obrigada a
atender a Cerimônia de Inverno e isso de alguma forma a ajudava a se sentir
menos tensa.

Sorriu automaticamente quando sentiu uma mão envolver sua cintura.


Conhecia bem aquele toque. Olhou por cima do ombro para encarar Draco se
aproximar em sua postura sempre neutra. Ele cumprimentou as mulheres que
a rodeavam e que instintivamente checaram se estava tudo em ordem com o
cabelo e o vestido antes de responder educadamente ao cumprimento.

- Quer algo para beber? – ele voltou-se para Hermione apontando para a
taça vazia que ela tinha nas mãos. Ela sorriu, negou com a cabeça e disse que
estava bem. – Acaso está muito ocupada?

- Estava conversando, mas...

- Ótimo. – ele a interrompeu, passou os olhos pelas mulheres a sua volta e


tornou a encará-la. - Precisamos conversar. – foi tudo o que disse.
Hermione não entendeu a seriedade que ele carregava em sua expressão.
Sabia que naquele momento, durante aquele evento, ele deveria ser educado,
deveria sorrir, deveria estender a mãos para cumprimentos, mas tudo que ela
conseguia enxergar nele era a expressão neutra que quase sempre escondia
tudo que ele queria conter.

Passou os olhos pelas mulheres que os olhavam com curiosidade. Sorriu e


voltou-se para Draco. Assentiu e foi conduzida para a galeria a sua direita onde
o fluxo de pessoas era menor. Ele a parou próximo a uma das colunas que
dividia o átrio das galerias, colocou as mãos no bolso, passou os olhos
rapidamente ao redor para analisar quem estava por perto e disse:

- Nós perdemos.

Hermione não entendeu.

- Perdemos? O que perdemos?


- York. Nós perdemos. – repetiu.

Hermione uniu as sobrancelhas confusa.

- Como? Deveríamos saber disso apenas daqui a, no mínimo, dois dias.


Hoje foi apenas o primeiro ato, você reviu isso um milhão de vezes, as chances
de perdemos eram quase nulas.

Ele suspirou um tanto impaciente. Analisou as pessoas a volta deles novamente


e tornou a fixar os olhos cinzas nos dela.

- Garrett estava no comando da operação em campo porque eu não posso


sair de Brampton Fort. Ele pegou a Ordem completamente despreparada no
primeiro ato, viu a oportunidade de tomar a região facilmente em um dia e sem
todo o cuidado das estratégias demoradas que havíamos preparado. Ele
acelerou o processo, cercou a Ordem e no momento em que ela viu que
perderia York... – ele puxou o ar como se estivesse se contento para não
expressão nada além de sua neutralidade. – A Ordem usou a magia. Aquela
que somente você consegue controlar na sala de simulação. O local virou um
caos. Tivemos que recuar, a Ordem também, e como eles já tem acampamento
na região, voltamos a estaca zero. Eles ainda tem o poder sobre York. A
diferença é que além de termos perdido comensais, entregamos em um dia só
todo o plano de estratégias que preparamos. - Hermione recuou um passo ao
escutar aquilo. Colocou uma mão sobre a testa e puxou o ar. – Seja mais
discreta! – ele apressou-se a dizer.

Hermione foi obrigada a estabilizar sua respiração. Refez sua postura e desviou
o olhar enquanto abusava de alguns segundos para fazer seu cérebro trabalhar
em capacidade máxima.

- Erramos em algo. – ela tornou a encará-lo.

Ele uniu as sobrancelhas quase que imediatamente.

- Erramos? Nós não erramos! Garrett estava sob ordens! Ele simplesmente
ignorou todo o...
- Garrett viu a fácil oportunidade de conseguir tomar York. Ele tomou uma
decisão que iria lhe poupar tempo e dinheiro. Se pergunte se você não iria fazer
o mesmo no lugar dele. – ela o cortou. – Mesmo que seus homens levassem os
três dias determinados para conseguir tomar a região, no momento em que a
Ordem percebesse que não havia saída, eles usariam a magia para recuá-los. –
ela suspirou - Existe algum ponto cego que estamos perdendo nesse processo.

Ele não parecia muito confiante no que ela havia dito, mas estava
considerando. Assentiu em resposta. Hermione pode ver a frustração escondida
ali no olhar dele. Ele era tão diferente de Harry. Tinha todos os motivos para
sair chutando paredes, derrubando vasos caros, gritando com quem quer que
ousasse cruzar com sua opinião, mas estava ali, com sua expressão neutra
escondendo toda a vontade que tinha de fazer tudo aquilo. Sem dúvida, as
habilidades de sobrevivência que havia desenvolvido para dar conta da pressão
de estar sob Voldemort havia o mudado muito.

- Vamos encontrar um outro jeito de lidar com isso. – ela disse.

- Eu sei. – ele declarou.

- É frustrante apenas. Trabalhou nisso por muito tempo. Eu entendo. Passei


pelo mesmo milhões de vezes quando estava na Ordem. Vamos encontrar outro
jeito. – Ela tentou ajudá-lo. Ele não falou nada, mas esperava que a frustração
dele estivesse sendo confortada de alguma forma. O silêncio dele talvez fosse
um sinal de que estivesse conseguindo. – Precisa apenas manter-se focado. –
ela parou ali.

Draco assentiu. Ele já sabia daquilo, ela não precisava dizer a ele, mas de
alguma forma parecia justo deixar verbalizado um conforto para sua alma
atormentada naquele momento. Não era bem o conforto que ela costumava dar
a alguém, mas sabia que qualquer coisa além daquilo ou mais íntima do que
aquilo seria demais para os ouvidos dele. As vezes ela sentia que deveria se
vestir de Narcisa para chegar até o estado de compreensão de Draco Malfoy.

- Preciso subir até minha sala. Tenho que lidar com isso. Deslocar Garrett,
trazer de volta as zonas que estavam trabalhando em York, escolher de quem
vou querer depoimentos e como vou emitir um comunicado oficial sobre tudo
isso amanhã. – de repente tudo nele pareceu expressar o quanto estava
exausto. Hermione assentiu. Ela sabia que ele realmente estava, mesmo que
demonstrasse sempre estar em perfeito estado. Fazer o trabalho que tinha que
fazer preso em um lugar apenas fazia o serviço triplicar. – Precisamos fazer
algo. As pessoas estão pesando que estamos discutindo.

Ela se aproximou e ele passou os braços por sua cintura quase que
automaticamente. Hermione não precisou informar o que deveriam fazer, ele
apenas inclinou-se e colou seus lábios nos dela. Ela fechou seus olhos sentindo
o mundo ao redor deles desaparecer. Deveria se odiar por se ver ser envolvida
por ele cada vez mais. Cada beijo, cada toque, parecia fazer com que ela
amolecesse mais. Ela não queria amá-lo, desejá-lo nem derivados de nada
disso. Ela queria apenas uma relação mutua de respeito, educação e
compreensão. A verdade era que conhecia bem o caminho que ela estava
tomando e deveria se odiar por não estar lutando contra. Draco não era um
homem que ela admirava por inteiro e não podia se envolver daquela forma
com alguém que tão pouco conhecia.
Suas bocas se distanciaram minimamente. A sensação da respiração dele
contra seu rosto não a deixava abrir os olhos. Tinha que se afastar, já haviam
feito o suficiente para tirar qualquer pensamento de que estivessem discutindo
da cabeça das pessoas que os cercavam, mas ao contrário disso, ela apenas
ergueu as mãos e tocou o rosto dele. Deslizou seus dedos pelos fios loiros e
bem penteados e antes que pudesse fazer qualquer outro movimento a boca
dele se fechou novamente contra a dela.

Ele sempre a surpreendia. Quando seus lábios brincaram, ele a apertou mais
junto contra seu corpo. Ela sentiu todas as sensações que conhecia correrem ao
mesmo tempo por suas veias. Pensou que por mais que conhecesse o caminho
que estava seguindo e se odiasse por não lutar contra, por mais que já tivesse
andado por aquele caminho vezes seguidas, Draco era confuso demais para que
ela soubesse no que estava entrando. Mal sabia se o caminho que estava
seguindo era realmente o caminho que já conhecia.

Tiveram que finalizar o que quer que estivessem fazendo quando magicamente
entenderam juntos que aquilo não era para carrega-los para cama nem mesmo
para incitar qualquer desejo. Suas línguas mal haviam se tocado e aquilo era
completamente longe do terreno que eles pisavam com frequência quando
faziam sexo. Afastaram-se minimamente novamente. A respiração entre o
pequeno espaço entre seus rostos era tão confortante que ela entendeu o
porque sentia que Draco não parecia querer se afastar. Era quase absurdo
conseguir encarar a realidade de que Draco estava permitindo que aquilo
acontecesse no meio de um salão lotado de pessoas.
- Estou exausto. – ele sussurro. O tom de sua voz denunciava o quanto ele
realmente estava.

Hermione se surpreendeu por escutá-lo verbalizar aquilo. Era como ele não se
lembrasse que estavam em público ou como se não se importasse. Ela jamais
esperaria que ele fosse deixar que ela soubesse de algo como aquele pela boca
dele, nem mesmo quando estivessem sozinhos. Afastou-se mais e abriu os
olhos para vê-lo fazer o mesmo. Surpreendeu-se ainda mais quando ele deixou
que ela vesse que ele pedia por descanso. Seus dedos passaram pelo rosto
dele. Parecia tão humano e despido de qualquer máscara que ela se sentiu
imensamente atraída.

- Tem que vencer uma guerra. Não vai ser fácil. Sabe bem o preço que
deve pagar. – ela se viu dizer e sentiu que estava repetindo alguma cena em
sua vida. Sentiu como se estivesse lidando com Harry nos dias que ele
externava sua fraqueza mais do que o normal. – O que te move é poder e
influência. – Não justiça, como Harry. Talvez a busca por justiça fosse o que
atrasava Harry, afinal. – Sabe que o terá quando tudo isso acabar.

Draco assentiu e como que num clique ele estava neutro e frio novamente,
mostrando a ela que ele definitivamente não era Harry. Ele não precisava dela.
Podia recompor-se quando bem quisesse, sem precisar das palavras, do
conforto ou da companhia de ninguém.
- Preciso ir fazer o meu trabalho. – foi tudo que ele disse antes de deixá-la.

Hermione suspirou e quando acordou para o mundo que a cercava, o primeiro


par de olhos que encontrou a encarando foram os de Pansy Parkinson. Ela
atravessou a distância entre elas desviando de quem entrasse no caminho, mas
sem desgrudar seus olhos dos de Hermione.

- Está envenenando a mente dele. – Pansy disse assim que chegou a ela.

Hermione suspirou sem paciência para lidar com Pansy naquele momento.

- Eu acredito estar acontecendo ao contrário. – disse e deu as costas para


seguir seu caminho, mas os dedos de Pansy se fecharam em seu pulso com
uma força vingativa.
- Ele vai te odiar ainda mais quando descobrir o que você está usando nele.

- Eu não estou usando nada! – Hermione voltou-se para ela sentindo-se


quase que ofendida. – Eu não quero e nem preciso que ele me ame! Diferente
de você!

- É isso que diz a ele? Esse é o seu jogo com ele? Eu deveria ter usado esse
discurso antes. Mas claro que você é a sabe-tudo esperta o suficiente para
saber exatamente o que fazer para que ele caia no seu encanto falso. – ela riu
com desgosto. – Vou esperar ansiosa pelo momento em que ele acordar,
porque acredite, eu conheço muito bem Draco Malfoy e ele vai acordar.

- Escute com cuidado, Parkinson. Eu não estou competindo Draco com


ninguém. Eu já disse que não preciso que ele me queira ou me ame. O que
quer que você tiver que resolver com ele, não me coloque no meio. – tentou
desvencilhar-se da mão dela, mas Pansy não a soltou.

- Ah! A sempre boa Hermione. – ela forçou um sorriso amarelo. – Você não
me engana. Nenhuma mulher me engana. Quer Draco tanto quanto qualquer
outra. Eu poderia até duvidar disso no começo, mas agora, agora está
estampado nessa sua cara de santa.
A paciência de Hermione esgotou naquele exato momento.

- Está na hora de você aprender que deve melhorar o tom de voz que usa
comigo. Eu sou quem você sempre quis ser. Tenho o poder e a influência do
sobrenome que você sempre quis. Portanto, se eu fosse você, tomava mais
cuidado com a forma como se dirige a mim. Eu poderia tê-la tirado da
organização da Cerimônia de Inverno no momento que eu quisesse e posso
muito bem acabar com a sua imagem exatamente quando eu quiser.

- Não seria nem louca de fazer isso. Sou uma Parkinson...

- E Theodoro era um Nott quando resolveu mexer onde não devia. Não tive
um segundo de hesitação ao fazer o que fiz com ele. O que te faz pensar que
eu teria com um Parkinson? – a alertou. – Fique avisada. O momento em que
eu decidir te esmagar, não vou hesitar. Portanto comporte-se e segure mais
sua língua afiada quando se dirigir a mim. Sou uma Malfoy e evite me fazer
lembrar que a detesto.

- Não ouse mexer comigo, Sangue-Ruim. Draco te faria pagar por isso.
- Tem certeza? – jogou Hermione e ficou surpresa por ver a duvida passar
no olhar dela. Hermione certamente não iria mesmo ousar mexer com Pansy
Parkinson. Sabia que o relacionamento que ela tinha com Draco passava do
sexo. Mas a dúvida no olhar dela lhe passava alguma informação valiosa. – Não
me faça contar os segundos para que você me solte. – aproveitou a deixa da
incerteza que havia no olhar de Pansy para se ver livre da mulher. A desafiou
com o olhar e não demorou para que ela relutantemente a soltasse.

Hermione suspirou cansada e irritada ao mesmo tempo, deu as costas e seguiu


de volta para o átrio do salão. Pegou uma taça de qualquer bebida assim que
teve a oportunidade e a virou de uma vez. Era incompreensível a forma como
ela passara a detestar Pansy quando antes sabia que ela pouco importava.
Precisou tornar a forçar sorrisos educados e quando foi parada por Isaac quase
teve vontade de insultá-lo injustamente.

- Hei, Draco disse que precisava te encontrar. – ele disse.

- Ele me encontrou. – informou ela.


- Soube do que aconteceu. Draco me contou.

- Contou? – Hermione se viu surpresa por isso. – Poderia tentar guardar


isso somente para você por enquanto?

Isaac sorriu calorosamente.

- Não precisa se preocupar comigo. Eu não iria querer ser o culpado por
espalhar algo tão confidencial no momento. Não é todo mundo que recebe um
voto de confiança desse nível de Draco Malfoy. - Hermione assentiu. Se Draco
estava confiando em Isaac para aquela informação ele tinha algum plano com
isso. Provavelmente estava o testando para algo. – Bem, queria apenas ter
certeza de que Draco havia conseguido encontrá-la. Também seria muito
deselegante da minha parte não elogiá-la essa noite. Está fabulosa.

- Obrigada. – Hermione sorriu educadamente e seguiu seu caminho assim


como ele sentindo-se minimamente mal por quase ter sido grossa.
Não demorou muito para ser convidada por um senhor que conhecera no jantar
dos Bennett a se juntar a um grupo de homens que discutia a situação da
Inglaterra bruxa durante a primeira Guerra Mundial. Hermione precisou ser
cuidadosa para não expor muito sua opinião, nem deixar que o assunto se
encaminhasse para a guerra atual. Sabia que muito daqueles homens se
matariam por uma minúscula fatia de informação.

Ignorava os olhares que recebia por estar em uma círculo de conversa


masculino. Tentou até se retirar duas ou três vezes, mas aqueles homens
estavam interessados em ouvir sua opiniões. Hermione sabia que era perigoso,
mas preferia enfrentar o desafio de tentar sempre soar neutra e sensata
quando todos queriam saber sua verdadeira opinião do que ter que discutir
sobre os novos deliciosos chás importados para a cidade.

Astoria foi quem apareceu e a livrou do amontoado de homens que parecia


crescer cada vez mais. Hermione esperou que ela fosse ser sincera como
sempre era, dizendo que não era muito apropriado que ela estivesse chamando
tanto atenção daquela forma. Naquele ponto, todos já deveriam saber que seu
marido estava ausente do salão. Mas ao invés disso ela indagou:

- Está tudo bem, Hermione? – com um tom um tanto preocupado.


Hermione uniu as sobrancelhas confusa e logo tratou de passar os olhos pelo
salão para ter certeza de que tudo estava em ordem.

- Sim. Acredito que sim. – apressou-se a dizer. – As bebidas estão sendo


servidas uniformemente, a orquestra está seguindo a lista que montamos, a
pista de dança está começando a encher antes mesmo do horário que
havíamos previsto...

- Não. Não o evento. – Astoria a cortou e Hermione se viu ainda mais


confusa. – Draco.

- Oh. Ele teve que subir até o escritório para resolver alguns problemas
relacionados a guerra. Trabalhar aqui de dentro triplica o serviço, mas o mestre
não iria gostar que ele perdesse a Cerimônia de Inverno. – ela explicou.

Astoria soltou o ar e moveu-se um tanto inquieta. Olhou para os lados.


- Isaac está me parecendo um pouco afoito. Eu sei quando ele está
escondendo algo de mim. – ela soltou.

Hermione se viu intrigada.

- Afoito? O que quer dizer exatamente?

- Ele está tentando encontrar uma forma de ajudar. Está confuso se deve ir
até Draco se oferecer ou se deve apenas se fechar na dele.

- Por que tentar ajudar o incomodaria ao ponto do “afoito”? – ela ainda


tentava entender.

Astoria suspirou como se estivesse na duvida se deveria ou não dizer o que


estava pensando naquele momento.
- Você não entende o quanto isso é importante para nós. – ela começou.
Hermione continuou confusa. – Não voltar para a América. – ela explicou. –
Estar lá faz você se sentir como se estivesse em exílio. Precisamos criar raízes
aqui. Draco transferiu Isaac e ele quer mostrar que pode ser o melhor de si.
Quer se mostrar útil, de confiança, porque nós não queremos voltar.

Hermione quase sorriu. Iria dizer que ela estava sendo boba em pensar daquela
forma. Isaac havia sido transferido e uma vez feito isso ele só seria mandado
para outro forte se fosse extremamente necessário ou se fizesse uma grande
besteira. Ele não precisava ficar tão preocupado em se mostrar tão altamente
útil. E foi com aquele pensamento que ela recuou. Um filme repassou pela sua
cabeça desde o primeiro momento em que foi apresentada a aquele casal.
Sempre muito gentil, sempre muito prestativo, sempre se mostrando de
confiança, sempre buscando se aproximar deles. Sempre buscando se
aproximar deles. Se aproximar de Draco e Hermione. Isaac havia a parado
minutos atrás para ter certeza de que Draco havia a informado sobre terem
perdido York para poder ir até Astoria e lhe dar sinal verde para procurá-la e
dizer todas aquelas besteiras. Dessa forma Hermione se compadeceria do
estado de ambos, consolaria a mulher e diria que Isaac poderia procurar Draco
se quisesse e achasse que poderia ser útil naquele momento. Inspirou e sorriu
sabendo que deveria continuar o jogo deles.

- Astoria. – começou sabendo que deveria fazer seu melhor personagem. –


Não é necessário que se preocupem tanto. Sei que ter estado na América foi
um tanto traumático, principalmente para você, mas entenda que voltar para lá
é uma chance bem distante. – tocou o braço da mulher mostrando-se
compreensiva e extremamente amável - Isaac pode procurar Draco se ele tiver
certeza de que será útil. Sei que nesse momento Draco provavelmente estará
precisando de muita gente para receber as milhões de ordens que deve estar
bradando.
Astoria sorriu suavizando suas expressões preocupadas.

- Você tem sido uma boa amiga, Hermione. – ela disse. Hermione sorriu
em resposta e Astoria seguiu seu caminho, muito provavelmente em busca do
marido.

Hermione desfez seu sorriso quase que no mesmo instante. Procurou por
Narcisa no meio daquela multidão e foi encontrada grudada no braço de Lucio
Malfoy que parecia bastante entretido com seus companheiros do Ministério da
Magia. Aproximou-se, chamou sua atenção e afastou-se com ela ao seu lado.

- Me fale sobre Isaac Bennett. – Hermione foi direto ao ponto.

Narcisa se mostrou confusa e surpresa.


- Isaac Bennett? Filho de Elizabeth Bennett? – ela precisou de alguns
rápidos segundos para conseguir encontrar uma informação que o resumisse o
suficiente. – Ele é um garoto bem esperto. Pelo menos costumava ser quando
era adolescen...

- Quão esperto ele é? – Hermione se apressou.

Narcisa fez uma grande expressão de interrogação.

- Por que?

- Quão esperto ele é? – ela repetiu mais pausadamente para se fazer bem
clara.
- Muito. – ela respondeu. – Ao menos costumava ser. Os Bennett foram a
única família a serem admitidos dentro do círculo importante do mestre mesmo
não tendo jurado lealdade desde início. Sobreviveram inúmeras quedas
financeiras na história. São bastante espertos. O pai de Isaac o ensina sobre
negócios desde criança. Por que está interessada em...

- Hermione. – Draco surgiu repentinamente carregando inúmeras pastas. A


mão dele em suas costas a obrigou a segui-lo. – Vou precisar de você com os
depoimentos. – ela olhou para trás para verificar uma ultima vez a grande
interrogação estampado no rosto de Narcisa. - Fique tranquila, voltaremos para
o momento da cerimônia. Você é a única pessoa em que eu confio para não
deixar passar absolutamente uma vírgula fora do lugar. – ele a conduziu
rapidamente para fora do salão. Rápido o suficiente para impedir que qualquer
alma tivesse tempo o suficiente para pará-los, mas não o suficiente para que
ela não notasse Theodoro Nott passar por eles acompanhada de uma bela
mulher alta e de longos cabelos loiros.

Ela recebeu o olhar que ele lançou para ela quase que em câmera lenta. Dizia
em silêncio e discretamente que o quer que ela quisesse que ele tivesse feito,
estava feito. Automaticamente começou a pensar em como agradeceria por
aquilo, mas logo tratou de balançar a cabeça afastando aquele pensamento e
se focou em Draco.

- Os Bennett. – ela se apressou aproveitando que estavam se movendo


rápido e que ninguém muito importante estava por perto. – Isaac e Astoria
Bennett. Eles estão jogando conosco. Comigo e com você.
- Hum. – ele disse sem muito interesse passando o que parecia milhões de
folhas nas mãos enquanto avançavam. – Estava me perguntando quanto tempo
demoraria para perceber isso.

Aquilo a surpreendeu.

- Você já sabe?

- Claro que eu já sei, Hermione. Eles estão fazendo um excelente trabalho


juntos, o que me faz admirá-los. Resta apenas saber se as intenções deles são
a nosso favor. Iremos jogar o jogo deles até sabermos se devemos esmagá-los
ou não. Aqui. – estendeu para ela uma ordem de pergaminhos.

- General! – um homem chamou por Draco do outro lado da ala que


passavam.
Hermione pegou os pergaminhos e as pastas que ele estendeu a ela.

- Te encontro em minha sala. – foi tudo o que ele disse antes de dar as
costas e seguir o homem, sumindo pela primeira esquina que viraram.

Ela suspirou. Encarou os papéis e pastas em suas mãos. Balançou a cabeça e


tomou a direção da torre de Draco. Tinha que admitir que gostava daquela
dinâmica e sabia que a cada dia que se passava sua alma se embriagava mais
e mais pelo gosto de saber que estava de um lado em que a guerra era
combatida a um nível muito mais alto, muito mais avançado e ela adorava o
desafio, adorava a qualidade. Sentia como se finalmente estivesse do lado em
que deveria ter estado desde o começo, não o de Voldemort, mas o vencedor.
O lado que ela podia realmente acreditar que venceria.

Sentia-se viva.
28. Capítulo 28

Hermione Malfoy

O som de seu salto contra o piso ecoava pela sala pequena enquanto andava de
um lado para o outro pensativa.
- Então está me dizendo que a equipe do qual estava responsável durante
a ação apenas ignorou suas ordens, sabendo que você era a voz do
comandante para eles naquele momento, e seguiu com o plano inicial como
havia sido ensaiado nas salas de simulação? – ela elaborou a sentença.

- Não, dona. – o homem sentado a cadeira se pronunciou. – Eu não disse


que eles me ignoraram...

- Até onde me recordo, você havia dito que eles podiam te escutar
perfeitamente. Se eles podiam te ouvir e moveram-se de acordo com o plano
original e não o modificado, significa que eles te ignoraram. – ela falou como se
não fosse bastante óbvio.

- Escute, dona...

- Não. – ela parou e o encarou cruzando os braços. – Cansei de escutar e


sabe o que eu acho? Acho que está mentindo.
Ele uniu as sobrancelhas com indignação e riu como se estivesse escutando a
coisa mais absurda de sua vida.

- Mentir? Por que eu mentiria? Estamos do mesmo lado aqui, dona!

Hermione estava realmente começando a se irritar com o “dona”.

- Isso não se trata de um processo para descobrir sobre traição! – estava


começando a se sentir frustrada com tudo aquilo tanto quanto Draco. – Vocês
tinham uma tarefa muito clara! Era uma segunda tentativa em York! Ensaiaram
o que deveriam fazer dezenas de vezes nas salas de simulação e mesmo assim
colocaram tudo a perder por sabe-se lá o que! – sentiu que sua voz subia de
tom gradativamente mas era incapaz de controlar. - Se parassem de mentir e
admitissem os próprios erros seriamos capazes de encontrar o que houve de
errado para que pudéssemos concertar! Entende? Entende o trabalho que
precisamos fazer aqui? Poderia colaborar?

- Estou colaborando, dona. Estou respondendo todas as suas perguntas.


- COM MENTIRAS!

- Esse é o seu julgamento, mas a verdade é que não estava lá. Não
saberia.

Hermione puxou o ar para sentindo que iria a loucura. Estava afrontando e


sendo afrontada desde a manhã daquele dia que ela sabia que seria
interminável como todos os outros. Precisou controlar cada nervo em seu corpo
para evitar condenar aquele homens a algum castigo, embora não tivesse
realmente esse poder. Foi até a mesa, juntou os papéis furiosa dentro da pasta
e a fechou.

- Estou farta disso! – vociferou, deu as costas e saiu batendo a porta com
violência.

- Sra. Malfoy, nós ainda temos mais 10 pessoas para colher depoimento
antes do intervalo. – sua assistente nomeada apressou-se a segui-la quando
ela avançou pelos corredores
- EU ESTOU FARTA! – parou lançando sua pasta furiosa contra a parede. –
QUAL É A RAZÃO DE FAZERMOS ISSO SE TODOS ELES CONTINUAREM
MENTINDO? – voltou-se para a mulher. – NÃO VOU PERDER MEU TEMPO COM
ISSO! – deu as costas e continuou avançando firme.

A cada passo que dava sentia sua respiração ficar cada vez mais apertada,
como se não conseguisse puxar o tanto de oxigênio que realmente precisava.
Os nervos pareciam correr sua pele e ela começou a sentir que poderia suar
litros com o calor que subia pelo seu corpo.

Virou uma esquina e passou por um conhecido beco. Apertou o passo ao entrar
dentro do lavatório feminino. Empurrou a porta da primeira cabine que seus
olhos alcançaram, debruçou-se sobre a porcelana do sanitário e despejou ali
tudo que havia em seu estômago.

Cuspiu quando terminou o serviço sentindo mais raiva do que deveria. Ofegou.
Cobriu os olhos com uma mão e chorou. Não. Não. Não. Não. Não! Como pode
ter sido tão burra, tão estúpida, tão descuidada, com algo tão sério? Tentou se
controlar respirando fundo três ou quatro vezes e então se levantou. Foi até a
pia, colocou água na boca para tentar se livrar do gosto amargo e limpou suas
bochechas molhadas com os dedos trêmulos.
Fechou os olhos, respirou fundo mais vezes soltando o ar pela boca. Molhou
uma mão na água, afastou os cabelos e tocou sua nuca para refrescar-se e
deixar que o som da água corrente tivesse algum efeito calmante. Quando
conseguiu sentir que tudo estava sob controle, abriu os olhos e se encarou pelo
espelho. Lide com isso. Era tudo que deveria pensar.

Verificou seu vestido, puxou lenços de cima do mármore da pia para esfregar o
tecido sobre os joelhos, mas acabou apelando para a varinha. Tentou melhorar
o estado de seu cabelo, limpou as manchas de maquiagem debaixo dos olhos e
refez sua postura. Olhou-se no espelho novamente. Puxou o ar. Era uma
Malfoy, sua vida era um grande inferno mas precisava se apegar ao seu orgulho
naquele momento.

Alinhou o vestido e saiu para o corredor. Voltou para a sala principal daquela
ala, pegou seu sobretudo, suas luvas de couro, seu cachecol e sua touca.
Desceu, deixou o quartel e seguiu para o jardim interno. O inverno estava
quase chegando ao fim, mas ainda havia gelo por toda parte. Ela sabia que a
primavera daria sinais tardios aquele ano, como sempre. Brampton Fort era um
poço de Dementadores e o que diziam era que o lugar todo iria ao colapso se
eles desaparecessem. Ela não acreditava nos rumores. Apostava que a
combinação dos Dementadores com a terra serviam de algum benefício a favor
de Voldemort, o que explicava a Cerimônia de Inverno e sua importância. Mas
Hermione agora pouco se importava com isso, haviam mil coisas mais
importantes para se preocupar e o que quer que fosse não parecia interferir na,
ainda misteriosa, conspiração de Draco.
O vento frio que a cortou desacelero seu passo. Enfiou as mãos no bolso e
parou de frente a um espelho d’água congelado. A estátua no meio segurava
dentes de gelo que pareciam longe de querer começar a derreter. Hermione
logo sentiu a lã de sua meia-calça não ser tão eficiente contra o frio, mas
mesmo assim apertou os cotovelos contra o corpo e permaneceu onde estava.
Sentir-se castigada pelo frio a fazia se sentir ao menos minimamente melhor
naquele momento.

Tentou não pensar em seu estado, em estar enjoada e com sono. Aquilo traria
mais nervos a tona. Mas tentar não pensar naquilo e fazia se lembrar de Fred,
algo que a perseguia tanto quanto suas agoniantes suspeitas que se tornavam
cada vez mais certezas sempre que o dia virava. Fred morrera como um herói
orgulhoso, lutando naquela arena com tanta coragem e tanta força que até
mesmo Voldemort se irritou por não ver o rebelde cair com tanta facilidade. Até
mesmo os Dementadores ficaram impacientes e ela conseguiu sentir que as
reações do público que assistia começou a mudar de lado, torcendo, talvez pela
primeira vez, para que o rebelde conseguisse vencer as provas mortais.

Mas Fred caiu, eventualmente, e Hermione até teria tido tempo de chorar pela
sua morte se não tivesse que sair as pressas para atender a confusão no
departamento de Draco para acabar virando a noite com homens da Comissão
analisando as reações da Ordem durante o ataque. Desde então ela não havia
tido tempo de se lamentar por Fred como deveria e agora que estava se dando
esse tempo, esperou pela lágrima, mas ela não veio.

- Hei. – escutou uma voz familiar a chamar e olhou por cima dos ombros
para ver Narcisa de aproximando. – Estava chegando com Bella quando a vi
vindo para cá.
Hermione fez uma careta ao escutar o nome de Bellatrix.

- Por que insiste em fazer companhia a uma psicopata?

- Ela é minha irmã.

- Tem certeza? Seu eu fosse você, mandava fazer alguns teste para
verificar a veracidade dessa informação.

Narcisa riu. Hermione entendia que ela procurava manter contato porque
Bellatrix era a fonte mais próxima de Voldemort que existia no mundo inteiro.
Suspirou e continuou a encarar a jornada de uma pequena aranha quase
invisível pela água congelada.
Uma lufada de vento a cortou novamente e ela piscou mais devagar para poder
apreciar a sensação, inalar com vontade e ver sua respiração condensar ao
soltar o ar pela boca. A ponta de seu nariz já estava dormente.

- Não está congelando aqui fora? – Narcisa indagou após o momento de


silêncio que passaram. – Você me lembra Draco fazendo isso. – comentou. –
Nunca entendi o porque ele faz isso com tanta frequência durante o inverno.

Hermione acabou sorrindo.

- Acredito que agora eu entendo. – disse. Narcisa a olhou curiosa. – O frio.


– explicou Hermione. – Parece ter o poder de congelar seus pensamentos. –
soltou o ar. Narcisa ainda parecia um tanto confusa com a conclusão. – As
vezes parecem haver milhões de pensamentos fervendo em sua cabeça,
querendo te fazer explodir, agir irracionalmente, ser movido pela emoção. O
frio parece ter o poder de te castigar o suficiente para que você consiga olhar
para todos esses pensamentos individualmente, analisa-los, não se deixar ser
dominada por eles, julgar se é realmente necessário ou não perder a cabeça.

Narcisa precisou de um tempo para considerar aquilo.


- Acredita que Draco tem essa mesma conclusão?

Hermione deu de ombros.

- Ele faz isso com bastante frequência quando brigamos. – sorriu -


Principalmente quando parece que ele quer simplesmente me matar. Tem feito
muito ultimamente também. Não estamos tendo muita sorte com York o que o
deixa bastante irritado. O problema é que ele não tem muito tempo para passar
congelando do lado de fora, o que o torna agressivo em alguns momentos por
não poder parar para lidar com a frustração.

Narcisa sorriu ao ouvir aquilo.

- Você é observadora.
- Estamos falando de Draco Malfoy. Não é como se ele fosse me contar
essas coisas. Se eu não o observar jamais vou conseguir entendê-lo ou
conhecê-lo.

- Acha que ele está fazendo o mesmo por você?

Ela deu de ombros novamente.

- Não poderia julgá-lo. Nossos padrões são muito diferentes. Não saberia
dizer. Talvez para mim ele não esteja fazendo esforço algum, e talvez para ele
esteja fazendo mais do que um dia faria com qualquer outra pessoa.

- Entendo. – comentou ela. – Vocês não parecem conversar muito.


- Na verdade conversamos bastante. Mais do que qualquer outro momento
que já tivemos. Só não conversamos sobre nós dois. Discutimos bastante sobre
a guerra. Não vamos muito além disso. Acredito que seja isso que nos mantém
estáveis. Ele e eu temos um passado um tanto conflituoso por isso evitamos
qualquer possibilidade de trazê-lo a tona. Evitamos falar sobre nós mesmos ou
sobre nosso relacionamento.

- Vão ter que acabar enfrentando isso eventualmente.

- Acredito que não. Somos focados em manter a coisa toda sempre


suportável o suficiente para vivermos de maneira saudável debaixo do mesmo
teto. Não iriamos arriscar.

Astoria riu.

- Vocês não tem ideia do que são anos de casamento, Hermione. – disse. –
Vão sim acabar enfrentando isso eventualmente com o tempo. Principalmente
se começarem a gostar um do outro.
Foi a vez de Hermione rir.

- Não vai precisar se preocupar com isso.

- Eu me preocupo. – ela virou-se inteiramente para Hermione. – Eu


conheço o meu filho. A maneira com que ele lida com algumas situações as
vezes nem sempre é a mais saudável. Eu acredito que ele está se permitindo
demais com você, não sei até que ponto isso vai levá-lo.

Hermione a olhou confusa.

- Se permitindo? Eu sei quando um homem me quer, quando um homem


gosta de mim. Draco não está tão perto de ser um deles.
Narcisa sorriu.

- Draco não vai te bajular só porque te quer, Hermione. Ele não é qualquer
homem que vai encontrar por aí. Ele é acostumado a ter mulheres sem precisar
fazer muito esforço. Já deveria saber isso.

- Continua não mudando nada. – encolheu os ombros novamente. – Draco


e eu nos tocamos quando estamos na cama e nada além disso. Existem muito
mais coisas que nos afastam do que só o simples fato de termos nos detestado
por muito tempo. Tudo de íntimo entre nós nasce e morre na cama. É quase
um acordo silencioso que temos.

Ela riu.

- Eu pensei que Draco fosse teimoso, mas você parece ser tanto ou mais do
que ele. Imagino o que deve ser aquela casa quando discordam sobre algo. –
comentou.
Hermione riu.

- Aprendemos a lidar com essa parte. Na verdade, somos melhor do que


antes. Mas confesso que os primeiros meses foram um inferno. Talvez não
tenhamos nos matamos porque tínhamos sexo.

Ambas riram juntas, mas o silêncio preencheu o ambiente logo em seguida.

- Estou orgulhosa de você. – Narcisa disse depois de um longo minuto.


Hermione a encarou surpresa. – Está se saindo melhor do que eu quando me
tornei uma Malfoy. É determinada. Vejo um futuro grande para você. Você não
se vê presa a Draco e tratou de mostrar isso ao mundo sem denegrir a própria
imagem, o que é um ponto a mais para qualquer mulher agregada a uma
família tradicional como a nossa. – suspirou. – Diferente de mim, que me fiz
presa a um homem que pouco se importa que existo as vezes.

As vezes? Hermione jurava que, na verdade, era sempre. Sentia-se mal por
Narcisa com frequência. Ela era dedicada, devota e imensamente amorosa com
um homem que deveria ser o mesmo com ela, mas ao invés disso se
aproveitava de seu bom coração. Para Hermione aquilo era um imenso pecado
e por muitas vezes julgava Narcisa insana por permiti-lo, apoiá-lo e por muitas
vezes encorajá-lo.
- Por que não o deixa? – Nunca ousava interferir naquele assunto, era algo
privado que permitia somente a Narcisa. Além de tudo isso, era obscuro o
suficiente para fazê-la se manter longe, mas acreditava que havia chegado em
um estado de sua estranha relação com sua sogra que talvez permitisse que
fosse um pouco mais invasiva.

- Eu o amo. – ela respondeu já sabendo a exata resposta para aquela


pergunta. – Além do mais, estamos casados debaixo do mesmo contrato que
você e Draco. Não posso deixa-lo, assim como ele não pode me deixar.

- Me parece que ele já a deixou faz tempo.

Narcisa ergueu as sobrancelhas surpresa.

- E de onde exatamente tirou essa conclusão?


Hermione achou curioso o fato de Narcisa não ter feito a associação.

- Você é apenas um status para ele. Esposa. Nada mais. – não sabia se
deveria dizer aquilo, mas já que estava arriscando pisar naquele campo, não
pouparia o risco.

- É isso que pensa? – indagou Narcisa.

Ela acreditava que aquilo era o que todos pensavam, não somente ela.

- Sim. – optou por apenas confirmar.


- É isso que pensa, apenas porque ele é infiel a mim?

- Ele não é somente infiel a você. Ele te usa, se aproveita de sua devoção
por ele...

- Ele não me escolheu, Hermione. – Narcisa a cortou. – Ele nunca me quis


como mulher dele. Eu quem sempre o quis. Você deve pensar que ele não me
ama, mas a verdade é que ele aprendeu a me amar do jeito único dele. Nós
temos uma história, temos um filho, vivemos juntos por muito tempo,
compartilhamos segredos. Tenho absoluta certeza de que mesmo se ele tivesse
a chance, não me trocaria por nenhuma outra mulher. Eu o conheço.
Genuinamente. Sei que deve pensar que ele é um ser humano horrível, e de
fato ele tem seus defeitos, mas eu o amo.

Se encararam por alguns segundos. Hermione sabia que jamais venceria aquela
batalha se continuasse se focando na péssima pessoa que Lucio Malfoy era.

- Acredita que ele mereça seu amor?


Narcisa soltou o ar e desviou o olhar. Pareceu lutar contra a resposta daquela
pergunta por vários segundos até finalmente proferir:

- Não.

Hermione podia quase sorrir por escutar aquela resposta se já não soubesse o
quanto aquilo era absurdamente deprimente.

- E mesmo assim insiste em amá-lo tão cegamente?

- Ele é meu marido! – Narcisa tornou a encará-la. – Está enganada por


pensar que amor é sentimento. Amor é escolha. Decisão. Comprometimento.
Paixão sim é sentimento e ele some e volta com uma facilidade assustadora. –
suspirou e encarou a água congelada a frente delas. - Eu fiz um compromisso
quando me casei com ele. Prometi amá-lo incondicionalmente. Apenas honro o
meu compromisso. Posso dizer que ao longo dos anos minha paixão por ele
morreu e renasceu dezenas de vezes como uma fênix, e confesso que foi muito
difícil amá-lo nos momentos em que não me sentia apaixonada por ele, em
momento onde tudo que eu queria era dar as costas e sentir nojo, em
momentos que eu queria destruir a casa inteira em cima dele, mas mesmo
assim, eu mantive a minha palavra e aprendi a ser paciente, a ser mais sábia. E
ao longo dos anos, quando o amor vai se consolidando, quando a história já é
longa, quando os laços estão mais fortes, fica cada vez mais difícil não sentir
simplesmente nada. Eu o amei e vou amá-lo sempre, por mais difícil que seja.

Hermione não tinha o que contestar diante daquilo. Desviou o olhar girou os
punhos dentro do bolso de seu sobretudo e se sentou na mureta de tijolos que
continha a água. Usou a sola do sapato para brincar com uma minúscula pedra
sobre o pavimento de concreto por alguns segundos.

- Ainda acredito que deveria deixá-lo. – pronunciou-se. – Sair de casa, não


deixar que ele a domine. Ele faz o que quer com você.

- Ele não faz o que quer comigo. Ele aprendeu o que deve fazer para que
eu diga “sim”. Nós estamos a muito tempo juntos. Tivemos tempo o suficiente
para aprendermos um sobre o outro.

- Continuo acreditando que deve deixá-lo.


- Eu jamais faria isso.

- E continuaria infeliz. – ergueu os olhos para Narcisa. Ela encheu a boca


de ar para retrucar algo, mas sua voz não saiu. – Ele te faz sofrer, te faz infeliz.

- Não são todas as vezes...

- A maioria das vezes, eu apostaria. – insistiu - Ele te usa quando quer.

- Porque isso faz parte de quem ele é. Não significa que ele não me ame.

- Se ele te ama deveria te respeitar.


- Ele se comprometeu de uma maneira diferente comigo.

- Por que ele sabe que sempre vai estar lá no momento em que ele quiser
que você esteja. Ele vai voltar para você quando bem quiser e saberá que vai
estar lá para atende-lo.

- Porque sou mulher dele!

- E eu duvido que ele não fosse a loucura se você o deixasse ou se


recusasse a estar presente quando ele precisasse!

Ela encheu a boca novamente cheia de força para entrar firme naquela
discussão, mas exatamente como da outra vez, tornou a fechá-la ao chegar a
um impasse. Desviou o olhar e respirou fundo.
- Escute, Hermione. – seu tom foi suave – Já tive essa discussão com
Draco um milhão de vezes. Você não entende, assim como ele também não
entende o que Lucio e eu realmente somos. Draco acha que nós somos uma
projeção desastrosa do que fingimos ser para ele por muitos anos, você talvez
deve me ver como uma cega apaixonada por um homem sem caráter. –
suspirou – Isso não é verdade. Somos apenas um casal tentando sobreviver a
um casamento arranjado. Essa é a verdade.

Não. Essa não era a verdade. A verdade era que Narcisa não passava de uma
mulher infeliz por amar um homem que abusava de seu bom caráter. Essa era
a verdade. Levantou-se e foi até a mulher.

- Você é uma boa pessoa. Merece ser feliz. Essa é a verdade. – disse.

- Ser feliz não é algo tão fácil de se conseguir quando se é um Malfoy.

- Não significa que é impossível. – queria encorajá-la. Talvez o que faltasse


nela fosse coragem de dar as costas a Lucio. – Desculpe se fui invasiva demais.
Narcisa sorriu amavelmente. Ela sempre dava seus sorris elegantes e educados
a todos, mas aquele sorriso amável ela raramente o via.

- Tudo bem, Hermione. Acho que nós já chegamos a um ponto em que


podemos realmente conversar uma com a outra.

Hermione sorriu sentindo-se genuinamente bem por escutar aquilo. Narcisa


havia se tornado um das poucas gotas de consolo que encontrara naquela nova
vida. Ela não era nenhuma Sra. Weasley, mas era o mais perto disso que
Hermione tinha.

Tratou de pedir licença quando decidiu que precisava voltar. Seguiu seu
caminho de volta para o centro de treinamento, subiu até a ala onde tomava os
depoimentos, chamou pela assistente nomeada para ajuda-la e seguiu com a
lista de homens e mulheres que deveriam prestar depoimento. Dessa vez
procurou ser paciente. Eles mentiriam de qualquer forma, ela não perderia mais
seu tempo encontrando formas de ser esperta nos questionamentos para pegá-
los desprevenidos.
Verificou as horas quando finalmente conseguiu terminar seu serviço. Era meio
de tarde e ela sabia que tinha mais trabalho a fazer, mas antes de prosseguir
para sua próxima tarefa, mudou sua rota da ala que deveria seguir para a torre
de Draco. Sabia que naquela tarde ele atenderia a reunião mensal com o círculo
interno de Voldemort, mas esperava que ele já estivesse de volta e de fato,
quando chegou a torre do marido, encontrou a porta de sua sala aberta
ocupando ele e seu grupo de líderes.

Ela entrou, ignorando Tina de pé ao lado da porta e esperou silenciosamente


em um canto até que ele terminasse. Draco estava sem a gravata, tinha as
mangas da blusa puxadas até a altura do cotovelo, estava com os braços
cruzados e encostado em sua mesa enquanto seus líderes eram dispensados
um a um, cada um carregando uma nova ordem. Ele não demonstrava, mas
Hermione sabia que por trás de toda a postura perfeitamente dura que ele
estava apresentando ali, ele estava exausto, frustrado, e muito provavelmente
irritado por ter sido alvo de ataque durante a reunião com os líderes de
Voldemort.

Não demorou para que o último homem saísse carregando a nova ordem.
Hermione moveu-se assim que a porta foi fechada e tomou a frente. Draco
estava extremamente ocupado, como sempre, mas diferente do sempre, onde
ele aparentava sua expressão neutra e indiferente, ele estava agitado, agitado
de uma forma que a fazia entender que talvez ele estivesse contento algum
tipo de fúria

- Seus homens estão mentindo durante os depoimentos. – ela se


pronunciou da forma neutra que conseguia.
- Claro que eles estão. – ele disse dando as costas e seguindo para o outro
lado da mesa, onde tratou de esticar outro mapa por cima de um que já estava
aberto. – Ninguém quer assumir a culpa. Sabem o que isolei Garrett no sul da
Europa em um acampamento fora de qualquer zona de ação. Ninguém quer
correr o risco de receber a mesma punição. – disse se inclinando para analisar
o novo mapa.

- Deveria tomar alguma providência. – ela tratou de dizer.

Ele ergueu os olhos para ela com a sobrancelha levantadas quase que
imediatamente. Hermione percebeu que havia cometido um erro no mesmo
instante.

- Vai mesmo me dizer o que devo fazer dessa forma?

Ela não deveria falar daquela forma com ele. Ele não era Harry. Não poderia
dizer a ele o que fazer, como agir ou qual a melhor decisão a tomar sobre a
guerra que carregava nas costas. Draco já havia feito aquilo sozinho por muitos
anos e com bastante sucesso.

- Se não fizer nada vão sentir que poderão mentir novamente em alguma
outra situação delicada. – ela apressou-se para se justificar.

- Não me diga o que eu já sei. – quando ele soltou aquilo em um tom muito
próximo ao da ignorância, ela conseguiu medir o nível da raiva que estava
contida dentro dele. Draco não tirava sua expressão neutra e fria do rosto com
facilidade.

Hermione respirou fundo, seria melhor deixar aquilo para outra hora, mas não
podia simplesmente deixar que o humor dele vencesse o estado em que eles
estavam dentro daquela guerra agora.

- Estou te oferecendo minha opinião. Pode usá-la ou descartá-la da forma


como bem quiser, mas não pode me calar, não na situação que nos
encontramos agora. Acredito sim que deva tomar providencias imediatas com
seus homens. É Fundamental conhecer a raiz do problema e o que
desencadeou o fracasso da segunda tentativa, doa a quem doer. Também
acredito ser um imenso erro a preparação para uma terceira tentativa com
tanta pressa. Fizemos isso da última vez. Não deu certo. Adote outra
estratégia.
Ele ergueu sua postura como se estivesse escutando a maior ofensa de toda a
sua vida.

- Está mesmo me dizendo como administrar essa guerra? – ele parecia


incrédulo. Naquele momento ela quase pode enxergar uma sombra do Draco
que havia conhecido em Hogwarts.

- Já disse que estou expondo minha opinião. Use-a como quiser.

- Eu não pedi sua opinião! Não agora!

- Mas mesmo assim estou a colocando na mesa junto com todas as outras
que deve receber por conta própria! Quem sabe assim talvez se dê conta de
que pode estar cometendo um erro!
Aquilo o enfureceu elevando ao seu nível de incredulidade a um ponto que ele
parecia quase sem palavras.

- Acha que é melhor do que eu? Devo lembrá-la quem é o general aqui? Eu
carrego esse título por muito tempo e com muito sucesso!

- Não estou questionando sua capacidade...

- Está duvidando que eu possa ser incapaz de perceber um erro e estou a


lembrando de quem é o general que vem vencendo essa guerra por muito mais
tempo!

Aquilo a trazia tanta raiva.


- Será que é incapaz de se livrar desse maldito orgulho por um segundo?
Um apenas!

- Você não tem voz para falar sobre orgulho, Hermione!

- Não perca seu tempo novamente tentando comparar o meu orgulho... –


foi interrompida por Tina irrompendo pela sala de Draco carregando uma pilha
de memorandos e aquilo a enfureceu ainda mais. – Agora não, Tina! – sua voz
excedeu ainda mais o tom que já usava e aquilo a parou, a parou da mesma
forma como parou Tina que a olhou um tanto assustada.

Ela não tinha o direito de dar ordens a secretaria de Draco e nunca havia dado.
O silêncio que percorreu entre eles alertou a Hermione o tanto que ela e Draco
havia progredido nas oitavas do tom que usavam um com o outro durante
aquela discussão que não os levaria a lugar algum.

Havia cometido um erro grave lançando aquela ordem a Tina que agora pulava
seus olhos dela para Draco um tanto desconcertada por perceber ter entrado
em uma hora não muito boa. Hermione desviou seu olhar para Draco
esperando um olhar intenso e reprovador e foi exatamente o que recebeu. Tina
continuava paralisada. Ela não precisava obedecer Hermione, portanto se
mantinha ali esperando por uma ordem definitiva de Draco.
- Agora não, Tina. – foi tudo que ele resolveu dizer sem tirar os olhar
mortal de cima de Hermione e no momento em que a porta tornou a se fechar
ela decretou definitivamente que era melhor deixar para ser teimosa em outro
momento. – Você não dá ordens a minha secretária. – ele logo tratou de dizer.

Hermione assentiu sabendo que se pedisse desculpas iria o enfurecer ainda


mais. Desviou o olhar perguntando a si mesma como havia chegado ao nível de
exceder o tom de voz e lançar uma ordem nada gentil para a secretária de
Draco. Fechou os olhos frustrada e suspirou. Malditos hormônios.

- Eu não queria ter feito isso. – ela acabou dizendo. Quando abriu os olhos
para encarar Draco, ele tinha um olhar desconfiado sobre ela. Eles se
encararam em silêncio alguns segundos. – Estou tão frustrada quanto você,
Draco, entenda. Essa discussão não irá nos trazer nada além de perda de
tempo. Estou apenas querendo o ajudar e sabe o porque. Não sou nenhuma
das pessoas que o julgam por não estar tendo sucesso ultimamente, não sou
ninguém querendo tomar o seu lugar, não estou avaliando nenhuma das suas
decisões para leva-las a Voldemort. Sabe disso.

Ele ainda detinha aquela expressiva resistência.


- O problema é que não está conseguindo enxergar a verdadeira situação
em que estou. – ele insistiu. Suspirou finalmente deixando cair um pouco de
sua resistência como se finalmente se lembrasse que ela não era nenhuma
inimiga ali. Ela era mulher dele. Estavam no mesmo barco. Se ele afundasse,
ela afundaria junto. Ele sabia disso. – Não posso exigir a verdade dos meus
homens quando nem sequer estive com eles como deveria. Como sempre fiz. –
ele finalmente expressou frustração e não raiva. - Sei que como general eu
devo exercer meu poder, mas entenda que não é uma questão de ser o
superior deles, é uma questão de ter a lealdade deles. Isso é importante, é
essencial, para mim, para nós, para o que minha família vem construindo
silenciosamente! Todos esses anos tudo que eu fiz foi ser um exemplar superior
para ganhar a lealdade deles de uma forma que Voldemort nunca teria a
habilidade e com apenas uma decisão errada eu coloquei tudo a perder!
Quando exilei Garrett me tornei o general carrasco que dita ordens de seu
escritório enquanto seus homens colocam em risco suas vidas em campo de
batalha. Eu nunca passei essa imagem a eles. Acreditava que já havia chegado
em um ponto em que detinha a incondicional lealdade deles, um ponto que eu
pudesse fazer o que fiz e ainda ter em troca a cumplicidade que criei durante
todos esses anos, mas a verdade é que quando eles se viram entre o fogo
cruzado se lembraram primeiro da Marca Negra estampada no braço! Se
lembraram primeiro a quem pertencem! Se lembraram primeiro que são
Comensais da Morte! Eu esperava por outra resposta! Eu esperava que eles já
estivessem prontos a confiar em mim mesmo de mãos atadas!

Hermione finalmente entendeu que toda a frustração dele não era sobre as
tentativas mal sucedidas em York e sim o fato de perceber que depois de todo
o seu esforço, seus homens ainda eram, na verdade, homens de Voldemort.

- Oh. – foi tudo que ela pronunciou. Aquilo mudava completamente a forma
como ela deveria ver as coisas. Respirou fundo sentindo que poderia ficar tonta
a qualquer momento. – Isso não é nada bom. – Aquilo significava que a
conspiração de Draco, em que ela apostava tanto, havia regredido
enormemente naquele improvisado teste de fidelidade. Não havia hora pior
para que ela engravidasse. – Talvez... – tentou pensar rápido. – Talvez seus
homens realmente sejam fieis a você. Talvez você deva testá-los de uma forma
melhor programada ou menos agressiva, que não os exponha tanto como
traidores de Voldemort.
- Não posso testá-los, Hermione! – ele exclamou como se não fosse óbvio.
– Enquanto eu estiver preso aqui, vou ser o general sentado em uma cadeira
mandando seus homens para uma guerra! As coisas já estão ruins, não quero
piorá-las! – ele bufou e deu as costas.

Hermione respirou fundo mais uma vez. Abraçou a própria cintura, colocou uma
mão sobre a testa e fechou os olhos por alguns segundos. Mordeu os lábios.
Precisava dizer a ele. Era o pior momento, mas ela precisava. Suspirou e abriu
os olhos. Observou-o derramar whisky num copo, o virar em um gole só e
inclinar-se sobre a bancada onde expunha suas bebidas.

- Draco. – o chamou. Era um bom passo. Ele ergueu os olhos para ela. –
Acho que estou grávida. – disse de uma vez.

Ele não expressou absolutamente nada por alguns segundos e tudo que houve
entre eles foi um silêncio mortal que a corroeu loucamente.
- Você acha? – foi tudo que ele disse.

Ela puxou o ar.

- Estou atrasada e tenho os sintomas.

Draco apenas endireitou a postura.

- Conto nos dedos as vezes em que estive aqui e fizemos sexo antes de
receber a ordem de que não poderia mais deixar Brampton Fort. Você estava
cuidando de suas datas. Não pode estar grávida. – ele foi sério.

Ela não tinha nenhum palavra que pudesse confortá-lo. Sentia-se apenas
extremamente culpada. Seus hormônios queriam fazê-la chorar por ser tão
burra, mas ela não traria aquele desgosto para si mesma ao se permitir ser
vencida pelo seu lado frágil. Ela não era frágil. Não poderia ser.
- Não sei como. Não posso estar grávida. – deu de ombros - Mas ao mesmo
tempo que penso isso, sinto tudo, exatamente como da última vez.

Draco processou aquilo. Soltou o ar num riso fraco e sem nenhuma graça, deu
as costas e andou de um lado para o outro apenas uma vez antes de passar a
mão pelo cabelo e surpreender Hermione ao lançar contra a parede o copo que
segurava. Ela fechou os olhos recuando um passo ao som busco do vidro de
quebrando em mil pedaços e imaginou Tina do lado de fora sentada em sua
mesa se questionando o que diabos estava acontecendo. Hermione apenas
esperava que a mulher fosse discreta o suficiente para não ousar sequer
mencionar aquilo com ninguém.

Viu Draco jogar-se na cadeira e bagunçar os cabelos novamente. O silêncio


reinou por mais um bom tempo enquanto o observava travar uma batalha
mental com os olhos focados diretamente na pena de pé sobre o tinteiro
segurando uma das pontas do mapa aberto.

- Não pode estar grávida. Esse é um péssimo momento. – ele disse depois
de um bom tempo sem mover os olhos. Ela não tinha absolutamente nada para
rebater aquele comentário. Aquele era de fato um péssimo momento. Ela havia
construído expectativas em cima do seu desempenho nas salas de simulação
quando Draco se dava tempo para treiná-la. Embora agora com a rotina tão
bagunçada quase não houvesse tempo para que se ocupassem com a parte dos
treinos, ela havia surpreendido o suficiente para que já começassem a pensar
juntos uma forma de barganhar sua saída de Brampton Fort para o campo de
York a Voldemort. Draco fechou os olhos e soltou o ar pendendo a cabeça para
trás. – Nós dois não devíamos...

A voz dele morreu. Ela sabia que ele diria que não deviam ter praticado sexo
quando sabiam que os medibruxos haviam usado alguma magia em Hermione,
mas sabia também que eles não teriam sobrevivido por muito tempo sem sexo.
Teriam se matado antes disso, porque por mais que tivessem conseguido
superar muitas coisas no relacionamento frágil que tinham, sexo continuava
sendo o que mais os mantinha longe de sérios e obscuros conflitos que os
dividiam e os traziam de volta a realidade de que tinham uma história antiga e
não resolvida.

- Não podemos voltar no tempo. Também não vou tirar a criança se


realmente estiver grávida. – disse de uma vez.

Ele a encarou imediatamente bastante aborrecido com o que ela havia o feito
escutar.

- Nós já perdemos uma filha, Hermione! O que te faz pensar que considero
perdemos outro?
Ela suspirou.

- Não finja ignorar que é uma solução viável para a situação em que nos
encontramos agora.

Ele abri a boca para protestar contra o que ela havia dito, mas no último
momento decidiu fechá-la sem emitir som algum. Outra batalha pareceu ser
travada em seu cérebro e ele se levantou como se estivesse sendo
profundamente atormentado. Puxou mais um copo de whisky e o virou. Para
Hermione, era completamente angustiante o ver naquele estado quando estava
acostumado a vê-lo apenas por trás de sua máscara de neutralidade mesmo
quando o mundo parecia estar desmoronando a sua volta. Ali ela podia ver o
que era mais importante para ele dentro daquele jogo. Destruir Voldemort. E
ela simpatizava tanto com aquilo que chegava ao ponto de sentir orgulho do
trabalho que ele fazia e de como fazia, mesmo sendo sujo, mesmo sendo
altamente questionável. Era contra Voldemort.

Também não deixava de se sentir importante por ver que ele se permitia
despir-se da armadura que sempre usava para mostrar o que realmente se
passava com ele ali, diante dela. Diferente de como havia se apresentado ao
seus líderes mais cedo, com sua postura estável e inabalável de general
lançando ordens, determinado a seguir aquela guerra mesmo tendo sido
derrotado duas vezes.
- Estou exausto. – ele soltou inclinado sobre a bancada de bebidas depois
de um longo silêncio. Ela sabia que ele estava. – Você também está. – ele
endireitou a postura. – Não estamos pensando direito. – A encarou e
movimentou-se passando por ela e abrindo a porta da sala a suas costas. –
Tina, feche os compromissos de hoje. – ordenou ele. – Estou indo para casa
com Hermione.

- Senhor, tem certeza? Estamos em guerra. – Hermione pode ouvir Tina do


outro lado. – Já recebi quase vinte memorandos só durante os minutos em que
esteve ocupado agora em sua sala.

- Pensei que já tivesse aprendido a não questionar as ordens que recebe. –


foi tudo que ele disse antes de tornar a bater a porta. – Vá buscar suas coisas.
– disse enquanto Passava por Hermione novamente e voltava a enrolar o mapa
que havia aberto.

Hermione até pensou em questionar não ser uma boa opção deixar a Catedral
em um momento como aquele, mas não ousou questionar Draco e a ideia de
voltar para casa também foi tão loucamente tentadora que ela apenas deu as
costas, atravessou a soleira da porta dele, voltou para a ala onde estava antes,
buscou suas coisas e o encontrou somente na saída do pátio leste onde o
acompanhou até a carruagem que tomaram de volta para casa.
Era bom saber que estava no caminho para o aconchego e calor do lugar que
havia aprendido a ver como um lar. Aquelas últimas semanas haviam sido um
desespero atrás do outro. Draco tinha o trabalho triplicado por não poder deixar
o forte e raras as noites que voltava para casa. Hermione havia perdido a conta
das noites que eles passaram atravessando os corredores do quartel com
papéis, homens, ordens a cumprir e decisões a tomar. Draco era muito mais
forte do que ela e nunca, absolutamente nunca, deixava aparentar estar
cansado, mesmo que realmente estivesse esgotado. Hermione tentava fazer o
mesmo, mas muitas vezes havia se entregado ao cansaço cochilando em cima
de pilhas de pergaminhos. Draco mesmo já havia a acordado quatro ou cinco
vezes na antecâmara das salas de simulação dizendo que ela deveria ir para
casa.

Ela ia, sempre se sentindo derrotada. Se perguntava como ele conseguia ter
tanta energia. Nem mesmo o melhor dos bruxos conseguiria ficar de pé por
tanto tempo, nem mesmo a base de poções. Quando ele ia para casa era
sempre tarde e era sempre direto para a cama. O horário do jantar já havia se
perdido, assim como o do café da manhã e muitas vezes o almoço não existia
para a barriga dele nem a dela. Sexo era um luxo e normalmente era algo
simples e mais rápido que ocasionalmente acontecia pela manhã quando
estavam no chuveiro ou na cama mesmo e tinham energia o suficiente, o que
era raro.

Aquela parecia de longe ser uma situação que Draco sabia enfrentar, parecia
dentro da normalidade de uma guerra, dentro do que ele costumava encarar e
já havia o feito dezenas de vezes nos anos anteriores. Mas o que o atrapalhava
era o fato de não poder se descolar da Catedral até o local do problema.
Trabalhar daquela forma estava atrapalhando as estratégias que ele adotava
para enfrentar os problemas daquela guerra da forma com era acostumado a
fazer. Voldemort certamente não se importava que York fosse um povoado
importante nas mãos dos rebeldes. Aquilo a mostrava o quanto aquele herdeiro
era importante para ele.
No momento exato em que passou a soleira da grande porta para o lado de
dentro de sua casa sentiu o conforto do ar quente a envolver. Respirou fundo e
virou a esquerda do hall principal indo direto para o vestíbulo, onde se despiu
de todas as camadas que a protegiam do frio. O cheiro de seu lar e o calor a
trouxe tanto conforto que ela também se permitiu tirar os sapatos e puxar os
cabelos para prendê-los desajeitadamente no topo da cabeça. Limitou-se a
observar Draco quando ele passou por ela, pendurou sua capa e seguiu pela
saída que dava direto ao corredor da sala de jantar.

Hermione caminhou por entre as salas sem rumo apenas para apreciar a
sensação de estar em casa. Apreciava a bela decoração que muitas vezes era
esquecida com a rotina de viver ali. Avaliou os novos móveis de sua sala de chá
e sorriu ao lembrar das sérias objeções que Draco teve contra as cadeiras.
Haviam chegado a um consentimento de que ela as trocaria se pudesse refazer
a casa de poções no sótão a seu gosto. O conflito havia sido grande porque a
casa de poções parecia ser de alto valor para ele, mas como Hermione já havia
tomado o ambiente como sua área particular fazia bastante tempo, não deixou
que ele revogasse algum direito pelo espaço antes abandonado agora. Ao
menos ela havia vencido a discussão, mas teria que se desfazer das cadeiras.

A ideia de saber que tinha até a manhã do dia seguinte para apenas ficar ali e
não somente dormir as horas que dava para voltar o mais rápido possível a
Catedral a fazia bem de uma forma que quase lhe arrancava um sorriso bobo
se não tivessem tantas preocupações rondando sua cabeça. Tentou se limitar a
pensar apenas se prepararia um bom e relaxante banho ou se iria a cozinha
encontrar algo para colocar no estômago antes que ficasse enjoada novamente.

Decidiu seguir para a cozinha por não confiar na imprevisibilidade de seu


estômago ultimamente. Procurou por algo saudável e quando se viu satisfeita
sentiu-se ainda melhor. Não deu lugar ao desejo de se empanturrar pois
conhecia bem o resultado de engolir mais do que devia. Marcou o horário para
não esquecer de colocar algo no estômago novamente depois de três horas.
Havia sido uma estratégia contra enjoos bastante eficaz que havia aprendido
em sua última gravidez. Nunca ficar com o estômago vazio.

No momento em que deixou a cozinha e tomou o corredor para escada mais


próxima, olhou pelos vitrais e parou ao enxergar Draco sentado nas escadaria
do avarandado de trás. Estava nevando, o que a trazia algum tipo de alívio por
saber que a temperatura não estava tão baixa, mas ainda assim se preocupou
por não saber a quanto tempo ele estava ali, exposto ao inverno, sem nenhuma
proteção adequada. Ele deveria saber que aquilo fazia mal.

Foi até o andar de cima, buscou em um armário uma boa e pesada manta,
tornou a descer e seguiu para o quintal de sua casa. Calçou as botas de plástico
paradas ao lado das portas que davam para o lado de fora. O calçado era de
um tom berrante que nada combinava com sua roupa, ia até quase seus
joelhos e eram muitos números acima do seu. Eram botas de chuva, não de
neve, mas ela não molharia suas meias de lã na neve acumulada. Quando
passou para o lado de fora e foi recebido pelo vento gelado, tratou de abraçar o
tecido volumoso que carregava. Algumas mechas de seu cabelo se soltaram e
ela tratou de coloca-las atrás da orelha enquanto avançava com cuidado pelas
escultura e ornamentos caro até chegar a escadaria.

Ela conhecia bem Draco para saber que ele havia notado sua aproximação
embora estivesse a ignorando. Hermione desceu até o degrau onde estava
sentado. Observou a paisagem branca e pura que Draco encarava por alguns
segundos antes de voltar-se para ele.
- Sei que gosta de ficar aqui, mas poderia pelo menos se cobrir com isso? –
ela estendeu a manta para ele. Draco apenas ergueu os olhos para ela como se
perguntasse o porque da preocupação dela. – Não quero ser a esposa
inconsequente caso venha a morrer congelado aqui fora. Sua mãe me culparia
por não ter feito nada.

Aquilo o fez rir, o que talvez tenha o motivado a erguer a mão para pegar a
manta, mas não o suficiente para se cobrir com ela. Ela não ficou satisfeita,
mas bem, se ele viesse a morrer pelo menos Hermione poderia justificar que
havia feito algo a respeito.

- Se eu morrer não chegaria a ser tanto uma tragédia se estiver mesmo


carregando um herdeiro em sua barriga. – ele disse.

Ela acabou sorrindo.

- Não se for uma menina. – o lembrou.


Ele sorriu considerando aquilo.

- Meu pai certamente a obrigaria a nunca se casar e ter um filho sem pai
para que ele pudesse carregar o nome Malfoy.

Hermione acabou erguendo as sobrancelhas.

- Isso seria bem terrível. – comentou.

Ele deu de ombros.

- Ele nos obrigou a casar. Estou apenas seguindo a linha de raciocínio.


Ela teve que rir.

- Bem, esse é um bom motivo para você se cobrir então. Nós não o
queremos morto.

Ele ergueu uma sobrancelha desconfiado de como aquela conversa havia


chegado ali. Sorriu e acabou por abrir a manta e passá-la pelos ombros.
Hermione apertou os braços cruzados contra o corpo e olhou novamente o
horizonte pálido. Se perguntou qual era a graça daquela paisagem, mas sabia
bem que Draco não estava ali por ela.

Acabou por descer mais alguns degraus e se sentou em um deles. Havia ido até
ali apenas para entregar a manta a Draco, mas a dor e agonia que o frio lhe
causava a atraiu exatamente como havia a atraído aquela manhã. A diferença
era que agora seus braços estavam descobertos e as botas de chuva não eram
exatamente uma proteção. Apertou mais os braços ao redor do corpo quando
uma rajada de vento trouxe o gelo contra seu rosto e fez seus cabelos se
soltarem. Foi o suficiente para congelar seus pensamentos e ela ficava muito
grata por isso embora estivesse morrendo de frio.
- Você não precisa ficar aqui. – a voz de Draco soou as suas costas. Se
aquilo foi um convite para pedir que ela o deixasse sozinho ela ignorou. – Você
me parece estar precisando dessa manta mais do que eu.

Ela lançou um rápido olhar para ele por cima dos ombros e sorriu.

- Não seria tão ruim se eu morresse. Você poderia se casar com alguém
que não desonrasse o seu sangue e ter um herdeiro do qual Voldemort não
tivesse interesse em tomar. – ela disse.

Pensou que ele não fosse dizer nada a respeito daquilo, mas depois de alguns
longos segundos em silêncio ele apenas comentou:

- Me soa como algo bem tedioso.


Ela riu novamente tomando o comentário como palavras carregadas de ironia.
Apertou os braços novamente contra o corpo e fechou os olhos por alguns
segundos se concentrando para vencer a dor do frio cortando sua pele quando
outra rajada de vento a atingiu. Percebeu Draco se deslocar para um degrau
antes do seu e não demorou para ter as pernas dele uma de cada lado das
suas. Os braços dele a envolveram e ela percebeu que ele estava
compartilhando a manta com ela. Se lembrou de quando disse a Narcisa
naquela manhã que tudo que eles tinham de íntimo nascia e morria na cama.
Será? Perguntou-se.

- Essas botas são minhas. – ele disse se dobrando sobre ela.

Hermione observou o vermelho vivo das botas de chuvas nos pés. Eram
gigantes para ela. Riu ao imaginar Draco as usando.

- Devia ter vergonha de possuir isso. – zombou dele.

- As conjurei num momento de necessidade e desde então elas me


pareceram bem úteis para alguns outros momentos. Podem não ser lindas, mas
são funcionais. – justificou ele.
Ela achou ainda mais graça que ele tivesse justificado.

- Deveria investir em botas de neve. Mora em um lugar que o inverno dura


quase seis meses.

- É a mulher da casa agora, pode fazer isso. – ele disse sorrindo e ela
soube que foi uma sútil indireta para o fato de como ela mudava a casa,
principalmente nos últimos dias. – Só digo que essas me parecem bem úteis
para o inverno também. Se não fossem não estaria as usando agora. - Ela
apenas sorriu e revirou os olhos. Ele se aconchegou mais contra ela, a
respiração quente acolheu o lado direito de seu rosto e a fez se arrepiar e não
foi de frio. Uma mão dele recuou, tocou sua cintura e deslizou até a parte de
baixo de sua barriga, onde parou. – A última vez que fizemos sexo notei que
seu corpo estava diferente. – Nos últimos dias ela também notava o quanto
estava mudando rápido. Isso a fazia se questionar o quanto aquela gravidez
estava avançada, mas a verdade era que se embaraçava sempre que tentava
fazer as contas. Não poderia estar tão avançada assim. – Eu queria que
estivesse grávida porque gostava de tocá-la quando sabia que era a pessoa
dando vida a um filho meu. – ela não conteve um sorriso bonito nos lábios.
Fechou os olhos e tocou a mão dele sobre seu abdômen. Draco facilitou que ela
colocasse seus dedos entre os deles. – Uma parte de mim está feliz por saber
que pode estar grávida, Hermione. Quero que saiba disso.

Uma parte dela também estava muito feliz, tão feliz que as vezes ela sentia que
poderia abrir o sorriso mais idiota do mundo para qualquer problema que
aparecesse a sua frente. Escutar Draco dizer que também havia uma parte dele
que estava feliz a trazia satisfação e ao mesmo tempo alívio. Não seria como da
última vez em que ele havia a deixado sozinha e tratado o caso com uma
completa indiferença. Ela estava feliz assim como ele também, queriam aquilo,
o grande problema era que eram duas pessoas racionais demais para deixar
que aquilo os fizesse sorrir de alegria.

- Uma parte de mim está feliz. A maior parte está preocupada. – ela
acabou dizendo.

- Hum... – ele soltou em concordância. Hermione sabia que ele também


pensava da mesma forma.

Sempre se simpatizava com ele quando sabia que sentiam a mesma coisa com
relação a algo, principalmente com relação aquilo. Moveu seus dedos contra a
mão dele sentindo a textura da pele pálida que o cobria. Queria que ele
soubesse que ela se simpatizava por partilharem do mesmo sentimento. Ele
talvez só não entendesse que para ela parecia bem pior.

Seu corpo tremeu ao se lembrar da realidade em que se encontrava. Fechou os


olhos não sabendo se deveria verbalizar aquilo ou não. Respirou fundo e sentiu
aquela enorme angústia em seu peito.
- Tenho tanto medo. – sua voz saiu baixa. – Não quero que ninguém tire
essa vida de mim de novo. Não quero ter que passar por uma gravidez as
escuras novamente, sem saber sobre nada, sem saber se está tudo bem. –
suspirou - Temo pelo que pode acontecer. E se for uma menina novamente? E
se não for perfeito? E se algo for como Voldemort não quer que seja? Eu não
quero que as coisas aconteçam como da última vez. – seu corpo tremeu
novamente. – Tenho medo de que ele encontre uma forma de me machucar
novamente como fez da última vez. – sua garganta apertou. – Eu não sei se
seria uma mulher forte para conseguir levantar outra vez... – sua voz morreu.

Odiava tanto Draco por tê-la trazido para essa vida, talvez só não conseguisse
o odiar mais por ter a consciência de que a vida dele não era muito melhor do
que a dele e que havia trago para si mais problemas do que soluções quando a
capturou.

Draco passou os braços por ela a apertando mais contra seu corpo. O hálito
quente bateu contra seu ouvido e ela se deixou cair na sensação boa que
correu seu corpo. Respirou fundo e permitiu que o frio congelasse seus medos.

- Não é porque meus homens ainda não tem o nível de lealdade que eu
esperava deles que está tudo perdido, Hermione. – a voz dele foi grave,
paciente e acolhedora. – Temos um tempo muito mais curto agora, vamos ter
que pensar em outras estratégias, ter que agir de forma menos cuidadosa. Vai
precisar ser forte para o que possa vir a enfrentar, mas não vai estar sozinha.
Esse filho é nosso e Lorde vai cair pelas nossas mãos.
Hermione apenas suspirou e assentiu. A rajada de vento fez seus ossos
doerem, mas ela se mostrou resistente. Eles teriam que ser ainda mais
espertos, ainda mais ágeis, ainda mais inteligentes. Teriam que ter dúzias de
planos reservas guardados e teriam que arriscar muito, o que os fragilizava,
mas o jogo havia os levado até aquele ponto. Era a opção que tinham porque
desistir e se entregar ao prazer de Voldemort não era uma opção. Hermione só
esperava que eles conseguissem agir rápido porque se o filho que ela sabia que
esperava nascesse e ainda estivessem onde estavam agora, ela não suportaria
tê-lo arrancado de seus braços.

Ficou em silêncio e deixou que o frio a dominasse, que ele tivesse o poder de
congelar suas emoções e racionalizar seus medos. Começou a pensar sobre a
situação em que a guerra estava e como ela gostaria que as coisas
acontecessem. Pensou sobre York, sobre a Ordem, sobre o véu. Trabalhou
novamente nas tentativas fracassadas do exército de comensais em tomar
York, o povoado que precisava ser tomado para que o mundo inteiro estivesse
sob o domínio do império de Voldemort. Depois que o mundo fosse do Lorde
das Trevas a caçada aos rebeldes começaria, mais forte do que nunca, até que
nenhuma alma bruxa mais restasse para contrariar as vontades do imortal
Lorde Voldemort. Depois disso a perseguição aos trouxas começaria até que
nenhum deles habitasse mais a terra. Será que ela veria seu filho grande ao
lado de Voldemort quando tudo isso se concretizasse?

- Draco. – ela se manifestou depois de um tempo. Draco murmurou algo


muito baixo informando que a escutava. – York é uma região muito grande
para ser tomada de uma vez só, não acha?
Ele tomou alguns segundos para considerar aquilo.

- Snape tomou Londres inteira de uma vez só no início da guerra quando a


Ordem era bem mais estruturada e haviam muito mais bruxos contra o mestre.
Snape era metade do general que eu sou. Londres é o triplo de York. – foi o
que ele disse.

- A Ordem tem um poder que não se compara ao que ela tinha nem no
início da guerra agora. Se continuar fracassando em suas tentativas Voldemort
logo irá querer interferir e ele não vai gostar de saber que a Ordem esteve
manuseando um poder capaz de desafiá-lo a altura todo esse tempo sem que
ele soubesse. Ele vai querer descobrir a fonte desse poder e Voldemort já é
bastante invencível agora, não quero saber o que ele seria se chegasse ao véu.

- Minha consciência já me diz isso, Hermione. Não precisa repetir. – ele


falou em resposta.

- Talvez... – ela continuou. – se mudasse a estratégia para lidar com


batalhas em menor escala tivesse mais chances. Poderia mover o
acampamento para o centro de York e quando conseguisse estabelecer o
acampamento dentro da região, expandiria o domínio aos poucos até ter tudo.
- Está falando sobre estabelecer acampamento no meio de uma zona
inimiga, Hermione.

- Parece louco, mas temos estrutura para isso. A Ordem mantem sua sede
no meio de uma zona inimiga. Londres é tomada por comensais. Eu posso criar
uma boa proteção de fronteira. Não é impossível. Claro que seria uma batalha
menor, mas se a vencesse seria pelo menos algo positivo depois dos dois
fracassos que enfrentou. Depois que conseguisse estabilizar o acampamento,
travaria batalhas menores como se pretendesse incorporar mais território ao
acampamento. Demoraria muito tempo, eu sei, mas poderia negociar com o
mestre para pular para a próxima etapa quando já tivéssemos com uma boa
área de York sob domínio porque poderia diminuir as forças em York para
colocá-las na caçada aos rebeldes.

Ele não respondeu nada imediatamente. Precisou de uma minuto para


processar aquilo e somente depois que se manifestou:

- Seria muito para que eu conseguisse administrar. Teria que abrir mão de
alguns controles para poder dar conta, precisaria de mais gente de confiança.
- Nós somos dois, Draco. Não precisa fazer isso sozinho.

Ele puxou o ar e ajeitou-se como se estivesse incomodado. Não era um plano


tão perfeito, levaria tempo e eles não tinham tempo, mas era o menos
arriscado que ela conseguia pensar naquele momento.

- Podemos trabalhar nisso. – ele acabou por dizer. – Teremos que chamar
um medibruxo para confirmar que está grávida, assim o mestre pode ser
avisado e eu poderei sair de Brampton Fort para mover o acampamento.
Preciso estar junto com o exército, tenho que trabalhar com eles agora mais do
que nunca.

Conscientizar Voldemort sobre sua gravidez não era algo que ela queria que
acontecesse tão cedo, mas sabia que era necessário. Se eles não tinham
tempo, as coisas tinham que acontecer rápido. Respirou fundo e assentiu
concordando.

- Podemos fazer isso amanhã.


Ele pareceu surpreso per tê-la escutado dizer aquilo.

- Tem certeza? – ele perguntou e ela somente assentiu.

- Precisa trabalhar com seus homens. Não vai conseguir isso preso aqui. –
ela disse por mais que não o quisesse longe. Sorriu. – Precisa apenas prometer
que sempre voltará vivo. Não quero a trágica vida que deu a minha filha caso
venha a morrer.

Ele sorriu e soltou um riso fraco.

- Farei o meu melhor. – foi o que disse.


Hermione tornou a se concentrar na paisagem branca que ficava cada vez mais
escura. O problema com aquela época do ano era que a noite sempre chegava
muito cedo. A paisagem que já era triste se tornava ainda mais solitária, só não
perdia o encanto.

- Qual a primeira memória que tem de mim, Hermione? – Draco fez sua
voz soar longe depois de um bom tempo em que eles ficaram em silêncio vendo
a noite cair.

A estranha pergunta fez Hermione se questionar o que estivera se passando


pela cabeça dele durante aquele tempo. Ela procurou sorrir tentando se divertir
ao fazer sua memória levá-la tão longe.

- Me lembro da sensação de ver você e seus pais na plataforma 93/4 no


primeiro ano. Vocês pareciam tão frios, mas ainda assim eu estava fascinada
por ver que eram reais depois de ter lido sobre sua família em alguns livros.
Havia algo de glorioso em vocês, mas não demorei a perder o interesse de
observá-los depois que o vi esnobar dois ou três primeiranistas que cruzaram
seu caminho. – ele riu ao escutar aquilo. – Você consegue se lembrar da
primeira memória que tem de mim? – ela perguntou curiosa.

- Na verdade, acho que perdi a minha primeira memória sobre você. Não
consigo me lembrar da primeira vez que a vi, consigo ter vagas imagens suas
do primeiro e do segundo ano, mas não sei qual foi a primeira. Sei que cheguei
a consciência da sua existência por ser amiga de Potter. A memória mais viva
que tenho sua foi de quando me bateu no terceiro ano. Depois dessa memória
você se torna bem constante nas minhas lembranças até mais ou menos o
quinto ano. Eu a odiava com todas as minhas forças. – Hermione acabou rindo
junto com ele. – Me lembro do quarto ano e de como você não parecia você no
baile de inverno. Me lembro de ficar enjoado com o interesse que começou a
surgir a respeito da sua figura, mas acho que mais fui indiferente a sua
existência em Hogwarts do que a notei. Sei também que cheguei a admirá-la
em alguns momentos.

- Me admirar? – ela indagou surpresa.

- Sim. Você era diferente. – ele justificou. – Quero dizer, com relação as
outras garotas. Por volta do terceiro e quarto ano, as meninas começaram a
querer fazer essas coisas de menina. Você sabe. Usar maquiagem, colocar uma
roupa mais curta, tentar ajustar o uniforme para mostrar o corpo, fofocar sobre
garotos, copiar umas as outras. Hogwarts foi se tornando um mar de garotas
que colocavam um corpete sempre que viam a oportunidade, se entupiam de
maquiagem com aqueles brilhos e coisas que cintilavam, algumas até não
exageravam tanto assim, mas não perdiam na competição pela atenção de
quem era popular e sempre reluziam quando tinham uma companhia masculina
prestável. Você parecia completamente alheia a tudo isso seguindo sua vida ao
lado de Potter e Weasley como se sempre estivessem ocupados com um grande
enigma. Continuava no seu modesto jeans sem deixar de usar o uniforme
conforme as regras da escola e nem por isso deixaram de comentar sobre você.
Não era qualquer garota que conseguia isso. É verdade quando dizem que a
maioria dos homens não gastam muita energia com aquelas mulheres que
colocam saltos enormes e usam vestidos curtos e justos. Eles normalmente vão
se interessar bem mais por uma linda visão que encontrarem de cabelo preso e
rosto limpo na fila de alguma loja de poções numa manhã chuvosa. Você não
era o tipo que fazia os garotos enlouquecerem para passarem a mão, levarem
para cama ou torcerem para que cruzasse as pernas para que pudessem
descobrir a cor da calcinha, embora alguns bons pervertidos se aventurassem
para esse lado. Você era o tipo que os fazia juntar as economias para chamar
para um jantar mais ajeitado onde eles tivessem a chance de impressionar,
pudessem te ouvir falar e onde um beijo no final faria valer mais que uma boa
passada de mão. Acredite, eu conheço homens, sou um deles e acompanhei a
caminhada de muitos deles da perversidade ao casamento.
Ela acabou rindo.

- Me faz parecer uma ninfeta. – comentou. - Eu não estava totalmente


alheia a mudança das garotas, só me parecia um grande “maria-vai-com-as-
outras”. Eu teria me detestado se tivesse sequer permitido experimentar o
caminho delas.

- E fico grato que não tenha. – sorriu ele. – Tenha certeza que se você
tivesse aparecido na minha frente de vestido justo e salto naquela época eu
com certeza iria ter te desejado loucamente, mas não deixaria de achar
patético sua tentativa de querer chamar atenção usando o caminho que todas
as outras usavam. Você sempre teve mais personalidade do que isso. Foi
exatamente o que aconteceu com sua amiga Weasley.

Hermione ficou confusa naquele momento.

- Gina? O que houve de errado com ela?


- Ela era um pouco como você. Bonita do jeito que era, mas bem tímida.
Hogwarts inteira sabia que ela era fascinada por Potter, menos Potter, talvez
porque sempre foi idiota demais, sequer parecia notar a existência dela. Acho
que alguém a ajudou a mostrar um pouco mais de personalidade.

- Essa seria eu. – Hermione acrescentou.

Ele ergueu as sobrancelhas.

- Péssimos conselhos você deu a ela, Hermione. Achei que fossem amigas.

Hermione riu.
- Eu apenas disse que ela deveria mostrar um pouco mais de presença e
agir normalmente quando Harry estivesse por perto. Não falei para que ela
redescobrisse o mundo da maquiagem e refizesse o guarda-roupa. Isso foi obra
das outras amigas dela.

- De qualquer forma, foi uma transformação patética de se ver. Ao menos


condizia com o nível Weasley.

Hermione revirou os olhos.

- Não diga isso. Eu a alertei, mas ela não quis abrir mão por ver que estava
conseguindo o que queria. Insisti até que ela se aborrecesse e me acusasse de
ciúmes. Acho que ela sempre temeu que eu fosse interessada em Harry.

- Ela adquiriu confiança e claro que a acusaria de ciúmes porque


obviamente ganhou a atenção masculina como queria, incluindo a de Potter e a
minha.
Hermione ergueu as sobrancelhas.

- A sua?

- Sim. Ela queria ser vista na companhia masculina para tentar gerar
ciúmes em Potter, claro que eu era um de seus maiores alvos. Ela queria me
usar e eu não deixaria isso passar em branco. Me mostrei interessado e a
desejei sim pela provocação que ela incitava, era patético também porque ela
parecia ser alguém interessante e inteligente. Sempre que cruzava as pernas
de forma provocadora, me lançava um olhar mais intenso ou abusava de
indiretas, eu a desejava, mas também queria rir por dentro por ver uma boa
garota apelando para aquele tipo de comportamento. Não era nada inteligente.
Era um truque até bem eficaz que poderia funcionar bem no meio de
adolescente loucos a espera de garotas que lhe dessem esperança, não com
alguém como eu. A usei e a descartei no momento em que vi que ela estava
pronta para abrir mão de Potter na esperança de que eu a quisesse. Claro que
ela caiu em si para a bagunça que havia feito. Potter, atrasado como esperado,
a fisgou depois das inúmeras chances que teve e foi conveniente para ela ficar
com ele. Era o que queria desde o começo.

- Gina nunca me contou sobre isso. – Hermione disse não sabendo se


deveria ficar horrorizada. Claro que ela não contaria, seria uma terrível
vergonha e se Harry soubesse talvez nunca mais nem a olhasse. – Você a usou
e a descartou. Diz isso como se estivesse comentando sobre o tempo.
- Era o que ela queria fazer comigo. Sabe bem que eu detesto quando
tentam me colocar no meio de algum jogo como peão. Ao menos devolvi a ela
a sensatez. Duvido que Potter teria aguentado ficar com ela muito tempo se
continuasse insistindo naquele comportamento fútil e adolescente para mantê-
lo na isca dela. Homens sabem quando estão sendo segurados pelo desejo.
Alguns demoram perceber mais do que outros, mas sempre percebem. Se não
perceberem não são homens, são grandes idiotas. No momento que Potter
matasse seu desejo vezes o suficiente ele poderia começar a se cansar dela.

Hermione achava difícil acreditar que Gina tivesse se envolvido com Draco.
Aquilo a incomodava de uma forma um tanto agoniante. Sabia que Gina era
uma boa pessoa que conquistaria Harry sendo apenas a garota esperta que era,
mas naquela época Gina havia se afastado dela e somente voltaram a
conversar quando ela atou um relacionamento com Harry e foi pedir desculpas
por tê-la acusado de ciúmes. Soube que ficou em silêncio um bom tempo antes
de se manifestar:

- Draco, o quão longe foi com Gina?

Não estava gostando nem um pouco de como se sentia com relação aquilo.

- Não muito longe. – ele respondeu e aquilo pareceu trazer algum tipo
estranho de alívio. – Ela era uma garota ingênua. Eu tinha que fazer a coisa
andar da forma como ela via na cabeça dela. Abusamos de alguns cantos
isolados nos corredores vazios da escola, mas nada mais do que isso. Acredite,
tudo isso aconteceu mais rápido do que imagina. - Sim, ela imaginava que
tivesse sido rápido. Ainda assim a incomodava. A verdade era que tudo que
envolvia Gina a incomodava, ela era teimosa e sempre insistia que Hermione
tinha culpa por algo que não aconteceu como ela queria que tivesse acontecido.
– Você está silenciosa. – ele comentou depois de um longo minuto em que ela
não disse nada.

Também a incomodava a forma como Draco havia dito “a usei e a descartei”.


Era como se ele não se importasse nem um pouco com o lado dela, como se
não conhecesse.

- Já se apaixonou alguma vez? – ela acabou perguntando depois de mais


alguns minutos.

A pergunta pareceu o pegar de surpresa e ele hesitou como havia hesitado uma
vez quando estavam discutindo sobre patronos e ele não soube se queria que
ela soubesse que ele nunca havia produzido um.

- Creio que não. – ele acabou por responder.


Ela acabou por abrir um sorriso triste. Draco Malfoy era, de fato, muito exótico.

- Tem sorte.

- Tenho? – ele pareceu confuso.

- É um sentimento passageiro tão forte que parece te dar o poder de mover


montanhas, mas que quando vai embora te faz se sentir como o maior dos
idiotas. Quando não te dá essa consciência quando ainda está apaixonado e te
força a ignorar.

Ela o escutou soltar um riso fraco.

- Não havia escutado essa definição antes. – disse.


Ela acabou sorrindo. Suspirou e logo desfez seu sorriso. Draco era uma pessoa
muito interessante e muito misteriosa. Era sempre uma surpresa quando
descobria algo simples que nunca esperava que poderia saber sobre ele. Eles
quase nunca conversavam daquela forma como estavam fazendo agora,
contando casos, explorando pensamentos. Tudo deles se limitava a guerra, a
conspiração contra Voldemort, a sobreviver Brampton Fort, a algumas
discussões bobas e algumas trocas de palavras necessárias.

- As vezes eu sinto que há uma infinidade de segredos e reações que


esconde por trás da sua postura perfeita. – ela disse depois de mais alguns
segundos. – Está sempre se podando. Quando eu vejo mil motivos para
expressar algum sentimento tudo que eu vejo é sempre sua expressão neutra.
Pelo menos na maioria das vezes.

- Não tenho me podado tanto com você ultimamente quando estamos


sozinhos. – ele rebateu.

- Continua sendo incomum a forma como guarda para você tanta coisa em
silêncio.
Ele pareceu precisar de alguns segundos para pensar sobre aquilo.

- A linha que separa a emoção do descontrole é muito imperceptível as


vezes. – foi tudo que precisou dizer.

Hermione sabia ele não gostava de mostrar ou ser dominado por nenhuma
emoção ou sentimento. Aquilo ele não havia aprendido em seu treinamento,
Narcisa tinha um tanto desse comportamento assim como Lucio que embora
bastante inconstante sempre adotava a postura neutra em momentos de
tensão quando precisava aparentar um pouco mais de profissionalismo ou
tomar uma importante decisão. Ela sabia bem que era mais uma questão de
orgulho do que de alto controle. Malfoys nunca dariam o gosto de se mostrarem
raivosos a ninguém quando necessário tomar uma decisão que os desfavorecia
e consequentemente também evitavam comemorar vitória quando algo os
favorecia.

- Esse é algum lema da sua família? – ela perguntou.

- Não. Mas é o meu.


- Acaba deixando que as pessoas não saibam quando está bem nem
quando está mal.

- Eu deixo que você saiba.

- As vezes. – ela o lembrou.

- Sim, as vezes. – ele teve que concordar. – Mas deveria se sentir bastante
exclusiva por isso.

Ela riu e ergueu as sobrancelhas.

- Deveria?
- Vamos ficar muito tempo juntos, não creio que eu tenha energia o
suficiente para ficar me policiando toda vez que estiver por perto. Dividimos a
mesma casa.

- Tem razão sobre isso. – concluiu ela. Não era saudável que ele guardasse
tanto para si, mas não diria aquilo porque sabia que ela não seria com quem
ele iria compartilhar seus segredos. Pelo menos não agora. Talvez nunca.
Ficava grata apenas por saber que ele permitia que ela o conhecesse aos
poucos.

O vento gélido os cortou mais uma vez na escura noite que já havia se feito
trazendo os últimos flocos de neve que ainda caiam. Ela sentia que a
temperatura caia mais a medida que parava de nevar. Sua mão e seus pés já
estavam dormente e foi inevitável quando bateu os dentes.

- Está congelando. – ele comentou. – Deveria entrar.


- Sei disso. – ela disse. – Apenas não sei se consigo me mover.

Ele riu.

- Você é tão fraca. – zombou ele. – Pode levar a manta se quiser. Não
preciso dela.

- Fraca? Não havia me dado conta de que estávamos competindo aqui!

- Foi você quem apareceu com os braços de fora me empurrando a


coberta.

Ela entendeu a provocação.


- E foi tão fácil te convencer a pegá-la. – ela jogou.

Draco riu e a castigou abrindo os braços e afastando-se. Hermione soltou uma


exclamação aguda ao sentir o frio congelante bater contra ela em todas as
extremidades. Pensava que a manta não estivesse sendo de muita ajuda, mas
quando Draco a privou do calor dela e de seu corpo percebeu que era louca de
ficar ali fora por tanto tempo.

Levantou-se e quase que imediatamente puxou a manta dele, não sabendo


como teve força em suas mãos para isso.

- É louco? – ela queria soltar aquela indagação com muita raiva, mas o
modo como ele estava rindo e se divertindo com aquilo colocou um sorriso em
seu rosto. Ele quase nuca se mostrava naquele estado e sabia que a realidade
que se encontravam colocaria um fim naquela descontração num piscar de
olhos. Deveria aproveitar enquanto conseguia. – É isso que faz com sua esposa
grávida?

- Não tente parecer uma vitima indefesa, sei bem quem é! – ele se
levantou também enquanto ela enrolava a manta em torno de si subindo os
degraus, tomando cuidado com o pé que mal sentida, a horrorosa bota gigante
e o mármore escorregadio. – Deus do céu, Hermione! – Draco soltou
repentinamente e teve que segurá-la pelo braço quando suas botas
escorregaram sobre o gelo que havia se compactado num degrau e ela lutou
pelo equilíbrio que rapidamente foi reestabelecido com a ajuda dele. – Será que
poderia pelo menos ter um pouco mais de cuidado?!

Ela precisou respirar fundo para acalmar seu coração do susto da perda de
equilíbrio, teria conseguido reestabelecer o controle dos pés sozinha, mas
Draco agilizou o processo com a ajuda. O olhou e acabou sorrindo da seriedade
que ele havia assumido.

- Vejam só quem acabou de morrer de medo. – provocou.

- Não brinque com isso. – ele foi sério e ela riu.

- Eu estaria bem mais segura se estivesse usando botas de neve.

Ele revirou os olhos.


- Eu espero que nosso filho não herde seu gênio insuportável. – disse
enquanto a seguia, se certificando de que ela pisava nos lugares seguros.

Hermione riu.

- Espero que nosso filho não herde seu horroroso nariz. – devolveu na
mesma moeda.

Foi a vez dele rir.

- Com licença, o que disse? – ele soltou falsamente incrédulo e puxou a


manta dela quase que no mesmo segundo. Hermione recebeu a mesma
punição novamente com sua exclamação aguda. – Minha genética é perfeita!
Abraçou-se como pode enquanto ria da resposta dele e apertou o passo por
entre as esculturas até a porta mais próxima. Quando foi recebida pelo
confortável calor do interior de sua casa, percebeu que estivera tempo demais
exposta ao frio por julgá-lo insuficiente.

- Narcisista! – Acusou Draco de modo divertido quando ele passou para o


lado de dentro. Ele riu e ela tentou puxar a manta de volta, mas ele a tirou do
caminho com o bom reflexo.

Hermione cerrou os olhos com um sorriso nos lábios e tudo foi extremamente
natural quando ele apenas se aproximou largando a coberta no chão, passou os
braços pela cintura dela e aproximou sua boca sem pressa, naturalmente e
carregando um sorriso bonito. Ela o receber de muito boa vontade, tendo
tempo para inalar a respiração dele antes de sentir seus lábios se grudarem
pacientemente. Aquilo fez seu corpo inteiro aquecer. Será que era assim que
ele havia beijado Gina? Será que era assim que beijada Pansy? Aquele
pensamento deveria ter a feito querer se afastar, mas ela apenas colocou os
cotovelos contra os ombros dele e passou os dedos pelos fios loiros de sua
cabeça.

- Você é uma inconsequente. – ele murmurou quando se afastaram


minimamente ainda com sorrisos expostos nos lábios. Os lábios dele se
fecharam contra os dela rapidamente mais uma vez antes de se afastarem para
que ele pudesse continuar. – Se apressando para entrar aqui enquanto andava
em um piso cheio de gelo.
Sorriu.

- Deveria ter pensado nisso quando me tomou a manta. – ela rebateu.

- Deveria ter pensando nisso quando insultou meu nariz. – ele retrucou e
ambos riram.

Seus lábios se encontraram mais uma vez. Era louco para ela imaginar o que
eles estavam fazendo ali. Quando seus lábios dançaram calmamente e se
fecharam um contra o outro novamente aquele calor invadiu seu corpo, correu
suas veias e explodiu em seu peito. Era impossível que estivesse sendo tão
natural, como se já tivessem feito aquilo dezenas de outras vezes.

Deslizou sua mão para a nuca dele, pescoço e tocou seu rosto a fim de se
afastar para poder encarar seus olhos profundos e cinzas. Queria encará-lo nos
olhos. Mas no momento em que se afastou para poder vê-lo, sua atenção foi
chamada quando Tryn apareceu implorando por desculpas para informar que
haviam comunicados importantes esperando por Draco em seu escritório no
andar superior. Hermione o encarou imediatamente esperando pela reação
dele. Queria poder dizer a ele que ele não precisava atender nada agora. Havia
deixado a Catedral por um fim.

- Pedi para que Tina fechasse meus compromissos. Se algum comunicado


chegou aqui é porque é importante. – ele justificou quando notou o olhar
atento dela e tudo que Hermione fez foi assentir e se afastar.

Draco seguiu o caminho para a escada mais próxima e Hermione apenas se


limitou a suspirar e seguir o seu, já presumindo que alguma hora ele acabaria
deixando aquela casa de volta para a Catedral antes da manhã do dia seguinte,
sem nem mesmo ter tido a chance de descansar propriamente.

Livrou-se das ridículas botas de chuva, tornou a prender os cabelos que agora
estavam um tanto úmidos devido a exposição a neve, pegou a manta que ficara
no chão e seguiu para o andar de cima indo direto para o quarto onde acendeu
a lareira e se deixou aquecer novamente antes de se enfiar na água quente do
banho.

Enquanto a água quente escorria pelo seu corpo ela deixou seus olhos se
fecharem e sorriu ao se lembrar do momento de descontração que havia tido
com Draco. Era tanta pressão que eles carregavam que não conseguia se
lembrar da ultima vez em que havia se sentido no ânimo para rir daquela
forma. Também não se lembrava de nenhuma vez em que vira Draco se
comportar assim, nem mesmo quando ele se aproximou, a abraçou e a beijou.
Sentiu seu sorriso murchar. Aquilo era preocupante.

Moveu-se inquieta debaixo do chuveiro e colocou a mão sobre o pé da barriga


quando sentiu um leve puxão. Sorriu novamente. Estava grávida. Sabia que
estava. Aquela era definitivamente outra enorme preocupação, mas ainda
assim não conseguia deixar de apreciar a mínima esperança que crescia no
espaço vazio que sua outra filha havia deixado.

Quando saiu de seu banho o cansaço já lhe pesava. Colocou suas peças íntimas
e apenas se cobriu com o robe de sua camisola para ir até a cozinha colocar
qualquer coisa leve no estômago antes de ir para cama. Chamou por Tryn
quando estava fazendo seu caminho de volta para o quarto e perguntou por
Draco. A elfa informou que ele continuava trancado em seu escritório, mas que
não havia emitido nenhuma ordem para que preparassem o carro de volta para
a Catedral.

Hermione apressou seu passo de volta para o quarto. Ele não voltaria para a
Catedral, já teria voltado se fosse realmente necessário. Encarou-se no espelho
do lavatório. Estava pálida. Precisava de mais cor. Beliscou as bochechas.
Avaliou-se novamente e continuou se achando pálida. Talvez se usasse um
pouco do pigmento de um batom rosa que tinha. Testou e achou bem melhor.
Acabou por colocar algo na boca também, simples e discreto. Deu leve
batidinhas nos lábios para disfarçar ainda mais o uso do cosmético e avaliou-se
novamente. Gostaria de poder marcar os olhos com algo escuro. Talvez nos
cílios. Logo desistiu da ideia quando percebeu que seria demais. Soltou os
cabelos. Bem melhor. Desfez o nó de seu robe e julgou-se uma idiota por ter
colocado uma calcinha e um sutiã ridículo. Talvez devesse trocar para algo mais
escuro. Preto seria uma escolha bem melhor...
Parou.

Encarou-se.

Que diabos estava fazendo?

Sentiu-se até mesmo enjoada no mesmo minuto. Foi até a pia e lavou o rosto.
Deixou a água escorrer e concentrou-se na pequena cólica no pé de sua
barriga. Acaso estava ficando louca? Qual é o seu problema,
Hermione? Questionou em silêncio. Limpou-se com uma toalha de rosto e a
usou para se livrar de qualquer resquício de batom em sua boca.Você é ridícula.
Martirizou-se e largou a toalha para tornar a encarar-se no espelho.

Tentou se concentrar em seu corpo como vinha fazendo nos últimos dias
quando tinha aquele tempo. Puxou a seda de seu robe para trás quando ficou
de lado para analisar seu perfil e focou-se na parte de baixo de sua barriga. Já
estava muito minimamente visível. Hermione não esperava que já estivesse tão
avançada, a sentia até mesmo um pouco dura.
Draco apareceu segundos depois. Vinha com sua expressão séria, mas no
momento em que colocou os olhos sobre o reflexo dela no espelho, pareceu
relaxar.

- Hei. – foi tudo que ele disse como cumprimento.

Ela se viu sorrir antes mesmo que pudesse perceber.

- Pensei que fosse voltar para a Catedral. – comentou.

- Não faria isso nem por glória, prestígio ou influência. – ele disse já
abrindo os botões de sua blusa. – Realmente preciso descansar.
- Eu teria dito isso bem antes se não soubesse que poderia acabar ferindo
seu sensível orgulho.

Tudo que ele fez foi rir. Livrou-se do cinto da calça e aproximou-se por trás
dela, segurou-a pelo quadril, afastou seus cabelo e beijou seu ombro subindo a
boca até seu pescoço.

Hermione sentiu suas pernas perderem as forçar. O toque da língua dele


esquentou seu corpo, o contato dos dentes em sua pele fez os pelos de sua
nuca eriçarem e ela acabou fechando os olhos enquanto soltava o ar pela boca
entreaberta. Não era justo que ele fosse acender aquele desejo nela agora que
se sentia tão mole e tão incapaz de fazer qualquer atividade que demandasse
demasiado esforço.

O hálito dele chegou em seu ouvido e ele mordeu de leve o lóbulo de sua
orelha. Hermione acabou se virando e antes que pudesse contar os segundos,
suas bocam já haviam feito o caminho para se encontrarem deixando que
pudessem explorar suas línguas juntas e o sabor um do outro. Ela colou seu
corpo no dele para que pudesse sentir o calor. Os dedos dele entraram por seus
cabelos e passearem em sua coxa com vontade.
O ar faltou a eles antes do normal e quando Draco fez menção de movê-la,
Hermione se viu soltar um quase imperceptível gemido de protesto. Ele riu da
preguiça dela contra sua boca. Hermione achou que o problema fosse apenas
consigo, mas quando ele se afastou para tomar um ar que normalmente não
precisava foi sua vez de rir. Draco veio em seguida e eles riram juntos do
desastre. Afastaram-se minimamente.

- Sinto muito, estou realmente exausto. – ele acabou dizendo.

Ela riu.

- Eu sei. Eu também estou. – abriu os olhos para vê-lo muito próximo.

- Podemos adiar isso para a manhã de amanhã. – ele fez o mesmo.

- Estamos mesmo marcando data e hora para isso agora? Céus! A que
ponto chegamos.
Ele riu e se afastou.

- São as desvantagens de uma agenda apertada. – disse livrando-se da


blusa.

Ela sorriu.

- O Draco e a Hermione dos primeiros meses teriam vergonha de nós dois


agora. – comentou ela enquanto ia até a pia e pegava sua escova de dente.

A forma como ele riu descontraidamente daquilo a fez sorrir com a boca já
cheia de espuma.
- Hermione, meu eu de agora já está bastante envergonhado de nós dois
nesse momento. – ele disse se livrando dos sapatos e pegando também sua
escova. Ela acabou rindo e sendo obrigada a cuspir na pia. Imaginou como
seria quando o filho deles nascesse. – Me diga. – ele chamou sua atenção antes
de começar a limpar os dentes. – Com quantos meses acha que está?

Ela notou que ele observava sua barriga. Cuspiu novamente e encarou a
própria barriga. Limpou a boca.

- Dois. Talvez. – ela respondeu e se analisou no espelho. – Acredito que


não menos do que oito semanas e não mais do que dez.

Draco cuspiu para poder dizer:

- Não lembro de ter sido notável nesse estágio da última vez. Não sei se
parece maior agora porque que fico tentando encontrar algo aí.
Ela acabou sorrindo amavelmente.

- Também já me fiz essa observação. – ela disse e fechou o robe. - De


qualquer forma, se eu estiver errando em alguma conta saberemos amanhã. –
se lembrar de que teriam um medibruxo no dia seguinte para atestar sua
condição a Voldemort fez seu ânimo descontraído cair consideravelmente, mas
mesmo assim sorriu para Draco e desejou boa noite antes de deixar o lavatório.

Fez seu caminho até a cama. Tirou o robe e vestiu sua camisola. Não demorou
a escutar o barulho dos chuveiros. Passou cumprir o ritual de sempre, tirando
de cima da cama os inúmeros travesseiros para poder afastar as coberta. Fez
um feitiço para que o fogo da lareira durasse a noite toda quando sentiu que o
frio não queria lhe abandonar e sentou-se na cama sentindo os braços moles e
a pálpebra pesada. Estava grata por Draco não ter mencionado o sobre o
jantar. Quando deitou, se cobriu e fechou os olhos sentiu a fraca dor no pé da
barriga que não queria lhe abandonar, mexeu-se incomodada, mas estava
cansada demais para se preocupar. Um calafrio correu seu corpo e ela apenas
se encolheu mais nas cobertas. Antes que pudesse pensar em mais qualquer
coisa o sono a venceu, mas não como deveria.

Sentia-se completamente pesada e o breu que a envolvia era um estágio de


sono leve que a deixava ser consciente do aconchegante quarto ao seu redor.
Perdeu completamente a noção do tempo, e seus pensamentos vagavam
aleatórios criando situações absurdas em sua cabeça. Sentiu quando o colchão
sob seu corpo cedeu, movendo-se e quebrando a paz em que ela estava. Aquilo
a fez ter mais consciência do quarto e ela acabou cerrando os olhos para ver
Draco acomodar-se do seu lado. Quando a coberta se moveu e o ar do lado de
fora pareceu como o vento gélido que a cortava quando estava com Draco nas
escadas do avarandado dos fundos ela conseguiu apenas soltou um quase
inaudível gemido de protesto.

O corpo de Draco deitou bem ao lado do seu. Ela queria que ele ficasse quieto
logo, e ele ficou, por um tempo muito curto, porque antes que ela caísse
novamente no seu sono leve, ele moveu-se bem mais para perto dela. Sentiu
mãos frias tocando seu pescoço e indo até sua nuca. Mais dedos gelados
afastaram cabelos de sua testa. Gemeu em protesto novamente.

- Hermione. – a voz profunda de Draco soou longe. – Você está mais


quente que o normal.

- Eu estou bem. – ela não soube se sua voz conseguiu sair, apenas
esperava que tivesse conseguido. Ele afastou as mãos geladas e ela ficou grata
por isso, mas ele começou a se mover demais e ela cerrou novamente os olhos
para vê-lo começar a se levantar. Hermione juntou força para girar o corpo.
Tudo que conseguiu foi passar o braço por ele. Usou sua mão para empurrar
seu tronco contra o colchão novamente. – Apenas me deixei dormir. Você
também precisa descansar. – escutou sua própria voz baixa e distante. – Estou
bem.

Tonou a fechar os olhos. Ele ficou quieto alguns segundos, mas então seus
braços passaram pela cintura dela e a trazendo para bem perto, a obrigando a
escalar o corpo dele e deitar a cabeça contra seu peito. Ele era um corpo
gelado e ela protestou contra o frio num murmúrio indecifrável. Antes que
pudesse juntar força para se afastar apreciou a calma e a paz de tê-lo quieto.
Não demorou para cair no breu novamente. Dessa vez o sono pareceu ser
profundo.

Os pensamentos se misturavam e criavam situações absurdas. Aos poucos eles


foram se tornando cada vez mais breu, breu e breu. Depois do que pareceu
longos e longos anos as coisas tomaram cor ao seu redor. Primeiro o verde. Era
muito verde. Tão verde que a fez perceber que era apenas o sol refletindo
sobre a perfeita grama debaixo de seu corpo. Ela conhecia aquela grama, só
uma grama no mundo podia ser tão verde como aquela. Hogwarts. Olhou mais
adianta e viu o lago brilhando seu esplendor, mais acima, sentado
gloriosamente numa colina o castelo erguia-se majestosamente.

Ela estava sentada debaixo da sobra de uma das árvores, suas pernas
brilhavam com o sol sobre elas, mas ela não conseguia sentir o calor dele. Pelo
contrário. Sentia frio. Mas o verde e o modo como os alunos se vestiam a sua
volta mostrava que estavam em algo muito próximo do verão. Seu corpo
estava estranho e ela o sentia estranho. Suas mãos estavam pegajosas e havia
um desconforto que a incomodava. Encarou o próprio corpo e a viu na
adolescente que se lembrava ter sido. O vestido que usava era um que Gina lhe
dera no natal do quinto ano. Era leve, solto, claro e alegre. Havia sido uma
roupa completamente fora da estação para o natal, mas era mais barato
comprar coisa boa por um preço acessível quando se estava fora da estação,
então ali era a primeira vez que Hermione havia tido a oportunidade de usá-lo.

Aquilo começou a fazê-la se lembrar daquele dia. Era uma memória. Inicio do
sexto ano. Início de outono. Levantou-se tomando cuidado com os livros que
carregava consigo, os catou pela grama e se lembrou que Harry e Rony
estavam na biblioteca colocando em dia os trabalhos que ela havia finalizado
dois antes antes daquele domingo ensolarado. Iria até eles ajudá-los porque
era isso que sempre fazia. Dava-lhes uma lição por deixarem acumular tudo
para cima da hora, se afastava para que se desesperassem e depois os
procurava para ajuda-los.

Não conseguiu evitar sorrir por estar naquele mágico lugar novamente. Sentia
um terrível aperto no coração por saber que daquele ponto, a calmaria, a paz,
os risos e as brincadeiras não durariam muito até o caos da guerra. Seus pés
se moveram sobre a grama macia e ela se lembrou que estava descalça. Um
par de sandálias rasteira estava próximo ao tronco da árvore. Hermione
encarou sua roupa novamente. Se lembrava de ter achado aquele vestido lindo,
se lembrava de ter se sentido especial com ele, de ter se sentido bonita, se
lembrava de ter se perguntado se havia surpreendido Rony usando aquilo.
Agora quando olhava para sua roupa via um vestido que era da coleção de
verão do ano anterior e um par de sandálias simples demais. Ela era a Sra.
Malfoy no corpo de Hermione Granger com dezesseis anos.

Pegou as sandálias e tentou seguir aquele dia como se lembrava. Sabia que
tinha a intenção de alcançar Harry e Rony na biblioteca e começou a seguir o
caminho de volta para o castelo, mas se lembrava bem de que algo havia a
parado. Logo escutou o grito assustado de uma criança e um coro de
gargalhadas. Virou-se para encarar dois sextanistas azando um primeiranista
que cruzava com o caminho deles. Sim, aquilo havia a parado. Era monitora e
deveria prezar pela ordem mesmo durante finais de semana.

Apertou o passo para chegar até eles.


- Hei! – chamou a atenção deles com autoridade como se lembrava
enquanto se aproximava. Os sextanistas eram Blaise Zanibi e Gregory Goyle.
Não tiveram medo ao vê-la se aproximar. Pelo contrário. Assoviaram “fiu-fiu”
no momento em que a reconheceram. Hermione se lembrara bem de ter ficado
furiosa com aquilo. – Poderia tirar ponto dos dois por fazerem isso!

Zabini riu alto.

- Sabe o que eu poderia tirar de você, Granger? A roupa! – riu – Aposto


que eu não me arrependeria nadinha! Nem parece estar usando muita coisa
hoje também pelo visto!

Hermione se lembrava de ter reparado em Draco bem depois, mas conhecia


aquela lembrança e adiantou o fato olhando através dos dois sonserinos para
um muro baixo de pedras onde ele estava deitado com a cabeça no colo de
Astoria que falava, como se contasse uma história. Draco não parecia muito
entretido com a conversa enquanto girava a varinha entre os dedos como se
estivesse treinando para ficar ágil no movimento.

Astoria estava perfeita como se lembrava. A garota vestia um vestido longo de


outono azul escuro. A parte de cima era coberta em renda que transparecia sua
pele clara acima do busto, uma parte da cintura ficava a mostra antes de
começar a longa saia de tecido leve, fino e liso que ia até os pés descalços
balançando contra o muro, quase tocando a grama. Pontos de ouro brilhavam
em sua orelha e no singelo colar que usava. Na cabeça ela tinha um pequeno
chapéu de palha de fino acabamento que possuía uma fita de cetim bege
amarrada ao redor fazendo um lindo laço caído atrás cujas pontas seguiam a
longa trança em seus cabelos. Os braços dela estavam estendidos atrás do
corpo a apoiando e esporadicamente uma de suas mãos brincava com uma
mecha loira do cabelo dele. Ela era linda, sofisticada e clássica, sem contar que
era rica e possuía um sobrenome perfeito. Entendia o porque Draco havia a
escolhido.

- Cale-se. Você me dá nojo. – Hermione soltou com desprezo, como se


lembrava de ter feito, mas reparou bem mais quando Draco riu de algo que
Astoria havia dito do que como se lembrava. Incomodou-se. – Não é porque
estamos privados de ir a Hogsmeade que podem sair fazendo absolutamente o
que lhe derem na telha como se estivessem fora do castelo! Pode ser final de
semana, mas as regras continuam as mesmas! – disse se lembrando de como
as coisas se seguiram.

Draco sequer havia reparado em sua presença. Era errado que aquilo a ferisse,
tinha dezesseis anos, queria mesmo era que Draco realmente esquecesse que
ela existia.

- Moça! Minhas orelhas! – gritou o primeiranista um tanto desesperado


segurando as orelhas que lhe cresciam sem parar.
- Você vai ficar bem, garoto. – se lembrou de ter dito ao menino com
sardas. – Vão acompanha-lo até a enfermaria e eu irei escrever sobre o
comportamento de vocês ao professor Snape. – voltou-se para os Sonserinos.

Ambos riram.

- Pode escrever o que quiser e não vamos acompanhar ninguém a


enfermaria. – Riu Zabini.

- É! Não há nada de errado com ele. Estamos apenas dando orelhas mais
proporcionais ao tamanho da curiosidade dessa peste. – disse Goyle se
divertindo.

Hermione se lembrava de ter revirado os olhos, mas não o fez porque estava
muito mais focada na imagem de Draco com Astoria. Sabia que naquele dia
havia sentido uma imensa raiva por ver Draco ali tão próximo e não ter feito
nada em relação aos amigos. Ela punia Harry e Rony como punia qualquer
outro aluno quando eles desrespeitavam as regras, mas ali, ali naquele sonho,
ela via o Draco Malfoy adolescente do qual se lembrava e sentia-se angustiada
por não ter o olhar dele. Ou talvez não fosse aquilo que a deixava angustiada.
Incomodava saber que aquele Draco não a conhecia como agora, não havia
partilhado uma convivência de mais de um ano, não se importava com ela.
Aquele Draco ainda a via apenas como a Sangue-Ruim amiga da pessoa que
mais odiava naquela escola.

- Malfoy! – ela acabou soltando muito antes de como se lembrava.

Ele se comportou exatamente como na lembrança original. Ergueu o tronco


apoiando os cotovelos no muro e a encarou. Gastou alguns minutos a
analisando dos pés a cabeça. Lembrava-se perfeitamente de ter acreditado que
Draco não estivesse abominando sua aparência naquele momento, mas então
ele abriu a boca e estragou com qualquer esperança sua ao soltar:

- O que foi, Granger? Não me lembro de ter escutado ninguém aqui fazer
uma pergunta para que pudesse vir correndo com a mão levantada responder.

Goyle riu como um retardado. Hermione se lembrava de ter ficado furiosa, mas
ali sentiu-se ferida. O tom de Draco, o desprezo e a indiferença com relação ao
que poderia sentir. Era nada mais do que uma excluída ali, longe da elite do
sangue, da popularidade e dos cofres de cada um daquele ciclo. O olhar de
Astoria era quase um cheio de piedade e julgamento, como se estivesse
tentando descobrir qual o designer da roupa que usava, de que coleção
ultrapassada fazia parte e em que ponta de estoque ela havia adquirido.
- Não sei como alguém teve a coragem de nomeá-lo monitor! – voltou-se
para Draco. - É incapaz de cumprir seus deveres propriamente! Cansei de
contar as vezes em que usou seu distintivo apenas para benefício próprio! Seus
amigos estavam desrespeitando as regras da escola exatamente na sua frente
e você não moveu um dedo a respeito disso! – cuspiu ela como na lembrança
que tinha.

Draco achou graça no que escutou.

- Primeiro, Granger, estou impressionado com sua nova maneira de me


insultar chamando esses dois idiotas de meus amigos. – riu. – Segundo, não
preciso ficar me preocupando em cumprir meu dever de monitor quando você
está sempre de olho para cumprir o seu dever, o meu e o de todos os outros
monitores. Se está insatisfeita com a decisão do corpo docente de uma escola
centenária em me nomear monitor, vá até eles e diga que pode gerenciar esse
ramo melhor do que eles, Sabe-Tudo. Quem sabe eles não concordem e
acabem te colocando até mesmo no lugar de Dumbledore.

Todos riram, até mesmo Astoria, que pareceu ter o feito apenas porque todos
os outros estavam. Hermione se lembrava de ter revirado os olhos e saído
bufando cheia de desesperanças com o insuportável temperamento de Draco,
mas naquele momento ficou ali, observando o rosto de cada um, como se
tivesse pausado a cena. O de Draco, satisfeito com sua resposta, o de Astoria,
orgulhosa pela vitória de seu homem e os de Zabini e Goyle felizes por acharem
difícil que ela insistisse em tornar a abrir a boca.
Hermione apenas fechou os olhos sentindo todos os calafrios quase fazerem
seus dentes baterem. Abriu-os e encarou Draco tristemente. Queria ter o poder
de ir até ele para dizer que um dia se casariam depois de terem enfrentado
uma grande guerra em lados opostos. Queria dizer a eles que sofreriam juntos
a perda de uma filha, que se desejariam na cama como homem e mulher, que
fariam uma aliança contra Voldemort juntos, que se conheceriam aos poucos e
aprenderiam um com o outro devido a uma convivência cheia de altos e baixos
e que talvez nesse futuro encontrassem uma forma de superar os enormes
abismos que haviam entre eles.

Respirou fundo. Deu as costas e se afastou lembrando-se de ter que escutar


Astoria comentar algo sobre as sandálias que tinha na mão com uma das
amigas que acabava de aparecer. Uma dor muito física a abateu, mas ela não
soube de onde veio. Sentiu-se incomodada, mas apenas continuou seu
caminho. Tentou pensar nas coisas boas de Hogwarts novamente, na sensação
de ser apenas uma adolescente, crescendo e aprendendo, despreocupada com
um futuro incerto porém distante. Não teve muito sucesso em se sentir bem
novamente. Apenas olhou sobre os ombros a figura de Draco que tornara a
descansar a cabeça no colo da namorada. Aquele Draco esqueceria que ela
havia estado por perto em menos de um minuto.

Fechou os olhos sentindo um aperto no coração ao ter aquele pensamento. As


vezes tudo que queria era sua sábia mãe, sua sábia mãe que já não vivia mais.
A vontade de derramar todas as lágrimas do mundo vieram quando todo aquele
sentimento a invadiu, a dor física a incomodou mais, uma agonia veio e passou,
o breu a cercou mais uma vez, mas quando abriu os olhos estava de frente a
entrada da porta de sua casa. Não a casa que dividia com Draco, o único lar
que tivera depois da casa de seus pais. A porta da casa a sua frente era a de
sua casa, a casa onde crescera, onde aprendera sobre amor, respeito,
dedicação, carinho, honestidade, ética. A casa onde forjara seu caráter, quem
era e quem sempre seria no fundo de seu coração, por mais que mudasse.
Olhou para si mesma e viu a mulher que era hoje, as roupas finas que usava,
os sapatos altos e caros, as joias claras, esplendorosas e o anel Malfoy bem
colocado em seu anelar esquerdo. Ela não ia até sua casa desde que
abandonara seus pais para entrar na guerra. Tinha dezessete anos naquela
época, era apenas a Hermione Granger simples que costumava ser e pensava
que estava fazendo a coisa certa para deixá-los a salvo. A verdade era que não
estava. Deus sabia toda a culpa que ela carregava por isso.

Deu alguns passos para trás para reconhecer a estreita casa de dois andares
que possuía um estreito e belo sótão escondido entre o teto alto e pontiagudo.
Os vidros estavam quebrados, trepadeiras haviam tomado conta da fachada e a
madeira das janelas já tinham perdido o verniz parecia fazer muito tempo.
Aquilo machucou sua alma que já não se encontrava em perfeito estado por
estar encarando o que via. Sempre que se encontrava perturbada tinha aquele
sonho.

Entrou com cuidado, empurrando a porta que precisava de óleo nas dobradiças
e andou sobre o piso de madeira já desgastado. Ela sabia que sua casa não
estava naquele estado, haviam a dito a ela que fora vendida para um casal
trouxa que tinha duas belas crianças depois de ter passado um bom tempo no
mercado, mas para Hermione, aquele era o estado da casa de seus pais em sua
mente.
Subiu até o sótão como sempre fazia naquele sonho. Quando abriu a porta e
passou para o lado de dentro, viu seu quarto exatamente como a última
lembrança que tinha dele. Sua mãe estava lá, sentada em sua cama, seus
olhos estavam tristes e havia uma rancor em sua expressão.

- Você nos abandonou. – Disse ela. Havia rancor também em sua voz.

- Eu tinha que ir. – Hermione disse com sua voz trêmula.

- Você nos abandonou e olhe no que se tornou. – sua mãe a olhou de cima
a baixo. – Lutou em vão ao lado de perdedores, foi capturada, se casou com o
inimigo, perdeu uma filha, fez uma aliança com ele e continua vivendo sua vida
de miséria escondida atrás de roupas, sapatos e joias caras.

Hermione sentiu as lágrimas escorrerem.

- Essa não era a vida que eu queria. Não escolhi essa vida.
- Escolheu sim. Escolheu essa vida quando nos abandonou.

Aquilo a feriu mais ainda.

- Eu tive que ir. Pensei que ficariam seguros se eu estivesse longe. Me


desculpe. – aproximou-se. – Mãe, sinto sua falta. Sinto muito a sua falta. Me
perdoe, por favor. Você não sabe como é difícil não te ter. – sentiu-se uma
criança. As lágrimas escorriam e ela logo saberia que os soluços começariam.

O rosto de sua mãe logo mudou de um rancoroso para um piedoso. Ela era a
mulher mais amorosa que Hermione já havia conhecido. Sua mãe entendia sua
dor exatamente como ela gostaria que fosse entendida. Sentou-se no chão e
deixou sua cabeça no colo dela. Queria poder se lembrar do cheiro de sua mãe,
mas não conseguia.

- Filha, você está amando o homem que não quer. – ela disse depois de um
tempo alisando seus cabelos.
Para Hermione nenhum nome precisou ser dito ali. Já sabia a quem sua mãe se
referia. Sua mãe era a única mulher com quem ela poderia ter aquele tipo de
conversa embora soubesse que tudo aquilo era um sonho e sua mãe nada mais
era do que sua própria consciência.

- Eu não o amo nem quero amá-lo. – apressou-se a dizer. – Eu o odeio.

- É uma tola por achar que o oposto do amor é o ódio. O oposto do amor é
a indiferença e indiferença é algo que está cada vez mais acabando entre você
e Draco.

- Mas eu jamais poderei amá-lo.

- Também é uma tola por dizer “jamais”. Ele é seu marido, seu parceiro.
Precisam aprender a construir uma vida harmoniosa juntos, isso demando um
esforço que pode trazer sentimentos.
- Eu não quero amá-lo, mãe. Ele não é o homem que eu quero, ele não é
um homem bom, não é um homem admirável.

- Você tem visto coisas boas nele ultimamente.

- Não compensam as atitudes ruins do passado. Atitudes revelam caráter.

- E você descobriu que julgava as atitudes dele erroneamente.

- Nem todas. Ele continua não sendo um homem inteiramente exemplar.


Ele é um Sonserino, deseja poder, influência, é soberbo, astuto e orgulhoso.
- Ele apenas vê o mundo de uma forma diferente da sua. Já descobriu que
ele não é um homem mal e vivendo tempo o suficiente no mundo dele também
descobriu que poder haver verdade naqueles que acreditam que mal é apenas
uma questão de ponto de vista.

Hermione suspirou cansada daquela batalha.

- Não ele, mãe. Não ele.

- Por que?

- Sabe bem o porque. – Na verdade, sua mãe de verdade não saberia.


Nunca havia dito muito sobre Draco em sua casa. Ele era apenas conhecido
como o garoto insuportável e infelizmente altamente influente por ser um
Malfoy. Apenas. Mas naquele sonho sua mãe nada mais era do que uma
projeção de sua consciência para lhe trazer conforto. – Ele é Draco Malfoy.
Posso voltar no tempo para qualquer época desde que me tornei consciente de
sua existência e não conseguir me lembrar de uma em que não queria que ele
apenas... – deixou sua voz morrer quando percebeu que estava prestes a dizer
que apenas não queria que ele existisse. Ela nunca quis que ele não existisse.
Ela apenas queria que ele fosse diferente. Queria que os Malfoy fossem
diferentes. Se lembrava da primeira vez que cruzou com o nome deles
enquanto lia “Hogwarts, Uma História” e se sentiu fascinada por saber que
existiam linhagens tão bem conservadas no mundo bruxo que carregassem
tanta história e tanto poder. – A verdade é que não sei mais o que penso sobre
ele. Eu sei que estou me deixando envolver com um homem que nunca vai me
amar, um homem que não me vê como única mulher. Carrego culpa por isso
porque sei o que ele significa. Quando tento no colocar nessa casa no dia em
que vocês foram mortos, temo que tenha sido ele quem estendeu a varinha,
temo que tenha sido ele quem lançou a ordem. Eu não poderia conviver com o
fato de me ver sentimentalmente envolvida com o homem que mantou meus
pais. Eu me veria como Narcisa Malfoy, presa ao sentimento que tem pelo
terrível marido. Não quero isso. Mas ao mesmo tempo que tenho muita
consciência de não querer isso, não consigo afastá-lo quando ele me toca, não
consigo parar o desejo de sentir e esperar pelo toque dele, ou o olhar, ou a
companhia, ou o interesse dele. Antes eu achava que ele apenas estava se
tornando familiar, ou que não havia mal em desejá-lo visto que ele realmente é
um homem atraente e que eu acabara entrado no vício de já tê-lo
experimentado. Mas... – suspirou. – As coisas foram mudando entre nós,
principalmente depois que perdi nosso bebê. A forma como ele reagia perto de
mim e de como era cuidadoso para não ser ignorante devido ao ódio que havia
entre nós acabou me fazendo olhá-lo de outra forma, me fez ver que ele pode
ser compreensivo. O dia em que ele disse que não era fácil encarar a perda da
nossa filha me fez entender que nem tudo que ele expressa é o que ele
realmente sente. O som da voz dele quando disse que se eu engravidasse
novamente o filho seria nosso. O modo como ele me abraçou quando eu disse
que queria criar nosso filho, mesmo que não fossemos uma família. Isso tudo
me fez sentir o toque dele de forma diferente, me fez prestar mais atenção no
olhar dele, me fez querer entendê-lo mais, me fez ser compreensiva, me fez
aprender a sorrir quando ele estava por perto. – fechou os olhos e se deixou
sentir a carinhosa mão de sua mãe em sua cabeça. – Isso amenizou o ódio que
temos um pelo outro. Me faz questionar se realmente o odeio. Me faz
questionar se eu estive errada sobre ele todos esses anos, ou apenas uma boa
parte deles. Me faz questionar se posso ser capaz de superar a história que
temos. Me faz questionar se devo realmente temer que eu crie algum outro
sentimento por ele que não seja desprezo, raiva ou indiferença.

Elas entraram em um profundo silêncio. A mão de sua mãe em sua cabeça


começou a pesar e ela começou a se sentir incomodada, mas jamais pediria
para que ela a tirasse.
- Talvez esteja se perguntando as questões erradas. – a voz de sua mãe,
amável como se lembrava, soou. – Talvez devesse se perguntar se está
apaixonada por ele.

Hermione sorriu. Se fazia essa pergunta todas as vezes que Draco aparecia e
ela não conseguia conter um sorriso ou quando ele a tocava e ela não
conseguia dizer “não” mesmo quando se sentia a mulher mais cansada do
mundo.

- Não estou. – respondeu. – Eu sei o que é estar apaixonada. Eu sei o que


é não conseguir parar de pensar em alguém, sei o que é ter as mãos suando e
o coração batendo forte. Com Draco é diferente. Me sinto completamente a
vontade perto dele. Não preciso medir as palavras para tentar soar mais
amável ou mais divertida. Não sinto que preciso estar sempre impecável com
medo de que ele goste menos de mim por acabar conhecendo algum defeito
que sei que tenho, tanto físico quanto de personalidade. Não sinto a constante
necessidade de agradá-lo. Posso ser quem eu quiser sem receio perto dele. Não
preciso que ele me queira, me ame, pense em mim a todo momento ou se
preocupe comigo.

- Mas é bom quando vê sinais de que ele possa estar pensando em você, se
preocupando com você ou querendo você. – comentou sua mãe.

- Sim, mas é apenas um reflexo de estar acostumada a tê-lo me querendo


morta. Além do mais, são sinais, não quer dizer que ele realmente se preocupe,
queira ou se importe comigo. Como já disse, depois que minha filha foi tirada
de mim, ele se esforça para não ser arrogante e detestável. Reconheço os
sinais dos esforços dele apenas.

Sua mãe suspirou e ela a seguiu. A mão de sua mãe pesava tanto em sua
cabeça que ela já estava bastante consciente de que se mexia
desconfortavelmente com frequência, mas não queria por fim aquela conversa.
Precisava de sua mãe embora soubesse que o conselho dela nunca viria porque
aquela não era mesmo sua mãe.

- Creio que resta apenas uma questão a ser levantada então. – a voz doce
de sua mãe soou novamente. Lutou para não se entregar a agonia que lhe
crescia porque precisava enfrentar o ultimo questionamento. – Se tivesse a
chance agora de anular esse casamento, tornar a ser Hermione Granger, dar as
costas a Draco Malfoy e a tudo que construíram no ano que passaram juntos,
você pegaria?

Ela se mexeu incomoda e acabou se afastando da mãe. Quis se levantar, mas


havia uma dor. Queria saber de onde vinha. Colocou as mãos no chão e o
encarou.

- Sim. – Respondeu. A mão de sua mãe já não estava mais em sua cabeça,
mas ela continuava pesada e parecia ficar cada vez mais, o que fazia aquela
cena perder o foco e se tornar um breu com cada vez mais frequência. – Essa
resposta eu sei desde o dia em que assinei o papel que me fez ser uma Malfoy.
- Não creio que seja mais a mesma pessoa que assinou aquele papel. – a
voz de sua mãe ficava cada vez mais parecia com a sua. – Mudou desde que se
casou com Draco Malfoy. Tem certeza que daria as costas a ele se tivesse essa
chance nas mãos agora?

Hermione estava pronta para responder sim novamente, mas naquele


momento o quartou ficou escuro. Tem certeza? Era a voz de sua própria
consciência. Se não tem certeza precisa seriamente fazer algo a respeito disso.

- Mãe... – Ela queria sua mãe de volta. Não se sentia bem. Contorceu-se e
gemeu de dor sentindo calafrios e uma pressão em sua cabeça. – Mãe, tem
algo errado comigo. – sua mãe sempre sabia o que fazer quando ela não estava
bem. – Mãe?!

- Hermione?! – Era a voz de sua mãe. Não. Não era. – Hermione! – Quem
era? Gemeu e sentiu-se cada vez mais pesada. Aquela dor... O que era aquela
dor? – Hermione!
Ela queria responder quem quer que fosse, mas não conseguia. Sua boca não
se movia. Parecia em uma dimensão diferente. Não queria deixar sua mãe
novamente.

- Mãe...? – chamou por sua mãe.

Ela não voltou, mas foi tragava para dentro de seu quarto novamente. Era noite
e tudo parecia muito pálido ou muito escuro. Se lembrava daquele sonho.
Aquele a perseguia há anos. Tinha medo dele, muito medo, não importasse
quantas vezes o tivesse ou quantos anos tivesse, porque sabia que a pessoa
que iria aparecer ali não era nenhuma projeção de sua consciência, era uma
invasora, uma estranha invasora.

Caminhou até o espelho mesmo que não quisesse, mesmo que tivesse toda
aquela dor a incomodando. Encarou seu reflexo, mas ele não era seu reflexo
embora se parecesse muito consigo mesma, aquela era a invasora de seu
sonho. Os cabelos eram os mesmos, o desenho do rosto era muito parecido, o
corpo era quase idêntico. O calafrio que já sentia intensificou no momento em
que ela falou. Tinha uma voz poderosa e parecia ecoar insuportavelmente alta
em sua cabeça embora a boca nunca mexesse:

“Seja consciente de quem é. Seja consciente do seu sangue. Seja consciente do


seu poder.”
A invasora repetia muitas e muitas vezes e Hermione tivera acreditado por
muito tempo que tinha aquele sonho porque era uma bruxa e não sabia.
Quando descobriu que era eles pararam de persegui-la por um tempo, mas
foram voltando, cada vez com mais frequência com o passar dos anos. Haviam
noite que acreditava ter esse sonho mais de uma vez ou as vezes parecia ficar
horas presa nele temendo pelo intruso do outro lado do espelho, parada e
incapacitada de se mover.

Hermione temeu ficar presa ali com toda a angústia da dor que sentia e de
como isso a fazia se contorcer e gemer, mas a medida que a intrusa do outro
lado do espelho repetia sua eterna frase Hermione lutou para acordar. Aos
poucos o quarto foi se apagando, a voz que ela pensara ser de sua mãe a
chamando foi se tornando cada vez mais real e muito masculina.

- Hermione!

Foi como se seus ouvidos tivessem sido destapados. A imagem da intrusa ainda
era muito real em sua memória, como se ela pudesse estar em algum lugar
exatamente ao seu lado. Foi mais difícil abrir os olhos do que esperava. Viu o
rosto de Draco de seu lada da cama iluminado pela baixa lareira que ela
deixara queimando a noite toda. Sua visão não era boa, sua cabeça parecia
pesar quilos, os calafrios pareciam mais intensos e a dor que sentia vinha do pé
de sua barriga.
- Draco... – sua boca estava incrivelmente seca. Ela quase não conseguia
se mover. O que havia de errado com ela. – Há algo de errado comigo.

- É bem notável. – ele disse. – Apenas me diga o que você precisa, por
favor.

O ”por favor” parecia ser a dica para que ela soubesse que ele estava um tanto
desesperado mesmo que segurasse sua expressão inabalável de sempre.
Tentou engolir uma saliva que não existia. Conseguiu sentir algo pegajoso em
sua virilha. Abriu a boca para responder que não sabia o que precisava, não
sabia o que havia de errado enquanto fracamente tentava afastar a coberta e o
lençol, mas no mesmo momento sentiu uma horrível pontada onde a dor a
incomodava. Encolheu-se e prendeu a respiração, fechando os olhos com força
lutando para não emitir nenhum som embora ainda conseguiu ouvir sua
garganta protestar por isso. Quando finalmente teve a chance de respirar outra
vez o fez ofegante. Tocou sua virilha e quando olhou seus dedos trêmulos
novamente, eles estavam vermelhos.

Puxou o ar e por alguns segundos não soube como reagir. Estava fraca,
pesada, sua cabeça doía, sua visão estava embaçada, aquela irritante dor em
sua barriga... Tentou não se desesperar, mas seus olhos embaçaram no mesmo
instante. Encarou Draco. Ele tinha os olhos fixos em seus dedos vermelhos.
- Por favor, chame um medibruxo. – dessa vez deixou que o seu “por
favor” fosse a dica de seu desespero.

Ela nunca tinha visto Draco sem palavras antes, foi a primeira vez que o viu
congelar daquela forma.

- E-eu já chamei. – ele não conseguia tirar os olhos de seus dedos


vermelhos. – Acha que consegue esperar?

- Não sei. – sua voz quase não saiu. Amaldiçoou Brampton Fort por não ser
possível aparatar dentro das muralhas. Precisava de um medibruxo exatamente
naquele momento. Começou a achar difícil puxar oxigênio. Sua visão parecia
cada vez mais escura e ela começava a achar que perderia os sentidos. Tinha
bastante consciência das lágrimas pularam seus olhos inundados. – Não
consigo acreditar que perdi outro bebê. – a dor em sua garganta para conter o
nó entalado parecia quase maior do que todas as suas outras dores e lutar para
conseguir falar tomou muito de sua força.

- Quem disse que perdeu, Hermione? – ele a encarou parecendo irritado


que ela tivesse dito aquilo.
- Estou sangrando, Draco. – será que ele ainda não havia prestado atenção
naquilo?

- Você ainda não sabe. – ele foi sério. – Apenas espere.

Ela mal conseguia vê-lo direito e o oxigênio não estava chegando normalmente
ao seu pulmão.

- Não acho que consigo. – não soube se disse aquilo como queria. Não
conseguia mais mover nenhum musculo, sentia-se mais fraca do que já havia
se sentido em toda sua vida. Aquilo quase lhe parecia morte. O que havia de
errado com ela? O que estava acontecendo? Por que? O que havia a feito
chegar naquele estado? Esteve bem durante todo aquele dia.

- Não. Não. Não. – ele segurou seu rosto com as duas mãos, mas ela mal
pode sentir o toque dele. - Hermione. Tem que ficar acordada. – a voz dele
parecia distante. – Hermione! Olhe para mim! – ela não conseguia focá-lo.
Será que a morte era assim? Não queria morrer. Antes que pudesse perceber,
tudo que lhe fazia companhia era o silêncio e o breu. Pareceu ficar naquele
estado por horas como se estivesse caindo em um infinito buraco negro. Não
havia luz em lugar algum, não havia consciência, só havia o breu.

Pareceu horas, horas e horas, quase uma eternidade, mas quando começou a
recobrar algum senso de consciência, pareceu ter sido apenas um segundo, um
piscar de olhos, um pequeno instante de distração. Ainda se via sem forças
para abrir totalmente os olhos, mas estava grata por não haver mais tanta dor.
Tudo que escutava era o som da voz de Draco cheia de indignação e irritação.

- ...e isso poderia ter acabado com a vida dela! Será que não poderiam ter
feito algo menos arriscado?! – seu tom estava tão alterado que estava alto. Ele
quase nunca se permitia exaltar. Tentou chamar por ele, mas não conseguiu
encontrar forças.

- Nós não consideramos que ela precisaria de forças para mais de um,
senhor. Não consideramos nem mesmo que ela passaria pela situação de
aborto! – alguém falou e a palavra “aborto” foi o suficiente para fazer com que
ela conseguisse soltar qualquer grunhindo para ter atenção.
No mesmo instante sentiu como se mil mãos começassem a checá-la. Seu
pulso, sua têmpora, seu pescoço. Agulhas pareciam estar espalhadas em algum
braço que ela não conseguia se orientar para definir exatamente qual.

- Não sei como conseguiram licença para exercer magia curativa quando
não conseguem nem mesmo se atentar a detalhes como esse! Existiam
chances e vocês a ignoraram!

- O mestre...

- O mestre a queria inteira e com um herdeiro! – ele continuava a se


exaltar com quem quer que fosse. – Ela precisa estar viva para ter qualquer
filho até onde eu saiba!

- Draco... – ela soltou num sussurro que se misturou com sua respiração
fraca.
- Draco! – era a voz de Narcisa. Estava muito próxima a ela. – Ela está te
chamando.

- Hermione? – a voz soou mais perto dessa vez, completamente diferente


do tom que ele estava usando antes.

Forçou para abrir os olhos. Conseguiu apenas cerrá-los. Havia claridade, mas
ela conseguia reconhecer que continuava em seu quarto e em sua cama. Não
demorou a encontrar os olhos cinzas dele sobre ela.

- Eu perdi? – foi tudo que ela precisava dizer, embora não tivesse soado
mais alto que um sussurro, para que ele entendesse que ela queria saber de
seu bebê.

- Não, mas quase. – ele respondeu imediatamente e aquilo a renovou de


uma forma que quase a fez tentar se levantar. – Você vai ficar bem. Precisa
descansar, só isso.
- O que aconteceu comigo?

- Precisa descansar, Sra. Malfoy. – era a voz de uma mulher que ela não
conhecia vinda de algum outro lugar ali. - Vai saber de tudo quando acordar
novamente com mais forças.

- Desculpa ter estragado sua noite de descanso... – foi tudo que ela
conseguiu dizer a Draco antes de sua voz voltar a morrer.

O mundo começou a ficar longe novamente e ela foi forçada a fechar os olhos
se entregando a fraqueza que sentia. Entrou num mundo de sonhos e ficou
presa num em que um gigantesco pássaro azul voava a sua frente. Ele lhe dava
medo assim com a mulher do reflexo no espelho do sono que a perseguia
desde criança. O tempo parecia correr em câmera lenta fazendo as enormes
asas do pássaro mostrarem toda a sua beleza durante o movimento assim com
deixar bem claro a mensagem que parecia ecoar da pequena cabeça dele para
a dela:

“Seja consciente de quem é. Seja consciente do seu sangue. Seja consciente do


seu poder.”
29. Capítulo 29

Draco Malfoy

Já havia parado seu pé de bater nervosamente no chão pela segunda vez


enquanto escutava Severo Snape dar um relatório completo sobre como
andava a comunicação com os administradores dos outros fortes. Draco estava
impaciente com aquela enrolação. Não seria possível que aquilo fosse colocado
em dia em uma visita particular ao gabinete do mestre como todos os outros
faziam? Respirou fundo e parou o pé novamente quando percebeu que
continuava a movimentá-lo incessantemente. Era como estar em uma sala de
aula novamente com a voz constante e severa de Snape soando em um ritmo
perturbadoramente entediante.

- Lucio. – Voldemort voltou-se para seu pai assim que Snape calou a boca.
– Como anda a mudança dos departamentos?

- Perfeito. – adiantou-se seu pai. – Exatamente como o Lorde queria.


Conseguimos eliminar dois departamento e trocar as funções de mais dois nos
últimos oito meses. Estou começando a introduzir os rumores absolutistas do
novo governo. As pessoas tem aceitado a maquiagem dada no novo ideal.
Estarão prontos para recebê-lo fora do forte dentro de mais alguns anos, se
assim a guerra nos permitir.

- Excelente. Estamos trabalhando nisso. – disse o mestre e Draco pensou


que o próximo seria ele visto que a guerra fora mencionada, mas o nome do
secretario do tesouro veio em seguida.

Mais um tedioso relatório que poderia ser tratado em particular começou a ser
verbalizado ali. Draco já estava cansado de saber a movimentação da união de
Gringotes e a forma como os duendes estavam caindo nas estratégias do
mestre para entregarem o controle de todo o tesouro bruxo.
Seu pai se aproveitou da situação e se intrometeu quando viu uma
oportunidade. Draco ficou surpreso de vê-lo querer agir logo ali, mas conseguiu
entender com rapidez no momento em que secretario do tesouro se manifestou
um tanto indignado:

- Está querendo dizer que não sou capaz de exercer meu trabalho?

- Mestre. – Lucio ignorou o homens voltando-se para Voldemort. – Estou


apenas querendo dizer que centralizar a aplicação das estratégia com os
duendes a alguém que tem contato direito no círculo interno pode torná-los
resistentes...

- Eu já faço isso há quatro anos! – o homem insistiu.

- ...talvez se as estratégias viessem de vários lados diferentes. – Lucio


continuou o ignorando. – Tenho propriedade para dizer isso. Ganhei o Ministério
e estou conseguindo manipular a opinião da massa sem levantar suspeitas com
essa proposta, mestre. Apenas considere. Estamos tratando de duendes, eles
são muito mais espertos que a maioria das outras criaturas mágicas.
Conseguem farejar conspiração há milhas de distância.

- Eu os tenho sob controle!

Lucio riu.

- É óbvio que não tem. – voltou-se para o homem pela primeira vez. – Por
Merlin! Eles são duendes. Não se é possível ter controle sobre eles e se a ideia
for essa acredito ser muito arriscada. Podem estar abrindo Gringotes para você
agora, mas estão sempre com um pé atrás. – voltou-se para Voldemort. – Nós
estamos falando de mudar o controle do tesouro bruxo, mestre. Gringotes é
centenário. Não se pode confiar um trabalho desse a um homem apenas.

- Teríamos que trazer mais gente para o círculo interno. – Voldemort


comentou.
- Eventualmente. – confirmou Lucio. – Mas não gosto da ideia de termos
muitas cabeças aqui, sabe disso. Poderíamos abrir uma extensão que servisse
de fachada na catedral, dentro de um departamento talvez. Alguma extensão
que dependa dos serviços de Gringotes e do tesouro bruxo. – Draco pensou no
Seção da Cidade. – Talvez no Departamento da Cidade. – disse seu pai e Draco
quase sorriu. Ele era mesmo um maldito bastardo. Sabia jogar bem. – Isso
diminuiria o número de pessoas que precisariam ser arrastadas para o círculo
interno, talvez um. No máximo dois. Não mais do que isso.

- Mestre! – o secretário do tesouro clamou pela atenção de Voldemort. –


Acaso o decepcionei em algum momento para que desse ouvidos a alguém que
não trabalha no que temos construído todos esses anos?

- Tenho um objetivo claro. – Voldemort voltou-se para o homem. – Quero o


domínio do tesouro bruxo. Como conseguirei não depende de você. Posso
conseguir isso com você, dando ouvidos a Lucio, da forma como eu bem
quiser. Portanto não venha clamar pelo poder, a posição que tem ou seus
feitos. Se quer sentar nessa mesa, se quer ter respeito e influência, se quer ter
contato direto comigo. Prove que é capaz de cumprir com inteligência a tarefa
para a qual eu o designei. O que Lucio disse deveria ter vindo de sua boca, em
uma sessão privada onde teria me colocado a par de todo o relatório que
perdeu tempo comentando aqui, em uma mesa aberta. – o homem se manteve
calado e não ousaria abrir a boca novamente. Voldemort voltou-se para Lúcio.
– Sei que não teve tempo para desenvolver o que disse, apenas manifestou-se
ao encarar os fatos expostos aqui. Podemos desenvolver o que disse, mas
estou cansado de adicionar pessoas ao círculo interno. Se tivermos uma mesa
lotada, deixará de ser um círculo privado.

- Sei que não deveria interromper, mas realmente não me importo. –


Draco se manifestou, seu tédio era explícito, mas sabia que seu pai estava
esperando por aquilo e por mais que nunca fosse uma boa ideia interromper
uma sessão como aquela, Draco e Lucio eram Malfoys, sentavam-se nas duas
laterais do mestre, estavam no topo da hierarquia. Tinham o poder de voz. –
Não quero defender meu pai, sabe como me sinto com relação a ele, mas
estamos falando de um império mundial. Precisa fazer com que suas mãos
alcancem todos os lugares, vai precisar de gente, gente de dentro.

Voldemort não disse nada por um bom tempo. Draco sabia que ele estava
ponderando a situação levantada ali por Lucio. Tinha que admitir que seu pai
fazia um excelente trabalho contra o poder do mestre. A maioria daquelas
cabeças sentadas ali na mesa do círculo interno dos comensais eram obra dele,
uma obra que distribuía o controle e o poder do Lorde das Trevas nas mãos de
muitos que se diziam e se mostravam confiáveis e fiéis, nada mais do que isso.

- Sei que o círculo interno precisa crescer. – Voldemort se pronunciou. –


Trabalhei numa estratégia para isso, mas não desmereço o esforço da
importância do que dizem. – ele se referiu a Lucio e Draco.

- Como quiser, milorde. – não queria ter usado seu tom tedioso, sabia que
estava soando de forma rebelde, mas não conseguiu evitar. Ele deveria estar
recebendo informações de sua casa naquele instante, deveria saber como
Hermione estava.

Voldemort o encarou como se reprovasse a atitude e estivesse pronto para


coloca-lo contra a parede. Draco estava pronto.
- Me conte sobre a guerra.

- Sabe tudo sobre a guerra.

- Inclusive das suas duas últimas falhas tentativas em York.

- Já discutimos isso. – diferente do que os outros líderes ali, ele não


deixava para relatar nada em uma mesa aberta. Tratava disso em sessões
particulares. – Os cuidados para a terceira tentativa também já foram
discutidos. - ele não levaria nada daquilo para a mesa aberta, já era o
suficiente ter os homens de seu conselho dando “pitacos” em suas decisões. –
A mesa precisa apenas saber que assim que tomarmos York iremos seguir para
a eliminação efetiva dos rebeldes, como já discutido aqui antes.

Voldemort abriu um sorriso.


- Gosta de ser esperto, não gosta?

Draco mostrou as mãos.

- Gosto. – apenas respondeu. Voldemort não questionaria. Ser esperto


havia o feito vencer aquela guerra para ele.

- E por isso eu sempre o testo. – finalizou o mestre. – Nott. – desviou o


olhar de Draco para Theodoro sentado há algumas cadeiras. – Espero que
tenha conseguido resolver o problema com a imprensa. Se continuarem
soltando os comentários que fazem terei que encontrar outro governador para
o seu lugar. Precisa acertar sua relação com a Sra. Malfoy.

- A imprensa está sendo amenizada aos poucos, mestre. – Theodoro se


manifestou. – Tenho soltado notas diárias sobre as atividades do
departamento, fazendo com que tudo fique mais transparente ao público.
Hermione e eu também estamos trabalhando em nossa relação.
Estão? Os olhos de Draco foram imediatamente até ele. Theodoro apenas
piscou e o encarou calmamente de volta.

- Perfeito. – Voldemort disse. Draco não desviou seu olhar de Theodoro e


ele também fez o mesmo. – Acredito termos terminado por aqui, então. – foi o
primeiro a se levantar e quando o fez todos os outros o seguiram em respeito.
– Quero que saibam que o propósito da mesa aberta é discutirmos o império
como um todo, vermos as ações de cada um e como elas estão contribuindo
para o andamento do meu governo. A intenção nunca foi escutar como andam
seus departamentos ou tarefas. Que passo devem seguir ou que estratégias
devem tomar. Devem discutir isso comigo em particular. Que fique claro que se
essas sessões continuarem nesse ritmo, me sentirei obrigado a trocar cada um
de vocês e sabem bem o que faço com quem acabo descartando. – deu as
costas e foi embora.

Draco não desgrudou os olhos de Theodoro em nenhum momento. Theodoro


fez o mesmo. O comensais começaram a se dispersar e eles ficaram ali. Draco
queria ver quem desistiria primeiro.

- Será que você poderia ter sido um pouco menos rebelde? – Lucio
vociferou ao se aproximar dele.
- Não me diga como jogar o meu jogo. – seus olhos não desgrudaram do
de Theodoro.

- Nosso jogo. – seu pai concertou.

- Meu jogo. – disse e seu pai apenas soltou o ar impaciente e tratou de


sumir. Theodoro se moveu e Draco fez o mesmo se colocando exatamente no
caminho que ele tomaria até a porta. Aproximou-se. – Você não quer mesmo
brincar de me desafiar.

- Quem disse que estou te desafiando? – ele foi corajoso ao permanecer


naquela postura.

- Está mexendo com a minha mulher.


- Sempre tão possessivo com o que pensa ser seu, Draco. – Theodoro abriu
um sorriso discreto. – Só porque são casados não quer dizer que ela seja
inteiramente sua. Não creio que ela se entregou totalmente a você. Ela nunca o
faria. Você a possui apenas em um papel e Hermione é um ser humano. Ela é
muito mais do que a assinatura que a faz ser uma Malfoy. – ele se aproximou
mais e abaixou o tom da voz. – Pensa que Hermione é sua, mas não sei se
Hermione também pensa o mesmo. – Nott abriu um pouco mais o sorriso e
então passou por ele. Draco pensou estar livre da detestável imagem ao qual
ele estava se apresentando ali, mas ainda escutou a aquela detestável voz
continuar as suas costas: – Ela não parece ser um milhão de mulheres em
uma? – riu - É uma pena que eu nunca tivesse me permitido aproveitar dela em
Hogwarts. Não gostaria de perder a chance agora.

- Se tocar minha mulher é um homem morto.

Theodoro riu novamente.

- Você não me pareceu tão assustador o dia em que me viu beijá-la.

Draco sentiu suas entranhas revirarem, mas apenas cerrou os punhos e virou-
se para ele.
- Não é assim que eu trabalho. Me conhece. Não preciso parecer
assustador, preciso apenas vê-lo encarar a morte tendo a consciência de que
eu a coloquei lá. – o sorriso de Theodoro se desfez. – Desse jeito é melhor. –
comentou a nova expressão dele e o deixou seguindo o mais rápido possível
para sua torre. Assim que subiu todas as escadas e chegou ao hall do ambiente
comum. Tina o esperava. Estalou os dedos para que ela o seguisse enquanto
atravessava até sua sala. Quando sentou-se em sua cadeira, a mulher já de pé
a frente de sua mesa. – Me informe. – ordenou abrindo a pilha de pastas que já
haviam se acumulado em sua mesa. Ela já estava pronta com sua prancheta.

- Os bruxos da Comissão acabaram de confirmar a elaboração de duas


novas magias para a proteção do acampamento que pretende implantar no
centro de Yor...

- Não isso, Tina. – ele a cortou.

A mulher pareceu ficar confusa.


- Hum... – ela mexeu apressada em seus papéis. – Seu grupo de
conselheiros tem...

- Isso não. – a cortou novamente e de forma mais severa tendo que erguer
os olhos para encará-la.

Ela ficou ainda mais confusa. Mexeu em seus papéis franzindo o cenho como se
tentasse descobrir o que ele queria. Acabou puxando um pedaço de
pergaminho aberto.

- Bem... Hum.. – ela começou como se estivesse apostando naquilo


incerta. – Sua mãe mandou uma coruja com um recado sem selo.

Draco sentiu seus ouvidos apurarem instantaneamente e todos os seus sentidos


de alerta levantarem guarda. Tina continuava o encarando confuso. Ele estava
começando a se irritar.
- Diga logo o que está escrito. – detestava quando alguém era devagar
quando precisava que fosse rápido.

- Diz... – ela apertou os olhos para ler novamente, como se tivesse se


esquecido do que era. – “Ela acordou.” Só isso. Não me parece fazer nenhum
sentido.

Draco se levantou imediatamente.

- Faz para mim. – passou por ela. – Estou indo para casa.

- O que? – ela saltou os olhos e o seguiu. – Não posso fechar seus


compromissos! São muito! Além do mais, a Seção Financeira acabou de mandar
um memorando informando que não financiará uma nova tentativa em York
porque o Conselho não o apoia e se não atender a uma reunião com eles em
menos de uma hora até mesmo nosso orçamento mensal pode ficar
comprometido.
- Apenas os atrase, vinte minutos, meia hora. – a cortou. - Não me peça
para dizer como deve fazer seu trabalho. Preciso ir para casa, vire-se. – e foi
embora.

Não esperou que aprontassem sua carruagem e pegou uma do Catedral


pedindo para que fossem o mais rápido possível. Quando chegou aos portões
dos terrenos de sua propriedade teve dificuldades para atravessá-lo. A
imprensa estava amontoada ali desde que os carros da St. Mungus tomaram
conta do pátio da frente.

Assim que passou para o lado de dentro de sua casa foi recebido por uma
curandeira que carregava uma dúzia de pequenos frascos cheios de poções em
uma bandeja de madeira envelhecida. A mulher disse que Hermione havia
acordado não fazia mais do que duas horas, Draco pediu para que aprontassem
a equipe de medibruxos responsável por Hermione em um dos escritórios de
recepção daquele andar e apressou-se para subir as escadas e fazer o caminho
até seu quarto.

Sua mãe estava de costas sentada em uma poltrona ao lado da cama e


Hermione foi a primeira a o ver quando ele entrou. Ela estava sentada na beira
do colchão de frente para sua mãe usando uma camisola de algodão e tocando
os pés descalços no chão frio. Ela não teve nenhuma reação ao vê-lo, apenas
não tornou a encarar Narcisa.

- Draco. – sua mãe se levantou. – Não esperava que viesse.


- Preciso voltar para a Catedral logo. – ele anunciou.

- Então é melhor que eu deixe vocês conversarem. – ela disse e se afastou,


passando por ele e fechando a porta ao sair.

Draco se aproximou e tomou a poltrona sentando-se. Hermione permaneceu


em silêncio. Ele soltou o ar e acomodou-se colocando os braços sobre os braços
da cadeira e cruzando a perna. Encararam-se em silêncio por um tempo até
que ele finalmente perguntasse:

- Como se sente?

Ela piscou com calma tirando as mãos do colo para segurar as laterais do
colchão. Havia uma agulha em sua mão que era ligada a uma bolsa cheia de
um líquido cintilante porém translúcido pendurado num suporte de madeira.
- Estranha. – ela respondeu com uma voz fraca e rouca.

Era compreensível. Ela iria se sentir melhor depois alguns dias tomando as
poções que deveria e seguindo as recomendações dos medibruxos.

- Eles contaram o que aconteceu a você?

Ela assentiu.

- Narcisa me explicou.
Hermione havia sido vítima da própria magia colocada para que ela tivesse
mais chances de gravidez. Os medibruxos informaram que não era uma magia
simples porque o mestre havia feito diversas especificações e uma delas era
que a vida gerada por Hermione deveria ser protegida sob prioridade nas
circunstâncias mais extremas. Na teoria realmente era excelente, o grande
problema foi quando a magia reconheceu que Hermione estava gerando duas
vidas e não apenas uma. A magia entrou em contradição com si mesma
tentando identificar um deles como intruso para expulsá-lo embora preso a
característica de proteção incondicional. O corpo de Hermione acabou por
entrar em colapso como resposta a isso.

As chances de Hermione engravidar de gêmeos existiam, embora os


medibruxos tivessem trabalhado para que fossem chances pequenas. Haviam
dito que trabalharam na magia para que ela estivesse pronta para receber mais
de uma vida, caso acontecesse, mas que as especificações de Voldemort
haviam sido uma lista grande e que o tempo para verificar se tudo estava em
perfeita ordem não fora muito, o que acabou por colocar alguma dessas
especificações em conflito com outras. O importante é que Hermione estava
bem depois de três dias desacordada, estava livre da droga daquela magia e
precisava ser monitorada diariamente para que o crescimento dos dois fetos
fossem acompanhados com cuidado para receberem o que precisassem.
Voldemort não hesitaria em tirá-los de Hermione se caso algum deles tivesse
sido comprometido pela guerra que a magia havia travado nela.

- Gêmeos, certo? – Hermione comentou após desviar o olhar para longe do


dele.

- Gêmeos. – confirmou Draco.


O silêncio os seguiu por um tempo.

- O que pensa sobre isso? – ela perguntou.

Na verdade, ele tentava não pensar sobre isso.

- Espero que ao menos um deles seja menino. – acabou por dizer, mesmo
sabendo que aquilo não era só o que realmente pensava sobre isso. – O
que você pensa sobre isso?

- Ainda não tive tempo para pensar. – ela disse e eles entraram no silêncio.
Hermione trouxe novamente as mãos para o colo e as encarou analisando por
um momento a agulha em sua veia. - É realmente necessário que tenhamos
toda essa gente morando aqui em casa?
- Você passou por um trauma, está gerando duas vidas aí dentro e não a
quero em um hospital. – Ele disse e ela não contestou. Sabia que estar em casa
por mais grave que fosse seu caso, aliviava a situação para a imprensa. – Não
será por muito tempo. – também não gostava da ideia de ter pessoas tirando a
privacidade que tinha em sua casa. Lembrava-se de ter detestado Hermione
por isso quando haviam se casado, mas aprendera a conviver com ela. Haviam
criado a privacidade deles e não gostava da ideia de ter que abrir mão disso por
um tempo.

O silêncio novamente. Céus, como ele queria tocá-la. Suas mãos coçavam. Era
tão bom vê-la com as maças do rosto rosadas e os olhos vivos novamente.
Queria tocá-la para ter certeza de que não se quebraria ou de que era
realmente real, mas não se moveu. Apenas a observou quando ela se levantou
e arrastou o suporte de madeira consigo até a janela onde sentou-se
novamente.

- Voldemort sabe que são dois? – ela perguntou sem encará-lo.

- Sim. – ele respondeu.


Ela suspirou fechando os olhos.

- O que ele disse? – ela o encarou.

Ele não estava certo se deveria passar aquela informação para ela.

- Disse que precisará apenas de um. – foi tudo o que Voldemort disse.

Hermione apertou os lábios, fechou os olhos e cobriu o rosto com as mãos.

- Ele vai matar o outro. Vai esperar que nasçam, e vai matar o outro. – ela
disse com a voz apertada. – Especialmente se for uma menina. Irá matar os
dois se os dois forem meninas.
- Ainda não sabemos sobre isso...

- Mas iremos! Pode parecer que temos tempo, mas não temos, Draco! – o
encarou.

- Hermione. – ele se levantou – Vamos cuidar disso. São dois bebês! Sei
que temos apenas cinquenta por cento em cima dos dois por serem idênticos,
mas tenho...

- Não fale de porcentagens, Draco! São nossos filhos! Eles não são
mercadoria, não são negócios, são vidas! Não pode apostar em cima deles! –
ela tentou exaltar o tom da voz, mas saiu apenas um rouco cheio de
indignação.

Draco soltou o ar cansado.


- O que sugere então?

- Você sabe o que eu sugiro.

- Não, não sei.

Ela puxou o ar o encarando bem.

- Sim, você sabe.

A encarou confuso por alguns segundos, mas não demorou para que sua mente
clareasse. Puxou o ar e lutou para não revirar os olhos.
- Potter? – soltou com desgosto. – Acredite, Hermione, você não vai querer
carregar a culpa da morte de Harry Potter.

- O que eu não quero é carregar a culpa da morte de mais um filho...

- E também não quer a de Harry Potter!

- Eu fiz um acordo com o mestre!

- E acaso fizeram um Voto Perpétuo? Não acredito que seja ingênua de


pensar que ele é um homem de palavra!
- Eu não faria um Voto Perpétuo sem nem estar grávida ainda, Draco! – ela
se levantou. - Mas agora que estou, posso barganhar um se caso estiver
carregando uma menina ou até mesmo duas!

- O que te faz pensar que o Lorde das Trevas esperaria nove meses até que
você tivesse novamente a chance de lhe dar um herdeiro? Isso é importante
para ele, Hermione! Acha que ele quer essa criança para brincar de casinha
com minha tia Bella? Ele tem planos e sabe-se lá Deus o porque ele está com
tanta pressa!

- Eu acredito que Voldemort carrega uma maldita profecia com Harry a


muito mais tempo do que deseja esse herdeiro, Draco!

- E é por causa dessa profecia que nós precisamos de Harry Potter vivo! –
disse e viu Hermione trocar de expressão no mesmo instante. Aproximou-se
dela. Não gostava da ideia de falar sobre aquilo com pessoas desconhecidas
rondando os corredores de sua casa. – Temos um interesse em comum,
queremos que Voldemort caia. – abaixou o tom de voz. - Ele não irá descansar
enquanto estiver vivo, portanto precisa morrer. Alguém terá que matá-lo e esse
alguém não sou eu, nem você. Já há uma profecia que diz quem deve matar o
Lorde das Trevas portanto guarde Potter para o momento certo, Hermione.
Ela abriu a boca para contestar, mas tornou a fechá-la. Ficou em silêncio um
tempo embora não desviasse os olhos dele. Não parecia nada contente, mas ao
mesmo tempo seu olhar era angustiante. Fechou os olhos desistindo do que
quer que fosse protestar contra e soltou o ar um tanto frustrada, dando as
costas para poder encarar o pátio externo.

- Eu não sei o que fazer. – a voz dela soou baixa. – Como você consegue
fazer isso? Ficar tão calmo, tão centrado! Parece sequer se preocupar! – havia
um pouco de indignação junto com sua frustração. – Como consegue dizer que
vamos encontrar uma forma de lidar com isso? – tornou a virar-se para ele. -
Eu não consigo parar todos esses pensamentos. Não consigo parar de imaginar
o que Voldemort faria ou o quão horrível seria ter uma criança minha sendo
tirada dos meus braços, porque perder a vida que eu carregava da última vez
já me pareceu terrivelmente doloroso para que eu já me sentisse
suficientemente atormentada dessa vez. – ela puxou ar devido a sua corrida
com as palavras e então começou a andar de um lado para o outro
gesticulando como estivesse buscando as palavras para se expressar. – Eu
tentei. Desde que comecei a desconfiar que eu pudesse estar grávida. Tentei
deixar que as emoções, os medos e as inseguranças não tomassem conta de
mim. Tentei me manter confiante e inabalável como você sempre se mantém. –
puxou o ar novamente buscando oxigênio para continuar. - Quando te contei e
nós viemos para casa eu tentei ser otimista, tentei olhar para toda essa
preocupação, pressão e tensão sem deixar que elas me abalassem. Eu me
permiti sorrir, me permiti ficar feliz por estar grávida ao invés de me martirizar
por ter sido tão burra. Me permiti lembrar que na verdade eu queria isso. Me
permiti tentar apreciar sua companhia. E... – os olhos dela brilharam e sua voz
ficou apertada. – Foi bom. E... – ela puxou oxigênio novamente. – E parece que
esse susto foi algum tipo de punição por isso. Como se os olhos de Voldemort
estivessem a todo o segundo me vigiando a espreita do momento em que eu
sorrir para que ele possa me derrubar. Agora tenho que ter uma casa cheia de
medibruxos me cercando como seu eu pudesse vivenciar tudo de novo a
qualquer momento, sem poder saber realmente se essas duas vidas estão
mesmo bem, se estão se desenvolvendo corretamente, se a droga dessa magia
os afetou de alguma forma ou se vou mesmo chegar a tê-los um dia em meus
braços. – Ela parou e apertou os pulsos contra os olhos. – Merlin. Eu odeio
esses hormônios.

Ele sentiu uma urgência crescer. Queria ir até ela, segurá-la pelos pulsos,
trazê-la para si, tocar seus cabelos, mesmo que parecessem não tão macios
por aparentarem estar bastante embaraçados. Quis confortá-la e ter
consciência disso o segurou bem onde estava.

Lembrou-se da noite em que passou o anel de noivado a ela. Lembrou-se de


suas palavras. Lembrou-se de que não queria uma mulher derramando
lágrimas em sua casa. A diferença do que queria naquela época e do que queria
agora era baseado simplesmente na visão que tinha da mulher a sua frente.
Naquele jantar ela estava perfeita, incrivelmente sexy, elegante e tudo que ele
realmente conseguia enxergar era o belo e detestável pacote que ela era, cheio
de sangue trouxa nas veias, que ele não sabia se seria capaz de suportar por
mais de alguns minutos. Agora ele a via descalça, usando uma camisola de
algodão que parecia maior que o corpo, cabelos emaranhados e o que ele via
na verdade era uma mulher tão extremamente única que ele era incapaz de
rotular, incapaz de definir, incapaz de processar. Ele não entendia como
conhece-la a fazia parecer sempre mais incrível conforme os dias se passavam.
Ele não se entediava. Não se cansava. Isso a fazia ser tão absurdamente
interessante e tão loucamente mais linda, mesmo de camisola de algodão.

Ali ela não era a vaga imagem que ele tinha da Hermione que conhecera em
Hogwarts nem a que havia enfrentado durante os anos de guerra. Ali ela era
sua mulher, a que vivia debaixo do seu teto e sabia quais pratos ele preferia
para o jantar, a que deitava ao seu lado na cama, que sabia quais os dias que
mais o cansavam, a que horas levantava e a que horas dormia, a que conhecia
até mesmo a qualidade de seu sono. Ali ela era a mulher que sempre deitaria
em sua cama como uma Malfoy, a que sempre viveria na mesma casa que ele,
a que sempre estaria ao seu lado e a que o acompanharia nos seus melhores e
piores momentos. Ali ela era a única mulher com quem ele se via verbalizar
coisas que jamais colocaria para fora, a única além de sua mãe que conheceria
alguns dos segredos que ele jamais deixaria que ninguém soubesse e a única
que estava carregando o laço de sangue entre eles em sua barriga. E a única
que o fazia... sentir. Sentir demais.
- Hermione. – ele disse calmamente deixando-se apreciar como era
diferente toda vez que o nome dela saia de sua boca. – Preciso que olhe para
mim. – ela só tirou as mãos dos olhos quando soube que estava pronta para
fazer isso sem deixar que derramasse alguma lágrima. – Você já me conhece o
suficiente para saber que não faço promessas com facilidade. – se aproximou
mais. – Quero que saiba que é uma promessa quando eu digo que ninguém irá
tocar nos filhos que carrega. Eles também são meus. Que sejam um ou vinte.
Me arrependo o suficiente de não ter te feito essa promessa da última vez em
que esteve grávida.

- E como especificamente você pretende cumprir essa promessa quando na


verdade...

- PARE de pensar que é a única que é capaz de bolar uma estratégia aqui!
– ele a cortou sério o suficiente para fazê-la engolir qualquer outra palavra que
tivesse para rebater. A segurou pelos ombros e a fez encarar novamente
através das vidraças. – Consegue ver todas aquelas pessoas amontoadas no
nosso portão? Aquela será a nossa arma. A imprensa, o boca a boca, a imagem
que já temos diante da mídia. Jornais, rádios, revistas. O povo será nossa
arma.

Ela ficou em silêncio alguns segundos tentando entender o que ele havia dito.

- Aonde quer chegar? – ela indagou.


Draco aproximou sua boca do ouvido dela para poder diminuir o tom de voz.

- A imprensa saberá que está grávida logo. Faremos o favor de sermos


descuidados para que eles descubram sobre isso e então nós vamos nos tornar
as pessoas públicas mais ativas na mídia de todos os tempos. Seremos o casal
mais apaixonado que essa cidade já viu. Mãos dadas, abraços, almoços e saídas
ao parque. Deixem que nos fotografem, que nos façam perguntas, deixem que
nos acompanhem. Mostre-se feliz, amigável, gentil. Iremos passar que nada
poderia nos deixar mais feliz e nada poderia nos unir ainda mais do que a ideia
de receber filhos. Faremos com que as pessoas deixem apenas de se simpatizar
por nós para que passem a nos amar. Faremos com que os jornais e revistas
mais vendidos sejam aqueles que nos tenham na primeira página. Faremos as
pessoas esperarem ansiosamente pelo dia em que comprarão uma revista onde
estaremos felizes e alegres num dia de primavera segurando nossos filhos nos
braços bem na capa. Faremos com que nos amem tanto que a figura da nossa
família perfeita se torne intocável. O mestre não agiria contra nós tão
diretamente sem perder a qualidade de sua imagem para o público, o que é
algo que ele não se daria ao luxo quando precisa ser aceito por ele para se
livrar da proteção dos fortes e encarar o mundo. Até mesmo o Lorde das Trevas
sabe que é necessário simpatia para governar um império. Não pode ter as
pessoas apenas pelo temor, não todas, não o tempo inteiro. Precisa ganhar o
apoio delas e ele vem trabalhando nisso a um bom tempo, não iria destruir
esse trabalho para se tornar o terrível vilão novamente encostando na preciosa
e encantadora família Malfoy, amada e admirada por todos.

Hermione pareceu precisar de alguns segundos para processar aquilo.


- Voldemort saberia que estaríamos jogando com ele. – ela finalmente
disse algo.

- Deixe que ele saiba. Voldemort sabe que eu não sou como os outros
comensais, sabe que eu desaprovo muita das decisões dele, mas já me testou o
suficiente para não ousar questionar que estou do lado dele nessa guerra. Além
do mais, posso defender meus filhos porque Vodemort conhece a relação que
tenho com meu pai e foi ele quem aceitou o acordo de entregar meu herdeiro
ao Lorde. Seria natural que eu lutasse contra uma vontade do meu pai.

- Você não lutou quando ele induziu meu aborto bem na sua frente da
última vez.

- Porque eu posso muito bem não ter tido tempo de formar uma opinião
forte sobre a ideia de filhos naquela época, mas agora tive e quero protegê-los.
E não use esse tom acusador quando sabe como realmente me senti sobre a
última vez.

Hermione soltou o ar e fechou os olhos.


- Desculpe. – ela usou um tom muito baixo e mesmo assim ele ainda sentiu
que poderia revirar os olhos ao escutar aquilo.

Ela se desculpava demais e isso a fazia ser compreensiva demais. Ninguém que
ele conhecia ou que já conhecera era compreensiva como ela, nem mesmo sua
mãe. As vezes ele achava um tremendo exagero, mas ao mesmo tempo não
conseguia detestá-la por isso.

Deslizou sua mão dos ombros pelos braços dela. Estava a tocando e agora já
era tarde demais para recuar. Passou um de seus braços pela cintura dela e
aproximou-se ainda mais para colar seu corpo no dela. Céus! Ele não conseguia
descobrir o que é que corria cada extensão do seu corpo quando a tinha assim
tão próxima. Não era como o desejo por sexo, o desejo de olhar o suficiente
para os detalhes de uma mulher e sentir a urgência de arrastá-la para um
canto mais reservado, mas era tão forte e tão intenso quanto.

- Sei que será bem mais complicado. Construiremos uma base forte com o
público e ficaremos de olho para agir contra qualquer oportunidade que o
mestre tiver de chegar até nós. – concluiu para ela.
Hermione ficou em silêncio como se estivesse considerando toda a ideia.

- Nós... – ela sussurrou como se estivesse jogando ao vento e ele percebeu


o peso do que havia dito. – É isso que somos agora? É isso que eu e você nos
tornamos? Nós? – ela puxou o ar enchendo o pulmão e se afastou empurrando
com cuidado o braço dele para se libertar. Afastou-se antes de girar sobre os
calcanhares para encará-lo. – Me parece bastante para digerir. – ela começou.
– Mas devo confessar que você conhece melhor oLorde do que eu. Presumo que
esteja certo do que está planejando. – ela concertou a postura como se
estivesse tentando recobrar o orgulho. – Vamos ter que fingir bastante, espero
mesmo que esteja pronto para isso. – soltou o ar. – Mas se algo acontecer,
Draco. Eu não vou me importar com a droga da profecia o que você pretende
com Harry.

Ele soltou o ar lutando para não revirar os olhos. Ela estava insistindo com
Harry Potter.

- Certo, Hermione. Potter será nossa última opção. Última opção. – ele se
fez claro. – Enquanto isso iremos trabalhar com o que eu disse. Podemos
ganhar tempo jogando com Voldemort.

Ela o encarou profundamente como se quisesse passar que nada era mais sério
do que aquilo para ela. Quando pareceu ter certeza de que a mensagem
daquele olhar fora passado, caminhou passando por ele e voltando até a
cabeceira da cama onde puxou uma minúscula alavanca colocada do lado onde
Hermione deitava. Ela teve apenas o tempo de se sentar com cuidado e ajeitar
o suporte de madeira ao qual estava aprisionada antes de escutarem batidas
educadas na porta para então receberem uma das curandeiras que entrou
receosa e começou um atendimento cuidadoso em Hermione.

Draco apenas observou enquanto Hermione pedia pelas receitas daquilo que
estavam lhe dando e uma explicação detalhada de qual o tratamento que
estava recebendo. Ela era educada, sua voz saia completamente dócil e amável
em respeito a profissional que a atendia. Qualquer outra mulher que ele
conhecesse estaria lançando ordens no lugar dela e ainda exigindo que fossem
atendidas imediatamente ou haveria consequências. Hermione era gentil até
mesmo com elfos que não os serviam. No começo, ele achava que era uma
patética encenação, mas com o tempo aprendeu que aquela era apenas quem
ela era.

Enfiou as mãos no bolso e seus olhos se encontraram enquanto a curandeira


tirava a agulha de sua veia e lhe estendia um frasco de poção informando que
ela precisava daquilo para seguir para um exame dentro de alguns minutos.

- Preciso voltar para a Catedral. – ele informou.

Hermione assentiu sem mudar sua expressão. Ele precisou respirar fundo e
desviar o olhar rapidamente para curandeira para que ela finalmente
entendesse. Quando sua ficha caiu ela abriu um sorriso. Um sorriso tão
adorável que ele quase não se esqueceu de que ela estava fingindo. Ela
estendeu o braço e a mão até ele que se aproximou e a segurou.

- Queria que pudesse ficar. – sua voz doce quase o fazia sentir o mel
deslizar por sua língua. Ele desejou que fosse verdade.

Ele abriu um sorriso convincente. Podia ser um bom ator. Fazia isso há anos.

- Queria que pudesse vir comigo. – não era realmente uma mentira.

Hermione apenas sorriu.

- Mantenha-me informada. – ela disse e ele soube pelo olhar dela que era
um pedido sério.
Ele assentiu, segurou seu queixo e abaixou-se para beijá-la. Quando seus
lábios estavam contra os dela inalou seu cheiro para guardá-lo em sua memória
inconscientemente. Afastou-se e a observou abrir os olhos calmamente para
que ele pudesse ver o misto do âmbar e dourado que formavam sua íris.

- Te amo. – tentou soar o mais natural possível, como já tivesse aquilo


mais de um milhão de vezes, mas a verdade é que ele sentiu como se estivesse
vomitando um alienígena. Era a primeira vez que dizia aquilo e até mesmo sua
língua pareceu formigar ao pronunciar aquilo.

O sorriso de Hermione começou a se desmanchar e ele teve que segurar seu


queixo com mais firmeza para que se lembrasse que haviam olhos sobre eles.
Ela recuperou o sorriso, mas ele estava tão próximo que conseguia ver o olhar
intenso dela.

- Também te amo. – ela soou quase inaudível e engoliu a saliva depois


como se estivesse tentando passar pela garganta uma enorme pedra.

Ele selou rapidamente seus lábios nos dela mais uma vez e se afastou, virando-
se para a curandeira que detinha um sorriso sonhador nos lábios e um olhar
encantador. Era isso que ele queria, isso que ele precisava. Cada curandeiro
naquela casa deveria sair falando para o mundo que Draco e Hermione Malfoy
eram o casal mais apaixonado que já tiveram o prazer de observar.

- Você cuide bem da minha esposa. – disse a ela e a viu corar e assentir a
cabeça no mesmo segundo.

Deixou o quarto. Não contou dez passos e escutou a porta abrir e fechar as
suas costas. Suspirou virou-se para encará-la. Ela tinha um olhar furioso e veio
determinada até ele com os pés descalços sobre o carpete e a camisola de
algodão tão larga que deixava um de seus ombros nu.

- Não vamos dizer isso um para o outro. – ela cuspiu a ordem tomando
cuidado para manter o tom de voz baixo.

- Sim, nós vamos e...


- Eu não vou! – ela estava muito determinada. – Não estou brincando,
Draco. Podemos fingir o que for, mas não vamos dizer isso um para o outro.

- São só palavras, Hermione!. – ele vociferou aproximando-se. – Quer


colocar Harry Potter nas mãos de Voldemort para salvar nossos filhos mas não
quer usar estúpidas palavras vazias para o mesmo fim? Você é mesmo alguém
muito exótica!

- Você não entende...

- E não pretendo entender. – a cortou como ela havia feito antes. – Vamos
fazer isso com autenticidade. Como deve ser feito. Acostume-se. Agora volte
para o quarto, querida, e encha os ouvidos daquela curandeira de lindas
histórias falsas sobre Hogwarts e nosso espírito aventureiro no amor.

Hermione o encarou com os olhos faiscando e a postura feita como se estivesse


pronta para contra atacar. Por fim ela apenas bufou deu as costas e saiu
marchando de volta para o quarto. Draco soltou o ar e continuou seu caminho.
Desceu as escadas e encontrou sua mãe direcionando um grupo de jornalistas
devidamente identificados para dentro de uma sala privada. Ela estava
organizando a situação com a imprensa e ele se sentia grato o suficiente por
isso para ir até ela agradecer por estar fazendo aquilo. Era algo a menos para
se preocupar.
Seguiu para a seu escritório de recepção e assim que entrou a equipe de três
medibruxos, que consistiam em dois homens e uma senhora de meia idade, se
levantaram do sofá onde estavam sentados conversando aos cochichos. Draco
apenas passou por eles e se sentou em sua cadeira inclinando-se no espaldar
para se sentir confortável.

- Li o que me passaram. – abriu uma das gaveta da mesa a sua frente e


puxou a pasta que deixara ali. – Criação, inserção, funcionamento... bla-bla-
bla... – disse enquanto folheava os pergaminhos. Fechou a pasta e a jogou
sobre a mesa. Encarou os medibruxos a sua frente. Conhecia um deles. Havia
trabalhado para a Comissão por pouco tempo. Os três estavam em suas
perfeitas posturas, mas sabia que cada um deles temia pelo fim de tudo aquilo.
– Parece algo que demoraram bastante tempo para desenvolver.

- O mestre pediu com urgência. – um deles usou um tom exageradamente


respeitoso para se manifestar.

- Sim, sim. Já fizeram o favor de me dizerem isso mais de dez vezes nós
últimos três dias.
A mulher soltou o ar e tomou a frente.

- Sabemos que não há nenhum tipo de perdão pela nossa falha...

- Perdão? – Draco soltou um riso fraco. – Vocês quase mataram minha


esposa.

- Se leu os documentos que o enviamos sabe que tudo estava em perfeita


ondem.

- Na verdade, não estava. Se realmente estivesse ela estaria bem agora e


nada disso teria acontecido. Vocês claramente deixaram passar algo.

- Sim, e nós admitimos nosso erro!


- E acreditam que isso alivia a situação em que estão? – ele foi sério.
Nenhum deles respondeu. O silêncio pesou entre eles. Draco precisava fazer
com que se lembrassem que estavam com a corda no pescoço.

- Nós... – o homem que costumava trabalhar para a Comissão se


manifestou. Engoliu a saliva como se ela cortasse sua garganta e continuou: -
Nós preparamos tudo com muito cuidado. A intenção nunca foi que ela
atingisse esse ponto. Ficamos surpresos que isso chegou a acontecer, mas
estamos dando nosso melhor para que ela fiquei bem e para que tudo acabe
bem com os gêmeos que esta gerando. E sim, nós cometemos uma falha,
deixamos passar algo que não deveríamos, mas já fui parte da Comissão e sei
que não é um homem que sabe analisar muito bem as situações. Não teríamos
nos envolvido com isso se não fosse ordens diretas do mestre. Tenho certeza
de que já se sentiu encurralado dessa forma antes. Somos todos comensais
aqui e todos estamos presos a ele. Estamos fazendo nosso melhor, estamos
trabalhando com nossa melhor equipe e colocando todos os esforços nela.
Sabemos que tem o direito e o poder de tomar a decisão que quiser com
relação a nós, mas pedimos... – ele parecia desconcertado ou como se
estivesse buscando coragem para dizer o que Draco já sabia que ele ia dizer. –
Se talvez... – ele respirou fundo. – Talvez pudesse suavizar o nosso caso para o
mestre. – e se calou.

O silêncio entre eles gerou uma expressão receosa no rosto dos dois homens e
da mulher. Draco conseguia ver que eles preferiam muito mais estar no funeral
de alguém próximo do que ali.
- Devo lembrá-los de que quase mataram minha mulher mais uma vez?

- Senhor, entendemos...

- Me parece que não. – ele interrompeu. O silêncio novamente. Draco


suspirou e se levantou. Deu a volta na mesa e enfiou as mãos no bolso para
encara os medibruxos a sua frente. – O pedido que fazem exige de mim muita
generosidade, se querem saber, e estão no lugar errado para encontrarem
generosidade. Isso onde vivem é uma cidade de comensais, estamos todos
debaixo de uma ditadura e sabem muito bem que não há lugar para
misericórdia aqui.

- Sabemos bem...

- Não me interrompa novamente. – Draco usou de seu tom mais ríspido e o


homem recuou piscando desajeitadamente e arrumando os óculos sobre o
nariz. – Eu não sou um homem generoso. Se eu fosse essa guerra não estaria
quase ganha. Também gostaria de poder punir pessoalmente cada um de vocês
por quase me tirarem alguém que agora é o meu sangue, tem meu sobrenome
e é minha família. Mas... – puxou o ar e refez a postura. Os olhos deles se
tornaram atentos ao escutarem a última palavra. – Posso não ser generoso,
mas isso não me impede de ser sensato. – o olhar de esperança que surgiu
neles o fez enxergar o sucesso que conseguira ao coloca-los contra a parede. –
Claramente não houve o desejo de se colocarem nessa situação por parte de
nenhum de vocês, portanto não consigo deixar de imaginar que a punição que
certamente terão será evidentemente... – puxou o ar. – injusta. – concluiu
embora não achasse que fosse injusta. Injustiça é algo que eles há muito
tempo eles deveriam ter esquecido. E era exatamente por isso que Draco
precisava trazer de volta a eles esse conhecimento. – Sabemos que o senso de
justiça do mundo que vivemos hoje é muito diferente de como costumava ser
antes e obviamente concordamos com isso, se não concordássemos não
seriamos comensais e não estaríamos seguros debaixo da proteção do mestre.
– tinha que ser cuidadoso, claro. As cabeças a sua frente assentiram em
concordância quase que imediatamente. Draco deu as costas e caminhou pela
sala como se estivesse tomando tempo para pensar sobre o caso deles. Quando
finalmente achou que havia dado tempo o suficiente, voltou-se para eles e
disse: - Posso tomar conta do caso de vocês com o mestre. Estão fazendo um
bom trabalho com Hermione até agora visto o estado em que ela estava antes
e tenho certeza que terem o suficiente por outro deslize para que acabem
errando novamente. – voltou a se sentar em sua cadeira enquanto os via
conter o suspiro de alívio que queriam dar.

- Certamente, senhor. Nos lembraremos da sua... sensatez. – ele não iria


dizer bondade. – E o que quiser de nós estaremos a disposição para atende-lo.
Qualquer coisa. Acaso existe algo que possamos fazer pelo senhor agora?

Draco poderia sorrir por escutar exatamente o que queria ouvir, mas apenas
permaneceu neutro.

- Não. – respondeu embora já tivesse uma lista de pedidos que seria


atendida em seu devido tempo. Precisava que eles entendessem que Draco não
estava negociando nada em troca. – Concentrem-se em Hermione. Isso é tudo
que quero de vocês. – eles assentiram e Draco os liberou. Quando estavam
próximos a porta de saída, voltou a se manifestar. – Na verdade... – disse e os
medibruxos voltaram-se para ele com atenção. – Pode haver algo a mais que
seria interessante ter de vocês.

- Qualquer coisa, senhor. – disse o que parecia haver se tornado o porta-


voz.

- Quero ser o primeiro a receber toda e qualquer tipo de informação sobre


Hermione e os gêmeos. Assim como também quero que a atendam em
qualquer pedido que ela vier a fazer.

- Como quiser, senhor. – respondeu o homem sem nem mesmo hesitar e


todos os outros apressaram-se em concordar.

Draco tornou a dispensá-los e eles foram embora apressados como se


precisassem desesperadamente de algum canto escuro onde pudessem
livremente chorar o alívio das noites mal dormidas que vinham tendo. Draco
poderia sorrir pelo sucesso que havia tido, mas não conseguiu ver a
necessidade. Apenas levantou-se e seguiu seu caminho de volta para o pátio
externo.
Sua mãe apareceu descendo as escadarias da entrada principal chamando por
ele antes que entrasse em sua carruagem. Draco voltou-se para ela já
impaciente por saber que deveria voltar logo para a Catedral.

- Você deve falar com a imprensa. – ela disse assim que chegou até ele.

- Pensei que estivesse cuidando disso.

- Eles querem ouvir você, Draco. Eles querem respostas. Eu sou apenas a
outra Malfoy que pede por privacidade e não tem autorização para responder
perguntas pessoais.

Draco soltou o ar.


- Sei disso, mas sabe que não posso dar respostas a ninguém agora
enquanto Hermione estiver instável. Além do mais, eles sabem que eu tenho
uma guerra nas mãos e uma mulher de cama. Tempo não é algo que tem me
sobrado.

Narcisa suspirou.

- Certo. Mas não pode adiar isso por muito tempo. É sua casa que está
cercada por carros da St. Mungus. – ela disse e Draco assentiu. – Que horas
pretende voltar para casa?

Draco estranhou a pergunta.

- Ultimamente estou sem uma rotina. As coisas ainda andam um pouco


intensas e o mestre não me autorizou deixar Brampton Fort até ter algo mais
consistente sobre a gravidez de Hermione, portanto ainda tenho trabalhado em
dobro.
- Havia me dito que está dividindo mais as tarefas e que o novo plano com
York exige menos de sua constante atenção.

- Sei disso, mas...

- Precisa voltar para casa.

Draco franziu o cenho não gostando de ter sido interrompido.

- Eu quero voltar para casa, mãe. O que te faz pensar que eu iria preferir
uma noite conturbada e cheia ao invés de uma lareira e uma cama?

- Não é uma questão de preferência, Draco. Você tem uma esposa que não
está bem e o mundo sabe disso, precisa ser o marido atencioso e preocupado
mesmo que não queira.
Draco revirou os olhos.

- Não se preocupe porque eu tenho certeza que vai se cansar de ver o


marido atencioso daqui há alguns meses. – foi tudo que se prezou a dizer
deixando para atualizá-la sobre sua nova estratégia com Hermione depois. –
Apenas tente ficar com ela o máximo que puder.

Entrou na cabine e fez seu caminho de volta para a Catedral onde foi recebido
por Tina que tratou de apressá-lo para dentro de uma reunião com o Financeiro
que não estava nada amigável graças aos péssimos comentários que seu
Conselho vinha soltando nos últimos dias. Saiu de lá direto para um encontro
com a Comissão onde foi apresentado a nova magia que garantia uma melhor
segurança para a fronteira estável que iria precisar ao estabelecer um
acampamento no meio de uma zona dominada pela Ordem.

A Comissão estava desenvolvendo magias que ele nunca imaginara ser possível
desenvolver. Hermione tinha uma grande participação naquilo porque estava
passando a ter domínios sobre elementos identificados nas análises da nova
magia que a Ordem vinha usando, dessa forma ela era capaz de introduzir ao
grupo da Comissão o que vinha os fazendo avançar como nunca. Draco tinha
absoluta certeza que aquilo entraria para os livros de história. As vezes ele
simplesmente não entendia como Hermione podia ser tão brilhante. Eles
estavam avançando anos e anos de estudos em alguns poucos meses.
Sabia que deveria acompanhar o grupo da Comissão até a sala de simulação
onde provariam os benefícios da nova segurança junto com os planos para a
tomada do edifício escolhido para se tornar o novo acampamento no centro de
York, mas simplesmente não queria. Destinou um de seus líderes para essa
tarefa, ordenando que fosse reportado todos os detalhes e voltou para sua sala
assim que viu a chance.

Tina se surpreendeu por vê-lo novamente tão cedo e ele não deu nenhum
esclarecimento, apenas se fechou em sua sala onde encheu um copo de bebida
e se sentou em sua cadeira livrando-se da gravata e puxando as mangas da
blusa. Fechou os olhos e inclinou-se no espaldar ajustando-se
confortavelmente. A única imagem que não conseguia sair de sua cabeça quase
materializou-se novamente e ele pode sentir a estranha sensação em seus
lábios e sua língua. Algo como se estivessem dormentes ou formigando. Parecia
o preço por ter dito algo tão estrangeiro.

A reação de Hermione ainda o perturbava tanto quanto a sensação que o


perseguia por ter usado palavras que até poucos minutos atrás achara que
jamais diria a nenhuma mulher. Nem mesmo sua mãe havia tido a chance de
escutar aquilo de sua boca mais vezes do que o número de dedos que tinha em
uma mão apenas.

Eram palavras vazias, ele sabia que eram, mas não deixava de incomodá-lo.
Era quase como se fosse impossível dizer aquilo sem que não tivesse nenhum
significado. Pareciam palavras fortes demais para serem vazias. Não eram. Ele
sabia que não eram. Mas tentava se convencer de que eram.

E a reação de Hermione...

Abriu os olhos puxando o ar. Era incapaz de se deixar pensar naquilo sem ser
dominado por uma agonia que beirava o insuportável. Deu um longo gole em
sua bebida e puxou oDiário do Imperador dobrado de um canto de sua mesa.
Precisava de distração. A ideia de que Hermione havia escutado aquilo de sua
boca mesmo que não tivesse significado algum o perturbava loucamente. Não
Hermione. Por que logo Hermione?

Não tinha tempo para se dedicar a leitura do principal jornal dos fortes de
Voldemort fazia um bom tempo. Detestava não saber o que andava
influenciando a mente do público, mas estipular prioridades nos últimos dias
também era uma de suas prioridades e acabara descartando sua atualização
diária de informação.

Passou a primeira página quando não conseguiu se entreter com os textos


inúteis. Procurou por alguma atualização no caso sensacionalista que faziam
sobre os carros da St. Mungus em sua casa e não encontrou nada além de uma
nota sobre os Malfoy estarem segurando informações mais detalhadas sobre o
caso. Mais algumas páginas, chegando a uma parte mais informal do
informativo, achou algo realmente interessante quando visualizou a fachada
dos fundos de sua casa. A imagem não estava muito boa devido a neve que
caía constante, mas havia um zoom da mesma imagem logo ao lado mostrava
quem ele muito bem reconhecia como sendo ele e Hermione.

Não havia tido aquela visão dos dois, mas conseguia se lembrar bem daquele
dia. O dia que Hermione havia dito achar estar grávida. O dia em que ele havia
se cansado da louca rotina que vinha tendo e apenas foi para casa antes que
chegasse a enlouquecer. O dia em que achara graça por ver Hermione
incrivelmente linda mesmo usando uma bota de chuva vermelha maior que o
pé. Se lembrava bem de como era vê-la ali, sentada nos degraus de sua casa,
abraçando o próprio corpo ao tentar se proteger do frio e com os cabelos
esvoaçando na direção do vento. Eles haviam criado uma intimidade que o
assustava sempre que se dava conta. Era confortável tê-la por perto, vê-la não
tentar parecer a melhor das mulheres ou não tentar esconder seus defeitos.
Não tentar ser sexy para impressioná-lo nem fingir ser alguém que não é para
ter sua atenção. Ele gostava disso, gostava que ela mostrasse realmente quem
era sem ter receios, gostava de como isso a deixava tão absurdamente linda.
Sentia que podia ser o mesmo, que podia ser ele mesmo, que podia despir-se
de todas as suas máscaras e de todos os seus segredos mesmo que ela nem
tivesse consciência de metade deles.

“...e para aqueles que duvidaram de toda a história entre Draco e Hermione
Malfoy, para aqueles que julgaram que o romance entre eles não passava de
uma farsa apenas por se comportarem, na maioria das vezes, friamente um
com o outro em público. A mídia fez questão de divulgar uma história que mais
se assemelha a um conto de fadas do que apenas uma história de romance.
Isso gerou no público um apego pela figura do novo casal Malfoy de uma forma
que os grandes observadores ficam sempre a espera daquele momento em que
haverá uma troca de olhar amoroso, um momento em que vão dar as mãos de
alguma forma especial ou se beijarem em público. A grande verdade é que
Draco e Hermione Malfoy são apenas um casal apaixonado que se mantiveram
em segredo por tanto tempo que guardam seus momentos românticos para
espaços privados e reservados onde se sentem mais confortáveis, o que
qualquer casal normal faria. Fontes diretas da Catedral também informam
constantemente que o casal procura manter discrição em ambiente profissional
tanto quanto...”
Ele leu apenas esse trecho antes de voltar a se focar na imagem com o zoom,
onde conseguia distinguir a figura de Hermione, com as botas vermelhas, e a
sua logo atrás dela a envolvendo com uma manta. Draco franziu o cenho um
tanto confuso. Não havia nada romântico naquilo. Estavam apenas conversando
e ele apenas queria protegê-la do frio. Fora erro dela levar apenas uma manta
quando na verdade estava decidida a ficar exposta ao frio como ele.
Obviamente que ele havia se sentido tentado a se aproximar, mas não havia
nenhum tipo de intenção romântica naquele ato. Olhar aquela imagem
entretanto o fazia ter duvidas.

Quase balançou a cabeça para espantar alguns questionamentos que lhe


surgiram e se focou numa imagem diferente que havia logo ao fim do texto.
Era escura e demorou para que ele conseguisse entender, mas logo que a
entendeu quase largou o jornal sobre a mesa. Estava escuro, e o zoom não
deixava a imagem em sua melhor qualidade, mas conseguia distinguir bem a
sombra de sua figura e a de Hermione contra a luz do lado de dentro da casa.
Havia sido no mesmo dia, logo que eles haviam entrado novamente para dentro
de casa. Ele se aproximava calmamente, a cercava pela cintura e a beijava
enquanto ela confortavelmente colocava os cotovelos sobre seus ombros e
passava as mãos em seu cabelo. Eram apenas as sombras de seus corpos
fazendo aquilo contra a luz amarela de um dos espaços internos que ligava
para a varanda dos fundos, mas foi o suficiente para levá-lo de volta a
lembrança daquele dia, do sorriso que Hermione tinha nos lábios que faziam as
maças rosadas de seu rosto apertarem o canto de seus olhos e dar vida a cor
dourada de sua íris, da linguagem corporal leve e espontânea que ela adquirira
quando tudo entre eles ficou confortável e descontraído, do som do riso que
vinha do fundo de sua garganta, da sensação de sentir que poderia desacelerar
o tempo para observar os detalhes de tudo aquilo. Ele se lembrava
perfeitamente dos flashes dele se movendo até ela e passando os braços por
sua cintura. Se lembrava da sensação de ter seu corpo encostando no dela. Se
lembrava de cheirar seus perfume antes de fechar os lábios sem pressa sobre
os dela. Se lembrava da sensação em seu peito, como se pudesse sentir o calor
de próprio coração com vida. Se lembrava da vontade única que fora apenas
querer beijá-la sem nenhuma intenção que fosse de arrastá-la para cama ou
nada relacionado. Queria apenas senti-la, tê-la em seus braços, sentir seus
lábios macios e seu cheiro e calor de perto. Ele se lembrava bem e o fato de se
lembrar de tudo aquilo enquanto encarava aquela imagem o assustou por
inteiro. Acabou por realmente soltar o jornal sobre a mesa.
Aquilo era, de fato, romântico. Casais de verdade faziam aquilo e não era para
convencerem ninguém de nada. Casais de verdade faziam aquilo porque
sentiam vontade de fazer aquilo, porque fazia parte de serem casais de
verdade. Ele continuou a encarar a imagem estampada na folha de jornal sobre
a mesa. Ele e Hermione não eram um casal de verdade, por que haviam feito
aquilo? Por que ele havia feito aquilo? Por que tivera vontade de fazer aquilo?
Por que todas aquelas sensações?

Não podia continuar olhando aquilo. Fechou o jornal e o enfiou em uma das
gavetas em que guardava coisas desnecessárias. Levantou-se, encheu um copo
e o virou de uma vez. As sombras do jornal se movendo de encontro uma a
outra e a lembrança de ter feito aquilo atormentavam sua cabeça. Era quase
como sentir novamente o calor de Hermione e escutar o riso baixo preso em
sua garganta...

- Tina! – ele chamou pela secretaria. Precisava trabalhar, precisava se


ocupar. Ir para seu escritório tentar colocar a cabeça no lugar não havia sido
uma boa ideia.

A mulher não demorou para surgir preparada para receber as milhões de


ordens que ele sempre cuspia. Ela ficou de pé, intacta em sua postura
enquanto Draco apenas a observava vestida numa saia não tão curta, mas não
era longa e num terninho não tão decotado, mas também não tão comportado.
Ele manteve seus olhos sobre ela. Não era uma mulher comum, sem dúvidas,
era bonita. Sempre arrumava os cabelos loiros e curtos de um único jeito o que
valorizava o azul de seus olhos.
- Me chamou, senhor? – ela soltou um tanto desconfortável quando o
silêncio tomou lugar onde ela não esperava que tomasse. Ele apenas assentiu,
mas continuou em silêncio. – E-eu tenho recebido recados daqueles que
esperam alguma resposta com relação...

- Sei disso. – ele a cortou. Queria observá-la de boca calada. – Não há


necessidade de trabalhar nos meus compromisso de hoje. Apenas os cancele. –
ela fez menção de protestar contra, mas ele tratou de tomar o lugar da fala
dela. – Sei que estou cancelando muito os compromissos de ultimamente, mas
sei o que estou fazendo. – sabia que precisava se ocupar, tinha trabalho em
dobro para executar, mas talvez...

Deixou o copo e se aproximou dela. Tina Muller era uma mulher casada, ele
sabia. Tinha um filho pequeno, ele também sabia. Era uma mulher presa a um
homem que ele não conhecia e não se importava em conhecer. Eram uma
família irrelevante. Mas se realmente sabia algo sobre a mulher a sua frente era
que ela o desejava. Ela conseguia se vestir de modo que os detalhes
estragavam um pouco do comportado ao qual ela deveria se apresentar
sempre. Também costumava prender os cabelos sempre que sabia que ficaria
com ele em sua sala revisando papéis por muito tempo para que assim ele
pudesse ter a visão livre de seu pescoço até o decote simples, mas
significativo.

- Senhor? – ela soltou incerta, mas sem recuar e pareceu fazer a saliva
descer rasgando sua garganta.
Draco parou exatamente de frente a ela. Seus olhos azuis pareciam ainda mais
azuis de perto. Ela era realmente bonita. Deu mais um passo duvidando que ela
recuasse. Ela não recuou. Foi corajosa e manteve seus olhos exatamente
fixados nos dele. Draco ajustou-se de modo a ficar extremamente perto. Ele
precisava fazer aquilo. Tinha que fazer aquilo. Ela não recuou, não piscou nem
tentou desviar o olhar parecendo incomodada. Ele sabia que ela havia desejado
aquilo por muito tempo. Apenas ergueu uma mãos e fez a ponta de seus dedos
tocarem a base da garganta dela. Desviou seu olhar para encarar sua mão
percorrer a pele dela e envolveu seu pescoço. Ela tinha a pele macia. Tornou a
encará-la e ela agora tinha as maças do rosto bem rosadas, sua boca estava
entreaberta como se precisasse de mais oxigênio e as pálpebras de seus olhos
mexiam-se como se lutassem para não se fecharem.

- Você me quer, não é mesmo? – usou sua voz profusa e quase pode sentir
o corpo inteiro dela estremecer.

- Quem não o quer? – ela usou uma voz quase falha e inaudível.

Desviou seu olhar para a boca dela. Parecia macia como sua pele e ele queria
ter vontade de senti-la, mas não tinha. Os olhos dela não tinham o brilho do
verão que os de Hermione tinham. A boca dela não era tão rosada quanto a de
Hermione. Nem mesmo seu cheiro era tão bom quanto o de Hermione. E o
mais importante de tudo, ela não causava nele o efeito que Hermione causava.
Ela não o fazia sentir aquele calor em seu peito, um calor acolhedor e
confortável. Certas vezes quando tocava Hermione, ele tinha a impressão de
que conseguia sentir seu coração vivo e pulsando com intensidade.

Ali, encarando Tina, ele esperava pela ansiedade dominar cada pedaço de seu
corpo, esperava pelas sensações que iriam o fazer querer tocá-la, penetrá-la e
escutar os sons que fazia quando sentia prazer, mas nada daquilo chegava
como antes. Sua cabeça não se libertava da incessante análise que seus olhos
faziam. Não eram os olhos de Hermione, não era a boca de Hermione, não era
os cabelos dela, o cheiro dela, a pele dela. Não era Hermione. Isso o irritava.
Ela não podia ter tomando conta dele dessa forma. Ele costumava adorar
mulheres, todos os tipos delas e não conseguia nem mesmo se lembrar da
última vez que havia tido uma que não fosse Hermione. Não conseguia nem
mesmo entender como ou quando Hermione se tornara a única mulher com
quem se ocupava.

Passou seu polegar pelo lábio inferior de Tina. Ela fechou os olhos sem perceber
e puxou o ar. Aquilo costumava ser muito apelativo para ele, costumava
provocá-lo, mas nada aconteceu. Tudo que ela continuava sendo era apenas
uma mulher que não o interessava a sua frente e completamente domada por
ele. Sentia que do ponto em que ela estava já tinha o poder para fazer o que
quisesse com ela.

- O que quer que eu faça com você? – perguntou embora não tivesse o
mínimo interesse de fazer nada.
- O que quiser. – ela respondeu num tom quase inaudível novamente e
abriu os olhos para encará-lo cheia de expectativas e com um desejo
queimando em sua íris.

Draco poderia sorrir se não estivesse com raiva. Não achava possível que
tivesse perdido o interesse por mulheres. Continuou sério a encarando e talvez
isso tenha feito Tina finalmente perceber que embora a proximidade e o toque
dele desse sinais de que a queria, não havia desejo ou interesse em seu olhar,
o que a fez automaticamente recuar. Suas bochechas coraram violentamente e
ela engoliu novamente a saliva como se estivesse fazendo descer pela garganta
uma afiada navalha.

- Q-qual o propósito disso, senhor? – ela perguntou pigarreando para ter


sua voz de volta e tentando refazer sua postura profissional.

- Ter certeza de algo eu já sabia. – respondeu e passou por ela. – Cancele


meus compromissos. – e saiu de sua sala a deixando se questionar o que
diabos ele havia feito.

Draco podia dizer que sua paciência não estava cooperando com seu estado de
irritação naquele momento. Sua tentativa com Tina fora o pior colírio que
poderia ter jogado nos olhos depois de se ver romanticamente envolvido com a
única mulher que um dia havia desejado a matar e um jornal. Era como se
finalmente estivesse encarando com os olhos completamente abertos e limpos
quem ele costumava ser e quem ele era agora. Como tudo isso havia
acontecido sem que ele tivesse dado importância? Claramente havia notado, de
uma forma desleixada, mas havia notado. Por que não havia dado importância?
Essa era a pergunta e só existia uma pessoa que poderia lhe dar uma resposta.

Não demorou a encontra-la quando sabia bem onde todo o entretenimento ao


público acontecia na Catedral. Pansy parecia estar a meio caminho de uma das
saídas para um pátio externo onde poderia barganhar por alguma atenção na
mídia e se encontrava na companhia dos filhos do terrível casal Monet: Amélie
e seu irmão Lavern. Duas criaturas tão igualmente terríveis.

Aproximou não conseguindo evitar os contatos e comprimentos alheios. Pansy


logo e viu e parou no mesmo instante com os olhos travados sobre ele. Amélia
foi a segunda a vê-lo e puxou um sorriso de lado com a mesma rapidez que seu
irmão ajeitou a postura para mostrar seu refinado terno de milhões.

- Temos que conversar. – foi direto ao ponto assim que chegou até ela.

Lavern não deu nem meio segundo e tratou de se manifestar antes que Pansy
tivesse tempo:
- Lembro-me bem que havia prometido me deixar desenhar seu traje para
a Cerimônia de Inverno do ano passado. – ele usou de sua afeminada voz para
deixar aquilo sair num arrastado sotaque francês.

- Não faço promessas a ninguém. – foi tudo que Draco se limitou a


responder.

- Como vai o casamento, Draco? – Amélie foi quem não deixou que Pansy
se manifestasse dessa vez também usando de seu mais sexy sotaque francês.
Sua paciência estava se esgotando. Será que não haviam notado que a
conversa não era com eles? Draco sabia bem que a pergunta dela era uma
tremenda de uma indireta. Eles Haviam dividido algumas salas escuras no
passado com e podia dizer que, embora ela não fosse o seu tipo de primeira
escolha, a mulher tinha um tremendo poder de persuasão com o corpo. – Sua
adorável esposa foi ao nosso ateliê faz algumas semanas com aquela amiga
Astoria. Ela é uma mulher bastante interessante e educada, posso dizer. Sem
dúvida bonita e bastante inocente embora saiba se impor, por assim dizer. –
Amélie continuou a usar seu sotaque passando para um tom mais provocante.

Pansy a encarava fazendo sua expressão se transformar cada vez mais em


desgosto ao notar o jogo de Amélie para cima dele.
- Ele veio falar comigo. – Pansy a lembrou de forma nada amigável.

- Meu casamento está perfeitamente bem, Amélie. Fico grato que tenho
perguntado. – ele acabou sendo seco embora devesse ter soado educado. A
menção a Hermione havia o afetado, principalmente quando Amélie zombou de
seu espírito puro, e pensar nisso foi o suficiente para fazê-lo voltar-se
rapidamente para Pansy. – Temos que conversar agora.

- Estou numa reunião de negócios agora. – Pansy desdenhou voltando-se


para Draco. – Parece estar com raiva. Não me lembro de ter te atrapalhado em
nada.

- Eu disse agora, Pansy. – foi toda a saliva que se permitiu gastar ali e
passou por eles. Contou cinco segundos e Pansy já estava ao seu lado
acompanhando seus passos.

- Sua sala? – ela indagou.


- Não. Seu quarto. – ele não hesitou e se privou de ter que ver o sorriso
dela abrir ao escutar aquilo. Não queria se deparar com Tina novamente tão
cedo e precisava de um lugar onde ninguém poderia colocar os olhos sobre
eles.

Obviamente que a torre do quarto de Pansy não era muito distante do único
lugar em que a vida da Catedral fervia. Não passou poucos minutos e ele já
estava pisando no carpete púrpura do quarto dela. Tratou de se ocupar em
trancar a porta dela e lançar um silenciador e no minuto que virou-se ela já
estava fazendo o vestido que usava deslizar pelo seu corpo. Pansy não era o
tipo de mulher que se podava a usar roupas íntimas nunca. Ela estava sempre
pronta. Sempre.

- O que está fazendo? – ele uniu as sobrancelhas.

Ela sorriu.

- Nós não costumávamos perder tempo.


- Eu disse que precisávamos conversar não que eu precisava do seu tempo.

Ela revirou os olhos.

- Acha mesmo que eu iria perder tempo? – ela se aproximou depois de dar
tempo o suficiente para que ele apreciasse seu corpo nu de onde estava. –
Você tem me evitado por tempo demais para que eu perca qualquer chance.
Além do mais, nós não conversamos. Conversar para nós é apenas uma
consequência, Draco, ou se esqueceu de quem éramos? – ela ergue o braço
para passar pelo seu pescoço, mas Draco segurou seu punho antes que ela
pudesse concretizar seu ato com sucesso.

- Leu o Diário do Imperador hoje?

Ela mudou seu olhar para um entediado.


- Sim. – respondeu. – E não tenho o menor interesse de discutir noticiário.

- Sabe bem o porque estou perguntando isso.

Ela revirou os olhos e aproximou-se colando seu corpo nu no dele. Seria


hipócrita se dissesse que aquilo não o havia afetado. Não o afetara como antes,
era obrigado a concordar, mas também não havia deixado de ser homem e
como homem ainda era um alívio saber que de alguma forma podia reagir a
insinuação de Pansy. Hermione não havia tomado conta daquilo. Pelo menos
não daquilo.

- Eu sei o que vi e não me importo. – ela usou a outra mão para começar a
abrir os botões de sua camisa.

- Eu sei que você se importa sim. – a soltou.


Ela sorriu e ficou na ponta dos pés para deixar que ele sentisse o hálito dela.

- Certo, a verdade é que eu me importo sim. Fique satisfeito. Mas você


está aqui agora e posso ter uma boa ideia do porque. – Ela o tocou entre as
pernas ousadamente e ele decidiu que talvez não fosse uma má ideia o que
quer que estivesse se passando pela cabeça dela. - Eu sei do que precisa. – ela
sussurrou. – Precisa de uma mulher de verdade. Precisa do sexo que só eu e
você sabemos fazer.

E talvez ela tivesse razão. Embora sua intenção de ir até ela fosse escutar
sobre o que havia pensado da reportagem, no fundo sabia que era daquilo que
realmente precisava. Precisava tocá-la, precisava tocar outra mulher e Pansy
sabia fazer com que ele quisesse, mesmo que não fosse exatamente como
antes, sabia que consideraria um crime negá-la quando ela estava ali, sem
roupa nenhuma, o tocando e usando aquela voz.

Não foi mais do que alguns segundos de hesitação para fazer suas mãos e seu
corpo trabalhar junto com ela. Embora sentir Pansy contra ele fosse familiar e
não fosse nenhuma novidade, se havia alguém com quem ele deveria dar
aquele passo era ela. Não que estivesse inseguro, mas se ver bem longe da
tentação de tocar outra mulher que não fosse Hermione era o suficiente para
deixa-lo mais do que em estado de alerta.
O sabor dela, ele conhecia. Os sons dela, ele conhecia. O corpo dela, conhecia
muito. Assim como Hermione, Pansy era um campo inteiramente bem
explorado, mas diferente de Hermione, faltava algo. Enquanto suas mãos
tocavam cada parte exposta da pele quente de Pansy, enquanto seus hálitos e
salivas se misturavam, enquanto a domava como sempre havia domado e
batiam contra as coisas que haviam no caminho para cama, ele não se privou
de se sentir acuado e uma parte de seu cérebro o alertava constantemente
para esse fato. Não era nenhum desafio sentir desejo por uma mulher como
Pansy e sim, ele precisava tocá-la, precisava sentir quem realmente era. Era
um canalha, sempre havia sido, ser aquilo sempre havia lhe trazido algum tipo
de conforto, havia o construído como homem, precisava encontrar em qual
momento e porque havia imperceptivelmente deixado de ser um.

Quando ele a lançou na cama ela já estava completamente molhada para


recebê-lo, gemia loucamente pedindo por ele e ele ainda nem havia tido o
prazer de deslizar para dentro dela. Gostava de brincar com o corpo das
mulheres e era exatamente isso que faria com Pansy. Aquilo o ajudou a ficar
latejando para entrar nela. Ela se contorceu, puxou os lençóis, praguejou e
soltou todo o tipo de palavra pesada. Ele se lembrava de gostar daquele lado
dela na maioria das vezes, se lembrava de ficar excitado ao experimentar o
desespero bem expressado de Pansy, mas aquilo o incomodou. Quando
deslizou para dentro dela, o desejo lhe ardia pelo corpo inteiro e acabou por
tapar a boca dela para que pudesse apreciar completamente a sensação
daquele maravilhoso prazer físico. O ato obviamente fez Pansy ir a loucura, o
que começou a deixa-lo irritado.

Ele foi bruto. Ela gostou. Ela gostaria de qualquer coisa de qualquer forma. O
ápice de seu exagero verbal chegou quando ela começou a beirar seu orgasmo.
Por algum motivo ele queria acabar logo com aquilo e isso também o ajudava a
ficar mais irritado. Estava fazendo sexo e por mais que o desejo o consumisse
naquele momento, ainda não era o suficiente para deixá-lo completamente
alheio ao simples pensamento de que não estava apreciando aquele ato como
costumava e como deveria. Aquela pequena parte de seu cérebro continuava o
alertando que deveria se acuar.
Ela veio com um grito de que estava tento o melhor sexo de sua vida. Ele viu
espaço para finalmente poder acabar com aquilo. Não demorou a terminar seu
serviço sentindo-se aliviado por descarregar toda a energia que havia levantado
naqueles minutos e ainda mais aliviado por ter chegado ao fim. Encarou Pansy
abrir um sorriso tão satisfeito que parecia estar caminhando por algum tipo de
paraíso naquele momento. Foi naquele exato momento que algo lhe pesou.
Pesou em seus ombros, em sua cabeça e em seu corpo topo. Ele havia a usado
para sexo. Havia a usado para sexo como usara toda e qualquer mulher antes
de Hermione e nada havia ficado mais claro do que aquilo naquele momento.
Era diferente com Hermione porque com ela não era só sexo. Ele não a usava
para o prazer físico apenas já fazia um bom tempo, ele a usava para ter
também todos os outros prazeres adicionais que vinham com isso, a sensação
de satisfação, de liberdade, de leveza, de conforto e familiaridade de se sentir
vazio e completo ao mesmo tempo, de calor e bem estar. Não era apenas sexo,
era bem mais do que isso, o que estendia todas aquelas sensações para não só
quando estavam na cama, mas para quando conversavam, o que quer que
fosse, para quando permaneciam no mesmo ambiente mesmo que fosse em
silêncio, para quando agiam juntos como cúmplices, para quando dormiam lado
a lado, para quando até mesmo discutiam bravamente suas opiniões distintas
ou colocavam as expostas na mesa suas rivalidades.

Draco saiu de dentro de Pansy e jogou-se de costas na cama encarando o teto


de madeira escura. Nunca em sua vida havia tido a sensação de traição. Nem
mesmo quando trocou para o lado de sua mãe, no relacionamento entre seu pai
e ela, sentiu-se mal ou chegou a se desculpar com ela pelas mentiras que
sentira prazer em conta-la quando criança e adolescente. Mas enquanto estava
ali bem consciente da companhia de Pansy e do que haviam feito, sentia-se um
traidor. Um traidor por ter agido contra o que tinha com Hermione, sendo o que
tinha com ela o que quer que fosse. Ele se sentia um completo violador do laço
que havia criado com ela.

- Eu duvido que sua adorável mulher faça isso tão bem quanto eu. - Pansy
gemeu um riso de satisfação ao seu lado. – Ela parece ser muito rígida para te
satisfazer na cam...
- Cale-se Pansy. - foi tudo que ele se limitou a dizer ao interrompê-la
severamente.

Hermione podia não ser como Pansy na arte da sedução. Pansy não media
esforços e tinha muita consciência do que fazia e como fazia para chamar
atenção ou acender qualquer olhar que estivesse sobre ela. Hermione era sutil
e nas mínimas coisas ela superava qualquer decote ou rebolado de Pansy.
Pansy não tinha ideia do que era ver Hermione coberta apenas com uma
camisa sua aberta segurando em uma mão um pedaço de pergaminho e na
outra uma taça de vinho andando descalça e distraidamente sob a luz de uma
lareira. Pansy nunca havia tido a chance de ver a postura dela quando lia em
voz altas andando de um lado para o outro, completamente distraída de sua
própria sensualidade. Pansy não tinha a menor noção de como um único sorriso
de Hermione era capaz de fazê-lo deseja-la mais do que já havia desejado
qualquer outras mulher. Hermione era totalmente alheia ao fato de que tinha o
poder de seduzir qualquer homem sem a menor intenção. Draco não entendia,
mas havia algo no modo como Hermione se livrava dos sapatos, colocava o
cabelo para cima e alongava o pescoço de um lado e do outro massageando um
dos ombros assim que chegava em casa que ele simplesmente não conseguia
resistir. Pansy jamais entenderia aquilo.

- Você parece irritado. Sei que não está satisfeito com o que viu no jornal. -
Ela rolou ficando de bruços e balançou os pés no ar ainda com seu sorriso no
rosto.

Draco virou o rosto para encará-la.


- E está zombando disso com esse sorriso patético no rosto. – ele sabia que
Hermione jamais zombaria de qualquer coisa que ele estivesse sentindo, por
mais ridículo que fosse, e estar acostumado a isso o fez abominar Pansy
naquele momento, principalmente quando ela riu com vontade do que escutou.
Talvez ter convivido com ela por tanto tempo o ajudara a se esconder ainda
mais atrás de sua máscara fria e sua grossa camada de insensibilidade, como
se não se importasse com nada além de seus próprios ganhos e todo o resto
não passasse de uma grande roda de palhaços.

- Estou zombando do que eu normalmente zombaria, Draco. Você parece


sensível com o fato de estarem comentando sobre um envolvimento romântico
relacionado ao seu nome. Claro que sabia que estavam tirando fotos suas com
ela como sempre sabe quando a imprensa invade sua propriedade. Obviamente
é patético, você queria que uma reportagem como essa viesse a tona para que
pudessem ir contra aqueles que negam a “história” de vocês dois. – ela riu. -
Eu realmente esperei que viesse até mim para se desintoxicar um pouco da sua
árdua tarefa de cooperar com o mestre em sua péssima farsa com aquela
mulher.

Ele a observou intrigado por alguns segundos e não deixou de observar que em
qualquer outro momento do passado ele teria soltado uma risada daquilo que
havia escutado da boca dela mesmo que agora para ele isso o irritasse. Ela
estava falando de Hermione da mesma maneira que sempre falava, com
desprezo, e ele se lembrava de não se importar com aquilo, nem minimamente
sequer. Agora apenas queria apertar a garganta dela até que sua boca ficasse
roxa. Além do mais, era isso que ela pensava sobre o que havia estampado no
jornal? Que ele sabia que estavam tirando fotos dele e de Hermione? Que era
essa sua intenção?
- Eu não sabia. – ele disse.

- Não sabia sobre o que? – ela pareceu confusa, mas ainda com aquele
sorriso nos lábios.

- Sobre estarem tirando fotos minha e de Hermione quando estávamos em


casa.

Ela levou alguns segundos para processar aquilo, mas no momento em que
cada palavra dele fez sentido para ela o sorriso que havia em seus lábios
murchou.

- O que quer dizer?


- Exatamente o que escutou. Eu não sabia que haviam invadido minha
propriedade e não sabia sobre estarem tirando fotos minha com dela.

- Mas você sempre...

- Eu não sabia, Pansy! Lide com isso!

Ela ficou estática por mais alguns segundos como se estivesse tentando
acreditar. Como que num clique, ela deu as costas, se levantou, passou o robe
de seda pelos braços e o amarrou na cintura enquanto procurava em suas
gavetas pelo que logo apareceu. Era oDiário do Imperador daquele dia. Ela o
abriu sobre a cama exatamente na página em que haviam as imagens com ele
e Hermione e as observou atentamente. Draco sentou-se.

- Você não agiria assim com ela. – ela disse quase que tentando convencer
a si mesma. – Você a odeia, não a odeia? - Draco abriria a boca para dizer com
prazer e muita vontade que “sim”, mas não tinha tanta certeza dessa
declaração. Seu silêncio fez com que Pansy movesse seus olhos para ele. – A
odeia, não é? – insistiu ela. – Por que está a tratando dessa forma? – tornou a
olhar confusa as imagens. – Está a tratando como se... – ela pareceu repudiada
com o pensamento que se passou em sua cabeça. O encarou novamente. –
Gosta dela?
- Não. – ele apressou-se a dizer e se arrependeu no mesmo segundo. Não
é que não gostasse dela, mas também não era como se ainda a odiasse. O que
diabos sentia por ela?

- Então por que está a tratando... assim?– ela encarou as imagens com
desgosto.

- Eu não... – ele soltou o ar frustrado por ter que dizer aquilo. - ...sei. Eu
não sei.

Pansy ficou inconformada de ouvir aquilo.

- Você gosta dela... – soltou baixo para si mesma dando as costas e


passando as mãos pelos cabelos curtos agora. Puxou o ar uma ou duas vezes
até virar-se para ele furiosa. - ELA É UMA MALDITA SANGUE-RUIM! ACASO SE
LEMBRA DISSO?
Ela ter gritado o fez se sentir mais raiva. Detestava o descontrole de Pansy,
principalmente quando era completamente desnecessário, fora de hora e
ridículo.

- Ninguém aqui está gritando Pansy! – foi ríspido.

- Você não trata mulheres assim, Draco! Nunca tratou! – jogou o jornal em
cima dele.

- Nós estávamos conversando! – ele empurrou o jornal e se levantou.

- Não na última foto! – ela não parecia nem tentar diminuir seu estado
alterado. – Vocês estão claramente se beijando!
- Hermione e eu... – tentou pensar em qualquer coisa que justificasse
enquanto colocava sua calça. - ...fazemos sexo com bastante frequência e você
sabe disso.

- Há quantos anos nos conhecemos, Draco?! – ela estava indignada. – Há


quantos anos eu e você fazemos sexo? – ela puxou o ar e no mesmo segundo,
repentinamente e inesperadamente, seus olhos inundaram. Draco não soube
como reagir no momento em que ela não conteve aquela fraqueza. Pansy não
era assim. Ele parou. – Há quantos anos eu te faço companhia na cama, Draco?
– a voz dela tremeu. – Há quantos anos nós usamos um ao outro para se
satisfazer? – ela parecia lutar contra as lágrimas. – Você nunca me beijou
assim. – Draco encarou a imagem no jornal onde sua sombra se juntava com a
de Hermione calmamente. Ele tendo tempo para apreciar a sensação de passar
os braços em torno da cintura dela. Os flashes daquela lembrança o atingiram
novamente e ele pode apreciar mais uma vez o sorriso lindo que ela tinha nos
lábios, o brilho de seus olhos, o rosado das maças de seu rosto. O perfume que
ele se dera tempo de inalar antes de fechar seus lábios calmamente sobre os
dela muito consciente de que tinha um sorriso no rosto. Hermione o fazia bem.
Ele sabia disso. – Esse beijo não tem nada a ver com sexo, Draco. Você não
beija mulheres assim.

Ele sabia que não beijava mulheres daquela forma. Qualquer tipo de beijo que
dava em uma mulher era para incitar desejo. Sentou-se na cama calmamente e
puxou o jornal para poder observar mais uma vez aquela imagem. Aquele não
havia sido o único beijo que dera em Hermione em que não tivera a finalidade
de incitar nenhum desejo. Se lembrava bem agora de todas as vezes que caiam
exaustos um sobre o outro na cama, sorriam rapidamente satisfeitos pelo
desejo consumido e ele se deixava vencer pela tentação de se inclinar e colar
seus lábios nos dela uma última vez antes de se moverem cada um para o seu
lado. Se lembrava bem de quando estavam entrelaçados debaixo do chuveiro e
ele encarava fundo seus olhos antes de beijá-la uma última vez para então
seguir seu dia. Conseguia se lembrar de como se sentia grato ultimamente
pelas vezes em que era necessário colar seus lábios nos dela em público para
que pudessem disfarçar seu relacionamento para o resto do mundo.
- Gosto de beijá-la. Me sinto tentando a fazer isso com frequência. Me sinto
tentado a tocá-la, a ouvi-la e a tê-la por perto. Ela me faz bem. – ele soltou
aquilo baixo quando sabia que deveria guardar para si. Hermione gostava
quando ele jogava para fora e ele estava começando a perceber o quanto isso
ajudava em sua saúde mental. Ela sempre o escutava com atenção e nem
todas as vezes opinava ou o julgava, mas estava sempre disposta a escutá-lo,
dos seus pensamentos mais idiotas aos que mais o consumia.

Ela forçou um riso para mostrar sua incredulidade ao escutar aquilo.

- Ela te enfeitiçou! Te envenenou!

- Hermione não é a pessoa que você pensa que ela é, Pansy.

- Ela é uma Sangue-Ruim! Uma rebelde! Ela não pertence ao nosso mundo!
- E talvez seja por isso que ela é tão diferente!

- Diferente? – ela exclamou como se quisesse lhe passar um sermão. Como


se quisesse lhe abrir os olhos. – O que há de especial nela?

- Ela é autêntica, Pansy! – ele soltou o jornal e ergueu os olhos para ela
novamente. – Hermione é verdadeira! Ela não finge ser alguém que não é. A
imagem que ela vende para os jornais é puramente ela. As coisas que ela
pensa, as coisas que ela acredita, aquilo que ela defende. Não há mascaras, ela
evita as máscaras! Eu não sou o centro dos interesses dela, ela não me trata
bem quando não quer e se precisar soltar qualquer verdade na minha cara ela
não irá pensar duas vezes. Eu aprendi a respeitá-la! Não porque ela exigiu
respeito, mas porque ela demonstrou que o merecia! – soltou o ar. - Não é a
beleza dela, não é o modo como se veste ou como se comporta na frente das
câmeras, é quem ela é! A pessoa que ela é!

Pansy o encarou incrédula e em silêncio por alguns segundos.


- Quem é você? – ela soltou quase sem voz. – No que tem se
transformado? O Draco que eu conheço nunca deu valor a isso! Será que você
ao menos poderia escutar as coisas que está dizendo?

- Não tem o direito de falar isso, Pansy! O Draco que conhece é aquele que
te procurou todos esses anos apenas para sexo e distração. Você não sabe
sobre aquilo que dou ou não valor!

- Não elabore esse discurso para mim! Você nunca se importou realmente
com o que uma mulher tinha além de físico!

- Porque nenhuma mulher nunca me provou que eu deveria me importar


com algo a mais! Minha mãe até tentou me mostrar que eu deveria, Pansy!
Sabe disso! Astoria é um grande exemplo de que eu tentei dar valor ao que
parecia ter valor. A verdade é que nenhuma mulher até Hermione provou que
tinha algo e realmente merecia atenção, algo que me interessasse, que me
prendesse o pensamento, que me intrigasse, que me gerasse curiosidade. – ele
soltou o ar e desviou os olhos. - Hermione... – ela era diferente. – Ela é...
diferente. – Não havia outra palavra. Ao mesmo tempo que ela as vezes
parecia um grande livro aberto ela podia ser misteriosa ao ponto dele querer
abrir mão de sua herança para saber um único pensamento seu. – Sabia que
ela sabe cozinhar? – encarou Pansy novamente e a viu fazer uma enorme
careta de nojo.

- Como um elfo doméstico?


- Não, não. Ela gosta e aprecia cozinhar. Ela é boa, na verdade. Muito boa.
E não usa magia. – ele poderia sorrir ao se lembrar de como ela parecia se
sentia bem quando se dava a chance de cozinhar um bom prato. – Sabia que
ela gosta de ler de madrugada quando acorda sem sono? Que ela prefere
caminhar descalça sempre que tem a chance? Que ela adora olhar o fogo
queimar em uma lareira por horas? Que ela é fascinada pelo sol? Que ela sabe
praticar magia sem varinha? Sabia que ela, mesmo depois de todo o tempo que
passou aqui, ainda procura insistir no discurso que todo o mundo tem boas
intenções até que se prove o contrário?

- Ingênua.

- Na verdade nem tanto. Não é tão fácil derrubar Hermione. Ela pode dar o
benefício da dúvida a muita gente que não deveria, mas se realmente observar,
esse estranho método faz com que ela ganhe respeito com muita facilidade, até
mesmo de daqueles que você sabe que são os piores. – ele apenas deitou
novamente e puxou as almofadas da cama para apoiarem sua cabeça. – As
vezes até mesmo o som leve da respiração dela durante o sono parece gerar
curiosidade e cansei de me pegar a observando por longos minutos me
perguntando o que ela deveria estar pensando. – ele se permitiu esquecer que
Pansy estava ali. - As vezes me sinto tentado a saber quais são todos os medos
dela, todas as ansiedades, todas as expectativas. As vezes queria ter o poder
de barganhar pelos pensamentos dela. As vezes sinto que tenho a necessidade
de viver o mundo dela, enxergar através dos olhos dela e sentir as coisas que
ela sente para saber se existe algum tipo de esperança fora desse círculo de
pedras onde vivi a vida inteira.
Ele achou que iriam imergir em algum tipo de silêncio como costumava ser com
Hermione, mas não demorou muito para que a voz de Pansy soasse o fazendo
lembrar de que ela não era Hermione e de que ela não seria nem um pouco
compreensiva.

- Você não tem ideia do quanto está soando patético.

Hermione nunca teria dito aquilo de algum pensamento que ele tivesse
colocado para fora.

- Esse sou eu, Pansy. Você quem nunca teve o interesse de saber o que eu
era além do sexo e da minha opinião geral sobre o resto do mundo.

- Porque eu sei que não gosta de mostrar muito de você a ninguém!


- Não! É porque você nunca teve o interesse de realmente saber o que eu
sou. O que eu mostro ser é o suficiente para você e tudo com o que realmente
se importa é você. Quer que eu a ame, que eu te coloque no centro do meu
mundo assim como você me coloca no centro do seu. Quer que eu a queira,
que você esteja acima de todas as outras para mim. Tudo com o que se
importa, Pansy, é unicamente você. O seu mundo. A sua imagem. O seu poder
e a sua influência.

Ela ficou em silêncio. Ele também se calou. Mas ambos continuaram se


encarando. Poucas vezes na vida ele havia visto Pansy ressentida. Ela nunca
derrubava sua máscara. Sempre estava orgulhosamente com o nariz levantado
como se nada pudesse atingi-la, como se fosse de ferro e como se todo o resto
do mundo fosse inferior e devesse se render a ela no exato momento em que
aparecesse em cena. Draco não gostava desse lado dela e sempre que ela
deixava mostrar seu frágil recheio ele ficava muitas vezes em dúvida sobre
como lidar com aquilo.

Ela cruzou os braços trocando o peso de perna e tentou manter sua expressão
ríspida embora já não conseguisse manter longe o brilho exagerado nos olhos e
o nó apertado que engolia a cada quinze segundo.

- Diz isso como se me desprezasse. Como se eu não tivesse nem um pingo


de valor. – Dizer aquilo parecei machuca-la ainda mais, o que a fez precisar de
um segundo para puxar fundo o ar e tentar com mais vontade se manter de pé
sobre seu orgulho. – Sempre soube o que eu sou, Draco. Posso ser egoísta,
mas você também é.
- Eu nunca disse nem demonstrei ter orgulho de ser egoísta.

- Não faz diferença. – ela soltou. Draco não gostou, mas não se
pronunciou. Talvez para Hermione fizesse. – Não faz diferença porque nós
somos iguais e eu estive com você desde o começo. Sempre estive do seu lado,
crescemos juntos, nos divertimos, seguimos nossas vidas, mas sempre
terminávamos em algum momento aqui. Eu, você e a cama. Não vou aceitar
que depois de tudo que nós passamos você resolva se apaixonar por alguém
que não o merece. Alguém que sempre odiou e desprezou.

- Primeiro, eu não resolvi nada, Pansy. Tenho minhas dúvidas quanto a


gostar ou não de Hermione e você quer rotular isso como paixão? Segundo, o
que eu e você passamos de tão extraordinário todos esses anos? Nós
convivemos bem todo esse tempo porque tínhamos sexo. O que eu e você
passamos quando tudo o que realmente fazíamos de relevante era somente e
apenas sexo? Passei, em um ano com Hermione, mais do que eu e você
passamos desde que nos conhecemos!

- Diz isso apenas porque perderam um filho. – ela fez uma expressão de
descaso ao dizer aquilo e no mesmo segundo Draco soube que ela havia
cometido o pior erro de sua vida.
Ele se levantou sentindo o sangue fervendo em suas veias.

- Não abra a boca para falar sobre isso, Pansy. – Vociferou com o rosto a
centímetros do dela. – Não ouse abrir a boca sequer para mencionar ou eu
mesmo terei o prazer de cortar sua garganta.

Ela forçou um riso fraco e de desgosto.

- Por que veio aqui, Draco? Por que veio atrás de mim se de repente me
tornei tão desprezível e incapaz de compreender seu estado sensível e
patético?

Ele deveria ter aquela resposta na ponta da língua. Na verdade a tinha sim,
mas não sabia se poderia externá-la. Estava ali porque alguma parte de si não
permitia que Hermione fosse a única. Ela não podia ser a única. Não ela.
Deu as costas soltando o ar sentindo a raiva ainda incrustrada em suas veias.
Pegou seu cinto e começou a passá-lo pelo cós de sua calça. Precisava ir
embora dali.

- Vir até aqui não foi uma boa ideia. – foi tudo que concluiu. Atou o cinto e
puxou sua camisa.

- Draco! Acorda! Nós fizemos sexo! Quando sexo se tornou uma má ideia
para você?

- Eu não sei, Pansy! – ele exclamou voltando-se para ela já se sentindo


bem farto de tanta troca de palavras e da insistência dela. – Procurei você pelo
mesmo motivo que sempre a procurei. Sexo. Você o teve e assim será sempre
que eu quiser.

- Isso soa bem mais com o Draco que eu conheço!


- Que bom. Era isso que te incomodava, não era? – disse enquanto
ocupava-se com os botões de sua camisa.

- Não. Me incomoda saber que existe uma mulher te domando, te


moldando, te envenenando e você nem mesmo consegue perceber isso.
Permitiu que ela conseguisse te deixar nesse estado sem nem mesmo notar!
Me surpreende que você, de todas as mulheres que tem, foi cair nos encantos
de uma que não o merece, que não chega nem aos seus pés, que nem mesmo
o sangue que tem é puro. – Ela disse enquanto o observava se alinhar em suas
roupas novamente. Draco tinha que confessar que era extremamente incomodo
ouvir todas aquelas coisas de Hermione, mas apenas o fato de se incomodar
com isso quando antes costumava rir e concordar o fazia dar ouvidos a ela. –
Não sei como conseguiu enxergá-la como um tipo de anjo, Draco. Ela é
venenosa e altamente de baixo nível. Ela me ameaçou na Cerimônia de
Inverno.

Ele poderia ter facilmente soltado uma risada daquilo se não estivesse tentando
manter sob controle seu estado de desgosto.

- Hermione não faria isso. – disse quase que imediatamente.

Pansy riu.
- Viu?! Ela te dominou, Draco! Está duvidando de uma acusação minha
apenas porque é contra ela!

Ele parou e encarou Pansy já totalmente pronto e impecável novamente.

- Estou duvidando porque sei que ela não faria, Pansy, não porque é uma
acusação contra ela.

- Como pode ter tanta certeza?

- Por que ela não é uma de nós. Ela não é do tipo que faz ameaças de
graça.
- Mas ela se acha uma Malfoy agora.

- Ela é uma Malfoy, Pansy.

Aquilo a calou. Draco sabia o quanto aquilo a machucava. Pansy teria dado a
vida para ser uma Malfoy. A conclusão que ele via nos olhar feridos dela era
apenas a pura e dolorosa verdade do mundo dela. Hermione agora era parte de
sua família e parte de seu futuro independente do que acontecer. Ela não. Ela
era apenas uma mulher do lado de fora daquele círculo.

- Ela é sua família agora e vai defendê-la. Entendi. Ela deixou de ser
Hermione Granger há muito tempo para você. – Pansy usou uma voz baixa. –
Eu pensei que fosse ao menos ser sua amante como sempre fui todos esses
anos, mas depois de todo esse tempo em que você foi só um nome e uma
imagem que me olhava como se nunca tivesse me levado para cama antes,
perdi as esperanças de que pudesse tê-lo como sempre o tive. Ela o roubou de
tudo, inclusive de mim.

- Por que dá tanto poder a ela? – ele se aproximou. – Por que a acusa
como se ela tivesse o poder de me controlar, me dominar, me usar de
fantoche? Entenda algo, Pansy, Hermione não tem poder sobre mim. Ela pode
tentar o quanto quiser, mas eu quem tenho domínio sobre mim. Ela não me
roubou de absolutamente nada e ela não me roubaria porque eu sei que ela
não quer. Se eu não te procurei todo esse tempo é porque não quis. – soltou
um riso de desgosto. – Depois de todos esses anos e tudo que conhece sobre
mim não dá nem para encher metade de uma xícara de chá. – maneou a
cabeça decepcionado. – Eu vou ter você quando eu quiser. Vou ter ela quando
eu quiser. Vou ter a mulher que eu quiser, quando eu bem quiser. Foi sempre
assim, sempre será assim e não tente me convencer de que ela está me
domando. Ela não tem esse poder.

- Eu não estou tentando te convencer de nada, estou apenas te mostrando!


Será que o Diário do Imperador de hoje não foi o suficiente para jogar na sua
cara? – ela se aproximou mais. - Por que veio até aqui? Eu sei que me procurou
porque não consegue suportar a ideia de que ela está tomando conta da sua
cabeça. – Tocou seu braço. – Eu estive sempre do seu lado, Draco. E talvez
realmente não o conheça porque você se tornou tão intocável e inalcançável
depois do retorno do mestre, depois que sua família se desfez, depois de todo o
seu treino intensivo quando entrou para as zonas do quartel... mas eu não o
conheço verdadeiramente porque sei que não quer que ninguém nunca o
conheça. Eu sei disso e é o suficiente para mim porque você sempre quis que
fosse o suficiente e eu não iria ousar tocar em algo que você não quer que seja
tocado! Não consigo compreender o porque parece decepcionado com isso, mas
eu só quero que entenda que quando ela diz que não o quer, ela mente. É
parte do jogo dela.

- Ela não tem um jogo, Pansy! Ela não joga! Ela não conhecesse esse
mundo.

- Todo mundo sempre tem um jogo aqui, Draco. Você, de todas as pessoas
nesse lugar, sabe que todo mundo tem um jogo. Sempre há um jogo.
- Não ela. – ele sabia qual era o único jogo dela ali.

- Tem certeza?

Não. Seu ser racional sabia que nunca se podia ter certeza de ninguém.

- Pare, Pansy! Você já mostrou o suficiente e já me cansou o suficiente. –


afastou a mão dela, saiu de sua vista e deixou seu quarto.

Pensou que quando saísse dali iria se sentir melhor, iria se sentir exatamente
como costumava se sentir antes, como se tivesse conseguido barganhar um
bom pedaço de entretenimento para o seu dia. Mas não se sentia e em sua
cabeça um milhão de pensamentos fervilhava. Ainda estava a beira daquele
enorme precipício que só agora ele havia conseguido enxergar. E de todas as
pessoas, se surpreendia consigo mesmo por não considerar que Hermione não
tivesse um jogo, porque se havia algo que ser um Malfoy o ensinara, era que
todo mundo sempre tinha um.
**

Já era noite quando conseguiu passar novamente pela imprensa empilhadas no


portão de sua propriedade. Era absolutamente irritante tê-los ali e ainda mais
irritante que entraria em sua casa e saberia que estava entulhada de
funcionários do St. Mungus. Era quase a mesma sensação de quando havia se
casado. Chegar em casa sabendo que havia alguém ali com o direito de ficar
embora ele desejasse que fosse embora.

Havia tentado ocupar seu dia nas salas de simulação assim que deixara o
quarto de Pansy. Não foi bem como o esperado. Mesmo tendo cancelado todos
os seus encontros e discussões do dia, ter ido se distrair com o trabalho de
suas zonas o mostrou o quanto aquele dia havia se tornado um pesadelo. Seus
homens não estavam acreditando na causa que ele estava apresentado. Draco
sabia que era loucura tomar um edifício no meio de uma zona inimiga e fazer
dele um acampamento, mas ele precisava daquela opção e tentou vendê-la
mais uma vez aos seus homens. Ele costumava ser bom com as palavras, mas
sua cabeça estava em outro lugar e embora ele tentasse estabilizar seus
pensamentos como sempre conseguira para poder fazer seu trabalho como
deveria, não obteve tanto sucesso.

No momento em que pisou dentro de casa tinha uma certeza bem clara em sua
cabeça: Hermione não tinha o poder controlá-lo. Depois de deixar seu cérebro
processar o suficiente do que vinha vivendo, as palavras de Pansy, o que vira
no jornal e como sua perspectiva sobre muitas coisas vinham se distorcendo,
culpar Hermione fora a maneira mais objetiva de lidar com a situação, embora
soubesse bem que não fosse a mais racional.
Livrou-se de seu casaco no vestíbulo e avançou passando pelo hall até a sala
principal. As luzes estavam todas acessas como Hermione sempre ordenava
que estivessem. Parou em seu caminho para a escada escutando o som de uma
conversa enquanto abria os botões em seu pulso e dobrava as mangas de sua
blusa. Virou-se para encontrar uma das salas privadas daquele andar com as
portas abertas, o que o fez poder visualizar os dois medibruxos que cuidavam
do caso de Hermione conversando com a própria. Ela estava de costas, usava
seu longo robe de seda verde escuro que chegava a arrastar no chão, seus
cabelos estavam soltos revelando a cascata de cachos, ela assentia em
concordância com o que os medibruxos falavam e não havia mais nenhuma
agulha ligada a ela.

- Mestre Malfoy. – era Tryn a sua frente e a voz da elfa chamou atenção de
Hermione. Ela virou-se para olhá-lo quase que imediatamente e o sorriso que
abriu ao vê-lo foi apenas lindo. – Tryn precisa de ordens para saber se deve ou
não preparar a mesa de jantar.

Ele ignorou a elfa não entendendo o sorriso de Hermione embora estivesse


bastante fascinado por ele. Ela não estava fingindo porque os medibruxos
estavam ali. Aquele sorriso era verdadeiro porque faziam as maças de seu rosto
apertarem seus olhos dourados brilhantes. Não era só sua boca que ela linda,
seu sorriso também era, seus dentes, seus olhos, cada parte dela era
simplesmente magnífica. Ele achava tão injusto que ela fosse tão perfeita.
Hermione pediu licença educadamente aos medibruxos e avançou indo até ele.
Draco tentou focar que não deveria ser dominado ou tentado por ela, mas não
foi muito simples. Quando ela o alcançou ele já sentia seus lábios pressionando
suas bochechas num sorriso simples, discreto e sincero. Ele detestava como ela
o contagiava, como aquele sorriso o contagiava.

- Como está se sentindo? – ele automaticamente perguntou.

- Melhor. – ela usou sua voz madura e suave para responder. - Desculpe,
não tive tempo de falar com Tryn sobre o jantar. Não vou poder estar jantando,
mas não acho que você tenha alguma pretensão em pular a refeição.

- Por que não vai comer? – ele perguntou curioso.

- Concordei em fazer um intensivo essa noite com os curandeiros. O


tratamento vai ser um pouco pesado, vou ter que dormir em um quarto
separado, mas vai me colocar em perfeito estado amanhã mesmo.
Ele ergueu uma sobrancelha não muito certo se a escolha dela fora a melhor,
mas deixou passar ao se pegar preocupando com ela novamente. Voltou-se
para a elfa.

- Arrume a mesa só para mim. – informou a criatura e ela logo foi embora
com sua ordem.

Encarou Hermione e ela ainda estava ali as maças rosadas do rosto apertando
seus olhos vivos como ele nunca vira antes. Ele queria perguntar o que estava
a fazendo tão feliz. Se lembrava bem de ter deixado aquele casa pela manhã
com a lembrança de um olhar furioso dela, mas a realidade de estar encarando
aquele sorriso sentindo-se forçado a abrir um também era quase demais depois
do dia que havia tido e dos pensamentos que atormentavam sua cabeça. Fez
menção de dar as costas e seguir seu caminho, mas ela o parou colocando a
mão calmamente sobre seu braço enquanto dizia seu nome para ter sua
atenção. Ele parou e tornou a encará-la.

As maças do rosto dela rosaram ainda mais, ela desviou o olhar e seu sorriso
abriu mais quando ela disse num tom baixo e bonito:

- Vou completar doze semanas. - Foi o suficiente para fazer com que todo e
qualquer pensamento que o atormentava fosse varrido de sua cabeça tão
rápido quanto o fogo se apaga quando perde oxigênio. – Eu também... – ela
fechou os olhos como se estivesse lembrando de algo capaz de arrebatar até
mesmo seu fôlego. – Escutei o coraçãozinho deles.
- Eles estão bem? – foi a primeira pergunta que veio em sua cabeça. –
Digo, saudáveis.

Ela assentiu e o encarou novamente. Seus olhos brilhavam excessivamente. Ela


se aproximou mais.

- Preciso acreditar que são meninos. – ela quase sussurrou com aquele
lindo sorriso.

Ele sorriu. Foi tão fácil. Sua vida inteira ele sempre achava sorrir tão difícil e
desnecessário. Aproximou-se ainda mais, estendeu a mão e tocou seu rosto
não resistindo a sensação de senti-la, sentir o calor dela, mesmo que fosse só
com aquele simples toque.

- Como você consegue ser sempre a melhor parte do meu dia? – ele queria
que tivesse sido um pensamento apenas para ele, mas escutou sua voz baixa
externar todas aquelas palavras.
Hermione puxou oxigênio, suavizou seu sorriso, fechou os olhos, soltar o ar
calmamente e inclinou o rosto sobre a mão dele como se quisesse sentir mais
de onde aquele toque vinha.

- Eu queria que estivesse aqui. – ela abriu os olhos para encará-lo outra
vez. – Queria que também tivesse escutado. Eles são saudáveis. Os
curandeiros disseram que os dois estão saudáveis e estão se desenvolvendo
bem embora um esteja recebendo mais nutrientes do que o outro. – ela soltou
o ar fechando os olhos rapidamente outra vez. – Foi um alívio tão grande.

- Vou estar aqui da próxima vez. – ele disse e ela sorriu assentindo.

Eles usavam um tom baixo, como se estivessem sussurrando um com o outro.


Era bom, era o tom que usavam quando estavam na cama, no escuro, prontos
para dormir ou quando apenas não conseguiam dormir. Era íntimo, era só deles
e ninguém iria escutá-los, por mais que sua casa estivesse abarrotada de
gente.
- Obrigada. – ela sussurrou. – Eu sei que fez algo para que deixassem que
eu tivesse informações, para que eu pudesse escutar, ver, saber o que estão
fazendo comigo.

Ele assentiu. Sentiu uma enorme urgência em beijá-la. Queria sentir os lábios
dela contra os dele, era quase uma fome pela vontade de sentir a boca dela,
queria selar aquele momento que era só deles, só ela e só ele, trocando
palavras que não seriam escutadas por mais ninguém, palavras que pareciam
tão insignificantes, mas tão sagradas.

As vezes ele se sentia tão parte dela que era assustador. Tinha que haver uma
explicação, tinha que haver o porque de momentos como aquele. Distanciou-se
quando aquilo se tornou intimidador o suficiente, o que fizeram todas as
informações das últimas horas caírem sobre ele novamente. Como ela
conseguira fazer com que ele se livrasse delas por alguns minutos com tanta
facilidade? Informou que precisava tomar seu banho e ela apenas assentiu
liberando mais um de seus sorrisos dóceis, soltou seu braço e mover-se de
volta para os medibruxos que a esperavam.

Subiu até seu quarto sentindo os músculos tensos. Tomou seu banho ainda
com os músculos tensos. Desceu e comeu seu jantar sozinho com os músculos
tensos e durante todo o tempo que passou em seu escritório, mesmo
acompanhado de seu copo de whisky, seus músculos continuaram tensos.
Seus pensamentos giravam entre as palavras de Pansy e o quanto era mais
difícil do que ele esperava resistir a Hermione. Ele queria culpa-la, era fácil, era
prático, era o esperado e parecia a solução. Culpá-la a faria ser detestável, mas
ela não era. Ele não conseguia detestá-la, não mais. Sabia quem ela era agora,
a mulher que era, poderosa e frágil, sexy e doce, clássica e revolucionária.
Theodoro estava certo quando dissera que ela parecia mil mulheres em uma.
Pansy também estava certa porque ela o dominava, e ele a queria, todo o
tempo. Até mesmo naquele exato momento ele a queria. Queria que ela
estivesse ali sentada em alguma das poltronas com um livro na mão e uma
taça de vinho na outra, vestida em seu robe de banho com os cabelos presos
no topo da cabeça, o rosto corado sem a maquiagem que era obrigada a usar
sempre. Queria apenas a companhia dela.

Precisava trabalhar, principalmente depois de ter cancelado sua agenda do dia,


mas não era capaz de se concentrar. Isso o irritava. Ele tinha que voltar a ser
com Hermione o que sempre havia sido. Indiferente. Como faria isso com ela
em sua casa, carregando o título de sua esposa, gerando seus filhos, seus
herdeiros? Como ele poderia regredir ao estado de indiferença depois do ano
que haviam passado juntos, depois de conhece-la, conhecer seu coração, sua
genialidade, suas peculiaridades? Ela estava começando a fazer parte dele
assim como sabia que também estava começando a fazer parte dela.

Levantou-se frustrado deixando de lado a carta que fazia a Seção Financeira da


Catedral. Poderia pedir para que Tina fizesse aquilo. Se deu conta do quão
tarde era apenas quando regressou ao seu quarto e visualizou o relógio em
cima da lareira. Era estranho não ter Hermione ali. Enfiou-se em sua calça de
algodão tentando fazer com que a rotina do seu pré-cama fizesse algum efeito
sobre os músculos ainda tensos de seu corpo.

Quando já não havia mais luz, sentia o conforto de sua cama, suas cobertas
pesadas, seu travesseiro de penas e era obrigado a escutar o irritante barulho
distante da eventual movimentação que ocorria no corredores do outro lado da
porta de seu quarto, se pegou encarando o teto. Seus músculos ainda estavam
tensos e ele sentia o sono muito longe de alcança-lo. Tentou fechar os olhos
uma ou duas vezes mais sua cabeça não o libertava dos pensamentos que o
mantinham acordado.

Sua cama era fria sem o calor do corpo de Hermione ao seu lado. Havia se
acostumado a dormir com ela. Não era como se estivesse em algum
acampamento ou em algum outro Forte a milhares de quilômetros de casa. Era
completamente estranho deitar em sua própria cama, em sua casa e não ter o
corpo de Hermione ao seu lado. Ela era parte de sua cama, parte de sua casa e
chegava a ser incomodo não tê-la ali.

Sentia que precisava dela. Não somente porque parecia faltar algo quando ela
não estava ali, mas porque ela sempre tinha uma estratégia para
inconscientemente fazê-lo acabar dormindo sempre que tinha uma mente
turbulenta. Hermione sempre sentia quando pensamentos demais zuniam em
sua cabeça. Bastava somente ficarem no completo escuro debaixo da coberta e
minutos depois ela sempre perguntava em uma voz sonolenta o porque ele
ainda estava acordado. Ele dizia que estava pensando e ela sempre retrucava
dizendo que era normal que os pensamentos que ele guardava tanto para si se
revoltassem contra ele e não o deixasse dormir por ficarem sempre tão
trancados em seu cérebro. Ele achava graça que ela nunca insistisse para que
ele contasse nada a ela, mas encontrasse sempre uma forma ridícula de criticá-
lo por não fazê-lo assim que enxergava uma oportunidade.

Acabava sempre abrindo a boca para colocar para fora suas dúvidas, seus
ressentimentos e suas opiniões eventualmente. Na maioria das vezes era algo
relacionado a guerra, ou a Catedral, ou a seus exército, ou a grande
conspiração na qual ele havia a metido. No silêncio e no escuro ele despejava
para ela uma montanha de informações tão cansativas que sempre apostava
que ela acabaria caindo no próprio sono antes mesmo que ele chegasse a
metade. Mas ela nunca dormia. Colocava-se em cena perguntando seus “por
quês” ou expondo uma opinião sempre quando julgava necessário. Ele gostava
de quando se permitia que passassem por esses debates noturnos. Costumava
lhe trazer o sono que ele esperava que não chegaria. Também admirava
Hermione por ser capaz de abrir a boca com facilidade para dizer algo que
normalmente ele levaria dias para considerar em colocar para fora.

No momento em que ele se viu ali no silêncio, no escuto, com os minutos


passando lentamente e percebeu que seu sono não chegaria nunca, sentou-se
colocando as pernas para fora da cama e passou as mãos pelo cabelo.
Lembrou-se que a última vez a qual suas preocupações não haviam o deixado
dormir fora logo quando havia se casado com Hermione, quando os
Dementadores haviam desaparecido e ele precisou barganhar com Harry Potter
a retorno deles. O medo e a incerteza de que Potter não fosse a solução para
aquele problema o manteve acordado assim como o peso de ter que carregar
um colapso de Brampton Fort nas costas caso os Dementadores não
regressassem.

Levantou-se e com os pés descalços e vestido somente em sua calça de


algodão, abriu a porta da varanda passando para o lado de fora, esperando que
o frio acalmasse um pouco de sua mente atormentada. Não estava frio o
suficiente a olhar para a infernal imprensa amontoada em seu portão revirava
ainda mais suas entranhas. Voltou para o lado de dentro soltando o ar já
completamente impaciente. Ele precisava dela. Precisava de Hermione. Queria
que ela estivesse ali, deitada na cama deles, onde ele poderia colocar para fora
pelo menos um de seus pensamentos. Eles discutiriam até que finalmente se
sentisse cansado e acabasse dormindo com o som baixo e melodiosos da voz
dela sussurrando ao seu lado.

Saiu do quarto e no momento em que se deparou com uma curandeira


cruzando silenciosamente o corredor se lembrou de que haviam mais pessoas
ali além dele e de Hermione. Isso o irritava e ignorou a presença da mulher
passando por ela como se não tivesse a visto, nem visto que ela ficara
vermelha dos pés a cabeça.

Não sabia quais dos quartos Hermione estava, mas se fora ela quem havia
escolhido onde passaria a noite, ele tinha em mente um que ficava no corredor
oposto ao quarto deles. Draco cruzou o caminho passando pelo mezanino com
vista para uma das salas do andar de baixo que ligava a área externa dos
jardins e então encontrou o lugar com a porta aberta. Passou para o lado de
dentro. Hermione estava deitada em um divã de couro branco próximo a
lareira, que estava acesa exatamente como ela gostava. Havia uma curandeira
drenando seu sangue para fora do corpo e no exato momento em que os olhos
dourados dela voltaram-se para ele, Draco notou o quanto estavam opacos e
pesados. Pensou que talvez não tivesse sido uma boa ideia ir até ali, mas assim
que concluiu esse pensamento, Hermione abriu um sorriso fraco, porém bonito
e receptivo.

- Pensei que estivesse dormindo. – ela disse com a voz rouca. A curandeira
finalmente notou a presença dele e recuou corando violentamente enquanto
informava que aquele já era o último tubo de sangue.

- Pensei que você fosse estar dormindo. – ele retrucou.

Ela abriu um pouco mais o sorriso.


- Eu não posso dormir. Na verdade, não conseguiria nem se tentasse. –
disse e mostrou a mão com uma agulha que estava ligada novamente a uma
bolsa com um líquido cintilante.

Ele apenas se aproximou e observou a curandeira tirar o último tubo. No


momento em que o serviço dela acabou ali, ela moveu-se para mexer em uma
válvula próximo a bolsa ligada a Hermione e então apressou-se para sair do
quarto, fechando a porta.

- Ela vai voltar? – ele acabou perguntando.

Ela franziu o cenho curiosa pela pergunta, mas respondeu:

- Dentro de uma ou duas horas. Talvez.


Ele colocou as mãos no bolso e observou a mão que recebia a agulha.

- Isso a machuca? – ele perguntou.

Ela deu de ombros.

- Um pouco. – respondeu. – Os efeitos que causam no meu corpo


incomoda mais do que a agulha.

Ele pode notar que o rosa nas bochechas dela começavam a reaparecer. Talvez
fosse o líquido na bolsa que estivesse fazendo o efeito de reanimá-la. Seus
olhos gradualmente ganhavam brilho novamente.
- Que tipo de tratamento é esse?

Ela encarou a bolsa com o líquido logo acima dela e acomodou-se mais
confortavelmente em seu divã.

- Um dos bebês está recebendo mais nutrientes do que o outro. Eles


querem concertar isso. Também temem que o que aconteceu comigo possa
afetá-los daqui para frente, portanto precisavam me deixar no melhor estado
em que um ser humano saldável deve estar. Seria melhor que fizessem isso de
forma gradativa, mas eu não tenho todo o tempo do mundo para ficar em casa
com esse monte de estranhos. Receber doses altas de nutrientes de uma vez
só me colocaria em um estado que eu poderia ser capaz de conduzir por mim
mesma nos próximos dias até tudo voltar ao normal, mas precisa de um
intenso monitoramento. Não é a melhor escolha porque é cansativo e um pouco
doloroso, mas prefiro que as coisas voltem ao normal logo.

Ele tirou as mãos do bolso e sentou-se no divã próximo as pernas dela. Apoiou
os cotovelos em cada joelhos e encarou o desenho do tapete que estavam
sobre.

- As coisas nunca vão voltar mais ao normal. – acabou comentando.


Ela ficou em silêncio por um tempo o observando. Estendeu uma mão não
muito tempo depois e tocou uma de suas pernas com cuidado.

- Você parece mentalmente exausto. – ela usou sua voz baixa para
comentar. Ele tinha que confessar que se surpreendia todas as vezes que ela
notava seu estado de espírito com uma facilidade que nem mesmo sua mãe
tinha. Com uma dificuldade ainda aparente ela se sentou, continuou o
encarando e passou a mão por suas costas uma única vez como se tentasse de
alguma forma lhe passar um conforto rápido, mas muito consciente de que
aquilo era invasivo e não fazia parte de quem eles eram. Ele gostava da
sensação da mão dela em contato direto com sua pele, mesmo que fosse
rápido. As vezes quando faziam sexo as mãos dela o tocavam e percorram seu
corpo, braços, troncos e rosto como se ela estivesse lendo palavras gravadas
em sua pele. Eles se tocavam muito mais agora e não era mais tão intimidador
como antes. – As vezes eu acho que todos os pensamentos que guarda para
você um dia irão te matar.

Ele sorriu já sabendo que ela soltaria algo parecido com aquilo. Também se
surpreendia com o quanto ela o fazia sorrir em momentos que nem mesmo se
sentia descontraído.

- Estamos trabalhando para tomar um edifício em York para montar


acampamento semana que vem. – ele começou ainda encarando os desenhos
no tapete. - Apresentei ao Conselho a ideia que havia dito sobre consolidar um
acampamento na zona da Ordem e ir expandindo até que tirássemos a área
deles. O Conselho achou loucura, desperdício de forças, tempo e dinheiro, mas
eu insisti. Agora são as zonas que não estão convencidas da tentativa.
- Convença-as então. – ela disse confiante.

- Estou tentando. – aquilo foi o suficiente para que ela entendesse que ele
não estava tento muito sucesso.

Ela ficou em silêncio apenas alguns minutos, como se estivesse processando


toda aquela situação e fazendo seu cérebro trabalhar com a eficiência de
sempre.

- Já considerou que alguém do Conselho esteja interferindo na opinião do


seu exército?

- Eles sempre tentaram interferir na opinião do exército, mas nunca


tiveram tanto sucesso. As zonas reconhecem o trabalho que eu faço e o quanto
luto contra o Conselho para tomar minhas decisões.
- E você acredita que dessa vez o Conselho enteja ganhando seus homens?

- Talvez. – ele ainda acreditava que a nova estratégia apenas soava


diferente demais para ser aceita com a rapidez que ele precisava.

- Isso é ótimo. – ela o pegou de surpresa ao dizer aquilo. Ele ergueu os


olhos para ver um sorriso brando em seus lábios. Ficou confuso. – Não
consegue ver a chance a sua frente?

Não. Pensou imediatamente.

- O que quer dizer?


- Você sempre quis derrubar o Conselho, Draco. Ele te segura, te atrasa e é
sempre um elemento que você tem que saber manipular para vencer seus
jogos. – ela disse e aquelas palavras acionaram um ‘clique’ em seu cérebro
suficiente para conseguir fazê-lo enxergar finalmente o que estava na sua
frente. Ele piscou e cerrou os olhos ao analisar tudo aquilo com muita rapidez.
– O que Voldemort disse sobre o novo plano?

- Ele disse que ficará do meu lado caso tudo acorra como o esperado.

Ela abriu o sorriso um pouco mais. O Conselho fora criado logo que ele
assumira a guerra e o cargo de General. Algumas cabeças duvidosas e
maliciosas não confiavam muito que um simples garoto tivesse a mente
brilhante de vencer toda uma resistência e ganhar um império para Voldemort,
o que causou conflito o suficiente dentro do círculo interno para fazer com que
o Lorde criasse um Conselho que supostamente deveria guiá-lo, para conter os
ânimos daqueles que queriam voar em seu pescoço por alcançar a cadeira ao
lado do trono do grande mestre das trevas.

- Eu estive presente em todas as reuniões do Conselho em que você


insistiu que o método convencional que haviam usado para vencer a guerra não
funcionaria agora que a Ordem não parecia tão frágil quanto aparentava. As
duas tentativas foram falhas e agora o Conselho também está contra você
porque está tentando um método diferente. Draco, se você tiver sucesso, pode
usar isso contra o Conselho e também poderia facilmente fazer a opinião de
suas zonas para que se revoltassem contra ele. – ela tinha muita razão. –
Voldemort não pensaria duas vezes em desfazer o Conselho se você provar a
ele quem realmente está o impedindo de consolidar seu império. Você ganharia
um ponto com ele e ainda se viria livre do Conselho, o que te faria, de uma vez
por todas, comandante direto do exército. Ninguém mais iria te segurar ou
limitar seu poder.

Ele cerrou os olhos não acreditando que não havia enxergado aquilo antes.
Encarou as próprias mãos e acabou por sorrir e tornar a encarar Hermione.

- Eu te treinei bem. – disse com seu sorriso.

Ela riu um riso fraco, mas significativo.

- A verdade é que me surpreende que não tenha visto isso antes. – ela
disse – Sei que existe algo a mais o incomodando porque normalmente teria
visto essa chance antes mesmo que ela existisse.

Tornou a encarar o tapete. Sim, existiam milhões de outras coisas que o


incomodava. O fato de estar ali com ela tendo a certeza de que nem se
estivessem fazendo sexo estaria se sentindo tão bem era um deles.
- Você me deu um bom susto aquela noite. – optou por dizer.

Ela sorriu gostando de ouvi-lo dizer aquilo.

- Estou bem agora. – sua voz foi doce, mas foi informação o suficiente para
fazer com que ele entendesse que ela sabia que não era aquilo que realmente o
incomodava.

- E o fato de serem duas crianças...

Ela riu baixo.


- Também estou processando essa parte. – sussurrou.

Sorriu com ela, mas não conseguiu mantê-lo quando percebeu que suas mãos
suavam. Precisava dizer a ela. Precisava que ela soubesse. Isso o consumia.
Por que precisava que ela soubesse? Uniu suas mãos sentindo que precisava se
livrar do suor e respirou fundo. Hermione acompanhava aquilo com os olhos,
em silêncio e obviamente na expectativa de entender qual era o problema.

- Draco? – ela usou um tom baixo e incerto para chamar sua atenção.

Ele puxou o ar mais uma vez e usou seu tom mais neutro para dizer:

- Fiz sexo com Pansy hoje.


O silêncio o seguiu. Hermione não seu moveu nem mesmo desviou o olhar dele.
Segundos depois ela apenas afastou a mão que estava em sua perna. Ele
esperou pelo momento em que ela fosse perguntar o porque ele estava dizendo
aquilo, embora soubesse que Hermione seria muito mais inteligente do que
aquela pergunta previsível, primeiro porque ela não iria demonstrar ciúmes ou
nada relacionado, segundo porque ela já sabia que ele estava se permitindo
externar aquilo que o incomodava. Ela apenas engoliu a saliva como se
estivesse engolindo uma navalha e fez sua voz sair rouca e confusa:

- Por que isso está o perturbando?

Ele deu de ombros, mostrou os mãos e negou com a cabeça.

- Não sei. – o silêncio o seguiu novamente e ele massageou sua mão


tentando se distrair do quanto ele o incomodava. O que será que estava se
passando pela cabeça dela naquele exato momento, depois de ter escutado o
que ele havia dito sobre Pansy? Será que ela estava tendo a sensação que ele
tinha? A sensação de que havia quebrando um laço importante? De que havia
feito algo estúpido? De que depois disso não havia como voltar atrás, não havia
mais como concertar o que ele havia secretamente destruído entre eles? – Eu
não toco em nenhuma outra mulher que não seja você faz um bom tempo,
Hermione.

Hermione uniu as sobrancelhas um tanto surpresa.


- Não?

Ele a encarou.

- Como eu poderia? Eu tenho você. Surpreendentemente me tem sido o


suficiente e também... somos casados e... - sua voz morreu não sabendo
exatamente como terminar seu pensamento.

- Somos casados e você não quer se sentir como seu pai. – ela fez o favor
de concluir. Ele se viu obrigado a desviar seu olhar do dela tornando a encarar
suas mãos. Ainda não entendia como o cérebro dela trabalhava tão
perfeitamente, como ela conseguia captar tudo tão rápido, como ela conseguia
compreendê-lo, entende-lo, enxergar sempre a frente. – Draco, eu não sou sua
mãe e você não é seu pai.

- Mas estamos na mesma situação que eles aqui nesse casamento.


- Não, não estamos. Você não é o centro do meu universo. Eu não vivo por
você.

- Minha mãe não vive pelo meu pai.

- Mas ela o ama e eu não amo você, Draco. – a voz dela saiu confiante pela
primeira vez. Aquilo fez com que ele se lembrasse daquela manhã quando ela
se vira obrigada a dizer que o amava para que uma simples curandeira ouvisse.
Ele a encarou se lembrando de como ela se enfurecera com aquilo. Ela levava
aquilo a sério. Draco apenas achava que ele não. Apenas achava. – Essa é a
diferença. – a voz dela normalizou-se, mas ele conseguia enxergar o
ressentimento no fundo de seu olhar. Por mais que ela estivesse começando a
ficar boa em esconder suas emoções como uma Malfoy deveria, o olhar dela era
sempre um livro aberto, ou talvez ele apenas tivesse aprendido a lê-la o
suficientemente bem. Estendeu sua mão para tocá-la, mas ela se afastou.
Havia sim um tipo de ressentimento naqueles olhos dourados. Como se
estivesse decepcionada, mas não com ele, com ela mesma. – Nós dois sabemos
que esse casamento é apenas um documento com nossas assinaturas e nada
mais do que isso. Desde o começo sabíamos que não precisávamos ser fiéis um
ao outro. Eu não espero que seja fiel. Nunca esperei. Não é necessário que se
perturbe por ser apenas quem é só porque está ligado a mim agora. Pensei que
havíamos deixado isso claro entre nós desde o começo. – surpreendentemente
a voz dela fora fria e seca embora ainda tivesse um tom calmo.
Ela terminou seu discurso com os olhos fixos sobre ele, como se esperasse pelo
momento em que ele fosse discordar de algo ali. Ele não discordava, eles
haviam deixado aquilo bem claro desde o começo, mas o começo era diferente.
E a forma como se tratavam agora? E a filha que haviam perdido? E a forma
como faziam sexo, como se tocavam, como se olhavam? Ele se importava com
ela agora, não se importava com ela antes. Será que ela não se importava com
ele agora? Será que ela continuava a não se importar com ele como antes?

- Hermione, nós vamos ter dois filhos. Dois filhos com os quais nós dois
iremos nos importar. Eu cresci achando que tinha uma família perfeita, que
meu pai era algum tipo de herói inteligente e esperto demais para esse mundo
e que minha mãe era sortuda por tê-lo como família, por me ter, por ter todo o
luxo que temos e ser parte de um sobrenome que já tem um legado na história
do mundo. Você não tem ideia do quanto foi perturbador ver toda essa fantasia
que eles criaram desmoronar.

- Nós não vamos mentir para os nossos filhos, Draco. Eles vão crescer
entendendo nosso relacionamento. – a voz dela ainda estava fria, como se
estivesse jogando palavras que era obrigada a dizer.

- Nenhuma criança quer viver em um lar com uma mãe e um pai que se
suportam pelo bem de um documento e uma linhagem, Hermione.

Ela se calou o encarando dessa vez como se estivesse entendendo o que se


passava na cabeça dele, como se estivesse enxergando que aquele era um
problema que ele carregava consigo desde a infância, como se estivesse
entendendo finalmente em qual terreno eles estavam pisando.

Draco não havia sido enganado pelos pais a vida inteira. Qualquer pessoa,
sendo ela criança ou não, com discernimento e razão o suficiente para
diferenciar frio e calor saberia que seu pai e sua mãe viviam atrás de uma
fachada. Draco apenas se recusara a enxergar, olhar a ferida e lidar com ela
por muito tempo. Esperou até que alguém fizesse isso por ele. Esperou até
Voldemort.

- Você nunca falou sobre isso antes. – ela foi cuidadosa.

- Porque não gosto de falar sobre isso.

- Não. – ela foi clara. – Não fala porque te machuca.

Ele soltou o ar e se levantou achando aquilo demais.


- Não seja ridícula.

- Você sabe que eu estou certa.

Foi até a janela e a escancarou precisando do vento gelado contra seu rosto ao
invés do irritante calor da lareira que ela tanto gostava. Ele não gostava de
pisar naquele terreno. Não gostava daquele assunto. Não se sentia confortável
nem consigo mesmo quando pensava sobre ele.

- Eu não quero parecer como o meu pai para os meus filhos. – disse depois
de sentir vento o suficiente contra o seu rosto capaz de congelar pelo menos
um pouco de seus pensamento.

- Então não pareça.


- Não é tão simples assim.

- Por que?

Ele soltou o ar já farto daquilo.

- Esse assunto vai acabar aqui, Hermione.

- Nós estamos falando dos nossos filhos. Do nosso futuro. Não pode acabar
aqui. – ela estava surpreendentemente fria e não havia nada do acolhedor ao
qual ele era acostumado.
- Vai acabar aqui. – ele voltou-se para ela mostrando que não tinha o
menor interesse de continuar com aquilo. Ela recuou , talvez tivesse percebido
que ele havia falado demais coisas que normalmente nunca sequer haviam
saído de sua boca alguma vez na vida. Cruzou os braços encarando a figura
que ela era ali sentada naquele divã. Absolutamente linda mesmo em seu
estado mais pobre. Ela era invasiva e esperta. Sabia como fazê-lo abrir a boca
da maneira mais sorrateira possível. Talvez Pansy estivesse certa sobre o jogo
dela. Cruzou os braços. – Ameaçou Pansy na Cerimonia de Inverno?

Ela uniu as sobrancelhas estranhando a pergunta.

- Por que eu ameaçaria Pan... – deixou sua voz morrer. Um segundo ela
permaneceu em silêncio e então sua expressão mudou como se estivesse
lembrando de algo importante. – Oh. – ela desviou o olhar por mais um
segundo e depois tornou a encará-lo. – Sim, eu a ameacei. – falou como se não
conseguisse acreditar no que estava admitindo.

- O que disse a ela?

Ela franziu o cenho.


- Eu não me lembro exatamente, Draco.

- Então tente se lembrar agora. – ele foi frio também.

Ela se aborreceu com o tom.

- Eu não me lembro! – foi decidida. - Eu estava com raiva, ela me segurou


pelo braço como se tivesse me pego no flagra durante um assalto. Como se eu
estivesse roubando algo dela porque havia me visto com você. Eu queria
apenas que ela me deixasse em paz.

- Não faça novamente. – ele foi claro.


- Eu fiz o que um Malfoy faria. O que você me ensinou, o que sua mãe me
ensinou!

- Não faça com ela.

Ela uniu as sobrancelhas realmente aborrecida dessa vez. Inclinou a cabeça e o


tom que usou mostrou sua indignação:

- Acaso isso machucou sua princesinha, Draco? – finalmente ela parecia


estar usando o tom que queria. - Ela se sentiu ferida e foi chorar no seu colo, é
isso? Chorou o suficiente para que voltasse para casa, olhasse para sua
patética esposa e ordenasse, como se ela fosse um de seus homens, que não
ousasse mais mexer com ela.

- Não se faça de vítima aqui, Hermione! Estou apenas dizendo para não
fazer novamente. Pansy é meu problema, não seu!
- Ela é meu problema sim, Draco! – ela se levantou, ele lutou contra a
urgência de ir até ela ajudá-la. – Ela me persegue e me culpa por algo que eu
nem mesmo me importo! Ela acha que eu jogo o mesmo jogo que ela, que a
minha vida se baseia em te ganhar. Eu não preciso que você me ame ou me
queira. – ela se aproximou. - Eu a quero fora do meu caminho sim, onde eu
não vou precisar gastar minha paciência com ela! Parkinson me odeia porque
consegui tudo que ela queria sem fazer esforço algum e não se engane
pensando que ela queria você. Ela não o queria e continua não o querendo. O
que ela realmente sempre quis foi o título do seu sobrenome e o homem que
você é na cama porque se ela realmente o quisesse, quisesse você, Draco
Malfoy, a pessoa que é, ela se importaria em realmente te conhecer e pelo
pouco que que ela se gaba em te conhecer me faz pensar que talvez eu, em um
ano, tenha aprendido mais sobre você do que ela aprendeu em todos os anos
que vocês dois tiveram juntos. – ela puxou o ar cansada. – E por favor, não
crie o hábito de me contar das mulheres com quem tem sexo. Já me fiz clara
uma vez quanto a não ter o menor interesse de saber onde e quando as mãos
que você usa para me tocar resolvem também tocam outras mulheres. Não
gosto de me sentir um objeto mesmo sabendo que sou um, mesmo sabendo
que tipo de relação nós dois temos.

Ela finalizou como se tivesse vomitado tudo que tentara engolir, mas que não
lhe caíra bem. Até mesmo sua respiração estava acelerada.

- Você não é um objeto. – a verdade é que ele sentia que ela havia sido a
única mulher que não fora um objeto, porque todo o resto fora, até mesmo
Astoria havia sido um quando ele a usara para tentar ser algo que não era.
Hermione nunca havia sido algo de interesse dele para ser usado e no
momento em que ela começara a fazer parte de sua vida ele se vira
completamente desarmado com o quanto ela o envolvera numa atmosfera
completamente diferente da qual era acostumado sem que nem mesmo
pudesse ter notado essa mudança claramente. Como ela havia feito isso? Como
ela havia conseguido administrar as circunstâncias, manipulá-lo, fazer com que
tudo parecesse ter tanto significado? Ele não gostava de como ela havia
conseguido se enraizar, de como ela havia conseguido entrar tanto e tão
profundo onde ele jamais imaginara que alguém pudesse alcançar. Aproximou-
se dela unindo as sobrancelhas ao perceber o quanto era difícil não querer
tocá-la. Como ela havia conseguido fazer com que ele chegasse nesse ponto? O
que ela havia feito para que ele não a resistisse? Olhou bem em seus olhos. –
Qual é o seu jogo, Hermione?
Ela pareceu confusa, como se aquela pergunta fosse completamente
inesperada. Aquilo deveria fazer parte do jogo dela.

- Eu não tenho um jogo, Draco. – sua voz soou incerta, não sabendo
realmente se era aquilo que deveria responder, se era aquilo que ele estava
mesmo perguntando. Deveria ser mesmo parte de seu jogo.

- Todo mundo tem um jogo.

- Que jogo? Para que finalidade? Com que proposito? Do que você está
falando? Eu não tenho um jogo, Draco. – ela gesticulou rapidamente com as
mãos como se quisesse apagar o que quer que estivesse tentando colocar no
lugar em sua cabeça. – Quer saber?! Esqueça! – ela foi severa dessa vez. –
Apenas saia. Volte apenas quando resolver agir normalmente.

Ela deu as costas dando por encerrado aquela conversa e ele a segurou pelo
pulso impedindo que ela fosse muito longe. Obrigou-a a se virar para encará-lo.
Ele se aproximou bem para encarar fundo em seus olhos. Ele conseguia ler os
olhos dela. Hermione resistiu usando seu melhor olhar frio para a condição em
que se encontrava.

- Eu vou descobrir qual o seu jogo, Hermione.

Ela se livrou da mão dele em seu pulso.

- Você é doente. – ela ainda parecia incerta por mais que sua voz fosse
forte.

- Talvez... – foi tudo que ele retrucou antes de serem interrompidos por
uma curandeira.

Ela entrou pedindo mil desculpas e falando da forma mais formal e educada
possível o quanto sentia muito por precisar tirar mais um tubo de sangue de
Hermione. Hermione por sua vez apenas concordou como se já esperasse por
aquilo.

- Acaso o senhor pretende ficar? – a curandeira voltou-se para ele.

- Não, ele já está de saída. – Hermione fez o favor de apressar-se para


responder. Olhou para ele sorrindo amavelmente embora ele soubesse que
fosse falso. Os olhos dela não brilhavam e as maças de seu rosto não
apertavam o canto de seus olhos quando ela falsificava um daqueles. – Draco
teve um dia cheio hoje e terá outro cheio amanha, ele precisa descansar. Só
quis realmente saber como eu estava lidando com tudo isso, não é mesmo
querido?

- Sim. - Ele foi obrigado a concordar usando o vocabulário menos extenso e


mais apropriado para o momento. A curandeira sorriu como se achasse aquilo
um exemplo para uma geração. Draco aproximou-se de Hermione, a segurou
seu queixo e selou seus lábios rapidamente nos dela. – Tenha uma boa noite,
querida. – Sabia ser um bom ator. Atuava diariamente dentro de Brampton
Fort. Havia se especializado naquilo.

- Boa noite. – ela respondeu. Havia um sorriso doce em seus lábios, mas
faísca em seus olhos.
Seguiu seu caminho de volta para o quarto julgando-se estúpido por ter saído
de lá em primeiro lugar. Sua própria respiração denunciava o quanto se achava
o pior dos estúpidos. A verdade era que se sentia encurralado e não sabia como
havia chegado até aquele beco. Ele a queria. Queria voltar para ela naquele
exato momento e dizer o quanto ela fazia sua cabeça ir a loucura e o quanto
não conseguia suportar a vontade de senti-la a todo o momento, que fosse
apenas o calor de seu corpo ou um simples toque displicente em seu braço ou o
cheiro doce e cítrico que vinha de sua pele ou até mesmo a agonia de seus
corpos buscando por alívio debaixo das faíscas selvagens de centenas de
arfadas entre beijos, toques e sabores que o fazia sentir-se inteiramente dela.

Mas ele não faria isso, primeiro porque sabia que não seria verdadeiro. Ele não
era movido por emoções, nunca havia sido. Emoções eram meras projeções de
sentimentos que iam e vinham num piscar de olhos. Emoções eram um campo
de incertezas e ele não apostava em nada incerto. Segundo porque ela não era
exclusiva. Não poderia ser. Não ela.

Trancou-se em seu quarto como se quisesse que nem mesmo o oxigênio


pudesse passar para o lado de dentro. Pegou uma garrafa de qualquer bebida
forte ao seu alcance e jogou-se no sofá diante da lareira apagada. Ele não
dormiria. Queria tanto que as coisas voltassem a ser como sempre haviam sido.
Pois bem então, ali ele ficaria na companhia de sua garrafa sendo perturbado
por todos os pensamentos em sua cabeça até que o dia amanhecesse e ele
fosse segui-lo como deveria. Exatamente como sempre havia sido, sem
Hermione, sem a paz que a voz dela tinha, sem a chance de ver o sono lhe
alcançar. Ele realmente esperava que ela tivesse um jogo. Ela tinha que ter
um. Ela precisava ter um. Não era lógico que não tivesse.
30. Capítulo 30
Hermione Malfoy

Abriu os olhos, preguiçosamente, piscando para poder ajustá-los à fina


claridade que passava pelas cortinas. Estava começando a amanhecer mais
cedo. Ela adorava os sinais da primavera. Debaixo das cobertas, conseguia
sentir o calor do corpo de Draco muito próximo ao seu. A respiração pesada de
seu sono era constante e quase próxima demais de seu ouvido. Virou-se para
encará-lo e, por um minuto, esqueceu-se dos últimos dias. Observou sua bonita
expressão relaxada.

Draco pareceria um garoto ali, se não fosse pela barba apontando por toda sua
mandíbula. Seu rosto meio enterrado no travesseiro e sua respiração ritmada.
Hermione sorriu e quase estendeu a mão para tocar seu rosto como teria feito
em qualquer outro dia. Ele tinha o sono extremamente leve, e então, acordaria.
Hermione usaria sua voz, quase inaudível e rouca da manhã, para dizer que ele
iria se atrasar. Draco iria sorrir rapidamente, como sempre fazia ainda
sonolento, moveria tentando se espreguiçar, e então, levantaria para tomar o
rumo do lavatório. Ela não se atrasaria tanto, levantaria também, se juntando a
ele no chuveiro.

Aquela seria uma manhã qualquer para eles, se mais ou menos, há uma
semana, Draco não tivesse simplesmente, mudado sua forma de agir, como se
alguém tivesse apertado algum botão em seu cérebro e trocado por inteiro seu
comportamento para com ela. Hermione soltou o ar com calma e virou-se
novamente para tê-lo longe de sua visão. Acordava todos os dias, desde então,
se sentindo uma idiota. Uma idiota porque não sabia como conseguia se sentir,
inteiramente despedaçada, quando na verdade, sabia que deveria ser
completamente indiferente. Estava decepcionada consigo mesma por ter se
deixado enganar por algo que Draco Malfoy não era. Mal podia acreditar que ele
a fizera esquecer que não era exclusiva, que ao mesmo tempo que a tinha,
também tinha outras. Ela não conseguia entender como sua própria mente
bloqueara essa parte, a parte que havia concordado consigo mesma, de que
não era única e que devia ser indiferente a isso, que não deveria se importar
porque simplesmente não queria, nem precisava ser exclusiva. Quando isso
havia mudado?

Lembrava-se perfeitamente do momento, em que Draco havia aberto a boca


para lhe contar sobre ter feito sexo com Parkinson, como se estivesse contando
sobre algum problema em seu departamento do qual tivera que enfrentar no
dia. Havia sido quase um soco em seu estômago e conter qualquer reação fora
um trabalho árduo, mas bem sucedido, embora, rapidamente, sua frieza
tivesse atraído-os para uma discussão. Hermione se sentia traída. Não deveria,
mas se sentia, e o lembrete fora claro o suficiente para que ela recordasse
sobre o acordo silencioso que os dois tinham desde que haviam se casado:
eram livres. Não se amavam, não se queriam e não tinham direitos um sobre o
outro, independente do que haviam passado, independente do que passariam.

Virou para o outro lado, fechou os olhos e tentou se deslocar para algum lugar
vazio dentro de sua própria cabeça. Lugar este, em que não se sentisse uma
idiota. Não demorou a cair num cochilo, que pareceu uma simples piscada.
Quando tornou a abrir os olhos, escutou o barulho distante do chuveiro ligado e
o calor do corpo de Draco ao seu lado já não existia mais. Hermione se sentia
estranha, dessa vez. Sabia bem que estava enjoada e que isso duraria a manhã
inteira. Tinha que levantar para comer algo antes que sua situação piorasse,
mas seu corpo estava mole. Sentia que poderia dormir por mais umas doze
horas, no mínimo.
Sentou-se, colocou os pés para fora da cama e cobriu o rosto para esfregar os
olhos. O som do chuveiro cessou e ela tentou não se concentrar na constante
ânsia, que lhe subia repetidas vezes. Quando se levantou, vestiu seu robe e
abriu as cortinas para poder observar o dia começar do lado de fora. A neve
estava derretida e Hermione mal podia esperar pelo verde vivo da grama
novamente, ao menos aquilo, ela poderia usar de consolo. Sentiu-se tentada a
abrir as portas da varanda para poder respirar um pouco do ar puro do lado de
fora, mas sabia que se sentiria decepcionada, por sentir o ar ainda um tanto
gelado, quando em qualquer outro lugar, longe da vista de Dementadores, ele
seria fresco e renovador. Desceu direto para a sala de jantar que, estava
milimetricamente arrumada, com o café da manhã. Não se sentou, pois sabia
que se tivesse que fugir dali, se levantar seria uma barreira a menos a
enfrentar. Então, apenas empurrou sua cadeira e lutou um tempo contra a
vontade de correr dali, para depois se engajar, na difícil decisão, de algo que
fosse menos apelativo para seu paladar. Acabou por pegar algumas torradas e
tentou empurrá-las garganta abaixo, enquanto abria o Diário do
Imperador sobre a mesa.

“Hermione Malfoy grávida?” Era a primeira notícia da primeira página. Poderia


soltar uma risada de desgosto, se não estivesse se concentrando para
conseguir comer e ao mesmo tempo manter-se distraída do enjoo, usando o
jornal. Aquele informativo era precário. OProfeta Diário jamais teria colocado
aquilo estampado na primeira página, por mais interessado que o público fosse
com a vida alheia.

“Foram quatro dias intensos de acampamento nos portões da residência de


Draco e Hermione Malfoy, em busca de respostas, quando, no fim da
madrugada da última quarta-feira, carros da extensão do Hospital Saint
Mungus começaram a se amontoar no pátio de entrada da casa do novo casal.
A imprensa foi totalmente privada de qualquer depoimento aprofundado sobre
o caso, mas foi bem esclarecida de que Hermione Malfoy era quem requisitava
da assistência dos medibruxos. Há seis dias, quando os carros do St. Mungus
finalmente deixaram a residência do casal, fontes do hospital que preferiram
não se identificar, informaram que nos laudos emitidos pelos medibruxos,
apontavam vários testes de gravidez positivos em diferentes dias, além de
listas de indicações de poções com uso restrito para grávidas. Ainda não se
sabe ao certo, o que realmente aconteceu com a Sra. Malfoy, mas os
medibruxos tem sido positivos ao emitir notas para a imprensa, dizendo que
não há nada com o que se preocupar e que o caso não é sério, embora, precise
de um pouco de atenção no momento. Na Catedral, o grupo com o qual ela
estivera trabalhando nos últimos meses, informou que estão aguardando
ansiosos pela recuperação e não confirmaram nada quanto a um possível
estado de gravidez...”

Hermione parou de ler, cansada de tanta enrolação. Sabia que Draco


encontraria uma forma de fazer com que aquela especulação se confirmasse
dentro de mais alguns dias e não duvidava nada, que aquela matéria na
primeira página, fosse obra dele ou, até mesmo, de Narcisa. Pensou em virar
para a página seguinte, mas naquele mesmo momento Draco apareceu.

Enquanto caminhava para sua cadeira, os olhos dele focaram-se nela e, por um
segundo, ela pensou que ele fosse perguntar o porquê ainda estava vestida em
seu robe ou se estava tudo bem, como normalmente teria feito, por mais frio e
indiferente que fosse. Mas a verdade, é que Draco não demorou em desviar o
olhar, para então, sentar-se em sua cadeira e encher sua xícara de chá,
ignorando por completo a presença dela. Hermione apenas se limitou a apertar
os lábios e dobrar novamente o jornal, devolvendo-o ao lugar de onde havia o
tirado. Forçou-se a pegar mais algumas torradas e saiu dali, antes que o cheiro
da comida piorasse seu estado.

No momento, em que alcançou o quarto, já não conseguiu mais segurar.


Apressou o passo até o lavatório e despejou tudo que havia empurrado para
dentro do estômago na pia. O alívio momentâneo a invadiu, quando ela acabou
o serviço e precisou de sua varinha para limpar o estrago. Seu corpo pesou
tanto que não teve tempo para muita coisa antes, de se arrastar para cama,
tomando o caminho mais curto, o que a fez acabar deitando do lado em que
Draco dormia. O cheiro dele a invadiu e a envolveu. Ela se permitiu fechar os
olhos, sentindo-se exausta. Sentia-se grata, por ao menos saber que já estava
deixando o primeiro e mais difícil trimestre da gestação. Na maioria dos dias,
Hermione se sentia bem, aquele, infelizmente, não estava sendo um, mas ela
sabia que seria momentâneo. Havia tido dias piores quando ainda estava no
seu segundo mês e torcia, quase que diariamente, para que Draco não
questionasse nada porque ainda tentava convencer a si mesma de que apenas
havia ingerido algo que não lhe caíra bem, quando na verdade, sabia o que
estava realmente acontecendo com seu corpo.

A pretensão dela era apenas ficar ali alguns segundos, até se recuperar, mas
quando eles foram se passando, Hermione foi achando cada vez mais difícil
abrir novamente os olhos e acabou por se entregar. Mal soube em que
momento, foi tragada pelo sono. Sua consciência vagou por mundos perdidos
em sua cabeça, mas, ainda assim, seu sono estava leve o suficiente para que
conseguisse ter a noção de que estava deitada em sua cama, em seu quarto,
em sua casa. Em algum momento, ao qual seu sono ficou demasiadamente
leve, ela sentiu algo tocar seu rosto, como se fossem dedos gelados correndo
lentamente por sua têmpora. Quis acordar, se mover, dizer algo. Talvez fosse
Draco. Mas seu corpo estava totalmente entregue e Hermione apenas
continuou naquele mundo, escuro e pacífico.

Dentro do que pareceu segundos, sua consciência começou a trazê-la de volta


à realidade muito lentamente. Moveu-se preguiçosamente, sentindo que sua
cama nunca fora tão confortável. O cheiro de Draco era constante e ela abraçou
o travesseiro enterrando o rosto ali, para fugir da claridade excessiva. Não se
obrigou, nem se forçou a nada. Deixou que seu próprio corpo a guiasse e abriu
os olhos somente quando quis. Sentou-se quase arrastada e esfregou os olhos,
se perguntando, se não era melhor apenas ficar deitada pelo resto do dia. O dia
brilhava cinzento do lado de fora, como sempre, e iluminava todo o quarto,
fazendo-a ter que piscar várias vezes para ajustar suas pupilas.

Não demorou a ver na cabeceira ao seu lado, um frasco de poção. Fez sua mão
alcançá-lo e leu o rótulo. Era sua poção para indisposição. Os medibruxos
haviam lhe passado uma lista de poções e ela evitava mais de noventa por
cento dela. Aquele pequeno frasco, no entanto, era seu grande companheiro de
quase todos os dias, pelo menos, seria durante seu primeiro trimestre, isso,
Hermione tinha certeza. Aquela gravidez estava se saindo bem mais intensa do
que a anterior havia sido. Sono excessivo, enjoos, indisposição. Tinha que lutar
contra tudo aquilo todos os dias.

Abriu o frasco e o tomou. O girou entre os dedos depois e leu mais uma vez o
rótulo. Ela não se lembrava de ter pegado aquela poção, antes de se deitar na
cama. Tentou refazer seu caminho desde o lavatório até a cama novamente e,
em nenhum momento, se viu parar na cabeceira. Seu olhar vagamente mapeou
o quarto e parou alguns segundos sobre o relógio em cima da lareira. Piscou
algumas vezes, ainda se sentindo grogue, mas não demorou até que
arregalasse os olhos e praguejasse pulando para fora da cama.

Eram quinze para as dez e ela nem sequer estava pronta. Apressou-se no
chuveiro para ter mais tempo no closet. No momento, em que colocava sua
saia, Tryn surgiu anunciando a chegada de Narcisa Malfoy e Hermione
praguejou pela pontualidade da mulher. Teve que se apressar ainda mais,
lutando com as roupas que não lhe cabiam mais e ficou extremamente grata
por ter aprendido a ordenar sua varinha a fazer penteados, simples e rápidos,
que tinha certeza, agradariam o gosto de Narcisa. Desceu minutos depois para
receber a Sra. Malfoy que, pacientemente, esperava sentada num dos sofás em
das salas privadas, próximo a escada principal.

- Ora, isso foi extremamente inconveniente da sua parte. – foram as


primeiras palavras da mulher entretida com uma revista aberta em seu colo.
Ela a fechou e ergueu os olhos para Hermione. – Você está absurdamente
atrasada. – os olhos dela percorreram Hermione dos pés a cabeça. – E sua saia
está torta. – uma sobrancelha se ergueu ao comentário final, como se estivesse
decepcionada que a rápida inspeção não tivesse recebido um resultado melhor.
- Sinto muito, estava dormindo. – justificou-se, enquanto ajeitava o cós da
saia.

- São dez da manhã. – Narcisa a lembrou.

- Sei disso. Apenas tenho tido bastante sono ultimamente.

- Não me compre com sua gravidez, quando nem um por cento dessa
cidade sabe ainda, se realmente está grávida. – ela se levantou. – Precisamos
nos apressar, temos que voltar para o seu closet, não vou sair com você
vestida assim. Não que esteja ruim, apenas não é mais como devemos
apresentá-la.

Hermione suspirou um tanto cansada, já sabendo que receberia algum


comentário daquele tipo.
- Minhas roupas não me cabem mais.

Narcisa a avaliou rapidamente mais uma vez.

- O que está dizendo? Eu mal posso ver sua barriga.

- Também pensava assim, até ser obrigada a descartar metade do meu


guarda-roupa essa manhã.

A mulher soltou o ar em resposta.


- Certo, mas tenho certeza que vamos encontrar algo melhor do
que... isso. – apontou para roupa que usava e deu as costas, tomando a
direção da escada principal. Parou logo quando percebeu que Hermione não a
seguiu. Voltou-se novamente para ela. – Nós estamos atrasadas, Hermione.

Hermione respirou profundamente, sentindo a angústia de seu receio quando


abriu a boca:

- Podemos, por favor, não ir? – foi quase uma súplica.

Narcisa apertou os lábios com um olhar severo.

- Você sabe muito bem a importância disso.


- Sim, eu sei. Mas, por favor, acredite, eu realmente não estou me sentindo
bem.

- Você nunca está se sentindo bem.

- Eu estou grávida! Acha que gosto de ficar assim? Me sinto inútil!

Narcisa continuou com seu olhar severo por mais alguns segundos, até
finalmente, soltar o ar e suavizar sua expressão. O silêncio ainda durou mais
alguns segundos, até que a Narcisa se deslocasse novamente até ela, dessa vez
com um ar menos rígido.

- Trouxe algo para você. – parou de frente para ela, chamou por Tryn e
pediu por algo que havia trazido.

Em dois estalos a elfa retornou, carregando uma caixa pequena feita de


madeira. Narcisa a entregou à Hermione. Não era pesada. Foi cuidadosa ao
abrir e ficou surpresa ao ver do lado de dentro o par de sapatos minúsculo. Era
um tipo oxford de couro marrom com xadrez e os calçados de bebê eram tão
minúsculos que quando Hermione segurou um em sua mão, não conseguiu
deixar de ficar assustada com o quão pequeno o pé de um bebê podia ser.

- É tão pequeno... – sussurrou aquele pensamento, mais para si mesma do


que para Narcisa. Quando ergueu os olhos para a mulher, ela tinha nos olhos
com um brilho bonito e fixava toda sua atenção no pequeno sapato que
Hermione segurava.

- Foi de Draco. – Narcisa disse e aquilo surpreendeu Hermione ainda mais.


– Eu não guardei nada dele. Lucio disse que não iríamos mais ter filhos e que
não havia nada que justificasse o ato de juntar inutilidades. Eu me desfiz de
tudo, mas só não consegui me desfazer disso. Foi a primeira coisa que comprei
quando soube que estava grávida. – ela sorriu vagamente e pegou o outro par
que estava ainda dentro da caixa. – Demorei seis anos para engravidar porque
Lucio nunca foi muito... presente. – ela analisou o sapatinho. - E acredito que
ele tenha tido medo de ter filhos por algum tempo também. Às vezes, quando
se é um Malfoy, parece que se está carregando algum tipo de maldição. – ela
encarou Hermione. – Mas eu fiquei imensamente feliz. Até porque não havia
muita coisa que me fizesse feliz. Acabei me apegando demais a ideia de ter um
filho e eu sabia que precisava ser um menino. Lucio queria um menino e a
linhagem Malfoy precisava de um menino. Eu sentia que minha única obrigação
dentro da família era gerar um herdeiro. Eu precisava ter fé e comprei isso com
a esperança de que estivesse realmente gerando um menino. Foi um grande
alívio quando eu soube que era Draco. – ela sorriu uma última vez e devolveu o
sapatinho a caixa. – Quero que fique com ele.

- Eu não posso. – Hermione disse, embora, ainda estivesse confusa sobre


como deveria reagir a tudo àquilo. – É a única lembrança que tem do seu bebê.
- Meu bebê mora aqui nessa casa, Hermione. Ele sempre será meu bebê.
Eu não preciso das peças antigas dele para me lembrar disso. – a voz dela foi
amável, materna e sincera. Aquilo era extremamente raro vindo de Narcisa. –
Quero que fique com esse porque irá usá-lo nos meus netos. Precisa acreditar
que são meninos.

Hermione se sentiu obrigada a sorrir. Estava realmente grata por aquilo. Às


vezes, se sentia grata por ao menos ter Narcisa, por mais fria que ela fosse,
havia ainda algo escondido em seu coração que ela deixava transparecer
raramente e isso gerava algum tipo de conforto em Hermione. Abaixou os olhos
para a caixa e devolveu o sapatinho para o lugar de onde havia o tirado.

- Obrigada. Eu sei que isso significa algo importante para você. – sua voz
saiu baixa e por alguns segundos ela hesitou. – Mas e se forem meninas...

- Eu sei que está preocupada com o que aconteceu com seu último bebê,
mas precisa se lembrar que aquilo não vai acontecer novamente. Mesmo se
forem meninas. – Narcisa a cortou. – E precisamos voltar ao seu closet,
exatamente agora, ou ficaremos mais atrasadas do que já estamos. –
Hermione murchou os ombros ao escutar aquilo. – Não existe outra opção,
Hermione. Sinto muito. As pessoas precisam ver que você está bem e
precisamos colocar você e Draco no “olho” da mídia, de uma vez por todas.
Temos uma imagem para construir de vocês dois e vai ser complicado desfazer
a antipatia que muitos tem do sobrenome Malfoy. Isso não vai ser fácil.
Tudo que Hermione se sentiu permitida a fazer foi revirar os olhos e seguir
Narcisa. Deixou a caixa que havia recebido sob a cabeceira da cama e seguiu
para o closet. Narcisa parecia conhecê-lo muito melhor do que ela mesma.

Ficou surpresa quando recebeu uma saia média simples de tecido leve e de um
tom vermelho real profundo. O corte era rodado e aquilo a intrigou. Narcisa não
gostava de colocar nada muito rodado. Recebeu um suéter de listras
horizontais e largas que variavam entre, um cinza quase branco e um preto
marcante, de gola larga e folgada. Hermione colocou sem questionar e puxou
as mangas como deveria, antes mesmo que Narcisa a mandasse. O restante de
seus acessórios foram de ouro e tudo muito simples, nada tão extravagante. O
sapato era o que havia de mais confortável no seu closet, dourado e sem salto.
A bolsa que Narcisa a estendeu era pequena e tinha uma alça fina e longa.
Quando a mulher pediu para que Hermione prendesse o cabelo no alto, sentiu-
se extremamente tentada a questionar, mas não ousou destruir o espírito
criativo em que ela parecia ter imergido.

Olhou no espelho o resultado final. O rabo-de-cavalo um tanto torto no topo de


sua cabeça, o suéter, a saia, a sapatilha, a bolsa e os acessórios. Aquilo não
era nada parecido com o que costumava usar. Não era feio, estava bem
montado, as roupas eram peças famosas, tinham qualidade, mas não estava
certa se aquilo havia saído realmente da cabeça de Narcisa. Se sentia
confortável demais para que fosse certo.
- Me parece bem... – ela procurou a palavra mas nenhuma se encaixar
bem. – ...confortável.

- Sim, é disso que precisamos. Não pude fazer muito milagre, devido ao
guarda-roupa que tem agora, mas vamos mudar isso hoje. – Narcisa disse
satisfeita. – As pessoas precisam ver um pouco do que você se parece fora da
Catedral. Nós te traduzimos como alguém muito profissional porque sempre
está lidando com o profissional e, graças a isso, conseguimos reformular o
elegante que se era vendido nas lojas. Agora, precisamos passar para o seu
elegante despojado, te aproximar mais do natural, mostrar seu lado mais
humano. Você terá que se mostrar mais nas ruas, terá que se mostrar mais
sensível, mais acessível, se livrar um pouco do ar intimidador, das cores mais
pesadas. Sei que ainda está usando algumas cores escuras, mas nós temos um
quase branco no seu suéter e ainda é início de primavera. – ela parecia
realmente satisfeita. - Olhe bem para você. Não tem nada de muito carregado.
Você está mais jovem, mais leve, mais natural. Terão a impressão de que
estava em casa, preparando seu jardim para a primavera, quando eu resolvi te
arrastar para o um simples passeio no centro.

Hermione apenas assentiu. A ideia de criar um novo visual, para a imagem que
venderia do seu eu descontraído fora da Catedral, fora ideia de Narcisa. Draco
pouco se importava com as roupas que usava, ele sempre estava mais atento a
parte da atuação, a parte de ser o casal perfeito. Narcisa insistia que as roupas
que usavam eram uma grande chave para a encenação. Ela também parecia
estar trabalhando essa parte com Draco porque, aparentemente, ele também
nunca havia se preocupado em construir uma imagem fora da Catedral.

Aquilo tudo era cansativo, irritante e enjoativo, mas se fosse para dar uma
chance de segurança para os filhos que estava gerando, definitivamente,
evitaria murmurar ou resmungar. Isso a fez entrar na carruagem de Narcisa em
silêncio.
Assim que desceu no centro e começou seu dia com Narcisa, Hermione foi logo
obrigada a confessar que nunca se sentira tão incomodada com o fato, de toda
e qualquer alma, se preocupar tanto com sua vida. Ela estava se cansando de
sorrir e responder que se sentia bem melhor. Estava se cansando de ignorar as
perguntas sobre estar grávida ou respondê-las, apenas dizendo que não podia
respondê-las. Estava se cansando de estar ali, como sempre se cansava. O
teatro a cansava, a encenação, a mentira.

Narcisa havia contratado uma mulher que Hermione se lembrava de seu


casamento. Ela havia ficado responsável de contatar três dos estilistas que
mais entendiam do estilo de Hermione, para desenhar as roupas que ela usaria
para vender sua nova imagem, sem perder seu poder e sua elegância.
Hermione teve que olhar todos os desenhos e algumas das peças que já
haviam sido confeccionadas. Teve que mostrar interesse e conhecimento do
assunto. A verdade era que, pelo menos, o fato de que poderia usar tecidos
mais leves e roupas mais soltas, já lhe alegrava um pouco, mesmo que fosse
somente mais para o verão e quando sua barriga estivesse maior.

Passou por uma verdadeira aula sobre seu novo guarda-roupa. Crepe de seda,
chiffon, musseline, lã fria e rendas, tudo fazia parte do cardápio. Embora o
tweed, o brocado ou o jacquard ainda fizesse parte de algumas das peças
iniciais da transição do inverno para a primavera, eram pouquíssimas peças. A
paleta de cores variava nos tons pastéis, sem chegar perto do infantil.
Explorava o perolado, mostarda envelhecido, rosa chá, cinzas, beges e marrons
desbotados. Havia chapéus com todos os tipos de fitas e tamanhos, luvas com
todos os tipos de textura, sandálias das mais confortáveis que já colocara na
vida e, finalmente, sapatos t-straps, ao invés, de pumps e plataformas que
deixavam seus pés em péssimo estado tão frequentemente.
Hermione pareceria um adorável embrulho de presente, se não fosse pelo
constante ar vitoriano que era trazido nas estampas, nas texturas, no jogo de
cores, de transparências, de camadas e até mesmo nos cortes. Sem dúvidas,
não seria inteiramente adorável. Ainda haveria aquele elemento de poder que a
tornaria intimidadora. Era uma Malfoy, afinal. Estampas pequenas e florais
estavam proibidas, ela não precisava ser adorável a esse ponto, nem mesmo
poderia arriscar parecer uma adolescente de quatorze anos.

Narcisa como uma boa entendedora, sempre questionava quando algo pesado
demais aparecia, mas aparentava estar muito satisfeita com o resultado, o que
foi um sinal para que Hermione desse bastante ouvido ao que era se falado e
explicado. Quando a tarde chegou, ela se sentiu bem melhor e o incomodo de
antes deu lugar para sua distração. Aprender sobre moda sempre lhe fora mais
um dos fardos que deveria carregar como uma Malfoy e, constantemente,
quando se empenhava naquela tarefa, se pegava se distraindo com facilidade.
Narcisa notou aquilo e várias vezes estalou os dedos discretamente para
chamar sua atenção para algo.

Quando a tortura chegou ao fim, ela pensou que poderia se sentir aliviada e
respirar fundo, mas no momento que deixou o edifício em que estava, a notícia
sobre sua presença no centro havia se espalhado, o que fizera a mídia se
amontoar à sua espera. Colocar um sorriso no rosto foi quase como puxar
energia, de onde já não lhe havia mais.

- Como está se sentindo?


- Bem, obrigada. – avançou junto com Narcisa pelo amontoado de flashes e
perguntas.

- É verdade que está grávida?

- Não posso responder isso agora, sinto muito.

- O que aconteceu com você? Ficamos todos preocupados!

- Agradeço a preocupação. – eles não haviam ficado preocupados, haviam


ficado curiosos, isso sim. - Eu acabei tendo um colapso de stress. – informou o
que havia sido dito para informar. - Estive envolvida em um intenso
trabalhando com Draco esses últimos meses. A verdade é que sempre estive do
outro lado trabalhando com ele como uma agente dupla e nunca tive a visão de
como as coisas dentro da Catedral podem se tornar um pouco... burocráticas
demais, por assim dizer. As pessoas pensam que estamos no topo e que temos
o poder para tomar qualquer tipo de decisão, mas também temos que lidar com
aqueles que querem nos derrubar e isso é o que mais nos atrapalha. Draco e
eu, apenas estamos tentando trabalhar para tornar o mundo um lugar seguro,
pacífico e bem organizado para nossa família, para a família que queremos
construir, e consequentemente para todos. Mas, aparentemente, alguns
comensais preferem um mundo debaixo do caos, onde todos nós precisamos
nos proteger dentro de fortes e excluídos do restante do mundo para que
possam ter o prazer de dificultar nosso serviço.

- Acaso Astoria Bennett tem atrapalhado algum de seus serviços?

Hermione não entendeu o porquê ainda tentavam remeter sua imagem, ao


mundo das intrigas femininas das famílias tradicionais.

- Astoria Bennett é uma amiga e não estamos falando sobre a próxima


festa a ser executada na Catedral. – tentou ser o mais gentil e compreensível
possível.

- Quando diz sobre estarem enfrentando dificuldades, por pessoas que


querem tomar o poder de vocês na Catedral, se refere a Seção Financeira que
não está liberando verba para mover o acampamento de York? As notas diárias
oficiais da Catedral tem informado que esse é um dos motivos pelo qual o
general Draco Malfoy ainda não foi capaz de executar sua nova tentativa no
território. – um outro jornalista de manifestou.
Hermione não sabia sobre essa parte, mas respirou fundo e respondeu com
propriedade:

- Às vezes, as barreiras que enfrentamos são consequências do trabalho de


terceiros, o que me deixa duvidar de que um departamento inteiro como a
Seção Financeira se colocaria contra Draco.

- Você poderia afirmar que esse trabalho se aproxima a um tipo de


conspiração contra a sua família? Contra Draco e Hermione Malfoy?

- Eu não apostaria na palavra conspiração, evidentemente. Mas garanto


que o jogo de interesses, de poder e hierarquia, tende a ir contra nós dois.
Sentamos no patamar mais alto do trono depois do mestre. Seria uma surpresa
se fôssemos soberanos e intocáveis, o que não somos, mas estamos
preparados, pode ter certeza. Sempre tivemos muita consciência dos ataques.
Draco já tem os enfrentado por um bom tempo e agora estamos fazendo isso
juntos. – aquilo seria suficiente para amedrontar quem deveria.
- O Conselho pode ser considerado uma das barreiras...

- Sinto muito, mas não posso continuar me aprofundando nos assuntos da


Catedral e nem do exército. Só estou tentando ter um dia tranquilo com parte
da minha família e voltar para o meu marido, em casa mais tarde. É importante
buscar por um pouco de normalidade, com licença. – ela cortou o jornalista.

Os gritos se misturaram um por cima do outro, na esperança de conseguirem


chamar atenção com uma boa pergunta que a fizesse parar novamente.
Hermione apenas continuou seu caminho, recebendo o auxilio dos seguranças
do edifício que estivera a abrigando, para chegar até a carruagem de Narcisa.

Quando as portas se fecharam e a cabine começou a se mover, Narcisa


mantinha o olhar sobre ela, o que a fez esperar pacientemente pelo momento
em que a mulher fosse abrir a boca para comentar o que deveria. Não levou
tantos segundos quanto esperava que fosse levar.

- Foram palavras inteligente, devo admitir. – Narcisa se manifestou. – Mas


não deixaram de ser perigosas.
- Vão comprar a saída da Seção Financeira do caminho de Draco, pode ter
certeza. Eu acabei de lembrar Brampton Fort e todos os outros fortes, quem é
que senta ao lado de Voldemort na hierarquia do trono.

- Hermione, você acabou de dar uma esperança ao povo que ninguém


nunca havia ousado dar em lugar nenhum dentro do mundo do Lorde das
Trevas, antes. – Narcisa disse e Hermione franziu o cenho confusa. – Você
acabou de mostrar que você está empenhada em dar toda a sua energia pelo
bem de sua família, o que, consequentemente, vai afetar todo o restante.
Ninguém faz nada por ninguém no mundo de Voldemort. Aqui cada um luta por
si mesmo. Você acabou de lembrá-los que pessoas como você, realmente
existem. Não é necessário que faça mais nada, já conquistou o coração de
todos eles.

- É disso que precisamos, não é?

- Sim.

- Ótimo.
Às vezes, ela se sentia como Draco. Sentia que falava como Draco, que agia
como Draco, que lançava ordens como Draco, mas isso se dava apenas porque
era ele quem havia sido o modelo que ela observara. Queria se tornar como
ele, forte como ele, resistente como ele. Sentia que estava chegando lá, que
conseguia construir bem sua armadura protetora todos os dias, o único
problema, era que embora sua armadura estivesse se tornando forte, não era o
suficiente para amenizar nada do que sentia. Podia estar aprendendo a não
demonstrar, mas o sentimento ficava ali escondido e enclausurado.

- Você esteve completamente distante hoje. – Narcisa se manifestou


novamente depois de alguns minutos.

- Desculpe. – foi tudo que ela respondeu, mesmo sabendo que Narcisa não
apreciava quando ela se desculpava, assim como Draco também, não. Elas
entraram novamente no silêncio por mais um tempo, enquanto Hermione
refletia sobre o que havia dito aos repórteres e sobre as perguntas feitas a ela.
– A última vez que conversei com Draco, ele havia me dito que o exército
moveria o acampamento de York essa semana. Eu esperei pelo dia em que ele
fosse deixar Brampton Fort, mas a semana está acabando e ele continua aqui.
O que a Seção Financeira tem com relação a isso?

- Ele não te contou.


- Não.

Narcisa ajeitou-se em seu banco.

- Quando foi a última vez que conversou com Draco?

- Quero saber sobre a Seção Financeira, Narcisa. – Hermione redirecionou a


conversa para o curso inicial.

Narcisa suspirou.

- A Seção Financeira não estava querendo patrocinar a nova ação. O


mestre não quis intervir e Draco acredita que tudo isso é obra do Conselho.
Draco nunca falhou três vezes seguidas, e se ele falhar novamente, usando
uma tentativa que foi ideia dele e que teve uma massiva oposição por parte do
Conselho, vai carregar um mandato de destituição cheio de justificativas
plausíveis para apresentar ao mestre.

- Eles querem destituir Draco?

- Não é segredo para ninguém, que existem pessoas querendo destituir


Draco desde que ele assumiu o cargo de general. O Conselho com certeza deve
ter enchido o ouvido de Severo, que consequentemente, encheu o ouvido do
mestre para que ele se mantivesse imparcial, e eles também possuem contatos
dentro de todas as Seções importantes da Catedral. Fazer a cabeça de alguma
peça de influência dentro da Seção de Finanças não deve ter sido muito difícil.

- Você me parece tranquila com relação a isso.

- Draco é esperto, Hermione.


- Sim, a ideia é desfazer o Conselho quando ele ganhar e se ele ganhar.
Como acha que ele ganharia sem apoio de metade da Catedral.

- Ele tem os homens dele.

- Os homens dele não acreditam na causa.

- Os homens dele são fiéis a ele. Draco os testa constantemente e, por


mais que o cenário não pareça muito favorável, eles lutarão o sangue deles por
Draco. Faz parte do treinamento deles. Draco fez questão de construir isso
dentro do programa de treinamento, da maneira mais sorrateira possível,
durante todos esses últimos anos.

- Draco não tem apoio financeiro, não tem apoio do mestre, não tem apoio
do Conselho e a Ordem ainda está usando uma magia muito incerta, instável e
poderosa. Se ele falhar mais uma vez, não há duvidas de que o Conselho
deixará o terreno bem preparado para que ele perca o cargo de general.
Narcisa suspirou um tanto impaciente.

- Você é uma Malfoy, Hermione? – ela indagou e Hermione não entendeu o


questionamento fora de contexto.

- Sim. – ao menos era o que diziam seus novos documentos.

- Então guarde o seu desespero para você. – findou Narcisa.

Hermione não viu outra saída que não fosse o silêncio. Colocar sua máscara
não era mais difícil, lidar com o que sentia que era. Por mais tranquila que
pudesse conseguir aparentar, deixar de pensar que agora ela não tinha apenas
um filho para proteger, mas dois, era o suficiente para que sentisse uma
constante dor de cabeça.

- Me diga o que há de errado entre você e Draco. – a voz de Narcisa tornou


a soar no silêncio novamente.
Hermione levou os olhos para ela mais uma vez.

- Não há nada de errado entre Draco e eu. – respondeu. – Na verdade,


nunca houve nada certo entre eu e ele para que ficasse errado.

- Hum. – ela apertou os lábios. – Isso já diz o bastante.

Hermione uniu as sobrancelhas.

- Por que me parece que você sempre sabe mais sobre eu e ele do que ele
e eu?
Narcisa sorriu.

- Acredite, Hermione. Eu sei. – aquilo não agradou Hermione e Narcisa


percebeu. – A verdade é que entendo mais sobre você e ele, do que vocês
mesmos. Posso não saber muita coisa, mas consigo compreender bem a
situação, a figura por inteiro, por assim dizer. Seja paciente com Draco.

Hermione estreitou os olhos.

- Ser paciente com Draco? – não era possível que Narcisa estivesse
colocando Draco naquela posição. – Acaso Draco é paciente comigo?

- Ele se permite demais com você, Hermione. Isso pode acabar sendo um
pouco demais para ele em alguns momentos.
- Eu não me importo. Draco deve saber que sou humana tanto quanto ele.
Eu não tenho somente um cérebro, também tenho um coração.

- Draco não sabe o que isso significa. Ter um coração. Ele cresceu cercado
de pessoas que não tem.

- Você tem um e ele sabe te tratar com decência. Ele sabe ser justo,
compreensivo e até mesmo carinhoso com você.

- E acaso pensa que minha relação com Draco sempre foi assim? Você não
tem a menor ideia, de como foi difícil chegar ao ponto em que estamos hoje,
Hermione. O problema com Draco é que ele demorou muito tempo para abrir
os olhos para aquilo que realmente possui significando e, mesmo assim, ainda
tem muito que aprender. – suspirou – Portanto, seja paciente, você terá que
ficar com ele por muito tempo. Entenda que ele ainda não tem ideia do
significado de certas coisas e, talvez, nunca tenha.

- Da mesma forma que você é compreensiva com seu marido porque ele
não faz ideia do significado de absolutamente nada? – ela não segurou a língua.
– Você pode amar Lúcio e ser compreensiva com ele o quanto quiser, mas eu
não amo Draco e nunca vou deixar que ele abuse de mim, por não entender o
limite de certas coisas. Serei compreensiva sempre que tiver consciência de
que o ato é recíproco. Posso não ser um péssimo ser humano, mas não gosto
que me façam de idiota.
Narcisa suspirou e desviou o olhar.

- Faça como quiser, Hermione. – ela se distraiu com a paisagem. – Você e


Draco são tão teimosos, às vezes, que vou acabar desistindo de gastar minha
saliva com vocês.

Hermione se limitou a permanecer calada o resto do percurso até sua casa e


Narcisa também não tornou a abrir a boca. As duas permaneceram num
silencio confortável, um silencio do qual ela havia se acostumado por ter tido a
companhia de Narcisa com frequência, nos últimos dias.

Era extremamente grata pela existência daquela mulher em Brampton Fort. Por
mais que Narcisa fosse calada, ela sempre estava presente, verificando se
Hermione estava bem, se sentia dor, se havia febre, se estava tomando as
poções que deveria. E em momentos que menos esperava, mas,
consequentemente os que ela mais precisava, a sogra abria a boca para soltar
num tom calmo e paciente que tudo ficaria bem e que precisava ser forte.
Muitas vezes, aquilo dava brecha para que Hermione pensasse que poderia
usá-la como costumava usar sua mãe, mas Narcisa não era o tipo de mulher
que a receberia em seu colo, que afagaria seus cabelos, que sussurraria
palavras bonitas e diria que a amava no final. Entretanto, a frieza de tudo que a
cercava, fazia Narcisa parecer calorosa mais do que o suficiente e isso era tudo
que Hermione conseguiria vivendo aquela nova vida.
Assim que chegou em casa, tratou de verificar os memorandos da Comissão,
que o grupo com o qual estava trabalhando tinha a bondade de enviar a ela,
assim que Tryn os entregou. Fechou-se numa das salas daquele mesmo andar,
para poder analisar aquilo que haviam enviado. Eles estavam trabalhando em
cima de um padrão que Hermione havia dado a eles para aprimorarem o feitiço
de proteção que usariam para as fronteiras do acampamento de York. Ela era
mestre em manter-se segura dentro de zonas inimigas. Havia feito a Ordem
sobreviver debaixo de seus feitiços, por muito tempo. Tinha propriedade para
cuidar do assunto e ficava grata que a Comissão desse inteira liberdade a ela.
Nunca pensou que ter tido Minerva MacGonagall como tutora, pudesse lhe dar
tanta influência no meio de altos conhecedores de magia.

Mesmo que tudo parecesse estável, nos informativos enviados pela Comissão,
que tudo parecesse estar em perfeita ordem, Hermione temia pelo poder da
Ordem que era absurdamente instável e imprevisível, o que fez com que ela
mais uma vez analisasse tudo aos detalhes. Não queria deixar passar nada.
Precisava ter certeza de que não havia nenhuma brecha naquela magia.
Precisava ter certeza de que Draco e seus homens ficariam seguros.

O relógio ao lado do sofá onde havia se sentado soou um singelo alerta, quando
atingiu uma hora redonda a fazendo sair de um cochilo que não se lembrava de
ter entrado. Esfregou os olhos e se sentou martirizando-se por ter acabado
dormindo, mais uma vez. Detestava ficar em casa sem ter muito que fazer,
principalmente, quando poderia estar tendo um dia produtivo na Catedral.
Olhou o horário, se levantou sem pressa, foi até o casa de poções no sótão
deixar todos os pergaminhos que havia recebido da Comissão para analisar
mais tarde, desceu até a cozinha para ter certeza de que Tryn estava
administrando bem o preparo do jantar e voltou para a sala de jantar onde
começou a abrir os armários de prataria para escolher qual deles usaria aquela
noite.

Optou por um jogo novo que havia se sentido obrigada a comprar em um de


seus passeios com Astoria e Elise. O idealizou na mesa de jantar e começou a
montá-la sem pressa também. Havia aprendido a gostar de fazer aquilo,
primeiramente, porque aquilo fora um dos principais motivos que causara
grandes discussões entre Draco e ela logo que se casaram, segundo, porque
gostava de como havia toda uma história por trás da hierarquia de uma mesa
bem apresentada e ela gostava de tudo que carregava um peso histórico, por
mais fútil que fosse.

Escutou Draco chegando, não muito tempo depois. Quando ele apareceu na
sala de jantar, como sempre aparecia, livrando-se da gravata e dobrando as
mangas da blusa, ela finalizava o alinhamento dos últimos talheres. Eles
trocaram um rápido olhar e Hermione esperou por qualquer cumprimento
mínimo que fosse, mas ele desviou o olhar e seguiu seu caminho até sua
cadeira em silêncio.

Ambos se sentaram e Draco logo tratou de chamar por Tryn para ordenar o
inicio do jantar. Eles foram servidos com uma salada inicialmente e Draco
passou a se alimentar, enquanto abria um envelope que carregara consigo
desde que passara para o lado de dentro da sala de jantar e se perdeu na
leitura entre suas garfadas.
Era sua salada favorita e ela não foi capaz de apreciar o sabor da noz em sua
boca, nem os bons pedaços de morango com alface porque, mais uma vez,
suas entranhas reviravam com o quão incômodo era ser ignorada por Draco.
Quando ele ordenou a troca para o prato principal, sem sequer passar os olhos
no de Hermione para saber se ela havia ou não terminado sua entrada, ela
sentiu sua língua coçar.

Segurou-se o quanto pode e quando se deu conta de que ele estava finalizando
sua refeição, assim como sua carta, e se levantaria sem nem mesmo pedir
licença, ela não conseguiu mais se conter.

- Quando pretendia me contar sobre a resistência da Seção Financeira com


a nova investida em York?

Ele não respondeu nada por alguns segundos, deixando a voz dela morrer no
silêncio. Os olhos dele continuaram fixos e inabalados, sobre a enorme carta
que tinha nas mãos.

- Tenho mesmo que te contar tudo agora? – foi tudo que ele se limitou a
dizer, sem nem mesmo olhá-la, entre o intervalo de um parágrafo e outro.
Hermione mal pode acreditar no que havia escutado. Na indiferença, na frieza,
na falta de respeito. Ela se indignou. Soltou os talheres sem fazer questão de
ser delicada e foi com aquele ato que Draco finalmente moveu seus olhos para
ela como se desaprovasse o comportamento.

- O que há de errado com você, Draco? – ela tentou se conter, mas seu
sangue fervia com o resultado das palavras que ele havia soltado. – Acaso você
se lembra de que nós temos um acordo? Se lembra de que deveríamos ser
cúmplices? Se lembra de que perdemos uma filha porque não estávamos
trabalhando como um time? Se lembra disso?

Os olhos dele ficaram fixos sobre os dela por mais tempo do que ela esperava.
Com resultado do que sua cabeça pareceu debater durante alguns segundos,
ele apenas suspirou, fechou a carta, ajeitou-se em sua cadeira e disse:

- Não importa a Seção Financeira. Seu discurso de hoje no centro está


passando repetidamente nas rádios e eles se sentiram acuados o suficiente
para liberar a verba mensal como sempre. Não querem ser tachados como
conspiradores, principalmente sendo contra um Malfoy.
- E o que você pretendia fazer se eu, milagrosamente, também não tivesse
tido a chance desse discurso hoje. Se a pergunta não tivesse sido feita. Se eu
não tivesse conseguido pensar rápido.

- Dinheiro nunca foi um problema para mim, sabe disso.

Ela ergueu as sobrancelhas surpresa, embora tivesse muito suas dúvidas sobre
o que ele havia dito.

- Iria usar nosso cofre? – tinha que se portar como incrédula diante
daquilo. Não conseguia nenhum outro tipo de reação.

- Eu poderia.
Ele, definitivamente, não poderia estar falando sério.

- Tem noção de que estaria empurrando isso ao limite? Queremos mostrar


o quanto tudo isso é pessoal para nós, mas sabe que nenhum Malfoy faria esse
generoso favor. Seria totalmente antiprofissional e completamente
inconsequente.

- Inconsequente, talvez, mas tanto o mestre quanto o resto do mundo


veria o tamanho do meu comprometimento e isso compraria facilmente a
eliminação do Conselho, quando eu tivesse pelo menos uma batalha vencida
em York.

- Você não precisa mostrar comprometimento, Draco! Tanto o mestre


quanto o resto do mundo sabem suficientemente de todo o trabalho...

- Você não me diga o que eu preciso ou não mostrar...


- Sim, eu digo! – seu sangue estava quente. – Presumo que está deixando
adiarem a data do ataque em York para que essa discussão tome ainda mais
corpo e fique ainda mais acirrada. Você quer estar cada vez mais perto da
forca, quer ir até ela sem medo e com toda a confiança que seu orgulho bem
desenvolvido te oferece. Deve estar adorando que eu tenha incitado o
pensamento de conspiração contra você. Quer que as pessoas vejam o quanto
tinha razão caso vença uma batalha em York, não é mesmo? Quer que elas
vejam que, mais uma vez, você tinha a razão, mais uma vez, você quem sabia
da melhor solução, mais uma vez, quem conseguiu o que queria foi você. – ela
se livrou do guardanapo em seu colo. – Mas deixe-me lembrá-lo de que isso
não é um jogo para você jogar e, consequentemente, me carregar às cegas
nele. Eu estou grávida, Draco! E caso tenha se esquecido, nós não temos
tempo para o seu ego. – levantou-se. – Resolva o que tiver que resolver com a
Seção Financeira porque eu sei que sempre consegue o que quer, quando quer.
Mova o maldito acampamento para dentro de York e derrube o Conselho! Não
fique dando voltar porque não temos esse tempo! – findou secamente e deixou
a sala de jantar antes que ele tivesse tempo para contradizê-la.

Por mais que Draco tivesse a justificativa que fosse ou por mais que soubesse
lidar com aquele mundo melhor do que ela, deveria entender muito claramente
que ele não tinha uma vida mais, sozinho, e que as coisas não eram mais
exatamente como logo quando se casaram. Ela não era mais tão ingênua, não
ficava mais calada, entedia como certas coisas funcionavam no mundo dos
Comensais. Muita coisa para ela estava em jogo. Se ele fosse destituído, eles
estariam arruinados e Hermione não podia se dar a esse luxo. Não agora.
Estava grávida de dois filhos. Dois. Tinha dias em que era difícil processar
aquela informação, porque por mais que estivesse os gerando, a figura de dois
seres humanos que lhe fariam ser mãe, dois seres humanos que dependeriam
completamente dela, seres humanos estes, que teriam suas personalidades,
suas vontades e seus desejos. Tudo isso ainda era muito abstrato para o
cérebro dela.

Parou para respirar aliviada, por ter dito algo apenas quando alcançou o sótão.
O confortável calor que vinha do fogo baixo de suas poções e o cheiro
combinado de todas elas foram um tranquilizante instantâneo. Os nichos no
teto davam lugar às janelas e permitiam que ela visualizasse o céu, sempre
cinza de Brampton Fort. A chegada da primavera estava começando a permitir,
que o breu da noite, atrasasse algumas horas e depois de um ano vendo o sol
poucas vezes, Hermione aprendera a apreciar mais aquelas pequenas coisas.
Sentou-se em uma das poltronas que havia movido para aquele cômodo,
enquanto não providenciava as mudanças que gostaria de fazer ali. Astoria
havia implorado para ajudar porque nunca vira ninguém da classe alta
reformando um sótão e que aquilo seria, sem dúvidas, um ótimo desafio.
Hermione aceitara a companhia, até porque Astoria era boa e ela, por sua vez,
pouco entendia do assunto, embora se esforçasse visto o repentino interesse
que passara a ter na arrumação de sua casa.

Fechou os olhos por alguns segundos, ponderando se havia feito a coisa certa
ou não. Seus hormônios gritavam que havia, mas sua razão ainda se
questionava se fora realmente necessário que tivesse sido daquela forma,
naquele momento. Draco estava sendo, o que sempre havia sido nos últimos
dias: indiferente. Indiferente a ela, indiferente a sua gravidez, indiferente ao
casamento que tinham, indiferente a cumplicidade frágil que haviam começado
a lapidar não fazia muito tempo. Hermione sentia, finalmente, que ele estava
sendo o homem com quem ela havia se casado. O Draco dos primeiros dias,
fechado em seu próprio universo, ocupado demais para dar atenção a ela, a
não ser que estivessem fazendo sexo. Ela não sabia entender o porque ele
havia se fechado, quando nos últimos meses ele fora tão aberto. Não tão
aberto como ela era acostumada, mas aberto o suficiente para o padrão Draco
Malfoy.

De vez em quando, Hermione perdia o sono tentando recapitular os últimos


meses, à procura do que havia feito de errado com Draco. Ela havia se
permitido ser ela mesma, havia se permitido sorrir para ele, havia se permitido
falar exatamente o que pensava de qualquer tipo de assunto, havia se
permitido ser verdadeira, havia se permitido dizer besteiras ou coisas estúpidas
e se lembrava bem de ter recebido sorrisos por isso. Ele sorria. Era bonito. Ela
nunca havia esperado que Draco Malfoy pudesse combinar com uma expressão
descontraída, mas a verdade era que era bonito como os dentes dele
apareciam, como o inverno nos olhos dele parecia alcançar um tipo único de
esplendor, como ele perdia completamente o ar intimidador. Hermione se
perguntava como ele havia conseguido fingir tudo aquilo e se odiava por ter
sido burra o suficiente para acreditar que ele estava sendo verdadeiro, quando
toda a sua vida tivera consciência de quem Draco era. Não era o homem que
fingira ser nos últimos meses e a relação deles não havia crescido como ela
achava que havia. Sua grande dúvida era: Por que ele se dera o trabalho de
enganá-la?

Abriu os olhos sentindo-se confusa e com aquela pressão no peito que sentia,
todas às vezes, que começava a se questionar sobre aquilo. Levantou-se e
começou a organizar os livros que havia deixado espalhado pelo local,
devolvendo-os a estante que ainda estava montando para a Casa de Poções.
Distraiu-se alguns segundos, ao realocar alguns livros que Narcisa havia
indicado logo quando se casara, livros que a faria entender melhor os Malfoy e
a história que os envolvia. A linhagem Malfoy era a única linhagem direta de
Merlin que havia sobrevivido os séculos, por esse motivo, eles eram
considerados o sangue mais puro do mundo bruxo.

A lenda contava que Merlin havia persuadido uma ninfa, a mais bonita das
criaturas de seu tipo, com uma rubi enfeitiçada de poderes, a saciar seus
desejos por uma noite inteira. A ninfa, comprada pela rubi, se envolveu com o
bruxo e acabou gerando mais um dos herdeiros de Merlin, um que recebera o
nome Malfoy. Obviamente, havia toda uma encenação e maquiagem para a
história ficar mais interessante e fantasiosa, mas Hermione lera outras versões
que insistiam que, na verdade, Merlin acabara se envolvendo com uma bruxa
qualquer da alta corte de Arthur, bonita demais para ser confundida com uma
ninfa, e esse envolvimento acabara gerando o garoto Malfoy. Talvez, Merlin
tivesse a presenteado com uma rubi quando o envolvimento ficara sério,
porque de acordo com alguns escritos no nome de Merlin, o filho Malfoy era seu
preferido. Hermione também tentava ligar os pontos daquela história de outras
formas mais racionais, a rubi enfeitiçada, muito provavelmente, havia sido dada
a mãe do menino com o intuito de algum tipo de proteção, porque a terrível
fada Morgana, irmã de Arthur, detestava Merlin visto que a história contava que
ela havia conseguido dar fim a dois outros de seus herdeiros, nada mais justo
que ele tentasse proteger seu favorito. Aquilo, para Hermione, era o mais
plausível visto que no futuro, quem derrubara todo o poderio construído por
Morgana, não deixando pedra sobre pedra, não deixando que ninguém de seu
sangue continuasse sua história, havia sido um Malfoy.
Consequentemente, as linhagens de Merlin foram tomando corpo e, uma a
uma, fora caindo com o passar dos séculos. Os Malfoy haviam conseguido se
consolidar na história como a única sobrevivente, devido à preciosa pedra
vermelha dada por Merlin. Hermione a vira no cofre dos Malfoy, há uns meses,
pela primeira vez. Ficava isolada em um canto importante, coberta por um
jaula de vidro, num pedestal de prata feito somente para expô-la. Era uma
pedra qualquer de rubi lapidado, como todas as outras de seu tipo que,
provavelmente, caberia no centro de sua mão sem pesar muito. Narcisa havia
dito que a pedra era um dos motivos pelo qual Voldemort os mantinha por
perto e sempre ocupando altas posições em seu império. Seria muito mais
trabalhoso derrubá-lo, enquanto um Malfoy com a proteção de Merlin estivesse
ao seu lado.

Hermione duvidava muito que aquela pedra fosse especial. Não havia nada de
muito extraordinário quando a vira. Talvez, um dia, tivesse o interesse em
destrinchá-la, ver qual magia a envolvia, estudar como havia sido construída;
tentar reproduzi-la. Talvez a magia da pedra, se assemelhasse à construção da
magia que a Ordem vinha usando, assim teria certeza se o véu que conseguira
para a Ordem era legitimamente de Merlin.

Voltou para sua mesa, sentou-se e puxou os documentos da Comissão para


terminar a avaliação de todos eles. Não achava que a magia de segurança para
o novo acampamento precisasse mais ser trabalhada. Tudo estava em perfeita
ordem e eles tinham que contar que a Ordem não fosse lançar nada de
revolucionário e imprevisível, que desestabilizasse o equilíbrio da proteção do
acampamento. Hermione estudava incansavelmente junto à Comissão, toda
aquela magia estranha e poderosa, tudo ainda era muito inconclusivo, mas aos
poucos, ela sentia que estava encontrando uma forma de dominar a essência
de como tudo era montado, organizado e colocado em prática. Na verdade,
sentia que era a única capaz, porque o resto da Comissão parecia não ver as
coisas que ela via e achava constantemente difícil de entender o que ela
explicava. De qualquer forma, importava que ela conseguisse repassar uma
forma de combater aquela força.
Quando terminou seu trabalho, todas as velas já estavam acesas e a noite já
havia caído do lado de fora. Sabia que deveria voltar para o quarto, mas não
queria encontrar Draco. Ocupou-se com suas poções o máximo que pode, mas
conhecia-se o suficiente para saber que precisava manter sua rotina mesmo
estando em casa, principalmente agora que estava grávida, principalmente,
porque faria exames na próxima semana e não queria que nada alterasse o
resultado em objetivo.

Hermione sabia que ele deveria estar furioso com ela. Draco detestava quando
levava um sermão autoritário, como o dela, por alguém que estava abaixo dele.
Obviamente que ela não estava abaixo dele, da perspectiva dela, mas tinha
plena certeza de que, da perspectiva de Draco, ela certamente estava abaixo
dele.

Quando chegou ao quarto, encontrou Draco de pé na cabeceira do seu lado da


cama, o que a surpreendeu. Ele já estava apenas com sua calça de algodão e
logo ergueu os olhos para ela. O silêncio os consumiu naquele simples segundo,
até que ele erguesse a mão e mostrasse o sapatinho que segurava.

- Comprou isso? – ele perguntou.


- Não. – foi tudo que ela se limitou a responder.

- Quem te deu?

- Sua mãe.

- Isso era meu.

- Eu sei.

Ele abaixou os olhos para o que tinha na mão e o analisou por alguns
segundos.
- Por que? – ele perguntou.

Ela puxou o ar não querendo entrar naquele campo.

- Longa história. – acabou dizendo.

- Me conte. – tornou a erguer os olhos para ela.

Hermione se viu obrigada a contar as palavras de Narcisa. Draco escutou


atentamente, sem interrompê-la, o motivo pelo qual ela havia recebido aquilo.
Quando, finalmente, terminou ele continuou em silêncio, apenas devolveu o
que tinha na mão para onde havia o tirado, deu a volta e começou a preparar a
cama para poder se deitar. Hermione deu às costas e seguiu para o lavatório,
mas parou antes de entrar. Enterrou as unhas na palma de sua mão não
querendo fazer o que devia fazer. Mas precisava, precisava porque talvez aquilo
aliviaria, nem que fosse um pouco, a angústia de ter se exaltado com ele no
jantar. Virou-se para encará-lo. Ele estava encostando as costas na pilha de
travesseiros que havia montado contra o espaldar da cama e abria uma pasta
com o símbolo de seu departamento para analisar o conteúdo.

Mordeu os lábios nervosamente, trocou o peso do corpo de perna


desconfortavelmente e puxou o ar, lutando contra sua vontade de tornar a dar
as costas e continuar seu caminho.

- Desculpe. – chamou a atenção dele que logo ergueu os olhos para ela. –
Por ter falado com você daquela forma no jantar.

O rosto dele foi completamente inexpressivo, o olhar seguiu também o mesmo


caminho e o silêncio a matou pelos segundos que durou, até que ele abrisse a
boca:

- Que seja. – foi tudo o que disse e retornou a sua pasta.


Hermione estreitou os olhos diante daquilo. Que seja? Ela havia acabado de se
humilhar, acabara de se desculpar, acabara de dizer que havia agido errado
mesmo que tivesse razão e tudo que ele teve para dizer havia sido: Que seja?
O Draco que ela achava que estava conhecendo teria assentido, mesmo que
estivesse revoltado com o que ela havia feito e até talvez dito que ela deveria
parar de se desculpar como sempre fazia.

Soltou o ar com desgosto e seguiu seu caminho. Desfez-se do visual de


Narcisa, enquanto enchia a banheira e depois se deixou relaxar debaixo da
água aquecida. Queria muito poder ingerir álcool. Queria estar, naquele
momento, com uma garrafa de vinho para que pudesse afastar suas emoções,
seus pensamentos e suas angústias. Estar em uma banheira com sua cabeça
fervilhando não era nada eficaz, o que a fez deixá-la antes do esperado.

Secou-se, vestiu sua camisola, fez toda a sua rotina noturna e seguiu para a
cama. Assim que voltou para o quarto, encontrou Draco com os olhos sobre os
documentos em sua mão, mas estranhamente ele parecia em outro mundo e
não necessariamente atento ao que deveria. Hermione preparou o lado onde se
deitava, tirando a pilhas de travesseiros e afastou as cobertas. Sentou-se,
passou as mãos no rosto, enquanto suspirava e tentava relaxar. Alisou o
mármore do chão com os pés e alongou as costas passando o cabelo para um
lado, para poder massagear o pescoço antes de se deitar. Seu músculo estava
tenso e ela não sentia sono, mesmo sabendo que não demoraria dormir quando
deitasse. Soltou o ar e quis que tudo estivesse bem. Era tudo que queria. Que
tudo estivesse bem, mas tudo que podia realmente desejar era que tudo ficasse
bem.

O colchão se moveu e ela sentiu Draco se aproximar às suas costas. Ficou


surpresa quando ele passou a mão por sua cintura e cercou seu tronco. O hálito
quente bateu em seu pescoço e subiu até sua orelha. Hermione fechou os
olhos. Uma mão dele entrou pela fenda de sua camisola e começou a subir sua
perna. Ela a parou sentindo a base de seu abdômen esquentar, em resposta
imediata ao toque dele.

- Draco, eu não quero...

- Não estou perguntando se quer. – ele foi seco e Hermione sentiu raiva da
pouca consideração que ele estava tendo por ela ali.

Conseguiu sentir sua própria respiração pesar, quando os dentes dele se


fecharam calmamente no lóbulo de sua orelha.

- Draco, eu falo sério quando digo que não quero, por favor não me faça
querer. – ela implorou.

Sabia que era incapaz de resisti-lo quando ele a tocava. Havia mergulhado
naquilo no começo do casamento, quando mesmo o odiando intensamente, era
absolutamente impossível não saber que sentiria seu coração explodindo dentro
do peito em prazer, todas às vezes, que era tocada por ele e agora se via
perdida e incapaz de se livrar daquilo.

Ele continuou sua investida a deixando cada vez mais desarmada. Tentou
mover-se desconfortavelmente e até tentou parar as mãos dele, mas cada vez
que sentia a língua quente em contato com sua pele ou o calor do corpo dele a
explorando debaixo da camisola, sua boca repentinamente puxava o ar,
mostrando que estava se rendendo e Hermione se odiava por isso. Se odiava e
odiava Draco porque ele sabia bem que ela não queria.

Draco a arrastou para o meio da cama, prendeu seus braços acima de sua
cabeça e se colocou entre suas pernas. Ela sabia o que ele faria, e se fosse bem
sucedido, não havia mais volta. Os quadris dele começaram a se mover a
estimulando. Hermione não queria encará-lo. Virou o rosto e fechou os olhos
sentindo todo o seu corpo esquentar. Sua respiração já estava pesada e foi
ficando cada vez mais, quando começou a lutar contra a vontade de gemer.
Não queria dar esse gosto a ele.

O hálito dele rondou seus seios ainda por cima da camisola, e a essa altura, ela
já o queria dentro dela, principalmente quando conseguia o sentir duro e
enclausurado dentro de sua calça. A boca de Draco explorou seu pescoço mais
uma vez e subiu por sua garganta. Hermione estava muito certa de que ele iria
beijá-la. Chegou a sentir o hálito dele a centímetros de sua boca. Ela não queria
que acontecesse, não queria ser beijada, mas estranhou quando os segundos
foram passando e sua boca não chegou a ser tomada por ele. Abriu os olhos e
encarou os cinzas dele sobre ela, viu no brilho do olhar dele, o relance do
homem que havia lhe feito companhia nos últimos meses e não o Draco
indiferente dos últimos dias. Ele parou o movimento do seu quadril contra o
dela. Hermione sentiu seu corpo protestar, mas sua razão falava mais alto que
a tentação naquele momento. Eles se encararam por alguns poucos segundos.
- Está usando o olhar que costumava usar quando nos casamos. – a voz
dele soou incomodada.

- Isso vai te fazer parar? – ela indagou.

Ele ergueu as sobrancelhas.

- Você realmente não quer. – ele disse.

- Meu corpo quer. – e ainda conseguiu sentir os sinais de protesto do


prazer que ele havia acendido nela. - Mas você não me quer, tudo o que quer é
somente meu corpo. Portanto, vá em frente.
Draco abriu a boca ligeiramente, como se fosse dizer que na verdade não, na
verdade não era bem isso. E Hermione desejou que ele falasse, desejou que ele
dissesse que não era só o corpo dela, que a queria como havia a tido nos
últimos meses, a queria por inteiro, não somente seu corpo. Mas ele não disse,
bem como já sabia que não diria, apenas porque não era verdade. Por um
segundo, quando ele tornou a fechar a boca, ela pensou que Draco fosse seguir
em frente com o que havia começado, mas ele não seguiu. O viu até fazer
menção de tentar mais uma vez, mas acabou se afastando. Saiu de cima dela e
deitou ao seu lado.

Hermione se sentou. Devolveu a alça de sua camisola para o ombro e fechou os


olhos, tentando se concentrar em sua respiração. O silêncio os consumiu e
Draco continuou estático ao seu lado, sem mover um músculo sequer.

- Eu pensei que estava começando a te conhecer. – ela deixou sua voz soar
extremamente baixa. – Mas, de repente, percebi que não o conheço em
absolutamente nada.

- Você não precisa me conhecer. – o tom dele foi seco.

- Sim, eu preciso. – ela o olhou por cima do ombro. – Moramos juntos,


somos casados, além de cúmplices e estou gerando os seus filhos. Não quero
que seja um estranho que está sempre presente e me toca quando tem
vontade. Pensei que tivéssemos passado essa fase, pensei que havíamos
deixado isso para trás, que havíamos superado os primeiros meses, que nem
tudo sobre nós era apenas sexo. Por que você quer nos levar de volta para esse
estado? Pensei que estivéssemos tentando construir uma vida civilizada. Lutei
todo esse tempo para ignorar o ódio e a raiva que acumulei por você todos
esses anos, para que pudéssemos construir essa vida.

Ele não respondeu no mesmo instante, mas não muito tempo depois se
manifestou, calmo, porém sério:

- Acaso ignorar o ódio e a raiva, fez com que eles fossem embora?

Ela queria responder que sim, mas sabia bem da verdade porque todas as
vezes que alguma lembrança do passado voltava, o ódio e a raiva vinham
juntos.

- Não. – teve que dizer.


- Então não importa o que construirmos, não será verdadeiro. – e foi ali
que ela entendeu que Draco não havia fingido, que ele não havia a enganado.
Ali, Hermione entendeu que ele apenas via o ponto fraco do que estavam
vivendo, e não somente isso, mas o mal que estavam criando caso
continuassem no mesmo caminho. Eles estavam se envolvendo e isso não
assustava só a Draco, porque se ele havia notado e estava tomando uma
providência, ela se sentia estúpida por ter fechado os olhos por tanto tempo.

Agora ela entendia todo o comportamento dele, todos os altos e baixos dos
últimos dias, as perguntas sem nexo, os olhares congelantes que ele a lançava,
os momentos em que sentia que Draco avaliava e julgava até mesmo o modo
como ela respirava. Talvez ele tivesse passado ou ainda estava passando, por
um grande conflito em relação a ela.

- Por isso, você prefere nos levar novamente para onde começamos? – sua
voz foi baixa.

- Por isso, que eu prefiro que fiquemos onde começamos. – ele se sentou.
Claro que Draco preferia, o lugar onde começaram era seguro. Eram apenas
um homem, uma mulher e sexo, nada mais. – E fim. – fez menção de se
levantar, mas Hermione o segurou pelo pulso.
- Draco. – ela se viu fazer o que nunca teria feito em sua vida. Sentiu-se
estúpida, mas não recuou quando Draco a encarou esperando que ela
continuasse. Não se importava com o conflito que ele estava passando, o que
haviam vivido desde que perderam a filha havia sido real. – Se quer que
sejamos o que éramos no começo, corpos vazios coexistindo nessa casa, nessa
cama, na Catedral, apenas porque somos incapazes de superar nosso passado,
vamos ignorar completamente os últimos meses? A forma com fazíamos sexo,
como pensávamos juntos, como agíamos juntos. Vamos esquecer que rimos,
que compartilhamos pensamentos estúpidos no escuro da madrugada, que não
éramos apenas educados um com o outro. – era quase doloroso ter que se
lembrar de como ela se sentia confortável em encostar nele, de como o sorriso
dele havia ficado gravado em sua memória, de como ele displicentemente a
cumprimentava sempre quando entrava em um ambiente que ela estava, de
como conversavam durante o jantar sobre coisas irrelevantes. Era doloroso
porque Draco estava ignorando tudo aquilo. – Vamos mesmo esquecer que as
coisas deixaram de ser vazias, invasivas e intocáveis e passaram a ter um
significado?

- Que significado, Hermione? – ele parecia tragado, e agora, ela podia ver
no olhar dele que para Draco, as coisas não pareciam tão fáceis, tão claras, tão
objetivas. Ele estava confuso, mas muito certo sobre algo.

- O significado de que não somos apenas dois inimigos debaixo de um teto,


caçando um ao outro incansavelmente por orgulho. O significado de que temos
um futuro pela frente, temos um plano para executar, vamos ter filhos e
estamos ligados.

- Mas essa não é a realidade. Não ela inteira. A realidade é que temos um
passado. – ele insistiu, embora, seus olhos brilhassem de uma forma diferente,
de uma forma que ela passara a conhecer, como se estivesse enxergando as
coisas por um ângulo diferente naquele momento, como se estivesse se
entregando a algo, mesmo que ainda quisesse se manter resistente.
- E por isso vamos esquecer o que tivemos esses últimos meses? –
Hermione conseguia enxergar o perigo do caminho que estava seguindo com
Draco, porque ela já havia o percorrido mais de uma vez. Mas ainda não
conseguia abrir mão do fato de que já haviam avançado juntos nele, por um
tempo bastante considerável. – Vamos ignorar tudo o que conseguimos
construir? Você sabe que não foi fácil. – teve receio, mas mesmo assim,
levantou a mão e tocou o rosto dele, sabendo que não faria isso normalmente,
mas se eles dois eram capazes de enxergar onde estavam em relação ao
relacionamento deles, ela não precisava se conter e medir seus toques por
saber que ele era Draco Malfoy. Tirou seu tempo para observá-lo. Tudo nele era
tão perfeito que parecia ter sido minuciosamente esculpido. Os músculos de seu
rosto, a linha de seu queixo, o desenho de seu nariz, os olhos perfeitamente
cinzas, intimidadores e tempestuosos. Hermione conseguia se lembrar
perfeitamente, de como Draco fazia aqueles olhos serem tão acolhedores, às
vezes, de como ele fazia seu toque frio aquecer sua pele, de como ele
surpreendentemente fazia sua voz, dura e afiada, soar pacífica e compreensiva.
Ela queria que ele soubesse que havia reparado nisso, que ela havia sido grata
por, todas às vezes, que ele se permitira ser gentil além do educado, por, todas
às vezes, que se deixara falar sobre algum pensamento privado, por, todas às
vezes, que havia a tocado sem ter medo de ser cuidadoso e intenso. Hermione
sabia que Draco não havia fingido nada daquilo, por mais que tivesse se
questionado muitas vezes esses últimos dias, devido ao estranho
comportamento dele. Agora, ela sabia que ele não havia. Levou sua mão até a
nuca dele e sentiu os fios macios e loiros entre seus dedos, enquanto os olhos
dele percorriam cada extensão de seu rosto. Havia uma certa angústia contida
ali. Hermione queria entender o que era. – Draco, se você ao me dissesse... -
Ela engoliu as palavras quando ele avançou até sua boca passando os braços
pelo seu tronco para se apoiar no colchão. Mas Draco parou e não a beijou.
Parou apenas a milímetros de seus lábios, com a respiração pesada, como se
estivesse contendo a fome que surgira em seus olhos, no momento em que
avançou. Hermione não deixou de querer protestar por ele ter se contido.
Aquele era o Draco que havia estado ao seu lado nos últimos meses, não a
criatura distante e indiferente dos últimos dias. Aquele Draco não era
detestável. Aquele Draco havia se permitido com ela e Hermione não queria
que aquele Draco tivesse parado, nem que ele estivesse tentando resisti-la,
naquele exato momento. Sabia que ele tinha razão. Sabia que eles deveriam
recuar. E por mais que não quisesse abrir mão do mínimo que haviam
vivenciado juntos, era bastante racional para enxergar a potencialidade daquilo
e o grande desastre que poderia acarretar. Mas foi sabendo que ele tinha razão
e que deveriam recuar que ela juntou a saia de sua camisola e passou uma
perna por ele, sentando-se em seu colo sem deixar que suas bocas se
afastassem de onde estavam. Juntou sua outra mão na nuca dele e afastou-se
minimamente apenas para poder ver seus olhos incrivelmente cinzas, com a
intensidade que ela havia se acostumado a encarar nos últimos meses. – Se
vamos voltar a ser como éramos antes. Corpos vazios movidos unicamente pelo
prazer. Então deixe que eu, Hermione, não somente o meu corpo, o tenha uma
última vez. Mas não somente o seu corpo. Você, Draco. Ao menos, uma última
vez. – sussurrou. Ela o queria, o queria como havia o tido todas as outras vezes
que fizeram sexo desde que haviam perdido a filha.

Draco hesitou, enquanto Hermione conseguia sentir a cabeça dele trabalhando.


Agora ela se dava conta. Se dava conta do quanto havia ido fundo com ele. Só
agora percebia o quanto havia se envolvido, o quanto Draco tinha poder sobre
as vontades dela, o quanto aquele caminho era perigoso e o quanto ele a
abalava, principalmente, quando voltava a ser indiferente. Seria melhor recuar,
seria melhor voltar a ser o que eram antes, porque ela e Draco nunca poderiam
superar o passado que tinham. Eram dois apostos incompatíveis e isso entraria
em conflito em algum momento. E, talvez, ela se arrependesse de persuadi-lo.
Talvez, se arrependesse do que estava querendo, naquele momento. Quem
sabe, até se arrependesse de perceber que em sua vida inteira, nenhum outro
homem havia sido como Draco. Com nenhum outro, Hermione havia passado o
que havia passado com Draco e sempre quando faziam sexo, o ato refletia
como haviam crescido juntos, e se não fosse para tê-lo mais, não daquela
forma, ela ao menos queria uma última vez, para se lembrar de como era, de
como seria e onde poderiam ter chegado. E com essa conclusão, Hermione
abria mão e se vendia facilmente a ideia de ser como eram antes. Era seguro,
era certo. Não arriscaria se envolver nem ir mais fundo, com um homem que
ela torcia, para que não tivesse matado seus pais.

Mas só mais uma noite. Uma para Hermione se lembrar de como havia sido.
Puxou sua camisola e a tirou por cima da cabeça. Draco a tocou quase que
imediatamente, mas um toque receoso. Ele ainda parecia resistir de alguma
forma. Uniu seus rostos novamente deixando suas bocas na mesma distância
de antes, onde ela podia sentir o hálito dele. Movimentou seu quadril contra o
dele para senti-lo ainda, vagamente, acordado dentro de sua calça. Quase era
capaz de ouvir as engrenagens na cabeça dele. Deixou seus lábios roçarem os
dele e, talvez, aquilo tenha sido demais para Draco porque, finalmente, ele a
tomou como deveria. Suas bocas se encaixaram exatamente como milhares de
outras vezes e foi absolutamente renovador.
Ah, o sabor dele... Havia algo na forma como seu beijo com ele acontecia. Logo
quando haviam se casado, parecia vazio, mas ardia em desejo, agora parecia
completo e cheio de significado. A forma como suas bocas se moviam, como
seus lábios dançavam, como suas línguas se tocavam, como tudo entrava em
harmonia. As mãos de Draco traçaram seu corpo como se estivessem a tocando
pela última vez, como se nunca mais fosse ter a chance de, verdadeiramente,
senti-la. Os braços dele passaram por sua cintura e a trouxeram para perto,
fazendo seu corpo colar no dele. Era essa a proximidade que tinham e até a
forma como seus corpos se encostavam, tinha um significado quando estavam
sendo Draco e Hermione e não somente corpos com desejo.

Ele a segurou pela cintura e a devolveu à cama, deitando-a de costas. Eles se


encararam enquanto ele se colocava calmamente entre as pernas dela. Draco
parecia estar se libertando de um terrível aprisionamento. Suas bocas se
encontraram, mais uma vez, para que pudessem brincar um com os lábios do
outro e novamente se encararam. Hermione passou a mãos pelos cabelos dele.
Os olhos cinzas agora eram um grande conforto. Ele não era o Draco
indiferente, não era o Draco que estava apenas querendo seu corpo.

- Como consegue ser tão absurdamente linda? – ele disse, enquanto


arrastava o polegar sobre seu lábio inferior. – Me irrita.

Ela sorriu e deixou suas mãos descerem o abdômen dele.

- Por favor, não torne as coisas mais difíceis.


Ele sorriu e a beijou mais uma vez, antes de descer por seu pescoço, por entre
seus seios até seu abdômen. Draco se deixou observar por alguns segundos o
mínimo volume aparente na base de sua barriga, antes de pressionar seus
lábios ali. As mãos dele tiraram a peça que lhe restava e Hermione se viu
totalmente exposta, como dezenas de vezes anteriores. Mas sentia-se
confortável assim, Draco havia se esforçado em conhecer seu corpo como
nenhum outro homem e ele parecia gostar, de cada mínima parte dela, o que
consequentemente a fizera ser diferente com ele na cama. Ela se sentia
absolutamente livre.

Draco tirou a única peça de seu pijama e deitou sobre ela novamente, tomando
cuidado para não esmagá-la. Hermione fechou os olhos para poder sentir todas
as reações de seu corpo, enquanto a boca dele percorria seu colo, seu pescoço,
sua orelha e suas mãos apertavam sua pele e exploravam seu seio.

Ela perdeu suas mãos nos cabelos dele e deixou sua respiração se tornar
expressiva. Sabia que antes que realmente o tivesse, Draco exploraria seu
corpo o tanto que quisesse. Hermione não se importava. Ele conhecia bem
como ela funcionava e suas mãos não eram displicentes, passavam pelos
lugares certos, na intensidade certa, nos momentos certos e sempre se
surpreendia com o quão rápido Draco era capaz de fazê-la sentir que iria
explodir.
Quando ele deslizou para dentro dela, sem pressa alguma, ergueu-se para
poder vê-la. Hermione precisou conter sua respiração, até seu corpo reagir num
mínimo espasmo e sua garganta soltar um opressivo gemido. Draco sorriu e ela
cerrou os olhos dando a ele aquela minúscula vitória antecipada demais. Passou
seu braços pelo pescoço dele e ergueu-se para recuperar sua boca. Ele cedeu
beijando-a e indo fundo dentro dela.

Draco foi paciente, exatamente como ela havia previsto. Devagar. Aproveitando
cada mínima sensação. Acabou por deitar sobre ela e cercar sua cintura com os
braços. Seus corpos se juntaram sem que nenhuma brecha existisse entre eles,
e ele começou a movimentar-se, com calma, fazendo com que ela tivesse a
perfeita consciência do tamanho dele e de seus músculos o envolvendo.

Hermione adorava sempre quando começavam daquela forma, discretos e sem


pressa, porque sabia como terminavam. Senti-lo dento dela, fazia seu corpo
reagir com tanta rapidez, que ela sempre se surpreendia. Draco a encarou e
seus olhos se mantiveram unidos numa única sintonia. Ela conseguia ver em
que nível ele estava, assim como sabia que ele podia fazer o mesmo com ela.
Os dois nunca trocavam olhares quando sexo era só prazer. Fez sua mão
passar pelos cabelos dele e tocou seu rosto. Esperava que aquilo fosse só dela,
aquele olhar, aquele toque. Não queria compartilhá-lo com ninguém. Não
queria que Pansy o tivesse como ela o estava tendo agora, não queria que
nenhuma mulher o tivesse verdadeiramente, não queria que nenhuma mulher
tivesse o Draco Malfoy que a olhava daquela forma, a tocava daquela forma, a
beijava daquela forma.

Hermione logo não foi capaz de conter, a forma como sua garganta exigia se
manifestar, quando expirava o ar. Pediu para que ele fosse mais rápido e Draco
não recusou. Fez sua boca colar contra a dela mais uma vez e se escondeu na
curva de seu pescoço. Ela desceu mão por suas costas, explorando a pele dele
como se fosse um tipo raro de pergaminho. O contato de seus corpos a
estimulava a um nível assustador.
Draco aumentou ainda mais a velocidade, mostrando que precisava daquela
intensidade. A agonia finalmente a castigou e Hermione soube em qual campo
estava entrando. Tentou segurar, mas seus gemidos eram meramente
consequência do calor e a angústia que a consumia. Arqueou seu corpo e no
momento em que Draco sentou-se sobre os joelhos e a trouxe consigo, ela
soube que seus corpos estavam numa sintonia perturbadora. Eram como duas
folhas de papel brincando próximas demais do fogo.

Hermione moveu os quadris incessantemente contra o dele, não suportando a


ideia de ficarem parados. A agonia era tanta, que ficar mais dois segundos
naquela posição era paciência demais para a vontade queimando em suas
veias. Draco a deitou novamente e puxou seus quadris para cima, para que não
perdessem o contato com o dele em nenhum momento. Ela rebolou implorando
para que ele fosse mais rápido e mais forte. Ele não a negou e ela se viu
obrigada a arquear todo o corpo, sentindo que estava se aproximando do fim
da linha. Seus dedos se fecharam contra o lençol da cama e o puxou. Seu corpo
se contorceu e Hermione chorou por mais usando o nome dele.

Engoliu o próprio gemido e a respiração, quando seu cérebro pareceu dar voltas
e sua visão escureceu por um segundo. Seu corpo contraiu-se e relaxou num
espasmo expressivo. O som que saiu de sua garganta, logo em seguida, foi
agudo e rouco. Ela teve um último espasmo menor, sentindo o reflexo de ser
consumida pelo prazer, e soltou o ar respirando ofegante de costas contra o
colchão. Draco inclinou-se sobre ela novamente e beijou sua boca. O calor da
língua dele e o sabor familiar era quase uma recompensa final. Ele se afastou
com um sorriso nos lábios e eles se encararam.
- Ainda não terminei. – a voz dele foi profunda, fazendo vibrar até mesmo
as veias de todo seu corpo fragilizado.

- Não esperava que tivesse. – ela respondeu ofegante, ainda o sentindo


perfeitamente duro e grande ocupando todo o seu interior. Provavelmente,
também devia estar com um sorriso estúpido nos lábios.

Draco sorriu em resposta ao que ela havia dito como se estivesse avisando que
não pretendia ter pressa. Hermione realmente esperava que ele não tivesse.
Não queria que terminasse nunca, essa era a verdade. Queria ele daquela
forma todas as noites. Não só o físico dele, mas ele, o olhar dele, o sorriso
dele, o toque dele, o beijo, o cuidado, a intensidade. Pensar que aquela era a
última vez que estavam se permitindo, que estavam se tocando como Draco e
Hermione, não apenas como homem e mulher, era angustiante, mas sabia que
era o melhor, o mais seguro, o mais racional.

Quando Draco a colocou por cima dele, Hermione se sentou e não deixou que
ele tivesse tempo de protestar a ausência de fricção entre eles. Moveu-se como
sabia que ele gostava, sem muita paciência para brincar com o tempo, sentindo
ele duro e pulsante. Draco dava os sinais de quando ela devia conter-se para
prolongar mais o estado em que ele se encontrava. Hermione sabia que estava
os regendo naquele momento e fez seu serviço com maestria até que ele
descesse o dedo até ela para tocá-la em seu ponto mais sensível, enquanto
ainda trabalhava sobre ele.
O toque foi o suficiente para colocá-la sob um estado nervoso e desequilibrá-la.
Seu corpo ardeu novamente e Hermione não parou. Cada membro seu
começou a formigar, de cima a baixo, e ela não conseguiu encontrar outra
forma de buscar por alívio que não fosse a velocidade com o qual se movia.
Draco não parecia muito longe do caminho que Hermione tomava e sentou-se,
colando seu corpo no dela num abraço quente e suado.

Suas respirações ofegantes e desesperadas lutaram pelo mínimo espaço em


que seus rostos se colocaram, quando suas testas se encontraram e Hermione
não parou, vendo que o único caminho para o alívio era o movimento
ininterrupto e incansável de seus quadris. Seu gemido era externado de acordo
com a crescente ânsia com a qual seu corpo inteiro se via ser consumido. Seu
quadril não foi capaz de parar e por mais rápido que ela fosse contra o membro
dele, a velocidade nunca parecia suficiente e Hermione precisava ir mais rápido
e mais rápido, enquanto sua garganta expressava toda aquela angústia.

Num segundo, em que o oxigênio pareceu ter desaparecido da atmosfera, ela


precisou parar, seu corpo inteiro travou e ela não conseguia se mover, até que
seus músculos mais uma vez sofressem com seus espasmos e Hermione
jogasse a cabeça para trás chorando um gemido longo.

Draco não deu a ela um segundo de descanso e suas costas já estavam contra
o colchão. Ela achou que havia alcançado o alívio, mas ainda havia uma parte
de si que precisava de mais. Ele continuou investindo contra ela. Hermione
puxou seus cabelos ofegando e acreditando que desfaleceria. Draco foi forte e
fundo, seus olhos cinzas sobre ela contavam claramente que ele se lembraria
daquela vez, se lembraria dos sons dela, do toque dela, do olhar, do significado
de cada simples busca por ar, porque quando se tocassem novamente apenas
como homem e mulher, nada daquilo mais existiria, nada daquilo seria
permitido e ele se lembraria de como havia sido aquela noite, se lembraria de
quem eles haviam sido ali, de que haviam chegado um dia ali.

Hermione não se surpreendeu, quando seu corpo exclamou


desesperadoramente por mais alívio. Cada vez que Draco ia contra ela, e cada
som que saia do mais profundo da garganta dele, era um sinal de que estava a
levando ao fim e de que ele estava indo junto. Não queria que acabasse, queria
que ficassem ali, daquela forma, naquele estado, para o resto da noite, para o
resto do dia seguinte, para o resto do fim dos tempos, mas seus corpos
pediam, seus corpos imploravam o socorro, imploravam o fim, choravam pelo
alívio e berravam pela dor do fogo que os consumia.

Quando vieram juntos, dando um fim a tudo aquilo, Hermione não soube
exatamente como se sentiu. Embora todo seu físico clamasse satisfação, com
todos os espasmos e contrações de seus músculos, seu peito estava apertado.
Os músculos de Draco relaxaram quando ele liberou tudo que tinha dentro dela.
Ele a observou ofegante como se estivesse entendendo o significado daquilo.
Seus dedos passaram pelo rosto dela desenhando a linha de sua têmpora e
foram até sua nuca onde entraram por seus cabelos. Draco inclinou-se e tocou
os lábios dela com os seus. Beijaram-se como se entendessem a situação com
muita racionalidade.

Ele se afastou quase como se não quisesse, deitou ao lado dela e a trouxe
consigo, embora Hermione também já se movimentasse para não se separar
dele, mesmo que Draco não tivesse tido o esforço de levá-la consigo.
Acomodou sua cabeça sobre o peito dele e fez uma mão sua ir displicentemente
até os fios de seus cabelos loiros.
O silêncio os uniu, enquanto ela escutava o coração dele acalmar-se. Hermione
não queria dizer nada, e talvez ele também não quisesse, porque apenas
ficaram ali, existindo. Não dormiam juntos daquela forma fazia dias e ela sabia
bem, que aquela noite seria a última. Fechou os olhos, ajeitou-se
confortavelmente sobre Draco, passou os braços pelo seu tronco e ficou quieta,
sentindo os dedos dele brincarem displicentemente com os cabelos atrás de sua
orelha.

Seu corpo deu sinais de exaustão quase que minutos depois. Estava grávida e
talvez fosse por isso. Ela não queria dormir sentindo a dor no peito de que
aquilo acabaria quando o sol nascesse. Lutou contra a vontade de dormir, mas
não demorou a ser tragada completamente pelo sono, bem consciente de que
estava caindo para a inconsciência bem antes de Draco.

Seus sonhos eram perturbadores todas as noites. A constante intrusa de sua


infância, as lembranças de quando havia perdido sua filha, ameaças terríveis
feitas por Voldemort que sua própria mente criava, duas crianças que ela via
como estranhas, mas sabia que eram suas, Draco sendo grosseiro e detestável,
seus amigos com dedos acusadores apontados para ela.

Quando foi trazida quase que, relutantemente, à consciência novamente,


Hermione conseguia ver que era dia através de suas pálpebras fechadas.
Sentia-se ainda exausta, por causa de seus sonhos, mas percebeu que havia
sido parcialmente tirada de seu sono porque o corpo de Draco se movia contra
o dela. Ele parecia pouco consciente ainda, mas ela estava meio que de bruços
e ele a esmagava sobre suas costas. Os sons que ele fazia eram os mesmo de
quando acordava, como se estivesse preguiçosamente limpando a garganta.
Sentiu que estava sendo arrastava de volta para o mundo dos sonhos e sabia
que precisava dormir mais. Não lutou contra, nem quando Draco a abraçou pela
cintura mais uma vez, e sussurrou numa voz rouca e grave próximo ao seu
ouvido um “adeus” que ela sabia bem o que significava, antes de se afastar
completamente do corpo dela. Hermione não teve tempo nem mesmo para
lamentar e, rapidamente, voltou a dormir sem nem mesmo chegar a abrir os
olhos.

Draco não voltou para casa aquele dia, nem o dia seguinte, no outro, ele
chegara tarde e saíra cedo e Hermione jantara sozinha, dormira sozinha e
acordara sozinha exatamente como nos anteriores.

Ao menos, sabia que havia tido uma última vez com ele.

**

- Não sei se cheguei a comentar, mas estou feliz por ter decidido se
mostrar finalmente. – Astoria tornou a se aproximar dela no boticário em que
se encontravam no centro. – Aqui, encontrei o que estava procurando. –
estendeu a ela um frasco com o rótulo de uma poção de sua lista.
- Obrigada. – pegou a poção. – O que quer dizer com eu ter decidido me
mostrar? – elas começaram a avançar, distraidamente, pelas prateleiras.

- Você sabe. Se privar um pouco da loucura da Catedral, não precisar estar


sempre tão formal, se deixar sair mais vezes. Draco tem algo a ver com isso?
Tenho certeza de que ele deve estar bancando o protetor agora, e não te quer
se estressando com coisas desnecessárias.

- Por que ele bancaria o protetor? – ela se arrependeu de ter soltado aquilo
no mesmo instante, puniu a si mesma por ter se distraído, ao passar o olhar
sobre uma seção com frascos, de ervas raras.

Astoria soltou um riso fraco.

- Hermione, vamos lá. Todo mundo sabe que está grávida. Você não
precisa mais fazer esse papel. Sem contar que já deixei de contar o número de
vezes que perdeu o fôlego enquanto conversávamos. - Hermione parou e a
encarou. Astoria parou logo em seguida e seu sorriso murchou. – Desculpe, eu
não tive a intenção de ser invasiva a esse ponto, só achei que fôssemos
próximas o suficiente para que não precisássemos guardar essa informação
uma da outra.
Hermione passou os olhos de um lado para o outro do corredor em que
estavam. Deu uma longa piscada enquanto soltava o ar e se aproximou da
mulher.

- Precisa ser discreta e, por favor, não confirme a ninguém. – foi tudo o
que disse quase sussurrando.

O sorriso de Astoria voltou quase que cruzando seu rosto inteiro dessa vez.

- Então é mesmo verdade?! – ela parecia extasiada em alegria, mas


manteve o tom de voz baixo, o que Hermione ficou grata. – Hermione você não
tem ideia do quanto fico feliz por isso! Eu e Isaac temos tentado tanto esses
últimos meses, mas ele tem estado tão ocupado, ultimamente. Estamos
pensando em procurar um medibruxo para saber de algum feitiço que possa
nos ajudar. Mas isso não é interessante agora! Céus! Com quantas semanas
está?
Hermione acabou sorrindo da alegria contagiante de Astoria.

- Quatorze. – respondeu.

- já? – Astoria pareceu surpresa. – Você já está saindo do primeiro


trimestre! Já consegue sentir alguma coisa?

- Um pouco. – ela respondeu. – Mas é um tanto confuso, não dá para saber


o que é porque é muito imperceptível.

- Sei como é. Ainda é um pouco cedo. – ela parecia ter um sorriso pregado
no rosto agora. – Faz bem dar esse tempo para você por agora.

- Sim, eu sei, mas Draco precisa de mim também. Tenho que ir a Catedral
hoje. Eles vão mover o acampamento de York amanhã e preciso me certificar
de que tudo está correndo exatamente como planejado.
- Admiro seu empenho com a guerra. – ela comentou e parou quando
Hermione fez o mesmo para ver algumas raízes. – Deve ser ruim quando Draco
tem que se ausentar de Brampton Fort, por causa do exército.

- Sabemos que é necessário. – ela ficaria por ali com o que dissera,
enquanto pegava um dos frascos na prateleira, mas se lembrou da farsa que
tinha que viver com Draco. Não podia ficar só por ali como costumava sempre
fazer agora. Ela tinha que disseminar seu grande amor por ele. – Porém,
bastante injusto. – acrescentou devolvendo o frasco a prateleira e retomando
sua caminhada. – Ele faz falta. Ficamos tanto tempo separados e agora que
finalmente conseguimos ficar juntos, parece quase irreal como conseguimos
administrar os sentimentos quando estávamos longe. – mentiu embora fosse
impossível não deixar de lembrar do vazio que era a cama todas as vezes que
ele não dormia nela.

Astoria foi compreensiva dizendo que conseguia entender perfeitamente.

- Isaac me faz falta até mesmo quando tem que ficar até tarde na estação
ou verificando as escalas nos portões. Imagino o que deve ser para você já
Draco fica, às vezes, por semanas fora.
- Nos últimos meses, nem tanto. Ele conseguiu administrar para poder
cumprir tudo daqui. Foi um trabalho intenso, mas eu o ajudei. – concluiu
Hermione. Astoria foi quem parou dessa vez para separar algumas ervas em
potinhos separados. Ela comentou algo sobre jardins e Hermione apenas
respondeu que estava trabalhando no dela. Uma curiosidade lhe bateu
repentinamente e acabou perguntando sem receio: - Foi difícil para você
começar a aceitar Isaac quando se casou?

Astoria pareceu satisfeita com a pergunta, como se ficasse grata em conversar


qualquer coisa íntima. Hermione sabia que era porque aquilo dava total
abertura para que ela fizesse o mesmo mais tarde.

- Éramos muito educados um com o outro, posso dizer, mas não posso
deixar de admitir que foi um pouco complicado. Ele não me via com muito bons
olhos porque sabia que minha família havia nos juntado apena, para se salvar,
quando o império do mestre começou a tomar muito corpo. Eu também estava
bastante apegada ao pai do filho que perdi. Tive que me esforçar porque achei
que Isaac fosse me desprezar caso soubesse que o filho não era dele, então
tentei nos forçar para a cama muitas vezes, até mesmo quando ele não queria
ou não podia, apenas para que ele não desconfiasse quando minha barriga
começasse realmente a aparecer. Eventualmente, minha máscara veio a cair,
quando eu perdi o bebê e ele ficou sabendo com quantas semanas eu estava
através do medibruxo. Foi perturbador por alguns meses conviver com ele,
principalmente porque ele não é nenhum idiota e percebeu que eu estava
tentando enganá-lo, tentando fazer parecer com que o filho fosse dele. Tive
raiva por um tempo porque ele poderia ter sido mais compreensivo em
entender o meu estado. Eu não podia deixar aquele casamento desmoronar.
Minha família dependia de mim. Só fui perceber que ele também queria que as
coisas dessem certo, quando acabei indo para um lado meio obscuro. Eu ficava
muito quieta, não queria sair, não queria conversar, não me importava com a
casa, não me importava em preparar nada, em cuidar de nada, em me dedicar
a nada, em ser produtiva. Acho que isso começou a preocupá-lo e foi,
justamente, quando começamos a ser honestos um com o outro. Ele começou a
ser mais cuidadoso e eu comecei a tentar enxergar as qualidades dele. As
coisas foram melhorando com o passar do tempo, não foi nada da noite para o
dia, mas sinto que temos um laço muito forte um com o outro por causa disso.
Na verdade, eu sempre quis que as coisas acontecessem comigo como
aconteceram com você e com a maioria. Me apaixonar, ter o casamento dos
sonhos com um homem que me escolheu e que eu também escolhi, começar
uma vida juntos com todos aqueles sentimentos fortes e tudo isso, mas acho
que quando as coisas começam com muitas expectativas, as eventuais
frustrações parecem muito mais difíceis de enfrentar. Nós não tínhamos
absolutamente nenhuma expectativa um com o outro e foi uma surpresa boa
quando as coisas começaram a acontecer. Acredito que comecei a aceitar
Isaac, no momento em que ele me deixou saber que ele também estava me
aceitando e a partir daí fomos abrindo os braços um para o outro, cada vez
mais. Sabemos lidar com as oscilações de sentimentos porque eles vem e vão
toda hora. Construímos o amor e consequentemente, com o tempo, a paixão
surgiu, e isso é forte entre nós, essa aceitação que temos, a decisão que
tomamos de estar presente um para o outro, independente do sentimento ou
da condição.

Hermione sorriu. Foi um dos sorrisos mais sinceros que já havia dado naquele
lugar.

- Isso é algo bonito de se escutar. – foi obrigada a dizer. Pensou em Draco.


Jamais teriam condições de alcançar aquilo. Ela sentia que já haviam passado
por tanto e ainda assim olhe onde haviam chegado, viravam o rosto um para o
outro sempre que podiam. Pensar nisso a fazia lembrar de que nem sempre
havia sido assim e num segundo sua garganta já começou a arder e ela teve
que desviar seus pensamentos antes que seus olhos embaçassem.

- Hermione. – Astoria foi cuidadosa ao chamá-la, enquanto a via distrair-se


com um dos frascos que acabara de devolver a estante. – Há algo de errado?
Hermione tratou de sorrir e se fazer de intrigada usando a boa máscara que já
havia se acostumado a colocar.

- Não. Não que eu saiba. Há algo errado?

- Não. – apressou-se Astoria. – É só que... por um segundo você me


pareceu... – ela não aparentava estar muito confortável, como se não soubesse
se deveria ou não comentar. – Triste. – concluiu.

Hermione sorriu.

- Tolice. Não tenho motivos para estar triste. – ela passou uma mão sobre
a barriga esticando as camadas de tecidos leves que descia de sua cintura para
que Astoria pudesse ter uma boa visão do tamanho que ela já estava devido a
gravidez. Na última semana, sua barriga esticara mais do que ela esperava. –
Tenho uma boa razão para estar feliz.
Astoria sorriu abrindo os olhos surpresa, ao ter a visão do tamanho de sua
barriga.

- Pensei que tivesse dito estar com quatorze semanas.

- E estou. – sorriu e abaixou o tom de voz para confessar: - São gêmeos.

A boca de Astoria abriu e ela simplesmente congelou.

- Gêmeos? – ela parecia em choque.

Hermione assentiu.
- Não deve contar a ninguém. Ainda não posso sair afirmando essas coisas
por aí. Deixem especularem.

Astoria somente assentiu, enquanto seu choque se transformava em um


enorme sorriso.

- Céus! Como está se sentindo com relação a isso?

Hermione deu de ombros e elas tornaram a caminhar.

- Não sei. Tenho receio. Tinha muitos receios quando pensava em um


apenas e agora que devo pensar em dois me parecem que todos esses receios
duplicaram e ainda trouxeram mais receios.
Astoria então fez com que elas entrassem em uma profunda discussão sobre os
receios de se tornar uma mãe. Hermione sabia que não devia estar se tornando
tão íntima da Sra. Bennett, se Draco soubesse a profundidade das conversas
das quais se engajavam ele com certeza já teria a repreendido e exigido que
ela recuasse. A abertura que tinham permitia que Astoria se sentisse
confortável ao ponto de entrar em campos íntimos de sua vida, e várias vezes,
Hermione chegava a se sentir mal por acabar desviando os assuntos. Astoria
não era uma companhia maçante, ela era o mais perto de uma amiga que
Hermione tinha, embora estivesse constantemente a avaliando e destrinchando
em sua mente os vários significados de uma única pergunta dela. Sua
conclusão era que ela parecia ser apenas uma mulher que já passara pelo
suficiente para se desencantar do mundo de fantasias que achava ter nascido e
Hermione era a única companhia que também não estava presa a esse mundo.

Passaram quase a manhã inteira entrando e saindo de lojas procurando pelo


estilo perfeito para o seu novo sótão. Astoria estava realmente empenhada e
era tão extremamente talentosa que Hermione não pode evitar sugerir:

- Deveria trabalhar nessa área. – disse enquanto folheavam um catálogo de


cadeiras. – Você é ótima.

O sorriso de Astoria mudou quase que imediatamente e ela pareceu um tanto


desconfortável.
- Obrigada, mas não acho que isso daria certo.

Hermione intrigou-se.

- Astoria, você realmente é boa. É tão boa que eu me sinto mal por não
estar te pagando nada.

- Oh. – dessa vez o sorriso de Astoria se desfez e Hermione não entendeu.


Um silêncio estranho ficou entre elas e Astoria ocupou a boca a taça de água
com ervas que haviam recebido, assim que foram acomodadas na parte
exclusiva da loja em que estavam. – Somos amigas, não somos Hermione?

Hermione uniu as sobrancelhas confusa.


- Sim, mas isso não significa que deva fazer esse trabalho...

- Não. – ela a cortou. – Você não está entendendo. – ela deu as costas um
tanto sem graça, puxou o ar e caminhou de volta para sua luxuosa poltrona.
Puxou um dos catálogos da pilha ao seu lado e o colocou no colo, mas não o
abriu. Hermione continuou sem entender. – Eu entendo o porque não entende.
Você não cresceu nesse mundo. Eu não posso trabalhar. Sou uma Bennett.
Faço parte de uma das famílias tradicionais.

Hermione achava aquilo uma grande idiotice.

- Não pode deixar que isso influencie nos seus desejos. Eu não aceitei isso
e inclusive acho isso uma grande ignorância.

- É uma grande besteira, eu sei. E você tem o poder de não aceitar isso, é
uma Malfoy, pode fazer o que bem quiser. Mas eu não. Sou uma Bennett e é
melhor que eu continue seguindo as coisas como devem ser seguidas.
- Está desperdiçando um talento.

- Não estou.

- Claro que está. Quantas vezes preciso dizer que é boa?

- Eu sei que sou, Hermione. Sou muito boa. E é isso que não entende. – ela
suspirou. – Eu não quero falar isso, você é uma boa pessoa e não quero que
pense mal de mim. Estou apenas fazendo o que é meu trabalho fazer.

Hermione fechou o catálogo em suas mãos não entendendo absolutamente


nada.

- O que quer dizer?


Astoria mantinha o olhar baixo.

- Não faço nada de graça. Na verdade, ninguém faz nada de graça. Não
nós, não entre nossas famílias tradicionais. Já deveria saber que não estou
trabalhando no seu sótão apenas porque me interessei ou porque somos
próximas. Já deveria saber que é assim que funciona entre nós, usamos o que
sabemos fazer, influência, persuasão para estarmos sempre... – ela parecia
estar medindo cada palavra. – ...colocando nossas família em uma constante
troca de favores. – pareceu ser o melhor que ela conseguiu, e ainda assim, não
soava muito agradável. - Farei o seu sótão e dessa forma estará em dívida
comigo, não será nada tão gigantesco, mas precisa compreender a figura por
inteiro. Não será nada que te coloque na obrigação de me atender ou atender
minha família quando eu precisar de algum apoio, até porque é uma Malfoy e
vocês entram muito como exceção, mas precisa entender que tudo faz parte de
uma construção. Dessa forma eu desenvolvo relações e imponho minha família
sobre as outras. Principalmente porque você é uma Malfoy e todas as outras
famílias devem vocês e não é uma dívida na qual você trabalhou ou Narcisa
trabalhou para levantar, e sim, uma dívida histórica nas quais aqueles que
vieram antes de vocês fizeram o excelente trabalho de construir. Vocês estão
acima de todas as outras famílias. É importante que eu faça a minha parte
dentro desse trabalho, de fazer com que minha família esteja dentro desse
sistema, competindo pela hierarquia, competindo pela influência e assim como
todas as outras competindo também pela proteção de um Malfoy.

Hermione ficou em silêncio um tempo, enquanto segurava na mão sua luxuosa


e cara água, e na outra, o catálogo daquela péssima loja. Ela tinha plena
consciência do que era ser uma Malfoy, do tamanho de seu sobrenome, do
objeto que era, da constante atenção que as pessoas manipulavam para ter
dela, mas mesmo sendo muito consciente de tudo isso era doloroso ver Astoria
ali na sua frente, naquele momento. Era como se estivesse levando outro soco
no estômago, outro lembrete que a avisava sobre a realidade da posição que
ocupava. Em que momento, havia esquecido que Astoria não buscava sua
companhia apenas porque a apreciava? Por mais que soubesse que ela tinha
um jogo por trás do que fazia, sempre se via enganada pela boa conversa de
Astoria, pela boa companhia, pelas sinceras histórias que contava e pela
conexão que ela sentia que tinha com a mulher. Era doloroso saber que
nenhuma parte de Astoria se importava com a Hermione que ela era, e sim,
com a Malfoy que era.

- Não quero que faça o meu sótão. – foi tudo que acabou dizendo.

- Hermione, entenda que não estou tentando derrubar sua família por me
oferecer a lhe prestar um serviço insignificante. Eu teria que ter o poder de
voltar muito tempo na história para destruir toda a influência de vocês. Estou
apenas tentando garantir...

- A sua família. – Hermione terminou para ela. De repente, se viu ser


Hermione demais com Astoria, quando na verdade, deveria estar sendo uma
Malfoy. - Está tentando garantir a ascensão de sua família se pendurando na
minha. Está construindo a nossa lista de dívidas para com a sua, começando
pelo meu sótão, partindo para o bom serviço do seu marido ao meu, seguindo
para a nossa amizade e no momento que precisarem saberão que estaremos
com as mãos estendidas para apoiá-los. Belo jogo.

- Não é um jogo, Hermione. – Astoria de levantou. - Não estou nisso


tentando tirar apenas vantagens para a minha família. Entenda que não estou
sendo, nem fui falsa, em momento algum, diante do que nós duas...
- É com esse discurso que pretende me comprar? – diante daquilo, Astoria
não pareceu ter muito mais o que falar. Precisava ser uma Malfoy e aquilo lhe
doía. Se ela não estava sendo falsa, teria que lhe provar.

- Isso é um sistema...

- Eu entendo o sistema. – a cortou novamente. Havia se deixado levar por


ela tempo o suficiente. – Não a julgo por se inserir nele. Ao que me parece, se
vê condenada a ele. – Aproximou-se. Estava na hora de começar a jogar com
os Bennett da mesma forma como Draco fazia. – Me permita ser clara aqui, se
quer o apoio dos Malfoy, precisará ganhá-lo, mas não criando uma lista de
favores nos quais me colocará em dívida com vocês. Draco e eu não fazemos
parte do sistema. Prove ser alguém que valeria a pena que déssemos apoio e
isso será o suficiente. – estendeu o catálogo a ela. Astoria o pegou. – Posso
terminar o meu sótão sozinha. – ela entenderia a mensagem. – Preciso ir a
Catedral. – deu as costas.

Astoria não questionou mais uma palavra e Hermione deixou a sala em que
estavam, desceu as escadas de volta para o salão de amostras da loja e seus
olhos inconscientemente caíram sobre a exposição de berços num dos cantos à
sua direita. Ela desviou seu olhar, rapidamente, e continuou seu caminho. Saiu
para o lado de fora e foi até sua carruagem, pedindo desculpas por estar
apressada aos jornalistas empilhados na porta, cumprindo assim, seu bom
papel de atenciosa.
Antes de entrar em sua carruagem, parou sentindo a garganta lhe apertar.
Fechou os olhos quando eles arderam e mordeu os lábios. Não podia nem
mesmo ter uma amiga. Uma que fosse verdadeira. Respirou fundo, engoliu
tudo aquilo com dificuldade e entrou em sua cabine, buscando a máscara que
sabia muito bem colocar agora.

O caminho da grande avenida central para a Catedral era rápido. Não demorou
muito e sua carruagem já estava parando de frente à gigantesca edificação.
Pulou para o lado de fora e começou a avançar em direção a grande entrada,
usando a cabeça para cumprimentar aqueles que ela conhecia. Seu pés a
guiaram até a torre de Draco. Quando chegou a ante-sala a cruzou, enquanto
Tina se levantava para detê-la e Hermione apenas a ignorou.

- Sra. Malfoy, não pode! Tenho que... – ambas pararam quando Hermione
tentou abrir a maçaneta da porta da sala de seu marido e a encontrou
trancada. Estranhou. – ...anunciá-la. – terminou Tina um tanto receosa.

Ela não se lembrava de ter encontrado a porta de Draco trancada, em nenhum


outro momento. Seu cérebro trabalhou rápido e no segundo em que ela
conseguiu ligar os pensamentos recuou um passo receosa, mas deteve-se
sabendo que não poderia sentir aquilo. Não tinha o direito de sentir receio. Não
podia. Puxou o ar novamente, refez a postura e encarou Tina.
- Anuncie-me, então. – Era uma Grifinória. Tina puxou o ar, como se
pretendesse convencê-la do contrário, mas não dizendo nada. Ficou apenas
imóvel. Hermione não estava com paciência para aquilo. – Anuncie-me. –
ordenou dessa vez.

Tina, finalmente, pareceu criar a coragem para bater na porta de Draco e


avisá-lo que sua esposa estava à espera do lado de fora. Hermione permaneceu
exatamente onde estava, de frente para a porta, até que ela fosse aberta. Suas
mãos suavam quando a figura que apareceu a sua frente foi a de uma bela
mulher. A estatura era um pouco menor que a dela, longos cabelos loiros que
enrolavam desde a raiz, corpo bem delineado, olhos bem azuis. Era uma das
recepcionistas do saguão do quartel.

Hermione manteve sua postura intacta, enquanto passava os olhos da cabeça


aos pés da mulher que, evidentemente, se mostrou ameaçada. Quando deu um
passo para o lado, permitindo que a mulher passasse e fosse embora, não
houve nem um sequer segundo de hesitação da parte dela que sumiu a passos
rápidos. Hermione precisou buscar todo o seu foco e frieza, para entrar na sala
onde encontrou Draco com os braços cruzados encostado em sua mesa. No
rosto ele tinha a expressão neutra de sempre.

- Chegou cedo. – foi o que ele disse.


- Quer mesmo me fazer parecer uma idiota. – ela disse passando por ele e
indo até o outro lado de sua mesa. Havia tanto desgosto por trás da máscara,
que não queria deixar cair que mal conseguia olhá-lo diretamente. – “A pobre
esposa traída”. Que outra Malfoy nunca recebeu esse título, não é mesmo? –
sentou-se na confortável cadeira dele. – Deveria ao menos ser discreto.

- Tina tem um contrato de confidencialidade. – ele disse voltando-se para


ela não muito contente da associação feita.

- Hum. – ela forçou um sorriso. – Não me surpreende que tenha


arquitetado tudo a seu favor. – Começou a avaliar os documentos espalhados
pela mesa. – De qualquer forma, espero que tenha produzido algum documento
explicando as direções que devo tomar com o Conselho já que quer que eu o
assuma enquanto estiver em York. Se está tendo tempo para atividades extras,
certamente deve ter tido tempo o suficiente para elaborar algo.

- Segunda gaveta. – ele informou.

Ela abriu o lugar e encontrou a pasta no topo. A abriu e viu todo o roteiro para
ser seguido.
- Perfeito. – a fechou e ergueu os olhos para ele. Todo ódio que cativara
sobre aquela figura, lhe atormentou pelos segundos, em que seus olhos
estiveram um sobre o outro. – Se sabia que eu viria de qualquer forma, visto
que estará deixando Brampton Fort para York hoje, por que me chamou? –
cruzou os braços.

- Preciso que coordene a Comissão nas primeiras horas da manhã de


amanhã.

- Durante o ataque?

- Sim. Preciso que faça isso da Catedral. Não quero que exista o risco de
perdermos, caso sejamos surpreendidos com algo novo por parte da Ordem.
Você é a única que saberia pensar em algo rápido para resistirmos ao invés de
recuarmos, no pior dos casos.

Hermione deu de ombros.


- Preciso ter feedback imediato se eu tiver que fazer isso da Catedral.

- A Comissão já está trabalhando nessa parte. Você deveria ir até eles


verificar como as coisas estão indo.

- Como quiser. – ela se levantou. Passou por ele novamente e dirigiu-se a


porta.

- Não se esqueça que temos sessão fechada do salão principal e jantar com
o ciclo interno hoje à noite. – ele a lembrou antes que ela saísse.

- Mal posso esperar. – foi tudo que ela proferiu antes de bater a porta e
deixar a presença dele que estava a sufocando.
Não tinha estômago para aguentar as sessões fechadas no ciclo interno de
Voldemort, Hermione estava simplesmente em um estado incapaz de suportar
as atrocidades do antro de psicopatas, que adoravam ver o sangue que sempre
escorria pelo mármore, assim como, os gritos das torturas constantes.

O oxigênio parecia raro, enquanto seus passos faziam o caminho de volta.


Tentava se focar em sua postura, tentava se focar no ritmo contínuo do seu
salto contra o piso, tentava se focar no caminho que deveria seguir. Tudo que
ela tentava pensar era em seu orgulho, mas lhe doía tanto. Ele por inteiro
parecia ferido e, no momento em que percebeu que sua visão embaçou, deu às
costas e fez o caminho mais rápido até o banheiro que acabara de passar.
Trancou-se na primeira cabine que encontrou, cobriu o rosto e soluçou
tentando ser o mais silenciosa possível, enquanto as lágrimas lhe escorriam
incontrolavelmente.

Malditos hormônios! Ela sentia que estava desmoronando, seu orgulho estava
desmoronando, sua armadura, que com tanta dificuldade conseguira construir,
estava desmoronando em pedaços. Não era forte. Nunca conseguiria ser forte.
De pouco adiantava as máscaras que conseguira administrar e colocar em sua
expressão, os sentimentos por trás delas sempre falariam mais alto, sempre a
feririam, sempre a torturariam e a fariam ser eternamente fraca. Hermione não
conseguiria sobreviver àquele lugar, não conseguiria sobreviver sendo uma
Malfoy, não conseguiria sobreviver em seu casamento.

Soluçou e tentou conter as lágrimas, mas elas eram infinitas. Pareciam se


revoltar com todas as vezes que haviam sido contidas, pareciam querer se
vingar dessa vez. Seu corpo todo tremeu e Hermione se sentiu fraca, mas pelo
menos ficar de pé ela se obrigaria. Encostou-se contra a porta e se permitiu
ficar os minutos que precisasse, até ter forças, finalmente, para começar a se
concentrar no número de vezes que seu cérebro gritava para que parasse. Não
podia estar chorando por culpa de Draco, novamente. Já havia superado aquilo
quando estava no terceiro ano.
Colocou as mãos sobre o pequeno volume a base de sua barriga. Precisava se
concentrar naquilo. Seus filhos. Precisava se concentrar neles, não em Draco.
Respirou fundo duas ou três vezes, até que conseguisse colocar sua razão de
volta ao lugar que deveria estar. Limpou as bochechas com a respiração ainda
desuniforme e deixou a cabine, passando a se recompor diante do espelho onde
ficou grata pela pouca maquiagem que precisava usar agora. Refez a pequena
trança na lateral de seu cabelo e tornou a prendê-la com o grampo. A ponta de
seu nariz continuava vermelha e seus cílios estavam molhados. Suas mãos
ainda tremiam.

Praguejou a existência de Draco e abanou as mãos contra o rosto, tentando


secar qualquer tipo de lágrima que ainda estivesse lutando para fazer alguma
aparição. Piscou e encontrou alguma forma de refazer seu orgulho e colocar
uma das máscaras arruinadas que deixara cair. Refez sua postura e deixou o
banheiro, no momento em que virou a esquina para retomar o caminho para os
andares da Comissão, deparou-se com Theodoro encostado na parede com os
braços cruzados como se estivesse a sua espera. Parou estranhando que ele
estivesse ali, exatamente da forma que estava.

- Hei. – ele manifestou-se. – Aposto que nem notou que cruzou comigo
nesse corredor, há dez minutos.

Hermione estava pouco se importando com quem passava por ela, há dez
minutos, quando havia deixado a sala de Draco.
- E isso o incomodou o suficiente para me esperar aqui? Se estiver
pretendendo usar todo aquele seu discurso de antes, saiba que minha resposta
é não. Não vou voltar para o seu departamento.

- Não insisto mais nada com você, desde que passei da linha quando a
beijei. Já me fiz claro que a quero de volta, mas que quero que tome essa
decisão por você mesma. – ele descruzou os braços e se aproximou. – Na
verdade, quero saber como se sente.

Hermione franziu o cenho confusa.

- Como me sinto?

- Quase metade da extensão do St. Mungus em Brampton Fort fez escala


em sua casa por dias, por sua causa e você ainda me parece confusa quando
faço essa pergunta?
Ela respirou fundo.

- Me sinto bem. – foi tudo o que disse então. – O que você faz por aqui?

- Draco me chamou. Faz uns dias, claro. Provavelmente quer um favor,


portanto, decidi atender ao pedido dele apenas hoje. Ser um pouco insolente
com alguém que pensa governar todos abaixo dele me faz bem, mas já deve
saber que minha família não tem se saído muito bem sem a aliança dos Malfoy.
Não é uma escolha muito sábia ser insolente por muito tempo na situação em
que estou e Draco sabe disso. Não é a primeira vez que engulo meu orgulho,
por causa de um Malfoy.

- Sabe que eu o pus nessa situação e, mesmo assim, você continua vindo
até mim.

- Seguir a razão nunca foi meu forte, Sra. Malfoy.


Ela estreitou os olhos.

- Não pense que eu vou cair nessa. – Aproximou-se e abaixou o tom de


voz. – Entenda, sou grata pelo que fez por mim quando deu a poção que fiz a
Fred, mas não considere que fazendo crescer uma lista de favores vai conseguir
me fazer comprar essa ideia que está tentando me vender.

Ele riu.

- Não estou tentando te vender nenhuma ideia, Hermione. Eu sei que


passei da linha com você quando invadi sua casa mais de uma vez e quando a
beijei. Eu faria qualquer favor para me redimir desse erro, mas não voltaria
atrás porque se houver na minha vida inteira apenas uma chance de te beijar e
ela tiver sido aquela, eu certamente não pensaria duas vezes em fazer tudo de
novo. - Hermione apertou os lábios, enquanto o analisava com cuidado. Não
queria nada vindo de Theodoro, não queria absolutamente nada, mas o que ele
lhe oferecia parecia fazer sentido por um momento, parecia fazer como se ela
estivesse desperdiçando algo, se não aceitasse. Draco viveria a vida dele, com
as mulheres dele, com os relacionamentos dele. E ela? O que seria dela? Seria
Narcisa Malfoy? Sozinha? Talvez, Theodoro fosse um pontapé inicial, uma
tentativa primitiva. E, quem sabe, se ela ao menos tentasse... – Sei que esteve
chorando. – ele segurou seu queixo cuidadosamente e ela deixou. Não desviou
nem recuou. Tentaria e sabia que não seria difícil porque havia um ar adorável
nos olhos dele, nas covinhas de sua bochecha, no desenho dos lábios dele. –
Cílios molhados, olhos brilhante, nariz vermelho. – ele apontou os sinais e
abaixou a voz aproximando-se mais. – Eu poderia te fazer sorrir, Hermione. – a
proximidade dele era perigosa e ela apenas tocou seu braço com cuidado para
mostrar que ele só chegaria até ali. – Você deveria me deixar tentar.

- Não. – ela disse, mas se viu usar a mesmo tom baixo que ele usava e
ficar exatamente onde estava ao invés de recuar. – Você passou da linha uma
vez, não vai passar nova...

- Ao menos eu tranco minha porta. – a voz de Draco soou alta e forte vindo
do final do corredor a cortando e fazendo-a engolir o ar no mesmo segundo. Ele
se aproximou, vindo seguido de Tina. E Hermione deu um passo afastando-se
de Theodoro, no mesmo segundo, que seu corpo conseguiu ter alguma outra
reação. – Não exija discrição quando não for capaz de dá-la igualmente,
querida esposa.

Hermione sentiu-se furiosa pela ironia contida nas palavras dele, enquanto o
via se aproximar.

- Theodoro e eu estávamos apenas...


- Apenas conversando. – terminou Theodoro por ela. – Diferente do que
certamente você deve fazer com uma porta trancada. – Hermione sentiu como
se Nott estivesse tentando ganhar algum ponto com ela dizendo aquilo.

Draco soltou um riso fraco.

- Estava flertando com a minha mulher, Theodoro, não conversando. E não


precisa dizer nada por ela. Hermione tem uma boca e já se fez provar isso
vezes o suficiente. Não é à toa que sua família e o seu nome estão na atual
situação em que se encontram, por culpa dela. – Draco focou-se em Hermione
quando estava próximo o suficiente. – Você deveria estar com a Comissão. – e
depois em Theodoro. – E creio que subestimei a necessidade da sua família,
visto que ignorou meu chamado. – e passou por eles.

- Estava indo à sua sala para discutirmos sobre isso. – Theodoro


pronunciou-se.

- Claramente não estava com pressa. – Draco não se virou, apenas


continuou seu caminho, seguido de Tina.
- Será que não poderíamos fazer isso agora? – insistiu Theodoro.

- Não tenho tempo. – foi tudo o que ele disse em resposta antes de virar
uma esquina e desaparecer.

Theodoro praguejou por debaixo da respiração e desviou seu olhar para


Hermione. Ela, por sua vez, apenas estava decidida a por um fim naquilo.

- O dia que eu precisar de você, eu irei até você. Espero ter sido clara. – foi
tudo que ela disse e deu as costas para seguir o mesmo caminho de Draco.

Ele chamou por ela, mas Hermione apenas ignorou e seguiu seu caminho. Era
estupidez pensar que Theodoro Nott fosse preencher algum vazio dentro de si,
mas a consciência de saber que ninguém ali naquele lugar seria capaz de um
dia preencher qualquer vazio nela era terrível, o suficiente, para que a fizesse
considerar dar meia volta e tentar algo com ele. Apenas esperava que esse
pensamento nunca a levasse a fazer qualquer idiotice.
**

Eram quase cinco da manhã e ela estava com a cabeça extremamente


perturbada. Tudo havia acontecido em sequência, desde que a noite caíra.
Sessão com Voldemort no salão principal, o que sempre embrulhava seu
estômago, jantar com o ciclo interno, em seguida, e logo depois, ela
acompanhou Draco em seu discurso aos convocados da zona seis e sete antes
de seguir com eles para York, por um salão que Hermione, até então,
desconhecia na ala da Comissão, um que permitia que aparatassem, e aquilo
foi curioso o suficiente para entretê-la nos minutos seguintes, onde descobriu
que na verdade a entrada e saída por ali eram, triplamente, mais complicadas
do que pelos portões nas muralhas, porque a listagem de informações sobre
quem usaria e usava o salão era extremamente detalhada.

Naquele exato momento, Hermione tentava manter os olhos abertos, enquanto


procurava ajudar o grupo da Comissão responsável por York a estabelecer uma
conexão estável com o acampamento. Draco não parecia muito interessado em
colaborar e obviamente estava ocupado organizando e repassando todas as
ações para quando o relógio batesse seis da manhã.

Hermione tentava fazer o que podia, mas estar grávida, aparentemente,


sugava tanto de suas energias que ela tinha raiva por se ver incapaz de virar
uma noite como já fizera tantas outras vezes.
- Deveria ter ido para casa, Sra. Malfoy. – uma das bruxas da Comissão
comentou no momento em que ela bocejou.

- Estou bem. E já pedi para que me chamem de Hermione, por favor. – foi
tudo o que respondeu.

- Temos poções caso sinta que precisa de mais energia. – um dos bruxos
comentou e de repente ela sentiu os olhares sobre ela como se estivessem
esperando pela resposta.

Hermione estando grávida, não podia tomar aquele tipo de poção e as


especulações sobre sua gravidez nos meios de comunicação bruxa eram
frequentes o bastante para que os deixassem atentos, a qualquer mínimo sinal,
que ela acidentalmente desse. Apertou os lábios e sorriu.

- Não acho que seria uma boa escolha pra mim. – Disse. Precisava mesmo
que especulassem e que comentassem, precisava que eles soubessem antes de
uma confirmação oficial e Voldemort, verbalmente, expressara sua indignação
quanto ao vazamento de informações.
Draco o convencera de que deveria punir a mídia e sua extrema habilidade em
cavar informações, ainda que Hermione bem soubesse que ele tivesse
trabalhado para que o descuido fosse da parte dos documentos do St. Mungus.
Voldemort jamais cortaria a mídia pela raiz, isso estragaria os planos de ter um
público fiel e não um público amedrontado. Permitir que apenas, jornais e
revistas produzidos somente para o público dos fortes circulasse entre os
comensais, já era uma medida demasiadamente ditatorial.

- Hermione? – ela ouviu a voz de Draco soando pela ante-sala em que se


encontrava com o grupo da Comissão.

Hermione estalou os dedos e num segundo um dos bruxos estendeu uma das
varinhas sobre a mesa. Ela a pegou e a apontou para sua garganta.

- Draco? – foi cuidadosa com o Tom de sua voz porque sabia que estava
soando na cabeça dele.

- Ótimo, parece estar funcionando. Estamos a postos e vamos começar as


primeiras ações, em quinze minutos. Está tudo certo com a Comissão?
- Sim. – ela respondeu recebendo um sinal de positivo de um dos bruxos
do outro lado da ante-sala em que se encontrava.

- Certo. – então ele pausou. Era a primeira vez que Draco falava
diretamente com ela. Os dois sabiam que havia terceiros escutando e eram
bem conscientes no que deveriam trabalhar, sempre que tinham a chance.
Hermione esperava que ele fosse se despedir, ela esperava que ele fosse atuar
o papel dele, dizer que a amava, e assim, ela teria que repetir o mesmo,
sentindo suas entranhas revirarem, mas Draco se manteve em silêncio por
alguns segundos e ela considerou que, talvez, ele estivesse esperando que ela
dissesse algo. Mas no momento em que pensou em dizer qualquer coisa ele
tornou a se pronunciar: - Você foi para casa?

- Não. – ela respondeu.

- Deveria ter dormido um pouco.


- Estou bem.

- Parece soar cansada.

- Eu estou bem. – insistiu ela.

Ele suspirou.

- Você é tão insuportavelmente teimosa. – a forma como Draco disse


aquilo, a fez se lembrar de quando discutiam sobre algum cômodo em que ela
havia mudado algo de lugar sem o consentimento dele. Soltou um riso, quase
que imediatamente, quando reviveu o curto tempo harmonioso que os dois
viveram juntos. Suspirou logo em seguida e tentou não deixar seu sorriso
morrer, quando se lembrou de que ele estava fazendo aquilo, apenas, porque
havia pessoas escutando. Uma pequena pausa durou entre eles até que a voz
de Draco tornasse a soar: – Eu te amo. – aquilo sempre pegava Hermione de
surpresa, mesmo que fosse uma mentira.
- Te amo. – ela nunca conseguia deixar que sua voz fosse muito alta
porque não queria deixar que aquelas palavras, saíssem de sua boca. Não para
ele. – E tome cuidado, por favor. – ao menos isso teria sido verdade se, talvez,
não tivesse visto a mulher com quem Draco se trancara em sua sala àquela
tarde.

- Tomarei. – respondeu ele. – Fique atenta. Posso precisar que seu cérebro
pense rápido.

- Ficarei. – foi tudo o que respondeu, e então, o constante zunido


informando que ele estava ligado desapareceu.

Hermione ainda demorou um tempo para abaixar a varinha e estendê-la de


volta à pessoa mais próxima. A mulher a encarava com um amável sorriso no
rosto.

- Ele vai ficar bem, Sra. Malfoy. – ela disse ao pegar a varinha de volta.
Forçou um sorriso, percebendo que não tinha nenhum em seus lábios.

- Sei que ele vai. – Sabia apenas porque queria que Draco não ficasse.

Não demorou até que todo o grupo na ante-sala em que estava passasse a se
concentrar no mapa aberto sobre uma mesa a sua frente. Hermione conseguia
ver todos os pontos em vermelho das zonas preparadas para entrar em campo.
Haviam também os pontos azuis que representavam Draco e os líderes de cada
grupo de ação.

O mapa de York era linear e cercava parcialmente o território trouxa como uma
meia lua. O edifício que eles tomariam como acampamento era uma espécie de
hospedaria que fora tirada de funcionamento, no momento em que a Ordem
tomara a região. Ficava, exatamente, no cruzamento das duas vias principais
que cortavam a área e era uma das edificações mais expressivas de York. Era
um excelente lugar para estabelecer o funcionamento de uma equipe como a
de Draco, ou até mesmo a Ordem, o que fora um trabalho a mais para se
certificarem de que o lugar estava realmente vazio.

Quando o relógio bateu seis horas da manhã, Hermione já foi capaz de ver o
primeiro grupo se mover. Sabia que Draco fazia parte do primeiro grupo de
ataque. Ele iria junto e, de alguma forma, isso fez suas mãos suarem. Aquilo
era completamente diferente das outras vezes em que Draco deixara Brampton
Fort para se dedicar fisicamente à guerra. Poder fazer parte e saber como as
coisas estavam acontecendo era um tanto perturbador.
A intenção era fazer com que tudo começasse como qualquer outro ataque
pequeno, em uma área qualquer de York. As zonas responsáveis por York
faziam isso a todo momento para mapear o funcionamento da segurança que a
Ordem alocava na região. Eles entrariam em ação em quatro lugares
estrategicamente pensados e recuariam. No momento em que o grupo de
Draco recuava ao sul, outro grupo já entrava em ação ao norte. A Ordem
reagiu exatamente como o previsto, segundo os líderes responsáveis por
reportarem e avaliarem o andamento das ações.

Do outro lado da ante-sala, o grupo da Comissão esperava pelo momento em


que as zonas conseguissem estabelecer um caminho mais estável entre o
acampamento fora de York até a hospedaria, para que pudessem aparatar e
chegar até lá, onde começariam a delimitar as fronteiras que isolariam aquela
única edificação do domínio dos rebeldes.

Tudo aconteceu exatamente como previsto. Os ataques dispersaram as vigias


colocadas pela Ordem, ganhando tempo o suficiente para que uma boa massa
de comensais atravessasse a via principal mais curta até a hospedaria livre de
muito empecilho. No mesmo segundo, em que a Ordem pareceu captar que
estavam definitivamente sobre um ataque expressivo, foram reportados que o
número de rebeldes começava a duplicar na região.

Minutos depois, foram reportados de que haviam conseguido entrar no edifício


e Hermione pode notar o número de marcações vermelhas e azuis que sumiam
para dentro da área marcada como o futuro acampamento no mapa. Notou os
pontos se alinhando para fazerem um corredor até a hospedaria e foi, nesse
momento, que deu o sinal de positivo para o grupo do outro lado da ante-sala.
Os primeiros aparataram já com a varinha em punhos e o restante somente
aparataria, quando conseguissem abrir as chaves de portal direto para dentro
da hospedaria.

- Certo, essa é a hora em que eles começam a trabalhar. – anunciou um


dos bruxos na ante-sala, quando desligou a linha com um dos líderes que
acabara de reportar que os primeiros bruxos da Comissão já estavam
avançando para o edifício.

Hermione assentiu e abriu a linha com o grupo do outro lado da câmara em que
estavam.

- Fiquem atentos as chaves de portal. Quando a conexão for feita, devem


usá-la o mais rápido possível.

O grupo captou a mensagem com uma afirmação e ela tornou a se atentar ao


mapa. Marcações verdes mostravam que o grupo da Comissão estava já à
porta da hospedaria e, não muito tempo depois, eles receberam a informação
sobre a conexão dos portais. O grupo do outro lado da sala sumiu, sem hesitar,
quase que no mesmo segundo.
Tudo acontecia muito rápido e aquele precário sistema não era o suficiente para
que Hermione tivesse uma ampla visão do que realmente acontecia. Isso era
angustiante, mesmo que as coisas estivessem acontecendo exatamente como o
planejado.

Atentou-se para quando alguns pontos vermelhos começaram a deixar a


hospedaria, quando na verdade deveriam estar entrando nela. Aquilo a
intrigou, embora, soubesse que batalhas movimentavam-se imprevisivelmente
daquela forma, com bastante frequência. Sua atenção foi desviada rapidamente
para quando os bruxos que estavam com ela, ali, colocaram sobre a mesa as
plantas da edificação. Três andares, três plantas. No momento, em que ela
conseguiu ver todas as marcações, das zonas em vermelho, dos líderes em azul
e da Comissão em verde, seu estômago embrulhou. Hermione escutou um dos
bruxos praguejarem algo logo ao seu lado e teve a mesma vontade, quando viu
que o cenário ali era muito diferente do previsto.

No momento, em que se preparou para ordenar que abrissem sua linha com o
líder que fosse disponível para atendê-la, a voz de Draco soou chamando por
seu nome num tom forte e ofegante. Ela nem mesmo precisou piscar, para que
tivesse a varinha nas mãos apontada para sua garganta.

- Qual o cenário que as plantas estão mostrando, Hermione? – era a voz de


Draco e embora fosse expressiva, parecia focada e bastante racional.
- Não posso ver muito. Não tenho a visão dos rebeldes, somente dos
Comensais. Posso vê-los retidos em algumas áreas específicas. Só isso. –
respondeu o mais rápido que pode.

- Me fale essas áreas. – ordenou ele.

- Algum lugar à esquerda do átrio principal, meio do corredor do segundo


andar e último quarto do terceiro andar. É o que me parece.

- O primeiro andar está limpo?

- É o que parece.
- Há algum problema se a Comissão fizer o trabalho dela do primeiro
andar? Porque os outros estão prometendo serem um pouco conflituosos.

- Não.

- Perfeito. – foi tudo o que Draco disse e desligou sem dar o tempo que ela
queria para fazer todos os seus questionamentos.

Se viu limitada somente a observar o movimento das marcações no mapa.


Começaram a ser reportados, com menos frequência, o que deixava as mãos
de Hermione suarem muito mais porque sabia que eles estavam ocupados
demais para reportarem qualquer coisa. Ela queria muito estar lá.

- Hermione. – era a voz de Draco, novamente. Pareciam ser horas depois,


embora, fossem apenas alguns minutos. – Há rebeldes em todo o lugar.
Ela quis exaltar sua voz, no mesmo segundo. Quis indagar quase todos os
questionamentos que se passaram pela sua cabeça, todos de uma vez só, mas
somente tentou respirar fundo e seguir o mesmo nível estável em que Draco
parecia estar.

- Me descreva o cenário. – foi tudo o que se limitou a pedir.

- A Ordem usa o edifício. Ele não é um acampamento ou sede, de fato, é


um edifício vazio, mas o espaço é usado como passagem, talvez para a sede da
Ordem. Eles usam aquela espécie de portal que não necessita de chave, onde
conseguem transitar de um lugar para o outro. Os locais do qual me falou aqui
são os pontos onde a conexão é feita. Eles não param de chegar por ali. Montei
barreiras para impedir que eles se espalhem pelo prédio, mas não posso
manter isso por muito tempo, nem posso permitir que a Comissão isole o
prédio com esses portais abertos onde a Ordem pode ir e vir como e quando
quiser. Sem contar, que ainda estamos segurando rebeldes do lado de fora e
sabe que já estou com todos os meus homens disponíveis em campo. – a voz
dele foi uniforme.

Aquela era uma péssima situação. Draco não estava encurralado, mas o fato da
Ordem ter acesso livre dentro do prédio impedia que ele fosse tomado e
isolado.
- O que tem em mente? – tentou ser calma.

Ele suspirou entre sua respiração evidentemente acelerada.

- Já ordenei que a Comissão parasse e vou lançar ordens para recuarmos


agora.

Hermione sentiu seu coração quase quebrar uma costela.

- Não! – ela foi firme.

- Não posso manter isso por mais tempo, Hermione! Sabe bem, que
quando a Ordem se vê encurralada demais começa a usar magias que ninguém
consegue controlar. Não posso puxá-los a esse limite, sabe que não posso
vencer a Ordem com magia. Nem posso permitir que fiquemos no impasse em
que estamos por dias, não tenho forças o suficiente para isso. A melhor escolha
seria recuar, antes que os comecemos a ter prejuízo.
- Não! Precisa apenas fechar os portais.

Ele resfolegou.

- E como espera que eu faça isso? Eu não criei essa forma nova de se
transportar que eles vêm usando, nem sei como funciona. A Comissão também
informou conhecer muito pouco sobre a magia.

- Não tivemos tempo para estudar sobre ela, mas temos a descrição.

- Não é o suficiente.
- Você não pode recuar! Não vai recuar! – estariam arruinados se ele
falhasse mais uma vez em York, principalmente, com toda a turbulência que
havia enfrentado para conseguir a liberação para àquela ação. Se Draco
chegasse a ser destituído de seu cargo, por mais que fossem Malfoys, não
teriam mais o nível do poder que tinham, agora. Aquele mundo era de
Voldemort e ele quem ditava as regras. – Não recue, tenho algo em mente.

- Então é melhor que...

Hermione cortou a linha devolvendo a varinha para a mesa e voltando-se para


um dos homens na sala.

- Quantas chaves de portal ainda temos?

- Duas ou três abertas talve...


- Não pode viajar por chave de portal se estiver grávida. – uma das bruxas
interrompeu o homem.

- Isso é mito. – Hermione deu as costas e seguiu até a porta que ligava ao
salão do outro lado.

- Também não tem autorização para deixar Brampton Fort. – a mulher


insistiu a seguindo.

- Posso dar minha própria autorização. – Hermione entrou no salão e


buscou por um das capas penduradas numa extensão da parede logo à sua
esquerda. Vestiu-a, não se permitindo olhar para a mulher contrariada. –
Informe Draco de que estou indo para lá.

- Sabe que não pode, simplesmente, utilizar esse salão. – dessa vez ela
começou a soar ameaçadora. - Iremos pagar caro por quebrar regras.
- Eu quem irei pagar caro por quebrar regras. Draco me nomeou para
liderar vocês nessa ação. – viu a mulher fazer menção de puxar sua varinha no
momento em que conseguiu chegar a última chave de portal ainda aberta.
Hermione foi mais rápida e colocou a sua em punhos evitando que a mulher
recuasse a dela. – Nem ouse. – foi tudo o que se prestou a dizer, antes de
tocar o insignificante objeto, que num único puxão a fez viajar quilômetros.

Draco Malfoy

Seus passos nunca haviam sido tão pesados. Enquanto avançava pelo corredor
do segundo andar daquela terrível hospedaria, sentia o sangue borbulhando em
suas veias, simplesmente, porque não conseguia acreditar que o que não
poderia ficar pior, piorasse. Lançou decidido um jato verde de sua varinha na
direção de um rebelde que vinha correndo atrapalhando seu caminho e ele caiu
se contorcendo sobre o carpete num grito agonizante. Passou por ele e não
hesitou em derrubar qualquer outro que tentara o barrar. Desceu a escada para
o primeiro andar, desviando dos corpos estirados nos degraus e assim que
chegou ao mezanino, encontrou Hermione cercada pelo grupo da Comissão. A
figura dela quase brilhava no meio de todo aquele caos. Ele já tinha muitos
problemas para encarar ali, não precisava de mais um.
Pouco se importou com a maldita farsa que estavam levando, quando se
infiltrou por entre os bruxos da Comissão e chegou até ela, que externava
ordens como se soubesse exatamente o que estava fazendo. Agarrou-a pelo
braço e a arrastou para longe deles.

- Que infernos está fazendo aqui, Hermione? – vociferou e, no mesmo


segundo, ela conseguiu desvencilhar-se da mão firme que ele mantinha em seu
braço.

Percebeu o quanto havia sido violento, pela forma como ela cambaleou para
retomar o equilíbrio.

- Eu estou nos salvando da ruína! Acaso se esqueceu, de que se cair eu


também caio junto? Acaso se esqueceu, de que não pode falhar? Não outra
vez! – ela soltou com total desprezo a imagem dele.

- Você não tem autorização para deixar Brampton Fort! Antes de ser uma
Malfoy, você é prisioneira do mestre! Será que não é capaz de medir o que o
seu simples ato de rebeldia pode nos trazer? Tem que voltar agora!
- Não vou voltar e você não vai me fazer! – Hermione esquivou-se, quando
Draco tentou segurá-la novamente. – Está me fazendo perder tempo. Estou
tentando finalizar essa ação, enquanto tudo o que quer, é recuar quando sabe
que isso te levaria a problemas muito maiores na Catedral.

- Sou responsável por esse maldito exército antes dos meus problemas na
Catedral! Estou tomando a melhor decisão, antes que acabe por levar todos nós
a um fracasso muito maior!

- General! – gritou um dos líderes no andar de baixo. Draco esticou o


pescoço por cima do ombro de Hermione para poder ver o homem do mezanino
onde estava. – Estamos perdendo Comensais nas barreiras! Não podemos
segurar isso para o resto da vida! Nos disse que não levaria mais de alguns
minutos!

- Darei ordens...

- Segure-os por mais uns minutos! – Hermione fez sua voz sobressair a
dele.
- Cale a boca! – Draco cuspiu a arrastando para longe do parapeito. –
QUEM PENSA QUE É PARA DAR ORDENS AOS MEUS HOMENS?!

- O CÉREBRO QUE CONSEGUIU TE VENCER QUANDO A ORDEM NÃO TINHA


NADA ALÉM DE MAGIA COMUM E A DROGA DA SUA MALDITA ESPOSA,
PORTANTO, É MELHOR QUE SEGURE OS SEUS HOMENS E ME DEIXE
TRABALHAR PORQUE RECUAR NÃO É UMA OPÇÃO PARA NÓS! NÃO VOU
DEIXAR QUE VOCÊ ME CARREGUE PARA BAIXO, QUANDO PERDER SEU CARGO
E SE TORNAR A PIADA DE BRAMPTON FORT POR FALHAR NOVAMENTE DEPOIS
DE TODO O CONFLITO DEVIDO À REPERCUSSÃO QUE ESSA TENTATIVA
TOMOU! – Ela deu as costas.

Draco tentou segurá-la, mas ela conseguiu se desvencilhar de seus dedos,


quando a agarrou novamente pelo braço.

- NÃO TENHO TEMPO PARA OS SEUS EXPERIMENTOS, HERMIONE!

Ela virou-se, apenas, para gritar a exclamação mais autoritária que já a vira
externar:
- SEGURE SEUS HOMENS! – findou e continuou seu caminho de volta ao
grupo da Comissão.

Ele rangeu os dentes e praguejou.

- General! – o homem no andar de baixo continuava a chamá-lo.

Soltou um rugido raivoso, deu meia volta e fez seu caminho até a escada
principal. O homem logo o viu descendo e correu para esperá-lo ao pé da
escada.

- Quantos Comensais já perdemos? – tratou de perguntar assim que


chegou até ele.
- Não tenho um número exato, mas foi o suficiente para perdermos a
primeira linha da barreira. – o homem o seguiu, enquanto Draco avançava para
um salão a esquerda do Lobby principal. - Eles estão nos fazendo recuar. Não
param de sumir e aparecer, a todo momento, dentro da zona de portal e além
de levarem nossos homens quando desaparecem estão usando um tipo de
escudo que fazem nossas maldições inverterem aleatoriamente e sem destino
tornando a zona de conflito mortal. Não podemos segurar isso por mais tempo.

- E quanto as áreas fora das barreiras?

- Creio que limpamos o suficiente, mas ainda assim, é loucura tentar isolar
o edifício enquanto os rebeldes tiverem liberdade de aparecerem aqui quando
bem entenderem.

- Não vamos levar isso para frente por muito tempo. – foi tudo que ele se
permitiu dizer. Sabia que aquilo representava uma terrível derrota.

- O que sua mulher está fazendo aqui? – o homem tratou de perguntar.


Draco preferiu ignorar aquela pergunta e passou para o lado de dentro do
salão. Comensais arrastavam rebeldes, corpos no chão atrapalhavam o
caminho, feitiços voavam sem direção, obrigando-o a dobrar a atenção. Passou
o braço marcado com a Marca-Negra pelo rosto e fez aparecer sua máscara.
Avançou por entre as linhas de Comensais que continham a zona de transição
livre dos rebeldes até o centro do caos, onde teve a visão de seus homens
tentando conter a resistência que livremente aparecia e desaparecia, quando e
como queria, pelo campo de batalha agitado.

Aquela era a visão que precisava ter para convencer-se de que,


definitivamente, deveria recuar. Segurar aquilo era impossível, e tão cedo, não
seria capaz de descobrir a magia que mantinha àqueles portais abertos para
poder fechá-los.

Conseguiu recuar dois rebeldes tentando manter o duelo o mais físico possível,
pois sabia que era a forma mais eficiente de combater a resistência. Eles
conseguiram desaparecer pelo portal, segundos depois, ainda levando um
Comensal. Draco cruzou novamente algumas linhas até um dos líderes e
proferiu.

- Vou lançar a ordem para recuarmos. Organize os Comensais. Só preciso


alcançar as barreiras do segundo e do terceiro andar.
Escutou o “Sim, senhor” rapidamente e seguiu de volta, tendo que se apressar
porque o caminho para o segundo andar era longo e Draco ainda não estava
certo, sobre o quão limpas estavam as áreas fora das barreiras. Assim que
conseguiu deixar o salão por um buraco destruído na parede, viu um pequeno
grupo da Comissão começar a levantar feitiços ao redor da área. Desfez sua
máscara.

- O que estão fazendo? – tratou de perguntar.

- Vamos isolar as zonas de portal para que o exército não precise segurar a
resistência, assim a Sra. Malfoy terá mais tempo para encontrar uma magia
que anule os portais da Ordem sem que perca mais Comensais. – respondeu
um deles.

- Teremos o prédio. – era a voz de Hermione descendo os degraus da


escada principal. – Não ele por inteiro, mas ao menos, não vamos cancelar a
ação e você não vai carregar o fracasso de ter que recuar. Eu só preciso de
tempo para encontrar algo que anule a magia deles e visto que você não
pretende usar seus homens para me dar esse tempo, eu mesma o farei. – ela
aproximou-se - É melhor que dê novas ordens ao seu exército porque se decidir
recuar eu levarei o crédito de ganhar esse edifício sozinha. – e passou por ele.
**

Era fim de tarde e o sol da primavera se mantinha ainda alto em York. O


tumulto ainda não havia diminuído, embora, eles já tivessem conseguido anular
o portal do salão a esquerda do Lobby. O que, segundo Hermione, era o mais
extenso. A Comissão trabalhava, naquele exato momento, juntamente com
alguns homens do seu exército para fechar o portal do primeiro andar.

Só havia permitido que aquilo se estendesse, porque a Comissão isolara as


áreas dos portais e ele não havia precisado usar seus homens como barreira.
Embora detestasse estar improvisando, as coisas pareciam estar se saindo bem
para o lado deles. O maior tumulto havia acontecido durante o fechamento do
primeiro portal no salão do Lobby, o que quase o fizera vomitar seu coração por
saber que Hermione estava ali e se algo acontecesse com ela, passaria o resto
da vida pagando seu erro a Voldemort. Draco sabia que ela estava exausta,
mas mesmo assim, quando a magia que Hermione encontrara para anular o
portal, derrubara a barreira levantada pela Comissão e o lobby fora invadido
por rebeldes, ela não hesitou em puxar a varinha no mesmo segundo e fazer
sua presença valer por vinte homens de seu exército, assim como sempre se
fizera valer quando a colocara nas salas de simulação nas madrugadas que
haviam usado para treinar e fazer sexo no chuveiro do vestiário.

Não muito tempo depois, quando haviam retomado o controle da situação, ele
a vira encarando paralisada a escada principal, enquanto seu exército fazia a
limpa dos corpos que atrapalhavam a subida. Um bruxo da Comissão perguntou
se estava tudo bem e como, se Hermione estivesse num transe, ela apenas
respondeu que havia se esquecido daquilo, daquele caos, das batalhas, da
parte física da guerra, deu as costas e sumiu. Draco procurou afastar o
interesse de procurá-la depois daquilo.
As horas foram se passando e ele continuou no lobby, enfileirando e
identificando cada rebelde ajoelhado contra o piso de tábua corrida para enviar
as masmorras da Catedral. Voldemort, certamente, faria bom uso deles para
suas sessões de terror, o que o liberava da tarefa maçante de interrogatório.

Não muito tempo depois, foi avisado por um de seus líderes, que haviam
conseguido fechar o portal do segundo andar com sucesso e que estavam se
movendo para a ação do último andar.

- Se tudo correr bem poderemos anunciar o sucesso da missão antes


mesmo do sol se pôr. – a mulher finalizou o recado. – Colocarei meu grupo
que, esteve na vigia da área externa, para fazer a limpa do segundo andar, se
assim permitir. – Draco deu a autorização e ela fez menção de que daria as
costas, mas pareceu pensar duas vezes e acrescentou: - Acaso sabia que isso
poderia acontecer?

- O quê? – indagou confuso.


- Que esses malditos portais atrapalhariam o curso da missão inicial.

Draco franziu o cenho.

- Não especificamente dos portais, mas contava com possíveis imprevistos.

A mulher sorriu.

- Foi esperto de colocar sua esposa atenta do outro lado. Teríamos


recuado, se a Comissão não tivesse tomado um papel maior nessa missão.

Draco decidiu apenas assentir, diante daquele comentário, o que fez a mulher
prestar sua reverência antes de dar as costas e seguir para seus deveres. Sua
atenção foi logo desviada há um grupo de comensais, que traziam mais
rebeldes capturados para o lobby. Voldemort faria a festa.
Lançou mais ordens para criar um novo sistema de organização de despacho
dos capturados, porque sabia que precisaria de mais espaço, quando os
Comensais começassem a descer os infelizes, com falta de sorte, deixados para
trás no segundo e no terceiro andar. Subiu até o primeiro andar onde
encontrou um grupo pequeno da Comissão que havia sido designado a preparar
um quarto para levantar o sistema de chaves de portal com destino a Brampton
Fort. Ordenou que a conexão fosse aberta, somente, quando o portal do
terceiro andar fosse fechado e todo a limpa tivesse sido realizado.

Quando tomou o rumo para o segundo andar, encontrou Hermione encostada


no vão de uma das janelas com o corpo sendo banhado pelo sol da tarde. Ele
parou antes que ela notasse a presença dele se aproximando. Ela havia tirado
os sapatos e eles descansavam próximo aos seus pés, sobre a madeira do
chão. Nas mãos, Hermione tinha a varinha e um pedaço longo de pergaminho
que já estava até amassado. As pálpebras dela pareciam pesar e toda a sua
expressão exclamava o cansaço de seu corpo. Draco sabia que ela deveria estar
morta. Vinha dormindo muito mais com a gravidez ultimamente, e o fato de ter
virado a noite e ainda passado o dia sendo a cabeça a solucionar o imprevisto
que haviam enfrentado, era muito para ela.

Hermione gostava do sol e sempre que a via sob a luz dele, conseguia entender
o porquê daquilo. Seu corpo inteiro gritou pela vontade de ir até ela sem
cautela nenhuma. Chegou até mesmo, ver a imagem de seu corpo se movendo
até ela, conseguiu imaginar sua mão tocando seu rosto, afastando a mexa de
seu cabelo, conseguiu vê-la sorrir e fechar os olhos, Draco conseguiu, até
mesmo, escutar a voz cansada e doce que Hermione usaria para informar que
estava cansada. Ele não entendia a necessidade que seu corpo tinha em querer
algo tão simples, como aquilo. Não entendia como seu corpo via tanto
significado em algo tão pequeno. E também, não conseguia compreender como
o corpo dela lhe fazia tanta falta.
Não a tocava há quase duas semanas. A última vez, que se permitira estar
inteiramente com Hermione, havia sido o seu decreto final, e talvez, seu maior
erro porque chegar ao estado de admitir que ele precisasse fazer com que
àquela fosse a última vez, levara Draco para um campo que ele nunca havia
pisado, antes. Era assustador e, às vezes, era tão intensa a vontade de
somente sentir o calor de Hermione, novamente, que procurava por qualquer
outra companhia que pudesse saciá-lo. Verdadeiramente, ele se sentia saciado.
Fisicamente, ele se sentia em perfeito estado, mas, mentalmente, se via
tragado à constante, repetitiva, irritante e insaciável vontade de ao menos
sentir o toque dela em sua nuca, porque por mais que se satisfizesse
fisicamente, com qualquer outra mulher, aquela detestável vontade por
Hermione continuava surgindo e surgindo e surgindo incansavelmente.

Sabia que não poderia viver daquela forma, sabia que aquilo era errado, sabia
que depender da vontade que tinha por alguém era uma grande ferida em seu
próprio orgulho, e talvez, uma grande falha da própria natureza. Precisava
matar aquilo, acabar com aquilo, findar o que havia sido estúpido o suficiente
de se permitir envolver. Hermione era perigosa. Ela era uma perfeita e
poderosa feiticeira. Não conhecia ninguém com o cérebro daquela mulher e,
não duvidava, que havia algum jogo por trás daquilo.Precisava haver um jogo.
Ela tinha que ter alguma culpa, porque era o corpo dela que lhe fazia falta, era
o cheiro dela, era a boca dela, o calor dela, o sabor dela, a voz dela, a
compreensão, o companheirismo, a sinceridade. Hermione tinha que ter alguma
culpa e Draco não queria cair naquela emboscada. Sentia-se sem poder e
odiava se sentir sem poder. Por tanto, apenas inspirou fundo e aproximou-se
em sua postura fria.

Quando chegou perto o suficiente, ela notou a presença de alguém e ergueu os


olhos do pergaminho que segurava. A expressão cansada se fechou, no mesmo
segundo, que notou quem era sua companhia e aquilo feriu o lado que Draco
escondia por trás de sua máscara, o lado que a queria, o lado que precisava
dela.
- Assim que conseguirmos terminar com o terceiro andar e fizermos todas
as limpas, já comuniquei a Tina de que será a primeira a aparecer no portão
sul.

Hermione estreitou os olhos, assim que terminou de escutar aquilo.

- Vou sair daqui quando eu decidir sair daqui. – ela disse aquilo quase que
como um decreto.

- Sou a cabeça dessa ação e a única pessoa que poderia me contrariar


aqui, seria o próprio Lorde, Hermione.

Ela revirou os olhos e suspirou cansada.


- Que seja. – enrolou o pergaminho e fez seus pés deslizarem de volta para
dentro dos sapatos.

Que seja? Então quer dizer, que Hermione não queria mais ser teimosa? Quer
dizer, que só porque sabia que precisava voltar e que tudo que ele estava
fazendo era pensar no bem estar dela, ela se sentia no direito de dizer um
indiferente e tedioso “que seja”?

- Isso significa que vai me obedecer quando eu ordenar que deverá pegar
sua chave de portal? – Draco a segurou pelo braço, quando ela fez menção de
passar por ele para deixá-lo. Precisava se certificar da obediência dela.

Ela desvencilhou-se das mão dele pela milésima vez.

- Por que tudo para você tem que ser uma ordem? – estreitou os olhos
afastando-se com desgosto. – Já tentou pedir algo alguma vez, Draco? Eu
educadamente o atenderia se você educadamente fizesse um pedido.
Quão ingênua era ela?

- Você não é minha mulher aqui, Hermione. Faz parte do meu


departamento e vai seguir minhas ordens como qualquer outro.

- Theodoro nunca precisou me lançar nenhuma ordem para que eu fizesse


meu trabalho com deveria, quando estive no departamento dele. – ela lançou
aquilo e, automaticamente, Draco sentiu sua alma escurecer. Doía ouvir aquele
veneno sendo cuspido da boca dela, quando conhecia as palavras doces que ela
podia usar quando, no escuro da cama deles, queria saber o porquê ele não
estava conseguindo dormir.

- Não é à toa, que as coisas não funcionam no departamento dele. – Soltou


com os dentes apertados. Hermione apertou os lábios, fez uma expressão de
desgosto junto com desapontamento e fez menção de passar por ele
novamente, mas Draco se colocou em seu caminho o que claramente a irritou.
– Está me desafiando vezes demais para que espere que eu seja educado e
gentil.
- Não estou o desafiando, estou o ajudando. E se realmente prestar
atenção, Draco, perceberá que eu sou exatamente o reflexo de como você
decide me tratar. Agora saia do meu caminho.

- Pare de falar dessa forma. – foi quase automático. Detestava quando ela
usava a língua afiada que tinha, contra ele.

- Pare de me lançar ordens! – ela foi rude e desviou-se dele para passá-lo,
mas Draco tentou contê-la novamente pelo braço. Hermione se esquivou com
agilidade e o encarou severamente. – E pare de me tocar! Eu não o quero me
tocando! Não quero agora e não quero nunca mais! – ela cuspiu e ele não teve
outra reação a não ser deixá-la ir depois daquilo.

Por um momento, a voz dela ecoou em sua cabeça e Draco temeu que sua
máscara tivesse caído, porque aquelas palavras haviam sido claras o suficiente
para fazê-lo compreender que, definitivamente, ele não a teria, nunca mais.
31. Capítulo 31

Harry Potter
- Eu sei que era ela, eu a vi e tenho absoluta certeza! Hermione Granger!
Estava com eles! Lutava com eles! – insistiu o homem, empurrando o prato de
sopa que a Sra. Weasley havia o servido.

- Como pode ter tanta certeza, se disse que ela colocou a máscara de
comensal segundos depois e não teve tempo o suficiente para prestar atenção
nos detalhes? – Rony questionou.

Ele resfolegou, como se não fosse óbvio o que diria:

- Não dá para confundir Hermione Granger. Não se esquece facilmente


dela, uma única vez que a vê.

Gina fez sua risada obscura soar pela cozinha do Largo Grimmauld e os olhares
se voltarem para sua figura quieta e de braços cruzados sob a sombra de um
dos cantos da parede.
- Pagou esse homem para dizer isso, Harry? – a ruiva foi sarcástica.

Harry apenas lançou um rápido olhar frio e sério a ela.

- O que quero dizer... – continuou o homem. –... é que ela estava lá e


estava lutando como uma Comensal.

- Hermione jamais lutaria como uma Comensal. – Rony interviu.

- Não use a palavra jamais, Rony. – Luna interferiu. – Jamais é algo muito
concreto para um lugar tão imprevisível quanto Brampton Fort.
Gina rolou os olhos.

- Ah, pelo amor de Deus, Luna! – manifestou-se a ruiva novamente. – Não


nos presenteie novamente com o deleite que tem pela querida cidade de
Voldemort. Todos nós já sabemos o quanto você adoraria estar lá agora, sua
pequena traidora.

Luna estreitou os olhos e puxou o ar para retrucar algo, mas foi a voz de Rony
que soou:

- Cale a boca, Gina. Ninguém tem tempo para suas implicâncias.

- Ronald! – pronunciou a Sra. Weasley. – Não fale assim com sua irmã! E
Gina, por favor, segure um pouco mais a língua.
A mulher soltou um rosnado baixo e se enviou mais para debaixo da sombra.
Harry desviou o olhar para Luna.

- Está sugerindo que Hermione tenha decidido se juntar ao exército de


Voldemort?

- O exército não é exatamente de Voldemort. – Luna respondeu, em sua


voz melodiosa. – Draco Malfoy comanda os Comensais em guerra. Os homens e
mulheres que lutam por Voldemort estão, na verdade, nas mãos de Malfoy e
não estou sugerindo que Hermione tenha decido lutar para Voldemort. Tudo o
que quero dizer é que ela está como prisioneira nas mãos do pior bruxo das
trevas, fadada ao destino que ele bem quiser para ela. Eu não duvido que
esteja se prestando ao papel de empunhar a varinha em nome de Voldemort,
por conta de uma ameaça maior que esteja sofrendo.

- A Hermione Granger, que eu conheço, resistiria uma ameaça para lutar


em nome de Voldemort. – Rony comentou.

- Quando eu estive com ela em Brampton Fort, Voldemort me usou como


arma para atingi-la e Hermione se viu obrigada a não resistir contra as
vontades loucas dele. Talvez, ele esteja usando alguém e, por isso, ela está se
vendo obrigada a lutar com Comensais. Eu não sei. – Luna deu de ombros.
- Por que infernos nós estamos discutindo sobre Hermione? – Gina tornou a
fazer sua voz soar novamente indignada. – Nós acabamos de perder um prédio
dentro de uma áreanossa para os Comensais! Eles com certeza têm um plano
maior com isso e deveríamos estar discutindo sobre isso exatamente agora!

- Nós vamos chegar lá, Gina! – Harry não conseguiu mais segurar. – Quero
ouvir sobre Hermione e quando terminarmos com ela, nós seguiremos para o
problema com York. Enquanto isso, tente se manter calada.

Ela puxou o ar, furiosa, como se fosse retrucar algo rude, mas acabou apenas
fazendo uma careta de desgosto, saiu debaixo das sombras e deixou o cômodo.
Harry notou que o silêncio que ficou no ambiente era um tanto constrangedor,
mas não fez nada para quebrá-lo, o que talvez tenha levado Rony a limpar a
garganta e se manifestar:

- Ao menos sabemos que ela ainda está viva. Há quanto tempo vínhamos
discutindo se Voldemort já havia acabado com a vida dela ou não? Até mesmo
Luna, que sempre defendeu não acreditar que ele tinha o interesse de matá-la
tão cedo, estava se questionando sobre isso.
- Não é bem assim. – Luna defendeu-se. – Eu apenas estou confusa sobre
o rumo que as coisas tomaram depois que saí de lá.

- Mas você sempre defendeu realmente que Voldemort não tinha interesse
em matar Hermione, e já faz algumas semanas que parou de se pronunciar
sobre isso. – Tonks finalmente abriu a boca, sentada em uma das cadeiras da
mesa.

- Apenas porque não sei o que de fato anda acontecendo por lá. – Luna
concluiu. – Apenas por isso. Não estou retirando que Voldemort não mostrou
interesse em matá-la quando ela chegou lá, não posso defender que isso não
mudou quando já não posso mais...

- Certo. – Harry a cortou, impaciente. – Não é essa a discussão. Hermione


está viva. O que estamos discutindo é porque ela estaria lutando com os
Comensais, quando sabemos claramente que ela faz parte da Ordem da Fênix.

- Pessoalmente, acredito que ela tenha um plano com isso. – Tonks tornou
a se manifestar. – Se é que era mesmo Hermione. – lançou um olhar
desconfiado ao homem sentado à mesa com eles.
- E como eu disse, talvez Voldemort esteja usando algo, alguém ou alguma
ameaça maior, para obrigá-la a lutar por eles. – disse Luna. – Ela nunca nos
trairia.

Um silêncio passou-se entre eles por uns segundos.

- Bem, nós todos esperamos que ela fosse fazer algo por Fred, como fez
por Luna, só que até agora nada. – Neville foi cuidadoso devido à presença da
Sra. Weasley à mesa.

- Ela é uma prisioneira, Neville. – Luna a defendeu.

- Não, ela não é só uma prisioneira. – Rony parecia desapontado, mas


convencido de suas palavras. – Ela é um gênio. Tenho certeza que ela
encontrará uma forma.
Se ele já não estiver morto, pensou Harry, sabendo que todo o resto da mesa
pensava da mesma forma.

- De qualquer forma, ela parecia bastante bem cuidada. – o homem voltou


a levantar a voz, quebrando o estranho silêncio que se instalou. – Ela colocou a
máscara rapidamente, mas isso não impediu que eu observasse o resto. Ela
não usava o uniforme completo dos Comensais, usava apenas a capa com o
capuz. Tinha um vestido caro por baixo e estava de salto.

- Sabemos que ela está sendo bem cuidada nessa parte. – Luna disse.

- Reparei na presença dela, apenas quando a barreira mágica que


colocaram no salão do lobby desfez. Antes disso, eu tinha transitado entre os
portais do segundo e do terceiro andar e não vi, nem reparei, em nada parecido
com ela. Ela não estava lá para lutar contra nós, acabou tendo que fazer isso
quando conseguimos passar a barreira deles. – disse o homem.

- Talvez eles estejam usando a inteligência dela para vencer a magia de


Merlin. – Molly Weasley foi quem se pronunciou dessa vez. – Voldemort já deve
ter notado que só estamos conseguindo vencer os Comensais dele porque
temos usado as magias que Kingsley, com tanta dificuldade, tem tirado das
runas escondidas no arco do véu.
Um breve silêncio assentou-se sobre eles novamente.

- Esse é um ponto válido. – Tonks concordou. – E Hermione é um gênio.


Certamente estão a usando para controlar aquilo que nem nós temos
conseguido controlar. Sabemos que se ela estivesse aqui, trabalhando no véu,
com certeza já teríamos derrubado Voldemort.

Harry sabia que todos concordavam com aquilo. Até ele mesmo concordava,
embora a magia de Merlin fosse aquilo de mais exótico que ele já vira em toda
a sua vida. Somente a inteligência de Hermione daria conta de algo tão
complexo. Talvez se Minerva ainda estivesse viva, quem sabe, eles até
estariam fazendo um melhor uso do poder que tinham nas mãos agora.

- Deveríamos estar discutindo o porquê do interesse dos Comensais


naquele edifício em York. – Tonks pronunciou-se.
- Pois bem. – o homem pareceu finalmente satisfeito com o assunto. – Eu,
como responsável por York, venho monitorando a ação dos comensais desde
que fechamos a área para o domínio da resistência. O grupo destinado para
ficar na área sempre esteve se infiltrando entre a comunidade e conseguimos
trazer alguns deles para o nosso lado, mas a maioria ainda prefere o domínio
dos Comensais por causa da estabilidade e da proteção. Os comerciantes estão
furiosos que ainda temos domínio da área, falimos a maioria das lojas por conta
da exclusão da região no mapa e a maioria das famílias tem vivido de magia.
Isso é um péssimo ponto para nós. Precisamos retomar outras regiões. E como
sabem, conseguimos recuar os Comensais das duas últimas vezes que eles
tentaram tomar York pelo modo convencional. Por isso, acredito que agora eles
estejam vindo com algo mais elaborado e a tomada do edifício, com certeza,
tem algo a ver.

- Sei que não sobrou muito do grupo que tínhamos destinado a York,
mas... – Tonks se calou quando Harry levantou de sua cadeira. – Harry?

Ele se viu surpreso por ter todos os olhares sobre ele.

- Vocês podem continuar. – apenas queria sair dali e foi tudo que fez.

Nunca iria se acostumar com o toda a expectativa que havia sobre ele. Sua
figura sempre chamava atenção, todos sempre queriam ouvir o que ele tinha
para dizer ou o que pensava sobre algo. Constantemente se via farto daquilo,
mas sempre entrava em contradição por saber que seu senso de liderança era
inevitável, portanto, ele mesmo era culpado por se colocar debaixo do holofote.

Às vezes sentia que precisava apenas de um refúgio. Hermione havia se


tornado o único que tinha, mas desde que fora capturada, Harry se via perdido
entre procurar um novo, ou apenas, conformar-se que não haveria nenhum
como o que ela era capaz de oferecer. Sentia falta da paz de espírito que tinha
sempre quando estava com ela, mesmo que o mundo inteiro estivesse os
puxando para o buraco.

No momento em que passou para o lado de dentro de seu quarto e encontrou


Gina sentada numa das poltronas caras dos Black, ao lado de sua cama,
percebeu que teria sido muito melhor ter se conformado de que não havia
nenhum outro refúgio como o de Hermione e que a tentativa de encontrar um
era completamente imprudente. Queria ter tido esse pensamento antes de ter
ido para a cama com Gina, há três meses.

- Presumi que não fosse conseguir ficar muito tempo lá. – a ruiva não
estava contente. Raramente estava contente. Ele sabia que a culpa pela
infelicidade dela era dele.

- Gina, eu gostaria muito que deixasse meu quarto. – foi cuidadoso com as
palavras.
- Eu deixarei. – levantou-se. – Mas não antes de me certificar que você não
irá tornar a falar comigo daquela forma na frente de todos. Não quando sabem
que você e eu estamos com chance de voltar.

- Nós não estamos com chance de voltar, Gina. Eu tenho o peso da guerra,
de uma proferia. Não quero o peso de um relacionamento. Sabe disso há muito
tempo.

- E mesmo assim você se envolveu com Hermione.

- Hermione nunca foi um peso.

- E eu fui. – Gina se mostrou ferida. Harry se calou, percebendo o peso de


suas palavras. Céus, ele era péssimo com mulheres. Como conseguia ser tão
incapaz quando se dizia respeito a mulheres? – Quase um ano e meio desde
que Hermione foi capturada e você ainda treme com o nome dela. Eu conseguia
ver a fúria silenciada nos seus olhos quando aquele homem sugeriu que
Hermione havia trocado de lado.

Uniu as sobrancelhas no mesmo segundo e lutou para não ser impulsivo como
sabia bem que era para não destratar Gina, mais uma vez. Respirou fundo e
tentou relaxar os músculos de seu maxilar.

- Por que você precisa ser tão ignorante sempre que as coisas dizem
respeito à Hermione?

- Ela te roubou de mim.

Harry revirou os olhos. Não podia lidar com aquilo agora, não de novo, não
naquele momento.

- Certo, Gina. Hermione nunca roubou ninguém de ninguém e preciso que


saia agora.
- Sim, ela roubou. – Gina se aproximou. – Ela sempre soube que eu
gostava de você e sabia que eu a enxergava como a maior das minhas
ameaças porque eu tinha absoluta certeza de que, caso um dia você a
enxergasse como mulher, eu jamais seria capaz de superá-la, simplesmente
porque eu nunca teria o poder de deter o significado que ela tem para você.
Hermione esteve com você desde o começo de tudo. Esteve ao seu lado
sempre. Ela era sua melhor amiga. Sempre se esforçou pra te compreender,
desde o começo, melhor do que qualquer outra pessoa e eu nunca teria a
chance de chegar a esse nível, ao menos que o tempo voltasse e eu tivesse a
chance de ser ela na sua vida. Por causa disso Hermione me prometeu que não
havia nada entre vocês, que não teria como haver, que ela gostava de Rony. Eu
sei que isso está no passado, que inevitavelmente o curso das coisas mudaram
com os anos, principalmente com o mundo conturbado em que vivemos, mas
ela sabia, Harry, que se um dia você a tivesse, ninguém nunca mais conseguiria
sentar no trono dela. Ela já era especial para você antes. Tê-la, fez com que se
tornasse exclusiva e eu não tenho poder para competir com isso. Não me culpe
por ser insuportável e ignorante sempre quando o assunto desviar para a
mulher que roubou o homem que eu sempre amei.

Ele soltou o ar finalmente, quando Gina passou pela soleira de sua porta e
desapareceu. Jogou-se em sua cama e encarou o teto pálido e encardido da
antiga casa dos Black. Suspirou, fechando os olhos. Talvez Hermione tivesse
mesmo o roubado por inteiro e isso fosse injusto. Ele nunca mais teria paz sem
ela, mesmo que toda aquela guerra chegasse ao fim, mesmo que ele
conseguisse derrotar Voldemort, mesmo que tudo terminasse bem, se Harry
não tivesse Hermione, não teria mais paz. Gina estava certa. Ninguém, jamais,
conseguiria alcançar o significado que Hermione tinha para ele. Que grande
erro havia sido se envolver com ela.

- Harry? – ele escutou a voz dela vindo do andar debaixo, assim que o eco
do estalo de sua aparatação na antiga casa de seus pais extinguiu-se. Ele não
queria respondê-la. – Harry? – ela tornou a chamar.
- Suba as escadas. – foi o que ele respondeu, sem muita vontade. Escutou
os passos dela alcançarem os degraus. – Cuidado com os três últimos degraus.
Estão se desfazendo.

Não demorou muito e a viu aparecer pelo portal frágil, que antes fechava a
porta de um quarto que ele esperava que fosse de seus pais. A figura de
Hermione em seu jeans, seu casaco e seu par de tênis era familiar e
acolhedora. Vê-la, fez-lhe perceber que sentia falta do conforto que ela sempre
oferecia quando não estava sendo mandona e exigente.

- Harry... – Hermione soltou um suspiro piedoso, assim que o viu como


sempre fazia quando o encontrava naquele estado. Como se sentisse muito,
por todo o peso que ele era obrigado a carregar. Como se sentisse muito, por
estar de mãos atadas para aliviar a dor dele. Aproximou-se e subiu no colchão
que ele estava deitado, sentando-se sobre as pernas e o encarando. – Não
pode sumir por tanto tempo assim. Todos nós estamos preocupados na Ordem.

Harry sabia que não podia. Hermione havia dado a ele aquele refugio para que
tivesse um tempo para si sempre que precisasse, mas já fazia mais de uma
semana que ele não voltava para a Ordem. O silêncio durou entre os dois por
muito tempo, até que ele sentisse que finalmente queria dizer algo.
- Eu pensei que fosse ser mais fácil. Que fosse ser mais rápido. Que
tivéssemos mais poder, porque o bem sempre vence na ficção. Pensei que meu
sentimento de vingança fosse forte o suficiente para deter tudo isso num piscar
de olhos. – ela apertou os lábios ao escutar aquilo com um brilho nos olhos de
quem queria dizer que sentia muito, mas sabia que ele já escutara aquilo vezes
o suficiente. – Eu não esperava que fôssemos afundar dessa forma. Que
fôssemos ser vencidos tantas vezes. Que fôssemos perder tanta gente. Eu
pensei que fosse forte.

- Você é, Harry. Não duvide disso. Não pode duvidar disso. – Hermione
respondeu. – A Ordem não depende de você, nós não lutamos por você.
Lutamos contra Voldemort. Cada um tem sua razão.

- Mas eu carrego a profecia.

- E por isso o protegemos. – ela suspirou. – Escute, não vou pedir para
voltar. Irá fazer isso quando quiser. Minha intenção não é invadir seu espaço,
só queria ver se estava bem. - Harry assentiu. Ela o analisou por mais alguns
segundos e depois moveu seus olhos pelo restante do quarto. Um sorriso
discreto surgiu em seus lábios. – Você organizou tudo com muito cuidado.
Ele sorriu por sentir uma pontada de orgulho vinda da parte dela. Sentia falta
de sua companhia. Estendeu a mão e Hermione encarou o convite, tocou a dele
e ele a puxou para junto. Ela não hesitou e deitou ao lado dele, encolhida sobre
seu peito. Harry a cercou pelo ombro e quis que ela não tivesse vontade de ir
embora.

- Talvez devêssemos ter ficado eu e você, naquele acampamento. –


comentou ele.

Ela soltou um riso fraco.

- Estaríamos mortos agora. – ela disse.

Harry riu. Com certeza estariam. Olhou-a e Hermione ergueu a cabeça para
poder também encará-lo.
- Sou grato por ter você e Rony. – Hermione sorriu ao escutar aquilo. Ele
não pensou muito no que fez quando, simplesmente, inclinou-se e estalou um
beijo nela. Foi somente no segundo que se afastou que caiu em si que fora
sobre os lábios dela e não na testa, como normalmente fazia.

Hermione riu surpresa e ele riu em seguida, como se estivessem entrando em


consenso de que se eles podiam fazer aquilo sendo amigos, haviam
definitivamente chegado a um nível de amizade profundo.

- Vamos mesmo fazer isso agora? – ela indagou de maneira divertida.

Harry sentiu a necessidade de dizer a ela que aquilo não mudaria nada, mas
naquele mesmo segundo, seu cérebro pareceu processar algo lá no fundo que o
fez reconhecer a textura dos lábios de Hermione sobre o dele, naquele curto
segundo, em que eles estiveram juntos. A curiosidade por querer ter mais
tempo para ter uma melhor percepção da forma como os lábios dela se
moldavam sobre os seus o dominou, e curiosidade fora algo que sempre o
levara a tomar as decisões mais inconsequentes de sua vida.

Muito consciente de que aquela era Hermione Granger, Harry se inclinou


novamente e colou seus lábios nos dela. Não queria passar a linha da amizade
que tinham, era estranho, e seria estranho, portanto se afastou antes que
demorasse demais. Ela o encarou sem reação e dessa vez não havia nenhum
sorriso em sua expressão.
Harry quis dizer que aquilo não significava nada. Mas a sensação dos lábios
dela contra o seu falava mais alto do que qualquer pensamento racional que
tinha naquele momento. Não queria tornar tudo aquilo mais estranho do que já
estava sendo, Hermione já o encarava como se não soubesse qual reação seria
mais sábia tomar e ele sabia que seria melhor dizer algo. Precisava dizer algo.
Qualquer coisa. Mas ao contrário do que sabia que deveria fazer, apenas
segurou o rosto dela e inclinou-se novamente contra a boca dela. Dessa vez, se
permitiu ficar ali tempo o suficiente para ter a inteira percepção da textura dos
lábios dela e de como eles se moldavam aos seus. Conseguiu sentir a
respiração dela contra seu rosto e o conjunto de tudo aquilo o fez ter ainda
mais curiosidade. Qual era o sabor dela? Como era a boca dela? Como era o
beijo dela? E talvez, estar muito consciente de que aquela era Hermione,
tornava tudo incrivelmente estranho e especial.

Afastou-se minimamente da boca dela para lidar com o fato de que queria
prová-la. Harry precisava dizer algo, qualquer coisa que fosse. Não sabia o que
dizer. Era péssimo com mulheres e, talvez, ficar calado, fosse uma opção sábia.
Nunca tivera a intenção de chegar até aquele ponto com Hermione, mas
também nunca deixara de cogitar que um dia pudesse. Quantas vezes já havia
a observado com orgulho por ver o quanto ela havia se tornado uma mulher
linda e poderosa. Talvez tivesse sim, o direito de se dar a chance se ela
permitisse e, no segundo que esse pensamento lhe bateu, teve o incentivo
suficiente para ir novamente contra ela, dessa vez, com vontade, trabalhando
para que seus lábios abrissem caminho pelos dela.

Sabia que não deveria tratar mulheres daquela forma, deveria ser mais
cuidadoso, deveria ser romântico, deveria ao menos tê-la convidado para algo,
talvez um jantar com um vinho, mas no momento em que sentiu o calor da
boca dela, da língua e sabor dela, nada mais fez sentido. Harry estava a
beijando e Hermione estava deixando. Talvez estivesse tão confusa quanto ele
e talvez estivesse achando tudo tão estranho quanto ele.
E céus, ela beijava bem. Ou talvez ele tivesse ficado muito tempo sem tocar em
uma mulher. Quem sabe, fosse até mesmo por isso que seu corpo reagiu, e
reagiu rápido, o que o fez empurrar aquilo para algo mais intenso. Hermione
percebeu e algo nela pareceu querer recuar. Harry não queria que aquilo
acabasse, portanto não demorou e a girou colocando-se por cima dela.

A última mulher que tocara havia sido Gina e fazia muito tempo. Harry mal se
lembrava o que era o corpo de uma mulher, e ter o seu encaixado daquela
forma com o de Hermione ali, parecia demais para que pudesse aguentar. Foi
quase que por instinto que suas mãos começaram a explorá-la, começaram a
querer tocá-la ousadamente e ele não se conteve.

- Harry. – ela o chamou no momento em que sua boca abandonou a dela


para dirigir-se até seu pescoço. – Harry. Harry. Harry. – Hermione sussurrou
entre sua respiração ofegante, um tanto assustada, tentando chamar a atenção
dele. – Harry, o que estamos fazendo?

- Vamos nos dar essa chance, Hermione. – foi tudo que ele se limitou a
dizer.
- Não. É errado. – ela era sempre a voz racional que o tentava trazer de
volta para a razão, sempre que se via preso aos seus atos impulsivos. Harry
havia jurado depois da morte de Sirius que nunca mais contrariaria a voz
racional de Hermione, mas já havia quebrado aquele juramento diversas vezes,
desde então. Era incapaz de sair de seu estado impulsivo, uma vez que
mergulhava nele.

- Vamos fazer isso, Hermione. Vamos nos dar a chance. – insistiu ele. -
Sabe que já se questionou como seria se um dia isso acontecesse. Sabe que
iremos passar o resto da vida nos questionando se isso nunca acontecer. - O
olhar dela parecia um tanto assustado. Milhões de pensamentos se passavam
pela cabeça dela, porque Harry sabia que ela era assim. Esperou que ela fosse
recuar. Ele não queria que ela recuasse, mas sabia que Hermione era racional
demais, às vezes. – Somos duas pessoas livres. - Surpreendeu-se, quando ela
se decidiu por inclinar a cabeça até ele e beijá-lo novamente. Ele não evitou
sorrir. Ela também era rebelde quando precisava ser, e das boas.

Terrível erro o dele em ter insistido por aquela primeira vez. Jamais pensou que
seu coração fosse se apegar a ela daquela forma, jamais esperou que Hermione
fosse se tornar tão exclusiva, tão única, tão insubstituível, mesmo que
soubesse que ela, como Hermione Granger, já ocupava um trono muito especial
em sua vida.

Lembrava-se bem de que ela não quis dormir com ele aquela noite. Lembrava-
se dela evitando o olhar dele, na semana seguinte. Lembrava-se de como a voz
dela havia saído rouca quando implorou para que não contasse aquilo para
ninguém, quando acabaram tendo uma segunda vez. Se lembrava de todas as
outras vezes depois daquela e se lembrava de como foi tão simples e fácil se
envolverem graças ao quão confortável já se sentiam um com o outro, o
quanto já se conheciam e o quanto se entendiam.

Duas batidas na porta o trouxeram de volta para o quarto em que se


encontrava e Harry ergueu a cabeça para ver Rony esgueirando-se para o lado
de dentro.

- Eles estão comentando o quão estranho eu tenho agido? – perguntou ao


ruivo, quando viu o cuidado dele ao se aproximar.

- Paramos de comentar sobre isso já faz bastante tempo. – respondeu


Rony. – Acho que todo mundo entende porque estávamos falando de
Hermione.

Harry soltou o ar, tornando a encarar o teto. Não havia poupado esforços para
esconder o quanto a amava e o nível do envolvimento que tinham quando ela
foi capturada. Rony se aproximou até sentar-se na beira do colchão de sua
cama com cuidado.
- Eu teria a resgatado se estivesse lá e se fosse realmente ela. – Rony
comentou depois de um longo minuto em silêncio.

- Ela estaria morta agora se o tivesse feito. – foi tudo que Harry se limitou
a dizer. Neville ainda não havia conseguido desenvolver a fórmula de uma
poção que inibisse os efeitos da Marca Negra. A prova disso era o número de
comensais mortos que eles tinham no subsolo da Ordem.

O silêncio novamente.

- Você realmente acredita que Hermione lutaria por Voldemort? – indagou


Rony.

- Não. – foi tudo que Harry disse, embora tivesse mais a dizer sobre aquilo.
Hermione era uma prisioneira e estava sujeita a pressões de todos os lados.
Era nisso que acreditava. Sentiu o bolso de sua calça esquentar e enfiou a mão
para alcançar a moeda que trocara com Draco a última vez que haviam se
visto. – Ele está me chamando já faz um tempo. – comentou com Rony quando
rodou a moeda entre os dedos a frente de seus olhos.
- Malfoy? Você está o ignorando?

- Ele me ignora sempre que eu o chamo. Me sinto como uma ferramenta


que ele vem guardando para sei lá que projeto. – pensou alto.

- Está pensando em encontrá-lo?

- Sabe que não vou conseguir segurar a curiosidade de saber o que ele
quer por muito tempo. – foi o que respondeu.

- Tome cuidado com isso, cara. Malfoy é estranho, além de ser um inimigo.
A Ordem deveria saber sobre isso de vocês.
Harry suspirou e leu as coordenadas que Malfoy lhe passava na espessura da
moeda.

- Se lembra de quando éramos crianças e você, eu e Hermione éramos os


únicos a saber sobre os suspenses que precediam a guerra? – Hogwarts era a
única lembrança colorida em sua memória. – Não temos Hermione agora, mas
podemos manter isso somente entre mim e você. – lançou a moeda no ar e
Rony a pegou. – As coisas tendiam as ser mais simples e divertidas naquela
época e, às vezes até mesmo acabavam, de alguma forma estranha, bem.

Hermione Malfoy

Estava novamente naquela hospedaria em York. Não era a primeira vez que a
visitava em seus sonhos. Sabia bem que, a vontade de correr para longe, que a
dominou durante cada milésimo de segundo que permanecera naquele lugar, a
afetara profundamente e não seria tão cedo que conseguiria se livrar da intensa
perseguição que aquilo fazia com sua mente.
O sol surgia pelas janelas leste do lobby da hospedaria e ela observava, em
silêncio e sozinha, o que ninguém mais parecia dar atenção. A beleza daquela
estrela era absurda. O calor, o conforto, a luz. Hermione sentia falta de ver o
nascer-do-sol. Caminhou até a entrada principal e passou pela soleira da
enorme porta até a varanda da frente. A brisa gelada da madrugada ainda
soprava. Fechou os olhos, sem se importar com a linha de Comensais que
guardavam a entrada. Respirou fundo e se deixou ficar ali, observando o escuro
de suas pálpebras se tornarem um tom de laranja denso à medida que o sol
avançava no céu.

Lembrava-se de não querer imaginar que se desse mais alguns passos,


descesse os degraus da varanda e colocasse os pés nas pedras justapostas da
avenida principal, estaria no território da Ordem da Fênix. Ela não se sentia
mais parte deles e se dar conta disso, era incrivelmente doloroso e, talvez,
fosse isso que a fazia se sentir tão perturbada, por esse constante sonho.

Sua memória trouxe de volta os rostos de Rony, Harry, Luna, Neville, Gina, Sr.
e Sra. Weasley, Tonks, Lupin... Eles haviam sido sua família e, por mais que
duvidasse muito de que todos eles estivessem em York, por fazerem parte do
círculo principal de protegidos da Ordem, estar ali fazia com que Hermione
sentisse que estava os encarando frente a frente, depois de quase um ano e
meio.

Ter estado ali a fizera se dar conta do quanto havia mudado. Nunca imaginou
que fosse ter essa visão, mas enxergava a Ordem como rebeldes. Eram uma
resistência fraca e jamais chegariam a Voldemort, apenas faziam bagunça e
alongavam o fim da guerra. Ela havia feito parte desse grupo e lutara com eles,
tão avidamente, acreditando num bem maior, numa paz, que não poderia ser
jamais alcançada pela utopia ética da Ordem, dos rebeldes, da resistência. O
mundo era diferente agora. Draco havia enxergado isso. Os Malfoy haviam
enxergado isso e Hermione era parte deles agora. Sentia orgulho disso, de
fazer parte de um lado que tentava derrubar Voldemort com o cérebro, não
com um exército. E estar ali, sentindo que encarava frente a frente a Ordem da
Fênix, só a fizera pensar em como não conseguia sentir vergonha. Vergonha da
sua traição. Hermione não queria um fim mal a ninguém da Ordem. Queria que
seus velhos amigos e sua velha família ficassem bem, seguros e salvos. Tudo
que queria era o fim de Voldemort, mas sabia que eles enxergariam seu novo
eu, como uma traidora, mesmo que tudo que ela estivesse fazendo fosse
derrotar Voldemort, mas com uma visão e uma tática diferente.

Soltou o ar e abriu os olhos. Lembrava-se das ruas vazias aquela manhã,


embora já fosse o dia seguinte após o ataque. Ninguém ousava ir para as ruas.
Era confuso para eles terem uma cidade regida pela Ordem, com um edifício
específico abarrotado de Comensais.

Hermione queria poder descer aquelas escadas e ir para a rua. Morreria em


menos de trinta minutos por causa da Marca Negra, que já ardia em seu braço,
um sinal de que Voldemort estava bem ciente de que ela não estava em
Brampton Fort, mas mesmo assim, ainda queria fugir do mundo ao qual era
obrigada a viver agora. Ela sentia falta do afeto, do carinho, do calor, da
compreensão, do cuidado. Sentia falta de amigos, de família, de coisas que
tivera o luxo de ter no passado e agora não tinha mais. Suspirou. Queria que
tudo aquilo parasse de fazer falta a ela. Queria parar de sentir aquele
angustiante nó que se instalara em sua garganta. Queria parar de se sentir tão
vulnerável, tão fraca, tão sensível.

Naquela memória, Hermione sabia que Draco chegava e dizia a ela que sua
chave de portal de volta para Brampton Fort estava a esperando. Ela sabia que
suspiraria, daria as costas ao sol e voltaria para a realidade ao qual a Marca
Negra a prendia com toda a relutância, que a perseguiria ali e para sempre, até
o fim de Voldemort ou o seu próprio fim. Mas em seu sonho, ali, assim como
em todos os outros que tivera antes desse com York, ela apenas passou pela
linha de Comensais enfileirados com cuidado, ignorando que se aquilo fosse
realidade eles teriam a parado, desceu os degraus da varanda, passou pela
calçada e pisou na avenida. Hermione podia ser livre em seu sonho e queria
que isso fosse libertador, mas não era, porque não tinha para onde ir.

Não podia voltar para a Ordem. Por mais que quisesse ver seus amigos
novamente, sentir o calor acolhedor deles, tomar uma boa sopa da Sra.
Weasley e receber o carinho que sempre recebera, isso implicaria voltar a lutar
com a Ordem e se havia aprendido algo durante o tempo que ficara em
Brampton Fort, esse algo era que a Ordem estava fadada à derrota, mais cedo
ou mais tarde, por mais poder que tivesse em mãos. Voldemort não seria
derrotado daquela forma.

Avançou, querendo se sentir livre, mas não se sentia. Nem mesmo em seu
sonho sentia-se livre. Talvez a casa de seus pais fosse o único lugar do qual
realmente gostaria de ir, mas eles não estariam lá. Parou no meio da avenida.
Não tinha para onde ir. Mesmo livre em seu sonho, não tinha para onde ir.
Seus olhos embaçaram. Era tão acostumada a forçar fraquezas como àquela,
goela abaixo, que foi quase natural lutar contra a sua própria garganta ardendo
insanamente. Soluçou sentindo-se sozinha e cobriu o rosto com as mãos.

- Hermione? – era a voz forte de Draco às suas costas. O nome dela em


combinação com a voz dele, já parecia tão familiar que quase nem conseguia
se lembrar de que relutaram tanto tempo para usar o primeiro nome um do
outro. Tirou as mãos do rosto, murchando, dando-se por derrotada e virou-se
para encará-lo aproximando-se dela. – O que pensa que está fazendo? – ele
vinha com aquele ar poderoso que sempre carregava, usando uma expressão
nada contente, que também sempre carregava ultimamente.
- Eu não sei. – ela soltou numa voz baixa e cheia de desapontamento. –
Fugindo talvez... – jamais teria dito isso a Draco, não agora que haviam se
enfiado no costume de manter um péssimo comportamento um com o outro.
Mas ali, em seu sonho, ela sabia que ele não era realmente Draco.

- Bastante estúpido da sua parte. – exatamente o que ela esperava que ele
dissesse. Suicídio fugir com uma Marca Negra estampada no braço. Mas era
seu sonho e em seu sonho Hermione queria ter tido a opção de correr para fora
daquele hotel em York. O único problema era que sempre parava no meio do
caminho e se perguntava para onde iria. Encarou Draco a sua frente. A figura
dele havia se tornado tão familiar que mesmo que estivesse furiosa e a ponto
de querer matá-lo, era confortável ter algo tão familiar por perto. – Vamos. –
ele estendeu a mão. – Vamos para casa.

Hermione se lembrou do conforto de sua cama, do calor das velas e dos


caldeirões na casa de poções do sótão de sua casa, da vista do jardim de trás e
do cheiro de livros importantes, caros e centenários da biblioteca no terceiro
andar. Era sua cela. Brampton Fort e sua casa eram suas celas. Mas havia
criado história nelas e, de alguma forma, isso acrescentava outro valor
significativo a tudo.

Suspirou e encarou a mão estendida dele. Voltaria sim, porque não tinha outro
lugar para ir, mas não daria sua mão a Draco. Ele havia deixado claro que ela
estava sozinha e que deveria se manter sozinha. Passou por ele e fez seu
caminho de volta a hospedaria.
Acordou aos poucos, como se soubesse que depois daquela importante decisão,
não tivesse mais nada a ser acrescentado. Já tivera várias versões daquele
mesmo sonho. Versões onde Draco era ignorante e eles tinham sérias
discussões no meio daquela avenida. Versões aonde ela, mesmo incerta de
onde ir, corria sem rumo apenas para tentar sentir a sensação de liberdade.
Versões em que acidentalmente acabava sendo convencida de que era insana
por sair da zona de proteção de Voldemort com uma Marca Negra estampada
no braço e acordava assustada esperando pela dor.

Suspirou cansada de seus próprios sonhos e se esticou debaixo das cobertas.


Questionou-se pela milésima vez se achava bom ou ruim que o lado de Draco
estivesse intacto e vazio e fechou os olhos novamente, quando se lembrou que
dia era aquele. Respirou fundo, sentindo uma agonia em seu peito. Detestava
ficar ansiosa, mas era inevitável. Só Deus sabia como seria o fim daquele dia.
Poderia ser muito ruim ou apenas um alívio a mais para contar. Soltou o ar e se
sentou. Passou a mão pela onda que sua barriga fazia agora, com dezoito
semanas, quase que involuntariamente.

Saiu da cama, tomou seu banho, precisou procurar por um vestido novo e
desceu para o desjejum e logo quando se sentou à mesa, escutou a carruagem
de Draco no pátio externo. Hermione sabia que ele voltaria de York hoje,
apenas porque tinha um discurso aberto marcado para o fim da manhã e
provavelmente deveria estar furioso por ter que deixar seu exército no meio de
algo importante para vir lembrar aos curiosos protegidos de Voldemort como o
andamento da guerra estava próximo do fim, graças a ele.
Ela tomava seu chá quando ele passou para o lado de dentro. Não parecia
furioso, ao contrário do que ela esperava, mas parecia cansado. Hermione
conseguia ver isso através do olhar dele, e conseguir perceber que Draco
Malfoy estava cansado, mostrava o tanto que a figura dele era extremamente
familiar. Draco vestia sempre sua capa impenetrável e tudo que qualquer um
sempre veria nele era sua expressão fria, neutra e inabalável. Bem, ela não era
qualquer um. Era esposa dele e imaginar que estavam alcançando dois anos
juntos, às vezes a assustava.

- Saí do portão sul e não a vi me esperando. – ele atravessou a sala até


seu lugar e se sentou. – Acaso se esqueceu de que temos um teatro para fazer
para o público?

- Eu não sabia que horas chegaria. Na verdade, não sabia nem que viria.
Soube ontem quando eles lançaram a nota oficial do seu discurso aberto de
hoje na Catedral. Deveria ter me escrito algo. – Hermione não deu atenção a
ele e continuou seu café com o Diário do Imperador em mãos.

- Eu administro uma guerra e agora quer que eu faça o seu serviço por
você? Eu sabia que iria ter conhecimento de que eu voltaria hoje a Brampton
Fort, o mínimo que eu esperava de você, era que procurasse saber pelo
menos o horário em que eu chegaria para estar me esperando como uma boa,
atenciosa e preocupada esposa.
Hermione sentiu uma crescente ânsia ferver seu sangue. Aquela vontade de
voar contra o pescoço dele a dominou e como uma boa Malfoy que aprendera a
ser, engoliu tudo aquilo com paciência, respirou fundo, dobrou o jornal com
calma, piscou e o encarou pela primeira vez.

- Acha que eu sou estúpida ou o que? – tentou ser o mais calma e mansa
possível. – Quem acha que vai enganar com o seu teatrinho de casal perfeito
quando metade das mulheres dessa cidade sabe que fizeram sexo com você,
não faz muito tempo? Eu não vou fazer papel de boba idiota que se ajoelha aos
seus pés. Não vou ser a pobre coitada que não sabe nada sobre o infiel marido
para um público que eu, por sinal, detesto. Ainda me resta um mínimo de
orgulho, Draco. Não farei esse papel. Não sou sua mãe e se quiser ser o seu
pai, esse não é o meu problema. Só peço que me informe caso não se importe
com os filhos que eu estou carregando. Se não tiver interesse em tentar
protegê-los e se não tiver sequer interesse neles, por favor, me deixe saber
que eu estou sozinha porque eu me lembro de ter te escutado dizer que
faríamos isso, juntos. Mas você não tem feito seu papel.

- Eu tenho feito...

- Seu papel? – ela não queria sequer escutar o som da respiração dele. –
Fazer um teatro aqui e ali em público, não vai nos tornar o casal perfeito se
existirem mulheres por aí comentando sobre terem ido para cama com Draco
Malfoy. – levantou-se. – Tenha uma boa refeição.
A agonia de saber o que passaria aquele dia já era demais para que ainda
tivesse que encontrar paciência para suportar a companhia de Draco.

**

Queria não ter usado a mesma carruagem que Draco para ir à Catedral, mas
quando Hermione insinuou que daria ordens à Tryn para que outra carruagem
fosse preparada, ele apertou os olhos para ela, como se estivesse procurando
pela hora em que teria a oportunidade de usar as palavras do desjejum contra
ela, o que a fez desistir da ideia. De alguma forma, acreditava no poder que a
mídia dava a eles e queria apostar nela. Principalmente se o resultado daquele
dia acabasse sendo um desastroso. Queria tanto que Draco fosse pelo menos
mais cuidadoso. Depois que havia o pegado com a porta de sua sala trancada
na companhia de outra mulher, Hermione não parava de imaginar quantas
vezes ele fazia aquilo por dia. Não conseguia deixar de discutir com si mesma,
quem poderia estar aquecendo a cama do seu marido todo o tempo que ele
passava em York.

Suspirou, tentando trocar de pensamento, encarando a paisagem passar do


lado de fora da janela da carruagem que dividia com Draco. Estava nervosa e
suas mãos suavam. Encarou brevemente a figura de Draco lendo uma pilha de
pastas que Tina o enviara. Será que ele tinha ideia de que ela descobriria se
estava carregando meninas ou meninos hoje? Eles não conversavam, não
trocavam cartas, não discutiam sobre nada e, sempre quando abriam a boca
um para o outro, era para trocar farpas. Draco também estava absurdamente
envolvido com York e a guerra, o que a fazia duvidar muito que ele tivesse
alguma ideia de que tinha uma sessão marcada na ala das enfermarias com
Voldemort.
- Você está inquieta e isso está me irritando. – ele comentou, sem tirar os
olhos de sua pasta quando Hermione trocou de posição pela milésima vez.

Ela pediria desculpas, se não estivesse com tanta raiva dele. Sabia que devia se
controlar e que demonstrar que algo a afetava, não era algo muito bem aceito
por Malfoys. Tinha uma relação de amor e ódio com seu novo sobrenome tão
instável que se via confusa várias vezes.

Não respondeu nada a Draco, não queria engajar em outro tipo de discussão
com ele que a levaria a sentir mais raiva. Ansiedade já bastava para ela por
agora.

Quando desceu na porta da Catedral, os flashes a seguiram até a entrada do


saguão. Teve que sorrir, teve que acenar, teve que sentir a mão de Draco às
suas costas a guiando e teve que tocar distraidamente sua barriga quando ele
sussurrou em seu ouvido para que fizesse. Era impossível esconder sua barriga.
Por mais que ainda fosse muito pequena, era inevitável que qualquer olho não
notasse a diferença em sua forma, mesmo que usasse roupas que desviassem
a atenção. Era primavera e a quantidade de tecidos que usava era menor, o
que deixava ainda mais visível para o público, o volume de sua barriga. Narcisa
também tivera o cuidado de fazer com que ela escolhesse roupas que
ajudassem.
Separaram-se quase que imediatamente quando os olhos da mídia ficaram para
trás. Draco foi o primeiro a sumir, seguindo para a estação onde estavam
preparando a exibição de seu discurso. Hermione seguiu seu caminho, cruzando
da ala principal até o jardim interno, onde encontrou Narcisa entretida com
uma revista e uma xícara de chá. Parou quando viu que Bellatrix era sua
companhia. Precisou respirar fundo e juntar coragem, antes de seguir seu
caminho até elas.

- Ora, vejam só quem finalmente apareceu. – Bellatrix foi quem se


pronunciou, chamando a atenção de Narcisa que parecia surpreendentemente
muito longe do planeta terra, embora aparentasse ler sua revista. – A fujona
rebelde. Pensei que ainda estivesse se recusando a sair de York.

- Por Deus, Bella. – Narcisa se mostrou entediada. – Não vamos começar


com essa sua implicância. Sente-se, Hermione. Não pensei que fosse chegar
agora.

- Vim com Draco. – Hermione sentou-se em sua melhor postura. Preparou


todo o seu escudo para se manter firme diante de Bellatrix.
- Ah! O adorável casal, Malfoy. – riu Bellatrix e Narcisa apertou os lábios,
entediada, voltando a sua revista. – Estou quase me apaixonando por vocês.
Devo confessar que a atenção que dão um para o outro quando estão em
público é cativante. Os jornais estão quase me convencendo que de são dois
apaixonados esperando um lindo herdeiro para completar a imensurável
felicidade que vivem todos os dias. – ela foi irônica. – Se eu já não soubesse do
inferno que vivem, certamente estaria convencida. – riu. – Ainda não entendo
porque o mestre não tomou nenhuma atitude por terem vasado o fato de estar
grávida, nem por ter deixado Brampton Fort pela sala de apartação, sem
permissão.

- Deixei Brampton Fort por chave de portal e caso não tenha lido as notas
abertas oficiais das ações de quando movemos o acampamento para o centro
da zona inimiga, eu lutei pelo seu mestre e voltei para onde ele me obriga a
ficar presa. – Hermione foi séria.

- Em troca do que? Você não me engana. Voltou porque se não tivesse,


certamente, já estaria morta e é melhor não esperar que consiga comprar o
mestre para salvar a vida dos seus fetinhos caso sejam menininhas, só porque
levantou a varinha contra alguns rebeldes em alguma ação importante em
nome dele. Não é assim que as coisas funcionam. – Bellatrix se levantou. –
Espero que esteja preparada para hoje. – e foi embora, como se não estivesse
nem mesmo com vontade de gastar sua energia na presença dela.

Hermione respirou, sentindo alguns de seus músculos relaxarem quando ela


deixou a mesa. Encarou Narcisa ocupada com sua revista e pensou que a
mulher fosse confortá-la, dizendo que Bellatrix estava apenas tentando
amedrontá-la e que se divertia com isso, mas a mulher estava estática, com os
olhos fixos na revista, mas parecia em outro mundo. Estranhou.
- Há algo de errado com sua revista? – perguntou quando a mulher não se
manifestou. Nem mesmo após sua pergunta a sogra demonstrou qualquer
reação. Hermione estranhou mais ainda. – Narcisa? - O som de seu nome no ar
fez com que a mulher finalmente erguesse os olhos para Hermione. – Há algo
de errado com sua revista?

Narcisa uniu as sobrancelhas, como se não entendesse o porquê da pergunta.

- Não. – respondeu.

- Você não parece muito entretida com ela.

- Oh. – ela pareceu confusa por não ver Bellatrix mais em seu lugar e um
pouco desconcertada com o que Hermione dissera. – Na verdade estou. –
Hermione nunca vira Narcisa agir daquela forma. – Veja, eles fizeram uma
coletânea com as fotos de todas as suas últimas aparições, comentando a
visibilidade da sua barriga em todas elas. As pessoas estão indo à loucura por
saber que está esperando um Malfoy. Não é sempre que se vê um rosto novo
na nossa família. Somos a família mais antiga e importante do mundo bruxo e,
como várias outras famílias antigas, deveríamos ter Malfoys por todos os
lugares, mas ao contrário disso, nossa linhagem termina em Draco. – ela
sorriu. – Por enquanto. – acrescentou.

Hermione pegou a revista e observou as imagens. A maioria era tirada na


entrada da Catedral. Em todas elas, sua barriga era visível, principalmente
quando alguma rajada de vento batia contra ela e o tecido de seus vestidos
desenhava a figura de seu corpo. O artigo embaixo expressava o quanto
estavam ansiosos por uma confirmação oficial do casal e o quanto a nova Sra.
Malfoy parecia poderosamente adorável em sua coleção de roupas para a
primavera.

- Estive pensando sobre o comunicado oficial. – Narcisa continuou. Parecia


ter voltado ao seu estado normal. – Sei que deveríamos sentar em família para
decidir como isso será feito, mas não sei se isso será possível. – A mulher
pigarreou como se tivesse escondendo algo que ela mesma tentava não dar
muita importância. – Portanto, estive pensando e quero que façam algo mais
espontâneo, isso passará uma imagem mais humana de vocês dois. Se
prepararmos para lançar um comunicado oficial da família, isso os deixará com
uma imagem muito separatista, muito superior. Falarei com Draco e espero que
vocês dois façam o anúncio, sem qualquer ensaio prévio na saída da Catedral,
assim que puderem. A mídia sempre estará empilhada lá, esperando por
alguém importante e com certeza irão levantar a pergunta como sempre fazem.
Respondam e fim. Tentem ser amigáveis, tentem parecer felizes e digam que
não sabem nada sobre o sexo dos bebês, mesmo se descobrirmos que são
meninos daqui a pouco. – Hermione assentiu. Não sabia se até o fim do dia
ainda estaria grávida, caso Voldemort tivesse acordado com um humor cruel e
ela estivesse esperando meninas. – Como farão isso de maneira muito
espontânea e rápida, as pessoas ficarão famintas por mais informação, então,
assim que anunciarem, você precisa aceitar convites para entrevista. Sei que já
recebe muitos convites para entrevistas e quero que aceite um deles. Algum
da Travessa das Comensais, de preferência. Quero que fale sobre seu novo
visual. Quero que fale como o fato de estar gerando vidas te inspirou a mudar
seu estilo para poder se sentir em coerência com suas novas emoções e
sentimentos. Seja lúdica. Direcione-se mais para o público feminino. Crie um
drama sobre como lidar com o fato de que está esperando gêmeos, quando na
verdade, não pretendia nenhum filho por agora, tem te mudado e te levado a
um estado de felicidade maior a cada dia que se passa. Não se esqueça de
mencionar Draco e na perfeita sintonia de vocês. Sobre o quanto isso os tem
animado e tem os deixado feliz. O quanto isso tem se tornado uma prioridade e
o quanto se sentem muito mais unidos agora. Draco terá que fazer a parte
dele também e quero que ele se envolva de uma forma mais séria e menos
exposta, portanto, seria mais prudente deixá-lo nas mãos de jornais como o
Diário do Imperador, aonde eles irão se sentir na obrigação de dividir entre
passar informações sobre a guerra, o departamento dele e sua gravidez. É
preciso que vocês dois envolvam as pessoas nessa gravidez e pra isso terão
que estar alimentando-as com informações constantemente. Não deixe
esquecerem que está grávida, não deixem esquecerem-se de vocês. Tente
fazer com que contem os dias para a chegada dessas crianças, tanto quanto
vocês. O mestre pode nos cortar a qualquer momento, portanto, teremos que
fazer o melhor serviço que pudermos enquanto o mestre permitir. – Hermione
apenas assentiu novamente. – Certo. Então vamos logo terminar com isso. –
Narcisa se levantou.

- É cedo ainda. – Hermione estranhou que a sogra não tivesse notado isso.

- Oh. – Narcisa disse aquilo pela segunda vez, dando-se conta de que
realmente ainda era cedo.

- O que há de errado com você? – decidiu perguntar.

Narcisa mostrou-se confusa pela pergunta.


- Comigo? Não há nada de errado comigo.

- Você está... distraída. Sei que não é assim.

- Nós todos temos dias ruins, Hermione.

- Você tem dias ruins todos os dias, todos nós temos. Eu sei que existe
algo a...

- Pare. – Narcisa foi firme ao cortá-la. Hermione parou. O que quer que
fosse estava realmente a afetando. – Não quero falar sobre isso e você vai
apenas ignorar minha distração.
Hermione ficou surpresa pelo tom severo.

- Narcisa, eu não estou a obrigando a nada. Minha intenção não era colocá-
la contra a parede ou algo do tipo. Pensei apenas que tivéssemos liberdade
para contar uma com a outra quando sentíssemos que precisássemos. Quantas
vezes você foi a única pessoa que esteve comigo quando pensei que ninguém
estaria?! Não é necessário que me diga nada se não quiser, mas também não
precisa fingir que tudo está bem quando eu estiver por perto. Posso ser alguém
a menos para quem precisa fingir.

Narcisa abriu a boca para retrucar algo, provavelmente, grosseiro, mas decidiu
permanecer calada depois de um tempo. Suspirou incomodada e pareceu
pensar rápido.

- O discurso de Draco vai ser daqui a alguns minutos. Pretende assistir? –


ela mudou de assunto.

- Não. – respondeu Hermione. Já sabia que ele explicaria bem como


haviam avançado do novo acampamento para quase 40% do território de York,
e assim, que não demoraria a decretarem definitivamente o fim da guerra
quando finalmente colocassem sobre controle todos os grupos da resistência.
Na verdade, também não tinha interesse em ser obrigada a ficar observando a
figura de seu amável marido por escolha. – Acaso sabe se Draco tem
conhecimento de que tenho uma sessão marcada na ala das enfermarias hoje?
- Não sei. – Narcisa deu de ombros, incerta, e um tanto intrigada. – Eu não
disse nada a ele. Draco anda ocupado demais. Por que não contou a ele?

- Nós... – ela não soube exatamente qual seria a melhor maneira de dizer
aquilo. – Não estamos conversando com tanta frequência. – talvez aquilo
bastasse. - Ele anda ocupado. – justificou.

Narcisa não pareceu achar que aquilo bastasse. Tornou a se sentar com calma
e uniu as mãos.

- Draco tem o direito de saber sobre os filhos, Hermione.

- Não acho que ele tem interesse.


- Apenas porque não demonstra?

- Apenas? – Hermione – Como espera que eu tenha conhecimento do


interesse dele se ele não demonstra?

- Ele não precisa demonstrar, são os filhos dele e você é a esposa dele. É
naturalmente esperado que ele tenha interesse.

- Não é assim que funciona. – ela não concordava. – Não comigo. Quem
tem interesse corre atrás, não importa que esteja ocupado ou não. Talvez você
não enxergue dessa forma por causa de Lúcio.

Narcisa apertou os lábios.


- Não vamos trazer Lúcio para a discussão.

- Como não? Quando vai perceber que tudo em sua família gira em torno
dele?

- Ele ainda é o cabeça dos Malfoy.

- Ele arruinou sua vida. Ele estragou a personalidade de Draco e ainda fez
questão de enfiá-lo em um casamento comigo. Lúcio é a única razão pelo qual
você, Draco e ele não são uma família genuína. E não me julgue por estar
falando isso, tenho total direito de abrir minha boca porque me colocaram no
meio da tempestade reprimida que vocês são juntos. Eu mal havia mudado de
sobrenome e ele já fazia questão de traçar a ruína da minha vida. – Hermione
não teve vergonha de dizer o que sempre dizia a Narcisa e a mulher continuou
firme em sua expressão dura, mas ao contrário do que sempre fazia, ela não
abriu a boca para defender o marido. Hermione suspirou, abandonando um
pouco seu ar de indignação. – Me desculpe por ser honesta demais, eu sei que
ama seu marido e que dizer essas coisas só me afasta de você, mas... – ela
não podia engolir aquilo. – Não consigo engolir o fato de que ele te reprime
tanto. Não consigo engolir o fato de que Lúcio não se importa em fazer de você
uma piada. Ele te fez esquecer de que merece ser feliz, te fez esquecer de que
tem o direito de ser simplesmente humana, porque você é uma, antes de ser
uma Malfoy. Não consigo engolir o fato de que ele tem total controle sobre você
e você deixa que ele tenha. Eu simplesmente detesto que Draco tenha crescido
vendo você ser inteiramente submissa a Lúcio porque, às vezes, realmente
temo pela raiva que ele transparece quando resolvo confrontá-lo. E
eu sempre o confronto quando necessário.
- Você tem uma personalidade forte, Hermione.

- Você também. Tão mais forte quanto a minha. Consegue suportar uma
vida deprimente e solitária em nome de um sentimento. Eu jamais seria capaz
disso.

- Vejo você e Draco, Hermione. Vocês já vivem uma vida deprimente e


solitária em nome de um sentimento.

Hermione abriu a boca para retrucar, mas acabou por se calar quando não
conseguiu encontrar nada plausível que derrubasse aquela afirmação. Soltou o
ar frustrada e desviou o olhar. Precisou ponderar por um tempo sobre aquilo.

- Ao menos Draco e eu somos livres um do outro. – acabou por dizer.


- Não. Não são. – Narcisa disse. – Se odeiem, se amem, se detestem, se
gostem, vocês não estão livres um do outro.

- Somos casados em um papel que pouco tem significado para nós. –


Ergueu os olhos para a mulher. - Aquele papel me torna uma Malfoy e me
coloca no status de esposa, mas não tem o poder de me unir fisicamente ou
sentimentalmente a Draco. O dia em que ele conseguir poder para me controlar
eu o deixarei, sem nem mesmo hesitar. Continuarei sendo a esposa dele por
causa daquele maldito papel, mas não sou obrigada a morar com ele, a dormir
com ele, a aguentar a presença dele. O único motivo pelo qual eu não o
deixaria agora, se resume a Voldemort.

Narcisa puxou o ar olhando para os lados.

- Não diga o nome dele aqui.

Hermione revirou os olhos.


- O mestre é o único motivo pelo qual preciso necessariamente viver com
Draco. – Consertou. Sim, ela esperava que pudesse deixá-lo quando
derrubassem Voldemort. Agora mais do que nunca. – A mídia é manipulável. -
Narcisa permaneceu calada. Estranhamente calada, por sinal. Era
completamente fora do comum que ela não estivesse se esforçando para
desfazer os argumentos de Hermione e Hermione se aproveitava disso. –
Deveria deixar Lúcio. Talvez ele aprendesse a te dar valor caso o deixasse.

Ela suspirou e desviou o olhar.

- Eu jamais faria isso.

Hermione deu de ombros. Sabia que ela jamais faria.

- De qualquer maneira, preciso agradecer que esteja fazendo isso comigo


hoje. Eu realmente não queria estar sozinha. – não se caso soubesse que
estava esperando meninas. – Gostaria muito que fosse feliz ou que ao menos
tentasse encontrá-la de uma forma diferente da que tem feito. Você tem um
bom coração, de seu próprio jeito, e isso é admirável.
Os lábios de Narcisa se esticaram num sorriso muito discreto que morreu para
uma expressão cheia de angústia, mas que não durou muito tempo. Narcisa era
quase como Draco e não se permitia mostrar qualquer tipo de fraqueza por
muito mais do que segundos.

- Talvez... Talvez se... – ela soltou numa voz baixa. Fechou os olhos e
balançou a cabeça como se estivesse limpando seus pensamentos. –
Deveríamos nos preparar para a enfermaria. – ergueu os olhos para Hermione
e se levantou como se estivesse decretando de fato o fim daquele assunto. –
Talvez seja prudente que apareça por lá com antecedência.

Hermione apenas assentiu e se levantou, seguindo a mulher.

**

Seu corpo inteiro tremia, enquanto esperava de pé pela ordem de poder deitar
na maca. Não estava frio. Talvez fosse a camisola fina de algodão que ela tivera
que colocar, ou talvez fossem seus pés sobre o linóleo gelado que cobria a
cabine em que se encontrava. Ou talvez, fosse apenas o nervosismo que a
dominava.

Narcisa estava do lado de fora na companhia de Bellatrix e Voldemort.


Hermione conseguia ver através do vidro na porta. Logo ao seu lado, havia
uma medibruxa operando e preparando a aparelhagem que permitiria ver e
analisar os bebês que carregava. A mulher havia cuidado de seu caso e
também fizera parte da equipe que tirara sua filha dela da última vez. Aquilo
deixava-lhe nervosa. Temia que Voldemort já tivesse preparado uma equipe
para o mesmo fim, caso ela estivesse esperando meninas. Isso não daria a
Hermione, nem sequer, tempo para negociar a vida das filhas.

Respirou fundo, tentando afastar todo o tipo de pensamento negativo de sua


cabeça, mas nem quando fazia isso conseguia parar de tremer ou deixar de
sentir a ansiedade crescente angustiá-la e deixá-la inquieta.

- Precisa ficar mais calma, Sra. Malfoy. – a curandeira ao seu lado disse. –
Posso ver suas mãos tremendo quando nem mesmo estou olhando. – Hermione
escondeu as mãos, unindo-as atrás de seu corpo. – Tenho balinhas de café se
quiser. Pode ajudar os bebês a se moverem. Terei uma visualização melhor.

- Eles parecem bem ativos desde que acordei. – Não queria colocar nada na
boca enquanto estivesse ali, e agradecia pelos pequenos chutes que sentia na
base de sua barriga desde o início da manhã.
- Não sei se deveria me preocupar com o tamanho da sua barriga. – a
curandeira disse distraída com toda a aparelhagem. – Você não parece ter
ganhado muito peso e sua barriga está bem menor do que deveria estar, mas
talvez seja apenas sua genética. Lembro-me que estava mais avançada da
última vez que a vi grávida e sua barriga parecia menor do que agora.

Hermione esticou o tecido que usava para poder analisar o tamanho de sua
barriga. Realmente não era grande, mas era maior do que já havia estado em
toda sua vida.

- Tem sido difícil esconder. – ela comentou. – Acha que isso está afetando
os gêmeos? Acha que poder trazer algum problema para eles no futuro?

A mulher sorriu.

- Fique tranquila. Você ainda vai ficar gigante. Talvez demore um pouco,
mas está criando dois seres humanos aí dentro. A natureza não falha. -
Hermione engoliu em seco. Não conseguia se imaginar gigante. – Com foi seu
primeiro trimestre?

Suspirou.

- Difícil. – foi tudo que teve a dizer.

Não havia nada recompensador no começo daquela gravidez. Tudo que havia
sentido era cansaço, náusea, falta de ar e se lembrava de ter tido dias em que
mal tivera vontade de levantar da cama. O medo de se apegar a seus gêmeos
da forma como havia se apegado a sua filha, naturalmente, a fizera querer
sentir menos interesse pelas vidas que estava gerando e a fizera querer
esquecer que estava grávida, mais de uma centena de vezes. Isso havia
mudado fazia poucos dias, quando começara a sentir pequenos chutes. O
primeiro foi logo a sua direita e, alguns dias depois, Hermione já conseguia
sentir os dois bebês. Durante a noite, quando tudo se acalmava e ela ficava
deitada, podia senti-los a todo o momento. Sentia-se normalmente frustrada
por não ter prestado atenção suficiente naqueles chutes e empurrões durante o
dia. Cada um deles parecia ter o poder de querer fazê-la colocar um sorriso nos
lábios, mesmo que quisesse simplesmente chorar.

A medibruxa se levantou do banco em que estava sentada e auxiliou Hermione


a deitar na maca. Hermione ajeitou os cabelos, enquanto a mulher cobria suas
pernas com um lençol e erguia a camisola expondo sua barriga. O som de sua
própria respiração começou a soar alto demais em seus ouvidos e ela percebeu
que estava apavorada, principalmente quando não teve onde esconder suas
mãos e viu que elas tremiam significativamente. Precisam ser meninos.
Precisam ser meninos. Era tudo que seu cérebro era capaz de produzir.

- Por favor. – sussurrou para a mulher que se sentou novamente no banco


ao lado da maca. – Olhe para mim, como um aviso, antes de dizer a ele, se
forem meninas.

Ela encarou Hermione por uns segundos, com um pouco de receio em seu
olhar. A medibruxa respirou fundo, apertou os lábios e disse num tom muito
baixo:

- O mestre não me passou nenhuma especificação ou ordem, portanto,


farei seu exame exatamente como faço o de qualquer outro paciente até que
ele me corte ou não, mesmo sabendo que se eu fizer algo que ele não goste,
com aviso ou sem aviso, sei que vou ser punida. – encarou Hermione por um
longo segundo. – Eu vou olhar para você caso forem meninas e se forem...
Quero que saiba que... – suspirou – Sinto muito.

Hermione puxou o ar e o prendeu. Tudo que lhe restou foi assentir, embora
estivesse agora mais aflita do que antes. Queria fugir dali. Não queria que
aquele dia terminasse como havia terminado o dia em que haviam lhe tirado
sua filha. Não estava pronta para isso. Torcia para que tivesse tempo de,
brilhantemente, convencer Voldemort de manter seus gêmeos vivos se fossem
meninas, embora duvidasse muito de que qualquer coisa fosse capaz de
comprar Voldemort a aceitar esperar um ano para que tivesse a chance de vê-
la engravidar de um herdeiro.

- Seu marido e minha equipe têm um acordo. – a medibruxa continuou a


dizer num tom baixo, voltando-se para a aparelhagem. – Ele aliviou nossa
situação com o mestre depois do seu pequeno... incidente. Por isso, temos lhe
passado todas as informações sobre seus bebês. Pensei que ele fosse estar
aqui.

Hermione suspirou. Não sabia se queria Draco ali ou não. Ela havia acreditado
que ele se importava com os filhos porque ele havia dito, mas com as atitudes
que vinha tomando ultimamente, aquilo havia passado a se tornar palavras
vagas. Tinha pouca esperança de que ele se importava de alguma forma.

- Ele... – Hermione não sabia ao certo o que dizer e foi exatamente nos
segundos em que pensava em uma justificativa para dar a mulher, que a sua
atenção foi chamada para a porta que acabara de ser aberta.

Por ela passou Draco, Narcisa, Bellatrix e Voldemort, na constante companhia


de sua ridícula cobra. Hermione não conseguiu tirar seus olhos de Draco e ele a
olhou apenas por alguns segundos. Talvez, seu momento de distração com a
mulher ao seu lado tivesse impedido-a de ver a chegada de Draco do lado de
fora.
- Aí estão todos. – disse a medibruxa. – Estava prestes a chamá-los.
Estamos prontos.

Voldemort tomou seu tempo para criticar a demora da preparação e pediu para
que as coisas fossem logo adiantadas. A mulher não enrolou mais nenhum
segundo e não demorou em Hermione sentir o gelado de um gel em sua
barriga.

Já havia feito aquilo antes e não foi muito diferente. O que a matava era o
silêncio da mulher operando a máquina e o silêncio de todos os outros naquela
câmara. Observava com atenção as imagens mostradas em um estranho e
antigo monitor que mostrava uma imagem muito clara, entretanto, bastante
confusa.

- Aqui estão. – a mulher informou, apontando para o monitor. – Os dois. –


ela pareceu mostrar os dois, mas Hermione não conseguiu entender muito
bem. Precisou apertar um pouco os olhos e mover a cabeça algumas vezes. – O
fato de não estarem dividindo a placenta diminui possíveis complicações. O que
é bom. – a medibruxa moveu o dispositivo que usava para pressionar a parte
de baixo de sua barriga e sorriu. – Eles parecem bem ativos. Você os sente
com frequência?
Hermione percebeu que a pergunta havia sido direcionada a ela e foi pega de
surpresa pela atenção que não esperava receber.

- Hum... – organizou as ideias em sua cabeça e respondeu num tom baixo,


como se temesse por ter ou não permissão para dizer alguma coisa. – Faz
pouco tempo que comecei a senti-los. Parecem ser só chutes ou empurrões. A
maioria durante a noite.

- Normal. – a mulher foi profissional. – Não quer dizer que eles não se
movem durante o dia, acontece que você só está mais distraída.

Hermione assentiu, esperando que Voldemort continuasse em silêncio assim


como estava e continuasse deixando que a mulher falasse.

- Eles estão saudáveis? – a voz de Draco soou e Hermione ficou surpresa


por escutá-lo. Encarou a figura dele, de braços cruzados, ao lado da mãe,
encarando o monitor, assim como todo o restante do público.
- Eles me parecem bastante saudáveis. Vamos olhar mais de perto cada
um deles. – respondeu a mulher, movendo a ferramenta em sua barriga.

- Será que dá pra pularmos para a parte do motivo ao qual estamos aqui?
– Bellatrix soou entediada.

A expressão da medibruxa mudou rapidamente ao escutar a mulher.

- Bem, tenho outras coisas para checar, mas podemos pular...

- Faça o que tudo que tiver que fazer. – Voldemort a interrompeu e foi
inevitável que Hermione sentisse os pelos de sua nuca levantar ao escutar a
voz poderosa do bruxo.
A mulher continuou em silêncio dessa vez. A pausa pareceu quase uma
eternidade até que ela informasse que ligaria o som dos batimentos do coração
e, no momento em que o fez, Hermione chegou a prender sua respiração. Por
um segundo apenas, foi assustador. Eram seus e eram reais. Eram seres
humanos. O som continuou soando em seus ouvidos e ela foi sentindo como se
sua cabeça estivesse latejando nele e mel estivesse escorrendo pela sua
garganta, enquanto seu próprio coração parecia derreter. Quis chorar porque
naquele exato momento, o único pensamento que se passava em sua cabeça
começou a gritar pelo seu corpo inteiro: Que sejam meninos! Que sejam
meninos!

Assim que a mulher desligou o som, os olhos de Hermione foram


involuntariamente para Draco que parecia em transe olhando fixo para o
monitor. Não foi quase um segundo inteiro para que ele movesse os dele até
ela e, naquela rápida troca de olhares, Hermione se sentiu na mesma sintonia
que Draco, pela primeira vez em toda a sua vida, uma sintonia tão profunda e
tão clara que absolutamente nada precisou ser dito para que soubesse que o
cérebro dele gritava o mesmo que o dela. Hermione puxou o ar e olhou para a
mulher ao seu lado operando a ferramenta em sua barriga.

- É menina ou menino? – foi quase um sussurro.

- Me dê apenas um segundo... – a medibruxa continuou mexendo nos


aparelhos, concentrada no monitor. Embora já tivesse desligado o som dos
batimentos cardíacos, Hermione ainda parecia capaz de continuar escutando no
fundo de sua cabeça. Aquele silêncio foi perturbador e a ansiedade foi lhe
crescendo a um ponto que ela começou a ter consciência do próprio suor em
suas mãos. Não olhe para mim, continue olhando o monitor. Ela torceu. A
qualquer minuto saberia. Mordeu os lábios nervosamente. Continue olhando o
monitor e apenas diga. – Aqui está. – Hermione sentiu que seu coração fosse
quebrar alguma de suas costelas. A medibruxa engoliu em seco e desviou o
olhar para ela. Seu mundo desmoronou no segundo em que viu o “sinto muito”
naquele olhar. – Temos uma menina.

O oxigênio lhe faltou. Não, não, não, não, não! Seu olhar foi direto para Draco
e ele parecia estático, moveu-se rapidamente para Voldemort e ele soltava um
ar de frustração explícito.

- Quero que tire as duas. – O Lorde proferiu sem hesitar.

Hermione abriu a boca para protestar, mas foi a voz de Draco que soou.

- Não. – firme e determinada.

Voldemort ignorou.
- Quero que as tire e quero falar com a equipe de medibruxos. – ele
começou a se mostrar finalmente furioso. – Quero a droga de uma maldita
magia que faça com que essa mulher seja capaz de gerar APENAS HERDEIROS!

- Eu disse que o daria...

- HARRY POTTER? – Voldemort a cortou e Hermione engoliu suas palavras


quase que imediatamente. – Para que fique com suas lindas filhas? Eu não lhe
daria esse prazer nem que entregasse Harry Potter em minhas mãos para que
eu pudesse fazer o que bem entendesse com ele! Eu quero essas crianças
mortas e se não me aparecer grávida no próximo mês, juro que farei com que
os Malfoy comecem a pagar pela falta de compromisso com
as minhas ORDENS!

- Se tocar nessas crianças eu deixo seu exército. – Draco estava firme em


sua postura. Talvez ele estivesse se desfazendo por dentro, talvez estivesse
com medo, assim como Hermione. Talvez... Mas sua postura e sua expressão
estavam intactas.
Voldemort riu.

- Quer dizer que agora Draco Malfoy se importa com filhos? Essas
crianças não sãoseus filhos e o herdeiro que vai gerar para mim não será seu
filho!

- Sim. Será. – Draco foi direto. – Será meu e você não pode mudar o fato
de que será. O fato de eu entregar meu herdeiro para você, “mestre”, não
exclui, não elimina, nem apaga o fato de.que.é.meu.

- Então, por isso veio até aqui, quando da outra vez não fez sequer questão
de se lembrar que sua esposa estava carregando um filho. Veio aqui porque,
repentinamente, decidiu que se importa com essas crianças em específico e
está disposto a me confrontar para que eu não lance a ordem que vai matá-las.
É isso? – Voldemort se aproximou dele.

Draco não mostrou sequer uma gota de receio através de sua expressão.
- Exatamente. – foi o que ele respondeu. – E se ordenar que as mate, eu
deixarei seu exército e quero ver quem será capaz de segurar o fim dessa
guerra.

- Eu serei capaz de segurar o fim dessa guerra! Eu sou Lorde Voldemort!


Está duvidando do meu poder?

- Eu duvido que queira associar sua imagem com a guerra. Precisa ser
aceito pelo público. – Draco se aproximou tão ameaçador quanto ele. – Seu
império foi levantado por guerra e só poderá ser mantido por guerra. Sabe
disso, conhece história, sabe como o mundo funciona. Você precisa de um
general, eu sou o melhor que tem e eu estou disposto a lutar por você, mas se
matar as crianças que eu estou disposto a te entregar, esqueça que ainda terá
meu cérebro e minha varinha nessa guerra por você.

- Eu NÃO QUERO MALDITAS MENINAS!

- ENTÃO TERÁ QUE ESPERAR POR GAROTOS PORQUE, AGORA, HERMIONE


ESTÁ ESPERANDO MENINAS! – Draco ergueu a voz, exatamente como
Voldemort.
- Draco... – Narcisa sussurrou o nome do filho, como se estivesse o
alertando que estava passando da linha.

- Hei. – a medibruxa chamou atenção. – Talvez ajudasse saber que o outro


é um menino.

Hermione percebeu que a mulher ainda estava fazendo seu trabalho com o
dispositivo, apertando sua barriga e escorregando para lá e para cá. Todos os
olhos foram voltados para ela e houve um silêncio momentâneo.

- Um menino? – Draco pareceu confuso.

- Pensei que tivesse dito que eram gêmeos idênticos. – Narcisa manifestou-
se.
- E são. – confirmou a mulher. – Eu não entendo. – ela balançou a cabeça.
– Na verdade, sei que é possível que eles sejam de sexos diferentes, mas as
chances são tão poucas e tão mínimas que é praticamente desconsiderado. A
biologia tem suas explicações, mas talvez o fato de ela ter engravidado sob
magia, ou talvez, até mesmo o fato de ser bruxa tenha ajudado. Os casos de
gêmeos idênticos de sexo diferentes só aconteceram com bruxos, até hoje.
Talvez um trouxa, aqui ou ali, na história, mas é extremamente raro.

Hermione focou Voldemort imediatamente.

- Isso significa que não é necessário que mate nenhum dos bebês. – foi
quase uma ideia e ela torceu para que fosse comprada.

Voldemort pareceu pensar por um tempo.

- Eu quero o menino. – ele disse.


- E quanta a garota? – Bellatrix se pronunciou. – Como faz para matar a
garota?

- Não seria prudente acabar com nenhum dos bebês nesse ponto da
gestação. Ela já está bem avançada. – explicou a medibruxa. – Isso afetaria o
outro bebê, o menino.

- Eu quero o menino. – repetiu Voldemort. – Tem certeza de que é um


menino?

A medibruxa assentiu e, receosamente, propôs que outros companheiros de


serviço pudessem entrar para checar a veracidade daquela informação, como
se estivesse com medo de estar cometendo algum erro. Voldemort concordou
para que pudesse ter certeza e assim os minutos se passaram entre trocas de
medibruxos que Hermione nunca sequer havia visto na vida, checando o
monitor enquanto trabalhavam com a aparelhagem, soltando sempre as
mesmas informações: Gêmeos idênticos, um menino e uma menina.

A maioria deles estava surpresa com o fato de estarem presenciando idênticos


de sexos diferentes. Alguns explicavam como, biologicamente, isso era
possível, outros apenas pareciam surpresos, como se nunca tivessem tido
conhecimento de que algo parecido poderia existir.

Hermione foi se sentindo melhor à medida que começou a notar o interesse de


Voldemort. Quando ganhou confiança de que o Lorde definitivamente não
lançaria a ordem para matar nenhum de seus bebês, por enquanto, foi como se
um banho de alívio a lavasse por completo.

Após a longa sessão, Hermione finalmente pôde se sentar. Voldemort deixou o


local acompanhado de medibruxos que discutiam o caso, mas não antes de
lançar um terrível olhar a Draco. Um que ficou implícito, para todo o resto de
seres humanos presentes no momento que, definitivamente, ele estava em
sérios problemas.

Narcisa adiantou-se para ajudá-la a descer da maca e Draco se aproximou em


silêncio, oferecendo também sua mão para ajudá-la. Hermione travou por um
segundo ao vê-lo com a mão estendida. Seu instinto imediato foi recusar, mas
seu cérebro entrou em contradição no momento em que percebeu que
apreciava o ato, principalmente depois que acabara de vê-lo estragar todos os
anos em que tivera que fazer terríveis atos para provar sua lealdade a
Voldemort com o fim de salvar os filhos.

Aceitou a ajuda e, assim que desceu da maca, encerrou o contato. Detestava


que estivesse se sentindo ferida por causa dele. Era como voltar a seu segundo
ano em Hogwarts. Era como sentir que havia regredido no escudo que criara
contra Draco Malfoy. Detestava sentir que estava novamente desprotegida
contra ele e que havia voltado a esse ponto.

Narcisa perguntou se ela precisava de ajuda para vestir novamente sua roupa e
Hermione agradeceu a oferta dizendo que sim. Mesmo que não precisasse, não
queria ficar sozinha. A mulher encarou o filho antes de acompanhar Hermione,
repassou os olhos nervosamente pela sala para se certificar de quem estava ali
e soltou num tom baixo para que somente Draco pudesse ouvir:

- Não deveria ter gritado. Seu pai vai ter que cuidar do problema que
acabou de criar.

Os olhos de Draco ferveram ao escutar aquilo.

- Meu pai não é nenhum tipo de deus, mãe. Ninguém pode cuidar do
problema que eu acabei de criar. Vá atrás de tia Bella e tente especular o que o
mestre possa ter em mente. Eu fico com Hermione.
Hermione parou de tentar desamassar a camisola que usava no mesmo
segundo em que escutou Draco proferir suas palavras finais. O olhou
imediatamente.

- Não preciso de ajuda. Apenas queria a companhia de Narcisa.

- Precisamos conversar. – foi tudo que ele disse antes de dar as costas e
seguir para a antessala da câmara em que estavam.

Hermione não teve com quem questionar quando Narcisa apenas lhe lançou um
rápido olhar, antes de seguir seu caminho em direção a saída por onde Bellatrix
havia ido embora. Suspirou quando viu que a única escolha que tinha era ir
acompanhar Draco. Foi o que fez.

- Feche a porta. – ele ordenou assim que ela entrou.


Hermione obedeceu e a fechou devagar, como se ainda estivesse pensando se
queria ou não ficar ali dentro com ele. Na verdade, por mais que não quisesse a
companhia dele, ou por mais que temesse a seriedade que Draco carregava em
sua expressão naquele momento, Hermione realmente queria escutar o que ele
tinha a dizer a respeito do que eles haviam acabado de descobrir. Era algo
deles. Haviam feito juntos e Draco parecia tão interessado em protegê-los
quanto ela. Ele deveria ter algo a dizer.

Virou-se para encará-lo, enquanto limpava o suor que ainda restava na palma
das mãos no tecido de algodão que a cobria. Draco cruzou os braços,
encostando-se na parede oposta à Hermione e, sem encará-la, ele pareceu
pensar por alguns longos segundos, como se estivesse decidindo em como
começar aquilo, antes de finalmente abrir a boca:

- Eu acabei de enfrentar Lorde Voldemort. A partir de agora, nós estamos


fadados à ruína ou a vitória e tudo isso vai depender do suporte e da influência
que temos. Sei que havíamos concordado em fazer isso mais lentamente e que
estávamos seguindo esse caminho, principalmente agora que o Conselho foi
desfeito e as coisas em York estão indo bem. Tudo estava pronto para irmos
para a próxima etapa, e de fato fazer as coisas caminharem dessa forma seria
melhor, mais racional e menos estressante. – Ele soltou o ar, parecendo um
tanto cansado. - Mas eu sabia que as coisas não poderiam ser adiadas se tudo
ocorresse como aconteceu hoje, portanto, preciso que esteja preparada para
jogar de verdade agora. Durante anos eu estive nesse jogo com Voldemort sem
que ele notasse. Tentei ser o mais discreto possível e o Lorde não sabe a carta
que venho preparando na manga, mas depois de hoje, ele definitivamente sabe
que eu tenho uma porque nenhum ser humano com um cérebro, sendo um
Comensal, o enfrentaria como eu o enfrentei sem uma. A única coisa que o
impede de fazer com que eu apareça morto amanhã é a posição que eu ocupo,
o poder que ele me dá, a influência e o fato dele saber que precisa de mim,
querendo ou não. Não só pelos mitos que envolvem minha família e a pedra de
proteção de Merlin e todas essas coisas. Ele sabe que eu sou bom e ele gosta
dos bons. Conhece meus interesses e sabe que, de alguma forma, eu sou leal a
ele até que algo melhor apareça e é com isso que precisamos trabalhar. Fazer
com que ele entenda que eu posso não gostar de como as coisas funcionam,
mas ele ainda é minha melhor opção. Isso pode nos dar tempo porque,
querendo ou não, Hermione, em algum momento ele saberá que eu pretendo
fazer com que exista uma opção melhor do que ele, se ele cair. Preciso ter
apoio e influência quando esse momento chegar, portanto faça a sua parte.
Faça com que a mídia te ame e rápido. Apareça mais, seja mais aberta. Não
tenha medo de mostrar sua vida privada, as pessoas adoram isso.

- Minha falsa vida privada com você?

Draco soltou o ar impaciente, não gostando muito do tom que ela havia usado
para dizer aquilo.

- Sim. E faça com que ela seja interessante. – foi sua grosseira resposta. -
Quanto mais as pessoas estiverem do nosso lado e envolvidas conosco, mais
Voldemort terá que pensar duas vezes antes de arriscar triscar o dedo em um
Malfoy. Ande mais com Astoria, faça passeios com Elise, aceite pedidos de
entrevista, não sei. Faça com que te amem e se interessem cada vez mais por
você. – disso Hermione já sabia. Nas últimas semanas, tudo o que realmente
fizera fora dar entrevistas e aparecer em público. – Preciso que o mestre te
veja mais ativa na guerra. Ele parece ter apreciado o fato de você ter tomado
iniciativa com York. Talvez ele pense que tudo o que quer é proteger nossos
filhos, mas mostre-se útil. Enquanto provar ter boa utilidade o Lorde verá que
não é viável te fazer mal. Vou te dar uma boa posição oficial com a Comissão e
ver se posso transitá-la para dentro e fora de Brampton Fort com frequência,
assim ele poderá vê-la bastante ativa com as atividades que envolvem meu
departamento e perceber que apesar de sermos um pouco rebeldes,
trabalhamos para ele.
Não trabalho para ele. Foi o que Hermione pensou quase que automaticamente,
mas sabia que trabalhar daquele lado da guerra era um bem maior. Todo
aquele teatro era para um bem maior.

- Mais alguma ordem? – queria que Draco entendesse a ironia quando ela
jogou aquela indagação no ar logo que ele se calou.

Draco pareceu ponderar mais um pouco.

- Sei que é inconsistente ainda, mas não posso pensar em mais nada
enquanto não tiver uma reação definitiva da parte dele sobre tê-lo enfrentado
hoje. Fiz coisas pesadas todos esses últimos anos para provar minha lealdade
ao mestre e destruí tudo isso em cinco minutos. Não por ter sido rude ou por
ter exaltado a voz, sempre fui um tanto “mal educado” com o Lorde, mas por
ter deixado claro que eu agora tenho um motivo que me faz enfrentar e
contrariar as ordens dele com ameaças. Não fiz isso, nem quando ele me
ordenou que eu casasse com você.

Eles ficaram em silêncio por um longo minuto. Hermione esperava que ele
dissesse mais, mas não com relação ao fato dele ter enfrentado Voldemort ou
como eles deveriam agir para tentar amenizar a situação em que Draco havia
os colocado.
- Isso é tudo que tem pra dizer? – ela perguntou incerta.

Draco ergueu os olhos para ela pela primeira vez. Hermione criou esperança de
que o marido pudesse comentar algo sobre os filhos, quando ela pensou tê-lo
visto hesitar ou passar por um segundo de impasse.

- Sim. – ele acabou por decretar. – Fique atenta a toda a situação e seja
inteligente para fazer sua parte. Inteligente eu sei que é. Teremos que tomar
decisões muito rápidas agora. – ela continuou a apenas encará-lo e aquilo
pareceu incomodá-lo. – Por que parece estar com raiva?

Será que Draco não era capaz de descobrir aquilo por ele mesmo?

- Acabamos de ver nossos filhos através de um monitor e isso é tudo que


tem a dizer?
Ele uniu as sobrancelhas.

- O que quer que eu diga, Hermione?

Ela apenas suspirou frustrada. Não entendia como um ser humano conseguia
ser como ele. Tão frio.

- Seu pai ainda é o extrato da perfeição aos olhos de Voldemort. Não existe
servo mais fiel depois de Bellatrix e talvez isso ainda nos permita ficar intactos
porque é ele quem toma posicionamento pelos Malfoy ainda. Você apenas será
testado com mais frequência agora, para ter certeza de que Voldemort continua
sendo sua melhor opção. Ele jamais desconfiaria do seu pai. Lúcio faz um
excelente teatro para o mestre. Agora, se não tem mais nada a acrescentar,
por favor, saia. – Hermione foi o mais direta e uniforme possível.

Não queria que Draco fosse. Mesmo que sentisse raiva e estivesse detestando
qualquer coisa relacionada a ele nos últimos dias, tinha a mínima esperança de
que o homem comentasse algo sobre os filhos. Queria poder conversar sobre os
bebês com Draco, mesmo que tivesse que aturá-lo por isso. Hermione não
havia feito aqueles filhos, sozinha, e Draco já mostrara interesse o suficiente
neles. Se ela estava disposta a abrir mão da raiva que sentia para que os dois
pudessem comentar sobre os próprios filhos, porque ele também não estaria?
Será que era tão imaturo a esse ponto ou será que apenas era insensível o
bastante para não ter o que falar? Pensar assim, a fazia imaginar que talvez
houvesse algo de errado com ela por ter mil coisas que gostaria de
compartilhar com ele, escutar os pontos de vista que ele tinha, conhecer como
ele enxergava a situação.

Mas tudo que Draco fez foi apenas hesitar por alguns segundos, o que permitiu
que Hermione aumentasse seu nível de esperança, para depois vê-lo então
mover-se e deixar o local, destruindo toda e qualquer chance de poder escutar
outra coisa da boca dele que não fosse ordens.

Seu sangue ferveu assim que o marido bateu a porta. Ela quis ir atrás dele e
gritar sua fúria. Por quê? Por que ela queria cobrar tanto dele agora? Por que
se sentia no direito de cobrar coisas de Draco que no inicio do casamento ela
jamais teria se importado? Por que sentia que ele deveria agir de outra forma?
Por quê? Era quase que vivenciar o inferno sempre quando a realidade de que a
relação deles havia mudado batia em sua consciência. Mudara tanto ao ponto
de que não conseguia deixar de se importar com coisas que ela jamais teria se
importado antes? Como essa mudança havia sido tão sutil que sequer tivera
noção do nível em que estavam atingindo?! Como havia permitido isso?! Será
que era tão impossível voltar a ser o que eram antes?

Trocou sua roupa sentindo raiva dele, mas também sentindo raiva de si
mesma. Precisava voltar a olhar Draco com indiferença. Mesmo que ele fosse
agora pai dos filhos que gerava. Aquilo estava a cegando tanto que mal
conseguia se lembrar de que há poucos minutos, estivera aliviada por descobrir
que havia um menino em seu útero e isso salvaria a vida de sua menina por
enquanto. Ter consciência de que aquela raiva a cegava era o bastante para ter
noção do quanto Draco Malfoy a afetava e isso era ainda inaceitável. Hermione
não queria estar presa a ele e se sentia ridícula por ver que estava vivendo isso
sozinha. Por saber que o marido a afetava, mas ela não o afetava. Era
absurdamente doloroso se ver naquele nível, se ver abaixo dele, perceber que
ela agora era mais uma das que se envolvera com ele. Draco parecia fazer
questão de, com frequência, deixar claro que ela pouco significava algo. Isso
não a teria incomodado antes, sabia que não. Agora incomodava e não era só
doloroso, era humilhante.

No momento em que deixou aquela sala e saiu da ala das enfermarias,


Hermione se sentia decidida a deixar de ficar quieta em seu canto, apenas
porque não se via agindo de outra forma ou não se via traindo quem ela
pensava ser. Já havia torturado pessoas desde que se tornara uma Comensal,
já havia lutado daquele lado da guerra e não fazia muitas semanas em que
colocara os olhos sobre dezenas de membros da resistência e ajudara o
exército de Voldemort a capturar todos eles. Já não era mais quem pensava ser
e já havia traído uma lista das coisas que pensara acreditar.

Não se sentiu culpada quando pisou dentro da Seção da Cidade e seguiu em


direção a ala do governador. Não houve nenhum problema de reconhecimento
e ninguém a impediu de passar para o lado de dentro. No momento em que
entrou na ala principal, deu primeiramente de cara com Theodoro e, logo
depois, notou que ele estava seriamente entretido com a secretária na porta de
sua sala.

Hermione se aproximou mantendo sua postura e determinação. Ele não


demorou a notá-la e, assim que o fez, calou-se e apenas a observou até que
ela parasse frente a ele, sem dar atenção à mulher ao seu lado.
- Está ocupado? – perguntou sem hesitar.

Nott parecia surpreso pela presença dela ali e até mesmo receoso pela atitude.

- Sim. – respondeu. - Mas isso não é um problema. – fez questão de deixá-


la saber que tinha prioridade.

- Ótimo. – Hermione disse. – Temos que conversar.

Theodoro não escondeu o receio em seus olhos. Hermione entendia que poderia
estar sendo intimidadora, mas precisava daquela determinação ou não seria
capaz de fazer o que pretendia.

- Nos dê apenas um segundo. – Theodoro se dirigiu à secretária que o


acompanhava e abriu espaço para que Hermione pudesse tomar o caminho até
sua sala. Hermione entrou e ele a seguiu, fechando a porta e passando por ela.
– Espero que não tenha vindo com nenhuma ameaça à minha posição. Ainda
estou tendo que trabalhar duro para conseguir recuperar a confiança que você
destruiu quando liberou arquivos confidenciais sobre as Casas de Justiça.

Ela sentiu a necessidade de protestar que havia feito o que era certo, mas teve
que se focar. Não era para aquilo que havia ido até ali. Puxou o ar sem
desfazer sua postura e disse com confiança:

- Faça o que quer fazer comigo. – Hermione seguiria o passo dele. Deixaria
que Nott a guiasse.

Mas ele pareceu confuso por um segundo e só depois que alguns deles se
passaram, pareceu entender o que ela queria dizer, mas, ainda assim, parecia
receoso.

- Como disse? – ele optou por se mostrar ainda confuso.


Hermione soltou o ar, um tanto sem paciência, aproximou-se de modo mais
significativo até ter os olhos dele próximos aos seus. Vacilou um segundo para
a boca dele e o que conseguiu pensar foi em Draco. Seu sangue esquentou.

- Eu sei o que quer. – seu tom foi mais baixo pela proximidade. – Faça.

Theodoro pareceu em dúvida por um longo minuto em que seus olhos pularam
dos dela para sua boca, com frequência. Ele parecia debater entre ir em frente
ou ser cuidadoso, como se soubesse que agora Hermione tinha sangue Malfoy e
muito provavelmente escondia algo na manga.

Essa pequena guerra, entretanto, foi breve porque logo ele deu um passo
quebrando a distância entre eles. Segurou o rosto dela entre suas mãos
parando sua boca a centímetros da dela, enquanto a arrastava até que suas
costas batessem contra uma estante. Seus hálitos brigaram por espaço e
Hermione se preparou para sentir o gosto dele quando Nott tomou ar duas
vezes em sinal de que devoraria sua boca. Mas não aconteceu. Ela pensou em
perguntar o que havia de errado, o porquê ele estava hesitando, mas no
segundo em que tomou ar para perguntar, Theodoro tomou também o dele e
avançou provando sua boca.

Beijar alguém novo era sempre como se estivesse beijando pela primeira vez.
Hermione não era acostumada a ter alguém diferente toda noite ou fazer trocas
com frequência. Sua vida inteira ela sempre fora bastante consistente com
quem quer que estivesse se envolvendo. Causalmente ou não. Talvez esse
tenha sido um dos motivos pelo qual sequer se passou pela cabeça dela, a ideia
de ter outro quando começara a se envolver com Draco, mesmo que fosse
casual, mesmo que estivessem cumprindo uma ordem, mesmo que tivessem
um acordo silencioso de que eram livres por não significarem nada um para o
outro.

Theodoro, porém, parecia ser capaz de fazer com que ela se sentisse
confortável o suficiente para que se lembrasse que fizera aquilo milhões de
vezes antes e sabia como fazer. Hermione não se privou, assim como também
não se privara com Harry quando ele também a fizera se sentir tão confortável.
Enfiou suas mãos pelos cabelos de Nott e sentiu que ele pressionou seu corpo
contra o dela para poder senti-la por inteiro, mas se lembrar de Harry, naquele
momento, não foi uma ajuda. Foi como se estivesse recebendo um aviso da
Hermione do passado, a Hermione que crescera com seus pais, que conhecera
seus melhores amigos em Hogwarts, que lutara contra todas as forças ruins de
Voldemort. A Hermione leal, fiel, companheira, corajosa e guerreira. Ela era
boa. Deveria ser. Como e porque havia se corrompido tanto?

A boca dele desceu pelo seu pescoço e ela se sentiu a pior pessoa do mundo
quando seu cérebro a lembrou de que seus dois melhores amigos, que inclusive
eram melhores amigos entre si, haviam se tornado seus amantes. Lembrou-se
de ter ido atrás de Krum dezenas de vezes somente para poder ter alguma
resposta de Rony quando era apaixonada por ele. Lembrou-se de impedir
Harry, centenas de vezes, de ser honesto sobre o envolvimento que tinham
com as pessoas que o cercavam. Agora, ela estava ali, grávida de um homem
que passou a vida inteira odiando, pronta para se entregar para outro homem
que fazia parte de um grupo de pessoas que detestava, pessoas que não
sabiam o que significava humanidade, respeito, família ou amor. Grávida.

- Pare. – sua voz saiu fraca e Hermione tentou afastá-lo. – Pare! – foi mais
firme. O que ela havia se tornado? Por que estava fazendo aquilo? Por que
havia se permitido fazer aquilo por causa de Draco Malfoy? – PARE! – dessa
vez, tentou empurrá-lo e Theodoro não pareceu gostar do ato. Segurou os
pulsos dela com firmeza e os prendeu contra a estante, logo acima de sua
cabeça. Ela se assustou quando ele não parou. – Eu estou grávida, Theodoro!

- Todo mundo sabe disso! Você veio até mim! – ele a olhou de modo
irritado. – Não ouse me parar agora! – e tentou abrir caminho por sua boca
novamente.

Hermione não conseguia ficar surpresa por ver que o fato de estar grávida não
o incomodava. Nott era um comensal, não havia nele noção de respeito. Tentou
desvencilhar-se, mas ele não permitiu e foi nesse momento em que ela se
lembrou das poucas, porém produtivas, sessões que tivera com Draco nas
manhãs e madrugadas das salas de simulação. Ela não era boa com a parte
física, seu conhecimento em magia conseguia superar esse déficit, mas não ser
boa não significava ser precária. Num segundo Hermione torceu os pulsos, usou
os cotovelos para empurrar os braços dele para longe dela, enquanto mordia
seus lábios para distraí-lo de sua força. Empurrou o corpo de Theodoro com o
seu e usou um dos joelhos para impulsionar a distância que queria que ele
tomasse. O homem cambaleou para longe dela, soltando um guincho de dor e
usando os dedos para verificar o estado de seus lábios.

- Mas que inferno... – ele protestou furioso.

- Eu disse para parar! – ela ofegou.


- Quem a treinou? – Nott a olhou confuso e irritado. – Que tipo de jogo é
esse, Hermione?! Você quem veio até mim! Você quem pediu para que eu
fizesse com você o que eu queria! – havia uma linha fina de sangue que
aparecia no canto de sua boca. Ele a limpou.

Hermione continuou tentando estabilizar sua respiração, enquanto procurava


por uma reação justificável para aquela situação.

- Eu estou grávida! Acaso você não tem o mínimo de respeito? Deveria ter
parado quando eu disse para parar!

- Respeito? – Theodoro soltou um riso de incredulidade. – Eu não sabia que


respeito deveria ser aplicado aqui. Isso sequer se passou pela minha cabeça,
mas se essa é a sua visão, então deveria ter consciência de que você quem se
desrespeitou em primeiro lugar, vindo até aqui. – ele não estava mesmo
contente.
Hermione teve que prender o ar ao escutar aquilo. Não podia contrariá-lo, não
podia desmenti-lo, não podia sequer defender-se. Theodoro tinha razão e ela se
sentiu coberta de vergonha. Quis tampar o próprio rosto, desculpar-se, dizer
que sentia muito, mas... Por mais que a antiga Hermione lutasse por uma
reação justa ali, seu novo eu bombardeou sua consciência de que era uma
Malfoy e que a armadura que esse sobrenome a fizera construir, a vestia quase
que no automático agora. Puxou o ar, deu as costas e se apressou até a porta.
Tocou sua maçaneta e a girou, mas quando começou a abri-la, Theodoro
apressou o passo, passou por ela e a fechou novamente.

Hermione o olhou novamente, como se estivesse pronta para sacar sua varinha
se ele ousasse descontar a raiva que havia visto nos olhos dele, mas dessa vez,
seu olhar estava limpo e sua expressão menos tensionada.

- Me desculpe, Hermione. – Nott pareceu verdadeiramente honesto. – Me


desculpe, eu venho a desejando por tanto tempo. Você não faz ideia. Pensei
que fosse tê-la e isso foi tudo o que me cegou minutos atrás.

Ela se lembrava de tê-lo escutado dizer, mais de uma vez, que a queria, que
havia se apaixonado, que pensava nela e se importava com ela. Uniu as
sobrancelhas.

- Se acaso se importasse comigo, e não com o desejo que tem por mim,
teria parado. – foi tudo o que ela disse em retorno. A última vez que estivera
com Draco na cama, ele também havia dito que não se importava com o que
ela queria, mas parara quando vira nos olhos dela que ela não queria. Soltou o
ar e tornou a tocar a maçaneta.

Theodoro colocou sua mão sobre a dela chamando sua atenção novamente.

- Eu sempre recebi mulheres que chegaram até mim do mesmo jeito que
você chegou, com o coração quebrado por causa de Draco. – Meu coração não
está quebrado por causa de Draco. Foi o primeiro pensamento de Hermione ao
escutá-lo. – Você foi a única que me parou. – Theodoro finalizou e deixou que
ela fosse.

Ela foi. Meu coração não está quebrado por causa de Draco. Ou estava? Não.
Ele não tem esse poder. Ou tinha?

Draco Malfoy
A tampa do piano estava levantada, ele tinha o braço apoiado nela e a testa
encostada no braço, enquanto uma garrafa quase vazia de whisky pendia em
sua mão. Sentado desajeitadamente sobre uma perna no banco, com a gravata
frouxa e os botões da camisa abertos, corria seus dedos pelas teclas bem
preservadas do caro instrumento neoclássico produzindo um som não muito
agradável. Não sabia tocar. Conhecia algumas notas, apesar disso, e pedaços
de peças famosas, mas era absolutamente péssimo.

Na meia luz de uma das salas próximo a de jantar, Draco tentava se lembrar
das teclas que deveria apertar para fazer soar algo parecido com uma famosa
peça de um daqueles grandes artistas clássicos que todo mundo conhecia. Ele
se lembrava de que conseguia fazer com uma mão, uma das melhores partes,
mas sua memória não estava o ajudando. Continuava, entretanto, porque
precisava de uma distração e o álcool já havia perdido aquele efeito há
semanas.

Toda vez que virava um gole de whisky ou conhaque ou qualquer bebida forte
que fosse, ele se lembrava de como havia ficado tanto tempo sem sentir falta
delas nos últimos meses. Não tinha problemas com bebidas, seu pai sempre
havia se preocupado em ensiná-lo a não ser um idiota com relação a isso,
embora Lúcio mesmo não desse as melhores lições, mas de qualquer forma,
Draco tivera tanto tempo em Hogwarts para passar mal com álcool que hoje e
há muito tempo, já não havia mais graça. Aquela bebida só lhe servia para
colocar sua cabeça em um tipo de nuvem quando ela parecia pesar o peso do
mundo e, muitas vezes, falhava pela resistência que ele tinha a ela.
Errou a tecla seguinte e por frustração, fez questão de também errar a
próxima. Esperou alguns rápidos segundos para tentar novamente e foi aí que
conseguiu sentir a presença dela. Hermione havia seguido direto para o quarto
assim que eles chegaram da Catedral. Ela parecia cansada e o número de vezes
com que fechara os olhos durante a viagem da Catedral para casa, fez com que
Draco desconfiasse de que estava com algum tipo de dor de cabeça severa.

- Você é realmente ruim ou está fazendo de propósito? – a voz de sua


mulher soou cansada e rouca.

- Eu tinha que ter um defeito, não acha? – Draco foi irônico.

Ele não a escutou rir.

- Eu poderia citar uma centena de outros, antes desse. – a voz de


Hermione foi séria e ele quase revirou os olhos, cansado, da língua afiada que
ela usava com ele, em grande frequência agora. Draco quase não conseguiu
escutar os passos dela descendo as escadas às suas costas e presumiu que ela
estivesse descalça. – Moonlight Sonata. Conheço essa música. – a voz dela
soou mais próxima dessa vez.
- Hum. Talvez eu não seja tão ruim assim. – se Hermione era capaz de
identificar, talvez ele realmente não fosse.

- Acredite, você é, e a música é depressiva. – podia escutar o rancor


incrustrado lá no fundo da voz dela sempre que se dirigia a ele.

- Eles usam para acalmar lobisomens em noite de lua cheia.

- Usamos com Lupin. Nunca funcionou. – Hermione comentou e ele escutou


o som das cortinas se movendo. Conseguiu visualizar em sua cabeça a cena
dela observando a noite do lado de fora. – Pensei que fosse voltar para York.

- Eu deveria, mas o Lorde já me mandou ordens para estar no gabinete


dele amanhã pela manhã e não permitiu que eu usasse minha chave de portal
de volta para York.
- Isso deve explicar as duas garrafas vazias e a que está segurando. –
conseguiu ver os pés de sua mulher dando a volta no piado. – É uma pena que
não tenha encontrado companhia para sua noite. – ela parou, apoiando-se no
piano ao seu lado.

Ele sentiu um gosto amargo em sua garganta e teve que soltar o ar, buscando
paciência. Ergueu os olhos para vê-la com os cabelos presos no topo da cabeça,
o rosto limpo de maquiagem, os olhos pesados e um tanto vermelhos. Ainda
vestia o vestido que usara durante todo o dia, mas tinha um tecido de lã que
usava para se envolver protegendo os braços e as costas. Hermione parecia
cansada, sem humor, sem vida.

- Com quantas mulheres você acha que eu me envolvo por dia, Hermione?
Eu não sei o que se passa pela sua cabeça, mas eu tenho uma guerra para
vencer, um imperador para derrubar, filhos para salvar e um teatro falso para
expor ao mundo sobre uma linda e feliz vida que eu não vivo. Eu não tenho
tempo para uma mulher por noite ou para mulheres em geral se quer saber. –
mulheres sempre haviam sido uma diversão extra para Draco e agora deixaram
de ser, justamente, por culpa de Hermione. Maldito jogo em que ele havia se
deixado cair com ela. - Está criando uma imagem minha em sua cabeça apenas
porque me viu com uma mulher, uma vez, trancado em minha sala. Não sabe
nem o que estávamos fazendo lá, Hermione. Não viu nada, não estava lá. – ele
levantou-se e virou um longo gole de bebida. Ela ficou em silêncio. Draco não
queria dizer aquilo, não queria nunca ter tocado naquele assunto, mas talvez a
quantidade de álcool que havia ingerido não o deixara segurar a língua e ter a
paciência costumeira que tinha com a afiada de Hermione. – Eu não levo para
cama qualquer mulher que aparece na minha frente e eu não quero levar
mulheres para cama a todo segundo. Não quero que comentem sobre você
principalmente. É minha esposa e vai ser mãe dos meus filhos. Não quero que
olhem para você como olham para a minha mãe algumas vezes, por culpa do
meu pai. Eu não sou como ele. – ou pelo menos tentava arduamente não ser,
embora na maioria das vezes, se visse no impasse de ir a favor de Hermione
para poder ir contra o seu pai ou ir a favor de seu pai para ir contra Hermione.
Era sempre mais fácil ir a favor de Hermione e isso o surpreendia e o assustava
muitas vezes, porque durante sua vida inteira, sempre fora mais fácil ir a favor
de seu pai.

Virou novamente a garrafa. Precisava de mais álcool porque sempre quando ela
estava por perto, havia um tipo de energia que o impulsionava a vacilar em seu
alto controle. Draco a queria tanto que tudo dentro de si parecia querer entrar
num tipo de vácuo que o levaria até ela por inércia. Ele lutava contra e
precisava de concentração para isso, mas estava farto do quão cansativo era
tudo aquilo. Jogou-se numa das poltronas e desviou o olhar da figura de
Hermione, apenas para tornar mais fácil a tarefa de esquecer o quanto sua
mulher era absolutamente encantadora, mesmo quando ele sentia raiva ou
quando ela o olhava com rancor. Eles entraram em silêncio e Hermione moveu-
se do piano até o banco onde ele estivera antes para sentar-se com cuidado.
Draco não conseguiu ficar muito tempo com os olhos longe dela e logo se viu a
observando correr os dedos sobre as teclas do instrumento distraidamente.

- Obrigada por dizer isso. – a voz dela soou baixa e sincera dessa vez.
Merlin, como ele sentia falta daquele tom! Era calmo e pacífico. Fazia com que
se lembrasse de quando conversavam no escuro da noite, antes de dormir, e
de como aquilo tinha o poder de fazer sua cabeça flutuar num oceano de paz
sem a ajuda de qualquer gota de álcool. – Seria tão mais fácil para nós se
pudéssemos conversar. – Hermione apertou uma tecla como se estivesse
curiosa para saber que som produziria. A nota aguda soou no silêncio que ela
criou, mas logo a soltou.

A forma como viviam agora não era como antes. Abriam a boca um com o
outro para serem ignorantes e rudes e isso só criava mais ódio e mais raiva. E
o mais grave de tudo era que não era só insuportável como antes, agora
também era doloroso.
Sentia falta de conversar com ela. Sabia que se eles conversassem, não seria
como eram antes. Indiferentes um ao outro, como no começo. Tudo porque
quanto mais eles conversavam, mais Draco a conhecia, e quanto mais ele a
conhecia, mais a queria e quanto mais a queria, mais se assustava, mais
hesitava, mais ele tinha medo e queria se afastar. O que havia conhecido de
Hermione era irreal. Não podia existir nenhum ser humano no mundo mais
altruísta, compreensivo, pacificador e justo do que ela. A forma como sua
mulher enxergava a vida e as circunstâncias era algo que ele julgara utópico
sua vida inteira. Ela havia o mostrado dezenas de vezes que não era utopia.

O silêncio que cresceu entre eles fez lembrá-lo de antes, quando a companhia
dela não era incômoda, quando não havia nada de estranho entre eles e eram
capazes de ficar em um mesmo ambiente sem trocar farpas. Sabia que não
deveria se dar ao luxo de voltar a conversar com Hermione como antes, voltar
a trocar ideias de modo casual, mas já havia guardado tantas palavras e
pensamentos dentro dele que gostaria que existisse uma poção para aliviar a
insanidade que isso lhe causava. Hoje mesmo, Draco havia contado as horas
para chegar em casa, onde poderia se encharcar de álcool para tentar se livrar
do peso de ter visto e tido informações sobre seus filhos, e dos pensamentos
que borbulhavam em sua cabeça por causa disso. Sua boca inteira havia
coçado quando Hermione o olhara, no vestiário, esperando que ele comentasse
ao menos algo.

Era fácil para ela ser aberta e compartilhar essas coisas, como se não tivesse
significado nenhum. Talvez fosse acostumada demais a essa fácil troca de
informações de onde viera e não entendesse o real valor do que era ter alguém
com quem pudesse ter confiança para compartilhar todo tipo de informação.
Ele, sim, entendia o valor daquilo. Sempre havia guardado tudo para si. Nunca
tivera alguém como Hermione. Se ela soubesse o valor que isso tinha para ele,
certamente não o teria olhado com tanta raiva.
Soltou o ar e afundou mais em sua poltrona, passando a perna por um dos
braços dela. Colocou a garrafa contra sua têmpora na esperança de que o
material frio pudesse aliviar o calor da dor em sua cabeça, por guardar tanto
para si depois que Hermione havia o mostrado que sabia escutá-lo. Sentia falta
da opinião dela, da voz dela, dos pensamentos que ela também compartilhava.
Estava tão louco para escutar os pensamentos dela sobre seus filhos quanto
estava para compartilhar os seus.

- Hermione, o que sentiu hoje... – sua voz começou baixa. -... quando
escutou o coração deles batendo? – talvez seu senso e racionalidade se
aproximassem mais de sua razão quando estava sob efeito do álcool. Era como
se estivesse sendo informado de que seu afastamento dela não tinha outro
motivo que não fosse teimosia.

Hermione puxou o ar ao escutar aquilo e deslizou seus dedos para longe das
teclas do piano.

- Como se minha alma tivesse o peso de uma pena e meu coração


estivesse derretendo. – a voz dela foi tão baixa quanto à dele.
Céus, Draco queria que eles estivessem na cama, debaixo do cobertor, no
escuro, sentindo o calor do corpo e a respiração um do outro, onde poderia
tocá-la, sentir a pele dela, a barriga dela, a textura dos cabelos dela.

- Nós somos uma bagunça. Como conseguimos criar isso? – ele fechou os
olhos tentando se lembrar do som. – Vida. – sussurrou.

Ele a escutou suspirar.

- Não estávamos sendo uma bagunça quando criamos isso. – Hermione


disse.

E tinha razão. Não estavam sendo uma completa catástrofe quando geraram
aquelas vidas. Se ela soubesse a falta que aqueles dias faziam a ele, será que
lhe daria às costas? Será que ela diria que estava sendo ridículo? Será que ela
o deixaria saber que só fazia falta a ele? Tentou afastar aqueles receios que o
atormentavam com demasiada frequência e se concentrou em ficar satisfeito
que, ao menos com relação aos filhos, eles sentiam o mesmo.
- Eu nunca pensei que fosse dar minha vida por nada nem ninguém até
hoje. – Draco sequer era capaz de descrever. – Nunca tive tanta coragem para
contrariar Voldemort. – ela talvez não fizesse ideia da dimensão que isso
atingia. – Eu estava pronto para usar minha varinha se necessário, Hermione.
Só a ideia de alguém tocando em você me faz ter calafrios.

Ela ficou em silêncio por um bom tempo. Ele apenas observou a figura dela de
costas.

- Você deveria beber com mais frequência. – Hermione finalmente disse. –


Queria que pudéssemos conversar mais como duas pessoas civilizadas ao invés
de sermos tão insuportáveis um com o outro, por orgulho.

- Estamos apenas tentando voltar a ser o que éramos antes.

- Indiferentes? - ela suspirou cansada e cobriu o rosto por uns segundos,


antes de passar os dedos pelos cabelos para soltá-los. – Será que em algum
momento vamos perceber que isso que estamos fazendo não está nos levando
a nada, além de mais ódio, mais rancor e mais raiva? – a voz dela foi fraca e
sem vida. – Eu me lembro de ter pensado que nós podíamos ter alguma
esperança, não faz muito tempo. É tão absurdo o modo como podemos voltar a
fazer mal um ao outro com tanta facilidade. Eu não quero viver assim para o
resto da vida. Eu não posso ser forte por tanto tempo, portanto não me julgue
quando eu cansar e ceder. - Em momento como aquele Draco via que por mais
forte, mais confiante, mais inteligente, orgulhosa e determinada que Hermione
fosse, ela não deixava de ser sensível e que algumas coisas tinham o poder de
destruir toda a vida que ela carregava dentro de si aos poucos. Ele sabia que
era uma delas. – Ninguém nunca foi capaz de fazer com que eu me sentisse tão
perdida, confusa e sozinha como você. – ela virou-se, o encarou, suspirou e
levantou massageando um dos ombros, enquanto alongava o pescoço. – Ainda
quer que eu prepare a mesa de jantar? Sei que já é tarde.

Mulheres haviam dito aquilo para ele a vida inteira. Mulheres com quem havia
ido para cama uma ou duas vezes e que se apaixonavam enlouquecidamente.
Vivera aquilo dezenas de vezes, principalmente quando era adolescente, porque
garotas adolescentes se apaixonavam com uma facilidade assustadora e a
forma como viviam suas paixões era sempre intensa e sufocante. Draco nunca
havia se importando com nenhuma delas, com o choro de nenhuma, com as
palavras de nenhuma, nunca havia dado esperanças a ninguém. Ele não
assumia a culpa sobre aquilo que não tivera responsabilidade. Mas Hermione...
Hermione não havia chorado um coração partido. Tudo que ela havia o feito
enxergar com aquelas palavras era o quão incapaz ele sempre seria de
completar qualquer pessoa, o quão incapaz ele seria de poder proporcionar
felicidade, amor, companheirismo a qualquer um que fosse. Aquilo o incomodou
de tal modo que fez a angústia lhe subir pelas veias e ficar entalada em sua
garganta, simplesmente porque sabia que realmente era incapaz. Era incapaz e
talvez por isso tivesse passado sua vida inteira sem dar esperanças a ninguém,
talvez fosse por isso que jamais tivesse sido capaz de se apaixonar, talvez
fosse por isso que aceitava e consentia com o infeliz futuro que seu sobrenome
o condenava a ter, talvez fosse por isso que tivesse medo daquilo que
Hermione o fazia sentir.

- Esqueça o jantar, Hermione. – desviou o olhar, simplesmente porque não


queria ter seus olhos sobre sua mulher agora. O terrível sentimento de ter
falhado com ela expunha demais o quanto Draco se importava, o quanto aquilo
significava. Era assustador.
Escutou as solas dos pés dela contra o chão tomarem o rumo da escada, mas
Hermione logo parou. Ele entendeu o porquê, quando ao mesmo tempo,
conseguiu escutar de longe o som de uma carruagem estacionando no pátio
externo da frente de sua casa. Só podia ser uma pessoa se a carruagem havia
conseguido passar pelos portões de sua propriedade sem que ele fosse avisado.
Não demorou e Tryn apareceu informando que a Sra. Narcisa Malfoy estava em
sua porta. Draco desviou o olhar para Hermione e ela parecia tão confusa
quanto ele.

- Acaso chamou minha mãe? – perguntou e ela somente negou com a


cabeça.

Draco se levantou e atravessou os cômodos e corredores até chegar à sala


principal. Era uma surpresa saber que sua mãe havia deixado a casa quando
sabia que seu pai estava nela fazendo-a companhia. Logo encontrou sua mãe
no vestíbulo, despindo-se do casaco e do fino tecido de seu cachecol. Narcisa o
olhou e seus olhos estavam vermelhos, seu rosto inchado e suas bochechas
molhadas. Draco não soube como reagir.

- Posso ficar aqui? – ela pediu numa voz que quase o fez desmoronar. Sua
mãe era forte. Ele nunca havia a visto vacilar.
- O que aconteceu? – ele logo tratou de perguntar.

A boca dela tremeu e ela apertou os lábios como se estivesse contento a


própria morte.

- Onde está Hermione? – ela perguntou e Draco sentiu o sangue fugir de


suas veias quando todo e qualquer tipo de preocupação relacionado à sua
mulher o atingiu. Por que Hermione? Por que ela? O que havia de errado com
ela?

- Estou aqui. – a voz de Hermione soou logo às suas costas. Baixa e


preocupada.

Sua mãe puxou o ar, numa tentativa não muito eficiente de retomar sua
postura e focou-se apenas nela, como se aquilo fosse assunto das duas e
exclusivamente delas.
- Eu estou o deixando. – a voz de sua mãe continuava trêmula. – Lúcio. –
especificou. – Estou o deixando. – repetiu.

32. Capítulo 32

Draco Malfoy
Ele levou os braços para trás com a finalidade de usar como apoio para sua
cabeça sobre a pilha de travesseiros. Seu corpo despido estava estirado sobre a
cama desconhecida e Draco desejou por um copo de whisky com gelo,
enquanto observava sua companhia atravessar o quarto tão nua quanto ele. Ela
veio com um sorriso no rosto, usou o dossel da cama como apoio para girar e
pular na cama sobre os joelhos com uma graça que somente Veelas possuíam,
soltando um risinho muito satisfeito que soava quase como a melodia de uma
bela música clássica.

- Sabe qual é a melhor parte de transar com Draco Malfoy? – a mulher


engatinhou para próximo dele e estirou-se de bruços com um sorriso safado no
rosto, enquanto deslizava os dedos distraidamente pelo abdômen dele.

- Hum? – Draco murmurou para que ela não acabasse entendendo que ele
não se importava.

- Saber que se está transando com Draco Malfoy. – ela disse e riu. Ele
limitou-se a esticar a boca num sorriso simples como resposta. O encanto de
uma Veela era sempre fascinante, embora a magia do encanto fosse muito
perceptível, isso sempre o impediu de ser completamente domado pelo poder
delas. Apenas as achava incrivelmente bonitas. Seu pai sempre havia lhe dito
que quanto mais puro seu sangue fosse, menos eficiente era o encanto de uma
Veela. Draco sabia que era mentira. Veelas eram apenas seres sedutores
para quase todos os homens, não todos. Ele dera a sorte de fazer parte da
minoria, embora ainda se visse bastante atraído pela figura perfeita delas,
especialmente quando eram modelos estrangeiras. – Eu não sei como faz isso,
Draco, mas você sabe usar o corpo de uma mulher. – a Veela girou e se
colocou de pé sobre o colchão, apoiando-se no dossel para expor seu corpo
esguio e esbelto por completo a ele. – Devo confessar que me animei por saber
que estaria em Brampton Fort durante a minha curta estadia para a campanha
de primavera, mesmo que estando casado. Eu sabia que faríamos um bom par
na cama agora que finalmente noivei com o jogador número um do time
nacional de Quadribol australiano.

- Tenho absoluta certeza de que ele ficaria bem satisfeito em te ver aqui
agora. – sua voz saiu no automático.

Ela riu.

- Assim como sua mulher. – a modelo jogou e ele sentiu a saliva amargar
em sua boca quase que imediatamente.

Sua cabeça latejava ‘Hermione’ como sempre, mas quando ela era citada, era
como se alguém estivesse materializando a figura que ele tentava aprisionar
em seus pensamentos.

- Ela não se importaria. – Draco disse.


- Hum. – a mulher ergueu as sobrancelhas, surpresa. – É bom que vocês
dois tenham uma relação aberta assim, porque tenho certeza que qualquer
homem nessa cidade se ajoelharia aos pés dela. Sou uma Veela famosa e já
perdi três campanhas no último ano porque tinham a esperança de que sua
mulher aceitasse o lugar. – ela desenhou os aros da cama delicadamente com a
ponta do pé. – Estou surpresa que você e sua mulher tenham uma relação
aberta. Os jornais, as revistas, as rádios, o modo como se tratam em público e
como parecem se importar e cuidar um do outro faz com que pareçam tão
apaixonados.

- Nós somos. – precisavam ser. Quem sabe com aquela farsa convenceriam
até Lorde Voldemort.

A mulher riu.

- Devo dizer que agora acho bastante interessante a forma como estão
apaixonados. – ela foi até Draco novamente e ajoelhou com as pernas uma de
cada lado de seu quadril, inclinando a cabeça de modo a fazer o gigantesco
cabelo loiro, quase branco, pender para um lado apenas. – De qualquer forma,
odiamos sua mulher. Nós, Veelas. – deslizou as mãos novamente por seu
abdômen como se precisasse aproveitar cada segundo com ele. - Não gostamos
de mulheres como ela. Mulheres bonitas que não são como nós. Veelas. E ela é
tão perfeita que... – fez uma careta de desgosto. – Aposto que ela seria uma
fada se a linhagem de fadas humanas não tivesse terminado em Morgana. – riu
do próprio pensamento. – Odiamos fadas também, de qualquer forma. – riu
novamente. – Elas eram lindas, poderosas e podiam ganhar homens pelo
coração, não pela beleza. Nós Veelas podemos fazer isso somente com homens
que não estão presos no nosso encantamento e Deus sabe como eles são
poucos...

- Pare de choramingar. – ele revirou os olhos.

Ela sorriu.

- Adoro sua arrogância. – a Veela deitou sobre Draco, deixando suas bocas
muito próximas. - Sou tão acostumada a homens idiotas jogando flores em
minha janela, que sua ignorância me excita. A forma como me comeu
pensando em outra, a forma como me tocou como se eu não fosse suficiente,
como se eu não tivesse a mínima chance de satisfazê-lo, como se eu não fosse
digna de ter o seu pau dentro de mim. – ela sussurrou fazendo com que Draco
respirasse seu hálito doce de Veela. – Não faz ideia do quanto aquilo me
excitou e ainda me excita. Não há nada como foder um homem, cujo coração
pertence à outra.

Draco não gostou do que a mulher ali estava insinuando. Deteve seus pulsos.
- Não tenho um coração.

Ela riu.

- Continue tentando se convencer disso. – estalou sua boca na dele


rapidamente. – Só você sabe que tem um. Todo mundo tem. Até mesmo o
Lorde das Trevas tem um. – fez o doce hálito deslizar até seu ouvido. – Só me
pergunto... Você claramente não me queria e mesmo assim veio até aqui.
Quem está tentando esquecer, Draco? - Ele soltou o ar furioso dessa vez e a
lançou para longe dele. Ela caiu de costas ao seu lado e riu de satisfação. – O
quê?! Sabe que sei reconhecer homens que já tem o coração ocupado. Sou
uma Veela.

- Você não sabe nada. – ele seguiu a direção do lavatório.

A Veela soltou mais um riso de satisfação e alongou-se sobre os lençóis.


- Ah, Draco. Sempre imaginei que se apaixonaria por alguém que não se
importasse o mínimo com você. – ela estava com um excelente e irritante
humor. – Está tentando esquecer sua mulher porque ela não está nem aí para
você ou porque teme que ela não esteja? Acaso ela sabe que você não para de
pensar nela? Qual proposta fez a ela para forçá-la a se casar com você? Talvez
eu estivesse certa, pois sempre a achei um pouco depressiva algumas veze...

Draco bateu a porta do banheiro e se trancou, finalmente fazendo a irritante


voz da mulher cessar. Maldita hora em que resolvera ir para a cama com uma
Veela. Não tivera tempo para se lembrar de que elas eram extremamente
sensitivas, ou talvez tivesse se lembrado e não se importado, porque, em
primeiro lugar, não deveria estar se importando com nada. Ou quem sabe até
estivesse ocupado demais em tentar fazer com que, pelo menos aquela vez,
durante aquele sexo, ele não pensasse em Hermione, não comparasse com
Hermione, não desejasse que fosse Hermione, e talvez com Veelas fosse mais
fácil por serem criaturas mágicas que sugam todo seu senso de atração. Não
havia sido.

Soltou o ar e sentiu a sua própria raiva projetar-se junto a ele. Queria poder
explodir aquele lugar e seu punho fechou quase que automaticamente ao sentir
necessidade de socar algo. Precisou conter-se e, no momento que se afastou
da porta, deparou-se com sua imagem refletida no espelho sobre a pia. Teve
que desviar rápido o olhar por não conseguir encarar-se. Malditos banheiros de
hotel. Sempre minúsculos.

Entrou para debaixo do chuveiro e fez com que a água gelada corresse por sua
cabeça e seu corpo. Concentrou-se somente em sua respiração como havia
aprendido, esperando até que pudesse inalar o ar sem que desejasse tirar a
vida de alguém.

Aquilo era doentio. Estava doente. Era a única explicação plausível. Não havia
outra. Quando decidira voltar a ser o que sempre havia sido com mulheres e
especialmente com Hermione, tudo que tinha em mente era apenas se livrar de
algo que sua razão o alertava ter pouco conhecimento sobre. Mas conforme os
dias se passavam, Draco percebia cada vez mais que, aquilo do qual tinha
pouco conhecimento, era muito maior do que ele esperava que fosse, porque
quanto mais se envolvia com outras mulheres, mais percebia que queria
apenas uma, mais se conscientizava de que abriria mão de todas as outras para
ter apenas uma, mais chegava à conclusão de que apenas uma era suficiente.
Ele só podia estar doente. Ainda se lembrava do quanto havia sido difícil ficar
longe de mulheres quando se comprometera com Astoria em sua adolescência.
Como será que não havia sequer notado que passara meses sem tocar em
outra, quando nem mesmo estabelecera um compromisso com Hermione?

Deveria Draco continuar insistindo naquela tortura? Seria loucura? Será que
tudo aquilo passaria? Poderia ele voltar a ser o que era antes, se continuasse
seguindo aquele caminho? Sua relação com Hermione estava cada dia mais
insuportável e sua rotina cada vez mais estressante. Sentia como se estivesse
caminhando ao lado do mau humor a todo segundo e quando tinha sua mulher
por perto, ele precisava de tanto esforço para se manter concentrado que se
sentia exausto com frequência. Sempre que se aventurava com uma mulher, a
fim de conseguir uma tentativa bem sucedida, tinha o cruel desejo por
Hermione esfregado diante de sua consciência.

Quantas pessoas ele já havia matado? Quantas pessoas ele já havia torturado?
Quantos ele já havia sentenciado à morte? Quantos ele já entregara nas mãos
de Voldemort? Quantos erros ele já havia cometido que o perseguiam? Sua
filha morta era um deles. Por que Hermione tinha que ser o que mais o
torturava? Cada dia pior, cada dia mais intenso, cada dia mais infernal.
Deixou-se ser torturado por sua consciência por mais tempo, enquanto tentava
usar a água gelada para colocar seus pensamentos em ordem. Não conseguiu.
Acabou precisando juntar esforço e concentração para aprisioná-los em algum
canto escuro de sua mente. Saiu do chuveiro e roubou a toalha pendurada na
parede. Quando voltou ao quarto, a modelo estava sentada na cama, enrolada
num robe de seda floral e com uma tigela de biscoito nas mãos. Ela abriu um
sorriso sedutor e estreitou os olhos ao vê-lo com a toalha enrolada nos quadris.

- Você todo faz sentido, Draco Malfoy. Vou guardar essa lembrança até a
próxima vez que tivermos a chance de repetirmos isso. Espero estar casada até
lá. Fará tudo ser mais divertido. – ela pulou para fora da cama, enquanto ele
começava a vestir-se tentando ignorá-la. – Aliás, pensei que não fosse sair de
lá nunca mais. – apontou para o banheiro. – Tenho sessão de fotos em vinte
minutos e desfile hoje à noite. Dizem que sua mulher vai estar lá. Eles estão
loucos atrás de um assento de rainha para ela agora. – a mulher zombou e
tomou a direção do banheiro. Ele ficaria tão grato se aquela Veela parasse de
alfinetá-lo usando Hermione. – Vou lembrar que tive o marido dela essa tarde
quando colocar meus olhos sobre ela. – Draco precisou respirar fundo enquanto
passava o cinto pelo cós da calça. Seria isso que seu pai ouvia das amantes que
tinha? – Eu vou ser a estrela da noite se ela não roubar tanto a atenção.
Certamente nos apresentarão. Aposto que sua mulher será gentil e educada
sem esforço. Ela parece ser desse tipo.

Draco sabia que Hermione era verdadeiramente educada, não apenas porque
havia câmeras em todo o lugar. Diferente do restante das mulheres que a
cercavam. Tão vadias e egoístas quanto a Veela que estava à sua frente.
- Terminou com seu monólogo sobre minha mulher? – ele fechava os
botões de sua camisa.

- Estou tentando te fazer ficar furioso. Gosto quando é grosso comigo.

- Você é doente. Não me lembrava de que fosse assim.

- Não esperava que fosse se lembrar de mim mesmo. – a modelo deu de


ombros. - Só me levou para cama uma vez e faz anos que não venho à
Brampton Fort. Seu coração estava livre aquela época e eu não podia me fazer
ser memorável. Agora que sei que alguém ganhou seu coração, vou tratar de
fazer com que não me esqueça. – ela insistia com aquele assunto de coração, o
que o irritava, mas Draco contava os segundos calmamente em sua mente para
não deixar que aquelas palavras subissem seu sangue como havia feito antes.
– Sei que não vai voltar para me dar o prazer de te ter mais uma vez. Você não
gosta de repetir mulheres. Isso dá esperança a elas e você detesta a ideia de
dar esperança a qualquer um que seja. Portanto saiba que isso foi divertido.
Faríamos uma boa dupla se nos encontrássemos com frequência. Eu poderia ter
um Malfoy e você uma Veela. A hora que bem quiséssemos. Aposto que se
divertiria muito mais do que com aquela outra que estende tapetes vermelhos
para que passe. Como é mesmo o nome dela? Sei que é uma Parkinson. – riu
fracamente. - Parkinsons costumam mesmo ser pegajosos. – estalou os lábios.
- De qualquer forma, vou ficar aqui até o fim da semana. Volte quando quiser.
Cuidado ao sair. Use algum feitiço de distração. Ainda tenho um noivo e
pretendo me casar. – findou e se trancou no banheiro.
Draco soltou o ar satisfeito, com o sumiço da mulher. Se ela pretendia ser
memorável, ela havia conseguido, porque seria difícil esquecer o quanto tinha
sido insuportável estar na companhia dela.

Não estava surpreso por se sentir duplamente cansado e frustrado. Deveria


parar de insistir naquela miserável esperança de achar que mulheres poderiam
consertá-lo, levá-lo de volta à normalidade, a como tudo costumava ser antes,
antes de se casar, antes de Hermione.

Usou distração para deixar o hotel em que estava no centro e voltar para a
Catedral. Felizmente a viagem era curta. Assim que subiu até sua torre,
encontrou Tina eufórica à sua espera.

- Vai se atrasar, senhor! – ela tratou de se pronunciar logo que o viu. – Sua
mulher mandou uma coruja faz trinta minutos. Ela quer saber se há algo de
errado. Não é normal que se atrase para nada.

Draco precisou de dois segundos para se lembrar de que tinha um


compromisso completamente inútil para o fim da manhã. Teria bufado e
revirado os olhos se Tina não estivesse ali. Tinha um milhão de problemas para
resolver em seu departamento agora que seu relacionamento com Voldemort
caminhava por uma linha disforme e frágil, mas mesmo assim precisava dar as
costas àquilo para estar presente no casamento de um Nott. Não o de Theodoro
Nott, infelizmente, mas da filha mais nova, que mal completara dezenove anos.
Tudo porque a família passava por uma crise momentânea.
- Não estou atrasado, apenas não estou adiantado como sempre. – Draco
deixou claro. – Preciso de cinco minutos. Envie uma notificação para minha
carruagem não deixar o pátio e avise Hermione. – deu a ordem e se retirou
para sua sala.

Precisou avançar na organização de seus afazeres do período da tarde com


pressa, passou tudo para Tina assim que conseguiu melhor administrar o
horário de todas as coisas que necessitava fazer antes do horário do jantar.
Tinha uma promessa consigo mesmo, que fizera há muito tempo, quando nem
mesmo imaginava que um dia pudesse estar casado com Hermione, que
consistia em se esforçar para jamais perder o jantar com sua “família”. Das
lembranças mais vívidas que tinha do olhar vago, opaco e silencioso de sua
mãe, a maioria tomava lugar na sala de jantar da casa em que crescera, com a
cadeira vazia de seu pai durante a principal refeição do dia. Mesmo sabendo
que Hermione pouco se importava com sua presença, Draco não fazia aquilo
por ela, fazia aquilo por ele mesmo.

Deixou a Catedral minutos depois. Contava os segundos agora e torcia para


que eles demorassem um pouco mais para passar, tudo por culpa da
imprudente escolha que tomara aquela manhã. Deveria ter jogado fora o
guardanapo que aquela maldita Veela colocara em seu bolso durante o coquetel
de recepção das lideranças externas ao forte, duas noites atrás. A mulher havia
sido discreta, mas Draco conseguiu captar o olhar de Hermione vislumbrar toda
a ação. Nada foi comentado a sobre o ocorrido e assim foi melhor, por mais que
ele quisesse ter feito a mulher voltar e justificar a falta de respeito para com a
esposa que ele tinha logo ao seu lado. Sabia que Hermione podia ser uma
mulher temível quando precisava ser, mas a recente imagem adorável que ela
vendia nas revistas, nas entrevistas e nas suas aparições em público, talvez
estivesse realmente fazendo com que as pessoas esquecessem-se da mão
firme que sua mulher mostrara ter desde que começou a trabalhar com
Theodoro. Não era isso exatamente que Draco queria que acontecesse, as
pessoas não podiam esquecer que eram Malfoys em primeiro lugar. Talvez
colocasse Hermione para proferir algum discurso pesado sobre qualquer ação
brusca de seu departamento com relação à guerra. As pessoas certamente se
lembrariam de que nem tudo sobre Hermione resumia-se a um sorriso caloroso
e um vestido claro de primavera. Isso também ajudaria a lembrar o mundo que
ele e sua esposa trabalhavam juntos e que por mais que ela estivesse
frequentemente no centro agora, acompanhada de sacolas, ou sentada em
cadeiras luxuosas para dar umas entrevistas a revistas grandes, essa era uma
porcentagem mínima da mulher que ela era.

Assim que desceu em sua casa, encarou a bela fachada que ainda tinha o poder
de lembrá-lo sobre o seu bom gosto. Suspirou frustrado por saber que, em
algum momento, já havia sentido uma ardente vontade de estar ali, por saber
que Hermione estaria o esperando do lado de dentro. Fora um tempo curto. Um
tempo bom. Sua casa nunca fora tão acolhedora. Draco nunca sentira tanta
vontade de voltar sempre que precisava deixá-la. Agora, no entanto, a figura
parecera transformar-se novamente para o mesmo de quando se casara. Ao
menos aquilo havia voltado a ser como antes. O desejo de não ter que lidar
com Hermione no único lugar que ele podia chamar de “lar” voltara tão forte
como antes. Diferente, talvez. Mas tão forte quanto.

Pela fachada ele pôde notar as cortinas fechadas das compridas janelas ao leste
da edificação. Hermione estaria ali com toda certeza. Talvez sua mãe também,
se não estivesse trancada no quarto como fazia em seus piores dias. Sabia
disso porque ultimamente Hermione parecia ver conforto no escuro. Logo que
se mudara para sua casa, as primeiras ordens que sua esposa dera à Tryn fora
as de manter as janelas sempre abertas durante o dia e os lustres e velas
sempre acessos durante a noite. Havia sido como se ela tivesse trazido consigo
a vida para dentro de sua casa. Draco havia achado insuportável no começo.
Agora apenas estranhava quando Hermione fechava as cortinas e deixava
aceso o mínimo de velas possível por onde passava. Até mesmo sua constante
mania de acordar, empurrar as cortinas e se espreguiçar diante do jardim dos
fundos, algo que parecia ser um tipo de tradição, ela abandonara. Agora sua
mulher apenas levantava da cama quando ele pedia para que a elfa a
chamasse, quando ele já estava pronto para ir à Catedral.
Os dias se passavam e cada vez mais Hermione parecia piorar. Não era como
se ela estivesse se trancando no quarto, se negando a ver a luz do dia, como
quando perdera a filha. Ela ia à Catedral e passava o dia trancada na sala que
Draco havia destinado a ela ou ocupada em alguma reunião com a Comissão.
Estava sempre pronta para o jantar, passava seu tempo diário na biblioteca
após a refeição, não se negava a aparecer publicamente como deveria, mesmo
que detestasse, nem se recusava a forçar seu constante sorriso quando
necessário. Ela fazia seu trabalho, como se fosse uma máquina, como se fosse
uma embalagem vazia, um robô. E seu silêncio era cruel. Não trocavam
nenhuma palavra que não fosse necessária.

Ele não chamou por Tryn assim que entrou. Tinha sua certeza de onde
Hermione estaria e avançou por entre as salas até o fim da parte leste, onde a
luz do dia ao lado de fora parecia estar sendo bloqueada. Não demorou a
escutar o som baixo e quase cansado da voz de Hermione soando num
monólogo. À medida que se aproximou, conseguiu entender o que quer que ela
estivesse falando e parecia ser com sua mãe:

- ...só não tenho a intenção de te carregar com os pensamentos que vem


me atormentando esses últimos dias. Sei que já tem suficiente dos seus e, por
mais que os guarde para você também, não me parecem ser mais pacíficos que
os meus. – ela estava sentada sobre o tapete, com um braço dobrado no
assento de uma das cadeiras e a cabeça apoiada no braço. Já estava vestida
com um longo vestido pêssego de um tecido leve e fino. Draco receou pela
escolha da cor clara e pela fragilidade que isso dava a imagem de Hermione.

- Tenho guardado meus pensamentos para mim por anos, Hermione. Não
faz bem. Não é saudável. – a voz de sua mãe era tão sem vida quanto a de sua
mulher. Narcisa estava de pé parecendo apreciar uma das tapeçarias na
parede. O silêncio entre elas durou e Draco parou antes de atravessar os arcos
que separavam o caminho do qual vinha, da ampla sala que elas estavam para
poder observar o quanto o ar que as cercavam era deprimente. As duas
estavam ali, usando roupas caras, acessórios luxuosos, sapatos exclusivos, mas
Hermione estava no chão com a cabeça apoiada no assento de uma cadeira
como se estivesse querendo poder ficar ali o dia inteiro e sua mãe estava de
pé, em sua costumeira postura ereta com um olhar perdido, vazio e opaco. –
Deve estar me julgando uma idiota superficial por ficar nesse estado por causa
de um homem, quando você tem que vender sorrisos falsificados por aí para
tentar salvar a vida dos seus filhos.

- Não estou te julgando, Narcisa. Não tenho nenhum direito de julgá-la. -


Hermione respondeu naquele mesmo tom constante e morto. – Só você sabe o
peso daquilo que te afeta. Só você vive seus tormentos e não há nada de
superficial no ponto fraco de ninguém. – Hermione suspirou. - Fico grata que
pelo menos tenha deixado seu quarto hoje.

O silêncio.

- Sinto muito estar ocupando a casa de vocês. Vou encontrar um lugar para
ir. Prometo.

- Você não vai a lugar nenhum. Sabe que não quer ficar sozinha e sabe que
eu também não quero ficar.
O silêncio novamente. Havia ficado claro que as duas pareciam estar querendo
se considerar uma o suporte da outra ali. Draco ficava grato por sua esposa em
momentos como aquele. Mulheres sempre haviam sido um poço de educação e
intimidade com sua mãe a vida inteira, mas nenhuma delas tinha o interesse de
ter Narcisa como companhia, todas elas queriam apenas exibir o bom partido
que eram para seu filho. Era quase uma ironia que a única mulher que não se
prestara a esse papel, nem sequer tivera interesse nele, acabara sendo a única
que realmente se importava com sua mãe.

- Você e Draco... – Narcisa fizera sua voz soar novamente, como se


estivesse pensando alto. – Não sei em que mundo que vocês esperam colocar
duas crianças nessa casa, da forma como estão achando que vai ficar tudo
bem. – ela piscou e no momento que desviou o olhar da tapeçaria, conseguiu
notar sua presença ali. Parou com os olhos sobre ele. Olhos sem vida. Os piores
que Draco já vira em sua vida inteira. – Que bom que ouviu isso. – sua mãe se
pronunciou e Hermione virou a cabeça para entender que aquilo não havia sido
direcionado a ela. Os olhos dela o fitaram com uma indiferença dolorosa. Ele
teve que voltar a encarar sua mãe. – Sei que vocês dois estão se empenhando
em salvar essas crianças, mas estão se esquecendo de que se forem bem
sucedidos, terão que criá-las e criar uma criança não é uma tarefa simples.
Vocês não sabem o que é carregar o peso e o medo de fracassar com o ser
humano que mais ama no mundo. Portanto se eu fosse vocês, começaria a
solucionar o máximo de problemas que possa haver nessa relação. Não
coloquem duas crianças no meio dos problemas de vocês. Eles não vão ser dois
casos que vocês se sentirão obrigados a solucionar o mais profissionalmente
possível. Eles são seres humanos. Por mais que pensem que são capazes de
trabalhar juntos no estado em que estão, só porque conseguem discutir aqui e
ali sobre o rumo de uma guerra, não quer dizer que são capazes de criar e
educar dois seres humanos assim como estão. Esse lugar não é um escritório
ou um departamento. Aqui é a casa de vocês. O lar de vocês. E será também o
dos filhos de vocês.
Draco ainda tinha dificuldade para conseguir ter o poder de visualizar aquele
problema, mesmo que soubesse que ele definitivamente existia.

- Iremos lidar com isso quando conseguirmos ter certeza de que o Lorde
não tomará um deles, nem matará o outro. – foi tudo que ele disse e logo viu o
brilho de desprezo correr no fundo dos olhos de Hermione quando a encarou
em seguida. Sabia que não marcava nenhum ponto com ela fazia tempo. Tudo
que Draco fazia parecia feri-la. Às vezes tinha a intenção de feri-la
simplesmente porque sabia que era isso que ele fizera a vida inteira e precisava
manter as coisas como sempre haviam sido, mas, em outras, ele estava sendo
apenas ele mesmo e quando recebia o olhar duro dela em seguida, podia ver o
quanto eram dois seres humanos completamente incompatíveis.

Ela se levantou e mantendo distância perguntou:

- Algum problema do qual devo me preocupar na Catedral? Você nunca se


atrasa.

- Não. – ele respondeu e viu toda a vontade de ficar distante dele expressa
na postura de sua mulher. – Tomei uma decisão idiota essa manhã e acabei
esquecendo o compromisso.
- Hum. – Hermione soltou sem vontade. – Então é melhor se apressar.
Estamos em cima da hora. Vou estar te esperando na carruagem. – ela
avançou para deixar o local que estavam e tocou o braço de sua mãe
calmamente e significativamente quando passou por ela, como se estivesse
informando naquele único ato que esperava verdadeiramente que Narcisa
ficasse bem durante o tempo que ela estivesse fora.

Quando se viu sozinho com sua mãe, tentou entender o porquê ela não parava
de encará-lo com um olhar tão duro, severo e um tanto decepcionado.

- Você estava com outra, não estava? – Narcisa indagou quando ele pensou
em expressar seu descontentamento com a reação dela. Acabou por se ver
surpreso ao ouvir aquelas palavras. Uniu as sobrancelhas.

- O que te faz pensar que eu estaria?

Sua mãe soltou o ar com desgosto e deu as costas.


- Você é exatamente como seu pai.

Seu sangue esquentou como sempre esquentava quando alguém fazia aquele
tipo de comentário. Draco conseguia até lidar com o fato, mas quando era sua
mãe que proferia aquelas palavras, ele tinha vontade de perder o limite porque
de todos naquele lugar, Narcisa era a única que sabia que ele realmente não
era.

- Sabe que eu não sou. – tentou não travar a mandíbula, nem vociferar.

- Então porque está agindo como se fosse? – ela parou de frente a um dos
móveis que expunha as bebidas que ele mantinha distribuídas pela casa. No
momento em que Draco viu sua mãe pegar um copo e enchê-lo, soube que
definitivamente ela estava à beira da loucura. Sua mãe nunca bebia. Ela não
gostava. Beber socialmente sempre fora uma tortura para Narcisa, ele sabia.

- Não entendo sua frustração, nem sua raiva pelo fato de eu ter estado
com uma mulher. A única pessoa que talvez tenha o direito de ter essa reação
seria Hermione e sabemos claramente que ela não se importa.
- Você sabe que ela se importa sim, Draco, mas não estou frustrada pelo
fato de ter estado com outra mulher. Eu não tenho esse direito. Estou frustrada
por vê-lo negligenciar o fato de que não quer estar com outras mulheres. – ela
virou o copo cheio de uma vez - Por que insiste nisso? – soltou o ar, cansada. -
Está agindo exatamente como seu pai! Você sempre foi quem mais o julgou por
cuidar do nome Malfoy e não da própria família. – tornou a encher o copo. –
Acaso você está cuidando da sua própria família, Draco? Eu sei que tem um
coração. Não consigo imaginar que é possível que seja indiferente ao ver que
sua mulher, grávida dos seus filhos, não tem um brilho de vida sequer nos
olhos. Ela está vivendo um dia após o outro, obrigatoriamente, assim como eu
vivi por anos, e eu sei que a única coisa que a tira da cama pela manhã são os
filhos que espera. – sua mãe tornou a virar outro copo de álcool. Draco odiava
vê-la tão frágil assim. Narcisa queria anestesiar alguma dor. Talvez se
Hermione continuasse ali, ela então não bebesse. Talvez tudo que sua mãe
precisasse era de companhia. Era incapaz de imaginar que Narcisa fosse aquela
mulher por trás da muralha que a escondia. - Eu sei que não é como seu pai,
então pare de tentar ser.

- Você não entende minha relação com Hermione, mãe.

- Está certo. Eu não entendo. Não entendo porque não consigo. Vocês dois
parecem uma montanha russa inconstante. Posso não entender as várias faces
do ódio que sentem um pelo outro, mas entendo perfeitamente o afeto que
aprenderam a criar quando perderam a filha. Entendo porque eu vi. Não tente
apagar isso porque não será capaz. Vocês estão seguindo pelo mesmo caminho
que seu pai e eu seguimos. Sabe muito bem o resultado disso.
Ele tomou ar para usar qualquer justificativa que ainda não tinha construído,
mas a aparição de Tryn o livrou de qualquer palavra que estupidamente fosse
colocar para fora.

- A Sra. Hermione Malfoy pediu para lembrá-lo de que deve se apressar.

Draco encarou a elfa e quase estreitou os olhos. Maldita Hermione. Ela estava
fazendo o mesmo que ele fazia quando ela se atrasava. Soltou o ar sem
paciência.

- Sei o que estou fazendo. – disse a sua mãe e deu as costas para tomar
seu caminho.

- Não, não sabe. – escutou a resposta de longe.


Ignorou e subiu até seu quarto. Assim que chegou a seu closet, soltou o ar
esperando que talvez aquilo pudesse aliviar o peso que parecia carregar. Não
aliviou e ele fechou os olhos por apenas três segundos para respirar fundo e
esquecer tudo o que sua mãe dissera. Ela não entendia. As palavras dela só o
faziam ter mais raiva. Ela o culpava. Draco não tinha culpa, ele não tinha
responsabilidade, ele não era o problema. Narcisa não podia acusá-lo, nem
confrontá-lo, como se ele pudesse solucionar tudo do dia para noite.

Livrou-se da farda escura e assim que se aproximou da sua ala de roupas


formais, viu que havia uma sequência de cabides separados com uma
variedade de escolhas um tanto quanto parecidas. Hermione certamente tivera
o trabalho de separar opções de roupas que não estariam em conflito com a cor
do vestido que escolhera quando percebera que ele havia se atrasado. Draco
soltou o ar passando a mão por uma das gravatas cinza que ela havia
separado. Sua esposa era atenciosa até mesmo quando ele menos esperava
que ela fosse ser.

Trocou de roupa o mais rápido possível, sem perder seu costumeiro nível
detalhista e apressou-se para a carruagem assim que ficara pronto, seguindo
um caminho que certamente não cruzaria com o de sua mãe.

Hermione o esperava do lado de dentro da carruagem. Estava entretida


assistindo uma entrevista numa das páginas da revista que tinha em mãos.
Assim que ele entrou, ela virou a página silenciando as vozes que Draco
conhecia serem dele e dela. Não perguntou o que ela estava fazendo. Apenas
entrou, sentou-se no banco oposto ao dela e bateu na madeira como sinal de
que poderiam andar.
Na metade da silenciosa viagem, Hermione fechou a revista e a colocou no
banco ao seu lado, passando a observar pela janela da cabine o caminho que
tomavam. Draco leu o título impresso sobre a imagem na capa em que o trazia
junto dela, com solenes sorrisos estampados nos lábios e de pé num dos
púlpitos com o emblema da Catedral. “Estamos esperando gêmeos”, dizia o
título entre as aspas.

Desviou o olhar para Hermione e a observou enquanto ela encarava a paisagem


do lado de fora, como se pouco se importasse com o que seus olhos de cor
âmbar viam. Momentos como aquele o faziam se questionar se abriria mão de
sua herança pelos pensamentos dela. O que ela pensava com relação ao que
estavam fazendo? Será que sua esposa pensava que eles estavam indo rápido
demais em contar ao mundo sobre os filhos? Será que ela achava tudo uma
grande estupidez que não tinha a mínima chance de dar certo? Será que era
tão difícil para ela, quanto era para ele, sorrir em público como se estivessem
vivendo o melhor momento de suas vidas? Será que ela concordava com todas
as decisões dele? Por que tudo que Hermione fazia ultimamente era ficar em
silêncio. Ele dizia o que sua mulher deveria fazer e ela fazia se quisesse e, se
não quisesse, não fazia. Nem mesmo argumentava quando Draco exigia uma
explicação sobre não ter feito o que ele mandara que ela fizesse. Não brigavam
mais, nem discutiam, simplesmente porque sempre que eles caminhavam para
o terreno da discussão, ela se calava, fazendo a bilateralidade da prática se
tornar uma unilateral. A cada dia que se passava, Draco se via odiar mais e
mais a situação em que se encontravam. Sentia cada vez mais raiva do
comportamento de Hermione, assim como sabia que ela sentia cada vez mais
raiva do comportamento dele e, ao invés disso ter o poder de apagar o breve
passado que tiveram, apenas tinha o poder de fazê-lo sentir mais falta dele.
Cada vez mais.

- Minha mãe contou o que a fez deixar a casa do meu pai? – perguntou ele,
tentando afastar aquela caixa de pensamentos de sua cabeça.
Hermione não desviou o olhar e, por um segundo, Draco pensou que ela
estivesse distante demais em seus próprios pensamentos para não tê-lo
escutado.

- Não. – ela então respondeu. – Narcisa o contou? – aquela voz sem vida.

- Não. – Draco respondeu.

Hermione piscou e o encarou.

- Seu pai?

Deu de ombros.
- Deixou a cidade faz dois dias. Não falo com ele. – Lúcio ficara três dias
preso em casa depois que sua mãe havia o largado, depois disso, deixou
Brampton Fort. – Como a convenceu? – era uma pergunta que estava entalada
com Draco desde que sua mãe aparecera na porta de sua casa informando que
abandonara seu pai depois de anos.

- Eu não a convenci. A ideia já estava com ela faz tempo.

- Mas ela falou com você. Ela quis dizer a você que abandonou meu pai.

- Talvez porque tocamos no assunto aquele dia, algumas horas mais cedo.
– Hermione deu de ombros. – Eu sei que você também vem a incentivando a
fazer o mesmo faz tempo. Não vou levar crédito pela decisão que Narcisa
tomou. Algo fez com que ela o deixasse, porque por mais que a opção de
deixá-lo sempre existisse para sua mãe, todos esses anos ela nunca a
escolheu.
Ele queria perguntar o que Hermione pensava que tivesse sido. Queria saber se
sua mulher pensava sobre aquilo e criava hipóteses tanto quanto ele. Mas
apenas ficou calado. Sabia que cruzar aquela linha os levaria de volta a um
passado não muito distante e ainda estava convencido de que não era
saudável. Manteve-se calado e dessa forma eles ficaram o restante do caminho.

**

Draco se limitava a observá-la de longe. Hermione parecia incomodada com o


fato de ter Astoria como companhia, mas ele mais prestava atenção em como
ela estava bonita, do que tentava entender o porquê ultimamente a Senhora
Bennett deixara de ser uma boa distração. O tecido leve e fino de um tom
pêssego lhe caía como o sol quando lhe tocava a pele e fazia um belo contraste
com o verde vivo da grama sob seus pés. A lembrança das poucas vezes que
vira Hermione sobre o sol, sempre o fazia encher o pulmão de ar. Era uma
pena que um dia de primavera como aquele não tivesse o brilho do sol para
iluminá-la ainda mais. Podia até mesmo rir daquele pensamento, porque nunca
pensou que o sol fosse lhe fazer aquela falta. Nunca gostara do verão. Claro
demais. Quente demais. Felicidade demais.

Mas concentrar-se em Hermione daquela forma o fazia pensar que o verão


talvez não fosse assim tão ruim, porque ela combinava muito com o verão.
Principalmente quando eles ficavam em ambientes abertos como estavam
agora. O longo que ela usava era simples, tinha alças e um detalhe na frente
que fazia sua barriga, ainda tímida, chamar atenção. As roupas que sua esposa
usava agora sempre tinham a preocupação de lembrar a todos de que estava
grávida, mesmo que sua barriga ainda fosse pequena e duvidosa. Ouvira um
dos curandeiros da ala das enfermarias comentar que Hermione ficaria
gigantesca depois que passasse da vigésima semana e Draco ainda não
conseguia visualizar como seria isso, mas cada vez que o dia virava ele notava
que ela estava diferente e sempre parecia mais bonita.
Isaac riu de algo ao seu lado e ele percebeu que não estava prestando atenção
na conversa em sua mesa. Desviou o olhar de Hermione de pé mais a frente,
próximo a uma pista de dança vazia, encarando os rostos em sua mesa e
tentando pegar por alto qual era o assunto que estava sendo discutido.

Ainda estavam falando sobre a nova ordem de departamentos no Ministério e


os rumores sobre o interesse de Voldemort em acrescentar pessoas ao círculo
interno. Seu pai podia ser uma péssima pessoa, mas fazia seu trabalho muito
bem, porque se as pessoas comentavam sobre aquilo era porque certamente
ele estava fazendo seu trabalho como deveria.

- Soube que é Lúcio quem sugere nomes para o círculo interno. –


comentou um dos homens.

- Até onde eu saiba, ele é quem colocou e trouxe metade dos nomes que
ocupavam uma vaga no círculo interno hoje. – outro comentou.
Draco apenas se manteve em silêncio. Certamente alguém ali estaria
esperando pelo momento em que pudesse soltar uma propaganda de
autopromoção para que tivesse a chance de chamar atenção o suficiente dele.
Quem sabe assim ele levasse o nome para seu pai.

- Lúcio é esperto e entende de distribuição de poder. Tenho absoluta


certeza de que o mestre não teria alcançado metade do império que tem hoje
se não fosse pela família Malfoy.

Draco precisou conter a gargalhada que quis dar ao escutar aquelas poucas
palavras. Aquilo acontecia com tanta frequência quando era obrigado ir a
eventos com público mais comum.

- Draco cuida da guerra, não quem entra e sai do círculo interno, Jeremih.
– Isaac manifestou-se em bom humor.

- Tudo bem, Isaac. Aposto que ele só está tentando prestar honras a quem
deve. – disse Draco e Isaac soltou uma gargalhada. Ele teve que conter sua
própria novamente. – Estamos sendo bem recompensados, Jeremih. Pode ter
certeza. Não tem sido tão ruim ocupar os degraus do trono do mestre.
Isaac riu ainda mais alto.

- Você é mesmo um maldito Malfoy! – exclamou o homem e Draco precisou


rir ao escutar aquilo.

Seus olhos quase que inconscientemente voltaram-se para Hermione outra vez
e, pela terceira vez, ele a encontrou trocando olhares com Theodoro Nott, que
sussurrava algo no ouvido da irmã com um sorriso torto nos lábios, mas os
olhos fixos em Hermione. Qualquer traço de descontração que havia em seu
rosto murchou automaticamente e Draco se limitou novamente apenas a
escutar o que os outros em sua mesa conversavam.

Não queria notar em Hermione, mas era involuntário. Quando menos percebia
já estava a observando. Queria analisá-la, entender a linguagem corporal dela,
saber se estava conseguindo aturar estar ali ou se ela estava prestes a entrar
em colapso. Sabia que sua mulher estava cheia de hormônios no corpo e isso a
deixava extremamente instável. Queria ficar de olho para entrar em ação caso
visse que ela estava prestes a largar toda aquela farsa. Durante a cerimônia de
união, ele tivera que segurar as mãos nervosas que ela mantinha sobre as
pernas duas vezes, lembrando-a de que não podia simplesmente levantar e ir
embora.
Draco sabia o porquê ela estava nervosa. Certamente estava se culpando por
esse casamento. Depois que Hermione expôs Nott pela corrupção em seu
departamento para a imprensa, eles encontraram coisas ainda mais sujas que
tinham o nome dos Nott envolvido. Dessa forma, a família se afundou cada vez
mais ao ponto de Voldemort estar cogitando na mudança de governador. Casar
a filha mais nova, que mal completara dezenove anos, com o filho mais novo
de um dos casais Carrow, que mesmo sendo mais novo tinha no mínimo o
dobro da idade da menina, fora uma solução até bem pensada. Os Carrow eram
uma peça fundamental dentro do círculo interno e estavam com Voldemort
desde o inicio, além de fazerem parte do círculo de famílias tradicionais do
mundo bruxo. O único problema é que eles eram cães tão fieis e leais ao
mestre quanto Bellatrix. Ele não cheirava nada agradável entre uma aliança dos
Nott com os Carrow. Os Nott sempre foram uma peça que ele julgara estar em
cima do muro e por muito tempo Draco mantivera Theodoro de seu lado,
sempre o bajulando, para que o homem mantivesse a família no status do
incerto e não dos cegamente fieis a Voldemort. Os Carrow certamente os
colocariam ao lado do Lorde das Trevas. Aquele casamento decretava que os
Nott eram definitivamente uma peça perdida dentro de seu jogo. Pelo menos
agora tinha certeza de que fizera a escolha certa em trazer de volta o casal
Bennett para Brampton Fort.

- O que acha do círculo interno do mestre, Isaac? – Draco manifestou-se


quando voltaram a ficar sozinhos na mesa que a organização destinara a eles.
Em um lugar não muito privilegiado, ele poderia dizer, o que estava pensando
em tomar como uma afronta da parte dos Nott e dos Carrow.

- Das cabeças que estão lá ou da existência dele? – perguntou Isaac.

- Da existência dele. – respondeu Draco.


Percebeu que Isaac notou que aquela não era só uma conversa qualquer com
agilidade apenas, porque ele tomou tempo para pensar e escolheu as palavras
com o cuidado em soar o mais imparcial possível:

- Acredito ser um modo bem eficiente de dar oitenta braços ao mestre,


quando sabemos que ele jamais seria capaz de governar um império com
somente dois.

Imparcial. Draco não podia trabalhar com imparcialidade, embora fosse um


sinal positivo para o seu lado. Fieis a Voldemort não pensavam na
imparcialidade.

- O que você, pessoalmente, acha do círculo interno? – reformulou a


pergunta e isso foi sinal suficiente para que Isaac pudesse entender que
deveria se posicionar e que a imparcialidade que vinha assumindo nos últimos
meses não era mais suficiente.

Bennett acomodou-se melhor em sua cadeira, mostrando que havia entendido


bem que Draco estava o colocando diante de dois caminhos bem distintos.
Talvez para ele aquele fosse seu veredicto.
- Talvez se um dia o mestre cair, ele cairá por causa do círculo interno. –
respondeu. Ainda não era bem um posicionamento, mas Draco conseguia
trabalhar melhor com aquilo.

- Por que acredita nisso?

- Porque são muitas cabeças com poder e influência para administrar.

- Você acha que o mestre pensa da mesma forma?

- Com certeza. Ele não é idiota.


- E porque acha que ele continua colocando cada vez mais gente no círculo
interno?

- Porque, como eu disse, ele não é idiota. O Lorde precisa de aceitação. Ele
sabe que você logo ganhará a guerra dele e então ele não vai poder se manter
recluso à Brampton Fort para sempre. Ele não vai querer parecer um maníaco
controlador de poder quando precisar finalmente mostrar sua cara. O Lorde
ainda precisa convencer quem ficou em cima do muro todo esse tempo do lado
de fora o apoiando na guerra porque era mais seguro. E claro que ele sabe que
o círculo interno tem seus benefícios. Como eu disse. O círculo interno o faz ter
oitenta braços ao invés de dois.

Isaac não era idiota, por mais que se fizesse de um muitas vezes. Draco
apreciou mais um gole de seu vinho e pensou um pouco mais sobre como iria
prosseguir aquilo.

- Um império fundado por guerra é obrigado a ser mantido pela guerra.


Montesquieu disse isso. – Draco apenas comentou.

Isaac se manteve em silêncio um tempo e até olhou para os lados, como se


estivesse incomodado por estarem conversando aquilo ali e não em algum
lugar escondido, longe dos ouvidos e da presença alheia. O homem ainda não
entendia que não se podia ser tão óbvio quando se queria conspirar debaixo do
olhar de Voldemort. Nada de salas trancadas, notificações confidenciais e
cochichos por aí. Seria óbvio demais.

- Você acha que pode mudar isso? – Isaac o encarou e Draco fez o mesmo.
– Acha que pode fazer com que o império do mestre se mantenha sem guerra?

- Ele não teria um império se eu fosse capaz e ele quer um império. Mas
isso não interessa. O que o mestre quer é claro. Ele quer ser absoluto. Quero
saber é se vocêacredita que um império fundado por guerra é obrigado a se
manter por guerra.

- Soa como a realidade que a história tem nos mostrado até hoje, não é
mesmo?

- Não quero saber da história, Isaac. Quero saber de você. Sim ou não.
Acredita ou não? – estava farto daquela imparcialidade.
Não culpou Isaac pelo nervosismo aparente. Era evidente que ele tinha que
tomar o posicionamento que Draco acreditava que ele vinha esperando para
tomar a tempos ali.

- Sim. – Bennett soltou finalmente. – E não acredito que uma guerra possa
ser invencível para sempre. Seria utopia.

Draco poderia sorrir se aquele não fosse um momento significativo. Era aquele
o posicionamento que estivera esperando.

- Então acredita que o mestre não pode ser invencível para sempre.

Isaac suspirou como se estivesse incomodado que precisasse se posicionar com


mais firmeza. Draco precisava que ele fizesse.

- Sim.
- Acredita que ele cairá algum dia?

- Sim.

- Quer estar ao lado dele quando isso acontecer?

- Não.

Era tudo que precisava. Acomodou-se melhor no espaldar de sua cadeira e


desviou o olhar, passando-o sobre a tediosa festa que se seguia naquele
jardim. Tomou um gole de seu vinho. Pelo menos tinha vinho.
O nervosismo de Bennett mostrava que ele estava tão incerto sobre Draco
quanto Draco ainda tinha seus receios com relação a ele. De qualquer forma,
isso era um ponto positivo. Ao menos Isaac não estaria com o pensamento fixo
de que ele era um conspirador declarado por aí.

- Gostaria de entrar para o círculo interno, Isaac?

- Você tem o poder de me colocar lá?

- Quando responder minha pergunta, responderei a sua.

- Sim, gostaria.
- Ótimo, porque eu tenho o poder de te colocar lá. Não diretamente.
Primeiro porque não quero que as pessoas associem o fato de você ter chegado
lá por minha causa, segundo porque não dito quem entra e quem sai. Trabalho
com as circunstâncias. – como um bom Malfoy.

O homem ficou em silêncio por mais alguns segundos, como se estivesse


incerto se deveria ou não dizer algo. Não demorou e ele logo soltou:

- Como eu poderia te servir lá?

- Me servir? – o encarou. – Somos pessoas egoístas, Isaac. Não precisa


fingir que não somos. Você não vai fazer nada por mim, quanto menos, me
servir. Temos nossos próprios interesses e qualquer coisa que fizermos será por
nós mesmos. Não quero estar do lado do Lorde quando ele cair tanto quanto
você não quer. Temos apenas nossos interesses em comum. Até aqui é o mais
longe que iremos por enquanto.

Isaac concordou com um aceno único de cabeça, e então, soltou um riso fraco,
acomodando-se mais no espaldar de sua cadeira.
- Você realmente é um maldito Malfoy.

Draco sorriu em resposta.

- Somos pessoas espertas, não cães como os Carrow. Tenha isso em


mente.

Isaac riu e então eles ficaram em silêncio por mais um tempo ao qual Draco
julgou necessário. Bennett precisava digerir aquela conversa para entender que
agora ele não era apenas um simples Comensal de Voldemort servindo em
Brampton Fort.

- Acha mesmo que pode criar um espaço para mim no círculo interno?
- Não vou criar nenhum espaço. O espaço perfeito para você já existe.

- E está ocupado, presumo.

- Pessimamente ocupado, por sinal. – ressaltou.

Isaac pareceu confuso.

- Cansei dessa subjetividade, Draco.

Draco sorriu. Bebeu seu vinho.


- Vamos lá, Isaac. Pense mais um pouco. Você conhece bem a cidade por
trabalhar com a segurança dela, é bom com política, tem experiência com
negócios, é influente. Seria o governador ideal para Brampton Fort.

- Theodoro é o governador de Brampton Fort.

- Quer fazer parte do círculo interno ou não? Theodoro sequer conhecia da


setorização da cidade quando o mestre o nomeou para governador. Hermione
fez oitenta por cento do serviço dele quando estava no departamento e com o
triplo de qualidade. O povo sabe que Theodoro é um fracasso estando no cargo
que ocupa e te aceitariam facilmente.

- Os Nott fizeram uma aliança com os Carrow. Vai mexer com as duas
famílias se tirar Theodoro da posição dele.

- Não será tão diretamente assim, Isaac. Como disse, trabalho com as
circunstâncias. E, aliás, estou aqui no casamento deles, eu e minha mulher.
Somos, em parte, responsáveis pela aliança deles. Eles sabem separar os
negócios do pessoal.
- Theodoro não ficaria feliz.

- Ele cavou a própria cova. – Draco fez questão de dizer ao vê-lo


novamente com os olhos em Hermione. Já via o quanto sua esposa estava
incomodada com aquilo. Algo havia acontecido entre eles ou Theodoro estava
apenas o afrontando, porque ele não era idiota e bem sabia que Draco estava
de olho.

O silêncio novamente.

- Eu sou a única peça do seu jogo, Draco? – Isaac perguntou alguns


segundos depois.

Ele sorriu. O homem ali não era nenhum estúpido.


- Todos são uma peça do meu jogo.

Isaac riu com vontade.

- Você tem sorte de ser um Malfoy, sério, e eu prefiro me grudar com um


Malfoy a qualquer outro.

- Nem todo mundo tem um cérebro inteligente como o seu. – e Theodoro


era um deles, porque havia acabado de se levantar e lançara um olhar para ele
antes disso, o que foi recado o suficiente para Draco, que tratou de fazer o
mesmo. Sabia que Hermione era o alvo de Nott e não tinha a mínima pretensão
de deixá-lo chegar perto de sua mulher. Não quando ele estivesse presente. –
Preciso de uma dança com a minha mulher. Ela está bonita demais só para ser
observada hoje. – foi sua licença concedida prontamente por Isaac.

Foi até Hermione, esta que não estava muito distante. O que o fez chegar bem
antes de Theodoro, o obrigando a desviar para um grupo de conhecidos no
meio do caminho. Eles dois trocaram rápidos olhares e Draco voltou sua
atenção para Astoria e Hermione, após passar seu recado silencioso de que
Theodoro não deveria ousar se aproximar.
Pediu os próximos minutos de sua esposa para Astoria e ela os concedeu num
tom bastante contente, deixando-os a sós. Draco fez questão de tocar as costas
de Hermione e estendeu sua mão bem a frente dela. Os olhos dourados de sua
mulher o encararam sem entender o convite dele.

- Não pode recusar uma dança ao seu marido na frente de tanta gente,
Hermione.

Ela olhou a pista de dança. Estava quase vazia se não fosse por um ou dois
casais que ocupavam o espaço dançando ao som de um jazz suave. Forçou um
sorriso de satisfação e felicidade e aceitou a oferta colocando sua mão sobre a
dele.

Draco conhecia todos os sorrisos falsos dela, porque ela só tinha um verdadeiro
e aquele sim, era único e glorioso. Era absolutamente inconfundível quando
Hermione abria um sorriso sincero.
Conduziu-a até o centro da pista. Não se importou com os olhares sobre eles.
Isso era algo bom. Colocou as mãos dela uma sobre cada ombro seu e
aproximou-se deslizando as suas pela cintura dela. Seu corpo inteiro respondeu
à proximidade e Draco sentiu como se quisesse derreter e evaporar ao mesmo
tempo. Seu sangue esquentou quando o corpo de Hermione colou no seu.
Céus, como ele sentia falta do corpo dela, do calor da pele dela contra a sua,
das formas dela, da maciez, dos sons dela. Ele a queria muito e era louco saber
que seu corpo era capaz de responder como se estivesse sem tocar qualquer
mulher há anos.

- Relaxe, Hermione. – ela estava com todos os músculos tensionados desde


o começo daquele casamento, porém não o obedeceu. – Relaxe os músculos. –
Draco pediu mais uma vez e sua mulher continuou a não obedecê-lo. Não que
ela não quisesse. Talvez apenas não estivesse conseguindo. Ele a apertou mais
contra seu corpo, deixando suas mãos tocarem a pele exposta das costas dela
e colou a boca próxima a seu ouvido. – Concentre-se. – sussurrou.

O corpo dela tremeu contra o seu e, no mesmo segundo, Hermione encheu os


pulmões. Precisou de um ou dois segundos para segurar o ar e quando o
soltou, seus músculos tensionados relaxaram aos poucos.

Eles começaram a se mover no ritmo calmo da música de fundo. A respiração


de Hermione em seu pescoço era cruel e o fazia querer sentir o hálito dela
conta sua boca. Desceu sua mão pelas costas dela para poder atualizar sua
memória sobre a textura e a temperatura da pele macia.
No segundo em que Draco debatia consigo mesmo se a vontade de beijá-la era
consequência da proximidade ou da falta que tinha em sentir o gosto dela, seus
músculos travaram e sua primeira reação foi afastar-se dela, mesmo que o
mais discretamente possível, quando sentiu um estranho e rápido movimento
do pequeno volume em sua barriga.

- Oh. – Hermione alisou sua barriga sobre o tecido fino do vestido. – Sentiu
isso?

Draco sorriu. Foi involuntário e incapaz de ser contido.

- Sim. – ainda a segurava pela cintura e quando a encarou, viu-a sorrir. O


dela pareceu sair tão inevitavelmente quanto o dele. Draco não via o sorriso
verdadeiro de sua esposa fazia tanto tempo que, de repente, seu coração
pareceu grande demais para o espaço que ocupava. – Isso foi...

- Sim. – a reação de Hermione foi quase que uma mensagem para ele.
Será que ele deveria demonstrar mais que se importava com os filhos? Sentia
que dava tanto de si para garantir o futuro deles, seria mesmo possível que ele
estava sendo exatamente como seu pai era? Será que ele estava se dedicando
mais ao nome Malfoy do que propriamente a sua família? Talvez Draco devesse
perguntar à Hermione sobre eles, sobre o desenvolvimento deles. Talvez
devesse tocar a barriga dela como tantas pessoas estranhas faziam. – Eu não
achava que conseguiria senti-los. Não agora. Na verdade, eles não costumam
se mexer assim.

- Eles se mexem muito? – de repente ele se viu absurdamente curioso.

- Não. – sua mulher respondeu e ele tornou a abraçá-la. – Quero dizer... –


ela descansou a cabeça em seu ombro e os dois voltaram a se mover ao som
da música. – Acredito que eles se mexem bastante, apenas estou começando a
senti-los com mais frequência agora.

- Talvez devêssemos começar a pensar em nomes.

- Você tem alguma ideia? – a leveza do tom dela o fez sentir-se realmente
próximo a ela depois de tanto tempo.
- Não. Na verdade, nunca pensei que realmente fosse me importar com
meus próprios filhos. Sempre soube que deveria trazer um herdeiro para
carregar meu sobrenome, mas nunca pensei que fosse me importar com ele da
forma como me importo agora. Nunca pensei que fosse ser algo tão
importante. – mais uma vez Draco estava os levando de volta ao que
costumavam ser não fazia muito tempo. Suspirou. – Queria que pudéssemos
ser uma família, Hermione. Mas eu não sei o que é uma família e nós, eu e
você, também jamais poderíamos ser uma.

Ela não disse nada de imediato, mas eventualmente acabou comentando algo:

- Ficaria satisfeita se pelo menos pudéssemos, quem sabe um dia, resolver


o ódio que carregamos um pelo outro.

Ah, sim. O ódio, os preconceitos, os fatos do passado. Aquilo seria uma tarefa
difícil. Talvez impossível. Mas eles tinham uma vida inteira juntos. Será que um
dia os dois seriam capazes de curar todo o ódio? Quem sabe se eles chegassem
a esse estágio um dia, ele poderia tê-la por inteiro, sem sentir o receio de que
em alguma hora uma lembrança fosse trazer aquela vontade de fazê-la sofrer,
aquela vontade de exigir vingança.

Suspirou.
- Talvez eu também ficasse apenas satisfeito se pudéssemos. – mas não
queria mexer nas lembranças que o fazia ter razões para odiá-la. Não era o
momento para trazer aqueles sentimentos à tona. Ela estava grávida, eles
estavam em público e Draco sabia que já podia ser bastante ignorante mesmo
sem pensar naquilo que traria seu ódio por ela.

Eles continuaram em silêncio e Draco avaliou o quanto havia sido arriscado ter
iniciado aquela conversa. Os dois não deveriam voltar jamais para aquele
estágio de estarem tão próximos, por mais que ele quisesse, por mais que ele
sentisse falta. Era arriscado devido ao número de problemas que carregavam e
ao receio que ele tinha de pisar naquele território sabendo que os dois eram
incompatíveis.

Percebeu o mais novo casal Carrow deixar a mesa de príncipe e princesa que
haviam toscamente preparado para os dois e para os familiares. Eles foram em
direção à pista de dança e Draco notou que Hermione percebera o mesmo que
ele quando seus músculos tencionaram novamente.

- Relaxe, Hermione. – disse mais uma vez. - Tente fingir que somos
somente eu e você.
- Por que eles nos convidaram? – a voz dela foi baixa, abafada e
vulnerável. Ela estava se permitindo ficar daquela maneira ali porque sentia
culpa e ele temia que as pessoas pudessem ver isso.

- Somos a única chance de garantir que eles estarão nos jornais amanhã. –
Draco respondeu.

Ela soltou o ar, cansada.

- Os Carrow me olham como se a única coisa que eles fossem capaz de ver
é meu sangue trouxa.

- Metade dos Carrow são mestiços, Hermione. Está se deixando ficar


vulnerável demais.

- Eles me acusam com todos esses olhares e essas indiretas... – ela


suspirou. - Por que infernos eles não casaram Theodoro? Será que eles não têm
a mínima noção de crueldade? A pobre garota ainda nem completou vinte anos!
Ela me olha como se eu fosse a culpada por estar estragando todos os sonhos
dela, por estragar todo o restante da vida dela, por estragar todos os anos que
ela ainda poderia desfrutar estando livre, e eu sei que eu tenho essa parcela de
culpa...

- Pare, Hermione. Se eles fossem casar Theodoro, teriam o casado com


Pansy e os Parkinson têm uma aliança muito mais forte conosco do que com os
Nott. Nenhum Parkinson arriscaria fragilizar uma aliança com Malfoys por um
casamento com uma família que está perdendo influência.

- Esse não é o ponto...

- Esse é o ponto principal. – ele a cortou. Hermione havia abaixado a


guarda quando relaxou os músculos. Talvez tenha encontrado algum tipo de
conforto nele, ou estava desesperadamente procurando por um, para estar
simplesmente colocando para fora aquilo que a afligia como se eles nunca
tivessem concordado em voltar a ser o que eram quando se casaram. Draco
não iria confortá-la. Primeiro porque não era esse tipo de pessoa, segundo
porque sequer sabia como confortar alguém. O grande conflito que se passava
era que se via incapaz de tratá-la com indiferença ali, quando sua mulher
estava tão prontamente exibindo seu coração inteiro junto com suas aflições.
Ela estava gerando seus filhos. Estava passando por toda aquela mudança de
corpo e hormonal para trazer ao mundo as vidas que haviam criado juntos. –
Você sabe que ninguém aqui se importa com crueldade. – ele suspirou e a
apertou mais contra seu corpo. Não podia ser indiferente. Não com sua esposa
tão próximo, não enquanto a tocava. Sempre soube que se um dia a tocasse
novamente, minimamente que fosse, cederia. E foi exatamente o que fez.
Cedeu. – Mas eu sei que você se importa. – Draco sabia que até mesmo seu
tom de voz mudou. Até tentou não se entregar tanto quando enterrou seu rosto
brevemente por entre os cabelos dela para poder sentir seu cheiro. – Podemos
ir embora se você quiser.
A primeira reação de Hermione ao escutar aquilo foi erguer os olhos e a cabeça
para ele. Draco pôde ver a surpresa dela por um segundo antes de ser
substituída por um brilho quase imperceptível de esperança e o indício de um
sorriso verdadeiro beirar seus lindos lábios. Mas como se um filtro de realidade
tivesse sido colocado à sua frente, tudo aquilo foi embora muito antes de
parecer ter chegado e Hermione apenas puxou o ar.

- Não. – foi séria e ele percebeu os músculos dela tencionarem novamente.


– Temos um papel para cumprir aqui. – e ela escondeu tudo atrás de uma
expressão neutra como a vira fazer muitas outras vezes. Aquilo o lembrava sua
mãe. Tudo bem que sua mulher muitas vezes acabava mostrando sua
vulnerabilidade, mas o número de vezes que a via se esforçar para esconder
isso era muito maior.

Tocou o rosto dela.

- Está se tornando uma boa Malfoy. – ele sabia que ela se tornaria
exatamente como sua mãe. Hermione esconderia tudo que era atrás de sua
máscara Malfoy. Talvez Draco também fosse o mesmo. Só que era apenas
natural para ele. – Isso tem te feito mal.
Ela suspirou e tornou a acomodar a cabeça em seu ombro.

- Você não se importa com isso.

Por que Hermione estava sempre o julgando? Inferno! Ele sentia falta da
mulher que não o julgava quando eles apenas conversavam no escuro da noite.

- Você parece ter pouco conhecimento das coisas das quais me importo,
Hermione. Não faz nem uma semana que me condenava por passar cada
segundo livre do meu dia com uma mulher diferente, como se eu não tivesse
prioridades. – Soltou o ar frustrado no mesmo segundo que se calou,
arrependendo-se de suas palavras. Eles sempre entravam no campo da
discussão com uma facilidade tão grande. Isso era o que o preocupava. Isso
era o que o fazia ter certeza de que realmente deveriam se manter no nível da
indiferença. Naquele nível, eles eram incapazes de afetar um ao outro daquela
forma.

- Deveríamos apenas ficar calados, Draco. – ela soltou.


Sim, como sempre. Era sempre melhor ficarem calados. Por que agora, sempre
que abriam a boca, os dois acabavam entrando no campo da discussão uma
hora ou outra, como quando se casaram, e ele sempre acabava odiando
Hermione mais ainda pelo silêncio e frieza com a qual ela sempre escolheria
tratá-lo.

Então eles ficaram em silêncio.

Mas era uma tortura. A respiração dela em seu pescoço, o calor do corpo dela
contra o seu, o cheiro dela... era tudo exatamente como quando costumavam
ficar antes de dormir, não fazia muito tempo. Eles conversavam antes. Sabiam
conversar sem discutir. Deus! Draco sentia falta. E por mais que ele estivesse
convencido de que deveriam se manter no nível da indiferença, não conseguia
deixar de sentir falta.

- Acabei de conversar com Isaac. Vou colocá-lo no lugar de Theodoro. –


tentou novamente. Dessa vez seria mais cuidadoso e talvez até desse certo.

Hermione não disse nada imediatamente.


- Você não tem esse poder. Principalmente agora que o Lorde não está
muito contente com você. – foi o que ela respondeu. Seu tom não era o mesmo
de quando estavam no escuro do quarto. Aquele tom o fazia lembrar de que
sua mulher o odiava.

Ela estava com a guarda de pé, os músculos tensos e a muralha de proteção


erguida, separando-a dele por completo por mais que estivessem colados um
no outro. Draco não havia falhado quando ela abaixara a guarda. Fora
compreensivo. Mas no momento que Hermione a colocou de pé novamente, ele
a confrontou e, por isso, não tinha o direito de reclamar da frieza dela.

- Posso trabalhar com as circunstâncias. O departamento dele já está em


pedaços. Não seria difícil. Meu pai entraria com a sugestão ao mestre. Isaac é
uma boa peça para se ter no círculo interno. Ele é amigo de todo mundo e às
vezes se faz de idiota para não ser percebido. Ninguém o enxerga como
ameaça por ser de uma família tradicional que sempre manteve laços estáveis
e bem equilibrados com todas as outras. Posso usá-lo.

- Ele quer ser usado?


- Ele tem praticamente implorado, Hermione. Por mais que Isaac esteja
navegando na imparcialidade para todo o resto de Brampton Fort, ele deixou
claro que a aliança que pretende manter é conosco. Ele sabe que o império do
mestre não é infinito e que se existe uma família que vai estar de pé quando o
Lorde cair, essa família somos nós.

- Isso é algo completamente diferente de querer trabalhar para derrubar


Voldemort.

- Eu disse que vou usá-lo, não que vou fazê-lo ficar de acordo com uma
conspiração. – Draco já sabia que talvez ela estivesse o julgando naquele exato
momento, simplesmente porque sabia que todo esse jogo de interesses para
grifinórios era algo deplorável. Grifinórios e o patético espírito de lealdade que
tinham. Ao menos sabia que Hermione não abriria a boca para condená-lo
porque ela já tinha aprendido que não havia lugar para heróis em Brampton
Fort. Heróis eram engolidos ali. Ela sabia que precisava ser esperta e sorrateira.
Esse era o lema.

- Creio que devo continuar fingindo minha boa amizade com Astoria, então.
– jogou ela.
- Sim. – ele respondeu. – Os Bennett estão nos usando para influência, nós
vamos usá-los para nossos interesses. A troca está sendo bem feita. Eles ficam
satisfeitos e nós também.

Hermione suspirou

- Acaso existe alguma amizade que eu poderia ter aqui à parte dos
negócios?

Não. Era a resposta para a pergunta dela. Mas sua mulher já sabia a resposta e
Draco mais uma vez seria compreensivo:

- Sei que isso pode ser cruel para você, Hermione, mas isso aqui não é o
salão comunal da Grifinória. Sabe disso.

- Fico satisfeita que ao menos tenha consciência de que é cruel para mim.
– foi tudo que ela disse. Baixo, mas no tom certo para que ele pudesse escutar.
E ali estava Hermione novamente, prestes a abaixar a guarda. Em sua mente,
tentava entender a dela. Não tentava julgá-la, embora fosse difícil. Grifinórios
tinham um coração voraz, feroz e corajoso. Isso fazia com que tivessem uma
mente impulsiva e consequentemente estúpida. Talvez isso que a deixasse tão
confusa, tão perdida e tão infeliz, porque ali ela precisava ser esperta, sagaz e
sorrateira e isso matava o coração tão ativo e grifinório que tinha. Draco não
conseguia compreender como isso a afetava tanto. Ter um cérebro esperto e
em constante alerta era tão melhor do que um coração que a guiasse a
decisões estúpidas e impulsivas. Será que Hermione entendia isso? Ele sabia
que ela entendia. Sua esposa era boa em ser esperta e atenta a detalhes. Ela
conseguia ser uma boa sonserina. Na verdade, ela era todas as casas. Tinha o
coração de um grifinório, o cérebro de um corvinal, a educação de um Lufa-lufa
e o ego de um sonserino. Hermione era um pouco de cada casa. Mas ser
obrigada a ser somente uma sonserina ali, fazia-lhe mal. Draco não entendia.

Era possível que ela estivesse saturada de tentar administrar ser uma sonserina
sem matar seu coração grifinório. Talvez ela estivesse perdida em si mesma,
tentando entender aquilo que perdera e aquilo que ganhara de quem pensava
ser desde que se tornara uma Comensal. Quem sabe, Hermione mesma
estivesse se julgando duramente. Ele não sabia. Não saberia. Ela não diria a
ele. Talvez se eles conversassem mais vezes sem discutir, Draco poderia
alcançar novamente a mulher que costumava ser um livro aberto para ele não
fazia muito tempo.

Quem sabe, ainda fosse melhor que os pensamentos dela mantivessem-se um


enigma. Talvez o certo fosse mesmo que os dois não se compreendessem e que
continuassem insistindo naquela incompatibilidade. Desta maneira, Draco
possivelmente conseguisse manter-se a odiando como sempre odiara, por mais
que tudo parecesse tão confuso agora. Em algum momento, inevitavelmente,
tudo teria que voltar ao normal. Não era possível que não fosse voltar. Eles
eram opostos. Fazia todo o sentido que voltasse. Quando pensava assim,
sempre se martirizava por ter sido descuidado com Hermione. Quando
perderam a filha, ele só queria que ela não ficasse trancada no quarto o dia
inteiro, porque isso era o que ele próprio queria também, mas não era o certo.
Queria ser um suporte para sua esposa, assim como ela também seria para ele,
mas acabara que se permitira demais com Hermione.

Por que havia sido tão diferente com ela? Draco tinha se permitido tão
igualmente com outras mulheres, principalmente Astoria, em outros momentos
de sua vida e não havia sido como fora com Hermione. Por que logo com
Hermione? Existiam tantas mulheres no mundo! Por que logo ela?!

A música chegou ao fim, mas ele não a soltou. Ela também não fez menção de
se afastar. A sorte que tiveram foi que outra começou logo em seguida. Aquilo
estava se saindo melhor do que Draco esperava. Ficar ali com ela o distraía dos
indiscretos olhares da família Nott, principalmente os de Theodoro. Naquele
momento, ele não precisava se mostrar contente e feliz, não necessitava exibir
uma falsa educação sempre que alguém tentasse puxar assunto com o Malfoy
presente em um casamento qualquer, não tinha que se preocupar se estava ou
não mostrando seu perfeito relacionamento com Hermione como deveria, nem
precisava se atentar em desvendar se sua esposa estava ou não prestes a sair
correndo. Ali, Draco podia apenas aproveitar que a tinha tão próximo dele e
estava a tocando. Era assustador ver o quanto seu corpo ainda a queria, mas
apenas de todos aqueles pontos positivos, o mais assustador era perceber que
sentia mais falta de Hermione do que só do corpo dela. O silêncio e a distância
que ele podia enxergar entre suas almas era tão claro que o mostrava, mais
uma vez, o quanto ele sentia falta de sua mulher.

Mais uma vez, porque era cada vez mais nítido, conforme os dias se passavam
e eles se afundavam naquele estado de indiferença, o quanto ele a queria. Não
o corpo dela, mas ela em si. Sexo ele tinha. Qualquer mulher que Draco se
esforçasse em olhar por mais de três segundos certamente o daria sem hesitar.
Ele não precisava de sexo, mesmo que seu corpo respondesse à presença do de
sua esposa até quando ele não precisava. Ele a queria. Hermione. A voz dela, a
companhia dela, os pensamentos dela, a sinceridade, honestidade, a
inteligência, a cumplicidade. Draco queria tudo de volta. Sentia que podia ter
muito mais do pouco que tivera dela no curto tempo em que a relação deles
alcançara um estranho nível de harmonia. Quanto mais os dias se passavam,
mais ele percebia e era capaz de enxergar claramente que precisavam voltar
para aquele estado, porque ele a queria. Todas as vezes que era obrigado a
tocá-la, todas as vezes que estavam em público e precisavam agir como se
fossem o casal mais perfeito da humanidade, Draco percebia que a queria de
volta porque podia sentir a proximidade de seus corpos, mas ainda mais
evidente a distância de suas almas. A troca de sorrisos falsos que sumiriam
assim que ninguém estivesse olhando para eles, as mãos atadas que
deslizariam para longe uma da outra assim que saíssem de frente as câmeras,
os olhares vazios que sempre continuariam vazios, tudo como se fosse um
trabalho que deveriam cumprir, um negócio, um plano esquemático e bem
calculado. E todos acreditavam na performance deles. Simplesmente porque
aquele lugar já estava acostumado com falsidades. E assim ele a tinha por
perto, sempre, mas não provava dela. Isso só piorava sua vontade de tê-la.

Por que eles faziam tudo aquilo, afinal? Questionava-se de vez enquanto. Toda
aquela confusão de estarem afastados, como se fosse a melhor decisão que
haviam tomado, quando claramente eles estavam num estágio muito pior agora
do que quando se casaram. No inicio do casamento era puro ódio. Desejo
também, claro, mas apenas porque eram homem e mulher e a atração era
inevitável. Mas agora não era só ódio. O ódio ainda existia porque não era
muito difícil para Draco sentir a vontade de colocá-la na forca de Voldemort,
quando se lembrava das vezes em que tivera que se humilhar diante de todo o
círculo interno, no salão principal da Catedral, para explicar que havia
desperdiçado o tempo e o dinheiro de seu mestre numa missão onde perdera
metade de seus homens por causa de uma maldita Sangue-Ruim que
conseguira ser mais inteligente. Porém, a diferença é que mesmo que ainda
sentisse esse ódio e essa vontade de entregá-la nas mãos de Voldemort quando
se lembrava dessas coisas, agora Draco hesitava. Hesitava porque há tempos
essa Sangue-Ruim morava em sua casa, dormia em sua cama, carregava seus
filhos, usava seu sobrenome e fazia sua cabeça enlouquecer.

O que seria do futuro deles? Lutavam para salvar os filhos e acabar com
Voldemort pelas sombras. Se eles conseguissem isso, o que seria do mundo
quando o Lorde caísse? O que seria deles? Morariam juntos? Continuariam
aquela farsa de casal perfeito? Certamente não. Mas como poderiam seguir
suas vidas, estando eles ligados um ao outro. Não somente estariam casados
como estariam com dois filhos. Será que eles poderiam se separar? Divórcio era
uma palavra inexistente nos casamentos de sua família, mas nascidos-trouxas
também. Seu pai sempre havia o alertado de que nenhum Nascido-Trouxa
podia assinar um contrato de casamento com a pena dos Malfoy, mas na noite
de seu casamento, Hermione pegou a caneta e assinou seu nome naquele papel
sem nenhum problema. Ainda assim, Draco havia mantido o pensamento de
que, se ela era uma exceção na linhagem de toda a sua família, certamente o
casamento deles também poderia ser uma exceção no perfeito histórico de
todos os casais felizes para sempre dos Malfoy. Mas com crianças...

Deveria haver um jeito. Eles poderiam seguir vidas separadas dentro de uma
casa. Claro que poderiam. Só não queria que Hermione fosse como sua mãe.
Ela não seria. Ela não o amava. Mas então porque sua mulher havia se tornado
tão igualmente à Narcisa, ultimamente? Não falhava com o jantar, mantinha a
casa em ordem, cuidava da organização de suas roupas e inclusive as separava
para ele quando tinham eventos importantes a comparecer. Ela também ficava
sempre em silêncio durante o jantar e em todo o momento em que não era
obrigada a dizer algo. Até havia voltado a organizar a mesa como ele ordenava
que fosse organizada antes deles se casarem e ela mudar tudo.

Hermione precisava estar bem consigo mesma para que os dois pudessem viver
em paz debaixo do mesmo teto, mesmo que fossem viver vidas separadas.
Draco, talvez, pudesse intervir nisso sem acabar se aproximando como da
última vez. Talvez. Bem, quem sabe se ele tentasse entender o coração
grifinório dela, se ele fosse mais atento ao que importava para sua esposa, ao
invés de tentar mostrar que uma mente esperta e pretensiosa era muito melhor
do que um coração dominador e que somente assim Hermione poderia
sobreviver ao mundo em que viviam. Ele precisava cuidar disso, sempre
pensava à frente. Precisava fazer isso pela paz em sua casa e pelos seus filhos.
E... por ela?

- O que vai fazer amanhã, Hermione? – cortou o silêncio entre eles.


- Trabalhar com a Comissão em cima dos feitiços que vai precisar para o
ato final em York e tentar progredir nos estudos para violação do sistema de
segurança da Ordem. – ela respondeu.

Ele poderia rir daquela resposta facilmente.

- Sabemos que você não está trabalhando em nada disso. – o ato final de
York já havia sido discutido e Hermione enrolava a Comissão com a quebra da
segurança da Ordem porque, provavelmente, estava confusa se queria ou não
fazer aquilo. Ela havia desenvolvido o sistema de segurança da Ordem e sabia
exatamente como derrubá-lo. Aqueles estudos com a Comissão eram uma
grande besteira que Draco só não discutia porque sabia que ela ficaria naquele
irritante silêncio, concordaria com ele no final e faria coisas completamente
diferentes do acordado.

- Por que perguntou então?


- Porque quero que faça algo comigo amanhã.

- O que irá fazer amanhã?

- Vou para York e quero que vá comigo.

Hermione ficou em silêncio alguns segundos.

- Vai sair de Brampton Fort? – ela indagou aquilo porque Voldemort sempre
encontrava desculpas para detê-lo ali. Ou talvez fosse porque eles conversavam
tão pouco, que até mesmo informações importantes como aquela acabavam
não sendo trocadas. – Posso mesmo ir com você? O que quer que eu faça em
York? O grupo da Comissão que destinei para lá pode muito bem fazer o
trabalho sem mim.

- Não quer ir?


- Não.

Foi a vez de Draco ficar em silêncio. Ele não entendia mais nada do que
acontecia com sua mulher. Que infernos se passava na cabeça dela?

- Por quê? – perguntou.

- Porque não sinto vontade.

Não sentia vontade?


- Do que sente vontade, Hermione?

Ela não respondeu. Na verdade, ele pensou que ela não fosse responder por
que a pergunta ficou no ar por quase um minuto inteiro.

- Desaparecer... talvez... – ela sussurrou tão baixo que Draco mal pôde
escutar.

Desaparecer? Para onde? Aquilo não fazia sentido. Mas o tom que Hermione
usara o fazia querer abaixar o dele também. Fazia-o querer sussurrar em seu
ouvido o que havia de errado, mas talvez isso fosse só aquela constante
urgência em saber o que se passava na cabeça dela incomodando-o
novamente.

- Isso é impossível. – acabou por dizer. Draco não era não iria confortá-la.
Não era esse tipo de pessoa. Ela sabia. – De qualquer forma, você não tem
escolha. Irá comigo.
Hermione suspirou com muita calma, soltando o ar, como se esperasse que
pudesse ficar fazendo aquilo por muito mais tempo.

- Que horas devo ficar pronta?

**

Draco havia a visto. Mais cedo. Antes de ficar pronta para sair de casa e ir
atender a mais um evento aquele dia.

Hermione estava exausta, ele sabia. Haviam deixado o casamento e seguido


direto para a Catedral. Na volta para casa era notável que ela estava exausta,
pois sempre tinha dores de cabeça devido à gravidez quando se sentia cansada.
E era notável. Sua esposa fechava os olhos de uma forma diferente e franzia o
cenho discretamente quando era incomodada por àquela dor. Quando ele
entrou no quarto após o jantar, ao invés de seguir para seu escritório, decidiu
que preferia tomar seu banho para, possivelmente, ir dormir mais cedo já que
sabia que ela não teria a chance e eles sempre procuravam ir para a cama em
horários diferentes agora. Mas no momento que se aproximou do closet, Draco
parou para vê-la deslizar um espetacular vestido verde por seu corpo já
mudado. Hermione era magnífica, grávida chegava a ficar quase gloriosa, mas
então ela se apoiou em sua penteadeira curvando o tronco e soltou o ar ao
fechar os olhos. Seu rosto se contorceu e sua mulher o cobriu com as mãos
quando seu corpo sofreu os espasmos do choro aparente.

Ela estava chorando e no momento em que essa informação bateu contra ele,
Hermione descobriu o rosto, apoiou-se novamente na penteadeira, olhou-se no
espelho, encheu o pulmão e ficou se encarando até que conseguisse colocar
novamente em sua expressão, a máscara da neutralidade.

Draco ficou confuso se deveria ir embora, ou continuar o que tinha em mente


com indiferença. Se deveria ir até ela, mencionar ou perguntar algo. Mas ele
ficou parado a observando restabelecer seu controle, fechar o zíper do vestido e
procurar por suas jóias. Só quando viu que sua mulher finalmente havia
retomado o controle foi que Draco entrou. Seguiu direto para o seu lado do
closet tentando ignorar a presença dela. Despiu-se calmamente, enquanto
Hermione finalizava sua produção. Quando tudo ficou pronto, ela sumiu
também, ignorando a presença dele, exatamente como ele havia feito com ela.

Agora que Draco estava no sofá, ao lado da lareira do quarto com uma das
taças de um vinho que buscara na adega, ele repassava aquela cena em sua
cabeça, repetidas vezes. Sua mente não parava de bombardeá-lo com todas as
vezes que vira sua mãe naquele mesmo estado. Será que ele estava mesmo
sendo exatamente como seu pai? Por que Hermione e ele estavam andando por
um caminho tão parecido com o de seus pais, quando sabia que ela não o
amava como sua mãe amava Lúcio? Não fazia sentido. Não fazia o menor
sentido.
Deixou a taça de lado, saiu do quarto e avançou o corredor para a ala oposta
de onde estava. Bateu à porta do quarto que Hermione preparara para sua mãe
e por um minuto longo ele não teve nenhuma resposta, até que escutou a voz
fina e baixa de Narcisa responder que a porta estava aberta.

Draco entrou. Ela já estava pronta para dormir. A longa camisola, os cabelos
escovados e lisos até abaixo do ombro, o rosto limpo, mas vermelho. Seus
olhos brilhavam. Sua mãe tinha um livro na mão. Parecia um álbum. Ele se
aproximou e encostou-se no dossel da cama em que Narcisa dormia para poder
encará-la de frente. Vê-la naquele estado sempre o assustava. Ela era tão
forte. Draco se lembrava que ela era tão forte.

- Já disse que irá pegar um resfriado se continuar dormindo sem camisa.


Principalmente se ficar andando por aí descalço. – Narcisa sabia que ele não
pegaria, mas talvez precisasse apenas sentir um pouco do coração materno que
tinha.

- O que significa aquilo? – Draco apontou para o malão fechado de sua mãe
parado ao lado da porta. – Hermione disse que você havia desfeito sua mala. –
e ele podia ver as gavetas abertas e vazias do armário próximo à janela.
Sua mãe abaixou os olhos para o álbum em seu colo. Draco pôde ver as
imagens se movendo da distância em que estava. Ela passou a página com
calma, mas sem prestar realmente atenção em sua ação.

- Tive um momento... – Narcisa engoliu as palavras. – Pensei em talvez...


– hesitou. – Quase voltei para casa mais cedo.

Ele soltou o ar e cruzou os braços.

- Aquele lugar não é mais sua casa, tire isso da sua cabeça.

- Então que lugar é minha casa, Draco? – ela ergueu os olhos para ele. Sua
mãe sofria. – Eu preciso pertencer há algum lugar.

- Eu sou sua casa, o que significa que essa é sua casa. Você não precisa
sair daqui.
- Sim, eu preciso. – Narcisa estava convicta. – Eu não quero ficar aqui. Me
faz mal ver você e Hermione se afundando na vida que seu pai e eu tivemos.
Vou para alguma hospedaria no centro amanhã. Talvez eu consiga um quarto
da Catedral. Bella entenderia se eu pedisse, mesmo que isso acabe tornando as
coisas públicas. Quem sabe eu precise que o mundo saiba que sempre fomos
uma farsa. Possivelmente assim eu consiga entender o peso do que realmente
fiz. Talvez eu consiga enxergar melhor a realidade.

Seu pai ficaria absolutamente furioso se sua mãe destruísse a imagem do nome
Malfoy daquela forma. Seria um grande escândalo. Em outros tempos, Draco
teria apoiado Narcisa com muita vontade, mas agora...

- Isso poderia nos colocar numa posição realmente ruim, mãe.


Principalmente agora que Hermione está grávida e estamos tentando manipular
o público.

- Sim. Agora que vocês estão construindo a farsa de vocês. – ela suspirou e
fechou o álbum em seu colo. – Não vale à pena, Draco. Veja isso. – ergueu o
álbum. – Fotos lindas de uma família que nunca existiu. – largou o livro sobre a
mesa ao seu lado. – Eu me cansei dessa família. Estou farta. Não me importo
mais. Não me importo mais com o sobrenome Malfoy, com a droga do legado
que temos, com a infernal imagem a qual temos que manter.
Draco suspirou.

- Por que o deixou, mãe? Todos esses anos você o suportou com essa
justificativa de amor, de o coração quer o que quer, de não ter outra escolha e
agora, quando ninguém esperava, você simplesmente o deixa. O que
aconteceu?

Narcisa cobriu o rosto, cansada. Suspirou e alisou os cabelos.

- Isso ainda não é um problema para você carregar, Draco.

- Tenho o direito de saber.


- Talvez tenha, mas eu não estou pronta para entregar os segredos do seu
pai. Não ainda.

- Não ainda?

- Não ainda. Entenda, Draco, eu sou a única pessoa que o seu pai confia.
Mesmo que eu tenha o deixado, não significa que deixei de amá-lo. Preciso de
tempo para destruir todos os laços que me unem a ele. Ainda não sei se sou
capaz de destruir a confiança que temos um no outro. Significa muito para
mim.

Ele tinha suas dúvidas de que sua mãe fosse abrir mão daquela confiança. Eles
entraram num silêncio que durou um longo minuto. Draco apenas tomou aquele
tempo para pensar sobre Narcisa ter finalmente deixado seu pai.

- Como ele reagiu? – perguntou. – Sei que ele estava em casa quando o
deixou.
Ela puxou o ar como se tivesse sido bombardeada com as cenas que ele
gostaria tanto de ter visto.

- Lúcio não acreditou que eu fosse realmente ir embora. – ela desviou o


olhar, como se não encarar Draco tornasse aquelas palavras mais fáceis. –
Juntei minhas coisas e simplesmente fui. Não sei se ele ainda acredita que eu
realmente o deixei. É provável que seu pai esteja esperando que eu vá voltar
porque ele sabe que eu quero voltar.

Draco suspirou.

- Ele deixou a cidade faz dois dias.

Narcisa ergueu o olhar para ele.

- Deixou? – indagou como se não esperasse que Lúcio fosse ter aquela
reação. – Quando ele vai voltar?
- Não sei. Ele sempre abre pedidos...

- De última hora. – sua mãe completou. – Eu sei. – suspirou e tomou um


tempo para pensar. – Quem sabe ele espere que eu vá estar de volta em casa
o esperando, como sempre fiz, quando ele decidir voltar.

- Mãe, você sabe que meu pai realmente não se importa. – não iria
consolar sua mãe. Draco não era esse tipo de pessoa. Qualquer palavra de
esperança, para o estado em que Narcisa estava, poderia colocá-la de pé
novamente de cara com o precipício do qual havia caído e a última coisa que
ele queria, era que sua mãe caísse novamente.

- Ele se importa sim, Draco. Eu realmente acredito que ele se importa. –


Narcisa soltou o ar, se levantou e aproximou-se dele. – Preciso ficar sozinha,
filho. Não me entenda mal. – o tocou no rosto, ficou na ponta dos pés e estalou
um beijo casto em sua bochecha.
- Tem precisado ficar sozinha desde que chegou. Vou acabar me cansando
de te dar esse tempo. Sabe que quero saber o que aconteceu, pois me importo
com você.

Sua mãe sorriu. O olhar ainda estava triste, mas era um sorriso verdadeiro. Ela
o segurou pelos ombros e o analisou calmamente. Havia certo orgulho no olhar
dela sempre que fazia isso. Como se estivesse abrindo os olhos finalmente para
enxergar que seu bebê era um homem agora.

- Por que veio até aqui, Draco? Sei que quer saber o que aconteceu, mas
sabia que eu não ia te contar. Não agora.

Ele soltou o ar e desviou o olhar. Enfiou as mãos nos bolsos da calça de seu
pijama.

- Eu a vi chorar hoje mais cedo. Hermione. Exatamente como vi você


outras vezes.
Narcisa se afastou.

- E por que veio até aqui me dizer isso?

Draco deu de ombros.

- Eu não a entendo. – encarou sua mãe. – Ela não me ama como você ama
meu pai. Sei que Hermione estava cansada. Até pensei que talvez devesse ter
dito a ela que não precisava ir para aquele desfile patético só para estar
presente na mídia, mas eu sei que mesmo se eu tivesse dito que ela não
precisaria ir, ela iria.

- Ela está fazendo isso pelos filhos, Draco. Jamais se perdoaria se um deles
fosse tirado dela porque não compareceu a um jantar ou a um evento qualquer,
onde pudesse ter se esforçado para fazer com que o mundo amasse um pouco
mais sua família.
- Então por que ela estava chorando? – ele balançou a cabeça. – Quero
dizer... Não é como se Hermione estivesse se derramando em lágrimas, mas
ela... – Draco não sabia encontrar a palavra. – Ela... – soltou o ar. – Ela não
chegou a chorar o que parecia querer, na verdade. Mas não é isso que importa.
O que importa é por que! Por quê? Ela está tão... tão... – moveu-se impaciente.
– Inferno! Por que é tão difícil falar dela?

- Por que não pergunta a ela o que está havendo, se é o “por que” que o
incomoda tanto?

- Não vou perguntar a ela! Nós não conversamos. Não somos amigos. Não
temos nada em incomum além de incompatibilidade.

- Então por que você se importa?

Abriu a boca para continuar a rebatê-la, mas calou-se quando percebeu que
não tinha nenhuma resposta. Pensou e logo soltou o ar.
- Quer saber. Você está certa. Por que eu me importaria? – havia sido um
erro ir até ali. – Sei que quer ficar sozinha. – aproximou-se e lhe estalou um
rápido beijo na testa. – Boa noite e não ouse sair da minha casa. Vai nos
colocar num grande problema se fizer isso. Não ao meu pai, porém a mim e
Hermione

Narcisa apenas assentiu, parecendo um tanto frustrada com a resposta que


tivera. Draco não entendeu, mas a deixou. Seguiu de volta para seu quarto,
desfez-se do vinho e deitou. Não pegou no sono fácil, mas acabou dormindo
eventualmente.

Tinha o sono leve e acabou por escutar quando Hermione chegou. Ele esperou
que ela fosse fazer muito mais barulho e acender muito mais luzes, mas ou ele
estava cansado o suficiente para cair novamente no mundo dos sonhos ou ela
realmente fizera muito pouco barulho.

Draco pôde entender assim que acordou na manhã seguinte e a encontrou


vestida apenas com sua roupa de baixo, um frasco de poção vazio nas mãos, a
maquiagem borrada no rosto e no travesseiro em que ela dormia, os grampos
que prendiam seu penteado ainda no cabelo e o vestido que usara na noite
anterior no chão do seu lado da cama. Seu primeiro instinto, ainda deitado, foi
pegar o frasco de poção que havia na mão dela para checar o que era.
Confirmou ser apenas mais uma das poções que sua mulher tomava para dores
de cabeça. Julgou-se idiota por notar a respiração calma e lenta dela apenas
depois. Hermione estava tão cansada que somente caíra na cama assim que
havia chegado.
- Hermione. – a chamou com cuidado. Eles tinham horário para pegar as
chaves de portal no portão sul e Draco não via nela nenhum sinal de que
acordaria logo. – Hermione. – tornou a chamar quando ela não respondeu,
porém continuou sem resposta. Soltou o ar com calma, estendeu a mão e tocou
seu rosto. – Hermione. – chamou mais uma vez.

Ela moveu-se preguiçosamente.

- Vou tirar meu vestido, me deixe fechar os olhos só por alguns minutos. –
sussurrou tão baixo, ainda dormindo, que ele quase não foi capaz de identificar
as palavras dela.

Hermione não tinha sequer noção de que a noite havia passado e já era dia.
Draco não teve coragem de chamá-la novamente. Ela já negligenciava tanto
seus descansos extras para dar conta de atender a todos os eventos que tinha
que atender e ainda ser a cabeça da Comissão que ele não poderia ser tão
egoísta com a mulher que gerava seus filhos.

Ele levantou, cobriu-a com o edredom, recolheu os grampos no travesseiro que


haviam caído de sua cabeça, ajeitou as mexas que lhe cobriam o rosto
permitindo-se deixar que as pontas de seus dedos fizessem o desenho de sua
têmpora e buscou para ela os frascos de poções que sempre tomava assim que
acordava. Eram somente vitaminas, mas sabia que a ajudava durante o dia.
Deixou-os alinhados na cabeceira ao lado dela. Entrou em contato com Tina
enquanto tomava seu café e pediu o adiamento das chaves de portal para a
parte da tarde e foi à Catedral tentar adiantar seu trabalho já que não poderia
estar fazendo sua vistoria em York.

Para sua surpresa, Voldemort apareceu algumas horas depois. Aquilo tencionou
todos os seus músculos. O Lorde das Trevas nunca ia ao departamento de
ninguém. Na verdade, ele nunca saía de sua torre ao menos que fosse
extremamente necessário.

- Sua visita faz com que eu me sinta especial. – Draco assinou o último
pergaminho que precisava assim que Voldemort entrou e levantou-se para
mostrar seu respeito.

- Pensei que fosse estar em York a essa altura. – o mestre parou


exatamente no meio de sua sala.

- Hermione estava cansada. Preferi deixar que ela descansasse. Vamos à


tarde.
- Isso não iria atrapalhar o que tem para fazer lá? Ou vai usar o adiamento
de sua chave de portal como justificativa para pedir mais tempo fora do meu
forte?

- Estarei de volta amanhã pela manhã. Como o combinado. Hermione vai


estar comigo em York, tenho absoluta certeza de que irá me ajudar com a
vistoria, o que certamente adiantará meu trabalho.

Voldemort passou os olhos por seu escritório, analisando-o metodicamente.

- Você sabe que estar querendo deixar Brampton Fort na companhia de


Hermione me faz pensar que talvez esteja planejando algo relacionado a um
destino diferente do acordado com relação aos seus filhos, não sabe?

Draco soltou o ar, impaciente.


- Você sabe que sou um homem de acordos. O filho que Hermione está
esperando será seu, sabe disso porque foi o que acordamos e isso não irá
mudar. – precisava ser o mais convicto possível.

- Você me confrontou, Draco!

- Por que não havíamos acordado em nada com relação a sair matando
meus filhos. – lutou para não cruzar os braços. Seria algo que o Lorde tomaria
como uma afronta. - Entenda, sei que quer fazer Hermione sofrer. Concordo,
foi para isso que eu a capturei. Mas você a casou comigo e me ordenou que
fizesse um filho com ela para que pudesse ter um herdeiro. Eu não me importo
que tenha meus filhos, mas me importo que os mate. São meus também, não
somente dela. Encontre outras formas de fazê-la sofrer. Sei que sabe
recompensar aqueles que o servem bem e não creio que matar meus filhos seja
uma boa forma de recompensar todo o trabalho que faço e que ainda farei em
seu nome. Sei que posso ser arrogante e um tanto rebelde, mas todos esses
anos eu provei quem eu verdadeiramente sirvo.

Voldemort ainda pareceu insatisfeito.

- Você sabe como usar as palavras, Draco. Isso é o que me preocupa. – ele
suspirou. – De qualquer forma, é fraco por deixar que algo como filhos tenha
tanta importância assim para você. Não pensei que fosse sentimental a esse
ponto. Sempre se provou ser ambicioso.

Draco deu de ombros e mostrou as mãos.

- E sempre se preocupou com o tamanho do meu ego ambicioso. Pensei


que fosse ficar feliz por finalmente encontrar meu ponto fraco. Tenho sim meu
sentimentalismo. Por isso que quem carrega o posto de imperador não sou eu e
sim você. Você é quem não tem pontos fracos.

- Muito bem colocado. – Voldemort uniu suas mãos. – Estarei de olho em


você e Hermione. E saiba que já o adianto meu “não” caso sequer pense em
justificar um pedido de adiamento para retorno.

Draco apenas assentiu e o observou deixar sua sala. Soltou o ar e relaxou os


músculos assim que o bruxo ofídico saiu. Tornou a sentar-se em sua cadeira e
suspirou. Voldemort nunca se convenceria dele. Isso era um péssimo sinal. Mas
precisava continuar trabalhando nisso.
Voltou para casa já passada a hora do almoço. Chamou por Tryn e perguntou
se Hermione já estava pronta. A elfa respondeu que ela não havia acordado
para que pudesse receber o recado que deveria se aprontar. Draco achou difícil
de acreditar que Hermione ainda estivesse dormindo e quando chegou a seu
quarto, viu que sua mulher estava exatamente como ele havia a deixado.

Não podia mais esperar. Abriu as cortinas, cruzou os braços de frente para a
cama e a chamou usando um tom firme. Ela respondeu imediatamente, mas
ainda preguiçosamente rolando sobre as cobertas. Fez uma careta e gemeu
tampando os olhos com o braço, assim que tentou abri-los.

- Céus. Que horas são? – a voz dela veio rouca e fraca.

- Uma da tarde. – Draco respondeu prontamente.

- O quê!? – o tom dela foi surpreso. Hermione esfregou os olhos, o que não
ajudou muito com a maquiagem já borrada e sentou-se passando as mãos pelo
cabelo, praguejando por seu estado. – Ainda vamos para York?
- Sim. Precisamos sair em meia hora. Esteja pronta. Peça para Tryn ajudá-
la. Estarei esperando do lado de fora. – deu as costas.

- Draco. – ela o chamou e ele parou. – Por que não me acordou?

Ele a encarou. Hermione estava se colocando de pé. Usava apenas suas peças
íntimas e ele não a via daquela forma fazia tempo. Moravam na mesma casa,
mas se evitavam. A barriga dela era muito mais evidente daquela forma.

- Eu tentei.

- Deveria ter insistido. Sabe que eu acordaria.


- Você merecia descansar. – deu à sua esposa o que ela queria ouvir. O
que talvez ela quisesse ouvir. Deu as costas novamente para continuar seu
caminho.

- É interessante ver que se preocupa de alguma forma. – Hermione lhe


chamou a atenção outra vez. – Você me faz ficar tão confusa. – ela estava
extremamente séria quando Draco tornou a encará-la. – Aquela Veela, com
quem esteve ontem pela manhã, no quarto de hotel dela, que lhe fez atrasar-se
para nosso compromisso, ficou com bastante raiva que eu roubei toda a
atenção dela ontem à noite. Ela estava pretendendo me humilhar, Draco. Se eu
não tivesse percebido antes, ela teria sido muito bem sucedida.

Draco sentiu seu sangue esquentar. Maldita mulher aquela. Veelas nunca
haviam sido confiáveis, ele sabia disso. Não deveria correr riscos como aquele.
Não era mais um homem solteiro.

- Disse a você ontem que me atrasei por uma escolha estúpida.

- É bom saber que pelo menos tem essa consciên...


- Não, Hermione! Não me condene! Nem ouse! Não finja que sou idiota o
suficiente para não ter visto os olhares entre você e Theodoro ontem. Nós não
discutimos esse tipo de coisa e é melhor pararmos por aqui.

Ela puxou o ar como se estivesse engolindo mil palavras, apertou os olhos e


soltou o ar.

- Estarei pronta em meia hora. – disse e deu as costas em direção ao


lavatório.

Hermione estava fazendo aquilo novamente. Evitando a discussão mesmo que


tivesse um milhão de palavras para proferir em sua defesa. Ele estava cansado
daquilo.

- Hermione! – a chamou antes que ela sumisse pelo arco do lavatório. Ela
parou e o encarou. – Eu realmente sinto muito. Aquela Veela foi uma decisão
estúpida. – Draco nunca se desculpava e sempre que se aproximava daquele
campo sentia-se humilhado, mas não dessa vez.
Ela conseguiu captar a exclusividade daquele momento e ficou em silêncio por
alguns segundos, antes de desviar o olhar. Soltou o ar, fechou os olhos e
passou as mãos pelo cabelo.

- É. – Hermione concordou. - Theodoro também. – proferiu, deu as costas


e sumiu pelo arco do lavatório.

**

Draco a colocou para revistar todo o perímetro da cidade bruxa de York durante
a tarde, enquanto ele revisava os turnos de seus homens e a segurança da
área que já haviam retomado. Ele achou que sua mulher fosse preferir estar ao
ar livre, mesmo que fosse mais cansativo. Porém, o olhar que recebera assim
que a ordenara para sua tarefa, mostrou que havia sido um erro pensar que
Hermione gostaria de passear pela cidade onde morrera e foram presos tantos
de seus antigos companheiros.

Ela não queria ter estado ali. Não queria ter sido obrigada a ir. Draco não
entendia. Quando ela voltou para o acampamento, a hospedaria que haviam
tomado no início das ações em York, ele pôde ver que Hermione estava
completamente infeliz. Não por nenhuma postura ou expressão, mas pelo olhar
frio e pelo silêncio que sempre a acompanhava. Ele não entendia. Por que ela
preferia estar na prisão que era Brampton Fort?

Observou-a com atenção durante o jantar. Estavam em um dos quartos do


último andar. Era o maior e o principal, mas mesmo assim ainda não dava o
dobro do tamanho da suíte que tinham em casa. Era desconfortável saber que
eles estavam confinados a um espaço tão pequeno. Não era como se Draco
pudesse ir para seu escritório e Hermione para a casa de poções, como faziam
em casa para se evitarem. Ali, os dois tinham uma lareira com uma pequena
sala, uma cama, uma varanda e não muito distante, um banheiro.

- Espero que não esteja cansada. – ele decidiu dizer, enquanto ela
mastigava uma de suas garfadas.

Hermione ergueu os olhos e o encarou. Pareceu analisar o que ele havia dito
com neutralidade, embora seus olhos fossem aquela constante frieza.

- Não fazemos mais sexo, Draco. Já estou grávida. – rebateu ela.


Não era por causa daquilo que haviam parado de fazer sexo.

- Não me referi a sexo. – ele tentou manter o foco. – Acredita que eu a


trouxe porque precisava que alguém tomasse conta de um dos deveres que eu
tinha para fazer hoje aqui?

- É o que tem parecido até agora.

- Bem, não foi só para isso.

- Se você contasse de uma vez, nós pularíamos todo esse mistério e, em


consequência, essa conversa completamente desnecessária. – Hermione foi
seca.
Ele travou a mandíbula por um segundo, depreciando completamente a atitude
ignorante dela. Draco sabia que sua esposa podia ser amável e doce. Respirou
fundo e tentou se lembrar de que não poderia esperar dela nenhuma resposta
calorosa quando estivessem trocando palavras. Enfiou a mão no bolso, tirou
uma moeda e a colocou ao lado do prato dela.

Hermione parou com o garfo a meio caminho da boca. Encarou a moeda ao seu
lado. Ele já sabia que ela tinha conhecimento sobre que moeda era aquela. Era
uma das moedas da Liga dos Alquimistas.

- Por que está me mostrando isso? – Hermione perguntou abaixando o


talher.

- Sei que teve interesse nas moedas da Liga dos Alquimistas, há um


tempo. Minha mãe me contou.

- Sim. Curiosidade, nada mais.


- Você as procurou por um período.

- Sim, mas não as encontrei. Acabei tento coisas mais importantes para me
preocupar.

- Eu as escondi.

Hermione parou por um segundo, como se um clique tivesse ativado seu


cérebro.

- Você as escondeu? – foi a primeira indagação dela. – Escondeu porque


sabia que eu estava as procurando?

- Por que tinha interesse nelas, Hermione?


- Curiosidade, já disse. Por que as escondeu sabendo que eu estava atrás
delas? O que há de errado com elas?

- Me diga o motivo de uma vez, Hermione. Sei que ele existe.

Ela soltou o ar, cansada.

- Harry tem uma delas. Dumbledore deu uma a ele. – Draco sabia que sua
mulher evitava o máximo de discussão possível entre eles, óbvio que ela
cederia.

- Dumbledore?
- Dumbledore.

- Potter te disse isso?

- Não. Narcisa disse que Dumbledore tinha mais de uma. Não sou idiota.
Apenas liguei os pontos.

- Os pontos mais óbvios. – acrescentou ele.

- Sim.

Draco poderia rir da confiança que ela teve no óbvio.


- Bem, não deveria confiar tão bem assim em obviedades. - ele se levantou
e Hermione apenas o observou com aquele grande ponto de interrogação em
sua expressão. – Levante-se. Temos que ir.

- Estamos jantando. – ela soltou confusa.

- Sei disso, mas... – ele tirou o relógio de seu bolso para analisá-lo. –
Vamos nos atrasar. Precisamos ir.

- Precisamos ir para onde?

- Canadá.

Ela abriu os olhos.


- Canad... O quê? – Hermione largou os talheres. – Qual é o seu problema?
Como espera chegar lá? Estou grávida, não posso aparatar e não podemos
deixar York! Temos que estar de volta em Brampton Fort amanhã de manhã.

- E estaremos.

- Eu disse que não posso aparatar, Draco.

- E não iremos. Vamos por chave de portal.

Ela puxou o ar e calou-se. Fechou os olhos, balançou a cabeça e se levantou.


- Eu não tenho paciência para isso. Me explique o que tem que explicar de
uma vez, pois estou me cansando de parecer a idiota confusa.

Draco suspirou. Ele não tinha a intenção de colocá-la naquele estado.

- A moeda abrirá um portal para podemos usá-la como chave daqui a


alguns minutos. Ninguém saberá que deixamos York, para todos aqui, apenas
ficamos jantando no quarto.

- Quanto tempo isso vai durar? Seus líderes te chamam toda hora e
nenhum jantar dura mais de...

- Hermione, eu tenho feito isso por muito tempo. – foi tudo que Draco se
prestou a dizer. – Pegue seu casaco. Um longo e grosso, de preferência. Não
quero que notem sua barriga e ainda está frio por lá.
Ela não se moveu. Ele podia ver pelo olhar dela que não havia nem mesmo um
pingo de curiosidade. Hermione não queria ir. Viu-a hesitar e querer protestar
em defesa de sua vontade, duas ou três vezes, quando sua mulher abriu e
fechou a boca, mas acabou por permanecer em silêncio. Fechou os olhos,
soltou o ar, ajeitou os cabelos e deu as costas para buscar o casaco pendurado
atrás da cadeira.

- Vamos demorar muito? – Hermione vestiu o casaco, atando o cinto em


sua cintura. Ele analisou o novo formato que a peça dava a ela e ficou satisfeito
pela curvatura em sua cintura. Um perfeito disfarce para a ainda pouca barriga
que tinha.

- Não.

- Ótimo. Estou exausta. – ela cruzou os braços e esperou.

Draco a observou. Ela realmente aparentava estar cansada. Talvez tudo que
precisasse era de um dia inteiro só para si. Quem sabe uma pausa daquela
agitação pudesse suprir toda a exaustão acumulada a qual Hermione era
obrigada a ignorar. Mas não era isso que realmente o incomodava.
- Por que está fazendo isso, Hermione? – acabou por finalmente perguntar.

- Isso o que? – ela perguntou, mas não parecia curiosa.

- Você não questiona mais nada. Finge não se importar com nada.

- Eu não finjo, Draco. Realmente não me importo. A única coisa que


realmente me importa agora é o fato de eu estar esperando dois filhos.

- Sei que se importa, sim. Se há algo que aprendi sobre você todo esse
tempo que estivemos juntos é que tem a tendência de se importar demais, até
mesmo com coisas desnecessárias.
- Talvez eu finalmente tenha percebido que são desnecessárias. – ela
retrucou, mas Draco ainda não acreditou nas palavras dela. Havia a visto
contendo seu choro quando estava sozinha. Claramente sua mulher se
importava. Hermione suspirou e focou-se em algo que não fosse ele. – Eu me
lembro de ter dito a você que não conseguiria ser forte por muito tempo. Estou
apenas tentando me livrar daquilo que me faz ter que ser forte.

- Fingir que não se importa não vai te tornar insensível, Hermione, vai
apenas te ensinar a um fingimento cada vez melhor. – ele sabia disso melhor
do que ninguém.

- Ao menos serei uma autentica Malfoy. – ela o encarou - Não é isso que
você e Narcisa também fazem? Você me parece insensível o suficiente, se eu
chegar a ser metade do que é, ficarei satisfeita. – e calou-se.

Draco continuou a encará-la, esperando que ela fosse retirar aquelas palavras,
mas não retirou. Aquela era Hermione se entregando por completo ao mundo
ao qual era obrigada a viver agora. Todo esse tempo ele a vira tentar se
encaixar de sua maneira única, sem perder a Hermione firme e determinada
sempre a mostrar um ponto de vista diferente, enquanto tentava se encontrar
naquele novo mundo. Mas ali sua esposa tinha acabado de dizer que já havia se
entregado e que percebera ser uma perda de tempo toda a luta que havia
levantado entre quem era e quem deveria ser.
Ele decidiu-se por não tocar mais naquela área. Hermione era quem se
responsabilizaria pelas próprias decisões, embora ele lamentasse que ela
estivesse se entregando. Draco gostava da Hermione questionadora, de forte
opinião, sempre pronta para confrontá-lo. Ali ela estava se tornando sua mãe.
A dedicada esposa Malfoy que se calava quando o marido ordenava, que
organizava a mesa com tudo ao alcance dele, que cuidava de suas roupas e
ajudava a manter os laços de interesses familiares comparecendo sempre a
eventos e festividades na companhia das esposas dos amigos de seu marido.
Ele não se sentia nem minimamente interessado por aquela vida.

Pegou a moeda que havia deixado sobre a mesa, analisou o desenho do brasão
num dos lados do artefato. O portal estava se abrindo, ele notava pelo
desaparecimento do relevo. Encarou Hermione e estendeu a mão para ela.
Conseguia vê-la não querer se importar, mas o ar do receio a cercava e isso ela
não era capaz de esconder. Mas apesar disso, sua mulher estendeu a mão e
uniu a sua na dele. Novamente Draco sentiu o toque físico dela, pele com pele
e, ainda assim, a distância de suas almas era gritante.

Concentrou-se na moeda, girando-a entre os dedos e não se passou muitos


segundos até que ele a sentisse lisa. Levantou os olhos para Hermione mais
uma vez. Ela o encarava. Sorriu discretamente e no segundo que pediu para
que ela segurasse a respiração, eles viajaram quebrando a barreira do espaço e
tempo, pelo portal que chamava sua moeda.

Quando o chão pressionou contra seus pés novamente, seu primeiro instinto foi
puxar o ar e encontrar seu equilíbrio, o que não foi difícil, visto o costume que
tinha em usar chaves de portal. Hermione ainda cambaleou enquanto buscava
por ar e somente quando ela conseguiu se estabilizar e perceber que havia
chegado ao destino foi que soltou a mão dele, como se estivesse esperando por
esse momento desde quando ataram suas mãos.

Era pôr-do-sol, mas eles estavam debaixo de um aglomerado de pinheiros, o


que adiantava a noite. O vento soprava gelado e ele viu Hermione se encolher e
abraçar o próprio corpo. A primavera já havia começado ali, mas talvez só
fizesse calor no verão. Olhou ao redor para tentar encontrar uma pista e não foi
muito difícil de achá-la quando, por entre os caules, viu uma edificação simples
de madeira do outro lado do que parecia ser uma estrada. Chamou por
Hermione e eles começaram a andar.

Ela parou parecendo um tanto assustada quando um carro passou em alta


velocidade. Hermione não devia ver carros fazia um bom tempo, visto que em
Brampton Fort eles não eram permitidos. Também deveria estar
desacostumada com o mundo trouxa.

- Que diabos nós estamos fazendo aqui? – a pergunta pareceu soar mais
para ela do que para ele quando cruzaram a estrada.

- Me impressiona que ainda não tenha descoberto. – Draco disse enquanto


avançava para a pequena edificação, esta que começava a se parecer bastante
com um café de estrada.
- Acaso eu deveria estar me esforçando para descobrir? – Hermione
questionou, desacelerando sobre alguns cascalhos que entraram em conflito
com seu salto.

- Você é quem sempre pensa na velocidade da luz, Hermione. – ele


esperou até que sua esposa o alcançasse e estendeu a moeda a ela, tornando a
avançar. Hermione a pegou sempre o acompanhando. – Talvez só precise se
esforçar um pouco mais. - Ela girou a moeda entre os dedos e franziu o cenho,
como se pela primeira vez estivesse tentando realmente desvendar o enigma. –
Vamos, Hermione. Não temos muito tempo. – Draco a apressou quando ela
começou a desacelerar novamente, mas dessa vez porque parecia inerte em
seus pensamentos.

Ela o ignorou e continuou a avançar mais lentamente. Draco acompanhou o


passo dela e juntos passaram para debaixo da marquise da entrada do café. Ele
empurrou a porta para ela, mas Hermione parou com os olhos na moeda em
sua mão.

- Espere. – ela travou completamente. Sussurrou algumas coisas


desconexas para si mesma. Soltou o ar e o puxou. Ergueu os olhos para Draco
e ele enxergou desespero naquela íris âmbar. – Não. – sussurrou e seus olhos
se lançaram no interior do café, onde havia apenas um homem sentado num
dos bancos do balcão vazio, este que ergueu o olhar para colocá-lo diretamente
sobre Hermione. – Harry? – o nome saiu por baixo de uma respiração fraca e
assustada.
Harry Potter desceu do banco tão em transe, que a única coisa que ele parecia
ser capaz de enxergar ali era ela.

- Hermione? – ele não parecia inteiramente convencido.

Draco avaliou rapidamente o café vazio e o único atendente detrás do balcão,


ocupado com alguma cruzadinha, antes de se concentrar em Hermione que
estava tendo uma reação que ele não havia esperado. Ficou definitivamente
confuso quando sua esposa simplesmente deu as costas e começou a fazer o
caminho de volta, com pressa.

- Hermione! – Draco foi atrás dela.

- Me leve de volta agora, Draco! – o tom dela foi severo e seus passos
continuavam a ser firmes.
- O quê?! – aquilo era a última coisa que ele pensava que pudesse escutar
dela naquela situação.

- Hermione! – a voz de Harry Potter cortou o vento chamando-a. Ela parou


de costas quase que por instinto e ofegou, como se o oxigênio que a cercava
não fosse suficiente para seu pulmão. Draco parou logo após ela, tentando
entender o porquê Hermione estava tendo aquela reação. Ela pareceu encher o
peito uma ou duas vezes com vontade, e então, virou-se para encarar Potter
que apertava o passo para alcançá-la. O homem passou por Draco como se ele
fosse um fantasma. Como se sequer notasse que Draco estava ali. – O que há
de errado? – Harry perguntou desacelerando quando percebeu que ela recuava
sutilmente. – Hermione, qual o problema?

- Acredite, Harry, você não quer me ver. – a voz dela estava fraca e
aquelas palavras foram o suficiente para que Draco entendesse a reação de sua
mulher. Hermione não queria que Potter conhecesse em quem ela havia se
transformado. Não queria que ele soubesse que ela já havia pensado em
entregá-lo a Voldemort pelo egoísmo de querer seus filhos. Então Draco
finalmente enxergou que talvez tivesse cometido um terrível erro ao trazê-la
até ali.

- Sim, eu quero. – Potter foi cuidadoso. – Sim, eu quero, Hermione. –


Draco notou os músculos dela completamente tensos, mas o olhar focado de
sua esposa no homem era de sofrimento. – Nunca quis nada assim tão forte em
minha vida. – Harry estendeu uma mão e foi se aproximando. Ela parou de
recuar. Potter conseguiu tocá-la na cintura com muito cuidado. Draco receou
que ele notasse a diferença das formas dela, mas ele sequer pareceu prestar
atenção. A respiração de Hermione estava rápida, como se estivesse travando
uma batalha consigo mesma em sua cabeça. Potter tocou seu rosto e ela não
recuou. – Senti sua falta, Hermione. – ele aproximou seu corpo do dela. –
Ainda sinto. – colou seu corpo no dela. – Você não tem ideia do quão difícil tem
sido a vida sem você. – aquelas palavras a fizeram soltar um ar trêmulo, e
então, seus olhos encheram-se de água tão rapidamente, que Draco esperou
pelo momento que sua mulher fosse soluçar.

- Harry... – ela sussurrou displicentemente, como se tivesse feito aquilo


milhões de vezes antes, enquanto o encarava nos olhos.

E provavelmente aquilo tivesse sido suficiente para Potter, pois ele enterrou a
mão pela nuca de Hermione até alcançar seus cabelos, e então a beijou. Os
músculos dela abandonaram toda a tensão de antes em segundos, e sem
conter, ela ergueu os braços para tocar os cabelos negros dele, fazendo com
que Draco enxergasse o anel de sua família gritar no anelar dela.

Imediatamente, Draco sentiu o gosto do deserto em sua boca. Não havia nem
mesmo saliva para que ele pudesse engolir. Foi quando finalmente entendeu o
que Theodoro uma vez havia lhe dito. Que por mais que Hermione fosse dele,
jamais realmente a teria.
Alguém já a tinha, e estava longe de ser ele.

33. Capítulo 33

Draco Malfoy

Esperava uma resposta de Harry Potter após ter feito sua delicada proposta
sentados naquela mesa desconfortável e pequena naquele café de beira de
estrada decadente e vazio. O homem, por sua vez, mantinha-se em silêncio o
encarando com aquela tensão no olhar cheia de dúvidas. Potter havia desistido
de dar total atenção a Hermione quando ela começara a ignorá-lo
completamente.
- Mais café? – perguntou o único atendente aproximando-se da mesa em
que estavam carregando um recipiente com café.

- Não. – Draco respondeu sem tirar os olhos de Potter a sua frente.

- Não. – Potter respondeu em seguida fazendo o mesmo.

O silêncio.

- Moça? – o homem queria uma resposta de Hermione.

Ela engoliu a saliva como se fosse uma navalha descendo por sua garganta.
Não queria fazer sua voz soar, Draco sabia porque mesmo não a olhando e
mesmo não a tocando, conseguia sentir a tensão dos músculos dela ao seu
lado.

- Não. – respondeu com uma voz arranhada.

Ela havia empurrado Potter não muito tempo depois que havia sido beijada
exclamando que aquilo era errado, que não podia fazer aquilo e que sentia
muito. Potter entrou rapidamente num estado de sofrimento patético exigindo
por justificativas que Hermione não deu. Foi quando Draco se sentiu idiota por
não estar reagindo para ter o controle daquela situação.

Sabia que tentar gritar por atenção seria inútil e sabia que a única pessoa
capaz de colocar Potter para escutá-lo, seria Hermione. Portanto precisou
pronunciar o nome dela apenas uma vez para que ela, mesmo sem trocar
qualquer olhar com ele, entendesse que precisava controlar a situação para ele.
Ela já parecia estar a beira de um colapso ao ser bombardeada pelas perguntas
de Potter, mas mesmo assim, respirou fundo fechando os olhos e depois
encarou o homem de uma maneira que o fez calar a boca logo após alguns
segundos. Séria e calada.

Hermione apenas disse que deveriam entrar e serem rápidos. Ali Draco viu que
ela ainda não entendia o propósito de ter sido arrastada até ali, mas mesmo
assim escolhia atendê-lo. Ele seguiu de volta para o café não querendo encarar
a troca de olhares de Potter e Hermione. Ela logo o seguiu e Potter foi obrigado
a fazer o mesmo tentando novamente soltar duas dúvidas para Hermione, que
se manteve calada, fazendo-o se calar muito antes de entrarem novamente no
recinto.

Foi aí então que Potter começou a analisá-la atentamente com um olhar


julgador e silencioso. O que preocupou Draco. Mas Hermione não demorou a
notar que estava sendo minuciosamente observada. O que a fizera escorregar o
anel de casamento para fora de seu anelar muito imperceptivelmente enquanto
puxava a saia para se sentar na cadeira que Draco havia afastado para ela.
Talvez Potter não tivesse notado o ato porque ficara ocupado demais julgando o
fato de Draco ter afastado a cadeira para ela como se essa fosse mais uma das
milhares de vezes que estivesse fazendo isso e dela ter sentado numa postura
digna dos aplausos de Narcisa Malfoy.

Hermione escondeu o anel no bolso mais baixo de seu sobretudo antes de


demonstrar estar desconfortável com o fato de estar sendo julgada pelo olhar
de Harry Potter. Ela parecia não saber como era não sentar da forma como
estava sentada e de alguma forma aquilo a colocou num estado de batalha
interna poderia comprometer a pouca concentração que procurava manter.

Foi quando Draco apressou-se para chamar a atenção para si iniciando logo a
exposição de sua proposta. Não demorou para ter a atenção de Potter como
esperava. Agora que havia acabado tudo que precisava colocar sobre a mesa,
esperava por uma reação do Homem, mas ele mantinha-se calado.

- Não temos a noite toda, Potter. – insistiu.


Harry Potter pulou os olhos para Hermione que mantinha os seus sobre o café
em sua xícara. Ele apertou os olhos para ela, como se estivesse começando a
ter raiva da reação que ela estava tendo e depois voltou a fitar Draco.

- Hermione vai entregar a segurança da Ordem, vocês vão atacar e quer


que eu fuja? – revisou ele.

- Sim. – foi tudo que Draco respondeu.

- E o que aconteceria com o restante da Ordem?

- Cada um por si, Potter. Eu não me importo com o restante deles. Nenhum
deles pode matar Voldemort. Você é quem carrega a profecia.
- Quer que eu abandone a Ordem e me salve sozinho?

- Preciso apenas que se salve, pode levar quem quiser com você contanto
que não deixe ninguém te capturar nem se arrisque estupidamente. A Ordem
precisa cair ou ao menos aparentar cair. Só assim posso trabalhar melhor em
enfraquecer o sistema de Voldemort com o fim da guerra e a queda da Ordem
decretaria o fim da guerra.

- Está dizendo que está do nosso lado agora? – ele franziu o cenho.

- Não estou do seu lado, Potter. Estou do meu lado. Até onde eu
saiba eu quem estou usando você.

Ele pulou os olhos novamente dele para Hermione um tanto quanto indignado
com a pouca reação dela.
- Em que mundo pesou que eu iria concordar com isso?

- No mundo em que você entende que eu desejo derrubar Lorde Voldemort


tanto quanto você.

- Como eu poderia acreditar nisso? Você se uniu a Voldemort quando ele


nem mesmo havia retornado! Você comanda o exército dele! Você destruiu e
matou muitos daqueles que tentaram derrubá-lo!

- Tenho meus próprios motivos para querer a queda de Voldemort.

- É assim que espera me convencer?


- Eu não espero convencer, ninguém. Você não tem muita escolha.
Hermione vai entregar a segurança da Ordem e nós vamos atacar. Você irá ter
duas escolhas: fugir e continuar com sua vida ou ser capturado e morto por
Voldemort assim que chegar a fortaleza dele.

Ele engoliu a saliva como se a ideia de ser morto por Voldemort fosse um
veneno amargo em sua garganta.

- Hermione jamais entregaria a segurança da Ordem.

- Hermione já decodificou a primeira etapa para o exército. – mentiu.

Potter colou seus olhos em Hermione.

- Por que? Eu sei que você é forte! Por que não está lutando contra ele?
Hermione puxou o ar calmamente embora o modo como usava o dedo para
esfregar o lugar vazio em que o anel da família Malfoy estivera antes mostrasse
o quanto aquilo estava sendo difícil para ela.

- Draco não é um inimigo, Harry. O modo como ele tem lutado contra
Voldemort é mais eficiente do que todas as batalhas que travamos com a
Ordem. – ela disse, mas não encarou Harry.

Potter não se mostrou convencido.

- Ele a obrigou a dizer isso. – disse confiante.

Ela puxou o ar mais uma vez e ergueu finalmente os olhos para ele.
- Não. – sua voz saiu pacífica e suave. - Ele não me obrigou a dizer nada,
acredite.

O silêncio que se seguiu exibiu um homem extremamente confuso a sua frente.

- Mas... – ele definitivamente não a entendia. – Mas e o véu? E o poder que


temos agora? E todos os testes que desenvolvemos com seu sangue?

- A magia do véu é incontrolável. – cortou Draco. – Toda vez que a usa


coloca em risco tanto o seu pessoal quanto o...

- Espere. – Hermione o interrompeu encarando Potter de um modo curioso.


– Fizeram testes com meu sangue? Acaso tiveram algum resultado? – ela
parecia estar se lembrando de algo importante que talvez se esquecera há um
bom tempo. Potter lançou um rápido olhar a ele, como se não quisesse
responder aquela pergunta com ele por perto. – Tudo bem, Harry. Draco quem
me ajudou a tirar Luna de Brampton Fort.
Ele respirou fundo.

- Neville trabalhou com Gina em cima das amostras que mandou o máximo
que pode. Eles conseguiram entender como funciona a ligação da marca negra
no sangue com Voldemort. Conseguiram enfraquecer um pouco dessa ponte.
Alguns dos Comensais que capturamos conseguiram aguentar um bom tempo
vivos por causa da poção que Neville desenvolveu para enfraquecer a ponte da
ligação, mas nenhum deles estava disposto a lutar contra a morte. De qualquer
forma, Neville e Gina ainda estão trabalhando nisso com os sangues dos
Comensais que capturamos porque aparentemente seu sangue é diferente,
segundo Neville.

- Meu sangue é diferente? – Hermione não entendeu.

- Espere. Conseguiram desfazer a ligação da Marca Negra? – Draco sempre


tivera interesse em trabalhar em cima daquilo, mas precisaria da Comissão e
era arriscado demais para fazer dentro da Catedral. Levantaria
questionamentos demais e ele não poderia colocar a confiança de Voldemort
em risco daquela forma.
- Aparentemente seu sangue absorve o veneno da Marca Negra após
algumas semanas e não deixa nenhum traço para poder ser estudado. – Potter
o ignorou.

O que ele estava perdendo ali entre Potter e Hermione?

- Sim. Isso é normal. Quando eu estava estudando isso tinha que tirar meu
próprio sangue vezes seguidas para repor o estoque.

- Não. Neville disse que isso não é normal. Isso só acontece com o seu
sangue. O sangue de qualquer outro comensal que capturamos não absorve o
veneno da Marca Negra como o seu. Enquanto formos capaz de conservá-lo o
veneno estará lá. Diferente do seu. – explicou ele. - Gina sugeriu que talvez
você seja capaz de desfazer a ponte de ligação sozinha, por si mesma,
diferente dos outros comensais.

Hermione franziu o cenho.


- Isso não é possível. – declarou ela. – Por que o meu sangue seria
diferente?

- Foi só uma sugestão de Gina...

- Hermione. – Draco precisou retomar a atenção exclusiva que Potter havia


criado entre eles. – Espere. – precisava acompanhar aquilo. – encarou o
homem a sua frente e tornou a encarar Hermione novamente. Aquilo poderia
mudar muita coisa. Colocou seus olhos sobre Potter mais uma vez. – Quão bem
essa poção funciona?

O homem não demonstrou nenhum interesse em responder aquela pergunta.

- Ainda estamos trabalhando com isso, não é perfeita mas consegue


definitivamente enfraquecer a ligação com Voldemort. – respondeu com uma
cara nada contente. – Se invadirem a Ordem todo nosso trabalho será perdido.
Draco lançou um rápido olhar a Hermione, como se quisesse que ela captasse
rapidamente o que aquilo significava.

- Precisa sumir com todos esses estudos. Qualquer resquício deixado irá
me obrigar a reportar a Voldemort quando minha esquipe fizer o limpa na sede
da Ordem e se ele souber que vocês sequer pensaram na ideia de trabalhar em
cima da Marca Negra, ele se certificará de mudar a magia. Isso sim faria o
trabalho de vocês ser perdido. – Draco disse.

Potter ficou num silencio incerto pulando seus olhos dele para Hermione
enquanto pensava. Draco conseguia enxergar o esforço que Hermione fazia
para não se mexer desconfortavelmente em sua cadeira.

- Eu confio minha vida a você, Hermione. – Potter quebrou o silencio


encarando Hermione. – Mas eu preciso saber qual é o plano de vocês antes de
me submeter a essa loucura e reduzir a Ordem ao que éramos quando
começamos.

- Reduzir a Ordem ao que eram quando começaram? – Draco não


entendeu. – Acredito ter feito entender que preciso apenas de você, Potter. Até
onde sei a Ordem tinha o triplo de gente a mais que o círculo de Comensais no
inicio da guerra. Não está pretendendo salvar toda essa gente quando
atacarmos a Ordem, está? Não vai poder sair contando para todos os membros
do seu grupinho de rebeldes a conversa que tivemos aqui nem que pretendo
invadir a caverna de vocês dentro de duas semanas para estarem preparados.
A Ordem precisa cair ou como Hermione disse, ao menos precisa parecer cair.
Eu realmente não me importo quantas pessoas vai levar com você quando
fugir, a única coisa que preciso é que suma! Fique em um lugar intocável pelo
tempo que for até que eu precise de você. O trabalho que estou fazendo dentro
do sistema de Voldemort é um sigiloso e quanto menos souber melhor.

- Não é assim que as coisas funcionam, Malfoy! Está me usando!

- Draco tem razão, Harry. – Hermione se pronunciou. – Quanto menos


souber, melhor. Apenas entenda que precisamos dar um fim a guerra,
precisamos deixar as coisas estáveis dentro do círculo de Voldemort. Quanto
mais calmo tudo ficar, mais ele irá suavizar seu controle e mais espaço teremos
para trabalhar sem que ninguém desconfie. – ela queria acabar logo com
aquilo, Draco conseguia entender, mas acabara de entregar informação demais
e ele não se sentia no direito de se sentir irritado com aquilo. – Precisa confiar
em mim, Harry. A Ordem não tem capacidade de superar as forças de
Voldemort. Sabe disso. Discutíamos isso antes mesmo de eu ser capturada.

Potter se mostrava claramente confuso, mas ainda parecia pronto para resistir
ao beco ao qual estava sendo encurralado.

- Quero confiar em você, Hermione, mas... – ele não parecia certo se


deveria ou não terminar aquela sentença. - ...você parece tão diferente que eu
não sei se deveria. – aquelas palavras fizeram Hermione puxar o ar assim que
foram jogadas contra ela. Seus olhos brilharam e se encheram d’água
rapidamente.

- Tenho sido obrigada a viver uma vida muito diferente, Harry. – ela fez
sua voz soar calma e longe da dor que seus olhos mostravam. – Você não
entenderia.

- Me faça entender!

- Não temos tempo para isso e existem coisas que você não gostaria de
saber, acredite. – estava acostumado a ver Hermione exibir toda a sua
vulnerabilidade e mesmo que estivesse aprendendo a controlar aquele seu lado,
ainda era bastante frequente para Draco, mas vê-la daquela forma ali o
incomodava porque esperava uma reação muito diferente.

O homem a sua frente pareceu hesitante, mas ele parecia ceder ao confronto
que havia se visto imergir. Aquilo era mais do que o suficiente para Draco.
- E o véu? – perguntou ele e Draco soube que naquele momento que Potter
já comprara a ideia.

- Deixe o véu. – respondeu e Potter mostrou sua aversão contra aquilo


imediatamente. – Se os estudos que Hermione tem feito em cima das magias
que tem usado estiverem certo, Voldemort será incapaz de tirar vantagem do
poder do véu ou seja lá o for. Ela tem conduzido o grupo de pessoas que
trabalhariam em cima dele e ela precisa se reportar a mim. Posso distorcer as
informações para Voldemort.

O silencio se instalou mais uma vez enquanto Potter ficava em seu mundo de
incertezas.

- Eu confio em você e não nele. – decidiu dizer a Hermione. – Sempre


concordamos em fazer loucuras com a Ordem somente quando eu e você
discutíamos e rediscutíamos sozinhos a questão. Lembro-me que você era
quem sempre me segurava antes de tomar qualquer decisão que fosse nos
colocar em risco. – ele a encarava e Hermione lutava para não desviar o olhar
dele. – Confio em você e no seu julgamento. Eu te amo, sabe disso. Apenas me
diga se ele fez o mesmo com você. – recebeu um rápido olhar de desprezo. –
Acaso ele a encurralou dessa forma? Acaso ele fez com que não tivesse
escolhas a não ser concordar com essa insanidade?

Ela suspirou e negou com a cabeça.


- Não. – usou sua voz baixa para responder. – Eu sei o que ele está
fazendo.

O homem o encarou ainda com aquela raiva contida.

- Pode parecer que estou te usando, Potter, mas na verdade isso é uma
troca mutua de interesses. – Draco sabia usar seu profissionalismo cruamente.
– Eu uso você e você me usa. Confio em você para fazer o que estou pedindo
que faça e você confia em mim para fazer o que disse que pretendo fazer.
Básico.

- Na sua teoria. – quase rosnou Potter e se levantou. – Eu tenho um lugar


seguro para ficar. Podem atacar a sede da Ordem, podem fazer parecer que
caímos e que a guerra chegou ao fim, mas nós ainda vamos estar trabalhando
seja de onde for. – ele encheu o peito como se aquilo lhe doesse para ser dito.
– Não vou contar nada a ninguém, mas prepararei a Ordem discretamente para
o ataque de vocês. Espero que não seja tão cruel como normalmente costuma
ser. – seus olhos foram para Hermione. – E saiba que estou fazendo isso
porque confio em você.
Ele continuou a encará-la como se esperasse que ela dissesse algo, mas ela
permaneceu estática lutando contra o nó na garganta que ele percebia que sua
mulher tentava engolir. O homem pareceu frustrado por não ter recebido
nenhuma resposta. Soltou o ar, balançou a cabeça, colocou a moeda em seu
bolso sobre a mesa e Draco fez a troca pegando a dele e colocando a sua no
lugar. Potter recolheu a moeda e deu as costas.

- Harry. – ela soltou antes que ele fosse embora. Ele tornou a encará-la. –
Sinto sua falta. Realmente sinto.

Ele lançou um olhar tão triste e frustrado a ela que Draco teve certeza que
devastaria Hermione ainda mais.

- Não parece. – e como se não bastasse, devolveu aquela, e foi embora.

O silêncio caiu sobre eles e Draco se viu imediatamente sem saber como reagir
agora que estava sozinho com Hermione novamente. Havia sido um erro leva-
la até ali, mesmo que ela tivesse feito um importante papel na decisão de
Potter em colaborar.
- Nós terminamos por aqui. – foi tudo o que disse e se levantou.

Ela o seguiu quase que no automático. Draco apagou a memória do homem


que os serviu e quando deixaram o recinto já era noite do lado de fora. Puxou a
moeda que trocara com Potter, parou no ultimo degrau para o estacionamento
vazio e contou os segundos que tinha. Procurou por Hermione e recuou
rapidamente para poder segurá-la antes que fosse embora sem ela. Seus olhos
dourados estavam perdidos, mas se encontraram com o dele e antes que ela
pudesse dizer qualquer coisa ou ter qualquer reação, foram tragados pelo
portal aberto pela moeda que segurava.

Foi apenas um segundo para estarem de volta ao quarto de onde haviam saído
na sede do acampamento de York. Hermione mostrou sua reação logo quando
se ambientou, puxando de volta o braço que Draco ainda segurava. Desprezo.
Foi tudo que ele sentiu da parte dela.

Observou-a quando ela deu as costas e quase vagou perdida até o pedestal ao
lado da porta, onde tirou o casaco e pendurou. Ela respirava fundo e ele
conseguia ver claramente os dedos trêmulos em sua mão. Draco esperava pelo
momento que ela fosse se virar e externar toda sua raiva nele, mas não
conseguia prever absolutamente nada, porque se colocasse em jogo a forma
como ela vinha e comportando nos últimos dias, teria que aguentar o silencio
dela e o silencio dela era pior do que mil gritos enfurecidos. Ao menos era o
que ele pensava, até vê-la apoiar uma mão na parede e cobrir o rosto com a
outra para desmoronar lentamente em um poço de soluços.
Draco havia a visto realmente chorar uma vez. Fora uma das cenas mais
dolorosas que ele presenciara, não só por causa da dor dela, mas porque
perdera uma filha. Ver Hermione naquele estado e naquele momento, expondo
aquela fraqueza e aquela derrota, mostrava que ele definitivamente cometera
um dos piores erros em sua relação com Hermione ao levá-la até Potter.

- Eu te odeio. – a voz dela saiu rouca e cheia de rancor por entre os


soluços de seu corpo trêmulo. – Eu te odeio. – ela repetiu assim que conseguiu
ar novamente. – Eu te odeio. – cada vez que ela repetia parecia ser mais
rancor e mais ódio escorrendo em seu tom. – Eu te odeio. Eu te odeio. Eu te
odeio. – e ela soluçou mais e chorou mais. – Por que? Por que me levou? Eu sei
que poderia convencer Harry sem mim! Por que infernos me levou? – Draco
não tinha a menor ideia de como lidar com aquilo. – POR QUE? – ela finalmente
externou a raiva quando ele não respondeu.

- Eu não tinha ideia de que essa seria sua reação. – sentia-se


completamente desarmado ao vê-la naquele estado.

- Que outra maldita reação acha que eu teria? – ela vociferou apertando o
punho e quando ergueu os olhos para ele, Draco pode visualizar por completo
todo o ódio que ela guardava por ele. – Eu juro que não estou fazendo nada
para te prejudicar. Juro que estou tentando ser a menor das pedras no seu
caminho. Por que, ainda assim, você sente a necessidade de me fazer tão mal?
Por que infernos você gosta de ser tão cruel?
- Minha intenção não era ser cruel, Hermione. Eu apenas...

- Apenas? – ela não deu espaço para que ele terminasse. Ela estava furiosa
e ao mesmo tempo imensamente infeliz. – Me fez encarar o homem que eu
cresci amando sabendo que não hesitaria em colocá-lo nas mãos de Voldemort
se a vida dos meus filhos ficassem em jogo! Eu pensei... – ela soluçou entre
suas lágrimas - ...que fosse capaz de entender o que isso significava para mim!
– ele nunca havia visto ninguém chorar daquela forma. - Pensei que depois de
todo esse tempo que fomos obrigados a ser a companhia um do outro, tivesse
aprendido algo sobre mim! – ela tentou estabilizar-se ainda se apoiando na
parede. Tudo no rosto dela estava vermelho. Seus olhos, seu nariz, as maças
de seu rosto, os lábios molhados. – As pessoas que vão atacar e capturar são
minha família, Draco! Eu vou ser a responsável por tudo de ruim que acontecer
a eles quando revelar ao seu maldito exército como passar a segurança da
Ordem! Acaso não sabe o que culpa significa? Ao menos foi divertido o
suficiente para você me ver esconder toda a vergonha e a culpa que senti
enquanto encarava Harry bem a minha frente? – ela cobriu o rosto e desabou
em mais dos seus soluços.

- Não era minha intenção, Hermione. – era tudo que ele conseguia dizer.

- ENTÃO QUAL ERA A MALDITA INTENÇÃO?! EU NÃO CONSIGO VER


NENHUMA OUTRA!
- EU PENSEI QUE VÊ-LO FOSSE TE FAZER BEM! – se ela queria levar a
discussão até aquele nível, ele não recuaria. – TEM SE COMPORTADO COMO SE
NADA IMPORTASSE NOS ÚLTIMOS DIAS, O QUE ME FEZ PENSAR NO QUE
INFERNOS PODERIA TE FAZER BEM O SUFICIENTE PARA QUE VOLTASSE A SER
COMO SEMPRE FOI! PENSEI QUE VER POTTER FOSSE TE FAZER BEM PORQUE
OBVIAMENTE GOSTA DELE E TAMBÉM SERIA FUNDAMENTAL PARA CONVENCÊ-
LO A COLABORAR COM UM PLANO QUE EU E VOCÊ HAVÍAMOS PENSADO
DESDE O INÍCIO PARA SALVAR NOSSA FAMÍLIA!

- QUERIA ME CONCERTAR? PORQUE APENAS NÃO PERGUNTOU? ESPERA


MESMO QUE EU ACREDITE NISSO? – passou por ele decidida - VOCÊ NÃO SE
IMPORTA COMIGO! JAMAIS PERDERIA SEU PRECIOSO TEMPO PENSANDO NO
QUE PODERIA ME FAZER BEM OU NÃO! – bateu a porta do banheiro
recolhendo-se ali como se ficar na presença dele, o encarando, fosse
insuportável demais para sua sanidade.

Draco ficou estático onde estava escutando o som abafado da ainda intensa
vulnerabilidade que Hermione estava expondo. Sua mente foi a loucura numa
velocidade assustadora e o sangue em suas veias gelou quanto começou a ser
bombardeado pela realização de que sua relação com Hermione estava
definitivamente fora de alcance e muito distante da reparação. E o que mais o
confrontava naquele momento era o seu desejo de que nada daquilo nunca
tivesse acontecido.
Passara boa parte de sua adolescência irritando-a sempre que via a
oportunidade e assim que a guerra se iniciou, a figura implicante de Hermione
se transformara numa inimiga. Ele sabia que passara boa parte de sua vida
sendo algo ruim para ela e isso nunca havia o incomodado antes, até agora. E
justificar que isso fazia sentido porque ela era parte de sua família e a futura
mãe de seus filhos já não cumpria mais o dever de encobrir o real valor que ele
havia encontrado no ser humano que ela era. E por mais que ele reconhecesse
esse valor, não queria dar crédito a ele. Na verdade, queria, mas sabia que se
desse crédito a ele, colocaria seu coração ali e ele nunca, em sua vida inteira,
havia tido a sensação de que estava com o coração nas mãos e tinha o poder
de colocá-lo no lugar que quisesse.

Por que estava sendo tão egoísta com seu próprio coração? Odiava Hermione
tanto assim? Passou os dedos pelo cabelo enquanto soltava o ar frustrado por
não ter sido capaz de prever a forma como ela se sentiria ao ver Harry Potter e
como isso afetaria o relacionamento deles.

Encarou o quarto ao seu redor um tanto perdido. A mesa do jantar ainda


estava posta próximo a lareira e precisava chamar alguém para retirá-la, a
cama estava perfeitamente arrumada, os lustres e as velas iluminavam bem
todo o quarto e ele tentava pensar no que deveria fazer. O que tinha que fazer,
afinal? Seguir como se nada tivesse acontecido? Não podia fazer isso enquanto
ainda era capaz de escutar o choro compulsivo de Hermione trancada no
banheiro.

O que diabos ele deveria fazer? Não podia ficar confinado ao espaço daquele
quarto com ela. Se pelo menos estivessem em casa ele poderia seguir para
outro lugar totalmente oposto. Sentou-se na cama completamente derrotado e
soltou o ar cobrindo o rosto. Deveria esperar? Será que esperar seria uma boa
opção? Então esperou. Esperou até que não conseguiu mais escutar a
respiração penosa de Hermione do outro lado da porta que os separava. Vez ou
outra ainda podia escurar uma arfada ou um suspiro, mas não a condenava
nem a julgava por ter desabado. Sabia que ela chorava não apenas pelo que
havia passado hoje. Deveria estar segurando todas aquelas lágrimas já fazia
um bom tempo.

Pareciam ter passado horas quando ele escutou o som da água começar a
encher a banheira. Não sabia o que estava se passando com Hermione, mas
escutar algo novamente vindo do banheiro o fazia se sentir um tanto aliviado.
Continuou a esperar e isso lhe deu tempo o suficiente para chegar a conclusão
de que Hermione não sairia dali tão cedo. Aquele era o único espaço onde ela
poderia se manter separada dele e isso o fez perceber que a última coisa que
ela gostaria de ver, era ele. Errara o suficiente com ela para se sentir na
necessidade de pelo menos fazer algo certo dessa vez. Mesmo que ainda
estivesse em dúvida do que realmente seria certo a fazer.

Levantou-se e parou de frente a porta do banheiro. Apoiou-se no vão e com


receio, puxou a respiração e a chamou:

- Hermione? – ela não respondeu, mas ele foi capaz de escutar o som da
água quieta se mover na banheira. – Sei que precisa do seu espaço agora.
Preciso do meu também. Apenas esteja pronta pela manhã. Pode fazer isso? –
esperou pela resposta. Ela não veio.

Suspirou, afastou-se e deixou o quarto. Ainda não sabia se aquilo era ou não o
certo a fazer. Talvez ele devesse tentar encontrar uma forma de concertar a
situação em que havia enfiado o relacionamento deles agora ali mesmo, mas
sabia que poderia colocar tudo ainda mais em risco no estado emocional que
Hermione se encontrava. Se estava fazendo o certo ou não, não importava.
Hermione queria e precisava ficar longe dele. Ele ao menos devia isso a ela.

**

Passara a noite trabalhando. Tentando, pelo menos. Sua cabeça o levava de


volta ao quarto onde deixara Hermione a cada segundo que o relógio marcava,
mas ele não parou. Passou a noite acordado e não deixou que nenhum de seus
líderes tivesse tempo para descansar também. E por mais distraído que ficasse
as vezes, quando sua mente travava ao imaginar como estaria Hermione,
continuou a mover cada vez mais as pessoas ao redor, assim se manteria cada
vez mais ocupado e longe da distração. Não foi tão efetivo como planejara, mas
também não foi uma completa decepção.

Mal percebeu quando o sol apareceu. Estava ocupado revendo o plano de


segurança em York para os próximos meses quando foi informado por um dos
seus homens da zona sete de que tinha uma chave de portal de volta para
Brampton Fort marcada para menos de duas horas. Foi quando percebeu que o
sol brilhava no céu do lado de fora.
Apressou-se da melhor forma possível deixando serviço o suficiente para o
acampamento durante o tempo que não conseguisse outro passe livre para fora
do forte de Voldemort.

Hermione estava pronta e sentada a mesa do café da manhã posta quando ele
chegou no quarto. O sol da manhã que vinha das cortinas abertas da varanda e
caia sobre a mesa colorida e bem arrumada e sobre ela. Ficou imediatamente
grato por vê-la sob a luz novamente e não se escondendo dela. Talvez libertar
as lágrimas que ela havia prendido por tanto tempo tivesse feito algum bem.
Mas assim que recebeu o olhar rancoroso dela em resposta a sua chegada,
como se toda a pouca beleza da pacífica refeição que estava tendo tivesse sido
jogada no lixo, lembrou-se de que não havia absolutamente nada pelo que ele
pudesse ficar grato ali.

Por alguns segundos em que trocaram olhares ele não soube o que fazer. Não
soube se deveria dizer algo, se deveria perguntar algo, se deveria reagir de
alguma forma. Claramente ele via que ela não estava nem um pouco disposta a
ter que aturar qualquer tipo de interação, então ele apenas decidiu-se em fazer
o que precisava fazer.

Tomou seu banho o mais rápido que pode e assim que voltou para o quarto, ela
ainda estava na mesa entretida com o Profeta Diário numa mão e a xícara de
chá na outra. Quando ele tomou seu lugar a mesa notou que o anelar de sua
mão ainda estava vazio onde deveria estar o anel de sua família. Pensou em
perguntar se ela havia perdido o anel, ela diria que não já que ele sabia que ela
não o perdera. Mandaria que ela o colocasse de volta e talvez aquela atitude
piorasse ainda mais o estado em que estavam.
Ficou em silêncio.

Tentou se concentrar no que deveria fazer até o fim do dia em Brampton Fort e
logo se viu na necessidade de perguntar quais eram os planos de Hermione
para o dia, assim poderiam combinar suas agendas, mas o receio de abrir a
boca o manteve calado durante seu desjejum.

Foi atormentado por milhões de perguntas que gostaria de fazer a ela.


Conseguiu evoluir milhões de diálogos que poderiam ter em sua cabeça, mas
ainda assim não tomou nenhuma iniciativa de começar nenhum deles porque
em todos, acabavam discutindo seriamente. Hermione seria fria e ele não
saberia responder de nenhuma outra maneira que não fosse a mesma.

Antes que ele pudesse ter a chance de pensar em uma saída para o estranho e
incomodo silêncio que se estendia entre eles, ela fechou o jornal, devolveu-o a
mesa, levantou-se e saiu do quarto sem dizer uma palavra sequer. Soltou o ar
sentindo-se um fracasso com ela mais uma vez. Puxou o jornal. Sentia falta
doProfeta Diário com frequência em Brampton Fort por mais que as notícias
importantes sempre fossem colocadas no Diário do Imperador, por mais local
que o jornal fosse.
“Ministro da Magia pública novas normas de segurança aprovadas pelo Lorde
das Trevas.” Era a notícia da primeira Página. Draco sabia que no Diário do
Imperador, aquela notícia estaria na terceira ou na quarta página, enquanto
qualquer coisa sobre algum evento local ocuparia a primeira. Tratou de pular
logo para grande citação de seu pai marcada logo ao meio.

“As novas normas entrarão em vigor lentamente e somente quando Draco


Malfoy, o general do exército de Comensais, decretar publicamente o fim da
guerra e estiver com todos os grupos rebeldes sob controle. Essas normas
foram discutidas por meses com o mestre e todas elas visam melhorar a
qualidade de vida e liberdade daqueles que prontamente estão e estiverem
dispostos a reconhecer Lorde Voldemort como mestre e imperador da nova era
do mundo bruxo. Como mediador, me sinto no dever de lutar pelo direito do
povo bruxo e estou fazendo o meu melhor, mas algumas normas ainda estão
em processo de aprovação por serem ousadas demais. Por isso preciso que
todos sejam pacientes e entendam que não estamos mais em uma
democracia.”

Draco sequer precisou continuar sua leitura. Seu pai conseguia ser sutil quando
precisava ser, por mais arriscado que aquela simples fala pudesse ser contra o
sistema de Voldemort. Passou os olhos rapidamente pela lista das novas
normas. Já as conhecia. Havia discutido a maioria delas com seu pai antes que
ele as levasse a Voldemort, mas parabenizou seu pai pela ordem em que ele as
publicou. As melhores encobriam as não tão animadoras e o fim era bastante
motivador cobrindo boa parte das novas leis de locomoção entre territórios
bruxos, o que obviamente muitos criticavam com a guerra, principalmente os
comerciantes.

Passou as páginas seguintes enquanto desfrutava de seu café da manhã. As


notícias não passavam de grandes baboseiras sobre recomendações do
Ministério de onde passar as férias de verão, onde fazer compras, quais
medidas tomar quando se sentir persuadido por um suposto rebelde, benefícios
para quem tiver interesse em se inscrever no programa de seleção da nova
leva de Comensais para treinamento, listas de magias banidas e permitidas.
Notícias que normalmente não sairiam para os protegidos de Voldemort
no Diário do Imperador, nos fortes a vida era mais livre, contanto que se
estivesse dentro dos limites da muralha.

Deixou o jornal quando chegou na parte fútil e se concentrou em terminar sua


refeição. Nos últimos dias se sentia exausto por ter que se concentrar para se
concentrar por causa de Hermione e constantemente se via preso a obrigação
de ter que se concentrar em atividades bobas e pequenas para que sua mente
não o mergulhasse nos problemas que tinha com Hermione agora. Não ter nada
para distraí-lo além da comida tornava tudo mais difícil, portanto ficou satisfeito
quando seu relógio lhe informou que deveria seguir para a fiscalização antes de
pegar sua chave de portal.

Hermione já estava lá passando pela fiscalização quando ele chegou. Nem


palavras nem olhares foram trocados entre eles enquanto passavam pelo
irritante processo de serem reconhecidos e fiscalizados. Esperaram também em
silêncio, ignorando a presença um do outro quando foram confinados no espaço
onde a chave de portal os esperava.

Tocaram nela juntos quando receberam autorização e num segundo deixaram


de existir em um lugar e passaram a existir em outro. A sensação do dia cinza
e abafado o dominou mesmo quando se localizou no confinado espaço de
chaves de portal da entrada norte de Brampton Fort. Hermione continuou a
ignorá-lo seguindo seu caminho o mais rápido possível para tomar a saída.
Estava preocupado com a imprensa que provavelmente deveria estar
esperando pela oportunidade de uma foto ou outra. Hermione não estava
usando seu anel de compromisso e certamente comentariam sobre isso se
conseguissem uma boa foto para o jornal. Apertou o passo para aproximar-se
dela quando visualizou a porta de saída, precisava estar ao lado dela quando
saíssem. Sentia a necessidade, agora mais do que nunca, de mostrar ao mundo
que tudo estava bem com eles, que nada da noite passada havia sequer
acontecido. Mas assim que sua mão alcançou as costas dela como sempre fazia
quando estavam prestes a se mostrar para o público, ela desviou afastando o
braço dele quase que com repulsa. Não demorou a receber um olhar severo e
cruel.

- Não me toque. – seu tom foi ríspido. – Não me toque. Nem quando
ninguém estiver olhando nem quando estivermos em público. Não me importo
mais com essa farsa. Todos já entenderam a ideia. Somos uma família perfeita.
Agora mantenha distância. – e aquelas foram as primeiras palavras que ele
escutou de Hermione depois da noite que tiveram.

Ela sumiu seguindo para o lado de fora e ele precisou de dois segundos para
recuperar o grande empurrão que acabara de receber. Respirou fundo e passou
os olhos rapidamente por onde estava para checar quem pudesse ter tido a
chance de presenciar aquilo. Felizmente as poucas pessoas que ocupavam o
pequeno átrio de entrada estavam longe e entretidas com seus afazeres.
Conseguiu apenas ver um ou dois desviarem rapidamente o olhar assim que ele
os alcançou.

Seguiu o mesmo caminho que ela e ficou grato pelo pouco movimento da mídia
do lado de fora mesmo que soubesse que precisava de apenas uma foto no
jornal. Alcançou Hermione com facilidade e entrou na carruagem que
esperavam por eles. Ela não parecia feliz e ele sabia que também não havia se
esforçado para parecer no caminho até a carruagem, mesmo que claramente a
mídia estivesse ali disposta a captar qualquer justificativa para iniciar um rumor
que pudesse prejudica-los.

- Quer ir para casa? – perguntou antes de fechar a porta da cabine.

- Preciso ir a Catedral. – ela respondeu.

- Tenho que ir a Gringotes primeiro. – informou e ela deu de ombros em


resposta como se não se importasse, contanto que ele fosse para a Catedral em
algum momento.

Anunciou sua saída para Gringotes ao condutor e fechou a porta, confinando-se


mais uma vez a um espaço pequeno e vazio com Hermione. O silêncio
incomodo entre eles começou a crescer. Era tão intenso que as vezes se via tão
concentrado no fato de que a situação deles era perturbadora que chegava a
querer suar. Sentia a necessidade de concertar aquilo. Sabia que havia uma
culpa grande que carregava em tudo aquilo e por isso sentia que a iniciativa de
concertar precisava partir dele, mas agora, mesmo que tentasse, não teria
nenhum resultado. Não com Hermione emanando aquela energia de que até
mesmo o som de sua respiração era demais para que suportasse.
Assim que chegaram a Gringotes perguntou se Hermione pretendia esperá-lo
ou acompanhá-lo e ela respondeu saltando da carruagem junto com ele.
Passaram por todo o processo burocrático antes de terem acesso a chave do
cofre e assim que a conseguiram foram guiados por um dos duendes até ele.

O cofre de sua casa estava entre os maiores de Gringotes. Ficava numa seção
privilegiada e era de alta segurança. Sempre que visitava o banco, por mais
que tivesse que passar pelo mesmo processo que todo mundo para conseguir
sua chave, sentia que faltava apenas que estendessem o tapete vermelho para
que pudesse passar quando a conseguia.

A nave principal do cofre dos Malfoy era gigantesca e se estendia até onde as
luzes não precisavam ser acessar. Era um museu que acumulava preciosidades
carregadas por séculos e séculos. Havia tanto tesouro apenas naquela única
parte que mesmo que Draco quisesse gastar tudo durante o período de sua
vida, não conseguiria. Mas ele não seria louco de tentar. Aquele parte em
específico era o que fazia dos Malfoy uma família intocável. Podia viver muito
bem com o anexo que havia em seu nome, e além do mais, ainda herdaria tudo
aquilo. Tinha o direito de trabalhar apenas com seu anexo que já comportava o
suficiente para no mínimo três gerações de sua família.

Discutia com o duende a possibilidade de abrir um anexo dentro do seu, onde


poderia guardar uma parte de seu dinheiro ali, sem que isso fosse para o
recorde geral do cofre da família enquanto passeava por entre suas pilhas de
ouro, moedas e objetos valiosos. O sol dos saltos de Hermione contra o
mármore as suas costas o lembrava constantemente da presença dela.
Assim que conseguiu sutilmente convencer o duende a não colocar seu novo
anexo no registro geral, começou a informar quais valores gostariam que
fossem movidos para ele.

- Por que está fazendo isso? – Hermione o interrompeu.

Draco parou juntamente com o duende que o seguida. Fechou a pasta com a
planilha de valores que tinha nas mãos e a encarou. Interessava a ela? Era uma
longa justificativa para que ele quisesse dar a ela, mas sabia que alguns dos
números que carregava em sua pasta eram dela e isso talvez lhe desse o
direito de saber o que fazia no cofre que dividiam.

- Quero que minha mãe tenha algo caso algo aconteça. – não entrou em
detalhes visto que estavam com companhia, mesmo sabendo que duendes
eram extremamente reservados.
Viu o olhar dela suavizar pela primeira vez desde que voltaram para o quarto
na noite anterior, mas ainda sim, a resistência que havia nela era muito mais
clara.

- Quando estava pretendendo me dizer isso?

Ele não entendeu.

- É nosso cofre, Hermione. Você tem acesso a ele, aos números, as


planilhas, ao movimento. Eventualmente saberia.

- Não estou me referindo a saber ou não sobre isso, estou me referindo a


sua tomada de decisão. Se é o nosso cofre e o nosso dinheiro, não acha que
deveríamos consentir sobre uma decisão juntos?

Ergueu as sobrancelhas surpreso.


- Não pensei que iria contrariar algo para o bem da minha mãe.

Ela soltou o ar frustrada não deixando que aquela eterna raiva em seu olhar a
deixasse.

- Eu não estou contrariando o fato de estar fazendo algo por sua mãe,
Draco. Na verdade acredito que esteja fazendo algo correto e nobre, o que,
para mim, é uma surpresa. Estou apenas pontuando que tomou uma decisão
sem sequer mencionar nada comigo usando algo que supostamente é nosso. Eu
tinha o direito de fazer parte dessa decisão.

Draco admirou que mesmo com a raiva que ela mostrava nos olhos, havia sido
sincera, sensata e equilibrada. Poderia ver que ela lutava para não reagir de
nenhuma forma agressiva demais, pois poderia matá-lo se caso se permitisse.
Não tinha nenhuma pretensão de piorar a situação entre eles portanto apenas
respirou fundo e disse:
- Você está certa e não tiro sua razão.

Deu as costas para continuar sua discussão com o duende, mas ela tornou a se
pronunciar antes que ele conseguisse dizer qualquer coisa:

- Isso quer dizer que não irá me deixar de fora da próxima vez que quiser
tomar uma atitude com relação a algo que é nosso? Porque se aprendi algo
sobre você é que não sabe dividir posses.

Precisou respirar fundo quando recebeu aquilo como um grande dedo na ferida
aberta entre eles. Tornou a encará-la. Ainda não pretendia pior a situação.

- Tenha certeza de que não irei te deixar de fora da próxima vez,


Hermione. – foi o que se limitou a dizer. Ao menos ela deveria ser
compreensiva e entender que ele não sabia dividir porque nunca precisara
dividir nada.
Voltou a se concentrar em sua discussão com o duende. Os valores que ele
queria eram altos e como pretendia fazer algo fora do registro geral acabou
tendo que se esforçar para pensar em formas sutis ganhar o cético duende.
Detestava que seu cofre fosse um anexo no de sua família. Todos aqueles
limites as fazes o fazia sentir que seu dinheiro não era realmente seu dinheiro.

O cansaço lhe bateu logo que começou a ter que encontrar saídas demais em
sua discussão. Por cinco ou seis minutos seu cérebro se envolveu tanto com a
frustração de estar tendo que ser esperto para conseguir algo simples, que fez
com que se descuidasse de Hermione. Quando finalmente conseguiu o que
queria e pôs um fim a irritante companhia do duende notou que ela não estava
mais por perto.

Refez o caminho saindo de seu cofre de volta para a nave principal praguejando
consigo mesmo que aquele era um péssimo lugar para que ela decidisse
explorar naquele momento, mas não teve tanto tempo de se preocupar em
como a encontraria porque ela estava muito próximo as portas de entrada
analisando cuidadosamente a pedra escarlate de sua família de uma certa
distância.

A pedra de rubi dada por Merlin ao primeiro herdeiro Malfoy era a primeira bela
visão de qualquer um que entrasse no cofre da família. Ficava em um canto
importante logo próximo a entrada sob display num pedestal de prata que saia
do chão de mármore e torcia seu caminho até a altura dos olhos de um adulto.
Na ponta a pedra ficava perfeitamente assentada num encaixe cuidadosamente
trabalhado e uma jaula de vidro cercava a pequena área que ocupava. Apenas
quem tivesse o sobrenome Malfoy tinha o poder de tirá-lo do pedestal.
Draco se aproximou tomando tempo para apreciar o desenho do perfil dela com
o volume visível de sua barriga pelo vestido claro e fino que usava. Ela parecia
entretida o suficiente com o singelo monumento que não notou a aproximação
dele até que estivesse perto o suficiente para que seu reflexo aparecesse no
vidro. Ele manteve distância quando parou logo atrás dela devido ao visível
incomodo que a linguagem de seu corpo expressou assim que o notou. Enfiou
as mãos no bolso e apreciou a pedra tanto quando ela.

- Já a segurou alguma vez? – perguntou quando a viu querer fazer menção


de se afastar apenas porque ele havia chegado.

- Não. – ela foi curta em sua resposta.

- Por que?

Ela deu de ombros.


- A vi somente uma vez e não tive o interesse. – respondeu.

Ela deveria. Draco se lembrava bem da primeira vez que havia a segurado.
Lembrava-se do quanto havia se sentido importante. Sua mãe costumava lhe
contar a famosa história de como Merlin havia entregue a pedra a ninfa que
gerara o primeiro Malfoy da história como se fosse o maior conto de fadas de
todos os tempos toda noite antes de dormir quando era criança.

Draco sabia que somente Malfoys eram capazes de abrir a proteção de vidro e
tirar o rubi de seu pedestal. No dia que se vira ter o poder de segurar a pedra
de sua família, que se vira ter o poder de abrir a proteção, de mover o rubi,
segurá-lo sem que nada de ruim acontecesse a ele, a realização de fazer parte
de algo grande, de algo importante, de algo que atravessara os séculos serviu
como um marco em sua vida. Naquele dia ele finalmente entendera que Malfoy
não era apenas um sobrenome. Malfoy era um legado e ele tinha
responsabilidades por fazer parte dele.

- Eu não acredito que não tenha tido o interesse. Sei que sabe que
somente quatro pessoas no mundo podem tocar nela. – disse. – Costumavam
ser três, até o dia em que nos casamos.
- Sei disso. – foi tudo que ela respondeu. A voz suave e concentrada. –
Apenas não acredito que ter a certeza de que pertenço a algo que ainda não
consigo me ver encaixar vá me fazer bem. Seria contraditório demais para que
meu cérebro processasse.

Ele não sabia que ela pensava daquela forma. Na verdade, ela era tão única
que poucas as vezes a vira tentar se encaixar entre eles. Não gostaria que ela
tentasse. Ainda detestava se lembrar de que ela estava agindo como sua mãe,
submissa e calada. Não era ela.

- Gosto que seja única como é. Gosto quando não tenta se encaixar. –
duvidava que mesmo usando aquelas palavras, pudesse concertar a situação
entre eles.

- Por que não mereço ser como vocês?

- Não. Porque simplesmente gosto.


Ela soltou o ar cansada.

- Você é o ser humano mais contraditório que já conheci. – disse. – As


vezes não consigo entender como fui capaz de ficar feliz por saber que estava
carregando seus filhos. De alguma forma, me senti especial por estar
carregando seu primogênito. – ela suspirou como se aquilo pudesse ajudar a
estabilizar seu tom e sua vontade de colocar aquilo para fora. – Eu estava me
apaixonando por você, Draco. – soltou o ar como se fosse doloroso dizer aquilo
e Draco sentiu como se alguém estivesse revirando seu estomago ao processar
aquelas palavras. – Não sei como ou em que universo eu, Hermione, me deixei
cair no seu terrível encanto. Você me pegou exatamente como queria. Sou
mais um dos nomes na sua infinita lista de mulheres. Confesso que admiro que
tenha tomado tanto tempo para brincar comigo da formo como brincou.
Aprendeu o que me chamava atenção para me ganhar sutilmente e uma vez
que percebeu que eu não tinha a menor intenção de te parar, você me parou.
Me parou porque sabia que eu estava envolvida o suficiente para sofrer a dor
que queria que eu sofresse. – soltou uma risada forçada e fraca. – Você sempre
me fez mal, porque seria diferente agora? Sempre teve prazer em me fazer
mal. Por que seria diferente? Eu mal acredito que me deixei cair nessa. – soltou
o ar. – Eu fui tão honesta com você, Draco. Dediquei tanto de mim a você. Eu
queria te conhecer porque, de alguma forma, pensava que você precisava
apenas de alguém que verdadeiramente o conhecesse, alguém que pudesse
compartilhar das suas vergonhas sem julgá-lo, alguém que entender os fardos
que carrega, alguém que pudesse ver através de todas as milhões de máscaras
que criou para se esconder. Assim talvez não se sentiria sozinho. Pensei que
gostar da solidão fosse somente mais uma das suas máscaras. Mas eu estava
errada. Você se fez de um grande quebra-cabeça para mim. Um mistério, uma
charada, um desafio. Deus sabe como amo isso. E eu me abri, me expus, me
envolvi, me tornei vulnerável e você me feriu exatamente como queria,
exatamente como sempre fez. – suspirou. – Você venceu. Eu sou a estúpida de
ser boba o suficiente para acreditar que talvez estivesse errada sobre você toda
a minha vida. Mas, quer saber? – virou-se para ele. Havia desprezo e ódio em
seu olhar. - Foi uma boa lição porque agora tenho mais certeza do que nunca,
de que estive certa sobre você a minha vida inteira. – e passou por ele em
direção a saída.

Aquelas palavras caíram contra ele tão pesadamente que quase se viu sem ar,
como se tivesse sido apunhalado no estômago.
- Quando tempo levou para fantasiar tudo isso, Hermione? – virou-se a
tempo de vê-la parar.

- Fantasiar? – ela indagou incrédula enquanto voltava-se para ele outra


vez. – Está me desqualificando por não ser capaz de compreender seus atos
com inteligência o suficiente? Eu posso ter sido descuidada com você por
acreditar que poderíamos ter uma história diferente quando mostrou-me que
podíamos, mas agora que consigo ler tudo que passamos desde quando nos
conhecemos até hoje, agora que consigo ver a figura por inteiro, não acuse de
estar fantasiando sobre sua constante necessidade de me ferir sempre que tem
a oportunidade!

Ele quem havia a mostrado de que poderiam ter uma história diferente?
Quando?

- Está com raiva, Hermione...


- Sim! Eu estou! – o tom dela subiu, mas logo respirou fundo para manter
sua conduta a mais natural possível. – Mas não estou com raiva de você, estou
com raiva de mim mesma por ser tão estúpida, tão manipulável, tão fácil. –
soltou um riso fraco de desgosto, balançou a cabeça e puxou o ar. – Sabe que
perdi quase dois anos da minha vida chorando por sua causa? Por causa do seu
orgulho, do seu preconceito, por causa do péssimo ser humano que é. Me
lembro que Harry... – a menção do nome dele por ela mesma fez com que seus
olhos brilhassem e ela desviasse o olhar dele. Engoliu a saliva como dificuldade.
– Me lembro que Harry costumava ficar ao meu lado, mesmo depois que Rony
me deixasse porque não sabia mais encontrar piadas para fazer com seu nome.
Harry me dizia que enquanto eu permitisse que você me atingisse daquela
forma, que enquanto eu me deixasse ser vulnerável, você sempre teria
vantagem. – ela suspirou. – Ele me ajudou a ser forte, me ajudou a te ver com
indiferença, me ajudou a simplesmente não me importar. Sinto que falhei com
ele severamente no momento que permiti que me deixasse ser atingida
novamente por você. Mas isso acabou, já me sinto mal o suficiente por ter
cometido o mesmo erro duas vezes. Não haverá um terceiro. – ela deu as
costas para continuar seu caminho.

- Hermione! – ele precisou ser rápido para chamar a atenção novamente


dele, impedindo que ela deixasse o cofre. – Pare! – Foi até ela. - Temos que
resolver isso! Você só está confusa...

- Eu estava confusa, Draco! – ela virou-se mais uma vez. – Não tente
continuar me prendendo no seu jogo! Estou cansada de fazer papel de...

- Me deixe falar, Hermione! – sua voz extrapolou o tom normal para cobrir
a dela e ele a segurou pelo braço quando ela fez menção de dar as costas a ele
mais uma vez.
- NÃO ME TOQUE! – ela puxou o braço como se ele fosse a criatura mais
asquerosa na terra. – Quantas vezes vou ter que dizer para não me tocar?

- Quero apenas que me escute! Por Deus, Hermione! Só queria que


pudesse me dizer como conseguiu conectar todos esses pensamos! Como
conseguiu chegar a essa conclusão? Porque nada do que disse faz sentido para
mim!

- Pare de tentar me aprisionar nesse seu limbo, Draco! Estou tentando sair
dele!

- Do que diabos está falando? Não estou tentando te aprisionar em nada!


Quero apenas que me justifique seus pensamentos porque está me acusando
de algo, que nem mesmo eu, tenho consciência de ter feito alguma vez na vida!

- E por que você se importa? O que você quer discutir? O que quer
resolver?
- Quero nos resolver! Quero concertar isso que está acontecendo! Estamos
discutindo agora, mas sabe que quando isso aqui acabar teremos que dividir
um carruagem até a Catedral, depois teremos que dividir uma refeição, depois
uma cama, uma casa, vida, filhos, futuro! Não podemos dar as costas um para
o outro só porque carregamos raiva e ódio. Confesso que pensei coisas sobre
você que agora acredito estarem erradas e você tem pensado coisas sobre mim
que estão completamente erradas! Eu nunca tive a intenção de ter fazer
vulnerável para poder me dar o prazer de te ver sofrer, Hermione. Está me
confundindo com o Draco que conheceu em Hogwarts. Pode não acreditar
porque está cega de raiva agora e por saber que eu posso realmente não ser
um homem honesto. Sim, eu jogo jogos, eu engano pessoas, eu as manipulo,
as uso, isso é parte de quem eu sou, mas acredite, você nunca foi um alvo. Eu
não sou cruel. – disse, mas o olhar dela continuava inalterado e aquilo o
frustrava imensamente. – Deus, Hermione! Diga o que eu tenho que fazer? –
precisava ser racional e sincero. - O jogo entre nós dois virou e não estamos
sabendo jogar. Eu estou cometendo erros, você está cometendo erros e nós
dois estamos nos afundando.

O olhar dela continuou duro até que ela soltou o ar ainda com raiva e desviou o
olhar dele. Draco nunca se vira ser tão expressivo quanto agora, sentiu-se fora
dos próprios sapatos. O silêncio não durou muito tempo.

- Queria que suas palavras tivessem algum efeito. – ela foi cética. – Não
consigo digerir nenhuma delas porque você soa como o homem que eu
acreditei que pudesse ser. – por um segundo ele viu um brilho de frustração e
tristeza passar pelos olhos dela. – Esse homem não é real. – passou por ele
mais uma vez e vagou perdida como se pensamentos demais estivessem a
atormentando naquele momento.
Ele virou-se apenas para poder observá-la. Não havia mais nada o que pudesse
dizer. Mesmo que continuasse tentando justificar ou expor o que fosse, ela
definitivamente descartaria. Lamentava que ela não tivesse considerado as
palavras que ele dissera. Sentira-se tão fora de sua zona de conforto ao deixar
de lado seu orgulho para ser verdadeiro que não esperava que ela fosse rejeitá-
lo.

Hermione parou, suspirou, cobriu o rosto com as mãos tomando um tempo


para si. Talvez para acalmar o próprio cérebro. Logo depois abaixou os olhos e
observou suas mãos tocarem o volume de sua barriga. Respirou novamente.
Draco queria que toda a fortuna que os cercavam naquele momento pudesse
comprar os pensamentos dela.

“Eu estava me apaixonando por você, Draco.” Ela havia sido e ele sabia que
aquelas palavras os atormentariam para o resto de sua vida. Já conseguia
prever a noite que teria quando deitasse na cama e tentasse esvaziar a mente
para pegar no sono. Não seria capaz de se livrar daquilo. Não conseguia ver
Hermione apaixonada por ele em sua mente. De todas as mulheres no mundo,
ela era a única que já lhe dera olhares de desprezo suficientes para que ele
tivesse certeza que ela era inalcançável. Como conseguia fazer seu caminho até
o coração dela? Não planejara nada daquilo.

- Não posso desfazer a realidade. – a voz dela saiu baixa dessa vez. – Não
posso magicamente fazer meus filhos serem frutos do amor e não posso deixar
de ser uma Malfoy. – quando ela ergueu os olhos, eles caíram diretamente
sobre a rubi em seu pedestal. – Sou parte de algo que não deveria ser. Ocupo
um lugar que não é meu. Preciso aprender que passarei o resto da vida
pagando por isso. Não sei o porque as vezes me esqueço que Voldemort me
aprisionou a essa vida para que eu sofresse. Ele sabia exatamente o que fazia
quando me casou com você. Ele queria ter certeza de que mesmo que fosse
varrido da terra, eu ainda estaria presa a uma vida horrível.

Draco poderia dizer que ela não era uma Malfoy tão ruim, que na verdade ele
não conseguia pensar em ninguém melhor do que ela para ocupar um cargo de
Sra. Malfoy agora já tivera uma boa amostra de todo seu potencial naquela
posição, mas não ousou soltar qualquer som. Ele mesmo sabia o quanto ser um
Malfoy era desafiador, difícil, exaustivo e desgastante. Era um fardo a se
carregar, um que não se podia mostrar. Eram obrigados a esconder aquilo atrás
do orgulho.

Hermione caminhou até pedestal, ergueu o domo de vidro, tocou a rubi, e


como se estivesse na expectativa e esperança de não conseguir movê-la do
lugar, demorou-se ali até finalmente expirar frustração quando seus dedos
tiraram a pedra do pedestal. Ela o levou para perto dos olhos e observou cada
detalhe. Draco queria saber se ela estava tendo a mesma experiência que ele
teve quando segurou a pedra de sua família pela primeira vez nas mãos.

- Não gosto dessa sensação. – ela comentou, mas foi mais para ela mesma
do que para ele. Girou a pedra entre os dedos para poder analisa-la de todos os
ângulos. – No futuro talvez eu seja tão pior quanto qualquer outro Malfoy.
Tenho certeza de que as coisas serão mais fáceis se eu simplesmente me
tornar desprezível. – ela soltou o ar, dessa vez cansada e visivelmente triste.
Talvez estivesse pensando em Potter e imaginar que sua cabeça pudesse estar
girando em torno dele fazia com que seu sangue gelasse de alguma forma
muito estranha.
Foi até ela.

- Você não precisa ser. – ela não precisava esconder quem realmente era
atrás de máscaras como vinha fazendo, como ele vinha fazendo, como seu pai
e sua mão vinham fazendo. Sabia que era a melhor escolha, mas ela não
precisava. Não precisava porque agora sabia o quanto isso causava todos
aqueles efeitos colaterais nela.

- Não seja ridículo, Draco. Sabe que é o caminho mais fácil. Tanto é que
você mesmo é desprezível. – aquele desgosto presente em seu tom de voz
apareceu novamente quando ela tornou a se dirigir a ele.

Draco não ousou se manifestar novamente. Sentia-se ridículo toda vez que se
dava a chance, portanto apenas a observou por um segundo a mais até decidir
que era melhor que simplesmente desse as costas e voltasse para a carruagem,
mas no momento em que começou a se dirigir para a saída, foi obrigado a
parar subitamente ao escutar uma exclamação aguda e assustada da parte
dela. Virou-se imediatamente a tempo de ver a pedra de sua família ir em
queda livre de encontro ao mármore do chão. Mal teve tempo de ter qualquer
reação quando a pedra simplesmente parou a centímetros de se chocar,
irradiou por um segundo um tipo estranho de luz e como se fosse sugada num
piscar de olhos, estava de volta no pedestal de onde Hermione havia a tirado. O
domo de vidro selou o perímetro logo em seguida.
- O que aconteceu? – tratou de perguntar quando sua visão captou
Hermione encarando a mão vazia um tanto chocada.

- Me queimou! – ela exclamou. Em sua expressão ainda havia o sinal da


dor que sentira anteriormente.

Ele apressou-se até ela, fez menção de esticar a mão para puxar a dela, mas
quando se tocou de que a tocaria, travou, desistiu da ideia e apenas esticou o
pescoço para analisar a mão que a mulher ainda deixava estendida.

- Não parece está queimada. – disse.

Ela ergueu os olhos apertados para ele recebendo aquilo como uma afirmação
de total incredulidade.
- Eu sei o que senti! Foi como se estivesse esquentando em minha mão,
logo depois veio a dor e então minhas veias pareciam que estavam carregando
fogo pelo meu braço!

Draco tentou sair do seu estado de confusão ao se permitir analisar a mão da


mulher e a pedra de rubi em seu pedestal por um minutos. Tentou organizar
seus pensamentos, mas não conseguiu. Ela era uma Malfoy. Havia assinado os
papeis de casamento. Aquilo automaticamente a tornava proprietária da joia.

Voltou sua atenção para a pedra, moveu a proteção de vidro com uma mão e
com a outra tirou o rubi do pedestal de prata. Nada aconteceu. Girou a pedra
entre os dedos exatamente como ela havia feito e a encarou. Ela pulou seus
olhos da pedra para ele uma dúzia de vezes e então estendeu a mão para toca-
la novamente. No mesmo segundo que seus dedos encontraram o rubi ela
recuou instantaneamente soltando outra exclamação de dor expressiva e alta.

- Não posso tocar. Por que não posso tocar? – ela soltou confusa e aflita
enquanto esfregava os dedos que estavam perfeitamente bem.

Ele não sabia explicar. Devolveu a rubi ao pedestal e a enclausurou com a jaula
de vidro. Pediu que Hermione tentasse pegá-la como havia feito antes. Ela
tentou. Tentou remover a vidro, mas foi incapaz, como se tudo estivesse selado
contra ela porque ele tentou logo em seguida e tudo se moveu como ele queria.
Não entendeu. Ela havia assinado os papeis do casamento, ele estava lá, havia
visto. Ela era uma Malfoy. Aquilo só deveria acontecer se ela não fosse uma e
se ela estivesse tentando pegar a pedra de sua família e não estivesse
conseguindo, então...

- Há algo errado com nosso casamento. – pensou em voz alta.

- Eu assinei os papeis, Draco. Você viu.

- A caneta. Talvez não fosse a caneta da minha família. Talvez o papel...


Algo tem que estar errado. Você não é uma Malfoy. Se fosse uma não teria
problemas com a pedra da família. – eles se encararam como se o mundo
estivesse se dividindo entre eles e não houvesse nada que pudessem fazer. –
Não acho que somos realmente casados, Hermione. – quando disse aquilo
sentiu como se o único fio que ainda o mantinha unido a ela tivesse sido
rompido. A ideia de que ela não pertencia a ele o atingiu como um soco no
estomago. Se aquilo fosse realmente verdade então...
- Sr. e Sra. Malfoy. – o duende reapareceu. Ele não deveria. – Dois homens
da guarda pessoal do Lorde das Trevas estão exigindo que a Sra. Malfoy seja
levada a Catedral. Estão do lado de fora a esperando em uma carruagem
exclusiva.

- O que? – ela indagou confusa.

- Hermione está indo comigo a Catedral em alguns minutos. – Draco


adiantou-se. – Avise-os.

- Senhor, com todo o respeito, eles exigem no nome do Lorde que ela seja
levada na carruagem exclusiva. Gostaríamos qualquer escândalo fosse evitado
pelo bem do respeito que todos tem ao banco de Gringotes.

- Avise-os que ela estará em Gringotes...


- Já estou indo, não é necessário que se preocupe com qualquer escândalo.
– Hermione o cortou. Draco lançou a ela um olhar severo que ela recebeu com
muita calma e ceticismo. – Não é meu marido, não pode tomar decisões por
mim. Aliás, deveria saber que mesmo se fosse, não teria esse crédito.

E ela se foi acompanhando o duende com calma, ou tentando parecer calma.


Draco se viu sozinho em seu cofre. Passou os dedos pelo cabelo soltando o ar.
Sentia que estava sendo esmagado por tudo que havia acontecido nos poucos
minutos em que eles ficaram ali. Aquela intensa discussão e então... Hermione
era sim sua esposa! Não conseguia mais olhá-la como outra coisa seja lá o que
fosse.

Ela era nascida trouxa, talvez fosse isso que a impedira de tocar a pedra.
Balançou a cabeça assim que teve esse pensamento. Não havia distinção entre
o sangue bruxo, isso era apenas uma jogada dos privilegiados membros das
famílias tradicionais com seus preconceitos. O que infernos havia de errado
então? Precisava encontrar outra resposta que não fosse um erro em seu
casamento! E alias... O que diabos Voldemort queria com Hermione?

Apressou-se para deixar o banco o mais rápido possível. Saiu a tempo de ver
Hermione entrar em sua carruagem exclusiva e partir. Logo que chegou a
Catedral, Tina o esperava na escadaria do lobby da entrada que tomara. Ela
apressou-se para informa-lo de que iria mandar uma coruja, mas que recebera
o comunicado de que ele já estava a caminho, portanto preferiu espera-lo para
dizer pessoalmente que Voldemort estava convocando uma cerimônia fechada
com o círculo interno de Comensais no salão principal naquele exato momento.
- Ele mandou que buscassem Hermione. O que ela tem a ver com isso? –
perguntou quase que imediatamente.

- Não faço ideia, senhor. A Sra. Malfoy tinha uma sessão de experimentos
marcada com o grupo da Comissão essa manhã. É tudo que eu sei sobre ela. –
respondeu Tina.

Draco bufou e passou por ela avançando com pressa até o salão principal.
Assim que chegou ao local, encontrou alguns dos Comensais do círculo interno
conversando entre si em grupos separados próximo as plataformas do trono.
Não demorou a encontrar seu pai em um deles. A aparência dele era, de longe,
comprometedora. Nunca vira seu pai fora de sua postura, mesmo quando
estava um pouco fora de si por causa do álcool. Assim que o alcançou,
conseguiu sentir o cheiro do licor da distância que estava. Foi cauteloso ao se
aproximar, pediu licença educadamente e focou-se em tirar seu pai dali.

- Onde está aquela maldita feiticeira que chama de esposa? – resmungou


seu pai assim que conseguiu afastá-lo do grupo de Comensais que procuravam
ainda bajulá-lo mesmo vendo que ele não estava em seu melhor estado.

- Estive pensando que você poderia ter essa resposta. O Lorde a trouxe
para a Catedral em uma carruagem exclusiva. O que ele está tramando? E
como ousa aparecer assim a uma sessão do círculo interno? – o empurrou
contra um encontro de paredes assim que conseguiu passar para o lado de fora
do salão por uma das saídas de câmara.

Seu pai riu secamente em resposta. Draco tentou imaginar quantos litros de
álcool seu pai havia ingerido para chegar naquele estado. Seu pai era forte.

- Quero esmagar o crânio daquela vadia que dorme na sua cama. –


insultou ele. Draco não entendeu o motivo dele estar insistindo em Hermione,
mas o fato de ter levado o insulto para um outro nível o fez querer apertar a
gravata de seu pai em volta do pescoço até que ele implorasse por ar. - Aquela
maldita mulherzinha tem enfiado ideias loucas na cabeça de sua mãe! Espero
que o mestre faça com que ela sangre dolorosamente...

O impulso o levou a colocar o braço contra a garganta de seu pai calando-o


instantaneamente.

- O que Voldemort está tramando com ela? Para que ele precisa dela? O
que ele quer com essa sessão fora de agenda? – vociferou contra o rosto de
Lúcio Malfoy que apenas riu secamente mais uma vez.
- Há tanto sobre essa maldita mulher que você fode todas as noites, Draco.
Ficaria orgulhoso do que eu consegui para você quando souber...

- Mostre algum respeito pela mulher que está carregando seu netos! - Tudo
aquilo estava colocando seu sangue numa temperatura arriscada. Apertou mais
seu braço contra a garganta do pai. – É melhor que me diga logo se sabe de
algo sobre esse circo! E é melhor que também tenha respostas para o fato de
Hermione ser incapaz de tocar no rubi da nossa família! Ela assinou os papéis
do casamento! Ela é uma Malfoy!

Seu pai riu com vontade dessa vez.

- Claro que ela é uma Malfoy, Draco, e claro que ela é incapaz de tocar na
joia da nossa família! – riu ele. – Você não faz a menor ideia...

Draco precisou afastar-se imediatamente quando viu três homens da guarda de


Voldemort aproximando-se.
- Senhores, precisamos manter todos os Comensais do círculo interno
dentro do salão. Ordens do mestre. – um deles se manifestou.

- Preciso falar com o mestre imediatamente. – apressou-se Draco.

- Isso seria impossível. – respondeu o homem. – O mestre informou que


talvez viesse a desejar isso, por isso pediu para que o avisássemos de que não
deve se preocupar com a segurança da sua esposa. Tudo será mais rápido do
que todos estão esperando. Agora, seria melhor que, por favor, entrassem. Não
é prudente que não estejam ocupando seus lugares quando o mestre chegar.

Draco bufou de raiva. Encarou seu pai.

- Eu exijo respostas. – foi a ultima coisa que disse antes de dar as costas e
voltar para o salão deixando-o para trás.
- Vai ter todas elas em um minuto! – escutou a voz dele soltar num tom
divertido as suas costas.

Continuou seu caminho com a cabeça fervendo até seu assento nos patamares
do trono. Não conversou com ninguém, não olhou para ninguém e não se
importou com educação. Voldemort não demorou a aparecer. Ele não estava na
companhia de Hermione. Quem o acompanhava era Severo Snape e aquilo não
era um bom sinal para Draco. Assim que ele fez presença todos prestaram sua
reverencia e tomaram seus lugares com pressa. Voldemort não se sentou.
Manteve-se de pé no centro do salão e muito informalmente declarou que não
tomaria muitos minutos.

- Como todos já sabem, a guerra está chegando ao fim. – introduziu


Voldemort. – Draco já está direcionando todas as forças do exército para a caça
aos rebeldes e o plano de extermínio garante que eles sejam reduzidos a uma
porcentagem mínima até o fim do próximo ano. – continuou. – Pretendo deixar
Brampton Fort assim que o plano estiver com toda a força. Pretendo me
apresentar ao mundo e deixar que todos saibam que não simplesmente existo
como um nome, como Aquele-que-não-deve-ser-nomeado, ou como o Lorde
das Trevas. Pretendo mostrar quem sou, pretendo fazer com que o mundo me
chame de mestre. Pretendo ser uma imagem confortável ao mundo, porque
assim que deixarmos de nos esconder, assim que eliminarmos todos os trouxas
e fizermos desse planeta, um planeta de bruxos, eu terei um legado, eu serei
um imperador, serei a imagem que representará todos nós. Portanto hoje,
agora, irei apresentar a você, meus servos fieis, minha nova imagem. Quem eu
serei para o mundo. – ele estendeu a mão para Severo, que recebeu o gesto
como um convite para a aproximação. Tirou de dentro de sua capa um frasco
vidro grande cheio de um líquido âmbar que Draco não conseguia distinguir que
poção poderia ser. A cor era anormal demais para que fosse facilmente
identificável.
A voz entediante de Snape começou descrever a composição da poção e os
desafios do modo de preparo. Draco não prestou tanta atenção quanto deveria.
Tudo que sua cabeça era capaz de pensar era em Hermione. Onde ela estaria?
Por que Voldemort a chamara? Que papel ela prestaria naquela sessão
fechada? Será que ela prestaria algum? Por que infernos ela não podia segurar
a pedra de sua família se seu pai havia dito com tanta certeza de que ela era
sim uma Malfoy?

- ...mas essa poção é inútil sem um último ingrediente. – tentou prestar


atenção em Severo. – Um ingrediente que dará a ela todo propósito.

- Quando a câmara de Slytherin foi reaberta em Hogwarts, há alguns anos.


Fui capaz de me comunicar indiretamente com o Basilisco e ele me passou uma
informação, que embora inútil para a época, foi um tanto surpreendente para
mim. – Voldemort tornou a se manifestar. – Havia uma estudante ao qual ele
atacará que tinha o poder de se regenerar do congelamento ao qual ele havia a
aprisionado, mas que não sabia do poder que tinha porque precisara ser
tratada exatamente como os outros estudantes. Criaturas mágicas de grande
poder como o rei das serpentes, o Basilisco, tem a capacidade de reconhecer
outras criaturas de poder tão igual ao dele com seu olhar fatal. – ele sorriu
orgulhoso de possuir a informação que estava prestes a soltar. Apontou a mão
para a gigantesca porta ao fim do salão. – Meus amados servos. – a porta
começou a se abrir e revelou uma Hermione um tanto assustada do outro lado.
– Sinto-me honrando de apresentar a vocês Hermione Malfoy, a última fada
humana descendente do sangue de Morgana.

Drago sentou-se ereto em sua cadeira. Os cochichos surpresos dos outros


comensais correram o salão. Hermione balançou a cabeça como se estivesse
tentando negar aquela informação. Parecia ter sido informada daquilo minutos
antes de estar parada ali.

- Eu não sou... – a voz rouca dela ecoou incerta pelo salão.

- Não seja tímida, minha rara joia. – Voldemort estendeu a mão em direção
ela, como se ela fosse a coisa mais doce e preciosa do mundo inteiro. Hermione
foi obrigada a avançar até ele quando um dos homens da guarda, que a
acompanhava, fez um gesto a intimando para avançar e obedecer o chamado
do mestre. Ela aproximou-se claramente receosa, mas sem sair da orgulhosa
postura que mantinha. – Seu sangue ainda é inútil para mim para o objetivo
que tenho porque obviamente a linhagem de Morgana foi comprometida com as
inúmeras misturas de sangue no decorrer dos anos. – disse quando ela já
estava próximo o suficiente. - Mas o filho que espera é a reconstrução exata do
que eu preciso. O sangue puro da linhagem de Merlin e o sangue de Morgana. É
exatamente o que eu preciso. – ele fechou uma mão no pulso de Hermione e a
puxou bruscamente, o que fez Draco levantar-se de sua cadeira
automaticamente. Ninguém tocaria sua mulher daquela forma. – Não ouse
fazer nada estúpido, Draco. – foi a resposta de Voldemort a sua reação. – Vou
pegar apenas uma amostra fresca do sangue da criatura mágica que temos
aqui. Assim todos, inclusive ela, poderá ter certeza do que estou falando. –
puxou uma faca e abriu a mão dela.

Draco não hesitou em descer até onde estavam.


- Não a machuque! – sua boca proferiu sem que nem mesmo pensasse.

- O mestre disse para não tentar nada estúpido, Draco. – Snape usou sua
voz seca para reafirmar o que Draco havia escutado antes, mas continuava a
não se importar.

Seus pés travaram quando Voldemort passou a faca pela palma da mão de
Hermione. Ela resmungou muito baixo em reação a dor e tratou de cerrar o
punho rapidamente. Snape coletou para dentro do frasco da poção apenas uma
gota e deixou o resto respigar no chão. Draco sentiu seu sangue ferver de
raiva. Ninguém tinha o poder de tocá-la daquela forma! Apertou o passo até ela
a fim de afastá-la de Voldemort, mas no momento em que chegou perto, ela se
afastou como se soubesse que ele pretendia tocá-la, o que o obrigou a parar.

- Estão claramente cometendo um erro! – tentou pelo menos colocar-se


entre Hermione e eles.

Voldemort sorriu aquele sorriso assustador.


- Eu não cometo erros, Draco. – disse e tomou da poção enquanto Snape
começava a descrever os princípios do sangue de Hermione em ação com os
ingredientes bem combinados da poção. Todo o salão pareceu ficar em choque
no momento em que o Voldemort que conheciam se transformou no Tom Riddle
do qual já haviam ouvido falar um dia. Um homem alto, próximo de sua meia
idade, de cabelos escuros um tanto cacheado, rosto fino, olhos negros e pele
branca. Ele respirou fundo parecendo sentir-se revigorado. – Até sinto que irá
durar mais que alguns minutos usando o sangue fresco dela. – comentou com
Snape. Abriu os braços e sorriu para todos os outros Comensais. Um sorriso
largo, que mostrava dentes brancos e perfeitamente alinhados. – Esse é o rosto
que o mundo irá conhecer. O rosto de Lorde Voldemort que atravessará
gerações.

Draco se viu sem reação. Seus olhos saíram de Voldemort e caíram em


Hermione. Seu sangue que antes parecia ferver, agora parecia gelar. Malfoys
haviam destruído Morgana e seu terrível reinado. Haviam destruído todos seus
herdeiros e haviam até mesmo feito um juramento para assegurar que nenhum
descendendo da poderosa fada estivesse por aí, rondando o mundo, tamanho
era o ódio que haviam nutrido no passado. Se ela realmente fosse descendente
de Morgana, o que seu cérebro ainda não era capaz de processar, eles eram
inimigos através da história, não apenas da medíocre vida que haviam vivido
até agora. Eram, definitivamente, incompatíveis.

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