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AULA 16 – OUTROS VALORES DA SEGUNDA GERAÇÃO PÓS-

NACIONALISTA: OSVALDO LACERDA, VILLANI-CÔRTES,


BRENNO BLAUTH E OUTROS
02)

OSVALDO LACERDA (1927-2011)

Paulista, nascido a 23 de março de 1927, de pais brasileiros e avô português, começou a


estudar piano aos nove anos de idade;

Não se interessava por composição até os 18 anos;

Chegou a estudar composição com Ernesto Kierski;

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03)

Após um tempo sem professor, iniciou um curso de aperfeiçoamento com Camargo


Guarnieri, entre 1952 e 1962;

Fundou e dirigiu o Coral da Sociedade Paulista de Arte entre 1950 e 1953;

Criou e presidiu a Sociedade Pró-Música Brasileira (1961) e em 1963 esteve nos


Estados Unidos da América durante cerca de um ano com bolsa;

Nesse período estudou composição com Vittorio Giannini, em Nova York, e com Aaron
Copland, em Tanglewood;

Formou-se em Direito pela USP;

Produção numerosa;

Personalidade forte;

Confessa predileção para a música de câmara, embora seja autor de numerosas peças
orquestrais;

É considerado nacionalista, embora com linguagem bastante depurada, partindo do seu


mestre e não das gerações anteriores;
Linguagem mais moderna, após os embates com o dodecafonismo etc.

Importante compositor de canções;

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04)

Escreveu mais de cem peças vocais em um estilo musical refinadamente nacionalista;

Lieder:

Cantiga (1950), com Manuel Bandeira;

https://www.youtube.com/watch?v=Gx5ShyxiKLU – Cantiga I

Escreveu outra canção sobre o mesmo texto em 1964;

Lorenzo Fernandes também compôs sobre este poema;

Sete anos depois escreve a modinha Mandaste a sombra de um beijo, também sobre
texto de Manuel Bandeira;

Venceu o prêmio A Canção Brasileira, da Rádio Ministério da Educação e Cultura;

Em 1964 compõe a canção Poema tirado de uma notícia de jornal (Manuel Bandeira);

https://www.youtube.com/watch?v=5zb3N-5hJgg – Poema tirado de uma notícia de


jornal

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05)

De 1965 é Murmúrio, de Cecília Meireles, a qual o compositor considera sua melhor


canção;

https://www.youtube.com/watch?v=RrB4k9sYc0w – Murmúrio

Uma nota, uma só mão, de 1967, é sobre texto de Carlos Drummond de Andrade;

Utiliza uma nota só, o si central, e o piano apenas na mão esquerda;

https://www.youtube.com/watch?v=qLJ0Z1aDRN4 – Uma nota, uma só mão

Melodia está no acompanhamento;

Sobre o mesmo texto, Francisco Mignone escreveu No meio do caminho tinha uma
pedra;

De 1968, Mariz (2005) ressalta duas canções:


A um passarinho (Vinícius de Moraes) – miniatura com primeira parte sem
acompanhamento e o final declamado;

Nos anos de 1970, dos mais prolíficos no setor da canção, escreveu dose obras;

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06)

Foram quatro poemas de Cassiano Ricardo, Ladainha, Quando ouvires o pássaro,


Rotação e Tudo o mais são penas;

Cantiga para ninar escrava, sobre texto picante de Rangel Bandeira, é para voz grave e
piano;

https://www.youtube.com/watch?v=M05HhGlMa94 – Cantiga de Ninar Escrava

De 1970 é também Retrato, sobre poema de Cecília Meireles;

Sentida e refinada;

Também inspiradas em Cecília foram as canções Bem-te-vi, Teu nome e Se eu fosse


apenas;

Ainda de 1975 é a conhecida Cantiga do viúvo, de Carlos Drummond de Andrade;

https://www.youtube.com/watch?v=jGMIjerbJOI – Cantiga do Viúvo

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07)

Osvaldo Lacerda compôs também peças para canto e outros instrumentos, destaque
para:

Hiroshima, meu amor, sobre texto de Augusto dos Anjos, para voz média e quatro
percussionistas;

Reflete preocupação com a bomba atômica;

Utilizou onomatopeia sublinhada pela percussão;

Losango cáqui, de 1970, é para voz média e conjunto instrumental;

https://www.youtube.com/watch?v=EVHCFrPaf6k – Losango Caqui nº6 (2’20”)

Obra Pianística:

Destaque para 15 Variações sobre mulher rendeira;

https://www.youtube.com/watch?v=eO_dmyHOxw8 – Variações sobre Mulher


Rendeira (1953)
Considerável efeito;

Escrevia com desenvoltura para piano;

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08)

Intensificou bastante sua obra pianística, que no conjunto de seus trabalhos, representa
importante contribuição;

De 1955 e 1956 temos, respectivamente, dois Ponteios que foram precedidos de Cinco
Invenções a duas vozes;

https://www.youtube.com/watch?v=tOJD1j5wfrY – Ponteio Nº 2

https://www.youtube.com/watch?v=iZSk42jtJ98 – 5 invenções a duas vozes

As invenções na forma clássica da invenção;

Pequena composição musical com contraponto em suas vozes, usualmente para


instrumento de teclado;

A primeira e a quarta invenções são modinhas, a segunda se assemelha a uma valsa, a


terceira um choro e a quinta traz reminiscências nordestinas;

Outras obras de destaque são a Série na clave de sol, contrapontística a duas vozes, a
Suíte miniatura e a Suíte nº 1;

https://www.youtube.com/watch?v=cB_PIt63VcE – Eudóxia de Barros – Suíte


Miniatura

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09)

Os 12 Estudos para piano solo (1960 a 1976);

Estudos, uma linguagem saturada;

Lacerda conseguiu sobressair;

Harmonia elaborada e sofisticada;

O 6º e 7º Estudos são considerados mais interessantes;

https://www.youtube.com/watch?v=COt7QCn5jFE – Estudo nº 7 – Eudóxia de Barros

7º trêmulos ininterruptos, atmosfera liquefeita e modulatória;

Mais peças de destaque:


Brasilianas (a 8ª é a quatro mãos), Cromos, Sonata para cravo (1975 – Sonata
brasileira em moldes clássicos) e 3 Sonatinas;

Música de Câmara:

Variações sobre um tema popular brasileiro (1954) para violino e piano;

De 1954 também são as sete Invenções para instrumentos de sopros;

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10)

O Duo para clarinete e fagote e a Toccatina e fuga para quinteto de sopros são de 1957;

https://www.youtube.com/watch?v=0w20XLZi6uU – Duo para clarineta e fagote

De 1962 temos a Sonata para viola e piano, Variações e fuga para quinteto de sopros e a
Suíte Piratininga para orquestra;

Sonata considerada por muitos como a melhor obra de Lacerda;

Terceiro movimento, rondó, utiliza escala hexafônica;

Variações sobre A canoa virou;

O Trio em dois movimentos para piano, violino e cello e o Quarteto nº 1 para cordas
merecem ser lembrados;

https://www.youtube.com/watch?v=0iTaj1DkFyA – Trio (1969)

Outra peça de destaque é a Suíte para xilofone e piano (1974);

https://www.youtube.com/watch?v=cJpfMwgftr0 – Suite para Xilofón y Piano

A fim de dar maior contraste entre os dois solistas, evitou enfatizar o caráter percussivo
do piano;

Realce ao aspecto harmônico, melódico e tímbrico;

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11)

A peça Apassionato, cantilena e toccata (1978) para viola e piano foi premiada em São
Paulo e, apesar de usar linguagens consideradas ultrapassadas em seu nacionalismo,
ainda pareceu bastante original aos olhos da crítica;

https://www.youtube.com/watch?v=ndBiS_fSyxw – Apassionato (1º mov.)


Obra orquestral:

Destaque merecido para a Suíte Piratininga, premiado no Rio e em São Paulo;

Cinco movimentos – dobrado, toada, valsa, choro e baião (Mariz, 2005);

O baião tem emprego amplo de percussão;

De 1964 temos o Concerto para orquestra de cordas;

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12)

Os Três estudos são de 1966 e utilizou 22 diferentes instrumentos de percussão


distribuídos por quatro intérpretes;

O primeiro é exclusivamente de caráter rítmico e os outros dois mais melódicos;

https://www.youtube.com/watch?v=t1NZT5mvVD4 – Três Estudos para Percussão - 1.


Introdução e Fuga

https://www.youtube.com/watch?v=FvyQCHUnaD0 – Três Estudos para Percussão - 3.


Rondó

Outras obras de destaque é a Abertura nº 1 (1972) e Quatro peças modais (1975), para
cordas, que foi construída tendo por base alguns modos gregorianos, que se encontram
especialmente na música nordestina;

https://www.youtube.com/watch?v=v73guY9vN6M – Abertura Nº 1

Guarnieri estreou, em 1981, o Concerto de Lacerda para flautim e orquestra de cordas;

https://www.youtube.com/watch?v=P0GOEewWUNU – Concerto para Flautim e


Orquestra de Cordas (1980)

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13)

A obra 4 Movimentos para orquestra de cordas (1976) merece destaque por um tipo
diferente de escrita orquestral para cada movimento;

Entre 1966 e 1970, Lacerda participou da Comissão Nacional de Música Sacra;

O desenvolvimento desse trabalho o levou a compor quatro obras de cunho sacro: Missa
a duas vozes (1966), com acompanhamento de órgãos, a Missa ferial (1966) para coro
misto a cappella, a Missa Santa Cruz (1967) para coro misto com acompanhamento de
órgão, e a Missa a três vozes iguais (1971) com acompanhamento de órgão;

https://www.youtube.com/watch?v=Q2uZ7di0xsQ – Missa Ferial


Tentou conciliar o nacionalismo com o atonalismo;

2ª e 4ª Invenções para piano;

Seu estilo tenta realizar uma fusão da técnica de composição moderna com a psicologia
musical brasileira;

Mariz destaca, entre obras recentes de Lacerda, a Suíte nº 1 para cordas, a Suíte nº 2,
para flauta e cordas, em quatro movimentos, e também o Quarteto nº 2.

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14)

Também temos três Sonatinas para piano solo, os últimos da série de 10 Ponteios e das
12 Brasilianas, também para piano;

https://www.youtube.com/watch?v=z6FmS94Dn6M – Brasiliana Nº 2

Na música de câmara uma Sonata para flautim e piano, outra para oboé e piano, e uma
terceira para fagote e piano, dois Quintetos de sopros, mais 34 canções, um Andante
para orquestra de cordas e Pequenos estudos também para cordas;

https://www.youtube.com/watch?v=i_5qrDM-22A – Quinteto de Sopros 1995 – 1º mov.

Em 1997 a Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo organizou uma série de cinco
concertos comemorativos dos setenta anos de Osvaldo Lacerda;

No mesmo ano recebeu o Grande Prêmio de Crítica e o Prêmio Carlos Gomes (troféu
Guarani) da Secretaria de Cultura de São Paulo;

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15)

De 1994, a partir de um câncer (que, entretanto, nunca mais veio a dar problemas), seu
estado de saúde foi se debilitando;

Não pelo câncer que foi debelado, mas talvez pela debilidade que possivelmente
provoca no organismo;

Sofreu com uma depressão no ano de 2000, levando-o a sofrer vários tombos,
possivelmente ocasionados pelos fortes medicamentos;

Passou por várias cirurgias, sendo a última para a colocação de uma prótese no fêmur,
devido a uma artrose, em outubro de 2008;

A partir daí, não teve mais sossego, com problemas cardiovasculares que foram
surgindo também;
Finalmente, uma pneumonia aos 84 anos conseguiu vencê-lo, levando-o à morte em 18
de julho de 2011.

https://www.youtube.com/watch?v=JMaauKN4y74 – Melodia

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16)

EDMUNDO VILLANI-CÔRTES (1930-)

Outros valores da Segunda Geração Pós-Nacionalista

Mário Tavares (1928-2003), José Penalva (1924-2002), Nilson Lombardi (1926-2008),


Nelson de Macedo (1931-2018), Kilza Setti (1932-), Murilo Santos (1931-), Esther
Scliar (1926-1978), Brenno Blauth (1931-1993), Tasso Bangel (1931-);

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17)

SEGUNDA GERAÇÃO INDEPENDENTE – JOSÉ ANTÔNIO DE ALMEIDA


PRADO (1943-2010)

Paulista, nascido em fevereiro de 1943, vem de uma família ilustre de São Paulo;

Iniciou seus estudos musicais ao piano com a mão e a irmã;

Aos 8 anos passa a estudar seriamente o piano com a professora Dinorah de Carvalho;

Aos 14 tronou-se aluno de Camargo Guarnieri em composição e de Osvaldo Lacerda


em harmonia;

Estudou durante seis anos com Guarnieri até interessar-se pela música serial, aos vinte
anos de idade;

Graças ao amigo Gilberto Mendes, que lhe emprestava partituras de Messian,


Stockhausen e outros, foi penetrando em um outro mundo da música;

Em 1963 diplomou-se no Conservatório de Santos, onde ensinaria de 1965 a 1969;

Nesse período compôs A missa da paz (1965), para coro a cappella, uma missa em
português, e os Pequenos funerais cantantes (1969), para solistas (soprano e barítono),
coro e orquestra;

Foi premiada no Festival de Música da Guanabara e estreada sob a batuta de Henrique


Morelenbaum;

Valeu-lhe uma bolsa de estudos na Europa, para onde foi no mesmo ano;

Estudou na Alemanha e, em seguida, fixou-se em Paris;


Lá estudou por quatro anos com Nádia Boulanger e Oliver Messian;

Em 1970 compõe a Sinfonia nº 1, premiada em Paris e em Boston;

Outra obra premiada desse período foi Trajetória da Independência, oratório em três
partes, para narrador, soprano solo, coro e orquestra, usando textos de Pero Vaz de
Caminha e D. Pedro I;

Ao regressar de Paris dirigiu o Conservatório de Cubatão, na baixada santista, e a partir


de 1974 passa a lecionar na UNICAMP;

Almeida Prado reconhece que na primeira etapa de composição a sua música “caía em
demasia em melodismos inúteis, ou numa patê rítmica exagerada, ou num discurso um
pouco longo”;

PEÇAS DE DESTAQUE

Período Inicial:

Variações (1963) para piano solo;

VI Movimentos;

Ainda tem resquícios de Guarnieri, mas já esboçam a verdadeira personalidade do autor;

Variedade rítmica e melódica;

Após estudos em Paris:

Taaroá (1971);

Progresso da harmonia e do contraponto são influências de Nádia Boulanger;

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22)

REFERÊNCIAS:

ANDRADE, Ayres de. Francisco Manuel da Silva e seu tempo – 1808-1865: uma fase
do passado musical do Rio de Janeiro à luz

de novos documentos.Edições Tempo Brasileiro LTDA. Rio de Janeiro, 1967.

BENNETT, Roy. Uma Breve História da Música. Zahar. Rio de Janeiro, 1986.

CANDÉ, Roland de. História Universal da música. 2 volumes. São Paulo: Martins
Fontes, 2001.

CAZES, Henrique. Choro: do quintal ao municipal. Editora 34. São Paulo, 1998.
GROUT, Donald Jay; PALISCA, Claude V. A history of western music. 6th. ed. New
York: W.W. Norton & Company, c2001. Em

Português: GROUT, Donald Jay. História da música ocidental. Lisboa: Gradiva, 2001.
759 p.

MARIZ, Vasco. História da Música no Brasil. Editora: Nova Fronteira. Rio de Janeiro,
2005.

MOORE, Douglas. Guia dos Estilos Musicais. Editora: Edições 70, LDA. Portugal,
1991.

REZENDE, Maria da Conceição. A Música na História de Minas Colonial. Editora:


Itatiaia Ltda. Brasília, 1989.

SADIE, Stanley. Dicionário Grove de Música: edição concisa. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 1994.

SEVERIANO, Jairo. Uma História da Música Popular Brasileira: das origens à


modernidade. Editora 34 Ltda. São Paulo, 2008.

TOMÁS, Lia. Música e Filosofia: estética musical. Editora: Irmãos Vitae. São Paulo,
2005.

TRAVASSOS, Elizabeth. Modernismo e música brasileira. Editora Jorge Zahar. Rio de


Janeiro, 2000.

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