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MARA SOUSA

MESTRADO EM ENFERMAGEM MÉDICO-CIRÚRGICA NA

A PESSOA NO PÓS-INTERNAMENTO EM CUIDADOS INTENSIVOS: UM MODELO DE ACOMPANHAMENTO DE ENFERMAGEM


ÁREA DE ESPECIALIZAÇÃO DE ENFERMAGEM À PESSOA
EM SITUAÇÃO CRÍTICA

MARA ALEXANDRA ALVES DE SOUSA

A PESSOA NO PÓS-INTERNAMENTO EM CUIDADOS


INTENSIVOS: UM MODELO DE ACOMPANHAMENTO
DE ENFERMAGEM
2022

OLIVEIRA DE AZEMÉIS, 2022


ESCOLA SUPERIOR DE SAÚDE NORTE DA CRUZ VERMELHA
PORTUGUESA

A Pessoa no Pós-Internamento em Cuidados


Intensivos: Um Modelo de Acompanhamento de
Enfermagem

Relatório Final de Estágio

Mara Alexandra Alves de Sousa

Relatório de Estágio apresentado com vista à obtenção do grau de Mestre em


Enfermagem Médico-Cirúrgica na Área de Especialização de Enfermagem à Pessoa
em Situação Crítica, sob orientação da Professora Doutora Fernanda Maria Príncipe
Bastos Ferreira.

Oliveira de Azeméis| 2022


A Pessoa no Pós-Internamento em Cuidados Intensivos: Um Modelo de Acompanhamento de Enfermagem

ii Mara Alexandra Alves de Sousa


“A menos que modifiquemos a nossa maneira de
pensar, não seremos capazes de resolver os
problemas causados pela forma como nos
acostumamos a ver o mundo”.
(Albert Einstein)
A Pessoa no Pós-Internamento em Cuidados Intensivos: Um Modelo de Acompanhamento de Enfermagem

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AGRADECIMENTOS

À orientadora deste percurso de investigação Professora Doutora Fernanda Maria Príncipe


Bastos Ferreira pela orientação, disponibilidade, empenho, dedicação, sugestões e visão
crítica que permitiu o crescimento pessoal e profissional ao longo deste percurso de
investigação.
À ajuda da Professora Doutora Liliana Mota que sempre manifestou elevado interesse nesta
investigação.
Ao Conselho de Administração do Centro Hospitalar Entre o Douro e Vouga pelo aval à
realização deste trabalho de investigação.
Às pessoas em situação crítica do Serviço de Medicina Intensiva Polivalente do Centro
Hospitalar Entre o Douro e Vouga que permitiram a viabilidade do estudo.
Ao Enfermeiro Gestor José David Ferreira, por ter acreditado neste projeto e mobilizado
meios para que as diferentes etapas se realizassem de forma mais célere.
Aos tutores Enfermeiro Mestre Especialista em Enfermagem Médico-Cirúrgica Luís Sousa e
ao Enfermeiro Especialista em Enfermagem Médico-Cirúrgica Daniel Serra pela partilha de
experiências no estágio em contexto de urgência.
A todos os profissionais que partilham o dia-a-dia comigo, pelo incentivo e apoio diário à
concretização deste estudo.
Aos meus amigos pelo companheirismo e incentivo constante.
À Luciana, à Andrea e às Sónias…..Há palavras, sorrisos e abraços que não de esquecem….
Ao Tiago por toda a disponibilidade e partilha de conhecimento.
Aos meus pais e irmão que estão sempre comigo.
Ao meu sobrinho Rodrigo pelo seu sorriso contagiante.
Ao Lúcio, pela força diária, pela compreensão, pelo estímulo, pela dedicação, pelos
momentos em que foi pai e mãe…. Obrigado por caminhares comigo.
À minha filha Leonor….os seus abracinhos são terapia para mim e o motor desta jornada.
A todas as mulheres com cancro da mama…. ele não é o fim de nada! Pelo contrário…. pode
ser o princípio de muita coisa. Este trabalho é a prova disso!
A todos, o meu… MUITO OBRIGADA!

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LISTA DE ABREVIATURAS, ACRÓNIMOS E SIGLAS

ACSS - Administração Central de Sistemas de Saúde


APACHE II - Acute Physiology and Chronic Health Evaluation II
AVC - Acidente Vascular Cerebral
AVD - Atividade de Vida Diária
CFU - Consulta de Follow-Up
CHEDV - Centro Hospitalar Entre o Douro e Vouga
CIPE - Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem
DGS- Direção Geral de Saúde
dp - Desvio Padrão
EEEMC - Enfermeiro Especialista em Enfermagem Médico-Cirúrgica
EQ-5-D - European Quality of Life 5 Dimensions
EQ-VAS - Visual Analogue Scale European Quality of Life
HADS - Hospital Anxiety and Depression Scale
IACS - Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde
M - Média
MFR - Medicina Física de Reabilitação
n- Tamanho da Amostra
p - probabilidade de significância
PPCIRA - Programa de Prevenção e Controle de Infeções e de Resistência aos Antimicrobianos
PTSS-14 - Post-Traumatic Stress Scale-14
rpb - Coeficiente de Correlação Ponto-Bisserial
rs - Coeficiente de Correlação de Spearman
SAPS II - Simplified Acute Physiology Score II
SARS-CoV-2 - Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus 2
SMIP - Serviço de Medicina Intensiva Polivalente
SMIP - Serviço de Medicina Intensiva Polivalente
SNS - Serviço Nacional de Saúde
SPICI - Síndrome Pós-Internamento em Cuidado Intensivos
SPICI - Síndrome Pós-Internamento em Cuidados Intensivos
SPSS - Statistical Package for Social Science
SUMC - Serviço de Urgência Médico-Cirúrgica

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TSPT - Transtorno de Stress Pós-Traumático


TV - Televisão
UCI - Unidade de Cuidados Intensivos
VMI - Venlitação Mecânica Invasiva
VMNI - Ventilação Mecânica Não Invasiva
X2 - Qui-Quadrado

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RESUMO

Na área da medicina intensiva os cuidados de enfermagem à pessoa em situação crítica são


altamente qualificados e são prestados de forma contínua e sistemática, para prevenir
complicações, limitar incapacidades e otimizar a recuperação total. Após a transferência da
Unidade de Cuidados Intensivos (UCI) as pessoas deparam-se com um conjunto de
complicações que afetam a sua qualidade de vida e a dos seus familiares. Neste âmbito a
Consulta de Follow-Up (CFU) é desenvolvida para potenciar a recuperação funcional da
pessoa em situação crítica no pós-internamento em Cuidados Intensivos, onde o enfermeiro
desempenha um papel fundamental de facilitador do processo de transição saúde/doença.
O cuidado à pessoa a vivenciar processos complexos de transição saúde/doença após a
doença crítica, baseado na competência específica do Enfermeiro Especialista, reflete-se na
melhoria da qualidade dos cuidados, com impacte positivo na qualidade de vida e bem-estar
destas pessoas. Este trabalho académico pretende analisar o modelo de acompanhamento
de enfermagem em uso e identificar as principais necessidades da pessoa após a doença
crítica, na vivência do seu processo de transição saúde/doença, contribuindo para a
elaboração futura de um modelo de acompanhamento de enfermagem às pessoas após a
transferência do Serviço de Medicina Intensiva Polivalente (SMIP). O estágio de enfermagem
à pessoa em situação crítica II realizado no Serviço de Urgência Médico-Cirúrgica (SUMC) e
na CFU do SMIP do Centro Hospitalar Entre o Douro e Vouga (CHEDV), tendo em conta o
exercício de funções no SMIP da mesma instituição, foram uma oportunidade para ter uma
visão mais abrangente de todo o percurso da pessoa em situação crítica, nomeadamente das
suas necessidades em cada fase, desde a admissão no hospital até ao momento da alta da
CFU. Realizou-se um estudo qualitativo, retrospetivo e documental decorrente da análise do
processo clínico das pessoas após a doença crítica encaminhadas para a CFU do SMIP, no
período de dezembro de 2017 até outubro de 2020. O desenvolvimento deste trabalho de
investigação pretende contribuir para a elaboração de um modelo de acompanhamento de
enfermagem às pessoas após a alta dos Cuidados Intensivos. Considera-se que este estudo
representará uma estratégia de melhoria progressiva da qualidade dos processos de
assistência de enfermagem à pessoa em situação critica no pós-internamento em Cuidados
Intensivos.

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ABSTRACT

In the area of intensive care medicine, nursing care to critically ill patients is highly qualified
and is provided in a continuous and systematic way to prevent complications, limit disabilities
and optimize total recovery. After being transferred from the Intensive Care Unit (ICU),
people face several complications that affect their quality of life and that of their relatives.
In this context, the Follow-Up Nursing Consultation (CFU) exists to enhance the functional
recovery of critically ill patients after their admission to Intensive Care Units, in which nurses
play a key role as facilitators of the health/disease transition process. The care provided to
people experiencing complex health/illness transition processes following a critical illness,
based on the specific competence of the Nurse Specialist, is reflected in the improvement of
the quality of care, with a positive impact on the quality of life and well-being of these people.
This academic work aims to analyse the model of nursing care in use and identify the main
needs of people after critical illness, during their health/illness transition process, thus
contributing to the future development of a nursing care model for people after being
transferred from the Multipurpose Intensive Care Unit (SMIP).The nursing internship for
critically ill patients II, held at the Surgical and Medical Emergency Service (SUMC) and at the
Intensive Care Unit (CFU) of the Entre o Douro e Vouga Hospital Center (CHEDV), taking into
consideration SMIP’s performance of duties in the same institution, was an opportunity for
a more comprehensive view of the whole journey of critically ill patients, namely their needs
during each phase, from the hospital admission to the moment of discharge from the CFU. A
qualitative, retrospective, and documental study was conducted based on the analysis of the
clinical records of people after critical illness who were referred to the SMIP´s CFU, between
December 2017 and October 2020. The development of this research study intends to
contribute to the development of a nursing follow-up model for people after being
discharged from Intensive Care Unit. This study will represent a strategy for the progressive
improvement of the quality of the nursing care processes provided to critically ill patients
after ICU admission.

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XII Mara Alexandra Alves de Sousa


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ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1: Dados Clínicos ........................................................................................................ 68


Tabela 2: Pessoas avaliadas e não avaliadas por momento de avaliação ............................. 68
Tabela 3: Prevalência de sequelas respiratórias por momento de avaliação........................ 69
Tabela 4: Prevalência de sequelas digestivas por momentos de avaliação .......................... 70
Tabela 5: Scores médios do Índice de Barthel e da MRC por momento de avaliação .......... 70
Tabela 6: Análise descritiva da MMSE por momento de avaliação ....................................... 71
Tabela 7: Análise descritiva da escala de HADS por momento de avaliação......................... 71
Tabela 8: Estatística descritiva da subescala da ansiedade por momento de avaliação ....... 72
Tabela 9: Estatística descritiva de subescala da depressão por momento de avaliação....... 73
Tabela 10: Estatística descritiva da escala PTSS-14 por momento de avaliação ................... 73
Tabela 11: Análise estatística das cinco dimensões da escala EQ-5D ao 6º mês .................. 74

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1: Aspetos de Saúde Relevantes para a prática de Enfermagem ............................... 77

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ÍNDICE GERAL

INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 19

PARTE I – COMPONENTE DE ESTÁGIO ................................................................... 23

1. Enquadramento dos contextos de estágio.................................................................. 25

1.1. Estágio em contexto de urgência .................................................................. 25

1.2. Estágio em contexto de Consulta de Follow-Up ........................................... 27

2. Competências comuns do Enfermeiro Especialista .................................................. 29

2.1. Domínio da Responsabilidade Profissional, Ética e Legal ............................ 29

2.2. Domínio da Melhoria Contínua da Qualidade .............................................. 31

2.3. Domínio da Gestão dos Cuidados ................................................................. 35

2.4. Domínio do Desenvolvimento das Aprendizagens Profissionais ................... 36

3. Competências específicas do Enfermeiro Especialista em enfermagem à pessoa em


situação crítica ...................................................................................................................... 39

3.1. Cuida da Pessoa, Família/Cuidador a Vivenciar Processos Complexos de


Doença Crítica e/ou Falência Orgânica................................................................... 39

3.2. Maximiza a Prevenção, Intervenção e Controlo da Infeção e de Resistência a


Antimicrobianos perante a Pessoa em Situação Crítica e/ou Falência Orgânica, face à
Complexidade da Situação e à necessidade de respostas em tempo útil e adequadas 44

4. Considerações finais ..................................................................................................... 47

PARTE II – COMPONENTE DE INVESTIGAÇÃO ..................................................... 49

1. Resumo.......................................................................................................................... 51

2. Abstract ......................................................................................................................... 53

3. Fundamentação/enquadramento teórico................................................................... 55

4. Finalidade e objetivos .................................................................................................. 59

5. Metodologia .................................................................................................................. 61

5.1. Desenho do estudo ....................................................................................... 61

5.2. Considerações éticas..................................................................................... 64

6. Resultados ..................................................................................................................... 67

Mara Alexandra Alves de Sousa XVII


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7. Discussão ...................................................................................................................... 79

8. Conclusão ...................................................................................................................... 85

CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 87

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 89

ANEXOS ............................................................................................................................... 99

ANEXO I: INSTRUÇÃO DE TRABALHO “COLHEITA DE HEMOCULTURAS”101

ANEXO II: NORMA DE ORIENTAÇÃO CLÍNICA "MEDIDAS NÃO-


FARMACOLÓGICAS A ADOTAR PARA A PROMOÇÃO DO SONO E
PREVENÇÃO DO DELÍRIUM NO DOENTE CRÍTICO" ........................................ 105

ANEXO III: PROTOCOLO "MOBILIZAÇÃO PRECOCE” ....................................... 109

ANEXO IV: PROTOCOLO “ OPERACIONALIZAÇÃO DA CONSULTA DE


FOLLOW-UP” ................................................................................................................... 113

ANEXO V: PLANIFICAÇÃO DA AÇÃO DE FORMAÇÃO: "COLHEITA DE


HEMOCULTURAS" ......................................................................................................... 119

ANEXO VI: AÇÃO DE FORMAÇÃO: "COLHEITA DE HEMOCULTURAS" ....... 123

ANEXO VII: PLANIFICAÇÃO DA AÇÃO DE FORMAÇÃO "VNI EM CONTEXTO


DE URGÊNCIA"............................................................................................................... 127

ANEXO VIII: AÇÃO DE FORMAÇÃO "VNI EM CONTEXTO DE URGÊNCIA" 131

ANEXO IX: PÓSTER “PAPEL DO ENFERMEIRO ESPECIALISTA NA


TRANSIÇÃO SAÚDE/DOENÇA À PESSOA CONSCIENTE EM PRONE: ESTUDO
DE CASO ............................................................................................................................ 135

ANEXO X: PÓSTER “IMPACTE DAS INTERVENÇÕES DE ENFERMAGEM NÃO


FARMACOLÓGICAS NA PREVENÇÃO DO DELÍRIUM DO DOENTE CRÍTICO”
............................................................................................................................................. 139

ANEXO XI: EXPOSIÇÃO ESCRITA "IMPACTE DOS DIÁRIOS DE CUIDADOS


INTENSIVOS NO BEM-ESTAR EMOCIONAL DA PESSOA/FAMÍLIA" ............. 143

ANEXO XII: CARTAZ "COLHEITA DE HEMOCULTURAS” ................................ 149

A ANEXO XI: PARECER DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DO CHEDV 153

XVIII Mara Alexandra Alves de


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INTRODUÇÃO

A investigadora principal iniciou a sua atividade profissional na Unidade de Cuidados


Intensivos Polivalente do Hospital S. Sebastião, que mais tarde veio a constituir o CHEDV,
juntamente com Hospital de São João da Madeira e o Hospital de Oliveira de Azeméis, onde
se mantém até a atualidade. Há mais de 18 anos que direciona a prestação de cuidados de
enfermagem à pessoa a vivenciar processos complexos de doença crítica e/ou falência
multiorgânica no âmbito do internamento em Cuidados Intensivos. Em dezembro de 2017
foi criada a CFU do SMIP, tendo participado ativamente na sua projeção e posterior
implementação. Os conhecimentos, capacidades e habilidades desenvolvidas decorrentes da
experiência profissional em contexto da prática clínica ao longo dos anos permitiram a
aquisição de um conjunto de competências demonstradas pela elevada capacidade de
conceção, gestão, supervisão de cuidados e o elevado grau de adequação dos cuidados às
reais necessidades da pessoa em situação crítica.

O juízo crítico desenvolvido e aprimorado decorrente do contato permanente com a


pessoa em situação crítica durante e no pós-internamento em Cuidados Intensivos e da
constante atualização da evidência científica, verificou que no que concerne à conceção,
planeamento e implementação de programas de acompanhamento, direcionados à
recuperação das sequelas desenvolvidas durante o internamento, pela sua relevância para a
prática de enfermagem, carecia de uma abordagem de intervenção especializada de forma a
dar resposta às principais necessidades das pessoas após a doença crítica.

Uma vez que os cuidados de enfermagem à pessoa em situação crítica são cuidados
qualificados prestados de uma forma contínua e sistemática, como resposta às necessidades
afetadas, prevenindo complicações e limitando incapacidades, com vista à recuperação total,
cuidar da pessoa no pós-internamento em Cuidados Intensivos a vivenciar processos
complexos resultantes da doença crítica é uma competência das competências clínicas
especializadas do EEEMC (Regulamento n.º 429/2018 de 16 de Julho, 2018).

O Síndrome Pós-internamento em Cuidados Intensivos (SPICI) é um termo unificador


que descreve um conjunto de complicações e sequelas que ocorrem a nível físico, cognitivo
e mental, após a doença crítica e que persistem meses ou anos no pós-internamento em
Cuidados Intensivos, afetando as pessoas e os seus familiares, com impacto negativo na

Mara Alexandra Alves de Sousa 19


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qualidade de vida e incapacidade para o trabalho (Robinson et al., 2019; Needham et al.,
2012).

Com base no conhecimento recente é recomendada uma abordagem mais sistemática


de acompanhamento, como uma componente integral da terapia intensiva com objetivos
bem definidos e programas de avaliação (Hanifa et al., 2018), para mitigar o risco do declínio
neuropsicológico e funcional que a doença crítica induz. Sendo os enfermeiros os
profissionais de saúde que melhor desempenham o papel de “facilitadores do processo de
transição” dada a sua maior proximidade e conhecimento da realidade e necessidades da
pessoa (Mota, 2018; Mota et al., 2011), revela-se bastante útil o conhecimento das principais
necessidades das pessoas no pós-internamento em Cuidados Intensivos, no sentido de serem
desenvolvidas e implementadas estratégias que tragam ganhos em saúde para estas pessoas
e que potenciem a sua recuperação total.

Considerando a problemática descrita, o desenvolvimento deste percurso de


investigação pretende analisar o modelo de acompanhamento de enfermagem em uso e
identificar as principais necessidades da pessoa em situação crítica na vivência do processo
transição saúde/doença, contribuindo para a elaboração futura de um modelo de
acompanhamento de enfermagem à pessoa em situação crítica após a transferência do SMIP.

Este estudo de investigação foi alicerçado conceptualmente na teoria das transições


de Afaf Meleis (2010), uma vez que as pessoas no pós-internamento em Cuidados Intensivos
deparam-se inevitavelmente com períodos de transição provocados por mudanças de
desenvolvimento, de situação ou de doença que podem causar modificações profundas no
seu bem-estar e saúde, bem como nos familiares que os rodeiam (Meleis, 2010). A visão
ampla, a sensibilidade, o conhecimento e experiência do EEEMC à pessoa em situação crítica
permite-o intervir como facilitador do processo de transição.

A realização deste estudo revela-se de extrema importância uma vez que o


envelhecimento da população e a diminuição acentuada das taxas de mortalidade dos
pessoas críticos, fruto dos avanços tecnológicos na área da saúde, dá origem a uma
população em expansão de sobreviventes ao tratamento intensivo (Eaton et al., 2019). O
agravamento da condição anterior ao internamento e o desenvolvimento de novas
alterações biopsicossociais, muitas vezes subestimadas, é encarado na atualidade como um
grave problema de saúde pública, que pode ter um impacte drástico na qualidade de vida da
pessoa ou capacidade para o trabalho, e persistir por meses ou anos após a alta hospitalar

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(Eaton et al., 2019). Neste sentido, há uma necessidade crescente de consciencialização para
esta problemática e de otimização de estratégias de atuação (Gil, 2021).

As experiências de formação clínica adquiridas no âmbito dos estágios, promovem a


integração dos componentes teóricos e práticos do currículo de enfermagem e permitem o
desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e atitudes profissionais, facilitadores da
prática profissional em ambientes de saúde reais e complexos. (AlMekkawi et al., 2020).
Tendo em conta a longa experiência na área dos Cuidados Intensivos, a realização do estágio
de enfermagem à pessoa em situação crítica II, que decorreu no SUMC e na CFU do SMIP do
CHEDV, revelou-se uma oportunidade para ter uma visão completa de todo o percurso da
pessoa em situação crítica, desde a sua admissão no hospital até ao momento da alta da CFU,
com vista ao desenvolvimento de competências nos cuidados especializados à pessoa em
situação crítica, no domínio científico, técnico, humano, espiritual e cultural.

O relatório final de estágio com componente de investigação na área de especialização


de enfermagem à pessoa em situação crítica do Mestrado em Enfermagem Médico-Cirúrgica
é um trabalho original alicerçado em objetivos de nível avançado e em cuidados altamente
qualificados para a pessoa a vivenciar processos de transição saúde/doença complexos após
a doença crítica.

Este documento estruturalmente encontra-se organizado em duas partes. A primeira


parte, a componente de estágio, apresenta um enquadramento dos contextos de estágio e,
posteriormente, uma análise crítica e reflexiva, alicerçada nas competências comuns e
específicas do EEEMC à pessoa em situação crítica preconizadas pela Ordem dos Enfermeiros,
colmatando numa conclusão. A segunda parte, referente à componente de investigação,
narra o percurso de investigação realizado. Na introdução será realizada uma abordagem aos
conceitos chave deste percurso de investigação, com recurso à análise do estado da arte
nesta área. No desenho da investigação estarão descritos os critérios de seleção da amostra,
a recolha, tratamento e análise dos dados, assim como, as considerações éticas. Os
resultados serão apresentados e organizados por domínios e, na discussão, confrontados
com a melhor evidência, uma vez que todo o trajeto percorrido esteve alicerçado no seu
permanente recurso. Na conclusão serão descritas as principais conclusões e implicações
deste estudo para a prática atual e futura.

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PARTE I – COMPONENTE DE ESTÁGIO

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1. Enquadramento dos contextos de estágio

Neste capítulo é feita uma rápida caraterização dos contextos do estágio de


enfermagem à pessoa em situação crítica II, fundamental para um maior entendimento das
competências desenvolvidas e do percurso de investigação realizado para identificar as
principais necessidades da pessoa no pós-internamento em Cuidados Intensivos.

1.1. Estágio em contexto de urgência


O estágio em contexto de urgência realizou-se no SUMC do CHEDV. O Hospital de São
Sebastião entrou em funcionamento no dia 4 de janeiro de 1999 e em fevereiro de 2009 veio
a integrar o CHEDV, agregando os Hospitais de São João da Madeira e de São Miguel em
Oliveira de Azeméis (Decreto-Lei n.º 27/2009 de 27 de janeiro, 2009). É responsável pela
prestação de cuidados de saúde a nível hospitalar a uma população de cerca de 340.000
habitantes, residentes nos concelhos de Santa Maria da Feira, Arouca, São João da Madeira,
Oliveira de Azeméis, Vale de Cambra e parte dos concelhos de Ovar e Castelo de Paiva
(CHEDV, 2022).
O SUMC do CHEDV apresenta um nível de resposta Médico-Cirúrgico, o segundo nível
de acolhimento das situações de urgência (Despacho nº 10319/2014 de 11 de agosto, 2014)
e localiza-se na Unidade da Feira, assim como a viatura médica de emergência e reanimação,
com equipa que assegura a atividade pré-hospitalar. Este funciona em rede e presta apoio
diferenciado aos serviços de Urgência Básica de S. João da Madeira e Oliveira de Azeméis, e
referencia, aquando da necessidade de cuidados especializados, para Serviços de Urgência
Polivalente (Despacho n.º 10319/2014 de 11 de agosto, 2014). Comporta as valências clínicas
e equipamentos obrigatórios de Medicina Interna; Atendimento Pediátrico; Cirurgia Geral;
Ortopedia; Anestesiologia; Imunohemoterapia; Bloco Operatório, Imagiologia e Patologia
Clínica (Despacho n.º 10319/2014 de 11 de agosto, 2014).
Em termos físicos o SUMC situa-se no mesmo piso que os exames complementares de
diagnóstico. Contudo o acesso ao bloco operatório, localizado no piso superior, realiza-se por
meio de um elevador, contrariando as determinações da Administração Central de Sistemas
de Saúde (ACSS, 2019). De acordo com o mesmo organismo, e de uma forma sucinta, o SUMC
está organizado por áreas funcionais: área de admissão/administrativa; área de triagem; área
de atendimento para pessoas de prioridade pouco ou não urgente (verde/azul); área com
duas zonas de atendimento para situações urgentes (Amarela), sendo uma delas específica
para cirurgia e trauma; área de atendimento muito urgente (laranja); área de emergência

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(Sala de Reanimação); outras áreas de urgência de especialidades, que se encontram noutros


espaços físicos como a oftalmologia e otorrinolaringologia; área de informação e
comunicação com familiares; gabinetes médicos, administrativos e de enfermagem e outros
espaços de apoio como, armazém, copa e vestiários. Atendendo à pandemia causada pelo
Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus 2 (SARS-CoV-2), foi criada uma área distinta
que permite o isolamento e atendimento atempado destas pessoas. O diretor de serviço e o
enfermeiro chefe possuem gabinetes próprios.
Na área de triagem realiza-se a primeira avaliação do doente e é atribuída uma pulseira
com a cor correspondente à prioridade de atendimento. É composta por dois postos de
triagem nos turnos da manhã e tarde e por um durante o turno da noite, havendo a
possibilidade de abertura de um terceiro posto improvisado em situações de grande
afluência.
A sala de emergência fica à entrada do SUMC e ao lado da triagem, permitindo a
entrada e triagem direta de pessoas em situação emergente vindos do exterior. Dispõe de
duas unidades totalmente equipadas para dar resposta a situações que implicam risco de
vida.
A equipa de enfermagem é constituída por 102 elementos e são escalados 14
enfermeiros nos turnos de manhã e tarde e à noite 11 enfermeiros. Em todos os turnos, um
dos elementos da equipa fica com funções de coordenação, sendo responsável pela gestão
do serviço relativamente aos enfermeiros, assistentes operacionais, materiais,
equipamentos, medicação e gestão de conflitos.
A componente de investigação inerente a este relatório final centra-se nas
necessidades da pessoa em situação crítica no pós-internamento em Cuidados Intensivos.
Tendo em conta que a tomada de decisão e a qualidade dos cuidados prestados desde a
entrada no hospital, tem impacte na condição e processo de recuperação da pessoa em
situação crítica, estabeleceu-se os seguintes objetivos para este campo de estágio:
• Identificar, planear e intervir em contexto de urgência e emergência nas situações
que requeiram cuidados especializados médicos e/ou cirúrgicos à pessoa em
situação crítica e família;
• Atuar como agente facilitador dos processos de aprendizagem no desenvolvimento
de ações de formação em áreas com necessidades formativas;
• Estabelecer estratégias pró-ativas para uma correta colheita de hemoculturas no
serviço de urgência, visando a prevenção e controlo da infeção e de resistência a
antimicrobianos.

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1.2. Estágio em contexto de Consulta de Follow-Up


A CFU do SMIP foi implementada em dezembro de 2017 e tem como objetivos
conhecer a prevalência de complicações/sequelas físicas, funcionais, psicológicas e sociais e
o seu impacto na qualidade de vida dos clientes; identificar de forma precoce as sequelas
resultantes da doença crítica e do internamento, no sentido de serem implementadas
intervenções dirigidas para potenciar a recuperação funcional da pessoa em situação crítica
de forma mais ampla possível, através do encaminhamento e seguimento por uma rede
multidisciplinar de referenciação intra-hospitalar; divulgar os resultados, permitindo a
discussão e apresentação de propostas de melhoria para a prática assistencial (SPCI, 2022).
A equipa é formada por 2 médicos intensivistas e por 4 enfermeiros, 1 generalista e os
restantes especialistas. A equipa colabora com uma rede multidisciplinar de referenciação
intra-hospitalar, nomeadamente, psicólogos, psiquiatras, cirurgiões, neurologistas (…) e de
um modo muito próximo com os elementos do serviço de Medicina Física e Reabilitação
(MFR) – médicos, fisiatras e terapeutas da fala, não só porque todo o processo de avaliação
e recuperação funcional se inicia muito precocemente com a pessoa ainda internada, mas
também porque os elementos de MFR que iniciam o processo de recuperação funcional
mantêm a ligação e continuidade de cuidados em ambiente de consulta externa.
Estão preconizados quatro momentos de avaliação: consulta do 6º dia, intra-
hospitalar, efetuada até ao 6ºdia após a alta do SMIP e consulta externa, semanal às 5ªs
feiras de manhã, no Serviço da MFR, efetuada ao 1º, 3º e 6º mês após a alta do SMIP, com
as valências de consultas médicas e de enfermagem, com recurso ao sistema informático B-
Simple. Na consulta do primeiro mês em regime de ambulatório as pessoas são também
avaliadas por MFR. A realização das consultas subsequentes é decidida em equipa (médico e
enfermeiro) e depende do estado clínico da pessoa e da sua evolução.
A colheita de dados é feita a partir da observação direta de sinais e sintomas e através
da implementação de vários questionários validados para a população portuguesa, com o
objetivo de detetar/monitorizar a incidência de complicações nos diferentes domínios.
São referenciados para seguimento na CFU as pessoas com internamento no SMIP
maior ou igual a 48 horas com ventilação mecânica (invasiva e/ou não invasiva), pessoas que
foram sujeitas a sedação e analgesia por um mesmo período de tempo e que desenvolveram
componentes do SPICI.
Alinhados com a temática central da componente de investigação deste relatório final
de estágio, consideram-se os seguintes objetivos:

Mara Alexandra Alves de Sousa 27


A Pessoa no Pós-Internamento em Cuidados Intensivos: Um Modelo de Acompanhamento de Enfermagem

• Uniformizar a prática clínica com base na evidência científica quanto à prevenção e


redução do SPICI nos domínios físico e mental;
• Desenvolver e propor um protocolo de seguimento à pessoa após a doença crítica,
com base no modelo preconizado atualmente e na definição de propostas de
melhoria alicerçadas na evidência;
• Promover e fomentar junto dos responsáveis do serviço o desenvolvimento de
programas dirigidos às necessidades dos sobreviventes e respetiva família, nas
perturbações emocionais decorrentes do internamento e tratamento da doença
crítica.

28 Mara Alexandra Alves de Sousa


A Pessoa no Pós-Internamento em Cuidados Intensivos: Um Modelo de Acompanhamento de Enfermagem

2. Competências comuns do Enfermeiro Especialista

Neste capítulo pretende-se descrever as competências comuns do EEEMC à pessoa em


situação crítica, presentes no Regulamento n.º140/2019 de 6 de fevereiro de 2019,
desenvolvidas no decorrer dos dois contextos do estágio de enfermagem à pessoa em
situação crítica II, a partir do juízo crítico aplicado na concessão, planeamento e tomada de
decisão perante os processos complexos de transição saúde/doença, tendo por base a
componente de investigação em estudo e fazendo uma análise reflexiva dos objetivos de
nível avançado definidos no âmbito de contexto clinico.

2.1. Domínio da Responsabilidade Profissional, Ética e Legal

O Enfermeiro Especialista demonstra um exercício seguro, profissional e ético,


recorrendo a habilidades de tomada de decisão ética e deontológica, com base num corpo
de conhecimento no domínio ético-deontológico, na avaliação sistemática das melhores
práticas e nas preferências do doente. Por outro lado, respeita os direitos humanos, analisa
e interpreta as situações específicas de cuidados especializados, gerindo situações
potencialmente comprometedoras para os doentes (Regulamento n.º 140/2019 de 6 de
fevereiro, 2019).
Tendo em conta a complexidade e as particularidades de um SUMC, são inúmeros os
desafios que os enfermeiros enfrentam diariamente que podem pôr em causa os direitos das
pessoas. Fatores como a elevada carga de trabalho, a carência de recursos humanos, a
pressão constante para reduzir o tempo de atendimento, os conflitos, a imprevisibilidade de
eventos complexos em determinadas pessoas que concentram a atenção dos profissionais
de saúde em detrimento de outras, a agitação, os ruídos, entre outros, potenciam situações
comprometedoras para os doentes. Os enfermeiros, nomeadamente os especialistas,
assumem um papel de destaque na salvaguarda dos seus direitos.
Apesar da Lei n.º 15/2014 de 21 de março de 2014, referir que “…nos serviços de
urgência do Sistema Nacional de Saúde, a todos é reconhecido e garantido o direito de
acompanhamento de uma pessoa por si indicada, devendo ser prestada essa informação na
admissão pelo serviço”, constatou-se que na atualidade o SUMC do CHEDV não reúne
condições para o fazer devido ao espaço físico reduzido e às contingências inerentes à
situação pandémica vivida.

Mara Alexandra Alves de Sousa 29


A Pessoa no Pós-Internamento em Cuidados Intensivos: Um Modelo de Acompanhamento de Enfermagem

Durante a prática diária, orientou a tomada de decisão na observância da deontologia


profissional, de forma a assegurar o respeito pelo direito da pessoa em situação crítica no
acesso à informação e no direito ao consentimento livre e esclarecido.
Relativamente à privacidade e confidencialidade, apesar do espaço físico reduzido das
diferentes áreas da urgência ser uma barreira para a garantia deste direito, houve sempre a
preocupação de usar barreiras físicas nos momentos de maior exposição das pessoas por
forma a garantir este direito. Estas medidas proporcionaram um ambiente de maior
segurança e aumentaram o nível de satisfação da pessoa/familiar, sendo um indicador de
qualidade essencial para obtenção de ganhos em saúde.
Como referido nos artigos 39º e 156º do Código Penal, nas situações em que a pessoa
está inconsciente ou incapaz de consentir e não está representado por um representante
legal, sendo a intervenção urgente e a sua não realização coloca em risco a sua vida, o
consentimento presumido é o recurso utilizado. Este último, salvaguarda a atuação dos
profissionais de saúde, mas pode não respeitar o direito à autodeterminação da pessoa em
causa. O acesso ao Registo Nacional do Testamento Vital, estabelecida pela Portaria
141/2018 de 18 maio de 2018, dá ao Enfermeiro Especialista uma ferramenta essencial nas
situações que envolvam o consentimento presumido, para que a tomada de decisão vá de
encontro com o autodeterminado pela pessoa previamente.
A imobilização física ou mecânica, apesar de ser uma prática comum nos contextos
clínicos, é muito controversa e está associada à incidência de eventos adversos de diferentes
naturezas. A agitação e agressividade de algumas pessoas representava um risco para a sua
integridade física e a dos profissionais de saúde. Nos casos presenciados assegurou-se que a
sua aplicação, só seria considerada depois de implementadas todas as intervenções verbais,
não verbais e farmacológicas e esgotados todos os recursos alternativos, tal como
preconizado pela Direção Geral de Saúde (DGS) na Orientação nº 21/2011 de 6 de junho.
Ao longo deste estágio de enfermagem à pessoa em situação crítica II, a tomada de
decisão ética foi sustentada nos princípios, valores, e normas deontológicas. Os
comportamentos demonstrados e a tomada de decisão, tiveram sempre como base o
respeito pela dignidade, confidencialidade e individualidade da pessoa e a valorização das
suas crenças e valores, permitindo uma reflexão mais cuidada e profunda sobre estas
temáticas, valorizando-as no âmbito da atuação do EEEMC à pessoa em situação crítica
(Regulamento n. º140/2019 de 6 de fevereiro, 2019).

30 Mara Alexandra Alves de Sousa


A Pessoa no Pós-Internamento em Cuidados Intensivos: Um Modelo de Acompanhamento de Enfermagem

2.2. Domínio da Melhoria Contínua da Qualidade

O Enfermeiro Especialista garante um papel dinamizador na conceção,


desenvolvimento, disseminação e avaliação de iniciativas e estratégicas que visam a
implementação de programas de melhoria contínua nos contextos da prática clínica, com
foco na segurança dos cuidados (Regulamento n.º 140/2019 de 6 de fevereiro, 2019).
Numa perspetiva de enfermeira especialista, ao longo deste percurso foram
identificados focos suscetíveis de otimização da prática, com a finalidade de garantir a
qualidade dos cuidados. As barreiras para o exercício da prática de enfermagem neste
estágio, nomeadamente no contexto de urgência, vão desde a disposição do espaço físico,
que acarretam riscos para a prestação de cuidados, à carência de protocolos que
uniformizem a atuação dos enfermeiros. É da responsabilidade do Enfermeiro Especialista
zelar pelos cuidados prestados pelos profissionais de saúde, proporcionando um ambiente
seguro com recurso a estratégias de qualidade, com foco na segurança da pessoa em situação
crítica e de todos os envolvidos (Ordem dos Enfermeiros, 2021).
A padronização dos procedimentos através do uso de protocolos, normas de
assistência e instruções de trabalho, melhora a qualificação dos enfermeiros para a tomada
de decisão, diminui a ocorrência do erro e corrige não conformidades, permite que todos os
trabalhadores prestem cuidados padronizados para a pessoa de acordo com os princípios
técnico-científicos vigentes, promovendo a inovação do cuidado e maiores níveis de
satisfação para a equipe de enfermagem (Sales et al.,2018).
Neste sentido, os esforços direcionaram-se na tentativa de despertar os profissionais
de enfermagem para as vantagens da elaboração de protocolos e de projetos de melhoria
contínua da qualidade, para a prática de enfermagem, tal como preconizado pelo
Regulamento n.º 140/2019 de 6 de fevereiro de 2019. Na tentativa de promover boas
práticas em contexto de urgência, com vista à melhoria contínua da qualidade dos cuidados,
e depois do conhecimento da prevalência de elevados números de amostras de
hemoculturas contaminadas neste serviço, realizou-se uma instrução de trabalho com a
finalidade de uniformizar este procedimento e implementar uma técnica de colheita de
hemoculturas no SU, baseada na melhor evidência científica e adaptada à realidade do
serviço e do CHEDV (Anexo I), aguardando atualmente aprovação pelo concelho de
administração do CHEDV.
Em contexto de urgência foram sempre adotadas medidas preventivas do risco de
queda, sobretudo nas pessoas mais agitadas e desorientadas. Mais uma vez, alertou-se os
pares para a importância da avaliação e registo do risco de quedas durante a prestação de

Mara Alexandra Alves de Sousa 31


A Pessoa no Pós-Internamento em Cuidados Intensivos: Um Modelo de Acompanhamento de Enfermagem

cuidados, incentivando-se a elaboração futura de um documento para padronização desta


prática, representando assim, uma oportunidade de melhoria da qualidade a implementar
no serviço. A incidência de quedas é um indicador de qualidade dos cuidados de
enfermagem, sendo a avaliação da pessoa no momento da admissão e a jusante uma
ferramenta de trabalho indispensável aos enfermeiros na sistematização dos cuidados e na
prevenção de incidentes adversos (Horbach da Rosa et al., 2019).
O elevado número de pessoas por área é outro aspeto que potencia a ocorrência do
erro no SUMC. Neste sentido foram assegurados a aplicação dos princípios relevantes para
garantir a segurança da administração de substâncias terapêuticas, a partir da identificação
da pessoa com dupla confirmação antes da prestação dos cuidados, a obrigatoriedade da
prescrição escrita com registo informático e a identificação das macas e das pessoas com
pulseira de identificação.
Questões, como o método de trabalho por tarefa, o elevado número de pessoas por
área e pessoas alocados ao espaço físico da urgência em regime de internamento, sendo
potenciadoras da ocorrência de erros, foram em vários momentos alvo de discussão e
reflexão com os pares, os tutores do estágio e os responsáveis do serviço, no sentido de se
definir estratégias na organização do trabalho, de forma a reduzir a probabilidade de
ocorrência de erro humano. Considerando que a resolução de alguns destes aspetos passa
pela a adoção de decisões tomadas a nível superior, fomentou-se o recurso a mecanismos
formais para a participação dos incidentes, avaliação das consequências e investigação das
causas, sem atribuição de culpa, mas com a finalidade de melhorar a qualidade dos cuidados
ao nível organizacional (Regulamento n.º 140/2019 de 6 de fevereiro, 2019).
Pelo descrito anteriormente, contribuiu-se para uma gestão dos cuidados, otimizando
as respostas de enfermagem e a sua articulação com a equipa multidisciplinar, garantindo a
segurança e qualidade das tarefas desempenhadas e delegadas (Regulamento n. º140/2019
de 6 de fevereiro, 2019).
No que concerne ao contexto da CFU, por forma a promover boas práticas na procura
da melhoria contínua da qualidade dos cuidados prestados, após uma análise reflexiva das
descrições de memórias delirantes assustadoras, traumatizantes e reais na perceção da
pessoa em situação crítica, mapeou-se o estado da arte em relação a esta temática, no
sentido de se apurar práticas implementadas, que comprovadamente tenham um impacte
efetivo na prevenção do delírium no SMIP. Em resultado foi elaborado uma instrução de
trabalho (Anexo II), juntamente com uma EEEMC, que se encontra atualmente em apreciação
pelos responsáveis do SMIP, com intervenções específicas com foco em fatores de risco
modificáveis relativas ao ambiente circundante, promoção do sono e gestão da dor.

32 Mara Alexandra Alves de Sousa


A Pessoa no Pós-Internamento em Cuidados Intensivos: Um Modelo de Acompanhamento de Enfermagem

Incentivou-se num futuro próximo realizar uma avaliação dos resultados da


implementação das intervenções não-farmacológicas na prática clínica e, posteriormente, a
comunicação de resultados na área da qualidade aos enfermeiros e gestores. Promoveu-se,
assim, à incorporação dos conhecimentos adquiridos com os pares, estimulando o seu
envolvimento, uma vez que os enfermeiros, pelo contato constante com a pessoa em
situação crítica, são os profissionais que mais se destacam na deteção precoce e na
implementação de medidas preventivas do delírium (Contreras, 2021). A implementação
destas atitudes, representa uma estratégia promissora para a prevenção do delírium no
SMIP, uma vez que a transferência dos resultados da evidência científica para a prática clínica
promove a melhoria da qualidade do cuidado, por ampliar a confiabilidade das intervenções,
pela melhoria dos resultados para a pessoa e a diminuição de custos (Camargo 2018).
No decorrer do estágio de enfermagem à pessoa em situação crítica II, a reflexão sobre
a prática assistencial como elemento da equipa de enfermagem do SMIP, permitiu
diagnosticar as lacunas e áreas suscetíveis de melhoria neste domínio. Dado o impacte dos
protocolos de mobilização precoce nos outcomes das pessoas após a alta dos Cuidados
Intensivos, recorreu-se à evidência atual no sentido de analisar planos de mobilização
precoce já implementados em outras UCIs, que comprovadamente demonstraram ganhos
em saúde para as pessoas. Foi escolhido um que pudesse ser implementado por todos os
enfermeiros do serviço, e elaborado um protocolo de mobilização precoce, com o objetivo
de diminuir o SPICI nas dimensões física e psicológica (Anexo III). O plano, testado
anteriormente em outras UCIs, é seguro, incorporando um conjunto de critérios de inclusão
e exclusão e atividades que estão devidamente fundamentadas nas evidências, de forma a
prevenir complicações e lesões nas pessoas e promover uma mobilização precoce (Negro et
al., 2018). Foi aceite pela chefia do serviço e proposto para apreciação pelos pares, dada a
sua pertinência para a prevenção do declínio físico e redução do delírium. Fomentou-se, que
num futuro próximo se possa avaliar o seu impacte na prevalência do SPICI, nomeadamente
nas dimensões física e psicológica, depois da sua implementação pelos responsáveis do
serviço.
Segundo o Regulamento n.º 140/2019 de 6 de fevereiro de 2019, o Enfermeiro
Especialista considera a gestão do ambiente centrado na pessoa como condição
imprescindível para o tratamento e para a prevenção de incidentes, além de atuar
proactivamente na promoção da envolvência adequada ao bem-estar da pessoa, nunca
descorando a gestão do risco. Neste domínio na CFU as intervenções passaram por fazer
ensinos à pessoa após a doença crítica/família/cuidador na promoção de um ambiente

Mara Alexandra Alves de Sousa 33


A Pessoa no Pós-Internamento em Cuidados Intensivos: Um Modelo de Acompanhamento de Enfermagem

seguro no domicílio com o incremento de medidas que visavam a gestão de risco e a


segurança das pessoas.
Depois da compreensão dos moldes e do funcionamento da consulta, esteve sempre
presente a preocupação de mobilizar e incorporar conhecimentos, bem como, de divulgar
experiências avaliadas como sendo de sucesso para garantir a melhoria contínua da
qualidade dos cuidados. Neste sentido, foram propostas e discutidas algumas oportunidades
de melhoria com os restantes elementos da equipa.
A sinalização das pessoas com maior risco de desenvolver o SPICI deveria ser feita, não
apenas no momento da transferência do SMIP, como também na sua admissão, para permitir
a adoção precoce de um conjunto de boas práticas preconizadas e protocoladas pelo serviço
para mitigar o SPICI. A condição de saúde prévia, como a presença de problemas de
mobilidade, respiratórios, cognitivos, psiquiátricos e demências associadas às condicionantes
do internamento aumentam e potenciam este risco (Lee et al., 2020).
A cobrança das taxas moderadoras das consultas médicas e de enfermagem e a
deslocação ao hospital, são situações que podem colocar em causa a continuidade dos
cuidados após a alta hospitalar. Face a esta barreira, divulgou-se experiências avaliadas como
sendo de sucesso, como as consultas de enfermagem à distância, que na atualidade são uma
solução inovadora e sustentável que melhora o acesso dos cidadãos aos cuidados de saúde
(Ordem dos Enfermeiros, 2021), podendo ser uma estratégia a utilizar em todas as pessoas
com remissão parcial ou total dos sintomas de SPICI na CFU.
A pessoa após a doença crítica que é transferida para outra instituição de saúde para
continuação dos cuidados, é aquela que apresenta mais sequelas e maior necessidade de
acompanhamento. Neste sentido propôs-se a sua inclusão nesta consulta e o recurso à
consulta telefónica com a pessoa/profissionais de saúde da instituição para promover uma
melhor articulação entre as partes.
Considerando as propostas de melhoria solicitadas e, posteriormente discutidas e
aceites pela equipa desta consulta, elaborou-se uma reformulação do protocolo da CFU
(Anexo IV), destacando-se a capacidade de mobilizar conhecimentos e habilidades para
garantir a melhoria contínua da qualidade (Regulamento n. º140/2019 de 6 de fevereiro,
2019).

34 Mara Alexandra Alves de Sousa


A Pessoa no Pós-Internamento em Cuidados Intensivos: Um Modelo de Acompanhamento de Enfermagem

2.3. Domínio da Gestão dos Cuidados

O Enfermeiro Especialista é responsável pela gestão dos cuidados, na adequação dos


recursos às necessidades de cuidados, identificando o tipo de liderança mais adequado à
garantia da qualidade e segurança dos cuidados. (Regulamento n.º 140/2019 de 6 de
fevereiro, 2019).
A nomeação de grupos de trabalho em áreas específicas é uma estratégia adotada pelo
enfermeiro chefe do SUMC para enriquecimento das competências e o desenvolvimento de
uma prática assistencial atualizada e especializada. O plano de formação anual está ao
encargo de um Enfermeiro Especialista, que sugere temas pertinentes para a prática de
enfermagem e os atribui aos elementos da equipa que demonstram domínio e competências
avançadas nessas áreas.
Segundo o parecer nº 14/2018 da Ordem dos Enfermeiros (2018) o profissional
detentor do título de EEEMC à pessoa em situação crítica é aquele que tem o core de
competências mais adequado para responder às necessidades em cuidados nos contextos de
prática clínica na sala de emergência/reanimação. De acordo com o mesmo documento,
dada a complexidade das pessoas alocados à sala de emergência, a equipa destacada para a
mesma deve ser detentora de formação especializada, da responsabilidade da instituição,
específica, de forma a responder em tempo útil às situações, quer sejam de origem interna
quer através da área de triagem de prioridades. Este documento, recomenda ainda, que 50%
dos enfermeiros de um SUMC devem possuir competências específicas do EEEMC à pessoa
em situação crítica, atribuída pela Ordem dos Enfermeiros, formação nas áreas de suporte
avançado de vida em trauma, ventilação e controle hemodinâmico, nas vias verdes,
transporte de pessoas em situação crítica, comunicação e relacionamento em equipa, gestão
de stress e de conflitos, comunicação do risco e "transmissão de más notícias". Apesar destes
documentos serem aprovados pela entidade reguladora de enfermagem, na prática estas
orientações não são respeitadas na integra.
O enfermeiro nomeado para enfermeiro responsável de serviço, detentor do título de
EEEMC, destaca para essa área, sempre que possível, os enfermeiros mais diferenciados da
equipa, quer sejam detentores do título de especialista, quer pela experiência e formação
profissional no âmbito de emergência e urgência. Contrariamente ao parecer referido
anteriormente, que defende que a natureza dos cuidados emergentes não é padronizada e
deste modo, a disponibilidade da equipa deve responder de imediato e com prontidão, não
podendo estar dependente da substituição noutras áreas de trabalho, os enfermeiros
adstritos a estes postos, prestam cuidados noutras valências sempre que a sala de

Mara Alexandra Alves de Sousa 35


A Pessoa no Pós-Internamento em Cuidados Intensivos: Um Modelo de Acompanhamento de Enfermagem

reanimação se encontra vazia. Neste sentido, é fundamental que os enfermeiros


responsáveis detenham uma visão geral e atual do serviço, de forma a alocar e mobilizar os
recursos humanos que dispõe a cada área de atividade assistencial, adequando-os à carga de
trabalho e à gravidade da pessoa em situação crítica.
As questões mencionadas anteriormente proporcionaram momentos de reflexão com
a equipa de enfermagem onde foi possível melhorar a informação para a tomada de decisão
no processo de cuidar. O conhecimento de políticas e procedimentos legislados permitiu
colaborar nas decisões da equipa de saúde, nomeadamente na definição do plano de
trabalho e distribuição dos enfermeiros, de acordo com a carga de trabalho e as
competências especificas de cada um, adequando os recursos existentes às necessidades de
cuidados, com vista à qualidade e segurança dos cuidados.
Relativamente ao contexto em CFU, as escalas preconizadas no seguimento das
pessoas são na sua totalidade preenchidas pelo enfermeiro e, tendo em conta o tempo para
a realização da consulta, a recolha destes dados representa a quase totalidade do tempo da
consulta de enfermagem. A implementação do processo de enfermagem fica desde logo
comprometido e muito limitado à colheita de dados. Para uma melhor gestão e
rentabilização do tempo de consulta foram propostas estratégias, como a determinação das
escalas a serem aplicadas em cada momento de avaliação, a possibilidade do seu
preenchimento no domicílio ou, então, no momento que antecede a consulta e a atribuição
de escalas para avaliação na valência médica. Estas estratégias representam uma proposta
de melhoria dos cuidados de enfermagem para o futuro, abrindo espaço para a
implementação de todas as etapas do processo de enfermagem, metodologia que
representa uma abordagem de enfermagem ética e humanizada, focada na resolução de
problemas e dirigida às necessidades de cuidados de saúde e de enfermagem da pessoa em
situação crítica e após a doença crítica. Foi possível deixar uma perspetiva de otimização do
trabalho da equipa adequando os recursos às necessidades de cuidados.

2.4. Domínio do Desenvolvimento das Aprendizagens Profissionais

O Enfermeiro Especialista apresenta autoconhecimento e reconhece o seu impacto no


estabelecimento de relações terapêuticas e multiprofissionais. Recorre ao conhecimento
válido, atual e pertinente, para alicerçar os processos de tomada de decisão e as
intervenções, assumindo-se como facilitador nos processos de aprendizagem e agente ativo
no campo da investigação (Regulamento n.º 140/2019 de 6 de fevereiro, 2019).

36 Mara Alexandra Alves de Sousa


A Pessoa no Pós-Internamento em Cuidados Intensivos: Um Modelo de Acompanhamento de Enfermagem

No decorrer do estágio de enfermagem à pessoa em situação crítica II procurou-se,


incorporar o conhecimento técnico-científico na área da Enfermagem e, principalmente, no
Mestrado em Enfermagem Médico-Cirúrgica, na Área de Especialização de Enfermagem à
Pessoa em Situação Crítica, recorrendo à melhor evidência científica disponível
relativamente às várias temáticas abordadas neste trabalho. Neste domínio a prática
baseada na evidência atua como um elo de ligação entre os resultados de pesquisas e a sua
aplicação prática, garantindo a melhoria da qualidade da assistência prestada às pessoas e
maior visibilidade da profissão ao demonstrar as bases científicas do seu cuidado (Sales et
al., 2018).
Assumindo-se como facilitador de aprendizagem em ambos os contextos deste estágio
em enfermagem à pessoa em situação crítica II, atuou como formador oportuno,
favorecendo a aprendizagem, a destreza nas intervenções e o desenvolvimento de
habilidades e competências dos seus pares, a partir do diagnóstico de algumas necessidades
formativas. Ao supervisionar o procedimento de colheita de hemoculturas, constatou-se
algumas incongruências na técnica e método de colheita de sangue, podendo justificar a
elevada prevalência de contaminação de hemoculturas no SUMC na atualidade. Neste
sentido, agilizou-se e organizou-se, em conjunto com o serviço de Patologia Clínica, uma ação
de formação acerca deste tema, intitulada “Colheita de hemoculturas” (Anexo V), com
duração de 60 minutos que decorreu no dia 15 de fevereiro com repetição no dia 22 do
mesmo mês na sala de reuniões do SUMC.
A constatação das dificuldades relativas à escolha dos materiais e manuseamento
correto dos dispositivos de ventilação mecânica não invasiva (VMNI), bem como, de
estratégias para aumentar a eficácia da VMNI e reduzir os fatores de intolerância a esta
terapêutica, pelos enfermeiros do SUMC, despoletou o interesse na concessão e
desenvolvimento de uma ação de formação sobre esta temática intitulada de “VMNI em
contexto de urgência”(Anexo VI), no dia 25 fevereiro com a duração de 120 minutos no
auditório do hospital.
À primeira formação assistiram 15 enfermeiros e dois médicos e à segunda, 23
enfermeiros, que consideraram o conteúdo abordado de carácter útil e bastante pertinente
para a prática diária. Considerando a relevância dos resultados que derivam da
implementação de estratégias de mudança com vista à melhoria contínua da qualidade em
contexto clínico, incentivou-se o serviço de Patologia Clínica e o enfermeiro com funções de
gestão no serviço de urgência a fazer uma avaliação do impacte de ambas as formações na
prevalência da contaminação das hemoculturas e na eficácia do manuseamento dos
dispositivos de VMNI pelos enfermeiros, respetivamente.

Mara Alexandra Alves de Sousa 37


A Pessoa no Pós-Internamento em Cuidados Intensivos: Um Modelo de Acompanhamento de Enfermagem

A participação no VIII Congresso Internacional de Cuidados Intensivos, em formato


digital, que decorreu nos dias 19 e 20 de fevereiro, foi uma oportunidade para atualizar e
adquirir novos saberes no domínio da pessoa em situação crítica, bem como, de partilhar
conhecimento através da submissão e posterior aceitação de um póster científico, cuja
apresentação ocorreu em formato e-Poster, intitulado “Papel do Enfermeiro Especialista na
Transição Saúde/Doença à Pessoa Consciente em Prone: Estudo de Caso” (Anexo VII). A
pertinência do tema relacionou-se com o contexto pandémico experienciado no momento,
a sobrelotação permanente do SMIP do CHEDV e a necessidade da pessoa em situação crítica
iniciar em tempo útil o tratamento adequado.
No contexto da CFU, neste domínio, dinamizou-se e geriu-se a incorporação do novo
conhecimento no contexto da prática de cuidados, através do reconhecimento de lacunas de
conhecimento relativamente a medidas não farmacológicas na prevenção do delírium
durante e após a doença crítica, visando ganhos em saúde à pessoa em situação crítica e após
esta condição. Com a finalidade de se estimular a prestação de cuidados de saúde que
integrem a melhor evidência produzida em estudos bem delineados, que vá de encontro com
as preferências e valores da pessoa e os conhecimentos do profissional de saúde (Camargo,
2018), foi realizada uma revisão integrativa da literatura, com o objetivo de conhecer o
impacte que as intervenções não farmacológicas têm na prevenção e redução da incidência
e duração do delírium em pessoas internados numa UCI. Posteriormente à interpretação e
organização dos resultados provenientes desta pesquisa, com o intuito de divulgar e
disseminar a evidência que contribui para o conhecimento e desenvolvimento da
enfermagem nesta área, foi desenvolvido em conjunto com duas colegas do serviço, EEEMC,
um póster científico intitulado “Impacte das Intervenções de Enfermagem Não-
Farmacológicas na Prevenção do Delírium no Doente Crítico”(Anexo VIII), cuja submissão e
posterior aceitação permitiu a apresentação em formato e-Poster no Encontro Científico de
Cuidados Cardiorrespiratórios no dia 6 de Maio, desenvolvido pela Unidade de Cuidados
Intermédios da Medicina/Unidade de Cuidados Intermédios da Cardiologia do CHEDV. O
facto deste congresso ter sido organizado por enfermeiros especialistas do CHEDV, criou a
oportunidade de incentivar os pares a desenvolver esta temática nos seus contextos de
trabalho, uma vez que o delírium intrusivo e as alucinações são duradouros e permanecem
vivos por meses após a doença crítica (Doing, 2020).

38 Mara Alexandra Alves de Sousa


A Pessoa no Pós-Internamento em Cuidados Intensivos: Um Modelo de Acompanhamento de Enfermagem

3. Competências específicas do Enfermeiro Especialista em


enfermagem à pessoa em situação crítica

Considerando a vasta abrangência das competências comuns do Enfermeiro


Especialista, é imperativo especificar o conjunto de competências clínicas especializadas na
área de enfermagem à pessoa em situação crítica. Neste capítulo pretende-se descrever as
competências específicas do EEEMC à pessoa em situação crítica desenvolvidas durante o
decorrer do estágio de enfermagem à pessoa em situação crítica II, com vista ao
cumprimento dos objetivos definidos previamente e tendo por base o Regulamento n.º
429/2018 da OE de 2018 e a componente de investigação em estudo.

3.1. Cuida da Pessoa, Família/Cuidador a Vivenciar Processos Complexos de


Doença Crítica e/ou Falência Orgânica

A prestação de cuidados à pessoa e família a vivenciar processos complexos de doença


crítica e/ou falência orgânica, exigem ao enfermeiro, face à complexidade e às respostas
necessárias, a prestação de cuidados específicos e diferenciados que possam dar resposta
em tempo útil às necessidades manifestadas (Regulamento n.º 429/2018, 2018).
Ao longo do estágio em contexto de urgência a prestação de cuidados de enfermagem
especializados à pessoa em situação crítica, exigiu a mobilização de conhecimentos teóricos
para identificar situações de maior instabilidade clínica e planear intervenções autónomas e
interdependentes de enfermagem. A identificação de focos de instabilidade em pessoas na
área laranja e na sala de reanimação, permitiram intervir precocemente e prevenir a
deterioração do estado clínico das pessoas.
Como referido anteriormente neste documento, as pessoas admitidas no SUMC do
CHEDV, são sujeitos à Triagem de Manchester realizada por enfermeiros com formação
prévia e específica no Sistema de Triagem de Manchester. A triagem no serviço de
emergência permite um atendimento organizado e estruturado através da implementação
de um protocolo sistematizado, que promove a satisfação da pessoa e dos profissionais de
saúde e otimiza o tempo de atendimento e os recursos disponíveis (Costa et al., 2020). Foram
identificados os critérios de gravidade às pessoas em situação crítica, de forma sistematizada
e objetiva, para identificar a prioridade clínica de atendimento e o respetivo tempo alvo
preconizado até a observação médica. O juízo clínico revelou-se essencial para a correta
gestão de prioridades e segurança da pessoa em situação crítica, pois permitiu o

Mara Alexandra Alves de Sousa 39


A Pessoa no Pós-Internamento em Cuidados Intensivos: Um Modelo de Acompanhamento de Enfermagem

encaminhamento da pessoa para a área com os recursos necessários às suas necessidades


de cuidados, com um atendimento eficaz e em tempo útil. A atribuição de uma categoria de
maior urgência do que a real necessidade, acarreta desperdício de recursos para a instituição
e a situação inversa pode causar graves prejuízos relacionados com o atraso do tratamento
(Costa et al., 2020). O enfermeiro responsável pela implementação do Sistema de
Manchester no SUMC do CHEDV, como preconizado por Mackway-Jones e os seus
colaboradores (2018), faz auditorias esporádicas para monitorar a consistência e
desempenho dos processos de trabalho, para detetar necessidade de melhorias e determinar
indicadores da instituição.
No posto de triagem, de acordo com a Norma n.º 002/2018 de 9 de janeiro (2018)
verifica-se a implementação de algoritmos de referenciação interna, como a radiografia
simples do aparelho esquelético, nas situações de monotrauma com deformidade e/ou
incapacidade funcional, e o eletrocardiograma simples de 12 derivações nas situações de dor
torácica, com o objetivo de proporcionar o atendimento médico mais célere, melhorar o
fluxo de circulação de pessoas no SUMC, aumentar a qualidade dos cuidados e a segurança
dos utentes.
A abordagem à pessoa em situação crítica na sala de emergência é feita através da
metodologia “ABCDE”, que se traduz pela avaliação da permeabilização da via aérea, da
ventilação, da circulação, da disfunção neurológica e da exposição com controle do
ambiente. Esta nomenclatura é reconhecida internacionalmente e permite, de uma forma
sistematizada, organizar o pensamento, priorizar intervenções, identificar, corrigir e
estabilizar situações que colocam a pessoa em risco imediato de vida. A frequência no
primeiro ano do mestrado dos cursos International Trauma Life Support e Advanced
Cardiovascular Life Support e de outras formações inerentes à atividade profissional no
âmbito dos Cuidados Intensivos, alicerçaram a tomada de decisão na abordagem à pessoa
em situação crítica em contexto de urgência.
Segundo o Despacho n.º 10319/2014 do Ministério da Saúde (2014), todos os SUMC
devem contemplar sistemas de resposta rápida (Vias Verdes), cujo o processo de
encaminhamento deve ter início no local do evento ou da apresentação dos sintomas,
devendo os sistemas hospitalar e pré-hospitalar garantir a continuidade e a integração de
cuidados. O SUMC do CHEDV tem implementado quatro protocolos de Vias Verdes: a Via
Verde Coronária (Norma n.º 002/2018 de 9 de janeiro, 2018), a Via Verde do Acidente
Vascular Cerebral (AVC) no Adulto (Norma n.º 015/2017 de 13 de julho, 2017), Via Verde do
Trauma (Circular Normativa n.º 07/DQS/DQCO de 31 de março, 2010), a Via Verde Sépsis no
Adulto (Norma n.º 010/2016 de 30 de setembro, 2016), que permitem uma melhor

40 Mara Alexandra Alves de Sousa


A Pessoa no Pós-Internamento em Cuidados Intensivos: Um Modelo de Acompanhamento de Enfermagem

referenciação e identificação de critérios e sinais de alarme, com vista a um tratamento


adequado e mais célere. Este relatório vai debruçar-se nas Vias Verdes AVC e Coronária por
terem sido as mais presenciadas.
Constatou-se que este SUMC tem a capacidade de fazer o diagnóstico clínico e
imagiológico de AVC e efetuar o tratamento trombolítico, nas situações que assim o
justificam, tal como preconizado no Despacho n.º 10319/2014 do Ministério da Saúde.
Relativamente ao protocolo clínico de atuação, este vai de encontro com as linhas
orientadoras previstas na Norma n.º 015/2017 de 13 de julho (2017), onde a variável tempo
de resposta surge como determinante para os resultados relacionados com o tratamento do
AVC. A implementação do protocolo visa uma abordagem estratégica, sistemática e
metódica da equipa multidisciplinar, evitando atrasos no acesso ao tratamento preconizado.
A Via Verde AVC foi o protocolo que mais impressionou pela rápida atuação dos
profissionais, desde a entrada da pessoa no SUMC até à sua saída para um centro de
referenciação. Os enfermeiros têm um papel de destaque no reconhecimento de sinais e
sintomas na pessoa vítima de AVC e na ativação célere da Via Verde AVC, a partir da triagem
no SU (Pereira, 2017). É possível realçar também a coordenação e eficácia que existe entre
todos os intervenientes do processo, pela rápida intervenção, disponibilidade e prontidão no
atendimento à pessoa em situação crítica com AVC.
Em relação à Via Verde Coronária, o desenvolvimento de competências específicas na
área da pessoa em situação crítica, permite ao EEEMC à pessoa em situação crítica um papel
de destaque na fase aguda de enfarte do miocárdio, porque atua rápida e eficazmente com
foco na segurança da pessoa e na qualidade dos cuidados e alicerça a sua intervenção e
tomada de decisão na melhor evidência científica. O tempo decorrido entre o início dos
sintomas e a reperfusão é o principal indicador do grau de lesão do miocárdio, e
consequentemente, da mortalidade e da morbilidade, nomeadamente do enfarte agudo do
miocárdio com supradesnivelamento do segmento de ST (Ermida, 2018).
No decurso do estágio de enfermagem à pessoa em situação crítica foram prestados
cuidados à pessoa vítima de trauma, realizadas as avaliações primária e secundária, a
transferência e imobilização com recurso a vários dispositivos (plano duro, colares cervicais,
talas, imobilizadores de cabeça, aranha). Foi possível auxiliar na realização de procedimentos
invasivos, como a descompressão emergente de pneumotórax hipertensivo, colocação de
dreno torácico e cateteres venoso central e arterial, entubação orotraqueal, monitorização
da VMI e VMNI.
Destaca-se a realização do debriefing de uma forma informal, nas situações mais
complexas, com a equipa multidisciplinar. Apesar do debriefing ser uma ferramenta

Mara Alexandra Alves de Sousa 41


A Pessoa no Pós-Internamento em Cuidados Intensivos: Um Modelo de Acompanhamento de Enfermagem

estruturada de reflexão sobre a ação, considerada essencial na consolidação do


conhecimento e na formação contínua dos enfermeiros (Farrés-Tarafa et al., 2022), pode ser
usada informalmente, proporcionando um momento de desenvolvimento de competências
individuais aos envolvidos, com vista a melhoria continua dos cuidados prestados.
Relativamente ao transporte da pessoa em situação crítica a nível inter-hospitalar, é
destacado em todos os turnos um elemento da equipa de enfermagem para a sua realização.
Esta medida promove uma gestão adequada de recursos humanos, mas em contrapartida a
equipa fica com défice de enfermeiros durante o período do transporte, sendo mais um fator
que contribui para o aumento da sobrecarga de trabalho nos enfermeiros. Apesar de ser
destacado um enfermeiro com formação em suporte avançado de vida, este nem sempre é
EEEMC à pessoa em situação crítica, contrariando o Parecer N.º 9/17 da Ordem dos
Enfermeiros (2017), que considera EEEMC à pessoa em situação crítica o detentor de
competências acrescidas e especializadas necessárias para intervenções de emergência a
uma pessoa clinicamente instável com possibilidade de agravamento durante o transporte,
num ambiente não controlado e sem a segurança da sua equipa.
Em síntese, o estágio no SUMC, permitiu desenvolver competências na prestação de
cuidados de enfermagem em situação urgente e emergente, identificar focos de maior
instabilidade e intervir de forma preventiva ou rápida e assertiva, nas situações que assim o
exigissem. Para colmatar as necessidades sentidas, recorreu-se a uma atualização
bibliográfica permanente, de forma a basear a prática na melhor evidência científica
disponível.
No âmbito da CFU do SMIP e com o objetivo de assistir à pessoa, família/cuidador nas
perturbações emocionais decorrentes da situação crítica de saúde/doença e/ou falência
orgânica, foi realizado o mapeamento do atual estado da arte sobre estratégias já
implementadas em outras UCIs que tenham demonstrado uma redução dos níveis de
ansiedade, de sintomas de depressão e do transtorno de stress pós-traumático (TSPT).
Destaca-se a recomendação do uso de diários nas UCIs como uma ferramenta importante
para a prevenção de distúrbios mentais a longo prazo não só na pessoa em situação crítica,
como também nos seus familiares (Eaton et al., 2019; Hendriks et al., 2019).
A utilização de um diário permite à pessoa, no pós-internamento em Cuidados
Intensivos, refletir, construir e reconstruir a história da sua doença crítica (Halm, 2019a),
facilita a compreensão e o preenchimento de lacunas de memória, diminui os efeitos de
memórias intrusivas reais ou imaginárias, ajusta as expectativas de recuperação (Halm,
2019b) e ajuda na consciencialização da gravidade da sua doença ou lesão (Levine et al.,
2018). Em relação à família pode auxiliar no seu estado de saúde mental, por fornecer

42 Mara Alexandra Alves de Sousa


A Pessoa no Pós-Internamento em Cuidados Intensivos: Um Modelo de Acompanhamento de Enfermagem

suporte emocional durante a recuperação de seu ente querido (Geense et al., 2021; McIlroy
et al., 2019).
Considerando os ganhos em saúde proporcionados pela utilização dos diários referidos
anteriormente foi realizada uma exposição (Anexo IX), devidamente fundamentada na
evidência científica vigente, sobre o impacte dos diários no bem-estar emocional da pessoa
em situação crítica e seus familiares, como também no envolvimento da equipe
multidisciplinar com a pessoa que cuida e respetiva família. Embora haja um apoio crescente
na sua utilização nas UCIs, são muitos os desafios enfrentados na prática clínica para a sua
implementação e sustentabilidade (Rogan et al., 2020). Neste sentido, foram também
reportadas as principais questões que suscitam mais dúvidas e preocupação pelos
profissionais de saúde, constituindo uma barreira à sua implementação, e descritas possíveis
estratégias para a sua resolução. Esta exposição foi entregue aos responsáveis do serviço e
aguarda um parecer para implementação num futuro próximo, representando uma medida
promissora de melhoria contínua da qualidade na prestação de cuidados no SMIP.
Fomentar um ambiente positivo e favorável à prática clínica é uma competência do
EEEMC à pessoa em situação crítica, sendo a motivação da equipa fundamental para um
desempenho diferenciado e humanizado. Segundo alguns autores (Halm, 2019b; Johansson
et al., 2019) a utilização de diários também é uma estratégia promissora, com vista ao
desenvolvimento de uma maior sensibilidade e empatia com as pessoas em situação crítica
e seus familiares e potência maior satisfação no trabalho, maior consciência ética e uma
prática reflexiva.
A comunicação tem assumido uma importância cada vez mais relevante na área da
saúde e é considerada um instrumento fundamental para humanizar o cuidado de
enfermagem. Na CFU constatou-se que a comunicação assume um papel de destaque na
relação terapêutica estabelecida com a pessoa após a doença crítica e a sua família. Uma
comunicação efetiva, de confiança e uma interação comunicativa intencional, ajuda a pessoa
em situação crítica/família a enfrentar melhor os seus problemas (Sequeira, 2016). Um dos
propósitos da comunicação passou por assistir os sobreviventes da doença critica e os seus
familiares a ultrapassar os sentimentos de ansiedade e angústia resultantes do internamento
em Cuidados Intensivos, através da escuta ativa e um cuidado personalizado, competente e
humanizado.
A pessoa e a sua família mesmo após a alta dos Cuidados Intensivos, encontram-se
fragilizados, vulneráveis e sobrecarregados e a comunicação desenvolvida com os
profissionais de saúde tem um grande impacte na forma como estes se posicionam no
processo de transição saúde/doença e na avaliação dos cuidados recebidos. Houve a

Mara Alexandra Alves de Sousa 43


A Pessoa no Pós-Internamento em Cuidados Intensivos: Um Modelo de Acompanhamento de Enfermagem

necessidade do recurso a estratégias facilitadoras da comunicação, adaptando-se a


comunicação à complexidade do estado de saúde da pessoa/família após a doença crítica,
promovendo uma correta compreensão do conteúdo da mensagem entre ambas as partes.
Espera-se que num futuro próximo, as alterações preconizadas no modelo de consulta
de enfermagem, permitam que a comunicação e a relação de ajuda se estabeleçam em toda
a sua plenitude e não estejam tão condicionadas pelo tempo como na atualidade.
Durante este estágio foi possível identificar precocemente as necessidades tanto da
pessoa em situação crítica, como dos familiares, e reunir informação fidedigna para a
conceção de planos de intervenção com o objetivo de facilitar a adaptação aos processos de
transição saúde/doença aguda ou crónica, perante situações decorrentes de processos
médicos e/ou cirúrgicos complexos.

3.2. Maximiza a Prevenção, Intervenção e Controlo da Infeção e de Resistência


a Antimicrobianos perante a Pessoa em Situação Crítica e/ou Falência
Orgânica, face à Complexidade da Situação e à necessidade de respostas
em tempo útil e adequadas

O Programa Nacional de Prevenção e Controlo da Infeção Associada aos Cuidados de


Saúde refere que as Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde (IACS) e o aumento da
resistência dos microrganismos aos antimicrobianos são problemas diretamente
relacionados, associados ao agravamento do prognóstico da doença de base, ao
prolongamento dos internamentos e ao aumento da mortalidade e dos custos em saúde
(DGS, 2017). Segundo a mesma fonte, há uma maior vulnerabilidade às infeções adquiridas
nos locais de prestação de cuidados devido ao recurso a procedimentos invasivos, a
terapêutica antibiótica agressiva, terapêutica imunossupressora e aos internamentos.
Mais uma vez, o Enfermeiro Especialista surge como o elemento mais diferenciado na
prevenção e controlo de Infeção, porque reúne um conjunto de competências que o permite
potenciar a aplicação das orientações do Programa de Prevenção e Controlo de Infeções e
de Resistência aos Antimicrobianos (PPCIRA) (DGS, 2017).
Tendo em conta que na prática assistencial diária o controle da infeção cumpre
critérios muito rigorosos, estabeleceu-se os procedimentos e circuitos requeridos na
prevenção e controlo da infeção face às vias de transmissão na pessoa em situação
crítica/falência orgânica, salvaguardando o cumprimento dos procedimentos estabelecidos
na prevenção e controlo da infeção e de resistência a Antimicrobianos, apesar da

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A Pessoa no Pós-Internamento em Cuidados Intensivos: Um Modelo de Acompanhamento de Enfermagem

complexidade do ambiente de urgência. Na sala de emergência e recorrendo aos


conhecimentos prévios dos feixes de intervenções relativos à prevenção de pneumonia
associada à intubação e à prevenção de infeção relacionada com cateter venoso central, foi
possível supervisionar e assegurar o cumprimento das orientações recomendadas em ambos
os procedimentos técnicos. O mesmo foi feito em relação ao feixe de intervenções prevenção
das infeções associadas ao cateter urinário nas várias áreas do SUMC.
Uma correta higienização das mãos é considerada “a medida mais eficaz, mais simples
e mais económica de prevenir as IACS” (DGS, 2017). De forma a facilitar a adesão e
sensibilização dos profissionais de saúde, estão dispersos pelas diferentes áreas de trabalho
cartazes com a demonstração dos 5 momentos da higienização das mãos, bem como,
lavatórios e soluções antissépticas de base alcoólica, equipamentos de proteção individual
adequado a uma série de procedimentos, contentores de lixo e de resíduos biológicos.
De acordo com a PPCIRA é possível reduzir a emergência de resistências a antibióticos
através da promoção do uso racional destes fármacos (DGS, 2017). Nesta área, a
hemocultura é um exame microbiológico fundamental para fazer o diagnóstico e dirigir o
tratamento nas patologias desencadeadas por agentes infeciosos. A qualidade dos resultados
obtidos é influenciada pela qualidade da amostra colhida e pelas condições de
acondicionamento e transporte até ao laboratório. Uma técnica de colheita correta previne
o risco de contaminação e, consequentemente, o uso desnecessário de antibióticos, assim
como o aumento do tempo de internamento e os custos hospitalares inerentes (Miller et al.,
2018). De acordo com o Serviço Patologia Clínica do CHEDV, após uma análise estatística
realizada, o SUMC foi o serviço com maior taxa de prevalência de contaminação de
hemoculturas. Tendo em conta estes dados e a importância das hemoculturas para a seleção
adequada da antibioterapia, estabeleceu-se estratégias pró-ativas a implementar no serviço
visando a prevenção e controlo da infeção e de resistência a Antimicrobianos do serviço.
Além da elaboração de uma instrução de trabalho para padronizar este procedimento e da
realização de duas ações de formação, como foi já descrito anteriormente neste documento,
de forma a facilitar o seu cumprimento e a apropriação, foi elaborado um cartaz (Anexo X)
que descreve de forma simples e sucinta a sequência das intervenções, sendo afixado em
locais estratégicos no SUMC com o objetivo de facilitar uma consulta rápida, em caso de
dúvidas, aos enfermeiros durante a sua prática assistencial.
Considerando o risco de infeção face ao contexto de urgência, à complexidade das
situações e à diferenciação dos cuidados exigidos pela necessidade de recurso a várias
medidas invasivas, para a manutenção de vida da pessoa em situação crítica e/ou falência
orgânica, foi possível diagnosticar necessidades do serviço em matéria de prevenção e

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A Pessoa no Pós-Internamento em Cuidados Intensivos: Um Modelo de Acompanhamento de Enfermagem

controlo de infeção e desenvolver estratégias pró-ativas, visando a prevenção e controlo da


infeção e de resistência a antimicrobianos do serviço.

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4. Considerações finais

No contexto dos avanços tecnológicos atuais, a especialização dos recursos humanos


em saúde, em particular da enfermagem, surge como resposta à evolução das necessidades
em cuidados de saúde. A capacidade técnica e a competência clínica decorrentes da
especialização refletem-se na melhoria dos indicadores de saúde, de eficiência, de gestão e
nos índices de satisfação pessoal dos profissionais (Ordem Enfermeiros, 2018).
A análise reflexiva profunda realizada no decorrer do estágio em enfermagem à pessoa
em situação crítica II, nos contextos SUMC e CFU do SMIP do CHEDV, e na elaboração deste
relatório possibilitou uma maior consciencialização sobre o caminho contínuo de
aprendizagem e desenvolvimento de competências avançadas em várias áreas do saber,
fundamentais à prestação de cuidados de enfermagem de excelência à pessoa em situação
crítica e após a doença crítica, necessárias à obtenção do título de EEEMC à pessoa em
situação crítica.
O grau de mestre é conferido ao enfermeiro que tenha a capacidade de desenvolver e
aprofundar competências e conhecimentos já adquiridos previamente e integrar novos para
dar resposta a questões complexas, com recurso ao seu juízo crítico para acrescentar
informação e criar soluções, refletindo sempre nas implicações e responsabilidades éticas e
sociais decorrentes da sua tomada de decisão; deve ser capaz de comunizar de forma clara e
inequívoca as suas conclusões e reunir aptidões que o permitam desenvolver uma
aprendizagem autónoma e contínua ao longo da vida. (Decreto-Lei n.º 65/2018 de 16 de
agosto, 2018).
No caminho traçado com vista à aquisição do grau de mestre, foi possível consolidar
os conhecimentos adquiridos durante a componente teórica do mestrado e alcançar os
objetivos definidos inicialmente, permitindo a apropriação de novas habilidades e
competências pessoais, interpessoais, técnicas e crítico-reflexivas intrínsecas à enfermagem
especializada médico-cirúrgica à pessoa em situação crítica. A aquisição destas competências
foi alicerçada nas aprendizagens especializadas, na elevada capacidade de raciocínio clínico
e de tomada de decisão, nas intervenções altamente diferenciadas que destacam a
enfermagem especializada do domínio comum da prática de enfermagem. Salienta-se o
desenvolvimento de uma prática de enfermagem avançada, centrada numa lógica
conceptual, onde a evidência científica esteve sempre na base da tomada de decisão.

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A Pessoa no Pós-Internamento em Cuidados Intensivos: Um Modelo de Acompanhamento de Enfermagem

A responsabilidade acrescida inerente à aquisição de novas competências avançadas


nesta área, facilitaram a identificação de oportunidades de mudança e a implementação de
intervenções específicas, dirigidas e baseadas na evidência científica durante a prática clínica,
com vista a um desempenho de enfermagem de excelência com foco na qualidade e
segurança nos cuidados.
No culminar desta caminhada prevalece um sentimento de realização e satisfação
pessoal por todo o crescimento alcançado e resiliência apresentada. Segue-se um novo
caminho, como EEEMC à pessoa em situação crítica, cheio de novos desafios, oportunidades
de aprendizagem e com o compromisso de ser um agente potenciador da mudança em
contexto clínico, na construção de uma enfermagem mais diferenciada, especializada e
humanizada.

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A Pessoa no Pós-Internamento em Cuidados Intensivos: Um Modelo de Acompanhamento de Enfermagem

PARTE II – COMPONENTE DE INVESTIGAÇÃO

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A Pessoa no Pós-Internamento em Cuidados Intensivos: Um Modelo de Acompanhamento de Enfermagem

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A Pessoa no Pós-Internamento em Cuidados Intensivos: Um Modelo de Acompanhamento de Enfermagem

1. Resumo

Enquadramento: Após a transferência das UCIs as pessoas deparam-se com um conjunto de


défices físicos, cognitivos e psicológicos a médio-longo prazo, com impacte negativo na
qualidade de vida. Neste sentido, o desenvolvimento e operacionalização de CFUs potenciam
a recuperação funcional a nível global da pessoa após a doença crítica, onde o EEEMC à
pessoa em situação crítica, sendo detentor de competências avançadas e de elevada
capacidade de tomada de decisão e de raciocínio clínico, desempenha um papel fundamental
de facilitador do processo de transição saúde/doença.
Objetivos: Analisar o modelo de acompanhamento de enfermagem em uso à pessoa em
situação crítica no pós-internamento no SMIP e identificar as principais necessidades das
pessoas no pós-internamento no SMIP na vivência do processo transição saúde/doença.
Metodologia: Estudo qualitativo, retrospetivo e documental através da análise do processo
clínico das pessoas no pós-internamento em Cuidados Intensivos encaminhados para a CFU
no período de dezembro de 2017 a outubro de 2020. Os dados colhidos foram sujeitos a uma
análise estatística descritiva e inferencial de acordo com a natureza das variáveis, com
recurso ao Statistical Package for Social Science (SPSS) versão 24.
Resultados: A amostra foi constituída por 215 processos que revelam que as pessoas no pós-
internamento em Cuidados Intensivos desenvolveram um conjunto de sequelas nos
domínios físico, cognitivo e mental, consistentes com o desenvolvimento de SPICI. Em
resultado emergiram um conjunto de necessidades no domínio dos processos corporais:
cardiorrespiratório, onde se destaca a ventilação comprometida; neuromuscular que salienta
os potenciais para melhorar a autoeficiência, a consciencialização e a capacidade para
executar; gastrointestinal que foca a deglutição comprometida e o psicológico, que aponta o
delírium, a alucinação, o humor depressivo e a ansiedade. A prevalência de sinais e sintomas
no domínio físico e cognitivo diminuem com o decorrer do tempo, verificando-se o oposto
com a dimensão mental.
Conclusão: Os sobreviventes da medicina intensiva desenvolvem um conjunto de sequelas
que impactam negativamente na sua qualidade de vida e bem-estar. O desenvolvimento de
um modelo centrado nas suas reais necessidades, cuja intencionalidade do
acompanhamento esteja intimamente relacionado com a forma como cada pessoa vivencia
o seu processo de transição saúde/doença, potencia a adaptação e transformação da pessoa
face à sua nova condição.

Mara Alexandra Alves de Sousa 51


A Pessoa no Pós-Internamento em Cuidados Intensivos: Um Modelo de Acompanhamento de Enfermagem

Palavras-chave: Resultados de Cuidados Críticos; Cuidados Intensivos; Cuidados de


Enfermagem; Estado Crítico; Doente

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A Pessoa no Pós-Internamento em Cuidados Intensivos: Um Modelo de Acompanhamento de Enfermagem

2. Abstract

Background: After being transferred from the ICUs, people face several medium to long term
physical, cognitive and psychological deficits, with a negative impact on their quality of life.
In this sense, the development and implementation of CFUs enhances the global functional
recovery of the person after the critical illness, where the EHMC, being the holder of
advanced skills and high decision-making and clinical reasoning capacity considering the
critically ill person, plays a key role in facilitating the health/disease transition process.
Objectives: To analyse the nursing follow-up model used with critically ill patients after their
ICM admission and identify the main needs of patients after their ICM admission, while going
through the health/disease transition process.
Methodology: Qualitative, retrospective, and documental study through the analysis of the
clinical records of post-hospitalisation patients in Intensive Care referred to the CFU in the
period from December 2017 to October 2020. The collected data was subjected to
descriptive and inferential statistical analysis, according to the nature of the variables, using
the Statistical Package for Social Science (SPSS) version 24.
Results: The sample consisted of 215 files, which revealed that people in the post-intensive
care ward had developed a set of sequelae in the physical, cognitive, and mental domains,
consistent with the development of SPICI. As a result, a number of needs emerged in the
domains of body processes: cardiorespiratory, where compromised ventilation stands out;
neuromuscular, which highlights the potential to improve self-efficiency, awareness and
ability to perform; gastrointestinal, which focuses on compromised swallowing; and
psychological, which points to delirium, hallucination, depressive mood and anxiety. The
prevalence of signs and symptoms in the physical and cognitive domains decreases with time,
the opposite occurring with the psychological dimension.
Conclusion: Survivors of intensive care medicine develop a set of sequelae that negatively
impact their quality of life and well-being. The development of a model focused on their
actual needs, whose monitoring’s intentions are closely related to how each person
experiences their health/disease transition process, promotes the person's adaptation and
transformation in the face of their new condition.
Keywords: Critical care outcomes; Nursing care; Intensive Care; Critical Illness; Patients

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A Pessoa no Pós-Internamento em Cuidados Intensivos: Um Modelo de Acompanhamento de Enfermagem

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3. Fundamentação/enquadramento teórico

A evolução científica na área da saúde contribuiu para a diminuição da mortalidade associada


ao internamento em Cuidados Intensivos, contudo aumentaram as comorbilidades
relacionadas com a doença crítica e a natureza do tratamento intensivo (Doig & Solverson,
2020). Muitos sobreviventes desenvolveram novas disfunções, levando alguns especialistas
em Cuidados Intensivos a designar essas alterações de “desastre de saúde pública oculto”,
mesmo quando elogiam os avanços notáveis da medicina intensiva na redução da
mortalidade a curto prazo (Mikkelsen et al., 2016).
Por cada 100 doentes com alta dos Cuidados Intensivos são readmitidos em média quatro a
seis e em média morrem, antes da alta hospitalar, três a sete doentes (Hosein et al., 2014).
Perante esta elevada prevalência, é necessário consciencializar para esta problemática e
otimizar estratégias de atuação (Gil, 2021).
A Society of Critical Care Medicine em 2010, teve a necessidade de criar um termo unificador,
“Síndrome Pós-internamento em Cuidados Intensivos” (SPICI), para descrever um conjunto
de complicações e sequelas que ocorrem a nível físico, cognitivo, mental e sócio-económico
que surgem após a doença crítica, persistindo, meses ou anos no pós-internamento em
Cuidados Intensivos, afetando não só a pessoa em situação crítica como os seus familiares,
com impacte negativo na qualidade de vida e capacidade para o trabalho (Robinson et al.,
2019; Needham et al., 2012) . Estas pessoas requerem elevados recursos de saúde,
verificando-se um elevado número de readmissões e mortalidade aos 5 anos após a alta
hospitalar (Hill et al., 2016).
Do um ponto de vista físico, a fraqueza muscular e a perda de massa muscular são as
alterações mais frequentes e agravam com o aumento do tempo de internamento, sendo
responsáveis pelas pessoas após a doença crítica apresentarem dificuldades na marcha, baixa
tolerância ao exercício, deterioração respiratória e problemas de deglutição (Lane-Fall et al.,
2019).
As alterações cognitivas podem estar presentes em 30 a 80% das pessoas após a
transferência das UCI(s), sendo as mais frequentes as alterações da memória, os problemas
de atenção, a lentidão no processamento de informação, o delírium, estados de confusão,
alucinações e alterações das funções executivas (Colbenson, 2019).
Os distúrbios mentais associados ao SPICI são a depressão, a ansiedade e o transtorno de
stresse pós-traumático (Zeleznik, 2021). É também comum as pessoas reviverem imagens do

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internamento na forma de memórias intrusivas, terrores noturnos ou pesadelos, dando


origem a distúrbios do sono relacionados com alterações dos ciclos normais de sono e vigília
(Doig & Solverson, 2020).
São múltiplos os fatores que estão na origem e que potenciam o desenvolvimento do SPICI.
As comorbilidades prévias à doença crítica; as complicações da doença crítica aguda; os
tratamentos de suporte de vida, como a sedação, ventilação mecânica e diálise; as questões
relacionadas com aspetos organizacionais das UCIs; a adaptação ao período pós
internamento, como a alteração da imagem corporal, incapacidades, dificuldades no
regresso ao trabalho e uma insuficiente rede de suporte social, podem contribuir para a
ocorrência, a longo prazo, da redução do status físico funcional, disfunção cognitiva,
ansiedade, depressão e de stress pós-traumático (Azoulay et al., 2017).
É crescente o interesse da comunidade científica pelo estudo do SPICI (Robinson et al., 2019;
Rosa et al., 2018). Os estudos publicados incidem sobre subpopulações específicas,
intervenções pontuais ou complicações isoladas relacionadas com o internamento em
Cuidados Intensivos (Doig & Solverson, 2020; Vesz et al., 2018). As avaliações são
fragmentadas, não representativas da grande parte da população em estudo (Robinson et
al., 2019).
A nível internacional os programas de acompanhamento são implementados com poucos
recursos, devido ao baixo financiamento e variam entre o inexistente e consultas
multidisciplinares (Svenningsen et al., 2017). O acompanhamento da pessoa após a doença
crítica nas CFUs surgiu devido a iniciativas experimentais decorrentes da prática assistencial
(Hanifa et al., 2018). Como resultado, a evidência atual disponível é de baixa evidência
científica e não existe um padrão definido para o desenvolvimento de programas de
acompanhamento após o tratamento em Cuidados Intensivos (Jensen et al., 2017).
Com base no conhecimento recente é recomendada uma abordagem mais sistemática de
acompanhamento, como uma componente integral da terapia intensiva com objetivos bem
definidos e programas de avaliação (Hanifa et al., 2018), para mitigar o risco do declínio
neuropsicológico e funcional que a doença crítica induz (Mikkelsen et al, 2016).
A teoria de médio alcance de Meleis (2010) orienta em termos conceptuais este estudo, por
se focar nas respostas humanas das pessoas aos processos de vida, saúde e doença. A
consciencialização é essencial na perceção, conhecimento e reconhecimento de uma
experiência de transição. É uma característica definidora de transição, cuja ausência se traduz
pela incapacidade da pessoa em dar início à experiência de transição, influenciando o nível
de empenhamento e envolvimento no processo (Meleis, 2010).

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Na ajuda às pessoas que sobrevivem à doença crítica na vivência de transições saudáveis a


enfermagem assume um papel relevante, uma vez que os enfermeiros têm conhecimentos
e competências que lhes permite preparar a pessoa para os processos de transição, bem
como, facilitar o processo de desenvolvimento de competências e aprendizagem nas
experiências de saúde/doença e desencadear respostas positivas capazes de restabelecer a
saúde e sensação de bem-estar (Meleis, 2010).
No decorrer do processo de transição saúde/doença as pessoas após a doença crítica estão
mais vulneráveis a riscos que, por sua vez, podem alterar a sua saúde. Assim, as intervenções
terapêuticas de enfermagem são entendidas como uma ação interventiva contínua no
decorrer do processo de transição, com impacte significativo no processo de recuperação e
na qualidade de vida da pessoa após a doença crítica.
Na atualidade recomenda-se uma avaliação sistematizada e multidisciplinar da pessoa em
situação crítica e após esta condição, na qual a enfermagem se destaca na condução do
processo de transição saúde/doença, uma vez que “os enfermeiros são os profissionais que
melhor desempenham o papel de “facilitadores do processo de transição”, pela sua maior
proximidade e conhecimento da realidade e necessidades da pessoa” (Mota, 2011, p. 25).
O papel da enfermagem na CFU do SMIP, tendo por base este enquadramento conceptual e
numa perspetiva de um exercício da enfermagem mais humanizado, científico e holístico,
visa ajudar as pessoas a incorporar no seu dia-a-dia, um conjunto de orientações terapêuticas
que diminuam o impacte negativo que a experiência de transição possa ter, melhorando o
desfecho dos resultados e evitando dificuldades no processo de transição. Foca-se na
avaliação da capacidade e disponibilidade da pessoa para gerir o impacte que a doença crítica
e o seu tratamento tem na realização das atividades de vida diárias, na qualidade de vida e
na deteção de complicações. Em síntese, pretende promover um cuidado transicional que
valorize a pessoa, uma vez que os cuidados dispensados estão associados ao
desenvolvimento humano, beneficiando a maturidade e o crescimento pessoal mediante um
maior equilíbrio e estabilidade (Meleis, 2010).
Neste sentido, considera-se relevante desenvolver estudos, como este que aqui se relata,
enquanto estratégia de melhoria progressiva da qualidade dos processos de assistência de
enfermagem à pessoa após a doença crítica, permitindo dar resposta às suas reais
necessidades, de uma forma dirigida e segura, aumentando a qualidade e a visibilidade ao
cuidado.

Mara Alexandra Alves de Sousa 57


A Pessoa no Pós-Internamento em Cuidados Intensivos: Um Modelo de Acompanhamento de Enfermagem

58 Mara Alexandra Alves de Sousa


A Pessoa no Pós-Internamento em Cuidados Intensivos: Um Modelo de Acompanhamento de Enfermagem

4. Finalidade e objetivos

Tendo em consideração toda a problemática descrita, para o desenvolvimento deste


trabalho de investigação definiram-se os seguintes objetivos:
- Analisar o modelo de acompanhamento de enfermagem em uso à pessoa em situação
crítica no pós-internamento no SMIP;
-Identificar as principais necessidades das pessoas no pós-internamento no SMIP na vivência
do processo transição saúde/doença.
Com este estudo pretende-se contribuir para a elaboração futura de um modelo de
acompanhamento de enfermagem às pessoas no pós-internamento do SMIP. Considera-se
que este trabalho representará uma estratégia de melhoria progressiva da qualidade dos
processos de assistência de enfermagem à pessoa no pós-internamento em Cuidados
Intensivos.

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A Pessoa no Pós-Internamento em Cuidados Intensivos: Um Modelo de Acompanhamento de Enfermagem

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5. Metodologia

Num percurso de investigação é imperativo a compreensão do trajeto percorrido no sentido


da formalizar o conhecimento e clarificar as escolhas realizadas ao longo das diferentes
etapas do processo. Importa ao investigador o distanciamento “(…) da prática para poder
tecer considerações teóricas em torno do seu potencial na produção do conhecimento
científico” (Coutinho, 2014, p. 23). Mais do que um trabalho realizado no âmbito da aquisição
do grau de Mestre em Enfermagem Médico-Cirúrgica, almeja-se com esta investigação uma
visão abrangente das principais necessidades desenvolvidas pelas pessoas no pós-
internamento no SMIP.

5.1. Desenho do estudo

Para atingir os objetivos desta investigação realizou-se um estudo qualitativo, retrospetivo e


documental, no sentido de se perceber como decorreu o processo de transição
saúde/doença à pessoa no pós-internamento no SMIP e encaminhamento para a CFU, tendo
decorrido em duas fases distintas. Numa primeira fase, procedeu-se à colheita de dados, que
decorreu no período compreendido entre 5 de fevereiro e 30 de abril de 2022, a partir da
análise do modelo de acompanhamento de enfermagem instituído à pessoa após a doença
crítica seguida em CFU, a partir dos registos de enfermagem e médicos, adiante designados
por profissionais de saúde, efetuados nos sistemas informáticos B-Simple em regime de
consultas de ambulatório (ao 1º, 3º e 6º mês após a transferência do SMIP), com a exceção
do primeiro momento de avaliação, que se realiza em regime de internamento até ao 6º dia
após a transferência do SMIP. Na segunda fase, analisaram-se os dados com o objetivo de
identificar as principais necessidades das pessoas após a saída dos Cuidados Intensivos.
O estudo desenvolveu-se no CHEDV na CFU do SMIP. Foram identificados e consultados
todos os processos das pessoas que tiveram alta do SMIP durante o período compreendido
entre dezembro de 2017 e outubro de 2020 e que foram encaminhadas para a CFU.
No período definido foram consultados 215 processos e foram registadas 466 consultas com
a equipa multidisciplinar nos quatro momentos de avaliação. Foram excluídos da análise
todos os contactos anteriores às readmissões no SMIP e aqueles sem qualquer tipo de registo
médico ou de enfermagem, perfazendo um total de 406 consultas. Neste sentido foram
excluídos 60 processos.

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A Pessoa no Pós-Internamento em Cuidados Intensivos: Um Modelo de Acompanhamento de Enfermagem

Como estratégias de recolha de dados recorreu-se à análise documental retrospetiva ao


processo clínico das pessoas, nomeadamente aos registos dos profissionais de saúde,
realizados no sistema informático B-Simple durante o internamento no SMIP e nos diferentes
momentos de avaliação na CFU.
Da consulta realizada foram extraídos os seguintes dados: demográficos- idade à data da
admissão e género; clínicos- tempo de internamento no SMIP; número de dias de VMI e/ou
sedo-analgesia; a causa de admissão; presença de sequelas cardiorrespiratórias,
neurológicas, digestivas; desenvolvimento de úlceras de pressão e os índices Simplified Acute
Physiology Score II (SAPS II) (Le Gall et al., 1993) e Acute Physiology and Chronic Health
Evaluation II (APACHE II) (Knaus et al., 1985).
As sequelas resultantes do internamento em Cuidados Intensivos foram avaliadas com
recurso a um conjunto de escalas preconizadas pelo serviço, com a finalidade de se detetar
as alterações nas dimensões física, mental e cognitiva que o internamento em Cuidados
Intensivos induz e compreender o seu impacte na qualidade de vida das pessoas.
O Índice de Barthel (Shah et al., 1989) avalia a capacidade da pessoa em realizar dez
Atividades da Vida Diárias (AVDs) e mede a independência funcional no cuidado pessoal,
mobilidade, locomoção e eliminações. Cada item é pontuado de acordo com o desempenho
na realização de tarefas de forma independente, com alguma ajuda ou totalmente
dependente. No final é gerada uma pontuação total a partir da soma dos pontos atribuídos
em cada categoria. Os scores variam de 0 a 100, em intervalos de cinco pontos, indicando
maior independência os scores mais elevados (100 pontos – totalmente independente; 99 a
76 pontos – dependência leve; 75 a 51 pontos - dependência moderada; 50 a 26 pontos –
dependência severa; 25 e menos pontos – dependência total).
A Medical Research Council (MRC) (Demetria et al., 2008) é um instrumento simples que foi
adaptado para avaliação da força muscular às pessoas em situação crítica. O score é obtido
a partir da avaliação de seis movimentos dos membros superiores e inferiores. A pontuação
dada à força varia entre 0 (plégia) e 5 pontos (força normal), totalizando um valor máximo
de 60 pontos. Para valores abaixo de 48 considera-se que a pessoa apresenta fraqueza
muscular.
O Mini Mental State Examination (MMSE) (Guerreiro, 1994) é uma escala amplamente
utilizada que avalia de forma rápida as habilidades cognitivas da pessoa, sendo composta por
questões que avaliam a orientação para tempo e local, memória imediata, atenção e cálculo,
evocação, linguagem e capacidade construtiva visual. O escore pode variar de 0 a 30 com
pontos de corte diferenciados por níveis de escolaridade: para analfabetos o mínimo de 20

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pontos; com escolaridade entre 1 a 4 anos, 25 pontos; de 5 a 8 anos, 26,5 pontos; de 9 a11
anos, 28 pontos e acima de 11 anos de escolaridade, 29 a 30 pontos.
Para a avaliação de sintomas de ansiedade e depressão recorreu-se à Hospital Anxiety and
Depression Scale (HADS) (Pais-Ribeiro et al., 2007) que apresenta 14 itens, sendo sete
dirigidos para a avaliação da ansiedade (HADS-A) e os outros sete para a depressão (HADS-
D). Cada item é pontuado de 0 a 3, correspondendo a uma pontuação máxima de 21 pontos
para cada subescala. O ponto de corte para ansiedade e depressão foi HADS ≥11 para cada
uma das subescalas. Valores iguais ou inferiores a 10 foram interpretados como ausência de
ansiedade e depressão, embora valores compreendidos entre 8 e 10, sejam sugestivos destes
sintomas.
A escala Post-Traumatic Stress Scale-14 (PTSS-14) (Twigg et al., 2008) é um questionário
constituído por 14 itens que avaliam os sintomas de TSPT. As respostas a cada ítem são
pontuadas em uma escala tipo Likert de sete pontos e o score varia de 14 a 98. Uma
pontuação total acima de 45 foi sugerida para indicar sintomas de TSPT clinicamente
relevantes.
A escala European Quality of Life 5 Dimensions (EQ-5-D) (Ferreira et al., 2013), validada para
a população portuguesa, é um sistema classificativo que descreve a saúde em cinco
dimensões: mobilidade, cuidados pessoais, atividades habituais, dor/desconforto e
ansiedade/depressão. Cada dimensão tem três níveis de gravidade associados,
correspondendo a sem problemas (nível 1), alguns problemas (nível 2) e problemas extremos
(nível 3) experienciados pela pessoa. Para além do preenchimento deste sistema descritivo
é feita uma avaliação do estado de saúde geral numa escala visual analógica de 0 (pior estado
de saúde imaginável) a 100 (melhor estado de saúde imaginável) designada frequentemente
por termómetro Visual Analogue Scale European Quality of Life (EQ-VAS). Permite também
ter uma perceção do estado de saúde da pessoa, comparando o nível geral de saúde atual
com o de há 12 meses atrás, através da escolha entre as opções de resposta ‘melhor’, ‘o
mesmo’ e ‘pior’.
Relativamente às memórias, estavam documentadas nos processos clínicos a ausência
parcial/total de memórias e a existência de memórias factuais e não factuais.
O tratamento e análise dos dados é um processo que exige do investigador uma busca de
respostas, observação ativa e uma memória precisa. A análise de dados faz-se pelo método
de comparação constante, uma vez que são colocadas perguntas relativas às semelhanças e
diferenças entre cada peça de dados comparados (Streubert & Carpenter, 2013).
Durante o processo de análise dos dados, procurou-se evitar que o conhecimento prévio dos
participantes e do contexto não influenciasse na estratégia utilizada para o agrupamento e

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tratamento dos dados. Os dados colhidos a partir da aplicação dos vários instrumentos, que
visavam a caracterização da amostra, foram sujeitos a uma análise estatística descritiva e
inferencial.
Recorreu-se testes não paramétricos nas correlações feitas com os dados referentes a todos
os momentos de avaliação, nomeadamente ao coeficiente de correlação de Spearman (rs),
uma vez que as variáveis em estudo, apesar de serem intervalares, não apresentavam uma
distribuição aproximadamente normal. Outras correlações foram realizadas com recurso ao
coeficiente de correlação Ponto-Bisserial (rpb) (1 variável nominal dicotómica e 1 variável
intervalar) e do Qui-Quadrado (x2)(2 variáveis nominais ou 1 variável nominal e 1 variável
ordinal) (Martins, 2011). O teste paramétrico de coeficiente de correlação de Pearson foi
utilizado nas correlações com dados relativos ao último momento de avaliação, ao 6º mês
após a transferência do SMIP, depois de realizados os testes de normalidade e comprovada
a distribuição aproximadamente normal das variáveis em estudo (Martins, 2011). Todas as
correlações estabelecidas visaram a deteção de associações entre as mesmas.
Nesta análise dos dados recorreu-se ao SPSS®24.

5.2. Considerações éticas

Na investigação científica a ética faculta orientações que ajudam o investigador a saber a


forma como deve proceder, enquanto membro da comunidade científica, permitindo
maximizar os benefícios e minimizar os prejuízos (Oliveira, 2013).
No sentido de dar cumprimento às orientações éticas dos trabalhos de investigação foi
pedida autorização ao Conselho de Administração e à Comissão de Ética para a Saúde do
CHEDV para a elaboração deste estudo, que emitiram um parecer favorável (Anexo XI).
Solicitou-se a esta última a escusa de consentimento informado, uma vez que se trata de um
estudo qualitativo, retrospetivo e documental, sem carácter interventivo.
Os dados foram recolhidos da documentação da equipa multidisciplinar das pessoas
encaminhados para a CFU do SMIP do CHEDV durante o período em estudo e não incluem
elementos pessoais identificativos. Estes foram codificados por participante com números,
de forma a ser garantido o anonimato. A cada participante foi atribuído um número por
ordem numérica dos processos clínicos.
A participação no estudo não provocou qualquer risco, dano ou custos para os participantes.
Foi constituída uma base de dados, cujo acesso foi feito única e exclusivamente pela
investigadora principal com recurso a uma password. Considerando que a sua atuação
decorreu enquanto enfermeira do contexto do estudo e que o dever de sigilo está inerente

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ao exercício profissional dos enfermeiros, o cumprimento deste dever deontológico foi


sempre uma constante durante todo o processo de investigação.
Durante a realização deste trabalho recorreu-se a bibliografia já existente acerca do tema em
análise, tendo sido sempre assegurado o respeito pela autoria dos estudos e a sua correta
referenciação.
Nenhum dos investigadores apresenta conflitos de interesse neste projeto.

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6. Resultados

Para promover a organização dos conteúdos e a lógica da apresentação dos resultados,


priorizou-se a estatística descritiva, com a apresentação da caracterização demográfica e
clínica da amostra, seguida da exposição dos resultados referentes às principais sequelas nos
diferentes domínios resultantes do internamento no SMIP. Posteriormente, a estatística
inferencial, onde foram apresentadas apenas correlações com associações estatisticamente
significativas, para um nível de significância de 0,05, entre as várias variáveis em estudo.
A amostra final obtida foi constituída por 215 processos de pessoas em situação crítica que
tiveram alta no pós-internamento no SMIP e que foram encaminhadas para o CFU. A idade
das pessoas em estudo variou entre os 20 e os 93 anos, sendo a idade média de 63 anos e o
desvio padrão de 15 anos. O género masculino predomina (N= 137; 63,7%) relativamente ao
feminino (N=78; 36,3%).
O tempo médio de internamento no SMIP das pessoas que constituíram a amostra foi de 14
dias, estando a cima da média de 11,8 dias de internamento nas UCIs portuguesas em 2019,
segundo os dados do INE (2021).
A tabela 1 apresenta um conjunto de dados clínicos que caracteriza a amostra. Verificou-se
que 50% das pessoas estiveram internados no SMIP até 9 dias e 28,7% permaneceram por
um período igual ou superior a 15 dias. Foram sujeitas a VMNI e/ou VMI por 7 dias, 56,4% da
amostra, sendo o período mais frequente de 6 dias. 48,6% das pessoas estiveram sedo-
analgesiadas por 5 dias, mas 4 dias foi a duração mais presente. A maioria das pessoas
(70,2%) foram admitidas no SMIP por causa médica não coronária, 20% de causa cirúrgica
urgentes, 7,9% por cirúrgica eletiva e por último, coronária médica com apenas 1,9%
(Azevedo, 2018).
Dos 215 processos que constituíram a amostra estava documentado o recurso a VMI e/ou
VMNI e sedo-analgesia em 204 (94,8%) e 201 (91,2%), respetivamente.
Os scores de gravidade relativos à pontuação do APACHE II estavam compreendidos entre 5
e 43, com uma média de 19,1 (dp = 7,80), correspondendo a uma taxa média de mortalidade
prevista de 35,2%. O valor médio do SAPSII foi de 44,48 (dp =16,16), variando entre 6 e 104,
traduzindo uma probabilidade média de mortalidade de 34,4%.

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Tabela 1: Dados Clínicos


Variável n M dp
SAPS II 215 44,5 16,2
APACHE II 215 19,1 7,8
Tempo de internamento SMIP 215 14 18,0
Tempo de ventilação 215 12 17,7
Tempo de sedo-analgesia 215 7,6 6,9

Durante o período em análise realizaram-se 406 consultas que decorreram nos quatro
momentos de avaliação.
A análise dos dados permite constatar que no decorrer do tempo diminuiu o número de
pessoas avaliadas e aumentou o número das não avaliadas. Das 38 pessoas não observadas
no primeiro momento de avaliação, 21 tiveram alta hospitalar antes do sexto dia após a
transferência do SMIP e em 17 não estava documentado o motivo da ausência de avaliação.
No primeiro mês após a saída do SMIP, das 87 pessoas não observados, 51 tiveram alta após
consulta até ao 6º dia após a transferência do SMIP. Considerou-se que as pessoas tiveram
alta da consulta em caso de morte, faltas consecutivas, por não cumprirem critérios de
inclusão e quando estavam institucionalizadas. Em 15 pessoas a não realização da consulta
do primeiro mês justificou-se por estarem hospitalizadas, serem programados para outro
momento de avaliação e por faltas consecutivas. Em 21 casos não estava documentado o
motivo da ausência de avaliação (14 pessoas não retomaram as consultas).
No terceiro mês após a transferência do SMIP, dos 94 não avaliados, 62 pessoas tiveram alta
após a consulta do 1º mês. Em 15 pessoas a não realização da consulta do 3º mês esteve
relacionada com mesmos motivos que no momento anterior. Ficaram por avaliar 17 pessoas,
não estando documentado o motivo da não avaliação (13 pessoas não retomaram as
consultas).
Das 30 pessoas não observados ao sexto mês, 15 tiveram alta, contudo, não estava
documentado o motivo da ausência de avaliação em outras 15.

Tabela 2: Pessoas avaliadas e não avaliadas por momento de avaliação


Até 6º dia 1ºmês 3º mês 6º mês
N % N % N % N %
Pessoas avaliadas 17 82,3 128 78 56 54,9 45 51,7
Pessoas não avaliadas 17 7,9 21 12,8 17 16,7 15 17,2

No domínio físico, relativamente à função respiratória, a tabela 3 apresenta a prevalência de


alterações ao longo dos quatro momentos de avaliação. O primeiro momento de avaliação

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destacou-se de todos os outros pela elevada prevalência de sequelas respiratórias,


parâmetro que se refere à presença de qualquer alteração que comprometa a função
respiratória, sendo que a necessidade de oxigénio foi a mais verificada. De uma forma
genérica, foi notória a diminuição acentuada de todas as sequelas ao longo do tempo.
Sintomas graves de dificuldade respiratória, como cianose e tiragem, foram detetados
apenas no primeiro momento de avaliação.

Tabela 3: Prevalência de sequelas respiratórias por momento de avaliação


Até 6º dia 1º mês 3º mês 6º mês
N % N % N % N %
Sequelas 50 30,1 19 16,2 6 12,2 4 10,5
respiratórias n=16 n=117 n=49 n=38
Oxigenoterapia 63 41,4 11 2,6 0 2 5,6
n=152 n=87 n=44 n=36
Traqueostomia 31 18,1 11 10,2 1 2,3 1 2,5
n=164 n=108 n=50 n=40
Tosse ineficaz 20 29,9 7 14,3 2 7,1 1 16,7
n=67 n=49 n=28) n=6
Tiragem 3 1,9 0 0 0
n=158) n=111 n=50 n=35
Cianose 2 1,3 0 0 0
n=156) n=111 n=50 n=36

No que concerne às sequelas digestivas, é notória a sua diminuição com o decorrer do tempo.
A tabela 4 apresenta a prevalência de alguns distúrbios digestivos nos 4 momentos de
avaliação. Apesar de ser elevada a presença de sequelas digestivas no primeiro momento de
avaliação (53,2%), parâmetro que se refere à presença de qualquer alteração que
comprometa a ingestão de alimentos por via oral, a prevalência de náuseas (0,6%) e os
vómitos (0,6%) assumem pouca relevância. Tal como as outras sequelas, após a consulta do
primeiro mês, de forma genérica, verificou-se uma descida acentuada no número de pessoas
com disfagia e dispositivos de alimentação.

Mara Alexandra Alves de Sousa 69


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Tabela 4: Prevalência de sequelas digestivas por momentos de avaliação


Até 6º dia 1º mês 3º mês 6º mês
N % N % N % N %
Sequelas digestivas 91 53,2 55 46,2 13 26 5 12,2
n=171 n=119 n=50 n=41
Náuseas 1 0,6 2 1,7 2 4,1 0
n=164 n=116 n=49 n=41
Vómitos 1 0,6 2 1,8 1 2 0
n=165 n=114 n=49 n=41
Deglutição 15 15 10 20,8 7 26,9 0
comprometida n=69 n=48 n=26 n=7
Dispositivo 4 4 14 13,2 1 2,3 3 7,9
de alimentação n=154 n=14 n=44 n=38

Relativamente às sequelas neuromusculares, foram documentadas em 76 processos (49,4%)


no primeiro momento de avaliação, descendo para 31 (29%) ao 1º mês, 25 (35%) ao 3º mês
e para 3 (7,9%) ao 6º mês.
A dependência funcional ao nível das AVDs e a perda de força muscular avaliadas através do
Índice de Barthel e da MRC nesta ordem, verificou-se que no primeiro momento de avaliação
as pessoas apresentam um grau severo de dependência (valores compreendidos entre 26 e
50 estão associados a níveis de dependência severo) com perda de força muscular (valores
inferiores a 48 traduzem perda de força muscular). Contudo, na análise dos scores nos
restantes momentos de avaliação, foi notória a recuperação progressiva da força muscular e
da capacidade das pessoas em executar essas mesmas atividades, como apresentado na
tabela 5.

Tabela 5: Scores médios do Índice de Barthel e da MRC por momento de avaliação


Até 6º dia 1º mês 3º mês 6º mês
M dp M dp M dp M Dp
Índice de Barthel 44,4 35,9 72,8 33,7 88 8,1 90,3 18,9
n=139 n=10 n=51 n=39
MRC 27,2 11,4 54,1 10,4 57,2 4,9 59,1 3,9
n=133 n=102 n=45 n=32

Foram detetadas úlceras de pressão em 13 pessoas (8,1%) até ao 6º dia após a alta, num total
de 157 pessoas, e em 5 pessoas (4,5%) no 1º mês após a alta num total de 110 pessoas, não
havendo registos nas consultas a jusante.
A análise da função cognitiva, obtida a partir do MMSE, que permite avaliar de forma rápida
as habilidades cognitivas da pessoa (valores mais baixos estão associados a mais alterações
cognitivas) permitiu inferir que pelo menos 14 (20,6%) num total de 68, 8 (12,9%) num total

70 Mara Alexandra Alves de Sousa


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de 62 e 3 (10,3%) num total de 29 pessoas apresentaram alterações cognitivas no 1º, 2º e 3º


momento de avaliação respetivamente, uma vez que foram pontuados com scores abaixo de
20, não dependendo do nível de escolaridade, dado não documentado no processo clínico
das pessoas. Constatado que as alterações cognitivas têm tendência a diminuir com o
decorrer do tempo, tal como demonstrado na tabela 6.

Tabela 6: Análise descritiva da MMSE por momento de avaliação


Até 6º dia 1º mês 3º mês 6º mês
M dp M dp M dp M dp
22,62 7,96 25,15 6,45 25,59 7,66 27,61 2,55
n=68 n=62 n=29 n=21

No domínio mental a depressão, a ansiedade e a TSPT, são os distúrbios mais frequentes


desenvolvidos pela pessoa após a doença crítica.
A analise dos dados referentes à aplicação da escala HADS (escala que determina a presença
de ansiedade e depressão através da aplicação de duas subescalas com um score que varia
entre 0 e 21, cujo ponte de coorte é 11), nos quatro momentos de registos de dados, pelos
profissionais de saúde, durante as CFUs permitiu inferir que, de uma forma global, a
prevalência da ansiedade aumentou ao longo do tempo, com uma percentagem de 3%, 6,4%
e 13,6% nas consultas até ao 6º dia, 1º mês e 3º mês respetivamente. As percentagens, 4,2%,
5,5% e 12,5 relativas à prevalência da depressão nos mesmos momentos de consulta,
traduzem a mesma tendência de aumento. Apesar do período compreendido entre o 3º e o
6º mês contrariar a tendência anterior para ambos os distúrbios, 4 pessoas (11,4%)
apresentaram um score compreendido entre 8 e 10 na subescala da ansiedade, o que é
sugestivo da presença de ansiedade.

Tabela 7: Análise descritiva da escala de HADS por momento de avaliação


Até 6º dia 1º mês 3º mês 6º mês
M dp M dp M dp M dp
Ansiedade 4 3,1 3,8 3,9 4,8 4,6 3,6 2,5
n=100 n=94 n=44 n=35
Depressão 3,2 3,4 2,4 3,5 3,2 4,4 1,5 1,7
n=96 n=95 n=40 n=35

Tendo presente que o valor 0 representa ausência de sintomas, constatou-se que os valores
médios apurados indicam, de forma geral, intensidades de sintomas sugestivos de presença
de ansiedade bastante reduzidos. A análise da tabela 8 permitiu constatar que a questão na
qual as pessoas se posicionaram relativamente à “sensação de medo, como se algo de mau

Mara Alexandra Alves de Sousa 71


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fosse acontecer”, foi aquela com um score médio mais alto em todos os momentos de
avaliação.

Tabela 8: Estatística descritiva da subescala da ansiedade por momento de avaliação


Questão Até 6º Mês 1º Mês 3º Mês 6º mês
M dp M dp M dp M dp
Sinto-me tenso/agitado 0,54 0,73 0,54 0,75 0,69 0,73 0,66 0,54
n=105 n=77 n=45 n=35
Ando preocupado 0,9 0,80 0,74 0,92 0,72 0,88 0,57 0,56
n=107 n=97 n=47 n=35
Sinto-me apreensivo/ 0,33 0,60 0,34 0,64 0,53 0,78 0,37 0,69
estomago a dar ás voltas n=104 n=100 n=47 n=35
Tenho sensações súbitas 0,16 0,52 0,23 0,74 0,28 0,69 0,14 0,49
de pânico. n=106 n=99 n=46 n=35
Tenho medo, como algo 0,92 1,03 0,89 1,02 1,04 1,12 0,71 0,75
de mau fosse acontecer n=106 n=99 n=47 n=35
Consigo descansar e 0,45 0,72 0,73 0,73 0,87 0,74 0,71 0,62
sentir-me descontraído n=104 n=100 n=47 n=35
Sinto-me inquieto como 0,86 0,77 0,74 0,74 0,63 0,85 0,40 0,60
se não conseguisse parar n=106 n=101 n=46 n=35

Mantendo a mesma linha de orientação de análise, em que 0 representa ausência de


sintomas, verificou-se que as pessoas tiveram sintomas sugestivos de depressão muito
baixos, dados os valores médios apurados nas 7 questões que compõem a subescala da
depressão (tabela 9). A questão que determinava a posição da pessoa em relação ao “sinto-
me mole”, foi a que obteve um score médio mais elevado em todos os momentos de
avaliação.

72 Mara Alexandra Alves de Sousa


A Pessoa no Pós-Internamento em Cuidados Intensivos: Um Modelo de Acompanhamento de Enfermagem

Tabela 9: Estatística descritiva de subescala da depressão por momento de avaliação


Questão Até 6º Mês 1º Mês 3º Mês 6º mês
M dp M dp M dp M dp
Ainda tiro prazer do que 0,37 0,67 0,41 0,85 0,34 0,79 0,66 0,54
mais gosto de fazer n=104 n=98 n=47 n=35
Sinto-me bem-disposto 0,40 0,64 0,27 0,57 0,41 0,75 0,57 0,56
n=106 n=98 n=46 n=35
Perdi o interesse na 0,37 0,75 0,24 0,67 0,14 0,56 0,37 0,69
minha aparência n=101 n=100 n=43 n=35
Consigo apreciar uma 0,36 0,70 0,28 0,63 0,19 0,50 0,14 0,49
revista/programa de TV n=107 n=101 n=47 n=35
Consigo rir e ver o lado 0,45 0,76 0,37 0,76 0,49 1,00 0,71 0,75
cómico das coisas n=107 n=100 n=47 n=35
Sinto-me mole 0,79 0,77 0,71 0,81 0,74 0,92 0,71 0,62
n=105 n=100 n=47 n=35
Penso no futuro de 0,47 0,76 0,33 0,64 0,53 0,97 0,40 0,60
forma positiva n=104 n=99 n=45 n=35

A prevalência de sintomas de TSPT nas pessoas em estudo foi avaliada com recurso à escala
PTSS-14 (Tabela 10), tendo sido definida a pontuação acima de 45 para indicar sintomas de
TSPT clinicamente relevantes. Os valores médios apurados traduzem, genericamente,
sintomas sugestivos de TSPT muito baixos. Da análise da documentação referente a todas as
avaliações realizadas pelos profissionais de saúde, infere-se que genericamente a prevalência
do TSPT aumentou ao longo do tempo, com uma percentagem de 4,5%, 7,7% e 13,2% nas
consultas até ao 6º dia, 1º mês e 3º mês respetivamente, com a exceção do período de
transição entre a consulta do 3º para o 6º mês.

Tabela 10: Estatística descritiva da escala PTSS-14 por momento de avaliação


Até 6º dia 1º mês 3º mês 6º mês
M dp M dp M dp M dp
15,5 14,3 18 16,2 22 16,6 13,2 14,7
n=89 n=91 n=38 n=31

Dos 108 processos que documentavam a avaliação das memórias de internamento no SMIP
no 1º mês após a alta, 76 (70,4%) descreviam memórias do internamento, mas apenas 26,4%
registavam lembranças de todo o percurso. Memórias claras do momento da transferência
para outro serviço, foram referidas em 52,6% dos 93 processos que apresentavam este
registo. Memórias não factuais foram documentadas em 46 processos (42,6%).
Tendo em conta a análise realizada às diferentes dimensões afetadas, é possível constatar
uma diminuição da prevalência de sequelas instaladas resultantes da doença crítica e do seu

Mara Alexandra Alves de Sousa 73


A Pessoa no Pós-Internamento em Cuidados Intensivos: Um Modelo de Acompanhamento de Enfermagem

tratamento ao longo do tempo, com a exceção da dimensão psicológica, que foi a única cuja
a prevalência de alterações aumentou com o decorrer do tempo até ao terceiro mês.
Na CFU também é preocupação dos enfermeiros a qualidade de vida da pessoa. Deste modo,
foi-se perceber em termos médios a presença de alterações ao nível de cinco dimensões a
partir da escala EQ-5D (Tabela 11) ao 6º mês após a transferência do SMIP. Cada dimensão
está operacionalizada numa escala ordinal do tipo Likert (3 pontos), (“Não tenho problemas”,
“Tenho alguns problemas” e “sou incapaz”), em que 1 é o valor mais desejável. Constatou-se
que as dificuldades na mobilidade e na realização das atividades habituais foram as
dimensões da qualidade de vida mais afetadas. Num total de 43 pessoas, 19 (44,2%) ainda
tinha alguns problemas em realizar as atividades pessoais e 3 (7%) eram incapazes de as
realizar. No mesmo número de pessoas, 21 (48,8%) apresentavam ainda alguns problemas
na mobilidade. De 30 pessoas avaliados ao sexto mês, 42,2% não estavam reformados. A
falta de documentação relativa à situação profissional não permitiu determinar a prevalência
de incapacidade para o trabalho decorrente do internamento.

Tabela 11: Análise estatística das cinco dimensões da escala EQ-5D ao 6º mês
N M dp
Dificuldade na mobilidade 43 1,49 0,51

Dificuldade nos cuidados pessoais 43 1,30 0,51


Atividades habituais 43 1,58 0,63

Dor/mau estar 43 1,44 0,63


Ansiedade/Depressão 42 1,38 0,58

Comparando o estado de saúde atual com o prévio ao 6º mês após alta do SMIP, 21 pessoas
(47,7%) consideraram-se pior, enquanto que 12 (27,3%) referiram sentir-se iguais. Contudo,
11 (25%) sentiam-se melhores. Neste último momento de avaliação, numa escala analógica
pontuada de 0 a 100, em que 0 é o pior estado de saúde possível e 100 o melhor, o score
médio foi de 67,71 (DP 22,54).
Após a descrição dos dados da amostra, recorreu-se à estatística inferencial, que permite
“(….) retirar conclusões acerca da população-alvo, com base nos resultados obtidos na
amostra daí recrutada através de um processo de inferência estatística” (Martins, 2011, p.
91).
O número de dias de ventilação e sedo-analgesia estão positivamente correlacionados com
os dias de internamento no SMIP, rs = .82, p = .00 e rs = .69, p = .00 respetivamente. O
aumento dos dias de ventilação e de sedo-analgesia estão associados a internamentos mais
prolongados. É possível verificar também uma correlação positiva significativa entre o

74 Mara Alexandra Alves de Sousa


A Pessoa no Pós-Internamento em Cuidados Intensivos: Um Modelo de Acompanhamento de Enfermagem

número de dias de ventilação e a presença da deglutição comprometida, rpb = .33, p = .00.


Assim, a presença de disfagia está associada a mais dias de VMI.
Da análise conjunta dos 4 momentos de avaliação é possível constatar que a MRC está
positivamente correlacionada com o índice de Barthel, rs = .57, p = .00. Maior força muscular
está associada a scores mais elevados do índice de Barthel, correspondendo a menor nível
de dependência nas AVDs. Verifica-se uma correlação negativa significativa entre o número
de dias de internamento e a força muscular, rs = -.19, p =.00. Um número maior de dias de
internamento está associado a um score mais baixo da escala MRC, traduzindo uma maior
perda de força muscular.
Os scores da subescala da ansiedade estão positivamente correlacionados com os scores da
subescala da depressão, rs = .69, p = .00. Valores maiores da subescalada da ansiedade estão
associados a valores mais elevados da subescala da depressão. Por sua vez, o TSPT relaciona-
se positivamente com ambos os distúrbios, rs = .48, p = .00 para a ansiedade e rs = .42, p = .00
para a depressão. Assim, níveis mais elevados de TSPT está associado a maiores estados de
ansiedade e depressão.
No sentido de se perceber se havia alguma relação entre os domínios físico e mental,
correlacionou-se as escalas de MSC e Barthel com as subescalas da depressão e ansiedade e
a PTST. Verificou-se haver correlações negativas entre a força muscular, a depressão, rs =-
.24, p = .00, e a ansiedade, rs = -.12, p = .05, inferindo-se que valores mais elevados de força
muscular estão associados a menores estados depressivos e de ansiedade. Há também uma
correlação negativa entre o Índice de Barthel e a ansiedade e a depressão, rs = -.17, p = .007
e rs = -.37, p = .000, associando-se maiores níveis de dependência nas AVDs a maiores estados
de ansiedade e depressão. Não se verificou nenhuma correlação entre a escala PTSS-14 e as
escalas MSC e Índice de Barthel, inferindo-se que o stress pós-traumático não está associado
à condição física da pessoa.
A escala EQ-VAS, pontuada de 0 (pior estado de saúde possível) a 100 (melhor estado de
saúde possível) permite avaliar a perceção da pessoa relativamente ao seu estado de saúde.
Aos seis meses após a transferência do SMIP há uma correlação negativa significativa entre
a perceção do estado de saúde da pessoa e a ansiedade e o stress pós-traumático, r = -.47, p
= .01 e r = -.49, p = .01 respetivamente, inferindo-se que níveis mais altos de ansiedade e de
stress pós-traumático estão associados a piores estados de saúde percecionados pelas
pessoas.
Pessoas do género feminino estão associados a scores mais altos de stress pós-traumático,
(rpb = - ,16, p = .012) e de ansiedade (rpb= -.126, p = .038).
Relativamente à idade, verifica-se a existência de uma correlação positiva com as sequelas
respiratórias (rpb= .19, p = .00) e neuromusculares (rpb = .23, p = .00), associando-se o aumento
da idade a mais problemas a nível respiratório e neuromuscular. Há também uma correlação

Mara Alexandra Alves de Sousa 75


A Pessoa no Pós-Internamento em Cuidados Intensivos: Um Modelo de Acompanhamento de Enfermagem

negativa entre a idade e as variáveis força muscular (rpb = -.16, p = .00) e índice de Barthel (rpb
= -.31, p = .00), que avaliam a dimensão física da pessoa, inferindo-se que quanto maior for
a idade, maior é a dependência a nível das atividades de vida diárias e menor a força
muscular. Nenhuma correlação foi estabelecida entre a idade e variáveis que avaliam a
componente psicológica.
Relativamente às principais necessidades da pessoa no pós-internamento em Cuidados
Intensivos foram identificados aspetos de saúde relevantes para a prática de enfermagem e
consequentemente para a otimização da CFU. Para apresentação dos resultados recorreu-se
à Ontologia de Enfermagem (Ordem dos Enfermeiros, sd), que representa uma estrutura de
informação com bastante utilidade para a representação conceptual e teórica do
conhecimento de enfermagem, que permite facilitar o desenvolvimento de sistemas de
suporte à tomada de decisão de enfermagem (Peace & Brennan, 2009).
As necessidades da pessoa após a doença crítica têm como centralidade o autocuidado, que
de acordo com a Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE), é uma
“atividade executada pelo próprio. Tomar conta do necessário para se manter, manter-se
operacional e lidar com as necessidades individuais básicas e íntimas e as atividades de vida
diária” (Ordem dos Enfermeiros, 2016, p. 41). O autocuidado assume-se como uma das áreas
core da intervenção de enfermagem pelo seu impacte nos resultados e potencial para gerar
ganhos em saúde, sendo, por isso, reconhecido como um indicador de qualidade dos
cuidados e um critério de qualidade do exercício profissional (Ordem dos Enfermeiros, 2012).
Neste sentido e como forma de dar resposta ao segundo objetivo deste estudo, apresenta-
se na figura 1 os aspetos de saúde relevantes para a prática de Enfermagem. Foram
identificados os processos corporais nos nós processo cardiorrespiratório, processo
gastrointestinal, processo neuromuscular e processo psicológico, onde emergem os focos de
atenção da enfermagem que requerem a colheita de uma série de dados, essenciais para a
formulação de um raciocínio diagnóstico e de intervenções dirigidas para dar resposta às
principais necessidades das pessoas no pós-internamento no SMIP. Reforçar também que ao
longo do seguimento destas pessoas, os cuidados devem ser personalizados, direcionados e
adaptados à condição da pessoa, ao contexto de ação e à terapêutica complexa a que cada
um está sujeito, onde a intervenção de uma equipa multidisciplinar se revela essencial para
intervenções dirigidas às áreas afetados, de forma a promover a recuperação de uma forma
mais ampla possível.

76 Mara Alexandra Alves de Sousa


A Pessoa no Pós-Internamento em Cuidados Intensivos: Um Modelo de Acompanhamento de Enfermagem

Figura 1: Aspetos de Saúde Relevantes para a prática de Enfermagem

Mara Alexandra Alves de Sousa 77


A Pessoa no Pós-Internamento em Cuidados Intensivos: Um Modelo de Acompanhamento de Enfermagem

78 Mara Alexandra Alves de Sousa


A Pessoa no Pós-Internamento em Cuidados Intensivos: Um Modelo de Acompanhamento de Enfermagem

7. Discussão

A forma como é realizado o seguimento à pessoa em situação crítica e após a transferência


do SMIP tem impacte relevante no processo de recuperação da doença crítica, pelo que a
concessão e desenvolvimento de modelos de acompanhamento de enfermagem é
imprescindível na promoção do autocuidado e na ajuda à vivência de transições saudáveis.
A análise dos dados permitiu constatar que no primeiro momento de avaliação 15 pessoas
não foram observadas porque já tinham tido alta hospitalar aquando do momento de
avaliação. Uma maior comunicação entre serviços, com a existência de um enfermeiro de
referência por serviço de internamento que fizesse a ligação com o enfermeiro responsável
pela CFU, seria uma possível solução para prevenir estas ausências de avaliação.
Considerando que o EEEMC à pessoa em situação crítica, é o profissional mais habilitado para
prestar cuidados especializados dirigidos à pessoa em situação crítica, a seleção deste
elemento de ligação deveria ter em conta este critério (Regulamento n. º140/2019 de 6 de
fevereiro, 2019).
Pela análise documental realizada aos registos da CFU até ao 6º dia, infere-se que a
intervenção do enfermeiro da CFU parece centrar-se na monitorização e documentação do
estado clínico da pessoa após a doença crítica. No entanto, intervenções no domínio do
“observar” que englobam ações do tipo vigiar, monitorizar, verificar, identificar e avaliar,
segundo Mota (2018) não se traduzem em ganhos de saúde diretos, sensíveis aos cuidados
de enfermagem, pelo que este momento de avaliação deveria ser repensado. Dado que os
cuidados prestados às pessoas após a transferência do SMIP é da responsabilidade dos
serviços onde ficam internados, a intraoperabilidade dos sistemas de informação entre o
SMIP e restantes serviços de internamento, facilitariam a cooperação e a partilha de
conhecimentos e informação, de forma a assegurar a continuidade dos cuidados.
Verifica-se também um aumento de pessoas não avaliados ao longo do tempo. Esta ausência
pode justificar-se pelo facto de algumas ainda não terem atingido o tempo da consulta
seguinte, devido ao plano de contingência relacionado com a pandemia por SARS-COV-2 ou,
então, devido à falta de assiduidade às consultas. Em resultado, uma maior monitorização
destas consultas, no sentido de se determinar de forma clara o motivo da ausência desses
momentos de avaliação, seria imprescindível. Caso a ausência se devesse à falta de
assiduidade seria fundamental perceber o problema que está na sua base, e encontrar
soluções para o minimizar, monitorizando também o grau de satisfação das pessoas. As

Mara Alexandra Alves de Sousa 79


A Pessoa no Pós-Internamento em Cuidados Intensivos: Um Modelo de Acompanhamento de Enfermagem

consultas telefónicas seriam uma solução inovadora e sustentável para melhorar o acesso
das pessoas com dificuldades de mobilização e económicas aos cuidados de saúde, com a
garantia de um acompanhamento mais continuado e articulado entre os diferentes níveis de
cuidados (Ordem dos Enfermeiros, 2021).
Os sobreviventes da doença crítica desenvolvem um conjunto de complicações e sequelas
que ocorrem a nível físico, cognitivo, mental e social, com forte impacte na qualidade de vida
(Robinson et al., 2019; Needham et al., 2012). Foram analisados os dados inerentes a cada
um destes domínios com o objetivo de se perceber a prevalência das sequelas mais comuns
em cada momento de avaliação e a forma como evoluem ao longo do tempo.
No domínio físico, verificou-se uma elevada prevalência de sequelas respiratórias,
nomeadamente, a necessidade de oxigenoterapia e a presença de traqueostomia, na
consulta até ao 6º dia após a transferência do SMIP. Estas limitações resultam em larga escala
do desenvolvimento de fraqueza muscular adquirida durante o internamento (Azevedo et
al., 2019). Dispneia em repouso ou com esforço e tosse ineficaz, verificada em 20 pessoas,
são sinais clínicos de alterações da função pulmonar e dos músculos respiratórios
respetivamente (Zeleznik et al., 2021).
Recorreu-se também à análise dos valores médios do Índice de Barthel e de MSC para se
avaliar o impacte das sequelas físicas ao nível do autocuidado, que representa um foco de
atenção muito significativo para a prática de enfermagem, com forte impacte na saúde e
bem-estar da pessoa. Constatou-se na consulta até ao 6º dia após a transferência, que as
pessoas apresentavam um grau de dependência severo e uma perda de força muscular
relevante, ocasionando limitação das capacidades para o desempenho das atividades básicas
de vida diária, como alimentar-se, higiene pessoal, uso de sanitário, virar-se, transferir-se,
vestir-se e andar (Azevedo et al., 2019). Mediante estes resultados, a implementação de um
protocolo de mobilização precoce tem sido referida como uma intervenção que pode ser
efetiva na mitigação deste problema (Hermans & Van den Berghe, 2015). Num estudo
randomizado recente, implementaram um protocolo de mobilização precoce para pessoas
em situação crítica, liderado por enfermeiros, envolvendo 54 pessoas internados em quatro
UCIs diferentes. Concluíram que a mobilização precoce, com intensidade adequada reduz o
tempo de internamento e potencia o ganho de maior força muscular (Winkelman et al.,
2018).
A imobilidade na pessoa em situação crítica está tipicamente associada à ventilação
mecânica, administração de sedativos, analgésicos e ao desenvolvimento de sequelas
relevantes e piores outcomes (Negro et al., 2018). A análise inferencial destas variáveis neste
estudo permitiu constatar que o aumento dos dias de ventilação e sedo-analgesia estavam

80 Mara Alexandra Alves de Sousa


A Pessoa no Pós-Internamento em Cuidados Intensivos: Um Modelo de Acompanhamento de Enfermagem

associados ao aumento dos dias de internamento no SMIP, à semelhança com outros estudos
(Canelhas et al., 2022; Lynch et al., 2020). Canelhas em 2022, comparou as capacidades
funcionais e a força muscular em pessoas ventilados até 6 dias com pessoas ventilados por
um período igual ou superior a 7 dias e concluiu que quanto maior o tempo de ventilação,
maior a perda de força muscular e funcionalidade, com repercussões no tempo de
internamento. O conhecimento atual destaca a importância de diminuir o tempo de
internamento para o clinicamente apropriado, para melhorar a qualidade dos cuidados
médicos, reduzir os custos e o uso excessivo de recursos” (Azevedo, 2018).
Ainda dentro do domínio físico, as alterações digestivas que mais se destacaram no primeiro
momento de avaliação foram a deglutição comprometida 15 (n=69) e a presença de
dispositivos de alimentação em 42 (n=154). Pelos valores apresentados infere-se que o
número de pessoas com deglutição comprometida seja muito superior, uma vez que foram
avaliados menos de metade das pessoas em comparação com aqueles que apresentavam
algum dispositivo de alimentação. Constatou-se, após consulta do processo clínico que no
momento da transferência do SMIP, que 58 pessoas (35,2%) num total de 165 apresentavam
deglutição comprometida. Segundo a literatura a deglutição comprometida relacionada com
intubação endotraqueal e ventilação mecânica é uma problemática frequente nas UCIs
(Matos et al., 2021; Schefold et al., 2017) com taxas de incidência que variam entre 3% a 83%
(Costa, 2020). A grande discrepância nos valores das percentagens poderá estar relacionada
sobretudo com a utilização de diferentes métodos de avaliação. Uma vez que a deglutição
comprometida aumenta o risco de co-morbilidades, o prolongamento do tempo de
internamento hospitalar e os custos em saúde (Almeida et al., 2016), a elaboração e
implementação de um instrumento de avaliação da deglutição e de um programa terapêutico
na reabilitação das pessoas com disfagia orofaríngea em parceria com os enfermeiros
especialistas em enfermagem de reabilitação, poderia contribuir para minimizar as
consequências negativas inerentes, sendo uma mais valia para um diagnóstico e tratamento
precoce da disfagia nas pessoas internadas no SMIP (Rodrigues et. al., 2015).
De uma forma genérica é possível verificar, através da análise dos dados nos diferentes
momentos de avaliação, que a prevalência das sequelas referentes à dimensão física
diminuíram com o decorrer do tempo.
As sequelas mentais das pessoas em comparação com as físicas, são mais difíceis de detetar
e compreender e nem sempre são abordadas de forma precoce e adequada pelos
profissionais que acompanham estas pessoas (Doing, 2020).
Neste estudo, é notória a baixa prevalência da ansiedade e depressão no primeiro momento
de avaliação, aumentando, contudo, com o decorrer do tempo no 1º e 3º mês, voltando

Mara Alexandra Alves de Sousa 81


A Pessoa no Pós-Internamento em Cuidados Intensivos: Um Modelo de Acompanhamento de Enfermagem

novamente a descer ao 6º mês, sem registo de casos. Estes resultados possivelmente podem
ser explicados pelo facto da reabilitação física preceder a reabilitação psicológica, como
defendido em alguns estudos (Hanifa et al., 2018; Ågård et al., 2012)
Importa referir que no questionário de avaliação da qualidade de vida aos 6 meses após a
transferência do SMIP, onde se procura saber como a pessoa se posiciona em relação ao
“Sinto-me ansioso/deprimido”, em 48 pessoas, 12 (28,6%) referem sentir-se
moderadamente ansiosos/deprimidos e 2 pessoas (4,8%) consideram-se extremamente
ansiosos/deprimidos. A diferença de resultados encontrados poderá estar relacionada com
o facto de a HADS não ser uma ferramenta validada para avaliar a depressão e ansiedade
nesta população específica de pessoas (National Institute for Clinical Excellence, 2014). Desta
forma, é necessário olhar de forma cautelosa para estes resultados.
No que concerne à TSPT, é possível constatar a baixa prevalência em todos os momentos de
avaliação. Contudo, verifica-se uma tendência de aumento até ao 3º mês, com uma
frequência de 13,2% num total de 38 pessoas avaliadas neste momento de consulta, indo de
encontro ao exposto por Gil (2021), que estima que a prevalência do TSPT no pós-
internamento em Cuidados Intensivos esteja compreendida entre 5-63% das pessoas que
sobrevivem à doença crítica e que esteja associada a pior qualidade de vida”. As diferenças
de resultados encontrados nos estudos realizados, poderão ser justificadas pela utilização de
diferentes protocolos de avaliação, quer a nível do internamento, quer no seguimento em
ambulatório, nomeadamente, instrumentos utilizados, momentos de avaliação, bem como
os diversos modelos de funcionamento e de intervenção de cada UCI (Gil, 2021).
A análise inferencial realizada permite constatar que existe uma correlação positiva entre o
TSPT e a ansiedade e depressão, corroborando com o defendido por (Gil, 2021), que
considera que a TSPT está frequentemente associada a comorbilidades psiquiátricas, como
as Perturbações de Ansiedade e Depressiva. A inclusão de uma visita à unidade num dos
momentos de avaliação da pessoa, parece ser uma medida significativa para esta população
de pessoas, porque promove um tratamento de exposição e inicia um processo de
enfrentamento (Hanifa et al., 2018).
Neste estudo o género feminino está associado a scores mais altos de stress pós-traumático.
Estes resultados poderão estar associados com o facto dos homens geralmente manterem
um distanciamento e recusa em falar em situações que envolvem o seu estado de saúde
(Hanifa et al., 2018), sendo relevante considerar-se a perspetiva do gênero na assistência em
enfermagem.
A documentação analisada relativa às memórias das pessoas, não permite classificar o tipo
de memórias ilusórias, que podem incluir pesadelos, alucinações, ilusões paranóides e

82 Mara Alexandra Alves de Sousa


A Pessoa no Pós-Internamento em Cuidados Intensivos: Um Modelo de Acompanhamento de Enfermagem

sonhos. Contudo, verificou-se que das 108 pessoas observadas no 1º mês após a alta, 76
(70,4%) tinham memórias do internamento, mas apenas 26,4% mantinha lembranças de
todo o seu percurso. Memórias não factuais foram mencionadas por 46 pessoas (42,6%).
Na população de Cuidados Intensivos as memórias delirantes são observadas em até 70% das
pessoas após a doença crítica (Doing, 2020) e são frequentemente assustadoras,
traumatizantes e com temas persecutórios. As memórias intrusivas contribuem para uma
maior morbilidade psicológica, estando associadas ao desenvolvimento de TSPT, ansiedade
e depressão (Doing, 2020). Neste sentido, seria relevante a aplicação de instrumentos na CFU
que permitissem catalogar os diferentes tipos de memórias, com a finalidade de desenvolver
novas oportunidades e intervenções para minimizar o sofrimento psicológico nestas pessoas.
Neste estudo, 29,7% das pessoas, num total de 108, não apresentam memórias do período
de internamento no SMIP. A perda de memória para eventos reais resulta na sua substituição
por lembranças ilusórias, muitas vezes desagradáveis, com incapacidade de percecioná-las
como irreais, com prejuízo na saúde psicológica futura, na recuperação e na qualidade de
vida. A implementação de diários de Cuidados Intensivos no SMIP poderia ser uma estratégia
viável para as pessoas lidarem com as consequências traumáticas do internamento. A sua
utilização permite à pessoa refletir, construir e reconstruir a história da sua doença crítica
(Halm, 2019a), facilita a compreensão e o preenchimento de lacunas de memória, diminui os
efeitos de memórias intrusivas reais ou imaginárias, ajusta as expectativas de recuperação
(Halm, 2019b) e ajuda na consciencialização da gravidade da sua doença ou lesão (Levine et
al., 2018).
A avaliação do delírium não estava documentada nos registos analisados. Mas considerando
a percentagem de memórias não factuais neste estudo e a sua prevalência variar entre 60%
a 80% em doentes idosos, adultos sob ventilação mecânica e/ou doentes com um tempo de
internamento superior a 48h e estar associado ao aumento das taxas de mortalidade e
comorbilidade (Lynch et al., 2020), justifica-se a elaboração de uma instrução de trabalho
que agrupe um conjunto de intervenções específicas não farmacológicas com foco em
fatores de risco modificáveis relativas ao ambiente circundante, promoção do sono e gestão
da dor para mitigar e prevenir o delírium durante o internamento no SMIP. Estudos
desenvolvidos defendem que a implementação destas intervenções, representa uma
estratégia promissora para a prevenção do delírium durante o internamento numa UCI e do
desenvolvimento do TSPT após a doença crítica (Contreras, 2021; Granberg-Axèll, 2020).
A análise dos registos médicos e de enfermagem, permitiu constatar que as pessoas
sinalizadas para acompanhamento por psiquiatria e psicologia no início do seguimento,
tiveram alta da CFU sem avaliação por estas especialidades. Destaca-se um possível défice

Mara Alexandra Alves de Sousa 83


A Pessoa no Pós-Internamento em Cuidados Intensivos: Um Modelo de Acompanhamento de Enfermagem

no suporte à saúde mental após a alta hospitalar, concebível em sistemas de saúde onde
muitas vezes o foco é a recuperação física, em detrimento da mental (Heydon, 2020). Tal
como a fisioterapia e a enfermagem de reabilitação fazem parte da rotina da prática moderna
de uma UCI, há também evidências crescentes que sugerem que o uso precoce de
psicoterapia na UCI e ferramentas associadas, como diários de UTI, podem potenciar a
recuperação e resultados para sobreviventes de doenças críticas (Heydon, 2020; Davydow,
2014).
A criação de um espaço, sob orientação de enfermeiros especialistas em saúde mental, onde
as pessoas pudessem ser encaminhadas após avaliação por um EEEMC à pessoa em situação
crítica, para promoção da saúde e do bem-estar, a partir da partilha de experiências e
vivências da doença, do internamento e da recuperação, poderá ser uma medida promissora
para prevenir o sofrimento psicológico no pós-internamento do SMIP. À semelhança com
outros estudos, os grupos de pares ou de apoio é uma estratégia defendida para reduzir a
morbilidade psicológica (Heydon et al., 2019; Mikkelsen et al., 2016).
A falta de documentação relativa à situação profissional das pessoas não permite determinar
a prevalência de incapacidade para o trabalho decorrente do internamento. Contudo, o
questionário da EQ-5D aos 6 meses após a transferência do SMIP num total de 43 pessoas,
19 ainda mantinham alguns problemas em realizar as atividades pessoais e 3 eram incapazes
de as realizar. Considerando que nas atividades habituais englobam aquelas realizadas no
âmbito profissional, infere-se que estas pessoas não reuniam condições para regressar ao
trabalho.
Consequências ao nível social e económico estão também descritas na literatura, com
impacto ao nível do emprego e dos rendimentos familiares, necessitando muitas das pessoas
de cuidados que são em grande parte proporcionados pela família. A relevância que a
situação profissional da pessoa tem ao nível social e económico, exige que estes casos sejam
devidamente sinalizados e reportados aos serviços sociais, no sentido de serem adotadas
medidas preventivas para diminuir o impacte na qualidade de vida do doente (Mota, 2018).
Da análise dos dados apura-se que a pessoa no pós-internamento em Cuidados Intensivos
desenvolve um conjunto de sequelas relevantes nos domínios físico, cognitivo, mental, social
e económico que impactam de forma negativa na sua qualidade de vida e bem-estar. Os
cuidados de enfermagem dirigidos às pessoas com esta condição são cuidados específicos,
altamente qualificados e prestados de forma contínua e sistemática, para prevenir
complicações, limitar incapacidades e otimizar a recuperação total (Regulamento n.º
429/2018 de 16 de Julho, 2018).

84 Mara Alexandra Alves de Sousa


A Pessoa no Pós-Internamento em Cuidados Intensivos: Um Modelo de Acompanhamento de Enfermagem

8. Conclusão

A conclusão foi estruturada em resposta aos objetivos que presidiram este percurso de
investigação, às limitações ao estudo e implicações para a prática assistencial dos
enfermeiros, bem como, desenvolvimentos futuros.
No modelo de acompanhamento em uso às pessoas após a transferência do SMIP, que são
encaminhados para a CFU, são seguidas pela equipa médico e enfermeiro que integram esta
consulta num momento até ao 6º dia após a transferência no internamento e em consultas
em regime de ambulatório. Na consulta externa nota-se que as intervenções implementadas
pelos enfermeiros são sobretudo na esfera do “Observar”, com recurso a um conjunto de
escalas que permitem a colheita de dados essenciais à tomada de decisão médica. A análise
dos registos dos profissionais de saúde permite inferir que o processo de enfermagem fica
limitado, quase exclusivamente, à colheita de dados, com prejuízo nos resultados esperados.
O desenvolvimento deste trabalho demonstra que as pessoas no pós-internamento em
Cuidados Intensivos desenvolveram um conjunto de sequelas no domínio físico, cognitivo e
mental, com reflexo nos domínios social, profissional e económico, consistentes com o
desenvolvimento de SPICI. Em resultado emergiram um conjunto de necessidades no
domínio dos seguintes processos corporais: o processo cardiorrespiratório, onde se destaca
a ventilação comprometida; o processo neuromuscular que salienta os potenciais para
melhorar a autoeficiência, a consciencialização e a capacidade para executar; o processo
gastrointestinal que foca a deglutição comprometida e o processo psicológico que aponta o
delírium, a alucinação, o humor depressivo e a ansiedade. A definição dos diagnósticos de
enfermagem que melhor respondem a estas necessidades, bem como, os procedimentos de
diagnóstico e terapêutica médica, que daí advêm, exige a colheita de um conjunto de dados
específicos com integridade referencial aos referidos diagnósticos e às intervenções a
implementar.
Após a saída dos Cuidados Intensivos, as pessoas são desafiadas a reestruturar a forma como
enfrentam a sua nova condição de saúde em benefício do sucesso da transição que decorre.
A tomada de decisão para a prestação de cuidados de Enfermagem pelo EEEMC à pessoa em
situação crítica desempenha um papel de destaque na melhoria do potencial de adaptação,
execução e transformação da pessoa face à sua nova condição, bem como, na otimização das
condicionantes que rodeiam e influem as suas práticas e ações, com o propósito de
desenvolver as suas capacidades de desempenho no autocuidado.

Mara Alexandra Alves de Sousa 85


A Pessoa no Pós-Internamento em Cuidados Intensivos: Um Modelo de Acompanhamento de Enfermagem

Nesta perspetiva, é recomendável um modelo de acompanhamento que esteja centrado nas


necessidades da pessoa e não do sistema, onde a intencionalidade do acompanhamento
esteja intimamente relacionado com a forma como cada pessoa experiência o seu processo
de transição saúde/doença.
Em relação às limitações ao estudo salienta-se o facto da escala de HADS, utilizada na
avaliação da ansiedade e depressão, não estar validada para esta população de pessoas; o
estudo realizar-se apenas no SMIP do CHEDV, com pessoas da mesma região do país, não
havendo uma representatividade da população de pessoas que estiveram internadas em
UCIs em Portugal; amostras pequenas, nomeadamente no 3º e 4º momento de avaliação
(consultas do 3º e 6º mês); falta de documentação de dados que impossibilitou a realização
de algumas associações entre variáveis e, tendo em consideração a amplitude da temática,
o excesso de variáveis em estudo, impossibilitando a aferição aprofundada das correlações
entre as variáveis.
Apesar das limitações referidas, acredita-se que este estudo representa uma estratégia de
melhoria progressiva da qualidade dos processos de assistência de enfermagem à pessoa no
pós-internamento em Cuidados Intensivos, uma vez que a identificação das principais
necessidades decorrentes da doença crítica e do seu tratamento, facilita a antecipação das
dificuldades na vivência do processo de transição saúde/doença, e a implementação de
terapêuticas adequadas e dirigidas para dar resposta a essas mesmas necessidades.
Em desenvolvimentos futuros, dando seguimento a este trabalho, seria pertinente a
elaboração de um modelo de acompanhamento de enfermagem para as pessoas no pós-
internamento em Cuidados Intensivos.

86 Mara Alexandra Alves de Sousa


A Pessoa no Pós-Internamento em Cuidados Intensivos: Um Modelo de Acompanhamento de Enfermagem

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O cumprimento da componente de estágio possibilitou o incremento e apropriação de


competências pessoais, interpessoais, científicas, técnicas e reflexivas no âmbito das
competências comuns e especificas de Mestre em Enfermagem Médico-Cirúrgica na área de
especialização de Enfermagem à Pessoa em Situação Crítica.
O cumprimento dos objetivos definidos para cada contexto de estágio no início deste
percurso, refletem-se na apropriação de novos conhecimentos, no desenvolvimento de
novas aprendizagens, no aprimoramento do juízo clínico fundamentado nas necessidades de
cuidados individuais e na segurança na tomada de decisão alicerçada em evidência científica.
A realização dos estágios fora do contexto da prática diária proporcionou uma visão de todo
o percurso da pessoa em situação crítica, desde a sua admissão no SUMC do CHEDV até à
alta da CFU. Foram uma oportunidade para enfrentar novos desafios, para desenvolver a
autonomia, a iniciativa, a criatividade, a capacidade de adaptação e o poder da tomada de
decisão, pelo recurso à mobilização de conhecimentos e uso do pensamento crítico-reflexivo,
na procura permanente da excelência dos cuidados de enfermagem. Em resultado foram
diagnosticadas lacunas e áreas suscetíveis de melhoria, determinando a conceção,
desenvolvimento, disseminação e implementação de iniciativas e estratégicas, com vista à
melhoria contínua em ambos os contextos da prática clínica, com foco na qualidade e
segurança dos cuidados.
A componente de investigação acarretou um desenvolvimento enorme em termos de
conhecimento e operacionalização das várias etapas do processo de investigação. As
dificuldades sentidas no início deste percurso foram-se dissipando, com a aquisição de
competências no processo metodológico e interpretativo, que permitiu evoluir na produção
científica. Por outro lado, foi possível aprofundar conhecimentos e adquirir novas
habilidades, a partir da obtenção de informação relevante e fidedigna das principais
necessidades da pessoa no pós-internamento em Cuidados Intensivos, bem como de
estratégias para prevenir complicações e estimular a recuperação total, potenciando a
incorporação da produção científica na prática clínica de enfermagem na CFU.

O trabalho desenvolvido permitiu detetar algumas oportunidades de melhoria com vista à


qualidade, segurança e continuidade dos cuidados, como também para facilitar a realização
de estudos futuros de investigação. Sugere-se a realização de ações de formação à equipa
multidisciplinar para a importância da adoção das medidas preventivas do SPICI durante o
internamento no SMIP, aos profissionais que integram a equipa da consulta de follow-up

Mara Alexandra Alves de Sousa 87


A Pessoa no Pós-Internamento em Cuidados Intensivos: Um Modelo de Acompanhamento de Enfermagem

para a uniformização da metodologia de aplicação das diferentes escalas e para a relevância


da realização de registo dos dados colhidos nos processos clínicos. Por outro lado, fomenta-
se a continuidade deste trabalho com a elaboração futura de um modelo de
acompanhamento de enfermagem à pessoa após a transferência do SMIP, com a definição
de diagnósticos e intervenções de enfermagem em linha com as necessidades reais
apresentadas, assim como, a determinação de indicadores de processo e de resultado, de
forma a dar visibilidade aos ganhos em saúde sensíveis aos cuidados de enfermagem e
promover a evolução da enfermagem enquanto disciplina do conhecimento nesta área.

88 Mara Alexandra Alves de Sousa


A Pessoa no Pós-Internamento em Cuidados Intensivos: Um Modelo de Acompanhamento de Enfermagem

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A Pessoa no Pós-Internamento em Cuidados Intensivos: Um Modelo de Acompanhamento de Enfermagem

ANEXOS

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ANEXO I: INSTRUÇÃO DE TRABALHO “COLHEITA DE


HEMOCULTURAS”

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A Pessoa no Pós-Internamento em Cuidados Intensivos: Um Modelo de Acompanhamento de Enfermagem

ANEXO II: NORMA DE ORIENTAÇÃO CLÍNICA "MEDIDAS NÃO-


FARMACOLÓGICAS A ADOTAR PARA A PROMOÇÃO DO SONO
E PREVENÇÃO DO DELÍRIUM NO DOENTE CRÍTICO"

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ANEXO III: PROTOCOLO "MOBILIZAÇÃO PRECOCE”

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ANEXO IV: PROTOCOLO “ OPERACIONALIZAÇÃO DA CONSULTA DE FOLLOW-


UP”

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ANEXO V: PLANIFICAÇÃO DA AÇÃO DE FORMAÇÃO: "COLHEITA DE


HEMOCULTURAS"

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ANEXO VI: AÇÃO DE FORMAÇÃO: "COLHEITA DE HEMOCULTURAS"

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ANEXO VII: PLANIFICAÇÃO DA AÇÃO DE FORMAÇÃO "VNI EM CONTEXTO DE


URGÊNCIA"

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ANEXO VIII: AÇÃO DE FORMAÇÃO "VNI EM CONTEXTO DE URGÊNCIA"

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ANEXO IX: PÓSTER “PAPEL DO ENFERMEIRO ESPECIALISTA NA TRANSIÇÃO


SAÚDE/DOENÇA À PESSOA CONSCIENTE EM PRONE: ESTUDO DE CASO

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ANEXO X: PÓSTER “IMPACTE DAS INTERVENÇÕES DE ENFERMAGEM NÃO


FARMACOLÓGICAS NA PREVENÇÃO DO DELÍRIUM DO DOENTE CRÍTICO”

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ANEXO XI: EXPOSIÇÃO ESCRITA "IMPACTE DOS DIÁRIOS DE CUIDADOS


INTENSIVOS NO BEM-ESTAR EMOCIONAL DA PESSOA/FAMÍLIA"

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ANEXO XII: CARTAZ "COLHEITA DE HEMOCULTURAS”

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A ANEXO XI: PARECER DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DO CHEDV

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