Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Ato I, Cena I
Funções da didascália inicial
– A interrogação retórica:
✓ «E que importa que o não deixe durar muito a fortuna?» (l. 7).
– A exclamação:
✓ «Mas eu!...» (l. 8);
✓ «Oh! que o não saiba […]» (l. 8);
✓ «[…] que desgraça a minha! (l. 11).
– A antítese:
✓ «Viveu-se, pode-se morrer.» (l. 8);
✓ «[…] que felicidade… que desgraça […]» (l. 11).
Ato I, Cena II
Funções desta cena
• Dar a conhecer aos espectadores/leitores os antecedentes da intriga, bem como a situação atual;
• Apresentar/caracterizar direta e indiretamente as personagens mais relevantes;
• Esboçar os contornos do relacionamento entre os principais intervenientes na ação;
• Referenciar aspetos históricos;
• Veicular, já, alguns indícios trágicos.
Caracterização de personagens
2
Página
presentemente um grande ascendente na vida de D. Madalena: «O que sabeis da vida e do mundo, o que
Página
tendes adquirido na conversação dos homens e dos livros — porém, mais que tudo, o que de vosso
coração fui vendo e admirando cada vez mais — me fizeram ter-vos numa conta, deixar-vos tomar,
entregar-vos eu mesma tal autoridade nesta casa e sobre a minha pessoa… que outros poderão
estranhar…» (ll. 123-127).
• A relação entre Telmo e D. Maria de Noronha
– No início, Telmo nutria pela criança animosidade («não a podia ver» — l. 72), pois a menina era fruto do
segundo casamento de D. Madalena, que o aio nunca aprovara por considerar que era uma relação
ilegítima, já que nunca se provara, definitivamente e sem sombra de dúvida, a morte de D. João de
Portugal.
– Porém, à medida que a menina foi crescendo, «a olhar para mim com aqueles olhos… a fazer-me
meiguices, e a fazer-se-me um anjo tal de formosura e de bondade» (ll. 73-75), o escudeiro criou-lhe uma
amizade tão profunda, que parecia suplantar a dos próprios pais: «que lhe quero mais do que seu pai» (ll.
75-76) e «Do que vós.» (l. 77).
– Por seu lado, a jovem também nutria pelo aio uma grande afeição e, segundo palavras de D. Madalena,
Telmo tomou um «ascendente no espírito de Maria… tal que não ouve, não crê, não sabe senão o que lhe
dizes» (ll. 59-60). A menina desenvolveu uma intimidade e uma ligação ao escudeiro como se ele fosse
«a sua dona, a sua aia de criação» (l. 60).
– (Considere-se que, no contexto da educação aristocrática, os aios eram figuras mais importantes na
educação das crianças do que os próprios progenitores.)
• Os sentimentos de D. Madalena relativamente aos seus dois maridos
– D. João de Portugal: Nas palavras de Telmo, o seu amo nunca foi verdadeiramente amado pela esposa.
Como virtuosa esposa que era, foi-lhe fiel, mas não lhe concedeu o seu coração: «Que o pobre de meu
amo… respeito, devoção, lealdade, tudo lhe tivestes, como tão nobre e honrada senhora que sois… mas
amor!...» (ll. 172-174);
– Manuel de Sousa Coutinho: Segundo Telmo, D. Madalena amou Manuel de Sousa Coutinho desde
sempre: «Não sois feliz na companhia do homem que amais, nos braços do homem a quem sempre
quisestes mais sobre todos?» (ll. 171-172); «Mas os ciúmes que meu amo não teve nunca — bem sabeis
que têmpera de alma era aquela — tenho-os eu por ele: não posso, não posso ver…» (ll. 176-178). Numa
perspetiva profundamente romântica, Madalena contrapõe que o amor constitui uma fatalidade, ninguém
comanda o seu coração («Não está em nós dá-lo, nem quitá-lo» — l. 175).
– Dá-se o casamento de D. Madalena com Manuel de Sousa Coutinho: «[…] eu resolvi-me por fim a casar
Página
com Manuel de Sousa; foi do aprazimento geral de nossas famílias, da própria família de meu primeiro
marido, que bem sabeis quanto me estima; vivemos […] seguros, em paz e felizes... há catorze anos.» (ll.
184-187).
• 1586:
– Nasce a filha do casal, Maria de Noronha: «Temos esta filha, esta querida Maria que é todo o gosto e ânsia
da nossa vida. Abençoou-nos Deus na formosura, no engenho, nos dotes admiráveis daquele anjo...» (ll.
187-189).
• 1599 (presente):
– Telmo continua a acreditar que D. João de Portugal não morreu e regressará («a ninguém mais ficou resto
de dúvida… / Senão a mim.» — ll. 148-149), com base numa «carta escrita na própria madrugada do dia
da batalha, e entregue a Frei Jorge, que vo-la trouxe» (ll. 155-156). Nela D. João afirmava que «”vivo ou
morto, Madalena, hei de ver-vos pelo menos ainda uma vez neste mundo.”» (l. 159). Como não aparecera
o seu cadáver, isso levava Telmo a pensar que o seu amo ainda estaria vivo e, como homem de palavra,
algum dia havia de regressar para cumprir o prometido: ver a esposa nem que fosse pela última vez. Nesse
sentido, apesar da sua lealdade a D. Madalena, do seu profundo carinho por Maria e até da sua relutante
admiração por Manuel de Sousa Coutinho, Telmo continua preso pela sua afeição e lealdade ao seu
primeiro amo, D. João de Portugal.
– O fiel escudeiro apresenta-se como a voz da consciência que constantemente atormenta D. Madalena,
infundindo-lhe receios e remorsos: «as vossas palavras metem-me um medo… Não me façais mais
desgraçada.» (ll. 169-170). Também a nobre dama teme que o primeiro marido não esteja morto e isso
ensombra-lhe a existência de negros pressentimentos, impedindo-a de vivenciar plenamente o seu amor
por Manuel de Sousa Coutinho.
– O reavivar constante das suspeitas de Telmo surge como o espelho da desonra familiar, já que sugere a
ilicitude do segundo casamento de D. Madalena e, portanto, a ilegitimidade de Maria: «[…] E és tu o que
andas, continuamente e quase por acinte, a sustentar essa quimera, a levantar esse fantasma, cuja
sombra, a mais remota, bastaria para enodoar a pureza daquela inocente, para condenar a eterna desonra
a mãe e a filha!...» (ll. 192-197).
• Telmo agoira que, em breve, o destino virá testar a lealdade das pessoas da casa, nomeadamente no que diz
respeito ao amor por Maria: «E veremos: tenho cá uma coisa que me diz que, antes de muito, se há de ver
quem é que quer mais à nossa menina nesta casa.» (ll. 80-81).
• As ideias sebastianistas estão intimamente ligadas à fatalidade que impende sobre a união matrimonial de D.
Madalena, pois o regresso de D. Sebastião evoca também o retorno de D. João de Portugal: «[…] as tuas
palavras misteriosas, as tuas alusões frequentes a esse desgraçado rei D. Sebastião, que o seu mais
desgraçado povo ainda não quis acreditar que morresse, por quem ainda espera em sua leal incredulidade!»
(ll. 201-205)
• Surgem constantemente premonições trágicas: «[…] esses contínuos agouros em que andas sempre de uma
desgraça que está iminente sobre a nossa família...» (ll. 205-206).
Dados geográficos
• Localização da ação:
– Na última fala de D. Madalena, ficamos a saber que o palácio de Manuel de Sousa Coutinho se situa na
outra margem do Tejo, com vista para a cidade de Lisboa (Almada, pois faz-se referência ao pontal de
Cacilhas), e que o mesmo terá ido à capital, numa falua, causando a sua demora alguma preocupação a
D. Madalena.
5
Página