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CONEHO l\lELLO LULA

O P11l11ito ltlocle1·110
COM UM PREFACIO

de

.Perillo Go1ne8

1924
-- TYPOGRl'l.PHIH DHS .,VOZES DE Pí:.TROPOLJS" -
PETROPOUS - E. DO RIO
)i meus idolafrados paes

L.uii Jiomes de jl2ello I:.ula

.1l1aria ldalina de jl2ello Jrnla

(;om fodo o affecfo e 11eneracõo


de tninfía ah11._a.

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Approvação

O livro que o Revmo. Sr. Conego Mello


Lula offerece á opinião publica, recommenda
muito · o seu valente e estudioso aufor, não só
pelo estylo do jornalista combativo, mas tam-
. bem pelo espírito de sobrena:tural que en�e
iodós os seus escriptos. A mente, de,ois da sua
leitura, se recolhe enriquecida e o coração• ple­
namente refeito e consolado.
Apostolo da boa imprensa, S. Revma-. não
é um theorico: age, trabalha e faz sacrificios
pelo seu nobre ideal.
Abençôe Deus as suas penas, tornando-as
fecundas e uteis para a sociedade.
Approvamos, pois, de todo o coração," este
novo livro, distribuidor da boa e divina se­
mente.
N atai, 13 de Agosto de 1923.
t José, Bispo de Natal.

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PREFACIO

Sob um titulo generico, «O Pulpito Mo­


derno», o �r. Conego Mello Lula reune neste
volume vanos trabalhos seus, publkados em
cpocas e em pontos diversos do paiz, com o
nobre a.fan de esclarecer e fortificar os espi�­
tos na verdade religiosa; e mais ainda: na ge­
nerosa intenção de derramar o balsamo do ,fOn­
solo, de que é fonte foesgotavel a nossa Fé,
sobre tantas chagas dolorosas que as vicissitu­
des da vida, e, sobretudo, o abandono d' Aquelle
cujo «amor é forte como a morte» (Cant. VIII,
7 e III, 6), · tem aberto no coração da humani­
dade· dos nossos tempos.
Tem o Autor um largo tirocinio sacerdo­
tal, portanto uma preciosa experiencia do espi­
rito · do nosso seculo. Conhece, pois, quaes os
seus erros, e, principalmente, quaes as suas ne�
cessidades mais prementes, que todas se resu­
mem, afinal dt! contas, · no sabia·· conselho do
grande ApostolO, na sua segunda Epistola aos
thessalonicenses: «Permanecei firmes e conser­
va.e as tradiições que aprendestes pela nossa
palavra ou por nossos escriiptos».
Mas a este conhecimento pratico, força é
confessar, reune o Autor o conhecimento theori­
co, pela ccinstancia e variedade das suas lei­
turas. Dahi porque poude vasar em estylo da
rri.aior simplicidade, estas proveitosas paginas. de
critica doutrinarfa e� de apologetica sincera e
convictamente catholica.
Num paiz de cultura tão incerta como o
nosso, não ha uma palavra de defesa. ao nosso
credo, por mais pobre que seja de atavios li-
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tera4"ios, que resulte. inefficaz, que não tenha


poss,ibilidades de formar um publico mais ou
menos · numeroso. Tudo depende de que ella
seja d-ita com a intenção unica de servir á Ve.r­
dade, e na mais perfeita resolução de com a
Verdade se identificar.
E' que a Verdade tem de si mesma uma
grande eloqitencia a que são essenciaes os dons
de affirmação e persuasã-o. E o mundo - as
almas tod·as -, por mais que as apparencias
façam crer o contrario, não aspira, não anhela,
1110 peleja, não soffre sfoão para que domine
essa eloquencia, que é a que póde fazer os
espiritos «esclarecidos e fortificados)).
, Não me proponho a fazer a analyse dos·
1

trabalhos que formam o presente volume. NãQ


significam, pois, um pr.efacio e muito menos
11111a · upresentação, estas . linhas que escrevo
paru corresponder a uma gentileza do Sr. Co­
nego Mello Lula, que muito me pe'nhora. Aliás,
sou de opinião que é uma Jiteratura ociosa, a
dos prefacias. E, no caso, será melhor que o
leitor, sem nenhuma suggestão extranha, des­
cance os olhos sobre estas paginas, leia e me�
dite.
Perillo Gomes

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Deus e a crença, universal
AOS INCREDULOS

«Obrigado pelo meu ensino a


pass,ar revista � todas as. raça�
humana,s, procurei o «atheismo»
tanto entre ç,s povos· mais selva-
. gen$, como entre os mais civili­
· sados-.
- «Não o encontrei em parte al­
guma, a não ser n'atgum individtio
ou escola muito limitada, como
se viu na Europa no seculo pàs­
sado e como se vê ainda no
presente. »
(Quatrefages «L'espece hu-
maiine», cap. XXXV, pag. 355 -
Paris, 1877).
Ha · uma certa classe de homens,. inimigos
de s,i mesmos que, por vaiidade, ou,_ pelo simples
prazer de negar verda.des mais luminosas do
qtie o sol, procura.m, ás mais das vezes, con­
vencer aos espiritos menos estudiosos ou menos
preoccupados com· os magnos problemas philo­
sophicos, histo_ricos e sociaes, que a idéa de um
supremo Ser não foi a idéa primitiva· e univer­
sal d-e todos os povos civilisados ou b:ubaros,
.
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E' um trabalho improficuo o d:esses so­
phistas e modernos incredulos, quando, para, sua
eterna vergonha e c-onfttsão, se empenham em
dar combate á verdade que tanto os faz temer,
á luz que os incommod'a, á justiça que os
pune e á virtude que os · aterra.
A existencia de um supremo Dominador.
de todas as cousàs foi, para honra e gloria do
genero · humanp, a primeira verdade conhecida
e adorada por todos os antigos povos, verdade
eterna, absoluta, gloriosa, • immensa, • necessaria,
q!\e hoje illumina e abençôa a moderna 'gera-
çao. · .
· .São infelizes e desleaes, ímpios e loucos,
des!illlmanos e cr:ueis, cegos e mentirosos, os
que procurám, em nome da . historia, da tra­
dição e dos .nossos monumentos antigos e mo­
dernGs, negar, ou, ao menos, pôr em duvida
a idéa do .inonoitheismo, espalhada, conhecida e
abraçada entre os primeiros povos,
A historia, a «mestra. da vida», a amiga
candida da verdade, ahi está, no desempenho
de sua bella missão, affirmando, em caracteres
de ouro,' em paginas de bronze, em rasg-os 'de·
sabedoria, em torrentes de luz, em dias de
ardente fé, o que vimos de dizer. Ou consulte­
mos a historia sagrada ou profana, ou recorra­
mos aos monumentos, no segredo de sua lin­
guagem · mysteriosa, ou percorramos a tradi­
ção universal; tudo vem affirmando, num gesto
sublime de amor · e pacificação; a existencia•·
de um Deus ·· unico.
E sinão vejamos.
*
* *
A Biblia, o livro por excellencia, o mais
antigo monumento escripto do genero hitmano,
a mais importante font� da historia do povo

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de Israel, em cada uma de suas paginas entôa
canticos ao Altíssimo.
O insensaito disse em seu coração (não em
sua intelligencia): «Não ha Deus».
Agora, leitor amigo, excluído o testemu­
nho frrecusavel dos livros santos, entra(\los, da
melhor bôa vontade, nos testemunhos esmaga­
dores da tradição e da historia, onde, a cada
.passo, vemos ·brilhar o nome sacrosanto do
Deus unico e salvador, numa eterna alleluia
de applausos. Seja-nos, 1mrém, permittido co.c
meçar pela transcripção do período seguinte da
excellente obra do insuspeito e illustradissirPlo
Edgard Quinet <<Le Oénie des religions»,
p. 28: l
«Le li,on en ·naissant a mairché au desert,
«l'aigle a volé sur le cime du mont, l'homme
«a marché vers la societé, vers l'humanité,, vers
«Dieu même. Oui, voilà le Grand Nom pro­
«noncé, et !';i vous ne placez quelque divin ins­
«tinct dans le cceur des peuples au berceau,
«tout demeure inexplicaible.»
No J. King· (1), livro sagrado dos chine­
zes, encontra-se o seguinte:
· «No principio, quando não havia ainda nem
«céo, nem terra, só existia Tão (palavra que
«significa Razão), �ue produz sem limites, in­
«finito em todo o genero. ·
«E Tão produz Um; Um produz dois;
<<dois produz tres ou a triade; e a triade pro­
«duz a, universalidade dos seres. Foi Tão quem
«fez e dividio o céo e a terra, quem converteu
«e aperfeiçoou todas· · as cousas. Cinco elemen­
«tos, a agtia, o fogo, a madeira, o metal e a
«terra compõem a materia limitada que tem
«por origem · Aquelle que não tem limites.»
1) «O livro "}. l(,ng», d.iz um notavel escriptor, con•
forml'! as antigas trad1çõe!l, foi escripto por Fo-Hy, persona•
g.em que muitos escr1ptores modernos dizem ser o mesmo Noé
da Biblla.•

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12 --
(Alexis Ard9uin - «A Religião em face da Scien­
cia». - · vol 1.0, pag. 479).
Lao Tsea, au·tor de um outro livro sagrado
dos chinezes, traduzido por P:!.llthi:!r, diz o se­
guinte: «No principio tudo era uma confusão
«immensa, um cháos indefinivel, inacessivel ao
«pensàmento humano. N'o meio deste cháos uma
«imagem indeterminada, ·confusa, indistincta, se­
<�es imperceptixeis, em germen, indefinitos; e
«havia tambem um pdncipio subtil, vivificante:
«era a suprema Verdade; é ella a causa pn-·
«mordial da terra ; dá-se-lhe o nome de Ser;
«é �a mãe de todos os seres.» (Obra citada,
pag. 4�0)..
Bonnety, citado por Bougaud e Moigno,
enconlrou no mesmo livro a seguinte passa­
gem: <<On sait , ordinairement que Trois son
«Trois.; _ mai•s . on ignore que Trois sont Un.»
_ No livro TinJCha-Piie1z lê-se· o seguinte pe­
riodo: «La n�cine et !'origine de tout est l'U­
«nité. L'Unité est par elle-mêmc ce "qu'elle est,
«et. ne reçoit son être · · d'aucun autre.), (Obra
citada).
Mo,igno, o philosopho profundissimo, o sa­
bio universal, escreveu, no -- «Esplendores da
Fé», o seguinte: «Nos livros sagrados e divinos_
«dos chinezes existem textos authenticos refe­
«rentes a seu rnonotheismo p·rimitivo. Nas mais
(<antigas poesias, só o Espírito do céo é o se­
«nhor, é · elle o creador, o pae e a mãe de
«todas as cousas . . . Seu nome, Ti.en, é o do
céo. O duplo signal que o representa_· quer
«dizer grande e unico ao -mesmo tempo .
.\

«Um monotheismo primitivo seria pois a


«conclusão do estudo das religiões comparadas,
«como a unidade da ii_!.lguagem a cons�quencia
«da philosophia comparada.)>
Cesar Cantu, o maior historiador do mun­
do, no primeiro tratado de sua «Historia U11i-
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versai», pag. 257, escreveu - este perioqo 'de ou­
ro: · «A unidade de Deus é a.· fonte donde ,ema:
na e para a qual tendem todé;ts as religiões.»

*
* *

O monotheismo foi conhecido tambem enh;e


os primeiros povos da antiquissima nação indiana.
Os · Ved!as, os PuraflJ{l,S e o Bagavnd Ohita,
livros sagrados dos lndus, confessaram, ás mais
das vezes, a sua crença num Deus unico. Et'rt
uma de suas passagens lê-se o seguinte tre­
cho: «Escutac. O 111undo só existia no fu9do
«do pensamento divino de um modo impercepti­
«Yel e in-effavel, como envolvido.., nas sombras
«e mergulhado no somno; então a potencia,
(<que existe por si mesma, creou as cousas visi­
«veis com 'cinco elementos, realisou sua propria
«idéa e dissipou as trevas.>)
Os lndus tinham tambem a sua trindade,
Braluna. -Vichnu e Siwi, ou a Potencia, Deus
unico, como affirma Rohrbacher -- «Hist. univ.>�,
voL _1.0, pag. 97; Cesar Cantu -- «Hist. ,univ.»,
rnl. 1.0, pag. 149 a 150 e Edgard Qµinet -
«Le génie des · religionS)>, pag. 131.
Os Indus conheciam, portanto, o çlogma da
Trindade.
O Lamausíaban, um de seus livros, . fala
no «grande Deus, no_ Verbo e no Vento, ou
«sopro perfeito · (Espirita).)) Deus é chamado
Trabat, isto é, Tres que fazem, Um.
A crença primitiva dos Persas, tambem
chamados Parsis, foi _o monotheismo, conforme
se \'ê no Lend-apesta, livro sagrado da reli­
gi-ão dos magos.
«Todos os antigos povos da Asia abraça­
,,ram a crença em um só Deus, supremo cr:ea­
«dor de todas as cousas e salvador po genero
«humano.>> (.Roselli' de Largues - «Jesus-Christo

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perante o seculo», pag. 250 e Plutarcho, cit.


por C. Cantu - «Hist. univ.», vol. 1.0, pag. 320).
Tambem os Babylonios, os Chaldeos e Pheni­
cios, segundo o seu historiador Berosi, notavel
astronomo, começaram em reliigião pelo mono-
theismo.
Toda a tradição dos antigos povos que
primeiro habitaram as margens do Nilo con­
frrma a crença universal em um só Deus.
Cesar Cantu, firmando-se em Herodoto,
Porfir'io, Jamblico, Plutarého e Proclus, diz o
�guinte: «Encontramos ainda a unidade de
«Deus no fundo da religião egypciaca. Um
«templo tinha esta inscripção: Eu sou aquelle
«qu-1 é, foi f será; nenhum mortal levantou·
«ainda o véo que me occulta.»
A . Europa em peso juntou-se aos outros
povci's na crença primitiva do Deus unico.
«Emfim, Homero, Hesiodo e Piqdaro; He­
«rodoto, Stoben e Phocydides; Euripedes, Es­
«chylo e Sophocles; Pytagoras, Thalés · e Zen o;
«Socrates, Platão e Aristoteles, antigos e cele­
«bres historiadores, poetas e philosophos da
«antiga Grecia, são accordes em reconhecer e
«proclamar o Deus supremo, creador do cro
«e da terra, e. supremo creador dos deuses e
«dos homens, isto é, dos espiritos superiores e
«inferiores.» (J. Faustino da· SHva -- «O Posi­
tivismo ás claras», pa.g. 155 e 156 ).
Os Thebanos, os selvagens de Cuba, os
Peruvianos, os Tartaros, os Mexicanos, os Sa­
livas, os Iroqueses, os primeiros habitantes do
Novo Mundo, os novo-Zelandezes, os Polync­
sios, os Ataitezes, os Aborígenes americanos,
os Patagões, os Austriliacos, os Hukahivas, os
Zelandeses e demais povos das cinco partes do
mundo proclamaram, una voce., a cxistencia de
um ·0eus utjico, embora fosse este designado
sob diversos no'ines.

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O monotheismo foi, não ha negar, a pri­


meira crença do genero humano.•os mais en­
carniçados inimigos do catholicismo confessam
esta v�rdade bellissima.
Voltaire, o mais ímpio de tod,os os impios,
0

declara: «No Japão, como em Roma, mos­


«tram-nos que as leis emanaram · de Deus:»
Bayle, o sceptico, Bolingbrok Works, Benjamin
Constant, o francez, Cardi Rubi, Juliano, o apos­
tata, e muitos outros incredulos de outros ma­
tizes reconheceram esta verdade incontestavel.
.Basta. Não fatigaremos mais o espirita e';:)
leitor com tantas citações para provar urna ver­
dade tão clara como a luz do dia. Agora,
porém, não nos podemos furtar ao deseje? de
dirigir ao leitor amigo urna pergunta:
Depois de tão extraordinarios testemu­
nhos, de provas tão esmagadoras, de argumen­
tos tão irrespondiveis, que nos resta fazer,
quando, ás mais das vezes, ouvimos espiritos
mesquinhos affirmarem que o monotheismo não
foi a crença primitiva da humanidade?
- Lastima-los simplesmente.

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,. �
��

li

Jestts-Christo
. em. presenca

.
do seculo . .

AOS IMPIO'l:'ES

.. Vem de longe, leitor amigo, a historia


dolo'rosamente triste da loucura humana nos
ataques injustDs, desleaes, impios, satanicos,
constantes e ousados, dirigidos, brutal e sacri­
legamente, contra a pessôa .adoravel de Jesus­
Christo, rei immortal dos seculos. Desde remo­
ta antiguidadie, os filhos das trevas, os ho­
mens sem consciencia ,e sem· amor á verdadt·,
os falsificadores da historia e da tradição uni­
versal, os espiritos superficiaes e os adoradv­
res do deus materia procuram, desgraçadamente,
lançar as mais terriveis blasphemias e as mais
indignas mystificações sobre a personalidadl'
historica e divina de Jesus-Christo, pretenden­
do reduzi-lo a um 'simples mytho e negar-lht·,
por cumulo de insensatez, o seu trabalho rro­
fundamente s·antificador na salvação do genero
humano, na reforma dos costumes, nas conquis­
tas da intelligencia, no aperfeiçoamento do ca­
racter,. na formação do coração, na illustraçào
do espfrito e no progresso espiritual, moral, 111-
tellectuàl, religioso e scientifico das nações.
E' a suprema loucura da razão!
Os impios e os sacrilegos, ai11<)a niio sa­
tisfeitos da guerra promovida contq1 a verdade
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. . 1
e o bem, cbntrã -a ju'stiç;i. e o direito, éontra
a virtude e .a honestid,ade, dirigem, sem dó nem
píedad,e, $em pudor e sem criterio, as ,suas dia­
tribes infelizes á sagrada "memoria de Jcsus­
Christo que, · apesar de . todos os . esforços do·
orgulho humano e do furor dfabolico, está em
presença do seculo em d-elirio, com. a doç9ra
e a har·monia,.de sua \·oz d-ivina, com a ma­
gestade e a belleza de sua doutdna de salvação
e de luz, para condemnar os· desvairos · dos
homens, punir os maus, anathematisar o vicio
e divinisar a virtude. l
Sim, Jesus-Ctiristo, o doce amigo dos ho­
mens, está em presença do seculo·; e o se·culo,
íhimigo do Evan�elho, não podendo resistir
ao peso da verd,ade historica, que se prostra
di_ante de Christo triumphante, affirmand,o, em
paginas de. luz, a sua divindade e a sua' obra
sobrehumana, vê-se· obrigado a· reconhecér · o
Filho de Deus, apesar do odio profundamente
iníquo da impiedade atrevida e miseravel. Os
nossos criticos inconscientes 'e ós . historiadores
sem dignidade e sem criterio, . mm11gos do
senso ' commum e assassinos da ·propria con­
sciencia, de ha muito foram julgados pelo tri- •
huna! da sã razão, pela analyse . rigorosa dos
factos historicos, pelos testemunhos esmagado­
res dos sabios e pelas observações criteriosas
e justas da sc_iencia sem pusillanimidade. Re-
. nan, Eugenio Süe, Zola, Holback, Strauss, Vol-
ney, Spinosa Rié:helieu, Voltaire, Anatole, o insul­
tador de Joanna d' Are, Guerra Jui:iqueiro e tan­
tos outros mesfr�s da corrupção· e do despotis­
mo, do· erro e da mentii•a, reconhecendo a sua
impotencia parit atacar e accusar 'a Jesus-Christo,
sob o ponto de vista historico, não çóram em
lhe atirar á fa�e divina a lama de suas pro­
d�tcções profundamente iniquas. Mas a historía
fói vingada e terrivel anathema éahiu sobre os
insultadores de Jesus! . . . .
Os· seus. nomes, qüando são lembrados, re- ·

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cordarn logo as rna,ldições dos povos e a sua
obra de demolição só inspira vergonha e des­
prezo.
E' o supremo veredictum da historia!
O seculu que odeia a Christo tem tanibem
rasgos de suhlimidade e de amor . para com o
mesmo Christu.
E' o eterno combate entre a verdade e o
erro! ' .
�m desaggravo das blasphemias e. menti­
ras lançadas contra o Desejado das nações
pe4n desespero da incredulidade inconsciente e
systematiea, vêm a historia oniversal e os tes­
temunhos das maiores cerebrações do mundo,
prost,ar-se diante da Divindade e adorar o n<9-
me de Jesus-Christ.o, dando-lhe a corôa de Rei
Eterno dos seculos.
ô proprio Voltaire, chefe da impied'ade rai­
rnsa do seculo XVIII, num momento de re­
ílexão e de, humildade, escreveu, a respeito de
Jesus, o seguinte: «Ouarde-no5' Deus de mesclar
«aqui o sagrado com o profano! Nós não son­
,<damos os caminhos da Providencia! Jesus não
«merecia o seu suppHcio, Morreu victima da in­
«veja.» (Voltaire - «Diccionario philosophico» e
«Deus e os homens»). .
Quando · homens como Voltaire, que escre­
\'Cran1 as maiores infamias, as mais indignas
diatribes e os mais terríveis doestes contra a
pessôa do Redemptor, · chegam ao pon_to de
prestar tamanho testemunho de admiração .,, á
verdade que os esmaga, que juizo podemos
fazer desses mesmos homens, quando, em outros
períodos agitados de sua vida, injuriavam, com
o maior cynismo e perfídia, o adoravel Salvador?
- Que foram hypocritas, impios e deshu-
111anos!
Na noite tenebrosa do criine e da vergo­
nha, da mentira e do erro, da hypocrisia e da
iniquidade, a alma não póde contemplar ;i lm:
suavissim a di1 verdade eterna,
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Pobres homens, infelizes creaturas que, pro•


curando o sol abrasador de uma nova doutri­
na que désse mais vida e calor a seus desvairos,
só encontraram a desillusão, a confusão e a noi­
te do espmto ! S<i se odeia a virtude, quando
existe a apostasia na intclligencia e o desespero
no coração.
O nosso seculo, sejamos francos, é um se­
culo de grandeza e de miseria. O seculo em
agonia, não podendo negar a Jesus-Christo,
porque lhe não· é possível abolir a historia,
despede contra o Evangelho as armas do B�i­
losophismo bastardo e as erupções terríveis de
um odio vinte vezes secular.
E' a obra tristemente celebre dos infr\izcs !
. Mas o secttlo tambem curva os joelhos
diante: de Jesus-Christo, abençoando-lhe o nome,
affirmando-lhe a exi!i,tencia, admirando-lhe •a vir­
tude, reconhecendo-lhe a divindade.· As intelli­
gencias . superiores, os espíritos esclarecidos e
bons, os sabios sem orgulho, os historiadores
graves e conscienciosos, os mais profundos pen­
sadores da humanidade, os philosophos mais
eminentes, os professores das mais celebres uni­
versidades, os scientistas mais notaveis, os · po­
lemistas mais brilhantes, os theologos de maior
nome, os oradores mais fogosos, os críticos si­
zudos e imparciàes, os literatos mais festejados,
os escriptores de importancia capital, os talen­
tos mais privilegiados, os poetas de grande no-.
meada, o testemunho de viajantes illustrados,
as descobertas scientificas, os monumentos dos
seculos, a tradição universal, a voz da historia
e as proprias perseguições contra as verdades
evangelicas, tudo isso vem provar cabalmente
que Jesus-Christo está em presença do seculo,
como Rei imrriortal, Juiz supremo e Deus unico.
Jesus-Christo é, pois, o maior facto da his­
toria universal; facto unico, immenso, admira­
vel, que não póde absolutamenfe · admittir a
menor contestação. Para negar-lhe a existencia
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- 20 �
sena preciso rasgar as paginas mais brilhantes
da historia e despresar os mais antigos monu-
mentos de que haja m_emoria.
Accresce mais que Jesus-Christo foi a unica
personagem cujo nascimento fôra prophetisado
milhares . de annos antes de sua vinda ao mundo.
Riditulo papel, portanto, representam os que,
�m nome da historia e da tradição universal
negam a · existencia de Christo.
E sinão, vejamos.
*
* *
.Na Biblia, o maif antigo monumento es;
cripto do genero. humano, cuja veradda.de . é
confirmada pelos maiores escriptorés e hist�ria­
dores , antigos e modernos, ligados a t0das as
incredulidades e systemas, encontram-se, . a cada
passo, innumeras paginas acerca da vinda de
Jesus, de suas obras, de sua morte e de sua
resurr.eição.
«Josepho, o insuspeito collaborador dos que
«fazem repugnancia á procedencia directamente
«divina de Jesus, justifica a aµthenticidade . do
<welho testamentp, acostado ás · affirmativas de
«Menethon, _de Philocoro, de Apolonio, Alexan­
«dre e Polyhistor, gente mais _autorisada em his­
<(toria dos primeiros seculos que Dup,11is, Helve-
«tius, Diderot. · ·
· «Diodoro ·Siculo, Pompeu, Juvenal, Oalerio,
<,Tacito, outros muito_s poetas e historiadores dão
«testemunho da veracidade dos livros hebreus,
«como historia, �omo codigo juridicq e moral,
«como prenupciador dos tempos, e caução _da
«futura soberania de Israel.
«Zombam referindo; mas conjuram a pro­
«var o facto. Si o paganismo os desconsiderá,
«citando-os, isso não lhes desdour� a authenti­
<(cidade.>> (CatuHio Castello Branco -- «Divinda­
de de Jesus», · 2.a ed. pags. · 71i) e 80).

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_ Ningue111, portanto, de bôa fé, negará o
criterio eminentemente historico dos livros san­
tos.· Só a má fé _·ou a ignorançia é capaz de
fechar os olhos á luz da evidencia:
· Jesus é a pagina mais. briihánte da histo­
ria, Linica no seu genero, é o,, heroe divino do
Evangelho
� -
.
povos e _naçoes.
e o Messias promettido
. a todos os
lsaias, Miçheas,' Zacharias, Daniel, Mala­
chias, Jeremias, Joel e os outros prophetas,
Moysés (no Oen., cap. XII e seg. e no Déut.
cap. XVIII), annunciaram ao mundo um Mes­
sias, promettido, realizando-se as prophecias errl
Jesus-Ch1:isto, do modo t. mais .brilhante e ex-
traordinario. •' · · )-
. Todas as nações esperavam, portanto, 'um
reparador universal.
Dão testemunho disto Suetonio e T:icito
entre os pagãos, Boulanger, Volney, e Voltaire
en_tre os mais encarniçados inimigos do Cr'uci­
ficado. Socrates, philosopho grego, esperava pa­
cientemente que Alguem viesse -ensihaT aos ho­
mens a maneira de se portarem para com os
deuses. Akebiades, . Anquetil:Dupenon; Hudast,
contem-poraneo de Cyro e Mauricio seguem a
mesma opinião de Socrates.
Jesus-Christo, pois,' veiu ao mundo, viveu
entre os homens, · cumpriu -súa divina missão,
niorrcu, resuscitou glorioso' ·ao terceiro dia e
subiu ·triumphante ao céo.
*"
*
A existencia historica de Jesus-Christo é,
portanto, máu grado os impios, uma verdade
immensa e inatacavel. Só os beocios e os nul­
los ousam negai-a. A historia e m peso fala de
Jesus e exalta-lhe· as virtudes.
Para não alongar muito, sejamos comedi-

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do, citando os testemunhos eloquentíssimos de
Tacito, Suetonio, Flavio Josepho, historiador ju­
deu, Tito Livio, · Sallustio, Plutarcho, Voltaire, o
incredulo, Ckero, o grande orador, que são
concordes em affirmar desassombradamente a
tradição universal. do Messias promcttido, a sua
existencia e' permanencia entre os homens.
Jesus-Chrisfo, portanto, o eterno e miseri­
cordioso Mestre, estará sempre em presença do
seculo, confundindo a impiedade e consolando
os crentes de sua Cruz.

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III

A Religião e os ho'mens de sciencia


A JACKSON DE FIGUEIREDO E PERI1.�
LO GOMES, FIGURAS DE ALTO RE­
LEVO NAS · LETRAS BRASILEIRAS.

«Todas as· conquistas da


sâencia são conqt,,istas · da
religião.»
(H. $pencer «Primeiros
'
PrincipÍOS>>).

• Os modernos apostolas do chamado seculo


da «grande negaçã0>J, setulo cheio de assombro
é . de maldade, têm assistido, tristes e cabisbai­
xas, os desmentidos mais solemnes e retumban­
tes de· suas affirmações, quando, em desempe­
nho de uma missão odiosa e to�pe, pretendem,
caprichosa e indignamente,. estabelecer completo
'antagonismo entre a Religião e a Sciencia.
Pobres homens · sem idéal e sem crença,
corações enfermos e doridos a que nem ao
, menos, oh ! tristeza indefinivel !, lhes é dado
conhecer a verdade eterna, tamanha é · a ceguei­
r;i. que envolve o espirita conturb11do d[!. gran<!ç
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� 24 -
multidã6 dos infelizes ··e inconscientes, sedentos
de prazeres cruciantes e assassinos.
E' a· suprema agonia do coração.
Cegos e loucos, fracos e pusilanimes, pedi­
dos e trahidores, mesquinhos e desleaes, os
inimigos de Jesus continuam, dia a dia, inven­
tando calumnias e torpezas, adulterando fados
e acontecimentos, levantando· sophismas ·e hypo­
iheses, pretendendo convencer os simples de. co­
ração de qüe não existe harmonia entre a
Sciencia e · a Fé, dois inimigos irreconciliaveis
·J trem'endos, na sua opinião. Insensatos e infe­
lizes que, nem ao menos, oh! supplicio horrí­
vel , da alma!, pódem contemplar o espectaculo
soberbo e admii:avel do ,consorcio da religião
do amor e do perdão com a verdadeira sciencia.
' Abri_ os olhos, homens de poucá fé!
' A Scienda · e a Religião' são companheiras
inseparaveis.
O Dí-. E. Deunert, sabia protestante, d�di­
cando-se com ardor a um estudo imparcial e
curioso sobre o credo religioso dos sabias,
com o i ntuito Iouvavel· de esclarecer o seu es­
pirita a respeito do. decantado antagonismo en­
tre a Fé e a Scien�íl,- terminou profundam.ente
convencido de que a maioria dos verdadeiros
sabias antigos e modernos são crentes fervo­
rosos; cabinda, assim, por terra, · a gratuita af­
firni ação de que «a fé fica só para illetrados
e ingenuos».
O alludido escriptor, afamado autor da. Die
Religion der Naturforscher, passou revista a to­
dos os grandes nati1ralistas e m edicos dos s.e­
culos preteritos-, . inquirindo-lhes especialmente o
· credo religioso.
«Ahi, diz elle, contemplamos a phalange glo­
riosa dos que fundamentaram e erigiram o por­
tentoso· edifício das sciencias naturaes de hoje,
uma lista extensa de 423 nomes afamados. A'
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25 .-.
excepção de 12, são todos de edade moderna,
dos ultimas quatro seculos, época do desenvolvi•
menta e progresso estupendos das !iciencias ph.y­
sico-naturae.s. Em 56, · dentre _os 423 sabios.
,não se podia. verificar a relígi_ão com certeza.
· Dos 367 resta'ntes, só 9· foram achados como
infensos á religião e 0utros 9 como mais. ou
ménos .indi.fferentes. A · grande mai�ria, porém,
de 349 scientíficos, ·isto é, uns 95 %, reconhe­
ceu-se como declaradamente crente c'm Del\s.
·Assim, suppondo mesmo que, dos 56 in­
certos, quasi .a metade fosse de atheistas, fiel}­
. riam ainda uns 90 º/o de sabias crentes e só
· uma decima pàrte de incredttlos ou ,indifferen­
{es. Este resultado, contrario a um precon"eito
quasi gerálmente espalhado, não deixou de caµ­
sar justa sensação. Reviu-se o calculo, mas só
para ser cada vez _mais ,comprovado, até. se• tor�
nar inabalavel. . Fico,u estabela:ido que, lohge
de serem atheus os-' grandes sabias, ha na me­
dia · entre dez · delles nove crentes e um· •só in-
credulo.»
Sjm, a Religião e os· homens de verdadeira
sciencià se comprehendem, se abraçam e ·se
· harmonisam. Só os falsifiéadores - da historia e
o� «espiritos fortes» da hbr.:t presente não do­
bram o joelho d-iante da Divindade para, em
nome do livre. pensamento, curvar a ·cabeça
diante das mentiras da Encyclppedia e de Ra­
be.lais, Zola, Renan e dos. adoradores do deus­
pansa. Só não crêm na _verdade eterna.
Pobres homens !
Si os nossos irmãos transviad-os, enthusias­
tas de todos os systemas extravagantes e per­
versos, estudassem, mais seriamente, a historia
e acompanhassem,· cuidadosa e rigorosamente,
as investigações dos verdadeiros apostolas da
i;noderna sciencia, mudariam, necessariamente,
'de opinião e, levantando . os olhos para o Alto,
diriam com Q immortal Lord Kelvin, talvez o
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- 26 -
tnaior •. physico dos ·nossos tempos, dirigindo-se
aos incredulos: «Não tenhaes medo de ser pen­
«sadores incJ..ependentes ! Si pensardes enerç"ica­
«mente, sereis constrangidos pela sciencia a fé
«em Deus, base de toda a religião. Achareis que
«a sciencia não é adversaria, mas sim auxilia­
«dora da fé.»
Religiâô de luz e de amor, obra divina
do Mestre de todos os mestres, abri os vossos
braços possantes e recebei, invencivel, os nau­
fragas da descrença.

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IV.
Guer1·a ao Padre
. AOS MEUS IRMÃOS NO SACERDOCIO 1

. Ha uma certa classe de hÓmen·s, filhos do


grande e portentoso «seculo das luzes» que,• por
ignorancia ou má fé, dirigem, dia- a dia, na
tribuna e na imprensa, nos kiosques e no lar,
nas palestras. particulares e nas reuniões publi­
cas, rios salões dourados· e nas choupanas, nas
cidades e nos campos, nos livros e nas folhe­
tos, , os mais injustos e desleaes ataques e a
carnpanh� mais indigna e mesquinha contra o
sacerdote catholico, pretendendo apresenta-lo á
face das sociedades · modernas como o mais
rancoroso inimigo da civilisação e do direito,
do progresso e d,,as lettras, da historia e ·da
sciencia. ·
. O. sacerdote catholico é forçosamente, na
-opinião dos nossos «espiritos fortes», o grande
·obscurantista da epocha e ·o eterno inimigo
das grandes e assombrosas conquistas scientifi­
cas dos nossos tempos. Cumpre, portanto, se­
grega-lo · do cortvivio dos homens · eminentes,
afasta-lo do banquete da civilisação universal,
das investigações do pensamento · e do caminho
glorioso e triumphante da razão esclarecida,
Inimigo da razão e da sciencia, da liber­
dade e do progresso; cego em presença dos
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concertos acimiraveis · das grandes · ínteiligettdàs
mundiaes; mudo em face do espectaculo· mara­
vilhoso do mundo scientifico moderno; inca­
paz de comprehender o valor do engenho - hu­
mano na obra gigantesca de descobertas verda­
deiramente prodigiosas e de invenções da maior
importancia scientifica, o_ ministro do Evangelho,
ou, melhor, o sacerdote de _ Christo, não póde
permanecer em presença do grapde seculo das
luzes, nem tão pouco apertar a mão dos nossos
sabias modernos.
l Eis · aqui_ a linguagem retumbante e sonora,
brilhante - e caprichosa, usada, a cada passo,
pela bocca dos pequenos coryphcus do chamado
secJlo da grande negação.
Os impios .vão acreditando; os literatos das
ultimas aguas batem palmas, os anti-clericaes do
mun'do inteiro prestam seu apoio e os «espiritós
emancipados» julgam ter c11111prido sua gloriosa
missão, empregando esforço supremo pata illu­
dir os homens de fé e de justiça, tentando con­
vence-los de suas affirmações.
No emtanto, um raio de luz desl11111br<111-
tis�imo e terrível vem prostrar por terra - toda
-esta campànha de lama .e de pús, levantada pelos
inimigos do Christo invepcivel e glorioso. São
os homens de sciencia . e de vergonha, de con­
vicção e de principies firmes, são os historia­
·dores critériosos e "imparciaes, são - os críticos
de peso e de valor, são os profundos investi­
·gadores, são os amigos da luz e do d�reito,
qüe, em d:esaggravo da verdad·e histórica, vêm
fazer justiça ao padre càtholico, - cóm0 um dos·
thài-ores fadares dei progresso e da sêiendá,
em -todos: -os ramos da actividade humana. ·
- . : -Córem,· -•portanto, •-os calumniadores - dif pa­
dtê·- êátholiêô':- conven�âm-se êia- graride é -clamo­
rôsá·; :injustiça; · ·envergónherri-se das calumüfas
torf)€s· é- repugnantes i desesper�m de raiva; ras­
guem as paginas da historia; profanem o ·templo
augu�tb '·da· sdencià·\ · ·mas, - -fiqt1em sabe:pdo/ :ó
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
- 29 --'---

iilc<;mscientes e infélizes, que, apesar de tántàs


, rriystifiéações, a luz da verdade brilhará por
foda a parte, salvadora e benefica. Então, en­
v�rgonhados e_ confutididos, dobrarão os joelho�
diante dos vultos glqriosos de Mezzofanti, o
maior polyglotta de seu tempo; de frei Mauro,
o celebre 'àutor da ca-rta marítima para a des­
éoberta da America; de' Bacon, o inventor do
telesco1Jio; de Silvestre II, o introductor ·dos al­
garismos arabiéos na Eüropa; de Lasalle, fun­
dàdo_r da primeira escola livre; de L'Epée,· in:..
ventar da linguagem dos· surdos-mudos; .i;Ie
Schwartz, descobridor da polvora; de Guido
d' Arezzo, o inventor das regras da harmonia
musicéll; de Marlotte, o grande physico? de
Secchi; o grande astronomo; de Angelo Mai', o
grande philologo; de Marquette, o primeiro po­
voador de Chicago e descobridor do Mississipe ;
de Çassiodoro, inventor do. relogio, aperfeiçoa­
do por Silvestre II; .de Durneu, fundador ç:io
primeiro gazometro construido na Inglaterra;
de Athanasio Kircher, autor da. phantasmagoria,
- cujo elemento essencial é a lanterna magica;
de, R. Bacon, inventor das primeiras lunetas
simples; de Christovão Scheiner, aperfeiçoador
do helioscopio; de Grimaldi, primeiro comba­
tente da hypothese da emissão, iniciador do sys­
tema das ondulações e descobridor do pheno­
meno da diffracção ou inflexão da luz; de Bar­
tholomeu de Gusmão, o padre voador; de Go­
dofredo de Bolonha, fundador da primeir.a escola
secular; . de. Rochonart,. fundador da primeira
cadeira de physica experimental ; de Bouchard,
creador da primeira bibliotheca; de Gioja, in­
ventor da bussola e do iman; de Innocencio IV,
instituidor dos estudos de direito civil· e cano­
nico; de Gerber, inventor da primeira arithmetica
occidental; de Moscopulo, instituidor dos qua­
_drados magicas; de Lucca de Borgo, inventor da
algebra; de Cavalier, inventor dos indivisíveis
ou infinitamente pequenos; de 04nter ou · Neper,
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- 30 -
descobridor dos logarithmos; de Maiyiolyco, des­
cobridor das leis da luz; de Lana, invenfor das
leis da electricidade; de Alexandre Spina, in­
ventor dos oculos; de Magnan, inventor do mi­
·croscopio; de Chappe, descobridor da telegra­
phia; de Bossuet, Bourdaloue, Massilon, Fene�
lon, Moigno, glorias da França catholica; de
Vieira, Bernardes e Mont' Alverne, mestres corí­
summados da lingua e da oratoria; de Nobrega
e Anchieta, os apostolas da civilisação do Bra­
sil colonial e de outros muitos,. legitimas glo0
rws em todos os ramos dos conhecimentos hu­
manos.
Só mesmo os infelizes detract.ores do clero
catiulico poderão apresenta-lo como inimigo da
sciencia e_ da civilisação.
Pobres homens !
'Agora, porém, só nos resta dar liberdade
a todos os falsificadores da historia e aos muito
insignes plagiarias das obras alheias, para gri­
tarem do oriente ao occidente: Guerra ao Pa­
dre, inimigo da Sciencia !
Pobres homens !

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V
Odio eterno ao Pad1·e
AOS HENEMERITOS PADRES JESUITAS-J

Odiu eterno ao Padre é o começo do


hyrnno infernal, cantado pela bocca da itppie­
u ade furiosa, tresloucada, infame e trahidora.
Odio eterno ao Padre ·- é a expressão viva
de todos os inimigos da verdade salvadora,
obedecendo, cega e fatalmente, :í voz da grande
«Infame», para o combate indigno, cobarde, vil,
tacanho, filiseravel e baixo contra o reinado do
Christo •·perseguido e triumphante.
Odio . eterno ao Padre � é o plano infa-
1-ftissimo, organisado nas trevas ·e nas noites de
agonias interminaveis, pelo supremo ·esforço dos
Judas modernos, • acariciados sempre pelas bes­
tas infernaes, na campanha hedionda de cobrir
de lama ao ministro de Deus, no cumprimento
do dever e da honra.
· Odio eterno ao Padre - é o dese10 in­
saciavel dos infelizes sem idéal e sem crença
que, em andas demoníacas, blasphemam, dia e
noite, contra o céo e a terra.
Odio eterno ao Padre - é a sentença
proferida. pelos corypheus da incredulidade ho­
dierna, sentença acolhida com odio entranhavel
pela turba multa ._dos inconscientes e dos nullos.
Odio eterno ao Padre - é a historia
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- 32 -
profundamente triste da. soberba hum'ana, · ·his­
toria cujas paginas são um eterno gemido 'de
lagrimas. '
Odio eternó ao Padre - é a voz de todos.
os vicios .hediondos, .em côro inefrnal, pore­
jando rancor.
Odio :eterno ao Padre - é a campànha
inglol'ia da sciencia impia e bastarda, . desta
sciencia infamissima que se envergonha de con­
fessar o nome de Deus, escripto na extensão dos
mares, na vastidão. do espaço, nas montanhas
alterosas, nas florestas seculares, nas campinas
«urdes e alegres», nos rochedos indestructiveis,
nos monumentos, na consciencia dos povos e.
no bronze da historia.
"Odio eterno ao Padre - é o desafio ati­
1

rado em pleno dia, pelo sorriso dos scepticos


e pela audacia dos ignorantes.
'üdio eterno. ao Padre -· é a palavra-mater,
dirigida ás sociedadts humanas pela voz do
modernismo ímpio e anarchisador, cujo fim é
exterminar o reino da virtude e do amor, com
o desterro do sacerdocio.
Odio eterno ao Padre '- . é a �ncarnação
viva da ,,cloaca 1uaxima de tod.as as iafamias»;
é o desejo supremo e unico da hypocrisia maço­
nica, na g-uerra furiosa e _tremenda, movida, se1'1
cessar, contra Deus e sua obra.
Odio eterno ao· Padre.-• é. o desejo insa­
ciavel de todos os perversos, em cujos corações
nunca penetrou um raio de luz.
Odio eterno ao Padre - é a mais arden­
te paixão dos condewnados que, em transes
dolorosissimos, se cobrem de lama e de pús,
atormentados pelo remorso .terrível e acabrunha­
dor, justo castigo do eterno Deus de justiça.
Odio eterno ao Padre. - é · a historia dos
grandes perseguidores e tyrannos, cujos nomes
já receberam as maldições dos povos e o des,
preso soberano da humanidade soffredora.
. Odio eterno ao Padre - é o thema antigo
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- 33 -
e sem!)re novo de todas as litteraturas: de todas
as escolas, de todos os systemas, de todos os
livros, de todas as publicações· e de toda a
imprensa, quando, por um designio insondavel
da Provideiu:ia, todas estas maravilhas do enge­
nho humano se acham em poder dos grandes
adoradores do deus-materia.
Odio eterno ao Padre - é, sem duvida, a
mesma continuação . do odio de morte a Jesus­
Christo, odio', cuja duração já vai por vinte
seculos, attestando, deste modo, toda a gran­
deza e indestructibilidade dú sacerdocio eterno
de Christo.
Odio eterno ao Padre - é a ultima pa�
ua pronunciada, cm sua linguagem, pela bocca
da impiedade, cuja demcncia já chegou ao pon­
to de pretender apedrejar as estrellas, atinlndo
salpicos de sangu� para a altura incomrnensuravel
do céo.
E'. a historfa de todos os Julianos da hora
presente, �scripta no sangue ardente e generoso
das multidões e nos gemidos inenarraveis das
\'ictimas innocentes, sacrificada�, em momentos
de loucura, pelas mãos excornmungadas - das
almas demoníacas.
Eis aqui, irmãos de crenças firmes e· deci­
didas, o desejo insaciavel que o seculo em ago­
nia alimenta contra o sacerdote catholico. O uni­
co - previlegio, que o nosso seculo, ebrio de san­
gue, offerece ao Padre, é o previlegio do odio
e das persegüições.
Ha, comtudo, no segredo deste odio pro­
fundo, uma luz deslumbrantíssima. E' um refle­
xo do sol da eterna verdade, deFraman-do cata­
dupas de luz por toda a parte, abrindo os olhos
dos ce�os voluntarias e espancando as trevas.
E' a eterna poesia do amor divino.
- Em presença de um espectaculo tão gran­
dioso, v'em, ins�nsivelmente, ao espírito humano,
esta pergunta mysteriosa e quasi celeste: Por­
que, ó homens de pouca fé, ó philosophos da
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incredulidade, porque tanto rancor ao Padre?
Porque tanto odio e desejo insaciavel de 111orte
contra o ministro de üeus?
Ainda . mais: que força my'steriosa .é esta
que, ha milhares e milhares de annos, tem sus­
tentado o sacerdote catholico em todo seu es­
plendor e grandeza, apesar dos ch"oques de todos
os seculos colligados contra elle? Como expli­
car, em face do mundo c dos povos· abysmados,
scena tão grandiosa e nunca vista em todas as
obras humanas? Como. explicar a vida e a força
do sacerdocio catholico, atravez de todas as per­
. seguições e de todas as épocas, si, como narra
a ;i historia, já têm cabido por terra as maiores
instituições, os imperios mais poderosos, e 'âs
corô.;i,s dos grandes e poderosos reinos? Como
resofver, pois, tão difficil problema? Onde en­
contrar o segredo desta força sem igual?!
,.:.__ Ah! míseros mortaes! O homem, em sua
cegueira deploravel e na dolorosa agonia de
sua intelligencia desvairada, não quer vêr o
dedo de Deus agindo em seu sacerdocio!
. O segredo,· a incognita deste problema in­
soluvel para a. grande multidão dos infelizes é
exclusivamente -- Deus e só Deus.
Eis a força mysteriosa, eis a força sobre­
natural que dá vida ao sacerdote catholico, cujo
extermínio da face da terra realisar-se-á- no ul­
timo dia dos tempos, ou, melhor, na consum­
mação _dos seculos, segundo as · promessas de
Jesus-Christo, escriptas no livro das verdades
eternas.
Donde nasce, porém, este rancor contra o
ministro de Jesus?
- Nasce i;mra e. sin:iplesmente, diz-o bom
senso, da vida · austera e irreprehensivel do pa­
dre, quando elle. se compenetra, verdadeira e pro­
fundamente, da sua divina missão e cum·pre, hu­
milde e desassombradamente, o seu dever, pra­
ticando todas as virtudes, a começar pela virtude
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- 35 -
rar1ss1ma da intransigencia . em materia de, con­
sciencia e de fé.
Só o padre, portanto, é o. alvo do odio
da ,impiedade tripudiante, porque possue a co­
ragem christã e o heroísmo das fortes energias
para propagar o reinado da virtude e do bem
e perseguir, dura e fortemente, todos os vicios
e todas as perversidades humanas, no chamado
seculo das luzes, ou, para fallar christãmente,
em pleno seculo das mentiras deslavadas e de
.todas as infamias e torpezas vomitadas pelo
inferno.
E' a época da maxima desvergonha• e
do nojo.
Um homem que se levanta contra as on­
das furiosíssimas das paixões ardentes de todos
os gosos bestiaes, tem, por isso mesmo, attrahido
todo rancor dos . «miseraveis grandes», na expres-

são verdadeira de um grande poeta.
O padre que, conscio do seu dever, zela
até á morte a sotaina preta . que traz -sobre o
corpo, é, aos olhos dos máos, a reprovação
viva, o ferro em braza applicado impiedosamente
na ferid.a- mortijl de todos os vicios e miserias
_hurrianas. D'ahi o odio etemo ao padre; d'alii
a guerra sectaria· contra elle movida, a cada
passo,
· pelos genios do mal.
Mas, altos e insondaveis desígnios de Deus!
O sacerdocio não morre!
O mundo tem assistido, de olhos abysma­
dos, toda a historia da humanidade, e é teste­
munha desta verdade bellissima. Vinte seculos
já se foram;. levando, em sua passagem, os
maiores monumentos e as mais soberbas con!
strucções de que haja m.emoria. entre os filhos
dos homens. Tudo já voltou ao · pó, o . tempo
:iá. destruiu as obras mais admiraveis e gran­
diosas, ·levantadas pelo orgulho humano, durante
vinte seculos continuados.
No entanto, homens de pouca fé, ainda
permanece,· em toda a sua vitalidade, o sacerdo-
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36 -
cio eterno ·de Christo, para confusão do mundo,
desesperação ·dos má0s e alegria dos bons e
puros de coração.
O odio eterno ao Padre, odio de morte
jurado pela grande multidão· inconsciente, con­
tinúa e continuará sempre impotente até o fim
dos tempos.
O sacerdocio de Deus não morre!
. *
* *
l Levaritem-se os systemas; venham os ardis
do philosophismo impio e anarchisador; appa­
reçam os sophismas da «grande» sciencia; blas­
phen'lem os impios; riam-se os condemnados; or­
ganizem-se os máos; falle a incredulidade; ca­
lumniem miseravelmente; persigam a innocencia
e a verdade; jurem odio de morte á virtude;
cumpratn o programma do mal; exeC?utem os
planos tenebrosos; ponham em pratica as reso­
luções tomadas nas noites das agonias e dos
gemidos eternos; atirem salpicos de sangue ho­
micida para o céo; cubram de . pús e de lama
a honra das almas sadias e fortes; derramem
lagrimas de sangue; pervertam as multidões_
em delirio; profanem o sanctuario das conscien­
cias; vomitem blasphemias e torpezas; · prosti­
tuam a justiça; escarneçam do - direito e das
leis; anaa-chisem as sociedades m'odernas; en­
fraqueçam os governos ; façam as grandes re�
voluções; revoltem · os exercitas; propaguem as
calumnias. mais infames; entreguem-se aos ,gosos
impuros, em· pleno delirio das febres· sensuaes;
procur�m suffocar a . consciencia, .si fôr passivei ;
escrevam in_digna e torpemente; ataquem des­
apiedadamente. os .sentimentos. mais puros e ge­
nerosos; . reprovem as virtudes • beneficas; pres'­
tem homenagem ao vicio. triumphante; dirijam
o punhal assassino . ao coração angelico das vir­
gens ;· crudfiquerri novamente · ao doce e : eterr�o·
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
- 37 -
Jesus; mas fiquem sabendo, ó pedimos e trai­
dores, que, apesar de toda esta .campanha· de
sangue, de lagrimas e de gemidos; ficará sem­
pre com o sopro ·da vida, · o ministro de Deus
para levar a luz da verdade santa e salvadora
a todos os povos e nacionalidades.
E' a historia eterna do sacerdocio de Deus.
Continue, portanto; o soldado de Christo,
a cumprir corajosamente sua missão, soffrendo
tudo por amor da verdade e da justiça. Na
defesa das verdades da fé salvadora o sacrifi­
do da vida é pouco. Continue o padre no c•­
minlio rigoroso do deverJ r!Wrove sempre o
vicio tripudiante, dê mão forte e amiga aos
fracos, dê animo e ma-is energia aos bo� e
puros de coração e perdôe a todos os inimigos
de sua fé, a exemplo do Divino Mestre. Faça
assim o padre, cumpra o magno mandamento
da caridade evangelica, conserve pura a sua
alma, ame desinteressadamente aos homens,
odiando profundamente· os seus vicias e, deste
modo, terminará sua missão com as bençãos
de Deus e dos homens de bôa vontade.

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Vl
:o ensino ·catholico un opinião
dos incredulos
A LACERDA DE ALMEIDA

«Todo o systema que põe


de lado a instrucção religio­
sa é um systcma · perigoso.>>
Oladstone
Um dos próblemas mais dlfficeis e da
maior importancia social é, sem duvida, . o da
instrucção e ed1.1caçiio da mocidade, base do
grande edifício moral e religioso das . nações
fortes e cultas.
, O seculo XX é um· seculo de cobardia
geral e da mais refinada hypocrisia. Os nossos
sabios, ou, melhor, os adeptos das famosas dou­
trinas literarias e philosophicas do· modernismo
condemnado e cynico, continuam, de ha múito,
infiltrando, cavillosa e torpemente, no espirito
das socied,des humanas, - o virus deleterio
do· erro e da corrupção, , pela propaganda do
ensino atheu,. impio, anarchico. A guerra seda­
ria, ?rganisa,�a por to�as as seit�s anti-christãs e
tangida, m�1s hypocnta e perfidamente, pelas
escolas maçbnitp-revolucionarias, ameaça, actual­
n1.ente, todos os ·povos e todas as nacionalidades,
todos os estados e todas as familias ; convém,
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- 39
portanto, oppôr um dique á torrente vertiginosa
dos erros sociites, pelo ensino christãc:i e mora�
lisador da mocidade descuidada e inexperiente,
bella e fagueira esperança da Patria e da Reli­
gião, - as duas forças vivas e poderosas do
machinismo·
· social. . · .
Os educadores. sem fé. e sem principias re­
ligiosos, é facto incontestavel, não formarão
nunca uma pleiade de moços fo_rtes e robustos,
cheios de convicções e de idéas elevadas, -
dispostos paira o grande combate moral da
nossa �poca, cheia de torpezas e de miserias;
-··• porque, sejamos francos, o unico sustentac!Ao
dos sentimentos generosos, - a fonte de todo
o bem, já não m:erece o seu credito e o seu
respeito. A idéa de Deus, - luz e salvaçãi de
todas as sociedades, -- foi, de ha muito, ba­
nida do recesso das escolas, onde, dia a_ dia,
oh ! tristeza e angustia indefinível !, se vê a
onda perversora do mal tomando proporções
assustadoras e camJnhando, vertiginosa e louca­
mente, paira o maior . de todos os abysmos:
- a desorganisação total da sociedade e a des-
truição de toda a ordem. 1
E' o castigo inevitavel e tremendo.
Escola sem Deus é anarchia, é impiedade,
é · revolução, é hypocrisia, é monstruos-idade. Os
proprios inimigos de Jesus-Christo e db Evan­
gelho já comprehenderam esta verdade immensa
e inatacavel. O · ensino religioso _ é, hoje, o re­
medio unico, supremo, inadiavel. Instrucção e
educação sem religião e sem moral é utopia.
Pretender· formar homens honestos, preparar co­
rações puros, caracteres firmes e decididos, fal­
lar no amor da. Patria e da Faruilia sem ·a
base fundamental da idéa de um Ente Supremo,
ó insignes educadores, . é trabalho vão e impro­
fícuo. Só o ensino · cat-holico fará a mocidade
forte, decidida, pura, ·generosa, digna, elevada.
Os inimigos da Cruz vêm prestar, ainda uma
vez, as suas._ homenagens desinteressadas á. mis-
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são civilisadora da Egreja Catholica, unica for­
ça capaz de subsistir ás revolt;tções do nosso
seculo em desespero.
Victor Hugo, livre pensador e anti-clerical
exaltado, em memoravel discurso pronunciado
em um dos salões do Parlamento franc.ez, de­
monstrou_, á saciedade, o valor e a grandeza
moral do ensino religioso.
«Nunca,- por minha culpa, -diz o auctor
d'1<üs Miseraveis», alguem se poderá enganar
sobre o que digo e penso. Longe de -querer
·proscrever o ensino· religioso, creio, nofae bem,
q�e é hoje mais nec-essario do que nunca.
Quanto mais o homem se engrandece, mais
deve crer; quanto mais se approxima de. Deus,
mais deve vêr ·a Deus. . E' dever de todos n6s,
quem · "quer que sejamos, legisladores ou bis­
pos,, sacerdotes e escriptores, ·publicar, pensar,
diffundir, sob todas as fórmas, usar de toda a
energia, para combater e destruir a miseria, e, ao
mesmo tempo, para fazer que as cabeças se le­
vantem pa-ra o Céo e todas as almas -es1perem uma
vida ulterior em quo a justiça ha de ser satisfeita.»
Jules Simon, o fogoso orad.or socialista,
Diderot, philosopho francez e escriptor da En­
cyelopedia, Washington, o glorioso fundador da
Republica Norte-Americana, Disraeli, o grande
estadista inglez, Ranée, Gladstone, Segouvé e
outros, vêm ao encontro de Victor Hugo, attes­
tando, clara e positivamente, a necessidade do•
ensino verdadeiramente christão e solido, pré-"
gado por Jesus-Christo, o Mestre de todos os
mestres. Só os debochados 'e os perfidos, os
iíJilconscientes e os cynicos, os grandes hypocritas e .
traidores, --:- almas feitas de odio e de baixe­
za, - poderão regeitar o ensino moralisador
do Evangelho, - principio fundamental da vida
intellectual das sociedades humanas.
A instrucção sem a moral religiosa,' a
educação sem a idéa de Deus é, �egundo o
testemunho irrecusavel dos inimigos da Fé, um
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-.41 -
verdadeiro perigo social, «mais funesto para o
Estado, que para a Egreja», diz Disraeli.
:FamiHas christãs, retirae os vossos filhinhos
das escolas athéas ! A· educação sem religião é
o maior de todos os aibsurdos e o mais pro­
fundo de todos os a,bysmos.
O nosso seculo se vê, actualmente, em pre­
sença de uma immensa e profunda miseria,
fructo doloroso de uma «philosophia arida e
triste», destinada a perturbar a ordem social e
moral das nações livres e crentes, caso não haja
um dique á corrente vertiginosa da onda perveroo­
ra. Victor Hugo, o impio exaltado e cel�bre,
estudando os homens e as cousas do seu tem­
po e, observando, de perto, o anarchismo � os
vicias repugnantes e torpes que, em furia in­
fernal, ameaçavam submergir todas as sociepades
e todas as gerações, -'- ficou a!J1argamente co,n­
vencido da impótencia e. da mesquinheza da sa­
bedoria humana para conjurar o mal, · prescin­
dindo do auxilio da fé e da graça divina, levan­
tando então, já confiante e credulo, os olhos
para a Verdade Eterna, em um gesto nobre, pie­
doso e supplicante, confessando, á . face dos po­
vos a,bysmadós., que a miseria · unica: e suprema
da nossa época é, incontestavelmente, a «tenden­
cia de reduzir tudo a esta · vida», - cheia de
gemidos, lagrimas, soffrimentos, dôres, decepções
e amarguras.
O poeta de Besançon escreveu uma verdade.
A grande mis,eria de nosso tempo, a uni­
ca miseria é, sem duvida, a negação brutal, es­
tupida e ·cynica das verdades eternas, - verda­
deiros priftcipios fttndamentaes do maravilhoso
organismo das sociedades humanas: A doença
moral· de nossos dias, cancro· devorador de todos
os sentimentos puros e g,en�rosos, ameaça todas
as familias e todos os espiritos, todas as clas­
ses e todas· as condições, todos os homens e
todas as· gerações ; - convém, portanto, em­
pregar um e�forçb · supremo para a propagand�
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- ·212. -
tenaz, decidida, continua ·e forte do .e'itsino be­
nefico e salvador, - base do grande edificid
das gerações vindouras.·
Sim, - só o ensino religioso,. ministrado :'li
mocidade e á infartda aoandonada, · poderá le­
var ao. coração dos jovens e das virgens o eal­
samo para todas as dô_res e o remedio para
todas as chagas. O abandono desta medida• sal-·
vadora será a morte moral inevitavel de todas
as pulsações generosas, de todas as acções no-·
bres, de todas as aspirações de justiça, de luz
e �e verdade.
. A educação religios'a tem arrancado. Ós mais
enthusiasticos · applausos dos ímpios e dos in­
credi!llos, e o mais franco apoio das grandes. e
poderosas nações, como a Allemanha, os Esta­
dos-l./,nidos, Inglaterra, Austria, Suissa, Belgica,
cl� - .
E. Legouvé, notav:el escriptor franeez; narra
um facto importante da vida agitada de Littré,
conhecido positivista e incredulo, - convertido
poüco antes de, sua morte:
«No . dia do nascimento de, sua filha, Lit­
tré disse á mãe: - Mjnha querida, tu és ca­
tholica fer:vorosa e praticante; cria a tua filha
na tua piedade habitual; sómente imponho-te
uma condição. Quando ella fizer os seus quinze
annos tu .m'a entregarás, eu lhe explicarei as
minhas idéas 'e ella escolherá. A mãe acceitou.
Passaram•se os annos ... e um bello dia a bôa
e virtuosa senhora entra no •gabinete de seu ·
marido.
- Tu te lembras, lhe disse -ella, do que
me pediste?.. . Tua filha está ali á t!spera: que
a mandes entrar, prompta · a te ouvir com o
respeito e a confiança que inspira um pae ve­
nerando. Queres que ella entre?
- Oh! certamente sim! mas para que?
para que eu lhe exponha as minhas idéas?
Não, mil vezes não! Pois que! tu fizeste da
µoss� filha uma cr�ati.tra bôa, terna, simples,
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-•·43 -
esclarecid!l e feliz! feliz, sim! esta palavra em
'um ente •p_uro resume todas as virtudes! E tu
�creditas que eu vá despejar as minhas idéas
t1or cima desta felicidade e desta pureza? Mi­
nhas idéas, minhas idéas, nem sei si · são bôas
para mim, quanto· mais para ella ! Quem me
diz que não me arrisco a destruir. ou abalar a
tua obra? Oh! sim, faze-a entrar para que eu
te bemdiga diiante della, e que ella .te ame
ainda mais.»

Este facto eloquente e grandioso,, bello e


inexprimível, encerra tanta poesia e doçura• que
faz . confund:r o orgulho e a perfidia de todos
os corações corromp•idos e de todos os espiri-
tos mesqi.tinho,s. · •
A e.Jucação baseada na moral _religiosa,
ficae certos, - paes e mães de familias, - é a
unica capaz · de fazer a felicidade de vossos
filhos, almas feitas. de pureza e de luz, - des­
tinadas ao. banquete eterno_ do Céo. Afastae,
portanto, vós todos que· sois paes e mães de
familias, afastae das escolas sem Deus e sem
fé os vossos filhos, creaturas angelicas e queri­
das, corações cheios de doçura e de amor, tí­
midos cordeiros que se não devem expôr ao pe­
rigo das doutrinas ímpias e anarchicas. O elo­
gio da educação catholica •já foi feito pelos
proprios inimigos da fé, de um modo desin­
teressado, claro, franco, . energico, decidido.
Victor Hugo, Diderot, Segouvé, Disraeli,
Gladstone, Washington, Ranée, E. l.,egouvé, Vol­
taire e muitos ·outros já confirmaram, em seus
escriptos e discursos, a nossa these z «Não ha
educação possível sem religião».
As 'theorias scientificas da nossa época e
as doutrinas revolucionarias dos modernistas e
dos chamados espiritos fortes e emancipados,
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- 44 -
filhos da «nova sciencia»,. já produziram gran­
des e dolorosos fructos. O ensino leftgo; insti­
tuido pelo Estado_ atheu, applaudido pelos nosso$
homens· publicas e de responsabilidade, divini­
sado pelos inconscientes, defendido pelos . in­
creo's e protegido pelos corypheus do erro e
da mentira, ahi está, em plena nudez, á face
dos povos besti::1Iisados, demonstrando, grave· e
dolorosamente, a· grande miseria intellectual, mo­
ral e civica da educação · e da instrucção sem
Deus e sem religião. Os moços, creaturas inex­
perientes e ardentes, os homens d'amanhã, -
fajuros representantes da Patria, da Familia e
da Justiça, - educados na escola leiga, ou,
melhor, na escola athéa, onde não se ouve
pror,tmciar o nome sacratíssimo de Deus unico
e eterno, principio e vida de todas as institui­
ções - livres e honestas, apparecem cheios de
theorias subversivas e impias, constituem-se de­
fensores dos ·«systemas extravagantes»,• tornam­
se adeptos das escolas materialistas, inimigos
da Fé e das virtudes bemfazejas, -- levando
para o seio das sociedades bem organizadas sé­
rias apprehensões. O ensino sem Deus é uma
ameaça á verdadeira ordem social, - um pla­
no tenebroso da impiedade assassina e perversa
que, a todo transe, trabalha pela desorganisa­
ção · do edificio moral das nações, promovendo,
dia e noite, a revolução das idéas, pela propa­
ganda desbragada �e cynica das escol3cs athéas
e anarchicas.
Levantem-se os homens de fé e conscien­
cia, appareçam a� almas fortes e puras, venham
os velhos educadores honestos e crentes, exijam
os chefes de familias uma educação solida e
orientada, falem os homens experimentados ao
coração da mocidade sobre a doutrina da vida
immortal, mostrando-lhe as bellezas da verdade
e os esplendores da fé christã e racional; digam,
alto e bom som, que a Religião ,e a Sciencia
se abraçam em doce e suave harmonia; provem
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45 -
a caducitiade das c�usas mundanas e a gloria
phemera das . grandezas do seculo; . preguem,
� esassombrada e abertamente, a doutrina do
hristo invencivel e eterno, e verão, mais tarde,
·surgir uma geração forte, digna, illustre, va­
lente, decidida.
Trabalhar pela reforma moral e christã da
instrucção da mocidade é, incontestavelmente,
concorrer para uma obra de ,importancia capital
e praticar um verdadeiro apostolado social. Só a
educação baseada nos principios religiosos, pro­
duzirá o effeito desejado, dando-nos uma solida
garantia. Os homens de' governo e de sciend'a,
mesmo incredulos, appellam para a Religião
como tinico freio moralisador, capaz de dli)mar
as paixões humanas, abrandar o coração e for­
mar o espirito da mocidade sobre bases soli­
das e seguras.
- Guilherme II, o glorioso Imperador da Alle­
manha, filho da heresia protestante, sendo en­
trevistado por uma deputação de professores
sobre o problema da. educação, externou sua
opinião desta maneira: «E' bem que se instruam
os jovens na sciencia, porém é mistér não esque­
cer o que tem importancia principal na educação:
a religião antes de tudo e sobretudo. A parte
mais importante e difficil da vossa missão con­
siste, pois, em educar a juv,entude no temor .de
Deus, e ensinar-! he o respeito pelas cousas
santas.»
Diderot vaie mais adiante e affirma, ape­
sar de incredulo, que «a Religião deve ser a
primeira licção e a licção de todos os dias)}.
Ranéc, ministro da instrucção publica na
Austria, sustenta que «a vida dos povos requer
uma educação fundada não sobre theorias, mas
sobre as realidades immutaveis, sobre os princi­
pios do Christianismo, verdadeiros sustentaculos
das familias e do estado».
Segouvé fala, clara e corajosamente, dizendo
que «não ha educação possível sem idéas reli-
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- 46 -
giosas. Emquanto a . mim, diz elle, não receio 1
affirmar, si estivesse. na impresdndivel necess ·
dade de escolher para um menino o saber. ler.
e o_ saber rezar, - que ·saiba. rezar! - diri ,
porque rezar é ler nç, mais bello dos livros, !la
mente d' Aquelle de quem promana toda a· lúz,
toda a justiça e toda a bondade.»
A insuspeito autor da Legende des Síecles,
falando da instrucção, escreveu o seg:uinte: «Eu
quero, portanto, sincera, firme e ardentemente, o
ensino das verdades eternas. Digo-o francamente
e, não por hypocrisia. Quero que o homem tenha
pdr objecto o céo e não a terra ; por fim uni-
co Deus - e não a materia.»
*
* *
Já está feita a apologia do ensino catholico.
Os -inimigos do nome christão e os adeptos
de diversas escolas e doutrinas philosophicas,
conscios da grandeza da Reli�ião e da missão
civilisadora do Evangelho, ja cofirmaram, de
ha muito, desinteressada e nobremente, que já
não é possivel educar sem Deus.
A mascara conhecida e torpe dos inimigos
desleaes d-o nome chr.istão cahiu · por terra ; ..,_
desta vez é o testemunho dos proprios incredulos
que vem dar aos educadores atheus est-a respos­
ta .esmagadora e irrespondivel: «Não ha educa­
ção passivei sem Religião».

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VII

A confissão na opinião (los inm·edulos


AOS INIMIGOS DO CONFESSIONAIÚO ,)

Um dos dogmas mais consoladores da ver­


dadeira e unica Religião é, sem duvida, a, con­
fissão sacramental, instituida por Jesus-Christo,
o divino Fundador da Egreja Catholica, sagrado
deposito da fé e da verdadeira .sciencia e mes­
tra infallivel da verdade. Ha ttma philosophia
excelsa, ha uma sabedoria infinita na divina
instituição do sacramento da penitencia, institui­
ção profundamente admiravel, immensamente bel­
Ia, digna sómente de Jesqs-Christo, nosso mestre
e salvador.
Quando o homem se vê atormentado pelos
remorsos continuos, quando a consciencia é man­
chada pela nodoa do crime, quando o espirito
está fatigado pelo cançaço, quando a voz ater­
radora da eterna noite do peccado repercute no
coração do homem, quando este já não encontra,
no bulicio do mundo, a paz doce e suave da
alma, então, oh! Deus de amor e de perdão 1
.o espirito procura a solidão, busca o ministro
de vossa Religião e prostra-se a seus pés.
Divino poder da confissão !'
E' tão util, é tão preciosa a confissão, lei­
tor amigo, que os encarniçados inimigos do ca­
tholicismo se vêm obrigados a reconhecer a sua
necessidade e excellencia,
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Voltaiire, o impio :ór-do seculo XVIII
inimigo figadal de Jesus-Chr•isto, falando da co ' -
fissão, deixou escripta esta bellissima verda :
«A confissão é mui excellente cousa, é freio ao
crime, inventado na mais remota antiguidade: na
celebração de todos os antigos mysterios havia
confissão. Imitamos e santificamos este uso: opti­
mo é elle p.aira incitar ao perdão corações afis­
tulados no odio.» (Quest. sur l'encycl., T. III,
pàg. 234, art. Curé de Campag'ne, sect. II).
Ro;usseau disse: «A quantas restituições e
rfparações não obriga a confissão entre os ca­
tholicos !>l (Emilio, t. 111, paig. 201 ).
, E não é tudo.
Leibnitz, philosopho eminente, protestante
de fama universal, sobre a confissão diz assim:
«E1 uma instituição propria da sabedot"ia divi­
na, a mais digna de elogio e a mais •bella da
religião christã . . . apta . para curar ou alliiviar .
todos os males da alma.»
Reynal, inimigo acerrimo do catholicismo,
fala da confissão nestes termos: «Seria o me­
lhor governo uma theocracia em que se estabe­
lecesse o tribunal da confissão, se fosse este
dirigido sempre por bomens virtuosos.»
Outro esci;iptor protestante, auctor das «Car­
tas· d'AtticUSl>, attesta brilhantemente que a «con­
fissão é o unico remedia c�ntra as doenças mo­
raies do individuo e da sociedade ; que é a fonte
exclusiva de todas as virtudes, que dão seguran­
ça e felkidad,e á familia e ao estado.>)
*
* *
Que diremos, quando .um homem, a quem
o odio contra o christiaitlismo tornou insigne
efil:b"e os mais impio·s, tece á confissão os ma,is
subidos elogios? Voltaifa-e, nos, intervallos luci­
dos que lhe deixou a impiedade raivosa, disse
unia, sinão muitas vezes, «que não ha institui-
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i - 49 -
o" maiis sahia do que a confissão; que é freio
ico para os crimes inveterados, que só ella
pede ao culpado a desesperação, a recabida
s crimes», etc.
Pairece que Deus quer confund · ,ir .a soberba
humana, fazendo cóm que os propnios inimigos
da Religião prestem o maior respeito e home­
nagem ao Sacramento da Penitencia, tão que­
rido dos bons e tão -odiado dos máos.
E' o maiior e o mais desinteressado elogio
prestado pela jmpiedarle •orguJhosa a um dos
mais augustos Sacramentos da Religião Chris•tã !
Agorn, leitor christão, uma pergunta: de­
pois de tão extraordinarios testemunhos, 1 que
nos resta fazer, quando, ás mais das vezes, ou­
vimos intelligencias acanhadas, espiritos mesqui­
nhos, ri, dicularizarem o augustissimo Sacramento
que perdôa os nossos peccados?
- Lastima-los si, mplesmente.

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��--.-..,,.__,,..�

VIII

Odio maçonico á Religião


-A ALCIBIADES DELAMARB NOGUEIRA
DA. GAMA, APRECIADO ESCRIPTOR
CATHOLICO, ESPIRITü COMBATENTE
E DE RARA ENERGIA MORAL.

«Guerra de morte a Deus.>)


(Palavras do ir.·. Proudhon).
Esta phrase ímpia e perversa, cobarde e
cynica, phrase cheia de malda,de' e de torpeza,
- é a confissão clara e terminante do odio
ma,is profundo e diabolico, - odio de morte,
votado, desde a,ntiquissima data, ao Divino Mes­
te e á sua obra profundamente celeste e hu-
mana: a Religião.
O grito da revolta mais estupida e do mais
obstinado orgulho, soltado ppr Lucifer, o ;mjo
das trevas, em um momento de suprema lou­
cura, encontrou agasalho nos antros maçonicos,.
onde, dfa e noite, se prepa,ram os ataques . mais
indignos e baixos contra Deus· e as cousas de
- Deus e se -inv_entam as calumnias mais repugnan­
tes e deslavadas contra a honra da Egreja Ca­
tholica, do clero e das almas fortes e christãs.
Já não existe, -felizmente, o segredo maço­
nico"; - a critica histórica, terrível em suas
analyses e profµnda em suas investigações, pe-
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- 51 -
tr, ou no fundo <;la doutrina maçonica, desco­
ndo, a olhos nús, os · planos mais secretos
ntra a Religião catholica e a propria idéa de
. us. Já não ha mais illusão passivei para os
ingenuos e os homens de bôa fé que, por des­
cuido, ou inadvertencia, ainda estejam filiados
ás sociedades secretas. Os proprios ir.·. illumi­
nados, «mais prudentes do que os filhos· da luz)),
na. expressão verdadedra do Evangelho, se en­
carregam de demonstrar, á luz do dia, o .odio
maçonico votado á Religião Catholka.
«Uma Ma-ç :. christã .'. seria uma flagrante
contradicção, um circulo quadrado; um esquaci�o
redondo.» (Ir .·. Salomão, V. M. Eckert, da F.·.
-- Maç .·., t. I; pag. 215). 1
«A Egreja, tendo á. sua frente Roma' e os
braços por toda a parte, tão formidavel pela
sua disciplina e riquezas, a in/ame rende-se
mais vigorosa, intoherante, avida e esfaimada
do que nunca.» (Ir.·. Frantz Faider, V. A. N.
1, pag. 281).
«Guerra de morte a Deus.» (Palavras do
ir.·. P., na loja de Besançon - França).
«O nosso fim ultimo é o de Voltaire e da
Revolução Franceza: o aniquilamento completo e
para sempre do catholicismo e até da idéa
christã que, ficando de pé sobre as ruínas de Roma,
a perpetuaria para mais tarde.» (lnstrucção da
Alta Venda. - Vid. A Egreja Romana em pre­
sença da Revolução,· t. II pag. 82).
*
* *
Eis aqui, em linguagem firme e decidida,
toda a infamia do plano maçonico. E' a guerra
encarniçada e tremenda,. injusta e desleal, movi­
da, sem cessar, ·contra a obra diivina da Re­
dempção.
Jesus-Christo, porém, estará sempre em pre�
sença do seculo, abençoando sua obra e confor-
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
- 52 -
tando sua Eg,reja, unica e verdadeira. Sim; ____: '
a realização da promessa divina: «Ecce ego vo f
biscum sum omnibus diebus usque ad consu
mationem sreculi». :·
Aos· cathoI.icos, aos filhos da Santa Egreja,
aos homens de fé e de consciencia, . aos gov:er­
nos bem intencionados, ás sociedades humanas,
aos homens de crença e de sentimentos genero­
sos, aos · patriotas sinceros e aos povos ainda
não atirados á abjecção, só compete o dever sa­
grado, unico, solemne, . inevitavel: Cerrar fileiras
em torno da bandeira sagrada da · Religião e da
Pdtria;

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IX

Onde a caridade :ma�miica 1


AOS QUE SE ILLUDEM .••::,

<1Concluamos com os Maç. · .,


a bene/icencia não é a fim
real da Maç. · . ; é só uma
mascara.»
( «A Franc-Maçonaria e a
revolução». Gautrelet, vol. · I,
pag. 169).
O sentimento mais puro e o mais elevado
do coração humano é, sem duvida, o amor des­
interessado, nobre, virtuoso, digno, inegualavel e
genernso, - dispensado á grande multidão dos
,infelizes e dos pequenos, «sem pão e sem lar»;
-- amor constante e decidido que só o Christo
invencível e eterno pode comprehender e elevar
a uma virtude altíssima e divina.
Consolar os corações doridos e enfermos,
matar a ·sêde das almas, d,iminu.ir a fome dos
pobres, levar o conforto aos nossos irmãos ago­
nisantes, ·. animar os fracos para supportarem, co­
rajosa e fortemente, as provações e_ as amarguras
·da vida, fala-r a estas almas afflictas e abando­
nadas das esperanças e das promessas eternas
do céo, - tem sido sempre a missão sobrehu-
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
- -54 -
mana dos apostolos de Jesus-Christo, dos verda­
deiros filhos da Egreja, dos ho,:nens christão!?'
e de fé pratica e dos corações bem formados,
ainda não corrompidos pelos genios do mal.
A religião catholi<!a, o . milagre de todos os
dias, que tem atravessado os seculos das maiores
persegu�ções e das calumnias mais cynicas, é um
attestado glorioso e divino, - demonstração cla­
rividente e soberba da · caridade inegualavel da
Egreja Catholica para com os homens . .Os .ver­
dadeiros catholicos, os que confessam, publica e
desassombradamente, ao Divino Mestre, os que
ai.\da guardam intacto,· em seu coração, o thesou­
ro sagrado da fé, são os unicos que, em nome
da vrrdade, podem offerecer ao mundo o especta­
culo bellissimo da mais· digna e excelsa de to­
das, as virtudes, __,_, a caridade verdadeiramlnte
christ,ã, obra. incomparavel de Jesus-Christo.
· Por toda parte crescem os hospitaes, os
asylos e as casas de carJdâde, onde, dia e noite,
se enxugam as lagrimas dos desgraçados e dos
«miseraveis grandes», na expressão verdadeira do
grande poeta bahiano. As irmãs de caridade, es­
palhadas em todo o mundo, continuam, resigna­
das e fortes, a difficill,ima e celeste missão de
conquistar almas para Deus. - .
O elogio mais valioso da caridade christã
f feito pela propria impiedade. Os mais terd­
veis e encarniçados inimigos da verdade catholi­
ca, entre os quaes Victor Hugo, têm, a este.
respeito, escripto paginas. admiraveis.
Agora, porém, depois destas ligeiras refle­
xões, vamos penetrar no fundo da doutrina ma­
çonica, em suas leis, em · suas resoluções, em
seus preceitos, e examinar, á luz dos principios
.maçonicos, como é comprehendida e praticada a
caridade, ou, melh-or, a bene/icencia ou philan­
lropia, na linguag,em da viuva de Miram.
Cruel des-illusão para os profanos e para
os . ingenuos !
A compaixão para os desvalidos merece;

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- 55 -

por parte da seita, o odio mais infernal, segun­


do as mais terminantes declarações dos proprios
ir.·., illuminados ou tripingados.
Têm a palavra os mais graduados da seita.
«Filhos da grande familia maçonica, excla­
ma· dolorosamente o I . ·. Lamoureux, onde estão
os abrigos que construistes? Onde os asylos de
vossos velhos dtsgraçados, os estabelecímentos
destinados ao allivio de vosso.s doentes e afflictos?
Nada, nada. O sólo maçonico da França está· por
desbravar: os velhos soffrem e as viuvas• estão
na indigencia, e os orphãos de vossos irm�Js
são forçados a ir bater á porta do Instituto dos
lgnorantinos para aprender a ler, e solicitar da
,caridade publica um obulo de algum va ! or.»
(Assento mensal da Loja A Fr. ·. Maç. · ., 21
de Junho de 1862).
«Não é com_ palavras que se minoram as
angustias da fome: não é com ellas que se
mitigam os soffrim�ntos: é necessario mais al­
guma cousa: coração e sentimento.>> (Palavrás
do ir.·. Pontallier).
· «Dizei-me, exclama o ir.·. Buros, o que o
instituto maçonico tem feito desde um seculo a
esta pa,rte? Onde estão os resultados destas gran­
des licções philantropicas? E' uma instituicão
que gastou esta palavra philantropia, e a. coflo­
cou em· tal opposição com a sua significação
primitiva, que os homens que della se servem
hoje verdadeiramente no mundo, não se atrevem
a olhar-se cara a cara, com receio de ,se intimi­
darem, como em outro tempo os augures roma­
nos.» (A Fr . ·. Maç. · ., 3.0 anno, pag. 2).
«Não apresente-is .nunca na Ordem, diz o
ir .·. Bernouville, senão homens que podem
apertar-vos a mão e nunca que vol-a estendam.»
(Curso phil., pag. 368).
«Não podemos dissimula-lo, diz o ir.·.
Belchior Pottiers, ha na Ordem iildividuos ab-.
. jectos que fazem da Maç . · . .officio de mer­
cancia. Vergonha e maldição sobre estes seres
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- 56 -
d�spreziveis, que introduziram a desc.onfiança en­
tre nós e estancaram as fontes da beneficentia.»
(Globo, t. III,. pag. 26:).
«CY maçon mendigo está sempre em vossa
casa, segue-vos os passos, e vae ás vossas lo­
jas: é um genio malefico que vos ptrsegue em·
tódos os Jogares e a todas as horas.» Ir.: .
Bazot. Cod. da Fr. ·. Maç . · .; , pag. 1'76).
. · Agora, porém, benevolo leitor, uma per­
gunta:
Onde a caridade maçonica?

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X
Haeckel em apuros
A UM ACADEM1CO

Haeckel cahiu para se'/lpre


no descredito que lhe �ran­
gearam seus dislates e desap­
pqreceu da scena do mundo
scienti/ico. Quatre/ages deu­
lhe «o primeiro togar entre
os homens que mais comprp­
metteram d causa do darwi­
nismo».
(Padr(;! M. F. de· Sant' Anna,
Materialismo em face da scien­
cia, tomo I, pag. 41 ). · ·
As doutrinas .materialistas die·Ernesto Haeckel,
o patriarcha do monismo e o idolo dos .sophistas
e modernos incredulos, têm soffridoJ ultimatnentl!,
u,ma .criteriosa e profunda anal_yse, feita por es­
pi-ritos imparciaes ,e adversos á i>'1ilosoJ_Jhia el?p,i-
ritualista.
· Philosophos distinctos, critiços de grande
folego sdentifico e natu:ralistas eminentes, adept.os
de diversos systemas contrarios ao ensino ch,rls­
tão, têm dado golpes fataes em todas as obras
do professor de Yena, deitando por terra todas
as bases das suii,s doutrinas, ou, :melhor, des-
truindo todos os seus grandes erros.
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O celebre professor mater,ialista está, real­
mente, em apuros.
Os seus proprios discipulos se têm encar­
regado de mostra-ló tal qual é, em face do. mun­
do· soientifico, denunciando, alto e bom som,
todas as suas fraquezas.
Nenhum espírito medianamente instruído po-.
de sustentar, em pleno seculo de rigorosa analyse,
a doutrina do «mestre>>, hoje, ferida, mortalmente,
no fundo, pelos Iidimos representantes da scien­
cia.
A Allemanha intellectual já não leva em
c,.mta o «famoso» Haeckel.
A imprensa mund-ial tem annunciado o des­
preso em que· se acha o pobre Haeckel, a ponfo
de 1tão ser mais convidado para os .congressos
scJentificos. ·
,E' que, em face do mundo civilizado, já se
não póde ouvir m.ais · a palavra de um miserável
plagiairio, cuja coragem chega ao ponto de fal­
sificar, torpe e criminosamente, os trabalhos
alheios.
Hamann, discipulo querido de Haeckel, erri
sua obra «Entwicklungslehre und Darwinismus»,
pag. 26, descobre muitas falsificações do «grande
mestre».
Spencer, His, Rutimey'er, Pfaff e outros con­
firmaram
· o· testemunho de Hamann.
O infeliz Haeckel, vendo-se batido por todos
os lados, em virtude dos protestos vehementes
dos sabios, que se não calaram diante das torpes
falsificações, apenas respondia. aos seus illustres
adversarios com palavras iniuriosas, confissão pu­
blica e vergonhosa de. todos 'os seus desvarios.
Não se adultera impunemente o sentido da
obra dos· sabios, porque a confusão tarde ou
cedo lhe ha de chegar.
O professor de Yena está abandonado.
Ainda uma vez, homens de fé e de sangue,
triumphou a . verdadeira sciencia, companheira
insepar�vel da Religião catholica.
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,,, .,,, ,,, ,,, ,,, ,,, ,,, ,,, ,,, ,,, ,,,
�,�-,,�-,1�-,,�-,,�-,,�-,,�-,,�-,,�-,,�-,,�,�
,,,
.......

XI,

As falsificações <le. llaeckel


AO PADRE DR. PEDRO ANISIO, BELlA
.
O�GANISAÇÃO DE PHIJ,OSOPHO,

«Os collegas que estão ao


corrente sabem que se trata
aqui de uma simples «levian­
dade» de minha parte, levian­
dade em que cahi em «bôa
/é», na pressa de a;untar as
poucas illustrações para. a
primeira . edição da «Historia
Natural da creação».
(Palavras de Haeckel).
Os sa,bios do velho mundo, em um assomo
de dignidade e justa revolta, levantaram protes­
tos tão vehementes contra o «eminente» professor
de Yena, no celebre caso da historia dos ires
clichés, que, para desaggravo d.a verdade, obri­
garam-n'ô a confessar todas as suas �eslealdades.
·. · O «grande mestre)>, apertado por t�ntas. exi­
gencias de seus iHustres adversarios, viu-se,. final­
mente, na dura eontingencía de · fazer confissão
publica de suas falsificações.
E' o eterno castigo dos ininiigios da vei:dade.
Queixa-se, então, o «sabim> de Yena . da le­
vi;mdade e da pressa, que commetteu, na çompo•
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- 60 -
sição de ·suas obras ; mas, o qu,e é para àdmirir
é que o «eminente» naturalista não se arrepende
das falsificações que tantas decepções ·lhe ha
trazido.
Vamos, porém, á historia das falsificações
haeckelianas.
O ex-cathedratico de Yena, em uma con­
ferencia realisada, em 1908, etn Berlim, tendo
por tihllo: O problem11, do homem e os primatas
de Linneu, falsificou, criminosamente, diversas
gravuras estampadas em obras alheias, a pretexto
d') provar a similhança dos· embryões do homem,
do macaco e de outros mammiferos, pelo que o
_dr. Arnold Brass, em sua obra: O probtema dos
macúcos, prov'ou, · á saciedade, as deslealdades
do «grande propheta» allemã_o.
O dr. Brass, accrescenta um notavel escriptor,
«extrânha, antes de hldo, as locuções ambiguas
de Haeckel, o qual affirma que as figuras desses
quadros não foram desenhadas por elle, mas que
«não foram tambem copiadas propriamente de
um modo fiel», das obras de outros sabios, en­
tre os quaes nomeia His, Keibel, Selenka, embora
_mais tarde, nos numeros 3, 4 e 5 da revista
Neue Weltanschaaung, Haeckel affirme categori­
camente que, pelo menos· duas figuras em ques­
tão, mandara-as copiar fielmente das obras · de
Selenka, Re,ibl, Keibel, His e outros, por um de-
senhista. .
Maneira, sem duvida, de se exprimir muito
equ�voca e que nos descobre todo o artificio
empregado por elle para justificar o embuste.
. De facto, se os desenhos não são de liaeckel,
e se ta.mbem n.ão. foram copiados de · outrQs·,
«propriamente de um modo fiel», de quem· serão
e.ntão? Qualquer pessô·a que e,çam.ine o&. uuadros
das conferencias feitas por HaeckeJ e!Jl Berlim,
em Abril de 1905, quadros que passaram por sua
vez a illustrar a conferencia d·e 1908, encontrará
na parte superior dos qul,ldros II e . III estes •
dizeres:
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· - 61 -

«Esqueletos das cinco especies anthmpomor­


phas - Haeckel -- lucf.a pela evolução - Qua­
dro li». «Embryões de tres mammiferos - Hae­
kel - luc(Ja pela evolução - Quadro 11I».
Ora, se Haeckel não desenhou esses quadros,
e se os copióu de outros, embora dum modo
não rigorosamente fiel, como é que levam . seu
nome? De duas uma: ou os quadros são delle
e de facto levam seu nome, e neste caso é falso
o . que aff.irma, 1i1õto é, que os mandou copiar
de um desenhista das obras de Selenka e
outros; ou os quadros são de outros, e nestf
caso deveriam levar o nome de seus autores,
e então é falsa a paternidade haeckeUana que
se lhe attribue .. O que é evidente, por-ém, é .que
os que examinam esses desenhos são levados ao
erro por um systema doloso, erro ou engano
que não teria Jogar se a modestia que, na r1hra­
se de um escriptor, é a virgindade do sabia, e
a probidade, que' é o sol da sciencia, algum va­
lor tivessem aos olhos do veterano professor de
Yena.
Sobre 6 quadro I, observa o dr. Brass que
a gravura é tirada das obras de His, porém al­
terada . e propositalmente falsificada. Lamenta
que Haeckel tenha,, a este respeito, proctdido co­
mo sabio nenhum até aqui procedera, coHocando
o esqueleto do homem em companhia dos es­
oueletos. do Gorillà, Chimpanzé, Orangotango e
Gibbon.
Além disso é sabido que os macacos, a
differença do homem que piza no chão apoian­
do-se sobre toda a planta do pé, ,os macacos,
digo, descançam o pé sómente sobre o meta­
tarso · exterior cor-respondente a,o dedo minimo.
Haeckel, com essa ligeireza acrobatica que lhe
é , tão famdliar, pulou por cima desta insignifi­
"cante particularidade, e deu aos s�nhores ouatro
macacos, nossos venerandos protoparentes, um
porte possi'{elmente aprumado, fazendo-os ca­
minhar firmes sobre todo o metatarso.»

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Ahi · está, em ligeiros·. traços, o criterio
sdentifico do· patriarcha. do monismo.
Para satisfazer as suas phantasias não córa ·
Haeckel em praticar actos tão compromettedores
para o conceito de um verdadeiro . sabi-o.
Os inimigos da fé cathólica e do Christo
perseguido e triumpha1;1te têm, sempre, .. destes
rasgos admiraveis.
A verdadeira sciencia; porém, que está sem­
pre em harmonia com a fé e não podendo di­
vorciar-se da religião, em. que pese aos nossos
lí\pmens emancipados e aos chamados «espíritos
forteS>� livres dos «preconceitos theologicos», veio
corrigir todos os errns do «mestre» de Yena,
pel\'; orgão de set.ls legitimos representantes.
Haeckel, porém, como inimigo apaixonado
da doutrina. catholica, adultera, como já vimos,
o Uabalho de s·eus illustres contfadictor·es, no
intuito de combater a philosophia espiritualista,;
mas estes, oppondo-lhe forte barreira, fazem-n0
recuar nesta campanha pouco nobilitante, mos­
trando-lhe a admiravd harmonia da razão com
a fé.
<<Todas . as conquistas da sciencia são con­
quistas da Religião», diz Spencer.
Ave., Haeckel !

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XII

Porc11rn ocleiam os Jesuitas i


(A UM ANTI-CLERICAL)

«Nenhuma associação con­


sçguiu, como a de Jesus,• dar
simultaneamente leis aos po­
vos mais selvagens, e aos
mais civilizados.» (O protes­
tante João de Muller. «Hist.
Univ.» T. III).

Ha no espírito do seculo actual uma ten­


dencia geral para a negação absoluta da ver­
dade e da justiça. E' o sectarismo nefando e
cruel que, abolindo a historia, inventando ca­
lumnias, destruindo o direito, divinisando o vicio,
ridicularisando a virtude e os · bons . costumes,
tangido pelo orgulho da falsa sciencia e applau­
dido pela impiedade systematica, ignorante · e
atrevida de nossos. dias, fecha os olhos á luz
meridiana, despresa �s testemunhos dos sabios e
a voz da historia para, em nome de uma civili­
sação v-inte vezes vilipendiada, atacar a verdade,
a justiça e a virtµde.
E' · a cegueira do coração e o extravio da
intelligencia. O hometn que se dedica á pratica
da virtude , e das bôas obras, que presta home-
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- 64 -
nag-em á verdade, que não se dobra ante as gran­
dezas ephemeras da vaidade e do luxo, é o alvo
de todas as calumnias, de to.das as injustiças, de
todos os odios, de todos os ataqueis, de · todos
o.s ridiculos. E' a maior homenag,em prestada pela
impiedade raivosa á virtude solida e sincera.
Só a. verdade é digna de ser despresada
pelos impios, porque ella é o rnais terrivel al­
goz de seus planos sinistros.
Para a verdade que lhes exproba os vicios,
elles, os impios os filhos das trevas, têm o
despreso; para o vicio que lhes alimenta · as
n.lixões, têm o louvor.
E' a apostasia da intelligencia e da sã
razão.
*
* *
O homem contra o qual se levantam todos
os motejos, tenho por certo que já o adivinhaste,
leitor: é o padre jesuita. Sim, e não ha quem
o negue.
Esse velho odio ao jesuíta, odio quatro ve­
zes secular, encerra profundo mysterio. Entre­
tanto, leitor benevolo, facH é a explicação do
odio satanito ao jesuita. E' porque o padre je­
suíta, esse homem extraordinario que tudo inv:es­
tiga e tudo aperfeiçôa, cuja intellig1rncia abrange
todos os ramos da humana sabedoria,. cujo cora­
ção, fornalha ardente de amor, só aspira a- v.er­
diade em todo seu esplendor ; esse homem, que
tem por pharol a: consciencia e o dever, por es­
pada a Sc-iencia em sua accepção mais. e1ev,ada;
esse homem, que se levanta, vehemente contra o
erro, onde quer que se manifeste, e que lhe
tolhe todos os passos ; esse homem que, com o
fulgor de seu profundo saber e o raio de uma;
logica irrespondível, -defende, brilhantemente, a
verdade contra os ataqu·es dos aorypheus do
grande exercito da impied·a.de; esse homem mys-
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- 65 -
terioso que tudo supporta e tudo vence, cujo
peito é fortaleza, onde se vão quebrar as ondas
de um seculo em delirio; esse homem que pulve­
risa todos os erros, que confunde todos os he­
resiarchas; esse homem que jurou não prestar
homenagem- á mentira e ao erro, ao vicio e á
miseria, - não se dobra ante os improperios dos
seus adversarias e a zombaria dos scepticos.
Insensatos!
O padre jesuital é o typo do· sabio e . do .
santo. ' .
Será eternamente odiado pelos espíritos taca-
nhos, e isso é a sua nielhór apologia. i
O padre jesuHa, é inimigo nato do . erro.
Dahi nasce contra elle o odio inexplicavel de
um seculo em desespero. . ·
O jesuíta tornou-se odiado porque é o maior
persegu,idor do erro e da impiedade, da calumnia
e da mentira, da ignorancia e do despotismo.
);' a melhor explicação desse velho rancor
de tantos seculos á ordem jesuítica. . ,
E' uma verdade que está entrando pelós
olhos.
Esses homens· são a gloria da humanidade.
«Todos os espíritos leaes e illustrados, se-­
jam quaes forem suas doutrinas, diz um eminen­
te escriptor brasileiro,. ,rendem justiça aos conti­
nuadores de Santo Ignacio de Loyola; e rendér­
lhes justiça equivale a encomia-los · com calor.
. Vêde o rígido protestante Guizot proclaman­
do-os -grandes pelo pensamento e pela vontade;
vêde - Augusto Comte que, em mais de um
topico do seu Systema de Politica Positiva, fala
delles com respeito e admiração.
Lêde as paginas sublimes a elles consagra­
das no Oenio do Chtistianismo, de Chateau­
briand, e verificareis que dles, no seculo XVI,
renovaram a Pedagogia e ,salvaram a Religião;
estudaram o coração humano, como nenhum
psychologo ainda o fez; conquistaram pacifi�a­
mente, maiis que Alexandre, Cesar. ou Napoleão,
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- 66 -
i�notas, immensas, terriveis regiões d•� Asia, dl3.
Ariica, fundando 'nos desertos selv•agens desta
ultima uma admiravel democracia evangelica,
·mais perfeita que as democracias classicas da
antiguidade, t\.thenas ou Sparta; derramaram por
toda - a parte o seu sangue. intemerato e a sua
palavra fecunda, combatendo sem tregoas - o er­
ro, a ig1:10rancia, a tyrnnnia e a escravidão.»
O co�de j. de Maii\tre, em sua _ o-bra _ -
Lettres et opusc., I, 126, :- falando dos j.esui-
tas, escreveu:
«Da1r-vos-ei uma regra segura e facil para
j;,\lgair os homens e as corporações. Essa ·regra
é infâllivel. Do lado _ 'dos /jesU:itas mostrar-vos-ei
tudq quanto o mundo tem produzido de mais
excellente em santidade, em sciencia e em po­
litica.
- • E quaes são os seus inimigos? Todos os
inimigos de Deus, todos os inimigios da Egre­
ja, ·todos os inimigos do Estado.
Dir-me-eis talvez: porventura não ha tam­
bem gente honesta e honrada entre seus inimi­
gos?
Sim ! meu caro amigo ; mas essas pessôas
de · bem, aqdam, neste ponto, mal acompanha­
das, o -que não acoQtece aos amigos dos jesu-i-
tas.»
«Foi lendo, diz De Banal (Oeuvres, III,
716), tud.o quanto se tem escripto. pró e contra
a respeito dos j,esuitas, . o - que os seus .inimi­
gos certamente 11ã0 têm feito.,.. . que me , :con­
venci da -sua utilidade e da injustiça de . seus ,.per­
seguidores.
Mas o que fez subir · esta ,minha • convicção
ao mais alto gráu, é esse adio furioso jurado
contra a Companhia de Jesus, e os inimigos
que elle tem grangeado. Não -se p6de ·odiar de
tal modo sinão o bem, porque só o ·bem, qll'e
deve ·ser objet:to do amor mais ardente, póde, :se
fôr odiado, 'ser objecto dúm adio tão -exaltado;
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- 67 -
eis · o que na.� perseguições faz martyres e car-
rascos.» . .
«Quanto este od-io seja favoravel aos je­
suitas, accrescenta M. P. Bert, (Les àveux, pag.
30), vemo-lo por experiencia, porque além dos
titulos que os tornam dignos da estima de todos,
«Muitos Ha Que Os Amam Precisamente Por-
que Vós Os Aborreceis.»
«A supremacia da Egreja, diz o insuspeitis­
simo professor Miguel Bombarda, eis o que está
no horisonte dos esforços do papado e para o
que concorre mais do que nenhuma esta mili­
cia ardente, irrequieta, ousada, que são os ,1:ie­
su.itas.» ( Sciencia e ;esuit., pag. 160, o�ra do
referido professor).
Poderia fazer outras innumeras citaçõ�s de
homens illustres em todos os ramos scientifice>s,
falando da grandeza, da excellencia e da , supe­
rioridade do jesuíta; mas, por me não alongar
muito, fico por aqui.
Agora; porém, me não posso furtar ao de­
sejo de dirigir ao leitor amigo uma pergunta:
diante de tão gloriosos testemunhos, que .valem
as calumnias de seus gratuitos inimigos?
Ser jesuita é ser grande, nobre, sabioJ . santo
e admiravel.
Só o odefam os inimigos do progresso,
da civilisação, da liberdade, do direito, da ,uz,
da sciencia, da justiça, da virtude e da razão.
Pobres homens !
Nem ao menos · são dignos de sacudir' o pó
da sandalia de u111 jesuita.

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XIII

Estudos
Ma�onaria e auctoridade
A FEÜCIO DOS SANTOS, GLORIA
DAS LETRAS CATHOLICÁS NO BRASIL.

«Nós que quasi todos co­


nhecemos os altos gráus, di­
zia um M. · . belga (o ir.·.
Schuerman), perante uma as­
sem bléa maç. · ., sabemos que
alguns contêm princípios que
. os governos não tolerariam,
se. jossem declarados
· publica-
mente.» .
(Hist. da Rev. · franc. cap.
Revol. myst.).
O seculo XX,• ,não padece duvida, 1 é um
seculo de analyses rigorosas, e ptofundas e das
mais cuidadosas investigações.
Homeqs . de valor e de criterio, espiritos
imparciaes � amigos da justiça historica, dedis
cados ao estudo arduo e glorioso das antigas
tradições dos povos e dos seus monumentos
mais- respeitaveis, têm penetrado, ultimamente,
no fundo da doutrina maçonica, arrancando, a
golpes de sacrificios heroicos, jmportantes con­
fissões do «plano negro», denunciadoras dos
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----' 69 -
crimes mai� perversos e hediondos· e da rebel-
dia mais cynica e diabolica. •.
As sociedades humanas, � é fado incon­
testavel, sq pódem subsistir dentro de suas nor­
mas legaes, pelo cumprimento exacto e rigoroso
das leis e do dir�ito, respeitando o principio
da auctoridade legitimamente constituida, base
do proprio edifício social.
E' a doutrina de todos os povos e de todos
os philosophos, de tbdos os juristas _e de todos
os homens de consciencia e de fé, affirmando,
clara e positivamente, sem sophismas e hyf.lh­
theses, que o respeito e a obediencia ao prin­
cipio de auctoridade é o unico sustentaculo das
sociedades actuaes, profundamente abaladas• em
seus alicerces pelo- vírus das doutrinas impias
e anarchicas. •
Só mesmo os inimigos da propria ordem
social, de Deus e do Estado negam a verdade
immensa desta doutrina:.
Apparece, então, a maçon_aria orgulhosa e
trahidora, pregando, abertamente, o anarchismo
rubro, pelo desrespeito á auctoridade, infiltran­
do · no espirito popular a revolta mais estupida
e criminosa contra os fundamentos dos Estados
bem · organisados.
O jugo da auctoridade é insupportavel e
odioso ; - converil, portanto, despresa-lo, custe
o _que custar, pontificam os mestres mais res­
peitados da maçonaria.
. Semelhante doutrina é a propaganda da
revolução social, ameaçando p,ovos e. nacionali­
dades, familias e Estados, pelo assassinato· frio
e cobarde, pela trahição negra e infame, pela
perfidiá satanica e conhecida e pela hypocrisia
refinada .e torpe.
O exemplo doloroso de Portugal e da Hes­
panha ahi está.
Os governos de todas as nações devem. abrir
os olhos e suffocar o mov,imento revolucionario
das 'lojas, ,s.ed�ntas cl_e ·:,angue e · de malvadez.
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70 .....
Os reis àão se julgam, matalii-sê, diz o'
ir. · . S'. St. AU!in.
Vejam, porém, os homens de responsabili­
dàde é de brfo; os . patriotas sinceros e lea'es,
todo o odio m'açonico votado á auctotidade pela:
«Besta» infernal.
E' a propria confissão da viuva de Hiram
falando pela bocca dos ir .·. illttmlnados.
«Um príncipe que nã-o tem reino a esperar
é uma bôa àcquisição para nós». Ha .muitos
neste caso. «Fazei delles F . ·. F. ·. Maç.··.,
Sê-virão de visco aos imbecis, ihtrigantes, cidá­
dãos e necessitados. Estes pobres principes setãd
um �nstrumento nosso, pensando que nós o so­
mos delles. E' uma magnifica taboleta.» (Cartas
á Venda Piem. - V. Monsenhor Ségur). ·
«Na realidade a F. ·. Maç. ·. descónfia dos
soberànos: tem-nos por suspeitos, não se fia
ne11es e façamos-lhe justiça, a maç. · . tem razão.
A sua consciencia não está tranquilla.» (Annaes
Mac. ·. dos Paizes Baixos, t. 5.0, pag. 226).
. «Todos os governos suspeitaram as tende·n­
cias politicas da Maç. · .. Todos adopta:ram para
com ella uma afütude de desconfiança>Y, .diz o
ir.·. Dumesnil, tedactor do jornal o Fr. ·.
Maç .·. 1852.
«A Maç.: . desconfia dos principes e tem
razão; os principes desconfiam da Maç.: . e
estão no seu direito; mas não desconfütm,
quant? devem, porque a Maç.:. _ de�testa-os: ella
Cdnsp1t'a éontr11 lê> seu poder e Jurou a sua
petdà,» («A Ftanc-Maçonatia e a Revoluçãd»; ·
Gautrelet, pag. 127) . ,,
«Em nome da republica, juro odio eterno
a todó's os reis, aristocracias.. .. » (PalavrâS do
ir.·: S. de St. Albin).
Póvós e, governôs do Brasil amado, levan­
tae-vos e co11ocae-vos em torno da bandeira
sagrada, em cujo lemma se lêm estas palavras
divinas:
Por Deus, pela Pàtri� � pe!a Religião t
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A!Religião e o Amor
A1 FAMILIA CATHQLICA DO l!RA�II..

Senhoras: A Religião, obra immorij.1 do


Rei Eterno, só vive e se conserva pura entre
os horrores da corrupção moderna pela simples
rnzão de ter nascido do Amor sem n;iancha
- Deus.
- Porque? perguntarão logo os espiritos
investigadores.
· - Porque, respondo-lhes eu, o amor per­
feito não morre e se identifica com a pureza;
a pureza com a Religião; a Religião .com o
am,or. A Religião vive µo amor. Não ha Reli­
gião ,sem amor. Não ha amor sem Religião.
Morto o amor, tudo desapparece.
Morta: a Religião, .si possível fosse, o amor
seria uma doce d1im.era. ·Pretender um·a .R.eHgião
sem amor é expor-se ao maior de todos os ri­
diculqs; é crer na .amisade .sem os ,affectos do
co,ração; é tentar o «vôo sem ter azas»; é pro­
curar . o riso, onde ,só existe o «pranto e o ranger
de dentes», na linguagem celeste da Escriptiua.
Acreditar tambem na excellencia do am.or
sem Religião é cahir no maior de todos qs
absurdqs; é crer na superstição do pensamento
s.em ·!l existencia da alma, na graQdeza da jus­
tiça sem. a idéa de De1,1s, no heroismo da fé
sem o sobrenatural.
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Vê-se, portanto, que são cousas inseparaveis


a Religião e o amor.
Eu só falo aqui do amor digno deste no­
me. Ha uma grande differença entre o amor
que ennobrece e o amor que rebaixa: é a mesma
que existe entre as bellezas da fé e os estigmas
do vicio; entre os lyrios ·da pureza e as chagas
da deshonra; entre as doçuras. da amisade e as
amarguras da hypocrisia; entre os esplendores
dà Religião e a frialdade desoladora do beijo
de judas; entre os encantos da virtude e o deses­
p�o da duvida; e,ntre os canticos incomparaveis
das virgens 'e a canção impudica das almas apo­
drecidas; entre a,s luzes dó céu e as trevas do
infen10.
O amor vive da' luz, di pureza e da fé.
A Religiãq vive do amor; da belleza e dõ mys­
terio 'consolador. O amor aperfeiçôa; a Religião
sanctifica; o amor crea o heroismo; a Religião
faz surgirem os martyres; o amor eleva-se; a Re­
ligião adora; o amor penetra no cor/lção; a Re­
ligião vive lna intelligencia; o amor derrama la­
grimas que consolam; a Religião crea o poema
da resignação que· salva; o amor canta doce­
mente num berço de anjo; a Religião. divinisa­
se na sublimidade dos extasis. Emfim: o amor
é immortal; a Religião é divina. Quem diz· amor
diz R�ligião ; quem diz Religião diz amor. O
primeiro ·e o maior de todos os ·mandamentos
da nova lei foi o amor.
, «A palavra de Chr-isto, diz um notavel
escriptor, captivou a humanidacle, porque sahia
do coração «que tanto amou aos' homens». A
Igreja, independente das promessas di·vinas. é
indestructivel, porque a sua caridade é inexhau­
riveJ. Quem ama é amado, quem é amado é
seguido por onde quer 'que :vá, no cunie dàs
montanhas e na profundeza dos abysmos; no.s
esplendores do heroísmo e ás vezes 'ah! na
baixeza · de todas as ignomínias.

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A seducção suprema é amar; a, seducção
divina é amar sem interesse. (l)
O amor só é digno, elevado, puro, forte,
generoso, quando se baseia nos sãos principios
do . Evangelho, que é, segundo F. Coppée, «o
unico livro .. onde se encontra' uma resposta para
todas as amarguras do coração humano».
Fóra do Evangelho todo o amor é lama,
hypocrisia e revoltante cynismo. Vêd-e o que se
obs.erva ✓ no mundo. A historia do amor christão
é admiravelmente soberba: a do amor sem Re­
ligião é tristemente desoladora. O amor virtu�so
é desinteressado, firme, perseverante, heroico, a-1n­
to, invencível. Vêde a.gora o seu valor \Obre­
humano.
Quem, s,inão o amor das .cousas grandiosas
e- sublimes, dá força e coragem. aos martyres
do Christianismo, para confessarem a fé no
meio das agonias sangrentas da morte e em
presença dos furores das féras humanas? Quem,
sinão o amor das virtudes excelsas, illumina a
alma candida das virgens christans, para guar­
darem intacto, em face de tanta molleza e po­
dridão das sociedades pa:ganisadas, o incompa­
ràvel thesoUro da castidade, a flor do Evange-
1 ho, o sorriso de Deus, o poema da vida, a
perola. do ma,is subido valQr? Quem, sinão o
amor fecundo do Evangelho, dá á esposa christan
.a força niysteriosa para supportar, resignada e
forte, o peso de sua responsabilidade e dos de­
veres de seu estado? Quem, sinãó o amor im­
mortal, ·sustenta em pé esta heroina do lar,
quando, por uina d'essas torpezas sem nome
do coração humano, vê profanada a santidade
do throno nupcial? Quem, sinão o amor elevado,
enxuga as lagrimas ardentes . d'esta alma amar­
gurada? Quem, siinão o amor perfeito,_ lhe apre-
( 1) Henrique Bolo, «Os Casamentos Abençoados» trad.
por A. 3. S. Paulo, 1906, 1� çd,,
. cap. «O Apostolado Cop­
. . . . . . '
jugal», pag. 156 , 1�7.

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t
sêhtâ as cõnsdlaçôes da fê, para' acceiitar ó mar­
tyrio de sua dôt' sublií:ne, êonservaildo�se fiel· e'
pura? Quem, sinão o amor, do Alto, transforma
o homem nuril ministro do Deus Eterno? Quem,
sinão esta scentefüa divina, o faz tão forte e
tão invencivel, tão glorioso e tão sobrehumano
no cumprimento dos seus deveres, quando lhe
arde no peito o fogo celeste da caridade?
Quem, sinão o poder do amor divino, o faz
s·orrir em face do martyrio e da dôr, da· ingr,ati­
dão e do opprobrio? Quem, sinão o amor da
imibortalidade, o conserva sempre d� pé para ó
cumprimento dó dever sa�rado? Quem, -sinão o
amor,_ remunerador, lhe da uma coragem supre­
ma para salvar uma alma, onde .quer que esteja?
Para conqujs-tal..a ao seu Mestre e Senhor,
elle supportará os ardores de um sol de . foge,
as: tr,istezas· de noites cerradas e frias, os furo­
•res de tempestade�- horriveis; não temerá os pe­
rigos inevitaveis, as des�raças tremendas, os
suor�s da morte; estará a cabeceira dos mise­
raveis . e dos agonisantes, dos pequenos e dos
humildes.
Quem, nestas occasiões, dará ao padre tan­
to heroísmo? Será o mundo? Impossivel - e
cre-lo· seria uma: loucura sem nome.
O mundo é St'!mpre iniquo e trahidor, in­
grato e deshumaito.
- Elle despresa torpemente os beneficibs da
Cruz·, os prodi,gios da graça, o. sangue divino dó
Calvari-o, não reconhece os milagres da caridade
christan, ri-se das agonias do Horto, dos mar­
tyrios. assombrosos do Redempt�r e das amai::gu­
r,as inenarraveis da Mãe dolorosa. - Eis aqui à
imagem do mundo� Toda a sua historia é despre­
si-vel. Impenitente e cego, frio e abominavel, in­
digno e baixo, • negro e mesqti.inho, o mundo só
sabe odiar e· blasphemar, chegando ao delirio
supremo de i'njuriar ao proprio Deus.
Rei eterno da vida e da morte, Senhor
absoluto de todas as cousas, fonte perenne de

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toda a luz e de toda a paz, de todo o amor
e de toda a doçura, Jesus-Christo, distribuidor
das bençãos maiis copiosas e das graças mais
extnordinarias, é comparado pelos judeos e es­
-cribas, imagem perfeita do mundo, a um cri-
minoso vulgar.
,E' a recomp-ensa da terra.
Mas Jesus, que . não esperava . a sua re­
.cOmpensa aqui, . neste baixo reino, pois lhe .sabia
toda a podridão, levanta os divinos olhos para
o Céo e pronunoia a palavra salvadora: Sitio!
- Tenho sêde !
E' a vktoria do· amor, a palavra da �r­
<.lade, o suave mysterio do perdãó.
Onde, ó alma minha conturbada, foi r; Di­
vino Mestre encorajar-se?
- No fogo do celeste arnor - respondem
todas as almas que adoram o Christo invenci­
vel e caminham, resolutas, em busca do «Cal­
vario redemptor». Só o amor de Jesus-Christo,
amor de immortalidade, de que só as almas an­
gelicas e os co,ra5ões puros podem comprehender
os esplendo,res, e capaz de todos os heroísmos.
Por que as almas christans e virtuosas não
desanimam nunca? - Porque só sabem amar
o que é digno de amor, porque só olham para
o· Céo e despresam a terra, porque só creem
na Verdad� unica e sabem odiar. o erro e a
hypocrisia. Só assim se explica a existenda de
virtudes sublimes no meio de tanta corrupção e
o segredo de tantas dôres supportadas com o
ris.o nos laibios. Só ,, Jesus póde triumphar deste
modo, só Elle reina docemente nos corações e
nas . intelligencias.
O -mundo nunca teve uma palavra de· applau�
so ou um gesto de grratidão para as almas bem , ­
fazej as que v,ive'm a derramar bençãos e luzes
,em toda pairte. E, embora desdlludidas . do
mundo, ,que não reconhece os seus beneficios
e lhes .offerece .o grande calix amargo Cilas in-

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gratidões, continuam sempre a sua missa.o glo­
riosa de propagar o reinad_o da virtude.
Quem, no desamparo da sua dôr, as illumi•
na e fortalece, transforma as suas amarguras
em alegrias santas?
- O amor de Deus e só exclusivamente o
amor de Deus, - luz suavissi'ma que tudo ·san-
tifica e salva.
E' o mruis sublime e doloroso mysterio · da
vida. . .
O amor que se não separa da Religião
é o unico que satisfaz o· coração humano, que
é :firme na adversidade, que é forte nos gran�
des transes, · que é admiiravel nas horas so­
lemnes e graves, que é soberbo nos momentos
das àesmusões tremendas. _
Quereis comprehender o amor forte e, o seu
herois,mo? - Vêde-o ,melhor no ministerio sa­
grado .e depois no sanctuario do lar. - Então,
admirar-vos-eis da sua grandeza inegualavel e
nunca mais duvidareis de sua virtude excelsa
- e por que não? - divina.
Eis aqui o Padre em pleno exercido de
seu ministerfo sagrado.
Quando o amor das almas arde em seu
peito, nada o detem : nem as calumnias do im-
• pio, nem os vomitos do. inferno, nem o fogo
das perseguições, nem os sarcasmos da descren­
ça, nem os furnres do despotismo, nem as amea­
ças dos Cesares, nem o. ·horror das prisões,
nem os incómmodos do frio, nem as infamias
da ,imprensa trahidora; nel)l· os golpes crueis
das ingratidões, nerh a insegurança do momento,
nem as agonias· da morte inevitavel. O amor
.que se levanta para o alto, para Deus, não póde
temer o mundo. - Eis o divino segredo do
seu heroísmo. ·
Fosse sempre essa a noção do amor, com­
prehendessem melhor o seu valor sobrehumano
os que profanam este nome sagrado, o mundo·
não assistiria, desanimado e triste; '•ás scenas
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ptmgentes do amor ludibriado. O amor vive
tambem do sacrificio e da dôr, da fidelidade
e da honra:
Vêde · a.gora a h,istoriá do amor. heroico
110 ·1ar, quando se vê ferido nos · espJendores de
sua pureza.
E' a.dm.iravel a sabedoria de Jesus-Christo
na dJvina instituição do sacramento do matri­
monio, unindo dois corações durante toda uma
existencia abençoada _pelo Céo. E' a instituição
do Iair chr,istão, o culfo do verdadeiro amor con­
jugal, a magestade da familia, a pureza da :,e­
lig-ião nup.cial, obra exclusiva do Mestre unice
e infallivel - Deus.
Mas, ó tristeza indefinivel!, tambem o -tamor
conjugal iem o seu lado triste e cruel, quando
a Religião é despresada. · - •
Onde a fé é morta, o amor- desapparece.
Lêde agora a pagiina triste de um lar, on­
de um dos seus chefes não sàibe pronunciar o
nome de Deus. ·
Um dia, ó dia de doce e amarga recorda­
ção!, um joven bate á porta de um lar christão
e feliz, honrado e glorioso. Este mancebo en­
cerra em seu coração grandes mysterios. Em
seu sem�lante se veem o frescor da mocidade,
os traços de uma belleza rara, maneiras dis­
ti nctas, porte elegante e seductor. Agora se
a.ccende em sua alma apaixonada· de ,moço o· fogo
do amor, · quer um coração amigo pàra nelle
depo;;;Jtar as suas amarguras e desillusões, quer
tornar-se logo um homem forte, embora não
saiba onde encontrar o segredo d'es!;a fortaleza
christa.n, pois nunca ouviu falar em Deus, fonte
de todo bem e de toda luz.
Pobre moço, sem •ideal e sem crença!
Pobre e desgraçada donzella que, nuin mo­
mento de irreflexão, decide a,bandonar o ninho
paterno em busca de uma felicidacte onde Deus
é. descoriheoido !
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'
Mas acompanhemos os dois jovens em seus
primeiros passos.
Vejamos o seu martyrio, as virtudes heroi­
'Cas ·de· um mesmo em face de dôl'es cruciantes
e as fraquezas criminosas do outro. A sahida
de · um ente extremeoido do lar é sempr.e dolo­
:rosa. Os paies veem desprender-se de seus . bra­
-ços· a .filha adorada, objecto de grandes e
sinceras affeições. Só os paes christãos amam
verdadeiramente. Só elles _comprehendem a nobre
paixão do amor . casto. Só, elles sabem sentir o
gc,ipe da separação de uma fülha piedosa e bôa.
Só elles sabem dar o valor devido rá . pureza an­
g_elical de uma alma eleita.
;;,Como separar-se, pois, da companhia do en­
te queridíssimo, pedaço de sua alma,, fructo do
seu amor?
'beixair sahir do lar uma filha terna, forma­
da na escola da honra e do dever, do amor e
.da fé, é um golpe decisivo para um coração
de paie e uma espada de dôr para um coração
de- mãe.
Mas o amor exige o grande sacrifício e é
necessario cumprir o dever. A esperança de
ver a filha sempre feliz no seu novo estado traz
aos paes um balsamo • para suas dôres. . E' a
luz da fé que tudo dulcifica.
Sahe, então, a filha do tecto · amigo.
Veem-se lagr-imas ardentes, abraços affectuo­
sos de irmãozinhos que-ridos; bençãos e beijos
de uma mãe em prantos; ainda bençãos e abra­
ços· de um pae extremoso; - é bello assistir a
um espectaculo tão emocionante e grave.
E assim, abençoada e feliz, segue a joven
em direcção de um novo lar, acompanhada por
seu esposo que, si não fôr virtuoso e crente,
lhe ha de amargurar os dias, outr'ora 'tíj":o cheios
e felizes.
Penetra, finalmente, a tímida dánzella · na
estranha morada.
As primeiras impressões são des,J.umbrante-

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mente encantadoras. Em toda, . parte d'esfe pe:-­
queno imperio que se· chama «lar» tudo são. ri-­
sos- e flôres, poes,ia e amor. Os dias correm:
ser-enos, as horas passam Hgeiras, como tudo
que é terrcestre. Reina, a principio, urna harmo­
nia admiravel, porque, actualmente, só ha uma
vontade.
Dir-se-ia que o anjo da felicidade baixou
suas azas protectoras sobre estas duas almas.
Mas, durará todo esse idyllio até o ultimo ge-
mido de ambos? .
Si Deus fôr ahi conhecido e adorado, si lllo
amor que ligou estes corações foi buscar o seu
principio na Divindade, não haverá uma só la-
grima. . })
«O amor ex,ige um idolo, escreveu um emi­
nente publicista. O principio do amor é divino:
e por se-r - divino o seu principio ell-e é "natu­
ralmente I subHme, quando puro, espantosamente
·poderoso, quando transvfado. O termo de todo
o amor é De:us, ou alguma cousa de divino. A
mais alta tendencia do amor, que é a santidade,
atira, effectivamente, a alma dos previlegiados
da graça na substancia .divina como num abysmo
que as attí-áe violentamente.» Com . effeito: só
a Religião christan faz as almas fortes, só ella
faz o am_or profundo e inabalavel, doce e ener­
gico; só ella crea o verdadeiro "lar, o lar. feliz.
Exclui a Religião e eis a supr-ema desillusão,
- o abysmo pavoroso. Estes jovens, que, ha
pouco, julgavamos ,felizes, acham-se divorciados­
pela crença. E' a primeira desgraça, ou, melhor,
a suprema miseria. Esta donzella vê agora
a sua fé amesquinhada çl.entr0 do propdo lar.
Existi-rã dôr igual !
. Ha esposas christans que fizeram o sacrifi­
cio . de sua mocidade e de sua vida a homens
sem fé.
Estes. homens calcam aos pés a dupla re­
ligião: a do baptismo e a do leito nupcial.
Fazem pesa.r sobre a· esposa a dupla ·solidão:
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a_ df alma e a do coração. Precisam de dupla
conversão: a · que reconduz a Deus e a que
leva á fidelidade jurada. A situação é assaz do­
lorosa; reclama uma dedicação por demais su­
blime e prepara resultados muito consoladores,
para não haver demora.
A' dôr de não viver nessa ·communhão de
adoração e de crenças, que faze_m as amisades
profundas, accresce geralmente a tortura do
abandono criminoso.
, Depo•is de ter decahido diante -de Deus, 6
h-vmem não pódê. guardar por muito tempo, á
sud esposai esta estreita I e fragil sympathia, · li­
mitada e sustida apenas pelos m!iseraveis egois­
mos .,da carne. Uma vez que. se desertou o altar,
um dedive natural. leva a trahir o lar. E ha
hoje , tantas mulheres que se acham irrevogavel­
mente ligadas a semelhantes homens!
Um interesse, uma paixão, um calculo infe­
liz, um erro, consummou a dolorosa alliança da·
morte com a vida, da fé com a blasphemia,
do rafo luminoso com a lama. Um·. queima o
que a óutra adora; esta venera desde as pro�
fundezas de sua alma aqumo de qµe o outro
escarnece na .flôr de, seus_ Iabios scepticos.
E vão' ambos atravez da vida, sentindo ca­
da vez ma!is cr�scer entre si a distancia fatal,
o aibysmo profundo. A divergencia dos pensa­
mentos prepara o afastar dos corações. Unidos
perante os homens, estão, como que separados
diainte de Deus.
Desconhecem a intima alegria das orações
que confundem o ba.Jbuciat de ambos, ignoram
a felicidade sobrenatur.al de se ajoelharem jun­
tos. Elia se encontra sempre só diante do al­
tar, onde fôra tão feliz no dia em que lá es­
tavam os dois. Senta-se só, como se fôra viuva,
ao celeste banquete; e quando seus olhos so­
nhadores se perdem na distancia dàs pespecti­
vas etei;nas, vê surgirem, ao lado de suas es­
peranças ma!is queridas, terriveis e espantosas
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- 81 -
ameaças para aqúelle que, apesar de tudo, ellà
quizera sempre amar. Ter sahido · de uma .casa
onde reina,va o divirto Mestre, haver deixado uma
mãe, em cujos lahios se achavam todos os
d-ias · as - orações balbuciadas desde a infanciá;
um Iam- onde a Providencia era abençoada, ama­
da, visivel ; oride a · communhão dos santos ar­
dores approximava maravilhosamente as almas;
onde o sig'rta.l de todas as hstas era dado pela
fé; onde as tradições christãs animavam os in­
ríocentes folguedos e os jubHos do· passado;
ter vivido . de tudo isso; ter com-o que em'Be­
bido de perfumes, a · alma de moça, e depois,
na l!_ora da vida grave, dos deveres sagr5tdos,
das · inquietações maternaes, ver «o Oeus de sua
mocidade e de sua alegria» · (2) tratado com'o
extranho ou como inimig.o em seu lar, ver, uma
nuvem impura de incredulidade ou de odio
velar o sol, á luz do qual elJa havia desabr.o­
chado, sentir no intimo não sei que doloroso
divorcio· entre a fé de sua alma e o amor .de
seu coração, não é talvez o mais subtil e o mais
doloroso dos martyrios?
Soffre-se para desprender os sentidos dos
bens deste mundo; soffre-se • ao sentir a alma
abandonar o corpo, ao morrer. Que dizer destíl
separação que parece despedaçar a· propria
�ma�
· São assim os gcilpes da· impiedade: ella é
eminentemente cruel e hypocrita, ,porque des­
presa cynicamente a moral religiosa, sem a qual
é irripossivt!l a familia.
«O homem sem bons costumes é vH, o es­
poso sem bons costumes é cruel». A amisade
ca.sta, filha da Religião, tem rasgos incompara­
veis. A esposa. christã tem, ás· vezes, o seu cal­
var-ia no lar.
Elia soffre resignada e pura. Fiel ao Deus
de sua primeira communhão, prostradá · aos pés
(2) Ps. XLII - 4.

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--'- 82 -
ela! Mãe- Cc-leste; tião foge da Cruz, nem aban­
dona o esposo crueL Elle póde blasphemar e
negar, lancear o coração da esposa desolada,
mas não, é possüvel arrancar-lhe a fé i,-;alvadora.
' Pobre alma de esposa! A sua dôr sublime
é· um clarão, porque a dôr, iilluminada pela pe­
nitencia; enriquecida pela graça, tem a poesia
das- orações da infancia, que encantam, a doçura,
das; lagrimas, que oonvertem. A esposa martyr ri
e, chora aio mesmo tempo. «Tambem o pranto
sorri; tamhem o riso chora». As almas eleitas
sãJ, todas filhas. da · dôr. Onde houver o esplen­
dor d.as grandes virtudes, a sublimidade das
aeçõr� santas, a eloquencia das amisades sadias,
ahl! a d:ôr exerce o seu ministerio. A mulher
fome não desespel'la e ama sempre .o companheiro
i�cueoolo, alimentando, no recesso de sua alma,
a, esperança de ve�lo um dia convertido e bom.
Na belleza de sua vfrtude/ na pureza celestial
de sila fé, nos esplendores de sua esperança, nos
braços. de sua cntz, a mulher christã illumina-se.
Chora, é verdade, mas são lagrimas que purificam.
A lagrima christã é um balsamo e uma
prece.
· Preparada pela - dôr, forte pela Religião', a
mulher tudo soffre. A candura de sua alma é
o seu unico thesouro, a fé o seu alimento, o
amor de Deus é a sua luz, caminho e vida.
Amará . sempre seu' esposo até o fim, porque
acima de tudo só vê Deus.
Onde se encontrará tamanho heroísmo, ó
philosophos da incredulidade, ó apostolas da
corrupção?
Só o · amor virtuoso é sublime. Só elle
supporta os. golpes da desgiraçà, o amargor da
ing,ratid'ão. Só ell� é firme.
*
* *
Donzellas chrii.stãs, attendei. Só Deus póde
crear o amor forte,, amor que se não , confunde
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- 83 -

çom a lama. Levantae os olhos para Deus, con­


fia,e na · sua , providencia e cobra.e animo. Sêde
corajosas. Não vos deixeis illudir.
«Existe uma belleza nefas,ta: não sei que
philtro fatal, elaborado pelo inferno. Ha uma
belleza divina, que vem do Alto: um raio
engendrado pela g,raça e cujo reflexo está na
virtude.
{)ma e 9utra belleza,, a falsa e a verdadeira,
.irradiam sobre a materia em cambiantes varias,
de sorte a fascinar ós olhos do homem: urna
para dar as vertigens da morte, outra pua
inebria-lo de prazeres que não passam nem en-
ganam.» . . "
A belleza sem virtude é hypocrisia. O amor
sem fé é chimera. A hypocrisia é a lama, a chi­
merà é o nada. Toda a hiistoria de 'um lar, sem
Deus é um só gemido. Os seus soffrimentos
secretos são ,indescriptiveis. Onde não .existe
Deus é impossível o riso puro e c,onsolador.
Ainda uma vez, attendei, donzellas christãs. Só
uma alma crente póde amar no abandono e na
dôr, na fome e na abundancia, nos prazeres e
nas lagrimas.
Já vistes o espectro· do lair incredulo. E.vi­
tae o monstrengo. Sêde m,ais uma vez corajo­
.sas. Tendes o direito de exigir um ám.or crente
e sincero, que só· -existe com a fé. O l,acra..
mento do matrimonio é uma cousa santa -e .ad­
mir,avel, instituído por Jesus-Christo, centro ,de
toda luz, para abençoar do�s en:Íes . por to.da
uma e.xistencia.
Que se exige, . porém, para a recepção do
grande sacramento?
- Só o amor - respondem todos.
-- Sim, é uma verdade incontestavel. Mas
este amor só -é amor, si Deus fôr o seu prin­
cipio, do contraido seria uma illusão. O amor·
nobre e christão encerra tudo: amisades JOO!llras,
affeições sinceras, dedicações· ,virtuosas. Mas
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isso só- durará, si Deus presidir a . tudo. Quem
descreverá, .então, a grandeza de um lar christão?
Ahi 'h.tdo respira um · suave perfume. Esposo
e· esposa, filho e filha, irmanados pela crença,
adoram, juntos, um mesmo Deps.. Vivem da
mesma fé: do mesmo amor, da mesma pureza.
A Religião é ahii respeitada e querida; a pala­
vra do Evangelho é ouvida; Deus é chamado
a cada hora; a Mãe purissima é reverenciada;
a virtude· é abraçada; os Santos são invocados.
D' ahi nasce esta poesia · perenne: os esposos
a"jlam-se tanto na dôr como na .alegria, os fi­
lhos amam os paes com o ardor das grandes
conviicções, guardando no peito uma obediencia
reSpliitosa e santa, uma forte e nobre amisade
que faz a doçura do lair e o orgulho dos paes.
· Po•r que estas almas são felizes tanto quan­
to • é" possivel aqui na terra? ..
-'-' Porque amam a Deus!
O amor casto é -indesttuctivel, é eterno.
Deus é a caridade e a caridade é o amor.. O
que ha de mai. s sublime no mundo é , obra
d'esta chamma sagrada.
, Vêde ainda os claustros e os hospitaes es­
palhados em _todo o mundo. Por que tantas al­
mas, em pleno verdor da mocidade · ardente e
enthusiasta, deixam as seducções do seculo, as
suás festas e os seus tr-iumphos, para se reco­
lher á solidão? Por que vivem noite e dia nos
hospitaes, em contacto com os pobres e desher­
dados da fortuna? Por que só vivem para lhes
dar luzes. e re-meclios? Por que supportam, hu­
mildes e alegres, dôres cruciantes, ingratidões
sem nomes? Por que não recuam diante da· po­
dridão do coração humano? Por que preferiram
uma vida de sacrifícios inacreditaveis aos pra­
zeres mesmo J.icitos do mundo?
- Porque amam a Deus !
O amor é sempre divino em todas as suas
manifestações. Quando elle se desvia não é
amor:. é hypocrtisia, é impiedade, é crime. Onde
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- 85 -
estiver o amor nobre, ahi vive a Religião.
Não ha Religlão sem amor. Não ha, amor sem.
Rel.igião. Mo.rto o amor, tudo desapparece.
Morta a Religião, si possivel fosse, o amor
seria · uma illusão.
O maior mandamento da Lei Nova é o
amor. Amar a Deus sobre toda,s as cousas e ao
proxímo como a nós mesmos - eis aqui a lei
suprema. Quem ama a Deus em espirito e ver­
dade faz tudo que é necessario para obter o
grande premio: o reino dos . Céos. ,Só aquelle
que faz violencias ás paixões e abandona a s,,a
voz póde ser virtuoso. Em sendo virtuoso sa6e
definir o amor. O· impio não comprehende esta
linguagem do Céo, porque não crê e só tabe
blaisphem.ai;.
Almas, sêde reliigiosas e sabereis elevar o
amor á altura que elle merece. Agora guârôae
no sacrario do coração esta palavra immortal:
não· ha Religião sem amoc, não ha amor sem
.�eHgião.

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O problema da clôr
A(! ·PADRE SEVERINO RAMALHO, ORA·
DOR E JORNALISTA.

«Dae-me, Senhor, a comer o pão


de lagrimas, e a beber· em abun­
danâa a agua de meu pranto.»
(Psalmo XXIX)
Toda a historia humana tem· sido até hojt'!
uma só pagina de indiziveis soffrimentos e de
agonias inenarraveis.
A deso-bediencia do primeiro homem ·-· he­
rança terrível e angustiosa, - foi, sem duvida,
a origem �a nossa dôr e das nossas lagrimas,
do nosso abandon-0, e do nosso cançaço, da nossa
fraqueza e da nossa miseria, do nosso crime e
da . nossa paixão - justo e reparador castigo do
primeiro e tremendo delicio.
Para a desobediencia, filha da mais negra
ingnitidão, só a dôr, que é o grito eloquente
e sincero · das almas puras, poderá acalmar a
justiça indefectivel do Deus unicp e verdadeiro.
O preceito divino, pr_omulgado por Deus no
paraisr. terrestre, foi !ransgredido pelo homem
em um momento de incrível fraqueza; - é
justo, pois, o cumprimento da divina e irrevo­
gavel sentença, expressa pela vontade amantis­
sima do Pae celeste, falando pela bocca do
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- ,,, ......
psalmista: «Convém que, passes pôr fogo e por
agua, antes que chegues ao togar do descanço.»
Já está prnnunciado o· decreto clivino.
Fraquezas do coração, soffrimentos do cor­
po, dôres, angustias, suspiros dolorosos, pecca-
dos, lagrimas, miserias, injustiças, calumnias,
desesperos, trahições, desenganos, amizades cri�
minosas, palavras fementidas, prazeres fu:gitivos,
honras ephemeras, ingratidões sem nome, rique­
zas caducas e assassinas, glorias transitarias, in­
constancias humanas, desillusões t.remendas, aban:..
dono, invejas, ciumes, ·rancores, endurecintentol
d'alma, descrenças, duvidas lancinantes, vaida­
des, orgulho. e opiniões arraigadas, -- eis o�ºª"'
minho longo e doloroso por onde o homem fará,
a viagem indispensavel cipara a casa de· sua
eternidade». . , '
A dôr foi o unico patrimonio dos secufos
passados e será tambem o do ultimo dia dos
tempos.
,. A dôr é, incontestavelmente, o maior e o
mais assombroso de todos os problemas humanos.
A philosophia nada adianta e a. sabedoria
do seculo confessa sua impotencia.
As escolas e os systemas, fructo, · d:a de&'­
crença e do orgulho scientifico, guard�m um si­
lencio eloquente e significativo.
A humanidade, p0rém, em· sua Iingu:agem
dorida. e lacrimosa, continua, atravez dos sectdos
e das idades, a rnysteriosa pergunta:
«Porque a dôr ?»
*
' "" *
«Porque - a �dôr ?»
Eis aqui uma interrogação, -alma: christã,
interrogação ·terriy.el e sobrehumana, que tem
desafiado o pe'dantismo dos seculos• e emmude­
cido a voz dos sabios e dos philosophos, a1:heu:s,
deixando, em toda •·parte,. duvidas e gemidos,
para os infelizes sem crença e sem ideal.
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<<Porque · a dôr ?» «P,orque, se Deus é bom ?»
Monsenhor Bougaud, bispo de Lavai, dirigiu,
um • dia, esta pergunta a um ancião que lhe
disse:
«Precisamente, meu filho, porque Elle é boni.»
. .«Quasi me revoltei, ao oúvil-o, continua o il­
lustre prelado; hoje já não me revoltq_; mur-
muro apenas: «Talvez!»
. Sim, alma christã, a dôr, este gritei pene-.
trante de um coração enfermo é, sem duvida,
uma prova imtnensa e inatacavel , da bondade
�Ivina.
Os impios estremecem diante desta affir­
mar�o, '. os descrentes ficam aterrorizados, os
fracos esmorecem e os ·tíbios empallidecem.
E, (cousa admiravel !) nesta angustia horri­
ve�, , a misericordia de Deus se patenteia clara-1
mente aos olhos dos tristes «caminheiros da vida».
A dôr é um aviso do alto.
Quando o homem, esq1,1ecido do seu destino
immortal,. entregue cegamente aos gosos epheme;;.
. ros da vida, emmaranhado em mil negocios ex­
travagantes, preso a todos os caprichos e> pai­
xões ardentes, inserisivel a todas as amarguras
de seus irmãos, embriagado pela febre d·as gran­
dezas e dos triumphos; .alheio aos interesses su­
premos de sua consciencia, vae se afastando do
caminho que o leva á «casa de sua eternidade>>,
vem, então, a dôr despertai-o do som no fatal;
e apontando-lhe o caminho da vida immortal,
traz ao seu espirita conturbado a sabia reflexão
de que nesta terra da mentira e do peccado' a·
alma não encontra cousa alguma que a satisfaça,
nem a «agua da vida» que' poisa saciar sua
sêde, nem goso que encha o êeu coração.
. E' a vo,z de Deus falando4he do paraíso
da vida eterna, pelo soffrimeIJto, pela amargura,
pela decepção é pelo desengano· de caducidade
das glorias impuras deste valle de lagrimas.
A dôr fala do esquecimentp dos deveres e
lembra a necessidade da virtude.
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- 89 -
. ... . .
Quein amá verdadeiramente uma creatura,
,,

vendo-a em perigo, para salvai-a emprega todos


os esforços.
Em certas circumstancias os meios são dolo­
rosissimos; entretanto, ninguem os r�prova, sob
pena de passar por insensato.
O já citado Monsenhor Bougaud apresenta o
seguinte exemplo: «Está doente uma creança_.
Sua mãe, tomando-a nos braços, apresenta-a ao
cirurgião, que com · o bisturi · vae operai-a. A
creança, a gritar, repelle o medico. Quem ou-,
sará dizer que esta mãe não é cruel? ,�
Talvez o filho o diga, num º accesso de dôr.
Mas quem ,contempla a scena, m ais se compade-1
ce ela mãe do que· da creança. O amor matt!rnOI
é naquelle instante- cruciantemente torturado». (1)
Para· o restabelecimento do filho, fruct9 .,da
união sacramental e do amor sem mancha, a
mãe chega ao sacrifício heroico · das grandes
virtudes e das acções quasi sobrehumanas.
No trabalho divino da resurreição espiritual
das almas o amor de Deus faz tambem cousas
inexpHcaveis, - ·dando Jogar a milagres as­
sombrosos e incomprehensiveis.
. E · Deus, que é o Mestre de todos os mes-.
tres, o Sabio de todos os sabios, o Medico de.
todos os _medicos, purifica e restabelece a. almá
enfenna, por meio das lagrimas, gemidos, dôres;
arrep.eitdimento, acord;mdo-a do torpôr das pai­
xões e afastando-a do . «ruido das festas e da,
cónvulsão dos vícios».
Eis aqui uma das razões divinas da dôr,
lembrando ao homem a sua immortalidade, o
paraiso celeste; - reino da vida, do descançO:·
e da paz, que o mundo desconhece e odeia. .
lia _outras razões e motivos da dôr, Q
grande dogma consolador das almas crentes
� .resignadas.
(1) Mons. Bougaud. A Dôr, pags. 9 a 10.

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Os benefieios da dôr
A FRANCISCO BUSTAMANTE1
CRITICO DE NOTA.

«<Jue .sabe àquelle que nunca /oi


provado?»· (Eccl: cap. XXXIV-9.)
.Par.a as almas afflictas, sequiosas de luz,
re 'de verdade, para os desgraçados sem fé e
· sem esperança, para os corações enfermos e fe­
ridos por todos os soffrimentos e amarguras
·sem nome, para os espíritos "desfallecidos e con­
. turbados, pobres e âesamparados peregrinos no,
il}lmenso deserto da vida agitada de um ,seculo
em decomposição é .que escrevemos estas paginas
_sinceras e amigas, - fructo de uma reflexão
Jonga e verdadeira, tentando, deste modo, levar
.ao .seio do mundo .e .da sociedade moderna um
· bidsamo para suas dôres, . um remedi o para seus
_gtmidos, .urna luz .para as suas duvidas e receios.
O ,g-r.and!! ·problema_ da dôr, companheira ín­
separavel e profundamente .amarga, na viagem
.para o infinito, vem atravessando todos os se­
." cult;is .e •Í<i>.das as idade.s, todas as raças e todas,
,.,as n�ções, levantando, s.em interrupção, na anda
supi;erna de .. uma resposta cabal, a pergunta
. unic;a . e quasi soôrelwmana: Porque a 'dôr?
,A humanidade contin-úa em presença de -sce­
nas repugnantes e torpes, de crimes monstruosos
e inauditos, de attentados da peior especie, de
injustiças tremendas e revoltantes� de hypocri-
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- 91
sias perfidàs e assassinas, de trahições niegras e
diabolicas, de mentiras cynicas e cobardes, de
miserias sem limites, de agonias interminaveis,
@ dôres lancinantes e horríveis, de paixões infa­
mes e violentas, de Iagrimas desesperadas e in­
explicaveis, interrogando, dia a dia, aqui e alem,
a razão de sua maldição1 � e o que mais fere
a alma, - pedindo um termo final a tantas
desgraças, sem querer, no emtanto, abandonar a
estrada larga, com moda e crirninosa, idolo · dos
cegos d_a Esqiptura e dos perdidos, - e _seguir
o caminho estreito, sem as flôres e os encantàs
do mundo, - suprema salvação das alma�
fortes, puras e regeneradas, que ainda proc1u-am
a «verdade e a vida».
E' a noite · tenebrosa do espírito e a «nora,
do poder das trevas». (S. Paulo). , •
A dôr sem consolação e sbn esperança é
a maior de todas as desgraças e o mais pro­
fundo de todos os abysmos.
O impio termina no desespero e nas ul­
timas agonias das blasphemias assombrosas, cas­
tigo tremendo e· inevitavel da justiça in9efecti­
vel · .do Deus de luz e de verdade...
«Porque a dôr, a lagrima, a miseria, o
abandono, a desconfiança, o desalento?»
Porque, ó grande Deus, � _tão forte e 'pe-
sado o golpe· da justiça do céo? ·
- Precisamente, ó homem, diz o anjb da
dôr; porque o Pae celeste é infinitamente mi-·
sericordioso e adoravel.
. � Será isto possfvel, meu Deus? -- geme
o moribundo, sob o pesô 48 um jugo terrivél
e de um captiveiro longo e penoso. A dôr
será um dôs caminhos mais seguros para a
reconciliação com o CTeadôr?
Sim, alma infeliz e deso--ente, continúa o·
anjo da d6r, ·
*
* *
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- 92 --

Vamos, viajores do deserto, levantar a ponta


do véo e veremos, de longe, já um raio. de
luz e : de esperança, derramando as mais do­
ces e- suaves consolações no coração da huma­
nidade que soffre.
· E' o grande beneficio da dôr.
Os innumeros negocios d9 seculo, os capri­
chos. criminosos da fortuna, a febre das . gran­
dezas, a tentação irresistivel das riquezas, a
embriaguez dos luxos e dos vici9s estrondosos,
os desejos impuros dos gosos faceis, o delirio
dds poderosos em pleno esplendor de scenas des­
lumbrantes e luminosas, os applausos dos domi­
nadqres do momento, os brilhos da sociedade
em festas ininterruptas e seductoras, os exces�,
sos da abundancia ein presença das agonias do
pobres e do mendigo, as posições· commodas e
brilhantes, - eis aqui o abysmo pavoroso em
que se sepultam os chamados felizes do «reino
deste mundo», creados para a luz que nunca se
apaga e para a verdade que sempre consola,
No meio destes tri�mphos, na cegueira des­
tas paixões fortissimai, e no goso destes festins;
que dão log11-r á morte dos sentimentos mais
puros e generosos, a alma se _esquece facil­
mente de seu destino immortal, lançando-se,
portanto, na la�a dos vicias mais hediondos e
no esquecimento dos deveres mais 'sagrados, re­
sultando dahi o desesperó da tonsciencia e do
coração em sobresaltos horriveis e sinistros.
· Vem a_gora o golpe .tnesperado da �ôr1 ferir
dura e- friamente o coraçao _apodrecido dos.
obstinados ,e dos imprudentes de que , falam
as· Lettras Santas.
. Então j-á começamo!? a ver um raio _ de Juz,
m111to ao longe, primeiro e immenso · oéneficio
da dôr, que, lanceando o coração do homem,
termina pelo conhecimento da verdade e da
vida _d'além tumulo, prostrando-o por terra em
adoração ao Supremo Senhor, sob o peso for.:
midavel da fraqueza humana,
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- 93 -
·· Nestas occasiões de infinita amargura o ho­
mem adora, ou dése.spera, · blasphema, ou ama
fortemente.
E a lembrança 'da immortaliclade vem a.o
espírito pelo golpe da espada de uma dôr pro­
funda e inesper.a.da, _:_ perola de inestimavel
valor, destinada a abr.ir I as· portas do céo.
A terra já não póde satisfazer ao homem;
já não é possível permaneéer por mais tempo
a illusão de suas promessas de felicidade e de
paz; já o coração humano experimenlou todas
as sousas desta vida e nada poude satisfazel-o-i
é racional, portanto, que suba para o infinito.
No emtanto, só a dôr poderá levantai-o do
pó. de suas paixões. Sof{rendo, provando o '"ca­
lix de amargura, vendo diante de si todas as
riquezas, as commodidades e os recursos , IJ0
mundq, o homem reflecte um pouco, vê clara­
mente todas as cousas impotentes para salvai-o
e contentai-o e termina adorando.
A dôr fel-o conhecer o «caminho, a verda­
de e a vida».
Lemos, algures, um facto admiravel, nar_rado
por um notavel escriptor mbderno:
«Conheci, ha alguns annos, di'z elle, um · ma�
gistrado que, no meio de sua carreira, conseguirai
alcançar honras, consideração, e · influencia. Era
rico e feliz; nada lhe faltava, excepto a fé. Ca­
sado com uma senltora tão distincta q,uão pie­
dosa, pae de duas <raparigas, elle as . eduaára
christãmente, posto qué não _fosse christão; aos
dezoito e dezes-eis annos, ellas tinham, com a
graça. e o encanto da sua idade, o que· a pie­
dade, a modestia e a innocencia c;lo cora�ão jun­
tam á belleza. · Muitas• vezes· eu as encontrava
acompanhadas pelo· magistrado. · Elle revela\ra
na physionomia esse. nobre orgulho de um pae.
que se sente reviver em filhos dignos delle. Um
dia, a mais velha sentiu uma subita e violenta
dôr de cabeça; uma febre typhoide se declarou
e eqi poucos dias ena morrja como um vetda-i
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- 94 -
deiro anjo. Sua irmã, que fôra · muito tarde afas­
tada da· cabeceira da enferma, apresentou, logo
depois, os symptomas da mesma· molestia e, pou­
co após, egualmente morria. O desventurado pae
encerrou-se oito .d.ias na sua vivenda campestre,
mudo, vencido pela dôr, co1-q os olhos fixos,
no. leito em que vira desapparecer o seu ultimo
thesouro. Esses golpes foram para, elle uma
ineffavel revelação. Que era este mundo e que
valia? que valiam as honras, os cargos, as gram­
dezas, a influencia? Tudo isso lhe era odioso
,.gora. Que valiam mesmo as creaturas, pois
que tinha visto ;,uccumbir suas duas filhas tão
amadas e tão puras, protegidas em vão pob.­
sua:' innocencia? Elle disse comsigo que o seu
tremendo desgosto não podia ser o resultado do·
ac�so, porquanto se pelo acaso o mundo fosse
governado, não haveria outra so1ução além do
desespero.
Disse ainda que esse factos não podiam
provir da vontade insensível e indifferente de
Deus'. a um Deus semelhante elle nunca teria
adio ·demasjado. Teve a intuição de que Deus
não poderia proceder assim senão por amor,
de úm modo ·que elle não comprehendia, mas
que talvez comprehendesse mais tarde. E a dôr
teve uma significação aos seus o-lhos ...
Viveu ainda longos annos, servindo nobre­
mente o. seu paiz na magistraturil, em ,que oc­
cupou os, cargos mais elevados e mais honrosos.
Mas, ao mesmo tempo, · bom christão, surpre­
hendendo a todos pela firmeza• das suas espe­
ranças e pela beHeza de sua fé, e auxilfando os
pobres com a d_istr.ibuição do dote de suas filhas.
Esse magistrado moo-reu ; e quando de.ixou
este mundo, quando as suas jovens . filhas vie­
ram ao seu entontro, transfiguradas e· radiantes,
todos tres comprehenderam, n'um enleio que não
terá mais fim, porque Deus os havia separado
durante um momento ; e como, coroando e pre­
servando as filhas, Elle concedia ao pae, á
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custa da separação de um dia, a jmmens_a felici­
dade de viver durante a eternidade int�ira na
mesma luz e no mesmo amor.· (2)
Sim, almas resignadas, um raio de luz é
o primeiro beneficio da dôr.
Aqui, neste bajxo mundo, não ha paz que
possa durar, nem goso que satisfaça o cora,ção._
Só Deus póde encher completamente a alma.
Abençoada, portanto, mil veze:; abençoada
a dôr que santifica, que corrige; que purifica,
que salva.
A dôr bem comprehendida é um thesouro
de graça e de luz, - aberto para toda .;; a
humanidade.
«Bemaventurados .os que soffrem», d;!iz o
Mestre de todos os •mestres, o Rei eterno de
todas as vidas, o Supremo Dominador dos céos
e da terra. - , , �
Felizes tambem os que sabem receber as
provações divinas da dôr e exclamar, confiantes:
.Senhor, Senhor, já comprehendemos que é· ne­
cessario b�ber o calix das grandes amarguras
e provações, «antes de cbegar ao Jogar do .des-
canço». .
Sejam, pqi;tanto, adorados os designios in­
s.ondaveis da Providencia.
E' a linguagem da alma crente .e pura sób
o peso dos grandes a.batimentos. .
Só a fé triumpha da dôr e s,abe comprehen­
del-a .em seus transes «amargamente doces», na
expressão do poeta.
A dôr christã, acompanhada pela -e�perança,
consola nas proprias lagrimas ·.e •rias ·terriveis
decepções da vida humana.

(2) 80Ují&Ud, ob. cit. pag� 24 .,a :27.

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As consolacões
. .. ela dôr
AO PADRE JOÃO DA MATHA PAIVA,
JORNALIS'l'A DE PULSO.

«Nado em alegria nó meio de


,ninhas tdbulações». '
(S. Paulo;· II Epist. aos Cor-.,
cap. VII, vers. 4).

Em todos os recantos da terra ainda se


levantam, com o maior ardor e delirio, os so­
luços terriveis e penetrantes das multidões, em
supplica _ardente e fervorosa, pedindo a cessa­
ção dos males, soffrimentos; angustias e mise­
rias que, em a.ncias infinitas, ferem, cruel e do­
lorosamente, o cpração humano, - o grande en­
f�rmo dos tempos antigos e modernos.
E' a realização da palavra divina . do text_o
sagrado que, em obediencia aos decretos do
Omnipotente, . manda o homem «_passar por fogo
e por agua», antes de chegar ao logar do des­
canço (Ps. LXV, vers. 12).
Deus, porém, é infinitamente adoravel no
governo divino da salv?-ção das almas e, no
meio das gl."andes e tremendas provações da dôr
deixa cahir, por um · r,asgo de incomprehensivel
bondad� e amor, o·· balsamo das consolações,
que é a luz salvadora, nas obscuridades do es­
pírito, nas agonias do coração e no . supremo.
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- 9(7 -
desamparo da vida em lutas g•igantescas com os
genios do mal.
O homem, infiel aos decretos de seu Crea­
dor, pela transgressão do primeiro preceito, tor­
nou-se, por cúmulo de infelicidade,. merecedor
das cruzes da vida e do peso formidavel dos
soffrimentos.
Mas Jesus Christo, que é o Pae de todas
as consolações e o Medico soberano de todas
as chagas do coração, veío coilocar-se ao lado
do homem, apontando-lhe o caminho da vida
. immortal e ajudando-o a carregar o fardo da
fraqueza humana. '
Só a religião do Crucificado, obra immor­
tal de todos os seculos, póde suavisar · as, Ia­
grimas e instihlir o culto da dôr.
O seculo não comprehende as bellezas deste
culto, nem a poesia das do.çuras no meio, <ilas
proprias tribulações de que fala o ardoroso
· Apostolo das gentes, em linguagem divina e en­
cantadora; - nem ,é passivei a comprehensão
de doutrina tão pura e tão angelica para in­
numeras almas que vivem na lama dos · vícios
· repugnantes, bebendo, com suprema loucura e
avidez, o yeneno das podridões moraes em noi­
tes de torpezas s.em npme e crimes eslrondosos
e infames. · · · ' ·
Só os puros e limpos de coraçiio sabem
comprehender os segredos da fé e os thesouros
inesgotaveis da dôr, ·- fonte perenne e pre­
ciosa de .todbs os sentimentos generosos, de to­
das as aspirações sublimes, de todos os empre-
bendimentos assombrosos. . ,
A doutrina da cruz é a maior das loucuras
e dos absurdos aos olhos dos mundanos e dos
pusillnnimes que, engolphados nas suas paixões,
11iio se sentem · com animo para a pratica das
\'irtudes beneficas e salvadoras.
S6 a dôr virá despertar deste somno cri­
minoso e humilhante as almas enfermas e ele­
vai-as ás regiões superiores do bem.
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- 98 -
A dô"r lembra o caminho que leva ao seio
do Bem Supremo.
«Bemaventurados os que choram», diz o Re­
demptor.
. No meio das provações terríveis e angus­
tiosas, em presença. do calix amargo das ingra­
tidões e dos opprobrios, diante do espectro da
morte e de scenas pungentes e dolorosas, em
que o hoinern se abate e chora largamente,
vem o anjo da · dôr, como o nuncio do céo,
trazer ao espírito conturbado , e desfal tecido o
c�solc · celeste para os grandes transes.
Então, confundida e· humilhada, conscia das
miserias da vida terrestre e das fraquezas das
amisldes humanas, a alma ergue QS olhos para
o infinito, aborrece o bulício do mundo trahidor
e a-, dôr- já se torna agradavel e co·nsoladora.
b mundo é muito pequeno para o homem
e «loucos . e duros de coração são os que. tão
profundamente jazem apegados á terra, que de
nada �ostam senão das cousàs carnaes ! Infelizes!
lá vira. o tempo em que vejam muito á sua custa
quão vil e nada era tudo o que amavam, diz
o auctor da «Imitação de Christo», o mais pre­
cioso livro sahido das mãos do homem, depois
das Sag-radas Escripturas. \
Nestes momentos de r,eflexão vem aos Ia­
bios dos que soffrem esta prece ardentíssima
do re.i. propheta: «Livrai-me, Senhor, de mi­
nhas nece&sidades», Ps. XXIV, v. 17, • prece · ali­
_mentada pelas palavras de uma doce espe- ·
rança, falando pela bocca de um grande mar­
tyr: · «Sei que meu Redemptor vive, e que serei
de novo revestido de minha. carne e. nella ve­
rei a meu· Deus; hei de vel-o, e meus olhos o
contemplarão». (J ob, XIX, --,- 27).
E um raio de suaves consolações inunda
a alma conturbada.
«Agora dormirei em silencio, e descançarei
em meu somno>>, ·- é a phrase divina, encon-
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- 99 -
trada ·nas. sagradas•. paginas :que · a alma· pronun­
cia em todos · os momentos iliff.iceis. e penosos.
A esperança de 'Uma vida calma e perma­
nente, - verdade immensa e profundamente
consoladora, - é a companheira. inseparavel
da dôr, tornando-a bella e sublime, .admiravel
e encantadora. . . .
As lagrimas derramadas ·em virtude de uma
dôr cl:iristãmente supportada leva!J1 ao coração
ondas de pàz' e tranquillidade.
O Christo das consolações. é tambem o
Christo do Calvario e do horto, da cruz e do
soffrimento. · •
Lembra-te da pa"tria immortal, alma christã,
aspira pela felicidade perfeita, suspira pelo _amor
sem mancha, vê a hypocri.sia da terra, consi­
dera a inc0nstancia humaria e neste abandono
unico de todas as cousas «do reino • <teste
mundo» 'encontrarás a força mysteriosa e divi­
na para venceres fodos os obstaculos ela vida.
As lag·rímas de Jesus ànte o tumulo de seu
amigo Lazaro, as dôres da Virgem em face da
cruz, «os soluços de Santo . Agostinho após a
morte de Santa Monica, os lamentos eloquentes
de S: Bernardo . por oceasião da morte de seu
irmão, os gritos dilacerantes . de Santa Isabel de
Hungria, . o pranto de S. Francisco de Salles
pelo passamento de sua mãe» -- são exemplos
edificantes e luminosos da mais perfeita resi­
gnação á vontade sàntissima do Pae celeste.
Chorando, encontraram nas lagrimas· irícom­
paravcl doçura, porque, confrantés na promessa
divina, lembram-se continuamente das . palavras
de verdade: - «Bemayenturados os que choram,
porque serão consolados».
Quando a fé e a esperança encontram gua­
rida no,. coração do �ornem, a dôr torna-se
querida e· abençoada.
A lágrima christã. consola e tranquillisa.
Um poeta francez, ferido pelos golpes das
dôres m"a,is cruciantes, corhprehendeu a razão das
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- 1'00 -
chagas do seu coração e terminou entoando um
callticci á magua:

«Eu confesso, Senhor, que ch,amu de insensato


Quem ousa murmurar
Eu não .áccuso mais, eu não blasphemo mais,
Mas. deixa-me chorar.»

Bemditas as lagrimas que salv'am, bemdita


a dôr oµe purifica e conduz o homem á caSL'\
de sua eternidade.

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O livro da dôr
AO EXMO. E REVMO. SR. DOM JOSÉ PE­
REIRA ALVES, EMINENTE BISPO DE NA·
TAL, JORNALISTA BRILHANTE E ORAD<fB
DE NOMEADA.

Jesus Christo no calvaria ê •,zo


horto é a ultima palavra da · dór
divinamente consolada.

O mafo:r' e o mais precioso thesouro da hu­


manidade é o livro da dôr.
Todos os espiritos possuem este monumen­
to vivo, - pagina imme11sa gravada na alma
d:is nações. e dos povos, filhos do catholicismo,
que é a· estrella luminosa e divina nas bata­
lhas sangrentas da vida e nas duvidas lanci­
nantes e tormentosas do coração, · atacado hor­
rivelmente
1
por todos os esforços do inferno em
lutas assassinas e cobardes.
O grande empenho de todos os perversos
é, sem duvida, o desterro da face da terra
de tod:1 à idéa de justiça · e de virtude, que
odeiam, - e o reinado absoluto e ruidoso dos
vidos mais cynicos e d� paix;ões mais degra­
drn1tes, que abraçam cega e vergonhosamente.
E' o ultimo grau da podridão moral destes
t•scravos da lama e da baixeza nos estertores
da horn fatal e irrevogavel, - castigo pavoroso
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102 -:-
.e - Jnaudi_to. '.do. Deus un(co._. e·.,, verdadeir.o, : que
troveja na consciencia dos máos e enche de
esperança e de luz os puros de coração .e os
J'impos de espirita.
Para estas almas infelizes e desgraçadas,
chagas vivas de todas- eis paixões, que arr.an­
cam .1 do coração, .a ·crença __salvadora e @ lirio
da, pureza, - a dôr é uma cousa,, ímpia• e
absurda, dando Jogar a blasphemias estupidas e
diabolicas
. . .- Não ha paz para o ímpio, diz o Espírito
S,ílnto que, apezar de_ tódos os ataques, infamias
e calumnfas da impiedade atrevida e miseravel,
estará sempre em presença· das sociedades mo­
der?las, attestando, dara e desassombradamente,
os esplendores da fé e a perpetuidade da' dou­
tripa catholica, - rochedo divino onde se vão
que6'ra-r · as ondas furiosas e delirantes dos erros
sociJ,es e das doutrinas perversotas e. anarchicas
do nosso secu1o _cheio de torpeza e de maldade.
Passarão os seculós, os homens e as suas
obras; e só a verdade permanecerá eternamente,
segundo ·às promessas infalliv�is do Rei lm­
mortal, supremo juiz déste mundo no grande
dia. da resurreição 'universal e da realidade
tremenda e consoladora em que, para desespero
dos ímpios · e alegria dos justos, a justiça do
Eterno se patenteará de. um modo extraordinario
e inéomprehensivel. .
E' a hora solemne e divina da verdade.
Esquecidos, porém, · desta doutrina de vida
,e de immortalidade, vivem os homens· sem fé,
sem vir-tude e sem illustra�ões, desprezando,
muitas · vezes, as inspirações da graça, . os · mo­
mentos · de paz e de reflexão, as vozes tio alto,
os avisos do coração, as _luzes .. d9s esh1dos1
senos e profundos, _ o� exemplos - dos espíritos
superiores, as opiniões desapaixonadas dos ver­
dadeiros cultores da sciencia e os 'remorsos da
consci�ncia; _ signaes · e_viderites d'a · misericor­
dia infinita • de Deus ·_ chamando · os· tnmsviados
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ao · caminho da verdade· e da vida, d� qµe fala
Jesus Christo, quando diz: «Eu sou o caminho,
a verdade e· a vida».
Nesta tibieza e no criminoso indifferentismo
em que ·estão os · «cegos voLu.nfarios»,· só a dôr,
que é a espada viva e penetrante da verdade,
vem, em cumprimento de sua grande e ,,:!olo­
rosa missão, despertai-os do somno profundo e
humilhante, - apontando-lhes, á luz do dia, a
estrada real da patria eterna.
«Eu sou a luz do mundo: aquelle que me
segue não anda em trevas, mas terá o lume 'iLª
vida, diz o Senhor, _no cap. VIH do Evange­
lho de S. João, promettendo tambem a salvação
aos que observarem os mandamentos· de Suae lei.
A dôr, ferindo o homem a cada passo, lerri­
bra-lhe a grande obrigação moral dos devqes
christãos, condição indispensavel e absoluta ºpara
entrar no reino da vida perfeita e sem fimi
· «Humilhemos, pois, nossas almas debaixo da
mão de Deus», porque, diz um grande mestre
da vida espiritual, em t0da tribulação e tenta­
ção Elle ha de· salvar e engrandecer os humildes
de espírito. (1. Peter.)
Felizes os que sabem ler o precioso livro da
dôr, porque em suas paginas encontràrão força
e luz para todas as amarguras e decepções da
vida humana, que é, na expressão de 'job, «uma
cq1itinua tentação».
Monsenhor de Segur, homem de gran_de il­
lustração, virtudes e experiencia, con,a uni facto
edificante ·e admiravel. sobre o · que élle ·chama
«o hello livro da dôr».
Um. grande santo, que viveu na ltalia nó
seculo ):(HI, diz o iHustre escriptor', e que fun�
dou a ordem dos. Servos, ,de Marta, S. Phelippe
de Benictio, chegára ,ao termo de sua laborio_sa
cnrreira.
Estendido sobre as taboas que lhe serviam
de leito, quasi agonizante, estava rodeado por
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H>4 -
seus irmãos, que o assistiam nessa luta su­
prema.
Dae-me meu livro, murmurou o moribundo.
Cuidando que elle queria recitar algum psalmo,
um dos confrades 0fferece-lhe pressuroso o seu
livro de· Horas, mas S. Phelippe dá a entender
que n_ão é isso que deseja e repete com brandura:
«Dae-me meu livro: dae-me meu livro». Ou­
tro confrade apresenta-lhe a Sagrada Escriptura.
«Não», acode ainda o bemaventurado moribundo ...
«não... dae-me meu livro».
� Houve
tencia,
quem, impressionado por essa insis­
notasse que S. Phelippe não despregava
os olhos de um crucifixo pendente perto do lei­
to. �Desprendendo-o, apresentaram-no ao Santo.
Este, com o rosto radiante, estende então as
mãos desfallecidas, toma a imagem sagrada de
seu'" E>eus e osculando-a com transporte, excla­
ma: «Eis ahi o meu livro!... E' esse o meu caro
li'vro; durante minha vida inteira, tomei a peito
aprender a ler nelle... E' o unico livro em
que é necessario saber ler!»
E sobre o crucifixo exhalou, poucos momen­
tos depois, o · ultimo suspiro.
O crucifixo: Sim, eis o grande livro dos
attribulados, que lhes cumpre consultar, ler,
meditar incessantemente. Um infeliz, um enfer­
mo sem crucifixo, é como o soldado sem ar­
mas, o official sem ferramenta.
A infeliz Ma-ria Stuart tinha na mão o seu
crncifixo e frequentemente o osculava, emquanto
a conduziam ao patíbulo.
«Senhora, observou-lhe brutalmente u111 offi­
cial protestante que a acompanhava, não é nas
mãos, mas no coração que importa trazer o
Christo».
- Mylord, respondeu com gravidade a pie­
dosa rainha, é bom trazei-o na mão para tel-o
com mais certeza no coração. (3)
(3) Mons. de Ségur. Aos que Soffrem, pag. 19.

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. Sim, almas afflictas e resignadas, o cruci­
fixo é o unico livro que consola e salva.
Nelle reside um thesouro immenso de inef­
faveis consolações. Um suave perfume exhala
d'elle; inundando o espírito de verdade, de paz
e de confiança.
Mil vezes adorado o divino livro.
Ah! si os
...,
impios e os grandes infelizes, fi­
lho'> ingratos e prodigos, pudessem compreh•n­
der os segredos do amor de Deus e as doçu­
ras inenarraveis da , esperança, certamente 16unca
deixariam , de ler. o grande livro, -- presente
immortal · de um Deus crucificado pela salva-
ção do mundo. • •
Só a fé póde comprehender esta linguagem
e amar a dôr como uma benção de Deus e
um sorriso do céo.

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A dôr e a esperança
A MONSENHOR AL:M&IDA BARRETO,
GLORIA DA TRIBUNA SACRA NO RIO
GRANDE DO NORTE.

A vida humana é· um mysterio profundo


e assombroso; desafiando, dia a dia, o scepticis­
mo ignorante e frio dos -impios e dos, bl_as­
phemos e o orgulho scientificow dos chamados
espiritos fortes, adeptos inconscientes. de urna
philosophia triste e doentia, - fructo doloroso e
amargo de paixões 'infames e perversas que, para
castigo e vergonha do nosso seculo, ferem o. co�
ração ardente das multidões em delirio, deixando
em toda: a parte o luto, a dôtf, a mentira, a ambi­
ção, o 'crime, a baixeza, o remorso, ;a desillusão
e a hypocrisia mais cavilosa e despudorada.
E' a· eloquencia acabrunhadora dos factos.
O mundo segue o seu cami�ho em carreira
vertiginosa e imprudente, sem perceber, de levé,
o abysmo trernerido e , inevitavel que·· ha de
tr!lgal-o. de·, um só golpe, ::-- se· Deus, por um
novo assombro de misedcordia infinita, nijo ob­
star tamanha catastrophe.
A hora maldita e assassina do poder das
trevas se repete,· a cada passo, operando prodi­
gios de maldade e terminando em, apostasias
negras e coqarde�, - renovação · cynica e hor-·
rivel dos Judas de nova especie,
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\. O mundo ca�;iinha ,para a iniquidade e pata
o ai!1iquil,amento, e o reino do:. «príncipe das tr:e­
vas)>\ se : àlastra em toda a parte, ameaçando
toda� as vidas_ e todos os apostolados, todos os
espiri\os e todas as almas, q1re vão pelo caminho
da lu� e, dá verdade, em busca de melhor futuro.
. 0'. a eterna luta travada entre o bem· e o mal.
.. E\ ó homem christão, triste caminheiro, no
deserto 1. desta vida de peccado e desalento, as­
siste, tremulo e cadaverico, a este espectaculo
angustioso, - suspirando pela paz que nunca
se ha de extinguir, . •
E a dôr apparece illuminando a tudo. e a
tCJdos.
Sim, a dôr e a esperança, força divii,a e
eminentemente consoladora nas lutas da vida, -
são os anjos de luz e· de graça adoraveis, gue
sustentam a humanidade em seus transes• ver­
dadeiramente angustiosos e difficeis.
Nestes momentos incomprehensiveis e la­
crimosos a bondade de Deus se manifesta a olhos
vistos.
As maximas do seculo, a sabedoria,. do
homem, as doutrinas e os systemas philoso­
phicos, fr.uctos da sciencia que odeia a. verdade
consoladora, e ··a virtude que salva; - não adian­
tam cousa alguma nem . sabem dizer ao . espírito
conturbado, nos momentos do desespero; uma
palr,vra de paz, de esperança e · de perdão.
Aqui juntam-se a dôr christã e . a esperan­
ça, auxiliadas pela 'fé viva � omnipotente, apon­
tando aos · povos o reino ·de Deus, consolan­
do-os assim em suas grandes amarguras.
E a. sciencia incredula conhece sua impo-.
tencia e fraqueza na hora da agonia.
S6 a esperança., virtude celestial e pro­
fundamente humanas póde suavisar as lagrimas
peld ente. amado que. expira.
O homem vê então um raio de luz ·e o
mundo já se lhe apresenta trahidor e mes-
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- 1'08 -

quinho, . � Ílção fecunda e luminosa aprendida


na escola da dôr.
O desejo da immortalidade, alimentado pela
esperiulça, desperta o coração e o faz suspirar
pelc1 felicidade que• sempre dura. .·
«A alma christã chora esperando» ·e sua
lagrima em breve se tornará em goso per­
petuo, segundo a doutrina de vida e de verdade,
pt{:gada pelo Mestre eterno e infallivel.
A crença salvadora e sobrenatural,. - eis
a força mysteriosa e unica que tudo salva
e ,,,santifica.
A Egreja Catholica, deposito inviolavel da
verdade e sustentaculo da fé christã, ensina o
llog:1lu, consolador da immortalidacle da nossa
alma.
Or, maiores genios da humanidade guardam
tambem esta crença.
11

Lemos em Tertuliano: «Na vida eterna, Deus


não separará mais aquelles que uniu, como per­
mitte a sua separação aqui na terra.>> ( 4)
Tambem em Santo Athanasio: «A's almas
justas, no céo, Deus concede um grande bem,
que é o de se conhecerem mutuamente.» (5)
S. João Chrysostomo, Santo Agostinho, S.
Francisco de Salles, Santo Ambrosio, S. Cypriano,
S. Thomaz de Aquino, S. Theodorito Studite, S.
Teresa, S. Francisco Xavier, S. Bernardo, S. Vi­
-:ente de Paulo e outros mestres e luminares da
Santa Egreja, em todos os seculos e idades, con­
fessaram, vibrantes de enthusiasmo, o grand�
dogma da irnrnortalidadc, acceito tambem pelos
mais profundos philosophos modernos.
Ainda uma vez digamos com o Divino Mes­
tre: <<Em verdade, em verdáde vos digo, a vossa
tristeza se transformará em alegria eterna.»
Bemdita a dôr. que lembra o ceo !
Bemdita a esperança que conscí1a !
Ao·. céo, almas christãs, ao céo !
(4) Tertul., De. Monog cap. X.
(3) S. Ath:ln. Questiones ad Antiochium.

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A (lôr e a seie11cia
A FREI' PEDRO S!NI.IG, O APOSTOLO
BOA :(MPRENSA NO BRASII,.

A sciencia, nos seus voos mais alevantados;


nàll resolve o grande problema ·do soffrimento
humano. •
Os homens de lettras, os pensadores anti.gos
·e modernos, os philosophos de todos os sectl'los,
pernrnnecem silenciosos e frios cm presença das
tm turas do . coração e das tribulações do es- 1
pirito.
E a dôr continua inexplicavel, sem a luz
radiosa da revelação.
A razão philosophica não sabe e não pôde
en:<ugar uma . lagrima. A sabedoria pagã não
soube explicar a dôr.
O mystcr:o doloroso do soffrimento sem a
esperança christã e a . certeza do Parais o �
terrivel e acabrunhad.or, levando mesmo ao des­
espero. Os philosophos sem Deus · e sem · fé
não serão mai-s do que aborrecidos consoladores.
Que poderão dizer nos momentos de supre­
ma dtsolação? ,Qu� pala_vras terão para o mo­
ribundo, para o pobre sem lar, sem pão e sem
luz? Que dirão aó proletario no seu enxer(!"ão?
<<Não basta .dizer aos desgraçados com a
orgulhosa. indifferença do Portico: Sustine, Pa­
ciencia!))
O orgulho não consola. O suicidio não digni-

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- 110 -
fica, nem tão pouco resolve 8 problema
A belleza moral só existe nas almas que lut m,
com denodo e heroismo, firmes· e decididas, o os
fitos no Alto, até o ultimo sopro da vida. T •as
as almas eleitas são filhas da dôr. O . i:Jdo
não apresenta espectaculo · mais bello do que
uma alma que sabe su,pportar, com resi nação
e confiança, as terriveis provações da ida. .
A dôr é uma graça de predilecção tam-
b.em de predestinação.
Os heroes da. Egreja aproveitam-n'a
is�.,, assombram o mundo com· ,a sua andeza
moral. O· Pobrezinho de Assis illuminou ,a ltalia
e o mundo con:i, a sua pobreza evangefica !!. o
angeflco Vicente de Paulo, com os prodigios de
sua caridade, salvou milhares de infelizes.
Ambos foram heroes da dôr. Em todos os
secuios os athletas do bem, os soldados da Cruz
redernptora e os santos da Egreja, purificados
pela dôr, ensinaram aos povos a' scienci� da
salvação pela penitencia, pelo soffrimento e
pelo trabalho ennobrecedor.
Só a dôr christã sabe consol_ar. A outra dôr,
a dôr sem a luz da Fé Cafholica, não tem
ge�tos edificantes e sublimes. Sq a· dôr christã
pódê salvar. Ella é um clarão. Napoleão, o ge­
nio da guerra, nas graves e profundas medita­
ções do exilio, viu, claramente, a fragilidade
dos poderes humanos. A dôr fel-o sublime na
lfé que abala montanhas e o gigante dos tem­
pos modernos adorou o supremo e unico· Se­
nhor de todas as. cousas e_ proclamou, _com des­
assombro e energia, a divinditde de Jesus Chris­
to, Filli0 de Deus vivo, e Deus Elle proprio.
Morreu com a serenidade das almas de eleição,
rico de fé e de amor immórfal, confiante nas
promessas infalliveis do Juiz · indefectível.
A sciencia não poude consolar Napoleão. A
·sciencia, a gloria, ·o poder, o genio, · a rique0
za, não sabem falar . ao coração dolorido da hu­
manidade que geme.
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- 111 -
. Só a Fé. ver&deira num Deus crucificado
e enumerador resolve maravilhosamente o pro­
bler a da dôr. Só a firme esperança numa vida
fuh1 , vida eterna no seio infinito de Deus,
nos eslumbramentos do Paraiso, póde crear o
poem da· resignação e dar ao mundo enfermo os
exem os qtte illuminam e salvam. Os homens de
fé vêr na' dôr um dom do Senhor. Sabem que
a .tribt lação é o pão dos predestinados, que a
dôr su portada por amor de Christo crucificado,
morto, sepultado e resur�ido, é. o signal cçrto
da entr da .gloriosa no remo da eterna bcmav9n­
turança.1
. Os homens de fé sabem tambem que a scien­
'cia, a pobre sciencia humana, apezar de• sua
bôa voutade e de suas luzes, . é impotente para
erguer os que vivem · sob o peso dos trab'a• lhos
e . das afflicções.
Vê-se, pois, que só a Fé, thesouro inesgota­
vel de bençãos copiosas e de ineffaveis · conso-
1 ações, faz adoravel e sublime o mysterio da dôr.

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--
'"'Cft::,,,�����t::P., ss:::j t:::,,,''"'=1���-.:::1��
w:;i_ç:,.iw:;u;::w""-1.c;:,.;,-":;\ ç:..,"";i ç,,..��r..o:::l ç:,.i
--------

Pretensão
A BERiLO NEVES, BRI HANTE
IN1'ELLECTUAL CATHOLIC

• I-la no espirita d'este assombroso s culo de


luzes e de trevas, de amor e de odio, ,' de vida
e de•morte, uma tei:idenda para a mania de exhia
bições ridículas, prova insophismavel e tristissima
da ignorancia atr,evida e criminosa.
• O nosso seculo, forçoso é confessai-o, é in­
corrigivelrnente petulante e exhibicionista.
De uma petulancia sem nome. Sciencia, phi­
losophia, religião, direito, escolas, systemas, dou­
trinas, politica, costumes, leis, disciplinas, refor­
mas sociaes, liberdades publici,1s, exigencias e di­
reitos do homem moderno, emancipação do espí­
rito, educação da mulher, conquistas da civili­
zação, tudo passa pela bocca dos inconscientes
e do,, nullos, dos illetrados e dos sabichões, dos
ingenuos e dos canalhas. .
Ha uns indivíduos insupportaveis: são os
que ignoram e se jactam de sabichões e eman­
cipados. São indivíduos que se desfructam. São
palradores consummados de esquina. São repe­
tidores inconscientes de blasphemias nojentas e
de calumnias deslavadas é torpes.
A estes é preciso applicar ferro em brasa,
para curar a podridão de suas chagas. O remedio
é' violento, de uma violcncia terrível ; porém é
o ui:ico efficaz: para os g·randes males só os
grandes remédios.
Por não s� poder mais supportar esta au­
dacia cynica e criminosa, de uns impiotes quaes-,
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
113 -
qt r, nos seus ataques desleaes contra a Religião,
é 1dispensavel arrancar desassombradamente a
mas ara dos improvisados defensores da Scien­
cia, nostrando-os ao povo' taes quaes elles são.
á affirmamos que o seculo actual é cssen­
cialm nte exhibicionista; Typos sem nenhuma ba­
gagem literaria e philosophica, sem critcrio e
sem lc rica, ousam falar de tudo, penetrar mesmo
no san uario da Religião e da Sciencia. Da Sci.:!n­
cia e ·t Religião. E, cousa incrível! -- julgam­
se 1iles 10 pontifices da razãó e da fé. Mas é
pre•ciso dar-lhes em cheio com a clava da 1a­
zão escl recida.
Nãb só dar-ihes, mas levàl-os a ridiculo.
Porque elles são mesn1,o um objecto de l'idfculo.
Porque, ignorantes em materia de Religião e de
Moral, pretendem pontificar assim mesmo.• 9
E' óu não uma pretensão 'descabida e tola?
De um descabimento nunca visto. De uma tolice
,intoleravel. Porém, seja dito de passagem, igno­
rando elles as mais rudimentares noções da Re­
ligião e. da Fé, os motivos mesmos de credibili­
dade, a sublimidade da moral christã, as leis sa­
bias e justas da Egreja, a grandeza dos dogmas
catholicos, não deixam, por isso, de atacar e
neg·1r todas as verdades religiosas. Ha uma in­
credulidade irrespondivel, escreve Camillo Cas­
tello Branco: é a que não argumenta.
A ignorancia religiosa, ·segundo Victor Hugo,
é a suprema miseria do seculo. Oô seculo e do
individuo. Ha homens que só vivem para guerrear
a verdade e a Religião, pelo simples prazer de
se (ornarem celebres. Nunca aprofundaram os es­
tudós da Religião e Sciencia, e .nunca deixaram
tambem de se confessar incredulos e indifferen­
tes. · E são estes os "que mais atacam, para ver­
gonha da civilização! Não. é raro verem-se ve­
lhos e jovens, sem a menor instrucção religiosa,
tornarem-se doutores, de nh1 momento para ou­
tro, em màteria religiosá!
Que pretensão estupida e, grosseira!
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Uma discussão ás direitas
,AOS ALMOFADINHAS...

,,I� marchando tranquillamente o annd de 1901.


Já se estava em pleno méz de Maio, o sua­
ve e dote mez da Mãe Celeste, 1nez de risos ·e
de 'Hôres, de esperanças e de sonhos, mez dos
canticos e das lu·zes, que, hont�m como hoje,
tanto enlevo e poesia traz ao coração irrequieto
da mocidade enthusiasta e feliz, e ·um mundo'
de recordações para a álma desprcoccupa:da e
simples da velhice honrada e crente.
Numa tarde clarissima · ·d'este mez abençoa­
do, tarde calma e risonha, perfumada e linda,
chegava, finalmente, á importante cidade de***, no
sul da Republica, distincta e pobre familia,· um'a
gloria legitima da alta sociedade do norte do
Paiz, que vinha em visita especial á honrada e
conhecida familia do illustre sr. dr. C. de T.,
medico c;onceituado e proprietario de excellente
e magnifico palacete.
Na chegada, muitas festas, muito riso e mui­
tas flôres, sdgnaes ·evidentes de uma justa e sua-·
ve alegria christã. Passavam-se os dias cheios e
felii.es, reinando, da manhã á noite, invejavel
harmonia de vistas e.. de sentimentos. Nenhuma
ligeira desintelligencia se notava. As duas fa­
milias. amigls, irmanadas pelos mesmos ideaes
e crenças religiosas, se comprehendiam perfei­
tamente.

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,...,._ 115
Nada mais faltava· para, uma das mais le­
as felicidades no lar:
eus ali era adorado e respeitado.
,brríam as_ cousas nestas alturas, quando
«por ma, fatalidade d'estas que descem d'além»,
deu-se, na grande e nobre residencia do conhe­
cido dr C. de T., uma discussão forte, enthusiasta,
ardente. "
· Ei o facto.
*
* *
Num salão nobre do majestoso palacete
achavam-se reunidas as duas familias em atnis­
tosa palestra, numa d'essas expansões de grande
intimidade domestica, cuja grandeza só a .Fé
sabe traduzir; Senhoras respeitaveis e gentilíssi­
mas senhoritas, cavalheiros• de alta distincção e
da· mais fina· educação, trocavam, em linguagem
poli-da, idéas e sentimentos,
Criancinhas louras e formosas davam um
encanto adiniravel a este tocante corrcerto de
familiá. Os assumptos variavam de momento . a
'momento; e, como sempre succepe .nestas occa­
siões, ·resvala_ram para o vasto campo da Reli­
gião em suas relações com a Sciencia.
Uma formosa criancinha, de olhos vivos e
scismadores, de uma brancura quasi ideal, ver­
dadeiro typo da innocencia baptismal; trazia ao
péitinho delicado e affectuoso uma piedosa me­
dalha da Virgem lmmaculada, susp.ensa por uma
fita azul celeste, ageitadamente collocada ali pelas
mãos · puríssimas d'este ente. quasi sobrehumano
e desfombrantemente encantador que se chama
mãe. Foi o bastante para despertar o odio dia­
bolico de um anti-clerical impenitente, joven de
19 annos, que estava presente á reunião, e es­
crarn infeliz da impiedade ignorante <1ue, segundo
o insuspeito at,1tor dos Miseraveis, é a supréma
miscria do · secu,lo.
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� l16 -
Al'f>erto de\ acadernico de direito, eis o o­
me do joven incredulo que, á vista de urna me­
dalha, se sentiu tão inflammado, mudando on:1.­
pletamente o assumpto das conversações p ra o
terreno religioso, afim de dar redeas ao s II an­
ticlel'icalismo estupido e grosseiro.
· D'esta vez, porém, Alberto, o i9g nuo e
ir.comparavel Alber_to, viu-se em camisa
varas.
Cecilia Dolores de*, eis o nome glorioso
de uma joven de 17 annos, que chei de ar­
dvr e de convicção, de fé e· de luz, tom, u a 'de­
fesa da Religião de um modo tão brilhante e
e1;rr::;,gâdor, que arrancou estrepitosos. ápplausos
dos assistentes.
Cecília recebera esmerada educação religiosa
e :..tientifica num conceituado collegio da cidade
de **"', deixando um nome consagrado pelo ta­
lento, pelas virtudes e por um· caracter ada­
mantino.
Alberto, qu;! ern intelligente, nunca est11-
dára religião; mas julgava-se pontífice nas cou­
sas religiosas, o que lhe valeu uma 'tttnda mes­
tra, · applicada pelo , verbo eloquente de Ceci)ja,
typo ideal de uma perfeita donzella, alma feita
de luz e de pureza, christã ás direitas, inven­
cível pela fé profunda e esclarecida.
Ora, -minhas s-enhoras e meus senhores, diz
Alberto, apontando p.ara a medalha da l:nda
criancinha:. . uma superstição da idade media .. .
religião .. . fé,... mysterio... tudo. é .illusão .. .
o catholicismo passou .. . morreu a fé ...
Não acham, excellentissimas senhoras?
Silencio sepulcral por dois minutos. Nunca
se assistira, em uma roda de familia ·educada,
atacar-se a Religião de um modo tão brutal.
Julgava-se, a principio, ser uma brincadeira de
mau gosto. Verificou-se, logo depois, que era um
exfübicionista audacioso o, pobre Alberto.
Mas, era preciso dar uma lição em regra
https://alexandriacatolica.blogspot.com.br
117 �-
ao\ sabichão orgulhosô, ·e ,coube á Cecilia essa
tan�Ja.
\ A moça, imperturbavel e serena, conscia
"do eu dever, com a alma amargurada pela
injur feita á sua Fé, rompendo o silencio:
- Sr. Alb,erto, diz, não. fale tão desastra­
da e :r,.1da111entc. Saiba o jllustre academico que
se não insultam impunemente as ·crenças alheias.
A impi dade tem a suprema audacia de só blas-
1:>hemar e negar por um simples prazer diabolico.
rotas bl !;phe_mias e chalaças, injurias e doestas,
palavras intempestivas, não são argumentos. •
Uma méêlalha representa um symbolo réli-
gi9so: irão ê uma superstição. 1
Um pedaço de panno t�mbcm representa a
g-Joriosa bandeira da Patria ·estrerncdcla e -ado-
rada: a bandeira não é superstição. • ,.
lia vinte seculos que se annuncia o en­
terro do catl101icismo, e o augusto enfermo ahi
está cheio de vida e glorioso. A fé, a' Religião,
ó mysterio, tudo isto passou, sr. Alberto?
Para affirmar sem·elhante desproposito é
precisl1 estar louco. Que significa, então, este
cç,lossal movimento catholico que se nota em
todo o mundo, apesar de todas as perseguições
e de todos os odios?
Que significam, na Allemanha, na Inglater­
ra, na propria França, nos Estados Unidos da
Amtrica do Norte, as grandiosas manifestações
de fé catholica?
E os congressos eucharisticos celebrados ul­
tim,;mente na America e na Europa?
Será isto a morte da Religião?
Bemdita morte que dá vida aos homens.
A I{eligião pão passou, sr. Alberto: o - que já
passou· foi o colosso romano, na época das mais
tormentos às perseguições: o que já passou foi
toda a c;ihalha endiabrada- que jurou guerra d€'
mcrte á Religião. Abra a historia e vinte seculos
ahi estão attestando- o eterno vigor da Fé.
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. � 1)8 -
Onde os syi;nptomas de morte, illustre sr.
/
.
Alberto? 1

O moço incredulo empallidecera.


Nunca, em sua vida, se achára em- tão 'per­
tados lençóes. Os argumentos da sua di incta
antagonista eram esmagadores. Que fazer ntão,
em sen:telhahte conjectura?
Alberto segue a· tactica dos seus.�c mpar­
sas. Coberto de vergonha e confusão, sei poder
destruir os argumentos contrarias, ousa f gir do
ponto em discussão e exclama para d sabafar
o _çoração em desespero:
- Só as mulheres e os ignorantes· podem
crei:-. O catholicismo não é para os sabias, para
a cla�se illustrada da humanidade, não.
. Não ,conheco sabia catholico ou mesmo um
si1n1iles crente·. .
Dando-se por satisfeito, calou-se o já in­
teressante «heróe».
Então, com a calma mais invejavel deste
mundo, Cecília, a imperturbavel heroina, prose•
gue assim, ao pé da letra, a defesa brilhante
da Fe:
- Em meu obscuro nome e no do meu
sexo que, talvez por ironia, chamam de fraco,
protesto ainda uma vez contra as nojentas falsi­
dades das nojentas affirmações da impiedade.
O catholicismo, saibam os srs. sabichões,
não é só a religião das mulheres e dos igno­
rantes. E' mais ainda: é a unica Religião que
póde ser abraçada pelos sabias dignos deste nome.
Em verdade, a mulher deve ser religiosa e forte.
Não comprehendo a mulher sem a fé religiosa.
A mulher sem religião é uma megera.
· A mulher sem fé, sem virtude e sem pn:
dor é um cancro devoracloT dos mais bellos sen­
timentos. Por isso só creio na mulher religiosa.
Sem a m,ajestade da religião a brilhar em
sua fronte augusta e nobre, a mulher perde
toda · a _sua dignidade e belleza. M?s o catholi­
cismo não é só a religião das mulheres e dos
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- 119 -
ignorantes. Sabio's J!Iustres e philosophos de no­
meada, oradores, poetas, escriptores notabilissi­
mos, jornalistas de merito, prosadores, estadistas,·
· t5oliti.cos, diplomatas, pensadores; naturalistas,
publicistas, filhos de todos os paizes, seguem,
confiantes e alegres, os principias salvadores da
doutrina catholica, rochedo indestructivel, onde
se quebrafn as ondas impetuosas do pedantismo
gros5eiro e estupido, arvorado em sciericia ba-
rata e podre.
· P<l-que, afinal de contas, só a doutrina ca-
tholica satisfaz aos sabias legitimas. •
O sr-. Alberto, meu illustre antagonista, '-'.ªe
ouvir agora, pela vez primeira, soarem aos .seus
ouvidos academicos os nomes festejados de nu,
merosos sabios catholicos. Espero que, de hoje
em diante, não se esquecerá jámais · d'esta• li­
cão. Si o illustre academico estudasse seriamente
â historia da civilisação, 'o progresso das scien­
cias. e das artes, si observasse melhor o movi..
mento religioso mundial, não se abalançaria, certa­
mente,. a, avançar esta proposição: só as nrnlhe­
res e os ignorantes podem .crer.
Os sabios é que não.
Mas os imRiotes de nossos dias tapaQ1
os ouvidos para hão ouvir, os olhos para não
vêr, pervertem a intelligencia e o coração para
não crer na verdade e . na justiça. E' o que
succede com o sr. Alberto, meu joven antagonista.
O mancebo, pallid'o e triste, suando horri­
velmente, olhava boquiaberto para Cecilia, a in­
vencivel heroina da Fé e da Razão · esclarecida.
Mais acabrunhado ficou quando ella bateu em
cheio o alvo desejado: provando que, sõ 11a Re­
ligião de Jesus Christo, se erlcontram sabios di­
gnos d'este nome, e que todo o sabia digno de
sei-o é e.rente.
Chegou a hora maldita.
Alberto; coberto de vergonha e desespero,
ouve, cabisbai�o, o seguinte:
·- Saiba o sr. Alberto, diz energicamente
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- 120 -
.Çecilia, que a Religião e Sckncia são duas ir­
mãs, filhas abençoadas do m�smo, pae: ._ Deus,
Quem não se sentirá feliz e glorioso, meu
caro sr. Alberto, ajoelhando-se ao lado de 5 .
. Thornaz, Kepler,- Pasteur, CoperniGo, Volta, Leãó
XIII, Le Verrier, Pascal, Mariotfe, Fabre, , Ampe­
re, Linneu, Jussieu, Cuvier e de tantos outros,
verdadeiros cultores da Sctencia em· sua mais
elevada accepção? Todos estes homens superiores
foram crentes; todos adoraram ao Deus unico
e verdadeiro; todos reconheceram o im1IJt,nso po­
dM ,da Qivinda<le; todos louvaram a sabedoria
Increada. Quanto a nós, catholicos, preferimos
a· c�mpanhia destes genios á de um Voltaire,
de um Rousseau, de um Robespierre, de 11111
•zola, de um D. Quixote qualquer.
� .o' sr. Alberto agora escolherá.
Silencio sepulcral. O moço, arquejante e
frio, pediu misericordia. Fez um ultimo esforço,
. tomou o chapéo e sahiu precipitadamente do
elegante palacete. Estava morto de vergonha e
de dôr. Nunca, em sua vida, recebera tão tre-
menda lição. . ..
Até hoje não se sabe o paradeiro de Al­
b' erto. A lição foi dura,· não ha duvida.
Cecília Dolores de *, aln111 caridosa e bôa,
pediu gentilmente que os assistentes não fi­
zessem o menor . comip.entario · sobre o fracasso
scienti/ico do pobre . infeliz.
Foi attendida. Um morto moral é digno de
compaixão,
*
* *
Cecilia é o typo ideal da moça catholica.
Eduquem-se bem as moças brasjleiras ; in­
struam-se convenientemente, sejam fprtes e 9ce�
dicadas, virtuosas e puras, e o Brasil será salvo
e a mulher saberá comprehender a belleza em­
polgante da sua Religião, defendendp-a em toda
a linha. Todas tornar-se-ão Cecilias. '
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-A Euchai·estia e a Palavra
de Jesus Clll'isto
� AO RVMO. SR. DOM HELVECIÇ> GOMES
DE OLIVEIRA, ILLUS'l'RE ARCEBISPO 1JE
MARIANA.

Eu sou o pão vivb que dttSci


do Céo .
(S. João, cap. VI)
Jesus Christo; o Filho do Deus vivo e eter­
no, affirmou, clara e solemnemente, a sua pre­
sença real na Hostia consagrada.
Pí1rn que maior certeza da verdade eucha­
ristica? A palavra de Jesus Christo ! Elia é a
verdade que consola, é a, fé que illumiua, é a
caridade que não cança, .é o amor que santifka,
é a luz que nunca se extingue, é a suprema
belleza · qpe extasía, é · o sorriso de Deus na
terra, é a .,constancia dos -martyres, é a força
dos sacerdotes, é a vida da Egreja, é o riso
franco e luminoso dos anjos da terrà, é o
cantico · magnifico das potestades celestes, é o
conforto dos velhos, o amparo dos fracos e a
corôa das virgens.
A Sagrada Eucharistia ! . Eu não sei explicar
a indizível alegria· que me invade a alma em
presença das bellezas empolgantes e das doçuras
ineffaveis do Redemptor da humanidade no rnys­
teri? impenetravel do seu �mor infinito!
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- 122 -
O que eu sei é que todas as' grandeza�
e todas as glorias prostram-se aos pés do Ta­
bernaculo.
E' á sombra do Sacrario, sob o grande e
doce olhar de Jesus, que a sciencia humana vem,
radiante de felicidade e cheia de esperança, do­
brar o joel·ho diante do unico Deus verdadeiro,
real e substancialmente presente na Hostia con-
sagrada.
Sim, a sciencia ! Ella, a nobre, a grande, a
verdadeira sciencia, irmã gemea da Fé, adora o
ú��?terio eucharistico, mysterio augu�tílsimo e
d1,·mo, · profundo como o abysmo, msondavel
como o juizo de Deus. O mysterio é doce e
agra-clavel, solemne e encantador, bello e grau�
elioso como o riso da criancinha num berco nim-
bado de luz., . ,
1) 'A Eucharistia é o mysterio impenetravel, -
o grande mysterio consolador da Fé, &Uja gran�
deza a pobre razão humana não póde comprehen­
der. Os philosophos sem phil.osophia · e os ra­
cionalistas sem razão dizem que não podem crer
este dogma porque .é incomprehensivel e contra
a razão. Nós dizemos-lhes agora: a Eucharis­
tia é tanto mais razoavel quanto é incomp1ehcn­
sivel, e tanto mais admissível quanto é incrível.
Um simples syllogismo. A razão humana não
inve_nta aquillo que ella não comprehende; ora
a Presença Real está cheia de iiicomprehensibi­
lidades por toda a parte: logo, não foi inventada.
. O argumento é de um grande philosopho e
eminente: theologo, apoiado nos mais esclareci­
dos doútores e scientistás de renome.
*
* *
A razão humana, convém observar, não
póde penetrar nos arcanos da Eucharistia, mys­
terio profundíssimo, firme alicerce da Fé. Entre­
tanto, não se póde seguir dahi um absurdo, pelo
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simples facto da razão não explicar o 'como ·-e
o porque do ritysterio' eucharistico.
O sobrenatural, o miraculoso da conversão
eucliaristica está -principalmente no seguinte: to­
da a·· substancia, e sómente a substancia · do pão
e _,do vinho, muda-se em toda a substancia, e
sómente na substancia..do corpo · e do sangue de
Jesus Christo, o qual não soffre por isso altera­
ção alguma, recebendo, entretanto, uma nova
Presença Real, debaixo dos accidentes do pão
e do vi,nho, accidentes que continuam a subsistir
pelo infinito poder de D�us. •
Os sabios inflados, fechando os ol�os á
grande luz da san razão, descrêem no mysterio
eucharistico e julgam estar em harmonia • com
a verdadeira sciencia.
Pobres homens ! •.,
Diante do mvsterio eucharistico dobram seus
joelhos cerebraçõés gigantescas como Thomaz de
Aquino, Alberto Magno, 'Bellarmino, Boaventura,
Agostinho, Soto, Soares, Alexandre de Hales, e
mil outros luminares da sciencia.
Todas as objecções apresentadas contra o
dogma da Eucharistia já foram pulverizadas pela
propda razão, pela razão esclarecida e recta.
*
Devo narrar aqui uma scena interessante.
Viajava uma vez a bordo de um bello paquete
do Lloyd, com destin't> á grande e . formosa ci­
dade do Rio de JaneirQ. Durante a viagem fiz
relações de amizade com um joven bacharel,
sahidó ha pouco dos bancos academicos. Sym­
pathico, insinuante, mesmo intelligente. Guardava
ainda resquícios de· Fé chri$tã, negando, infeliz­
[IH:nté, o dogma consolador da presem;{! real de
Jesus Christo na ·Eucharistia.
Perguntei-lhe a razão de sua descrença, os
motivos de sua. incredulidade. Era apenas uma
ôbjecção mil vezes refufada. Eil-a: «Os nossoi;
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�.l24 -
sentidos, sr. padre, não podem natµrahi1e1üe en­
ganar-nos; mas, acceito o dogma da transubstan­
ciação, os nos·sos sentidos enganam-n,os universal­
n1ente1 pois nos mostram na Euchar,ist_i_a o sabor
e a côr de pão e de vinho e por isso vinho e
pão, logo ... » . _ .
Respondi-lhe mais ou menos nestes termos:
«Os nossos sentidos, sr. doutor, dizem ·os _theo­
logos e philosophos christãos, não se eng·ai;iam ·
quando se exercem s0bre objecto proprio . �- do
modo devido. O objecto proprio do s�nticlo -�
ju),gar dos accidentes dos corpos , e:; não das
su'b-stancias. Portanto, affirman·do os nossos sen�
tidos 'que ha gosto, côr, etc. de pão e -de v_in,lw,
não •�e enganam, porque, de facto, estes accide11tes
existem. realmente; porém, si destes· accidc�ntes
se quizer concluir que fica a mesma substancia
dç J>âo e de vinho, são enganados os 11ossos sen­
tidos, porque julgam dum objecto · que não é
seu, d'um objecto que• só pertence ao intell-ecto,
cujo officio é julgar as substancias. O inteHecto
não se engana, por isso que, i1111111inado pela
fé, sabe que a substancia do pão e do vinho,
já não existe mais na Eucharistia.»
*
* *
O meu joven amigo ficou plenamente satis­
feito.
Declàrou, com nobre franqueza, que nunca
tinha estudado seriamente. a doutrina catholica·.
-Eis ahi o grande mal.• A ignorancia -e111 materia
religiosa é palpavel. Estúdem seriamente, dêem-se
ás investigações, compulsem os grandes aucto­
res c:itholicos, rezem, reconheçam a impotencia
da razão humana ein face dos proprios 111ystcri9s
natnraes, humilhem-se diante dos arcanos divinos,
deixem as paixões e terão fé .. AssÍln.,. e·ntrara111
na posse da verdade completa, Paul Claudel,
Nerins, F. Coppée, A. Retté; Felicio dos Santos,
J,.a Harpe, M. Betrand, Huysmans e muitos outros.
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Scieucia e l?é

A presença real de Jesus Christo


na Eucharistl&
A DOM SEBJ\STIÃO LEME; UMA DAS GLORIAS
DO ÉPISCOPA�O SUL ÀMERICANO. • ·•

Louis Veuillot, uma das maiores notabili­


dades da França scientifica, escreveu: «Não ha
sciencia . alguma possível éo�tra Jesus Christo.
Nunca houve. A descrença scientifica não é
mais· que ignorancia enfeitada, mascara da impier
dade, afivelada para enganar a consciencia e pro­
porcionar-lhe quaesquer razões para não crer».
As mais robustas intelligencias e os genios
mais fecundos e extraordinarios já têm affirmado,
em occasiões solemnes e decisivas,. a excellencia
da sciencia catholica, proclaman�o-a cousa ex­
celsa e preciosa, - cujo poder é tão espantoso
que, ll,bstrahida a omnisciencia divina, não ha
força no mundo capaz .de lhe tolher os passos
agigantados e luminosos.
O catholicismo, o· maior facto da historia
humana, não teme a critica racionalista, a ana­
lysc dos pseudo-sabios, nem os ataques desleaes
de «uma philosophia arida e triste», na phrase
lapidar de Alexandr� Herculano. E' celebre a
sentença de Bacon: «A verdadeira sc;iencia conduz
a· Deus; a meia sciencia l_eva �o q;fh�il;,mo»,
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- 126 -

O dr. E .. Dennert, sabio pr.otestante, afama�


do auctor da «Die Religion . der Naturforscher»,
passou revi_sta a todo8' os grandes naturalistas
e meçlicos. dos seculos preteritos, inquirindo-lhes
especialmente O• credo religioso. Chegou á cón­
clusãc de que a esm;,tgadora maioria dos mais
notaveis cultores da sciencia é declaradamente
crente em Deus. No seio do catholicismo flo­
resceram em todos os -seculos homens da mais
profunda seiencia e da fé mais esclarecida e
firme. Na idade · moderna é visível a reversão
� crenças catholicas. Vê-se, pois, que o proble­
ma religioso, fonge -de desàpparecer, continúa
em presença dó seculo, interessando a tudo e
a· i<>dos.
. Os mysterios da Fé não repugnam· aos ver­
dj:,deiramente ·sabios e ás almas castas. Elles
sao' superiores á razão humana, não padece du­
vida; mas, d'ahi não se segue o seu ábsurdo.
Pascal escreveu: «A fé está acima da ra­
zão; mas não contra».
Na Eucharistia, mysterio dos mysterios, as­
sombro dos assombros, portento dos poi"tentos,
maravilha das maravilhas, a intélligencia, i1111-
minada pela Fé, submdte-se humildemente a Deus,
porque sabe que o «Omnipotente obra no céo
e na terra cousas grandes e incomprehensiveis
e ninguem ha que penetrar possa os arcanos
di\'.inos».
Deus anda com os simples, diz o auctor da
«Imitação», manifesta-se aos humildes, e «d.í. in­
telligencia aos pequenos, alumia !)s almas pur.as
e efccnde sua gr.aça aos curiosos e soberbo.s».
A suprema ;felicidade é crer. Quem· não se
sentirá feliz _ajoelhando-se . ao lado de Thomaz
de Aquino; Kepler, Leão XIII, Pasteur, Le Ver­
j-ier, Fabre, Hettinger, Ampere, Bossuet, Fene•
lón, Mercier; Rampolla; Moigno, Vieira, Oibbons,
Agassiz, · Newton e de tartas outros cultores da
sciencia? . - · .·. . _
A" · sombra do Sacrarió, no veneravel Myste-
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- 127 -
rio Eucharistico, «o que se pede é a fé sincera
e a vida pura, e' não um alto conhecimento e
uma· profunda penetração dos mysterios de Deus».
«Si tu não corriprehendes o que· está abaixo
de ti, pergunta um sabio, como comprehende­
rás o qLÍe está acima da esphera de teu alcance?»

*
* *

Os sabios estão sempre com o mysterfo


ante os olhos. Que sabem ellcs da cssencia in-·
tima das cousas? Que dizem tio «como» e «pior­
que» dos mystcrios naturacs? · Todas as grandes
questões continuam a �itar o espírito hum�no
e os sabios permanecem silenciosamente na·• �ua
ignôrancia letrada.
Teve razão Besson, quando disse: «O ho­
mem verdadeiramente sàbio só consegue saber
que· é um ignorante letrado».
Entretanto, os homens da m'ela sciencia ad­
miram os mysterios naturaes e, despresam eis da
1·eligião. Infelizes! Nem ao menos querem ser
fcg1cos. "Regeitatn os mysterios • divinos porque
não os comprehendem? Regeitem tamb.em os da
. '
sc1enc1a. .... .
«Grande é a sciencia, bem o creio; é a
maior de todas as grandezas, diz Ruy Barbosa,
mas abaixo da outra, «a · divina», que lhe ha de
sobrepairar eternamente».

Sim, a Presença Real!


Jesus Christo, Filho de Deus vivo, Deus
1::lle proprio, o Supremo Regedor pos · mundos,
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o Deus das sciencias e das luzes, Causa Prima­
ria de todas as cousas_, dignou-se fiçar comnosco
até á consummação dos seculos, na adoravel Eu�
charistia, - fóco de luz divina.
A Egreja affjrma esta verdade, os maio­
res sabios acceitam-na, os martyres dão o teste­
munho do seu sangu� e a christandade haure
suas forças neste Pão d_e· Immortalidade.
o· homens, por que não recoüheceis abi o
milagre estupendo?

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_. A. Philosopbia e a Eucharistia
A' MOCIDADE CATHOLICA DO BRASIL

A Eucharistia é a propria vida do Ch�istia­


nismo, o centro do culto . catholico, a luz raa
diosa êla Fé, o 111aximo espiendor da Ei,rf\ja.
A Eucharistia assombra a intelligenc1a e a
razão. Quando Jesus Christo · pronunciára, na
Ceia, as palavras: «Tomai e comei, isto é o meu
Corpo>>, --· os judeus recuaram assom'f>rados, por
não cómprehenderem tão alto m_ysierio.
E Christo continúa affirmando claramente,
publicamente, nobremente, a sua real presença
na Eucharistia, · pois, permanece noite e dia nos
sacrarios dos nossos templos, vivo, glorioso, eter­
no, omnipotente, para alimento das almas immor­
taes. Na Hostia branca, pura, santa e immacula­
da dos altares, está realmente o Filho de· Deus
Vivo, Christo Redemptoi:, rei das almas, senhor
dos corações e soberano das nações.
E' o grande e suavissimo rnysterio da Fé.
*
* *

A proposito do dogma eucharistico, certa


vez, em palestra com um medico, um dos cha­
m.ados espl,ritos emancipados, ouvi-lhe esta ob­
j,ecção: «Padre, como é que a substancia do
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- 130 -
corpo · e do snngue de Jesus Christo coma o
logar da substancia do pão e -c10 vinho, deixando
subsistir os accfdentes destes, como a figura, a
côr e o gosto? O bom senso recusa-se em acre­
ditar nesta incompatibilidade.»
Respondi-lhe mais ou n�enos assim: «Doutor,
sua ohjecção, carece de base solida. Leibnitz,
philosopho dos mais 11otaveis, diz que a essencia
de uma cousa, - o que faz que . ella é esta
cousa, -- consiste num certo poder ou numa
certa faculdade primitiva, distincta das suas di­
mensões, das suas qualidades, em uma palavra,
do� seus �odos e acdd�ntes, de tal maneira que
rnnéebemos . a essencia despida de seus modos.
Ora, Jl.S cousas estando assim, não poç!erá Deus
tirar a essencia e deixar o objecto conservar
às suas dimensões . e faculdades?
,, Logo que Deus o queira, não se póde
achar nisso contradicção alguma».
A razão humána, illuminada pela Fé, ad­
mitte a presença real de Jesus Christo debaixo
tias apparencias do pão e do vinho. O nosso
g'rancle Padre Vieira resolve maravilhosamente a
difficuldade, dizendo: «Na nutrição natural do
corpo humano a substancia .do pão e 'do vin�o
se· converte em su.bstancia de carne e sangue'?
Pois se a natureza é poderosa para converter
pão e vinho em carne e sangue, em esf>.go
de oi-to horas, por gue . n�o- será poderoso )eu6
à converter pão -e· vinho em substancia de carne
e sangue em menos tempo? Para confessar este
milagre nã_o é necessario crer que Deus é mais
podei oso que a natureza ; basta conceder que é
mais. apressado. O que a natureza faz devagar,
por que o não fará Deus um ·pouco mais de­
pressa?»

*
* *

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- 131 -

Estude-se seriamente a Religiãct Catholica,


o seu catecismo, os seus dogmas, a sua riabre
philosophia, a sua moral divinà, os seus pre­
ceitos, a sua historia, a sua theologia, e o resul­
tado benefico será _/1. posse da verdade completa
e a paz· de uma consciencia tranquilfa � calma,
�esmo nas h9-ras das grano.es amarguras e das
grandes provações.
Deus-Eucharistico, guia-me, ampara-me, illu­
mina-me semp·re no caminho - doloroso da vida!

�-

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INDICE'

Approvàçãó 5
Prdacio . . . . . . . 7
I. -Deus ·e a crença universal . . . . · 9
II. Jesus Christo em presença do .seculci . 16
III. .A Religião e os ·homens de sciencia 23
IV. Guerra ao Padre . . . 27
V.·. Odio eterno ao Padre . . . . . 3•
V( O ensino catholico na opinião dos in-
. credukis . . . · . . . . . . .. 38
VII. A confissão na opinião dos incredulos • • 47
VI.II. Odio · maçonico · á Religião !í,0
IX. Onqe a caridade maçonica? • �
X. Hackel em apuros . . . 57
XI. As falsificações de Haeckel 59
.XII. Porque odeiam os Jesuitas? . . 63
XII 1. Estudos - Maçonaria e autoridade 68
A · Religião ·e o Amor 71
O problema da dôr . 86
Os beneficios · da • dôr 90
As consolações da dôr 96
O livro da dôr· . · . 101
A· dôr e a esperança 106
A-dôr e a sciencia · . . . 109
Pretensão desc'abida e tola 112
Uma discussão ás direitas . . . . , · 114
A Eucharistia e a Palavra de Jes�s Christo 121
Sciencia e Fé . . . . . . 125
A ·Philosophia e a Eucharistia . 129

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