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Nicolau Maquiavel

(1469-1527)
O que significa o termo “maquiavélico”?

Maquiavel de Santi di Tito


Estátua de Maquiavel Busto de Maquiavel
em Florença. no Museu Palazzo Vecchio, no Palazzo Vecchio, Florença.
Florença.
Depois de servir ao governo republicano de
Florença por 14 anos (durante o exílio da
família Médici e durante o período do
governo da família Bórgia) como Segundo
Chanceler, responsável pela correspondência
relativa à administração dos territórios
florentinos, e também como secretário dos
Dez da Guerra, relatando as missões
diplomáticas que envolviam os membros
desse comitê, Maquiavel foi afastado de suas
funções públicas com o retorno ao poder dos
Médici, em novembro de 1512. Considerado
suspeito de conspirar contra o novo regime,
foi preso, em fevereiro de 1513, e solto um
mês depois, graças à anistia concedida em
comemoração à eleição do cardeal Giovanni
de Médici para o Papado. (FRATESCHI,
Yara; MELO, Rúrion; RAMOS, Flamarion
Caldeira, p. 87-88)
Família Bórgia

Alexandre VI Retrato de Vannozza dei


214° Papa da Igreja Cattanei (1442 - 1518)
Católica (1492-1503) por Innocenzo di Pietro
Rodrigo Bórgia 1431 – Francucci da Imola.
1503

"Retrato de um Cavalheiro” Retrato de Lucrécia Bórgia


Giovanni Borgia Gioffre Borgia
Cesare Borgia (1475-1507) (1480-1519)
(1474-1497) (1482 — 1518)
por Altobello Melone por Bartolomeo Veneto.
Família pop
Os Bórgias inspiram até hoje:

1. Na literatura, o clã estrelou obras


de Alexandre Dumas, autor de Os
Três Mosqueteiros e Mario Puzo,
que escreveu O Poderoso Chefão.
2. Na TV, há uma série norte-americana e uma europeia.
3. No cinema, Los Borgia - filme hispano-italiano de 2006
dirigido por Antonio Hernández.
4. César Bórgia já foi vilão na série de jogos Assassin’s Creed.
5. César Bórgia foi o modelo de inspiração para O Príncipe (1513), de Maquiavel.
Qual concepção de política de
Maquiavel?
1. O QUE É REALISMO POLÍTICO?

Maquiavel observou, porém, que havia uma


distância entre o ideal de política e a realidade
política de sua época. Escreveu então o livro O
príncipe (1513-1515), com o propósito de tratar
da política tal como ela se dá, isto é, sem
pretender fazer uma teoria da política ideal (como
Platão), mas, ao contrário, compreendendo e
esclarecendo a política real. (COTRIM, 354)

Dessa forma, o filósofo afastou-se da concepção


idealizada de política. centrou sua reflexão na
constatação de que o poder político tem como
função regular as lutas e tensões entre os grupos
sociais, os quais, em seu entendimento, eram
basicamente dois: o grupo dos poderosos (os
grandes) e o povo. Essas lutas e tensões existiriam
sempre, de tal forma que seria ilusão buscar um
bem comum para todos. (COTRIM, 354)
Não se deve falar sobre as coisas imaginadas
mas sobre as verdadeiras:

Resta agora como deve comportar-se príncipe para com seus


súditos os seus amigos. Como sei que muitos já escreveram sobre
este assunto temos que, escrevendo eu também, seja considerado
presunçoso, sobretudo por, ao discutir esta matéria, me afastarei
das linhas traçadas pelos outros. Porém, sendo meu intento
escrever algo útil para quem me ler, parece-me mais conveniente
procurar a verdade efetiva da coisa do que uma imaginação sobre
ela. Muitos imaginaram repúblicas e principados que jamais foram
vistos e que nem se soube se existiram na verdade, porque há
tamanha distância entre como se vive e como se deveria viver, que
aquele que trocar o que se faz por aquilo que se deveria fazer,
aprende antes sua ruína do que sua preservação; pois um homem
que queira fazer em todas as coisas profissão de bondade deve
arruinar-se entre tantos que não são bons. Daí ser necessário a um
príncipe, se quiser manter-se, aprender a poder não ser bom e a
se valer ou não diz segundo a necessidade. (MAQUIAVEL, O
Príncipe, p. 21)
Rompimento com o Idealismo na Política – visão pragmática
.
As virtudes principescas celebradas pela tradição – probidade, liberalidade, piedade,
lealdade, entre outras – são assim rejeitadas. Na verdade, elas tornam-se ineficazes no
âmbito político, que é regulado por outros princípios e valores. Maquiavel ressalta a
necessidade de uma moral adequada à política, uma vez que os valores que regulam a
ação política não coincidem muitas vezes com os valores que regem a ação humana em
outros domínios. Não se trata de retirar a moralidade da política, mas de reconhecer
que a política tem seu próprio sistema normativo fundado em valores próprios. A ação
política não estaria, então, isenta de deveres, mas os critérios para estipulá-los não
poderiam ser estranhos a sua finalidade, que é a preservação do bem comum e da
ordem pública, representados em O Príncipe pela conquista e manutenção do poder.
(FRATESCHI, Yara; MELO, Rúrion; RAMOS, Flamarion Caldeira, p. 90)
2. QUAL A RELAÇÃO ENTRE MORAL E POLÍTICA?

Se a política não tem como objetivo o bem comum,


qual seria então seu objetivo?

Maquiavel respondeu: a política tem como objetivo a


manutenção do poder do Estado. E, para manter o
poder, o governante deve lutar com todas as armas
possíveis, sempre atento às correlações de forças que
se mostram a cada instante. Isso significa que a ação
política não cabe nos limites do juízo moral. O
governante deve fazer aquilo que, a cada momento,
se mostra interessante para conservar seu poder. não
se trata, portanto, de uma decisão moral, mas sim
de uma decisão que atende à lógica do poder.
(COTRIM, p. 354)
3. Por que Maquiavel é
considerado o pai da teoria política moderna?

A política é uma ciência!


1. Observar muitos fatos
do mesmo tipo

2. Descrever esses fatos


cuidadosamente
Método da pesquisa empírica

3. Comparar esses fatos


buscando pontos comuns e diferenças

4. Formular leis gerais a partir


dos pontos comuns entre eles
O tema principal desses comentários de Maquiavel aos dez primeiros
. livros da História de Roma, de Tito Lívio (59-17 a.C.). A primeira parte
dos Discursos é dedicada a mostrar a origem e o desenvolvimento
político de Roma, em especial a substituição do regime monárquico pelo
republicano e a criação de instituições capazes de preservar sua
liberdade; a segunda parte mostra como a progressiva expansão de
Roma, apoiada em seu poderio militar, ajudou a sustentar a liberdade
conquistada; e a terceira parte avalia a ação dos cidadãos romanos na
manutenção da liberdade da República romana. Mas por que comentar
a história da antiga República romana, quando a preocupação era com
a liberdade das repúblicas de sua época, em especial Florença? No
prefácio, Maquiavel anuncia sua intenção de adotar na política a prática
que já era comum ao direito e à medicina: o uso das experiências
passadas para a elaboração de regras que orientassem a ação no
presente. A premissa básica desse procedimento era a invariabilidade
das paixões e desejos humanos, que não se manifestavam sempre do
mesmo modo, em razão das mudanças provocadas pelo tempo, mas
mantinham certa constância, permitindo que os relatos históricos
pudessem ser utilizados como parâmetros de conduta. Não se tratava de
pura imitação do passado, mas de resgatar o sentido dos fatos narrados
a fim de extrair lições para a atualidade, como já havia sido feito para
os principados em O Príncipe. FRATESCHI, Yara; MELO, Rúrion;
RAMOS, Flamarion Caldeira, p. 91)
Para Maquiavel, qual é o regime
político dos estados?
Para Maquiavel, quais tipos de estados existem?

Publicado com o título de O Príncipe, o opúsculo inicia


com a afirmação de que todos os Estados que existiram
e existem são principados ou repúblicas, indicando a
possibilidade de dois regimes políticos, que se
distinguem pelo número de pessoas que detêm o poder:
uma só ou o conjunto dos cidadãos. Ao tratar da
primeira forma de regime, Maquiavel analisa as
condições da ação política, suas possibilidades e seus
limites a partir da figura do príncipe, em particular do
príncipe novo, responsável pela instauração de uma
nova ordem política (FRATESCHI, Yara; MELO, Rúrion;
RAMOS, Flamarion Caldeira, p. 89).
De acordo com Maquiavel, como se dá
a formação da estrutura social dos
principados?
Mas, tratando do outro caso, em que um cidadão
particular se torna príncipe de sua pátria, não por atos
criminosos nem outras violências intoleráveis, mas pelo
apoio de seus concidadãos o que se pode chamar principado
civil; para alcançá-lo, não é necessário ter muita virtù,
nem muita fortuna, mas antes uma astúcia afortunada),
digo que se ascende a este principado ou pelo favor do povo
ou pelo favor dos grandes. Pois, em todas as cidades,
existem esses dois humores diversos que nascem da seguinte
razão: o povo não quer ser comandado nem oprimido pelos
grandes, enquanto os grandes desejam comandar e oprimir
o povo; desses dois apetites diferentes, nascem nas cidades
um destes três efeitos: principado, liberdade ou licença.
(MAQUIAVEL, p.43)
Melhor Ser Amado
Ou Temido?

Qual a natureza do
Homem para
Maquiavel?
Melhor Ser Amado
Ou Temido?

Surge daí uma questão: é melhor ser amado que temido ou o inverso? A
resposta é que seria de desejar ser ambas as coisas, mas, como é difícil
combiná-las, é muito mais seguro ser temido do que amado quando se
tem de desistir de uma das duas. E isto porque geralmente se pode
afirmar o seguinte acerca dos homens: que são ingratos, volúveis,
simulados e dissimulados, fogem dos perigos, são ávidos de ganhar e,
enquanto lhes fizer bem, pertencem inteiramente a ti, te oferecem o
sangue, o patrimônio, a vida e os filhos, como disse acima, desde que o
perigo esteja distante; mas, quando precisas deles, revoltam-se. O
príncipe que se apoia inteiramente sobre suas palavras, descuidando se
de outras precauções, se arruína, porque as amizades que se obtém
mediante pagamento, e não com a grandeza e nobreza de ânimo, se
compra, mas não se possuem, e, no devido tempo, não podem ser
usadas. Os homens têm menos receio de ofender a quem se faz amar do
que a outro que se faça temer; pois o amor é mantido por vínculo de
reconhecimento, o qual, sendo os homens perversos, é rompido sempre
que lhes interessa, enquanto o temor é mantido pelo medo ao castigo,
que nunca te abandona. (MAQUIAVEL, p.80)
Então os homens são MAUS?

O príncipe deve preocupar-se, ainda, segundo Maquiavel, com a arte do


governo. Essa arte é adquirida pelo conhecimento das principais
características do ser humano, que permite ao príncipe agir de acordo com o
que são realmente os homens. Os homens são descritos como geralmente
ingratos, simuladores, volúveis, covardes, ambiciosos, pérfidos e interesseiros.
Isso não quer dizer que eles sejam naturalmente maus, mas que têm certa
tendência em buscar o próprio interesse e agir de acordo com ele. O príncipe
não pode assim supor que os homens sejam bons nem governá-los com
bondade, porque conhecerá inevitavelmente a ruína entre tantos que estão
dispostos a agir com maldade, se necessário, para alcançar seus desejos.

Por isso, mesmo que não seja mau, o príncipe deve aprender a usar da força
quando for preciso, fazendo-se temer, pois esse é um sentimento, diferente
do amor, que não se abandona jamais. Segundo Maquiavel, aquele que
governa deve recorrer não apenas às leis, próprias do ser humano, mas
também à força, que é maneira de combater dos animais, empregando as
qualidades da raposa, para conhecer as armadilhas, e do leão, para
aterrorizar os oponentes (FRATESCHI, Yara; MELO, Rúrion; RAMOS,
Flamarion Caldeira, p. 89)
Como se chega ao poder?
Virtú ou Fortuna?
Quero um a outro desses ditos modos de fazer-se Príncipe - por virtude ou
por fortuna - adir dois exemplos retidos pela nossa memória vir e estes são
o de Francesco Sforza e o de César Bórgia. 1. Francesco, com sua grande
qualidade pessoal (virtú) e com recurso das próprias forças de simples
cidadão tornou-se Duque de Milão, e aquilo que a duras penas conquistara
pôde facilmente conservar. 2. De outra parte, César Bórgia, vulgarmente
chamado Duque Valentino, obteve o Estado graças à condição (fortuna) de
seu pai, com o qual o perdeu, embora tudo houvesse tentado no sentido de
conduzir-se como um homem virtuoso e prudente que deita as suas raízes
nas terras que as armas e a fortuna alheias lhe outorgam. Isso porque, como
acima foi dito, quem, de uma forma preliminar, não assentou as bases do
seu poder, pode, com grande gênio (virtú), fazê-lo depois de sua ascensão,
ainda que este fazer implique dificuldades para o arquiteto e riscos para a
obra. Assim, se observamos todos os progressos desse Duque, constataremos
que ele fixou sólidas bases para a perenidade do seu poder; bases sobre as
quais não considero supérfluo discorrer, até porque não saberia que outros e
melhores preceitos dar a um novo príncipe que não o exemplo de suas ações.
(MAQUIAVEL, 1998, p.30-31)
EXERCÍCIOS – ENEM
(ENEM, 2013) Mas, sendo minha intenção escrever algo de útil para quem por tal se
interesse, pareceu-me mais conveniente ir em busca da verdade extraída dos fatos e não à
imaginação dos mesmos, pois muitos conceberam repúblicas e principados jamais vistos ou
conhecidos
. como tendo realmente existido.

MAQUIAVEL, N. O príncipe. Disponível em: www.culturabrasil.pro.br. Acesso em: 4 abr.


2013.

A partir do texto, é possível perceber a crítica maquiaveliana à filosofia política de Platão,


pois há nesta a

a) elaboração de um ordenamento político com fundamento na bondade infinita de Deus.


b) explicitação dos acontecimentos políticos do período clássico de forma imparcial.
c) utilização da oratória política como meio de convencer os oponentes na ágora.
d) investigação das constituições políticas de Atenas pelo método indutivo.
e) idealização de um mundo político perfeito existente no mundo das ideias.
(ENEM, 2013) Nasce daqui uma questão: se vale mais ser amado que temido ou temido
que amado. Responde-se que ambas as coisas seriam de desejar; mas porque é difícil
juntá-las, é muito mais seguro ser temido que amado, quando haja de faltar uma das
duas. Porque dos homens se pode dizer, duma maneira geral, que são ingratos, volúveis,
simuladores,
. covardes e ávidos de lucro, e enquanto lhes fazes bem são inteiramente teus,
oferecem-te o sangue, os bens, a vida e os filhos, quando, como acima disse, o perigo está
longe; mas quando ele chega, revoltam-se.

MAQUIAVEL, N. O príncipe. Rio de Janeiro: Bertrand, 1991.

A partir da análise histórica do comportamento humano em suas relações sociais e


políticas. Maquiavel define o homem como um ser

a) munido de virtude, com disposição nata a praticar o bem a si e aos outros.


b) possuidor de fortuna, valendo-se de riquezas para alcançar êxito na política.
c) guiado por interesses, de modo que suas ações são imprevisíveis e inconstantes.
d) naturalmente racional, vivendo em um estado pré-social e portando seus direitos
naturais.
e) sociável por natureza, mantendo relações pacíficas com seus pares.
(ENEM, 2019) Para Maquiavel, quando um homem decide dizer a verdade pondo em risco
a própria integridade física, tal resolução diz respeito apenas a sua pessoa. Mas se esse
mesmo homem é um chefe de Estado, os critérios pessoais não são mais adequados para
decidir sobre ações cujas consequências se tornam tão amplas, já que o prejuízo não será
apenas
. individual, mas coletivo. Nesse caso, conforme as circunstâncias e os fins a serem
atingidos, pode-se decidir que o melhor para o bem comum seja mentir.

ARANHA, M. L. Maquiavel: a lógica da força. São Paulo: Moderna, 2006 (adaptado).

O texto aponta uma inovação na teoria política na época moderna expressa na distinção
entre

a) idealidade e efetividade da moral.


b) nulidade e preservabilidade da liberdade.
c) ilegalidade e legitimidade do governante.
d) verificabilidade e possibilidade da verdade.
e) objetividade e subjetividade do conhecimento.
Proposta de Atividade

1. Qual a concepção de política para Maquiavel? Explique.

2. Para Maquiavel, qual é o regime político dos territórios?

3. Qual o posicionamento de Maquiavel em “O Príncipe” sobre a relação do príncipe com o


povo: é Melhor Ser Amado e/ou Temido e/ou Odiado? Explique.

4. Qual a natureza do Homem para Maquiavel?

5. Qual a relação entre virtú e fotuna para a manutenção do poder dos principados?
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COTRIM, Gilberto. FERNANDES, Mirna Fundamentos de filosofia.
4. ed. São Paulo : Saraiva, 2016.

FRATESCHI, Yara; MELO, Rúrion; RAMOS, Flamarion Caldeira. Manual de


filosofia política. São Paulo: Saraiva, 2012.

MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. São Paulo: Companhia das Letras.

https://super.abril.com.br/mundo-estranho/quem-foram-os-borgias/
Cuidem-se.
Abraços,

Prof.ª Alexandrina Rocha.

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