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July Kwon
Goiânia
Agosto/2021
INSTITUTO DE TREINAMENTO E PESQUISA EM GESTALT-TERAPIA DE
GOIÂNIA
Goiânia
Agosto/2021
Uma pesquisa fenomenológica-existencial sobre a suicidologia de
Shneidman e a Gestalt-terapia
Resumo
Abstract
Suicide is a phenomenon of great complexity and an object of study in many areas of knowledge.
All perspectives contribute to a better understanding of the phenomenon, but its understanding must start
from a whole involved in the process of committing suicide. The article aims verify a possible dialogue
between two psychological perspectives for the study of suicide, Gestalt therapy and Edwin Shneidman's
suicidology. From semi-structured interviews carried out with psychologists with a gestalt and existential-
phenomenological approach and data analysis using the Giorgi method, some similarities in the
understanding of the phenomenon in relation to suicide were noted, as well as some differences in
psychotherapeutic management. Both perspectives perceive suicide as a multi-causal phenomenon
characterized by great suffering, but there are divergences in clinical management, due to the dialogic posture
of Gestalt-therapy.
Keywords: Suicide; Gestalt-therapy; Suicidology; Edwin Shneidman; Psychotherapy
Resumen
El suicidio es un fenómeno de gran complejidad y objeto de estudio en muchas áreas del
conocimiento. Todas las perspectivas contribuyen a una mejor comprensión del fenómeno, pero su
comprensión debe partir de un todo involucrado en el proceso de suicidio. El artículo tiene como objetivo
verificar un posible diálogo entre dos perspectivas psicológicas para el estudio del suicidio, a saber, la
Terapia Gestalt y la suicidología de Edwin Shneidman. A partir de entrevistas semiestructuradas realizadas
con psicólogos con enfoque gestáltico y existencial-fenomenológico y del análisis de datos mediante el
método de Giorgi, se encontraron algunas similitudes en la comprensión del fenómeno en relación al
suicidio, así como algunas diferencias en el manejo psicoterapéutico. Ambas perspectivas perciben el
suicidio como un fenómeno multicausal caracterizado por un gran sufrimiento, pero existen divergencias en
el manejo clínico, debido a la postura dialogica de la terapia gestalt.
Introdução
Uma das grandes estudiosas a respeito do tema Karina Okajima Fukumitsu (2013)
explica que o suicídio é caracterizado pelo desespero humano, a falta de significados e
esperança na vida. As pessoas que se suicidam buscam outra maneira de viver, mas não a
encontram, dessa forma, sua última escolha é feita em direção à morte.
Dor e sofrimento são aspectos diretamente ligados à existência e “sintomas” da
própria vida. Mas muitas vezes o ser sofrente sente a necessidade e gasta energia tentando
eliminar a angústia, o sofrimento e o desespero, ao passo que é necessário vivenciá-los de
modo a compreender a totalidade do organismo e integrar todos os aspectos de seu ser. É a
partir disso que o sofrimento pode ser vivido como mobilização e abertura para a mudança
(Holanda, 2014).
O contato é uma forma de ser e de se expressar no mundo, Jacobs (1997) explica que
ele é um processo que diz respeito à capacidade do organismo de perceber suas necessidades
e manipular o meio em que vive para satisfazê-las. De acordo com Ervin e Mirian Polster
(2001 como citado em D’acri, 2014) existem sete funções de contato: tocar, olhar, escutar,
cheirar, degustar, falar e movimentar.
O contato pleno é definido por Ribeiro (1997) como aquele em que há integração das
funções sensitivas, motoras e cognitivas, então a partir de um movimento dinâmico e uma
consciência emocionada, produz uma escolha e um bem-estar. O autor explica que nem todo
contato é saudável, e nem toda a fuga é doentia, sendo necessário entender a relação que o
indivíduo estabelece com o outro e com o mundo para compreender seu funcionamento
(Ribeiro, 1997).
Outro ponto de necessário entendimento é que o contato só pode ser visto como efeito
ou causa em um dado processo, ocorrendo em um determinado campo, ou seja, uma
complexa teia de forças inter-relacionadas que exercem influência sobre o comportamento do
organismo (Yontef, 1998).
Esse fundamento vem da teoria de campo de Kurt Lewin, sendo a relação entre a
pessoa e seu ambiente o pressuposto básico desta teoria. Lewin diz de um método de
construção que propõe uma representação simbólica de uma pessoa (ou várias) sobre a qual
incidem forças, em um determinado momento, sendo necessário um estudo dessas forças
presentes na relação da pessoa com seu meio, além de levar em consideração como o
indivíduo experiencia o momento (Rodrigues, 2013).
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Isso significa, como explica Ribeiro (1999), que tudo aquilo que afeta o
comportamento, em determinado momento, deve ser incluído ao campo e não são somente
forças do ambiente físico, podendo englobar também, por exemplo, os sonhos e medos.
Ribeiro (1997) aponta que o contato é resultado das relações estabelecidas e dos
campos os quais nos movemos durante a vida. Por isso, só é possível a existência de um
sofrimento a partir desse. Não se pode compreender o sofrimento como subjetivo ou
meramente individual.
O dialógico é definido por Buber (1982) não só como uma mera interação verbal que
ocorre nas relações interpessoais, ele é alcançado em uma relação estabelecida entre duas
pessoas e em que se alcança a mutualidade, a partir do conhecimento íntimo do outro com
quem se comunica e da aceitação desse em sua maneira de ser. Nesse contato, as pessoas se
comunicam entre si tais como são, de forma autêntica e experienciando a totalidade do outro
que está em sua frente.
O dialógico é uma forma de contato e para que ele ocorra é necessário alguns
elementos do inter-humano, sendo eles a presença, a inclusão, a confirmação e a
comunicação genuína e sem reservas (Jacobs, 1997).
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Estar presente é fundamental para que ocorra um diálogo genuíno entre duas pessoas,
e isso não significa somente estar presente fisicamente, é muito além do que pode ser descrito
de forma objetiva. Presença implica estar completamente disponível para o outro em um dado
momento, em que a consciência se dirige completamente ao processo de existir da outra
pessoa. Já a inclusão é um movimento de ir e vir, no qual há a intensa tentativa de
compreender e experiênciar a vivência da pessoa, sem abandonar a sua própria (Jacobs,
1997).
Ribeiro (1985) afirma que a palavra fenômeno pode ser definida como aquilo que
aparece, que se revela por si mesmo. No entanto, não deve ser considerado como
independente das experiências do sujeito já que só existe em relação à sua consciência. Por
isso, algo nunca é visto da mesma forma por pessoas diferentes e à fenomenologia interessa
não apenas o fenômeno, mas o ser do fenômeno, para que se compreenda a existência deste.
que é uma forma de psicoterapia, mas se diferencia das outras abordagens porque trabalhar
com indivíduos potencialmente suicidas requer um diferente tipo de envolvimento, tendo
como objetivo aumentar a noção psicológica do indivíduo sobre as escolhas possíveis e seu
senso de suporte emocional (Shneidman, 1993).
A ideia central presente nas obras de Shneidman é que o suicídio tem como causa
uma dor específica, a dor psicológica, por ele denominada "psychache" e define como:
atribuir um número para cada necessidade, devendo somar 100 ao final, desta forma, seria
possível avaliar a si mesmo ou qualquer outra pessoa, ajudando a identificar em qual
necessidade está o foco da dor psicológica. Paralelo a isto, Fukumitsu (2013) escreve que a
pessoa que se matou parece não ter conseguido encontrar uma forma funcional de manejar
suas necessidades.
Metodologia
Participantes
Participaram dessa pesquisa três psicoterapeutas, sendo duas da abordagem gestáltica
e uma da fenomenológica-existencial, todas com experiências de atuação na área clínica e
com clientes apresentando ideações suicidas. Fizeram parte do critério de exclusão
colaboradores que tenham atendido clientes com ideações suicidas e, ao mesmo tempo, que
possuiam transtornos de personalidade ou psicóticos.
A primeira colaboradora entrevistada reside no Rio de Janeiro e é doutora em
psicologia, a psicóloga entrevistada posteriormente é especialista em Gestalt-terapia e reside
em Goiânia com mais de dez anos de atuação na clínica, e por fim, a última participante está
cursando a pós-graduação na abordagem e é graduada a três anos,
Materiais
Os materiais utilizados foram canetas, papéis e celular para a gravação das entrevistas,
além do computador para a transcrição das entrevistas e análise de dados.
Instrumentos
Para realização da pesquisa foi utilizado como instrumento a entrevista semi-
estruturada com as perguntas disparadoras: “Na sua prática como Gestalt-terapeuta, como
você compreende a experiência de indivíduos potencialmente suicidas? Para você, é possível
visualizar, apesar de cada singularidade, semelhanças na vivência de tais clientes? Quais
estratégias você utiliza ao lidar com esses clientes?”. Além disso, foi enviado às participantes
o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) por e-mail, para que pudessem
assinar caso concordassem em participar da pesquisa.
Procedimentos
Devido à pandemia do novo coronavírus, o procedimento da pesquisa precisou passar
por algumas alterações. Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS, 2021), a
COVID-19 é uma doença infecciosa causada pelo vírus SARS- CoV-2, que provoca sintomas
como febre, cansaço, tosse seca, além de poder causar, dores de cabeça, congestão nasal,
conjuntivite, dor de garganta, diarreia, perda de paladar ou olfato, erupção cutânea na pele ou
descoloração dos dedos das mãos ou dos pés. A COVID-19 possui alta velocidade de
contágio e por causa disso, inúmeras regras de restrição foram tomadas ao logo dos últimos
anos. Obedecendo às restrições, as entrevistas que antes seriam realizadas de forma
presencial necessitaram ser realizadas a partir da plataforma digital do Google Meet.
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Por terem sido realizadas pelo Google Meet, uma plataforma online de vídeo
chamada, os locais das entrevistas foram escolhidos pelas colaboradoras, sendo indicado
aqueles que apresentavam privacidade e menor quantidade de ruídos vindos do ambiente
externo, para garantir a qualidade das entrevistas, que foram gravadas mediante a aprovação
das colaboradoras.
Procedimento de análise de dados
Para a análise de dados foi utilizado o método fenomenológico de Amadeo Giorgi, o
modelo da metodologia empírica. Este modelo propõe a descrição das experiências vividas
em quatro passos. O primeiro é captar o sentido do todo, em que o pesquisador deve ler toda
a descrição para captar seu sentido geral. No segundo passo, deve-se discriminar as unidades
de significado, em que é feita a leitura das descrições buscando focar no fenônemo que está
sendo pesquisado (Giorgi & Sousa, 2010).
O passo seguinte é transformar os unidades de sentido em expressões de caráter
psicológico, mantendo uma linguagem descritiva e não interpretativa. Por fim, o último passo
proposto por Giorgi é transformar as unidades significativas em uma estrutura descritiva
geral. Isso significa que, neste passo o pesquisador reagrupa os constitutivos relevantes de
forma a criar uma estrutura da experiência e uma análise da estrutura do fenômeno (Giorgi &
Sousa, 2010).
Procedimentos ético-legais
O estudo foi norteado pelos princípios éticos das pesquisas em ciências humanas e
sociais, descritos pelo Conselho Nacional de Saúde, nas resoluções n.º 510, de 7 de abril de
2016 e n.º 466, de 12 de dezembro de 2012. Sendo assim, a pesquisa reconheceu a liberdade,
autonomia, os direitos humanos e valores culturais, sociais, morais e religiosos dos
envolvidos. Além disso, empenhou-se na ampliação e consolidação da democracia de forma a
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A pesquisa foi realizada com três psicólogas que atenderam pelo menos dois
clientes com ideação suicida. Duas delas residentes de Goiânia e uma do Rio de Janeiro.
Devido à pandemia do coronavírus e a impossibilidade de entrevistas presenciais, a
pesquisadora percebeu a possibilidade da colaboração de uma participante fora do estado e
com grande experiência no tema, a partir das entrevistas por chamada de vídeo .
Resultados e Discussão
Sofrimento
Então é o desejo de querer acabar com a dor o mais rápido possível, porque parece
que é uma dor tão avassaladora e tão intensa, tão autodestrutiva, que se torna
insuportável e a pessoa não vê uma outra forma de lidar, a não ser essa. (Jade, 2021).
Então assim, eu vejo que muitas vezes elas são muito repletas de dor e desespero. É o
que geralmente eu vejo de comum em todas, dor e desespero. (Bromélia, 2021).
É um adoecimento, mas é um adoecimento que não tem aonde no corpo, não tem
localização no corpo, mas que é tão intensa que também se mostra no físico.
(Bromélia, 2021).
O autor explica que a psychache deriva da frustração ou da distorção de necessidades
psicológicas da pessoa (Shneidman, 1996). A ligação entre sofrimento e frustração é
apontada na fala das colaboradoras:
[...] eu já atendi casos que a pessoa está muito indignada porque não conquistou
aquilo que queria e aí se não acontece o que queria, prefere morrer. [...] Enfim, a
contrariedade, no final das contas, é o elemento que motiva muito. (Ivy, 2021).
Acho que tem muita tristeza, um limiar para a frustração muito curto, a falta de
recursos para lidar com essa tristeza, então eu percebo muito isso... muita angústia.
(Jade, 2021).
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Fukumitsu (2013) explica que o ato suicida é uma tentativa de aniquilar o desespero e o
sofrimento, partes constituintes do ser naquele determinado momento. No entanto, a pessoa
que apresenta ideações suicidas acaba confundindo essas partes com o todo, desejando o
autoaniquilimento. Assim, ela dirige para si a energia que deveria ser canalizada a outrem o
que caracteriza o mecanismo da retroflexão. A colaboradora fala sobre essa forma de contato
de pessoas com ideações suicidas ao lidar com o sofrimento:
Porque na verdade, eles não querem se matar, eles querem matar uma dor, mas no
desespero de não saber entender o que fazer para que aquela dor cesse ou que aquele
problema se resolva, o instinto de sobrevivência acaba se voltando contra si.
(Bromélia, 2021).
É consenso nas duas perspectivas psicológicas a existência do sofrimento intenso na
vivência da pessoa que apresenta ideações suicidas. A maneira como cada um lida com o
sofrimento e com a frustração de suas necessidades é que se difere. Especificamente as
pessoas que cogitam se matar, tentam acabar com o sofrimento a partir da autoaniquilação.
Multicausalidade
[...] quando a situação passa dos limites que a gente possa atender, a gente pode até
encaminhar para o psiquiatra ou a gente mesmo leva ao hospital psiquiátrico. (Ivy,
2021).
Por isso eu falo que é um cuidado multidisciplinar, porque a pessoa é o nosso foco.
Mas essa pessoa está amparada por uma rede gigantesca que envolve o terapeuta, o
médico, a família, as pessoas que ele eleger, que quer que ajude a cuidar dele, outros
profissionais. (Jade, 2021).
Ele está sendo acompanhado por psiquiatras? Porque geralmente se é depressão ou
bipolaridade, eu faço questão. Eu converso com a família, dou todo o suporte possível
para ter adesão ao tratamento psiquiátrico, eu faço questão porque faz muita diferença
na vida da pessoa. (Bromélia, 2021).
Segundo Fukumitsu (2013) as causas que levam ao suicídio são múltiplas, mas
existem fatores que o desencadeiam, como por exemplo a perda de um emprego ou de algum
familiar. De forma semelhante, as entrevistadas trazem algum deles:
Mas muitas vezes é uma desilusão amorosa, é uma reprovação em alguma disciplina,
sofrer um processo de bullying[...]. (Ivy, 2021).
[...] em situações em que a gente trabalhou algumas questões que aconteceram na
infância dele, mobilizou ele de uma forma que ele tentou suicídio duas vezes. (Jade,
2021).
Estão de acordo as duas perspectivas psicológicas no que diz respeito a
causalidade do suicídio, é impossível estabelecer uma relação de causa e efeito e identificar
um único aspecto responsável por ele. Como explicado por Holanda (1998), é necessário a
compreensão de um todo que exerce influência sobre o indivíduo, por isso, tanto a Gestalt-
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[...] quem trabalha com a ideia de ideação suicida são as ciencias objetivantes,
explicativas. E o meu modo de saber é compreensivo, então se eu me prendo às
ideações suicidas, eu saio do meu lugar, lugar que vejo o fenômeno humano e vou
para o lugar da técnica e da ciência. (Ivy, 2021).
Para além disso, é importante a atitude dialógica diante de uma pessoa com ideações
suicidas. Isso requer do psicoterapeuta a responsabilidade de encontrar genuinamente a outra
pessoa, sem exigir que ele mude. Tentar remover o cliente de sua experiência não o confirma
em sua existência, é necessário a confirmação de sua existência para que seja possível iniciar
um processo de mudança (Jacobs, 1997). A colaboradora Jade explica:
Então, o trabalho e o manejo terapêutico, eu acho que ele caminha dessa forma.
Acolhendo a pessoa, compreendendo a sua dor existencial, não querendo tirar ela
desse lugar, pelo contrário, é só ficando com essa pessoa na dor que a gente consegue
compreendê-la melhor. Depois, a gente, juntos encontrar outras possiblidades e outros
recursos de lidar com essa dor existencial que não seja dessa forma autodestrutiva e ir
trabalhando a outra polaridade da vida. (Jade, 2021).
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Segundo Buber (1957) para que uma relação seja transformadora é necessária uma
abertura para a pessoa que está adoecida em seu relacionamento com o mundo e com os
outros. É a partir de um processo no qual há o restabelecimento dessa conexão com o
terapeuta e com os outros, que a terapia se desenvolve e permite que o cliente entre em
contato com questões existenciais mais profundas. Essa intimidade é dificilmente
estabelecida na vida diária, mas é essencial para a cura. Como pode ser percebido no relato da
colaboradora ao descrever sobre a importância da relação psicoterapêutica no processo de
ressignificação:
Então assim, por mais que talvez pareça algo muito amplo, é de fato a única
possibilidade que a gente tem. E quando a gente trabalha a possibilidade com esse
cliente, é ele também que vai desenvolvendo esse novo olhar. Isso não é algo que é
seu, é algo construído na relação. Isso faz com que a dor dele vai sendo ressignificada.
(Jade, 2021).
Ao falar de uma postura dialógica, Hycner (1995) aponta a importância da
disponibilidade do psicoterapeuta para receber a plenitude do outro, para entrar o mais
completamente possível na experiência do cliente. Estar consciente do que é necessário para
permanecer disponível para o contato é responsabilidade de quem deseja manter um diálogo
genuíno. De acordo com essa ideia, as colaboradoras relatam a importância em suas vivências
da disponibilidade tanto na sessão psicoterapêutica quanto fora dela, ao se relacionar com
clientes com ideações suicidas:
[...] a disponibilidade do terapeuta para trabalhar com essas pessoas tem que ser
enorme. E a disponibilidade que eu falo é de atenção mesmo, então assim, a atenção
não é só dentro da sessão terapeutica, ela é constantemente com a pessoa. (Jade,
2021).
Me deixo sempre disponível, porque eu acho que para trabalhar com suicídio, não
tem como você não ter disponibilidade de horário[...]. É fundamental você ter um
ouvido disponível para aquilo que você vai ouvir. Eu acho também que essa é uma
questão essencial, acolhimento e disponibilidade para ouvir. (Bromélia, 2021).
Fica claro a importância da postura fenomenológica e dialógica para a Gestalt-terapia,
segundo a fala das colaboradoras. Elas tornam possível que a psicoterapeuta possa
acompanhar o indivíduo em sua dor, permitir que a pessoa explore suas possibilidades e
ressignifique sua vivência.
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Considerações finais
Referências
Buber, M. (1982). Healing through meeting. In, Buber. Eclipse of God: Studies in the
relation between religion and philosophy (M. Friedman, trad.). Nova York: Harper &
Row, pp. 131-138.
Pinto, E. B. P. (2021). Dialogar com a ansiedade: uma vereda para o cuidado. São Paulo:
Summus.