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Lição 5

3 de fevereiro/2024

Um cântico ao Senhor em terra estranha


Introdução
Tempos bons e maus: é isso que é retratado nas letras dos salmos. Em suas orações e cânticos, os
salmistas expressam suas variadas experiências, sejam estas de dias felizes ou não. Os dias tristes que
aparecem nos salmos, em sua maioria, referem-se ao contexto de exílio que a nação de Judá viveu por
causa das invasões babilônicas. Foram três invasões (2Rs 23:36–25:22), sendo que na última o templo foi
destruído. Parte dos que sobreviveram foram levados cativos para a Babilônia, e a outra parte foi deixada
na terra devastada.

Os dias do mal – (Salmos 74 e 79)


Os salmos 74 e 79 foram compostos por Asafe. Há três posicionamentos sobre a autoria desses salmos e
de outros que recebem o mesmo título. O primeiro é que esse Asafe é o mesmo levita colocado por Davi
para dirigir os louvores no Templo (1Cr 16:4-6). O segundo é que esse Asafe poderia ser outra pessoa
com o mesmo nome, que teria vivido no período pós-exílio babilônico. O terceiro é que o nome “Asafe” é
representativo, indicando um grupo de levitas, descendentes de Asafe e que vivenciaram os horrores do
exílio (Comentário da Bíblia de Estudo Vida). O conteúdo dos dois salmos trata de alguém requerendo de
Deus a Sua vingança sobre os inimigos.

Os dias maus, vividos e retratados nesses salmos, foram consequências das ações dos israelitas que não
viveram de acordo com a vontade de Deus. Os resultados foram as invasões babilônicas e a experiência
terrível do cativeiro. No entanto, “os dias maus” também podem ocorrer quando nos mantemos fiéis a
Deus, pois a perseguição e as tribulações fazem parte do itinerário cristão neste mundo (1Pe 4:12-16). O
que esses dois salmos apresentam é que ao viver esses dias, o cristão pode clamar por livramento e
misericórdia. Deus, por Sua vez, tem misericórdia de Seu povo, apesar dos pecados e rebeliões da nação,
pois o Senhor Se lembra de que eles são carne (Sl 78:38, 39).

À beira da morte
Os três capítulos apresentados na lição refletem a experiência que o salmista viveu, chegando perto da
morte. Quem já passou por alguma experiência semelhante, sabe que o momento é de risco, porque há
uma percepção de que está se aproximando o fim da existência. Naturalmente, ocorre um sentimento de
medo e pavor que domina os pensamentos. No Salmo 41:1 a 4, o cenário é de alguém que está sendo
ameaçado por inimigos (v. 2), ou que esteja no “leito da enfermidade” (v. 3). Nesse contexto, o clamor do
salmista foi que o Senhor Se compadecesse dele e o levantasse (v. 10). No Salmo 88:3 a 12, há uma
descrição de quase morte, de alguém que ficou “sem força” (v. 4), que já se sentia “na mais profunda
cova” (v. 6). No entanto, o salmista era persistente e clamava a Deus “dia após dia” (v. 9). O versículo 13
apresenta uma mudança repentina na leitura, pois após a descrição fúnebre dos versículos anteriores, o
salmista contrasta a situação com a persistência na oração: “Mas eu, Senhor, clamo a Ti por socorro, e de
madrugada dirijo a Ti a minha oração”.

A hora do silêncio
Os textos apresentados na pergunta três da lição de terça-feira apresentam uma experiência que todos já
passaram em sua vida religiosa: o silêncio de Deus diante dos pedidos e clamores do Seu povo. Nesse
contexto, a pergunta cruciante que pode ser feita é: “E o seu Deus, onde está?” (Sl 42:3, 10). Essa foi a
mesma pergunta, embora em outras palavras, que Jesus fez a Deus Pai ao experimentar as profundas
dores da experiência e do pecado humano na cruz do Calvário: “Deus Meu, Deus Meu, por que Me
desamparaste?” (Mt 27:46).

O mesmo senso de silêncio é repetido nos textos em que o salmista expressa o seu cansaço de tanto
clamar e não ser respondido (Sl 69:3). No entanto, mesmo em meio a esses textos de cansaço diante do
silêncio divino, a fé perseverante do salmista prevalece sobre o cansaço e o desgaste, pois ele reconhece
a presença de Deus com ele “durante o dia” “e de noite” (Sl 42:8). Sua “alma” espera “em Deus”, pois ele
acredita que ainda irá louvá-Lo (Sl 42:5, 11). E ao apegar-se a Deus, ele se sente amparado por Sua
“destra” (Sl 63:8).
O silêncio de Deus não significa que Ele não esteja ouvindo, e é justamente por isso que os salmistas
continuam insistindo em oração, pois a maior certeza que eles possuíam era a de que Deus ouvia as Suas
preces, e um dia Ele iria responder, consoante às Suas misericórdias (Sl 39:12; 69:13, 14, 16; 102:1, 2).

O Salmo 77 é mais um em que o escritor expressa sua angústia diante de seus problemas e a aparente
indiferença de Deus aos seus clamores. Todavia, quase no centro do capítulo, o salmista expressa a
conclusão que ele obteve após meditar nas “maravilhas”, “obras” e “prodígios” de Deus (v. 11, 12). Ele
exclama: “O Teu caminho, ó Deus, é de santidade. Que deus é tão grande como o nosso Deus? Tu és o
Deus que operas maravilhas e, entre os povos, tens feito notório o Teu poder” (v. 13, 14).

O que se percebe ao ler esses salmos de lamento e angústia, é que mesmo diante do sofrimento e
tristeza, por Deus aparentar estar indiferente à situação, os salmistas continuavam crendo em Deus e na
Sua soberania. A fé prevalecia sobre o medo e a demora, tornando possível antever o milagre e a
intervenção divina.

Para onde devemos olhar?


Se o ímpio prevalecesse na história, o justo seria tentado a não prevalecer em sua fé, abandonando a sua
integridade para lançar mão da iniquidade, pois a fidelidade em seguir a Deus seria inútil, já que no fim os
ímpios experimentariam a prosperidade. Esse é o pensamento no Salmo 125:3: “O cetro dos ímpios não
permanecerá sobre a sorte dos justos, para que o justo não estenda a mão à iniquidade”. No entanto, o
texto, em tom de certeza, garante que o “cetro dos ímpios não permanecerá”!

O que dificulta o processo de resistir ao mal e às tribulações, é justamente a percepção da aparente vida
feliz e próspera dos ímpios. Essa foi a experiência de Asafe no Salmo 73. Ele testemunha: “Quanto a mim,
os meus pés quase tropeçaram; por pouco não escorreguei. Pois tive inveja dos arrogantes quando vi a
prosperidade desses ímpios” (Sl 73:2, NVI). Nos versículos 4 a 12, Asafe apresenta a aparente vida boa
que os ímpios levam, apesar de sua maldade. Mesmo tendo consciência de seus atos pecaminosos, eles
perguntam com um sentimento de rebeldia e atrevimento: “Como sabe Deus? Acaso há conhecimento no
Altíssimo?” (v. 11). Essa mesma pergunta é repetida no Salmo 94:7: “O Senhor não nos vê; o Deus de
Jacó nada percebe” (NVI).

Asafe passa a comparar a vida dos ímpios com sua vida piedosa, e chega a dizer que foi inútil conservar
“puro o coração” e lavar “as mãos na inocência”, pois mesmo assim ele continuava sendo afligido, e cada
manhã, castigado (Sl 73:13, 14). Ao fazer essa comparação, Asafe teve dificuldades “para compreender
isso”, considerando uma tarefa muito pesada para ele (Sl 73:16).

A solução para Asafe foi entrar “no santuário de Deus”, onde ele compreendeu a justiça de Deus e soube
qual seria “o fim” dos ímpios (Sl 73:17). Foi no santuário que Asafe obteve uma visão mais nítida do
caráter de Deus e de Sua justiça, sabendo que Deus, no fim, trará a justa medida de Sua justiça para cada
um.

A experiência de Asafe mostra a importância da doutrina do santuário no contexto do grande conflito


cósmico. Nesse conflito, o caráter de Deus tem sido debatido, mas é no santuário celestial e em tudo o
que ali se realiza que a justiça e o amor de Deus são revelados e esclarecidos. Por isso, nossa atenção
não deve ser desviada pelas tribulações ou ameaças vindas dos ímpios. Precisamos manter os nossos
olhos fixos no santuário celestial, onde o nosso Salvador atua por nós no contexto do juízo pré-advento
investigativo (Hb 4:14-16; 8:1, 2; 9:24; 10:19-23; 12:1, 2). Essa visão de Jesus nos fortalecerá nos
momentos de angústia, e nos conduzirá à vitória sobre as tribulações.

Pr. Ezinaldo Ubirajara Pereira


Professor na Faculdade Adventista de Teologia do UNASP-EC

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