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Lição 4

27 de janeiro/2024

O Senhor ouve e liberta


Introdução
Nas Escrituras Sagradas, Deus é apresentado como sendo transcendente (um Ser excelso e além do
ser humano – inatingível e incompreensível), e imanente (um Ser próximo e presente).

Esses dois conceitos são apresentados por Isaías: “Porque assim diz o Alto, o Sublime, que habita a
eternidade, o qual tem o nome de Santo: Habito no alto e santo lugar, mas habito também com o
contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e vivificar o coração dos contritos”
(Is 57:15). Esse Deus, que habita no mais “alto e santo lugar”, ao mesmo tempo pode Se inclinar para
ouvir a oração de uma pessoa contrita e abatida, fazendo-Se presente ao nosso lado.

Esse é o tema trabalhado na lição desta semana, com o título “O Senhor ouve e liberta”. O verso para
memorizar relembra não apenas o ato divino de ouvir o clamor de Seus filhos, mas também de agir
pelo livramento daqueles que assim O pedem (Sl 34:7).

A aproximação – Salmos 139, 40, 121 e 91


O salmo 139 testifica da aproximação de Deus para com Seus filhos. Essa aproximação é
considerada pelo fato de Deus nos ter criado, sendo por isso o único que nos conhece perfeitamente.
Por essa razão, o salmo começa informando que Deus “sonda” e “conhece” o salmista. O verbo
“sondar” vem da palavra hebraica chaqar (pronuncia-se raqar), e tem o sentido de uma busca
profunda, um examinado detalhado (The Brown-Drives-Briggs Hebrew and English Lexicon, p. 350).

O que implica dizer que Deus nos conhece de forma perfeita e detalhada, como é apresentado nos
versículos seguintes do capítulo (Sl 139:2-4, 13-16).

Além desse conhecimento detalhado, Deus também Se faz presente ao nosso lado, pois nos
versículos 7 a 12 não há nenhum espaço em que o salmista possa estar ausente da presença de
Deus. A Sua presença e o Seu conhecimento apresentam a proximidade de Deus em relação às Suas
criaturas, revelando a Sua imanência. Essa aproximação de Deus é manifestada pelo Seu cuidado
por nós.

O Salmo 40:1 a 3 dá a certeza de que Deus ouve o clamor. A imagem é Deus Se inclinando de Seu
trono para ouvir (v. 2). Além de Se inclinar para ouvir, seguem-se outras ações, demonstrando total
interatividade entre Deus e a pessoa que clama. Após Se inclinar para ouvir, Deus retira a pessoa do
“poço de perdição” e a coloca “sobre uma rocha”. Como resultado desse livramento, Deus coloca “um
novo cântico” nos lábios da pessoa e depois a usa como testemunha do Seu cuidado e amor, pois
“muitos verão essas coisas, temerão e confiarão no Senhor” (v. 3).

A presença cuidadora de Deus é descrita no conhecido Salmo 121. O salmo apresenta a constante
vigilância de Deus sobre Seu povo, usando a metáfora do sono, dizendo que Deus, o “guarda de
Israel” não “dorme”, vigiando noite e dia sobre Seu povo. Dos versículos 5 a 8, por três vezes se
repete que o Senhor é quem guarda Israel, e essa “guarda” é constante, ocorrendo de dia e de noite
(v. 6). Ele guarda Seu povo completamente, pois guarda as pessoas “de todo mal” (v. 7) e em todo
tempo, “desde agora e para sempre” (v. 8).

A mesma ideia de proteção é vista no Salmo 91, sendo este o salmo mais conhecido sobre proteção
apresentado no livro. A proteção prometida nesse salmo é condicional ao que está escrito já em seu
primeiro versículo: “O que habita no esconderijo do Altíssimo e descansa à sombra do Onipotente” (Sl
91:1). A condição apresentada nesse texto para a experiência de proteção do capítulo é habitar “no
esconderijo do Altíssimo” e descansar “à sombra do Onipotente”. O versículo é escrito em paralelismo
sinônimo, em que a segunda linha repete a mesma ideia da primeira, porém, usando trocadilhos de
sinônimos.
Abaixo, segue o texto em paralelo:
Linha A O que habita no esconderijo do Altíssimo,
Linha B e descansa à sombra do Onipotente.

Claramente se percebe os três pares sinonímicos do texto: (1) habita e descansa; (2) esconderijo e
sombra, e (3) Altíssimo e Onipotente. O verbo “habitar” encontra seu paralelo em “descansar”. Esses
dois verbos indicam essa ação realizada em um lugar, que é descrito como sendo o “esconderijo” ou
“sombra” do “Altíssimo”, o “Onipotente”. A imagem da “sombra” de Deus se refere à proteção que a
pessoa pode ter ao estar em comunhão com o Senhor, assim como a lição exemplifica a metáfora da
águia ao cuidar de seus filhotes (Êx 19:4; Dt 32:11; Sl 17:8; 57:1; 63:7; Mt 23:37).

Então, esse “lugar” chamado “esconderijo” ou “sombra” é uma metáfora usada para falar sobre a
comunhão que a pessoa pode experimentar com Deus. A pessoa que experimenta essa comunhão
vivenciará a proteção divina, não necessariamente ou somente no aspecto físico, pois muitas pessoas
que andavam em comunhão com o Senhor infelizmente já experimentaram tragédias que, se não
ceifaram a vida delas, deixaram marcas irreparáveis. Portanto, essa proteção divina, em primeiro
lugar, diz respeito à proteção da fé. Mesmo que o pior aconteça, caindo até “mil” de um lado “e dez
mil” do outro lado (v. 6), a fé não será atingida. Em um segundo plano, a proteção desse salmo se
cumprirá de forma literal (física), quando o fiel de Deus estiver passando pelo “tempo de angústia o
qual nunca houve” (Dn 12:1), justamente a “angústia” mencionada no versículo 15.

Lembranças do êxodo – Salmo 114


A versão do Salmo 114 na Bíblia Hebraica Stuttgartensia traz os oito versículos que o compõem
separados por duplas: (a) v. 1, 2; (b) v. 3, 4; (c) v. 5, 6; (d) v. 7, 8. Essa mesma divisão pode ser vista
na versão Almeida Revista e Atualizada, por conter um espaço adicional no fim dos versículos 2, 4, 6
e 8.

Essas 4 duplas se intercalam, como mostrado no desenho da estrutura abaixo:


V. 1, 2 – “casa de Jacó”
V. 3, 4 – “mar [...] fugiu; o Jordão tornou atrás”.
V. 5, 6 – “ó mar, que assim foges? [...] Jordão, para tornares atrás?
V. 7, 8 – “Deus de Jacó”.

O centro da estrutura repete as duas experiências em que as águas foram detidas diante do povo de
Israel: 1º) na travessia do Mar Vermelho (Êx 15:15-31); 2º) na travessia do rio Jordão (Js 3; 4). Esses
dois eventos marcaram a história de Israel, recordando a operação do poder de Deus em favor de
Seu povo. Essa recordação é importante para todo aquele que espera em Deus por algum milagre,
pois mesmo diante das impossibilidades humanas, Deus pode “abrir o mar” diante de nós.

O santuário como centro cósmico de comando


O santuário de Deus é o centro cósmico de onde advém ajuda, comando e orientação para o povo de
Deus. Na experiência do deserto, Israel tinha o santuário como centro de sua vida, orientação e
adoração. Isso foi exemplificado até mesmo na distribuição das tribos e suas respectivas tendas ao
redor do santuário (Nm 2).

Em Salmos podemos encontrar a certeza de que Deus ouve nossas orações e clamores, atendendo-
nos conforme a Sua soberana vontade. O que devemos fazer é dirigir a nossa atenção para a Sua
santa habitação, de onde Ele ouve e nos responde.

Pr. Ezinaldo Ubirajara Pereira


Professor na Faculdade Adventista de Teologia do UNASP-EC

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