O Eleito na Angústia Suplica e Eleva Ações de Graças
Sl. 28
Objetivo: Ensinar que a vida do eleito pode ser marcada por
tribulações, nas quais clama o auxílio do Senhor e se eleva a Ele as mais ternas ações de graças.
Introdução: Você já viveu noites escuras onde parece que os céus
estavam tão distantes e Deus tão inacessível? A noite escura pode ser um acontecimento na vida de cada cristão nas mais diferentes e inusitadas situações.
Contexto: Este é mais um dos Salmos de Lamentações.
Mais de 60 Salmos dentre a coletânea do Saltério pertencem à categoria dos salmos de lamentação. Tipicamente, os salmos de lamentação começam com um grito de desespero, solicitando ajuda; a seguir descrevem o tipo exato de perigo envolvido; e então se encerram com uma nota de otimismo, porque a oração foi respondida, ou porque se espera que em breve o seja. As circunstâncias podem ter sido a fuga de Davi diante do exército de Absalão, cuja narrativa se encontra nos capítulos 15-18 de II Samuel. No Salmo se lê acerca de traição (vs. 3), e a oração final pelo povo bem pode ser um indicativo de um rei que está sendo dilacerado pela guerra civil.
Transição: Neste texto quero compartilhar nesta oportunidade o
tema: ‘O Eleito na Angústia Suplica e Eleva Ações de Graças’. I – O Eleito Ora Por Socorro em Meio à Angústia. (Vs. 1-5).
1. A situação do salmista era desesperadora, e a não ser
que Deus o respondesse em socorro, ele teria sido semelhante aos que descem à cova, isto é, teria morrido.
2. Onde situar historicamente o Salmo?
2.1 – Comentaristas como João Calvino e outros alocam este salmo aos eventos das perseguições de Saul contra Davi. 2.2 – Me sinto mais à vontade quando olho o salmo à luz dos eventos que circundaram a traição de Absalão. 2.3 – Sl. 28.3 ‘... falam de paz ao seu próximo, porém no coração tem perversidade’. 2.4 – Absalão furtava o coração do povo de Israel, com palavras doces e lisonjeiras, quando sua intenção era roubar o reino.
3. Se estou certo na contextualização histórica do salmo,
este talvez tenha sido um dos episódios mais amargos na vida de Davi, onde o próprio filho a quem perdoara se levanta em motim, procurando matar o próprio pai. 3.1 – É dentro deste contexto de um coração apertado em amarguras, que Davi derrama sua alma ante ao Senhor.
4. Observe a intensidade do clamor que o poeta levante ao
Senhor. 4.1 – Sl. 28.1a ‘A ti clamo, ó Senhor; rocha minha, não sejas surdo para comigo’. a) A palavra hebraica significa um clamor urgente por ajuda. 4.2 – Sl. 28.2 ‘Ouve-me as vozes súplices, quando a ti clamar por socorro, quando erguer as mãos para o teu santuário’.
5. Quando Davi saiu de Jerusalém, fugindo de Absalão, os
sacerdotes Zadoque e Abiatar, saíram com ele, levando consigo a Arca da Aliança, que representava a presença de Deus (II Sm. 15.24-29). 5.1 – Davi ordenou que os sacerdotes voltassem com a arca para o seu tabernáculo. 5.2 – É em direção ao santuário que Davi dirigiu sua petição ao símbolo visível da presença de Deus. a) – Sl. 28.2b ‘... quando erguer as mãos para o teu santuário’.
6. O salmista coloca diante de Deus o fato de que não quer
ser associado com os perversos. 6.1 – Sl. 28.3 ‘Não me arrastes com os ímpios, com os que praticam a iniquidade; os quais falam de paz ao seu próximo, porém no coração têm perversidade’. 6.2 – A ética cristã conduz o eleito para o distanciamento necessário da prática comum de uma sociedade corrompida pelo pecado. a) Sl. 1.1 ‘Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores’. b) Fp. 2.14 ‘...para que vos torneis irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração pervertida e corrupta, na qual resplandeceis como luzeiros no mundo...’. 6.3 – O eleito de Deus é de natureza tal que mesmo quando desliza e peca, não concorda com sua natureza pecaminosa e se levanta seja contra seu erro próprio, seja contra o erro da sociedade caída.
7. Davi usa aqui de palavras imprecatórias onde requer o
juízo de Deus sobre seus inimigos. 7.1 – Sl. 28.4 ‘Paga-lhes segundo as suas obras, segundo a malícia dos seus atos; dá-lhes conforme a obra de suas mãos, retribui-lhes o que merecem’. 7.2 – Palavras tais como estas, clamando por vingança contra os inimigos, podem parecer um tanto contraditórias com a convicção cristã do amor e perdão. 7.3 – Não se pode esquecer que aqui Davi está rogando que as maldições pactuais visitem os que violam os requerimentos pactuais. 7.4 – O Senhor é um Deus de retribuição que dá aos perversos o que lhes é devido. a) Sl. 28.5 ‘E, visto que não atentam para os feitos do Senhor, nem para o que as suas mãos fazem, ele os derribará e não os reedificará’. b) Jr. 51.56 ‘porque o destruidor vem contra ela, contra Babilônia; os seus valentes estão presos, já estão quebrados os seus arcos; porque o Senhor, Deus que dá a paga, certamente, lhe retribuirá’. 7.5 – Mathew Henry1: ‘O salmista fala dos justos juízos do Senhor sobre os que praticam a perversidade. Esta linguagem não é de paixão nem de vingança. É uma profecia sobre a chegada do dia em que Deus castigará todo o homem que persiste nas más obras que pratica. Os pecadores serão 1 Mathew Henry, Comentário de Salmos, pág. 42. responsáveis não somente pelo mal que têm feito, mas também pelo mal que conceberam, e por tudo o que fizeram para concretizá-lo. O desprezo pelas obras do Senhor é a causa do pecado dos pecadores, e chega a ser a causa de sua ruína’.
8. Quando se olha a imprecação do Salmo e o desenrolar
dos acontecimentos na vida de Absalão, se vê a mão do Senhor trazendo juízo sobre o ímpio.
9. O clamor dos eleitos contra as injustiças e atos
pecaminosos deste mundo, por mais que possam parecer distante o juízo de Deus, haverá o dia em que se cumprirá dito pelo autor aos Hebreus: ‘Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo’ (Hb. 10.31).
II – O Eleito Eleva Ações de Graças Pela Libertação.
(Vs. 6-9)
1. Os eleitos de Deus em todos os tempos são cercados de
estímulos quanto a certeza de que suas orações serão ouvidas. 1.1 – Jr. 29.12 ‘Então, me invocareis, passareis a orar a mim, e eu vos ouvirei’. 1.2 – Jr. 33.3 ‘Clama a mim e eu te responderei’.
2. Tipicamente, os salmos de lamentação terminam em
um tom de otimismo, onde, geralmente, a oração desesperada é ouvida, ou, pelo menos, o salmista esperava que a resposta não demoraria. 2.1 – Como a oração dele se mostrara eficaz, o salmista subitamente mudou de tom, esqueceu-se de seu desespero e começou a bendizer a Yahweh. a) Sl. 3.8 ‘Do Senhor é a salvação, e sobre o teu povo, a tua bênção’. b) Sl. 5.11-12 ‘Mas regozijem-se todos os que confiam em ti; folguem de júbilo para sempre, porque tu os defendes; e em ti se gloriem os que amam o teu nome. Pois tu, Senhor, abençoas o justo e, como escudo, o cercas da tua benevolência’. c) Sl. 13.5-6 ‘No tocante a mim, confio na tua graça; regozije-se o meu coração na tua salvação. Cantarei ao Senhor, porquanto me tem feito muito bem’. 2.2 – Todos os salmos de lamentação têm essa característica, sem exceção, começando com uma atitude de desolação e terminam com um tom de confiança e louvor.
3. Davi, como homem, lança seu clamor desesperado,
vendo-se débil e impotente em si mesmo; e em resposta ao seu clamor, Yahweh interveio e fortaleceu-o, ao mesmo tempo que espantou o perseguidor. 3.1 – Sl. 28.6 ‘Bendito seja o Senhor, porque me ouviu as vozes súplices!’. 3.2 – O eleito de Deus pode orar confiantemente nas horas escuras da alma, na plena confiança de que o Senhor ouve e atende as suas súplicas.
4. É no reconhecimento das ações poderosas de Deus que
o poeta se apoia para exaltar e agradecer o livramento recebido. 4.1 – Sl. 28.7a ‘O Senhor é a minha força’. a) Calvino2: ‘Davi não se nutria de vã confiança, já que realmente descobrira, por experiência, 2 João Calvino, Comentário Bíblico dos Salmos, Vol. 1, pág. 608. que Deus está sempre presente de posse daquele poder com que preserva seus servos; e que o motivo de sua verdadeira e sólida alegria era o fato de ter sempre Deus favorável a ele’. 4.2 – O poeta sagrado desenvolveu uma metáfora militar para mostrar que fora ajudado e livrado de um inimigo cruel que se inclinava para a destruição. 4.3 – Sl. 28.7b ‘e o meu escudo’. a) Diversos salmos apresentam Deus na figura de um escudo protetor de seu povo. b) No hebraico a palavra tsinnah, escudo grande e longo, apropriado para o uso por parte de uma pessoa de grande estatura, visava proteger o corpo inteiro do soldado. c) Esse tipo de escudo, tsinnah, é devidamente referido como símbolo da completa proteção oferecida pelo Senhor Deus aos homens tementes. d) Ilustração: ‘Lutero, quando enfrentava tribulações em Augsburgo, onde recebia a proteção de seu patrono, o eleitor da Saxônia, ao ser indagado sobre quem o protegeria se o eleitor o abandonasse, replicou: O escudo do céu’.
5. O poeta abre um novo parágrafo em sua poesia e amplia
sua oração agora a favor do povo de Deus. 5.1 – Sl. 28.8 ‘O Senhor é a força do seu povo, o refúgio salvador do seu ungido’. 5.2 – Davi apresentando as mesmas figuras, indica que o que Deus era para ele, Davi, ‘força’ e ‘refúgio’, era também para o seu povo. 5.3 – Embora Davi não use de novo a figura ‘escudo’ a substitui por ‘refúgio salvador’ que indica a mesma e potente proteção.
6. O leito de Deus, em qualquer lugar ou época, também,
como Davi se vê escudado e protegido pelo Seu Deus, em Cristo Jesus.
7. O eleito, nas piores situações que a vida lhe apresentar,
pode ver pela fé, o Mestre repetir a mesma fala dada aos discípulos em tempo de medo e temor. 7.1 – Mt. 14.27 ‘Tende bom ânimo. Sou eu. Não temais!’.
Conclusão:
Eleito do Senhor! Agarre-se à oração e à gratidão pelos feitos do Senhor pois Ele ‘Salva o teu povo e abençoa a tua herança; apascenta-o e exalta-o para sempre’.