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A Segura e Confortável Herança dos Eleitos

Sl. 16

Objetivo: Ensinar que os eleitos em Cristo, tem o


Senhor como seu protetor, como sua porção e como sua
salvação.

Introdução: No1 século XVI, Martinho Lutero


afirmou que o livro dos Salmos ‘não coloca diante de
nós somente a palavra dos santos, (…) mas também
nos desvenda o seu coração e o tesouro íntimo de suas
almas’.
Ele também afirmou: ‘É muito benéfico ter palavras
prescritas pelo Espírito Santo, que homens piedosos
podem usar em suas aflições’.
Em seu leito de morte, ele recitava continuamente: ‘Nas
tuas mãos, entrego o meu espírito; tu me remiste,
SENHOR, Deus da verdade’ (Sl. 31.5).

João Calvino2, que comentou todo o livro de Salmos,


escreveu:
‘Tenho por costume denominar este livro – e creio não
de forma incorreta – de ‘Uma anatomia de todas as
partes da alma’, pois não há sequer uma emoção da
qual alguém porventura tenha participado que não
esteja aí representada como num espelho. Ou melhor, o
Espírito Santo, aqui, extirpa da vida todas as tristezas,
as dores, os temores, as dúvidas, as expectativas, as

1
https://teologiabrasileira.com.br/o-uso-dos-salmos-na-devocao-crista/ (Consulta 25/02/2021, às 16h.23).
2
João Calvino, O livro dos Salmos, v. 1 (São José dos Campos: Fiel, 2009), p. 26-27.
preocupações, as perplexidades, enfim, todas as
emoções perturbadas com que a mente humana se
agita. (…) A genuína e fervorosa oração provém, antes
de tudo, de um real senso de nossa necessidade, e, em
seguida, da fé nas promessas de Deus. É através de
uma atenta leitura dessas composições inspiradas que
os homens serão mais eficazmente despertados para a
consciência de suas enfermidades, e, ao mesmo tempo,
instruídos a buscar o antídoto para sua cura. Numa
palavra, tudo quanto nos serve de encorajamento, ao
nos pormos a buscar a Deus em oração, nos é ensinado
neste livro.

Contexto: O Livro dos Salmos é composto por cinco


livros:
- Livro I = Salmo 1 ao Salmo 41.
- Livro II = Salmo 42 ao Salmo 72.
- Livro III = Salmo 73 ao Salmo 89.
- Livro IV = Salmo 90 ao Salmo 106.
- Livro V = Salmo 107 ao Salmo 150.
Os títulos originais dos Salmos são os que se
reproduzem em letra miúda (itálico) na maioria das
nossas versões, encabeçando todos os salmos menos
alguns poucos, e fazem parte do texto canônico da Bíblia
Hebraica.
Setenta e três salmos, quase metade do Saltério, têm a
anotação ledàwid, ‘pertence a Davi’ ou ‘de Davi’.
Doze Salmos são atribuídos à família levítica dos
coreítas, descendentes do líder rebelde com este nome
(Coré), cujos filhos foram poupados quando ele morreu
por sua rebeldia.
Outros doze salmos são da autoria de Asafe.
Três são da autoria de Jedutum (Um levita da família
de Merari e um dos três mestres da música nomeados
por David [I Cr. 16.41,42; I Cr. 25.1-6]).
Dois são de autoria de Salomão.
Um é de autoria de Hemã.
Um é de autoria de Etã.
Um último de autoria de Moisés.

Este Salmo 16 é denominado no seu cabeçalho de um


Miktam de Davi, sendo este um título enigmático.
T. H. Robinson3 escreve: ‘Em seis Salmos a palavra
Miktam aparece no título (16,56-60). Esta palavra está
normalmente associada ao significado da raiz ouro.
Estes Salmos, de beleza incomum, são considerados
joias raras’.
A palavra Miktam, provavelmente também, procede de
um verbo que significa ‘inscrever’, ‘marcar’, ‘gravar’, e
por isso um Miktam é um cântico que deve ser inscrito
ou gravado numa coluna preciosa e durável, a fim de ser
preservado em perene memória.
Para outros, ela parece ser antes alguma espécie de
melodia, por isso a ARA traz ‘Hino de Davi’.

Transição: Com o Salmo 16, quero lhes falar sobre o


seguinte tema: ‘A Segura e Confortável Herança
dos Eleitos’.

3
Comentário Bíblico de Beacon, CPAD, Vol. 03, pág. 136.
I – O Senhor é a Proteção dos Crentes.

1. Em muitos de seus salmos, Davi busca a proteção


do Senhor em situações específicas, seja no caso de
inimigos pessoais ou inimigos nacionais.

2. Neste Salmo Davi não implora o auxílio divino, em


alguma emergência específica, como
frequentemente faz em outros Salmos, mas
simplesmente roga-lhe que se manifeste na
qualidade de protetor durante todo o curso de sua
vida.
2.1 – Sl. 16.1 ‘Guarda-me, ó Deus, porque em ti
me refúgio’.

3. Na verdade, nossa segurança toda, tanto na vida


quanto na morte, depende inteiramente de
estarmos sob a proteção divina.
3.1 – Buxtorff4: ‘A palavra hebraica,
chasithi, (refúgio) derivada do verbo
chasah, denota valer-se alguém do refúgio de
outro, sob cuja proteção ele se sente seguro,
como pintainhos sob as asas da galinha’.

4. Davi, desenvolveu essa confiança em Deus e, por


isso, continuou firme e inamovível em meio a
todas as tormentas de adversidades com que era
ele atingido.

4
Citado por Calvino, op. cit, pág. 302.
4.1 – Calvino5: ‘Deus está pronto a socorrer a
todos nós, contanto que confiemos nele com
uma fé definida e estável; e Ele não toma sob
sua proteção a ninguém senão aqueles que se
confiam a ele de todo o seu coração’.

5. Sempre é bom lembrar que as adversidades


requerem do crente uma confiança que se espelha
na confiança de Davi, ao mesmo tempo em que as
adversidades retroalimentam essa confiança.
5.1 – Tg. 1.2-3 ‘Meus irmãos, tende por motivo
de toda alegria o passardes por várias
provações, sabendo que a provação da vossa
fé, uma vez confirmada, produz
perseverança’.
5.2 – Pv. 24.10 ‘Se te mostras fraco no dia da
angústia, a tua força é pequena’.

6. A confiança de Davi é ímpar no Deus ímpar, isto é


o que ele diz no verso 2, ao dizer ‘outro bem não
possuo, senão a ti somente’.

7. Essa mesma confiança é compartilhada por outros


que se relacionam soteriológica e pessoalmente
com Deus.
7.1 – Davi prefere os santos a quaisquer outros,
e os coloca numa categoria de alta
proeminência.

5
Comentário de João Calvino, Salmos, Vol. 01, pág. 302.
7.2 – Sl. 16.3 ‘Quanto aos santos que há na
terra, são eles os notáveis nos quais tenho todo
o meu prazer’.

II – O Senhor é a Porção dos Crentes.

1. Davi contrasta sua confiança, compartilhada pelos


demais santos, com a nulidade da idolatria ou do
paganismo que descarta o Senhor.

2. Ele apresenta a razão por que se distingue dos


idólatras, e decide prosseguir na Igreja de Deus,
por que se afasta, com profunda aversão, de toda e
qualquer participação de seus vícios e adere ao
culto divino em sua pureza.

3. Davi repousa no Deus único e verdadeiro como sua


porção, e para isto, descarta qualquer relação
idolátrica, que reporta em si mesma um simulacro
de uma relação vazia.
3.1 – Sl. 16.4 ‘Muitas serão as penas dos que
trocam o Senhor por outros deuses; não
oferecerei as suas libações de sangue, e os
meus lábios não pronunciarão o seu nome’.

4. Alguns eruditos entendem que o verso quatro soa


como uma imprecação, enquanto outros veem
como uma constatação do fato de que os idólatras
receberão a pena de seu desvio.
4.1 – ‘que suas dores se multipliquem’.
4.2 – ‘suas dores se multiplicarão’.
5. Sabendo que este é o fim dos que não confiam no
Senhor como o único soberano, Davi se propõe
aqui a um afastamento deste caminho idolátrico.
5.1 – ‘não oferecerei suas libações de sangue’.
a) Davi indica que não compartilharia de
qualquer oferenda pagã ou fora dos
princípios da Lei.
b) O profeta, aqui, não está injuriando os
homens cruéis e sanguinários, mas apenas
condena, em termos gerais, todo e
qualquer culto religioso falso e corrupto.
c) Essa assertiva de Davi precisa despertar no
cristão a decisão de também não se expor a
cultos que fujam aos princípios
escriturístics.
d) Calvino6: ‘Davi, pois, protesta dizendo
que não só se manteria incontaminado
das opiniões corruptas e falsas pelas quais
os idólatras são seduzidos, mas que
também tomaria cuidado para não
demonstrar externamente qualquer sinal
de anuência ou aprovação delas’.
5.2 – ‘os meus lábios não pronunciarão os seus
nomes’.
a) Davi aqui demonstra que nutriria tamanha
aversão pelos ídolos, que cuidaria para
nem mesmo mencionar seus nomes,
crendo que tal ato seria uma execrável
traição contra Deus.
6
Op cit, pág. 311.
b) O simples pronunciar seus nomes não é um
ilícito cristão, pois até mesmo
encontramos menções dos mesmos nos
escritos dos profetas.
c) Davi sentia que não tinha outra forma de
expressar com mais veemência o supremo
horror e aversão com que os fiéis devem
considerar os falsos deuses.

6. Quando o Senhor é o centro de nossos afetos e


adoração, nossos lábios transbordarão com sua
Palavra e seu Nome, e não terá prazer nos nomes
e práticas da idolatria ou mundanismo.
6.1 – Quando o coração do cristão está cheio de
Deus como sua porção, seus afetos e atenções
se desviam das frivolidades e encantos
próprios deste mundo.

7. Ilustração: Há aqui uma alusão à divisão do


território conquistado da Palestina entre as tribos
e as famílias de Israel, em que onde cada família e
homem tinha a sua porção.
a) As heranças eram medidas por meio de cordas,
pelo que os textos mais arcaicos, seguindo de
forma mais literal o hebraico, diz que ‘as linhas
me caíram em lugares amenos’, insinuando
que o salmista estava satisfeito com a porção
que lhe cabia.
b) Nem todos os que receberam terras ficaram
felizes com a localização e os recursos, mas,
metaforicamente, o texto indica que todos
estavam felizes com a herança espiritual.
c) Sl. 16.6b ‘... é mui linda a minha herança’.

8. Nossa herança em Cristo é de encher os olhos e


fazer transbordar o coração com alegria indizível.

III – O Senhor é a Salvação dos Crentes.

1. O salmista passa a falar de uma ação de Deus em


seu interior que o leva a essa apropriação da
verdadeira vida.
1.1 – Sl. 16.7 ‘Bendigo o Senhor que me
aconselha’.

2. O Espírito Santo busca cada um dos eleitos de


Deus, e os toca com sua graça, mediante a Palavra.

3. Calvino7: ‘O conselho do qual Davi faz menção é


aquela iluminação interior do Espírito Santo,
pela qual somos impedidos de rejeitar a salvação
à qual ele nos chama, o que de outra forma
certamente não faríamos, considerando a
cegueira de nossa carne’.

4. Uma vez alcançado pela graça salvadora, o cristão


tem a garantia da vida eterna, o que lhe dá o senso
de segurança e confiança completa na obra já por
Deus iniciada.

7
Op cit, pág. 316.
4.1 – Fp. 1.6 ‘Estou plenamente certo de que
aquele que começou boa obra em vós há de
completá-la até ao Dia de Cristo Jesus’.

5. Seria uma condição muitíssimo miserável viver


trêmulo a todo instante, em meio à incerteza, sem
sentir qualquer segurança na continuidade da
graça de Deus em nosso favor.
5.1 – Sl. 16.8 ‘... estando ele à minha direita, não
serei abalado’.

6. A segurança do salmista ressoa a segurança de


cada cristão.
6.1 – Um coração alegre (16.9a).
a) Quando o pecador se coloca sob a proteção
de Deus, então passa a desfrutar de
profunda tranquilidade mental, e ainda
desfruta de uma vida de paz e triunfante
regozijo.
6.2 – Um espírito exultante (16.9b).
a) ‘... tudo se fez novo’.
6.3 – Tranquilidade quanto ao corpo (16.9c).
a) ‘... nem morte... nem vida...’.
b) ‘... quer vivamos, quer morramos...’.

7. Tanto Pedro como Paulo usam partes deste Salmo


para reportarem a gloriosa ressurreição de Jesus,
que, sendo Ele as primícias dos que dormem,
garante ao crente a segurança da ressurreição e
vida eterna.
7.1 – ‘Na confiança da proteção de Deus em vista
da inoportuna ameaça de morte e na
perspectiva de uma ressurreição como a de
Cristo o salmista canta: a minha carne
repousará segura8’.
7.2 – Olhando o Salmo na perspectiva do crente,
como Davi, pode-se ter alegre e confortável
segurança em todos os âmbitos da vida, na
certeza de que somos do Senhor.
7.3 – CFW. XVIII,I: ‘Ainda que os hipócritas e
os outros não regenerados podem iludir-se
vãmente com falsas esperanças e carnal
presunção de se acharem no favor de Deus e
em estado de Salvação, esperança essa que
perecerá, contudo, os que verdadeiramente
creem no Senhor Jesus e o amam com
sinceridade, procurando andar diante dele
em toda a boa consciência, podem, nesta vida,
certificar-se de se acharem em estado de
graça e podem regozijar-se na esperança da
glória de Deus, nessa esperança que nunca os
envergonhará’.

8. A presença de Deus é a garantia do salmista da


vereda da vida, ‘abundância de alegrias’ e
‘delícias perpetuamente’.

9. Seja aqui, ou na vida futura, nenhum mal pode


sobrevir àquele que coloca sua confiança no
Senhor e anda com Ele, pois, que são os males
8
Comentário Bíblico de Beacon, CPAD, Vol. 03, pág. 138.
desta vida, comparados às alegrias e belezas da
eternidade?

Conclusão: A singeleza e doçura deste salmo preenche


seu coração com a alegria da salvação?

Deus como seu protetor, tem sido reconhecido em


amável gratidão, em comunhão preciosa e deleitosa
adoração por você?

Você pode se expressar como Davi, dizendo: ‘O Senhor


é a porção da minha herança’, ou como Asafe que dizia:
‘Quem mais tenho eu no céu? Não há outro em quem eu
me compraza na terra’.

Sua salvação está tão somente no Senhor, de modo que


desfruta de uma segurança inexplicável?

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