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Reações do Cristão Ante as Horas Difíceis

Sl. 55.1-23

Objetivo: Ensinar que diferentes reações podem surgir no


cristão nas horas difíceis, mas a reação preponderante
sempre será a fé confiante em Deus.

Introdução: Qual seria tua reação ao ser aviltado ou


oprimido?

Contexto: E um salmo sobre traição, no qual a dor da


adversidade é aumentada mil vezes pelo fato de um amigo
íntimo ter-se voltado contra o salmista.

Transição: Morgan1,2 encontra três movimentos no salmo


que ele intitula da seguinte maneira: I – Medo (1-8); II –
Fúria (9-15), e III – Fé (16-23). ‘O medo provoca o desejo de
fugir. A fúria ressalta a percepção do erro. No entanto, a fé
cria coragem’. Quero compartilhar este Salmo sob o
seguinte tema: ‘Reações do Cristão Ante as Horas
Difíceis’.

I – O Sobressaltante Medo nas Horas Difíceis.


(1-8)

1. Existe certa dificuldade em alocar este salmo na


experiência de Davi, encontrando o contexto exato no
qual este salmo se encaixa.
1.1 – Os intérpretes judeus mais antigos conectavam
este salmo à traição que Davi sofreu de seu
conselheiro Aitofel.

1
Sucessor de Moddy, https://editoradosclassicos.com.br/brand/136-g-campbell-morgan
2
Morgan, citado por Beacon, Comentário Bíblico. Vol. 03. Pág. 200.
a) II Sm. 16.15-19 ‘¹⁵Absalão, pois, e todo o
povo, homens de Israel, vieram a Jerusalém;
e, com ele, Aitofel. ¹⁶Tendo-se apresentado
Husai, o arquita, amigo de Davi, a Absalão,
disse-lhe: Viva o rei, viva o rei! ¹⁷Porém
Absalão disse a Husai: É assim a tua
fidelidade para com o teu amigo Davi? Por
que não foste com o teu amigo? ¹⁸Respondeu
Husai a Absalão: Não, mas àquele a quem o
Senhor elegeu, e todo este povo, e todos os
homens de Israel, a ele pertencerei e com ele
ficarei. ¹⁹Ainda mais, a quem serviria eu?
Porventura, não seria diante de seu filho?
Como servi diante de teu pai, assim serei
diante de ti’.
1.2 – Outros estudiosos associam este salmo à traição
de Absalão desferida contra seu pai, Davi.
1.3 – Não há elementos que consigam cravar uma
única possibilidade, mas denota-se aqui a dor
sofrida pelo poeta neste momento cruel.

2. Encontramos aqui o salmista orando em voz alta e em


agonia, clamando pelo auxílio de Deus.
2.1 – Sl. 55.1-2 ‘Atende-me e responde-me; sinto-me
perplexo em minha queixa e ando perturbado’.
2.2 – Por causa do clamor do inimigo e suas ameaças
contra ele, seu coração está dorido e terrores de
morte caíram sobre ele.
a) Sl. 55.3-4 ‘por causa do clamor do inimigo e
da opressão do ímpio; pois sobre mim
lançam calamidade e furiosamente me
hostilizam. Estremece-me no peito o coração,
terrores de morte me salteiam’.
3. O poeta enfrentava neste episódio de sua vida um
misto de temor, tremor e horror, ao perceber a
crueldade e frieza da traição contra ele insuflada por
pessoas que lhe eram próximas e caras.
3.1 – Sl. 55.5 ‘temor e tremor me sobrevêm, e o
horror se apodera de mim’.

4. O desejo de Davi neste momento era ter asas como de


pomba para voar para longe e encontrar um refúgio na
paz do deserto, no intuito de escapar desse tenebroso
momento que ele denomina de ‘vendaval e ... procela’.
4.1 – Sl. 55.6-8 ‘⁶Então, disse eu: quem me dera
asas como de pomba! Voaria e acharia pouso.
⁷Eis que fugiria para longe e ficaria no deserto.
⁸Dar-me-ia pressa em abrigar-me do vendaval e
da procela’.
4.2 – Oesterley3: ‘Aqui encontramos um homem
vivendo em um mundo de violência e traição que
ameaça esmagá-lo. Ele anseia escapar de tudo
isso, mas, ao mesmo tempo, confia no Deus com o
qual se comprometeu [...]. Embora procure sem
êxito encontrar abrigo da tempestade, a sua vida
continua fundamentada na rocha, a rocha da sua
fé’.

5. O salmista estava preso em sua gaiola de terrores, pelo


que fantasiou a cena de seu escape, voando como se
fosse uma pomba; então ele repousaria.
5.1 – Algumas vezes, o exílio é a solução para
problemas difíceis, mas Davi não poderia
simplesmente desaparecer, por isso, a expressão:
‘quem me dera!’.

3
Osterley, citado por Beacon, Comentário Bíblico. Vol. 03. Pág. 200.
5.2 – Ilustração: ‘Sócrates, ao ser julgado, recebeu
uma oferta de escape por parte de seus amigos,
uma fuga de Atenas em segredo. Mas ele rejeitou
a possibilidade e preferiu pleitear sua causa no
tribunal. Ele queria ser vindicado, e não
meramente salvar a própria vida4’.

6. Quaisquer que sejam as experiências de dor e


sofrimento que te alcancem, meu irmão/irmã, o
melhor lugar de refúgio é nos braços do Senhor.

II – A Dominante Fúria Contra o Erro Que Assola.


(9-15)

1. De um grito por socorro e proteção o salmista passa a


liberar uma fúria angustiante que lhe oprimia a alma.
1.1 – J. R. P. Sclater5: ‘O salmista gemia por causa
do ruído e do clamor de um adversário ímpio. A
tribulação está sobre ele, e a ira o assalta’.
1.2 – Sl. 55.9a ‘Destrói, Senhor, e confunde os seus
conselhos’.
1.3 – No texto hebraico, o que nos é traduzido por
‘destrói’, tem um significado literal de ‘engole-os’;
numa referência desejosa de que o abismo do
julgamento de Deus se abrisse e engolisse aqueles
homens ímpios, conforme o ocorrido na revolta de
Datã e Abirão (Nm. 16.30ss).

2. O autor pinta o quadro de uma cidade muito violenta,


na qual os habitantes não andavam mais seguros, o
que ocorre em muitas de nossas grandes e modernas
cidades.
4
Champlin, O VT Interpretado Vs. Por Vs., Vol. 04, Ed. Hagnos, Pág. 2225.
5
J. R. P. Sclater, citado por Champlin, O VT Interpretado Vs. Por Vs., Vol. 04, Ed. Hagnos, Pág. 2224.
2.1 – Sl. 55.9b-11 ‘⁹porque vejo violência e contenda
na cidade. ¹⁰Dia e noite giram nas suas
muralhas, e, muros a dentro, campeia a
perversidade e a malícia; ¹¹há destruição no
meio dela; das suas praças não se apartam a
opressão e o engano’.
2.2 – Ellicott6: ‘Esta é uma das mais apaixonadas
odes da coletânea dos salmos, com explosões de
desejos de vingança de fogo alternadas com as
reflexões mais tristes e melancólicas’.

3. Observando a cena da cidade, o salmista oferece um


pequeno sumário do caráter da cidade.
3.1 – Multiplicavam-se a iniquidade (todos os tipos
de atos maus); o engano (toda espécie de planos e
de ações injustos); a fraude (negócios distorcidos
e desonestos).
3.2 – Jerusalém era a cidade onde, supostamente,
dominava a lei; contudo, aquela cidade era pior do
que as cidades pagãs de povos idólatras, vizinhas
de Israel.
a) Is. 59.14 ‘O direito se retirou e a justiça se
pôs de longe; porque a verdade anda
tropeçando pelas praças e a retidão não pode
entrar’.
3.3 – Quando a esperança de justiça foge ao alcance
de um povo, percebe-se então, quão grande tem
sido o alcance da corrupção.
a) Hc. 1.2-4 ‘²Até quando, Senhor, clamarei eu,
e tu não me escutarás? Gritar-te-ei:
Violência! E não salvarás? ³Por que me
mostras a iniquidade e me fazes ver a
opressão? Pois a destruição e a violência
6
Ellicott, citado por Champlin, O VT Interpretado Vs. Por Vs., Vol. 04, Ed. Hagnos, Pág. 2224.
estão diante de mim; há contendas, e o litígio
se suscita. ⁴Por esta causa, a lei se afrouxa, e
a justiça nunca se manifesta, porque o
perverso cerca o justo, a justiça é torcida’.
b) Qualquer semelhança com nossos dias não é
mera coincidência!

4. Para o poeta sacro, o mal que lhe atingia era,


possivelmente o reflexo desse mal social que devastava
sua cidade, porém ele o atribui a alguém que lhe é
próximo; alguém que lhe é caro, um amigo íntimo.
4.1 – Sl. 55.12-13 ‘¹²Com efeito, não é inimigo que
me afronta; se o fosse, eu o suportaria; nem é o
que me odeia quem se exalta contra mim, pois
dele eu me esconderia; ¹³mas és tu, homem meu
igual, meu companheiro e meu íntimo amigo.’.
4.2 – Champlin7: ‘Os ímpios eram terríveis e difíceis
de suportar, mas aquele homem especialmente
ímpio, seu ex-amigo, servia-lhe de perturbação
maior do que todos os outros reunidos’.
4.3 – A principal figura ímpia, o homem que tinha
ameaçado a vida do poeta, era um amigo íntimo,
descrito como um igual, um companheiro e amigo
do peito.
4.4 – O acúmulo de descrições mostra a proximidade
do relacionamento amigável; sendo talvez eles
fossem companheiros desde a juventude.

5. Até mesmo a vida religiosa era desfrutada em conjunto


com esse que agora traíra tão ardilosamente o
salmista.

7
Champlin, O VT Interpretado Vs. Por Vs., Vol. 04, Ed. Hagnos, Pág. 2224.
5.1 – Sl. 55.14 ‘Juntos andávamos, juntos nos
entretínhamos e íamos com a multidão à Casa de
Deus’.
a) As instruções dadas pelos rabinos ensinavam
o povo a caminhar apressadamente para o
templo, mas lentamente quando ao sair dali.
b) Na ida, para indicar a ansiedade de chegar à
casa do Senhor e participar de Sua adoração.
c) Na volta, para indicar a relutância em deixar o
bom ambiente do templo.

6. Todo mal presente na experiência humana sempre é


advindo do pecado que abriu a porta à todos os tipos
de males decorrentes nesta vida.

III – A Vitoriosa Fé Que Eleva o Eleito a Deus.


(16-23)

1. Apesar de tudo estar em reviravolta estonteante, Davi


se apegara ao recurso da oração, estando resolvido a
utilizá-lo, na esperança de que Deus agisse em seu
favor.
1.1 – Sl. 55. 16 ‘Eu, porém, invocarei a Deus, e o
Senhor me salvará’.
1.2 – A fé, mesmo mantendo a preocupação com o
inimigo que o cerca, inicia sua ascensão ao trono
de Deus.
1.3 – De tarde, e de manhã, e ao meio-dia o salmista
vai orar; e o livramento é tão certo que ele pode
falar dele como se já tivesse acontecido.
a) Sl. 55.17 ‘À tarde, pela manhã e ao meio-dia,
farei as minhas queixas e lamentarei; e ele
ouvirá a minha voz’.
1.4 – A referência sobre a traição e a deslealdade
reaparece (vss. 20-21), mas a fé alcança o seu
apogeu.
a) Sl. 55.22 ‘Confia os teus cuidados ao Senhor,
e ele te susterá; jamais permitirá que o justo
seja abalado’.

2. Os ímpios serão lançados no poço da perdição, e não


viverão metade dos seus dias.
a) Sl. 55.23a ‘Tu, porém, ó Deus, os
precipitarás à cova profunda; homens
sanguinários e fraudulentos não chegarão à
metade dos seus dias’.
2.1 – O poeta, em contraponto, diz triunfante em
quem estava a sua fé e a sua confiança.
a) Sl. 55.23b ‘eu, todavia, confiarei em ti’.

3. Qual é a tua reação, ó crente, quando te vês aviltado ou


oprimido; ou nas palavras deste verso final de Davi:
‘Onde está a sua fé e sua confiança?’.

4. O crente maduro, mesmo passando por situações


símiles à de Davi, pode manter o equilíbrio, no qual,
mesmo tomado pela fúria contra o pecado, parte em
oração à demonstração de fé e confiança no Senhor!

Conclusão:

Diferentes reações podem surgir no cristão nas horas


difíceis, mas a reação preponderante sempre será a fé
confiante em Deus.

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