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O Que Cantar Pelas Ações de Deus na Vitória?

Sl. 18.1-30

Objetivo: Ensinar que o eleito de Deus é vitorioso, não por


ser capaz e hábil para tratar dos problemas que o cerca, mas
pelas ações soberanas e providenciais de Deus.

Introdução: Este é o salmo mais longo do Livro I do Saltério


que inclui os salmos 1 ao 41.

Contexto: Este é um salmo de ação de graças.


Usualmente esses salmos consistem no ato de agradecer o
livramento das mãos de inimigos, o que certamente é
verdadeiro neste caso.
II Samuel 22 e o Salmo 18 são essencialmente idênticos.
Teria o compilador do saltério porventura incluído um poema
escrito originalmente como parte de II Samuel, ou o autor de
Samuel teria tomado um salmo por empréstimo para ilustrar
a sua história?
As poucas modificações feitas aqui parecem ter como alvo o
uso público do salmo.
O título incorpora II Sm. 22.1, que serve como uma
introdução para o salmo e mostra que foi composto depois
que o perigo de Saul havia cessado.
Este salmo é quase puro louvor, tendo em vista que as longas
e difíceis lutas terminaram, e a fuga da vingança de Saul é
coisa do passado, por isso o salmista glorifica o Deus da sua
salvação.

Transição: Com o Salmo 18, quero lhes falar em duas etapas


sobre a vitória que Deus concede ao seu povo. Nesta ocasião
lhes falo sobre o seguinte tema: ‘O Que Cantar Pelas
Ações de Deus na Vitória?’.
I – Cante o Refúgio Que o Eleito Tem em Deus.

1. Este versículo seja omitido no cântico em 2 Samuel 22,


mas aqui no salmo demonstra Davi declarando seu
amor ao Senhor numa frase breve e profunda.
1.1 – Sl. 18.1 ‘Eu te amo, ó Senhor, força minha’.
1.2 – A palavra no texto hebraico, racham, é muito
expressiva, e denota a ternura e intensidade das
emoções de Davi.
1.3 – Cocceius1: ‘É amar com as mais profundas e
veementes afeições do coração, com a comoção de
todas as entranhas’.
1.4 – É um amor voltado para a pessoa pelo que ela é
e não meramente pelo que faz.

2. Neste jorro de metáforas, Davi repassa suas fugas e


vitórias, como se pode ver no título do salmo.
2.1 – ‘... no dia em que o Senhor o livrou de todos os
seus inimigos e das mãos de Saul’.
2.2 – Nestes dois versos iniciais, Davi usa nove títulos
para Deus, os quais são acompanhados, todos com o
pronome possesivo ‘meu/minha’, o que aponta
para a fé da qual Davi fala e para o forte vínculo
existente entre ele e o Senhor.
a) ‘força minha’.
b) ‘minha rocha’.
c) ‘meu libertador’.
d) ‘meu Deus’.
e) ‘meu refúgio’.
f) ‘meu rochedo’.
g) ‘força da minha salvação’
h) ‘meu escudo’.
1
Johannes Cocceius (1603-1669) foi um teólogo neerlandês, citado em Calvino, Comentário de Salmos, Vol. 1, Ed. Fiel, pág. 355.
i) ‘meu baluarte’.

3. Estes tantos adjetivos para Deus reforçam seu cuidado


e proteção oferecidos ao seu povo.
3.1 – Calvino2: ‘Aqueles a quem Deus tenciona
socorrer e defender são não apenas salvos de um
tipo de perigo, mas são, por assim dizer, cercados
de todos os lados por trincheiras inexpugnáveis, de
tal modo que, ainda que milhares de mortes se lhes
interponham o caminho, não devem temer nem
mesmo o seu mais formidável cortejo!’.

4. Davi expressa, no verso três, que o Senhor, seu


poderoso libertador, é merecedor de louvor; mas
também ressalva que o invoca na certeza de será salvo
dos inimigos.
4.1 – Sl. 18.3 ‘Invoco o Senhor, digno de ser
louvado, e serei salvo dos meus inimigos’.

5. O salmista discorre sobre seu estado de alma onde


angústias e antevisões da morte se lhe foram tormentos.
5.1 – Sl. 18.4-5 ‘Laços de morte me cercaram,
torrentes de impiedade me impuseram terror.
Cadeias infernais me cingiram, e tramas de morte
me surpreenderam’.
a) Hammond afirma que a palavra hebraica,
chebley, traduzida aqui na ARA por ‘laços’
significa duas coisas: ‘uma corda’ e a ‘dor aguda
e repentina do parto’, e que o significado deve
ser resolvido pelo contexto.
b) A versão Caldaica parafraseia este verso: ‘A
angústia me cercou como a uma mulher que

2
Calvino, João, Comentário de Salmos, Vol. 1, Ed. Fiel, pág. 357.
sofre as dores de parto e não tem força para dar
à luz e corre risco de vida’.
c) ‘... torrentes de impiedade’, literalmente no
hebraico seria ‘torrentes de Belial’, o que
caracteriza a maldade, uma vez que o termo se
aplica, muitas vezes ao próprio diabo.
d) Davi as chama de ‘as torrentes de Belial’, visto
que eram homens perversos e ímpios os que
haviam conspirado contra ele.
e) Calvino3: ‘O que se segue concernente a
torrentes implica que ele havia quase que
sucumbido pela violência e pela impetuosidade
de seus inimigos contra ele, assim como alguém
que se vê envolto em vagalhões se sente
perdido’.
5.2 – O verso 5 expressa de forma similar, o mesmo
conteúdo do anterior, o que caracteriza o
paralelismo próprio da poesia hebraica.

6. O Salmista expressa o socorro recebido do Altíssimo,


quando, do fundo de sua angústia clamou ao Senhor.
6.1 – Sl. 18.6 ‘Na minha angústia, invoquei o
Senhor, gritei por socorro ao meu Deus. Ele do seu
templo ouviu a minha voz, e o meu clamor lhe
penetrou os ouvidos’.

7. Quaisquer que sejam as lutas que te cercam, clame ao


Altíssimo e confia, ó eleito, no cuidado protetor e
salvador de nosso Deus.
7.1 – Calvino4: ‘Sejam quais forem as aflições que
nos sobrevenham, podemos sempre contar com os
recursos divinos e estar sempre persuadidos de que

3
Calvino, João, Comentário de Salmos, Vol. 1, Ed. Fiel, pág. 362.
4
Calvino, João, Comentário de Salmos, Vol. 1, Ed. Fiel, pág. 358.
ele tem virtude e poder para assistir-nos de
diferentes formas’.

II – Cante os Atos Soberanos do Senhor, ó Eleito!

1. Usando figuras dignas de poesias épicas, o salmista,


descortina as ações soberanas de Deus a favor de seu
livramento.

2. Davi, buscando formas de reconhecer os feitos de Deus,


projeta uma imagem dele no céu e na terra, usando
figuras fortes e bombásticas.
2.1 – Ilustração5: Quando todas as coisas naturais
fluem num curso regular e invariável, o poder de
Deus não é tão perceptível; mas quando Ele muda a
feição do céu com chuvas súbitas, ou com fortes
trovões, ou com tempestades assustadoras, os que
antes estavam adormecidos e insensíveis, despertam
assustados e cônscios da existência de um Deus
soberano.

3. O salmista apresenta a terra tremendo e seus alicerces


se abalando com a manifestação poderosa do Senhor.
3.1 – Sl. 18.7 ‘Então, a terra se abalou e tremeu,
vacilaram também os fundamentos dos montes e se
estremeceram, porque ele se indignou’.
3.2 – Quando acontecimentos súbitos e imprevisíveis da
natureza se manifestam, com um tsunami, ou um
potente terremoto, ou mesmo um acidente como o
romper das barreiras de contenção, então mais
nitidamente se tem consciência da presença do
grande Autor da natureza.

5
Calvino, João, Comentário de Salmos, Vol. 1, Ed. Fiel, pág. 365.
4. Figuras dantescas são apresentadas pelo poeta para nos
impressionar com a grandeza do poder de Deus.
4.1 – Davi apresenta Deus com um semblante
ameaçador, desferindo relâmpagos e trovões como
fogo chamejante procedente de sua boca (vs. 8-9).
4.2 – Também o apresenta como que cavalgando sobre os
ventos e tempestades, ‘cavalgando um querubim’ e
‘voando nas asas do vento’ (vs. 10).
4.3 – Esconde-se, como que se envolvendo num manto,
quando os céus se tornam trevosos antes de uma
tempestade; e com trovões e raios, seguidos de
copiosas chuvas, e assim, fortalece a consciência
humana com sua presença (vs. 12-15).
4.4 – Allan Harman6: ‘Em meio à tempestade, o
Senhor estava ali, controlando todas as forças à sua
disposição. Ele vem com majestade para trazer
livramento’.

5. Davi, ao propor para nossa consideração o poder de


Deus como manifestado nas maravilhas da natureza,
ele o faz de tal maneira que desperta nos leitores o senso
da presença do Onipotente e Todo-poderoso Deus.
5.1 – A descrição aponta para a poderosa realidade da
presença de Deus, onde vemos a teofania se movendo
do terremoto para o quadro de nuvens escuras
envolvendo a terra (vs. 9-11).
5.2 – Deus ordena todas as forças da natureza a trazer
libertação para o que é seu.
5.3 – O ‘Altíssimo’, (vs. 13), (Elyon), literalmente ‘o
Mais Alto’ é Deus como o Soberano supremo do
universo.

6
Harman, Allan, Comentário do AT, Cultura Cristã, Pág. 115.
6. É muito bom que, ao percebermos o poder do homem,
vejamos, como Davi aqui expõe, que este está
subordinado e submetido ao poder de Deus.
6.1 – Sl. 18.18-19 ‘Assaltaram-me no dia da minha
calamidade, mas o Senhor me serviu de amparo.
Trouxe-me para um lugar espaçoso; livrou-me,
porque ele se agradou de mim’.
6.2 – Mathew Henri7: ‘Deus não somente livrará os
seus eleitos dos problemas que possuem no devido
tempo, mas enquanto o livramento não chegar, os
sustentará nas tribulações que atravessarem’.

III – Cante a Justiça do Senhor Atribuída ao Eleito.

1. Davi passa a cantar a justiça do Senhor sobre a sua vida,


baseada na graça e não em seus feitos.

2. Como Davi, somos incapazes de obediência plena, mas


como Davi, o eleito é aquele que, mesmo ao tropeçar,
volta com o coração quebrantado e humilde,
recomeçando a caminha com o Senhor (vs. 20-24).
2.1 – Os que abandonam os caminhos do Senhor
apartam-se do seu Deus; porém, ainda que estejamos
conscientes de muitos passos em falso, não nos
apartemos do nosso Deus.
2.2 – O cuidado constante de nos guardarmos do pecado,
dos que nos tentam com maior facilidade, demonstra
que somos retos diante de Deus.
2.3 – Davi teve o seu olhar colocado na regra dos
mandamentos de Deus; nos quais, as Palavras do
Senhor são puras, nas quais se pode confiar com
muita segurança, e são muito doces para o deleite dos
que as escutam.
7
Henri, Mathew, Comentário Bíblico de Salmos, pág. 25
2.4 – Davi expressa que não havia se desviado dos
caminhos do Senhor, mas guardara seus passos com
muita prudência, pois jamais agira como um rebelde,
apartando-se de Deus (vs. 21,22).

3. Aqueles que, apesar de suas falhas, voltam a andar nos


princípios e no temor do Senhor, são acolhidos e
abençoados na graça.
3.1 – Sl. 18.24-26a ‘Daí retribuir-me o Senhor,
segundo a minha justiça, conforme a pureza das
minhas mãos, na sua presença. Para com o
benigno, benigno te mostras; com o íntegro,
também íntegro. Com o puro, puro te mostras’.
3.2 – Enquanto o eleito do Senhor, a despeito de suas
falhas é ouvido e ajudado, o ímpio é tratado de modo
inflexível.
a) Sl. 18.26b ‘... com o perverso, inflexível’.
b) Sl. 18.27b ‘... mas os olhos altivos, tu os abates’.
c) Hb. 10.31 ‘Horrível coisa é cair nas mãos do
Deus vivo’.
3.3 – O mesmo caráter justo de Deus a favor de seu povo
que clama; também age na justiça que executa sua ira
aos que se lhe opõem.

4. A recompensa do eleito, por ter o temor do Senhor, é


exposta pelo salmista de modo plácido e doce.
4.1 – Sl. 18.27-28 ‘Porque tu salvas o povo humilde,
mas os olhos altivos, tu os abates. Porque fazes
resplandecer a minha lâmpada; o Senhor, meu
Deus, derrama luz nas minhas trevas’.
4.2 – Em II Sm. 22.29, Davi diz não que Deus acende
sua lâmpada, mas que Ele mesmo é a sua lâmpada;
o que se harmoniza com o todo das Escrituras, pois
não luz própria, mas recebemos a luz de Deus.
4.3 – Calvino8: ‘Jamais teremos o conforto de ver
nossas adversidades levadas a bom termo, a menos
que Deus disperse as trevas que porventura nos
envolvam e nos restaure a luz da alegria’.

5. Davi volta ao tema do início do salmo, especialmente ao


socorro divino para com ele em suas batalhas;
afirmando que, com confiança, ele podia atacar uma
tropa inimiga, ou saltar por sobre uma muralha.
5.1 – Sl. 18.29 ‘Pois contigo desbarato exércitos, com
o meu Deus salto muralhas’.
5.2 – Davi atribui a Deus suas vitórias, declarando que,
de acordo com sua conduta, ele havia rompido
frentes e falanges inimigas, e havia tomado de assalto
suas cidades fortificadas.
5.3 – Sua ênfase na poesia destes versos demonstra que
sua confiança no Senhor para novos enfrentamentos
continuava firme.
5.4 – Mais à frente, na condição de rei, pode-se ver a
concretização destas afirmativas em guerras futuras.
5.5 – Allan Harman9: ‘Para todos quantos, como
Davi, põem sua confiança no Senhor e descansam
nele como seu refúgio, ele prova ser um escudo’.

6. As afirmações de Davi retornam às suas palavras tão


bem coligidas nos versos iniciais do salmo, onde e para
quem, Deus é sua força, seu escudo e uma fortaleza
inexpugnável.
6.1 – Sl. 18.30 ‘O caminho de Deus é perfeito; a
palavra do Senhor é provada; ele é escudo para
todos os que nele se refugiam’.

8
Calvino, João, Comentário de Salmos, Vol. 1, Ed. Fiel, pág. 390.
9
Harman, Allan, Comentário do AT, Cultura Cristã, Pág. 118.
6.2 – Sl. 18.1-2 ‘Eu te amo, ó Senhor, força minha. O
Senhor é a minha rocha, a minha cidadela, o meu
libertador; o meu Deus, o meu rochedo em que me
refugio; o meu escudo, a força da minha salvação,
o meu baluarte’.

7. Ó eleito de Deus, desenvolva um relacionamento mais


íntimo com o Senhor, através da Palavra, da oração e
disciplinas espirituais, de modo a se vestir deste salmo
como um manto de confiança humilde no Senhor.

Conclusão:

1. Onde e em quem está a sua confiança, eleito de Deus?

2. Somos tentados a olhar para esses momentos


angustiantes que vivemos e valorizarmos mais o
negativo, mais a dor, mais o sofrimento, como se
apenas o caos nos aguardasse à frente.

3. Olhando para este Salmo nosso olhar é realinhado de


modo a vermos a grandeza e o poder de Deus em nos
socorrer sempre.

4. Há muito mais belezas para olharmos e agradecer do


que as desgraças que nos cercam.

5. Ó eleito de Deus, cante os louvores de Deus pelas


vitórias já concedidas até aqui, sabendo que a maior
vitória já está ganha pelo sacrifício de seu Filho em
nosso lugar, Cristo Jesus, o Cordeiro.

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