Objetivo: Ensinar que Cristo foi o sacrifício voluntário e
perfeito para a redenção dos eleitos de Deus.
Introdução: Estamos no Livro I do Saltério que inclui os
salmos 1 ao 41.
Contexto: Há aspectos no salmo que revelam estar ele
relacionado com incidentes da vida de Davi. O vs. 2 mostra que o apelo representou um considerável período de tempo). Ele invoca a Deus em quem ‘nossos pais puseram em Ti a confiança’ (vs. 4), o que parece ser uma referência aos primeiros pais da nação, ou, possivelmente, mesmo aos patriarcas, Abraão, Isaque e Jacó. Calvino afirma ser possível que Davi esteja sumariando aqui vários incidentes de sofrimento e perseguição em sua vida. O fato deste Salmo ser citado treze vezes no Novo Testamento, e nove vezes só no relato do sofrimento e morte de Jesus, aponta para o significado mais completo compreendido só na aflição messiânica de nosso Senhor. Nos dias de Agostinho (354-430), as Igrejas ao norte da África entoavam este salmo na celebração pascal da Ceia do Senhor. Quanto ao título ‘Corça da Manhã’, Calvino propõe que ele mui provavelmente fosse a princípio algum cântico popular.
Transição: Quero compartilhar nesta oportunidade, a partir
deste Salmo, o tema: ‘O Cordeiro de Deus e Seu Sacrifício na Cruz’. I – O Cordeiro Invoca e Clama Por Socorro.
1. Dentro do contexto histórico, este salmo é chamado de
salmo de lamentação, o grupo maior de salmos, com mais de 60 exemplos. 1.1 – Os salmos de lamentação começam com um clamor urgente a Deus, pedindo livramento dos inimigos, e então terminam com uma nota de louvor, pois a resposta à oração foi conferida, ou em breve o será. 1.2 – Do ponto de vista histórico, a circunstância que provocou o clamor de angústia parece ter sido uma enfermidade mortal. 1.3 – Do ponto de vista profético, a circunstância que causou o clamor de angústia foi a cruz; e, naquele momento, Jesus clamou pela ajuda de Deus que parecia tê-Lo abandonado.
2. Embora, na poesia de Davi se expresse a descrição de
uma doença, este salmo espelhado na vida de Cristo, expressa uma execução.
3. Seja qual tenha sido o estímulo original, a linguagem do
salmo não nos permite uma explicação simplista; a melhor explicação se acha nos termos com os quais Pedro se aludiu a outro salmo de Davi: ‘Sendo, pois, profeta ... prevendo isto, referiu-se a ... Cristo’ (At. 2.30-31).
4. Dentro das circunstâncias que experimentava, Davi
imaginava que havia sido ignorado e abandonado por Deus. 4.1 – Davi afirma sentir-se abandonado e destituído da presença de Deus, o que aparenta ser a queixa de um homem em profundo desespero, e ainda assim mantendo sua fé em Deus. 4.2 – Não existe um sequer dentre todos os santos que não experimente em seu ser, um dia ou outro, a mesma coisa.
5. Não se pode deixar de lado aqui neste salmo o seu
caráter profético, aplicado ao Messias, em seu sacrifício vicário a favor de seu povo. 5.1 – Este Salmo é citado treze vezes no NT. 5.2 – Este Salmo é citado nove vezes só no relato do sofrimento e morte de Jesus. 5.3 – Este Salmo aponta para o significado mais completo compreendido só na aflição do Messias.
6. O Messias em seu amargo suplício antes e durante o
evento cruz, se derrama em clamor perante o Pai, em lágrimas e o esvair-se suor sangrento. 6.1 – Lc. 22.44 ‘E, estando em agonia, orava mais intensamente. E aconteceu que o seu suor se tornou como gotas de sangue caindo sobre a terra’. 6.2 – Hb. 5.7 ‘Ele, Jesus, nos dias da sua carne, tendo oferecido, com forte clamor e lágrimas, orações e súplicas a quem o podia livrar da morte e tendo sido ouvido por causa da sua piedade’.
7. Nosso Senhor Jesus Cristo fez uso dessas mesmas
palavras, ao pender da cruz e ao depositar sua alma nas mãos de Deus, seu Pai. 7.1 – Aqui vemos o sofrimento solitário daquele que estava no altar do sacrifício. 7.2 – Mateus faz uso de ‘Eli’, seguindo a versão hebraica como aqui no Salmo 22. a) Mt. 27.46 ‘Elí, Elí, lemá sabactâni’. 7.3 – Marcos faz uso de ‘Eloí’, utilizando-se do equivalente em aramaico. a) Mc. 15.34 ‘Eloí, Eloí, lemá sabactâni’.
8. Nos versos seguintes no Sl. 22, estende-se o clamor de
Davi e o abandono de Deus, fortalecendo as impressões indeléveis no abandono de Cristo.
9. Naquele dia trevoso e hora sangrenta, levando em seu
corpo sobre o madeiro, os nossos pecados, Cristo sente- se abandonado por Deus Pai, que, por santo não podia ter comunhão com o pecado, e Cristo se ‘fez pecado por nós’.
II – O Cordeiro à Sombra da Horrenda Cruz.
1. O quadro apresentado por Davi, dos versos 6 ao 18,
embora reporte sua dor e sofrimento de corpo e alma, aponta para os sofrimentos de Cristo na crucificação, com detalhes muito específicos.
2. Assim como Davi declara que sua condição era tão
miserável, que por esse meio ele se encorajava com a esperança de receber lenitivo, assim os suspiros de Cristo no cumprimento destas profecias expressam a dor de quem precisa ser amparado.
3. O cumprimento do Salmo na vida do Redentor é eivado
de detalhes: 3.1 – Sl. 22.1, cumpre-se em Mt. 27.46 ‘Por volta da hora nona, clamou Jesus em alta voz, dizendo: Eli, Eli, lamá sabactâni? O que quer dizer: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?’. 3.2 – Sl. 22.7, cumpre-se em Mt. 27.39 ‘Os que iam passando blasfemavam dele, meneando a cabeça’. 3.3 – Sl. 22.8, cumpre-se em Mt. 27.43 ‘Confiou em Deus; pois venha livrá-lo agora, se, de fato, lhe quer bem; porque disse: Sou Filho de Deus’. 3.4 – Sl. 22.9-11, cumpre-se em Hb. 10.5-7 ‘Por isso, ao entrar no mundo, diz: Sacrifício e oferta não quiseste; antes, um corpo me formaste; não te deleitaste com holocaustos e ofertas pelo pecado. Então, eu disse: Eis aqui estou (no rolo do livro está escrito a meu respeito), para fazer, ó Deus, a tua vontade’. 3.5 – Sl. 22.12-13, cumpre-se em At. 4.26-28 ‘Levantaram-se os reis da terra, e as autoridades ajuntaram-se à uma contra o Senhor e contra o seu Ungido; porque verdadeiramente se ajuntaram nesta cidade contra o teu santo Servo Jesus, ao qual ungiste, Herodes e Pôncio Pilatos, com gentios e gente de Israel, para fazerem tudo o que a tua mão e o teu propósito predeterminaram’. 3.6 – Sl. 22.14-16a, cumpre-se em Mc. 15.16-20 ‘ Então, os soldados o levaram para dentro do palácio, que é o pretório, e reuniram todo o destacamento. Vestiram-no de púrpura e, tecendo uma coroa de espinhos, lha puseram na cabeça. E o saudavam, dizendo: Salve, rei dos judeus! Davam-lhe na cabeça com um caniço, cuspiam nele e, pondo-se de joelhos, o adoravam. Depois de o terem escarnecido, despiram-lhe a púrpura e o vestiram com as suas próprias vestes. Então, conduziram Jesus para fora, com o fim de o crucificarem’. 3.7 – Sl. 22.16b, cumpre-se em Lc. 23.33 ‘Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, ali o crucificaram, bem como aos malfeitores, um à direita, outro à esquerda’. 3.8 – Sl. 22.18, cumpre-se em Mt. 27.35 ‘Depois de o crucificarem, repartiram entre si as suas vestes, tirando a sorte’.
4. Com maestria de habilidoso poeta, Davi, sob a
inspiração do Espírito Santo, descreve fatos que se cumpririam cerca de mil anos à frente.
5. Naquela tarde de horror onde a luz do sol se nega a
testemunhar tais fatos, e a noite encobre a tarde, tornando-se trevas; as trevas do nosso pecado eram lançadas na pessoa de Cristo, que se ‘fez pecado por nós’.
6. À sombra da cruz, pode-se ver ali o perfeito Filho de
Deus, sendo executado em holocausto em lugar de pecadores, mas pecadores eleitos por Deus para a vida eterna. 6.1 – I Pe. 2.22-24 ‘... o qual não cometeu pecado, nem dolo algum se achou em sua boca; pois ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente, carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça; por suas chagas, fostes sarados’.
7. Que todos estes fatos confirmem a nossa fé nEle como
o verdadeiro Messias, e estimulem o nosso amor por Ele como o nosso melhor amigo, que nos amou e sofreu tudo isto por nós. III – O Cordeiro Exalta a Redenção Alcançada.
1. Davi, num terceiro momento de sua composição, volta-
se para exaltar a Deus que lhe prestara socorro na sua tribulação.
2. O poeta clama a seu Deus, começando com a mesma
linguagem do final de seu apelo anterior no versículo 11, onde suplica a manifestação da presença e lembrança de Deus a seu favor. 2.1 – Sl. 22.19-21 ‘Tu, porém, Senhor, não te afastes de mim; força minha, apressa-te em socorrer-me. Livra a minha alma da espada, e, das presas do cão, a minha vida. Salva-me das fauces do leão e dos chifres dos búfalos; sim, tu me respondes’. 2.2 – Sl. 22.11 ‘Não te distancies de mim, porque a tribulação está próxima, e não há quem me acuda’.
3. Contrastando com o grito do verso 1, vivenciado pelo
Senhor Jesus em sua execução, ‘... por que me desamparaste’, o apelo continua, ... ‘não te distancies de mim’.
4. O Salmo continua seu cumprimento profético e pode-se
ver a harmonia da vitória de Cristo em seu sacrifício ecoada pelo profeta Isaías. 4.1 – Is. 53.11 ‘Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficará satisfeito; o meu Servo, o Justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos, porque as iniquidades deles levará sobre si’. 5. O autor aos Hebreus ao demonstrar o valor da obra de Cristo, cita parte deste Salmo nesta mesma tônica de se ver a profecia cumprida. 5.1 – Hb. 2.11b-12 ‘Por isso, é que ele não se envergonha de lhes chamar irmãos, dizendo: A meus irmãos declararei o teu nome, cantar-te-ei louvores no meio da congregação’. 5.2 – Sl. 22.22 ‘A meus irmãos declararei o teu nome; cantar-te-ei louvores no meio da congregação’.
6. Expressões desta adoração parte de Davi como quem
teve suas orações ouvidas, convidando o povo de Deus a louvá-lo e glorificá-lo. 6.1 – Sl. 22.23 ‘... vós que temeis o Senhor, louvai- o; glorificai-o, vós todos, descendência de Jacó; reverenciai-o, vós todos, posteridade de Israel’. 6.2 – Todos os nossos louvores devem se referir à obra da redenção, e que toda a língua confesse que Ele é o Senhor; pois o livramento vindo do Senhor é a motivação maior e mais básica para o serviço missionário.
7. O reconhecimento de que só o Senhor pode libertar o
aflito de suas dores e fartar os que sofrem, e isto, seja aqui nas agruras desta vida, seja nos páramos da eternidade, são realidades que invadem e norteiam o eleito remido pelo sangue do Cordeiro.
8. Davi, numa expressão da bênção Abraâmica, afirma
que em Cristo todas as nações são abençoadas. 8.1 – Sl. 22.27-29 ‘Lembrar-se-ão do Senhor e a ele se converterão os confins da terra; perante ele se prostrarão todas as famílias das nações. Pois do Senhor é o reino, é ele quem governa as nações. Todos os opulentos da terra hão de comer e adorar, e todos os que descem ao pó se prostrarão perante ele, até aquele que não pode preservar a própria vida’. 8.2 – No contexto vê-se que mesmo as nações mais remotas ouvirão acerca do livramento do Senhor a Ele se volverão em arrependimento. 8.3 – As nações gentílicas virão e se curvarão em sujeição àquele que tem todo o domínio e autoridade.
9. No contexto, o significado primário é que muitos
ouvirão acerca do livramento de Davi e exaltarão a Deus; o que é verdade, pois com a preservação do texto inspirado, o mundo tem conhecido e exaltado o Senhor.
10. A bênção da salvação em Cristo alcançará gerações
futuras (entre elas, nós na atualidade) e povos que ainda nascerão conhecerão os seus feitos salvadores. 10.1 – Sl. 22.30-31 ‘A posteridade o servirá; falar- se-á do Senhor à geração vindoura. Hão de vir anunciar a justiça dele; ao povo que há de nascer, contarão que foi ele quem o fez’.
Conclusão: Cristo é aquele que se identificou conosco em
nossos sofrimentos, um ato que o escritor de Hebreus enfatiza em sua exposição da obra de Jesus. Ao tornar-se perfeito por meio do sofrimento, Ele é capaz de ser misericordioso e fiel sumo sacerdote em prol de seu povo; e inclusive para unir-se a eles na ação de cantar louvores pela salvação divina. Diante do Trono: ‘Cristo Levou Sobre Si’. ‘Pela via dolorosa’ (https://www.youtube.com/watch?v=u0mmSCOrOlo).