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A Rebeldia do Ímpio Versus o Amor de Deus ao Seu

Povo Eleito

Sl. 53.1-6

Objetivo: Ensinar que há um antagonismo natural do


homem a Deus, mas que Deus acolhe para si um povo eleito.

Introdução: O ser humano, dado sua criação como imagem e


semelhança de Deus, foi provido de dois dispositivos que o
colocam numa relação natural com a espiritualidade: o ‘semen
religionis’ e o ‘sensus divinitatis’.
Com a queda, embora permaneça estes dois dispositivos em
atividades, o pecado os corrompeu, de modo que a nossa raça
humana não possui mais uma inclinação natural a Deus,
embora o tenha com a religiosidade.

Contexto: Os Salmos 14 e 53, embora não sejam exatamente


idênticos, se assemelham tanto que um é basicamente uma
réplica do outro.
As principais diferenças estão no uso dos nomes divinos (Sl.
14 usa SENHOR [YHWH] quatro vezes; enquanto o Sl. 53,
consistentemente, usa Deus, ['elohim]).
Alguns exegetas que consideram que o Sl. 53 aponta para a
vitória de Deus contra o exército de Senaqueribe pelo anjo do
Senhor (II Re. 19.35).
Há exegetas que pensam que este Salmo 53 foi escrito
durante o cativeiro babilônico, com base no último versículo:
‘Oh! se já de Sião viesse a salvação de Israel!’.

Transição: Quero compartilhar este Salmo sob o seguinte


tema: ‘A Rebeldia do Ímpio Versus o Amor de Deus ao
Seu Povo Eleito’.
I – A Perversidade Universal da Humanidade.
(1-3)

1. O poeta apresenta aqui um retrato da humanidade em


geral, que, no seu dia a dia, vive como se Deus não
estivesse presente.
1.1 – Sl. 53.1 (ARA) ‘Diz o insensato no seu coração:
Não há Deus’.

2. O pecador é descrito como um ateu, que rejeita o existir


de um Deus absoluto, que seja soberano e regule os
assuntos dos homens.
2.1 – Deseja que Deus não existisse, e tem prazer em
pensar na possibilidade da não existência dEle.
2.2 – A possibilidade da não existência de Deus lhe traz
segurança.

3. Este pecador é um néscio, simples e imprudente.


3.1 – A palavra para néscio no original hebraico é
nabal.
3.2 – A palavra hebraica para ‘insensato’ neste salmo é
‘nàbàl’, uma palavra que significa uma
‘perversidade agressiva’, ilustrada na pessoa do
Nabal, no primeiro livro de Samuel.
a) I Sm. 25.2-3 (ARA) ‘2Havia um homem, em
Maom, que tinha as suas possessões no
Carmelo; homem abastado, tinha três mil
ovelhas e mil cabras e estava tosquiando as
suas ovelhas no Carmelo. 3Nabal era o nome
deste homem, e Abigail, o de sua mulher; esta
era sensata e formosa, porém o homem era
duro e maligno em todo o seu trato. Era ele da
casa de Calebe’.
b) I Sm. 25.25 (ARA) ‘Não se importe o meu
senhor com este homem de Belial, a saber, com
Nabal; porque o que significa o seu nome ele é.
Nabal é o seu nome, e a loucura está com ele;
eu, porém, tua serva, não vi os moços de meu
senhor, que enviaste’.
3.3 – Mathew Henry1: ‘Nenhum homem pode dizer:
“Não há Deus”, sem que esteja a tal ponto
endurecido no pecado, que tenha como seu especial
interesse a não-existência de alguém que o chame
a prestar contas’.

4. O ateu atesta sua tese de que não há um Deus se


valendo de evidências negativas, especialmente a
presença e o poder do mal e dos sofrimentos no mundo.

5. A enfermidade do pecado infectou toda a raça humana.


5.1 – Sl. 53.1b (ARA) ‘Corrompem-se e praticam
iniquidade; já não há quem faça o bem’.
5.2 – Tudo de bom que possa haver em qualquer dos
filhos dos homens, ou o que eles façam, não é deles
mesmos, mas é a obra de Deus neles.
5.3 – Desviaram-se do reto caminho do seu dever e
voltaram-se à caminhos de destruição.
a) Pv. 14.12 (ARA) ‘Há caminho que ao homem
parece direito, mas no final são caminhos de
morte’.
b) Rm. 1.22 ‘Inculcando-se por sábios,
tornaram-se loucos’.

6. A nota conclusiva das Escrituras é que não há, um só,


dentre os nascidos de Adão, que não tenha sido
contaminado pelo pecado.
1
Mathew Henry, Comentário Bíblico de Salmos, pág. 19.
Matthew Henry (18/10/1862 a 22/06/1714), foi um comentarista sobre a Bíblia, não de forma exegética, mas de forma devocional e
prática.
6.1 – Sl. 53.2-3 (ARA) ‘2Do céu olha o SENHOR para
os filhos dos homens, para ver se há quem
entenda, se há quem busque a Deus. 3Todos se
extraviaram e juntamente se corromperam; não
há quem faça o bem, não há nem sequer um’.

7. Paulo, ao escrever a Epístola aos Romanos, aponta a


universalidade do pecado, valendo-se deste Salmo,
completando com outros textos do Saltério.
7.1 – Rm. 3.10-18.
7.2 – Pode-se usar uma terminologia diferente para a
falência e derrocada da humanidade, mas há um
fato inegável: as Escrituras são infalíveis quando
descreve o homem como pecador, corrupto e
corrompido!
a) Mathew Henry2: ‘Todo o nosso conhecimento
da depravação da natureza humana deve nos
fazer apreciar ainda mais a salvação que vem
de Sião’.
7.3 – A sociedade humana em toda a história pode ser
descrita com a realidade do pecado e a dos nossos
dias não é diferente!

II – A Opressão Que o Justo Passa e o Livramento de


Deus.
(4-5)

1. Em meio a perversidade universal da humanidade há


um povo distinto, separado e transformado pela graça
de Deus, a quem Ele se digna de chamar de ‘meu povo’.
1.1 – Sl. 53.4b ‘... meu povo...’.
a) Este povo, não tem privilégios que são
derivados de seus próprios méritos, pois

2
Mathew Henry, Comentário Bíblico de Salmos, pág. 20.
também são filhos de Adão, e raça de
pecadores.
b) O diferencial é que foram alcançados pela graça
de Deus e foram feitos novas criaturas.
1.2 – Essa linhagem do povo de Deus, chamados no VT
de justos (no NT, de ‘justificados’), se constituem
os objetos da opressão por parte dos demais que
vivem alienados de Deus.

2. Os demais da humanidade caída, separados da graça de


Deus, não têm discernimento espiritual, e como natural
consequência, ‘não invocam ao Senhor’.
2.1 – Esses demais, são chamados de ‘tolos’, ‘néscios’
ou ‘insensatos’.
2.2 – São denominados, no verso 4, de ‘obreiros da
iniquidade’, haja visto, suas obras serem resultantes
de um coração sem temor a Deus.
a) Sl. 53.4 (ARA) ‘Acaso, não entendem os
obreiros da iniquidade? Esses que devoram o
meu povo como quem come pão? Eles não
invocam a Deus’.

3. Na busca de se encontrar um contexto histórico para


emoldurar este salmo, o mais provável é que narre a
destruição do exército de Senaqueribe pelo anjo do
Senhor.
3.1 – II Re. 19.35 ‘Então, naquela mesma noite, saiu
o Anjo do Senhor e feriu, no arraial dos assírios,
cento e oitenta e cinco mil; e, quando se
levantaram os restantes pela manhã, eis que todos
estes eram cadáveres’.
3.2 – O significado seria que o povo de Deus ficou
grandemente amedrontado, quando nada havia
para temer.
3.3 – Sl. 53.5 ‘Estão tomados de pavor, onde não há a
quem temer; porque Deus dispersa os ossos
daquele que te sitia; tu os envergonhas, porque
Deus os rejeita’.
3.4 – Os ossos do exército assírio foram espalhados no
campo, e Deus demonstrou o quanto desprezava os
que foram classificados com os tolos e com os que
não o conheciam.

4. Há aqui um nítido contraste com o medo do insensato


que repele Deus, e a segurança da do povo de Deus em
sua augusta e soberana presença.
4.1 – C. S. Lewis3: ‘Esse Rosto, que é o deleite ou o
terror do universo, voltar-se-á um dia para cada
um de nós com uma das duas expressões,
conferindo glória indizível ou infligindo vergonha
que coisa alguma poderá curar ou ocultar’.

5. Há exegetas que situam este Salmo 53 como tendo


sido escrito durante o cativeiro babilônico.
5.1 – A base se dá pelo teor do último versículo, que
expressa um tom de anseio e esperança por
libertação de um suposto jugo.
a) Sl. 53.6a ‘Quem me dera que de Sião viesse o
livramento de Israel!’.
b) É naturalmente possível se imaginar o poeta em
terras exílicas, deixando sua mente poética se
levar por raios de esperança que ensejam um
novo tempo, um tempo de libertação.

6. Apesar da iniquidade universal no seio da humanidade,


sobressai-se no Salmo que Deus tem um povo no meio
dos povos, e deste povo Ele é o libertador.

3
C. S. Lewis, Peso de Glória, pág. 10.
6.1 – Há um fio escarlate que atravessa a história e
segue até o desfecho final, selando a redenção do
povo de Deus.
6.2 – O poeta deixa escapar em sua poesia esse anseio
por libertação e a resultante alegria final.
a) Sl. 53.6 ‘Quem me dera que de Sião viesse já o
livramento de Israel! Quando Deus restaurar
a sorte do seu povo, então, exultará Jacó, e
Israel se alegrará’.

7. A história de Israel é uma bela analogia do povo que


Deus escolheu e separou para a eternidade com Ele.
7.1 – Champlin4: ‘Alguns estudiosos cristianizam o
versículo, tornando-o uma predição do triunfo do
Messias sobre o anticristo’.
7.2 – Com cunho profético ou não, é livre a aplicação de
que o povo de Deus, mesmo em meio a uma
humanidade perversa e corrompida, aguarda o final
e glorioso Dia quando Deus restaurará a sorte do
seu povo.

Conclusão:

O amor de Deus ao seu ‘Povo Eleito’ sobressai nas páginas


bíblicas, e esperança deste povo no aguardo do último e
grande Dia não se contém, deixando o povo sempre mais
desejoso pela volta maravilhosa do Cordeiro como o Leão.

Amados não estranheis a rejeição e opressão por serem povo


de Deus.; pois assim sempre foi e assim sempre será, mas a
vitória é de Deus com o seu povo.

Maranata!

4
Russel Norman Champlin, O VT Interpretado Versículo Por Versículo, Vol. 04, Editora Hagnos, Pág.2221.

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