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A Revelação de Deus aos Seus Eleitos é Completa

Sl. 19

Objetivo: Ensinar que a revelação de Deus aos seus eleitos atinge o


objetivo de conduzir o homem à redenção.

Introdução: Estamos no Livro I do Saltério que inclui os salmos 1


ao 41.

Contexto: Duas divisões naturais se percebem na estrutura desta


peça da poética davídica:
Sl. 19.1-6, onde o poeta exalta a glória de Deus nos céus.
Sl. 19.7-14, onde o poeta sacro exalta as maravilhas da lei de Deus,
que serve de luz dos homens sobre a terra, a maneira pela qual Deus
manifesta Sua presença entre os homens.
Os estilos dessas duas partes são tão diferentes que os críticos
supõem que duas composições distintas, da parte de dois autores
diferentes, tenham sido reunidas em um único salmo.
O salmista apresenta diferentes espécies de revelações, uma
mediante a natureza, e outra através de escritos inspirados.
Na primeira parte deste salmo é usado o nome divino El (Deus
Altíssimo), o Supremo Criador, vs. 1, ao passo que na segunda parte
é usado o nome divino Yahweh (o Eterno), vs. 7-9,14), sendo esse
o nome pessoal pelo qual Deus se revelou e se tornou conhecido em
Israel.

Transição: Neste Salmo quero compartilhar nesta oportunidade o


tema: ‘A Revelação de Deus aos Seus Eleitos é Completa’.

I – A Suficiência e a Limitação da Revelação Geral.

1. Calvino1, na apresentação deste Salmo, expõe: ‘Davi,


com o intuito de encorajar os fiéis a contemplarem a
glória de Deus, põe diante deles, em primeiro plano,

1
Calvino, João, Comentário de Salmos, Vol. 01, pág. 411.
um espelho dela na textura dos céus e na admirável
ordem de sua estrutura, para que a visualizemos; e,
em segundo plano, ele direciona nossos pensamentos
para a lei, na qual Deus se fez mais familiarmente
conhecido de seu povo eleito’.

2. O poeta usa aqui uma figura de linguagem chamada


sinédoque, que se caracteriza pela substituição de um
termo por outro e indica a parte mais restrita pela mais
extensa, o todo, ou o todo pela parte.
2.1 – Se propõe a falar da glória da criação, mas a
reduz aos céus que representa toda a criação.
2.2 – Se propõe a falar dos céus, e fala somente do sol,
como nosso astro-rei.

3. As Escrituras demonstram que a criação revela


atributos do próprio Deus, sendo então, a mesma, uma
fonte de revelação do ser divino.
3.1 – Na observação da criação se vê inteligência,
tanto é que uma boa parte dos cientistas falam de um
designer inteligente, como o arquiteto que
desenvolveu toda a estrutura da criação.
3.2 – Na observação da criação se percebe um ser
ilimitado.
3.3 – Na observação da criação se vê ordem, o que
aponta para um criador organizado que demonstra
na própria criação os traços de sua existência.
3.4 – Paulo Anglada: ‘O macrocosmos (as estrelas,
os planetas, os satélites, com sua imensidão,
grandeza e leis), o cosmos (a terra, os mares, as
montanhas, os vegetais, os animais, o homem), e o
microcosmos (os microorganismos, a constituição
dos elementos, etc.) revelam muita coisa a respeito
da pessoa e da obra de Deus. O Autor de tal obra
tem de ser infinitamente sábio e poderoso’.

4. O apóstolo Paulo indica em sua Carta aos Romanos que


o Criador é digno de adoração, porquanto Ele se revela,
embora não seja honrado.
4.1 – Rm. 1.18-20 ‘A ira de Deus se revela do céu
contra toda impiedade e perversão dos homens que
detêm a verdade pela injustiça; porquanto o que de
Deus se pode conhecer é manifesto entre eles,
porque Deus lhes manifestou. Porque os atributos
invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como
também a sua própria divindade, claramente se
reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo
percebidos por meio das coisas que foram criadas.
Tais homens são, por isso, indesculpáveis’.
4.2 – Paulo afirma ainda que tais homens são
indesculpáveis, ‘porquanto, tendo conhecimento de
Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe
deram graças’ (vs. 21).

5. De acordo com o Dr. Warfield, citado por Berkhoff, em


sua Teologia Sistemática2, a Revelação Natural ou
Geral, é insuficiente para comunicar ao homem a sua
necessidade de salvação.
5.1 – É suficiente para revelar os atributos do
Criador, porém insuficiente par revelar o plano de
salvação de Deus em Cristo Jesus, direcionado ao
pecador.
5.2 – Permite que o homem reconheça Deus em sua
grande e glória criadora, contudo não lhe apresenta
o desejo de Deus em salvar o pecador caído.

2
Berkhoff, Louis, Teologia Sistemática, LPC, pág. 27.
6. O salmista coloca vida nas coisas criadas ao afirmar que
um dia discursa a outro dia.
6.1 – A palavra ‘discursa’ (derrama a fala - RSV),
indica o borbulhar irreprimível de uma fonte.
6.2 – A expressão sugere a infinita variedade com a
qual os dias refletem a mente do Criador.
a) Sl. 19.3-4a ‘Não há linguagem, nem há
palavras, e deles não se ouve nenhum som; no
entanto, por toda a terra se faz ouvir a sua voz,
e as suas palavras, até aos confins do mundo’.
6.3 – Esse verso pode significar que a evidência da
criação é um testemunho silencioso que não
depende de palavras para comunicar sua verdade.
a) O universo é uma testemunha silenciosa, mas
eloquente, a respeito da sua origem; e como
sempre foi assim, continuará sendo dessa
maneira enquanto a terra durar.

7. O sol, nesta construção poética é apresentado de modo


repentino e enfático e domina o cenário; é exultante e
magnífico, porém obediente.
7.1 – Sl. 19.4c ‘Aí, pôs uma tenda para o sol’.
7.2 – Deus lhe indicou o lugar para ocupar e seu
caminho para correr; o céu inteiro é mera tenda e
trilho para ele.
a) Sl. 19.5-6 ‘... o qual [o sol], como noivo que sai
dos seus aposentos, se regozija como herói, a
percorrer o seu caminho. Principia numa
extremidade dos céus, e até à outra vai o seu
percurso; e nada refoge ao seu calor’.
7.3 – A alusão mais provável é a de um casamento
humano.
a) A figura aponta para um noivo, radiantemente
vestido, sai para a casa da noiva para recebê-la.
b) Tal é o brilho e disposição festiva da viagem.

8. Esta sinédoque que apresenta a beleza da criação do


universo retratada na beleza do sol.
8.1 – Esta figura estupenda aponta para uma
revelação tremendamente imensa e perfeita, qual
imenso outdoor visível a todos quantos passam por
ele, e todos passam por ele!
8.2 – Por isso o apóstolo Paulo afirma que a
humanidade, composta de todos os homens são
indesculpáveis.
a) Rm. 1.21 ‘... porquanto, tendo conhecimento de
Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe
deram graças. Tais homens são, por isso,
indesculpáveis’.
b) Paulo Anglada3: ‘A revelação natural é,
portanto, suficiente para condenar, mas não
para salvar. Devido ao estado decaído do
homem, a revelação natural não é nem clara
nem suficiente para que as verdades
necessárias à sua salvação sejam
compreendidas... Deus se revela na criação,
sim. Esta revelação é suficiente para tornar a
raça humana indesculpável. Mas, por causa da
queda, não é suficiente para a salvação de
ninguém’.

II – A Suficiência Ilimitada da Revelação Especial.

1. Enquanto lemos Davi estampando a magnitude da


Revelação Natural ou Geral, na sequência o vemos
exaltar a Palavra revelada, que recebe o nome de
Revelação Especial.
3
Anglada, Paulo R. B., Sola Scriptura: A Doutrina Reformada das Escrituras, São Paulo, Editora Os Puritanos, 1998, 25-31.
2. Beacon4: ‘Independentemente da grandeza das obras
do Criador, a Palavra de Deus é maior. A religião
natural deve ser complementada pela religião
revelada’.

3. Enquanto a Palavra Silenciosa de Deus não é suficiente


para conduzir o pecador ao caminho da salvação; a
Palavra de Deus é necessária para recuperar o homem
de seu estado caído.
3.1 – É tão contundente esse testemunho da eficácia
da Palavra pronunciada que o Senhor Jesus declara:
‘Ide e pregai o evangelho a toda criatura’.
3.2 – O apóstolo Paulo faz asseverações
indispensáveis à tal proclamação.
a) Rm. 10.13-17 ‘Todo aquele que invocar o nome
do Senhor será salvo. Como, porém, invocarão
aquele em quem não creram? E como crerão
naquele de quem nada ouviram? E como
ouvirão, se não há quem pregue? E como
pregarão, se não forem enviados? Como está
escrito: Quão formosos são os pés dos que
anunciam coisas boas! Mas nem todos
obedeceram ao evangelho; pois Isaías diz:
Senhor, quem acreditou na nossa pregação? E,
assim, a fé vem pela pregação, e a pregação,
pela palavra de Cristo’.

4. A Ler as revelações de Deus nestes dois formatos é


imprescindível ao cristão, para melhor conhecer seu
Criador, Salvador e Senhor; no entanto, uma e outra
são, por vezes deixadas de lado.

4
Comentário de Beacon, Vol. 03, Ed. CPAD, pág. 144.
4.1 – A Revelação Natural, nem sempre é lida,
observada e valorizada, muito embora, esteja
estampada ante nossos olhos em todo o tempo.
4.2 – A Revelação Especial, para muitos cristãos
também, nem sempre é lida e valorizada, embora
esteja disponível em tantas versões e formatos
diferentes em nossos dias.

5. Davi, depois de destacar a revelação natural com


exuberante maestria, se volta para destacar o valor da
Revelação Especial, que nos é dada através da Palavra
de Deus, a Bíblia.
5.1 – Vale lembrar que a referência de Davi não se
aplicava em seu momento à todos os livros da Bíblia,
mas especialmente à Torá, visto que o cânon do VT
só seria fechado no segundo século antes de Cristo.
5.2 – Com o cânon composto e completo, de posse da
certeza de que toda a Escritura é inspirada por Deus,
o cristão aplica confiadamente as expressões deste
Salmo à toda a Bíblia.

6. Davi usa neste Salmo seis expressões sinonímicas para


se referir à Revelação Especial.
6.1 – São eles:
a) Lei do Senhor (vs. 7).
• Lei (tôrâ) é o termo compreensivo para a
vontade revelada de Deus.
b) Testemunho do Senhor (vs. 7).
• Testemunho (‘èdütj) é o seu aspecto de
verdade atestada pelo próprio Deus, e é
também um termo para Sua declaração
pactual.
c) Preceitos do Senhor (vs. 8).

Preceitos e mandamento, indicam a
maneira precisa e autoritativa de Deus de Se
dirigir a nós.
d) Mandamento do Senhor (vs. 8).
e) Temor do Senhor (vs. 9).
• Temor, ou reverência, ressalta a resposta
humana suscitada pela Sua palavra.
f) Juízos do Senhor (vs. 9).
• Juízos (mispàfím), são as decisões judiciais
que Ele registrou com respeito a várias
situações humanas.
6.2 – Derek Kidner5: ‘Não se faz distinção
exclusiva entre cada uma destas seis facetas da
revelação. Em conjunto, estes termos demonstram
o propósito prático da revelação: aplicar a vontade
de Deus ao ouvinte, suscitando reverência
inteligente, confiança bem fundamentada, e
obediência pormenorizada’.

7. É interessante notar que cada título acompanhante é


uma frase descritiva afirmando a Escritura faz.
7.1 – Revigora a alma.
7.2 – Torna sábios os simples.
7.3 – Alegra o coração.
7.4 – Ilumina os olhos.
7.5 – Dura para sempre.
7.6 – Totalmente justos.

8. Esta seção se conclui com a certeza de quão preciosa é


a Palavra de Deus.
8.1 – Ela é muito mais valiosa que o ouro purificado;
8.2 – É muito mais doce que o mel.

5
Kidner, Derek, Introdução e Comentário dos Salmos, Vol. 1, Vjda Nova, pág. 117.
a) Para os habitantes do mundo antigo, que não
possuíam açúcar em abundância, não havia
nada mais doce do que o mel.

9. O cristão se regozija com o esplendor da criação,


Revelação Natural, lendo-a como um outdoor de Deus,
impossível de não ser visto; contudo, é a Revelação
Especial que nos traz a mais plena satisfação, alimento
e sustento para todas as horas e situações da vida.

III – A Profundidade da Revelação aos Eleitos.

1. Elas trouxeram significação e melhor iluminação a


Davi, conduzindo-o ao valor de se observar a Palavra.
1.1 – Sl. 19.11 ‘Além disso, por eles se admoesta o
teu servo; em os guardar, há grande recompensa’.
a) Os eleitos de Deus são admoestados pela
Palavra.
b) Os eleitos de Deus são levados a guardarem a
Palavra em obediência.
c) Os eleitos de Deus são recompensados pelo
Senhor na observância de sua Palavra.
1.2 – Assim como foi com Davi, a Palavra de Deus
continua fazendo conosco hoje, e há grande bênção
em andar nas veredas dos mandamentos de Deus.

2. Davi sabe que ao olhar para a Lei do Senhor, se como


por espelho, de forma nítida.
2.1 – Sl. 19.12 ‘Quem há que possa discernir as
próprias faltas? Absolve-me das que me são
ocultas’.
2.2 – Aqui se tem o equivalente espiritual do verso
6c: ‘nada refoge’.
2.3 – Assim como há plenitude na Revelação
Natural, também há na Revelação Especial.
2.4 – Nada escapa de ser revelado, e é diante desta
revelação que o homem tem conhecimento pleno de
seu Criador e conhece mais profundamente a si
mesmo.
a) Hb. 4.12-13 ‘Porque a palavra de Deus é viva,
e eficaz, e mais cortante do que qualquer
espada de dois gumes, e penetra até ao ponto
de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é
apta para discernir os pensamentos e
propósitos do coração. E não há criatura que
não seja manifesta na sua presença; pelo
contrário, todas as coisas estão descobertas e
patentes aos olhos daquele a quem temos de
prestar contas’.
b) A espada de dois gumes penetrou em Davi, ao
contemplar a beleza da Revelação Especial.
c) Há consciência de que até mesmo faltas ocultas
são realidades a se buscar o perdão do Altíssimo.
d) Derek Kidner6: ‘Foi a lei mosaica que definiu
estas distinções internas entre pecados, mas
também foi ela que conseguiu fazer com que
pecado algum fosse tolerado’.

3. O eleito é advertido pela Palavra a ter domínio sobre o


pecado e não o contrário.
3.1 – Sl. 19.13 (NVI) ‘Também guarda o teu servo
dos pecados intencionais; que eles não me
dominem’.
3.2 – Tradução livre por João Calvino: ‘Guarda
também a teu servo dos pecados de presunção’.

6
Kidner, Derek, Introdução e Comentário dos Salmos, Vol. 1, Ed. Vjda Nova, pág. 118.
3.3 – O hebraico entende aqui, literalmente, pecados
que ‘borbulham’, isto é, pecados agravados, e não
meramente uma atitude em separado na vida.
a) Pela expressão, pecados de presunção, ele quer
dizer transgressões notórias e evidentes,
acompanhadas de soberbo desdém e obstinação.

4. Davi conclui esta linda peça poética pedindo a Deus


ainda mais expressamente, que fosse fortificado pela
graça de Deus, e, portanto, capacitado a viver uma vida
reta e santa.
4.1 – Sl. 19.14 (NVI) ‘Que as palavras da minha
boca e a meditação do meu coração sejam
agradáveis a ti, Senhor, minha Rocha e meu
Resgatador!’.
4.2 – Pela palavra, aceitável, ou aceitáveis, Davi
mostra que a única regra do bom viver é que os
homens se esforcem por agradar a Deus e serem
aprovados por Ele.

5. Apreciar a revelação de Deus, seja pela via da Revelação


Natural ou da Revelação Especial, coloca o eleito numa
posição de adoração e coração quebrantado.

Conclusão: O ser humano é indesculpável, pois, de modo


ímpar, atualmente, tem-se as duas maiores formas da
revelação divina estar ao seu alcance.
Pode-se conhecer de perto tanto os macrocosmos como os
microcosmos.
Pode-se ter ao alcance de praticamente qualquer pessoa, a
palavra de Deus em tantas versões e formatos.
Ande na revelação de Deus.
Glorifique-O pelas suas revelações.
Adore-O pela maior revelação, em Cristo.

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