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Igreja Evangélica Congregacional Reformada

“Pasce agnos meos”


Rev. Elder Pinto – Rua das Pedrinhas 69 Genibaú – Fortaleza Ce
REFORMA PELA PALAVRA – Revelação (Série de 05 estudos)
Rev.Dr Hermisten Maia, Rev. Elder Pinto e Prof. Samuel Fernandes N. Jr. ESTUDO I

INTRODUÇÃO: Somente a partir da afirmação da existência de Deus é que podemos falar de revelação. Sendo Deus infinito, o que dele se
pode conhecer é somente o que lhe aprouve revelar à mente finita do homem. Não fosse a iniciativa divina de se revelar, o homem jamais
conheceria o Criador, nem seu plano de salvação. Ainda segundo Berkhof, revelação é um ato “consciente, voluntário e intencional, por meio do qual
o mesmo Deus revela ou comunica ao homem a verdade referente a si mesmo em relação com suas criaturas” (Berkhof, Louis – Introducción a la Teologia Sistemática p. 126).
A teologia sistemática considera dois modos de revelação. A revelação geral, que é o descortinar-se de Deus, Sua comunicação a
todos os povos, em todos os tempos e lugares. É o que entendemos pela manifestação de Deus nas coisas criadas (Sal. 19.1-2; Rom. 1.19-20),
mas também na consciência humana (Rom. 2.15; Atos 14.16-17). A revelação especial, ou particular, pela qual Deus revela verdades
particulares a determinadas pessoas, em determinados tempos e lugares, tendo o Senhor desejado usar vários modos de comunicação, antes
da conclusão desta revelação com o Canon das Escrituras. É pela revelação geral que iniciaremos esse nosso estudo. Que o Senhor nos dê
graça, a fim de crescermos no entendimento de Sua revelação.
I. A REVELAÇÃO GERAL – O mundo de Deus não é um véu que esconde o poder e a majestade do Criador. A ordem
natural prova que existe um Criador poderoso e cheio de majestade. Paulo diz a mesma coisa em Romanos 1.19-21 e em Atos
17.28, citando Aratus, poeta grego, como testemunha de que todo ser vivo foi criado pelo mesmo Deus. Paulo afirma também que
a generosidade do Criador é evidente na sua bondosa providência (Atos 14.17; Rom. 2.4) e que pelo menos algumas das
exigências de sua lei estão patentes em cada consciência humana (Romanos 2.14-15), acompanhadas da desconfortável certeza
do julgamento final (Rom. 1.32). Essas certezas evidentes são parte do conteúdo da revelação geral. A revelação geral é assim
chamada porque chega a cada um de nós simplesmente por vivermos no mundo de Deus (Biblia de Estudo de Genebra). Millard Erickson diz
haver basicamente três lugares em que se dá a revelação geral: A natureza; a história; a constituição do ser humano.
Segundo as Escriutras, há um conhecimento de Deus acessivel na ordem física das coisas criadas. O homem pode, pela
observação da natureza, vislumbrar a existência de uma realidade maior e mais poderosa que teria gerado tudo o que há (Salmo
19.1-2). Paulo afirma que: “Porquanto o que de Deus se pode conhecer, neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. Porque os
atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o
princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis” (Rom. 1.19-
20). As palavras em destaque expressam a ideia de mostrar, tornar conhecido, revelar o que antes estava oculto. Deus não ficou
sem testemunho na história, mas mostrou-se benevolente na preservação da espécie humana (Atos 14.15-17; 17.22-31).
A historia se faz impressivo testemunho sobre Deus. Ele é o soberano do mundo, operando e guiando a história para
derrminados fins. Um dos maiores exemplos da revelação de Deus no governo da história é a preservação do povo de Israel ao
longo dos séculos (Deut. 7.6-10). Deus é Senhor da história. O destino dos povos não está nas mãos dos governantes, mas do
Senhor: “O Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens e o dá a quem quer.” (Dan. 4.32)
A constituição humana é também visitada pela revelação divina. Segundo a Escritura, o homem, criado segundo a
imagem de Deus (Gen. 1.26), é dotado de saberes morais e espirituais (Rom. 2.15). A consciência é o que se pode chamar de “luz
da natureza”. A revelação geral também pode ser enocntrada na natureza religiosa do homem. Em todas as culturas, em todos os
tempos, a humanidade tem deixado marcas da crença numa realidade superior. O homem é religioso por natureza. Há nele um
senso de deidade, uma noção do divino.
a) A Revelação Geral não traz conhecimento para a salvação – Embora revele os atributos invisíveis de Deus, bem como
o Seu eterno poder e Sua divindade (Sal. 18.6-13), a revelação geral é insuficiente para dar ao homem o conhecimento necessário
para a salvação. A Confissão de Westminster (I,1) declara: “Embora a luz da natureza, e as obras da criação e da providência de tal
forma manifestem a bondade, a sabedoria, e o poder de Deus, de modo que os homens fiquem inexcusáveis (Rom. 2:1,14,15;
1:19,20,32; Sal. 19:1,2,3), contudo não são suficientes para fornecer aquele conhecimento de Deus, e de Sua vontade, necessário para
a salvação (1 Cor. 1.21; 2.13-14)...”
b) A Revelação Geral traz culpa sobre o homem – “tais homens são, por isto, indesculpáveis.” O conhecimento de Deus,
obtido por meio da observação das coisas criadas, bem como da lei divina impressa no coração do homem, deveria levá-lo a uma
atitude de submissão diante do Criador. Quando ouvimos que a revelação geral traz culpa ao homem, precisamos entender que a
Escritura jamais se refere ao homem como um ser ingênuo e inocente, digno de compaixão por ter sido “injustamente” condenado
por uma justiça intolerante e intransigente.
O homem é totalmente depravado, e diante do espetáculo da revelação geral, diante das manifestações do poder infinito e da
majestade de Deus, ao invés de prostrar-se em adoração ao Senhor que tudo fez (Sal. 8.1-4; Heb. 1.3; João 1.1-3), revolta-se
contra o Criador e sufoca a verdade pela prática da injustiça (Rom. 1.18; Efe. 2.2-3), serve e adora a criatura, em lugar do Criador
(Rom. 1.25), dá-se à perversão e à loucura (Rom. 1.22,24,26-27), responde à luz da revelação com um coração obscurecido (Rom.
1.21).

Revelação é iniciativa de Deus, uma vez que o homem, finito, não dispõe de meios para conhecer a Deus por iniciativa própria. Na
revelação geral entendemos que Deus se revela a todas as pessoas, em todos os lugares, em todos os tempos. Nenhum homem
jamais ficou ou ficará sem o testemunho da revelação geral de Deus.
• A natureza desta revelação é o próprio Deus, ou o que dele se pode conhecer, sua criação, e o relacionamento entre
ambos. As verdades reveladas dizem respeito ao ser de Deus, seus atributos, sua criação e a relação de Deus com os
seres criados.
• Os meios da revelação geral são três: O universo criado (Salmo 19.1-6; Romanos 1.19-20); A consciência humana (Romanos
2.15); e A história (Salmo 78; 136).
II. A REVELAÇÃO ESPECIAL – Por Revelação Especial entendemos que Deus comunicou verdades acerca de Si a pessoas
particulares, em tempos e lugares definidos, capacitando tais pessoas a entrarem num relacionamento de salvação com Ele. Por
causa da queda, o homem perdeu a condição de favor que tinha com Deus. A Revelação Especial se faz necessária, pois além da
finitude, natural aos seres criados, o pecado ainda trouxe ao homem limitações morais. O entendimento humano acerca das
questões espirituais foi completamente obscurecido pela desobediência. Portanto, o objetivo maior da Revelação Especial é a
glória de Deus e a relação do homem com Ele. Millard Erickson1 nos apresenta algumas características da Revelação Especial,
pelas quais nosso entendimento dela será expandido:
a) A Revelação Especial é Pessoal – Deus é um ser pessoal e se revela a pessoas. Há elementos pessoais na revelação,
como o Nome de Deus (Exo. 3.14); alianças pessoais (Num. 6.24-25). A expressão máxima da revelação de Deus é a encarnação do
Verbo (João 1.14; Col. 2.9). Quando resolveu mostrar-se ao homem, Deus o fez por meio da figura humana, na bendita pessoa de
Jesus, o Deus encarnado.
b) A Revelação Especial é Antrópica (envolve categorias da experiência humana) – A revelação, por causa da infinita
grandeza de Deus, envolve uma condescendência da parte do Senhor (Rom. 11.33-36). A revelação é dada em linguagem humana,
não em ‘língua de anjos’. Os próprios anjos, mensageiros de Deus que são, sempre adotam a língua dos destinatários de suas
mensagens (Juízes 2.1-3; 6.11-14; 13.3-5; Mat. 1.20-21...). O Senhor também dispôs de meios ordinários da experiência humana
diária, como os sonhos (Dan. 2.27-28; Joel 2. 28...); teofanias (manifestações divinas: Heb. 1.1; Gen. 3.8; 12.1-3; 15.1; 18.1-8; Isa. 6.1-3).
c) A revelação Especial é Analógica – Deus também emprega elementos do universo do conhecimento humano, a fim de
se fazer conhecido ao homem. Alguns elementos humanos são unívocos às verdades do universo Divino. O amor é um bom
exemplo do caráter analógico da revelação especial. Quando a Bíblia diz que Deus é amor (1 João 4.8), somos capazes de
entender este aspecto da natureza Divina, por sermos também capazes de amar, porque temos a experiência de sermos amados
e de amar o nosso semelhante.
d) A Revelação Especial é Progressiva – Hoje temos a Escritura completa em nossas mãos. Entretanto, as grandes
verdades da salvação, hoje disponíveis até mesmo no display de um aparelho celular, não foram entregues ao povo de Deus de
uma vez só. A formação do Canon (coleção dos livros divinamente inspirados) levou aproximadamente 1600 anos. Alguns homens
obtiveram mais revelação que outros. Abraão, por exemplo, não viu os feitos poderosos de Deus apresentados a Moisés no êxodo
do Egito. João Batista recebeu mais revelação do que todos quantos vieram antes dele, mas morreu sem mesmo obter o
conhecimento acerca da Santíssima Trindade (Mat. 11.11; Atos 19.1-3).
e) A Revelação Especial é Proposicional – Sem dúvida alguma, há um caráter pessoal na revelação especial. Entretanto,
a revelação de Deus é proposicional, objetiva. Não há enigmas a decifrar, não há subjetividade. Há verdades proposicionais e
absolutas sobre Deus, sobre a criação, sobre a relação entre ambos. Rejeitamos, assim, a visão neo-ortodoxa de Karl Barth, para
quem a Palavra de Deus nunca pode ser identificada com palavras humanas, ou seja, a Palavra de Deus (que, segundo Barth, não
é a Bíblia) é transcendental, chegando ao homem por meio de um “encontro”, este subjetivo, pessoal e intransferível,
incomunicável. Para Barth, de tão subjetiva, a experiência do crente com Deus nem mesmo poderia ser descrita.
1. Modos da Revelação Especial: A Revelação Especial possui três modalidades (Heb. 1.1). Elas são:
• Linguagem Divina: Uma fórmula muito comum na revelação Divina é a expressão “veio a mim a Palavra do Senhor,
dizendo:” (Jer. 18.1; Eze. 12.1,8,17,21,26; Joel 1.1; Amós 3.1). Todos os profetas tinham consciência de que a mensagem que
traziam não era deles, mas de Deus.
• Encarnação: A vida e a linguagem de Jesus é o modo mais completo de revelação. “Quem me vê a mim, vê o Pai” (João
14.9). Jesus é a “imagem do Deus invisível” (Col. 1.15; Heb. 1.1-2). Jesus combina a revelação como ato e palavra, ao mesmo
tempo.
• Escritura Sagrada. Nosso estudo se concentrará nessa última modalidade, a Bíblia como Palavra de Deus. A Confissão
de Westminster (cap. I,4) afirma: “A autoridade da Escritura Sagrada, razão pela qual deve ser crida e obedecida, não depende do
testemunho de qualquer homem ou igreja, mas depende somente de Deus (a mesma verdade) que é o seu autor; tem, portanto, de
ser recebida, porque é a palavra de Deus.” (2 Tim. 3:16; 1 João 5:9; 1 Tess. 2:13).

GRATIA VOBIS ET PAX continua...

1
ERICKSON, Millard Christian Theology Baker Grand Rapids, Michigan 1980.

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