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O Eleito Apela ao Senhor Como Juiz e Professa Sua

Fé Em Pura Devoção

Sl. 26

Objetivo: Ensinar que a verdadeira adoração é fruto da


intervenção de Deus como Juiz do eleito e de uma devoção
acompanhada de ética compatível com os valores de Cristo.

Introdução: Estamos vivenciando um período em que o


culto é confundido com eventos que trazem diversão e
entretenimento, ou quando muito trazem a sensação de que o
suposto adorador tem o controle do desfrute do poder de
Deus.

Contexto: Neste salmo, temos um clamor pela vindicação


contra uma acusação injusta.
O poeta sacro declara-se inocente dessas acusações (vs. 4-7).
O protesto é dramatizado numa cerimônia litúrgica (vs. 6-7).
O homem libertado prometeu fazer um voto (vs. 12).
Allen P. Ross: ‘O Salmo 26 é uma forte afirmação de
integridade, revelando-se uma oração reconhecida por
Deus... Sobre essa base, ele orou com a confiança de que o
Senhor lhe pouparia uma sorte como a que atinge os
pecadores’.
O salmo carrega o título ‘salmo de Davi’, cuja intenção é
dizer-nos que este salmo foi composto por ele, mesmo que não
haja nenhum incidente específico, na vida de Davi, que
proporcione uma clara identificação histórica com o salmo.
Cerca da metade dos 150 salmos é atribuída a Davi, o suave
salmista de Israel (II Sm. 23.1).
Transição: Neste texto quero compartilhar nesta
oportunidade o tema: ‘O Eleito Apela ao Senhor Como
Juiz e Professa Sua Fé Em Pura Devoção’.

I – O Eleito Confia em Deus Como Seu Juiz.

1. Não se encontra um evento na biografia de Davi onde


melhor se aloca esta poesia, embora alguns
comentaristas procurem ajustá-la por ocasião das
perseguições de Saul.

2. O salmo se encaixa bem no esquema do juízo de


apelação, seja real e objetivo, seja expressão simbólica
de uma experiencia espiritual.
2.1 – Alguns veem neste salmo um homem que,
acusado em falso, apela ao tribunal de Deus no
templo.
2.2 – Robinson1, vê no Salmo 26 a forma de um
‘juramento de purificação’, no qual alguém acusado
de mau procedimento faz um juramento formal de
inocência.

3. Davi apela, logo de entrada em sua peça poética, para


que YHWH seja seu juiz.
3.1 – Sl. 26.1 ‘Faze-me justiça, Senhor, pois tenho
andado na minha integridade e confio no Senhor,
sem vacilar’.
3.2 – A terceira frase do verso aponta para a plena
confiança que Davi deposita em YHWH como seu
juiz.

1
John Arthur Thomas Robinson (1919-19830) teólogo anglicano.
4. O salmista se expõe para ser sondado e observado pelo
Juiz, em sua conduta manifestada em atos externos,
que o qualquer observador pode constatar e avaliar.

5. Resta uma zona escondida, de atitudes e intenções,


‘coração e rins, ou pensamentos’, que o homem
não logra conhecer e dominar, e que agora submete ao
juízo ou a prova de Deus.
5.1 – Sl. 26.2 ‘Examina-me, Senhor, e prova-me;
sonda-me o coração e os pensamentos’.
5.2 – Três expressões do salmista recorrem à análise
do Todo Poderoso.
a) ‘Examina-me’.
b) ‘Prova-me’.
c) ‘Sonda-me’.

6. Por essa razão, esse comparecer de Davi pode ser ato


mental.
6.1 – Em oração apresenta-se sozinho ao tribunal de
Deus no templo, e ao tribunal de Deus em sua
consciência.
a) Sl. 26.3 ‘Pois a tua benignidade, tenho-a
perante os olhos e tenho andado na tua
verdade’.
6.2 – Davi convoca mentalmente um grupo anônimo
e típico de malfeitores, também submetidos ao juízo
de Deus.

7. O eleito, assim como Davi, pode confiar em Deus como


seu juiz, na certeza de que aquilo que lhe escapa ao
conhecimento, o Onisciente Senhor sonda todas as
coisas.
II – O Eleito Apresenta a Deus os Seus Opositores.

1. Davi, apresenta-se ao Senhor e pede que o julgue,


colocando-se como íntegro.

2. Apesar de ser ter consciência dos pecados, é certo que


se escapa saber de muitos dos erros que se comete.
2.1 – Pv. 20.27 ‘o espírito humano é lâmpada do
Senhor que sonda o íntimo das entranhas’.
2.2 – Outros provérbios aconselham cautela:
a) Pv. 16.2 ‘A alguém parece limpa sua conduta,
mas é o Senhor que pesa as consciências’.
b) Pv. 21.2 ‘Ao homem parece sempre reto seu
caminho, mas é Deus que pesa os corações’.
c) O homem que medita sabe que se lhe ocultam
movimentos internos, que se lhe escapam ao
conhecimento, como afirma no Sl. 19.13.

3. A partir deste padrão de juízo, faz-se válido observar de


perto o perfil dos malvados.
3.1 – Os crimes concretos denunciados são graves,
que, sem dúvida, merecedores, singular e
coletivamente, do juízo.
a) Falsos (vs. 4a).
b) Dissimuladores (vs. 4b).
c) Malfeitores (vs. 5a).
d) Ímpios (vs. 5b).
e) Pecadores (vs. 9a).
f) Sanguinários (vs. 9b).
g) Criminosos (vs. 10a).
h) Corruptos (vs. 10b).

4. A maneira como Davi apresenta seu perfil espiritual


poderia soar de modo suspeito uma confissão de
autossuficiência, pretextando integridade e inocência
diante de Deus.
4.1 – Será que não se auto justifica de modo
demasiado e perigosamente se gloria, em detrimento
dos outros?
4.2 – Vale lembrar que o conjunto do salmo suaviza
essa primeira impressão, onde se vê que o poeta
confessa sua ‘confiança’ no Senhor, conta com sua
‘lealdade e fidelidade’, pede ‘libertação e
compaixão’.
4.3 – Apesar de apresentar seu perfil espiritual
ensejando integridade e justiça próprias, pode-se
dizer que tal tom não vai tão longe, ao verificar que
confessa, veladamente suas culpas.
a) O verso 9 é confissão de merece penalização,
suplicando pela misericórdia do Juiz.
Sl. 26.9 ‘Não colhas a minha alma com a dos
pecadores, nem a minha vida com a dos
homens sanguinários’.
b) No verso 11, igualmente se acha o salmista
apelando por livramento e pela misericórdia.
Sl. 26.11 ‘Quanto a mim, porém, ando na
minha integridade; livra-me e tem compaixão
de mim’.
4.4 – Vê-se neste salmo que apenas o poeta fala e que
não soam outras vozes, e que sua prece tem sentido
como oração pessoal.

5. Aprendamos do exemplo de Davi, que, ao sermos


destituídos do auxílio humano, a recorrer ao tribunal de
Deus e a descansar em sua proteção.
III – O Eleito Apresenta Um Culto Aceitável.

1. O poeta submete sua conduta ética ao juízo purificador


de Deus, e, menciona também sua conduta com
referência ao culto com seus ritos e lugares sagrados.

2. No todo das Escrituras se aprende que cultuar é mais


que um ato religioso, mas adentra-se às raias de um
relacionamento pessoal com o Altíssimo e que se exige
coerência ética àquele que se propõe adorar.
2.1 – Numa leitura puramente espiritual do salmo,
uma purificação da consciência diante de Deus
precede ao ato litúrgico.
2.2 – O juízo e purificação é condição ou ato prévio
para participar do culto.

3. Considerando essa condição, o salmo corresponde ao


esquema de uma liturgia de entrada, como os Salmos
15 e 24, onde se qualifica o adorador.
3.1 – Sl. 15.1 ‘Quem, Senhor, habitará no teu
tabernáculo? Quem há de morar no teu santo
monte?’.
3.2 – Sl. 24.3 ‘Quem subirá ao monte do Senhor?
Quem há de permanecer no seu santo lugar?’.
3.3 – Embora no Salmo 26 não há pergunta e
resposta, nem há lista de deveres como nos Salmos
15 e 24, reserva-se o mesmo espírito poético.

4. Davi quer oferecer um culto aceitável ao seu Deus e


Juiz.
4.1 – Sl. 26.6-7 ‘Lavo as mãos na inocência e,
assim, andarei, Senhor, ao redor do teu altar, para
entoar, com voz alta, os louvores e proclamar as
tuas maravilhas todas’.
4.2 – Davi evoca duas figuras do Tabernáculo que
denotam um momento solene de adoração ao
Senhor.
a) ‘Lavo as mãos’.
• Pode indicar o gesto da purificação de Arão
e seus filhos.
Êx. 40.30-32 ‘Pôs a bacia entre a tenda da
congregação e o altar e a encheu de água,
para se lavar. Nela, Moisés, Arão e seus
filhos lavavam as mãos e os pés, quando
entravam na tenda da congregação e
quando se chegavam ao altar, segundo o
Senhor ordenara a Moisés’.
• Pode reportar à necessidade de purificação
figurada no lavar das mãos.
Is. 1.15 ‘Lavai-vos, purificai-vos, tirai a
maldade de vossos atos de diante dos meus
olhos; cessai de fazer o mal’.
b) ‘ao redor do teu altar’.
• Uma alusão aos sacerdotes em volta do altar
trazendo sacrifícios e holocaustos como
oferendas agradáveis a Deus.

5. A conduta ética é condição para a participação de um


culto valido, e pode-se ver também tal doutrina repetida
em textos proféticos como Isaías, Amós e outros.
5.1 – Is. 1.13c ‘... não posso suportar iniquidade
associada ao ajuntamento solene’.
5.2 – Am. 5.15a ‘Aborrecei o mal, e amai o bem, e
estabelecei na porta o juízo’.

6. Conduta ética e atividade litúrgica se complementam,


como articulação de uma totalidade.
6.1 – Os verbos antitéticos ‘detesto’ e ‘amo’
parecem indicam essa realidade.
a) ‘aborreço os malfeitores’ (Vs. 5).
b) ‘amo tua morada’ (Vs. 8).
6.2 – Pode-se ver confirmado o mesmo princípio em
outra oposição verbal.
a) ‘não me assento’ e ‘não me associo’ (Vs. 4a e b).
b) ‘andarei ... ao redor de teu altar (Vs. 6b)’.
6.3 – A oposição implica que os malvados não
participam do culto, e que para participar necessário
se faz afastar-se destes elementos impenitentes.

7. Uma característica dominante nos adoradores de


YHWH é que estes têm em alto valor a casa de Deus.
7.1 – Sl. 26.8 ‘Eu amo, Senhor, a habitação de tua
casa e o lugar onde tua glória assiste’.
7.2 – Sl. 26. 12 ‘O meu pé está firme em terreno
plano; nas congregações, bendirei o Senhor’.

8. O eleito é aquele pecador que, alcançado pela graça,


mediante a obra regeneradora do Filho e pela obra
santificadora do Espírito, é trazido para a Casa do Pai,
e, invariavelmente, ama o lugar físico e terreno que
representa ‘o lugar onde tua glória assiste’.

Conclusão:

Apelar para o Senhor como Juiz, tem implicações nas causas


e questões que circundam a vida do eleito aqui na jornada,
mas também implicações quanto a recepção permanente na
Casa de deus por toda a eternidade.

O culto agradável a Deus é aquele onde o quebrantamento


acompanhado de ações justas se fazem na presença de Deus.

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