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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

ÁREA DO CONHECIMENTO DE CIÊNCIAS EXATAS E ENGENHARIAS


CURSO ENGENHARIA CIVIL

ARTUR DA ROSA MARCHIORO

ANÁLISE COMPARATIVA PARA FLECHAS EM VIGAS DE CONCRETO


ARMADO

CAXIAS DO SUL
2019
ARTUR DA ROSA MARCHIORO

ANÁLISE COMPARATIVA PARA FLECHAS EM VIGAS DE CONCRETO


ARMADO

Trabalho de conclusão de curso


apresentado à Universidade de Caxias Sul,
como parte dos requisitos para obtenção
do título de Bacharel em Engenharia Civil.

Orientador(a): Profª. Dra. Henriette Justina


Manfredini Baroni.

CAXIAS DO SUL
2019
ARTUR DA ROSA MARCHIORO

ANÁLISE COMPARATIVA PARA FLECHAS EM VIGAS DE CONCRETO


ARMADO

Trabalho de conclusão de curso


apresentado à Universidade de Caxias Sul,
como parte dos requisitos para obtenção
do título de Bacharel em Engenharia Civil.

Aprovado em __ /__ /____

Banca Examinadora

_____________________________________
Profª. Dra. Henriette Justina Manfredini Baroni
Universidade de Caxias do Sul - UCS

_____________________________________
Prof. Ms. Edison Vieiro
Universidade de Caxias do Sul - UCS

_____________________________________
Prof. Ms. Maurício Schafer
Universidade de Caxias do Sul - UCS
RESUMO

Dentre as deformações atuantes em vigas de concreto armado, destacamos as flechas como sendo a
de maior impacto para a estrutura. Tendo isto em vista, foi realizado neste trabalho uma análise
comparativa entre os métodos aproximados para avaliação de flechas em vigas de concreto armado,
prescritas pela norma brasileira e dois diferentes códigos internacionais NBR 6118 (ABNT, 2014),
Model Code 1990 (CEB-FIP, 1993) e EN 1992 - Eurocódigo 2 (CEN, 2004). Como modelo de referência,
foram utilizados os dados e resultados baseados em experimento desenvolvido e apresentado por
Baroni (2003). O objetivo proposto foi identificar a aproximação dos resultados obtidos pelos modelos
normativos com os dados experimentais, e assim quando necessário, balizar a adequação dos critérios
de cada normativa frente a previsão de flechas. A análise de resultados evidenciou que nenhum dos
modelos simplificados produziu 100% de resultados satisfatórios, tanto para as flechais iniciais quanto
para as finais, frente aos resultados experimentais. Ainda foi possível apurar que a NBR 6118 (ABNT,
2014), norma em vigor no Brasil, obteve os resultados mais distantes dos experimentais, sendo assim,
considerada a mais inapropriada para uso.

Palavra-chave: Flecha. Flecha imediata. Flecha diferida. Flecha final. Viga de concreto armado.
ABSTRACT

Among the deformations acting on reinforced concrete beams, we highlight the arrows as having the
greatest impact on the structure. With this in mind, a comparative analysis of the approximate methods
for assessing arrows in reinforced concrete beams prescribed in three different international codes was
performed in this work: NBR 6118 (ABNT, 2014), Model Code 1990 (CEB-FIP, 1993) and EN 1992 -
Eurocode 2 (CEN, 2004). As a reference model, we used data and results based on an experiment
developed and presented by Baroni (2003). The proposed objective was to identify the approximation
of the results obtained by the normative models with the experimental data, and thus, when necessary,
to mark the adequacy of the criteria of each normative against the forecast of arrows. The analysis of
results showed that none of the simplified models produced 100% satisfactory results, both for the initial
and final arrows, compared to the experimental results. It was also possible to determine that the NBR
6118 (ABNT, 2014), a standard in force in Brazil, obtained the most distant results from the experimental
ones, thus being considered the most inappropriate for use.

Keyword: Arrow. Immediate arrow. Deferred arrow. Final arrow. Reinforced concrete beam.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Delineamento do trabalho ............................................................. 12


Figura 2 - Diagrama de comportamento ....................................................... 15
Figura 3 - Diagrama de momento fletor definindo l0, la, lb ............................ 24
Figura 4 - Método para determinação do coeficiente de fluência (ambiente
interno) ......................................................................................................... 27
Figura 5 - Método para determinação do coeficiente de fluência (ambiente
externo) ........................................................................................................ 27
Figura 6 - Modelo estrutural .......................................................................... 32
Figura 7 - Detalhamento da armadura .......................................................... 33
Figura 8 - Comparação de resultados para viga VT1 ................................... 37
Figura 9 - Comparação de resultados para viga VT2 ................................... 38
Figura 10 - Comparação de resultados para viga VF1 ................................. 38
Figura 11- Comparação de resultados para viga VF2 .................................. 39
Figura 12 - Comparação de resultados para viga VB1 ................................. 39
Figura 13 - Comparação de resultados para viga VB2 ................................. 40
Figura 14 - Comparação de resultados para viga VA1 ................................. 40
Figura 15 - Comparação de resultados para viga VA2 ................................. 41
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Coeficiente função de tempo ....................................................... 22


Tabela 2 - Fator de correção ɳ para estimativa de deflexão............. ...........24
Tabela 3 - Resumo de flechas obtidas em mm............................... .............36
Tabela 4 - Resumo de resultados quanto a validação................. .................42
Tabela 5 - Momentos de fissuração em KN.m.............................. .................43
Tabela 6 - NBR 6118 - 2003 x NBR 6118 - 2014...................... ....................44
Tabela 7 - CEB90..................................................................... .....................45
Tabela 8 - Eurocódigo...................................................................................46
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Resumo de equações ................................................................. 30


Quadro 2 - Dados experimentais .................................................................. 34
Quadro 3 – Resultados da NBR 6118 edição 2003 ...................................... 35
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 10

1.1 QUESTÃO DE PESQUISA .......................................................................... 10


1.2 OBJETIVOS ................................................................................................ 11
1.2.1 Objetivo principal ...................................................................................... 11
1.2.2 Objetivos específicos................................................................................ 11
1.3 DELIMITAÇÕES .......................................................................................... 11
1.4 FLUXOGRAMA DE TRABALHO.................................................................. 12

2 FLECHAS ................................................................................................... 13

2.1 CONCEITO DE FLECHAS ........................................................................... 13


2.1.1 Flecha imediata ......................................................................................... 13
2.1.2 Flecha diferida ........................................................................................... 14
2.1.3 Flecha final ................................................................................................. 14
2.2 VIGAS DE CONCRETO ARMADO .............................................................. 15
2.2.1 Estádio I ..................................................................................................... 16
2.2.2 Estádio II .................................................................................................... 16
2.2.3 Estádio III ................................................................................................... 17
2.3 FLECHAS EM VIGAS DE CONCRETO ARMADO ....................................... 18
2.3.1 Prescrições da NBR 6118/2014 ................................................................ 18
2.3.1.1 Flecha imediato.............................................................................................18
2.3.1.2 Flecha diferida..............................................................................................21
2.3.1.3 Flecha final...................................................................................................22
2.3.2 Prescrições do Model Code 1990............................................................. 22
2.3.3 Prescrições do EN 1992 - Eurocódigo 2 .................................................. 25
2.4 RESUMO DOS PROCEDIMENTOS NORMATIVOS ................................... 29

3 MÉTODO DE PESQUISA ........................................................................... 31

3.1 MODELO DE REFERÊNCIA........................................................................ 31


3.2 RESULTADOS VIA NBR 6118 EDIÇÃO 2003.............................................. 35
3.4 APLICAÇÃO DAS PRESCRIÇÕES ANALÍTICAS........................................ 35

4 RESULTADOS E ANÁLISES ..................................................................... 36

4.1 RESULTADOS E ANÁLISES GERAIS ......................................................... 36


4.1.1 Momento de fissuração ............................................................................ 43
4.2 RESULTADOS E ANÁLISES ESPECÍFICOS .............................................. 43
4.2.1 Norma brasileira ........................................................................................ 43
4.2.2 Procedimentos via CEB ............................................................................ 45
4.2.3 Procedimentos Eurocódigo .................................................... ..................45
4.2.4 Módulo de elasticidade do concreto..........................................................46

5 CONCLUSÕES ......................................................................................... 488

REFERÊNCIAS.......................................................................................... 49
10

1 INTRODUÇÃO

O concreto armado é o material construtivo mais empregado no mundo, e seu


uso na construção civil é relativamente recente e destaca-se por ter um ótimo custo
benefícios ao usuário. O concreto em si é composto por agregados graúdos (pedras,
seixos), agregados miúdos (areia), aglomerante (cimento), água e aditivos
(acelerante, retardante, corantes, fibras) quando for o caso. O concreto para ser
utilizado por si só tem grandes limitações devido à sua baixa resistência à tração,
diante disso é utilizado associado ao concreto o aço, material com alta resistência a
tração (PORTO; FERNANDES, 2015, p.13).
Conforme Fusco e Onishi (2017, p.11) decorrente dos novos matérias que
emergiram com a Revolução Industrial, ficou eminente a necessidade de elaborar
critérios de projetos capazes de garantir a segurança das estruturas a serem
construídas com os mesmos. Em 1861, o engenheiro francês Edmond Coignet
estabelece as primeiras normas para a concepção e fabricação de vigas e tubos de
concreto armado.
Em busca da racionalização do conceito de segurança surge o método dos
estados limites, que busca identificar e quantificar os estados de possíveis ruptura da
estrutura e adequabilidade da estrutura em serviço. Dentro deste, identificamos a
existência de flecha visíveis em estruturas como sendo o efeito de maior relevância
para a caracterização dos estados de deformação excessiva (FUSCO; ONISHI, 2017,
p.16).
Atualmente com o arrojo da arquitetura e a busca por construções cada vez
mais esbeltas se torna indispensável a verificação e avaliação dos estados limites com
maior precisão. Pensando nisto, este trabalho busca avaliar e quantificar flechas para
diferentes normas em vigas com distintas composições de concreto.

1.1 QUESTÃO DE PESQUISA

Este trabalho tem como questão de pesquisa: métodos simplificados para


flechas em vigas de concreto armado conseguem produzir resultados satisfatórios e
próximos a resultados obtidos através de ensaio experimental?
11

1.2 OBJETIVOS

Os objetivos do trabalho estão divididos em principal e específico.

1.2.1 Objetivo principal

O trabalho tem como objetivo principal analisar comparativamente os métodos


aproximados para avaliação de flechas em vigas de concreto armado, prescritos pela
norma brasileira e dois diferentes códigos internacionais: Norma brasileira NBR 6118
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2014), Model Code 1990
(EURO INTERNACIONAL COMMITTEE FOR CONCRETE and INTERNATIOAL
FEDERATION FOR STRUCTURAL CONCRETE, 1993) e EN 1992 - Eurocódigo 2
(COMITÉ EUROPEU DE NORMALIZAÇÃO, 2004). Como modelo de referência foram
utilizados os dados e resultados baseados em experimento desenvolvido e
apresentado por Baroni (2003).

1.2.2 Objetivos específicos

Os objetivos específicos deste trabalho são:


• Comparar os resultados obtidos pelas diferentes normas
internacionais;
• Evidenciar possível alteração na NBR 6118 (ABNT, 2003), utilizada no
experimento realizado por Baroni (2003), realizando uma verificação
dos resultados obtidos pela autora quando comparado com a norma de
2014;

1.3 DELIMITAÇÕES

Os resultados e procedimentos do experimento realizado por Baroni (2003)


não foram discutidos no presente trabalho.
12

1.4 FLUXOGRAMA DE TRABALHO

A Figura 1 mostra o fluxograma com o delineamento deste trabalho.

Figura 1 - Delineamento do trabalho

Fonte: O Autor (2019).


13

2 FLECHAS

Neste capítulo, será apresentado o conceito de flecha assim como suas


subdivisões, evidenciando fatores que afetam diretamente a deformação do concreto.
Em seguida são apresentados métodos de previsão de flechas para vigas conforme
NBR 6118 (ABNT, 2014), Model Code 1990 (CEB-FIP, 1993) e norma europeia EN
1992 - Eurocódigo 2 (CEN, 2004).

2.1 CONCEITO DE FLECHAS

Segundo Botelho e Ferraz (2018) em estruturas convencionais de concreto


armado temos peças como vigas e lajes, solicitadas à flexão, que tendem a sofrer
deformações maiores que outras. As deformações, além de causarem impacto
negativo visualmente podem promover outros danos a estrutura.
Para Montoya (2011) as estruturas são submetidas a três tipos de
movimentos, sendo eles: deslocamentos longitudinais, deslocamentos transversais e
rotação. Estes que são provenientes da atuação das cargas de longa e curta duração
e de ações como: fluência, retração, variação térmica e de umidade. Destacando que
as flechas são as de maior relevância, e portanto limitamos a verificação do estado
limite de deformação excessiva ao cálculo das flechas.
A seguir estão apresentadas as definições das parcelas de flechas.

2.1.1 Flecha imediata

Segundo Montoya (2011) a flecha imediata ou instantânea, como seu próprio


nome se refere, é a deformação que ocorre imediatamente após a estrutura ser
submetida a carga e depende da configuração físico-geométrica do elemento
estrutural. Para obtermos a flecha instantânea devemos levar em consideração que a
rigidez (𝐸𝐼) não é constante, e que em todo elemento haverá seções com diferentes
inércias, algumas em Estádio I, outras em Estádio II e outras em Estádios
intermediários.
Podemos evidenciar que para ocorrência da tal deformação os principais
fatores são:
14

a) carga e sua distribuição na estrutura;


b) condições de apoio e vão;
c) propriedade dos materiais;
d) taxa de armadura;
e) fissuração.
(BRANSON, 1966 apud MANTESE e MANTESE, 1981)
Para Ruiz e Dutari (1992) em flechas imediatas o correto é considerar os
valores corriqueiros de sobrecargas, sendo estes inferiores a 5% do tempo de vida da
estrutura ou ainda aqueles que são alcançados ao menos 10 vezes durante a vida da
estrutura.

2.1.2 Flecha diferida

Para Montoya (2011) flechas diferidas são aquelas que se apresentam ao


longo do tempo com cargas de longa duração. Esta que, por sua vez, é oriunda dos
efeitos de retração e fluência e se somam as flechas instantâneas. Para se obter a
mesma com maior precisão diversos fatores devem ser levados em consideração, são
eles:
a) cargas;
b) temperatura;
c) umidade;
d) condições de cura;
e) idade do concreto no momento da carga;
f) quantidade de armadura de compressão;
g) valor de carga permanente.
Segundo Ruiz e Dutari (1992) para as flechas diferidas deveriam ser utilizados
os valores referentes a média das ações ao qual a estrutura será submetida ao longo
da sua vida útil.

2.1.3 Flecha final

Para Montoya (2011) as flechas finais que ocorrem em elementos de concreto


armado são resultado de duas parcelas: uma parcela proveniente da deformação
15

imediata devido às cargas atuantes e outra parcela devido à deformação ao longo do


tempo.

2.2 VIGAS DE CONCRETO ARMADO

Para Montoya (2011) o cálculo de uma determinada estrutura tem como


principal função atender as condições de equilíbrio dos esforços e suas deformações.
O autor evidencia diversos métodos de cálculo para estruturas de concreto armado
como: método clássico de tensões admissíveis, método de cálculo em ruptura,
métodos deterministas e métodos probabilistas.
Segundo Fusco e Onishi (2017) a ruptura se dá pela ocorrência da separação
da matéria por meio das ações mecânicas. A ruptura dos materias pode ser
classificada basicamente de dois modos: ruptura dúcteis e ruptura frágil, sendo as
frágeis quando o material se rompe com pequenas deformações. Em caso adverso
são considerados como materiais dúcteis.
Partindo do princípio da flexão do concreto armado através do regime de
ruptura, com base nas tensões normais das seções transversais em flexão seja ela
simples ou composta para as peças, ficam definidos os estádios de funcionamento do
concreto. Os mesmos são apresentados na Figura 2, com os seus respectivos
diagramas de tensões (FUSCO e ONSHI, 2017).

Figura 2 - Diagrama de comportamento

Fonte: Fusco e Onishi (2017).


16

2.2.1 Estádio I

Segundo Montoya (2011) no estádio I ou estádio elástico sem fissura, as


deformações (ɛ) são proporcionais as tensões (𝜎) tanto para as fibras tensionadas
quanto para as comprimidas. Portanto, se têm um comportamento linear do concreto
(compressão) e do aço (tração). No estádio I encontramos o centro gravitacional da
seção coincidindo com o a linha neutra. Mesmo com aumento de cargas, se obtém
ruptura do concreto por tração na fibra inferior. Para o instante de fissuração o
momento considerado é dado conforme a equação 1.

𝑓𝑐𝑡 . 𝐼𝑏
𝑀𝑓 =
𝑦 (1)

Sendo:
𝑀𝑓 = momento de fissuração do elemento estrutural;
𝑓𝑐𝑡 = resistência a tração direta do concreto;
𝐼𝑏 = momento de inércia da seção bruta do concreto;
y = metade da altura da seção da viga.

Conforme Fusco e Onishi (2017) a passagem do estádio I para o estádio II é


dada de forma gradual devido a fissuração dos pontos tracionados da seção não
ocorrerem concomitantes. Conceitualmente, temos o fim do estádio I quando a tensão
de tração 𝜎𝑐𝑡 no concreto for igual à resistência à tração 𝑓𝑐𝑡 , no ponto mais solicitado
da seção fletida.

2.2.2 Estádio II

Conforme Montoya (2011) no estádio II ou estádio fissurado temos o centro


de gravidade da seção se alterando em consequência de não haver mais a parte
tracionada da seção. Junto a isso temos a alteração da linha neutra que nada mais é,
que o equilíbrio entre a tração e a compressão. No caso de ruptura da seção inferior
o centro de gravidade tende a subir junto de sua linha neutra conforme observado na
17

figura 2. Para cálculo de tal, começamos redefinindo a nova altura da linha neutra 𝜒
através da equação 2.

𝑛 . 𝐴𝑠 2. 𝑏. 𝑑
𝜒= (−1 + √1 + ) (2)
𝑏 𝑛 . 𝐴𝑠

Sendo:
𝑏= largura da seção da viga;
𝑛= coeficiente de equivalência, equação 3;
𝐴𝑠 = armadura de tração da seção;
𝑑= altura útil da seção.

Considerando:
𝐸𝑠
𝑛= (3)
𝐸𝑐
Sendo:
𝐸𝑠 = módulo de elasticidade do aço;
𝐸𝑐 = módulo de deformação do concreto;

Partindo disto, conseguimos conhecer o momento de inércia da sessão


fissurada 𝐼𝑓 através da equação 4.

1
𝐼𝑓 = 𝑏. 𝜒 3 + 𝑛. 𝐴𝑆 (𝑑 − 𝜒)2 (4)
3

Para Fusco e Onishi (2017) o estádio II é admitido enquanto se mantiver a


linearidade do comportamento no concreto comprimido.

2.2.3 Estádio III

Segundo Montoya (2011) no estádio III ou estádio de eminência de ruptura, o


rompimento da peça é devido a ruptura do concreto ou do aço. Para tal, temos a
ruptura do concreto quando o mesmo atinge uma deformação de 0,35% e a ruptura
18

do aço quando sua deformação atinge 1%. Ocorre ruptura em material plástico
quando é atingida uma deformação inadmissível, e não quando se atinge sua máxima
tensão.
Para Fusco e Onishi (2017) o estádio III diz respeito somente ao estádio de
ruptura do concreto comprimido.

2.3 FLECHAS EM VIGAS DE CONCRETO ARMADO

Segundo Ruiz e Dutari (1992), durante muitos anos a maioria dos países não
deram a devida relevância para o cálculo de flechas em suas normas, grande parte
disto devido ao fato de ser pequeno o número de casos com ocorrência de flechas
excessivas em tal época.
Conforme Araújo (2010) a participação do concreto tracionado no cálculo
convencional é desprezada, considerando assim a viga em estádio II. Entretanto, o
concreto tracionado entre fissuras é de fundamental importância na reação das vigas.
Para Montoya (2011) o cálculo de flechas para as estruturas de concreto está
relacionado com o tempo ao qual a carga atua sob a estrutura e a idade do concreto
no momento de sua aplicação.
A seguir estão apresentados conceitos e prescrições para determinação das
flechas em vigas para: NBR 6118 (ABNT, 2014), Model Code 1990 (CEB-FIP, 1993)
e EN 1992 - Eurocódigo 2 (CEN, 2004).

2.3.1 Prescrições da NBR 6118/2014

A norma brasileira NBR 6118 (ABNT, 2014) define os valores de flechas


limites e prescreve em seu escopo os procedimentos a serem adotados.

2.3.1.1 Flecha imediato

A NBR 6118 (ABNT, 2014) utiliza um modelo simplificado para cálculo de


flechas instantânea onde é obtida utilizando um momento de inércia equivalente
(𝐸𝑙)𝑒𝑞. . Para o cálculo da flecha imediata adota a equação 5.
19

𝑀𝑎 𝑙 2
𝑓𝑖 = 𝛼 (5)
𝐸. 𝐼
Sendo:
𝑓𝑖 = flecha inicial;
𝛼 = coeficiente que dependendo do esquema estático da viga e do
carregamento;
𝑀𝑎 = momento fletor na seção crítica do vão considerado;
𝑙 = vão efetivo;
𝐸𝐼 = rigidez a flexão da seção.

A NBR 6118 (ABNT, 2014) apresenta a seguinte expressão para rigidez


equivalente, equação 6. O mesmo deve ser utilizado no lugar da rigidez 𝐸𝐼 sempre
que o momento de fissuração do elemento estrutura (𝑀𝑓 ) for inferior ao momento fletor
na seção critica do vão considerado (𝑀𝑎 ), admitindo nessa situação que a estrutura
trabalhe em estádio II.

𝑀𝑓 3 𝑀𝑓 3
(𝐸𝑙)𝑒𝑞,𝑡0 = 𝐸𝐶𝑆 {( ) 𝐼𝑏 + [1 − ( ) ] 𝐼𝑓 } ≤ 𝐸𝐶𝑆 𝐼𝑏 (6)
𝑀𝑎 𝑀𝑎
Sendo:
𝐼𝑏 = momento de inércia da seção bruta do concreto;
𝐼𝑓 = momento de inércia da seção fissurada do concreto no estádio II,
obtido através da equação 3 e 4 do item 2.2.2 utilizando modulo de
elasticidade secante do concreto (𝐸𝐶𝑆 ) no lugar do módulo de
deformação do concreto (𝐸𝑐 );
𝑀𝑎 = momento fletor na seção crítica do vão considerado;
𝑀𝑓 = momento de fissuração do elemento estrutural;
𝐸𝐶𝑆 = módulo de elasticidade secante do concreto, equação 7, 8 e 9.

Considerando:
𝐸𝐶𝑆 =𝛼𝑖 𝐸𝐶𝑖 (7)

Sendo:
𝐸𝐶𝑖 = Módulo de elasticidade inicial, equação 8;
20

𝛼𝑖 = Coeficiente de correlação entre os módulos, equação 9.


Considerando:
𝐸𝐶𝑖 =𝛼𝐸 5600√𝑓𝑐𝑘 (8)

𝑓𝑐𝑘
𝛼𝑖 =0,8 + 0,2 ≤ 1,0 (9)
80

Sendo:
𝑓𝑐𝑘 = Resistência característica do concreto;
𝛼𝐸 = 1,2 para basalto e diabásio;
𝛼𝐸 = 1,2 para granito e gnaisse;
𝛼𝐸 = 1,2 para calcário;
𝛼𝐸 = 1,2 para arenito.

A NBR 6118 (ABNT, 2014) ainda estabelece que devido as estruturas


trabalharem no estado limite de serviço parcialmente em estádio I e parcialmente em
II, podemos assim distinguir tais comportamentos através do momento de fissuração
do elemento estrutural, dado a seguir na equação 10.

𝛼𝑓𝑐𝑡 𝐼𝑏
𝑀𝑓 = (10)
𝑦

Sendo:
𝛼= fator de correlaciona aproximadamente a resistência à tração na
flexão com a resistência à tração direta, sendo:
𝛼= 1,2 para seções T ou duplo T;
𝛼= 1,3 para seções l ou T invertido;
𝛼= 1,5 para seções retangulares;
𝑓𝑐𝑡 = resistência à tração direta do concreto, equação 11;
y = metade da altura da seção da viga.

Considerando:
2
𝑓𝑐𝑡 = 0,3(𝑓𝑐𝑘 )3 (11)
21

2.3.1.2 Flecha diferida

A NBR 6118 (ABNT, 2014) propõe para o cálculo aproximado de flecha


adicional diferida decorrente de cargas de longa duração em função de fluência, a
multiplicação da flecha imediata pelo fator 𝛼𝑓 . Assim temos a flecha diferida dada
pelas expressões complementares, equações 12 e 13.

𝑓𝑑 = 𝑓𝑖 . 𝛼𝑓 (12)
Sendo:
𝑓𝑑 = flecha diferida;
𝛼𝑓 = fator de fluência, equação 13;
𝑓𝑖 = flecha inicial.

Considerando:
∆𝜉 (13)
𝛼𝑓 =
1 + 50𝜌 ′

Sendo:
𝜌′ = taxa de armadura de compressão, equação 14.

𝐴𝑠′
𝜌′ = (14)
𝑏𝑑
Sendo:
𝐴𝑠 ′= armadura de compressão da seção;

Considerando:
𝜉= coeficiente função de tempo, pode ser obtido diretamente na Tabela
1 ou ser calculado pelas expressões, equação 15.

∆𝜉 = 𝜉(𝑡) − 𝜉(𝑡0 ) (15)

𝜉(𝑡) = 0,68(0,966𝑡 )𝑡 0,32 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑡 ≤ 70 meses


𝜉(𝑡) = 2 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑡 > 70 meses
22

Tabela 1 - Coeficiente função de tempo


Tempo(𝑡) 0
0 0,5 1 2 3 4 5 10 20 40 ≥70
meses
Coeficiente
0 0,54 0,68 0,84 0,95 1,04 1,12 1,36 1,64 1,89 2
𝜉(𝑡)
Fonte: NBR (2014).

Sendo:
𝜉(𝑡)= o tempo, em meses.
𝑡0 = a idade, em esses meses, referente à data de aplicação da carga de
longa duração. Para cargas aplicadas em idades diferentes, tomar para 𝑡0 o
valor ponderado, equação 16.

∑ 𝑃𝑖 𝑡0𝑖
𝑡0 = (16)
∑ 𝑃𝑖

𝑃𝑖 = parcelas de carga;
𝑡0𝑖 = a idade em que se aplicou cada parcela 𝑃𝑖 , expressa em meses.

2.3.1.3 Flecha final

A flecha final é a resultante da soma das parcelas referente a flecha inicial e


a flecha diferidas apresentadas anteriormente.

2.3.2 Prescrições do Model Code 1990

O Model Code 1990 (CEB-FIP, 1993) neste trabalho será referendado como
CEB/90 apresenta a seguinte fórmula prática para o cálculo de flechas em viga
baseada no método bilinear, equações 17 e 18 O CEB/90 apresenta somente a flecha
final fazendo distinção entre os estádios.

𝑓𝑓 = (1 + ø)𝑓𝑖 para 𝑀𝑎 < 𝑀𝑓 (17)


23

ℎ 3
𝑓𝑓 = (𝑑) ɳ(1 − 20𝑝′𝑐𝑚 )𝑓𝑖 para 𝑀𝑎 ≥ 𝑀𝑓 (18)

Sendo:
𝑓𝑓 = flecha final;
𝑀𝑎 = momento fletor na seção crítica do vão considerado;
𝑀𝑓 = momento de fissuração do elemento estrutural, equação 19;
𝑝′𝑐𝑚 = porcentagem de armadura à compressão;
ɳ= fator de correção que inclui os efeitos de fissuração e fluência, Tabela
2;
h= altura da seção da viga;
d= altura útil da seção;
𝑓𝑖 = flecha inicial, conforme equação 5;
ø = coeficiente de fluência.

Considerando:
𝑀𝑓 = 𝑊𝑐 𝑓𝑐𝑡
(19)

Sendo:
𝑊𝑐 = abertura da fissura, equação 20;
𝑓𝑐𝑡 = resistência à tração direta do concreto, equação 21.

𝐼𝑏
𝑊𝐶 = (20)
𝑦

𝐼𝑏 = momento de inércia da seção bruta do concreto;


y = metade da altura da seção da viga.

2
𝑓𝑐𝑘
𝑓𝑐𝑡 = 1,4( 10 )3 (21)
24

Tabela 2 – Fator de correção ɳ para estimativa de deflexão


𝑝𝑚 (%) 0,15 0,2 0,3 0,5 0,75 1,0 1,5
ɳ 10 8 6 4 3 2,5 2
fonte: CEB-FIP (1993).
Considerando:
𝑝𝑚 = porcentagem média de armadura de tração, terminada de acordo
com o diagrama de momento fletor (figura 3) e sua expressão é dada pela
equação 22.
𝑙𝑎 𝑙0 𝑙𝑏
𝑝𝑚 = 𝑝𝑎 + p + 𝑝𝑏 (22)
𝑙 𝑙 𝑙

Sendo:
𝑝𝑎 , 𝑝𝑏 = porcentagem de armadura de tração e compressão a esquerda
e a direita da seção respectivamente;
P= porcentagem de armadura de tração no 𝑀𝑎 da seção;
𝑙𝑎 , 𝑙𝑏= são dadas conforme diagrama da Figura 3, suas estimativas de
comprimento geralmente são suficientes.

Figura 3 - Diagrama de momento fletor definindo l0, la , lb

Fonte: Adaptada do CEB-FIP (1993).


25

O módulo de elasticidade secante do concreto 𝐸𝑐𝑠 é dado conforme equação


23.
𝐸𝐶𝑆 =0,85𝐸𝐶𝑖 (23)
Sendo:
𝐸𝐶𝑖 = módulo de elasticidade inicial, equação 24.

Considerando:
𝑓𝑐𝑚 1⁄ (24)
𝐸𝐶𝑖 =21500( ) 3
10

Sendo:
𝑓𝑐𝑚 = valor médio da tensão de ruptura do concreto, equação 25.

Considerando:
𝑓𝑐𝑚 =𝑓𝐶𝑘 + 8 (𝑀𝑃𝑎) (25)

Conforme Araújo (2010, p.292) tal formulação apresentada é recomendada


para seções retangulares com altura total e altura útil. Para outras seções os
resultados não serão tão precisos.

2.3.3 Prescrições do EN 1992 - Eurocódigo 2

Conforme Araújo (2010) a metodologia utilizada pelo Eurocódigo 2 é muito


próxima ao método bilinear do CEB.
O EN 1992 - Eurocódigo 2 (CEN, 2004) estabelece que para o cálculo de
elementos solicitados a flexão deve-se levar em consideração as ações adequadas
ao qual a estrutura está sendo submetida, representando o seu comportamento real.
Para determinação do comportamento à flexão, se prevê que a estrutura esteja em
ruptura parcial, sendo assim a flecha final, equação 26 é uma interpolação do estádio
I e o estádio II.

𝑓𝑓 = 𝜁𝑓𝑖 𝐼𝐼 + ( 1 − 𝜁)𝑓𝑖 𝐼 (26)


26

Sendo:
𝑓𝑓 = flecha final;
𝑓𝑖 𝐼 = flecha inicia, conforme equação 5 considerando em estádio I;
𝑓𝑖 𝐼𝐼 = flecha inicia, conforme equação 5 considerando em estádio II;
𝜁 = coeficiente de interpolação dado pela equação 27 e 28.
𝑀 2
𝜁 = 1 − β (𝑀𝑓 ) , para 𝑀𝑎 ≥ 𝑀𝑓 (27)
𝑎

𝜁 = 0, para 𝑀𝑎 < 𝑀𝑓 (28)

Sendo:
β = coeficiente para duração média de carregamento ou da repetição do
carregamento:
β = 1,0 para um único carregamento de curta duração
β= 0,5 para carregamento de longa duração ou repetidos
carregamentos;
𝑀𝑎 = Momento fletor na seção crítica do vão considerado;
𝑀𝑓 = Momento de fissuração do elemento estrutural.

Segundo o EN 1992 - Eurocódigo 2 (CEN, 2004) deformações provenientes


do carregamento de longa duração que gerem fluência podem ser averiguadas
utilizando o módulo de elasticidade efetiva do concreto conforme equação 29.

𝐸𝑐𝑠
𝐸𝑐,𝑒𝑓 = (29)
1 + 𝜑(∞𝑡0 )

Sendo:
𝐸𝑐𝑠 = módulo de elasticidade secante do concreto, equação 30;
𝜑(∞𝑡0 ) = coeficiente de fluência para a ação e o intervalo de tempo;
obtido através da Figura 4 ou 5 conforme ambiente de exposição.
27

Considerando:

𝐸𝐶𝑆 =22(𝑓𝑐𝑚 ⁄10)0,3 (30)

Sendo:
𝑓𝑐𝑚 = valor médio da tensão de ruptura do concreto conforme
apresentado na equação 25.

Figura 4 - Método para determinação do coeficiente de fluência (ambiente interno)

Fonte: CEN (2014).

Figura 5 - Método para determinação do coeficiente de fluência (ambiente externo)

Fonte: CEN (2004).


28

Conforme Araújo (2010) o Eurocódigo utiliza um momento de fissuração do


elemento estrutural de acordo com a equação 31 e 32.

𝑀𝑓 = 𝐸𝐼𝐼 𝜒𝑟 (31)

𝑓𝑐𝑡
𝜒𝑟 = (32)
𝐸𝑐,𝑒𝑓 (ℎ − 𝜒𝐼 )

Sendo:
𝐸𝐼𝐼 = rigidez a flexão da seção no estádio I.
𝜒𝑟 = curvatura;
𝑓𝑐𝑡 = resistência à tração direta do concreto, equação 11;
𝐸𝑐,𝑒𝑓 = modulo de elasticidade efetiva do concreto;
h= altura da seção da viga;
𝜒𝐼 = profundidade da linha neutra no estádio I.

Araújo (2010) apresenta a equação de obtenção da profundidade da linha


neutra no estádio I (𝜒𝐼 ) para o Eurocódigo dada pela equação 33 que é utilizada na
sequência para obtenção da rigidez no devido estádio, equação 34.

𝑏ℎ2 𝐸𝑐,𝑒𝑓 + 2𝐸𝑠 (𝐴𝑠 𝑑 + 𝐴′ 𝑠 𝑑′ )


𝜒𝐼 = (33)
2[𝑏ℎ𝐸𝑐,𝑒𝑓 + 𝐸𝑠 (𝐴𝑠 + 𝐴′ 𝑠 )]

1 2ℎ
(𝐸𝐼)𝐼 = 𝐸𝑐,𝑒𝑓 𝑏ℎ [ℎ ( − 𝑑 ) + 𝜒𝐼 (2𝑑 − ℎ)] + 𝐸𝑠 𝐴′ 𝑠 (𝑥 − 𝑑 ′ )(𝑑 − 𝑑 ′ ) (34)
2 3

Sendo:
𝐸𝑐,𝑒𝑓 = modulo de elasticidade efetiva do concreto, equação 29;
𝐸𝑠 = módulo de elasticidade do aço;
h= altura da seção da viga;
d= altura útil da seção da viga;
d’= h-d;
29

As= armadura de tração da seção;


As’= armadura de compressão da seção;

Araújo (2010) apresenta a equação de obtenção da profundidade da linha


neutra no estádio II (𝜒2 ) para o Eurocódigo dada pela equação 35 e 36 que é utilizada
na sequência para obtenção da rigidez no devido estádio, equação 37.

1
𝜒𝐼𝐼 = [−𝑄 + √𝑄 2 + 2𝑏𝐸𝑐,𝑒𝑓 𝐸𝑠 (𝐴𝑠 𝑑 + 𝐴′ 𝑠 𝑑 ′ )] (35)
𝑏𝐸𝑐,𝑒𝑓

𝑄 = 𝐸𝑠 (𝐴𝑠 + 𝐴′ 𝑠 ) (36)

1
𝐸𝐼𝐼𝐼 = 𝐸𝑐𝑠 𝑏𝜒 2 (3𝑑 − 𝜒) + 𝐸𝑠 𝐴′ 𝑠 (𝑥 − 𝑑 ′ )(𝑑 − 𝑑 ′ ) (37)
6

Sendo:
𝐸𝑐,𝑒𝑓 = modulo de elasticidade efetiva do concreto, equação 29;
𝐸𝑠 = módulo de elasticidade do aço;
h= altura da seção da viga;
d= altura útil da seção da viga;
d’= h-d;
As= armadura de tração da seção;
As’= armadura de compressão da seção;

2.4 RESUMO DOS PROCEDIMENTOS NORMATIVOS

No Quadro 1 é apresentado um resumo do procedimento de cálculo para os


três métodos de cálculos apresentados neste trabalho.
30

Quadro 1 - Resumo de equações


CEB
NBR 6118 - 2014 EUROCÓDIGO 2
MODEL CODE 1990
𝑓𝑓 = (1 + ø)𝑓𝑖
para 𝑀𝑎 < 𝑀𝑓
𝑓𝑓 = (1 + 𝛼𝑓 )𝑓𝑖 𝑓𝑓=𝜁𝑓𝑖𝐼𝐼 +( 1−𝜁) 𝑓𝑖𝐼
ℎ 3
𝑓𝑓 = ( ) ɳ(1 − 20𝑝′𝑐𝑚 )𝑓𝑖
𝑑
para 𝑀𝑎 ≥ 𝑀𝑓

𝑀𝑎 𝑙 2 𝑀𝑎 𝑙 2 𝑀𝑎 𝑙 2
𝑓𝑖 = 𝛼 𝑓𝑖 = 𝛼 𝑓𝑖 = 𝛼
(𝐸. 𝐼)𝑒𝑞. 𝐸. 𝐼 𝐸. 𝐼

1 2ℎ
𝐸𝐼𝐼 = 𝐸𝑐,𝑒𝑓 𝑏ℎ [ℎ ( − 𝑑 ) + 𝜒𝐼 (2𝑑 − ℎ)] + 𝐸𝑠 𝐴′ 𝑠 (𝑥
EI = 𝐸𝐶𝑆 𝐼𝑏 EI = 𝐸𝐶𝑆 𝐼𝑏 2 3
− 𝑑 ′ )(𝑑 − 𝑑 ′ )

𝑀𝑓 3 𝑀𝑓 3 1
(𝐸𝑙)𝑒𝑞,𝑡0 = 𝐸𝐶𝑆 {( ) 𝐼 + [1 − ( ) ] 𝐼𝑓 } ≤ 𝐸𝐶𝑆 𝐼𝑏
𝑀𝑎 𝑏 𝑀𝑎
𝑓𝐶𝑚 =𝑓𝐶𝑘 + 8 (𝑀𝑃𝑎) 𝐸𝐼𝐼𝐼 = 𝐸𝑐𝑠 𝑏𝜒 2 (3𝑑 − 𝜒) + 𝐸𝑠 𝐴′ 𝑠 (𝑥 − 𝑑 ′ )(𝑑 − 𝑑 ′ )
6

𝐸𝐶𝑆 =𝛼𝑖 𝐸𝐶𝑖 𝐸𝐶𝑆 =0,85𝐸𝐶𝑖 𝐸𝐶𝑆 =22(𝑓𝑐𝑚 ⁄10)0,3

𝑓𝑐𝑚 1⁄ 𝐸𝑐
𝐸𝐶𝑖 =1,2 ∗ 5600 ∗ √𝑓𝑐𝑘 𝐸𝐶𝑖 =21500( ) 3 𝐸𝑐,𝑒𝑓𝑓 =
10 1 + 𝜑(∞𝑡0 )

𝑓𝑐𝑘 𝐼𝑏 𝑀𝑓 2
𝛼𝑖 =0,8 + 0,2 ≤ 1,0 𝑊𝐶 = 𝜉 = 1 − β( )
80 𝑦
𝑀𝑎

𝛼𝑓𝑐𝑡 𝐼𝑏
𝑀𝑓 = 𝑀𝑓 = 𝑊𝑐 𝑓𝑐𝑡 𝑀𝑓 = 𝐸𝐼𝐼 𝜒𝑟
y

2 2 2
𝑓
𝑐𝑘
𝑓𝑐𝑡 = 0,3 ∗ (𝑓𝑐𝑘 )3 𝑓𝑐𝑡 = 1,4( 10 )3 𝑓𝑐𝑡 = 0,3 ∗ (𝑓𝑐𝑘 )3

𝑙𝑎 𝑙0 𝑙𝑏 𝑏ℎ2 𝐸𝑐,𝑒𝑓 + 2𝐸𝑠 (𝐴𝑠 𝑑 + 𝐴′ 𝑠 𝑑 ′ )


𝑓𝑑 = 𝑓𝑖 . 𝛼𝑓 𝑝𝑚 = 𝑝𝑎 + p + 𝑝𝑏 𝜒𝐼 =
𝑙 𝑙 𝑙 2[𝑏ℎ𝐸𝑐,𝑒𝑓 + 𝐸𝑠 (𝐴𝑠 + 𝐴′ 𝑠 )]

∆𝜉 1
𝛼𝑓 = ______ 𝜒𝐼𝐼 = [−𝑄 + √𝑄2 + 2𝑏𝐸𝑐,𝑒𝑓 𝐸𝑠 (𝐴𝑠 𝑑 + 𝐴′ 𝑠 𝑑 ′ )]
1 + 50𝑝 ′ 𝑏𝐸𝑐,𝑒𝑓

𝐴𝑠′
𝑝′ = ______ 𝑄 = 𝐸𝑠 (𝐴𝑠 + 𝐴′ 𝑠 )
𝑏𝑑

∆𝜉 = 𝜉(𝑡) − 𝜉(𝑡0 ) ______ ______

Fonte: O autor (2019).


31

3. MÉTODO DE PESQUISA

Aplicando os procedimentos de um estudo comparativo, foram feitas as


previsões de flechas em 8 vigas de concreto armado, seguindo as prescrições da
norma brasileira e dois diferentes códigos internacionais apresentados anteriormente.
Como modelo de referência foi utilizado os dados e resultados baseado em
experimento desenvolvido e apresentado por Baroni (2003).
Neste capítulo, são apresentadas as vigas do trabalho experimental ao qual
se mediu as deformações transversais iniciais, diferidas e totais para as vigas,
utilizando 4 classes distintas de concreto para tais.
Os resultados obtidos neste trabalho foram comparados com o modelo de
referência buscando validar a questão de pesquisa e identificar a aproximação dos
resultados dos métodos simplificados para cálculo de flecha.

3.1 MODELO DE REFERÊNCIA

Conforme Baroni (2003) as vigas base deste experimento foram moldadas e


ensaiadas atendendo as prescrições normativas, são elas:

a) NBR 6118 (ABNT, 2003) - Projeto de estruturas de concreto –


Procedimento;
b) NBR 12989 (ABNT, 1993) - Cimento Portland Branco;
c) NBR 7215 (ABNT, 1996) - Cimento Portland – Determinação da
Resistência à compressão – Método de Ensaio;
d) MBR 8681 (ABNT, 1984) - Ações e segurança nas estruturas –
Procedimento;
e) NBR 7223 (ABNT, 1982) – Concreto – Determinação da consistência pelo
abatimento de tronco de cone;
f) NBR 5738 (ABNT, 1994) - Moldagem e cura de corpos de prova cilíndricos
ou prismáticos de concreto;
g) NBR 5739 (ABNT, 1994) - Concreto – Ensaio de compressão de corpos
cilíndricos;
32

h) NBR 8522 (ABNT, 1983) - Concreto – Determinação do módulo e


deformação estática e diagrama tensão-deformação;
i) NBR 7217 (ABNT, 1987) - Agregados - Determinação da composição
granulométrica;
j) NBR 12990 (ABNT, 1993) - Cimento Portland – Determinação da Brancura
– Método de Ensaio;

O modelo estrutural das vigas analisadas está mostrado na Figura 6.

Figura 6 - Modelo estrutural

Fonte: Adaptado de Baroni (2003).


33

Todas as vigas apresentam a mesma geometria, tendo seção transversal de


10 x 20 cm com comprimento total de 212 cm e 200 cm de vão livre. Foi utilizado o
mesmo nível de carregamento, sendo considerados o peso próprio da viga como
carga distribuída com valor de 0,5 kN/m e carregamento adicional representando duas
cargas concentradas de 2,65 kN cada, com distância equidistante dos apoios. O
momento fletor na seção crítica do vão é de 2,37 Kn.m conforme diagrama da Figura
6. Todas as 8 vigas foram fabricadas com armaduras iguais. A Figura 7 apresenta o
detalhamento das armaduras.

Figura 7 - Detalhamento da armadura

Fonte: Adaptado de Baroni (2003).


34

A denominação das vigas apresentadas no quadro que segue, foi a mesma


utilizada por Baroni (2003) com objetivo de facilitar a correlação entre os trabalhos.
Além da viga testemunho, a qual utiliza concreto tradicional, foram moldadas e
ensaiadas outras três vigas fabricadas com concretos especiais. No quadro ainda é
apresentado os valores obtidos por Baroni (2003) através do ensaio experimental.
Para cada tipo de concreto produzido foram realizados dois ensaios passíveis
de identificação pelo número 1 ou 2, atrelados ao nome do protótipo referido.
No Quadro 2 estão apresentados os dados de cada viga ensaiada: taxa de
armaduras de tração e compressão, resistência à compressão do concreto e os
resultados de flechas medidos nesses ensaios.

Quadro 2 - Dados experimentais


Taxa de
𝑓𝑐𝑘 𝑓𝑖 𝑓𝑑 (mm) 𝑓𝑓 (mm)
Protótipo Denominação armadura
(MPa) (mm) (6 meses) (6 meses)
(cm²)
Viga
VT1 0,0031 13,5 1,61 1,90 3,51
testemunho 1
Viga
VT2 0,0031 13,1 1,60 2,21 3,81
testemunho 2
Viga concreto
VF1 com Fibra de 0,0031 23,9 0,81 2,14 2,94
aço 1
Viga concreto
VF2 com Fibra de 0,0031 17,0 0,85 2,12 2,97
aço 2
Viga concreto
VB1 com cimento 0,0031 22,2 0,52 2,13 2,65
Branco 1
Viga concreto
VB2 com cimento 0,0031 30,1 0,44 1,31 1,75
Branco 2
Viga concreto
VA1 de Alta 0,0031 52,5 0,38 0,57 0,95
Resistência 1
Viga concreto
VA2 de Alta 0,0031 51,5 0,62 0,38 1,00
Resistência 2
Fonte: Adaptado de Baroni (2003).

Sendo:
𝑓𝑐𝑘 = Resistência característica do concreto;
35

𝑓𝑖 = flecha inicial;
𝑓𝑑 = flecha diferida;
𝑓𝑓 = flecha final.

3.2 RESULTADOS VIA NBR 6118 EDIÇÃO 2003

O Quadro 3 apresenta resultados obtidos por Baroni (2003), partindo dos


parâmetros estabelecidos na norma em vigência no período de realização do mesmo.

Quadro 3 – Resultados da NBR 6118 edição 2003


𝐸𝑐𝑠 𝑓𝑖 𝑓𝑐𝑡 𝑀𝑓 𝑓𝑑 (mm) 𝑓𝑓 (mm)
Protótipo
(MPa) (mm) (MPa) (kN.m) (6 meses) (6 meses)
VT1 17489 1,49 1,700 1,70 0,68 2,17
VT2 17228 1,56 1,667 1,67 0,71 2,27
VF1 23270 0,61 2,489 2,49 0,28 0,89
VF2 19625 1,04 1,983 1,98 0,47 1,51
VB1 22427 0,63 2,369 2,37 0,29 0,92
VB2 26115 0,54 2,902 2,90 0,25 0,79
VA1 34489 0,41 4,206 4,20 0,19 0,60
VA2 34159 0,42 4,150 4,15 0,19 0,61
Fonte: Adaptado de Baroni (2003).

Sendo:
𝐸𝑐𝑠 = módulo de elasticidade secante do concreto;
𝑓𝑖 = flecha inicial;
𝑓𝑐𝑡 = resistência a tração direta do concreto;
𝑀𝑓 = momento de fissuração do elemento estrutural;
𝑓𝑑 = flecha diferida;
𝑓𝑓 = flecha final.

3.4 APLICAÇÃO DAS PRESCRIÇÕES ANALÍTICAS

Os valores calculados para cada uma das três prescrições analíticas foram
apresentados em tabelas na sequência deste trabalho. Os símbolos foram
padronizados entre os modelos.
36

4. RESULTADOS E ANÁLISES

Neste capítulo, são expostos os resultados obtidos para as flechas iniciais e


finais para as prescrições da NBR 6118 (ABNT, 2014), do Model Code 1990 (CEB-
FIP, 1993) e do EN 1992 - Eurocódigo 2 (CEN, 2004).
A análise dos resultados está dividida em dois momentos, foram apresentados
os resultados gerais das prescrições para as flechas iniciais e finais e as comparações
entre elas, simultaneamente ao modelo de referência de Baroni (2003) e a NBR 6118
(ABNT, 2003) e a discussão de resultados gerais. Na sequência, foram evidenciados
os resultados específicos dos procedimentos de cálculo para cada um dos modelos
propostos neste trabalho e suas respectivas discussões.

4.1 RESULTADOS E ANÁLISES GERAIS

A Tabela 3 apresenta os resultados obtidos para as flechas iniciais e finais pelas


normativas NBR 6118 (ABNT, 2014), Model Code 1990 (CEB-FIP, 1993) e EN 1992 -
Eurocódigo 2 (CEN, 2004) assim como resultados extraídos do trabalho de Baroni
(2003), resultados experimentais e pela norma NBR 6118 (ABNT, 2003).

Tabela 3 - Resumo de flechas obtidas em mm


Experimental NBR 6118 NBR 6118 CEB Eurocódigos
(2003) (2014)
Protótipo
𝑓𝑖 𝑓𝑓 𝑓𝑖 𝑓𝑓 𝑓𝑖 𝑓𝑓 𝑓𝑖 𝑓𝑓 𝑓𝑖 𝑓𝑓
(6 meses) (70 meses) (70 meses)

VT1 1,61 3,51 1,49 3,28 1,30 2,87 0,6 4,78 1,64 3,72
VT2 1,60 3,81 1,56 3,34 1,36 3,00 0,6 4,81 1,64 3,74
VF1 0,81 2,95 0,61 1,34 0,50 1,10 0,52 4,19 1,49 3,11
VF2 0,85 2,97 1,04 2,29 0,88 1,93 0,57 4,54 1,58 3,52
VB1 0,52 2,65 0,63 1,39 0,52 1,14 0,53 4,27 1,51 3,21
VB2 0,44 1,75 0,54 1,19 0,44 0,96 0,49 3,95 1,42 1,42
VA1 0,38 0,95 0,41 0,90 0,31 0,68 0,42 1,73 1,26 1,26
VA2 0,62 1,00 0,42 0,92 0,31 0,69 0,42 1,74 1,27 1,27
Fonte: O Autor (2019).
37

Através das flechas iniciais e finais obtidos pela NBR 6118 (ABNT, 2014), pelo
Model Code 1990 (CEB-FIP, 1993) e pela norma europeia EN 1992 - Eurocódigo 2
(CEN, 2004) realizou-se a comparação de resultados para as 8 vigas através dos
gráficos das Figuras de 8 à 15, cruzando os resultados obtidos com o experimental de
Baroni (2003), ao qual foi considerado como referência buscando uma maior
proximidade aos seus valores. Foram apresentados junto a estes, os valores também
calculados por Baroni (2003) e já mostrados anteriormente para a NBR 6118 (ABNT,
2003).
Os gráficos das Figuras de 8 à 15 foram gerados relacionando as flechas em
milímetros pelo tempo em dias, ao qual utilizou-se em escala logarítmica de base 2 e
suas respectivas curvas representam seu comportamento.

Figura 8 - Comparação de resultados para viga VT1

Fonte: O Autor (2019)


38

Figura 9 - Comparação de resultados para viga VT2

Fonte: O Autor (2019).

Figura 10 - Comparação de resultados para viga VF1

Fonte: O Autor (2019).


39

Figura 11 - Comparação de resultados para viga VF2

Fonte: O Autor (2019).

Figura 12 - Comparação de resultados para viga VB1

Fonte: O Autor (2019).


40

Figura 13 - Comparação de resultados para viga VB2

Fonte: O Autor (2019).

Figura 14 -Comparação de resultados para viga VA1

Fonte: O Autor (2019).


41

Figura 15 - Comparação de resultados para viga VA2

Fonte: O Autor (2019).

Para a NBR 6118 (ABNT, 2003) e NBR 6118 (ABNT, 2014) foram utilizadas as
flechas totais para tempo maiores ou iguais a 70 meses, tendo em vista que para os
6 meses, conforme analisado graficamente, os resultados são muito distantes dos
experimentais para o mesmo período. Ainda utilizando-se tempo infinito em busca de
uma aproximação dos resultados, se constatou que para nenhuma das 8 vigas as
NBR’s atingiram os resultados satisfatórios para flechas finais, quando confrontados
com resultados via experimental.
O mesmo não pode ser dito para o Model Code 1990 (CEB-FIP, 1993) e o EN
1992 - Eurocódigo 2 (CEN, 2004) que atingiram 100% e 75%, respectivamente, de
validação dos seus resultados quando confrontados com o experimental de Baroni
(2003), evidenciando assim serem muito mais apropriados que as prescrições das
normas brasileiras.
Para as flechas iniciais a NBR 6118 (ABNT, 2003) e NBR 6118 (ABNT, 2014)
atingiram parcialmente os resultados sendo que para a norma 2003 se atingiu em 50%
das vigas e para 2014 se atingiu 37,5%, mesmo percentual atingido para o Model
Code 1990 (CEB-FIP, 1993). Somente para o cálculo dos procedimentos do EN 1992
42

- Eurocódigo 2 (CEN, 2004) as flechas iniciais ficaram 100% superiores ao


experimental e não geraram valores exorbitantemente maiores, sendo assim
considerada apropriada para tal avaliação.
A NBR 6118 (ABNT, 2014) apresentou valores ainda mais inferiores que os
obtidos através NBR 6118 (ABNT, 2003), buscando melhor visualização, tais
alterações na norma brasileira foram apresentadas na sequência deste trabalho.
Para idealizar os resultados gerais entre flechas inicias e finais para as
normativas as quais se comparou anteriormente aos resultados obtidos com os
experimentais de Baroni (2003) foi organizado a Tabela 4. Tabela esta que permite
uma rápida identificação por cor ou até mesmo de simbologia para cada uma das 8
vigas apresentadas. Utilizou-se a cor vermelho e a identificação da letra “N“ para os
valores não atingidos, e a cor verde e a identificação da letra “A” para os valores que
atingiram ou superaram os valores apresentados pelo experimento.

Tabela 4 - Resumo de resultados quanto a validação


NBR 6118 NBR 6118 CEB Eurocódigos
Protótipo (2003) (2014)
𝑓𝑖 𝑓𝑓 𝑓𝑖 𝑓𝑓 𝑓𝑖 𝑓𝑓 𝑓𝑖 𝑓𝑓
VT1 N N N N N A A A
VT2 N N N N N A A N
VF1 N N N N N A A A
VF2 A N A N N A A A
VB1 A N A N A A A A
VB2 A N A N A A A N
VA1 A N N N A A A A
VA2 N N N N N A A A
Fonte: O Autor (2019).

Em números gerais temos 87,5 % de aprovação nos resultados obtidos com


o Eurocódigo 2 (CEN, 2004), 68,75% de aprovação nos resultados do Model Code
1990 (CEB-FIP, 1993), 25 % de aprovação nos resultados da NBR 6118 (ABNT, 2003)
e 18,75 % de aprovação nos resultados da NBR 6118 (ABNT, 2014).
43

4.1.1 Momento de fissuração

A determinação dos momentos de fissuração do elemento estrutural 𝑀𝑓 foi


imprescindível para determinação dos Estádios I e II atuantes para cada uma das
vigas nos diferentes códigos internacionais apresentados neste trabalho. Seus valores
são apresentados na Tabela 5, ressaltando que para valores inferiores ao momento
fletor na seção crítica do vão considerado 𝑀𝑎 de 2,37 MPa consideremos assim em
estádio II.

Tabela 5 - Momentos de fissuração em KN.m


NBR 6118 CEB Eurocódigo
Protótipo
(2014)
VT1 1,70 1,14 1,44
VT2 1,67 1,11 1,41
VF1 2,49 1,66 2,06
VF2 1,98 1,32 1,66
VB1 2,37 1,58 1,97
VB2 2,90 1,94 2,38
VA1 4,21 2,81 3,36
VA2 4,15 2,78 3,32
Fonte: O Autor (2019).

4.2 RESULTADOS E ANÁLISES ESPECÍFICOS

Os resultados específicos foram subdivididos para cada um dos três


procedimentos de cálculo analíticos, apresentados neste trabalho, para evidenciar
suas particularidades e visando gerar mais parâmetros de confrontação entre eles.

4.2.1 Norma brasileira

Os resultados obtidos pela NBR 6118 (ABNT, 2014) quando confrontada com
os resultados obtidos por Baroni (2003) que utilizou a norma brasileira em vigência na
época, NBR 6118 (ABNT, 2003), permite uma fácil identificação das alterações no
44

seus procedimentos de cálculo, que culminou na diminuição das flechas iniciais,


diferidas e finais ao quais foram calculadas conforme apresentado em 2.3.1. Na
Tabela 6 estão apresentados os elementos que sofreram alterações no seu
procedimento de cálculo, assim como os valores obtidos pelas respectivas normas
para tais.

Tabela 6 - NBR 6118 - 2003 x NBR 6118 - 2014


NBR 6118 -2003 NBR 6118 -2014
Protótipo 𝐸𝑐𝑠 𝐸𝑐𝑖 𝐸𝑐𝑠 𝐸𝑐𝑖
(MPa) (MPa) (MPa) (MPa)
VT1 17489 20575 20586 24690
VT2 17228 20268 20254 24322
VF1 23270 27377 28244 32852
VF2 19625 23089 23343 27707
VB1 22427 26385 27087 31662
VB2 26155 30723 32268 36868
VA1 34489 40575 45343 48691
VA2 34159 40187 44789 48225
Fonte: O Autor (2019).

As alterações do módulo de elasticidade secante do concreto (𝐸𝑐𝑠 ) que eram


calculados através da equação 38 que passou a ser calculado conforme a equação 7,
na NBR 6118 (ABNT, 2014). O módulo de elasticidade inicial (𝐸𝑐𝑖 ), que anteriormente
aplicava a equação 39, atualmente é calculado pela equação 8 e 9, Estas alterações
desencadearam um aumento do valor da rigidez a flexão da seção 𝐸𝐼 e 𝐸𝐼𝑒𝑞. ,
resultando em flechas ainda mais distantes do experimental de Baroni (2003).

𝐸𝐶𝑆 =0,85𝐸𝐶𝑖 (38)


Sendo:
𝐸𝐶𝑖 = Módulo de elasticidade inicial, equação 39;

Considerando:
𝐸𝐶𝑖 =5600√𝑓𝑐𝑘 (39)
45

4.2.2 Procedimentos via CEB

O Model Code 1990 (CEB-FIP, 1993) utiliza um procedimento distinto para o


cálculo do seu módulo de elasticidade inicial (𝐸𝑐𝑖 ), conforme apresentado em 2.3.2, já
o módulo de elasticidade secante do concreto (𝐸𝑐𝑠 ) é o mesmo da NBR 6118 (ABNT,
2003), consequentemente seus resultado diferiram dos apresentados pelas normas
brasileiras, conforme apresenta a Tabela 7. Por utilizar o cálculo tradicional do valor
da rigidez a flexão da seção (𝐸𝐼) apresentou flechas iniciais ainda mais distantes das
experimentais para as vigas com concretos de baixa resistência características (𝑓𝑐𝑘 )
como nos pares VT1, VT2 e VF1, VF2.
Em contra partida, seu modelo de avaliação de flechas finais se mostrou o
mais preciso entre os modelos propostos neste trabalho, isso se deve ao incremento
dos efeitos de fluência mesmo no procedimento simplificado de cálculo.

Tabela 7 - CEB90
Model Code 1990.
Protótipo 𝐸𝑐𝑠 𝐸𝑐𝑖
(MPa) (MPa)
VT1 23586 27749
VT2 23439 27576
VF1 26902 31649
VF2 24802 29179
VB1 26415 31077
VB2 28542 33579
VA1 33299 39176
VA2 33115 38959
Fonte: O Autor (2019).

4.2.3 Procedimentos Eurocódigo

O EN 1992 - Eurocódigo 2 (CEN, 2004) apresentou o modelo de cálculo que


obteve maior aprovação na validação de seus resultados quando confrontados com o
experimento de Baroni (2003). Está normativa utiliza uma interpolação das flechas
46

dimensionadas para os Estádios I e II, além disto, uma outra notória diferença em seus
procedimentos de cálculos, já apresentados anteriormente em 2.3.3, é a utilização do
módulo efetivo (𝐸𝑐,𝑒𝑓 ) no lugar do módulo secante (𝐸𝑐𝑠 ), Tabela 8.

Tabela 8 - Eurocódigo
Eurocódigo
Protótipo 𝐸𝑐𝑠 𝐸𝑐,𝑒𝑓
(MPa) (MPa)
VT1 27679 6919
VT2 27523 6880
VF1 31157 7789
VF2 28960 7240
VB1 30649 7662
VB2 32862 8215
VA1 37752 9438
VA2 37564 9391
Fonte: O Autor (2019).

O Eurocódigo em seus procedimentos simplificados assim como no CEB já


considera os efeitos de fluência.

4.2.4 Módulo de elasticidade do concreto

O módulo de elasticidade se mostrou como sendo um dos parâmetros de


maior divergência entre os modelos analíticos propostos. Seus valores já
apresentados nos itens de 4.2.1 a 4.2.3 foram sintetizados para facilitar a
compreensão no gráfico apresentado na Figura 16.
47

Figura 16 - Módulo de elasticidade do Concreto

Fonte: O Autor (2019).

A NBR 6118 (ABNT, 2014) apresentou 100% de valores maiores para o


módulo de elasticidade quando confrontado com a NBR 6118 (ABNT, 2003), devido a
alterações em seus procedimentos de cálculo conforme apresentado em 2.4.1. Pela
metodologia apresentada pela norma brasileira se constatou que quanto maior o
módulo de elasticidade do concreto menor suas flechas. O mesmo não pode ser
considerado para o Model Code 1990 (CEB-FIP, 1993) e para Eurocódigo 2 (CEN,
2004) que utilizam procedimentos distintos para determinação da flechas.
48

5. CONCLUSÕES

Neste trabalho foram apresentadas as estimativas de flechas iniciais e finais


para os métodos simplificados prescritos pela norma brasileira e dois diferentes
códigos internacionais, seguindo seus parâmetros e procedimentos de cálculo. A partir
da análise dos resultados do estudo comparativo com os experimentais, obtidos por
Baroni (2003), foi possível expor as seguintes conclusões:
• Nenhum dos métodos simplificados conseguiu produzir resultados
100% satisfatórios para flechas iniciais e finais quando confrontados
com os resultados experimentais;
• O Model Code 1990 e o Eurocódigo 2 mesmo fornecendo somente
flechas totais se mostraram mais precisos frente as NBR’s;
• As normativas que consideram os efeitos de fluência em seus
procedimentos obtiveram resultados mais próximo dos experimentais;
• Os resultados obtidos pela prescrição da NBR 6118 (ABNT, 2014)
quando confrontados com o experimental são considerados
inapropriados para avaliação de flechas mesmo considerando no
tempo infinito;
• As mudanças na NBR 6118 (ABNT, 2014), em relação a sua
antecessora NBR 6118 (ABNT, 2013), tornou os resultados obtidos
ainda mais distantes dos experimentais;
• Os diferentes procedimentos para obtenção do módulo de elasticidade
secante do concreto entre as normativas, se mostrou como sendo um
dos pontos de grande relevância para resultados distintos entre as
mesmas.
Afim de evitar patologias nas estruturas, principalmente em elementos não
estruturais ligados as vigas, deve-se dar mais importância para a análise de fechas.
Nesta linha, seria importante estudos mais específicos sobre os métodos disponíveis
para análise de flechas. Para estudos futuros, devido a limitação da 6118 (ABNT,
2014) em seu modelo simplificado, sugere-se a comparação com seu modelo mais
específico prescrito em seu Anexo A.
49

REFERÊNCIAS

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compressão – Método de Ensaio. Rio de Janeiro, RJ: ABNT, 1996.

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