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46º Encontro Anual da Anpocs

ST39: Cidades e democracia em disputa

A atuação dos blocos de carnaval de rua de Porto Alegre como elemento de direito à
cidade

Joanna Munhoz Sevaio1

1
Doutoranda em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul; bolsista CNPq;
pesquisadora do Grupo de Antropologia da Economia e da Política (GAEP); jmsevaio@gmail.com.
Resumo: Neste trabalho, a partir de pesquisa etnográfica pretendo analisar o movimento de retomada das ruas de
Porto Alegre como lugar de fazer carnaval, evocando as territorialidades, práticas, sociabilidades e conflitos que
se engendram por meio da festa. Parto aqui da premissa de que as festas colocam em evidência as contradições e
antagonismos que permeiam a vida cotidiana, assim que a arena festiva é um lugar privilegiado para a análise
das relações de poder e narrativas de cidade divergentes (CRUELLS, 2006) . Mais do que analisar o carnaval per
se, proponho a tarefa de entender o que a festa diz sobre Porto Alegre e suas dinâmicas. Nesse caso, o uso das
ruas desdobra-se em disputas práticas e simbólicas sobre o direito de estar na cidade e ocupar seus espaços, o
que pode resultar tanto em um enfrentamento político mais elaborado, institucional, quanto na mera
contraposição de comportamentos e códigos de conduta (LEITE, 2000).

Abstract: In this paper, based on ethnographic research, I intend to analyze the movement of retaking the streets
of Porto Alegre as a place for carnival, evoking the territorialities, practices, sociability and conflicts that are
engendered through the party. I start here from the premise that parties highlight the contradictions and
antagonisms that permeate everyday life, so the festive arena is a privileged place for the analysis of power
relations and divergent city narratives (CRUELLS, 2006). More than analyzing carnival per se, I propose the
task of understanding what the party says about Porto Alegre and its dynamics. In this case, the use of the streets
unfolds in practical and symbolic disputes over the right to be in the city and occupy its spaces, which can result
both in a more elaborate, institutional political confrontation, and in the mere opposition of behaviors and codes
of conduct. conduct (LEITE, 2000).

“Eu quero é colocar meu bloco na rua”: notas introdutórias ao carnaval de rua de Porto
Alegre

Em janeiro de 2020, mais de 20 mil pessoas preencheram Porto Alegre de vermelho,


azul e amarelo, as cores do Bloco da Laje. Entre plumas, glitter e paetês, os brincantes faziam
aflorar criatividade em fantasias que destoavam do concreto da Ponte de Pedra, monumento
de onde saiu o cortejo. No mesmo ano, em março, a Turucutá – Batucada Coletiva
Independente esteve nas ruas do Centro Histórico junto a outras milhares de pessoas.
Alternando ritmos afro-latinos, como ijexá, ska e sambas, o bloco reivindica como repertório
principal a presença de corpos, sons e suas interfaces nos espaços públicos. Já na semana
seguinte, o isolamento social decorrente da pandemia de coronavírus solapou as formas de
encontro e sociabilidades típicas do carnaval. Nesse contexto, outro grupo ganhou destaque: o
Areal do Futuro. Surgido no núcleo de um quilombo urbano, pautado pela tradição
carnavalesca do território, o bloco manteve acesa a esperança de que em fevereiro de 2022
fosse possível voltar às ruas, o que acabou não acontecendo em virtude do avanço da variante
ômicron do coronavírus.
Os três blocos fazem parte de um fenômeno crescente na capital gaúcha: a retomada
das ruas como lugar de fazer carnaval. Começando ainda na primeira década deste século, o
movimento tem seu auge a partir de 2010, quando a atuação dos grupos ganha proporções
maiores, alcançando público mais variado com o crescimento do número de blocos
(Magalhães, 2016; Sevaio, 2021). É importante ressaltar que este não é um fenômeno isolado.
Herschmann (2013) sinaliza que na primeira década do século XXI se inicia o boom do
carnaval de rua, que começa no Rio de Janeiro e se espalha para outras metrópoles, como
Belo Horizonte e São Paulo, assim como para diversos lugares do próprio Rio. Para Frydberg
(2011), a ascensão dos blocos de rua coincide com a revitalização da Lapa como espaço
boêmio e a consequente redescoberta do samba por jovens de classe média, o que dá indícios
de um recorte de classe na adesão aos eventos de rua. Frydberg (2016) também ressalta a
transformação das saídas dos blocos de rua em atrativo turístico, de forma a acionar um
processo de mercantilização da festa e de controle e padronização de como os blocos devem
se organizar para ocupar os espaços públicos.
Em minha pesquisa de doutorado em Antropologia Social, ainda em desenvolvimento,
tenho acompanhado o movimento dos blocos de carnaval de Porto Alegre, as negociações
com o poder público e as próprias controvérsias entre os diferentes blocos sobre qual o
modelo de carnaval deve ser seguido, colocando em pauta questões como, por exemplo, se é
aceitável que a iniciativa privada financie os eventos. Mais do que o carnaval per se,
interessa-me entender o que a festa diz sobre as dinâmicas sociais mais amplas da cidade,
colocando em evidência as contradições que já estão latentes no contexto da vida urbana.
Conforme enfatiza Simas (2020: 110): “A ideia do que deve ser a festa sintetiza a disputa
entre a cidade preta, rueira, subterrânea, pecadora, e a cidade que se quis europeia, civilizada,
enquadrada nos ditames da ordem e da redenção pelas luzes, pelo cifrão, pelo terno e pela
cruz”. É possível falar, portanto, de uma disputa de maneiras de vivenciar a cidade.
Neste trabalho, apresento um recorte desta pesquisa, no qual a noção de direito à
cidade aparece como eixo fundamental, sendo possível identificar sua reivindicação nos
elementos prático-discursivos dos blocos. Cada um dos grupos ativos atualmente em Porto
Alegre é um universo particular, em que são mobilizadas diferentes características, arranjos,
histórias e também entendimentos sobre os sentidos do carnaval. Para além do lúdico da festa,
do fazer carnaval, estão em jogo interesses que tangenciam discussões sobre estar, pertencer e
ocupar e fazer cidade (Agier, 2011, 2015; Leite, 2007) O que exploro aqui é um esforço
analítico para compreender essa intrínseca relação entre o carnaval e a experiência urbana,
observando-a “não como um dado, mas como um processo, humano e vivo” (Agier, 2011:
38).
Nas vésperas dos movimentos de 1968, a publicação de O direito à cidade aparece na
efervescência da contracultura e da contestação de um modelo de sociedade em ruínas.
Lefebvre (2001) falava de uma Paris já em processo de erupção, sendo responsável por
canalizar enquanto conceito algo que nas ruas já era visível. Já na introdução Lefebvre adverte
sobre a potência de seus escritos para a elaboração de reflexões acerca das possibilidades do
viver urbano, como algo que não se fecha em concepções formalistas. Harvey (2009), por sua
vez, nos lembra que o direito à cidade é uma luta contínua pautada pelo poder coletivo de
subversão das formas opressivas que o capitalismo impõe às dinâmicas urbanas. O autor
sublinha a ideia de que não se trata de um direito abstrato, distante do cotidiano citadino, mas
sim que é algo inerente às nossas práticas diárias, e, portanto, conectado aos problemas mais
concretos. Estamos, assim, diante do desafio de renovação dos quadros analíticos sobre o
direito à cidade em conformidade com os fenômenos contemporâneos. Nesse sentido, Fausto
(2008: 17) sugere que a preocupação central deve ser “o que estamos a fazer da cidade e do
seu futuro”.
Em consonância com a tarefa de pensar sobre Porto Alegre a partir de seu carnaval de
rua, o texto está dividido da seguinte maneira: primeiro, analiso como historicamente o
carnaval porto-alegrense foi se configurando, desde o século XIX até o cenário atual, sobre o
qual me debruço com maior afinco. Começando como manifestação cultural baseada em
costumes europeus e bastante difundida entre as elites, o carnaval foi paulatinamente sendo
associado às práticas populares das populações negras e pobres, o que ganha fôlego nas
discussões atuais sobre quem pode ser sujeito atuante nos espaços públicos. Na subseção
seguinte, analiso como as práticas e sociabilidades que se engendram a partir da atuação dos
blocos podem contribuir para o alargamento da concepção de direito à cidade, como algo que
se disputa não somente através da institucionalidade já consolidada, mas também pela festa,
pelo encontro, pelos corpos que ocupam as ruas.

As dinâmicas carnavalescas inscritas em Porto Alegre

Parto aqui da noção de Simas (2020) de que o carnaval se inscreve na história da


cidade como um aguçador de tensões, em que pode ser observado um processo de
carnavalização da política na e pela cidade. Nesta seção, analiso as configurações da festa
carnavalesca em diferentes momentos da história de Porto Alegre, do século XIX até agora.
O carnaval não é uma novidade nas ruas de Porto Alegre, já que o Entrudo, prática em
que os foliões jogavam coisas como limões de cheiro2 e ovos uns nos outros, chegou à cidade
junto com os imigrantes açorianos, confundindo-se com a própria formação do núcleo urbano
(Ferreira, 1970). Essa forma popular de festejar o carnaval foi alvo de uma série de
campanhas difamatórias, tanto pelo Estado quanto pela imprensa, já que as elites
consideravam-na como algo sujo e desordeiro, um resquício de uma cultura popular atrasada e

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Artefato arredondado na forma de limões, feitos de cera e contendo água perfumada e colorida, que ao ser
atirado contra as pessoas, rompia-se (Krawczyk et al., 1992).
grosseira que ainda não havia se civilizado, o que vinha na contramão da cidade moderna
(Ferreira, 1970; Germano, 1999; Góes, 2013). A partir da segunda metade do século XIX, as
elites porto-alegrenses, organizadas nas majestosas Sociedade Venezianos e Sociedade
Esmeralda, passaram a desfilar pelas ruas centrais, como a Rua da Praia, sendo assistidas por
milhares de pessoas. A rivalidade entre as duas sociedades era tamanha que muitas vezes
resultou em brigas e agressões (Ferreira, 1970; Lazzari, 2001).
Com a chegada do século XX, entrou em declínio o modelo de carnaval centrado nos
desfiles luxuosos nas vias centrais de Porto Alegre. Quando as elites fecharam-se em clubes
sofisticados para fazer carnaval, as camadas populares de meros espectadores passaram a ser
protagonistas de seu próprio carnaval, introduzindo suas sonoridades e gingado, tons, ritmos e
práticas (Krawczyk et al., 1992). Houve, então, uma propagação de agremiações
carnavalescas, blocos e cordões surgidos em um processo de ressignificação dos elementos da
festa a partir dos trabalhadores e dos descendentes de escravizados. De acordo com Germano
(1999: 85): “Nas décadas de 1930 e 40, essa representação de carnaval de rua modificou-se,
pois o elemento popular e negro passou a ser associado ao verdadeiro representante do
carnaval de rua, já que o próprio carnaval passou a ser visto como uma festa do povo”.
Concomitante a isso, a projeção do carnaval enquanto festa que compõe a identidade
nacional faz parte da narrativa criada a partir do Estado Novo, quando Vargas elevou
manifestações populares como o samba e o carnaval ao patamar de símbolos de brasilidade.
Aí reside uma ambiguidade que precisa ser considerada: o carnaval é lido ao mesmo tempo
como ícone da identidade nacional e como festa constituída a partir das práticas
marginalizadas da população negra (Rosa, 2008). É também no contexto do Estado Novo que
a questão do trabalho deixa de ser um problema da polícia, sobretudo a partir da legislação
trabalhista de Vargas. A malandragem à qual se associa o samba e o carnaval estava em
conflito com a exigência de que a população se encaixasse nas normas e na monotonia do
mundo trabalho, sendo um suspiro em relação à disciplina, e uma alternativa dentro da
estrutura social que convertia homens em marginais econômicos (Oliven, 2010). É através do
carnaval que homens e mulheres negros marcavam sua presença no mapa da cidade.
Nas décadas de 1930 e 1940, as dinâmicas dos territórios predomidantemente negros,
como a Cidade Baixa e a Colônia Africana, fizeram com que o carnaval de rua
porto-alegrense alcancasse seus tempos áureos (Germano, 1999; Rosa, 2008). No interior da
Cidade Baixa, existiam dois territórios que merecem destaque: a Ilhota e o Areal da Baronesa.
Ambos eram marcados pelas condições de vida precárias e constantes inundações. Se não
havia saneamento básico por lá, havia festa. Foi na Ilhota onde em 1914 nasceu Lupicínio
Rodrigues, o mais icônico dos sambistas gaúchos, que cresceu rodeado entre as águas e
festejos de seu bairro: “Samba e carnaval são duas expressões diferentes, porém
complementares, do fenômeno cultural que se originou no contexto da Cidade Baixa e
revelam aspectos da tensa relação com manifestações culturais ligadas à população negra da
cidade e ao uso da rua” (Sevaio, 2021: 58).
Na imprensa da época, eram recorrentes as menções ao glorioso carnaval da Cidade
Baixa e imediações, com destaque para a rua João Alfredo, antiga rua da Margem:

O carnaval na Rua da Margem


Foi simplesmente um sucesso o carnaval na rua da Margem. Logo ao primeiro dia a
crítica o cognominava de “O melhor trecho”. Muito concorreu para o brilhantismo
dos festejos (...) O corso que esteve muito movimentado terminou pela madrugada,
com pesar dos foliões, que realmente estavam entusiasmados. (Correio do Povo,
07/03/1935, p. 11 apud Germano, 1999: 176)

Figura 1 - Carnaval de rua na João Alfredo, década de 1930

Fonte: Acervo do Museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo

Vale ressaltar que a configuração do carnaval foi mudando em consonância com as


transformações pelas quais passava a cidade. Estética, moral e higiene foram os três pilares
que sustentaram as campanhas contra a presença de bolsões de pobreza nos espaços centrais,
o que se materializou em uma série de reformas, que começaram com o Plano Geral de
Melhoramentos de 1914 e finalizaram somente na década de 1970 (Pesavento, 2001, 1991;
Souza, 2010). Conforme foi se densificando a malha urbana ao longo do século XX, os
instrumentos legais e os dispositivos arquitetônicos correspondentes foram sendo formulados
pelo viés do embelezamento estético. A ideia de que determinados corpos e formas de viver
deveriam ser expulsos dos espaços urbanos em nome de melhoramentos e da funcionalidade
tem sua gênese sobretudo no urbanismo francês de Haussman (Cardoso, 2004). Em Paris,
assim como em Porto Alegre, habitações populares das zonas centrais foram demolidas para a
construção de grandes avenidas. A população, em sua maioria negra, foi compulsoriamente
expulsa para regiões mais afastadas da cidade. Foi assim, por exemplo, que a Ilhota foi extinta
e surgiu a Restinga, no extremo sul da cidade. Nas entrelinhas desses projetos estava a
valorização imobiliária da região que abrangia grande parte dos bairros Menino Deus, Cidade
Baixa, Medianeira, Azenha e Praia de Belas (Souza, 2008).
As reformas urbanas que culminaram na desarticulação de territórios negros
contribuíram para que o blocos de rua dessem espaço para outro tipo de agremiação
carnavalesca, as escolas de samba (Vieira, 2017). De acordo com Silva (1993), as escolas de
samba foram o canal através do qual as populações negras da cidade puderam rearticular laços
de sociabilidade antes existentes em territórios como a Ilhota, o Areal da Baronesa e a
Colônia Africana. A Academia de Samba Praiana, em 1961, foi responsável por revolucionar
o modelo de carnaval predominante em Porto Alegre ao introduzir elementos já vistos nas
escolas cariocas: tema-enredo, alas, alegorias, fantasias luxuosas e elaboradas, assim como
um número expressivo de participantes. Nos anos seguintes, outras agremiações foram
surgindo e as já existentes foram se adaptando ao carnaval espetáculo (Duarte, 2011).
Até 2004 não havia, no entanto, um lugar específico onde os desfiles pudessem
acontecer. Galli (2019) analisa as disputas políticas em torno da escolha do Complexo
Cultural Porto Seco como sambódromo. A autora sinaliza que as experiências do Orçamento
Participativo traziam esperanças de que a comunidade carnavalesca tivesse poder decisório no
processo de escolha do lugar para desfilarem, uma vez que desde 1990 o carnaval se tornou
um evento oficial do município. As discussões demoraram mais de uma década, sem que
fosse satisfeita a demanda de que os desfiles continuassem acontecendo na zona central.
Até 2003, eles aconteciam na Avenida Augusto de Carvalho, nos limites entre o Centro
Histórico e o bairro Praia de Belas. Naquela época, a infraestrutura, como arquibancadas e
espaço para montagem de alegorias e confecção de fantasias, era construída de forma
provisória todos os anos. A construção do Porto Seco possibilitou, por um lado, a permanente
infraestrutura necessária à realização dos desfiles. Por outro, deslocou uma manifestação
cultural que reivindicava sua territorialidade na zona central para a periferia de Porto Alegre,
no bairro Rubem Berta, na zona norte. Germano (2008) destaca que falar do carnaval em
Porto Alegre é também discutir sobre os processos de marginalização que excluíram a
população negra dos espaços centrais. Primeiro, a desintegração da Ilhota como território e a
expulsão dos moradores para a Restinga, e mais recentemente a construção do Porto Seco em
local bastante afastado do que era desejo das entidades carnavalescas.
Krawczyk et al. (1992) destacam o costume entre as camadas médias urbanas,
sobretudo de Porto Alegre, de se deslocarem em direção ao litoral durante o feriado de
carnaval. Nesse contexto, as vivências que Duarte (2011) chama de cultura carnavalesca,
compostas por uma lógica de vínculo e de produção simbólica com o carnaval e a
consequente adesão ao estilo de vida, estavam ainda muito restritas às escolas de samba, nas
quais havia um evidente recorte de classe e de raça. O cenário descrito na década de 1990 deu
indícios de que começava a ganhar outros rumos na década seguinte, quando as dinâmicas
carnavalescas começaram a extrapolar as quadras das escolas e voltaram às ruas:
Ao que tudo indica iniciada em 2007 pelo bloco Maria do Bairro, a retomada de
movimentações e festividades carnavalescas na Cidade Baixa cresceu
gradativamente e de forma pulverizada. Diferentes movimentos, geridos de maneira
autônoma e desvinculada entre si, começaram a pipocar a cada ano, colorindo e
agitando as ruas desse bairro. (Magalhães, 2016: 115-116)

Reivindicando a tradição do bairro, da Ilhota e do Areal da Baronesa, os primeiros


carnavais de rua dessa nova geração foram movimentos espontâneos, como uma brincadeira
entre amigos e vizinhos. Somente no ano de 2013, quando o movimento já se consolidava,
foram oito blocos que saíram pelas ruas da Cidade Baixa: Turucutá, Panela do Samba, Bloco
Galo do Porto, Maria do Bairro, Fora da Área de Cobertura, Bloco do Jeito Que Tá Vai, Bloco
da Laje e Banda de K. À medida que aumentava o número de blocos era crescente também o
público que comparecia à festa, já não mais restrita aos moradores da região, o que começou a
incomodar alguns vizinhos, os quais passaram a acionar o poder público para controlar o
carnaval. Desse modo, em acordo com o Ministério Público Estadual (MPE), a Prefeitura
tomou para si a prerrogativa de organizar o carnaval de rua através de editais. As ações da
Prefeitura vão na contramão da autonomia buscada por alguns grupos, já que envolvem a
disciplinarização dos modos de fazer carnaval, a captação de recursos privados e a
predominância das marcas patrocinadoras em relação à estética dos blocos, assim como
impedem a escolha do trajeto a ser percorrido (Magalhães, 2016; Riskalla, 2016). Alguns
blocos, como o da Laje e o Turucutá, optaram por continuar a organizar suas saídas de
maneira autônoma, por meio de estratégias como o financiamento coletivo. O cenário que se
delineava era, então, o da divisão entre os blocos: os independentes, que reivindicam sua
autonomia estética e política e aqueles que, de certa forma, estavam dispostos a adotar a
lógica de padronização vinda da Prefeitura.
Em minha dissertação, Entre boemia e baderna: práticas, sociabilidades e
controvérsias na e da Cidade Baixa (Sevaio, 2021), a discussão de um dos capítulos é
centrada nas saídas dos blocos durante o carnaval de 2020, devido à importância desse evento
para a compreensão do bairro que eu estudava. A tradição carnavalesca da Cidade Baixa é
mobilizada como condutora das sociabilidades de rua No trabalho em questão, descrevi como
o poder público é acionado de diferentes formas: os blocos independentes preconizam sua
autonomia financeira e política, mesmo que necessitem de autorização e apoio para a
organização do trajeto e para assegurar a segurança dos foliões. No evento organizado pela
Prefeitura, em que os blocos tiveram de se moldar às determinações do poder público, o
horário das atrações era limitado às 21h e tudo aconteceu na Praça Garibaldi, sem que
houvesse cortejo pelas ruas. O público estimado nos quatro dias de carnaval foi de 200 mil
pessoas, que não deixaram de circular pela Cidade Baixa depois do término do evento oficial.
Com a permanência das pessoas nas ruas, a polícia reprimiu duramente as aglomerações com
bombas e gás lacrimogêneo.
Logo depois do carnaval, os primeiros casos de coronavírus começaram a ser
diagnosticados no Brasil e meu trabalho de campo precisou ser interrompido, assim como as
discussões sobre as dinâmicas carnavalescas e de festas em geral ficaram em segundo plano,
já que as aglomerações passaram a ser vistas como algo maldito e proibido. Defendi a
dissertação em meio à pandemia, e no processo de escrita identifiquei uma lacuna analítica e
bibliográfica sobre os blocos que têm atuado em Porto Alegre, de modo que em minha
pesquisa de tese o carnaval deixou de ser um elemento tangente e ganhou centralidade. Nos
parágrafos seguintes, farei uma breve apresentação dos três blocos a partir dos quais tenho
desenvolvido a pesquisa atual. Eles têm como denominador comum elaborações sobre a
ocupação da cidade e seus lugares, reivindicando os encontros e a alegria do carnaval como
motor político para além do lúdico.
Quando conheci o Bloco da Laje, em 2016, estava começando a graduação em
Ciências Sociais e ainda não cogitava pesquisar sobre o carnaval. Estive entre os milhares que
compõem as multidões no Centro Histórico, na Cidade Baixa, na zona sul, no IAPI, já que as
saídas do bloco são itinerantes, cada ano em um ponto diferente da cidade. Conceição (2019),
que além de pesquisador é um dos fundadores do grupo, enfatiza que a Laje é um lembrete da
presença das corporeidades negras em Porto Alegre, como uma celebração da ancestralidade
afro-brasileira em suas maneiras de estar nos lugares, colorindo as ruas e subvertendo a ordem
do cotidiano. Nesse processo de fazer carnaval, no qual festejar é também uma forma de
apropriação da cidade, os foliões são geralmente chamados de brincantes (Cavalcanti, 2002),
eles não são espectadores, mas sim protagonistas de uma narrativa sobre a cidade que o
carnaval ajuda a construir. A Laje começou em 2011 como uma junção improvisada de
amigos, todos vinculados ao meio artístico de Porto Alegre, do teatro, da música e da dança, e
aos poucos foi angariando brincantes por onde passava. Na última saída, eles eram mais de 20
mil. O grupo começou com um cortejo pela Cidade Baixa, e apesar de circular por todos os
cantos de Porto Alegre, mantém com o bairro uma relação de intimidade e reinvenção da
tradição. Antes de tudo, a Laje é uma experiência coletiva de estar e pertencer à cidade.
Turucutá Batucada Coletiva Independente é um“coletivo nascido na rua que tem como
fio condutor o amor ao carnaval”, de acordo com a definição de Vini Silva, um dos
integrantes do grupo. Ele surgiu em 2008, quando amigos e músicos que frequentavam o
Afro-sul Odomodê3, fascinados pela sonoridade e pela potência dos tambores, organizaram
um “arrastão” nas proximidades da Usina do Gasômetro com os instrumentos emprestados do
centro cultural. Desde então, o arrastão da Turu é o evento que fecha o calendário de carnaval
de Porto Alegre, já em março, com trajetos itinerantes, assim como o Bloco da Laje. Com as
cores vermelho e verde, as performances do grupo são uma celebração à música brasileira e às
escolas de samba, fazendo as ruas serem preenchidas pelos instrumentos de percussão, surdos,
caixas, agogôs, chocalhos e tamborins.
Hoje, o território antes conhecido como Areal da Baronesa, cravado nos limites entre
bairros Cidade Baixa e Menino Deus, é reconhecido como área remanescente de quilombo, o
que aconteceu em 2015. Foi lá onde em 1994 surgiu a Academia de Samba Integração do
Areal da Baronesa, que deixou de ser escola de samba quando a construção do Porto Seco
afastou o carnaval de seu lugar tradicional. Foi campeã do Grupo de Acesso em 1995, e do
Grupo Intermediário B no ano seguinte. Em 1997, ficou em terceiro lugar no Intermediário A.
O bloco Areal do Futuro começou a partir de 2003, tendo como um dos pilares a realização de
oficinas de percussão para a comunidade. A presença marcante de crianças corrobora com a
ideia de um Areal do Futuro, que dialoga com a tradição do lugar mantida e ao mesmo tempo
reinventada pelas novas gerações. Conversando com Paulo, o mestre de bateria, ele reforça o
quanto é importante um carnaval feito com e para a comunidade, para fazer perdurar os laços

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O Instituto Sociocultural Afro-sul Odomodê, localizado na Av. Ipiranga, é um ponto de cultura onde são
cultuadas as raízes afro-gaúchas, funcionando como espaço de valorização e preservação da cultura negra.
entre os que vieram antes e os que virão depois. O Areal reivindica a Cidade Baixa como
“berço do samba”, tomando isso como mola propulsora de suas atividades.

O direito à cidade como horizonte

Na noção de direito à cidade está intrínseca a celebração da vida urbana como obra e
experiência coletiva. Estamos falando, portanto, de algo que no cotidiano acontece como
desejo pulsante de seus autores, em contínua construção: “A cidade, com seus eventos
efêmeros, é a perpétua obra de seus habitantes, onde as artes podem se tornar práxis e poiesis
em escala social” (Lefefbvre, 2001: 134). O direito à cidade é ao mesmo tempo apelo e
exigência daqueles que compartilham a urbe, os quais transformam os lugares que habitam,
praticam e circulam. A apreensão antropológica desse movimento está fora de um quadro
normativo sobre o que é a cidade, e deve ser focada na ação dos citadinos (Agier, 2015).
Lefebvre (2001) é enfático ao sinalizar que a cidade não é uma invenção da
modernidade e que, portanto, não é algo exclusivamente capitalista. Em Por amor às cidades,
o historiador Jacques Le Goff (1998) compartilha do mesmo pensamento, demonstrando as
semelhanças entre as cidades medievais e as contemporâneas, ambas sendo O ponto de
inflexão do pensamento de Lefebvre é a sinalização das características que o processo de
industrialização têm imposto às cidades, as quais rompem com a plenitude das
potencialidades da experiência citadina. O autor argumenta que uma especificidade que define
a cidade é a primazia do valor de uso em relação ao valor de troca, relação que
progressivamente tem sido invertida em decorrência do capitalismo. A perspectiva de Harvey
(2012, 2014) ratifica e atualiza o fenômeno exposto por Lefebvre, uma vez que para o autor o
regime de acumulação flexível do capital institui a cidade-mercadoria, em que as
prerrogativas da vida urbana são dominadas pela dimensão do consumo. O cenário
demonstrado não é, no entanto, condição histórica inexorável, sendo possível superá-lo a
partir do:
“(...) direito ativo de fazer a cidade diferente, de formá-la mais de acordo com
nossas necessidades coletivas (por assim dizer), definir uma maneira alternativa de
simplesmente ser humano. Se nosso mundo urbano foi imaginado e feito, então ele
pode ser re-imaginado e refeito” (Harvey, 2009: 14)

A noção de Lefebvre ajuda a entender a cidade como obra criativa de seus habitantes,
a qual está fundamentada nas experiências urbanas coletivas e dotadas de dimensões
simbólicas. Quando acontecem nas ruas, lugar de vocação essencialmente pública e política,
as manifestações artísticas e culturais expressam também o desejo de preencher o cotidiano
citadino daquilo que é significativo. Os encontros, as trocas, as festas fazem com que as ruas
deixem de ser lugar de passagem para se tornarem lugar de sociabilidades mais duradouras e
pulsantes. A fala da poetisa portuguesa Matilde Campilho (2015), durante palestra na Flip4,
caminha no mesmo sentido da vida urbana em plenitude: “A poesia, a música, a pintura, isso
não salva o mundo, mas salva o minuto. E é suficiente. A gente está aqui para dançar um
pouco sobre os escombros”. Fazer carnaval na rua é dançar sobre os escombros de uma cidade
fragmentada pelo capital, salvando os minutos da vida urbana. Se Harvey (2014) descreve
como a especulação imobiliária e a lógica do lucro impõem o ritmo das cidades
contemporâneas, é através das lutas, práticas e sociabilidades disruptivas que podemos pensar
em outros futuros.
A vida é a arte do encontro, já disse Vinícius de Moraes em uma de suas composições.
O samba, ritmo que embala os carnavais, acontece também no encontro, no encontro de gente,
de sonoridades, de vontades e no cruzamento de uma multiplicidade de acontecimentos que se
desdobram a partir dele. Essa arte do encontro estimula a dimensão coletiva do viver na
cidade, operando no sentido de elaborações de sentido compartilhados. Com vistas a
contribuir para um aprofundamento analítico desse movimento de reivindicação do direito à
cidade, nos parágrafos que seguem exploro algumas das formulações teórico-metodológicas
que guiam minha pesquisa.
Lopes (2008), ao discutir sua metodologia do andar, sugere que o sujeito andante
produz no cotidiano uma noção de cidadania calcada em experiências concretas na cidade, a
qual vai sendo forjada à medida que os sujeitos ocupam os lugares a partir de seus termos, o
que escapa das propostas abstratas de Habermas em torno da esfera pública e se aproxima do
que acontece no cotidiano. Para ele, os usos colocam em curso processos de reencantamento
da vida urbana. O que dizer, então, do carnaval de rua? Ao percorrer as ruas junto aos blocos,
estou mirando para aqueles que colocam em seu repertório prático-discursivo a reivindicação
do encantamento dos lugares públicos, encontrando assim brechas na arbitrariedade da cidade
moderna. Simas (2020) afirma que o carnaval é perigoso. Ele é a cultura produzida a partir do
cotidiano dos pobres, dos descendentes de escravizados e por isso incomoda quem deseja
manter sob controle os corpos e as vivências urbanas. É nesse sentido que a arena festiva é um
lugar privilegiado para a análise das relações de poder e narrativas de cidade divergentes
(Cruells, 2006).
Antes de mais nada, o carnaval de rua é uma experiência materializada por meio de
corpos que circulam pela cidade. Inspirada em Jacques (2012), adoto a noção de que o corpo e
4
Festa Literária Internacional de Paraty, realizada anualmente no litoral fluminense.
as experiências sensório-motoras resultam em práticas cotidianas e resistentes que atualizam
os projetos urbanos, de modo a “formar um contraponto à visualidade rasa da cidade-logotipo,
cidade-outdoor” (Jacques, 2008:12). Fernandes, Herschmann e Barroso (2019), por sua vez,
indicam o surgimento de um corpo-festivo quando a cidade é praticada a partir da festa, que é
associado aos escapes à ordem, à visceralidade e à sensibilidade. Os autores consideram que a
experiência da festa de rua faz com que se relacionem o corpo-festivo e o corpo-cidade,
estando os dois corpos a todo momento negociando, entrando em conflito, concedendo e
impondo limites.
Para acessar as múltiplas camadas semânticas que o carnaval de rua adquire para seus
praticantes, encontro na obra de Michel de Certeau (2012) um aporte teórico fundamental. O
autor inspira o rompimento com uma visão panorâmica sobre a cidade: é na vida ordinária, no
cotidiano, nas práticas do sujeito caminhante que se situam as dimensões significativas do
viver urbano. Além disso, De Certeau assume como tema de A invenção do cotidiano a
antidisciplina, já que o autor enfatiza a análise de práticas que desviam do esquema
disciplinar foucaultiano, mesmo que estejam inseridos dentro dele. O foco está, portanto, na
apropriação do espaço de acordo com a engenhosidade de sujeitos ordinários, o que sugere a
proliferação de formas outras de usar a cidade e de estabelecer espacialidades. Segundo essa
linha de raciocínio, existe uma cidade-conceito e uma cidade praticada. Logo, se a cidade foi
planejada para seu funcionamento diurno, para o trabalho e para o controle, o carnaval de rua
pode contribuir para a insinuação de uma cidade metafórica, forjada nos próprios termos de
quem a vive.
Na mesma esteira de pensamento, Jane Jacobs (2000) reivindica a vivacidade das ruas
como lugar primordial de sociabilidade, assim que ruas e calçadas são dotadas de sentido a
partir de seus usos e conexões simbólicas com o viver na cidade. Nas brechas das estruturas
de controle, no agir cotidiano, se configura um campo de disputa e negociações que é
possibilitado pelos encontros e experiências coletivas. Simas (2020) mira também um olhar
sensível ao que acontece nas ruas, que são território de Exu e do carnaval. Contra a
fragmentação do viver urbano, terreiros e blocos de carnaval são modos de existir partilhados
e que são “(...) em larga medida, extensões de uma mesma coisa: instituições associativas de
invenção, construção, dinamização e manutenção de identidades comunitárias, redefinidas no
Brasil a partir da fragmentação que a diáspora negreira impôs” (p. 32).
Leite (2007), por sua vez, discute a noção de lugar como elemento da construção de
sentidos de pertencimento, sendo lugares os espaços da cidade qualificados mediante seus
usos. Ao analisar as políticas de revitalização do bairro Recife antigo, o autor argumenta a
distinção entre espaço urbano e espaço público. Para ele, o segundo é intrinsecamente
relacionado a um conjunto de ações coletivas e significativas:
O bar Pina de Copacabana, fechado nas primeiras horas do dia, era também uma
edificação simbólica, mas, sem os usos, perdia parte da sua eficácia. À noite,
quando outras sociabilidades se desenvolviam na rua, esses espaços se
emprenhavam de significados: deixavam de ser meros logradouros públicos para
se transformarem em lugares. (Leite, 2002: 124)

Leite (2008) analisou também como a partir de processos de gentrificação e de


especulação imobiliária acirraram-se disputas práticas e simbólicas sobre os lugares. Tais
disputas podem resultar em enfrentamento político mais elaborado, de ordem institucional, ou
como mera contraposição de estilos de vida e códigos de conduta (Leite, 2000). Um caso
emblemático de disputa sobre os lugares é o dos moradores da Cidade Baixa que acionam o
poder público para barrar a saída dos blocos e a manutenção da tradição carnavalesca em seu
bairro, que cada vez se configura como lugar embranquecido e gentrificado.
Outra disputa é sobre a interferência de empresas privadas na realização do carnaval
de rua. Frydberg (2016) identifica um processo de mercantilização da/na festa no Rio de
Janeiro, o que acaba movimentando a economia do carnaval de rua, seja por ter se tornado
atrativo turístico, o que aciona o setor hoteleiro e o comércio em geral, seja pela interferência
de empresas privadas na organização do evento. Aqui em Porto Alegre tenho observado
fenômeno semelhante. No caso do Bloco da Laje, por exemplo, é comum que brincantes
venham de outros lugares experimentar as ruas através do carnaval, principalmente do interior
do estado, sendo um fator positivo para a economia local. Nesse cenário, o ponto
problemático para os blocos que venho estudando é a relação que o evento oficial da
prefeitura tem com o setor privado. Quando entra em jogo o patrocínio de determinada marca
de cerveja, por exemplo, vendedores ambulantes não cadastrados ficam impossibilitados de
trabalhar, além de haver a exigência de certa padronização estética. Não se faz, no entanto,
carnaval sem dinheiro. É preciso uma infraestrutura mínima, que envolve coisas como
equipamentos de som e banheiros químicos. Por isso, os blocos que se mantêm independentes
costumam recorrer a estratégias como o financiamento coletivo online, oferecendo
recompensas como participações em oficinas, copos ou brasões dos blocos de acordo com os
valores doados.
Sob o ritmo dos tambores, minha pesquisa desliza de uma concepção institucional do
exercício do direito à cidade para colocá-la no âmbito das práticas, como um devir, uma
contínua construção. Nesse sentido, o fazer carnaval conecta-se com a possibilidade de estar
na contramão da compulsoriedade do fazer cidade. Onde queres quaresma, fevereiro. Blocos
de carnaval, assim como as ruas em que se fazem circular, lembram as possibilidade de
estabelecer instituições associativas de invenção, dinamização e manutenção de identidades
comunitárias, redefinidas no Brasil a partir da fragmentação que a diáspora do tráfico negreiro
impôs (Simas, 2020). Agier (2011) recorda que os atores das lutas sociais das últimas décadas
não necessariamente leram a obra de Henri Lefebvre, e apesar disso reclamam o direito à
cidade como horizonte, transformando o meio urbano através de suas práticas. Ele diz ainda
que aquilo que faz sentido descrever quando se estuda o fazer-cidade dos sentidos é de que,
de qual sentido e de que matéria pode ser preenchido o direito à cidade, que nada mais é que
um significante vazio. Nesse sentido, é que munida das balizas teóricas já expostas, descrevo
os movimentos dos blocos que já pude apreender no atual estado da pesquisa de qual resulta
este texto.
O recanto europeu sempre foi africano5 é o refrão de uma das canções que os
brincantes do Bloco da Laje entoam a plenos pulmões pelos espaços públicos de Porto
Alegre. A letra faz alusão ao lugar onde acontecem os ensaios públicos, localizado no Parque
Farroupilha - ou Redenção, cujo nome oficial é recanto europeu. A ideia da Laje ao chamar o
lugar de recanto africano é enfatizar a importância das contribuições que a população negra
trouxe para a construção da cidade, em um processo de ressignificação dos espaços públicos.
Quando começa a primavera, sempre no último domingo de cada mês, milhares de pessoas se
reúnem para acompanhar o bloco ensaiando, até a derradeira saída oficial. Mueller e Reyes
(2022) enfatizam também a dimensão performática e queer a partir da qual o Bloco da Laje
tem se colocado nas ruas. Contra qualquer tipo de discriminação e controle dos corpos, o
grupo faz ecoar as vozes de uma cidade mais plural e fluída, onde todos possam existir
conformes seus desejos.

5
Em 2019, o Bloco da Laje angariou recursos para a produção de álbum, com as canções já conhecidas de suas
saídas, por meio do edital Natura Musical, do qual faz parte a música Recanto Africano.
Figura 2 - Saída de 2020 do Bloco da Laje, no Viaduto dos Açorianos

Fonte: Página oficial do Bloco da Laje no Facebook

Lá vem gente vindo


Caminhando, rindo
De azul, vermelho de amor
Tem artista, vem gente da rua
Tem o Sol e a Lua como condutor
Lá vem gente vindo
Colorindo a rua
Fantasia, só se quer brincar
Só se quer pular Só se quer dançar
Só se quer achar-se na multidão.
(Lá Vem gente - Bloco da Laje)

O Bloco da Laje tem como um de seus pilares os cortejos itinerantes, sem que o trajeto
seja divulgado com antecedência. A ideia é colorir em todos os lugares possíveis uma cidade
que se mostra cada vez mais homogênea, e subverter com a alegria do carnaval a
normatividade que a lógica capitalista impõe à vida urbana. Corpos, purpurina, cores e o livre
exercício de se ser quem se é dão o tom da Laje pelas ruas. O isolamento social e a pandemia
de coronavírus impossibilitaram que acontecessem os encontros que o bloco promovia
durante o ano, tanto com os ensaios quanto com a saída oficial, no final de janeiro, e que abria
calendário de carnaval. Foram promovidas uma série de atividades virtuais, como oficinas e
lives, tudo em nome da segurança sanitária. Por enquanto, com o avanço da vacinação e com
a paulatina volta à "normalidade'', eles já organizaram uma festa privada e têm outra
programada para a primeira semana de outubro de 2022, ambas realizadas no galpão da Banda
Saldanha, um tradicional espaço dedicado ao samba. Pelas redes sociais do grupo é possível
antever a grande expectativa em relação ao carnaval de 2023, tanto por parte dos membros,
quanto dos brincantes, que seguidamente fazem menções constantes às memórias que já os
cortejos de carnaval já motivaram. A proximidade da primavera marca o início da ocupação
da cidade que a Laje promove, reivindicando a potência do estar junto para arquitetar os
espaços públicos sob o ritmo do carnaval.
Já a Turucutá Batucada Coletiva Independente carrega em seu nomes alguns dos
princípios que norteiam a atuação do grupo. Primeiro de tudo, a ênfase na dimensão coletiva
do que representa fazer carnaval, e sobretudo carnaval nas ruas, lugar que pertence a todos e
onde todos podem se juntar à multidão que se forma em torno da vibração dos instrumentos.
Os tamborins, agogôs, caixas, surdos e outros tantos instrumentos, tornam-se mecanismo de
elaboração de um modelo mais integrativo de cidade. Além do famigerado “arrastão”, a Turu
promove também oficinas de percussão, que todos os anos reúnem cerca de 100 interessados
em aprender e a cultivar o amor pelo carnaval. Elas são realizadas na quadra da escola
Imperadores do Samba, funcionando como um elo de conexão entre o carnaval das ruas e o
das escolas, que são manifestações complementares da herança de matriz afro-brasileira nas
cidades: “Blocos e escolas de samba são dois lados de uma moeda onde podem até ter uma
coroa meio apagada, mas a cara é sempre negra” (Oliveira, 2021: 80). O pesquisador e
membro da Turu, Oliveira (Ibid.) argumenta sobre o quão potente o carnaval e suas tradições
podem ser na evocação das territorialidades negras, ainda que para ele haja um processo de
embranquecimento do carnaval de rua. O desafio é, portanto, o de encontrar caminhos que
consagrem a rua como território da pluralidade, indo assim na contramão dos processos
históricos de apagamento da presença negra.
Figura 3 - Arrastão da Turucutá em 2020, no Centro Histórico

Fonte: Instagram oficial da Turucutá Batucada Coletiva Independente

“Carnaval é alegria, não mercadoria!” dizia uma faixa que cobria parte do carro som
no último arrastão da Turu, em 2020. Aí está presente outro pilar que o bloco traz em seu
nome: ele é independente, e se organiza fora das imposições do poder público e das empresas
privadas. Com seu carnaval livre e autônomo, a Turu insere-se em um processo de
fazer-cidade pautado pela gestão democrática dos espaços públicos, subvertendo as
imposições do modo capitalista de gerir a vida urbana através do reencantamento da festa. A
última saída do bloco aconteceu dois dias antes de o isolamento social ser decretado pelo
governo do estado. Para muitos, inclusive para mim, dia 14 de março de 2020 foi a última
experiência coletiva antes da pandemia. Assim como aconteceu com o Bloco da Laje, a Turu
aproveitou as possibilidades que as atividades virtuais, inclusive as tradicionais oficinas de
percussão, tinham a oferecer. Eles também já voltaram a organizar apresentações em festas
privadas. Seguem, no entanto, as altas expectativas em relação ao que acontecerá em 2023.
Entre os três blocos que coloco em questão, o Areal do Futuro foi o que mais esteve
presente nas ruas nos últimos tempos, mesmo durante a pandemia. Como comunidade
quilombola, a população do Areal da Baronesa teve prioridade na campanha de vacinação
contra a Covid-19, de modo que a partir da primavera de 2021 o bloco começou a organizar
os ensaios coletivos em preparação para a saída do ano seguinte. Fiquei sabendo dos ensaios
pelas redes sociais do grupo, e passei a observá-los de longe, ainda temendo as aglomerações
que o evento ocasionava. Pude ver crianças e adultos, pessoas pertencentes à comunidade e
fora dela, todos unidos pela percussão e pela vontade de estar juntos.

Figura 4 - Ensaio do Areal do Futuro, 2021

Fonte: Instagram oficial do Areal do Futuro

Os ensaios e a atuação do Areal do Futuro seguravam o estandarte da esperança em


relação ao carnaval de 2022. Com o avanço da variante ômicron do coronavírus, a Prefeitura
cancelou as festas na rua, e o grupo se viu envolto em polêmicas. Paulo era a favor da
realização formal das saídas dos blocos, o que não aconteceu. Porto Alegre completa 250 anos
em 2022, e a letra do samba-enredo que estava sendo ensaiado, reproduzido abaixo, é ao
mesmo tempo lembrança de carnavais e batuques passados e esperança naquilo que o carnaval
representa como possibilidade de futuro:

Oba ê, oba a, no enredo do meu samba do Areal eu vou falar


No Porto Alegre de outrora, tem uma outra história que segue junto
A vida da cidade era um alagadiço do Guaíba e do Dilúvio onde os
negros fundaram a sua comunidade
Então ali se proliferou a cultura e os costumes de além-mar que os
africanos trouxeram para cá
Tem batuque na Tiazinha, tem samba no Macalé
Marcelino foi campeão, o rei negro é rei Lelê
Oii....salve o grande craque Tesourinha
Olha quem vem lá, é Ariovaldo o solista
Cantando toda a glória do tempo que passou e que não voltará jamais
Hoje, como nos tempos de criança, ainda guardo na lembrança toda a
magia que a Baronesa tem
Vamos botar na avenida lembranças do Areal a fé nos garotos da orgia
nesse carnaval

A atuação do Areal se revela muito interessante no contexto geral do carnaval de rua


de Porto Alegre, pois além da organização própria, centrada na manutenção daquilo que é
tradicional do território quilombola, eles disseminam a importância do festejar como
dimensão política da vivência urbana. Eles atuam “materializando a tradição de ancestralidade
afro-brasileira e africana no território negro da capital gaúcha”, mas não só isso. Através da
potência dos seus tambores, o Areal do Futuro mostra como outra cidade é possível, mais
acolhedora e menos fragmentada.

Considerações finais

Neste trabalho, procurei demonstrar como as dimensões do direito à cidade podem ser
e são permeadas pela lógica dos encontros, das festas, do carnaval, do samba, em lugares em
que imperam as experiências coletivas. Os blocos de carnaval de rua de Porto, nesse sentido,
são propulsores de formas de apropriação da cidade que se estabelecem no compasso dos
instrumentos e das gentes, do colorido, e das fantasias.
Estamos diante, portanto, de um movimento de fazer-cidade que escapa à lógica
capitalista de controle dos corpos e de devoção ao trabalho, procurando o sentido da plenitude
da vida urbana através da celebração. Nas brechas do cotidiano, no fazer criativo e coletivo
dos sujeitos, são possíveis elaborações de uma cidade que contemple a todos, que incentive a
pluralidade e esteja aberta ao constante movimento de transformação.
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