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INTRODUÇÃO

Hoje vamos conhecer e entender se não o maior, um dos maiores desastres


ambientais já causado pelo homem, na qual, em poucas décadas transformou quase
na totalidade o que já foi o quarto maior lago de água salgada do mundo em um
gigantesco deserto.

O mar de Aral foi um enorme lago de água salgada localizado na região da


Ásia central, ele está entre o norte do Uzbequistão e o sul do Cazaquistão, região
que um dia também, fez parte da antiga União Soviética.

O lago era abastecido principalmente pelos rios Sir Daria e o Amu Daria além
de alguns outros afluentes.

Até 1960 chegou a ocupar cerca de 68 mil km², tamanho equivalente ao


estado da Paraíba, era o 4° maior lago de água salgada do mundo, atrás apenas
do Mar Cáspio, Lago Superior e o Lago Vitória.

Possuía uma fauna e flora bastante rica e proporcionava muitos hectares de


terra arável bem no meio de uma enorme região desértica que é a Ásia central.

Em boa parte do século passado, foi uma fonte de sustento para várias
milhares de famílias que além da agricultura, tiravam dali principalmente muitas
toneladas de peixes todos os anos, com sua forte indústria pesqueira, chegou até
a compor cerca de 1/6 de todos os peixes consumidos na União Soviética, além
de que exportavam seus produtos para o mundo todo.

O INÍCIO DO DECLÍNIO DO MAR DE ARAL

Depois de 1960, lentamente, ano após ano, ao longo de algumas décadas,


tudo aquilo que era belo e servia de sustento virou um verdadeiro pesadelo para todos
que dependiam direta ou indiretamente da existência do lago, o volume caiu para
cerca de 10% do original, e a salinidade aumentou drasticamente causando a
morte de quase todos os peixes, que no final, acabou trazendo fome, miséria e
doenças para a população local.

Diante de tal tragédia, importante se faz a pesquisa acerca dos motivos que
levaram para o declínio do mar de Aral.
Para começarmos a explicar como que um dos maiores lagos do mundo veio
a se desertificar, temos que voltar lá para o século passado haja vista que grandes
impactos ambientais não surgem do nada.

Como diz Carlos Drummond de Andrade, a natureza não faz milagres, mas sim
revelações. Revelações essas no caso em questão que mostram os impactos da
ganância do ser humano.

Toda história começa por meados de 1918, devido a grande necessidade de


aumentar a produção de alimentos, que surgiu no pós primeira guerra mundial, mas
também principalmente pelos audaciosos planos de expansão da plantação de
várias culturas como o arroz e o algodão, que era um produto bastante demandado
e valorizado na época, tinha até o apelido de Ouro Branco;

No entanto, tal plano carecia do mínimo de estudo técnico e preocupações


ambientais, haja vista que essas são culturas que demandam muita água para
produzir e a região era pouco adequada para isso, já que são terrenos áridos e
carecia de infraestrutura hidráulica.

Logo, o cenário escolhido obviamente não era o ideal, mas na época, pouco
se importava com o meio ambiente, o foco era totalmente econômico.

Assim, mesmo com a grande dificuldade de plantar algodão e arroz em


terrenos desérticos os engenheiros do governo Soviético começaram uma
intensa construção de canais de irrigação ainda em 1918, mas principalmente
durante e após as décadas de 40, 50 e 60, que no qual, pegavam as águas dos
principais rios que abasteciam o Mar de Aral e desviavam para as regiões das
plantações.

Novamente, cabe aqui sair da pesquisa e pensar logicamente, o Mar de Aral é


abastecido por dois principais rios, e sustenta toda uma região. Logo, fica claro que a
construção de tais canais iriam causar consequências na região.

Ainda cabe ressaltar o baixo conhecimento que tinham para construir canais
na época, e, assim, boa parte da água desviada era perdida em infiltrações e
evaporação, havendo então um grande desperdício, pois a água acabava não indo
nem para o lago e muito menos para as plantações, agravando ainda mais a situação.
No começo do desastre, a União Soviética foi questionada sobre o que estava
acontecendo com o lago, a sua resposta, foi que o mar de Aral estaria morrendo
naturalmente devido a fatores climáticos e geológicos.

Aqui podemos fazer uma reflexão, conforme vimos em nossas aulas de direito
ambiental, a preocupação com o meio ambiente por parte dos Estados só se deu a
partir de 1972, com a conferência de Estocolmo, e ainda assim, com muitas ressalvas.

Diante da época, é claro que o governo iria descartar quaisquer


preocupações com o meio ambiente, ainda mais quando a plantação era um
grande sucesso econômico.

PROJEÇÕES DE DIMINUIÇÃO AO LONGO DOS ANOS

Ainda assim, no início, o lago não sofreu muitas mudanças, mas conforme o
ritmo do uso da água e dos desvios foi ficando cada vez mais intenso, que começou
a acontecer por volta de 1960 em diante, no qual foi quando o governo Soviético
empreendeu um audacioso projeto de novos canais para irrigar as planícies
áridas do Uzbequistão, Cazaquistão e Turcomenistão, foram cerca de 500 km de
NOVOS CANAIS QUE TIRARIAM CERCA DE 1/3 DO FLUXO QUE IA PARA O
LAGO, e a partir daí foi quando o grande mar de Aral começou a realmente diminuir
consideravelmente o seu tamanho e volume, já que a quantidade de água desviada
chegou num nível tão grande que o pouco que chegava até ele não era mais
suficiente para mantê-lo totalmente abastecido.

No período de 1961 até 1970 seu nível chegou a abaixar numa média de 22
cm por ano, de 1971 a 1980 a média subiu para 58 cm ao ano e de 1981 até 1990 a
média subiu ainda mais, para 68 cm. Tais dados estatísticos podem melhor ser
analisados na tabela abaixo:

PERÍODO DIMINUIÇÃO DO NÍVEL DE ÁGUA POR ANO EM CM


1961 até 1970 22 cm por ano
1971 até 1980 58 cm ao ano
1981 até 1990 68 cm ao ano
Assim, conclui-se que dos anos 60, até os anos 2000 o crescimento do
volume de água desviada foi exponencial.

Além disso, a produção de algodão também cresceu no mesmo nível,


tornando a região do Uzbequistão o 3° maior exportador de algodão do mundo,
entretanto, apesar da irrigação ter feito realmente o deserto florescer, pelo outro lado,
como consequência a isso, foi devastado um mar inteiro.

RESUMO DOS FATORES DO DECLÍNIO

Muitos foram os motivos que devastaram o mar de aral: cálculos errados, falta
de planejamento ambiental, na verdade, uma total ausência de preocupação
ambiental, escolha errada de plantio, manutenção deficiente, sistemas de irrigação
ineficientes.

Todos esses fatores, entre outros, causaram um aumento constante na


quantidade de água retirada de rios e aquíferos que preservavam e abasteciam o
grande Aral.

CONSEQUÊNCIAS - DIVISÃO DO MAR EM NORTE E SUL

Em 1987 a redução da água estava tão grave que começou a aparecer bancos
de areia no que antes era água, e acabou separando o lago em duas partes, uma
pequena porção ao norte, chamado de Pequeno Aral ou simplesmente Aral do norte
e a outra parte maior, o Aral do Sul ou o Grande Aral.

Em apenas 40 anos, o lago que ocupava cerca de 68 mil km² e era o quarto
maior do mundo, acabou sobrando apenas 28,687 mil km² caindo para 8° posição.
Representando uma redução aproximada de 60%

Ainda assim, mesmo com a presença de redução alarmante, o desastre não


acabou com a virada do século, mas ao contrário, continuou e de forma intensa
depois do início do século 21, na qual diminuiu ainda mais os níveis, área e volume
do pouco que sobrou das suas águas.

A evaporação também começou a ficar cada vez mais acelerada, pois lagos
mais rasos são mais fáceis de aquecer; assim, o lago entrou em um loop negativo:
mais evaporação, menos profundidade; menos profundidade mais evaporação e,
dessa maneira em diante.
Conquanto, não se pode negar que houve tentativas singelas de correção
ao longo dos anos, como por exemplo em 2003 que o governo Cazaquistão
construiu barreiras que separou a porção norte da porção sul com intuito de
recuperar e aumentar o fluxo de água naquela parte, o que acabou apresentando
algum resultado, pois ainda hoje a maior parte remanescente está localizada no
Norte, que inicialmente representava a menor parte.

A triste notícia é que o Mar de Aral continuou secando o restante que sobrou,
principalmente, como mencionamos acima, a parte do Sul no Uzbequistão, que
devido a questões econômicas acabou sendo deixado de lado.

Como vocês podem acompanhar com as imagens, lá no ano 2000 o lago ainda
tinha um pouco de água, apesar de ser apenas uma pequena fração do que já tinha
sido em 1960.

Durante os próximos anos, suas águas continuaram diminuindo, restando


apenas no oeste e norte no fim de 2008, e mesmo sendo notório uma pequena porção
de água até 2013, volta a secar e reaparece timidamente próximo a dezembro de
2015, mas sem muito impacto no Aral, já que não houve um aumento considerável
ao longo dos próximos anos e não é nem de longe, o suficiente para tornar o lago, o
que já foi um dia.

ATUALMENTE – COLOCAR IMAGEM

Por fim, atualmente, do Aral inicial, apenas sobrou o norte, e uma pequena
parte no Aral do Sul, principalmente na região este, e até então ele passa por ciclos
que varia de ano para ano o seu volume de água.

CONCLUSÃO

Em resumo e de uma forma simplificada, todo esse desastre aconteceu graças


aos desvios principalmente dos importantes rios Sir Daria e Amu Daria, e claro, o uso
desenfreado da água sem levar em conta o mínimo necessário para a manutenção
do lago.

E mesmo com intervenções sob uma perspectiva de reverter o desastre, ainda


não houve resultados realmente consideráveis, pois há diversos obstáculos naturais,
econômicos e sociais que dificultam esse processo.
Junto com o processo da desertificação do lago vieram inúmeras
consequências negativas consequências para todos que ali viviam e ainda
vivem hoje.

A falta da disponibilidade de água potável acabou afetando severamente a


população local, já que o pouco que tinha sobrado estava muito poluído por
fertilizantes e agrotóxicos usados nas plantações, na qual a população passou a
compensar utilizando as águas dos aquíferos.

Devido ao pouco fluxo dos rios de água doce que o abasteciam junto com a
evaporação, houve um aumento drástico da salinidade, desencadeando a morte
de quase todos os peixes, arruinando a sua próspera indústria pesqueira, além
de que ACABOU COM CERCA DE 40% DA VEGETAÇÃO PRÓXIMA AO LAGO.

Ademais, em conjunto a isso vieram as tempestades de areia e sal, que


viajavam para muito longe atingindo grandes regiões agrícolas do Uzbequistão,
Quirguistão e Turcomenistão, afetando fortemente a produtividade de outras
regiões.

O impacto foi tão grande que não é mais possível nem mesmo cultivar a
agricultura de subsistência ao redor do lago, o que acabou levando a um êxodo
migratório para as regiões que tinham melhores condições, causando um
desequilíbrio demográfico.

Além do mais, o lago perdeu sua capacidade de regular o clima local,


diminuindo drasticamente a frequência das chuvas e tornando o inverno e verão
muito mais severos.

Dentre essas inúmeras consequências, doenças como Asma, Bronquite,


tuberculose, anemia, câncer linfático, de garganta e fígado, dispararam e
atormentaram a população local que passou a respirar o sal e os minerais
existentes na poeira, aumentando também a mortalidade infantil.

REFLEXÃO DIREITO AMBIENTAL COMO DIREITO FUNDAMENTAL E D.H.

Diante de tal barbaridade ambiental, encerramos a presente, com uma


reflexão. Tudo o que ocorreu com o Mar de Aral, surgiu com propósitos de
enriquecimento e melhoria na qualidade de vida e ocorreu o extremo oposto do que
se imaginava, ocasionando uma verdadeira tragédia.

Assim, em pleno século XXI, todos, como seres humanos, devemos aprender
com o passado. Um marco desse não pode ser deixado em esquecimento.

À luz de uma sociedade internacional e globalizada precisamos reconhecer a


profunda conexão entre o direito ambiental, os direitos humanos e a dignidade da
pessoa humana. As tragédias ambientais, como no caso em tela, longe de serem
eventos isolados, transcendem fronteiras e afetam a todos, evidenciando a
necessidade de uma abordagem holística que priorize a proteção do meio ambiente
como um direito fundamental.

Compreender o direito ambiental como um pilar dos direitos humanos


significa reconhecer que um meio ambiente saudável é essencial para a vida digna
e o pleno desenvolvimento de cada indivíduo. A poluição, a degradação dos recursos
naturais e as mudanças climáticas, por exemplo, impactam diretamente a saúde, o
acesso à água potável, à alimentação e à moradia, violando direitos básicos e
colocando em risco a vida de milhões de pessoas, como comprovado neste caso
concreto.

Portanto, defender o direito ambiental não se trata apenas de proteger


florestas ou animais, mas sim de garantir a dignidade da pessoa humana e a
construção de um futuro mais justo e sustentável para todos. A proteção ambiental
deve ser vista como um investimento na vida, na saúde e no bem-estar das pessoas,
assegurando um planeta habitável para as presentes e futuras gerações.

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