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Plano do caderno
A unidade curricular de História Económica e Empresarial tem 6 unidades de crédito e faz parte
do conjunto das unidades curriculares obrigatórias de todas as licenciaturas do ISEG. A docência
desta unidade curricular é assegurada pela Área Científica de História do Departamento de Ciências
Sociais.
1.1. Objetivos
1
História Económica e Empresarial Ano letivo 2020-2021 Caderno
1.2. Tema
1.3. Programa
2
História Económica e Empresarial Ano letivo 2020-2021 Caderno
1.4. Bibliografia
Bibliografia fundamental
Ana Bela Nunes e Nuno Valério. História Económica e Empresarial. Lisboa: Presença, 2015.
Texto 4 – Charles H. Feinstein; Peter Temin; Gianni Toniolo. “Epílogo: o passado e o presente”.
(Tradução de: “Epilogue: the past and the present”. In The European Economy Between the Wars.
Oxford: Oxford University Press, 1997, pp. 187-204).
Bibliografia complementar
Baten, Yoerg (organizador). A history of the global economy - 1500 to the present. Cambridge:
Cambridge University Press, 2016.
Gerschenkron, Alexander. Economic backwardness in historical perspective. Cambridge
(Mass.): The Belknap Press of Harvard, 1966.
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História Económica e Empresarial Ano letivo 2020-2021 Caderno
Kuznets, Simon. The Modern Economic Growth: Rate, Structure and Spread. New Haven: Yale
University Press, 1966.
Kuznets, Simon. Economic growth of nations. Cambridge (MA): Belknap Press of Harvard,
1971.
North, Douglass e Thomas, Robert P. The rise of the western world. A new economic history.
Cambridge: Cambridge University Press, 1973.
Nunes, Ana Bela e Valério, Nuno. O crescimento económico moderno – introdução a uma
história da economia mundial contemporânea. Lisboa: Presença, 2004 (2.ª edição).
Persson, Karl Gunnar; Sharp, Paul. An Economic History of Europe: Knowledge, Institutions
and Growth, 600 to the Present (New Approaches to Economic and Social History). Cambridge:
Cambridge University Press, 2015 (2nd edition).
Piketty, Thomas. Le capital au XXI siècle, Paris: Editions de Seuil, 2013. Tradução em
português: O capital no século XXI. Lisboa: Círculo de Leitores, 2014.
Rostow, Walt. The stages of economic growth – a non-communist manifesto. Cambridge
University Press, Cambridge, 1960. Tradução em português: Etapas do crescimento económico.
Zahar, Rio de Janeiro, 1966.
Aldcroft, Derek. From Versailles to Wall Street (1919-1929). Hammondsworth: Penguin, 1987
Aldcroft, Derek; Morewood, S.. Economic change in Eastern Europe since 1918. Aldershot:
Edward Elgar, 1995.
Baten, Joerg (organizador). A History of the Global Economy. Cambridge: Cambridge University
Press, 2016.
Berend, Ivan T. An economic history of the twenty-century Europe. Cambridge: Cambridge
University Press, 2006.
Cameron, Rondo. A Concise Economic History of the World. New York: Oxford University
Press, 1989.
Crafts, Nicholas; e Toniolo, Gianni (organizadores). Economic growth in Europe since 1945.
Cambridge: Cambridge University Press, 1996.
Eichengreen, Barry (organizador). The reconstruction of the international economy, 1945-1960.
Cheltenham: Edward Elgar, 1996.
Eichengreen, Barry. Globalizing capital. A history of the International monetary system.
Princeton, Princeton University Press, 2008 (2nd edition). Tradução em português: A globalização do
capital. Uma história do sistema monetário internacional. Lisboa: Bizâncio, 1999.
Feinstein, Charles H.; Temin, Peter; Toniolo, Gianni, The European Economy Between the
Wars. Oxford: Oxford University Press, 1997.
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Foreman-Peck, James. A History of the World Economy. International economic relations since
1850. New York: Harvester Wheatsheaf, 1995.
Freeman, Christopher; Louçã, Francisco. As time goes by – from industrial revolutions to the
information revolution. Oxford and New York: Oxford University Press, 2001. Tradução em português:
Ciclos e crises no capitalismo global. Das revoluções industriais à revolução da informação. Porto:
Edições Afrontamento, 2003.
Graph, Michael; Lougheed, A. L.; Kenwood, A. G.. The growth of the international economy –
1820-2015. London, New York: Routledge, 2013.
Hardach, Gerd. The first world war 1914-1918. Hammondsworth: Penguin, 1987.
Hobsbawm, E. J.. The age of empire: 1875-1914. New York: Vintage Books, 1989.
Hobsbawm, E. J.. The age of extremes: a history of the world. 1914-1991. New York: Vintage
Books. Tradução em português: A era dos extremos. Lisboa: Presença, 1996.
Hobsbawm, E. J.. The age of Revolution: 1789-1848. New York: Vintage Books, 1996.
Tradução em português: A era das revoluções. Lisboa: Presença, 1996.
Hobsbawm, E. J.. The age of capital: 1848-1875. New York: Vintage Books, 1996.
Kennedy, Paul, The rise and fall of the great powers. New York: Random Books, 1987.
Kindleberger, Charles. The world in depression 1929-1939. Hammondsworth: Penguin, 1987.
Maddison, Angus. Dynamic forces in capitalist development – a long run comparative view.
Oxford: Oxford University Press, 1991.
Maddison, Angus. The world economy: a millennial perspective. Paris: OECD, 2001.
Milanovic, Branko. Global inequality. A new approach for the age of globalization . Cambridge
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História Económica e Empresarial Ano letivo 2020-2021 Caderno
Besanko, D.; Dranove, D.; Shanley, M.; Schaefer, S.. The economics of strategy. New York:
John Wiley, 2003. Tradução em português: A economia da estratégia. Porto Alegre: Bookman, 2012.
Boyce, Gordon e Ville, Simon. The development of modern business. London: Palgrave, 2002.
Chandler Jr., Alfred. The visible hand. The managerial revolution in American business.
Cambridge (Mass.): The Belknap Press, 1977.
Chandler Jr., Alfred, et alii (organizadores). Big business and the wealth of nations. Cambridge:
Cambrigde University Press 1997.
Chandler Jr, Alfred. Scale and scope. The dynamics of industrial capitalism. Cambridge (Mass.):
The Belknap Press/ Harvard University Press, 1990 (1st edition).
Chandler Jr., Alfred D.. “The emergence of Managerial Capitalism”, Business History Review,
58, 1984.
Chandler Jr, Alfred D.; Daems, Herman (organizadores). Managerial hierarchies: comparative
perspectives on the rise of the modern industrial enterprise. Cambridge: Harvard University Press,
1980. Tradução em português: Hierarquias de gestão. Lisboa: Celta Editora, 1994.
Egnell, Erik; Peissik, Michel. URSS — L’entreprise face à l’Etat. Paris: Ed. Du Seuil, 1974.
Hertner, Peter; Jones, Geoffrey. Multinationals: theory and history. Aldershot: Gower Publishing
Co, 1986.
Hirschhausen, Cristian von. Du combinat socialiste a l’entreprise capitaliste. Paris: L’Harmattan,
1996.
Jones, Geoffrey. Multinationals and Global Capitalism. From the nineteenth to the twenty-first
century. Oxford: Oxford University Press, 2005.
Jones, Geoffrey; Zeitlin, Jonathan (organizadores). The Oxford handbook of business history.
Oxford: Oxford University Press, 2009.
Jones, Geoffrey; Friedman, Walter A.. The rise of the modern firm. Edward Elgar, 2011.
Piore, Michael; Sabel, Charles. The second industrial divide. New York, Basic Books, 1981.
Porter, Glenn. The rise of big business 1860-1920. Chichester: John Wiley and Sons Ltd, 2006.
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História Económica e Empresarial Ano letivo 2020-2021 Caderno
3. Equipa docente
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História Económica e Empresarial Ano letivo 2020-2021 Caderno
Texto 1
Simon Kuznets
Objetivo do estudo
O estudo sumariado nos capítulos precedentes foi planeado com uma hipótese orientadora: a
de que o crescimento económico moderno, uma vez identificado, mostraria ser um conjunto de
fenómenos económicos de longo prazo significativo, ordenado e distinto. Seria significativo por ter
dominado as transformações económicas de longo prazo num certo número de sociedades e por ter
afetado a maior parte da humanidade. Seria ordenado por algumas das suas características
observáveis e reveladoras serem comuns aos estados-nações identificados como desenvolvidos; por
essas características comuns estarem interrelacionadas em termos de associações analiticamente
plausíveis entre variados aspetos do comportamento económico e social; e por o seu alastramento
internacional apresentar uma sequência inteligível. Seria distinto por a combinação de características
comuns e talvez a sequência do alastramento diferirem significativamente da experiência pretérita de
modo a que o crescimento económico moderno possa ser estudado como distinto e separado do dos
tempos pré-modernos. A hipótese de que uma fonte comum de crescimento e um conjunto comum de
fatores típicos determinaram tais tendências de crescimento, espalhadas significativamente,
relacionadas sistematicamente e distintas, conduziu aos conceitos de época económica e inovação
epocal e ao uso da expressão “crescimento económico moderno” para descrever a época atual de
aplicação alargada da ciência aos processos de produção e organização social – tópicos com que
começámos a discussão do capítulo I.
De modo a especificar o âmbito das nossas observações empíricas, identificámos como
crescimento económico moderno as tendências seculares nos países “desenvolvidos” durante um
período suficientemente longo (digamos cinco décadas) e recuando tão longe quanto possível até à
data em que a mudança das tendências pré-modernas começou (pela primeira vez na Inglaterra nos
finais do século XVIII). Além disso, os países “desenvolvidos” foram identificados, com algumas
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História Económica e Empresarial Ano letivo 2020-2021 Caderno
exceções, como nações politicamente independentes possuindo os mais altos produtos per capita e
abrangendo, de facto, um sétimo a um quarto da população mundial. A justificação subjacente é a de
que tais níveis de produto per capita só podem ter sido alcançados através de décadas de elevadas
taxas de crescimento, que caracterizam o crescimento económico moderno e que,
consequentemente, os países de elevado produto per capita tiveram de conseguir embrenhar-se
nesse processo de crescimento. Ao identificar o crescimento económico moderno com altas taxas
sustentadas de crescimento do produto per capita afirmámos implicitamente que tais taxas são uma
característica comum do crescimento económico moderno. A circularidade desta sequência –
evidente na parte das definições de qualquer estudo – só seria vazia se tivéssemos descoberto que
as altas taxas de crescimento do produto per capita eram a única característica comum – pois então
teríamos apenas descoberto o que introduzíramos. De facto, e é este o cerne de muita da discussão
dos capítulos precedentes, descobrimos uma variedade de características associadas, que sugerem
não apenas as consequências importantes das altas taxas de crescimento do produto per capita, mas
também o mecanismo pelo qual essas taxas foram conseguidas, sustentadas ou impedidas.
Mas antes de nos voltarmos para estas características associadas, devemos notar que três
tipos de países – com altos produtos per capita – foram excluídos do grupo de países
“desenvolvidos”, tal como foi definido acima; exceções que limitam o âmbito das observações
empíricas. O primeiro é o dos países abaixo de uma dimensão mínima (geralmente com população
inferior a 1 milhão de pessoas). Tais nações foram excluídas na base de que, embora politicamente
soberanas, podem estar demasiado na órbita de países maiores para apresentarem um crescimento
económico independente. O segundo é o dos países, geralmente pequenos, cujo alto produto per
capita é devido à excecional dotação de algum recurso natural tal como o petróleo. Tais nações foram
excluídas por o alto produto per capita ter pouco a ver com taxas de crescimento precedentes, que
transformassem a economia e a sociedade durante um longo período. Finalmente, excluímos, exceto
quanto a referências casuais, os países comunistas, por todas as suas instituições económicas e
sociais serem demasiado diferentes e os seus começos demasiado recentes, para permitirem a sua
inclusão com o propósito de testar as características comuns ao crescimento económico moderno e a
ele associadas.
Cada uma destas exclusões reflete problemas na generalização e análise que vão muito além
dos critérios específicos empregues: o crescimento económico de uma nação politicamente
independente com uma população muito superior a 1 milhão de pessoas e, na verdade, de qualquer
dimensão, pode não ser independente; as dotações em recursos naturais podem afetar o crescimento
económico moderno em qualquer parte, favoravelmente, fazendo subir o produto per capita, ou
adversamente, mantendo-o baixo (como pode ter sido o caso do Japão); e podemos apontar vários
países desenvolvidos não comunistas cujas instituições sociais e políticas foram bem distintas e
diferentes no passado. Mas se fossemos limitar o universo dos países desenvolvidos aos mais
idênticos em dimensão, dotação em recursos naturais e instituições sociais, poderíamos ficar
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História Económica e Empresarial Ano letivo 2020-2021 Caderno
reduzidos ao estudo de um único país; e mesmo que houvesse várias unidades das quais
pudéssemos deduzir características gerais, as generalizações poderiam ser de pouco valor
precisamente porque a diversidade das condições significativas havia sido demasiado reduzida.
Para o grupo de países desenvolvidos que restou – a maior parte da Europa Ocidental, do
Norte e Central; os prolongamentos ultramarinos europeus, tais como os Estados Unidos, o Canadá e
a Austrália; e o Japão – demos ênfase às características quantitativas do crescimento económico.
Esta ênfase limitou a nossa análise por duas razões: primeiro, para alguns destes países (por
exemplo, os Países Baixos, a Suiça, a Bélgica e mesmo a França) os registos económicos de longo
prazo são relativamente escassos; e segundo, alguns aspetos importantes do crescimento, por
exemplo, a acumulação de conhecimentos úteis e a taxa de transformação tecnológica não se
prestam a aferições quantitativas – pelo menos no momento atual. De qualquer modo, pareceu
importante sublinhar dados testáveis, quantitativos, sobre aspetos básicos do que é essencialmente
um processo de mudança quantitativa – mesmo se as quantidades estão, como sempre, ligadas a
aspetos qualitativamente diferentes e significativamente distintos da atividade económica e natureza
dos seus resultados.
Ao fazer a lista das características comuns do crescimento económico moderno reveladas
pelos registos de longo prazo para os países desenvolvidos, devemos ser seletivos mais do que
completos. Mais do que apresentar um sumário completo do que é já uma discussão sumária, nos
capítulos precedentes, de elementos mais pormenorizados apresentados em outros lugares,
sentimos que seria mais útil selecionar algumas características principais, particularmente aquelas
que parecem ter as implicações mais alargadas e gerais. O seu rol é apresentado abaixo, seguindo a
ordem geral dos capítulos 2 a 9, dos aspetos agregados do crescimento económico moderno, aos
estruturais e depois aos internacionais.
1. As altas taxas de crescimento do produto per capita (indo de menos 15 a cerca de 30% por
década) características do crescimento económico moderno foram acompanhadas na maioria dos
países desenvolvidos por elevadas taxas de crescimento da população – acercando-se de 10% por
década, e muito superiores às dos séculos pré-modernos. Isto tem significado taxas de crescimento
do produto agregado, que variam de 20 a 50% por década, um enorme crescimento da produção total
nos países desenvolvidos e uma multiplicidade de consequências do elevado crescimento
populacional, indo desde pressões sobre os recursos naturais às dimensões relativas das sucessivas
gerações e aos largos diferenciais nas taxas de crescimento natural dos vários grupos económico-
sociais. As descobertas sobre as taxas, estruturas e mecanismos do crescimento económico
moderno deduzidas de registos passados são sobretudo para países com altas taxas de crescimento
da população; e a sua relação com essas descobertas tem de ser reconhecida e de preferência
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distinguida – se as conclusões são para aplicar a outros países, onde os padrões de crescimento
populacional podem ser bem diferentes.
2. Uma taxa de 15% por década (o que significa quadruplicar num século) produziu uma subida
no produto per capita que é demasiado alta para ser explicada, exceto em pequena parte, por
subidas nas utilizações de recursos por pessoa. A utilização de homens / hora por pessoa apenas
pode ter subido ligeiramente, se é que subiu, dado que os dias e semanas de trabalho típicos nos
países hoje desenvolvidos eram longos antes da modernização e a proporção da força de trabalho
total na população total estava sujeita a limitação de idade e sexo. A utilização de capital por pessoa
da população total pode e deve ter subido muito mais do que a de homens-hora por pessoa, mas a
sua contribuição para o crescimento do produto foi limitada pelo peso moderado dos rendimentos do
capital no rendimento total. Os escassos dados disponíveis sugerem que as subidas nas utilizações
de homens-hora e capital físico por pessoa em conjunto, explicam menos de 1/5 da subida secular da
produção per capita e uma fração ainda decrescente nas décadas recentes. O crescimento
económico moderno distingue-se pelo facto de a taxa de crescimento do produto per capita ser
sobretudo devida a melhoramentos na qualidade e não na quantidade dos fatores produtivos –
essencialmente à maior eficiência ou produto por unidade simples de fator, imputável ao alargamento
dos conhecimentos úteis e à melhor organização institucional para a sua utilização.
3. A alta taxa de crescimento da eficiência referida no ponto 2 foi generalizada, caracterizando
todos os principais setores das economias desenvolvidas. Se o crescimento do produto por unidade
de fator foi menor na agricultura do que na indústria, foi ainda tão grande, comparado com o dos
tempos pré-modernos, que podemos falar de uma revolução agrícola, a par de uma revolução
industrial. A subida na capacidade e eficiência dos transportes e comunicações foi ainda mais
chocante. E, se os nossos cálculos sugerem que o produto por unidade nos serviços propriamente
ditos (comércio, serviços pessoais, governo) têm subido menos do que na produção de mercadorias
e transportes, isso pode ser em parte um reflexo das dificuldades em medir a produção em tais
serviços e de eventualmente se subestimar essa produção. O poderoso efeito da tecnologia e de
mudanças organizacionais na eficiência em todos os setores é significativo porque implica que todos
os componentes da economia e da sociedade foram afetados e pressionados para alterarem as suas
organizações institucionais e porque em combinação com outros fatores mencionados abaixo, essas
tendências na eficiência servem para explicar a rápida mudança na estrutura, não apenas do produto,
mas também dos fatores produtivos em particular do trabalho.
4. As tendências na origem setorial do produto agregado que geralmente acompanham o
crescimento económico moderno são entre outras: o declínio do peso da agricultura e atividades
conexas; as subidas do peso das indústrias transformadoras e serviços públicos; a mudança dentro
das transformadoras dos produtos menos duráveis para os mais duráveis e, em certa medida, dos
bens do consumo para os de produção; as subidas no peso de alguns grupos de serviços (pessoais,
profissões liberais, governo) e o declínio no peso de outros (domésticos). Estas são bem conhecidas
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História Económica e Empresarial Ano letivo 2020-2021 Caderno
e o seu aspeto principal é reconhecido no termo “industrialização”, muitas vezes usado como
sinónimo de crescimento económico moderno; mas é o efeito da combinação destas mudanças na
origem setorial do produto agregado com as tendências na eficiência dentro dos vários setores,
referida no ponto 3 que deve aqui ser sublinhada. Esta combinação produziu mudanças nítidas na
distribuição setorial na força de trabalho: um declínio um pouco maior no peso da agricultura e
atividades conexas, uma subida um pouco menor no peso da indústria e uma subida clara no peso
dos serviços (cujo peso no produto apresentou tendências algo mistas). Estas mudanças na estrutura
setorial do trabalho (houve também mudanças na distribuição do capital entre os setores, mas
sabemos menos sobre elas) são importantes por significarem mudanças nas condições de vida e
trabalho da população, afetando a utilização do rendimento e outras ligações no mecanismo do
crescimento económico.
5. As tendências na distribuição setorial do produto agregado acima referidas refletem
mudanças na estrutura da procura final, que por sua vez se devem ao aumento do produto per capita
(com diferentes elasticidades procura-rendimento) ou às alterações tecnológicas, que não afetam
todos os tipos de bens finais ao mesmo ritmo. Para além disso, as tendências para cada país refletem
ainda mudanças nas oportunidades de exportação e importação, por sua vez devidas a alterações
nos custos de transporte, inclusão de novos países na rede do comércio mundial, impactos
diferenciados das mudanças tecnológicas nas vantagens comparativas e assim por diante. O ponto
importante a sublinhar aqui é que uma alta taxa de crescimento do produto per capita provoca uma
alteração rápida na estrutura da procura final – quer seja devida a elasticidades procura-rendimento
persistentes, quer a mudanças tecnológicas; e que os fatores que induzem a alta taxa de crescimento
do produto per capita provocam geralmente uma maior taxa de expansão do comércio externo e
alterações na divisão internacional do trabalho (exceto, naturalmente sob a autarcia comunista).
Assim, o crescimento económico moderno é caracterizado por alterações rápidas na estrutura setorial
do produto e consequentemente por alterações rápidas das frações da mão de obra ligadas aos
vários setores no país – alterações estas muito maiores do que as que parecem ter existido nos
séculos pré-modernos.
6. Uma alteração igualmente rápida ocorreu na distribuição do produto agregado e da força de
trabalho (e provavelmente do capital) por unidades económicas classificadas por tamanho e tipo –
indo das pequenas firmas individuais por conta própria às grandes sociedades anónimas e ao
governo. A perda de peso da agricultura – setor que dominava as economias pré-modernas –
traduziu-se numa redução acentuada do peso das pequenas empresas por conta própria no produto
agregado, e de empresários individuais e trabalhadores por conta própria na força de trabalho. E
estas mudanças intersetoriais foram acompanhadas pelo crescimento da dimensão das empresas e
mudanças no tipo de organização dentro de setores tais como o das indústrias transformadoras e do
comércio – da pequena empresa não societária à grande unidade sob a forma de sociedade. Com as
rápidas alterações na estrutura industrial e a rápida mudança na tecnologia, houve também rápidas
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História Económica e Empresarial Ano letivo 2020-2021 Caderno
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História Económica e Empresarial Ano letivo 2020-2021 Caderno
8. Enquanto rápidas alterações caracterizaram a estrutura do produto nacional por setor e tipo
de empresa e as afetações com elas muito relacionadas, da força de trabalho e da população, em
alguns aspetos da estrutura económica, as tendências associadas ao crescimento económico
moderno foram muito menos pronunciadas. Isto parece ser particularmente verdade para o que
podemos chamar os aspetos de distribuição. Se pudéssemos estabelecer uma distribuição
inequívoca do rendimento por fatores entre capital e trabalho (o que necessitaria da distribuição de
categorias “mistas” tais como os rendimentos empresariais), ela indicaria, provavelmente, tendências
bastante limitadas – as quais, dada a taxa de crescimento do capital material ser mais elevada que a
do trabalho, significaria um declínio marcado da taxa de remuneração do capital comparada com a do
trabalho (sem contarmos com o maior investimento no segundo). As tendências na distribuição do
rendimento por níveis também não foram sensíveis, pelo menos relativamente ao nível de
transformação observado na distribuição do produto e dos fatores por setores. Para sermos exatos,
nas décadas mais recentes, a distribuição dos rendimentos por níveis tendeu, nos países mais
desenvolvidos, para um estreitamento das desigualdades – menores parcelas para os grupos de altos
rendimentos e maiores para os de menores rendimentos. Mas, estas alterações foram relativamente
moderadas; e é bastante significativo que existam pobres apesar da subida impressionante e
sustentada no produto per capita, que tem caracterizado o crescimento económico moderno – se bem
que o padrão pelo qual esta categoria é medida também tenha vindo a subir em termos absolutos.
Contudo, num aspeto esta sensação de lentidão nas tendências de longo prazo, no que
respeita à distribuição dos rendimentos por níveis, pode ser enganadora – pelo menos ao comparar o
crescimento económico moderno com as épocas anteriores. A taxa de mobilidade intergrupos, as
alterações da identidade nos grupos de maiores e menores rendimentos devem ter sido muito
maiores na época do crescimento económico moderno do que em séculos mais recuados. Com as
rápidas alterações intersetoriais e interocupacionais e com as novas indústrias e ocupações a
representarem as maiores fontes de rendimentos elevados, os empresários inovadores ligados a
estes novos setores e ocupações não eram provavelmente os ligados às atividades anteriormente
estabelecidas.
9. Outro aspeto da estrutura económica em que a tendência tem sido moderada é a afetação
do produto por utilização, particularmente entre formação de capital e consumo. Para sermos exatos
a proporção da formação bruta de capital (no produto nacional) subiu cerca de 10 para cerca de 20%
e a da formação líquida de capital provavelmente de 5% ou menos para valores entre 10 e 15%. Mas
apesar da enorme subida no volume de capital reprodutível per capita ou por trabalhador, o consumo
ainda forma a esmagadora maioria do produto nacional bruto e líquido. E enquanto houve
transformações nítidas dentro da formação de capital (da formação de existências e construção para
os bens de produção) e do consumo (com uma subida da parte do consumo público por um lado e
alterações no consumo das famílias no sentido da menor ponderação da alimentação e vestuário a
favor dos bens duradouros e serviços de educação, saúde e recreativos), as necessidades do
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crescimento económico moderno em capital material foram moderadas, representando uma fração
relativamente modesta do produto total e subindo apenas alguns pontos de percentagem no longo
prazo. Esta mudança ligeira é compatível e está ligada a outras tendências que caracterizam o
crescimento económico moderno, especificamente a alta taxa de crescimento na eficiência e as
rápidas alterações na estrutura ocupacional e setorial. Por causa destas alterações na estrutura a
proporção do consumo no produto total permaneceu elevada – resultante em parte da urbanização,
em parte das mudanças tecnológicas que criaram procura para novos bens de consumo e em parte
da maior necessidade em tipos de despesa de consumo quase capital (educação, saúde, etc.). E
devido às modestas proporções da formação de capital, combinadas com uma alta taxa de
transformações tecnológicas a proporção do crescimento do uso de capital per capita no crescimento
do produto per capita manteve-se baixa.
10. Os aspetos internacionais do crescimento económico são caracterizados por três
tendências proeminentes. Primeiro, a revolução tecnológica nos transportes e comunicações facilitou
os contactos entre as várias partes do mundo, particularmente entre os países desenvolvidos e os
restantes – em termos de efectiva facilidade pela primeira vez na história das sociedades humanas; a
partir dos finais do século XIX, as condições eram portanto, radicalmente diferentes das dos séculos
pré-modernos. Segundo, o crescimento económico moderno alastrou sequencialmente dos seus
começos pioneiros na Inglaterra do século XVIII para vários países seguidores, com o escalonamento
das entradas continuando até às décadas mais recentes do século XX e presumivelmente para o
futuro. Terceiro, até à entrada do Japão no final do século XIX, seguida pela da URSS nos anos
trinta, o crescimento económico moderno esteve concentrado em países europeus ou nos seus
prolongamentos ultramarinos, cujos rendimentos per capita estavam bem acima da média, mesmo
antes da industrialização, e certamente muito acima dos rendimento dos países da África e da Ásia.
Estes três aspetos da modernização económica, conjuntamente com as altas taxas de crescimento
agregado e as alterações na estrutura económica interna, já referidas acima, levaram a uma
variedade de tendências associadas aos aspetos internacionais do processo de crescimento moderno
observadas entre países desenvolvidos e nas suas relações com as partes subdesenvolvidas do
mundo.
11. Os movimentos internacionais de homens, bens e capitais mantiveram-se a níveis elevados
desde o segundo quartel do século XIX até à Primeira Guerra Mundial. Os fluxos migratórios foram
particularmente importantes para os prolongamentos ultramarinos da Europa – na América do Norte,
Oceânia e alguns países Latino-Americanos (tais como a Argentina e o Uruguai) – por muito úteis que
possam ter sido para os países de origem como válvula de segurança nos períodos de pressão da
população sobre a terra e nas primeiras fases da industrialização. Estas diferenças entre os países
de origem e destino das migrações internacionais – numa resposta relativamente livre às pressões
económicas – resultaram em taxas de crescimento agregado muito maiores nos países jovens e
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“vazios” do ultramar, tal como noutras diferenças nas características do crescimento económico entre
os países velhos e os novos.
12. Graças ao rápido crescimento do volume de bens no comércio externo entre 1820 e a
Primeira Guerra Mundial, as proporções do comércio externo no produto agregado subiram
significativamente durante este quase um século – tanto nos países desenvolvidos, como no cada
vez maior número de países subdesenvolvidos trazidos para a rede do comércio mundial. O único
grupo que não mostrou subidas significativas nas proporções do comércio externo foi o dos jovens
países do Ultramar – Canadá, Austrália, EUA (e possivelmente outros) – ainda que mesmo nestes os
declínios datem do tempo em que eram provavelmente pequenos entrepostos comerciais das suas
metrópoles europeias, com proporções relativamente altas. Assim, até 1913, uma lei de “subida” mais
do que de “queda” do peso do comércio externo no produto agregado parece ter existido.
13. Paralelamente à expansão do comércio externo, e refletindo o estreitar dos laços dos
velhos países desenvolvidos com os seus prolongamentos e colónias no Ultramar e o uso dos
empréstimos de capitais para fins políticos, os fluxos de investimentos estrangeiros também
cresceram rapidamente desde o segundo quartel do século XIX até à Primeira Guerra Mundial.
Quantitativamente o volume foi limitado e as proporções na formação interna de capital apenas eram
substanciais nos pequenos países desenvolvidos que estavam intimamente ligados a algum dos
maiores países credores, desenvolvidos, do mundo (por exemplo, Canadá e Argentina em relação à
Grã-Bretanha). Mas dado o volume limitado e o elemento político na sua canalização, os fluxos
internacionais de fundos cresceram proporcionalmente e estavam no seu auge nas vésperas da
Primeira Guerra Mundial.
14. A Primeira Guerra Mundial trouxe uma mudança radical nos fluxos internacionais de
homens, bens e capitais – facto que não é evidente nas taxas de crescimento agregado e nas
tendências das estruturas internas das economias desenvolvidas. As duas guerras mundiais, a
importante depressão mundial dos anos 30 (que refletiu o falhanço na adaptação ao após guerra) e o
aparecimento dos regimes comunistas hostis aos países economicamente desenvolvidos não podiam
deixar de causar esta mudança adversa nos fluxos internacionais. O impacto nas migrações
internacionais foi particularmente marcado e nunca elas retomaram níveis que se aproximassem
sequer das proporções anteriores à Primeira Guerra Mundial. Quase tão chocante foi o efeito nos
fluxos internacionais de capital orientados economicamente, excluindo empréstimos e donativos com
motivações políticas. E apesar dos grandes e continuados progressos nos transportes e
comunicações, mesmo as proporções de comércio externo no produto agregado mal retomaram os
níveis atingidos nas vésperas da Primeira Guerra Mundial; e não mostram certamente as tendências
ascendentes do século XIX e princípios do século XX.
15. A expansão dos volumes e proporções dos fluxos internacionais de homens, bens e
capitais antes da Primeira Guerra Mundial foi eventualmente devida aos mesmos fatores e forças que
foram responsáveis pelas altas taxas de crescimento agregado e pelas rápidas alterações da
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estrutura interna, características do crescimento económico moderno; e, nesse sentido, todos estes
aspetos do crescimento económico estão interligados. Mas é controversa, e mesmo intrigante, a
questão de saber se as guerras mundiais do século XX e o profundo fosso mundial resultante do
aparecimento dos estados comunistas são também consequências das mesmas forças e, portanto,
consequências muito prováveis, senão inevitáveis, do crescimento económico moderno.
Independentemente da resposta à pergunta, as tendências relevantes no crescimento económico são
claramente resultado do seu alastramento sequencial, do alto nível de crescimento agregado e das
rápidas alterações na estrutura interna. O alastramento sucessivo, em vez do aparecimento
simultâneo, significou diferenças nas taxas de crescimento agregado entre países que vieram a
tornar-se desenvolvidos, e com maior razão entre esses e as áreas subdesenvolvidas do mundo. As
altas taxas de crescimento agregado significaram que as diferenças absolutas nas taxas de
crescimento foram grandes, mesmo entre países desenvolvidos, e portanto rapidamente se
traduziram em alterações marcadas no poder económico e político relativo entre as nações – situação
que normalmente provoca tensões e conflitos internacionais. A rápida alteração no interior dos países
desenvolvidos dos papéis e peso na economia dos grupos populacionais pode ter provocado tensões
internas; e em combinação com o enfraquecer dos laços religiosos, familiares e locais pode ter levado
a um nacionalismo bem mais vigoroso como base do indispensável consenso, e pode assim ter
produzido um clima favorável ao conflito internacional. Assim, o alastrar do crescimento económico
moderno a um certo número de grandes países desenvolvidos constituiu uma condição necessária,
se não mesmo suficiente, para as guerras mundiais e para a consciência do peso do atraso que
forçou os poderosos governos centrais a tomarem uma parte mais ativa no desencadear da
modernização económica.
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sonhos foram-nos revelados pela tecnologia moderna, cujos produtos – seja a abundância de bens
alimentares, os automóveis, ou os aparelhos de televisão – agradam à maioria das pessoas que
entram em contacto com eles.
As associações entre características comuns do crescimento económico moderno não são
também inesperadas. Porque, se algumas delas se relacionam com a produção e outras com o
consumo, o homem é simultaneamente produtor e consumidor; e as condições sob as quais ele
funciona num dos papéis determinará, em grande medida, o seu funcionamento no outro. Além disso,
maiores conhecimentos básicos e maior capacidade tecnológica não só produzirão mais bens a
menores custos, mas também reduzirão a mortalidade – e assim, até que as taxas de natalidade
declinem, uma subida do produto per capita e uma maior taxa de crescimento populacional andarão a
par. E pode haver uma conexão óbvia entre maior capacidade produtiva e maior diversificação da
procura. Assim, as características comuns estão inter-relacionadas porque provêm de uma mesma
causa, porque refletem diferentes aspetos da atividade e da resposta do mesmo grupo de pessoas,
ou porque, dada uma estrutura persistente de necessidades humanas, os níveis agregados e a
estrutura das componentes estão ligados.
A associação entre as características agregadas e estruturais do crescimento económico
moderno, por um lado, o caráter do seu alastramento e os efeitos nas relações internacionais, por
outro, provêm de novo de uma fonte comum. O maior poder da tecnologia aplica-se aos transportes e
comunicações internacionais; é ele que leva através das fronteiras as consequências das rápidas
alterações na estrutura interna das nações subdesenvolvidas; é ele que contribui para o alastramento
em cadeia, porque as mudanças institucionais necessárias para proporcionar os auspícios
adequados à modernização económica são tão radicais que o seu aparecimento simultâneo em
muitos países é difícil. Mesmo se rejeitarmos a validade de qualquer conjunto de requisitos prévios ao
desenvolvimento económico, podemos argumentar que as condições para uma passagem do
crescimento económico pré-industrial para o moderno não são tão poucas que estejam presentes em
muitas nações ao mesmo tempo – especialmente se considerarmos a distância histórica entre a
maior parte do mundo e o pequeno subcontinente europeu onde a modernização económica
apareceu e os seus prolongamentos ultramarinos para onde ela primeiro alastrou.
Podemos encontrar assim uma boa dose de “ordem”, de comunidade e associação entre
características agregadas, estruturais e internacionais do crescimento económico moderno. No
entanto, dado que as afirmações acima podem parecer exageradas, nada mais apropriado, ao
concluir este posfácio sumário, do que discutir as precisões e questões que suscitam.
[…]
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Texto 2
Como foi salientado na introdução a este volume, grandes setores das economias de mercado
tecnologicamente avançadas foram, ao longo do seu desenvolvimento, sendo dominadas pelas
grandes empresas. Os gestores das empresas modernas são responsáveis pela coordenação do
fluxo quotidiano de bens ao longo dos processos de produção e distribuição e pela afetação de
recursos essenciais à produção e distribuição futuras. O mercado continua a gerar a procura de bens
e os gestores tomam as suas decisões na base das suas estimativas da procura do mercado. No
entanto, a mão visível da direção de gestão substitui a mão invisível dos mecanismos do mercado na
coordenação dos fluxos e na afetação dos recursos nas grandes indústrias modernas 1. O objetivo
deste ensaio, e dos três que se lhe seguem, é descrever e tentar explicar porquê, quando e como é
que ocorreu esta transformação fundamental na organização das economias de mercado líderes a
nível mundial. O primeiro passo para atingir este alvo é refletir sobre a natureza da empresa moderna
e do capitalismo moderno, utilizando conceitos e termos definidos sinteticamente na introdução.
A empresa moderna é definida por duas características essenciais (ver figura 1.1). Primeiro,
engloba muitas unidades operacionais distintas, cada uma com os seus próprios departamentos
administrativos, o seu próprio gestor assalariado a tempo inteiro e o seu próprio sistema de registos
contabilísticos que podem ser auditados autonomamente em relação aos da empresa maior.
Teoricamente, cada uma pode operar independentemente. A empresa tradicional era uma empresa
de estabelecimento único, com um ou um pequeno número de proprietários operando uma loja,
armazém, fábrica, banco ou linha de transporte a partir de um centro único. Normalmente este tipo de
1 Muitas das asserções neste breve capítulo devem ser entendidas com restrição. Para uma
análise mais completa das generalizações feitas e para a documentação que as apoia, consultar
Alfred D. Chandler, Jr., The Visible Hand: The Managerial Revolution ín American Business,
Cambridge, Mass., 1977.
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empresa conseguia preencher apenas uma única função económica, produzia ou vendia uma única
linha de produtos e operava numa única área geográfica. Antes do desenvolvimento da empresa
moderna, as atividades destas empresas pequenas detidas e geridas por um único proprietário eram
coordenadas e monitorizadas essencialmente pelos mecanismos de mercado e de preços. A
empresa moderna multiestabelecimento, pelo contrário, opera em diferentes locais, muitas vezes
desenvolvendo diferentes atividades económicas e produzindo ou vendendo várias linhas de bens e
serviços. As operações dos seus estabelecimentos e as transações entre eles são internalizadas na
empresa. As atividades destes estabelecimentos acabam por ser monitorizadas e coordenadas mais
pelas decisões dos gestores assalariados do que pelos mecanismos de mercado.
A segunda característica importante da empresa moderna decorre do facto de empregar uma
hierarquia de gestores assalariados de topo e intermédios que supervisionam o trabalho dos
estabelecimentos sob seu controlo, os quais formam uma nova classe de homens de negócios. Até
1840 não havia gestores intermédios nos EUA e havia muito poucos na Europa; isto é, quase não
havia gestores assalariados a supervisionar o trabalho de outros gestores e, por seu lado, reportando
a executivos seniores que fossem eles próprios gestores assalariados. Quase todos os gestores de
topo eram proprietários, como sócios ou acionistas maioritários nas suas empresas.
Esta definição da empresa moderna sugere a hipótese básica acerca do seu aparecimento e
crescimento contínuo: começou a expandir-se internalizando atividades e transações anteriormente
desenvolvidas em negócios separados. Emergiu e ganhou consistência quando aqueles negócios ou
atividades puderam ser operados mais lucrativamente por ação de uma hierarquia de gestão
centralizada do que através dos mecanismos descentralizados do mercado. A coordenação
administrativa por uma hierarquia de gestão trouxe várias vantagens à grande empresa. A
implementação de rotinas nas trocas entre estabelecimentos baixou os seus custos e a integração
dos estabelecimentos de produção, compras e distribuição reduziu os custos da informação sobre os
mercados e fornecimentos. Ainda mais importante, a capacidade de programar mais rigorosamente o
fluxo das matérias-primas e produtos acabados e de padronizar os processos utilizados tornou
possível às empresas utilizarem mais intensamente os recursos das unidades individuais, pessoal,
máquinas e outros meios, diminuindo, assim, os custos de produção e distribuição. (A programação e
a padronização tornaram possível aquilo que poderá ser designado por economias de velocidade,
uma componente básica do que os economistas normalmente chamam economias de dimensão ou
de escala). Complementarmente, a coordenação administrativa permitiu que as especificações de
produtos e os serviços de mercado se ajustem mais rapidamente às necessidades dos clientes; deste
modo foi conseguido um fluxo mais regular de produtos e aumentada a satisfação dos clientes. Tal
coordenação assegurou também um fluxo mais regular de receitas para a empresa e, desse modo, a
diminuição dos custos do crédito. No entanto, só se tornou lucrativa para as economias após o
desenvolvimento das tecnologias e o crescimento do mercado terem impulsionado a atividade
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A partir do momento em que a hierarquia de gestão aumentou com sucesso os lucros pela
coordenação das operações, tornou-se uma fonte de poder e crescimento continuado. O objetivo
básico dos gestores era manter a sua organização a operar lucrativamente, aumentando o ritmo e o
volume das suas atividades e internalizando mais unidades ou processos. À medida que as empresas
cresciam, crescendo concomitantemente o número de executivos, os gestores tornaram-se mais
especializados e profissionais. Geralmente tinham o mesmo tipo de formação, muitas vezes
frequentando as mesmas escolas, associavam-se nas mesmas associações ou clubes profissionais e
liam os mesmos jornais. À medida que as suas funções exigiam uma especialização mais rigorosa e
profunda iam-se tornando cada vez mais independentes dos proprietários das empresas. O
conhecimento especializado dos gestores assalariados e a capacidade de as suas empresas gerarem
os fundos necessários a uma expansão continuada foram fatores que contribuíram para que
rapidamente controlassem o destino das empresas que anteriormente os tinham empregado.
A emergência da grande empresa, multiestabelecimento, mudou a natureza do capitalismo ao
alterar o controlo dentro das empresas individuais. Se o capitalismo for definido como um sistema
económico no qual os meios de produção e distribuição são operados mais por empresas detidas por
privados do que pelo Estado e no qual as decisões no interior das empresas individuais são
motivadas pela procura dos consumidores mais do que por um plano central, então os diversos tipos
de capitalismo podem ser identificados através das relações entre os que tomam as decisões sobre a
atividade da empresa e os que detêm os respetivos meios de produção e distribuição. No capitalismo
tradicional, de caráter individual, os proprietários e os decisores eram os mesmos; os proprietários
tomavam as decisões de curto prazo sobre a produção corrente e as trocas e as decisões de longo
prazo sobre os investimentos para o futuro. Nas grandes empresas, multiestabelecimento, contudo,
os gestores intermédios assalariados, que têm uma pequena participação no capital, ou não a têm
mesmo, tornaram-se responsáveis pela coordenação do fluxo de produtos e pela supervisão das
unidades operacionais; os proprietários raramente se envolvem diretamente com o trabalho dos
gestores intermédios.
No entanto, a um nível mais elevado, os proprietários continuaram muitas vezes por longos
períodos a ter uma palavra final nas decisões críticas sobre produtos, serviços, volume de produção,
taxa de rentabilidade e afetação de recursos. Quando o crescimento das empresas era financiado por
capitais próprios, isto é, quando era autofinanciado, os empresários fundadores e os membros da sua
família continuavam a deter participações de controlo e eles, ou representantes seus, continuavam a
fazer parte da gestão de topo. Quando as empresas recorreram em grande escala a financiamento
exterior para a sua implantação e crescimento inicial, os banqueiros e outros financeiros participaram
em geral nas decisões de gestão de nível superior. O primeiro tipo de empresa moderna pode, assim,
ser denominada de empresa familiar numa primeira geração e empresa de dominação familiar,
posteriormente; o segundo tipo pode ser designado de empresa financeiramente dominada. Uma
economia ou setor em que as empresas familiares predominam pode, assim, ser considerado um
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podiam facilmente ser supervisionadas pelos donos, assistidos por um ou dois gestores. Utilizando
métodos centenários, as empresas tradicionais, pequenas e geridas por um proprietário, não tinham
grande dificuldade em desenvolver atividades de produção e distribuição nos EUA. Embora a
expansão da economia dos EUA no princípio do século XIX tivesse levado a um crescimento rápido
do número de empresas e à difusão da atividade económica por uma extensa área geográfica, daí
não resultou um aumento da dimensão das empresas. Quanto mais numerosas elas se tornaram,
mais especializadas ficaram; a maioria produzia e distribuía apenas uma única linha de produtos, tais
como algodão, cereais, ferragens e ferramentas ou tecidos, e desempenhavam uma única função:
grossistas, retalhistas, fabricantes, banqueiros ou seguradores. As atividades de centenas de
milhares desses pequenos negócios eram coordenadas quase inteiramente pela mão invisível dos
mecanismos do mercado.
O aparecimento do caminho de ferro e do telégrafo e a disponibilidade em simultâneo de
grandes quantidades de carvão fizeram emergir rapidamente a empresa moderna nos EUA primeiro,
nos transportes e comunicações, depois na distribuição e, finalmente, na produção. As novas
tecnologias tornaram possível um ritmo e um volume maiores na produção e movimentação dos
produtos e obrigaram à criação de hierarquias de gestão para supervisionar, monitorizar e coordenar
os novos processos de produção e distribuição. Na área de transportes e comunicações, os gestores
das empresas de caminhos de ferro, telégrafo e de navegação começaram a coordenar a
movimentação dos produtos entre os centros de comércio. Na distribuição, as novas empresas de
comercialização em massa, que se apoiavam em novos meios de transporte e comunicação,
administravam o fluxo dos produtos dos processadores ou produtores para os retalhistas ou
consumidores finais. Nos setores dominados pelas empresas novas e grandes, os gestores de topo
de algumas empresas modernas, multiestabelecimento, passaram a tomar as decisões que antes
tinham sido tomadas pelos proprietários de milhares de pequenas empresas.
Transportes e comunicações
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numa única via, enquanto as estradas e os canais tinham de ter, pelo menos, duas vias de tráfego. A
necessidade absoluta de centralizar a programação do movimento do tráfego obrigou a que os
caminhos de ferro fossem os primeiros transportadores a construir e manter as suas próprias infra-
estruturas. Até aí, as empresas de transporte operavam as suas carruagens, diligências ou barcos
em vias detidas e mantidas por outras empresas, a maioria públicas.
As hierarquias de gestão apareceram assim na economia do país quando os caminhos de ferro
começaram a operar maiores distâncias do que aquelas que podiam ser geridas pessoalmente por
um único superintendente e alguns assistentes. A unidade operacional básica das novas e grandes
empresas de caminhos de ferro era uma divisão geográfica que normalmente operava entre 50 e 100
milhas de via. As divisões, por seu lado, eram divididas em departamentos, cada um responsável por
uma função singular: o movimento dos comboios, o fluxo de tráfego de passageiros e mercadorias, a
manutenção das locomotivas e dos equipamentos ou a construção e conservação das infraestruturas.
Após a formação de duas ou três daquelas divisões geográficas isto é, após o caminho de ferro se ter
transformado numa empresa multiestabelecimento, o trabalho dos gestores encarregados dos
departamentos funcionais dentro de cada divisão tinha de ser rigorosamente monitorizado e
coordenado. Foram os gestores intermédios sedeados no serviço central do caminho de ferro que
assumiram aquela responsabilidade; supervisionavam as atividades dos gestores dos níveis
inferiores nas divisões e reportavam aos gestores de nível superior, profissionais a tempo inteiro o
superintendente-geral, o presidente e, muitas vezes, o presidente do conselho de administração.
A atividade das redes ferroviárias maiores exigia não só uma cooperação entre hierarquias de
gestão mas igualmente a perfeição do seu funcionamento no interior da empresa. Nos anos
imediatamente antes e após a guerra civil, os gestores intermédios e de nível superior desenvolveram
formas eficientes de movimentação de vagões de mercadorias, sem interrupção; entre linhas de
diferentes companhias. Padronizaram a distância entre os carris, os equipamentos, nomeadamente
os sistemas de atrelagem, os sinais e os processos e procedimentos organizacionais. Este tipo de
padronização tecnológica e organizacional foi planeado e executado pela associação de gestores, de
caráter quase profissional. Grupos como a Society of Railroad Accounting Officers e a American
Society of Railroad Superintendents tornaram possível a movimentação de vagões carregados entre
todas as zonas do país sem um único transbordo isto é, sem se ter de descarregar ou voltar a
carregar entre vagões de uma linha para a outra. Antes do aparecimento do caminho de ferro, o
movimento de mercadorias de Filadélfia para Chicago era sujeito a nove transbordos. Quando as
técnicas de cooperação foram aperfeiçoadas, as empresas de caminho de ferro internalizaram a
maioria das atividades que tinham sido desenvolvidas por empresas de viagens, expedidores de
mercadorias e outras empresas especializadas em transportes, empresas que tinham aparecido para
preencher novas necessidades criadas pelos mercados geograficamente distantes entre si, de
entregas temporalmente programadas.
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Distribuição
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assim, não por um movimento de mudança para a atividade de produção, mas, sim, pela adição de
novas linhas de produtos ao seu negócio, utilizando a organização de compras e as capacidades de
coordenação já existentes.
O sucesso deste tipo de coordenação administrativa foi dramático. Os grossistas e os
pequenos retalhistas que neles se abasteciam fizeram grandes pressões políticas com o objetivo de
conseguirem regulamentação estadual e federal que os protegesse dos retalhistas. Os preços
praticados por estes eram muito baixos, mas os lucros que eles obtinham da coordenação
administrativa rapidamente colocaram as famílias que protagonizaram a mudança os Wanamakers,
os Fields, os Filenes, os Kresges, os Strauses do Macy's, os Rosenwalds do Sears Roebuck, os
Hartfords do A&P, e outras entre as mais ricas do país. Aquelas empresas continuaram a ser detidas
e controladas pelos seus fundadores e famílias devido ao facto de o investimento ser tão pequeno ao
mesmo tempo que o cash flow gerado era elevado. Os membros das famílias continuaram a ter um
grande poder de intervenção nas decisões de gestão de nível superior. O setor de distribuição da
economia americana permaneceu assim, um bastião do capitalismo familiar por um período muito
mais longo do que outros setores.
Produção
A revolução na produção foi mais lenta do que na distribuição, principalmente devido ao facto
de ela passar por um muito maior desenvolvimento tecnológico. As inovações na distribuição foram
quase todas de caráter organizacional — resposta às oportunidades oferecidas por mudanças
tecnológicas de fundo nos transportes e comunicações. No âmbito da produção, os caminhos de ferro
e o telégrafo incentivaram inovações tecnológicas que contribuíram para o aumento da produção ao
tornarem possível a passagem dos materiais ao longo dos processos produtivos mais rapidamente e
com maior regularidade. Este novo quadro foi substancialmente melhorado com a generalização da
utilização do carvão como nova fonte energética. É de assinalar, igualmente, que os novos
desenvolvimentos permitiram que vários processos de produção fossem incorporados numa única
unidade fabril ou works. (Works pode ser definido como várias fábricas situadas num único lugar).
Três técnicas básicas de produção em massa foram rapidamente aperfeiçoadas: os métodos de
produção em série e de processo contínuo e os que envolvem a produção de equipamentos através
do fabrico e de montagem de partes separadas padronizadas. Os métodos de produção em série e
processo contínuo apareceram primeiro nas atividades de destilaria e refinação. Porque os materiais
eram líquidos e semilíquidos e os processos eram químicos, uma conceção rigorosa das fábricas e a
utilização mais intensiva da energia permitiu um elevado acréscimo do volume do material
processado e do ritmo da sua passagem através das refinarias. Uma década após a descoberta de
petróleo em Titusville, Pensilvânia, em 1859, já ele era refinado sem intervenção direta do homem; o
fator trabalho apenas era necessário para a embalagem do produto nos barris. Ao mesmo tempo, a
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utilização mais intensiva do vapor gerado pela energia do carvão e de processos de cracking de alta
pressão aumentava ainda mais o rendimento de cada unidade de capital e de trabalho e, assim,
diminuía o custo unitário de produção. Verificaram-se desenvolvimentos similares no processamento
de açúcar, uísque, cerveja, algodão e óleos de linhaça e na produção de ácidos, lixívias e tintas. Um
pouco mais tarde, no fim da década de 70 e princípio dos anos 80, foi desenvolvido equipamento de
processo contínuo para a transformação de produtos agrícolas, em cigarros, farinha, cereais para o
pequeno-almoço e produtos enlatados, e para a produção em grande escala de fósforos, sabões e
filme fotográfico.
A produção em grande escala apareceu um pouco mais tarde nas indústrias metalúrgicas e
metalomecânicas, onde as tecnologias e a organização da produção eram mais complexas. As
primeiras mudanças espetaculares na indústria metalúrgica ocorreram na produção de ferro e aço
durante os anos 60 e 70, quando a energia passou a ser, utilizada mais intensamente, a conceção do
espaço fabril foi melhorada e novos equipamentos foram desenvolvidos nas instalações fabris que
integravam num único espaço os processos básicos de produção: os altos-fornos que produziam
ferro-gusa, os conversores Bessmer que faziam aço em séries massivas, e os laminados que
produziam carris, vigas e outros produtos finais. Nas empresas metalomecânicas, onde a produção
em grande escala envolvia a montagem de partes e componentes separadas, os gestores prestavam
ainda maior atenção à melhoria dos equipamentos e da conceção do espaço fabril e, acima, de tudo,
à organização da força de trabalho com vista a assegurar um fluxo uniforme e estável de materiais
através de vários processos de fabricação e montagem em cada estabelecimento produtivo. Assim,
não foi por acaso que a moderna indústria de máquinas-ferramentas se desenvolveu essencialmente
para as indústrias metalomecânicas e que a moderna gestão "científica" ou sistemática da fábrica aí
foi implementada em primeiro lugar. Eram necessários novos tipos de máquinas e de organização
para que as unidades metalomecânicas produzissem um grande volume.
No entanto, os novos métodos de produção em grande escala não levaram por si, à criação de
grandes empresas, multiestabelecimento. A monitorização e a coordenação dos processos
internalizados no âmbito de um único estabelecimento necessitavam dos serviços de apenas um
pequeno número de gestores assalariados. Os novos produtores de grande escala tornaram-se
empresas modernas só quando se integraram a jusante, criando as suas próprias organizações
extensivas de vendas e distribuição. Além disso, raramente adotaram esta estratégia de crescimento
a não ser quando os agentes de comercialização existentes os agentes de produtores especializados
e, também, os novos agentes de comercialização se revelassem incapazes de vender e distribuir os
produtos a um ritmo semelhante ao da sua produção pelas novas técnicas.
[…]
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Após a Primeira Guerra Mundial, as grandes empresas integradas adotaram uma estratégia
explícita de diversificação, para além da linha completa, em direção a novos produtos para novos
mercados; procuraram produtos que tivessem mais uma relação com as suas capacidades
tecnológicas e técnicas de comercialização e gestão do que produtos que utilizassem somente as
estruturas existentes de compras, produção e comercialização. Contudo, a estratégia de
diversificação rapidamente causou dificuldades administrativas. As hierarquias de gestão que tinham
sido criadas para coordenar, monitorizar e afetar recursos para uma linha de produtos tinham grande
dificuldade em administrar o processamento de vários conjuntos de produtos para novos e diferentes
mercados. Os gestores intermédios não conseguiam controlar os mecanismos de coordenação, muito
diferentes entre si, das várias linhas. Os gestores de nível superior estavam esmagados pelas
necessidades de supervisionar e afetar recursos a diferentes frentes de negócios que, muitas vezes,
eram bastante díspares. A resposta foi a invenção da estrutura multidivisional (ver figura 1.2). Neste
tipo de organização os gestores globais das várias divisões operacionais autónomas tornaram-se
responsáveis pela coordenação do fluxo de produtos e pela supervisão das unidades operacionais
que produziam e distribuíam uma grande linha de produto para um grande mercado; um serviço
central e executivos de nível superior sem responsabilidades operacionais, apoiados por um aparelho
alargado, concentravam a sua ação na afetação de recursos às várias divisões de produto.
[…]
À medida que as empresas industriais integradas cresceram e se tornaram numerosas e mais
diversificadas nas suas atividades, os seus gestores contratados tornaram-se cada vez mais
profissionais por via de adequada formação e postura. A profissionalização começou, de facto, logo
que se gerou uma procura forte de gestores para dirigir a produção, a comercialização, a área
financeira e outras atividades especializadas. Logo após o movimento de fusões da passagem do
século, algumas das universidades mais prestigiadas do país — nomeadamente Harvard, Dartmouth,
Chicago, Pensilvânia e Califórnia — criaram escolas ou cursos de administração empresarial para
formar gestores.
[…]
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Uma razão possível para os EUA terem sido o berço do capitalismo de gestão decorre da
dimensão e da natureza do seu mercado interno. Na segunda metade do século XIX, o mercado
americano era o maior e, o mais importante, o de maior crescimento no mundo. Em 1880, o
rendimento nacional e a população eram superiores uma vez e meia aos da Grã-Bretanha; eram duas
vezes maiores em 1900 e três vezes em 1920. Como os dados de Simon Kuznets indicam, as taxas
de crescimento da população e do produto nacional foram, de forma consistente, muito maiores nos
EUA do que noutros países tecnologicamente avançados França, Alemanha e Grã-Bretanha durante
os anos entre a guerra civil e a Primeira Guerra Mundial 3.
Na Europa, os mercados de grande consumo desenvolveram-se muito lentamente. O relativo
excesso de oferta do fator trabalho e os baixos salários daí decorrentes reduziram a procura
potencial; a distribuição do rendimento terá sido mais assimétrica do que nos EUA; os gostos e
preferências de classe e de caráter regional eram mais fortemente diferenciados. Por estas razões,
as primeiras grandes empresas integradas na Europa concentraram-se em atividades como metais
de base, construção naval, equipamento pesado e químicas, em vez das áreas alimentar, petróleo e
equipamentos ligeiros padronizados, como aconteceu nos EUA. Uma exceção importante foram as
grandes empresas, integradas, de produtos alimentares e cerveja, na Grã-Bretanha. Fora disso, a
maioria das grandes empresas inglesas fabricava bens mais para os produtores que para os
consumidores. Mesmo as empresas têxteis dominantes produziam fio ou tecidos para serem
processados mais do que produtos acabados. Os produtos das maiores empresas na Europa eram,
assim, principalmente produtos não padronizados ou semiacabados, que eram fornecidos a um
número relativamente pequeno de empresas industriais; nos EUA, pelo contrário, os produtos
acabados padronizados eram canalizados diretamente dos produtores para milhões de casas,
escritórios, quintas. Por outro lado, as empresas europeias forneceram a maioria dos materiais
necessários à construção dos sistemas de transporte e à implantação das indústrias básicas nos
países em começo de industrialização; também equiparam os exércitos e as armadas do resto do
mundo.
Os mercados europeus, mais pequenos e de crescimento mais lento, não constituíram fator de
incentivo à utilização das novas técnicas de produção em grande escala ou à criação de grandes
organizações de comercialização e compras. Na Grã-Bretanha e em França, os produtores de bens
de consumo continuaram a apoiar-se em intermediários para colocar as suas mercadorias mais
tradicionais, tais como produtos alimentares, vestuário e utensílios para utilização doméstica os quais
eram, por sua vez, produzidos artesanalmente. As grandes empresas multiestabelecimento que
apareceram não eram suficientemente grandes para terem uma gestão de nível superior por um
número restrito de proprietários. Por conseguinte, o capitalismo familiar continuou a florescer. Na
Alemanha, onde a integração da produção com a distribuição era mais comum, os mercados mais
reduzidos e os menores fluxos de caixa gerados diminuíram a capacidade de autofinanciamento das
3 Simon Kuznets, Economic Growth of Nations, Cambridge, Mass., 1971, pp. 45~47.
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empresas e, portanto, aumentaram a sua dependência em relação aos grandes bancos para
financiamento externo. Os gestores continuaram a tomar decisões de nível superior em colaboração
com os financeiros e o capitalismo financeiro continuou, assim, a manter o equilíbrio.
Também os fatores culturais e sociais, particularmente se expressos através de diferenças
legais, tiveram um efeito restritivo ao aparecimento da grande empresa de gestão e,
concomitantemente, do capitalismo de gestão. Nos EUA, os valores individualistas e o receio do
poder económico concentrado suscetível de limitar a igualdade das oportunidades económicas,
tiveram reflexo na aprovação do Interstate Commerce Act em 1887, que regulamentava a atividade
ferroviária, e do Sherman Antitrust Act, três anos depois, que ilegalizava os comités de coordenação
e os cartéis. Ironicamente esta legislação acelerou o crescimento das grandes empresas,
centralmente administradas. As empresas de caminhos de ferro americanas construíram os seus
enormes sistemas de transportes, autossuficientes (a maioria dos quais era maior do que qualquer
empresa privada europeia do mesmo tipo), porque a legislação não permitia acordos entre as
empresas de caminho de ferro para a definição conjunta das tarifas e dos lucros. Na Europa as
empresas familiares juntaram-se em associações que tomaram a forma legal de empresa de controle
na Grã-Bretanha e de cartéis na Alemanha e em França, com o fim de assegurar continuamente
lucros às suas empresas, pequenas e de organização simples. Só algumas delas empregavam
gestores de nível médio ou superior. Alternativamente, os proprietários, ou os seus representantes,
tomavam as decisões sobre os preços, a produção e a coordenação em reuniões semanais ou
mensais. Mesmo nos cartéis e empresa de controle mais sofisticados com aparelhos de gestores
assalariados para a administração do dia-a-dia as políticas fundamentais eram decididas por votação
dos representantes na administração central das empresas constituintes. Nos EUA tais associações
eram ilegais. O Sherman Antitrust Act e as interpretações da lei pelos tribunais exerceram uma
poderosa pressão, como não se verificava em mais nenhum lugar, sobre as empresas familiares no
sentido de consolidarem as suas operações numa única empresa, centralizada administrativamente
por uma hierarquia de gestores assalariados.
Também as distinções de classe na Europa terão contribuído para a forma diferente que a
evolução do capitalismo de gestão aí assumiu. As famílias identificavam-se mais estreitamente com a
empresa, a fonte de rendimentos que lhes permitia manter a sua posição social, do que acontecia nos
EUA. Mesmo nas grandes empresas que integraram a produção com a distribuição e que
contratavam gestores intermédios para a coordenação do fluxo dos produtos, a gestão de nível
superior continuava a ser dominada pelos membros das famílias. Muitas vezes preferiam não
expandir a empresa se tal significasse a perda de poder pessoal; continuavam a preferir negociar
com os cartéis a criar ou desenvolver hierarquias de gestão.
A partir da Segunda Guerra Mundial, diminuíram as limitações ao crescimento das empresas e
a difusão da empresa de gestão acelerou-se na Europa Ocidental. A crescente procura de bens
durante e após a guerra encorajou a adoção das novas tecnologias de produção em larga escala. Os
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História Económica e Empresarial Ano letivo 2020-2021 Caderno
mercados cresceram com o aumento rápido do produto, com a distribuição mais equitativa do
rendimento e, acima de tudo, com os salários mais elevados decorrentes do pleno emprego. A
criação da Comunidade Económica Europeia aumentou ainda mais aqueles mercados. A legislação
publicada nos anos 50 e 60, contra os monopólios e as práticas restritivas do comércio, desencorajou
a continuação das empresas de controle e dos cartéis de empresas familiares. Ao mesmo tempo, as
grandes empresas com gestores intermédios assalariados aumentaram de dimensão e em número.
Desenvolveram-se principalmente nas mesmas indústrias que nos EUA, aquelas onde a coordenação
administrativa é a mais lucrativa. Aquelas empresas adotaram estruturas administrativas e processos
semelhantes aos usados pelas grandes empresas americanas. Com a difusão da moderna empresa
de gestão na Europa, apareceu toda a parafernália da gestão profissional — associações, jornais e
ações de formação.
Estas comparações entre o desenvolvimento das empresas modernas, multiestabelecimento,
nos EUA e no exterior são provisórias e apenas introdutórias. É necessário coligir e analisar ainda
muita informação antes de se ter uma perspetiva clara dos padrões de crescimento da empresa
europeia, dos seus processos de organização interna e do funcionamento efetivo das associações de
empresas sob a forma de cartéis e empresas de controle. No entanto, a informação disponível indica
que a empresa de gestão e, concomitantemente, o capitalismo de gestão, se tornaram a forma
dominante de organização e o sistema dominante de produção e distribuição nos setores nucleares
das economias modernas e tecnologicamente avançadas. Permanecem, no entanto, diferenças
claras nas formas como é coordenado o fluxo de bens ao longo da economia e são afectados os
recursos para a produção e distribuição futuras. Só comparando a evolução das empresas de grande
escala e de multiestabelecimento em diferentes economias é que se poderão identificar os
imperativos organizacionais e compreender o impacto dos valores e comportamentos culturais, das
ideologias, dos sistemas políticos e das estruturas sociais que afetam aqueles imperativos.
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História Económica e Empresarial Ano letivo 2020-2021 Caderno
Texto 3
INTRODUÇÃO
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História Económica e Empresarial Ano letivo 2020-2021 Caderno
4 Mas, como Rondo Cameron sublinhou, ‘é necessário distinguir entre a mera difusão da
tecnologia e o padrão da industrialização distinto que ocorreu no continente como resultado desta
dufusão’. ('A New View of European Industrialization', Economic History Review (Fev., 1985), p. 10).
Cameron prossegue argumentando que (pp. 22-3), além do modelo britânico de industrialização,
houve vários outros, nos quais fatores tais como a disponibilidade de carvão e os recursos humanos
necessários constituíram dois ingredientes básicos, com o investimento e as instituições financeiras
internacionais desempenhando papéis subordinados.
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História Económica e Empresarial Ano letivo 2020-2021 Caderno
estrangeiros que estava associado à expansão do setor exportador. Particularmente favorecidos por
estes desenvolvimentos foram os Estados Unidos e, mais tarde, as regiões de ocupação recente,
incluindo o Canadá, a Argentina, o Uruguai, a África do Sul, a Austrália e a Nova Zelândia, cada um
dos quais, em momentos diferentes e em graus diferentes, acabaram por depender do crescimento
através da exportação de produtos primários e dos influxos de capital e mão de obra estrangeiros
com ela associados. No outro extremo do espectro estavam os países periféricos que se mantiveram
basicamente à margem destas mudanças revolucionárias, ou aqueles que se tornaram ‘economias de
enclave’, isto é, países em que a procura externa e a nova tecnologia serviram para revolucionar o
setor exportador, deixando o resto da economia virtualmente inalterada.
O fracasso da expansão e da modernização do setor exportador das economias de enclave em
detonar crescimento no resto da economia é apenas um dos problemas que surgem no registo
internacional do crescimento económico no século XIX. Há muitos outros. Porque é que, por exemplo,
o crescimento económico alastrou apenas para uma proporção limitada da população mundial ? O
que explica o lento alastramento da industrialização ? Porque, mesmo na Europa e nos Estados
Unidos, a industrialização rápida ocorreu apenas depois de 1870, mais de um século depois de a
nova tecnologia ter aparecido na Grã-Bretanha. Mais pertinente para a presente discussão é a
questão de estes ‘fracassos’ na difusão do crescimento económico refletirem fraquezas no
funcionamento da economia internacional ou serem o resultado da existência de outros obstáculos ao
alastramento do desenvolvimento económico. Estas questões, e muitas outras como elas, são tema
de debate continuado e aceso, pois são assuntos de enorme importância para o estudo do problema
económico do subdesenvolvimento, e cobrir adequadamente os tópicos que levantam requeriria outro
livro, bem mais longo do que este. Tudo o que nos é possível aqui é oferecer algumas observações
gerais sobre estes temas, de modo a que a natureza dos problemas que suscitam e a sua relevância
para o funcionamento da economia internacional sejam mais facilmente apreciadas.
O ALASTRAMENTO DA INDUSTRIALIZAÇÃO
É um facto de observação geral que a difusão da tecnologia está intimamente relacionada com
o problema da mobilidade – dos bens, das pessoas, das ideias e do comportamento. É também claro
pelo que foi até agora dito neste livro que a mobilidade neste sentido foi muito aumentada no século
XIX por inovações nos transportes e comunicações e no campo da finança internacional, que muito
facilitaram a movimentação em larga escala de bens, homens e capital entre os países. Estes fluxos
de recursos económicos foram, por sua vez, canais importantes para a difusão da nova tecnologia
industrial, na medida em que o capital físico a corporizava, os artesãos e empresários imigrados
possuiam as capacidades técnicas requeridas e os bens importados proporcionavam oportunidades
para imitação adaptativa.
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História Económica e Empresarial Ano letivo 2020-2021 Caderno
Dadas as oportunidades para adotar novos métodos de produção apresentadas pela economia
internacional, o alastramento da inovação técnica requeria também um incentivo económico.
Provavelmente o mais efetivo estímulo para a inovação é o mercado a ser abastecido: tanto o seu
tamanho como a taxa a que cresce. Um mercado grande e expandindo-se rapidamente cria um
enquadramento que é altamente conducente ao avanço tecnológico e a todas as formas de inovação,
incluindo a adoção e adaptação de técnicas estrangeiras.
A economia internacional emergente foi ela própria uma importante forma de expansão do
mercado no século XIX. Sem barreiras legais e problemas potenciais criados pela incerteza das taxas
de câmbio – os quais, como vimos, eram mínimos nos finais do século XIX – o comércio externo é,
em princípio, simplesmente uma extensão do comércio interno; e as oportunidades crescentes para a
troca internacional de mercadorias encorajaram o alastramento da industrialização. Na Grã-Bretanha,
a industrialização baseou-se inicialmente numa exportação de têxteis de algodão em rápida
expansão e depois veio a depender crescentemente de exportações de produtos de aço e de carvão.
Nos Estados Unidos, antes de 1860, as exportações de algodão em bruto desempenharam um papel
no apoio ao desenvolvimento industrial inicial do país; e a industrialização da Alemanha nos finais do
século XIX esteve também intimamente ligada com a expansão das exportações de produtos
transformados. Mesmo na Rússia e no Japão, onde os governos criaram mercados internos para
bens industriais através das suas próprias procuras de equipamento militar e ferroviário, a capacidade
para desenvolver um comércio de exportação, de trigo no caso da Rússia e de têxteis de algodão no
caso do Japão, foi necessária para proporcionar as divisas necessárias para pagar os encargos do
influxo de capital estrangeiro ou para comprar a maquinaria estrangeira essencial para a
industrialização. Quer a procura de bens industrais fosse gerada diretamente através de uma
expansão das exportações de bens transformados, quer fosse criada indiretamente através do
crescimento das exportações de produtos primários conduzindo a uma subida dos rendimentos reais
internos, os mercados externos em expansão criaram um ambiente altamente favorável à difusão
tecnológica.
O crescimento dos mercados, tanto internos como no estrangeiro, está intimamente
relacionado com melhorias nos transportes, dado que más vias de transporte restringem
automaticamente o tamanho do mercado, limitando assim o âmbito para o uso de tecnologia
moderna. Por esta razão, bons transportes são talvez o mais potente meio isolado para acelerar a
importação de modernas técnicas industriais. A este respeito, o investimento estrangeiro foi
frequentemente de significado vital, porque muito dele no século XIX foi para a construção de
caminhos-de-ferro no Continente, na América do Norte e do Sul e na Australásia. Algum deste capital
também foi para o desenvolvimento de linhas de navegação, a construção de docas e portos,
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História Económica e Empresarial Ano letivo 2020-2021 Caderno
melhoramentos das comunicações e provisão de outros serviços de apoio necessários para expandir
o comércio externo.
O tamanho dos mercados internos de alguns países também foi aumentado pela imigração,
que permitiu à população crescer mais depressa do que teria crescido se dependesse apenas do
aumento natural. Ao mesmo tempo, onde a população imigrante podia ser usada em combinação
com recursos naturais não explorados ou não utilizados, os rendimentos reais por habitante
cresceram frequentemente (aumentando assim ainda mais o tamanho do mercado) porque uma força
de trabalho maior permitia maior especialização e o uso de técnicas mais produtivas. Além disso,
parte da força de trabalho imigrante podia ser utilizada, como nos Estado Unidos e noutros locais, na
construção da rede de transporte tão importante para o crescimento e a exploração dos mercados
interno e externo.
Finalmente, para vários países na Europa o movimento no sentido de maiores mercados
internos foi ajudado pela gradual redução das barreiras internas ao comércio, através de medidas de
liberalização do comércio tais como a total liberdade de navegação do Reno e o estabelecimento de
uniões aduaneiras como o Zollverein alemão. Ao mesmo tempo, o alastramento das políticas livre-
cambistas depois de 1850 proporcionou a muitos países oportunidades acrescidas de trocas
internacionais de bens e serviços. Mais tarde no século XIX, contudo, a generalizada adoção de
políticas protecionistas, ao mesmo tempo que reduzia o tamanho dos mercados externos, encorajou
a industrialização em alguns países ao preservar o mercado interno para os produtores locais.
Do lado da oferta, o ritmo de acumulação de capital de um país é obviamente um determinante
fundamental da sua capacidade para absorver novas ideias e novos métodos de produção. Onde, por
exemplo, a mudança tecnológica está incorporada em equipamento de capital, a taxa de investimento
em capital de um país é decisiva, visto que, em geral, quanto maior o investimento, maior o grau de
progresso tecnológico. A escassez de capital pode, portanto, prejudicar a difusão tecnológica de
numerosas maneiras. Por exemplo, colocará limites ao quantitativo de infraestruturas, especialmente
meios de transporte, com tudo o que isso implica para o crescimento do mercado. A necessidade de
disponibilidades de capital relativamente abundantes é também acentuada onde as inovações nas
técnicas não podem ser feitas isoladamente, mas requerem desenvolvimento simultâneo em
numerosas indústrias. Além disso, o facto de que as técnicas raramente podem ser tomadas sem
adaptação aumenta o custo de capital de introduzir novos métodos de produção. Finalmente, o facto
de a industrialização no século XIX ter sido acompanhada de crescimento da população e de
desenvolvimento urbano significou que houve pesadas solicitações de capital sob a forma de
habitação, infraestruturas públicas e ferramentas e máquinas adicionais necessárias para equipar a
força de trabalho em expansão. Enquanto em muitos países a maior parte das suas necessidades de
capital foram satisfeitas por poupanças internas, a disponibilidade de fundos estrangeiros para
financiar a construção de infraestruturas – especialmente meios de transporte e de comunicação e
redes de abastecimento (a procura pelas quais foi particularmente pesada nos novos países
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História Económica e Empresarial Ano letivo 2020-2021 Caderno
ultramarinos) – significou que as poupanças internas puderam ser largamente usadas para financiar o
crescimento da produção primária e da indústria transformadora nos países que recorriam a
empréstimos sem que esta expansão fosse ameaçada por transportes inadequados ou falta de outros
serviços de apoio.
Para muitos países o comércio externo e os fluxos de imigração também ultrapassaram
parcialmente os obstáculos à industrialização causados pela falta de recursos naturais, de trabalho
especializado e de empreendedorismo. Na medida em que a adoção das técnicas industriais
modernas está dependente de recursos naturais, da localização geográfica ou de algum outro recurso
desigualmente distribuído, não é verosímil que as oportunidades de crescimento estejam igualmente
disponíveis para todos os países. Recursos naturais limitados foram provavelmente fatores
importantes restringindo a industrialização em muitos dos países mais pequenos da Europa.
Argumentou-se que o desenvolvimento económico francês sofreu com uma falta de carvão. Mas,
qualquer que tenha sido a relevância da escassez de recursos naturais como um obstáculo para a
difusão tecnológica, ela tornou-se necessariamente menos importante com o tempo durante o século
XIX, na medida em que o progresso começou a tornar processos alternativos possíveis, ou a tornar
recursos importados substitutos efetivos de abastecimentos internos ineficientes e caros. Além disso,
se as matérias primas necessárias para o desenvolvimento industrial podiam ser importadas do
estrangeiro, também o podiam ser as competências e a capacidade organizativa necessárias.
Historicamente, o comerciante estrangeiro e o artesão imigrado são há muito o principal canal de
importação de técnicas estrangeiras; aquilo em que o século XIX diferiu de tempos anteriores foi a
escala em que estes movimentos de mão de obra ocorreram e na mais vasta gama de competências
que as pessoas levaram com elas quando se mudaram de país para país.
O que desencadeou a maior parte do fluxo de trabalho, capital e comércio entre países foram
as diferenças de preços relativos destes recursos em diferentes países. No caso tanto do trabalho
como do capital, considerações não económicas exerceram alguma influência nos seus movimentos
internacionais, mas na maior parte foram diferenças nas taxas de salário e nas taxas de remuneração
do investimento que desencadearam os fluxos de fatores de produção de regiões onde os ganhos
eram baixos para aquelas onde eram maiores. Com o comércio de mercadorias, também a troca foi
desencadeada por diferenças nos preços relativos dos bens transacionados, que refletiam por sua
vez diferenças nos custos de produção nos vários países envolvidos no comércio internacional. Na
medida em que os fluxos de bens, capital e trabalho tiveram lugar em resposta a vantagens
económicas diferenciais deste tipo, atuaram como transportadores espontâneos ou ‘naturais’ de
tecnologia e ideias modernas. Por outro lado, tentativas diretas e específicas foram frequentemente
feitas por governos e outros corpos interessados para transferir tecnologias internacionalmente. Para
além de enviar estudantes para o estrangeiro para estudar as novas técnicas, os governos também
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História Económica e Empresarial Ano letivo 2020-2021 Caderno
Internacionais
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História Económica e Empresarial Ano letivo 2020-2021 Caderno
conhecimento nestas matérias, o comentário sobre o problema que acaba de ser levantado é
necessariamente limitado, mas, de qualquer modo, algumas observações gerais podem ser
oferecidas sobre ele.
Para começar, se a difusão da tecnologia industrial moderna foi limitada antes de 1913, isso
ocorreu em parte porque a quantidade de capital e de trabalho disponíveis para transferência
internacional era limitada e porque nem todos os países desejando importar esses recursos
produtivos estavam igualmente bem colocados para os atrair. Por numerosas razões, a América do
Norte, e especialmente os Estados Unidos, era particularmente atrativa para investidores estrangeiros
e força de trabalho migrante; e a Europa ocidental, devido à sua capacidade e à sua proximidade da
Grã-Bretanha, a sede da Revolução Industrial, estava também convenientemente colocada para tirar
vantagem da nova tecnologia. O facto de que estas duas regiões receberam a parte de leão dos
recursos económicos que se movimentaram internacionalmente durante estes anos significou
simplesmente que houve menos destes recursos disponíveis para outros países importadores de
capital e de trabalho e as suas perspetivas de desenvolvimento industrial sofreram em
correspondência.
Além disso, em alguns países a produção primária continuou a ser mais lucrativa do que as
atividades de transformação, no sentido em que o rendimento real desses países podia ser
aumentado mais rapidamente pela sua especialização na produção agrícola e mineira e pela troca
dos seus excedentes de produtos primários por bens transformados produzidos algures. Enquanto os
rendimentos reais dos produtores primários foram sustentados pela procura crescente de alimentos e
matérias primas pelas regiões industrializadas no centro da economia internacional, o alastramento
da industrialização para países periféricos foi limitado pelas vantagens económicas que lhes
advinham da crescente divisão territorial do trabalho que formou a base da economia internacional
em expansão do século XIX.6 Quando, todavia, a mudança das condições da procura e da oferta no
período após a Primeira Guerra Mundial resultou numa pressão descendente nos preços dos
produtos primários, que reduziu os rendimentos reais dos países que ofereciam estas mercadorias,
os programas de industrialização tornaram-se uma faceta de muitos desses países, na medida em
que os seus governos procuraram diversificar a atividade económica interna encorajando a produção
de bens transformados anteriormente comprados com os ganhos da exportação de produtos
primários.
Nacionais
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difusão da moderna tecnologia industrial entre países foi muito mais rápida do que a sua difusão
dentro dos países. Assim, a máquina a vapor de Watt, apresentada pela primeira vez em Inglaterra
em 1776, foi introduzida em França em 1779, na Alemanha em 1788 e na Itália em 1816. Por outro
lado, dentro da Grã-Bretanha, a máquina a vapor não se tornou de uso geral até depois de 1850.
Noutros países europeus, todavia, o hiato foi ainda maior e na Itália a máquina a vapor estava ainda
longe de ser largamente usada mesmo em 1913. Uma situação similar desenvolveu-se nos Estados
Unidos onde a máquina a vapor foi introduzida perto do final do século XVIII e rapidamente adotada
para uso na navegação fluvial. Mas não foi largamente usada na indústria americana até depois da
Guerra Civil. Outro exemplo encontra-se no alastramento da ideia das peças intermutáveis e
produção padronizada. Desenvolvidas nos Estados Unidos bem antes de 1850 e introduzidas pela
fábrica de armamento do governo britânico de Enfield nos anos de 1850, estas inovações apenas
muito lentamente foram adotadas pelos industriais britânicos. Enquanto provas adicionais de taxas de
crescimento díspares entre e dentro dos países existem – por exemplo, no alastramento da nova
maquinaria têxtil e dos processos metalúrgicos modernos durante o século XIX – o que obviamente
precisa de explicação é a causa dessa disparidade. Em particular, precisamos de saber exatamente
porque é que, com fácil movimentação internacional de invenções, a capacidade de um país para
adotar novas técnicas numa larga escala é tão difícil de estimular ou de implementar.
Como já indicámos, a adoção da tecnologia moderna está parcialmente dependente da
disponibilidade de capital, recursos naturais e as necessárias capacidades laborais (inicialmente,
acima de tudo o mais, alfabetização) e competência organizacional. Mas, embora mercados limitados
e escassez de recursos produtivos possam ser parcialmente ultrapassados com a ajuda do comércio,
do capital e do trabalho do exterior, na análise final os recursos internos de capital e capacidade
organizacional foram frequentemente cruciais para suscitar uma industrialização bem sucedida. Além
disso, influências não económicas, particularmente atitudes sociais, costumes, crenças e motivação
para o sucesso económico, são determinantes importantes do ritmo ao qual novas técnicas se
difundem por uma economia. A incompatibilidade da nova tecnologia industrial com os arranjos
institucionais existentes, as reações de mercadores e negociantes à incerteza e riscos ligados às
novas maneiras de fazer as coisas e a preocupação com a estabilidade social e política são apenas
alguns exemplos das forças geradoras da rigidez social e da resistência à mudança que é verosímil
serem encontradas numa sociedade em industrialização. A existência de tais forças serve para nos
lembrar que a mudança tecnológica é um processo cultural, social, psicológico e político, tanto como
uma imitação e adoção de técnicas. Entretanto, sobre a questão de se as maiores mudanças
estruturais no quadro sócio-político devem preceder ou acompanhar a adoção da tecnologia
industrial, os factos, tais como são, são ambíguos. Em França, por exemplo, uma grande
preocupação com a continuidade na esfera social e cultural significou que a mudança tecnológica foi
relativamente lenta e que o governo não desempenhou um papel principal na promoção do
desenvolvimento económico. A Alemanha, pelo contrário, alcançou uma industrialização rápida
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apesar do facto de a velha ordem manter muita da sua força. A Dinamarca e a Suécia também
parecem ter criado economias em expansão tanto alterando a direção dos seus esforços económicos
como alterando a estrutura das suas instituições ou os hábitos dos seus povos. Na Europa do Sul e
do Leste, contudo, a existência de um sistema essencialmente feudal e a estratificação social rígida
que o acompanhou, tal como o baixo valor social ligado à indústria e ao lucro na cultura de alguns
desses países, constituíram barreiras intransponíveis à adoção da nova tecnologia industrial,
apoiadas como estavam por deficiências de recursos, escala dos mercados e educação. Apenas a
Rússia, nesta parte do continente, teve sucesso em industrializar-se numa extensão significativa, e
isso apenas depois da resistência do governo e de outras forças conservadoras ter sido ultrapassada,
largamente por acontecimentos exteriores, especialmente a derrota na guerra russo-japonesa de
1904-5.
Fora da Europa, o alastramento da industrialização para os Estados Unidos, o Canadá e, em
menor extensão, para outras regiões de estabelecimento ultramarino europeu foi ajudado pelo nível
de recetividade à nova tecnologia que foi pelo menos tão elevada como na Grã-Bretanha e nos
países industrialmente mais avançados da Europa, com os quais eles partilhavam um quadro social,
económico, cultural e linguístico comum. Esses laços foram também úteis em estimular influxos
periódicos de capital e trabalho europeus, que ajudaram consideravelmente na difusão das técnicas
industriais nos países em questão.
A alta recetividade à nova tecnologia não se confinou, contudo, aos países europeus e aos
seus prolongamentos ultrarinos. Na Ásia, o Japão começou a industrializar-se rapidamente para finais
do século XIX e a este respeito é interessante contrastar as experiências do Japão e da China antes
de 1914, quando confrontados com a tecnologia e a intervenção económica ocidentais. Apresentando
uma política comum de isolamento e ausência virtual de contratos com países estrangeiros, tal como
uma estrutura social e um sistema de propridade fundiária que actuavam como barreira à
industrialização, as suas respostas à intervenção ocidental nos seus assuntos foram completamente
diferentes. Enquanto o Japão adotou as técnicas industriais ocidentais rapidamente e teve sucesso
em atingir um arranque económico, aparentemente sem quaisquer grandes mudanças sociais ou
culturais, o governo chinês manteve-se desdenhoso da civilização ocidental e oposto a todas as
formas de mudança social e económica.
Uma ideia da extensão do alastramento da industrialização moderna por volta de 1913 é dada
no Quadro 8.1, que contém índices da produção de bens transformados por habitante para uma larga
gama de países. Estes índices de produção baseiam-se na parte média da produção de bens
transformados para o período 1925-9 atribuída a cada país e retroprojetada para 1913 com o uso de
índices de produção industrial. A medida da produção industrial de cada país foi depois dividida pela
sua população e o resultado expresso como proporção da produção por habitante dos Estados
Unidos. Dada a forma da sua construção, os índices contidos o Quadro 8.1 obviamente devem ser
tratados como ordens de grandeza, com largas margens de erro.
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O que o quadro revela é o alastramento relativamente limitado da nova tecnologia industrial por
volta de 1913. Os Estados Unidos, a Grã-Bretanha e a maior parte da Europa Ocidental estavam
relativamente bem industrializados por essa altura, como estavam o Canadá, a Austrália e a Nova
Zelândia, cujas agriculturas altamente produtivas proporcionavam, como nos outros países
industrialmente avançados, uma forte procura interna para bens transformados. No resto do mundo,
todavia, na Europa oriental e meridional, na maior parte da América Latina e na maior parte da Ásia e
da África, os processos de desenvolvimentos industriais modernos praticamente não tinham
começado quando eclodiu a Primeira Guerra Mundial.
Fonte: WA. Lewis, Growth and Fluctuations 1870-1913 (Londres, 1978), Quadro 7.1, p. 163.
Para uma explicação mais pormenorizada da construção do quadro, ver ibid., p. 313, nota 9.
CONCLUSÔES
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tecnológica foi limitada no século XIX, foi em parte porque a quantidade de capital e de mão de obra
disponíveis para transferência internacional era limitada e em parte porque nem todos os países
desejosos de importar estes recursos produtivos extra estavam igualmente bem colocados para os
atrair. Mas o que foi ainda um maior obstáculo ao alastrar da industrialização foi o facto de muitos
países, mesmo quando receberam fluxos de mão de obra e capital estrangeiros, carecerem de
capacidade de absorção – a base de conhecimentos, instituições e flexibilidade necessárias para tirar
partido das oportunidades tecnológicas em mudança que se lhes apresentavam. É esta fraqueza,
mais do que qualquer deficiência fundamental no funcionamento da economia internacional como um
‘motor de crescimento’, que explica os limites da industrialização até 1914. Para se industrializar com
sucesso, tinha de haver formação de capital, mudança técnica e reafetação de recursos, tal como
mudanças nas atitudes sociais, políticas e culturais em relação à atividade económica. Como em
muitos países as forças da inércia eram fortes e profundamente enraízadas, o alastramento da
industrialização foi necessariamente um processo lento.
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Texto 4
Este livro argumentou que o choque da Primeira Guerra Mundial, juntamente com as políticas
adotadas depois da guerra, conduziram aos desastres económicos dos anos entre as guerras: mais
especificamente, que foi o padrão ouro, reintroduzido nos anos 20 para curar a instabilidade dos anos
do imediato após guerra, que impediu a economia mundial de tratar os problemas que surgiram no
final da década e se aprofundaram no início dos anos 30. O fracasso das instituições foi exacerbado
por fracassos de liderança e de cooperação. Os fracassos da política foram mais importantes do que
teriam sido em outras circunstâncias, porque a situação de base era tão difícil, a necessidade de
políticas clarividentes e construtivas tão grande.
Começámos a nossa história do período colocando os desenvolvimentos entre as guerras em
perspetiva histórica, mostrando como o crescimento económico entre as guerras ficou aquém dos
padrões atingidos em períodos anteriores e posteriores (Capítulo 1.2). Terminamos olhando para
esse período em comparação com o que se seguiu à Segunda Guerra Mundial e com a situação atual
criada pelo colapso das economias de direção central da Europa central e oriental e pelo fim da
guerra fria. A comparação sugere duas questões fundamentais que podem ser frutuosamente
abordadas no contexto da nossa análise dos principais determinantes dos fracassos da política e do
desempenho no período entre as guerras mundiais. Primeiro, se o resultado da Primeira Guerra
Mundial foi crise económica e depressão severa, porque é que não foram as consequências do
segundo e maior conflito igualmente desastrosas ? Segundo, existem paralelos entre a posição
depois das duas guerras mundiais e a criada hoje pela quebra dos regimes comunistas, o fim da
guerra fria e as novas atitudes e políticas económicas e as novas políticas que estão a surgir entre os
governos e os povos da União Europeia e dos Estados Unidos ?
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fim das hostilidades, mesmo aqueles países cujas economias foram mais afetadas pelo conflito
tinham recuperado os seus níveis mais elevados de PIB de antes da guerra. Além disso, e mais
importante, a reconstrução foi seguida por um quarto de século de taxas de crescimento
excecionalmente altas, mais rápidas do que quaisquer experimentadas antes ou depois. Isto foi
particularmente verdade na Europa continental e no Japão.
Não apenas o crescimento económico foi extremamente rápido, mas as flutuações foram muito
suaves e o desemprego extremamente baixo. Tão excecional e inesperada foi esta corrente de
acontecimentos que os anos 1950-73 acabaram por ser conhecidos como a `idade de ouro', e em
países como a Alemanha e a Itália as pessoas falavam de um milagre económico. Porque foi o
resultado do chamado ‘quadro do segundo após guerra’ tão claramente diferente do de trinta anos
antes ? Discutimos três possíveis fatores contribuintes: a escala dos choques criados pelas guerras; a
natureza da organização económica internacional criada depois das guerras, e o grau de cooperação
e ajuda internacional tanto dentro da Europa como entre a Europa e os Estados Unidos.
A magnitude das duas guerras mundiais em termos da escala relativa das despesas militares
pode ser vista a partir do Quadro 10.1. Na Primeira Guerra Mundial, a parte do produto nacional
líquido afetada ao esforço de guerra atingiu um pico em 1917 a 53 por cento na Alemanha e 38 por
cento no Reino Unido. Nos Estados Unidos, um beligerante tardio e relutante, as despesas de guerra
atingiram um máximo de 13 por cento do PNL em 1918. Quando a guerra terminou, a proporção dos
recursos devotados à despesa militar desceu rapidamente para um nível bastante baixo.
O padrão das depesas na Segunda Guerra Mundial foi mais uniforme e mais dramático. Todos
os cinco países apresentados na parte inferior do Quadro 10.1 devotaram mais de metade do seu
produto nacional à guerra. A Alemanha e a União Soviética devotaram mesmo três quartos a esse
fim. No fim da guerra, a despesa militar desceu rapidamente de novo, mas continuou a absorver
cerca de 10 por cento do PNL no Reino Unido e nos Estados Unidos, menos na Alemanha. Em
ambos os conflitos globais a subida em tempo de guerra e o declínio no após guerra da despesa
militar constituíram grandes choques para a economia mundial. É claro, porém, que o fim da Segunda
Guerra Mundial foi um choque consideravelmente maior, forçando uma reafetação de perto de
metade do produto nacional em muitos dos maiores países industriais em muito poucos anos.
Um segundo elemento na avaliação do impacto das guerras é a extensão da destruição,
prejuízo e perturbação económica que elas causaram. Aqui também, o golpe nas economias dos
países beligerantes durante a Segunda Guerra Mundial foi muito mais severo do que em 1914-18.
Em 1945 o nível de PIB por habitante da França, dos Países Baixos, da Alemanha, da Itália e do
Japão tinha voltado aos níveis de finais do século XIX ou princípios do século XX; a posição da
Áustria era ainda pior. O trabalho de uma ou duas gerações estava perdido. Das maiores potências,
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apenas os Estados Unidos e o Reino Unido conseguiram acabar a guerra com um PIB por habitante
maior do que tinha sido em 1938.
Fontes:
1938-45: RU, EUA, URSS, Alemanha: Harrison (1988: 184).
Outras:
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História Económica e Empresarial Ano letivo 2020-2021 Caderno
RU: Feinstein (1972: quadros 1, 3, 12, e 33 e folhas de cálculo de base); EUA: US Department
of Commerce (1975: series F1, F6 Y458-9); URSS: Bergson (1961: 128 e 303); Alemanha: Stolper et
al. (1967: 57), Sommariva e Tullio (1987: 226-7); Japão: Milward (1977: 85), Ohkawa e Shinohara
(1979: 269 e 375).
É deste modo evidente que a Segunda Guerra Mundial foi responsável por um choque
muitíssimo mais severo para o sistema económico mundial do que a Primeira. Os outros
desenvolvimentos institucionais e políticos tiveram, portanto, de ser suficientemente favoráveis e
conducentes a bom desempenho económico para mais do que compensar esta posição inicial
adversa.
Os choques reais resultantes das guerras foram maciços. Mesmo na ausência de outros
problemas, teriam colocado desafios formidáveis aos responsáveis pela política económica. Mas não
foram o único problema. Depois de cada guerra, o regime monetário internacional estava em farrapos
e precisava de ser reconstruído.
O padrão ouro foi suspenso no início da Primeira Guerra Mundial. Mesmo antes de o conflito
acabar, os decisores políticos estavam a prever o seu restabalecimento. Existiam alternativas, mas
foram firmemente rejeitadas. O argumento a favor da sua restauração pareceu ser reforçado quando
os preços aceleraram e a Alemanha e outros países sofreram as depredações da hiperinflação (ver
Capítulo 3.1). O padrão divisas-ouro foi formalmente estabelecido em 1925 com o regresso britânico
ao ouro, mas não conseguiu o que os seus advogados tinham predito. Pelo contrário, argumentámos
que a sua rigidez foi uma causa fundamental, e até a causa principal, da Grande Depressão; o seu
abandono foi o caminho para sair da depressão (Capítulo 6.5). Uma outra consequência da
depressão que ele criou foi a desintegração do sistema monetário mundial. A economia internacional
dividiu-se em blocos monetários e comerciais. As barreiras comerciais entre os blocos subiram
dramaticamente (Capítulo 8). A troca direta bilateral substituiu-se frequentemente aos acordos
multilaterais; o comércio internacional e os fluxos de capital desvaneceram-se no essencial (Capítulo
9.1).
Porque é que a situação foi tão diferente depois de 1945 ? Numa perspetiva histórica
abrangente, é possível dizer que tanto os Estados Unidos como a Europa tinham mudado desde
1919. Os primeiros emergiram da Segunda Guerra Mundial como o líder indisputado do mundo e
desta vez estavam prontos para aceitar a responsabilidade. A lição de Versalhes tinha sido absorvida:
se a estabilidade e a prosperidade eram para ser atingidas, um grau suficiente de coordenação e
cooperação internacionais tinha de ser estabelecido. Os Estados Unidos podiam proporcionar as pré-
condições relevantes para uma nova ordem internacional baseada na confiança mútua e na
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colaboração, mas não a podiam impor; a Europa tinha de estar pronta para desempenhar o seu
papel.
As sociedades europeias estavam há muito divididas. A culpa pelo enquadramento
insatisfatório do primeiro após guerra não pode ser somente atribuída aos políticos e banqueiros
centrais incompetentes: o resultado estava profundamente enraízado na história da Europa e nas
suas estruturas sociais e políticas. As mudanças requeridas de modo a que os acordos após 1945
produzissem um resultado melhor foram finalmente possíveis como resultado de um longo processo
histórico começado com a crise do capitalismo liberal europeu nos finais do século XIX. Foi
persuasivamente argumentado por Maier (1987: 162) que reverter essa crise demorou meio século: ‘a
realização cumulativa exigiu o fluxo institucional que ficou na esteira não de um mas de dois abalos
bélicos’.
A situação militar, política e social de 1945 era tão mais favorável à criação de pré-condições
para a estabilidade e o consenso do que a de 1919 precisamente porque veio no fim deste longo e
trágico processo histórico. Houve duas componentes do enquadramento de meados do século,
internacional e interna, e elas reforçaram-se mutuamente. Isto criou um círculo virtuoso, em nítido
contraste com a ocasião precedente, quando os erros cometidos em Versalhes amplificaram a
fragilidade interna que afligiu os países europeus na sequência da guerra.
A parte internacional do enquadramento do segundo após guerra assentou na determinação
dos Estados Unidos e do Reino Unido de inverter as condições que tinham prevalecido no período
entre as guerras. As amargas lições dos anos 30 foram bem aprendidas. O objetivo desta vez era
criar um enquadramento radicalmente diferente para as relações económicas internacionais, o qual
permitiria aos países cooperar no comércio e no investimento para o seu benefício mútuo e assim
ajudar a sustentar altos níveis de atividade interna. As vantagens económicas de uma tal cooperação
foram poderosamente reforçadas pela crença de que isto também pormoveria a paz mundial.
Desde 1941 que Roosevelt e Churchill reconheceram a necessidade de evitar os problemas
que o enorme fardo das dívidas de guerra tinha criado depois de 1918. O resultado foi o generoso
esquema de empréstimo e aluguer [Lend-Lease], ao abrigo do qual abastecimentos exigidos pelo
Reino Unido para o esforço de guerra foram efetivamente proporcionados sem encargos pelos
Estados Unidos e Canadá. Em 1942, as duas potências também chegaram a um acordo preliminar
para estabelecer as relações económicas internacional numa nova base. A Conferência de Bretton
Woods que se seguiu em 1944, e deu origem ao sistema com o mesmo nome, foi uma tentativa
deliberada de evitar as deficiências do padrão ouro de entre as guerras. É de notar que o consenso
sobre as linhas gerais de todo o projeto ‘derivaram de uma interpretação partilhada sobre os anos
entre as guerras, que deveu muito à análise da Sociedade das Nações’ (Foreman-Peck 1995: 240).
Bretton Woods estabeleceu o enquadramento para um novo sistema monetário internacional
baseado em taxas de câmbio fixas, com o dólar como moeda âncora. Aceitou-se, contudo, que
poderia haver circunstâncias especiais nas quais seria necessário para um país ajustar o valor
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História Económica e Empresarial Ano letivo 2020-2021 Caderno
relativo da sua moeda e foram criados procedimentos sob os quais isso podia ser feito. A Grã-
Bretanha aproveitou isso em 1949, a França em 1955 e 1957. Duas organizações internacionais
foram estabelecidas. O Fundo Monetário Internacional (FMI) foi concebido para permitir o
ajustamento suave de desequilíbrios temporários da balança de pagamentos; o Banco Internacional
para a Reconstrução e o Desenvolvimento (normalmente conhecido como o Banco Mundial) deveria
tomar conta de necessidades de desenvolvimento a mais longo prazo. A política comercial foi tratada
sob os auspícios do Acordo Geral sobre Pautas Aduaneiras e Comércio (GATT), assinado em
Genebra em 1947. Isto iniciou o demorado processo de reduzir as barreiras aduaneiras sobre os
bens transformados.
Quando mesmo a disciplina moderada do sistema de Bretton Woods se mostrou demasiado
exigente para as ainda prostradas economias da Europa ocidental nos anos do imediato após guerra,
elas foram isentas da imposição da convertibilidade das moedas. O Acordo Europeu de Pagamentos
permitiu aos seus membros discriminar contra fornecedores externos durante mais de uma década
depois da conclusão da guerra. Foi um primeiro passo vital no sentido da reconstrução do comércio
multilateral e acabou por trazer a convertibilidade plena das moedas.
Ajuda e cooperação
Logo que a guerra acabou, tornou-se claro que a implementação destes planos para um novo
sistema económico internacional precisaria de medidas de transição robustas, se a tarefa colossal de
reconstrução e conversão para economias de paz fosse para ser realizada com sucesso. Num outro
afastamento de vistas largas em relação às atitudes que prevaleceram depois de Versalhes, os
Estados Unidos reconheceram a sua responsabilidade em propocionar a ponte essencial para a
prosperidade. Houve inevitavelmente alguma fricção na discussão dos termos em que a ajuda e os
empréstimos seriam concedidos, mas o contraste com as questiúnculas sobre as dívidas e
reparações de guerra após 1918 foi enorme.
Ajuda imediata (UNRRA) foi proporcionada para evitar sofrimentos maiores na Europa
devastada. Um empréstimo vultuoso foi feito ao Reino Unido. Mais do que isto era preciso, contudo,
para que o comércio se reavivasse até à extensão necessária. As reservas cambiais da Europa
estavam virtualmente exaustas e as exportações para a área do dólar eram ainda muito baixas,
tornando impossível à Europa importar abastecimentos e equipamentos vitais dos Estados Unidos e
do Canadá. O que era preciso era uma substancial injeção de poder de compra na economia
internacional em dólares. Um problema similar tinha surgido após 1919 e nessa altura tinha-se
deixado os mercados privados de capital tomar conta dele, com os resultados desestabilizadores que
vimos (Capítulos 5.3 e 5.4). Desta vez, o governo dos Estados Unidos disponibilizou um total de mais
de 13 milhares de milhões de dólares em dádivas e empréstimos à Europa entre 1948 e 1951 através
do chamado Plano Marshall (oficialmente o Programa de Recuperação da Europa).
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Ao discutir as facetas da idade de ouro que se seguiu à Segunda Guerra Mundial, o foco foi no
crescimento excecional da produção e comércio conseguido pelos países capitalistas desenvolvidos
nos anos 1948-73. Há mais uma faceta deste período que é também extremamente importante e
relevante para os temas deste livro. Quando a guerra acabou, a disparidade nos níveis de
produtividade entre os vários países era notavelmente grande, maior mesmo do que tinha sido em
1913. Iso é em parte um reflexo dos seus diferentes pontos de partida e da divergência nas suas
fortunas económicas no período da Primeira Guerra Mundial a 1938 coberto em capítulos anteriores,
mas é sobretudo o resultado da sua muito diferente experiência durante a Segunda Guerra Mundial.
Uma indicação genérica da eficiência económica relativa de doze países capitalistas europeus
em 1913, 1950, 1973 e 1992 é apresentada na parte superior do Quadro 10.2, com a produtividade
do trabalho (PIB por hora trabalhada) tomada como medida do desempenho económico. Em cada
data, o nível de produtividade da nação mais avançada, os Estados Unidos da América, foi colocada
a 100, e o nível de cada país europeu é comparado com esse nível. Os países são arrolados de
acordo com a sua ordenação em 1950. Nessa data, o hiato de desempenho entre os Estados Unidos
e quase todos os países europeus tinha-se alargado consideravelmente em comparação com a
posição em 1913. A produtividade nos quatro países mais adversamente afetados pela guerra,
Alemanha, Itália, Finlândia e Áustria, mal chegava a um terço do nível dos Estados Unidos; a Suíça
era o único país que chegava a dois terços desse nível.
Em 1973, a posição tinha-se transformado totalmente. O mais baixo dos doze países europeus
nessa data, a Finlândia, tinha atingido 57 por cento do nível dos Estados Unidos e seis outros países
estavam a mais de 70 por cento desse nível. No decurso desta convergência, a dispersão entre este
grupo de nações europeias tinha, assim, estreitado substancialmente. O processo de recuperação
continuou na fase subsequente, embora mais devagar. Em 1992, a produtividade em todos os doze
países estava a mais de 70 por cento do nível dos Estados Unidos e em cinco era pelo menos 85 por
cento. Os dados do quadro 10.2 sugerem que, quando o ambiente económico geral é apropriado –
como foi depois de 1945, mas não depois de 1918 – todas estas economias europeias ocidentais
podem convergir para os mais altos níveis de desempenho económico. Assim, a sua realização nas
quatro décadas seguintes à Segunda Guerra Mundial sublinha vivamente os pesados custos da
agitação e dos erros de política entre as guerras.
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História Económica e Empresarial Ano letivo 2020-2021 Caderno
Quadro 10.2. PIB por hora trabalhada em relação aos Estados Unidos: países
e regiões europeus, 1913, 1950, 1973, e 1992 (nível nos EUA = 100)
a Médias aritméticas: para a Europa ocidental das estimativas para os 12 países arrolados
acima; para a Europa do sul da Grécia, da Irlanda, de Portugal e da Espanha; e para a Europa central
e oriental da Bulgária, Checoslováquia, Hungria, Polónia, Roménia e URSS.
b Trata-se de uma aproximação muito grosseira. Uma estimativa grosseira do valor para 1989,
o último ano antes do colapso do planeamento central, é 27.
Fonte: Maddison (1995: 249).
Vários fatores contribuíram para este processo de convergência. Todos os países do bloco
superior do Quadro 10.2 possuíam as pré-condições necessárias para o crescimento económico,
incluindo uma força de trabalho bem instruída, um governo eficiente, gestores competentes,
empresários com desejo de inovar e correr riscos e sistemas financeiros e legais convenientes. Nos
países que tinham sofrido mais severamente com a Segunda Guerra Mundial, a determinação a
todos os níveis da sociedade de melhorar as suas condições económcias e uma disponibilidade para
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aceitar os sacrifícios e mudanças necessários para tal (por exemplo, renunciando ao consumo para
aumentar o investimento) foi uma força poderosa.
Porém, o mais significativo fator explicativo foi a capacidade de os países relativamente mais
atrasados copiarem os mais avançados do que eles, particularmente os Estados Unidos da América.
Os atrasados não tiveram de gerar o seu próprio progresso técnico. Podiam aprender com a
experiência daqueles que tinham avançado primeiro, estudar as fontes dos altos níveis de
produtividade nas economias de ponta, aplicá-las e adaptá-las às suas próprias condições. Isto
aplicava-se não só a todas as formas de tecnologia moderna, tais como maquinaria ou equipamento
eletrónico, mas também a uma larga gama de aspetos de boas práticas económicas e sociais; por
exemplo, na organização, gestão, sistema de financiamento e relações de propriedade das empresas
e políticas de oferta dos governos. Mudanças na estrutura económica, especialmente a transferência
de mão de obra da agricultura para a indústria e serviços, foram também importantes, como
contribuição direta para mais alta produtividade e, indiretamente, como fonte de trabalho permitindo a
setores em expansão crescer sem serem constrangidos por um mercado de trabalho apertado.
Os países da Europa do sul também participaram neste processo e, na verdade, convergiram
para os Estados Unidos mais rapidamente do que os da Europa ocidental, estreitando assim o hiato
entre eles e os seus vizinhos europeus. Contudo, partiram de uma base muito mais baixa e estão
ainda a uma distância considerável atrás. Como pode ser visto na parte inferior do Quadro 10.2, o
PIB médio por hora trabalhada de quatro países nesta região era apenas de 23 por cento do nível dos
Estados Unidos em 1950; por volta de 1973 tinha subido para 44 por cento e de 1992 para 62 por
cento. O proceso de recuperação nestes países foi consideravelmente apoiado pela sua adesão à
União Europeia e há todas as perspetivas de que eles continuarão a aproximar-se dos níveis de
produtividade do grupo dianteiro.
A posição da Europa central e oriental (incluindo a antiga URSS) é muito menos prometedora.
Nos anos que se seguiram à Segunda Guerra Mundial, as então economias comunistas também
desfutaram de um rápido impulso de crescimento, mas o ritmo de avanço da produtividade do
trabalho foi mais lento do que nos outros países europeus e não foi sustentado. Uma vez esgotadas
as possibilidades de crescimento extensivo, fraquezas sistémicas, muito especialmente em relação
ao progresso técnico, tornaram-se crescentemente evidentes. A posição destes países relativamente
aos Estados Unidos melhorou ligeiramente, mas apenas de 19 por cento em 1950 para 26 por cento
em 1973 e depois estagnou. Por volta de 1989 não estavam provavelmente mais próximos do que
tinham estado em 1913. Desde então a sua posição relativa deteriorou-se fortemente, com a
produção e o rendimento a cairem depois do colapso das suas economias planificadas. Os problemas
maciços da transição nestas antigas economias socialistas da Europa traz-nos ao nosso tema final.
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Há mais algumas lições que possam ser aprendidas com os desenvolvimentos históricos
estudados neste livro ? Sugerimos para terminar que pode ser peculiarmente importante explorar esta
questão nos dias de hoje. O fim da guerra fria produziu um choque que é em alguns aspetos
comparável ao que foi provocado pelas duas guerras mundiais. Os problemas provêm primeiro da
redução da despesa militar dos níveis julgados necessários em ambos os lados durante a guerra fria;
e segundo da restruturação económica fundamental que é exigida nos antigos países socialistas. As
novas estruturas e padrões de produção emergindo nesses países têm grandes implicações tanto
para eles como para o sistema internacional de comércio e finanças.
Há também fatores mais subtis na situação presente que podem ter uma influência significativa
na forma como a economia mundial responde a este choque dual. A ameaça da guerra era uma força
poderosa ligando os aliados ocidentais e encorajando a unidade e a cooperação para muitos
propósitos. Com a remoção desta pressão, começam a aparecer divisões em relação a várias
questões económicas e políticas. Esta tendência é reforçada por um fator adicional. Já se passaram
mais de sessenta anos desde a Grande Depressão. Os desastres dos anos 30 eram argumentos
convincentes em defesa das políticas radicalmente diferentes adotadas com tanto sucesso no
período posterior a 1945. Mas esses acontecimentos já não estão frescos na memória da geração
presente. Políticas que teriam sido rispidamente rejeitadas nos anos 40 recebem consideração
respeitosa nos anos 90. Os argumentos a favor de flexibilidade no sistema monetário internacional,
de comércio livre e de uma vontade de pôr a cooperação internacional e a coordenação política à
frente da prossecução de interesses nacionais estreitamente concebidos não podem mais ser
tomados como adquiridos.
Os países da antiga URSS e as outras economias centralmente planificadas da Europa central
e oriental lançaram-se com graus de entusiasmo variáveis num processo de transformação no
sentido de uma economia de mercado. Alguns, nomeadamente a Polónia, a Hungria e a República
Checa, fizeram excelentes progressos; outros mal começaram. Se a transição é para ter sucesso, vai
exigir grandes mudanças na estrutura da produção e uma reafetação maciça dos recursos. Primeiro,
tem de ser encontrado emprego alternativo agora para a grande fatia dos seus recursos
anteriormente absorvida por atividades militares. Segundo, há um desencontro muito substancial
entre a produção que resultava das preferências dos planificadores que anteriormente determinavam
o que devia ser produzido e a oferta de bens e serviços que é hoje exigida para venda no mercado
livre aos consumidores internos e compradores estrangeiros.
Os problemas da reconstrução são exacerbados por mudanças territoriais envolvendo a divisão
da antiga União Soviética, da Checoslováquia e da Jugoslávia. Em seu lugar foram formados novos
estados, com estratégias e interesses económicos divergentes. Abastecimentos de matérias primas e
vendas de bens finais anteriormente organizados num quadro de comércio interno, têm agora de ser
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Os mercados agrícolas
Em cada guerra mundial, os países não europeus aumentaram a sua oferta de bens agrícolas,
criando as condições para um excesso de oferta no após guerra, quando os soldados dos países
anteriormente beligerantes trocaram a espada pelo arado. A perturbação depois da Primeira Guerra
Mundial foi descrita no Capítulo 4.3. Mais dados são apresentados no Quadro 10.3. As importações
pela Europa ocidental de cinco cereais aumentaram apenas ligeiramente durante cada uma das duas
guerras mundiais, mas as exportações do hemisfério ocidental aumentaram dramaticamente em cada
caso. Elas mais do que compensaram o declínio das exportações da Europa oriental e da Rússia
depois da Primeira Guerra Mundial e adicionaram bastante aos abastecimentos mundiais depois da
Segunda Guerra Mundial.
O choque do após guerra teve duas facetas. Nas Américas, o preço caiu fortemente em
relação aos picos do tempo de guerra que tinham induzido a expansão da produção. Na Europa
ocidental, o aumento da oferta ameaçou afogar a agricultura interna numa inundação de importações.
Isto tinha acontecido uma vez antes, nos anos de 1880. Depois de cada guerra mundial, os países da
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Europa continental responderam como tinham feito às descidas de fretes nos anos de 1890:
protegeram os seus agricultores restringindo as importações agrícolas. Atuaram separadamente
depois da Primeira Guerra Mundial; adotaram a Política Agrícola Comum depois da segunda. Os
mercados fechados da Europa intensificaram então o choque para as regiões produtoras do resto do
mundo.
O fim da guerra fria coloca um problema de afetação similar. Os países da Europa oriental
estão a voltar à economia mundial depois de uma ausência prolongada. A sua industrialização no
período intermédio baseou-se num conjunto de preços muito diferentes dos da economia ocidental.
Consequentemente, encontram-se numa posição similar à do hemisfério sul depois das duas guerras
mundiais. Precisam de rendimento das exportações para financiar a reconstrução da sua base
industrial. Os produtos agrícolas representam uma área em que podem competir nos mercados
mundiais com as suas novas taxas de câmbio. Mas a Política Agrícola Comum veda-lhes os seus
mercados naturais.
A atual postura protecionista da União Europeia na agricultura aponta perigosamente na
direção de uma similitude com os anos 20 e 30. Na verdade, a Europa ocidental colocou-se na
insustentável posição de simultaneamente pedir aos países da Europa oriental para abrirem as suas
economias enquanto mantém barreiras comerciais às suas exportações. Isso resulta no cerceamento
do crescimento da Europa oriental e também numa grande perda de credibilidade num tempo em que
a liderança é não só necessária, mas procurada.
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Se mudanças nas paridades das taxas de câmbio não são mais possíveis, a deflação é efetivamente
a única opção deixada a um país que desenvolva um saldo negativo persistente da balança de
pagamentos. Não é de modo algum claro que os benefícios da política ultrapassem estas
desvantagens. É notável que sejam os líderes dos países do antigo bloco ouro os mais
comprometidos hoje com o SME e a moeda única. Só o tempo dirá se estão a condenar os seus
povos a reviver as dolorosas contrações dos anos 30.
As questões esboçadas acima seriam por si sós base suficiente para desconforto sobre a
capacidade de a economia mundial lidar com sucesso com os problemas colocados pelo fim da
guerra fria. A nossa análise do passado sugere mais dois fatores que podem aumentar as
dificuldades. No período entre as guerras, os problemas de gestão do padrão ouro foram agravados
pela ausência de adequadas liderança e cooperação internacionais. Aqui também há tons dos anos
20 na situação corrente.
Ao discutir possíveis explicações para a Grande Depressão, assinalámos o que se veio a
chamar a teoria hegemónica. A Grã-Bretanha era hegemónica antes da Primeira Guerra Mundial, os
Estados Unidos depois da Segunda. Pelo meio houve um vazio: já não Londres, ainda não Nova
Iorque. A falta de liderança clara, nesta história, conduziu a más políticas, que conduziram por sua
vez à depressão. Depois de 1929, cada país tentou tratar da queda da procura à sua maneira; não
houve efetivo emprestador em última instância para bancos ou moedas em aflição.
Os Estados Unidos são o único candidato para uma posição hegemónica hoje. Mas há uma
tendência nos Estados Unidos para voltar as costas a responsabilidades externas, em grande medida
como nos anos 20. Tal como o Congresso recusou então apoiar a Sociedade das Nações, assim o
Congresso quer hoje cercear as Nações Unidas. Há sinais de uma impaciência popular com os fardos
de uma liderança mundial, uma crença crescente de que os Estados Unidos deveriam concentrar-se
na resolução dos seus problemas internos. Mais importante, os Estados Unidos são hoje um
importador de capital em larga escala. A liderança da Grã-Bretanha antes de 1914 e a da América
depois de 1945 foram baseadas em exportações de capitais. É difícil ver como os Estados Unidos
podem exercer o tipo de liderança económica que é hoje necessária, dados os seus problemas
correntes de balança de pagamentos.
Também referimos uma visão alternativa do período entre as guerras mundiais: que foi a
ausência de cooperação internacional que conduziu aos erros de política que causaram a Grande
Depressão. O fator mais importante que inibiu a cooperação necessária foi o movimento para
governos mais representativos na sequência da Primeira Guerra Mundial. A ascensão do sindicalismo
e dos partidos políticos (ver capítulo 2.3) reduziu a autonomia de todos os banqueiros centrais
encarregados de manter o padrão ouro. Foi crescentemente difícil dar prioridade ao equilíbrio exerno
se atingi-lo exigisse medidas deflacionistas contínuas e maior desemprego no país.
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Como é que isto afeta o tempo presente ? Se a liderança internacional falta hoje, pode a
cooperação internacional substituí-la ? Os sinais não são encorajadores. O fim da guerra fria afrouxou
os laços que ligam a comunidade ocidental. A desordem política internacional é evidente nas políticas
divergentes em relação à antiga Jugoslávia e nos conflitos sobre o comércio com Cuba, a Líbia e o
Irão. A desunião económica internacional é patente nos desacordos dentro da Europa sobre o
sistema monetário europeu e a moeda única e entre a Europa e os Estados Unidos sobre as
negociações do GATT e outras questões de comércio e investimento. Há também intensa rivalidade
entre os Estados Unidos e o Japão e desacordos entre os países líderes sobre a política do FMI em
relação aos países em desenvolvimento.
A história nunca se repete, e estamos conscientes tanto das analogias como das enormes
diferenças em relação à situação posterior a 1918 e a 1945. Todavia, uma das principais lições a ser
retirada do nosso estudo da história económica da Europa do século XX é que o crescimento e a
prosperidade foram atingidos em períodos em que houve um enquadramento de comércio
multilateral, flexibilidade regulada das taxas de câmbio e cooperação financeira internacional, não em
períodos de barreiras pautais, guerras comerciais, rigidez financeira e áreas monetárias conflituantes.
Está essa lição elementar em risco de ser esquecida ?
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