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“Venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu.

” Mateus
6.10 Reúno nestas poucas páginas alguns textos elaborados para procurar entender o
que é o Reino de Deus. A Bíblia inteira fala do Reino de Deus. Ela diz que se trata de
um Reino eterno que se manifesta de forma concreta na história. João Batista
anunciava que ele estava próximo. Jesus declarou que ele era chegado.

Mateus declara que, juntamente com o advento de Jesus Cristo, o Reino de Deus é
chegado entre os homens. O termo grego empregado é basileia, que faz parte da
pregação de João Batista (Mateus 3.2) e do próprio Jesus (Mateus 4.17), assim como
deveria ser a essência da mensagem dos discípulos (Mateus 10.7). A expressão
preferida enquanto por Mateus é “Reino dos Céus”, empregada 32 vezes, enquanto
“Reino de Deus” é empregada apenas 4 vezes. Comparando com o uso nos demais
evangelhos sinóticos (Marcos e Lucas), a preferência entre um termo ou outro não é
relevante. Trata-se da mesma realidade e possui o mesmo significado em qualquer
situação.

As bênçãos prometidas pelo Senhor, tais como receber a vida eterna ou entrar no
Reino de Deus, estão relacionadas tanto a ação de Deus nesta vida aqui quanto às
consequências futuras de nossa redenção. Ou seja, as promessas do Senhor têm, ao
mesmo tempo, um significado quanto ao senhorio e ao governo do Senhor em nossa
vida terrena, quanto ao governo escatológico do Senhor, após a segunda vinda de
Jesus Cristo. Reino de Deus é, portanto, toda a esfera do domínio de Deus desde aqui
até a eternidade.

O Reino pertence aos pobres de espírito (Mateus 5.3), aos que são perseguidos por
causa do nome da justiça (Mateus 5.10) e aos que se assemelham às crianças (Mateus
18.1 e 3, 19.14). O acesso ao Reino é franqueado a todos (Mateus 8.11) de maneira
que, mesmo publicanos e meretrizes podem entrar, basta crer (Mateus 21.31-32). O
Reino de Deus é apresentado na Bíblia como um tesouro (Mateus 13.44-46), como um
presente aos pequeninos (Mateus 19.14, Lucas 18.16-17) e como uma prioridade
(Mateus 6.33). O evangelho é a boa nova do Reino (Mateus 4.23). Jesus nos convida
para tomarmos parte de seu Reino como quem convida para um banquete ou uma
festa (Mateus 8.11, 22.1-14). O convite é claro para que venhamos receber o senhorio
de Cristo sobre as nossas vidas, através da expressão: “Vinde a mim, todos os que
estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Mateus 11.28). O Reino de Deus
é uma bênção presente aos homens. Não é apenas “um dom escatológico que
pertence à Era Vindoura” [2]. A entrada no Reino de Deus se dá através do
arrependimento (Mateus 4.17). Isso implica uma vida que deve ser marcada por uma
nova ética que Jesus Cristo veio ensinar, baseada na nossa condição de sal da terra e
luz do mundo (Mateus 5.13-14). Dessa forma, a nossa justiça deve exceder a dos
escribas e fariseus (Mateus 5.20), devendo atentar para o fato de que é do nosso
interior que vêm as marcas de nosso caráter, assim como uma árvore boa irá produzir
bons frutos (Mateus 7.17). O maior do reino dos céus é aquele que cumpre os
mandamentos (Mateus 5.19). Um dia prestaremos conta de nossas atitudes e
pensamentos, quando do juízo eterno (Mateus 12.36). Por isso que a exigência é para
a renúncia total a todo o tipo de apego aos valores seculares (Mateus 16.24). Jesus
chorou sobre Jerusalém porque rejeitou o Senhor que lhes trouxe o Reino (Mateus
23.37-39).
Jesus utilizou-se em grande escala das parábolas para ilustrar o Reino de Deus. Entre
elas,
podemos mencionar a sequência que se encontra no capítulo 13 de Mateus: a
parábola dos solos, que apresenta a proclamação de Jesus e a manifestação do Reino
de Deus a todos os homens (Mateus 13.3-9); a parábola do joio plantado no meio do
trigo, como uma advertência para o juízo do Senhor, que há de se manifestar ao final
(13.24-30); a parábola do grão de mostarda, que ilustra a maneira como o Reino de
Deus, que já se encontra presente, se expande (13.31-32); essa mesma ideia também
se encontra na parábola do fermento (13.33); há ainda as parábolas do tesouro
escondido (13.44), da pérola de grande valor (13.45-46) e da rede que é lançada ao
mar (13.47-48). São também consideradas parábolas do Reino em Mateus: a parábola
do credor incompassivo (Mateus 18.23-35), a parábola dos trabalhadores e das
diversas horas de trabalho (Mateus 20.1-16), a parábola das bodas (Mateus 22.1-14), a
parábola das dez virgens (Mateus 25.1-13) e a parábola dos talentos (Mateus 25.14-
30)
parábolas, Jesus procurou demonstrar aos seus discípulos o sentido e o valor de
participar do Reino que veio trazer aos homens. Parábolas são pequenas histórias
contadas para tornar mais fácil a compreensão de uma realidade. Elas exemplificam o
Reino e têm o valor de uma metáfora, com muito bom humor e sensibilidade, cuja
função era a de conduzir as pessoas a uma reflexão sobre a realidade do Reino de
Deus. Todos os quatro evangelhos contêm parábolas contadas por Jesus, através das
quais procurava oferecer indicativos da realidade do Reino. De um modo muito
especial, porém,
O objetivo não é para que nos tornemos diferentes dos demais, como se fôssemos,
exclusivos ou melhores, mas para tomar parte dessa missão maravilhosa de sinalizar a
presença abençoadora, consoladora e libertadora do Reino entre nós. A mensagem
acerca do Reino de Deus é a declaração de que as alegrias, as bênçãos e a realização
futura reservadas a toda a criação podem ser vividas aqui e agora. Isso faz com que o
Reino seja tanto uma realidade presente quanto uma promessa que será consumada
no futuro. A missão de Jesus de Nazaré foi trazer o Reino aos homens. Isso pode ser
reconhecido na vida, obra e mensagem de Jesus. Por meio dele é que o Reino se
constitui uma realidade presente. O anúncio

anúncio da chegada do Reino de Deus entre os homens é a boa notícia da graça, do


perdão, da acolhida, do amor e da compaixão de Deus estendidas a todos
indistintamente. É a declaração de que Deus reivindica para si, na pessoa de Jesus,
toda a criatura a fim de que tome parte do seu Reino e desfrute do que ele tem
preparado para todos. É para isso que somos chamados a sermos cristãos. Trata-se de
uma missão histórica e, por isso mesmo, pública. Por causa do anúncio da chegada do
Reino, surge a comunidade daqueles que atenderam ao chamado de seguir o caminho
apontado por Jesus – que é ele mesmo – e que assumem compromisso, de cumprirem
missão, que consiste em dar continuidade ao seu projeto de tornar o Reino de Deus
presente na história das pessoas de nosso tempo. A igreja é a comunidade do Reino na
medida em que reconhece a Jesus como Senhor e toma parte do Reino que ele
inaugurou. A igreja não pode ser confundida com o Reino, mas não dá para ser
compreendida separada dele. Somente quando ela experimenta os valores do Reino
de Deus é possível servir como sinalizadora da sua presença no mundo.

“Jesus respondeu: ‘Ninguém que põe a mão no arado e olha para trás é apto para o
Reino de Deus’.” Lucas 9.62
A realidade do Reino de Deus é um dos temas centrais dos evangelhos. Neles,
encontramos narrativas e ensinos de Jesus cujo tema é a chegada do Reino de Deus
entre os homens. E é neles que encontramos também o registro do convite de Jesus
para que possamos tomar parte dele. A grande pergunta, portanto, é: como podemos
tomar parte
do Reino de Deus? Jesus adiantou para Nicodemos uma resposta: “Ninguém pode
entrar no Reino de Deus, se não nascer da água e do Espírito” (João 3.5). Isso já
demonstra que a participação nele tem exigências. A noção de Reino de Deus implica o
reconhecimento de que Deus mesmo se faz presente entre nós a fim de que todo o
mal e sofrimento sejam vencidos no mundo. Os quatro evangelhos mostram que Jesus
realizou uma série de ações e discursos em favor de pessoas aflitas e necessitadas a
fim de manifestar os sinais de que uma nova lógica e uma nova dinâmica de vida
deveriam ser levadas em consideração para uma vida melhor. Isso envolve o que Jesus
chamou de Reino de Deus. O Reino de Deus nos lembra de que é possível vivermos
uma nova vida em que prevalecem a justiça, a solidariedade e a paz. Quer dizer que o
Reino de Deus implica uma abertura para um relacionamento com Deus, a
possibilidade de relações humanas mais saudáveis, o despertamento para uma atitude
mais responsável com o mundo e até mesmo uma relação mais sincera e transparente
consigo. E de que maneira podemos experimentar isso? Jesus manifestou sinais da
presença do Reino

Os ensinos de Jesus apontam para a necessidade de dar sentido e orientação para


quem se encontra perdido. Como um chamado para segui-lo, o convite para tomarmos
parte do Reino de Deus aponta o caminho para a vida feliz e de realização pessoal, não
só através dos ensinos, mas também pelo modo como Jesus viveu. O convite para
segui-lo vai além da caminhada, implica tomar a forma de Cristo, ser um com ele. Ter a
forma de Cristo significa ser humano de fato. É preciso dizer: ele se fez gente como a
gente para que pudéssemos aprender a ser gente como ele foi.

Sinalizando o Reino “Ouçam, meus amados irmãos: não escolheu Deus os que são
pobres aos olhos do mundo para serem ricos em fé e herdarem o Reino que ele
prometeu aos que o amam?” Tiago 2.5
Os sinais do Reino de Deus vêm de encontro à nossa inquietação diante de toda
injustiça que provoca desigualdade, de toda opressão que ameaça a liberdade e até
mesmo de todo estado de exploração que põe em risco a natureza e a vida humana.
Quando aqui viveu, Jesus manifestou esses sinais entre os homens a fim de buscar e
salvar o que se havia perdido. Da mesma forma, a igreja tem um chamado para se
comprometer com a manifestação desses sinais do Reino no mundo.
É nesse sentido que falamos de missão. A missão da igreja é missão de Deus em
resgatar toda a criação pra si. Este é o sentido da Missio Dei. Isso tem a ver com a luta
contra todas as formas de exclusão, maldade e injustiça, através de manifestações
concretas de compaixão, incluindo-se aí até mesmo o cuidado com a natureza e a
adoção de um estilo de vida mais simples. Por essa razão, a Bíblia diz que “a natureza
criada aguarda, com grande expectativa, que os filhos de Deus sejam revelados”
(Romanos 8.19). Missão é assumir esse propósito historicamente, aqui e agora,
sinalizando de forma concreta, a presença do Reino de Deus entre nós. Fomos
acostumados com uma Teologia que apresentava o Reino de Deus como uma
realidade futura no final da história. Entretanto, a Bíblia deixa claro que o Reino de
Deus é uma realidade presente, por meio de Jesus Cristo que toma forma no mundo
através da vida daqueles que acolheram o seu chamado, que se reúnem numa nova
comunidade, a igreja. A grande questão que se levanta é: como poderemos viver a
missão de Deus em meio a um mundo que se torna cada vez mais indiferente à ideia
de Deus? Em princípio, precisamos nos conscientizar de que, enquanto não abrirmos
mão de um estilo de vida orientado por valores que não são do Reino, não há missão
possível. Isso demanda uma transformação radical das relações que temos
desenvolvido como corpo de Cristo no mundo, na maneira como temos vivido a oração
de Jesus pela, unidade dos seus discípulos. Esse deve ser o nosso grande projeto de
igreja.
A missão que Jesus nos confiou é praticada a partir da identidade que ele mesmo nos
confere. Para Jesus, nós somos o Sal da Terra e a Luz do Mundo. É um grande engano
achar que o sal só tem valor quando está reunido em um recipiente. O sal só faz
diferença quando está fora do saleiro. Da mesma forma, é uma grande pretensão
acharmos que somos seres iluminados. A luz é Jesus e nós somos os seus reflexos no
mundo. Ser sal e ser luz é ter uma vida para o outro de tal modo que se proclame com
a palavra e com, a vida qual é o sentido de uma vida com Cristo. Fazer missão não é
empreender uma excursão para dentro do mundo a fim de ganhar adeptos, mas ser sal
e luz no mundo. Isso implica que a nossa missão, basicamente, consiste em
desenvolver atitudes que impeçam o avanço da maldade no mundo de forma
significativa.

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