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Gesso
Em relação à carta de Elcio José da
Silva, Gerente de Processos da Santa
Bárbara Engenharia e Empreendi-
mentos temos a informar que é im-
portante, antes de responder especifi-
camente à carta do leitor, fazer algu-
mas considerações que julgamos im-
prescindíveis:
1. A Resolução 307 Conama dis-
põe sobre resíduos da construção civil
de um modo geral e não sobre o gesso
e seus derivados em particular
2. Essa resolução em hipótese algu-
ma restringe a utilização de qualquer
produto na construção civil, mas cria
uma política e estabelece diretrizes,
critérios e procedimentos para a ges-
tão dos resíduos nesse setor
3. Não são apenas os resíduos de
gesso que são de responsabilidade dos
construtores. Todo e qualquer resíduo,
independentemente da sua origem, é
de responsabilidade – ou pelo menos
deveria ser – do gerador, cabendo a
esse elaborar e implementar um plano
para o seu gerenciamento
4. Quanto à sua destinação, os resí-
duos de gesso, da mesma forma que os
demais resíduos da construção, deverão
ter uma gestão que minimize seus im-
pactos ambientais. O principal intuito
da Resolução 307 é cessar o uso dos
aterros sanitários (bastante custosos)
para a deposição dos resíduos da cons-
trução civil, que é responsável por um
significativo porcentual dos resíduos
sólidos produzidos nas áreas urbanas
5. A conclusão de que a utilização
do gesso está limitada é totalmente
equivocada, até porque, antes de reci-
clar e reutilizar resíduos de quaisquer
materiais, é fundamental reduzir a sua
geração. Nesse aspecto, os sistemas
construtivos à base de chapas de gesso
são imbatíveis, pois utilizam processos
industrializados, nos quais a geração
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CARTAS
de resíduos em obras chega a no má-
ximo 5% contra os 30 a 35% de resí-
duos produzidos pelos processos tra-
dicionais da construção
6. A alegação " ... a ponto de haver
apenas uma empresa na Alemanha que
realiza a reciclagem..." não é verdadei-
ra.Além das próprias indústrias, há vá-
rias empresas que se dedicam à recicla-
gem, de forma direta ou indireta
Quanto às soluções, podemos in-
formar que os processos de reciclagem
e reutilização dos resíduos de gesso são
mundialmente conhecidos e já adota-
dos no Brasil. Como exemplo pode-
mos citar a aplicação dos resíduos na
produção de cimento, na fabricação de
novas chapas de gesso, na correção de
solos (com emprego na agricultura),
no uso como aditivo para composta-
gem,na forração para animais,no con-
trole de odores em estábulos, na de-
marcação de campos de atletismo, na
fabricação de giz, no uso como absor-
vente de óleo, na secagem de lodo de
esgoto, entre outras muitas utilizações.
Esperamos que essas informações con-
tribuam para o melhor entendimento
da questão e permanecemos inteira-
mente à disposição para apresentar
mais detalhes aos interessados.
Engenheiro Omair Zorzi
Gerente Técnico - Knauf do Brasil
(zorzi-omair@knauf.com.br)
Membro da Comissão Técnica da Abragesso
Paredes de gesso
acartonado
Sou assinante da Téchne há vários
anos e posso testemunhar a enorme
utilidade dessa revista para o estímulo
ao conhecimento e à competência dos
profissionais envolvidos com a cons-
trução civil brasileira. Por isso, enten-
Envie sua crítica ou sugestão.
techne@pini.com.br
do que a credibilidade da revista me-
rece sobreviver às transitoriedades de
modismos e cartéis.A mensagem a se-
guir constitui o resumo de diversas e
frustradas tentativas no sentido de
que as avaliações sobre o produto
aqui mencionado recebessem enfo-
que compatível com o elementar res-
peito às comunidades técnica e de
consumidores brasileiros.
O consumidor brasileiro está
desinformado
Impossível negar que as divisó-
rias de gesso acartonado vieram para
ficar, pois suas características e virtu-
des – funcionais ou estéticas – são in-
questionáveis. Além disso, os princi-
pais fabricantes e/ou distribuidores
no Brasil têm praticado detalhes ca-
pazes de conferir razoável isolamen-
to acústico, boa estanqueidade em
pisos úmidos, bem como reforços lo-
calizados, insertes ou buchas espe-
ciais, entre outros, que permitem su-
portar cargas pouco convencionais.
Contudo – como acontece com mui-
tos excelentes remédios – o produto
possui vulnerabilidades ou riscos
que deveriam ser (e não têm sido)
comunicados aos cidadãos adqui-
rentes de escritórios, ou de aparta-
mentos, principalmente nas grandes
capitais brasileiras. Assim, para co-
nhecimento e manifestação dos pro-
fissionais do ramo e de entidades pú-
blicas envolvidas, coloco as seguintes
observações:
1o - O consumidor não está sendo
alertado sobre o potente estímulo à
proliferação de insetos (principal-
mente traças) nos vazios dos painéis,
onde o seguro e farto abrigo se alia a
paredes comestíveis. Tenho testemu-
nhado essa e várias outras infestações,
ao longo de minha atuação, nos últi-
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mos anos, como perito em patologias
da construção civil
2o - Sobre guarnições de portas
que integram tais divisórias, cumpre
notar que aquelas saem de fábrica
corretamente imunizadas. Contudo,
durante as montagens, artífices vários
ou afoitos empreiteiros costumam in-
serir uma profusão de barrotes, sarra-
fos ou pedaços de tábuas – sem qual-
quer tratamento inseticida – para fi-
xações de tubos, caixas de descarga,
quadros de luz, eletrodutos, tomadas,
interruptores. O desavisado consumi-
dor, que compra o "gato ensacado",
jamais saberá o volume de tais apeti-
tosos recheios, reservados a futuros
cupins e outros vorazes insetos
3o - O discurso (praticado pelos
fabricantes nacionais do produto)
sobre o amplo e antigo uso dessa divi-
sória no exterior, principalmente nos
Estados Unidos, esbarra em três, e pri-
mários, contra-argumentos:

O drywall, nos Estados Unidos,
é o centésimo convidado para um
baile que dura há muitas décadas, pois
é sabido que parte dominante das mo-
radias norte-americanas são erguidas
com madeira e com paredes duplas as
mais sofisticadas. Sucede que essa tra-
dição da madeira criou, naquele país, a
já antiga e sólida cultura de controle
de pragas urbanas: significa que qual-
quer pequeno povoado, no interior
dos Estados Unidos, possui várias em-
presas especializadas no combate aos
inúmeros insetos e fungos que atacam
a madeira (ou nela apenas se abri-
gam), sendo que algumas chegam ao
requinte de exterminar colônias, nos
vazios dos painéis, com aparelhos por-
táteis de microondas

Apesar de toda essa parafernália
(que custa muito caro para os consu-
midores), as infestações de insetos na
Califórnia, Texas, Flórida e Louisiana
(estados americanos mais quentes
e/ou úmidos) já se converteram em li-
terais e muito onerosas endemias, for-
çando os governos a montar e manter
programas especiais de orientação, as-
sistência e, até, subvenções aos cida-
dãos, para os quais canalizam enor-
mes verbas. Quem duvidar, e puder
navegar na internet, tente um bom site
de busca, conjugando os parâmetros
"USA" + "pest control" , "drywall + sil-
verfish" ou vinculações afins

O que dizer, portanto, do con-
sumidor brasileiro, habitante de um
país cujo clima (na média) faria a Fló-
rida parecer um freezer? Resta alguma
dúvida sobre o fantástico estímulo
reprodutor que cupins, brocas, tra-
ças, aranhas marrons e outras pragas
estão encontrando em nossa tropical
e cálida Pindorama? Conseguirá o ci-
dadão tupiniquim dedetizar os confi-
nados e inacessíveis vazios das dry-
wall, num Brasil sem qualquer tradi-
ção de eficácia na área de pest control?
Não seria, esta, uma característica da-
quele produto a ser revelada, sempre
e honestamente, aos mutuários da
habitação popular e aos demais ad-
quirentes de imóveis?
4o - O meio técnico vem assistindo
uma direta interferência, das produto-
ras/vendedoras de drywall, tanto nas
publicações técnicas (anúncios e arti-
gos respaldados por renomados pro-
fissionais) como nas modificações dos
mais recentes partidos de cálculo es-
trutural (banimento de vigas, exalta-
ção das lajes-cogumelo, contrapiso
zero). Será descabido dizer que essas
novas geometrias estruturais tenderão
a gerar deformações lentas mais acen-
tuadas e, na seqüência, mais fissuras
em alvenarias periféricas, com agrava-
mentos das atuais infiltrações de
chuva, o que elevará, também, riscos
de insalubridades internas, de descola-
mentos de revestimentos por espolia-
ção de cales e de corrosões em armadu-
ras ? A omissão dessas questões,desde a
fase de projetos até execuções de obras
e pesquisas de pós-ocupação – notada-
mente pela CEF e por demais entida-
des envolvidas com moradias popula-
res – constitui postura imperdoável,
seja sob o enquadramento ético da ine-
quívoca desinformação existente, seja
pela necessidade de preservar a essen-
cial higiene (saúde) das habitações.
Sylvio Nogueira
Arquiteto, ex-professor da PUC-PR, bolsista do DAAD
junto à Technische Hochschule Stuttgart, na
Alemanha, perito e assistente técnico em ações
judiciais na área de patologias prediais
Conforto térmico
Em complemento ao comentário
do leitor Everdam Martins da Silva, em
carta encaminhada à redação e publi-
cada na Téchne 80, gostaria de questio-
nar a física Maria Akutsu sobre o as-
sunto citado. Trata-se do comparativo
de conforto térmico entre blocos ce-
râmicos e de concreto, onde ela cita
que uma parede executada com mate-
riais que têm maior resistência térmi-
ca não terá necessariamente melhores
condições de conforto térmico, sendo
necessário avaliar se a inércia térmica
é adequada ao clima. Como seria feita
essa adequação? Acredito que em uma
hipótese de duas edificações iguais –
uma de blocos cerâmicos e outra de
blocos de concreto – submetidas às
mesmas condições externas (orienta-
ção, tamanho e sombreamento das ja-
nelas, ventilação, acabamentos e re-
vestimentos e umidade), a edificação
executada com o material que tem
maior inércia térmica, necessaria-
mente terá melhores condições de
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CARTAS
conforto térmico. Quais seriam as ca-
racterísticas do clima desejáveis para o
uso de um material ou outro?
Márcia Melo, por e-mail
Cara Márcia
Se a parede construída, seja com
alvenaria de blocos de concreto ou de
blocos cerâmicos, tiver a mesma re-
sistência térmica e a mesma capaci-
dade térmica, a edificação terá o
mesmo desempenho térmico. Isso
pode ser conseguido com blocos de
espessuras diferentes, com geome-
trias de furos diversas ou com acaba-
mentos diferentes, maior ou menor
espessura de argamassa de revesti-
mento. Enfim, não é o fato de ser de
concreto ou de cerâmica que vai pro-
piciar um melhor ou pior desempe-
nho para uma mesma edificação e
sim o fato de apresentarem como re-
sultado final “x” ou “y” resistência
térmica e capacidade térmica. O con-
forto térmico ou acústico conseguido
com esses elementos vai depender
não só da espessura do bloco como
também das características do clima
local. Se você se refere ao conforto
térmico, a diferença básica entre os
dois tipos de blocos com relação às
propriedades que interferem no de-
sempenho térmico de qualquer edi-
ficação está na resistência térmica
(espessura/condutividade térmica,
dada por m2.K/W) e na capacidade
térmica (densidade x espessura x
calor específico, dada por J/m2.K) da
parede construída com o bloco.
Comparando-se paredes de mesma
espessura, a de blocos de concreto
tem maior capacidade térmica, o que
lhe confere maior inércia térmica,
propriedade que a torna mais ade-
quada a climas temperado e quente
seco, com amplitudes térmicas eleva-
das. Se a parede for de blocos cerâmi-
cos tem maior resistência térmica, o
que lhe confere maior isolação térmi-
ca e a torna mais adequada para cli-
mas frios, principalmente quando se
faz uso de sistemas de calefação. Por
outro lado, associado ao fato de ter
menor capacidade térmica, torna-se
mais adequada também a climas
quentes e úmidos, pois terá menor
inércia térmica. Com relação ao de-
sempenho acústico, a principal ca-
racterística a ser considerada é a
quantidade de massa: assim, a parede
em blocos de concreto de mesma es-
pessura tem maior isolação sonora
(dB) por apresentar maior massa.
Essas considerações são válidas, de
modo geral, para blocos com espessu-
ra da ordem de 19 a 20 cm. Blocos
com espessura menor terão menor ca-
pacidade térmica e menor resistência
térmica e vão, portanto, apresentar ca-
racterísticas de inércia térmica média
para baixa, sejam os blocos em con-
creto ou cerâmica.
Maria Akutsu
Divisão de Engenharia Civil do IPT (Instituto de
Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo)