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MARCELO AIEXE
Caros leitores e editores,
É com imensa alegria e gratidão que me dirijo a vocês hoje. Após me encantar
pelo filme "The Commitments" de Alan Parker, decidi adquirir a trilha sonora, e
o impacto daquelas músicas em minha alma foi inegável. A partir desse
momento, um desejo inquietante começou a pulsar dentro de mim, clamando
por uma ação.
Sou um apaixonado por filmes, tive até uma locadora de filmes por 25 anos, e
dentre os gêneros que mais me encantam, o musical ocupa um lugar especial
em meu coração. Ansiava por criar uma história que entrelaçasse drama,
romance e música, uma narrativa em que as canções ganhassem vida e
ecoassem em sintonia com cada passo do enredo. Essa empreitada não foi
tarefa fácil, mas após vários anos, finalmente consegui terminar uma obra que
considero verdadeiramente incrível.
"I'm Soul Man", desde o seu conceito inicial, tomou forma como uma obra
destinada a ser representada no formato musical. Anseio pelo dia em que esse
sonho possa se concretizar, mas, até então, encontro-me satisfeito em
compartilhar com vocês a jornada que tracei através das páginas deste livro. Ao
mencionar as músicas à trama, não pretendo que sejam cantadas na íntegra,
mas sim as suas letras se fundem harmoniosamente com os momentos
descritos, enriquecendo a experiência da leitura, outras sim, eu vejo como
cantadas por inteiro.
Ao lerem este livro, vocês embarcarão em uma jornada de amor que ultrapassa
barreiras de preconceitos e enfrenta desafios com bravura. As músicas se
tornarão as trilhas sonoras de suas próprias memórias, evocando vivamente as
cenas e sentimentos aqui compartilhados.
As correntes podem ter nos segurado, mas não nos segurarão mais,
Pois em nossos corações, um fogo arde, pronto para voar.
Juntos enfrentaremos os desafios que esperam,
Com a esperança como nosso guia, desafiaremos as mãos do destino.
M.A.S.
1
Enquanto Louis permanecia em seu posto, a adrenalina fluía pelas veias de Lisa,
Tom e James. Empurraram a cerca enferrujada, adentrando o terreno
desconhecido. Eles riram, correram e brincavam, seus risos ecoando no ar
enquanto a escuridão envolvia o terreno. Desavisados das problemas que
estavam por vir, os amigos se aventuraram mais fundo, curiosos para desvendar
os segredos que o local guardava.
Foi então que o inesperado aconteceu. Uma estrutura dilapidada, corroída pelo
tempo e pela negligência, cedeu sob o peso dos amigos, desabando com um
estrondo ensurdecedor. O coração de Louis parou por um momento, enquanto
ele testemunhava impotente a tragédia se desdobrar diante de seus olhos. Ele
correu ate o local, gritando por seus nomes, mas apenas o silêncio se fez
presente.
“Vá buscar ajuda Louis, disse Tom. “Nós ficaremos bem, vai rápido.”
"Nós precisamos contar a verdade!" exclamou Lisa, com a voz embargada pelo
choro, desesperada para fazer justiça ao amigo injustiçado.
"Mas quem acreditaria em nós?" respondeu Tom, a voz trêmula de incerteza. "A
cidade já decidiu quem é o culpado."
Antes de ir cumprir a pena, seu pai Wilson Anthony, pode se despedir e tiveram
uma breve conversa, no qual ele disse: ” meu filho, seus amigos acreditam em
você e isto basta pra mim. A força para superar os desafios está dentro de você.
Enfrente as dificuldades com determinação. Escolha sabiamente e siga em
frente, aprendendo com os erros. Seja corajoso e faça as escolhas certas,
mesmo quando parecer difícil. Eu acredito em você e estarei sempre ao seu
lado. Seja forte e construa uma vida que te orgulhe." Seja homem e tudo ficará
bem no final”. Os dois se despedem com um abraço caloroso e lágrimas caem
dos olhos de Louis, no qual o pai apenas diz: “Engole o choro.”
Enquanto Louis adentra o ônibus que o levará ao presídio, uma tensão palpável
enche o ar. Os outros detentos olham para o chão, com expressões carregadas
de tristeza e ressentimento. No silêncio sufocante, um homem do outro lado do
corredor começa a cantar baixinho as primeiras notas de "The Thrill Is Gone".
8 anos depois...
O sol se levanta, lançando um raio de luz tênue através das grades da cela
numero 22 de Louis . O barulho dos trincos de metal sendo abertos anuncia o
início de mais um dia na prisão. Ele se levanta, sentindo o peso das correntes
emocionais que o aprisionam há uma década. Na ala dos presos, ele encontra
Bobby, seu único amigo na cadeia. Não que ele não tivesse outros com quem
conversava, mas foi em Bobby que ele conseguiu ter uma relação que pudesse
ser um tanto quanto fraternal. Durante os anos atrás das grades, uma amizade
profunda e sincera floresceu entre eles. Ambos compartilhavam o fardo da
injustiça e o sonho de um futuro diferente.
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Roberto Santos era seu nome, um imigrante latino, vindo da Costa Rica quando
mais jovem, e seu único crime foi de estar na hora e local errado e por não
portar documentos, erros comuns da época. Apesar de nunca ter falado a sua
idade, calcula-se que tivesse uns 60 e todos, eles diziam. Um homem mais velho
com sabedoria nos olhos e uma alma repleta de histórias, compartilhava a cela
com Louis na penitenciária. Sua sentença era perpétua, devido a isso, e aos anos
já cumpridos, lhe foi dado a permissão de um violão que com o tempo, era
comum estar faltando algumas cordas. Sua presença imponente e serena era
reconhecida por todos na prisão, e ele se tornou uma figura inspiradora para os
detentos. Ele cativava a todos com sua perspicácia e conhecimento, estava
sempre lendo e com um diário em mãos, era comum vê-lo fazendo anotações
nele. Sua vida era envolta em mistérios e experiências, algumas das quais ele
revelava sutilmente ao longo das conversas com Louis. Nas noites tranquilas na
cela, ele compartilhava histórias de sua juventude, suas lutas e triunfos, e como
a música se tornou sua paixão na vida.
Bobby era um talentoso cantor e compositor, com uma voz rouca e carregada
de emoção. Na solidão da prisão, ele encontrou conforto na música,
transformando suas experiências em letras profundas e melodias cativantes.
Suas composições eram verdadeiras obras de arte, mas permaneceram
aprisionadas junto com ele, sem serem ouvidas pelo mundo externo.
Louis ficava fascinado com cada palavra e nota musical de tocada por Bobby. As
noites se transformavam em sessões de composição, onde eles trabalhavam
juntos para aperfeiçoar cada melodia e cada verso. Eles sonhavam com um
futuro em que suas composições ganhariam vida fora das paredes da prisão.
Ao longo dos anos, eles aderiram ao apelido dado pelo Oficial Reynolds ,
Abbott & Costello* e cantavam em certas noites na prisão e Louis começa a se
destacar como um cantor talentoso, ganhando o respeito e admiração dos seus
companheiros de prisão.
A relação entre ambos foi além de uma simples amizade de cela. Eles se
tornaram mentores um do outro, compartilhando suas esperanças, medos e
sonhos. Bobby com sua sabedoria encorajava Louis a acreditar em seu talento e
a não desperdiçar a oportunidade de compartilhar suas composições com o
mundo.
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“É verdade, Louis . Mas a gente tem que continuar resistindo, não importa o
quê. E, hey, temos algo especial hoje!”,
“O quê?”
“É uma ótima ideia! Nem me lembro de ter comido algo assim em minha vida,
mas eu gostaria de um dia, quem sabe, poder ter uma refeição desta. Eu queria
ter um pouco desta esperança e você prega “, diz Louis sorrindo.
“que a esperança em sua vida seja a minha motivação pra ser feliz.”, Bobby
filosofou e riu.
“Ei, Louis, você viu o Oficial Reynolds hoje? Ele está com a expressão mais
amarga do que nunca!”
“Acho que ele acordou do lado errado da cama hoje. Só espero que ele não
decida implicar conosco.”
“Ora, ora, se não são a minha dupla preferida, Abbott & Costello. Espero que
não estejam programando alguma coisa pra hoje além de suarem a bunda e
serem picados por insetos, e quem sabe, por uma sorte do destino, tenham
uma insolação”. O oficial Reynolds tinha um senso de humor baseado em horas
de aulas de sarcasmo.
“Oh, não, senhor. Estamos prontos para trabalhar duro e seguir as regras”, disse
Bobby.
“Bom mesmo. Porque se eu pegar vocês dois fora de linha, vão se arrepender.”
Após o café da manhã, os detentos são chamados para o trabalho diário. Hoje,
eles serão enviados para a construção de uma nova ferrovia. O som
ensurdecedor dos portões sendo destravados ecoa pelo pátio da prisão, e os
detentos se alinham em fila indiana.
Enquanto os próximos dois anos de pena se passam, o coro dos detentos ecoa
pelos trilhos, atravessando o tempo e as dificuldades. O som da música se torna
um hino de esperança e reabilitação, fortalecendo os laços entre os presos, e
esta melodia se faz presente até o dia em que Louis emerge da cela 22 pela
última vez, e caminha pelo corredor, também pela última vez, em direção à
saída, onde pela primeira vez, ele sai pelo portão da prisão, como um Homem
livre, levando com ele uma última mensagem de sabedoria do grande amigo
Booby: "Abrace o êxtase da vida, descubra a felicidade que reside em ti. Persiga
a esperança, pois ela perdura; acredite. Nos momentos de solidão e tentações
obscuras, recorda: esses pensamentos desvanecerão. Comande teus
pensamentos, a energia emana de dentro, então pensa positivo sem cessar. Na
jornada, nunca estarás só, apenas crê e tudo se encaixará."
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Mas tarde, Bobby sozinho em sua cela, feliz pela liberdade de seu amigo, mas
com uma tristeza que o consome por anos, ele aceitou a ideia que jamais será
um homem livre e que morrerá por lá mesmo, lembrou dos amigos e familiares
que nunca mais viu na Cosa Rica, seu sonho de que os EUA era o país de
oportunidades, esperança e liberadade, duraram menos de três meses. Ele olha
pela janela e tudo o que vê, e um céu escuro, sem estrelas, morto, ele se sentia
assim também, então ela pega seu violão gasto com apenas três cordas e
começa a tocar a canção "I Wish I Knew How it Would Feel to be Free” na
esperança que aquelas letras pudessem se tornar reais em algum momento
ainda em sua vida. O som da canção ia preenchendo os espaços vazios de
corredores frios e chegando às outras celas, onde cada detento, pode se
sensibilizar e sonharem por aquelas palavras sendo cantada.
A manha seguinte começa, rasgado com o som agudo das sirenes ecoando
pelos corredores, enchendo o coração dos detentos de um pavor iminente. Eles
acordaram assustados, e um turbilhão de medo e curiosidade se espalha pelo
ambiente, enquanto questionam o que poderia ter desencadeado tal alerta. Os
guardas, antes calmos e indiferentes, agora estavam tensos e corriam pelos
corredores banhados por uma penumbra inquietante. O Oficial Reynolds
andava acelerado em direção a um pequeno grupo de guardas. Na mão de um
deles um guarda segurava um violão velho, sem cordas, diante da cela numero
22.
3
Louis desce do ônibus após cumprir sua pena no presídio. Ele se vê diante da
estação de trem, confrontado com duas opções: voltar para casa ou embarcar
em uma jornada rumo a um destino desconhecido.
Louis olha para sua cidade natal ao longe, sentindo uma mistura de nostalgia e
apreensão. Ele sabe que, ao voltar para casa, terá que enfrentar as memórias
dolorosas e o preconceito arraigado na comunidade. No entanto, também há
um chamado interior para encontrar sua verdadeira identidade e trilhar um
caminho próprio.
“destino?”
Com uma dose de coragem e uma pitada de incerteza, ele toma uma decisão e
compra uma passagem para um trem com destino a Woodville, conhecida
como A Morada do Sol, pois foi tudo que dava pra conseguir com o dinheiro
que tinha em mãos, e decidido a explorar um novo horizonte e se descobrir
além das limitações impostas pela sociedade.
Moyses "Bluesman" Carter, era assim que ele gostava de ser chamado, reunia
coragem para enfrentar Jack "Raging Storm" Davis, o líder da gangue que
espalhava o medo pela cidade. Moyses sabia que a música era sua arma mais
poderosa contra a violência e a segregação. J.D. era um homem elegante,
apesar de sua expressão selvagem e portva sempre o seu trompete dourado.
Jack “Raging Storm” Davis era um ótimo trompetista e seu Jazz Echoes Club , era
a principal casa noturna da cidade. Era comum ter presença de grandes artistas
presente, isso era ótimo para os negócios, fazendo com que o local permanecia
sempre lotado. Antigamente lá era uma pequena fábrica de tecido, mas que
após ”A Grande Depressão” ela foi aos poucos fechando.
Com sua expressão dura, encarou Moyses com desconfiança. "O que você quer,
Bluesman? Acha que sua música pode mudar alguma coisa?"
Moyses respirou fundo, seu olhar firme. "Não estou aqui para brigas. Eu
gostaria de ter uma oportunidade de cantar aqui no seu clube e para mostrar a
você, e seus clientes que a música tem o poder de unir e curar. E que eu sou
muito melhor que você cantando".
Ruby Thompson, que acompanhava Moyses, interveio com voz suave, mas
determinada. "J.D. para com isso. Você sabe que Moyses é bom demais, ele
pode agradar a todos, fazer um pequeno show de abertura para algum outro
convidado. Você já ouviu falar da magia da música? Ela transcende barreiras e
toca a alma. Juntos, podemos criar uma harmonia que vai ecoar em cada canto
deste clube e talvez, de toda a cidade."
J.JD e Ruby eram amigos de infância e apesar de seguir por caminhos mais
sombrios, quando ele estava com Ruby era quando ele podia se sentir um cara
livre de verdade, mais humano. J.D. franziu a testa, olhou ao redor do clube,
para as pessoas que estavam lá, para as mesas ocupadas e uma idéia lhe veio a
mente.
“ok! Vamos fazer o seguinte. Um desafio. Está vendo aquele senhor sentado no
bar? Ele vem quase todo dia, o chamamos de Sr. Amargurado. Vou deixar você
tocar apenas uma música, pode subir no palco cantar, minha banda vai te
acompanhar no que você precisar, se você conseguir arrancar um aplauso dele,
meu clube estará de portas abertas pra um show seu. Combinado ?”
estendendo a mão.
À medida que a canção chegava ao fim, olha para o salão, onde a animação
dos clientes contagiava aos demais, e olhando em direção ao bar, viu o Sr.
Amargurado dançando como se fosse a ultima vez que faria isso. Ao final da
musica Sr. Amargurado, batia palmas a esmo e assobia. J.D. não agüentando
ver aquela cena, riu demasiadamente e bateu palmas; deu um leve aperto no
ombro de Ruby e um tapinha nas costas.
"Você têm razão Ruby, ele é bom, minha palavra está valendo. Ele poderá fazer
shows aqui no clube. Vamos agendar um dia. A música dele tem um poder de
mudança e cura da alma” disse ele enquanto fazia um sinal de positivo em
direção a Moyses, que era ovacionado pelo publico presente.
5
Quase doze anos se passaram desde o acidente de James, e esta época era sem
dúvida muito difícil pra Lisa, afinal comemoravam juntos os aniversários. Apesar
de já fazer um tempo, aquela conexão que os gêmeos possuem, fazia questão
de permanecer.
Nestes anos Lisa virou uma outra mulher. Deixou as brincadeiras de lado, e
devido seus pais terem tido forte influencia na condenação de Louis eles
acabaram tendo diversas brigas e discussões. Era comum o pai deixar escapar
que a culpa era dela e por muitas vezes ela preferia que tivesse sido ela ao invés
de James. Perdeu interesse nas coisas, deixou de ir pra escola. Lisa era até então,
uma ótima aluna. Virou uma menina triste e amargurada, depressiva e
revoltada. Após dois anos do acidente, seus pais a mandaram pra um colégio
interno.
Com Lisa longe, foi mais fácil dela poder conversa com Tom, através de cartas.
Praticamente toda semana um escrevia ao outro. Durante um ano, escreviam
sobre como podia ter sido diferente. Contaram centenas de idéias que
poderiam ter feito pra ajudar Louis. As cartas acabaram sendo um conforto para
cada um e notaram que sentiam saudades um do outro. A princípio as cartas
eram apenas meras formalidades do dia a dia e do que podiam ter feito pra
ajudar, mas com o passar do tempo, elas foram mudando pra algo mais pessoal,
sentimental. Lisa nutria um gosto de escrever poesias e mandava pra Tom. Dizia
pra ele achar se ficou bom, mas no fundo ela escrevia os poemas com
pensamento nele e foram nutrindo uma paixão mesmo que a distancia. Ele
queria dizer isso em palavras, mas um receio e medo de ter interpretado errado
as cartas dela, o deixava na defensiva. O nome de Louis já não era mais tocado
nas cartas.
Era maio de 1959, Lisa completaria dezoito e ela estaria voltando pra casa. Não
queria festa de aniversario, tampouco queria ficar com os pais. Combinou antes
com ele e acabou voltando um dia antes. Tom a esperou na rodoviária e
quando ela chegou, um abraço caloroso e apaixonado aconteceu. Aquele
abraço era o que faltava pra ambos saberem que era aquilo mesmo que
precisavam. Ficaram um tempo na rodoviária, conversando e esperando.
“Eu não quero mais deixar o medo me impedir de buscar a felicidade, Tom. A
vida é curta demais para vivermos presos no passado. E agora, com essa
sensação que compartilhamos, eu não posso deixar de me perguntar se existe
uma chance para nós.”
A partir desse momento, Tom e Lisa decidiram embarcar em uma nova jornada
juntos. Eles se permitiram explorar seus sentimentos mais profundos e
encontraram conforto, apoio e amor um no outro.
Lisa gostava de escrever, já Tom, quando não estava trabalhando, era comum
ainda, se trancar no quarto pra ouvir suas musicas e ficar tocando seu violão.
“Tenho trabalhado em algumas poesias suas, fiz esta musica, juntado partes dos
seus contos, espero que você goste”. Das notas do violão saltaram uma melodia
serena e apaixonada e de sua voz harmoniosa e cativante saiu Standy Be Me a
mais linda canção de amor que ele pode escrever.
Na manha seguinte, enquanto tomavam café e sorrindo pela noite que tiveram,
Liza o surpreendeu:
“Tom, você já pensou que poderíamos criar nossa própria banda de blues e
soul?
Lisa, essa é uma ideia maravilhosa. Podemos criar nossas próprias canções. Você
escreve e eu faço a música esta nossa conexão especial, tocará as almas das
pessoas. Juntos, podemos criar uma harmonia única e verdadeira.
Decididos a seguir seus sonhos, Tom e Lisa formaram a banda "Harmony Souls".
Com Tom na guitarra e Lisa nos vocais, eles buscaram outros talentosos
músicos locais para completar o som autêntico e intenso que desejavam
transmitir. Juntos, começaram a se apresentar em pequenos clubes e bares da
cidade, cativando a audiência com sua paixão e entrega.
“ Eva, você sempre faz um trabalho incrível com essas flores. É como se cada
uma delas tivesse um brilho especial!”
“ Obrigada! Ah Sr. Kleberson, eu coloco todo meu coração nesse trabalho. Cada
flor é única e merece ser tratada com amor e cuidado.”
“ Com certeza, você é uma verdadeira mestre das plantas. Sabe, Woodville não
seria a mesma sem suas flores e seu sorriso contagiante.”
“Que gentileza! Fico feliz em saber que meu trabalho traz alegria para as
pessoas. É um prazer fazer parte desta comunidade”
“Eu gostaria de rosas brancas, são as preferidas de minha esposa Mary. Hoje é
aniversário dela e depois do que aprontei no final de semana, acho que vou
precisar de uma dúzia ou mais” e sorriu abafado.
“ Sr. Kleberson, flores eu tenho, mas leva este chocolate pra ela, vai ajudar
adoçar o momento é uma receita caseira que aprendi com minha mãe, que
aprendeu como a minha avó. Tenho certeza que ela vai adorar.” Eva estava
sempre sorrindo.
“ Eva, minha querida, você é como um raio de sol em Woodville. Não consigo
resistir ao seu encanto!”
“ Marc, você é um grande amigo, mas já falei que não posso corresponder aos
seus sentimentos.”
“Ah, você não sabe o que está perdendo! Mas não se preocupe, vou continuar
tentando conquistar seu coração. Quem sabe um dia?”, e riu.
Eva sorri, sabendo que Marc nunca desistirá de sua missão de conquistá-la.
Enquanto isso, ela continua espalhando seu amor e bondade pela cidade.
Eva era uma figura amada e respeitada na comunidade de Woodville. Seus dias
eram preenchidos com o som suave da música, enquanto ela arrumava as flores
e preparava buquês deslumbrantes. Ela cumprimentava cada cliente com um
sorriso caloroso, conhecendo-os pelo nome e ouvindo atentamente suas
histórias e desejos. Eva era uma fonte de conselhos sábios e conforto,
oferecendo palavras de encorajamento e esperança.
Enquanto caminhava pelas ruas de Woodville, Eva era saudada pelos rostos
familiares dos moradores, que admiravam sua dedicação e espírito acolhedor.
Ela conhecia cada canto e recanto da cidade e sabia onde encontrar o melhor
café quente, as tortas caseiras mais deliciosas e os tesouros escondidos nas
pequenas lojas. Woodville era um lugar onde todos se sentiam parte de uma
grande família, uma comunidade unida que celebrava os momentos alegres e
apoiava uns aos outros nos momentos difíceis.
“ Eva, minha adorável florista, trouxe estas flores especialmente para você.
Espero que finalmente você perceba que sou o homem certo para alegrar sua
vida.”
“ Ah, Eva, eu nunca desisto! Mas respeito sua decisão. Afinal, você merece
alguém que possa te amar e te fazer feliz.” Disse Marc decepcionado e também
surpreso, afinal ninguém jamais tinha visto Eva em companhia de alguém.
"Meu jovem amigo a vida é cheia de altos e baixos, mas cabe a nós encontrar a
força dentro de nós mesmos para superar as adversidades. Você tem uma
chama brilhante dentro de você, uma paixão que deseja compartilhar com o
mundo. Não se deixe abalar pelas dificuldades, pois cada desafio é uma
oportunidade para crescer e se reinventar. Você é capaz de alcançar grandes
feitos, de fazer sua voz ecoar pelos corações daqueles que o ouvirem." O
Homem Sábio, era assim que Louis o chamava mentalmente, ia falando palavras
de sabedoria, estar ao seu lado trouxe lembranças de Bobby. Ambos tinham
uma sabedoria e mentoria em questões humanas, mas enquanto com Bobby foi
a sua escola, já este Homem Sábio, foi a uma breve aula de faculdade.
Louis olhando pro chão, não soube bem o que dizer e enfiou as mãos ao bolso
da calça e tirou umas poucas moedas, dizendo: “pra ser sincero, tudo que quero
agora é um café, a viagem foi cansativa”. Eva percebendo que aquele dinheiro
não daria para nem para o café.
“venha comigo, vou te levar na melhor café da cidade e você vai experimentar o
melhor pudim de chocolate de toda a região”.
Na Marclean Coffee e Cake, são atendidos pela carismática Josy Lytah. Ela
herdou a confeitaria de seus pais e cuida com muita dedicação e carinho desde
então, ela é uma mulher de coração bondoso. “Oi Josy, poderia trazer pra meu
convidado o Sr ?? me desculpe , esqueci de perguntar seu nome.”
“É Louis. Louis Anthony. Mas por favor me chame apena de Louis, sem o Sr.”
“então Josy, eu falei que seu bolo de chocolate é o melhor da região, pode por
favor trazer pra Louis, um pedaço e uma xícara de café e pra mim, apenas uma
xícara de chá de camomila com maçã.”
Sentado na cafeteria, Louis conta sobre a sua vida e a decisão de ir busca novos
lugares e oportunidades. Esperava que em Woodville ele pudesse se encontrar e
pediu ajuda a Eva, seja qual pudesse ser. Não contou sobre estar vindo de uma
prisão, ele não mentiu em nada sobre a vida que teve, apenas não contou que
tinha passado por esta dificuldade, sendo um detento.
O tempo passou rápido e já estava ficando tarde, Eva acabou levando ele pra
uma pensão que fica numa região mais carente da cidade e pediu que à
procurasse na floricultura, que ela iria tentar achar algo que pudesse de útil pra
ele. Louis agradeceu a gentileza desta mulher, e ficou encantado com tamanha
compaixão e empatia dela.
8
Sympathy for the Devil : Música, Crime e Consequências
Moyses, Ruby e J.D. se reuniram em uma mesa, discutindo os detalhes para uma
apresentação e decidiram fazer uma noite animada com um desafio entre
“Bluesman” e “Raging Storm” e terminando a noite com um dueto entre eles. A
idéia era ótima e J.D. já via que seria um noite de $uce$$o.
Conforme o tempo passava, J.D. se tornou cada vez mais poderoso e confiante
em sua posição. É como se o Rock‟n Roll* tomasse conta de seu corpo e alma.
Ele tinha controle sobre a polícia local e outros funcionários corruptos que
estavam dispostos a fechar os olhos para suas atividades ilegais. Sua natureza
selvagem e habilidades de negociação o ajudaram a solidificar sua posição
como o chefe do crime em Bridgtown. Parecia que ele tinha feito uma
Sympathy for the Devil . No entanto, tudo isso estava destinado a mudar.
9
Chains of Fools: O Despertar na Construção
“ Bem-vindo jovem. Estamos procurando alguém para nos ajudar a cuidar deste
lugar. Estamos construindo um lindo condomínio e precisamos de alguém que
vigie com atenção o local, enquanto a obra está sendo concluída, uma desta
moradia, servirá de base e você poderia ficar com um dos quartos. Você tem
alguma experiência em segurança?”
Ótimo! Vamos fazer o seguinte, vou te dar uma semana pra ver seu trabalho e
depois disso voltaremos a conversar, tudo bem pra você? Se concordar, pode
começar amanha.”
Enquanto Louis começava seu novo emprego como vigia de uma obra em
construção de futuras moradias, ele se deparou com um canteiro de obras
movimentado e cheio de operários habilidosos. O local estava repleto de
maquinários, materiais de construção e o barulho constante das atividades. Ele
sabia que sua função era zelar pela segurança e proteção do local durante a
noite.
Numa outra noite, durante sua ronda habitual, notou uma movimentação
suspeita na entrada da obra. Ele se aproximou cautelosamente e se deparou
com um indivíduo tentando entrar no local sem autorização. Rapidamente,
Louis agiu com firmeza, abordando o intruso e impedindo sua entrada. Sua
rápida reação e destreza em lidar com a situação impressionaram seu chefe, que
ficou sabendo de tudo na manha seguinte.
Um dia, enquanto Louis realizava sua ronda, ele notou um vazamento de água
em uma das áreas da construção. Sem hesitar, ele comunicou imediatamente
seu chefe sobre o problema e ofereceu sua ajuda para conter o vazamento até a
chegada dos profissionais responsáveis. Sua atitude proativa e eficiente ajudou
a evitar danos maiores à obra e conquistou ainda mais a admiração de todos ao
seu redor.
Enquanto Louis se dedicava ao seu trabalho, sua mente sempre se voltava para
o reencontro com Eva, esperava isso com ansiedade de um adolescente.
10
Build me up Buttercup : O Florescer do Amor
Louis cruzou a rua e entrou na pequena Marclean Coffee e Cake do outro lado.
Sentou-se em uma mesa estrategicamente posicionada, de onde podia observar
a floricultura sem ser notado.
Josy Lytah logo veio atendê-lo. “olá! Bom dia, posso anotar seu pedido?
Estamos terminando de fazer umas panquecas de framboesas, estão uma
delicia”
“hum! Parece mesmo deliciosos, mas hoje vou querer apenas um café e um
pedaço daquele delicioso bolo de chocolate” respondeu com firmeza e um
sorriso no rosto.
“claro, com certeza, está fresquinho, foi feito agora mesmo. Já volto com seu
pedido.”
"Louis!! Você ainda está aqui?", exclamou ela, com os olhos brilhando de
felicidade.
Louis se levanta pra cumprimentá-la. “pois é. Acabei ficando e minha vida deu
uma mudada mesmo que nem quando conversamos. Estou muito feliz. Tenho
trabalhado tanto e neste final semana me deram uma folga”.
“Que notícia incrível! você não apareceu noutro dia como conversamos, então
imaginei que pudesse ter ido embora”
“por favor, sente-se aqui comigo; deixe eu te pagar um café. Você foi tão gentil
comigo noutro dia, é o mínimo que possa fazer como agradecimento. Eva
aceitou.
Eva contou sobre seu trabalho na floricultura, como ela havia expandido o
negócio e ganhado a admiração dos moradores da cidade. Louis , por sua vez,
falou sobre suas experiências na construção e como ele havia se dedicado a
aprender mais sobre música e já se gabava de saber tocar muito bem o violão,
que tentava dar notas a um diário que ganhou do amigo. Foi uma conversa que
ambos precisando.
“por que você não vem comigo?” Eva se sentia estranhamente feliz ao seu lado.
Ele aceitou e combinaram onde se encontrar noutro dia para irem juntos ao
almoço. Louis voltou pra casa com uma felicidade nunca ate então sentida
estampada em seu rosto.
Eu? Jamais ? não sei se consigo. Faz muitos anos que não canto pra alguém,
quanto mais pra um público. Melhor não” , respondeu sorrindo .
“achei que você estava em busca de um novo recomeço” e piscou pra ele. “me
diz, qual o intuito de você falar do seu violão, que gosta de tocar algumas
músicas, que se inspira nas letras confusas no diário que ganhou de seu amigo,
se você não vai cantar pra ninguém”. Um breve silêncio se fez “e outra, tenho
uma leve queda por homens que cantam em concursos de novos talentos”
sorriu maliciosamente .
Louis não parava de se encantar, vivia uma felicidade que não cabia em seu
coração. Ele precisava demonstrar isso, precisava cantar pra ela. A conexão entre
Eva e Louis se aprofundava a cada passo e ambos se sentiam muito bem na
presença um do outro.
“o próximo candidato que vem nos prestigiar com uma linda e animada canção
é Louis Anthony, “ disse Sr. kleberson. Alguns batem palma e Eva aplaude em
pé e assobia alto. “ Esperamos que a música que cante seja melhor do que esta
nome de cantor que ele se apresenta”. Todos começam a rir.
Louis pega o microfone e olha para a plateia. Ele fecha os olhos por um
momento e se conecta com sua paixão pela música. Ao abrir os olhos
novamente, ele começa a cantar, deixando sua voz encher o ambiente com
emoção e energia, contagiando com Land of 1000 Dances. Com uma batida
contagiante e um ritmo perfeito fez a todos levantarem dançarem. Após o
show, a euforia tomou conta de Louis. Ele sentia uma mistura de alegria,
adrenalina e satisfação. O aplauso ensurdecedor da plateia ecoava em seus
ouvidos. As pessoas o parabenizavam, dizendo como sua voz era incrível e seu
talento indiscutível. Era uma sensação única, um momento em que todas as
suas inseguranças e dúvidas se dissiparam. Louis finalmente percebeu que
estava no caminho certo, que sua voz e a música tinham o poder de emocionar
as pessoas. E foi ali, no meio de aplausos dos participantes do almoço, que Eva
se apaixonou por Louis.
12
Louis estava indignado. Ele não conseguia acreditar que havia ficado em
segundo lugar na competição de novos talentos. Para ele, sua performance
tinha sido impecável, cheia de energia e emoção. Mas para sua surpresa, um
cachorro havia conquistado o primeiro lugar.
O cachorro Oliver acompanhava sua dona, uma jovem música de rua. Durante a
apresentação, Oliver aproveitou um momento de distração e subiu ao palco,
começando a dançar de forma desengonçada, arrancando risadas e aplausos da
plateia. O inusitado número canino havia conquistado o coração dos jurados e
do público, garantindo a inesperada vitória na competição.
Louis, embora frustrado com o resultado, não conseguia deixar de rir ao lembrar
da cena. A ironia de ser superado por um cachorro dançante era algo que ele
jamais imaginaria. Ele pensou consigo mesmo: "Bem, pelo menos agora tenho
uma história engraçada para contar".
“mas eu sei muito bom por que você não ganhou a competição”, fez uma breve
pausa “ Sr. Kleberson tem razão, você não tem nome de cantor” , e riu enquanto
corria dele.
Enquanto a noite caía, Eva levou Louis até pequeno riacho que ficava próximo
de sua casa. Eles se sentaram juntos em uma cerca velha de madeira apreciando
o silêncio suave que envolvia o ambiente. Foi ali, naquele momento íntimo,
encostados sobre o cerca velha de madeira, de frente a um pequeno riacho seus
olhares se encontraram e eles souberam que estavam prontos para dar um
passo adiante. E assim, no final daquela noite mágica, eles se beijaram pela
primeira vez, selando o início de um amor verdadeiro.
Mas tarde, cada uma já em sua casa, lembranças do dia que tiveram , era o
único pensamento de ambos. Queriam que aquele momento fosse eternizado.
Combinaram de se encontrar novamente no próximo dia, e por muitos outros
dias que vieram. What a Wonderful World acompanhou a jornada deste
relacionamento, até o momento que decidiram, apouco mais de dois anos após
a sua chegada em Woodville, em morarem juntos e cujo momento preferido,
eram descansando do dia de trabalho, sentados no sofá, juntos.
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13
I'd Rather Go Blind : Quando a Rivalidade se Torna Inferno
Ruby Thompson era um homem exemplar como pai e esposo. Sua dedicação à
família era evidente em cada gesto, em cada palavra amorosa e em cada
momento compartilhado. Como pai, ele era carinhoso, protetor e sempre
presente na vida de seu filho de apenas quatro anos, era rígido na educação
mas falava palavras de inspiração pro seu filho, sentavam por horas ouvindo
canções clássicas e lhe contava historias toda noite antes de dormir. Ruby era
um ouvinte atento, sempre disposto a oferecer conselhos sábios e
encorajamento incondicional. Como esposo, ele era um verdadeiro parceiro,
demonstrando amor, respeito e apoio inabaláveis a sua esposa Angela, uma
mulher muito amável e bem dada com todos. Ele valorizava os momentos
simples, como jantares em família e passeios românticos, e sempre fazia
questão de demonstrar seu amor por sua esposa, enchendo sua vida com afeto
e cumplicidade. Sua presença calorosa e seu sorriso contagiante iluminavam a
vida de sua família, criando um lar repleto de amor e felicidade. Ruby Thompson
tinha grandes sonhos de se tornar um renomado agente musical ao lado de seu
parceiro, Moyses “Bluesman” Carter. Seu amor pela música e sua dedicação ao
talento de Moyses eram inabaláveis. Ruby acreditava que juntos eles poderiam
alcançar o sucesso e compartilhar sua paixão com o mundo.
No entanto, havia uma sombra em seu caminho: J.D. Enquanto Ruby era uma
pessoa genuinamente amável e amiga de todos, J.D. era um homem egoísta e
invejoso, sempre em busca de uma maneira de se destacar e sabotar os outros
para conseguir o que queria.
“hei Ruby, é melhor você ir dar uma olhada nos cabos do som, eles estavam um
tanto quanto ruim depois das chuvas d‟outros dias e aproveita fala pro seu
Bluesman que eu não to pagando ele pra ficar namorando.”
Ruby olha pros lados, observa em direção ao seu lugar reservado e não vê
Ângela por lá.
Ruby caminha pros fundos em direção aos cabos, manipulados por J.D., e
enquanto os arruma uma forte corrente elétrica percorre seu corpo e pequenas
explosões em caixas acontecem. Moyses assustado tenta chegar perto, para
ajudar ao amigo, mas não conseguiu fazer nada, a corrente elétrica ainda estava
ativa enquanto o corpo de Ruby se contorcia devido a descarga elétrica que
recebia.
Angela saiu do banheiro, I’d Rather go Blind uma linda canção triste era tocada
na jukeboxe do clube, e repara um alvoroço que tinha se formado por trás do
palco. Caminhando em direção sentiu um cheiro ruim pelos ares. As pessoas
estavam tristes, algumas choravam, e viu Moyses completamente desolado em
um choro continuo ao lado, do então agora arrependido, J.D. e ao olhar ao
centro de toda confusão, o corpo queimado sem vida de Ruby Thompson, seu
marido, foi a ultima coisa que viu antes de desmaiar.
A idéia de J.D. era causar uma briga entre os dois e não matar a única pessoa
que o considerava como um amigo.
Era véspera do grande dia pra festa do Dia dos Namorados no “Harmony’s
Haven” e tom era só preocupação. J.D. ate o momento não tinha entregue o
que foi acertado, tudo bem que foi prometido para o dia de manha, mas a fama
de J.D. de não ser um homem confiável, mas o pior era sobre o cantor Moyses
que faria ao show. Seu melhor amigo e agente tinha acabado de morrer num
trágico acidente num outro clube, no que o deixou devastado. A noticia tinha
percorrido por toda a cidade e muitos clientes que compraram ao ingresso
com antecedência, foram lá para devolver, pois achava que o show já não teria
o mesmo valor emocional que a noite propunha e estavam certos. Apesar do
local estar sempre lotado e animado, no dia em questão o ar fúnebre era
sentido, mas Moyses fez questão de cumprir a sua agenda, em memória por
todo o esforço do qual o amigo fez por ele. Mas não foi a melhor festa lá no
clube, os clientes reclamaram, não tinha bebidas, faltou mesas para alguns
clientes que compraram por elas antes. Tom e Lisa nada puderam fazer,
gastaram o que não podiam para organizar o evento e ele não estava saindo
como planejado.
Noutro dia pela manha um caminhão para em frente ao „Harmony’s Haven’ que
estava lá para entrega dos produtos da festa, o que deixou Tom em estado de
ira. Lisa nunca o viu desta maneira, sua cólera era descontada no motorista
contratado para as entregas e receber a outra parte do pagamento. “leve essas
porcarias para o desgraçado do J.D. e eu não devo mais nada fala para ele. E eu
quero a droga do meu dinheiro de volta” falou enquanto esbravejava.
“„Claro, que levo. Ele não vai gostar nada de ouvir o que você me disse se eu
fosse você ficaria logo com os produtos e me dão dinheiro e tudo se resolve
mais facilmente”
Tom pegou uma pedra e jogou na direção do motorista, não chegou nem perto
e ele foi embora rindo.”você que sabe”.
Poucas horas depois, dois carros chegam ao Harmony’s Haven e J.D, e mais oito
capangas descem deles.
“Ouvi dizer que a noite de ontem não foi das melhores” disse indo em direção
de Tom, com seus capangas indo atrás. Lisa observava tudo de dentro de uma
das salas do clube.
“Meu amor você esta bem?” Olhou para J.D. que ria com a situação e ela de
subitamente levanta e acerta um tapa violento na cara dele, fazendo um
pequeno corte em seu lábios
„‟olha só! Agora sabemos quem é o homem desta casa‟” e devolve ao tapa
fazendo a cair.
Tom olha pra ele que lhe desfere um soco violento em sua face. Com os dois
caídos e feridos na alma.
“Vocês tem 24 horas para conseguir meu dinheiro e se eu não o tiver, eu taco
fogo nesta porcaria”. E os dois carros foram embora.
Mas tarde na delegacia, o policial de plantão dizia que não poderia fazer nada,
afinal nenhum crime ainda tinha sido cometido e a ameaça não comprovava em
nada. Afinal J.D. era um membro de prestigio na cidade. Quanto ao soco o
próprio guarda dizia que foi auto defesa, afinal ele que teria ido correndo ao
encontro. J.D. Tinha mesmo a polícia local em suas mãos.
“escuta J.D. fiz um acordo com você no qual não cumpriu. Você sabe muito bem
que não tenho seu dinheiro, te paguei antecipado e por um valor três vezes
mais caro, meu dinheiro viria pelo retorno da festa,. Foi uma semana muito ruim
pra todos, a morte de Ruby afetou ao Moyses e isso afetou também ao evento.
Todo nosso dinheiro estava envolvido neste show e não foi dos melhores.
Podemos negociar um prazo e nós vamos te pagando toda semana um pouco.
Estamos indo até um pouco bem com o nosso espaço, e podemos ir acertando
você aos poucos”.
J.D. ouvia a tudo, mas já estava decidido no que faria, e as palavras estamos
indo até um pouco bem com nosso espaço, não soaram como uma linda
melodia aos seus ouvidos. Eliminar a concorrência seria uma boa para que o seu
Jazz Echoes Club pudesse voltar a ter um movimento como o de antes.
“Eu não consegui o respeito dos outros por ser misericordioso com as pessoas,
e tenho por habito de cumprir com as minhas ameaças. Eu dei pra vocês 24
horas para conseguir meu dinheiro e eu não vim aqui para negociar a nada.”
Colocou fogo num pano amarrado a garrafa , Tom e Lisa correram para tentar
segura-lo, mas quatro capangas os agarraram , dois em cada, e J.D. jogou a
primeira garrafa que logo começou a espalhar o fogo rapidamente, outros seis
capangas fizeram o mesmo e em poucos minutos , o Harmony‟s Haven era
consumido por incêndio devastador.
"Rhythm Walker" estava sendo caçado em todo o país, Aidam e Yan estavam
bem perto de pegá-lo. Tinha acabado de cometer mais um roubo num mercado
na cidade de Soultown, deixando mais duas pessoas feridas, uma gravemente, e
fugiu num outro carro roubado. Na estrada parou para abastecer e foi ao
banheiro e ao retornar, lá estavam os “The Bitting Brothers” ao lado do carro,
procurando-o. Ele deu a volta e correu em sentido contrario. Uma mulher que
estava entrando no carro foi empurrada violentamente por ele que fugiu com o
carro dela. Cinco km depois ouve um choro e ao olhar para trás, um bebê se
encontrava deitado dentro de um carrinho, num bebê-conforto.
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Três meses após o assassinato de Martin Luther king, o país ainda repercutia de
forma negativa, nas grandes cidades, a violência explodiu de forma absurda,
mas em Woodville, a cidade já estava quase que e sua normalidade. Certa noite,
após saírem de uma sorveteria Eva e Louis estão caminhando pela cidade,
desfrutando da companhia um do outro, quando de repente eles se deparam
com um cartaz colorido anunciando uma apresentação de uma banda ou dupla
musical.
“Olha, Louis! Parece que vai ter um show daquela banda ali. Eles devem ser
ótimos! Vamos, faz tempo que não saímos pra nos divertir, nossos passeios são
sempre pela cidade. Vamos dançar um pouquinho”, disse Eva sorrindo e
simulando um rebolado, dançando.
Louis olha para o cartaz e uma mistura de emoções surge em seu rosto. Ele
reconhece o nome desta banda. No cartaz dizia que a banda Harmony Souls se
apresentaria daqui um dia e a imagem dos seus amigos de infância estava
presente, que agora são músicos bem-sucedidos.
“ Eva, essa é a banda dos meus amigos de infância! Eu não acredito que eles
estão se apresentando aqui.” Fez um breve silêncio e falou num tom mais alto:
“Na verdade! não acredito que eles montaram uma banda sem mim”. E sorriu.
“Sim, eu quero muito revê-los, mas também estou um pouco assustado. Eles
alcançaram tanto sucesso, e eu... Bem, minha vida tomou um rumo diferente. A
última vez que eu os vi, eu tinha apenas dezesseis anos e meu caminho não foi
dos melhores desde então”.
Eva coloca uma mão reconfortante no ombro e o abraça. Nesta época já não
havia mais segredos dele para com ela.
“Louis não se compare a eles. Cada um tem sua própria jornada. Você é
especial do seu jeito e tem seu próprio talento. Você é capaz, muito
responsável, esforçado e tenho certeza de que eles ficarão felizes em vê-lo
novamente. E outra, desta vez você tem algo que eles nunca poderão ter.”
Era mesmo impossível não ter se apaixonado por Eva. Inspirado pelas palavras
dela e pela vontade de reconectar-se com seu passado Louis resolve enfrentar
seus medos e decide que iria ao show. Este é uma das duas peças que faltavam
no quebra-cabeça que pra resolver todos os problemas que ainda o mantinha
acorrentado as grades, mesmo elas não estando mais presentes.
A noite Louis resolve escrever pra seu amigo Bobby. Seria a primeira vez que
fazia isso. Sentia falta de sua companhia e de suas palavras de sabedorias, elas
seriam de um bom agrado para o momento. Por nunca ter escrito a Bobby,
tampouco pode receber alguma carta. Esperava que ele pudesse estar bem e
gostaria que ele soubesse que sua vida estava no caminho certo e que seguiu
fielmente as últimas palavras que ele os dirigiu.
Enquanto isso, Louis observa Eva em ação, fascinado por sua gentileza e
compaixão. Ele se sente ainda mais atraído por ela, percebendo o quão especial
ela é.
Após ajudar a criança, Eva se volta para Louis, um sorriso suave nos lábios.
Louis olha para Eva com admiração, vendo-a como uma pessoa
verdadeiramente especial.
Na praça, a jovem cantora desfruta aos transeuntes uma obra prima com a
melodia Try a Little Tenderness, enquanto seu cachorro Oliver, dança
doidamente pela praça.
15
Louis e Eva chegam ao The Soggy Bottom Lounge , local onde seus amigos iriam
se apresentar. O lugar recebeu este nome após a banda “The Soggy Bottom
Boys” * passarem por lá, ninguém jamais tinham ouvido falar deles e o show
foi considerado, para os poucos clientes que presenciaram, o melhor show já
tocado na cidade, tanto que o cardápio de bebidas, leva o nome da cada uma
de suas canções.
“Na Cadeia Agora” pensou aflito. “ Não! Não! Não! Melhor não. Me de duas
cervejas mesmo.
“Eles são ótimos” disse Eva, enquanto dançava ao lado dele e trazendo-o à
realidade.
“ Finalmente você aprendeu a tocar, hein? Seus acordes eram como um gato
andando em cima do teclado!”
O cantor olha para ele, inicialmente surpreso, mas logo reconhece o amigo de
infância que não via há anos.
“Louis ? É você mesmo? Não acredito! Quanto tempo! Como é bom poder te
ver de novo”
“Olha só quem eu encontrei passando mal no banheiro” disse Tom rindo pra
Lisa, que ao virar-se, não conseguiu se segurar e começou a chorar em prantos.
Abraçou ao amigo e enquanto chorava se engasgava em palavras que tentava
dizer, pedindo desculpas, que sentia muito. Nesse momento, abraçado a Lisa e
mais de doze anos depois, Louis chorou novamente e Tom se juntou ao abraço.
O impacto desse reencontro foi marcante para Louis, que sentou-se na mesa
com seus amigos e acenou pra Eva vir até eles.
“Amigos esta é Eva, minha noiva e Amor, estes são meus amigos de infância
Tom e Lisa”.
“Olha só, meus parabéns. James vivia me pedindo pra não deixar você chegar
perto, pois achava que você gostava dela”, fez-se um breve silencio frio.
Eva percebendo, logo deu os parabéns ao casal, “ quero ver o dia que eu terei
um deste em meu dedinho” gesticulando, e o clima alegre retornou.
Conversaram com empolgação e animados por uns vinte minutos. As
lembranças do passado triste, cheio de dificuldades e problemas, pareciam que
não existiram. Como senti falta deles, pensava Louis. Foram vários assuntos
neste curto tempo e Louis indignado, não aceitava a idéia deles terem formado
a banda e não chamá-lo pra ser o vocalista principal. A felicidade estava
presente na vida dos três amigos novamente.
Harmony Souls voltou ao palco, Tom falou algo no ouvido de Lisa , que sorriu a
concordou e enquanto a banda se preparava Lisa diz ao microfone: “pessoal, é
com muita alegria que reencontramos um amigo , ele é um dos fundadores
desta banda e é com prazer que chamo ao placo nosso amigo Louis para cantar
uma musica para vocês. Espero que gostem”. Tom ria ao fundo.
Aquilo pegou Louis de surpresa, não esperava por algo assim e enquanto fazia
sinal escondido de não, Eva ao seu lado batia palmas e gritava “Louis! Louis!
Louis !”. Ele sabia com ela do lado, não teria chance de sair de lá sem subir ao
palco. “Lembre-se que eu tenho uma leve queda por cantores” disse rindo
maliciosamente.
Após sua breve apresentação Louis volta ao lugar onde Eva o esperava eufórica.
Ia recebendo felicitações e elogios e isto o deixou num estado de êxtase. Eva o
beijou ao chegar e deu seus pulinhos habituais com os olhos brilhando de
felicidade.
Após o show de Harmony Souls, Tom e Lisa voltam a se sentar com o amigo e
todos estavam apreensivos, pois tinha chegado a hora de uma conversa séria e
importante sobre o que aconteceu desde o acidente até os anos seguintes. Eles
decidem compartilhar suas histórias pessoais, detalhando como suas vidas se
desdobraram após aquele trágico evento.
Eva estava em pura felicidade, mas percebeu que não era uma boa estar por lá
neste momento. Agradeceu pelo espetáculo e enquanto se despede dos novos
amigos, Louis olha pra ela como olhar carinhoso e ela retribui o olhar com um
sorriso carinhoso antes de se afastar.
Enquanto a conversa avança, Louis revela mais sobre sua jornada após sair da
prisão, suas lutas para encontrar emprego e um lugar para chamar de lar. Ele
compartilha suas aspirações musicais e como a experiência no palco despertou.
“ É difícil acreditar que já se passaram tantos anos desde aquela noite terrível.
Acho que é hora de finalmente colocarmos tudo em perspectiva e
compartilharmos nossas experiências.”
Louis respira fundo: “ Vocês têm razão. Sempre carreguei esse peso nas minhas
costas, mas nunca soube o que vocês passaram após aquele acidente.”
“Depois que você foi levado, a cidade inteira ficou em choque. Houve muita
especulação, muitos julgamentos injustos. As pessoas não entenderam que você
era apenas uma criança, e que não cometeu erro algum. E Lisa concorda que o
pai, sendo prefeito, quem iria contra o que ele falava. E ainda tinha o tio que é
Juiz da cidade até hoje”.
“Não foi fácil lidarmos com o fardo da tragédia. Meu pai ficou inconsolável, se
tornou um cara sem perspectiva, meu irmão era o filho perfeito pra ele.
Vivíamos brigando e minha mãe lutou para nos manter unidos, enquanto
enfrentava também o seu próprio luto. Hoje acredito que eles não tem duvida
que você é inocente, mas como vão falar algo assim. Sinto tanta falta do meu
irmão, assim como sentia de você e se não fosse o Tom tenho certeza que eu
não estaria aqui contando esta historia. Vocês não imaginam o quanto meu
pensamento me fez quase desistir. Me desculpe mesmo, do fundo do meu
coração, por favor me perdoa”. Lisa voltava a chorar.
“ Isso significa muito para mim, Lisa. Eu me senti tão perdido durante todos
esses anos, mas saber que vocês nunca duvidaram de mim me dá uma nova
perspectiva e entendo que vocês não poderiam fazer nada, éramos crianças, ate
para irmos pra escola precisávamos de nossos pais. Na cadeia você amadurece
muito rápido e me adaptei rapidamente e felizmente dei sorte, tive um
companheiro de cela que foi mais que um amigo, e não há o que pedir
desculpas, pois eu nunca duvidei de vocês.”
“Nós nos unimos como família, e eu gostaria que você voltasse a fazer parte
dela. Quando crianças, fizemos uma promessa que estaríamos sempre lá um do
lado d‟outro. Porque você não vem conosco e faz parte de Harmony Souls
novamente.”
“Mas isso é uma idéia maravilhosa Amor. Você sempre pensando com o
coração. Eu te amo tanto. Que tal, você vem?” Lisa se empolgou.
“Eu sempre admirei você, Lisa. Mesmo naqueles dias sombrios, seu espírito tão
brilhante era especial e me ajudou muitas vezes quando eu me sentia triste,
agradeço o convite, mas terei que recusar. Por acaso vocês notaram numa a
mulher que estava ao meu lado? vocês viram o quanto ela é maravilhosa ?
tenho uma vida boa e feliz e parte desta felicidade se resume principalmente a
aquela mulher que amo com todas as forças que Deus me deu. Ela sabe de tudo
que aconteceu em minha vida e esteve ao meu lado mesmo sabendo do meu
passado. Não demorou muito para que nos apaixonássemos. Decidimos seguir
nossos corações e construir uma vida juntos. E aqui estamos apoiando um ao
outro. Mas eu aceito seu convite Tom, de fazer parte de sua família novamente.
Quero estar presente nas suas conquistas e quero que vocês estejam nas
minhas. Espero que mantenhamos contato.”
“sabíamos que você sempre faria parte de nós, em algum momento Louis. Você
é nosso irmão de alma”.
“não e nada demais” disse o médico, “mas você precisa se cuidar mais daqui pra
frente. Devido ao que você tem passado ultimamente, eu recomendaria que
voltassem pra casa e cuidassem melhor deste bebezinho que você carrega”.
17
Certo dia, enquanto comprava ao seu jornal, Louis se depara com a capa do
sensacionalista “Jornal National Enquirer"*, cuja noticia era "Floricultura Flores e
Risos: Onde as flores são tão divertidas quanto os palhaços!" e decidiu levar o
exemplar pra Eva.
Nesta matéria incomum, o jornal destaca uma floricultura única que oferece
uma experiência floral hilariante. A "Flores e Risos" é uma floricultura
especializada em arranjos florais e presentes que são projetados para trazer
alegria e risos aos clientes. Também menciona o fato de que a "Flores e Risos"
foi premiada como a "Floricultura Mais Divertida do Ano" pela Associação de
Jardinagem Cômica.
A noite sentado em seu sofá, sem ter muito o que fazer, Louis pega ao
“National Enquirer” se depara com um pequeno anuncio numa página onde
anúncios místicos eram feitos. Um post misterioso dizia apenas: Mr. Pitiful -
o professor capaz de levar seu aluno à nível extraordinário de talento.
Louis olhou por um tempo no anuncio e buscou ver se tinha mais informações
sobre ele no jornal e exceto o post misterioso, única coisa a mais eram os
números miúdos de um telefone 6345789.
Os dois dias, foram difíceis para ele, a sua vontade era de nem ligar, afinal ele
era hoje em dia um cara feliz, tinha uma mulher maravilhosa ao seu lado, um
bom emprego e era respeitado por todos por lá. A comunidade de Woodville já
o conhecia e era tratado por todos com muita simpatia e carinho. Largar o certo
pelo duvidoso, não fazia parte de seus planos, ainda mais pra arriscar tudo isso
e por tanto tempo, por alguém totalmente enigmático, do qual ele não tinha
nenhuma informação. O que alguém conhecido como Sr. Lamentável poderia
lhe oferecer. Mas, em conversa com Eva lhe dava as forças para ir atrás deste
sonho, que ele era muito bom e que o mundo deveria conhecer o sucesso que
ele poderia vir a ter.
Noutro dia, Louis ligou para o tal número 634578, até o numero era enigmático
e acertou a sua ida com a senhora de voz arranhada. Durante os próximos vinte
e cinco dias, Louis teve que arrumar a sua vida, vendeu tudo o que não usava
ou precisava para juntar dinheiro, do qual Eva também ajudou com estas
despesas. Conseguiu junto ao Sr. Tosta Dantas um afastamento temporário.
Estes 25 dias pareciam que duraram apenas 25 horas.
Louis já dentro de seu vagão, guardou com cuidado seu violão e acenava pra
Eva que retribuía, e em quanto o trem começava a se locomover Bring It On
Home to Me eram as palavras cantadas que lhe vinha, se despedindo do seu
amado.
Após a morte do amigo Ruby Thompson , tanto Moyses quanto J.D. voltaram a
terem problemas um com outro e a parceria estava abalada. Moyses era
constantemente intimidado até que um dia ao receber bem menos do que lhe
foi prometido, aquilo foi a gota d‟água, ele tomou uma decisão. Na manha
seguinte, Moyses “Bluesman” Carter pegou um trem e nunca mais voltou `a
Bridgetown.
Aquilo foi uma traição para J.D. e o que aumentou ainda mais sua ira,
descontando na cidade aumentando os valores de seus serviços impostos. J.D.
estava completamente perdido , a culpa pela morte do amigo , mais a natureza
malévola adquirida o consumia por completo, realmente sentia falta do amigo.
Certo dia, ao entrar no mercado, se encontra com Ângela Thompson e seu filho
saindo. Conversaram bem brevemente e acabou oferecendo uma ajuda e uma
carona. Ao chegar, Angela o convidou para um café e não conseguiu dizer “não”
devido a tanta insistência dela. Conversaram por um longo tempo e vendo a
atual situação dela com o filho , prometeu ajudá-los.
Para Louis, sua ida para Bluevale era uma mistura de emoções. Ao partir de
Woodville, ele deixava para trás a familiaridade e a segurança da cidade que
passou a chamar de lar. A ansiedade tomava conta dele, mas havia também
uma sensação de excitação e curiosidade em relação ao que o esperava.
Curioso e intrigado, tendo ainda pouco mais de um dia pra o inicio das aulas,
decide investigar mais a fundo. Ele descobre que o Mr. Pitiful é conhecido por
ser uma figura enigmática, raramente aparecendo em público e mantendo sua
identidade em segredo. Rumores dizem que ele tem habilidades musicais
sobrenaturais e uma sabedoria profunda sobre a alma da música.
Ao entrar pelo portão, subiu dois lances de escada e chegou a uma porta verde
cor de mofo escrito MR. PITIFUL – ENTRE SEM BATER. A iluminação é fraca,
criando sombras dançantes nas paredes de pedra. O som de notas distantes e
melancólicas ecoa pelos corredores, adicionando um ar de mistério ao
ambiente. As cortinas pesadas cobrindo as janelas e velas acesas, lançando luzes
trêmulas sobre partituras antigas e instrumentos musicais empoeirados.
Quadros antigos com retratos enigmáticos de grandes músicos do passado
adornam as paredes, o observando atentamente enquanto caminha no corredor
em direção a um jovem sentado atrás de uma mesa .
“ola bom dia, me chamo Louis e tenho agendado pra hoje um inicio de aulas
com o Mr. Pitiful”
O jovem tinha um rosto tão sereno, tão cheio de vida, em nada se comparava
com aquele ambiente nostálgico. “seja bem vindo, fico feliz que pode chegar
bem. Espero que tenha feito uma boa viagem”.
Um frio gelado correu pelas costas de Louis, lá estava a voz arranhada que ele
tinha ouvido pelo telefone, saindo pelo microfone de garganta que o jovem
segurava em sua mão.
Enquanto esperava sentado pelo Mr. Pitiful, Julian o jovem, se mostrava tão
prestativo e fez com que Louis se sentisse mais relaxado, tranqüilo e animado,
porém ainda desconfiado. Cinco minutos depois ele é autorizado a entrar e
enquanto caminha em direção a uma porta de vidros, todo pintada de preto,
olha para Julian que simula um sorriso forçado. “meu Deus, onde fui me meter”
pensou.
Ao abrir a grande porta, um novo mundo surgiu em seus olhos. Ele nunca viu
algo tão lindo em toda sua vida. Luzes brilhantes contagiavam o ambiente.
Adentrando a uma sala gigante, imersa em uma atmosfera dourada e cheia de
vida, como se o próprio sol se manifestasse em cada detalhe. Os anos 40,50
deixaram sua marca pelos lindos móveis. As cores vibrantes dançam em
harmonia, criando um espetáculo caleidoscópico. Os tons dourados, sinônimo
de sofisticação e glamour, se entrelaçam com variantes intensas e provocantes,
resultando em uma estética deslumbrante. Nesse lugar encantado, a energia é
contagiante, os sons envolventes que soavam pelo ambiente o levava a um
imenso palco onde poderia dançar por horas com seu amor Eva, ficou perdido
em meio a um sonho que jamais desvanece. É um cenário deslumbrante, onde a
beleza é palpável e o encantamento é infinito.
Enquanto fica admirando, olhando para todos os lados possíveis, abre-se uma
porta e de traz surge um ser gigante, um sujeito exuberante e cheio de
vitalidade. sua figura rechonchuda e um sorriso contagioso, ele transborda
energia positiva e caminha dançando indo ao encontro e Louis que permanece
imóvel e boquiaberto. Seu corpo em movimento constante é uma celebração da
vida, e suas risadas são contagiantes. Seu estilo de vestuário é único. Ele vestia
roupas coloridas e alegres. Sua camisa vibrante num misto de laranja e rosa,
combina com calça larga em cores contrastantes num tom de verde ou seria
azul. Seus sapatos são confortáveis, mas não menos extravagantes, com
detalhes brilhantes e acabamentos metálicos que ornavam a acessórios como
óculos de sol, chapéu colorido na cor da calça e segurava a um lenço
estampado que dava um toque de charme.
“Louis meu filho, como é bom te ver, não imagina a minha felicidade em ter
você por aqui” e beija seu rosto, deixando Louis sem entender absolutamente
nada. “Seja bem vindo a escola do Mr. Pitiful , o próprio que vos fala”, fez uma
reverência. “desculpe fazer você esperar este tempo, mas você sabe, foi
proposital, e não vamos perder mais tempo. Temos muito trabalho a fazer. Vem
comigo”, e sua expressão já era de um homem bravo e sério.
“Quem era esse tal Mr. Pitiful e onde eu fui me meter”, pensava Louis.
Os dias iam passando e Louis observava atendo a tudo que o exigente Mr.
Pitiful lhe ensinava. Era um excelente professor de música, dedicado a ensinar a
arte do blues a seu aluno. Ele guiava Louis por um caminho de autodescoberta
musical, ajudando-o a se tornar um verdadeiro bluesman.
Louis mergulhou de cabeça em suas aulas com Mr. Pitiful, ansioso por aprender
e aprimorar suas habilidades musicais. No entanto, ele não esperava que as
lições fossem tão desafiadoras e, às vezes, constrangedoras. Mr. Pitiful sempre
foi implacável no ensinamento, buscando extrair o melhor dos seus alunos.
A primeira lição foi de presença de palco. Ele o instruiu a andar pelo palco com
confiança e a se expressar através de gestos e movimentos corporais. Louis se
sentiu desajeitado no início, mas Mr. Pitiful o incentivou a se soltar e a encontrar
sua própria linguagem corporal para transmitir sua música. Era desconfortável
para Louis se exibir dessa forma, mas ele sabia que era parte do processo de se
tornar um artista completo.
A segunda lição focou na conexão com o público. Mr. Pitiful ensinou a olhar nos
olhos das pessoas enquanto cantava, transmitindo emoção e paixão através de
suas expressões faciais. Para ele foi uma tarefa desafiadora. Ele era naturalmente
tímido e não se sentia confortável olhando nos olhos dos outros. Mas com a
orientação e incentivo de Mr. Pitiful, ele começou a se abrir e a se conectar
verdadeiramente com o público, vendo as reações e sentindo a energia em
retorno.
Uma das lições mais constrangedoras para Louis foi a técnica vocal. Mr. Pitiful o
colocou em exercícios vocais desafiadores e o incentivou a explorar as
diferentes tonalidades de sua voz. Sentiu-se vulnerável ao tentar alcançar notas
altas ou controlar seu tom. Às vezes, ele errava e sentia seu rosto corar de
vergonha. Mas Mr. Pitiful sempre o encorajava bravamente a continuar,
lembrando-o de que o caminho para a grandeza envolvia desafios e superação.
Outra lição importante foi sobre a interpretação das letras das músicas. Mr.
Pitiful mostrou como transmitir a emoção e a história por trás de cada palavra.
Eles mergulharam nas letras das canções, explorando suas variantes e
significados. Aprendeu a contar uma história através de sua voz, a deixar a
música fluir em sua alma e a compartilhar sua própria experiência emocional
com o público. Essa conexão profunda entre a música e as palavras transformou
sua interpretação.
Louis adorava cada momento ao seu lado. Mr. Pitiful realmente tinha um dom
pra ser professor, ele amava ensinar, e isso o fez se questionar. Como um
homem igual a ele não tem outros alunos? Como ele não era um cantor
conhecido. É impossível não olhar pra ele e ver um artista completo e pra Louis
a palavra sucesso e Mr. Pitiful deveriam ser sinônimos. Eram raros os momentos
em que o professor tirava um momento de folga e era nesta hora que ele se
transformava naquele “ser” alegre, divertido, alto astral, extravagante que
conheceu no primeiro dia.
Sete meses após o inicio das aulas, Louis já era uma realidade. Sua presença de
palco, sua dança, sua voz já era comentada pelas ruas da cidade e o dono do
clube agradecia pelas noites de sábados, pois sabia que seria uma bom dia pros
negócios. Isso ajudou a Louis a ganhar uns trocados a mais com o cachê e assim
ele pode ter mais tranqüilidade com suas despesas e passou a ligar pra Eva,
com mais freqüência. Seu breve sucesso fez com outros clubes locais e até
mesmo da região, passaram a contratá-lo. Louis era só felicidade e Mr. Pitiful
sempre observando de longe com seriedade.
Certa noite enquanto se preparava para cantar no Little Babe Club percebeu
uma agitação que viria de fora do clube e que adentrou-se, quatro homens mal
encarados, um tanto quanto rudes, empurravam aos clientes enquanto
andavam pelo recinto. Gritavam, menosprezando o clube e caminharam em
direção ao palco. No centro destes quatro homens, vinha uma outro totalmente
esnobe, mal educado e um tanto quanto selvagem, porém elegante, tinha uma
presença marcante que impressionava e em sua mão , trazia um trompete
dourado.
Jack. “ Raging Storm” Davis estava na região e tinha ouvido falar sobre um tal
de Louis Anthony e foi lá pra ver se ele era tudo isso mesmo que falavam.
“Por acaso você é Louis Anthony? ouvi dizer que pretendia tocar hoje por aqui”
“Sim, sou eu. E não. Não pretendia tocar. Eu VOU tocar”
“Olha amigo, eu vou tocar hoje aqui e longe de mim, mas você precisa arrumar
um nome melhor se quiser ser cantor” e riu. Seus capangas riram depois.
“Não vire as costas pra mim enquanto falo com você seu desgraçado maldito” e
o empurrou bravamente, fazendo com que Louis caísse sobre os instrumentos e
quebrasse o seu violão.
Louis se recompôs, enquanto olhava para os cinco homens em sua frente “e que
tal um desafio? Uma pequena disputa; uma musica apenas e quem tocar melhor
fica o resto da noite”
Foi neste momento que o homem sentado bem do lado do palco, tomando
em sossego seu copo de whisky e contemplando o acontecimento resolve se
intrometer.
“Eita Vida! O que é isso! O circo está na cidade? De onde saiu esta aberração?”
“ engraçado você falar em circo, eu achei que você o Homem-bruto e suas
mulheres ferozes, tinham sido contratados pelo gerente e isso fazia parte de
suas performances. Confesso, eu estava bastante entretido.
Randell, um dos capangas saltou em sua direção, e num piscar de olhos Mr.
Pitiful levantou-se e deferiu um soco que fez o capanga dar passos pra trás e
caiu desmaiado e voltou a sentar-se. Louis não acreditava no que estava
presenciando.
Enquanto os outros capangas ameaçam partir pra cima dele, J.D. grita:
“PAREM! Você não faz a mínima idéia de quem sou e no que está prestes a
acontecer com você”.
“Eu sei muito bem quem és. Você é Jack “MotherFucker” Davis , filho de Clay
“Ashole” Davis” e Dayse “Bitch” Davis”.
Aquilo pegou J.D. desprevenido. Quem era aquela criatura que sabia tanto
dele. A princípio passaria despercebido como uma pessoa sem importância, um
desqualificado, um Zé-ninguém. Caminhou em direção a ele, com raiva entre os
dentes. Colocou as duas mãos sobre a mesa e olhando em seus olhos,
perguntou rosnando:“ Ah é seu desgraçado. E quem diabo é você ?”
Um sorriso brotou em seu rosto que virou uma gargalhada alta e rapidamente
se levanta empurrando a mesa sobre J.D. que caiu assustado sentindo um frio
gelado percorrendo suas espinhas até a nuca. Uma figura crescendo e se
expandindo, preenchendo cada centímetro do espaço ao seu redor, deixando a
sala tomada por uma ilusão de força e imponência. Seu corpo parecia se esticar
além dos limites. Eles me chamam Mr. Pitiful , esse é meu nome agora.
19
Já tinham se passado seis semanas e Eva, sentia muitas saudades de Louis. Por
mais que as atividades rotineiras não deixavam de existir, era à noite, que
acabava sendo a pior parte de todo o dia. Seu trabalho na floricultura consumia
muito de sua energia, mas ela se sentia segura e sempre estava feliz. Ela
realmente amava no que trabalhava. A comunidade tinha muito carinho por
ela, então durante as manhas, ela não se sentia solitária. Continuava indo aos
eventos festivos, quando dava para ir, apesar de ser convidada para todos. Só
não ia mais nos eventos noturnos, pois Louis poderia ligar. Assim como Louis,
ela o escrevia constantemente.
No dia seguinte , enquanto tomava seu café da manha, teve um enjôo matinal,
brando e persistente e foi o suficiente para ir ao medico. Ela queria não
acreditar no que estava por vir, tinha esperança que poderia ser mal estar
devido ao trabalho, ou até pelo sentimento de tristeza pela ida do amado. Mas
ela já sabia o que seria. O doutor entrou no consultório com o resultado do
exame de sangue nas mãos.
Com ternura, tocou sua barriga, Aconchegando em seu ventre, uma nova vida.
Eva é tomada por uma mistura intensa de emoções ao descobrir que está
esperando um filho, especialmente porque seu marido encontra-se em uma
viagem longa e demorará a retornar. A alegria e a euforia inundam seu coração
ao perceber que uma nova vida está se formando dentro dela, carregando
consigo um amor imenso e indescritível. Ela se conecta profundamente com o
bebê em seu ventre, sentindo cada movimento como um presente valioso.
No entanto, em meio à felicidade, surgem também dúvidas e um leve temor
que a envolvem. A saudade e a solidão se fazem presentes quando ela pensa no
marido distante, cumprindo suas obrigações longe de casa. Uma pontinha de
tristeza a invade ao imaginar a jornada que terá de enfrentar sem a presença
dele, com a espera cheia de incertezas.
Foi então que ela decidiu contratar Janah Sparks, uma jovem habilidosa e cheia
de entusiasmo. Conheceu Janah bem nos primeiros dias de sua gestação e da
mesma maneira que conheceu Louis, entregando flores aos passageiros que
chegavam na cidade. Janah rapidamente se tornou uma presença constante na
cidade de Woodvile e muitos diziam que elas eram irmãs, de tão parecidas. De
rosto, nenhuma semelhança, mas a personalidade era a mesma. Janah brilhava e
por onde passava, radiava alegria, chamando atenção de todos, especialmente
um. Foi sem duvida a melhor escolhe que Eva fez. A amizade entre as duas
floresceu, e Janah se tornou uma parte essencial do cotidiano de Eva.
Certo dia Janah voltava pra casa carregando algumas sacolas e Marc Zompero,
achou que deveria ir falar com ela. Ofereceu ajuda no que ela aceitou
prontamente. Ela já o tinha observado de longe e ficou feliz com a ajuda.
Durante um tempo, Marc passava sempre pra visitá-la na floricultura, Eva
apenas dava risada e brincava com a situação, mas eles logo acabaram
namorando e até que foi bom, pois Marc, mostrou-se o bom amigo que Eva
dizia ser e ajudava constantemente elas na floricultura.
Finalmente, o dia tão esperado chegou. Eva deu à luz uma linda menina,
decidiu chamá-la de Angelica. Este nome seria em homenagem a sua mãe que
havia falecido no dia do seu nascimento Os primeiros momentos com sua filha
foram mágicos. Nas noites, Eva embalava sua filha no colo e quando Angelica
chorava You are my Sunshine era a musica que a acalmava e lhe fazia dormir
como um anjo que era. Eva também enfrentou a realidade de ser mãe solteira.
Cuidar de Angelica sozinha exigia esforço físico e emocional, mas Eva encontrou
forças dentro de si mesma que nem sabia que possuía.
Faltando pouco mais de um mês pra sua volta, recebeu uma ligação aflita de
Louis . O seu violão havia se quebrado e ele não saberia como iria fazer para
continuar com os shows agendados que estava fazendo, e para a prova final
que estaria para acontecer.
Eva então lembrou do violão. “tenho uma surpresa pra você. Bem! na verdade
são duas. A primeira você irá receber aí em breve. A segunda você vai ter
quando retornar”.
Enquanto o primeiro ano sem Louis chegava ao fim, Eva refletia sobre a jornada
que havia percorrido. Ela cresceu como mulher e encontrou coragem em
momentos de desespero e experimentou um amor incondicional ao segurar sua
filha nos braços. A experiência a tornou mais invulnerável e determinada a criar
Angelica em um ambiente cheio de amor e oportunidades.
20
Enquanto Mr. Pitiful brilhava sedo guiados por luzes de holofotes invisíveis e
swinguando entre todos os presentes, Louis foi levado um instante de susto e
assombro a admiração e fascínio e seguranças e policiais entraram no clube,
levando J.J. e seus capangas embora, gritando palavras ameaçadoras. Aquele
revelação artística do seu professor o deixou em êxtase e agradeceu a Eva por
ter lhe convencido a fazer a tal ligação reservando a sua vaga como aluno.
Mas tarde, enquanto sentados Louis e seu professor que não largava seu copo
de whisky estavam sentados num canto mais isolado do bar, conversando sobre
aquele dia atípico.
“ mas o que foi aquilo!!!! ? nunca vi algo que me desse tanto medo e mesmo
assim eu fiquei completamente deslumbrado com você” , as palavras de Louis
saíram eufóricas.
Sentado em seu canto ensombrado, com um sorriso triste nos lábios, ele
começa a contar:"Quando eu era jovem, minha vida não foi fácil. Não lembro de
ter conhecido meus pais e cresci literalmente na rua e ninguém dava a mínima.
Eles riam e me chamavam de 'Pitiful' (lamentável). Minha vida era uma sucessão
de desafios e dificuldades, me tratavam como um qualquer ser repugnante,
alguém cujas aspirações e sonhos pareciam estar fora de alcance. Mas eu não
deixei que isso me abalasse. Eu sabia que tinha algo especial dentro de mim,
uma chama que queimava intensamente. Então, um dia, eu decidi mostrar a
todos quem eu realmente era. Encontrei consolo na musica, queria ser um
Soulman. Eu andava atrás de qualquer som que ouvia e ,como todos, despertei
uma vontade se ser um grande cantor e tinha na musica a oportunidade de
transformar meu próprio destino. Abracei este apelido que me deram e o
transformei no meu amuleto da sorte e joguei pro universo que pudesse ma
trazer algo positivo, mudei de cidade onde ninguém me conhecia já como um
outro rapaz e aos poucos esta personalidade se moldou em mim. Eu não sabia
nem ler e escrever, e logo conhecia A Srª Teresa Scott que foi a minha
professora. Ela tinha uma habilidade incrível de perceber as necessidades
individuais de seus alunos. Sua dedicação e amor pelo ensino brilhavam em sua
abordagem. Não vou tomar muito de seu tempo, mas a Srª Teresa tinha uma
habilidade incrível de perceber as necessidades individuais de seus alunos, bem
como suas futuras qualidades. Ela me dizia que eu seria um excelente um
professor único e aos poucos, eu percebi que eu gostava de ajudar aos novos
alunos dela, eu realmente gostava de ensinar e foi isso que me fez me tornar
um professor. Eu quis unir as duas coisas que mais gostava , musica e ensinar e
deixei meu nome de lado e me tornei o Professor Mr. Pitiful.” E bebeu mais
uma grande dose do seu whisky e pediu outro pro garçom. .
“realmente é uma historia muito cativante, bonita de se ouvir e sou muito grato
mesmo pelo que você faz por mim. Eu acabei me privando de coisas para estar
aqui, sem saber o que eu encontraria, mas foi a melhor decisão tomada. E a
propósito; qual o seu verdadeiro nome ?” pergunta Louis.
“ mas qual desafio? você acabou de me proibir do desafio e isso não foi legal,
eu iria destruir aquele sujeito repugnante. E outra, de onde você conhece ele ?
“Eu conheci o pai dele faz uns trinta anos no Festival Grand Ole Opry* em
Nashville tinha sido minha primeira viagem sozinho e fiquei num hotel barato
de beira de estrada uns cinco km longe do festival e o pai dele também estava
hospedado lá, mas diferente de mim, Clay esta a negócios. ele tinha uma fabrica
de tecido e estava neste hotel pois era o lugar mais próximo de onde estava
fazendo novos negócios. Ficamos amigos e conversamos bastante e ele me
prometeu um emprego, fiquei com seu contato e eu pensava seriamente em ir
pra lá. Quando eu o escrevi, os negócios já não estavam bem, e ele precisou
mandar alguns funcionários embora e que em breve fecharia a fabrica. Eu sabia
que ele era um jovem pai e morava com sua esposa e filho em Bridgetown”
O simples fato de ouvir o nome de sua cidade Bridgetown, não foi algo que fez
bem a Louis. Ele conhecia a antiga fabrica e seu pai foi um dos demitidos. Não
conhecia os donos, mas conhecia o nome Davis.
“Tem uns cinco anos, e ouvi falar de um lugar o Jazz Echoes Club, recém
inaugurado e que estava fazendo um grande sucesso entre os amantes de boa
musica de boa cerveja. Falaram que era comum dar de frente com alguma
celebridade e há três anos eu estava por lá na região e fui conhecer. Ao chegar
na cidade vi que o Clube era numa antiga fabrica, que lugar maravilhoso é
aquele clube, tão cheio de energia , valeu a pena ter ido. Lá acabei encontrando
Clay com sua esposa, e sentei na mesa com eles num lugar privilegiado , eles
estavam lá pra prestigiar o show do filho. O lugar estava lotado, seria o primeiro
show do filho após O Batismo. O show de J.D. foi maravilhoso, suas melodias
nos dava impressões que faltavam apenas Seven Steps to Haven e deixou a
todos encantados, o lugar era tão animado e todos estavam em êxtase, não se
via uma pessoa que não estava dançando e contemplando ao espetáculo, e por
isso lhe proibi desta disputa. Louis vai por mim, você é sensacional, é muito
bom e está quase lá, mas ainda não está preparado para tal nível de disputa.”
Louis queria não acreditar no que estava ouvindo, não parecia que aquele tal de
“Raging Storm” fosse tudo isso, mas neste quase um ano na presença de Mr.
Pitiful , percebeu que ele era autentico e verdadeiro,e continuou ouvindo.
“ após o show, sabe como é, você se torna o centro da atenção. Todos querem
ter um tempo ao seu lado, conversar, as mulheres se atrevem, todas estas coisas
que você esta vivenciando e ele veio até a mesa dos seus pais que nos
apresentou. Eu lhe dei os parabéns, realmente o show foi digno de aplausos,
mas ele estava tão disperso, os amigos ao seu lado o chamando pra beber, ele
apenas agradeceu e foi comemorar com eles, tenho certeza que ele não me
reconheceu. Ele parecia ser mais humilde e os pais dele, que me perdoem, eles
não mereciam aquilo que falei. Não tem culpa do filho se tornar um imbecil.”
“Então, é esse o desafio que você precisa vencer, e em breve isso vai acontecer,
mas por enquanto não vamos conversar sobre isso”
“Você tem alguma ideia de como consigo arrumar isso?” mostrando em suas
mãos o violão quebrado.
“sente-se vamos conversar.” Ele disse enquanto se servia de uma dose calorosa
de whisky. “acho que chegou a hora da conversa mais importante. “Estamos
quase finalizando nosso contrato, e você precisa saber algumas coisas sobre
tudo que envolve esta competição, e também onde eu me encaixo nela. Nós
somos em cinco professores que seguimos a este ritual e temos algumas
divergências, algumas discussões, mas podemos nos dizer que somos amigos
no final. Todo ano é feito um sorteio de quem vai ser a dupla de professores,
neste momento os outros três, estão ansiosos para verem quem será o
escolhido, porém só serão dois, e eu e Mr. Scigliano não estaremos
participando. Tudo isso desde a publicação no jornal, até sua vinda, o local que
escolhi para ensinar é místico e gera expectativas incríveis pro final. Escolas de
musica tem em todo lugar, não é mesmo? E já que você quer ser o melhor, nós
também temos que ser o melhor a oferecer, te tratando como único. Você está
pronto e foi sem duvida o melhor aluno que tive ate o momento, depois do
Alex. Coitado ele seria o melhor de todos. Mas você vai terá um ótimo
adversário pelo que soube. Indiferente se você ganhar, saiba que o seu
adversário vai ser um ótimo sucesso também pela frente, podendo ser muito
melhor que você depois no final, isso vai depender de como você vai se
comportar e você já viu pelos próprios olhos através do “Raging Storm” que a
fama, não traz só momentos bons, ela pode acabar com o bem que tem dento
de você.”
“Uma vez você me perguntou do por que eu não tenho outros alunos. É porque
não preciso. Nós cinco nos dedicamos apenas em escolher um, e sabemos que
vai ser um grande músico ou artista. Quanto mais alunos, maior a conversa
paralela, é um querendo se sair melhor que outro, invejas, ofensas, isso não traz
um ambiente bom, todos se drogam com o mal quando manifestado. Eu me
preparei para ser um ótimo professor, e meu trabalho eu sei que faço muito
bem , que é ensinar e quero que meu aluno também se prepare tão ou até mais
que eu, e fico feliz em ter feito a escolha certa em te aceitar.” E fez uma
pequena pausa. “agora como você vai se comportar , e o que tem que fazer,
isso cabe apenas a si próprio.”
“obrigado mesmo pelas palavras, e confesso que não foi fácil. Tive que me
sacrificar, mas não me arrependo em nada, cada dia foi uma aprendizado e me
sinto muito melhor, mais confiantes. Sei que eu posso ser um sucesso, mas sinto
saudades de casa e da minha querida Eva. Tudo isso que faço, no fundo é para
ela, que sempre me apoios em todas as circunstâncias. Mas posso estar
convicto que esta foi a melhor experiência que vou ter na minha vida”, Louis
ainda não sabia que esta experiência, nem de perto seria a melhor.
“daqui dez dias viajaremos, e espero mesmo que você consiga arrumar seu
violão a tempo. Quando dermos entrada no local você vai ter que deixar ele
com organização onde ficará até o momento final da disputa e se você não
conseguir um ate lá, meu ano foi totalmente desperdiçado”.
Uma semana se passou e Louis estava mais aflito ainda. Seu violão que foi
deixado num estabelecimento para conserto ficaria pronto em até dois dias,
mas a incerteza era o que mais lhe dava a esta aflição. Até tinha arrumado um
emprestado, mas ele queria disputar com o seu. Nesta noite, enquanto estava
no seu quarto de motel no qual ficou durante este ano todo, lhe batem à porta
e ao abrir era o recepcionista trazendo um grande caixa em sua mão. Ao ver o
nome de Eva como remetente, lembrou que ela tinha dito, há poucos dias que
ele receberia uma surpresa e ao abrir a caixa, ele teve a maior de todas. Um
lindo violão se encontrava dentro que o deixou encantado e um pequeno
envelope.
Para você continuar com seu sonho. Estamos com saudades e torcendo por
você. Por aqui estamos todos bem e esperando por seu retorno em breve.
Te amamos muito.
Que mulher incrível ele tinha, ela sabia exatamente de tudo que precisava. Ficou
sensibilizado por ela ter compartilhado o momento e que todos os amigos e
que estavam torcendo por ele. Pensou.
Com posse do vilão em suas mãos, vislumbrava em cada detalhe do corpo dele.
Cada nota tocada era uma poesia que soava. Era o que faltava para tirar aquele
peso sobre as costas e pode relaxar melhor. Deitado na cama e em posso do
lindo violão, dedilhando algumas notas, sentiu uma leve familiarizada com ele e
olhando melhor e mais perto dos detalhes reconheceu o nome escrito numa
parte da escala: Bobby
“como ele chama” disse o jovem que estava anotando sua inscrição.
Louis pensou na pessoa mais importante da vida dele. “Eva, o nome do violão é
„Amada Eva‟ “.
Durante a tarde apenas andaram pela cidade, esperando o jantar que seria
oferecidos aos competidores e professores, num hotel mais chique da cidade.
“Mr. Pitiful, que satisfação em te ver novamente. Já faz o que? uns 5 anos por ai”
“Mr. Scigliano, a satisfação e minha, fico feliz e honrado de ter sido escolhido e
ter você como adversário“ e deram um caloroso abraço fraterno.
“tenho certeza que desta vez vai ser diferente. Este ano eu vou conseguir
ganhar a competição contra você “ disse Mr. Pitiful .
“não sei não. Já são o que, 3 x 0 pra mim. Acho muito improvável, sabe por
que?” fez um silêncio “seu aluno nem tem nome de cantor “.
“bebam isso” disse Mr. Scigliano entregando um copo de madeira que mais se
parecia um cálice a cada um.
Seu adversário, o saxofonista, por sua vez, estava repleto de uma energia
intensa e sombria. Ele desencadeou uma performance arrebatadora, explorando
escalas complexas e sons dissonantes. A plateia se viu envolvida em Pick Up
the Pieces uma dança espectral de sons que ecoavam nas profundezas da alma.
“ que espetáculo maravilhoso, algo que ficará por anos na lembrança dos que
aqui estão presentes. Dois grandes competidores, mas a competição só pode
haver um vencedor e fico muito feliz que seja você. Pessoal vamos aplaudir o
grande mestre do soul Louis Anthony “ gritando animado aplaudindo.
Louis sobe ao palco com seu violão na mão. “Estou explodindo de felicidade e
sou muito grato ao Eric King, que literalmente me fez suar e foi uma honra
competir ao seu lado e espero que num outro momento podemos repetir num
outro duelo, mas como amigos e não adversários” agradeceu ao publico, aos
organizadores,ao seu querido professor. “E vocês podem me chamar de Louis
“SoulMan” Barret gritou enquanto levantava “Amada Eva” com sua mão.
Os dois professores se encontraram após a competição, cada um refletindo
sobre o resultado e compartilhando sobre a experiência astral que estavam
tendo, também pelos efeitos do chá que beberam. “acho que não haverá uma
disputa musical tão intensa e marcante quanto esta aqui” diziam. Ambos
estavam enganados, alguns anos mais tarde, inicio dos anos oitenta, o The Juke
Joint* teve a maior disputa até então, e é um vislumbre a memória dos que
estiveram por lá e um lamento para os que perderam. O jovem Eugene
Martone* em uma Encruzilhada* para desvendar os segredos do blues teve
uma disputa extraordinária, sobrenatural e inefável contra o virtuoso Mestre
guitarrista Jack Buttler*. Desde então, nunca mais ouve tal disputa.
J.D. não se conformava como as coisas estavam caminhando, seu império estava
sendo abalado. Ruby era a balança que dava equilíbrio nos seus atos, seus
encontros com Angela e Will , eram mais freqüentes, porém nada de
envolvimento e o remorso o corrompia por dentro,entretanto tinha que se
manter forte. Seu clube já não se pagava as despesas para se manter aberto, foi
deixando de fazer certos acertos com os chefes de policia, milícias e alguns
fornecedores sem uma licença autorizada. Sua raiva era maior pelo simples fato
do seu então trompete dourado ter desaparecido naquele dia em Bluevale. O
trompete é o símbolo de uma lembrança de uma coroação, de um momento
digno de um artista que lutou a vida toda pela fama e abraços. Seu mundo
estava sendo devastado.
Uma noite, um carro para na porta de seu clube “preciso falar urgente com J.D‟
ordenou. Ele já tinha a informação de que J.D. era o responsável por toda
sujeira que acontecia na região. Os capangas assustados o levaram para uma
sala
“senhor, ele está aqui” disse o capanga Randell, aquele mesmo que levou o
soco de Mr. Pitiful. “ mas olha só, a quem devo esta honra em poder recebê-lo
em minha humilde cidade” disse J.D. cumprimentando “Rhythm Walker”. Ele foi
até lá e pedir uma ajuda temporária. Um lugar para descansar enquanto a
poeira abaixava para ele, algo que poderia levar anos depois dos crimes que
cometia, repercutindo em todos os jornais do país. O premio pela captura dele
era algo que poderia ser aproveitado caso precisasse e J.D. nunca foi bobo e
viu mais uma oportunidade ali de conseguir algo em troca. Ofereceu
hospedagem e proteção por uma semana, já conhecia a fama de louco do
Andarilho em troca de um pequeno favor. Ele precisaria ir depois para Bluevale.
22
Após sua consagração, o então agora Louis Barret ,se sentia um novo homem, e
ele era mesmo, estava mais confiante , era uma outra pessoa. Finalmente algo
de bom foi reservado pra ele nesta vida. Ele merecia esta felicidade. Batalhou
muito para isso escreveu para sua amada Eva cantando sobre os
acontecimentos. Ficou por um mês a mais do que o previsto pelo contrato de
um ano, pois o campeão teria algumas apresentações agendadas em
compromisso com os organizadores do evento e já no próximo sábado seria o
seu primeiro como “SoulMan” e o cachê era realmente bom. Voltaria no
ônibus em breve com destino para Woodville. Contava ansioso os dias.
“eu que só tenho a agradecer. Você foi muito mais que um professor, foi um
amigo, assim como o Julian, e por favor agradeça a ele por mim. Ele também foi
responsável por tudo que me aconteceu. Fique também com o violão para os
novos alunos que terão, eu já tenho o meu talismã “Amada Eva”. Serei
eternamente grato por tudo” estendendo a mão para um cumprimento final.
Mr. Pitiful o abraça e da um beijo carinhoso em seu rosto.
“Você tem todo caminho e uma vida linda pela frente. Todos temos um
passado que não da para mudá-lo; mas a forma como você lida com este
passado, isto da para mudar.”
Dois dias depois, Mr. Pitiful chegar em casa, feliz pelo resultado conquistado,
mas bastante cansado pela viagem. Deixa a mala em cima da cama e vai pegar
roupas limpas e tomar um banho. Olhou rapidamente para o trompete dourado
que se encontrava dentro do guarda roupas. Ai virar-se “oi Mr. Pitiful” disse um
homem antes de acerta-lhe uma coronhada na cabeça.
No dia em que Louis estava programado para retornar, Eva se vestiu lindamente
e arrumou Angelica. O coração dela batia rápido, uma mistura de nervosismo e
alegria, ela era pura ansiedade. “como ele vai reagir, ao ver a sua filha” pensava
Eva. Quando o trem finalmente chegou à estação, ela segurava Angelica nos
braços e um sorriso brilhante iluminava seu rosto.
Louis saiu do trem, seus olhos percorreram a multidão até encontrarem Eva e
Angelica. Seus olhos se encheram de lágrimas de felicidade ao vê-las no mesmo
tempo que também ficou em choque ao vê-la com uma criança no colo. Ele
correu para abraçar Eva. “conheça sua filha Angelica, foi ela que me dava as
forças que precisava na sua distancia. Toda a saudade que eu sentia e me
deixava vazia por dentro, foi ela que preencheu cada espaço.”
Louis estava sem palavras , ele estava feliz. Achava que em companhia do Mr.
Pitiful tinha sido a sua melhor experiência, isso foi completamente em vão,
enquanto segurava Angelica em seus braços.
Noutro dia, demorou um pouco pra abri-la. Esperava ter notícias boas, mas seu coração
dizia que não. Louis deu uma breve risada surpreso logo ao iniciar a leitura. Ele
tinha certeza de que o Abbott fosse ele.
“Caro Costello”,
Espero que não se importe que eu tenha restaurado o violão. Eu queria que
fosse pelo menos um recomeço de uma nova historia para ele, já que não
poderia ser pro Bobby. Sei que você fará bom proveito dele.
Fico feliz sabendo que está bem, numa cidade ótima e que encontrou a
felicidade e o amor. Espero que a sua jornada continue no caminho certo” .
Mr. Pitiful tinha sido ferozmente agredido e torturado durante quase um dia e
ficou internado por mais três. Foi Alex que o encontrou quando chegou pra
trabalhar noutro dia. Mr. Pitiful o alertou que era bom ele tomar cuidado, ficar
bastante atendo, pois seu agressor estava procurando um tal de Louis Anthony.
Nos próximos dez dias , Louis e Eva , conversaram mais sobre quais caminhos
teriam que seguir. Tinha chegado o momento de Louis resolver finalmente sua
vida, havia chegado a hora de voltar a sua cidade natal e resolver por vez tudo
que envolvia a ultima peça do quebra-cabeça. Ligou para Tom que ficou muito
feliz em poder recebê-los. “I Will be Home for Christmas” , disse Louis a Tom.
A sua antiga casa, onde morava, foi vendida muitos anos antes e ninguém mais
soube do paradeiro de Wilson Anthony. Eva não quis abandoná-lo novamente e
junto com a pequena Angélica embarcaram para Bridgetown.
23
The Dark End of the Street: Encontro Levado a Conseqüências
Imprevisíveis
J.D. ficava acordado até tarde da noite, primeiro em seu agora quase falido
clube e depois perambulando pelas ruas sombrias de Bridgetown, enquanto a
neblina escondia os segredos que o assombravam. O dilema em seu coração
parecia crescer a cada dia, e as escolhas à sua frente se mostravam cada vez
mais difíceis.
A principio não queria levantar suspeitas e seus encontros eram sempre a noite.
O banco da praça que sentavam, testemunhou por muitas vezes o The Dark
End of the Street que J.D. e Ângela compartilhavam. Ele se mostrava amoroso e
lutava para expressar o que se escondia por trás de sua armadura de criminoso.
As lágrimas brotaram dos olhos de Angela, enquanto ela lutava para processar a
confissão de J.D. Ela também se sentia atraída por ele, apesar de tudo o que
aconteceu no passado. O dilema era igualmente intenso em seu coração. Ela
gostava de estar ao lado de J.D., mas também queria um futuro seguro e estável
para si mesma e para seu filho. “J.D., eu não posso negar que também me sinto
atraída por você. Vejo em você uma sinceridade quando estamos juntos que é
diferente do que os outros vêem. Mas não posso ignorar o fato de que você é
um criminoso perigoso. Se você quiser um futuro comigo, precisa deixar essa
vida para trás. Não sei em qual momento em sua vida você se perdeu, mas
ainda tem chance de fazer o certo. Eu não posso viver com medo de perder
alguém que amo para a violência das ruas e tampouco colocar meu filho em
contato com essas situações. “disse Angela com voz trêmula.
Enquanto J.D. ponderava sobre as palavras de Angela, um novo desafio surgiu
no horizonte. O Andarilho, Rhythm Walker um criminoso ainda mais cruel e
impiedoso, começou a espalhar sua influência pela cidade. Seus planos
envolviam assumir o controle das organizações que pertenciam a J.D., incluindo
suas conexões com pessoas perigosas ao redor do país. Bridgetown era o lugar
perfeito, toda estrutura já armada e contava ainda com boa parte da policia já
comprada.
J.D. sabia que essa ameaça não podia ser ignorada, mas enfrentá-la significava
se envolver ainda mais com sua vida criminosa. Ele se via entre dois mundos.
Precisava escolher entre a mulher que amava e uma vida de redenção ou
mergulhar mais fundo na escuridão para proteger sua influência e evitar o
controle do Andarilho. Os caminhos se bifurcavam, e suas decisões moldariam
seu destino, mas a principio, só pensava em deixar como está, pois Rhythm
Walker lhe poderia ainda ser útil e se mostrou muito competente quando lhe
trouxe de volta o seu trompete.
Tom, Lisa e o pequeno James Henry Stone , agora com cinco meses , esperavam
na estação de trem a chegada de Louis e Eva . Foi um momento de lindo
reencontro entre eles, ainda mais onde os dois casais estavam com seus lindos
bebezinhos.
Em casa enquanto conversavam, Tom tentou fazer a cabeça de Louis para evitar
ir se encontrar com J.D. , que ele era louco. Contou o que ele fez e como ele
„governa’ a cidade com suas próprias leis, mas Louis não passou por uma longa
jornada e fez uma longa viagem também a toa. Ele já tinha se decidido e bolado
um plano muito antes. Na manha seguinte se dirigiu ao Jazz Echoes Club e
chegando lá alguns capangas estavam na porta.
“o que você quer por aqui” disse um deles, indo na direção dos dois.
“Calma! Calma”, eu vim na paz. Quero conversar com “Raging Storm” e ouvi
dizer que ele estava me procurando”. Louis notou que o capanga estava sem os
dentes da frente e o reconheceu por ter levado o soco de Mr. Pitiful . “bem
feito”, pensou.
Ficaram esperando do lado de fora e Louis não sabia se tinha feito uma boa
escolhe em ir até lá. “Mas olha só que maravilha este dia se inicia. Que surpresa
desagradável temos aqui. Se não é o grande cantor dos clubes falidos de
cidades desertas, o famoso Louis Anthony, visitando nossa humilde cidade.
Aplausos “ disse o sarcástico J.D. enquanto ao seu lado, O Andarilho, se portava
seriamente. „”acompanhado do bebezinho chorão Tom Stone.”
Eu também sou desta cidade, nasci e cresci aqui assim como você. Felizmente
fui embora antes de conhecer um imbecil como você. E meu nome é Louis
“SoulMan” Barret. “
Aquilo pegou a J.D. de surpresa, duas vezes. Não sabia que Louis era da cidade
tampouco que ele também havia sido batizado. “UAU !! Isso é admirável e
lamentável. Houve um tempo que os organizadores tinham bom gosto musical
e agora qualquer um pode ser batizado. E a que devo as honras em ter sua
presença por aqui „SoulMan‟ ? “
Tom ainda sentia uma raiva tremenda por J.D. e resolveu se falar "Olha só para
você, um criminoso de merda! Como você consegue viver com tanta sujeira em
sua consciência? Você é um imbecil andando do lado desta sua namorada
ridícula aí do seu lado. Ta cheio de graça, mas a piada mais patética de todas é
você.” Disse com bravura enquanto apontava o dedo para Rhythm Walker, que
não gostou em nada ser apontado com o dedo, ser mencionado na conversa , e
principalmente, por ser chamado de namorada. “ Quer fazer piada. Por que não
conta de como você e suas capangas tomaram uma surra do professor de Louis
e tiveram que sair da cidade com os rabos entre as pernas”.
“ por falar no querido professor, meu amigo aqui me contou que ele teve um
pequeno acidente. Espero que ele estejas bem “
Louis tinha um plano simples, enfrentar J.D. num desafio. Aquele mesmo que
foi interrompido pelo Mr. Pitiful e quem ganhasse, deixaria o outro em paz.
Porém vendo o Andarilho, o responsável pelos atos, frente a frente, o deixou
em estado de fúria e numa atitude imprevista e espontânea “ seu desgraçado
maldito” e correu em sua direção.
Mas tarde naquela tarde, Lisa e Eva conversavam sobre as maravilhas de serem
mães, os desafios. Elas adoravam e curtiam a cada momento ao lado deles.
Enquanto Eva ninava as duas crianças com Go to Sleep, Little Baby, Lisa
prepara a mesa do jantar para a volta dos esposos , quando o telefone.
Dois dias depois, Lisa não saiu um minuto se quer do lado de seu marido no
hospital. Tom estava entubado e corria sério risco de vida, médicos não lhe
davam muitas esperanças. Lisa se via novamente com a possível perda de
alguém que tanto amava, ela mal se alimentava e nestes dois dias não
conseguiu dormir mais que quatro horas. O tempo todo ficava rezando e
louvando a Deus em melodia com Amazing Grace. Louis e Eva ficavam em
sua casa e cuidando das crianças.
“Lisa querida, tem duas pessoas que gostariam de te ver” disse uma enfermeira
enquanto abria a porta.
Após a morte de James, seus pais, o Sr. Charles Smithson, o respeitado prefeito
da cidade, e a Sra. Suely Parker Smithson, proprietária de diversos negócios e
terras, sentiram a dor da perda de forma avassaladora. A dinâmica familiar
mudou dramaticamente, com os pais afundando em um mar de dor e
frustração. A relação com Lisa sofreu sérios abalos, pois eles, dominados pelo
luto, tornaram-se excessivamente rígidos com a filha, culpando-a
involuntariamente pela morte do irmão. As constantes brigas e a pressão
insuportável fizeram Lisa sentir-se como se carregasse o fardo da culpa.
A tragédia também levou o Sr. Charles a se afastar das atividades públicas, antes
tão presentes na comunidade. Sentia o peso da culpa em seus ombros, como
uma sombra implacável que o atormentava constantemente. As reuniões na
sede da prefeitura eram marcadas por discussões acaloradas sobre a falta de
segurança no local do acidente, tanto que já houvera outros acidentes no local,
e a sensação de abandono que pairava sobre a cidade. O prefeito atribuía a
culpa pelos acidentes às pessoas que haviam entrado uma área restrita, e o
sentimento de culpa o corroia, após o acidente ser com seu filho.
As lágrimas escorriam pelos rostos dos três, mas ali, naquele abraço, eles
encontraram consolo e a sensação de que estavam, finalmente, novamente
juntos. Lisa percebeu o quão necessário e importante era sentir o apoio e o
carinho de seus pais, especialmente em um momento tão delicado.
Nestes dias, Louis refletia o por que foi pra lá. Mais um amigo se feria
gravemente e ele era o responsável. Ele andava pela cidade, foi visitar sua antiga
casa e levava sempre seu violão consigo. Um dia foi visitar o local onde a sua
vida desmoronou. O local hoje comporta um pequeno bairro residencial. O
loteamento da região foi a ultima obra de Charles como prefeito e bem no local
do acidente, há uma pracinha com uma igreja em em frente. Sentou no banco e
ficou ‟conversando‟ com James. Pedia ajuda a um Deus que antes não conhecia,
mas que se manifestou em sua vida com tantas bênçãos, para a melhora de
Tom. Ficou sentado por horas, e tentou dar voz e ritmo aquela musica que
Bobby escreveu. Era tão intensa, tão bela, mais não conseguia achar o ritmo
para deixá-la perfeita e nem percebeu quando um senhor se aproximou.
“boa tarde meu filho, posso me sentar com você?” era o pastor da pequena
igreja.
“Claro, por favor. Nossa! Estou horas aqui. Na verdade parece que estou preso a
este lugar a minha vida toda”
“não sei se você reparou, mas alguns bancos levam nomes de algumas pessoas
que já não estão entre nós, e por acaso você sentou-se justamente no banco
com o nome de eu amigo James Smithson”.
Louis pediu uma oração pra seu amigo que estava hospitalizado e para sua
família, e também pra sua jornada. Ao se levantarem para despedida falou.
“Padre, o senhor poderia fazer uma benção para meu violão? sei que o pedido
é inusitado, mas seria de muito significado para mim, por esta jornada que
seguirei.”
Que surpreso e sorrindo respondeu: “claro meu filho, e como vai chamá-lo”.
“ EvAngelica “ , respondeu.
Suely não abria mão de estar ao lado de sua filha, foram tantos anos afastadas e
Lisa se sentia agradecida com esse momento de compaixão. Falava o quanto a
amava com Unchained Melody e gestos carinhosos.
Charles percebeu que uma abordagem mais impactante era necessária para
provocar uma mudança significativa na cidade. Ele convocou as figuras mais
influentes, incluindo os comerciantes locais e a comunidade cansada de
suportar tantos crimes. Juntos, organizaram uma manifestação que teria como
alvo a antiga fábrica, o covil de J.D. Comovida com a causa, Angela juntou-se a
eles, e até Louis encontrou-se no meio do grupo. A tensão entre ele e o Sr.
Charles era palpável, mas ficou claro que aquele não era o momento de lidar
com suas questões pessoais. Todos eles esperavam que essa manifestação
chamasse a atenção da mídia e, talvez, até do governo, para que fosse tomada
alguma providência.
"Afastem-se!" Rhydhm bradou, "Vou atirar na cabeça dela, eu juro! Estou indo
embora daqui, e ela vai comigo!" Angela estava paralisada de medo, incapaz de
compreender o pesadelo que se desenrolava diante de seus olhos.
"Solta ela, Rhydhm, seu covarde desprezível!" J.D. gritou enquanto corria em
direção a eles e se lançava sobre os três que caíram, e em meio ao caos, um
novo e último disparo.
Tom tem a melhora que precisa e todos voltam pra casa. Tom fica muito feliz
em poder abraçar seu filho novamente, tudo parecia se encaixar exceto o atrito
visível entre Charles e Louis. Ate a Suely conseguiu perdoá-lo, não conseguiria
perder sua filha novamente, e aceitou os argumentos de que Louis era
inocente. Um dia voltando de seu passeio habitual pela cidade, Louis encontra
Charles num bar bebendo com uns amigos.
Entrou, pegou uma cadeira e foi sentar em frente a ele com os amigos à mesa;
“precisamos conversar. Eu vou embora em três dias e quero resolver este
problema que temos.”
“ seu irresponsável, eu nem sei como começar a expressar o que sinto. Meu
filho se foi, e tudo por sua culpa!”
„Charles, eu juro que eu não tive nada a ver com o que aconteceu com o seu
filho. Foi um acidente e James era o meu melhor amigo. “ falou com tristeza.
Você sempre foi um problema para essa cidade, Louis. Sempre metido em
confusões, e agora isso acontece justo quando você esta por aqui. Tudo e todos
a sua voltam se ferem ou morrem. James, Tom, J.D. . quem será o próximo ?”
disse o irritado Charles.
Louis com sinceridade disse: “ Eu entendo a sua raiva, mas você precisa
acreditar em mim. Eu não tive nenhuma intenção de causar mal a ninguém,
muito menos ao seu filho. A manifestação foi idéia sua, então vamos todos dizer
que você é o culpado pela morte de J.D. “
“Você pode não acreditar em mim, isso não importa mais. Paguei um alto preço
por isso e pra mim o que importa mesmo é o que a minha família acredita e
eles sabem a verdade do que aconteceu. Quando eu digo minha família, isto
inclui Lisa e Tom. Eu realmente sinto muito pela sua perda, mas eu não sou
responsável pela morte dele. Eu entendo que você precise de respostas e de
alguém para culpar, mas eu não posso ser esse alguém. Sei que não posso
mudar o que você está sentindo, mas eu peço que pelo menos considere a
possibilidade de que eu sou inocente. Eu não posso trazer seu filho de volta,
mas talvez, juntos, possamos encontrar a paz que precisamos.“
As palavras ecoavam pelo ouvido de Charles e não estava fazendo nada bem, a
raiva estava consumindo-o. Levantou e teve que ser segurado pelos amigos de
mesa “ Juntos? Eu não quero ter nada a ver com você! Você destruiu a minha
familia uma vez e agora quer me convencer de que é inocente? Quer tirar a
minha filha também da minha vida. Você vai me pagar seu maldido
desgraçado”, jogando os copos sob a mesa em cima de Louis. “Eu farei de tudo
pra que você volte pra cadeia e nunca mais saia de lá seu vagabundo
mentiroso.”. Você não faz a mínima idéia do tipo de homem que eu sou”
esbravejava pelo salão enquanto todos olhavam assustados.
“Eu sei muito bem o tipo de homem que você é, Charles. Um pai que prefere
culpar os outros pela sua própria falta de controle e responsabilidade. Em vez
de enfrentar a dor que carrega, você escolhe usar a sua raiva como muleta,
alimentando esse ódio incessante que só o consome por dentro. Você é o tipo
de homem que ninguém da a mínima, um coitado que as pessoas fingem se
importar. Resumindo bem, você é um ninguém. Você é que não sabe quem
sou“
Um sorriso brotou em seu rosto que virou uma gargalhada alta, rapidamente se levanta
empurrando a mesa sobre Charles que sentiu um frio gelado percorrendo suas
espinhas até a nuca. Uma figura crescendo e se expandindo, preencheu cada espaço ao
seu redor, deixando a sala tomada por uma ilusão de força e imponência. Como uma
lampejo, a letra da canção escrita por Bobby na qual vinha trabalhando clareou em
seus pensamentos e seu corpo parecia se esticar além dos limites. I’m soul Man.
26
O ano novo Lisa e Tom puderam almoçar com os Smithson, em sua fazenda e
depois disso, era comum passarem por lá em outras circunstancias. Suely e
Charles amavam o neto James Henry Stone e faziam tudo por ele e foi nele que
encontraram as suas felicidades. Os meses foram passando e Charles teve que
aceitar as palavras de sua filha sobre o acidente com o James. Era isso ou ela iria
embora de vez, se mudaria da cidade pra woodville onde Louis morava, e nunca
mais veria ela ou o neto.
Louis “Soulman” Barret continuou fazendo sucesso com a sua carreira. Gravou
discos que estouraram nas paradas de sucesso. Era presente ao máximo que
podia para Angelica. Cada ano que passava ele era mais apaixonado por Eva
que continuava administrando a floricultura Natty Di Bella Vic , cada dia mais
agradecida.
Mr. Pitiful agora ensinava mais alunos. Finalmente montou uma escola onde
ajudava centenas de crianças carentes em busca de se tornar um artista ele
realmente fazia a diferença na vida daqueles jovens. Ele nunca mais participou
de uma seleção para participar novamente da disputa do Batismo .
Nove meses após sua prisão, O Andarilho Rhythm Walker, teve o destino pelo
qual muitos achavam que ele merecia. Durante o mês de setembro de 1971, ele
foi uma das vítimas no violento massacre ocorrido onde ele estava preso,
conhecida por muitos como A Rebelião da Penitenciaria de Attica.
Um carro chega na cruzamento da David Prater* Aveneu com Samuel D. Moore*
Street, estaciona em frente ao numero 31. Na casa ao lado, Victor e Diego, dois
irmãos festejam cantando If you Wanna be Happy . Louis vai abrir a porta do
seu lindo carro, o clássico modelo 1965, um Mustang. Sally é carregada por
sua mãe no colo. E a segunda filha do casal e hoje vai ser o primeiro dia que
Angelica, com seus quase seis anos, vai conhecer a sua irmãzinha que acabou
de sair do hospital.
Agradeço a todos que leram a meu romance. Eu ainda não sei fazer um rodapé,
então segue abaixo algumas citações utilizadas; por favor compreenda e me
desculpe.
Cap. 08 – nos anos 50,60 o Rock‟n Roll era considerado música do diabo.
Cap. 15 – The Soggy Bottom Boys é uma banda fictícia que apareceu no filme “
E AÍ MEU IRMÃO, CADE VOCÊ ? de 2000 dirigidas pelos irmãos Joel e Ethan
Coen. A música “In the Jailhouse Now”, é cantada por esta banda durante o
filme.
Cap.21 – Eugene Martone, Jack Buttler são personagens e o The Juke joint é o
local criado para o filme A Encruzilhada de 1986, dirigido por Walter Hill.
Cap.26 – Samuel Moore e David Prater, conhecidos como “Sam & Dave”, foram
uma famosa dupla de cantores soul dos EUA, cantores da música I‟m Soul Man,
na qual eu me inspirei como título deste romance.