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Hennigen, I.; & Gehlen, G. Com a “vida” no vermelho: psicologia e superendividamento do consumidor

Com a “Vida” no Vermelho: Psicologia e Superendividamento do


Consumidor

With “Life” in the Red: Psychology and Consumer


Overindebtedness

Inês Hennigen1

Gabriela Gehlen2

Resumo
Com inspiração na proposição foucaultiana de que é politica e eticamente relevante resistir às formas de sujeição postas no presente,
apresentamos um projeto de intervenção que visa promover saúde, educação e cidadania para consumidores em situação de
superendividamento e que buscam conciliação com credores em um órgão do judiciário. Apontamos a importância de a Psicologia atentar
para tal questão, problematizamos o sistema consumo-crédito e focamos duas práticas desenvolvidas: acolhimento e rodas de conversa.
Pontuamos a necessidade de se romper com a individualização do fenômeno e, assim, amainar o estigma e o mal-estar sentido por quem deve
e não tem condição de pagar. Concluímos mostrando que tal situação tensiona direitos e requer políticas públicas para sua prevenção e
enfrentamento.

Palavras-chave: consumo; crédito; superendividamento; mal-estar; cidadania.

Abstract
Inspired by the Foucaultian proposition that it is politically and ethically relevant to resist to the forms of subjection placed in the present, we
introduce an intervention project which aims to promote health, education, and citizenship for consumers who are overindebted and who
search for settlement with creditors in court. We showed how important it is for Psychology to approach this issue, we questioned the
consumption-credit system, and we focused on two practices developed: reception and rounds of talk. We highlighted the need to rupture the
individualization of the phenomenon, and thus to appease the stigma and uneasiness felt by the indebted ones who cannot pay. We concluded
by showing that this situation stretches rights and requires public policies to prevent and fight it.

Keywords: consumption; credit; overindebtedness; uneasiness; citizenship.

1
Doutora em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Professora do Programa de Pós-Graduação
em Psicologia Social e Institucional da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGPSI/UFRGS), Coordenadora do Projeto de
Extensão “Com a vida no vermelho: intervenções que buscam promover saúde, educação e cidadania para consumidores superendividados”.
Endereço para correspondência: Rua Ramiro Barcelos, 2600, Porto Alegre, RS, CEP: 90.035-003. Endereço eletrônico:
ineshennigen@gmail.com
2
Acadêmica do curso de Psicologia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Estagiária do Projeto de Extensão “Com a vida no vermelho:
intervenções que buscam promover saúde, educação e cidadania para consumidores superendividados”

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Introdução perspectiva de solução do problema, dentre outros;


os chamados acidentes de vida (desemprego,
Face às complexas configurações, vivências e separação, doença, etc.) como desencadeantes
demandas contemporâneas, as práticas principais ou associados da situação; a falta de
psicossociais têm se pluralizado, diversificado e informações, compreensão ou dimensionamento
assumido, cada vez mais, sua vocação política. quanto ao crédito (suas modalidades, taxas de juros
Toda prática é posicionada, mesmo quando assim e encargos, pagamento mínimo do cartão, etc.); as
não se coloca. Nesse sentido, atentar para o que práticas sociais que estigmatizam quem tem dívidas
eclode como problemático no tecido social e traçar e não consegue “honrá-las”; a dificuldade de
intervenções fazendo-lhe frente é fundamental se compartilhar a situação com outras pessoas; a
objetivamos, como propõe Foucault (1995, p. 239), impulsão ao consumo pela mídia e publicidade; a
não apenas “descobrir o que somos, mas recusar o escassez de apoio institucional e social para pessoas
que somos”. nessa situação. Enfim, quem se encontra
A menção à nossa condição de sociedade de superendividado fica com a própria vida “no
consumo (Baudrillard, 2010) ou de consumidores vermelho”, pois as repercussões extrapolam em
(Bauman, 2008) não é incomum no campo da muito a esfera econômica.
Psicologia, mas, em geral, figura como mero pano Os participantes da pesquisa foram
de fundo para outras discussões. Só consumidores que, à época, aderiram ao Projeto-
excepcionalmente a questão do consumo e suas Piloto de Tratamento das Situações de
implicações na vivência dos sujeitos são Superendividamento (Lima & Bertoncello, 2010)
enfatizadas. Mesmo assim, muitas vezes, o foco que, posteriormente, em meados de 2009, foi
acaba recaindo sobre o comportamento dito instituído no Tribunal de Justiça do Rio Grande do
consumista ou seu par patológico, a oneomania Sul com a criação da Central Judicial de
(compulsão por compras). Em tais análises, a Conciliação e Mediação (CJC). Seu juiz
despeito de ser referida (alg)uma influência do coordenador, sensível à ideia de trabalho
contexto social, a compreensão amiúde finda sendo interdisciplinar e constatando, no dia-a-dia da
individualizante. Central, questões que transcendiam os fazeres do
A partir de um projeto de extensão que buscava âmbito do Direito, propôs uma parceria à
articular Psicologia Social, consumo e cidadania, a Psicologia.
primeira autora se deparou, no Procon/RS, com o Assim, concebemos o Projeto de Extensão
fenômeno nomeado superendividamento do “Com a vida no vermelho: intervenções que
consumidor. Esse, longe de concernir ao “desfecho” buscam promover saúde, educação e cidadania
de práticas de consumo compulsivas, afigura-se para consumidores superendividados”. O trabalho
mais como um efeito do sistema consumo-crédito e, que acontece na CJC foi iniciado no segundo
no relato dos operadores do órgão, gera semestre de 2011 e vem se forjando na ação
dificuldades subjetivas e materiais de toda ordem. cotidiana; por ser iniciativa singular, as formas de
Definido como a “impossibilidade global de o intervenção acabam guiadas mais por princípios
devedor pessoa física, consumidor, leigo e de boa- éticos norteadores (entre outros, respeito à condição
fé, pagar todas as suas dívidas atuais e futuras de peculiar a cada um, acolhida e orientação
consumo (excluídas as dívidas com fisco, oriunda humanizada, empoderamento do cidadão) do que
de delitos e de alimentos)” (Marques, 2006, p. 256), por metodologias consagradas.
o superendividamento, no Brasil, ganha atenção Nosso objetivo, no presente artigo, é
praticamente só no campo do Direito. Isso indica a compartilhar a trajetória, as problematizações e os
necessidade de estudos e ações de enfrentamento conhecimentos que desenvolvemos no curso do
que congreguem também Psicologia, Economia, referido projeto. É oportuno explicitar que no
Educação e Serviço Social. Assim, para começar a trabalho na CJC buscamos escutar as
responder a essa questão emergente, realizou-se dificuldades/sofrimentos de sujeitos em situação de
uma pesquisa que buscou conhecer o papel da superendividamento que procuram conciliação
mídia e as implicações subjetivas do judicial, promover intervenções reflexivo-
superendividamento. educativas e, também, produzir conhecimentos
Não é nossa intenção discorrer sobre ela aqui, sobre o tema. Assim sendo, uma vez que o
mas cabe trazer aspectos que se evidenciaram na fenômeno do superendividamento é praticamente
análise das entrevistas realizadas: o mal-estar psi invisível no campo da Psicologia, visamos, com
decorrente da situação que se plasmava em insônia, este escrito, trazer à luz algumas repercussões
humor deprimido, vergonha, culpa, falta de psicossociais que requerem atenção e reclamam

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ações políticas. Então, na sequência, tecemos consumidor e sua vulgarização ocorreu após 1994,
algumas considerações teóricas sobre o que na esteira do Plano Real (Lima & Bertoncello,
chamamos de sistema consumo-crédito e trazemos 2010). Nos últimos anos, praticamente todos os
dados acerca da problemática do estratos da população têm acesso a alguma
superendividamento no Brasil; após, apresentamos modalidades de crédito, confirmando Bauman
duas práticas realizadas – o acolhimento dos (2010, p. 31): “todos os que podiam se transformar
consumidores e as rodas de conversa; concluímos em devedores e milhões de outros que não podiam
com reflexões sobre certos aspectos que e não deviam ser induzidos a pedir empréstimos já
entendemos cruciais, colocando em relação foram fisgados”. Se a procura por crédito segue
superendividamento e cidadania. forte para a aquisição de bens de maior monta ou
para viabilizar desejos, hoje também é “solução”
Breves Notas Sobre Consumo, Crédito e para fazer frente ao consumo ordinário, o que é bem
Superendividamento mais problemático.
Há ainda todo o empenho governamental para
maior crescimento da economia: a redução
Baudrilllard (2010) inicia o livro Sociedade de (sazonal) do IPI sobre carros, eletrodomésticos da
consumo, de 1970, afirmando que “existe hoje uma linha branca e móveis é apelo publicitário constante
espécie de evidência fantástica do consumo e da para se comprar mais; por outro lado, a recente
abundância, criada pela multiplicação dos objetos, queda nas taxas de juros é alardeada como um
dos serviços, dos bens materiais” (p. 13), base de dispositivo benéfico para todos, embora ainda
uma mutação na ecologia da espécie humana. Na muito altas se comparadas a outros países. Essas
esteira do que veio a se caracterizar como estratégias para fazer consumir estão formando a
neoliberalismo, deixávamos de ser uma sociedade chamada “nova classe média”, pessoas que –
de produtores para compor uma sociedade de majoritariamente via endividamento – estão tendo
consumidores (Bauman, 2008). Em discussão que acesso a bens duráveis e, assim, elevando seu status
revisa estudos sobre consumo, Bragaglia (2010) material e simbólico (Yaccoub, 2011).
propõe um quadro compreensivo sobre o que as Em função de todo esse quadro, o
pessoas buscam via consumo: satisfação ligada à superendividamento é uma realidade entre nós. Não
funcionalidade dos produtos, prazer emocional existem dados sobre seus patamares no Brasil;
privado e prazer emocional tomando os produtos contudo, diferentes instituições monitoram
como comunicadores sociais – para obter distinção situações avizinhadas. A Confederação Nacional do
e/ou viabilizar pertencimento. De qualquer forma, o Comércio (2012), na Pesquisa Nacional de
consumo hoje constitui um grande marcador Endividamento e Inadimplência do Consumidor do
cultural e, assim, acaba sendo um importante mês de julho, mostra um total de 57,6% famílias
organizador da subjetividade, move a própria vida, endividadas, 21% delas com contas em atraso e
traçando modos de ser. 7,3% declarando que não terão condições de pagar.
A cultura do consumo foi se engendrando a Projetando o último percentual sobre a nossa
partir de uma série de processos (Fontenelle, 2008), população, seriam mais de 13 milhões de pessoas
dentre os quais destacamos o desenvolvimento de que se confrontam virtualmente com o
tecnologias financeiras para viabilizar a aquisição superendividamento3.
de produtos e serviços independentemente dos Como tal situação traz consigo uma série de
recursos já possuídos. Guttmann e Plihon (2008) consequências danosas, sendo, em boa parte, um
caracterizam como economia do endividamento, efeito do atual sistema consumo-crédito, juristas e
forjada na primeira metade do século XX, o legisladores brasileiros buscam estabelecer, assim
financiamento contínuo do gasto excedente de como fizeram seus pares mundo afora, uma
empresas e Estados a partir da emissão de dívida legislação para sua prevenção e tratamento (Senado
pelo sistema bancário, o que logo se estendeu ao Federal, 2012). Enquanto isso não ocorre,
consumo das famílias. Associada a tais iniciativas como a da CJC do Tribunal de Justiça do
configurações, ocorreu uma mutação na experiência Rio Grande do Sul procuram responder ao
do tempo com o fenômeno da presentificação, a problema.
inflação e valorização do presente. Desse modo,
como apontam Saraiva e Veiga-Neto (2009, p. 193),
“passamos de uma sociedade que se projetava na
3
caderneta de poupança, para uma sociedade que se Todos percentuais são mais altos para quem ganha até 10
projeta no cartão de crédito”. Ou seja, na cultura do salários mínimos. Presume-se que as limitações sejam maiores
para essas pessoas, apesar do superendividamento se verificar
instantâneo, vivemos à vista, comprando a prazo. independente de faixa salarial e idade, dentre outros dados.
No Brasil, a expansão do crédito ao

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As Práticas no Âmbito do Projeto: permitindo que as pessoas façam suas narrativas e


Acolhimento e Rodas de Conversa tragam elementos conforme se sintam confortáveis.
A causa mais citada são problemas de saúde
próprios ou de familiar, mas o que acarreta maior
Quem procura a Central face ao constrangimento é estar desempregado por
superendividamento se engaja em um processo de demissão (sobretudo para homens). Quando
conciliação4 que abarca uma audiência com o constatam que existe espaço para falar, abandonam
conjunto dos seus credores para negociação; se há o relato pontual e trazem diversas facetas de sua
acordo, esse é homologado por um juiz e vale como situação, revelando histórias e dificuldades que
título judicial. Atualmente, seu acolhimento inicial transcendem o mero estar com contas atrasadas ou
é realizado prioritariamente5 pela estagiária de ter consumido mais do que podiam pagar. Claro,
Psicologia do projeto, segunda autora deste escrito. também chegam à CJC pessoas que poderiam ser
Em sintonia com nossos princípios norteadores, tal consideradas inconsequentes no trato com o
ação busca oferecer uma escuta, compreensão e dinheiro. Como exemplo, uma senhora que “teve
assistência que transcendem o necessário registro que comprar” uma camionete para o filho, apesar
de dados sobre o caso, procedimento que dá início de ter várias dívidas, ou as que se autodeclaram
ao processo. compulsivas. Mas, a grande maioria são
A postura e desconhecimentos externados pela consumidores que se viram engolfados na dita
grande maioria das pessoas que vão à Central fazem “bola de neve”. Assim, aparecem desde situações
com que uma atenção e orientações humanizadas inusitadas, como a dívida significativa de aluguel
sejam imprescindíveis. Em geral, chegam retraídas, de jazigo que fora esquecido pela consumidora, até
fisicamente cabisbaixas, envergonhadas; usam tom as que trazem à tona a conexão, tão explorada pela
de voz mais baixo para falar, dizem que “ouviram publicidade, entre afetos e presentes, como a de um
falar” da conciliação6 e querem “apenas” tirar pai que, para fazer a festa de 15 anos para a filha,
dúvidas; não raro, afirmam só buscar informações acabou contraindo dívidas cuja monta superou
para um terceiro. Ao começar a falar sobre sua qualquer projeção. Entendemos que tanto a
situação, algo assaz frequente é referirem-se a primeira como a última situação traduz efeitos que
“juros busivos” (sic) ou dizerem que pleiteiam uma alguns estudos têm apontado: a criação/exploração
“revisional de juros”7. Explicadas as competências pelo marketing da noção de falta permanente
do órgão, afirmam que, a despeito de considerarem (Fontenelle, 2008); e a aquisição de produtos e/ou
os juros abusivos, o que querem mesmo é fazer uma serviços “para comunicar simbolicamente o amor à
negociação de sorte a quitarem as dívidas e verem o pessoa querida” (Bragaglia, 2010, p. 111).
nome retirado de cadastros como SPC e Serasa. É comum as pessoas referirem o que ocorre
O acanhamento em contar que enfrentaram para além do financeiro: vergonha por causa das
algum acidente de vida e/ou admitir que ligações e cartas de cobrança; relações familiares
extrapolaram o orçamento é imenso; não tecemos abaladas pela situação; medo de que o chefe ou
qualquer análise valorativa sobre as situações, colegas de trabalho saibam da situação (ou, quando
4
desempregadas, de terem vaga negada por estarem
Como a CJC atua com mediação e conciliação, é pertinente
com o “nome sujo”, isto é, figurarem nos cadastros
distingui-las. A mediação é indicada quando existem relações
continuadas que, provavelmente, não se extinguirão (família, de inadimplentes); embaraço dos mais idosos em
vizinhança, negócios). Já a conciliação é adequada aos impasses admitir ter entrado na “bola de neve” porque pouco
em que o vínculo não é continuado (relações de consumo ou que ou nada sabiam sobre empréstimos consignados,
envolvem finanças); o requerente expõe sua situação, ouve a(s)
juros e limites; adoecimento físico e psíquico
proposta(s) do(s) requerido(s), sendo assistido pelo conciliador
que tem um papel ativo, podendo opinar e sugerir o que achar (angústia, depressão, insônia, pânico das cobranças,
melhor para a obtenção de acordo. etc.); vergonha dos credores por estar devendo, mas
5
Se há afluxo elevado de pessoas, estagiários de Direito ou a também raiva pelas restrições e cobranças
servidora do órgão também realizam a atividade. constrangedoras que sofrem. Falar sobre a situação
6
Algumas ficam sabendo por quem já usufruiu o serviço, mas a possibilita uma espécie de “descarga emocional”;
maioria vem encaminhada por órgãos parceiros, como
Defensoria Pública, JEC’s, Procon POA e Procon RS ou quando
muitos relatam que jamais tinham falando
alguma matéria jornalística sobre superendividamento informa abertamente sobre a situação, pois existe um forte
sobre o trabalho da CJC. estigma social sobre quem está devendo. A situação
7
Expressão que remete a um tipo de processo judicial para é escondida no trabalho, por medo de colocar o
revisão dos termos de contratos de financiamentos e emprego em risco, e em casa, por temor da reação
empréstimos que necessita a assistência de um defensor público
(para pessoas carentes) ou advogado particular. Na CJC não é
do parceiro e dos filhos. Contudo, algumas pessoas
possível ajuizar tal processo. Assim, as pessoas que têm esse só chegam à CJC amparadas por familiares, quando
interesse ou problemas que fogem ao âmbito de ação da CJC são a situação ficou impossível de contornar.
encaminhadas aos órgãos apropriados.

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É interessante assinalar que, mesmo que no mercado tendo em vista a prática da consulta a tais
decorrer do acolhimento, os motivos para o cadastros em seleções).
superendividamento se pluralizem, a menção aos Outra questão que aparece bastante é sobre a
juros como grande causadores da situação é receptividade dos credores. Como a adesão ao
recorrente, mormente quando existe dívida relativa processo de conciliação é voluntária, oferecemos
a cartão de crédito8. Em inúmeros casos, as pessoas um feedback conforme histórico na CJC e
relatam que conseguiam manter pagamentos em dia sugerimos alternativas, se pertinente. Quando o
até que, por algum motivo, só efetuaram o credor é um banco, a ideia (incorreta) de que o
pagamento mínimo da fatura; então, nunca mais gerente pessoal participa da audiência é temida pelo
tiveram condições de regularizar a situação face à consumidor por diferentes motivos: por ser pessoa
incidência de juros e encargos. Muitos conhecida, com quem mantém relação de
consumidores relatam que foram abordados em confiança; por parecer tê-lo “traído”, se já tentou
hipermercados ou lojas e receberam o cartão uma negociação direta e não “cumpriu”; por ter se
desbloqueado em minutos, sem maiores desentendido com o mesmo por causa da dívida e
comprovações e o devido esclarecimento quanto às achar que será prejudicado. Ao saber que um
suas condições. Idosos contam sobre as propostas preposto10 é quem negocia, o consumidor se
de empréstimos pessoais (consignados ou não) no tranquiliza. A perspectiva da audiência em si causa
centro da cidade, dizendo que aceitaram porque as bastante ansiedade: o que vão pensar dele? Será
“ofertas” afiguram-se “tentadoras” e a abordagem acusado, inclusive moralmente, por causa das
muito “carinhosa” e “atenciosa”. Acabaram dívidas? Ao falar algo, produzirá provas contra si?
sabendo só a posteriori sobre das condições O fato de ter o acompanhamento de um conciliador
efetivas da contratação desses créditos, quando se e a ciência de que o intuito não é condenatório mas
espantaram com os valores descontados em folha a constituição de acordos possibilitam maior
ou devidos. segurança. Um aspecto paradoxal é o desconforto
Posições e conjunturas como essas são expostas quanto à convocação dos credores; a despeito de,
pelos consumidores no transcorrer do atendimento muitas vezes, acharem injustos juros e encargos, os
que se formaliza através do preenchimento do consumidores sentem-se mal em “fazer eles ir lá
formulário de adesão abarcando dados de negociar”. Como se dever significasse que o credor
identificação, dados socioeconômicos e mapa dos tem total direito sobre condições, impedindo
credores9. Cabe referir que, por vezes, eles não questionamento; “quem deve, perde a razão de
sabem ao certo para quem ou o quanto devem; reclamar”, disse um consumidor. Nesse sentido, é
noutras, por vergonha de ter muitos credores, interessante lembrar, a partir da obra de Nietzsche
deixam de referir todos (em alguns casos, ligam sobre a genealogia da moral, o quanto se instituiu
depois para tentar inclui-los na negociação). imputar um sofrimento àqueles que rompem um
Expectativas e muitas dúvidas permeiam o contrato com a comunidade, sendo o sofrimento
atendimento. Uma pergunta muito frequente é sobre tomado “como compensação para a dívida”
o prazo para a exclusão do CPF dos cadastros de (Andrade, 2010, p. 288). Assim, é possível
inadimplentes após o acordo; conseguir “limpar o compreender a expectativa aflita de um julgamento
nome”, além de significar livrar-se de uma pecha e o misto de inconformidade e resignação (em
moral, também é importante objetivamente (para relação ao credor) como decorrentes do sistema
alugar ou financiar imóvel, ter acesso a serviços moral que perpassa as relações em nossa sociedade.
bancários, etc.) e urgente em certos casos Quando, no curso do acolhimento, situações
(nomeação em concurso público, recolocação no mais delicadas ainda se revelam (como a de uma
senhora que ficou numa internação psiquiátrica por
8
Dívidas decorrentes do pagamento mínimo da fatura de cartão
seis meses e cuja família não arcou com
de crédito e de empréstimos pessoais (em especial os oferecidos pagamentos que venciam no período; a de pessoas
por financeiras) são os carros-chefes do superendividamento muito ansiosas ou deprimidas, ou que se separaram
atendido na Central. ou perderam familiar), buscamos conversar com o
9
A primeira parte abarca nome, CPF, endereço e telefone; a conciliador11, escolhido pelo seu perfil em
segunda inclui idade, sexo, escolaridade, situação profissional,
estado civil, dependentes, renda individual e familiar, gastos
circunstâncias como essas, a fim de trazer subsídios
médios mensais (o que formará a base para o cálculo do 10
chamado mínimo para subsistência), montante e causas da Na maioria das vezes, são advogados que pertencem a
dívida, registro ou não nos cadastros de inadimplentes, quanto escritórios que prestam serviços terceirizados para bancos e
dispõe para pagamentos, etc.; na terceira parte são listados todos instituições comerciais.
11
os credores com os quais o requerente quer conciliar, Função exercida por juízes e desembargadores aposentados,
explicitando valor da dívida, se está vencida ou não, se possui profissionais de nível superior que fizeram curso de mediação,
processo ou cobrança judicial, se já tentou negociação, se alunos da Associação de Juízes do RS ou advogados que não
recebeu cópia do contrato, entre outros dados. exercem a profissão.

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para a audiência. compartilhamento de dificuldades, o levantamento


Frequentemente, ao final da audiência, os de questões, a troca de experiências e a
consumidores comentam que ficaram manifestação de opiniões que sucederam
impressionados com a posição aberta e receptiva espontaneamente. No segundo encontro, exibimos
dos credores, que não assumiram a postura algumas imagens na forma de slides, dessa vez
pomposa ou acusatória que eles imaginaram. Na pensando que seria um elemento a mais para
verdade, a solicitude dos credores contribui muito dinamizar o encontro; igualmente, desde as
para o sucesso da conciliação, pois deixa o primeiras falas, a palavra circulou fácil. Assim, para
consumidor menos tenso, retira- lhe o peso do o terceiro encontro, não lançamos mão de
rótulo de devedor, possibilitando que ele seja agente “disparadores” e a discussão fluiu naturalmente.
na negociação. Os grupos que se formaram nas diferentes
Ao conceber este projeto, nosso objetivo era edições foram plurais; em média, tivemos sete
promover saúde, educação e cidadania para participantes com idades, ocupações, conjunturas
consumidores em situação de superendividamento. de vida e problemáticas variadas, o que permitiu às
A prática do acolhimento, na forma como temos pessoas deparar-se com situações tão intrincadas
operado, mesmo circunscrita, trabalha nesse quanto às suas e constatar que existem aspectos que
sentido. Porém realizar ações mais específicas de perpassam a experiência de muitos. A
cunho reflexivo-educativo era horizonte importante. heterogeneidade, nesse caso, fomentou a empatia e
Para sua efetivação, descartamos o modelo palestra, estimulou a partilha de caminhos trilhados e
que tem seu valor, mas distancia os participantes. Já insights desenvolvidos, colocando todos na posição
o formato oficina, quando empregado na chamada de quem pode contribuir com alguma vivência ou
educação financeira, remete à abordagem de conhecimento.
aspectos objetivos, como modos de planejar Certos temas e questões que emergiram
orçamento familiar – algo relevante, mas pontual. A merecem ser referidos: a vergonha de ter o “nome
roda de conversa, por ser metodologia participativa sujo”, de ser preterido, de passar por “ignorante”
que sensibiliza e mobiliza a reflexão (Afonso & (quando então nada perguntam); cartão de crédito e
Abade, 2008), afigurou-se como a melhor empréstimos (questionam se a oferta fácil e os juros
alternativa face ao que intentávamos. Cabe tão altos podem ser legais; querem saber a que
assinalar nossa insatisfação com as expressões corresponde o pagamento mínimo); dívidas caras e
utilizadas nesse âmbito12: educação para o mais baratas; dinheiro (indagam sobre como
consumo, financeira ou econômica. Em seu lugar, planejar o orçamento, ter poupança, investir); o
pensamos que uma educação quando ao consumo circuito do consumo “a mais”; a dificuldade (por
pode possibilitar, além do indispensável acesso a vezes, extrema) em não entrar nesse circuito; a
informações, um espaço favorável à discussão, “armadilha” da associação entre gostar e presentear;
aprendizagens e problematizações mais amplas. resistir e não sucumbir às “promoções” (Só hoje,
Assim, passamos a desenvolver encontros descontos de até x reais!); os filhos (como lidar
denominados “Roda de conversa sobre consumo, com seus pedidos e insistências; falar ou não com
crédito e endividamento”. eles sobre dívidas; como lhes ensinar sobre como
Consumidores atendidos na CJC foram ganhar e gastar dinheiro); os credores (indignação
convidados diretamente e houve também face à sua indiferença quanto aos acidentes de vida,
divulgação externa. Até agora, aconteceram três em especial os problemas de saúde); dificuldade de
encontros, que, além de nós, contou com a presença negociar; o “sistema” que os joga de um lado para
do juiz coordenador da Central e de um professor outro; os direitos (seus desconhecimento); a
de Economia, parceiro nessa ação. No primeiro, já importância de socializar o aprendido.
nas apresentações pessoais, os participantes Durante as rodas, nossa postura foi fazer
expuseram sua problemática; para provocar as pontuações a partir das ideias e discussões surgidas,
discussões, distribuímos uma folha com oito visando levantar outros questionamentos, de sorte a
imagens – que remetiam a aspectos, em geral, fazer com que a reflexão se ampliasse, novos
relacionados às dívidas – e um espaço em branco conhecimentos e modos de enfrentamento fossem
para inclusão de outros pontos, para que cada pensados, as pessoas compreendessem que, a
pessoa pudesse identificar por onde passava sua despeito da vulnerabilidade momentânea, não eram
situação. Além de verificar uma dispersão entre tais meras reféns de um sistema adverso. Como os
pontos, tal estratégia não foi tão influente para o demais colegas da equipe, também trouxemos
esclarecimentos quanto ao legal e àquilo que se
12
Compreendemos a linguagem como produtora de posições e pratica, apontando eventuais alternativas e
práticas. Assim, uma expressão é uma forma de nomear e caminhos possíveis, buscando o empoderamento
também a expressão de um modo de pensar-agir.

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dos participantes. a muitos? Afinal, se certos tribunais acolhem pleitos


de concursados preteridos, outros indicam a
legalidade dessa consulta quando em nome da
Alinhavando Discussões e Tecendo “natureza do cargo a ser ocupado”.
Considerações Finais Marques (2006, p. 256) afirma que “a nossa
economia de mercado seria, pois, por natureza, uma
economia do endividamento”. Essa cresce graças ao
A adesão às rodas de conversa, que foi que entendemos como uma impulsão ao consumo:
muitíssimo pequena face ao número de pessoas que “não adie seus sonhos”, “não deixe de aproveitar o
acorrem à Central, sinaliza aspectos cruciais a ser IPI reduzido”. Por aí vai o convite a comprar e
examinados. Quando do convite (em geral, no pagar em “parcelas a perder [mesmo] de vista”.
fecho do atendimento), muitos indagavam se “iam Ainda, cada vez mais, é via consumo o acesso a
precisar falar”, outros diziam que pensariam e serviços que corresponderiam a direitos básicos, o
vários descartavam direto. Creditamos tal reticência que impõe longas dívidas (como financiamentos
generalizada à dificuldade de compartilhar situação estudantis) ou pagamentos vitalícios (como planos
que causa constrangimentos. Até por isso, nas de saúde). Assim, muitos vivem “no limite”, sendo
primeiras rodas, fomos munidas de recursos para que sempre o limite do cartão e do cheque especial
“fazer falar”, o que não foi necessário ou pode ser aumentado, um novo empréstimo obtido.
significativo, pois o diálogo fluiu; mais do que isso, Até que advém o superendividamento. E, quando
todos os encontros, que teriam em torno de 90 isso acontece, parece que tal configuração social
minutos, ultrapassaram duas horas e os inexiste; o culpado pela situação é o indivíduo, um
participantes saíram dizendo que havia sido muito véu de desconfiança o recobre. E sair “do
bom. Por outro lado, em função do retorno positivo vermelho” não é fácil; face ao desconhecimento de
do acolhimento que realizamos, não supomos que direitos, uma posição de sujeição advém.
os consumidores pudessem pensar que as rodas Em função disso, não surpreende que as
teriam outro espírito. Então, começamos a pessoas se envergonhem tanto, se achem
considerar que se engajar em um processo de “incomodando” os credores ao buscar melhores
conciliação pode ser significado como um condições para contratos de crédito que, em
procedimento “cirúrgico” que tira um “nódulo” inúmeros casos, são cifrados para eles, quando não
incômodo, mas circunscrito – feito isso, “tudo” desconhecidos porque não são fornecidos. Nesse
estaria resolvido; já aderir a outras ações talvez sentido, é compreensível que, quando precisam
possa representar a admissão de que “há algo resolver essa situação, queiram fazer o mais rápido
errado” – e “errado” (imaginariamente) com a e de forma mais circunscrita possível. Só que, assim
própria pessoa. como o “fácil e rápido” prometido por tantos
Senão vejamos. Quando o superendividamento anúncios de empréstimos impede a ciência das suas
é pautado socialmente, o que se diz? Que a pessoa condições específicas, o desvencilhar-se do “nome
ou não sabe planejar/gerir orçamento, é sujo” sem poder apropriar-se um pouco mais dos
imprevidente, impulsiva ou age com má-fé. Sim, mecanismos do sistema consumo-crédito também
agora até se fala da oferta de crédito fácil, mas pode resultar em novas capturas.
como mais um aspecto com o qual o próprio Por isso, se, por um lado, consideramos
consumidor tem que se haver – ele é que precisa ser importante abolir práticas discriminatórias, como
consciente, responsável! O fenômeno é querem alguns projetos de lei que proíbem a
individualizado: é seu esse problema que o arrasta consulta a cadastros de inadimplentes para efeitos
para um descrédito social. Um estigma moral se admissionais (Câmara dos Deputados, 2012), por
estabelece, gerando mal-estar e tensionando a outro, sabemos que um dispositivo legal só evita
condição de cidadania. formalmente as pessoas de serem preteridas,
Cabe lembrar que somente em 2010 foi garantindo um pouco mais seus direitos, mas não
revogado o artigo 508 da CLT que considerava justa alterando o quadro que tem levado cada vez mais
causa para demissão a “falta contumaz de pessoas à situação de (super)endividamento e/ou
pagamento de dívidas”. Qual o espírito de tal inadimplência, geradora de estigma e
disposição, que era de 1943? E o que faz com que, discriminação.
hoje, práticas como consulta a cadastros de Em função disso, ao longo deste artigo, fomos
inadimplentes, levando os registrados a serem lançando várias problematizações, pois acreditamos
excluídos de processos seletivos privados ou ao essencial colocar em questão o estatuto do consumo
impedimento de assumir cargos públicos, cerceando e o papel do crédito na nossa sociedade. Nesse
o direito básico ao trabalho (fonte para obter sentido, a partir da constatação de Bauman (2008,
recursos financeiros), pareçam apropriadas e legais

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Hennigen, I.; & Gehlen, G. Com a “vida” no vermelho: psicologia e superendividamento do consumidor

p. 76) de que “tornar-se e continuar sendo uma 8, 285-292.


mercadoria vendável é o mais poderoso motivo de
preocupação do consumidor”, é vital indagar a Baudrillard, J. (2010). A sociedade de consumo.
armadura social, política e econômica que sustenta Lisboa: Edições 70.
tal condição, que faz comprar para se poder ser
“alguém” e, daí, ser vendável aos olhos sociais. Bauman, Z. (2008). Vida para consumo. Rio de
Igualmente, questionar por que hoje nos Janeiro: Jorge Zahar.
convencemos que a expressão de afetos através de
materialidades é o modo que lhe conferirá Bauman, Z. (2010). Vida a crédito. Rio de Janeiro:
“consistência”. Não é menor a necessidade de Jorge Zahar.
atenção, crítica e regulação quanto à forma da
publicidade e às estratégias de bancos e financeiras, Bragaglia, A. P. (2010). Comportamentos de
que não poucas vezes captam clientes sem lhes consumo na contemporaneidade. Comunicação,
prestar as devidas informações que propiciariam Mídia e Consumo, 19(7), 107-124.
reflexão quanto ao contrato assumido. Enfim, são
muitos os aspectos que circundam e produzem o Câmara dos Deputados. (2012). Proposta proíbe
superendividamento. Nesse sentido, como parte de consultas cadastrais de candidatos a emprego.
uma educação quanto ao consumo, pensamos que Recuperado em 20 de agosto, 2012 de
rodas de conversa como as que realizamos também http://www2.camara.gov.br/agencia/noticias/
poderiam se efetivar em outros espaços – escolas, trabalho-e-previdencia/412765-proposta-
associações de bairro, empresas, etc. –, proibe-consultas-cadastrais-de-candidatos-a-
direcionadas a quem está ou não (super)endividado. emprego.html
Na verdade, trazer consumo e crédito à discussão
da sociedade nos parece urgente para podermos Confederação Nacional do Comércio. (2012).
criar alternativas de ser e existir. Pesquisa nacional de endividamento e
A partir da apresentação e discussão do projeto inadimplência do consumidor. Recuperado em
que desenvolvemos, intentamos trazer à luz alguns 03 de agosto, 2012, de
aspectos implicados no fenômeno do http://www.cnc.org.br/sites/default/files/arquiv
superendividamento, chamando a atenção para sua os/peic_julho_2012.pdf
individualização, o que tem causado sofrimentos de
todas as ordens. Esperamos ter deixado claro: Fontenelle, I. A. (2008). Psicologia e marketing: da
entendemos que aos psicólogos não compete parceria à crítica. Arquivos Brasileiros de
somente buscar minimizá-los, mas produzir Psicologia, 60(2), 143-157.
conhecimentos e intervenções que abram espaços
para as pessoas refletirem e, assim, transcenderem Foucault, M. (1995). O sujeito e o poder. In H.
as condições que os engendram. Conhecimentos e Dreyfus & P. Rabinow (Orgs.), Michel
ações que podem vir a ser subsídios para a Foucault, uma trajetória filosófica: para além
elaboração de propostas de políticas públicas que do estruturalismo e da hermenêutica (pp. 231-
operem no sentido de preveni-los e enfrentá-los, 249). Rio de Janeiro: Forense Universitária.
assegurando direitos e produzindo cidadania em
uma acepção mais ampla. Enfim, apostamos que a Guttmann, R., & Plihon, D. (2008). O
congregação de esforços interdisciplinares e lutas endividamento do consumidor no cerne do
políticas tornam-se potentes para “promover novas capitalismo conduzido pelas finanças.
formas de subjetividade através da recusa desse tipo Economia e Sociedade, 17, 575-610.
de individualidade que nos foi imposto há vários
séculos” (Foucault, 1995, p. 239). Lima, C. C., & Bertoncello, K. (2010).
Superendividamento aplicado: aspectos
Referências doutrinários e experiência no Poder Judiciário.
Rio de Janeiro: GZ Editora.
Afonso, M. L., & Abade, F. L. (2008). Para
reinventar as rodas: rodas de conversa em Marques, C. L. (2006). Sugestões para uma lei
direitos humanos. Belo Horizonte: RECIMAM. sobre o tratamento do superendividamento de
pessoas físicas em contratos de crédito ao
Andrade, V. A. G. F. (2010). Dos tipos consumo. In C. L. Marques & A. L. Cavallazzi
fundamentais de dívida (schuld) para uma (Orgs.), Direitos do consumidor endividado
genealogia da moral. Cadernos da Graduação,

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Recebido: 30/08/2012
Revisado: 26/11/2012
Aprovado: 09/01/2013

Pesquisas e Práticas Psicossociais 7(2), São João del-Rei, julho/dezembro 2012

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