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A pesquisa-ação

como metodologia
investigativa e propositiva
na prática de profissionais
de saúde do SUS
Reitoria
Reitora: Isabela Fernandes Andrade
Vice-Reitora: Ursula Rosa da Silva
Chefe de Gabinete: Aline Ribeiro Paliga
Pró-Reitora de Ensino: Maria de Fátima Cóssio
Pró-Reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação: Flávio Fernando Demarco
Pró-Reitor de Extensão e Cultura: Eraldo dos Santos Pinheiro
Pró-Reitor de Planejamento e Desenvolvimento: Paulo Roberto Ferreira Júnior
Pró-Reitor Administrativo: Ricardo Hartlebem Peter
Pró-Reitor de Gestão da Informação e Comunicação: Julio Carlos Balzano de Mattos
Pró-Reitora de Assuntos Estudantis: Fabiane Tejada da Silveira
Pró-Reitora de Gestão de Pessoas: Taís Ullrich Fonseca

Conselho Editorial
Presidente do Conselho Editorial: Ana da Rosa Bandeira
Representantes das Ciências Agrárias: Sandra Mara da Encarnação Fiala Rechsteiner (TITULAR)
Representantes da Área das Ciências Exatas e da Terra: Eder João Lenardão (TITULAR), Daniela Hartwig de Oliveira
e Aline Joana Rolina Wohlmuth Alves dos Santos
Representantes da Área das Ciências Biológicas: Rosangela Ferreira Rodrigues (TITULAR), Francieli Moro Stefanello
e Marla Piumbini Rocha
Representantes da Área das Engenharias: Reginaldo da Nóbrega Tavares (TITULAR), Cláudio Martin Pereira de Pereira
e Jairo Valões de Alencar Ramalho
Representantes da Área das Ciências da Saúde: Fernanda Capella Rugno (TITULAR) e Jucimara Baldissarelli e Zayanna
Christina Lopes Lindôso
Representantes da Área das Ciências Sociais Aplicadas: Daniel Lena Marchiori Neto (TITULAR), Bruno Rotta Almeida
e Marislei da Silveira Ribeiro
Representantes da Área das Ciências Humanas: Charles Pereira Pennaforte (TITULAR), Silvana Schimanski e William
Daldegan de Freitas
Representantes da Área das Linguagens e Artes: Chris de Azevedo Ramil (TITULAR), Daniel Soares Duarte e Luís
Fernando Hering Coelho
Organizadoras:
Juliana Bittencourt Garcia
Denise Petrucci Gigante

A pesquisa-ação
como metodologia
investigativa e propositiva
na prática de profissionais
de saúde do SUS
Seção de Pré-Produção
Isabel Cochrane
Administrativo
Suelen Aires Böettge
Administrativo

Seção de Produção
Preparação de originais
Filiada à ABEU Eliana Peter Braz
Administrativo
Rua Benjamin Constant, 1071 - Porto
Pelotas, RS - Brasil Catalogação
Fone +55 (53)3284 1684 Marisa Helena Gonsalves de Moura
editora.ufpel@gmail.com Administrativo

Revisão textual
Anelise Heidrich
Assistente de Revisão
Suelen Aires Böettge
Administrativo

Projeto gráfico e diagramação


Dados de Catalogação na Publicação:
Fernanda Figueredo Alves
Bibliotecária Elionara Rech - CRB-10/1693 Angélica Knuth (Bolsista)
Carolina Abukawa (Bolsista)
P474 A pesquisa-ação como metodologia investigativa e Coordenação de projeto
propositiva na prática de profissionais de saúde do
SUS [recurso eletrônico] / Garcia, Juliana Bittencourt, Ana da Rosa Bandeira
Gigante, Denise Petrucci, organizadoras. – Pelotas:
Ed. UFPel, 2023.
85p. Seção de Pós-Produção

24,8 MB, eBook (PDF)


Madelon Schimmelpfennig Lopes
ISBN: 978-85-60696-23-9 Administrativo

1.Promoção da saúde. 2. Atenção nutricional. 3.


Eliana Peter Braz
Educação e saúde. I. Garcia, Juliana Bittencourt, org. Administrativo
II. Gigante, Denise Petrucci, org.

Projeto gráfico, Diagramação & Capa


CDD : 613
Cíntia Borges

Finalização & Fechamento de arquivos


Angélica Knuth
Carolina Abukawa
Apresentação

Nesta escrita, abordamos o relato da experiência e a sistematização de encontros


formativos do projeto Conhecimento sobre alimentação saudável e adequação às re-
comendações alimentares e nutricionais brasileiras: indissociabilidade entre a pesquisa
epidemiológica, ensino e extensão na atenção nutricional no âmbito do SUS, sobre o
enfrentamento e controle da obesidade. Tal abordagem se constitui numa significa-
tiva oportunidade de formação em serviço. O projeto se insere na chamada pública nº
26/2018, lançada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
- CNPq e financiada pelo Ministério da Saúde.

Na seção Introdução, contextualizaremos brevemente a transição nutricional obser-


vada no país e sobre a complexidade dos fatores que influenciam o estado nutricional
de uma população. Já na seção Educação em saúde nos propusemos a identificar os
conceitos de educação e saúde sobre os quais sustentam esta escrita, bem como para
apontar a importância do tema educação em saúde na prevenção de doenças e na pro-
moção e manutenção da saúde dos indivíduos.

Apresentamos, na seção O ECOSUS, uma síntese do projeto, desde a etapa da chama-


da pública até os seus desdobramentos. Na seção Sobre a pesquisa-ação, por sua vez,
empenhamo-nos na exposição da metodologia utilizada, com base nos pressupostos de
Michel Thiollent (2007), bem como a realização do Estado de Conhecimento, realizado
através do rastreamento de publicações que usaram essa metodologia, na área da Nu-
trição, em especial, quando focados na problemática da obesidade.

Em Nossos encontros, relatamos as atividades e discussões desenvolvidas e promo-


vidas nos encontros formativos presenciais. Já na seção intitulada Nossos achados, exi-
bimos os resultados dos encontros formativos presenciais e a análise da pesquisa-ação
à luz da Análise Documental.

A seção Uma experiência exitosa foi dedicada à experiência da participação de um


dos municípios integrantes dos encontros formativos presenciais que se destacou pelo
engajamento nas atividades propostas. Por fim, nas Considerações finais, fazemos o
fechamento do texto, evidenciando percepções e perspectivas.
A equipe ECOSUS deseja a todos uma ótima leitura.
Sumário

Introdução.......................................................................................................................................................9
O ECOSUS........................................................................................................................................................13
Educação em Saúde.................................................................................................................................20
Sobre a pesquisa-ação..........................................................................................................................26
Nossos encontros...................................................................................................................................47
Nossos achados........................................................................................................................................60
Uma experiência exitosa......................................................................................................................74
Narrativa 1......................................................................................................................................................75
Narrativa 2....................................................................................................................................................78
Narrativa 3....................................................................................................................................................80
Considerações finais............................................................................................................................82
Introdução

Ana Luisa Sant’anna Alves


Greisse Viero da Silva Leal

A transição nutricional pode ser caracterizada pelo “comportamento evolutivo do es-


tado de nutrição calórico-proteica e seu espectro de manifestações, abarcando desde as
formas graves de desnutrição energético-proteica até os tipos avançados de obesidade”
(BATISTA FILHO et al., 2007, p. 449). Atualmente, observa-se o avanço da obesidade e a
diminuição das deficiências nutricionais em diversas partes do mundo. O artigo publi-
cado no The Lancet (DI CESARE et al., 2016) apresenta tendência de aumento do Índice
de Massa Corporal (IMC) em adultos em 200 países, no período compreendido entre 1975
e 2014. Além disso, os resultados do estudo indicam que, se a tendência de aumento da
obesidade se mantiver, até 2025, a prevalência global de obesidade será de 18% nos ho-
mens e de 21% nas mulheres.

No Brasil, dados do período de 2009 a 2019, da pesquisa Vigilância de Fatores de Risco


e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), mostram que a pre-
valência de obesidade (IMC ≥ 30kg/m2) passou de 14,3% para 20,3% (BRASIL, 2020a). No
que se refere ao estado nutricional de adultos acompanhados na Atenção Primária em
Saúde, 28,5% apresentavam obesidade e 63% excesso de peso (BRASIL, 2020b).

Para o enfrentamento dessa situação, o Brasil encara desafios tanto no que diz res-
peito à desigualdade da assistência em saúde quanto no que concerne a estratégias pre-
ventivas. Diante disso, há necessidade de ações conjuntas, envolvendo sociedade civil,
organizações de saúde e governo, na implementação de programas educacionais para
auxiliar a população a ter um estilo de vida mais saudável, assim como equipamentos
públicos adequados para atender a essa demanda (COHEN et al., 2020).

Outro desafio se refere ao estigma da obesidade, observado em diferentes contex-


tos, mesmo no sistema de saúde, o qual deveria ser um espaço de acolhimento. O efeito
desse estigma é prejudicial na saúde mental e física do indivíduo, contribuindo para a
precarização da relação com os profissionais de saúde. Mudanças na linguagem utiliza-

Introdução 9
da no atendimento, no entanto, podem minimizar o estigma da obesidade e promover
melhores resultados, tanto para os indivíduos com obesidade quanto para o sistema de
saúde. Assim, programas de educação para profissionais de saúde sobre as causas da
obesidade e o uso de linguagem adequada para lidar com o tema podem colaborar para
experiências positivas dos indivíduos com obesidade no sistema de saúde (WU e BERRY,
2018; ALBURY et al., 2020; BRASIL, 2021).

Em 2021, o Ministério da Saúde publicou o “Manual de Atenção às Pessoas com So-


brepeso e Obesidade no Âmbito da Atenção Primária à Saúde (APS) do Sistema Único
de Saúde”. O documento expressa a necessidade urgente da qualificação da atenção às
pessoas com sobrepeso e obesidade, tanto pela elevada prevalência do diagnóstico, ao
longo dos anos, quanto pelo agravamento da obesidade no contexto da pandemia da
covid-19 (BRASIL, 2021).

A proposta de pesquisa intitulada “Conhecimento sobre alimentação saudável e ade-


quações às recomendações alimentares e nutricionais brasileiras: indissociabilidade en-
tre a pesquisa epidemiológica, ensino e extensão na atenção nutricional no âmbito do
SUS” desenvolveu atividades de pesquisa, ensino e extensão, de forma indissociável, rela-
cionadas com a atenção nutricional para o enfrentamento e controle de tal fenômeno. A
proposta objetivou ultrapassar a perspectiva de encontros formativos para profissionais
da saúde, propondo uma forma de intervenção, com vistas a sensibilizar e refletir sobre
o problema, incluindo um olhar diferenciado para pessoas com sobrepeso e obesidade.

10 ECOSUS
Referências:

ALBURY, Charlotte et al. The importance of language in engagement between health-ca


re professionals and people living with obesity: a joint consensus statement. The Lancet
Diabetes & Endocrinology, v. 8, n. 5, p. 447- 455, 2020.

BATISTA FILHO, Malaquias; ASSIS, Ana Marlúcia de; KAC, Gilberto. Transição nutricional:
conceito e características. In: KAC, Gilberto; SICHIERI, Rosely; PETRUCCI, Denise (org.). Epi-
demiologia nutricional. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz/Atheneu, 2007.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Análi-


se em Saúde e Vigilância de Doenças não transmissíveis. Vigitel Brasil 2019: Vigilância de
Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico: estimativas
sobre frequência e distribuição sociodemográfica de fatores de risco e proteção para do-
enças crônicas nas capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal em 2019. Brasí-
lia, DF: Ministério da Saúde, 2020a.

BRASIL. Ministério da Saúde. Situação alimentar e nutricional no Brasil: excesso de peso


e obesidade da população adulta na atenção primária à saúde. Brasília, DF: Ministério da
Saúde, 2020b.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de


Promoção da Saúde. Manual de atenção às pessoas com sobrepeso e obesidade no âm-
bito da atenção primária à saúde do Sistema Único de Saúde [recurso eletrônico]. Brasí-
lia: Ministério da Saúde, 2021.

COHEN, Ricardo V. et al. Metabolic health in Brazil: trends and challenges. The Lancet
Diabetes & Endocrinology, v. 8, n. 12, p. 937–938, 2020.

Introdução 11
DI CESARE, Mariachiara et al. Trends in adult body-mass index in 200 countries from 1975
to 2014: a pooled analysis of 1698 population-based measurement studies with 19.2 million
participants. The Lancet, v. 387, n. 10026, p. 1377–1396, 2016.

WU, Ya Ke; BERRY, Diane C. Impact of weight stigma on physiological and psychological
health outcomes for overweight and obese adults: a systematic review. Journal of Advan-
Ced Nursing, v. 74, n. 5, p. 1030-1042, 2018.

12 ECOSUS
O ECOSUS

Denise Petrucci Gigante


Margarete Oleiro Marques

Apresentamos, nesta seção, uma síntese do projeto desde a chamada pública de can-
didatura até os seus desdobramentos.

No mês de agosto de 2018 foi lançada pelo CNPq a Chamada Pública: Enfrentamento
e controle da obesidade no âmbito do SUS, financiada pelo Ministério da Saúde, com o
objetivo de avaliar o conhecimento sobre alimentação saudável; identificar fatores as-
sociados e verificar se esse está em consonância com as recomendações alimentares e
nutricionais oficiais brasileiras. A meta era financiar um estudo por estado brasileiro, além
do Distrito Federal. Ao final, foram aprovados 22 projetos.

O projeto foi coordenado pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), em parceria


com a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), a Universidade Federal da Fronteira
Sul (UFFS) e a Universidade de Passo Fundo (UPF). Além dessas Instituições de Ensino
Superior, a Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul (SES-RS) e a Secretaria Mu-
nicipal de Saúde (SMS) de Pelotas também apoiaram a iniciativa através da participação
de servidores técnicos da área de Alimentação e Nutrição e da responsável pela Política
Estadual de Alimentação e Nutrição (PAN) do RS. Essa parceria só foi possível porque do-
centes e técnicos dessas Instituições já possuíam experiências em projetos de pesquisa e/
ou extensão em trabalhos realizados em conjunto anteriormente, assim como atividades
de orientação de pós-graduação.

Na UFPel, o projeto foi cadastrado como “Conhecimento sobre alimentação saudável


e adequação às recomendações alimentares e nutricionais brasileiras: indissociabilidade
entre a pesquisa epidemiológica, ensino e extensão na atenção nutricional no âmbito
do SUS”, mas passou a ser chamado, carinhosamente, de ECOSUS. Devido a atrasos na
liberação dos recursos, o projeto teve postergado o seu início para o mês de maio de 2019.

ECOSUS 13
Nosso principal objetivo foi realizar atividades de pesquisa, ensino e extensão, de forma
indissociável, relacionadas com a atenção nutricional para o enfrentamento e controle da
obesidade em 110 municípios, os quais compõem a 3ª, a 6ª e a 15ª Coordenadorias Regio-
nais de Saúde (CRS), com base em quatro eixos: Pesquisa e Desenvolvimento; Formação;
Avaliação e Monitoramento e Difusão Científica. Os objetivos de cada eixo estão descritos
a seguir.

Pesquisa e Desenvolvimento: realizar diagnóstico da organização da gestão e


da atenção nutricional nos municípios, a partir de instrumento pré-elaborado
pelo Ministério da Saúde, composto por questionário eletrônico semiestruturado
e autoaplicável, dirigido a gestores e profissionais de saúde em âmbito munici-
pal.

Formação: realizar pesquisa-ação envolvendo a formação dos profissionais de


saúde, a fim de conhecer as dificuldades e potencialidades de cada território
para o enfrentamento da obesidade. Desenvolver estratégias efetivas, ativas e
inovadoras para a formação de trabalhadores da saúde e de gestores, em pro-
moção da alimentação adequada e saudável no território e na prevenção e tra-
tamento da obesidade, a partir da identificação de seus determinantes no terri-
tório e orientados por protocolos, guias e outros instrumentos para o cuidado da
obesidade elaborados pelo Ministério da Saúde.

Avaliação e Monitoramento: apoiar e desenvolver pesquisa(s) avaliativa(s) e de


monitoramento das ações desenvolvidas pelos profissionais de saúde, para o
manejo da obesidade, e por gestores, para o fortalecimento da Política Nacional
de Alimentação e Nutrição (PNAN), a partir das informações dos serviços e das
ações desenvolvidas, por meio de instrumentos e ferramentas sugeridos pelo Mi-
nistério da Saúde, e das informações geradas pelos sistemas de informação da
atenção básica.

Difusão científica: realizar um conjunto de ações para a democratização do co-


nhecimento junto à sociedade desde o início do projeto, que sejam transversais

14 ECOSUS
as suas etapas, contemplando diversos públicos, tais como a comunidade cien-
tífica e gestores das três esferas de governo, profissionais, comunidades locais,
conselhos de políticas sociais, entre outros.

A partir daqui, descrevemos as estratégias e ações realizadas antes de iniciarmos as


atividades com os municípios da 3ª CRS. Essa CRS abrange 22 municípios a saber: Amaral
Ferrador, Arroio do Padre, Arroio Grande, Canguçu, Capão do Leão, Cerrito, Chuí, Cristal,
Herval, Jaguarão, Morro Redondo, Pedras Altas, Pedro Osório, Pelotas, Pinheiro Machado,
Piratini, Rio Grande, Santa Vitória do Palmar, Santana da Boa Vista, São José do Norte, São
Lourenço do Sul e Turuçu.

Nossa primeira ação foi apresentar o projeto à SES-RS, no município de Porto Alegre,
por meio de uma reunião entre a equipe do projeto e as responsáveis pela Política de Ali-
mentação e Nutrição (PAN). Posteriormente, o projeto foi exposto na 3a CRS, em reunião
com a Coordenadora e com a responsável pelo Núcleo Regional de Educação em Saú-
de Coletiva (Nuresc). A partir dessa reunião, foi sugerido que fizéssemos a apresentação
também ao Comitê Intergestor Regional (CIR), o que ocorreu no dia 28 de junho de 2019,
no município de Santa Vitória do Palmar. Além disso, divulgamos o projeto na Secretaria
Técnica (Setec/RS) e na Comissão Intergestores Bipartite (CIB) na SES-RS nos dias 16 e 17
de julho de 2019.

Na sequência, convidamos todos os municípios da 3ª CRS a participarem do nosso I


Encontro Formativo Presencial, realizado nos dias 29 e 30 de agosto de 2019. Em nosso
convite, solicitamos que cada município indicasse até cinco profissionais de saúde da
atenção básica – com qualquer formação – para participarem junto ao gestor.

Embora tenhamos conseguido contato através de e-mail e/ou telefone com todos os
municípios, tivemos muita dificuldade de retorno e precisamos contar com a ajuda de
uma rede de contatos, tanto de profissionais como de Instituições e entidades (SES e
Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do Rio Grande do Sul), para que tivésse-
mos êxito. Dos 22 municípios contatados, 14 confirmaram participação, um declinou do
convite por ter outra agenda na mesma data e sete não se manifestaram. Além desses,

ECOSUS 15
os municípios de Aceguá e Lavras do Sul, os quais pertencem à 7ª CRS, mas são muito
próximos geograficamente, solicitaram autorização para participar do projeto conjunta-
mente. Após o I Encontro, o município de São José do Norte, que não havia participado
em função de mudanças em sua Gestão da Saúde, entrou em contato para que pudesse
participar das próximas etapas do projeto. No Quadro 1, é feita a caracterização dos mu-
nicípios participantes.

16 ECOSUS
Quadro 1 | Caracterização dos municípios participantes quanto à população usuária, número de agentes comunitários de saúde (ACS),
estratégia de saúde da família (ESF) e núcleo ampliado de saúde da família (Nasf) segundo os tipos 1, 2 e 3 implantados

Município População ACS ESF NASF 121 NASF 22 NASF 32


Arroio do Padre 2895 6 1 0 0 0

Capão do Leão 25441 0 0 0 0 0

Cerrito 6431 8 2 0 0 0

Cristal 7792 10 4 0 1 0

Morro Redondo 6548 10 3 0 0 0

Pedras Altas 2181 6 1 0 0 0

Pelotas 343651 338 76 4 0 0

Piratini 20757 17 4 0 0 0

Rio Grande 208641 143 34 4 0 0

Santa Vitória do Palmar 31352 30 15 2 0 0

São José do Norte 27095 30 5 1 0 0

Turuçu 3590 9 2 0 0 0

Aceguá12 4671 12 1 0 0 0

Lavras do Sul1 7480 12 2 0 0 0

Fonte: Elaborado pelas autoras, 2021.

1 Municípios da 7ª CRS.
2 As modalidades de Nasf 1, 2 e 3 diferenciam-se pelo número de ESF e carga horária dos profissionais atuantes.

ECOSUS 17
Descrição da orientação didático-pedagógica e das metodologias apli-
cadas para execução das atividades de extensão tecnológica, educação
profissional e de pesquisa

A pesquisa-ação foi utilizada como metodologia investigativa e propositiva, a fim de


realizar o diagnóstico da situação da obesidade nos territórios e de envolver os profis-
sionais na busca de soluções práticas ao seu enfrentamento. Dessa forma, a metodolo-
gia escolhida colocou os profissionais de saúde como participantes ativos na resolução
de um problema coletivo, aqui descrito como enfrentamento da obesidade. A partir dos
princípios da pesquisa-ação que orientaram o trabalho, pretendeu-se que os participan-
tes envolvidos assumissem, cada vez mais, o protagonismo na condução do trabalho, na
perspectiva da autonomia da ação. Nesse sentido, a própria metodologia de pesquisa-a-
ção incluiu pressupostos baseados na realidade dos participantes, que, junto aos pes-
quisadores, formularam alternativas para resolução das dificuldades levantadas. Como
procedimentos, foram incluídos estudos de caso, análise de realidade e reflexão coletiva
sobre dados decorrentes da ação dos envolvidos, oficinas, mesas redondas e seminários,
os quais foram sendo elaborados e incluídos conforme a necessidade do grupo, na tenta-
tiva de cumprir com o previsto pela Chamada, ou seja:

• Gestores municipais de Alimentação e Nutrição: ciclo de gestão pública, planeja-


mento e gestão orçamentária e financeira da Atenção Básica do SUS e da PNAN,
liderança mobilizadora, advocacy, participação e controle social no SUS da PNAN;

• Profissionais de saúde que contemplem diretamente a superação dos desafios


encontrados no cuidado à saúde nas unidades (abordagem predominantemen-
te por consulta individual, atividades coletivas ineficazes, postura profissional
que atribui culpa ao usuário/paciente por sua própria condição de saúde, orien-
tações padronizadas, entre outros aspectos);

18 ECOSUS
• Sistemas alimentares; Promoção da alimentação adequada e saudável; Preven-
ção, diagnóstico e tratamento da obesidade; Abordagens coletivas inovadoras,
participativas e efetivas (grupos operativos, grupos terapêuticos no âmbito da
alimentação e outros); Abordagem comportamental; Práticas corporais e Práti-
cas Integrativas e Complementares; Promoção da saúde (incluindo programas
Academia da Saúde e Programa Saúde na Escola).

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ECOSUS 19
Educação em saúde

Cristina Corrêa Kaufmann


Greisse Viero da Silva Leal
Ana Luisa Sant’anna Alves

Educação em Saúde é um tema que compreende reflexões políticas, filosóficas, so-


ciais, religiosas e culturais. Além do mais, aborda aspectos individuais, coletivos, da comu-
nidade e sociedade. Envolve o processo saúde-doença, fazendo-se necessária para ma-
nutenção da saúde ou para evitar e/ou postergar a presença de doenças, promovendo,
assim, qualidade de vida. Para se discorrer sobre Educação em Saúde, é necessário saber
que Educação estamos tratando e que Saúde estamos levando em conta. Sendo assim,
conforme a Lei de nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as Diretrizes e
Bases da Educação Nacional, no seu Art. 1º define que,

a educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na con-


vivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos so-
ciais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais (BRASIL/MEC, 1996,
p. 1).

Segundo a Constituição Federal de 1988, art. 205,

a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada


com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu pre-
paro para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1988, p. 123).

No meio acadêmico, abordar a temática da educação sem mencionar o brasileiro Pau-


lo Freire parece ser tarefa impossível, uma vez que Freire é considerado o educador e pe-
dagogo mais respeitado em diversas universidades, faculdades, departamentos e cursos
em todo o mundo. Para esse grande pensador filosófico, a educação está relacionada ao
“cotidiano dos estudantes e às experiências que eles têm” (FREIRE, 2003, p. 184). Em seu
livro “Pedagogia do Oprimido”, Freire defende o incentivo à criticidade do aluno e vê a
educação como um ato político, libertando os indivíduos por meio da “consciência crítica,
transformadora e diferencial, que emerge da educação como uma prática de liberdade”
(FREIRE, 2021, p. 323).

20 ECOSUS
O conceito de saúde vem sendo discutido há diversos anos, mesmo antes da fundação
da Organização Mundial de Saúde (OMS), em 1948, ano em que foi definido o conceito
de saúde como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas
a mera ausência de doença ou enfermidade” (SCLIAR, 2007, p. 37). O relatório final da 8ª
Conferência Nacional de Saúde (1986) descreve saúde como “resultante das condições de
alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego,
lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde” (BRASIL, 1986, p. 4).

Independente das discussões, diferentes definições e conceitos sobre saúde são for-
mulados até os dias atuais. A Constituição de 1988 assume, em seu Art. 196, que:

A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econô-
micas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal
e igualitário às ações e serviços para a promoção, proteção e recuperação (BRASIL, 1988,
p. 118-119).

Educação e Saúde são áreas sociais que se influenciam de forma mútua (DE JESUS,
2015). Historicamente, Educação em Saúde era conhecida simplesmente como transmis-
são de informação sobre a área da saúde. Atualmente, Educação em Saúde é considerada
como um conjunto de práticas pedagógicas e sociais, de caráter participativo e emanci-
patório, com o objetivo de sensibilizar, conscientizar e mobilizar pessoas e comunidades
diante de situações que interferem na qualidade de vida. É um processo que envolve
a capacitação de pacientes, cuidadores e profissionais de saúde, estimulando-os a agir
conscientemente diante de cada ação do cotidiano, criando um espaço para o aprimora-
mento de novos conhecimentos e práticas (HADDAD et al., 2008).

O foco da educação está voltado para a população e para a ação, tendo como objetivos
encorajar as pessoas a adotar e manter padrões de vida sadios; usar os serviços de saúde
de forma adequada; tomar suas próprias decisões visando a melhorar suas condições de
saúde e do meio ambiente; desenvolver o senso de responsabilidade pela própria saúde
e pela comunidade (LEVY et al., 2007). É um processo constante de criação do conheci-
mento e de busca da transformação-reinvenção da realidade pela ação-reflexão humana
(RIBEIRO et al., 2018).

Educação em saúde 21
Educação em Saúde é muito mais do que sua forma, tradicionalmente conhecida,
de transmitir conhecimento ou informações sobre saúde (BRASIL, 2009a). Envolve
uma “abordagem transdisciplinar levando em consideração as subjetividades e as
singularidades da vida na esfera individual e coletiva com o intuito de melhoria da
qualidade de vida” (CONCEIÇÃO et al., 2020, p. 59414). Os autores ainda afirmam que

faz parte, deste processo, atuar junto ao conhecimento dos indivíduos, dando subsídios
para que se tornem participantes ativos do processo de cuidar. Desta forma a sabedoria
popular e o conhecimento científico dos profissionais não são opostos e devem interagir
para melhorar a qualidade de vida, uma vez que o conhecimento repassado deve ter re-
lação com o cotidiano dos indivíduos, visando assim a modificar padrões de estilo de vida
que predispõe a risco de saúde (CONCEIÇÃO et al., 2020, p. 59414).

Parte-se então do conceito de educação de Freire (1996) abordada como uma práti-
ca pedagógica participativa na qual há o acolhimento do outro como sujeito dotado de
condições objetivas e de representações subjetivas e que pressupõe vontade de ensinar e
aprender, exercitar a autonomia, a emancipação, o diálogo e a afetividade. Toma-se como
parâmetro também o conceito de saúde da OMS, definido como um estado de completo
bem-estar físico, mental e social, e não apenas como a ausência de doença ou enfermi-
dade. Nosso intuito foi o de promover a autonomia das pessoas no cuidado de si e in-
cluir essa perspectiva no debate com profissionais de saúde e gestores públicos (BRASIL,
2009b).

Para tais ações, levamos em consideração as especificidades regionais, a necessidade


de superação das desigualdades que as caracterizam, as necessidades de formação e
desenvolvimento para o trabalho em saúde e a capacidade já instalada de oferta insti-
tucional de ações formais de educação em saúde. Esses aspectos estão preconizados na
Portaria GM/MS nº 1996, de 20 de agosto de 2007, a qual dispõe sobre as diretrizes para a
implementação da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde.

Para o enfrentamento da situação atual de epidemia de obesidade, foram realizadas


ações de Educação Alimentar e Nutricional (EAN) com profissionais e gestores da Aten-
ção Primária à Saúde (APS). A EAN se conceitua como um objeto de ação transdiscipli-
nar, intersetorial e multiprofissional em que o conhecimento e o aprendizado, contínuo

22 ECOSUS
e permanente, se propõem a desenvolver uma prática autônoma e voluntária de hábitos
alimentares saudáveis (BRASIL, 2012).

Sabe-se que a troca e a construção de conhecimentos, tornando o usuário um sujeito


ativo no processo, contribui de forma mais efetiva para as mudanças de comportamento
alimentar dos indivíduos (VIEIRA et al., 2021). Nesse sentido, a prática da EAN deve fazer
uso de abordagens e recursos educacionais problematizadores e ativos, que favoreçam o
diálogo junto a indivíduos e grupos populacionais, considerando todas as fases do curso
da vida, as etapas do sistema alimentar e as interações e significados que compõem o
comportamento alimentar (BRASIL, 2012). Dentre os diferentes materiais disponíveis no
Brasil para a implementação da diretriz de promoção da alimentação adequada e sau-
dável da Política Nacional de Alimentação e Nutrição, utilizou-se o Guia Alimentar para a
população brasileira como principal instrumento para apoiar as ações de EAN.

Um estudo de revisão que avaliou o uso de estratégias de EAN na APS com indivíduos
adultos aponta para a relevância da EAN no fortalecimento das ações de nutrição, auxi-
liando no empoderamento dos indivíduos e no desenvolvimento da autonomia diante de
suas escolhas alimentares. O trabalho referido destaca ainda a importância de se descre-
ver as atividades previstas nos planos municipais de saúde e no planejamento das práti-
cas educativas nas Unidades, possibilitando o investimento e o apoio gerencial e logístico
necessários para o seu efetivo desenvolvimento, de tal forma que não apenas garanta a
realização, mas, também, a continuidade dessas atividades dentro dos serviços de saúde
(FRANÇA; CARVALHO, 2017).

Educação em saúde 23
Referências:

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1986.

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29–41, 2007.

VIEIRA, Mariana de Sousa Nunes et al. Educação em saúde na rede municipal de saúde:
práticas de nutricionistas. Ciência & Saúde Coletiva, v. 26, n. 2, p. 455-464, 2021.

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Educação em saúde 25
Sobre a pesquisa-ação

Fernanda Pons Madruga


Juliana Bittencourt Garcia
Maria Isabel da Cunha

Como já mencionado, o objetivo do projeto ECOSUS foi o de realizar atividades de pes-


quisa, ensino e extensão, de forma indissociável, relacionadas com a atenção nutricional
para o enfrentamento e controle da obesidade. Para isso, gestores e profissionais de saú-
de que atuam na atenção básica dos municípios que compõem a 3ª Coordenadoria Re-
gional de Saúde (CRS) foram convidados a participar de encontros formativos presenciais
(oficinas de formação) cuja metodologia utilizada foi a pesquisa-ação.

Na pesquisa-ação, pesquisadores e participantes envolvidos em uma situação/proble-


ma são convidados a agir para sua resolução de forma cooperativa. É uma pesquisa social,
de base empírica, que apresenta uma importante relação com uma ação ou um proble-
ma coletivo (THIOLLENT, 2007).

A pesquisa-ação, enquanto pesquisa social, possui algumas características próprias.


Uma delas refere-se a uma estratégia metodológica que requer que pesquisadores e su-
jeitos estejam implicados no problema a ser investigado e que tenham uma interação
aberta e clara. Dessa forma, ambos segmentos devem estar envolvidos na definição de
prioridades, da resolução dos problemas e da definição das soluções, enquanto ações
concretas. O objeto de investigação, na pesquisa-ação, é constituído pelo contexto social
e pelos problemas advindos de determinadas situações, e não apenas pelas pessoas. So-
lucionar ou, ao menos, explicitar e compreender os problemas encontrados, constitui o
objetivo da pesquisa-ação. Dos atores envolvidos no processo, exige-se uma ação inten-
cional durante todo período da pesquisa, com acompanhamento das ações, decisões e
atividades. Aprofundar o conhecimento ou o nível de consciência das pessoas ou grupo
pesquisado e pesquisadores sobre o problema ou situação também é função da pesqui-
sa-ação, de forma a não ser confundida com uma prática desvinculada de fundamenta-
ção teórica e descontextualizada (THIOLLENT, 2007).

26 ECOSUS
Com o intuito de nos aproximarmos do campo de pesquisa e contribuir para o seu en-
tendimento, bem como fundamentar e compreender nossos achados, realizamos uma
busca no Banco de Teses e Dissertações (BTDT) da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (Capes) para verificar o Estado do Conhecimento a respeito da
temática sobre pesquisa-ação, em especial que tivesse alguma relação com o campo de
nosso interesse. Para tal, foram utilizados os seguintes descritores de busca: pesquisa-a-
ção; nutrição; obesidade. Definimos o período das publicações entre os anos 2000 e 2021.
Da pesquisa, resultaram 28 trabalhos. Após a leitura dos títulos e resumos, foram selecio-
nados seis estudos afins. Desses, quatro utilizaram a pesquisa-ação como metodologia,
um utilizava a perspectiva da pesquisa participante e outro mais se valia da pesquisa
qualitativa ligada à participação, conforme o gráfico a seguir.

Sobre a pesquisa-ação 27
Figura 1 | Gráfico dos trabalhos selecionados para o estado do conhecimento das pes-
quisas na área

67% Pesquisa-ação metodologia

17% Pesquisa qualitativa

16% Pesquisa participante

Fonte: Elaborado pelas autoras, 2021.

Com a finalidade de melhor visualização e organização dos trabalhos selecionados que


contribuíram com este estudo, elaboramos dois quadros (Quadro 2 e Quadro 3), em que
constam as principais informações retiradas de tais trabalhos. Elaboramos ainda uma
breve descrição de cada trabalho com o intuito de compreendermos de que maneira a
metodologia foi aplicada, bem como seus resultados e as compreensões acerca da me-
todologia que cada autor expôs. Buscamos também um melhor entendimento sobre a
utilização da metodologia no campo de estudo de forma a contribuir com a trajetória do
nosso projeto, a elaboração dos nossos encontros e a interpretação de nossos resultados.

28 ECOSUS
Quadro 2 | Dados dos trabalhos selecionados

T/D ANO: AUTOR: ORIENTADOR: IES: PROGRAMA:


D 2010 PESSOA, V. M. RIGOTTO, R. M. UFC PPG Saúde Pública

D 2017 MOTA, J. G. COSTA, F. C. X. da UNISINOS PPG em Design

D 2019 RODRIGUES, L. B. LIMA, J. M. de. UNESP PPG em Ensino em Educação

T 2008 OLIVEIRA, T. R. P. R. de FERREIRA, R. A. UFMG PPG em Ciências da Saúde

D 2007 GIARETTA, A. G. GHIORZI, A. da R. UFSC PPG em Enfermagem

D 2008 SILVA, A. C. De A. JUNIOR, R. T. UNESP PPG em Alimentos e Nutrição

Fonte: Elaborado pelas autoras, 2021.

Sobre a pesquisa-ação 29
Dos seis trabalhos selecionados, cinco são dissertações e uma tese. Dois trabalhos são
do ano de 2008. Os demais foram publicados em anos diversos, de 2007 até 2019. Dois
trabalhos são do Estado de São Paulo (Unesp), dois da Região Sul (UFSC e Unisinos), um
do Ceará (UFC) e um de Minas Gerais (UFMG). Quanto aos Programas de Pós-Graduação,
quatro são da área da saúde (Saúde Pública, Ciências da Saúde, Enfermagem e Alimen-
tos e Nutrição), um Ensino da de Educação e um de Design. A metodologia utilizada nos
estudos, assim como as principais conclusões dos trabalhos listados, estão descritas no
Quadro 2, a seguir:

30 ECOSUS
Quadro 3 | Título, metodologia e principais conclusões dos trabalhos selecionados.

AUTOR TÍTULO METODOLOGIA CONCLUSÃO


Aponta-se o engajamento da
população como caminho
Abordagem do território na Pesquisa-ação com 14 mem-
para a transformação social
constituição da integralidade bros representantes do Con-
de base local, ampliando o
PESSOA, V. M. em saúde ambiental e do tra- selho Municipal de Saúde,
exercício do poder pelo con-
balhador na atenção primária movimentos sociais. Usuários,
trole social e movimentos
à saúde em Quixeré-Ceará. entre outros.
sociais, entendendo a com-
plexidade da realidade.
Gerar conhecimentos técni-
Pesquisa-ação na qual foi cos para o aperfeiçoamento
O processo de design para realizado um workshop de dos processos projetuais foca-
mudança de comportamento codesign, entre designers e dos na alimentação saudável
MOTA, J. G.
orientado à alimentação sau- usuárias (mães), no papel de na infância e para a prospec-
dável infantil. principais educadoras nutri- ção de novas possibilidades
cionais dos filhos. de projeto para prevenção da
obesidade.
Articular as áreas da nutrição,
educação e infância é um ca-
A educação alimentar e nutri- Pesquisa-ação e procedimen-
minho significativo na cons-
cional trilhada nos caminhos tos de coleta de dados: entre-
trução da identidade alimen-
RODRIGUES, L. B. das culturas da infância: um vista semiestruturada, obser-
tar das crianças, pois favorece
estudo pautado na pesquisa- vação participante e diário de
a ampliação da cultura ali-
ação. campo.
mentar já nos primeiros anos
de vida.

Sobre a pesquisa-ação 31
Vários fatores estão envolvidos
na etiologia e manutenção da
obesidade em adolescentes,
sendo necessário desenvol-
ver estratégias específicas,
uma vez que os indivíduos
investigados comumente
apresentam resistência fren-
te a possíveis mudanças na
alimentação.
É importante considerar os
Pesquisa-ação em unidade da aspectos emocionais e a
Secretaria Municipal de Saú- influência cultural e familiar
Abordagem da obesidade
de de Belo Horizonte (MG). ao se estabelecerem essas
em adolescentes atendidos
Utilizou o grupo focal estratégias. É recomendado
em serviço público de saú-
OLIVEIRA, T. R. P. R. de para coleta dos dados e o mé- que a intervenção comece
de: conceitos, dificuldades e
todo de análise de conteúdo. precocemente, que os progra-
expectativas dos pacientes e
Foram avaliados 58 adoles- mas de tratamento instituam
seus familiares.
centes com idades entre 10 e mudanças permanentes e
19 anos. que auxiliem as famílias a fa-
zerem alterações pequenas e
graduais. Dietas muito restri-
tivas não são aconselháveis. É
necessário aprofundar as po-
tencialidades da abordagem
interdisciplinar
e capacitar os profissionais de
saúde para o aconselhamento
nutricional, de modo a melho-
rar a adesão desses pacientes
ao tratamento.

32 ECOSUS
Conclui que a família tem
um papel fundamental como
educadora nutricional para
seus membros, como trans-
missora do primeiro significa-
do do ato de comer, a partir
Pesquisa qualitativa-partici-
de sua construção social e
pante com os instrumentos
cultural. Evidencia que as
metodológicos da escuta e da
Família, pessoa com Síndro- pessoas com SD repetem
observação sensível, além das
me de Down e nutricionis- comportamentos alimentares
GIARETTA. A. G. atividades lúdicas. Envolveu
ta: ressignificando o ato de idênticos aos de seus pais e
11 visitas domiciliares a cada
comer. que estar com alteração de
uma das cinco famílias com
peso não é uma caracterís-
pessoas com SD, durante um
tica estigmatizante da SD. A
período de sete meses.
predisposição genética para
a obesidade nas pessoas com
SD pode ser combatida pela
compreensão mais ampla
sobre o significado do ato de
comer.

Sobre a pesquisa-ação 33
Tanto as agentes educacio-
nais quanto as professoras de
Ensino Infantil são detentoras
de um significativo conheci-
mento sobre a nutrição in-
fantil. Porém, a preocupação
Educação nutricional institu- Estudo de caso, com abor- maior dessas foi atender às
cionalizada: conhecimentos e dagem qualitativa, que en- necessidades nutricionais das
SILVA, A. C. de A. práticas de agentes educacio- globou a fase exploratória, crianças por meio de uma boa
nais e professoras de ensino a observação e a entrevista alimentação, deixando em
infantil de 0 a 3 anos. semiestruturada. segundo plano as atividades
pedagógicas que poderiam
ser realizadas em um progra-
ma de Educação Nutricional,
construído coletivamente e
inserido dentro do projeto po-
lítico-pedagógico da escola.

Fonte: Elaborado pelas autoras, 2022.

34 ECOSUS
A pesquisa de Pessoa (2010, p. 70) teve como objetivo contribuir na constituição de
ações em saúde ambiental e saúde do trabalhador, de forma participativa, visando à
integralidade da atenção na Estratégia de Saúde da Família (ESF) em Quixeré – Ceará,
no contexto da modernização agrícola. Para a autora, a pesquisa-ação foi a metodologia
mais adequada por favorecer a interação entre pesquisadores e sujeitos, sendo esse o eixo
central do estudo (PESSOA, 2010). Essa interação entre sujeitos e pesquisadores também
é enfatizada por Oliveira (2008). Stringer (2007); Thiollent (1996, apud Mota, 2017) desta-
cam que, na pesquisa-ação, as ações do pesquisador envolvem um processo colaborativo,
que constitui em uma relação de reciprocidade entre os membros da situação-problema
e o pesquisador.

Pessoa (2010) menciona a utilização das seguintes técnicas para coleta de material
empírico: a pesquisa documental; as visitas exploratórias ao município; as reuniões com
as equipes de ESF e os grupos de pesquisa e gestão municipal; a realização de seminários;
a implantação, monitoramento e avaliação das estratégias de ação que compunham os
planos de ação.

Os planos de ação foram elaborados nos seminários e tiveram, como foco, a política de
saúde ambiental e do trabalhador na atenção básica a ser implantado nos municípios.
Tais planos foram desenvolvidos com o objetivo de propor soluções, ampliar ou mudar o
entendimento dos problemas envolvidos e da realidade local, de forma colaborativa, par-
tindo da inter-relação entre pesquisadores e componentes dos grupos. O grupo de traba-
lho foi composto por, no máximo, 14 participantes, entre médicos, enfermeiros, agentes
comunitários de saúde, auxiliar de enfermagem, usuários, conselheiro municipal de saú-
de, entre outros, além dos pesquisadores.

Cada encontro teve duração de oito horas, contabilizando total de 44 horas, com inter-
valo médio de 21 dias entre eles (seminários ou oficinas). O cronograma foi construído co-
letivamente. Todos os encontros foram gravados e/ou filmados e representaram material
discursivo de análise (PESSOA, 2010).

Sobre a pesquisa-ação 35
A pesquisa realizada por Mota (2017) teve como objetivo compreender o processo de
criação de “concepts” 1 de projetos para estimular hábitos alimentares saudáveis na in-
fância, à luz do design para mudança de comportamento (MOTA, 2017, p. 77). A auto-
ra relata que a participação ativa do usuário foi fundamental pelo enfoque da pesquisa,
acarretando um processo de criação colaborativo. O estudo proporcionou novos conhe-
cimentos aos participantes acerca da importância de se estimular hábitos saudáveis na
infância, além dos recursos conceituais para projetos de design para modificação de
comportamento. A pesquisa-ação apresentou as seguintes etapas: revisão bibliográfica
de pesquisas sobre práticas alimentares na infância; construção do briefing do workshop;
workshop com designers e usuárias (mães); avaliação dos concepts gerados no workshop
pelo conselho. O grupo de análise foi composto por 13 mães e pela equipe de pesquisado-
res, especialistas e designers (MOTA, 2017).

Uma característica importante da pesquisa-ação é o fato de não existirem regras rígi-


das preestabelecidas, haja vista seu caráter dinâmico e flexível. Ao final de cada etapa, os
participantes podem reavaliar os procedimentos e discutir possíveis mudanças na ação,
até que os resultados obtidos sejam satisfatórios (MOTA, 2017). Essa característica tam-
bém é ressaltada por Oliveira (2008), ao destacar que estratégias de ação e investigação
constituem um processo aberto que vai sendo elaborado ao longo da pesquisa, conforme
os dados obtidos e as necessidades da investigação. Não se trata, portanto, de um deline-
amento controlado e estabelecido a priori.

Rodrigues (2019) realizou seu estudo na escola, dentro da temática Educação Nutricio-
nal e Alimentar (EAN) na infância. O objetivo da pesquisa foi o de analisar uma proposta
de articulação entre nutrição, educação e infância e sua potencialidade para (re)pensar
a EAN na escola no contexto das culturas da infância visando à formação de hábitos
alimentares saudáveis (RODRIGUES, 2019, p. 18). A pesquisa-ação foi a metodologia es-
colhida como processo de investigação que prevê a ação dentro do contexto estudado.

1 No chamado “design conceitual”, o projeto é entendido como um processo experimental de reflexão sobre um
assunto, próprio e exclusivo do designer, enquanto o concept é entendido como uma proposição que sintetiza
essa reflexão. Este tipo de concept não é voltado ao desenvolvimento de novos produtos para produção em
série, mas à proposta de uma ideia para debates abertos (FRANZATO, 2012, p. 226).

36 ECOSUS
Para a coleta de dados, foram utilizadas as seguintes técnicas: entrevistas semiestru-
turadas, observação participante e diários de campo. Os sujeitos da pesquisa foram as
crianças. O estudo teve duração de sete meses.

Na fase exploratória da pesquisa, a autora passou a frequentar o espaço escolar, viven-


ciando as rotinas e atividades desenvolvidas e observando as crianças, a fim de construir
seu problema de pesquisa, dentro do tema proposto. Um dos temas trabalhados foi a
rejeição por alimentos de origem vegetal. Após a fase exploratória, foi realizada a inter-
venção, por meio de práticas e vivências, com encontros semanais de 30 a 50 minutos,
durante sete meses. Participaram do estudo, aproximadamente, 100 crianças, divididas
em quatro grupos. Os pais e/ou responsáveis e a comunidade escolar também participa-
ram do estudo, por meio de entrevista aberta, respondendo a quatro questões principais:
O que é alimentação para você? Como você vê a alimentação das crianças hoje? Como é
a alimentação do seu filho(a)? Para você, a alimentação das crianças é responsabilidade
de quem? (RODRIGUES, 2019. p. 59-60).

Diferente das pesquisas conduzidas por Pessoa (2010) e Mota (2017), nas quais foram
discutidas as ações implementadas e tiveram a participação dos grupos estudados, no
caso de Rodrigues (2019), as ações estiveram mais centradas na pesquisadora, envolven-
do a observação, a análise e a inserção no contexto do estudo, sem participação prévia
dos sujeitos da pesquisa (crianças).

De forma peculiar, a inspiração proposta, na metodologia utilizada por Oliveira (2008),


foi denominada “pesquisa-ação estratégica” (FRANCO, 2005 apud OLIVEIRA, 2008). O es-
tudo teve por objetivo: analisar os fatores relacionados ao tratamento da obesidade em
adolescentes atendidos em um serviço público de saúde, a fim de contribuir para a as-
sistência prestada aos pacientes (OLIVEIRA, 2018, p. 17), utilizando abordagem qualitativa
e com a caracterização da população sendo realizada com dados quantitativos por meio
de estatística descritiva.

Segundo a autora, a transformação motivada pela pesquisa-ação comumente é re-


querida pelos participantes do estudo ou fruto de uma reflexão coletiva. No entanto, no
estudo citado, foi empregada a pesquisa-ação estratégica, já que a ação foi previamente

Sobre a pesquisa-ação 37
planejada apenas pela pesquisadora, a qual avaliou seus efeitos e resultados (FRANCO,
2005 apud OLIVEIRA, 2008). Fizeram parte do estudo adolescentes de 10 a 19 anos e seus
responsáveis, os quais participaram de grupos focais conduzidos pela pesquisadora, com
a participação de um observador. Os sujeitos da pesquisa frequentavam a “Unidade de
Referência Secundária Saudade (URSS)” (p. 59), cujo foco é a assistência em saúde da
criança e do adolescente (OLIVEIRA, 2008). Os pacientes foram agrupados, por faixa etá-
ria, em oito grupos focais: um grupo formado por pacientes de 15 a 19 anos; e outro por
pacientes de 10 a 14 anos. Os pais desses adolescentes, por sua vez, foram organizados em
seis grupos focais.

Para a autora, a participação no grupo focal permitiu a elaboração de discursos mais


elaborados do que os que seriam obtidos com entrevistas individuais. O compartilhamen-
to de experiências comuns proporcionou a identificação com os demais participantes,
enriquecendo o conteúdo dos discursos e reforçando sentimentos, crenças e atitudes.
Como resultado do estudo, foram revistos vários procedimentos para tratar os pacientes,
para mantê-los motivados, além de permitir uma percepção mais abrangente sobre as
causas da obesidade (OLIVEIRA, 2008).

Já a pesquisa de Giaretta (2007) teve como objetivo desenvolver uma sistematização


metodológica de educação nutricional no processo de ressignificação do ato de comer
das famílias com pessoas com Síndrome de Down que foi identificado e compreendido
durante a prática de cuidado nutricional, despertando para a importância da autono-
mia e da independência relativa na escolha alimentar (GIA- RETTA, 2007, p. 22). Nesse
estudo, foi utilizada a abordagem qualitativa denominada pesquisa-ação participante,
agregando cuidado à pesquisa, o que possibilitou que a pesquisadora se integrasse com
as famílias do estudo, numa interação social com participação mútua (DEMO, 1995 apud
GIARETTA, 2007).

Segundo a autora, os participantes da pesquisa se tornaram sujeitos e não objetos da


ação social, na elaboração de um estudo coletivo, no qual os conhecimentos e métodos
do pesquisador são compartilhados com os demais sujeitos do estudo (GIARETTA, 2007).
A ressignificação do ato de comer das famílias e a sua adequação, quando não respondia

38 ECOSUS
às necessidades, foi o que motivou a intervenção e a geração de conhecimentos entre os
pesquisados (PATRÍCIO, 1994 apud GIARETTA, 2007).

A coleta de dados foi realizada por meio de 11 visitas domiciliares, a cada uma das cinco
famílias com pessoas diagnosticadas com Síndrome de Down, durante um período de
sete meses. As técnicas utilizadas foram a observação participante e da escuta e obser-
vação sensível, sobre os comportamentos e atitudes que envolvem o ato da alimentação.
Além do diálogo integrativo envolvendo expressões verbais e não verbais, a autora lançou
mão de atividades lúdicas, empregando jogos e brincadeiras. Os dados foram registrados
em diário de campo e por um gravador.

O estudo de Silva (2008), por seu turno, teve como objetivo identificar os conhecimen-
tos e as práticas, relacionados à alimentação de crianças de zero a três anos, a fim de
verificar a formação dos profissionais que trabalham com crianças dessa faixa etária,
na área da Educação Nutricional (SILVA, 2008, p. 15).

Foi utilizada a abordagem metodológica da pesquisa qualitativa, na condição de es-


tudo de caso. Essa técnica permite ao pesquisador o aprofundamento em um caso par-
ticular, considerando a inserção no contexto e sua complexidade. Foram utilizadas três
alternativas para coleta dos dados: a análise documental, as entrevistas semiestruturadas
e a observação. Tais alternativas permitiram a caracterização das participantes, do local
do estudo e das crianças na faixa etária prevista, bem como a triangulação dos dados.

Após a leitura dos seis trabalhos, pudemos perceber que a pesquisa intitulada Abor-
dagem do território na constituição da integralidade em saúde ambiental e do traba-
lhador na atenção primária à saúde, em Quixeré-Ceará, realizada por Pessoa (2010), foi a
que mais se assemelhou com a metodologia desenvolvida pelo nosso grupo de trabalho.
Entretanto, os demais estudos deram suporte significativo para a compreensão das ten-
dências da pesquisa-ação aplicada na área da saúde.

Na perspectiva de Thiollent (2007, p. 17), “uma pesquisa pode ser qualificada de pesqui-
sa-ação quando houver realmente uma ação por parte das pessoas ou grupos implicados

Sobre a pesquisa-ação 39
no problema sob observação”. Os estudos de Pessoa (2010) e Mota (2017) foram os que
mais revelaram essa condição. Já nos trabalhos de Rodrigues (2019) e Oliveira (2008) per-
cebemos que a forma de pesquisa-ação realizada difere da compreensão do autor.

No caso de Rodrigues (2019), a definição das ações foi determinada pela pesquisadora,
após a integração ao contexto. Já no caso do estudo de Oliveira (2008) as ações também
foram definidas pela pesquisadora, de forma prévia, a qual foi denominada pesquisa-a-
ção estratégica.

Considerando outras características da pesquisa-ação como: o objeto de investigação


é constituído pelo contexto social e pelos problemas advindos de determinada situação,
e não pelas pessoas; os conhecimentos acerca do problema ou situação pesquisados de-
vem ser aprofundados pelo grupo pesquisado e pesquisadores. Identificamos essas ca-
racterísticas nos estudos de Pessoa (2010), Mota (2017) e Rodrigues (2019).

Giaretta (2007) realizou a pesquisa-ação participante, com sujeitos da pesquisa envol-


vidos na elaboração de um estudo coletivo. No entanto, a definição do problema foi de-
finida a priori pela pesquisadora. Já Silva (2008) utilizou uma técnica com características
especiais dos estudos de caso, no contexto de uma escola de educação infantil.

O referencial teórico utilizado nas investigações referente à pesquisa qualitativa, do


tipo pesquisa-ação, teve especificidades em cada estudo. Pessoa (2010), Mota (2017), Ro-
drigues (2019) e Oliveira (2008) utilizaram os referenciais propostos por Thiollent (2007), os
mesmos referenciais aos quais recorremos em nosso estudo.

As diferentes compreensões acerca dos conceitos e características da pesquisa-ação


indicam a necessidade de ampliação do campo e de maior aprofundamento teórico e
empírico sobre a metodologia. Há, entretanto, um reconhecimento da sua filiação à abor-
dagem qualitativa e a possibilidade de incluir técnicas diferenciadas de coleta dos dados.
A compreensão epistêmica da proposta favorece a revisão e concepção de conceitos e
categorias. No entanto, fica a convicção de que essa alternativa metodológica constitui
um potente caminho para desvelar processos sociais ainda pouco explorados, referentes
a grupos particulares.

40 ECOSUS
Percebemos, assim, por meio da realização do estado do conhecimento, que a abor-
dagem qualitativa aplicada ao campo que nos interessa ainda é pouco utilizada. Desta-
camos a necessidade de ampliação dos tipos de abordagens e, principalmente, de lançar
mão de estudos de cunho social.

A pesquisa-ação constitui uma metodologia adequada para os objetivos do projeto,


pois as pessoas implicadas estiveram envolvidas na resolução do problema investigado.
Dessa forma, a metodologia auxiliou na compreensão de como os municípios estão pre-
parando suas equipes de saúde para o enfrentamento e controle da obesidade, nosso
principal interesse.

Thiollent (2007, p. 17) lembra que “uma pesquisa pode ser qualificada de pesquisa-a-
ção quando houver realmente uma ação por parte das pessoas ou grupos implicados no
problema sob observação”. Percebemos essa característica na experiência vivenciada no
projeto, pois as demandas, apresentadas pelos profissionais como necessárias para o en-
frentamento do problema da obesidade nos municípios em que atuavam, subsidiaram a
elaboração das atividades dos encontros de formação. Profissionais e pesquisadores esti-
veram envolvidos na resolução do problema da obesidade conforme o contexto de cada
município e com base nas interações dos encontros dos grupos de trabalho.

Como Thiollent (1996) prescreve, a realização da pesquisa-ação envolve quatro eta-


pas: exploratória, planejamento, ação e avaliação. Na fase exploratória, os pesquisadores
buscam um aprofundamento sobre o fenômeno investigado. Nessa etapa, também se
procura abranger os agentes envolvidos no problema, suas formas de interação e suas
percepções. No planejamento, as atividades são organizadas assim como o plano de de-
senvolvimento, no intuito de desvelar as possíveis soluções para o enfrentamento do pro-
blema investigado. Na etapa da ação, envolvendo os sujeitos da pesquisa, são propostas
soluções e há a concretização das ações elaboradas. Na avaliação, é realizada a análise das
ações propostas, são identificados os aprendizados resultantes do processo, as oportuni-
dades para futuros projetos, bem como a necessidade de retorno à alguma fase anterior.

Sobre a pesquisa-ação 41
As etapas da pesquisa-ação, relacionadas com a atenção nutricional para o enfren-
tamento e controle da obesidade desenvolvidas no presente estudo, estão descritas na
Figura 2 a seguir:

42 ECOSUS
Exploratória Planejamento

Situação de saúde dos


municípios do estudo. Reuniões da equipe para
Dados de obesidade no Brasil elaboração das oficinas.
e no mundo.

Ação Avaliação

Execução das oficinas. Apresentação das ações para


Elaboração dos planos de ação. os demais municípios.
Implementação das ações nos Discussão dos dados.
municípios.

Figura 2 | Etapas da pesquisa-ação para enfrentamento da obesidade


Fonte: Elaborado pelas autoras, 2022.

Sobre a pesquisa-ação 43
Ao final do primeiro Encontro Formativo, do qual participaram profissionais de saúde
e gestores dos municípios, houve o convite para que os envolvidos elaborassem um plano
de ação para o enfrentamento da obesidade em seus locais de origem. Foram formados
grupos de trabalho para debater o tema nos diferentes contextos e as diferentes formas
de abordagem da situação. Além disso, os pesquisadores fizeram uma explanação ini-
cial, apresentando dados sobre a obesidade no Brasil e no mundo assim como diferentes
sugestões de enfrentamento do problema, tendo como base publicações do Ministério
da Saúde, como o Guia Alimentar para a População Brasileira (BRASIL, 2014), de forma a
subsidiar a ação nos municípios.

44 ECOSUS
Referências:

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção


Básica. Guia alimentar para a população brasileira. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2014.

DEMO, Pedro. Metodologia científica em Ciências Sociais. São Paulo: Atlas, 1995.

FRANCO, Maria Amélia Santoro. Pedagogia da pesquisa-ação. São Paulo: Educação e


Pesquisa, 2005.

FRANZATO, Carlo. A forma das ideias. Concept design e design conceitual ideias form. In:
Congresso Internacional da Associação de Pesquisadores em Crítica Genética, 10, 2012.

GIARETTA, Andréia Gonçalves. Família, pessoa com síndrome de down e nutricionista:


ressignificando o ato de comer. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Programa de
Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis,
2007.

MOTA, Juliana Gonçalves. O processo de design para mudança de comportamento orien-


tado à alimentação saudável infantil. Dissertação (Mestrado em Design) – Programa de
Pós-Graduação em Design, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Porto Alegre, 2017.

OLIVEIRA, Tatiana Resende Prado Rangel de. Abordagem da obesidade em adolescen-


tes atendidos em serviço público de saúde: conceitos, dificuldades e expectativas dos pa-
cientes e seus familiares. Tese (Doutorado em Ciências da Saúde) - Programa de Pós-Gra-
duação em Ciências da Saúde, Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas
Gerais, Belo Horizonte, 2008.

PATRÍCIO, Zuleica Maria. O que seria importante pesquisar e como fazê-lo, em favor da
qualidade de vida? Texto e Contexto, Florianópolis, v.3, n.1, jan. /jun., 1994, p. 58–74.

Sobre a pesquisa-ação 45
PESSOA, Vanira Matos. Abordagem do território na constituição da integralidade em
saúde ambiental e do trabalhador na atenção primária à saúde em Quixeré-Ceará. Dis-
sertação (Mestrado em Saúde Pública) – Programa de Pós-graduação em Saúde Pública,
Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2010.

RODRIGUES, Livia Bernardes. A educação alimentar e nutricional trilhada nos caminhos


das culturas da infância: um estudo pautado na pesquisa-ação. Dissertação (Mestrado
em Educação) - Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista, Pre-
sidente Prudente, 2019.

SILVA, Andreia Cristina de Almeida. Educação nutricional institucionalizada: conheci-


mentos e práticas de agentes educacionais e professoras de ensino infantil de 0 a 3 anos.
Dissertação (Mestrado em Alimentos e Nutrição) – Programa de Pós-Graduação em Ali-
mentos e Nutrição, Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Universidade Estadual Paulista
Júlio de Mesquita Filho, Araraquara, 2008.

STRINGER, Ernest. T. Action research. Thousand Oaks: Sage Publications, 2007.

THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-ação. 7. ed. São Paulo: Cortez, 1996.

THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-ação. 15. ed. São Paulo: Cortez, 2007.

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46 ECOSUS
Nossos Encontros

Juliana Bittencourt Garcia


Fernanda Pons Madruga

Os Encontros ocorreram na cidade de Pelotas-RS com representantes dos municípios


pertencentes a 3ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS) do Rio Grande do Sul. Integram
essa Coordenadoria vinte e dois municípios da região sul do Estado, sendo eles: Amaral
Ferrador, Arroio do Padre, Arroio Grande, Canguçu, Capão do Leão, Cerrito, Chuí, Cristal,
Herval, Jaguarão, Morro Redondo, Pedras Altas, Pedro Osório, Pelotas, Pinheiro Machado,
Piratini, Rio Grande, Santa Vitória do Palmar, Santana da Boa Vista, São José do Norte, São
Lourenço do Sul e Turuçu. Todos os municípios receberam o convite para participação
no I Encontro Formativo Presencial ECOSUS, podendo, cada um deles, indicar até cinco
profissionais de saúde da atenção básica para participação junto ao Gestor. O Gestor, por
sua vez, poderia ser representado pelo Secretário da Saúde, Diretor da Atenção Básica ou
da Política de Alimentação e Nutrição.

O I Encontro Formativo Presencial ocorreu nos dias 29 e 30 de agosto de 2019. Na oca-


sião, contamos com a presença de 13 municípios, sendo 11 pertencentes à 3ª CRS (Arroio
do Padre, Capão do Leão, Cerrito, Cristal, Morro Redondo, Pedras Altas, Pelotas, Piratini,
Rio Grande, Santa Vitória do Palmar e Turuçu) e dois pertencentes à 7ª CRS (Aceguá e
Lavras do Sul, os quais solicitaram participação espontaneamente). No total, 31 pessoas
estiveram presentes, sendo 29 profissionais de saúde e dois gestores.

No primeiro dia do encontro, no turno da manhã, os(as) participantes foram recebi-


dos(as) e credenciados(as) no evento. O momento inicial foi de apresentação da equipe
e do projeto ECOSUS. Em seguida, foram apresentados aos participantes os dados sobre
a situação atual de obesidade no Brasil e no mundo (Figura 1). Na sequência, foi realizada
a primeira atividade prática para promoção do diálogo e reflexão envolvendo os(as) re-
presentantes dos municípios, por meio da técnica do World Café (BROWN, 2005), na qual
se promove o diálogo entre grandes grupos. Os(As) participantes deveriam, em grupos,
responder a seguinte questão: “O que fazer?”, partindo dos dados sobre a obesidade an-
teriormente apresentados (Figuras 2 e 3). Ao final da atividade, os grupos compartilharam

Nossos encontros 47
as suas ideias, criando um importante espaço de opiniões e proposições. Eis alguns exem-
plos: Trabalhar com pais ou responsáveis. Promover alimentação saudável nas escolas.
Envolver toda a família para uma alimentação saudável. Integração da equipe com a
família e com a escola, bem como o controle dos alimentos comercializados. E ainda:
identificar, junto à UBS, os fatores que dificultam o acesso à alimentação saudável. Con-
ceitos sobre o que é alimentação saudável. Adaptar a dieta à realidade dos municípios.

48 ECOSUS
Figura 1 | Apresentação dos dados sobre a situação atual de obesidade no Brasil e no mundo
Fonte: Acervo do projeto, 2019.

Nossos encontros 49
Figura 2 | Atividade World Café
Fonte: Acervo do projeto, 2019.

50 ECOSUS
Figura 3 | Atividade World Café
Fonte: Acervo do projeto, 2019.

Nossos encontros 51
Ainda no primeiro dia, no turno da tarde, foi realizada uma dramatização teatral com
objetivo de fomentar uma posterior discussão sobre a acolhida das pessoas com obesi-
dade nas Unidades Básicas de Saúde (UBS). Na dramatização, uma senhora obesa chega
à UBS, pela segunda vez na mesma semana, queixando-se de dores no joelho. A senhora
acaba nem sendo atendida pelo médico por não ter emagrecido.

A atividade fez com que os(as) participantes refletissem sobre como são recebidas e
acolhidas as pessoas com obesidade e sobre como, em geral, tendem a ser culpabilizadas
por suas situações. A dinâmica movimentou sentimentos e trouxe à tona situações já
presenciadas pelos(as) participantes, o que gerou uma discussão rica, com a participação
de todos(as).

Dando seguimento às atividades do turno da tarde, os(as) participantes reuniram-se


em grupos, por município, e compartilharam com o grande grupo suas principais difi-
culdades, apontando os problemas que cada município enfrenta. Posteriormente, os(as)
participantes, ainda divididos(as) em grupos por local de pertença, traçaram metas e es-
tratégias para operacionalização da proposta em cada município, encerrando, assim, as
atividades do primeiro dia do Encontro Formativo Presencial.

Já no segundo dia, no turno da manhã, os(as) participantes foram convidados(as) a re-


alizar a atividade “Cardápio do dia anterior”. Na dinâmica, eles(as) deveriam descrever sua
alimentação nas diferentes refeições do dia anterior. Após todos escreverem, as respostas
foram lidas pelos pesquisadores para o grande grupo, dando espaço a uma discussão
sobre quais dos alimentos ali relatados eram considerados saudáveis ou não pelas pes-
soas presentes. Essa atividade teve como objetivo avaliar o conhecimento do público-al-
vo sobre alimentação saudável com base no Guia Alimentar para a População Brasileira
(BRASIL, 2014).

Ainda no turno da manhã, foi realizada uma palestra sobre os “Dez passos para uma
alimentação adequada e saudável” do Guia Alimentar para a População Brasileira (BRA-
SIL, 2014). Na sequência, os(as) participantes foram convidados(as) a integrar uma dinâ-
mica que abordou a importância da compreensão do que está escrito nas listas de ingre-

52 ECOSUS
dientes dos rótulos das embalagens, a fim de que saibam diferenciar alimentos in natura,
minimamente processados, alimentos processados e alimentos ultraprocessados, con-
forme as orientações constantes no Guia. Por fim, foi proposta a atividade “Elaborando
um cardápio”, na qual os(as) participantes foram distribuídos(as) em pequenos grupos
e tiveram que pensar em um cardápio com opções viáveis e saudáveis, baseando-se na
discussão anterior.

Dando seguimento às atividades do segundo dia de encontro, no turno da tarde, os(as)


participantes tiveram a oportunidade de rever e modificar as suas metas e estratégias
(propostas no dia anterior), bem como socializar e discutir as suas alternativas com o
grande grupo, traçando planos de ação por município (Apêndice 1). Na sequência, foram
encaminhadas “Atividades de dispersão”: três questões a serem respondidas pelos(as)
participantes; seis questões a serem respondidas pelos gestores; e cinco questões a se-
rem respondidas pelos usuários da rede pública de saúde (no mínimo cinco pessoas).
Finalizando o I Encontro Formativo Presencial ECOSUS, os(as) participantes foram convi-
dados(as) a avaliar, por escrito, o evento. Alguns depoimentos significativos são exibidos
a seguir.

“O evento foi de extrema valia trazendo um tema de grande importância e preocupa-


ção e traz um respaldo para o profissional que atua nos municípios e muitas vezes não
consegue conscientizar a equipe e gestores de ter um olhar mais sensível para a questão
da obesidade e de todas as doenças relacionadas com os hábitos alimentares incorretos.
Também é muito interessante a troca de experiências entre profissionais participantes de
encontros como este, pois estimula e incentiva o trabalho de todos.”

“Parabéns pelas dinâmicas, poderia ser mais concentrado fazendo que se possível
ocorresse em um dia.”

“Achei excelente a recepção, organização do encontro. Só sugiro que seja mais dinâmi-
co para agilizar, já que dois dias sair do local de trabalho fica muito complicado.”

Nossos encontros 53
“O encontro foi muito proveitoso, as dinâmicas foram bem pensadas e levaram todos
os participantes repensarem a sua atuação e como podemos enfrentar este problema de
saúde pública que é bem relevante. A importância da atuação multiprofissional neste en-
frentamento da obesidade e acredito ser fundamental e este encontro trouxe esta visão
ainda mais pautada.”

As avaliações nos serviram de base para pensar o II Encontro Formativo Presencial


ECOSUS, ocorrido no dia 3 de outubro de 2019. Na ocasião, as atividades foram concentra-
das em apenas um dia, conforme as sugestões dos(as) participantes. Os municípios que
estiveram presentes foram: Arroio do Padre, Capão do Leão, Cristal, Pedras Altas, Pelotas,
Piratini, Rio Grande, Santa Vitória do Palmar, São José do Norte (município que não havia
participado do I Encontro) e Turuçu (da 3ª Coordenadoria), além de Aceguá e Lavras do
Sul (da 7ª Coordenadoria). O número total de participantes dessa edição foi de 32 pessoas,
sendo 31 profissionais de saúde e um gestor.

Na abertura das atividades do turno da manhã, foi realizado um feedback sobre o I


Encontro e uma abordagem sobre as atividades que seriam desenvolvidas no II Encontro.
Nesse momento, foram compartilhadas, com os(as) participantes, as atividades previstas,
baseadas principalmente em suas avaliações e comentários anteriores. Um powerpoint,
com uma síntese das “Atividades de dispersão”, organizado à parte das manifestações
enviadas pelos(as) participantes, foi dividido com o grupo. Os dados obtidos foram cole-
tados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan). Posteriormente, houve
a partilha de experiências de três integrantes da equipe ECOSUS sobre a “Promoção da
alimentação saudável – integração da equipe, família e escola”, tema que teve maior inci-
dência nas propostas da dinâmica “World Café”.

Durante o turno da tarde, foram retomados os planos de ação, que haviam sido traça-
dos no I Encontro. Nesse momento, os(as) participantes fizeram um breve relato sobre
quais metas haviam sido atingidas e quais não foram alcançadas. Na sequência, solicita-
mos aos participantes que elencassem uma meta prioritária para execução no seu muni-
cípio e que retornassem com os resultados, em forma de seminários, para partilharem no
III Encontro. No final das atividades do turno da tarde do II Encontro, os(as) participantes
avaliaram, por escrito, o evento. Algumas manifestações foram:

54 ECOSUS
“Ótima formação. Professoras atenciosas e didáticas. A experiência de trocar relatos e
informações com profissionais de outras cidades é muito positiva e enriquece o conheci-
mento. Continuem assim!”

“O encontro mais uma vez foi de muita valia, permitindo a troca de vivências com rela-
ção às realidades de cada município que puderam mostrar as facilidades e/ou dificulda-
des na realização de suas ações. E encontros como este fortalecem o trabalho dos profis-
sionais dando um estímulo para enfrentar os desafios.”

“Foi o meu primeiro dia, achei muito interessantes e necessárias todas as temáticas.
Motivou-me a pensar temas, atividades e mudar abordagens com grupos os quais tra-
balho. E, confirmo minha parceria para seguir esse trabalho nos municípios. Achei super
positivo e tempo bem aproveitado.”

“Foi mais um encontro bem produtivo e principalmente muito motivador. Ao ver os


resultados dos demais municípios e também relatar os nossos sentimos que é possível
promover melhorias nas ações de saúde mesmo com todas as dificuldades encontradas
no serviço público.”

“Gostei da oportunidade de conhecer outras realidades, possibilitou a novas ideias e


conhecimentos. Esperava mais conhecimentos técnicos na área, gostaria de aproveitar
melhor essa oportunidade.”

Novamente, as avaliações serviram de base para pensarmos as atividades do III Encon-


tro Formativo Presencial ECOSUS. O terceiro encontro ocorreu nos dias 5 e 6 de dezem-
bro de 2019, retomando o formato do I Encontro. Os municípios que estiveram presentes
foram: Arroio do Padre, Capão do Leão, Cristal, Pedras Altas, Pelotas, Piratini, Rio Grande,
Santa Vitória do Palmar, São José do Norte e Turuçu (da 3ª Coordenadoria) e Aceguá e
Lavras do Sul (da 7ª Coordenadoria). No total, 30 pessoas participaram do evento, sendo
29 profissionais de saúde e um gestor.

Nossos encontros 55
No primeiro dia, seguindo as solicitações e sugestões dos(as) participantes, o turno
da manhã foi dedicado em dimensão formativa através de palestras. Os temas foram
propostos a partir das demandas explicitadas pelos(as) próprios(as) participantes, como:
“Importância do aleitamento materno e da introdução alimentar adequada para bebês”
e “Receitas práticas e substituição de alimentos: trabalhando com a equipe de saúde”
foram as selecionadas para esse bloco. As palestrantes convidadas disponibilizaram um
tempo, após suas falas, para que os(as) participantes fizessem comentários e/ou escla-
recessem dúvidas. As apresentações das palestras estão disponíveis em nossa página:
https://wp.ufpel.edu.br/ecosusufpel/

No turno da tarde, os(as) participantes foram convidados(as) a produzir uma narrativa


sobre o significado do projeto ECOSUS em suas ações profissionais. Para isso, foi organi-
zada uma pequena apresentação sobre o que é uma narrativa, bem como sobre um ro-
teiro para sua elaboração. Na sequência, os(as) participantes apresentaram, na forma de
seminários, os resultados das ações/metas de seus municípios. Apesar de a atividade não
ser obrigatória, todos os municípios presentes aderiram à proposta e compartilharam as
suas ações com o grande grupo. O espaço proposto para as apresentações resultou em
trocas de experiências que fomentaram discussões enriquecedoras.

Já no segundo dia do Encontro, o turno da manhã foi iniciado pela dinâmica “World
Café” (BROWN, 2005) com a seguinte questão: Como alcançar, conscientizar e sensibili-
zar a população para melhorar a alimentação e reduzir a obesidade? A dinâmica que
havia sido realizada no I Encontro, por sugestão dos(as) participantes, foi novamente em-
pregada, porém, com um novo questionamento. Em seguida, dedicamos o espaço ao
segundo bloco de palestras. Os temas selecionados para esse bloco foram: “Ações preven-
tivas com o profissional nutricionista” e “Comer intuitivo”. Novamente, após as falas das
palestrantes, foi dedicado um tempo para contribuições e perguntas.

O turno da tarde privilegiou uma dramatização teatral em que Dona Maria, persona-
gem da dramatização do I Encontro, retornou para um novo desfecho de sua situação.
Dando seguimento às atividades, realizamos um workshop sobre “Práticas Integrativas e
Complementares (PICS)”, no qual foram compartilhadas as experiências do município de

56 ECOSUS
Pelotas e algumas informações sobre a Política Nacional de Alimentação, diretrizes gerais
e recursos para incorporação das práticas. No encerramento do III Encontro, os(as) par-
ticipantes avaliaram a última edição do evento. A seguir, apresentamos algumas dessas
avaliações.

“Estes dois últimos dias de encontro foram muito proveitosos, assim como os anterio-
res, sempre trazendo assuntos e ações que estão sendo utilizados a fim de complementar
os trabalhos que já são realizados e analisando os pacientes como um todo, que todos
precisamos auxiliar nos tratamentos levando em consideração o paciente, seus senti-
mentos, o ambiente que convive e tudo que está relacionado com seus hábitos e que se
trabalhados de forma saudável irão fazer a diferença na saúde e na qualidade de vida da
população. E tudo isso nos motiva cada vez mais a continuar nesta luta. Por isso é impor-
tante que o ECOSUS não pare por aqui, pois juntos já percebemos que somos mais fortes
e o quanto já avançamos desde o primeiro encontro. Obrigada!”

“Curso excelente. Palestras maravilhosas que estimularam a reflexão. Com certeza sai-
rei desses encontros com mais motivação para chegar em minha cidade e tentar fazer
um trabalho diferenciado. Peço que sigamos nos encontrando 1 x/ano para que sigamos
nos abastecendo para podermos trabalhar com mais empenho.”

“O 3º encontro foi muito bom. Mais uma vez podemos conversar, adquirir conhecimen-
to e trocar experiências. Isso nos faz refletir de como podemos melhorar o nosso aten-
dimento ao paciente da nossa unidade. Espero que o grupo continue para mantermos
o contato e seguir nossos trabalhos, com a participação em outros cursos, sempre nos
aperfeiçoando. Muito obrigada pela maravilhosa experiência.”

“Os encontros foram muito importantes, motivadores para profissionais exercerem


os assuntos abordados e as trocas de experiências em seus locais de trabalho. A troca
de experiência dos municípios, das suas realidades foram bem importantes. A meu ver
o evento foi muito interessante, a cada encontro foi possível aprender muitas coisas que
acontecem diariamente em nossa rotina de trabalho e que algumas vezes não encon-
tramos a solução.”

Nossos encontros 57
Este foi o último Encontro Formativo Presencial ECOSUS com os municípios perten-
centes à 3ª CRS, fechando as atividades contempladas pelo segundo eixo do projeto (For-
mação) com essa Coordenadoria. Embora não estivesse em nosso cronograma, a equipe
ECOSUS acordou, a pedido das/dos participantes, que haverá ainda uma próxima edição.
Ela deveria ocorrer um ano após a primeira, ou seja, em 29 de agosto de 2020. A intenção
seria a de observar como se encontram as ações a que as/os participantes se propuse-
ram e realizaram, um ano após o início das capacitações. Em razão da pandemia do vírus
SARS-CoV-2 a edição planejada não ocorreu de forma presencial.

58 ECOSUS
Referências:

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção


Básica. Guia alimentar para a população brasileira. 2. ed., Brasília, DF: Ministério da Saú-
de, 2014.

BROWN, Juanita; ISAACS, David. The World Cafe: shaping our futures through conversa-
tions that matter. São Francisco, California: Berrett-Koehler Publishers, 2005.

ECOSUS – Enfrentamento e controle da obesidade no âmbito do SUS. Disponível em: ht-


tps://wp.ufpel.edu.br/ecosusufpel/. Acesso em: 3 nov. 2022.

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Nossos encontros 59
Nossos achados

Juliana Bittencourt Garcia


Fernanda Pons Madruga
Maria Isabel da Cunha

Nesta seção, discorreremos sobre os resultados dos Encontros de Formação Presen-


ciais e sobre a análise da Pesquisa-ação (THIOLLENT, 2007) sob a luz da Análise Documen-
tal na perspectiva de Bardin (2011). Lembramos que a pesquisa-ação é uma metodologia
de trabalho investigativa e propositiva, que pressupõe dois movimentos: o método de
intervenção propriamente dito – pesquisa-ação, e o método de avaliação da intervenção
– análise documental.

Para a interpretação dos dados coletados, baseamo-nos no método de análise do-


cumental (BARDIN, 2011). De acordo com a autora, a análise documental é “uma fase
preliminar da constituição de um serviço de documentação ou de um banco de dados”
(BARDIN, 2011, p. 51), que trabalha com documentos e tem como objetivo a representação
condensada da informação para consulta e armazenamento. Ou seja, a análise documen-
tal pressupõe um trabalho com documentos, é uma análise categorial ou temática.

Os resultados estão dispostos de acordo com os seguintes itens: atividade 1) World café
– questão “O que fazer?”; 2) Principais dificuldades de cada município; 3) Planos de ação;
e 4) Avaliações. Cada um dos itens foi explorado separadamente, compondo categorias
de análise que foram identificadas conforme agrupamentos e incidência de termos ou
expressões.

No item 1 – World Café, ao serem convidados(as) à realização da atividade, os(as) par-


ticipantes deveriam refletir sobre a questão “O que fazer?”, a partir dos dados sobre a
obesidade, anteriormente apresentados. No total, oito grupos foram formados para a ati-
vidade e, posteriormente, dividiram as contribuições com o grande grupo. Na análise das
propostas feitas pelos grupos, foi possível identificar quatro principais categorias, são elas:
1) Estratégias; 2) Cooperação; 3) Informações aos usuários/população; e 4) Educação Ali-
mentar e Nutricional.

60 ECOSUS
A categoria Estratégias foi desdobrada em três subcategorias: A) Alimentação, na qual
se destacaram as proposições de estratégias referentes à promoção de alimentação sau-
dável bem como melhorias nos hábitos alimentares; B) Atividades físicas, em que o des-
taque ficou centrado em proposições de estratégias referentes ao estímulo em prática
de atividades físicas; C) Alternativas de prevenção e tratamento, nas quais as principais
proposições estão relacionadas à identificação e atuação em ambientes obesogênicos,
de cuidado, grupos de usuários, acolhimento e vínculo dos e com os usuários.

A categoria Cooperação, por sua vez, foi subdividida em: A) Diálogo multiprofissional,
no qual se destacaram as proposições de melhoria na comunicação entre os profissio-
nais (enfermeiros, médicos, nutricionistas); B) Sensibilização/Apoio da gestão, na qual a
principal proposição esteve voltada a estratégias para ressaltar o apoio da gestão para a
realização das ações.

Já a categoria Informações aos usuários/população não foi subdividida e suas princi-


pais proposições estiveram relacionadas à democratização do conhecimento, à realização
de oficinas em partilha de informações de maneira direta e didática.

A categoria Educação Alimentar e Nutricional foi desdobrada em duas subcategorias,


a saber: A) Capacitações à equipe multiprofissional, em que as proposições centraram-se
em cursos e/ou educação permanente ofertadas aos profissionais de todas as áreas e
gestores e capacitações para utilização do Guia Alimentar para a população brasileira; B)
Educação escolar, na qual a principal proposição foi a criação de uma disciplina curricular
sobre nutrição, visando às crianças como multiplicadores de conhecimento.

Dentre as reflexões e contribuições dos oito grupos formados, e referente às quatro ca-
tegorias identificadas para a questão “O que fazer?”, destacamos a categoria Estratégias
com total de 18 ocorrências. Já a categoria Informações aos usuários/população aparece
com oito ocorrências, Cooperação, com seis e, por fim, Educação Alimentar e Nutricio-
nal, com quatro.

Nossos achados 61
Nesse item, analisamos também o número de proposições que dependem da gestão
em relação ao número de proposições que não dependem diretamente dela. Do total de
36 proposições, oito dependem diretamente da gestão para que sejam realizadas. Con-
tudo, 28 proposições não necessitam da gestão, podendo ser realizadas pelos(as) pró-
prios(as) profissionais que as propuseram e/ou outros profissionais da equipe. As informa-
ções desse item foram sintetizadas no quadro a seguir.

62 ECOSUS
World café Questão: O que fazer?

Alimentação

Estratégias Atividades físicas

Alternativas de prevenção
e tratamento

Diálogo multiprofissional

Categorias Cooperação

Sensibilização/Apoio da gestão

Informações aos usuários|população

Capacitações à equipe
multiprofissional
Educação alimentar e nutricional

Educação escolar

Quadro 1 | World Café: o que fazer?


Fonte: Elaborado pelas autoras, 2021.

Nossos achados 63
Para responder ao item 2 – principais dificuldades de cada município, os(as) parti-
cipantes, organizados(as) em grupos por município, listaram o que consideravam suas
principais dificuldades para o enfrentamento da obesidade em seus ambientes de tra-
balho. No total, 13 municípios estavam presentes, e suas principais dificuldades foram
compartilhadas por seus representantes. Sete categorias foram identificadas: 1) Gestão;
2) Recursos; 3) Educação; 4) Ações preventivas; 5) Comprometimento; 6) Desmotivação; e
7) Empatia.

Na categoria Gestão foram apontadas, como principais adversidades, a falta de apoio,


a falta de uma atuação mais efetiva e a falta de entendimento dos gestores em função
de, muitas vezes, não serem profissionais da área da saúde. Quanto à categoria Recursos,
a principal dificuldade relatada foi a falta de profissionais em relação à alta demanda de
trabalho. Já na categoria Educação, foi considerada, como dificuldade central, a falta de
ações de educação permanente, tanto para os profissionais (com capacitações e atualiza-
ções) quanto para os usuários. Em relação à categoria Ações preventivas, foram aponta-
das, como obstáculos relevantes, a necessidade de mudança na mentalidade dos usuá-
rios por meio da reeducação alimentar, a necessidade de estimular hábitos saudáveis nos
usuários e a supervalorização da atuação médica em detrimento da atuação preventiva
de outros profissionais.

Quanto à categoria Comprometimento, foram indicados, como maiores problemas, a


falta de comprometimento da equipe para com a atuação individual de cada profissio-
nal, a resistência ao trabalho conjunto e a discussão de alternativas, bem como o apoio
de toda a equipe. Em relação à categoria Desmotivação, a principal dificuldade relatada
foi a falta de motivação no trabalho, seja por problemas de sobrecarga de demandas ou
pela burocratização do serviço. Por último, a categoria Empatia apresentou como maior
empecilho a necessidade de que os profissionais tenham mais empatia com os usuários,
de que tornem o atendimento mais humano, visando a não culpabilização do indivíduo.

As categorias do item principais dificuldades de cada município não foram desdo-


bradas em subcategorias, uma vez que cada categoria apresentou resultados homogê-
neos, não havendo a necessidade de uma subdivisão. No total, foram discutidas 26 dificul-

64 ECOSUS
dades, relatadas por representantes dos 13 municípios. Das sete categorias identificadas
para o item, destacamos a categoria Gestão com maior número de ocorrências, oito no
total. Em seguida, a categoria Recursos aparece com cinco ocorrências. Já as catego-
rias Comprometimento, Educação e Ações preventivas aparecem com três ocorrências
cada. Por último, as categorias Empatia e Desmotivação aparecem, cada uma, com duas
ocorrências.

Quanto ao item 3 – planos de ação, ao propormos aos(às) participantes que elaboras-


sem tais planos, traçando suas metas para realização nos municípios, quatro questões
guiavam a proposta, a saber: O que deve ser feito? Quem fará? Até quando deve ser feito?
O que foi realizado? No total, 12 planos de ação e seus desfechos foram analisados.

Na exploração das respostas à questão “O que deve ser feito?”, foi possível identificar
quatro categorias principais: 1) Educação; 2) Alimentação; 3) Estratégias; e 4) Recursos. A
categoria Educação foi desdobrada em duas subcategorias: A) Ações, que incluía ações
de educação permanente e continuada, tanto com as equipes de trabalho quanto com a
população usuária do serviço e B) Capacitações, na qual se destacaram as propostas de
capacitações, referentes a medidas antropométricas em coleta de dados sobre o estado
nutricional dos usuários, aos profissionais das equipes de trabalho. Já a categoria Alimen-
tação não foi desdobrada em subcategorias. Nela as proposições estavam voltadas à in-
clusão de alimentos mais saudáveis na cesta básica de programas e oficinas de culinária.

A categoria Estratégias foi fragmentada em outras três subcategorias: A) Identifica-


ção/Diagnóstico, na qual se destacaram as proposições sobre levantamento de dados re-
ferentes ao diagnóstico de obesidade e ao estado nutricional da população; B) Avaliação,
na qual a principal proposta é a avaliação dos dados coletados e/ou já existentes sobre o
estado nutricional da população; C) Cooperação, na qual o destaque se volta para pro-
posições referentes à sensibilização da gestão, execução das ações planejadas e às inter-
venções com os usuários por meio de equipes multiprofissionais. A categoria Recursos,
por seu turno, foi dividida em duas subcategorias: A) Humanos, na qual o destaque é a
contratação de profissionais; B) Materiais, em que se destacam as propostas de aquisição
de materiais para oficinas ou para avaliações nutricionais.

Nossos achados 65
Dentre os 12 planos de ação referente às quatro categorias identificadas na questão “O
que deve ser feito?”, destacamos a categoria Estratégias com o maior número de ocor-
rências, no total 30, estando presente em 10 planos de ação. Já a categoria Educação
aparece logo em seguida, com o total de 15 ocorrências, constando em 10 planos de ação.
A categoria Recursos, por sua vez, apresenta 14 ocorrências, estando presente em seis
planos de ação. Por último, a categoria Alimentação contabiliza duas ocorrências e en-
contra-se presente em apenas um plano de ação.

Na exploração das respostas à questão “Quem fará?” foram identificadas duas catego-
rias: 1) Gestores e 2) Profissionais. A categoria Gestores foi desdobrada em três subcate-
gorias: A) Secretarias, onde foram citados membros de secretarias municipais de saúde e
educação; B) Direções, identificados como membros de cargos de diretorias municipais,
de escolas e/ou de área de atuação e multiprofissionais; e C) Coordenações, onde os prin-
cipais citados foram coordenadores de programas específicos.

A categoria Profissionais também foi subdividida em três subcategorias: A) Nutricio-


nistas, na qual a realização das propostas seria desenvolvida pelas próprias nutricionistas;
B) Professores, em que a realização das propostas ficaria a cargo de professores e outros
profissionais das escolas; e C) Profissionais da Atenção Básica, na qual a realização das
propostas seria desenvolvida por profissionais das Unidades Básicas de Saúde (UBS), da
Estratégia de Saúde da Família (ESF) e do Núcleo Ampliado de Saúde da Família (Nasf).

Dentre os 12 planos de ação, referentes às duas categorias identificadas para a questão


“Quem fará?”, destacamos a categoria Profissionais, com o total de 37 ocorrências e pre-
sente em 11 planos de ação. Já a categoria Gestores, a qual apresenta 29 ocorrências no
total, também foi verificada em 11 planos de ação.

Quanto à exploração das respostas à questão “Até quando deve ser feito?”, foi possível
identificar duas categorias: 1) Curto prazo, para as proposições que seriam realizadas ain-
da no ano de 2019; e 2) Médio/longo prazo, para as proposições a serem realizadas a partir
de 2020. Para tal questão referente às categorias citadas, dentre os 12 planos de ação,
destacamos a categoria Curto prazo, a qual apareceu em 45 ocorrências no total, estando

66 ECOSUS
presente em todos os planos de ação. Já a categoria Médio/longo prazo aparece, no total,
com nove ocorrências, estando presente em sete planos de ação.

Por fim, a análise referente à questão “O que foi realizado?”, reflete as mesmas cate-
gorias da questão “O que deve ser feito?”. Porém, quanto à ocorrência das categorias,
Estratégias e Educação aparecem ambas com oito ocorrências, sendo a primeira em seis
planos de ação e a segunda em sete planos de ação. Já a categoria Recursos aparece com
duas ocorrências e em dois planos de ação, enquanto a categoria Alimentação aparece
com apenas uma ocorrência, em um plano de ação. O quadro abaixo sintetiza as informa-
ções descritas neste item.

Nossos achados 67
Até quando deve ser
Questões O que deve ser feito? Quem fará? O que foi realizado?
feito?

Ações
Educação Secretarias Ações de educação
Capacitações

Alimentação Direções Hortas e oficinas


Curto prazo
Gestores
até final 2019
Identificação/
diagnóstico

Estratégias de
Categorias Estratégias Avaliação Coordenações
identificação/diagnóstico

Cooperação

Nutricionistas
Humanos

Médio/longo prazo
Recursos Profissionais Professores Recursos materiais
a partir 2020

Materiais
Profissionais
da AB

Quadro 2 | Sistematização dos planos de ação


Fonte: Elaborado pelas autoras, 2021.

68 ECOSUS
Dentre os 12 planos de ação traçados pelos profissionais dos municípios, apenas um
não alcançou nenhuma meta. Onze municípios alcançaram uma ou mais metas. Dois
municípios alcançaram a meta prioritária por completo, além de outras metas. Oito mu-
nicípios alcançaram a meta prioritária em parte, além de outras metas que não a prioritá-
ria. Por fim, um município alcançou outras metas, mas não a prioritária.

Referente ao item 4 – Avaliações, ao final de cada um dos três Encontros de Formação,


solicitamos aos(às) participantes que avaliassem, por escrito, nossos encontros, conside-
rando os pontos positivos e negativos. Além disso, foram solicitados a fazerem sugestões
de assuntos a serem abordados. No total, 72 avaliações foram analisadas, sendo 31 relati-
vas ao I Encontro, 17 ao II Encontro e 24 ao III Encontro.

A análise das avaliações evidenciou, primeiramente, duas categorias amplas: 1) Pontos


positivos e 2) Pontos negativos. A categoria Pontos positivos foi desdobrada em quatro
subcategorias, são elas: A) Ressignificação, na qual os relatos estiveram voltados, prin-
cipalmente, a uma reflexão e mudança de visão sobre a problemática da obesidade; B)
Aprendizado, na qual os relatos estiveram ligados aos saberes adquiridos e/ou atualizados
por meio das palestras; C) Motivação, em que os relatos estiveram relacionados aos senti-
mentos de estímulo e motivação para a realização das ações; e D) Partilha, que agrupou
relatos em que os(as) participantes descreveram a importância das trocas, tanto de expe-
riências, quanto de conhecimentos.

Em relação à categoria Pontos negativos, realizamos desdobramento em outras qua-


tro subcategorias, são elas: A) Tempo, na qual os relatos estiveram voltados, prioritaria-
mente, a um descontentamento com a realização dos Encontros realizados durante dois
dias (o I e o III Encontros); B) Participação da gestão, composta por relatos que pontua-
ram a baixa participação em relação à necessidade de adesão dos gestores; C) Local, que
agrupou questões relacionadas à localização e à falta de conforto; e D) Dinâmica, na qual
os relatos estiveram voltados à insatisfação com a dinâmica proposta na ocasião. As sub-
categorias Local e Dinâmica emergiram somente nas avaliações do II Encontro, o qual foi
realizado em local diferente dos outros dois e ocorreu em apenas um dia.

Nossos achados 69
Dentre as 72 avaliações analisadas, referentes aos três Encontros Presenciais, destaca-
mos a categoria Pontos positivos com 111 ocorrências em comparação à categoria Pon-
tos negativos, a qual apresentou 17 ocorrências. O Quadro 3 sintetiza as informações des-
critas no item avaliações.

70 ECOSUS
Categorias I Encontro II Encontro III Encontro

Ressignificação Ressignificação Ressignificação

Aprendizado Aprendizado Aprendizado


Pontos positivos
Motivação Motivação Motivação

Partilha Partilha Partilha

Tempo
Tempo
Participação da gestão
Pontos negativos Tempo
Local
Participação da gestão
Dinâmica

Quadro 3 | Sistematização das avaliações


Fonte: Elaborado pelas autoras, 2021.

Nossos achados 71
O engajamento dos profissionais participantes do projeto foi de extrema importância
para a viabilidade da proposta. Entendendo a complexidade da realidade e compreen-
dendo a pesquisa-ação como uma estratégia metodológica investigativa e propositiva,
enquanto pesquisa social, na qual pesquisadores e sujeitos implicados na resolução de
um problema atuam em conjunto visando à transformação social de base local, perce-
bemos o movimento gerado pelo projeto na direção da ressignificação das práticas dos
profissionais participantes.

72 ECOSUS
Referências:

BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011.

THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-ação. São Paulo: Cortez, 2007.

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Nossos achados 73
Uma experiência exitosa

Para dar mais sustentação aos resultados do projeto, debruçamo-nos sobre a experi-
ência de um dos municípios participantes dos Encontros de Formação, como um exem-
plo da participação ativa e do engajamento às atividades propostas.

Trata-se do município de Turuçu, onde os participantes, que já realizavam algumas


atividades pontuais, tiveram suas práticas ressignificadas através dos Encontros de For-
mação do projeto. Por meio da partilha de suas dificuldades, das discussões coletivas e
das capacitações, o grupo afirmou que conseguirá pôr em prática diferentes propostas.
Entre elas, foram anunciadas: a formação de um grupo de atividades físicas, a reativação
do grupo de gestantes, a promoção de ações de educação continuada com outros pro-
fissionais e com a população e a contratação de um profissional de educação física para
acompanhar algumas atividades. Com vistas a detalhar mais o processo em desenvol-
vimento, e atendendo às características da investigação qualitativa, expomos narrativas
produzidas pelas três profissionais participantes.

74 ECOSUS
Narrativa 1

Patrícia Machado da Silva Lange

Sou nutricionista no município de Turuçu/RS, responsável técnica do Programa Nacio-


nal de Alimentação Escolar (PNAE), há 19 anos. Durante esse período, sempre tive preocu-
pação com o estado nutricional dos alunos da rede municipal de ensino. Faço trabalhos
nas escolas, através de projetos de Educação Alimentar e Nutricional, com as turmas de
educação infantil e ensino fundamental, sempre enfatizando a importância da Alimenta-
ção Saudável na qualidade de vida e na prevenção de muitas doenças. Procuro organizar
cardápios saudáveis, priorizando a qualidade dos gêneros alimentícios adquiridos para a
execução do PNAE, levando em consideração a faixa etária dos alunos, seus hábitos cul-
turais, suas necessidades nutricionais específicas, comprando alimentos orgânicos sem-
pre que possível e de melhor qualidade. Também oriento o funcionamento das cantinas
escolares e os lanches trazidos de casa pelos alunos, não sendo permitido o comércio de
alimentos ultraprocessados, ricos em açúcares e gorduras, como por exemplo: balas, pi-
rulitos, chocolates, frituras, bolachas recheadas, salgadinhos, refrigerantes, sucos e acho-
colatados de caixinha, entre outros. E mesmo com todas as orientações tenho observado
nas avaliações antropométricas, que realizo todos os anos, um elevado índice de crianças
com sobrepeso e obesidade. Essa foi a razão que me estimulou a, neste ano de 2019, pro-
por aos professores a realização de atividades físicas duas vezes por semana, de 30 minu-
tos, com todos os alunos, a fim de colocá-los em movimento, diminuir o sedentarismo e
observar se houve algum resultado nas medidas de peso e índice de massa corporal (IMC)
após a realização dos exercícios físicos.

Em agosto deste ano, surgiu a possibilidade de participar do projeto do ECOSUS. No


início, fiquei apreensiva por não saber se poderia participar, pois não atuo na Secretaria
de Saúde, mas na Secretaria de Educação, e o convite era destinado aos profissionais de
saúde. Mas, como meu trabalho está direcionado ao mesmo propósito, fui convidada a
fazer parte do projeto.

Narrativa 1 75
No primeiro dia de encontro, fui sozinha representando o município, e já, nessa oca-
sião, tivemos uma atividade onde cada cidade tinha que programar um Plano de Ação
para o enfrentamento e controle da obesidade de acordo com suas realidades. Procurei
definir algumas ações que pudessem ser realizadas de forma prática, fácil, e que fossem
bem aceitas pela população, além de somar com o trabalho que já realizo, melhorando
também os meus resultados nas escolas. No segundo dia de encontro, tive a companhia
de mais uma colega, obtendo os dados para o programa bolsa família no município.

No segundo encontro, realizado em outubro, conseguimos também a participação da


psicóloga que atua no Centro de Referência de Assistência Social (Cras), trabalhando com
diversos grupos e também com o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA – MDS),
onde ocorre a compra de alimentos da agricultura familiar e a sua doação às entidades
socioassistenciais, que atendem pessoas em situação de insegurança alimentar e nutri-
cional, promovendo a organização produtiva e econômica no meio rural, o combate à
pobreza extrema e o acesso à alimentação adequada e saudável.

Com todos os assuntos abordados a cada encontro, eu e minhas colegas procuramos


aproveitar ao máximo todos os ensinamentos, somamos forças e começamos a trabalhar
juntas para conseguir atingir as metas do Plano de Ação.

Eu, particularmente, já gostava de fazer meu trabalho voltado às escolas, e os encon-


tros do ECOSUS me fizeram sentir desafiada a novos propósitos, mais amplos e voltados
à população. Ao mesmo tempo, me senti motivada a continuar e ampliar, trazendo ou-
tras práticas que, somadas ao trabalho já desenvolvido, trouxessem maiores benefícios
à saúde das pessoas. Essa condição afeta os profissionais que se sentem estimulados ao
verem a aceitação das ações propostas e, em pouco tempo, formamos um grupo de ativi-
dades físicas, que denominamos “Grupo Movimento”. Conseguimos a contratação de um
educador físico e já começamos as atividades, obtendo uma participação e aprovação da
comunidade além das nossas expectativas.

76 ECOSUS
Foi possível, ainda, reativar o Grupo de Gestantes, que não estava mais funcionando.
Com isso, atingimos nossa meta principal, de auxiliar essas mães a serem saudáveis e
gerarem filhos saudáveis, sabendo fazer as escolhas certas com relação à alimentação,
prevenindo vários problemas de saúde, dentre eles o problema da obesidade.

Portanto, só tenho a agradecer as oportunidades que obtive com o projeto ECOSUS,


que, além de todos os ensinamentos ofertados, permitiu que eu me realizasse ainda mais
como profissional, vendo a satisfação da comunidade e o nosso entusiasmo e união como
equipe de profissionais que, até então, não se conheciam e desconheciam o papel que
cada um desempenhava na sociedade em que atuamos. Descobrimos que juntos pode-
mos e fazemos muito mais pelas pessoas.

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Narrativa 1 77
Narrativa 2

Tagline Souza Rutz

Quando fui convidada pela minha gestora para participar e acompanhar a nutricionis-
ta aqui do município de Turuçu no projeto ECOSUS, fiquei um pouco surpresa e curiosa,
afinal trabalho na parte burocrática do Centro de Referência da Assistência Social e sou
acadêmica de Psicologia. Não sabia como seria algo totalmente diferente da área na qual
estou inserida, mas em seguida aceitei o desafio de vivenciar essa nova experiência.

Antes de participar do projeto ECOSUS tinha algumas percepções diferentes sobre a


nutrição, alimentação saudável e obesidade. Na minha visão leiga e com alguns estigmas
sociais, acreditava na ideia de que ir ao nutricionista remete a dietas sofridas e que para
ter uma alimentação saudável é preciso restringir diversos alimentos.

Nos encontros presenciais pude aproveitar muito para absorver todas as informações
possíveis, que seria tanto para aproveitamento de uso profissional como de uso pessoal.
Lembro que no primeiro encontro de formação, em agosto de 2019, além da apresenta-
ção do projeto, nos apresentaram diversos alimentos e a diferença entre eles, como, por
exemplo, os alimentos in natura, processados e ultraprocessados, e também foi salien-
tada a importância de lermos os rótulos para conhecermos o que estamos consumindo;
algo que nunca havia parado para pensar ou fazer.

Durante a formação traçamos um plano de ação com metas e objetivos para elaborar
no município, com intuito de prevenir a obesidade, melhorar a alimentação e, consequen-
temente, a saúde da população. A nutricionista do município já fazia esse trabalho nas
escolas, mas sentia a necessidade de criar um projeto que atendesse todos os públicos
de todas as idades. Com isso, o pedido da contratação de um educador físico foi atendido
e, então, houve a formação do grupo, que intitulamos “Movimento”, criado pela equipe,
composto por mim, a nutricionista, a psicóloga do Cras e o educador físico contratado.

78 ECOSUS
Outras metas traçadas no plano durante a formação também já foram alcançadas,
como uma base de dados de uma parte da população, com o IMC, e o grupo com gestan-
tes. Propomos trabalhar com esse público exatamente para prevenir a obesidade, promo-
ver saúde desde o nascimento do bebê e uma gestação mais tranquila e saudável. Para
o ano de 2020 já está sendo pensado e conversado com a gestão central novos projetos a
serem colocados em prática.

Depois de participar do projeto ECOSUS, pude desconstruir meus estigmas sobre uma
alimentação saudável, da importância de uma reeducação alimentar e também da es-
colha dos alimentos. O projeto ECOSUS viabilizou também o trabalho multiprofissional e
em rede e os diversos profissionais, lotados em secretarias diferentes, uniram-se para re-
alizá-lo, com o intuito de promover saúde e prevenir a obesidade. O projeto proporcionou
também diversos aprendizados, tornando-nos multiplicadores, para que pudéssemos
dividir com nossos gestores as ideias que foram surgindo ao longo da formação, como
adaptar a realidade de nossos municípios cotejando com outras experiências.

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Narrativa 2 79
Narrativa 3

Thamires Schellin de Mattos dos Santos

Sou psicóloga, trabalho com grupos de diversas faixas etárias na área da assistência
social e, até o projeto formativo do ECOSUS, não havia pensado sobre a qualidade dos lan-
ches oferecidos aos usuários. Também não havia me dado conta que oferecer uma sacola
de produtos saudáveis não é o suficiente para uma família se alimentar bem; é preciso
ensinar o que fazer com o que dispõem.

Como profissional, já sabia da eficácia e importância de se trabalhar em equipe multi-


profissional, mesmo compreendendo os desafios dessa perspectiva, pois às vezes o fun-
cionamento fica aquém do que se almeja. No entanto, a equipe que se iniciou para o
projeto ECOSUS obteve sucesso total em sintonia e ações.

Em nossa Prefeitura, não há nutricionista lotada na Secretaria de Saúde, somente na


Secretaria de Educação. Essa colega aceitou imediatamente representar o município jun-
tamente com a técnica administrativa – também responsável pelas pesagens do Pro-
grama Bolsa Família. Ambas participaram do primeiro encontro formativo, e, após, me
convidaram para participar também e somar forças para mudanças e ações com foco no
enfrentamento e combate à obesidade. Somamos Secretarias.

De imediato, entendi que a mudança de cardápio dos lanches distribuídos nos grupos
com os quais trabalho não poderia ser meta para 2020. Entretanto, mesmo com a função
burocrática das compras e empenhos, conseguimos fazer várias substituições e, desse
modo, a população atendida pôde desfrutar de uma alimentação mais saudável.

Outro insight foi em relação a fornecer o produto saudável, oferecer palestras que ex-
pliquem como processá-los, como conservar os alimentos. Mesmo assim, não é suficiente
para mudar o hábito da família beneficiada. É necessário também mostrar o que fazer,
realizar experimentações e oficinas práticas de como utilizar e comer as verduras e legu-
mes. E a partir daí, acrescentando ao trabalho que já estava sendo feito, surgiu a ideia de

80 ECOSUS
um concurso: “A melhor receita”, algo que os motivassem. O concurso fez todos se envol-
verem em buscar receitas, inventar, e os classificados trouxeram os pratos prontos, houve
experimentações, jurados e critérios, e também um prêmio para o ganhador.

Outra ação muito significativa, e que abrange toda a população do município, foi a
criação do grupo “Movimento”, juntamente com a conquista da contratação de um edu-
cador físico. O Movimento reúne público de todas as faixas etárias interessadas, mulheres
e homens, para atividades físicas conduzidas, orientações nutricionais e apoio psicológi-
co, se necessário. Os encontros são duas vezes na semana e têm reunido em torno de 30
pessoas. O único critério exigido para participar é um atestado médico, que foi disponibili-
zado por um profissional durante um dia para as avaliações. O atestado serve para liberar
a pessoa para as atividades físicas e alertar se são de baixo, médio ou alto impacto.

É perceptível que a soma de pessoas motivadas a alcançar uma meta é de fato mais
forte e eficaz em tudo que faz. E, nessa experiência, percebi que nos motivamos não só
para essa meta de combate à obesidade, mas também para seguir as outras atividades,
estabelecer novas ações. Enfim, o projeto ECOSUS fez nos movimentar. Com isso, concluo
com o slogan do nosso novo grupo: “Movimento é saúde”.

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Narrativa 3 81
Considerações finais

O estudo aqui apresentado se propôs a realizar uma sistematização da experiência


de encontros formativos de um projeto sobre enfrentamento e controle da obesidade
no âmbito do SUS. Nosso intuito foi, por meio do projeto, sensibilizar os profissionais de
saúde quanto ao problema da obesidade e seus desdobramentos, bem como instrumen-
talizá-los para a prevenção e o enfrentamento dessa doença. Através das dinâmicas pro-
postas ao grupo de participantes, pensadas à luz da perspectiva metodológica da pesqui-
sa-ação, conseguimos movimentar sentimentos, fomentar o diálogo e gerar discussões
ricas em conhecimento, resultando em um espaço de partilha de experiências e de estí-
mulo profissional. Ainda, a partir dos Encontros Formativos, foi criado um grupo de What-
sApp que se tornou uma rede de apoio em que os(as) participantes continuam a trocar
experiências e informações que já independem da equipe ECOSUS.

Dessa forma, compreendemos que a metodologia proposta - a pesquisa-ação - não


só foi adequada, como também bem-sucedida, uma vez que os resultados apontaram
para uma mudança de perspectiva e, portanto, na prática dos profissionais que partici-
param dos Encontros. Nossas análises mostraram que as reflexões realizadas no espaço
proporcionado pelos Encontros foram capazes de mobilizar os profissionais em busca da
efetivação das ações propostas na resolução do problema coletivo, tal qual se propõe a
pesquisa-ação. Reforçamos ainda, que o engajamento, tanto dos profissionais participan-
tes quanto da equipe, no percurso do desenvolvimento do projeto foi fundamental, sem
o qual não teríamos alcançado os objetivos pretendidos.

Entendemos que os desafios para o enfrentamento e controle da obesidade, no âm-


bito do SUS, são muitos. Contudo, através de iniciativas como a deste projeto, podemos
tentar modificar algumas situações. A análise de nossos resultados evidenciou o interesse
e o protagonismo de alguns profissionais de saúde na direção de uma prática profissional
mais humanizada e com significados para o usuário.

82 ECOSUS
Embora o período proposto pelo edital já tenha se encerrado, o ECOSUS segue atuan-
do com os participantes que se engajaram na proposta, mantendo, dessa forma, o vínculo
entre a Universidade e o serviço de saúde. Esperamos que a experiência aqui relatada
possa servir de base para outros contextos e ampliada em outras propostas. Nosso intuito
foi, através desta escrita, colaborar com outras práticas e ações de profissionais atuantes
nas diferentes áreas da saúde, bem como na área da educação.

Considerações finais 83
Apêndice 1

O que deve ser feito? Quem fará? Até quando deve ser feito?
Compra de balanças para pesagem
Gestor SMS Setembro 2019
nas escolas

Implantação do projeto “Sala de


Setor de nutrição Outubro a dezembro 2019
espera” nas UBS

Criação de um banco de dados do


Até o final de 2019 (banco) até o
estado nutricional nas escolas (usu- Nutricionistas SMS e SME
final de 2020 (pesagem)
ários SUS e escolares)
Elaboração de projeto de educação
nutricional nas escolas (alunos, pais SME Novembro de 2019
e funcionários)
Apresentação do projeto e capaci-
tação das funcionárias e professo-
Nutricionistas SMS e SME Até Outubro
ras para a pesagem dos usuários/
alunos
Tentativa de cooptar estagiários de
nutrição para colaborar com a cole- Gestores e nutricionistas 1º semestre de 2020
ta de dados
Verificação da existência e aplica-
ção dos programas “Crescer saudá- SMS e SME Setembro/outubro 2019
vel” e “PAA”

Quadro 4 | Exemplo de plano de ação preenchido pelas/os participantes


Fonte: Dados do projeto, 2019.
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84 ECOSUS

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